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Artigo Inédito

O paradigma da relação entre oclusão, Ortodontia


e disfunção têmporo-mandibular
José A. Bósio*

Resumo

O relacionamento entre oclusão, Ortodontia e disfunção têmporo-mandibular tem sido ob-


jeto de discussões e controvérsias. No passado recente, a literatura científica mostrava que os
problemas de disfunção têmporo-mandibular eram ocasionados pela má oclusão e, para sua
correção, um tratamento ortodôntico deveria ser realizado. Estas teorias, aparentemente, tor-
naram-se obsoletas e, devido aos atuais artigos científicos mais consistentes, o relacionamento
destas três entidades tem sido questionado. Esta revisão de literatura procura mostrar uma
possível mudança de paradigma quanto ao relacionamento destas três entidades.

Palavras-chave: Disfunção têmporo-mandibular. Oclusão. Ortodontia. Tratamento ortodôntico.

Introdução nomados, sem evidência científica, era o suficiente


O diagnóstico e tratamento de disfunção têm- na defesa dos conceitos sobre DTM. Quando os
poro-mandibular (DTM) tem sido motivo de primeiros estudos científicos consistentes aparece-
controvérsia desde a primeira vez que apareceu ram, por volta dos anos 60 e 70, alguns conflitos
na literatura odontológica. E o relacionamento da inevitáveis surgiram, desafiando conceitos, crenças
DTM com duas outras entidades, Ortodontia e e procedimentos tradicionais.
oclusão, apresenta uma controvérsia ainda maior. Atualmente, uma mudança de comportamento
As discussões do passado eram, na sua maioria, parece estar havendo quando trata-se de disfun-
entre clínicos proeminentes e seus seguidores, cada ção têmporo-mandibular. Discussões acadêmicas
um acreditando ter uma resposta objetiva para o estão sendo substituídas por discussões entre gru-
diagnóstico e tratamento dos pacientes portado- pos de pesquisadores e clínicos divulgadores de
res de DTM. Diferentes especialidades dentro da hipóteses e teorias de opiniões contrárias. É pos-
odontologia defendiam diferentes conceitos para sível que uma mudança na forma ou na maneira
os efeitos causais e curativos. Quando Costen4 des- de ver este assunto possa estar acontecendo. Esta
creveu os primeiros sinais e sintomas de DTM, em mudança faz parte de um processo evolutivo da
1934, vários autores passaram a acreditar em con- ciência e pode mudar um paradigma2.
ceitos específicos sobre as causas das DTMs. Até o Paradigmas nada mais são que um conjunto de
início dos anos 60, apenas a opinião de autores re- modelos, formas ou padrões, e podem ser compostos

* Master of Sciences e Especialista em Ortodontia - Ohio State University, Columbus, OH. Dois anos residência em DTM na
Eastman Dental Center, Rochester, NY. Especialista em DTM pelo CFO. Clínica Particular, Curitiba, PR e Concórdia, SC.
Diplomado pelo American Board of Orthodontics e Board Brasileiro de Ortodontia.

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Bósio, J. a.

por várias teorias e hipóteses2. Paradigmas não po- consideração quando pensamos em tratamento para
dem ser questionados. Hipóteses e/ou teorias, sim. disfunção têmporo-mandibular. Isberg e colaborado-
Quando uma teoria prevalente começa a ser ques- res7 demonstraram que a maior parte dos pacientes
tionada por uma nova hipótese, inicia-se uma re- com sinais e sintomas de DTM apresenta remissão
volução científica. A medida que a nova hipótese espontânea após um período de cinco anos sem tra-
toma corpo, fundamentada em evidência científi- tamento. Isto então significaria dizer que não deve-
ca, torna-se uma nova teoria. Esta nova teoria pas- mos tratar nenhum dos nossos pacientes, pois eles
sa a ser mais discutida e difundida que a primeira, vão melhorar não importando o que seja feito? Não.
até tornar-se a teoria predominante. Conclui-se, Alguns pacientes tem dor e não estão dispostos a es-
então, o processo de revolução científica, criando- perar muito tempo para ter uma vida normal. Em
se, assim, um novo paradigma, ou seja, uma nova alguns casos o tratamento para DTM é indicado.
forma de ver um determinado assunto2. Clínicos e pesquisadores deveriam estar prepa-
De acordo com a literatura atual, é muito rados para mudar suas teorias favoritas ao longo de
provável que uma mudança de paradigma esteja sua vida profissional. Seria inadmissível aceitar e
acontecendo na área de DTM. Esta mudança pode praticar apenas o que foi ensinado há trinta anos
encontrar resistência principalmente na postura ou mais. Ao longo dos tempos, novas hipóteses e
anti-acadêmica de alguns profissionais que acredi- teorias aparecem e, se estiverem fundamentadas
tam em suas opiniões clínicas, sem embasamento cientificamente, deveriam ser seguidas.
científico, e pensam que elas são mais importantes
que os resultados encontrados pelos pesquisado- OCLUSÃO E DTM
res.6 Ainda existe uma forte corrente de profissio- Com a intenção de demonstrar que problemas
nais disparando ataques às investigações realizadas intracapsulares poderiam provocar alterações oclu-
por alguns pesquisadores, fomentando ainda mais sais, Legrell e Isberg9 provocaram o deslocamento
as idéias daqueles leitores passivos, que acreditam anterior do disco articular unilateralmente em coe-
mais na opinião de profissionais renomados do lhos, e mostraram que o comprimento de mandíbula
que em pesquisas bem elaboradas. Estes leitores era menor no lado onde houve o deslocamento de
sentem-se inibidos e tem dificuldade de abrir seus disco. Além disso mostraram também que a linha
horizontes para novas filosofias e conhecimentos mediana estava desviada para o mesmo lado. Este
estabelecidos pelas novas pesquisas6. resultado mostrou que a DTM intracapsular pode
Muitas destas novas pesquisas têm demonstrado provocar alteração na posição da mandíbula e con-
que procedimentos oclusais, reposição das arcadas seqüentemente, alterações na oclusão dentária. Com
ou procedimentos cirúrgicos são, na sua maioria, este estudo os autores determinaram um relaciona-
agressivos e irreversíveis, além de serem excessi- mento direto de causa e efeito, onde a má oclusão
vamente caros. Assim sendo, percebendo que seus não seria o fator responsável pelo problema da DTM
procedimentos podem tornar-se obsoletos, estes intracapsular, mas sim o resultado do problema.
profissionais que realizam tratamentos caros podem Em outro estudo, também analisando um fa-
ficar amedrontados monetariamente6. Entretanto, tor oclusal específico, mordida cruzada unilateral,
alguns destes profissionais continuarão realizando Santos-Pinto e colaboradores19 estudaram um gru-
estes procedimentos, talvez por desconhecer que po pequeno de pacientes (9 meninas e 6 meninos),
tratamentos conservadores e/ou placebos também e notaram que assimetrias de posição mandibular
apresentem bons resultados. Conti3 e Greene6 mos- produziam assimetrias mandibulares esqueléticas,
traram que o efeito placebo, a remissão espontânea especialmente no ramo mandibular. A mandíbula es-
e a flutuação cíclica devem sempre ser levados em tava significativamente mais longa no lado que não

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apresentava mordida cruzada. Eles sugeriram que podem ser relacionadas ao tratamento realizado,
as assimetrias esqueléticas mandibulares podem ser mas sim a um fenômeno de ocorrência natural.
adaptações associadas ao ajuste postural. Este estudo, Os mesmos resultados foram encontrados por
diferente do estudo de Legrell e Isberg9, indica que Pullinger e Seligman13 em um estudo recente. Eles
um fator oclusal poderia ser responsável por altera- examinaram 381 pacientes e seus respectivos mo-
ções morfológicas na mandíbula, e talvez intracapsu- delos de gesso, tentando encontrar fatores oclusais
lar, mesmo sem isto ter sido investigado no estudo. que poderiam indicar pacientes com DTM. Eles
Vitral e Telles23 estudaram 30 pacientes, com concluíram que a oclusão dentária é responsável
Classe II, subdivisão 1, de Angle, através de tomogra- por apenas uma pequena parcela da amostra do
fia computadorizada e não encontraram nenhuma estudo, não mais que 4,8% a 27,1% de probabi-
diferença estatisticamente significante para assime- lidade. Dos fatores oclusais relacionados, deslizes
tria médio-lateral ou ântero-posterior dos processos oclusais entre máxima inter-cuspidação habitual
condilares do lado com oclusão de Classe I e do lado (MIH) e posição de relação cêntrica (PRC), e over-
com oclusão de Classe II. Este estudo, diferente no jet acentuado foram o mais alto valor predictivo para
formato, encontrou resultados opostos aos resulta- o problema de DTM intracapsular. O resultado dos
dos do estudo de Santos-Pinto e colaboradores19. últimos estudos10,13, indicam que devemos tomar
McNamara, Seligman e Okeson10, em uma revi- muito cuidado ao dizer que problemas oclusais são a
são de literatura, encontraram uma baixa associação causa dos problemas de DTM. Por muitos anos esta
entre fatores oclusais que caracterizam DTMs. Eles foi a crença. Entretanto, os estudos evoluíram, e esta
mostraram que um tratamento ortodôntico realiza- não é mais a teoria prevalente.
do durante a adolescência geralmente não aumenta
ou diminui a probabilidade de desenvolver DTM ORTODONTIA E DTM
no futuro. E nenhum tipo de mecânica ortodônti- Durante os anos 70 e 80, a crença de que a DTM
ca ou protocolo de extrações aumenta os riscos de era causada por má oclusão dentária era evidente. A
desenvolver DTM. Eles concluíram ainda que não DTM deveria então desaparecer quando eliminada
atingir uma oclusão gnatologicamente ideal, prin- a má oclusão, através de tratamento ortodôntico ou
cipal objetivo nos tratamentos ortodônticos, não protético (mudança de esquema oclusal). No final
significa que sinais e sintomas da DTM irão apare- dos anos 80 e início dos anos 90 as revisões de li-
cer. Os autores declaram ainda que, de acordo com teratura feitas por Reynders15 e Sadowsky18 sobre o
a literatura atual, o relacionamento de DTM com relacionamento dos problemas de articulação têm-
oclusão e tratamento ortodôntico é muito peque- poro-mandibular e Ortodontia mostraram que nos
no. Alguns fatores da oclusão, como mordida aberta artigos científicos consistentes, ou seja, aqueles que
anterior esquelética, overjet maior que 6-7 mm, apresentavam grupos de estudo e de controle, não
deslizes oclusais maiores que 4 mm, mordida cru- havia diferença nos sinais e sintomas de DTM entre
zada unilateral (resultados encontrados por Santos- os pacientes que eram tratados ortodonticamente
Pinto e colaboradores19) e falta de 5 ou mais dentes e os que não eram tratados. A conclusão destes es-
posteriores podem estar associados com diagnósti- tudos foi de que: existe um relacionamento muito
co específico de DTM. Eles concluíram que os si- pequeno entre os problemas de DTM e tratamento
nais e sintomas de DTM ocorrem em indivíduos ortodôntico. Assim sendo, a crença de que os pro-
com saúde normal e aumentam com a idade, prin- blemas de DTM eram originados nos problemas
cipalmente durante a adolescência. Assim sendo, as oclusais caiu por terra. Problemas dos músculos
disfunções têmporo-mandibulares que aparecerem da face e problemas intracapsulares da articulação
durante qualquer procedimento odontológico não têmporo-mandibular passaram a ser o foco prin-

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Bósio, J. a.

cipal das discussões. Da mesma forma, Tallents e Neste mesmo estudo, eles mostraram ainda que
colaboradores21 determinaram que pode não haver existiam associações entre distúrbios intracapsulares
uma associação forte entre relacionamento incisal, e morfologia craniofacial. Mas nenhuma associação
posição condilar e disfunções têmporo-mandibula- entre causa e efeito foi detectada. Eles também su-
res. Greene e vários outros autores1,6,8,10,20 declara- geriram que, durante o planejamento do tratamento
ram que um ortodontista prudente, antes de iniciar ortodôntico, considerações especiais sejam dadas às
um tratamento ortodôntico, deveria identificar e condições da articulação têmporo-mandibular.
documentar qualquer sinal ou sintoma de disfunção Tentando encontrar características esqueléticas
têmporo-mandibular. Se sintomas dolorosos apare- que proporcionassem a identificação de pacientes
cerem durante o tratamento, a terapia deveria ser portadores de distúrbios intracapsulares através de
modificada, interferências oclusais pesadas deveriam telerradiografias de perfil , Bósio e colaboradores1 es-
ser aliviadas e as forças, com intenção de distalizar tudaram 96 indivíduos, divididos em três grupos de
dentes, eliminadas ou alteradas. Eles acreditam que 32, sendo um grupo de controle (assintomático sem
pacientes com problemas de DTM devem ser trata- deslocamento de disco articular) e dois grupos de
dos com habilidade e cuidados especiais. estudo (sintomático sem e com distúrbio intracap-
Em estudos recentes sobre presença de deslo- sular). Eles encontraram que o ângulo SNB igual ou
camento anterior de disco articular da ATM (veri- menor que 75.61º, em pacientes portadores de Clas-
ficados com exame de ressonância magnética) em se I de Angle, poderia ser indicativo de deslocamento
voluntários assintomáticos, Tasaki e colaboradores22 anterior de disco articular. Entretanto, eles sugeriram
encontraram uma freqüência de 29%, enquanto que que, sem comprovação científica com estudos pros-
Ribeiro e colaboradores16 encontraram um freqüên- pectivos onde todas as variáveis sejam controladas,
cia de 34%. Por outro lado, Paesani e colaboradores12 este dado deveria ser usado com cautela.
pesquisaram a incidência de deslocamento anterior Rendell e colaboradores14, em um estudo de 18
de disco articular em pacientes sintomáticos, e en- meses de duração em pacientes ortodônticos, encon-
contraram que existe uma freqüência de 85% de traram que a maior parte dos pacientes que iniciaram
distúrbios intracapsulares nestes pacientes. Estes tratamento ortodôntico não desenvolveu sinais e sin-
resultados analisados conjuntamente podem indicar tomas de DTM; e os pacientes que já apresentavam
uma tendência em dizer que pacientes com sinais algum sinal ou sintoma de DTM não apresentaram
e sintomas de DTM apresentam uma freqüência grandes mudanças na sintomatologia após o trata-
maior de deslocamento de disco articular do que mento, não encontrando assim nenhuma diferença
voluntários assintomáticos. Conseqüentemente, a no relacionamento das duas entidades.
explicação clínica para possíveis diagnósticos e for- Ruf e Pancherz17 examinaram 20 pacientes que
mas de tratamento do problema seria mais fácil. haviam sido tratados com aparelho de Herbst 4 anos
Nebbe e colaboradores11 estudaram um grupo de antes da realização da pesquisa. Os exames realiza-
meninas submetidas à estimulação do crescimento dos por eles foram: questionário anamnéstico, exame
mandibular. Eles sugeriram que o reposicionamento clínico e exame de ressonância magnética da articu-
anterior de côndilo em articulações com desloca- lação têmporo-mandibular. Analisando os resultados,
mento anterior de disco articular e onde o disco não eles encontraram que 25% dos pacientes examinados
retornava à posição normal durante o reposiciona- apresentavam sinais de disfunção têmporo-mandibu-
mento mandibular poderia ocasionar danos e infla- lar moderados ou severos e 15% apresentavam sinais
mação nos tecidos da articulação. Este procedimento leves. Eles concluíram que o tratamento com aparelho
poderia interferir na capacidade adaptativa do teci- de Herbst não parece ter resultados adversos na ATM
do retrodiscal e resultar em remodelação condilar. a longo prazo. Talvez o problema na ATM já estivesse

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O paradigma da relação entre oclusão, Ortodontia e disfunção têmporo-mandibular

presente antes de ser iniciado o tratamento, pois eles CONCLUSÃO


não sabiam da condição intracapsular da ATM pré- Devido à quantidade de sinais e sintomas de
tratamento com aparelho de Herbst. disfunção têmporo-mandibular (DTM) e à falta
Por outro lado, em um artigo de opinião pessoal, de definição sobre o que é DTM, torna-se difícil
Sondhi20 sugeriu que, mesmo sem haver nenhu- fazer um diagnóstico específico sobre o proble-
ma correlação estatística entre disfunção oclusal e ma. Disfunção têmporo-mandibular, uma doença
DTMs, em determinados pacientes, uma mudança multifatorial, é na realidade uma soma de termos
no esquema oclusal, através de tratamento orto- usados para descrever sintomas de diversas causas
dôntico, poderia modificar uma disfunção intra- biológicas. Somente através de descrições definiti-
capsular. Esta mudança no esquema oclusal deveria vas baseadas em evidências de fatores etiológicos
ocorrer sempre após a utilização de placas oclusais individuais é que a DTM será mais efetivamente
e após haver estabilização e redução dos sintomas caracterizada, diagnosticada e tratada. Assim, por
de dor e estalido. Sondhi sugeriu também que seja falta de padronização no sistema de classificação de
informado ao paciente, através de formulário de diagnóstico e pela quantidade de artigos publicados
consentimento informado, a possibilidade dos sin- em relação à disfunção têmporo-mandibular, sem-
tomas retornarem após a estabilização da mordida pre será possível encontrar algum artigo científico
com o tratamento ortodôntico. Entretanto, Sondhi para provar um ponto de vista. Mas os materiais
não sugere como alternativa de tratamento, após o e métodos destes estudos devem ser considerados
uso de placa oclusal, a possibilidade de um ajuste cuidadosamente para determinar se realmente são
oclusal para equilibrar a mordida. Talvez isto ocorra confiáveis. Evidências científicas significantes apon-
por causa de sua formação ortodôntica. tam para uma tendência de não associação do rela-
Franco e colaboradores5 estudaram 112 articu- cionamento entre tratamento ortodôntico, oclusão
lações com exame de ressonância magnética toma- e disfunção têmporo-mandibular.
dos antes (T1) e 18 meses após (T2) usar aparelho Aparentemente, a maior parte dos cursos de
de Fränkel. As 56 crianças foram aleatoriamente di- pós-graduação em Ortodontia já estão ensinando
vididas em 2 grupos: um que usou e outro que não esta filosofia aos seus alunos. Mas o mesmo pare-
usou o aparelho. O grupo tratado teve melhora no ce não acontecer em muitos cursos de graduação
posicionamento do disco em todas as articulações em Odontologia, que ainda insistem na tese de que
que apresentavam deslocamento entre T1 e T2. o problema de disfunção têmporo-mandibular é
Eles sugeriram que o tratamento com aparelho de um problema de oclusão. Oclusão, por si só, é um
Fränkel pode ajudar algumas crianças com disfun- termo bastante abrangente e pode ser dividido em
ção têmporo-mandibular incipiente. muitas variáveis. Talvez seja esta razão de encon-
Kim e Graber8, em um estudo recente, obje- trarmos cada vez menos artigos científicos discu-
tivando avaliar o relacionamento entre disfunção tindo o relacionamento entre oclusão e disfunção
têmporo-mandibular e o tratamento ortodôntico têmporo-mandibular.
através de uma meta-análise, concluíram que de- O paradigma parece realmente estar mudan-
vido à variedade de métodos usados nos inúmeros do. O foco principal dos problemas de DTM está
artigos, não foi possível realizar uma análise verda- voltando-se mais para a própria articulação têmpo-
deira devido à falta de um esquema de classificação ro-mandibular. Entretanto, não devemos desprezar
amplamente aceito na literatura. Entretanto, eles outros fatores associados aos problemas de DTM.
encontraram que o tratamento ortodôntico tradi-
cional não aumentou a prevalência de disfunção
têmporo-mandibular. Enviado em: Fevereiro de 2003
Revisado e aceito: Abril de 2004

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Bósio, J. a.

The paradigm of the relationship among occlusion, Orthodontics and


temporomandibular disorders

Abstract
The relationship between occlusion, Orthodontics and temporomandibular disorders have been subject of
discussions and controversies. In the past, the scientific literature stated that the temporomandibular disorders
occurred due to the malocclusion, and, for its correction, an orthodontic treatment should be performed.
Apparently, those theories have become obsoletes, and according to more consistent scientific articles, the
relationship among these entities have been questioned. This literature review shows a possible change in the
paradigm of the relationship among the three entities.

Key words: Occlusion. Orthodontics. Orthodontic treatment. Temporomandibular disorders.

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tion of predictive values of occlusal variables in temporomandi- Rua Marechal Deodoro, 630 Sala 1702
bular disorders using a multifactorial analysis. J Phrostet Dent, CEP: 80010-912 - Curitiba - PR
St. Louis, v. 83, p. 66-75, 2000. jbosio@bosio.odo.br / www.bosio.odo.br

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