Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Uma vez que o programa do primeiro retiro de três anos em Brasília chegou ao
período consagrado às meditações de Shine e Lhagtong surgiu claramente a necessidade
de um pequeno manual, claro, metódico e progressivo, para a prática da meditação.
O manual mais completo a que habitualmente se faz referência é O Oceano da
Certeza, Nge Dön Gyamtso, do 9° Karmapa, Wangtchug Dorje. Esse texto é certamente
muito completo e detalhado e compreende várias centenas de páginas e sua tradução em
língua inglesa não é pública.
O venerável Bokar Rinpotche escreveu um resumo desse texto de forma curta
denominada A Abertura da Porta do Sentido Definitivo, Nge Dön Godje, que foi utilizado
para os seminários que ele concedeu na Índia. Esse texto guarda, na ordem, todos os
pontos principais do Oceano da Certeza, mas é extremamente concentrado e difícil de
compreender, sem explicações detalhadas.
Ele pode ser completado, de forma muito útil, com o texto curto escrito pelo
grande lama Sakya, Deshung Rinpotche, para o centro Kagyu de Vancouver: A Tocha da
Via para a Liberação, Tar Lam Drönme. Tradicional, metódico e detalhado, mas de fácil
acesso, é ilustrado pela famosa pintura do Caminho de Shine em nove etapas onde os
obstáculos, os remédios e a progressão, são representados pelas relações entre o
meditador, um elefante e um macaco. Em nossa publicação, mantivemos o texto tibetano
escrito sobre o original em escrita cursiva Ume, o mesmo texto em letras de fôrma Utchen,
mais conhecidas, com a tradução embaixo. Quando nos pareceu que poderia ser útil,
acrescentamos alguns comentários, escritos em itálico.
Para completar estes textos, nós adicionamos O Excelente Caminho Seguido pelos
Afortunados, Kelden Tröpei Lam Zang, escrito por seu predecessor, e que Kyabje Kalu
Rinpotche usou na Índia para transmitir seus ensinamentos de meditação. O texto é uma
coleção de instruções essenciais para nos guiar de maneira segura no caminho da
iluminação.
Com a tradução em Português desses preciosos documentos, escritos
pessoalmente por esses grandes mestres, nós deixamos o texto Tibetano original. Assim, é
sempre possível consultá‐los e, eventualmente, melhorar o trabalho presente. ʺ
A fim que eles possam ser úteis àqueles que, sobre a Via do Despertar, engajam‐se
na prática da meditação, decidimos tornar disponíveis esses textos para todos.
Centro Budista Tibetano Kagyü Pende Gyamtso ‐ DF 425 ‐ Condomínio Jardim América ‐ Lotes F1/F3
Sobradinho II ‐ DF ‐ CEP: 73070 ‐ 023 ‐ Fone: (61) 34 85 06 97 – Site: kalu.org. br ‐ Email: sanghakpg@kalu.org.br
3
O Caminho de Shine ‐ O estado de calma mental
* * *
Na palavra em tibetano, a primeira sílaba « Shi » significa calma / paz / pacificada / repouso /
tranqüilidade e a segunda « Ne » ficar / permanecer / encontrar‐se.
* * *
Descrições e significações gerais:
O caminho simboliza uma progressão. A imagem do monge aparece nove vezes; isso corresponde às
nove etapas para a calma mental. As seis curvas do caminho indicam a aplicação das seis forças.
Há seis forças que intervêm umas após outras:
* * *
Durante as 1ª e 2ª etapas, que ocupam 1/3 do caminho, o meditador tem o maior trabalho a
fazer e deve gerar mais esforços. É nesse período que se podem observar as chamas maiores.
Ainda que ele tenha alguma compreensão do ensinamento do Buda e da importância da
meditação quando ele começa a praticar e realiza que sua mente está longe de seu controle. Ele deve
vigorosamente aplicar sua atenção, sua vontade e sua motivação.
O mais difícil é talvez o início; na segunda etapa já há uma pequena melhora ilustrada pelo
branco que começa a surgir na cabeça dos animais. Antes ele nem se dava conta da gravidade da
situação e agora sabe em que direção a melhora acontece;
2) A confrontação
Etapas 3 e 4 :
Agora se sabe reconhecer se a meditação é boa ou não. Identifica‐se claramente, e cada vez mais
rápido, as distrações e o torpor, grosseiros e sutis. É preciso ainda, de forma laboriosa (chamas) aplicar‐
se em « tomar a rédea » retornando ao objeto da meditação graças à atenção e à lembrança.
3) Mudança de relação
Etapas 5 e 6.
Uma inversão de relação é produzida; o meditador passou para frente; é a meditação que toma
as rédeas. O branco tornou‐se mais importante que o preto.
Na 5ª etapa a atenção e o esforço de controle são ainda necessários (chamas menores), mas, com
a vigilância e a lembrança, a mente é dominada.
Na 6ª etapa isso se torna mais fácil, distrações e torpor diminuíram muito, a mente segue
facilmente a meditação, mantida simplesmente com a corda da atenção.
4) Pacificação
Etapas 7 ‐ 8 ‐ 9:
Nas duas primeiras etapas havia somente uma etapa por nível.
Na 3ª e 4ª etapas havia duas etapas por nível. As cenas são muito animadas no início, mas
seguem um processo de clareamento e de pacificação caminhando junto com a diminuição da agitação e
do torpor.
Agora, há três etapas no mesmo nível; a agitação desaparece da mesma maneira que o torpor.
Progride‐se facilmente em direção à calma e à clareza.
Nenhuma intervenção ou esforço são necessários; a meditação desenvolve‐se por si mesma.
1ª Etapa « Posicionamento da mente » nJ3n-:)R$-0y
:)R$-0y Posicionar, estabelecer: é estabelecer a mente em um estado particular.
=3-IA-#$-0-S$-!R2n-S$-.5-.<-2-=n-.5-0R-øRn-0:A-!R2n-nRy
:.A-=-2!J/-/n-nJ3n-$/n-0-.5-0R-:P2-0-;A/y
As curvas do caminho indicam a aplicação das seis forças. A primeira é a força da
Escuta; ela permite realizar a primeira etapa da calma mental.
:.A-/n-nJ3n-$/n-2z/-0-2<-3J-tJ-;R.-3J.-.5-y (J-(5-$A-H.-0<-2!R.-0-/Ay
S/->Jn-GA-lR=-!R2n->$n-2*J.-(J-(5-$A-H.-0<-<Ry
A partir deste ponto e até a 7ª etapa, a presença das chamas, sua ausência e sua
diferença de tamanho correspondem à intensidade de esforço necessário para aplicar
a atenção e a lembrança.
]-5-0R-nJ3n-.5-#-.R$-/$-0R-LA5-2-35S/y
O elefante (representa) a mente e o preto simbolizam o torpor.
3J=-:UR-2-.5-y #-.R$-/$-0R-cR.-0-35S/y
O macaco (representa) as produções da mente e o negro simboliza a agitação.
** *
2n3-0:A-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-$*An-0-:P2y
Realiza‐se a 2ª etapa da calma mental graças à força da compreensão.
:.A-/n-295-3$R-/n-.!<-(-<A3-IAn-:1J=-2-.J-$n=-(-.5-$/n-(-)J-:1J=-
:UR-2y
A partir de agora, desde a cabeça, o branco vai aumentando: é o crescimento da
lucidez e da estabilidade.
:.R.-;R/-s-/A-cR.-0:A-;=-35S/y
Símbolos dos 5 tipos de experiências sensoriais que são
os objetos de agitação para a mente.
S/-0:A-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-$?3-0-.5-28A-0-:P2y
A força da lembrança: ela faz realizar as 3ª e 4ª etapas da calma mental.
LA5-2-U-3Ry :.A-/n-LA5-2-U-<$n-nR-nR<-5Rn-9A/-0y
O torpor sutil. A partir de agora se identificam distintamente
as formas grosseiras e sutis do torpor.
KA-3A$-2v-2-/A-nJ3n-$;J5-2-5R->Jn-/n-a<-.3A$n-0-=-$+R.-0:Ry
O olhar dirigido para trás expressa que uma vez que a mente tenha reconhecido suas
distrações, ela retorna à sua meditação.
No início da meditação, nossa atenção deve ser pousada sobre um objeto; quando se deixa esse
objeto, trata‐se de uma distração, abandonou‐se a meditação.
É preciso, portanto, verificar regularmente, através de uma auto‐avaliação se nossa atenção
continua sobre o objeto da meditação.
No início podia‐se entrar em estados de torpor mais ou menos profundos, chegando até mesmo
ao sono, ou ainda nossa atenção era absorvida por idéias, situações imaginadas associadas a sentimentos
ou emoções mais ou menos fortes. Essas distrações podiam durar certo tempo, sem que se desse conta
delas.
Agora, depois de um momento, graças à atenção e à lembrança, nos damos conta que nossa
atenção afastou‐se de nosso objeto de meditação.
Lembrando‐se de nosso objeto, abandona‐se a distração e se retorna a atenção para a meditação.
4ª Etapa « Posicionamento completo ». *J<-:)R$-0y
cR.-0-}R/-=-*J-2:A-/n-*3ny
O poder da agitação diminuiu.
4ª etapa
A nota sobre atitude para com as ações positivas lembra‐nos que durante essa meditação tudo o
que não seja o objeto da meditação são distrações e que é preciso abandoná‐las.
Portanto, não se podem recitar mantras nem em voz alta, nem mentalmente, nem utilizar o
moinho de preces etc.
Entretanto, não é preciso transpor essa instrução para fora do período das sessões dessa
meditação! Não é preciso parar intempestivamente as ações físicas, verbais e mentais, sejam elas
virtuosas ou simplesmente utilitárias.
Os atos não‐ virtuosos é preciso, é claro, sempre evitá‐los!
5ª Etapa : « Disciplinado. » z=-2<-LJ.-0y
>Jn-28A/-IA-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-s-0-S$-0-:P2y
A força da vigilância. Ele faz realizar as 5ª e 6ª etapas da calma mental.
>Jn-28A/-IAn-nJ3n-:UR<-3A-!R<-8A5-y $9A5n-$+R.-/n-+A5-:6B/-=-:SJ/-0y
Graças à vigilância a mente não persiste mais em suas elaborações. Ela estimula
e conduz a um estado de absorção $+R.-0- gerar, orientar, ativar
5ª etapa
Produziu‐se uma mudança na relação. Não é mais o macaco da agitação dos pensamentos
discursivos, que conduz a marcha, mas a mente está controlada graças à vigilância.
Na 5ª etapa não são mais as distrações que dominam a meditação. No início, tentava‐se meditar
um pouco entre as distrações, agora há somente algumas distrações que sobrevém durante a meditação.
O monge vira em direção ao elefante; a mente necessita ainda de certa supervisão, mas desde que uma
distração surja, aplica‐se o remédio.
Uma pequena chama está presente; a atenção, a lembrança e certa energia continuam sendo
necessárias para manter o controle, mas o branco começa a predominar, as distrações estão sob controle,
disciplinadas.
6ª Etapa : « Pacificada » 8A-2<-LJ.-0y
6ª etapa
{2n-:.A<-LA5-cR.-U-3R:5-*J-.!:-=-&5-9.-*Jn-G5-.J-3-ø$-lR=-(5-%n-cR5-
2<-LJ.-0:Ry
Neste estado, mesmo que um pouco de torpor ou agitação sutis possam ainda
surgir em situações difíceis; um pequeno esforço faz com que sejam abandonados
imediatamente.
7ª etapa
A clareza e a estabilidade aumentam, as distrações são raras e eliminadas com muito pouco
esforço. Sobre o desenho o negro é ínfimo, o macaco está sentado, inativo. As distrações não têm mais o
poder de perturbar a meditação.
Uma mudança importante ocorreu desde a 6ª etapa; personagens não se deslocam mais e não há
mais chamas.
O monge não tem mais necessidade de controlar os animais.
A meditação não é mais laboriosa e não necessita mais de esforços.
A presença da vigilância e da energia a tornam fácil e agradável, e ela progride
facilmente. Tudo está tranqüilo!
8ª Etapa « Concentrado em um ponto » lJ-$&A$-LJ.-0y
Nesse estado, com o resultado de seu treinamento, a mente permanece facilmente concentrada
sobre o objeto, sem o mínimo torpor ou distração.
A meditação continua a progredir naturalmente, sem esforços.
Seu estado é comparado a um vasto oceano sem ondas.
9ª Etapa « Absorção Equânime » 3*3-0<-:)R$-0y
;R5-?-:SAn-0:A-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-.$-0-:P2y
A força do perfeito hábito. Ela faz realizar a 9ª etapa da calma mental.
9ª etapa
** *
S/->Jn->$n-&/-IAn-v-2-:5S=-2y
Com uma vigilância discriminativa e enérgica busca‐se a compreensão justa.
!R5-*A.-=-.3A$n-0:A-8A-z$-95-:VJ=-IAn-YA.-l-$&R.-0y
Com a prática de Shine e Lhagtong conjuntamente, orientadas para a vacuidade,
cortam‐se as raízes do ciclo das existências.
A última imagem se refere à Lhag‐Tong, a Visão superior. A mente purificada e calma torna‐se
novamente ativa, não segue mais na direção da calma mental.
Com a força da vigilância discriminativa, simbolizada pela espada, busca‐se a Visão Justa.
Cortam‐se as duas faixas negras que representam os dois véus: o véu das paixões e o véu do
cognoscível.
!, ,,<-=3-1R/-3J?,
A TOCHA DO
CAMINHO DA LIBERAÇÃO
Texto do
Venerável Dechung Rinpotche
3
Índice
Introdução
Índice
Introdução
I Samatha (Shine)
1) A preguiça
2) O esquecimento
3) O torpor e a agitação
4) A falta de intervenção
5) O excesso de intervenção
2- A agitação
a) definições
b) remédios
1) As seis forças
2) As nove etapas
6) As cinco experiências
b- A imobilidade do corpo
2) Segunda etapa
3) Terceira etapa
4) Quarta etapa
5) Quinta etapa
6) Sexta etapa
7) Sétima etapa
8) Oitava etapa
9) Nona etapa
G- Resumo
II - VIPASYANA ( Lhagtong)
A – Definições
1) Pessoa
2) Fenômeno
B – O método da prática
ORIGEM DO MANUAL
Conclusão do autor
INTRODUÇÃO
1
O termo tibetano shine (escrito: 8A-$/n-; sânscrito : samatha) é composto de duas sílabas, cada
uma com um sentido: shi significa paz, tranqüilidade ( das agitações, das emoções conflituosas, do
torpor); e ne significa ficar, permanecer, manter-se,repousar, ser (neste estado de tranqüilidade) .
Shine é, portanto, literalmente, “permanecer tranqüilo”, é o estado de repouso de uma mente em
paz. O termo se traduz por ficar tranqüilo, permanecer em paz, repouso pacífico.
2
O termo tibetano lhaktong (escrito: z$-3øR5- ; sânscrito : vipasyanâ) se decompõe assim : lhag
significa superior ou claro (lhag ger), mthong : ver ou visão. Lhaktong é a visão superior ou a
visão clara, que vê a natureza da mente além dos véus da confusão. Esse termo será traduzido por
visão superior, vista penetrante, visão intuitiva ou clara visão
3 virya
4 prajnâ
Outra abordagem consiste em desenvolver a experiência da visão filosófica
(quer dizer uma forma analítica de vipasyanâ) e depois desenvolver o estado de
repouso tranqüilo (samatha) nesta experiência; samatha e vipasyanâ se praticam
então conjuntamente. Esse método é ensinado como tendo vantagens por dirigir
facilmente os discípulos e fazê-los facilmente descobrir a experiência meditativa.
O Guia Compassivo (o Buddha) nos sutras, explicando seu pensamento
definitivo , assim como o grande Acarya Asanga (Thomé) no Bodhisattvabhûmi
(Djangsa) e o Sravâkabhûmi (Nyensa), Jnânagarbha (Yeshe Nyingpo) no
Madhyamakâhridayakârikâ (Uma Nyingpo), Shantideva (Shiwelha) no
Bodhicaryâvatara (Tchodjuk), Kamalasila nos seus três tratados de meditação e
Atisha (Djwo Dje) no Bodhipathapradipa (Djangtchub Lamdron), aconselharam a
buscar, de início, o estado de tranqüilidade da mente ( samatha) e depois meditar
sobre a visão superior (vipasyanâ).
(Em todo caso) o estado de tranqüilidade da mente (samatha) é o
fundamento necessário aos yogues budistas e não budistas para abandonar as
emoções conflituosas. É ainda uma meditação que deve ser realizada por qualquer
um que seja o yogue do Hinayana ou do Mahayana. E mesmo no Mahayana,
todos os yogues do Vajrayana como do pâramitâyâna5 devem praticar samatha.
Esta prática é, portanto a base mais importante para todos os yogues que
percorrem a via espiritual.
Em nossa época das cinco degradações6, praticar inicialmente a
tranqüilidade da mente (samatha) é um ponto muito importante para aqueles que,
como eu, aspiram a orientar sua mente para a meditação. [Essa necessidade pode
ser compreendida por analogias:] como o reflexo da lua sobre a água, que não é
claro sobre uma água agitada; ou ainda como para dissipar a obscuridade e
distinguir as pinturas, são necessárias conjuntamente a claridade de uma vela e a
imobilidade do ar (a tranqüilidade da água e do ar correspondem a samatha, e a
claridade da lua ou da vela a vipasyanâ); semelhantemente uma mente que não
está nem um único instante sem o pensamento discursivo( ou seja,que não tem a
tranqüilidade de samatha) não poderá descobrir a inteligência primordial da visão
superior (vipasyanâ). E mesmo que a consiga agarrar grosseiramente, ela não
poderá ser estável.
5
O mahayâna se subdivide em dois ramos: o pâramitâyâna ou caminho dos sutras, fundado sobre
a prática das pâramitas, e o vajrayâna fundado sobre os tantras. As duas abordagens são
complementares, a primeira sendo a base da segunda.
6
As cinco degradações são: da vida (que diminui), das paixões (que aumentam), das pessoas (que
se envilecem), da época (que degenera) e da compreensão dos ensinamentos (que se degrada).
I – SAMATHA (Shine)
A – CIRCUNSTANCIAS FAVORÁVEIS,
FALTAS E REMÉDIOS PARA A PRÁTICA DE
SAMATHA
Existem quatro remédios para a preguiça que é o primeiro vicio a abandonar, que
são:
_A intenção,7 que faz tender para a meditação,
_O esforço, 8que faz ser enérgico nela,
_A confiança,9 que faz entrever suas qualidades,
_E os estados meditativos extremamente puros, ou arrebatamentos ( shin
sbyangs)10, que são o resultado dos esforços.
A intenção faz tender para o estado de meditação e o esforço consiste em
permanecer nele. A confiança é a origem da inspiração; quanto aos estados
meditativos de extrema pureza, eles são o fruto dos esforços.
Entre estes remédios para a preguiça o principal é o esforço 11: de fato,
trata-se de ser corajoso. A preguiça é o primeiro obstáculo à meditação. Trata-se
de abandoná-la e de desenvolver energia mantendo presentes à mente:
- a característica insatisfatória da existência condicionada,
- a dificuldade de se obter a existência humana livre e qualificada (ou seja,
dotada das liberdades e das qualificações que a tornam apropriada para a prática
do Dharma),
- a impermanência e a morte.
12
$n=-2:A-5<-.5-w/0y
13
.3A$n-0-=-lJ-$&A$-0:A-$/n-(y
Drenpa (escrito: S/- 0- )
14
significa literalmente “manter-se presente à mente” e “recordar-se”,
“lembrar-se de”. Drenpa permite de guardar a meditação presente à mente. É a presença da
mente na meditação e o lembrar-se dela. Nós traduzimos Drenpa por uma ou outra dessas
expressões guardando sempre que possível o termo tibetano entre parênteses. Drenpa como
presença do “chamado da lembrança” assegura a continuidade da meditação.
15
.3A$n-0-
suporte, objeto da meditação.
16
Shezhin ( escrito: >Jn-$8A/-) significa literalmente “ ser conhecedor”. She: conhecer, e zhin é uma
particular característica do presente. Shezhin é o conhecimento do presente, uma qualidade de
atenção vigilante ao instante presente, atenção vigilante ao objeto da meditação e ao estado
presente da mente nela. Ela permite reconhecer se a mente está, no instante presente, distraída ou
não, enquanto que o “chamado da lembrança” ( drenpa) permite manter ou restabelecer o contato
com a meditação.
Se a presença do chamado da lembrança (dran pa) se deteriora, nós
esquecemos a meditação17e tão logo nós estamos assim distraídos, ela é
destruída. Daí a presença do “chamado da lembrança” ( dran pa) permite não se
deixar a meditação,e é a raiz (dessa prática). É ensinado que se deve estabelecer
a mente na meditação(dmigs pa) e aí permanecer presente, lembrando-se (dran
pa) continuamente, sem a menor distração: quando estamos distraídos, essa
simples distração destrói a presença (dran pa) [na meditação].
1) A opacidade e o torpor
a) Definições
A opacidade ou entorpecimento18 é o estado no qual o suporte de
meditação19não está claro e no qual o corpo e a mente estão num estado de
lentidão e de sonolência.
O torpor grosseiro20 é como a obscuridade abatendo-se sobre a mente.
[Nesse estado], mesmo se a mente não se afasta para fora de seu suporte de
meditação, ele não é nem claro nem lúcido e a força da presença (dran pa) está
enfraquecida.
O torpor sutil 21é o estado no qual mesmo se a mente está clara e lúcida, a
precisão de sua experiência sustentada e alerta, fixada 22sobre o suporte de
meditação está um tanto relaxada.
b) Remédios
Considerar as qualidades das Três Jóias (essa consideração é um estimulante para
a confiança, a alegria, o entusiasmo... e a mente de uma forma geral);
17
.3A$n-0- suporte, objeto da meditação.
18
3$n-0-
19
.3A$n-0- suporte, objeto da meditação.
20
LA5-2-<$n-0-
21
LA5-2-U-3R-
22
5Jn-0:A-5Jn->Jn-.3-3A5-5J-2-
_Produzir na mente características luminosas 23 (por exemplo: imaginar que
nossa mente banha-se numa imensa claridade, extremamente viva);e
_As instruções concernentes à mistura do sopro-mente e do espaço 24( por
exemplo imaginar que a mente faz corpo com o sopro, que se funde ele mesmo
num espaço aberto ao infinito).
2) A agitação
a) Definições
A agitação sutil [ é o estado no qual] a mente não fica imóvel sobre o
suporte de meditação e se dispersa um pouco. O remédio é meditar utilizando a
presença do chamado da lembrança (dran pa) e a atenção vigilante (shes bzhin).
A agitação grosseira (é o estado no qual), mesmo utilizando o chamado
(dran pa) e a atenção vigilante (shes bzhin), a mente não fica quieta e dispersa-se
para os objetos de apego.
b) Remédios
Meditar sobre a impermanência, sobre as três existências inferiores e sobre
os males do samsara (o que favorece o desapego aos objetos fontes de agitação);
Aplicar as instruções que põem fim à agitação com meios poderosos (por
exemplo), meditar sobre um glóbulo sombrio, pálido e muito pesado que, a partir
do nosso coração, desce lentamente para além dos nossos limites corporais. A
mente faz, então, corpo com o glóbulo e o segue descendo doce e
progressivamente.
23
$5-2:A-35/-3-;A.-=-LJ.-0-
24
_5-nJ3n-/3-3#:-.5-2YJ-2-
25
<A$-0-
Por essas razões, avaliando nossa experiência: se constatamos que a
agitação se desenvolve quando nós aumentamos, em certa medida, a intensidade
da inteligência (rig pa), nós nos distendemos um pouco. Ao contrário, se
constatamos que deixando a mente por si mesma ela escorrega para um torpor,
nós aumentamos então um pouco (a intensidade da inteligência). Depois, tendo
encontrado a justa medida entre essas duas tendências, nós buscamos o estado
de repouso da mente, deixando-a em equilíbrio, afastada de toda perturbação.
Quando esse estado de repouso aparece, se tememos por alguns momentos que
ele soçobre no torpor, nós estimulamos novamente a lucidez de uma inteligência
bem presente. Cultivamos (2*5n-) também a prática, alternando essas duas fases
até que o Samadhi (experiência profunda) sem defeito se desenvolva. Este não
consiste somente numa transparência, pois se falta a ele a lucidez de uma
consciência precisa, esse estado, por si só, não conduzirá à estabilidade mental.
D - AS FORÇAS, AS ETAPAS,
OS ATOS MENTAIS E AS EXPERIÊNCIAS
1 - As seis forças
Quando nós praticamos samatha seguindo esse método, seis forças são
necessárias:
1_ A força da escuta (estudo do ensinamento),
2_ A força da consideração (é o começo da assimilação do ensinamento),
3_ A força da presença26
4_ A força da vigilância atenta27
5_ A força do esforço assíduo (a energia entusiástica)
6_ A força do habito perfeito.
26
S/-0-
27
>Jn-28A/-
[Na passagem que se segue, a ordem de certos parágrafos do texto tibetano foi ligeiramente
modificada para melhorar a inteligibilidade]
2 - As nove etapas
A prática dessas seis forças faz progredir samatha segundo nove etapas que
conduzem a mente ao repouso, e elas se denominam:
1_ Posicionamento28
2_ Posicionamento com duração
3_ Posicionamento com retorno,
4_ Posicionamento perfeito
5_ Disciplinado
6_Pacificado
7_ Completamente pacificado
8_ Unificado
9_Completamente absorvido, equânime.
28
Pode-se dizer também posição ou colocação
3) Pela presença do “chamado da lembrança” (dran pa) (desenvolve-se a
terceira etapa dita) “posicionamento da mente com retorno” e (a quarta etapa):
“posição perfeita da mente”.
4) Pela (força da) atenção vigilante (shes bzhin) (desenvolve-se a quinta
etapa dita da) “mente disciplinada” e (a sexta etapa da) “mente pacificada”
5) Pela (força do) esforço assíduo (desenvolve-se a sétima etapa de) “a
pacificação completa da mente” e (a oitava) “da unicidade da mente”.
6) Pela (força do) hábito perfeito da prática (desenvolve-se a nona etapa):
“o estado de completa absorção equânime”.
6 - As cinco experiências
As nove etapas são atravessadas com cinco tipos de experiências:
1) A experiência da “agitação”.
A mente é comparável à queda d’água de uma cascata.
2) A experiência da “aquisição”
A mente é comparável a uma torrente passando por uma garganta
estreita.
3) A experiência do “hábito”.
A mente é comparável a um rio de planície.
4) A experiência da “estabilidade”.
A mente é comparável a um oceano sem vagas.
5) A experiência “final”,
A mente é comparável a uma montanha29
29
Ver mais além a descrição mais detalhada das cinco experiências. A quarta é então nomeada
“oceano com vagas” e a quinta, “oceano sem vagas”.
E - AS INSTRUÇÕES PRÁTICAS DA PROGRESSÃO
2_ “ A imobilidade do corpo”
No Samatha, a postura corporal e a maneira de pousar o olhar são
importantes; (os sete pontos da postura são:)
1_ As pernas na postura Vajra (vajrâsana)
2_ As mãos pousadas no mudra de meditação, quatro larguras de dedo
abaixo do umbigo,
3_ A coluna vertebral reta como uma seta,
30
O domínio dos sopros, ou seja, da respiração e das práticas dos sopros sutis tem por
conseqüência o aumento da longevidade.
4_ O busto desimpedido
5_ O queixo abaixado repousando sobre o pomo de Adão,
6_ Os lábios não são nem abertos nem cerrados: a língua toca o palato.
Eles ficam como são ,relaxados.
7_Os olhos repousam semi-abertos, relaxados no espaço, oito dedos
adiante do nariz.
A respiração continua no seu ir e vir, mas ela não é nem sonora nem rouca
ou agitada. Nós inspiramos docemente, lentamente, de forma natural e expiramos
da mesma maneira.
O praticante permanece como acaba de ser dito, sobre uma almofada de
meditação confortável, reto e imóvel, respeitando todos os pontos da postura de
meditação.
2) Segunda etapa
“Posição com duração”: a meditação precedente, inicialmente, não dura
muito tempo. Quando na segunda etapa, a mente começa a ficar quieta de tal
maneira que os breves instantes de meditação adquirem certa duração.
3_ Terceira etapa
“Posição com retorno”: quando uma distração aparece, ela é reconhecida
como tal e a mente permanece em contato com o suporte da meditação.
4) Quarta etapa
“Posição perfeita”: a mente não se dispersa mais, a presença do chamado
da lembrança a reúne ao suporte de meditação
5) Quinta etapa
“Mente disciplinada”: é a mente regozijando-se dos benefícios do Samadhi.
Se o torpor ou a agitação aparecem, ela os trata com os remédios apropriados.
6) Sexta etapa
“Quietude”: assim que a mente é perturbada por um fator de distração ou o
que quer que seja, ao se tornar suporte de meditação, o fator perturbador se
pacifica.
7) Sétima etapa
“Completamente pacificado”: Logo que fatores desfavoráveis à meditação
apareçam cobiça, ou o que quer que seja, eles se pacificam, a mente
permanecendo pousada sobre o suporte de meditação.
8) Oitava etapa
“Unicidade”: os meios de eliminar o torpor e a agitação (mesmo sutis) tendo
sido empregados, a mente não se dispersa mais e fica estabelecida nesse estado.
9) Nona etapa
“Absorção equânime completa”: pelo poder do hábito, o estado de absorção
se produz por si mesmo, sem esforço nem dificuldade. Mas, pelo tempo enquanto
a felicidade do estado de extrema pureza (do arrebatamento) não tiver aparecido,
desse estado de absorção resta a tranqüilidade (Samatha) de uma mente do
mundo dos desejos atenta a uma só coisa 31. Uma vez que essa felicidade tenha
aparecido, desenvolvem-se os estados característicos da tranqüilidade da mente
(Samatha) que são incluídos nos diferentes graus de meditação (do mundo da
forma pura para o mundo sem forma).
31
A cosmogonia budista ensina uma hierarquia de diferentes estados de existência que se
resumem em três mundos ou estados:
O primeiro é o mundo dos desejos: ele é governado pelas paixões. É o nosso estado de
existência habitual. Por todo o tempo enquanto a experiência espiritual de extrema pureza não
aparecer, a meditação de samatha permanece sobre esse plano de existência.
Uma vez que a experiência de extrema pureza (shin djang) apareça, a prática de samatha
se abre sobre os planos do mundo da forma pura, e depois, do mundo sem forma. Eles
correspondem a diferentes graus de realização na prática da meditação. No primeiro deles, a mente
não está mais associada a uma forma grosseira, mas a uma forma sutil e luminosa. No segundo, já
não há nem mesmo forma, mas resta ainda a experiência de noções como “o espaço ilimitado” ou
“a consciência ilimitada”... São as mais sutis experiências da consciência, mas são ainda
experiências condicionadas do Samsara.
Assim, devem-se desenvolver corretamente os nove estágios que foram
descritos, abandonando em cada um os defeitos que forem encontrados, usando
as ações-remédios que são apropriadas. Mas, entre todos esses, os mais
importantes a serem abandonados são o torpor e a agitação. Primeiro, deve-se
identificá-los, e então:
_Para o torpor, pode-se diminuir a ingestão de alimentos antes da
meditação, sentar em um lugar elevado (um local com ampla visão), usar roupas
leves e uma pequena almofada de meditação; recitar o Refúgio e as preces em voz
alta, meditar numa postura física enérgica.
_A agitação é dissipada por meios opostos aos precedentes.
Quando o torpor e a agitação tiverem se acalmado, medita-se de forma
confortável e relaxada.
A Experiência da agitação
1) Uma vez que meditemos assim ( seguindo as nove etapas de Samatha),
os pensamentos se sucedem, a princípio uns após os outros sem interrupção. A
mente grosseira não pode se dar conta desse fluxo de pensamentos, ele preexistia,
mas não era evidente porque a mente não permanecia em meditação. Pelo
contrário, uma vez que nós tomamos consciência, parece-nos que os pensamentos
são ainda mais numerosos que antes. Vem uma questão: “Não é um sinal de que a
meditação não está se desenvolvendo?” De fato trata-se da primeira experiência
(de Samatha)! Chamamos de “a queda d’água de uma cascata”: é a experiência de
reconhecimento dos pensamentos.
A experiência da aquisição
2) Ainda que seja assim, sem adiar a prática para mais tarde, nós fazemos
cessar, tanto quanto possível, a produção dos pensamentos. Se (continuamos a)
meditar, pensamentos se sucedem uns após os outros, mas, num certo momento,
parece que seu curso se acalma e que a mente vem ao repouso, logo depois eles
retomam seu curso... alternativamente. É a segunda experiência denominada “a
água numa garganta estreita”: a experiência de repouso dos pensamentos.
A experiência do “Hábito”
3) Depois, se continuamos a meditar com perseverança, num momento o
curso dos pensamentos decresce como a respiração que se suspende. Eles se
esgotam e passa-se a um estado sem pensamentos. Nós então meditamos com a
mente alerta; por momentos, a experiência 32 é transparente, e furtivamente, os
pensamentos reaparecem. É a terceira experiência dita “uma bacia de confluência
de torrentes”: a experiência do esgotamento dos pensamentos.
A experiência da estabilidade
4) Essa experiência continua a se produzir e, durante a meditação, com a
maioria dos movimentos dos pensamentos pacificados, a mente permanece em
repouso num estado de completa absorção. Nesse estado, um ou dois
pensamentos continuam aparecendo de vez em quando, mas eles se pacificam
logo. É a quarta experiência dita “semelhante a um oceano com vagas”: a
experiência de um oceano com as ondas dos pensamentos.
A experiência final
5) Em seguida, uma vez que ficamos absorvidos com continuidade na
experiência precedente, todas as idas e vindas de pensamentos se pacificam, e a
mente fica completamente absorvida, com lucidez. É a quinta experiência
chamada: “o oceano sem vagas”, a experiência de tranqüilidade dos pensamentos.
Nesse momento, a intrusão dos pensamentos acalmou e a mente fica
regularmente num estado de absorção completa, mas se não houver transparência
nem uma vívida lucidez, trata-se de um Samatha que não passa de uma aparente
pacificação dos pensamentos33. Permanecendo nesse estado de absorção
completa, nós meditamos até que a transparência luminosa da mente se eleve, até
que apareça o estado semelhante a uma lamparina de manteiga que não é agitada
pelo vento.
Quando uma claridade notável do objeto de meditação tenha se
desenvolvido, sem olhar mais o suporte de meditação a mente olha para si mesma
e repousa na luminosidade mesma de sua experiência (shes pa). Se o torpor ou a
agitação aparece, então eles são dissipados com os meios apropriados e nós
ficamos na vastidão transparente, luminosa e viva, dessa experiência (shes pa),
relaxando os esforços e permanecendo à vontade.
32
>Jn-0-
33
A expressão #-:HA3-0- é obscura, provavelmente trata-se de uma alteração ortográfica no texto
original.
Quando nós praticamos assim, se, ao começo de uma sessão o estado de
absorção é mau e vai melhorando em seguida, convém ter uma meditação mais
sustentada (no início) e então meditar com “uma vigilância atenta a uma única
coisa”. Por outro lado, se após estar concentrado, o espírito produz numerosos
pensamentos e não fica quieto, e se inquietações variadas do corpo e da mente
aparecem, é sinal de excesso de tensão: convém então meditar relaxado e
distendido.
(De uma forma geral, trata-se de) comer o alimento que nos convém para
estar com boa saúde, em quantidade moderada; não (se deve) contrariar o ciclo
vigília-sono, dia e noite; se existem desordens (e uma tendência a dormir durante
o dia): repousar e, uma vez repousado, meditar com energia.
Ao término das nove etapas de Samatha, nós teremos desenvolvido “a
tranqüilidade de uma mente que, apesar de ainda estar atormentada pelo apego,
permanece absorvida num estado de atenção pontual”. Quando ela tiver sido
realizada, não há mais esforço a fazer para a mente unir-se ao objeto de
meditação: ela continua assim naturalmente em todas as nossas diferentes
atividades. Se ficarmos assim, deixando a mente tal como ela é, sem conceber o
que quer que seja, eleva-se uma experiência como se as aparências cessassem e a
mente se misturasse com o espaço. Ao deixar essa experiência, nosso corpo
parece uma coisa que aconteceu acidentalmente, a força do desejo, da aversão e
das outras paixões diminui e elas ficam intermitentes.
Quando a experiência de luminosidade é importante, parece que
poderíamos enumerar os átomos de um pilar ou qualquer outro objeto. Existem
também experiências de luminosidade, de felicidade ou ausência de concepção que
se desenvolvem... (num momento), parece que mesmo o sono se funde na
meditação e que a maior parte dos sonhos são puros. Tal estado de absorção é um
aspecto de realidade ou aspecto de tranqüilidade grosseira da mente. É a base
comum a todas as abordagens exteriores e interiores do ensinamento. Ela deve
então ser praticada, mas se não for completada pela experiência do arrebatamento
ou de extrema pureza, não será ainda o estado caracterizado de Samatha e
Vipasyanâ está longe!
A felicidade, a luminosidade e a ausência de concepção podem ser
experiências de uma meditação absorvida em totalidade ou não ser.
Não devemos, portanto, tomar as pequenas experiências imperfeitas de
repouso da mente como sinais de um grau avançado na via e orgulhar-se, mas
conhecer os pontos essenciais do caminho.
Habituando-se a este estado “de uma mente que, ainda sob o domínio do
apego, está atenta a uma única coisa”, o corpo e a mente chegam ao estado
adequado, chamado “experiência de extrema pureza”. A mente está agora livre
para permanecer em qualquer direção virtuosa que aspire da mesma forma de um
cavaleiro com um cavalo perfeitamente adestrado. Ela está feliz, completamente
desembaraçada dos elementos negativos, desgostos e constrangimentos. Os
sopros podem agora se movimentar corretamente no corpo, e este está
desembaraçado dos fatores negativos que nós não pudemos até agora dominar,
tais como a lentidão corporal, etc. A coluna vertebral é como uma pilha de moedas
de ouro e o corpo leve como um floco de algodão.
Certas experiências de felicidade aparecem como se o corpo fosse
instantaneamente penetrado por uma onda de leite quente. Daí vêm a capacidade
de submeter todos os desejos à pratica da virtude: é a experiência de extrema
pureza, ou de arrebatamento, do corpo. Essa experiência de extrema pureza é
inicialmente grosseira, depois, progressivamente, desenvolve-se seu aspecto sutil e
finalmente a experiência perfeita aparece claramente. Durante a experiência
grosseira, a mente oscila, depois, pouco a pouco a intensidade das oscilações
diminui como véus que se afinam mais e mais e finalmente chegamos à
experiência de extrema pureza sutil que é um estado de “absorção imóvel”. É
então o que é denominado Samatha dos diferentes graus de meditação (os
Dhyana ou graus de meditação do mundo da forma sutil e do mundo sem forma).
Essa progressão (correspondente às nove etapas de Samatha, com as
experiências que reportamos) aplica-se também à prática de Utpattikrama ou de
Sampannakrama.
G - RESUMO
34
S/-0-
35
>Jn-28A/-
36
.3A$n-0-
H - AS MEDITAÇÕES
QUE PURIFICAM OS COMPORTAMENTOS PASSIONAIS
A – DEFINIÇÕES
1 “Pessoa”
A “pessoa” 42 é inteligência que apreende a continuidade dos
constituintes43 [que nos compõem].
37
“ Não-eu da pessoa” ( $5-9$-$A- 2.$-3J.- ) ou “não-eu pessoal” ou “ausência de individualidade
dentro da pessoa”. Nós entendemos “indivíduo” segundo sua etimologia, como “unidade
indivisível”, paralelamente a individualidade é o que caracteriza o indivíduo.
38
“Não-eu dos fenômenos” ( (Rn- GA- 2.$- 3J.- ) ou “ não-eu fenomenal” ou “ausência de
entidade dentro dos fenômenos(ou coisas)
39
!R5-*A.-~A5-0R-&/-
40
95-:VJ=-
41
3J.-0<->Jn-
42
$5-9$-
43
15-0R:C-o/-
Uma vez que (essa inteligência) agarra em si mesma qualquer coisa de
independente44, de permanente45 e de monolítica46 e assim se fixa a um “eu
mesmo” 47 ou “eu” 48 isso é o “eu da pessoa” [ou ainda “a individualidade da
pessoa”]. Compreender que esse eu da pessoa (ou individualidade da pessoa) não
é qualquer coisa em si49 é a compreensão do “não–eu da pessoa50” [ ou da
ausência de ser ou de individualidade dentro da pessoa].
2 “Fenômeno”
Os “fenômenos51” são diferentes coisas: constituintes52, elementos53 etc.,
concebidos pelo eu da pessoa (ou individualidade da pessoa)54.
Agarrar esses fenômenos e se apegar55 a eles como a coisas reais56
possuindo suas características nelas mesmas57 é o “eu dos fenômenos58” ( ser).
B – O MÉTODO DA PRÁTICA
Num lugar isolado nós entramos no refúgio do lama e das três jóias com
uma oração fervorosa. Depois, motivados pela Grande Compaixão, nós meditamos
longamente no despertar da mente-coração (bodhicitta).Praticamos em seguida
um exercício de samatha e assim que o repouso da mente se desenvolveu um
pouco, nós consideramos :
44
<5-g$-
45
g$-0-
46
$&A$-0-
47
5-
48
2.$- “eu”, o si , eu, eu mesmo ou ego (2.$-) é a entidade sujeito (2.$-), a impressão de um
sujeito observador como entidade ( quer dizer como “coisa” independente, permanente e
monolítica), em vossa alma e consciência!
49
O eu da pessoa “ não é qualquer coisa em si” ( <5-28A/-3J.-0-
), “não tem natureza em si” ( <5-
28A/-3J.-0- )/ é “sem natureza própria”/ não tem existência em si/ é sem “em si mesmo”/ é “sem
realidade em si mesmo”/ “ não tem realidade que lhe seja própria”. Essas diferentes formulações
são compreendidas aqui como sinônimas.
50
$5-9$-$A-2.$-3J.-
“Fenômenos” ((Rn-) ou “objeto de conhecimento” ou “coisas”.
51
52
15-0R-
53
#3n-
“Conceptualiza” (2+$n-0-) ou “apreende mentalmente” ou “concebe” ou “ se representa”.
54
55
8J/-&A5-:6B/-0-
“coisas reais” (.5Rn-0R-) ou realidades
56
“si dos fenômenos” ((Rn- GA- 2.$- ) ou “entidade das coisas”. É a impressão de
58
que as coisas
existem em si mesmas, tem uma realidade em si (independente, permanente e monolítica), a
impressão de que as coisas subsistem por si mesmas, nelas mesmas.
“Alala! Nossa mente está em seu estado natural 59, ela é naturalmente desde
sempre60 Clara Luz61, livre de todas as determinações 62·. Ela é Claridade-vazia63
subsistindo64 sem direção, nem orientação65. Mas não a realizando, agarra-se
um “eu mesmo”66 que faz errar sem fim no Samsara.
Esse Samsara que aparece do hábito às propensões ilusórias,67 da
apreensão dualista68, é aparências de coisas que não são 69, como um disfarce, um
envelope ilusório70. Tomando-as como realidades 71, como um louco se entrega a
ilusões72 e nelas experimenta continuamente a experiência penosa de numerosos
sofrimentos.
Agora, a partir das instruções do lama sagrado 73, eu vou penetrar74 no
supremo segredo75 da mente, o profundo coração de todos os ensinamentos
expresso pelas 84000 coleções do Dharma dos Tathagatas dos três tempos e não
serei mais possuído pelo demônio76 da apreensão das coisas77”.
59
$*$-3-
60
$.R.-3-/n-
61
<5-28A/-IAn-:R.-$n=-2-
62
3Rn-0:A-3ø:-.5-V=-2-
63
$n=-!R5-
64
$/n-0-
65
KR$n-3J.-<An-3J.-
66
2.$-
67
:O=-0:A-2$-($n-
68
$95-/6B/-
69
3J.-$5-
70
$nR$-$nR2-;-3-2_-
71
2.J/-0<-295-2-
72
:O=-0-#R-/-=-=R5n-,R.-0-
73
]-3-.3-0-
74
#R5-z-(.-0-
75
$n5-2-]-/-3J.-0-
76
$.R/-
77
.5Rn- 0R<- :6B/- 0- “a apreensão das coisas” é a apreensão reificante, “coisificante”, que reifica,
coisifica, que apreende as coisas como reais, como tendo uma realidade em si.
1 – Meditação do não-eu da pessoa
Nós endireitamos o corpo e a mente 78 na concentração79 da experiência
agradável de existir, como um ser autônomo, e observamos80 os constituintes81.
Consideramos em seguida que “a apreensão de um eu ou um meu 82 é uma
ilusão”, pois se isso que nós chamamos de eu ou si existisse ele, deveria estar seja
no nome, seja no corpo, ou seja, ainda dentro da mente:
_O corpo não sendo mais que uma simples concepção que recobre a
agregação de numerosos constituintes como a carne, o sangue etc., ele não é
tampouco o eu. Do alto da cabeça à planta dos pés, ao interior, ao exterior, onde
quer que seja não há um eu.
_E quanto à mente? : a mente do passado 84 [já] cessou85; a mente do
devir [ainda] não nasceu, e a mente do presente cessa imediatamente 86, também
não pode ser tampouco o eu.
O que chamamos de “eu” se reduz então a não passar de uma ilusão, 87 sem
fundamento88. O mental considera89 [esses pontos] mais e mais.
78
=n-nJ3n-
79
OA3n-GAn-21A3n-
80
.3A$n-
81
*A-2<-=J/-0:A-15-0R- , os constituintes da apropriação
82
5-;A-
83
Uma concepção adventícia ( \R-2<-z-2+$n-0-43-) ou uma simples denominação (2+$n-0-&3-)
ou ainda uma designação convencional conceptual, um conceito, uma concepção, uma simples
concepção, não mais que uma apelação, um simples nome...
84
:.n-0:A-nJ3n-
85
:$$n-
86
.J- 3- ø$- +- :$$n- 0<- :I<- 2- ela passa instantaneamente, cessa sem cessar, interrompe-se
imediatamente, cessa de instante em instante, cessa no instante, cessa constantemente...
87
:O=-0-
88
$8A-3J.-
89
;A-=-L-
2 – Meditação do não-eu dos fenômenos
Todas as aparências do mundo exterior na sua variedade 90·: montanhas,
casas etc., não são o produto do acaso, do Todo-Poderoso, dos quatro elementos,
de átomos ou de um criador outro91 [mas são produzidos pela] nossa própria
mente globalmente alterada,92 pelas propensões do Samsara. (Todas essas
aparências) são como inexistentes, e93 elas se reduzem unicamente a aparências 94
emergindo pelo poder da ilusão95. Elas são, para tomar um exemplo, análogas96 a
uma cidade onírica ou aos cavalos, vacas ou outras formas de sonho.
Nós consideramos isso longamente para desenvolver uma firme convicção97.
Assim, se as aparências tomadas como objetos são análogas às aparências
oníricas, o conhecedor98 que as apreende é, também, semelhante ao espírito
(sujeito) da experiência onírica99, não tem existência real100, qualquer que ela seja.
Isso porque todos os fenômenos incluídos na apreensão dualista sujeito-
objeto, nada mais são que ilusões, mentiras e sujeitos enganosos.
Nós os consideramos e a mente se volta para si mesma na inteligência do
presente instantâneo101, livre do véu da apreensão dualista sujeito-objeto 102 e
longamente contempla nuamente seu próprio esplendor103.
90
$-5S$n-?-$5-2-
91
“criador que seja outro” ( LJ.-0-0R- $8/-IAn-Ln-0-
) ou ainda : “ criador constituído como outro”,
“criador na alteridade” ou “ não são o produto de um criador ou de uma alteridade”
92
!/-+-2a.-0-
93
3J.-28A/-z-
94
$5-2-
95
:O=-0-
96
!/-+-355n-0-
97
5Jn->Jn-S$-
98
O conhecedor (>Jn-0-) ou ainda: a inteligência, o conhecimento.
99
$/n-{2n-GA-nJ3n-
100
Ou ainda: “fundamentalmente ele não consiste em coisa alguma” ou “ele não tem nenhuma
existência real” ( .R/-=-P2-0-&A-;5-3J.-0-
) ou “ele é sem consistência fundamental”.
101
.-v<-IA->Jn-0-
102
$95-:6B/-IA-1A2-$;R$n-.5-V=-2-
Próprio esplendor (<5- $.5n-
103
) ou ainda: radiancia própria, irradiação sua energia em si, sua
própria lucidez...
Na experiência da claridade lucidez da abertura total, escancarada104:
_ contemplamos de onde nasce essa lucidez inteligente105: não
encontramos de início a causa (ou o lugar de origem) de onde ela vem: ela é não
nascida, é uma vacuidade aberta e desimpedida106.
_ em seguida contemplamos onde reside sua essência107, ela não se
encontra em nenhuma parte: nem no interior do corpo, nem no exterior ou entre
os dois. Ela não consiste em nenhuma cor, forma ou o que quer que seja.
Qualquer que seja a forma como nós a procuramos, ela não pode ser encontrada.
É uma viva transparência sem localização108.
_Finalmente, se contemplarmos onde ela termina: ela não se termina e não
se acaba em nenhuma conseqüência e, nessa não-finitude 109 está uma felicidade
estável110.
Assim, a vacuidade natural111, desprovida de causa, de conseqüência e de
essência (ou de ser) resplendece numa nudez clara e brilhante112. Sem bloquear
de modo algum a energia própria113 à claridade daquilo que de fato se
experimenta114, a inteligência dessa experiência 115 é uma lucidez viva e aberta 116·:
na sua claridade117 ela não consiste em nada (ela é vacuidade) e na sua vacuidade
ela é inteligência, lúcida e livre de todo bloqueio 118. É a Claridade-vazia, a ausência
de apreensão119 além das determinações120 e das orientações121.
104
$n=-=J-ZA$-$A-2:A-5=-
105
$n=-<A$-
106
*J-3J.-z-!R5-n5-5J-2-
107
<5-$A-5R-2R--Essência, ou “ aquilo que ela é nela mesma”,- ou “ aquilo que ela é em si” ou “ser”.
108
$/n-3J.-z-?5n-n5-5J-2-
109
:$$-3J.-
110
2.J-(3-3J-2-
111
$>An-!R5-0-*A.-
112
eJ/-z5-5J-2-
113
<5-$.5n-
114
MR5-3#/-
115
MR5-<R$-
116
$n=-nA5-5J-2-
117
$n=-zn-*A.-
118
$n=-<A$-3-:$$n-0-
119
$n=-!R5-:6B/-3J.-
120
3ø:-V-
121
<An-3J.-
“Permanecer nessa abertura, escancarada 122 nua e desobstruída123, indizível
e impensável; e finalmente, sem nem mesmo apreender o indizível!”
Quando aparece um pensamento, não siga seu curso, permaneça
desapegado124·: “tão logo ele aparece, ele desaparece completamente”.
No começo seja concentrado com firmeza 125 na intensidade; no meio seja
relaxado na distensão126; e no fim seja sem esperança nem temor.
Em resumo: sem jamais estar distraído da totalidade da simples presença 127
que é a claridade-lucidez vazia 128 sem fixação129, esteja,130 sem embaraço131 no
estado onde não há nada que seja meditado 132 – medite assim, intensamente133,
por curtos momentos134 repetidos mais e mais; depois, sem que a meditação se
torne fatigante encerre-a sob uma boa impressão”.
122
ZA$-$A-
123
eJ/-/J-;J-<J-
124
:6B/-3J.-z-28$-
125
OA3n-GAn-21A3n-
126
zR.-GAn-,R.-
127
<$-0-
128
$n=-!R5-
129
:6B/-3J.-
130
28$-
131
lR=-3J.-
132
2|R3-o.-/A-&A-;5-3J.-0-
133
.Rn-S$-
134
;/-ø5-2-
3_ Meditação da vacuidade e da compaixão conjuntas
Ao fim da sessão, antes de deixar a prática135: [Considere a natureza de
todo fenômeno: além das determinações136, sem ponto de referência137,
indizível138, transcendendo ao intelecto139, sem fundamento nem origem140,
semelhante ao espaço. Não o reconhecendo, todos os viventes- nossas mães do
passado141- atados por intenso apego ao eu e a fixação sujeito-objeto, vivem142
nas aparências ilusórias. Com uma compaixão enfática 143 desejamos que eles
realizem a natureza da mente144. A inteligência suprema145 do perfeito estado de
Buddha que torna manifesta146 esse grande além das determinações147.
Entre os tün (sessões de meditação)148:
“Os ilusionistas produzem formas:
Cavalos vacas, carros e outras.
Mas, seja o que for que apareça, isso não é nada em si,
Conheça todo fenômeno como semelhante”...
As profundas palavras dos sutras do sentido definitivo são uma grande
inspiração que planta o hábito da visão filosófica 149, assim os recitamos, no estado
que compreende toda aparência como aparência vazia, semelhante a uma ilusão; e
depois, agiremos diligentemente para o bem dos viventes.
135
2n3-2+/-IA-,R.-=3-
136
3ø:-V-
137
<An-3J.-
138
2eR.-V=-
139
]R-:.n-
140
$8A-3J.-l-V=-
141
3-c/-
142
=R5n-,R.-0-
143
~A5-<J-)J-
144
nJ3n-*A.-
145
i3-3H/-
146
35R/-z-Ln-0-
147
3ø:-V=-(J/-0R-
148
ø/-353n-
149
v-2-
4 - A meditação de Samatha-Vipasyana conjuntas
O período de Samatha é a pacificação150 de todas as irrupções do
pensamento discursivo151; é o mental que não faz nada152.
O período de Vipasyana é a eliminação153 de toda superimposição154; é o
mental no qual não há nada a fazer155.
No Yoga da ausência de toda meditação, os dois [samatha e vipasyana]
fundem-se em um único sabor e são praticados conjuntamente.
O Ornamento do Sutra diz:
“Esse véu da conjunção156
É o da unificação157”
A forma de praticar é sumariamente semelhante à que se precede: sem
abandonar a inteligência superior 158 que compreende o yoga meditado, o meio de
meditação e a pessoa que medita como desprovidos de natureza própria;
150
8A-
151
i3-gR$-$A-:)$-0-
152
;A.-=-3A-L-2-
153
(R.-
154
Superstição- superfetação ( 1R-:.R$n-)
155
;A.-=-L-o-3-fJ.-0-
156
95-z-:)$-0-
157
şR3-0-
158
>Jn-<2-
sem bloquear159 a lucidez da simples presença 160, a estabilidade da absorção
unificada161 na experiência aparente162, é Samatha, enquanto que a compreensão
imediata163 do caráter não nascido dessa simples aparência164 é Vipasyana.
Os dois estando em essência 165 indissociáveis, fique [em seu estado] claro-
lúcido e completamente aberto 166. Uma vez que o repouso 167 é grande, estimule168
a inteligência que compreende em si mesma 169 e uma vez que a inteligência é
intensa e que a mente não repousa, fique relaxado170.
Alternando assim, e reunindo os dois 171, todos os desvios172 são eliminados.
Se esses pontos essenciais não são cumpridos, haverá um desvio, pois qualquer
que seja a estabilidade de samatha, [ samatha sozinho se desvia] em um ou outro
dos quatro níveis de meditação 173 [do mundo da forma sutil]; e por mais excelente
que seja o discernimento de vipasyana, [ vipasyana sozinho se desvia] num dos
quatro domínios do sem forma [ do mundo da ausência de forma].
Por isso é importante praticar eliminando todos os desvios-
(Entre os Tun) sem se investir, ao capricho das projeções174, nos objetos
das faculdades cognitivas, a inteligência 175 não deixa o domínio da totalidade das
aparências, reconhecendo-as como suas simples emergências 176. E nesse estado,
nós realizamos o bem dos seres tanto quanto possamos.
159
3-:$$n-0-
160
<A$-0-
161
lJ-$&A$-+-$/n-0-
162
$5-2:A-(-
163
gR$n-0-
164
$5-43-*J-3J.-
165
5R-2R-.LJ<-3J.-
166
$n=-=J-ZA$-$J-
167
$/n-(-
168
5<-*J.-
169
nR-nR<-gR$-0:A->Jn-<2-
170
zR.-GAn-28$-
171
95-z-(.-
172
$R=-n-
173
2n3-$+/-28A-
174
o-;/-z-:UR<-3A-$8$-0-
175
<A$-0-
176
:(<-|R-43-
Finalmente, aplicando-nos à virtude, ou em qualquer atividade que seja nós
cultivamos177 mais e mais a inteligência178 de que toda aparência é como um
sonho ou uma ilusão. Isso é importante, pois é ensinado que essa prática faz
nascer em si o hábito da visão justa179.
CONCLUSÃO DO AUTOR
177
2!J/-
178
S/-mA-
179
v-2-i3-.$-
180
YR$-
181
.2-3-
Bokar
Rinpotche
Apresentação
3
A palavra tibetana tchaguia tchempo, significa Mahamudra, e é definida como
o que designa ʺa natureza da mente, clara luz e vacuidade, que engloba todos os
fenômenos do Samsara e do Nirvana.ʺ
O texto de Bokar Rinpotche é tão conciso que sua leitura por um leitor
novato corre o risco de fortemente a deixar uma impressão de grande
obscurecimento. A função da A Porta do Sentido Definitivo não é, de fato, propor
desenvolvimentos ou esclarecimentos sobre a meditação e sobre a abordagem do
Mahamudra, mas sobretudo de servir de ajuda à memória aos que já estão
engajados no caminho. Redigido em versos, a obra se presta, também para a
recitação ritual ou a memorização. Ele se dirige diretamente aos discípulos (foi
para responder a pedido destes que Bokar Rinpotche o compôs), permitindo‐lhes
facilmente relembrar os diferentes aspectos da Via, mostrando‐lhes a lugar exato
de cada elemento, convidando‐os a progredir e aprofundar sua compreensão.
A tradução do texto foi feita a pedido e com a ajuda de Bokar Rinpotche.
Principalmente destinada aos discípulos que seguem os seminários de
aprendizagem de meditação que Bokar Rinpotche organizava na Índia, ela
interessará igualmente a todos que estão engajados nos caminhos profundos do
budismo bem como aos estudantes da língua tibetana.
A tradução que propomos esforça‐se em se manter o máximo possível
próxima do texto tibetano. O tanto que se pôde fazer, optamos pelos equivalentes
literais, evitando as interpretações.
Apesar de todo cuidado que tivemos, não é impossível que erros tenham
ocorrido em nossa tradução. Agradecemos antecipadamente a todas as pessoas
que, tendo detectado um ou outro erro, comuniquem‐nos suas observações.
Tcheuky Sengue
(François Jacquemard)
!, ,K$(J/-%J?-.R/-o-35S:C-2#?-.R/-l
2!R.-0-%J?-.R/-|R-:LJ.-&J?-L-2
A Abertura da Porta do Sentido
Apresentado em forma fácil de ser utilizado. Uma versão concisa que resume o sentido do O O
Palavras agradáv
Não esgote
tentando obter um tal Dharma. Os ensinamentos que recebest
o be
Sumário
A Abertura da Porta do Sentido Definitivo
Apresentado em forma fácil de ser utilizada‐ uma versão concisa que resume o sentido do
O Oceano do Mahamudra‐Sentido Definitivo.
Índice
Preliminares
I_preliminares Comuns
2_Morte e Impermanência
1_Refúgio e Bodhicitta
2_Vajrasatva
3_Oferenda de Mandala
4_Guru Yoga
III_Preliminares Particulares
1_Fator causal
2_Fator principal
4_Fator imediato
Corpo da Prática
I_ Pacificação (Shine)
1_Princípios Gerais
2_Métodos particulares
A)_Com objeto
1_ exterior
a_impuro
b_puro
2_interior
B)_Sem objeto
C)_Sobre a respiração
A)_Vincular a mente
1_em cima
2_embaixo
3_a prática de alternância
3_ Enriquecer a estabilidade
II_Visão Superior
2_Cortar a indecisão
a_As aparências‐mente
b_A mente‐vacuidade
Pós Prática
I_Enriquecimento
A)_Os erros
B)_Os desvios
1_As doenças
3_Na meditação
III_A Progressão
1_Atenção unifocada
2_Não produção
3_Único sabor
4_Não‐meditação
IV_Atualização do resultado
Natureza imanente do
samsara e do nirvana: A clara luz.
O santo Lama mostra
o modo de ser: a clara-luz. Possam os afortunados que pra
o Mahamudra-clara luz tornarem-se Budas no coração do De
a clara-luz.
Bokar Rinpotche
Texto
OM Soti. O Lama, as Divindades e minha própria mente indissociados, estão em
estado natural, Por todo tempo prosternando‐me, coloco‐me totalmente sob vossa proteção.
‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐
A_Preliminares
I) _Preliminares comuns
2_Morte e Impermanência
Todos os fenômenos compostos, exteriores e interiores, receptáculo e seiva,
como mostram os quatro limites, não tem permanência nem mesmo um instante. A
vida dos seres mais particularmente, é semelhante a uma chama exposta ao vento
ou ainda uma bolha dʹágua. É certo que morrerei, e, ainda que o momento seja
incerto, morrerei em breve. As causas de morte são numerosas e, ainda que eu não
queira, morrerei. No momento da morte são experimentados intoleráveis
sofrimentos; não há então outro refúgio, exceto o Santo Dharma. Em conseqüência,
sem adiar, é preciso gerar o desapego. Pensemos que o tempo é curto e devemos
nos consagrar ardentemente à virtude.
1. II)_Preliminares Específicas
Nas quatro preliminares específicas temos:
_A explicação da tomada de refúgio e a geração da mente do Despertar que
fazem de nossa consciência um receptáculo adequado ou ainda colocam todos
nossos atos sobre a Via da liberação;
_A meditação e a recitação do mantra de Vajrasattva que nos purifica dos
atos negativos e dos véus;
_A mandala que finaliza as duas acumulações;
_A explicação do guru‐yoga que faz entrar rapidamente na Graça.
3_Oferenda de Mandala
Graças ao método sublime da oferenda de mandala do universo, são
finalizadas as duas acumulações de mérito e sabedoria. Para isso, é necessária uma
mandala de realização feita de material precioso que não tenha nenhum defeito, e a
visualizamos como sendo um palácio inestimável dotado de todas as
características. Em seu centro estão os lamas‐raiz e os lamas da linhagem; nas
quatro direções os Yidams, os Budas, o Dharma e a Sangha assim com os Dakas, as
Dakinis e Protetores de sabedoria. Visualizando‐os perfeitamente, estamos nós
diante deles, segurando uma mandala de oferenda, nós a oferecemos, fazendo
surgir em nossa mente, miríades de Montes Meru, continentes e subcontinentes,
nosso corpo, nossos bens, nossa acumulação positiva, tudo que, sem exceção,
pertence a nós e a todos os seres do universo. Pelo poder dessa oferenda, as duas
acumulações são finalizadas. As divindades regozijam‐se e se dissolvem em luz
que se funde em nós, e nos tornamos indiferenciados.
4_Guru‐Yoga
Como fundamento de todas as qualidades e particularmente como método
sublime para realizar a verdade última, o Mahamudra, não há nada além do que a
bênção do lama glorioso. É por isso que, a fim de realizar sua yoga, visualizamos‐
nos na forma de um Yidam. Acima de nossa cabeça está o lama‐raiz, o soberano
Vajradhara. Acima dele estão os lamas da linhagem sobrepostos em níveis. Ele está
cercado pelos Yidams, Budas e Bodhisatvas, Dakas, Dakinis e Protetores de
sabedoria. Nós lhe fazemos oferendas e rogamos com fervor. Pela força disto, o
séquito se funde na figura principal e esta se torna a união de todos os locais de
refúgio. Rogamos em seguida para que nos conceda as iniciações e nós
obtenhamos as quatro iniciações. Somos purificados dos quatro véus e a semente
dos quatro Corpos é colocada em nós. Depois o lama, regozijando‐se, dissolve‐se
em luz e se funde em nós. Permanecemos estabelecidos no estado do Mahamudra.
III)_Preliminares Específicas
B_Corpo da Prática
A_Pacificação
(Shine) I_Princípios
Gerais
1) Fixar a mente
A ‐ Vincular a mente
1_Vincular a mente para cima
Em nosso coração, no centro de um lótus de quatro pétalas, encontra‐se um
tigle branco do tamanho de uma ervilha. Fixa‐se a mente retendo a respiração. Ao
mesmo tempo em que se envia o ar para o exterior, o tigle sai pelo orifício de
Brahma e se dissolve no espaço. Pensando que aí permanecemos. No que diz
respeito à posição física e ao olhar, os restabelecemos corretamente; no que diz
respeito à mente, gera‐se o entusiamo e, reforçando a consciência, medita‐se por
longo tempo.
2_ Vincular a mente para baixo
Para a segunda maneira de vincular, em nosso coração, encontra‐se um
lótus negro de quatro pétalas, virado para baixo, no seu meio há um tigle negro, do
tamanho de uma ervilha. Ele se desenrola como um fio de aranha e sai pelo local
secreto, lentamente, tendo um aspecto pesado, indo para diversos locais.
Estabilizando‐se assim, a mente permanece fixa em uma atenção unifocada.
Abaixando o olhar e a postura física, medita‐se.
3_A prática de alternância
Se, em relação à medida justa, a mente se eleva demais, a dirigimos para
baixo; se ela desce demais, a dirigimos para cima. Continuamente, como o fluxo de
um rio, exerce‐se assim na yoga de alternância dessas duas visializações.
3) Enriquecer a estabilidade
Dirige‐se a consciência para as formas que surgem, como objetos visuais,
depois para os sons etc., utilizando‐os sucessivamente como suportes de atenção e
se pousa a mente com uma atenção unifocada. Da mesma maneira, quaisquer que
sejam os pensamentos que surjam não os veremos como defeitos, mas,
instantaneamente, se pousa a mente sobre eles. Para afastar tanto a tensão quanto o
relaxamento e, mais particularmente, para eliminar os impedimentos e enriquecer
a prática, o melhor meio é orar para o Lama e, pela devoção, tornamos
indissociadas nossa mente e a dele.
2) Cortar a indecisão
Eis aqui a maneira de cortar a indecisão. Se, quando se busca não se
encontra, quem é então aquele que busca? Qual é a origem, a localização e o
desaparecimento dessa mente? Examinando perfeitamente, é preciso buscar
continuamente.
Eis aqui as onze coleções:
1‐ a busca completa e a análise,
2‐ o exame separado,
3‐ a análise detalhada,
4‐ a pacificação mental,
5‐ a visão superior,
6‐ a união dos dois,
7‐ a clareza,
8‐ o não‐pensamento,
9‐ a equanimidade,
10‐ a não‐interrupção,
11‐ a não‐distração.
C) Pós‐prática
Uma vez que tivermos a experiência de nossa própria essência na qual o
lama nos introduziu, eis aqui a maneira de tornar (essa experiência) mais leve e
mais rica, depois afastar os impedimentos, percorrer os caminhos e atualizar o
resultado.
I) Enriquecimento
1‐ Enriquecimento pela eliminação das cinco idéias falsas
a ‐ Como afastar as idéias falsas sobre os objetos
Sem apreender qualquer coisa de real dentro da noção de um Samsara que
deve ser abandonado nem de um Nirvana que deve ser atualizado, mas
estabelecendo‐se no sabor único da infinitude da consciência primordial (que
conhece) a não‐dualidade de todos os fenômenos reunidos em pares tais como a
virtude e erro, eliminamos as idéias falsas sobre os objetos.
b ‐ Como afastar as idéias falsas sobre o tempo
Ainda que a realidade dos três tempos não seja, em verdade, estabelecida;
pensamos dentro de um modo obscurecido pela divisão em três tempos. Em
consequência, realizando uma igualdade que não estabelece três tempos distintos,
afastamos as idéias falsas sobre o tempo.
A ‐ Os erros
a ‐ O erro sobre a vacuidade, natureza dos objetos de conhecimento
Estudando as Escrituras e as ciências, chega‐se pelo raciocínio à conclusão
que o modo de ser da matéria é de ser vazio. Diz‐se: ʺUma vez que tudo é vazio, o
que há para ser meditado?ʺ Sendo dado que a vacuidade só está estabelecida
intelectualmente, não é uma autêntica vacuidade.
b ‐ O erro sobre o selo
O que se denomina erro por selo da vacuidade: pensa‐se que todos os
fenômenos materiais que se não percebem como vazios tornaram‐se vazios pela
recitação de mantras tais como os que falam de Shunyata. É somente uma
meditação, não é tampouco uma vacuidade autêntica.
c ‐ Erro sobre o antídoto
O que se denominda erro sobre a vacuidade como antídoto; quando os
pensamentos surgem, pensa‐se ʺVou vencê‐los pela vacuidadeʺ. Essa maneira de
ser posto na vacuidade é maculada.
d ‐ O erro sobre o caminho
O que se denominda erro sobre a vacuidade como caminho: ainda que, pela
vacuidade, o caminho e o resultado não sejam dois, pensa‐se que, percorrendo
agora o caminho da meditação sobre a vacuidade, mais tarde obter‐se‐a o
resultado. Isso também não é autêntico.
1_Atenção unifocada
Em primeiro lugar vem a yoga dita: atenção unifocada. A própria face da
mente é conhecida corretamente, de maneira que, no estado de claridade,
vacuidade, não obstrução, semelhante ao espaço, sem limite nem centro,
permanece‐se de maneira vívida e intensa. Entre os três níveis, inferior, médio e
superior, no nível inferior vê‐se a essência da felicidade‐claridade; no nível médio,
obtém‐se o controle do Samadhi; no nível superior, a experiência deste último
torna‐se ilimitada.
2_Não‐produção
A ausência de produção é a realização da mente em si, sem fundamento.
Quando se é liberado das produções que são as noções de objeto e de sujeito, de
origem, de cessação e de localização de todos os fenômenos assim como a
apreensão das características, as especulações são eliminadas no não‐nascido, a
vacuidade. No nível inferior, realiza‐se sua própria mente como não nascida. No
nível médio, se está totalmente desprovido da apreensão das aparências e da
apreensão de uma vacuidade. No nível superior, as especulações sobre a produção
de todos os fenômenos são eliminadas.
3_Único sabor
Eis aqui o yoga do único sabor na qual a mente e as aparências estão unidas.
Permanece‐se na igualdade do estado natural que, ao olhar todos os fenômenos do
ciclo das existências e do nirvana, eles não são nem desprovidos nem não‐
desprovidos das produções que são a origem e a cessação, nem vazios nem não‐
vazios, sem os atos de parar ou fazer existir, de abandonar ou empreender. No
nível inferior, os fenômenos que estão juntos estão unidos em um sabor único. No
nível médio, as aparências e a mente são como a água colocada na água. No nível
superior, todos os fenômenos são pacificados dentro do estado de igualdade.
4 ‐ Não meditação
Está‐se livre das experiências ou dos sentimentos precedentes; pode‐se dizer
ainda que o mental esteja completamente esgotado: é a não‐meditação. No que diz
respeito aos níveis inferior, médio e superior, no nível inferior está‐se
completamente desprovido das noções de meditado e meditador. No nível médio,
chega‐se espontaneamente à auto‐existência. No nível superior, as claras‐luzes mãe
e filha estão unidas. Desde então, está‐se aberto à imensidão do conhecimento
primordial do Dharmadatu de maneira que ambos os benefícios são completados:
o estado de Buda é atingido.
‐ Correspondência dos doze níveis das yogas (4 x 3) e os caminhos
‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐
Pela substância dos esforços dos atos virtuosos, quando em todos meus nascimentos,
de todas minhas vidas e por todo o tempo, possa eu me desinteressar das atividades do vir‐a‐
ser e que eu possa não transgredir, ainda por pouco que seja, o treinamento
fundamental (na ética).
Que eu possa, mesmo em sonho, não esquecer as duas sublimes bodhichittas para o
bem dos outros; que eu possa estabelecer todos os seres na felicidade pelo viés dos quatro
fundamentos da relação e das seis paramitas.
Considerando, com tanto amor da minha própria vida, os mestres espirituais
perfeitamente puros, satisfazendo‐os com todas as satisfações, que eu possa manter a fé e os
compromissos sagrados.
Pelo poder dessas aspirações, pelo estudo, a reflexão e a meditação de todos os
Cestos, a da liberação individual, dos bodhisattvas e os mantras dos vidhyadharas, que eu
possa relizar integralmente meu próprio bem, o bem do outro pela explicação, o debate e a
redação, o bem de ambos pela erudição, a observância e a boa natureza, o bem da doutrina
sendo o detentor, o protetor e o propagador.
Que eu possa realizar a filosofia sem mudança do sentido definitivo e, em particular,
o Mahamudra do modo de ser; que eu possa ser aquele que difunde o conhecimento.
Em resumo, que eu possa ter a capacidade de estabelecer sozinho no sublime estado
puro e perfeito de Buda todos os seres encarnados que habitam o espaço até seus limites.
Pela graça das Três Jóias e dos Vencedores, pela força da aspiração superior
perfeitamente pura e pelo poder da vacuidade e da interdependência profunda, possam essas
aspirações assim ser realizadas.
‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐
O sexto Shamarpa, Tchöky Wangtchuk, escreveu o um guia dos seis dharmas de Naropa
intitulado ʺA seiva ambrosíaca dos seis dharmas”. Dele fiz um resumo do essencial sob a forma de
um texto‐raiz versificado para recitação durante a prática. Sendo que, durante a prática, tal texto a
recitar revela‐se muito cômodo, pensei, depois de um certo tempo, que seria necessário ter um
também para o Mahamudra. Nedo Kutchung Tchoktrul Rinpotche e Lama Tsethar de Tîlyak
quiseram, durante o tempo que estiveram em retiro de três anos, fazer imprimir o texto‐ raiz dos
seis dharmas de Naropa e me incitaram a escrever um texto similar para o Mahamudra. Para os
iniciantes na prática, com a excelente aspiração superior de lhes dar certa ajuda, acedi a esse projeto.
Esse texto foi escrito por Bokar Tulku Karma Ngedön Tchöky Lodrö, tendo o nome de lama, mestre
de retiro do grande centro de retiro Yi‐ong Samten Ling, vinculado à sede do Senhor dos
Vencedores, o glorioso Karmapa, sede denominada Omin Shedrup Tchökhor Ling. Escrito em Mirik
no distrito de Darjeeling, região que é um bálsamo para mente, em Bokar Ngedeön Tchokhor Ling,
13 de dezembro de 1984, vigésimo dia do décimo mês do ano boi‐rato, no momento da conjunção do
dia de Júpiter, da oitava constelação, do fogo e do ar. Que a virtude aumente!
#, ,]-3-.3-0:A-2!:-SA/-=-gJ/-/?-<%-$A-MR%-2-.%-.<-2:A-8=-$.3?-
$/.-„A-,A$-=J-{=-w/-2PR.-0?-=3-29%-8J?-L-2-28$?-?R, ,,
3
!, ,/-3R-$-<,
Homenagem ao Guru
l-$?3-<2-:L3?-o-35S-:.?-0:A-{,
,LA/-_2?-.%R?-P2-3-=?-:L%-2:A-$+J<,
,3%R/-?3-(R?-{:A-<%-8=-!R/-36.-0:A,
,3*3-3J.-]-3-3(R$-$A?-LA/-_2?-)R=,
Em vós está reunido o oceano incomensurável das Três
Raízes Vós sois o tesouro de onde vêm todas as bênçãos e realizações
Vós que mostrais verdadeiramente o Dharmakaya como nossa própria face
Incomparável supremo lama conceda-me vossa graça.
,2.$-.%-2.$-$A-$.=-L<-I<-0-i3?,
,]R-$-.3-0:A-(R?-?-:I<-2-.%-,
,<%-?J3?-<A$-0:A-<%-8=-=J$?-3,R%-!J,
,.R/-$*A?-3,:-<-KA/-0:A-.%R?-P2-)R=,
Concedei-me as realizações
A fim de que eu e aqueles que são meus
discípulos, Orientemos nossa mente para o santo
Dharma,
Que nós possamos ver claramente a face do
Conhecimento Como nossa própria mente e completar o
duplo benefício.
As Quatro considerações fundamentais
.J-;%-(R?-;%-.$-0<-12-0<-LJ.-0-=,
Para praticar o Dharma de maneira perfeitamente pura
,.%-0R-=?-:V?-2a-3J.-$.A%-/?->J?->A%---
É preciso inicialmente compreender profundamente
o caráter verídico dos atos e de seus frutos,
#3?-$?3-:#R<-2-:.A-#$-2}=-IA-o-35S-*A.-.-3%R/-0<->J?-/?-
8J/-0-$+A%-/?-=R$-+J,
Ter a certeza que os três mundos deste
Samsara são como um oceano de sofrimentos e,
do mais profundo de nós, desviar-nos do apego.
,.=-:LR<-=/-$&A$-,R2-0-:.A-;%-o-P%?-.0J-$?3-IA?->A/-+-„J.-
0<-2!:-8A%-,
Pois, uma vez que obtivemos as liberdades e
aquisições (desta preciosa existência humana) muito difícil de
ser obtida ( como mostram) os exemplos, as causas e o
número;
,„J.-0-.J-;%-_%-$?J2-„A-3<-3J-„<-3A-g$-:(A-2?-M<-.-:)A$?-
0<-%J?-0?,
E ainda que a tenhamos obtido, ela é impermanente e sua morte é certa
Como uma lamparina de manteiga no vento, é certo que ela será rapidamente apagada.
,.-/A-$/?-{2?-3A/-2<-IA-*A-8<-„-2-#R.-o-;R.-0:A-5K,
O tempo que ela dura
é como o de um raio de sol passar entre as nuvens.
,]-3:A-$.3?-%$-#R-/-2|R3-0-=?-$%-$A?-„%-1/-0-3A-:.$-~3-
0:A-?J33-,$-$.A%-/?-(R.-0:A---
Por essas reflexões chega-se à profunda convicção de
que ,exceto o colocar em prática as instruções do lama,
não há nada que seja útil.
]R-wR$-i3-28A-8A$-o.-=-3-:LR<-/-(R?-12-=R-.%-|R3-=R-L?-<%-3-
L?-<%-, ,:#R<-2-=-8J/-)J-(J-<%-o.-)J-IR%-.-:PR-2-43-=?-3J.-
%J?-=$?-0?---
Se não se integra em si esses quatro pontos que desviam a mente (do Samsara) ;
pouco importa que durante anos se pratique ou não o Dharma ou a meditação,
é certo que nosso apego ao Samsara só aumentará
e nos tornaremos em nada além que um ser limitado.
( IR5-: áspero, duro, que não pode mudar, grosseiro, inculto, limitado)
2|R3-$8A-.J-3->R<-2-8A$-3J.-/-,2?-($?-?R, ,.J-„<-:#R<-2-:.A-
=?-%J?-0<-:L%-2:A-{=-w/-i3?-„A?-*3?-?-=J/-L,
Não é, portanto, para se partir dessa base da
meditação sem a qual todos os meios estão comprometidos
É por isso que os afortunados que estão desapegados do
ciclo, devem colocá-los em prática,
,(R?-{-K$-o-(J/-0R-9J<-2-.J-/A,
Eis aqui o que é denominado Dharmakaya ou Mahamudra
,<%-$A-o.-=-S/-gR$-$-5S$?-><-3#/-IA-?J3?-:.A-2&.-2&R?-$%-
;%-3A-L-2<-<%-=$?-?-z$-0<-28$-/?,
É essa mente que faz surgir em nós todos os diversos pensamentos e reflexões.
Sem nada acrescentar, modificar ou fazer o que quer que
seja, a deixamos relaxada em seu próprio modo de ser.
,KA-/%-$%-.:%-$+.-?R-.%-,
Sem se focalizar sobre nenhum objeto, exterior ou interior
( $+.-nR- focalizar; objeto, objetivo, conceito etc. sobre o qual a mente conceitual ]R- se focaliza)
,.J-;A-3.%?-$%-;%-3-:$$?-0<-<A$-43-IA-$?=-?%?-„%-%J-2-
.J-3=-{-;A/,
Nada interrompendo sua radiante luminosidade,
resplandecendo do "simples reconhecimento",
é o Nirmanakaya.
,$?=- <A$- !R%- $?3- 9%- .- :)$- 0:A- .LJ<- 3J.- 9%-
,J=- =J- 2- .J-
=R%?-{-=$?-0?,
A união inseparável e onipenetrante da
claridade, conhecimento e vacuidade,
é o Sambogakaya.
,?J3?-:.A-$/?-/-;%-{-$?3-IA-<%-28A/,
Assim, ainda que essa mente permaneça em repouso, ela tem a natureza dos três
Corpos.
A mente em movimento tem a natureza dos Três Corpos
,5S$?- „$- $A- $%- 2- gR$- 0- &A- ><- ;%- %R- 2R- $%- .:
%- 3- P2- >A%-
3.%?-3-:$$?-28A/-i3-0-:.A- „-2:R- 2?3-0:A- S/-gR$-$-5S$?-
ZA$-$J<-:(<-2-.J-3=-{,
Essencialmente, tudo o que aparece nas seis consciências,
assim como os pensamentos que surgem
saõ sem consistência.
Como para a radiância ininterrupta,
esses diversos aspectos, pensamentos e reflexões,
surgem em uma "claridade aberta" ,
é o Nirmanakaya.
,.J-*A.-KA-/%-$%-.:%-3-P2-0:A-!R%-?%-%J-2-.J-(R?-{,
Essas não consistindo em nada de verdadeiro,
nem exterior, nem interior, vazio e límpido,
são o Dharmakaya.
,$.R/-/?-.J-$*A?-.LJ<-3J.-.?=-?%?-„%-%J-2-.J-=R%?-{-;A/,
Desde sempre, esses dois são inseparáveis;
luminosos, claros e radiantes,
é o Sambogakaya.
,?J3?-:.A-:I-/-;%-{-$?3-IA-<%-28A/-=?-3-:.?-0?,
Assim, ainda que essa mente esteja em movimento,
ela não perde a natureza dos três Corpos.
As várias denominações do Mahamudra
,?J3?-*A.-2&R?-2+<-$+.-?R-:6B/-0-,3?-&.-.%-V=-2:A-%R->J?-
43-IA-?J3?-<A$-!R%-„%-%J-2-:.A,
,.-„:A->J?-0-{.-&A$-3:3,
,,-3=->J?-0-8J?-„%-L,
Essa mente, livre de todo artifício,
modificação, orientação, apreensão,
é a mente de um "simples reconhecimento" ,
conhecimento vazio e claro,
que se denomina : "o conhecimento imediato do presente"
ou ainda "o conhecimento ordinário" (conhecimento simples).
,:O=-0-.%-35/-:6B/-IA->J?-0-?R$?-!-/?-.$-&A%-,
,.?-$?3-IA-gR$-0?-3-a.-&A%-;A.-LJ.-.%-V=-!J,
,.?-3J.-$3-.?-28A:A- (->J?-0-{.-&A$-3-.J- =?-/3-;%-:.:-2-
3J.-0?-/, ,!-.$-28A-(-$?3-V=-8J?-„%-L,
Sendo pura, desde a origem,
de conhecimentos conceituais, ilusões, apreensões,
não sendo alterada por pensamentos (relativos aos) três
tempos, livre de fabricações mentais;
não deixando jamais o atemporal ou "conhecimento imediato do Quarto
tempo" é também denominada "A quarta dimensão, além dos três (tempos) ",
pura desde a origem.
,:#R<-:.?-„A-(R?-,3?-&.-?J3?-=-mR$?-0?-/-mR$?-0-(J/-0R,
Todos os fenômenos do samsara e do nirvana, estando realizados na
mente, são "a Grande Realização", Dzogpa Tchenpo.
,;R.-3J.-;A/-3A/-?R$?-3,:-,3?-&.-=?-:.?->A%-.2?-S%?-0R-
„-2-;A/-/-.2-3-(J/-0R,
Além de todos os extremos
do ser e do não ser,
de existência e da não-existência etc.,
sendo um eixo central e reto,
é "A Grande Via do Meio", Madhya-Mika.
,(R?-,3?-&.-„A-YR$-$3-~A%-0R-„-2-;A/-0?-/-.R/-.3-L%-(2-
?J3?-<A/-0R-(J,
Sendo como o coração ou a vida de todos os
fenômenos, é "A preciosa Bodhicitta da verdade última"
,!R%-$?=-<A$-0:A-;J->J?-.J-=?-:.:-2-3J.-0?-/-K$-o-(J/-0R-!J,
Como não há nada além desse conhecimento
primordial "Vazio-Claro e Conhecedor"
é o Mahamudra.
A Via do Mahamudra
,,R$-3<-%R-3R.-L,
,2<-.-o/-(.-3J.-0<-*R%?-L,
,3,<-.J-*A.-3%R/-.-I<-+J,
,2g/-0-,R2-L:A-:V?-2-=$?->A%-,
Essa (natureza da mente) é preciso começar por reconhecê-la.
Em seguida, preservá-la sem interrupção;
Finalmente, ela se torna (uma realização) manifesta.
a estabilidade é o fruto que é preciso ser obtido.
.J-„<-IA-*3?-=J/-.J-%R-:UR.-/, ,K$-o-(J/-0R-.!<-0R-$&A$-,2-
8J?-;R.-/-.J?-(R$-3J.-/-.J-3J.,
Assim, caso se possa reconhecer essa prática
ela é "O Mahamudra ,panacéia universal".
Caso se tenha, é suficiente; caso não se tenha não se tem!
,!R%-$?3-$?J<-IA-2!%-!J-1=-„%-2!:-SA/-:#R<-,2?-3J.-0:A-
$.3?-%$-92-3R-$&A$-2o.-3,
Se (ao lama) que nos transmite esse ensinamento único e profundo,
se oferecesse os três mil universos cheios de ouro,
isso não seria um meio (suficiente) para retribuir sua bondade.
,*J-0-!$-.R%?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,2-3R-2=-{.-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,HA3-0-?R-/3-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,$4S-2R-3./-PR?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
K$-mA-35S-*R%?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
Homem com arco e flecha (militar) e Buda
Mulher com linha e lã (costureira) e Buda
Cultivador com fazendas e Buda
Patrão com empregados e Buda
Pastor com rebanho e Buda
,.2%-$R/-{=-0-.%-w/-0-i3?-:.R.-;R/-3-%%?-0<-?%?-o?-
0:A- $.3?-%$- 92- 3R- ~A%- 0R:A- ;%- 8/-:.A- %R- :UR.-/-;A.-28A/-
IA-
/R<-2-=$-+-9A/-0-;A/-0?, ,(.-9R.-?-3A- L-2<-$;<-.3-.-:(%-
2<-L:R,
Para os afortunados com as faculdades vívidas que podem reconhecer essa
quintessência dos profundos ensinamentos ,(que permitem obter o estado de) Buda sem
abandonar os objetos sensoriais, é como ter nas mãos a jóia que realiza todos os desejos.
É preciso não perdê-la, mas engajar-se em bem preservá-la.
Os perigos de uma compreensão parcial
,#- $+R/- 2^?- 2eR.- K$- 2{R<- 3(R.- .A/- i3?- „A?-
5S$?- $*A?-
:U=-.-6S$?-1A2-$*A?-M<-.-L%-+J- (R?-{-K$-o-(J/-0R-2.J- ]$-+-
gR$?-0:A-,2?-92-3R-3J.-!-3J.-.%-,
As preces, as recitações, as circum-ambulações, as oferendas,
(nos fazem) prontamente completar as duas acumulações,
purificar rapidamente os dois véus e realizar facilmente
o Mahamudra, o Dharmakaya.
São meios profundos e indispensáveis.
Meditação sobre as divindades.
,$%-2-!/-„%-2.J/-3J.-+-3-kA-=3-IA-<%-28A/-.->J?->A%-,
Reconhecendo todas as aparências como irreais,
tendo a natureza de uma ilusão ou de um sonho
,<%-$%-=?-:.A-;%-hR-eJ-1$-3R-?R$?-;A-.3-„-;A-{-8=-K$-o/-
(?-;R%?-?-mR$?-0---
Nossa própria aparência, esse corpo (é visto como) Dorje Pamo
ou qualquer outro Yidam; seu corpo, face, braços, ornamentos
completos.
$%-=-<%-28A/-3J.-0<,
,$?=-=-gR$-0-3J.-0,
,2.J-=-8J/-0-3J.-0,
A aparência é sem natureza própria,
A luminosidade é não conceitual,
A felicidade é sem apego.
,*J-3J.-(R?-„A-{-<-?%?-o?,
,<A$-l=-=R%-{:A-2!R.-0-3%R/-.-I<,
,$%-:.=-3=-{:A-36.-0-:#R<-2-3-!R%-$A-2<-.-:L%-2-;A/-0?-
*3?-=J/-3A-L-!-3J.-.3-0-.%-,
No Dharmakaya inato
(está o estado de) Buda.
A radiância do conhecimento torna-se manifestadamente
o desdobramento do Sambogakaya.
Para aqueles que devem ser disciplinados,
as obras do Nirmanakaya
surgem até que o Samsara seja
esvaziado. Não se pode deixar de fazer
essa prática!
A Compaixão ‐ Tong‐Len
,{2?-?-.J-.$-$A-#$-2}=-o-.%-:V?-2-2&?-0-2.$-=-,A3-8A%-
, ,.J-.$-#$-2}=-.%-V=,
Algumas vezes, pensa-se que todos os sofrimentos, suas causas e seus frutos se
fundem em nós. Eles são libertos do sofrimento.
,;R/-+/-IA-%R?-/?-l-$?3-<2-:L3-o-35S-:.?-0:A-,A-.0=-V=-
(A/-;R/-+/-LJ-2:A-2.$-*A.,
Do ponto de vista das qualidades, ele reúne todas as do incomensurável oceano
das Três Raízes. Ele tem a natureza gloriosa de miríades de qualidades puras e
perfeitas.
,2!:- SA/- IA- %R?- /?- .?- $?3- o=- .%-o=- Y?- !/-
=?- H.- 0<-
:1$?-0:A-2.$-*A.-.->J?->A%-,
Do ponto de vista da bondade, é comparado à de todos os Vencedores e seus
Filhos dos três tempos, é preciso saber que ele é ainda mais sublime.
,$%-2-&A-><-]-3:A-i3-<R=,
Qualquer aparência que se manifeste, ela é o jogo do lama.
,2.J-#$-&A-L%-]-3:A-2!:-SA/,
Qualquer alegria ou sofrimento que surja, ela é a bondade do lama.
,.J-„<-,3?-&.-;-V=-.-3-?R%-2<, ,$&A$-1/-$&A$-PR$?-„A-5=-
.-<%-o.-=-.R<-.%-<%-28/-.R/-$*A?-:P2-0-=-,J- 5S3-3A- $R?-0-
=$?-?R,
Não se desfazendo de todos (esses meios)
que se completam e se exercem uns aos
outros, mas aplicando-os a si, é inútil
duvidar, realizar-se-á seu próprio bem e o
dos outros.
o=-2:A-(R?-1%-2o.-OA-28A-!R%-!/,
,?J3?-*A.-$&A$-0-:.=-,2?-#R-/-!J,
,?J3?-3-,=-2:A-2|R3-12-LJ.-=R-!/,
,(R?-2o.-#-$R/-;A/-0?-<A%-.-.R<,
Todo o conjunto dos 84 000 ensinamentos do
Vencedor são unicamente um meio para disciplinar a
mente.
Todos os anos passados na prática ou meditando, sem haver disciplinado a mente,
só fará reforçar os Oito Dharmas mundanos, rejeitemo-los de longe.
,:#R<-2-2.J/-3J.-+-3:A- <%-28A/-=-A-3,?-8J/-($?-:6B/-0-3A-
(J- 2<, ,5K- :.A- ]R?- ,R%- KR$?- 3J.- #R3- 2- ;A?, ,*3?-
=J/- $/.-
2#?-$R%-.-2>.-0-i3?, ,.?-!/-<%-$A-o.-=-;%-;%-.R<,
Sem aumentar nossa apreensão das concepções errôneas e apegos pelo ciclo
irreal, que tem a natureza de uma ilusão, mas engajando-se com determinação e
abandonando (os valores) desta vida, cada vez mais, todo o tempo, (é preciso) aplicar a
si as instruções que foram explicadas precedentemente.
Alguns últimos conselhos.
%-3#?-0-%-29%-~3-0:A-3#?-24/-.%-,
Ser um erudito e pensar "sou muito inteligente", "sou excelente"
,2.J/-:6B/-8J/-($?-(J-2:A-|R3-(J/-0,
Um grande meditador com muito apego e fixado na realidade
,2m/-IA?-$8/-3$R-2{R<-2:A-#R3-2-2,
Ter os votos e por mentiras enganar os outros
,#-29%-%/-?J3?-:(%-2:A-L%-?J3?-0,
Um bodhisattva tendo boas palavras mas uma mente má,
,.!R<-/$-KJ-„<-:$3-0:A-]-$9$?-.%-,
Ter a aparência de um lama e se nutrir de oferendas negras
,$;R-+.-5=-:(R?-&/-IA-?J<-3R-2,
Ser um monge e depreciar a disciplina com hipocrisia
,2>.-;3-5B$-=-8J/-0:A-!R/-(J/-0,
Um "grande professor" apegado às palavras e aos discursos artificiais
2>.-;3- : Fazer discursos pelo prazer de falar, sem dar referências válidas.
,KR$?-:6A/-($?-#%-&/-IA-.$R/-2.$-?R$?,
Mestre de um monastério etc., sendo um sectário, apegado e colérico.
,(?-=-2„?-0:-#$-0-d3-0-(
R AA R J,
Um grande pretensioso que despreza o Dharma
,.$-„<-%%?->A%-/%-3R-<J-<J-28A/, ,:.A-:S:A-=?-3A-29%-2:A-.3-
2&:-9%?,
Tais venenos, é precioso abandonar e a cada manhã tomar o engajamento de não
ser surpreendido em tais ações.
,.-<J-.=-:LR<-29%-0R-,R2-.?-:.A<,
,.$J-#A$-&A-LJ.-<%-$A-=$-=-;R.,
,;A.-28A/-/R<-2-„J.-0:A-%R-3-;A/,
Hoje, obtivemos as liberdades e aquisições
Agora, praticar a virtude ou o vício está em nossas mãos.
Nós verdadeiramente obtivemos a jóia que realiza os
desejos.
,]-3:A-$.3?-%$-?J3?-=-3-28$-/,
,!R%-$?3-;A-$J<-VA?-„%-%=-2:A-o,
Se não se guarda na mente as instruções do lama
poder-se-ia preencher de escrituras os 3000 universos,
mas isso só seria causa de aborrecimentos.
,$.3?-%$-<%-$A-o.-=-.<-2?-/,
,:.A?-„%-hR-eJ-:(%-$A-?-<-2*J=,
Caso se aplique a si mesmo as instruções, por isso mesmo
se será conduzido para o estado de Dorje Tchang
Dedicatória
,.$J-2?-:PR-!/-5K-:.A-]R?-,R%?-+J, ,:R.-$?=-K$-o-(J/-0R:C-.R/-gR$?->R$,,
?j-3;-=), ,>-S) ,,
Por essa virtude, possam todos os seres, abandonar os (valores) desta vida e realizar o
sentido do Mahamudra, a clara-luz
Notas do tradutor
A fim que se possa reconhecer mais facilmente as diferentes partes e instruções, a tradução
dividiu o texto em um determinado número de partes de acordo com as estâncias ou as seções. Alguns
títulos foram acrescentados para delimitar os assuntos
Esta tradução foi feita por lama Trinle no Naro Ling durante o 1º retiro de Karma Ling em
novembro de 1986. Ela foi ligeiramente revista e corrigida por ele em agosto de 2010.
Em 29 de setembro de 1987, Kalu Rinpoche concedeu o lung desse seu texto como sendo o
essencial de todas as instruções orais.
Durante o mês de agosto de 2009, Kyabje Kalu Rinpoche, para seu primeiro ensinamento
público, fez um comentário desse texto como uma introdução ao Mahamudra.
É importante bem compreender tudo o que ele contém.