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Sob a Autoridade Espiritual de Kyabje Kalu Rinpotche

Introdução

Uma vez que o programa do primeiro retiro de três anos em Brasília chegou ao
período consagrado às meditações de Shine e Lhagtong surgiu claramente a necessidade
de um pequeno manual, claro, metódico e progressivo, para a prática da meditação.
O manual mais completo a que habitualmente se faz referência é O Oceano da
Certeza, Nge Dön Gyamtso, do 9° Karmapa, Wangtchug Dorje. Esse texto é certamente
muito completo e detalhado e compreende várias centenas de páginas e sua tradução em
língua inglesa não é pública.
O venerável Bokar Rinpotche escreveu um resumo desse texto de forma curta
denominada A Abertura da Porta do Sentido Definitivo, Nge Dön Godje, que foi utilizado
para os seminários que ele concedeu na Índia. Esse texto guarda, na ordem, todos os
pontos principais do Oceano da Certeza, mas é extremamente concentrado e difícil de
compreender, sem explicações detalhadas.
Ele pode ser completado, de forma muito útil, com o texto curto escrito pelo
grande lama Sakya, Deshung Rinpotche, para o centro Kagyu de Vancouver: A Tocha da
Via para a Liberação, Tar Lam Drönme. Tradicional, metódico e detalhado, mas de fácil
acesso, é ilustrado pela famosa pintura do Caminho de Shine em nove etapas onde os
obstáculos, os remédios e a progressão, são representados pelas relações entre o
meditador, um elefante e um macaco. Em nossa publicação, mantivemos o texto tibetano
escrito sobre o original em escrita cursiva Ume, o mesmo texto em letras de fôrma Utchen,
mais conhecidas, com a tradução embaixo. Quando nos pareceu que poderia ser útil,
acrescentamos alguns comentários, escritos em itálico.
Para completar estes textos, nós adicionamos O Excelente Caminho Seguido pelos
Afortunados, Kelden Tröpei Lam Zang, escrito por seu predecessor, e que Kyabje Kalu
Rinpotche usou na Índia para transmitir seus ensinamentos de meditação. O texto é uma
coleção de instruções essenciais para nos guiar de maneira segura no caminho da
iluminação.
Com a tradução em Português desses preciosos documentos, escritos
pessoalmente por esses grandes mestres, nós deixamos o texto Tibetano original. Assim, é
sempre possível consultá‐los e, eventualmente, melhorar o trabalho presente. ʺ
A fim que eles possam ser úteis àqueles que, sobre a Via do Despertar, engajam‐se
na prática da meditação, decidimos tornar disponíveis esses textos para todos.

KPG, 01 de Outubro de 2011


Lama Trinle

Centro Budista Tibetano Kagyü Pende Gyamtso ‐ DF 425 ‐ Condomínio Jardim América ‐ Lotes F1/F3
Sobradinho II ‐ DF ‐ CEP: 73070 ‐ 023 ‐ Fone: (61) 34 85 06 97 – Site: kalu.org. br ‐ Email: sanghakpg@kalu.org.br
3
O Caminho de Shine ‐ O estado de calma mental

* * *
Na palavra em tibetano, a primeira sílaba « Shi » significa calma / paz / pacificada / repouso /
tranqüilidade e a segunda « Ne » ficar / permanecer / encontrar‐se.

* * *
Descrições e significações gerais:

O caminho simboliza uma progressão. A imagem do monge aparece nove vezes; isso corresponde às
nove etapas para a calma mental. As seis curvas do caminho indicam a aplicação das seis forças.
Há seis forças que intervêm umas após outras:

* * *

Cada força prepara e serve de suporte para a seguinte.

O estudo permite compreender que é necessário se lembrar.


Com a prática a qualidade da atenção aumenta;
Isso evita o esgotamento nas distrações e produz a energia.
Com o treinamento vem o hábito e a facilidade.

1) « A força da escuta » øRn-0:A-!R2n- * * *

É uma capacidade adquirida graças ao estudo, a aprendizagem dos ensinamentos e instruções.


Antes de poder aplicá‐las de maneira eficaz, é preciso saber por que elas são necessárias e em que elas
consistem.

2) « A força da reflexão » 2n3- 0:A-!R2n-. Aprender de


cor não é suficiente, é preciso compreender, integrar, apropriar‐se do sentido do ensinamento pelo
exame e reflexão.

3) « A força da lembrança » Ou da « atenção‐lembrança ». S/-0:A-!R2n-


Uma vez que se esteja engajado na prática, é preciso não se esquecer das instruções que foram
aprendidas.
A atenção permite perceber o que ocorre; graças ao discernimento pode‐se fazer uma avaliação
pertinente e depois se referindo às instruções guardadas na memória, pode‐se aplicar o remédio
apropriado, fazendo assim progredir com a meditação.

4) « A força da vigilância » >Jn-28A/-IA-!R2n-


Com a purificação do torpor e da agitação grosseira a qualidade da atenção aumenta e torna‐se
vigilância. Trata‐se de uma atenção de grande acuidade que ativa instantaneamente o processo que
antes era mais longo e laborioso.

5) « A força da energia. » 2lR/-:Pn-GA-!R2n-


Gampopa define energia como « Regozijar‐se da prática da virtude ». Portanto, trata‐se,
sobretudo de uma vitalidade enérgica e entusiasmo e não de um esforço laborioso e penoso.

6) « A força do perfeito hábito » ;R5n-?-:SAn-0:A-!R2n-


Uma vez que muito se exercitou, menos atenção, reflexão ou esforços são necessários.
O que no início era difícil, com o treinamento, torna‐se fácil e natural. Um bom hábito que se
torna, ele mesmo, uma força.
Principais etapas

No caminho da meditação podem‐se distinguir quatro grandes mudanças:

1) Situação « fora de controle » !

Durante as 1ª e 2ª etapas, que ocupam 1/3 do caminho, o meditador tem o maior trabalho a
fazer e deve gerar mais esforços. É nesse período que se podem observar as chamas maiores.
Ainda que ele tenha alguma compreensão do ensinamento do Buda e da importância da
meditação quando ele começa a praticar e realiza que sua mente está longe de seu controle. Ele deve
vigorosamente aplicar sua atenção, sua vontade e sua motivação.
O mais difícil é talvez o início; na segunda etapa já há uma pequena melhora ilustrada pelo
branco que começa a surgir na cabeça dos animais. Antes ele nem se dava conta da gravidade da
situação e agora sabe em que direção a melhora acontece;

2) A confrontação

Etapas 3 e 4 :
Agora se sabe reconhecer se a meditação é boa ou não. Identifica‐se claramente, e cada vez mais
rápido, as distrações e o torpor, grosseiros e sutis. É preciso ainda, de forma laboriosa (chamas) aplicar‐
se em « tomar a rédea » retornando ao objeto da meditação graças à atenção e à lembrança.
3) Mudança de relação

Etapas 5 e 6.
Uma inversão de relação é produzida; o meditador passou para frente; é a meditação que toma
as rédeas. O branco tornou‐se mais importante que o preto.
Na 5ª etapa a atenção e o esforço de controle são ainda necessários (chamas menores), mas, com
a vigilância e a lembrança, a mente é dominada.
Na 6ª etapa isso se torna mais fácil, distrações e torpor diminuíram muito, a mente segue
facilmente a meditação, mantida simplesmente com a corda da atenção.

4) Pacificação

Etapas 7 ‐ 8 ‐ 9:
Nas duas primeiras etapas havia somente uma etapa por nível.
Na 3ª e 4ª etapas havia duas etapas por nível. As cenas são muito animadas no início, mas
seguem um processo de clareamento e de pacificação caminhando junto com a diminuição da agitação e
do torpor.
Agora, há três etapas no mesmo nível; a agitação desaparece da mesma maneira que o torpor.
Progride‐se facilmente em direção à calma e à clareza.
Nenhuma intervenção ou esforço são necessários; a meditação desenvolve‐se por si mesma.
1ª Etapa « Posicionamento da mente » nJ3n-:)R$-0y
:)R$-0y Posicionar, estabelecer: é estabelecer a mente em um estado particular.

=3-IA-#$-0-S$-!R2n-S$-.5-.<-2-=n-.5-0R-øRn-0:A-!R2n-nRy
:.A-=-2!J/-/n-nJ3n-$/n-0-.5-0R-:P2-0-;A/y
As curvas do caminho indicam a aplicação das seis forças. A primeira é a força da
Escuta; ela permite realizar a primeira etapa da calma mental.

A Lembrança S/-0- ou a Atenção ‐ Lembrança S/->Jn-


A Vigilância >Jn-28A/y

:.A-/n-nJ3n-$/n-2z/-0-2<-3J-tJ-;R.-3J.-.5-y (J-(5-$A-H.-0<-2!R.-0-/Ay
S/->Jn-GA-lR=-!R2n->$n-2*J.-(J-(5-$A-H.-0<-<Ry
A partir deste ponto e até a 7ª etapa, a presença das chamas, sua ausência e sua
diferença de tamanho correspondem à intensidade de esforço necessário para aplicar
a atenção e a lembrança.

]-5-0R-nJ3n-.5-#-.R$-/$-0R-LA5-2-35S/y
O elefante (representa) a mente e o preto simbolizam o torpor.
3J=-:UR-2-.5-y #-.R$-/$-0R-cR.-0-35S/y
O macaco (representa) as produções da mente e o negro simboliza a agitação.
** *

Toma‐se o caminho graças à força da escuta e do estudo.


Para empreender a meditação é preciso inicialmente saber o porquê e depois como fazê‐la. Isso
pressupõe uma compreensão geral do ensinamento do Buda, e depois, a compreensão do lugar e a função
da meditação.
É preciso, portanto começar por aprender no que consiste o Dharma escutando os ensinamentos
e estudando os textos. Isso corresponde à,Rn-tö « escuta ».

As instruções da meditação sobre a impermanência permitem gerar certo desapego pelo


Samsara.
A preciosa existência humana, a felicidade e sofrimentos dos ciclos das existências produzidos
pelos atos virtuosos e nocivos fazem parte das meditações preliminares.
A meditação sobre a bondade e compaixão permite‐nos ser menos focalizados sobre nós mesmos
e de orientar a atenção para o bem dos outros.
As considerações das qualidades das Três Jóias e as Três Raízes permitem gerar a confiança
nelas e a aspiração entusiasta pelo Despertar, a fim de poder beneficiar os seres.
Para isso engajam‐se na prática das seis perfeições, as duas acumulações, a prática da virtude e
a purificação dos véus.
Os quatro véus: Da ignorância, Ma‐rigpa, vem a apreensão dualista que é a origem das paixões
que produzem o karma, que faz errar no Samsara.
A meditação, a 5ª paramita, corresponde ao estabelecimento da Calma Mental que é a base para
o desenvolvimento da Visão Penetrante, Hlag‐tong, que dá acesso ao Conhecimento Transcendente que
irá suprimir a ignorância (causa primeira do sofrimento).
A meditação de Shine propriamente dita pode ser feita com um suporte exterior ou interior, sem
suporte, ou intermediária quando se utiliza a respiração.
As meditações que tomam por suporte a mente são elas mesmas, do domínio de Lhag‐tong ou do
Mahamudra. Ainda que as instruções possam ser simples, nem sempre e fácil compreendê‐las
corretamente.
Arrisca‐se então a confundir essas práticas onde prevalecem a distração e o torpor mais ou
menos sutis. Como certas instruções de Lhag‐tong ou do Mahamudra são de não intervir, não irá se
aplicar os remédios necessários das etapas de Shine; o resultado será que a prática corre o risco de
estagnar ou desviar‐se.
É por isso que no início, é preferível aplicar‐se em adquirir uma boa prática de Shine; pois ela é
a base do desenvolvimento fácil das outras meditações.
A 1ª Etapa

A primeira cena descreve o início da meditação. O monge é o meditador, o tema ou objeto da


meditação estão diante dele.
O funcionamento e as características da mente são ilustrados pelas formas e cores de um
elefante e um macaco.
Durante as duas primeiras etapas, é o macaco das elaborações mentais que dirige a mente que
oscila entre a agitação e o torpor.
É o negro da agitação e do torpor que dominam. O meditador tem a intenção de controlar sua
mente, mas está longe disso. Para conseguir chegar lá ele dispõe de sua motivação, de sua energia e das
ferramentas, que são a corda da lembrança e a machadinha da atenção.
« A lembrança »: É lembrar‐se do que se supõe deva ser feito durante a meditação e os remédios
a serem aplicados aos diferentes obstáculos. Ela é simbolizada por uma corda com dois ganchos nas
extremidades que o monge segura em sua mão esquerda.
« A vigilância »: É a vivacidade da mente; a atenção vigilante que desperta o discernimento da
mente. Ela é simbolizada por um machadinho com um gancho em sua extremidade, o monge o segura
com sua mão direita.
Na primeira cena, o meditador e sua mente estão distantes um do outro. A mente‐elefante corre
à frente, levada pelo macaco da agitação. Eles estão fora de controle do meditador que, armado do
gancho e da corda, os persegue.
Quando se começa a meditação toma‐se consciência de uma grande atividade mental bem como
de elaborações conceituais, criações imaginárias, mas também de forças conflituosas que criam um
conjunto e interações caóticas sobre as quais não se tem praticamente nenhum controle.
Isso pode, eventualmente, suscitar uma inquietação e fazer pensar que ʺas coisas estão piores
desde que tento meditar! ». De fato é a primeira etapa da meditação; esses processos já estavam
presentes antes, mas não nos dávamos conta; agora, graças à meditação, começa‐se a percebê‐los.
O funcionamento de nossa mente nesse estado é comparado a uma cascata.
2ª Etapa « Posicionamento contínuo » o/-z-:)R$-0y

2n3-0:A-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-$*An-0-:P2y
Realiza‐se a 2ª etapa da calma mental graças à força da compreensão.

:.A-/n-295-3$R-/n-.!<-(-<A3-IAn-:1J=-2-.J-$n=-(-.5-$/n-(-)J-:1J=-
:UR-2y
A partir de agora, desde a cabeça, o branco vai aumentando: é o crescimento da
lucidez e da estabilidade.

A 2ª Força 2n3- 0- Sampa, pensar, é a compreensão oriunda da reflexão sobre o que se


aprendeu øRn- tö.

É o processo intermediário entre a escuta‐estudo‐aprendizado, Rn-0- töpa e o colocar em prática


|R3-0- gompa. O resultado final: Vn-2- drebu, depende, inicialmente, de sua natureza que é
definida pelo objetivo ou a visão v-2-taua. Sua realização: P2- drub é a conclusão de um processo
progressivo
=3- lam, via, caminho, que consiste no colocar em prática |R3- gom, os elementos necessários.

É a lógica fundamental do ensinamento do Buda: « Todos os fenômenos são oriundos de


causas... » Tem, portanto, o primeiro raciocínio implícito:
_Caso se deseje um resultado, é preciso produzir suas causas e condições.
_Caso não se deseje que um resultado se produza, não é preciso produzir suas causas e
condições.
Esta lei ‐ Dharma é o fundamento do karma, mas também da progressão na meditação: Se se
quer progredir na meditação, é preciso treinar‐se nela corretamente; para isso é preciso identificar os
erros e remediá‐los.
Na segunda etapa da meditação o praticante ativa sempre o gancho da atenção e a corda da
lembrança com energia (fogo). O elefante e o macaco continuam longe de um controle, mas sua marcha
desacelerou e a distância que os separa diminuiu.
A partir do alto de sua cabeça, o negro de sua cor começa a se tornar branco; isso ilustra uma
ligeira diminuição dos obscurecimentos e da agitação mental, ao mesmo tempo que aumenta a lucidez e
o repouso da mente. A lucidez para o elefante e a calma para o macaco.
Quando uma diminui, a outra aumenta. Quando o torpor e o obscurecimento mental
diminuem, a lucidez e a clareza aumentam. Quando a agitação mental, vinda das distrações diminui, o
repouso, a calma e a estabilidade mental aumentam.
O fogo continua símbolo dos esforços necessários, mas o tamanho das chamas diminuiu. É
preciso continuar a gerar muita energia, mas a prática torna‐se mais fácil.
A mente organiza‐se com mais a coerência; adquire‐se uma melhor compreensão dos diversos
elementos de seu conteúdo e de seu funcionamento. Ela se torna menos caótica, menos anárquica.
Nesse estado, o funcionamento de nossa mente é comparado a um rio.

:.R.-;R/-s-/A-cR.-0:A-;=-35S/y
Símbolos dos 5 tipos de experiências sensoriais que são
os objetos de agitação para a mente.

No espaço, em torno do caminho, encontram‐se as imagens de frutas, uma echarpe, um espelho,


uma concha e címbalos. Eles simbolizam os objetos de desejo dos cinco sentidos que são as principais
fontes de distração para a mente. Ele persegue o que lhe parece agradável de ver, de tocar, de provar etc.
3ª Etapa « Posicionamento com retorno ou Reposicionamento» \/-.J-:)R$-0y
(retorno ao objeto graças à lembrança)

S/-0:A-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-$?3-0-.5-28A-0-:P2y
A força da lembrança: ela faz realizar as 3ª e 4ª etapas da calma mental.

LA5-2-U-3Ry :.A-/n-LA5-2-U-<$n-nR-nR<-5Rn-9A/-0y
O torpor sutil. A partir de agora se identificam distintamente
as formas grosseiras e sutis do torpor.

KA-3A$-2v-2-/A-nJ3n-$;J5-2-5R->Jn-/n-a<-.3A$n-0-=-$+R.-0:Ry
O olhar dirigido para trás expressa que uma vez que a mente tenha reconhecido suas
distrações, ela retorna à sua meditação.

As 3ª e 4ª etapas da calma mental, ilustradas pela presença da imagem do monge, encontram‐se


no mesmo nível: elas são adquiridas graças à força da lembrança.
3ª etapa

A distância entre o sujeito e o objeto de meditação reduziu‐


se. O elefante não é mais conduzido pelo macaco da agitação.
A corda da lembrança mantém o vínculo entre o meditador e seu objeto.
Um pequeno coelho surgiu, indica o torpor sutil. É como uma ligeira diminuição da vivacidade
inicial, mas sem ser um torpor profundo. Ela é agora, claramente, distinta do obscurecimento mental
grosseiro.
Os animais olham para trás. Isso ilustra que, desde que as distrações, o torpor ou a agitação
grosseiros ou sutis são reconhecidos, retorna‐se ao objeto de meditação.
Nesse estado começa‐se a reconhecer o que é a meditação e o que ela não é.

Na 3ª e 4ª etapas é a Atenção‐ Lembrança S/->Jn- que é o mais importante.

No início da meditação, nossa atenção deve ser pousada sobre um objeto; quando se deixa esse
objeto, trata‐se de uma distração, abandonou‐se a meditação.
É preciso, portanto, verificar regularmente, através de uma auto‐avaliação se nossa atenção
continua sobre o objeto da meditação.
No início podia‐se entrar em estados de torpor mais ou menos profundos, chegando até mesmo
ao sono, ou ainda nossa atenção era absorvida por idéias, situações imaginadas associadas a sentimentos
ou emoções mais ou menos fortes. Essas distrações podiam durar certo tempo, sem que se desse conta
delas.
Agora, depois de um momento, graças à atenção e à lembrança, nos damos conta que nossa
atenção afastou‐se de nosso objeto de meditação.
Lembrando‐se de nosso objeto, abandona‐se a distração e se retorna a atenção para a meditação.
4ª Etapa « Posicionamento completo ». *J<-:)R$-0y

cR.-0-}R/-=-*J-2:A-/n-*3ny
O poder da agitação diminuiu.

4ª etapa

No nível da 4ª etapa o processo de retorno ao objeto continua.


Notar que no desenho é somente indicado o nível da 3ª e 4ª etapas, quando o monge se encontra
ainda atrás dos animais é que eles olham para ele.
Antes estavam completamente fora de controle; agora, graças à atenção e à lembrança, eles
ficam ligados ao meditador e a distância entre eles diminui.
As distrações são reconhecidas cada vez mais rápido e se retorna ao objeto.
O negro diminui e o branco aumenta; a agitação mental e o torpor diminuem; ele começa a ter
mais clareza na meditação e a mente está um pouco mais tranqüila.
Percebe‐se que há uma progressão.
A duração e a qualidade da meditação aumentam.
A imagem que ilustra esse estado é a de um curso dʹágua, que conflui para um lago.
8A- $/n- 12- {2n-nJ3n-.$J- 2:A- KR$n-=-:UR- 2:5-2<-$&R.-;A/-0n-:$R$-
.$Rn-G5-{2n-$8/-z-3A-:$R$-0<-.R/-$*An-:Vn-z-=J/-0y
Quando se pratica Shine e a mente parte para uma direção positiva, esse é um
obstáculo, e é preciso parar. Entretanto, em outras circunstâncias, não parar se causar
entrave (às disposições positivas), mas colher os frutos benéficos para nós e para os
outros.

A nota sobre atitude para com as ações positivas lembra‐nos que durante essa meditação tudo o
que não seja o objeto da meditação são distrações e que é preciso abandoná‐las.
Portanto, não se podem recitar mantras nem em voz alta, nem mentalmente, nem utilizar o
moinho de preces etc.
Entretanto, não é preciso transpor essa instrução para fora do período das sessões dessa
meditação! Não é preciso parar intempestivamente as ações físicas, verbais e mentais, sejam elas
virtuosas ou simplesmente utilitárias.
Os atos não‐ virtuosos é preciso, é claro, sempre evitá‐los!
5ª Etapa : « Disciplinado. » z=-2<-LJ.-0y

>Jn-28A/-IA-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-s-0-S$-0-:P2y
A força da vigilância. Ele faz realizar as 5ª e 6ª etapas da calma mental.

>Jn-28A/-IAn-nJ3n-:UR<-3A-!R<-8A5-y $9A5n-$+R.-/n-+A5-:6B/-=-:SJ/-0y
Graças à vigilância a mente não persiste mais em suas elaborações. Ela estimula
e conduz a um estado de absorção $+R.-0- gerar, orientar, ativar

5ª etapa

Produziu‐se uma mudança na relação. Não é mais o macaco da agitação dos pensamentos
discursivos, que conduz a marcha, mas a mente está controlada graças à vigilância.
Na 5ª etapa não são mais as distrações que dominam a meditação. No início, tentava‐se meditar
um pouco entre as distrações, agora há somente algumas distrações que sobrevém durante a meditação.
O monge vira em direção ao elefante; a mente necessita ainda de certa supervisão, mas desde que uma
distração surja, aplica‐se o remédio.
Uma pequena chama está presente; a atenção, a lembrança e certa energia continuam sendo
necessárias para manter o controle, mas o branco começa a predominar, as distrações estão sob controle,
disciplinadas.
6ª Etapa : « Pacificada » 8A-2<-LJ.-0y

6ª etapa

O processo de pacificação e de clareamento segue o branco, e agora é bem dominante.


Como as distrações e o torpor diminuíram muito, a qualidade da atenção aumentou e tornou‐se
uma vigilância cada vez mais clara. Em presença dela, a mente fica cada vez menos distraída e é
conduzida para a absorção meditativa.
O monge caminha tendo à frente, o machadinho da vigilância a postos; ele não se vira mais em
direção aos animais. Mantém, todavia o elefante‐mente com o laço da atenção‐lembrança.
Não há mais necessidade de exercer um controle constante, pois a mente se purifica cada vez
mais, o torpor, as distrações são mínimas e a meditação segue.
O macaco do pensamento discursivo passou para trás; não é mais ele que conduz a atividade da
mente.
Quem dirige a marcha agora é o meditador, armado da vigilância.
7ª Etapa : « Completamente Pacificada » i3-0<-8A-2<-LJ.-0y
2lR/-:Pn-GA-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-2z/-0-.5-on-0-:P2y
A força da Energia: Ela faz realizar as 7ª e 8ª etapas.

{2n-:.A<-LA5-cR.-U-3R:5-*J-.!:-=-&5-9.-*Jn-G5-.J-3-ø$-lR=-(5-%n-cR5-
2<-LJ.-0:Ry
Neste estado, mesmo que um pouco de torpor ou agitação sutis possam ainda
surgir em situações difíceis; um pequeno esforço faz com que sejam abandonados
imediatamente.

7ª etapa

A clareza e a estabilidade aumentam, as distrações são raras e eliminadas com muito pouco
esforço. Sobre o desenho o negro é ínfimo, o macaco está sentado, inativo. As distrações não têm mais o
poder de perturbar a meditação.
Uma mudança importante ocorreu desde a 6ª etapa; personagens não se deslocam mais e não há
mais chamas.
O monge não tem mais necessidade de controlar os animais.
A meditação não é mais laboriosa e não necessita mais de esforços.
A presença da vigilância e da energia a tornam fácil e agradável, e ela progride
facilmente. Tudo está tranqüilo!
8ª Etapa « Concentrado em um ponto » lJ-$&A$-LJ.-0y

:.A<-\5-0R:C- /$-(-9.-&A5-3J:-.5-V=-2-/A- øR$-3<-S/->Jn-&5-9.-2!J/-/-


LA5-cR.-.5-:UR-2n-2<-$&R.-3A-/n-0<-+A5-:6B/-(-3J.-z-:)$-0:Ry
Neste estado o negro do elefante desapareceu completamente e o macaco
partiu. Não há mais distrações, nem mesmo sutis. No início da meditação utiliza‐se
somente um pouco de vigilância, depois ela não pode mais ser interrompida pelo
torpor, agitação ou elaborações mentais. Involuntariamente, parte‐se para a absorção
meditativa.
** *

Nesse estado, com o resultado de seu treinamento, a mente permanece facilmente concentrada
sobre o objeto, sem o mínimo torpor ou distração.
A meditação continua a progredir naturalmente, sem esforços.
Seu estado é comparado a um vasto oceano sem ondas.
9ª Etapa « Absorção Equânime » 3*3-0<-:)R$-0y

;R5-?-:SAn-0:A-!R2n-nRy :.An-nJ3n-$/n-.$-0-:P2y
A força do perfeito hábito. Ela faz realizar a 9ª etapa da calma mental.

9ª etapa

** *

Não há mais nenhum movimento.


O meditador e a mente estão ambos em repouso; estão um com o outro, não há mais dualidade.
Com o treinamento e o hábito, a mente torna‐se naturalmente calma e clara, sem o mínimo
torpor ou distração.
Nesse ponto, não é mais necessário nenhuma intervenção.
Querer intervir que seria uma distração!
Basta deixá‐la simplesmente tal como ela é...
Extrema pureza do corpo =n->A/-.5-y
Extrema pureza da mente?J3n->A/-.5-y

A calma mental é adquirida. 8A-$/n-øR2-0y

As qualidades da clareza e da estabilidade vão, entretanto, continuar a melhorar conduzindo a


um sentimento de extrema pureza do corpo e da mente.
É a conclusão de Shine, a meditação da calma mental.
Lhagtong, a Visão superior

S/->Jn->$n-&/-IAn-v-2-:5S=-2y
Com uma vigilância discriminativa e enérgica busca‐se a compreensão justa.

!R5-*A.-=-.3A$n-0:A-8A-z$-95-:VJ=-IAn-YA.-l-$&R.-0y
Com a prática de Shine e Lhagtong conjuntamente, orientadas para a vacuidade,
cortam‐se as raízes do ciclo das existências.
A última imagem se refere à Lhag‐Tong, a Visão superior. A mente purificada e calma torna‐se
novamente ativa, não segue mais na direção da calma mental.
Com a força da vigilância discriminativa, simbolizada pela espada, busca‐se a Visão Justa.
Cortam‐se as duas faixas negras que representam os dois véus: o véu das paixões e o véu do
cognoscível.
!, ,,<-=3-1R/-3J?,
A TOCHA DO
CAMINHO DA LIBERAÇÃO

Shine: Calma mental


e
Hlagtong: Visão Superior

Texto do
Venerável Dechung Rinpotche

3
Índice

Introdução
Índice

Introdução

I Samatha (Shine)

A - Circunstancias favoráveis, defeitos e remédios à prática de samatha


O isolamento do corpo e da mente

Os cinco obstáculos e os oito remédios

B - Os cinco obstáculos de Samatha

1) A preguiça

2) O esquecimento

3) O torpor e a agitação

4) A falta de intervenção

5) O excesso de intervenção

C - Os oito remédios aos cinco obstáculos

1) Os remédios para a preguiça (intenção,esforço ,confiança, extrema pureza)

2) Os remédios para o esquecimento (recordação-chamada)

3) Os remédios para o torpor e a agitação (vigilância atenta)

a- As duas qualidades de samatha (lucidez e repouso)

b- Opacidade, torpor e agitação


1 - A opacidade e o torpor
a) definições
b) remédios

2- A agitação
a) definições
b) remédios

4) Os remédios para a ausência de intervenção (reconhecimento)

5) Os remédios para um excesso de intervenção (equanimidade)

D- As forças, as etapas, os atos mentais e as experiências

1) As seis forças

2) As nove etapas

3) Os quatro atos mentais

4) As seis forças em relação às nove etapas

5) As nove etapas em relação aos quatro atos mentais

6) As cinco experiências

E- As instruções práticas da progressão

1) Primeira etapa de Samatha

a- Um suporte de meditação imóvel

b- A imobilidade do corpo

c- Os olhos sem pestanejo

d-“Uma experiência clara do aspecto do suporte da meditação”

2) Segunda etapa

3) Terceira etapa

4) Quarta etapa

5) Quinta etapa
6) Sexta etapa

7) Sétima etapa

8) Oitava etapa

9) Nona etapa

F- A progressão das cinco experiências

G- Resumo

H- As meditações que purificam os comportamentos passionais


1) O remédio para o desejo

2) O remédio para a agressividade

3) O remédio para a opacidade mental

4) O remédio para o orgulho

5) O remédio para o hábito aos pensamentos

II - VIPASYANA ( Lhagtong)
A – Definições

1) Pessoa

2) Fenômeno

B – O método da prática

1) Meditação do não ser da pessoa

2) Meditação do não ser dos fenômenos

3) Meditação da vacuidade e da compaixão conjuntas

4) Meditação de samatha-vipasyanâ conjuntas

ORIGEM DO MANUAL

Conclusão do autor
INTRODUÇÃO

Homenagem ao Lama e a Manjusri.


A realização do estado de perfeito Buda, o objetivo em direção ao qual
tendem todas as pessoas que possuem o bom karma de entrar no insuperável
caminho espiritual, demanda aprender, pelo estudo direto e indireto, os atos de
Bodhisattva que são as seis perfeições ( pâramitâ): a doação (dâna), a disciplina
(sila), a paciência (ksânti), a coragem (virya), a meditação (dhyâna) e a
compreensão (prajnâ).
Entre essas virtudes, o momento agora é de estudar, e depois meditar o
estado de tranqüilidade (tibetano: shine; escrito: 8A- $/n-; sânscrito: samatha)1 que
constitui o essencial da perfeição da meditação ; e também estudar e meditar a
visão superior (tibetano : lhaktong, escrito: z$-3øR5- ; sânscrito : vipasyanâ)2 que é a
essência da perfeição da compreensão (prajnâ).
Vou, portanto, explicar sucintamente como conduzir essas práticas.
Existem três abordagens para desenvolver as meditações de samatha e
vipasyanâ:
-Meditar samatha e depois vipasyanâ,
-Meditar vipasyanâ e depois samatha,
-Meditar as duas conjuntamente desde o início.
Aqueles que têm um bom karma, que tem confiança num mestre espiritual
e que são dotados de coragem3 e de inteligência4 poderão realizar essas práticas
facilmente qualquer que seja a abordagem seguida. Para eles, o método não tem
importância. Ao contrário, aqueles que têm capacidades menores deverão
inicialmente, e durante muito tempo, praticar o repouso tranqüilo ( samatha), sem
falha e com estabilidade, pois não terão de início, a capacidade necessária para
meditar com sucesso sobre a perfeição da compreensão ( prajnâ pâramitâ, ou
seja, vipasyanâ).

1
O termo tibetano shine (escrito: 8A-$/n-; sânscrito : samatha) é composto de duas sílabas, cada
uma com um sentido: shi significa paz, tranqüilidade ( das agitações, das emoções conflituosas, do
torpor); e ne significa ficar, permanecer, manter-se,repousar, ser (neste estado de tranqüilidade) .
Shine é, portanto, literalmente, “permanecer tranqüilo”, é o estado de repouso de uma mente em
paz. O termo se traduz por ficar tranqüilo, permanecer em paz, repouso pacífico.
2
O termo tibetano lhaktong (escrito: z$-3øR5- ; sânscrito : vipasyanâ) se decompõe assim : lhag
significa superior ou claro (lhag ger), mthong : ver ou visão. Lhaktong é a visão superior ou a
visão clara, que vê a natureza da mente além dos véus da confusão. Esse termo será traduzido por
visão superior, vista penetrante, visão intuitiva ou clara visão
3 virya
4 prajnâ
Outra abordagem consiste em desenvolver a experiência da visão filosófica
(quer dizer uma forma analítica de vipasyanâ) e depois desenvolver o estado de
repouso tranqüilo (samatha) nesta experiência; samatha e vipasyanâ se praticam
então conjuntamente. Esse método é ensinado como tendo vantagens por dirigir
facilmente os discípulos e fazê-los facilmente descobrir a experiência meditativa.
O Guia Compassivo (o Buddha) nos sutras, explicando seu pensamento
definitivo , assim como o grande Acarya Asanga (Thomé) no Bodhisattvabhûmi
(Djangsa) e o Sravâkabhûmi (Nyensa), Jnânagarbha (Yeshe Nyingpo) no
Madhyamakâhridayakârikâ (Uma Nyingpo), Shantideva (Shiwelha) no
Bodhicaryâvatara (Tchodjuk), Kamalasila nos seus três tratados de meditação e
Atisha (Djwo Dje) no Bodhipathapradipa (Djangtchub Lamdron), aconselharam a
buscar, de início, o estado de tranqüilidade da mente ( samatha) e depois meditar
sobre a visão superior (vipasyanâ).
(Em todo caso) o estado de tranqüilidade da mente (samatha) é o
fundamento necessário aos yogues budistas e não budistas para abandonar as
emoções conflituosas. É ainda uma meditação que deve ser realizada por qualquer
um que seja o yogue do Hinayana ou do Mahayana. E mesmo no Mahayana,
todos os yogues do Vajrayana como do pâramitâyâna5 devem praticar samatha.
Esta prática é, portanto a base mais importante para todos os yogues que
percorrem a via espiritual.
Em nossa época das cinco degradações6, praticar inicialmente a
tranqüilidade da mente (samatha) é um ponto muito importante para aqueles que,
como eu, aspiram a orientar sua mente para a meditação. [Essa necessidade pode
ser compreendida por analogias:] como o reflexo da lua sobre a água, que não é
claro sobre uma água agitada; ou ainda como para dissipar a obscuridade e
distinguir as pinturas, são necessárias conjuntamente a claridade de uma vela e a
imobilidade do ar (a tranqüilidade da água e do ar correspondem a samatha, e a
claridade da lua ou da vela a vipasyanâ); semelhantemente uma mente que não
está nem um único instante sem o pensamento discursivo( ou seja,que não tem a
tranqüilidade de samatha) não poderá descobrir a inteligência primordial da visão
superior (vipasyanâ). E mesmo que a consiga agarrar grosseiramente, ela não
poderá ser estável.

5
O mahayâna se subdivide em dois ramos: o pâramitâyâna ou caminho dos sutras, fundado sobre
a prática das pâramitas, e o vajrayâna fundado sobre os tantras. As duas abordagens são
complementares, a primeira sendo a base da segunda.
6
As cinco degradações são: da vida (que diminui), das paixões (que aumentam), das pessoas (que
se envilecem), da época (que degenera) e da compreensão dos ensinamentos (que se degrada).
I – SAMATHA (Shine)

A – CIRCUNSTANCIAS FAVORÁVEIS,
FALTAS E REMÉDIOS PARA A PRÁTICA DE
SAMATHA

- O isolamento do corpo e da mente


Samatha não se apresenta de uma só vez entre os iniciantes, porque eles
estão distraídos. Nós precisamos, para desenvolvê-la, do isolamento do corpo e da
mente. É o que eles farão utilizando os seis fatores favoráveis ao repouso tranqüilo
(samatha). Trata-se de:
1) permanecer em um lugar propício ( quer dizer, principalmente calmo),
2) ter poucos desejos,
3) saber contentar-se com o que se tem,
4) abandonar as distrações das atividades numerosas,
5) ter uma disciplina justa ( no corpo, palavra e mente),
6) abandonar as cogitações que estimulam o desejo e outras paixões.

Os cinco obstáculos e os oito remédios


Uma vez nesse estado de isolamento, para praticar o estado de absorção
meditativa, o Samadhi (de samatha), é necessário:
1) Identificar os cinco vícios a abandonar, e

2) Aplicar os oito fatores remédios que permitem de abandoná-los.

Nós buscamos, então, o estado de repouso tranqüilo ( samatha) por meio de


seis forças da prática, e atravessamos nove etapas de repouso passageiro da
mente que correspondem a quatro tipos de posicionamento mental na meditação.
No nosso treinamento nessa prática, nascem, progressivamente, cinco graus de
experiência meditativa, e nós realizamos finalmente o estado de tranqüilidade da
mente extremamente puro.
B - OS CINCO OBSTÁCULOS DE SAMATHA

Os cinco vícios que impedem de realizar samatha são:


1 - A preguiça
É a atitude na qual a mente não entra em contato com as virtudes da
prática.
2 - O esquecimento
Mesmo se a mente entra em contato com a prática, ela esquece as
instruções da meditação.
3 - O torpor e a agitação
Mesmo se a mente não esquecer as instruções ela não fica quieta: é a
agitação; ou então ela é opaca e entorpecida: é o torpor.
4 - A falta de intervenção
Quando a mente caiu no torpor ou na agitação, é não aplicar o remédio que
permite eliminá-los.
5 - O excesso de intervenção
É aplicar remédios muito numerosos. Essa intervenção excessiva impede a
mente de ficar quieta.
C - OS OITO REMÉDIOS PARA OS CINCO OBSTÁCULOS

Os oito remédios que permitem abandonar os cinco vícios são os seguintes:

1) Os remédios para a preguiça (intenção, esforço, confiança,


arrebatamento)

Existem quatro remédios para a preguiça que é o primeiro vicio a abandonar, que
são:
_A intenção,7 que faz tender para a meditação,
_O esforço, 8que faz ser enérgico nela,
_A confiança,9 que faz entrever suas qualidades,
_E os estados meditativos extremamente puros, ou arrebatamentos ( shin
sbyangs)10, que são o resultado dos esforços.
A intenção faz tender para o estado de meditação e o esforço consiste em
permanecer nele. A confiança é a origem da inspiração; quanto aos estados
meditativos de extrema pureza, eles são o fruto dos esforços.
Entre estes remédios para a preguiça o principal é o esforço 11: de fato,
trata-se de ser corajoso. A preguiça é o primeiro obstáculo à meditação. Trata-se
de abandoná-la e de desenvolver energia mantendo presentes à mente:
- a característica insatisfatória da existência condicionada,
- a dificuldade de se obter a existência humana livre e qualificada (ou seja,
dotada das liberdades e das qualificações que a tornam apropriada para a prática
do Dharma),
- a impermanência e a morte.

2) Os remédios para o esquecimento ( o chamado da lembrança)


Uma vez que sejamos diligentes na meditação, esquecer as instruções é
uma falta, cujo remédio é o “chamado da lembrança” (tibetano: drenpa, escrito:
S/-0-). Este não consiste apenas em não esquecer a meditação, mas também que a
mente fique completamente absorvida na experiência precisa e sustentada de uma
inteligência bem presente.
7
:z/-0-
8
2lR/-:Pn-
9
..-0-
10
Este estado meditativo extremamente puro (tibetano: shine-djang, escrito: >A/- .5- ) é uma
experiência de arrebatamento físico e espiritual intenso. O corpo e a mente, aqui, estão livres das
impurezas que os sujavam anteriormente. Esta experiência é fonte de uma profunda inspiração
para a prática. O termo shine-djang é suscetível de ser traduzido diferentemente de acordo com os
casos, ele significa literalmente “extremo treinamento” ou “extrema purificação”, e pode também
ser tido por arrebatamento. Na experiência de pureza há também uma extrema flexibilidade e
maleabilidade da mente. O contexto prático e experimental nos fez escolher aqui extrema pureza
que exprime melhor - ao que nos parece- a natureza da experiência evocada.
11
2lR/-:Pn-
3) Os remédios para o torpor e a agitação (vigilância atenta)
Durante a absorção meditativa, o torpor e a agitação são as faltas. Seu
remédio é a vigilância atenta (tibetano: Che chin: escrito: >Jn-28A/-). Essa vigilância

atenta examina bem se a mente se entorpece, se ela se agita, ou se não é o caso.


Aqueles que têm para a meditação excelentes faculdades reconhecerão o torpor e
a agitação assim que eles começam a aparecer e podem eliminá-los logo. Aqueles
que têm faculdades médias poderão reconhecê-los e abandonar rapidamente após
sua aparição. Quanto àqueles que têm faculdades menores, eles os reconhecerão
pouco tempo após sua aparição, e deverão, então, eliminá-los.

a - As duas qualidades de Samatha (lucidez e repouso)


( De uma maneira geral), a prática de Samatha tem duas qualidades:
_Lucidez (ou clareza): uma presença lúcida12,
_Repouso: um estado de repouso no qual a mente permanece
completamente absorvida na meditação13
Essa primeira qualidade é interrompida pelo torpor. A segunda pela
agitação.
Os principais obstáculos para a realização de uma meditação perfeita têm
suas origens no aparecimento do torpor e da agitação. (Trata-se, portanto, de)
reconhecer suas formas grosseiras e sutis e de eliminá-los. Com efeito, é ensinado,
que não é possível desenvolver samatha, sem dar-lhes um fim, e a fortiori,nem é
preciso dizer, vipasyanâ!
(Nessa perspectiva) a prática necessita de dois elementos:
_ Um meio para que a mente não se distraia de sua meditação (dmigs pa)
_ E uma inteligência que reconhece “como” está a mente: distraída ou não.
O meio é a presença do “chamado da lembrança” (dren pa)14. A
inteligência15 é a atenção-vigilância (shes bzhin) 16

12
$n=-2:A-5<-.5-w/0y
13
.3A$n-0-=-lJ-$&A$-0:A-$/n-(y
Drenpa (escrito: S/- 0- )
14
significa literalmente “manter-se presente à mente” e “recordar-se”,
“lembrar-se de”. Drenpa permite de guardar a meditação presente à mente. É a presença da
mente na meditação e o lembrar-se dela. Nós traduzimos Drenpa por uma ou outra dessas
expressões guardando sempre que possível o termo tibetano entre parênteses. Drenpa como
presença do “chamado da lembrança” assegura a continuidade da meditação.
15
.3A$n-0-
suporte, objeto da meditação.
16
Shezhin ( escrito: >Jn-$8A/-) significa literalmente “ ser conhecedor”. She: conhecer, e zhin é uma
particular característica do presente. Shezhin é o conhecimento do presente, uma qualidade de
atenção vigilante ao instante presente, atenção vigilante ao objeto da meditação e ao estado
presente da mente nela. Ela permite reconhecer se a mente está, no instante presente, distraída ou
não, enquanto que o “chamado da lembrança” ( drenpa) permite manter ou restabelecer o contato
com a meditação.
Se a presença do chamado da lembrança (dran pa) se deteriora, nós
esquecemos a meditação17e tão logo nós estamos assim distraídos, ela é
destruída. Daí a presença do “chamado da lembrança” ( dran pa) permite não se
deixar a meditação,e é a raiz (dessa prática). É ensinado que se deve estabelecer
a mente na meditação(dmigs pa) e aí permanecer presente, lembrando-se (dran
pa) continuamente, sem a menor distração: quando estamos distraídos, essa
simples distração destrói a presença (dran pa) [na meditação].

b – Opacidade, torpor e agitação


Vejamos agora quais são as diferenças entre opacidade-torpor e agitação.

1) A opacidade e o torpor

a) Definições
A opacidade ou entorpecimento18 é o estado no qual o suporte de
meditação19não está claro e no qual o corpo e a mente estão num estado de
lentidão e de sonolência.
O torpor grosseiro20 é como a obscuridade abatendo-se sobre a mente.
[Nesse estado], mesmo se a mente não se afasta para fora de seu suporte de
meditação, ele não é nem claro nem lúcido e a força da presença (dran pa) está
enfraquecida.
O torpor sutil 21é o estado no qual mesmo se a mente está clara e lúcida, a
precisão de sua experiência sustentada e alerta, fixada 22sobre o suporte de
meditação está um tanto relaxada.

b) Remédios
Considerar as qualidades das Três Jóias (essa consideração é um estimulante para
a confiança, a alegria, o entusiasmo... e a mente de uma forma geral);

17
.3A$n-0- suporte, objeto da meditação.
18
3$n-0-
19
.3A$n-0- suporte, objeto da meditação.
20
LA5-2-<$n-0-
21
LA5-2-U-3R-
22
5Jn-0:A-5Jn->Jn-.3-3A5-5J-2-
_Produzir na mente características luminosas 23 (por exemplo: imaginar que
nossa mente banha-se numa imensa claridade, extremamente viva);e
_As instruções concernentes à mistura do sopro-mente e do espaço 24( por
exemplo imaginar que a mente faz corpo com o sopro, que se funde ele mesmo
num espaço aberto ao infinito).

2) A agitação

a) Definições
A agitação sutil [ é o estado no qual] a mente não fica imóvel sobre o
suporte de meditação e se dispersa um pouco. O remédio é meditar utilizando a
presença do chamado da lembrança (dran pa) e a atenção vigilante (shes bzhin).
A agitação grosseira (é o estado no qual), mesmo utilizando o chamado
(dran pa) e a atenção vigilante (shes bzhin), a mente não fica quieta e dispersa-se
para os objetos de apego.

b) Remédios
Meditar sobre a impermanência, sobre as três existências inferiores e sobre
os males do samsara (o que favorece o desapego aos objetos fontes de agitação);
Aplicar as instruções que põem fim à agitação com meios poderosos (por
exemplo), meditar sobre um glóbulo sombrio, pálido e muito pesado que, a partir
do nosso coração, desce lentamente para além dos nossos limites corporais. A
mente faz, então, corpo com o glóbulo e o segue descendo doce e
progressivamente.

4) Os remédios para a ausência de intervenção (reconhecimento)


Uma vez que o torpor ou a agitação apareçam, não reagir é uma falta.
O remédio é reconhecê-los25desde sua aparição e utilizar os fatores que os
eliminam (os remédios mencionados anteriormente). Se a mente estiver então
numa presença muito tensa sobre o suporte, ela será lúcida, mas muito agitada e
será difícil ficar tranqüila; e [vice-versa], se a tensão não for suficientemente
sustentada e ela relaxa mais, e ainda que encontre repouso, o torpor será grande
e será difícil obter lucidez.

23
$5-2:A-35/-3-;A.-=-LJ.-0-
24
_5-nJ3n-/3-3#:-.5-2YJ-2-
25
<A$-0-
Por essas razões, avaliando nossa experiência: se constatamos que a
agitação se desenvolve quando nós aumentamos, em certa medida, a intensidade
da inteligência (rig pa), nós nos distendemos um pouco. Ao contrário, se
constatamos que deixando a mente por si mesma ela escorrega para um torpor,
nós aumentamos então um pouco (a intensidade da inteligência). Depois, tendo
encontrado a justa medida entre essas duas tendências, nós buscamos o estado
de repouso da mente, deixando-a em equilíbrio, afastada de toda perturbação.
Quando esse estado de repouso aparece, se tememos por alguns momentos que
ele soçobre no torpor, nós estimulamos novamente a lucidez de uma inteligência
bem presente. Cultivamos (2*5n-) também a prática, alternando essas duas fases
até que o Samadhi (experiência profunda) sem defeito se desenvolva. Este não
consiste somente numa transparência, pois se falta a ele a lucidez de uma
consciência precisa, esse estado, por si só, não conduzirá à estabilidade mental.

5) Os remédios para um excesso de intervenção (equanimidade)


Quando [como acaba de ser explicado] mesmo as formas sutis de torpor e
de agitação cessaram, intervir nesse caso em que a mente entrou numa certa
continuidade de meditação é uma falha. O remédio é então não agir com os
antídotos ao torpor e à agitação, e deixar a mente relaxada num estado de
equanimidade.

D - AS FORÇAS, AS ETAPAS,
OS ATOS MENTAIS E AS EXPERIÊNCIAS

1 - As seis forças
Quando nós praticamos samatha seguindo esse método, seis forças são
necessárias:
1_ A força da escuta (estudo do ensinamento),
2_ A força da consideração (é o começo da assimilação do ensinamento),
3_ A força da presença26
4_ A força da vigilância atenta27
5_ A força do esforço assíduo (a energia entusiástica)
6_ A força do habito perfeito.

26
S/-0-
27
>Jn-28A/-
[Na passagem que se segue, a ordem de certos parágrafos do texto tibetano foi ligeiramente
modificada para melhorar a inteligibilidade]

2 - As nove etapas
A prática dessas seis forças faz progredir samatha segundo nove etapas que
conduzem a mente ao repouso, e elas se denominam:
1_ Posicionamento28
2_ Posicionamento com duração
3_ Posicionamento com retorno,
4_ Posicionamento perfeito
5_ Disciplinado
6_Pacificado
7_ Completamente pacificado
8_ Unificado
9_Completamente absorvido, equânime.

3 - Os quatro atos mentais


[Os atos mentais (;A.- LJ.-) introduzem a mente nos estados meditativos das

diferentes etapas de Samatha. Eles evoluem à medida da progressão e são em


número de quatro].
São eles:
1_O ato mental que faz entrar em meditação pela concentração (21A3n- +J-
:)$-0-),
2_O ato mental que faz entrar em meditação “fazendo cessar” ((.-&A5-:)$-0-)
(as distrações)
3_ o ato mental que faz entrar em meditação sem mesmo ter de “fazer
cessar” ((.-0<-3J.-0<-:)$-0-),
4_O ato mental que permite de entrar em meditação sem nenhuma
dificuldade (lR=-2-3J.-0<-:)$-0-).

4 - As seis forças em relação às nove etapas


1) Pela (força da) escuta (desenvolve-se a primeira etapa), dita
“posicionamento da mente” (na meditação).
2) Pela (força da) consideração (desenvolve-se a segunda etapa), dita
“posicionamento da mente com duração”.

28
Pode-se dizer também posição ou colocação
3) Pela presença do “chamado da lembrança” (dran pa) (desenvolve-se a
terceira etapa dita) “posicionamento da mente com retorno” e (a quarta etapa):
“posição perfeita da mente”.
4) Pela (força da) atenção vigilante (shes bzhin) (desenvolve-se a quinta
etapa dita da) “mente disciplinada” e (a sexta etapa da) “mente pacificada”
5) Pela (força do) esforço assíduo (desenvolve-se a sétima etapa de) “a
pacificação completa da mente” e (a oitava) “da unicidade da mente”.
6) Pela (força do) hábito perfeito da prática (desenvolve-se a nona etapa):
“o estado de completa absorção equânime”.

5 - As nove etapas em relação aos quatro atos mentais


As duas primeiras etapas são o período do primeiro ato mental; depois até a
sétima, é o segundo. À oitava corresponde o terceiro e à nona o quarto.

6 - As cinco experiências
As nove etapas são atravessadas com cinco tipos de experiências:
1) A experiência da “agitação”.
A mente é comparável à queda d’água de uma cascata.
2) A experiência da “aquisição”
A mente é comparável a uma torrente passando por uma garganta
estreita.
3) A experiência do “hábito”.
A mente é comparável a um rio de planície.
4) A experiência da “estabilidade”.
A mente é comparável a um oceano sem vagas.
5) A experiência “final”,
A mente é comparável a uma montanha29

29
Ver mais além a descrição mais detalhada das cinco experiências. A quarta é então nomeada
“oceano com vagas” e a quinta, “oceano sem vagas”.
E - AS INSTRUÇÕES PRÁTICAS DA PROGRESSÃO

1) Primeira etapa de Samatha


A primeira etapa, “posicionamento da mente”, tem quatro aspectos:
1_ Um suporte de meditação imóvel,
2_ A imobilidade do corpo
3_ Os olhos sem pestanejar (nem tensão)
4_ Uma experiência clara do suporte de meditação.

1_ “Um suporte de meditação imóvel”


Num lugar isolado e agradável, colocamos diante de nós uma representação
do Buda, desenhada ou outra, que seja bela e agradável, ou então podemos
utilizar um objeto que não choque os olhos: uma flor, um pedaço de tecido azul...
Colocamos, assim, diante de nós, aquilo que nos convém, imóvel a uma distância
média. Ainda que numerosos suportes de meditação tenham sido ensinados,
pousar a mente sobre uma representação do Buda é uma recordação dele, o que
tem benefícios incomensuráveis; é um suporte de meditação notável para purificar
os véus da mente e se recordar do Buda no momento da morte.
Se meditarmos seguindo o Vajrayana, existe no yoga da divindade
meditações notáveis que possuem numerosas vantagens. Nelas nós não
meditamos apenas sobre o corpo da divindade, (considerando-o) como uma
imagem ou uma estátua. Mas aprendendo a fazê-la aparecer como sendo o
aspecto verdadeiro do Buda. A mente apreende-o não como um objeto das
faculdades sensoriais, mas como um objeto mental.
Assim, a mente pode pousar sobre formas variadas. Pode-se também contar
as inspirações e expirações, o que é um método particularmente benéfico e
notável, ensinado como supremo para purificar os véus da mente e alongar a
vida.30

2_ “ A imobilidade do corpo”
No Samatha, a postura corporal e a maneira de pousar o olhar são
importantes; (os sete pontos da postura são:)
1_ As pernas na postura Vajra (vajrâsana)
2_ As mãos pousadas no mudra de meditação, quatro larguras de dedo
abaixo do umbigo,
3_ A coluna vertebral reta como uma seta,

30
O domínio dos sopros, ou seja, da respiração e das práticas dos sopros sutis tem por
conseqüência o aumento da longevidade.
4_ O busto desimpedido
5_ O queixo abaixado repousando sobre o pomo de Adão,
6_ Os lábios não são nem abertos nem cerrados: a língua toca o palato.
Eles ficam como são ,relaxados.
7_Os olhos repousam semi-abertos, relaxados no espaço, oito dedos
adiante do nariz.
A respiração continua no seu ir e vir, mas ela não é nem sonora nem rouca
ou agitada. Nós inspiramos docemente, lentamente, de forma natural e expiramos
da mesma maneira.
O praticante permanece como acaba de ser dito, sobre uma almofada de
meditação confortável, reto e imóvel, respeitando todos os pontos da postura de
meditação.

3_ “Os olhos sem pestanejo”


A pálpebra superior recobrindo mais ou menos a metade da íris, os olhos
são pousados distendidos, docemente, sobre o suporte de meditação. Se lágrimas
vêm, nós não as enxugamos com a mão, mas as deixamos correr livremente. Se o
olhar se torna penoso, nós não fixamos a mente (nessa dificuldade) e o deixamos
firmemente dirigido para o suporte de meditação.

4_ “Uma experiência clara do suporte de meditação”


Sem conceber nem julgar o objeto de meditação como sendo bom, mau, ou
o quer que seja nós deixamos aparecer seu aspecto na claridade límpida de uma
mente sem conceitos.

2) Segunda etapa
“Posição com duração”: a meditação precedente, inicialmente, não dura
muito tempo. Quando na segunda etapa, a mente começa a ficar quieta de tal
maneira que os breves instantes de meditação adquirem certa duração.

3_ Terceira etapa
“Posição com retorno”: quando uma distração aparece, ela é reconhecida
como tal e a mente permanece em contato com o suporte da meditação.

4) Quarta etapa
“Posição perfeita”: a mente não se dispersa mais, a presença do chamado
da lembrança a reúne ao suporte de meditação
5) Quinta etapa
“Mente disciplinada”: é a mente regozijando-se dos benefícios do Samadhi.
Se o torpor ou a agitação aparecem, ela os trata com os remédios apropriados.

6) Sexta etapa
“Quietude”: assim que a mente é perturbada por um fator de distração ou o
que quer que seja, ao se tornar suporte de meditação, o fator perturbador se
pacifica.

7) Sétima etapa
“Completamente pacificado”: Logo que fatores desfavoráveis à meditação
apareçam cobiça, ou o que quer que seja, eles se pacificam, a mente
permanecendo pousada sobre o suporte de meditação.

8) Oitava etapa
“Unicidade”: os meios de eliminar o torpor e a agitação (mesmo sutis) tendo
sido empregados, a mente não se dispersa mais e fica estabelecida nesse estado.

9) Nona etapa
“Absorção equânime completa”: pelo poder do hábito, o estado de absorção
se produz por si mesmo, sem esforço nem dificuldade. Mas, pelo tempo enquanto
a felicidade do estado de extrema pureza (do arrebatamento) não tiver aparecido,
desse estado de absorção resta a tranqüilidade (Samatha) de uma mente do
mundo dos desejos atenta a uma só coisa 31. Uma vez que essa felicidade tenha
aparecido, desenvolvem-se os estados característicos da tranqüilidade da mente
(Samatha) que são incluídos nos diferentes graus de meditação (do mundo da
forma pura para o mundo sem forma).

31
A cosmogonia budista ensina uma hierarquia de diferentes estados de existência que se
resumem em três mundos ou estados:
O primeiro é o mundo dos desejos: ele é governado pelas paixões. É o nosso estado de
existência habitual. Por todo o tempo enquanto a experiência espiritual de extrema pureza não
aparecer, a meditação de samatha permanece sobre esse plano de existência.
Uma vez que a experiência de extrema pureza (shin djang) apareça, a prática de samatha
se abre sobre os planos do mundo da forma pura, e depois, do mundo sem forma. Eles
correspondem a diferentes graus de realização na prática da meditação. No primeiro deles, a mente
não está mais associada a uma forma grosseira, mas a uma forma sutil e luminosa. No segundo, já
não há nem mesmo forma, mas resta ainda a experiência de noções como “o espaço ilimitado” ou
“a consciência ilimitada”... São as mais sutis experiências da consciência, mas são ainda
experiências condicionadas do Samsara.
Assim, devem-se desenvolver corretamente os nove estágios que foram
descritos, abandonando em cada um os defeitos que forem encontrados, usando
as ações-remédios que são apropriadas. Mas, entre todos esses, os mais
importantes a serem abandonados são o torpor e a agitação. Primeiro, deve-se
identificá-los, e então:
_Para o torpor, pode-se diminuir a ingestão de alimentos antes da
meditação, sentar em um lugar elevado (um local com ampla visão), usar roupas
leves e uma pequena almofada de meditação; recitar o Refúgio e as preces em voz
alta, meditar numa postura física enérgica.
_A agitação é dissipada por meios opostos aos precedentes.
Quando o torpor e a agitação tiverem se acalmado, medita-se de forma
confortável e relaxada.

F - A PROGRESSÃO DAS CINCO EXPERIÊNCIAS

A Experiência da agitação
1) Uma vez que meditemos assim ( seguindo as nove etapas de Samatha),
os pensamentos se sucedem, a princípio uns após os outros sem interrupção. A
mente grosseira não pode se dar conta desse fluxo de pensamentos, ele preexistia,
mas não era evidente porque a mente não permanecia em meditação. Pelo
contrário, uma vez que nós tomamos consciência, parece-nos que os pensamentos
são ainda mais numerosos que antes. Vem uma questão: “Não é um sinal de que a
meditação não está se desenvolvendo?” De fato trata-se da primeira experiência
(de Samatha)! Chamamos de “a queda d’água de uma cascata”: é a experiência de
reconhecimento dos pensamentos.

A experiência da aquisição
2) Ainda que seja assim, sem adiar a prática para mais tarde, nós fazemos
cessar, tanto quanto possível, a produção dos pensamentos. Se (continuamos a)
meditar, pensamentos se sucedem uns após os outros, mas, num certo momento,
parece que seu curso se acalma e que a mente vem ao repouso, logo depois eles
retomam seu curso... alternativamente. É a segunda experiência denominada “a
água numa garganta estreita”: a experiência de repouso dos pensamentos.
A experiência do “Hábito”
3) Depois, se continuamos a meditar com perseverança, num momento o
curso dos pensamentos decresce como a respiração que se suspende. Eles se
esgotam e passa-se a um estado sem pensamentos. Nós então meditamos com a
mente alerta; por momentos, a experiência 32 é transparente, e furtivamente, os
pensamentos reaparecem. É a terceira experiência dita “uma bacia de confluência
de torrentes”: a experiência do esgotamento dos pensamentos.

A experiência da estabilidade
4) Essa experiência continua a se produzir e, durante a meditação, com a
maioria dos movimentos dos pensamentos pacificados, a mente permanece em
repouso num estado de completa absorção. Nesse estado, um ou dois
pensamentos continuam aparecendo de vez em quando, mas eles se pacificam
logo. É a quarta experiência dita “semelhante a um oceano com vagas”: a
experiência de um oceano com as ondas dos pensamentos.

A experiência final
5) Em seguida, uma vez que ficamos absorvidos com continuidade na
experiência precedente, todas as idas e vindas de pensamentos se pacificam, e a
mente fica completamente absorvida, com lucidez. É a quinta experiência
chamada: “o oceano sem vagas”, a experiência de tranqüilidade dos pensamentos.
Nesse momento, a intrusão dos pensamentos acalmou e a mente fica
regularmente num estado de absorção completa, mas se não houver transparência
nem uma vívida lucidez, trata-se de um Samatha que não passa de uma aparente
pacificação dos pensamentos33. Permanecendo nesse estado de absorção
completa, nós meditamos até que a transparência luminosa da mente se eleve, até
que apareça o estado semelhante a uma lamparina de manteiga que não é agitada
pelo vento.
Quando uma claridade notável do objeto de meditação tenha se
desenvolvido, sem olhar mais o suporte de meditação a mente olha para si mesma
e repousa na luminosidade mesma de sua experiência (shes pa). Se o torpor ou a
agitação aparece, então eles são dissipados com os meios apropriados e nós
ficamos na vastidão transparente, luminosa e viva, dessa experiência (shes pa),
relaxando os esforços e permanecendo à vontade.

32
>Jn-0-
33
A expressão #-:HA3-0- é obscura, provavelmente trata-se de uma alteração ortográfica no texto
original.
Quando nós praticamos assim, se, ao começo de uma sessão o estado de
absorção é mau e vai melhorando em seguida, convém ter uma meditação mais
sustentada (no início) e então meditar com “uma vigilância atenta a uma única
coisa”. Por outro lado, se após estar concentrado, o espírito produz numerosos
pensamentos e não fica quieto, e se inquietações variadas do corpo e da mente
aparecem, é sinal de excesso de tensão: convém então meditar relaxado e
distendido.
(De uma forma geral, trata-se de) comer o alimento que nos convém para
estar com boa saúde, em quantidade moderada; não (se deve) contrariar o ciclo
vigília-sono, dia e noite; se existem desordens (e uma tendência a dormir durante
o dia): repousar e, uma vez repousado, meditar com energia.
Ao término das nove etapas de Samatha, nós teremos desenvolvido “a
tranqüilidade de uma mente que, apesar de ainda estar atormentada pelo apego,
permanece absorvida num estado de atenção pontual”. Quando ela tiver sido
realizada, não há mais esforço a fazer para a mente unir-se ao objeto de
meditação: ela continua assim naturalmente em todas as nossas diferentes
atividades. Se ficarmos assim, deixando a mente tal como ela é, sem conceber o
que quer que seja, eleva-se uma experiência como se as aparências cessassem e a
mente se misturasse com o espaço. Ao deixar essa experiência, nosso corpo
parece uma coisa que aconteceu acidentalmente, a força do desejo, da aversão e
das outras paixões diminui e elas ficam intermitentes.
Quando a experiência de luminosidade é importante, parece que
poderíamos enumerar os átomos de um pilar ou qualquer outro objeto. Existem
também experiências de luminosidade, de felicidade ou ausência de concepção que
se desenvolvem... (num momento), parece que mesmo o sono se funde na
meditação e que a maior parte dos sonhos são puros. Tal estado de absorção é um
aspecto de realidade ou aspecto de tranqüilidade grosseira da mente. É a base
comum a todas as abordagens exteriores e interiores do ensinamento. Ela deve
então ser praticada, mas se não for completada pela experiência do arrebatamento
ou de extrema pureza, não será ainda o estado caracterizado de Samatha e
Vipasyanâ está longe!
A felicidade, a luminosidade e a ausência de concepção podem ser
experiências de uma meditação absorvida em totalidade ou não ser.
Não devemos, portanto, tomar as pequenas experiências imperfeitas de
repouso da mente como sinais de um grau avançado na via e orgulhar-se, mas
conhecer os pontos essenciais do caminho.
Habituando-se a este estado “de uma mente que, ainda sob o domínio do
apego, está atenta a uma única coisa”, o corpo e a mente chegam ao estado
adequado, chamado “experiência de extrema pureza”. A mente está agora livre
para permanecer em qualquer direção virtuosa que aspire da mesma forma de um
cavaleiro com um cavalo perfeitamente adestrado. Ela está feliz, completamente
desembaraçada dos elementos negativos, desgostos e constrangimentos. Os
sopros podem agora se movimentar corretamente no corpo, e este está
desembaraçado dos fatores negativos que nós não pudemos até agora dominar,
tais como a lentidão corporal, etc. A coluna vertebral é como uma pilha de moedas
de ouro e o corpo leve como um floco de algodão.
Certas experiências de felicidade aparecem como se o corpo fosse
instantaneamente penetrado por uma onda de leite quente. Daí vêm a capacidade
de submeter todos os desejos à pratica da virtude: é a experiência de extrema
pureza, ou de arrebatamento, do corpo. Essa experiência de extrema pureza é
inicialmente grosseira, depois, progressivamente, desenvolve-se seu aspecto sutil e
finalmente a experiência perfeita aparece claramente. Durante a experiência
grosseira, a mente oscila, depois, pouco a pouco a intensidade das oscilações
diminui como véus que se afinam mais e mais e finalmente chegamos à
experiência de extrema pureza sutil que é um estado de “absorção imóvel”. É
então o que é denominado Samatha dos diferentes graus de meditação (os
Dhyana ou graus de meditação do mundo da forma sutil e do mundo sem forma).
Essa progressão (correspondente às nove etapas de Samatha, com as
experiências que reportamos) aplica-se também à prática de Utpattikrama ou de
Sampannakrama.
G - RESUMO

Acabamos de ver a forma de praticar detalhada. Resumindo, trata-se de:


1) Permanecer na meditação apreciando o Samadhi
2) Desenvolver esse esforço de forma ininterrupta,
3) Estar continuamente na presença do chamado da lembrança34[ da
meditação]
4) Eliminar o torpor e a agitação com a vigilância atenta35
5) Quando a meditação é sem falhas: permanecer equânime.
Meditando mais e mais com esses cinco elementos (vivacidade, esforço,
presença, vigilância, equanimidade) as distrações são eliminadas naturalmente e
quando a mente permanece perfeitamente imóvel, o estado de samatha é
realizado.

(Podemos também resumir) a prática em quatro pontos:


1) Permanecer na meditação com alegria.
2) Esforçar-se
3) Proteger a meditação com vigilância
4) Permanecer num estado equânime.

Ou também em dois pontos:


1) Desenvolver uma alegria enérgica
2) Permanecer sobre o objeto de meditação36
Pode ainda ser resumido apenas a permanecer tanto quanto se puder sobre
o objeto de meditação. É o que expõem as progressões dos diferentes
ensinamentos.

34
S/-0-
35
>Jn-28A/-
36
.3A$n-0-
H - AS MEDITAÇÕES
QUE PURIFICAM OS COMPORTAMENTOS PASSIONAIS

Existem meditações que purificam os hábitos passionais, desejo-apego etc.,


e que fazem com que eles não voltem mais. Elas são cinco portas:

1_O remédio para o desejo


É a meditação sobre o que é repugnante no corpo: cabelos, pelos e
interiormente: fezes, urina, etc.; e o que repugna exteriormente: doença de pele,
cadáveres, etc.

2_O remédio para a agressividade


É a meditação sobre o amor: a aspiração a ser igualmente benfazejo para
todos; amigos, inimigos ou outros. Trata-se de desenvolver um espírito que deseja
a felicidade

3_O remédio para a opacidade mental


É a meditação sobre a interdependência tal que os doze fatores
interdependentes ( a ignorância, etc.) e a reflexão sobre as interconexões, as da
causalidade kármica e outras.

4_O remédio para o orgulho


É a meditação sobre as classificações detalhadas dos elementos: analisar
separadamente os seis aspectos que são a terra, a água, o fogo, o vento, o espaço
e a consciência

5_O remédio para acostumar-se aos pensamentos


É a meditação sobre a respiração, inspiração e expiração: por meio da
contagem ou da observação das idas e vindas do sopro, praticando de sorte que a
mente não seja distraída por outras coisas, Samatha é muito facilmente realizada.
II - VIPASYANA (Hlagtong)

(De uma maneira geral) Vipasyana é a essência da compreensão (Prajna).


Distingue-se :
Vipasyana especial que é a prática desenvolvendo a realização da
inteligência imediata do mahamudra – o sentido último - Ela não será desenvolvida
aqui.
E Vipasyana segundo os pontos essenciais da via comum ao sutra e
ao tantra, é o sentido dessa prática que nós vamos expor brevemente.
Ela compreende:
1) A meditação sobre o não-eu da pessoa37
(ou da ausência de individualidade dentro da pessoa)
2) A meditação do não-eu dos fenômenos38
(ou da ausência de entidade dentro dos fenômenos)
3) A meditação da vacuidade tendo no coração a compaixão39
4) E a meditação de samatha e vipasyanâ conjuntas40

A – DEFINIÇÕES

Trata-se a princípio de distinguir o “não-eu da pessoa” e o “não-eu dos


fenômenos”, depois de compreender sua inexistência41.

1 “Pessoa”
A “pessoa” 42 é inteligência que apreende a continuidade dos
constituintes43 [que nos compõem].

37
“ Não-eu da pessoa” ( $5-9$-$A- 2.$-3J.- ) ou “não-eu pessoal” ou “ausência de individualidade
dentro da pessoa”. Nós entendemos “indivíduo” segundo sua etimologia, como “unidade
indivisível”, paralelamente a individualidade é o que caracteriza o indivíduo.
38
“Não-eu dos fenômenos” ( (Rn- GA- 2.$- 3J.- ) ou “ não-eu fenomenal” ou “ausência de
entidade dentro dos fenômenos(ou coisas)
39
!R5-*A.-~A5-0R-&/-
40
95-:VJ=-
41
3J.-0<->Jn-
42
$5-9$-
43
15-0R:C-o/-
Uma vez que (essa inteligência) agarra em si mesma qualquer coisa de
independente44, de permanente45 e de monolítica46 e assim se fixa a um “eu
mesmo” 47 ou “eu” 48 isso é o “eu da pessoa” [ou ainda “a individualidade da
pessoa”]. Compreender que esse eu da pessoa (ou individualidade da pessoa) não
é qualquer coisa em si49 é a compreensão do “não–eu da pessoa50” [ ou da
ausência de ser ou de individualidade dentro da pessoa].

2 “Fenômeno”
Os “fenômenos51” são diferentes coisas: constituintes52, elementos53 etc.,
concebidos pelo eu da pessoa (ou individualidade da pessoa)54.
Agarrar esses fenômenos e se apegar55 a eles como a coisas reais56
possuindo suas características nelas mesmas57 é o “eu dos fenômenos58” ( ser).

B – O MÉTODO DA PRÁTICA

Num lugar isolado nós entramos no refúgio do lama e das três jóias com
uma oração fervorosa. Depois, motivados pela Grande Compaixão, nós meditamos
longamente no despertar da mente-coração (bodhicitta).Praticamos em seguida
um exercício de samatha e assim que o repouso da mente se desenvolveu um
pouco, nós consideramos :

44
<5-g$-
45
g$-0-
46
$&A$-0-
47
5-
48
2.$- “eu”, o si , eu, eu mesmo ou ego (2.$-) é a entidade sujeito (2.$-), a impressão de um
sujeito observador como entidade ( quer dizer como “coisa” independente, permanente e
monolítica), em vossa alma e consciência!
49
O eu da pessoa “ não é qualquer coisa em si” ( <5-28A/-3J.-0-
), “não tem natureza em si” ( <5-
28A/-3J.-0- )/ é “sem natureza própria”/ não tem existência em si/ é sem “em si mesmo”/ é “sem
realidade em si mesmo”/ “ não tem realidade que lhe seja própria”. Essas diferentes formulações
são compreendidas aqui como sinônimas.
50
$5-9$-$A-2.$-3J.-
“Fenômenos” ((Rn-) ou “objeto de conhecimento” ou “coisas”.
51

52
15-0R-
53
#3n-
“Conceptualiza” (2+$n-0-) ou “apreende mentalmente” ou “concebe” ou “ se representa”.
54

55
8J/-&A5-:6B/-0-
“coisas reais” (.5Rn-0R-) ou realidades
56

“característica própria” (<5-35/-0-) ou “propriedade em si” ou “características intrínsecas”.


57

“si dos fenômenos” ((Rn- GA- 2.$- ) ou “entidade das coisas”. É a impressão de
58
que as coisas
existem em si mesmas, tem uma realidade em si (independente, permanente e monolítica), a
impressão de que as coisas subsistem por si mesmas, nelas mesmas.
“Alala! Nossa mente está em seu estado natural 59, ela é naturalmente desde
sempre60 Clara Luz61, livre de todas as determinações 62·. Ela é Claridade-vazia63
subsistindo64 sem direção, nem orientação65. Mas não a realizando, agarra-se
um “eu mesmo”66 que faz errar sem fim no Samsara.
Esse Samsara que aparece do hábito às propensões ilusórias,67 da
apreensão dualista68, é aparências de coisas que não são 69, como um disfarce, um
envelope ilusório70. Tomando-as como realidades 71, como um louco se entrega a
ilusões72 e nelas experimenta continuamente a experiência penosa de numerosos
sofrimentos.
Agora, a partir das instruções do lama sagrado 73, eu vou penetrar74 no
supremo segredo75 da mente, o profundo coração de todos os ensinamentos
expresso pelas 84000 coleções do Dharma dos Tathagatas dos três tempos e não
serei mais possuído pelo demônio76 da apreensão das coisas77”.

59
$*$-3-
60
$.R.-3-/n-
61
<5-28A/-IAn-:R.-$n=-2-
62
3Rn-0:A-3ø:-.5-V=-2-
63
$n=-!R5-
64
$/n-0-
65
KR$n-3J.-<An-3J.-
66
2.$-
67
:O=-0:A-2$-($n-
68
$95-/6B/-
69
3J.-$5-
70
$nR$-$nR2-;-3-2_-
71
2.J/-0<-295-2-
72
:O=-0-#R-/-=-=R5n-,R.-0-
73
]-3-.3-0-
74
#R5-z-(.-0-
75
$n5-2-]-/-3J.-0-
76
$.R/-
77
.5Rn- 0R<- :6B/- 0- “a apreensão das coisas” é a apreensão reificante, “coisificante”, que reifica,
coisifica, que apreende as coisas como reais, como tendo uma realidade em si.
1 – Meditação do não-eu da pessoa
Nós endireitamos o corpo e a mente 78 na concentração79 da experiência
agradável de existir, como um ser autônomo, e observamos80 os constituintes81.
Consideramos em seguida que “a apreensão de um eu ou um meu 82 é uma
ilusão”, pois se isso que nós chamamos de eu ou si existisse ele, deveria estar seja
no nome, seja no corpo, ou seja, ainda dentro da mente:

_O nome não sendo mais que uma designação adventícia83, não é o eu


(2.$-3-;A/-).

_O corpo não sendo mais que uma simples concepção que recobre a
agregação de numerosos constituintes como a carne, o sangue etc., ele não é
tampouco o eu. Do alto da cabeça à planta dos pés, ao interior, ao exterior, onde
quer que seja não há um eu.
_E quanto à mente? : a mente do passado 84 [já] cessou85; a mente do
devir [ainda] não nasceu, e a mente do presente cessa imediatamente 86, também
não pode ser tampouco o eu.
O que chamamos de “eu” se reduz então a não passar de uma ilusão, 87 sem
fundamento88. O mental considera89 [esses pontos] mais e mais.

78
=n-nJ3n-
79
OA3n-GAn-21A3n-
80
.3A$n-
81
*A-2<-=J/-0:A-15-0R- , os constituintes da apropriação
82
5-;A-
83
Uma concepção adventícia ( \R-2<-z-2+$n-0-43-) ou uma simples denominação (2+$n-0-&3-)
ou ainda uma designação convencional conceptual, um conceito, uma concepção, uma simples
concepção, não mais que uma apelação, um simples nome...
84
:.n-0:A-nJ3n-
85
:$$n-
86
.J- 3- ø$- +- :$$n- 0<- :I<- 2- ela passa instantaneamente, cessa sem cessar, interrompe-se
imediatamente, cessa de instante em instante, cessa no instante, cessa constantemente...
87
:O=-0-
88
$8A-3J.-
89
;A-=-L-
2 – Meditação do não-eu dos fenômenos
Todas as aparências do mundo exterior na sua variedade 90·: montanhas,
casas etc., não são o produto do acaso, do Todo-Poderoso, dos quatro elementos,
de átomos ou de um criador outro91 [mas são produzidos pela] nossa própria
mente globalmente alterada,92 pelas propensões do Samsara. (Todas essas
aparências) são como inexistentes, e93 elas se reduzem unicamente a aparências 94
emergindo pelo poder da ilusão95. Elas são, para tomar um exemplo, análogas96 a
uma cidade onírica ou aos cavalos, vacas ou outras formas de sonho.
Nós consideramos isso longamente para desenvolver uma firme convicção97.
Assim, se as aparências tomadas como objetos são análogas às aparências
oníricas, o conhecedor98 que as apreende é, também, semelhante ao espírito
(sujeito) da experiência onírica99, não tem existência real100, qualquer que ela seja.
Isso porque todos os fenômenos incluídos na apreensão dualista sujeito-
objeto, nada mais são que ilusões, mentiras e sujeitos enganosos.
Nós os consideramos e a mente se volta para si mesma na inteligência do
presente instantâneo101, livre do véu da apreensão dualista sujeito-objeto 102 e
longamente contempla nuamente seu próprio esplendor103.

90
$-5S$n-?-$5-2-
91
“criador que seja outro” ( LJ.-0-0R- $8/-IAn-Ln-0-
) ou ainda : “ criador constituído como outro”,
“criador na alteridade” ou “ não são o produto de um criador ou de uma alteridade”
92
!/-+-2a.-0-
93
3J.-28A/-z-
94
$5-2-
95
:O=-0-
96
!/-+-355n-0-
97
5Jn->Jn-S$-
98
O conhecedor (>Jn-0-) ou ainda: a inteligência, o conhecimento.
99
$/n-{2n-GA-nJ3n-
100
Ou ainda: “fundamentalmente ele não consiste em coisa alguma” ou “ele não tem nenhuma
existência real” ( .R/-=-P2-0-&A-;5-3J.-0-
) ou “ele é sem consistência fundamental”.
101
.-v<-IA->Jn-0-
102
$95-:6B/-IA-1A2-$;R$n-.5-V=-2-
Próprio esplendor (<5- $.5n-
103
) ou ainda: radiancia própria, irradiação sua energia em si, sua
própria lucidez...
Na experiência da claridade lucidez da abertura total, escancarada104:
_ contemplamos de onde nasce essa lucidez inteligente105: não
encontramos de início a causa (ou o lugar de origem) de onde ela vem: ela é não
nascida, é uma vacuidade aberta e desimpedida106.
_ em seguida contemplamos onde reside sua essência107, ela não se
encontra em nenhuma parte: nem no interior do corpo, nem no exterior ou entre
os dois. Ela não consiste em nenhuma cor, forma ou o que quer que seja.
Qualquer que seja a forma como nós a procuramos, ela não pode ser encontrada.
É uma viva transparência sem localização108.
_Finalmente, se contemplarmos onde ela termina: ela não se termina e não
se acaba em nenhuma conseqüência e, nessa não-finitude 109 está uma felicidade
estável110.
Assim, a vacuidade natural111, desprovida de causa, de conseqüência e de
essência (ou de ser) resplendece numa nudez clara e brilhante112. Sem bloquear
de modo algum a energia própria113 à claridade daquilo que de fato se
experimenta114, a inteligência dessa experiência 115 é uma lucidez viva e aberta 116·:
na sua claridade117 ela não consiste em nada (ela é vacuidade) e na sua vacuidade
ela é inteligência, lúcida e livre de todo bloqueio 118. É a Claridade-vazia, a ausência
de apreensão119 além das determinações120 e das orientações121.

104
$n=-=J-ZA$-$A-2:A-5=-
105
$n=-<A$-
106
*J-3J.-z-!R5-n5-5J-2-
107
<5-$A-5R-2R--Essência, ou “ aquilo que ela é nela mesma”,- ou “ aquilo que ela é em si” ou “ser”.
108
$/n-3J.-z-?5n-n5-5J-2-
109
:$$-3J.-
110
2.J-(3-3J-2-
111
$>An-!R5-0-*A.-
112
eJ/-z5-5J-2-
113
<5-$.5n-
114
MR5-3#/-
115
MR5-<R$-
116
$n=-nA5-5J-2-
117
$n=-zn-*A.-
118
$n=-<A$-3-:$$n-0-
119
$n=-!R5-:6B/-3J.-
120
3ø:-V-
121
<An-3J.-
“Permanecer nessa abertura, escancarada 122 nua e desobstruída123, indizível
e impensável; e finalmente, sem nem mesmo apreender o indizível!”
Quando aparece um pensamento, não siga seu curso, permaneça
desapegado124·: “tão logo ele aparece, ele desaparece completamente”.
No começo seja concentrado com firmeza 125 na intensidade; no meio seja
relaxado na distensão126; e no fim seja sem esperança nem temor.
Em resumo: sem jamais estar distraído da totalidade da simples presença 127
que é a claridade-lucidez vazia 128 sem fixação129, esteja,130 sem embaraço131 no
estado onde não há nada que seja meditado 132 – medite assim, intensamente133,
por curtos momentos134 repetidos mais e mais; depois, sem que a meditação se
torne fatigante encerre-a sob uma boa impressão”.

122
ZA$-$A-
123
eJ/-/J-;J-<J-
124
:6B/-3J.-z-28$-
125
OA3n-GAn-21A3n-
126
zR.-GAn-,R.-
127
<$-0-
128
$n=-!R5-
129
:6B/-3J.-
130
28$-
131
lR=-3J.-
132
2|R3-o.-/A-&A-;5-3J.-0-
133
.Rn-S$-
134
;/-ø5-2-
3_ Meditação da vacuidade e da compaixão conjuntas
Ao fim da sessão, antes de deixar a prática135: [Considere a natureza de
todo fenômeno: além das determinações136, sem ponto de referência137,
indizível138, transcendendo ao intelecto139, sem fundamento nem origem140,
semelhante ao espaço. Não o reconhecendo, todos os viventes- nossas mães do
passado141- atados por intenso apego ao eu e a fixação sujeito-objeto, vivem142
nas aparências ilusórias. Com uma compaixão enfática 143 desejamos que eles
realizem a natureza da mente144. A inteligência suprema145 do perfeito estado de
Buddha que torna manifesta146 esse grande além das determinações147.
Entre os tün (sessões de meditação)148:
“Os ilusionistas produzem formas:
Cavalos vacas, carros e outras.
Mas, seja o que for que apareça, isso não é nada em si,
Conheça todo fenômeno como semelhante”...
As profundas palavras dos sutras do sentido definitivo são uma grande
inspiração que planta o hábito da visão filosófica 149, assim os recitamos, no estado
que compreende toda aparência como aparência vazia, semelhante a uma ilusão; e
depois, agiremos diligentemente para o bem dos viventes.

135
2n3-2+/-IA-,R.-=3-
136
3ø:-V-
137
<An-3J.-
138
2eR.-V=-
139
]R-:.n-
140
$8A-3J.-l-V=-
141
3-c/-
142
=R5n-,R.-0-
143
~A5-<J-)J-
144
nJ3n-*A.-
145
i3-3H/-
146
35R/-z-Ln-0-
147
3ø:-V=-(J/-0R-
148
ø/-353n-
149
v-2-
4 - A meditação de Samatha-Vipasyana conjuntas
O período de Samatha é a pacificação150 de todas as irrupções do
pensamento discursivo151; é o mental que não faz nada152.
O período de Vipasyana é a eliminação153 de toda superimposição154; é o
mental no qual não há nada a fazer155.
No Yoga da ausência de toda meditação, os dois [samatha e vipasyana]
fundem-se em um único sabor e são praticados conjuntamente.
O Ornamento do Sutra diz:
“Esse véu da conjunção156
É o da unificação157”
A forma de praticar é sumariamente semelhante à que se precede: sem
abandonar a inteligência superior 158 que compreende o yoga meditado, o meio de
meditação e a pessoa que medita como desprovidos de natureza própria;

150
8A-
151
i3-gR$-$A-:)$-0-
152
;A.-=-3A-L-2-
153
(R.-
154
Superstição- superfetação ( 1R-:.R$n-)
155
;A.-=-L-o-3-fJ.-0-
156
95-z-:)$-0-
157
şR3-0-
158
>Jn-<2-
sem bloquear159 a lucidez da simples presença 160, a estabilidade da absorção
unificada161 na experiência aparente162, é Samatha, enquanto que a compreensão
imediata163 do caráter não nascido dessa simples aparência164 é Vipasyana.
Os dois estando em essência 165 indissociáveis, fique [em seu estado] claro-
lúcido e completamente aberto 166. Uma vez que o repouso 167 é grande, estimule168
a inteligência que compreende em si mesma 169 e uma vez que a inteligência é
intensa e que a mente não repousa, fique relaxado170.
Alternando assim, e reunindo os dois 171, todos os desvios172 são eliminados.
Se esses pontos essenciais não são cumpridos, haverá um desvio, pois qualquer
que seja a estabilidade de samatha, [ samatha sozinho se desvia] em um ou outro
dos quatro níveis de meditação 173 [do mundo da forma sutil]; e por mais excelente
que seja o discernimento de vipasyana, [ vipasyana sozinho se desvia] num dos
quatro domínios do sem forma [ do mundo da ausência de forma].
Por isso é importante praticar eliminando todos os desvios-
(Entre os Tun) sem se investir, ao capricho das projeções174, nos objetos
das faculdades cognitivas, a inteligência 175 não deixa o domínio da totalidade das
aparências, reconhecendo-as como suas simples emergências 176. E nesse estado,
nós realizamos o bem dos seres tanto quanto possamos.

159
3-:$$n-0-
160
<A$-0-
161
lJ-$&A$-+-$/n-0-
162
$5-2:A-(-
163
gR$n-0-
164
$5-43-*J-3J.-
165
5R-2R-.LJ<-3J.-
166
$n=-=J-ZA$-$J-
167
$/n-(-
168
5<-*J.-
169
nR-nR<-gR$-0:A->Jn-<2-
170
zR.-GAn-28$-
171
95-z-(.-
172
$R=-n-
173
2n3-$+/-28A-
174
o-;/-z-:UR<-3A-$8$-0-
175
<A$-0-
176
:(<-|R-43-
Finalmente, aplicando-nos à virtude, ou em qualquer atividade que seja nós
cultivamos177 mais e mais a inteligência178 de que toda aparência é como um
sonho ou uma ilusão. Isso é importante, pois é ensinado que essa prática faz
nascer em si o hábito da visão justa179.

CONCLUSÃO DO AUTOR

A profunda visão (exposta aqui é a ) do madhyamaka que é a alma vital180


do caminho dos sutras como dos tantras. Particularmente no insuperável
vajrayana, sem essa visão (mâdhyamaka), o autêntico caminho dos mantras não
poderá se desenvolver. Para encontrar essa visão do meio ( mâdhya181) é muito
importante purificar os atos negativos pelas quatro forças; dirigir uma intensa
prece ao Lama indissociavelmente unido a Manjushri; ser diligente nos
desenvolvimentos por meio do serviço de sete ramos; praticar a oferenda de
mandala e guardar uma disciplina pura e os votos nos quais estamos engajados.

A “Tocha do caminho da liberação”- o método de meditação na experiência


profunda (samadhî) de samatha-vipasyanâ- foi compilada por Dechung Rinpotche, Kunga
Tenpe Nyima, um “simples” yogue , isso para ajudar nas suas práticas seus amigos do
Dharma de Kagyu Kunkhyab Chöling (Vancouver, Canadá).
Por essa virtude possam todos os viventes rapidamente realizar a inteligência primordial
todo conhecedora!

177
2!J/-
178
S/-mA-
179
v-2-i3-.$-
180
YR$-
181
.2-3-
Bokar
Rinpotche
Apresentação

Bokar Rinpotche nasceu no Tibete Ocidental em 1940, sendo considerado


como um dos grandes mestres de meditação. Ele compôs para seus discípulos o
breve texto que apresentamos aqui, com o título de A Porta do Sentido Definitivo.
Breve e densa, a obra apresenta‐se como um condensado de uma obra do
nono Karmapa, O Oceano do Sentido Definitivo.
Os Karmapas, tão conhecidos no Tibete tanto quanto os Dalai Lamas,
formam uma linhagem de mestres reencarnados, no alto da ordem Kagyupa do
budismo tibetano, desde o século XII. Eles são herdeiros diretos de Tilopa, Naropa,
Marpa e Milarepa
O nono Karmapa, Wangchuk Dorje (1556‐1603) compôs vários tratados de
meditação, e o mais completo e mais célebre é o O Oceano do Sentido Definitivo
(Ngedön Gyamtso). Esse volumoso texto, do qual não existe, no momento atual, uma
tradução publicada em língua ocidental, é na ordem Kagyu, um grande clássico
dos quais se servem geralmente os lamas ao ensinar a meditação.
O termo ʺsentido definitivoʺ (ou ʺverdade definitivaʺ), contido no texto das
obras que mencionamos, designa a compreensão direta pela experiência, da
natureza absoluta da mente, além do psiquismo e de suas flutuações, além dos
conceitos e das emoções, além do nascimento e da morte, do espaço e do tempo.
Ele é utilizado em paralelo com o termo ʺsentido pedagógicoʺ (ou ʺverdade
pedagógicaʺ) que se refere aos métodos utilizados na ordem do psiquismo e do
conceitual, para favorecer a abordagem do sentido definitivo. O sentido definitivo
é assim vinculado à ʺVerdade Absolutaʺ e ao ʺConhecimentoʺ, e o sentido
pedagógico é ligado à ʺverdade relativaʺ e aos ʺmeiosʺ.
O sentido definitivo é ainda equivalente de ʺMahamudraʺ, palavra sânscrita
que significa ʺgrande seloʺ ou ʺgrande símboloʺ. Bokar Rinpotche o introduz nos
seguintes termos:
ʺO tema de nosso estudo é o Mahamudra. O Mahamudra é também a
mente.ʺ
Denominamos mente aquilo que conhece ,que sente e que produz: a dor, a
felicidade, os pensamentos, as sensações, os sentimentos etc. É essa mente que
iremos estudar e sobre a qual iremos trabalhar,
Não é preciso ver o Mahamudra como outra realidade, como qualquer coisa
superior e de que nós estamos embaixo. O Mahamudra não está no céu enquanto
que nós estaríamos sobre a terra. O Mahamudra não está em outro lugar; não
estamos jamais separados dele, mas, no entanto, não o reconhecemos.
As instruções sobre o Mahamudra não têm por função nos trazer algo de
novo, mas introduzir‐nos ao que já temos. Quanto à meditação do Mahamudra, ela
permite habituarmo‐nos interiormente ao que as instruções nos fizeram descobrir
em nós, de maneira a poder permanecer nela continuamente.

3
A palavra tibetana tchaguia tchempo, significa Mahamudra, e é definida como
o que designa ʺa natureza da mente, clara luz e vacuidade, que engloba todos os
fenômenos do Samsara e do Nirvana.ʺ
O texto de Bokar Rinpotche é tão conciso que sua leitura por um leitor
novato corre o risco de fortemente a deixar uma impressão de grande
obscurecimento. A função da A Porta do Sentido Definitivo não é, de fato, propor
desenvolvimentos ou esclarecimentos sobre a meditação e sobre a abordagem do
Mahamudra, mas sobretudo de servir de ajuda à memória aos que já estão
engajados no caminho. Redigido em versos, a obra se presta, também para a
recitação ritual ou a memorização. Ele se dirige diretamente aos discípulos (foi
para responder a pedido destes que Bokar Rinpotche o compôs), permitindo‐lhes
facilmente relembrar os diferentes aspectos da Via, mostrando‐lhes a lugar exato
de cada elemento, convidando‐os a progredir e aprofundar sua compreensão.
A tradução do texto foi feita a pedido e com a ajuda de Bokar Rinpotche.
Principalmente destinada aos discípulos que seguem os seminários de
aprendizagem de meditação que Bokar Rinpotche organizava na Índia, ela
interessará igualmente a todos que estão engajados nos caminhos profundos do
budismo bem como aos estudantes da língua tibetana.
A tradução que propomos esforça‐se em se manter o máximo possível
próxima do texto tibetano. O tanto que se pôde fazer, optamos pelos equivalentes
literais, evitando as interpretações.
Apesar de todo cuidado que tivemos, não é impossível que erros tenham
ocorrido em nossa tradução. Agradecemos antecipadamente a todas as pessoas
que, tendo detectado um ou outro erro, comuniquem‐nos suas observações.

Tcheuky Sengue
(François Jacquemard)
!, ,K$(J/-%J?-.R/-o-35S:C-2#?-.R/-l
2!R.-0-%J?-.R/-|R-:LJ.-&J?-L-2
A Abertura da Porta do Sentido
Apresentado em forma fácil de ser utilizado. Uma versão concisa que resume o sentido do O O
Palavras agradáv
Não esgote
tentando obter um tal Dharma. Os ensinamentos que recebest
o be
Sumário
A Abertura da Porta do Sentido Definitivo
Apresentado em forma fácil de ser utilizada‐ uma versão concisa que resume o sentido do
O Oceano do Mahamudra‐Sentido Definitivo.

Índice

Preliminares

I_preliminares Comuns

1_Preciosa Existência Humana

2_Morte e Impermanência

3_Lei de causas e efeitos

4_Natureza defeituosa do samsara

II_ Preliminares Específicas

1_Refúgio e Bodhicitta

2_Vajrasatva

3_Oferenda de Mandala

4_Guru Yoga

III_Preliminares Particulares

1_Fator causal

2_Fator principal

a_O mestre pessoa humana

b_O mestre Palavra Desperta

c_O mestre aparências simbólicas

d_O mestre natureza absoluta


3_Fator objeto

4_Fator imediato

Corpo da Prática

I_ Pacificação (Shine)
1_Princípios Gerais

1_Postura física fundamental

2_Atitude fundamental da mente

2_Métodos particulares

1_Fixar a mente não‐fixada

A)_Com objeto

1_ exterior

a_impuro

b_puro

2_interior

B)_Sem objeto

C)_Sobre a respiração

2_Estabilizar a mente fixada

A)_Vincular a mente

1_em cima

2_embaixo
3_a prática de alternância

B)_Os nove meios de estabilizar a mente

3_ Enriquecer a estabilidade

II_Visão Superior

1_Ver o modo de ser da mente

2_Cortar a indecisão

3_Chegar à conclusão da vacuidade da consciência

A)_Introdução a partir do movimento

B)_Introdução a partir das aparências

a_As aparências‐mente

b_A mente‐vacuidade

c_A vacuidade auto‐existente

d_A auto‐liberação auto‐existente

Pós Prática

I_Enriquecimento

1_Eliminação das Cinco idéias falsas

a)_Afastar as idéias falsas sobre os objetos

b)_Afastar as idéias falsas sobre o tempo

c)_Afastar as idéias falsas sobre a essência

d)_Afastar as idéias falsas sobre a natureza

e)_Afastar as idéias falsas sobre o conhecimento


2_Exercitar‐se nas três habilidades

a)_Ser hábil para começar a meditação

b)_Ser hábil para parar a meditação

c)_Ser hábil para preservar a meditação

3_Eliminar os erros e desvios

A)_Os erros

a)_O erro sobre a vacuidade

b)_O erro sobre o selo

c)_O erro sobre o antídoto

d)_O erro sobre o caminho

B)_Os desvios

4_A liberação dos Três caminhos perigosos

a)_A vacuidade surgindo como inimiga

b)_A compaixão surgindo como inimiga

c)_A causa surgindo como inimiga do resultado

II_Eliminação dos Impedimentos

1_As doenças

2_Os espíritos malignos

3_Na meditação

III_A Progressão

1_Atenção unifocada
2_Não produção

3_Único sabor

4_Não‐meditação

_Correspondência entre as Quatro yogas e os caminhos

IV_Atualização do resultado
Natureza imanente do
samsara e do nirvana: A clara luz.
O santo Lama mostra
o modo de ser: a clara-luz. Possam os afortunados que pra
o Mahamudra-clara luz tornarem-se Budas no coração do De
a clara-luz.
Bokar Rinpotche
Texto
OM Soti. O Lama, as Divindades e minha própria mente indissociados, estão em
estado natural, Por todo tempo prosternando‐me, coloco‐me totalmente sob vossa proteção.

‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐

No espírito de ajudar aqueles que desejam seguir o guia ʺMahamudra


concomitante aplicadoʺ que é o Oceano do Sentido definitivo, extraímos a estrutura
do texto e, para facilitar a abordagem e a progressão meditativa que a ele se
reporta, compusemos aqui uma versão concisa que resume o sentido, que é
também uma combinação de recitação e meditação, digamos, um resumo claro. Ele
se divide em três partes: as preliminares, o corpo da prática e a pós‐ prática.

A_Preliminares

I) _Preliminares comuns

1_As Liberdades, as qualificações e a dificuldade de obtenção de existência humana


Namo Guru Be. Aquele que deseja praticar corretamente o Santo Dharma
deve abandonar as distrações e meditar logo assim: Este suporte excelente, provido
das oito liberdades e das dez aquisições, difícil de ser obtido e extremamente útil,
possui o mesmo valor que a jóia que realiza os desejos. Mais rara ainda é o corpo‐
vajra com os seis elementos que, graças ao Vajrayana, torna possível a realização
do Despertar em uma só vida. A dificuldade de obtenção da existência humana é
explicada por causas, comparações e número. Quando obtida, ela é facilmente
destruída; é por isso que, desde hoje, é preciso consagrar nossos esforços
unicamente à prática do Dharma.

2_Morte e Impermanência
Todos os fenômenos compostos, exteriores e interiores, receptáculo e seiva,
como mostram os quatro limites, não tem permanência nem mesmo um instante. A
vida dos seres mais particularmente, é semelhante a uma chama exposta ao vento
ou ainda uma bolha dʹágua. É certo que morrerei, e, ainda que o momento seja
incerto, morrerei em breve. As causas de morte são numerosas e, ainda que eu não
queira, morrerei. No momento da morte são experimentados intoleráveis
sofrimentos; não há então outro refúgio, exceto o Santo Dharma. Em conseqüência,
sem adiar, é preciso gerar o desapego. Pensemos que o tempo é curto e devemos
nos consagrar ardentemente à virtude.

3_A Lei de causas e efeitos


Uma vez que se tenha morrido, se é semelhante a uma lamparina cujo óleo
esgotou‐se. Onde se retome nascimento, não se faz de maneira livre, mas é certo que
sem poder exercer o controle, se é levado pelo karma. É dito, de maneira geral, que
as diversas manifestações, felizes ou dolorosas, são o fruto de atos positivos e
nagativos. Da realização dos dez atos positivos vem o nascimento nos mundos
afortunados e dos dez atos negativos, realizados sob a ação dos fatores
pertubadores, vem o nascimento nos mundos desafortunados. Façamos a reflexão
de maneira detalhada desse processo. Resumindo, uma vez que é certo que
experimentaremos um dia, sem que se apague, o resultado de maturidade kármica
do que realizamos, examinemos minunciosamente o continuum de nossa
consciência a fim de aplicar corretamente uma perfeita discriminação entre os atos
positivos e negativos.

4_A Natureza Defeituosa do Samsara


Onde quer que se tome nascimento nos seis mundos cíclicos das três esferas,
se é continuamente atormentado pelos três tipos de sofrimentos. Sofrimentos
atrozes e muito longos dos infermos ardentes e frios; dos espíritos famintos que
sofrem com a fome e a sede; os animais que se devoram entre si. Os homens sofrem
as dores do nascimento, da velhice, da doença e da morte e ainda outros; os
semideuses, das disputas; e os deuses, da transmigração e da queda. Façamos a
reflexão sobre a maneira pelo qual esses sofrimentos são experimentados, de
maneira a rejeitar como um alimento embebido de veneno, as felicidades e os bens
insignificantes do vir‐a‐ser. O samsara é semelhante a um braseiro: sejamos
determinados desde hoje em aplicar um método que, de maneira certa, nos liberta.

1. II)_Preliminares Específicas
Nas quatro preliminares específicas temos:
_A explicação da tomada de refúgio e a geração da mente do Despertar que
fazem de nossa consciência um receptáculo adequado ou ainda colocam todos
nossos atos sobre a Via da liberação;
_A meditação e a recitação do mantra de Vajrasattva que nos purifica dos
atos negativos e dos véus;
_A mandala que finaliza as duas acumulações;
_A explicação do guru‐yoga que faz entrar rapidamente na Graça.

1_Tomada de refúgio e a geração da mente do Despertar


Não busquemos outro refúgio além das Três Joias para nos proteger dos
sofrimentos do samsara. Quando, em companhia de todos os seres do universo,
tomamos refúgio, fazemos a seguinte visualização: diante de nós, no meio do
espaço está a nobre árvore que realiza os desejos, com cinco galhos. No tronco
central está sentado, sobre um trono de leões, um lótus e uma lua, o lama‐raiz, o
soberano Vajradhara, possuindo perfeitamente as marcas e sinais físicos, radiante,
em esplendor.
Acima dele, os lamas da linhagem estão dispostos uns sobre os outros; e
depois à frente, à direita, atrás e à esquerda, encontram‐se respectivamente os
Yidams, os Budas, o Dharma e a Sangha como um acúmulo de nuvens. Nós
mesmos e todos os seres, até atingir o perfeito Despertar, tomamos refúgio neles e
geramos a sublime mente do Despertar. Para finalizar, os locais de refúgio se
dissolvem em luz e se fundem em nossas três portas; permanecemos então na
essência do estado natural.

2_Meditação e Recitação do mantra de Vajrasattva


Todos os atos negativos e as rupturas de votos, quaisquer que sejam
acumulados desde os tempos sem começo, são neutralizados pelas quatro forças.
Sublime como força agindo como completo antídoto é a meditação de Vajrasattva
acompanhada da recitação de seu mantra. Para realizá‐la, permanecemos em nossa
forma comum, imaginamos que acima de nossa cabeça está o lama Vajrasattva, de
cor branca, segurando em sua mão direita na altura do coração, um vajra de cinco
pontas; em sua mão esquerda pousada sobre o colo, um sino; ele está sentado na
postura de Bodhisatva. Visualizamos seu corpo como desprovido de natureza
própria ainda que esteja aparente. Em seu coração, sobre um disco de lua, as cem
sílabas estão dispostas em círculo em torno de um HUM. De lá desce o néctar que
penetra em nós pelo orifício de Brahma. Ele nos purifica completamente das faltas
e véus, dos danos e rupturas de votos. Depois, dirigimos novamente uma prece à
Vajrasatva e este se regozijando nos diz: ʺEstais purificados de toda falta e todo
véu.ʺ Assim ele nos revigora. Ele se dissolve, em seguida, em luz. Tornamo‐nos
indiferenciados, com seus três vajras.

3_Oferenda de Mandala
Graças ao método sublime da oferenda de mandala do universo, são
finalizadas as duas acumulações de mérito e sabedoria. Para isso, é necessária uma
mandala de realização feita de material precioso que não tenha nenhum defeito, e a
visualizamos como sendo um palácio inestimável dotado de todas as
características. Em seu centro estão os lamas‐raiz e os lamas da linhagem; nas
quatro direções os Yidams, os Budas, o Dharma e a Sangha assim com os Dakas, as
Dakinis e Protetores de sabedoria. Visualizando‐os perfeitamente, estamos nós
diante deles, segurando uma mandala de oferenda, nós a oferecemos, fazendo
surgir em nossa mente, miríades de Montes Meru, continentes e subcontinentes,
nosso corpo, nossos bens, nossa acumulação positiva, tudo que, sem exceção,
pertence a nós e a todos os seres do universo. Pelo poder dessa oferenda, as duas
acumulações são finalizadas. As divindades regozijam‐se e se dissolvem em luz
que se funde em nós, e nos tornamos indiferenciados.
4_Guru‐Yoga
Como fundamento de todas as qualidades e particularmente como método
sublime para realizar a verdade última, o Mahamudra, não há nada além do que a
bênção do lama glorioso. É por isso que, a fim de realizar sua yoga, visualizamos‐
nos na forma de um Yidam. Acima de nossa cabeça está o lama‐raiz, o soberano
Vajradhara. Acima dele estão os lamas da linhagem sobrepostos em níveis. Ele está
cercado pelos Yidams, Budas e Bodhisatvas, Dakas, Dakinis e Protetores de
sabedoria. Nós lhe fazemos oferendas e rogamos com fervor. Pela força disto, o
séquito se funde na figura principal e esta se torna a união de todos os locais de
refúgio. Rogamos em seguida para que nos conceda as iniciações e nós
obtenhamos as quatro iniciações. Somos purificados dos quatro véus e a semente
dos quatro Corpos é colocada em nós. Depois o lama, regozijando‐se, dissolve‐se
em luz e se funde em nós. Permanecemos estabelecidos no estado do Mahamudra.

III)_Preliminares Específicas

1_O Fator causal


Dominando completamente nosso continuum de consciência, inclinando
nosso pensamento para o desinteresse deste mundo e para o desejo da liberação,
tendo cortado todo apego e todo vínculo, permanecemos solitários em local
extremamente retirado e renunciamos a toda atividade, sem distrações exteriores
ou interiores.

2_O Fator principal


Sendo dado que o caminho que permite realizar o Mahamudra depende do
Lama, é preciso ser dirigido por um amigo espititual autêntico. Esse mestre é
revestido de quatro aspectos:
a_O mestre pessoa humana pertencente a uma linhagem
É o lama que pertence a uma linhagem perfeitamente pura pela qual, desde
Vajradhara até o nosso lama‐raiz, é transmitida, sem interrupção, a continuidade
da bênção, das instruções diretas, etc.

b_O mestre na Palavra Desperta


Quando se forma em nossa mente uma certeza em conformidade ao que
ensina o Lama e que nasce a experiência que esse ensinamento não é contraditório
à Palavra do Buda, todos os discursos do Buda surgem como as instruções diretas.

c_O mestre nas aparências simbólicas


Sendo dado que todos os fenômenos materiais do Samsara e do Nirvana,
exteriores e interiores, sejam eles elementos ou transformações oriundas desses
elementos, nos mostram, por sinais e metáforas, os aspectos do caminho, não há
nada que não seja o lama.
d_O mestre natureza absoluta
Pela visão direta, a realização e compreensão correta, sem erro, do modo de
ser de nossa própria mente, tal como fomos introduzidos pelo Lama glorioso,
chegamos à realização da natureza de todos os fenômenos.

3_O Fator objeto


Sem entrar em consideração dos sistemas filosóficos budistas, sem ser
maculado por conceitos, é preciso praticar somente o que é a essência da mente do
modo de ser primordial, o jogo dos Três Corpos.

4_O Fator imediato


Quando realizamos o corpo da prática, sem conceber nem o meditado nem o
meditador, sem aceitação ou rejeição, sem esperança nem medo, sem fabricação
mental, mantemos unicamente a essência da consciência ordinária.

B_Corpo da Prática

A_Pacificação

(Shine) I_Princípios

Gerais

1_A Postura Física Fundamental


_A postura física fundamental compreende os sete pontos de
Vairochana:
1. as pernas cruzadas em vajra,
2. as mãos no mudra da meditação,
3. os ombros afastados como as asas de um abutre,
4. o pescoço flexionado como um gancho,
5. a coluna vertebral ereta como uma flecha,
6. os olhos fixados no espaço a quatro dedos da ponta do
nariz,
7. os lábios e os dentes repousando naturalmente, a língua
colada ao palato.
Instalamo‐nos em um assento confortável.

2_A Atitude Fundamental da Mente


A atitude fundamental da mente é expressa nos seguintes termos:
ʺNão reflita, não conceba, não pense, não medite, não analise, permaneça em si
mesmo.ʺ Livre de bloqueio e de criação, de recusa ou aceitação, de esperança ou
medo, de apego e de apreensão de uma realidade, é a consciência ordinária
instantânea. Na essência, relaxados no estado sem tensão, sem distração, com uma
atenção unifocada, em uma claridade e uma vacuidade sem apreensão, no não‐
fazer, permanecemos descontraídos.
II ‐ Métodos Particulares

1) Fixar a mente

A_Fixar a mente utilizando um objeto


1 ‐ Exterior
a ‐ fixar a mente em um objeto impuro
Adota‐se perfeitamente a maneira de olhar e a postura física fundamental.
Como base diante de si, dirige‐se a atenção para uma pilastra, uma parede ou
qualquer outra forma de grande tamanho; sem se deixar distrair por outra coisa, aí
se permanece com uma atenção unifocada. Da mesma maneira, fixa‐se a mente,
sem distração, em um pequeno objeto, como um pedaço de madeira ou uma
pequena pedra colocada diante de si. Ou ainda, uma lamparina de manteiga, o céu
ou ainda, entre as sombrancelhas, um tigle branco do tamanho de uma ervilha
como suporte de atenção e aí se fixa a mente.

b ‐ Fixar a mente sobre um objeto puro


Imagina‐se bem claramente diante de si, com fé é respeito, o perfeito Buda
Bhagavan, com sua cor, suas vestes, as marcas e os sinais físicos. Com uma atenção
unifocada, de forma que a mente permaneça fixa.

2‐ Fixar a mente no interior


Em nosso coração, sobre um lótus de oito pétalas, geramos a imagem de um
Yidam, qualquer que seja, ou ainda meditamos sobre o Lama, ou então
visualizamos uma esfera de luz que é a sua essência, e a mente permanece aí
fixada.
Assim, permanecemos sem distração sobre os suportes de atenção,
mantendo a posição do olhar, livre dos defeitos da tensão e do relaxamento, sem
ação, como a de alguém à espreita que vigia de longe, naturalmente relaxado, sem
rejeição nem aceitação, sem esperança nem medo, relaxado no relaxamento,
suavemente, delicadamente.

B_Fixar a mente sem objeto


Fixa‐se a mente imediatamente sobre a grande vacuidade de todos os
fenômenos materiais exteriores ou interiores, ou ainda, os mesmos estando
absorvidos uns nos outros, permanece‐se pousado na grande vacuidade clara luz.
C ‐ Fixar a mente na respiração
Para fixar a mente na respiração, concentra‐se sobre a respiração‐vaso, ou
ainda, contado ʺumʺ para um ciclo inspiração‐retenção‐expiração, fixa‐se sobre os
números até 21 ou mais. Sem distração, com clareza, vivacidade e vigor, exercitam‐
se assim numerosas sessões curtas.
Assim, pela força oriunda da meditação de acordo com as instruções,
produzir‐se‐ão gradualmente os três estágios da estabilização:
_o primeiro, comparável a uma cachoeira descendo de uma montanha
escarpada, _o segundo a um rio tranquilo, _o último, ao mar sem
movimento.

2) Estabilizar a mente fixa

A ‐ Vincular a mente
1_Vincular a mente para cima
Em nosso coração, no centro de um lótus de quatro pétalas, encontra‐se um
tigle branco do tamanho de uma ervilha. Fixa‐se a mente retendo a respiração. Ao
mesmo tempo em que se envia o ar para o exterior, o tigle sai pelo orifício de
Brahma e se dissolve no espaço. Pensando que aí permanecemos. No que diz
respeito à posição física e ao olhar, os restabelecemos corretamente; no que diz
respeito à mente, gera‐se o entusiamo e, reforçando a consciência, medita‐se por
longo tempo.
2_ Vincular a mente para baixo
Para a segunda maneira de vincular, em nosso coração, encontra‐se um
lótus negro de quatro pétalas, virado para baixo, no seu meio há um tigle negro, do
tamanho de uma ervilha. Ele se desenrola como um fio de aranha e sai pelo local
secreto, lentamente, tendo um aspecto pesado, indo para diversos locais.
Estabilizando‐se assim, a mente permanece fixa em uma atenção unifocada.
Abaixando o olhar e a postura física, medita‐se.
3_A prática de alternância
Se, em relação à medida justa, a mente se eleva demais, a dirigimos para
baixo; se ela desce demais, a dirigimos para cima. Continuamente, como o fluxo de
um rio, exerce‐se assim na yoga de alternância dessas duas visializações.

B ‐ Os nove meios de estabilizar a mente


1‐ estabilizar,
2‐ estabilizar completamente,
3‐ estabilizar corretamente,
4‐ estabilizar completamente,
5‐ disciplinar,
6‐ pacificar,
7‐ pacificar completamente,
8‐ estabelecer a continuidade,
9‐ permanecer estabelecido.
Eis aqui a explicação de cada um desses meios:
1‐ Estabilizar: ter uma atenção unifocada sobre um objeto qualquer que seja.
2‐ Estabilizar completamente: preservar por muito tempo a estabilidade
precedente.
3‐ Estabilizar corretamente: se pensamentos se produzem, eles são imediatamente
identificados pela vigilância e se permanece estável.
4‐ Estabilizar completamente: essa mesma mente que permanece estabelecida
torná‐la clara, além de haver estabilizado anteriormente e permanecer estável.
5‐ Disciplinar: recordando perfeitamente as qualidades dessa mente estabilizada,
gera‐se a alegria e se permanece nesse estado.
6‐ Pacificar: a causa da produção (de pensamentos), qualquer que seja: ʺEis aqui!ʺ
Certo de havê‐la descoberto, desvia‐se de sua atração.
7‐ Pacificar completamente: as causas das distrações e a essência dos estados não‐
felizes, etc, são identificados; sua auto‐liberação se produz e se permanece estável.
8‐ Estabelecer a continuidade: orientando‐se para o objeto, pelo poder de uma
meditação assim realizada, sem consideração de esforço, ter o poder de permanecer
estável.
9‐ Permanecer estável: enfim, estar livre de todas as distrações, estando
estabelecido (em meditação) ou não.

3) Enriquecer a estabilidade
Dirige‐se a consciência para as formas que surgem, como objetos visuais,
depois para os sons etc., utilizando‐os sucessivamente como suportes de atenção e
se pousa a mente com uma atenção unifocada. Da mesma maneira, quaisquer que
sejam os pensamentos que surjam não os veremos como defeitos, mas,
instantaneamente, se pousa a mente sobre eles. Para afastar tanto a tensão quanto o
relaxamento e, mais particularmente, para eliminar os impedimentos e enriquecer
a prática, o melhor meio é orar para o Lama e, pela devoção, tornamos
indissociadas nossa mente e a dele.

B) A visão Superior (Lhagtong)


1)Ver o modo de ser, a essência da mente
Eis aqui como ver o modo de ser da mente, a essência da mente. Pousemos
nossa mente em um relaxamento natural, no não‐fazer, repousando no
relaxamento. Olhamos ainda e ainda, examinando atentamente e analisando: qual
é a essência, a cor, a forma, o volume etc? Se se pergunta o que é a essência desta
mente estável, ela deve ser claridade, presença e nudez. Quando, buscando a
estabilidade, não a encontramos, é preciso então deixar vir a produção (de
pensamentos) e examinar.

2) Cortar a indecisão
Eis aqui a maneira de cortar a indecisão. Se, quando se busca não se
encontra, quem é então aquele que busca? Qual é a origem, a localização e o
desaparecimento dessa mente? Examinando perfeitamente, é preciso buscar
continuamente.
Eis aqui as onze coleções:
1‐ a busca completa e a análise,
2‐ o exame separado,
3‐ a análise detalhada,
4‐ a pacificação mental,
5‐ a visão superior,
6‐ a união dos dois,
7‐ a clareza,
8‐ o não‐pensamento,
9‐ a equanimidade,
10‐ a não‐interrupção,
11‐ a não‐distração.

Eis aqui a explicação de cada um desses pontos:


1‐ A mente é existente ou não existente? Qual é sua essência? Pesquisemos
no fluxo da mente quem é a continuidade.
2‐ Em particular, eliminemos as dúvidas sobre sua cor, sua forma etc., sobre
sua origem, sua localização, seu desaparecimento.
3‐ O pesquisador busca até o final aquele que busca.
4‐ Pela busca, tendo realizado que a mente é sem natureza própria, a fim de
chegar igualmente a uma conclusão sobre o modo de ser de todos os
fenômenos, a mente permanece estável perfeitamente no sentido profundo.
5‐ Pesquisando com precedentemente a essência (dessa mente) que
permanece estável, realiza‐se completamente a sua face.
6‐ Os dois anteriores não são diferentes, não são dissociados.
7‐ Supondo que, pelo torpor o obscurecimento produza‐se; ou ao
produzirem‐se as causas de agitação, revigora‐se a mente.
8‐ Se vier a produção e a agitação, aplicamos os métodos que pacificam.
9‐ Quando se permanece livre do torpor e da agitação, é preciso permanecer
na essência daquele que busca, examina e analisa.
10‐Não ser jamais separado desse yoga.
11‐A mente estando perfeitamente mantida nesse yoga, não se cria a ocasião
de ficar distraída.
Assim, por meio dessas onze coleções, aplicamo‐nos continuamente nos métodos
que cortam a indecisão.

3) Introdução à conclusão que a consciência é vacuidade


Eis aqui como se é introduzido à conclusão que a consciência é vacuidade.
Inicialmente, estabelecemos a mente relaxada em sua própria natureza. Olhamos,
em sua nudez, a essência dessa mente relaxada. Mantemos a continuidade de uma
vigilância simplesmente não‐distraída. Quaisquer que sejam os pensamentos que
surjam não os rejeitamos mais que os aceitamos intencionalmente, não fazemos
nenhuma criação mental, mas permanecemos na consciência ordinária, no instante,
na clareza vazia desprovida de identificação, de maneira vívida e aberta.
Outras maneiras de proceder a essa introdução:
1‐ Introdução a partir do movimento
Eis aqui, além do mais, como se é introduzido (à natureza da mente) a partir do
movimento. Pousa‐se inicialmente a consciência de maneira relaxada em sua própria
natureza; nesse estado, olha‐se sua própria essência. Depois, induz‐se um movimento:
qual é então a diferença entre a mente que se movimenta e a mente estável? Qual é a
diferença entre essa mente em movimento e a mente que observa? Observando assim,
o movimento se libera dele mesmo. Nesse estado, permanecemos sem distração, com
uma atenção unifocada.
2‐ Introdução a partir das aparências
a ‐ Introdução às aparências‐mente
Quando se examina se as formas e os outros suportes de percepção objetiva são
um só com a mente, ou se eles são diferentes dela; se se realiza que todos os objetos
que surgem exteriormente não têm outra existência além da dinâmica da própria
mente, permanecemos nesse estado, sem apreensão, de maneira constante.
b ‐ Introdução à mente‐vacuidade
A mente em si, não existindo de forma alguma, é vacuidade. Não pode ser
ilustrada por nada. Ela escapa às palavras, ao pensamento e à descrição, como o
espaço. Permanecemos nesse estado, sem fabricação, descontraídos.
c ‐ Introdução à vacuidade auto‐existente
Tudo se movendo não fora do domínio da vacuidade, a dinâmica, a radiância, a
não‐obstrução surgem na diversidade. É preciso compreender que não há nada fora da
vacuidade, que todos os fenômenos, que todas as aparências, todos os fenômenos do
Samsara e do Nirvana são a indissociabilidade auto‐existente da aparência e do vazio.
d ‐ Introdução à auto‐liberação auto‐ existente
Assim aparência, consciência e vacuidade, são, de maneira primordial, a união
da claridade e da vacuidade, auto‐existentes; sem que sejam necessários os antídotos
que rejeitam, apreendem, afastam ou estabelecem, é a auto‐liberação da realidade, o
mahamudra.

C) Pós‐prática
Uma vez que tivermos a experiência de nossa própria essência na qual o
lama nos introduziu, eis aqui a maneira de tornar (essa experiência) mais leve e
mais rica, depois afastar os impedimentos, percorrer os caminhos e atualizar o
resultado.

I) Enriquecimento
1‐ Enriquecimento pela eliminação das cinco idéias falsas
a ‐ Como afastar as idéias falsas sobre os objetos
Sem apreender qualquer coisa de real dentro da noção de um Samsara que
deve ser abandonado nem de um Nirvana que deve ser atualizado, mas
estabelecendo‐se no sabor único da infinitude da consciência primordial (que
conhece) a não‐dualidade de todos os fenômenos reunidos em pares tais como a
virtude e erro, eliminamos as idéias falsas sobre os objetos.
b ‐ Como afastar as idéias falsas sobre o tempo
Ainda que a realidade dos três tempos não seja, em verdade, estabelecida;
pensamos dentro de um modo obscurecido pela divisão em três tempos. Em
consequência, realizando uma igualdade que não estabelece três tempos distintos,
afastamos as idéias falsas sobre o tempo.

c – Como afastar as idéias falsas sobre a essência


Temos o desejo equivocado de abandonar a mente presente para obter uma
consciência primordial exterior. Reconhecendo que nossa própria mente é
originalmente da natureza das cinco sabedorias, afastamos as idéias falsas sobre a
essência.

d – Como afastar as idéias falsas sobre a natureza


Todos os agregados, elementos e sistemas de percepção dos seres são
primordialmente da natureza dos Tathagatas masculinos e femininos, assim como
os deuses e deusas. Reconhecendo‐os eliminamos as idéias falsas sobre a natureza.

e – Como afastar as idéias falsas sobre o conhecimento


A verdade absoluta não é da competência de uma inteligência superior nem
do discurso analítico; ela é realizada pela graça do mestre e por um potencial
kármico favorável. Assim são eliminadas as idéias falsas sobre o conhecimento.

2‐ Exercitar‐se nas três habilidades

a ‐ Ser hábil para começar a meditação


Tendo tomado perfeitamente a postura fundamental, se (pensamentos)
produzem‐se, vê‐se a essência dessa produção; se a mente está estável, vê‐se a
essência na estabilidade. Permanecemos assim em um estado de relaxamento
natural, de não‐fabricação, de frescor, de descontração, no simples reconhecimento,
sem distração, de nossa essência própria.

b _ Ser hábil para parar a meditação


Sem considerar como essencial meditar por muito tempo, modificando os
métodos de meditação e a postura física, faz‐se numerosas sequências curtas, a
mente clara, brilhante e vívida. Sem se separar da meditação com ressentimento,
gera‐se o entusiasmo.

c ‐ Ser hábil para preservar a meditação


Quando se produzem experiências de felicidade, de clareza, de não‐pensamento,
quaisquer que elas sejam, se se conceber o apego ou orgulho, isso é o que se
denomina perder a realização pela experiência. É preciso, portanto, preservar (a
meditação) dentro de um estado desprovido de apego à experiência.
3 ‐ Enriquecimento por eliminação dos erros e dos desvios

A ‐ Os erros
a ‐ O erro sobre a vacuidade, natureza dos objetos de conhecimento
Estudando as Escrituras e as ciências, chega‐se pelo raciocínio à conclusão
que o modo de ser da matéria é de ser vazio. Diz‐se: ʺUma vez que tudo é vazio, o
que há para ser meditado?ʺ Sendo dado que a vacuidade só está estabelecida
intelectualmente, não é uma autêntica vacuidade.
b ‐ O erro sobre o selo
O que se denomina erro por selo da vacuidade: pensa‐se que todos os
fenômenos materiais que se não percebem como vazios tornaram‐se vazios pela
recitação de mantras tais como os que falam de Shunyata. É somente uma
meditação, não é tampouco uma vacuidade autêntica.
c ‐ Erro sobre o antídoto
O que se denominda erro sobre a vacuidade como antídoto; quando os
pensamentos surgem, pensa‐se ʺVou vencê‐los pela vacuidadeʺ. Essa maneira de
ser posto na vacuidade é maculada.
d ‐ O erro sobre o caminho
O que se denominda erro sobre a vacuidade como caminho: ainda que, pela
vacuidade, o caminho e o resultado não sejam dois, pensa‐se que, percorrendo
agora o caminho da meditação sobre a vacuidade, mais tarde obter‐se‐a o
resultado. Isso também não é autêntico.

B ‐ Enriquecimento pela eliminação dos desvios dentro da meditação


Eis aqui, da mesma maneira, como ter um enriquecimento eliminando os
desvios. Iremos ver em dezessete postos sucessivos.

1_Entre os três tipos de experiência _ felicidade, clareza e não‐pensamento ‐ sem


fazer diferença, no que diz respeito à experiência da felicidade, ante a felicidade alterada e
inalterada, examina‐se essa felicidade em geral pelo viés do conhecimento. Se meditando
sobre essa felicidade, produz‐se um verdadeiro apego, é o desvio ao mundo do desejo.
2_Da mesma maneira, se se produz o apego à experiência de claridade, é o desvio
para o mundo da forma.
3_Se se produz o apego ao não‐pensamento, renascer‐se‐á no mundo sa não‐forma.
É dito que lá, todos os fenômenos são semelhantes ao espaço. Se, analisando isto por meio
do conhecimento, se produz um verdadeiro apego, renasce‐se no sistema de percepção do
espaço sem limite.
4_ A partir da fixação nessa idéia, de que todos os fenômenos são a mente, vem o
desvio ao sistema de percepção da consciência individual sem limite.
5_Se se apega à idéia de que nada existe, é o desvio ao sistema de percepção da
não‐existência.
6_Se se produz apego à idéia de que não há nem existência nem não‐existência,
renasce‐se no sistema de percepção de nem discriminação nem não‐discriminação.
_Em consequência, eliminemos esses desvios permanecendo desprovidos de apego
às experiências de felicidade, de claridade e de não‐pensamento, mas vendo nossa própria
face.
7_Se se deixa os meios e se apega ao vazio, sendo dado que se desvia para o que é
inferior, eis aqui a maneira de rejeitar isso: é preciso desenvolver a afeição, a compaixão e a
mente do Despertar.
8_Pelos meios enriquece‐se o conhecimento.
9_Pelo conhecimento enriquecem‐se os meios.
10_Pela união dos dois produz‐se o enriquecimento de um pelo enriquecimento do
outro.
11_O enriquecimento da pacificação é produzido pela visão superior.
12_O enriquecimento da visão superior é também produzido pela pacificação.
13_No estado de ʺatenção unifocadaʺ, na pacificação e na visão superior, o
enriquecimento da experiência é produzido pela experiência.
14_No estado da ʺnão‐produçãoʺ, o enriquecimento da realização é produzido pela
experiência.
15_No estado de ʺúnico saborʺ, o enriquecimento da realização é produzido pela
realização.
16_Sem rejeitar as três portas como sendo ordinárias, o que quer que se faça, tudo é
transformado em virtude, produz‐se um enriquecimento nas qualidades ordinárias.
17_Sem rejeitar nem aceitar os erros que são os fatores pertubadores, os
sofrimentos e obstáculos, vendo sua própria face, produz‐se um enriquecimento tomando
os maus presságios como bênçãos.

4 – Enriquecimento pela liberação dos três caminhos perigosos

a_A vacuidade surgindo como inimigo


Quando se analisa e se examina a essência da mente, não se vê nada de
existente; pensa‐se que, uma vez que todos os fenômenos são somente vacuidade,
os atos positivos e negativos, assim como a lei do karma são igualmente
desprovidos de existência. Considerar que não há nada a ser rejeitado nem
antídoto, é o que se denomina nihilismo. Sendo dado que a vacuidade surge com
um inimigo, abandona‐se esse pensamento como um veneno.

b ‐ A compaixão surgindo como inimigo


Tendo obtido, você mesmo, um pouco de felicidade, pensa‐se: ʺʹÉ preciso
que sejam libertados os seres que não possuem essa felicidadeʺ. Abandona‐se a
meditação e empregando muito esforço, aplica‐se em realizar atos positivos
compostos e nos apegamos à sua realidade. É o que se denomina compaixão
surgindo como inimigo. Abandonando essa atitude, esforçamo‐nos, sem deixar
esta compaixão que surgiu, em preservar sem mácula sua própria realização.
c_A causa surgindo como inimigo do resultado
Pensa‐se que, para ver o modo de ser profundo, é preciso ser sábio em todos os
domínios. Aplica‐se então na gramática, no debate etc. e abandona‐se a prática da
pacificação e da visão superior. Quando se age dessa maneira, é o que se denomina a
causa (os estudos) surgindo como iminigo do resultado (o mahamudra). Isso não é
autêntico. Meditando com uma atenção unifocada no sentido profundo, obtém‐se um
conhecimento imaculado que não é obscurecido por nenhum fenômeno do ciclo da
manifestação ou do nirvana.

II) Eliminação dos impedimentos


1_Eliminação dos impedimentos: a doença
Praticando principalmente a pacificação, dissipam‐se as doenças dos ventos.
Praticando a visão superior, dissipam‐se as doenças da fleuma e da bile. As doenças
quentes e frias são, quanto a elas, progressivamente eliminadas pela pacificação e a
visão superior. E mais, examina‐se a essência de todas as doenças, sua forma, sua
origem, sua localização e seu desaparecimento. Insiste‐se em particular sobre a
visualização da doação e da tomada para si. Além disso, a doença sendo não‐nascida,
ela é o Corpo Absoluto (Dharmakaya); sendo sem localização, ela é o Corpo de Glória
(Sambhogakaya); sendo sem cessação, ela é o Corpo de Emanação (Nirmanakaya); sua
natureza sendo vacuidade, ela é o Corpo de Essência (Svabhavakaya). Integrando‐a à
prática como sendo o jogo dos Quatro Corpos, vemos nossa própria mente.
2_Eliminação dos impedimentos: os espírtos malignos
Eis aqui, da mesma maneira, como eliminar os impedimentos que são os
espíritos malignos. O que surge como espírito maligno é um efeito da magia da mente.
Vendo a mente ela‐mesma como sendo os quatro Corpos, eliminam‐se da mesma
maneira os espíritos malignos por meio da integração dos quatro Corpos na Via.
3_ Eliminação dos impedimentos na meditação
De uma maneira geral, vimos precedentemente como dissipar os erros que são
o torpor e a agitação. Aqui os dissipamos pelo guru‐yoga. Quando sombreamos no
torpor, visualizamos o Buda Amitabha acima de nossa cabeça; uma vez que tenham se
fundido nele os Lamas da Linhagem, oramos com devoção. Em razão dessa prece, ele
emite uma luz que se funde em nós e, nos purifica com vigor das causas de torpor. O
Buda Amitabha se reabsorve em luz e se funde em nós; devido a isso, nosso próprio
corpo, tendo se tornado uma massa de luz, clareia todos os campos de manifestação,
depois se dissolve no espaço. Deixamos a consciência vívida e intensa.
Se estivermos agitados, visualizamos o Lama Vajrasattva, de cor azul‐
esverdeada, em nosso coração que está na forma de um lótus de quatro pétalas. Sobre
essas quatro pétalas encontram‐se Vairochana e os outros Vencedores; eles estão
cercados pelos Dakas e Dakinis pertencentes às suas famílias, da mesma cor que eles.
De seus corações são emitidos raios de luz azul. Eles penetram no Lama e nós
visualizamos que os raios de luz se difundem para os pontos cardinais e as direções
intermediárias. Permanecendo estáveis no estado de Mahamudra, afastamos a
agitação.
Além disso, o torpor e a agitação apresentando‐se permanecemos descontraídos
em suas essências, sem distração, sem meditação, sem fabricação.
III) A Progressão

O desenvolvimento da progressão é exposto dentro do contexto das quatro


yogas. Cada uma delas é dividida em três níveis: inferior, médio e superior ‐
chega‐se a um total de doze divisões.

1_Atenção unifocada
Em primeiro lugar vem a yoga dita: atenção unifocada. A própria face da
mente é conhecida corretamente, de maneira que, no estado de claridade,
vacuidade, não obstrução, semelhante ao espaço, sem limite nem centro,
permanece‐se de maneira vívida e intensa. Entre os três níveis, inferior, médio e
superior, no nível inferior vê‐se a essência da felicidade‐claridade; no nível médio,
obtém‐se o controle do Samadhi; no nível superior, a experiência deste último
torna‐se ilimitada.

2_Não‐produção
A ausência de produção é a realização da mente em si, sem fundamento.
Quando se é liberado das produções que são as noções de objeto e de sujeito, de
origem, de cessação e de localização de todos os fenômenos assim como a
apreensão das características, as especulações são eliminadas no não‐nascido, a
vacuidade. No nível inferior, realiza‐se sua própria mente como não nascida. No
nível médio, se está totalmente desprovido da apreensão das aparências e da
apreensão de uma vacuidade. No nível superior, as especulações sobre a produção
de todos os fenômenos são eliminadas.

3_Único sabor
Eis aqui o yoga do único sabor na qual a mente e as aparências estão unidas.
Permanece‐se na igualdade do estado natural que, ao olhar todos os fenômenos do
ciclo das existências e do nirvana, eles não são nem desprovidos nem não‐
desprovidos das produções que são a origem e a cessação, nem vazios nem não‐
vazios, sem os atos de parar ou fazer existir, de abandonar ou empreender. No
nível inferior, os fenômenos que estão juntos estão unidos em um sabor único. No
nível médio, as aparências e a mente são como a água colocada na água. No nível
superior, todos os fenômenos são pacificados dentro do estado de igualdade.

4 ‐ Não meditação
Está‐se livre das experiências ou dos sentimentos precedentes; pode‐se dizer
ainda que o mental esteja completamente esgotado: é a não‐meditação. No que diz
respeito aos níveis inferior, médio e superior, no nível inferior está‐se
completamente desprovido das noções de meditado e meditador. No nível médio,
chega‐se espontaneamente à auto‐existência. No nível superior, as claras‐luzes mãe
e filha estão unidas. Desde então, está‐se aberto à imensidão do conhecimento
primordial do Dharmadatu de maneira que ambos os benefícios são completados:
o estado de Buda é atingido.
‐ Correspondência dos doze níveis das yogas (4 x 3) e os caminhos

Se se quer estabelecer uma correspondência entre os níveis atingidos nos


doze yogas e os caminhos, tem‐se:
‐atenção unifocada, nível inferior = caminho da acumulação;
‐atenção unifocada, nível médio = caminho da junção, calor e cume;
‐atenção unifocada, nível superior = paciência e dharma sublime;

‐não‐produção, nível inferior = caminho da visão e primeira terra;


‐não‐produção, nível médio = da segunda à quinta terra;
‐não‐produção, nível superior = obtém‐se a sexta terra;

‐realização do nível inferior do único sabor = sétima terra;


‐único sabor, nível médio moyen = oitava terra;
‐único sabor, nível superior = nona terra;

‐não meditação, nível inferior = décima terra;


‐não meditação, nível médio = terra do fim da corrente;
‐não meditação, nível superior = o término do caminho, a décima‐primeira
terra.

IV) Atualização do resultado

Assim, os doze yogas nascendo progressivamente na corrente da


consciência, chega‐se ao término, a não‐meditação. Desta maneira, os dois véus e
todos os condicionamentos latentes são eliminados; os dois conhecimentos, as
sabedorias e todos os amadurecimentos são concluídos. Tudo isso sem abandonar
o Corpo Absoluto (Dharmakaya), que é nosso próprio bem, e pelo Corpo formal
(Rupakaya), que é o bem dos outros, realizamos o bem dos seres, sem conceito,
sem esforço, sem produção, até que o Samsara esteja vazio. É uma atividade
contínua e uma essência onipresente auto‐existente.

‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐

Pela substância dos esforços dos atos virtuosos, quando em todos meus nascimentos,
de todas minhas vidas e por todo o tempo, possa eu me desinteressar das atividades do vir‐a‐
ser e que eu possa não transgredir, ainda por pouco que seja, o treinamento
fundamental (na ética).
Que eu possa, mesmo em sonho, não esquecer as duas sublimes bodhichittas para o
bem dos outros; que eu possa estabelecer todos os seres na felicidade pelo viés dos quatro
fundamentos da relação e das seis paramitas.
Considerando, com tanto amor da minha própria vida, os mestres espirituais
perfeitamente puros, satisfazendo‐os com todas as satisfações, que eu possa manter a fé e os
compromissos sagrados.
Pelo poder dessas aspirações, pelo estudo, a reflexão e a meditação de todos os
Cestos, a da liberação individual, dos bodhisattvas e os mantras dos vidhyadharas, que eu
possa relizar integralmente meu próprio bem, o bem do outro pela explicação, o debate e a
redação, o bem de ambos pela erudição, a observância e a boa natureza, o bem da doutrina
sendo o detentor, o protetor e o propagador.
Que eu possa realizar a filosofia sem mudança do sentido definitivo e, em particular,
o Mahamudra do modo de ser; que eu possa ser aquele que difunde o conhecimento.
Em resumo, que eu possa ter a capacidade de estabelecer sozinho no sublime estado
puro e perfeito de Buda todos os seres encarnados que habitam o espaço até seus limites.
Pela graça das Três Jóias e dos Vencedores, pela força da aspiração superior
perfeitamente pura e pelo poder da vacuidade e da interdependência profunda, possam essas
aspirações assim ser realizadas.

‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐

O sexto Shamarpa, Tchöky Wangtchuk, escreveu o um guia dos seis dharmas de Naropa
intitulado ʺA seiva ambrosíaca dos seis dharmas”. Dele fiz um resumo do essencial sob a forma de
um texto‐raiz versificado para recitação durante a prática. Sendo que, durante a prática, tal texto a
recitar revela‐se muito cômodo, pensei, depois de um certo tempo, que seria necessário ter um
também para o Mahamudra. Nedo Kutchung Tchoktrul Rinpotche e Lama Tsethar de Tîlyak
quiseram, durante o tempo que estiveram em retiro de três anos, fazer imprimir o texto‐ raiz dos
seis dharmas de Naropa e me incitaram a escrever um texto similar para o Mahamudra. Para os
iniciantes na prática, com a excelente aspiração superior de lhes dar certa ajuda, acedi a esse projeto.
Esse texto foi escrito por Bokar Tulku Karma Ngedön Tchöky Lodrö, tendo o nome de lama, mestre
de retiro do grande centro de retiro Yi‐ong Samten Ling, vinculado à sede do Senhor dos
Vencedores, o glorioso Karmapa, sede denominada Omin Shedrup Tchökhor Ling. Escrito em Mirik
no distrito de Darjeeling, região que é um bálsamo para mente, em Bokar Ngedeön Tchokhor Ling,
13 de dezembro de 1984, vigésimo dia do décimo mês do ano boi‐rato, no momento da conjunção do
dia de Júpiter, da oitava constelação, do fogo e do ar. Que a virtude aumente!
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$/.-„A-,A$-=J-{=-w/-2PR.-0?-=3-29%-8J?-L-2-28$?-?R, ,,

O Excelente Caminho seguido pelos Afortunados


Os pontos essenciais das instruções orais vindas da bondade do Santo Lama
e associadas à minha própria experiência
(Texto escrito por Kalu Rinpoche)

3
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Homenagem ao Guru

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,3%R/-?3-(R?-{:A-<%-8=-!R/-36.-0:A,
,3*3-3J.-]-3-3(R$-$A?-LA/-_2?-)R=,
Em vós está reunido o oceano incomensurável das Três
Raízes Vós sois o tesouro de onde vêm todas as bênçãos e realizações
Vós que mostrais verdadeiramente o Dharmakaya como nossa própria face
Incomparável supremo lama conceda-me vossa graça.

,2.$-.%-2.$-$A-$.=-L<-I<-0-i3?,
,]R-$-.3-0:A-(R?-?-:I<-2-.%-,
,<%-?J3?-<A$-0:A-<%-8=-=J$?-3,R%-!J,
,.R/-$*A?-3,:-<-KA/-0:A-.%R?-P2-)R=,
Concedei-me as realizações
A fim de que eu e aqueles que são meus
discípulos, Orientemos nossa mente para o santo
Dharma,
Que nós possamos ver claramente a face do
Conhecimento Como nossa própria mente e completar o
duplo benefício.
As Quatro considerações fundamentais

.J-;%-(R?-;%-.$-0<-12-0<-LJ.-0-=,
Para praticar o Dharma de maneira perfeitamente pura

,.%-0R-=?-:V?-2a-3J.-$.A%-/?->J?->A%---
É preciso inicialmente compreender profundamente
o caráter verídico dos atos e de seus frutos,

#3?-$?3-:#R<-2-:.A-#$-2}=-IA-o-35S-*A.-.-3%R/-0<->J?-/?-
8J/-0-$+A%-/?-=R$-+J,
Ter a certeza que os três mundos deste
Samsara são como um oceano de sofrimentos e,
do mais profundo de nós, desviar-nos do apego.

,.=-:LR<-=/-$&A$-,R2-0-:.A-;%-o-P%?-.0J-$?3-IA?->A/-+-„J.-
0<-2!:-8A%-,
Pois, uma vez que obtivemos as liberdades e
aquisições (desta preciosa existência humana) muito difícil de
ser obtida ( como mostram) os exemplos, as causas e o
número;

,„J.-0-.J-;%-_%-$?J2-„A-3<-3J-„<-3A-g$-:(A-2?-M<-.-:)A$?-
0<-%J?-0?,
E ainda que a tenhamos obtido, ela é impermanente e sua morte é certa
Como uma lamparina de manteiga no vento, é certo que ela será rapidamente apagada.

,.-/A-$/?-{2?-3A/-2<-IA-*A-8<-„-2-#R.-o-;R.-0:A-5K,
O tempo que ela dura
é como o de um raio de sol passar entre as nuvens.
,]-3:A-$.3?-%$-#R-/-2|R3-0-=?-$%-$A?-„%-1/-0-3A-:.$-~3-
0:A-?J33-,$-$.A%-/?-(R.-0:A---
Por essas reflexões chega-se à profunda convicção de
que ,exceto o colocar em prática as instruções do lama,
não há nada que seja útil.

]R-wR$-i3-28A-8A$-o.-=-3-:LR<-/-(R?-12-=R-.%-|R3-=R-L?-<%-3-
L?-<%-, ,:#R<-2-=-8J/-)J-(J-<%-o.-)J-IR%-.-:PR-2-43-=?-3J.-
%J?-=$?-0?---
Se não se integra em si esses quatro pontos que desviam a mente (do Samsara) ;
pouco importa que durante anos se pratique ou não o Dharma ou a meditação,
é certo que nosso apego ao Samsara só aumentará
e nos tornaremos em nada além que um ser limitado.

( IR5-: áspero, duro, que não pode mudar, grosseiro, inculto, limitado)

2|R3-$8A-.J-3->R<-2-8A$-3J.-/-,2?-($?-?R, ,.J-„<-:#R<-2-:.A-
=?-%J?-0<-:L%-2:A-{=-w/-i3?-„A?-*3?-?-=J/-L,
Não é, portanto, para se partir dessa base da
meditação sem a qual todos os meios estão comprometidos
É por isso que os afortunados que estão desapegados do
ciclo, devem colocá-los em prática,

>R<-2- perder‐se :(R<-2-: escapar, afastar‐se


Introdução à natureza da mente

,(R?-{-K$-o-(J/-0R-9J<-2-.J-/A,
Eis aqui o que é denominado Dharmakaya ou Mahamudra

,<%-$A-o.-=-S/-gR$-$-5S$?-><-3#/-IA-?J3?-:.A-2&.-2&R?-$%-
;%-3A-L-2<-<%-=$?-?-z$-0<-28$-/?,
É essa mente que faz surgir em nós todos os diversos pensamentos e reflexões.
Sem nada acrescentar, modificar ou fazer o que quer que
seja, a deixamos relaxada em seu próprio modo de ser.

,KA-/%-$%-.:%-$+.-?R-.%-,
Sem se focalizar sobre nenhum objeto, exterior ou interior

( $+.-nR- focalizar; objeto, objetivo, conceito etc. sobre o qual a mente conceitual ]R- se focaliza)

,$?=-!R%-?R$?-:.A-„<-<R-~3-0:A- :)A/-0-.%-;A.-LJ.-„A- |R3-L-&A-


;%-3J.-0<,
Sem se apegar a experiências como a claridade, a vacuidade etc.,
sem nenhuma meditação mentalmente fabricada
A mente em repouso tem a natureza dos Três Corpos

,%R- >J?-43-IA- $.%?-.J- 3-;=-2<-?%?-?%-%J<-28$-/-?J3?-„A-


$>A?-=$?-%R-2R-$%-.:%-3-P2-0-!R%-?%-%J-2-.J-(R?-{-;A/,
Sem que diminua a clareza do "simples reconhecimento”,
permanecendo em sua própria luminosidade,
o modo de ser essencial,
a natureza fundamental da mente,
não tendo nenhuma consistência, qualquer que
seja, vazia e límpida,
é o Dharmakaya.

( $>An-=$n- Caráter fundamentalmente vazio da natureza da mente )

,.J-;A-3.%?-$%-;%-3-:$$?-0<-<A$-43-IA-$?=-?%?-„%-%J-2-
.J-3=-{-;A/,
Nada interrompendo sua radiante luminosidade,
resplandecendo do "simples reconhecimento",
é o Nirmanakaya.

,$?=- <A$- !R%- $?3- 9%- .- :)$- 0:A- .LJ<- 3J.- 9%-
,J=- =J- 2- .J-
=R%?-{-=$?-0?,
A união inseparável e onipenetrante da
claridade, conhecimento e vacuidade,
é o Sambogakaya.

,?J3?-:.A-$/?-/-;%-{-$?3-IA-<%-28A/,
Assim, ainda que essa mente permaneça em repouso, ela tem a natureza dos três
Corpos.
A mente em movimento tem a natureza dos Três Corpos

,5S$?- „$- $A- $%- 2- gR$- 0- &A- ><- ;%- %R- 2R- $%- .:
%- 3- P2- >A%-
3.%?-3-:$$?-28A/-i3-0-:.A- „-2:R- 2?3-0:A- S/-gR$-$-5S$?-
ZA$-$J<-:(<-2-.J-3=-{,
Essencialmente, tudo o que aparece nas seis consciências,
assim como os pensamentos que surgem
saõ sem consistência.
Como para a radiância ininterrupta,
esses diversos aspectos, pensamentos e reflexões,
surgem em uma "claridade aberta" ,
é o Nirmanakaya.

,.J-*A.-KA-/%-$%-.:%-3-P2-0:A-!R%-?%-%J-2-.J-(R?-{,
Essas não consistindo em nada de verdadeiro,
nem exterior, nem interior, vazio e límpido,
são o Dharmakaya.

,$.R/-/?-.J-$*A?-.LJ<-3J.-.?=-?%?-„%-%J-2-.J-=R%?-{-;A/,
Desde sempre, esses dois são inseparáveis;
luminosos, claros e radiantes,
é o Sambogakaya.

,?J3?-:.A-:I-/-;%-{-$?3-IA-<%-28A/-=?-3-:.?-0?,
Assim, ainda que essa mente esteja em movimento,
ela não perde a natureza dos três Corpos.
As várias denominações do Mahamudra

,?J3?-*A.-2&R?-2+<-$+.-?R-:6B/-0-,3?-&.-.%-V=-2:A-%R->J?-
43-IA-?J3?-<A$-!R%-„%-%J-2-:.A,
,.-„:A->J?-0-{.-&A$-3:3,
,,-3=->J?-0-8J?-„%-L,
Essa mente, livre de todo artifício,
modificação, orientação, apreensão,
é a mente de um "simples reconhecimento" ,
conhecimento vazio e claro,
que se denomina : "o conhecimento imediato do presente"
ou ainda "o conhecimento ordinário" (conhecimento simples).

2&Rn-0-: Fabricar, forçar, produzir artificialmente. 2I<-: Traduzir, mudar, interpretar.


$+.-nR- : Focalizar, fixação da mente conceitual.

,:O=-0-.%-35/-:6B/-IA->J?-0-?R$?-!-/?-.$-&A%-,
,.?-$?3-IA-gR$-0?-3-a.-&A%-;A.-LJ.-.%-V=-!J,
,.?-3J.-$3-.?-28A:A- (->J?-0-{.-&A$-3-.J- =?-/3-;%-:.:-2-
3J.-0?-/, ,!-.$-28A-(-$?3-V=-8J?-„%-L,
Sendo pura, desde a origem,
de conhecimentos conceituais, ilusões, apreensões,
não sendo alterada por pensamentos (relativos aos) três
tempos, livre de fabricações mentais;
não deixando jamais o atemporal ou "conhecimento imediato do Quarto
tempo" é também denominada "A quarta dimensão, além dos três (tempos) ",
pura desde a origem.
,:#R<-:.?-„A-(R?-,3?-&.-?J3?-=-mR$?-0?-/-mR$?-0-(J/-0R,
Todos os fenômenos do samsara e do nirvana, estando realizados na
mente, são "a Grande Realização", Dzogpa Tchenpo.

,;R.-3J.-;A/-3A/-?R$?-3,:-,3?-&.-=?-:.?->A%-.2?-S%?-0R-
„-2-;A/-/-.2-3-(J/-0R,
Além de todos os extremos
do ser e do não ser,
de existência e da não-existência etc.,
sendo um eixo central e reto,
é "A Grande Via do Meio", Madhya-Mika.

,(R?-,3?-&.-„A-YR$-$3-~A%-0R-„-2-;A/-0?-/-.R/-.3-L%-(2-
?J3?-<A/-0R-(J,
Sendo como o coração ou a vida de todos os
fenômenos, é "A preciosa Bodhicitta da verdade última"

,!R%-$?=-<A$-0:A-;J->J?-.J-=?-:.:-2-3J.-0?-/-K$-o-(J/-0R-!J,
Como não há nada além desse conhecimento
primordial "Vazio-Claro e Conhecedor"
é o Mahamudra.
A Via do Mahamudra

,,R$-3<-%R-3R.-L,
,2<-.-o/-(.-3J.-0<-*R%?-L,
,3,<-.J-*A.-3%R/-.-I<-+J,
,2g/-0-,R2-L:A-:V?-2-=$?->A%-,
Essa (natureza da mente) é preciso começar por reconhecê-la.
Em seguida, preservá-la sem interrupção;
Finalmente, ela se torna (uma realização) manifesta.
a estabilidade é o fruto que é preciso ser obtido.

,}R/-LR/-IA- *J- 2-.3-0-i3?-„%-, ,.-„:A- >J?-0-{-$?3-;J- mR$?-


(J/- 0R- :.A- #R- /- ,R.- =3- i3- 28A<- (- 2R:C- o/- 28A/-
2*%?- 0?- 5K-
$&A$-$A-9%-:)$-(J/-0R:C-o=-?<-$>J$?-0-=$?---
Esse "conhecimento imediato",
grande realização original dos três Corpos
é a Via que seguiram os santos seres de outrora.
Preservando-a continuamente durante os quatro tipos de atividades,
como o fluxo de um rio,
em uma só vida, eles partiram para a grande
união, terra (estado) dos Vencedores.

.J-„<-IA-*3?-=J/-.J-%R-:UR.-/, ,K$-o-(J/-0R-.!<-0R-$&A$-,2-
8J?-;R.-/-.J?-(R$-3J.-/-.J-3J.,
Assim, caso se possa reconhecer essa prática
ela é "O Mahamudra ,panacéia universal".
Caso se tenha, é suficiente; caso não se tenha não se tem!
,!R%-$?3-$?J<-IA-2!%-!J-1=-„%-2!:-SA/-:#R<-,2?-3J.-0:A-
$.3?-%$-92-3R-$&A$-2o.-3,
Se (ao lama) que nos transmite esse ensinamento único e profundo,
se oferecesse os três mil universos cheios de ouro,
isso não seria um meio (suficiente) para retribuir sua bondade.

,*J-0-!$-.R%?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,2-3R-2=-{.-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,HA3-0-?R-/3-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,$4S-2R-3./-PR?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
K$-mA-35S-*R%?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
Homem com arco e flecha (militar) e Buda
Mulher com linha e lã (costureira) e Buda
Cultivador com fazendas e Buda
Patrão com empregados e Buda
Pastor com rebanho e Buda

,.2%-$R/-{=-0-.%-w/-0-i3?-:.R.-;R/-3-%%?-0<-?%?-o?-
0:A- $.3?-%$- 92- 3R- ~A%- 0R:A- ;%- 8/-:.A- %R- :UR.-/-;A.-28A/-
IA-
/R<-2-=$-+-9A/-0-;A/-0?, ,(.-9R.-?-3A- L-2<-$;<-.3-.-:(%-
2<-L:R,
Para os afortunados com as faculdades vívidas que podem reconhecer essa
quintessência dos profundos ensinamentos ,(que permitem obter o estado de) Buda sem
abandonar os objetos sensoriais, é como ter nas mãos a jóia que realiza todos os desejos.
É preciso não perdê-la, mas engajar-se em bem preservá-la.
Os perigos de uma compreensão parcial

,.J%-?%-?J3?-%R- @-=3-43->J?-/?-{R<-<J- {R<-$*A?-S/-43-<A$-


43- <J?- $R- (R.- >$- $A?- *2?-:PR- ?J3?- 2*J.- 3R?- $?-
~A%- eJ- #-
$+R/-2^?-2eR.-„-|R3-}$?-2^?-5S$?-2?$?-1A2-.%?-?R$?-
&A-;%-3A-.$R?-0<-=R$-„-.%-:6B/-($?-}<-=?-„%-.$-:I<-(J-2-
8A$- L?- /?, ,.J?- $R- (R.- >$- ~3?- 0- 3%- 0R- :.$-
0?- :#R<- 2-
3,:-3J.-.-:H3-.$R?-/-3-$+R$?-.J- „-2:A- $R- gR$-<J.-3->R<-2<-
.?-o/-.-<%-$A?-<%-=-g$-.J.-8A2-.-L-8A%-,

Agora, caso se tenha compreendido mais ou menos (o que é) a face da


mente, que se lembre dela de tempos e tempos,
reconhecendo-a um pouco
e que tomando como suficiente (se pense que): A tomada de refúgio, a bodhicitta,
a devoção, a compaixão, as preces, as recitações, a meditação sobre as
divindades, a recitação de mantras, as acumulações, a purificação dos véus, etc.
não se tem necessidade,
é ter uma visão errônea.
Nossos apegos só aumentarão em relação ao que eram anteriormente.
Essas idéias presunçosas sendo bem numerosas,
nos farão errar indefinidamente no Samsara.
É-nos preciso, portanto, examinar minuciosamente,
sem desvio e de forma contínua
para ver se nós não temos tais pensamentos.
As vantagens das diversas práticas.

, *3?-=J/-2g/-0-3-,R2-„A- 2<-., ,*2?-:PR- ?J3?-2*J.-2}R- 2-


(R/-=3-i3?-„A?-(R?-(R?-3A/-.-3A-:PR-8A%-, ,&A-L?-,<-0:A-=3-.-
:PR-.$J-l-,3?-&.-3A-*3?-$R%-:1=-.-:PR-2:A-,2?-92-3R-3J.-.-
3A-<%-2-.%-,
Até que se tenha obtido uma prática estável,
o refúgio, a bodhicitta, a dedicatória, as preces e
aspirações, fazem com que o Dharma não se torne não-
Dharma,
e que o que quer que se faça toma a via da
liberação, e que as raízes das virtudes não sejam
danificadas mas se desenvolvam cada vez mais,
esses são meios profundos que convém não rejeitar.

,#- $+R/- 2^?- 2eR.- K$- 2{R<- 3(R.- .A/- i3?- „A?-
5S$?- $*A?-
:U=-.-6S$?-1A2-$*A?-M<-.-L%-+J- (R?-{-K$-o-(J/-0R-2.J- ]$-+-
gR$?-0:A-,2?-92-3R-3J.-!-3J.-.%-,
As preces, as recitações, as circum-ambulações, as oferendas,
(nos fazem) prontamente completar as duas acumulações,
purificar rapidamente os dois véus e realizar facilmente
o Mahamudra, o Dharmakaya.
São meios profundos e indispensáveis.
Meditação sobre as divindades.

,$%-2-!/-„%-2.J/-3J.-+-3-kA-=3-IA-<%-28A/-.->J?->A%-,
Reconhecendo todas as aparências como irreais,
tendo a natureza de uma ilusão ou de um sonho

,<%-$%-=?-:.A-;%-hR-eJ-1$-3R-?R$?-;A-.3-„-;A-{-8=-K$-o/-
(?-;R%?-?-mR$?-0---
Nossa própria aparência, esse corpo (é visto como) Dorje Pamo
ou qualquer outro Yidam; seu corpo, face, braços, ornamentos
completos.

$%-=-<%-28A/-3J.-0<,
,$?=-=-gR$-0-3J.-0,
,2.J-=-8J/-0-3J.-0,
A aparência é sem natureza própria,
A luminosidade é não conceitual,
A felicidade é sem apego.

,<%-?J3?-!R%- 0:A- <%-3.%?-?-><-8A%-, ,.J- ;%-?J3?-.%-„-{-


.LJ<-3J., ,$>A?-3.%?-l=-$?3-IA-<%-28A/, ,;J->J?-(J/-0R:C-%R-
2R- (R?- =R%?- 3=- $?3- IA- i3- 0- $.R.- /?, ,<%- $/?-
?-;A/- 0<-
>J?-0:A-%-o=-.%-3-V=-28A/---
Nossa mente surge como a radiância da vacuidade.
Assim, a mente e corpo da divindade, indiferenciados, a natureza dos três:
fundamento (vacuidade), claridade e radiância,
os aspectos dos três (corpos) Dharma, Samboga e Nirmana- Kayas
sendo desde sempre estabelecidos em essência do grande conhecimento original,
e não se abandona a dignidade desse reconhecimento.
$%-P$?-gR$-$?3-„-}$?-;J->J?-„A-<%-28A/->J?-0?,
,,-3=-IA-2.J/-:6B/-i3?-Z=-IA?-:)A$?,
,<%-:6B/-IA-2$-($?-„%-/?-:LA/,
,($?-#%-.%-A-:,?-l.-/?-8A$-0<-:I<-8A%-,
As aparências, sons e pensamentos sendo
reconhecidos como tendo a natureza da divindade,
de seu mantra e do conhecimento original.
As apreensões da realidade ordinária são completamente
destruídas. As tendências à apreensão de um ego são radicalmente
extirpadas,
o apego, a raiva e as concepções errôneas
são fundamentalmente destruídos.

S5n-= l-2- : Raiz, base, fundação ‐ suprimir radicalmente.


A-:øn- : Concretização, dar uma realidade sólida.

,*J-3J.-(R?-„A-{-<-?%?-o?,
,<A$-l=-=R%-{:A-2!R.-0-3%R/-.-I<,
,$%-:.=-3=-{:A-36.-0-:#R<-2-3-!R%-$A-2<-.-:L%-2-;A/-0?-
*3?-=J/-3A-L-!-3J.-.3-0-.%-,
No Dharmakaya inato
(está o estado de) Buda.
A radiância do conhecimento torna-se manifestadamente
o desdobramento do Sambogakaya.
Para aqueles que devem ser disciplinados,
as obras do Nirmanakaya
surgem até que o Samsara seja
esvaziado. Não se pode deixar de fazer
essa prática!
A Compaixão ‐ Tong‐Len

,.J- „-2:A- $/?-=$?-3-gR$?-0<-:#R<-2-#$-2}=-IA- o-35S- (J/-


0R<-.?- g$-+-LA%- 2:A- 3#:-H2-?J3?-&/-:.A- !/-~A%-<J- eJ-~3?-
0:A-~A%-eJ-1<-5$-.%-,
Não realizando esse modo de ser, todos os seres do universo se perdem
constantemente no grande oceano de sofrimentos do Samsara. Pensa-se neles com
piedade e os consideramos com compaixão.

,{2?-?-.J-.$-$A-#$-2}=-o-.%-:V?-2-2&?-0-2.$-=-,A3-8A%-
, ,.J-.$-#$-2}=-.%-V=,
Algumas vezes, pensa-se que todos os sofrimentos, suas causas e seus frutos se
fundem em nós. Eles são libertos do sofrimento.

,2.$-$A- 2.J- .$J- 3-=?-0-.J- .$-=-!A3-0?, ,$/?-{2?-2.J- *A.-


.%-w/, ,3,<-,$-?%?-o?-,R2-0<---
Todas as nossas virtudes e felicidade fundindo-se neles, recebem de forma
relativa a felicidade e alegria; e de forma última obtém o estado de Buda.

~3?-0:A- $+R%-=J/-;%-;%-L-2-/A, ,1A2-.%-!/-IA-o=-0R, ,2Y%-


2-!/-IA-3(R$-I<, ,L3?-0:A-$R-(, ,~A%-eJ:A-;-=., ,!R%-*A.-~A%-
eJ:A- ~A%- 0R- &/- 8J?, ,?%?- o?- „A- o- 3J.- ,2?-
3J.- 0:A- $/?- 92- 3R:R,
É preciso fazer mais e mais essa prática da doação e da tomada para si. É o
soberano de todos (os meios) para purificar os véus, a suprema proteção, a cota de
malha do amor, o elmo da compaixão.
É dito que a vacuidade tem como coração, a compaixão. Sendo a causa (do
estado de) Buda, sem esse ponto profundo se está sem o meio de realizá-lo.
O lama e a devoção.
,.J- „<-$.3?-%$-,3?-&.-.%-, ,H.-0<-<%-?J3?-?%?-o?-„A-
<%-8=-%R-3R.-0:A-]-3-.3-0-.J,
É o lama que nos dá todas essas instruções e mais
particularmente, nos mostra que a face do Buda é nossa própria mente.

,;R/-+/-IA-%R?-/?-l-$?3-<2-:L3-o-35S-:.?-0:A-,A-.0=-V=-
(A/-;R/-+/-LJ-2:A-2.$-*A.,
Do ponto de vista das qualidades, ele reúne todas as do incomensurável oceano
das Três Raízes. Ele tem a natureza gloriosa de miríades de qualidades puras e
perfeitas.

,2!:- SA/- IA- %R?- /?- .?- $?3- o=- .%-o=- Y?- !/-
=?- H.- 0<-
:1$?-0:A-2.$-*A.-.->J?->A%-,
Do ponto de vista da bondade, é comparado à de todos os Vencedores e seus
Filhos dos três tempos, é preciso saber que ele é ainda mais sublime.

,$%-2-&A-><-]-3:A-i3-<R=,
Qualquer aparência que se manifeste, ela é o jogo do lama.

,2.J-#$-&A-L%-]-3:A-2!:-SA/,
Qualquer alegria ou sofrimento que surja, ela é a bondade do lama.

,<J- ?-]-3-=?-3J.-0:A- #R- ,$-$.A%-/?-2&.-.J- &A- 36.-HJ.->J?-]R-


2+.-=A%-+<-IA-3R?-$?-3(A-3-:O$?-0-.%-3-V=-2-L?-KA/,
Convencidos, do mais profundo de nós, que sem o lama, não há nenhuma
esperança, sem partir de uma devoção que nos emociona até as lágrimas. Remetemo-
nos a ele (pensando) " O que quer que convenha fazer, vós o sabeis".
,$J$?- ,3?- &.- ?J=, ,2R$- ,3?- &.- :.R/- LA/- _R2?- .
%R?- P2-
*3?-.%-gR$?-0-,3?-&.-.L<-IA- lA- ,R$-„<-%3-%3->$?->$?-
„A?-:L%-!J,
Todos os obstáculos se dissipam, todas as vantagens, os benefícios, a bênção,
as realizações, as experiências e a Realização, tudo isso nos acontece como os frutos
durante o verão.

lA-øR$-: sementes, colheita.


,?-=3-IA- ;R/-+/-,3?-&.-.?-$&A$-=-mR$?-/?-5K- :.A<-P2-0-
(J/-0R:C-$R-:1%-2.J-]$-+-,R2-0:A---
Todas as qualidades das terras e dos caminhos estando concluídos em
um momento, nesta vida, obtém-se facilmente o estado de um grande realizado.

,2?-92-3R- 3J.-.-3A- <%-2:A- =3-92-3R- ]-3:A- 3R?-$?-L-2-=$?-


0?,
O meio profundo que a permite, e da qual não convém ficar em falta,
esta profunda via, é a devoção ao lama.
Conclusões.

,.J-„<-,3?-&.-;-V=-.-3-?R%-2<, ,$&A$-1/-$&A$-PR$?-„A-5=-
.-<%-o.-=-.R<-.%-<%-28/-.R/-$*A?-:P2-0-=-,J- 5S3-3A- $R?-0-
=$?-?R,
Não se desfazendo de todos (esses meios)
que se completam e se exercem uns aos
outros, mas aplicando-os a si, é inútil
duvidar, realizar-se-á seu próprio bem e o
dos outros.

o=-2:A-(R?-1%-2o.-OA-28A-!R%-!/,
,?J3?-*A.-$&A$-0-:.=-,2?-#R-/-!J,
,?J3?-3-,=-2:A-2|R3-12-LJ.-=R-!/,
,(R?-2o.-#-$R/-;A/-0?-<A%-.-.R<,
Todo o conjunto dos 84 000 ensinamentos do
Vencedor são unicamente um meio para disciplinar a
mente.
Todos os anos passados na prática ou meditando, sem haver disciplinado a mente,
só fará reforçar os Oito Dharmas mundanos, rejeitemo-los de longe.

,:#R<-2-2.J/-3J.-+-3:A- <%-28A/-=-A-3,?-8J/-($?-:6B/-0-3A-
(J- 2<, ,5K- :.A- ]R?- ,R%- KR$?- 3J.- #R3- 2- ;A?, ,*3?-
=J/- $/.-
2#?-$R%-.-2>.-0-i3?, ,.?-!/-<%-$A-o.-=-;%-;%-.R<,
Sem aumentar nossa apreensão das concepções errôneas e apegos pelo ciclo
irreal, que tem a natureza de uma ilusão, mas engajando-se com determinação e
abandonando (os valores) desta vida, cada vez mais, todo o tempo, (é preciso) aplicar a
si as instruções que foram explicadas precedentemente.
Alguns últimos conselhos.

%-3#?-0-%-29%-~3-0:A-3#?-24/-.%-,
Ser um erudito e pensar "sou muito inteligente", "sou excelente"

,2.J/-:6B/-8J/-($?-(J-2:A-|R3-(J/-0,
Um grande meditador com muito apego e fixado na realidade

,2m/-IA?-$8/-3$R-2{R<-2:A-#R3-2-2,
Ter os votos e por mentiras enganar os outros

,#-29%-%/-?J3?-:(%-2:A-L%-?J3?-0,
Um bodhisattva tendo boas palavras mas uma mente má,

,.!R<-/$-KJ-„<-:$3-0:A-]-$9$?-.%-,
Ter a aparência de um lama e se nutrir de oferendas negras

,$;R-+.-5=-:(R?-&/-IA-?J<-3R-2,
Ser um monge e depreciar a disciplina com hipocrisia

$;R-+.-: habilidade para enganar, decepcionar, enganar os outros.


:(Rn- = 2&$n- : Caminhar sobre, depreciar, romper.
,P2-3,:-KR$?-8J/-&/-IA-$+A-3$-3#/,
Ser estúpido e ter uma escola apegada ao sectarismo,

,2>.-;3-5B$-=-8J/-0:A-!R/-(J/-0,
Um "grande professor" apegado às palavras e aos discursos artificiais

2>.-;3- : Fazer discursos pelo prazer de falar, sem dar referências válidas.
,KR$?-:6A/-($?-#%-&/-IA-.$R/-2.$-?R$?,
Mestre de um monastério etc., sendo um sectário, apegado e colérico.
,(?-=-2„?-0:-#$-0-d3-0-(
R AA R J,
Um grande pretensioso que despreza o Dharma

2fn-0- : Que despreza e diminui os outros d3-0R- : Arrogante, pretencioso

,.$-„<-%%?->A%-/%-3R-<J-<J-28A/, ,:.A-:S:A-=?-3A-29%-2:A-.3-
2&:-9%?,
Tais venenos, é precioso abandonar e a cada manhã tomar o engajamento de não
ser surpreendido em tais ações.

,.-<J-.=-:LR<-29%-0R-,R2-.?-:.A<,
,.$J-#A$-&A-LJ.-<%-$A-=$-=-;R.,
,;A.-28A/-/R<-2-„J.-0:A-%R-3-;A/,
Hoje, obtivemos as liberdades e aquisições
Agora, praticar a virtude ou o vício está em nossas mãos.
Nós verdadeiramente obtivemos a jóia que realiza os
desejos.

,<A?-3J.-2!/-0-,A- 2R<-,R.-28A/-#<, ,<%-o.-(R?-=-.R<-2:A-!R/-


0-.%-, ,LA/-_2?-2o.-0-w/-0:A-]-3-=?, ,(A/-PR=-(R?-„A-2..-
lA-;%-;%-8, ,KR$?-3J.-$.3?-3J-+R$-2&.-28A/-]%-,
Do mestre que tem sobre si, como sua própria cabeça,
Os ensinamentos não sectários,
Que aplica o Dharma à sua própria
pessoa, Do lama que possui a bênção da
linhagem, é preciso solicitar, cada vez
mais,
o elixir do Dharma que libera e faz amadurecer (as qualidades).
Recolha as instruções não sectárias,
como (as abelhas) o néctar das flores.
,*J-=3-aR2-.?-?-o-3A-{R<-2<,
,$.3?-%$-$/.-2#?-$&A$-=-]R-$+.-/?,
,:#R<-2-:.A-.%-$+/-LJ-,2-0-8A$
,&A?-„%-~A%-=-:(R%-8A$-aR2-2:A-5S$?,
Quando adentreis na via curta
não erreis em vastos domínios.
Concentrais-vos unicamente
sobre os pontos essenciais das instruções
Pois isso tem o poder de reduzir à
poeira os fundamentos deste Samsara.
Assim, discípulos, guarde-os em vosso coração.

:(R5- = :&2n-0- guardar, preservar

,]-3:A-$.3?-%$-?J3?-=-3-28$-/,
,!R%-$?3-;A-$J<-VA?-„%-%=-2:A-o,
Se não se guarda na mente as instruções do lama
poder-se-ia preencher de escrituras os 3000 universos,
mas isso só seria causa de aborrecimentos.

,$.3?-%$-<%-$A-o.-=-.<-2?-/,
,:.A?-„%-hR-eJ-:(%-$A-?-<-2*J=,
Caso se aplique a si mesmo as instruções, por isso mesmo
se será conduzido para o estado de Dorje Tchang

2+J=- futuro. de *R$-0- : se orientar, se dirigir para.


CONCLUSÃO
,..-w/-aR2-2-L%-:SJ/-2?R.-.$:-?R$?, ,{=-w/-3%-0R?-;%-;%-2{=-2:A- %R<,
,KR$?-3J.-L-V=-<%-L%-!/-H2-.J?, ,~A%-/?-1/-0:A- ?J3?-„A?-<%-o.-=, ,$%-
.R<-$.3?-!/-3-&?-$?=-2<-VA?,
Soga, o guia experimentado dos discípulos providos de fé e numerosos afortunados tendo exortado,
mais e mais o não-sectário e liberto das ações (mundanas), com uma mente benevolente em seu
coração, Rangdjung Künkyab (Kalu Rinpoche) escreveu claramente, e sem nada ocultar, todas as
instruções que aplicou a si mesmo.

Dedicatória

,.$J-2?-:PR-!/-5K-:.A-]R?-,R%?-+J, ,:R.-$?=-K$-o-(J/-0R:C-.R/-gR$?->R$,,
?j-3;-=), ,>-S) ,,
Por essa virtude, possam todos os seres, abandonar os (valores) desta vida e realizar o
sentido do Mahamudra, a clara-luz

Notas do tradutor

A fim que se possa reconhecer mais facilmente as diferentes partes e instruções, a tradução
dividiu o texto em um determinado número de partes de acordo com as estâncias ou as seções. Alguns
títulos foram acrescentados para delimitar os assuntos
Esta tradução foi feita por lama Trinle no Naro Ling durante o 1º retiro de Karma Ling em
novembro de 1986. Ela foi ligeiramente revista e corrigida por ele em agosto de 2010.
Em 29 de setembro de 1987, Kalu Rinpoche concedeu o lung desse seu texto como sendo o
essencial de todas as instruções orais.
Durante o mês de agosto de 2009, Kyabje Kalu Rinpoche, para seu primeiro ensinamento
público, fez um comentário desse texto como uma introdução ao Mahamudra.
É importante bem compreender tudo o que ele contém.

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