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Siderly do Carmo Dahle de Almeida


Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano
Fabricio Ricardo Lazilha
Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva

(Organizadores)

Conhecimento e Educação
Volume 1

Maringá – PR
2016
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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UNICESUMAR – CENTRO UNIVERSITÁRIO CESUMAR


PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MODALIDADE EAD

Siderly do Carmo Dahle de Almeida


Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano
Fabricio Ricardo Lazilha
Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva

(Organizadores)

Conhecimento e Educação
Volume 1

Maringá – PR
2016

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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EXPEDIENTE Capa
Reitor Alvaro Martins Fernandes Junior
Wilson de Matos Silva
Autores
Vice-Reitor Alvaro Martins Fernandes Jùnior e Marlon J.
Wilson de Matos Silva Filho Karvat; Andreia dos S. Gallo e Renata Carvalho
Pró-Reitor de Educação a Distância de A. Campos; Andressa Schiavone P. A.
Willian Victor Kendrick de Matos Silva Vieira e Ana Claudia A. Gomes; Edivana G. S.
Antunes e Cleber B. da Costa;. Eliana Cláudia
Diretora de Pesquisa Graciliano e Camila G. da Silva; Fabrícia Souto
Ludhiana Ethel Kendrick de Matos Silva Cruz e Terezinha S. dos S. Macedo; Fernanda
Diretor de Planejamento de Ensino C. B. Hernandez e Hildebrando P. Santos Filho;
Fabrício Ricardo Lazilha Franciele Muller Prado e Gracileno T.
Pimentel; Gisele Soncini Rodrigues e Ângela
Diretora Operacional de Ensino M. E. Luíz; Gizeli Fermino Coelho e Marcio A.
Katia Solange Coelho O. Macedônio; Helaine Patricia Ferreira e
Head de Projetos Educacionais e Inovação Luciana R. Meneguci; Isabela Quaglia Marques
Camilla Barreto R. Cochia Caetano e Ivan Vitti; Márcio de Oliveira e Cristina
Momoli; Renata Pedroso Leonel e Natalia L. de
Gerente de pós-graduação - EAD S. da Costa; Fabiane Carniel e Rejane Sartori;
Marcelo Cristian Vieira Marcia Maria Previato de Souza e Andrea
Coordenação de pós-graduação - EAD Grano Marques; Siderly D. de Almeida e Maria
Siderly do Carmo Dahle de Almeida Teresita Bendicho; Sonia Maria de C. Silva e
Jane Haritov de Freitas; Valdelice dos Anjos
Professoras líderes de pós-graduação Rasimaviko Rejani e Renata Mantelo Lachi.
Andréia M. Zuliani Santos
Sibele de Oliveira Pirasol Comissão Científica
Prof. Dra. Leocilea A. Vieira – UNESPAR - PR
Organizadores Prof. Dra. Dinamara P. Machado – UNINTER - PR
Siderly do Carmo Dahle de Almeida Prof. Dra. Andrea G. Marques – UNICESUMAR - PR
Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Prof. Dra. Rejane Sartori – UEM – PR.
Fabricio Ricardo Lazilha
Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva Revisão textual
Valdelice dos Anjos Rasimaviko Rejani
Conselho Editorial Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra
Andréia dos Santos Gallo; Fabricia Souto Cruz; pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma
Milene Harumi Tomoike; Nayara Emi Shimada; e ou quaisquer meios ou arquivada em qualquer sistema
Patricia Parra; Valdelice dos A. Rasimaviko sem permissão escrita da Unicesumar.
Rejani; Soraia Alves Feitoza Alves.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


A447c
ALMEIDA, Siderly do Carmo Dahle de
Conhecimento e Educação. ALMEIDA, Siderly do Carmo Dahle de; CAETANO, Camilla Barreto Rodrigues
Cochia; LAZILHA, Fabricio Ricardo; SILVA, Ludhiana Ethel Kendrick Matos (Orgs.). Maringá-Pr.: CESUMAR,
2016. 196 p.
Contém Ilustrações e figuras
Pós Graduação em Educação na modalidade EAD
ISBN 978-85-459-0399-4
1. Gestão do Conhecimento. 2. Educação.
3. Aprendizagem. 4. Currículo. I. Título. CESUMAR.
CDD 22ª. 370
NBR 12899 – AACR/2

João Vivaldo de Souza – Bibliotecário – CRB-9 – 1807


Biblioteca Central Unicesumar
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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SUMÁRIO

GESTÃO ESCOLAR: A BUSCA EM APRIMORAR CONHECIMENTO E PROMOVER


A DEMOCRACIA
Alvaro Martins Fernandes Júnior e Marlon José Karvat .............................................. 9
A PSICOPEDAGOGIA E O LETRAMENTO: INTERAÇÕES COM A BIBLIOTECA
ESCOLAR
Andréia dos Santos Gallo e Renata Carvalho de Albuquerque Campos ........................ 20
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: BRINCAR, IMAGINAR E CRIAR
Andressa Schiavone Pereira Aquaroni Vieira e Ana Claudia Assis Gomes .................... 30
INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
Edivana Gomes Severino Antunes e Cleber Balbino da Costa ...................................... 40
A IMPORTÂNCIA DA FUNÇÃO DO PROFESSOR NO PROCESSO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM: A BUSCA PELA FORMAÇÃO SOCIAL DO ALUNO
Eliana Cláudia Graciliano e Camila Gomes da Silva .................................................... 49
PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA AO LIDAR COM ALUNOS
QUE APRESENTAM TRANSTORNOS DE LINGUAGEM E DE APRENDIZAGEM
Fabrícia Souto Cruz e Terezinha Soares dos Santos Macedo ....................................... 59
A IMPORTÂNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS PARA O NEGRO NO
BRASIL
Fernanda Carvalho Basílio Hernandez e Hildebrando Pereira Santos Filho .................... 66
REGIÃO DE INTEGRAÇÃO METROPOLITANA DE BELÉM FRENTE AO PROCESSO
DE EXPANSÃO URBANA
Franciele Muller Prado e Gracileno Trindade Pimentel ............................................... 76
TIC APLICADA A EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIAS COM O USO DE BLOG EM AULAS
DE GEOGRAFIA
Gisele Soncini Rodrigues e Ângela Marli Ewerling Luíz ................................................ 86
A EDUCACAO TEOLOGICA NA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL E O PAPEL DA
DIDÁTICA
Gizeli Fermino Coelho e Marcio André Orso Macedônio .............................................. 95

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ENTENDENDO A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: AS POSSÍVEIS DIFICULDADES DOS


DISCENTES E SUA RELEVÂNCIA NO ENSINO NO PAÍS
Helaine Patricia Ferreira e Luciana Ribeiro Meneguci ...................................................101
A FORMAÇÃO DOCENTE E A INTERAÇÃO POR MEIO DAS NOVAS
TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
Isabela Quaglia Marques e Ivan Vitti............................................................................111
A PESQUISA PARA O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Márcio de Oliveira e Cristina Momoli ..........................................................................119
MOTIVAÇÃO: UMA NECESSIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR
Renata Pedroso Leonel e Natalia Lobo de Souza da Costa .........................................125
A INFLUÊNCIA DA COMUNICAÇÃO ESCRITA NO PROCESSO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Fabiane Carniel e Rejane Sartori .................................................................................134
A PRODUÇÃO TEXTUAL EM SALA DE AULA: UM INSTRUMENTO PARA O
DESENVOLVIMENTO DO LETRAMENTO
Marcia Maria Previato de Souza e Andrea Grano Marques ...........................................144
AS NOVAS TECNOLOGIAS E A ÁREA DA SAÚDE: EM FOCO A FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
Siderly do Carmo Dahle de Almeida e Maria Teresita Bendicho....................................155
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA A SOCIALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Sonia Maria de Campos Silva e Jane Haritov de Freitas ...............................................166
DOM QUIXOTE: UMA PROPOSTA PARA FORMAÇÃO DE LEITORES
Valdelice dos Anjos Rasimaviko Rejani e Renata Mantelo Lachi .................................175
INOVAÇÕES E MUDANÇAS NO PERFIL DO EDUCADOR INFANTIL
Kethlen Leite de Moura e Dayara Lyanne Ribeiro da Silva ............................................188
SOBRE OS ORGANIZADORES ....................................................................................199
SOBRE AS MADRINHAS ............................................................................................201

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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APRESENTAÇÃO

“Conhecimento e Educação” é uma obra coletiva que apresenta os


melhores artigos produzidos pelos alunos dos cursos de pós-graduação em
educação na modalidade a distância do Centro Universitário Cesumar –
Unicesumar, no primeiro ciclo de orientações de 2016.
Esta obra representa o trabalho de alunos que buscaram traduzir em
poucas páginas tudo aquilo que aprenderam no decorrer de seus cursos e o
esforço de orientadores que visaram extrair de seus orientandos o seu melhor
desempenho. Representa também a dedicação de uma equipe de “madrinhas”
de cursos (professoras que compõe o conselho editorial desta obra) que foram
incansáveis na busca por garantir a qualidade e o melhor atendimento aos
professores e alunos envolvidos no processo de orientação.
Para que esta obra se efetivasse, importante salientar a contribuição dos
Polos de apoio presencial, assim como a ajuda dos professores formadores;
professores mediadores e tutores dos cursos de pós-graduação em educação na
modalidade a distância da Unicesumar e, ainda, a colaboração de uma comissão
científica que avalizou todo o processo.
Os temas eleitos por seus autores são atuais, de relevância e prioritários
no contexto educacional e perpassam por todos os cursos de educação
oferecidos pela Unicesumar: EAD e as Tecnologias Educacionais; Gestão
Educacional; Psicopedagogia Institucional; Atendimento Educacional
Especializado; Docência no Ensino Superior; Educação Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental; Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa; Metodologia
do Ensino de Matemática; Metodologia do Ensino de História e Geografia e
Metodologia do Ensino de Artes.
Os alunos autores destes textos pertencem aos polos de São Bento do
Sul – SC; Maringá – PR; Palmas – TO; Campinas – SP; Balneário Camboriú –
SC; Salvador – BA; Belém – PA; União da Vitória – PR; Rio Grande – RS;
Varginha – MG; Campo Mourão – PR; Sinop – MT; Guarapuava – PR; Itajubá –
MG e São Vicente – SP.
Boa leitura!

Os organizadores

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GESTÃO ESCOLAR:
A BUSCA EM APRIMORAR CONHECIMENTO E PROMOVER A DEMOCRACIA

ALVARO MARTINS FERNANDES JÚNIOR1


MARLON JOSÉ KARVAT2

RESUMO

No conceito de gestão escolar a escola deve ser organizada a partir da


integração entre áreas e setores escolares, ao mesmo tempo que deve
estabelecer bom relacionamento entre professores, alunos, pais e comunidade.
Ao contrário do que acontecia no sistema tradicional de ensino, a Gestão
Escolar, criada para superar o antigo regime, visa influenciar positivamente a
escola em prol de um ensino de qualidade e da participação coletiva, assim
como vem promover novos conceitos e valores associados à autonomia escolar
e participação da sociedade nas decisões escolares. Sendo assim, a escola
passou a ser considerada um sistema aberto, com identidade e cultura própria,
capaz de reagir e intervir com eficácia no contexto escolar e social. Nessa
perspectiva, o gestor deve se empenhar naquilo que envolve a gestão
pedagógica, e a gestão dos resultados escolares, ou seja, o gestor deve atentar-
se para atividades que envolve capacidade administrativa, gestão financeira e
relações pessoais. Enfim, a tarefa do gestor escolar é ter conhecimento
pedagógico, garantir aprendizado de qualidade e gerir adequadamente os
recursos financeiros. O artigo teve por objetivo geral identificar as mudanças
ocorridas no contexto histórico das instituições até se chegar ao novo conceito
de Gestão Escolar.
Palavras-Chave: Gestão Escolar. Participação Coletiva. Ensino de Qualidade.

1 INTRODUÇÃO

A temática que envolve gestão escolar parece ser um desafio para o


sistema educacional, pois tem o intuito de desenvolver um trabalho em equipe,
de maneira democrática e participativa, onde todos os envolvidos podem
contribuir com o processo educacional e de gestão.
Nesse intuito, considera-se a gestão educacional um campo inerente à
administração, mas que, detentora de uma natureza diferenciada, tem sua prática

1
Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela UNICESUMAR – Centro Universitário
Cesumar. Doutorando em Educação: Currículo pela PUC-SP.
2
Aluno do curso de Pós-Graduação em Gestão Escolar pela UNICESUMAR – Centro Universitário
Cesumar- UNICESUMAR.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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e quadro teórico orientados para a contrução de valores éticos e culturais que


servem como aporte para o pleno exercício da democracia.
O domínio dos conhecimentos da gestão escolar corresponde a
especificidade das instituições educacionais e aos anseios da sociedade em
geral. A gestão é historicamente construída e por isto, nunca se efetiva como um
modelo pronto, mas, que está em constante transformação. Seu enfoque é
interdisciplinar e seu entendimento só é possível a partir da percepção de
influências econômicas, políticas, culturais e pedagógicas.
Sendo assim, procura-se situar o leitor em uma linha teórica que
contempla o estudo da Gestão Educacional brasileira a partir do momento em
que se efetivou o aparecimento de uma esfera pública, por meio da qual os
grupos representados em associações, partidos e outras entidades de classe,
puderam defender seus interesses junto ao Estado.
Esse conceito coincidiu com o alvorecer dos anos vinte, período em que
o conceito de modernidade fertilizou no solo brasileiro, entrelaçando valores
culturais difundidos pelos países norte-americanos e europeus. A partir desse
momento a educação se constituiu em objeto condicionate da modernidade
almejada e acredita-se que é somente a partir dela que a sociedade poderá
acompanhar e compreender as mudanças socio-econômicas e o verdadeiro
sentido das terminologias: democracia e cidadania.
Partindo da ótica de que é a educação o principal eixo para promover a
mudança da sociedade e a democracia, escolheu-se como título do artigo
Gestão Escolar: a busca em aprimorar conhecimento e promover a democracia.
A escolha do tema justifica-se pelo fato que as mudanças da sociedade
moderna atingiram todos os setores, principalmente o sistema educacional,
responsável pela formação do cidadão e pela difusão de conceitos e ideologias
democráticas, que visam a participação coletiva e não mais privilegiam ações
imperativas, características do sistema tradicional de ensino.
O artigo foi elaborado com bases na pesquisa bibliográfica e como
explica Silva (2002) essa pesquisa consiste na procura de referências teóricas,
publicadas em livros, artigos, documentos etc., para que o pesquisador que
procura explicar um problema a partir dos materiais pesquisados tome
conhecimento e analise as contribuições científicas à temática em questão, indo
além do que a realidade simplesmente mostra.
Teve como principal objetivo contextualizar toda a comunidade escolar
de que a prioridade da escola é aprimorar o conhecimento dos educandos,
formando gerações de pessoas livres, conscientes, responsáveis, situadas na
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realidade em que vivem para nela intervir, no sentido de transformá-la


democrática. No decorrer dos estudos e construção do artigo espera-se que os
gestores tenham consciência de que é preciso, cada vez mais, ser qualificado,
buscar conhecimento e estar preparado para acompanhar as mudanças do
mundo moderno, onde se privilegia o trabalho em equipe e a cooperação e, se
considera as vontades da comunidade escolar.

2 CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA EDUCACIONAL: UM POUCO DE HISTÓRIA

Segundo Lima et al (2003) o modelo republicano instituído no Brasil em


1889 com a Proclamação da República; que teve como exemplo os países
desenvolvidos da Europa e EUA; embasou seus ideais na garantia da cidadania,
concretização mais especificamente quando todos os cidadãos passaram a ter
direito ao voto.
Entre os compromissos com o público, cujos direitos deveriam estar
representados junto ao Estado, os republicanos, que queriam seguir os
estereótipos franceses, mostravam-se a favor do ensino primário gratuito,porém,
as inspirações europeias dominaram o contexto da república, sendo os
cafeicultores os dominantes do poder político.
Em novos moldes e em pleno processo de urbanização surgiu uma nova
intelectualidade, a qual lhe é atribuída a missão de colocar em prática um projeto
de reconstrução nacional, pois o domínio das oligarquias atrasava, prejudicava e
impedia a resolução de problemas.
Para Lima et al (2003) os princípios defendidos pelos novos intelectuais
que queriam mudanças estavam embasados na efetivação de uma grande obra
de reconstrução nacional, o sistema de educação é que seria responsável por
essa reconstrução. Esses intelectuais não defendiam que o Estado se
convertesse em agente exclusivo dessa mudança, mas que zelasse pelos
condicionantes institucionais necessários à sustentação das reformas em âmbito
nacional, mantendo-se em consonância com os princípios democráticos.
Segundo Ribeiro (1998) paralelamente a essa corrente, outras se faziam
presentes nas discussões que permeavam a educação brasileira, entre elas as
ideologias defendidas pelos adeptos da Escola Nova, que defendiam o respeito à
personalidade do educando, com a valorização da capacidade individual de cada
um no desenvolvimento do processo de aprendizagem. Combatiam o
automatismo do modelo tradicional, que por meio da imposição do

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conhecimento não respeitavam a personalidade, capacidades, habilidades e


especificadades dos alunos.
A Escola Nova valorizava a ação educativa por meio de situações de
jogos e outras atividades lúdicas que estimulassem a posterior observação,
análise e generalização do desenvolvimento de projetos. Sobretudo, essa
ideologia também valorizava os ideiais dos países europeus e dos EUA, o que se
diferenciava, e muito, da realidade brasileira.
Lima et al (2003) relata que ao assumir em 1930, Getúlio Vargas criou o
Ministério dos Negócios da Educação e da Saúde Pública, encaminhado por
Eduardo Campos e tinha por intuito a organização de uma política de educação
nacional cujas diretrizes deveriam nortear as ações dos governos estaduais.
Por fim, não teve êxito, pois devido à precariedade de espaço físico e de
materiais, poucas escolas tinham condições de oferecer ensino de qualidade.
Tornou-se evidente que a política educacional se converteu no centro das
atenções do novo governo. Essa preocupação do Estado com a modernização
assemelhou os interresses governamentais com aqueles defendidos pelos
grupos civis reformistas.
Lima et al (2003) menciona que nesse contexto, a gestão política da
escola era concebida no movimento contraditório das forças que emergiam da
sociedade civil. O caráter democrático ou não desta gestão é demonstrativo do
poder de pressão que esta mesma sociedade exercia junto ao Estado. Quando a
sociedade civil tem seus canais de representação lesados, por artifícios de
grupos detentores do poder econômico ou por ditaduras, ocorre a centralização
da gestão pública e a perda de seu caráter democrático.
Outras inúmeras medidas também foram criadas no intuito de efetivar a
Reforma de Francisco Campos, como a criação do Conselho Nacional de
Educação, em 1931, e a ideia de criação do Plano Nacional de Educação. Nos
anos seguintes, com a instituição do Estado Novo, o governo desarticulou os
canais de representatividade da sociedade civil e as reformas pretendidas
ficaram estagnadas. Foi somente em 1942, com a Reforma Capanema, que
mantinha a dualidade (privado e público), que o Estado assumiu o dever de
garantir o ensino primário gratuito e público e ampliar o Ensino Técnico
profissionalizante.
A partir de 1945, com a queda do governo getulista, o Brasil iniciou seu
processo de redemocratização política,mas, a consolidação democrática só foi
legitimada com a Constituição de 1946, que garantia a educação como direito de
todos, afirmando ser responsabilidade dos poderes públicos, juntamente com a
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iniciativa privada, garanti-la em todos os níveis. Os defensores da escola pública


centralizavam seus debates na gratuidade do ensino, deixando de lado a luta por
um princípio pedagógico inovador.
Em 1961, o governo lançou a primeira lei de Diretrizes de Bases da
Educação Nacional, a Lei 4.024/61, que garantia a ligação da educação com o
ensino privado e a garantia na distribuição dos recursos financeiros para a
Educação Pública.
A Lei 5.692/71 reformulou os ensinos de primeiro e de segundo graus e
instituiu a obrigatoriedade do ensino na faixa etária que abrange entre os 07 e os
14 anos, com a duração de 8 anos. Não se preocupava com a qualidade do
ensino, a preocupação era somente em expandir termos quantitativos. A Lei
7.044 de 1982, última tentativa de reforma do governo militar, deixou os
estabelecimentos livres para oferecer, ou não, a habilitação profissional.
Lima et al (2003) deixa claro que a grande questão que permeou os
anos da ditadura militar foi pautada na perspectiva de construção da grande
potência e não na construção da democracia ou políticas educacionais e sociais
inclusivas.
Nessa perspectiva, o fim do Regime Militar deu início a um período de
grandes apelos participacionistas e por uma maior democratização da gestão da
república e, consequentemente, por uma maior democratização da gestão da
escola brasileira.
Ao analisar o histórico brasileiro na década de 1980, é perceptível que
alguns educadores são incasáveis na luta por uma escola gratuita, laica e de
qualidade, pois num país com desigualdades sociais são proporcionais ao
gigantismo do território nacional, a escola pública aparece, não raro, como única
fonte de acesso à cultura e à instrução para a maioria da população.
Na tentativa de aglutinar novas forças sociais em torno dos problemas
educacionais e para tentar intervir no novo processo pós-ditadura, viu-se surgir a
criação do Fórum Nacional em Defesa da Educação Pública, as discussões
sobre uma nova Lei de Diretrizes e Bases.
No jogo democrático, diversos são os intersesses e as forças sociais,
que acabam, muitas vezes, sendo contraditórios. Assim, quando a LDB foi
aprovada em 1996, pela Lei nº9.394, de forma geral, não agradou em diversos
aspectos os educadores ligados ao Fórum.
Quanto à gestão democrática pôde-se entende-la como uma autêntica
novidade, sobretudo, após anos de ditadura durante as quais se aprofundaram

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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as raízes da centralização e do autoritarismo da gestão pública brasileira,


principalmente nas escolas que viveram sob pressão e controle do modelo
tecnicista. A previsão legal da gestão democrática permitu ampla e profunda
discusão sobre a descentralização da gestão escolar, desde os órgãos
superiores até as bases, que são as escolas e as salas de aula.

2.1 AUTONOMIA ESCOLAR

Para Shiroma (2002), as decisões sobre a estruturação da educação


brasileira sempre foram centralizadas no Governo Federal, mesmo naquele
legitimado pelo voto popular, a regra foi a imposição de planejamentos
educacionais de cima para baixo. No mesmo viés, seguiram as políticas
educacionais do Ministério da Educação e Cultura - MEC, desenvolvidas de
forma centralizadora, hierarquizada, raramente discutindo com as bases, isto é,
com as escolas e os educadores.
A politica curricular veiculada por meio dos Parêmetros Curriculares
Nacionais, apesar de seu aparente caráter de sugestão traz na realidade uma
certa imposição daquilo que deve ser trabalhado como conteúdo nas salas de
aula pelos professores, que sequer foram consultados, mas se viram na
eminência de trabalharem com uma proposta que passava longe de suas
realidades, necessidades e possibilidades.
Segundo Rocha (1998), o preceito constitucional por si só não garante
ao educador, mesmo que compromissado e bem fundamentado, pôr em prática
um plano de ação autônomo e responsável, cujo princípio básico seja a
educação para a cidadania.
O artigo 15 da LDB afirma esse fato quando menciona:

Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de


educação básica que os integram progressivos graus de autonomia
pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas
gerais de direito financeiro público. (BRASIL, 1996).

Com isso, fica estabelecido em lei que cada escola pode propor o
encaminhamento pedagógico que julgar conveniente, e de acordo com a
realidade sócio-cultural em que está imersa, garantindo assim, o cumprimento
de sua função pública de formação e instrução.
Nessa perspectiva, ganha importância a reflexão sobre a organização de
um currículo que possibilite à escola ocupar o seu lugar, colocando o que é
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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próprio dela, sem perder de vista as diretrizes gerais responsáveis em dar


unidade ao currículo do ensino fundamental no país. A tarefa requer, dos
professores, um esforço conjunto de reflexão sobre todos os aspectos internos e
externos que condicionam a seleção e organização de conteúdos curriculares,
que tenham como base as questões sociais.
A atual LDB apresenta ainda alguns artigos que asseguram o espaço
decisório da escola quanto a definição da proposta pedagógica. O Art. 12 prevê
que:

Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do


seu sistema de ensino, terão a imcumbência de elaborar e executar sua
proposta pedagógica, bem como de informar aos pais e responsáveis
sobre a execução de sua proposta pedagógica (BRASIL, 1996).

Assim, cabe à comunidade escolar ser informada sobre os princípios


pedagógicos a que está submetida a clientela escolar.
Logo em seguida, o Art. 14 fala da gestão democrática e determina a
participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico
da escola e, nessa perspectiva, as decisões centralizadas no diretor cedem
espaço ao resgate da função social da escola por meio da participação de
professores e comunidade.
A lei por si só não basta. É preciso disposição daqueles que lidam com
educação e implementar na prática a previsão legal. Isso significa rever posturas
e competências, pois só pode propor o novo aquele que compreende as
transformações sociais e trabalha na sua direção.
Nessa ótica, ao mesmo tempo em que a autonomia permite a
concretização de planos e projetos almejados; recai sobre a unidade escolar e
sobre os educaores as cobranças dos resultados de tais iniciativas. Sem dúvida,
o conjunto social cobrará, com razão, sua função social de instituição
responsável pela socialização das realizações humanas.
Considerando a autonomia como princípio de gestão, essa oferece ao
sujeito oportunidades de participar de todo o processo, principalmente nos
momentos de decisão, momentos em que se discute, analisa e propõe soluções
em conjunto. Nessa ótica, a autonomia se destaca como base para o
planejamento, organização e distribuição de recursos (dinheiro, tecnologia,
materiais, poder, pessoas, tempo), juntamente com a comunidade local. Assim,
as escolas passam a ser consideradas espaços democráticos, onde há
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confronto de idéias, conceitos e interesses, e ao mesmo tempo se torna espaço


onde todos os sujeitos tem voz e podem participar das ações educacionais.
Dessa maneira, Barroso (1996) menciona que o grande desafio para a
gestão escolar volta-se para a questão da lógica organizacional a ser adotada
para que proporcione melhores condições e oportunidades para a formação dos
sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Sendo assim, o que
se almeja é a aceitação da existência de modalidades organizacionais
diferenciadas, mas que visem o bem comum e da coletividade. É preciso que a
escola busque equilíbrio e participação entre os pares, descentralize o poder de
decisão e viabilize opções para que se alcance os objetivos propostos pela
gestão escolar.
Considera-se que se a escola não dispor de uma gestão participativa, a
construção de um projeto político pedagógico representativo será complicado,
para não dizer impossível, isso porque, de um lado é um projeto a que se adere
espontaneamente; por outro lado, a participação é a própria essência desse tipo
de projeto, porque sua elaboração depende de diversas opiniões.
A gestão democrática do ensino público tem se constituído em um
grande desafio que inclui a autonomia, participação e decisão compartilhada
com todos os atores que convivem no espaço escolar, pois a organização da
gestão escolar exige conhecimento e adoção de alguns princípios básicos, que
condizem com a realidade da comunidade escolar, entre eles pode-se destacar a
relação entre diretor e participação dos sujeitos, planejamento das atividades,
formação continuada para a comunidade em questão, análise e resolução de
problemas, democratização das informações e avaliação institucional, a qual vai
revelar a atuação da gestão e o que precisa mudar para conseguir alcançar os
objetivos propostos.
Nesse contexto de democratização, Neves (1998) menciona que o
Projeto Político Pedagógico (PPP) é o principal documento da escola e, portanto,
deve ser elaborado coletivamente, pois é o planejamento geral da escola e
envolve todas as decisões sobre a organização escolar, desde os procedimentos
mais elementares até a definição dos pressupostos-metodológicos que darão
sustentação à proposta curricular.
A necessidade da construção de um planejamento global para a escola
deve ser sentida por todos, do contrário, corre-se o risco de ser mais uma tarefa
que se materializa somente pelo modismo, ou pelas exigências superiores e não
pela tomada de decisões do coletivo da escola.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
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Para Neves (1998), o projeto que não tem em sua essência a


participação e o trabalho coletivo não encontra adesão necessária para a
transformação da realidade educacional, rica em contradições, limites e
potencialidades. O que determina a natureza do PPP é a coletividade, tendo
como membros alunos, professores, merendeiras, auxiliares de serviços gerais,
bibliotecários, secretários, especialistas em assuntos educacionais, pais,
diretores, conselhos, deliberativos e Associação de pais e professores.
O Projeto Político Pedagógico não é um documento pronto e acabado,
mas em produção permanente, onde se faz necessária a constante realização de
reflexões, diagnósticos e replanejamentos. Isso porque um projeto
verdadeiramente democrático implica uma constante reflexão orientada pelos
princípios elementares de justiça social, igualdade e solidariedade humana.
Neves (1998) ainda afirma que o papel político da educação precisa ser
constantemente relembrado, tendo em vista as pressões do conformismo, da
persistência da neutralidade e da naturalização das desigualdades sociais.

2.2 ELEIÇÃO PARA DIRETORES: O QUERER DA COMUNIDADE

De acordo com Lima (2003), a democratização da gestão passa pelo


provimento do cargo de diretor de escola, evidentemente que esse não é o único
elemento a ser considerado na questão, mas, sem sombra de dúvida, é o
começo de tudo. O modelo brasileiro possibilita três formas de provimento do
cargo de diretor de escola pública: por indicação do Poder Executivo; por
concurso público; ou por eleição direta da comunidade escolar.
Devido ao posicionamento de alguns governantes de que o diretor da
escola, pela natureza e responsabilidade pública da função, é de fato um cargo
de confiança da comunidade escolar tem imposto sobre essa mesma
comunidade a arbitrariedade da indicação política, resquício da tradição
clientelista da política brasileira.
A eleição direta para diretor de escola pública é um passo importante
para democratização da gestão escolar, pois permite à comunidade escolar
saber primeiro o conhecimento prévios dos candidatos. Por outro lado, mesmo
que algum candidato consiga ludibriar o eleitorado, como também é normal no
processo democrático, a gestão será julgada e reprovada pelo próprio colégio
eleitoral, o que não poderia ocorrer no caso de indicação ou por concurso.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
18

Outro aspecto importante é que durante o processo eleitoral os diversos


projetos educativos vão sendo criados pelos eleitores, fortalecendo a
democratização do espaço escolar. De forma ampla, democratizar significa,
primeiramente, a partilha das decisões. No caso da escola, para bem da gestão
democrática, o poder de decisão precisa ser partilhado e o Conselho Escolar
apresenta-se como ferramenta essencial nesse processo.
De acordo com Vieira (2002), ao implementar a eleição de diretores nas
escolas vem construindo, a partir de uma conquista e tendência histórica voltada
à participação dos sujeitos que compõem a instituição escolar nos
determinantes de sua gestão, uma contribuição para a reflexão e o aprendizado
sobre a prática da democracia. Assim, a escola trabalha como mediadora do
conhecimento, partindo do senso comum e do conhecimento empírico para o
conhecimento científico, desenvolvendo o processo de ensino e aprendizagem
do educando.
Enfim, para Lima et al (2003), é preciso buscar a participação de toda a
comunidade escolar no resgate da credibilidade e da qualidade do ensino da
escola pública propondo através do Projeto Político Pedagógico e outros projetos
pedagógicos a participação e o envolvimento de toda a comunidade escolar para
a execução do trabalho pedagógico.
De maneira geral, o gestor deve promover o desafio de trazer os pais e a
sociedade para a escola, pois quando família e comunidade se envolvem no
processo educacional o rendimento dos alunos melhora consideravelmente.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que se possa ter uma escola pública de qualidade e com eficácia,
torna-se necessário que ela seja gerida com competência, agilidade, criatividade
e entusiasmo. A escola é um local de ensino e aprendizagem e cabe ao
professor a grande responsabilidade de, em todas as suas aulas e em todos os
momentos de permanência, na objetividade e na interdisciplinaridade a garantia
para aprendizado de seus alunos. É função do gestor acompanhar o processo de
ensino e aprendizagem da escola em que atua e, com espírito de liderança,
organizar sua equipe de trabalho em prol de uma aprendizagem adequada e
condizente com as exigencias da sociedade vigente.
O clima organizacional de uma escola é um dos fatores decisivos para o
bom funcionamento da escola. Um bom clima de trabalho favorece a motivação
da equipe e aumenta o compromisso da comunidade educativa com a qualidade
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
19

de ensino, pois a escola é um espaço institucional em permanente construção;


deve ser agente das transformações sociais e políticas, participação, integração
e interação de todos que se sentem comprometidos com a transformação da
sociedade.
A qualidade da educação é que permitirá o avanço do sujeito na
sociedade, as habilidades e conhecimentos ministrados devem ser constituídos
de maneira progressiva para que o indivíduo possa ter condições de escolha
entre a formação para o trabalho ou a contiuação dos estudos superior para
proporcionar novas oportunidades de vida. Com o propósito de melhorias dentro
das instituições de ensino, o Projeto Político Pedagógico e o plano de gestão
veio ao?? encontro à democratização onde a comunidade terá sua participação
efetiva na promoção e melhoria da qualidade do ensino.

REFERÊNCIAS

BARROSO, J. O estudo da autonomia da escola: a autonomia decretada à


autonomia construída. IN: BARROSO, J. O estudo da escola. Portugal: Posto
Editora, 1996.
LIMA, Adriana Carmo Breve; et al. Organização e Gestão da Escola Brasileira.
Florianópolis: UDESC/CEAD, 2003.
NEVES, Carmen Moreira de Castro. O projeto pedagógico da escola na lei de
diretrizes e bases. IN: SILVA, Eurides Brito (Org.). A educação Básica pós-LDB.
São Paulo: Pioneira, 1998.
RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da Educação Brasileira: a organização
escolar. Campinas: Autores Associados, 1998.
ROCHA, Ana Bernardes da Silveira. O currículo do ensino fundamental e a Lei
9.394/96. IN: SILVA, Eurides Brito (Org.). A educação Básica pós-LDB. São
Paulo: Pioneira, 1998.
SHIROMA, Eneida Oto. Política Educacional. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
SILVA, Marise Borba; GRIGOLO, Tânia Maris. Metodologia para iniciação à
prática da pesquisa e da extensão II. Florianópolis: UDESC/FAED/CEAD, 2002.
VIEIRA, S.L. Eleição de diretores: o que mudou na escola? Brasília: Plano, 2001.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
20

A PSICOPEDAGOGIA E O LETRAMENTO:
INTERAÇÕES COM A BIBLIOTECA ESCOLAR

ANDREIA DOS SANTOS GALLO1


RENATA CARVALHO DE ALBUQUERQUE CAMPOS 2

RESUMO
Ao refletir sobre a metodologia utilizada durante o letramento na escola e os
recursos bibliográficos e lúdicos da biblioteca escolar utilizado durante esse
processo, o presente trabalho propôs como o psicopedagogo institucional pode
orientar e intervir sobre as práticas pedagógicas vivenciadas pela escola e suas
ações durante o processo de alfabetização e letramento utilizando a biblioteca
escolar como recurso pedagógico e mediador no processo de ensino e
aprendizagem da prática da leitura. A partir de intervenções psicopedagógicas,
os educadores e professores podem interagir de forma a potencializar os
resultados de aprendizados dos alunos em processo de letramento e também
efetivar a prática da leitura nas séries posteriores.
Palavras-Chave: Psicopedagogia Institucional. Letramento. Leitura. Biblioteca
Escolar.

1 INTRODUÇÃO

A partir da observação participante da prática de bibliotecário escolar


com especialização em psicopedagogia atuante em uma escola pública, o
presente trabalho, traz abordagens psicopedagógicas desta prática diária, em
conjunto com o corpo docente escolar, e comenta os resultados adquiridos no
processo de letramento de alunos dos anos iniciais do ensino fundamental.
Com as leituras que fundamentam esse estudo respondeu-se como a
biblioteca escolar pode ser utilizada pelo psicopedagogo durante o processo de
letramento e a interação entre professores e biblioteca escolar? Essa interação é
válida?
Com essa experiência foi possível entender a importância da ação do
psicopedagogo institucional, o qual poderá atuar com professores no processo
de letramento, interagindo com o bibliotecário e a biblioteca escolar.
1
Mestranda em Gestão do Conhecimento nas Organizações - UNICESUMAR, Especialista em
Psicopedagogia Clinica e Institucional - UCP, Graduada em Artes Visuais - UEM e em Pedagogia.
2
Graduada em Letras– UEM. Agente Educacional II, na função Técnico em Biblioteconomia pelo
Governo do Estado do PR. Contadora de Histórias pelo projeto “De Caso com a Palavra” pela
Biblioteca Pública do Paraná.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
21

Primeiramente fez-se uma breve retomada da importância do


psicopedagogo institucional e sua forma de atuação na escola. Depois, a fim de
compreender como ocorre o processo de letramento, foi revisto como foi
construída historicamente a aquisição da linguagem, os “métodos de
alfabetização” e como era “construído” o leitor. Foi possível uma reflexão
sobre a importância pedagógica da biblioteca escolar seguido de algumas
situações onde o bibliotecário psicopedagogo se fez atuante utilizando-se dos
mais diferentes gêneros textuais, do lúdico e práticas próprias da biblioteca
escolar na promoção da leitura e da oralidade, auxiliando o aprendente leitor a
compreender o mundo e desenvolver sua criticidade.

2 COMO ATUA O PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL

Destaca-se a importância de compreender como a psicopedagogia


institucional desenvolve seus estudos a fim de entender como se ocorre o
processo de construção do conhecimento humano, desenvolvendo seus
estudos, aprimorando-os e teorizando-os a partir de suas práticas (OLIVEIRA,
2014).
De acordo com Bossa( 2000), o profissional psicopedagogo na escola
deve compreender as falhas no processo de aprendizagem e atuar junto aos
profissionais dessa instituição a fim de intervir, prevenir, diagnosticar e
acompanhar os alunos com dificuldade de aprendizagem..
Segundo Oliveira (2014) caberá ao profissional psicopedagogo, a partir
de suas investigações, compreender de que maneira sua atuação aliada aos
outros campos do conhecimento permitirá seus próprios objetos de estudo e
instrumentos para colocá-los em prática. Sendo este responsável por suas
próprias teorias em prol da aprendizagem, ele deve estar atento às inúmeras
possibilidades de construção do conhecimento.

A psicopedagogia no contexto atual, caminha com o objetivo de contribuir


para uma melhor compreensão do processo de aprendizagem do sujeito
cognoscente. Seu caráter interdisciplinar denota especificidade como área
de estudo do conhecimento em outros campos e criando seus próprios
objetos de estudo, campo de atuação, corpo teórico e seus instrumentos
(OLIVEIRA, 2014, p. 18).

De acordo com a Associação Brasileira de Psicopedagogia (2003), o


psicopedagogo também deve levar em consideração as dificuldades que
influenciam diretamente no processo de construção da aprendizagem dos
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
22

sujeitos: seja em suas relações sociais, com a família, com a escola, ou ainda
com fatores externos.
Ao atuar de forma preventiva o psicopedagogo deve desenvolver
trabalhos que permitam a integração entre o que se sabe e o que se faz e sente.
“É necessário um trabalho que envolva o âmbito grupal, visualizando nele os
sujeitos cognitivos, afetivos, sociais e biológicos em movimento” (OLIVEIRA,
2014 p. 34). Neste estudo, a atenção deve se voltar para a importância da
formação do leitor na escola, local que ocupa um grande espaço na vida social
da criança, onde poderá ser capaz de assimilar, compreender e interpretar o que
lê, com independência na medida em que é influenciada por professores
habilidosos, tornando-se um leitor crítico (SANDRONI e MACHADO, 1991).

2.1 DA ALFABETIZAÇÃO AO LETRAMENTO

Em seu livro “Metodologia da alfabetização”, Valle (2013) faz um relato


sobre como se dava a educação de alfabetização no Brasil, descrevendo esses
chamados como “métodos de alfabetização”. Segundo Valle (2013, p. 55),
esses métodos foram utilizados de forma a “sistematizar as ações pedagógicas
em prol da alfabetização das crianças”. Construídos com base em duas
concepções: quanto ao que é linguagem e de como a criança aprende.
Valle (2013) destaca basicamente dois métodos de alfabetização: o
analítico e o sintético. O método analítico, segundo a autora, inicia o processo de
alfabetização por uma palavra, frase ou uma história, a qual apresenta uma
palavra-chave, que desencadeará o estudo das letras e dos sons que compõem
a palavra escolhida. Neste método a alfabetização estará completa quando a
criança conhecer todas as famílias silábicas.
No método sintético, de acordo com Valle (2013, p. 56) “a alfabetização
partia das menores unidades da língua (letras, fonemas e sílabas) para as
maiores (palavras e frases). Neste a alfabetização ficava restrita ao
reconhecimento das letras e de seu valor fonético”.
Ambos os métodos, analítico e sintético, combinados formavam o
método misto, o qual, segundo a autora, determinava o método a ser aplicado
por concepção teórica que estivesse em destaque e, independente do método
escolhido, a sistematização levaria o aprendente a ideia de decodificação.
Paulo Freire (2005) criticou a alfabetização como um processo de
memorização mecânica e ensino puro da palavra, sílabas ou letras, mas
valorizou esse processo como uma interação entre alfabetizador – alfabetizando,
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
23

onde a criatividade deve ser o fator essencial para a conclusão do processo da


construção da linguagem. Freire afirmou ainda que em sua prática, “A
alfabetização é a criação escrita da expressão oral, cuja montagem não pode ser
feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Aí tem ele um momento de
sua tarefa criadora”. (FREIRE, 2005, p. 19).
Valle (2013, p. 65), ressalta que, “não só no Brasil, mas em todos os
países que utilizaram os métodos como bases de alfabetização”, tiveram alunos
que sabiam ler e escrever, mas não conseguiam compreender tudo o que liam e
não escreviam muito mais do que frases soltas. Os atualmente chamados
“Analfabetos Funcionais”.
O conceito de Analfabetismo Funcional foi pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em 1978, e fazia
referência às pessoas que mesmo sabendo ler e escrever não conseguiam usar
a linguagem escrita na vida cotidiana delas como instrumento de melhoria
profissional, já que nem sempre compreendiam o que liam.
De acordo com Valle (2013, p. 67) “A Alfabetização só começa a ser
concebida sem métodos a partir da década de 1980, quando foi retirada a ênfase
do como se ensina” e focaram no “como se aprende”. E que, “atualmente,
conclui-se que apenas saber ler e escrever, não é o suficiente para alguém ser
considerado alfabetizado”. Surge então, outro novo conceito que ganhou forças
na educação: o letramento (VALLE, 2013, p.79). Ao compreender a relação do
letramento à prática educativa diária em que são alfabetizadas crianças que não
apresentam dificuldades de se apropriarem dos meios da escrita, entende-se
como leitoras as crianças que após passarem pelo letramento são leitoras e
produtoras de textos (VALLE, 2013).

2.2 A EVOLUÇÃO DA PRÁTICA DA LEITURA

A prática da leitura também passou por evoluções, Paulo Freire (2005,


p. 20) afirmou que “a leitura é algo que se movimenta”. A palavra movimenta o
mundo através da leitura que faz dele, pois este está sempre em transformação e
cabe a aos envolvidos no processo escrevê-lo e reescrevê-lo, transformando-o
através da prática consciente.
De acordo com Paulo Freire (2005, p. 16), a leitura de mundo se dá
antes mesmo da leitura da palavra e a “compreensão crítica da importância do
ato de ler, só poderá ser constituído através de sua prática”. Além disso, “desde

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
24

o começo, na prática democrática e crítica, a leitura de mundo e a leitura da


palavra estão dinamicamente juntas” (FREIRE 2005, p. 29).
Terra (2015) apresenta a evolução dos textos e suas mudanças nas
formas de circulação: a primeira foi dos escritos em rochas e pedras para o
papiro e pergaminho. Ao longo do tempo esses rolos foram substituídos para o
códex ou códice, depois por folhetins, jornais, revistas e livros impressos.
Afirma, ainda, que a última grande revolução ocorreu nas últimas décadas do
século XX e foi a passagem do texto impresso para as telas do computador. E
que segundo ele, o livro provavelmente não será substituído pelo digital.
De acordo com Terra (2015), após a criação da imprensa por
Gutemberg, no séc. XV, os textos foram difundidos em larga escala, facilitando o
acesso a um maior número de pessoas, o que ampliou o número de leitores.
Segundo Terra (2015), no séc. XVIII, a leitura passa de sua prática
intensiva para a prática extensiva, ou seja, na prática intensiva, o leitor se
dedicava a leitura de poucos livros que eram lidos, relidos, memorizados e
comentados. Essa prática era muito frequente em livros religiosos,
especialmente a bíblia. Já na prática extensiva, os leitores consumiam um
número bem maior de livros lendo mais títulos e com mais rapidez.
“Hoje lemos apenas com os olhos, silenciosamente, mas houve época
em que era comum a leitura em voz alta” (TERRA 2015. p. 14). A leitura
silenciosa, segundo o autor, é uma prática que teve início no séc. XII, a inserção
de espaços seguidos da pontuação entre as palavras facilitou a leitura, exigindo
do leitor um menor esforço cognitivo de processamento do texto. A passagem
da leitura oralizada (em voz alta) para a leitura visual (leitura silenciosa)
possibilitou que os textos fossem lidos com mais rapidez, o que acarretou a
formação de leitores mais eficientes na medida em que exige a capacidade de
mais concentração continuada. A leitura também passou do público para o
privado já que a leitura não era mais compartilhada com as pessoas. Aos
poucos, a leitura silenciosa, que era feita nos monastérios passou a ser
praticada nas escolas e nas universidades.
Com a tecnologia a palavra está em todos os lugares, onde se lê e relê
o tempo todo. Assim como tudo muda, o modo como se lê também mudou: “o
modo como lemos hoje também não é o mesmo como se lia em séculos
passados, já que as técnicas de leitura se alteram ao longo do tempo” (TERRA,
2015, p. 14). Para Filipouski e Marcki (2009, p. 10), “leitura é interação e o ato
de ler implica diálogo entre sujeitos históricos”. Para as autoras, “ler também
implica uma atitude responsiva, estruturando uma resposta ao texto por meio de
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
25

novas ações de linguagem verbal ou não”. Assim sendo, a leitura tem o poder de
possibilitar o encontro dos leitores com outros contextos e linhas de
pensamento/raciocínio.

2.3 BIBLIOTECA ESCOLAR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

Freire (2005) defende a Biblioteca popular como um espaço de


interação crítico-democrática capaz de levar o leitor a aperfeiçoar sua forma de
ler estimulando sua relação como o mundo e intensificando sua forma de ler o
texto com o contexto. Descreve ainda que: “as bibliotecas populares podem
atuar na formação de leitores, seja por meio do desenvolvimento de suas
atividades culturais e da constituição de seu acervo”. (FREIRE, 2005, p.35).
De acordo com Campello et al. (2012, p. 11) “Educar é uma tarefa
complexa”. Segundo a autora, educar exige que todos os recursos e
conhecimentos sejam mobilizados para se atingirem objetivos e metas definidas.
Diante dessa evolução que se teve da forma de ler e obter informações,
concorda-se com Campello et al. (2012, p.9) a qual afirma que “jovens e
crianças precisam desenvolver habilidades específicas para lidar com a
informação, tendo em vista as mudanças e contradições sociais”.
Campello, et. al (2012, p. 10) afirma que “é necessário aprender a
pensar de forma lógica e criativa, solucionar problemas, a usar informações e
comunicar-se efetivamente”. Ainda segundo Campello et. al. essa capacidade foi
denominada “competência Informacional” e “se insere na questão do letramento
na medida em que pressupõe uma condição que caracteriza a pessoa que faz
uso frequente e competente da informação”.
De acordo com Campello, et al. (2012), estudantes de escolas que
mantém bons programas de bibliotecas, aprendem mais e obtém melhores
resultados em testes padronizados do que alunos com bibliotecas deficientes.
Resultados dessa pesquisa realizada na Universidade de Denver - EUA
comprovam que a biblioteca pode fazer a diferença na educação de crianças e
jovens, quando educadores acreditam e a utilizam como recurso pedagógico:

A influência da biblioteca apresentou-se de forma clara e consistente um


bom programa de biblioteca com profissional especializado, equipe de
apoio treinada, acervo atualizado e constituído de diversos tipos de
materiais informacionais (…) resultou no melhor aproveitamento escolar
dos estudantes, independentemente das características sociais e
econômicas da comunidade onde a escola estivesse localizada
(CAMPELLO, et al, 2012 p. 13).
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
26

No Brasil, de acordo com avaliações do Ministério da Educação (MEC)


Segundo Campello et al, (2012, p. 14), a biblioteca “apesar de não ser utilizada
em sua profundidade, aparece como um fator que contribui para o bom
desempenho dos alunos (…).”
Ao assumir seu papel pedagógico a biblioteca pode participar de forma
criativa do esforço de preparar o cidadão do séc XXI. (CAMPELLO 2012). Sendo
assim, Campello et al., reafirmam a importância da Biblioteca Escolar no
processo pedagógico:
O papel da biblioteca escolar no processo de formação de leitor crítico
deve ser repensado pois ela pode ser o local onde esse leitor crítico é
formado. por se tratar de um espaço de criação e compartilhamento de
experiências, de produção cultural, onde crianças não apenas consumem
cultura, mas podem criá-la (CAMPELLO, et al. 2012, p. 22).

Campello, et al (2012, p. 10) afirma que “o professor não é transmissor


de conhecimento, mas um orientador, capaz de captar o interesse de seus
alunos, despertando-lhes questionamentos e ajudando-lhes nas buscas de
soluções”. A essa prática dá-se o nome de Competência Educacional.

3 A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E A INTERAÇÃO COM A BIBLIOTECA


ESCOLAR

Ao refletir sobre as práticas pedagógicas vivenciadas pela escola e suas


ações no processo de letramento e a utilização da biblioteca escolar como
recurso pedagógico, bem como mediadora no processo de ensino e
aprendizagem da prática da leitura foi possível a partir da observação
participativa no decorrer do ano letivo de 2015, inserir nessas práticas o olhar do
psicopedagogo institucional, tendo como psicopedagogo o próprio bibliotecário.
De acordo com Oliveira (2014 p. 39), “o psicopedagogo institucional,
atua na escola como assessor ou profissional contratado”. Afirma ainda, que
este psicopedagogo pode ser um pedagogo ou outro profissional com
especialização em psicopedagogia. Essa afirmativa foi sem dúvida a válvula
propulsora na qual justifica esse estudo, tendo em vista a formação
psicopedagógica institucional do referido observador.
Durante o processo do letramento observou-se que a participação do
agente de leitura ou bibliotecário escolar, quando inseridos de forma orientada e
participativa com ações lúdicas e culturais como, por exemplo, a contação de

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
27

histórias, canções e adivinhas em espaço próprio possibilita o acesso da


criança ao livro tem sido de suma importância.
Observou-se também que as ações do agente de leitura ou bibliotecário
escolar, orientadas psicopedagogicamente possibilitaram aos alunos com
dificuldade, uma interação com este espaço e com o livro, ou seja, os alunos
não letrados ao entrarem em contato com atmosfera lúdica e ao participar da
contação de histórias se envolviam com o livro e aos poucos encontravam
estímulos para também realizar sua leitura.
O lúdico, segundo Barbosa (2010, p. 183) “é o ingrediente fundamental
como recurso psicopedagógico”, pois auxilia a criança no enfrentamento dos
obstáculos e das dificuldades de aprendizagem, sendo útil não somente para a
intervenção do cognoscente, mas, principalmente, nas intervenções
psicopedagógicas.
Foi observado que o agente de leitura da Biblioteca pode ser um
instrumento da intervenção pedagógica e psicopedagógica capaz de auxiliar no
processo de aprendizagem da leitura, bem como ao auxiliar o psicopedagogo por
desvincular-se da figura do professor no processo da aprendizagem da leitura e
auxiliar em seu diagnóstico, uma vez que o lúdico está muito presente nas
contações de histórias.
Um bibliotecário bem preparado, além de saber escolher e indicar os
livros adequados a cada faixa etária, também conhecerá a arte de contar
histórias e envolverá a criança com o lúdico, encantando-as e envolvendo-as nas
atividades desenvolvidas. Durante esse processo, a criança poderá ser
observada e avaliada com um olhar psicopedagógico, o qual poderá fazer
intervenções utilizando-se do ato coletivo para capturar suas percepções e ouvi-
la. De acordo com o relato da professora do 2º ano do Ensino Fundamental dos
anos inicias, ao realizar o trabalho do gênero carta com seus alunos, a partir da
contação da história do livro “Coelho mau” de Jeanne Willis, todos os seus
alunos, sem exceção, sentiram-se estimulados a escreverem uma carta,
conforme o desafio lançado pelo agente de leitura (psicopedagogo). Ainda
segundo a professora, mesmo os alunos que apresentaram mais dificuldades, ao
final do ano letivo não tiveram maiores dificuldades de leitura e de escrita, além
do esperado em sua faixa etária, o que para ela foi surpreendente em relação as
turmas que atende em outras escolas que não contam com essa atividade de
interação com o espaço da biblioteca e mediação psicopedagógica realizada

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
28

pelos próprios bibliotecários, que além de sua função possuem especialização


em psicopedagogia.
A elaboração dos trabalhos de contação de histórias, quando
necessário, são previamente acordados com os professores e pedagogos, de
acordo com a necessidade específica de algum aluno, ou da turma, sendo
realizada a ação coletiva. Essa integração, conforme sugere Oliveira (2014)
valoriza a atuação psicopedagógica institucional, na sua relação de intervenção
ao perceber situações que estejam dificultando o processo de aprendizagem.
Outra interação que é realizada por esses educadores (psicopedagogos)
é o ato de observar e escutar. Apesar de estarem inseridos no espaço da escola
são figuras desvinculadas ao professor, são educadores acessíveis e sensíveis a
qualquer queixa que possa interferir na relação de aprendizagem desses alunos,
portanto, o trabalho é realizado em parceria com o pedagógico da escola, equipe
multidisciplinar, educação especial, altas habilidades e sala de recursos, esses
professores e pedagogos contam com a participação atuante da biblioteca
escolar, que aliada à prática e intervenção psicopedagógica conseguem
maximizar resultados no processo de ensino e aprendizagem e identificar
problemas de ordem escolar, social ou familiar e, ainda intervir, propondo seu
encaminhamento para outros profissionais, quando necessário.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática psicopedagógica é fundamental no processo de ensino e


aprendizagem em todos os seus aspectos, o que é confirmado quando essa
prática envolve outros recursos pedagógicos da escola bem como outros
profissionais em prol do objetivo de ensinar, além da figura do professor, o
envolvimento de todos contribui para um aprendizado efetivo do aprendente. O
trabalhar em conjunto com professores permite aos bibliotecários planejarem
situações de aprendizagem que desafiam e motivam os alunos, e podem
acompanhar seus progressos, orientando-os no desenvolvimento de
competências informacionais cada vez mais sofisticadas. A intervenção efetiva
de um psicopedagogo, conforme relatado nesse estudo tornará essa proposta
ainda mais eficaz. As interações psicopedagógicas realizadas com a biblioteca
demonstraram que a biblioteca está presente e pode ser atuante no processo de
alfabetização e letramento, uma vez que esta é, sem dúvida, o espaço por
excelência para promover experiências criativas de uso de informação. E as
ações preventivas da psicopedagogia ajudará o professor a ter um olhar
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
29

descentralizador de sua prática educativa e inovar no processo ensino e


aprendizagem pela leitura.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Laura Mont Serrat (org). Intervenção Psicopedagógica no espaço da


Clínica. Curitiba Ibpex, 2010.
BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática.
2. ed. rev. e aum. Porto Alegre: Artmed, 2000. 131 p.
BRASIL. Código de Ética da Psicopedagogia. Disponível em
http://www.abpp.com.br/codigo-de-etica-do-psicopedagogo. Acesso em 24 de
abr de 2016.
CAMPELLO, Bernadete Santos, Et. Al. A Biblioteca Escolar: Temas para uma
prática pedagógica. 2.ed. Autêntica. Belo Horizonte, 2012.
FILIPONSKI, Ana Mariza Ribeiro & MARCHI, Diana Maria. A formação do leitor
jovem: Temas e gêneros da literatura. Erechim, RS. Edelbra, 2009.
FREIRE, Paulo: A importância do ato de ler: em três artigos que se completam –
46 ed. - São Paulo, Cortez, 2005.
OLIVEIRA, Maria Ângela Calderari: Psicopedagogia: A educação em foco (livro
eletrônico). Curitiba, Intersaberes, 2014.
SANDRONI, Laura & MACHADO, Luiz Raul. A criança e o livro: Guia prático de
estímulo à leitura. São Paulo. Ática. 3 Edição. 1991.
SOUZA, Renata Junqueira de Souza. (Org.). Biblioteca escolar e práticas
educativas: o mediador em formação. Campinas, São Paulo, Mercado das letras,
2009.

TERRA, Ernani: A produção literária e a formação de leitores em tempos de


tecnologia digital.(livro eletrônico). Curitiba, Intersaberes, 2015.
VALLE, Luciana de Lucca Dalla: Metodologia da alfabetização (livro eletrônico) –
Curitiba, Intersaberes, 2013.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
30

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


BRINCAR, IMAGINAR E CRIAR

ANDRESSA SCHIAVONE PEREIRA AQUARONI VIEIRA1


ANA CLAUDIA ASSIS GOMES2

RESUMO

O presente artigo consiste em compreender alternativas de organização para que


a criatividade e a imaginação possam fluir naturalmente. O conceito de criança e
de infância foi abordado para que se demonstre a importância do lúdico no
desenvolvimento infantil. Apontando modos de organização de espaços na
Educação Infantil com fomento da criatividade e imaginação, valorizando as
atividades lúdicas neste contexto onde a criança obtenha condições adequadas
para seu desenvolvimento de maneira plena, obtendo aprendizado e autonomia.
Brincando a criança percebe o mundo da maneira que lhe é proposto, então, os
espaços das instituições de Educação Infantil precisa ser repleto de cor,
brinquedos diversos, estímulos ao cuidado ao meio ambiente, (referindo-se aos
espaços externos), acolhedor, adequado a cada faixa etária e sociável. O
desenvolvimento da imaginação ocorrerá de maneira natural com o estimulo de
espaços coloridos, desafiadores para novas descobertas diárias. Lugar onde a
criança constrói, reconstrói, inventa, reinventa, canta, pula e brinca
expressando-se de maneira pura, alegre e simples.
Palavras–chave: Criança. Infância. Lúdico. Imaginação.

1 INTRODUÇÃO

O cenário que engloba a Educação Infantil, a infância e a criança, como


um todo, é alvo de constantes e profundas reflexões, e de pensar sobre o
espaço favorável para a aprendizagem através do brincar. Assim, o lúdico torna-
se um fator-chave neste cenário, auxiliando de maneira concreta o processo de
ensino e aprendizagem. Para tanto, é importante saber que a infância é um
período onde ocorrem as maiores e primeiras interações da criança com o
mundo que a rodeia, é onde estes indivíduos passam a estabelecer suas
primeiras relações sociais.

1
Graduada em Pedagogia pela Unicesumar (2006); Especialista em Docência no Ensino Superior
pela Unicesumar (2009). Especialista em Psicopedagogia Institucional – Unicesumar (2015).
2
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Goiás, UFG (2000). Especialista em
Educação, Comunicação e Novas Tecnologias pela Universidade do Estado do Tocantins (2005).
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
31

O sucesso de seu relacionamento social, a forma como lida com suas


realizações e frustrações, com a gama de sentimentos com os quais se
confrontará a todo instante, enquanto cresce é, em boa parte, influenciada pelo
ato de brincar, por meio do lúdico. Em síntese, as brincadeiras podem
proporcionar prazer, conflito, frustração, realização e diversão, mas, sobretudo,
funcionam como estímulo ao desafiar, provocar o pensamento reflexivo da
criança. Deste modo, entende-se que os espaços criados para a convivência das
crianças dentro das instituições de Educação Infantil precisam ser doutrinados
pelo preceito do conforto das mesmas, embasados por elementos que fazem
com que estas crianças sintam-se à vontade para desenvolver seu senso
criativo, imaginativo e como resultado cognitivo, psicomotor e pessoal.
Com intuito de explorar assuntos elencados acima, esse artigo foi
subdivido em três itens: no primeiro abordou sobre a criança e a infância, no
segundo a concepção de lúdico e no terceiro os espaços criados para fomento
da criatividade e imaginação.
Com base na teoria Histórico-cultural de Vygotsky, aponta se o conceito
de criança e a importância do lúdico na Educação Infantil defendendo a ideia da
constituição sociocultural da criança, com direitos a brincar em um espaço
planejado para tal nas instituições de Educação Infantil.

2 INFÂNCIA E A CRIANÇA

A infância, primeira etapa do desenvolvimento humano, é marcada por


grandes transformações, Vygotsky (1988) afirma que os primeiros anos de vida
são marcados pelo intenso desenvolvimento dos aspectos físicos, intelectuais,
emocionais e morais na criança. O autor defende ainda que a criança desde
bem pequena estabelece relações com outras pessoas e com as coisas
percebendo e se apropriando de significados e atribuindo sentidos. A
aprendizagem ocorre ao ampliar a atividade prática e intelectual, surgindo novas
necessidades de conhecimento. Por isso, para o autor não há desenvolvimento
cognitivo espontâneo ou tipicamente herdado, e sim, considera o conhecimento
humano uma atividade interpretativa da cultura a qual se está inserido.
A teoria elaborada por Vygotsky (1988), conhecida por teoria histórico-
cultural parte da premissa que a natureza do homem é ao mesmo tempo
biológica e social. Biológica porque o homem se desenvolve naturalmente e
social, devido à aprendizagem que ocorre através da socialização com seus

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
32

pares e, partindo dessa relação, o homem se humaniza. Baseado na teoria, o


autor relata que o homem não nasce com inteligência, personalidade e
consciência, mas apropria-se dessas características ao longo da vida, de acordo
com a cultura com a qual esta inserida, sendo capaz de aprender, criando novas
habilidades, capacidades e aptidões humanas, constituindo assim sua
humanidade.
Ser criança, pautado nas afirmações de Leontiev (1998) e Vygotsky
(1998), é ser ativa desenvolvendo-se a partir de sua própria atividade mediante
os relacionamentos humanos, entre crianças e adultos e entre crianças e seus
pares. A partir desse entendimento, a aprendizagem é o degrau de
desenvolvimento humano, pois através dela se adquire as qualidades humanas.
Na sociedade contemporânea existem diferentes formas de entendimento
do que é a infância e do ser criança. Atualmente, na sociedade a criança pode
ser vista de maneiras diferentes, muitas vezes é considerada como adulto em
miniatura, evidenciando em seu modo de vestir, falar e até mesmo ao brincar. O
oposto também ocorre, quando a criança é tida como incapaz frágil e sem
competência e requer a superproteção da família. O sociólogo norte-americano
Neil Postman (1999), em seu livro o “Desaparecimento da Infância”, afirma que
a infância não se expressa apenas pelo aspecto biológico do desenvolvimento
humano, mas, acima de tudo na esfera cultural. A infância é um produto cultural,
histórico e passível de transformações radicais. Nessa linha de pensamento, a
infância tem ligação direta com as influências da comunicação tecnológica.
Postman (1999) defende que os meios de comunicação têm poder para
influenciar a consciência e modificar os pensamentos em sua esfera simbólica,
atingindo assim as crianças. Para o autor ainda há esperança na reversão desse
quadro caótico em que se encontra a infância em duas instituições sociais: a
família e a escola.
Diante de tais revelações em relação à infância, enfatiza-se a importância
de uma alternativa que se contrapõe a essa cultura que descaracteriza o mundo
infantil, surgindo uma nova visão de criança e concepção de infância,
especificamente aos direitos a infância principalmente ao de brincar, Vygotsky
(1998) defende o brinquedo como forma de aprendizado envolvendo aspectos
emocionais, ações físicas e cognitivas e o contato social. O autor afirma que:

É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao


invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e
tendências internas, e não pelo dos incentivos fornecidos pelos objetos
externos (VYGOTSKY, 1998, p.104).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
33

A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação aquilo


que vê, sua ação surge das ideias e não do objeto. Através de um simples
graveto a criança o transforma em um avião, este exemplo demonstra que a
criança adquiriu um nível elevado de maturidade. Entra em ação a imaginação, é
um processo psicológico novo para a criança, surgindo originalmente da ação.
Por isso é fundamental o estímulo através do ato de brincar resgatando a origem
da infância, pois brincando a criança explora através da imaginação novas
possibilidades, criando condições de aprendizagem e sociabilidade, firmando
sua identidade e autonomia dentro do seu mundo cultural e aprendendo de
algum modo a lidar com a emoção.
É fundamental o estímulo através do ato de brincar, resgatando a origem
da infância de uma maneira lúdica, a criança terá a oportunidade de adquirir
novos conhecimentos, desenvolver potencialidades e habilidades, de uma forma
prazerosa. O mundo infantil depende do lúdico para produzir a fantasia e a
imaginação, que são elementos essenciais para que a criança se expresse,
construa sua realidade e assimile conhecimento. Então, brincar é condição de
aprendizagem e de sociabilidade e está intimamente ligado ao inventar e
reinventar o mundo imaginário da criança, o mundo do faz de conta.

2.1 O LÚDICO E A CRIANÇA

Afinal, o que significa lúdico? De acordo com o dicionário online


português Michaelis, a palavra com origem no latim ludos “que se refere a jogos
e brinquedos”, em outras palavras, caracteriza a ação de brincar. O jogo lúdico
de acordo com Piaget (1984) é formado por um conjunto linguístico que labora
inserido em um contexto social, com um sistema de regras e constitui-se de um
objeto simbólico, designando também um fenômeno. Portanto, permite ao
educando uma estrutura sequencial que especifica a sua moralidade dentro de
um sistema de regras. Desse modo, o lúdico, a criança e a infância estão
interligados, é um elo que permite experiências com a lógica e o raciocínio,
favorecendo a sociabilidade e estimulando as reações afetivas, cognitivas,
linguísticas, morais e culturais.
Crianças sempre brincaram, brincam e irão brincar afinal “brincar é
viver”. Kishimoto (1993) relata que os brinquedos expressam um mundo
imaginário em que a criança está inserida.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
34

O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que


existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer
que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos
objetos reais, para que possa manipulá-los. Duplicando diversos tipos de
realidades presentes, o brinquedo metamorfoseia e fotógrafa a realidade,
não reproduz apenas objetos, mas uma totalidade social. A realidade
representada sempre incorpora algumas modificações: tamanho, formas
delicadas e simples, estilizadas ou, ainda, antropomórficas. Os
brinquedos podem incorporar, também, um imaginário pré-existente
criado pelos desenhos animados, seriados televisivos, mundo da ficção
científica com motores e robôs, mundo encantado dos contos de fada,
estórias de piratas, índios e bandidos (KISHIMOTO, 1993, p.109).

É brincando que a criança reproduz seu cotidiano, através da


imaginação, transformando objetos reais em fictícios e vice-versa.
Representando sua vivência de uma forma lúdica, expressando a forma como
interpreta seu mundo real e como internaliza as regras e costumes de onde vive.
Vygotsky (1998) afirma que a criança se comporta de forma mais
avançada nas brincadeiras do que nas atividades da vida real, tanto pela vivencia
de uma situação imaginária quanto pela capacidade de subordinação às regras.
Ressalta que é na interação com as atividades que envolvem simbologia e
brinquedos que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva.
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, elaborado pelo
MEC, ressalta que brincar favorece a autoestima das crianças.

A brincadeira favorece a autoestima das crianças, auxiliando-as a superar


progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui,
assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no
âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao
brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil
(RCNEI, 1998 p.27).

Brincar faz parte do universo infantil, se a brincadeira ocorre no campo


da imaginação isto implica que a criança tem o domínio da linguagem simbólica,
entendendo assim que a realidade está sendo representada pela imaginação
criando novas possibilidades de entendimento da atual forma de se atuar na
vida. Através das brincadeiras as crianças expressam ideias e emoções
vivenciadas em seu mundo, e assim acontece o faz de conta. Com isso ela
experimenta situações em busca da resolução dos conflitos próprios da infância,
e contar com a ajuda de um espaço preparado para a liberdade de expressão e
de vivencias experimentais, poderá auxiliar a criança em seu processo de
imaginação e fantasia apropriando se de seus pensamentos, transportando-os
para a realidade.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
35

2.2 ESPAÇOS PARA CRIATIVIDADE E IMAGINAÇÃO

Para que a criança se sinta estimulada a criar é fundamental se construir


um ambiente desafiador, interferindo diretamente no desenvolvimento da
autonomia da criança. A brincadeira deve ser refletida e explorada a partir de um
olhar pedagógico sem renegar a essência e função natural da vivência da
criança, fazendo com que a mesma explore o mundo que a cerca atribuindo
significado à imaginação a partir dos objetos utilizados na brincadeira. Então, a
organização dos espaços no ambiente de Educação Infantil tem uma implicação
pedagógica e, por isso, existe uma interferência significativa na vida da criança,
respeitando as peculiaridades e necessidades de cada uma.
No livro “Projetos Pedagógicos na Educação Infantil” (Barbosa e Horn,
2008) afirma através de Fornero (1998) que o ambiente “fala”, evoca
recordações, transmite sensações, passa segurança ou inquietação, mas nunca
deixa indiferente.
A proposta pedagógica dos Centros de Educação Infantil precisa
contemplar em seus objetivos a possibilidade que a criança tem de recriar o
ambiente através do espaço que lhe é proposto, oportunizando momentos de
reflexão e busca da afirmação da identidade e autonomia. Ressalta Barbosa e
Horn (2008,p.48) que:

A construção do espaço é eminentemente social e entrelaça-se com o


tempo de forma indissolúvel, congregando simultaneamente diferentes
influencias mediatas e imediatas advindas da cultura e do meio em que
estão inseridos seus atores. Nesse processo, é importante ressaltar, a priori,
que o ser humano diferencia-se das outras espécies animais por ser capaz
de criar, de usar instrumentos e de simbolizar. Utilizando-se basicamente do
raciocínio e da linguagem, ele consegue transformar suas relações com os
outros e com o mundo.

Não há neutralidade na organização dos espaços nas instituições de


Educação Infantil, tanto ele estimula quanto limita as aprendizagens. De acordo
com Horn (2004, p.35) em seu livro: “Sabores, Cores, Sons, Aromas - A
organização dos espaços na Educação Infantil”:
O espaço é entendido sob uma perspectiva definida em diferentes
dimensões: a física, a funcional, a temporal e a relacional, legitimando-se
como um elemento curricular. A partir desse entendimento, o espaço
nunca é neutro. Ele poderá ser estimulante ou limitador de aprendizagens,
dependendo das estruturas espaciais dadas e das linguagens que estão
sendo representadas. Nesse sentido, o ambiente de aprendizagem
influencia as condutas das crianças pequenas de forma distinta, isto é,
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
36

enquanto alguns incitam o movimento, por exemplo, outros trarão uma


mensagem de mais tranquilidade e repouso.

Partindo da premissa que o espaço precisa ser planejado e estruturado


pensando na constituição da necessidade de valorizar a infância, as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) enfatiza a importância
das propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil contemplar os
seguintes parâmetros norteadores:

 Princípios Éticos da autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e


do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e as diferentes culturas,
identidades e singularidades.
 Princípios Políticos dos Direitos de Cidadania, do Exercício da Criticidade
e do Respeito à Ordem Democrática.
 Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da Ludicidade e da
liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais.
Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais (MEC, 2010, p.16).

Segundo as Diretrizes, as propostas pedagógicas devem estar pautadas


no lúdico e nas manifestações culturais, sendo assim, há que se pensar em
espaços físicos que contemplem a ludicidade e espontaneidade das
manifestações da cultura e, sobretudo, a criança, tornando o ambiente favorável
às diversas aprendizagens.
Deve-se pensar em espaços que as crianças usufruam plenamente de
tudo que nele está que elas tenham livre acesso para explorá-lo a partir da
concepção que cada uma já adquiriu de sua realidade. Tanto espaços internos
quanto externos o planejamento deve ser o mesmo: aguçar a criatividade e a
construir conhecimentos novos a partir de uma demanda da turma ou de uma
criança.
O projeto arquitetônico das instituições infantis onde atendem crianças
de 4 meses a 6 anos deve estar imbuído implícito e explicitamente a proposta
pedagógica. Entendendo que as crianças necessitam de um espaço que elas
circulem livremente, possam ver e serem vistas através de janelas grandes e
transparentes, paredes vasadas, e também transparente, o mundo lá fora, ou
seja, tudo que se passa no ambiente externo. Os ambientes internos são
subdivididos e separados por móveis na altura das crianças. Contendo armários
em forma de escaninhos para que as crianças guardem o material individual
estimulando assim a autonomia e a afirmação de sua identidade. Nesses
espaços subdivididos existe separação de temas, dependendo da proposta
pedagógica, por interesse coletivo ou individual.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
37

É importante ressaltar que esse trabalho conta com a utilização dos


componentes da natureza, como: terra, pedras, cascas de árvores, folhas secas
ou não, gravetos, areia, água, sementes, podendo incluir também rolhas, potes
de todos os tamanhos, garrafas em plástico, tampas, lacres, para experiências
criativas. Tudo separado em prateleiras e organizado por cores, espessura,
tamanho. Nas paredes, como decoração devem constar trabalhos produzidos
pelas crianças, como fotos, relatos, desenhos, e dependendo da faixa etária, a
produção escrita. Interessante ter exposto na sala o alfabeto em diferentes letras
bastão, cursiva maiúscula e minúscula, e cartazes de números com as
respectivas quantidades bem como também as rotinas diárias construídas com
as crianças, criando um ambiente colorido e alegre.
Este espaço é chamado de sala da criatividade, não há cadeiras e
mesas individuais, sempre pensando no coletivo, trabalhos em grupos. Há
banheiros nessa sala, dividido em masculino e feminino com louças adaptadas a
cada faixa etária, decorados com espelhos cortados em diversos formatos,
estimulando as crianças ao lúdico. Os espelhos também estarão nos corredores
de entrada da instituição. Nessa sala há uma escada que dá acesso a um
ambiente calmo e acolhedor, o mezanino do descanso. Decorado com cortinas
em tecidos leves e cores frias, com colchonetes ao chão, lençóis e pertences de
higiene pessoal, em escaninhos individuais para que cada criança pegue o seu.
Esse espaço será utilizado de acordo com a rotina estabelecida na instituição ou
pela necessidade individual de cada criança.
O ambiente externo deve ser composto por uma entrada, bastante
chamativa, com cores exuberantes, que dará acesso a um centro de convivência
onde as crianças e as famílias são recepcionadas, lembrando que essa proposta
se dá para instituições que atendem em horário integral, ou seja, o dia todo. Ao
ser recepcionadas as crianças farão a primeira reflexão do dia, a essa reunião
dá-se o nome de assembleia. Logo após as crianças farão a primeira refeição do
dia. Nesse ambiente as crianças sentam ao chão, mas existem mesas
compridas, mas baixas, onde as refeições serão servidas. Têm almofadas,
tapetes, móbiles que podem ser trocados de acordo com o que está vivenciando
no momento, através da proposta pedagógica. Tem um palco para
apresentações artísticas.
Nas árvores penduram-se livros, fitas coloridas, cordas para que a
criança escale, pendure, balance. Aproveitando a árvore constrói- se “a casa da
árvore”. Para desenvolver o senso musical aproveita uma parede, no pátio

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
38

externo e produz a parede sonora com sucatas de panelas velhas, pratos,


talheres, colher de pau, latas diversas, entre outros. Podendo elaborar junto com
as crianças a construção de instrumentos musicais diversos. Construindo assim
a bandinha com sucata e deixando-a no mesmo lugar para que todos a utilizem.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao considerar os espaços nas instituições de Educação Infantil como


educativos e responsáveis por fazer parte da construção do conhecimento de
forma experiencial, a proposta pedagógica deverá considerar o conceito de
infância e a importância do lúdico nos projetos desenvolvidos na instituição.
A criança sujeito, capaz de aprender através das relações e interações
que estabelece, constrói sua realidade a partir da vivencia natural da infância,
estimulada em seu dia-a-dia, em espaços que são intencionalmente criados para
satisfazer aos interesses cognitivos e aguçar novos conhecimentos. Isso se dá
com a relação mediada de um adulto, entre as crianças e os bens culturais.
A instituição de Educação Infantil deve oferecer espaços favoráveis ao
desenvolvimento da capacidade imaginativa e criativa das crianças, permitindo-
as entender e compartilhar os significados da cultura e construir sua identidade
pessoal e social e assim desenvolvendo a inteligência. O lugar que a criança
ocupa nas relações sociais que participa garante a ela ser ativa no processo de
diferentes aprendizagens, então ela deve ser recebida em espaços na Educação
Infantil que garantem possibilidades de agir, pensar, vivenciar, se relacionar e
brincar.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Projetos pedagógicos na educação infantil


Porto Alegre : Artmed, 2008.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília:
MEC/SEF, 1998.
HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, cores, sons, aromas: a organização dos
espaços na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos tradicionais Infantis: O jogo, a criança e a
educação. Petrópolis: Vozes 1993.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
39

MICHAELIS. Dicionário Online Português. 1998-2009. Editora Melhoramentos


Ltda. 2009 uol.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Conselho Nacional de Educação.
Câmara de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil. Resolução CEB N.º 1, de 7/04/1999.

POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro, Graphia, 1999.


Tradução: José Laurenio de Melo e Suzana Menescal.

VIGOTSKY, Lev Semenovich; LURIA, Alexander Romanovich; LEONTIEV, Alexis


N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Tradução de Maria da Penha
Villalobos. 2. ed. São Paulo: Ícone, 1988. p. 103-117.

WADSWORTH, Barry. Jean Piaget para o professor da pré-escola e 1º grau. São


Paulo, Pioneira, 1984.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
40

INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

EDIVANA GOMES SEVERINO ANTUNES1


CLEBER BALBINO DA COSTA2

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo esclarecer algumas perguntas frequentes em


nosso cotidiano escolar: “Como as pessoas aprendem? Por que algumas têm
mais habilidades/facilidades em certas resoluções do que as outras? Por que
algumas conseguem obter muito sucesso em alguma área e pouco sucesso em
outra?”. Esse trabalho apresenta uma teoria para o processo de ensino e
aprendizagem, talvez pouco abordada em nosso contexto educacional, a “Teoria
das Inteligências Múltiplas”, apresenta-se as sete inteligências descritas e
estudadas por Gardner (1995). Nesse contexto Gardner apresenta subsídios ao
profissional da área de educação, tanto o professor como o psicopedagogo.
Para tanto irá colaborar no reconhecimento de qual inteligência encontra-se
presente no aluno, bem como qual é a menos desenvolvida. Pode-se trabalhar e
estimular a habilidade ou inteligência que ainda não está plenamente
desenvolvida, cujo intuito é auxiliar no processo de ensino e aprendizagem
daquele que apresenta certo grau de dificuldade.

Palavras-chave: Inteligências múltiplas. Aprendizagem. Sucesso. Estimular.


Facilidade.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta a teoria das inteligências múltiplas, tema


relevante para atuação dos profissionais da área da educação, tanto para
professores quanto psicopedagogos, frente a uma demanda existente no país,
onde profissionais convivem com as diferenças individuais tão presente dentro
de uma sala de aula. Assim proporcionando uma visão mais ampla ao
psicopedagogo em seus diagnósticos e tomada de decisões.
Os sistemas educacionais no mundo atual têm como meta principal
contribuir aos estudantes para que possam ser cidadãos ativos, críticos e

1
Graduada em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela
Universidade Estadual de Maringá.
2
Graduado em Engenharia de Produção pela Faculdade Anhanguera Educacional de Campinas e
Especialista em Docência no Ensino Superior pelo centro Universitário de Maringá.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
41

democráticos, fazendo com que o processo de ensino e aprendizagem se torne


cada vez mais prazeroso e significativo desde a Educação Infantil.
Sabendo que são inúmeras as práticas pedagógicas e técnicas adotadas
pelas mais variadas instituições de ensino no país, nesta abordagem apresent-
ser a Teoria das Inteligências Múltiplas, que pode oferecer para as crianças na
Educação Infantil a contribuição no desenvolvimento frente às dificuldades de
aprendizagem, visto que todas as pessoas possuem habilidades e competências
cognitivas que podem ser constantemente aperfeiçoadas, trabalhando também a
formação pessoal de cada aluno, considerando as diferenças individuais tão
presentes no mesmo ambiente de ensino, levando os alunos a atingir objetivos
mais adequados ao seu aspecto particular de inteligência, valorizando o que
cada um tem de melhor.
O futuro psicopedagogo deve estar preparado para realizar o diagnóstico
de seu paciente e atuando em conjunto com o educador, que além de transmitir
conhecimento é o mediador no processo de ensino e aprendizagem. Necessita
também ser pesquisador, crítico e reflexivo, entendendo que estimulando as
inteligências múltiplas já na educação infantil é uma possibilidade de desenvolver
integralmente a criança, podendo contar com diversas práticas pedagógicas,
como os jogos, oficinas, brinquedoteca, de maneira que considere a
singularidade de cada aluno na construção de conhecimento, mas com sentido e
significado para os mesmos.
Este artigo baseia-se em uma revisão bibliográfica e tem por objetivo
apresentar os tipos de inteligência definidos pela Teoria das Inteligências
Múltiplas. O trabalho está dividido em quatro capítulos. O primeiro, a teoria das
inteligências múltiplas, o segundo, a identificação das inteligências múltiplas nos
indivíduos, o terceiro, a atuação do Psicopedagogo frente à teoria das
inteligências múltiplas para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos e, por
conseguinte, as considerações finais.

2 TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

De acordo com Gardner (1995), denominam-se Inteligências Múltiplas a


conclusão de um estudo desenvolvido a partir da década de 1980, por uma
equipe de investigadores da Universidade de Harvard, liderada pelo psicólogo
Howard Gardner, insatisfeito com os testes de “QI” (quociente intelectual), ele
buscou analisar e descrever melhor o conceito de inteligência, ainda para o

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
42

autor, não havia duvidas que o conceito de inteligência definido nos testes de QI
não era suficiente para descrever a grande variedade de habilidades cognitivas
humanas, até porque não entende que se possa medir a inteligência através de
testes de papel e lápis. Visto que cada indivíduo pode possuir mais de um tipo de
inteligência, desta forma os especialistas acreditam que o processo de ensino e
aprendizagem deve ser repensado para que os potenciais possam ser
desenvolvidos com menos dificuldades.
Conforme Gardner (1995), se analisar um agricultor e um engenheiro
civil, por exemplo, pode-se pensar quem é mais inteligente. Tudo depende do
que se vai fazer, se for à época de colheita, qual a melhor maneira de fazê-la,
pode-se contar com o agricultor, mas se precisarem saber quantos ferros devem
ser utilizados em uma determinada construção, então, o engenheiro civil será
mais útil neste contexto. Ainda para o autor, os testes de “QI” são levados em
conta apenas as capacidades lógicas e lógico-linguística, desta forma, um
grande jogador de xadrez ou uma grande violinista estarão exclusos já que os
testes de inteligência não conseguem identificá-los. Ainda segundo o autor, se
de fato eles não são inteligentes, o que lhes permite conseguir feitos geniosos
realizados por estes.
Para Gardner (1995), a essência da Teoria das inteligências Múltiplas
para a educação é respeitar as muitas diferenças entre as pessoas, as múltiplas
variações em suas maneiras de aprender e os vários modos pelos quais elas
podem ser avaliadas, levando em consideração a sua competência em resolver
problemas perante os estímulos que o ambiente apresenta. Desse modo,
Gardner (1994) destaca as 7 inteligências múltiplas.
 Lógico-matemática: pessoas que desenvolvem mais facilmente habilidades
em matemática e em raciocínios lógico-dedutivos, cientistas possuem esta
característica.
 Linguística: indivíduos com amplas habilidades em escrita, leitura e em
aprender idiomas, é predominante em poetas e escritores.
 Espacial: é a capacidade de formar um modelo mental de um mundo espacial
e de ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo. É característica de
arquitetos e escultores.
 Físico-sinestésica: são as pessoas que tem grande aptidão para controlar os
movimentos do corpo, atores e aqueles que praticam dança têm essas
características.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
43

 Interpessoal: habilidade de entender intenções, motivações e desejos dos


outros, encontra-se mais desenvolvida em políticos, religiosos e professores.
 Intrapessoal: refere-se às pessoas que tem a capacidade de entender a si
mesmo, como psicoterapeutas e escritores.
 Musical: estão em pessoas que possuem grande aptidão para tocar
instrumentos, compor e executar produções musicais, estão englobados
compositores, maestros e críticos da música.
Essas inteligências podem ser desenvolvidas em todos os indivíduos,
porém, muitas vezes dá-se mais ênfase em uma das inteligências, conforme a
aptidão.

3 IDENTIFICANDO AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DOS INDIVÍDUOS

Quais são as habilidades e inteligências que mais se encontra em nosso


meio? Como identificar ou avaliar melhor as habilidades de cada criança em sala
de aula? Visando estimular melhor as habilidades de cada um e´preciso saber
identificar quais são elas, e para que o professor possa identificá-las é preciso
saber as características de cada criança bem como o perfil da sala. Após essa
identificação fica mais fácil o desenvolvimento do trabalho educacional em
particular, planejando atividades que levem cada criança a desenvolver sua
competência, mas é preciso ficar atento para que não se confunda velocidade na
aprendizagem com inteligência.
De acordo com Gardner (2000), todas as crianças são inteligentes, mas
de maneira diferenciadas, e elas são aperfeiçoadas ou não, dependendo dos
estímulos que cada uma recebe e do ambiente que elas estão inseridas. Para
Gardner (1995) existe a necessidade de individualização nas escolas, visto a
diferença do perfil cognitivo de cada aluno, assim a escola deveria garantir que
cada um recebesse a educação que favorece o seu potencial individual. Tem
também a questão da influência da cultura no desenvolvimento das inteligências
que é muito grande, ainda mais quando se fala de um país como o Brasil, com
uma pluralidade cultural tão grande.
É preciso uma observação constante do psicopedagogo nas atividades
realizadas pelo seu paciente sendo elas individuais ou em grupo, para que ele
possa investigar e avaliar quais são as aptidões do aluno e, então, detectar as
Inteligências mais evidentes presentes nele. Para isso é necessário que ele tenha
um registro diário, no qual tenham as principais atitudes do aluno

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
44

individualmente. Ainda é necessário que ele converse com os professores para a


troca de ideias mediante uma determinada situação, converse com os pais e
examine os registros escolares, tudo isso contribuirá para identificar as
inteligências múltiplas na criança.

É de a máxima importância reconhecer e estimular todas as variadas


inteligências humanas e todas as combinações de inteligências. Nós
todos somos tão diferentes em grande parte porque possuímos diferentes
combinações de inteligência. Se reconhecermos isso, penso que teremos
pelo menos uma chance melhor de lidar adequadamente com os muitos
problemas que enfrentamos nesse mundo. Se pudermos mobilizar o
espectro das capacidades humanas, as pessoas não apenas se sentiram
melhores em relação a si mesmas e mais competentes; é possível,
inclusive, que elas também se sintam mais comprometidas e capazes de
reunir-se ao restante da comunidade mundial para trabalhar pelo bem
comum. Se pudermos mobilizar toda a gama de inteligências humanas e
aliá-las a um sentido ético, talvez possamos ajudar a aumentar a
probabilidade de nossa sobrevivência neste planeta, e talvez inclusive
contribuir para a nossa prosperidade (GARDNER, 1995, p.18).

Segundo Antunes (1998), para cada inteligência existem métodos e


materiais que podem ser utilizados de maneira que venham a ajudar os
profissionais da educação como o psicopedagogo e o professor, que podem
fazer uso da teoria das inteligências múltiplas, utilizando jogos lógicos e enigmas
na inteligência lógico-matemática, a narração imaginativa de histórias, gráficos,
diagramas e mapas ajudam na inteligência espacial, e assim por diante. Ainda
segundo o autor, os jogos é um dos melhores caminhos para a descoberta da
habilidade de uma criança.
Para Antunes (1998), a avaliação deve possuir características diferentes
do que se tem visto, ao invés de ser usada como classificação, aprovar ou
reprovar o aluno, ela deve sim informar ao mesmo qual a sua maior habilidade. O
professor precisa preparar uma avaliação que vá ao encontro com a inteligência
que está sendo testada, muitas vezes o professor quer uma resposta sobre
determinado assunto por escrito, e o aluno tem altas habilidades na inteligência
espacial e menos na linguística, então sua avaliação deixará a desejar.

Embora as escolas declaram que preparam seus alunos para a vida, a


vida certamente não se limita apenas a raciocínios verbais e lógicos. As
escolas devem favorecer o conhecimento de diversas disciplinas básicas;
que encorajem seus alunos a utilizar esse conhecimento para resolver
problemas e efetuar tarefas que estejam relacionados com a vida na
comunidade a que pertencem; e que favoreçam o desenvolvimento de
combinações intelectuais, individuais, a partir da avaliação regular do
potencial de cada um (GARDNER 1989, p. 37).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
45

A avaliação precisa reconhecer os diferentes estilos de aprendizagem


para que o aluno possa se expressar da melhor forma e de acordo com a suas
capacidades. Portanto, Ausubel (1982) afirma que a aprendizagem se torna
muito mais significativa na medida em que o novo conteúdo é entrelaçado com o
já vivido, com o conhecimento prévio do aluno, o meio social sempre
possibilitará melhores resultados nas avaliações.

4 ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO FRENTE A TEORIA DAS INTELIGENCIAS


MÚLTIPLAS PARA O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

Para Smole (2000), a teoria das inteligências múltiplas abre as portas


para uma ampla variedade de estratégias de ensino, que muitas vezes são
inovadoras, o reconhecimento dessas inteligências contribui para o bom
andamento do ensino de maneira mais individualizada, criando assim, a
possibilidade do educando absorver os conteúdos que até então apresentava
dificuldade no processo de aprendizagem. Já Armstrong (2001) acredita que o
educador deve criar estratégias de ensino com base nas inteligências múltiplas,
isso criaria uma interação dos alunos de formas diferentes, em pares ou em
grupos pequenos e após reservar um tempo para a autorreflexão individual.
De acordo com Armstrong (2001), torna-se fundamental que o
psicopedagogo esteja preparado, ou seja, possuir um conhecimento significativo
a respeito do assunto para que possa ser capaz de interagir com os professores,
apoiando-os nas práticas educacionais não convencionais. Portanto, essa
prática torna-se um grande desafio frente à realidade vivenciada na educação
pública do país.
Ainda conforme Armstrong (2001), tanto a prática docente como o
ambiente escolar deve favorecer o desenvolvimento do aluno em sua totalidade,
é essencial que o profissional da área de educação compreenda e saiba
estimular as diversas inteligências presentes na vida das crianças, provendo os
de recursos necessários para se organizar, sendo um verdadeiro mediador.

As implicações da teoria das IM vão muito além da instrução em sala de


aula. Na realidade, a Teoria das Inteligências Múltiplas defende nada
menos do que uma mudança fundamental na maneira pela qual as
escolas estão estruturadas. Ela transmite a educadores do mundo todo a
vigorosa mensagem de que os alunos que chegam à escola no início de
cada dia têm o direito de viver experiências que ativem e desenvolvam
todas as suas inteligências. Durante esse típico dia escolar, cada aluno
deve ser exposto a cursos, projetos ou programas que busquem
desenvolver cada uma de suas inteligências, não apenas as habilidades
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
46

verbais e lógicas, padrão que durante décadas foi exaltado acima de


outros domínios na educação (ARMSTRONG, 2001, p. 63).

Conforme apontado por Amstrong (2001) torna-se evidente que a


educação infantil é a base do processo educativo do ser humano, pois nesta
fase escolar devem ser desenvolvidas as capacidades intelectuais e estimular as
habilidades individuais de cada um. Nesse processo, a atuação do
psicopedagogo é tão importante diante das dificuldades de aprendizagem quanto
o professor é fundamental no elo entre o aluno e o conhecimento, possibilitando
estímulos durante a sua pratica pedagógica e sendo também o responsável pelo
desenvolvimento das inteligências múltiplas nas escolas.
Para Antunes (1998), as grandes dificuldades vivenciadas pelas
escolas, em sua maioria, não possui condições básicas como uma grade que
permita tempos de aula seguidos, material adequado às dinâmicas
desenvolvidas e, principalmente, formação específica de profissionais
capacitados a utilizarem o método com mais eficácia. Ainda segundo o autor é
visível também nesse aspecto como é interessante o período integral, dando
mais tempo ao educando e educador para desenvolverem diversas atividades,
como na biblioteca, laboratório de informática, laboratório de ciências, espaços
de lazer e outros.

A escola, como centro transmissor de informações, já não se justifica.


Afinal de contas, esse centro pode e deve ser substituído por outros,
menos cansativos, menos onerosos e, principalmente, mais eficientes. A
figura da criança ou mesmo do adolescente indo a uma escola para colher
informações é tão antiquada e patética quanto a do indivíduo que precisa
se levantar para mudar o canal de televisão (ANTUNES, 1998, p. 28).

Baseado em Antunes (1998) é necessário que tanto o psicopedagogo, o


docente, o ambiente, quanto o currículo escolar, a legislação e todas as pessoas
envolvidas no processo de ensino aprendizagem percebam as crianças em todos
os seus períodos de desenvolvimento, as vendo de maneira única, singular e
como seres interativos capazes de modificar o contexto em que vivem para isso
é preciso também repensar a postura de se ter um modelo padrão de ensino e
apostar no reconstruir.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
47

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente essa pesquisa foi motivada pela necessidade evidenciada


na casa da autora, onde sua filha com idade de sete anos possui um déficit de
atenção que, por conseguinte, leva-a a apresentar dificuldade de aprendizagem.
Desta forma, será possível ampliar o entendimento relacionado ao conceito da
teoria das inteligências múltiplas com a atuação do professor e psicopedagogo,
objetivando contribuir com o desenvolvimento das habilidades e, desta forma,
conduzir os alunos a superar as dificuldades de aprendizagem.
Nesta pesquisa foi possível apresentar o conceito apresentado por
Gardner referente à teoria das inteligências múltiplas, onde se torna notório a
necessidade e urgência em capacitar melhor os profissionais envolvidos no
processo de ensino, bem como diante dos demais autores citados, a grande
urgência em reestruturar o modelo de ensino para que se tenham condições de
trabalhar de maneira adequada e assim desenvolver as habilidades mesmo
naqueles em que elas não estão tão evidentes. Não se pode desprezar o avanço
já obtido, mas é evidente a necessidade de avançar ainda mais, e isso de certa
forma precisa ocorrer em um ritmo mais acelerado para que seja possível
atender a demanda existente.
Considerando que a psicologia institucional é bastante recente no
mundo educacional, acredita-se que Gardner, através de sua teoria, muito tem
colaborado para que a educação continue a evoluir, no entanto, torna-se
necessário que novos estudos continuem sendo realizados, pois vive-se em um
mundo que sofre constantes mudanças. Desta forma, espera-se que o presente
trabalho, em sua essência e proposito destacados, tenha colaborado na
ampliação do entendimento referente à teoria das inteligências múltiplas, assim
como a atuação do psicopedagogo frente as dificuldades de aprendizagem
apresentadas pelos alunos.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. As inteligências Múltiplas e seus estímulos. Campinas, SP:


Papirus, 1998.
ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das Múltiplas Inteligências.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
48

ARMSTRONG, Thomas. Inteligências múltiplas na sala de aula. Prefácio Howard


Gardner. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.
AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São
Paulo: Moraes, 1982.
GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a Teoria das Múltiplas Inteligências.
Porto Alegre: Artmed,1994.
GARDNER, Howard Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Tradução Maria
Adriana Verissimo Veronese. Porto Alegre: Artmed 1995.
GARDNER, Howard. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro:
Objetiva 2000.
GARDNER, H., & HATCH, T. Multiple intelligences go to school: Educational
implications of the theory of multiple intelligences. Educational Researche 1989.
PERRENOUD, Ph. Avaliação da excelência à regulação das aprendizagens entre
duas lógicas. Porto Alegre: Artmed Editora, 1999.
SMOLE, K.C.S. Matemática na Educação Infantil, a teoria das inteligências
Múltiplas na prática Escolar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
49

A IMPORTÂNCIA DA FUNÇÃO DO PROFESSOR NO PROCESSO DE ENSINO E


APRENDIZAGEM: A BUSCA PELA FORMAÇÃO SOCIAL DO ALUNO

ELIANA CLÁUDIA GRACILIANO 1


CAMILA GOMES DA SILVA 2

RESUMO

Este artigo científico tem como objetivo analisar o processo de ensino e


aprendizagem na busca pela formação social do educando, dando maior ênfase
à importância do papel do professor enquanto ser mediador do conhecimento.
Neste caso, procura-se refletir quais devem ser as contribuições do docente em
sala de aula, a fim de que os alunos tenham a oportunidade de uma formação
social, e não somente a absorção dos conteúdos. E que venham a construir um
aprendizado significativo para a interação em sociedade. Desta forma, busca-se
também discutir quais as possíveis dificuldades encontradas e quais seriam as
melhores maneiras de proporcionar um ensino de qualidade e que corresponda
aos objetivos esperados. Uma vez que vem notando-se uma maior preocupação
com o ensino para a vida, pois o mundo em que o aluno vive, seja dentro ou fora
da escola, não deve ser ignorado. Assim, esta pesquisa, que possui caráter
bibliográfico, e busca compreender como o professor é importante no processo
de ensino e aprendizagem e quais podem ser as maiores contribuições para que
este processo seja realmente realizado de forma bem sucedida. Além de expor
os resultados alcançados como: foco principal no aluno, formação para sua vida
enquanto pessoa, planejamento do professor e adaptação dos conteúdos de
acordo com a realidade dos estudantes e suas reais necessidades, de modo que
o ensino torne-se mais interessante e proveitoso.

Palavras-chave: Ensino e aprendizagem. Função do professor. Formação social


do aluno.

1 INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje percebe-se uma crescente preocupação com a


formação dos alunos na realidade escolar. Sendo que, nestas condições, é

1
Graduada em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Institucional e, mestranda em
Educação pela UEM (Universidade Estadual de Maringá).
2
Graduada em Letras Português e Respectivas Literaturas pela UNIVALI (Universidade do Vale do
Itajaí). Graduada em Letras Licenciatura em Língua Inglesa pela UFSC (Universidade Federal de
Santa Catarina). Graduada em Pedagogia e, Pós-graduanda em Psicopedagogia Institucional pela
UNICESUMAR.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
50

preciso levar em consideração não somente a forma como se ensina, ou a


reprodução de conteúdos, mas, acima de tudo, faz-se necessário considerar
como estes conteúdos deverão servir para, diretamente, impactar e transformar
a visão que o aluno tem de mundo.
Neste caso, torna-se pertinente refletir sobre tais questões uma vez
que o ensino carece de estar sempre atualizado e adaptado às reais
necessidades dos estudantes. Deste modo, são diversos os fatores que podem
contribuir para um ensino mais eficaz, e, entre eles, a função do professor é
imprescindível.
O professor tem função primordial na formação dos estudantes, uma
vez que está em contato direto com os alunos, sendo o principal mediador, a
ponte entre aluno e transformação dos saberes. Ou seja, o professor e sua
prática pode e deve estar diretamente ligada a buscar uma forma de proporcionar
aos alunos um aprendizado que seja absolutamente significativo para suas vidas.
Por meio desta pesquisa procura-se discutir como a função do
professor em sala de aula poderá contribuir para a formação destes estudantes
enquanto futuros cidadãos atuantes em sociedade. Assim, como e quais as
dificuldades encontradas para que este processo realmente ocorra de maneira
eficiente, além de refletir sobre as melhores formas de aplicar os conteúdos,
buscando a interação do estudante e sua formação para a vida.
Este artigo está assim subdividido: no primeiro capítulo, abordar-se-á a
função do professor no processo de ensino e aprendizagem, contendo
subcapítulos em que serão discutidos: a importância da formação social do
aluno, as principais dificuldades em sala de aula no processo de formação do
estudante e, por fim, buscando soluções e maneiras de aplicar os conteúdos
para proporcionar um aprendizado significativo. Posteriormente, a metodologia
será evidenciada apresentando o tipo de pesquisa utilizada para fundamentar o
trabalho, encerrando com as considerações finais.

2 A FUNÇÃO DO PROFESSOR NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

São diversos os fatores relevantes para um processo de ensino e


aprendizagem eficaz e que corresponda a todos os objetivos esperados. Dentro
deste contexto, a importância da função do professor faz-se fundamental
enquanto ser educador, pois é preciso superar dificuldades e colocar o aluno em
primeiro lugar, para que, antes de tudo, o ensino seja satisfatório, e o estudante
tenha toda e qualquer condição para a garantia de sua formação. Ou seja:
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
51

Todo papel social e, em decorrência, todo papel profissional são


compostos, portanto, por uma série de características previamente
requeridas àqueles que o desempenham além de outros tantos traços
imprimidos pelo caráter individual de cada autor social (VASCONCELOS,
2012, p. 43).

Neste caso, conforme a autora, acredita que o professor tem um papel


social ao entrar em sala de aula, um compromisso, em que o objetivo primordial
deva ser garantir a internalização dos conteúdos por parte dos alunos, com foco
em uma formação do educando enquanto pessoa. Para que, assim, o estudante
tenha instigada sua capacidade de pensar, refletir e adquirir reais condições de
estar devidamente preparado para a vida em sociedade. Desta forma:
O professor deve ter consciência de seu papel de promotor dos avanços
no desenvolvimento dos alunos, tendo claro que o conteúdo é o pretexto
para o aprendizado, para o refinamento do olhar e uma nova forma de
interpretar o mundo, bem como para participar da transformação deste
mundo. É dessa forma que, como professores-educadores, aceitamos ser
possível formar cidadãos críticos, competitivos, capacitados e agentes
transformadores de sua própria vida e da realidade que os cerca (ALVES,
2011, p.124).

De acordo com a autora, o aluno precisa adquirir as condições


necessárias para não somente internalizar os conteúdos ensinados, mas
também, poder aplicar estes conteúdos e os relacionar com sua vivência no dia
a dia. O professor é aquele que está em sala de aula para garantir o contato do
aluno com os novos conhecimentos, sendo assim, faz-se relevante a função do
professor neste processo para levar o aluno a construir um conhecimento mais
significativo, que busque a transformação social, cultural e intelectual destes
estudantes, consistindo em conteúdos aproveitados em suas vidas e não
somente dentro da escola. Assim:
Uma das características principais da profissão docente é acreditar na
educabilidade de seus alunos. A maioria dos professores considera muito
importante gostar do que faz, ou seja, além do conhecimento sabemos
que essa profissão envolve sentimentos. Além disso, a educação como
prática social incorpora significado social para esta profissão. Implica
compromisso, cientificidade, coletividade, competência e
comunicabilidade. Torna-se inadmissível realizarmos o ensino
mecanicamente (ROMANOWSKI, 2012, p. 19).

Ou seja, a autora traz a ideia de que o ser professor não se trata apenas
de estar em sala de aula e aplicar os conteúdos, mas sim, em ser um
pesquisador, inovador, que busque ampliar sempre seu conhecimento e
reconhecer suas dificuldades, a fim de aprimorar seu aprendizado, e as formas
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
52

com as quais possa contribuir para a educação de modo geral. A função do


professor não é somente dominar as teorias, mas também saber pensar e refletir
sobre elas, tendo plenas condições de aplicar todos estes saberes em sala de
aula. O professor precisa ter a compreensão deste compromisso e de que
realmente quer isso para si, deste modo, tornar-se-á possível uma maior
consciência das reais necessidades dos alunos e de como a prática pedagógica
vem a ser importante no processo de ensino e aprendizagem.

2.1 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO SOCIAL DO ALUNO

Ao refletir sobre a função do professor faz-se fundamental também


discutir a situação do aluno neste processo, além dos motivos de todo este
cuidado e atenção. Na educação percebe-se preocupação com a formação do
estudante, sendo que tal formação não pode ocorrer apenas dentro da escola em
que o único objetivo seria aplicar conteúdos para que o aluno seja aprovado e
consiga bom desempenho em avaliações. A educação é muito mais do que isso,
e é preciso repensar conceitos e práticas para que o educando tenha condições
suficientes de aprender para a vida, para o mundo que o cerca. Neste caso:
A educação é um processo de toda a sociedade - não só da escola – que
afeta todas as pessoas, o tempo todo, em qualquer situação pessoal,
social, profissional e de todas as formas possíveis. Toda a sociedade
educa quando transmite a ideais, valores, conhecimento. Família, escola,
meios de comunicação, amigos, igreja, empresas, internet, todos educam
e, ao mesmo tempo, são educados, isto é, aprendem, sofrem influências,
adaptam-se a novas situações. Aprendemos com todas as organizações,
grupos e pessoas a que nos vinculamos (MORAN, 2013, p. 15).

Segundo o autor, a educação ocorre de diversas formas e sofre várias


influências, inclusive de fora da escola. Enquanto futuro cidadão, o aluno, ao
frequentar o ambiente escolar precisa estar em contato com o mundo lá fora e
este mundo deve ser trazido para dentro da escola, vindo também a servir como
base para o aprendizado. Os alunos já possuem certo conhecimento prévio, mas
é preciso que este seja aprimorado, moldado, a fim de que o desenvolvimento
pessoal e intelectual ocorra, sendo o professor um mediador neste processo.
Outro fator de igual importância é a interação e a transmissão social. Esse
fator implicar a necessidade da experiência com pessoas para que o
desenvolvimento cognitivo aconteça. Essa interação vai determinar o
acesso a diferentes conhecimentos e a diferentes formas de concebê-los.
É a partir do confronto com a diferença que o ser humano pode avançar

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
53

em seu desenvolvimento, uma vez que o fator da interação não pode ser
tomado de forma isolada (STOLTZ, 2012, p. 23).

Desta forma, de acordo com a autora, percebe-se que o ser humano


precisa estar em constante contato social para que um desenvolvimento
aconteça. No caso, dentro da escola a situação não é diferente - é necessário
que os estudantes interajam entre si, com professores e o mundo e, por meio da
mediação do educador, adquiram condições suficientes de conhecer novos
saberes, com o intuito de transformar tudo o que já sabem e aplicar novos
conhecimentos em suas vidas, pois, de tal modo, terão condições de aprender
de maneira que possam sair da escola como futuros cidadãos. Aptos a pensar,
refletir, formar opinião e ampliar suas visões de mundo.

2.2 AS PRINCIPAIS DIFICULDADES EM SALA DE AULA NO PROCESSO DE


FORMAÇÃO DO ESTUDANTE

Ao repensar as melhores condições de buscar um aprendizado eficiente


nota-se que também podem ocorrer certas implicações, visto que é possível
encontrar muitas dificuldades por parte dos estudantes e também como
professor. Muitas vezes há problemas que podem dificultar, ou até mesmo
impedir o processo de ensino e aprendizagem e, desta forma, a formação do
estudante enquanto pessoa pode vir a ficar comprometida.

Há fatores que favorecem o bom desempenho dos estudantes, gerando


bom relacionamento entre professores e alunos, docentes com formação
sólida, avaliação sistemática, material didático suficiente, prédios
adequados, famílias participativas e ambiente emocional adequado. Ao
professor cabe dominar os conteúdos de sua disciplina, mas também
saber acolher as turmas, trabalhando interesses e sentimentos. Se há
ociosidade, em sala de aula, isso causa o tédio e, consequentemente, a
indisciplina, principalmente na faixa etária dos alunos entre 9 e 14 anos
(ALVES, 2011, p. 122).

Seguindo as ideias da autora percebe-se que há diversos fatores


necessários para que um processo de ensino e aprendizagem seja efetivo,
porém, muitas vezes, a realidade é bem diferente do ideal e, então, diversos
problemas acabam surgindo, tais como: professores despreparados, sem uma
formação necessária que possa ajudá-los a compreender sua real função dentro
da escola e na vida destes estudantes; professores desmotivados com certa
desvalorização de sua profissão; a falta de preparo da escola em oferecer as
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
54

condições necessárias para professores e alunos conviverem em um ambiente


acolhedor e harmonioso, sejam problemas de infraestrutura, administração ou
até mesmo apoio emocional; sem contar a falta de apoio da própria família e da
comunidade, que, certamente, deveriam estar envolvidos com a formação do
aluno.
Além disso, sendo consequência ou não dos problemas citados acima,
há, também, inúmeros casos de estudantes desinteressados que não
correspondem ao esperado, ou por não demonstrarem vontade de aprender, ou
por não se sentirem motivados a isso. Sem contar alunos específicos que
realmente possuem certas dificuldades de aprendizado e não conseguem
acompanhar as propostas apresentadas pela escola e pelo professor. E, muitas
vezes, não recebem o acompanhamento e apoio devidamente necessários para
seu desenvolvimento.
Todos estes fatores podem prejudicar o processo de ensino e
aprendizagem, pois distanciam aluno de professor e escola e,
consequentemente, aluno do interesse pelo novo, pelo conhecimento. Todavia,
mesmo diante de tantas adversidades é preciso buscar alternativas e melhor
preparo para atender a todas estas situações.

2.3 BUSCANDO SOLUÇÕES E MANEIRAS DE APLICAR OS CONTEÚDOS PARA


PROPORCIONAR UM APRENDIZADO SIGNIFICATIVO

Apesar das muitas dificuldades encontradas é necessário relembrar


sempre que a formação do aluno deve receber toda a atenção possível por parte
dos professores, escola e sociedade. Deste modo, apesar dos empecilhos,
focando na função do professor, cabe a este buscar as melhores maneiras de
superar certos problemas e tentar o seu melhor para ajudar estes estudantes a
transformarem o conhecimento, e não desistir dos alunos, e ter em mente que
podem ser, sim, capazes e merecem uma chance de seguir em frente,
progredindo a cada dia.
Métodos utilizados em sala de aula, assim como os conteúdos,
precisam estar focados em um ensino que seja contextualizado, que faça sentido
para os estudantes e que possa provocar o interesse, instigando-os a aprender
mais e mais, pois, é a partir da interação e do que possa prender a atenção do
aluno que o professor poderá conseguir resultados mais positivos, uma vez que,
de tal modo, o estudante passa a se sentir mais desafiado e incluído. Desta
forma:
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
55

O papel do aluno, sujeito ativo de sua própria aprendizagem, é participar


ativamente desse processo, trazendo suas impressões e conhecimentos
prévios, analisando-os à luz de novos conhecimentos trabalhados em sala
de aula, refletindo, alcançando níveis mais elevados de organização do
saber e relacionando-o à prática social. Em outras palavras, cabe-lhe o
papel de quem está realmente envolvido no processo de aprender, que
deseja e se esforça para isso, que tem a vivência (senso comum), mas
precisa ser auxiliado e orientado pelo professor – por meio de conteúdos
– a compreender essa vivência de modo mais ampliado (SRUH, 2012, p.
157).

Assim, conforme a autora, o processo de ensino e aprendizagem


precisa proporcionar aos alunos a vontade de buscar o saber, de gostar de estar
ali e de procurar sempre ampliar seus conhecimentos. Levando-os a entenderem
como tal fato pode ser importante para o futuro, não somente para se formarem
na escola, mas também para a vivência em sociedade. Neste caso, cabe ao
professor levar para a sala de aula o mundo em que o aluno vive, seja por meio
de dados, assuntos, motivos que sejam familiares, procurar provocar os
educandos a pensar, refletir, emitir suas opiniões, e, de tal modo, aplicarem
estes conteúdos em suas vidas, associando com tudo aquilo que já sabem.
Isso porque, ainda segundo Sruh (2012, p. 156), “a relação professor-
aluno deve ser interativa: ambos são sujeitos do processo ensino-aprendizagem,
mas com papéis distintos.” O diálogo entre professor e aluno é fundamental para
que a troca de conhecimento ocorra, e que o estudante demonstre interesse
necessário, que irá procurar participar e corresponder ao esperado, pois,
enquanto aprendiz tem também muito a contribuir para seu próprio aprendizado.
No entanto, para que este objetivo seja realmente alcançado o professor
precisa ser aquele que vai ajudar o aluno a ter esta visão. Espera-se também do
educador que esteja sempre atento às diversidades em sala de aula, contribuindo
e aceitando contribuições. Conhecendo e se envolvendo com a realidade dos
alunos e como correspondem aos conteúdos propostos. O professor tem função
de procurar fazer as adaptações necessárias para o melhor aproveitamento da
turma, atualizando-se e se capacitando cada vez mais. É preciso reinventar-se e
buscando sempre a melhor forma de planejar e colocar em práticas suas ideias.
Assim:
O planejamento inclui diagnóstico e fundamentação, ou seja, para planejar
é preciso conhecer o contexto ao qual o planejamento se aplica e é
preciso estudar, fundamentar o planejamento. O diagnóstico (o estudo de
condições e circunstâncias nas quais o planejamento se insere) é feito em
relação ao aluno, ao conteúdo, aos recursos, ao contexto, aos objetivos.
A fundamentação refere-se ao estudo, ao conhecimento do método e à
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
56

motivação (ao motivo, ao incentivo, à vontade, à pertinência, às


circunstâncias) do seu uso (RANGEL, 2005, p. 17).

Deste modo, faz-se necessário repensar práticas, planejar, analisar e


aplicar os conteúdos de acordo com a turma e suas necessidades, sendo todos
estes vários procedimentos utilizados pelo professor, que, acima de tudo, levem
o aluno a desenvolver suas diversas múltiplas inteligências, habilidades e
capacidades de superação para que assim o educando possa compreender o
porquê de estar ali. Além do mais, o educador deve ser um mediador o tempo
todo, e não o detentor absoluto do saber, deve ser aquele que irá criar situações
e aplicar metodologias voltadas para o aluno aprender de forma significativa e
proveitosa.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo a formação do aluno assunto de fundamental relevância para o


meio escolar e sociedade, faz-se necessário, também, repensar como esta
formação deve ocorrer e quais os principais fatores que a influenciam. Neste
caso, por meio desta pesquisa bibliográfica, buscou-se refletir sobre a função do
professor no processo de ensino e aprendizagem enquanto mediador de um
conhecimento que contribua para a vida dos educandos - de forma que esta
função docente cumpra-se de acordo com o esperado, uma vez que é de suma
importância para que o aluno adquira as devidas condições de alcançar uma
formação enquanto futuro cidadão, aquele que terá responsabilidades sociais e
representará o mundo em que vive.
Deste modo, procurou-se discutir as principais questões diretamente
ligadas a esta situação. A função do professor no processo ensino e
aprendizagem foi primeiramente abordada com o intuito de destacar a grande
importância da prática docente no dia a dia escolar, pois é o professor quem
está em contato direto com o estudante. Em seguida, buscou-se refletir sobre a
necessidade de uma formação social dos alunos como fator decisivo para os
bons resultados do aprendizado e priorizando a necessidade de uma formação
que seja interessante e ao mesmo tempo produtiva. É, desta forma, que os
educandos terão melhores condições de aprenderem a pensar, refletir, formar
opinião e questionar o meio em que vivem.
Além disso, foram analisadas as dificuldades que podem ser
encontradas em sala de aula, e consequentemente, interferir na eficácia do

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
57

processo de ensinar e aprender. Sendo que, muitas vezes, a realidade apresenta


múltiplas dificuldades para o docente e pode comprometer tudo o que foi
planejado. Por fim, buscou-se abordar pontos referentes a soluções e maneiras
de aplicar os conteúdos para que o aprendizado venha a ser proveitoso e
interessante para o aluno.
Após considerar todos estas questões compreende-se que haverá
sempre diversas dificuldades que podem prejudicar ou impedir o processo de
ensino e aprendizagem. Problemas de dentro e fora da escola, com foco no
estudante, professor, escola e sociedade, que geram insatisfação e mau
desempenho por parte de aluno e professor, como desmotivação, falta de
interesse, entre outros, entretanto, superar dificuldades é preciso. Acima de tudo,
o aprendizado destes futuros cidadãos deve ser sempre prioridade, cabendo ao
professor planejar, analisar, aplicar conteúdos e metodologias, renovando e
adaptando sua prática para responder às necessidades dos estudantes. O
educador tem função fundamental no processo de formação dos alunos, em que
deve buscar sempre a contribuição para um aprendizado que faça sentido e
possa ser internalizado, além de precisar contar com todo o apoio necessário
para que sua prática torne-se ainda mais eficiente.
Desta forma, a partir da realização desta pesquisa, foi possível
compreender a importância de todos os fatores discutidos acima para a
formação profissional ao realizar-se a Pós-graduação em Psicopedagogia
Institucional, uma vez que o aprendizado do aluno deve vir em primeiro lugar
para todo e qualquer profissional envolvido com o ambiente escolar, a fim de que
alunos e professores tenham todo o suporte que for preciso, ou seja, o principal
objetivo é procurar as melhores formas de disponibilizar aos estudantes
condições reais de superarem suas dificuldades e terem suas capacidades,
habilidades e inteligências valorizadas e estimuladas. Assim sendo, juntamente
com professores voltados a aplicarem sua função mediadora em sala de aula,
faz-se necessário que escolas, profissionais da educação, famílias e
comunidade unam-se em prol de proporcionar um ambiente saudável e
satisfatório de aprendizagem, em que os estudantes possam sentir-se acolhidos,
capazes, interessados, instigados e motivados a buscarem um conhecimento
significativo e que contribua para suas vidas.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
58

REFERÊNCIAS

ALVES, Silviane Rodrigues Leite. História e Cotidiano na Formação Docente:


Desafios da Prática Pedagógica. Curitiba: Ibpex, 2011.
MORAN, José Manuel. A Educação que desejamos: Novos desafios e como
chegar lá. Campinas: Papirus, 2013.
RANGEL, Mary. Métodos de Ensino para a aprendizagem e a dinamização das
aulas. Campinas: Papirus, 2005.
ROMANOWSKI, Joana Paulin. Formação e Profissionalização Docente. Curitiba:
InterSaberes, 2012.
STOLTZ, Tania. As perspectivas Construtivista e histórico-cultural na educação
escolar. Curitiba: InterSaberes, 2012.
SURH, Inge Renate Fröse. Teorias do Conhecimento Pedagógico. Curitiba:
InterSaberes, 2012.
VASCONCELOS, Maria Lúcia. Educação Básica: A formação do Professor,
relação professor-aluno, planejamento, mídia e educação. São Paulo: Contexto,
2012.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
59

PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA AO LIDAR COM ALUNOS


QUE APRESENTAM TRANSTORNOS DE LINGUAGEM E DE APRENDIZAGEM

FABRÍCIA SOUTO CRUZ 1


TEREZINHA SOARES DOS SANTOS MACEDO 2

RESUMO

Esse artigo traz uma discussão sobre o papel do professor de língua portuguesa
ao lidar com alunos que apresentam transtornos de linguagem e de
aprendizagem, busca identificar de que modo o professor pode contribuir para
que alunos, que apresentam esses transtornos, possam desenvolver
mecanismos para facilitar o aprendizado de maneira eficaz. O artigo foi
desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica e propõe- se no trabalho a
utilização de meios tecnológicos e a ludicidade para auxiliar o professor no
processo de ensino.
Palavras chave: Transtornos de linguagem. Aprendizagem. Papel do professor.

1 INTRODUÇÃO

Esse trabalho aborda o papel do professor de língua portuguesa ao lidar


com alunos que apresentam transtornos de linguagem e de aprendizagem, esses
problemas são comuns em salas de aula e, cabe ao professor estar preparado
para enfrentar esse desafio e contribuir para que essas crianças possam ter a
chance de desenvolver o conhecimento e, assim, poder sentir-se parte efetiva da
sociedade.
O desenvolvimento desse trabalho deve-se à relevância em verificar a
dificuldade que os professores encontram em sala de aula ao lidar com alunos
que apresentam transtornos de linguagem e de aprendizagem. Esses fatores que
interferem e prejudicam o processo de ensino da criança e, de um modo geral,
acabam prejudicando o processo de ensino coletivo, haja vista que o professor
ao lidar com essa dificuldade em sala de aula não consegue desenvolver as

1
Especialista em EaD e as Tecnologias Educacionais pelo Centro Universitário Cesumar –
UniCesumar. Especialista em Língua Portuguesa: Teoria e Prática pelo Instituto Paranaense de
Ensino. Graduada em Letras Português/Inglês pela Universidade Estadual de Maringá – UEM.
2
Graduada em Normal Superior/complementação em pedagogia. Licenciada em Letras – Língua
Portuguesa e Respectivas Literaturas, Letras – Língua Portuguesa e Respectivas Literaturas.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
60

atividades planejadas no tempo estabelecido, e nem conseguem promover uma


educação de qualidade e democrática.
É importante que o professor de língua portuguesa saiba lidar com essa
dificuldade e possa criar mecanismos que o ajude durante o processo de ensino
em turmas que possuem alunos que apresentam transtornos de linguagem e
aprendizagem, sabe-se que essa não é tarefa única e exclusiva do professor de
língua portuguesa, no entanto, entende-se que ele tem o papel de ensinar a
língua materna e, por isso, deve contribuir de modo significativo para que seus
alunos possam ampliar suas competências linguísticas e se apropriarem da
língua materna de forma plena.
O problema a nortear essa pesquisa é: professor de língua portuguesa
pode contribuir para o desenvolvimento de alunos que apresentam transtornos
de linguagem e de aprendizagem? Para responder a este questionamento tem
como objetivo principal identificar de que modo o professor de língua portuguesa
pode contribuir para o desenvolvimento de alunos que apresentam transtornos
de linguagem e de aprendizagem, e conhecer os principais problemas gerados
por causa dos transtornos de linguagem e de aprendizagem, discutir o papel do
professor de língua portuguesa ao lidar com alunos que apresentam esses
transtornos, apresentar propostas de intervenção que possam contribuir para o
desenvolvimento desses alunos.
Quanto à proposta metodológica deste artigo, trata-se de uma revisão
bibliográfica, com isso, visa buscar elucidar dúvidas importantes sobre os
transtornos de linguagem e de aprendizagem, além disso, apresentando
propostas de intervenção para que os professores de língua portuguesa tenham
mais uma ferramenta que contribua para seu processo de ensino.

2 PRINCIPAIS PROBLEMAS GERADOS POR CAUSA DOS TRANSTORNOS DE


LINGUAGEM E DE APRENDIZAGEM

O processo de aprendizagem de uma pessoa é muito importante, pois é


por meio dele que as habilidades de comunicação e linguagem irão se
desenvolver de modo a prepará-lo para a convivência em sociedade. É durante
os primeiros anos de vida que o aluno começa a desenvolver suas funções
cognitivas, nesse processo podem surgir transtornos de linguagem e de
aprendizagem que, se não forem identificados e tratados corretamente, podem
ocasionar muitos problemas ao longo do desenvolvimento da criança.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
61

Sabe-se que esses transtornos apresentam-se como um grande desafio


para a educação e para os profissionais da área do desenvolvimento infantil,
neste sentido Nunes, et al (2004, p. 03) destaca que:
Acredita-se que as dificuldades de aprendizagem estejam intimamente
relacionadas a história prévia de atraso na aquisição da linguagem. As
dificuldades de linguagem referem-se a alterações no processo de
desenvolvimento da expressão e recepção verbal e/ou escrita. Por isso, a
necessidade de identificação precoce dessas alterações no curso normal
do desenvolvimento evita posteriores consequências educacionais e
sociais desfavoráveis.

No ambiente escolar o professor lida diretamente com diversos perfis de


aluno, cada um deles apresenta particularidades em seu desenvolvimento, por
isso, o professor deve estar atento para que possa rapidamente verificar as
dificuldades apresentadas por seus alunos, Zorze (2014, p. 20) afirma que
“algumas crianças, com comprometimentos mais acentuados, apresentam
certos níveis de problemas que podem dificultar, em muito, a aprendizagem da
linguagem escrita, assim como o desempenho escolar em geral”.
Esses problemas que afetam o aluno em seu desenvolvimento de
aprendizagem na escrita, linguagem oral, também podem afetar seu psicológico,
haja vista, que o aluno por não aprender pode vir a não desenvolver relações
sócio afetivas, o que pode remetê-lo a um sentimento de exclusão. Desta forma,
o aluno acaba se sentindo desencorajado e isso torna ainda mais difícil o seu
processo de aprendizagem.
Neste sentido, Bastos (2009) lembra que o aspecto socioambiental
representado pela família e escola é de vital importância para a aprendizagem
desses alunos, pois é na família que a criança adquire suas primeiras conquistas
intelectuais e afetivas, essas que irão determinar toda a estruturação de seu
modelo de aprendizagem, o qual irá utilizar para a conquista do conhecimento.
Já no ambiente escolar é necessário que haja uma intervenção direta
nas atividades, a fim de que elas possam estimular a linguagem escrita, a fala e
a convivência desse aluno com o restante da turma para que ele não se sinta
excluído do processo de ensino. É de extrema relevância pensar na elaboração
de atividades lúdicas como jogos e brincadeiras, pois esse é um método de
ensino prazeroso tanto para o aluno quanto para o professor.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
62

3 O PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA DIANTE DE ALUNOS


QUE APRESENTAM TRANSTORNOS DE LINGUAGEM E APRENDIZAGEM

No processo de ensino e aprendizagem o professor tem o papel de


mediar o acesso ao conhecimento, e é através do professor de língua
portuguesa que o aluno terá o primeiro contato com a língua materna, esse
contato é muito importante para o desenvolvimento do aluno uma vez que o
domínio da língua oral e escrita possibilita ao aluno ter uma participação efetiva
na sociedade, pois ele passará a ter acesso a informação e expressar sua
opinião.
De acordo com Cunha (2010), o professor de língua portuguesa
apresenta-se como um humanista-cognitivista que deve estar preocupado com a
formação total do ser humano e acreditar que o processo de ensino e
aprendizagem passa pela construção do conhecimento e pela interação
aluno/meio/professor.
Neste sentido é importante deixar claro que o professor de língua
portuguesa, enquanto mediador do processo de ensino e aprendizagem, deve ser
capaz de identificar possíveis transtornos de linguagem e de aprendizagem
apresentados por seus alunos. Sabe-se que o professor sozinho não conseguirá
resolver esses transtornos, tendo em vista que na maioria das vezes o
diagnóstico e tratamento demandam de uma equipe multidisciplinar, mas o
professor é o primeiro a ter contato com esse problema. Santos (2007, p. 21)
comenta que:

A presença, em sala de aula, de crianças com características fora do


padrão da classe é uma constante preocupação para os educadores.
Quase sempre, trabalhar com essa criança é um desafio para o professor.
Quando o aluno apresenta um rendimento abaixo da média da classe, o
professor logo percebe.

Essa percepção do professor é de extrema importância para o


desenvolvimento do aluno, visto que quanto mais cedo o aluno for diagnosticado
melhor serão as chances para que o aluno possa desenvolver suas habilidades
linguísticas de comunicação e de aprendizagem, isso possibilitará que o aluno
sinta-se inserido no meio social e capaz de aprender, conhecer, interagir com o
meio em que vive.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
63

4 CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE ALUNOS


COM TRANSTORNOS DE LINGUAGEM E DE APRENDIZAGEM

Nos dias atuais em que os meios tecnológicos estão aprimorando cada


vez mais o processo de ensino, tornando mais fácil o planejamento de atividades
para o professor apresentar contribuições pedagógicas que sejam efetivas no
processo de ensino e aprendizagem de alunos especiais diagnosticados com
transtornos de linguagem e de aprendizagem, para que o ensino se torna uma
tarefa simples.
Neste aspecto, associar o ensino pautado na ludicidade a inovações
tecnológicas é fundamental para um bom desenvolvimento do processo de
ensino. Neste sentido Rodrigues e Barni (2009, p. 03) destacam que:

Na perspectiva da educação inclusiva, os recursos tecnológicos são de


fundamental importância. É utilizado como instrumento facilitador da
aprendizagem, busca na criatividade uma alternativa para que o aluno
realize o que precisa ou deseja, possibilita uma melhor comunicação.

Assim como os recursos tecnológicos a ludicidade também apresenta


como instrumento importante para o aprimoramento do processo de ensino, pois
ela é capaz de associar jogos e brincadeiras ao ensino. A criança deve estar
aberta para lidar com esse processo, bem como o professor que o utiliza como
instrumento metodológico de ensino, pois sua aplicação em sala de aula envolve
muito mais que a utilização de jogos e ou brincadeiras por meio de recursos
tecnológicos.
A ludicidade é uma metodologia que deve ser muito bem aplicada para
que a satisfação do brincar seja a mesma do aprender, neste sentidoAlbareli, et
al. ( 2011, p. 02) afirma que:

Para que o uso do lúdico seja, de fato, uma estratégia didática que auxilie na
construção do conhecimento e no desenvolvimento global da criança, é preciso
planejar as situações, visando a uma aprendizagem, a um conhecimento, a uma
atitude. Estas situações devem ter uma intencionalidade educativa; portanto,
devem ser planejadas pelo professor a fim de alcançar objetivos predeterminados.

Desse modo entende-se que o processo de ensino e aprendizagem por


meio da ludicidade e dos recursos tecnológicos é primordial para auxiliar no
desenvolvimento de crianças com transtornos de linguagem e aprendizagem, por
isso é necessário que a aplicação desses recursos seja aliada ao planejamento
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
64

efetivo, a promoção da interação entre o aluno e o restante da turma, além disso,


é interessante que o professor ao construir junto com os alunos o conhecimento,
seja capaz de identificar as particularidades de cada um e para que de fato ele
possa auxiliar no aprendizado da criança.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que os transtornos de linguagem e aprendizagem são


problemas reais a serem enfrentados pelos professores em sala de aula, a
realização desse trabalho trouxe uma discussão muito interessante sobre esse
assunto, pois percebeu-se a importância do professor de língua portuguesa ao
lidar com esses alunos, pois ele tem o papel de ensinar a língua materna, que é
essencial para o desenvolvimento do aprendizado do aluno, além do mais ele é o
primeiro a ter contato com o processo de aprendizado desse aluno, isso lhe
deixa em uma posição especial em que lhe implica o papel de identificar
possíveis problemas em seu desenvolvimento.
Durante o processo de ensino o professor deve ser capaz de observar
se o aluno está desenvolvendo de modo adequado suas habilidades, o professor
apesar de estar em um ambiente coletivo deve atentar-se as particularidades de
cada aluno para que seu aprendizado não seja prejudicado, esse olhar mais
atendo do professor ao desenvolvimento do aluno em sala de aula é primordial
para seu desenvolvimento e na maioria das vezes pode determinar todo
processo de aprendizado dessa criança.
Conclui-se, dessa forma, que o professor tem um papel fundamental,
pois ele é capaz de identificar eventuais transtornos em seus alunos, e também é
capaz de atuar apresentando novas propostas e metodologias de ensino
diferenciadas para contribuir para o aprendizado significativo do aluno,
aprendizado esse que reflete não só em sua formação, mas em todo seu
contexto, em sua vivência com colegas de turma e com familiares.

REFERÊNCIAS

ALBARELI. Ana Carolina. et al. O lúdico a criança e o educador. EFDeportes.com,


Revista Digital. Buenos Aires, Ano 16, Nº 163, dez 2011. Disponível em:
<http://www.efdeportes.com/efd163/o-ludico-a-crianca-e-o-educador.htm>.
Acesso em: 12 maio de 2016.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
65

BASTOS, Rafael Lira Gomes Bastos. et al. Como ocorrem os distúrbios da


linguagem oral e da comunicação na criança. Sobral-CE 2006. Disponível em: <
http://www.profala.com/arteducesp162.htm> Acesso em: 12 maio de 2016.
CUNHA, Sérgio Fabiano Labruna. O papel do professor de língua portuguesa no
paradigma da educação inclusiva. Revista IDEA, Dezembro 2010.
NUNES, Magda L. et al. Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem.
Jornal de Pediatria. (Rio J.) vol.80, nº 2 suppl.0 Porto Alegre, Apr. 2004.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0021-75572004000300012>.
Acesso em: 12 maio de 2016.
RODRIGUES, Karina Gomes. BARNI, Edí Marise. A utilização de recursos
tecnológicos com alunos deficientes visuais no curso superior a distância de
uma instituição de ensino de Curitiba-PR. PUCPR. Outubro de 2009
SANTOS, Nilza Maria dos. Problematização das dificuldades de aprendizagem.
Londrina – PR, 2009.
ZORZI, Jaime Luiz. Os distúrbios de aprendizagem e os distúrbios específicos de
leitura e da escrita. CEFAC. 2004. p 20. Disponível em: <
http://www.cefac.br/library/artigos/2405420cdd61d3c9ba0387897e1316ed.pdf
>. Acesso em: 14 de maio de 2016.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
66

A IMPORTÂNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS


PARA O NEGRO NO BRASIL

FERNANDA CARVALHO BASÍLIO HERNANDEZ 1


HILDEBRANDO PEREIRA SANTOS FILHO2

RESUMO

Visando discutir brevemente as políticas públicas e ações afirmativas que ao


longo da história trataram da educação do negro no Brasil é feito um relato
histórico conciso sobre essas políticas, fazendo uma retrospectiva das principais
leis e atos do estado que influenciaram a educação do negro no Brasil de
maneira direta ou indireta, bem como mostra os avanços e retrocessos ao longo
da história desde o Império até os dias atuais, mostrando uma parte da história
por muitos desconhecida. Nas considerações finais ressaltou a importância
dessas políticas públicas no contexto atual e mostra o quanto os fatos históricos
tiveram importância para que o negro tivesse como consequência ainda uma
sociedade discriminatória, racista e desigual, dessa maneira influenciando
diretamente na educação dessa parte da população brasileira.
Palavras-chave: Políticas Públicas. Negro. Educação. Ações Afirmativas.

1 INTRODUÇÃO

Sendo o Brasil um país de grande parte da população negra e


visualizando o contexto atual onde o negro ainda não consegue se estabelecer
socialmente e profissionalmente de maneira compatível no mercado de trabalho,
nem atingir classes sociais mais elevadas de maneira a equilibrar sua
participação na sociedade de forma mais igualitária tanto nos aspectos
econômico, político como o social é que vem a dúvida: As políticas públicas
educacionais estão atuando de maneira reparadora oportunizando uma mudança
na situação econômica, política e social dos negros no Brasil? Diante desse
questionamento espera-se compreender as causas que contribuem para que a

1
Especialista em Educação a Distância e Novas Tecnologias pela Unicesumar – Maringá PR.
Bacharel em Serviço Social pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana –
Apucarana PR. Professora Orientadora de TCC na Pós Graduação do Núcleo de Educação a
Distancia da Unicesumar.
2
Licenciado em Pedagogia pela UNIFACS, Bacharel em Turismo pela Universidade Estácio de Sá,
cursando especialização em Docência do Ensino Superior pela Unicesumar.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
67

desigualdade entre negros e brancos no Brasil ainda seja grande permitindo uma
reflexão sobre esse panorama e seus desdobramentos no cenário atual.
Este trabalho realizou o estudo das políticas públicas educacionais de
combate às desigualdades sociais, reparação, discriminação racial e origens
históricas do negro brasileiro, assim como as ações afirmativas que contribuem
para minimizar os impactos sofridos pelos mesmos nas diversas esferas da
educação no Brasil. Apesar de já ter passado mais de 100 anos da abolição da
escravatura e ao longo do último século ter havido uma substancial mudança em
relação à participação do negro na sociedade brasileira, ainda vê-se que as
desigualdades entre brancos e negros são grandes, tanto do ponto de vista
econômico, social como também nas esferas profissionais e educacionais.
É necessário fazer uma reparação e estabelecer maneiras para que os
negros alcancem patamares compatíveis com a sua participação na população
no Brasil. Como a educação é um fator que influencia diretamente o crescimento
social e econômico, acredita-se que as políticas públicas concernentes a esse
fator devem ser analisadas quanto a sua eficácia e abrangência, observando-se a
finalidade a qual se destina está sendo de fato alcançada.

2 BREVE HISTÓRICO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO DO


NEGRO NO BRASIL

Em todo o processo de construção da sociedade brasileira, desde o


inicio da colonização até os dias atuais, a participação do negro foi de grande
relevância para que o país tivesse a configuração atual nas diversas esferas:
econômica, cultural, social, política e, sobretudo educacional. Para que se possa
compreender com clareza a importância das políticas públicas na educação do
negro brasileiro, é preciso reportar a história e suas principais leis, decretos e
constituições que criaram o panorama educacional atual do negro no Brasil.
Ao entrar em contato com a história tem-se uma ampla compreensão
dos caminhos, causas e aspectos que contextualizam a educação do negro
brasileiro, sendo assim para iniciar é importante ressaltar que desde o estado
monárquico foram elaboradas diversas políticas públicas para explicitar qual era
o lugar do negro na sociedade brasileira ao longo dos anos, com objetivo de
ampliar as distinções, discriminações a fim de manter a segregação entre
brancos e negros, viva e latentes na sociedade, especialmente no período
compreendido entre o século XVI até o XIX.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
68

Diante deste contexto fica claro que o direito a educação era algo
distante da realidade da população negra já que os direitos sociais primários não
lhe eram garantidos como: moradia, saúde e alimentação, como poderiam o
homem negro ter direito a educação? Ainda assim outros fatores como a
influência religiosa, interesse comercial e político faziam da vida do homem
negro algo ainda mais distante da integração do negro à sociedade brasileira.
Segundo Fonseca(2009,) no período colonial a legislação era fortemente
influenciada pelas ordenações afonsinas (1446-47), manuelinas (1512-13) e
filipinas (1603) que vigoraram até 1916.
Existia por parte de alguns setores da sociedade a recomendação de
minimizar os castigos e violência contra os escravos, mas não havia nenhuma
intenção em extingui-los, apenas a preocupação em aperfeiçoar a metodologia e
técnicas para obter um maior rendimento com o trabalho dos negros. Isso fica
claro nas palavras do jesuíta André João Antonil que dizia: “pão, pano e pau” –
pão para aguentar o duro trabalho no eito; pano para cobrir as vergonhas; pau
para andar na linha.
A igreja, o estado colonial e a elite da época se mantinham unidas em
um pensamento baseado na manutenção da escravidão como forma de garantir
mão de obra barata e o lucro nas atividades mercantis. Em 1845 a Inglaterra
aplicou o ato de supressão do tráfico de escravos, sendo já na época uma
importante parceira comercial, causando uma pressão para que o país tomasse
algumas atitudes para não mais traficar escravos da África e tomar algumas
atitudes em relação ao trabalho e produção. Com esse acontecimento a coroa
estabeleceu, em 1850, a Lei Eusébio de Queirós visando acabar com o tráfico da
África para o Brasil.
Apesar disso, essa lei foi importante para os primeiros passos para
acabar com o tráfico internacional de escravos. Esse tráfico passou acontecer
internamente no Brasil para atender as necessidades dos Barões do Café, mas
por outro lado no final do século XVIII e inicio do século XIX também foi permitida
a entrada de imigrantes europeus com intuito de aumentar a mão de obra para
os campos de cafés e também em uma tentativa de branqueamento a
população, já que a quantidade de negros no país era grande. A maneira como o
estado pensava a relação dos escravos fica clara na Lei de nº 14 de 22/12/1837:

A exclusão dos negros no acesso aos bens e serviços essenciais, pode


ser explicada através de dois fatores: o primeiro é que a educação, neste
caso a leitura e escrita, se oferecida aos escravos, desenvolveria a
intelectualidade dos mesmos, o que seria uma grande ameaça à ordem

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
69

naquela época, já que a visão intelectual ou uma melhor compreensão da


realidade facilitaria para que eles e elas se percebessem como pessoas
que também mereciam liberdade e que, portanto, a saída seria a não
aceitação à imposição vigente na época. O outro fator que negava o
direito a vida escolar do negro se baseia na idéia de contaminação do
corpo social, ou seja, o contato da sociedade branca com os escravos e
africanos poderia contaminar, sobretudo, as crianças com uma cultura
primitiva, assim vista pela sociedade servil em relação a cultura africana.
No entendimento da classe dominante da época, isso seria inadmissível
se quisesse manter a formação de uma boa sociedade (CUNHA, 1996,
p.37).

Foi promulgada, em 1871, a lei do Ventre Livre que visava à liberdade


das crianças nascidas a partir daquela data e que eram filhos de escravas,
prevendo também medidas de criação e tratamento a essas crianças, que na
prática só causou o abandono e o aparecimento de órfãos que eram recolhidos
pela igreja e usados para fins comerciais e serviços domésticos. Essa lei não
beneficiou em nada as crianças, apenas deram outra destinação, já que os
mesmos assim como os idosos não serviam para o trabalho pesado.
Em 28 de setembro de 1885 foi promulgada a Lei dos Sexagenários que
garantia a liberdade aos negros com mais de 65 anos de idade, tendo em vista a
péssima qualidade de vida que a população negra tinha nessa época, essa lei
realmente não serviu para a maioria dos escravos, afinal pouquíssimos
chegavam a completar a referida idade, acabavam morrendo antes.
Somente em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea extinguiu a escravidão no
Brasil, muito mais por pressão popular do movimento abolicionista e pela
inviabilidade econômica da escravatura, além da visão política internacional que
já estava voltada para os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade
propagados pela revolução francesa. Assim, como as outras leis, a lei Áurea
também não garantiu nenhum benefício aos negros libertos, relegando aos
libertos condições de igualdade de vida para ingresso em uma sociedade, ainda
totalmente impregnada pela cultura discriminatória, separatista e com sérios
traços racistas. Segundo Fonseca (2009, p.66) “ O escravismo demorou a cair,
mas caiu pela força, vontade e determinação de mitos, não pela graça de
pseudorepublicanos e liberais altruístas.” O dia 13 de maio de 1888 foi uma
vitória dos negros em movimento dos séculos XVI a XIX.
Com o sancionamento das leis citadas esperava-se que o império
empreendesse condições de escolarização dos negros, mas por falta de
condições materiais, financeiras foi impossibilitado o direito do negro, durante
mais esse período, o acesso à educação.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
70

3 AVANÇOS E RETROCESSOS NO PROCESSO EDUCACIONAL DO NEGRO


BRASILEIRO

Depois de um longo período de escravidão no final do século XIX, logo


após a Abolição da escravatura foi Proclamada a República, em 1889, e com
isso se renovava as esperanças do país ter uma nova postura em relação aos
negros diante de anos relegados a plano nenhum que visasse à inclusão do
negro na sociedade brasileira.
Para que haja compreensão sobre o processo de avanços e retrocessos
na educação do negro no Brasil é necessário que se tenha uma clara visão do
que sejam políticas públicas e ações afirmativas, já que as mesmas serão o alvo
de entendimento para a compreensão onde se avançou ou retrocedeu na
educação do negro brasileiro.
Segundo Cunha (2002) as políticas públicas têm sido criadas como
resposta do Estado às demandas que emergem da sociedade e do seu próprio
interior, sendo a expressão do compromisso público de atuação numa
determinada área em longo prazo. Desta forma, entende-se que é através das
políticas públicas que surgem as leis que são oriundas de demandas populares
advindas das necessidades sociais.
Ainda visando ampliar o entendimento sobre os avanços e retrocessos
no processo educacional do negro também é preciso conceituar o que são
“Ações Afirmativas”, pois essas também são importantes para a compreensão
desse contexto. Segundo o SINAPIR – Sistema Nacional de Promoção da
Igualdade Racial, 2012, Ações Afirmativas são políticas públicas feitas pelo
governo ou pela iniciativa privada com o objetivo de corrigir desigualdades
raciais presentes na sociedade, acumuladas ao longo de anos. Uma ação
afirmativa busca oferecer igualdade de oportunidades a todos. As ações
afirmativas podem ser de três tipos: com o objetivo de reverter a representação
negativa dos negros; para promover igualdade de oportunidades; e para
combater o preconceito e o racismo.
No século XX, apesar de não haver mais escravidão, pelo menos na
forma legal como se dava antes, o Brasil ter passado de um regime político
Monárquico para o regime Republicano que por suas características mais
democráticas e liberais poderia significar que de imediato a situação educacional
do negro no Brasil seria melhorada através de políticas públicas e ações
afirmativas que visassem o melhoramento da condição social do negro, mas,

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
71

infelizmente, não foi assim. A discriminação racial era velada, mesmo com o
término da escravidão não significava que havia terminado o racismo.

3.1 AVANÇOS

Apesar de tudo, as alterações na constituição brasileira permitiram com


que os negros tivessem acesso à escola pública e que muitos iniciassem seu
processo de escolarização dando assim condição de serem alfabetizados e até
aprendessem atividades profissionais em instituições como o Liceu de Artes e
Ofícios, oportunizando a mudança da condição de vida da população negra.
Outro importante avanço, segundo Fonseca (2009), para a educação do
negro no Brasil foi o aparecimento do movimento negro na década de 30 que
combatia as condições precárias de vida e através de sua militância constante
por vezes conseguiram fazer frente a truculência da polícia, organizar ações junto
as comunidades negras e trabalhar a conscientização da sociedade da época
para que fosse dada a abertura necessária para uma melhor posição do negro
frente aos desafios de um país ainda em desenvolvimento.
Durante muito tempo a própria escola mantinha uma estrutura curricular
excludente onde valorizava a cultura europeia e a imagem do homem branco
dando a falsa imagem que o negro era indolente e, por isso, os livros didáticos
reforçavam a discriminação, o racismo e promovia o sentimento de inferioridade
nos negros. A Constituição Federal de 1988 aborda em seu Art. 5: “Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito á
vida, á liberdade, à igualdade, à segurança e à prioridade” (BRASIL,1988, p.15).
A criação do documento que apoiou a condição do negro na educação
no Brasil, mesmo não sendo específico, foi a Lei nº 9.394 que estabeleceu as
diretrizes e bases da educação nacional, mais especificamente nos Artigo 3º
item XII – consideração com a diversidade étnico-racial (incluído pela lei nº
12.796,de 2013), Art.25º item VI – O ensino da História do Brasil levará em
conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia.
E, ainda, o Art.26º que trata sobre o conteúdo programático com a
inclusão da história da África. É claro que o documento como um todo é um
importante avanço no contexto educacional dado a sua amplitude no contexto da

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
72

educação no país, especificamente nesses quesitos, pela primeira vez foram


contempladas algumas demandas relacionadas à educação do negro.
Para Silva (2003, p.12) outra importante Lei foi a 10.639/03 que visava
a inclusão no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
‘História e cultura afro-brasileira), introduzindo no cotidiano escolar a história da
África, além de outras ações afirmativas que modificam o panorama do negro na
educação no Brasil e ao mesmo tempo traduz uma nova perspectiva em relação
ao pensar e fazer educação no âmbito de um país multirracial e ainda com tantas
diferenças e reparações a serem feitas.
Associados a Lei de Diretrizes e Bases da Educação estão os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que formaliza a política educacional
no aspecto das diferenças culturais existentes nas escolas, sendo esse
responsável em reconhecer, defender e disseminar a integração de uma postura
de respeito e uma melhor convivência diante das diferenças culturais, e nesse
contexto também está incluso o aspecto étnico-racial.

Assim, a pluralidade étnica da sociedade e, principalmente, do espaço


escolar constitui um tema que parece não ter importância para o
desenvolvimento do trabalho escolar. Não obstante, constata-se que o
respeito às diferenças étnicas não é verbalizado de maneira elaborada
pelas professoras. Também no planejamento escolar, essa questão não
está colocada de maneira explícita (CAVALEIRO, 2000, p. 48).

Por isso, no contexto dos avanços para a educação do negro esses


documentos representam um importante elemento que viabiliza e normatiza o
trabalho escolar no aspecto do respeito as diferenças étnicas, ainda que não
esteja sendo implementado por muitas escolas de maneira efetiva, mas como
tudo que está nas leis ou documentos não são de imediatos assimilados, e
consequentemente posto em prática, acredita-se com o passar dos anos e com
a familiarização dessa prática torne-se realidade.
O sistema de cotas estabelecido não só para a entrada nas
universidades públicas, assim como para participação e seleção em concursos
públicos é um dos principais avanços para a reparação histórica da desigualdade
social provocada pela escravatura, longe de resolver todas as diferenças,
carências ou desigualdades que ao longo da história foram estabelecidas pela
sociedade brasileira, mas se consolidando como um importante passo para um
futuro menos desigual com mais equidade de condições em relação à educação
e ao acesso ao trabalho.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
73

3.2 RETROCESSOS

Muitas seriam as críticas que poderiam ser feitas as várias ações e até
mesmo aos documentos já citados acima como importantes avanços ao
desenvolvimento da educação do negro no Brasil já que os mesmos também
apresentam em seu conteúdo ainda traços de uma educação tradicional que nos
mostra que ainda não quebraram todos os laços e paradigmas com o passado
repressor que reforçava a ideia de discriminação e diferença entre os homens.
Para iniciar o que se considera os principais traços de retrocesso para a
educação do negro no Brasil é importante que se coloque alguns fatos históricos
que os fizeram chegar aqui depois da abolição. É claro que o fato de no
conteúdo da Lei Áurea não ter garantido nenhum beneficio ou assegurado uma
melhor condição de vida aos negros libertos, assim como um ressarcimento
pelo seu trabalho provocou uma situação de grande prejuízo aos negros em
todos os aspectos para sua firmação social no Brasil.
Com a queda da Monarquia e a proclamação da República acreditava-se
que uma nova ideia de sociedade mais liberal, mais inovadora trouxesse com ela
novas práticas em relação aos negros. Muito pelo contrário, logo depois da
abolição a Princesa Isabel pretendia dar aos ex-escravos uma indenização e
benefícios sociais visando à integração social dos mesmos e o teria feito no ato
da lei áurea se não fosse a pressão estabelecida pelos republicanos e
escravocratas que não desejavam de maneira alguma prover tais benefícios aos
negros, pois isso traria prejuízos na visão deles à economia da época.
Ainda assim a princesa decidiu enviar para votação projeto de lei
contemplando os benefícios sociais aos negros, mas com o golpe da
proclamação da República todos os documentos dos negros escravizados
inclusive (livros, matriculas e registros) foram queimados sistematicamente,
impossibilitando qualquer ação de imediato que beneficiasse aquela população.
Durante muito tempo a elite que comandava o país que também se
consolidou como os principais grupos e classes econômicas ditavam a forma
como as políticas públicas deveriam chegar à população, e a realidade social do
negro, que era também pobre e marginalizado já que não tinha terra para
trabalhar ou morar, lhe era dado os empregos menos reconhecidos
financeiramente e socialmente, assim como a educação não chegava a lhe dar
condições melhores de inserção social já que só chegava a concluir as séries
iniciais, ficando as faculdades para os filhos das famílias mais abastadas.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
74

Por isso, a falta de uma reforma agrária também se consolida um


importante fator de retrocesso para a integração social do negro no Brasil já que
a falta de terra para morar e trabalhar até o momento influencia diretamente na
qualidade de vida e desenvolvimento da população negra. O êxodo rural e o
inchaço das cidades muito se deveram a falta dessa reforma agrária, e
consequentemente, provocando um colapso urbano que mandou os negros para
as favelas com condições de vida muito ruins, com isso a educação nesse
contexto é uma condição ainda mais difícil para o alcance do negro.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada visou analisar as políticas públicas e ações


afirmativas educacionais para o negro no Brasil, trazendo uma breve análise
histórica relatando seus principais atos e fatos que contribuíram para a
configuração da educação do negro brasileiro. Nesse contexto foram apontadas
as principais situações, causas e acontecimentos que fizeram com que a
educação do negro no Brasil tivesse ainda os traços de desigualdade
apresentados através do contexto atual da educação brasileira.
A desigualdade de oportunidades do homem negro em relação ao
homem branco nas áreas de educação, emprego e renda deixa clara ainda o
distanciamento entre a realidade atual e o ideal para que se tenha uma equidade
de condições entre a população negra e branca nesse país, mas, acima de tudo,
traz a compreensão da importância das políticas públicas e ações afirmativas
como o amparo legal e norteador das ações das diversas instituições e
organizações para direcionar melhor os caminhos que se deve seguir, sejam eles
para a educação ou qualquer outra área do desenvolvimento humano.
O trabalho oportunizou a visão de que os caminhos que trouxeram a
configuração atual da educação no negro no Brasil estão distantes de diminuir de
uma vez suas distâncias de acessos dos negros aos itens básicos de
sobrevivência, mas com a aplicação de políticas públicas mais humanas e
democráticas, que abranjam as verdadeiras necessidades de sua população,
especialmente a mais carente, é possível diminuir as desigualdades e trazer uma
nova perspectiva de crescimento, igualdade e oportunidades para os brasileiros
e, em especial, da população negra já que quando se fala de carência, pobreza e
desigualdade em sua maioria tratam-se desse grupo étnico.
O objetivo da pesquisa era realizar uma pequena contribuição para
fomentar a importância que as políticas públicas têm para a formação e
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
75

desenvolvimento da educação desse país e o quanto isso poderá oportunizar


para o negro um futuro melhor.

REFERÊNCIAS

BICHARRA, Bruna Micheli Cardoso. Educação para as Relações Raciais e


Políticas Públicas: Antecedentes Históricos. UFR, 2012.
BRASIL. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasilia, 1996.
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http://www.seppir.gov.br/assuntos/o-que-sao-acoes-afirmativas. Acesso em :
25 mai 2016.

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(Org.) Politícas Públicas. Belo horizonte: UFMG, 2002.

FONSECA, Dagoberto José. Políticas Publicas e Ações Afirmativas. São Paulo:


Selo Negro, 2009.

GONÇALVES, Luciane Ribeiro Dias; SILVA, Maria Vieira da. A Questão do Negro
e Políticas Públicas de Educação Multicultural: Avanços e Limitações: SMEC-
Ituiutuba/UFU-GEPOC,2012

HENRIQUES, Ricardo. Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de


vida na década de 90. Brasília, DF: IPEA, 2001.

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Brasil. In: MAIO, Marcos Chor; VENTURA, Ricardo(Org.) Raça, ciência e
sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz/CCBB,1996.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de


metodologia científica. 3. ed. Ver. e ampl. São Paulo: Atlas,1991.
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de Maringá. Núcleo de educação a Distância. Maringá, 2016.
POLITICAS Públicas de Inclusão e Promoção da Igualdade Racial para o Povo
negro da Cidade de Salvador, Instituto Búzios, Salvador, 2004.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
76

REGIÃO DE INTEGRAÇÃO METROPOLITANA DE BELÉM FRENTE AO PROCESSO


DE EXPANSÃO URBANA

FRANCIELE MULLER PRADO 1


GRACILENO TRINDADE PIMENTEL2

RESUMO

O presente artigo trata da Região de Integração Metropolitana de Belém, e nessa


discussão procurou informar o surgimento, os aspectos físico-espaciais,
sociais, econômicos e políticos dessa região, bem como as cidades
componentes, suas estruturações e reestruturações, alinhados aos dados atuais
relacionados à população e também as ideias de diferentes autores sobre o
assunto. Essa pesquisa objetivou demonstrar quais as cidades que fazem parte
da Região de Integração Metropolitana de Belém, o processo de urbanização,
metropolização, estruturação e reestruturação, a expansão da Região
Metropolitana de Belém e migrações; assim como temas atuais como: as
políticas de gestão e problemas sócio espaciais.
Palavras-chave: Estruturação e reestruturação. Metropolização. Expansão
urbana.

1 INTRODUÇÃO

O Estado do Pará é o segundo maior estado brasileiro, com


aproximadamente 1.247.689,515 km², e uma população estimada em
8.073,994, é o 9º estado mais populoso do Brasil e o de maior população do
Norte.
No que refere a sua localização, situa-se na Região Norte do país, mais
precisamente, na Amazônia Legal, e é formado por 144 municípios. O Pará faz
fronteira com Suriname e o Amapá ao norte, o oceano Atlântico a nordeste, o
Maranhão a leste, o Tocantins a sudeste, o Mato Grosso a sul, o Amazonas a
oeste e Roraima e a Guiana a noroeste.
Existem duas divisões territoriais no Estado do Pará. Uma é a divisão
criada pelo IBGE e a outra é a divisão criada pelo Governo do Estado, Ana Júlia,
entre os anos de 2007 a 2011, e esta denomina-se Regiões de Integração. Neste

1 Graduada em Ciências Sociais pela UEM, Especialista em Educação a Distância e Mestre em


Ciências Sociais na Área de Concentração de Sociedade e Políticas Públicas pela UEM-PR.
2 Graduado em Teologia pela UNICESUMAR, graduando do Curso de Licenciatura em História
também pela UNICESUMAR e graduando do Curso de Licenciatura em Geografia pela UFPA.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
77

artigo optou em utilizar a divisão do Governo do Estado do Pará, que ao todo são
doze regiões. Nesse estudo, discutiu sobre alguns aspectos sociais, espaciais,
econômicos e políticos da Região Metropolitana de Belém. Sendo assim, surgem
as seguintes perguntas: como surgiram as primeiras comunidades na Amazônia
(não referido as indígenas)? E, a altura que essas comunidades foram se
organizando, como ocorreram às fases de estruturação territorial? Quando houve
um processo jurídico, legalizando-a como região metropolitana? E sobre os
processos migratórios, de onde esses imigrantes vieram? E como problema
central de da pesquisa tem a seguinte pergunta: em que medida Belém está
sendo ou foi estruturada a fim de atender um plano de cidade que acolha os
interesses da população?

2 HISTÓRICO SOBRE O SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES NA


AMAZÔNIA

Existem inúmeros livros, artigos, dissertações, teses e outras


publicações que falam do surgimento das primeiras comunidades na Região
Norte, e um desses autores é Corrêa (1989), para este, as primeiras
comunidades na Amazônia surgiram às margens dos rios. Anteriormente, quase
toda a circulação era feita através dos rios e igarapés, e o comércio marítimo foi
de grande importância para essas comunidades, pois, através dele relações
econômicas, sociais, religiosas e culturais passaram a se desenvolver no
território. A circulação pelos rios na região Norte, paraense, durou bastante
tempo. Essa fase denomina-se de “ribeirinha” (MOREIRA, 1989).
Posteriormente, passou-se a se criar caminhos no território. Em
seguida, começou a ser construída uma Estrada de Ferro, no ano de 1883, um
ano depois, em 1884, foi inaugurada. Seu primeiro trajeto foi de apenas 29 km, e
ligava o bairro de São Brás na capital Belém ao município de Benevides
(ALENCAR, 2008). A construção da Estrada de Ferro tinha a intenção de
ligar Belém ao município de Bragança, no nordeste paraense. O objetivo principal
da Estrada de Ferro era o de escoar os produtos agrícolas das pequenas vilas
existentes entre Bragança e Belém, mas, foi apenas no ano de 1908 que a
ferrovia alcançaria sua extensão máxima de 229 km (LEANDRO 2012), ficando
assim conhecida como Estrada de Ferro Belém-Bragança.
Em meados do século XX, durante o governo do presidente Juscelino
Kubitschek entre 1956 e 1961, há um processo chamado de o Plano de

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
78

Metas,nesse programa dizia-se: 50 anos de progresso em 5 anos de realizações.


Este plano era marcado por investimentos em estradas, em siderúrgicas, em
usinas hidrelétricas, na marinha mercante e pela construção de Brasília e
baseava-se em “30 metas”, divididas em: Setores da energia 1 – 5; Setores do
transporte 6 – 12; Setores da alimentação 13 – 18; Setor da indústria de base 19
– 29; Setor da educação 30 (REPÙBLICA, 1958, p. 17 - 20).
Um dos objetivos do Plano de Metas era a construção de estradas.
Foram construídas novas vias de circulação dentro do território Nacional e uma
dessas foi à criação da rodovia BR-316, que liga o Estado do Pará ao Estado de
Alagoas. Outra foi a BR-010 - mais conhecida como Rodovia Belém-Brasília. A
partir dessas rodovias e estradas construídas, os espaços urbanos na Amazônia
passaram a ser redefinidos.

2.1 FASES DA ESTRUTURAÇÃO TERRITORIAL

A estruturação da Região Metropolitana de Belém (RMB) foi um


processo gradativo e que ocorreu em momentos diversificados. Ddivide em três
fases esse processo de estruturação territorial na RMB. A primeira é a ribeirinha,
esta se inicia em 1616 com a fundação da cidade de Belém, e vai até o século
XVIII; a segunda é a Penetração ou Interiorização, que vai do século XVIII ao
século XIX. A terceira é a Continentalização, esta vai do século XIX em diante
Moreira (1989),.
Já Trindade Jr. (2013) concorda em parte com Moreira, mas acrescenta
mais uma fase, a Metropolização. Esta começa na década de 60 do século XX.
Para ele, essa quarta fase é caracterizada pelas transformações da integração
econômica ao Nordeste e ao Centro-Sul do Brasil, tendo como marco a
inauguração da Belém-Brasília. Essa quarta periodização é marcada por uma
série de fatores distintos. De um lado temo moderno, o sofisticado, o luxuoso;
do outro temas favelas crescendo de forma desproporcional, a falta de
residências para muitas famílias, e ainda, os serviços públicos precários que não
conseguem atender a necessidade da população.

2.2 INSTITUIÇÃO LEGAL DE REGIÃO DE INTEGRAÇÃO METROPOLITANA

A RMB foi constituída pela Lei Complementar federal n. 14, de 08/06/73,


e seus Conselhos Deliberativo e Consultivo foram criados pela Lei estadual n.
4.496, de 03/12/73. Até a metade da década de 1990 estava composta pelos
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
79

municípios de Belém e Ananindeua, quando houve a sua redefinição físico-


espacial, sendo ampliada pela Lei Comp. nº 27 de 19/10/1995, esta lei veio a
incluir os municípios de Marituba, Benevides e Santa Bárbara.
Totalizando todas as cidades que fazem parte da RMB soma-se uma
área de 1.819, 232 Km², com uma população de 2.129.515 habitantes
(IBGE/IDESP APUD ANUÁRIO PARA, 2014/2015).

Quadro 1 - Características da Região de Integração Metropolitana.

1. População Absoluta: 2.129,515 hab (IBGE/IDESP, 2014);


2. Densidade Demográfica: 1.170,38 hab/km² (IBGE/IDESP, 2014);
3. População masculina: 25,14% (IBGE/IDESP, 2012);
4. População feminina: 28,06% (IBGE/IDESP, 2012);
5. População de 0 a 14 anos: 21,21% (IBGE/IDESP, 2012);
6. População jovem entre 15 a 29 anos: 26,41% (IBGE/IDESP, 2012);
7. População adulta entre 30 a 59 anos: 31,85% (IBGE/IDESP, 2012);
8. População idosa acima de 60 anos: 31,94% (IBGE/IDESP, 2012);
9. Índice de Desenvolvimento Humano – IDH: 0,729 (IBGE 2012).

Fonte: IBGE/IDESP/Elaboração: IDESP.

Quadro 2 - Sobre o aspecto econômico a RMB apresenta os seguintes dados:

1. Produto Interno Bruto - PIB: R$ 26.995,282,00 (ano 2012);


2. PIB per capita: R$ 5.068,37 (ano 2004);
3. Valor Adicionado agropecuária: participação no estado 1,39 % (ano 2011);
4. Valor Adicionado Indústria: participação no estado 10,24 % (ano 2011);
5. Valor Adicionado Serviços: participação no estado 41,84 % (ano 2011).

Fonte: IBGE/IDESP/Elaboração: IDESP.

3 ESTRUTURAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO METROPOLITANA

Para que estruturar a RMB diversas ações foram realizadas, destacando-


se a elaboração do Plano Diretor da Grande Belém, de 1975 (CODEM, 1975), e o
Plano de Estruturação Metropolitana de 1980 (GEOTÉCNICA, 1980), ainda que
os mesmos tenham sido motivados principalmente pelas determinações
federais. Durante as décadas de 60, 70 e 80, houve investimentos bastante

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
80

significativos por parte do governo Federal em construções de conjunto


habitacionais, as COHABs. Esses conjuntos começaram a reestruturar a RMB.
E o que caracteriza a reestruturação do espaço metropolitano? Os
condomínios fechados, conjuntos habitacionais, prédios, universidades, praças,
clubes, áreas de lazer, igrejas, ginásios, bares, shopping centers, etc.; também a
chegada das empresas imobiliárias, ocupações, ações do estado, entre outros.

3.1 A EXPANSÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM E AS MIGRAÇÕES

Como se deu a expansão da RMB quando se leva em consideração os


fluxos migratórios? Segundo Barros, et. al. (2008), os fluxos migratórios e seus
processos de expansão, periferização na cidade de Belém e sua região
metropolitana deu-se a partir da expansão da malha urbana da cidade, nos
sentidos da BR-316 e da Rodovia Augusto Montenegro, e a periferização da
cidade por meio das diferentes ocupações e usos do solo urbano como
consequência dessa expansão.
Na década de 70 ocorre uma consolidação da estrutura urbana. Há uma
concentração da cidade, principalmente no seu interior, denominada de primeira
légua patrimonial (Figura 2). Segundo Barros, et. al. (2008, p.5), essa
consolidação deu-se com os bairros centrais “Nazaré, Batista Campos, Reduto,
Comércio e Umarizal, ocupados pela população de alta renda e os bairros
periféricos, como Guamá, Terra-firme e outros, que foram ocupadas pela
população mais carente”. Esse processo foi cada vez mais se acentuando, o que
levou a uma interiorização do território e uma mudança paisagística. Não se pode
pensar que essa estruturação se deu de forma homogênea e seguida
cronologicamente, claro que não. Houve rupturas, esse momento foi constituído
de pessoas com diferentes níveis sociais, culturais e econômicos.
A estrutura urbana desse período foi alicerçada também com o
fortalecimento do processo de ocupação das baixadas periféricas, que se
fizeram a partir de imigrantes advindos do interior do estado e de outras regiões,
principalmente do Nordeste brasileiro. Segundo Barros, et. al. (2008, p.4):

Com a vinda do trabalhador do campo, o inchaço das cidades torna-se


cada vez mais difícil de serem controlados, pois ao chegar, esse
trabalhador encontra as áreas centrais especuladas e valorizadas e as
periferias ao redor dessas áreas com seu processo de ocupação
consolidada, e assim tomam um novo destino que chamamos área de
expansão que surgem com o afastamento gradativo das pessoas do
centro, a formação de novos bairros e a chegada a zonas mais afastadas.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
81

No decorrer da década de 80 a estrutura urbana passou a sofrer


algumas alterações, devido à onda migratória ocorrida desde a década de 70,
houve a necessidade de se construir mais habitações. Isso veio a ocasionar o
processo de verticalização de alguns bairros como: Umarizal, Nazaré e Batista
Campos, para atender a demanda da classe de alta renda. No que concerne às
políticas públicas para o setor de classe baixa, foram financiados vários
programas que visavam o aterramento e saneamento das áreas alagáveis mais
próximas da área central da cidade, ocasionando, consequentemente, uma
valorização do solo urbano.
Neste contexto, o Estado passa a programar políticas relacionadas à
construção de conjuntos habitacionais, as ditas (COHABs), mas desta vez, ao
longo dos eixos rodoviários, consolidando uma nova paisagem, a qual veio
denominar-se de: Região Metropolitana de Belém (SOUZA, 2003 apud BARROS,
et. al. 2008, p. 6), e que Barros, et. al. (2008, p. 6), denomina de área de
expansão (Figura 3).
A partir da década de 80 e 90, a RMB passa a se expandir de forma
horizontal como uma mancha urbana descontínua, se estendendo pelos
municípios: Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara do Pará
(Quadro 1).
Barros, et. al. (2008, p.6) observa nesse fluxo migratório de expansão
descontinua, um problema que de início atinge a população de baixa renda, e
que posteriormente tende a atingir a população de nível mais elevado. “Porém a
mais grave face deste processo é a periferização da população de menor poder
aquisitivo expulsas do centro e da periferia imediata ao centro” .
Sobre a migração na atualidade no Estado do Pará e na RMB, dados do
Censo 2012 trazem às seguintes informações: apenas 3.574 estrangeiros vivem
no Pará. Com mais de 7 milhões de habitantes, esse número representa um
percentual de 0,04% da população. (IBGE 2010).
As cidades paraenses com o maior número de não-brasileiros são
Belém com 1.776, e Ananindeua com 474. Quando se refere ao número de
naturalizados tem os seguintes dados: a capital Belém tem apenas 649,
Ananindeua conta com 179 (IBGE 2010).
Já quando se trata de pessoas que vieram de outros estados,
novamente tem Belém na frente com 102.278, em segundo lugar Marabá com
87.274, em terceiro Parauapebas com 86.094 e em quarto Ananindeua com
44.385 (IBGE 2010).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
82

Esses imigrantes que vieram para a RMB têm como origem: nordestinos
(principalmente de cearenses e maranhenses), que ficaram ao longo da estrada
de ferro Belém-Bragança, e pessoas vindas do interior do estado (principalmente
do nordeste paraense). Os motivos de migração são vários, mas a maioria vem
em busca de trabalho e para estudar.

4 GESTÃO METROPOLITANA DE BELÉM

Em 1974, o Governo Federal criou a Comissão Nacional de Regiões


Metropolitanas e Políticas Públicas, com o objetivo de coordenar e gerenciar as
políticas públicas referentes às regiões metropolitanas. Um ano depois, em
1975, o governo do estado do Pará cria o Sistema Estadual de Planejamento, e
ao mesmo tempo anexa a Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação
Geral (SEPLAN), que deveria desenvolver políticas públicas municipais e
metropolitanas através de uma Coordenadoria de Desenvolvimento Urbano e
Metropolitano (CODEURB). Hoje, esses órgãos (SEPLAN e CODEURB), não
existem mais (IPEA/IDESP 2012).
Depois que esses dois órgãos foram extintos não foi criado outro que
viesse coordenar a RMB. Sendo assim, às políticas públicas para atender a
necessidade dessa região fica, até então, sob a responsabilidade de cada
governo que entra, através de secretarias que são criadas.

Quadro 3 – Entraves à Região Metropolitana de Belém.

1. A configuração da RMB, não possui uma urbanização do território homogênea como já


dito anteriormente, contribuindo desta forma para que o predomínio das políticas urbanas
nestes municípios seja voltado para a resolução dos seus problemas em menor escala;
2. A não inserção dos municípios no planejamento das ações da NGTM e a falta de uma lei
de reestruturação da SEIDURB;
3. A descontinuidade de um órgão gestor metropolitano;
4. A não existência de um Plano Metropolitano;
5. A implementação das ações do Fundo e Conselhos Metropolitanos;
6. O impacto das ações do Programa Ação Metrópole sobre as Funções Públicas de
Interesse metropolitano.
Fonte: IPEIA/IDESP 2012.

É importante ressaltar que a RMB tem sofrido em vários aspectos,


dentre estes seleciona-se apenas os de maior prioridade. Sendo assim, percebe-

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
83

se que às políticas publicas não estão atendendo às necessidades das


comunidades pertencentes a essa região, causando com isso inúmeros
transtornos em diversas áreas.

4.1 ALGUNS QUESTIONAMENTOS SOBRE A REGIÃO METROPOLITANA DE


BELÉM

1. Segurança Pública: No quesito segurança a RMB está necessitando de


grandes investimentos como: ações de inteligência policial, melhor
preparação de todas as corporações, concursos para mais policiamento e
recuperação de presídios. A insegurança pode ser fator desestimulante de
investimentos externos e internos, também contribui para o declínio da
atividade produtiva, do emprego e da renda agravando as desigualdades
sociais e regionais. Segundo dados sobre criminalidade, um deles chama a
nossa atenção de forma preocupante, o número de mulheres estupradas na
RMB aumentou. De 815, em 2010, passaram para 956, em 2013, um aumento
de 13% (Portal G1).

2. Saneamento Básico: Existem também questões sérias de saneamento na


cidade de Belém em vários bairros cortados por igarapés. Ações de
ordenamento territorial, drenagem, esgoto sanitário, abastecimento de água,
poderiam ser empreendidas em parceria com a Prefeitura de Belém, através
de financiamentos externos. Grande parte dos esgotos é despojado nos rios e
igarapés, de onde inúmeras comunidades utilizam água para consumo
próprio.
3. Transporte: O sistema de transporte na RMB também deve ensejar ações do
Governo do Estado visando à efetiva integração dos cinco municípios que a
compõem. O Plano de Desenvolvimento de Transportes da RMB foi
atualizado e nele constam os principais investimentos necessários e os
estudos de viabilidade da proposta. Atualmente, a questão da acessibilidade e
a desorganização do trânsito é um dos fatores que mais influência a baixa
economia do espaço regional.
4. Educação: No setor educacional observa-se ainda uma alta taxa de
abandono no ensino médio (14,34%,) e no ensino fundamental de cerca
de 9%. Outro problema sério é que os estado do Pará, e também a RMB,

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
84

não tem apresentado um bom desempenho nas provas que avaliam a


educação no Brasil, como o ENEM e outros (ENEM, 2014).

5 METODOLOGIA

O presente artigo teve como metodologia a bibliográfica. Nesta pesquisa


foram consultados livros, atlas geográficos, artigos, teses, coletâneas, consultas
de portais na internet, sites, etc. Também foram utilizados mapas, gráficos,
tabelas e quadros, onde, nestes foram inseridas informações e dados coletados,
objetivando melhor compreensão desse estudo. Desta forma, observou-se
nesses materiais que outros pesquisadores já haviam discursado a respeito do
assunto em questão. As contribuições outorgadas por estes estudiosos foram
analisadas e mescladas como resultado deste árduo trabalho, tendo em mãos
este material redigido em forma de artigo. Metodologicamente as bibliografias
utilizadas são de grande importância para pesquisa do assunto em pauta,
também para outros assuntos.
Procurou realizar essa pesquisa, sem, contudo, deixar os sentimentos
interferirem na analise, para que pudésseter um resultado mais próximo da atual
realidade da região, e ainda, fazer um estudo cientifico.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conformação urbana atual apresentada pela RMB, que faz do espaço


não só um resultado dessas condições de urbanização, mas o que acontecem
na região amazônica, resultante de uma estratégia para a sua apropriação nos
moldes de reprodução das relações capitalistas.
A partir do conhecimento desses estudiosos e desta pesquisa chegou a
analise de que o processo de expansão urbana da RMB teve seu inicio, por volta
do século XVII, mas que esse processo de estruturação e reestruturação veem
se desenvolvendo ao longo anos, segundo interesses do governo Estadual ou
Federal, das empresas imobiliárias, dos grandes empresários, das ocupações, e
outros.
Assim, a Região de Integração Metropolitana de Belém,
concomitantemente ao processo de estruturação, reestruturação e expansão,
traz consigo inúmeros fatores de ordem: social, espacial, econômico, política, e
outros; que podem ser tanto benéficos como prejudiciais à sociedade.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
85

REFERÊNCIAS

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cidade de Bragança, Bragança, 7 set. 2008. Disponível em:
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Jornal, 2014-
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Portal G1. Migração de outros estados para o Pará reduz 90% em dez anos.
Disponível em: http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2012/05/migracao-de-
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TRINDADE JR., Saint-Clair C. Assentamentos Urbanos e Metropolização na
Amazônia Brasileira: O Caso de Belém. Belém: UFPA, 2013.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
86

TIC APLICADA A EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIAS COM O USO DE BLOG EM AULAS


DE GEOGRAFIA

GISELE SONCINI RODRIGUES1


ÂNGELA MARLI EWERLING LUÍZ2

RESUMO
O desenvolvimento do trabalho discutiu alguns aspectos, entre possibilidades e
desafios, em relação ao uso do blog como recurso ou estratégia pedagógica nas
aulas de Geografia. Diante do tema surgem algumas perguntas: o blog pode ser
uma das ferramentas para tentar atrair o educando no ensino da Geografia?
Quais as possibilidades e desafios já observados na tentativa de uso do blog na
disciplina de Geografia? Para tanto desenvolveu-se um trabalho com o uso de
blog direcionado a alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental II (escola do
campo) e 4º Ano - Curso Técnico em Meio Ambiente e Técnico em Química, do
período noturno, do Colégio Estadual São Mateus (escola urbana). Observou-se
que os alunos aprovam o blog como possibilidade de dinamização da
aprendizagem, porém, ainda existem várias dificuldades para otimiza-lo como
canal de interação no processo de ensino e aprendizagem. Para realização do
presente artigo utilizou-se a pesquisa bibliográfica, na qual foram utilizados livros
e artigos científicos que tratam do referido tema.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino e aprendizagem. Geografia. Tecnologia. Blog.

1 INTRODUÇÃO

Entre os vários desafios que os professores encontram um deles é a


respeito dos meios que podem ser utilizados para tornar a aprendizagem um
processo atraente e significativo para o educando. Quais estratégias utilizar?
Quais desafios promover para o educando se conectar e atingir os objetivos de
aprendizagem propostos? Qual canal utilizar para viabilizar a interação entre os
pares em relação ao estudo proposto? Quais ferramentas utilizar para atingir
educandos com diferentes habilidades?

1
Graduada em Pedagogia. Especialista em Educação Infantil pela UEM, especialista em
Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade Maringá, professora mediadora do
Unicesumar no curso de Pedagogia. Professora na Rede Municipal de Sarandi.
2
Especialista em Geografia: Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional – Unespar/União da
Vitória (2002), Especialista em Educação do Campo - UFPR (2015), Mestre em Geografia: Gestão
do Território - UEPG (2011), Professora de Geografia na rede estadual de ensino do PR.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
87

Tais questionamentos implicam na relação professor-educando, bem


como, numa metodologia de trabalho dinâmico e, ainda, na autonomia do
educando no processo de aprendizagem, na construção dos significados de
conceitos e seus contextos.
A partir desse cenário entende-se que o uso de tecnologias nas aulas
pode ser uma estratégia para se chegar a algumas respostas das perguntas
registradas, afinal indicam possibilidades para enfrentamento dos desafios, o
que não exime do aparecimento de outros tantos.
Diante disso, se faz relevante discutir sobre o uso de TIC na educação.
Entende-se que debater sobre as possibilidades e desafios do uso do blog se
torna interessante, por ser essa uma ferramenta que permite a utilização de
vários recursos, e também por se tratar de um canal comum inerente a vários
temas acessados pelos alunos no espaço cibernético da atualidade.
Em que medida seria o blog uma das ferramentas para tentar atrair o
educando no estudo de assuntos de Geografia? Quais as possibilidades e
desafios já observados na tentativa de uso do blog na disciplina de Geografia?
As discussões levantadas foram embasadas a partir de leituras sobre o uso do
blog na educação, bem como, pelas práticas já experimentadas sobre essa
questão, pela autora desse projeto, com seus alunos.

2 O EMPREGO DE TIC NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM – O BLOG


COMO UMA POSSIBILIDADE

O emprego de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na sala


de aula tem sido intensificado pelos professores, na tentativa de tornar as aulas
mais dinâmicas e atrair as crianças e adolescentes para o estudo, ante as
transformações tão rápidas nas relações da sociedade com os recursos
tecnológicos.
Freire (1993 apud ALMEIDA; FERNANDES JUNIOR, 2014, p.21) afirma
que “o educador precisa estar à altura do seu tempo”, isso exige que os
educadores busquem se inteirar, se integrar a esses processos midiáticos e
construir novas possibilidades para o uso de TIC nas salas de aula.
Refletindo sobre a magnitude da colocação do autor assumiu-se o
compromisso de se fazer algo que viesse ao encontro de sua orientação. Por
isso, estudar para superar os desafios no uso de TIC em sala de aula, trocar

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
88

experiências com os demais colegas e implantar o blog como recurso para


dinamizar as aulas de Geografia foram as propostas desenvolvidas.
Santaella (2007) trata da alteração do comportamento das pessoas
resultante do fenômeno que ela denomina “ecologia midiática”. A autora se
refere ao processo desencadeado pelo surgimento de novos hábitos que as
pessoas passam a incorporar a partir da sua interação com as novas tecnologias
que são criadas.
Ainda de acordo com a autora, essas novas tecnologias absorvidas e
integradas à sociedade permitem a “presença ausência nos espaços”. Como
exemplo ela cita três momentos: a criação do telégrafo e do telefone, do rádio e
da televisão, e por último, a “revolução da Internet e fusão das estruturas e
ferramentas de comunicação interativa móvel, fato que criou um espaço próprio
chamado de cyberespaço” (SANTAELLA, 2007, p.232).
Esses elementos impactam diretamente na vida das pessoas do mundo
todo, pois agilizam a velocidade nos fluxos da informação. Essa é uma das
características do processo de globalização, e a revolução tecnológica nos
meios de comunicação tem característica positiva, por facilitar a interação e
integração entre as pessoas, mas também representa um prejuízo àqueles que
ficam à margem, sem acesso a essas inovações, refletindo numa desigualdade
cada vez mais significativa entre ricos e pobres.
Pierre Lévy (1999, p.28), explica que o cyberespaço designa o universo
das redes digitais, um espaço no qual estão “misturadas as noções de unidade,
de identidade e de localização.” O cyberespaço representa a possibilidade de não
se fazer necessária a presença física no mundo da comunicação, pois as
tecnologias criam um espaço virtual onde se estabelecem as relações
comunicativas.
De acordo com Santaella (2007) “a revolução implementada pela
Internet móvel, propiciou o surgimento de alguns fenômenos - arquivos virtuais
de codificação open source”, entre eles a tecnologia colaborativa personalizada:
os blogs, redes sociais, entre outros.
O blog (weblog) é uma ferramenta que representa um espaço dinâmico
e é de fácil atualização. Ele possibilita a postagem de textos, de links, de imagens
e vídeos. O blog vem sendo cada vez mais utilizado como um instrumento
pedagógico, porque é uma possibilidade de dinamizar as aulas, compartilhando
conteúdos, favorecendo a interação entre os pares (professores/alunos), se
constituindo um canal de aprendizagem.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
89

3 DIFICULDADES ENCONTRADAS NO USO DAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO


DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Nas discussões de formação continuada de professores, nas conversas


informais entre esses profissionais, nas obras de vários autores, são recorrentes
as descrições sobre experiências no uso das tecnologias no processo de ensino
e aprendizagem e as dificuldades encontradas nesse âmbito.
Almeida e Fernandes Junior (2014, p.23) chamam atenção para as
razões que dificultam e que limitam a “introdução e o uso da tecnologia” nas
práticas educativas: “estrutura organizacional da escola, ausência de incentivo à
profissionalização dos professores e até mesmo, a resistência dos profissionais
que atuam no espaço escolar.”
A autora Gabriel (2013, p.112) aponta algumas habilidades que os
professores precisam apresentar para atuarem no sentido de preparar os
estudantes de forma mais adequada no novo cenário que ela chama de “Era da
Informação.” Entre essas habilidades ela aponta: “a profissão de professor tem
sido uma das mais isoladas do mundo [...] Professores que colaboram uns com
os outros conseguem melhores resultados. [...] o trabalho está se modificando
e, portanto, requer novos modos de atuação”.
Verifica-se nos ambientes escolares que os aspectos citados pelos
autores se ratificam, e estão no cerne das razões que limitam o uso da
tecnologia no processo pedagógico. O despreparo, a insegurança e a resistência
dos professores para o uso das tecnologias acaba por gerar problemas que
dificultam uma otimização no desenvolvimento de habilidades dos educandos,
como por exemplo, a autonomia para navegar, pesquisar, selecionar a
informação, tornar a aula produtiva com o uso da tecnologia, direcionar o
educando no uso das tecnologias para fins pedagógicos, explorar os recursos
tecnológicos disponíveis para o fazer pedagógico, entre outros.
Para Faria (2004, p.5):

Essa nova proposta pedagógica tem que ser pensada, criticamente, pois
transforma a relação pedagógica ainda em prática, atualmente, ampliando
a interação. A transição do modelo tradicional conteudista para o novo
modelo interativo professor-aluno-máquina-tecnologia-conteúdo, não é
fácil, apresenta muitas resistências, pois impõe a quebra de paradigmas e
de toda uma formação acadêmica e vivência profissional. Além disso,
requer um preparo do aluno para interagir com o recurso computacional.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
90

O aspecto estrutural das escolas e a falta de acesso às tecnologias


também são razões que limitam o uso delas no processo ensino e aprendizagem
e que são apontados na análise de dados e interpretação dos resultados deste
artigo.

4 POSSIBILIDADES DE USO DO BLOG NA DISCIPLINA DE GEOGRAFIA

O uso de tecnologias na educação tem modificado a metodologia que os


professores utilizam para suas aulas, desde o uso de aparelhos de CD, TV, DVD,
retroprojetor multimídia, até mais recentemente dos laboratórios de informática e
a rede de internet representam elementos que são utilizados para atrair, motivar,
instigar a atenção e o interesse dos estudantes na abordagem dos conteúdos.
Sancho e Hernández (2008, p.19) afirmam que “os cenários de
socialização das crianças e jovens de hoje são muito diferentes dos vividos
pelos pais e professores.” É notório que o contato com as mídias desde muito
cedo justificam a citação, a influência da televisão, computador/internet, jogos se
reflete na atração que esses jovens têm pelas mídias e na habilidade de
manusear e interagir com tais ferramentas. Assim, muitas pessoas viram nas TIC
o “novo determinante, a nova oportunidade de repensar e melhorar a educação”.
Concorda-se com esse pensamento, ou seja, considera-se o blog uma
possibilidade para repensar o ensino da Geografia e a utilização dele como uma
metodologia para dinamizar o processo de aprendizagem.
Desta forma, o blog na disciplina de Geografia pode ser utilizado para:
 Apresentação de conteúdos complementares – em forma de
texto, imagens, vídeos, links, a serem pesquisados pelos
educandos;
 Aproximação do conteúdo literário com a realidade do
educando através de postagem de imagens e vídeos que estes
produzem sobre sua realidade, em consonância com o estudo
proposto;
 Meio de divulgação dos trabalhos desenvolvidos
individualmente ou coletivamente por professores e educandos;
 Instrumento para preparar e direcionar o educando no uso da
tecnologia para fins pedagógicos;
 Canal de discussão, de manifestação de opinião sobre temas
estudados;

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
91

 Recurso para desenvolver atividades interdisciplinares;


 Meio de interação, socialização entre os pares – possibilita
comentários e feedbacks;
 Postagem e realização de atividades avaliativas, entre outros.

Para Pais (2010, p. 143) “a transição para a sociedade da informação


requer estratégias educativas mais audaciosas”. Dessa forma o autor contribui
ainda mais ao explanar que

Há vários motivos para que as redes digitais sejam incluídas entre os


temas de interesse para o movimento de inserção de computadores na
educação escolar [...] Um destes motivos seria de que lançar redes de
articulações é uma estratégia para ampliar o significado do saber escolar
(PAIS, 2010, p.111).

É com esse objetivo que cada vez mais professores passam a criar seus
blogs com os educandos, criando espaços virtuais complementares aos
espações físicos das salas de aula. Muitas vezes seu uso inicia como um
recurso pedagógico e não uma estratégia pedagógica. Boeira (2008) diferencia o
blog enquanto recurso ou estratégia. Segundo a autora, enquanto recurso, o blog
funciona mais como um depósito de informações a serem acessadas pelos
educandos como um canal de consulta, já quando se trata do blog com vistas a
ser uma estratégia pedagógica, este se apresenta também como um “espaço de
intercâmbio e colaboração, integração e comunicação”.
A experiência desenvolvida com o uso do blog descrita nesse artigo se
caracterizou num primeiro momento como um recurso pedagógico, e
possibilitou que se estabelecessem condições para que seu uso evoluísse para
ser uma estratégia pedagógica. Isto porque, algumas dificuldades foram
superadas por parte da professora que desenvolveu a proposta, novas
possibilidades foram deslumbradas para aprimorar o uso do blog e também, o
amadurecimento dos alunos em relação à experiência de utilizar esse recurso
para fins pedagógicos.

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho teve como base para os encaminhamentos a


realização de pesquisa exploratória, utilizando-se das técnicas de levantamento
bibliográfico. A partir dos conceitos de autores que dissertam sobre o uso de
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
92

TIC na educação, serão encaminhadas as discussões nas considerações finais,


estabelecendo um comparativo entre a teoria apresentada e as observações
realizadas no processo do uso do blog na prática com alunos.
Os alunos observados estudam em duas escolas onde a pesquisadora
ministra aulas de Geografia. Trata-se de alunos do 9º Ano do Ensino
Fundamental (24 alunos) e da 1ª Série do Ensino Médio (27 alunos), ambos do
período matutino, do Colégio Estadual do Campo do Lajeado e também, alunos
das duas turmas de 4ªs Séries do curso Técnico em Química (48 alunos), do
período noturno, do Colégio Estadual São Mateus (escola urbana).
Foram realizadas observações diretas sobre a participação dos alunos
em relação às atividades propostas no blog “angelaewerling.blogspot.com.br”,
em momentos distintos: durante as aulas ou em casa. Entre as atividades
propostas constaram: a escolha de música/vídeo no youtube, sobre o tema
Globalização para ser postado no blog.
O acesso e download do vídeo Eras Geológicas postado no blog pela
professora e trabalhado em sala de aula. Os alunos fizeram download do vídeo
no laboratório de informática (e alguns em casa) para arquivar em smartphone,
tablet ou notebook, pois não têm acesso à internet na sala de aula. Os que
puderam acessar o vídeo em casa, fizeram comentários no blog sobre o mesmo.
Postagem de material complementar (textos, imagens, vídeos,
atividades) no blog a ser acessado pelos alunos no laboratório de informática.
Postagem no blog de material para alunos que perderam dia de aula, o que por
sinal foi muito eficaz para recuperação de conteúdos por parte destes alunos.
O recorte temporal consta da observação realizada na experiência
prática de uso de blog com alunos no ano letivo de 2015. A apresentação dos
resultados consta da elaboração de relato, considerando o comparativo entre a
bibliografia estudada sobre o tema e as os resultados das observações na
prática.

5.1 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Na observação direta realizada no decorrer da experiência do uso do


blog nas aulas de Geografia percebeu-se que, num primeiro momento, este
cumpriu apenas a função de recurso pedagógico e não de estratégia pedagógica.
Ao se pensar sobre o aspecto estrutural das escolas e a falta de acesso
às tecnologias, que são razões que limitam o uso delas no processo ensino e
aprendizagem, a observação permite concluir que há considerável desigualdade
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
93

nesse sentido quando se trata de escola urbana em comparação com a escola


do campo. Os educandos da escola urbana contam com laboratório conectado à
rede da internet com uma estrutura e funcionamento bem melhores que a escola
do campo, onde o acesso à internet é um grande limitador. Sabe-se que não é
regra, mas é uma situação que predomina nas escolas públicas do Paraná até o
presente momento.
Quando se trata da possibilidade de acessar o conteúdo do blog em
casa, a desigualdade também fica evidente entre as duas realidades: do total de
51 estudantes da escola do campo, apenas 10 possuíam acesso à rede de
internet. Do total de 48 estudantes da escola urbana que participaram da
experiência, apenas 5 não tinham como acessar internet em casa.
Outro parâmetro a ser considerado, ainda falando dos educandos da
escola urbana em relação aos da escola do campo, é que os primeiros têm mais
intimidade, mais facilidade, mais autonomia para usar um número maior das
tecnologias e seus recursos se comparados aos segundos aqui mencionados. É
expressivo o número de educandos da escola do campo que não sabem fazer
busca na internet, por exemplo, o que não se observou entre educandos da
escola urbana. Isso se amplia mais ainda quando se trata de pedir para elaborar
um vídeo ou então fazer uma postagem no blog, por exemplo.
Entre todas as turmas com as quais se trabalhou o uso do blog ficou
evidente o maior entusiasmo, interesse e aproveitamento dos educandos do 9º
Ano -Fundamental II em relação aos demais.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que a necessidade de buscar, se inteirar, se integrar ao uso


recursos midiáticos, superar os desafios e construir novas possibilidades para o
uso de TIC nas salas de aula não é uma tarefa fácil. Demanda tempo para
estudo, dedicação, criatividade, exige inquietação, mas isso não implica em dizer
que é um sacrifício, pelo contrário, é muito prazeroso.
Desta forma, fica a sensação para o professor de vislumbrar
oportunidade de aprender com os educandos, que em várias situações dominam
mais as tecnologias que de outra geração. Também há uma lacuna onde se
percebe que se está “atrasado”, sempre tem novas tecnologias surgindo e/ou
mais formas de otimizar a exploração daquelas que já se pensou dominar.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
94

De acordo com o que foi possível trabalhar utilizando o blog na


disciplina de Geografia (a greve na rede pública de ensino atrapalhou a intenção
de desenvolver algumas atividades) pode-se afirmar que foi bastante proveitosa
a iniciativa, essa primeira tentativa proposta.
Assim, os educandos aproveitaram bastante as postagens realizadas,
apesar ser proporcionada pouca possibilidade de interação, vislumbraram-se as
possibilidades de ampliação de uso do blog como estratégia pedagógica e estas
já estão sendo encaminhadas para o ano letivo de 2016.
A experiência foi válida e já está sendo implementada com objetivo de
utilizar a TIC, no caso o blog, como uma estratégia para ampliar o significado do
saber escolar na disciplina de Geografia.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Siderly do Carmo Dahle de; FERNANDES JUNIOR, Álvaro Martins. TIC
aplicada à educação. Maringá: Unicesumar, 109 p, 2014.
BOEIRA, Adriana Ferrreira. Blogs na educação: Blogando algumas possibilidades
pedagógicas. Disponível
em:<http://tecnologiasnaeducacao.pro.br/revista/a1n1/art10.pdf.> Acesso em:
22 abr. 2016.
FARIA, Elaine Turk. O professor e as novas tecnologias. In: ENRICONE, Délcia
(Org.). Ser Professor. 4 ed. Porto Alegre:EDIPUCRS, 2004, p. 57-72.
GABRIEL, Martha. Educar: a (r)evolução digital na educação. 1 ed. São Paulo:
Saraiva, 241p. 2013.
LÉVY, Pierre. O que é virtual. São Paulo: Editora 34. 110p. 1996.
PAIS, Luiz Carlos. Educação escolar e as tecnologias da informática. 1 ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 165 p. 2010.
SANCHO, Juana María, HERNÁNDEZ, Fernando. Tecnologias para transformar a
educação. Porto Alegre: Artmed, 198p. 2006.
SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo:
Paulus, p. 232. 2007.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
95

A EDUCACAO TEOLOGICA NA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL


E O PAPEL DA DIDÁTICA

GIZELI FERMINO COELHO1


MARCIO ANDRÉ ORSO MACEDÔNIO2

RESUMO

A discussão entre fé e razão é latente em muitas confissões religiosas, o


Catolicismo Romano especificamente tem como fonte de sua teologia as
sagradas escrituras e a tradição. Os protestantes trazem em seu bojo doutrinário
a certeza de que para produzir bons cristãos é necessário somente o ensino das
sagradas escrituras, sem o auxílio de um método hermenêutico ou uma
pedagogia mais apurada. Os cristãos pentecostais oriundos da reforma
protestante por muitos anos relutaram por instituir escolas e formar professores,
todavia, com o início das Escolas Bíblicas Dominicais percebeu-se a
necessidade do labor pedagógico tanto na elaboração das revistas quanto na
exposição das aulas. Percebeu-se ser insuficiente somente ser o professor
dotado com um dom nato, mas que existem e são necessárias técnicas para
dirigir e orientar o processo de ensino e aprendizagem. O artigo introduz o
estudo teológico, tão necessário ao professor cristão em sala de aula,
principalmente em uma das maiores agências de ensino cristão a Escola Bíblica
Dominical. Nesta concepção de educação, o educador deve possuir sólidos
conhecimentos bíblicos, comunhão com Deus, preparo, reflexão, conhecimento
das ferramentas pedagógicas e amor fraterno pelo próximo. Não são
obrigatoriamente características inatas de algumas pessoas que já nascem
professor. As EBDs podem colaborar na formação do cidadão consciente e
participativo. A formação religiosa, que é hoje relegada a um segundo plano nas
escolas seculares, ganha sua real dimensão nas Escolas Bíblicas Dominicais.
Palavras-chave: Teologia. Escola Dominical. Educação. Professor. Didática.

1
Graduação em Pedagogia pela UEM, Especialização em Arte e Educação pelo Instituto
Paranaense de Ensino - IPE, Mestre em em Educação pela UEM. Doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPE/UEM - Mestrado/Doutorado).
2
Bacharel em Direito pela Universidade Luterana do Brasil, presidente da OAB/RS SUBSEÇÃO de
GUAÍBA, RS., advogado militante, bacharel em teologia pela FAETEL, e mestre em teologia pela
PUC/RS.E professor da cadeira Direito e Igreja, do Instituto Bíblico Esperança de Porto Alegre, RS.
e professor de teologia na FAETEL/SP.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
96

1 INTRODUÇÃO

Existem técnicas para dirigir e orientar o processo de ensino e


aprendizagem? Ou é um dom inato do professor? O artigo introduz o estudo
teológico, tão necessário ao professor cristão em sala de aula, principalmente
em uma das maiores agências de ensino cristão a Escola Bíblica Dominical -
EBD.
A proposta é orientar a ação docente e levar o educador a percepção e
compreensão através de uma reflexão crítica do seu trabalho, do seu papel na
sociedade e no processo de ensino e aprendizagem.
Os desafios do professor são muitos: pensar os objetivos, conteúdos e
métodos; interagir, no processo ensino-aprendizagem; disponibilizar
conhecimentos, e facilitar, o desenvolvimento das capacidades cognitivas dos
educandos.
Os fenômenos econômicos e sociais da globalização, flexibilização e o
novo mercado de trabalho conferem à educação um dos mais altos graus de
importância.
A educação continuada é hoje cantada em verso e prosa por todos os
profissionais da área da educação. O ensino a distância também ganha
notoriedade com a difusão das redes de computadores. A docência religiosa não
esta livre dos mesmos desafios, principalmente em uma de suas maiores
escolas, a Escola Bíblica Dominical.

2 O PAPEL DAS ESCOLAS BÍBLICAS DOMINICAIS

No século XX foram desenvolvidas muitas teorias nas áreas da


Pedagogia e Psicologia, e estudar essas teorias e verificar suas aplicações nas
Escolas Bíblicas não é tarefa das mais fáceis, mas é necessário e levará as
Escolas Bíblicas Dominicais a um papel de destaque na sociedade moderna.
Muitos perguntam: Como atingir o perfil do novo profissional que o
mercado precisa? Como ser um cidadão do mundo? Como ter uma vida feliz?
Que rumo devo dar a minha vida? entre tantas outras. A Bíblia tem as respostas.
Não se trata aqui de trilhar os caminhos dos pregadores da Teologia da
Prosperidade, ou ensinar as teorias de Napoleon Hill, Lair Ribeiro, Dr. Silva,
Shinyashiki e tantos outros, que na verdade oferecem manuais de
condicionamento.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
97

A solução está em ensinar as Escrituras Sagradas possibilitando uma


atitude reflexiva de construção de conhecimento, mas isto é um desafio.
Nesta concepção de educação, o educador deve possuir sólidos
conhecimentos bíblicos, comunhão com Deus, preparo, reflexão, conhecimento
das ferramentas pedagógicas e amor fraterno pelo próximo. Ferramentas e
técnicas de como orientar e dirigir o processo ensino e aprendizagem podem ser
aprendidas e usadas.
As EBDs podem colaborar na formação do cidadão consciente e
participativo. A formação religiosa, que é hoje relegada a um segundo plano nas
escolas seculares, ganha sua real dimensão nas Escolas Bíblicas Dominicais.
Os currículos escolares podem ser complementados com as disciplinas
trabalhadas nas EBDs. Participar aos domingos da Escola Bíblica significa estar
na vontade de Deus e no caminho de uma educação integral.
O educando deve ser levado a descobrir a alegria de estudar a palavra
de Deus. E o educador participa desse processo se estiver atento aos anseios e
a cultura trazida pelos educandos para a sala de aula, portanto, o educador deve
estar preparado e disposto a participar do processo.

2.1 O PAPEL DO PROFESSOR - ÉTICA E COMPROMISSO

Quais são as condutas e responsabilidades dos professores das Escolas


Bíblicas Dominicais? A estagnação do crescimento em algumas igrejas pode
estar relacionada com as EBDs? A evasão das EDBs deve-se a quais fatores?
As respostas a essas questões passam pela análise e pelo trabalho do
professor das EBDs, mas não significa obrigatoriamente que sejam os
responsáveis diretos por todos os problemas que afligem o mundo.
O educador compromissado com o processo reflete sobre esses e
outros problemas e busca soluções continuamente. O indicador mais forte de
seu compromisso e comprometimento está no permanente empenho e esforço
em refletir, preparar-se e educar.
Os valores éticos bem definidos é uma das qualificações esperadas dos
professores das escolas bíblicas, uma vez que na nossa sociedade pluralista
existem muitas condutas.
Deve-se cultivar valores éticos bem fundamentados na Bíblia, analisar o
modismo no meio evangélico e rejeitar propostas éticas que não estejam
devidamente fundamentadas.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
98

Estudo Ativo. Por que se afirma que a aprendizagem consiste,


principalmente do estudo ativo?
O conhecimento acumulado não é fruto da imaginação inventiva do
professor, e sim fruto da vivência humana ao longo de sua história. Este
conhecimento repleto de ensinamentos de vida e de interpretações da realidade é
que o educando deve assimilar, compreender e julgar.
O julgamento é feito à luz dos seus valores, o que implica em uma
atividade mental ativa e dinâmica.
Por sua vez os valores previamente trazidos, que fazem parte do senso
comum, serão referenciados aos valores apresentados pelas Sagradas
Escrituras; possibilitando uma reflexão e gerando uma mudança significativa no
modo de visão do mundo e consecutivamente na maneira de viver.

3 O PAPEL DA DIDÁTICA

A Didática é um dos ramos de estudo da Pedagogia e tem como objeto


de estudo o processo de ensino e aprendizagem, estuda os objetivos, os
conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino e aprendizagem. É
bom lembrar que este processo não está restrito ao retângulo da sala de aula.
Ela estuda as técnicas de planejar, orientar e dirigir no processo de
ensino e aprendizagem. A Didática é uma disciplina importante na formação
profissional do professor, inclusive dos docentes das EBDs.
A educação é uma prática social que ocorre nas igrejas, na família, no
trabalho, nos meios de comunicação e concentradamente nas escolas, e a teoria
do ensino, a didática, deve estar presente nos vários meios e atividades
humanas.
“A educação, ou seja, a prática educativa é um fenômeno social e
universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento
de todas as sociedades” (LIBÂNEO, 1990 pag.26).
Auxiliar no desenvolvimento do educando, prepará-lo para uma
participação ativa na igreja, através da instrução e do ensino da Palavra de Deus,
é uma tarefa da Escola Bíblica Dominical.
Deve-se promover condições para que o aluno desenvolva a capacidade
de pensar criticamente, levando-o a aceitar os desafios que irão surgir ao longo
da vida na sociedade e na comunidade eclesiástica.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
99

Somente um processo consciente de ensino-aprendizagem garante uma


vida cristã plena. Qualquer outro processo leva a escravidão pelo fanatismo e
pelos rituais desnecessários.
Como exemplo, citam-se as testemunhas de Jeová, que através de um
processo de memorização de versículos bíblicos num encadeamento
desenvolvido a pretexto, se julgam conhecedoras da verdade. Esta prática
educativa propicia uma adesão cega às doutrinas da sociedade torre de vigia,
que os lidera.
Nos meios evangélicos pode acontecer o mesmo processo, que acaba
alimentando as seitas, que se valem desta falta de preparo e de cuidado com a
prática educativa. O quadro a seguir esclarece melhor as ideias:
Aproximadamente 40% das Testemunhas de Jeová e 50% dos membros da seita
do “reverendo Moon” saíram das igrejas evangélicas a nível mundial; os
mórmons crescem tanto no Brasil que já ocupam o 3º lugar a nível mundial em
número de membros. O Brasil é a maior nação espírita do mundo com 80
milhões de simpatizantes.
Para a inversão do quadro resumidamente é necessário à formação
profissional do professor, tanto na parte teórico-científica como na parte técnico-
prática, para estar a frente do processo ensinoe aprendizagem. A Didática como
disciplina cientifica deve ser estudada, pois nela se articulam a teoria e a prática,
e é a ponte entre “o que” e o “como”.
Acredita-se na formação profissional teórica e prática do educador
como molas propulsoras do processo ensino e aprendizagem, não só a teoria ou
só a prática dos que julgam ter o dom natural para o magistério, favorecem a
prática educativa neste contexto o do cristão.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreende que deve haver um diálogo intimo entre a fé e a razão, ou


seja, entre o crer e a ciência, pois a primeira sem a segunda pode conduzir a
equívocos religiosos e, principalmente, o fanatismo e a intolerância religiosa.
A Teologia deve ser mística, mas deve também ser inteligível. A
educação cristã não pode estruturar-se somente na fé, a mesma não deve
eximir-se de seu papel transcendental, todavia, deve atingir a racionalidade do
ser a que se destina formar. Para tal feito é que a Escola Bíblica Dominical –
EBD, ama das maiores agências de ensino cristão e de forma de unificação das

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
100

doutrinas bíblicas (CARVALHO, CESAR, 2010), é instrumentalizada


didaticamente, pensada e executada como ferramenta educacional em todo
território nacional, ou seja, dominicalmente quase todos os cristãos pentecostais
reúnem-se para ser educados por professores devidamente preparados
didaticamente, e através do processo de ensino e aprendizagem pode-se
colaborar na formação do cidadão consciente e participativo.
A formação religiosa, com o auxílio da didática, ganha sua real
dimensão nas Escolas Bíblicas Dominicais. Conclui-se que um processo
consciente de ensino e aprendizagem garante uma vida cristã plena e um ensino
integral.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria L. de Arruda. “História da Educação”. São Paulo, Editora


Moderna, 1993.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. “O que é Educação”. São Paulo, Editora
Brasiliense, 1985.
CARVALHO, César Moises. As Lições Bíblicas e a Coesão Doutrinária das
Assembleias de deus no Brasil. Ensinador Cristão. Ano 11-42º, pag., 6-9, abril –
junho, 2010.
DÁVIS, Cláudia. “Psicologia na Educação”. São Paulo, Cortez Editora, 1990.
GEISLER, Norman L. “Ética Cristã”. São Paulo, Edições Vida Nova, 1991.
LIBÂNEO, José Carlos. “Didática”. São Paulo, Cortez Editora 1990.
LUCKESI, Cipriano Carlos. “Filosofia da Educação”. São Paulo, Cortez Editora,
1990.
MORAIS, Regis de. “Sala de Aula que espaço é esse?” São Paulo, Editora
Papirus, 1994.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
101

ENTENDENDO A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: AS POSSÍVEIS DIFICULDADES DOS


DISCENTES E SUA RELEVÂNCIA NO ENSINO NO PAÍS

HELAINE PATRICIA FERREIRA 1


LUCIANA RIBEIRO MENEGUCI2

RESUMO

A Educação a Distância (EaD) é considerada uma forma democrática de ensino e


aprendizagem em que predomina a intermediação de tecnologias, tais como, de
telecomunicação e de transmissão de dados, sons e imagens, de forma que
professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. Existem
dificuldades de interação dos discentes que se não forem sanadas, no decorrer
do processo de aprendizagem, pode desencadear em desestímulos. O objetivo
geral da pesquisa é analisar o ensino a distância e abordar as dificuldades dos
alunos para com essa modalidade, apontando os possíveis empecilhos de
aprendizagem. Os objetivos específicos se voltam em investigar meios que
favoreçam um melhor desempenho dos discentes, destacando como a EaD pode
proporcionar essa facilidade no aprendizado. O estudo justifica-se por se
compreender que alunos podem sentir dificuldades no aprendizado, nesta
modalidade e que há necessidade de haver um aprimoramento do sistema de
ensino, para que se tenham um melhor acesso ao conhecimento preservando a
mesma qualidade dos ensinos presenciais. A pesquisa é de abordagem
bibliográfica e o estudo permitiu verificar que a educação a distância promove
uma igualdade de oportunidades, entre as classes sociais e deve ser avaliada,
discutida e aprimorada com o objetivo de formar cidadãos profissionais aptos a
inserir no mercado de trabalho eprontos para transformar a sociedade.
Palavras-chave: Educação. Aprendizado. Ensino a Distância.

1 INTRODUÇÃO

A Educação a Distância é uma forma da democratização e promoção de


igualdade social de acesso ao ensino, promovendo a participação e a inclusão a
todos, independente da classe social, contribuindo para um melhor acesso aos
alunos ao conhecimento e diminuindo fronteiras físicas. Este trabalho foi
elaborado com o intuito de esclarecer o processo da modalidade da educação a
distância, ressaltando as dificuldades dos alunos frente a este tipo de ensino e

1
Pedagoga e Especialista em Educação pela UEM. Tutora Mediadora do Curso de Pedagogia a
Distância (NEAD-UNICESUMAR).
2
Bacharel em Enfermagem pela UNIFENAS (2009) e Licenciada em Biologia pela UNIFRAN (2013).
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
102

destacando a importância de se aprimorar essa modalidade que, em poucos


anos, terá destaque em seu ápice tecnológico. O objetivo deste estudo foi
analisar o ensino a distância e abordar as dificuldades dos discentes, apontando
as possíveis falhas na aprendizagem. Os objetivos específicos foram investigar
meios que favoreçam um melhor desempenho dos alunos, destacando como a
EaD pode proporcionar essa facilidade no aprendizado.
Existe a possibilidade da dificuldade de interação aluno x instituição, seja
por motivos de falhas na comunicação entre as partes, discentes que utilizam a
procrastinação para com suas obrigações acadêmicas, entre outras situações
que favorecem o mau desempenho escolar nesse tipo de modalidade. Surge o
seguinte questionamento: Quais meios poderiam ser aplicados para que essa
modalidade de ensino proporcione resultados satisfatórios em que ainda existam
tais dificuldades no aprendizado?
Esta pesquisa se justifica em se compreender que alunos poderão sentir
dificuldades no aprendizado nesta modalidade, havendo necessidade de ter um
aprimoramento do sistema de ensino, com a finalidade de um melhor acesso ao
conhecimento, conservando a mesma qualidade dos ensinos presenciais.
Sendo assim, este trabalho se divide da seguinte maneira: a primeira
seção aborda o processo de democratização do ensino, especificamente por
meio da educação a distância. Assim sendo, foram divididos em três tópicos: o
primeiro aborda conceitos da educação, assim como o aprendizado da educação
a distância; o segundo demonstra o assunto principal da pesquisa que é a
postura do aluno frente à interatividade do ensino a distância e suas dificuldades
no aprendizado; e por fim, o último mostra a problemática do estudo, igualmente
apontando os objetivos da pesquisa.
A terceira seção apresenta ainda a metodologia aplicada neste trabalho
e, em seguida, no final, será feita uma análise do estudo bibliográfico e suas
contribuições para a melhoria do ensino a distância.

2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD): DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO E


APRENDIZADO

A Educação a Distância (EaD) tem sido considerada um meio de


democratizar o ensino, levando conhecimento aos lugares onde o ensino
presencial não consegue alcançar. Já que entrou no século da informação e,
dessa forma, torna-se inegável a importância e a necessidade de aprimorar o

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
103

ensino das escolas e universidades, engajando a EaD como uma modalidade


assistida, funcionante e inovadora para o ensino.
A democratização do ensino equipara alunos nas possibilidades e
competências intelectuais, promovendo sua participação na sociedade. Mediante
essa assertiva, Brutscher, Sampaio e Pereira (2007) corroboram entre si ao
afirmarem que a EaD, apoiada fortemente nas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC), democratiza o acesso à educação, pois:

Ela alcança pessoas num espaço territorial maior, com menor custo;
ampliando o acesso, inclusive, a quem mora longe de centros
universitários. Além disso, ao flexibilizar horários, ela permite ao estudante
maior liberdade e autonomia na construção do conhecimento, atendendo
às demandas de formação de pessoas que por estarem envolvidas em
processos de trabalho tem maiores dificuldades em compatibilizar os
seus horários com os das formações presenciais. Devido aos recursos
disponíveis, a Educação à Distância se aprimorou e ampliou suas
vantagens de liberdade para estudo e maior horizontalidade no processo
de aprendizagem (BRUTSCHER; SAMPAIO; PEREIRA, 2012, p. 477).

Nesta perspectiva, a democratização do ensino é atendida de forma


satisfatória em relação aos cursos a distância, pois a EaD atende as
necessidades de muitos que devido a falta de tempo ou por longas distâncias
percorridas entre trabalho, escola e residência, encontram vantagens em optar
por esse tipo de ensino.
Sendo assim, Barros e Carvalho (2011) destacam que a EAD tem sido
uma alternativa de ensino e de inclusão social, justamente por estar agregando
valores pedagógicos juntamente com as novas tecnologias digitais. O
conhecimento construído requer que o aluno tenha uma programação melhor do
seu tempo e que se habitue rápido com as altas demandas de opções de
interatividade.
Nicolaio e Miguel (2010), da mesma forma destacam que a EaD
possibilita resgatar valores que vão além da socialização do saber, propiciando o
exercício da plena cidadania. Já na visão de Lima, Sá e Pinto (2014), a EaD faz
parte de um amplo processo de mudança no ensino, incluindo a democratização
do acesso à escolaridade, e à adoção de novos paradigmas educacionais,
envolvendo a formação de sujeitos autônomos capazes de intervir no mundo em
que vivem.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
104

2.1 ENSINO E APRENDIZADO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, em seu art. 1°, define


a modalidade de ensino a distância como um processo de ensino e
aprendizagem, onde existe a intermediação de tecnologias (de telecomunicação
e de transmissão de dados, sons e imagens), de forma que professores e alunos
estão separados, espacial e/ou temporalmente (BRASIL, 2005). Essa
modalidade tem sido amplamente aplicada nos ensinos, desde profissional
quanto acadêmico, por ser bem aceita na questão da economia de tempo e
valores dos cursos.
Estudos mostrados por Martins e Zerbini (2014) já apontam que na EaD
a internet atualmente tem sido um dos meios de ensino mais utilizados, pois
insere novas condições de estudo para o aluno, oferecendo acesso ao ambiente
de ensino, uso e bibliotecas, contato com colegas, restrito ao ambiente de
ensino, havendo, portanto, novas formas de interação aluno-professor que
podem influenciar no resultado da aprendizagem. Assim sendo, é uma
modalidade que tem demonstrado resultados positivos pela interatividade virtual,
pois o contato entre alunos, colegas e o próprio professor, por meio de chats e
fóruns, torna possível a solução de dúvidas e problemas, relacionados às
disciplinas.
Dessa forma, a educação a distância compreende uma separação física
e temporal entre professores e alunos, sem, no entanto, perder o vínculo,
conforme aponta Almeida, et. al. (2013). Para os autores, a distância física não
deve ser sinônimo de falta de comunicação e nem de formação técnica, pois é
desenvolvido a partir de novas tecnologias de comunicação e informação. Por
outro lado, Soek e Gomes (2008) atentam que a EaD é mais complexa às vezes
que um sistema tradicional presencial, pois exige não só a preparação de
material didático específico, mas também a integração de “multimeios” e a
presença de especialistas nesta modalidade que acompanhem a avaliem o aluno
em um tratamento e atendimento de expressiva qualidade.

2.2 DISCENTES: INTERATIVIDADE X DIFICULDADES NA EDUCAÇÃO A


DISTÂNCIA

Segundo Valente (2003), a interação via internet colabora na realização


de espirais de aprendizagem, em um ciclo de ações que mantém o aluno no
processo de realização de atividades inovadoras, gerando conhecimento sobre
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
105

como desenvolver essas ações, porém com o suporte do professor. Já Bueno


(2012) destaca que a educação a distância corresponde a chamada distância
transacional, em que se reconhece a separação física entre docentes e discentes
na EaD, surgindo, portanto, um novo espaço pedagógico e psicológico.
Barros (2010) alerta que interagir com pessoas que têm diferentes
princípios de vida, costumes, habilidades, conhecimentos, preconceitos,
limitações, exige também atenção e flexibilidade, no sentido de se resolverem
dificuldades, bloqueios, incompreensões e objeções. Ainda em relação às
dificuldades da interatividade do aluno na educação EaD, a autora menciona que
existem diversas barreiras no processo de ensino e aprendizagem a distância,
fortemente marcadas pela falta de motivação pessoal; avaliação demorada ou
inadequada; assim como, a não contato com o professor; despreparo técnico do
aluno ou do docente; sensação de alienação e isolamento; conteúdo
desorganizado e em formato inadequado; falta de suporte técnico, dentre outras.
Essas causas relevantes podem ser destacadas pelas dificuldades dos
alunos na EaD, conforme mostra Mercado (2007, p. 2):

As frustrações dos alunos e tutores na EaD podem estar motivadas por


vários fatores: ausência de ajuda ou de resposta imediata por parte de
tutores ou colegas, instruções ambíguas no curso, problemas técnicos,
inadequação do modelo pedagógico aos estilos cognitivos e
características pessoais dos estudantes e dificuldades relacionadas com
aspectos da situação vital dos alunos (aspectos sociais, familiares e
pessoais).

Já Silva, et. al. (2011) acrescentam ainda que a EaD possui alguns
problemas devem ser superados, como a dependência da tecnologia que requer
persistência dos alunos para aprender a trabalhar com elas, antes que a matéria
se acumule. Outros problemas como a falta de equipamentos e de instrução,
aliadas anão autonomia e organização, acarretam em falhas na aprendizagem,
prejudicando a trajetória do aluno ao longo do curso, revelando-se como causas
de grande desistência dos alunos nos cursos de EaD.

2.3 VALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PARA O SUCESSO


ACADÊMICO E PROFISSIONAL

A qualidade na EaD é um quesito importante e que merece ser discutido,


pois o aluno constrói seu próprio conhecimento, independente do local onde
esteja inserido e da ajuda de professores presenciais. Para que isso aconteça,
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
106

Bueno (2012) esclarece que as organizações envolvidas com este segmento


(não apenas as instituições, mas também órgãos públicos relacionados à
educação), devem apresentar ações planejadas, com intuito de garantir que esta
modalidade de ensino tenha seus objetivos cumpridos.
Para Carraro (2013) a educação a distância não deve ser tratada como
um modelo compensatório do ensino presencial e sim como parte integrante,
isto é, como um importante elemento que pode impulsionar a transformação das
práticas educativas, em todos os níveis de ensino. A EaD deve ser encarada
como um ensino que independe de distâncias e que estimula o aluno a
desenvolver suas habilidades por esforço próprio, interagindo onde ele estiver,
em qualquer espaço físico.
Otsuka, et. al. (2011, p. 26) demonstram que para que as mudanças
aconteçam são necessárias algumas atitudes que irão valorizar os conceitos
dessa modalidade de ensino, tais como:

O estudante deve aprender a organizar seus horários de estudo, sua


agenda, e, por isso, fica mais evidente sua atuação como sujeito ativo no
processo de construção do conhecimento; o aluno precisa aprender a
interagir, a colaborar e a ser autônomo. Do lado docente, o educador
precisa compreender, especialmente, as implicações do
redimensionamento espaço-temporal para a sua prática pedagógica, pois
trata-se de um novo paradigma de ensino e de aprendizagem.

Em consonância, ressalta-se que é preciso ter organização das três


partes envolvidas: aluno, educador e instituição, verificando a estrutura funcional
do curso os planos de aulas ministradas, bem como a preparação dos materiais
didáticos a serem distribuídos, e por fim, organização administrativa e de
recursos humanos.
Souza, et. al. (2004) destacam que por parte do profissional de
educação seu perfil deve conter competências bem mais complexas. Deve saber
lidar com os ritmos individuais diferentes dos alunos, assim como apropriar-se
de técnicas novas de elaboração do material didático impresso e do produzido
por meios eletrônicos. Deve ainda dominar técnicas e instrumentos de avaliação,
trabalhando em ambientes diversos daqueles já existentes no sistema presencial
de educação. Deve igualmente ter habilidades de investigação e propor
esquemas mentais para criar uma nova cultura, indagadora e plena em
procedimentos de criatividade.
Para Almeida, et. al. (2013) a modalidade de ensino e aprendizagem
ainda passa por um período de aculturação, mesmo sabendo-se é que uma
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
107

proposta de ampliação e democratização da educação. Para que essa seja


valorizada ambos os atores diretamente implicados – professor e aluno –
precisam passar por uma mudança cultural, já que esta atinge, também, as
próprias instituições de ensino que se mostram ainda hesitantes em migrar para
um novo tempo.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O instrumento utilizado para o desenvolvimento deste estudo foi uma


pesquisa bibliográfica que caracteriza-se pela utilização de materiais publicados,
em meios eletrônicos, visando dar um embasamento teórico para o mesmo. Um
texto bibliográfico é baseado em artigos de periódicos, publicações técnicas,
dissertações, teses, sites especializados e livros de conceituados autores da
área, disponibilizados também em ambiente virtual.
Conforme Amaral (2007), a pesquisa bibliográfica é uma etapa
fundamental em todo trabalho científico que influenciará todas as demais etapas
da pesquisa, na medida em que der o embasamento teórico, ou seja, consistem
no levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações
relacionadas à pesquisa.
Andrade (2004) também destaca que a pesquisa bibliográfica é
habilidade fundamental, uma vez que constitui o primeiro passo para todas as
atividades acadêmicas, sendo obrigatória nas pesquisas exploratórias, na
delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa, no desenvolvimento do
assunto, nas citações, na apresentação das conclusões, dentre outros.
Diante desses conceitos, para alcançar o objetivo deste trabalho, fez-se
um levantamento bibliográfico nas seguintes bases de dados: Scielo, PEPSIC,
entre outras. Após a coleta das informações foi possível desenvolver o estudo
proposto.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto geral, a Educação a Distância é uma modalidade de ensino


democrática que promove a igualdade de oportunidades a todos que buscam a
informação e o conhecimento. Observou-se, durante a elaboração deste
trabalho, que essa modalidade de ensino eleva o nível educacional, preparando
discentes para que possam estar aptos ao exigente mercado de trabalho. No

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
108

entanto, mesmo sendo uma importante ferramenta do conhecimento a EaD ainda


apresenta falhas de infraestrutura em algumas instituições de ensino, o que
acarreta em muitos casos, desmotivação aos discentes, ou mesmo, a evasão do
curso, prejudicando em muito a qualidade do ensino.
Para que as falhas sejam minimizadas deve haver uma preocupação
constante por parte instituições para que a qualidade da educação a distância
seja mantida num nível equiparado aos cursos presenciais. Estas devem
desenvolver metodologias e ambientes virtuais que estimulem o aluno a buscar
as informações para suas dúvidas, ao invés de transferi-las o tempo todo aos
professores, lotando de dúvidas os fóruns e chats, cujo objetivo é promover a
interação entre colegas e docentes.
Por parte do aluno, este deve ter a capacidade de estudar de forma
autônoma, sem ter o professor presencial, adaptando-se à metodologia proposta
pela instituição e pela maneira que o tutor ministra suas aulas. Além disso, deve
estabelecer rotinas de estudo e ser disciplinado na questão de trabalhos e
avaliações.
Ressalta-se que a educação a distância é uma modalidade de educação
que já pertence a um sistema de ensino praticado em diversas instituições no
país e fora dele, surgindo, portanto, como uma alternativa de acesso a um
mundo ilimitado de conhecimento, cabendo ao aluno e à instituição meios para
que essa modalidade seja funcionante e a atenda as expectativas que o mercado
de trabalho exige do futuro profissional.

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CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
111

A FORMAÇÃO DOCENTE E A INTERAÇÃO POR MEIO DAS NOVAS


TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS

ISABELA QUAGLIA MARQUES1


IVAN VITTI2

RESUMO

O tema da pesquisa foi a formação de professores acerca das novas tecnologias


educacionais, e para analisar a importância de uma boa formação pedagógica
ressaltou a necessidade de aliar a tecnologia à educação no processo de ensino
e aprendizagem, a fim de mostrar que nos dias atuais a tecnologia é uma
ferramenta educacional de suma importância. Outro aspecto analisado é a
interação professor x aluno e aluno x tecnologia, pois em um mundo cada vez
mais tecnológico não há ensino e aprendizagem sem que ocorra a relação entre
os mesmos, de forma que o espaço da sala de aula deva ser um ambiente
cooperativo com um clima favorável e estimulante para favorecer as
manifestações de diferentes pensamentos e o educador possa alcançar e ajudar
o aluno a sair de suas dependências, ou dificuldades de aprendizado por meio
das novas ferramentas tecnológicas.
Palavras-chave: Formação docente. Novas tecnologias. Processo de ensino e
aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

Demostrou ao longo deste trabalho a necessidade do professor ter uma


boa formação téorica e o dominio das novas tecnologias, destacando sua
importância durante o processo de desenvolvimento dos alunos e o auxílio para
não prejudicar o processo de aprendizagem. Abordou, inclusive, a necessidade e
a importância do educador em se manter atualizado a cerca das novas
ferramentas tecnologicas educacionais.
Analizou a importância da interação professor x aluno e aluno x
tecnologia durante o processo de ensino e aprendizagem, pois, afinal, é
necessário que o educador perceba as necessidades de criar vínculos com seus

1
Pedagoga, Pós-graduada em EAD e as Tecnologias Educacionais e Mestre. Professora
Orientadora do Programa de Pós-graduação lato sensu em EAD e as Tecnologias Educacionais da
UniCesumar – Centro Universitário Cesumar.
2
Graduado em Licenciatura em Pedagogia - UNICESUMAR - Centro Universitário Cesumar. Aluno
do Curso de Pós-Graduação em EAD e as Tecnologias Educacionais.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
112

alunos, a fim de sanar as dificuldades apresentadas, dessa forma, o mesmo


pode perceber que cada aluno apresenta suas dificuldades de aprendizagem e
assim, por meio da teoria, possa apresentar em suas práticas e em suas
metodologias, os recursos tecnológicos adequados para auxiliar no
desenvolvimento da aprendizagem.
Por fim, ressaltou que o profissional educador que possui um amplo
domínio das ferramentas tecnologicas poderá potencializar o desenvolvimento
dos alunos e facilitar a resolução dos problemas encontrados em sala de aula
por meio das ferramentas metodológicas, onde se pode utilizar a tecnologia
durante o processo de ensino e aprendizagem.

2 FORMAÇÃO DOCENTE E OS BENEFICIOS TECNOLÓGICOS

Ao longo dos anos o sistema de educação passa por diversas


mudanças em busca de melhorias, mas ainda está longe do seu ideal. Alguns
dos principais problemas enfrentados atualmente é a má formação pedagógica e
a falta de suporte tecnológico. Libâneo (2007 p.20), afirma que:

A formação continuada pode possibilitar a reflexividade e a mudança nas


práticas docentes, ajudando os professores a tomarem consciência das
suas dificuldades, compreendendo-as e elaborando formas de enfrentá-
las. De fato, não basta saber sobre as dificuldades da profissão, é preciso
refletir sobre elas e buscar soluções, de preferência, mediante ações
coletivas.

Desta forma, pode-se considerar que o professor tem um papel


fundamental na vida de seus alunos, pois, junto com a família e a instituição de
ensino tem a função de formar o aluno para a cidadania. O educador que tem
uma boa qualificação profissional não vê seus alunos como depósitos de
conhecimento e não fecha os olhos para as ferramentas tecnológicas, mas sim
compreende que a sua tarefa é orientar o aluno em seu aprendizado, tornando-o
mais crítico, buscando sempre seu êxito e não seu fracasso.

Os professores fascinantes procuram conhecer o funcionamento da


mente dos alunos para educar melhor. Para eles, cada aluno não é mais
um número na sala de aula, mas um ser humano complexo, com
necessidades peculiares. Os professores fascinantes transformam a
informação em conhecimento e o conhecimento em experiência (CURY,
2003, p.42).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
113

Atualmente o educador procura estimular os alunos a pensar, instiga a


curiosidade e fortalece a autoestima sobre os assuntos a serem abordados.
Para que se efetive a prática pedagógica deve-se pensar na formação do
professor e em seu conhecimento tecnológico. Desta forma, o mesmo será
um pesquisador preocupado em atualizar-se, pois o conhecimento cientifico
está em constante transformação e a todo momento há uma nova
descoberta e novos conceitos são admitidos.
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) estabelecem
a necessidade de atualizações e pesquisas do professor, pois os livros
didáticos são apenas um dispositivo de apoio, isto porque trazem
conhecimentos reducionistas em seus conteúdos, desta forma, o professor
deve planejar suas aulas com conhecimentos e materiais didáticos
auxiliares, com embasamentos científicos mais elaborados, contudo, deve-
se levar em consideração a idade do aluno e seu nível de ensino para que a
classificação seja adequada com os componentes curriculares de ensino
que regem a educação.
Como o avanço tecnológico está cada vez mais presente em sala de
aula, os alunos a utilizam sem limites ou sem o devido acompanhamento
cabendo aos profissionais estarem cada vez mais conectados ao mundo
digital para que assim possam dar respostas, elaborar debates e instigar a
curiosidade dos seus alunos sobre o conteúdo que está sendo
compartilhado, seja na internet, tv, rádio, celular, e etc.

2.1 TECNOLOGIAS ALIADAS À EDUCAÇÃO

As Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC)


proporcionam a discriminação do conhecimento através de diversos
mecanismos. O mais comum é a internet, que tem um vasto
compartilhamento de conteúdos que podem ser debatidos pelos usuários,
porém, em sala de aula o professor deve analisá-los a fim de transmitir o
conhecimento cientifico e não o senso comum, formando cidadãos
pensadores, com uma visão ampla e crítica do mundo.

Bons professores são as peças-chave na mudança educacional. Os


professores têm muito mais liberdade e opções do que parece. A
educação não evolui com professores mal preparados. Muitos começam
a lecionar sem uma formação adequada, principalmente do ponto de vista
pedagógico. Conhecem o conteúdo, mas não sabem como gerenciar uma
classe, como motivar diferentes alunos, que dinâmicas utilizar para
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
114

facilitar a aprendizagem, como avaliar o processo ensino-aprendizagem,


além das tradicionais provas (MORAN, 2007, p.18).

Atualmente, observa que o uso das TIC pelos professores em sala de


aula vem crescendo cada vez mais, e é por meio desses recursos que se podem
ensinar os conteúdos de forma atrativa para que seus alunos consigam apropriá-
los. Por isso, a prática docente deve ser planejada e o professor dominar os
conteúdos a serem discutidos para que consiga chamar e manter a atenção do
aluno e aprender tais conhecimentos. Segundo Vygotsky (2011, p.83):

Postulamos que o que cria a Zona de Desenvolvimento Proximal é um


traço essencial da aprendizagem; quer dizer, a aprendizagem desperta
uma série de processos evolutivos internos capazes de operar apenas
quando a criança está em interação com as pessoas de seu meio e em
cooperação com algum semelhante. Uma vez que estes processos
tenham se internalizado, tornam-se parte das conquistas evolutivas
independentes das crianças.

Nesse sentido, o uso de ferramentas tecnológicas por parte dos


professores é de fundamental importância no processo de ensino e
aprendizagem, as mesmas estão presentes no cotidiano da sociedade e o papel
da escola nesse contesto é de mediar esses conhecimentos.
A tecnologia educacional vem para auxiliar o trabalho pedagógico em
sala de aula e as crianças que apresentam maiores dificuldades de aprendizado
o educador pode então analisar qual a melhor metodologia a ser aplicada, a fim
de eliminar suas dificuldades e utilizar as ferramentas que surgiram com o
avanço da tecnologia e estão em constante evolução. Por isso, cabe ao
educador ser autônomo, crítico criativo, e transformador, um profissional capaz
de buscar novas práticas para o futuro.
Libâneo (2007, p.250) cita que:

O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas


também ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que
aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho
docente nunca é unidirecional. As respostas e opiniões mostram como
eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que
encontram na assimilação dos conhecimentos. Servem, também, para
diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades.

O autor ainda esclarece a importância da relação professor-aluno em


seu trabalho, logo que o educador que caminha para uma educação de

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
115

qualidade, sabe que ensinar é respeitar os saberes dos alunos, as suas


diferenças e com elas crescer.
Para que o pleno desenvolvimento educacional ocorra, os educadores
devem saber utilizar as tecnologias e se manterem atualizados com as
novidades, caso contrário apresentarão dificuldades em sanar os problemas
apresentados por seus alunos. Como afirma Houssaye (2004, p. 10), “só será
considerado pedagogo aquele que fizer surgir um plus na e pela articulação
teoria-prática em educação. Esse é o caldeirão de fabricação pedagógica”. A
tecnologia é um dos componentes para construção de uma educação de
qualidade. A educação pode até ser construída sem ela, mas no mundo atual,
onde todos estão conectados em redes, as vantagens de sua utilização são
incalculáveis.

3 MUDAR A FORMA DE ENSINAR E APRENDER COM TECNOLOGIAS

Com uma fundamentação teórica de qualidade e um ambiente favorável


a educação, o professor em sala de aula deve realizar uma boa interação com
seus alunos, pois a relação professor/aluno é uma condição no processo de
ensino e os laços estabelecidos entre eles são muito fortes para o
desenvolvimento pessoal e intelectual de ambos. Atualmente, o trabalho do
educador não é ser autoritário e nem somente aplicar atividades e deixar
acontecer, ou até mesmo encher o caderno de seus alunos com textos ou levá-
los ao laboratório de informática para utilizarem jogos infantis, mas sim, saber
que cada aluno tem a sua realidade e que necessitam de uma formação de
qualidade para serem cidadãos capazes de discernir entre o certo e o errado,
sendo um verdadeiro formador de opinião.
É necessário ter uma boa afinidade com seus alunos, ser dinâmico,
comunicativo, motivador, comprometido e manter-se atualizado com as novas
tecnologias, desta forma, sua interação vai ser harmoniosa, fazendo com que
eles tenham confiança em si, demonstrando afetividade na aprendizagem.
A tecnologia é uma grande ferramenta na educação e que cabe ao
professor estar preparado para utilizá-la em sala de aula, pois as crianças estão
conversando cada vez mais sobre assuntos que surgem nas redes sociais ou em
aplicativos “mobile”. O educador deve aliar esses assuntos aos conhecimentos
científicos, agindo como mediador e colaborador no desenvolvimento de cada
aluno e através da interação entre o professor, aluno, tecnologia, pode e deve

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
116

gerar conhecimento e aprendizagem por ambos os lados, tornando as aulas


agradáveis, harmoniosas e contribuindo para um desenvolvimento intelectual,
cognitivo, afetivo, social e emocional.
Educar é colaborar para que professores e alunos – nas escolas e
organizações transformem suas vidas em processos permanentes de
aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do
seu caminho pessoal e profissional, projeto de vida, desenvolvimento das
habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam
encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornam-se
cidadãos realizados e produtivos (MORAN, 2000, p.15).

A relação efetiva entre professor aluno é obrigatória para exercício de


seu trabalho, visando atingir seus objetivos. Professores com boa formação e
atualizados nos conteúdos tecnológicos podem através das ferramentas
tecnológicas planejarem aulas com diversos recursos digitais que além de deixar
as aulas mais dinâmicas, tem um maior rendimento de seus alunos.
Quanto às ferramentas metodológicas, onde se pode utilizar a tecnologia
durante o processo de ensino e aprendizagem, pode-se destacar: (1) escolas
com laboratórios de informática, os professores podem levar seus alunos ou
pedir para que eles efetuem pesquisas na internet para elaborem trabalhos sobre
diversos temas e matérias. Através dos computadores pode criar slides,
trabalho, planilhas, gráficos, etc. Há diversos programas para baixar músicas,
vídeos, filmes e documentários, após o término, eles podem ser reproduzidos
nas tvs multimídias em sala; (2) para alunos dos anos iniciais, o educador pode
fazer uso de vídeo games com sensores de movimentos para assim estimular a
coordenação motora fina, grossa, o equilíbrio, o fortalecimento dos músculos, o
raciocínio lógico e movimentos de lateralidade; (3) escolas com tvs multimídia
em sala de aula podem ajudar na apresentação de trabalhos, visualização de
vídeos, musicas, jornais e matérias de diversos gêneros. Desta forma, ela vai
auxiliar na interpretação textual e valorização cultural; (4) através do “tablete”
podem-se assistir vídeos, ler livros, revistas, utilizar aplicativos educacionais,
como jogos de matemática, português, geografia, história, ciências, entre outros
recursos mobile, esta ferramenta pode ser utilizada nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, ajudando e muito no seu processo de desenvolvimento intelectual,
cognitivo; (5) os “blogs” também conhecidos como “weblog”, ou caderno
digital, são páginas na “internet” que podem ser atualizadas instantaneamente.
Podem ser utilizados pelo professor para elaborar tarefas, trabalhos, ou adicionar
conteúdo para debates em sala, ou através dos “e-mails” eletrônicos, podendo
se comunicar com seus alunos, encaminhar textos, imagens, livros, “links”,
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
117

arquivos etc. Os “e-mails” podem ser individuais ou em grupos; (6) “comeeko”,


é um “site” com ferramentas para criar ou editar histórias em quadrinhos e após
sua conclusão permite fazer o “download” dos conteúdos, os educadores
podem utilizar esta ferramenta no ensino infantil, com a finalidade de além de
estimular a criatividade das crianças ela contribui na pré-alfabetização e ajuda a
incentiva o habito da leitura; (7) geogebra é um programa livre de geometria
dinâmica que permite realizar construções utilizando pontos, vetores,
segmentos, retas, seções cônicas e funções e alterar estes objetos, ferramenta
esta que ajuda no processo de aprendizagem da matemática como: medidas
métricas, forma de objetos, cálculos e etc; (8) portal do Professor, o portal do
professor é um espaço gratuito, destinado aos professores do Ensino
Fundamental e Médio. Oferecendo propostas de aulas nas diversas disciplinas de
acordo com cada etapa do ensino, recursos multimídia, cursos de formação de
professores, jornal, “links” diversos, fóruns, “blogs”, entre outras opções.
Segundo Teruya (2006) “não há dúvida de que a internet abre
possibilidade de acesso ao conhecimento, mas para isso, o indivíduo necessita
das ferramentas cognitivas, como conhecer bem as diferentes linguagens
existentes na sociedade”. Desta forma, pode-se dizer que, durante o processo
educacional, a mediação do educador é de fundamental importância. O mesmo
deve avaliar e analisar cuidadosamente cada ferramenta, a fim de transformar o
conhecimento prévio e o senso comum em conhecimento cientifico para que os
instrumentos possam contribuir para ampliar a formação dos alunos.
Assim, como Klein (1996 p.43) afirma, “admitimos que existam
conhecimentos necessários que a escola deve transmitir, embora não
configurem interesse imediato e não motivem o aluno”, desta forma se pode
notar que nem sempre é possível trabalhar com o interesse do aluno, mas o
professor deve ensinar estes conteúdos de forma que seus alunos consigam se
apropriar dos mesmos, por isso, a prática docente deve ser planejada e o
professor dominar os conhecimentos a serem discutidos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelas observações, verificou-se que o professor é quem prepara os


futuros profissionais, e sua formação pedagógica e tecnológica é de suma
importância no desenvolvimento de seus alunos, pois em um mundo digital onde
a sociedade anseia por conhecimentos fica impossível o pedagogo ministrar

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
118

aulas sem a mediação da tecnologia. Ainda mais, analisou a importância dos


professores em se manterem atualizados aos avanços tecnológicos, fato esse
que não pode ser ignorado, pois o indivíduo tem o objetivo de se formar um
cidadão crítico e com uma visão ampla da sociedade e conhecimento. Por fim,
demonstrou que a interação professor x aluno em meio às novas tecnologias é
de suma importância durante o desenvolvimento das crianças, e que a
tecnologia como ferramenta metodológica é poderosa no processo de ensino e
aprendizagem, porém, para que haja benefícios na formação das crianças os
professores devem estar preparados, atualizados e capacitados para discriminar
as novas tecnologias, aliando a tecnologia ao aprendizado de qualidade.

REFERÊNCIAS

ANTUNES. C. Vygotsky. Em minha sala de aula. Fascículo 12. 8ª ed. Petrópolis,


RJ: 2011.
CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes, Editora Sextante, 13ª
edição, Rio de Janeiro, RJ, 2003.
DIRETRIZES Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa do Estado
do Paraná, (2008).
FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
HOUSSAYE, J.; SOËTARD, M.; HAMELINE, D.; FABRE, M. Manifesto a favor dos
Pedagogos. Porto Alegre: ArtMed, 2004.
KLEIN, Lígia Regina. Alfabetização: quem tem medo de ensinar?. São Paulo:
Cortez; Campo Grande: Editora da universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
1996.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez Editora, 2007.
MORAN, José Manuel. A Educação que desejamos: novos desafios e como
chegar lá. Campinas, SP: Papirus Editora, 2007.
MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T. et. al. Novas Tecnologias e
mediações pedagógicas. 5. ed. Campinas, SP; Papirus, 2000.
TERUYA, Teresa Kazuko. Trabalho e educação na era midiática: um estudo sobre
o mundo do trabalho na era da mídia e seus reflexos na educação. Maringá, PR:
Eduem, 2006.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
119

A PESQUISA PARA O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL

MÁRCIO DE OLIVEIRA 1
CRISTINA MOMOLI 2

RESUMO

Este texto é uma pesquisa bibliográfica baseada principalmente nos seguintes


documentos: Brasil (1996), (1998), (2006a), (2006b) e nos autores: Weisz e
Sanchez (2009), Souza (2012), Perrenoud (2011), Freire (1996), Libâneo
(2007), Thurler (2011). O objetivo deste trabalho foi analisar a importância da
pesquisa para o professor da Educação Infantil, neste cenário em que o cuidar já
não é mais suficiente, é preciso que o educador trabalhe em prol do
desenvolvimento e ensino, pois, o trabalho com a criança necessita do
conhecimento de suas especificidades, de experiências planejadas e mediadas
que propiciam o seu desenvolvimento integral. Ficou evidente, com este estudo,
que o professor deve se tornar um eterno aprendiz, refletindo constantemente
sobre a sua prática, pois, a pesquisa contribuiu para um ensino que respeita os
estágios de desenvolvimento da criança e a heterogeneidade da turma.
Palavras-chave: Pesquisa. Professor. Educação Infantil.

1 INTRODUÇÃO

Para Brasil (2006a, p.10) “[...] em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional evidenciou a importância da Educação Infantil” e, a partir
disso, “[...] o trabalho pedagógico com a criança de 0 a 6 anos adquiriu
reconhecimento e ganhou uma dimensão mais ampla no sistema educacional”.
O cuidar e o educar de maneira indissociável, ou seja, o cuidar não pode estar
fora do âmbito de trabalho, porém o educar atravessa esse cuidado básico e o
ultrapassa, trazendo experiências muito enriquecedoras para cada criança, para
o grupo e para os professores envolvidos em um ensino com este viés.
Em 2006 foi lançado no Brasil um documento intitulado “Política
Nacional da Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos à
Educação” que defende uma visão integral da criança, respeitando suas
individualidades e diferenças. Ele sugere que a Educação Infantil deve cumprir

1
Orientador do Curso de Pós–Graduação do Unicesumar. Doutorando em Educação pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestre em Educação e Pedagogo pela UEM
2
Acadêmica do Curso de Pós–Graduação da Unicesumar

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
120

uma função sócio-política e pedagógica, provendo experiências qualificadas que


instiguem o desenvolvimento da sensibilidade, de habilidades sociais, do
domínio espacial e corporal, privilegiando a curiosidade, o desafio e
oportunidades de investigação por parte da criança (BRASIL, 2006a).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional norteia a finalidade da
Educação Infantil que é “[...] o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos
de idade em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996, art.29).
Em virtude dessas passou-se a “[...] discutir a necessidade e a importância de
um profissional qualificado” (BRASIL, 2006a, p.10). Agora já não é mais
suficiente cuidar, o cuidar deve estar entrelaçado ao educar, e neste sentido, o
trabalho do professor de Educação Infantil passou a ser mais de pesquisador do
que cuidador. Nas palavras de Weisz e Sanchez (2009, p. 118):

A visão que se tem do professor hoje é de alguém que desenvolve uma


prática complexa [...] Seu papel agora tende a ser mais exigente: precisa
se tornar capaz de criar de adaptar boas situações de aprendizagem,
adequadas a seus alunos reais, cujos percursos de aprendizagem ele
precisa saber reconhecer.

A Educação Infantil vem a cada dia ganhando mais espaço as


instituições de ensino, e um dos fatores que tem contribuído significativamente
para essa inserção no campo educacional é a compreensão da criança, como
um ser em desenvolvimento, e que esta depende de vivências e interações
sociais organizadas e mediadas, de acordo com seus estágios de
desenvolvimento (BRASIL, 1998).
Nesse sentido, é importante pensar no trabalho com os pequenos com
temas que envolvam mais de uma área, e ao mesmo tempo, o que se chama de
transversalidade, pensando que nesta faixa etária toda a aprendizagem deve se
dar de forma global, levando em conta o interesse das crianças e o
desenvolvimento físico, intelectual, social e emocional pelo qual estão passando
ao entrarem na lógica da sociedade e saindo do convívio estritamente familiar a
partir da entrada na escola. Souza (2012, p. 17) evidencia que

O pedagogo deve conhecer os interesses da criança, conhecer as


necessidades inerentes a ela em cada estágio, para assim adentrar o
universo da cultura infantil, permitindo que a ação seja significativa e
promotora de novas mudanças comportamentais, motoras, cognitivas e
sociais.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
121

Por isso, compreender esses estágios e os fatores que influenciam no


desenvolvimento infantil é de fundamental importância para subsidiar uma
prática coerente, com as necessidades e as possibilidades de aprendizagem na
criança, partindo da sua realidade, da sua cultura e de suas vivências. De acordo
com Brasil (2006a, p.7) “A prática dos profissionais da Educação Infantil, aliada
à pesquisa, vem construindo um conjunto de experiências capazes de sustentar
um projeto pedagógico que atenda à especificidade da formação humana nessa
fase da vida”. As ideias dos autores: Weisz e Sanchez (2009), Souza (2012),
Perrenoud (2011), Freire (1996), Libâneo (2007), Thurler (2011) e dos
documentos: Brasil (1996), (1998), (2006a) e (2006b) possibilitam uma visão
ampla do contexto educacional, sem ela a referida análise seria fragmentada.
Para se pensar numa educação sistematizada capaz de transformar os
educandos é preciso se transformar primeiro. Por isso, a seguir, refletiu sobre a
importância da pesquisa e da autoavaliação para o professor de Educação
Infantil no seu dia a dia.

2 A PESQUISA DIANTE DAS MÚLTIPLAS FACETAS DO ENSINO

O atual contexto educacional exige que os professores se tornem


pesquisadores e com o olhar aguçado para compreender a heterogeneidade de
uma sala de aula. “No início do ano, um professor de ensino fundamental
depara-se com 20 a 25 crianças, diferentes em tamanho, desenvolvimento
físico, fisiologia, resistência ao cansaço, capacidades de atenção e de trabalho”
(PERRENOUD, 2011, p.115). E na Educação Infantil estas diferenças também se
fazem presentes, e para que o educador consiga dar conta de sua função é
fundamental que se torne um assíduo pesquisador.
Não há uma receita mágica que dê conta de tamanha complexidade. E,
neste sentido, Freire (1996, p.14) menciona que “Não há ensino sem pesquisa”.
E, também, “Não é possível atuar com todos os alunos da mesma maneira”
(LIBÂNEO, 2007, p.42). As crianças devem ser compreendidas em suas
particularidades e no contexto em que se inserem, pois são sujeitos humanos,
sociais, históricos, que são parte de uma família, de uma sociedade e de uma
cultura em determinado momento histórico e devem ser consideradas e
respeitadas dentro deste contexto.
Neste sentido, é necessário “[...] inventar permanentemente arranjos
didáticos e situações de aprendizagem que respondam melhor a heterogeneidade

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
122

de necessidades de seus alunos” (THURLER, 2011, p.192). Logo, o professor


deve conhecer as particularidades dos alunos para que possa propiciar uma
aprendizagem contextualizada com a realidade do mesmo e para que tenha
sentido para ele. Além disso, é fundamental a ação docente, no sentido de
compreender e subsidiar o processo de ensino e aprendizagem de acordo com
os conceitos já adquiridos pelo educando, ou seja, desenvolver uma prática
pedagógica que propicie a transformação dos conhecimentos prévios dos
alunos.

2.1 A AUTOAVALIAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Para que o professor tenha condições de ensinar é necessário


primeiramente que ele aprenda. De acordo com Brasil (1998, p.41) o professor
deve:

[...] tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre


sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a
comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que
desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática
direta com as crianças a observação, o registro o planejamento e
avaliação.

O professor planeja sua aula, direciona, observa e avalia. A partir desta,


deve fazer sua reflexão sobre ela, se atendeu a todos de maneira significativa, a
quem não atendeu e, quais adaptações, ou quais alternativas conhecem para
determinadas intervenções que forem necessárias. Se não a possuir deverá
busca-la. Esta pesquisa significa também na reflexão da prática docente “É
pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
próxima prática” (FREIRE, 1996, p.17). Nos documentos nacionais há o seguinte
texto:

Para melhorarmos nossa prática pedagógica, precisamos avaliar sempre


se estamos selecionando adequadamente as prioridades, se estamos
usando os recursos mais adequados, se estamos desenvolvendo as
melhores estratégias, enfim, precisamos nos autoavaliar. A autoavaliação,
então, precisa fazer parte do cotidiano escolar, não apenas do estudante,
mas também do professor [...] (BRASIL, 2006b, p.106).

Neste sentido, a avaliação da prática pedagógica deve ser


constantemente refletida. Só assim estará comprometida com um processo de
ensino e aprendizagem que leva em conta e respeita as especificidades de cada
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
123

um. Esta prática demanda do professor a busca pela compreensão de como a


criança aprende, em que contexto está inserida, quais recursos utilizar, criar ou
adaptar para que tenha sentido para ela e que seja capaz de transformar suas
vivências em reais possibilidades de se desenvolver.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse cenário, em que o cuidar na Educação Infantil já não é mais


suficiente, é necessário proporcionar um ensino visando o desenvolvimento na
sua integralidade. O que requer do professor o conhecimento das
especificidades de cada estágio de desenvolvimento e a capacidade de criar e
adaptar vivências significativas para a criança respeitando seu modo ser e agir
no mundo. Onde a pesquisa se torna o esteio da transformação docente para
transformar o educando por meio da sua prática pedagógica.
A importância e o viés do manejo das crianças pequenas e sua
escolarização passou por muitas mudanças e com elas criaram-se parâmetros e
referenciais nacionais para o trabalho com as faixas etárias, propondo um
currículo que, ainda que muito mais flexível do que o do Ensino Fundamental e
Médio, compreende áreas importantes de conhecimento a serem apresentadas e
estimuladas da primeira infância, que são essenciais ao desenvolvimento delas.
Os professores são porta-vozes da interpretação de seus desejos que
surgem em choros, olhares, incômodos, sorrisos e comportamentos variados,
com o olhar aguçado para compreender o que se passa com cada membro do
grupo, oferecendo atividades, avaliando seu desenvolvimento e planejando ações
que mantenham o grupo interessado, desafiando seus conhecimentos para que
se ampliem de forma global e integrada.
A autoavaliação é um instrumento que contribui na reflexão do processo
de ensino e aprendizagem e possibilita identificar as práticas de ensino
significativas e as ineficazes. E, a partir desta dar subsídio ao professor na busca
de aperfeiçoar sua prática.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
124

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de 20


de dezembro de 1996. Brasília: Presidência da República, 1996.

BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação


Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. vol. 1, 2 e
3. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Infantil e Fundamental.


Política Nacional de Educação Infantil: pelos direitos das crianças de 0 a 6 anos
à educação. Brasília: DF, (2006 a).

BRASIL, Ministério da Educação. Ensino fundamental de nove anos: orientações


para a inclusão da criança de seis anos de idade. BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL,
Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro (Orgs). Brasília: FNDE, Estação
gráfica, (2006b).

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? : novas exigências


educacionais e profissão docente. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

PERRENOUD, Philippe. A desigualdade cotidiana diante do sistema de ensino: a


ação pedagógica é a diferença. In: LARA, Taiz de Farias (Org.). Políticas
educacionais e organização da educação básica. DELORS, Jacques... [et. al.].
Porto Alegre: Artmed, 2011, p.106-159.

SOUZA, Vânia de Fátima Matias. Desenvolvimento psicomotor na infância.


Maringá – PR: Centro Universitário de Maringá, 2012.

THURLER, Monica Gather. O desenvolvimento profissional dos professores:


novos paradigmas, novas práticas. In: MEM, Kleber Eduardo; CANTOS, Priscila
Kelly (Orgs.). Fundamentos Sociológicos e Antropológicos da Educação. Andy
Hargreaves... [et al.]. Porto Alegre: Artmed, 2011, p.192-213.

WEISZ, Telma; SANCHEZ, Ana. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2.


ed. São Paulo: Ática, 2009.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
125

MOTIVAÇÃO: UMA NECESSIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR

RENATA PEDROSO LEONEL1


NATALIA LOBO DE SOUZA DA COSTA 2

RESUMO

O gestor escolar é o responsável por coordenar questões administrativas e


pedagógicas na escola. O professor está em contato direto com o gestor e seu
trabalho é todo desenvolvido para que se atinjam os objetivos propostos da
instituição para com os alunos e comunidade. Desta forma, o objetivo dessa
pesquisa foi abordar qual o papel do gestor escolar e como este pode motivar o
professor a desempenhar sua função de forma satisfatória e realizada, diante de
todos os desafios enfrentados diariamente pelo docente. Para tanto, adotou-se
como metodologia uma pesquisa bibliográfica, e foi possível identificar o quanto
o gestor escolar, comprometido com a sua equipe, tem o poder de influenciar
positivamente no desempenho do seu profissional.
Palavras-chave: Gestor. Liderança. Professor. Reconhecimento. Motivação.

1 INTRODUÇÃO

Dentro do ambiente escolar há uma pessoa responsável por administrar


esse local, tanto em questões administrativas quanto pedagógicas. Esta função
cabe ao gestor escolar, o qual deverá assumir uma postura de liderança,
responsabilidade e empreendedorismo.
A equipe pedagógica da escola e o corpo docente estão em contato
direto com o gestor escolar, pois o professor precisa encontrar no seu gestor
uma referência e todo o apoio para que ele possa desenvolver o seu trabalho
com qualidade e almejando alcançar os objetivos propostos para a instituição.
Com isso, o gestor assumindo uma postura também de observador
deverá procurar elaborar planos de ação que objetivam a motivação da sua
equipe, para que não haja a queda do rendimento do trabalho pedagógico em

1
Especialista em Gestão Educacional pelo Centro Universitário Cesumar (2015). Graduada em
Pedagogia pela UEM (2013). Pós-Graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UEM.
Pós-Graduanda em EAD e as Tecnologias Educacionais pelo Centro Universitário Cesumar.
2
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduada em Educação
Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental na Unicesumar. Pós-graduanda em Gestão
Educacional na Unicesumar.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
126

função de desafios que os professores enfrentam diariamente na sua rotina


escolar.
Este artigo foi subdivido em dois capítulos para melhor abordagem dos
conteúdos. No primeiro capítulo foram definidas, brevemente, as características
e o perfil que um bom gestor escolar deve apresentar e qual é o papel que o
gestor escolar desempenha em relação ao trabalho desenvolvido pelo professor
abordando como o gestor escolar pode contribuir para que este trabalho seja
desenvolvido de forma comprometida. No segundo capítulo, definiu o que é ser
professor e quais são os desafios enfrentados, e identificando alguns aspectos
motivadores desempenhados pelo gestor escolar dentro da instituição educativa.
Este trabalho objetivou fazer com que o gestor escolar reflita a partir de
algumas considerações aqui apresentadas, organizando suas atividades e a
forma como conduzirá sua equipe pedagógica, de modo a realizar um trabalho
onde sua equipe sinta-se reconhecida e valorizada pelo esforço diário que a
profissão exige.
Fez-se uso de pesquisa bibliográfica como metodologia de investigação,
com abordagem qualitativa. Trabalhar com esse tipo de pesquisa significa
realizar um movimento incansável de apreensão dos objetivos, de observância
das etapas, de leitura, de questionamento e de interlocução crítica com o
material bibliográfico (LIMA; MIOTO, 2007).

2 GESTÃO ESCOLAR: O PAPEL DO GESTOR E A RELAÇÃO EXISTENTE COM A


SUA EQUIPE

Segundo Cury (2007, p. 493) o termo “gestão provém do latim e


significa levar sobre si, carregar, chamar a si, executar, exercer, gerar“.
Também, conforme Nosella (2012) o termo gestão remete a administração, uma
vez que suas origens se encontram na obra de referência do administrador Peter
Drucker. Esta ação de administrar, gerenciar, abrange um conjunto que pode
envolver pessoas, escolas, serviços, entre outros, cuja meta é a aplicação das
ações propostas. Do mesmo modo, Fernandes Junior (2015) traz a
administração como sinônimo de gestão, sendo esta conceituada como a ação
de coordenar, com eficácia e eficiência, não só pessoas, mas também o tempo,
a carreira, conhecimento, informação, inovação.
Para que ocorra o bom desenvolvimento do trabalho do gestor faz-se
necessário, como em toda profissão, que esse tenha características positivas e
apresente um perfil compatível à sua função. Neste caso, o foco nesta pesquisa
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
127

foi o gestor que trabalha no ambiente escolar.


Conforme Martinez (2014) o gestor deve ser comprometido, pois ele é
responsável pela educação, pelos resultados, pelas funções e pelos horários. Na
escola, o gestor depende do bom trabalho de todos os envolvidos no processo
educacional para que ele alcance o seu próprio sucesso profissional. Tudo isso
acontece quando o gestor está comprometido com a educação e com todos os
sujeitos, se preocupando com toda a rotina, desempenho dos alunos e o
trabalho pedagógico. O autor também considera o comprometimento como
característica fundamental para um gestor escolar, o qual Almeida (2015)
contribui definindo o comprometimento em relação a tarefas que consomem o
tempo do pedagogo na escola, mas que só acontecem da melhor forma possível
quando o gestor está comprometido com o seu trabalho e assume
responsabilidades para suprir as necessidades de seus funcionários e também
para que a rotina escolar contribua para o desenvolvimento dos alunos.

Responsabilizar-se por distribuir os horários de biblioteca, quadra,


laboratórios, brinquedotecas e outros espaços que não a sala de aula,
entre as várias turmas que a escola comporta, e ajudar os demais
funcionários com questões burocráticas como matrículas, documentação
de alunos, boletins são apenas pequenos exemplos de tarefas rotineiras
que consomem o tempo do pedagogo na escola (ALMEIDA, 2015, p. 73).

Outra característica positiva que o gestor deve ter é a liderança. Martinez


(2014, p. 80) define liderança como sendo “um estilo de atuação que tem por
iniciativa promover o bem geral, subsidiando e favorecendo ideias, sugestões,
orientações e outros”. Portanto, um gestor líder é aquele que é criativo, que tem
a capacidade de inovar, criar oportunidades, escolher prioridades, e
principalmente manter contato com a comunidade escolar, o que propicia o
gestor saber mais do que acontece e desta forma buscar soluções para os
problemas que são impostos pela comunidade escolar. Com isso, Almeida
(2015, p. 64) contribui: “Deve ainda estudar diferentes formas de trabalhar com
as equipes de modo a propor tarefas que as motivem e tornem seus trabalhos
mais efetivos”.
Desta forma, segundo Tortoreli (2014), o gestor educacional deve
assumir um perfil de liderança, responsabilidade, compromisso e
empreendedorismo, coordenando desde questões pedagógicas até as
administrativas, buscando um ambiente de cooperação, onde ele não irá
trabalhar sozinho, mas envolver todos os sujeitos no processo, articulando todos
os segmentos da escola para atingir a sua meta, uma educação de qualidade.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
128

Desta forma, Almeida (2015) elenca as principais características que o


gestor escolar deve apresentar sendo elas: - perfil flexível – é preciso que este
profissional se adapte sem dificuldades conforme as necessidades e
acontecimentos; - definir os objetivos educacionais, as implicações
psicopedagógicas, políticas, culturais e sociais do processo educativo; -
promover um trabalho cooperativo entre docentes e equipe de Gestão; - investir
em sua formação – melhorando e aprimorando seu trabalho junto com a equipe;
- garantir que o trabalho docente seja realizado de forma criativa, para que sejam
excluídos procedimentos repetitivos e tradicionais de ensino; - refletir, debater,
criticar e propor novos olhares sobre a política e a educação; - estar presente,
orientar e dar suporte em questões que envolvem o processo de ensino e
aprendizagem, e propor momentos de discussão sobre avaliações, técnicas e
metodologias utilizadas; - promover formação continuada para seus professores
através de atividades oferecidas na escola, assim como também estimulá-los a
participar de eventos na sua área de atuação – visando uma mudança positiva na
rotina escolar; - apresentar sugestões de atividades, recursos e metodologias,
podendo usar um portfólios para disponibilizar aos seus docentes com todas
estas propostas; - encontrar soluções adequadas aos problemas estabelecidos; -
apresentar metas claras e estar comprometido com a organização e seus
funcionários; - conscientizar a sociedade da necessidade que essa esteja
comprometida também para que haja transformação necessária; - ser um
parceiro do professor dentro da instituição, motivando-o.
Enfim, conclui-se que o pedagogo precisa antes de tudo estar
comprometido na sua função e na sua escolha de querer assumir esta função.
Ter dedicação e estar preparado para assumir e procurar solução para resolver
os problemas e dificuldades que são diários e diferentes. Ter uma equipe que
confie em seu trabalho e uma comunidade que o apoie em suas decisões e
compartilhe das mesmas metas, visando a transformação necessária e o
progresso do trabalho docente e o processo de ensino e aprendizagem.

3 A COMPLEXIDADE DE SER PROFESSOR: COMO MOTIVÁ-LO

O professor que aqui se referiu é aquele que está dentro das salas de
aula da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental. Ser
professor vai além de simplesmente ensinar ou repassar um conteúdo estudado
para um aluno. De acordo com Campos (2010, p. 105),

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
129

Deve-se compreender a complexidade da docência pelo sentido de


educar. Se se compreende a educação como a formação do outro, na
perspectiva da completude do ser humano integral, ou seja, formar a
humanidade no outro ser humano, tornando-o mais humano, a docência
não é ofício fácil de ser exercitado.

Dessa forma, desempenhar a profissão professor significa não só


transmitir um conteúdo historicamente produzido, mas criar condições na sua
sala de aula que proporcionarão às crianças que elas aprendam e desenvolvam-
se.

A aprendizagem mais importante que acontece nas aulas é a humana. As


disciplinas não são fins em si mesmas. No fundo, não são mais que
instrumentos. Por meio de seus conteúdos, da metodologia que
escolhemos, do rigor e da criatividade que propomos, construímos
atitudes, modos de responder diante da vida, por isso mesmo, o aspecto
humano – nosso desenvolvimento e qualidade como pessoas – é
essencial em nosso trabalho (BAZARRA, 2012, p. 57).

No entanto, observa-se que o professor está assumindo


responsabilidades que antes eram apenas vinculadas a executar orientações já
definidas e, atualmente, há um excesso de exigências que recaem no professor
as quais estão ocasionando situações de estresse e insatisfação por parte
desses profissionais, que acabam se sentindo incapazes de realizar todas essas
exigências.
Barroso (2003) cita entre essas responsabilidades, situações
relacionadas às exigências quanto a qualificação profissional, tanto em relação
aos cursos de reciclagem quanto ao desempenho assim como uma expansão da
sua relação, ultrapassando o limite da sala de aula, onde ele trabalhava apenas
com os alunos e agora tendo que intervir e intensificar seu trabalho também com
a comunidade e gestão.
Foram a partir das modificações que a sociedade sofreu ao longo dos
séculos e todas as correntes que influenciaram a educação com suas visões
sobre o papel do professor e do aluno e sua forma de ensinar e aprender, que a
profissão do pedagogo foi se transformando até que se adequou e foram sendo
escritos documentos e aprovadas leis que buscam orientar todo o ambiente
educacional e o que acontece nele. “A missão dos diretores de escolas é
transformar o corpo de professores em uma força envolvente de criatividade,
com capacidade para progredir e continuar construindo num mundo em contínua
mudança” (BAZARRA, 2012, p. 115).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
130

Com isso, destaca-se aqui a importância do trabalho do gestor com


relação à valorização deste profissional assim como o reconhecimento de toda a
complexidade que envolve o trabalho do seu funcionário.

A motivação é o empurrão ou a alavanca que estimula as pessoas a


agirem e a se superarem. A motivação é a chave que abre a porta para o
desempenho com qualidade em qualquer situação [...] Se a escola almeja
alcançar a melhor qualidade de trabalho possível dos seus funcionários, o
diretor deve compreender e ser capaz de aplicar os princípios básicos da
motivação humana (LUCK, 2007, p. 46).

Luck (2007) ainda acrescenta mais aspectos que causam a


desmotivação do professor, como uma turma difícil de trabalhar, o estresse de
uma jornada muito extensa aliada a muitos anos de trabalho e exigências,
cansaço e a insatisfação com o salário.
Com isso, observa-se que muitos são os fatores que causam uma
desmotivação em ser professor, o que acarreta diversos problemas até de
saúde, como estresse. Diante disso, o gestor precisa assumir sua postura de
líder e encontrar formas de “atrair o comprometimento dos professores, caso
desejem atingir um alto nível de desempenho e motivação” (LUCK, 2007, p. 47).
Não há receitas a serem seguidas para que o gestor motive seus
professores, no entanto, há algumas sugestões encontradas em alguns autores
renomados que possibilitam e orientam o trabalho do gestor, focando na
motivação da sua equipe pedagógica.
Como aspectos motivacionais importantes, Luck (2007) cita que o
gestor deve incluir o professor nas tomadas de decisões importantes, pois o
professor sente-se valorizado quando suas considerações são aceitas. São
muitas situações que o professor pode e deve participar na escola, que faz com
que ele sinta-se útil e também responsável por aquele ambiente, podendo fazer
suas contribuições e sentindo ativo também no processo de troca de saberes e
conhecimentos.

A participação em atividades profissionais comuns, inclusive o


planejamento de currículo, ensino em equipe, avaliação de desempenho e
desenvolvimento dos profissionais amplia as relações de agremiação
entre os professores. Os professores que trabalham em escolas onde
todos estão com o moral elevado estarão bem mais motivados do que os
seus colegas que trabalham em ambientes cujo moral é baixo (LUCK,
2007, p. 48).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
131

Outra situação que o gestor pode proporcionar aos seus professores


para motivá-los é a formação continuada, tanto dentro da escola quanto fora,
realizar encontros com sua equipe para discutir o processo avaliativo e
propostas para que o processo de ensino e aprendizagem melhore.
O gestor deve ter a consciência que somente um professor
comprometido com seu trabalho irá educar com qualidade. Desta forma, o
gestor tem como função também buscar com que o seu professor esteja feliz, e
Bazarra (2012) cita dois estados de felicidade: a pessoal e a profissional. O
gestor não tem como intervir na felicidade pessoal do professor, no entanto, ele
pode tornar o dia a dia do professor mais feliz, intervindo na sua felicidade
profissional. Com isso, ergue-se o tripé: felicidade, comprometimento e
qualidade educativa. Do mesmo modo, este autor refere-se a importância
também de haver momentos de comunicação informais, em momentos por
exemplo do intervalo ou de um aniversários de funcionários, e os diálogos
profissionais, em reuniões pedagógicas ou administrativas por exemplo, pois são
nessas situações de diálogos que haverá uma maior proximidade e
conhecimento do outro.
Por fim, também como aspecto motivacional a direção da escola tem
que demonstrar a confiança e a credibilidade que eles tem em seu professor. Um
professor motivado e feliz exercerá sua função de forma satisfatória e realizada,
o que irá facilitar o processo de uma educação de qualidade que toda escola
almeja atingir. O gestor precisa conhecer a sua equipe pedagógica e o perfil que
seus funcionários tem, reconhecer o esforço de cada um, e a partir das
particularidades de cada professor procurar elaborar metas e planos de ação que
objetivam a motivação da sua equipe. É no dia a dia da escola, na rotina
educacional, que o gestor poderá observar o que faz-se necessário para que ele
possa influenciar positivamente no desempenho do seu profissional.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como finalidade compor um estudo cujo interesse era
o de abordar qual o papel do gestor escolar e como este pode motivar o
professor a desempenhar sua função de forma satisfatória e realizada, diante de
todos os desafios enfrentados diariamente pelo docente. Portanto, estudou-se
sobre o papel do gestor escolar, o que é ser professor e os desafios enfrentados
e como o gestor escolar pode criar situações em que o professor sinta-se

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
132

motivado perante as situações da rotina escolar e de todos os envolvidos no


processo de ensino e aprendizagem.
Verificou-se a importância do gestor escolar estar comprometido na sua
função, assumindo uma postura de liderança, responsabilidade, compromisso e
empreendedorismo, estabelecendo uma relação de confiança com a sua equipe
pedagógica, pois o gestor dependerá do bom trabalho de todos os envolvidos no
processo educacional para que ele alcance o seu próprio sucesso profissional.
Desta forma, faz-se necessário um ambiente de cooperação e também a
presença do gestor para orientar e dar suporte aos seus funcionários.
Logo, o professor tem a função de fazer com que as crianças aprendam
e se desenvolvam, assumindo um papel de desenvolver a formação social e
também moral dos seus alunos.
Desta forma, a partir da pesquisa realizada, é possível elencar alguns
aspectos que o gestor escolar deve desenvolver para manter sua equipe
pedagógica motivada, sendo eles: a inclusão do professor nas tomadas de
decisões importantes, a possibilidade de oferecer cursos de formação
continuada, tanto dentro da escola quanto fora, promover encontros com sua
equipe para discutir o processo avaliativo e propostas para que o processo de
ensino e aprendizagem melhore e procurar tornar o dia a dia do professor mais
feliz, intervindo na sua felicidade profissional
Por fim, o gestor escolar influencia diretamente na motivação da sua
equipe pedagógica, e a partir deste trabalho pode-se demonstrar o quanto é
importante a confiança e a credibilidade que o gestor escolar deposita no seu
professor, pois um professor motivado buscará alcançar todos os objetivos
propostos e irá em busca de uma educação de qualidade, possibilitando assim
um trabalho conjunto, o qual toda equipe estará trabalhando na mesma direção.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Siderly do C. D.; MARQUES, Andréa G. O Pedagogo e suas


Competências. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância: Maringá - PR, 2015.104 p.

BARROSO, J. A formacao dos professores e a mudanca organizacional das


escolas.In: FERREIRA, N. S. C. (org.) Formacção continuada e gestaão da
educacaão. Sao Paulo: Cortez, 2003.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
133

BAZARRA, Loudes; CASANOVA, Olga; UGARTE, Jerônimo G.. Ser professor e


dirigir professores em tempos de mudança. 5 ed. São Paulo: Paulinas,
2012.(Coleção pedagogia e educação. Serie formação continuada).
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Paulinas, 2010.
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educação. RBPAE – v.23, n.3, p. 483-495, set./dez. 2007. Disponível em:
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27/08/2015.
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Novas Tecnologias na Educação. Centro Universitário de Maringá, Núcleo de
Educação a Distância. Maringá - PR, 2015. 96 p.
LIMA, T.C.S; MIOTO, R.C.T. Procedimentos metodológicos na construção do
conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katálysis,
Florianópolis, v. 10, n. spe. P.37-45, 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rk/v10nspe/a0410spe.pdf Acesso em 20/03/2016.

LUCK, H. et al. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 5 ed. Rio de


janeiro: DP&A, 2001.

MARTINEZ, Edilene Costa. O gestor e a Educação Inclusiva. Centro Universitário


de Maringá; Maringá – PR, 2014. 107p.

NOSELLA, Maria Lúcia Bertachini. Gestão do conhecimento e de pessoas. Pós-


Graduação, Núcleo Comum. Maringá - PR, 2012, 83p.
TORTORELI, Adélia C.; PAIXÃO, Priscilla C. M.. O Gestor e a Avaliação da
Aprendizagem e Avaliação Institucional. Centro Universitário de Maringá, Núcleo
de Educação a Distância. Maringá – PR, 2014.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
134

A INFLUÊNCIA DA COMUNICAÇÃO ESCRITA NO PROCESSO DE ENSINO E


APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

FABIANE CARNIEL1
REJANE SARTORI2

RESUMO

O presente artigo objetiva expor um estudo acerca da influência da comunicação


escrita no processo de ensino e aprendizagem na educação a distância (EaD).
Nesse sentido, esclarece inicialmente a relação existente entre EaD e a
comunicação escrita. Na sequência, apresenta algumas características básicas e
fundamentais da produção escrita e, ainda, a incidência da utilização da
comunicação escrita na EaD e o processo de ensino e aprendizagem. Para tal,
partiu-se de uma abordagem qualitativa com pesquisa bibliográfica. Assim,
verificou-se que muitas são as atividades nas quais os textos escritos estão
diretamente relacionados ao processo de ensino e aprendizagem e, diante disso,
uma competência basilar do tutor e professores da EaD é a competência
linguística para a produção de diferentes gêneros textuais, em especial os
instrucionais independente da área na qual atuam.
Palavras-chave: Educação a Distância. Comunicação escrita. Processo de
ensino e aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

A educação a distância é uma modalidade de ensino que tem se


destacado no Brasil como uma forma de democratização do ensino superior. De
acordo com o CensoEaD.BR (2013) a educação a distância, no que diz respeito
aos cursos de graduação, incluindo bacharelado, licenciatura e tecnólogo,
apresentava um total de 449.259 alunos matriculados. Quando essa análise se
estende a outros níveis de ensino, esse número salta para 692.279. A partir
disso, fica claro a expressividade da mesma no que se refere ao acesso à
educação no país.

1
Graduada em Letras Português/Espanhol pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar;
Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar;
Especialista em Administração Pública pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar; Mestre
em Educação pela Universidade do Oeste Paulista – Unoeste.
2
Graduada em Ciências Econômicas pela UEM (1987), mestre em Engenharia de Produção pela
UFSA (2001). Doutora em em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC (2011). Docente
do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gestão do Conhecimento da UniCesumar.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
135

Além disso, trata-se de uma modalidade de ensino que, entre outras


características, apresenta a separação física e geográfica entre professores e
alunos. Isso significa que metodologias bastante específicas necessitam ser
consideradas para que o processo de ensino e aprendizagem ocorra.
Atualmente, tal modalidade de ensino tem potencializado suas metodologias com
a utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Essas são
importantes ferramentas para a interação e comunicação com o aluno.
Nesse processo de comunicação, dentre outras formas, destaca a
comunicação escrita que ocorre nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs).
Trata-se de um processo de comunicação com os alunos para mantê-los
informados de aspectos diversos sobre seu curso, inclusive, aspectos do
processo de ensino e aprendizagem, uma vez que muitas das dúvidas em
relação ao conteúdo são transmitidas e sanadas por meio de textos escritos.
Diante desse cenário, apresenta-se a importância do desenvolvimento
da temática aqui proposta que tem como problema de pesquisa o seguinte
questionamento: Qual a influência da comunicação escrita no processo de
ensino e aprendizagem na EaD?
Assim, seu objetivo geral teve como intuito apresentar a influência da
comunicação escrita no processo de ensino e aprendizagem da EaD. Nesse
sentido, o presente artigo apresenta concepções acerca da Educação a Distância
e a comunicação escrita, também trata da incidência de utilização da
comunicação escrita na EaD e, por fim, apresenta as principais circunstâncias de
uso da comunicação escrita na EaD e sua influência no processo de ensino e
aprendizagem.

2 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E A COMUNICAÇÃO ESCRITA

A educação a distância é uma modalidade de ensino bastante antiga no


mundo e no Brasil, contudo, permaneceu na informalidade durante muito tempo
e serviu, em vários períodos, como forma de educação emergencial para suprir a
falta de planejamento educacional no país ou ainda para capacitar uma parcela
marginalizada da população.
Com o artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
(LDB/1996) tal modalidade de ensino sai da informalidade tendo a chance de se
apresentar como uma importante alternativa para a democratização do ensino
superior no país, visto que sua possibilidade de abrangência geográfica.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
136

Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de


programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de
ensino, e de educação continuada.
§ 1º A Educação a distância, organizada com abertura e regime especiais,
será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União.
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e
registro de diploma relativos a cursos de Educação a distância.
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de programas de
Educação a distância e a autorização para sua implementação, caberão
aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e
integração entre os diferentes sistemas.
§ 4º A Educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que
incluirá:
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de
radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios de
comunicação que sejam explorados mediante autorização, concessão ou
permissão do poder público;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos
concessionários de canais comerciais (BRASIL, 1996).

Desde então a educação a distância vem construindo sua trajetória no


Brasil. Essa tem sido marcada por episódios diversos caracterizando
preconceito, insucessos e sucessos. Sobre esse assunto, Gomes (2009) explica
que EaD foi muitas vezes considerada uma espécie de educação em segundo
plano, marginalizada.
Além disso, a modalidade de ensino em questão foi entendida por
muitas instituições, em função de uma visão mercadológica, como educação de
baixos custos financeiros e grande lucratividade, se constituindo como educação
de massa, sem preocupação com a qualidade de formação dos sujeitos.
Mesmo diante de tudo isso, a educação a distância foi se
desenvolvendo e ganhado espaço no cenário educacional sendo necessária uma
legislação mais contundente que a regulamentasse. Em relação a isso,
destacam-se os Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância
de 2007 e ainda o decreto 5.622 de 2005. No que diz respeito a esse decreto,
em seu artigo 1º, defini a educação a distância como
Modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios de
tecnologia informação e comunicação, com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares e tempos diversos
(BRASIL, 2005, p. 01).

De maneira muito semelhante Moore e Kearsley (2011, p. 01) explicam


que
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
137

[...] alunos e professores estão em locais diferentes durante todo ou


grande parte do tempo em que aprendem e ensinam. Estando em locais
distintos, necessitam de alguma tecnologia para transmitir informações e
lhes proporcionar um meio para interagir.

Para muitos educadores e teorias da aprendizagem tal separação física


pode representar danos ao processo educacional devido à falta de interação
entre os partícipes do processo, contudo, essa questão tem sido desbancada
pelas gerações mais recentes da educação a distância que fazem uso de
ferramentas variadas das TIC. Essas podem viabilizar uma comunicação e
interação fluente mesmo a quilômetros de distância.
Além disso, os Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a
Distância (2007) também preconizam um sistema de tutoria e um sistema de
comunicação que seja capaz de manter a comunicação e proximidade com os
alunos, mesmo diante da separação geográfica que há entre eles. Nessa
perspectiva, figura um importante ator da educação a distância: o tutor.
Responsável pelo contato direto com o aluno e mediador da aprendizagem nessa
modalidade de ensino.
No que diz respeito à interação entre os sujeitos, necessária ao
processo de ensino e aprendizagem, essa se dá por meio da comunicação. Dito
isso, é importante ressaltar que a comunicação é essencial em qualquer
instância social, pois, quando ocorre de forma correta, faz com os sujeitos se
sintam inseridos no contexto no qual ela se dá. No caso da EaD o aluno se sente
realmente parte do processo de ensino e aprendizagem, além disso, sente-se
situado no tempo e no espaço em relação ao curso que faz e ainda ao programa
de EaD que pertence. Essa comunicação adequada auxilia na criação de um
sentimento de pertencimento e de proximidade dos alunos com o curso e com a
instituição.
De acordo com Mattar (2012, p. 24) “a palavra interatividade é recente
na história das línguas [...] passando a ser largamente utilizada pela informática
[...] já a palavra interação é utilizada há bem mais tempo que interatividade e em
ciências diversas”.
Ainda no sentido de esclarecer os dois termos Mattar (2012, p. 24)
explica que

Alguns autores utilizam os dois termos indiscriminadamente, trocando um


pelo outro sem diferenciar seus significados, enquanto outros procuram
construir definições distintas para cada um dos conceitos. Alguns autores
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
138

criticam, inclusive, o uso do termo interatividade, aceitando apenas o


sentido de interação, enquanto, para outros, a interatividade é um dos
fenômenos mais importantes da modernidade, que estaria provocando
uma revolução na educação.

As palavras do autor possibilitam a inferência de que a interação está


ligada aos sujeitos e suas relações dialógicas, enquanto a interatividade está
relacionada às tecnologias e aos canais de comunicação. Devido à ampla
utilização das TIC na EaD, no processo de ensino e aprendizagem da referida
modalidade de ensino tem-se interação e interatividade ao mesmo tempo.
Embora a evolução das TIC represente um marco na maneira de se
comunicar, isso ocorre em função da circulação da informação e não
especificamente em como ela se dá. Embora existam muitas possibilidades para
a comunicação e a interação na EaD, a materialização de tudo isso, ainda ocorre,
prioritariamente, por meio do texto escrito.
Alunos, professores e, em especial, tutores interagem, na maioria das
vezes, com o uso de textos escritos. Isso ocorre tanto no âmbito da mera
informação sobre o curso, quanto na explicação de conteúdos, retirada de
dúvidas e ainda em outras circunstâncias.
Dessa forma, a estruturação dos textos que circulam em um ambiente
virtual de aprendizagem (AVA) é fundamental para o processo de ensino e
aprendizagem, sendo basilar à construção de conhecimento por parte dos
estudantes.

3 A INCIDÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO ESCRITA NA EAD E O


PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Na educação a distância, na maioria dos modelos, os sistemas de


comunicação são baseados na troca de mensagens escritas. Nesse sentido,
uma competência técnica para qualquer tutor é capacidade de boa comunicação,
em especial, por meio de textos escritos. Tais textos, na maioria das vezes, terá
um caráter instrucional, ou seja, terá o objetivo de instruir o aluno a respeito de
algo, seja do curso, sobre alguma ferramenta, seja sobre o conteúdo entre
outros.
Diante do exposto, fica clara a necessidade de ter cuidado com o uso
das expressões, ter muita atenção para não elaborar mensagens que permitam
diferentes interpretações e assim por diante.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
139

Na modalidade de ensino em questão, o código escrito se constitui


como um recurso fundamental para a transmissão de emoções, certezas,
dúvidas, inseguranças, questionamentos e respostas tanto para uso do tutor
quanto dos alunos. Dessa forma, deseja-se que o tutor tenha conhecimentos
linguísticos que o permitam elaborar, compreender e interpretar textos diversos.
Mill, et. al. (2008) ao elencar algumas competências do tutor, explicita a
necessidade de conhecimentos acerca da redação de textos. Os autores relatam
que na EaD aquilo que se escreve fica devidamente registrado, portanto, acaba
se tornando documento. Nesse sentido, é importante que essa escrita
comtemple uso adequado da língua portuguesa, o que classificamos, como uso
da norma padrão da língua, além disso, é preciso que essa escrita seja clara e
objetiva sendo passível de compreensão por diferentes alunos, considerando a
diversidade da educação a distância.
Outro ponto bastante importante destacado por Mill, et. al. (2008) é que
os textos dos alunos que circulam nos ambientes virtuais de aprendizagem
também necessitam apresentar uma estruturação adequada para viabilizar o
entendimento a todos os participantes. Dessa forma, o tutor precisa estar
preparado, também, para auxiliar o aluno nessas construções. É importante
destacar que esse processo de escrita ocorre independentemente da área a qual
o curso se refere, portanto, será necessário a tutores de diferentes disciplinas
que atuam em diferentes áreas do conhecimento.
Sobre os aspectos supracitados, é importante refletir que, embora a
escrita gramaticalmente organizada seja fundamental, ela, muitas vezes, pode
afastar os alunos desses textos em função da formalidade dos mesmos. Nesse
sentido, o professor e o tutor, ao elaborarem os textos que circularão no AVA,
deverão estar aptos à escrita formal, mas ao mesmo tempo dialógica, de forma,
que seja capaz de aproximar e interagir com seus acadêmicos.
A interação, por sua vez, tem sido um conceito e uma prática bastante
discutida na educação a distância em seu formato atual, dessa forma, os textos
disponíveis nessas salas de aula virtuais necessitam apresentar características
que viabilizam a interação.
Mattar (2012) apresenta importantes concepções acerca da interação na
EaD e a classifica em diferentes tipos, dentre elas elenca a interação
aluno/professor, aluno/conteúdo, aluno/aluno, professor/ professor,
professor/conteúdo, conteúdo/conteúdo, aluno/interface/ autointeração e
interação vicária.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
140

Em vários desses tipos, o aluno interagirá com textos escritos. Nesse


sentido, a partir das considerações de Mattar (2012), é possível apresentar o
quadro 1, no qual percebe-se o tipo de interação e a utilização de texto escrito:
Quadro 1 – Tipo de interação e utilização de texto escrito.

Tipo de interação Utilização de texto escrito


Aluno/professor/tutor e-mails e mensagens com informações sobre o curso,
e-mails e mensagens instrucionais, e-mails e
mensagens com respostas às dúvidas, feedbacks de
atividades e avaliações.
Aluno/conteúdo Livro-texto, textos complementares, tabelas, gráficos,
mapas conceituais, entre outros.
Aluno/aluno Interação em grupos de discussão, apresentação de
trabalhos escritos, troca de informações via e-mails e
outros sistemas de mensagens, apresentação de relatório,
apresentação de relatos pessoais, entre outros.
Professor/professor/tutor Capacitações on-line, discussões em grupo, relato
pessoal, apresentação de conteúdos em livro-textos
etc.
Professor/tutor/conteúdo Apresentação do conteúdo por meio de diferentes
objetos de aprendizagem, incluindo a apresentação de
textos, sínteses, resenhas etc.
Aluno/ interface Tutoriais, textos instrucionais para as funções do
sistema, textos de identificação das ferramentas etc.
autointeração Sínteses, resumos e resenhas.
Interação vicária Observação e leitura de textos, atividades entre os
participantes do curso.
Fonte: As autoras, 2016..

A análise do quadro acima demonstra diversas ocorrências do texto


escrito na EaD, que por sua vez, estão diretamente relacionadas à interação dos
partícipes de um curso e, consequentemente, ligadas ao processo de ensino e
aprendizagem.
Corroborando com essa ideia, outros autores, além de Mattar (2012),
como Moore e Kearsley (2011), Almeida (2003) apresentam muitas atividades
passíveis de desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem na EaD
que fazem uso do texto escrito.
Almeida (2003) descreve as ferramentas mais comuns dos ambientes
virtuais de aprendizagem, destacando o fórum, o chat, o correio eletrônico, o

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
141

repositório de materiais, o envio online de trabalhos e atividades, tira dúvidas,


mural de avisos, enquete, diário, calendário e grupos.
Embora a autora esteja se referindo às ferramentas dos AVAs, é possível
perceber que as mesmas viabilizam a aprendizagem conforme permitem a
realização de diferentes atividades e as atividades assim realizadas preconizam o
uso do texto escrito.
Mattar (2012) ao se referir às atividades que podem ser realizadas no
processo de ensino e aprendizagem na EaD elenca o chat, escolha, fórum,
glossário, wiki entre outras. É notável nelas a utilização do texto escrito.
Moore e Kearsley (2011) ao apontarem alguns aspectos sobre o
processo de ensino e aprendizagem na EaD, relatam que os materiais impressos
ainda são recursos muito explorados e têm certa importância na modalidade de
ensino em questão. Nesse sentido, tem mais um caso do uso do texto escrito
diretamente relacionado à aprendizagem e, consequentemente, à construção do
conhecimento.
Em relação ao processo de ensino e aprendizagem na EaD, o feedback
também aparece como ferramenta essencial.
Cardoso (2011) apoiado em outros autores apresenta definições
importantes, assim Vrasidas e McIsaac (1999) apud Cardoso (2011, p. 18-19)
“associam o feedback a respostas que fornecem informações aos alunos sobre
a correção de seus deveres de casa, trabalhos e contribuições em sala de aula”.
Na concepção de Mason e Bruning (2003) apud Cardoso (2011, p. 19) o
feedback é “qualquer mensagem gerada em resposta a ação de um aprendiz”.
Além disso, está relacionado à interação e à avaliação. É uma forma
importante de comunicação entre tutores e alunos e ocorre, principalmente, por
meio do texto escrito. Diante disso, a compreensão desses textos por parte dos
acadêmicos é primordial para o processo de ensino e aprendizagem, visto que
deverá ajustar os equívocos no que diz respeito à realização de atividades e
ainda em relação ao conteúdo.
Diante do exposto, é possível destacar que dentre as práticas de ensino
e aprendizagem da educação a distância, várias delas estão relacionadas ao
texto escrito, assim, é preciso que haja atenção por parte dos envolvidos com o
processo para a produção desse tipo de textos.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
142

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo aqui apresentado constatou que a utilização do texto escrito na


EaD ocorre de forma diretamente relacionada ao processo de ensino e
aprendizagem. A incidência desses textos ocorre na viabilização de algumas
ferramentas utilizadas nos ambientes virtuais de aprendizagem, de atividades, de
material didático, feedbacks, entre outros.
Diante disso, é possível então pressupor que o texto escrito é uma
importante ferramenta de aprendizagem na educação a distância ainda que
novas tecnologias da informação e comunicação estejam cada vez mais
presentes nos AVAs. Outro ponto importante do texto escrito na EaD está
relacionado à interatividade. Essa tem figurado nos estudos sobre a
aprendizagem na modalidade em questão como essencial e muitas ferramentas
e atividades que visam a interação entre os atores desse processo utilizam-se do
texto escrito.
Dessa forma, professores e tutores, bem como as equipes envolvidas
com a elaboração de cursos para a modalidade de ensino em questão precisam
estar aptos à escrita de textos bem organizados, que atendam às formalidades
da língua, bem como tenham uma linguagem dialógica capaz de interagir com os
alunos. Sobre esse assunto, vale destacar ainda que as tecnologias têm
viabilizado modelos de EaD mais interativos e dinâmicos, contudo, esses não
descartam a condução adequada do processo por parte de professores e tutores
e muito dessa condução, que na educação presencial ocorre por meio da
oralidade, auxiliada pela presença física dos partícipes, na educação a distância
acaba ocorrendo por meio do texto escrito.
A escrita desses textos não é tarefa tão simples, contudo, faz parte do
conjunto de competências necessárias aos professores e tutores. É justamente
por tal importância que tais textos necessitam de elementos textuais suficientes
para que seu conteúdo e forma sejam capazes de cumprir com os objetivos de
aprendizagem nos cursos ofertados pela EaD.
Nessa perspectiva, a escolha do gênero, a organização textual e muitas
outras questões que implicam na textualidade farão absoluta diferença para a
aprendizagem. Vale dizer ainda, que na EaD, o processo é focado na
aprendizagem, não no ensino. Assim, uma produção textual consistente deve
fazer parte das práticas de ensino e ainda da didática na educação a distância.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
143

REFERÊNCIAS

ABED. Censo EAD.BR: Relatório analítico da aprendizagem a distância no Brasil,


2013. Curitiba: Ibpex, 2014.
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São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003.
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Cengage Learning, 2012.
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tutor e sua importância nesse processo. Cadernos da Pedagogia Ano 02 Volume
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MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, Técnica e arte: O desafio da pesquisa
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MOORE, Michel; KEARSLEY, Greg. Educação a Distância: uma visão integrada.
Trad. Roberto Galman. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
144

A PRODUÇÃO TEXTUAL EM SALA DE AULA: UM INSTRUMENTO PARA O


DESENVOLVIMENTO DO LETRAMENTO

MARCIA MARIA PREVIATO DE SOUZA 1


ANDREA GRANO MARQUES2

RESUMO
Antes de se apropriar da linguagem escrita, a criança utiliza a linguagem oral
como forma de comunicação com o mundo. Os processos que envolvem o
desenvolvimento da escrita são extremamente complexos e abstratos, por isso é
necessário passar por processos de socialização específicos, por processo de
escolarização. Com a realização deste artigo, pretende-se abordar questões
relevantes sobre a alfabetização e o letramento, apresentando justificativa para a
necessidade atual do sujeito fazer uso da leitura e escrita na sua prática social,
bem como o papel da escola para aquisição dessas habilidades de forma
significativa pela criança dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Buscaremos
em seu desenvolvimento apresentar como alternativa pedagógica o trabalho com
produção textual em sala de aula como recurso que auxilia a aquisição do
conhecimento.
Palavras-chave: Produção textual. Letramento. Mediação. Professor e aluno.

1 INTRODUÇÃO

Por muito tempo ensinar a ler e escrever estiveram atrelados ao uso de


cartilhas. Acreditava-se que a apropriação do sistema gráfico da escrita era
adquirida através de um ato mecânico com atividades repetitivas que levassem o
aluno a aprender as letras, depois juntá-las e formar as sílabas, as frases até
chegar na composição do texto. Isso porque os textos presentes nesse material
eram produzidos com a intenção de dizer nada a ninguém; eram textos em que
havia o esvaziamento do conteúdo da linguagem oral e escrita, seu único
objetivo era ensinar a forma correta de se escrever à palavra.
Paradoxalmente a essa fase, em outros momentos, priorizou-se
apenas o conteúdo, valorizando somente o que o aluno escrevia e não como
escrevia. Dessa forma, não se faziam correções de cunho gramatical, pois

1
Mestre em Educação pela UEM, Especialista em Docência no Ensino Superior, Especialista em
Educação a Distância; Especialista em Gestão Educacional e graduada em Pedagogia pela UEM.
2
Doutora em Ciências pelo programa de Pediatria da USP – Escola Paulista de Medicina e Mestre
em Nutrição. Especialista em Psicodrama pela Escola Paulista de Psicodrama. Psicóloga.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
145

acreditava-se que a criança não podia ser corrigida e construiria o conhecimento


sozinha.
O objetivo desse artigo não é tecer críticas a nenhuma teoria e sim
entender a escola como um local em que os sujeitos nela inseridos possam
adquirir conhecimentos escolares, não apenas de formação de valores e
atitudes, mas de conceitos científicos que possam agregar conhecimentos a sua
prática social. Para tanto, em um primeiro momento deste trabalho, buscou, por
meio de uma pesquisa de cunho bibliográfico, compreender como a linguagem
oral e escrita sistematizada leva o aluno a não somente ser alfabetizado, mas ao
encaminhamento do letramento. Em um segundo momento, desenvolveu
reflexões acerca da produção textual como um valioso instrumento que contribui
para o desenvolvimento do letramento em criança dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, destacando o papel do professor como mediador desse processo.

2 A LINGUAGEM ORAL E ESCRITA SISTEMATIZADA COMO ELEMENTO


FUNDAMENTAL PARA O LETRAMENTO

A aquisição das habilidades de leitura e escrita não ocorre de forma


espontânea como, falar e andar. A aquisição da fala, por exemplo, é conseguida
e incorporada por todos os sujeitos pelo simples fato desse sujeito pertencer a
uma cultura. Os processos de formação familiar são suficientes para que a
criança se aproprie da fala e a reproduza. Leontiev (2004) afirma que desta
relação pode depender o sucesso ou o fracasso da aprendizagem da criança no
que diz respeito ao conhecimento espontâneo. Ainda segundo o autor “... o
mundo dos homens que rodeia a criança” (p.288) é dividido em dois círculos:

O primeiro compreende aos seus íntimos: a mãe, o pai ou aqueles que


ocupam o seu lugar junto a criança; as suas relações com eles
determinam as suas relações com o resto do mundo. O segundo ciclo,
mais largo, é constituído por todas as outras pessoas; as relações da
criança com elas são mediatizadas pelas relações estabelecidas no
primeiro circulo, mais pequeno, quer a criança seja ou não educada na
sua família (LEONTIEV, 2004 p. 288).

Partindo do exposto nas palavras de Leontiev, percebe-se o quanto o


meio interfere na formação e aprendizagem da criança. No cenário educacional
isso se torna ainda mais preocupante pela defasagem dos conteúdos de caráter

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
146

científico, estes que foram perdendo o espaço onde deveria ser o local principal
de seu desenvolvimento, a escola.
Para Vygotsky (1989), a aquisição da língua escrita e dos
conhecimentos científicos depende essencialmente de situações sociais
específicas em que o sujeito participa. São aquisições complexas que exigem
uma capacidade maior de abstração por parte do indivíduo e a mediação social,
principalmente do professor. Diante disso, faz-se necessário compreender que a
aprendizagem da leitura e escrita não pode ser vista como um momento isolado
e estanque, ambas devem estar vinculadas a realidade da criança e a partir daí
ser ampliada.
O objetivo da escola, em especial nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, foco desse estudo, não pode se limitar apenas ao ato de ensinar a
criança a decodificar o código linguístico, deve ao mesmo tempo alfabetizar
letrando.
Segundo Soares (2004, p. 24):
No processo de aprendizagem inicial da leitura e da escrita, a criança deve
entrar no mundo da escrita fazendo uso de dois “passaportes”: precisa
apropriar-se da tecnologia da escrita, pelo processo de Alfabetização, e
precisa identificar o diferentes usos e funções da escrita e vivenciar
diferentes práticas de leitura e de escrita, pelo processo de Letramento. Se
lhe é oferecido apenas um dos “passaportes”– se apenas se alfabetiza,
sem conviver com práticas reais de leitura e de escrita – formará um
conceito distorcido, parcial do mundo da escrita; se usa apenas o outro
“passaporte” – se apenas, ou, sobretudo, se letra, sem se apropriar plena
e adequadamente da tecnologia da escrita – saberá para que serve a
língua escrita, mas não saberá se servir dela.

Ainda segundo a autora, se um sujeito aprendeu a ler e escrever, mas


não incorporou a prática da leitura e escrita no seu dia a dia, se não consegue
entender uma reportagem de jornal que leu, ou um livro, uma bula de remédio ou
não consegue redigir um oficio ou preencher um formulário, não está apto a
responder as exigências da sociedade letrada atual.
Devido a essas e muitas outras necessidades de leitura e escrita
sistematizada é que surgiu o termo letramento, uma palavra que já existe há
muito tempo, mas que atualmente encontramos com uma nova maneira de ser
entendida. Soares, (2004, p.47) diferencia a alfabetização de letramento de
maneira que possamos entender a necessidade dessa nova roupagem em uma
palavra que já faz parte dos dicionários de língua portuguesa há muitos anos.
Para Soares (2004, p.19), “Alfabetizado nomeia aquele que apenas
aprendeu a ler e escrever, não aquele que adquiriu o estado ou a condição de
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
147

quem se apropriou da leitura e da escrita, incorporando as práticas sociais que


as demandam”. Para a autora, tornar-se alfabetizado é decodificar os códigos
linguísticos. É um ato mecânico, sem atribuição de significado. Contudo, se o
indivíduo usar esta leitura e escrita nas suas práticas sociais, e se essas práticas
trouxerem consequências sobre ele e alterar seus aspectos sociais, psíquicos,
culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo econômicos, deixa de
ser apenas alfabetizado e passa a se apropriar da leitura e da escrita, ou seja, do
letramento, que para a autora “é o resultado da ação de ensinar ou de aprender
a ler e escrever: o estado ou condição que adquire um grupo social ou um
indivíduo como consequência de ter se apropriado da escrita” (SOARES, 2004,
p.18).
Segundo Souza (2014), o letramento envolve dois fenômenos distintos
e complexos: a leitura e a escrita, ambos possuem características e habilidades
diferentes de entendimento. A leitura, do ponto de vista do letramento, vai além
do decodificar palavras escritas, o indivíduo precisa ter capacidade de
compreender textos escritos de diversos gêneros. Envolve habilidades e
comportamentos que não se limitam a decodificação, mas se estendem as
leituras mais complexas que exigem do leitor um nível de entendimento maior.
A escrita, assim como a leitura, envolve um conjunto de habilidades e
comportamentos, que perpassam a escrita de um simples bilhete, mas se
estendem a escrita de textos mais complexos e argumentos convincentes a um
destinatário. “O processo de leitura e escrita pelas crianças exige delas
habilidades e competências que somente serão alcançadas se for feito um
trabalho árduo, planejado e consciente por parte do professor alfabetizador”
(SOUZA, 2014, p.122). Essas habilidades e que fornecem ao indivíduo a
capacidade de tomar decisões, indagar, discriminar, julgar, argumentar e ser
crítico. Dessa forma, o ensino atrelado a cartilhas e palavras isoladas não darão
ao sujeito tais habilidades para que respondam as exigências de uma sociedade
letrada.

Vivemos em uma sociedade letrada, por isso a escola deve preparar o


aluno para o letramento, precisa ensina-lo a fazer uso da leitura e da
escrita na sua pratica social. Pois, o indivíduo desprovido dessa
habilidade terá consequências sociais, econômicas, políticas, culturais,
linguísticas e cognitivas (SOUZA, 2014, p. 111).

O domínio da escrita e o grande objetivo da escola. Ela é o local em


que a criança deve construir seus conceitos de leitura e escrita, tornando-se
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
148

capaz de ter autonomia e desempenho para escrever dentro dos pressupostos


exigidos com finalidade social.
Ainda, segundo SOUZA (2014), ao trabalhar com a língua escrita, os
alunos devem ser levados a descobrir os seus diferentes usos e a função que ela
desempenha na sociedade. O ato de ler implica num vasto raciocínio para que o
leitor consiga ter o controle da interpretação sobre o que leu. Se assim fizer,
conseguirá descobrir até as incompreensões que teve durante a leitura, ou seja,
conseguira detectar em que momento não conseguiu absorver a ideia de quem
escreveu e, assim, retomar buscando significado ao que está lendo.

3 AS CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO COM PRODUÇÃO TEXTUAL NOS ANOS


INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

O desenvolvimento de trabalhos com textos orais e escritos em sala de


aula podem se tornar um valioso recurso pedagógico para levar o educando a
sistematização do conhecimento, textos que são carregados de significados
promovem maior desenvolvimento na aquisição de conteúdos formais. A
linguagem ocupa papel de destaque nas relações sociais, na sociedade em que
estamos inseridos, a participação social está inteiramente ligada e mediada pelo
texto oral e escrito.
De acordo com Geraldi (2003), e exatamente nas fontes produtoras da
linguagem que ela se localiza, ou seja, efetivamente no acontecimento da mesma
e que se constitui, ela se dá na interação entre linguagem, sujeitos envolvidos
(interlocutores) e o próprio universo discursivo.
Corroborando com essa ideia, Leontiev afirma:

A criança não está de modo algum sozinha em face ao mundo que a


rodeia. As suas relações com o mundo têm sempre por intermédio a
relação do homem aos outros seres humanos; a atividade está sempre
inserida na comunicação. A comunicação, quer esta se efetue sob sua
forma exterior, inicial, de atividade comum, quer sob a forma de
comunicação verbal ou mesmo apenas mental, é condição necessária e
específica do desenvolvimento do homem na sociedade (LEONTIEV,
2004. p.290).

Quando ainda não tem o domínio da escrita, a criança faz uso da fala
para essa comunicação, mas ao ser alfabetizada, ao se apropriar do código
linguístico passa a perceber que também poderá se comunicar através deles,

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
149

assim, é indiscutível a necessidade de se ensinar de forma sistematizada a


leitura e a escrita na escola por meio de textos.

Na vida real, as pessoas não pronunciam palavras isoladas. Quando


alguém se propõe a falar, sua intenção é dar uma informação completa, e
isso acontece através de um texto. Somente em circunstâncias especiais,
num contexto específico, as pessoas dizem palavras isoladas, mas
sempre elas estão inseridas num texto maior ou são inesperadas como
resultado de ações ocorridas (CAGLIARI 2003, p. 198).

Contudo, essa comunicação oral e escrita só logrará êxito se passar


por um processo mediado, uma vez que a criança apenas por pertencer a uma
sociedade letrada não construirá o conhecimento dessa habilidade sozinha. A
escola nessa fase da vida da criança torna-se essencial para seu
desenvolvimento, é no banco escolar que a criança compreenderá a necessidade
de saber ler escrever para constituir-se como ser partícipe dessa sociedade
grafocêntrica.
A fala e diferente da escrita, porém ambos são inerentes à criança. Ao
entrar na escola em séries de alfabetização a criança já sabe lidar com textos
orais, sua intenção e que lhes ensinem a língua escrita. Calcados com alguns
conhecimentos prévios, cabe a escola não negar o valor do que a criança já
sabe, mas amplia-lo, passando do conhecimento sincrético para o cientifico. E
este só será significativo se for realizado por meio de textos.
Em relação à linguagem escrita, Vygotsky (2001) afirma que essa
requer um trabalho intelectual mais elaborado em relação à linguagem oral por se
tratar de um processo psicológico superior avançado. O autor esclarece que
nessa forma de comunicação o interlocutor encontra-se ausente, exigindo de
quem escreve uma maior complexibilidade de pensamento. Por isso, as crianças
dos anos iniciais do Ensino Fundamental apresentam dificuldade de expor suas
ideias ao produzir textos em sala de aula, principalmente se a produção não for
bem planejada por parte do professor. A criança precisa ter um propósito, um
objetivo claro ao escrever, pois ninguém escreve nada para ninguém, ao
escrever tem-se a intenção de comunicarmos algo.
Segundo Carniel e Souza (2014), ao trabalhar com a língua escrita, os
alunos devem ser levados a descobrir os seus diferentes usos e a função que ela
desempenha na sociedade. O objetivo principal do trabalho com texto na escola
é a intenção clara ao transmitir alguma ideia crítica, informação, instrução ou
emoção ao público.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
150

Todo trabalho de produção de texto deve ser pautado em discussões e


leituras para que a criança tenha referenciais daquilo que quer escrever, pois não
será possível escrever partindo do “nada”. O professor deve viabilizar momentos
de reflexões que despertem na criança o gosto para expor no papel suas ideias
da maneira mais clara possível, se assim o fizer a criança estará sendo
preparada para o letramento.
A prática da produção textual tem como objetivo ensinar o aluno a
passar seus conhecimentos de maneira sistematizada na forma escrita. Ao
produzir seu texto o aluno necessita compreender que este deve ter uma função
social, por isso faz-se necessário que o interlocutor seja de seu conhecimento,
mesmo que este seja imaginário. Dessa forma, encontrará sentido para escrever,
não escreverá apenas porque será avaliado pelo professor, mas sabendo que
alguém irá lê-lo.
Segundo Vygotsky, para atribuir significado à escrita, a criança deverá
compreender sua necessidade. O autor afirma:

[...] a escrita deve ter significado para as crianças, uma necessidade


intrínseca deve ser despertada nelas e a escrita deve ser incorporada a
uma tarefa necessária e relevante para a vida. Só então poderemos estar
certos de que ela se desenvolverá não como hábito de mãos e dedos,
mas como uma forma nova e complexa de linguagem (VYGOTSKY, 1989,
p.133).

O trabalho com a produção textual é uma alternativa para promover a


conscientização dessa necessidade da linguagem escrita pela criança. Mas, isso
envolve uma grande complexidade de pensamento principalmente para a criança
que recentemente tenha se apropriado da leitura e da escrita.
Ao escrever um texto a criança precisa articular suas ideias, usar
vocabulário adequado e conhecer a estrutura do que escreve. Com isso é muito
comum se prender ao conteúdo, usar boas ideias e se descuidar da forma, da
estrutura organizacional do seu texto. Para Naspolini (1996), conteúdo e forma
estão inter-relacionados e ambos apresentam sua importância no texto.
Ao se apropriar da linguagem escrita, a criança expressa seu
pensamento através dela, porém, no início da alfabetização seus textos acabam
sendo “desajeitados”, não apresentando forma adequada ao gênero textual que
se propõe a produzir. Isso acontece quando a criança não tem noção de que a
forma pode interferir na produção, diante disso seus textos acabam ficando sem
coerência e de difícil entendimento do leitor.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
151

Ainda segundo Naspolini (1996), isso é um processo gradativo que


com a intervenção do professor através de atividades planejadas e leituras
diversificadas que a criança realiza, ela passará a compreender também a
necessidade da forma e entenderá que ambos, conteúdo e forma são essenciais
para a qualidade de seus trabalhos escritos. Apropriando-se de tais
conhecimentos conseguirá produzir textos que cumprirão a função de
comunicação. Soares (2004, p. 69) afirma que “as habilidades de escrita
estendem-se da habilidade de registrar unidade de som até a capacidade de
transmitir significado de forma adequada ao leitor potencial”. Ainda segundo a
autora, deve ser do conhecimento do autor alguns elementos fundamentais que
atribuirão sentido ao seu texto de forma que o leitor consiga compreender a
mensagem escrita. Sendo assim, ao propor uma atividade de produção textual
para os alunos, o professor precisa explicitá-los.
O primeiro é saber O QUE dizer, qual o assunto ou tema abordará na
sua produção. O segundo é PARA QUE está escrevendo, qual será a função
social do seu texto, que motivos o levarão a escrever sobre o assunto proposto.
Em terceiro precisa conhecer A QUEM está escrevendo, quem será o leitor do
seu texto, assim, poderá expor seus conhecimentos estabelecendo relação com
a proposta colocada pelo professor. Em quarto lugar precisa conhecer a
SITUAÇÃO DE CIRCULAÇÃO do texto, de que maneira ele chegará ao leitor
proposto e, em quinto, COMO será escrito, qual o gênero textual precisa utilizar
para chegar ao propósito esperado. Com isso, é possível perceber a diferença da
complexibilidade que é para a criança o momento em que tem que produzir um
texto escrito e não apenas oral, uma vez que o interlocutor não se encontra perto
dela para que possa explicar seu pensamento de maneira clara como é de seu
desejo. A capacidade de abstração que deve ter ao se debruçar para escrever a
quem está ausente é, sem dúvida, bem maior do que para quem está presente.
As palavras de Vygotsky ilustram essa diferença:

Como mostra a nossa investigação, a linguagem está ainda mais abstrata


que a falada em mais um sentido. É uma linguagem sem interlocutor,
produzida em uma situação totalmente inusual para a conversa infantil. A
situação da escrita é uma situação em que o destinatário da linguagem ou
está totalmente ausente ou não está em contato com aquele que escreve.
É uma linguagem-monólogo, uma conversa com a folha de papel em
branco, com um interlocutor imaginário ou apenas representado, ao passo
que qualquer situação de linguagem falada é, por si mesma e sem
nenhum esforço por parte da criança, uma situação de conversação
(VYGOTSKY, 2001, p.313 -314).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
152

Ao fazer uso das palavras de Vygotsky pode compreender porque as


crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental mostram tanta dificuldade em
articular e expor suas ideias de maneira coerente. Nesse contexto, volta-se a
afirmar que o papel do professor como mediador é imprescindível antes, durante
e depois da produção textual de seus alunos.
Para Carniel e Souza (2014), o trabalho do professor não se limita
apenas a propor uma atividade de produção textual, pelo contrário, esse
momento é apenas o início da sua intervenção. Antes da produção precisa deixar
clara a proposta de trabalho, dessa forma, os enunciados devem ser claros, os
temas agradáveis e de conhecimento dos alunos para que possam ter
argumentos suficientes para dar consistência ao conteúdo do texto, não se
limitando apenas a expor conhecimentos espontâneos, mas utilizando
conhecimentos científicos que foram transmitidos outrora pela escola. Durante a
produção textual, o professor deve mediar, intervindo e atendendo as
necessidades individuais para que os alunos possam expressar suas ideias, usar
a criatividade, colocar seu ponto de vista e expressar seus conhecimentos sobre
o que estão escrevendo.
Para reiterar a veracidade do papel do professor nesse momento
recorremos às palavras de Serkés e Martins:

Se ao escrever seu texto, o aluno apresenta dúvidas, ou mesmo não


conseguiu expressar suas ideias utilizando-se do código adequado, cabe
ao professor auxilia-lo para que consiga executar a tarefa proposta.
Observe-se que esta ajuda deverá ser no sentido de questionar o aluno
sobre suas ideias e a forma de como passará para o papel, mostrando-lhe
o conteúdo linguístico apropriado para veiculação de sua ideia com
clareza, objetividade e coerência. Assim sendo, nada impede que o
professor observe seus alunos enquanto produzem seus textos,
constatando as dificuldades daquele aluno que necessita auxílio,
completando o texto com informação ou ensinando o uso adequado da
paragrafação, da letra maiúscula, da pontuação etc (SERKÉS; MARTINS,
1996, p.126).

Um outro momento que deve fazer parte do trabalho com produção


textual em sala de aula é o momento da reescrita. A devolução ao aluno de seu
texto corrigido, pois por si só não conseguirá fazer a análise linguística e nem a
correção do conteúdo de seu texto sem a mediação do professor; tal proposta
visa aperfeiçoar a mensagem como um instrumento de comunicação. Segundo
Serkés e Martins, “a aprendizagem se dará da relação do aprendiz com o objeto
do conhecimento, através da mediação do social” (1996, p. 62).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
153

Ao devolver ao aluno sua produção corrigida com identificação dos


erros ortográficos, concordância nominal e verbal, paragrafação, pontuação,
ampliação vocabular, elementos coesivos, entre outros, e, indicar caminhos para
que assimile e se aproprie desses conceitos, é fundamental para a
sistematização adequada dos conhecimentos, levando assim o aluno a fazer uso
da leitura e escrita na sua prática social, ou seja, formando o cidadão para o
letramento.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levar a criança a aquisição da leitura e escrita é um dos principais


desafios da educação atual. Todavia, para que esse processo se ratifique é
necessário um trabalho consciente por parte professor. Cabe a ele propiciar as
crianças situações contextualizadas que possibilitem a problematização,
discussão e consolidação do letramento.
Segundo Vygotsky (2001), a aquisição do conhecimento se dá a partir
da interação do sujeito com seu meio. Partindo dessa ideia, buscou-se discutir
em um primeiro momento neste artigo como o trabalho com linguagem oral e
escrita sistematizada é fundamental para que a criança não seja apenas
alfabetizada, mas que chegue a um nível de letramento, na qual faça uso dessas
habilidades em sua prática social. Para tanto, trouxe, em um segundo momento,
as considerações acerca das contribuições que o desenvolvimento de trabalhos
com produções textuais no Ensino Fundamento beneficia a consolidação do
letramento e a inserção do sujeito em uma sociedade que exige dele cada vez
mais a leitura e a escrita para torna-lo partícipe dessa sociedade grafocêntrica.
Destacou-se o papel da escola como instituição responsável pela
aquisição desse conhecimento, uma vez que ele não se desenvolve em
situações universalizadas como acontece com a linguagem oral. Percebeu-se
através dessa pesquisa que os processos que envolvem a aquisição da escrita
são mais complexos e ocorrem com um grau mais elevado de tomada de
consciência e que em virtude dessa complexibilidade é possível compreender as
dificuldades da criança em articular suas ideias dentro da produção textual.
Utilizar conteúdo e forma de maneira adequada não é tarefa fácil para a
criança dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sendo assim, torna-se
indiscutível a importância do professor como mediador, utilizando estratégias e
atividades pertinentes que façam com que a criança produza textos com função

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
154

social, com função de comunicação, mas, para isso torna-se necessário que
tenha um propósito ao escrever.

REFERÊNCIAS

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2003.
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VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
155

AS NOVAS TECNOLOGIAS E A ÁREA DA SAÚDE:


EM FOCO A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

SIDERLY DO CARMO DAHLE DE ALMEIDA 1


MARIA TERESITA BENDICHO2

RESUMO

Grandes avanços tecnológicos são reconhecidos em atividades na rotina das


pessoas. Isso atingiu bastante as ações profissionais e na área da saúde. Podem
ser exemplificadas a evolução nos diagnósticos, nos tratamentos e em
pesquisas de diferentes especialidades. Como proposta deste trabalho foram
levantadas algumas das atividades profissionais na área da saúde que usam
técnicas da informação e comunicação para contribuir com os professores,
facilitando a abordagem nas aulas na graduação. Com isso, eles estarão
contribuindo para melhor qualificação e preparo dos alunos para a realidade que
encontrarão no mercado de trabalho na atualidade. Foi referido o prontuário
eletrônico, que concentra as informações sobre a saúde do pacientes, e é
compartilhado pelos diversos profissionais que o acompanham; a telemedicina,
que ampliou a comunicação a distância inclusive permitindo o envio de imagens
de exames radiologia, ultrassonografia, etc. e o diagnóstico ser discutido entre
os profissionais; o prontuário eletrônico, que concentra as informações sobre a
saúde do pacientes, e é compartilhado pelos diversos profissionais que o
acompanham; sites como o da Agência de Vigilância Sanitária, que traz
programas para registro de eventos adversos a medicamentos, transfusões,
além de orientações diversas. Com essas e outros exemplos abordados, verifica-
se que a discussão dessas atividades entre os profissionais e os estudantes,
pode levar a maior destreza para lidar com a tecnologia.
PALAVRAS-CHAVE: Tecnologia da Informação e Comunicação. Saúde e
tecnologias. Telemedicina.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas houve grandes avanços tecnológicos em diversas


atividades sejam no âmbito profissional ou pessoal. Na área da saúde, esses
avanços permitiram a ampliação das possibilidades nos diagnósticos, nos

1
Doutora em Educação Currículo pela PUC SP, Mestre em Educação pela PUC PR. Especialista em
Gestão da Informação (FESP PR) e em Educação a Distância (FAEL). Pedagoga (UCB) e
Bibliotecária (UFPR).
2
Doutora em Imunologia pela UFBA, Mestre em Imunologia pela UFBA, Especialista em
Metodologia do Ensino Superior na Área de Saúde (EBMSP-BA), Farmaceutica.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
156

tratamentos e em pesquisas de diferentes especialidades (PINTO, 2004). Para a


continuidade dessas melhorias, o acesso ás novas informações deve ser
constante e com brevidade, isto é possivel devido ao uso de Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC). Desta maneira, os profissionais da área da
saúde, além de desenvolverem as habilidades técnicas e científicas, próprias da
sua atuação, devem ser capazes também de utilizar técnicas de informação e
comunicação. Essa habilidade lhes permitirá se manterem atualizados, trabalhar
com equipamentos nas áreas de diagnóstico laboratorial ou de imagem,
acompanhar os pacientes utilizando os prontuários eletrônicos, entre outros
(PINTO, 2006; SAUPE, 2005).
A formação desses profissionais ocorre nos cursos de ensino superior
com orientação de docentes, os quais terão responsabilidade para que esses
alunos possam ser preparados de acordo com as necessidades da população
que será por eles atendida (ALMEIDA, PIMENTA, 2011). Assim, é importante que
o docente aborde essas TIC na graduação esclarecendo em quais situações
esses alunos as usarão no seu cotidiano profissional.
É necessário lembrar que na atualidade estão nos cursos superiores a
chamada geração Y, também denominada de nativos digitais ou geração internet,
representada por indivíduos nascidos entre janeiro de 1977 a janeiro de 1997, e
que como aponta Tapscott: Enquanto as crianças da Geração Internet
assimilaram a tecnologia porque cresceram com ela, nós, como adultos,
tivemos de nos adaptar a ela – um tipo diferente e muito mais difícil de processo
de aprendizado (TAPSCOTT, 2010, p. 29).
Entre esses adultos referidos por Tapscott deve ser incluída uma parcela
dos professores universitários que estão na docência atualmente, que além de
poderem ter menor facilidade em utilizar as TIC, também estão se deparando
com uma sociedade que não mais aceita a postura do professor sem preparo
para a docência. Mesmo sendo um excelente profissional, precisa se preparar
para a docência. A vocação apenas não lhe garante a qualificação. No entanto,
na área de saúde, frequentemente, a atuação como docente resulta da
experiência e da reprodução sua pratica profissional, das lembranças do que
vivenciou quando era aluno e das observações e análises das suas atuações em
sala de aula (ALMEIDA; PIMENTA, 2011). A necessidade da formação dos
docentes dos cursos superiores tem sido motivo de discussões em fóruns,
seminários entre outros eventos científicos de diversas especialidades. Algumas
universidades também estão discutindo e buscando melhorias na formação dos
professores (ALMEIDA; PIMENTA, 2011).
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
157

Com a visão da necessidade de tratar as TIC aplicadas à prática


profissional nos cursos de saúde, e de que muitos dos docentes não têm grande
conhecimento e/ou habilidade nessas tecnologias, este artigo objetivou discutir
esse tema e esclarecendo algumas dessas aplicações.
Foi realizada uma revisão bibliográfica não sistematizada, utilizando o
Portal Capes, bases de dados da área de saúde como a biblioteca eletrônica
Scielo entre outros, livros e sites para a construção deste estudo. Como
descritores foram utilizados: tecnologia da informação saúde, tecnologia da
informação doença, tecnologia da informação exame.

2 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Pinto (2004, p. 4) diz que “As tecnologias da informação ou novas


tecnologias da informação e comunicação são o resultado da fusão de três
vertentes técnicas: a informática, as telecomunicações e as mídias eletrônicas.
Esse autor também esclarece que as novas tecnologias podem ser classificadas
em mídia, multimídia e hipermídia de acordo com os elementos que disponibiliza.
Exemplificando, pode ser referido o rádio que é uma mídia apenas com áudio, a
televisão que possui imagem e som, e a hipermídia que são textos que
incorporam imagem e som, que frequentemente são acessados em diversos
sites na internet.
A internet é reconhecida como um marco na comunicação,
possibilitando a criação de redes sociais com o uso do e-mail, do chat, dos
fóruns, da agenda de grupo online, entre outros, e também o acesso e
divulgação de informações que tomou grandes proporções.
A internet surgiu em 1966 da necessidade do Departamento de Defesa
dos Estados Unidos de um sistema de comunicação que não pudesse ser
destruído por bombardeios e ligasse pontos estratégicos como centros de
pesquisas e bases das forças armadas. A evolução desse sistema de
comunicação foi grande e o físico inglês Tim Berner-Lee em 1990, tornou
possível a popularização da internet no mundo com a invenção da World Wide
Web, também chamada de www. No Brasil, inicialmente foi disponibilizada a
rede para as universidades, centros de pesquisa e órgãos governamentais.
Posteriormente órgãos não governamentais iniciaram seu uso e um grande
marco foi a sua utilização na Conferencia internacional Eco-92, e assim como
referido por Vieira, “A web, finalmente, ganhava o Brasil” (2003, p. 9)

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
158

Segundo Abreu (2014, p. 10),

A Internet e suas ferramentas são responsáveis por uma profunda


transformação social, ancorada em um novo processo de interação entre
as pessoas. Ou seja, a comunicação e a troca de experiências e
informações entre indivíduos ganham mais um espaço para acontecer – o
chamado ambiente online. É inegável, também, o avanço tecnológico que
a Internet proporcionou e significa para a sociedade contemporânea, a
partir de extensas transformações organizadas e motivadas em seu
interior e por meio das próprias ferramentas que a mesma oferece.

São essas tecnologias que têm sido utilizadas nas diversas áreas, seja
na educação, na indústria, na administração, na saúde, etc. Na área da saúde,
são diversas as possibilidades de uso, e para dar clareza ao que o termo
tecnologia em saúde abrange, segue os esclarecimentos de Borges e Pires
(2013, p. 221),

Estão inclusos neste termo não só aquelas tecnologias que interagem


diretamente com os pacientes, tais como equipamentos médicos,
procedimentos médicos, técnicas cirúrgicas e outros, mais também os
sistemas organizacionais ou administrativos e de suporte dentro dos quais
os cuidados de saúde são oferecidos

Entre essas possibilidades pode-se destacar a telemedicina e


telessaúde, os prontuários eletrônicos, os avanços no diagnóstico contando com
exames laboratoriais e de imagem, na troca de informações entre os
profissionais e pacientes, entre outros.

3 TIC APLICADAS À SAÚDE

A telemedicina é definida como a troca de informações a distância, para


a saúde do paciente e a educação dos profissionais da saúde usando TIC (LIMA,
2007; SILVA, 2006). A esse conceito Soirefmann acrescenta que,

[...] pode ser caracterizada como o emprego de sinais eletrônicos para


transferir informações médicas (fotografias, imagens em radiologia, áudio,
dados de pacientes, videoconferências ) de um local a outro através de
internet, de computadores, de satélites ou de equipamentos de
videoconferência, com a finalidade de melhorar o acesso à saúde
(SOIREFMANN, 2008 p 116).

Por meio do Ministério de Ciência e Tecnologia e da Rede Nacional de


Ensino e Pesquisas (RNP), redes de alta velocidade estão sendo instaladas pelo

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
159

País. São projetos como a Rede Ipê, o Projeto GIGA, e Rute que vêm interligando
centros de excelência (LIMA, 2007).
A rede Ipê é uma infraestrutura de rede de Internet no Brasil, dedicada à
comunidade de ensino superior e pesquisa, que interconecta universidades e
seus hospitais, institutos de pesquisa e instituições culturais. De acordo com os
registros, em 2014 esta rede já estava presente em 40 cidades brasileiras. A
inovação tecnológica das redes e dos serviços de telecomunicações orientadas
à Internet é da responsabilidade do projeto Giga, que desenvolve as pesquisas
aplicadas, para o seu desenvolvimento, experimentação e validação.
A Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) dispõe da infraestrutura da
rede Ipê, e das Redes Comunitárias Metropolitanas de Educação e Pesquisa
(Redecomep) com link com a Rede Clara (Cooperação Latino-Americana de
Redes Avançadas), o que permite às instituições participantes contarem com a
colaboração de redes-parceiras na América Latina, Europa, Japão, Austrália e
nos Estados Unidos. A Rute possibilita o compartilhamento dos dados dos
serviços de telemedicina dos hospitais universitários e as instituições de ensino
e pesquisa participantes e por meio do compartilhamento de arquivos de
prontuários, consultas, exames e segunda opinião, levando assim, serviços de
excelência a cidades distantes.
A partir dessa estrutura é que a telemedicina vem sendo desenvolvida e
aprimorada no Brasil, e mesmo representando um custo para sua implantação,
tem sido considerado de grande valia, já que no país há uma má distribuição de
recursos e também devido a extensão territorial. Entre os ganhos da telemedicina
no Brasil, pode ser apontada a facilitação do acesso a protocolos
sistematizados, a educação à distância, sessões de segunda opinião, entre
outros, resultando em melhor assistência à população (LIMA, et. al., 2007).
Na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o curso
de Medicina conta com a disciplina de Telemedicina desde 1998. Devido a
grande gama de atuação da telemedicina, a USP agrupa as atividades em 3 (três)
grandes conjuntos: Tecnologias Educacionais Interativas e Rede de Tecnologias
de Aprendizagem Colaborativa; Teleassistência/Regulação e Vigilância
Epidemiológica; Pesquisa Multicêntrica/Colaboração de Centros de Excelência e
da Rede de “Teleciência” (WEN, 2012). Essas áreas de atuação, além de
desenvolverem atividades na disciplina, também desenvolvem pesquisas
juntamente com os alunos.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
160

Por meio desse sistema podem também ser referidas algumas


experiências regionais de teleassistência, que estão em desenvolvimento, como
o Projeto “Telessaúde – uma nova visão da Amazônia” que conecta pontos
remotos na Amazônia a hospitais, e permite o contato com especialistas nas
diversas áreas da saúde, quando necessário. No Programa de Saúde da Família,
pode ser referida a Rede de Núcleos de Telessaúde (Nutes) de Pernambuco o
Programa BH-Telessaúde entre outros (LIMA, et. al., 2007).
A área da radiologia e diagnóstico por imagem tem um ganho no uso da
telemedicina, pois, as imagens podem ser enviadas/recebidas e discutidas entre
especialistas, e isso pode contribuir para a tomada de decisão (LIMA, 2007).
As TIC contribuíram ampliando os exames diagnósticos realizados por
imagem, como a tomografia computadorizada, ressonância magnética, medicina
nuclear e ultrassonografia. Atualmente, são exames solicitados rotineiramente
por médicos de diversas especialidades e contribuem tanto no diagnostico,
como no acompanhamento da terapêutica dos pacientes. Estes exames foram
evoluindo juntamente com essas TIC e alguns se diferenciaram para atender
áreas específicas como, por exemplo, na odontologia. Diversos exames de
imagem foram adaptados e/ou desenvolvidos para uso rotineiro como radiografia
panorâmica, radiografias intra e extra bucais e tomografia cone Beam. A
tomografia computadorizada de feixe cônico ou cone Beam, é feita a medida da
densidade dos tecidos, aferidas por meio de escalas matemáticas. Com isso o
planejamento cirúrgico e tratamentos de lesões têm sido mais seguros (FARIA,
2013; MACHADO, 2012). É possível utilizar foto documentações virtuais e
visualizar e manipular modelos ortodônticos.
Na especialidade de análises clínicas as TIC estão presentes em muitas
das atividades. Campana et al., (2011, p. 405), discutem a evolução dos
processos realizados nos laboratórios que utilizam as TI como posto a seguir.
Automação laboratorial consiste na integração entre hardware e software
desenhados para o processamento e a analise por completo das
amostras. Ressaltamos que a evolução da automação laboratorial, em
todas as suas fases, esta intimamente relacionada com a evolução em
tecnologia da informação (TI), incluindo os processos automáticos pós-
analíticos, por meio de fluxogramas de interpretação (delta check, lógica
fuzzy, etc.), protocolos de repetição e diluição de exames, testes
reflexões, etc.

Frente a essa automação foi possível ampliar a variabilidade e a


quantidade de exames a serem realizados. Assim, houve um avanço no
diagnóstico e acompanhamento de diversas patologias. Da condição de realizar
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
161

exames laboratoriais apenas quando se está doente, se passou a poder fazer


exames como prevenção. A comunicação entre laboratórios parceiros, a
possibilidade dos pacientes obterem resultados dos exames pela internet, o
interfaciamento dos equipamentos que realizam os exames e o programa do
laboratório que formata os laudos, são outros pontos que representam ganhos
obtidos a partir do uso das TIC (CAMPANA, 2011).
O prontuário eletrônico do paciente (PEP) é outro exemplo do uso das
TIC nas atividades do profissional da saúde. O PEP é um instrumento para
registro e acompanhamento do paciente. Na literatura encontra-se algumas
referencias que apontam que já com Hipócrates de Cós, no século V a.C., era
identificada a necessidade real de ter os registros escritos sobre os pacientes.
Isso permitiria refletir o curso da doença e indicar as suas possíveis causas
(OLIVEIRA, 2012; PINTO, 2006).
O prontuário eletrônico do paciente é definido por Oliveira, (2012, p. 4)
como:

Sistema constituído por um banco de dados de informações sobre a vida


clínica do paciente de forma que todos os profissionais possam ter
acesso às informações das ações assistenciais prestadas ao paciente e
tornar possível um melhor desempenho da atividade clínica, administrativa
e de serviços complementares à hospitalidade.

O Conselho Federal de Medicina na resolução CFM 1821 de 2007,


aprova as normas técnicas para o uso dos sistemas informatizados para
armazenamento e manuseio dos documentos dos prontuários dos pacientes, e
também autoriza a eliminação do papel.
Para todo paciente hospitalizado, é aberto um prontuário onde serão
realizados todos os registros médicos, da equipe de enfermagem, da equipe de
fisioterapia, quando atender o paciente, serão adicionados os resultados de
exames, sejam de imagem, de laboratório de análises clínicas e/ou de patologia,
e tudo que for realizado com o paciente. Esse prontuário sendo manuseado e
escrito por diversos profissionais, e com diversas folhas, representa um volume
de papel que precisa ser armazenado por longos períodos de acordo com a
legislação em vigor, o que resulta num problema de armazenamento nos
hospitais. Além dessa dificuldade, cada pessoa possui uma letra diferente e nem
sempre legível, o que pode representar dificuldade ao ser lida por outro. Com a
implantação do prontuário eletrônico, a tendência é a melhora tanto para

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
162

armazenar esses prontuários como também na leitura e acesso a essas


informações (OLIVEIRA, 2012).
As redes sociais envolvem pessoas com um interesse em comum, que
interagem e trocam informações por meio de tecnologias de informação,
desconsiderando a distância geográfica. Os grupos podem ser abertos ou
fechados, mas com a prioridade trocar informações e experiências (LIMA,
2015). Sobre as redes sociais Urruti-Pereira, et. al.,(2015, p. 256) esclarecem
que:

As redes sociais se definem como um conjunto de aplicações


tecnológicas através de internet que permitem as pessoas supervisionar,
criar, compartir e manipular texto, áudio, fotos ou vídeos, seja de maneira
unidirecional (por exemplo, por a informação em seu próprio blog) ou
multidirecional (contribuindo a discussões em fóruns on-line).

Alguns médicos, dentistas, nutricionistas, entre outros profissionais, têm


utilizado o WhatsApp como acréscimo ao atendimento aos pacientes. Esta é
uma condição nova e alguns estudos tem se proposto a ouvir os pacientes ou
cuidadores para verificar se essa prática é adequada para uso no atendimento
pelos profissionais da área da saúde. Entre eles, um estudo verificou a
expectativa dos pais e cuidadores de crianças atendidas em um programa
especializado de tratamento de asma em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, quanto
ao uso de redes sociais para receber informações sobre os cuidados e a
patologia. Entre as conclusões obtidas ressalta-se,

As mensagens de texto (SMS) e WhatsApp tem demonstrado ser eficazes


pela complementar ao programa de atenção, porque permitem melhorar
os resultados de saúde, aumentar a adesão ao tratamento, horários e
compromissos, melhorar a comunicação médico-paciente, a informação
acerca da saúde, a compilação de dados, assim como o acesso aos
registros de saúde (URRUTIA-PEREIRA, et. al., 2015, p. 257).

A relação médico-paciente através das redes sociais necessitam seguir


critérios para que ocorra de maneira segura e confiável. Esse uso das redes
pelos médicos como ferramenta de trabalho tem sido foco de atenção em alguns
países criando diretrizes especificas para seu uso, como ocorreu na Nova
Zelândia e Estados Unidos. No Canadá, a Associação médica emitiu um
documento para orientação dos médicos e dos estudantes de medicina
(URRUTIA-PEREIRA, 2015). No Brasil ainda não há documentação específica,
porém os Conselhos Federais de Medicina, de Odontologia, etc. tem limitado

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
163

esse contato com o paciente a uma consulta prévia e reforça que não pode
ocorrer como uma primeira consulta. Pode ser um acréscimo para tirar uma
dúvida, reforçar os cuidados, etc.
Como outra vertente do uso de redes sociais pode ser referida as
comunidades virtuais utilizadas por pessoas doentes. Essas comunidades
surgem de pessoas com interesses comuns que se encontram para compartilhar
experiências e apoiar-se mutuamente. Nesta modalidade os blogs são muito
utilizados. Frequentemente são grupos de pessoas com doenças graves como o
câncer, ou com patologias crônicas como, por exemplo, a diabetes. Além de
serem formados grupos de pacientes partilhando as experiências, há também os
que são compartilhados por familiares ou cuidadores desses pacientes,
buscando apoio e troca de experiências. Vale ressaltar que também há
comunidades, como as de pessoas anoréxicas e bulêmicas que querem partilhar
experiências de manutenção da magreza. Essa modalidade pode manter o
anonimato do paciente, que se identifica com um nome fictício (LIMA, 2015).
Diversos blogs são encontrados tendo como responsável um
profissional da área de saúde, seja médico, dentista, fisioterapeuta, ou outro.
Nesses blogs são disponibilizados os contatos para atendimento de pacientes, e
também são postados textos referentes a especialidade desse profissional, como
orientação e/ou esclarecimento. Pode ser acessado por pacientes, ou qualquer
pessoa que tenha interesse no tema. Além disso, é possivel obter esclarecimento
sobre os programas em que atuam, formas de contato, etc.
A Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), criada em 1999,
que tem como área de atuação todos os setores relacionados a produtos e
serviços que possam afetar a saúde da população brasileira. No seu site, há os
acessos para registrar eventos adversos e queixas técnicas de produtos para a
saúde na fase de pós-comercialização, como equipamentos, materiais, artigos
Médico-Hospitalares, implantes e produtos para diagnóstico de uso "in-vitro",
que é a Tecnovigilância. Para o monitoramento das reações transfusionais
resultantes do uso terapêutico de sangue e seus componentes têm a
Hemovigilância, e para o acompanhamento do desempenho dos medicamentos
que já estão no mercado tem a Farmacovigilância. Essa vigilância pós-uso/ pós-
comercialização, hoje conhecida como VIGIPÓS, por meio da vigilância de
eventos adversos e de queixas técnicas tem a função de detectar precocemente
problemas relacionados a produtos e outras tecnologias e desencadear as
medidas pertinentes para que o risco seja interrompido ou minimizado. Esses

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
164

registros dependem dos profissionais de saúde que devem relatar as


ocorrências.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As tecnologias da informação e comunicação estão amplamente


presentes em atividades desenvolvidas pelos profissionais da área de saúde, nas
diferentes especialidades. Seja a atuação em hospitais, clinicas, na atenção
básica, consultórios ou no ensino, o profissional terá que lidar com essas
tecnologias.
Ao serem identificadas essas atividades e discutidas entre os
profissionais e os estudantes, podem levar a maior destreza para lidar com a
tecnologia. Se esse profissional participa dos cursos de graduação terá mais um
ganho que é trabalhar o tema com seus alunos, que são os futuros profissionais.

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CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
166

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA


A SOCIALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SONIA MARIA DE CAMPOS SILVA1


JANE HARITOV DE FREITAS2

RESUMO

O brincar promove o convívio social entre crianças de culturas diferentes,


enquanto a criança brinca, ela raciocina, tem liberdade, iniciativa, alegria,
motivação, descanso interno e externo, esses fatores comprovam o quanto o
brincar é significativo e que desde os primeiros anos de idade ela cresce com
determinação, aprende a compartilhar e agir com seus próprios impulsos
principalmente na fase da Pré-escola, período em que a criança está em
desenvolvimento. Sendo assim, exercita suas habilidades, criatividades,
inteligências, autonomias e a sociabilidade, portanto, é essencial o momento do
brincar porque proporciona descobertas por meio das experiências.
Palavras-chave: Criança. Socialização. Brincadeiras.

1 INTRODUÇÃO

O processo de desenvolvimento infantil acontece desde os primeiros


dias de vida e a criança interage com o meio a partir do choro, olhar, apontando
para alguma coisa, contato com animais, objetos, sons, palavras entre outros e
desta forma, comunica-se com tudo o que está em sua volta.
Para Vygotsky (2003) a criança tem praticidade na sua inteligência e
possuindo suas próprias características, com isto, o desenvolvimento abrange
diversos aspectos, o cognitivo, o afetivo, o motor e o social, possibilitando a
conquista da fala, que mesmo sem significado, mas pronunciada por meio de
sons e sílabas, tem a função de afetivo-conativo, ou seja, ela interioriza o que
ouve e relaciona com um objeto tentando pronunciá-lo, uma ação do
comportamento diante de um sentimento que leva o indivíduo a atitudes
espontâneas englobando a elaboração de pensamento e aquisição de
conhecimento.

1
Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações (2016) UNICESUMAR. Especialista e
Psicopedagogia e Gestão Escolar (2010) UNIVALE. Graduada em Pedagogia pela Universidade
Luterana do Brasil (2009).
2
Graduada em Pedagogia, acadêmica do curso de pós-graduação pela Unicesumar.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
167

O meio é muito importante para o desenvolvimento da fala na infância,


pois todos têm o seu momento para começar a andar, a falar e a criar seus
próprios pensamentos reflexivos. Entre 3 e 7 anos de idade a criança relaciona
os sinais com a fala em que começa a raciocinar e a controlar seu próprio
pensamento.
Para Vygotsky (2003) existem dois tipos de fala, a egocêntrica e a
comunicativa, ambas vistas pelo autor como falas sociais e o que as diferem são
suas funções.
A fala egocêntrica não é duradoura, ocorre somente nos primeiros anos
de vida e molda-se no decorrer das atividades praticadas pela criança, que
aprende a solucionar seus problemas por meio de suas próprias experiências e
aquisição de novos conhecimentos e descobertas, por esta razão, a fala
egocêntrica é considerada passageira. Já a fala comunicativa sucede da relação
com o próximo, deste modo, ambas fazem com que as crianças desenvolvam
sua fala social.
A percepção aparece como um processo integral, pois os objetos
podem variar, mas a percepção persiste integral. Seu desenvolvimento acontece
por meio de sensações, que a criança percebe que estas estão relacionadas
entre si, depois relaciona os objetos e então surge uma situação global, podendo
assim organizar sua percepção.

2 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA CONFORME VYGOTSKY

Durante o processo de desenvolvimento a criança adquire


independência e sua percepção se emancipa e se liberta.
A independência adquirida pela criança acontece diante do que ela
memoriza, por isso, desde os primeiros anos de vida a memória funciona como
centro das informações que a mesma obtém. A memória busca causas
relacionadas com as atividades do cérebro, portanto, não tem como
compreender completamente a memória sem entender as funções do cérebro.
Segundo Vygotsky (2003), a memória é uma prioridade geral de toda
matéria organizada, pois ele relaciona a matéria orgânica com a inorgânica para
tentar compreender melhor a mente humana se depara com desvios científicos,
estes que o levam a diversos mecanismos de interpretações dos fenômenos da
memória encontrando explicações interligadas.
O autor considera que crianças de menor idade têm mais facilidade em

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
168

memorizar conteúdos e aprender outros idiomas, por estar em nível pré-escolar,


uma fase de descobertas apontada em pesquisas como resultados positivos em
relação ao aprendizado.
Quando a criança memoriza, ela pensa, pois ambos estão interligados
com funções distintas que são semelhantes, e no decorrer do desenvolvimento é
possível perceber a mudança que ocorre entre memória e pensamento. Segundo
Vygotsky (2003), o pensamento está relacionado às experiências internas e
externas do ser humano, em que o pensar é um ato que está ligado ao aparelho
psíquico.
O autor considera que na infância ocorrem os primeiros reflexos, estes
que fazem com que a criança obtenha conhecimento do que vivenciou sem
saber denominar, porém sabe distinguir por estar em um processo contínuo de
aprendizagem por meio de suas próprias experiências.
Pensar é um ato consequente daquilo que a criança tem em sua
memória, possibilitando a ela a capacidade de desenvolver seu próprio
pensamento, o que facilita a compreensão e a interpretação do mesmo, como
também de outras pessoas, ou seja, compreende melhor as opiniões alheias.
Para Vygotsky (2003), o pensamento se apropria da realidade, por isso
o pensamento se une com a fala, que deixa de ser exclusivamente biológica para
ser também sócio histórico.

A fala interior se desenvolve mediante um lento acúmulo de mudanças


estruturais e funcionais, que se separa da fala exterior das crianças, ao
mesmo tempo em que ocorre a diferenciação das funções sociais e
egocêntricas da fala, e finalmente, que as estruturas da fala dominadas
pelas crianças tornam-se estruturas básicas de seu pensamento
(VYGOTSKY, 2003 p. 62).

O desenvolvimento do pensamento e da linguagem não coincide entre


si, porque só com o tempo o pensamento se torna verbal e a linguagem racional,
pois é por meio do convívio social que a criança utiliza a linguagem e constrói
seu raciocínio.
A construção do raciocínio possibilita que a criança desperte suas
emoções, devido à capacidade que ela adquire de poder assimilar o que fala com
o que pensa e o que sente.
De acordo com Vygotsky (2003), pode-se compreender que a emoção é
intrínseca, ou seja, surge do interior de cada ser humano desde a infância, ao
longo do desenvolvimento de uma criança, é possível estudar as reações

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
169

emocionais que a mesma adquiriu diante de determinadas situações que


ocorreram ao seu redor.
Vygotsky (2003) relata o pensamento contraditório em ralação ao
experimento do autor James, que em sua tese não materialista, diferenciava o
campo das emoções inferiores e superiores, preocupando-se em salvar estas
emoções de uma visão ou interpretação materialista. Para James, só têm origens
orgânicas às emoções inferiores herdadas pelo homem de seus antepassados
animais, ou seja, os órgãos internos são os verdadeiros portadores das
emoções.
Segundo Vygotsky (2003), nos primeiros anos de vida é possível
perceber as reações emocionais nos recém-nascidos, que mesmo sem terem
conhecimento do que é emoção, eles sentem, diante do que vivenciam, gerando
em cada um, sentimentos diferentes, uma ação provocada pelo novo, e a cada
descoberta acontece uma reação, sendo elas: O medo, a ira, a raiva e a
hedônica.
No processo do desenvolvimento infantil o egocentrismo predomina
absoluto, pois a criança não conhece outra realidade a não ser ela mesma,
construindo o seu próprio mundo. A princípio, a imaginação acontece em formas
primárias como o subconsciente, que serve não ao conhecimento da realidade,
mas ao prazer e a satisfação, sendo um processo individual não social, de
caráter não comunicável.
O desenvolvimento da imaginação não é só o aparecimento em si da
linguagem, mas também nos momentos em que são cruciais, os quais as
crianças consideram mais importantes, ou seja, de processos emocionais como
nos acontecimentos que os mesmos gostaram de vivenciar com mais prazer.

2.1 SOCIALIZAÇÃO

Segundo Oliveira (2002), a socialização é o processo interativo


necessário para o desenvolvimento, por meio do qual a criança interioriza
hábitos, costumes e características tornando-se membro de uma sociedade.
Com o passar do tempo é possível reparar uma notável mudança no
processo de socialização infantil, devido os avanços tecnológicos no meio da
comunicação, o aumento significativo de informações disponíveis, as novas
formas familiares. etc.
Dentro desse pequeno contexto, observa-se o importante do papel do

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
170

ambiente escolar para a consolidação no processo de socialização, este que se


inicia desde cedo quando a criança é concebida, pois no útero da mãe ela
consegue ouvir diferentes timbres de voz das pessoas que se relacionam com
sua mãe, tendo assim o primeiro contato com o mundo, porem são as
experiências que vão possibilitar que ela descubra os sons.

A primeira fase, que se segue ao “traumatismo” do nascimento organiza-


se em torno da identificação primaria do bebe a mãe com quem
estabelece uma relação de dependência oral... Já que o bebe não esta
ainda socializado. Para autora a primeira fase de socialização é a função
da mãe (DUBAR, 1997, p. 39).

O primeiro contato de um recém-nascido é com seus pais, os


responsáveis pela interlocução com eles por meio da fala, para favorecer no seu
desenvolvimento social, à medida que ele cresce e se relaciona com diversas
pessoas passa a fazer parte de uma sociedade com culturas diversificadas
desde o modo de se expressar, agir, vestir, alimentar, falar e até os mais
diferentes aspectos como: festas, danças, costumes, etc.
Os pais possuem um papel de suma importância no processo de
socialização e desenvolvimento, pois a criança absorve seus comportamentos e
gestos conforme o seu crescimento e seus interesses, isto é, interioriza-os
tornando-os seus, dando início à construção da própria identidade,
desenvolvendo sua personalidade e autonomia.
Mediados pela interação do homem com a sociedade, o processo de
socialização inicia-se desde cedo pela convivência com a família, sendo este o
seu primeiro contato e posteriormente com outras instituições que compõem a
sociedade. “O indivíduo não nasce membro da sociedade, Nasce com
predisposição para a sociabilidade e torna-se membro da sociedade” (BERGER e
LUCKMANN 2003, p.173).
A criança só passa a ser membro da sociedade a partir da compreensão
sobre o mundo. A socialização pode ser definida em dois momentos, a
socialização primária e a socialização secundária.

A socialização primaria é a primeira socialização que o indivíduo


experimenta na infância, e em virtude da qual se torna membro da
sociedade. A socialização secundaria é qualquer processo subsequente
que introduz um indivíduo já socializado em novos setores do mundo
objetivo de sua sociedade (BERGER e LUCKMANN, 2003, p. 175).

É na socialização primária que ocorre a interiorização, onde a criança

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
171

tem o primeiro contato com mundo obviamente representado pelos pais e


terceiros, ou seja, pessoas com quem ela se relaciona, pois é um momento em
que a criança cria em sua consciência a imagem dos papeis e atitudes dos pais,
para os papeis e atitudes em geral, isto significa que ela passa a identificar os
outros como parte de seu mundo. Neste contexto de socialização, ou melhor, de
interiorização, que a ela passa a se tornar membro efetivamente da sociedade,
pois começa adquirir consciência de si própria e dos outros ao seu redor.

Quaisquer que sejam a interiorização só se realizam quando há


identificação. A criança absorve os papeis e as atitudes dos significativos,
isto é, interioriza-os, tornando-os seus. Por meio desta identificação com
os outros significativos a criança torna-se capaz de se identificar a si
mesma, de adquirir uma identidade subjetivamente coerente e plausível
(BERGER e LUCKMANN, 2003, p.176).

Portanto, a família tem importância vital para a construção da identidade


da criança, pois constitui e promove as condições que ela necessita para viver
em sociedade. “A socialização secundária é a interiorização de “submundos”
institucionais ou baseados em instituições” (BERGER e LUCKMANN, 2003,
p.184).
A socialização secundária permite à criança deparar-se com os
conflitos de uma personalidade já formada, onde seu mundo já interiorizado se
manifesta com o novo, tratando-se da internalização e aquisição de novos
conhecimentos.

A criança vive quer queira quer não no mundo tal como é definido pelos
pais, a partir do momento que ela percebe o mundo real, algumas
crianças conseguem separar perfeitamente o seu mundo do mundo real, a
partir do momento em que sai da escola, um processo possível pelas
instituições principais que são: família, escola e logo, sociedade (BERGER
e LUCKMANN, 2003, p.190).

A escola desempenha um papel importante na vida dos educandos, pois é


por meio dela que acontece a apresentação do conhecimento social
possibilitando a eles maior compreensão de um mundo que não seja só o seu,
mas sim uma visão mais ampla de tudo o que está ao seu redor. No entanto, é
fundamental para o desempenho cognitivo e social em que princípios éticos e
morais permeiam esses novos contextos, em que possam estar inseridos.
Sendo assim, as instituições devem reforçar através das técnicas
pedagógicas a verdadeira realidade, mostrando de acordo com a sua real
interiorização adquirida na socialização primária o quanto o desconhecido é
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
172

interessante. É por meio dos estímulos que o discente mostrará interesse em


interiorizar novos conhecimentos, valores e uma nova língua que não seja a
materna.
Ao ensinar a ler e a escrever, a escola irá ampliar o conjunto de
informações culturais, estimular e oportunizar momentos de interação entre os
alunos, reforçando o processo de socialização. A criança ao ingressar na rede de
ensino, se depara com normas e regras estabelecidas para todos, sem exceção,
o que facilitará o entendimento e aceitação de um novo âmbito, sujeitando-se a
um convívio onde a mesma possa compreender os limites e assim respeitar as
diferenças alheias. É um momento em que ela começa assimilar às maneiras, os
costumes, as personalidades, as linguagens, ou seja, a cultura de cada um e por
meio dessas circunstancias ocorre a interação.

A escola é junto, com a família, a instituição social que maiores


repercussões têm para a criança. A escola não só intervém na
transmissão do saber científico organizado culturalmente, como influi em
todos os aspectos relativos aos processos de socialização e individuação
da criança, como são o desenvolvimento das relações afetivas, a
habilidade em participar em situações sociais, a aquisição de destrezas
relacionadas com a competência comunicativa, o desenvolvimento da
identidade sexual, das condutas pró-sociais e da própria identidade
pessoal (DUBAR, 1997, p. 252).

Com base no que foi abordado, pode-se afirmar que a escola marca a
vida dos alunos para sempre, por ser um ambiente que proporciona novas
amizades, onde eles se relacionam e percebem as diferenças e semelhanças uns
dos outros.
Alguns estudantes, no inicio da escolarização sofrem com o processo
de socialização por não terem adquirido uma boa base social junto à família, isto
ocorre principalmente com aqueles que têm todas as suas vontades atendidas e
ao se relacionarem, percebem algumas características da sociedade, tais como:
Respeitar a vez, não gritar, compartilhar, esperar etc. Já uma criança
socialmente segura, preparada consegue perfeitamente se relacionar sem perder
o seu individualismo com as pessoas que a cercam.
Enfim, o processo de socialização é fundamental tanto na escola quanto
no ambiente familiar e o indivíduo modifica-se de acordo com a sua vivência,
além de obter relações intra e interpessoais que permite a assimilação e a
compreensão do mundo, é através dessa troca que as funções sociais são
interiorizadas.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
173

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa possibilitou descobrir que as brincadeiras são fortes


instrumentos que influenciam de forma positiva na interação das crianças nas
séries iniciais, pois o ato de brincar além de ser prazeroso proporciona um
momento de troca, afetividade, conhecimento, diversão, descontração entre
outros, facilitando o relacionamento interpessoal.
As etapas do desenvolvimento infantil se firmam na fase pré-escolar, por
ser um período de adaptação, porém ao brincar as crianças se relacionam com
tudo o que está em sua volta, isto acontece desde os primeiros dias de vida,
onde se desenvolvem por meio de suas próprias percepções, ou seja,
observando e assimilando os objetos, pessoas mais próximas e o meio em que
vivem, sendo este um processo de amadurecimento, pois enquanto pequenos
necessitam de adultos para auxiliá-los e no decorrer do tempo suas percepções
se emancipam e adquirem autonomia para realizar o que desejam sozinhos.
Em relação à socialização é possível observar que é um processo que
ocorre simultaneamente, isto é, a partir dos primeiros contatos a criança aprende
a construir sua própria identidade. É na relação com mundo que a mesma se
torna membro da sociedade, onde conhecem as diversidades culturais, pessoas
com diferentes personalidades e a compreender o papel de cada uma dentro da
sociedade.
No entanto, é importante que a criança esteja inserida no ambiente
escolar para que vivencie relacionamentos interpessoais aprendendo a se
relacionar com o mundo.
Quanto à utilização das brincadeiras na socialização é interessante a
inserção de todos em um único espaço para facilitar este processo, por isso
considera-se a escola o melhor ambiente devido receber alunos de diferentes
regiões, com isto, os educandos passam por uma fase de adaptação e
aceitação, onde aprendem a respeitar uns aos outros.
Baseando na abordagem dos autores percebe-se que é por meio do
brincar que criança descobre a importância de trabalhar em grupo, amplia suas
amizades, manifesta-se e se liberta, além de proporcionar a reprodução de
situações imaginárias, isto é, a construção de conhecimento e a contribuição
para o desenvolvimento integral da criança.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
174

REFERÊNCIAS

BERGER, Peter L.; LUCKMANN,Tomas. A construção social da realidade. 23. ed.


Petrópolis: Vozes, 2003.
BROUGERE, Gilles. Brinquedo e cultura. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
DUBAR, Claude. A socialização construção das identidades sociais e
profissionais. 1. ed. Porto: Porto, 1997.
KISHIMOTO, TizukoMorchida. Jogo, brinquedo e a educação. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 2003.
KISHIMOTO, TizukoMorchida. O brincar e suas teorias. 1. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2011.
OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação infantil fundamentos e métodos. 1. ed.
São Paulo: Cortez, 2002.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e infância: um guia para pais e
educadores em creche. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2000.
VYGOTSKY, L.S. O desenvolvimento psicológico na infância. 1. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2000.

WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré – escola. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1999.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
175

DOM QUIXOTE: UMA PROPOSTA PARA FORMAÇÃO DE LEITORES

VALDELICE DOS ANJOS RASIMAVIKO REJANI 1


RENATA MANTELO LACHI2

RESUMO
O gosto pela leitura é o grande desafio imposto à escola nos últimos tempos. Ela
é reconhecida como imprescindível, no entanto, não acontece de forma efetiva
nas aulas de literatura, principalmente por conta da escolha das obras e a forma
como essa habilidade é cobrada dos alunos. Sendo assim, para que a escola e a
literatura cumpram seu papel em relação à formação de leitores competentes, é
preciso repensar algumas práticas docentes. Ainda que os clássicos da
literatura, como o proposto neste artigo – Dom Quixote – não sejam as obras
preferidas dos alunos do ensino fundamental (turmas em que foram aplicadas
metodologias mais ativas durante o processo de leitura do texto), é possível
alcançar resultados satisfatórios se houver um trabalho minunciosamente
planejado. O objetivo foi demonstrar a responsabilidade da literatura na formação
de leitores, bem como propor atividades que tornem a didática menos senso
comum e mais cativante.
Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil. Formação de leitores. Dom Quixote.

1 INTRODUÇÃO

Ler é abrir-se para o mundo, e para envolver-se na leitura e ser tocado


por ela é preciso transpor o papel passivo e meramente contemplador de leitor e
se tornar participativo, um leitor que constrói, junto com o autor, os sentidos
possíveis para o texto, que consegue estabelecer uma troca com a obra, sendo
essa uma tarefa um tanto desafiadora em tempos atuais. Não se pretende
discutir a importância de ler, ao contrário, o trabalho propôs uma metodologia
que incentive a leitura, reconhecendo o valor dessa habilidade para a vida.
Tendo em vista a dificuldade encontrada por professores em selecionar
livros e fazer boas indicações literárias aos alunos, formar leitores competentes
ou ainda enfrentar a recusa dos alunos pelo ler, a reflexão acerca da literatura na
escola se torna ainda mais imprescindível. Assim, como a escolha das

1
Mestranda de Gestão do Conhecimento nas Organizações- Unicesumar– 2015/2017.Especialista
em Gestão Educacional: Administração, Supervisão e Orientação - Unicesumar (2012). Graduada
em Letras Português-Inglês -Unicesumar_Centro Universitário de Maringá (2008).
2
Graduada em Licenciatura plena em Letras Port./Ing.e respectivas literaturas pela Universidade
Estadual de Maringá (UEM) - 2007.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
176

atividades garante ou não um melhor resultado durante as aulas de literatura,


favorecendo o interesse pela obra literária e até mesmo pela leitura de outras
obras ao longo do tempo, isto é, formando leitores efetivamente.
No primeiro capítulo consta a revisão da bibliografia acerca do processo
de formação de leitores, e, posteriormente, a demonstração de um estudo de
caso em que os alunos do 7º ano de uma escola privada do noroeste do Paraná
foram submetidos à leitura da obra Dom Quixote e realizaram atividades
referentes ao livro de maneira que fugiu do senso comum proposto na maioria
das vezes por professores de literatura.

2 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE


LEITORES

A leitura que é capaz de libertar e acrescentar, isto é, trazer algo de novo


e fugir do senso comum, de acordo com Resende (1997) é aquela com a qual é
possível interagir, é aquela que surpreende e desperta sentimentos. Para a
autora, se é também na escola que se faz a leitura de livros de literatura, então é
imprescindível considerar alguns aspectos didáticos nesse processo. A escola
se torna o espaço privilegiado de acesso à leitura e formação do leitor literário,
seja ele motivado pela necessidade, pelo prazer, pela obrigação ou por
passatempo.
Ler é produzir sentidos, atribuindo significado as informações,
reproduzindo um grande clichê; no entanto, produzir esses sentidos e
significados a partir da literatura é pensar em contextos sociais e culturais de
épocas e povos diversos, com crenças e costumes também diversos, com os
quais pode ou não haver identificação. A literatura apresenta um tempo distante
ou próximo do tempo dos leitores, assim, ela vai ampliando o gosto pelo hábito
de ler, além de contribuir no acréscimo do repertório/vocabulário dos leitores.
Escola e literatura são parceiras há muito tempo, pois ambas, segundo
Zilberman (2003), apresentam natureza formativa. O receptor dos ensinamentos
passados por elas não permanece indiferente, uma vez que o caráter
humanizador da literatura faz dessa um objeto de aprendizagem dentro da escola
(FILIPOUSKU, 2005). O grande problema se torna o caráter manipulador que as
escolas têm se prestado, onde propõem e perpetuam comportamentos que
sigam a norma vigente, assim como grande parte da literatura tem servido a
multiplicar padrões que destoam do interesse juvenil. No entanto, para Zilberman
(2003), a fantasia e o lazer também incentivam a leitura, exatamente como fuga
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
177

a essa pressão. Tanto a escola quanto a literatura podem “provar sua utilidade
quando se tornarem o espaço para a criança refletir sobre sua condição pessoal”
(ZILBERMAN, 2003, p. 24).
Para que a literatura cumpra seu papel de modo efetivo é preciso que a
escolha do texto a ser lido seja mais cuidadosa e que haja uma melhor
adequação desse texto ao púbico leitor. No que tange à leitura é preciso observar
algumas premissas, a saber: não se aprende o que não se gosta; e, além disso,
a aprendizagem depende não apenas da inteligência, mas também da
estimulação do imaginário do estudante, de modo que cabe estabelecer práticas
de ação docente que impliquem a mobilização dessas premissas (ZILBERMAN,
2008).
O receptor do texto literário precisa enxergar uma relação entre o mundo
apresentado no texto e o seu contexto, a partir desse ponto conseguirá
estabelecer uma relação entre a obra e o leitor. Ao professor caberá levar o aluno
a perceber temas e seres humanos que “afloram em meio à trama ficcional”
(ZILBERMAN, 2003, p. 29). A autora defende um efeito duplo provocado pela
literatura: acionar a fantasia e suscitar o posicionamento intelectual, o que leva à
reflexão e à incorporação de novas experiências (Id., 2008).
Filipouski (2005, p. 227) afirma em seu artigo que “a leitura literária
também é uma forma eficiente de vincular o ensino à realidade”, assim como
aprimora a capacidade do leitor de pensar e sentir, incentiva nele a valorização
das manifestações simbólicas do ser humano e de seu mundo imaginário. Para
Paiva (2010), enquanto a literatura servir como pretexto para atividades
gramaticais ou tema de redações ela perderá a possibilidade de levar o leitor ao
desenvolvimento crítico, interior.
A formação do leitor prevê um crescimento gradual; a leitura, nesse
caso, é entendida como algo que vai além da decodificação do texto ou do
armazenamento das informações apresentadas por ele. A leitura de uma obra
literária, numa perspectiva de formação de um leitor competente, perpassa
aspectos ativos, cooperativos, criativos. “Saber ler não transforma o indivíduo
em leitor competente” (PAIVA, 2010, p. 32). Nesse viés, Costa (2013) propõe
para a leitura da obra literária, uma participação livre e produtiva do leitor.
Saraiva (2006) afirma, entretanto, que o discurso sobre a formação de
leitores na escola e as práticas desenvolvidas por ela se contrapõem. Para a
autora, organizar feiras de livros, solicitar a leitura de algumas obras ou ter uma
biblioteca na escola não são suficientes se as atividades de ensino demonstram

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
178

uma desvalorização do texto literário. Ela caracteriza o trabalho com a literatura


em sala de aula como um “descompasso entre discurso e prática pedagógica”
(SARAIVA, 2006, p. 27). Focar sua atenção meramente em exercícios centrados
no reconhecimento de informações pode colocar fim à leitura como prática
significante, em que o aluno deve participar das construções de sentido
possibilitadas pelo texto. À medida que o receptor se coloca como responsável
pela produção dos sentidos, a leitura se torna uma aventura e o prazer
decorrente dessa ação é mais evidente.
Para Saraiva (2006, p. 29), “como arte, a literatura caracteriza-se por
seu apelo ao imaginário e pela presença da fantasia”, porém, constata-se que
apesar de ela ser fictícia, ela não abandona sua relação com o real. Sendo
assim, a literatura é capaz de concretizar sentimentos e dilemas humanos,
angústias e sonhos, havendo uma correspondência com a realidade. Zilberman
(2003) explana que a literatura por mais ficcional que seja, apresenta pontos em
comum com o cotidiano do leitor. Obras literárias permitem ao leitor refletir sobre
si mesmo, reconhecer-se no texto ou dele se afastar, tendo em vista imagens
criadas que divergem de sua realidade. Saraiva (2006) comenta que o texto
literário provoca mais do que o prazer de ler, ele tem funções sociais e éticas, ou
seja, a proposta apresentada se sustenta numa relação prazerosa e crítica do
leitor com o texto. Paiva (2010) defende que a leitura prazerosa não exclui a
aquisição de conhecimentos, o que significa que ler além de estimular a
curiosidade, por exemplo, permite ao leitor assimilar informações, experimentar
diferentes emoções e construir novos conhecimentos.
Valorizar a literatura na prática pedagógica não significa usá-la de modo
exclusivo durante as aulas ou deixar de lado outros gêneros, é preciso atentar
para a pluralidade de discursos que circulam socialmente por meio de outros
textos (SARAIVA, 2006). Assim como, para realizar uma leitura efetiva, ainda que
em sala de aula, seja necessário dar condições adequadas ao ler. Inicialmente,
segundo Resende (1997), a significação do texto literário é dada individualmente,
de modo silencioso, em um ato individual. Ler deve ser entendido, mesmo
dentro da escola, como um ato para si mesmo, não para o professor, nem para a
prova, nem para nota. Ideia também defendida por Costa (2013, p. 47), que
afirma que “a leitura silenciosa é a base da educação individual da leitura”, a qual
pode e deve ser intercalada com a prática da leitura coletiva. Assim, também
defende Zilberman (2008) quando aponta que à medida que o leitor se enrique
com a leitura, numa perspectiva individual, ele tende a socializar a experiência

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
179

vivida, discutir preferência. A leitura sob esse ponto de vista estimula o diálogo, a
troca.
Assim como outras formas de expressão artística, a literatura

Propicia o desenvolvimento integral do homem, que percorre, pela


linguagem, mundos desconhecidos, cria e recria realidades, vivencia
situações, amplia o conhecimento de mundo, encontra o equilíbrio
emocional e psíquico, desenvolve seu senso crítico. Seja no papel de
escritor ou de leitor, a literatura possibilita ao homem a expansão de seu
potencial criador e imaginativo, satisfazendo sua necessidade de ficção
(VIEIRA, 2008, p. 442).

No processo de formação de leitores, cabe ao professor encontrar


formas de avaliar o aproveitamento de seus alunos, fugindo dos métodos usuais,
mas que reflitam as funções da literatura, a saber: a de pensar, experimentar o
caráter estético, contribuir para a percepção do mundo, ultrapassar o valor
moralizante e meramente informativo para então contribuir com a formação
pessoal e intelectual. Não se pode negar, conforme aponta Costa (2013), que a
formação do leitor é atribuição primordial e indiscutível da escola, se comparada
a outras instituições sociais. Da mesma forma, ela sugere que o processo de
formação de leitores por meio da literatura aconteça pela substituição do
“mandar ler”, totalmente autoritário, para compartilhar significações, esclarecer
razões, defender a importância da leitura para a aprendizagem como um todo.

3 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Tendo em vista, portanto, a expectativa criada sobre o trabalho docente


e a literatura, somada às exigências curriculares de inserção de obras literárias
na escola, desde a educação infantil ao ensino médio, foi decidido dentre as
diversas obras da literatura universal propor a leitura da obra Dom Quixote de La
Mancha, de Miguel de Cervantes, aos alunos do 7º ano de uma escola privada
do noroeste do Paraná. Reconhecendo o desafio, foi escolhida uma adaptação
própria à idade, feita por Michael Harrison (2013).
A escolha da obra se pautou exatamente na possibilidade que a obra
tem de permitir a associação entre a ficção e a realidade do aluno, já que ele
também sente, muitas vezes, o desejo de “fugir” por aí, em busca de aventuras,
por exemplo, como narrado pelo livro “[...] e ele achou que também devia ser um
cavaleiro, que devia sair numa expedição em busca de aventuras” (HARRISON,
2013, p. 10). O livro leva os alunos a perceber que as fantasias criadas e
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
180

vivenciadas pelo personagem Dom Quixote também são criadas e vivenciadas,


em certas ocasiões, em sua própria imaginação e que seus desejos mais
“loucos” também são os desejos de um homem já velho, mas que nunca
desistiu de realizá-los.

3.1 TÉCNICA UTILIZADA

A partir das práticas vivenciadas ao longo dos anos, enquanto docente,


foi possível perceber o grande desafio que ronda a literatura, e fazer com que um
adolescente se interesse pela leitura de um livro escolhido pelo professor é uma
tarefa árdua e que exige muita dedicação.
A partir da observação de estratégias que funcionavam em outras
disciplinas, com outros alunos e em outras situações foi possível, também na
literatura, propor um trabalho diferenciado com o objetivo maior de levar o aluno
à leitura, não por obrigação ou por conta da prova, mas para se sentir parte do
processo, ou seja, envolver-se com a obra durante as aulas e as atividades.

3.2 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Segundo Costa (2013), o que se espera de um leitor é exatamente a


capacidade de lidar com diferentes textos escritos, além daqueles que circulam
socialmente, como filmes, teatros, periódicos, publicidades, textos digitais, com
o intuito de relacioná-los, compará-los e diferenciá-los. Professor e aluno devem
empenhar-se com igual determinação e vontade na aprendizagem proporcionada
pela literatura, sugere a autora.
Afora os efeitos, a longo prazo, que se pode observar naquele que lê
literatura, efeitos mais imediatos podem aparecer em atividades que propõem a
transposição daquele aprendizado para outras linguagens, tais como desenho,
dramatização, mural, reformulação do texto, entre outras bem menos usuais do
que o que se tem feito na escola. Então, baseando-se nessas reflexões, a ideia
foi utilizar materialidades linguísticas diferenciadas que pudessem fazer o leitor
sentir prazer na leitura, perceber o valor da obra em análise, compreender a
temática, relacionando-a a sua vivência e, acima de tudo, que o livro escolhido
fosse verdadeiramente lido.
É necessário propor outras práticas, tais como tarefas diferenciadas ao
longo do processo de leitura, tarefas mais globais e com problemas reais,
menos estereotipadas, que incentivem a oralidade e possam ser assumidas
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
181

coletivamente, atividades mais práticas e que podem ser executadas


progressivamente (Costa, 2013, apud Perrenoud, 1997). Foi assim que as
atividades foram propostas ao longo do 1º bimestre, semana a semana: antes
mesmo que houvesse a solicitação de leitura do livro, os educandos ouviram a
música “Sonho Impossível”, composta por Joe Darion e Mitch Leigh, com
versão em português de Chico Buarque e gravação de Maria Betânia. A princípio,
a melodia causou certa estranheza, tendo em vista o gosto musical dos
adolescentes, mas eles perceberam rapidamente a temática e decidiram “dar
uma chance” à música. E, daquele dia em diante, a temática ‘sonhos
impossíveis’ se tornou constante durante as aulas, o que permitiu uma melhor
aceitação ao livro, que era desconhecido por muitos.
Um bom trabalho com a literatura está baseado nas reações e respostas
que o leitor traz a partir da análise literária. Buscou, nesse trabalho, demonstrar
como é possível a participação livre e produtiva do leitor, seja para compreensão
da obra, no diálogo que ele estabelece com o texto ou nas inúmeras
interpretações que se alcança em cada leitura. Portanto, duas frases do livro
foram selecionadas e levadas para discussão em sala de aula, a saber: “Como
os livros são perigosos. Os livros deviam ser queimados numa grande fogueira
para evitar que descaminhem as pessoas.” e “A culpa não é só dos livros, mas é
nossa fraqueza que nos faz acreditar naquilo que não deveria passar de uma
diversão para uma noite de inverno. Não existe nenhum livro tão ruim que não
tenha algo de bom”. Frases essas que causaram grande debate entre os alunos,
enquanto uns defendiam a leitura e os livros, outros se opunham, retomando a
fala de Dom Quixote, fomentando que os livros não têm a menor importância.
Segundo Resende (1997), conversar sobre o que se lê é muito importante, pois
propicia um desvendamento conjunto de significados. Para ela, se bem
conduzidos, esses momentos são coerentes com o que o espaço literário é, ou
seja, um espaço aberto, de encontro de ideias e emoções descobertas a partir de
um mesmo livro. Só não se pode perder, nesse instante, os sentidos possíveis
dentro da obra.
Ainda na perspectiva do ‘conversar sobre’, os alunos naquele dia foram
instigados a procurar em casa o significado do adjetivo ‘quixotesco’. Acreditando
no poder educador das tecnologias da informação, presumiu-se que a busca
seria realizada pela internet, momento que os faria ter contato com o título da
obra, autor e provavelmente um breve resumo, e assim aconteceu. Na aula
seguinte, muitos alunos perguntavam sobre o personagem Dom Quixote, pediam

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
182

que fosse falado um pouco sobre ele, quando, enfim, a leitura da obra foi
solicitada. Não houve uma data prevista para término da leitura em um primeiro
momento, apenas foi solicitado que começassem a ler para que fosse possível
realizar algumas atividades sobre o livro. Foi perceptível que grande parte dos
alunos estava disposta a “entrar nessa viagem”. Quando uma aluna resgata o
trecho da música Sonho Impossível, ouvida dias atrás, e aponta que “o inimigo
invencível”, citado na letra, está associado ao personagem Dom Quixote,
mencionando que ele trava lutas que serão impossíveis de vencer, verifica-se
que o trabalho surtiria o efeito esperado.
O grande desafio hoje é inserir e integrar as tecnologias no cotidiano
escolar, não só as tecnologias da informação e da comunicação, mas outras
mais simples também merecem destaque, desde que se proponham à
aprendizagem. No entanto, a “presença da tecnologia na sala de aula não garante
qualidade nem dinamismo à prática pedagógica” (LEITE, et. al., 2003, p. 8). É
preciso inovar em termos de práticas pedagógicas. Para as autoras, a tecnologia
associada ao aprendizado demonstra novas formas de ensinar e aprender;
possibilita chegar ao conhecimento; diversifica as formas de apropriação do
saber; dinamiza o trabalho pedagógico.
Pensando assim, foi sugerida a criação de um grupo no whatsapp onde
fosse possível tirar dúvidas sobre a leitura e conversar sobre o livro. Houve,
instantaneamente, um alvoroço dentro da sala já que não é prática comum para
os leitores a informalidade trazida pelas redes sociais e associada ao
desenvolvimento do conhecimento, porém, Brescia, et. al. (2013) defendem que
as redes sociais podem ser utilizadas no processo educacional, considerando o
quanto os alunos são atuantes nelas.
A partir da criação do grupo denominado Dom Quixote, composto pela
professora e os alunos das turmas de 7os anos onde o trabalho foi realizado,
várias atividades foram propostas. Aconteciam, com frequência, por meio do
grupo, discussões sobre trechos do livro, ou mesmo eram lançadas perguntas,
pela professora, referentes à obra. Algumas vezes eram perguntas mais factuais,
objetivas, como: “Quem era Dulcineia del Toboso?”, “Por que Sancho decide
acompanhar Dom Quixote?”; outras vezes, mais reflexivas: “Dom Quixote viveu
aventuras ou desventuras?”.
A fim de incitar as participações, por vezes os alunos eram avisados que
naquela tarde haveria um desafio a ser resolvido no grupo e que o primeiro a
responder a pergunta ganharia um bombom na aula seguinte. Para Brescia, et.
al. (2013, p. 81)
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
183

[...] o contexto atual favorece a comunicação mediada pelas redes sociais


e uma interconexão entre as pessoas, especialmente, entre os jovens da
chamada geração digital e em fase escolar. Eles já conseguem ficar
conectados em tempo real, de lugares diversos, utilizando computadores
e telefones móveis. [...] e assim, alunos e educadores perdem por não
valorizar o diálogo e a aprendizagem em espações colaborativos com
pessoas situadas em diferentes lugares e contextos, o que propiciaria a
expansão do espaço escolar.

Em outra aula, levou-se digitalizada a história de Dom Quixote em


quadrinhos, “O último cavaleiro andante”, de Will Eisner, e foi feita a leitura
dramatizada em sala, com a colaboração de alguns voluntários.
Muitos alunos, diante dos quadrinhos que estavam sendo expostos,
questionaram sobre a necessidade de ler o livro depois daquele momento,
entretanto, à medida que outros alunos apontavam as diferenças que haviam
observado entre os textos, notava-se o olhar curioso daqueles pelo livro, na
tentativa de também encontrar algo de diferente para expor aos amigos. Ainda
que fosse fragmentada, a leitura ia acontecendo. E ao perceber essa atitude, a
professora convidou os alunos para uma ‘Sessão pipoca’ a ser realizada em
contra turno para assistir ao filme “Donkey Xote”, dirigido por José Pozo, de
2007. Para a surpresa da professora, mais da metade dos alunos compareceram
e mesmo aqueles que ainda se mostravam desinteressados, encantaram-se pela
produção. O bate-papo realizado após o filme, quando foi possível comparar
estratégias discursivas e persuasivas presentes nesse gênero e não em outros
lidos até o momento, deu um incentivo ainda maior à continuação da leitura.
Como forma de alavancar ainda mais a leitura, durante o período em que
os alunos estavam lendo o livro, aproveitou-se as paredes dos corredores da
escola para colocar algumas perguntas-relâmpagos dirigidas aos alunos dos 7os
anos. Em papel colorido, com letra num tamanho considerável, imprimia a
pergunta e colocava em pontos estratégicos por onde os alunos iriam passar,
sempre próximo do horário do intervalo para que assim pudessem visualizar o
papel, ler a perguntar e responder imediatamente. Depois da primeira vez, assim
que a “notícia” se espalhou, os alunos sempre cobravam a professora por mais
perguntas, queriam saber quando seria colocada a próxima pergunta. A leitura e
participação efetiva dos alunos foram se tornando natural e necessária. É
possível citar as seguintes perguntas-relâmpago: “Qual foi a artimanha usada por
padre Tomás e mestre Nicolau para levar Dom Quixote para casa?” ou “Qual a
importância do Bacharel para o desenrolar da história?”.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
184

Dado o tempo necessário à leitura e pelas participações durante as aulas


e nas outras atividades, ficou combinado com os alunos uma aula para a
realização de um ‘percurso literário’, nome criado pela professora, a fim de
provocar a curiosidade dos alunos. Avisado que para participar era necessário
estar “por dentro” da obra. Ao chegar o dia, todos muito curiosos, observavam a
montagem das atividades no pátio da escola, um ambiente diferente do usual.
Montou-se um varal com oito trechos significativos do livro, porém, fora da
ordem, para que os alunos pudessem organizá-los cronologicamente;
selecionaram-se cinco provérbios usados pelo personagem Sancho Pança em
suas viagens ao lado de Dom Quixote, acompanhados do significado que se
pode atribuir a tais ditados, que foram embaralhados, a fim de que houvesse a
correta correlação entre ditado e significado; foi impresso um pequeno artigo
intitulado “Como posso sonhar um sonho impossível?”, escrito por Gustavo
Bernardo, pesquisador do CNPq e colocado sobre uma mesa, acompanhado da
pergunta: “O adjetivo ‘quixotesco’ é positivo ou negativo?”; além de uma
imagem dos personagens do livro, aproximando-se dos famosos moinhos de
vento, em outra mesa, com a seguinte denominação: “Cavaleiro da Triste
Figura”.
Quando tudo estava organizado, foi solicitado que os alunos se
dividissem em pequenos grupos (no máximo cinco alunos) e que “resolvessem”
as atividades propostas. Enquanto isso a professora acompanhou a realização
das atividades, indo de grupo em grupo observando as discussões, notando
aqueles que realmente haviam lido e aqueles que estavam “perdidos”, bem como
fazia a mediação das reflexões, auxiliando nas dúvidas que iam surgindo e
encaminhando os grupos para os novos desafios. Foi uma aula um tanto quanto
motivadora, já que caracteristicamente os adolescentes se envolvem em
atividades em grupo e, principalmente, se eles percebem o caráter competitivo
da proposta.
Ao passo que alguns se empenhavam em colocar os acontecimentos
em ordem, consultando o próprio livro, outros iam discutindo o sentido das
expressões populares usadas por Sancho (“Não espiche o braço além da manga
da camisa”; “Se um asno viaja, não volta cavalo”; “Mais vale um pássaro na
mão que dois voando”; “Onde falha a força de um leão, vence a esperteza da
raposa”, etc.). Adiante um grupo lia o artigo e se questionava sobre adaptações
e o quanto elas alteram a obra original; a professora pode ouvi-los, inclusive,
falar sobre os livros que se transformam em filmes e o quanto mudam. Sobre a
titulação “Vocês não precisavam ser tão violentos! Não veem que ele não é um
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
185

ladrão de gado, mas o Cavaleiro da Triste Figura?”, os alunos discutiam o


significado que ela tinha, qual o melhor nome para Dom Quixote naquela situação
e até sobre a sensatez do amigo Sancho. Todos os alunos participaram de todas
as atividades.
Aquela aula foi encerrada com a leitura do capítulo 4 - “Em que Dom
Quixote parte com uma camisa limpa”, em que são descritas duas das suas
“batalhas”: contra os moinhos de vento e contra dois grandes rebanhos de
carneiros. Ao término da leitura, muitos alunos diziam já ter passado dessa
parte, alguns relataram que os pais também já tinham lido o livro Dom Quixote e
que se lembravam dos moinhos de vento que haviam sido confundidos com
gigantes.
Ainda havia, dentro do planejamento da professora, a música Dom
Quixote, da banda Engenheiros do Hawaii, que foi colocada depois de uma aula
de gramática, fazendo-os acreditar que seria sobre o conteúdo que estava sendo
trabalhado. Logo no início, o verso “Muito prazer, meu nome é otário” provocou
risos entre os alunos, que levaram um tempo para perceber que o livro voltava
num ritmo mais envolvente. Foi solicitado pelos alunos, ao término da primeira
vez, que a música fosse tocada de novo, quando, enfim, a letra foi entregue, sem
o título da canção, e eles perceberam que as descrições se encaixavam ao
personagem Dom Quixote, no sentido de alguém totalmente “fora dos padrões”,
como descrito por um dos alunos. Quando na letra se tem a referência direta ao
livro (“Tudo bem, até pode ser que os dragões sejam moinhos de vento”), a
intertextualidade se tornou ainda mais evidente e os alunos se deliciaram com as
comparações apresentadas pela música e foram aos poucos resgatando várias
situações lidas na obra.
Por ocasião da semana literária proposta pela escola, como
encerramento do bimestre e dos trabalhos com o livro Dom Quixote, foi sugerido
que a participação dos 7os anos seria com a obra, e, de modo voluntário,
chegavam as propostas de participação: cartazes, desenhos, trechos
destacados, escultura de material reciclável, bonecas caracterizadas como os
personagens principais da história e, para a ocasião, três alunos se dispuseram
a se fantasiar de Dom Quixote, Dulcineia del Toboso e Sancho Pança para,
durante a semana, andar entre os alunos e contar-lhes sobre as aventuras
vividas por esses personagens.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
186

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ler Dom Quixote, primeiramente, faz com que o adolescente


experimente outras possibilidades de leitura, dado o contexto de produção da
obra; depois, permite ao leitor um envolvimento com o texto, na medida em que
as atitudes do personagem levam esse leitor constantemente a julgá-las: por que
ele fez tudo isso? Será que está ficando louco? O que eu faria no lugar dele?
Será que eu teria coragem? Não se torna possível uma leitura passiva diante da
completude de Dom Quixote. É impossível aguardar as ações se desenrolarem
sem supor os próximos contratempos. Sendo assim, é uma leitura que garante
um crescimento cultural e psicológico no leitor, proposta por esse trabalho.
Além disso, essa obra, que a princípio pode não parecer adequada a
adolescentes de 11 anos, aproximadamente, ultrapassa o valor moralizador de
muitas obras, apresenta um personagem que apesar de ter seus cinquenta anos
não desistiu de sonhar e “correr atrás” dos seus objetivos, um personagem que
não se “deixa levar” por aquilo que os outros pensam ou esperam dele, um
personagem que mesmo tendo sido derrotado, não desiste.
Seja de modo quixotesco ou não, esse trabalho se propôs a mostrar
como é possível, através de escolhas pertinentes e de atividades envolventes,
levar o aluno à apreciação do texto literário; à leitura na íntegra da obra, não
apenas resumos veiculados pela internet; ao reconhecimento do valor cultural do
texto escolhido e, principalmente, à participação efetiva durante as aulas.

REFERÊNCIAS

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Redes sociais e suas possibilidades de uso na educação. In: VALLE, L. E. L. R.
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tecnologia a favor da inclusão. Porto Alegre: Penso, 2013.
COSTA, Marta Morais da. Metodologia do ensino da Literatura Infantil. Curitiba:
Intersaberes, 2013.
DONKEY XOTE. Direção de José Pozo. Produzido por LumiqStudios e
FilmaxAnimation. CGI de 2007 - Espanha.
ENGENHEIROS DO HAWAII. Dom Quixote. Dançando no campo minado. AR e
Discover Digital Studio. Universal Music GmbH, 2003.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
187

EISNER, Will. O último cavaleiro andante. Tradução de Carlos Sussekind. Cia da


Letras: São Paulo, 1999.
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MARCHI, Diana; SCHÄFFER, Neiva (Orgs.). Teorias e fazeres na escola em
mudança. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.
HARRISON, Michael (Adap.). Dom Quixote. São Paulo: Ática, 2013.
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Buarque, Gravação de Maria Bethania. Som livre. 1972.
LEITE, Ligia Silva (coord.); POCHO, Claudia Lopes; AGUIAR, Marcia de Medeiros;
SAMPAIO, Marisa Narcizo. Tecnologia educacional: descubra suas
possibilidades na sala de aula. Petrópolis: Vozes, 2003.
PAIVA, Silvia Cristina Fernandes. A literatura infantil no processo de formação do
leitor. Cadernos de Pedagogia. São Carlos, ano 4, v. 4, n. 47, p. 22 - 36, jan./jun.
2010.
PERRENOUD, Philippe. Práticas pedagógicas e profissão docente: 3 facetas. In
Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas.
Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997.
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expressão criadora. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
SARAIVA, Juracy Assmann; MUGGE, Ernani e colaboradores. Por que e como ler
textos literários. In: Literatura na escola: propostas para o ensino fundamental.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
VIEIRA, Alice. Formação de leitores de literatura na escola brasileira: caminhadas
e labirintos. Cadernos de Pesquisa, v. 38, n. 134, p. 441 – 458, maio/ago. 2008.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11 ed. São Paulo: Global,
2003.
ZILBERMAN, Regina. O papel da literatura na escola. Via Atlântica,n. 14, dez.
2008.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
188

INOVAÇÕES E MUDANÇAS NO PERFIL DO EDUCADOR INFANTIL

KETHLEN LEITE DE MOURA 1


DAYARA LYANNE RIBEIRO DA SILVA 2

RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo a análise do perfil do educador infantil,


contextualizando brevemente sua trajetória, tendo como foco principal as
inovações, as mudanças e a formação continuada. Considerando as novas
concepções de educador e de infância para as mudanças no perfil desse
profissional, faz-se necessário além de novas competências uma reflexão acerca
de sua formação profissional. Essa pesquisa é constituída de uma revisão
bibliográfica qualitativa sobre as variáveis do tema, pensando nisso, surge à
necessidade de refletir sobre a importância de uma formação docente e das
práticas pedagógicas que supram as necessidades atuais dos alunos sendo
coerente com o desenvolvimento da criança contemporânea. Pode-se considerar
que essas inovações e mudanças no perfil desse profissional estão ligadas as
novas necessidades, individualidades e características dos alunos o que levou
esses profissionais a se adaptarem.

Palavras-chave: Inovações. Mudanças. Educação infantil. Formação Continuada.

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como objetivo principal estudar o perfil do educador


infantil, a proposta para abordar o tema em questão surgiu a partir das
mudanças ocorridas nos documentos como os PCNs, LDB e os RCNs, que
regem a Educação Infantil e das discussões no meio acadêmico, em programas
de governo e nos meios de comunicação. A partir dessa ótica, passa a ser
fundamental discutir o perfil desse educador infantil, sujeito da educação e
responsável pela mediação dos saberes e da cultura, assim como as
competências necessárias a essa função.
As ideias que fundamentam esse trabalho são os documentos que
regem a Educação Infantil como principal etapa da educação básica e das
orientações para os educadores, segundo o Referencial Curricular Nacional e os

1
Professora Orientadora da Unicesumar, Graduada em Pedagogia, Especialista em Docência do
Ensino Superior, Mestre em Educação e Doutoranda em Educação.
2
Graduação em Pedagogia pela Faculdade de Centro Universitário de Itajubá - FEPI.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
189

Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil, juntamente com os


pressupostos de Goulart, Almeida, Freire, Perrenoud e Oliveira, os quais se
referem que o desafio dos profissionais da área escolar é manter-se atualizado
sobre as novas metodologias de ensino e desenvolver práticas pedagógicas
eficientes, pois hoje muito se fala sobre a necessidade de o professor refletir
sobre sua prática em sala de aula. Contudo, as condições para que isso ocorra
nem sempre são ideais.
O problema levantado se refere ao questionamento: Quais as inovações
e mudanças no perfil do educador da Educação Infantil? A problemática parte da
hipótese de que o perfil do educador sofreu mudanças ao longo das transições
sociais e culturais e que isso se deu em função dos avanços socioeconômicos,
dos novos modelos de alunos e, de certa forma, para atender às necessidades
da sociedade.
Os capítulos apresentados nessa pesquisa irão relatar que atualmente, a
mudança na formação do educador infantil consiste em privilegiar a concepção
do professor como transformador, mediador do conhecimento e principalmente
como ponte para a construção de um sujeito ativo que participe do processo
ensino-aprendizagem.

2 CONTEXTO HISTORICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL DO BRASIL

Por longos períodos a Educação Infantil não era mencionada por grande
parte dos educadores do século XVIII, que propunham uma educação
diferenciada de acordo com o status social, com o pensamento e com o
intelectual de cada indivíduo.
Áries (1978) diz que o olhar diferenciado em relação ao educar a criança
não é algo comum na Idade Média. O sentimento de Educação Infantil começa a
se desenvolver a partir dos séculos XVIII e XIX, pois a educação para crianças
pequenas em si não existia.
As primeiras instituições a prestarem cuidados às crianças eram
mantidas pelos conhecimentos e pelos preceitos da religião, que tinham como
principal objetivo guardar crianças a partir de dois anos, incluindo os cuidados
com sua saúde e alimentação, bem como, em alguns casos, sua iniciação em
um ofício. Eram as “escolas de caridade” ou “escolas de damas” (OLIVEIRA,
1994).

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
190

Segundo Aries 1978, a ideia de creche surge inicialmente na Europa, no


final do século XVIII e início do século XIX. A creche propunha ‘guardar’ crianças
de 0 a 3 anos, durante o período de trabalho das famílias.
No Brasil, o conceito de creche no Brasil surge no final do século XIX,
decorrente do processo socioeconômico do país. Nesse período, ocorre o
crescimento das cidades, a migração de pessoas para as áreas urbanas em
busca de trabalho e melhores condições de vida. Nota-se que as creches tinham
como primeira função o assistencialismo às crianças, e não à educação infantil
em si no sentido de promover reflexão compatível com a idade e com o
desenvolvimento das crianças.
O atendimento às crianças no período de 0 a 3 anos não era entendido
como um direito, nem visto pelo Estado e pelas leis como obrigatório. Os locais
de atendimento infantil eram vistos como abrigos de crianças, depósitos ou casa
de caridades e somente mais tarde recebeu o nome de creche.
Segundo Oliveira (1994), a história do atendimento da Educação Infantil
no Brasil só se efetivou com a criação do Departamento Nacional da Criança na
década de 40 e 60 com caráter normativo, reconhecendo a creche como um mal
necessário no combate à pobreza e ao assistencialismo de criança filhas de
mães operárias.
O primeiro documento a tramitarem no país a respeito da educação de
crianças menores foi a Lei de Diretrizes e Bases - LDB, criada em 1971. Essa lei,
que modificou a estrutura de ensino do país, se refere à Educação Infantil pela
Lei 5.692/71 que atribuía ao Estado velar para que os sistemas de ensino,
diretamente ou por meio de convênio, oferecessem conveniente atendimento em
jardins de infância ou similares para menores de 7 anos.
A Educação Infantil, segundo Faria (2007), embora tenha mais de um
século de história com o cuidar e educar, passou a ser reconhecida como direito
da criança somente na década de 1990, sendo dever do Estado e
obrigatoriedade essa etapa da Educação Básica.
Como será visto adiante, a Educação Infantil no Brasil só passa a ser
considerada uma etapa da educação básica e obrigatória, assegurada pelo
Estado, a partir da Constituição de 1988 e em 1996, com a LDB nº 9698/96.
Após as leis de 1971 referentes à Educação Infantil no Brasil, muitos
autores consideram a Constituição de 1988 um marco para a área da Educação
de 0 a 6 anos. Com ela, a garantia dos direitos à Educação Infantil no Brasil foi
chancelada, de forma que a creche passou a ser reconhecida como instituição
de ensino e direito da criança.
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
191

Pela primeira vez na historia da educação no Brasil se reconhece a


Educação Infantil. Assim, é importante destacar:
[...] A Carta Magna representou para a Educação Infantil enorme
abertura na política educacional do país, havendo o
reconhecimento nacional da valorização da educação infantil, com
isso: A constituição de 1988 vem reconhecer a Educação Infantil
como uma etapa da educação [...] A Constituição de 1988
reconhece a educação de 0 a 6 anos como direito da criança e da
família e dever do estado (PAIVA, 2003, p.177).

A Constituição Federal de 1988 reconhece a educação como direito da


criança de 0 a 6 anos e como dever do Estado, sob a responsabilidade dos
municípios, a cumprir-se mediante o atendimento em creches e pré-escolas,
definindo ambas como instituições educacionais, rompendo com a tradição
assistencialista.
Contudo, observa-se que a educação de crianças passa a ser
responsabilidade não somente da família, mas também do Estado, cabendo a
ambos contemplar as práticas educativas. Nesse sentido, destaca-se, ainda, a
Lei de Diretrizes e Base da Educação de 1996, conforme mencionada, que
integra a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica, definindo
que sua finalidade é a de contemplar o desenvolvimento integral da criança até
os seis anos de idade com a colaboração da família e da comunidade.
Em 1996, a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional – LDB
reconhece a importância da Educação Infantil. A lei nº 9394/96 destaca ainda
em seus artigos 30, incisos I e II e 31:

Art.30. A educação infantil será oferecida em:


I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três
anos de idade;
II- pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.
Art.31. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante
acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino
fundamental (BRASIL, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
1996).

Ou seja, todas as famílias que desejarem compartilhar com o Estado a


educação e o cuidado de seus filhos serão contempladas através das creches e
pré-escolas públicas.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
192

Dessa forma, sob a ótica da Constituição Federal, do Estatuto da


Criança e do Adolescente e da Lei de Diretrizes e Base, reitera-se que:

A criança deve ser vista como sujeito de direitos e, assim, ela


passa a ser reconhecida como cidadã em desenvolvimento,
requerendo, então, uma atenção individualizada. Segundo esse
preceito constitucional, lhe é assegurado, o acesso a uma
Educação Infantil de qualidade que contribua para seu
desenvolvimento efetivo (CABRAL, 2005, p.61).

Assim, a partir da legislação, é possível considerar a criança como um


sujeito com plenos direitos, com acesso a uma educação de qualidade,
sobretudo que seja capaz de oferecer possibilidades para adquirir
conhecimentos básicos e dar continuidade aos estudos.
Além disso, o trabalho pedagógico realizado pelas instituições com
Crianças de 0 a 6 anos adquiriu reconhecimento e ganhou uma dimensão mais
ampla no sistema educacional a partir da regulamentação, com as seguintes
finalidades: atender às especificidades do desenvolvimento de crianças
pertencentes a essa faixa etária e contribuir para a construção e o exercício de
sua cidadania.
O Referencial é um documento de caráter instrumental e didático que
veio para auxiliar os educadores; assim, cabe aos professores terem consciência
de sua prática educativa, da construção de conhecimentos e da inter-relação
com os diferentes eixos sugeridos pelo RCN a serem trabalhados com as
crianças.
Segundo o RCN (1998, p 30), para que as aprendizagens infantis
ocorram, é necessário que o educador considere, na organização do trabalho
educativo:
 A interação com crianças da mesma idade e de idades
diferentes em situações diversas como fator de promoção da aprendizagem e do
desenvolvimento e da capacidade de relacionar-se;
 Os conhecimentos prévios de qualquer natureza, que as
crianças já possuem sobre o assunto, já que elas aprendem por meio de uma
construção interna ao relacionar suas ideias com as novas informações de que
dispõem e com as interações que estabelece;
 A resolução de problemas como forma de aprendizagem.
O que se sabe é que a maioria dos profissionais da Educação Infantil
ainda não possui formação adequada e são mal remunerados, realizando o
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
193

trabalho de forma precária. O RCN (1998) considera que, na creche, ainda é


considerável o número de profissionais com formação mínima conhecida como:
berçaristas, auxiliar de desenvolvimento infantil, monitor, babá e recreacionista.
Diante desta situação, em 2006 foram criados os Parâmetros Nacionais
de Qualidade para a Educação Infantil (PNQ), que possui referências de
qualidade para serem utilizadas pelos sistemas de ensino com objetivo de
promover a igualdade de ensino levado em conta diferenças, diversidades e
desigualdades.
O PNQ tem como função garantir o bem-estar, assegurar o crescimento
e promover o desenvolvimento das crianças da Educação Infantil junto ao
educador. Para isso o PNQ estabelece que para essa etapa educacional os
profissionais devem:

 assegurar que bebês e crianças sejam atendidos em suas


necessidades de saúde: nutrição, higiene, descanso e
movimentação;
 assegurar que bebês e crianças sejam atendidos em suas
necessidades de proteção, dedicando atenção especial a elas
durante o período de acolhimento inicial (“adaptação”) e em
momentos peculiares de sua vida;
 encaminhar a seus superiores, e estes aos serviços
específicos, os casos de crianças vítimas de violência ou maus-
tratos; possibilitam que bebês e crianças possam exercer a
autonomia permitida por seu estágio de desenvolvimento;
 auxiliar bebês e crianças nas atividades que não podem realizar
sozinhos; (BRASIL, 2006, p. 39)

O PNQ (2006) estabelece também que os educadores e profissionais


que atuam na Educação Infantil devem estar capacitados para valorizar toda e
qualquer ação da criança referente ao seu desenvolvimento.
Dessa forma, torna-se importante pensar na formação do profissional de
Educação Infantil. Isso requer considerar vários aspectos sociais e educacionais,
pois não existe momento certo para se correlacionar a teoria, os estudos e as
práticas, às experiências, tornando imprescindível uma formação continua e
progressiva.

3 O PERFIL DO EDUCADOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL

É no contexto de uma educação voltada para o assistencialismo que o


perfil do profissional da Educação Infantil foi construído, como já visto, por meio
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
194

de concepções simples, restringindo sua função apenas a aspectos do cuidar e


educar, considerando, desta forma, que para ser professor de Educação Infantil
basta ter habilidades físicas e maternais.
Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
(RCNEI, 1998), educar a criança significa propiciar situações de cuidado,
orientar as brincadeiras e aprendizagens para que essas possam contribuir para
o desenvolvimento das relações interpessoais, atitudes de aceitação, respeito e
confiança e o acesso aos conhecimentos mais amplos da realidade social e
cultural. Quanto a cuidar, equivale a compreender como ajudar o outro a se
desenvolver como ser humano, valorizar e ajudar a desenvolver capacidades, o
que implica em um ato de relação entre o outro e si próprio em uma dimensão
expressiva a qual exige procedimentos específicos. O termo “professor de
educação infantil” é utilizado para designar aqueles que atuam na educação
básica ou, de forma específica, na educação infantil.
Mudar o perfil desse profissional é mudar as relações do educar entre
professor-aluno dentro das escolas e compreender que a prática pedagógica tem
papel social e político importante. O educador necessita assumir uma postura
crítica em relação a sua prática, recuperando a essência do ser “educador”.
Freire (1992, p.11) posiciona bem a questão: “É na fala do educador, no ensinar
(intervir, devolver, encaminhar), expressão do seu desejo, casado com o desejo
que foi lido, compreendido pelo educando, que ele tece seu ensinar. Ensinar e
aprender são movidos pelo desejo e pela paixão”.
Segundo Carvalho (1999), para atuar significativamente junto à criança,
compreendida como sujeito interativo na elaboração de seu conhecimento, o
professor deve constituir-se como um participante que constrói e reconstrói seu
conhecimento.

3.1 INOVAÇÃO E MUDANÇA NO PERFIL DO EDUCADOR DA EDUCAÇÃO


INFANTIL

Durante anos, o professor era o único participante ativo do saber; aquele


que detinha o conhecimento e que transmitia para os alunos toda sua sabedoria
de forma linear, ou seja, uma educação centrada no professor.
Diante dessa indagação, o professor não pode mais ser visto como
reprodutor do conhecimento. Ser professor atualmente significa desenvolver os
conteúdos de modo contextualizado e globalizado, além de desenvolver práticas

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
195

que atendam à diversidade dos alunos contemplando as necessidades


individuais na construção de conhecimento.
Todas as crianças, mais ainda as da Educação Infantil, necessitam de
profissionais qualificados que garantam práticas de aprendizagens eficazes,
significativas e enriquecedoras.

A primeira infância é um momento em que as estruturas


fundamentais da pessoa são organizadas. Os erros educativos
nessa fase têm, portanto, consequências das mais graves. É
preciso oferecer aos professores da educação infantil um elevado
nível de formação. (PERRENOUD, 1993 p.97).

Diante das transições econômicas, tecnológicas e sociais, os


educadores têm de assumir novas concepções de ensino, levando em conta que
não basta a mudança vir só do professor, se não ocorrer de fato no sistema de
ensino.
Hoje, a inovação e a mudança no perfil desse profissional têm exigido
um professor polivalente, ou seja, um profissional que desenvolva diversas
formas de aprendizagens de maneira que possam abranger as áreas do
conhecimento considerando a individualidade de cada criança.
Esse novo perfil polivalente faz parte das mudanças desse profissional
no sentido de que só transferir conhecimentos já não é suficiente para o aluno.
Segundo Freire (1996, p. 26) “não é transferir conhecimento, mas criar
possibilidades para sua produção ou a sua construção”.
Isso significa que não cabe mais ao professor transferir conteúdos, mas
propor instrumentos para que os alunos se situem no mundo como sujeitos
ativos, apontando caminhos para a construção do saber. Freire (1996, p.56)
também afirma que “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender”.
Ensinar exige que o professor acredite que a mudança é possível sem
deixar de acreditar no papel transformador. Isso implica na convicção de que as
mudanças hoje partem de levar os alunos à reflexão, provocar a curiosidade,
estimular a criatividade e estimular o descobrimento do seu próprio mundo. O
professor hoje, segundo Perrenoud (2000), precisa:

[...] despender energia e tempo e dispor das competências


profissionais necessárias para imaginar e criar outros tipos de
situações de aprendizagem, que as didáticas contemporâneas
encaram como situações amplas, abertas, carregadas de sentido e
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
196

de regulação, as quais requerem um método de pesquisa, de


identificação e de resolução de problemas (PERRENOUD, 2000, p.
25).

Deste modo, a inovação e a mudança são necessárias para prática


educativa hoje exigida, pois os educadores devem estimular os alunos a
compreender seu contexto e a criticá-lo. Para alguns autores, ser professor hoje
não é nem fácil nem difícil do que em anos anteriores: é apenas diferente.
Transformar as práticas educativas assistencialistas em práticas que
proporcionem aprendizagem, cultura, linguagem, cognição e afetividade exigem,
além de políticas governamentais, efetivas condições necessárias para uma
educação de qualidade. Esses elementos asseguram condições para fazerem
frente às exigências do mundo atual.
Uma das inovações no perfil desse educador é considerar a criança
como sujeito. Isso implica em considerar que ela tem desejos, ideias, opiniões,
capacidades de decidir, de criar, de inventar. Com isso, é preciso entender que a
criança deve ser compreendida como um ser humano que chega ao mundo e
carrega consigo uma história.
O professor deve se lembrar de que a criança, ao chegar à escola, ainda
não definiu um projeto pessoal de vida e, segundo Perrenoud (2000) cabe ao
professor a competência de levá-la a construir, por meio da comunicação, de
empatia e do respeito à identidade do outro. Um projeto pessoal de vida, por
mais frágil que possa parecer, é um impulsor de aprendizagens. Portanto:
É legítimo incitar uma criança a se interrogar, a fazer projetos,
realizá-los, avalia-los, com a condição de se lembrar de que este é
um longo caminho e seria injusto e pouco eficaz fazer disso um
pré-requisito para as outras aprendizagens (PERRENOUD, 2000, p.
77).

É ainda de suma importância refletir criticamente e levantar


questionamentos sobre as práticas pedagógicas no contexto de atuação. O
professor precisa refletir sobre sua prática, e não se deixar acomodar pelo
domínio do conhecimento ou pelo processo de ensino-aprendizagem, mas
procurar novas formações para ressignificar sua prática.
Conclui-se, portanto, que, em meio a tantas transformações sociais,
culturais e educacionais, as principais causas das mudanças no perfil do
educador infantil partiram da necessidade de atender às novas expectativas de

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
197

aprendizagem, do desejo de descobrir o mundo e de construir o conhecimento


vindo das crianças contemporâneas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar este trabalho que tem como intuito conhecer as reais


mudanças ocorridas no perfil do educador da Educação Infantil sugeridas na
LDB e em outros documentos, além do estudo de autores da área, constata-se
que há uma necessidade, premente de mudança e inovação para o exercício
dessa profissão.
A princípio, torna-se indispensável ao educador ter clareza sobre a
concepção de criança, como sujeito histórico capaz de refletir sobre sua própria
aprendizagem, de criar e recriar seus conhecimentos e de descobrir o seu lugar
no mundo; a fim de garantir a aprendizagem, respeitando as necessidades e
individualidades de cada uma. Fundamental ainda ao professor o
reconhecimento que esse sujeito histórico possui desejos, ideias, opiniões,
capacidades de decidir, de criar, de inventar, é preciso entender que a criança
deve ser compreendida como um ser humano que chega ao mundo e carrega
consigo uma história; assim não se pode aplicar um único modelo de atuação.
Pode-se considerar que as inovações e as mudanças necessárias ao
novo perfil do educador estão entrelaçadas com as mudanças sociais, culturais
e econômicas ocorridas. Esse novo panorama leva o profissional a adaptar-se, a
atualizar-se constantemente para que exerça com competência a função de
educar. Dessa forma, podemos considerar que mudanças são sempre
necessárias, pois nos impulsionam a refletir sobre nossas ações. Logo, o
educador deve exercer o papel de um ser evolutivo, que pensa, reflete, analisa e
busca sempre o aperfeiçoamento a fim de facilitar a aprendizagem e adaptar-se
ao meio.
REFERÊNCIAS

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CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
198

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Formação do Profissional de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF/DPEF/COEDI,
1994.
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de 1990. São Paulo: CBIA-SP, 1991.
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professores. 5ª ed. Campinas: Papirus, 2012.
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PERRENOUD, P. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação:
perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1993.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
199

SOBRE OS ORGANIZADORES

A professora Siderly do Carmo Dahle de Almeida é Doutora em Educação e


Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012) é Mestre em
Educação pela PUCPR (2006). Especialista em Gestão da Informação pela
Fundação de Estudos Sociais do Paraná (1999) e em Educação a Distância pela
Faculdade Educacional da Lapa (2009). É graduada em biblioteconomia pela
Universidade Federal do Paraná (1988) e em Pedagogia pela Universidade
Castelo Branco (2010). Desenvolve pesquisas e tem experiência na área de
Educação, com ênfase em tecnologias e mídias educacionais, formação de
professores, metodologia da pesquisa. Atuou na Prefeitura Municipal de Curitiba
com Educação básica por 15 anos, entre 1991 e 2006, implantou e coordenou
os Faróis do Saber - bibliotecas de bairro instaladas nas Escolas Municipais e
atuou na Coordenação Pedagógica das Usinas de Conhecimento, programa do
governo do Estado do Paraná. Coordenou por 6 anos o Núcleo de Aprendizagem
e Aprimoramento para a Amadurescência da PUCPR e foi coordenadora de
estúdio na EADCON, sendo responsável pela capacitação de docentes para atuar
na Educação a Distância. Atualmente trabalha na Unicesumar como
Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação na área de Educação na
modalidade a distância, é docente do Programa de Mestrado em Gestão do
Conhecimento nas Organizações e é pesquisadora do Instituto Cesumar de
Ciência, Tecnologia e Inovação – ICETI.

A professora Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano possui graduação em


Administração pela Universidade Estadual de Maringá (1999), mestrado em
Administração pela Universidade Federal do Paraná (2002). especialização em
Educação a Distância pela Universidade Estadual de Maringá (2008) e Doutorado
em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (2016). Tem experiência na
área de Administração, atuando principalmente nos seguintes temas: teorias da
administração, comportamento organizacional, estratégia e organizações,
comportamento do consumidor e pesquisa de marketing e na área de educação,
com foco em Educação a Distância. É Head de Projetos Educacionais e Inovação
no Núcleo de Educação a Distância da Unicesumar - Centro Universitário
Cesumar.

O professor Fabricio Ricardo Lazilha possui graduação em Tecnologia em


Processamento de Dados pela Universidade Estadual de Maringá (1995) e em
Pedagogia (em andamento), Especialização em Análise de Sistemas pelo Centro
Universitário de Maringá (1998), Mestrado em Ciências da Computação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002) e Especialização em
Educação a Distância pelo SENAC-PR (2007). Atualmente é Diretor de
Planejamento de Ensino do Núcleo de Educação a Distância do Centro
Universitário de Maringá - UniCesumar. Tem experiência na área de Educação,
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
200

com ênfase em Educação a Distância, atuando principalmente nos seguintes


temas: Educação e Novas Tecnologias, Ambientes Virtuais de Aprendizagem e
Objetos de Aprendizagem. Na área de computação pesquisou as seguintes sub-
áreas: desenvolvimento baseado em componentes, educação a distância,
workflow, linha de produto de software e reuso de software.

A professora Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva é doutoranda em Educação e


Currículo, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Possui dois
Mestrados em Educação: um realizado na Pontifícia Universidade Católica do
Paraná - PUCPR, concluído em 2008, e o outro desenvolvido na Universidade
Paulista, concluído em 1996. É graduada em Licenciatura em Letras, desde
1992, pela Universidade Estadual de Maringá. Desenvolve pesquisas e tem
experiência na área de Educação, com ênfase em Tecnologias na Educação,
atuando principalmente nos seguintes temas: Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC) , EAD, ensino superior e inclusão digital. Coordena o Grupo
de Pesquisa em TIC e Educação - GPTICE, cadastrado no Diretório dos grupos
de Pesquisa do CNPq. Atualmente é Diretora de Pesquisa do Centro Universitário
de Maringá - CESUMAR, membro presidente do CAPEC - Comitê Assessor de
Pesquisa do CESUMAR e coordenadora Institucional do Programa de Bolsas de
Iniciação Científica do CNPq - PIBIC na UniCesumar.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
201

SOBRE AS MADRINHAS DE CURSO

A Professora Fabrícia Souto Cruz é especialista em Língua Portuguesa: Teoria e


Prática, pelo Centro de Ensino Superior do Paraná. Pós-Graduada em EaD e as
Tecnologias Educacionais pelo UniCesumar. Graduada em Letras - Português e
Inglês, pela Universidade Estadual de Maringá. Orientadora nas áreas de Língua
Portuguesa, Docência e Tecnologias Educacionais.

A professora Nayara Emi Shimada é Mestre em Administração no Programa de


Pós-Graduação em Administração da Universidade Estadual de Maringá
(PPA/UEM), na linha de pesquisa de Organizações, Estratégia e Trabalho.
Graduada em Administração pela Universidade Estadual de Maringá - UEM
(2012). Experiência na área de Administração e Estudos Organizacionais.
Desenvolveu projetos de pesquisa como bolsista pelo Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) nos anos consecutivos de 2010-2012.
Desenvolve pesquisas e possui experiência na área de Gestão, com ênfase nas
seguintes temáticas: Gestão das organizações, Identidades, Simbolismo,
Discursos, Poder e Subjetividade nas organizações. Ministrou aulas nas
disciplinas de Gestão Estratégica e Modelos de Gestão. Orientadora nas áreas
de Administração Pública, Gestão de Projetos, Gestão de Pessoas e Gestão
Empresarial. Atualmente é Professora Mediadora de TCC-Pós-Graduação-EAD-
Unicesumar.

A Professora Patrícia Parra é Mestre em Ciências Jurídicas pelo UNICESUMAR.


Pós-Graduada em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera-Uniderp. Pós-
Graduanda em Planejamento e Gestão de Trânsito. Graduada em Direito pela
Universidade Paranaense, Advogada e Professora do UNICESUMAR. Autora na
área de Gestão. Desenvolve pesquisas e tem experiência na área de Direito e
Gestão, com ênfase em Direito Penal, Direito Ambiental, Direito e Gestão de
Trânsito. Orientadora nas áreas de Direito, Administração Pública, Gestão de
Trânsito.

A professora Soraia Alves F. da Silva é Especialista em MBA em Gestão com


Pessoas pelo UNICESUMAR. Pós-graduanda em EAD e as Tecnologias
Educacionais. Bacharel em Administração pela UNIFAMMA. Atua na área de
Gestão. Orientadora na área de Gestão com Pessoas.

A Professora Valdelice dos Anjos Rasimaviko Rejani é Mestranda em Gestão do


Conhecimento nas Organizações - Unicesumar (2015-2017). Especialista em
Gestão Educacional: Administração, Supervisão e Orientação - Unicesumar
(2012). Graduada em Letras Português/Inglês - Unicesumar (2008). Foi
Secretária Executiva dos mestrados da Unicesumar. Atualmente é Professora

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO
202

Mediadora de TCC-Pós-Graduação-EAD-Unicesumar. Atua como pesquisadora e


orientadora na área de educação.

A professora Andréia dos Santos Gallo é Mestranda em Gestão do Conhecimento


nas Organizações - Linha de Pesquisa - Educação - Unicesumar (2015-2017).
Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional – Universidade do Centro
do Paraná - UPC (2012). Graduada em Artes Visuais (PARFOR) pela
Universidade Estadual de Maringá (2013) e Graduada em Pedagogia com
Bacharelado em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica – Unicesumar
(2009). Atualmente é Professora Mediadora de TCC – Pós – Graduação – EAD –
Unicesumar e professora na rede Municipal de Marialva/Pr a 15 anos,
trabalhando com os anos iniciais do Ensino Fundamental. Atua como
pesquisadora e orientadora na área de educação.

A Professora Milene Harumi Tomoike é Mestranda em Tecnologias Limpas pelo


UNICESUMAR. Pós-Graduanda em Gestão Estratégica de Empresas pelo Instituto
Paranaense de Ensino. Graduada em Psicologia pelo UNICESUMAR. Psicóloga,
Consultora e Professora do UNICESUMAR. Autora na área de Gestão.
Desenvolve pesquisas e tem experiência na área de Psicologia e Gestão, com
ênfase em Ambiental, Social, Politicas Públicas e Ciências Politicas. Orientadora
nas áreas de Gestão Ambiental, Gestão de Pessoas e Politicas Públicas.

CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO

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