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MANUAL

DE ACESSOS
VASCULARES
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 4 AVALIAÇÃO DO DÉBITO DO ACESSO
VASCULAR (QA) 41

2. O ACESSO VASCULAR PARA ÂNGULOS DE CANULAÇÃO DE ACESSOS


HEMODIÁLISE 8 ARTERIOVENOSOS 43

TIPOS DE ACESSOS VASCULARES PARA TÉCNICAS DE CANULAÇÃO DE ACESSOS


HEMODIÁLISE 12 VASCULARES ARTERIOVENOSOS PARA 44
HEMODIÁLISE

3. ACESSOS VASCULARES Técnica rope ladder, rotating sites


ARTERIOVENOSOS 14 ou técnica de escada 45

FÍSTULA ARTERIOVENOSA 16 Técnica de canulação em área 46

LOCALIZAÇÃO DA FAV 17 Técnica de canulação em botoeira


ou buttonhole 46
CONSTRUÇÃO DA FAV 18
FIXAÇÃO DAS AGULHAS 50
PRÓTESE ARTERIOVENOSA SINTÉTICA 21
REMOÇÃO DAS AGULHAS E HEMOSTASE 54
MATURAÇÃO DO ACESSO VASCULAR
ARTERIOVENOSO PARA HEMODIÁLISE 22 MODO DE ACTUAÇÃO NA CANULAÇÃO
DE ACESSO ARTERIOVENOSO
AVALIAÇÃO DO ACESSO VASCULAR 26 PARA HEMODIÁLISE 64

COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS


CANULAÇÃO DO ACESSO VASCULAR 32 ARTERIOVENOSOS 74

RECOMENDAÇÕES PARA A PRIMEIRA INFECÇÃO 75
CANULAÇÃO DE UM ACESSO VASCULAR
ARTERIOVENOSO PARA HEMODIÁLISE 32 HEMORRAGIA DURANTE O TRATAMENTO
DIALÍTICO 83
AGULHAS PARA CANULAÇÃO DE ACESSO
VASCULAR ARTERIOVENOSO 35 INFILTRAÇÃO/HEMATOMA 84
RECIRCULAÇÃO 85 DISFUNÇÕES MECÂNICAS DO CATETER 124

ESTENOSE 88 COMPLICAÇÕES EMBÓLICAS DO CATETER 124

TROMBOSE DO ACESSO ARTERIOVENOSO 94 HIPERTENSÃO VENOSA E ESTENOSE 125

SÍNDROME DE ROUBO 96 ENSINO AO DOENTE COM CATETER COMO


ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE 126
ANEURISMA E PSEUDOANEURISMA 98

OUTRAS COMPLICAÇÕES 101 5. VIGILÂNCIA DO ACESSO


VASCULAR NA UNIDADE DE
ALTO DÉBITO DA FAV ASSOCIADA 101 HEMODIÁLISE 128
A COMPLICAÇÕES CARDÍACAS
COORDENAÇÃO DE ACESSOS VASCULARES
NEUROPATIA MONOMÉLICA ISQUÉMICA 101 NA UNIDADE DE HEMODIÁLISE 130

ENSINO AO DOENTE COM ACESSO CLASSIFICAÇÃO DOS ACESSOS


VASCULAR ATERIOVENOSO 102 VASCULARES PARA HEMODIÁLISE 132

4. CATETER DE HEMODIÁLISE 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 134


TEMPORÁRIO E DE LONGA
DURAÇÃO 104
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 138
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO
DE CUIDADOS AO DOENTE COM CATETER
COMO ACESSO VASCULAR PARA
HEMODIÁLISE 108

COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS
AO CATETER COMO ACESSO
VASCULAR PARA HEMODIÁLISE 122

INFECÇÃO 122
INTRODUÇÃO

6
7
1
INTRODUÇÃO

8
Todos nós, enfermeiros com responsabilidades na Os desafios são cada vez maiores, pois a maioria
prestação de cuidados na área da hemodiálise, reco- dos doentes com IRCT são idosos com comorbilida-
nhecemos a importância do acesso vascular para o des, associadas sobretudo a Diabetes e a Insuficiência
sucesso e eficácia deste tipo tratamento, aos doen- Vascular Periférica, possuindo um património vascu-
tes com Insuficiência Renal Crónica Terminal (IRCT). lar muito deteriorado.

Temos assistido nos últimos anos a uma grande Este manual aborda os diferentes tipos de acessos
evolução técnica e científica dos materiais e equipa- vasculares arteriovenosos (Fístula Arteriovenosa e
mentos que contribuem para um tratamento altamen- Prótese Arteriovenosa) e os acessos venosos
te eficaz e biocompatível, que resultam numa melho- (Cateter Provisório e de Longa Duração), pretenden-
ria significativa da qualidade de vida destes doentes. do ser apenas um guia de orientação para os enfer-
Contudo, relativamente aos acessos vasculares, a meiros que diariamente cuidam destes doentes.
mesma evolução não se tem verificado.
Não existem verdades absolutas e cada caso é um
Cada vez mais, os cuidados a ter com os acessos caso, mas a experiência ensina-nos que ter linhas
vasculares assumem uma importância crucial na sua orientadoras diminui em muito a possibilidade de
manutenção e durabilidade, e são uma responsabilidade erro na execução de qualquer tarefa.
de todos nós.
Este é o nosso contributo.

9
O ACESSO VASCULAR
PARA HEMODIÁLISE

10
11
2
O ACESSO VASCULAR PARA
HEMODIÁLISE

O acesso à circulação sanguínea é vital em muitos As complicações relacionadas com o AVH são
ramos da Medicina. Na área da Nefrologia, a realiza- responsáveis por 25% dos internamentos e 50%
ção de tratamentos de hemofiltração, hemodiafiltra- dos custos hospitalares ao Insuficiente Renal Cróni-
ção ou hemodiálise, implica a extracção e reinfusão de co Terminal (IRCT) em programa de hemodiálise. O
um elevado volume de sangue, com a necessidade de acompanhamento dos acessos vasculares inicia-se
fluxos sanguíneos superiores a 350 ml/min. no caso na sala de hemodiálise com a intervenção dos en-
da hemodiafiltração, numa base periódica de três vezes fermeiros na avaliação e canulação do acesso vascu-
por semana. lar. A equipa de enfermagem deve estar atenta para
a identificação de sinais e sintomas que sugerem
O principal objectivo de um AVH é proporcionar problemas com o acesso vascular. Uma identificação
um tratamento eficiente, promovendo o máximo de precoce, o registo e a transmissão de informação ao
conforto para o doente. A obtenção de um AVH de médico residente, promove uma actuação atempada
fácil construção, prático de utilizar, durável, livre de por parte do nefrologista responsável pelo doente.
complicações e resistente à infecção, tem sido um
grande desafio dos profissionais na área da Nefrolo-
gia e Cirurgia Vascular.

12
AS GUIDELINES DA NATIONAL KIDNEY
FOUNDATION - DIALYSIS OUTCOMES
QUALITY INITIATIVE, 2006, RECOMENDAM
UMA TAXA DE PREVALÊNCIA DE FAV COMO
ACESSO VASCULAR NO DOENTE COM IRCT
SUPERIOR A 65%. A MÉDIA NACIONAL DO
UNIVERSO NEPHROCARE PORTUGAL É DE
63%, NO ENTANTO É DE SALIENTAR UMA
GRANDE HETEROGENEIDADE REGIONAL.

13
2
TIPOS DE ACESSOS
VASCULARES PARA HEMODIÁLISE

Os AVH podem ser classificados como acessos As guidelines NKF-DOQUI na área dos AVH preco-
temporários ou permanentes. A utilização do acesso nizam a construção preferencial de FAV em detri-
temporário deve cingir-se a curtos períodos (prefe- mento das próteses vasculares e a restrição máxima
rencialmente não superiores a uma semana) e/ou no uso de cateteres de longa duração, apenas em
numa situação de emergência com indicação para doentes cujo património vascular não permite uma
tratamento dialítico imediato. Como dispositivo é abordagem cirúrgica, para construção de um acesso
utilizado o cateter provisório de duplo lúmen. O uso vascular arteriovenoso.
do cateter de longa duração implantado via percutânea
numa veia central (preferencialmente na veia jugular Para a construção de um AVH são preferidas as
interna direita, preservando o património vascular veias do membro superior não dominante, depois
do membro superior esquerdo do doente) para a as do membro dominante e em último recurso as
construção de um acesso vascular arteriovenoso, dos membros inferiores. Na abordagem cirúrgica,
deve ser preferido mesmo quando transitoriamente. as veias distais são sempre utilizadas como primeira
Os acessos vasculares permanentes para o tratamento opção, permitindo dispor de maior comprimento de
de hemodiálise podem ser arteriovenosos (Fístula veia e preservar as veias proximais para futuras
Arteriovenosa - FAV - ou Prótese Arteriovenosa) ou intervenções.
venosos (Cateter de Longa Duração).

14
Anastomose
Arteriovenosa

Veia

Arteria

Fig. 2 - Fístula Arteriovenosa

Veia
Arteria

Enxerto
Enxerto
Arteriovenosa

Fig. 1 - Cateter de Longa Duração Fig. 3 - Prótese Arteriovenosa

15
ACESSOS VASCULARES
ARTERIOVENOSOS

16
FÍSTULA ARTERIOVENOSA
PRÓTESE ARTERIOVENOSA SINTÉTICA
MATURAÇÃO DO ACESSO VASCULAR ARTERIOVENOSO PARA HEMODIÁLISE
AVALIAÇÃO DO ACESSO VASCULAR
CANULAÇÃO DO ACESSO VASCULAR
FIXAÇÃO DAS AGULHAS
REMOÇÃO DAS AGULHAS E HEMOSTASE
MODO DE ACTUAÇÃO NA CANULAÇÃO DE ACESSO ARTERIOVENOSO PARA
HEMODIÁLISE
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS ARTERIOVENOSOS
OUTRAS COMPLICAÇÕES
ENSINO AO DOENTE COM ACESSO VASCULAR ARTERIOVENOSO

17
3
FÍSTULA ARTERIOVENOSA

Uma fístula arteriovenosa é criada através de uma


intervenção cirúrgica, onde é efectuada a anas- AS VANTAGENS DE UMA FAV ESTÃO ASSO-
tomose subcutânea de uma artéria a uma veia de CIADAS AO FACTO DE SER CONSTRUÍDA
grande calibre. Em 1966, foi concebida a FAV lo- UTILIZANDO OS PRÓPRIOS VASOS DO
calizada no punho, por Brescia e Cimino, através DOENTE, COM REDUZIDA TAXA DE
da anastomose directa da artéria radial a uma veia INFECÇÃO, E POSSUIR UM TEMPO DE
adjacente que, uma vez arterializada, podia ser pun- SOBREVIDA SUPERIOR A 5 ANOS, SENDO
cionada a cada sessão dialítica. CONSIDERADA A “GOLD STANDARD” DOS
ACESSOS PARA HEMODIÁLISE.

18
LOCALIZAÇÃO DA FAV

A LOCALIZAÇÃO DE ELEIÇÃO PARA A CONS- CANULAÇÕES OU OUTRAS INTERVENÇÕES,


TRUÇÃO DE UMA FAV É O MEMBRO SU- HAVENDO A NECESSIDADE DE UTILIZAR OU-
PERIOR NÃO DOMINANTE DO DOENTE, TROS VASOS, ENTRE OS QUAIS:
ATRAVÉS DA ANASTOMOSE ENTRE A ARTÉ-
RIA RADIAL E A VEIA CEFÁLICA, NA ZONA > VEIA BASÍLICA
DISTAL/PUNHO DO ANTEBRAÇO. TEM UMA A VEIA BASÍLICA COMEÇA NO DORSO DA
ELEVADA EFICÁCIA, COM REDUZIDAS COM- REGIÃO RADIOCÁRPICA, CRUZA A MARGEM
PLICAÇÕES E ÓPTIMA PERMEABILIDADE. EM MEDIAL DO ANTEBRAÇO EM SEU TERÇO DIS-
ALTERNATIVA PODE SER UTILIZADA A LO- TAL E SITUA-SE NA FACE ANTERIOR.
CALIZAÇÃO BRAQUICEFÁLICA, ATRAVÉS DA
ANASTOMOSE ENTRE A ARTÉRIA BRAQUIAL
> VEIA BASÍLICA TRANSPOSTA
E A VEIA CEFÁLICA.
A VEIA PROFUNDA É SUPERFICIALIZADA
PARA A SUPERFÍCIE ANTERIOR FRONTAL DO
NO CASO DA IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZA-
BRAÇO, PARA A TORNAR CANULÁVEL.
ÇÃO DA ARTÉRIA RADIAL NA LOCALIZAÇÃO
DISTAL OU DA ARTÉRIA BRAQUIAL, É POSSÍ-
VEL UTILIZAR A ARTÉRIA ULNAR OU CUBITAL > VEIAS BRAQUIAIS (UMERAIS) TRANSPOSTAS
OU A LOCALIZAÇÃO PROXIMAL DA ARTÉRIA UM PAR DE VEIAS QUE ACOMPANHA DE PER-
RADIAL. TO A ARTÉRIA BRAQUIAL, DRENANDO PARA
A VEIA AXILAR.
EXISTEM DOENTES QUE NÃO POSSUEM
UMA VEIA CEFÁLICA ANATOMICAMENTE > VEIA PERFURANTE NA FOSSA ANTECUBITAL
ADEQUADA OU QUE SE APRESENTA TROM- VEIA QUE LIGA AS VEIAS SUPERFICIAIS ÀS
BOSADA E/OU FIBROSADA, APÓS MÚLTIPLAS VEIAS PROFUNDAS.

19
3
FÍSTULA ARTERIOVENOSA

CONSTRUÇÃO DA FAV

O momento ideal para construção do AVH é de- TIPOS DE ANASTOMOSE


finido pelo Nefrologista, com base na evolução do
estadio da doença renal, nos valores laboratoriais e Anastomose latero-lateral
tendo em conta a perspectiva do prazo de utilização (Lado da artéria com o lado da veia): é mais fácil
do AVH pós-cirurgia. Esta estratégia deve privilegiar de realizar. No entanto, tem mais probabilidade de
causar hipertensão venosa. Neste caso a mão pode
a construção do acesso antecipadamente, para ser
ficar edemaciada devido à elevada pressão nas veias.
utilizado quando necessário, evitando a colocação
Por esse motivo, o cirurgião por vezes faz uma anas-
de cateter para indução do tratamento dialítico.
tomose latero-lateral e depois bloqueia um ou mais
vasos que irrigam a mão.
O cirurgião efectua normalmente o mapeamento
vascular do doente, por forma a definir os melho- Anastomose latero-terminal
res vasos para a construção da FAV. Os locais dos (Lado da artéria com o fim da veia): é preferida por
vasos sanguíneos a intervencionar são marcados muitos cirurgiões, apesar de ser mais difícil de
através de uma incisão na pele na região das veias construir. Este método permite um bom fluxo
escolhidas, executando a anastomose entre os vasos sanguíneo com menos complicações.
arterial e venoso, podendo ser realizada de quatro
maneiras diferentes. Anastomose termino-lateral
(Fim da artéria com lado da veia): possui taxas de
fluxo sanguíneo ligeiramente mais baixas do que as
da anastomose latero-lateral.

Anastomose termino-terminal
(Fim da artéria com o fim da veia): permite um me-
nor fluxo sanguíneo através do acesso.

20
LATERO-LATERAL LATERO-TERMINAL

TERMINO-LATERAL TERMINO-TERMINAL

Fig. 1 - Anastomoses

21
3

RAZÕES QUE IMPOSSIBILITAM A CONSTRUÇÃO


NUMA FAV RECENTE E SEM COMPLICAÇÕES, DA FAV:
É POSSÍVEL, ATRAVÉS DA OBSERVAÇÃO,
IDENTIFICAR UM CAMPO VENOSO BEM Intervenções cirúrgicas anteriores nas artérias e/
DESENVOLVIDO, SEM IRREGULARIDADES E/ ou veias necessárias à sua construção;
/OU ANEURISMAS, COM ZONAS VASCU-
LARES SEM CURVATURAS, PERMITINDO Apenas uma artéria funcional para irrigar a mão;
UMA GRANDE ÁREA DE CANULAÇÃO.
Vasos sanguíneos danificados devido a múltiplas
ATRAVÉS DA AUSCULTAÇÃO COM ESTE-
canulações e/ou utilização frequente de drogas
TOSCÓPIO IDENTIFICA-SE UM SOPRO
endovenosas;
POUCO AUDÍVEL, CONTÍNUO (DIÁSTOLE
E SÍSTOLE) E NA PALPAÇÃO SENTE-SE UM Aterosclerose e Arteriosclerose em doentes com
FRÉMITO NA ANASTOMOSE ARTERIAL E AO doença vascular periférica, associada ou não à
LONGO DO VASO VENOSO, PERMITINDO Diabetes Mellitus.
UMA FÁCIL COMPRESSÃO.

22
PRÓTESE
ARTERIOVENOSA SINTÉTICA

Quando os vasos periféricos não são adequados


para a construção de uma FAV, pode ser implantada
uma prótese entre uma artéria e uma veia através da
utilização de material sintético, sendo com frequência
utilizado o Politetrafluoretileno (PTFE).

Podem ser configuradas em linha recta ou em ansa,


implantadas em território subcutâneo, em regiões
seleccionadas para sofrerem canulações repetidas
como: região anterior do antebraço e braço, região
anterior da coxa e como último recurso a parede to-
rácica.

A prótese arteriovenosa é uma opção razoável,


embora tenha uma longevidade muito inferior à FAV.
Possui um risco maior para o desenvolvimento de
um maior número de complicações, como a infecção
relacionada com a presença de um elemento estranho
ao organismo e trombose.

A SOBREVIVÊNCIA A CURTO PRAZO DA


PRÓTESE ARTERIOVENOSA É SUPERIOR (ATÉ
TRÊS MESES), SENDO PREFERIDA EM CASOS
URGENTES. A SOBREVIVÊNCIA DA FAV SÓ
APRESENTA VANTAGENS APÓS 3 MESES. Fig. 2 - Esquema de um Acesso Vascular construído
com um enxerto de PTFE. Fonte: Trabalho Botoeira

23
3
MATURAÇÃO DO ACESSO
VASCULAR ARTERIOVENOSO
PARA HEMODIÁLISE

No momento de iniciar a terapia de hemodiálise,


idealiza-se a existência de um acesso vascular O PROCESSO DE MATURAÇÃO DE UM
funcional que forneça o fluxo de sangue adequado e ACESSO VASCULAR ARTERIOVENOSO
possibilite a canulação sem dificuldades. Na FAV em PARA HEMODIÁLISE, DEFINE-SE COMO
consequência da anastomose, o sangue da artéria é O TEMPO QUE DECORRE ENTRE A CONS-
forçado a fluir para a veia, onde circula em direcção TRUÇÃO E A SUA PRIMEIRA UTILIZAÇÃO
retrógrada. O fluxo e a pressão elevada provocam o BEM SUCEDIDA. ESTE PROCESSO É FUNDA-
espessamento e dilatação da parede dos vasos venosos.
MENTAL PARA O TRATAMENTO DE HEMO-
DIÁLISE E DETERMINANTE PARA A DURA-
A maturidade de uma FAV é determinada pela
BILIDADE. O SUCESSO DO MESMO E A
capacidade de canulação e funcionalidade do acesso
SUA TEMPORIZAÇÃO DIFERE DE PESSOA
vascular. O processo de maturação de uma FAV dura
cerca de 1 mês, no entanto poderá prolongar-se até PARA PESSOA.
6 meses. Para permitir uma canulação com sucesso,
o vaso sanguíneo deve possuir um diâmetro mínimo
entre 0,4 cm a 0,6 cm, localizar-se no máximo 0,6 cm
abaixo da superfície da pele e permitir um fluxo
sanguíneo superior a 600 ml/minuto. Uma FAV que
não possua débitos superiores a 350 ml/minuto
após 6 semanas de actividade deve ser reavaliada
com o objectivo de determinar as causas para o seu
não desenvolvimento.

24
A falência primária pode ser causada por uma das assim uma fixação aos tecidos adjacentes. Este
seguintes situações: processo está concluído após a redução do edema e
do eritema (induzido pela cirurgia), possibilitando a
Anastomose muito pequena, reduzindo o fluxo palpação do seu trajecto e uma canulação facilitada,
de sangue na FAV; sem riscos de hematomas ou pequenas lacerações
dos tecidos. No entanto, existem defensores da sua
Desenvolvimento de uma estenose entre a anas- utilização imediata com o objectivo de evitar a
tomose e a FAV; utilização de um acesso provisório.

Veias acessórias (colaterais) a absorver o fluxo As canulações prematuras da FAV estão associadas
arterial, reduzindo a pressão da FAV; a infiltrações/hematomas com consequente compres-
são dos tecidos adjacentes aos vasos, resultando
Dimensão reduzida do vaso venoso (< 2 mm). na falência precoce do acesso vascular.

Durante a fase de maturação do acesso vascular,


em cada sessão de tratamento é fundamental a O ACESSO VASCULAR CONSTRUÍDO PARA
avaliação do acesso vascular, através da análise do
HEMODIÁLISE NÃO DEVE SER PUNCIONADO
fluxo sanguíneo, da inspecção/auscultação e do
tacto, avaliando o frémito no local da anastomose COMO UM ACESSO VASCULAR PERIFÉRICO
arteriovenosa. Esta avaliação deve ser feita pelo PARA ADMINISTRAÇÃO DE TERAPÊUTICA
enfermeiro, médico ou doente, após a realização do OU RECOLHA DE AMOSTRAS DE SANGUE.
respectivo ensino.

O período de maturação de uma prótese depende da


natureza do material que é implantado, no entanto é
recomendável um período mínimo de repouso de 2
a 3 semanas para estabilização da prótese no túnel
subcutâneo criado para a sua introdução, permitindo

25
3
MATURAÇÃO DO ACESSO
VASCULAR ARTERIOVENOSO
PARA HEMODIÁLISE

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA FAV

VANTAGENS DESVANTAGENS

Área de canulação dependente da qualidade


Maior durabilidade
da veia utilizada
Menor risco de infecções Tempo de maturação superior

Menor probabilidade de formação de coágulos


Técnica cirúrgica complexa
e obstrução

26
VANTAGENS E DESVANTAGENS DA PRÓTESE ARTERIOVENOSA

VANTAGENS DESVANTAGENS

Maior área para canulação Menor durabilidade

Maior risco de infecções associadas à implantação


Facilidade de canulação
de material estranho ao organismo

Maior probabilidade de formação de coágulos,


Reduzido tempo de maturação com necessidade de cirurgias frequentes para
desobstrução

Proporciona um bom fluxo sanguíneo

Técnica cirúrgica simples

27
3
AVALIAÇÃO DO
ACESSO VASCULAR

É importante avaliar o acesso vascular em cada trata-


mento para analisar o seu desenvolvimento e respec-
tivo funcionamento. Esta avaliação deve ser feita IMPORTANTE!
regularmente através do exame físico e, na presença
de situações anómalas, através da realização de um OBSERVAR SE A FERIDA CIRÚRGICA ESTÁ
ecodoppler. EM BOAS VIAS DE CICATRIZAÇÃO.

O exame físico requer a observação, palpação e PESQUISAR ALTERAÇÕES NA COLORAÇÃO


auscultação na procura de sinais e sintomas como: DA PELE, CIRCULAÇÃO E TEMPERATURA E
EXISTÊNCIA DE DRENAGEM NO MEMBRO
> Infecção; DO ACESSO.

> Aneurisma;
SENTIR O FRÉMITO E O DIÂMETRO DO
VASO: ESTE DEVE ARTERIALIZAR LOGO
> Edema;
APÓS A CIRURGIA E ESTA ARTERIALIZAÇÃO
> Estenose; DEVE SER EVIDENTE EM DUAS SEMANAS.

> Síndrome de Roubo;

> Hematoma.

28
Fig. 3 - Observação do acesso arteriovenoso Fig. 4 - Palpação do acesso arteriovenoso

29
3
AVALIAÇÃO DO
ACESSO VASCULAR

Fig. 5 - Auscultação do acesso arteriovenoso

30
Após a primeira semana de construção da FAV, deve-se O papel do enfermeiro é de extrema importância,
garrotar ligeiramente o membro acima da anastomose uma vez que este tem a possibilidade de observar o
e avaliar a estabilidade e solidez da parede do vaso membro do acesso vascular sem as agulhas canuladas,
venoso. identificando mais facilmente qualquer alteração. A
experiência na canulação do acesso vascular também
Uma maturação atrasada (superior a 8 semanas) ou permite reconhecer determinados sinais identificativos
com complicações, exige uma reavaliação por doppler do mau funcionamento do acesso vascular.
ou angiografia de intervenção (maturação assistida),
com possível encaminhamento para a consulta de O quadro seguinte apresenta os aspectos principais
cirurgia vascular e eventual reintervenção. em que deve incidir a avaliação da equipa de enfer-
magem. São apresentados os sinais e sintomas das
A abordagem do enfermeiro passa pela avaliação do complicações mais frequentes no desenvolvimento
acesso vascular antes da canulação. É fundamental dos acessos vasculares.
que a equipa de enfermagem esteja atenta a pequenos
sinais e sintomas que justifiquem um alerta para o
acompanhamento directo da equipa de acessos
vasculares em articulação com o médico residente e
o Nefrologista, para a reavaliação do acesso e posterior
encaminhamento para a consulta de cirurgia vascular,
se necessário.

31
3
AVALIAÇÃO DO
ACESSO VASCULAR

SEM COMPLICAÇÕES

ACÇÃO FAV PRÓTESE

Campo venoso bem Prótese: Uniforme, colocada


desenvolvido, sem em curva (loop) ou recta
irregularidades e aneurismas
OLHAR Sem irregularidades
Zonas vasculares sem curvaturas, ou aneurismas, com zonas definidas
permitindo uma grande área de canulação para canulação

OUVIR
(Auscultação Sopro pouco audível e contínuo Sopro pouco audível
com estetoscópio) (Diástole e Sístole) e contínuo (Diástole e Sístole)

Frémito na anastomose arterial Frémito mais forte na anastomose


SENTIR e ao longo do vaso venoso, arterial, mas que deve ser sentido
permitindo uma fácil ao longo de toda a prótese e de fácil
compressão compressão

32
COM COMPLICAÇÕES

ESTENOSE OU FRACO INFECÇÃO OU SÍNDROME


ACÇÃO DESENVOLVIMENTO DE ROUBO

FAV (Fraco desenvolvimento): Múltiplas


veias desenvolvidas (acessórias) sem zonas Infecção: Rubor, edema, alteração
definidas para canulação da integridade cutânea, exsudado

FAV (Estenose): Desenvolve-se nos vasos Síndrome de roubo: Alteração


arteriais e venosos. Devem ser observadas da coloração da pele da mão
irregularidades ou formação de aneurismas do membro do acesso (palidez)
OLHAR no campo venoso
Observação de alterações
FAV ou Prótese (Estenose): Dilatação das de coloração dos leitos ungueais
veias do pescoço ou desenvolvimento de e integridade cutânea dos dedos
várias veias colaterais no pescoço e braço das mãos
acima do acesso vascular

OUVIR
Sídrome de roubo: FAV com sopro
(Auscultação Sopro muito audível e descontínuo (Sístole) muito forte
com estetoscópio)

FAV: Pulso no local da lesão estenosante Infecção: Calor e edema

Prótese: Frémito e/ou pulso forte no local Síndrome de roubo: Avaliar pulsos
da estenose. Fraca circulação sanguínea na bilaterais e identificar diferenças.
SENTIR Comparar temperatura, força,
prótese, que se apresenta maleável, com amplitude do movimento de ambos
irregularidades e possível os membros e dor no membro do
desenvolvimento de aneurismas acesso vascular

33
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

RECOMENDAÇÕES PARA A PRIMEIRA CANULAÇÃO DE UM


ACESSO VASCULAR ARTERIOVENOSO PARA HEMODIÁLISE

A primeira canulação de um AVH é um momento


de grande receio e expectativa por parte do doente. A PRIMEIRA CANULAÇÃO DEVE SER ANTE-
O enfermeiro assume a responsabilidade deste CEDIDA DE UMA MINUCIOSA AVALIAÇÃO,
processo com a concordância do médico, exigindo-se QUE INCLUI OBSERVAÇÃO, PALPAÇÃO E
que possua qualificações e uma elevada experiência. AUSCULTAÇÃO DO ACESSO.
A abordagem ao doente passa por uma estratégia
comunicacional que promova a receptividade do
doente à técnica, com a máxima confiança no profis-
sional que a irá executar.

34
NA OBSERVAÇÃO, O ENFERMEIRO DEVE: NA AUSCULTAÇÃO, O ENFERMEIRO DEVE:

> Comparar os dois braços, despistando a existência > Ouvir um sopro contínuo, decrescente e sem in-
de equimoses, descoloração, soluções de continui- termitências, identificando a direcção do fluxo
dade ou eritema; sanguíneo;

> Observar a localização da anastomose; > O som do fluxo arterial deve ser pulsátil e o do
fluxo venoso deve ser mínimo ou inexistente.
> Identificar a existência de aneurismas e/ou vasos
colaterais de grandes dimensões;

> Realizar o teste de drenagem (com a elevação do


membro do acesso vascular observa-se uma
drenagem através dos vasos proximais do membro).

35
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

NA PALPAÇÃO, O ENFERMEIRO DEVE:

> Sentir o frémito contínuo, decrescente e sem inter-


mitências da FAV, normalmente na anastomose (a
existência de um frémito fora desta área pode ser
indicativo de uma estenose venosa);

> Identificar uma sensação de aperto do acesso vas-


cular, sugestivo de estenose;

> Realizar o teste de aumento de pressões (com a


pressão de um dedo entre o trajecto arterial e o
venoso, identifica-se uma zona pulsátil na região
arterial e uma zona não pulsátil na região venosa);

> Definir os locais de canulação.

Fig. 6 - Teste de Aumento de Pressões

36
AGULHAS PARA CANULAÇÃO DO ACESSO VASCULAR
ARTERIOVENOSO

As agulhas utilizadas em hemodiálise podem


possuir bisel ou, no caso da técnica de canulação
em botoeira, devem ser utilizadas agulhas rombas.

As agulhas podem ser fixas ou rotativas e possuir um


orifício denominado “back eye”, possibilitando um
maior fluxo sanguíneo.

Os calibres utilizados podem ser desde o 16G até


ao 14G.

A CANULAÇÃO DE UM AVH PRESSUPÕE


A UTILIZAÇÃO DE DUAS AGULHAS, UMA
QUE É COLOCADA NA PORÇÃO DENOMI-
NADA DE ARTERIAL, POR ONDE O SAN-
GUE FLUÍ PARA O DIALISADOR, E OUTRA
QUE É COLOCADA NA PORÇÃO VENOSA
FAZENDO O RETORNO DO SANGUE DIALI-
SADO PARA O DOENTE. ESTE PROCESSO É
EFECTUADO COM RECURSO A UMA BOM-
BA DE SANGUE DE UMA MÁQUINA DE HE-
MODIÁLISE.
Fig. 7 - Canulação de FAV (ângulo de 200 a 350)

37
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

NA CANULAÇÃO, DEVE-SE PROCURAR UM SEG-


MENTO RECTO DE VEIA TÃO LONGO QUANTO A
AGULHA (CERCA DE 2 CM).
IMPORTANTE!
O GARROTE DEVE SER APLICADO DE
A avaliação do diâmetro da veia a ser puncionada e
MODO A PRODUZIR UMA COMPRESSÃO
a escolha do calibre das agulhas adequado impede
SUFICIENTE PARA DILATAR O VASO, MAS
ou minimiza o risco da ocorrência de um hematoma
DE MODO A NÃO CAUSAR DOR, NEM
extenso, facilitando a hemostase. Na avaliação inicial,
INTERROMPER O FLUXO DE SANGUE NO
uma FAV pode apresentar uma adequada estabilidade
MEMBRO.
e aparente solidez, no entanto, na altura da canulação,
pode revelar fragilidade a nível da parede do vaso e
incapacidade de tolerar agulhas com calibre superior
a 16G.

O uso de garrote com compressão moderada é for-


temente recomendado para todas as canulações
de FAV, assegurando a dilatação uniforme do vaso
antes da canulação. Esta técnica deve também ser
utilizada nas FAV aparentemente bem desenvolvidas e
dilatadas naturalmente.

38
É RECOMENDÁVEL:

Porção > Puncionar a porção arterial com um distancia-


venosa mento de 3-4 cm da anastomose, no sentido
proximal ou distal;

> Puncionar a porção venosa com um distancia-


mento de 6-8 cm do local da porção arterial, no
sentido proximal;

> Realizar as canulações iniciais com agulhas de cali-


bre 16G durante pelo menos 3 a 5 sessões.
Porção
ou arterial NÃO EXISTINDO EVIDÊNCIAS CLÍNICAS, CRÊ-SE
QUE A TÉCNICA DE CANULAÇÃO COM O BISEL
DA AGULHA PARA BAIXO PROPORCIONA UMA
REDUÇÃO DA DOR E DO TEMPO DE HEMOS-
TASE, ESTANDO DEMONSTRADO QUE PROVOCA
MENOR DANO NA PAREDE DO VASO NATIVO OU
PRÓTESE.
Fig. 8 - Posicionamento das agulhas na canulação da
fístula ou prótese

39
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

O conjunto de imagens da figura mostra as diferentes


canulações com o bisel para baixo ou para cima,
feitas de forma anterógrada (mesma direcção do
fluxo sanguíneo) e retrógrada (contra o fluxo san-
guíneo). Quando a agulha é inserida no vaso cria-se 1
um “flap” (orifício de entrada da agulha no vaso).
Na canulação anterógrada com o bisel para baixo,
é criado um “flap” que, após a remoção da agulha,
é reposicionado com a pressão do fluxo sanguíneo,
interrompendo a hemorragia mais rapidamente. 2
A canulação do segmento arterial de uma FAV recente
pode ser feita de forma anterógrada, favorecendo
a hemostase na retirada da agulha e prevenindo a
ocorrência de hematoma. Na imagem, são visíveis
os locais de entrada através de câmara endoscópi-
3
ca introduzida no interior de uma prótese arteriove-
nosa. Após a agulha ser retirada, identifica-se um
orifício maior na canulação com o bisel para cima,
relativamente ao orifício criado com a canulação com
o bisel para baixo, o que promove uma hemostase 4
mais eficaz, reduzindo o risco de hemorragia após
Fig. 9 - Implicações da orientação do bisel e do
o tratamento.
sentido da agulha na canulação

40
A orientação da canulação recomendada nas FAV e O QUADRO SEGUINTE APRESENTA AS CONSI-
próteses arteriovenosas é: DERAÇÕES RELATIVAS À UTILIZAÇÃO DO ACESSO
ARTERIAL E DO ACESSO VENOSO:
> Canulação do segmento arterial retrógrada ou
anterógrada, tendo em conta as características
ACESSO ARTERIAL ACESSO VENOSO
físicas do acesso vascular para hemodiálise;

> Canulação do segmento venoso anterógrada. Se ocorrer uma infil- Ajuda a desenvolver
tração, o sangue não é o fluxo na veia;
No caso do doente possuir um cateter, um dos ramos forçado para os tecidos;
deste pode ser utilizado, no entanto não é consensual
a utilização do acesso arteriovenoso para fazer a saída
A pressão arterial
de sangue do doente para a bomba de sangue ou o Uma infiltração em
retorno do sangue dialisado para o doente. (pré–bomba de sangue)
conjunto com a força da
indica-nos se o acesso
BS pode provocar um
tem um bom débito
hematoma maciço;
(≤-200 mmHg);

Impossibilidade
Baixo risco de de utilizar o acesso
complicações. novamente até o hema-
toma estar resolvido.

Fig. 10 - Vista endoscópica da canulação

41
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

A canulação da segunda agulha no AVH só deve


COMO É EVIDENCIADO NO QUADRO DA ocorrer quando este não apresentar:
PÁGINA ANTERIOR, A UTILIZAÇÃO DO
ACESSO ARTERIAL ENVOLVE MENOS > Infiltração ou hematoma;
RISCOS DE COMPLICAÇÕES E INDICA-NOS
A FUNCIONALIDADE DO ACESSO. A UTI-
> Dificuldades na canulação;
LIZAÇÃO DO ACESSO VENOSO, PRIVILE-
GIANDO O RETORNO PARA O DOENTE
> Problemas de fluxo de sangue no acesso vascular;
ATRAVÉS DA FAV, CONTRIBUI PARA O DESEN-
VOLVIMENTO DO AVH. NA AVALIAÇÃO E
CANULAÇÃO DO ACESSO, O ENFERMEIRO > Pressão arterial inferior a -200 mmHg;
DEVE POSSUIR AS COMPETÊNCIAS NECES-
SÁRIAS PARA DECIDIR QUAL A UTILIZAÇÃO > Extravasamento de sangue pelo local de inserção
A FAZER, NO ENTANTO É RECOMENDÁVEL da agulha, durante a hemodiálise;
A UTILIZAÇÃO DO ACESSO ARTERIAL.
> Hemostase prolongada;

APÓS A MATURAÇÃO, NA CANULAÇÃO > 3 a 5 tratamentos com agulha 17G.


COM DUAS AGULHAS DEVE SER PRIORITÁ-
RIA A CANULAÇÃO DO ACESSO ARTERIAL,
PERMITINDO DESSA FORMA COMPREEN-
DER SE EXISTE UM ACESSO COM DÉBITO
PARA A BOMBA DE SANGUE.

42
AVALIAÇÃO DO DÉBITO DO ACESSO VASCULAR (QA)

A avaliação do fluxo sanguíneo pode ser feito de Um dos principais factores de influência da clearance
forma directa através dos métodos de diluição de ureia é a velocidade da bomba de sangue (VBS)
térmica, solução salina, solução de contraste ou com a e consequente volume de sangue dialisado em cada
monitorização do circuito extracorporal através de ultra- sessão. A velocidade da bomba de sangue depende
-sons. A avaliação indirecta pode ser realizada através da capacidade do acesso vascular, da forma como
da pressão interna e a sua relação inversa arterial foi puncionado e do calibre das agulhas utilizadas
média (mais indicado nas próteses arteriovenosas). na canulação.
A pressão venosa também é um indicador directo,
podendo ser avaliada de forma estática através da NO TRATAMENTO DE HEMODIAFILTRAÇÃO É
pressão da câmara venosa do CEC ou de forma FUNDAMENTAL QUE O ACESSO VASCULAR
dinâmica através da monitorização das pressões PROPORCIONE UM DÉBITO PARA A BOMBA DE
intradialíticas. No entanto, este processo revela SANGUE SUPERIOR A 350 ML/MIN.
lacunas relacionadas com a resistência do diâmetro
das agulhas e fenómenos de recirculação associados É RECOMENDÁVEL QUE A VBS NÃO ULTRAPASSE
à técnica de canulação, realizada com proximidade OS 500 ML/MIN, DEVENDO A CADA DOENTE SER
dos locais de canulação. AJUSTADO O DÉBITO DE SANGUE CONSOANTE
AS PRESSÕES VENOSA E ARTERIAL DO ACESSO
VASCULAR.

A VBS É FUNDAMENTAL PARA ATINGIR O OBJEC-


TIVO DE UM KT/V IGUAL OU SUPERIOR A 1,4.

43
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

A VBS DEVE SER AJUSTADA AO VALOR MÁXIMO


O CALIBRE DAS AGULHAS DEVE PERMITIR POSSÍVEL PARA O DOENTE, RESPEITANDO OS
O MAIOR FLUXO DE SANGUE, SEM RESIS- SEGUINTES PRINCÍPIOS:
TÊNCIA SIGNIFICATIVA. A UTILIZAÇÃO DE
AGULHAS 15G É FORTEMENTE RECOMEN- > NÃO ULTRAPASSAR OS 500 ML/MIN;
DADA PARA A MAIORIA DOS ACESSOS VAS-
CULARES. AS AGULHAS DE CALIBRE 14G
> NÃO EXCEDER VALORES >240 MMHG DE PRES-
DEVEM SER UMA OPÇÃO VÁLIDA CASO O
SÃO VENOSA E < A -220 MMHG DE PRESSÃO
ACESSO VASCULAR O PERMITA.
ARTERIAL.
AS AGULHAS 16G DEVEM SER UTILIZADAS
APENAS EM SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS DE
ACESSOS ARTERIOVENOSOS DE DIFÍCIL
CANULAÇÃO, ESTANDO ASSOCIADAS AO
AUMENTO DA PRESSÃO VENOSA, RELA-
CIONADA COM A RESISTÊNCIA AO DIÂME-
TRO DAS AGULHAS UTILIZADAS.

A UTILIZAÇÃO DAS AGULHAS DE CALIBRE


17G É RECOMENDADA APENAS NAS PRI-
MEIRAS CANULAÇÕES DE UMA FAV.

44
ÂNGULOS DE CANULAÇÃO DE ACESSOS ARTERIOVENOSOS

Na canulação de uma FAV, a agulha deve ser inserida


num ângulo entre 200 a 35o. No entanto, se a FAV for
muito superficial, o ângulo pode ser mais reduzido.
Deve ser verificada a profundidade do acesso vascular
e o ângulo de entrada deve ser ajustado. Numa
prótese arteriovenosa, a canulação deve ser feita
com um ângulo de 450, por ser o ângulo que causa
menor lesão do material.

 
Fig. 11 - Canulação com 250 de inclinação

45
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

TÉCNICAS DE CANULAÇÃO DE ACESSOS VASCULARES


ARTERIOVENOSOS PARA HEMODIÁLISE

Existem três formas de canulação de acessos vascu-


lares para hemodiálise:

1. Técnica Rope Ladder, Rotating Sites ou Técnica de


Escada;

2. Técnica de canulação em área;

3. Técnica de canulação em botoeira ou Buttonhole.

A TÉCNICA DE CANULAÇÃO MAIS RECO-


MENDADA QUANDO NÃO ESTIVERMOS EM
PRESENÇA DE UMA FAV NATIVA, É A TÉCNICA
DE ESCADA. A TÉCNICA DE ÁREA DEVERÁ
SER A ÚLTIMA OPÇÃO, APENAS QUANDO
NÃO EXISTIR OUTRA ALTERNATIVA.

Fig. 12 - Técnicas de Canulação de Acessos Vasculares

46
TÉCNICA ROPE LADDER, ROTATING SITES
OU TÉCNICA DE ESCADA

Os locais de canulação alternam longitudinalmente


ao longo do eixo, para cima e para baixo ao longo de
toda a extensão do AVH.

Localizar os locais de canulação:

> Procurar secções rectas com pelo menos 3 cm


para cada grupo de canulações;

> Evitar aneurismas e áreas danificadas ou com a


pele muito fina;

> Manter as agulhas afastadas pelo menos 3 cm


entre si;

> Cada sessão requer duas novas canulações em


dois locais novos;

> Não voltar à canulação inicial sem que esta esteja


completamente cicatrizada.
Fig. 13 - Locais de Canulação

47
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

TÉCNICA DE CANULAÇÃO EM ÁREA


UM BOM CANDIDATO A ESTA TÉCNICA É
Os locais da canulação numa área circunscrita em UM DOENTE QUE REALIZE AUTO-CANULA-
torno do segmento de veia puncionável não obedecem ÇÃO. OUTRAS INDICAÇÕES SÃO DOENTES
a nenhum critério, que não seja a possibilidade de COM UMA FAV NATIVA OU QUANDO A
sucesso ao canular a veia e obter débito suficiente PRESERVAÇÃO DO ACESSO É UMA PREOCU-
para realizar um tratamento eficaz. Apesar de ser a PAÇÃO CRÍTICA, POIS É A ÚLTIMA OPÇÃO
técnica mais utilizada, é também a menos recomendada e VIÁVEL PARA O DOENTE.
a mais associada ao surgimento de estenoses, aneurismas,
hemorragias e perdas do acesso vascular relacionadas
com canulação. Por esse motivo, o seu uso deve ser
desencorajado.

TÉCNICA DE CANULAÇÃO EM BOTOEIRA OU


BUTTONHOLE

Método através do qual se canula uma FAV exac-


tamente no mesmo local, com o mesmo ângulo e a
mesma profundidade de penetração todas as vezes.
Através do processo de cicatrização, desenvolve-se
um túnel subcutâneo para o acesso vascular, permi-
tindo o uso de uma agulha romba.

48
CANULAÇÃO EM BOTOEIRA

Fig. 14 - Ínício  
Fig. 15 - Um ano depois
Fonte: Trabalho Botoeira
 

49
3
CANULAÇÃO
DO ACESSO VASCULAR

TÉCNICA DE ÁREA TÉCNICA DE ESCADA TÉCNICA DE BOTOEIRA


Facilidade de canulação
Diminuição da dor na
Técnica mais frequen- canulação
Canulação de vasos temente utilizada pelos Menor risco de hematomas
PONTOS FORTES arterializados com profissionais
reduzido espaço para Risco reduzido de aneurismas
ou pseudoaneurismas
canulização Maior disponibilidade
de comprimento de vaso Rápida hemostase
puncionável
Prolonga a duração da FAV
Promove o auto-cuidado

Identificado um maior risco


Dilatação da parede de infecção, com a mani-
do acesso com formação pulação para remoção do
tecido cicatricial
de aneurismas e Técnica difícil em FAV
pseudoaneurismas recente ou complicada de Manutenção do mesmo
puncionar ângulo de canulazação
PONTOS FRACOS (técnica dependente do
Deterioração rápida do mesmo profissional)
acesso vascular Mais doloroso e com
maior risco de hematoma Preocupação com o
“one-site-its”
Tempo de hemostase
prolongado Necessidade de agulhas
com bisel rombo

50
IMPORTANTE!
A ZONA DAS CANULAÇÕES NÃO PODE
ESTAR COBERTA COM LENÇÓIS OU CO-
BERTORES. ESTA ÁREA TEM QUE ESTAR
SEMPRE VISÍVEL. O ENSINO AO DOENTE
É IMPORTANTÍSSIMO PARA ASSEGURAR
ESTE ASPECTO.

NUNCA DEIXE UM DOENTE SEM OB-


SERVAÇÃO. A ÚNICA FORMA DE PROTEGER
O DOENTE DE UMA HEMORRAGIA NÃO
DETECTÁVEL PELOS ALARMES DE PRESSÕES
É A VIGILÂNCIA DURANTE O TRATAMENTO.

51
3
FIXAÇÃO DAS AGULHAS

A fixação das agulhas no doente em hemodiálise é


importante, pelo que devem ser seguidas algumas
orientações:

> O enfermeiro deverá certificar-se de que a pele do > A fixação da agulha não deve ser demasiado aper-
doente no local do acesso vascular está limpa e tada, pois por vezes pode ser responsável pela
seca (sem loções ou cremes), antes de proceder redução do débito de sangue e também originar
à fixação das agulhas; pressões venosas elevadas. Isto verifica-se mais
frequentemente em acessos vasculares muito
> Deve ser segura por um adesivo que seja eficaz, superficiais.
mas que por outro lado não cole demasiado, pelo
risco de danificar os tecidos ao ser removido no
final do tratamento;

> Se o doente transpirar e o adesivo ficar húmido/


/molhado, deve ser substituído;

> Se o ângulo de canulação for relativamente aberto,


deve ser colocada uma compressa esterilizada
para suporte debaixo da agulha, e este conjunto
deve estar bem fixo na pele;

52
IMPORTANTE!
ASSEGURAR QUE AS AGULHAS ESTÃO
CORRECTA E SEGURAMENTE FIXAS.

ASSEGURAR QUE OS ALARMES DE PRESSÕES


ARTERIAL E VENOSO ESTÃO BEM PARAME-
TRIZADOS, COM UM INTERVALO ≤80 MMHG
PARA A PRESSÃO ARTERIAL E <100 MMHG
PARA A PRESSÃO VENOSA, PERMITINDO UM
ALERTA PRECOCE EM CASO DE ACIDENTE.

Fig. 16 - Fixação das agulhas com adesivo

53
3
FIXAÇÃO DAS AGULHAS

Os quatro principais métodos de fixação segura das


agulhas para evitar a sua saída acidental são:

> Técnica em “U”;

> Técnica em “V”;

> Técnica em “Borboleta”;

> Técnica com tiras de adesivo paralelas.

EM TODOS ESTES MÉTODOS, UMA PRIMEIRA


TIRA DE ADESIVO FIXA AS ALETAS DA AGULHA
E UMA SEGUNDA FIXA A TUBULADURA. O ORI-
FÍCIO DE ENTRADA DA AGULHA É PROTEGIDO
COM UMA COMPRESSA ESTÉRIL COM ADESIVO
ESTÉRIL.

54
Fig. 17.1- Aplique uma tira de Fig. 17.2- Aplique uma segunda Fig. 17.3- Tal como na Figura Fig. 17.4- Aplique uma segunda
adesivo (2 cm de largura) com tira sobre as asas fixando à pele 17.1, aplique uma tira de tira sobre as asas fixando à pele
a superficie colante para cima, e uma terceira tira de adesivo adesivo(2 cm de largura) com e uma terceira tira de adesivo
sob as asas da agulha; vire as fixando com segurança o tubo a superfície colante para cima, fixando com segurança o tubo
pontas da fita e cole cada uma à pele (assegurando-se que sob o tubo, imediatamente à pele (assegurando-se que
sobre as asas formando um esta cobre pelo menos 2/3 do acima das asas da agulha; vire esta cobre pelo menos 2/3 do
“U” e fixando-as à pele. perímetro do tubo). as pontas da fita e cole cada perímetro do tubo).
uma sobre as asas formando
um “V” e fixando-as à pele.

Fig. 17.5- Aplique uma tira Fig. 17.6- Aplique uma segunda Fig. 17.7-Coloque uma tira Fig. 17.8- Coloque uma segun-
de adesivo, com a superfície tira de adesivo fixando com de adesivo com a superfície da tira de adesivo fixando com
colante virada para baixo, sobre segurança o tubo à pele colante para baixo, asseguran- segurança o tubo à pele (asse-
as asas, contornando a superfí- (assegurando-se que esta cobre do-se da sua adequada/boa gurando-se que esta cobre pelo
cie inferior destas (Borboleta) e pelo menos 2/3 do perímetro aderência às “asas” da agulha, menos 2/3 do perímetro do
fixe as pontas à pele. do tubo). colando/prendendo de seguida tubo). Coloque uma terceira tira
as suas pontas (fita adesiva) ligeiramente sobre a primeira
à pele. de modo a melhorar a fixação
e proteger o local de canulação
(o adesivo tem que ser estéril,
ou em alternativa usar um meio
estéril de protecção do orifício).
Tiras “Paralelas”.

55
3
REMOÇÃO DAS AGULHAS
E HEMOSTASE

Fig. 18 - Remoção das agulhas Fig. 19 - Pressão apenas após a retirada a agulha

56
A técnica de remoção da agulha é tão importante > Técnica de canulação e remoção da agulha:
como a da inserção. Ambas desempenham um papel
fundamental na hemostase. • Posição da agulha (retrógada ou anterógrada);

FACTORES QUE INFLUENCIAM A HEMOSTASE: • Técnica de canulação (bisel virado para cima
ou para baixo);
> Tipo de pele do doente;
• Ângulo de inserção da agulha;
> Tipo de acesso vascular (FAV ou prótese arterio-
venosa); • Rotação da agulha;

> Características da agulha de canulação: • Velocidade da canulação;

• Tamanho (calibre e tamanho); • Pressão mantida sobre os locais de inserção


durante a hemostase.
• Geometria do bisel;
> Anticoagulação oral e/ou no CEC (durante o trata-
• Formato do back eye da agulha da porção ar- mento dialítico).
terial;

• Superfície cortante.

57
3
REMOÇÃO DAS AGULHAS
E HEMOSTASE

A remoção das agulhas e a hemostase são etapas > Exerça pressão durante 10-12 minutos, sem deixar
muito importantes relativamente à preservação do de sentir o frémito;
acesso vascular:
> Após a hemostase, aplique os pensos de protecção;
> O adesivo deve ser removido cuidadosamente para
prevenir a deslocação das agulhas; > Após colocar os pensos, verifique o frémito e utilize
o estetoscópio para verificar o sopro.
> A retirada da agulha deve ser realizada com um mo-
vimento suave e único; A hemostase deverá ser realizada de forma a:

> Aplique a compressa dobrada no local e remova a > Garantir a diminuição do risco de formação de
agulha com um ângulo similar ao da inserção; hematoma após a remoção das agulhas;

> Nunca exerça pressão no local sem a agulha estar > Garantir o fluxo do acesso vascular.
completamente removida;

> A compressão deve ser feita com 2-3 dedos, podendo


eventualmente ser utilizado apenas 1 dedo;

> Recomenda-se a NÃO utilização de pinças hemostá-


ticas, devendo apenas ser aplicadas em situações de
indisponibilidade de elementos para auxiliar na he-
mostase e, ainda assim, em situações seleccionadas;

58
O STAFF DA UNIDADE DE HEMODIÁLISE DEVE

IMPORTANTE! ASSEGURAR-SE QUE, APÓS A HEMOSTASE, O


DOENTE SAI COM UM PENSO ADESIVO SEM
COMPROMETER O FLUXO DE SANGUE NO
O TEMPO DE HEMOSTASE NUNCA DEVERÁ
SER INFERIOR A 10 MINUTOS, ALTURA EM MEMBRO DO ACESSO VASCULAR. NÃO É
QUE DEVE SER REALIZADA A COLOCAÇÃO RECOMENDÁVEL ENVOLVER O MEMBRO DO
DOS PENSOS FINAIS, APÓS CONFIRMAÇÃO. ACESSO VASCULAR COM FITA ADESIVA CIRCULAR
COMPLETA NEM A UTILIZAÇÃO DE LIGADURAS,
EM PRESENÇA DE HIPOTENSÃO, A COM- DEVIDO AO RISCO DE COMPRESSÃO E POSSIBI-
PRESSÃO PARA A REALIZAÇÃO DE HEMOS- LIDADE DE TROMBOSE DO ACESSO VASCULAR.
TASE PODE CAUSAR TROMBOSE DO ACESSO
VASCULAR.

59
3
REMOÇÃO DAS AGULHAS
E HEMOSTASE

QUE AGULHA DEVEMOS REMOVER EM PRIMEIRO APÓS A HEMOSTASE VENOSA, O CORRECTO


LUGAR? SERÁ REMOVER A AGULHA ARTERIAL, A MENOS
QUE A ANATOMIA DO DOENTE EXIJA UMA PRÁTICA
DIFERENTE, DEVENDO O ENFERMEIRO IDENTI-
EM PRIMEIRO LUGAR DEVE SER REMOVIDA A
AGULHA VENOSA E SÓ DEPOIS A ARTERIAL. FICAR ESSA SITUAÇÃO.

COMO É REFERIDO NA NURSINGNOW! N07


MARÇO 2010, NA REMOÇÃO INICIAL DA
AGULHA DA PORÇÃO ARTERIAL, A HEMOS-
TASE SERÁ MAIS DEMORADA AO INÍCIO
DEVIDO A UMA MAIOR PRESSÃO. A RETIRADA
DA AGULHA VENOSA, APÓS SER APLICA-
DA PRESSÃO NO LOCAL, PODE PROVOCAR
UM SANGRAMENTO NO LOCAL DA CANU-
LAÇÃO ARTERIAL, POR CAUSA DA PRESSÃO
CRIADA A JUSANTE DESTE PONTO.

AO REMOVER PRIMEIRO A AGULHA DA


PORÇÃO VENOSA, O TEMPO DE HEMOSTASE
SERÁ MAIS CURTO, UMA VEZ QUE REMOVER
A AGULHA DA PORÇÃO ARTERIAL EM SE-
GUNDO LUGAR GARANTE QUE, AO APLICAR
PRESSÃO, ESTA NÃO É TRANSMITIDA AO
LOCAL DA CANULAÇÃO VENOSA.

60
A HEMOSTASE EM DOIS TEMPOS DISTINTOS É
FORTEMENTE RECOMENDADA NAS PRIMEIRAS
CANULAÇÕES DE UM ACESSO ARTERIOVENO-
SO, DURANTE A FASE DE MATURAÇÃO.

Fig. 20 - Tempo de hemostase, 10 minutos sem


levantar as compressas

61
3
REMOÇÃO DAS AGULHAS
E HEMOSTASE

COLABORAÇÃO DO DOENTE NA HEMOSTASE


RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES:
Os doentes devem ser ensinados a exercer a correcta
pressão nos locais das canulações. Se não for possí- COMPRESSÃO DIRECTA (SEM COMPRO-
vel, deverá ser o staff a fazer a hemostase. METER O FLUXO SANGUÍNEO) COM O
MÍNIMO DE 2 DEDOS;
Por rotina não devem ser usadas pinças hemostáticas,
ELEVAR O MEMBRO MELHORA O OUTFLOW;
no entanto, se for imprescindível, devem observar-se
as seguintes recomendações:
ESPERAR 10 MINUTOS ATÉ VERIFICAR A
CONCLUSÃO DA HEMOSTASE, TROCAR
> Usar uma pinça hemostática de cada vez; AS COMPRESSAS E FAZER O PENSO DE
PROTECÇÃO DO LOCAL.
> Assegurar-se que é ajustável;

> Verificar o frémito acima da pinça hemostática,


para assegurar que a permeabilidade da veia não
está comprometida;

> As pinças hemostáticas nunca deverão ser deixadas


por mais de 20 minutos (um tempo de hemostase
superior a 20 minutos deve ser investigado).

62
Fig. 21 - Palpação do acesso arteriovenoso Fig. 22 - Desinfecção do local de canulação com a
solução alcoólica preconizada na instituição

63
3
MODODEACTUAÇÃONACANULAÇÃO
DO ACESSO ARTERIOVENOSO PARA
HEMODIÁLISE

MODO DE ACTUAÇÃO NA CANULAÇÃO DE ACESSO


ARTERIOVENOSO PARA HEMODIÁLISE

Cada unidade de hemodiálise deve possuir um


NA ABORDAGEM AO DOENTE COM UM protocolo de actuação na canulação de um acesso
ACESSO ARTERIOVENOSO, O ENFERMEIRO arteriovenoso para hemodiálise.
DEVE RESPEITAR TODAS AS NORMAS E
PROCEDIMENTO RELATIVOS À LAVAGEM A superfície da base de trabalho utilizada para a colo-
E DESINFECÇÃO DAS MÃOS, BEM COMO cação do material deve ser desinfectada antecipada-
POSSUIR TODO O EQUIPAMENTO DE PRO- mente.
TECÇÃO INDIVIDUAL PRECONIZADO PELA
GUIDELINE SOBRE HIGIENE E CONTROLO
DE INFECÇÃO (PT-CG-29-02), QUE INCLUI:

ÓCULOS, MÁSCARA CIRÚRGICA OU MÁSCARA


COM VISEIRA E AVENTAL (DESCARTÁVEL E
DE UTILIZAÇÃO ÚNICA EM CADA DOENTE)
E EVENTUALMENTE TOUCA.

64
Fig. 23 - Limpeza com compressa em movimento Fig. 24 - Canulação de FAV (ângulo de 20 0 a 35 0)
circular do centro para a periferia

65
3
MODODEACTUAÇÃONACANULAÇÃO
DO ACESSO ARTERIOVENOSO PARA
HEMODIÁLISE

É fortemente recomendada a utilização dos kits


exclusivos da NephroCare Portugal que inclui dois
sets, um para iniciar o tratamento (ligar) e outro para
finalizar (desligar), que incluem o seguinte material
esterilizado:

SET DE LIGAR: SET DE DESLIGAR:

> 2 LUVAS EM NITRILO COM DIFERENTES TAMA- > 2 LUVAS EM NITRILO COM DIFERENTES TAMA-
NHOS (S, M, L E XL); NHOS (S, M, L E XL);

> 1 CAMPO DOBRADO (40X50 CM); > 1 LUVA EM LÁTEX TAMANHO L (PARA O DOENTE
REALIZAR A HEMOSTASE);
> 8 TIRAS ADESIVAS (2X13 CM);
> 6 COMPRESSAS EM NÃO TECIDO (5X5 CM);
> 4 COMPRESSAS EM NÃO TECIDO (5X5 CM).
> 2 PENSOS ADESIVOS (5X7 CM).

66
Os procedimentos técnicos para a canulação de > DESINFECÇÃO DO LOCAL DE CANULAÇÃO
uma FAV ou uma prótese arteriovenosa, respeitan- COM A SOLUÇÃO ALCOÓLICA PRECONIZADA
do as regras de assépsia e as preocupações padrão, NA INSTITUIÇÃO E RESPEITO PELOS TEMPOS
incluem: DE ACTUAÇÃO APRESENTADOS, LIMPANDO
COM AS COMPRESSAS EM MOVIMENTO CIR-
> AVALIAÇÃO DA TENSÃO ARTERIAL E PULSO CULAR DO CENTRO PARA A PERIFERIA.
DO DOENTE;

> AVALIAÇÃO DO ACESSO SEGUNDO OS CRITÉ-


RIOS APRESENTADOS ANTERIORMENTE (VER,
SENTIR E OUVIR) E ESCOLHA DO LOCAL DE
CANULAÇÃO MAIS ADEQUADO SEGUNDO A
TÉCNICA UTILIZADA;

> PARA A CANULAÇÃO DE UMA FAV É RECO-


MENDÁVEL A UTILIZAÇÃO DE UMA TÉCNICA
LIMPA E PARA UMA PRÓTESE ARTERIOVENOSA,
A UTILIZAÇÃO DE UMA TÉCNICA ASSÉPTICA;

> ABERTURA DO SET DE LIGAR E PREPARAÇÃO


DAS AGULHAS PARA A CANULAÇÃO;

67
3
MODODEACTUAÇÃONACANULAÇÃO
DO ACESSO ARTERIOVENOSO PARA
HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Aplicar uma ligeira pressão (garrote) a montante, Facilita a turgência do vaso sanguíneo
quando o acesso é uma FAV

Avaliar o acesso, definir os locais de canulação Agulhas de maior calibre favorecem o fluxo de
e escolher o calibre das agulhas de canulação sangue em acessos vasculares com bom débito
(14G, 15G, 16G ou 17G)

Comprime as terminações nervosas entre a


epiderme e a derme, reduzindo a dor
Após a preparação, exercer tracção na pele no
Permite incisões mais pequenas e menor área de
sentido oposto à inserção da agulha
contacto da agulha ao perfurar a superfície da pele.
Assegura a estabilidade do vaso ou prótese ao
ser canulado.

Abordar a FAV com a agulha, de modo a formar um Ângulos menores aumentam o risco de destruição
ângulo entre 20O a 35O e, no caso de uma prótese, das estruturas superficiais dos acessos
de 45O. Respeitar o limite mínimo de 5 cm para
o afastamento entre a canulação da porção arterial Ângulos maiores aumentam o risco de perfuração
e a canulação da porção venosa das estruturas profundas do acesso vascular, pelo
bisel da agulha

68
Fig. 25 - Observação do acesso arteriovenoso Fig. 26 - Auscultação do acesso arteriovenoso

Fig. 27 - Palpação do acesso arteriovenoso Fig. 28 - Vigilância dos parâmetros vitais

69
3
MODODEACTUAÇÃONACANULAÇÃO
DO ACESSO ARTERIOVENOSO PARA
HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Técnica de escada: Canulações afastadas em cerca


Proceder à canulação do acesso utilizando uma das
de 3 cm ao longo de todo o acesso vascular,
2 técnicas:
adquirindo o carácter rotativo a cada sessão

Técnica de escada
Técnica de botoeira: Canulação exclusiva de FAV,
com o mesmo ângulo e no mesmo local, em cada
Técnica de botoeira
sessão depois de removido o tecido cicatricial

Prevenção de lesões da íntima do vaso sanguíneo


Fazer a canulação com o bisel para baixo, com
excepção da técnica da botoeira, em que é e redução de complicações na hemostase
recomendada a utilização de uma agulha romba
Orifício de entrada menor

Fixar a agulha à superfície da pele no melhor ângulo Confirmar a orientação da agulha dentro do acesso,
de inserção na posição desejada, centrada no lúmen do vaso

Proteger o local de inserção da agulha com uma Prevenção de infecção do acesso vascular
compressa ou adesivo esterilizado arteriovenoso

Confirmar o sucesso da canulação com uma seringa Realizar aspiração e posterior introdução suave do
de 10 cc preenchida com cloreto de sódio 0,9% conteúdo da seringa, testando a permeabilidade da
agulha inserida no acesso vascular

70
Fig. 29 - Desinfecção da Fig. 30 - Abertura do set Fig. 31 - Desinfecção do Fig. 32 - Limpeza com
superfície da base de de ligar local de canulação com a compressa em movi-
trabalho solução alcoólica preconi- mento circular do centro
zada na instituição para a periferia

Fig. 33 - Preparação das Fig. 34 - Colocação das lu- Fig. 35 - Canulação de FAV
agulhas de canulação vas em nitrilo esterilizadas (ângulo de 200 a 350)

71
3
MODODEACTUAÇÃONACANULAÇÃO
DO ACESSO ARTERIOVENOSO PARA
HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Conectar as linhas de sangue à tubladura das


agulhas, assegurando que as linhas do CEC estão
Assegurar a correcta conexão, prevenindo a entrada
clampadas
de ar no sistema e eliminando o risco de ocorrência
Após confirmação da correcta adaptação, de embolia
desclampar as linhas do CEC

Iniciar a bomba de sangue a uma velocidade não Preencher o circuito de linha e o dialisador com
superior a 100/150 ml/min, até o sensor de sangue sangue, iniciando o tratamento e garantindo
o reconhecer no CEC a estabilidade hemodinâmica do doente

Aumentar gradualmente a VBS para um valor que


assegure pressões venosas ≤240 mmhg e pressões Potenciar a eficácia do tratamento dialítico,
arteriais ≥-220 mmhg, respeitando o limite definido garantindo a preservação do acesso vascular
pelo Nefrologista para cada doente

Administrar a dosagem de anticoagulação inicial Prevenir a coagulação do sangue no CEC e/ou no


dialisador

Vigiar todo o tratamento dialítico, através


da monitorização hemodinâmica do doente, Prevenir acidentes e complicações relacionadas
da evolução do tratamento e do funcionamento com o tratamento dialítico, assegurando a eficácia
do acesso vascular do mesmo
Confirmar os limites de alarmes das pressões
venosa e arterial, com intervalos adequados: Detecção precoce de qualquer acidente intradialítico
arterial ≤100 mmHg e venoso ≤80 mmHg relacionado com o acesso vascular

72
Fig. 36 - Canulação de FAV Fig. 37 - Fixação das agulhas Fig. 38 - Fixação da agulha com
com adesivo adesivo

Fig. 39 - Verificação do sucesso Fig. 40 - Ínicio do funcionamento


da técnica de canulação da bomba de sangue

73
3
MODODEACTUAÇÃONACANULAÇÃO
DO ACESSO ARTERIOVENOSO PARA
HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Reinfundir o sangue presente no CEC para o doente Remover o sangue do CEC para o doente,
após o tratamento estar finalizado, com uma VBS finalizando o tratamento e garantindo
não superior a 100/150 ml/min a estabilidade hemodinâmica do doente

Evita o traumatismo do revestimento interno do


Remover a agulha do acesso no mesmo ângulo de
acesso vascular e da pele em redor do local de
inserção, não exercendo pressão para a hemostase
inserção, reduzindo o risco de hematoma ou
enquanto a agulha estiver inserida
hemorragia

Realização da hemostase num tempo nunca inferior


a 10 minutos, sem levantar as compressas
Prevenção de hemorragia e trombose do acesso
vascular
Após confirmação da hemostase, colocar um penso
adesivo sem comprometer o fluxo de sangue no
membro do acesso vascular

74
Fig. 41 - Reinfusão de Fig. 42 - Final da rein- Fig. 43 - Remoção das Fig. 44 - Pressão ape-
sangue pelo acesso fusão do sangue agulhas nas após a retirada a
venoso agulha

Fig. 45 - Tempo de Fig. 46 - Colocação


hemostase, 10 minutos dos pensos adesivos
sem levantar as com- após confirmação da
pressas hemostase

75
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

As complicações dos acessos vasculares podem


AS COMPLICAÇÕES RELACIONADAS COM levar a:
O ACESSO VASCULAR SÃO RESPONSÁVEIS
POR UM ELEVADO CONSUMO DE RECUR- > Falha do acesso;
SOS ENTRE A POPULAÇÃO HEMODIALI-
SADA, COM PROFUNDO IMPACTO NA > Hemodiálise inadequada;
QUALIDADE DE VIDA DESTES DOENTES.
(CLEMENTE, 2002) > Internamentos;

> Morte prematura.

A prevenção e o diagnóstico precoce favorecem a


APESAR DA FAV SER O ACESSO VASCULAR durabilidade do acesso vascular.
DE ELEIÇÃO, ESTÁ LONGE DE SER O AVH
PERFEITO E CONTINUA A ENVOLVER UM
CONJUNTO DE PROBLEMAS RELACIONA-
DOS COM A SUA DISFUNÇÃO E FALÊNCIA,
ESTANDO ASSOCIADOS A UMA IMPOR-
TANTE MORBILIDADE, HOSPITALIZAÇÕES
E ELEVADOS CUSTOS COM OS INSUFI-
CIENTES RENAIS TERMINAIS.
(MILLER, ET. AL; 2000)

76
INFECÇÃO

A infecção do acesso arteriovenoso está habitual-


mente associada ao microorganismo staphylococcus,
com rara incidência em FAV, afectando entre 5 a 20%
das próteses arteriovenosas. Os sinais de diagnóstico
são a inflamação local, podendo existir exsudação
serosa ou purulenta.

As infecções normalmente estão relacionadas com a


técnica cirúrgica ou com os procedimentos na altura
da canulação, remoção das agulhas e hemostase.

Os cuidados de higiene que o doente tem no seu


domicílio, no membro do acesso arteriovenoso, são
fundamentais para prevenir a ocorrência de infecção.

Fig. 47 - Molhar o antebraço abundantemente


com água

77
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

É possível prevenir a infecção do acesso arteriovenoso


através das seguintes medidas:

> O doente deve lavar o braço do AVH com sabão


na Unidade de Hemodiálise, antes da canulação;

> Manipulação correcta do kit de ligar/desligar da


NephroCare Portugal;

> Desinfecção do local de canulação com a solução


recomendada pela Instituição e respeitar os tempos
de actuação;

> Cumprimento do protocolo existente na clínica;

> Adequação dos locais de canulação consoante


a técnica de canulação utilizada (na técnica de
botoeira deve ser feita uma primeira desinfecção
para remoção do apósito de fibrina da entrada do
túnel e uma segunda desinfecção para a realiza-
ção da canulação);

> Colocação de penso estéril em contacto com o Fig. 48 - Secar cuidadosamente o antebraço e de
local de inserção. seguida as mãos

78
EFICÁCIA DOS AGENTES DE HIGIENE NA
REDUÇÃO DE BACTÉRIAS NAS MÃOS

A higiene das mãos é a principal medida de preven-


ção no controlo da infecção. Os agentes de higiene
% log Tempo após desinfecção min.
utilizados possuem diferentes efeitos a nível de efi-
0 60 180
cácia da redução bacteriana, bem como no tempo de 99.9 3.0

acção após a sua correcta utilização.

99.0 2.0
Esfregagem
à base de álcool
Redução bacteriana

(70% Isopropanol)

90.0 1.0
Sabão
antimicrobiano
(4% Clorexidina)

0.0 0.0
Baseline Sabão normal

Adaptado de: Hosp Epidemiol Infect Control, 2nd Edition, Philadelphia: Lippincott & Williams,1999.

79
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

Para a desinfecção do local do AVH é preconizada a utilização da solução com álcool 70o e clorhexidina a 2%.
A acção combinada de duas soluções anti-sépticas garante uma elevada cobertura ao diferentes agentes infec-
ciosos.

MELHOR EFICÁCIA ANTI-SÉPTICA

80
As diferentes abordagens relativamente à canulação arteriovenosa e ao manuseamento de um cateter devem
garantir o cumprimento de todas as medidas preconizadas pela Guideline sobre higiene e controlo de Infecção
(PT-CG-29-02)

HIGIENE E ANTI-SEPSIA DO ACESSO VASCULAR

FAV E PRÓTESES

81
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

A utilização dos diferentes agentes anti-sépticos deve ser feita tendo em conta a sua aplicação, a dose, modo
de utilização e respeitando os seus tempos de actuação.

TEMPO DE
PRODUTO APLICAÇÃO DOSEAMENTO CONTACTO FREQUÊNCIA

Pele e materiais Embeber 30 a 60 n/a


ÁLCOOL 700 compatíveis compressa segundos

Pele e materiais 1 ou mais 30 a 60 n/a


FREKADERM compatíveis pulverizações segundos

IODOPOVIDONA Embeber
Pele compressa 60 segundos n/a

Pele e materiais Embeber


CLORHEXIDINA A 2% compatíveis compressa
60 segundos n/a

SKINPREP (ÁLCOOL 700 + Pele e materiais 1 ou mais 30 a 60 n/a


CLORHEXIDINA A 2%) compatíveis pulverizações segundos

Sempre que necessário


30 segundos desinfectar as mãos e
ÁLCOOL GEL Mãos 1 dose desde que estas não
apresentem sujidade

DETERGENTE-DESINFECTANTE Sempre que necessário


Mãos 1 dose 90 segundos lavar e desinfectar
PARA MÃOS as mãos

82
PRODUTO MODO DE UTILIZAÇÃO QUEM

Embeber compressa esterilizada com o produto e aplicar Enfermeiro


ÁLCOOL 700 na pele de modo a cobrir toda a área a realizar anti-sepsia Médico

Na pele e nos cateteres ainda encerrados com tampas, o produto


pode ser aplicado pulverizando directamente, deixando actuar
FREKADERM segundo tempo de contacto, removendo mecanicamente o excesso Enfermeiro
com compressa esterilizada. Para os cateteres deve ser pulverizado Médico
numa compressa esterilizada e aplicado por meio dessa compressa

IODOPOVIDONA Embeber compressa esterilizada com o produto e aplicar Enfermeiro


na pele de modo a cobrir toda a área a realizar anti-sepsia Médico

Na pele e nos cateteres ainda encerrados com tampas, o produto


pode ser aplicado por meio de compressa esterilizada embebida, Enfermeiro
CLORHEXIDINA A 2% deixando actuar segundo tempo de contacto, removendo Médico
mecanicamente o excesso com outra compressa esterilizada

Na pele e nos cateteres ainda encerrados com tampas, o produto


SKINPREP (ÁLCOOL 700 + pode ser aplicado pulverizando directamente, deixando actuar
segundo tempo de contacto, removendo mecanicamente o excesso Enfermeiro
CLORHEXIDINA A 2%) com compressa esterilizada. Para os cateteres deve ser pulverizado Médico
numa compressa esterilizada e aplicado por meio dessa compressa

Aplicar uma dose de produto nas mãos, procedendo


ÁLCOOL GEL de acordo com instruções de lavagem Todo
(ver poster de lavagem/desinfecção das mãos) o pessoal

DETERGENTE-DESINFECTANTE Molhar as mãos com água, seguida de aplicação de uma dose Todo
de produto. Proceder de acordo com instruções de lavagem o pessoal
PARA MÃOS (ver poster de lavagem/desinfecção das mãos)

83
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

IMPORTANTE!
NUNCA CANULE UM ACESSO ARTERIOVE-
NOSO QUE APRESENTE SINAIS INFECCIO-
SOS.

CASO SE VERIFIQUEM SINAIS DE INFECÇÃO,


COMUNIQUE AO MÉDICO PARA QUE SE
POSSAM TOMAR AS MEDIDAS ADEQUADAS.

OS CUIDADOS DE HIGIENE DO MEMBRO


DO ACESSO REALIZADOS NO DOMICÍLIO,
SÃO FUNDAMENTAIS PARA A PREVENÇÃO
DA INFECÇÃO.

84
HEMORRAGIA DURANTE O TRATAMENTO DIALÍTICO

Outra complicação que pode ocorrer é a perda de


sangue durante o tratamento dialítico, por laceração
excessiva da pele e/ou parede da veia durante a canulação. IMPORTANTE!
A SAÍDA ACIDENTAL DA AGULHA VENOSA
Para prevenção desta situação devemos ter em conta (VENOUS NEEDLE DISLODGEMENT) É UMA
todos os factores que influenciam a hemostase do SITUAÇÃO DE EXTREMA GRAVIDADE QUE
PODE OCORRER, E QUE FREQUENTEMEN-
doente: TE NÃO É ACOMPANHADA DE ALARME DE
PRESSÃO VENOSA. PARA A SUA PREVENÇÃO,
> Posição do bisel; É FUNDAMENTAL A CORRECTA FIXAÇÃO DAS
AGULHAS, O ENSINO AO DOENTE E A VIGI-
LÂNCIA PERMANENTE (BRAÇO DO ACESSO
> Ângulo de inserção da agulha; SEMPRE VISÍVEL E DESCOBERTO).

FIXE BEM AS AGULHAS UTILIZANDO A TÉC-


> Rotação da agulha; NICA QUE CONSIDERA MAIS ADEQUADA OU
SEGUINDO O PROTOCOLO EM USO NA UNI-
> Técnica de canulação (área, escada, botoeira); DADE DE HEMODIÁLISE.

O BRAÇO DO ACESSO DEVE PERMANECER


> Posição da agulha (retrógrada ou anterógrada); DESCOBERTO DURANTE TODO O TRATA-
MENTO.
E os factores para prevenção de acidentes, como:
OS LIMITES DE ALARME DE PRESSÃO VENO-
SA E ARTERIAL DEVEM SER AJUSTADOS AO
> Saída acidental de uma agulha durante o trata- MÍNIMO PARA QUE, À MENOR VARIAÇÃO,
mento dialítico; O ALARME SEJA ACTIVADO (INTERVALOS:
≤100 MMHG PARA PRESSÃO ARTERIAL E ≤80
MMHG PARA PRESSÃO VENOSA).
> Desconexão acidental das linhas (nesta situação
está presente o risco de embolia).

85
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

INFILTRAÇÃO/HEMATOMA

A infiltração geralmente só ocorre no início do trata- No caso de já ter sido administrada a anticoagulação
mento, durante a reinfusão do líquido de lavagem. inicial, o local deve ser vigiado para avaliar se a agulha
O hematoma pode ocorrer durante a canulação ou deve ser retirada imediatamente ou permanecer até
em qualquer momento do tratamento dialítico. Em ao final do tratamento. Se não existir aumento da
ambas as situações, a causa pode estar associada a infiltração/hematoma, a agulha deve permanecer.
uma canulação fora do vaso sanguíneo, fragilidade do No entanto, se estes aumentarem, a agulha deve
AVH, um movimento brusco do membro do acesso ser retirada imediatamente e em ambas as situações
por parte do doente ou a deslocação de uma agulha deve ser feita aplicação de frio tópico.
motivada por uma incorrecta fixação, provocando
um extravasamento de líquido de lavagem ou sangue A aplicação de frio deve ser feita durante 20 minu-
para o espaço extravascular. tos, alternando com períodos sem aplicação de frio
com a mesma duração, para prevenir a vasoconstri-
Em caso de extravasamento durante a canulação, a ção provocada pelo frio, que poderá pôr em causa o
agulha deve ser retirada e feita compressão digital funcionamento do AVH.
no local da canulação. Se o hematoma for muito
volumoso, deve ser solicitada uma avaliação médica Nos dias que alternam com os de tratamento, deve
para eventual aspiração. ser aplicada uma camada fina de pomada heparinóide
na zona afectada.

86
RECIRCULAÇÃO

A recirculação traduz-se na entrada de sangue


dialisado novamente no CEC, em vez de prosseguir 2.54 cm
na circulação sistémica. Esta situação resulta numa
redução da eficácia dialítica.

Para diminuir a hipótese de recirculação, a distân-


cia entre as duas canulações não deve ser inferior a
2,5 cm, correspondendo a uma distância de 7,5 cm 7.62 cm AFASTADAS
entre as duas extremidades das agulhas quando as
canulações forem efectuadas em sentidos opostos.

No caso das duas agulhas ficarem colocadas na


mesma direcção, a distância entre elas não deve ser AGULHAS MUITO PERTO
inferior a 7,5 cm. 2.54 cm

A agulha arterial deve ser inserida distalmente e no


mínimo a 3 cm em relação à anastomose.

A agulha venosa deve ser colocada no sentido do fluxo


de sangue.

Fig. 49 - Distância entre agulhas

87
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

No caso da FAV não estar muito desenvolvida, pode o posicionamento das agulhas deve ser verificado e
posicionar-se a agulha arterial na direcção do fluxo se possível distanciado. Se esta situação já foi veri-
sanguíneo, favorecendo um maior débito de sangue. ficada, então o acesso deve ser avaliado através de
outros meios directos.
A recirculação pode ser um indicador da diminuição
do fluxo sanguíneo, podendo ser avaliada através de
um módulo existente nas máquinas de hemodiálise
Fresenius Medical Care denominado Blood Tempera-
ture Monitor (BTM), cujo método de avaliação tem
por base a diluição térmica.

A avaliação através do método de diluição térmica


atribui um valor de recirculação do acesso em per-
centagem. Valores inferiores a 10% são indicativos
da existência de apenas uma recirculação cardio-
pulmonar e do funcionamento adequado do acesso
vascular. Uma recirculação entre 10% e 20% justifica
uma reavaliação com o fluxo de sangue diminuído
em 100 ml/m, existindo uma recirculação signifi-
cativa se a diminuição do valor de recirculação for
superior a 10%. Numa recirculação superior a 20%,

88
% DE RECIRCULAÇÃO DIAGNÓSTICO ACÇÃO

Recirculação Pulmonar
Inferior a 10% Canulação do acesso correcta
Acesso vascular sem pro-
blemas de recirculação

Reavaliação com o fluxo de sangue diminuído


Possível recirculação no em 100 ml/m, existindo uma recirculação
Entre 10% e 20%
acesso vascular significativa se a diminuição do valor
de recirculação for superior a 10%

O posicionamento das agulhas deve ser


verificado e se possível distanciado

Superior a 20% Recirculação elevada no Avaliação do acesso vascular através


de outros meios de diagnóstico
acesso vascular
Comunicação ao médico

A recirculação é agravada pela presença de estenose na veia do acesso vascular, devendo ser valorizadas as
variações na pressão venosa do acesso vascular. Um processo rápido de identificação passa pela colocação
de um dedo exercendo uma ligeira pressão entre a agulha do acesso arterial e a agulha do acesso venoso,
resultando em caso de recirculação numa diminuição rápida da pressão arterial do acesso.

89
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

ESTENOSE

Se a estenose estiver localizada na anastomose arte-

IMPORTANTE! riovenosa, esta é responsável pelo fraco desenvolvi-


mento da veia arterializada e não permite débitos san-
guíneos satisfatórios.
A ESTENOSE DE UM AVH PROVOCA UMA
DIMINUIÇÃO SIGNIFICATIVA DO SEU Esta disfunção da FAV pode ocorrer por deficiência
DÉBITO SANGUÍNEO, COM CONSEQUENTE cirúrgica da sua construção, estando assim associada
DIMINUIÇÃO DA EFICÁCIA DO TRATA- à trombose precoce do acesso.
MENTO DIALÍTICO E AUMENTO DO RISCO
DE TROMBOSE DO ACESSO. A etiologia da estenose nas próteses arteriovenosas
está relacionada com a hiperplasia da íntima na
“A PRESENÇA DE UMA ESTENOSE PODE anastomose venosa.
SER DETECTADA COM UMA SIMPLES AUS-
CULTAÇÃO E PALPAÇÃO DO TRAJECTO DO Na FAV, a estenose pode estar relacionada com a fibrose
(resultante de canulações frequentes no mesmo lo-
ACESSO VASCULAR.”
cal), desenvolvimento de abcessos e pseudoaneuris-
(DAURGIDAS, ET AL; 2003)
mas ou fluxo turbilhão provocado pelas agulhas de
lúmen mais estreito (aumento da pressão da entrada
de sangue proveniente do CEC no acesso).

Esta situação pode ocorrer devido a lesões endoteliais


da anastomose, provocadas pela elevada pressão
arterial e mudança brusca de fluxo sanguíneo.

90
Esta complicação pode no entanto ocorrer em qualquer Sinais sugestivos de existência de estenose no acesso
ponto do trajecto da fístula, podendo ser identificada vascular:
por uma diminuição abrupta do frémito, dando lugar
a um distinto pulsar. > Coagulação do CEC mais de duas vezes no espaço
de um mês;
A presença de estenoses conduz, a montante, ao
desenvolvimento de aneurismas por dificuldades de > Dificuldade na canulação do AVH;
escoamento do fluxo sanguíneo, devido à diminuição
do diâmetro do vaso. > Hemorragia no local de inserção das agulhas e
hemostase prolongada;

> Aumento da pressão venosa (no caso de prótese


arteriovenosa);

> Edema do membro do acesso, quando a estenose


é central;

> Diminuição do Kt/V.

91
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

Quando as estenoses são a jusante, estão ainda as-


sociadas ao aumento progressivo da pressão venosa A PREVENÇÃO DE TROMBOSE DE UM
e consequente aumento da recirculação, influenciando ACESSO VASCULAR EXIGE A OBSERVAÇÃO
a eficácia do tratamento dialítico. CONSTANTE DO MÉDICO E ENFERMEIRO,
ATRAVÉS DA AVALIAÇÃO PERIÓDICA DE Qa
Através da avaliação da recirculação do AVH
DO ACESSO VASCULAR, TAXA DE RECIRCU-
mencionada anteriormente, juntamente com a
LAÇÃO E KT/V. O SEGUINTE PROTOCOLO
avaliação do débito do acesso funcionando de
TEM POR OBJECTIVO ESTABELECER UMA
forma invertida (preferencialmente com o auxílio de
um dispositivo para inversão do fluxo sanguíneo), VIGILÂNCIA PERIÓDICA DO ACESSO VASCU-
é possível avaliar o débito sanguíneo do acesso LAR CONSOANTE O SEU FUNCIONAMENTO.
vascular (Qa).

QA COM RISCO DE TROMBOSE


TIPO DE ACESSO QA MÉDIO DO AVH

FAV 500 a 800 ml/min. <200 ml/min.

PRÓTESE ARTERIOVENOSA 1000 a 3000 ml/min. 600 a 800 ml/min.

92
Avaliação de Qa de um novo doente com FAV ou Avaliação do Qa num doente com prótese arteriove-
prótese arteriovenosa nosa e recomendações:

Avaliação do Qa de um novo doente que dê entrada na > Superior a 600 - determinação dentro de 1 mês;
clínica deve ser feita na sua primeira semana
de tratamento, se o acesso vascular o permitir. Se > Valor inferior a 600 - repetição na hemodiálise
o acesso vascular estiver numa fase de maturação, seguinte, se o valor se mantiver deve ser comuni-
deve ser avaliada a sua funcionalidade para a realização cado ao Nefrologista/Médico Residente.
desta determinação.

Avaliação do Qa num doente com FAV e recomen-


dações:

> Superior a 1001 - determinação semestral;

> Valores entre 801 e 1000 - determinação trimestral;

> Valores entre 401 e 800 - determinação mensal;

> Valor inferior a 400 - repetição na hemodiálise


seguinte, se o valor se mantiver deve ser comuni-
cado ao Nefrologista/Médico Residente.

93
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

Outras avaliações podem ser programadas por Há necessidade de estudos padronizados em larga
médicos ou enfermeiros e justificadas por algum sinal escala para determinar se a angioplastia para correcção
de mau funcionamento do acesso, como: dificuldade de lesões apenas hemodinamicamente significativas
na canulação, alterações significativas no local do (com baixo fluxo e recirculação ou pressões elevadas)
acesso (aneurismas) e diminuição do Kt/V. é superior à correcção de todas as estenoses supe-
riores a 50%.
Esta disfunção pode ser observada por Doppler, o
que permite localizar e quantificar o grau de estenose. A estenose pode ser tratada por angioplastia percu-
A identificação das estenoses centrais só é possível tânea com balão, com ou sem colocação de stent.
através de angiografia, técnica que permite o trata-
mento endovascular e o prolongamento da vida do Muitas variáveis têm sido estudadas no uso da
acesso arteriovenoso. Angioplastia Percutânea Transluminal (PTA), incluindo
o tipo de balão utilizado, a pressão de insuflação e o
A estenose do acesso arteriovenoso pode ser tratada tempo que o balão deve permanecer insuflado.
cirurgicamente por reposição do segmento estenóti-
co por bypass. A angioplastia está indicada quando a
estenose é superior a 50% do diâmetro.

94
Outras tentativas de salvar o acesso vascular in-
cluem o uso de Stent como o SMART (Shape Memory TODOS OS ESFORÇOS SÃO DIRECCIONADOS
Alloy Recoverable Tecnology) e o STENT GRATF, que PARA DETECTAR A DISFUNÇÃO DO ACESSO
é um avanço do stent convencional, compreendendo VASCULAR ANTES QUE A TROMBOSE
um enxerto sintético tubular suportado internamen- ACONTEÇA.
te por um stent.

Embora a angioplastia restaure temporariamente o


fluxo e a utilização do acesso vascular, o seu maior
problema é o trauma induzido pelo balão, que
predispõe as paredes dos vasos a estenoses poste-
riores, estabelecendo assim um círculo vicioso. Se
não for tratado, a maioria dos acessos vasculares
estenosados acabam por ocluir devido à formação
de trombo.

95
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

TROMBOSE DO ACESSO ARTERIOVENOSO

Segundo PONCE (2002), a trombose dos acessos Os cuidados pós-operatórios são também factores
vasculares é a etiologia mais frequente de perda do cruciais para o sucesso e preservação do funciona-
acesso vascular, com incidência na prótese pelo mento dos acessos vasculares, especialmente em
menos cinco vezes superior à das FAV. doentes idosos, hipotensos ou arterioscleróticos.

A trombose pode ocorrer no período pós-operatório A trombose tardia também ocorre após anos de uso
imediato, normalmente associado a FAV de baixo satisfatório.
fluxo inicial. De acordo com COLAÇO e SANTOS
(1997), “O não desenvolvimento primário de uma O súbito desaparecimento do frémito/sopro, geral-
FAV ou de trombose precoce, devem-se à anatomia mente logo após uma sessão de hemodiálise, é um
vascular inapropriada (vasos de pequeno calibre, alerta de que algo de errado aconteceu com a FAV.
artérias calcificadas, veias fibrosadas), problemas
com a técnica cirúrgica ou utilização demasiado Esta trombose está também relacionada com baixo
precoce do acesso”. fluxo de sangue no acesso, associado normalmente
à presença de estenose no trajecto do vaso a jusante da
Analisando cada um destes aspectos, torna-se anastomose, ou em veias centrais ao nível da veia
importante um estudo prévio com eco-doppler ou subclávia ou do tronco venoso braquio-cefálico, que
artériografia da rede vascular, permitindo assim a pode ser verificada pelo aumento da pressão venosa
escolha dos vasos mais apropriados. Por outro lado, dinâmica (superior a 150 mmHg, para um Qb de
parece ser consensual que a conveniente maturação 200 ml/m com agulhas 15G), aumento do tempo de
da FAV e o fluxo regular de sangue são essenciais hemostase e veias sempre dilatadas, mesmo depois
para manter um acesso vascular funcional. de elevado o braço. A pressão venosa dinâmica só é
aplicável nas próteses arteriovenosas.

96
O hipofluxo do acesso está ainda relacionado com O simples exame físico com as mãos é útil e impor-
outros factores como hipotensão arterial, hipovolémia tantíssimo para avaliar a disfunção de um acesso
e compressão excessiva durante a hemostase. Além vascular. Esta técnica é cada vez mais importante,
disso, hematomas, roupas apertadas sobre o braço reconhecida e fundamental na prevenção de compli-
da FAV e o acto de dormir sobre o mesmo, propiciam cações, com vista à diminuição da morbilidade e
a trombose. mortalidade dos hemodialisados.

A trombose da FAV pode ser evitada se forem tomadas Pode estar indicado o tratamento cirúrgico, ou trom-
as medidas adequadas, nomeadamente através de bectomia, mas este é frequentemente mal sucedido,
medicação anticoagulante, identificação e correcção correndo-se o sério risco de perda da FAV.
de eventuais estenoses.

Quando ocorre a trombose da FAV nativa, a intervenção


do cirurgião vascular deve ser realizada o mais rápido
possível, fazendo uma nova FAV aproveitando o leito
vascular previamente dilatado, o que pode dispensar
o intervalo para maturação, para que o doente possa
retomar a hemodiálise sem a necessidade de instalação
de cateter de veia central.

97
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

SÍNDROME DE ROUBO

Normalmente o doente queixa-se de:


AS ARTÉRIAS CONDUZEM SANGUE OXIGE-
NADO A TODO O ORGANISMO. QUANDO > Sensação de picada;
POR ALGUMA RAZÃO DEIXA DE EXISTIR
APORTE DE OXIGÉNIO ÀS CÉLULAS, INSTA- > Dor;
LA-SE UM PROCESSO DE ISQUÉMIA QUE
PODERÁ EVOLUIR PARA NECROSE. > Edema;

> Extremidade fria e dormente;


Segundo MALGOR (2007), a síndrome do roubo
associado à FAV constitui uma entidade clínica rela- > Palidez;
tivamente rara, mas potencialmente grave, cuja etio-
patogenia se deve ao menor afluxo sanguíneo distal, > Fadiga muscular;
devido ao desvio do sangue arterial que se direcciona
à FAV, ou seja, não se trata de oclusão arterial, mas > Unhas cianosadas e atróficas;
sim de desvio de sangue destinado a irrigar a mão.
> Dificuldade funcional e ausência de pulsos distais
(THOMAS, 2005).

98
Nos casos mais graves podem surgir zonas de Nas situações de síndrome de roubo, o exame com
isquémia e necrose. doppler das artérias distais à anastomose revela uma
curva de pressão monofásica, de baixa intensidade,
Esta situação pode ser despistada precocemente, normalizando as suas características quando se tapa
através da observação regular do braço da FAV e da o acesso por compressão.
valorização de qualquer sintoma que o doente possa
apresentar, sugestivo de síndrome de roubo. A angiografia é outro método muito útil para a abor-
dagem destas situações, sendo particularmente
importante quando a avaliação clínica e o doppler
DOR NA EXTREMIDADE DO MEMBRO DO fazem suspeitar a existência de lesão obstrutiva
ACESSO ARTERIOVENOSO EM REPOUSO arterial localizada a nível proximal ou anastomótico,
DURANTE O TRATAMENTO, É UM SINAL DE permitindo nestes casos não só a identificação da
ALERTA E DE ENCAMINHAMENTO PARA A lesão, mas também a sua terapêutica por métodos
CIRURGIA VASCULAR. endovasculares.

Dos vários tipos de tratamentos cirúrgicos para a


síndrome do roubo secundária à construção da FAV,
pode ser efectuada uma correcção da fístula (dimi-
nuição do lúmen da anastomose), e se necessário,
recorrer-se à sua laqueação.

99
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

ANEURISMA E PSEUDOANEURISMA

Os aneurismas são compostos por zonas de pele


UM ANEURISMA DA FÍSTULA ARTERIOVENOSA íntegra e cicatrizes destes tecidos que vão dilatando
É UMA DILATAÇÃO DA PAREDE DA VEIA, MAS progressivamente, geralmente resultantes das sucessivas
QUE MANTÉM A CONTINUIDADE DA SUA ES- canulações em zonas restritas.
TRUTURA E, EM GERAL, NÃO REGRIDE APÓS
A CORRECÇÃO DA FAV, APRESENTANDO TEN- A técnica de canulação em área está frequentemente
associada a esta disfunção, responsável pelo enfra-
DÊNCIA PARA PROGRESSÃO.
quecimento da parede da veia.
(MOREIRA, ET. AL.; 2000).

As canulações repetidas na mesma região podem


ser observadas através de exame físico, no qual é
possível verificar áreas de hipopigmentação da pele.
A canulação provoca um orifício que, após a remo-
ção da agulha, é reposto por um pequeno coágulo.
Após a sua reabsorção e cicatrização, os bordos dos
tecidos dos locais de canulação ficam afastados, le-
vando a um progressivo alargamento do diâmetro
da veia, dependendo do número de canulações por
unidade de área.
(THOMAS, 2005)

100
Fig. 50 - Aneurismas localizados nas canulações arterial e venosa
Fonte: Trabalho Botoeira

101
3
COMPLICAÇÕES DOS ACESSOS
ARTERIOVENOSOS

Estas dilatações causam uma turbulência no fluxo


sanguíneo que danifica as células endoteliais, o que
predispõe à formação de estenoses e subsequente
trombose do acesso vascular.

Na maioria dos aneurismas é feita apenas uma


monitorização através da observação, procurando
locais de canulação fora da região do aneurisma.
Quando ocorre um intenso afinamento da pele supra
jacente, a lesão deve ser reparada cirurgicamente.

O PSEUDOANEURISMA É UMA DILATAÇÃO


CONSTITUÍDA POR UM HEMATOMA CAVI-
TADO, CUJA PAREDE É CONSTITUÍDA
POR TECIDO FIBROSO, SURGINDO COM
FREQUÊNCIA NAS PRÓTESES ARTERIOVAS-
CULARES.

Fig. 51 - Zona de hipopigmentação


Fonte: Trabalho Botoeira

102
OUTRAS COMPLICAÇÕES

ALTO DÉBITO DO ACESSO


ARTERIOVENOSO A NEUROPATIA MONOMÉLICA
COMPLICAÇÕES CARDÍACAS ISQUÉMICA

A insuficiência cardíaca em IRCT em programa de Trata-se de uma entidade descrita recentemente,


hemodiálise pode dever-se a miocardiopatia hipertensiva, surgindo apenas em doentes diabéticos com acesso
excesso de volémia ou anemia. proximal. É mais frequente no sexo feminino e alta-
mente incapacitante.
No entanto, em alguns doentes, o acesso arteriovenoso
pode contribuir para a insuficiência cardíaca. Estes O sintoma principal é a dor no pós–operatório. O
acessos vasculares podem desenvolver fluxos extre- quadro de parésia da mão, uma vez estabelecido (>24
mamente elevados (até 2500 ml/min.). O alto fluxo horas) não é recuperável. O diagnóstico precoce e a
pode precipitar a insuficiência cardíaca de alto débito, laqueação do acesso nas primeiras 6 a 12 horas é
principalmente em doentes idosos. fundamental.

Esta complicação ocorre quase sempre em FAV ou Todo o doente diabético deve ser alertado para esta
prótese arteriovenosa proximais. complicação e os profissionais de saúde devem estar
sensibilizados para o encaminhamento precoce do
O tratamento desta insuficiência cardíaca secundária doente para o cirurgião.
ao acesso arteriovenoso consiste na redução do fluxo
através da bandagem da veia ou a construção de outro
acesso arteriovenoso de menor fluxo, seguido de
laqueação do acesso de alto débito pré-existente.

103
3
ENSINO AO DOENTE
COM ACESSO VASCULAR
ARTERIOVENOSO

No pós-operatório da construção do acesso vascu- Devem monitorizar-se com frequência os valores da


lar arteriovenoso, o doente deve permanecer com o tensão arterial. Valores sistólicos inferiores a 100 mmHg
braço elevado para favorecer o retorno venoso e não podem comprometer o fluxo sanguíneo periférico,
deve utilizar roupas justas, prevenindo dessa forma aumentando as probabilidades de trombose da fístula.
um compromisso circulatório.
A causa mais frequente de valores de pressão arterial
No desenvolvimento da FAV é recomendável que, sistólica inferiores a 100 mmHg é uma taxa de
após a cicatrização da ferida cirúrgica, o doente inicie ultrafiltração elevada, tendo como objectivo alcançar
um esquema de exercícios isométricos que consistem, o peso seco. O doente deverá ser encorajado a
por exemplo, na compressão de uma bola de borracha controlar a ingestão de líquidos e o aumento de peso
maleável, preferencialmente com uma ligeira compressão entre tratamentos e informado da importância deste
do membro acima do local da anastomose arterio- facto para a manutenção do seu acesso vascular.
venosa, provocando um aumento do fluxo e pressão
sanguínea. Embora não exista evidência científica, a O doente deve ser aconselhado a evitar a utilização
prática tem demonstrado que este exercício acelera do braço do acesso vascular para transportar pesos e
o processo de maturação do acesso vascular. a não usar roupas apertadas ou restritivas.

Após a construção do acesso vascular, os cuidados Não deve dormir sobre o membro do acesso vascular,
prestados pela equipa de enfermagem devem asse- evitando o compromisso prolongado da circulação.
gurar que durante a sessão de hemodiálise o doente
coloca o braço do acesso vascular bem apoiado, de
modo a permitir uma boa circulação periférica.

104
Deve ser orientado para informar os médicos ou en-
fermeiros que o braço em questão não deve ser usado OS DOENTES DEVEM SER SENSIBILIZADOS
para flebotomias, cateterizações ou avaliações da A CONTACTAR IMEDIATAMENTE O HOS-
tensão arterial, pois qualquer uma destas manobras PITAL/UNIDADE DE HEMODIÁLISE NO
pode danificar permanentemente o acesso. CASO DE:

O sopro (auscultação) e o frémito (palpação) de- > HEMORRAGIA OU HEMATOMA;


vem ser identificados pelo doente para que este o
entenda, vigie e se responsabilize pela sua verificação > EDEMA, DOR, RUBOR E/OU CALOR;
com uma frequência diária.
Deve possuir um kit de compressas e adesivo para > AUSÊNCIA DE FRÉMITO.
poder actuar em primeira linha na hemostase, em
caso de hemorragia súbita. PARA FINALIZAR, NÃO DEVEM SER DESCU-
RADAS TODAS AS RECOMENDAÇÕES DE
BOAS PRÁTICAS DE HIGIENE GERAIS, E EM
PARTICULAR AO BRAÇO DO ACESSO..

105
CATETER DE HEMODIÁLISE
TEMPORÁRIO E DE LONGA
DURAÇÃO

106
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS AO
DOENTE COM CATETER COMO ACESSO VASCULAR PARA HE-
MODIÁLISE

COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS AO CATETER COMO ACESSO


VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

ENSINO AO DOENTE COM CATETER COMO ACESSO VASCULAR


PARA HEMODIÁLISE

107
4
CATETER DE HEMODIÁLISE
TEMPORÁRIO E DE LONGA
DURAÇÃO

Quando se impõe a necessidade de tratamento A facilidade de utilização deste acesso contrasta com
substitutivo renal urgente e devido à relativa facilida- a eficácia dialítica obtida, possibilitando fluxos
de de implantação percutânea em veia central e à sanguíneos mais reduzidos que um acesso arterio-
segurança que oferece ao doente, o cateter de hemodi- venoso, bem como o elevado risco de infecção
álise soluciona diversos problemas dos insuficientes associado à forte manipulação de um acesso vascular
renais. Este acesso venoso central de duplo lúmen, central.
que deve ser implantado preferencialmente através
da veia jugular interna direita, representa um exce- O cateter venoso central de longa duração, manu-
lente acesso vascular temporário, podendo também facturado em material bio-compatível, com cuff em
ser utilizado como acesso de longa duração. Dacron, foi desenhado e desenvolvido para perma-
necer dentro do organismo humano por um extenso
Embora as guidelines da NKF-DOQI preconizem a período de tempo. Pode ser implantado nas veias
restrição máxima na utilização do cateter como acesso jugular, subclávia e femural através de um túnel
vascular, a maioria dos doentes inicia o tratamento subcutâneo que assegura a colocação ideal do
dialítico com este acesso, utilizando-o de forma cateter, facilita a sua fixação e ajuda a reduzir a taxa
provisória durante o período de maturação do acesso de infecção. Em última instância, pode ser colocado
arteriovenoso (FAV ou prótese arteriovenosa). É im- na veia cava inferior através do implante percutâneo
plantado de forma permanente em crianças, doen- translombar.
tes com diabetes e doença vascular periférica grave,
obesidade mórbida ou com um campo vascular esgotado
para a construção de um acesso arteriovenoso.

108
Fig.1 - Cateter de longa duração tunelizado

109
4
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AO DOENTE COM CATETER COMO
ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

NA ABORDAGEM AO DOENTE COM UM NA PRESTAÇÃO DE QUALQUER TIPO DE


ACESSO AVH, O ENFERMEIRO DEVE RES- CUIDADOS AO CATETER, É OBRIGATÓRIA A
PEITAR TODAS AS NORMAS E PROCEDI- COLOCAÇÃO DE UMA MÁSCARA CIRÚRGICA
MENTOS RELATIVOS À LAVAGEM E DE- AO DOENTE.
SINFECÇÃO DAS MÃOS E POSSUIR TODO
EQUIPAMENTO DE PROTECÇÃO INDIVIDUAL A SUPERFÍCIE DA BASE DE TRABALHO
PRECONIZADO PELA GUIDELINE SOBRE
UTILIZADA PARA A COLOCAÇÃO DO MATE-
HIGIENE E CONTROLO DE INFECÇÃO (PT-
RIAL DEVE SER DESINFECTADA ANTECIPA-
CG-29-02), QUE INCLUI:
DAMENTE.

ÓCULOS, MÁSCARA CIRÚRGICA OU MÁSCARA


É FORTEMENTE RECOMENDADO A UTILI-
COM VISEIRA, TOUCA E AVENTAL (DESCAR-
TÁVEL E DE UTILIZAÇÃO ÚNICA EM CADA ZAÇÃO DO KIT EXCLUSIVO DA NEPHRO-
DOENTE). CARE PORTUGAL QUE INCLUI DOIS SETS,
UM PARA INICIAR O TRATAMENTO (LIGAR)
CADA UNIDADE DE HEMODIÁLISE DEVE E OUTRO PARA O FINALIZAR (DESLIGAR),
POSSUIR UM PROTOCOLO DE CUIDADOS AMBOS COM O SEGUINTE MATERIAL ESTE-
RELATIVOS A DOENTES COM CATETER. RILIZADO:

110
SET DE LIGAR: SET DE DESLIGAR:

> 2 Luvas em nitrilo com diferentes tamanhos > 2 Luvas em nitrilo com diferentes tamanhos
(S, M, L e XL); (S, M, L e XL);

> 1 Campo dobrado (30x25 cm); > 1 Campo envolvente (50x50 cm);

> 1 Campo envolvente (50x50 cm); > 2 Seringas de 10 cc;

> 2 Luvas em nitrilo com diferentes tamanhos > 2 Seringas de 3 cc;


(S, M, L e XL);
> 1 Agulha 21G;
> 1 Campo de tratamento (40x45 cm);
> 4 Compressas em não tecido (5x5 cm);
> 1 Copo graduado 60 ml;
> 1 Copo graduado 60 ml.
> 4 Tiras adesivas (2x13 cm);

> 5 Compressas em não tecido (5x5 cm);

> 4 Seringas de 10 cc;

> 1 Tabuleiro (18x9,5x2,5 cm).

111
4
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AO DOENTE COM CATETER COMO
ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

Os procedimentos técnicos para manuseamento de cate- > Qualquer alteração sugestiva de infecção deve ser co-
ter venoso central, respeitando as regras de assepsia e as municada de imediato ao Médico;
preocupações padrão, são:
> O local de inserção percutânea do cateter deve ser exa-
> Posicionar o doente em dorsal com a cabeceira baixa minado antes da realização do penso, que não deve
e com rotação da cabeça para o lado oposto da colo- conter apósitos;
cação do cateter, no caso da localização subclávia ou
jugular; > A desinfecção da pele deve ser feita com solução alco-
ólica preconizada na instituição e respeitar os tempos
> Avaliar a tensão arterial e pulso do doente; de actuação, limpando com as compressas em movi-
mento circular do centro para a periferia;
> A manipulação para uso do cateter só deve ser efec-
tuada pela equipa de enfermagem da Unidade de > A temperatura corporal deve ser avaliada antes do
Hemodiálise; início e depois do final do tratamento, podendo ser
avaliada durante o tratamento caso se justifique. Se
> A equipa de enfermagem é responsável pela manu- houver hipertermia, deverá ser comunicada de ime-
tenção e viabilidade do cateter na sala de hemodiálise; diato ao Médico;

Realizar técnica asséptica cirúrgica, não quebrando as


> regras de segurança individual durante todo o proce- > No final do tratamento, os ramos do cateter devem
ser protegidos por uma bolsa adesiva em material de
dimento; penso;

> Durante o manuseamento do cateter deve ser evitada > Todos os manuseamentos do cateter durante o trata-
a exposição da entrada dos lúmens do cateter ao ar; mento devem ser feitos recorrendo à técnica asséptica
cirúrgica.
> O penso de cobertura do local de inserção do cate-
ter deve ser substituído no início de cada tratamento
ou segundo o protocolo da Unidade de Hemodiálise
(mas sempre realizado em tempo útil para uma even-
tual intervenção terapêutica);

112
Fig. 2 - Vigilância dos Fig. 3 - Abertura do set Fig. 4 - Colocação das Fig. 5 - Colocação do
parâmetros vitais de ligar cateter luvas de nitrilo estere- campo dobrado para ma-
lizadas nuseamento do cateter

Fig. 6 - Desinfecção das Fig. 7 - Suspensão da Fig. 8 - Colocação do Fig. 9 - Aplicação de


tampas dos termina- pré-circulação na má- recirculador entre as solução alcoólica no
ções do cateter quina de hemodiálise linhas venosa e arterial recirculador e terminais
das linhas do CEC

113
4
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AO DOENTE COM CATETER COMO
ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Utilizar o campo dobrado para o primeiro


manuseamento do cateter
Assegura que os ramos do cateter são sempre ma-
nipulados com assepsia
Desinfectar os pontos de conexão do cateter antes
de cada manipulação

Suspender a pré-circulação na máquina


de hemodiálise, conectar a linha arterial com a linha Prepara o CEC para ser conectado ao doente
venosa do CEC através de um recirculador e garante a assepsia no seu manuseamento
e desinfectar com solução alcoólica

Remover as tampas de luer–lock ou obturadores* Na remoção das tampas de luer-lock


das pontas dos ramos do cateter ou obturadores das pontas dos ramos do cateter,
* Existem no mercado obturadores que permitem a conexão é fundamental assegurar que os ramos do cateter
das linhas do circuito, não havendo a necessidade de serem estão clampados, prevenindo o risco de embolia
removidos
É prudente aspirar 5 cc de lock de cada ramo
Adaptar as seringas de 10 cc em ambos os ramos, do cateter, garantindo a total remoção do mesmo
e de eventuais pequenos coágulos formados
aspirando o lock anteriormente introduzido
no intervalo das sessões, assegurando
(uma seringa para cada ramo)
a permeabilidade do cateter
Adaptar as seringas de 10 cc previamente
Durante o procedimento deve-se alternar o injectar
preenchidas com cloreto de sódio 0,9% em cada
com o aspirar, testando e garantindo
um dos ramos do cateter, injectando suavemente
a permeabilidade do ramo do cateter
para a circulação do doente

114
Fig. 10 - Preparação do Fig. 11 - Colocação do Fig. 12 - Colocação das Fig. 13 - Colocação do
material esterilizado cloreto de sódio 0,9% luvas de nitrilo esterili- campo de tratamento
para ligar para lavagem dos zadas
lúmens do cateter

Fig. 14 - Aspiração do Fig. 15 - Desinfecção Fig. 16 - Aspiração do Fig. 17 - Aspiração do


cloreto de sódio 0,9% dos pontos de conexão lock introduzido na lock introduzido na
para lavagem dos do cateter última sessão de trata- última sessão de trata-
lúmens mento mento

115
4
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AO DOENTE COM CATETER COMO
ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Desinfectar novamente os pontos de conexão Assegurar que os ramos do cateter são sempre
do cateter manipulados com assepsia

Conectar as linhas de sangue aos ramos do cateter


assegurando que as linhas do CEC e os ramos Assegurar a correcta conexão, prevenindo
do cateter estão clampados a entrada de ar no sistema, eliminando o risco
de ocorrência de embolia
Após confirmação da correcta adaptação,
desclampar as linhas do CEC e os ramos do cateter

Envolver os ramos do cateter com o campo do


tratamento e fixar com as tiras de adesivo, asse- Assegurar que os ramos do cateter são
gurando o ambiente estéril no cateter durante o sempre manipulados com assepsia
tratamento

Iniciar a bomba de sangue a uma velocidade Preencher o circuito de linha e o dialisador com
não superior a 150 ml/min, até o sensor de sangue sangue, iniciando o tratamento e garantindo
o reconhecer no CEC a estabilidade hemodinâmica do doente

116
Fig. 18 - Remoção do Fig. 19 - Conexão das li- Fig. 20 - Fixação das Fig. 21 - Protecção do
recirculador colocado nhas do CEC ao cateter linhas do CEC com cateter com o campo
entre as linhas do CEC adesivo ao campo de do tratamento
tratamento

Fig. 22 - Protecção do Fig. 23 - Iniciar a bomba de


cateter com o campo sangue a uma velocidade
do tratamento não superior a 150 ml/min.

117
4
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AO DOENTE COM CATETER COMO
ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Aumentar gradualmente a VBS para um valor que


assegure pressões arteriais adequadas para
Potenciar a eficácia do tratamento dialítico,
a realização do tratamento por cateter, tendo em
garantindo a preservação do acesso vascular
conta as suas características, localização,
posicionamento e permeabilidade

Prevenir a coagulação do sangue no CEC


Administrar a dosagem de anticoagulação inicial
e/ou no dialisador

Vigiar todo o tratamento dialítico, através da moni- Prevenir acidentes e complicações relacionadas
torização hemodinâmica do doente, da evolução com o tratamento dialítico, assegurando a eficácia
do tratamento e funcionamento do acesso vascular do mesmo

Reinfundir o sangue presente no CEC para o doente Remover o sangue do CEC para o doente,
após o tratamento estar finalizado, com uma VBS finalizando o tratamento e garantindo
não superior a 150 ml/min. a estabilidade hemodinâmica do doente

118
Fig. 24 - Colocação das luvas Fig. 25 - Aplicação de solução Fig. 26 - Desinfecção com Fig. 27 - Preparação do cloreto
limpas alcoólica no recirculador solução alcoólica dos locais de de sódio 0,9% para lavagem
conexão do CEC com o cateter, dos lúmens
aguardando 30 segundos para
actuação

Fig. 28 - Abertura de compres- Fig. 29 - Aplicação da solução Fig. 30 - Aplicação de solução Fig. 31 - Colocação das luvas
sas esterilizadas para o campo alcoólica desinfectante na tam- alcoólica desinfectante nas de nitrilo esterilizadas
pa do frasco do lock utilizado compressas
na clínica

Fig. 32 - Aspiração do cloreto Fig. 33 - Preparação da solução Fig. 34 - Desconexão do CEC Fig. 35 - Lavagem do lúmen
de sódio a 0,9% para lavagem de lock do cateter com cloreto de sódio 0,9%
dos lúmens

119
4
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AO DOENTE COM CATETER COMO
ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Após confirmação da finalização do tratamento,


clampar as linhas do CEC e os ramos do cateter. Assegurar a correcta desconexão, prevenindo
Desconectar as linhas de sangue dos ramos a entrada de ar no sistema e eliminando o risco
do cateter assegurando que as linhas do CEC de ocorrência de embolia
e os ramos do cateter estão clampados

Desinfectar novamente os pontos de conexão Assegurar que os ramos do cateter são sempre
do cateter manipulados com assepsia

Adaptar as seringas de 10 cc previamente


preenchidas com cloreto de sódio 0,9% em cada Lavagem dos ramos do cateter, garantindo
um dos ramos do cateter e injectar rapidamente a permeabilidade do acesso vascular
para a circulação do doente

Adaptar as seringas de 3 cc previamente


preenchidas com o lock utilizado na Unidade
Garantir a permeabilidade do cateter entre
de Hemodiálise em cada um dos ramos do cateter,
injectando suavemente e preenchendo os lúmens sessões de hemodiálise
do cateter (tempo superior a 8 segundos)

Desinfectar novamente os pontos de conexão Assegurar que os ramos do cateter são


do cateter sempre manipulados com assepsia

120
Fig. 36 - Aplicação do lock no lúmen do Fig. 37 - Continuação da aplicação do lock Fig. 38 - Retirar a seringa e colocar a tampa
cateter (introdução num tempo superior a no lúmen do cateter (introdução num de um ramo
8 segundos) tempo superior a 8 segundos)

Fig. 39 - As terminações do cateter nunca Fig. 40 - Colocação das tampas de luer-lock ou Fig. 41 - Protecção dos ramos do cateter com
devem estar desprotegidas obturadores nas pontas dos ramos do cateter uma bolsa adesiva feita em material de penso

Fig. 42 - Identificação do lock introduzido


nos lúmens do cateter

121
4
MODO DE ACTUAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE
CUIDADOS AO DOENTE COM CATETER COMO
ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

PROCEDIMENTO COMENTÁRIO

Assegurar que os ramos estão clampados.


Colocar as tampas de luer-lock ou obturadores nas Na colocação de obturadores, é recomendado
pontas dos ramos do cateter pelos fabricantes a não clampagem dos ramos,
assegurando o diferencial de pressão positiva

As terminações do cateter nunca devem estar


desprotegidas e o doente deve ser ensinado
Proteger os ramos do cateter com uma bolsa
a manter o penso seco
adesiva feita em material de penso e identificar
no penso o lock aplicado no cateter
Informar os profissionais de saúde sobre
a substância aplicada nos ramos do cateter

Os lumens dos cateteres devem permanecer SEMPRE protegidos quer por tampas, quer por meio de seringas.

122
APÓS A FINALIZAÇÃO DO TRATAMENTO,
OS CUIDADOS RELATIVOS AO CATETER
PRECONIZAM A INTRODUÇÃO DE UMA
SOLUÇÃO DE LOCK EM AMBOS OS SEUS
RAMOS, COM OBJECTIVO DE MANTER A
PERMEABILIDADE DOS MESMOS DURAN-
TE O INTERVALO DOS TRATAMENTO, DE-
VENDO SER REMOVIDA ANTES DE UMA
NOVA UTILIZAÇÃO DO CATETER. AS SO-
LUÇÕES FREQUENTEMENTE UTILIZADAS
SÃO A HEPARINA E O CITRATO DE SÓDIO,
DEVENDO SER APLICADAS CONFORME O
PROTOCOLO DE CADA UNIDADE DE HE-
MODIÁLISE.

123
4
COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS
AO CATETER COMO ACESSO
VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

INFECÇÃO

As complicações relacionadas com o cateter como Segundo o Access Guidelines publicado pela KDOQI,
acesso vascular para hemodiálise estão relacionadas entre 46% a 62% dos doentes submetidos ao progra-
com a sua permeabilidade, redução do fluxo sanguíneo ma de hemodiálise são portadores de S. aureos.
ou presença de infecção. Estas situações podem A evolução para sépsis ocorre em cerca de 10%
ocorrer de forma precoce ou tardia. Os sinais de dis- dos casos diagnosticados através de hemoculturas
função podem ser: e com isolamento do agente infeccioso na porção
terminal do cateter.
> Fluxos de sangue inferiores a 300 ml/min;
O risco de infecção está relacionado com o tipo de
> Pressão arterial < a -250 mmhg; acesso, sendo que em média são identificadas 4,6
infecções por 1000 sessões de hemodiálise, e 18,4
> Pressão venosa > a 250 mmhg; por 1000 sessões de hemodiálise com cateteres
permanentes. A prevenção é feita através da utilização
> Kt/V inferiores a 1,2. de técnica asséptica em todos os procedimentos,
construção precoce de um acesso permanente,
Os sinais de disfunção mais tardios são a incapaci- vigilância e despiste de sinais e sintomas de infecção.
dade de aspirar dos ramos do cateter e os alarmes
frequentes de pressões, após tentativas de lavagem A origem precoce da infecção de um cateter pode estar
ou reposicionamento do doente, indiciando a obstrução relacionada com o incumprimento da técnica assép-
do acesso vascular. tica cirúrgica durante a sua colocação, enquanto que
as complicações infecciosas tardias estão principal-
mente relacionadas com o manuseio do cateter em
sala de diálise, sem o cumprimento das regras refe-
ridas anteriormente.

124
NO CATETER DE CURTA DURAÇÃO SEM “CUFF”, POR ESTAR TUNELIZADO, O CATETER DE
A INFECÇÃO PODE DESENVOLVER-SE NO LONGA DURAÇÃO PODE DESENVOLVER
LOCAL DE INSERÇÃO DO CATETER COM UMA INFECÇÃO LOCALIZADA NO TÚNEL
A PRESENÇA DE SINAIS INFECCIOSOS DE INSERÇÃO COM A PRESENÇA DE SI-
(RUBOR, CALOR, EDEMA E/OU EXSUDADO), NAIS INFECCIOSOS PRESENTES NO TÚNEL
SUBCUTÂNEO, COM INDICAÇÃO PARA A
PODENDO SER ACOMPANHADO DE SINAIS
RETIRADA IMEDIATA DO CATETER CASO
SISTÉMICOS COMO A ELEVAÇÃO DA TEM-
EXISTA FEBRE E/OU ALTERAÇÃO HEMOD-
PERATURA CORPORAL (≥380) E LEUCOCI-
INÂMICA. CASO NÃO ESTEJAM PRESENTES
TOSE. ESTES SINAIS DE ALARME, AGE-SE EM
CONFORMIDADE NA OBTENÇÃO DE UM
A INFECÇÃO SISTÉMICA PODE TRADUZIR-SE NOVO ACESSO VASCULAR, ANALISANDO
EM LEUCOCITOSE E FEBRE, QUE PODE O TÚNEL E IDENTIFICANDO AS POSSIBI-
AUMENTAR DURANTE O TRATAMENTO, LIDADES DE COLOCAÇÃO DE UM NOVO
PODENDO APRESENTAR SINAIS DE INFECÇÃO CATETER NA MESMA VIA OU NUM LOCAL
NO LOCAL DE INSERÇÃO DO CATETER. O DIFERENTE.
CATETER DEVE SER RETIRADO NO FINAL
DO TRATAMENTO DIALÍTICO. NA OBSERVAÇÃO, EM CASO DE SUSPEITA
DE INFECÇÃO DO TÚNEL, É RECOMENDÁVEL
EXERCER UMA LIGEIRA PRESSÃO DESDE O
LOCAL DE FIXAÇÃO (CUFF), ATÉ AO LOCAL
QUANDO O CATETER NÃO É RETIRADO, DE INSERÇÃO DO CATETER, COM O OBJEC-
PODEM SER UTILIZADAS SOLUÇÕES AN- TIVO DE DETECTAR ALGUMA EXSUDAÇÃO.
TIBIÓTICAS (ANTIBIOTIC LOCK) PARA PRE-
VENIR OU CONTROLAR UMA INFECÇÃO.

125
4
COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS
AO CATETER COMO ACESSO
VASCULAR PARA HEMODIÁLISE

DISFUNÇÕES MECÂNICAS COMPLICAÇÕES EMBÓLICAS


DO CATETER DO CATETER

As disfunções mecânicas imediatas do cateter estão As complicações podem estar associadas à formação
associadas a uma má técnica durante a colocação ou de trombos na ponta final do cateter ou na parede
a um mau posicionamento, provocando uma dobra do vaso ao longo do seu comprimento, com o risco
no cateter (kinking) ou a coagulação intra-luminal. O de entrar na circulação sistémica provocando um
mau posicionamento também pode originar um flu- acidente trombo-embólico.
xo inconstante e inadequado durante o tratamento.
Estas disfunções requerem um reposicionamento
do cateter ou a substituição imediata. No caso da
trombose intra-luminal é necessária a administração
de um fibrinolítico.

As disfunções tardias resultam da acumulação de


fibrina ou pequenos trombos nos lúmens do cateter
causadores de uma obstrução ao fluxo de sangue.
A fibrina acumulada pode aumentar o risco de
infecção. Em caso de oclusão parcial ou total podem
ser administrados fibrinolíticos ou, em último caso,
pode ser feita a substituição do cateter através de
um condutor.

126
HIPERTENSÃO VENOSA E
ESTENOSE

É uma complicação resultante da estenose no terri-


tório de drenagem do acesso. Pode ser periférica ou
central (mais habitual).

A presença de um cateter pode levar à estenose ou


mesmo oclusão do vaso de grande calibre, ocorren-
do esta situação com bastante frequência.

A estenose central é uma complicação dos cateteres


centrais (cerca de 25%), com mais de 15 dias de
permanência, para a qual todos os profissionais
devem estar alerta. Na presença de edema do membro,
o doente deve fazer uma flebografia para a localização
da estenose.

O tratamento é a dilatação, com ou sem colocação


de stent ou bypass cirúrgico.

127
4
ENSINO AO DOENTE COM CA-
TETER COMO ACESSO VASCU-
LAR PARA HEMODIÁLISE

O doente é o principal interveniente na preservação > Evite que o cateter entre em contacto com água,
do acesso vascular. O ensino da equipa de enfermagem protegendo-o durante a sua higiene;
tem por objectivo a permanência deste tipo de acesso
com o mínimo de complicações, garantindo que o > Compreender a importância do uso de uma más-
doente: cara cirúrgica para prevenção da entrada de mi-
croorganismos na circulação sanguínea;
> Mantenha o penso do cateter limpo e seco;
> Identifique sinais de infecção e notifique a equipa
> Assegure que a pele em redor do local de inserção médica e de enfermagem da Unidade de Hemo-
do cateter está limpa e que o penso é refeito em diálise;
todas as sessões de hemodiálise;
> Compreender a relação entre o fluxo sanguíneo e
> Possua bolsas de protecção de reserva em casa a eficácia dialítica, o objectivo de Kt/V definido e
para poder substituir em caso de acidente; monitorize a cada sessão o resultado final do seu
tratamento.
> Não retire as tampas do cateter, pois a exposição
ao ar aumenta o risco de infecção;

> Os clamps e as tampas do cateter devem ser ape-


nas manuseadas por profissionais de saúde;

128
129
VIGILÂNCIA DOS ACESSOS
VASCULARES NA UNIDADE
DE HEMODIÁLISE

130
COORDENAÇÃO DE ACESSOS VASCULARES NA UNIDADE DE
HEMODIÁLISE

CLASSIFICAÇÃO DOS ACESSOS VASCULARES PARA HEMODIÁLISE

131
5
COORDENAÇÃO DE ACESSOS
VASCULARES NA UNIDADE DE
HEMODIÁLISE

A estratégia para a coordenação dos acessos vascu- A coordenação inicia-se na sala de hemodiálise com
lares passa pelo envolvimento de todos os profissio- a intervenção dos enfermeiros na avaliação e canu-
nais com o objectivo de preservar os acessos vascu- lação do acesso vascular. Como referimos inicial-
lares arteriovenosos, reduzir o número de cateteres mente, a equipa de enfermagem deve estar atenta
de longa duração e da taxa de incidência de infecção a sinais e sintomas que sugerem problemas com o
relacionada com o AVH. acesso vascular. Uma identificação precoce, o regis-
to e a transmissão de informação ao médico residen-
O estabelecimento de processos de comunicação te promove uma actuação atempada por parte do
eficientes que promovam uma coordenação entre as Nefrologista responsável pelo doente (organigrama
equipas para a resolução dos problemas do doente, da coordenação de acessos vasculares).
garantindo a identificação dos acessos problemáti-
cos e planeamento da vigilância e soluções adequa- A estrutura recomendada para a equipa de coorde-
das, o registo de todas as incidências relacionadas nação de acessos vasculares inclui um nefrologista,
com os acessos e apresentação dos resultados ao um enfermeiro e uma administrativa, actuando em
staff da unidade, são os principais objectivos da equi- interacção com a equipa de enfermagem e médica,
pa de coordenação de acessos vasculares. na definição individualizada de soluções para cada
acesso vascular.
Em cada Unidade de Hemodiálise devem ser imple-
mentados protocolos de canulação do acesso vascu-
lar, prestação de cuidados ao doente com cateter e
prevenção da infecção, com realização de acções de
formação e implementação de projectos de inves-
tigação, com o objectivo de melhorar a utilização e
monitorização dos acessos vasculares.

132
ORGANIGRAMA DA COORDENAÇÃO DOS ACESSOS
VASCULARES

PROFISSIONAIS DE SALA DE HEMODIÁLISE


(ENFERMEIROS E MÉDICOS RESIDENTES)

EQUIPA DE COORDENAÇÃO
DE ACESSOS VASCULARES

NEFROLOGISTAS

133
5
CLASSIFICAÇÃO DOS ACESSOS
VASCULARES PARA
HEMODIÁLISE

Acesso com problemas de canu-


APÓS A AVALIAÇÃO, A CANULAÇÃO DO lação, Qa inferior a 400 (FAV) e Qa
inferior a 600 (PTFE), dificuldade
ACESSO E A REALIZAÇÃO DO TRATAMENTO, na hemostase, necessidade de su-
É FUNDAMENTAL CLASSIFICAR O ACESSO pervisão e comunicação ao médico
VASCULAR, NUM PROTOCOLO QUE PERMITA residente.
A TODOS OS PROFISSIONAIS CONHECER Acesso novo ou revisto com dificul-
E IDENTIFICAR FACILMENTE A QUALIDADE dade na canulação; hematoma re-
cente < 15 dias com necessidade de
E FACILIDADE DE CANULAÇÃO DE CADA
supervisão.
ACESSO VASCULAR

Acesso novo com canulações iniciais


(entre 30 a 60 dias), sem dificuldade
A categorização do grau de risco dos acessos vascu-
na canulação.
lares pode ser feita através de um código de cores
identificado no processo do doente. Este método
tem como objectivo que todos os AVH sejam avaliados
Cateter provisório ou de longa du-
a cada tratamento e classificados de acordo com a ração.
facilidade de canulação, complicações associadas e
vigilância necessária. Os AVH sem cor atribuída não
apresentam problemas evidentes, enquanto que os
outros AVH são classificados da seguinte forma: Doente com cateter e outro acesso
vascular funcionante a aguardar
canulação.

134
A aplicação deste protocolo pretende que todo o staff A identificação dos doentes com cateter é importante
da Unidade de Hemodiálise, de forma tranversal, iden- para que o enfermeiro faça precocemente o planea-
tifique o tipo de acesso vascular (arteriovenoso ou ve- mento dos cuidados a prestar. Para a equipa de coor-
noso). A classificação da facilidade de canulação e da denação de acessos vasculares é fundamental que os
qualidade do acesso vascular arteriovenoso permite ao doentes com cateter, bem como os doentes com acesso
profissional compreender se as suas competências são vascular arteriovenoso em fase de maturação, estejam
adequadas para a abordagem do acesso vascular. A devidamente referenciados. Isto permite um acompa-
partilha de experiências entre os diferentes elementos nhamento directo por parte da equipa, informando o
da equipa é importante, no entanto cada enfermeiro enfermeiro da necessidade da avaliação do acesso re-
deve ter consciência das suas capacidades na canula- centemente construído.
ção de um acesso vascular. Cabe ao enfermeiro coor-
denador da equipa de acessos vasculares adequar as O bom senso, a prática e os conhecimentos científicos
competências dos seus elementos aos acessos vascula- da profissão de enfermagem, potenciados pela experi-
res existentes. Desta forma, é importante classificar os ência adquirida através da prática profissional na área
acessos vasculares que se encontram a ser canulizados da Nefrologia, permitem a tomada de decisões que vão
pelas primeiras vezes, os acessos recentes ou revistos, muito além de protocolos institucionalizados. Este pro-
com dificuldade na canulação e com hematoma recente tocolo tem como objectivo definir acções e estabelecer
(<15 dias) e os acessos vasculares com problemas na uma referenciação para médicos, enfermeiros e equipa
canulação, com um Qa inferior a 400 (FAV) ou a 600 de acessos vasculares, promovendo um necessário
(prótese arteriovenosa) e dificuldade na hemostase. acompanhamento dos acessos vasculares dos doentes
Nestes casos, é fundamental a comunicação ao médico pertencentes a uma Unidade de Hemodiálise.
para o desenvolvimento de um trabalho multidisciplinar
atempado para a resolução dos problemas relacionados
com o acesso vascular do doente e eventual encaminha-
mento para a consulta de cirurgia vascular.

135
CONSIDERAÇÕES
FINAIS

136
137
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS

138
Como já foi dito, o acesso vascular é um dos facto- É fundamental que a actuação do enfermeiro privilegie
res mais importantes no sucesso da eficácia do tra- a adopção das melhores práticas de hemodiálise,
tamento dialítico. adequando-as da melhor forma à sua prática diária.

Enquanto enfermeiros, o nosso papel é fundamental A existência de um enfermeiro de referência na área


na preservação dos acessos vasculares dos nossos da monitorização dos acessos vasculares revela a
doentes. importância desta área no tratamento dialítico, bem
como o forte impacto da acção da enfermagem nos
É nossa função aprender a avaliar, canular correcta- resultados destes doentes.
mente os acessos, identificar e prevenir potenciais
complicações, assegurando uma hemostase correcta Este manual pretende ser uma referência para todos
e eficaz. os profissionais, representando uma abordagem
evoluída relativamente aos acessos vasculares.
A prevenção da infecção é uma política fundamental
na estratégia de cuidados a prestar ao doente com Resta-nos a certeza de que teremos de nos manter
IRCT em programa de hemodiálise, sobretudo nos sempre actualizados, nunca esquecendo que a
doentes com cateter como acesso vascular. sensibilidade e o bom senso são também factores
importantes para o sucesso desta missão.
As guidelines para os acessos vasculares ajudam-nos
a preservar a qualidade dos acessos e a aumentar
a sua longevidade, adoptando técnicas e estratégias
que nos permitam melhorar o nosso desempenho.

139
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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> Core Curriculum for the Dialysis Technician.

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Thrid Edition, 2006 Developed by the Medical Education Institute, Inc.

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> Fistula first - Cannulation Techniques, 2009.

> Fistula first - Protocol for New AVF Cannulation, 2009.

> Fistula maturation: doesn’t time matter at all? Giuliano Brunori1, Pietro Ravani2, Salvatore Mandolfo3,
Enrico Imbasciati3, Fabio Malberti2 and Giovanni Cancarini.

1Cattedra di Nefrologia Università di Brescia, Brescia, 2Divisione di Nefrologia e Dialisi, Cremona and 3Divisione di Nefrologia e

Dialisi, Lodi, Italy

> Correspondence and offprint requests to: Dr. Giuliano Brunori, Chair and Department of Nephrology,
University and Spedali Civili; Piazza Ospedale 1, 25123 Brescia, Italy. Email: gcbrunori@hotmail.com .

> Furlan, Andreja - Apresentação: Needle Removal and Haemostasis -


- Nursing Meeting NephroCare - Setembro 2009.

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> K - DOQUI Update 2006.

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> Division of Nephrology, University of Michigan, 315 W. Huron, Suite 240, Ann Arbor, MI 48103, USA.
rsaran@umich.edu

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> Trabalho da Botoeira: Prémio de Enfermagem NephroCare 2006.

143
Título
Manual de Acessos Vasculares

Design e Paginação
Grey Group

Edição
Fresenius Medical Care

Coordenação
Direcção de Enfermagem
Direcção de Comunicação

Revisores
Direcção de Enfermagem
Maria de Jesus Salgueiro (Enfermeira-Chefe na Clínica NephroCare Lumiar)
Telmo de Carvalho (Enfermeiro na Clínica NephroCare Lumiar)
Filomena Vieira (Enfermeira-Chefe na Clínica NephroCare Braga e Comissária)

Impressão
xpto

Tiragem
300 exemplares

Ano
Janeiro de 2011

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