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~tado por D. J. Struik, pp. 74-81. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1969. matemática na escola (Universidade de Bath, 1982). Obviamente, é um
sentimento que poderia muito bem ter sido expresso por qualquer pro-
fessor de' matemática. Não há dúvida de que muitos de seus alunos
SUA TURMA DE ÁLGEBRA É CAPAZ DE RESOLVER? também concordariam. Uma das razões para esse estado de coisas é que
os alunos parecem achar álgebra difícil. .
Problema 3. Ache todos os valores reais de x que satisfazem
(x2_ 5x + 5/-9.<+20 = 1.
Solução na página 285.
Por que é difícil aprender álgebra?
SUA TURMA DE ÁLGEBRA É CAPAZ DE RESOLVER? Uma das maneiras de tentar descobrir o que toma a álgebra difícil
Problema 4. Se p lápis custam c centavos de dólar, quantos lápis se. é identificar os tipos de-erros que os alunos comumente cometem.nessa
podem comprar com d dólares? matéria e investigar as razões desses erros. Um projeto depes-4Jisá que
Solução na página 285.
adotou essa abordagem foi a seção de álgebra do projeto "Strategies and
Errors in Secondary Mathematics" .(SESM), levado a efeito no Reino
Unido de 1980 a 1983 (Booth, 1984). Essa pesquisa envolveu alunos da
oitava à décima série (idade de treze a dezesseis anos) que vinham
estudando álgebra no contexto de um programa de matemática integrado
desde a sétima série. Portanto, os mais novos geralmente já haviam
trabalhado com itens como simplificação de expressões algébricas, fato-
ração (nos casos mais simples), resolução de equações lineares simples,
substituição em fórmulas, etc. Os mais velhos em geral haviam estudado
também frações algébricas e expoentes, equações quadráticas e sistemas
de equações, gráficos envolvendo igualdades e desigualdades, além de
fatorações é simplificações mais complexas. A despeito das diferenças

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de idade e experiência em álgebra, verificaram-se erros semelhantes em W: [Escreve "lI x y".] É isso?
todas as séries. Entrevistas com os alunos que cometiam esses erros E: Ótimo.
mostraram que muitos destes podiam ter origem nas idéias dos alunos W: O quê? Mas é só isso? Por que não disse antes? Pensei que f da
sobre aspectos como: E: Você quer dizer um determinado número? osse para r a resposta.
W: É! .
a) o foco da atividade algébrica e a natureza das "respostas"; E' Mas . ~.
" _ ,eXIste um determinado número que seja a resposta?
b) o uso da notação e da convenção em álgebra; W: Nao. A ~enos que se saiba o valor de y.
c) o significado das letras e das variáveis; ~ ~,:o ~s~, como você poderia me dar uma determinadá resposta ~umérica?
d) os tipos de relações e métodos usados em aritmética. . , nao e possível, mas eu não sabia que era só para colocar isso, '
(Booth, 1984, pp, 35-36)

o foco da atividade algébrica e a natureza das respostas ( C~~~q~;ntemente, os alunos podem recorrer a várias estratégias
como íc e e, 14 anos de idade) para conseguir uma resposta n .,
ca (ver figura 3.2). umen-
Em aritmética, o foco da atividade é encontrar determinadas res-
postas numéricas particulares. Na álgebra, porém, é diferente. Na álgebra
o foco é estabelecer procedimentos e relações e expressá-los numa forma
simplificada geral. Uma razão para se estabelecerem essas afirmações O que você poderia escrever sobre o perímetro desta figura'
gerais é usá-Ias como "regras de procedimento" para a resolução de Parte dela não está desenhada. '
problemas adequados e, então, achar respostas numéricas, mas o foco São n lados ao todo, cada um de comprimento 2.
imediato o estabelecimento, a expressão e a manipulação da própria.
é

afirmação geral. Muitos alunos não percebem isso e continuam achando


que devem dar uma resposta numérica. E o caso de Wendy, de 14 anos
de idade, na abordagem do problema da figura 3.1.
Fig, 3,2

Uma nave espacial viaja por "etapas", cada uma com a mesma extensão: E' V A.

'. oce e capaz de escrever alguma coisa quanto ao perímetro?


Mlchelle: Não, po:que n provav:lmente indica um número e se este é n eu não
posso .dlz~r quantos .sao os lados, e, como tenho de somar os lados
11 todos rguars a 2, preciso saber quantos são; A não ser que n represente '
como os n no alfa~eto, algum ,lugar entre os números ... se. n represen-
11 ~e um deles, entao se podena dizer o que n é
E: Como assim? .
Se a extensão de cada etapa é de 11 anos-luz, o que se poderia dizer sobre a M: Bem, digamos que n é 14.
distância percorrida em y etapas? E: Como você chegou a esse número?
Mo C d' .
Fig, 3,1
E:..
Ah,0moe~ isse antes, ?ara considerar n como um número, achei 14. Está no 14
voçe contou seguindo o alfabeto? .
M' É então é 14 . ' ..
. c ' , ,e assim considerei ISSOpara n, e então deveria ser 28
rormar a quantIdade, o perímetro, ... ,para
Wendy: Há uma letra ai. E: 28?
Entrevistador: O que significa essa letra?
W: Está indicando quantas etapas, M: É, você soma todos os 2.
E' O pod .
E: Certo. Você seria capaz de dizer alguma coisa sobre a distância que a nave percorre? " n ena ~er outro número ou tem que ser o 14?
W: O quê? É para eu escrever o que faria? [Escreve "Se y fosse um número, eu M. Bem,. podena ser qualquer número n, mas se você coloca a questão dessa
o multiplicaria por 11" ,] maneira, sem nenhuma indicação do número então não há nada A"
E: Agora você é capaz de escrever isso sem usar palavras, isto é, usando matemática? coisa que se, pode fazer é seguir o alfabeto e t~mar qualquer núme;~ n q:~~
W: O quê? Como assim? É 11 vezes y? certo para dizer quantos 2 são necessários. e
E: Isso mesmo,
(Booth, 1984, p. 33)
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Mesmo alunos que conseguem chegar a uma expressão algébrica fosse considerada correta por seus professores! A mesma idéia de res-
correta (como Marie, 16 anos de idade, diante do problema da figo 3.3) postas com um único termo parece estar subjacente ao erro, freqüente
podem não considerá-Ia uma resposta "adequ~da" (observação também entre alunos, de simplificar uma expressão como 2a + 5b, para 7ab. Esse!
feita, particularmente, por Chalouh e Herscovics [1984]). problema pode ocorrer porque os alunos têm uma dificuldade cognitiva
em "aceitar a ausência de fechamento" (Collins, 1975), ou pode sim-
plesmente refletir expectativas derivadas da preocupação aritmética quan-
to à maneira como deveriam ser as "respostas bem formadas" (Matz, 1980).
o que você seria capaz de escrever sobre
o perímetro desta figura:
Há também outro aspecto do problema: as expressões algébricas
Parte da figura está escondida. não-fechadas não só são legítimas enquanto "respostas", como também
Ao todo são n lados, cada um de comprimento 5. podem representar o procedimento ou a relação pela qual se obteve a
,. ' ~
resposta tanto quanto a propna resposta. Por exemplo "n + 3" pode ser
uma expressão de uma "instrução" (ou procedimento), que afirma que se
Fig.3.3 deve somar 3 à variável n, e também uma "resposta", que dá o resultado
de se ter efetuado uma adição. No primeiro caso pode-se interpretar a
expressão como "some 3 a n"; no segundo como "o número que excede
I Marie: n vezes 5. É o número de lados vezes quanto mede cada lado, só que não
se sabe quantos lados são, de modo que só dá para fazer n vezes 5.
E: Então a resposta é n vezes 5?
nem 3 unidades". Este "dilema nome-processo" (Davis, 1975) pode ser
uma fonte de dificuldades consideráveis para o aluno. Porém, esse proble-
M: Bem não se pode dar uma resposta propriamente dita, porque não se sabe o ma pode estar mais intimamente ligado à dificuldade que os alunos pare-
é
que n. Se eu conhecesse n, poderia dar o resultado, mas, desse jeito, só dá
cem ter em aceitar respostas algébricas do que ao fato de a mesma
para colocar 5n. .
(Booth, 1984, p. 35) expressão representar tanto um procedimento como uma resposta.

Outros alunos (como Michael, 14 anos, figo 3.4) parecem aceitar a


possibilidade de uma resposta algébrica, mas inclinam-se a assumir que, Notações e convenções em álgebra
de qualquer maneira, o que se pretende é uma resposta de um "único termo":
A interpretação dos símbolos pelos alunos

o West Ham marcou x gols e o Manchester United marcou y gols. O que você pode Parte da dificuldade que os alunos têm para simplificar expressões
dizer sobre o número total de gols marcados? como 2a + 5b diz respeito à sua interpretação do símbolo operatório.
Em aritmética, símbolos como + e = são interpretados geralmente em
Fig. 3.4 termos de ações a serem efetuadas, de maneira que + significa efetiva-
mente realizar a operação, e = significa escrever a resposta (Behr,
Michael: Realmente não consigo ver nenhuma saída. Quer dizer, com x e y Erlwanger e Nichols, 1980; Ginsburg, 1977). Uma interpretação como
realmente não dá. A não ser, é claro, que você faça x = 3 ou y = 2. Eu essa parece não se restringir às crianças da escola primária. Assim
já vi isso algumas vezes. E, então, eles fazem a pergunta e você dá a resposta.
Kieran (1981) mostrou, no contexto do estudo de equações, que crian-
E: Se você soubesse o que são x e y, o que faria para obter a resposta?
M: Eu teria de somar os y gols com os x gols, o que daria, digamos, z gols. ças de doze a catorze anos de idade consideram o sinal de igual (=)
E: Então você diria ... y... . como um símbolo unidirecional que precede uma resposta numérica, tal
M: Mais x. Sim, e por isso, se eles deixassem do jeito que está, acho que sena como Wagner (1977) verificara com alunos de dezessete anos de idade.
melhor eu colocar z, mesmo. A idéia de que o símbolo de adição possa indicar tanto o resultado de
[Escreve apenas "z ".]
(Booth, 1984, p. 20) uma adição como a ação, ou de que o sinal de igualdade possa ser visto
como indicador de uma relação de equivalência em vez de um símbolo
Aqui, a resposta de Michael mostra nitidamente sua compieens~o para. "escreva a resposta", pode não ser percebida de imediato pelo
do fechamento nos sistemas matemáticos, embora ela geralmente nao aluno, embora essas duas noções sejam necessárias para iÍ~ofnpreensão
. \
26 27
\-':J
2". Analogamente, é preciso acentuar o valor bidirecional do símbolo de
algébrica. A maneira restrita de se ler o símbolo operatório também é
igualdade, tanto se exigindo a leitura adequada do símbolo (por exemplo,
subjacente ao "dilema nome-processo" já descrito.
Em exemplos como 2a + 5b, a ação efetiva associada ao símbolo "é igual a" em vez de "dá", como em "2 mais 3 dá 5"), como
de adição é, na maioria dos casos, juntar os termos, resultando daí 7ab proporcionando aos alunos experiências com expressões da forma 5 = 2 + 3
como resposta. Isso talvez não seja surpreendente, dado que as idéias (bem como 1 + 4 = 2 + 3, etc.). :'
primitivas de adição envolviam a união física de dois conjuntos. Ade- A segunda sugestão refere-se à maneira de representar a multipli-
cação em álgebra por justaposição (por exemplo, 3n). A tendência apa-

aritmética - em frações mistas (por exemplo, 2 + +)


mais, o fato de a justaposição de termos para indicar adição aparecer em
= 2
bém implicitamente no valor posicional (por exemplo, 43 = 4 dezenas + 3
+ e tam-
rentemente forte de as crianças verem isso como soma em vez de pro-
duto (ou como representação de valor posicional) pareceria indicar que
sua introdução deveria ser retardada e que o produto deveria ser escrito
unidades) - pode levar o aluno a encarar a questão de maneira seme- na forma completa (n x 3 ou 3 x n) por um período considerável dãfase
lhante em álgebra (Matz, 1980). Certamente, há evidências mostrando de iniciação dos alunos em álgebra. Mesmo depois de introduzir a forma
que as crianças que nunca estudaram álgebra antes apres.•entam uma forte abreviada, poderá ser conveniente continuar escrevendo o produto tam-
tendência a "simplificar" uma expressão como a + b para ab (Booth, 1984). bém na forma extensa, pelo menos no começo.
A confusão com o aspecto do "valor posicional" na justaposição pode Terceiro, o enfoque "duas maçãs mais 5 bananas" para o problema
levar a outro tipo de erro, conforme mostra o caso Wayne, de 15 anos 2a + 5b pode não ser oportuno. Ele não só favorece uma visão errada do
de idade: significado das letras, como também pode ser usado pelos alunos para
justificar li simplificação 7ab. Assim, na pesquisa SESM, o número de
Wayne: [Explicando o significado de y em "some 3 com 5y".] y podia ser um alunos que usaram essa ilustração para explicar por que 2a + 5b é igual
número, podia ser 4, tomando isso (5y) 54 ... [Escreve 54.] a 7ab (duas maçãs mais 5 bananas é igual a 7 maçãs-e-bananas) foi o
W: [Atendendo à solicitação para ler o que escreveu.] O quê? ... cinco quatro ...
mesmo daqueles que a usaram para explicar por que 2a + 5b não podia
não, cinqüenta e quatro!
E: Cinqüenta e quatro?
ser mais simplificado.
W:É.

A escolha de um número de dois algarismos para substituir uma A necessidade de uma notação precisa
única letra pode criar algum conflito, como nesta interpretação:
Outro ponto mais crucial em álgebra do que em aritmética é a
E: [Continuando a entrevista acima.] O ypoderia ser alguma outra coisa, além de 4? necessidade de uma precisão absoluta no registro de afirmações. Essa
W: Sim, 7, 8, qualquer coisa! precisão, é claro, também é importante na aritmética, mas asconseqüên-
E: Então o y poderia ser qualquer número? [Wfaz "sim" com a cabeça.] Suponha cias de impropriedades nesse aspecto podem ser menores se o aluno sabe
que eu o fizesse 23. O que você escreveria então?
I' W: Ah! [Risos.] Bem! [Risos de novo.] Quinhentos e vinte e três! Mas 'eu não sei o que se pretende e efetua a operação correta, independentemente do que
I
_ não parece muito certo! Não sei. Espere, poderia ser 28, 5 mais 23 ... sim ... está escrito. Em aritmética faz pouca diferença o aluno escrever 12 + 3
[Escreve 5 + 23.] ou 3 + 12, desde que ele efetue corretamente o cálculo. Em álgebra,
(Booth, 1984, p. 31) porém, é crucial a diferença entre p + q e q + p. Essa visível falta de
rigor pode refletir umadesatenção nas aulas de matemática às afirma-
Essas descobertas parecem levar a diversas sugestões. A primeira ções verbais corretas e precisas das idéias matemáticas. Notadamente, a
relaciona-se às idéias associadas ao significado dos símbolos de opera- troca livre de expressões como "12 + 3" e "3 + 12" pode muitas
ções e de igualdade que as crianças adquirem durante suas primeiras vezes ter raizes em experiências anteriores do aluno em aritmética.
experiências aritméticas. Assim, toma-se necessário deixar bem claro
Alguns alunos acham que a divisão, como a adição, é comutativa. Outros
para as crianças que "2 + 3" não representa apenas uma instrução, não vêem necessidade de distinguir as duas formas, acreditando que o
somar 2 com 3, mas também o resultado da adição desses números. Isso
maior número sempre deverá ser dividido pelo menor. Isso parece decor-
pode ser feito, por exemplo, lendo-se a expressão não apenas como "2
rer da recomendação bem-intencionada feita pelo professor de matemá-
mais 3" ou "some 2 com 3", mas também "o número que é 3 mais que
29
28
tica, no início do aprendizado da divisão, e da própria experiência dos centímetros". Em álgebra, também, a leitura das letras variáveis como
alunos, pois todos os problemas de divisão encontrados em aritmética "rótulos" muitas vezes parece correta. Por exemplo, talvez seja difícil
elementar, de fato, exigem que o número maior seja dividido pelo me- distinguir a leitura da afirmação "A = b x a", como versão resumida da
nor. Provavelmente esse erro de concepção em particular poderia ser afirmação verbal "Área = base x altura", da leitura da mesma afirmação
evitado pela introdução mais prematura de problemas em que o número como relação entre as medidas ou .Jariáveis adequadas. O acerto aparen-
menor deve ser dividido pelo maior, como por exemplo o da divisão de te da leitura literal da afirmação algébrica desse exemplo pode encorajar
um bolo em partes iguais entre seis crianças - uma situação com que o aluno a proceder do mesmo modo com termos do tipo "5y".
mesmo as crianças bem novas estão familiarizadas. Se não forem devi- É difícil encontrar meios de contornar esse problema. Há claramen-
damente tratados, tais erros de concepção em aritmética poderão levar, te boas razões para se escolherem especificamente as letras A, b, a para
posteriormente, a pr':..blemas em álgebra. expressar a área do retângulo. Porém, talvez fosse melhor evitar i .cial-
mente esse tipo de aliteração. Assim, é preciso tomar cuidado quando se
introduzem afirmações do tipo "a representa o número de abacaxis",
Letras e variáveis levando o aluno a converter "3a" em "3 abacaxis", em vez de "3 vezes
o número de abacaxis". (Escrever o produto por extenso, como se
Letras em álgebra sugeriu antes, também ajudará a evitar esse tipo de erro de conversão.)
Analogamente, ao escrever a regra da área do retângulo, poderia ser
Uma das diferenças mais flagrantes entre a aritmética e a álgebra deixada aos alunos a escolha das variáveis a serem usadas. É interessante
é, obviamente, a utilização, nesta última, de letras para indicar valores. notar que, na pesquisa SESM, em que os alunos efetivamente escolhe-
As letras também aparecem em aritmética, mas de maneira bastante ram as letras em tais circunstâncias, quase nenhum deles optou pelo uso
diferente. A letra m, por exemplo, pode ser utilizada em aritmética para das letras iniciais. De fato, não havia nenhum motivo real para que eles
representar "metros", mas não para representar o número de metros, assim procedessem, uma vez 'que estavam escolhendo variáveis para
como em álgebra. A confusão decorrente dessa mudança de uso pode representar valores numéricos que pudessem dar os comprimentos dos
resultar numa "falta de referencial numérico", por parte do aluno, ao lados de diferentes retângulos. Não estavam, portanto, pensando neces-
interpretar o significado das letras em álgebra, como no caso de Peter, sariamente nas palavras base e altura. Obviamente, se os alunos já estão
quinze anos de idade: familiarizados com o uso de letras, pode-se discutir a vantagem (como
recurso mnemônico) de usar determinadas letras como variáveis em uma
E: E o que significa o y, numa questão como essa [Somar 3 a 5y]? Significa
determinada situação.
alguma coisa, representa alguma coisa, ou é simplesmente uma letra; ou o quê?
Peter: É uma letra, mas representa alguma coisa. Significa 8 grupos de y.
E: E o que é y?
P: Poderia ser qualquer coisa. A noção de "variável"
E: O que, por exemplo?
P: Poderia ser ... um iate [em inglês, yatch]. Poderia ser oito iates.
E: Certo, e alguma coisa mais? Um dos aspectos mais importantes da álgebra talvez seja a própria
P: Poderia ser um iogurte [em inglês,yoghurt]. Ou uma batata-doce [em inglês, yam] .. idéia de "variável". Mesmo quando as crianças interpretam as letras
E: Teria de começar com y, ou poderia ser outra coisa? como representações de números, há uma forte tendência a considerar
P: Acho que teria de começar com y, porque tem uma letra y. Assim, o y tem de que as letras representam valores específicos únicos, como em "x + 3 = 8" ,
ser a inicial da palavra.
(Booth, 1984, p. 28) e não números genéricos ou variáveis como em "x + y = y + x" ou "A =
= b x a" (Kuchemann, 1981). Na aritmética, os símbolos que represen-

Essa interpretação pode parecer um pouco surpreendente, e no tam quantidades sempre significam valores únicos. Há pouca escolha,
entanto ela talvez não devesse nos causar nenhum espanto. Por exemplo, por exemplo, quanto ao valor representado pelo símbolo "3". Portanto,
em aritmética lê-se "3 m" como "3 metros", e afirmações como "3 m = talvez não seja de estranhar que as crianças tratem esses novos símbolos
= 300 em" interpretam-se como "3 metros são equivalentes a 300 da mesma maneira como se representassem quantidades.

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Um dos problemas decorrentes dessa visão das letras é que as não é isolada da aritmética; na verdade é, em muitos aspectos, a "arit-
crianças muitas vezes assumem que letras diferentes devem necessaria- mética generalizada". E nisso está a fonte das dificuldades. Para com-
mente representar valores numéricos diferentes. Conseqüentemente, mui- preender a generalização das relações e procedimentos aritméticos é
tos alunos entendem que "x + y + z" nunca pode ser igual a "x + p + z", preciso primeiro que tais relações e procedimentos sejam apreendidos
como Trevor, 15 anos de idade, ao defrontar com o problema da figura 3.5. dentro do contexto aritmético. Se:;não forem reconhecidos, ou se os
alunos tiverem concepções erradas a respeito deles, seu desempenho em
álgebra poderá ser afetado. Nesse caso, as dificuldades que o aluno tem
x+y+z=x+p+z em álgebra não são tanto de álgebra propriamente dita, mas de proble-
Essa afirmação é verdadeira? Sempre/Nunca/Às vezes, quando ... mas em aritmética que não foram corrigidos.

Fig. 3.5
-.
As convenções aritméticas malcompreendídas
Trevor: Não será verdadeira nunca.
E: Nunca? Um dos aspectos em que as idéias aritméticas dos alunos podem
T: Nunca, porque ela terá valores diferentes... porque p tem de ter um valor influir em seu desempenho é o do uso dos parênteses. As crianças geral-
diferente do valor de y e dos outros valores, então nunca será verdadeira.
E: Quer dizer que p tem de ter um valor diferente ... por que você diz isso?
mente não usam parênteses (Kieran, 1979), porque acham que a seqüência
T: Bem, se não tivesse um valor diferente, então não se colocaria p, mas sim y. escrita de operações determina a ordem em que os cálculos devem ser
Veja, usa-se uma letra diferente para cada valor diferente. efetuados. Além disso, muitos alunos acham que o valor de uma expres-
(Booth, 1984, pp. 14-15) são permanece inalterado mesmo quando se muda a ordem dos cálculos:
Tristan, também de 15 anos de idade, justifica sua opinião de que [Kelth; treze anos de idade, ao calcular 18 x 27 + 19, logo depois de ter calculado
y e p são valores diferentes. 27 + 19 x 18 da esquerda para a direita.]
Keith: Faço ... 27 mais 19, depois multiplico por 18. É a mesma coisa que o
Tristan: ... y não poderia ser a mesma coisa que p. anterior, só que ao contrário.
E: Bem, quer dizer que usar letras diferentes ... E: Pois bem, suponha que eu resolvesse calcular e achasse que deveria multiplicar
T:Significa que elas são quantidades diferentes. 18 por 27 e depois somar 19. Eu chegaria ao mesmo resultado?
E: Tudo bem. E elas sempre são quantidades diferentes? K: Sim.
T: Bem, sempre verifiquei que eram diferentes. Nunca encontrei nenhum caso em E: E de que maneira você faria?
que são a mesma coisa. K: De qualquer uma! Depende do que passasse pela minha cabeça na hora!
(Booth, 1984, pp. 14-15) E: Mas não importaria a maneira de fazer?
K: Não, a resposta seria a mesma.
Na verdade, Tristan quase certamente já deparou com "um caso (Booth, 1984, p. 55)
em que são a mesma coisa", a saber, no gráfico da função linear y = x.
Porém, a aparente contradição proporcionada por esse exemplo pode não Uma outra visão éde que o contexto a que está ligada a expressão
o ter preocupado. A resposta típica de uma classe de alunos de 15 anos escrita determina a ordem dos cálculos, independentemente de como a
diante desse problema era que nesse caso podia-se ter y = x, pois "isso expressão seja escrita, conforme achava Neil, de quinze anos de idade
é gráfico, não é álgebra"! (fig. 3.6):

o que você pode escrever como área deste retângulo:


Como os alunos entendem a aritmética

Muitas das dificuldades descritas até aqui foram discutidas segundo


a perspectiva das diferenças entre aritmética e álgebra. Porém, a álgebra Fig.3.6

32 33
Neil: p vezes ... a mais m. (Escreve p x a + m.] o uso de métodos informais em aritmética pode também ter impli-
E: Muito bem, então você escreveu p x a + m. E o que você faria realmente o cações na habilidade do aluno para estabelecer (ou compreender) afirma-
que você precisaria fazer primeiro? ' ções gerais em álgebra. Por exemplo, se um aluno geralmente não
N: Não estou entendendo. determina o número total de elementos de dois conjuntos de, digamos,
E: Muito bem, por que você disse p vezes a mais m?
N: Porque estou multiplicando este lado [P] por aquele lado (a e m] e não dá para
35 e 19 alunos utilizando a noção de adição, como 35 + 19, mas resolve
. fazer aquele .lado [a e m], e assim tenho de somar este (a] com aquele em] para o problema, utilizando o processo de contagem, então é pouco provável
multiplicar os dois lados juntos. ' que o número total de elementos de dois conjuntos de x e y elementos
E: Muito bem, então que parte você faria primeiro? seja prontamente representado por x + y. Neste caso, a dificuldade não
N: ... Eu somaria aqueles dois (a e m] e então multiplicaria por p. está tanto em generalizar a partir do exemplo aritmético, mas de ter um
E: E foi isso que você escreveu?
N: Foi. procedimento adequado, e uma representação desse procedimento em
E: Suporu:a qu: lhe diga qu~ acho que [p ~ a + m] significa p vezes a. E depois mais m. aritmética, para a partir dele fazer uma generalização inicial. A impor-
N~~, nao, na? p~de ser ISSO. Se ~oce fizer p vezes a só obterá uma parte dela tância da utilização, por parte dos alunos, de seus próprios métodos
(area]. Voce tena de fazer a mais m para obter toda a base, e então multiplicar informais foi discutida exaustivamente em outros textos (por exemplo,
por p. Você tem de somar a com m primeiro.
Case, 1974; Booth, 1981; Booth e Hart, 1983). Se os alunos têm de
(Booth, 1984, p. 22)
aprender (e usar) os procedimentos mais formais, primeiro devem perce-
Nesses exemplos, os resultados mostram que se ignora a necessi- ber a necessidade deles. Isso requer (a) que o professor reconheça que
dade de parênteses. Conseqüentemente, escrevem-se incorretamente ex- os alunos podem dispor de um método informal para um dado tipo de
pressões algébricas que necessitam de parênteses (por exemplo, p x a + m problema; (b) que o valor desse método informal para a resolução de
em vez_de F ~ (a. + m», o que pode acarretar outros erros quando a problemas simples seja reconhecido e discutido; e (c) que as possíveis
expressa o e simplificada (por exemplo, p x a + m poderá então ser limitações do método sejam consideradas, simplesmente tentando-se usá-
reescrita, erradamente nesse contexto, como pa + m). Nesse caso o erro 10 em problemas da mesma espécie, porém mais difíceis. Sugere-se que
~ fruto menos de concepções algébricas erradas do que de uma visão desse modo o aluno poderá chegar a reconhecer a necessidade de um
incorreta da representação aritmética. procedimento mais geral (isto é, formal). Devem-se procurar meios de
ajudar os alunos a desenvolver uma compreensão do próprio procedi-
mento formal.
Métodos informais utilizados pelos alunos

Há indícios consideráveis de que as crianças da escola elementar Conclusão


utilizam métodos informais para resolver problemas (por exemplo, Gins-
burg, 1975; Carpenter e Moser, 1981), e o mesmo também se constatou
na escola secundária (por exemplo, Booth, 1981; Petitto, 1979). Quando Esta lista de possíveis causas das dificuldades das crianças no
se trata de resolução de equações, por exemplo, o acesso apenas a aprendizado de álgebra não é, de modo algum, exaustiva. No entanto,
procedimentos informais pode ter um efeito marcante sobre a destreza poderá servir para lançar alguma luz sobre os tipos de dificuldades que
do aluno em questões aparentemente semelhantes. Num estudo envol- as crianças provavelmente experimentarão quando começarem a estudar
vendo aproximadamente duzentos alunos de dezesseis anos de idade álgebra. Como o valor dessas observações deve provir do uso que delas
constituindo os 20% do topo da escala de capacidade de uma amostra de se possa fazer para tomar decisões referentes ao ensino e aprendizado de
alunos da escola sueca, Ekenstam e Nilsson (1979) constataram que, álgebra, devemos indagar o que o professor pode fazer para ajudar as
embora 82% dos alunos tivessem resolvido a equação 30/x = 6 correta- crianças a evitar ou corrigir esses problemas. Espera-se que as sugestões
mente, apenas 48 % tiveram sucesso com o exemplo estruturalmente feitas aqui possam ir, de alguma maneira, ao encontro dessas necessida-
semelhante 4/x = 3. No primeiro caso, os alunos foram capazes de des. Além disso, as ilustrações aqui apresentadas podem servir para nos
resolver a equação por verificação, um procedimento que não poderia ser lembrar que algumas idéias aparentemente simples nem sempre são tão
aplicado de maneira tão imediata no segundo exemplo. simples como podem parecer aos adultos. Um levantamento contínuo do

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Matz, Marilyn. "Towards a Computational Theory of Algebraic Competence." Journal
que envolve exatamente o aprendizado de novos tópicos de matemática, ofChildren's Mathematical Behaviour 3(1) (1980): 93-166.
acompanhado por uma análise dos erros cometidos pelos alunos e de Petitto, Andrea. "The Role of Formal and Informal Thinking in Doing Algebra."
suas causas, pode nos proporcionar instrumentos extremamente úteis Journal of Children 's Mathematical Behaviour 2(2) (1979): 69-88.
para decidir sobre os meios de ajudar as crianças a melhorarem sua Universidade de Bath. Mathematics in Employment: 16-18. Bath, Inglaterra: University
of Bath, School of Mathematics, 1982.
compreensão da matemática. Cabe aos professores e pesquisadores da- Wagner, Sigrid. "Conservation of Equation, Conservation of Function, and Their
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·'i
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_ 41-66.
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--drell's Mathematical Behaviour 1(3) (1975): 63-156. necessário que tenham em sua formação uma base cognitiva que o
Kieran, Carolyn, "Children's Operational Thinking within the Context of Bracketing and
alicerce. Ajudar os alunos a criar esse significado com base no conheci-
the Order of Operations". Em Procçedings of the Third International Conference
for the Psychology of Mathematiq,Education, editado por D. Tall, pp. 128-32. mento que já têm foi nosso objetivo primordial. Para realizá-lo, conce-
Warwick, Inglaterra: University of Warwick, 1979. bemos um esquema de ensino inovador.
· "Concepts Associated with the Equality Symbol". Educational Studles in Ma- Nesse esquema, as expressões algébricas são introduzi das como
--thematics 12 (1981): 317-26. respostas a problemas. Os problemas escolhidos envolvem conceitos
Kuchemann, Dietrnar E. "Álgebra". Em Children 's Understanding of Mathematics:

l
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