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Compilação sobre japa, mantra e sadhana

Muitas pessoas estão ansiosas por alguma experiência meditativa genuína. Isso é compreensível,
embora nenhuma pressa ou até mesmo aspiração tornará essa experiência possível, a não ser que a
mente enganadora, tempestuosa e cheia de truques seja acalmada. A meditação é um processo
espontâneo que ocorre somente quando a mente atingiu certa harmonia, equilíbrio e
unidirecionamento. Isso se aplica – quer dizer, essa harmonia e calma na mente – tanto por tempos
prolongados quanto por curtos períodos de tempo. Ela precisa ser harmonizada. Sem esse requisito
prévio, a meditação não ocorre. Uma prática meditativa sistemática, segura e simples para adquirir
essa harmonia na mente é a japa. É um método apropriado para qualquer pessoa, sem exceção.

A primeira preocupação para a maioria das pessoas deveria ser confrontar e exaurir os conflitos
internos e desejos suprimidos. A prática de japa é um método excelente que vagarosamente extrai os
aspectos negativos da parte subconsciente da mente, com pouca probabilidade de efeitos desagradáveis.
A prática relaxa a arena pessoal da mente, o que possibilita a experiência natural da meditação. Japa é
uma excelente técnica preparatória para os estágios avançados de kriyā-yoga, pois ela refina a mente, o
que possibilita uma experiência mais profunda e verdadeira. Na verdade, japa integra muitas práticas
do kriyā-yoga. Portanto, se você pratica japa, está alicerçando uma valiosa fundação para técnicas e
estágios mais avançados na meditação.

Como indicado no capítulo anterior, à prática de japa requer uma mālā.

Japa

A palavra sânscrita japa significa rotação, repetição. A prática é assim chamada porque ela envolve a
rotação contínua da mālā e a repetição, também contínua, do mantra. Geralmente, executa-se japa por
um período fixo de tempo e um número determinado de repetições. A entoação do mantra pode ser alta,
baixa ou silenciosa (veja cap. 1 acima). Japa também pode ser definida como entoação mântrica
ritmada com a rotação da mālā e um fluxo contínuo de consciência. Para um benefício máximo,
pratique com regularidade.

Um sistema universal

Japa é provavelmente o sistema de meditação mais universalmente difundido. É uma parte integral
tanto do Yoga quanto do Tantra e do hinduísmo como um todo. Muitas escrituras tradicionais
descrevem os métodos e os méritos da prática de japa, principalmente os textos tântricos que trazem
imagens de yogīs ancestrais executando japa. De acordo com a tradição, Brahmā, Criador do Universo,
deu início à criação de tudo o que existe através da prática contínua de japa com o mantra auṃ. Tal é a
importância da japa na vida espiritual.

A prática de japa não se confina a Índia. Como notamos no capítulo anterior, os budistas da escola
Mahāyana utilizam uma mālā de 108 contas mais três extras que representam o refúgio em Buda, no
Dharma e em Sangha. Os sistemas mais ortodoxos de cristianismo também executam japa. Qualquer
pessoa que visitar um monastério católico romano notará que seus monges ou freiras fazem a rotação
de seus rosários em suas práticas espirituais diárias. Qualquer pessoa que tenha visitado a Grécia ou
outros países Bálcãs onde a Igreja Ortodoxa Grega é predominante notou que todos os homens
carregam consigo um rosário. Seja lá o que eles façam, estão sempre circulando seus rosários, o
máximo que podem, em todas as ocasiões. Eles praticam uma forma de japa todo dia.

Racional

Um genuíno estado de concentração é muito difícil de ser alcançado pela maioria das pessoas, pois os
distúrbios internos e externos são muitos. Durante a prática meditativa podemos ser completamente
subjugados pela torrente contínua do murmúrio mental interior, aborrecimentos, tristezas etc. e, por
outro lado, nos encontramos incapazes de frear e impedir o alarde, inquietação e confusão exterior.
Estas duas circunstâncias impedem a meditação. É claro, a inabilidade em se abstrair do alarde exterior
é o fruto de uma desordem interna. Da mesma forma, se existe paz interior, o praticante pode
automaticamente desligar-se das influências externas.

Outra cilada na prática meditativa é o sono. É muito fácil conquistar um estado profundo de
relaxamento e como isso é raro, o praticante pode começar a entrar em um estado de sonolência e
dormir. O relaxamento deve ser conquistado, como sempre estamos enfatizando, mas a consciência
deve ser cultivada para que o praticante não caia no sono. Nós já discutimos essa questão do sono
anteriormente, mas frisamos esse ponto repetidamente porque o sono é uma armadilha que engana a
maioria das pessoas que empreendem a prática meditativa. Mas outra armadilha, em contra partida, é a
concentração forçada. Muitas pessoas já compreenderam a importância da concentração, mas
infelizmente tentam forçá-la, o que causa tensão, impedindo o verdadeiro estado da concentração
(dhāraṇā). A concentração verdadeira naturalmente ocorre quando a mente está relaxada.

Nós temos um dilema aqui:


1. O praticante não se preocupa em se concentrar. Isso normalmente leva a cilada mencionada acima,
o sono, absorção nas interferências externas ou se esquecer de si mesmo enquanto se encanta pelo
incessante murmúrio dos pensamentos.
2. O praticante força a concentração no esforço de impedir o sono ou a tendência de perder ou
esquecer de si mesmo enquanto se encanta pelo mundo externo ou pelos construtos de pensamento
gerados pela mente. Isso geralmente leva a tensão mental.

Portanto, estas duas abordagens perante a prática da meditação estão incorretas e elas irão levar o
praticante para bem longe dos resultados e benefícios reais da meditação. A resposta para este dilema,
como já enfatizamos anteriormente, não é tentar se concentrar, mas permanecer consciente. Japa é um
sistema maravilhoso para se manter a consciência individual. Além do mais, ela evita que o praticante
se perca tanto nos acontecimentos externos quanto no mundo interno dos pensamentos, além de frustrar
o sono, o torpor e a preguiça. Vamos ver como isso é conquistado.

Durante a prática de japa, o meditante tem de fazer duas coisas: entoar o mantra e circular a mālā. Isso
atua como um ponto de referência para consciência. Após algum tempo de prática adquire-se ritmo, o
movimento da mālā se sincroniza com a entoação do mantra. Ou seja, sua mente e corpo têm de fazer
alguma coisa juntos. Isso evita as ciladas acima mencionadas da seguinte maneira:

1. Sono: se você tende a cair no sono, a repetição do mantra e o movimento da mālā perderão o ritmo
ou irão parar. Isso fará com que retome o estado de vigília. Nessa hora é bom se levantar e lavar o rosto
com água fria. É claro, se cair em sono profundo, à quebra no ritmo não irá ajudá-lo. Você estará morto
para o mundo. Provavelmente deve estar cansado e precise dormir. Não há mal nisso. Mas o ponto a ser
frisado é que a quebra no ritmo do mantra e na rotação da mālā pode ajudá-lo a ficar consciente da
sonolência para que possa ajustar sua situação na prática.
2. Preocupação com o mundo externo: a rotação da mālā e a entoação do mantra rapidamente farão
com que sua consciência se introverta. Isso ocorre com mais facilidade se a entoação do mantra for
feita com sentimento (bhava) e intensidade (tapaḥ).
3. Absorção no processo interno de cognição: não suprima seus pensamentos. Deixe que eles
apareçam na superfície da mente, mas esteja completamente consciente deles. Não se perca nos
pensamentos. Não se identifique com eles. Observe-os como uma testemunha. Japa é um excelente
método que nos capacita a observar os pensamentos sem nos identificarmos com eles. O método segue:
você deve, em um sentido, dividir sua consciência. Quer dizer, você deve estar simultaneamente atento
ao contínuo fluxo de pensamentos, na rotação da mālā e na entoação do mantra. Deixe que os
pensamentos surjam, mas mantenha-se consciente da prática de japa. Se você começar a se perder em
seus pensamentos, interrompa a rotação da mālā, pois a entoação do mantra e a rotação da mālā se
tornarão descoordenados. Seja lá o que aconteça, você perceberá a perda de consciência na japa e
rapidamente poderá equilibrar a divisão da consciência. Você precisa continuar neste processo, o tempo
todo.

Eventualmente, se a prática estiver sendo executada corretamente por um período prolongado de


tempo, o contínuo fluxo de pensamentos diminuirá e rapidamente irá se exaurir espontaneamente, por
si mesmo. O tumulto mental irá se acalmar. A mente é carregada, magnetizada e imantada pela
repetição do mantra, ao invés de se envolver com os construtos de pensamento. Portanto, a mente
rapidamente se acalma e se torna unidirecionada. A consciência se reveste do mantra e isso é
exatamente o que queremos. Neste estado a mente se torna relaxada, não pela supressão, mas pela
exaustão dos pensamentos que se precipitam na superfície da mente e a gradual tendência de se perder
nos devaneios do processo cognitivo. O estado natural de mente relaxada sem o tumulto intenso dos
pensamentos é um prelúdio a meditação profunda.

Contudo, o contínuo borbulhar de pensamentos na superfície da mente é um processo positivo,


especialmente quando eles vêm dos profundos reinos da mente subconsciente. Estes são os seus
problemas internos. É observando-os que você poderá removê-los. Infelizmente, os pensamentos que
seduzem a maioria das pessoas durante a prática meditativa são, muitas vezes, superficiais. Estes
devem ser removidos pela prática de japa para que você possa ver profundamente. Assim, a japa atua
sistematicamente limpando a mente destes pensamentos superficiais que são mera distração.

Quando sua mente se tornar unidirecionada e você estiver profundamente absorvido no mantra,
subitamente poderá se confrontar com visões ou pensamentos que surgem inesperadamente. Estes
representam seus problemas mais profundos que precisam ser removidos. A mera consciência deles irá
fazer isso. Neste estágio, quando você estiver explorando as camadas abaixo da superfície mental, é à
hora de iniciar a purificação destes problemas enraizados nos rincões inacessíveis da mente.

4. Concentração: isso ocorrerá automaticamente na medida em que continuar bombardeando o


contínuo fluxo de pensamentos através da japa. Quer dizer, consciência leva a concentração da mente.
Quando exaurir os pensamentos deruptivos da mente, não terá alternativa senão se concentrar. Em
outras palavras, será quase que forçado a se concentrar.

Japa é um método simples e efetivo de superar todas as armadilhas que mencionamos anteriormente. É
por isso que é amplamente praticado. Ele provê um equilíbrio entre a absorção no mundo externo e seu
oposto, a perda total no mundo dos pensamentos. Auxilia a cultivar a consciência através da
concentração e vice versa. Acalma o murmúrio da mente, não pela supressão, mas permitindo que os
pensamentos surjam enquanto se ancora a consciência no mantra e na rotação da mālā. É útil
principalmente para pessoas que não conseguem se concentrar.
Qual o mantra utilizar

Existem inúmeros mantras. Os mais comuns são: auṃ, krīṃ, hrīṃ, śrīṃ, aiṃ, dūṃ, hūṃ, auṃ namaḥ
śivāya, rāma, kṛṣṇa, durgā, auṃ mani padme hūṃ e muitos outros. O som ou padrão vibratório do
mantra estimulará certos efeitos na natureza mental e psíquica de cada praticante. Cada mantra irá criar
ou evocar um símbolo específico na psique.

Idealmente, o mantra deveria ser recebido diretamente do guru ou uma pessoa de consciência elevada,
como se diz no Kulārṇava-tantra (XV: 19): Somente o mantra recebido pelo guru irá realizar seu
poder.

Se você recebeu o mantra através da iniciação, continue sua prática de japa. Não mude o mantra,
exceto por uma boa razão. O que se segue são as razões pelas quais você deveria mudar seu mantra:

1. Seu guru lhe deu outro mantra;


2. Atingindo um elevado estado de consciência você recebeu outro mantra que carrega sua mente de
tal maneira que não tem dúvida de que aquele é seu mantra. Isso às vezes acontece e neste caso você
deveria mudar o mantra;
3. Você recebeu o mantra em um sonho. Neste caso, você deveria consultar seu guru para a análise do
mantra e se ele é conveniente realmente para você na atual fase de sua vida. É muito fácil se auto-
sugestionar em um sonho e receber um mantra. Definitivamente, este não é um mantra correto.

Se você não recebeu um mantra pessoal de um guru ou se você não o recebeu em um insight, é melhor
que use o auṃ ou qualquer um dos acima citados para finalidades específicas. Não revele seu mantra a
ninguém, mesmo que seja o auṃ.

Anuṣṭhana-sādhanā

A palavra sânscrita anuṣṭhana significa voto de execução ou execução de um ato específico.


Anuṣṭhana-sādhanā ou anuṣṭhana-japa é um método largamente utilizado. Nesta prática, o meditante
se propõe a executar japa por um período fixo de tempo ou um número específico de repetições do
mantra. O propósito é disciplinar o praticante e ao mesmo tempo imantar sua psique para que ele
realize o que deseja com a prática. Muitas pessoas começam um projeto com intensidade e bastante
interesse, mas infelizmente, com o tempo, se cansam e desistem. Elas falham em conquistar seu
objetivo. Isso ocorre com a japa também. O entusiasmo desaparece e o meditante não continua a
execução de sua prática. Portanto, este voto auxilia na superação desta tendência letárgica.

Este sādhanā é muito comum na Índia e é usualmente prescrito para pessoas cuja mente é fraca. A
prática pode ser executada em um dia, uma semana, um mês, um ano ou o tempo necessário para
finalizar (ou realizar) o objetivo da prática. A duração, contudo, deve ser realista. Deve haver
sinceridade neste ponto. Tradicionalmente, anuṣṭhana é associada a algumas regras:

1. Silêncio total ou pelo menos a redução do hábito de se falar em demasia;


2. Corte total do contato com a família, amigos e responsabilidades;
3. Restrições na dieta.

Existem inúmeras outras regras, mas são impossíveis de serem praticadas por pessoas de mente comum
ou ocupadas com os trabalhos do dia-a-dia.

Se você deseja executar anuṣṭhana-sādhanā seriamente, sugerimos que busque os conselhos de um


professor competente em um nível pessoal para que ele possa prescrever as regras mais adequadas a
sua natureza e circunstâncias. De qualquer maneira, o que aconselhamos é que primeiro o praticante
assuma o voto de meditar e praticar Yoga todos os dias, por uma, duas ou três horas e praticar karma-
yoga por todo o dia. Esta não é uma anuṣṭhana árdua, mas irá assegurar que você pratique todos os
dias.

No que concerne a prática de japa, você pode formular uma resolução que irá entoar seu mantra um
certo número de vezes por um período de tempo. Por exemplo, você pode entoar 100,000 vezes o
mantra auṃ no período de 50 dias. Para executar esta anuṣṭhana, o mantra deve ser entoado 2000
vezes todos os dias. Se você entoa um auṃ por segundo, entoará 60 vezes a cada minuto. Portanto, o
tempo requerido para entoar 2000 vezes é a divisão de 2000/60, que dará 35 minutos diários. Isso, é
claro, dependerá sempre do tamanho do mantra. Você pode assumir também o voto de entoar o mantra
1080 vezes em dez dias, o que dará 10 rotações na mālā de 108 contas, uma por dia. Outra
possibilidade é entoar 50,000 vezes, praticando uma hora por dia, pelo tempo requerido para finalizar o
voto. Existem muitas possibilidades e combinações. Você deve escolher o método mais apropriado para
a fase em que se encontra.

Anuṣṭhana-japa é um excelente método para acalmar e purificar a mente. Sempre recomendamos


anuṣṭhana em combinação com japa, embora isso não seja absolutamente essencial. Se você não quer
se submeter a um voto, pode então continuar a praticar japa todos os dias. Isso, é claro, trará muitos
benefícios.

Posição para prática de japa

Qualquer postura meditativa confortável pode ser utilizada para prática de japa. Tradicionalmente, você
deveria ficar de frente para o norte ou leste.

Variações de japa

Existem inúmeras variações de japa. Não pretendemos abordar todas, mas somente aquelas que
acreditamos serem úteis e efetivas. Os métodos precisam de pouca explicação, pois são muito simples,
uma vez que já descrevemos ao longo dos capítulos anteriores muitos detalhes essenciais.

Japa: estágio 1

Método 1: vak-śuddhi
Assuma uma postura confortável.
Mantenha a coluna e a cabeça eretas, mas sem esforço.
Esteja consciente de seu corpo. Sinta como estável e relaxado ele está.
Não se apresse.
Imagine que é livre de preocupações ou que pelo menos elas não irão lhe incomodar enquanto executa
a prática.
Inicie a repetição do mantra e a rotação da mālā. Comece pela conta após o sumeru.
Movimente cada conta sincronizadamente com a entoação do mantra.
Esteja consciente do mantra e da rotação da mālā simultaneamente enquanto observa os pensamentos
na medida em que eles aparecem.
Não rejeite qualquer pensamento; deixe que os pensamentos surjam na superfície da mente, mas esteja
consciente deles.
Tudo o que você precisa fazer é observar o processo da mente enquanto mantém a prática de japa:
consciência total na repetição do mantra, na rotação da mālā e nos pensamentos que surgem na
superfície da mente (pausa).
O mesmo se aplica aos distúrbios externos: esteja consciente deles, mas mantenha o foco no mantra e
na rotação da mālā.
Continue até atingir o sumeru novamente. Não cruze o sumeru. Apenas gire a posição da mālā e
reinicie a rotação, conta por conta (pausa).
Muitas idéias ou distrações irão surgir na superfície da mente; deixe-as, pois esta é a natureza
tempestuosa da mente. Permaneça como uma testemunha deste processo. Após algum tempo, estes
pensamentos irão diminuir e sua concentração irá aumentar. Se continuar neste processo, então visões
profundas poderão aparecer. Esteja consciente delas. Deixe que surjam. Apenas observe (pausa).
Após a finalização da rotação da mālā e da entoação do mantra, observe o cidākāśa por alguns
minutos.

Método 2: japa e pulso

Existem inúmeras maneiras diferentes de se praticar este método. O que aqui selecionamos deve ser
executado mentalmente (manasi-japa) da mesma maneira que anteriormente, exceto que o mantra e a
rotação da mālā deverão estar sincronizados com o pulso ou as batidas do coração.

Os lugares mais fáceis de sentir o pulso são:

1. o centro entre as sobrancelhas


2. o coração
3. a garganta
4. o umbigo

Você pode escolher qualquer outro lugar, mas deve ser onde sinta claramente o pulso ou as batidas do
coração.

Nos recomendamos especialmente a consciência do pulso com manasi-japa após baikharī-japa. Isso
intensifica a sensação do pulso. Para este método, aconselhamos ainda a consciência no centro entre as
sobrancelhas (tṛkuti-japa).

Consciência
Como enfaticamente advertido, a consciência deve repousar na repetição do mantra, na rotação da
mālā e nas atividades da mente. Esteja consciente do pulso se estiver praticando o método 2.

Quando e onde praticar

Você pode praticar japa a qualquer momento e em qualquer lugar. Contudo, a fim de disciplinar a
mente, é melhor praticar regularmente todos os dias, sempre na mesma hora. Os melhores horários são
logo pela manhã, assim que acordar ou à noite, antes de dormir.

Japa também pode ser executada como uma prática preparatória para outras técnicas meditativas. Isso
irá acalmar a mente para que você possa ganhar o máximo de benefício na meditação.

Benefícios

Japa garante os mesmos benefícios de outras técnicas meditativas. Ela acalma a mente turbulenta e
auxilia o praticante a expelir complexos, neuroses, fobias etc. A prática tem o poder de fazer isso sem
desequilibrar a vida. Japa carrega a mente com positivas vibrações sonoras. Isso é uma terapia
maravilhosa para pessoas cuja mente se encontra em um estado de tumulto e desequilíbrio. Japa
provoca o unidirecionamento da mente sem forçar a concentração. Sua prática promove o despertar de
incríveis faculdades latentes inerentes a todos nós. Finalmente, japa pode lhe levar aos estágios mais
profundos de meditação.

Regras gerais e sugestões

A fim de deixar a prática mais clara, vamos sumarizar os pontos básicos que discutimos:

· Use o mantra dado por seu guru. Se não possui um mantra pessoal, utilize um mantra universal
como mencionado no cap. 1 acima.
· Gire a mālā com o dedo médio, segurando cada conta com o polegar e dedo anular. Sempre use a
mão direita, mesmo que seja canhoto.
· Não cruze o sumeru após finalizar a rotação da mālā. Gire ou reverta a mālā e continue da conta que
parou.
· Relaxe a mente e o corpo, mas não durma.
· Não force a concentração. Mas esteja consciente. Na concentração você introverte sua atenção que
antes estava em todas as direções a um único ponto. Utilizando a consciência, você não irá se focar
apenas no ponto de concentração, mas também nos pensamentos que surgem na superfície da mente.
Não lute contra a mente, mas dome-a mantendo-se como uma testemunha de todas as suas atividades.
· Se necessário, alterne sua prática entre baikharī, upanśu e manasi-japa. Se a mente está perturbada,
mantenha-se em baikharī; se a mente estiver calma, mantenha-se em manasi. Se a mente começa a
vaguear enquanto pratica manasi, retorne a baikharī.
· Entoe o mantra de forma clara e rítmica. Se a mente começa a vaguear, aumente a velocidade.
· Não revele seu mantra a ninguém.
· Tente praticar japa com regularidade. Será melhor se combinar sua prática com anuṣṭhana.

· Reflita sobre o significado do mantra sempre que possível.

Na medida em que a mente subconsciente é progressivamente purificada e o praticante avança nas


práticas meditativas, gradativamente ele se confronta com a enormidade de sua psique e uma
quantidade esmagadora de visões, premonições sobre o futuro e muitas outras experiências. Uma vez
que é essencial observar as inúmeras manifestações que ocorrem na psique como uma testemunha, o
praticante não deve se envolver, não deve se encantar ou se deixar oprimir por elas. Observe-as de
todas as maneiras, mas não se distraia na medida em que se aprofunda nas camadas mais inacessíveis
de sua mente. É possível ir mais fundo, muito mais fundo do que a imaginação pode conceber.

Não se apegue ao exterior. Observe, experiencie, permaneça sempre como uma testemunha. Seja
desapegado... seja consciente. Essa é a maneira de não se deixar seduzir ou se distrair na medida em
que mergulha nas profundezas de si mesmo. Pode ser que neste momento você não esteja explorando
os níveis mais profundos de sua psique, mas com força de vontade e continuidade de propósito, logo
estará. Fazemos essa advertência para que você tenha isso em mente quando iniciar suas investigações
nos incríveis reinos da psique que se encontram além do subconsciente. Não se prenda ao cenário
agradável – ele é muito bonito mesmo – na medida em que caminha em direção ao centro de seu Ser.
Sempre se lembre que o objetivo é explorar e experienciar a essência de seu Ser. Portanto, não se perca.

Na lição anterior (apostila IV, p. 19) nós lhe introduzimos a prática de japa. Finalizamos este tópico
com mais algumas técnicas.

Reflexão
A prática de japa pode trazer benefícios maravilhosos se você reflete sobre o significado do mantra.
Isso pode ser feito durante a prática ou através do dia. Mas a necessidade de se conhecer o verdadeiro
significado do mantra precisa vir do coração. A prática não trará resultados se a necessidade não vir do
interior. Cada mantra possui inúmeras camadas de vibração que precisam ser exploradas. Você precisa
se fundir com o mantra e experienciar tudo o que ele evoca. Cada mantra representa algo que não pode
ser explicado em simples palavras. É preciso vivenciar o mantra. É por isso que no início nós não
aconselhamos as pessoas a se apegarem ao significado do mantra. Quando explicamos o significado do
mantra para os iniciantes sua prática pode se tornar superficial, pois o intelecto irá atuar em demasia na
prática. Na verdade, você precisa descobrir o significado do mantra por si mesmo, pois nenhuma
pessoa jamais poderá explicar o significado de um mantra para outra pessoa sem ferir sua grandeza e
profundidade. A explicação jamais transcenderá o abismo que existe entre o significado verbal e a
experiência direta.

O processo de reflexão no significado do mantra intensifica japa-sādhanā. Mas isso é para os


praticantes mais experientes que desenvolveram o poder de penetração e inquirição da mente. Essas
qualidades se apresentam nos praticantes que possuem uma mente calma e unidirecionada. Portanto,
não se sinta obrigado a refletir sobre o significado do mantra durante a prática de japa. Japa lhe
proverá resultados maravilhosos sem essa reflexão, mas ela leva aos frutos mais elevados de japa-
sādhanā.

Devoção

A devoção é outro método poderoso para se intensificar a prática de japa. Ela deve ser praticada pelas
pessoas naturalmente inclinadas a adoração, pessoas que possuem um notável caráter emocional.

Cada mantra é uma śakti, uma conexão direta com o divino. Portanto, quando entoar seu mantra, sinta
que está comungando com a essência divina. Sinta amor em seu coração e ao mesmo tempo esteja
consciente de todas as associações que envolvem o mantra. Deixe que esse sentimento interior de
completude (bhava) preencha todo seu Ser. Eventualmente seu coração entoará o mantra
espontaneamente. Isso intensificará todo processo de japa.

Japa-sahita-dhyāna

A palavra sânscrita sahita significa junto com ou combinado com. A palavra dhyāna significa
meditação. Portanto, essa prática é a combinação de japa com consciência do símbolo interno (antar-
trāṭaka).
Se você entoa o mantra auṃ pode utilizar seu símbolo correspondente como foco para sua atenção. Se
você possui um mantra pessoal e conhece seu símbolo, use-o, caso contrário, escolha qualquer outro
símbolo que possua conexão com seu mantra. Se possui um iṣtā-devatā (deidade particular escolhida
para adoração), pode usar sua imagem (trāṭaka). Mas se não chegou neste nível de desenvolvimento,
procure as instruções de um professor qualificado.

Incidentemente, cada mantra está inseparavelmente associado a um símbolo ou forma definida.


Portanto, se sua mente atinge um profundo estado de relaxamento, unidirecionamento e receptividade,
e se ela estiver completamente preenchida e energizada pela vibração sonora do mantra, o símbolo
psíquico que possui conexão direta com o mantra irá surgir espontaneamente na percepção consciente.
Indo neste caminho, você encontrará a forma exata ou o símbolo de seu mantra.

O método é basicamente o mesmo que descrevemos na lição anterior, mas você deve visualizar o
símbolo escolhido na frente de seus olhos fechados. Se for inclinado a adoração, pode praticar a
devoção, conectando o mantra a deidade particular ou pode refletir sobre o significado do símbolo e do
mantra.

Se a sua mente não está direcionada será muito difícil visualizar uma imagem clara. Portanto, nós
primeiro recomendamos que você acalme a sua mente e remova os construtos de pensamento que a
distraem praticando os métodos 1 e 2 descritos na lição anterior (apostila IV, p. 23-4). Quando a mente
se tornar concentrada, então pratique japa-sahita-dhyāna. Esta é uma prática mais difícil, mas é
também mais poderosa. Sua consciência deve fluir junto com o mantra, o símbolo e a rotação da mālā.
Se você encontra dificuldade em manter uma imagem interior fixa, pratique os métodos apresentados
no módulo anterior.

Likhit-japa

A palavra likhit significa escrever. Portanto essa prática pode ser chamada de japa ou repetição escrita.
Ela envolve a escrita da forma do mantra inúmeras vezes em um diário. Por exemplo, você pode
escrever o símbolo do auṃ: \\\\\\\. Mas pode também escolher o símbolo que achar necessário.

As letras devem ser pequenas e bem claras. Isso aumentará a concentração. Escreva cada símbolo com
o máximo de cuidado, proporção e senso de beleza. Faça com que cada símbolo seja uma obra de arte,
pelo menos para você.
Na medida em que escrever cada mantra, o entoe mentalmente. Isso pode não parecer uma prática
meditativa, todavia ela é. Se você escreve páginas e páginas de símbolos e simultaneamente entoa seus
respectivos mantras, estará induzindo o equilíbrio e o unidirecionamento da mente. Se você associar a
escrita com a devoção e | ou a reflexão no seu significado, a prática será potencializada. Essa é uma
técnica muito difundida na Índia. Durante o mês de śravana, os hindus tradicionalmente colhem
inúmeras folhas de uma árvore chamada bilva. O mantra Auṃ Namaḥ Śivāya é escrito nas folhas com
pó vermelho e elas são oferecidas ao Senhor Śiva. Essa prática é executada durante todo o mês e gera
grande devoção.

Este é o tipo de técnica que pode ser executada aos domingos à tarde, ao invés de se ler um jornal ou
dormir.

Sumirani-japa

Este é um tipo de japa para ser executada durante todo o dia. É geralmente feita com uma mālā de 27
contas, levada pelo praticante a todos os lugares, em todas as ocasiões. No Ocidente isso não é nada
prático, mas este é o método tradicional. Para pessoas que empreendem um sādhanā durante todo o
tempo, essa é uma pratica efetuada continuamente. Quer dizer, seja qual for à circunstância, a mālā é
circulada e o mantra é mentalmente entoado. Com proficiência, essa prática continua até durante o
sono. O objetivo é fazer com que o mantra eventualmente surja dos rincões mais profundos de seu Ser.
Neste ponto, você não precisará entoar o mantra, ele estará sendo entoado o tempo todo
espontaneamente. Todo seu Ser irá ressoar com o mantra. A mālā irá girar por si mesma. Isso
transformará a mente em um veículo incrivelmente unidirecionado e poderoso, o que trará frutos bem-
sucedidos a prática espiritual na medida em que induz o estado meditativo profundo. É um método
poderoso, mas não é nada prático a pessoa de mente comum. É difícil fazer rotações na mālā enquanto
se conversa com o patrão, enquanto dirige um carro etc., mas é uma prática que você pode tentar em
um feriado, quando estiver caminhando ou nas horas vagas. Se você entoa seu mantra regularmente
durante as horas de folga, eventualmente o mantra se manifestará automaticamente quando estiver
executando suas tarefas. Ele continuará sendo entoado no plano de fundo de todas as suas ações. Esta é
uma técnica poderosa que pode levá-lo a experiências elevadas.

Ajapa-japa

Essa é a repetição (japa) que ocorre espontaneamente (ajapa) em harmonia com os ritmos naturais do
complexo corpo-mente. Nós lhe introduziremos ao tema na próxima lição deste módulo.

Nota geral
Japa só se tornará poderosa na medida em que for praticada com regularidade e sem falha.
A partir deste módulo, vamos introduzi-lo na prática de ajapa-japa, uma poderosa técnica meditativa
de pratyāhāra (retração dos sentidos). Essa técnica consiste de inúmeros estágios, dependendo do
método adotado. Nós abordaremos apenas um estágio. Essa prática é uma parte integral do kriyā-yoga,
quer dizer, auxilia no desenvolvimento da consciência respiratória e do mantra para as técnicas mais
avançadas de kriyā-yoga. Portanto, as práticas de kriyā-yoga devem ser precedidas por ajapa-japa.
Uma vez iniciada a prática, deve-se levá-la a cabo sem falhas, i.e. ela deve ser praticada todos os dias
sem falta.

Em poucas palavras, Swami Satyangananda Saraswati explica os mecanismos da prática:

A prática sagrada do ajapa-japa tem sido muito bem guardada através dos séculos e foi ensinada
apenas para aspirantes sérios e merecedores. No entanto a exposição científica e sistemática de ajapa-
japa por Swami Satyananda coloca o mais elevado estado de consciência ao alcance de todos os
aspirantes sinceros.

Ajapa-japa é um sādhanā [prática espiritual] excepcional, pois utiliza o que vem mais naturalmente a
todos e a cada um de nós – a respiração. Não é apenas um exercício, mas um sādhanā completo que,
sistematicamente, conduz os praticantes desde as fases preliminares até ao samādhi, a experiência
espiritual mais elevada. Esta prática é particularmente apropriada para a sociedade de hoje, pois é
considerada completa em si mesma e, através dela, pode-se entrar no reino espiritual da existência.

Ajapa-japa como sabemos, é uma prática de meditação extremamente importante que já foi citada em
muitas escrituras antigas, como a Bhagavadgītā. A prática de ajapa utiliza o que se conhece como o
ajapa-gāyatrī, ou o som natural da respiração. A respiração entra pelas narinas produzindo o som SO e
sai com o som HAṂ. Qualquer mantra pode ser usado durante a prática de ajapa-japa, embora
tradicionalmente, o mantra SOHAṂ seja o mais utilizado, pois corresponde ao som natural da
inspiração e da expiração.

Japa é a repetição constante de um mantra. Japa torna-se ajapa (espontâneo) japa quando o mantra se
repete automaticamente, sem esforço consciente. Diz-se que ajapa-japa vem do coração, enquanto
japa provém da boca.
Uma característica que distingue o ajapa-japa de todas as outras práticas de Yoga é que em todas as
práticas para se atingir samādhi tem-se que controlar e suspender a respiração. No ajapa-japa o truque
não está em controlar a respiração, mas na ligação entre a consciência e a respiração. Durante a
prática é preciso ter consciência completa e constante de cada inspiração e expiração enquanto a mente
deve permanecer fixa no centro de meditação.

Ajapa-japa pode levar o praticante desde os níveis mais elementares da consciência – do corpo e do
ambiente – ao ponto da total transcendência da consciência material. A prática regular torna o
psiquismo fértil e receptivo. Em alguns meses de treino, o praticante pode libertar do inconsciente
todos os desejos ocultos, medos e complexos que são a fonte de nossa infelicidade e sofrimento. Ao
trazer esses saṃskāras e vāsanās ocultos à superfície, podemos aliviar a mente de todas as tensões e
complexos. Isto, por sua vez, remove a causa da maioria das doenças físicas e mentais.

Todos os batimentos da vida como o pulsar da expansão e contração, fluxo e refluxo, prāṇa e apāna.
Toda molécula, todo aspecto da existência, vibra, pulsa. Tudo se encontra em um estado contínuo e
espontâneo de mudança cíclica. Absolutamente tudo se perpetua através da sutil repetição do mantra.

O homem palpita com esta pulsação da vida em muitas maneiras distintas. A mais óbvia são os
batimentos cardíacos e a respiração. Os yogīs de outrora desenvolveram um sistema que utiliza esse
constante pulsar da vida como um mecanismo de acalmar a mente e elevar o nível de consciência e
entendimento. Eles observaram que a respiração flui em um ritmo constante que produz um mantra
contínuo. Esse mantra é conhecido como sohaṃ, sahaṃ ou haṃso, haṃsa. Essa prática, portanto, é
conhecida como ajapa.

Definição

Japa pode ser definida como a repetição contínua do mantra. O sufixo a na frente de japa transforma a
palavra em espontâneo. Quer dizer, japa se transforma em ajapa quando a repetição mântrica ocorre
por si mesma, sem esforço por parte do praticante, espontaneamente. O mantra é plantado tão
profundamente através da prática de japa que todo o ser pulsa com a vibração mântrica. Japa requer
esforço consciente e ajapa não. Japa vem da boca, ajapa do coração. Japa é uma prática preliminar,
ajapa é a perfeição de japa.

Racional
O objetivo é criar condições para que o mantra possa repetir-se espontaneamente de forma contínua
vinte e quatro horas por dia. O mantra deve sobrecarregar sua atenção, tornando-se um pano de fundo
por trás de todos os seus pensamentos e ações. Não importa o que você esteja fazendo, trabalhando,
descansando ou se divertindo, deve haver consciência contínua do mantra. Isso provoca um incrível
direcionamento da mente. Com o tempo, todas as flutuações mentais irão se acalmar.

O mantra também deve estar sincronizado com a respiração. Portanto, a pessoa que atinge proficiência
em ajapa-japa repete o mantra 26.000 vezes todos os dias (i.e. 15 respirações por minuto ou 900 por
hora). Contudo, o número de repetições se reduz drasticamente, pois a prática de ajapa-japa conduz a
um estado de relaxamento físico e mental que a proporção de respiração diminui. Em um nível
avançado, a medida proporcional de respiração pode ser de duas a três vezes por minuto.

Todo o complexo corpo-mente deve vibrar incessantemente com o mantra. Isso não é fácil, pois
primeiro é necessário um grande esforço mental para evitar que a mente vagueie de um lado para o
outro. Esforço é requerido para treinar a mente a repetir o mantra, assim como na prática de japa. Na
medida em que a mente vagueia, o mantra é esquecido. Mas quando o processo se torna espontâneo
como em ajapa-japa, então nenhum esforço é requerido. Você deverá manter a atenção, o foco no
mantra; você terá de ser atraído pelo mantra da mesma maneira que o ferro é atraído pelo imã. Mas
para atingir este estágio, é necessário prática, esforço e tempo. Entretanto, se este estágio for
conquistado, então toda a vida passará por uma transformação. A mente se tornará um refletor perfeito
da consciência adquirida através da experiência.

Poucas pessoas são capazes de repetir o mantra ao longo de todo o dia. Portanto, é suficiente repetir o
mantra, sincronizando-o com os movimentos da respiração, no horário escolhido para prática de ajapa-
japa que descreveremos abaixo. Se executado diligentemente, a técnica trará muitos benefícios,
entretanto, não como ajapa contínua durante o dia e a noite.

Integração com o mantra

Qualquer mantra pode ser integrado com o fluxo da respiração, mas o mantra sohaṃ é mais
genericamente usado, pois ele ocorre naturalmente e corresponde ao som natural da inspiração e
expiração. Observe cuidadosamente sua respiração. Você irá escutar o som so ao inspirar e haṃ quando
expirar. Você terá uma maior consciência deste efeito mântrico na respiração quando associá-lo ao
ujjāyī-prāṇāyāma. Dependendo da duração da respiração, o som so será prolongado: s-o-o-o-o-o-o;
bem como o som haṃ: h-a-a-m-m-m. Pouca ou quase nenhuma imaginação é necessária. É por isso que
o mantra sohaṃ é tão poderoso, ele ocorre naturalmente com o som da respiração.
Algumas vezes o mantra haṃsa é usado no lugar de sohaṃ. Essa é uma maneira diferente de se
executar a prática, mas não é menos eficiente. De fato, se você é capaz de escutar qualquer som interno
emergindo com a respiração, use-o. Não há problema nenhum nisso. Ao contrário, só haverá ganho.
Você pode usar o mantra auṃ, raṃ, hrīṃ ou qualquer outro mantra de sua preferência. Você pode usar
o guru-mantra ou o gāyatrī-mantra. No caso do gāyatrī-mantra, metade dele deve acompanhar a
inspiração e a outra metade deve acompanhar a expiração. O importante é que o mantra venha
naturalmente a você. Uma vez escolhido o mantra, não troque.

Contudo, nós aconselhamos a escolha do mantra sohaṃ, pois ele vem sendo praticado pelos yogīs
através das eras em conexão com ajapa-japa. Este é o mantra que conduz a contínua integração entre a
respiração e a consciência. No Kulārṇavatantra, este mantra (sohaṃ) é chamado de śrī-prasadapara-
mantra, pois ele concede a graça sublime (prasada) e é considerado o mais elevado (para) de todos os
mantras.

Significado do sohaṃ

O significado do mantra sohaṃ não é essencial para prática de ajapa-japa. Mas algumas palavras sobre
ele são necessárias:

· so: Śiva ou Ele


· haṃ: Ahaṃ ou Eu sou

Portanto, sohaṃ quer dizer Eu sou Ele, Eu sou Śiva ou Eu sou Consciência. O significado pode ser
lembrado continuamente através da prática de ajapa como um método de afirmação ou como um
saṅkalpa (resolução). É um método excelente para aquelas pessoas que já passaram por experiências
profundas, pois ajuda a manter o estado de consciência elevada. É um método de identificação intensa.
Mas não é necessário associar o significado ao mantra enquanto se executa a prática, principalmente os
iniciantes. Isso não é necessário na produção de resultados. A lembrança contínua do mantra e a
atenção unidirecionada são o que de verdade importam.

Postura

Ajapa pode ser praticada em qualquer postura, em qualquer lugar ou em qualquer situação. Contudo,
para prática meditativa disciplinada que abaixo iremos descrever, uma postura meditativa deve ser
assumida. Padmāsana, siddhāsana, siddha-yoni-āsana, vajrāsana, swastikāsana, ardha-padmāsana ou
sukhāsana podem ser executadas. Śavāsana também pode ser utilizada, mas nela é mais fácil cair no
sono.

Integração do ujjāyī-prāṇāyāma e khecarī-mudrā

Tanto ujjāyī-prāṇāyāma quanto khecarī-mudrā são técnicas muito poderosas e devem ser integradas
com ajapa-japa para aumento dos efeitos da prática e um ganho máximo de benefícios.

Ajapa-japa: estágio 1

A técnica que se segue é o estágio 1 e deve ser praticada todos os dias até que haja proficiência. Isso é
essencial antes de seguir aos próximos estágios.

Técnica
Sente-se em uma postura confortável.
Feche os olhos e relaxe todo o corpo.
Mantenha a coluna ereta, mas não exagere no esforço.
Diga para si mesmo: durante toda a prática me mantenho no presente, no aqui e no agora.
Portanto, deixe lá fora seus problemas e seus compromissos. Mantenha sua consciência focada na
prática de ajapa-japa.
Inicie ujjāyī-prāṇāyāma e execute khecarī-mudrā.
Torne-se consciente de todo processo respiratório.
Quando inspirar, esteja consciente de que está inspirando.
Quando expirar, tenha consciência de que está expirando.
Consciência total no ar que entra e sai pelas narinas. Sinta o ritmo, o fluxo natural de sua respiração
(pausa).
Visualize que existe uma passagem psíquica que conecta seu abdômen a sua garganta. Na medida em
que inspira, visualize o ar subindo do abdômen a garganta enquanto passa por essa passagem psíquica.
Quando expirar, visualize o ar descendo da garganta ao abdômen pela passagem psíquica.
No início, essa visualização pode ser difícil. Mas não se preocupe, apenas tente. O importante é estar
completamente consciente da respiração.
Deixe que a respiração se torne rítmica, profunda e prolongada, mas sem esforço. Ela deve ser natural.
Quanto mais você relaxar, mais sua respiração se tornará lenta e profunda.
Mantenha a consciência (pausa).
Se a mente vaguear, o que certamente acontecerá, não lute com ela. Ao contrario, mantenha a
consciência simultaneamente no processo respiratório. Não é fácil, mas você deve tentar (pausa).
A partir deste momento sincronize o mantra sohaṃ com o movimento de sua respiração.
Quando inspirar, visualize o ar subindo do abdômen até a garganta pela passagem psíquica enquanto
mentalmente entoa so.
Quando expirar, visualize o ar descendo da garganta até o abdômen pela passagem psíquica enquanto
mentalmente entoa haṃ.
Esteja completamente consciente da subida e descida do ar pela passagem psíquica na medida em que o
mantra sohaṃ é produzido naturalmente. Deve haver consciência incessante do mantra sohaṃ na
medida em que inspira e expira.
Se a sua mente vaguear, deixe-a. Mas lembre-se de que ela está vagueando e tente manter a consciência
no mantra e sua sincronização com a respiração (pausa).
Inspira...
Expira...
Traga a consciência para o exterior na medida em que vagarosamente movimenta os dedos das mãos e
se espreguiça completamente.
Abra os olhos.

Consciência

A essência de ajapa-japa, como todas as técnicas meditativas, é a atenção contínua na prática enquanto
ela está sendo executada. Não é necessário suprimir as flutuações e distrações da mente. Ao invés
disso, simultaneamente mantenha a consciência no processo respiratório e no mantra. Deixe que a
mente vagueie. Tudo o que você tem a fazer é se manter consciente.

Benefícios

Ajapa-japa provê os mesmos benefícios de todas as outras práticas meditativas. Entretanto, os


benefícios que você colherá dependerão de seu esforço, regularidade e prática para manter um grau
relativamente profundo de harmonia na mente.
É uma excelente preparação para o kriyā-yoga, produz paz e harmonia interna, bem como
unidirecionamento da mente, levando o praticante diretamente a meditação.
Ajapa-dhāraṇā

A palavra japa pode ser definida como repetição contínua do mantra. Quando o sufixo a é adicionado
a palavra, implica que o processo de repetição mântrica ocorre espontaneamente. Assim, ajapa é a
contínua repetição espontânea do mantra e dhāraṇā é a concentração unidirecionada. Ajapa-dhāraṇā
é, portanto, a concentração unidirecionada na repetição contínua e espontânea do mantra. Em outras
palavras, japa se transforma em ajapa nos estágios mais profundos de dhāraṇā onde o mantra é
repetido de forma espontânea sem nenhum tipo de esforço. Na medida em que a concentração se torna
mais focada e absorvida na repetição espontânea do mantra, todo o ser pulsa com a vibração mântrica.
A isso nós damos o nome de mantra-spanda. Japa requer um esforço contínuo e consciente na
repetição do mantra, seja na forma verbal ou mental, bem como na contagem das contas na mālā. Mas
ajapa não requer nenhum tipo de esforço. É dito que japa vem da boca enquanto ajapa vem da
respiração e do coração. Japa é a prática preliminar da repetição mântrica e ajapa é a perfeição desta
prática.

O sādhanā védico

O sādhanā (prática espiritual) de ajapa é tão antigo quanto as Upaniṣads. Em algumas Upaniṣads do
Yoga como a Yogaśikṣa, encontramos certas passagens que declaram que a inspiração é acompanhada
pelo som so e a expiração é acompanhada pelo som haṃ. Este é o ajapa-gāyatrī que o jīva (alma
encarnada) repete continuamente durante sua vida corpórea. Valmiki foi iniciado por Narada em Ulta
Nama, essa forma de ajapa. Até os dias de hoje os adeptos do Nirguṇa Panṭh (sampradāya) como
Radhaswami Panṭh, Kabir Panṭh etc., praticam ajapa, da mesma maneira que os antigos sábios fizeram.

Gandhi observou que esta prática deveria vir do coração e não da boca. Um santo mulçumano se referiu
à prática de ajapa da seguinte maneira: Nela eu experencio a quanta dimensão da consciência. A
experiência de haṃ se inicia no nabhi-cakra. Depois de atingir o ápice, ela é revertida.1 Assim, você
produz o som haṃ a partir do nabhi-cakra. Quando ele for completado, então é revertido em so. Dessa
maneira ele se torna haṃso.

Na Bhagavadgītā, existe uma referência clara sobre ajapa-japa. Ela diz: Alguns integram prāṇa em
apāna, outros apāna em prāṇa e ainda existem outros que integram prāṇa em prāṇa. Prāṇa é a
inspiração, apāna é a expiração. So representa o prāṇa e haṃ representa apāna. Assim, alguns
aspirante integram prāṇa em apāna, i.e. eles integram so com haṃ e essa integração torna-se sohaṃ.
Alguns aspirante integram apāna com prāṇa, i.e. haṃ com so e essa integração torna-se haṃso.
Existem outros sādhakas que integram prāṇa com prāṇa, o que será tema de um estudo posterior.

A importância de ajapa-dhāraṇā

Na Gītā existe ainda outra referência a prática de ajapa. Ela diz: Tendo igualado o movimento de prāṇa
e apāna na região nasal, deixe que o fluxo do ar que entra e sai pelas narinas seja igual em
comprimento e duração. Esta técnica de ajapa foi identificada nos śāstras como viloma-ajapa. É uma
prática completa em si mesma e através dela o praticante pode entrar nos reinos espirituais mesmo sem
a orientação de um guru. Na execução bem sucedida de trāṭaka o adepto conquista a visualização
interna do objeto sobre o qual está meditando. Mas depois desta conquista, o caminho está fechado.
Portanto, não é possível conquistar o estágio de samādhi por si mesmo sem o auxílio de outras práticas
yogīs. É necessário um guru para lhe indicar o caminho e a prática espiritual a ser executada nele. Mas
no caso de ajapa, contudo, o guru não é necessário.

Existem certas práticas no Yoga que introvertem a mente e provocam a suspensão automática da
respiração. O problema aqui consiste no fato dos aspirantes se tornarem rapidamente extrovertidos
porque a capacidade de seus pulmões não é adequada. Essa dificuldade é experienciada por muitos
buscadores. Na prática de ajapa-japa, contudo, ela é eliminada por conta da contínua rotação da
respiração. Ainda, ajapa-dhāraṇā é uma série completa de exercícios espirituais pelos quais o
praticante pode obter a experiência do samādhi. Com a finalidade de se conquistar o samādhi, em todas
as outras práticas yogīs, a respiração tem de ser controlada. Quando a respiração é suspensa, kumbhaka
ocorre. Contudo, a respiração permanece contínua durante a prática de ajapa-japa e até mesmo no
samādhi ela não sofre alteração.

As Upaniṣads atestam que o buscador deveria praticar anahad-japa, i.e. a japa que não tem fim. A
japa tem de coestender o infinito. Nós não conhecemos nenhum mantra desta natureza, portanto, esse
método de repetição mântrica não é necessário. Mas de qualquer forma, isso é conquistado através da
prática de ajapa-japa quando o mantra é ajustado ao processo respiratório, o que permite que a
consciência repouse sobre seu fluxo espontâneo sem esforço.

Swara e suṣumṇā

As Upaniṣads contam uma parábola sobre dois pássaros, um branco e outro preto. Eles permaneciam
unidos por um fio que não os deixava se separar de uma base construída em uma árvore. Eles tentavam
voar inúmeras vezes, mas sempre tinham de voltar porque estavam amarrados a base na árvore. Depois
de muitas tentativas, eles repousavam sonolentamente cansados em seu cárcere. Essa parábola ilustra
iḍā e piṅgalā. O fluxo da narina direita corresponde a piṅgalā ou sūrya-nāḍī e o fluxo da narina
esquerda corresponde a iḍā ou candra-nāḍī. O funcionamento alternado de iḍā e piṅgalā mantém o
homem longe de sua consciência interior. Enquanto elas operam alternadamente, samādhi não pode ser
conquistado. É apenas quando os dois pássaros (iḍā e piṅgalā) cansados aproximam-se do centro, i.e. o
coração ou o Ser, que suṣumṇā desperta e o processo de meditação ocorre espontaneamente.

De acordo com swara-yoga, quando ambas as narinas estão fluindo igualmente, isso indica que
suṣumṇā está fluindo. Neste momento, todo trabalho deveria ser interrompido e a meditação deveria se
iniciar. Muitos aspirantes passam por uma experiência comum onde parece que a meditação foi
extraordinária. Isso ocorre porque durante a prática meditativa todo o sistema estava completamente em
harmonia. Quando suṣumṇā não está funcionando apropriadamente não é possível se concentrar,
mesmo com muito esforço. Portanto, é importante que o funcionamento de iḍā e piṅgalā seja
harmonizado pela meditação nelas. Isso torna possível que suṣumṇā se abra e comece a funcionar sem
impedimentos.

A fim de interromper a torrente de pensamentos você precisa observar a respiração. Você precisa ver o
movimento da respiração conscientemente. Durante a prática de ajapa é necessário ter consciência total
e ininterrupta daquilo que você está fazendo. Deixe que a sua consciência seja contínua como um fio de
óleo que não se interrompe. Isso se chama svādhyāya. Aqui svādhyāya não significa estudo das
escrituras. Significa consciência contínua daquilo que se está fazendo.

A consciência respiratória

O primeiro ponto a ser observado em ajapa-japa é a consciência de sua respiração natural. Você respira
15 vezes por minuto, 900 vezes por hora e 21.600 vezes por dia (24 horas), mas nunca se encontra
consciente disso. Você se encontra consciente de inúmeras coisas, menos deste processo tão importante.
A respiração é a base da vida e o alicerce de dhāraṇā (concentração) e dhyāna (meditação).

O segundo ponto a ser observado é a consciência das quatro dimensões da respiração: i. natural; ii.
profunda; iii. relaxada; e iv. suspensa. Você pode observar essas dimensões da respiração quando vai
para cama. Assim que se deita sua respiração se torna natural. Com o sono, a respiração natural se torna
mais profunda. Quando está quase dormindo a respiração se torna bem relaxada e um suave ronco pode
ser ouvido. Às vezes, durante o sono profundo, a respiração pode ser suspensa, fazendo com que você
acorde subitamente.

Estas mesmas quatro dimensões da respiração também ocorrem durante a meditação. Se você se
concentrar em sua respiração natural por meia hora ou mais sem nenhum esforço, notará que ela se
torna cada vez mais profunda. Eventualmente ela se tornará relaxada e um tênue ronco poderá ser
escutado na garganta. Na meditação profunda, a suspensão da respiração também ocorre. Durante a
inspiração ou expiração, a respiração pára por meio ou um minuto.

O movimento da respiração

O terceiro ponto a ser observado em ajapa-japa é a consciência do movimento da respiração na medida


em que ela flui através do corpo. Por exemplo, se torne consciente do movimento natural de sua
respiração do umbigo a garganta enquanto inspira e da garganta ao umbigo enquanto expira. Após
alguns minutos você notará que a dimensão da respiração mudou. Você notará que ela ficou mais
profunda na medida em que inspira e expira.

Então você poderá praticar a circulação da respiração em cada parte do corpo: estômago, peito, topo da
cabeça etc. Você pode combinar o movi mento da respiração com diferentes formas como um triângulo,
um quadrado, um hexagrama ou um círculo. É fácil, imagine dois triângulos entrelaçados na região do
anahāta-cakra, um descendente e outro ascendente, e tente uni-los com o movimento de sua
respiração.

Passagem psíquica

O quarto ponto a ser observado em ajapa-japa é a passagem psíquica. O movimento da respiração pode
ser praticado e percebido de várias maneiras diferentes, mas o mais importante é a consciência da
respiração na passagem psíquica. Existe um número infinito de passagens psíquicas pelo corpo, mas a
mais importante é suṣumṇā-nāḍī na coluna espinhal. As outras três mais importantes são iḍā e piṅgalā
e a passagem frontal.

De acordo com a filosofia yogī, o prāṇa flui através de 72.000 nāḍīs ou canais prânicos. Nāḍī significa
fluxo ou corrente. Fora estas 72.000 nāḍīs através das quais o prāṇa flui, dez são as mais relevantes e
destas, três são as mais importantes. Destas três, uma é a chave e ela é conhecida como suṣumṇā, que
flui através do canal central da espinha dorsal. As outras duas são localizadas a esquerda e direita de
suṣumṇā e são chamadas de iḍā ou a força mental e piṅgalā ou a força vital. Suṣumṇā é responsável
pela consciência espiritual. Iḍā dirige todas as funções mentais e piṅgalā dirige todas as funções vitais.
Estas três nāḍīs controlam, portanto, todas as funções corporais.

Iḍā, piṅgalā e suṣumṇā começam no mūlādhāra-cakra, localizado no períneo, entre o ânus e o órgão
sexual nos homens e no colo do útero nas mulheres. Do mūlādhāra estas três nāḍīs prosseguem até o
cóccix e de lá sobem pela espinha dorsal até o ājñā-cakra, atrás do centro entre as sobrancelhas. Iḍā e
piṅgalā vão somente até aqui, mas suṣumṇā prossegue ao sahasrāra, o cakra mais elevado na coroa da
cabeça, onde a liberação (mokṣa) ocorre. Suṣumṇā é, portanto, o canal através do qual o despertar
espiritual acontece. Por esse motivo ela é a principal passagem psíquica.

Som psíquico

O quinto ponto a ser observado em ajapa-japa é o som psíquico ou mantra a ser integrado com a
respiração. Quando você inspira a respiração espontaneamente produz o som so; quando você expira a
respiração produz o som haṃ. O mais importante é que o mantra e a respiração devem se tornar um.
No início você se torna consciente da respiração entrando e saindo. Depois, contudo, quando você
integrar o mantra com a respiração, os dois se tornam um: sohaṃ. Enquanto respira dentro da
passagem psíquica, você se torna consciente do movimento da respiração combinado com o movimento
poderoso do som: sohaṃ.

Este processo purifica as nāḍīs. Quando o mantra é desperto na respiração todo o corpo é recarregado.
Toxinas psíquicas são eliminadas e bloqueios nas nāḍīs – que são as principais fontes de desequilíbrios
físicos e mentais – são removidos. O som psíquico – o mantra sohaṃ - deve ser desperto na passagem
psíquica e permear cada parte do corpo com sua vibração. Suṣumṇā é o ātma, a mais elevada
consciência. Quando suṣumṇā começa a vibrar, a auto-consciência ocorre. Quando iḍā começa a vibrar,
as forças mentais se tornam ativas. Quando piṅgalā começa a vibrar, o prāṇa ou a força vital se torna
ativa e a energia flui através de todo sistema, se estendendo além do corpo físico.

Despertando a suṣumṇā

Quando a suṣumṇā começa a vibrar com o auxílio da concentração no prāṇa e a respiração e o mantra
sobem e descem pela passagem psíquica, ocorre o despertar nos reinos mais elevados da consciência.
Os sons internos ou psíquicos, conhecidos como nāda, são produzidos. Com a estabilidade das
dimensões interiores, o praticante começa a escutar sons como sinos, conchas, flautas, tambores,
músicas celestiais, o bramir das ondas do mar, relâmpagos e trovões. Não apenas um, mas muitos sons
podem ser ouvidos. Outras experiências internas também podem acontecer em novas e diferentes
dimensões, o que denota que karmas e saṃskāras estão sendo eliminados ou trabalhados.

Quando o despertar de suṣumṇā ocorre com o auxílio do mantra-śakti, a eliminação de karmas começa
acontecer. Isso resulta na produção de sons internos e experiências fantásticas. Você pode escutar
música e ver cores, animais, símbolos etc. Às vezes você pode sentir o horizonte se aproximando como
ondas do mar ou seu corpo se expandindo como um balão inflável. Você pode sentir seu corpo vibrando
com cada ser criado na criação e perceber a totalidade do universo como uma unidade.

Estas e muitas outras experiências maravilhosas, magníficas, relevantes, estranhas e extraordinárias


podem acontecer. Todas elas surgem de sua consciência mais profunda. Elas lhe pertencem. Você as
adquiriu nessa vida ou através da herança hereditária de seus antepassados, gravadas nas moléculas de
seu DNA.

Ajapa-dhāraṇā é a base para o kuṇḍalinī-yoga. Com esta prática a concentração real se inicia. Quando
ajapa-dhāraṇā é aperfeiçoada e completamente realizada, a mente se torna totalmente unidirecionada.
Neste processo, dhyāna ou a meditação espontânea floresce.

Ajapa-dhāraṇā 1
Passagem Frontal: Maṇipūra-Viśuddhi

Na prática de ajapa-dhāraṇā, várias passagens psíquicas têm sido utilizadas a fim de canalizar a
consciência, a respiração e o mantra. A primeira a ser explorada aqui é a passagem psíquica frontal que
se estende do ponto de disparo do maṇipūra-cakra na região do umbigo ao ponto de disparo do
viśuddhi-cakra na garganta. Esta passagem é um poderoso canal psíquico que abarca estes pontos de
disparo ou cakras-kṣetraṃ. Estes são centros sutis que refletem a alta voltagem da energia transmitida
pelos cakras na espinha para uso em diferentes órgãos e partes do corpo.

Esta passagem frontal é a primeira a ser explorada porque é a mais familiar a todos e, portanto, a mais
fácil de ser visualizada. É necessário pouco esforço para visualizar a área entre o umbigo e a garganta
porque estamos conscientes dela a maior parte do tempo. Também é fácil alternar a respiração nessa
área na medida em que se executa a respiração natural. A rotação da respiração na passagem frontal
causa um efeito relaxante no coração e pulmões, remove bloqueios prânicos e edifica o prāṇa nessa
área.

Essa prática compreende vários estágios que desenvolvem a consciência da passagem psíquica.
Primeiro a respiração se movimenta para cima e para baixo em uma linha ereta do umbigo a garganta e
da garganta ao umbigo. Então a passagem psíquica frontal é visualizada como um tubo luminoso e
transparente. Posteriormente, a rotação é alternada dentro da passagem psíquica. Quando isso tiver sido
aperfeiçoado, a rotação do prāṇa é visualizada dentro da passagem frontal. Essa visualização é seguida
pelo mantra sohaṃ e haṃso. Em cada estágio uma crescente energia estabelecida dentro da passagem
frontal é experienciada e a concentração se torna mais profunda e unidirecionada. Essa prática segue o
princípio de que o despertar da energia traz consigo o despertar da consciência, o que torna mais fácil
manter a mente concentrada e focada em um ponto.

Técnica
Estágio 1: Preparação
Sente-se em uma confortável postura meditativa.
Mantenha as costas eretas.
A cabeça, o pescoço e os ombros devem estar levemente para trás, relaxados.
Descanse as mãos sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Torne-se consciente de seu corpo e da postura meditativa.
Consciência total em seu corpo do topo da cabeça aos dedos dos pés.
Sinta que a sua postura se torna estável e imóvel.
Consciência total no corpo e na estabilidade; consciência total no corpo e na imobilidade (pausa).
Estágio 2: Consciência respiratória
Mude sua consciência do corpo para respiração (pausa).
Respire vagarosamente e profundamente.
Na medida em que inspira, conte até cinco. Na medida em que expira, conte até cinco (pausa).
Concentre-se na respiração na região da garganta. Quando inspirar e expirar, sinta a respiração se
movendo através da garganta. Na medida em que se concentra na respiração rítmica na garganta,
gradualmente sentirá a estabilidade da mente e do corpo como um todo (pausa).
Agora, se torne consciente da respiração se movendo do umbigo até a garganta.
Traga sua consciência ao umbigo.
Inspire vagarosamente em uma linha ereta do umbigo até a garganta.
Expire vagarosamente em uma linha ereta da garganta até o umbigo.
Conte até cinco na inspiração. Conte até cinco na expiração (pausa).
Continue respirando para cima e para baixo do umbigo a garganta, da garganta ao umbigo, até que a
respiração se mova neste caminho facilmente sem esforço consciente (pausa).
Observe o movimento respiratório com cuidado sem perder a consciência de uma única inspiração, sem
perder a consciência de uma única expiração (pausa).
Estágio 3: Visualização na passagem frontal
Deixe a consciência da respiração por alguns momentos e visualize a passagem psíquica entre o
umbigo e a garganta, na frente do corpo.
Veja a passagem psíquica como um tubo longo, fino e transparente, conectando o umbigo a garganta.
Este tubo é oco por dentro e aberto nas duas extremidades, como uma flauta. Você pode movimentar a
respiração através dele por cima ou por baixo.
Visualize esse tubo luminoso, transparente e movimente sua consciência para cima e para baixo sobre
sua superfície exterior.
Tente ver toda extensão do tubo com bastante clareza (pausa).
Leve sua consciência para dentro do tubo e movimente-a para cima e para baixo, visualizando o tubo a
partir de dentro (pausa).
Estágio 4: Rotação respiratória dentro da passagem psíquica
Respire profundamente. Respire vagarosamente.
Sinta a respiração se movendo dentro da passagem frontal entre o umbigo e a garganta.
Enquanto inspira, a respiração sobe do umbigo a garganta.
Enquanto expira, a respiração desce da garganta ao umbigo.
Com a subida e descida de cada respiração, visualize claramente o interior da passagem psíquica. Sinta
sua consciência subindo e descendo com a respiração dentro da passagem psíquica. Na medida em que
a respiração se movimenta dentro da passagem, a consciência se movimenta também (pausa).
Desenvolva a sensação de duas forças distintas, a respiração e a consciência se movimentando dentro
da passagem psíquica (pausa).
Estágio 5: A rotação do prāṇa
Esteja consciente da respiração e da consciência se movendo juntas dentro da passagem psíquica.
Sinta o fluxo da respiração e da consciência subindo e descendo dentro da passagem psíquica (pausa).
Gradualmente se torne consciente de uma terceira força, a força prânica, que se move junto com a
respiração e com a consciência. É necessário uma observação sutil para perceber o fluxo do prāṇa se
movendo com a respiração (pausa).
A respiração se move na forma de ar, o prāṇa se move na forma de energia.
Esteja consciente da energia, do prāṇa, se movendo junto com a respiração (pausa).
É o fluxo do prāṇa entre o umbigo e a garganta que cria a passagem psíquica, da mesma maneira que o
fluxo da água forma o rio.
Esteja consciente do prāṇa se movendo com a respiração dentro da passagem psíquica. Visualize o fino
e cintilante fio de energia, o prāṇa, que flui para cima do umbigo a garganta enquanto inspira. Visualize
o prāṇa descendo da garganta ao umbigo enquanto expira. Observe cuidadosamente e experiencie o
movimento do prāṇa dentro da passagem psíquica (pausa).
No início você precisará utilizar sua imaginação, mas com a prática, espontaneamente sentirá a
poderosa corrente de energia fluindo para cima e para baixo dentro da passagem psíquica. Esteja
consciente do prāṇa a cada respiração.
Estágio 6: Rotação do mantra sohaṃ
Agora, concentre-se apenas na respiração.
Escute atentamente o som sutil de cada respiração na medida em que ela sobe e desce na passagem
frontal. O som inerente da respiração é o mantra sohaṃ.
Quando inspirar, escute o mantra so.
Quando expirar, escute o mantra haṃ.
Este mantra não se separa da respiração. Ele não é repetido verbalmente. Ele ocorre junto com a
respiração. Na medida em que você inspira – so; na medida em que você expira – haṃ. Apenas esteja
consciente do mantra e da respiração que sobe e desce (pausa).
Enquanto inspira, cuidadosamente escute o som so-o-o-o. Enquanto expira, escute o som ham-m-m-m.
Concentre-se completamente no processo da respiração junto com o mantra, na medida em que inspira
e expira: sohaṃ. Enquanto a respiração se movimenta, o som mântrico sutil também se movimenta
(pausa).
Esteja consciente do movimento da respiração e da vibração do mantra sohaṃ dentro da passagem
psíquica. Foque toda sua consciência dentro da passagem frontal. Não deve haver nenhum outro
pensamento, visão ou experiência (pausa).
Sinta que todo processo respiratório ocorre apenas dentro da passagem psíquica (pausa).
Na medida em que a respiração se tornar mais sutil, a vibração do mantra também se tornará mais sutil.
Gradualmente você irá perceber este processo como um movimento psíquico dentro da passagem
frontal. A dimensão de sua consciência irá mudar na medida em que a mente se tornar completamente
absorvida no movimento psíquico da respiração e na vibração do mantra. Nada existe fora da passagem
psíquica. Não existe nada além do mantra e da respiração (pausa).
Estágio 7: Rotação do mantra haṃso
Agora nós trocaremos a consciência do mantra sohaṃ para haṃso.
A consciência respiratória na passagem frontal continua a mesma, contudo, o ponto de início da
consciência mântrica muda. Ao invés de iniciarmos o mantra com a inspiração do maṇipūra ao
viśuddhi, vamos iniciar com a expiração do viśuddhi ao maṇipūra.
Traga sua consciência ao viśuddhi, na região da garganta.
Expire da garganta (viśuddhi) ao umbigo (maṇipūra) através da passagem psíquica e escute o som
ham-m-m-m. Inspire do umbigo (maṇipūra) a garganta (viśuddhi) através da passagem psíquica e
escute o som so-o-o-o. O mantra haṃ acompanha a expiração da garganta ao umbigo. O mantra so
acompanha a inspiração do umbigo a garganta. Apenas o ponto de início mudou (pausa).
Você inicia cada ciclo a partir do viśuddhi-cakra com a expiração, acompanhada do mantra haṃ,
seguida pela inspiração a partir do maṇipūra-cakra, acompanhada do mantra so (pausa).
Mantenha a consciência no mantra haṃso. Intensifique a percepção do mantra sincronizando-o com a
respiração dentro da passagem psíquica (pausa).
Com a ênfase na expiração e no mantra haṃ, você sentira um aprofundamento de sua consciência.
Neste momento, não se distraia com flashes momentâneos de luz, cores ou visões. Seja lá o que surja
na mente, observe com uma atitude de desapego e traga a consciência de volta a respiração e ao mantra
dentro da passagem psíquica (pausa).
Estágio 8: Fim da prática
Agora se prepare para o fim da prática.
Recolha sua consciência da passagem frontal e do mantra.
Respire normalmente.
Torne-se consciente de seu corpo físico sentado na postura meditativa.
Sinta o corpo da cabeça aos pés.
Esteja consciente do peso do corpo no chão.
Sinta as mãos repousando sobre os joelhos.
Vagarosamente movimente os dedos das mãos e dos pés.
Respire profundamente e vocalize o mantra oṃ três vezes.

Hari Oṃ Tat Sat


As práticas de dhāraṇā têm a finalidade específica de purificar as nāḍīs e cakras do corpo psíquico
através de técnicas de concentração e visualização. Quando você se concentra, as faculdades da mente
se tornam unidirecionadas. Na medida em que as distrações mentais diminuem, os corpos psíquicos se
harmonizam e se alinham uns com os outros. Quando este alinhamento ocorre você se torna capaz de
cruzar o limiar que separa as experiências externas das internas.

Na medida em que se torna estável na prática de dhāraṇā, você cruza este limiar e neste momento
muitos obstáculos podem surgir e bloquear seu progresso. Estes podem ser: visões, o despertar da
kuṇḍalinī, sensualidade, enfermidade, desilusão e excesso de sensibilidade. Estes são obstáculos
internos. Existem inúmeros obstáculos externos que também podem surgir. Estes podem ser: excesso
de amizade e socialização, prática excessiva e desordenada, irregularidade na prática e estilo de vida
equivocado, dieta desequilibrada.
Visões: Esse é o primeiro obstáculo que o praticante pode encontrar no caminho da meditação. Aqui
você pode ver semideusas belíssimas ou apsarās (espíritos femininos das nuvens e águas) dos mundos
sutis para tentá-lo e afastá-lo da prática. Estas visões também podem aparecer na forma de serpentes,
leões, tigres, demônios e vampiros para assustá-lo. Somente se você for capaz de permanecer calmo e
não afetado nestas situações sua prática prosseguirá sem maiores impedimentos. Existem inúmeras
descrições de diferentes místicos, santos e profetas que experienciaram tais visões no período intenso
de seu sādhanā. Quando Cristo encontrava-se no deserto exilado em seu jejum de quarenta dias, muitas
visões lhe ocorreram. Similarmente, Buda passou pela experiência destas visões enquanto estava
sentado embaixo da árvore bodhi pouco antes de sua iluminação.

O despertar da kuṇḍalinī: Esse é o próximo obstáculo que pode se apresentar. Na verdade, não se
pode experimentar o dhāraṇā genuíno sem um grau relativo de kuṇḍalinī desperta. Dhāraṇā é
usualmente praticada nos diferentes cakras; isso indica algum grau de despertar que não ocorre até que
a kuṇḍalinī se movimente para o alto dento da suṣumṇā-nāḍī. Na medida em que a energia forrática da
kuṇḍalinī começa a penetrar os cakras, dhāraṇā se inicia. Se a experiência da kuṇḍalinī se torna intensa
durante a prática de dhāraṇa, é necessário o auxílio de um guru ou professor experiente e um ambiente
condutivo para dar prosseguimento ao sādhanā.

Sensualidade: Este é outro obstáculo que pode aparecer na prática de dhāraṇā. Quando dhāraṇā
ocorre, poderosos sentimentos sensuais se desenvolvem espontaneamente nos centros inferiores. Isso
pode ser tolerado – e superado – às vezes, mas durante a prática de dhāraṇā ocorre com frequência. Na
medida em que a prática avança e a mente é colocada sob controle, os prāṇas e os cakras são
purificados. Essa purificação leva a produção excessiva de fluído sexual. Portanto, a sensualidade – ou
desejos sexuais fortemente expressados pelos centros inferiores – aumenta. Uma vez que a
sensualidade surja durante a prática de dhāraṇā, você precisará do auxílio de um guru ou professor
experiente para clarear a sua mente e seu caminho.

Enfermidade: Nos estágios iniciais da prática meditativa, impurezas físicas podem criar obstruções.
Normalmente, no estado extrovertido da vida diária, rajas é essencialmente predominante. Através da
prática de dhāraṇā, contudo, o processo de purificação física ocorre rapidamente. Como resultado deste
processo, os elementos doentes do corpo são regenerados para que possam ser eliminados. Isso pode
assumir a forma de uma enfermidade que antes estava latente.

Quando a enfermidade se manifesta no corpo dessa maneira, é o resultado de um processo de


purificação. Portanto, não há a necessidade de pânico diante desse obstáculo. A enfermidade irá se
enfraquecer e desaparecerá através do processo meditativo. Assim, a prática de dhāraṇā não pode ser
abandonada durante este processo. Sob tais circunstâncias, contudo, determinados tipos de
medicamentos devem ser evitados, pois eles podem interferir no processo de purificação. Aqui existe a
necessidade ainda de se evitar uma dieta pesada, rica em calorias, açúcares e gordura. Nestes casos
indicamos uma dieta simples e leve, à base de frutas e leite apenas.

Desilusão: Este é outro obstáculo que pode aparecer no caminho da meditação. Quando ele aparece é
difícil reconhecer o seu grau de desenvolvimento e seu progresso corretamente. Fora o entusiasmo,
existe a tendência de se agravar o grau de apego, o que pode levar a ideia de que dhāraṇā é um
processo que pode ser conquistado com facilidade. Dessa maneira, na medida em que avança em suas
práticas, pelo processo inicial de entusiasmo e apego a seus condicionamentos, nasce a confusão criada
pela desilusão por notar que dhāraṇā não é um processo tão fácil assim. Leva tempo para estabilizar a
mente e desenvolver a concentração, visualização interior e controle sobre a imagem.

Quando a prática não vai bem, você pode ficar preocupado acerca de seu progresso e isso gera dúvidas
se algum benefício real já foi conquistado. Por outro lado, quando algum sucesso é obtido, você pode
sentir-se alegre em demasia, pensando que se encontra no limiar da experiência com samādhi. Esses
tipos de altos e baixos irão ocorrer, às vezes, durante o processo meditativo. Estas ilusões concernentes
à meditação não devem deixá-lo deprimido ou exaltado. É apenas perseverando firmemente através
destes altos e baixos que o verdadeiro progresso irá ocorrer.

Excesso de sensibilidade: Esse é um obstáculo que se desenvolve na medida em que o praticante já


consegue ter algum tipo de controle sobre o processo meditativo. O som de uma agulha caindo no chão
pode parecer um trovão dentro do cérebro. Certos odores, barulhos, visões e sensações que antes
passavam por despercebidas, agora se tornam extremamente irritantes. Este é um estágio que você terá
de passar, mas se for firme em seus propósitos, irá alcançar o sucesso.

Adoção de muitas práticas: Isso pode ser um grande obstáculo na prática meditativa. Existe grande
perigo em desperdiçar uma quantidade valiosa de energia e tempo se dedicando a uma prática e logo
descartá-la em função de outra. Seja lá qual for à prática que escolher, continue perseverante nela até
que obtenha resultados, isso indicará se é o momento de finalizá-la ou continuar o processo. Antes de
completar a prática até o final, não desista dela em função de outra. É melhor que persevere com uma
prática até que seja proficiente nela. Se você praticar um pouco disso e um pouco daquilo, nunca
passará por uma experiência meditativa genuína. Práticas novas e diferentes podem excitar a sua
imaginação, mas isso não o levará até o fim. É como um homem que cava mais de cem poços, mas
nunca encontra água. Ele cava alguns metros e depois de não encontrar água, resolve cavar em outro
lugar, mas sempre com a mesma atitude. Portanto, se atenha a uma prática e se aprofunde nela, então
você alcançará o objetivo.

Socialização excessiva: Este é um dos maiores obstáculos na prática meditativa e na realização de


dhāraṇā. Se você deseja se aprofundar em sua prática, terá de minimizar ao máximo seus
compromissos sociais. A companhia com diferentes tipos de pessoas distrai a mente. Conversa
excessiva distrai e entorpece a mente. Todos os tipos de diversões sensoriais, excitantes e intoxicantes
bloqueiam o caminho da meditação.

Irregularidade na prática e estilo de vida: Este é um dos maiores obstáculos a serem superados. A
fim de se adquirir concentração, a mente e o corpo devem estar equilibrados e estáveis. Irregularidade
cria desequilíbrio e inquietação. É importante criar horários regulares para alimentação, sono, trabalho,
recreação e meditação. Uma vez que tenha criado seu programa, não se desvie dele. Regularidade na
prática e no estilo de vida são os alicerces do progresso espiritual e do desenvolvimento da
concentração.
Dieta inadequada: Este é outro grande obstáculo na prática de dhāraṇā, pois o sistema digestivo é
muito delicado. Quando entramos em estados profundos de consciência o poder digestivo diminui.
Portanto, a fim de progredir na prática de dhāraṇā, você não deve comer em demasia e nem muito
rápido. Uma dieta sattvíca é essencial. Na medida em que seu sistema se purifica através da prática,
qualquer deslize na regularidade do trabalho que está sendo realizado pode levá-lo ao desequilíbrio.
Uma porção a menos ou a mais de alimento pode desequilibrar todo o sistema.

Tensão: Este é um grande obstáculo! Deve ser lembrado sempre que a concentração não é um estado
de tensão. A verdadeira concentração somente pode ser conquistada por uma pessoa de personalidade
relaxada. Uma pessoa tensa não pode concentrar. Somente quando aprender a manter uma postura fácil
e estável e relaxar o corpo, nervos, cérebro e mente então você irá se concentrar. Na verdade,
relaxamento e concentração são estados inter-relacionados. Não é possível relaxar nenhuma parte do
corpo sem direcionar o foco da atenção nele. Similarmente, é impossível focar a atenção se a mente e
o corpo não estão relaxados. Tentar focar uma mente tensa é como tentar esticar uma corda que já está
excessivamente esticada. Ao invés da concentração, o que será produzido é um colapso ou
fragmentação da mente. Portanto, a concentração deve ser desenvolvida através de um processo
meditativo sistemático. Não force a concentração quando estiver se sentindo cansado ou tenso.

A tensão muscular e nervosa não tem nada a ver com a concentração. O sucesso não pode ser
mensurado por nenhum tipo de sensação corporal. Muitas pessoas acreditam que estão concentrando
quando sentem um aperto entre as sobrancelhas, mas essa simples contração nervosa está apenas
produzindo dor de cabeça e outros problemas nervosos. Atenção sem tensão é o que se requer. A
concentração deve ser sempre praticada sem a menor tensão. O controle da mente não ocorre através
de esforço tenso de nenhum tipo, mas por uma prática constante, quieta, calma e do distanciamento de
qualquer agitação ou excitamento.

Estes são pontos que você deve observar e estar consciente se realmente quer levar a prática de
dhāraṇā a sério. É claro, mesmo que você não queira seriamente se aprofundar na prática de
concentração, a superação destes obstáculos lhe trará incalculáveis benefícios. Seus nervos serão
acalmados, sua mente será clareada, seu temperamento será equilibrado, sua saúde será melhorada, seu
tempo de vida será aumentado e seu olhar sobre o mundo será modificado.
A mālā é um cordão de pequenas contas separadas umas das outras por um tipo especial de nó chamado
brahma-granthi ou nó da criação. As contas são delicadamente distribuídas ao longo de um forte
filamento de linha e são em número de 108, mas existem mālās de 54, 27 e 11 contas para sādhanās
(práticas espirituais) específicas.

Cada mālā tem uma conta extra, adjacente ao ilhó final. Ela é chamada de sumeru (junção ou cume de
conta) e serve como um ponto de referência para o praticante saber quando terminou a rotação
completa na mālā. A mālā é parte essencial das principais técnicas de japa-yoga. Ela é um instrumento
para se manter a consciência.

Mālās são comumente feitas de sementes de tulsi, sândalo, rudrākṣa ou pequenos cristais. A mālā feita
de tulsi é a mais comumente usada para japa. Tulsi é uma planta sagrada e largamente venerada que
contém muitas propriedades curativas e auxilia no desenvolvimento de faculdades psíquicas. Ela tem
um forte efeito purificante sobre as emoções e acalma a mente. Os devotos de Viṣṇu utilizam esta mālā
pois tulsi é considerada como uma encarnação de Lakṣmī, esposa de Viṣṇu. Mālās de sândalo são
suavemente perfumadas e possuem vibrações de proteção e também acalmam a mente. Elas contêm
propriedades refrescantes e são ótimas para pessoas que possuem problemas na pele. Rudrākṣa é a
semente da fruta de uma árvore nativa consagrada a Śiva que só nasce em mata fechada. A mālā de
rudrākṣa é considerada a mais poderosa e efetiva para a prática de japa e é utilizada pelos devotos de
Śiva. Rudrākṣa influencia magneticamente a circulação sanguínea, fortalece o coração e é recomendada
as pessoas que sofrem de pressão alta. As mālās de cristal possuem propriedades psíquicas e são
utilizadas por aqueles que adoram Devī.

Mālās não são utilizadas apenas por adeptos tântricos e yogīs. Os praticantes do Budismo Mahāyana
também utilizam mālās de 108 contas em suas meditações. Entretanto, suas mālās contém três contas
extras representando o refúgio em Buda, Dharma (deveres, código de convivência, caminho espiritual)
e Sangha (ordem de monges budistas). Os católicos romanos utilizam um rosário de 54 contas. Na
Grécia e outros países dos Bálcãs onde a Igreja Ortodoxa Grega é predominante, todos os homens
carregam um rosário onde quer que vão e circulam as contas o máximo que podem. Sem seus rosários,
eles se sentem nus. A razão pela qual eles circulam as contas do rosário o tempo todo, em todas as
atividades, é para manter o fluxo da consciência no que estiverem fazendo, mantendo a mente focada
na atividade.

O propósito da mālā
Muitas pessoas têm curiosidade sobre o porquê da mālā ser usada na prática de meditação com japa e
se têm de usar uma e como manuseá-la. Antes vamos falar do propósito da mālā. Por conta de sua
natureza, a mente não permanece estável por um longo período de tempo. Portanto, faz-se necessário
um mediador ou uma base de auxílio pela qual podemos saber se estamos conscientes ou não.
Utilizamos a mālā como um mecanismo pelo qual podemos acordar daqueles momentos onde
perdemos a consciência e nos esquecemos daquilo que estamos fazendo. Também utilizamos a mālā
para verificar o andamento da prática e sua qualidade.

Inicia-se a prática de japa a partir da conta sumeru e segue-se girando a mālā ritmicamente, conta por
conta. A mālā desliza em um fluxo contínuo até ser interrompida novamente pelo sumeru.
A partir de determinado estágio de japa, quando a mente se torna calma e serena, é possível que os
dedos fiquem inertes. Eles ficam momentaneamente paralisados enquanto você permanece
completamente inconsciente do processo. Às vezes a mālā pode cair no chão. Quando essas coisas
ocorrerem, saiba que se distanciou do objetivo de japa, quer dizer, você falhou em manter o fluxo da
consciência. Se não está com a mālā na mão enquanto pratica japa, como saberá o que está
experimentando. É a continuidade de foco na mālā que irá demonstrar seu estado de consciência. Se
estiver focado na mālā e nos dedos a cada conta, então estará consciente. Quando japa for executada
corretamente e a concentração ocorrer, a mālā continuará a se movimentar quase que automaticamente,
mas de forma consciente.

A mālā pode ser algo que seu intelecto não aceita, mas para que haja sucesso na prática de japa, a
mente necessita de uma ferramenta.

O fato da mālā ter 108 contas precisa de uma explicação. Existem inúmeras teorias nas escrituras sobre
este ponto. Vamos ver alguma coisa. 1 representa a consciência suprema; 8 representa os oito aspectos
da natureza, consistindo dos cinco elementos fundamentais (terra, água, fogo, ar e éter), mais
ahaṃkāra (princípio de egoidade), manas (mente) e buddhi (sentido de percepção intuitiva); 0
representa o cosmos, todo o campo da criação. De outra maneira: 0 é Śiva; 8 é Śakti e 1 é sua união
(yoga).

Alguns acadêmicos acreditam que 108 representa o número de crânios na guirlanda que adorna Kālī,
venerada como a Grande Mãe e a Senhora da Realização yogī, mas por muitos é considerada a deusa da
destruição. É dito também que 108 é o número de encarnações do jīva (a alma ou consciência
individual) antes da realização espiritual

Existem explicações similares para os números 27, 54, 57, 1001 etc., todos usados em mālās. Mas estes
números possuem profundos significados psíquicos. São números escolhidos que auxiliam a
experiência de estados de consciência auspiciosos enquanto se pratica japa. Eles foram recebidos pelos
antigos videntes (ṛṣīs) e são apropriados para experiências psíquicas. A explicação destes números
serve apenas aqueles que procuram uma abordagem mais intelectual da prática.

Além das 108 contas da mālā, existe ainda o sumeru, a conta extra que representa o topo da passagem
psíquica conhecida como suṣumnā-nāḍī. Por esta razão o sumeru ou meru é às vezes chamado de
biṅdu. As 108 contas representam os 108 centros, estações ou campos através dos quais sua consciência
viaja até o biṅdu e retorna. Estes centros são cakras menores e eles representam o progressivo despertar
da mente. O biṅdu é o limite desta expansão mental.

Como usar a mālā

Existe um método especial de segurar a mālā. Ela deve ser manuseada com a mão direita, suportada
péla ponta do polegar unida ao dedo anular. O polegar não é utilizado para girar a mālā e os outros
dedos (indicador e mindinho) não devem tocar na mālā. O dedo médio movimenta as contas.

Quando utilizar a mālā, não cruze o biṅdu. Inicie a prática a partir da conta imediatamente posterior ao
biṅdu e quando terminar o rotação total, finalize na conta imediatamente anterior ao biṅdu. Neste
ponto, vire a mālā e continue a prática. Sempre gire a mālā sobre ou na direção da palma da mão.

Tradicionalmente, japa é praticada enquanto se mantém a mão direita na frente do peito. Desta maneira
o mantra pode ser entoado em sincronia com as batidas do coração. Manter a mão na frente do peito
intensifica o sentimento de entrega e concentração no mantra. A mão esquerda deverá estar sobre o
colo em cin, jñāna ou cinmaya-mudrā. A mão esquerda também pode segurar a mālā, evitando que ela
oscile ou se enrole, prejudicando a concentração na passagem das contas pelos dedos. Se preferir, a
mão direita pode ser colocada sobre o joelho direito. Neste caso a mālā descansa no chão.

Pode-se contar o número de rotações na mālā mentalmente ou utilizando a mão esquerda como se
segue: após uma rotação na mālā, coloque a ponta do polegar esquerdo na linha da primeira junta na
base do dedo mindinho. Após a segunda rotação, escorregue a ponta do polegar para a linha da segunda
junta. Após a terceira rotação, escorregue a ponta do polegar para última linha da junta do dedo
mindinho. Seguindo, após a quarta rotação, leve a ponta do polegar esquerdo na linha da primeira junta
na base do dedo anular esquerdo e assim por diante. Desta maneira você contará doze rotações na mālā.

A mālā utilizada para prática de japa não deve ser usada ao redor do pescoço. Quando não estiver
sendo utilizada, deve ser mantida em segredo, guardada em um pequeno saquinho de pano ou envolta
em um pano especialmente consagrado para guardá-la. Isso evita qualquer mudança ou influência
negativa de vibrações sobre a mālā. Nunca empreste sua mālā para outras pessoas. Seja quem for à
pessoa, ele nunca deve tocar ou ver a mālā com que executa suas práticas meditativas. Mālās utilizadas
para decoração não são apropriadas para uma prática séria de japa.

Uma mālā usada diariamente se tornará, com o tempo, impregnada com vibrações positivas. Após
alguns meses, no momento em que tocar a mālā, irá se tranqüilizar e terá quietude e estabilidade na
mente.

Se você pratica japa-mālā muitas vezes por dia, poderá ficar com os braços cansados se estiver com a
mão na frente do peito. Neste caso, você pode usar um suporte (eslinga) para o braço.

O uso da gomukhi

Se você executa longas práticas de japa durante o dia, o uso da gomukhi é recomendado. A palavra
gomukhi significa na forma da boca da vaca. É um pequeno saquinho que se assemelha a boca de uma
vaca. A mālā e a mão direita são colocadas dentro da gomukhi para que estejam longe da visão de
outras pessoas. A gomukhi pode ser utilizada enquanto se caminha ou a qualquer momento, mas é
particularmente útil para aqueles que estão engajados em anusthana-sādhanā (prática de japa por um
período fixo prolongado). Na verdade, para estas pessoas, o uso da gomukhi é essencial.

A mālā muitas vezes pode não ser aceita facilmente pelas pessoas ocidentais em um nível intelectual,
mas sem que estejam conscientes disso, elas têm aceitado a mālā intuitivamente. Já passou pela sua
cabeça de onde vem essa moda de utilizar colares de pérola ou outras pedras e adornos decorativos?
Nas culturas arcaicas, contas (mālās), anéis e amuletos eram utilizados para finalidades espirituais e
desde aqueles tempos, as pessoas têm sido atraídas por esses adornos. Nos dias de hoje, em nome da
moda, homens e mulheres utilizam esses adornos com finalidades puramente estéticas.

O uso dos mantras ou mantra-sādhanā, é um dos mais importantes elementos do esoterismo tântrico e
é utilizado iniciática e terapeuticamente tanto pelo Yoga quanto pela Āyurveda. Esta prática é a mais
potente forma de linguagem e expressão para a manifestação da consciência. Literalmente, mantra
significa instrumento da mente. É um corpo sonoro que produz vibrações ultra-sônicas no organismo.
Todo som é uma forma de energia constituída por determinados comprimentos de onda. Embora a
Āyurveda utilize diferentes fórmulas sonoras com objetivos terapêuticos, o Tantra e o Yoga os utilizam
para levar o praticante a estados superiores de consciência. Portanto, mantra-sādhanā é a prática da
repetição verbal ou mental de sons, que por sua vez produzem ultra-sons. Estes ultra-sons vibram
sutilmente no corpo prânico, ativando os cakras e desobstruindo as nāḍīs. Na Āyurveda, a terapia
através de sons mais comum é a utilização do mantra, que neste processo significa aquilo que salva
(trayati) a mente (manas). O mantra é o instrumento principal e mais direto que a Āyurveda se dispõe
para curar a mente, desde suas camadas mais profundas até suas manifestações mais exteriores.1

Mantra e respiração

O prāṇa, energia vital, é a vibração sonora primordial que está por trás do universo. Há um som por
trás da respiração que é, em si mesmo, um som não-manifesto. Nossas palavras são criadas pelo
processo que envolve a respiração. Combinar o mantra e a respiração é um meio eficaz de mudar a
energia da mente. Nossas perturbações emocionais estão ligadas aos movimentos inadequados da
energia vital. Usar mantra e prāṇāyāma conjugados em uma só técnica resolve este problema.

Mantra e meditação

A maioria das pessoas fracassam na meditação porque não preparam o campo mental como deveriam.
A meditação, no seu sentido verdadeiro – voltar à atenção totalmente para um objeto – requer que
tenhamos a mente serena e a atenção sob controle. Condicionados que estamos, na era moderna, ao
entretenimento, aos prazeres e à racionalização do desejo, isso é algo que de fato não temos. O mantra
é um meio de se preparar o campo mental para meditação. Ele dissipa rajas e tamas da mente para
que a meditação – que requer sattva para ter um prosseguimento satisfatório – possa ocorrer.

O mantra fornece um veículo para que avancemos na meditação. De modo diverso, os tipos distraídos
de pensamento perturbam a mente. O mantra transmite energia à meditação. Tentar criar na mente um
vazio ou um estado de silêncio talvez seja apenas tentar voltar nossa atenção ao subconsciente, onde
suas tendências obscuras posteriormente podem infligir seu sofrimento a nós. O mantra serve de barco
que nos leva pelo oceano do inconsciente. A meditação preparada pelo mantra é mais fácil, mais
segura e mais eficaz do que a meditação direta. Quando o mantra penetra o subconsciente, este
propicia a meditação, conferindo-lhe eficácia muito maior.

A energética do som

Os sons produzem efeitos psicológicos e fisiológicos específicos. Assim como o clima quente ou frio
afeta nosso corpo de determinada forma, os sons e o modo como os repetimos também nos afetam;
entretanto, os efeitos dos fatores externos sobre o nosso corpo são mais fáceis de observar do que os
efeitos do som. Além do mais, assim como algumas pessoas preferem o calor, enquanto outras gostam
do clima frio, assim os efeitos do som, conquanto objetivos, são capazes de interpretações subjetivas
diversas. Quando conhecemos a energética dos sons, podemos usá-la terapeuticamente, como fazemos
com as ervas ou com os alimentos.

Os mantras são como os āsanas para a mente. Conferem a esta plasticidade e adaptabilidade. Eles
exercitam a energia da mente e dão a ela equilíbrio e estabilidade. Assim como o āsana controla o
corpo e o prāṇāyāma controla a respiração, o mantra controla a mente. O mantra conserva a força e a
integridade do campo mental e favorece adequadamente a circulação das energias nele contidas. Isso
reduz nossa vulnerabilidade ao condicionamento exterior que, apesar de tudo, se baseia em grande
parte nos nomes.

A terapia com mantra, segundo a Āyurveda, utiliza fundamentalmente o que se conhece por bīja-
mantra (sílabas seminais) ou bījākṣara (sons originais) que fundamentam os tipos de sons mais
diversos da fala comum. Embora apresentem sons simples e possam ser vocalizados com facilidade,
são reflexos de uma energia primordial que não se esgota. Eles são usualmente monossilábicos ou
dissilábicos e têm por objetivo, na maioria das vezes, a invocação da divindade associada ao mantra.

Terapia do mantra segundo a Āyurveda

Os mantras podem ser usados pelo agente de cura para energizar o processo de cura, ou pelo
paciente/praticante, para aumentar sua própria cura. Os mantras podem funcionar como canais para
infundir a energia vital cósmica em métodos de cura. Eles ajudam a purificar o local de tratamento. Eis
alguns exemplos: O mantra oṃ é eficaz para criar um espaço de cura; hūṃ é apropriado para dissipar
energias negativas que podem estar impregnadas no local de tratamento; raṃ pode ser usado para levar
a Luz Divina e a energia vital cósmica ao local de cura. Esses mantras podem ser entoados
mentalmente pelo agente de cura ou paciente/praticante a fim de purificá-lo em um nível psíquico.
Mantras como krīṃ ou śrīṃ podem ser usados para energizar o poder de cura das ervas ou remédios.

Para problemas mentais ou nervosos, o paciente/praticante deve entoar mantras apropriados como o
śaṃ, que alivia a dor, os tremores e a intranqüilidade mental; hūṃ restaura a função nervosa, impede a
paralisia e melhora a expressão; soṃ ajuda na reconstituição do líqüido cérebro-espinhal e energiza as
camadas mais profundas da mente.

Os mantras devem ser pronunciados com propriedade, o que talvez requeira instruções apropriadas
para cada tipo de pessoa. Devem ser feitos com cuidado, na forma de um ritual sagrado. Para ser
eficaz, um mantra deve ser repetido pelo menos cem vezes ao dia durante um período de no mínimo um
mês. A magia do mantra só vem à luz depois de o termos repetido durante algum tempo. Em geral, um
mantra só se torna repleto de energia depois de suas sílabas terem sido repetidas pelo menos cem mil
vezes.
Os mantras podem ser repetidos não só durante a meditação, mas também a qualquer momento do dia
em que o praticante não esteja ocupado mentalmente. Convém repetir os mantras antes de dormir, para
que o sono e os sonhos sejam bons, e assim que acordar pela manhã, para que a atividade mental seja
perfeita durante o dia. Períodos prolongados para repetição do mantra podem ser realizados como um
jejum mental ou como purificação para consciência. Repetir um mantra por um longo período purifica
a mente e os pensamentos das impressões negativas. Trata-se do melhor tratamento para purificar a
mente, a qual, de outra forma, encontra-se impura e intoxicada por impressões e pensamentos
egocêntricos. A mente que não se purifica pelo mantra dificilmente terá lucidez e paz interior para se
desenvolver através da meditação e ascender espiritualmente.

Bīja-mantra2

Quase todos os mantras usados no Tantra são sons nasalados ou aspirados3 e podem ser utilizados de
três formas: 1. audívelmente, quando o mantra é vocalizado; 2. mentalmente, quando o mantra é
expresso pela linguagem mental sem som audível; e 3. na forma visualizada pela consciência, quando o
mantra é sentido em sua essência e vivido na transcendência da consciência, sem fazer uso de nenhuma
linguagem.

Como um signo acústico, o significado esotérico do mantra é a vibração (vṛttispandana) que representa
a divindade, enquanto seu significante é a vibração sonora, sempre pronunciada em idioma sânscrito, a
língua-mãe da ritualística tântrica (śruti-gocara). Neste caso, a vocalização produz um efeito tanto
material quanto imaterial.

A ciência dos mantras leva em consideração quatro estágios: 1. parā, o signo vocálico transcendente, a
vibração primordial que se quer invocar; 2. paśyanti, a expressão mental por detrás das formas
(significado); 3. madhyamā, a forma acústica (significante); e 4. baikharī (ou vaikharī), a vibração
sonora audível que traz o mantra ao mundo da materialidade. Estas quatro etapas são frutos de uma
ação sentida, usadas conscientemente, de forma audível ou não.

No Tantra, cada deusa tem seu bījā-mantra e este é sempre uma interjeição de poder, para nos despertar
para sua presença e manifestação.4 Portanto, no tantrismo os bījā-mantras são usados para despertar a
nossa consciência para a presença da Divindade em nosso corpo. Em verdade, sendo a divindade
onipresente, Ela sempre está conosco, mas nem sempre nós estamos atentos a Ela. Durante as práticas
tântricas o sādhaka utiliza os mantras para expandir sua consciência, elevando-a até a presença divina.
Por isso, essas vibrações de poder devem sempre ser utilizadas dentro de um contexto sagrado.
O que se segue são alguns bījā-mantras, sua associação com as Deidades, modo de vocalização e
aplicações terapêuticas. Eles devem ser utilizados em conjunto com a meditação, tendo como tema seu
significado.

1. Oṃ (Tārā Devī, a Deusa da proteção espiritual). Pronuncia-se aum. Este é o mantra que representa
o próprio Verbo Divino. Serve para energizar todos os mantras, conferindo-lhes força e poder. Ele pode
ser incluído antes ou depois de qualquer mantra. Purifica a mente, abre as nāḍīs e libera ojas. Trata-se
do som da afirmação que nos permite aceitar quem nós somos e nos abrir às forças positivas do
universo. Oṃ é o som do prāṇa e o som da Luz Interior que conduz nossa energia espinha acima.
Desperta a energia vital positiva (prāṇa) necessária para que a cura da consciência ocorra. Realiza
todos os potenciais da consciência. Segundo as escrituras tântricas, este é o som da criação do universo,
é jóia dentre todos os mantras, a ponte para se atingir os outros mantras, sua natureza é Śabda
Brahman, o Absoluto.
2. Hūṃ (Śiva, o Deus transcendente). Pronuncia-se hoom. Este mantra dissipa influências negativas
que nos atacam, sejam elas agentes patogênicos, emoções negativas, e até mesmo ataques de magia
negra. Este mantra desperta o agni, como o fogo digestivo ou da mente. Dissipa as toxinas físicas e
psicológicas, assim como purifica as nāḍīs. Aumenta tejas e a capacidade de percepção da mente
(buddhi), facultando o controle sobre nossa natureza volitiva. Este é o som da ira divina.
3. Aiṃ (Saraswatī Devī, a Deusa da sabedoria). Pronuncia-se aym. É um mantra indicado para
melhorar a concentração, o pensamento correto, os poderes da razão e da fala. Desperta e aumenta a
inteligência (buddhi), particularmente em sua função ligada à criação e à expressão (coordenação de
buddhi-manas). É indicado nos problemas mentais nervosos, para restaurar as faculdades da fala, da
concentração e para fazer com que o processo de aprendizagem tenha prosseguimento. Ajuda no
controle dos sentidos e da mente.
4. Śrīṃ (Lakṣmī Devī, a Deusa da prosperidade e da abundância). Pronuncia-se shreem. Este é um
mantra importante para promover saúde, beleza, criatividade e prosperidade em geral. Śrīṃ fortalece o
plasma e os fluídos da reprodução, abastecendo os nervos, aumentando a saúde e a harmonia como um
todo. Torna a mente aguda e sensível, ajudando-nos no que concerne à verdade.
5. Hrīṃ (Bhuvaneśvarī Devī, a Mãe do Mundo). Pronuncia-se hreem. Este é o principal mantra da
Mãe Divina (Ādi-Śakti) sob qualquer um de seus múltiplos aspectos. No texto Śākta denominado
Devīgītā (IV: 41-43) a Grande Mãe prescreve que a meditação em seu nome místico hrīṃ realiza a
identidade entre Ela e o devoto. De acordo com a tradição Śākta, este é o mais importante de todos os
mantras. É conhecido como devī pranāva, o equivalente ao mantra oṃ, mas dedicado a todas as
deusas. Portanto, é um mantra genérico para a consorte de Śiva, Maheśvarī, a Deusa Suprema. É um
mantra de purificação e transformação. Transmite energia, alegria e êxtase. Ajuda em qualquer
processo de desintoxicação.
6. Krīṃ (Kālī Devī, a Deusa da transformação yogī). Pronuncia-se kreem. Este mantra reflete o poder
da ação, da atividade (kriyā) yogī. Possibilita capacidade de trabalho e confere força e eficácia nas
realizações. Melhora a capacidade de fazermos mudanças na vida. É apropriado para se entoar durante
o preparo dos alimentos e das ervas, pois permite que elas tenham maior ação.
7. Klīṃ (Kāmeśvarī Devī, a Deusa da Beleza). Pronuncia-se kleem. Proporciona força, vitalidade
sexual e controla a natureza emocional. Aumenta kapha e ojas. Proporciona equilíbrio, estimula o
talento artístico e a imaginação.

O uso da mālā

A repetição do mantra, chamada japa, pode ser feita de três maneiras: em voz alta, na forma de um
murmúrio quase inaudível, ou mentalmente. A mais potente é a última. Todas elas possuem uma
estreita relação com a respiração, o prāṇāyāma e o mātra (ritmo).

Para auxiliar-nos a manter o ritmo durante a prática, e também para contar o número de repetições
feitas, utilizamos o mālā, um colar de 108 contas feito de sementes de sândalo (utilizado pelos
vaiṣṇavas), sementes de rudrākṣa (utilizado pelos śaivas e śāktas) ou outro material. Tomando-o a
mão, deslize as contas uma a uma pelos dedos, cantando a partir da primeira, junto àquela que está
separada do fio principal (essa não se canta), chamada meru. A cada conta corresponde a repetição de
um mantra. O ritmo pode ajustar-se a respiração, a pulsação sanguínea, ou mentalmente. Mas a
cadência deve ser sempre a mesma. Ao finalizar as 108 contas, vire a mālā e retome o processo. A mālā
deve ser segurada sempre com a mão direita, entre os dedos polegar e médio. Pratique mais de uma vez
por dia. Para prática, números ímpares são melhores, segundo a tradição.

Notas

1. Os mantras são a parte mais importante da terapia espiritual e mental da Āyurveda. Esta usa a
terapia do mantra para acabar com as perturbações psicológicas e psíquicas. Essas perturbações são um
desequilíbrio da energia no campo mental. Um mantra de energia positiva é utilizado para neutralizar
este desequilíbrio. Terapeuticamente, os mantras ajudam a equilibrar os humores biológicos (vāta, pitta
e kapha) e suas contrapartes sutis (prāṇa, tejas e ojas). Ajudam a harmonizar a consciência, a
inteligência e a mente.
2. Nesta oficina de meditação, nós não iremos lidar com o que passou a denominar-se japa-mantra
(não confundir com japa-mālā), que é uma forma de declaração de preces ou recitação de hinos de
louvor. Embora os hinos, as preces e as ladainhas também sejam denominados mantras, seu uso no
tantrismo é restrito às oferendas e veneração das divindades. Quase sempre esses mantras
polissilábicos seguem uma métrica própria – como é o caso da gāyatrī-mantra –, com seqüências de
oito sílabas, sempre recitadas para preparação do ambiente psíquico e psicológico.
3. O som aspirado é uma forma de vocalização especial e importante no tantrismo, pois representa a
vibração sutil da śakti. Sua grafia é representada por dois pontos no final da escrita em devanāgarī e
pela letra ḥ na transliteração clássica. Esse som é o símbolo da expressão da śakti e é denominado
visarga, como no mantra haṃsaḥ.
4. Os mantras dissilábicos são empregados com freqüência, de forma isolada ou em combinação com
outros mantras. Por exemplo, o mantra svāhā, associado ao poder feminino do Deus Agni pode ser
utilizado como fechamento de mantras associados à devī, como o oṃ mahākālī svāhāḥ.

Mantra é a quinta prática de Yoga descrita nas Upaniṣads do Yoga. Muitas vezes, a palavra mantra é
traduzida como vibração sonora, mas o significado literal da palavra mantra é a força que liberta a
mente de sua escravidão. Em sânscrito, a palavra mantra é derivada de algumas raízes: mananāt
(escravidão da mente), trayate (liberado, libertado) e mantraḥ (força da vibração). O que é essa força
que liberta a mente de sua escravidão? De acordo com o Yoga, a mente grosseira ou a natureza mental
possui dois atributos que a mantém escravizada. A primeira é mala que significa impureza e a segunda
é vikṣepa que significa dispersão. Portanto, a mente grosseira é composta por impurezas e é
predominantemente dispersa.

O que são essas impurezas? Elas são a causa de nossa atração às qualidades tamásicas e rajásicas da
vida, o que limita as faculdades da mente, fazendo com que ela atue, experiencie e se comporte de
maneira programada. Uma natureza tamásica ou rajásica é expressa por uma mente obscurecida e
apegada. Portanto, a atração por essas qualidades na vida é chamada mala. Vikṣepa é o sentimento de
dispersão atuando na vida. Nós sempre queremos algo mais, algo diferente, algum tipo de diversão.
Isso é uma distração da mente, vikṣepa. A mente só salta de um lado para o outro como um macaco
bêbado porque ela quer se divertir. Se não existe o desejo pela diversão, a mente se torna absolutamente
quieta, estável, tranquila e pacifica. Se olharmos todos os aspectos da vida sob este prisma, notaremos a
importância de se cultivar um estilo de vida mais natural e saudável, um estilo de vida yogī. Este desejo
por diversão é vikṣepa. O propósito do mantra é libertar a mente do padrão de diversão e dissipação
que ela constantemente busca, da atração às qualidades rajásicas e tamásicas da vida que satisfazem
as ambições e desejos que fortalecem a identidade egóica.

Mantra é vibração. O mantra supremo é conhecido como anāhada-nāda, o som não estruturado ou a
vibração interior do átomo. É a vibração do som sem som. Aqui reside a ciência da física yogī. Onde
quer que haja movimento também há o pulsar da vibração que cria, em contra partida, um som ainda
mais sutil. Os átomos estão constantemente em movimento, criando uma série de vibrações. Mas como
nos tornamos conscientes destas vibrações sutis? Através do processo de sensibilização da consciência
e do aprofundamento no corpo psíquico.

A mente é somente um aspecto do mantra-yoga. O corpo psíquico e a vibração sonora são os outros
dois aspectos.
Aspecto mental

Vamos primeiro considerar a mente que, na terminologia yogī, é uma força sutil, não uma força física.
Com o propósito de ilustrar o funcionamento da mente como uma força não-física, o Yoga provê o
exemplo da ameba, uma criatura unicelular. A ameba não possui cérebro ou nervos, mas mesmo assim
responde a estímulos. Se um grão de arroz é colocado em sua frente, ela irá consumi-lo. Mas se uma
gota de ácido é colocada em sua frente, ela irá circundar a gota e continuará seu caminho. O que
permite que a ameba aceite o arroz e recuse o ácido?

O Yoga vê essa faculdade como uma força que dirige todo tipo de energia vital e expressão manifesta.
Ela é chamada de mahat, a mente cósmica. Mahat é dividida em quatro princípios: manas, buddhi,
citta e ahaṃkāra. Mahat é vista como uma energia que permeia toda estrutura humana, mas que se
manifesta e se expressa dinamicamente em manas (a mente inferior e seu aspecto racional), buddhi (a
mente superior e seu aspecto discriminativo, analítico e compreensivo), citta (a consciência que registra
e armazena) e ahaṃkāra (o ego ou princípio de egoidade da identidade individual). Estes quatro
princípios interagem com o mundo dos sentidos: nome, forma, ideia, tempo, espaço e objeto. Em
síntese, essa é a visão yogī da mente.

Aspecto psíquico

O corpo psíquico é a manifestação densa do corpo sutil e causal ou do subconsciente e inconsciente. A


área subconsciente é conhecida com o corpo sutil e o inconsciente é o corpo causal. A zona limite entre
o subconsciente e o inconsciente é o corpo psíquico. O que o corpo psíquico significa? Os quatro
estados da consciência: grosseiro, sutil, causal e transcendental que, por sua vez, são conhecidos como
dois tipos de experiência no Yoga. O grosseiro e o sutil representam as experiências externas da mente.
O causal e o transcendental representam as experiências internas da mente ou consciência. O corpo
psíquico é a zona onde ambas as experiências externas e internas ocorrem.

O corpo psíquico se torna o elo entre as experiências externas (físicas e mentais) e os profundos níveis
internos de vibração de toda a personalidade. Toda a teoria do kuṇḍalinī-yoga, que abrange os cakras,
as nāḍīs e o despertar e ascensão da kuṇḍalinī, é experienciada no corpo psíquico. Portanto, os cakras
são conhecidos como centros psíquicos. Mūlādhāra, swādhisṭhāna, maṇipūra e anāhata são os quatro
centros psíquicos relacionados ao reino das experiências externas, tanto grosseiras quanto sutis.
Viśuddhi, ājñā, bindu e sahasrāra se relacionam com as dimensões internas da psique.
Mūlādhāra representa a auto-identidade e a segurança; swādhisṭhāna representa os saṃskāras
profundos; maṇipūra nos impulsiona a um dinamismo externo, muitas vezes exacerbado e o anāhata
emoções e sentimentos, grosseiros ou sutis. Indo além deles, ao aspecto transcendental, refinado, a
expansividade e a abertura sincera está viśuddhi. A faculdade intuitiva, trazendo sempre algo do
desconhecido e traduzindo em termos conhecidos, está o ājñā. No bindu existe a consciência da fonte,
o ponto onde as experiências macro e o microcosmicas se fundem em uma só. Finalmente, no
sahasrāra, ocorre a iluminação. Estes quatro últimos centros psíquicos estão relacionados às
experiências internas.

Todas estas experiências ocorrem no campo psíquico, que é constituído por diferentes formas
vibratórias. Estas formas vibratórias produziram o som que pode ser compreendido pela mente inferior
(manas, buddhi, citta e ahṃkāra). Estes sons são cinquenta em número e cada som ou forma vibratória
é representado simbolicamente nas pétalas dos cakras como as letras do alfabeto sânscrito. Cada cakra
é ativado pela repetição destas vibrações sonoras. Contudo, deve haver intensidade de concentração e
consciência na repetição, do contrário serão palavras vagas, sem valor real. Seja entoando uma sílaba
mântrica ou recitando uma página inteira de mantras, o efeito da prática será nulo sem concentração,
consciência e intensidade mental.

A faculdade desenvolvida aqui é a concentração, a consciência, a intensidade e visualização do corpo


psíquico em sua contraparte física. Os cakras não existem no corpo físico, mas é nele que eles são
visualizados. Eles têm sido alocados em diferentes partes do corpo: mūlādhāra na região do períneo,
swādhisṭhāna na região sacral, o maṇipūra na região lombar, anāhata na região torácica, viśuddhi na
região da garganta, ājñā no centro do cérebro, bindu no topo atrás da cabeça e o sahasrāra na coroa da
cabeça. Estas são áreas no corpo físico que correspondem à localização dos cakras no corpo psíquico.
A experiência da kuṇḍalinī e dos cakras ocorre no corpo psíquico que é uma passagem secundária para
experiências mais profundas e níveis mais sutis de consciência. Portanto, kuṇḍalinī-yoga é considerado
um dos métodos de Yoga mais rápidos através do qual o sādhaka (praticante) pode queimar muitas
etapas. Contudo, isso requer uma atitude diferente e um entendimento mais refinado da personalidade
humana, e não é qualquer pessoa que pode fazê-lo.

Aspecto sonoro da vibração

O terceiro aspecto do mantra é a vibração sonora que foi dividida em cinquenta sons. Diferentes
combinações destes sons produziram diferentes formas de mantras. Por exemplo, o mantra oṃ namaḥ
śivāya (eu saúdo a Śiva) é uma forma intelectual de se compreender ou uma tradução literal do mantra.
Muitas pessoas mal interpretam o mantra, achando que ele é somente relativo à determinada deidade.
Neste momento o cambapé mental se inicia: Estou sendo convertido? Eu terei que acreditar em
alguma coisa que não conheço ou não entendo? Como posso acreditar nesse Śiva nu adornado com
serpentes? Esse tipo de interpretação intelectual não é esperado ao se praticar mantra.
A repetição dos sons contidos no mantra oṃ namaḥ śivāya estimula e desperta as faculdades de
diferentes cakras associados aos sons do mantra. Quando utilizamos a palavra som aqui, nos referimos
à vibração sonora das letras do alfabeto sânscrito que, quando conjugadas, formam os mantras. Ṇaṃ é
uma letra associada a um cakra, assim como ḍhaṃ, yaṃ ou ṣaṃ são outras letras associadas a outros
cakras. Sahasrāra, o cakra mais elevado, contém mil pétalas, cada uma representando diferentes
combinações dos cinquenta sons (ou letras) no plano cósmico. Assim, uma consoante pode ser entoada
de doze maneiras diferentes: ka, kā, ki, kī, ke, kai, ku, kū, kou, kuṃ ou kaḥ. Portanto, as mil pétalas
representam diferentes combinações destas cinquenta letras ou sons e o sahasrāra contém toda essa
informação. Este é o DNA do corpo psíquico que armazena todas as informações que somente podem
ser acessadas após dissecar e isolar a molécula do DNA.

Estes são os três aspectos do mantra-yoga: mente, corpo psíquico e vibração sonora. Agora,
discutiremos os seguintes pontos:

· Como são os diferentes tipos de mantra?


· Como o mantra altera e afeta a personalidade mental?
· Como o mantra desperta a personalidade psíquica?

Tipos de mantra

Vamos lidar agora com alguns tipos diferentes de mantras. Geralmente, mantras são sílabas ou palavras
específicas que têm sido usadas por yogīs, sadhus, pesquisadores e pensadores para criar uma
mudança em seu padrão energético. Tradicionalmente, dois tipos de mantras são reconhecidos: o
mantra universal e o mantra individual.

Os mantras universais são largamente conhecidos e têm sido adotados por diferentes tradições para o
uso em práticas meditativas e contemplativas. Exemplos de mantras universais são:

· Mahā-mṛtyujaya-mantra:

oṃ trayambākaṃ yajāmahe
sugandhiṃ puṣṭivardhanam
urvārūkamivābandhanān
mṛtyor mukṣiya māmṛtāt

· Gāyatrī-mantra:

oṃ bhūr bhuvaḥ svaḥ


tat savitur vareṇyaṃ
bhargo devasya dhīmahi
dhiyo yo naḥ prachodayāt

Estes mantras são compostos como um fio que conecta diferentes sons. Em cada um há a ênfase em um
determinado tipo de som. No mahā-mṛtyujaya-mantra o som predominante é am, enquanto que no
gāyatrī o som predominante é ha. É desta maneira que estas combinações foram realizadas pelos sábios
yogīs com a finalidade de criar uma alteração energética e vibratória na consciência ativa e periférica.

Exemplos de mantras universais de comprimento razoável são:

· Oṃ Namaḥ Śivāya
· Oṃ Namo Bhāgavate Vāsudevaya
· Oṃ Namo Nārāyāna

Mantras comuns mais curtos são o oṃ e o sohaṃ. Todos estes estão na categoria de mantras universais
e podem ser recitados por qualquer pessoa, principalmente aquelas que procuram por uma compreensão
mais profunda da personalidade mental, sutil e psíquica.

O segundo conjunto de mantras são os pessoais ou individuais. São mantras utilizados para propósitos
específicos em ocasiões necessárias. Eles podem ser monossílabos (conhecidos como bīja-mantras) ou
combinações de vários sons. O Yoga reconhece ambos os tipos de mantras. Diferentes tradições
espirituais têm criado seus próprios mantras que despertam centros psíquicos particulares ou proveem
o entendimento de determinadas faculdades mentais. Por exemplo, mantras tântricos como hrīṃ e klīṃ
são combinações de diferentes consoantes e vogais unidas para criar uma mudança vibratória
dinâmica dentro do padrão energético da personalidade. Mantras védicos como ahaṃ brahmasmi ou
tattvamasi alteram o estado normal da consciência e retraem os sentidos internalizando as faculdades
mentais.
Qualquer pessoa pode assumir uma prática com um mantra universal e mantê-la sem a guia de um
professor mais experiente ou guru. Contudo, os mantras individuais são dados aos aspirantes por um
professor de acordo com a personalidade e o tipo de mudança ou estímulo necessário para despertar os
diferentes compartimentos da personalidade.

Como o mantra altera o padrão mental

Primeiro, seja lá qual a tradição que utilize e ensine mantra, o fator mais importante é perceber como
ele altera os padrões da mente. O Yoga vê a estrutura mental como uma consciência
predominantemente ativa cuja energia está adormecida; da mesma forma, o Yoga vê o padrão psíquico
da personalidade como uma energia ativa cuja consciência se encontra adormecida. Embora a
quantidade de energia e consciência possa ser igual, em um aspecto a consciência é mais ativa e em
outro, a energia é mais ativa. Portanto, no padrão mental, a consciência é mais ativa. As faculdades de
buddhi, manas, citta e ahaṃkāra são diferentes expressões de nossa consciência ativa. Prāṇa, cakras e
kuṇḍalinī são diferentes manifestações da energia ativa. Essa é a principal diferença entre o corpo
mental e psíquico.

Seja qual mantra for, quando começamos a repeti-lo com fixação mental, ocorre à concentração
unidirecionada. Esse é o primeiro passo. Outras horas, quando não conseguimos nos concentrar, a
mente pula de um ponto ao outro em busca de estímulo e diversão. Dessa maneira, as faculdades
mentais e energia são dissipadas. A repetição do mantra interrompe a dissipação destes quatro
compartimentos mentais. Uma vez que a dissipação cessa, a estabilidade ocorre nestas áreas. Elas se
aquietam, suas atividades são interrompidas. A dissipação é como a janela aberta por onde passa o
sopro do vento que levanta as cortinas e espalha os papéis da sala. Nossa personalidade é assim o
tempo todo. Tudo fica bagunçado na sala de buddhi, manas citta e ahaṃkāra. Quando as janelas estão
fechadas, a calma e a estabilidade ocorrem espontaneamente. O mesmo ocorre com mantra, i.e. a
estabilidade mental é a primeira indicação da concentração mântrica.

Segundo, a prática de mantra-yoga equilibra ou nivela os processos mentais na medida em que as


faculdades e energias que existem dentro de cada compartimento são equilibradamente distribuídas. O
que isso significa? Novamente, vamos utilizar o exemplo do vento soprando pela janela aberta. Se você
estiver na direção do vento poderá sentir sua força. Se não estiver em sua direção, pode não sentir o
efeito intenso de sua força, mas ele continuará ali. A única diferença é que você não está sendo afetado
diretamente pelo vento, pois não está em sua direção. Contudo, quando a janela se fecha, você pode
andar por toda sala e sentir a calma e a estabilidade em todo ambiente. Não importa a direção que tome,
sentirá por toda a parte a calma e estabilidade atmosférica. Não há nenhum vento soprando em
qualquer parte da sala. É isso que queremos dizer com distribuir as energias e faculdades dentro de
cada compartimento da mente. Neste estágio da prática do mantra-yoga, ocorre o equilíbrio e
nivelamento das atividades mentais em cada compartimento, dessa maneira a mente se torna mais
homogenia.

O terceiro passo no processo da repetição mântrica é a eliminação de tensões mentais. Quando somos
confrontados a experiências particulares, ideias ou até mesmo no veículo de consciência, existe tanto
tensão quanto relaxamento, como o efeito de ondas perpendiculares. Isso é o que normalmente ocorre
quando experimentamos um fluxo contínuo de ideias, impressões ou situações em qualquer um dos
quatro compartimentos mentais. Às vezes um desejo, uma emoção ou ambição ganha,
momentaneamente, intensidade, isso cria tensão e desequilíbrio. Quando tais distrações ou
desequilíbrios ocorrem, a tensão toma forma em um aspecto da consciência. Isso pode ser feito por um
pensamento apenas. Pessoas caem em depressão pela má assimilação de seus próprios pensamentos e
emoções. As pessoas têm ataques de ansiedade só porque algo está mudando. Por conta da tensão,
cresce o sentimento de eu não consigo competir com isso. Portanto, a eliminação da tensão ou a
atividade máxima da consciência ocorre no terceiro estágio do mantra-yoga. As ondas perpendiculares
e seus efeitos se transformam em suaves ondas horizontais.

Neste processo, se há fraqueza em certos aspectos da consciência, resultando na inabilidade de


enfrentar as situações da vida e a perda de auto-estima e auto-confiança, até mesmo aquelas fraquezas
mais íntimas da personalidade se tornarão equilibradas pela prática de mantra. As atividades da
consciência diminuem, se tornando mais lineares. Isso aumenta a auto-confiança, aperfeiçoa as
atividades no dia-a-dia e podemos sentir a força e a energia crescerem desde o interior. Se existe
problemas com o sono, com a prática de mantra uma pessoa pode voltar a dormir normalmente na
medida em que as ondas da consciência deixam de subir e descer, tornando-se mais estáveis e lineares.
Da mesma maneira, há um aumento de memória, concentração, expressão e interação. O
aperfeiçoamento das faculdades da consciência que normalmente são expressas através da
personalidade é o terceiro aspecto do mantra.

O quarto aspecto do mantra é sensibilizar a mente de tal maneira que seu alcance se torne como um
radar capaz de detectar as vibrações mais sutis das pessoas, lugares e situações do dia-a-dia. Essa
sensibilidade mental é criada através de uma harmonia interna e na medida em que esta harmonia e
equilíbrio interno aumentam, as ondas e vibrações do ambiente exterior que não estão na mesma
sintonia rapidamente se tornam mais harmônicas e equilibradas. Em outras palavras, as vibrações
externas se harmonizam com as vibrações internas emanadas pelo praticante. Se alguém está zangado
perto de você, rapidamente poderá perceber essa torrente de energia. Se você estiver na mesma
sintonia, talvez não perceba, pois seus escudos psíquicos estão levantados. Se alguém estiver
desanimado ou indisposto mentalmente, você perceberá porque estendeu seus poderes receptivos para o
exterior. A sensibilização da consciência é o quarto aspecto do mantra-yoga. Com essa sensibilização
da mente, internalizamos as faculdades da consciência para acessarmos o corpo psíquico, onde a
energia é desperta com a ajuda do mantra.
É assim que mantra-yoga altera e reequilibra a personalidade mental. Agora, vamos tratar dos efeitos
da prática em um nível psíquico.

Como mantra desperta a personalidade psíquica

Após as faculdades da consciência terem sido equilibradas e harmonizadas, a intensidade e


sensibilidade da concentração que foi desenvolvida através das práticas iniciais, enquanto perpassa o
corpo mental, se torna o meio de entrada no corpo psíquico. No corpo psíquico, a primeira consciência
é do prāṇa e o uso do mantra intensifica essa consciência. Estamos sempre expressando nosso prāṇa
de uma maneira ou de outra, dinâmica ou passivamente, externa ou internamente, mas nem sempre
temos consciência desta expressão prânica.

Essa expressão prânica inconsciente pode causar desequilíbrios que são filtrados ao nível do corpo
mental e se tornam a causa dos bloqueios prânicos. Estes bloqueios são experimentados na forma de
falta de energia física, fadiga mental, letargia ou má vontade para fazer qualquer coisa, até mesmo
pensar. Essa má vontade não é um processo consciente, é parte da atividade prânica filtrada para baixo
no nível do corpo mental, o que resulta no sintoma da letargia etc. Portanto, bloqueios prânicos são o
primeiro aspecto de desequilíbrios psíquicos que a prática de mantra ajuda a corrigir.

A experiência inicial de mantra-yoga traz paz e relaxamento. Este relaxamento não é letárgico, mas
dinâmico. Neste estado, a estrutura prânica é reequilibrada. Após o reequilíbrio desta estrutura prânica,
impressões visuais e mentais do corpo psíquico na forma de cakras, yantras e símbolos são criados a
partir da concentração focada. Nós não despertamos nossos cakras, eles despertam a si mesmos devido
à combinação de impressões visuais, a influência vibratória do mantra e a intensidade de
concentração na imagem mental ou visual.

Tome como exemplo o ājñā-cakra. A meditação começa com um mantra e quando a consciência se
sensibiliza, o ājñā é visualizado. No momento em que começamos a visualizar o yantra do ājñā-cakra,
o direcionamento total da percepção e as faculdades da consciência são dirigidas imediatamente para
aquele ponto no corpo psíquico. A impressão visual é um apoio, da mesma maneira que utilizamos
binóculos para trazer objetos que estão longe para perto de nossa visão. Da mesma maneira, a
impressão visual é utilizada como um auxílio para nos deixar conscientes da experiência psíquica. Mas
apenas ver não ajudará. É harmonizando a visão com as vibrações do mantra que podemos sentir o
estímulo dentro do cakra. Queimação na área do cakra, sensações particulares e a experiência do
vórtice energético podem ser sentidas com maior facilidade. A cabeça flutua por outras dimensões.
Portanto, mantra e intensidade de concentração operam juntos no corpo psíquico.
Com o relaxamento do prāṇa ocorre o estímulo ou o despertar das nāḍīs, dos cakras ou de alguma
faculdade psíquica relacionada a um cakra. As faculdades de cada cakra começarão a se manifestar
com maior facilidade se seus respectivos bīja-mantras forem utilizados. Por exemplo, se você utiliza o
bīja-mantra yaṃ enquanto se concentra no anāhata-cakra, definitivamente começará a sentir algo na
região deste cakra. Se você utiliza o bīja-mantra oṃ com concentração no ājñā-cakra, sentirá algo
despertando naquela região. Contudo, se você utilizar o bīja-mantra laṃ do mūlādhāra-cakra tentando
trabalhar o cakra viśuddhi, nada acontecerá. Você pode tentar, mas não haverá estímulo. Até mesmo a
concentração – neste caso – não ocorrerá porque o mantra não se relaciona ao cakra. É como
direcionar a visão para uma direção tentando ver o que tem na outra direção.

No corpo psíquico, as vibrações sonoras têm um papel importante. Elas dependem de como são
repetidas, cantadas ou entoadas. Por exemplo, existe uma técnica meditativa onde se emprega a
entoação do oṃ de diferentes maneiras. Na primeira entoação o oṃ é curto e acentuado, na segunda, ele
é curto e suave, na terceira vez ele é de duração média e murmurante, na quarta entoação ele é longo e
alto. A cada entoação um resultado ou experiência é produzido. Este é um aspecto muito importante do
mantra.

A tradição do Yoga atesta que é possível despertar os cakras e a kuṇḍalinī somente através do mantra,
sem ser submetido ao treinamento básico de haṭha ou pātañjala-yoga. A tradição atesta também que é
possível atingir o samādhi seguindo o caminho direto do mantra apenas. Contudo, leva-se tempo para
atingir o estado de intensidade requerida e são poucos os que a possuem para assumirem uma prática
efetiva. Assim, com a finalidade de se construir essa intensidade e concentração, o praticante necessita
passar por diferentes estágios de preparação. É por essa razão que não podemos nos envolver com
mantras logo no início da jornada. Aqueles que tentaram sem passar pelos processos necessários de
preparação falharam na prática do mantra-yoga.

Os mantras estimulam as energias que normalmente temos dificuldades para canalizar. Às vezes o
mūlādhāra-cakra se torna tão ativo que é quase impossível controlar o sentimento de insegurança. Sob
essas circunstâncias, uma pessoa pode ser lançada em uma profunda depressão. Os impulsos sexuais
tornam-se difíceis de controlar. Não existe nenhum controle sobre a expressão dessa energia a não ser
que exista um guru muito poderoso sentado ao lado. Portanto, não abuse das práticas e nem espere
respostas imediatas com os mantras.

De acordo com a tradição, o mantra universal mais importante para despertar e entrar nos reinos do
corpo psíquico é o ajapa-mantra sohaṃ alinhado conscientemente com a respiração. Três das maiores
upaniṣads discutem a técnica ajapa-japa como o passo final antes da iluminação. As experiências com
o corpo psíquico variam de uma pessoa para outra, de acordo com seu nível de evolução psíquica e
mental e de acordo com os cakras que estão mais ativos na personalidade. Este é o conceito de mantra
alterando a estrutura psíquica.

Como mantra é praticado

O processo de utilização do mantra chama-se japa-yoga ou a prática de repetição mântrica. Portanto,


japa-yoga faz parte da ciência do mantra-yoga. Quatro estágios diferentes de repetição mântrica foram
classificados: 1. baikharī, 2. upanśu ou madhyāma, 3. manasi ou paśyanti e 4. pāra.

1. Baikharī ou repetição verbal é o estágio inicial de japa-yoga. Quando o mantra é pronunciado


verbalmente, deve haver clareza de fala e entonação, concentração e consciência. A pronúncia correta é
muito importante. Se há intensidade, concentração e clareza na prática, o mantra irá operar
efetivamente e irá alterar a estrutura da mente (atitude e comportamento mental). Isso se aplica ao
kīrtan também. Às vezes nós fazemos modificações nos kīrtans que estejam em concordância com a
maneira que estamos mais acostumados a cantar. Portanto, preste atenção no que se segue.

Baikharī pode ser realizado de cinco maneiras diferentes, como se segue:

· Repetição verbal e contínua em voz alta;


· Repetição verbal conjugada com a respiração;
· Repetição verbal conjugada com a mālā;
· Repetição verbal conjugada com atividade física;
· A prática de kīrtan, cantando e entoando mantras em diferentes tons ou rāgas.

No primeiro método existe a repetição verbal contínua em um tom estável desprovido de oscilações.
Quando o mesmo mantra é cantado em coro, com diferentes tipos de entonação, ele se torna um kīrtan.
O segundo método é a repetição verbal conjugada com a respiração. Nós não podemos repetir o mantra
enquanto inspiramos, mas somente quando expiramos. Assim, a inspiração é normal e o mantra é
entoado em voz alta enquanto se expira. O terceiro método é a repetição verbal conjugada com a mālā.
Essa prática é similar ao primeiro método, à repetição verbal contínua, mas a consciência é fixada no
movimento de cada conta, o que mantém a mente alerta e a atenção no mantra. O quarto método é a
repetição mental conjugada com atividade física, que pode ser uma caminhada, o sentar-se
pacificamente, trabalhar no jardim ou na cozinha, viajar etc.
2. Upanśu ou madhyāma é o próximo estágio de japa-yoga. Upanśu significa som murmurante. Em
baikhirī-japa a repetição do mantra pode ser executada em grupo ou solitariamente. Nestas duas
situações o mantra é entoado em voz alta. Contudo, se existem pessoas presentes na hora da execução
do mantra que não entendem o que você está fazendo ou que não têm a mesma disposição mental,
então a entoação deve ser murmurante. O murmúrio auxilia a manter a consciência no mantra quando a
mente se introverte, mas ainda existindo alguma atividade nela.

Upanśu-japa pode ser realizado de quatro maneiras diferentes, como se segue:

· Repetição murmurante contínua;


· Repetição murmurante conjugada com a respiração;
· Repetição murmurante conjugada com a mālā;
· Repetição murmurante conjugada com atividade física.

Neste estágio, não há canto em grupo ou kīrtan.

3. Manasi ou paśyanti é o estágio da japa (repetição) mental. Manasi significa mental e paśyanti
significa ver através dos olhos da mente. Manasi-japa pode ser realizado de cinco maneiras diferentes,
como se segue:

· Repetição mental contínua;


· Repetição mental conjugada com a respiração;
· Repetição mental conjugada com a mālā;
· Repetição mental conjugada com a concentração em um símbolo;
· Repetição mental conjugada com escrita psíquica no cidākāśa;
· Repetição mental conjugada com atividade física.

Estes são os cinco métodos de manasi-japa. A repetição mental conjugada com a concentração em um
símbolo, yantra, imagem de deidade ou do guru é algo claro para todos. A repetição mental conjugada
com escrita psíquica no cidākāśa é raramente utilizada. Aqui não ocorre a visualização de símbolos ou
yantras, mas a forma escrita do mantra, seja em caracteres latinos ou sânscrito, não importa. Neste
processo você pode escrever, por exemplo, oṃ namaḥ śivāya no cidākāśa enquanto repete o mantra
mentalmente na medida em que a visão se movimenta pelas letras que formam o mantra. A mente
segue a repetição se concentrando nas letras escritas no cidākāśa.
4. Pāra ou repetição transcendental é o último estágio de japa-yoga. Pratica-se pāra apenas de uma
maneira: ajapa-japa (repetição contínua e espontânea ou sem esforço). Ela frequentemente ocorre
quando interrompemos a repetição do mantra conscientemente. Em outras palavras, a repetição
continua de forma involuntária na mente, permanecendo nela, vibrando todo o tempo. Isso ocorre
quando o mantra energiza a mente pela sua repetição constante. Este estado não é atingido apenas por
mantras, bījas etc., mas com kīrtan ou outra composição musical. A vibração continua na mente, sem
nenhum tipo de esforço consciente ou controle mental por parte do praticante. A repetição torna-se
como uma obsessão mental. Este é o aspecto do mantra conhecido como pāra-japa e nós o
experienciamos de acordo com a sensibilidade e o envolvimento de nossa mente com o mantra. Estes
são os quatro estágios de japa-yoga.

Regras para mantra-sādhanā

Japa-yoga auxilia com que a repetição mântrica se torne um processo meditativo. Portanto, um āsana
apropriado deve ser selecionado e um tempo e hora devem ser fixados, seja na manhã, tarde ou à noite.
Tente manter sempre o mesmo tempo e hora de início para sua prática de mantra. Se a hora que você
fixou foi 6:00h em ponto, então deve se esforçar para manter essa disciplina todos os dias. Se algum dia
você não conseguir, tudo bem, mas mantenha o esforço e a regularidade da prática.

Se não conseguir concluir toda a prática no tempo proposto ou se perder a regularidade, não se
preocupe, você poderá compensar o tempo perdido em outro momento. A idéia por trás de se
estabelecer um tempo fixo e regular é que nas vinte e quatro horas de atividade inconsciente, seja
dormindo ou caminhando, deve existir uma hora fixa em que a mente possa ser sintonizada com o Ser
Interior. Esse tempo fixo é seu tempo pessoal e não deve haver nenhum tipo de distração ou
perturbação durante ele. Nas vinte e quatro horas de atividade, deve haver dez minutos, talvez quinze,
meia ou uma hora todos os dias devotada ao seu processo de refinamento da consciência. Se um tempo
é fixado, inicia-se o processo de educação mental.

Se está acostumado a comer às 19:00h todos os dias, quando essa hora vai chegando, você sempre
começa a ter apetite. Se costuma deitar para dormir às 22:00h, quando essa hora chega, você começa a
relaxar, sentir-se sonolento e rapidamente se dirige a cama. Quando a necessidade ou o desejo de comer
ou de dormir se manifesta, você não precisa nem pensar nele. Deve ocorrer da mesma maneira com
mantra-sādhanā. O objetivo é criar uma necessidade ou um desejo pela prática que ocorra
espontaneamente na hora fixada, sem esforço consciente por sua parte.

Uma postura apropriada deve ser selecionada e sustentada durante a prática de maneira que não haja
movimentos que distraiam a concentração. Não inicie japa logo que se sentar. Permita que o corpo e a
mente se tornem estáveis e quietos. Uma vez que esteja confortável e o corpo e a mente estejam
estabelecidos em um estado de tranqüilidade e estabilidade, então inicie sua prática de manasi-japa. Se
você estiver utilizando um símbolo, se concentre e visualize-o primeiro. Quando ver o símbolo, comece
o mantra. Não tente trazer o símbolo através do mantra. Se você está praticando com mālā, inicie a
prática de mantra com ela.

É importante também fixar um número de voltas na mālā por dia, até que apareça um chamado interior
para que aumente o número de voltas. Contudo, você não deve iniciar a prática com dez voltas na mālā
e depois vir reduzindo este número gradualmente. Comece com uma volta na mālā e na medida em que
seu envolvimento com a prática crescer, aumente mais uma volta. Com o tempo, três voltas... dez
voltas.

Inicialmente, nós não temos controle sobre o estado de alerta da mente. Nós podemos nos tornar
estáveis, mas não conseguimos manter o mesmo grau de vigília durante a prática. Na intensificação da
concentração, se existe qualquer sonolência ou preguiça, mude a prática de manasi para upanśu-japa, a
repetição murmurante do mantra. Como o murmúrio é uma atividade física, a mente se torna
novamente consciente do processo físico e retoma o estado de alerta. Se, depois de algum tempo,
devido ao processo de acomodação ou habituação da mente, ocorrer a internalização descontrolada da
consciência através do sono, mude para baikhirī-japa: entoe o mantra em voz alta.

Dispersão é diferente de sonolência. Quando a mente se torna dispersa, você sabe que ela está fora de
seu controle. Você não está inconsciente, portanto, deve ser capaz de retornar o estado mental e
continuar sua prática. Neste momento você não precisa mudar de upanśu para baikhirī. Isso é feito
somente quando você cai em um estado de inconsciência, onde perde completamente a consciência do
mantra devido à profunda internalização sobre a qual não possui controle. Você pode controlar a
dispersão mental em alguns minutos, mas não pode controlar as forças do inconsciente nestes mesmos
minutos. Pelo contrário, ele se tornará mais intenso. Assim, no processo meditativo do mantra, nós
começamos com manasi-japa e, dependendo do estado mental, vamos para upanśu ou baikhirī-japa.

A purificação mental é outro aspecto importante de japa-yoga. Inicialmente, a prática de mantra


desencadeia um processo de afloramento do lixo mental. É o processo de limpeza ou purificação
proporcionado pelo mantra antes do equilíbrio e estabilidade mental adquiridos pela prática. Os
aspectos superficiais dos pensamentos, emoções ou desejos, que não são necessários na mente, mas que
precisam ser expressados porque ganharam intensidade, ou saṃskāras vindos das profundezas da
consciência na forma de desejos ou emoções, serão varridos pelo mantra. Na medida em que são
eliminados, vê-se ver nuvens de desejos ou medos manifestados. Pode ser um desejo ardente por
comida ou uma vontade intensa de dormir. Assim, o mantra vai de um lado ao outro da mente,
purificando-a antes de equilibrá-la.
Este processo de purificação e reequilíbrio da mente não ocorre mais rapidamente aumentando o
número de voltas na mālā ou intensificando mais as práticas. Seu curso normal de sādhanā deve ser
seguido enquanto você pratica mantra por uma hora, três horas ou cinco minutos. Não é a repetição
que importa, mas a consciência no ritmo e no processo da vibração. Não será fácil permanecer
firmemente focado no mantra por toda prática. Existe um ressalto de dispersão natural na mente. Ela
ficará para lá e para cá, seguirá seu curso natural.

Som psíquico, respiração psíquica e símbolo psíquico

Existem três importantes aspectos da meditação mântrica:

1. Consciência contínua e ininterrupta do som psíquico ou mantra;


2. A ligação do som psíquico com a respiração psíquica;
3. A combinação do som psíquico com a respiração psíquica e a visualização do símbolo psíquico.

A consciência do som psíquico ou mantra é algo claro para nós. Contudo, nós temos de compreender o
que significa conectar o som psíquico com a respiração psíquica. Consciência da respiração psíquica
começa com a consciência da respiração física. Nós inspiramos e expiramos através das narinas, mas
nós podemos experimentar a respiração em outras partes do corpo e por caminhos diferentes. Por
exemplo, na prática de ajapa-japa (que abordaremos em breve), a respiração é vista dentro co canal
psíquico que vai do umbigo até a garganta. Depois, ela é vista dentro deste mesmo canal psíquico, só
que desta vez ele vai do umbigo ao ājñā-cakra. Em estágios mais avançados da prática, a respiração é
vista no canal psíquico da espinha dorsal. Assim, o movimento da respiração que está sendo
experienciada, imaginada ou visualizada em diferentes partes do corpo é a respiração psíquica.

O terceiro aspecto, a combinação do som psíquico com a respiração psíquica e a visualização do


símbolo psíquico é um processo mais avançado. No início é quase impossível para qualquer um ver o
símbolo psíquico. Portanto, é preciso imaginar o símbolo. Gradualmente, na medida em que a
concentração se intensifica, o símbolo começa a tomar forma, muitas vezes como uma imagem
sombria, depois o seu contorno, em seguida o símbolo em uma só cor e finalmente o símbolo
completamente colorido. Quando essa imagem colorida do símbolo for vista espontaneamente, ocorre a
visualização pura. Inicialmente ela começa com a imaginação e a repetição do mantra.

Estes três aspectos são absolutamente necessários. Se o mantra é repetido sem ser ajustado a respiração
e sem consciência do símbolo, freqüentemente, devido a concentração e internalização intensa, o
controle sobre o corpo é completamente perdido. Por exemplo, muitas vezes a mālā cai de sua mão sem
que esteja dormindo, mas a consciência saiu do corpo e foi para outra dimensão. Quando sua mālā cai
você se torna consciente de que seus dedos pararam de se movimentar e que ela está no chão. O chão é
o último lugar em que sua mālā deveria estar. Isso ocorreu porque você perdeu controle ou consciência
voluntária do corpo.

Mesmo nessa ausência de consciência existe um estado onde as faculdades da mente se esgotam por
conta de sua dispersão mental. O exemplo do pássaro que voa sobre o oceano em busca de um local
para repousar ilustra isso. Quando o pássaro vê um pedaço de madeira sobre as águas, ele pousa e
descansa ali por algum tempo. Após ter descansado, o pássaro levanta vôo e continua sua jornada, mas
se recordando do lugar onde descansou para que, se novamente precisar, voltar e descansar. Assim
como o pássaro recorda de seu lugar de descanso, no processo de meditação profunda, onde pode
ocorrer a internalização intensa da mente, deve haver uma base na qual podemos retornar, descansar e
recuperar a consciência, o sentido de alerta e a vitalidade antes de voltarmos as dimensões sutis da
mente.

O símbolo e a respiração atuam como uma plataforma. Eles formam a base na qual a mente é
repetidamente trazida de volta para se restabelecer, para despertar e para afastar qualquer tipo de
dispersão sutil que force sua estagia inconsciente nos recessos da mente. Após se restaurar e consolidar
seu estado de consciência, a mente pode voltar a sua jornada pelo mantra com claridade mental.

Japa

Muitas pessoas estão ansiosas por alguma experiência meditativa genuína. Isso é compreensível,
embora nenhuma pressa ou até mesmo aspiração tornará essa experiência possível, a não ser que a
mente enganadora, tempestuosa e cheia de truques seja acalmada. A meditação é um processo
espontâneo que ocorre somente quando a mente atingiu certa harmonia, equilíbrio e
unidirecionamento. Isso se aplica – quer dizer, essa harmonia e calma na mente – tanto por tempos
prolongados quanto por curtos períodos de tempo. Ela precisa ser harmonizada. Sem esse requisito
prévio, a meditação não ocorre. Uma prática meditativa sistemática, segura e simples para adquirir
essa harmonia na mente é a japa. É um método apropriado para qualquer pessoa, sem exceção.

A primeira preocupação para a maioria das pessoas deveria ser confrontar e exaurir os conflitos
internos e desejos suprimidos. A prática de japa é um método excelente que vagarosamente extrai os
aspectos negativos da parte subconsciente da mente, com pouca probabilidade de efeitos desagradáveis.
A prática relaxa a arena pessoal da mente, o que possibilita a experiência natural da meditação. Japa é
uma excelente técnica preparatória para os estágios avançados de kriyā-yoga, pois ela refina a mente, o
que possibilita uma experiência mais profunda e verdadeira. Na verdade, japa integra muitas práticas
do kriyā-yoga. Portanto, se você pratica japa, está alicerçando uma valiosa fundação para técnicas e
estágios mais avançados na meditação.

A palavra sânscrita japa significa rotação, repetição. A prática é assim chamada porque ela envolve a
rotação contínua da mālā e a repetição, também contínua, do mantra. Geralmente, executa-se japa por
um período fixo de tempo e um número determinado de repetições. A entoação do mantra pode ser alta,
baixa ou silenciosa. Japa também pode ser definida como entoação mântrica ritmada com a rotação
da mālā e um fluxo contínuo de consciência. Para um benefício máximo, pratique com regularidade.

Um sistema universal

Japa é provavelmente o sistema de meditação mais universalmente difundido. É uma parte integral
tanto do Yoga quanto do Tantra e do hinduísmo como um todo. Muitas escrituras tradicionais
descrevem os métodos e os méritos da prática de japa, principalmente os textos tântricos que trazem
imagens de yogīs ancestrais executando japa. De acordo com a tradição, Brahmā, Criador do Universo,
deu início à criação de tudo o que existe através da prática contínua de japa com o mantra auṃ. Tal é a
importância da japa na vida espiritual.

A prática de japa não se confina a Índia. Os budistas da escola Mahāyana utilizam uma mālā de 108
contas mais três extras que representam o refúgio em Buda, no Dharma e em Sangha. Os sistemas mais
ortodoxos de cristianismo também executam japa. Qualquer pessoa que visitar um monastério católico
romano notará que seus monges ou freiras fazem a rotação de seus rosários em suas práticas espirituais
diárias. Qualquer pessoa que tenha visitado a Grécia ou outros países Bálcãs onde a Igreja Ortodoxa
Grega é predominante notou que todos os homens carregam consigo um rosário. Seja lá o que eles
façam, estão sempre circulando seus rosários, o máximo que podem, em todas as ocasiões. Eles
praticam uma forma de japa todo dia.

Racional

Um genuíno estado de concentração é muito difícil de ser alcançado pela maioria das pessoas, pois os
distúrbios internos e externos são muitos. Durante a prática meditativa podemos ser completamente
subjugados pela torrente contínua do murmúrio mental interior, aborrecimentos, tristezas etc. e, por
outro lado, nos encontramos incapazes de frear e impedir o alarde, inquietação e confusão exterior.
Estas duas circunstâncias impedem a meditação. É claro, a inabilidade em se abstrair do alarde exterior
é o fruto de uma desordem interna. Da mesma forma, se existe paz interior, o praticante pode
automaticamente desligar-se das influências externas.
Outra cilada na prática meditativa é o sono. É muito fácil conquistar um estado profundo de
relaxamento e como isso é raro, o praticante pode começar a entrar em um estado de sonolência e
dormir. O relaxamento deve ser conquistado, como sempre estamos enfatizando, mas a consciência
deve ser cultivada para que o praticante não caia no sono. Nós já discutimos essa questão do sono
anteriormente, mas frisamos esse ponto repetidamente porque o sono é uma armadilha que engana a
maioria das pessoas que empreendem a prática meditativa. Mas outra armadilha, em contra partida, é a
concentração forçada. Muitas pessoas já compreenderam a importância da concentração, mas
infelizmente tentam forçá-la, o que causa tensão, impedindo o verdadeiro estado da concentração
(dhāraṇā). A concentração verdadeira naturalmente ocorre quando a mente está relaxada.

Nós temos um dilema aqui:

1. O praticante não se preocupa em se concentrar. Isso normalmente leva a cilada mencionada acima,
o sono, absorção nas interferências externas ou se esquecer de si mesmo enquanto se encanta pelo
incessante murmúrio dos pensamentos.
2. O praticante força a concentração no esforço de impedir o sono ou a tendência de perder ou
esquecer de si mesmo enquanto se encanta pelo mundo externo ou pelos construtos de pensamento
gerados pela mente. Isso geralmente leva a tensão mental.

Portanto, estas duas abordagens perante a prática da meditação estão incorretas e elas irão levar o
praticante para bem longe dos resultados e benefícios reais da meditação. A resposta para este dilema,
como já enfatizamos anteriormente, não é tentar se concentrar, mas permanecer consciente. Japa é um
sistema maravilhoso para se manter a consciência individual. Além do mais, ela evita que o praticante
se perca tanto nos acontecimentos externos quanto no mundo interno dos pensamentos, além de frustrar
o sono, o torpor e a preguiça. Vamos ver como isso é conquistado.

Durante a prática de japa, o meditante tem de fazer duas coisas: entoar o mantra e circular a mālā. Isso
atua como um ponto de referência para consciência. Após algum tempo de prática adquire-se ritmo, o
movimento da mālā se sincroniza com a entoação do mantra. Ou seja, sua mente e corpo têm de fazer
alguma coisa juntos. Isso evita as ciladas acima mencionadas da seguinte maneira:

1. Sono: se você tende a cair no sono, a repetição do mantra e o movimento da mālā perderão o ritmo
ou irão parar. Isso fará com que retome o estado de vigília. Nessa hora é bom se levantar e lavar o rosto
com água fria. É claro, se cair em sono profundo, à quebra no ritmo não irá ajudá-lo. Você estará morto
para o mundo. Provavelmente deve estar cansado e precise dormir. Não há mal nisso. Mas o ponto a ser
frisado é que a quebra no ritmo do mantra e na rotação da mālā pode ajudá-lo a ficar consciente da
sonolência para que possa ajustar sua situação na prática.
2. Preocupação com o mundo externo: a rotação da mālā e a entoação do mantra rapidamente farão
com que sua consciência se introverta. Isso ocorre com mais facilidade se a entoação do mantra for
feita com sentimento (bhava) e intensidade (tapaḥ).
3. Absorção no processo interno de cognição: não suprima seus pensamentos. Deixe que eles
apareçam na superfície da mente, mas esteja completamente consciente deles. Não se perca nos
pensamentos. Não se identifique com eles. Observe-os como uma testemunha. Japa é um excelente
método que nos capacita a observar os pensamentos sem nos identificarmos com eles. O método segue:
você deve, em um sentido, dividir sua consciência. Quer dizer, você deve estar simultaneamente atento
ao contínuo fluxo de pensamentos, na rotação da mālā e na entoação do mantra. Deixe que os
pensamentos surjam, mas mantenha-se consciente da prática de japa. Se você começar a se perder em
seus pensamentos, interrompa a rotação da mālā, pois a entoação do mantra e a rotação da mālā se
tornarão descoordenados. Seja lá o que aconteça, você perceberá a perda de consciência na japa e
rapidamente poderá equilibrar a divisão da consciência. Você precisa continuar neste processo, o tempo
todo.

Eventualmente, se a prática estiver sendo executada corretamente por um período prolongado de


tempo, o contínuo fluxo de pensamentos diminuirá e rapidamente irá se exaurir espontaneamente, por
si mesmo. O tumulto mental irá se acalmar. A mente é carregada, magnetizada e imantada pela
repetição do mantra, ao invés de se envolver com os construtos de pensamento. Portanto, a mente
rapidamente se acalma e se torna unidirecionada. A consciência se reveste do mantra e isso é
exatamente o que queremos. Neste estado a mente se torna relaxada, não pela supressão, mas pela
exaustão dos pensamentos que se precipitam na superfície da mente e a gradual tendência de se perder
nos devaneios do processo cognitivo. O estado natural de mente relaxada sem o tumulto intenso dos
pensamentos é um prelúdio a meditação profunda.

Contudo, o contínuo borbulhar de pensamentos na superfície da mente é um processo positivo,


especialmente quando eles vêm dos profundos reinos da mente subconsciente. Estes são os seus
problemas internos. É observando-os que você poderá removê-los. Infelizmente, os pensamentos que
seduzem a maioria das pessoas durante a prática meditativa são, muitas vezes, superficiais. Estes
devem ser removidos pela prática de japa para que você possa ver profundamente. Assim, a japa atua
sistematicamente limpando a mente destes pensamentos superficiais que são mera distração.

Quando sua mente se tornar unidirecionada e você estiver profundamente absorvido no mantra,
subitamente poderá se confrontar com visões ou pensamentos que surgem inesperadamente. Estes
representam seus problemas mais profundos que precisam ser removidos. A mera consciência deles irá
fazer isso. Neste estágio, quando você estiver explorando as camadas abaixo da superfície mental, é à
hora de iniciar a purificação destes problemas enraizados nos rincões inacessíveis da mente.
4. Concentração: isso ocorrerá automaticamente na medida em que continuar bombardeando o
contínuo fluxo de pensamentos através da japa. Quer dizer, consciência leva a concentração da mente.
Quando exaurir os pensamentos deruptivos da mente, não terá alternativa senão se concentrar. Em ou-

tras palavras, será quase que forçado a se concentrar.

Japa é um método simples e efetivo de superar todas as armadilhas que mencionamos anteriormente. É
por isso que é amplamente praticado. Ele provê um equilíbrio entre a absorção no mundo externo e seu
oposto, a perda total no mundo dos pensamentos. Auxilia a cultivar a consciência através da
concentração e vice versa. Acalma o murmúrio da mente, não pela supressão, mas permitindo que os
pensamentos surjam enquanto se ancora a consciência no mantra e na rotação da mālā. É útil
principalmente para pessoas que não conseguem se concentrar.

Qual o mantra utilizar

Existem inúmeros mantras. Os mais comuns são: auṃ, krīṃ, hrīṃ, śrīṃ, aiṃ, dūṃ, hūṃ, auṃ namaḥ
śivāya, rāma, kṛṣṇa, durgā, auṃ mani padme hūṃ e muitos outros. O som ou padrão vibratório do
mantra estimulará certos efeitos na natureza mental e psíquica de cada praticante. Cada mantra irá criar
ou evocar um símbolo específico na psique.

Idealmente, o mantra deveria ser recebido diretamente do guru ou uma pessoa de consciência elevada,
como se diz no Kulārṇava-tantra (XV: 19): Somente o mantra recebido pelo guru irá realizar seu
poder.

Se você recebeu o mantra através da iniciação, continue sua prática de japa. Não mude o mantra,
exceto por uma boa razão. O que se segue são as razões pelas quais você deveria mudar seu mantra:

1. Seu guru lhe deu outro mantra;


2. Atingindo um elevado estado de consciência você recebeu outro mantra que carrega sua mente de
tal maneira que não tem dúvida de que aquele é seu mantra. Isso às vezes acontece e neste caso você
deveria mudar o mantra;
3. Você recebeu o mantra em um sonho. Neste caso, você deveria consultar seu guru para a análise do
mantra e se ele é conveniente realmente para você na atual fase de sua vida. É muito fácil se auto-
sugestionar em um sonho e receber um mantra. Definitivamente, este não é um mantra correto.
Se você não recebeu um mantra pessoal de um guru ou se você não o recebeu em um insight, é melhor
que use o auṃ ou qualquer um dos acima citados para finalidades específicas. Não revele seu mantra a
ninguém, mesmo que seja o auṃ.

Anuṣṭhana-sādhanā

A palavra sânscrita anuṣṭhana significa voto de execução ou execução de um ato específico.


Anuṣṭhana-sādhanā ou anuṣṭhana-japa é um método largamente utilizado. Nesta prática, o meditante
se propõe a executar japa por um período fixo de tempo ou um número específico de repetições do
mantra. O propósito é disciplinar o praticante e ao mesmo tempo imantar sua psique para que ele
realize o que deseja com a prática. Muitas pessoas começam um projeto com intensidade e bastante
interesse, mas infelizmente, com o tempo, se cansam e desistem. Elas falham em conquistar seu
objetivo. Isso ocorre com a japa também. O entusiasmo desaparece e o meditante não continua a
execução de sua prática. Portanto, este voto auxilia na superação desta tendência letárgica.

Este sādhanā é muito comum na Índia e é usualmente prescrito para pessoas cuja mente é fraca. A
prática pode ser executada em um dia, uma semana, um mês, um ano ou o tempo necessário para
finalizar (ou realizar) o objetivo da prática. A duração, contudo, deve ser realista. Deve haver
sinceridade neste ponto. Tradicionalmente, anuṣṭhana é associada a algumas regras:

1. Silêncio total ou pelo menos a redução do hábito de se falar em demasia;


2. Corte total do contato com a família, amigos e responsabilidades;
3. Restrições na dieta.

Existem inúmeras outras regras, mas são impossíveis de serem praticadas por pessoas de mente comum
ou ocupadas com os trabalhos do dia-a-dia.

Se você deseja executar anuṣṭhana-sādhanā seriamente, sugerimos que busque os conselhos de um


professor competente em um nível pessoal para que ele possa prescrever as regras mais adequadas a
sua natureza e circunstâncias. De qualquer maneira, o que aconselhamos é que primeiro o praticante
assuma o voto de meditar e praticar Yoga todos os dias, por uma, duas ou três horas e praticar karma-
yoga por todo o dia. Esta não é uma anuṣṭhana árdua, mas irá assegurar que você pratique todos os
dias.
No que concerne a prática de japa, você pode formular uma resolução que irá entoar seu mantra um
certo número de vezes por um período de tempo. Por exemplo, você pode entoar 100,000 vezes o
mantra auṃ no período de 50 dias. Para executar esta anuṣṭhana, o mantra deve ser entoado 2000
vezes todos os dias. Se você entoa um auṃ por segundo, entoará 60 vezes a cada minuto. Portanto, o
tempo requerido para entoar 2000 vezes é a divisão de 2000/60, que dará 35 minutos diários. Isso, é
claro, dependerá sempre do tamanho do mantra. Você pode assumir também o voto de entoar o mantra
1080 vezes em dez dias, o que dará 10 rotações na mālā de 108 contas, uma por dia. Outra
possibilidade é entoar 50,000 vezes, praticando uma hora por dia, pelo tempo requerido para finalizar o
voto. Existem muitas possibilidades e combinações. Você deve escolher o método mais apropriado para
a fase em que se encontra.

Anuṣṭhana-japa é um excelente método para acalmar e purificar a mente. Sempre recomendamos


anuṣṭhana em combinação com japa, embora isso não seja absolutamente essencial. Se você não quer
se submeter a um voto, pode então continuar a praticar japa todos os dias. Isso, é claro, trará muitos
benefícios.

Posição para prática de japa

Qualquer postura meditativa confortável pode ser utilizada para prática de japa. Tradicionalmente, você
deveria ficar de frente para o norte ou leste.

Variações de japa

Existem inúmeras variações de japa. Não pretendemos abordar todas, mas somente aquelas que
acreditamos serem úteis e efetivas. Os métodos precisam de pouca explicação, pois são muito simples,
uma vez que já descrevemos ao longo do capítulo muitos detalhes essenciais.

Japa: estágio 1

Método 1: vak-śuddhi
Assuma uma postura confortável.
Mantenha a coluna e a cabeça eretas, mas sem esforço.
Esteja consciente de seu corpo. Sinta como estável e relaxado ele está.
Não se apresse.
Imagine que é livre de preocupações ou que pelo menos elas não irão lhe incomodar enquanto executa
a prática.
Inicie a repetição do mantra e a rotação da mālā. Comece pela conta após o sumeru.
Movimente cada conta sincronizadamente com a entoação do mantra.
Esteja consciente do mantra e da rotação da mālā simultaneamente enquanto observa os pensamentos
na medida em que eles aparecem.
Não rejeite qualquer pensamento; deixe que os pensamentos surjam na superfície da mente, mas esteja
consciente deles.
Tudo o que você precisa fazer é observar o processo da mente enquanto mantém a prática de japa:
consciência total na repetição do mantra, na rotação da mālā e nos pensamentos que surgem na
superfície da mente (pausa).
O mesmo se aplica aos distúrbios externos: esteja consciente deles, mas mantenha o foco no mantra e
na rotação da mālā.
Continue até atingir o sumeru novamente. Não cruze o sumeru. Apenas gire a posição da mālā e
reinicie a rotação, conta por conta (pausa).
Muitas idéias ou distrações irão surgir na superfície da mente; deixe-as, pois esta é a natureza
tempestuosa da mente. Permaneça como uma testemunha deste processo. Após algum tempo, estes
pensamentos irão diminuir e sua concentração irá aumentar. Se continuar neste processo, então visões
profundas poderão aparecer. Esteja consciente delas. Deixe que surjam. Apenas observe (pausa).
Após a finalização da rotação da mālā e da entoação do mantra, observe o cidākāśa por alguns
minutos.

Método 2: japa e pulso

Existem inúmeras maneiras diferentes de se praticar este método. O que aqui selecionamos deve ser
executado mentalmente (manasi-japa) da mesma maneira que anteriormente, exceto que o mantra e a
rotação da mālā deverão estar sincronizados com o pulso ou as batidas do coração.

Os lugares mais fáceis de sentir o pulso são:

1. O centro entre as sobrancelhas


2. O coração
3. A garganta
4. O umbigo
Você pode escolher qualquer outro lugar, mas deve ser onde sinta claramente o pulso ou as batidas do
coração.

Nos recomendamos especialmente a consciência do pulso com manasi-japa após baikharī-japa. Isso
intensifica a sensação do pulso. Para este método, aconselhamos ainda a consciência no centro entre as
sobrancelhas (tṛkuti-japa).

Consciência

Como enfaticamente advertido, a consciência deve repousar na repetição do mantra, na rotação da


mālā e nas atividades da mente. Esteja consciente do pulso se estiver praticando o método 2.

Quando e onde praticar

Você pode praticar japa a qualquer momento e em qualquer lugar. Contudo, a fim de disciplinar a
mente, é melhor praticar regularmente todos os dias, sempre na mesma hora. Os melhores horários são
logo pela manhã, assim que acordar ou à noite, antes de dormir.

Japa também pode ser executada como uma prática preparatória para outras técnicas meditativas. Isso
irá acalmar a mente para que você possa ganhar o máximo de benefício na meditação.

Benefícios

Japa garante os mesmos benefícios de outras técnicas meditativas. Ela acalma a mente turbulenta e
auxilia o praticante a expelir complexos, neuroses, fobias etc. A prática tem o poder de fazer isso sem
desequilibrar a vida. Japa carrega a mente com positivas vibrações sonoras. Isso é uma terapia
maravilhosa para pessoas cuja mente se encontra em um estado de tumulto e desequilíbrio. Japa
provoca o unidirecionamento da mente sem forçar a concentração. Sua prática promove o despertar de
incríveis faculdades latentes inerentes a todos nós. Finalmente, japa pode lhe levar aos estágios mais
profundos de meditação.

Regras gerais e sugestões


A fim de deixar a prática mais clara, vamos sumarizar os pontos básicos que discutimos:

· Use o mantra dado por seu guru. Se não possui um mantra pessoal, utilize um mantra universal.
· Gire a mālā com o dedo médio, segurando cada conta com o polegar e dedo anular. Sempre use a
mão direita, mesmo que seja canhoto.
· Não cruze o sumeru após finalizar a rotação da mālā. Gire ou reverta a mālā e continue da conta
que parou.
· Relaxe a mente e o corpo, mas não durma.
· Não force a concentração. Mas esteja consciente. Na concentração você introverte sua atenção
que antes estava em todas as direções a um único ponto. Utilizando a consciência, você não irá se focar
apenas no ponto de concentração, mas também nos pensamentos que surgem na superfície da mente.
Não lute contra a mente, mas dome-a mantendo-se como uma testemunha de todas as suas atividades.
· Se necessário, alterne sua prática entre baikharī, upanśu e manasi-japa. Se a mente está
perturbada, mantenha-se em baikharī; se a mente estiver calma, mantenha-se em manasi. Se a mente
começa a vaguear enquanto pratica manasi, retorne a baikharī.
· Entoe o mantra de forma clara e rítmica. Se a mente começa a vaguear, aumente a velocidade.
· Não revele seu mantra a ninguém.
· Tente praticar japa com regularidade. Será melhor se combinar sua prática com anuṣṭhana.
· Reflita sobre o significado do mantra sempre que possível.

Na medida em que a mente subconsciente é progressivamente purificada e o praticante avança nas


práticas meditativas, gradativamente ele se confronta com a enormidade de sua psique e uma
quantidade esmagadora de visões, premonições sobre o futuro e muitas outras experiências. Uma vez
que é essencial observar as inúmeras manifestações que ocorrem na psique como uma testemunha, o
praticante não deve se envolver, não deve se encantar ou se deixar oprimir por elas. Observe-as de
todas as maneiras, mas não se distraia na medida em que se aprofunda nas camadas mais inacessíveis
de sua mente. É possível ir mais fundo, muito mais fundo do que a imaginação pode conceber.

Não se apegue ao exterior. Observe, experiencie, permaneça sempre como uma testemunha. Seja
desapegado... seja consciente. Essa é a maneira de não se deixar seduzir ou se distrair na medida em
que mergulha nas profundezas de si mesmo. Pode ser que neste momento você não esteja explorando
os níveis mais profundos de sua psique, mas com força de vontade e continuidade de propósito, logo
estará. Fazemos essa advertência para que você tenha isso em mente quando iniciar suas investigações
nos incríveis reinos da psique que se encontram além do subconsciente. Não se prenda ao cenário
agradável – ele é muito bonito mesmo – na medida em que caminha em direção ao centro de seu Ser.
Sempre se lembre que o objetivo é explorar e experienciar a essência de seu Ser. Portanto, não se perca.

Reflexão

A prática de japa pode trazer benefícios maravilhosos se você reflete sobre o significado do mantra.
Isso pode ser feito durante a prática ou através do dia. Mas a necessidade de se conhecer o verdadeiro
significado do mantra precisa vir do coração. A prática não trará resultados se a necessidade não vir do
interior. Cada mantra possui inúmeras camadas de vibração que precisam ser exploradas. Você precisa
se fundir com o mantra e experienciar tudo o que ele evoca. Cada mantra representa algo que não pode
ser explicado em simples palavras. É preciso vivenciar o mantra. É por isso que no início nós não
aconselhamos as pessoas a se apegarem ao significado do mantra. Quando explicamos o significado do
mantra para os iniciantes sua prática pode se tornar superficial, pois o intelecto irá atuar em demasia na
prática. Na verdade, você precisa descobrir o significado do mantra por si mesmo, pois nenhuma
pessoa jamais poderá explicar o significado de um mantra para outra pessoa sem ferir sua grandeza e
profundidade. A explicação jamais transcenderá o abismo que existe entre o significado verbal e a
experiência direta.

O processo de reflexão no significado do mantra intensifica japa-sādhanā. Mas isso é para os


praticantes mais experientes que desenvolveram o poder de penetração e inquirição da mente. Essas
qualidades se apresentam nos praticantes que possuem uma mente calma e unidirecionada. Portanto,
não se sinta obrigado a refletir sobre o significado do mantra durante a prática de japa. Japa lhe
proverá resultados maravilhosos sem essa reflexão, mas ela leva aos frutos mais elevados de japa-
sādhanā.

Devoção

A devoção é outro método poderoso para se intensificar a prática de japa. Ela deve ser praticada pelas
pessoas naturalmente inclinadas a adoração, pessoas que possuem um notável caráter emocional.

Cada mantra é uma śakti, uma conexão direta com o divino. Portanto, quando entoar seu mantra, sinta
que está comungando com a essência divina. Sinta amor em seu coração e ao mesmo tempo esteja
consciente de todas as associações que envolvem o mantra. Deixe que esse sentimento interior de
completude (bhava) preencha todo seu Ser. Eventualmente seu coração entoará o mantra
espontaneamente. Isso intensificará todo processo de japa.
Japa-sahita-dhyāna

A palavra sânscrita sahita significa junto com ou combinado com. A palavra dhyāna significa
meditação. Portanto, essa prática é a combinação de japa com consciência do símbolo interno (antar-
trāṭaka).

Se você entoa o mantra auṃ pode utilizar seu símbolo correspondente como foco para sua atenção. Se
você possui um mantra pessoal e conhece seu símbolo, use-o, caso contrário, escolha qualquer outro
símbolo que possua conexão com seu mantra. Se possui um iṣtā-devatā (deidade particular escolhida
para adoração), pode usar sua imagem (trāṭaka). Mas se não chegou neste nível de desenvolvimento,
procure as instruções de um professor qualificado.

Incidentemente, cada mantra está inseparavelmente associado a um símbolo ou forma definida.


Portanto, se sua mente atinge um profundo estado de relaxamento, unidirecionamento e receptividade,
e se ela estiver completamente preenchida e energizada pela vibração sonora do mantra, o símbolo
psíquico que possui conexão direta com o mantra irá surgir espontaneamente na percepção consciente.
Indo neste caminho, você encontrará a forma exata ou o símbolo de seu mantra.

O método é basicamente o mesmo que descrevemos na lição anterior, mas você deve visualizar o
símbolo escolhido na frente de seus olhos fechados. Se for inclinado a adoração, pode praticar a
devoção, conectando o mantra a deidade particular ou pode refletir sobre o significado do símbolo e do
mantra.

Se a sua mente não está direcionada será muito difícil visualizar uma imagem clara. Portanto, nós
primeiro recomendamos que você acalme a sua mente e remova os construtos de pensamento que a
distraem praticando os métodos 1 e 2 descritos acima. Quando a mente se tornar concentrada, então
pratique japa-sahita-dhyāna. Esta é uma prática mais difícil, mas é também mais poderosa. Sua
consciência deve fluir junto com o mantra, o símbolo e a rotação da mālā. Se você encontra dificuldade
em manter uma imagem interior fixa, pratique os métodos apresentados no módulo anterior.

Likhit-japa

A palavra likhit significa escrever. Portanto essa prática pode ser chamada de japa ou repetição escrita.
Ela envolve a escrita da forma do mantra inúmeras vezes em um diário. Por exemplo, você pode
escrever o símbolo do auṃ: \\\\\\\. Mas pode também escolher o símbolo que achar necessário.
As letras devem ser pequenas e bem claras. Isso aumentará a concentração. Escreva cada símbolo com
o máximo de cuidado, proporção e senso de beleza. Faça com que cada símbolo seja uma obra de arte,
pelo menos para você.

Na medida em que escrever cada mantra, o entoe mentalmente. Isso pode não parecer uma prática
meditativa, todavia ela é. Se você escreve páginas e páginas de símbolos e simultaneamente entoa seus
respectivos mantras, estará induzindo o equilíbrio e o unidirecionamento da mente. Se você associar a
escrita com a devoção e | ou a reflexão no seu significado, a prática será potencializada. Essa é uma
técnica muito difundida na Índia. Durante o mês de śravana, os hindus tradicionalmente colhem
inúmeras folhas de uma árvore chamada bilva. O mantra Auṃ Namaḥ Śivāya é escrito nas folhas com
pó vermelho e elas são oferecidas ao Senhor Śiva. Essa prática é executada durante todo o mês e gera
grande devoção.

Este é o tipo de técnica que pode ser executada aos domingos à tarde, ao invés de se ler um jornal ou
dormir.

Sumirani-japa

Este é um tipo de japa para ser executada durante todo o dia. É geralmente feita com uma mālā de 27
contas, levada pelo praticante a todos os lugares, em todas as ocasiões. No Ocidente isso não é nada
prático, mas este é o método tradicional. Para pessoas que empreendem um sādhanā durante todo o
tempo, essa é uma pratica efetuada continuamente. Quer dizer, seja qual for à circunstância, a mālā é
circulada e o mantra é mentalmente entoado. Com proficiência, essa prática continua até durante o
sono. O objetivo é fazer com que o mantra eventualmente surja dos rincões mais profundos de seu Ser.
Neste ponto, você não precisará entoar o mantra, ele estará sendo entoado o tempo todo
espontaneamente. Todo seu Ser irá ressoar com o mantra. A mālā irá girar por si mesma. Isso
transformará a mente em um veículo incrivelmente unidirecionado e poderoso, o que trará frutos bem-
sucedidos a prática espiritual na medida em que induz o estado meditativo profundo. É um método
poderoso, mas não é nada prático a pessoa de mente comum. É difícil fazer rotações na mālā enquanto
se conversa com o patrão, enquanto dirige um carro etc., mas é uma prática que você pode tentar em
um feriado, quando estiver caminhando ou nas horas vagas. Se você entoa seu mantra regularmente
durante as horas de folga, eventualmente o mantra se manifestará automaticamente quando estiver
executando suas tarefas. Ele continuará sendo entoado no plano de fundo de todas as suas ações. Esta é
uma técnica poderosa que pode levá-lo a experiências elevadas.

Ajapa-japa
Essa é a repetição (japa) que ocorre espontaneamente (ajapa) em harmonia com os ritmos naturais do
complexo corpo-mente. Nós lhe introduziremos ao tema na próxima lição deste módulo.

Nota geral

Japa só se tornará poderosa na medida em que for praticada com regularidade e sem falha.

Mālā

A mālā é um cordão de pequenas contas separadas umas das outras por um tipo especial de nó chamado
brahma-granthi ou nó da criação. As contas são delicadamente distribuídas ao longo de um forte
filamento de linha e são em número de 108, mas existem mālās de 54, 27 e 11 contas para sādhanās
(práticas espirituais) específicas.

Cada mālā tem uma conta extra, adjacente ao ilhó final. Ela é chamada de sumeru (junção ou cume de
conta) e serve como um ponto de referência para o praticante saber quando terminou a rotação
completa na mālā. A mālā é parte essencial das principais técnicas de japa-yoga. Ela é um instrumento
para se manter a consciência.

Mālās são comumente feitas de sementes de tulsi, sândalo, rudrākṣa ou pequenos cristais. A mālā feita
de tulsi é a mais comumente usada para japa. Tulsi é uma planta sagrada e largamente venerada que
contém muitas propriedades curativas e auxilia no desenvolvimento de faculdades psíquicas. Ela tem
um forte efeito purificante sobre as emoções e acalma a mente. Os devotos de Viṣṇu utilizam esta mālā
pois tulsi é considerada como uma encarnação de Lakṣmī, esposa de Viṣṇu. Mālās de sândalo são
suavemente perfumadas e possuem vibrações de proteção e também acalmam a mente. Elas contêm
propriedades refrescantes e são ótimas para pessoas que possuem problemas na pele. Rudrākṣa é a
semente da fruta de uma árvore nativa consagrada a Śiva que só nasce em mata fechada. A mālā de
rudrākṣa é considerada a mais poderosa e efetiva para a prática de japa e é utilizada pelos devotos de
Śiva. Rudrākṣa influencia magneticamente a circulação sanguínea, fortalece o coração e é recomendada
as pessoas que sofrem de pressão alta. As mālās de cristal possuem propriedades psíquicas e são
utilizadas por aqueles que adoram Devī.

Mālās não são utilizadas apenas por adeptos tântricos e yogīs. Os praticantes do Budismo Mahāyana
também utilizam mālās de 108 contas em suas meditações. Entretanto, suas mālās contém três contas
extras representando o refúgio em Buda, Dharma (deveres, código de convivência, caminho espiritual)
e Sangha (ordem de monges budistas). Os católicos romanos utilizam um rosário de 54 contas. Na
Grécia e outros países dos Bálcãs onde a Igreja Ortodoxa Grega é predominante, todos os homens
carregam um rosário onde quer que vão e circulam as contas o máximo que podem. Sem seus rosários,
eles se sentem nus. A razão pela qual eles circulam as contas do rosário o tempo todo, em todas as
atividades, é para manter o fluxo da consciência no que estiverem fazendo, mantendo a mente focada
na atividade.

O propósito da mālā

Muitas pessoas têm curiosidade sobre o porquê da mālā ser usada na prática de meditação com japa e
se têm de usar uma e como manuseá-la. Antes vamos falar do propósito da mālā. Por conta de sua
natureza, a mente não permanece estável por um longo período de tempo. Portanto, faz-se necessário
um mediador ou uma base de auxílio pela qual podemos saber se estamos conscientes ou não.
Utilizamos a mālā como um mecanismo pelo qual podemos acordar daqueles momentos onde
perdemos a consciência e nos esquecemos daquilo que estamos fazendo. Também utilizamos a mālā
para verificar o andamento da prática e sua qualidade.

Inicia-se a prática de japa a partir da conta sumeru e segue-se girando a mālā ritmicamente, conta por
conta. A mālā desliza em um fluxo contínuo até ser interrompida novamente pelo sumeru.
A partir de determinado estágio de japa, quando a mente se torna calma e serena, é possível que os
dedos fiquem inertes. Eles ficam momentaneamente paralisados enquanto você permanece
completamente inconsciente do processo. Às vezes a mālā pode cair no chão. Quando essas coisas
ocorrerem, saiba que se distanciou do objetivo de japa, quer dizer, você falhou em manter o fluxo da
consciência. Se não está com a mālā na mão enquanto pratica japa, como saberá o que está
experimentando. É a continuidade de foco na mālā que irá demonstrar seu estado de consciência. Se
estiver focado na mālā e nos dedos a cada conta, então estará consciente. Quando japa for executada
corretamente e a concentração ocorrer, a mālā continuará a se movimentar quase que automaticamente,
mas de forma consciente.

A mālā pode ser algo que seu intelecto não aceita, mas para que haja sucesso na prática de japa, a
mente necessita de uma ferramenta.

O fato da mālā ter 108 contas precisa de uma explicação. Existem inúmeras teorias nas escrituras sobre
este ponto. Vamos ver alguma coisa. 1 representa a consciência suprema; 8 representa os oito aspectos
da natureza, consistindo dos cinco elementos fundamentais (terra, água, fogo, ar e éter), mais
ahaṃkāra (princípio de egoidade), manas (mente) e buddhi (sentido de percepção intuitiva); 0
representa o cosmos, todo o campo da criação. De outra maneira: 0 é Śiva; 8 é Śakti e 1 é sua união
(yoga).
Alguns acadêmicos acreditam que 108 representa o número de crânios na guirlanda que adorna Kālī,
venerada como a Grande Mãe e a Senhora da Realização yogī, mas por muitos é considerada a deusa da
destruição. É dito também que 108 é o número de encarnações do jīva (a alma ou consciência
individual) antes da realização espiritual

Existem explicações similares para os números 27, 54, 57, 1001 etc., todos usados em mālās. Mas estes
números possuem profundos significados psíquicos. São números escolhidos que auxiliam a
experiência de estados de consciência auspiciosos enquanto se pratica japa. Eles foram recebidos pelos
antigos videntes (ṛṣīs) e são apropriados para experiências psíquicas. A explicação destes números
serve apenas aqueles que procuram uma abordagem mais intelectual da prática.

Além das 108 contas da mālā, existe ainda o sumeru, a conta extra que representa o topo da passagem
psíquica conhecida como suṣumnā-nāḍī. Por esta razão o sumeru ou meru é às vezes chamado de
biṅdu. As 108 contas representam os 108 centros, estações ou campos através dos quais sua consciência
viaja até o biṅdu e retorna. Estes centros são cakras menores e eles representam o progressivo despertar
da mente. O biṅdu é o limite desta expansão mental.

Como usar a mālā

Existe um método especial de segurar a mālā. Ela deve ser manuseada com a mão direita, suportada
péla ponta do polegar unida ao dedo anular. O polegar não é utilizado para girar a mālā e os outros
dedos (indicador e mindinho) não devem tocar na mālā. O dedo médio movimenta as contas.

Quando utilizar a mālā, não cruze o biṅdu. Inicie a prática a partir da conta imediatamente posterior ao
biṅdu e quando terminar o rotação total, finalize na conta imediatamente anterior ao biṅdu. Neste
ponto, vire a mālā e continue a prática. Sempre gire a mālā sobre ou na direção da palma da mão.

Tradicionalmente, japa é praticada enquanto se mantém a mão direita na frente do peito. Desta maneira
o mantra pode ser entoado em sincronia com as batidas do coração. Manter a mão na frente do peito
intensifica o sentimento de entrega e concentração no mantra. A mão esquerda deverá estar sobre o
colo em cin, jñāna ou cinmaya-mudrā. A mão esquerda também pode segurar a mālā, evitando que ela
oscile ou se enrole, prejudicando a concentração na passagem das contas pelos dedos. Se preferir, a
mão direita pode ser colocada sobre o joelho direito. Neste caso a mālā descansa no chão.
Pode-se contar o número de rotações na mālā mentalmente ou utilizando a mão esquerda como se
segue: após uma rotação na mālā, coloque a ponta do polegar esquerdo na linha da primeira junta na
base do dedo mindinho. Após a segunda rotação, escorregue a ponta do polegar para a linha da segunda
junta. Após a terceira rotação, escorregue a ponta do polegar para última linha da junta do dedo
mindinho. Seguindo, após a quarta rotação, leve a ponta do polegar esquerdo na linha da primeira junta
na base do dedo anular esquerdo e assim por diante. Desta maneira você contará doze rotações na mālā.

A mālā utilizada para prática de japa não deve ser usada ao redor do pescoço. Quando não estiver
sendo utilizada, deve ser mantida em segredo, guardada em um pequeno saquinho de pano ou envolta
em um pano especialmente consagrado para guardá-la. Isso evita qualquer mudança ou influência
negativa de vibrações sobre a mālā. Nunca empreste sua mālā para outras pessoas. Seja quem for à
pessoa, ele nunca deve tocar ou ver a mālā com que executa suas práticas meditativas. Mālās utilizadas
para decoração não são apropriadas para uma prática séria de japa.

Uma mālā usada diariamente se tornará, com o tempo, impregnada com vibrações positivas. Após
alguns meses, no momento em que tocar a mālā, irá se tranqüilizar e terá quietude e estabilidade na
mente.

Se você pratica japa-mālā muitas vezes por dia, poderá ficar com os braços cansados se estiver com a
mão na frente do peito. Neste caso, você pode usar um suporte (eslinga) para o braço.

O uso da gomukhi

Se você executa longas práticas de japa durante o dia, o uso da gomukhi é recomendado. A palavra
gomukhi significa na forma da boca da vaca. É um pequeno saquinho que se assemelha a boca de uma
vaca. A mālā e a mão direita são colocadas dentro da gomukhi para que estejam longe da visão de
outras pessoas. A gomukhi pode ser utilizada enquanto se caminha ou a qualquer momento, mas é
particularmente útil para aqueles que estão engajados em anusthana-sādhanā (prática de japa por um
período fixo prolongado). Na verdade, para estas pessoas, o uso da gomukhi é essencial.

A mālā muitas vezes pode não ser aceita facilmente pelas pessoas ocidentais em um nível intelectual,
mas sem que estejam conscientes disso, elas têm aceitado a mālā intuitivamente. Já passou pela sua
cabeça de onde vem essa moda de utilizar colares de pérola ou outras pedras e adornos decorativos?
Nas culturas arcaicas, contas (mālās), anéis e amuletos eram utilizados para finalidades espirituais e
desde aqueles tempos, as pessoas têm sido atraídas por esses adornos. Nos dias de hoje, em nome da
moda, homens e mulheres utilizam esses adornos com finalidades puramente estéticas.
Mantramālā

Todo aspirante espiritual deveria praticar mantra-sādhanā no início de cada dia. Mahāmṛtyuñjaya-
mantra, gāyatrī-mantra e durgā-mantra são três mantras auspiciosos para serem entoados todas as
manhãs, antes mesmo de sair da cama e se envolver na rotina diária. Por que? Quando dormimos, a
mente se torna tranquila e passiva, como a superfície de um lago, imperturbável por qualquer agitação
ou movimento. Quando acordamos pela manhã, a mente está relaxada, os sentidos estão em paz e não
há nenhuma distração mental, emocional ou intelectual. Portanto, a primeira impressão que a mente
deve receber pela manhã é o mantra.

Se lermos notícias nos jornais, escutarmos rádio ou assistirmos TV como primeira atitude pela manhã,
nos impregnamos de impressões acerca de escândalos, problemas e dificuldades. Isso cria agitação e
traz a tona as tendências e vṛttis da mente, que permanece tensa e perturbada durante todo o dia. É
como jogar uma pedra nas águas calmas do lago, criando ondulações.

Quando a mente está quieta e em paz, sensitiva e receptiva, sementes positivas podem ser plantadas no
subconsciente. Mahāmṛtyuñjaya, gāyatrī e durgā-mantras são saṅkalpas ou resoluções para saúde
física e bem-estar mental, sabedoria e clareza interior, e superação das dificuldades na vida. Praticando
mantra-sādhanā como a primeira atividade no dia, você obterá coragem, força interior e paz. Suas
amizades e relacionamentos irão melhorar. Você crescerá e encontrará equilíbrio. Estará no controle de
sua vida e mente.

Para o mantra-sādhanā, nenhuma preparação é necessária. Praticando estes três mantras pela manhã,
antes de se levantar da cama ou ir ao banheiro, estará transcendendo sua natureza condicionada. Nos
impomos muita disciplina e expectativas sobre nós mesmos. Deus irá ver a pureza de seu coração e a
força de sua fé e convicção. Comece o dia desta maneira:

Mantra-sādhanā da manhã

Quando acordar pela manhã:

1. Foque o centro entre as sobrancelhas. Inspire e expire profundamente sete vezes. Relaxe a cada
expiração.
2. Entoe o Oṃ três vezes, concentrando em sua vibração. Sinta como se a entoação estivesse criando
um campo de força ao redor do corpo.
3. Inspire e expire profundamente mais sete vezes e relaxe o corpo.
4. Faça um saṅkalpa para saúde física e bem-estar mental e entoe o mahāmṛtyuñjaya-mantra 11
vezes.
5. Faça um saṅkalpa para sabedoria, clareza interior e conhecimento intuitivo e entoe o gāyatrī-
mantra 11 vezes.
6. Faça um saṅkalpa para superação e remoção das dificuldades da vida e entoe o durgā-mantra 3
vezes.
7. Inspire e expire profundamente sete vezes e relaxe o corpo.

Repita o mesmo processo a noite, antes de dormir.

महहाममत्ययञ्जय मन्ततर
ॐ त्र्यम्बककं यजहामहहे सयगनन्नकं पयनषष्टिवनर्धनमत।
उवहार्धरुकनमव बन्ननहातत ममत्ययोमयर्धकक्षीय महाममतहातत॥

Mahāmṛtyuñjaya Mantra (saṅkalpa para cura, poder, imunidade e força)

oṃ tryambakaṃ yajāmahe sugandhiṃ puṣṭivardhanam |


urvārukamiva bandhanāt mṛtyormukṣīya māmṛtāt ||

गहायततरक्षी मन्ततर
ॐ भभर त भयववः स्ववः तत्सनवतयवर्धरहेण्यकं।
भगयोर्ध दहेवस्य नक्षीमनह ननययो ययो नवः पतरचयोदयहातत॥

Gāyatrī Mantra (saṅkalpa para sabedoria, clareza interior, conhecimento intuitivo, aprendizado)

oṃ bhūr bhuvaḥ svaḥ tatsaviturvareṇyaṃ |


bhargo devasya dhīmahi dhiyo yo naḥ prachodayāt ||

दयगहार्धदहानततरश
कं न्नहाममहालहा
ॐ दयगहार्ध दयगहार्धनतर्धशमनक्षी दयगहार्धपनदननवहानरणक्षी। दयगर्धमच्छहे नदनक्षी दयगर्धसहानननक्षी दयगर्धनहानशनक्षी।
दयगर्धतयोदहानरणक्षी दयगर्धननहम्ततरक्षी दयगर्धमहापहहा। दयगर्धमजहानदहा दयगर्ध दनयतलयोकदवहानलहा।
दयगर्धमहा दयगर्धमहालयोकहा दयगर्धमहात्मस्वरूनपणक्षी। दयगर्धमहागर्धपरत दहा दयगर्धमनवदहा दयगर्धमहानशतरतहा।
दयगर्धमजहानसकंस्थहानहा दयगर्धमध्यहानभहानसनक्षी। दयगर्धमयोहहा दयगर्धमगहा दयगर्धमहाथर्धस्वरूनपणक्षी।
दयगर्धमहासयरहकं न्ततरक्षी दयगर्धमहाययननहानरणक्षी। दयगर्धमहाण्गक्षी दयगर्धमतहा दयगर्धम्यहा दयगर्धमहेश्वरक्षी।
दयगर्धभक्षीमहा दयगर्धभहामहा दयगर्धभहा दयगर्धदहानरणक्षी।

Durgādvātriṃśannāmamālā (saṅkapa para superação de dificuldades, paz e harmonia na vida)

oṃ durgā durgārtiśamanī durgāpadvinivāriṇī| durgamachchhedinī durgasādhinī durganāśinī|


durgatoddhāriṇī durganihamtrī durgamāpahā| durgamajñānadā durga daytialokadavānalā|
durgamā durgamālokā durgamātmasvarūpiṇī| durgamārgapradā durgamavidyā durgamāśritā|
durgamajñānasaṃsthānā durgamadhyānabhāsinī| durgamohā durgamagā durgamārthasvarūpiṇī|
durgamāsuraṃhantrī durgamāyudhadhāriṇī| durgamāṇgī durgamatā durgamyā durgameśvarī|
durgabhīmā durgabhāmā durgabhā durgadāriṇī|

Prática: mantra-yoga
Estágio 1: preparação
Sente-se confortavelmente em uma postura meditativa.
Coloque as mãos sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Mantenha as costas eretas e a cabeça no prolongamento da coluna.
A partir deste momento, feche os olhos. Mantenha os olhos fechados durante toda a prática.
Mantenha-se firme, estável na postura, ao mesmo tempo que confortável. Faça o possível para não
fazer movimentos desnecessários. Mantenha-se firme como uma estátua.
Não se preocupe se sua mente vaguear e nem deixe sua atenção se perder em qualquer tipo de barulho.
A base de nossa meditação e relaxamento neste momento é a repetição mântrica.
Nesta prática você terá de visualizar um som particular. Este som será à base dos movimentos no seu
plano mental. O som, o mantra, se tornará o centro de sua consciência.
Este centro se encontra no ponto entre suas sobrancelhas, é o ājñā-cakra.
Para nossa prática, utilizaremos a nota da escala musical dha (o equivalente indiano do nosso la).
Visualize a imagem da nota dha de forma ritmada no cidākāśa, a tela negra na frente de seus olhos
fechados.
O ritmo não deve ser muito lento ou rápido. Continue entoando e visualizando o mantra dha no
cidākāśa (pausa).
Interrompa o movimento do ritmo de entoação e visualização e perceba a vibração pulsante do mantra
no cidākāśa. Fixe sua concentração no ponto entre as sobrancelhas: dha, dha, dha, dha..., sem parar,
incessantemente (pausa).
Diferentes tipos de pensamento irão aparecer tentando retirar sua consciência da prática.
Não se preocupe, não reaja a estes construtos de pensamento. Eles podem exercer grande domínio
sobre sua mente. Mas esteja alerta.
Traga a consciência para o ritmo do mantra no cidākāśa, focando sua atenção no ponto entre as
sobrancelhas.
Visualize a imagem da nota dha de forma ritmada no cidākāśa.
O ritmo não deve ser muito lento ou rápido. Continue entoando e visualizando o mantra dha no
cidākāśa (pausa).
Novamente, pensamentos poderão intervir no fluxo de sua concentração.
Não reaja, mantenha-se como uma testemunha de todo processo. Concentre-se no ritmo, no movimento
do som no cidākāśa (pausa).
A partir deste momento, como um exemplo, vamos entoar o mantra oṃ em voz alta. O mantra deve se
tornar tão claro que, após pararmos de entoar em voz alta, ele continua pulsando ritmicamente no
cidākāśa.
Estágio 2: entoando o mantra
Entoaremos o mantra oṃ algumas vezes em voz alta. A entoação verbal servirá de exemplo para
entoação mental.
Foque sua mente na vibração do mantra e nada mais. Transfira a vibração do mantra verbalmente
entoado para o corpo mental, direcionando a consciência no cidākāśa, exatamente no ponto entre as
sobrancelhas, na sua tela mental. A vibração e vocalização são reforçadas pela projeção do símbolo do
oṃ no cidākāśa.
Vocalizamos todos juntos. Inspiramos: oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ. Mantenha sua
consciência na vibração do mantra e na projeção se seu símbolo no cidākāśa (pausa).
Quando nos concentramos nesta prática por alguns minutos, a consciência é rapidamente introvertida.
A partir deste momento, eu entoarei o mantra oṃ. Me acompanhem mentalmente. Não vocalizem o
mantra. Dirija sua consciência para o cidākāśa e mentalmente vibre o mantra com seu símbolo
enquanto eu entôo os mantras: oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ (pausa).
Mentalmente continue entoando o mantra e visualizando seu símbolo no cidākāśa.
Entoe ritmicamente o mantra, incessantemente. Não se preocupe com pensamentos estranhos.
Estágio 3: fim da prática
Levamos as mãos na frente do peito em namaskāra-mudrā.
Entoamos o mantra oṃ três vezes: oṃ, oṃ, oṃ.
Relaxe a mente e vagarosamente tome consciência do ambiente ao seu redor.
Espreguice todo o corpo e abra os olhos.
No capítulo anterior, nós descrevemos alguns exercícios para relaxar e desbloquear o corpo,
particularmente as pernas, em preparação para as posturas meditativas. Agora, nós iremos explorar as
posturas clássicas para meditação que podem ser utilizadas em muitas das práticas meditativas que
estão sendo ensinadas neste curso.

A característica mais importante de qualquer postura meditativa é que ela deveria capacitar o praticante
a se sentar tranquilamente na posição de meditação por longos períodos de tempo sem desconforto. As
práticas meditativas têm o objetivo de dirigir a consciência dentro da mente e isso se torna
completamente impossível se a consciência está absorta e envolvida com eventos externos, incluindo o
corpo físico. A introspecção se torna impossível se o praticante está continuamente inquieto, se coçando
o tempo todo ou sentindo dor. Portanto, o objetivo é se sentar em uma postura suficientemente
confortável para que o corpo físico possa ser esquecido.

Nem todos os āsanas são apropriados para meditação, pois sua execução requer esforço físico ou senso
de equilíbrio. Por exemplo, bhujaṃgāsana, sarpāsana e meru-vakrāsana são excelentes posturas para
induzir saúde e harmonia física e mental, mas por requererem esforço, não são āsanas apropriados para
meditação.

Podemos observar que posturas de relaxamento, como śavāsana, são as mais importantes, pois elas não
requerem esforço para serem executadas. Elas podem ser usadas para meditação também, mas não
recomendamos, pois nelas é tão fácil relaxar profundamente que o praticante pode dormir. Assim como
a tensão, o sono está bem longe da meditação. O que é requerido é um elevado estado de relaxamento
combinado com um intenso estado de vigília. Os sábios do passado descobriram, através de suas
experiências, que existem posturas mais específicas que habilitam o praticante atingir estados mais
sutis de consciência. Existem seis consideradas as posturas clássicas para práticas meditativas:

1. Padmāsana (postura do lótus)


2. Siddhāsana (postura do homem realizado)
3. Sidha-yoni-āsana (postura da mulher realizada)
4. Swastikāsana (postura auspiciosa)
5. Ardha-padmāsana (meia postura do lótus)
6. Vajrāsana (postura do raio)

Os três primeiros āsanas são tradicionalmente aceitos como as melhores posturas para meditação. O
objetivo de todo praticante de meditação deveria ser se sentar em uma delas dentro de suas
possibilidades. Os outros três āsanas também são excelentes posturas para meditação, pois são mais
fáceis de serem executadas. Proficiência nelas leva ao domínio das três primeiras.

Muitas pessoas podem encontrar dificuldades e desconforto em qualquer uma dessas seis posturas. Sob
essas circunstâncias, qualquer uma das alternativas abaixo são apropriadas:

1. Vīrāsana (postura do herói)


2. Sukhāsana (postura fácil)

Não é esperado que o praticante de meditação tenha domínio sobre todas estas posturas. Estamos
descrevendo-as como um grupo de posturas para meditação. Isso servirá de referência posteriormente.
Empreenda esforços para dominar uma ou duas delas no momento. No futuro, tente outras, na medida
de suas necessidades e possibilidades.

Características básicas de posturas meditativas

No clássico Yogasūtra (II: 46-48), Patañjali sumarizou, de forma concisa, a essência das posturas
meditativas da seguinte maneira:

नस्थरसयखमत आसनमत ॥४६॥

sthirasukham āsanam ||46||

Firme e confortável é a postura [āsana].

पतरयत्नशशैनथल्यहानन्तसमहापनत्तिभ्यहामत॥ ४७॥
prayatnaśaithilyānantasamāpattibhyām || 47 ||

É obtida pelo relaxamento nos esforços [prayatna] e pela fusão da consciência no ilimitado.

ष्टितयो दन्दहाननभघहातवः॥ ४८॥

tato dvandvānabhighātaḥ || 48 ||

Como consequência, cessa a hostilidade dos pares de opostos [dvandva].

O primeiro aforismo não requer explanação. Se forçarmos muito a postura sem relaxar o suficiente,
criaremos mais tensão, mesmo sendo nosso objetivo o relaxamento. Firme e confortável também nos
leva a pensar em estabilidade e equilíbrio. Quando esse conjunto for estabelecido na postura, então um
sentido de infinidade poderá ser alcançado na prática. Neste caminho, haverá menos tendência a aflição
e angústia perante problemas frívolos que impedem o relaxamento e o assentamento confortável na
postura por longos períodos de tempo.

A espinha e a cabeça devem estar eretas em todas as posturas meditativas. Há duas razões para isso: a
primeira é permitir a respiração livre sem a restrição de obstáculos. Em outras palavras, todas as partes
do corpo conectadas a respiração, quer dizer, o peito, diafragma e abdômen, devem trabalhar sem
impedimentos. A segunda é que uma coluna ereta e relaxada previne dores na lombar. Este é um
problema comum a todos que iniciam a jornada da meditação, pois a tentativa de se sentar por longos
períodos de tempo sem o fortalecimento da coluna e os músculos das costas pode levar a dores na
região lombar. Portanto, é necessário cultivar a firmeza do corpo. Retornaremos a este ponto no
próximo capítulo.

Outra característica comum a todas estas posturas meditativas é que elas possuem uma base firme e
estável. Isto é absolutamente necessário para que o corpo permaneça estável durante as práticas de
meditação e prāṇāyāma (exercícios para expansão da bioenergia). Em todas as posturas meditativas,
exceto vajrāsana, as pernas são dispostas de maneira a formarem uma base triangular. Isso evita que o
corpo se decline para frente, para trás ou para os lados. Ainda, nestas posturas, as mãos e braços podem
ser colocados em uma posição confortável nos joelhos ou no colo.
Como mencionamos anteriormente, as posturas meditativas têm o propósito de exigir menor esforço
para que possam ser sustentadas. Isso é muito importante para que o praticante obtenha o máximo
relaxamento e seja capaz de esquecer o corpo durante a prática meditativa.

Posição incorreta das costas

O erro mais comum cometido pelos iniciantes quando se sentam para meditar é manter, forçadamente,
as costas eretas ou, na maioria das vezes, se sentar com as costas arqueadas, o ventre estendido para
fora e a cabeça caída para trás. Em nenhum dos casos a postura se mantém estável ou confortável,
portanto, é incorreta. Ademais, são poucas as pessoas capazes de sustentar uma postura assim por mais
de alguns minutos sem se curvar para frente. Estas duas formas incorretas de se praticar vão se
substituindo, de um extremo ao outro, na hora da prática, o que impede a introspecção profunda.

Quando, na hora da prática, nós dizemos: mantenha a coluna ereta, estamos pedindo o impossível, pois
a forma normal ou contorno da coluna não é ereto. Ela é na forma de S. Não importa o quanto você
tente, não irá conseguir manter sua coluna perfeitamente ereta. A própria estrutura óssea impossibilita
essa ação. Quando instruímos para que fique com a coluna ereta, queremos dizer que as costas devem
se manter eretas, o corpo não deve cair para frente, para trás ou para os lados. Em outras palavras,
permitir que a coluna se ajuste a uma posição em que permaneça confortável. Na medida em que
experienciar a meditação, sentirá qual é a melhor posição a se ajustar.

Enfatizamos, novamente, que você deve evitar deixar o corpo cair para frente ou para trás. Ambas as
posturas impedem o relaxamento profundo e a livre respiração. É impossível relaxar se a espinha
estiver sendo forçada em demasia em uma postura arqueada, assim como é impossível relaxar as dores
nas costas inclinando o corpo para frente. Ainda, a dor lombar é mais fácil de ocorrer se a postura está
sendo mal executada da maneira como estamos descrevendo. Portanto, para um ótimo resultado, é
essencial manter a cabeça e a coluna em uma posição ereta confortável.

Proficiência nas posturas meditativas

Existem poucas pessoas capazes de se sentar nas posturas clássicas de meditação, por longos períodos
de tempo, sem terem executado um trabalho prévio de relaxamento e alívio da tensão nas pernas. As
crianças usualmente podem fazê-lo. Por esta razão, é necessário que o praticante se esforce em relaxar
e aliviar os músculos das pernas e juntas através dos exercícios pré-meditativos ensinados
anteriormente.
No início você pode sentir as pernas enrijecidas demais para se sentar em qualquer uma destas
posturas. Isso acontece com todos. Contudo, com perseverança, mesmo as pessoas com maior rigidez
nas pernas podem conquistar estas posturas meditativas. Com a prática contínua, a perna vai perdendo
sua rigidez e se torna mais flexível. Gradualmente você poderá sentar-se em qualquer posição
meditativa com conforto, mais conforto que uma cadeira ou poltrona.

A atitude mental é muito importante. Se você inicia a prática com uma atitude negativa de que nunca
irá conquistar qualquer uma das posturas meditativas, estará programando a mente para derrota. Seja
otimista. Assuma para si mesmo que é tudo questão de tempo até que possa se sentar confortavelmente
em qualquer uma destas posturas. Se você verdadeiramente acreditar nisso, então a mente, que controla
o corpo, irá automaticamente iniciar as mudanças necessárias. Em outras palavras, sua mente estará
focada em um objetivo. Gradativamente o corpo começará a dar indícios de sua transformação. Você
notará que as pernas se tornam progressivamente mais flexíveis. Portanto, alívio relaxante através de
exercícios pré-meditativos e determinação são fundamentais.

É maravilhosa a sensação de quando você se senta em uma postura meditativa com conforto, mesmo
que seja por um breve período de tempo. Entretanto, passada a fase inicial, começa o desconforto e
você é obrigado a se mexer ou trocar as pernas. Mas para se adquirir proficiência na postura (āsana
siddhi), é necessário estender o período de tempo em que se assume a postura final. Este é um trabalho
que se realizará ao longo de semanas, meses. Nenhuma força excessiva é necessária. Tudo o que é
necessário é o aumento gradual do tempo em que você se estabelece na postura.
Eventualmente, você poderá se sentar para meditar confortavelmente por meia ou uma hora sem a
necessidade de movimentar o corpo. Isso significa que a postura está correta, pois existe conforto e
estabilidade, sem dor. É a partir deste ponto, da sustentação na postura, que você começará a colher
resultados das práticas meditativas e respiratórias. Sua consciência se tornará mais facilmente
unidirecionada uma vez que não estará atrelada ao desconforto corporal.

O relaxamento dos exercícios pré-meditativos

Como enfatizamos anteriormente, é estritamente necessário que o corpo esteja confortável e relaxado
para que a meditação possa ocorrer. Até mesmo as pessoas capazes de fazer todas as posturas
meditativas com facilidade ocasionalmente experimentam dificuldades, principalmente no que
concerne a pernas rígidas. É como acordar cedo pela manhã no intuito de se praticar a meditação. Você
notará que seu corpo está mais rígido do que em qualquer outra hora do dia.

Para isso, enfatizamos a prática dos exercícios pré-meditativos antes de sessões de meditação e
prāṇāyāma. Eles não apenas irão relaxar o corpo preparando-o para as posturas de meditação, mas
também irão acalmar a mente. Não é necessário praticar todos os exercícios, um ou dois são o
suficiente. Para meditação, em particular recomendamos a meia borboleta e a rotação do quadril, que
podem ser executados em poucos minutos. Esses exercícios irão ajudá-lo a extrair o máximo de suas
práticas, pois deixará de ser afetado pelas dores nas pernas e demais partes do corpo. Recomendamos
também que estes exercícios sejam realizados por iniciantes e praticantes avançados, bem antes da
meditação ou do prāṇāyāma. Estes exercícios também são úteis quando não temos tempo para praticar
āsanas.

Qual postura meditativa praticar?

Não é necessário praticar todas as posturas meditativas. Escolha uma postura em que se sinta mais
confortável e a pratique por um tempo, ao longo de suas meditações. As três primeiras posturas,
padmāsana, siddhāsana e siddha-yoni-āsana são as melhores e mais importantes. Deve ser seu
objetivo adquirir proficiência em alguma destas três posturas. Estes āsanas não são importantes apenas
por induzirem a estados mais sutis de consciência adquiridos durante as práticas meditativas, eles são
importantes também para técnicas avançadas de kriyā-yoga. E lembre-se sempre, siddha-yoni-āsana é
o equivalente feminino de siddhāsana.

Estas três posturas são as que mais proporcionam estabilidade. O corpo permanece firme e imóvel
como uma rocha. Seu domínio capacita o praticante a manter as costas eretas sem muito esforço. Nelas,
quase não existe a tendência de reclinar o corpo para frente, caso que não ocorre com outras posturas.
Estas posturas proporcionam um espaço de contato entre o chão e o corpo muito maior. Como o peso
do corpo é distribuído ao longo das pernas e glúteos, menor será a tensão e o desconforto na área da
lombar. Se você é um iniciante, não esperamos que se sente em alguma destas três posturas
imediatamente, pois elas exigem flexibilidade nas pernas e isso somente é adquirido com a prática
contínua. Neste caso, você pode utilizar a postura fácil para executar suas práticas de meditação e
respiração. Para este propósito, swastikāsana, ardha-padmāsana e vajrāsana são excelentes.
Posteriormente, elas farão com que as pernas se tornem mais flexíveis e você poderá então assumir
posturas mais difíceis como padmāsana, siddhāsana e siddha-yoni-āsana. As três posturas mais
simples são muito boas pois elas cultivam a estabilidade corporal, provêem uma base para coluna se
manter ereta e fortificam os músculos das costas. Portanto, escolha a que for mais adequada, de acordo
com suas necessidades.

De todas as posturas até o presente mencionadas, sukhāsana e vīrāsana, embora consideradas posturas
meditativas, não são tão boas quanto às outras, pois nelas existe a tendência de se desalinhar os ísquios
e curvar a coluna; isso ocorre porque a área de contato entre o corpo e o solo se dá apenas sobre os
glúteos, causando tensão e desconforto.
Se você é excepcionalmente rígido ou encurtado, talvez ache que todas estas posturas não lhe servem.
Sob estas circunstâncias, sente-se com as pernas esticadas. Se necessário, encoste as costas na parede.

Dor lombar e dor nas pernas

Seja lá qual for à postura que você escolha no início, tenha certeza de que irá experimentar sensações
de dor e incômodo nas costas e nas pernas. Mas com o tempo essa tendência poderá ser removida pela
prática diária de āsanas que exercitam e flexibilizam todo o corpo, alongando os músculos, liberando
as juntas e relaxando as tensões nervosas. Estas outras posturas não apenas preparam o corpo para
meditação, mas trazem saúde para o corpo e a mente.

Após se sentar na postura meditativa, estas dores e incômodos podem ser removidas de várias
maneiras. A melhor maneira de aliviar as dores nas pernas é vagarosamente esticá-las e dobrá-las por
alguns minutos e depois sentar-se sobre os calcanhares assumindo a postura do raio. Isso rapidamente
libera a tensão. A melhor maneira de remover a dor lombar é arquear as costas para frente, para trás e
então para os lados. Três excelentes posturas para isso são: śaśankāsana (postura da lebre),
bhujaṃgāsana (postura da cobra) e meru vakrāsana (torção da coluna).

Existem opiniões conflitantes sobre quanto tempo uma pessoa deveria suportar as dores e os incômodos
durante a prática de meditação e prāṇāyāma e quando se deve remover essas dores e incômodos
ajustando a posição do corpo para depois dar continuidade a prática. A este respeito, discrição é
necessária. O ideal é não se mexer durante as práticas de meditação e prāṇāyāma, mas isso é muito
difícil quando existe grande quantidade de dor e desconforto no corpo. É impossível manter a
consciência unidirecionada se a mente estiver atrelada a dor física. Portanto nós recomendamos que
um certo grau de desconforto fosse tolerado, pois se você estiver absorto em si mesmo na prática, é
possível esquecer as dores e os incômodos. No entanto, se a dor e o desconforto forem irresistíveis e
você não enxergar a chance de esquecer-se do corpo, então ajuste a sua postura, relaxe seus membros e
então retorne a sua posição e continue sua prática.

Eventualmente este problema não vai mais acontecer, pois o corpo terá se tornado suficientemente
flexível e relaxado, impedindo o desconforto. A consciência será focada na prática. Sob essas
circunstâncias você não notará a dor. Não haverá a tendência de se movimentar.

Precaução
Sob nenhuma circunstância força excessiva deve ser usada para se praticar essas posturas. Seja paciente
e espere os músculos das pernas se tornarem alongados e flexíveis. Exagero fará estragos e prejudicará
o andamento da prática.

Preparação para posturas clássicas de meditação

As duas primeiras posturas que se seguem são muito úteis nos primeiros estágios da prática. Entretanto,
as melhores posturas para meditação são as clássicas padmāsana (postura do lótus), siddhāsana
(postura do homem realizado) e swastikāsana (posição auspiciosa). Seu objetivo deve ser conquistar o
conforto e a estabilidade em uma destas posturas clássicas. Os exercícios pré-meditativos cumprem a
função de preparar o corpo para conquista destas posturas e de outras mais avançadas.

A fim de avaliar seu progresso no caminho espiritual, todo praticante de Yoga e meditação deveria
manter um diário espiritual. O diário é o açoite da mente. Ele é seu professor e guia. Ele irá ajudá-lo a
remover seus aspectos negativos e a ser regular em sua prática espiritual (sādhanā). Ele mostra o
caminho para liberação e o repouso na bem-aventurança divina. Portanto, todos aqueles que aspiram à
realização espiritual devem manter um diário onde possam anotar todas as suas ações. Com isso,
rapidamente progredirão no caminho espiritual.

Anote tudo em seu diário. Não esconda suas fraquezas ou defeitos. É para corrigi-lo e transformá-lo, é
para remover suas fraquezas e defeitos, é para desenvolver uma natureza espiritual e auxiliá-lo no
caminho da auto-realização que este diário é mantido. Se você for sincero, então o diário irá se
transformar no mestre silencioso que abrirá seus olhos e irá dirigi-lo rumo à conquista espiritual.

O diário irá lhe ensina o valor do tempo. No final de cada mês você poderá calcular o número total de
horas que despendeu executando japa, estudando livros espirituais, sādhanā, sono etc. Assim saberá
quanto tempo gastou com propósitos espirituais e quanto tempo gastou desperdiçando energia. Dessa
maneira será capaz de aumentar gradualmente o tempo de japa, meditação etc. Se você mantiver um
diário, sem falta em suas anotações, não quererá gastar um minuto de seu tempo com coisas
desnecessárias. Somente assim você compreenderá o valor do tempo e a maneira de administrá-lo.

Na medida em que mantém um diário você terá que estabelecer resoluções (saṅkalpa) versáteis que
estejam em concordância com suas capacidades e circunstâncias, mantendo-as a qualquer custo.
Existem resoluções positivas e negativas. Quando uma resolução negativa aparecer espontaneamente
por conta da natureza grosseira da mente, imediatamente uma resolução positiva, oposta, deve ser
executada. De outra forma, as resoluções negativas irão criar complexos indesejados. É claro, a
resolução positiva pode não funcionar, muitas vezes por conta da inabilidade em se projetar o poder da
vontade e manter seu foco unidirecionado, mas é melhor tentar e falhar do que nunca ter tentado.
Mahaṛṣi Patañjali em seu Yogasūtra (II: 33) ensina o método que ele denominou de pratipakṣa-
bhāvanam:

[Quando] acorrentado por pensamentos negativos, [seus] opostos [positivos] devem ser cultivados.
[Isto é] pratipakṣa-bhāvanam.

No caminho da auto-transformação somos açoitados por pensamentos negativos e paixões (vitarka)


devido a velhos hábitos e tendências que criam perturbações e desequilíbrios internos. Ao invés de
ceder a eles ou mesmo racionalizá-los, Patañjali descreve uma ação direta: o cultivo ou a ponderação
sobre pensamentos opostos (pratipakṣa-bhāvanam). Por exemplo, se você estiver cultivando a
honestidade e no seu caminho só aparecem pessoas desonestas e bem sucedidas, pode vir a pensar
negativamente que apenas praticando a desonestidade poderá conquistar algo de valor na vida. Isso é
vitarka, o lado errado ou negativo do argumento. Quando este argumento negativo é cultivado na forma
de uma resolução constante, cria-se um desequilíbrio na mente, o que pode desajustar a caminhada do
aspirante. Nesta situação, o oposto da desonestidade, que é a honestidade, deve ser cultivado na forma
de uma ponderação e resolução sobre o assunto. Portanto, quando vier a mente que a honestidade não é
um valor cultivável e que ninguém recebe nada por ela, você deve estar preparado com um argumento e
resolução oposta de que é somente através da honestidade que poderá ser bem sucedido no caminho
espiritual. Isso se aplica a inúmeros sentimentos, paixões e pensamentos negativos. Se você sentir
ressentimento em relação a alguém, desenvolva pensamentos de perdão. Se houver medo, cultive
resoluções corajosas que aumentem a confiança em si mesmo.

Para contrariar as tendências enraizadas de pensamentos negativos, requer-se o uso regular e diligente
do saṅkalpa. Como temos visto nos nossos estudos, a mente é como um computador que opera segundo
sugestões que foram programadas desde a tenra idade, sugestões danosas que causam sofrimento e
infelicidade na vida. Estas sugestões vêm de nossos pais, amigos, professores, da mídia, símbolos e
valores culturais que permeiam o mundo. O processo de cura interior requer que cada um de nós
enfrentemos todas as emoções e pensamentos negativos de maneira hábil, sem suprimi-los. Isso nós
podemos conquistar com o cultivo do saṅkalpa, a resolução positiva. Como sugestão, identifique e
classifique em seu diário os pensamentos negativos habituais. Cultive resoluções, afirmações e auto-
sugestões opostas às tendências negativas de sua personalidade. Cultive a prática consciente dos dez
códigos de reprogramação mental e pondere sobre pensamentos positivos associados a sugestões
incisivas. Pratique o perdão e baikharī-brahmacarya.

Anote todas as dificuldades e complexos que possam surgir e preserve essas anotações no local onde
executa seu sādhanā. Quando se sentir impaciente e deprimido, vá ao seu local de prática, medite um
pouco e então leia suas anotações e resoluções. Isso lhe trará paz mental e removerá os sentimentos de
negatividade e dúvida.
Como fazer seu diário

As questões abaixo foram compiladas de maneira que possam servir a qualquer temperamento.
Distribua essas perguntas em colunas a cada semana no seu diário, deixando um espaço adequado após
cada uma para anotações diárias. Após a anotação diária deixe um espaço em branco para a anotação do
total de horas que despendeu com sono, sādhanā, número de voltas na mālā na pratica de japa etc.
Após um mês, estude as anotações que fez através da auto-observação sincera e honesta, traçando
assim o seu progresso. Outro método de acessar a si mesmo é computando o número total de horas que
aumentou em sua prática ou o número de respostas positivas ou negativas referentes às questões, uma
vez na semana, colocando as anotações em um gráfico de análise pessoal. Após a execução das
anotações no gráfico, no período de três meses, compute o número total de qualidades; assim você
poderá acessar o seu padrão psicológico. Baseado nestes dados, poderá analisar a si mesmo. Pela
introspecção profunda você aguçará a consciência de seu comportamento e de como sua mente
funciona em diferentes situações e circunstâncias.

. Q U E S T Õ E S PA R A O D I Á R I O E S P I R I T U A L .

1. Que horas você se levantou essa manhã?

O propósito desta questão não é fazer com que se levante bem cedo pela manhã, induzindo uma luta
contra sua natureza, mas reestruturar as bases de seus hábitos. Portanto, o que aconselhamos é a
disciplina gradual, semana após semana, mês após mês, da hora para se levantar. Quanto mais cedo,
melhor, para qualquer um.

2. Por quantas horas você dormiu?

Muitas pessoas se confundem com essa questão porque não sabem o quanto devem dormir. O tempo
necessário de sono, aquele que podemos dizer ser essencial, é o tempo requerido para descarbonização
apropriada do sistema, o que difere de indivíduo para indivíduo. O tempo médio requerido para
intelectuais é seis horas de sono; para trabalhadores braçais, oito horas; para sādhakas (praticantes),
quatro horas. Quem alcançou o samādhi definitivamente não precisa dormir. As pessoas que dormem
em excesso acumulam toxinas no organismo. Se não, podem ocorrer supressões psicológicas ou
tensões profundamente enraizadas. Uma pessoa normal, com jornada de trabalho de oito horas por dia,
não precisa de forma alguma dormir demais. Você pode diminuir as horas de sono empreendendo uma
dieta sattvica.
3. Quanto tempo durou sua prática de āsana e prāṇāyāma?

Selecione alguns āsanas que estejam em concordância com sua natureza, quer dizer, que estejam
efetivamente trabalhando para sanar seus desequilíbrios ou execute aqueles que seu guru ou professor
lhe instruiu a fazer. Pratique com regularidade. Após a prática de āsanas, execute prāṇāyāma. O tempo
despendido nessa prática pode ser de trinta a noventa minutos.

4. Quantas voltas na mālā você executou enquanto praticava japa? Quanto minutos durou sua
meditação?

Isso é importante. Portanto, tome a resolução de fazer um determinado número de voltas na mālā ou
determine um tempo para prática todos os dias. Entusiasmo em demasia não é bom. Japa pode ser feito
com seu guru-mantra ou com qualquer mantra universal.

5. Quanto tempo você despendeu praticando karma-yoga?

Escreva o número total de horas que você trabalhou. Se você executa cada ato de forma cuidadosa e
consciente, isso se torna karma-yoga. É karma quando você age automaticamente. É karma-yoga
quando você atua com consciência em cada ação. Quando você age desatentamente, suas ações são
kármicas. Através da prática do karma-yoga você desenvolverá uma atitude desapegada e não será
afetado por influências externas. Quando você completa uma tarefa com desapego, sente-se em paz.
Karma-yoga é o melhor método para se desenvolver o desapego. Cada pensamento, palavra e ação
devem ser acompanhados de total consciência. Se você cultiva a consciência, a qualidade de seu
desapego se refinará com o tempo. Sucesso e falha, vitória e derrota, prazer e dor não terão efeito sobre
sua mente.

6. Quantas vezes você se irritou hoje? Qual foi o processo de auto-retificação?

Se você se zangou, ficou chateado, se irritou e passou dos limites, precisa retificar-se. Como símbolo
de punição, um tratamento adequado deve ser iniciado. Se você não consegue disciplinar a si mesmo ao
ponto de parar de executar atitudes indesejáveis, toda vez que cometê-las, terá que se auto-impor uma
punição cumulativa por um mês, por exemplo, pelas atitudes negligentes. Não existem benefícios ao se
entregar a um sentimento de fúria e por conta desta atitude indiscriminada e insensata, você tem que
corrigir a si mesmo. Peça desculpas a pessoa ofendida e lhe garanta que irá se corrigir. Você deve
decidir a forma em que irá retribuí-la por suas atitudes. De qualquer maneira, nunca aja quando estiver
com a mente em estado de guerra. Aja apenas quando sua mente estiver positivamente disposta.

7. Qual virtude você está tentando cultivar?

Primeiro, faça uma resolução para o cultivo de uma virtude, que seja muito difícil de conquistar. Por
exemplo, você pode fazer uma resolução para diminuir a fala, evitando conversas fúteis e
desnecessárias. Assim, mês após mês você continua cultivando virtudes como a tolerância,
obsequiosidade etc.

Se você obtiver sucesso mantendo a virtude desejada, marque sim na coluna, se não, marque não.

8. Qual defeito você está tentando eliminar?

Não tente eliminar um defeito muito difícil no início da jornada. Comece, por exemplo, com uma
resolução para deixar de proferir palavras rudes. Posteriormente você trabalha o ciúme, o julgamento
inadequado etc.

Se você obtiver sucesso erradicando o defeito indesejado, marque sim na coluna, se não, marque não.

9. Você tem falhado em manter brahmacarya?

Luxúria, atração e fascínio sexual, sonhos eróticos etc. são um desvio na execução de brahmacarya.
Tudo deve ser anotado no diário.

10. Você tem experienciado à ganância em sua vida?

Aqui se inclui a gula, a ganância por roupas, posição social, poder, fama etc.

11. Quanto tempo você tem despendido com o auto-estudo?


Swādhyāya ou auto-estudo é um importante aspecto da vida espiritual. Pelo menos uma hora por dia
devia ser dedicada ao estudo de si mesmo. Livros devem ser cuidadosamente selecionados a fim de que
possam provê-lo de conhecimento espiritual.

12. Quanto tempo você desperdiçou executando ações inúteis?

Aqui inclui a tagarelice, a fofoca, o tempo gasto com novelas, revistas, jornais, programas de TV, jogos,
filmes e sonhos utópicos.

13. Quanto tempo você despendeu praticando mouna?

Reserve um período de tempo diário para prática de mouna (silêncio). Por exemplo, pratique mouna de
18:00 às 6:00hs ou pratique por todo dia, uma vez por semana.

Aqui inclui também a prática de baikharī-brahmacarya, i.e. a continência verbal. Essa é uma maneira
saudável de nos relacionarmos com nossos julgamentos. Uma vez que o julgamento é inerente a
natureza humana, devemos cultivar uma atitude de desapego em relação a ele. Isso significa considerar
que muitas vezes o julgamento terá um valor relativo e pode estar sujeito a reavaliações e ajustes.
Aferrar-nos com unhas e dentes a uma opinião pode nos levar a erros e situações desnecessárias de
sofrimento.

A fim de que possamos purificar o psiquismo, encontramos um processo fundamental no Yoga


chamado antaḥkaraṇa-śuddhi. Para executá-lo precisamos fazer um exercício de continência verbal
(baikharī-brahmacarya). Vamos usar novamente o exemplo do julgamento: se o julgamento for
abonador, compassivo, amistoso, pacífico ou neutro, temos todo direito de expressá-lo em público. Mas
se, pelo contrário, o julgamento tiver conteúdos conflitivos, críticas desmedidas ou que possam
machucar alguém, seria melhor ficarmos calados, guardando estes conteúdos para nós. Este exercício
treina a mente, deixando-a tranquila e objetiva, onde há a predominância de pensamentos harmoniosos.
Para isso acontecer de maneira saudável, podemos sublimar a tendência de falar mal dos demais
cantando mantras ou cultivando o silêncio compassivo.

Existem aspectos da disciplina yogī que são desconhecidos por muitos praticantes,
principalmente os principiantes. Comumente, estes aspectos somente são compreendidos e
assimilados na medida em que progredimos no caminho do Yoga. Quando falamos em
sādhanā «prática espiritual», muitas vezes nos vem à mente o aṣṭāṅga-yoga delineado por
Patañjali no Yogasūtra – e que está presente desde tempos imemoriais na literatura védica,
tântrica e também nas upaniṣads[1] –, o sapta-sādhanā de Mahāṛṣi Gheraṇḍa ou os
ensinamentos de Śrī Svātmārāma Yogīndra na Haṭha-pradīpikā. Contudo, o sādhanā, seja
ele baseado em Patañjali, Gorakṣa, Gheraṇḍa ou Svātmārāma, não está completo sem o
cultivo e a prática de outros «aṅgas», outros aspectos da disciplina. Portanto, neste texto
vamos discutir estes aspectos desconhecidos da prática, no entanto valiosos em demasia
para o progresso em direção à liberação. Estes aspectos ou «práticas de yoga» foram
citados em diferentes upaniṣads e são considerados os responsáveis pelo despertar da
consciência espiritual. Iremos começar nossa jornada pelo nono śloka da Gheraṇḍa-saṃhitā,
seguindo para os outros aspectos ocultos do sādhanā, revelados em varias upaniṣads.

Gheraṇḍa diz a Caṇḍakāpāli que para haver progresso no ghaṭastha-yoga,[2] é necessário


que o estudante tenha sete «qualidades» e para isso tem de empreender sete práticas. Ele
diz: śodhanam dṛdhatā caiva sthairyam dhairyam ca lāghavam, pratyākṣam ca nirliptam ca
ghaṭasya saptasādhanam,[3] i.e. «As sete disciplinas para o adestramento do corpo são:
purificação, firmeza, estabilidade, paciência, leveza, percepção direta e isolamento.» Sem
essas qualidades é impossível dar continuidade a prática do ghaṭastha-yoga. Então temos:

Śodhonam «purificação»

A fim de manter o corpo e a mente livre de doenças, desordens e desequilíbrios, é essencial


que o estudante empreenda esforço «tapaḥ» em purificar todos os aspectos de sua psique.
O Yoga possui inúmeros procedimentos de purificação para o corpo, a mente, as emoções
etc.

Dṛdhatā «firmeza»

Dṛdhatā significa firmeza, constância, perseverança. Alguns traduzem a palavra como força,
energia, outros preferem traduzir como força mental ou firmeza da mente. O propósito pelo
qual a palavra foi utilizada aqui não é apenas físico, mas mental, intelectual e emocional
também.

Considere, por um minuto, as inúmeras tentativas que fazemos durante a prática para tornar
o corpo forte e firme, os esforços que fazemos para tornar claro e lúcido o processo do
pensamento. Com firmeza e o poder de uma resolução «saṅkalpa» pessoal, é possível tornar
a vida um local harmonioso e equilibrado. Assim, o sábio Gheraṇḍa ensina que é importante
conquistar a qualidade da firmeza a fim de purificar o Ser, na intenção de se manter paciente
na prática até que o resultado se mostre estável. Aqui, dṛdhatā significa se movimentar junto
ao saṅkalpa, adotando a resolução e permanecendo firme nela.

Sthairyam «estabilidade»

A terceira qualidade a ser desenvolvida é sthairyam, que significa estabilidade. No Yogasūtra


(II:46), Patañjali descreve a estabilidade referindo-se ao corpo. Ele disse:
sthirasukhamāsanam,[4] que quer dizer «postura fácil e confortável». Durante a prática de
āsanas, devemos assumir uma postura estável. Não somente a postura do corpo, mas
principalmente uma postura de estabilidade interior. Não deve haver dificuldade, tensão ou
dor. As posturas do corpo devem ser feitas de maneira bem relaxada. Isso facilita o āsana-
pratyāhāra, quer dizer, a prática de posturas de Yoga que lhe conduza a um estado de
pratyāhāra,[5] o que só acontece quando o corpo está confortável e estável, sem dor ou
tensão. O mesmo objetivo é referido aqui por Gheraṇḍa. É essencial que o corpo adquira
estabilidade, pois se ele permanecer inquieto e agitado não permitirá que a mente se torne
centrada, unidirecionada. Estabilidade é apontada aqui como uma qualidade ou necessidade.
Como atingir este estado de estabilidade é explicado posteriormente por Gheraṇḍa.

Dhairyam «paciência»

A quarta qualidade é dhairyam, que significa paciência, mas também calma. Dhairyam é o
que nos torna «não afetados» pelas situações, permanecendo pacientes e tolerantes,
evitando a angústia e a tensão. É uma qualidade mental, pois é a mente, não o corpo, que
perde a paciência.

Lāghavam «leveza»

A quinta qualidade ou «necessidade» é lāghavam, que significa leveza, mas também clareza,
luminosidade e suavidade. No contexto da vida e das qualidades necessárias para o Yoga, o
corpo do yogī deve permanecer leve; não deve ser pesado ou gordo. Um corpo gordo e
pesado é inadequado para o Yoga porque se acredita que o excesso de peso é a causa de
muitas doenças. Isso não significa, contudo, que pessoas sobrepeso não possam se tornar
yogīs.

O sobrepeso é causado pela comilança descontrolada, que provoca o acúmulo de desordens


no corpo. De acordo com a ciência médica, existe um estado corporal saudável. Quando
ocorre um desequilíbrio e o estado corporal saudável perde-se, então surgem as desordens.
Começam a aparecer problemas no sangue, perda de tônus muscular e massa magra, os
ligamentos ficam fracos etc. O corpo desenvolve doenças das mais variadas. O excesso de
peso causa desconforto nas juntas, problemas cardíacos ou pressão alta. Na medida em que
essas condições se acumulam, a pessoa se torna suscetível a outras mazelas como úlcera
ou hérnia. Portanto, para um praticante de Yoga é essencial ter o corpo leve no início, do
contrário o Yoga não será aperfeiçoado.

Uma vez que o Yoga seja aperfeiçoado e o praticante vai além da experiência do corpo, não
é preciso se preocupar em demasia com o estado físico. Na realidade, quando a energia
prânica desperta,[6] ela se concentra no maṇipūra-cakra e o abdômen cresce. Estes yogīs
dificilmente comem comidas pesadas. Muitos se alimentam só de frutos. Em tais yogīs a
expansão do maṇipūra-cakra é o despertar do prāṇa, não uma desordem no corpo. Portanto,
deve ser observado que muitos santos e yogīs realizados têm a barriga grande. Contudo, nos
estágios iniciais da prática, o corpo deve ser magro.

Pratyākṣam «percepção direta»

Pratyākṣam[7] é a sexta qualidade. A palavra significa percepção direta, aceitação ou


realização. É a natureza da aceitação interior, quer dizer, seja lá qual for à experiência sutil
ou interna, deve haver sempre clareza ou percepção direta diante da experiência.
Pratyākṣam vem de prati, um prefixo que indica oposição ou confronto a palavra que o
precede. Ākṣam significa olhos, visão ou ver.
Não podemos confundir o estado de pratyākṣam com o estado de laya «dissolução», onde
não é possível ver nada. Também não é um estado de experiência sensual. Ao contrário, é o
estado onde é possível ver com clareza a experiência interna ao mesmo tempo em que se
mantém estável em si mesmo, no seu próprio eixo.

Vamos tomar um exemplo da vida. Em Minas Gerais, onde vivo, existe um doce chamado
banana flambada. É a mistura da banana, queijo e calda melada de banana ao fogo. Feche
os olhos e imagine que você está colocando na boca esse doce. Experiencie o sabor
enquanto come o doce. O gosto do queijo, da banana e da calda irão desaparecer e só um
gosto permanecerá, que não é nenhum dos três. Com a experiência desse sabor você vai
dizer: «que delícia». A «delícia» não se refere ao queijo, à banana ou a calda, mas a um
quarto sabor formado a partir da combinação desses outros três sabores. É sutil, não pode
ser visto. Algo que não é experienciado com a banana, queijo ou calda, mas está presente. A
percepção direta dessa experiência na estabilidade interior é pratyākṣam.

Nirliptam «isolamento»

A sétima qualidade é nirliptam. Muitas pessoas usam essa palavra como um equivalente
para samādhi, mas em essência, nirliptam é um estado de desinteresse, desapego e «não
envolvimento» da mente, portanto, isolamento. Estar envolvido é o que acontece com uma
mosca que voa e afunda profundamente suas asas em um pote de açúcar. Ela se torna
incapaz de sair dali voando. Nirliptam é quando a mente não se envolve. Até que essa
qualidade seja conquistada, o buscador continua apegado à vida, ao corpo, aos
pensamentos, as emoções, paixões e desordens. É preciso ir além desses apegos para
tornar-se estabilizado no processo do auto-conhecimento, livre da força gravitacional que nos
atrai ao mundo.

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