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Varizes dos Membros Inferiores

Aspetos Práticos

Editores
C. Pereira Alves, C. Costa Almeida, A. Pratas Balhau
2018
Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia  
Capítulo  de  Cirurgia  Vascular  

Varizes  dos  Membros  Inferiores  


Aspetos  Práticos  

Editores  
C.  Pereira  Alves,  C.  Costa  Almeida,  A.  Pratas  Balhau  
2018  

1
Esta  publicação  faz  parte  da  atividade  educacional  do  Capítulo  de  Cirurgia  Vascular  da  
Sociedade  Portuguesa  da  Cirurgia.
As   opiniões   expressas   são   da   responsabilidade   dos   autores, assim como seguir
ou não o Acordo Ortográfico de 1996.
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Autores
AUTORES  

Aida  Paulino  
Assistente   Graduado,   Serviço   de   Cirurgia   Geral,   ULS   Castelo   Branco,   Hospital   Amato  
Lusitano,  Castelo  Branco  
Vogal   da   Coordenação   do   Capítulo   de   Cirurgia   Vascular   da   Sociedade   Portuguesa   de  
Cirurgia  

Álvaro  Pratas  Balhau  


Assistente  Graduado  Sénior  em  Cirurgia  Geral,  Hospital  de  Santa  Maria  Maior,  Barcelos  
Assistente  Hospitalar  de  Cirurgia  Vascular  
Mestre  em  Patologia  Experimental  
Diretor  do  Serviço  de  Cirurgia  Geral  do  Hospital  de  Santa  Maria  Maior,  Barcelos  
Coordenador  do  Capítulo  de  Cirurgia  Vascular  da  Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia  

Ana  Formiga  
Assistente   Graduado,   Serviço   de   Cirurgia   Geral,   Centro   Hospitalar   Lisboa   Central,  
Lisboa  

Ana  Lourenço  
Interna   do   3º   ano   da   Formação   Específica   de   Radiologia   no   Centro   Hospitalar   Lisboa  
Central,  Lisboa  

Ângela  Marques  
Assistente  Graduada  de  Radiologia  do  Centro  Hospitalar  Lisboa  Central,  Lisboa  

Beatriz  Mourato  
Assistente   Hospitalar,   Serviço   de   Cirurgia   Geral,   ULS   Norte   Alentejano,   Hospital   Dr.  
José  Maria  Grande,  Portalegre  

Carlos  Pereira  Alves  


Professor  de  Cirurgia  
Cirurgião  Vascular  
Clínica  de  Veias,  Hospital  da  Ordem  Terceira-­‐Chiado,  Lisboa  

Carlos  Costa  Almeida  


Cirurgião  Geral  e  Vascular  
Assistente  Graduado  Sénior  de  Cirurgia  Geral  
Diretor   do   Serviço   de   Cirurgia   C   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de   Coimbra -
Hospital  Geral (Covões),  Coimbra  
Professor  da  Faculdade  de  Medicina  da  Universidade  de  Coimbra  
Regente  da  Cadeira  de  Cirurgia  Vascular  

Carlos  Eduardo  Costa  Almeida  


Assistente Hospitalar de Cirurgia Geral, Serviço de Cirurgia C, Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra - Hospital Geral (Covões), Coimbra
Assistente da Faculdade de Medicina de Coimbra

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Autores

Diogo  Casal  
Assistente  Hospitalar  de  Cirurgia  Plástica  e  Reconstrutiva  e  Unidade  de  Queimados  no  
Centro  Hospitalar  Lisboa  Central,  Lisboa  
Professor   Auxiliar   do   Departamento   de   Anatomia   da   Faculdade   de   Ciências   Médicas,  
Universidade  Nova  de  Lisboa  

Élia  Coimbra  
Assistente  Graduada  Sénior  de  Radiologia  
Diretora   da   Unidade   de   Radiologia   de   Intervenção   do   Centro   Hospitalar   de   Lisboa  
Central,  Hospital  Curry  Cabral,  e  da  Unidade  de  Radiologia  de  Intervenção  do  Hospital  
da  Cruz  Vermelha,  Lisboa  
Membro   do   Conselho   Diretivo   da   Sociedade   Portuguesa   de   Radiologia   e   Medicina  
Nuclear.  

Filipe  Veloso  Gomes  


Médico  Radiologista  de  Intervenção  
Assistente  de  Radiologia,  Unidade  de  Radiologia  de  Intervenção  do  Centro  Hospitalar  
de  Lisboa  Central,  Hospital  Curry  Cabral,  e  da  Unidade  de  Radiologia  de  Intervenção  do  
Hospital  da  Cruz  Vermelha,  Lisboa  
Membro   da   Secção   de   Radiologia   de   Intervenção   da   Sociedade   Portuguesa   de  
Radiologia  e  Medicina  Nuclear  
Assistente  Convidado  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas,  Universidade  Nova  de  Lisboa.  

João  Magro  
Assistente  Graduado  Sénior,  Serviço  de  Cirurgia  Geral,  ULS  Norte  Alentejano,  Hospital  
Dr.  José  Maria  Grande,  Portalegre  

Luís  Filipe  Pinheiro  


Assistente  Graduado  Sénior,  Serviço  de  Cirurgia  Geral,  Hospital  de  São  Teotónio,  Viseu  

Luís  Silveira  
Assistente  Graduado  Sénior  de  Cirurgia  Geral,  aposentado  
Doutorado  em  Cirurgia  pela  Faculdade  de  Medicina  da  Universidade  de  Coimbra  
Professor  Associado  Convidado  da  Faculdade  de  Ciências  da  Saúde  da  UBI,  Covilhã  
Diretor  do  Laboratório  de  Gestos  Cirúrgicos  da  FCS  da  UBI,  Covilhã  

Mariana  Lima  
Interna   do   5º   ano   da   Formação   Específica   de   Radiologia   no   Centro   Hospitalar   Lisboa  
Central,  Lisboa  

Nuno  Pratas  
Interno   do   4º   ano   da   Formação   Específica   em   Cirurgia   Geral,   ULS   Norte   Alentejano,  
Hospital  Dr.  José  Maria  Grande,  Portalegre  
Representante  dos  Internos  na  ULSNA  

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Autores

Pedro  Vaz  
Assistente   Hospitalar,   Serviço   de   Cirurgia   Geral,   ULS   Castelo   Branco,   Hospital   Amato  
Lusitano,  Castelo  Branco  
Diretor-­‐Executivo  do  Laboratório  de  Gestos  Cirúrgicos  da  FCS  da  UBI,  Covilhã  

Sara  Correia  
Assistente   Hospitalar,   Serviço   de   Cirurgia   Geral,   ULS   Castelo   Branco,   Hospital   Amato  
Lusitano,  Castelo  Branco  

Tiago  Bilhin  
European  Board  of  Interventional  Radiology  
Radiologista   de   Intervenção,   Centro   Hepato-­‐bílio-­‐pancreático,   Hospital   Curry   Cabral,  
Centro  Hospitalar  Lisboa  Central  e  Hospital  de  Saint  Louis,  Lisboa  
Professor  Auxiliar  Convidado  da  NOVA  Medical  School,  Faculdade  de  Ciências  Médicas  
da  Universidade  Nova  de  Lisboa  
Editor   Associado   do   Journal   of   Vascular   and   Interventional   Radiology   e   da   Acta  
Radiológica  Portuguesa  
Membro  editorial  do  Cardiovascular  and  Interventional  Radiology  
Corresponding  Fellow  Society  of  Interventional  Radiology  (SIR);  
Fellow  Cardiovascular  and  Interventional  Radiological  Society  of  Europe  (CIRSE)  

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Indíce
ÍNDICE  

Pág.  
-­‐  Introdução  
Carlos  Pereira  Alves    ..............................................................   9
-­‐  Aspetos  históricos  das  veias  e  das  varizes  
Luís  Silveira  ............................................................................   13
-­‐  Anatomia  das  veias  dos  membros  inferiores  
Tiago  Bilhim  e  Diogo  Casal  ....................................................   53
-­‐  Fisiopatologia  da  insuficiência  venosa  crónica  
Carlos  M  Costa  Almeida  .........................................................   61
-­‐  Epidemiologia  e  fatores  de  risco  
Sara  Correia,  Aida  Paulino  e  Luís  Silveira  ...............................   69
-­‐  Classificação  CEAP  –  
Luís  Filipe  Pinheiro  ..................................................................   77
-­‐  Clínica:  sintomas  e  sinais  
Beatriz  Mourato,  Nuno  Pratas  e  João  Magro  .........................   83
-­‐  EcoDoppler  na  avaliação  da  doença  venosa  crónica  
Ana  Lourenço,  Mariana  Lima  e  Ângela  Marques  ...................   91
-­‐  Medicamentos  venoativos  
Carlos  Pereira  Alves  ................................................................   101
-­‐  Terapêutica  compressiva  
Carlos  Pereira  Alves  ................................................................   113
-­‐  Cirurgia  das  Varizes  dos  membros  inferiores  
Carlos  Pereira  Alves  ................................................................   121
-­‐  Tratamento  endovascular  
Filipe  Veloso  Gomes  e  Élia  Coimbra  ........................................   137
-­‐  Tratamento  das  perfurantes  
Carlos  Eduardo  Costa  Almeida  ................................................   145
-­‐  Escleroterapia  química  
Pratas  Balhau  .........................................................................   159
-­‐  Tratamento  das  complicações:  
.  Tromboflebite  superficial  (varicoflebite)  
Pedro  Vaz  ................................................................................   191
.  Hemorragia  varicosa  (varicorragia)  
Sara  Correia,  Aida  Paulino  e  Luís  Silveira  ................................   195
-­‐  Varizes  e  gravidez  
Ana  Formiga  ............................................................................   201
-­‐  Anexo  1  –  Folheto  informativo  ao  doente  
Pereira  Alves  ............................................................................   222

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Introdução

INTRODUÇÃO  

As   varizes   dos   membros   inferiores,   são   extremamente   frequentes,   com   grande  


impacto   no   SNS   em   termos   de   custos   e   grande   impacto   na   qualidade   de   vida   do  
cidadão.  
Se   se   incluírem   todas   as   classes   clínicas   da   classificação   CEAP,   a   prevalência   geral   é  
cerca   de   50   %   da   população,   com   20   a   25   %   a   terem   varizes   (C2),   6   %   com  
insuficiência   venosa   crónica   (C3,   4),   2   %   com   úlcera   venosa   cicatrizada   (C5)   e   0,5   %  
com  úlcera  aberta  (C6).  
A  prevalência  aumenta  com  a  idade.  
A   maior   prevalência   no   sexo   feminino   parece   não   ser   real,   mas   resultante   de   uma  
maior  preocupação  com  aspetos  estéticos.  
Apesar   de   frequentes   e   as   suas  referências   históricas   serem   mais   antigas   que   as   das  
doenças   arteriais,   as   varizes   continuam   a   ser   olhadas   como   situação   banal   e   a   não  
terem  a  valorização  necessária,  nem  conhecimentos  atualizados.  
No   plano   anatómico   as   duas   veias   tronculares   dos   membros   inferiores   são   a   veia  
safena   interna,   hoje   designada   de   grande   veia   safena,   e   a   veia   safena   externa,   hoje  
designada   de   pequena   veia   safena,   com   colaterais   a   nível   da   coxa   e   da   perna  
designadas   colaterais   safenianas,   para   as   distinguir   de   colaterais   sem   relação   com   a  
safena,  designadas  colaterais  não  safenianas.    
O  ecoDoppler  veio  mostrar  que  a  grande  veia  safena  e  a  pequena  veia  safena,  não  são  
veias   superficiais,   mas   sim   veias   interfasciais,   com   um   compartimento   próprio,   o  
compartimento  safeniano.  
As   colaterais,   safenianas   ou   não   safenianas,   estas   sim,   são   veias   superficiais,   que  
quando   dilatadas   constituem   as   varizes,   que   por   definição   são   veias   superficiais  
dilatadas  e  tortuosas.  
As   veias   safenas   podem   ou   não   estar   dilatadas   e   com   refluxo   de   extensão   variável,  
axial  ou  segmentar.  
A   causa   das   varizes   e   do   seu   desenvolvimento,   continuam   por   estabelecer,  
continuando  a  discussão  se  na  etiologia  das  varizes  a  dilatação  venosa  é  secundária  a  

79  
Introdução

um  problema  primário  da  parede  venosa  (teoria  parietal)  ou  a  um  problema  primário  
de  uma  ou  mais  válvulas  venosas  (teoria  valvular)  sendo  que  qualquer  dos  casos  leva  a  
uma  dilatação  venosa  segmentar  com  consequente  incompetência  valvular,  já  que  as  
válvulas  estão  inseridas  na  parede  venosa.  
Continuam,   também,   mal   compreendidos   os   mecanismos   da   insuficiência   venosa  
crónica   (IVC),   ganhando   influência   crescente   o   facto   da   hipertensão   venosa,   ao  
sobrecarregar   a   microcirculação,   resultar   em   extravasamento   de   macromoléculas   e  
eritrócitos,   que   vão   provocar   uma   ativação   e   migração   leucocitárias   e   iniciar   uma  
reação   inflamatória   com   libertação   de   fatores   inflamatórios   e   síntese   aumentada   de  
MMP-­‐2,  que  favorecem  a  evolução  desta  doença.  
Medicamentos   com   ação   sobre   a   ativação   leucocitária,   como   verificado   com   o   MPFF  
(Micronized   Purified   Flavonoid   Fraction   –   Fracção   Flavonóica   Purificada   Micronizada),  
podem,  assim,  ser  úteis  no  tratamento  da  IVC.  
Nos   aspetos   clínicos   a   classificação   CEAP   tem   vindo   a   ter   uso   crescente,   com  
atualização  constante  e  permitindo  melhor  definição  dos  sintomas  e  sinais  da  doença  
venosa  crónica.  
As  últimas  décadas,  têm  sido  marcadas  por  uma  melhor  compreensão  da  anatomia  e  
fisiopatologia,  sobretudo  devido  ao  exame  do  ecoDoppler  com  cor.  
O  tratamento  dos  doentes  com  varizes  deve  cada  vez  mais  seguir  o  conceito  de  “one  
stop   clinic”,   no   qual,   de   maneira   sequencial   e   rápida,   a   avaliação   clinica   e   o   exame  
físico,   estabelecem   a   classe   clínica,   seguindo-­‐se,   com   a   menor   demora,   a   realização   de  
exame   ecoDoppler,   se   indicado,   para   complementar   a   classificação   CEAP   e  
subsequente  decisão  de  tratamento.  
Esta  metodologia,  exige  conhecimentos  e  prática  clínica  atualizados,  impondo  cada  vez  
mais  a  flebologia  como  especialização.  
O   ecoDoppler   com   cor   ou   ultrassonografia   duplex,   é,   hoje,   o   método   de   escolha   na  
avaliação  da  doença  venosa,  permitindo  detetar  refluxo  e/ou  obstrução  nas  veias  em  
estudo.   A   realização   do   ecoDoppler   venoso   dos   membros   inferiores   tem   hoje  
metodologia  própria.  
O   seu   objetivo   é,   não   só   determinar   a   presença   de   refluxo   e   ou   obstrução,   mas   definir  
os   padrões   de   refluxo,   se   axial   ou   segmentar,   o   que   obriga   a   estudar   a   grande   veia  

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Introdução

safena  em  todo  o  seu  trajeto,  desde  a  região  inguinal  ao  maléolo  interno,  bem  como  
determinar  o  seu  calibre  abaixo  da  crossa,  hoje  designada  junção  safeno-­‐femoral.  
O   exame   ecoDoppler,   se   não   realizado   pelo   próprio   cirurgião,   deverá   ter   sempre  
informação   clínica   da   razão   do   pedido   do   exame   e   realizado   por   imagiologista   com  
conhecimento  e  prática  de  imagiologia  venosa.  
Em   função   da   classe   clínica   CEAP   e   dos   padrões   de   refluxo,   será   tomada   a   decisão  
terapêutica.  
O   tratamento   poderá   ser   conservador,   com   prescrição   de   medicamentos   venoativos  
ou  de  meias  elásticas,  para  as  classes  C0s  e  C1s)  ou  incluir  cirurgia  para  as  classes  C2

Na  classe  C1,  poderá  ser  considerada  a  escleroterapia.  


O   tratamento   com   medicamentos   venoativos   tem   hoje   efeito   bem   estabelecido   no  
alívio   sintomático   e   no   alívio/resolução   do   edema.   O   MPFF   mostrou   ainda   efeito  
benéfico  nas  úlceras  venosas.  Estudos  recentes  sugerem  que  o  MPFF  possa  ter  efeito  
preventivo   na   evolução   da   doença   venosa   crónica,   exigindo   e   estimulando   futura  
investigação.  
O   tratamento   com   meias   elásticas,   ao   reduzir   o   volume   venoso,   contribui   para  
restaurar   o   normal   retorno   venoso,   tendo   assim   efeito   no   alívio   dos   sintomas   e   do  
edema.  
As  meias  elásticas  são  tratamento  de  escolha  nas  úlceras  venosas  (kit  ulcera)  e  a  sua  
manutenção  após  a  cicatrização  da  úlcera,  parece  prevenir/diminuir  a  recorrência.  
As  meias  elásticas  devem  ser  usadas  diariamente  e  substituídas  regularmente.  
A   cirurgia   de   desconexão   da   junção   safenofemural   ou   poplítea,   “stripping”   de  
invaginação   da   grande   safena   até   abaixo   do   joelho   e   excisão   das   colaterais   varicosas  
com  múltiplas  incisões  cutâneas,  continua  a  ser  o  método  que  permite,  com  a  mesma  
técnica   e   no   mesmo   tempo   operatório,   tratar   as   colaterais   varicosas   e   o   tronco   das  
safenas,  quando  indicado.  
A  oclusão  endovascular  do  tronco  das  safenas,  em  alternativa  ao  “stripping”  tem  tido  
excelentes  taxas  de  oclusão,  mas  não  trata  as  colaterais  varicosas.  
A  escleroterapia,  útil  no  tratamento  de  telangiectasias  e  varizes  reticulares  e  residuais,  
continua  a  mostrar,  no  tratamento  das  varizes  tronculares,  maior  recorrência  a  longo  
termo.  

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Introdução

A   necessidade   de   tratamento   das   perfurantes   incompetentes   da   perna   com   SEPS,  


técnicas   endovasculares   ou   escleroterapia   eco   guiada,   continua   assunto   controverso,  
surgindo  a  SEPS  como  técnica  preferencial.  
A  varicoflebite  (trombose  venosa  superficial  de  veia  varicosa)  nem  sempre  é  benigna  
podendo  associar-­‐se  a  trombose  venosa  profunda.  O  ecoDoppler  permite  confirmar  o  
diagnóstico   e   definir   a   extensão.   O   tratamento   é   feito   com   anti-­‐inflamatórios   e  
anticoagulantes,  não  tendo  indicação  prescrever  antibióticos.  
Outra   complicação   a   hemorragia   varicosa   ou   varicorragia,   pode   ser   provocada   por  
traumatismo  ou  expontânea  e  deve  ser  tratada  com  urgência.  A  elevação  do  membro  
e  compressão  do  ponto  hemorrágico,  pára  a  hemorragia.  
É  bem  conhecido  que  durante  a  gravidez,  as  veias  se  dilatam  por  fatores  hormonais  e  
pela  compressão  do  útero  gravídico.  Em  regra,  as  varizes  da  gravidez  regridem  após  o  
parto,  regressão  que  vai  diminuindo  com  futuras  gravidezes.  
A  indicação  de  tratamento  das  varizes  a  seguir  à  gravidez,  deve,  assim,  ser  protelada  
entre  seis  meses  a  um  ano.  
 
Estes   diferentes   aspetos   das   varizes   dos   membros   inferiores,   são   consideradas   pelos  
autores  da  presente  publicação.  
Esta  publicação,  pelo  Capítulo  Vascular  da  Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia,  destina-­‐
se   essencialmente   aos   médicos   de   Medicina   Geral   e   Familiar   e   aos   Cirurgiões   com  
interesse  na  Doença  Venosa  Crónica.  
Aos   especialistas   em   Medicina   Geral   e   Familiar,   porque   são   muitas   vezes   o   primeiro  
contato  do  doente  com  varizes  e  poderão  ter  a  seu  cargo  o  tratamento  conservador,  
com  medicamentos  venoativos  e  meias  elásticas  dos  doentes  das  classes  clínicas  CEAP,  
C0s  e  C1s  e  referenciar  para  o  cirurgião  as  classes  clínicas  C2  a  C6.  
Aos  cirurgiões  com  interesse  pela  doença  venosa  crónica,  porque  esse  interesse  exige  
conhecimentos  atualizados  e  prática  clínica  frequente.  
 
 
 
 
 

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Aspetos históricos das veias e varizes
 
 
ASPETOS  HISTÓRICOS  DAS  VEIAS  E  VARIZES  
Luís  Silveira  
 
As   varizes   são   um   problema   de   saúde   pública   tão   importante,   que   justificam   a  
elaboração  deste  livro,  para  orientação  dos  Cirurgiões  Gerais  e  consulta  dos  colegas  de  
Medicina  Geral  e  Familiar.  É  nosso  dever  lembrar,  agradecendo,  os  que  contribuíram  
para   o   que   atualmente   sabemos   sobre   anatomia   do   sistema   venoso,   etiopatogenia,  
diagnóstico   e   tratamento   da   insuficiência   venosa   crónica   (IVC)   e   das   varizes.   Como   é  
difícil  separar  a  história  destas  doenças  da  evolução  do  conhecimento  sobre  as  veias,  a  
este  nos  referiremos  pontualmente.  
Esperamos  que  vos  seja  útil  na  prática  clínica.  
Quando  Huang  Ti  (2697-­‐2597  aC),  o  Imperador  Amarelo,  cerca  de  2600  aC,  perguntou  
“Como  ocorrem  os  edemas?  Quais  são  as  origens?”,   Qi  Bo  disse:  "O  qi  (energia  vital)  
protetor  no  corpo  circula  junto  com  as  veias  e  canais  para  seguir  as  divisões  da  carne...  
Quando  há  edema,  é  preciso  investigar  os  canais,  as  veias  e  os  lábios.”  e  preconiza  o  
seu   tratamento   com   acupuntura.   Não   refere,   especificamente,   varizes,   mas   atribui   o  
edema  ao  mau  funcionamento  das  veias.1  
Encontrámos  a  primeira  referência,  escrita,  a  varizes,  no  Papiro  de  Ebers,  datado  de  
cerca  de  1550  aC  1,  no  governo  do  faraó  Amenhotep  I,  “Quando  encontra  um  Tumor  do  
Metu  no  lado  interno  de  qualquer  Membro,  ele  cresce  e  vê  que  serpenteia  como  cobras  
enquanto  forma  muitas  proeminências  e  estas  são  como  coisas  movidas  pelo  vento...  “,  
aconselha   a   não   lhe   tocar   (talvez   sugerindo   que   o   tratamento   não   é   cirúrgico)  
apresentando,   em   seguida,   uma   Fórmula   Mágica   que   deve   ser   repetida   por   quatro  
manhãs,   mas   que   é   incompreensível   e   de   impossível   tradução,   por   deterioração   do  
papiro.2  
Sushruta   (séc.   VI   aC),   cirurgião   indiano,   também   se   referiu   a   varizes,   e   foi   o   primeiro   a  
referir-­‐se   à   ETIOPATOGENIA,   quando   no   seu   tratado   Sushruta   Samhita,     Cap.   XL   -­‐   Sirá-­‐
Granthi   (aneurisma   ou   veias   varicosas),   diz   “O   corpo   Vàyu   em   pessoas   fracas   e  
                                                                                                                       
1   Tem   trechos   datados   de   cerca   de   3400   aC,   data   em   que,   provavelmente,   começou   a   ser  

escrito.  

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13
Aspetos históricos das veias e varizes

debilitadas,   cansado   por   exercícios   físicos   excessivos,   por   esforço   ou   por   pressão,  
contrai,  seca  ou  desenha  as  ramificações  de  veias  (Sirà)  ou  artérias  (do  local  afetado)  
(aneurisma)   e   rapidamente   dá   origem   a   uma   formação   nodosa   em   relevo   que   se  
chama  Sirà-­‐Granthi...  ”3  
Em  Agrigento,  Empedócles  (490-­‐430  aC),  defendia  a  Teoria  dos  Elementos  –  ar,  água,  
fogo  e  terra  –  que  foi  a  base  da  Escola  Pneumática  de  Medicina,  baseada  nos  conceitos  
“o   sangue   é   a   vida”   e   “o   coração   é   o   centro   do   sistema   vascular   e   o   pneuma   é  
transportado   pelos   vasos   sanguíneos”.   Esta   teoria   foi   seguida   por   Diogenes   (499-­‐428  
aC),  de  Apolónia,  um  dos  primeiros  a  estudar  a  circulação  sanguínea  e  a  descrever  um  
sistema  vascular4a.  
Segundo  Caggiati  e  Allegra5,  foi  Hippocrates  (460-­‐375  aC),  de  Cós,  quem,  pela  primeira  
vez  se  referiu  à  patogénese  e  à  epidemiologia  da  doença  varicosa,  quando  afirmou  que  
as  varizes  eram  mais  frequentes  nos  Citas  (antigo  povo  iraniano  de  pastores  nómadas  
equestres),   devido   ao   tempo   prolongado   que   passavam   no   dorso   do   cavalo,   com   as  
pernas   penduradas.   Hippocrates   era   defensor   da   Teoria   dos   Humores   “O   corpo  
humano  contém  sangue,  fleuma,  bílis  amarela  e  bílis  negra...  A  saúde  é  principalmente  
o  estado  em  que  estas  substâncias  constituintes  estão  em  proporção  correta  entre  si,  
tanto   em   força   como   em   quantidade,   e   estão   bem   misturadas.”6   Um   desequilíbrio  
entre  os  humores,  originaria  uma  doença.  
Deixem-­‐nos   juntar   duas   opiniões   interessantes,   que,   a   propósito   de   varizes,  
Hippocrates   referiu   nos   seus   Aforismas:   21.   “Nas   afeções   maníacas,   se   aparecem  
varizes  ou  hemorróidas,  estas  curam  a  mania.”7a;  e  34.  “Pessoas  que  ficaram  carecas  
não   sofrem   de   grandes   varizes;   mas   se   varizes   aparecerem   em   alguém   que   é   calvo,  
então   o   seu   cabelo   cresce   de   novo   espesso.”7b   Talvez   a   vossa   experiência   clínica,  
confirme  estas  afirmações.  
Aristóteles   (384-­‐322   aC),   de   Atenas,   frequentemente   citado   quando   se   fala   da   história  
das  varizes,  não  se  pronunciou,  especificamente,  sobre  esta  patologia.  Tinha  opiniões  
erradas   acerca   da   circulação,   quando   afirmava   que   “O   coração   apresenta   três  
cavidades;...   ”8a,   “Há   dois   vasos   no   tórax...   O   maior   fica   mais   à   frente,   o   mais   pequeno,  
atrás   dele;...   há   quem   chame   a   este   último   aorta...   Estes   vasos   têm   origem   no  
coração.”8b  Só  se  refere  a  varizes,  quando  diz  “Mas  as  mulheres  estão  menos  sujeitas  a  
doenças  do  que  os  homens.  São  raras  as  que  sofrem  de  varizes,  de  hemorróidas  ou  de  

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Aspetos históricos das veias e varizes

hemorragias  nasais.  Se  lhes  acontecer  algum  destes  percalços,  a  menstruação  não  se  
faz  normalmente.”8c,  mas  não  as  define.  Embora  faça  a  distinção  entre  aorta  e  grande  
veia  (cava),  fale  nas  artéria  e  veia  pulmonares  e  outras  ramificações  daquelas,  não  faz  
a  distinção  entre  artérias  e  veias.  Dá-­‐lhes  o  mesmo  nome,  phlebs  -­‐  vaso  sanguíneo.  
Esta   distinção   só   foi   feita   por   Praxagoras   (340-­‐séc.   III?   aC),   de   Cós,   que,   também,  
descreveu  as  diferentes  funções  delas.  Chamou  veias  (phlebes),  aos  vasos  que  saem  do  
ventrículo   direito   do   coração,   e   artérias   (artēriai),   aos   que   emergem   do   esquerdo9a.  
Uma   sua   teoria   central,   a   Teoria   Pneumática,   era   a   noção   que   as   artérias  
transportavam   pneuma   (alma,   vida,   ar   e   respiração)   e   as   veias   sangue,   porque   no  
cadáver  as  primeiras  estavam  vazias  (já  não  havia  alma,  vida,  ar,  nem  respiração)  e  as  
segundas  continham  sangue9b.  
Um   seu   pupilo,   Herophilus   (335-­‐280   aC),   de   Alexandria,   considerado   o   Pai   da  
Anatomia,  foi  o  primeiro  a  chamar  artéria  pulmonar  (artéria  tipo-­‐veia),  ao  vaso  que  sai  
do   ventrículo   direito   e   a   distinguir   anatómica   e   funcionalmente   as   artérias   das   veias.  
Não   concordando   com   o   seu   mestre,   defendia   que   as   artérias   não   só   transportavam  
pneuma,  mas  também  sangue9c.  Erasistratus  (304-­‐250  aC),  de  Alexandria,  aprofundou  
o  conceito  da  existência  de  dois  sistemas  diferentes,  o  arterial  e  o  venoso,  mas,  quanto  
aos   vasos   pulmonares,   porque   “...   as   veias   pertencem   ao   sistema   pneumático,   são  
consideradas  artérias...   “  e  chamou-­‐lhe   veia  arteriosa,  e  porque  “...  a  artéria  pulmonar  
é  suposto  existir  para  levar  nutrientes  (sangue  formado  dos  alimentos  digestivos)  para  
os   pulmões,   pertence   ao   sistema   venoso.”,   pelo   que   seria   artéria   venosa10.   Percebeu  
que   o   sangue   passava   das   artérias   para   as   veias   através   de   intercomunicações   muito  
finas  entre  os  dois  tipos  de  vasos,  ou  seja,  a  existência  do  sistema  capilar4b,  embora  
não   o   tivesse   afirmado.   Nenhum   destes   autores   se   pronunciou   sobre   varizes   dos  
membros  inferiores.  
No  museu  de  Atenas,  na  Grécia,  encontra-­‐se  uma  peça  que  é  uma  imagem  esculpida  
em   pedra   que,   de   maneira   muito   clara,   mostra   uma   veia   varicosa   numa   perna  
masculina.   Esta   imagem,   que   foi   encontrada   no   templo   de   Amynos,   próximo   da  
Acrópole  de  Atenas,  é  datada  de  350  aC.  Foi  uma  oferenda  votiva  a  Asclepius  levada  ao  
templo  por  motivos  religiosos,  como  agradecimento  pela  cura  de  varizes  (Fig.  1).  
A   Teoria   Pneumática,   continuou   a   ser   defendida   por   Rufus   D’Éphèse   (70-­‐120),   mas  
Galeno   (129-­‐200),   de   Pergamo,   embora   não   discordasse   desta,   concordava   com  

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Aspetos históricos das veias e varizes

Hippocrates,  pois  era  adepto  da  Teoria  dos  quatro  Humores11,  que  se  manteve  até  ao  
séc.  XVI.  Também  defendia  que  o  sangue  era  gerado  no  fígado,  por  transformação  dos  
alimentos,  era  distribuído  pelas  veias  e  renovado  no  coração  pela  mistura  com  o  ar.  As  
cavidades   direitas   do   coração   recebiam   o   sangue   das   veias,   enquanto   que   as  
esquerdas   recebiam   a   mistura.   O   fígado,   considerado   o   centro   da   circulação,   impelia   o  
sangue  suavemente  pelas  veias,  ao  passo  que  a  metade  esquerda  do  coração  insuflava  
o  ar  cheio  de  “espíritos  vitais”  para  todo  o  organismo,  através  da  “fonte  da  vida”,  as  
artérias12.  Mas  haveria  uma  comunicação  entre  estas  duas  partes  cardíacas.  Esta  teoria  
foi  adotada  pela  Igreja  e  quem  se  lhe  opunha,  ou  apresentasse  outra  diferente,  corria  
o  risco  de  excomunhão101a.  
 

 
Fig.  1  -­‐  Oferenda  votiva  a  Asclepius,  em  mármore,  agradecendo  a  cura  de  varizes.  
350  aC.  Museu  Nacional,  Atenas.  
 
A   Teoria   dos   quatro   Humores   também   foi   defendida   na   Escola   de   Salerno,   famosa  
pelos   mestres   que   nela   lecionavam,   como   Constantino,   O   Africano   (1020-­‐1087),  
Mestre   Nicolau   (1150-­‐1200)   e   o   anatomista   Copho   (séc.   XIV).   O   segundo   autor,   na  
Anatomia   Magistri   Nicolai   Physici,   também   defendia   que   todas   as   veias   nascem   do  
fígado   e   refere-­‐se   a   varizes,   mas   com   outra   conotação,   quando   diz   “Duas   veias  

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Aspetos históricos das veias e varizes

chamadas   varicæ   também   surgem   da   veia   cava;   elas   vão   até   à   parte   de   trás   dos  
joelhos   e   quando   são   cortadas   obliquamente,   fazem   homens   varicosos,   isto   é,  
fechados...   ”13   Seguem-­‐se   várias   indicações   de   flebotomias   para   tratamento   de  
múltiplas  doenças.  
Para   Guy   de   Chauliac   (1298-­‐1368),   de   Avignon,   ainda   adepto   daquela   teoria,   “As  
causas  destas  doenças  são...  sangue  muito  melancólico  e  fleumático  e  cálido...“14a  
Dos   médicos   portugueses,   Pedro   Hispano   (1215-­‐1277)   não   se   pronunciou,  
especificamente,  sobre  varizes,  mas  Amato  Lusitano  (1511-­‐1568),  porque  lecionou  em  
Ferrara,   com   Giambattista   Canano   (1515-­‐1579),   defendia   que   este   foi   o   primeiro   a  
descrever   as   válvulas   venosas,   em   1957.   Amato,   em   dois   locais   das   suas   Centúrias  
(Primeira  Centúria,  Cura  LII15a  e  V  Centúria,  Cura  LXX15b),  se  refere  às  válvulas  da  veia  
ázigos   e   comprova   a   sua   função,   quando   diz   “Mas   se   abrirmos   a   veia   sem   par   na   parte  
mais   baixa   e   com   um   canudo,   ou   caninha,   metido   dentro,   soprarmos   para   a   parte  
superior,  não  há  dúvida  que  a  veia  cava  não  inchará,  não  ficará  entumescida,  visto  que  
o  ar,  contido  na  veia  sem  par,  não  pode  sair,  por  causa  dos  ostíolos  ou  opérculos  que  
tem  no  seu  orifício  junto  da  veia  cava.  Donde  é  certo  que  se  o  ar  não  pode  derivar  da  
veia  sem  par  para  a  veia  cava,  com  mais  razão  (a  fortiori)  o  sangue,  mais  encorpado  
que   o   ar,   não   refluirá.”15a,   logo   impedem   o   refluxo   sanguíneo.   Esta   verificação   foi   feita  
“...  no  ano  de  1547,  em  Ferrara,  fizemos  dissecar  doze  corpos  humanos  e  de  animais,  e  
vimos,  que  em  todos  assim  sucedera...  “15a    
Leonardo   da   Vinci   (1452-­‐1519),   fez   grandes   descrições   e   desenhos   do   sistema  
circulatório,   mas,   em   alguns   casos,   não   são   do   homem,   provavelmente   do   boi16.  
Berengarius   da   Carpi   (1460-­‐1530),   anatomista   de   Bolonha,   o   primeiro   a   publicar  
desenhos  anatómicos  em  livros  de  medicina,  em  1522,  também  fez  desenhos  e  relatos  
da   anatomia   circulatória17,   nomeadamente   das   veias   safenas,   mas   não   tão   perfeitos  
como   os   realizados   por   Andreas   Vesalius   (1514-­‐1564),   no   seu   tratado   De   Humani  
Corporis   Fabrica,   publicado   em   1543.   Baseado   em   disseções   cadavéricas,   no   Terceiro  
Livro,  desenhou  todas  as  ramificações  das  veia  porta,  veia  cava,  aorta  e  do  cérebro18,  e  
toda  a  circulação,  com  exceção  das  válvulas  e  das  perfurantes.  Os  seus  desenhos  têm  
uma  característica  singular,  são  anatomicamente  artísticos,  mas  têm  falhas,  como  a  de,  
ainda,  julgar  que  existia  uma  comunicação  interventricular.  

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Aspetos históricos das veias e varizes

Também   Bartolommeo   Eustachi   (1500/1513-­‐1574),   de   Roma,   desenhou   sistemas  


arteriais19a,  e  venosos19b,  19c,  com  alguma  precisão,  no  compêndio  publicado  em  1552,  
Tabulӕ  Anatomicӕ.  
Embora  só  tenha  sido  traduzido  em  1527,  por  Andréa  de  Belluno,  no  séc.  XVI,  o  árabe  
Ibn  Al-­‐Nafis  (1213-­‐1288),  a  lecionar  no  Cairo,  no  seu  livro  Comentário  à  Anatomia  do  
Canon   de   Avicenna,   faz   a   primeira   descrição   da   circulação   pulmonar   ou   pequena  
circulação,  “...  passa  na  veia  arteriosa  para  o  pulmão  para  permear  sua  substância  e  
misturar-­‐se  ao  ar,  a  sua  parte  fina  é  purificada;  e  depois  passa  na  artéria  venosa  para  
alcançar   a   cavidade   esquerda   das   duas   cavidades   do   coração;   tendo-­‐se   misturado   com  
o   ar   e   tornado   apto   para   a   criação   do   espírito.”20   Porque   não   era   conhecido   este  
documento,  aquela  descrição  foi  atribuída  a   Miguel  Servet  (1509-­‐1553),  espanhol  de  
Saragoça   que   lecionou   em   Genebra   e   Viena,   no   livro   Christianismi   Restitutio21,  
publicado  em  1553,  “Da  mesma  forma,  não  apenas  ar,  mas  ar  misturado  com  sangue,  
é  enviado  dos  pulmões  para  o  coração  através  da  veia  pulmonar;  Portanto,  a  mistura  
ocorre  nos  pulmões.  Essa  cor  amarela  avermelhada  é  dada  ao  sangue  espirituoso  pelos  
pulmões;  não  é  do  coração.”,  referência  à  oxigenação  do  sangue  nos  pulmões.  É  uma  
descrição   anatómica   (diferente   da   de   Galeno)   e   religiosa,   que   o   levaria   à   morte   pelo  
fogo,   sentenciada   pela   Inquisição.   Este   documento   foi   escondido   pela   Igreja   e  
esquecido,   tendo   ressurgido   com   Harvey,   como   se   referirá   mais   à   frente.   Também  
Realdo  Colombo  (1516-­‐1559),  sucessor  de  Vesalius  na  cadeira  de  Anatomia,  em  Pádua,  
descreveu   a   circulação   pulmonar,   no   livro   De   Re   Anatomica,   publicado   em   1559,  
depois  da  sua  morte101b.  As  teorias  destes  três  autores,  por  vários  motivos,  não  foram  
conhecidas  na  sua  época,  pelo  que  as  descobertas  de  Harvey  tiveram  mais  impacto.  
Embora,  na  área  anatómica,  as  opiniões  de  Galeno  tenham  sido  contraditas  pelas  de  
Vesalius,   a   Teoria   dos   Humores   só   o   foi   no   séc.   XVIII,   por   Benjamin   Bell.   Assim,  
Ambroise   Paré   (1509-­‐1590),   o   primeiro   Mestre   Cirurgião-­‐barbeiro,   afirmava   “As  
varizes   desenvolvem-­‐se   nas   pessoas   que   são   melancólicas,   e   que   se   alimentam   de  
carnes   melancólicas.   As   mulheres   grávidas   são   frequentemente   afetadas,   por   causa   do  
sangue  melancólico  que,  retido  durante  a  gravidez,  faz  com  que  as  veias  se  dilatem  e  
se   tornem   varicosas...   “22a,   foi   o   primeiro   a   considerar   a   gravidez   como   causa   de  
varizes,   e,   também   que   varizes   são   causas   do   aparecimento   de   úlceras   e   fatores   de  
atraso  da  sua  cicatrização22b.  

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Aspetos históricos das veias e varizes

Em   Pádua,   Hieronymus   Fabricius   Ab   Aquapendente   (1533-­‐1619),   professor   (talvez   o  


primeiro  Professor  de  Medicina  digno  desse  nome)  e  diretor  dos  teatros  anatómicos,  
descreveu,  pela  primeira  vez,  as  válvulas  das  veias  com  algum  pormenor,  no  seu  livro  
De   venarum   ostiolis,   publicado   em   1603.   Alguns   autores,   como   Riju   Ramachandron  
Menon23  e  Amato  Lusitano  (como  já  dissemos),  afirmam  que  Giovanni  Battista  Canano,  
em   1540,   terá   descrito   as   válvulas   nas   veias   renal,   ázigos   e   ilíacas   externas,   que  
Ludovicus  Vassaeus,  em  1544,  descreveu  algumas  válvulas,  e,  um  ano  depois,  também  
o  terá  feito  Charles  d’Estiènne  (ou  Carolo  Stefano)  (1504-­‐1564)24,  tendo  as  primeiras  
ilustrações   sido   apresentadas   por   Salomon   Alberti,   em   De   valvulis   membraneis  
vasorum,   publicado   em   1585.   Fabricius   Ab   Aquapendente,   embora   não   tivesse   tido  
conhecimento   cabal   da   função   das   válvulas,   foi   o   primeiro   a   considerar   a   insuficiência  
valvular  como  causa  das  varizes,  quando  referiu  “Em  algumas  pessoas,  de  facto,  como  
porteiros   e   camponeses,   parecem   inchar   (as   veias)   como   varizes:   mas   aqui   devo  
corrigir-­‐me.  Deve  ser  claramente  indicado  que  as  varizes  reais  são  devidas  inteiramente  
à   dilatação   das   válvulas   e   veias   por   uma   retenção   muito   longa   e   espessamento   do  
sangue  nas  válvulas;  uma  vez  que,  na  ausência  de  válvulas,  as  veias  deveriam  inchar  e  
dilatar  uniformemente  ao  longo  do  seu  comprimento,  diferindo  assim  das  varizes.”25a  
Também   as   representou   em   desenho   (Fig.   2)25b,   mostrando   dilatações   venosas,  
correspondentes  a  válvulas,  no  antebraço  quando  se  coloca  um  garrote  no  braço.  

 
Fig.  2  –  De  venarum  ostiolis,  pp.  80  e  81.  Tabula  ii:  A  Figura  i  mostra  as  veias  cefálica  (AB),  
basílica  (CD)  e  mediana  (EF)  e  dilatações  (o,  o,  o)  correspondentes  às  válvulas,  quando  se  
coloca  um  garrote  no  braço;  A  Figura  ii  representa  duas  veias  da  perna,  AB  e  CD  e  válvulas  (o,  
o,  o)  por  fora  das  veias,  estando  na  primeira  vazias  e  em  CD  cheias  de  sangue.  
 
William   Harvey   (1578-­‐1657),   aluno   de   Fabricius,   em   1628,   no   livro   Exercitatio  
anatómica   de   MOTU   CORDIS   et   sanguinis   in   animalibus   (Estudos   anatómicos   sobre   o  

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Aspetos históricos das veias e varizes

movimento   do   coração   e   do   sangue   em   animais),   veio   mostrar,   cientificamente,   a  


circulação  sanguínea  e  o  papel  das  válvulas  das  veias26a.  “As  válvulas  estão  presentes  
para   que   o   sangue   não   possa   mover-­‐se   das   veias   maiores   para   as   mais   pequenas,   a  
não   ser   em   caso   de   rotura   ou   de   varizes,   e   para   que   não   avance   do   centro   do   corpo  
para   a   periferia   através   delas,   mas   sim   das   extremidades   até   ao   centro.   Este   último  
movimento   é   facilitado   por   estas   válvulas   delicadas,   o   contrário   é   completamente  
impedido.”26b  

 
Fig.  3  –  A  Figura  1  mostra  dilatações  venosas  correspondentes  às  válvulas  (igual  à  de  Fabricius,  
mas  invertida  na  horizontal);  as  seguintes  figuras  mostram  a  eficácia  das  válvulas.  
 
Muito   influente   foi   Richard   Wiseman   (1621-­‐1676),   de   Londres,   que   em   1676,   no  
tratado   Severall   Chirurgicall   Treatises,   foi   o   primeiro   a   sugerir   que   a   incompetência  
valvular  resultava  da  dilatação  de  uma  veia27  e  que  a  compressão  e/ou  a  trombose  
podem  ser  causas  de  varizes,  quando  diz  “Mas,  também,  ocorre  de  forma  não  natural,  
tanto   nos   Tumores   da   Mama   e   noutras   Partes:   em   todos   os   que   podem   (mas   mais  
visivelmente   em   Cancros)   os   Vasos   alargam,   e   as   Veias   tornam-­‐se   varicosas.   A   causa  
disto   pode   ser   referida   à   coagulação   do   Soro,   ou   à   espessura   do   Sangue,   ou   à  
obstrução  da  Veia  em  algum  lugar  em  sua  passagem  por  alguma  angulação  provocada  
pelo  Tumor;  de  onde  acontecerá,  muitas  vezes,  que  a  Veia  para  trás  dela  tenha  parado,  

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Aspetos históricos das veias e varizes

e   é   forçada   a   inchar.   Não,   não   só   a   contração   dos   Vasos   pelo   não   natural   Tumor   faz  
isso,  mas  também  por  qualquer  outra  Pressão.  Como  na  Mulher  com  Criança,  o  peso  
deitado  sobre  o  Ramus  iliacus  em  qualquer  lado  do  corpo,  torna  varicosos  a  Coxa  e  a  
Perna  em  todo  esse  lado.”27    
Richard   Lower   (1631-­‐1691),   em   1670,   descreveu   o   vis   a   tergo,   o   tónus   venoso   e   o  
efeito   da   bomba   muscular   no   retorno   venoso,   grande   avanço   no   conhecimento   da  
fisiologia   da   circulação5   e   Antonio   Valsalva   (1666-­‐1723),   em   1710,   descreveu   o   vis   a  
fronte,  devido  às  alterações  rítmicas  respiratórias  da  pressão  tóraco-­‐abdominal5.  
Pierre   Dionis   (1643-­‐1718),   de   Paris,   em   1708,   concordou   plenamente   com   Wiseman  
quanto  às  causas  das  varizes,  mas  explicou-­‐as  melhor:  uma  causa  interna   “...  quando  o  
sangue  se  torna  espesso...  não  podendo  correr  nas  veias,  e  pára  em  qualquer  dos  seus  
ramos,   ou   coagula...   obriga   a   veia   a   dilatar-­‐se.“;   e   outra   externa,   um   traumatismo,  
grandes  esforços,  ou  a  gravidez28a.  
Em   1794,   John   Hunter   (1728-­‐1793),   de   Londres,   descreveu   no   seu   tratado   A   treatise  
on   the   blood,   inflammation   and   gun-­‐shot   wounds,   a   contribuição   das   artérias   para   o  
retorno   venoso,   “Nessas   veias   que   são   acompanhadas   por   artérias,   a   pulsação   da  
artéria   auxilia   na   propulsão   do   sangue   para   o   coração.”29a   e   confirmou,   no   cão,   as  
observações   de   Valsalva   “Mesmo   a   respiração   produz   uma   estagnação   perto   do   tórax;  
pois  durante  a  inspiração  as  veias  esvaziam-­‐se  rapidamente;  mas  na  expiração  há  um  
certo  grau  de  estagnação.”29b  
Justus   Loder   (1753-­‐1832),   em   1803,   publica   as   Tabulæ   anatomicæ,   e   na   Tab.   CXXVII  
um  desenho,  muito  pormenorizado,  das  perfurantes  do  membro  inferior30.  
Em   1806,   Tommaso   Rima   (1775-­‐1843),   foi   o   primeiro   a   considerar   o   refluxo   como  
causa   de   varizes   quando   diz   “os   argumentos   que   sustentam   nossa   teoria   do  
movimento   inverso   do   sangue   como   a   causa   próxima   das   varizes...   “31a   e   descreveu  
uma  manobra  para  o  demonstrar,  da  qual  falaremos  mais  à  frente.  
Em   1824,   Paul   Briquet   (17XX-­‐18YY),   de   Paris,   verificou   que   a   hipertensão   do   sistema  
venoso   profundo   podia   provocar   varizes   “No   lugar   onde   a   flebectasia   é   mais  
pronunciada,  há  comunicações  muito  grandes  com  as  veias  profundas,  que  são  amplas  
no  local  de  onde  parte  o  ramo  anastomótico,...  ”32a,  sugeriu  uma  doença  da  parede  da  
veia,  como  causa  da  dilatação  venosa  “Seria  demais  dizer  que  está  estabelecido  nos  
vasos   que   deve   se   tornar   uma   espécie   de   inflamação   lenta   que   começa   a   suavizar   o  

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Aspetos históricos das veias e varizes

tecido  e  prepara  a  dilatação?”32b  introduzindo  o  conceito  de  “inflamação”  da  parede  


da   veia   como   causa   das   varizes,   que   só   mais   de   150   anos   depois   começou   a   ser  
investigado.  Por  fim,  a  propósito  do  tipo  de  sangue  presente  nas  veias,  refere  “O  que  
acabei   de   dizer   leva-­‐me   a   inserir   algumas   palavras   sobre   o   estado   do   sangue   nas  
varizes.   Encontra-­‐se   em   massas,   rutilantes,   quase   análogas   à   cor   do   sangue   arterial.  
Quando   se   incisa   uma   variz,   muitas   vezes   o   jacto   é   muito   forte;   Eu   vi-­‐o   entrecortado;   a  
hemorragia  é  muito  considerável;  Esta  força  do  jacto,  que  atingiu  J.  L.  Petit,  parece-­‐me  
ser  um  indício  de  desenvolvimento  dos  capilares  e  de  uma  comunicação  livre  entre  os  
sistemas  arterial  e  venoso  por  este  intermediário  dilatado.”32c,  sugerindo  a  existência  
de  fístulas  artério-­‐venosas  em  algumas  varizes.  
Benjamin   Brodie   (1783-­‐1862),   em   1846,   embora   já   tenhamos   demonstrado   que   assim  
não   aconteceu,   foi   apontado   como   o   primeiro   a   considerar   o   refluxo   como   causa   de  
varizes,  quando  disse,  no  seu  livro  Lectures  illustrative  of  varius  subjects  in  pathology  
and  surgery,  capítulo  sobre  Veias  varicosas  e  úlceras  das  pernas,  “As  veias  profundas  
nunca   se   tornam   varicosas,   porque   há   a   pressão   de   outros   órgãos   sobre   elas   por   todos  
os   lados,   o   que   impede   sua   dilatação.   São   apenas   as   veias   superficiais   que   são  
afetadas;  especialmente  os  ramos  da  veia  safena  major,  mas  às  vezes  da  veia  safena  
posterior.   Mas   as   válvulas   não   aumentam   com   a   dilatação   da   veia,   permanecem   do  
tamanho   original.   A   consequência   é   que   as   válvulas   não   protegem   os   ramos   venosos  
abaixo  da  pressão  da  coluna  de  sangue  acima;  que  deixam  de  responder  ao  propósito  
das   válvulas;   e   a   ausência   de   ação   das   válvulas   tende,   naturalmente,   a   agravar   a  
doença.”33a    
John   Gay   (1813-­‐1885),   de   Londres,   no   seu   tratado   On   varicose   disease   of   the   lower  
extremities,   publicado   em   1867,   faz   um   apanhado   dos   fatores   etiológicos   das  
varizes34a.   Refere   as   causas   que   provocam   excesso   de   sangue,   no   sentido   do   fluxo  
(hábitos,   idade,   sexo,   fístulas   artério-­‐venosas,   por   exemplo),   como   no   sentido  
contrário   (ação   da   gravidade,   insuficiência   valvular,   tumores   abdominais,   etc.),   para  
além   da   hereditariedade,   obesidade   e   lesões   traumáticas.   Lista   bastante   completa,  
mas   que,   apesar   de   incluir   a   tromboflebite,   não   menciona   a   trombose   venosa  
profunda  (TVP),  embora  tenha  sido  objeto  do  seu  estudo,  pois  em  cinco  dos  24  casos  
clínicos   que   descreveu,   estavam   presentes   “...   coágulos   nos   troncos   venosos  
profundos.”34b  

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Aspetos históricos das veias e varizes

Continuando   com   a   pesquisa   sobre   fístulas   artério-­‐venosas   (FAV)   como   causa   de  


varizes,   em   1949,   Pratt,   descreveu   uma   síndrome   Varizes   arteriais,   que,   afirma,  
ocorrem  muito  mais  comumente  do  que  se  supõe,  24  %  na  sua  casuística.  Refere  “Esta  
situação  deve  ser  suspeitada  se  as  veias  aparecerem  rapidamente  nas  porções  lateral  
ou  posterior  das  pernas,  se  o  paciente  for  relativamente  jovem,  se  houver  aumento  de  
calor   local   e   se   as   veias   voltarem   após   a   cirurgia   da   veia   competente   anterior...   A  
tendência  destas  varizes  arteriais  a  recorrer  parece  inerente.”35  
Piulachs,   em   1953,   afirmou   depois   de   estudar   de   157   casos   “...   chegámos     à   conclusão  
que   todas   as   veias   varicosas,   tanto   idiopáticas   quanto   pós-­‐flebíticas,   são   devidas   a  
uma  patogenia  inicial  comum  e  começam  em  ambos  os  casos  através  da  existência  de  
múltiplos  canais  artério-­‐venosos  congénitos  de  pequeno  tamanho  que  estão  presentes  
em  todas  as  pessoas,  embora  variando  em  número  e  tamanho...  ”36.  
Schalin,   em   1953,   publicou   um   estudo   de   varicosidades,   localizou   as   FAVs   por  
termografia   detetando   o   aumento   do   calor   da   pele   sobre   as   varicosidades   e   fez   a  
dissecção   microcirúrgica   das   varizes   (n   =   14)   com   conexão,   tributárias   venosas   e  
anastomoses  artério-­‐venosas,  que  foram  observadas  em  microscopia  de  luz.  Concluiu  
que  “1)  FAVs  para  veias  varicosas,  comprovadas  em  cortes  morfológicos,  apresentam  
uma   via   anatómica   para   explicar   2)   a   manutenção   arterial   de   veias   varicosas   com  
sangue  quente,  explicando  o  aumento  do  calor  da  pele  sobre  as  varicosidades,  3)  apoia  
a   teoria   sugerida   de   enrolamento   varicoso.   4)   Não   há   explicação   alternativa   para  
alterações  endoteliais  opostas  ao  orifício  da  comunicação  artério-­‐venosa.”37  
Por   fim,   Kimura,   em   1991,   num   estudo   de   56   indivíduos,   concluiu   que   “...   houve  
diferenças   significativas   entre   as   tensões   oxidativas   dos   pontos   quentes   e   das   veias  
femoral   ou   safena   nos   pacientes   com   varizes   (p   <0,01,   p   <0,05).   Na   operação,   os  
pontos   quentes   foram   investigados   por   disseção   operatória   e   microscopia.   Foram  
observadas   pequenas   artérias   pulsantes   nos   locais   que   correspondiam   aos   pontos  
quentes.”38  e  todos  nos  fazem  refletir  sobre  a  causa  das  varizes.  
No   nosso   país,   António   Coito   (1921-­‐2005),   de   Lisboa,   em   1957,   na   tese   de  
Doutoramento,   pronunciou-­‐se   sobre   a   etiopatogenia   das   varizes,   referindo   “As  
válvulas   são   os   elementos   anatómicos   que   dão   individualidade   fisiopatológica   ao  
sistema  venoso  dos  membros  inferiores;  as  válvulas  podem  deixar  de  ser  suficientes  por  
dilatação  da  parede  da  veia  ou  por  destruição  durante  a  recanalização  do  trombo,  mas  

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Aspetos históricos das veias e varizes

as  consequências  fisiopatológicas  são  as  mesmas;...  “,  conhecimentos  estes  baseados  


na  sua  experiência39a.  
O  conceito  de  que  era  sempre  a  insuficiência  das  crossas  que  dava  origem  às  varizes,  
começou   a   ser   posto   em   causa,   por   alguns   autores.   Destacamos   Pereira   Alves,   de  
Lisboa,   que   na   tese   de   Doutoramento   apresentada   em   2001,   mostra   que   “Na  
insuficiência   venosa   superficial   primária   tudo   começaria   por   um   segmento   venoso  
superficial  com  refluxo:  ponto  inicial  de  refluxo...  não  sendo  obrigatório  haver  refluxo  
nas   crossas...   Estes   segmentos   venosos   com   refluxo   seriam   devidos   a   alterações  
constitucionais   da   veia...   Com   o   tempo   e   em   função   da   sobrecarga...   esta   dilatação  
progressiva  ascendente  e  descendente,  progrediria  até  pontos  de  comunicação  com  o  
sistema   venoso   profundo:   pontos   distais   de   refluxo...   ”40a   e   se   estes   não   forem  
corrigidos,  dilatam-­‐se  outros  segmentos  venosos  superficiais  e  perfurantes,  que  ficarão  
insuficientes.  “A  hipertensão  venosa  iniciar-­‐se-­‐ia  no  sistema  venoso  superficial  e  seria,  
a   partir   daí,   transmitida   às   veias   perfurantes   e   profundas,   levando   com   o   tempo   à  
insuficiência  destes  dois  sistemas.  O  processo  seria  assim  de  fora  para  dentro,  ou  seja,  
das   veias   superficiais   para   as   profundas,   e   não   o   inverso,   como   considerado   até  
hoje.”40b  Pereira  Alves  considera,  fruto  da  sua  experiência,  que  há  refluxos  (R)  axiais  e  
segmentares  e,  dentro  destes,  três  subtipos:  R  limitados  aos  ramos  superficiais,  Rs1;  R  
que  envolve  os  ramos  superficiais  e  igualmente  segmentos  venosos  da  safena,  Rs2;  R  

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Russell  Mellor,  de  Londres,  introduziu  a  genética  na  etiologia  das  varizes,  quando,  em  
2007,   mostrou   que   o   funcionamento   do   gene   FOXC2   é   necessário   para   uma   função  
venosa   normal,   e   mais   especificamente   para   o   desenvolvimento   das   válvulas   e/ou   a  
sua   manutenção   em   humanos.   FOXC2   desempenha   um   papel   importante   no  
desenvolvimento   dos   sistemas   linfático   e   venoso,   causando   as   mutações   disfunção  
daqueles   sistemas.   As   vias   e   mecanismos   pelos   quais   o   FOXC2   atua   no  
desenvolvimento  e  manutenção  das  válvulas  venosas,  requerem  futura  elucidação42.  
Em   2010,   Ying   Xiao,   de   Cantão,   chegou   à   conclusão   que   a   expressão   do   gene   da  
desmuslina   é   necessária   para   a   manutenção   do   fenótipo   das   células   musculares   lisas  
dos   vasos   (CMLV).   A   diminuição   da   expressão   da   desmuslina   pode   afetar   a  
diferenciação   das   CMLV   e   contribuir   para   o   desenvolvimento   de   veias   varicosas.  

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Aspetos históricos das veias e varizes

Também   descobriu   que   a   expressão   da   metaloproteinase   (MMP)-­‐2   se   encontrava  


significativamente   aumentada   em   CMLV   transfetadas   com   desmuslina43.   Segundo  
Krysa,  de  Dunedin,  em  artigo  publicado  em  2011,  refere  que  “Deve  ser  considerado  um  
amplo   estudo   de   associação   genómica   para   ajudar   a   aprofundar   a   nossa   compreensão  
da   base   genética   da   doença   venosa.   Devido   aos   grandes   tamanhos   de   amostra  
necessários   para   a   descoberta   e   validação,   usando   as   novas   gerações   de   tecnologias  
moleculares,  será  importante  formar  grupos  de  colaboração  para  avançar  com  sucesso  
no  campo  da  genética  das  doenças  venosas.”44.  
Pratas   Balhau  (1952-­‐),   de   Barcelos,   em   2013,   desenvolveu,   na   sua   tese   de   Mestrado45,  
um   projeto   experimental   que   teve   como   objetivo   provocar   varizes   num   modelo  
animal,   produzindo   hipertensão   numa   veia   em   ortostatismo.   Foi   laqueada   a   veia  
auricular   intermediária   da   orelha   esquerda   de   18   coelhos   gigantes   Belier-­‐francês,  
servindo   a   direita   de   controlo.   Verificou:   dilatação   da   veia   com   espessamento   da  
parede,   bem   como   áreas   de   atrofia   da   parede   da   mesma   veia,   para   o   mesmo   corte  
histológico;   com   alterações   do   endotélio;   alterações   na   espessura   da   média   da   veia,  
para   a   mesma   secção   transversal,   bem   como   lúmens   muito   diferentes,   muitas   vezes  
assimétrico   e   colapsado;   a   média   exibia   áreas   de   hipertrofia   e   áreas   de   atrofia;  
algumas  áreas  revelaram  redução  de  fibras  musculares  e  alteração  da  orientação  das  
fibras,  alterações  idênticas  às  encontradas  nas  varizes  humanas46.  
Estavam   colocados   os   problemas   principais,   as   doenças   da   parede   venosa   e   das  
válvulas   das   veias.   Nos   últimos   anos   do   séc.   XX   e   nos   primeiros   do   séc.   XXI,   estas  
questões  começaram  a  ser  estudadas  “à  lupa”,  ou  seja,  a  pesquisa  sobre  a  constituição  
molecular   das   válvulas   e   da   parede   venosas   detetou   várias   alterações   nestas  
estruturas,  que  CS  Lim  muito  bem  resumiu  no  artigo  “Pathogenesis  of  primary  varicose  
veins”47.   É,   também,   uma   boa   introdução   ao   papel   das   MMPs   e   dos   seus   inibidores  
tissulares  (TIMP),  relacionadas  com  a  adesão  e  ativação  dos  leucócitos  e  a  atividade  do  
transforming   growth   factor   beta   one   (TGF-­‐β1),   na   parede   venosa   que   levam   à   sua  
fragilização,   com   consequente   dilatação   e   formação   de   varizes.   A   estas   questões  
dedicou-­‐se   Pedro   Serralheiro   (1981-­‐),   pois   sabendo   que   o   TGF-­‐β1   influencia  
diretamente   MMPs   e   TIMPs   na   parede   venosa   e,   mais   concretamente,   na   doença  
venosa   crónica,   e   que   MMPs   e   TIMPs   têm   um   papel   importante   na   evolução   desta,  
resolveu  aprofundar  o  conhecimento  da  sua  fisiopatologia,  fazendo  o  estudo  genético  

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Aspetos históricos das veias e varizes

e   imunohistoquímico   das   MMPs,   TIMPs   e   dos   recetores   de   TGF-­‐β1,   ao   longo   da  


evolução   da   DVC.   Concluiu   que:   “...   as   MMP9,   MMP12,   TIMP1   e   TIMP2   são  
influenciadas  diretamente  pelo  TGF-­‐β1,  na  parede  venosa  da  veia  grande  safena.”48  e  
foi   o   primeiro   a   demonstrá-­‐lo;   “...   existem   aparentemente   duas   fases   de   ação   das  
MMPs   e   TIMPs,   ao   longo   da   evolução   da   DVC,   que   o   TGF-­‐β1   parece   não   influenciar   em  
estádios  avançados,  ao  contrario  do  que  acontece  em  estádios  mais  precoces.”49,  50  
 
Quanto   ao   DIAGNÓSTICO,   se   definimos   varizes   como   veias   dilatadas   e   tortuosas,   o  
primeiro  é  feito  pela  observação  clínica.  Podemos  então  dizer  que  o  primeiro  a  fazer  o  
diagnóstico  foi  Sushruta,  pelo  séc.  VI  aC,  quando  refere  no  seu  tratado  a  passagem  já  
referida  “...  uma  formação  nodosa  em  relevo  que  se  chama  Sirà-­‐Granthi...  ”3  
A  primeira  manobra  para  demonstrar  o  refluxo  foi  descrita  por  Tommaso  Rima,  em  
1806,   “...   em   todos   os   indivíduos   afetados   por   escassas   varizes   em   suas   pernas  
mostravam-­‐se   evidentes   que   na   mudança   de   posição   do   corpo   de   horizontal   para  
vertical,   o   sangue   poderia   ser   visto   a   partir   do   crural   na   grande   safena   de   cima   para  
baixo   preenchendo   os   vários   ramos   menores   do   membro...   O   sangue   comprimido   da  
coluna  que  gravita  acima  dela  na  parte  superior  está  sempre  pronto  para  descer,  assim  
que  for  removida  a  obstrução  temporária,  ou  seja,  a  ligadura...  ”31b,  ou  seja,  percursora  
da  prova,  mais  tarde  chamada  de  Brodie  /  Trendelenburg.  
Em   1824,   Paul   Briquet,   de   Paris,   fez   uma   tese   de   Doutoramento   Dissertation   sur   la  
phlébectasie,  onde  aponta  uma  manobra  para  diagnóstico  “Outras  vezes,  dando  com  o  
dedo,  numa  veia  safena  grande  e  varicosa  ao  longo  do  comprimento  do  membro,  um  
golpe  seco  na  parte  superior  da  coxa,  vemos  a  ondulação  propagar-­‐se  até  ao  meio  da  
perna,   e   o   fluxo   ser   percetível   ao   toque.”32a,   em   tudo   idêntica   à   sugerida   por   Schwartz,  
em  finais  do  séc.  XIX.  
Benjamin  Brodie,  em  1846,  relatou  um  teste  para  confirmação  de  variz  por  refluxo  de  
válvulas  incompetentes  “Descobri,  ao  retirar  o  curativo,  o  paciente  estava  na  postura  
erecta,   que   o   conjunto   de   veias   abaixo   preenchia   muito   devagar   e   apenas   dos   vasos  
capilares.   Mas   se,   com   o   paciente   na   postura   ereta,   remover   a   pressão   na   veia,   as  
válvulas   sendo   inúteis,   o   sangue   precipita-­‐se   para   baixo   pelo   seu   próprio   peso,   ao  
contrário   do   curso   da   circulação,   e   enche   o   aglomerado   varicoso   abaixo   quase  
instantaneamente.”33b,   que   ficou   com   o   seu   nome   e   de   Trendelenbourg,   que   o  

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Aspetos históricos das veias e varizes

vulgarizou.  Só  em  1896,  Georg  Perthes  (1869-­‐1927),  descreveu  a  manobra  para  estudo  
da  permeabilidade  do  sistema  venoso  profundo51.  
John  Homans  (1877-­‐1954),  de  Boston,  em  1916-­‐17,  descreveu  o  sinal,  que  ficou  com  o  
seu  nome,  para  diagnóstico  da  TVP  “Os  músculos  da  barriga  da  perna,  entre  os  quais  a  
trombose  começa,  muitas  vezes  resistem  à  dorsiflexão  do  pé,  com  ou  sem  desconforto  
por  trás  do  joelho  –  sinal  da  dorsiflexão.”52a  
Só   no   séc.   XX   começaram   a   surgir   outros   meios   complementares   de   diagnóstico:   em  
1923,   Berberich   e   Hirsch,   relataram   a   primeira   flebografia   com   brometo   de  
estrôncio53;   um   ano   depois,   Sicard   e   Forestier,   pela   primeira   vez   utilizaram   Lipiodol  
para   fazer   a   flebografia5,   muito   útil   para   diagnóstico   da   trombose   venosa   profunda  
assintomática   (pós-­‐operatória);   em   1929,   McPheeters   e   Rice   realizaram   a   primeira  
varicografia5;  Ratschow,  em  1930,  introduziu  a  angiografia  com  contraste  solúvel  em  
água5.  Merece  referência  especial  João  Cid  dos  Santos  (1907-­‐1975),  de  Lisboa,  que  em  
1937,   num   extenso   artigo   A   flebografia   (Lisboa:   Centro   Tipográfico   Colonial,   que   não  
conseguimos   consultar),   traduzido   para   francês   em   1938,   La   flebographie   directe,  
sugeriu   realizar   a   flebografia,   não   só   ascendente,   mas   também   descendente,   com   o  
doente   em   pé,   por   via   retrógrada,   aproveitando   a   gravidade,   para   melhor   detetar   as  
insuficiências  valvulares.  Nas  suas  conclusões,  descreve  as  patologias  onde  esta  técnica  
poderá   dar   indicações,   como   “...   origem   das   varizes;   extensão   da   rede   varicosa;  
circulação   venosa   nas   extremidades   varicosas;   estudo   das   afeções   venosas  
congénitas.”54,   para   só   mencionar   as   que   se   referem   a   varizes.   Com   este   autor  
concorda   um   seu   discípulo,   António   Coito,   quando,   em   1957,   considera   que   “...   a  
flebografia   vertical   permite   um   melhor   estudo   das   válvulas   e   para   apreciar   o   seu  
estado  funcional  deve  empregar-­‐se  a  técnica  descendente  com  a  manobra  de  Valsalva,  
durante  a  injeção  do  contraste;...“39a,  apesar  de  ter  dado  importante  contributo  para  a  
flebografia   ascendente,   quando   sugeriu   a   aplicação   do   garrote   inframaleolar,   que  
permitiu  melhor  visualização  dos  sistemas  tibial  posterior  e  peroneal39b.  Aproveitando  
estes  estudos  de  Cid  dos  Santos,  Gunnar  Bauer,  em  1941,  demonstrou  por  flebografia  
a  relação  entre  trombose  e  úlcera  e  o  local  da  trombose,  o  efeito  da  anticoagulação  na  
TVP  e,  em  1942,  a  importância  do  estudo  flebográfico  na  síndrome  pós-­‐trombótica55.  
Não   podemos   deixar   de   referir   que   J   Salvador   Marques,   de   Lisboa,   outro   pupilo   de  
João   Cid   dos   Santos,   foi   o   primeiro   que   demonstrou,   através   de   estudo  

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Aspetos históricos das veias e varizes

esteroflebográfico,  que  em  cerca  de  20  %  dos  casos  que  estudou  “As  varizes  essenciais  
da   safena   interna   não   são   sempre   originadas   pela   insuficiência   valvular   da  
crossa.”102   Isto   quer   dizer   que   não   se   justifica   fazer   a   laqueação   da   junção  
safenofemoral,   se   esta   não   é   refluxiva.   Este   conceito,   pioneiro   na   altura,   foi   pouco  
valorizado  e,  por  rotina,  na  operação  às  varizes  era  efetuada  a  laqueação  alta  da  veia  
grande  safena.  Só  mais  tarde,  com  a  utilização  do  ecoDoppler,  alguns  autores,  entre  os  
quais  Pereira  Alves,  fizeram  demonstração  daquela  variação  e  sugeriram  alteração  do  
procedimento,  como  referiremos  mais  à  frente.  
Em  1842,  o  matemático  e  físico  Christian  Doppler  (1803-­‐1853),  em  Praga,  apresentou  
um  trabalho  Über  das  farbige  Licht  der  Doppelsterne  und  einiger  anderer  Gestirne  des  
Himmels56   (Sobre   a   luz   colorida   das   estrelas   duplas   e   outras   estrelas   do   céu)   sobre   um  
método  de  determinação  das  ondas  de  frequência,  que  determinado  corpo  emite,  e  a  
sua   tradução   em   cores   quando   se   aproximam   ou   afastam   do   observador,   que   ficou  
conhecido   como   Efeito   Doppler.   Foi   um   grande   avanço   qualitativo   no   estudo   das  
doenças   venosas   e,   porque   se   trata   de   um   método   de   estudo   venoso   não   invasivo,  
rapidamente  foi  utilizado,  “destronando”  a  flebografia.  Polly  Feigl,  de  Minnesota,  em  
1968,   publicou   o   primeiro   artigo   sobre   a   utilidade   do   ecoDoppler   no   diagnóstico   das  
doenças   venosas   dos   membros   inferiores57,   Claude   Franceschi   de   Paris,   em   1977,  
vulgarizou  o  ecoDoppler  para  estudo  da  patologia  venosa58,  e,  como  veremos  mais  à  
frente,   utilizou-­‐o   para   tratar   varizes,   e   Alfred   Persson,   de   Boston,   com   Edward   R  
Jewell,   de   Burlington,   demonstraram   as   vantagens   deste   método   em   relação   à  
venografia59.  
Pereira  Alves   considera  que  o  ecoDoppler  deve  ser  um  exame  obrigatório  para  estudo  
pré-­‐operatório   dos   doentes   com   IVC   e   os   dados   por   ele   fornecidos   “...   podem   vir   a  
permitir   uma   cirurgia   das   varizes   adaptada   ao   tipo   dos   refluxos.”40c,   sendo,  
atualmente,  imprescindível  para  estudo  e  tratamento  da  insuficiência  venosa  crónica,  
nomeadamente,  das  varizes.  
A  partir  de  1980  foram  introduzidas  a  TAC  e  a  RM  para  avaliação  dos  vasos  profundos  
dos  membros  inferiores,  mas  também  para  diagnóstico  da  tromboembolia  pulmonar,  a  
TAC  3D  para  avaliação  pré-­‐operatória  de  varizes  e  a  RM  com  venografia5.  

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Aspetos históricos das veias e varizes

Quanto   ao   TRATAMENTO   das   varizes,   foi   ainda,   o   indiano   Sushruta   o   primeiro   a  


pronunciar-­‐se,  quando  refere  “No  caso  de  ser  desigual  e  ligeiramente  doloroso,  pode  
ser   curado   apenas   com   grande   dificuldade.   Considerando   que   um   caso   em   que   a  
formação   nodular   é   indolor,   fixa,   grande   e   situada   em   qualquer   das   partes   vitais   do  
corpo  (Marmas),  deve  ser  considerada  incurável.”3  
Só   quase   300   anos   depois,   Hippocrates,   o   primeiro   a   pronunciar-­‐se   quanto   ao  
tratamento   cirúrgico   das   varizes,   preconizava   múltiplas   pequenas   incisões   nas   veias  
varicosas  “Mas  a  variz,  propriamente  dita,  deve  ser  perfurada  em  muitos  locais,  como  
as  circunstâncias  indicarem.”7c  e  aplicação  de  ligadura  firme  no  membro,  procurando,  
assim,  gerar  uma  lesão  venosa,  que  promovesse  a  oclusão  da  veia  varicosa.  
Vários  autores  consideram  que  o  primeiro  relato  de  uma  operação  às  varizes,  realizada  
por   cirurgião   desconhecido   cerca   de   105   aC,   foi   feito   por   Plutarco,   na   Vida   de   Caius  
Marius  (157-­‐86  aC),  general  e  cônsul  romano.  Conta  Plutarco  “Marius  elogiado  tanto  
pela   temperança   quanto   pela   resistência,   dos   quais   ele   deu   um   exemplo   decidido   em  
uma   operação   de   cirurgia.   Por   ter,   como   parece,   ambas   as   pernas   cheias   de   grandes  
varizes  (tumores),  e  não  gostando  da  deformidade,  determinou  colocar-­‐se  nas  mãos  de  
um  operador;  quando,  sem  ficar  amarrado,  esticou  uma  das  pernas,  e  silenciosamente,  
sem   mudar   de   semblante,   sofreu   os   maiores   tormentos   no   corte,   nunca   vacilando   ou  
reclamando;   mas   quando   o   cirurgião   foi   à   outra,   ele   recusou-­‐se   a   fazê-­‐lo,   dizendo:  
“Vejo  que  a  cura  não  vale  a  dor.””60  
Mas,  Celsus  (25  aC-­‐50),  de  Roma,  no  início  do  séc.  I,  embora  não  tenhamos  a  certeza  
de   que   tivesse   sido   médico,   foi   um   dos   primeiros   a   operar   veias   varicosas,  
aconselhando   a   cauterização,   para   as   veias   doentes,   mas   ainda   pouco   tortuosas,   e   o  
corte,  para  as  varicosas,  sugerindo  “A  pele  subjacente  é  incisada,  depois  a  veia  exposta.  
As   margens   da   pele   são   mantidas   afastadas   por   ganchos;   com   um   bisturi   a   veia   é  
separada  do  tecido  circundante,  evitando  um  corte  na  própria  veia;  por  baixo  da  veia  é  
passado  um  gancho  rombo;  o  mesmo  procedimento  é  repetido  a  intervalos  de  quatro  
dedos   travessos,   ao   longo   do   curso   da   veia   que   é   facilmente   delineado   puxando   o  
gancho.”61,   técnica,   em   muito,   semelhante   à   flebectomia   em   ambulatório   que   hoje   se  
executa.  
Galeno,  foi  um  dos  primeiros  a  defender  a  necessidade  de  tratar  a  causa  da  afeção  
para  lograr  a  sua  cura,  nomeadamente  no  caso  de  úlceras  da  perna62.  Vários  autores  

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Aspetos históricos das veias e varizes

relatam   que   Galeno   usava   um   gancho   rombo63a   entre   duas   ligaduras   para   extirpar  
veias  dilatadas,  mas  nenhum  indica  onde  colheu  esta  informação.  
Oribasius  (320-­‐403),  de  Pergamo,  para  além  da  tática  cirúrgica,  foi  o  primeiro  a  referir-­‐
se   à   preparação   pré-­‐operatória,   quando   disse   “1.   A   resseção   de   veias   é   preferível   à  
ligadura,   o   que   pode   causar   novas   varizes;   2.   Tricomize   e   lave   o   membro   (com   água  
quente)   antes   de   operar;   3.   Enquanto   o   membro   ainda   estiver   quente,   marque   as  
varizes  na  pele  com  o  doente  em  pé;  4.  Excise  as  veias  da  perna,  antes  das  da  coxa;  5.  
Remova  os  coágulos  sanguíneos  (hematomas)  por  pressão  no  membro  operado.”64  
Segundo   Friedman65a,   os   santos   Cosme   e   Damião   foram   os   primeiros   a   tentar   uma  
anastomose   vascular,   para   “reimplantar”   a   perna   de   um   etíope   que   tinha   morrido,   e   a  
fim  de  substituir  a  que  tinham  amputado  a  um  servo  da  igreja,  porque  tinha  um  tumor.  
Este   autor   é   o   único   que   o   refere,   pois   em   toda   a   bibliografia   e   relatos   históricos  
conhecidos,   aquele   ato   é   considerado   um   milagre.   Uniram   o   membro   do   “dador”   ao  
coto  do  “recetor”  e  ficou  feita  a  “transplantação”.  
Ainda   segundo   Friedman65b,   Aetius   (502-­‐575),   de   Amida,   na   Mesopotâmia,   foi   o  
primeiro  a  aconselhar  a  laqueação  das  veias  varicosas,  para  tratamento.  
No   Período   Negro   da   história,   Trevas   da   Idade   Média,   Dark   Ages,   -­‐   do   séc.   V,   com   a  
queda   do   Império   Romano,   até   ao   séc.   XV,   com   o   Renascimento,   genericamente  
correspondente  à  Idade  Média  -­‐  pouca  progressão  do  conhecimento  se  verificou,  tanto  
na   arte   como   na   literatura.   Na   medicina,   as   opiniões   de   Galeno,   nomeadamente  
quanto   à   etiologia   das   doenças   e   da   anatomia,   mantiveram-­‐se   até   Vesalius   ter  
começado  a  sua  contestação.  A  cirurgia,  teve  algumas  exceções.  Foram  os  três  autores  
que  se  seguem.  
Paulus  Ægineta  (625-­‐690),  grego  de  Egina,  aluno  de  Alexandria,  era  adepto  da  Teoria  
dos  Humores,  e  sobre  as  varizes  dizia  “Na  maior  parte  das  vezes  a  sua  origem  deriva  de  
um   humor   melancólico.”   Foi   o   primeiro   a   descrever   a   marcação   prévia   das   veias   a  
excisar,  com  o  doente  em  pé,  e  a  sugerir  a  laqueação  “alta”  da  grande  safena.  Depois  
de  lavar  o  membro  e  aplicar  ligadura  na  região  superior  da  coxa,  pedia  ao  doente  para  
caminhar  e  “...  onde  a  veia  está  distendida,  fazemos  uma  incisão  sobre  a  marca  com  
um  bisturi...  ;  e  separando  os  lábios  da  ferida  com  ganchos  e  dissecando  as  membranas  
com  dissetor  curvo63b,...  e  desnudamos  a  veia  e  libertamo-­‐la  a  toda  a  volta,  tiramos  a  
ligadura   da   coxa   e   tendo   levantado   o   vaso   com   um   gancho   cego   e   introduzido   debaixo  

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Aspetos históricos das veias e varizes

dela  uma  agulha  com  fio  duplo,  cortamos  o  duplo  e,  abrindo  a  veia,  no  meio  com  uma  
lanceta,   evacue   tanto   sangue   quanto   seja   necessário...”66,   ou   seja,   defendia   a  
laqueação  com  ou  sem  excisão  da  veia  e  a  sangria  ou  flebotomia.  
Para   Albucassis   (936-­‐1013),   de   Córdova,   as   “Varizes   são   veias   grossas   cheias   com  
excesso   de   melancolia...”   e   sugeria,   no   ano   1000,   após   a   preparação   do   membro,  
esquematicamente:   desde   o   tornozelo   à   virilha,   incisão   da   pele   por   cima   da   veia,  
passar   sonda   por   baixo,   levantar   a   veia   com   gancho,   outra   incisão   três   dedos   acima,  
isolamento   e   secção   da   veia,   disseção   para   excisão   pela   incisão   inferior   e   assim  
sucessivamente,  até  tirar  toda  a  safena.  Mostrava,  ainda,  imagens  dos  dissetores  que,  
sugeria,   deviam   ser   utilizados67.   Esta   técnica   não   difere   muito   da   safenectomia  
parcelar  sequencial,  que,  ainda  hoje,  alguns  cirurgiões  praticam.  
 O  terceiro  autor  do  Período  Negro  foi  Guy  de  Chauliac  (1298-­‐1368),  de  Avignon,  que,  
em  1363,  preconizava  a  cura  das  varizes  para  tratar  a  úlcera  e,  para  extirpar  a  grande  
safena,   como   Albucassis,   sugeria   dois   métodos.   O   primeiro,   “A   incisão   é   assim   feita:  
tendo  ligado  a  coxa  até  ao  joelho,  a  veia  é  cortada  e  aberta  em  dois  ou  três  lugares,  
depois  pressionando  e  conduzindo  o  sangue  para  os  lugares  abertos,  tanto  quanto  for  
possível,  será  extraído”  e  o  segundo  “...  ligando  a  coxa  até  ao  joelho,...  incisando  a  pele  
nos   locais   das   varizes...   que   se   apanha   a   veia   com   crochets,   sem   que   seja   aberta:   e  
puxa-­‐se  de  modo  a  que  seja  arrancada  de  alto  a  baixo.”14b  Preferia  a  primeira  técnica,  
mas  Franceschi  bem  se  pode  ter  baseado  na  segunda,  para,  com  ajuda  do  ecoDoppler,  
descrever  o  método  que  ficou  conhecido  por  CHIVA68,    só  publicado,  cerca  de  600  anos  
depois,  em  1985.  
Assim,  Ambroise  Paré  preconizou  dois  tipos  de  tratamento  das  varizes;  por  isolamento  
e  laqueação  da  veia  (mas  não  a  sua  secção,  por  receio  de  hemorragias22c),  fazendo,  se  
necessário,   sangria   da   “quantidade   indicada”;   e   utilizando   a   cauterização   em   cima  
(junto  à  junção  safeno-­‐femoral?)  e  em  baixo  (junto  ao  maléolo?),  “...  que  rói  e  corta  a  
veia:   então   retira-­‐se   para   cima   e   para   baixo:   e   por   este   meio   permanece   um   espaço  
vazio,   onde   depois   nasce   a   carne;   e   depois   a   cicatriz   que   será   dura   e   espessa,   impedirá  
o fluxo   bloqueando   a   passagem   da   referida   veia.”22c,   completando,   sempre,   com
ligadura  compressiva,  que  abranja  toda  a  perna  (do  pé  ao  joelho).  Parece  um  tipo  de  
safenectomia,  por  stripping  parcelar,  mas  nenhum  autor  o  apresentou  como  pioneiro  
desta  técnica.  

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Aspetos históricos das veias e varizes

O   parisiense   Pierre   Dionis,   preconizou   “Entendemos   pela   palavra   varizes   veias  


dilatadas   que   exigem   uma   operação   para   as   curar   ,   que   se   chama   kirsotomie   ,   que  
deriva   de   kirsos,   que   significa   variz   ,   &   de   tomnin   ,   que   quer   dizer   cortar   porque  
consiste  numa  abertura  que  se  faz  nessas  varizes  ou  veias  dilatadas  &  engurgitadas.”,  
No   seu   tratado   Cours   d’opérations   de   Chirurgie,   publicado   em   1708,   apresenta   três  
métodos   de   tratamento:   aplicação   de   remédios   adstringentes,   para   fortalecer   as  
paredes  da  veia;  aplicação  de  ligadura  no  membro  ou  botina  de  gros  linge  ou  pele  de  
cão   (como   a   preconizada   por   Wiseman);   e   o   terceiro,   a   abertura   da   veia   para   a  
esvaziar.  Prefere  o  segundo  método,  mas  teve  muito  bons  resultados  com  a  aplicação  
de  adstringentes  e  ligadura,  que  considerava  ter  um  papel  importante  na  cura28a,  pois  
já   era   conhecida   e   aceite   a   teoria   da   gravitação   universal,   revelada   por   Newton,   nos  
finais  do  século  XVII.  
Everard  Home  (1756-­‐1832),  em  1797,  descreve  nove  casos  de  tratamento  de  úlceras  
venosas  com  laqueação  da  safena  acima  daquela,  conseguindo  a  sua  cura69a.  Também  
tratou  safenas  doentes  sem  úlcera,  conseguindo  em  três  casos  que  apresenta,  redução  
das  dores  e  do  edema  do  membro69b.  
Tommaso   Rima,   ainda   em   1806,   defendeu   a   laqueação   alta   da   grande   safena   “O  
sangue   que   desceu   da   grande   safena   encontrou   na   ligação   um   obstáculo   que   não  
podia  ser  superado.”31c  
Segundo   Loudon,   Brodie   propunha,   em   1816,   introduzir   uma   lâmina   de   bisturi  
perpendicularmente  à  pele,  junto  à  veia  a  tratar,  e  rodá-­‐la  para  seccionar  a  veia69,  e  a  
ferida   geralmente   cicatrizava   após   alguns   dias.   No   entanto,   às   vezes   seguia-­‐se   uma  
flebite  grave  e  Sir  Benjamin  dizia  que  “embora  as  veias  geralmente  curem  sem  ficarem  
obliteradas;   e   no   caso   do   ramo   ficar   obstruído,   outros   tomaram   seu   lugar   e   não   se  
obteve  nenhum  benefício."33c,  estranhando  que  não  se  verificassem  flebites,  quando  se  
laqueavam  veias,  em  amputações.  
Alfred   Velpeau   (1795-­‐1867)   em   1838,   por   via   percutânea,   com   uma   agulha   curva,  
introduzia  um  fio  rodeando  (entrava  por  baixo  e  saía  por  cima),  por  dentro  da  pele,  a  
veia   a   laquear   e   dava   o   nó   fora   (nó   em   ∞)70   ou   “...   introduzir   um   estilete   ou   agulha  
através   da   pele,   que   é   passada   por   baixo   da   veia   e   em   ângulo   reto.   Aplica-­‐se   uma  
sutura   em   volta   das   duas   extremidades   do   estilete,   de   modo   a   comprimir   a   veia   o  
suficiente  para  produzir  obliteração...  “5  

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Aspetos históricos das veias e varizes

Max   Schede   (1844-­‐1902),   de   Hamburgo,   pioneiro   da   antissepsia   na   Alemanha,   em  


1877,  sugeriu  múltiplas  laqueações  percutânea  das  varizes71  e  Otto  Madelung  (1846-­‐
1926),  de  Strasbourg,  em  1885,  a  excisão  total  da  grande  safena  e  colaterais  varicosas,  
“a   céu   aberto”,   com   grandes   incisões   sobre   todo   o   comprimento   da   grande   safena,  
técnica   que   foi   abandonada,   pois   o   próprio   Madelung   teve   mortes  por   hemorragia,   no  
pós-­‐operatório71.  
Friedrich   Trendelenburg   (1844-­‐1924),   de   Leipzig,   em   1890,   11   séculos   e   mais   de   80  
anos  depois,  “reanimou”  as  operações  sugeridas  por  Paulus  Ægineta  e  Tommaso  Rima,  
respetivamente,   propondo   a   laqueação   “alta”   da   grande   safena.   Mas   para  
Trendelenburg,  este  “alta”,  era  na  união  do  terço  médio  com  o  terço  inferior  da  coxa,  
pois   tinha   medo   das   hemorragias   se   a   abordasse   na   virilha72.   Também   utilizou   o  
método   de   laqueação   e   excisão   da   safena,   aconselhado   por   Albucassis,   no   séc.   XI,   e  
aplicou-­‐o   às   colaterais.   Vulgarizou   o   teste,   já   descrito   por   Benjamin   Brodie,   para   o  
diagnóstico  de  varizes.  
Em  1896,  Jerry  Moore  (1859-­‐1927)72,  de  Melbourne,  e,  segundo  António  Coito,  Pierre  
Delbet  (1861-­‐1957)39c  (bibliografia  que  não  conseguimos  consultar),  de  Paris,  em  1897,  
alteraram  o  método  de  Trendelenburg,  e  propuseram,  realmente,  a  laqueação  alta  da  
grande   safena,   junto   à   junção   safeno-­‐femoral,   com   anestesia   local,   reconhecendo   o  
papel   do   refluxo   na   patogénese   das   varizes.   Se,   como   se   pensava   na   época,   a  
insuficiência  valvular  começa  pela  válvula  junto  à  junção  safenofemoral,  o  tratamento  
mais  eficaz  será  laquear  a  grande  safena,  o  mais  alto  possível,  excisando  esta  e  as  veias  
doentes.  
Começaram   a   surgir   técnicas   de   safenectomia:   por   stripping   invaginante   (interno),  
introduzida  em  1905,  por  William  Keller  (1874-­‐1959),  de  Chicago,  no  que  foi  seguido  
por  Charles  Mayo  (1865-­‐1939),  de  Rochester,  em  1906,  com  um  fleboextrator  em  anel  
(externo),   e,   em   1907,   por   William   Babcock   (1872-­‐1963),   de   Philadelphia,   com   um  
dispositivo  mais  maleável,  endoluminal73.  
Segundo   Caggiati   e   Allegra5,   em   1920,   Cole   sugeriu   limitar   a   safenectomia   à   coxa,  
método,  que  quando  indicado,  ainda  hoje  é  recomendado.    
Em   1908,   surgiu   a   operação   de   Rindfleisch-­‐Friedel,   tentativa   para   tratar,   para   além   da  
grande   safena,   as   colaterais   varicosas74,   mas   os   graves   problemas   de   cicatrização,   com  

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Aspetos históricos das veias e varizes

pós-­‐operatórios  complicados  e  o  terrível  resultado  estético,  rapidamente  a  eliminaram  


das  alternativas  a  considerar  no  tratamento  das  varizes.  
John   Homans,   no   Tratado   de   Cirurgia,   que   publicou   em   1931,   refere   que,   embora   a  
tendência   para   cura   das   varizes   seja   a   “...   injeção   de   esclerosante   químico...   ”  
(referindo-­‐se,  muito  provavelmente,  à  sugestão  que  Unger  apresentou  em  1927  e  foi  
abandonada   pelas   complicações   que   causava)   o   tratamento   deve   ser   “Secção   da  
grande   safena   na   virilha,   de   preferência,   sob   infiltração   anestésica   local,...     que   deve  
ser  laqueada  e  seccionada  onde  se  junta  à  femoral...  Alguns  cirurgiões  preferem  fazer  
uma   laqueação   preliminar   da   safena   na   região   do   joelho...   e   uma   injeção   retrógrada  
dum   esclerosante   químico   pode   ser   efetuada   pela   incisão   superior...   “52b,   apontou   as  
varizes  como  causa  de  úlcera  da  perna  (“varicose”  ulcer)52c,  assim  como  a  TVP52d,  logo  
a  causa  da  úlcera  será  a  trombose.  
João   Cid   dos   Santos,   em   1937,   aponta   como   vantagens   da   flebografia   direta   as   suas  
consequências   terapêuticas   “...   controlo   das   terapêuticas   esclerosantes;   emprego   das  
soluções   de   contraste   como   agentes   de   esclerose;   finalmente,   utilização   da   injeção  
retrógrada  com  estase  como  método  terapêutico  não  esclerosante  no  tratamento  das  
consequências  das  flebites  –  eczemas  e  úlceras.”54    
Para  o  seu  discípulo  António  Coito,  em  1957,  “...  ao  efectuar  a  laqueação  da  crossa  da  
safena  interna,  da  crossa  da  safena  externa  e  das  veias  comunicantes,  é  fundamental  
obter   uma   boa   exposição   da   veia   profunda   correspondente,   de   modo   a   interromper  
todas  as  ligações  entre  o  sistema  venoso  profundo  e  o  sistema  venoso  superficial,  em  
cada  um  desses  níveis.”39d  
Thomas   Myers,   em   1955,   aperfeiçoou   o   stripper   endoluminal   flexível74   e   Robert  
Muller   (1919-­‐2012),   dermatologista   de   Berna,   em   1966,   descreveu   a   sua   técnica  
cirúrgica   de   tratamento   das   varizes   por   pequenas   incisões   com   flebectomias  
segmentares  -­‐  técnica  chamada  de  "flebectomia  de  Muller"  ou  miniflebectomia75.  Em  
ambulatório  e  com  bons  resultados  estéticos,  foi  adotada  por  todos  os  cirurgiões.  
Teixeira   Diniz   (1926-­‐)76,   em   1979,   é   perentório   quando   afirma   que   devem   ser  
laqueadas  todas  as  colaterais  da  grande  veia  safena,  aquando  da  sua  laqueação  alta,  
pois   “Um   desses   afluentes,   por   pequeno   que   seja,   deixado,   inadvertidamente,  
submetido   às   hiperpressões,   dilatar-­‐se-­‐á   e   será   a   causa   de   uma   recidiva   da   situação  
varicosa   através   de   veias   colaterais   que   irão   estabelecer   a   comunicação   do   coto   da  

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Aspetos históricos das veias e varizes

crossa  com  o  tronco  da  safena  no  terço  superior  da  coxa.  No  caso  de  ter  sido  feita  uma  
safenectomia  (stripping)  a  recidiva  far-­‐se-­‐á  através  da  rede  superficial  da  coxa.”.  Esta  
opinião   foi   seguida   por   todos   os   cirurgiões,   até   aparecerem   os   meios   de   tratamento  
endovasculares  que  fazem  a  destruição  da  grande  safena  a  partir  de  cerca  de  2  cm  da  
junção  safenofemoral.  
Claude   Franceschi   (1942-­‐),   cientista   francês,   em   1985   descreveu   pela   primeira   vez   a  
Cura   CHIVA68,   já   atrás   mencionada,   publicando   quatro   anos   depois   o   seu   trabalho.  
Consiste   em   marcar,   pré-­‐operatoriamente,   os   segmentos   refluxivos   com   ajuda   do  
ecoDoppler,  e  laqueá-­‐los  com  anestesia  local.  
Em   1993,   Andreas   Oesch   (1945-­‐),   de   Berna,   descreveu   o   pin-­‐stripping   -­‐   invertido   e  
retrógrado77.  
Para   tratamento   dos   troncos   venosos   surgiram   métodos   endovasculares,   a   ablação  
termal   por   radiofrequência   (RF)78   e   laser,   que   receberam   a   aprovação   da   FDA,  
respetivamente  em  1999  e  em  200279.  
Com   a   ajuda   do   ecoDoppler,   entre   outros   autores,   Pereira   Alves,   em   2012,   após  
classificar  os  refluxos  em  axial  e  segmentar,  propõe,  nestes,  flebectomias  de  colaterais  
varicosas,  preservando  a  grande  safena,  reservando  a  cirurgia  clássica  para  as  varizes  
com  refluxo  axial41.  Em  2016,  confirmou  este  conceito,  após  seguimento    de  doentes  
operados   durante   12   meses,   respondendo   com   um   Sim.   Podemos!   à   pergunta  
Podemos   preservar   a   GVS   quando   o   refluxo   é   segmentar?80,   concordando   com  
Salvador  Marques,  atrás  referido.  
Se   as   perfurantes   podem   ser   causa   de   varizes   e   úlceras,   é   porque   são   insuficientes,  
logo   devem   ser   laqueadas.   Foi   a   ideia   inicial   quando,   em   1938,   Robert   Linton   (1900-­‐
1979),   depois   de   um   excelente   trabalho   de   disseção   anatómica   dirigida,   propôs   a  
técnica  que  ficou  conhecida  com  o  seu  nome,  para  laquear  as  perfurantes  insuficientes  
dos  grupos  medial,  anterior  e  lateral  da  perna.  Mas  a  incisão  proposta  é  muito  extensa  
“...   do   nível   do   limite   inferior   do   maléolo   medial,...   até   logo   abaixo   da   extremidade  
superior   da   tíbia...   “81,   com   problemas   de   cicatrização   e   estéticos,   embora   eficaz   na  
resolução  dos  problemas.  
Também  depois  de  excelente  trabalho  de  disseção  de  membros  de  cadáver  e  estudos  
venográficos,   Frank   Cockett   (1916-­‐2014),   de   Londres,   fez   a   proposta   seguinte   para  
tratamento   das   perfurantes,   por   incisão   mais   curta   que   a   sugerida   por   Linton.   Em  

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Aspetos históricos das veias e varizes

artigo  publicado  em  1955,  refere  “A  tese  de  que  as  úlceras  venosas  e  a  induração  da  
perna   são   geralmente   devidas   à   destruição   das   válvulas   nas   veias   perfurantes   do  
tornozelo  é  apresentada  e  apoiada  por  evidências  clínicas,  venográficas,  anatómicas  e  
experimentais.   Com   base   nesta   tese,   é   descrita   uma   operação   para   a   laqueação  
extrafascial   dessas   perfurantes   insuficientes   e   excisão   da   úlcera   (se   presente).”82  
Obteve   bons   resultados,   nos   201   membros   que   operou.   Algumas   vezes   tentou  
melhorar   o   aporte   arterial   ao   membro,   fazendo   simpaticectomia   lombar.   Harold   Dodd  
(1899-­‐1987),  de  Londres,  em  1964,  pouco  alterou  a  técnica  proposta  por  Cockett,  que  
termina   dizendo   “A   laqueação   das   veias   perfurantes   deficientes   no   tornozelo   é   o  
remédio  mais  efetivo  que  requer  precisão  anatómica  (ou  seja,  exposição  clara  da  tíbia  
e  peróneo),  assepsia,  hemostasia  e  gentileza.”83  
De   Pereira   Alves,   já   referimos   atrás,   o   conceito   que   a   hipertensão   venosa   pode  
começar  no  sistema  superficial  e  só  depois  passar  ao  profundo,  pelo  que  sugeriu,  em  
2001,   “A   confirmar-­‐se   como   correto,   este   conceito   iria   ter   como   importante   implicação  
a   possibilidade   de   uma   cirurgia   precoce   sobre   a   insuficiência   superficial   evitar   a  
insuficiência   nos   sistemas   perfurante   e   profundo.”40c,   mas,   até   agora,   ainda   não   foi  
demonstrado.   Nesta   opinião,   estava   acompanhado   por   Sidney   Rose   (1917-­‐2014),   de  
Manchester84.  
A  laqueação  subfascial  das  perfurantes,  atrás  referida,  para  obviar  as  complicações  da  
cicatrização   das   feridas,   que   aumentam   o,   já   por   si   grande,   tempo   de   internamento,  
evoluiu   para   a   endoscopia   (SEPS).   É   um   procedimento   minimamente   invasivo,  
introduzido   por   Hauer,   em   19855,   depois   desenvolvido   por   Fisher   e   Mozes,   que   no  
artigo   publicado   em   199685,   fazem   uma   boa   revisão   da   anatomia   e   objetivos   da  
técnica.   Entre   nós   tem   sido   CE   Costa   Almeida   (1980-­‐),   de   Coimbra,   um   grande  
divulgador   deste   método,   que,   para   além   de   um   curso   anual   promovido   pelo   seu  
serviço   (Serviço   de   Cirurgia   C   dos   CHUC,   Diretor:   Prof.   Doutor   Costa   Almeida),   onde  
ensina   a   técnica,   tem   artigos   publicados   sobre   o   tema86,   87,   nos   quais   mostra   a   sua  
casuística  e  as  vantagens  desta  técnica.  
A  cirurgia  da  disfunção  venosa  foi  evoluindo  e,  para  só  citar  alguns  autores,  em  1953,  
Eisemann   e   Malette   propuseram   a   primeira   tentativa   para   restauração   da   função  
valvular,  produzindo  estruturas  tipo-­‐válvulas  juntando  pregas  em  dois  locais  da  parede  
venosa   à   frente   um   do   outro5.   Palma,   de   Montevideo,   em   1958,   descreveu,   para  

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Aspetos históricos das veias e varizes

tratamento   da   síndrome   pós-­‐flebítica,   a   técnica   de   anastomose   safenofemoral  


contralateral88  e  Palma  e  Esperon  o  enxerto  femorofemoral  cruzado  para  a  oclusão  da  
veia   ilíaca89.   Robert   Kistner,   em   1968,   foi   o   primeiro   a   reconstruir   válvulas   (Vs)   do  
sistema   venoso   profundo90,   tendo   sugerido   várias   técnicas,   nomeadamente   a  
valvuloplastia   externa91.   Em   1982,   Taheri  descreveu   a   transferência   de   um   segmento  
de  veia  axilar  para  corrigir  Vs  insuficientes,  aplicável  na  síndrome  pós-­‐trombótica92.  A  
evolução  foi  muito  grande  até  Corcos,  que,  em  1997,  propôs  reconstruir  uma  válvula  
monocúspide   a   partir   de   um   retalho   de   íntima93   e   Raju,   em   1999,   a   valvuloplastia  
transcomissural94.  Em  2006,  Oscar  Maleti,  cirurgião  em  Modena,  ensaiou  também  Vs  
bicúspides   e   considerou   os   resultados   animadores,   porque,   embora   não   tivesse  
conseguido   abolir   todo   o   refluxo,   foi   possível   diminuí-­‐lo   o   suficiente   para   obter   um  
alívio  acentuado  nos  sintomas95.  
Em   medicina   e,   nomeadamente,   em   cirurgia,   uma   técnica   só   dá   bons   resultados   se   for  
aplicada  nas  indicações  corretas  e  por  quem  tem  experiência  em  a  executar.  Foi  o  caso  
da  que  acabámos  de  referir  e  é  o  da  escleroterapia  para  tratar  as  varizes  e  perfurantes  
insuficientes.  O  relato  da  evolução  histórica  deste  método,  neste  caso  é  exceção,  pois  
foi  escrita  por  quem  vos  vai  falar,  nesta  monografia,  sobre  esta  técnica,  Pratas  Balhau.  
Aconselhamos,   aos   colegas   que   queiram   iniciar-­‐se   nesta   técnica,   a   leitura   da  
monografia   Esclerose   química   das   varizes,   coordenada   por   este   autor,   editada   em  
2006,  pelo  Capítulo  de  Cirurgia  Vascular  da  Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia.    
O   primeiro   exemplo   que   se   conhece   é   o   de  Elsholtz   que,   em   1667,   na   obra   Clysmatica  
Nova,  relata  o  caso  de  um  soldado  portador  de  úlcera  da  perna  muito  antiga  e  rebelde,  
curada,   quase   milagrosamente,   após   uma   “infusão”   de   tanchagem   praticada   numa  
veia   da   perna,   vizinha   da   úlcera.   Na   época,   não   foi   encontrada   uma   explicação  
minimamente  correta  para  esse  facto.    
No  século  XVII,  após  a  descrição  da  circulação  sanguínea  feita  por  William  Harvey  em  
1628,  dois  homens  excecionais,  Sir  Christopher  Wren,  artista,  arquiteto  e  astrónomo,  
e   Robert   Boyle,   químico   bem   conhecido,   juntaram   a   sua   inteligência   e   imaginação  
para,  não  sendo  médicos,  contribuírem  decisivamente  para  dotar  a  medicina  dum  dos  
seus   instrumentos   mais   notáveis:   a   agulha   oca.   Num   cão   imobilizado   sobre   uma   mesa,  
isolaram   uma   das   veias   superficiais   da   pata   e   com   uma   lanceta   praticaram   nela   uma  
pequena  abertura,  por  onde  introduziram  um  tubo  ligado  a  uma  seringa  para  clisteres,  

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Aspetos históricos das veias e varizes

fixando   tudo   com   uma   ligadura.   Injetaram   então   uma   solução   quente   de   ópio,   e   o  
animal  evidenciou  os  efeitos  da  droga   –  primeiro  indivíduo  na  História  drogado  por  via  
intravenosa!    
Ainda  no  século  XVII,  há  notícia  de  “infusões”  venosas  com  a  ajuda  de  uma  bexiga  de  
porco  ligada  a  um  osso  de  galinha  oco  talhado  em  bisel.  Essas  infusões  consistiam  em  
introduzir  numa  veia  (geralmente  do  braço,  mas  por  vezes  também  da  perna)  soluções  
destinadas  a  agir  sobre  o  estado  geral  do  indivíduo  e  que  provocavam  muitas  vezes  um  
“choque”  devido  à  causticidade  do  produto,  à  sua  toxicidade  ou  à  sua  não-­‐esterilidade.  
E   por   essa   altura,   e   por   esse   mesmo   método,   um   ajudante   de   caça   de   um   nobre  
alemão   entretinha-­‐se   a   embriagar   cães   com   vinho   e   aguardente   infundidos  
diretamente  na  circulação...  
Monteggia,   cirurgião   italiano,   em   1813,   sugeriu   a   ideia   de   “coagular   o   sangue”   dum  
aneurisma,  introduzindo  no  saco  um  coagulante:  álcool,  acetato  de  chumbo  ou  tanino.  
O  cirurgião  de  Lyon,  Charles  Gabriel  Pravaz  resolveu  também,  em  1841,  “trombosar”  
os   aneurismas   arteriais.   Para   tal   efeito   aperfeiçoou   a   seringa   de   injeção   e   inventou  
uma  agulha  em  aço.  Os  seus  ensaios  saldaram-­‐se  por  insucessos;  contudo,  no  mesmo  
ano,   os   seus   alunos   aplicaram   o   método   às   varizes,   com   injeções   de   uma   solução   de  
percloreto   de   ferro,   obtendo   alguns   resultados,   embora   pobres.   Tentaram   outros  
esclerosantes,  como  o  iodo  tânico,  mas  os  resultados  melhoraram  muito  pouco.  
A  explicação  destes  insucessos  foi  encontrada  por   Delore,  que  afirmou,  em  1894,  no  
Congresso   de   Cirurgia   de   Lyon,   que   o   efeito   durável   do   esclerosante   não   residia  
unicamente   na   formação   do   trombo,   mas   também   na   lesão   do   endotélio   varicoso  
conseguida.  
O   reaparecimento   do   interesse   pela   esclerose   de   varizes   remonta   à   primeira   guerra  
mundial.   A   mistura   das   populações   favoreceu   a   propagação   das   doenças   venéreas  
como  a  sífilis.  Tratava-­‐se  esta,  nesse  tempo,  com  numerosas  injeções  intravenosas  de  
Novarsénobenzol,  as  quais  tinham  o  inconveniente  de  levar  a  uma  esclerose  das  veias  
dos   braços.   Na   falta   destas,   o   médico   alemão  Karl   Linser   recorria   às   injeções   nas   veias  
varicosas  dos  membros  inferiores.  E  obtinha,  casualmente,  a  sua  esclerose.  Daí  nasceu-­‐
lhe  a  ideia  de  utilizar  sistematicamente  este  efeito  para  o  tratamento  de  varizes.  Com  
esse   objetivo,   a   partir   de   1916   injetou   sublimado,   a   0,5   e   a   1   %,   e,   mais   tarde,   uma  
solução  hipertónica  de  cloreto  de  sódio.  

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Aspetos históricos das veias e varizes

Ao   mesmo   tempo   e   por   motivos   idênticos,   Jean   Sicard,   em   1919,   fazia   as   mesmas  
constatações   e   aplicava   o   mesmo   princípio   no   tratamento   das   varizes.   Utilizou,  
inicialmente,  uma  solução  de  carbonato  de  sódio,  mas  como  os  seus  resultados  não  o  
satisfaziam,  mudou  para  uma  solução  hipertónica  de  salisilato  de  sódio.  Linser  e  Sicard  
tornaram-­‐se,  assim,  os  pais  do  tratamento  esclerosante  atual.  
Os   discípulos   destes   dois   pioneiros,   desenvolveram   este   procedimento   terapêutico.  
Depois   de   1920,   o   sucesso   da   esclerose   de   varizes   foi   tal   que,   entre   as   duas   guerras  
mundiais,   a   cirugia   venosa   foi   completamente   apagada.   Raymond   Tournay,   o   aluno  
mais   conhecido   de   Sicard,   afinou   cada   vez   mais   esta   técnica   e   as   suas   indicações.  
Efetuou   a   primeira   expressão   das   retenções   hemáticas   intravaricosas.   Formou   uma  
verdadeira   escola,   cuja   experiência   foi   narrada   no   livro   “La   sclerose   des   varices”  
publicado  em  1972  e  reeditado  numerosas  vezes.  
Nos  países  germanófonos,  a  esclerose  foi  lançada  por  numerosas  publicações  e  várias  
edições   do   livro   “Varizen,   ulcus   cruris   und   thrombose”,   a   primeira   em   1976,   de   Karl  
Sigg,   e   foi   assim   conhecida   por   muitos   médicos.   Mas,   contrariamente   a   Raymond  
Tornay,  Sigg  recusava  toda  a  indicação  cirúrgica,  e  tratava  por  conseguinte,  mesmo  as  
varizes  de  grande  calibre,  por  uma  técnica  própria  que  não  se  impôs  fora  dos  países  de  
língua  alemã.  
William   George   Fegan,   irlandês,   deixou   o   seu   nome   indelevelmente   ligado   à   esclerose  
com  compressão  elástica,  tal  como  hoje  se  pratica.  
A  bibliografia  encontra-­‐se  no  capítulo  correspondente.  
Quanto   à   contenção   nos   membros   inferiores,   encontrámos   figuras   humanas   com  
ligaduras  nos  membros  inferiores,  do  período  Neolítico,  10000-­‐3000  aC  (Fig.  4)96,  em  
gravuras  nas  grutas  de  Tassili,  na  Argélia,  provavelmente  com  fins  rituais,  mas  também  
terapêuticos.  
Hippocrates  (395  aC)  sugeria  efetuar  contenção  com  dupla  ligadura  de  linho  para  fazer  
uma  compressão  firme,  após  aplicar  um  penso  com  várias  ervas  e  vinagre7,  Celsus  após  
a   excisão   das   varizes   preconizava   “Depois   que   a   perna   foi   assim   liberada   por   todo   o  
lado,   as   margens   das   incisões   são   juntas   e   um   gesso   aglutinante   é   colocado   sobre  
elas.”61  e  Galeno,  descreveu  ligaduras  de  lã,  linho  e  couro.  Para  Henry  de  Mondeville  
(1260-­‐1316),  em  1312,  era  importante  aplicar  ligaduras  na  perna,  para  tratar  as  úlceras  
“...   porque   ela   repele   e   ostiliza   os   humores   nocivos   em   que   a   perna   e   a   úlcera   estão  

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Aspetos históricos das veias e varizes

embebidas;...   ”97.   Guy   de   Chauliac,   em   1363,   depois   de   tratar   as   varizes,   sugeria  


“Depois   a   ferida   deve   tratar-­‐se   com   lã   encharcada   em   óleo   e   vinho,   até   à   cura.”   ou  
ligaduras   de   linho,   com   aplicação   dum   esparadrapo   de   óxido   de   chumbo,   sulfato   de  
alumínio  e  potássio,  azeite  e  água14b,  semelhante  à  ligadura  que  Unna  apresentou  mais  
de  500  anos  depois.  

 
Fig.  4  -­‐  Gravura  rupestre  das  grutas  de  Tassili,  Sahara,  Argélia,  onde  se  veem  ligaduras  nas  
pernas  do  guerreiro(?).  
 
Foi   Wiseman,   em   1676,   que   idealizou   e   construiu   o   primeiro   dispositivo   para  
contenção   venosa   da   perna,   feito   em   pele,   que   podia   exercer   vários   graus   de  
compressão,  porque  tinha  atacadores,  precursor  das  atuais  meias  elásticas72  (Fig.  5).  

 
Fig.  5  -­‐  Dispositivo  para  contenção  dos  membros  inferiores,  em  pele  -­‐  Wiseman,  1676.  

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Aspetos históricos das veias e varizes
 
Em  1708,  Pierre  Dionis  (1643-­‐1718),  no  seu  tratado  Cours  d’Operations  de  Chirurgie,  já  
atrás  referenciado,  dedica  o  Capítulo  VII  às  ligaduras,  descrevendo,  com  pormenor,  o  
material  de  que  devem  ser  feitas  e  a  maneira  de  as  colocar.  Na  pág.  48,  refere  “...  &  
quando   se   aplica   na   perna,   começa   por   uma   atadura   (volta)   passando   em   primeiro  
lugar  debaixo  do  pé,  &  subindo  rastejando  para  a  parte  superior  da  coxa...  ”28b,  técnica  
que  ainda  hoje  é  aplicada.  
Lorenz   Heister   (1683-­‐1758),   de   Helmstedt,   no   tratado   A   general   system   of   surgery,  
depois   de   apresentar   o   procedimento   de   Celsus,   a   cauterização   das   varizes,   refere  
“Mas  o  nosso  procedimento  neste  momento  é  muito  mais  suave.  Em  grandes  Varizes,  
nós   esforçamo-­‐nos   para   contrair   e   fortalecer   as   Paredes   das   Veias   dilatadas,   pela  
Aplicação   da   referida   Bandagem   expulsiva   com   Fomentações   de   Vinho   tinto,   e  
Medicamentos   adstringentes,   especialmente   Vinagre   e   Allom,   e   ligando   uma   Chapa   de  
Chumbo  fina  sobre  o  distendido  Vaso.”98  
John  Hull  (1761-­‐1843),  o  primeiro  a  apelidar  a  TVP  de  plegmasia  dolens,  sugeriu  “Em  
casos   recentes   de   algodão,   ou   rolo   de   flanela   corretamente   aplicada   pode   ser  
encontrado   suficiente;   mas   quando   a   intumescência   é   de   longa   data   e   obstinada,   eu  
preferiria  longas  tiras  de  linho,  ou  algodão,...  para  a  cura  das  pernas  ulceradas.”99    
Em  1839,  Charles  Goodyear  (1800-­‐1860),  descobriu  a  vulcanização  da  borracha  e,  nos  
100   anos   seguintes   desenvolveram-­‐se   materiais   mais   elásticos   resultantes   do  
entrelaçamento  dos  fios  de  borracha  com  os  de  algodão,  seda  ou  linho.  
Em   1884,   o   dermatologista   alemão   Paul   Unna   (1859-­‐1929),   no   livro   Histologischer  
atlas  zur  pathologie  der  haut,  descreveu  uma  bota  de  contenção  composta  de  óxido  de  
zinco,   glicerina,   gelatina   e   água   estéril,   para   tratar   edemas   de   estase   e   outras  
dermatoses,  que  ainda  hoje  é  utilizada,  e  um  seu  discípulo  Heinrich  Fischer,  em  1910,  
indicou  a  utilização  bota  Unna  para  tratamento  da  trombose  venosa  profunda  (TVP).  
Conrad   Jobst   (1889-­‐1957),   engenheiro   alemão   que   trabalhava   em   Toledo,   Ohio,  
inventou   as   meias   de   contenção,   em   1930,   que   sequencialmente   foram   melhorando  
em   conforto   e   aspeto,   ampliando   as   indicações   de   utilização,   tanto   na   profilaxia   e  
tratamento   da   TVP   e   das   suas   complicações,   nomeadamente   a   síndrome   pós-­‐
trombótica,   como   no   tratamento   das   úlceras   venosas,   na   profilaxia   das   varizes,  
particularmente  na  gravidez,  nos  pré  e  pós-­‐operatórios  imediato  e  tardio  de  varizes,  ou  

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Aspetos históricos das veias e varizes

no   tratamento   das   suas   complicações,   como   tromboflebites   e   hemorragias,   na  


profilaxia   da   TEP,   e   adjuvante   essencial   para   a   escleroterapia,   para   além   do   papel  
fundamental  no  controlo  do  linfedema.  Estas  indicações  são  muito  bem  expostas  por  
H.   Partsch   e   o   comité   que   o   acompanhou,   em   publicação   sob   o   auspício   da  
International  Union  of  Phlebology,  Evidence  based  compression  therapy100.  
Nas   últimas   décadas   do   séc.   XX   e   primeira   do   atual,   as   meias   elásticas   foram   sendo  
aperfeiçoadas   tendo   em   vista   a   compressão,   o   tamanho   e   a   estética,   tornando-­‐se  
fundamentais  no  tratamento  da  doença  venosa  crónica,  em  quase  todos  os  seus  graus.  
Mais   uma   vez   a   história   tem   avanços   e   recuos,   e   em   2016,   340   anos   depois   de  
Wiseman   ter   apresentado   a   sua   bota   de   contenção   (Fig.   3),   a   Juzo   comercializou   o  
sistema   Compression   Wrap   e   a   Medi   o   Circaid   juxtalite,   que   têm   por   base   o   mesmo  
conceito,   muito   útil   nos   membros   muito   edemaciados,   porque   pode   ser   ajustado   à  
medida  que  o  edema  diminui.  

Vai   longa   a   História   das   veias   e   das   varizes,   mas   muito   ficou   por   relatar.   A   História  
sempre   nos   ensina.   Repararam   que   muitos   conhecimentos   não   foram   valorizados   na  
sua  época  e  só  passadas  centenas  ou  milhares  de  anos  foram  redescobertos.  A  História  
ensina-­‐nos  que  é  preciso  questionar  o  saber  “dogmático”,  não  nos  conformando  com  o  
que  sabemos.  É  esta  maneira  de  estar  que  estimula  a  investigação.  
 
 
 
 
 
 
 
Referências  bibliográficas  
 
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2.  Cyril  P.  Bryan  (Tradução).  The  Papyrus  of  Ebers.  London:  Geoffrey  Bles;  1930.  p.  148.  

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Aspetos históricos das veias e varizes

3.   Sushruta.   The   Sushruta   Samhita.   Tradução   de   Bhishagratna.   1ª   Edição.   New   Delhi:  


Cosmo  Publications;  2006.  Vol.  II,  Cap.  XL,  p.  74.  
4.   Singer,   Charles.   A   short   history   of   anatomy   and   physiology   from   the   greeks   to  
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Aspetos históricos das veias e varizes

15.   Amato   Lusitano.   Centúrias   de   curas   medicinais.   Tradução   de   Firmino   Crespo   (da  
edição   de   Bordéus   em   1620).   Lisboa:   Centro   de   Editor   Livreiro   da   Ordem   dos   Médicos;  
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étude  stereophlebographique.  Phlebology  85.  John  Libbey;  1986.  pp.  48-­‐50.  

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Anatomia das veias dos membros inferiores

ANATOMIA  DAS  VEIAS  DOS  MEMBROS  INFERIORES  


Tiago  Bilhim,  Diogo  Casal  

A   complexa   rede   venosa   dos   membros   inferiores   é   composta   por   dois   sistemas.   Um  
profundo,   composto   pelas   veias   profundas,   situadas   por   baixo   da   aponevrose  
muscular,   e,   outro   superficial,   em   que   as   veias   se   dispõem   na   gordura   localizada   entre  
a  pele  e  a  aponevrose  muscular1,   2.  Ambos  os  sistemas  têm  origem  no  pé  e  possuem  
válvulas,   sendo   mais   numerosas   no   sistema   profundo3,   4,   5
.   O   sistema   venoso  
profundo,   no   pé,   compreende   duas   veias   dorsais   e   quatro   veias   plantares   (duas  
mediais  e  duas  laterais).  Continua-­‐se  na  perna,  com  duas  veias  tibiais  posteriores,  duas  
veias   fibulares,   duas   veias   tibiais   anteriores   e   dois   troncos   venosos   tibio-­‐fibulares.   As  
veias  da  perna  continuam-­‐se  ao  nível  do  escavado  popliteu  pela  veia  popliteia  que  se  
estende   desde   o   hiato   tendinoso   do   solear   ao   hiato   tendinoso   do   grande   adutor,   onde  
se   continua   pela   veia   femoral.   A   veia   popliteia   localiza-­‐se   postero-­‐lateralmente   à  
artéria   popliteia   e   ântero-­‐medialmente   ao   nervo   tibial   e   recebe   como   colaterais   as  
veias  surais,  as  veias  articulares  e  a  pequena  veia  safena.  A  veia  femoral  acompanha  a  
artéria   femoral   até   ao   anel   femoral,   invertendo   a   relação   anatómica   ao   longo   do  
trajeto   na   coxa.   Distalmente,   a   veia   está   localizada   lateralmente   à   artéria,   tornando-­‐se  
medial   proximalmente1.   Geralmente,   observam-­‐se   duas   veias   acompanhando   a  
respetiva  artéria  até  ao  nível  da  veia  popliteia,  onde,  frequentemente,  as  duas  veias  se  
fundem  numa  só  que  acompanha  a  respetiva  artéria.  
O  sistema  venoso  superficial,  no  pé,  compreende  as  veias  dorsais  e  as  veias  plantares  
que   constituem   a   palmilha   venosa.   As   veias   dorsais   e   plantares   comunicam   com   a   veia  
marginal  lateral,  que  segue  a  margem  lateral  do  pé  para  se  continuar  com  a  pequena  
veia  safena  e  com  a  veia  marginal  medial,  que  segue  a  margem  medial  do  pé  para  se  
continuar  com  a  grande  veia  safena.    
A   pequena   veia   safena   (Fig.   1)   passa   atrás   do   maléolo   lateral,   ascendendo   na   face  
posterior   da   perna   num   sulco   entre   as   duas   partes   do   músculo   gastrocnémio,  
alcançando   a   fossa   popliteia   onde   se   inflete   anteriormente   para   drenar   na   veia  
popliteia   –   crossa   da   pequena   veia   safena   -­‐   junção   safeno-­‐popliteia   (termo   de  

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Anatomia das veias dos membros inferiores

consenso  atual)6.  A  junção  safeno-­‐popliteia  está  localizada  num  perímetro  de  5  cm  da  
prega   popliteia.   No   seu   trajeto,   a   pequena   veia   safena   é   acompanhada   pelo   nervo  
cutâneo  sural  medial  (ramo  do  nervo  tibial)  que  se  anastomosa  com  o  nervo  cutâneo  
sural   lateral   (ramo   do   nervo   fibular)   a   uma   altura   variável   para   formar   o   nervo   sural  
que   é   responsável   pela   inervação   cutânea   da   vertente   póstero-­‐lateral   da   perna   e   o  
bordo  lateral  do  pé.  Uma  vez  que  apenas  o  nervo  cutâneo  sural  medial  acompanha  a  
pequena   veia   safena,   a   lesão   iatrogénica   pós-­‐cirúrgica   geralmente   não   tem   graves  
consequências  clínicas,  uma  vez  que  o  nervo  nervo  cutâneo  sural  lateral  compensa  a  
função   do   nervo   sural.   A   pequena   veia   safena   caminha   num   compartimento  
interfascial  entre  as  fascias  superficial  e  muscular  profunda  e  possui  10-­‐12  válvulas.  
 

 
Fig.  1  -­‐  Trajeto  da  pequena  veia  safena  no  flanco  posterior  e  lateral  da  perna  (setas).  
Relação  próxima  com  o  nervo  sural  (setas  tracejadas).  
 
Pode  ser  duplicada  e  podem  existir  três  pequenas  veias  safenas  paralelas.  No  local  de  
drenagem   para   a   veia   popliteia,   é   frequente   emergir   um   ramo   venoso   que   ascende   na  
face  posterior  da  coxa  na  goteira  entre  o  bicípete  femoral  e  o  semimembranoso  (veia  
femoro-­‐popliteia)   extensão   na   coxa   da   pequena   veia   safena   (termo   de   consenso  
atual)6.  A  extensão  na  coxa  da  pequena  veia  safena  termina  em  ramos  superficiais  ou  
perfurantes  da  coxa  e  região  glútea.  Esta  extensão  cranial  da  pequena  veia  safena  ou  
extensão  na  coxa  da  pequena  veia  safena,  quando  comunica  com  a  grande  veia  safena  

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Anatomia das veias dos membros inferiores

pela  face  posterior  da  coxa  (através  da  veia  circunflexa  posterior  da  coxa)  denomina-­‐se  
veia   de     Giacomini6.   A   extensão   na   coxa   da   pequena   veia   safena   ou   a   veia   de  
Giacomini   podem   transmitir   refluxo   de   veias   perineais,   perfurantes   da   coxa   ou   da  
grande   veia   safena   para   a   pequena   veia   safena   e   vice-­‐versa   (refluxo   ascendente).   A  
morfologia   da   junção   safeno-­‐popliteia   apresenta   variações   desde   a   descrição   clássica  
com   drenagem   para   a   veia   popliteia,   passando   por   uma   junção   safeno-­‐popliteia  
filiforme   ou   mesmo   ausente.   Quando   a   junção   safeno-­‐popliteia   está   ausente,   a  
principal  drenagem  da  pequena  veia  safena  faz-­‐se  pela  extensão  na  coxa  da  pequena  
veia   safena   ou   pela   veia   de   Giacomini.   A   junção   safeno-­‐popliteia   apresenta   uma  
válvula   terminal   nas   proximidades   da   veia   popliteia   e   uma   válvula   preterminal,  
distalmente   à   origem   da   extensão   na   coxa   da   pequena   veia   safena   ou   da   veia   de  
Giacomini.   As   veias   gastrocnémicas   podem   drenar   diretamente   para   a   pequena   veia  
safena,   para   a   junção   safeno-­‐femoral   ou   mais   frequentemente   para   a   veia   popliteia.  
Pode   existir   uma   veia   tributária   subcutânea   com   trajeto   semelhante   à   pequena   veia  
safena,   mas   que   não   caminha   no   compartimento   fascial   -­‐   veia   perfurante   da   fossa  
popliteia   (Dodd).   Esta   veia   perfurante   tem   um   trajeto   na   face   posterior   da   perna,  
drenando  de  forma  independente  para  a  veia  popliteia  no  escavado  popliteu,  paralela  
e  lateralmente  à  pequena  veia  safena.  
 

 
Fig.  2  -­‐  Trajeto  subcutâneo  da  grande  veia  safena  na  face  medial  da  perna  (seta).  Ramos  
perfurantes  (setas  curvas).  Relação  próxima  com  o  nervo  safeno  (seta  tracejada).  

 
A   grande   veia   safena   (Fig.s   2,   3   e   4)   passa   anteriormente   ao   maléolo   medial  
ascendendo   na   face   medial   da   perna   onde   tem   relação   íntima   com   o   nervo   safeno  
(ramo   do   nervo   femoral)   responsável   pela   inervação   cutânea   da   vertente   medial   da  

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Anatomia das veias dos membros inferiores

perna   e   pé2,  3.   A   lesão   iatrogénica   do   nervo   safeno   após   cirurgia   da   grande   veia   safena  
na  perna,  pode  dar  origem  a  parestesias  na  vertente  medial  da  perna  e  pé.  
A  grande  veia  safena  passa  posteriormente  ao  joelho  e  continua-­‐se  na  face  medial  da  
coxa  até  ao  trígono  femoral  (ex-­‐Scarpa).  Aproximadamente  5  cm  abaixo  do  ligamento  
inguinal  perfura  a  fascia  femoral  para  drenar  no  flanco  ântero-­‐medial  da  veia  femoral  -­‐  
arco   ou   crossa   da   grande   veia   safena   -­‐   junção   safeno-­‐femoral   (termo   de   consenso  
atual)6.   A   grande   veia   safena   caminha   na   perna   e   coxa   num   compartimento   próprio  
denominado   hiato   safeno.   O   hiato   safeno   é   delimitado   por   uma   prega   aponevrótica  
em   forma   de   meia-­‐lua   chamada   margem   falciforme   (Allan   Burns)1.   Quando   avaliada  
ecograficamente   em   corte   axial,   a   grande   veia   safena   no   interior   do   hiato   safeno  
apresenta  um  sinal  imagiológico  denominado  de  "olho  egípcio"  uma  vez  que  a  fascia  
superficial   é   ecogénica   e   facilmente   visualizável   por   ecografia.   O   tronco   venoso  
representa   o   olho   e   as   fascias   superficial   e   profunda   as   pálpebras.   Este   sinal  
imagiológico   é   importante   uma   vez   que   permite   diferenciar   a   grande   veia   safena   de  
outros   ramos   tributários   subcutâneos6.   A   grande   veia   safena   possui   10-­‐12   válvulas,  
sendo   mais   numerosas   na   perna   que   na   coxa   e   estão,   geralmente,   localizadas  
imediatamente   abaixo   das   veias   perfurantes.   Existe   uma   válvula   terminal   constante,  
localizada   1-­‐2   mm   distalmente   à   junção   safeno-­‐femoral   facilmente   identificada   por  
ecografia.   Existe   outra   válvula   pré-­‐terminal,   localizada   2   cm   distalmente   à   válvula  
terminal,  que  determina  o  limite  da  junção  safeno-­‐femoral.  
 

 
Fig.  3  -­‐  Trajeto  da  grande  veia  safena  na  face  medial  da  perna  (setas).  
 
Entre   estas   duas   válvulas,   a   junção   safeno-­‐femoral   recebe   as   veias   circunflexa   ilíaca  
superficial,   epigástrica   superficial   e   pudenda   externa   superficial2.   Esta   característica  

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Anatomia das veias dos membros inferiores

anatómica   é   importante,   uma   vez   que   estas   veias   podem   transmitir   fluxo   retrógrado  
para  a  grande  veia  safena,  sendo  responsáveis  por  doença  refluxiva  troncular  mesmo  
quando   a   válvula   terminal   é   competente   (28   %   -­‐   59   %   dos   casos).   A   veia   safena  
acessória   anterior,   a   veia   safena   acessória   posterior   e   a   veia   de   Giacomini   podem  
também   drenar   na   junção   safeno-­‐femoral.   A   veia   safena   acessória   anterior   é   um  
tronco   venoso   que   ascende   paralelamente   à   grande   veia   safena   na   face   anterior   da  
coxa,  anterior  e  lateralmente  à  grande  veia  safena  que  se  situa  na  vertente  medial  da  
coxa.   Tem   um   compartimento   fascial   próprio,   o   que   leva   a   que   frequentemente  
existam  dois  "olhos  safenos"  em  corte  axial  por  ecografia  do  terço  superior  da  coxa.  

Fig.  4  -­‐  Crossa  da  grande  veia  safena  na  face  medial  da  coxa  onde  drena  para  a  veia  femoral  
(seta).  Artéria  femoral  (seta  curva).  Nervo  femoral  (seta  tracejada).  

Geralmente,   existe   um   gânglio   linfático   constante   a   separar   a   grande   veia   safena   da  


veia   safena   acessória   anterior   no   local   onde   convergem.   A   incompetência   da   veia  
safena   acessória   anterior   pode   ser   uma   fonte   de   refluxo   e   varizes   na   coxa   e   perna,   em  
aproximadamente   14   %   dos   doentes   com   doença   venosa   crónica   dos   membros  

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Anatomia das veias dos membros inferiores

inferiores. Nestes casos pode ser a única fonte de refluxo, mantendo-‐se a grande veia
safena  competente.  Todavia,  também  pode  haver  doença  refluxiva  de  ambos  os 
troncos venosos. A veia safena acessória posterior é um segmento venoso que
ascende paralelamente à grande veia safena, em topografia posterior, no interior de um
compartimento fascial. Não é tão frequente como a veia safena acessória anterior e  a  sua 
drenagem  para  a  grande  veia  safena  não  é  constante.  Representa  a  porção  terminal
de veia de Giacomini quando esta variante anatómica está presente, fazendo comunicar 
a  pequena  veia  safena  com  a  grande  veia  safena.  A  veia  circunflexa  anterior da
coxa é tributária da grande veia safena ou da veia safena acessória anterior. A
veia circunflexa posterior da coxa é tributária da grande veia safena ou da veia  safena 
acessória  posterior.  As  veias  intersafenas  estão  presentes  em  número  variável na
perna, possuem um trajeto oblíquo e fazem comunicar a grande veia safena com a
pequena veia safena6. Existem algumas variantes anatómicas frequentes como  as  veias 
tributárias  na  perna  de  grandes  dimensões  ­‐  uma  destas  veias  mais  frequentes é
denominada veia do arco posterior ou de Leonardo, que caminha na vertente medial
e posterior da perna, drenando para a grande veia safena, geralmente no terço superior da
perna. Podem existir veias tributárias subcutâneas maiores que a grande  veia  safena  na 
coxa,  que  por  vezes  podem  ser  responsáveis  por  varizes.  A  grande veia safena pode
estar ausente ou ser hipoplásica e não identificável no compartimento fascial entre o
terço médio da perna e o terço superior da perna ou entre o terço médio da perna e o terço
inferior da coxa (em até 56 % dos casos) sendo substituída por uma tributária subcutânea6.
As  veias  superficiais  e  profundas  comunicam  por  veias  perfurantes  valvulares  que, 
como seu nome indica, perfuram as aponevroses dos diferentes compartimentos
do membro  inferior.  Estas  veias,  atravessam  as  aponevroses  com  uma  angulação 
que,  conjuntamente  com  o  sistema  valvular,  permite  que  o  sangue venoso
circule na direção superficial para profundo durante a contração muscular  (bomba 
músculo-­‐venosa).  A  presença  do  sistema  valvular  e  a  dinâmica  músculo-­‐venosa
permitem que o retorno venoso seja mais acentuado durante a contração
muscular e previnem o refluxo sanguíneo na fase de relaxamento muscular e  ainda 
durante  o  ortostatismo,  sempre  que  o  sistema  valvular  for  competente2.  A 
terminologia das perfurantes deve assentar na topografia e não em nomes de autores,

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Anatomia das veias dos membros inferiores

frequentemente   incorretos   numa   perspetiva   histórica.   Desta   forma,   servirão   como  


elemento  orientador  no  momento  de  fazer  a  sua  marcação  pré-­‐operatória.  Tendo  em  
consideração  este  ponto  de  vista,  a  sua  referenciação  topográfica  deve  ser  rigorosa  e  
orientada  por  referências  anatómicas  descritivas  muito  precisas.  Foram  descritas  mais  
de  40  veias  perfurantes  constantes  no  pé  (dorsal,  medial,  lateral  e  plantar),  tornozelo  
(medial,   anterior   e   lateral),   perna   e   coxa.   As   perfurantes   da   perna   dividem-­‐se   em  
quatro  grupos:  1)  perfurantes  das  veias  tibiais  posteriores  (mediais);  2)  perfurantes  das  
veias   tibiais   anteriores   (anteriores),   que   comunicam   com   a   grande   veia   safena;   3)  
perfurantes   das   veias   fibulares   (laterais);   4)   perfurantes   posteriores.   As   perfurantes  
das   veias   tibiais   posteriores   localizam-­‐se   na   face   medial   da   perna   e   comunicam   a  
grande   veia   safena   e   tributárias   com   as   veias   tibiais   posteriores,   devendo   ser  
denominadas   de   perfurantes   mediais   inferiores   (Sherman),   médias   e   superiores  
(Boyd).  Existe  uma  perfurante  que  comunica  a  veia  do  arco  posterior  (Leonardo)  com  
as   veias   tibiais   posteriores   (Cockett).   As   perfurantes   da   face   posterior   da   perna  
englobam   as   perfurantes   gastrocnémicas   localizadas   no   terço   médio   da   perna.   São  
denominadas   de   lateral,   medial,   e   perfurante   intergemelar   (solear   ou   de   May),  
fazendo   comunicar   a   pequena   veia   safena   com   as   veias   soleares.   Existe   uma  
perfurante   para-­‐Aquiliana   lateral   comunicando   a   pequena   veia   safena   com   as   veias  
fibulares   (Bassi).   As   perfurantes   ao   nível   do   joelho   são   denominadas   de   mediais,  
laterais,   supra   e   infra   patelares   e   da   fossa   popliteia.   Na   coxa,   existem   perfurantes  
mediais   localizadas   no   canal   femoral   (Dodd)   e   canal   inguinal,   comunicando   a   grande  
veia   safena   e   tributárias   com   a   veia   femoral.   Existem,   também,   perfurantes   da   coxa  
anteriores   que   perfuram   o   quadricípete   femoral,   perfurantes   da   coxa   laterais   que  
perfuram  os  músculos  laterais  da  coxa.  Na  face  posterior  da  coxa,  as  perfurantes  são  
denominadas   póstero-­‐mediais   quando   perfuram   os   músculos   adutores,   perfurantes  
medianas  (ciáticas)  e  perfurantes  póstero-­‐laterais  quando  perfuram  o  bicípete  femoral  
e   semitendinoso   (Hach).   Estão   descritas   ainda   as   perfurantes   pudendas   e   glúteas  
(superiores,  médias  e  inferiores)6.    
A   anatomia   das   veias   dos   membros   inferiores   é   complexa,   com   inúmeras   variações  
anatómicas  com  potencial  relevância  clínica.  O  conhecimento  anatómico  dos  padrões  
mais   frequentes   de   drenagem   venosa   dos   membros   inferiores,   é   essencial   para   uma  
correta  abordagem  clínica  e  cirúrgica  da  patologia  venosa  dos  membros  inferiores.  

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Anatomia das veias dos membros inferiores

 
 
 
 
 
Referências  bibliográficas  
 
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3.   Rouvière   H,   Delmas   A.   Anatomia   Humana   Descriptiva,   Topográfica   y   Funcional.  
Tomo  3  Miembros,  Sistema  Nervioso  Central.  9ª  Edição.  Barcelona:  Masson;  1996.  pp.  
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Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

FISIOPATOLOGIA  DA  INSUFICIÊNCIA  VENOSA  CRÓNICA  


Carlos  M.  Costa  Almeida  

Introdução  -­‐  Significado  de  insuficiência  venosa  

Fisiologia  da  circulação  de  retorno  


A   espécie   humana   é   a   única   que,   tendo   quatro   membros,   se   desloca   e   permanece  
habitualmente   sobre   dois,   os   posteriores,   que   por   isso   se   passaram   a   chamar  
inferiores.   Fê-­‐lo,   obviamente,   para   libertar   os   anteriores,   agora   superiores,   para   os  
quais  o  desenvolvimento  particular  do  seu  cérebro  arranjou  ocupação,  neles,  também,  
e   igualmente   por   isso,   tornando-­‐se   o   polegar   oponível   aos   outros   quatro   dedos   das  
mãos.   Pode-­‐se,   pois,   dizer   que   foi   o   cérebro   que   fez   o   homem   erguer-­‐se   nos   membros  
posteriores  e  assim  permanecer.    

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Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

Mas   isso   criou-­‐lhe   duas   dificuldades   que   não   teria   se,   em   vez   de   adoptar   o  
bipedalismo,   se   deslocasse   a   quatro:   as   vértebras   passaram   a   fazer   pressão   umas  
sobre   as   outras,   com   a   coluna   perpendicular   ao   chão,   em   vez   de   paralela,   e   a   maior  
parte   do   sangue   passou   a   circular   abaixo   do   nível   da   bomba   cardíaca,   e   bem   abaixo,   já  
que   os   membros   inferiores,   para   suportar   sozinhos   o   peso   do   corpo,   se   tornaram  
maiores   e   mais   musculosos,   por   isso   deslocando   maior   quantidade   de   sangue,   cujo  
peso   é   uma   força   que   lhe   dificulta   o   retorno   ao   coração,   quando   na   posição  
ortostática.    
Como   ajudar   o   sangue   a   subir   dos   membros   inferiores   para   o   coração?   Dois  
mecanismos,   relacionados   entre   si,   estão   instituídos.   Um,   as   válvulas   venosas,   outro,   a  
bomba   venosa   da   perna.   As   válvulas   venosas,   existentes   em   todas   as   veias   dos  
membros  inferiores,  orientam  o  fluxo  de  sangue  em  sentido  cardiópeto  e  contrariam  o  
seu  refluxo,  em  sentido  contrário;  e,  nessas  condições,  dividem  a  corrente  sanguínea  
em   secções,   escalonadamente,   não   permitindo   a   existência   duma   coluna   única   de  
sangue,   fazendo   pressão,   pelo   seu   peso,   na   parte   mais   distal   do   membro.   A   bomba  
venosa  da  perna,  ou  bomba  dos  gémeos,  é  constituída  pelos  músculos  da  perna  com  a  
aponevrose   inextensível   que   os   rodeia,   e   as   veias   profundas   e   as   veias   perfurantes,  
com  as  válvulas  respectivas.    
O   sangue   venoso   dos   membros   inferiores   circula   das   veias   superficiais,   através   das  
veias  perfurantes,  para  as  mais  profundas,  e  daí  retorna  ao  coração.  A  bomba  venosa  
ajuda  ao  retorno  desse  sangue,  quando  em  funcionamento,  que  é  quando  os  músculos  
da   perna,   alternadamente,   se   contraem   e   relaxam,   mantendo   a   articulação   do  
tornozelo  em  movimento.  Quando  os  músculos  se  contraem  e  aumentam  de  volume,  
dentro   da   loca   inextensível   onde   estão   as   veias   profundas,   comprimem   essas   veias.  
Nestas,   sendo   compressíveis,   o   sangue   seria   empurrado   num   sentido   e   noutro,   não  
fossem   as   válvulas   que,   dentro   delas,   orientam   o   movimento   do   sangue   no   sentido   do  
coração,  impedindo  o  seu  refluxo,  em  sentido  distal;  do  mesmo  modo,  o  sangue  não  
regressa   ao   sistema   superficial,   porque   as   válvulas   existentes nas   veias   perfurantes  

movimente  o  tornozelo  em  direcção  contrária,  há  uma  redução  da  pressão  dentro  da  
loca,  com  uma  “aspiração”  do  sangue  para  dentro  dela,  quer  da  parte  mais  distal  do  

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Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

A  bomba  venosa  da  perna  funciona  como  uma  verdadeira  bomba  aspirante-­‐premente,  
com   os   mesmos   princípios   fisiológicos   da   bomba   cardíaca,   e   é   fundamental   para   o  
nosso   bipedalismo.   Bastará   notar   que   são   os   músculos   da   perna   que   nos   fazem  
deslocar   e   mantermo-­‐nos   em   equilíbrio,   apoiados   apenas   em   dois   pontos,   quando  
todos   os   outros   animais,   como   nós   com   quatro   membros,   se   apoiam   e   se   deslocam  
sobre   quatro.   E   veja-­‐se,   se   confirmação   fosse   necessária,   que   nesses   animais   os  
músculos   na   perna   nem   sequer   existem;   são   uma   particularidade   da   nossa   espécie,  
pelos  motivos  expostos.  
 
  Fisiopatologia  da  insuficiência  venosa  
A  insuficiência  venosa  primária  assenta,  basicamente,  numa  debilidade  da  parede  das  
veias,   de   causa   não   esclarecida.   Continuam   a   ser   feitos   estudos   no   sentido   desse  
esclarecimento,   procurando   determinar   o   que   a   provoca,   muito   provavelmente   a   nível  
bioquímico   e   biomolecular,   apontando-­‐se   no   momento,   por   exemplo,   uma   possível  
desregulação   de   metaloproteinases   e   seus   inibidores   na   parede   venosa.   É   uma  
situação   que   parece   ser   constitucional,   ou   congénita,   com   incidência   familiar,   não   se  
tendo,  por  enquanto,  definido  nenhum  gene  por  ela  responsável.    
A  debilidade  da  parede  venosa  faz  com  que  nos  membros  inferiores,  na  sequência  do  
bipedalismo  que  nos  caracteriza,  com  ortostatismo  prolongado  ao  longo  da  nossa  vida,  
as  veias  não  resistam  ao  peso  do  sangue  dentro  delas  e  se  dilatem.  Tal  acontece  nas  
veias   superficiais,   extra-­‐aponevróticas,   sem   suporte   exterior   para   além   da   pele   e   do  
tecido   celular   subcutâneo,   e   das   veias   perfurantes,   que   passam   através   da   aponevrose  
levando  o  sangue  para  as  veias  profundas,  ao  contrário  do  que  se  passa  nestas,  dentro  
das   locas   aponevróticas   e   no   meio   dos   músculos,   com   as   paredes   apoiadas   pelas  
estruturas  circundantes.  A  insuficiência  venosa  primária  é,  assim,  epifascial,  podendo  
ser  também  transfascial.  Algumas  veias  vão-­‐se  dilatando,  e  as  valvas  das  suas  válvulas  
deixam   de   chegar   ao   contacto   umas   com   as   outras,   tornando-­‐se   insuficientes.   Pelo  
refluxo   e   dilatação,   mais   sangue   se   acumula   nessas   veias,   com   mais   dilatação   e   mais  
insuficiência  valvular,  no  que  é,  como  se  percebe,  um  processo  evolutivo:  “avalvulação  
gera   avalvulação”.   É   às   veias   superficiais   dos   membros   inferiores,   cronicamente  

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Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

Por causa da estase, os elementos figurados têm tendência a afastar-se do centro


da corrente sanguínea e aproximar-se das paredes venosas, e, como a pressão de
arrastamento (pressão tangencial, ou “shear stress”, directamente proporcional
à velocidade do fluxo sanguíneo) também diminui, isso permite o seu maior e mais
demorado contacto com elas, podendo mesmo interagir. Desse modo as hemácias
podem passar através delas e as plaquetas podem desencadear uma trombose local.
Quanto aos leucócitos, a hipótese mais aceite é que, quer lhes adiram quer transmigrem
através delas, para o tecido perivascular (à  volta  dos  capilares  e  das  vénulas  pós-
capilares),  activam-­se,  o  que  provoca  a  libertação de enzimas proteolíticos e
moléculas inflamatórias, como citoquinas e radicais livres, com efeito destrutivo nas
membranas celulares lipídicas, em estruturas proteicas e em vários componentes do
tecido conjuntivo. Daqui resulta um processo com  características  de  inflamação  crónica 
e  que  conduz  primeiro  a  remodelação  fibrosclerótica da pele (lipodermatoesclerose)
e depois à sua ulceração. Também nas próprias  valvas  das  válvulas  pode  haver 
reacções  desse  tipo,  que  anatomo-­patologicamente têm aspecto de “inflamação”, e
que contribuem para que as válvulas se tornem insuficientes.

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Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

Fisiopatologia  venosa  na  clínica  


A   designação   “doença   venosa   crónica”   inclui   todos   os   que   sofrem   da   circulação   de  
retorno  dos  membros  inferiores,  com  dificuldade  evidente  na  posição  ortostática  e  no  
bipedalismo.  O  quadro  clínico  pode  variar,  com  sinais  e  sintomas  que  podem  ser  mais  
ou  menos  exuberantes,  e  é,  por  isso,  importante  a  utilização  duma  classificação  como  
a   CEAP,   focando   os   vários   aspectos   da   doença   (Clinic,   Etiology,   Anatomy,  
Physiopathology),   e   que   exige   o   estudo   dos   doentes   por   ecodoppler.   Assim,   para  
avaliar   a   doença   venosa   crónica   é   importante   saber   que   ela   pode   existir   com   varizes  
tronculares   e   sem   varizes   tronculares,   e   que   as   telangiectasias   e   varículas,   tão  
prevalentes   na   nossa   população   adulta,   sobretudo   do   sexo   feminino,   também   dela  
fazem  parte.  Isto  apesar  de  haver  autores  que  as  excluem,  como  os  há  que  consideram  
a  existência  de  insuficiência  venosa  crónica  só  nos  doentes  que  apresentam  edema  e  
alterações   cutâneas   –   pigmentação   ocre,   lipodermatoesclerose,   eczema   (no   seu  
conjunto   formando   o   que   alguns   apelidam   de   dermatite   varicosa   ou   de   estase)   e  
úlceras.    
A  doença  venosa  crónica  manifesta-­‐se  mais  cedo  ou  mais  tarde  na  vida,  agravando-­‐se  
ao   longo   dela,   com   possível   aparecimento   progressivo   das   complicações   da  
insuficiência  venosa.  Esse  agravamento,  com  o  avançar  da  idade,  não  tem  que  ver  com  
o envelhecimento   propriamente   dito,   mas   sim   com   o   passar   do   tempo   e   maior
exposição   ao   efeito   de   vários   factores   de   risco,   nomeadamente   mais   tempo  
acumulado  em  posição  ortostática  e  redução  de  funcionamento  da  bomba  venosa  da  
perna.   Esta   última   acontece,   na   idade   avançada,   por   simples   maior   sedentarismo   ou  
por  reumatismo  ou  artroses  dos  membros  inferiores,  que  diminuem  a  capacidade  de  
deambulação  dos  pacientes.  Em  particular  a  artrose  do  tornozelo  que,  com  mobilidade  
reduzida   ou   ausente,   limita   a   contracção   dos   músculos   da   perna   (“bomba   dos  
gémeos”),  o  que  também  acontece  em  situações  de  parésia  ou  paralisia  dos  membros  
inferiores,  inclusivamente  com  a  decorrente  atrofia  muscular.  
Para  quem  tem  a  referida  debilidade  da  parede  venosa,  e  por  isso  varizes  ou  tendência  
para   as   ter,   ser   do   sexo   feminino   também   é   um   factor   de   agravamento,   sobretudo   por  
razões   hormonais   (pelas   hormonas   femininas   próprias   ou   administradas   em  
suplementos).   Relacionada   com   essas,   a   gravidez   é   outro   factor   de   agravamento,   quer  
pelo   aumento   da   produção   hormonal   quer   pelo   período   com   aumento   de   pressão  

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Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

intra-­abdominal,  dificultando  o  retorno  venoso  ao  coração  e  aumentando  a 


pressão  venosa distal. E, também, são as mulheres que usam sapatos de salto alto,
com limitação marcada do movimento das articulações dos tornozelos na marcha, o
que limita a função da bomba dos gémeos.
Finalmente,  uma  chamada  de  atenção  para  o  calor  como  factor  de  agravamento. 
O  calor local nos membros inferiores ajuda a dilatar as veias, se já dilatadas ou
com tendência para isso. Por isso há que o evitar, sobretudo o calor no Inverno, altura
em que  se  procura  aquecer,  precisamente,  os  pés  e  as  pernas,  prolongadamente, 
nas  lareiras, braseiras, escalfetas, botijas de água quente, etc. Muito mais que no Verão,
onde, pelo contrário, há a tendência de fugir para o fresco. Mas muito tempo com as
pernas ao sol quente também é prejudicial, naturalmente.

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Epidemiologia e fatores de risco

EPIDEMIOLOGIA  E  FATORES  DE  RISCO  


Sara  Correia,  Aida  Paulino,  Luís  Silveira  

EPIDEMIOLOGIA  
As   varizes   dos   membros   inferiores,   são   uma   patologia   muito   frequente   em   todo   o  
mundo,  que  têm  um  grande  impacto  nos  custos  aos  serviços  de  saúde,  tanto  diretos,  
que   resultam   do   diagnóstico   e   do   tratamento,   como   indiretos,   maioritariamente   os  
ligados   ao   absentismo   profissional.   Os   recursos   humanos,   técnicos   e   orçamentais  
necessários  para  permitir  o  tratamento  de  uma  patologia  tão  prevalente,  são  enormes.  
Sendo   a   doença   venosa   crónica   (DVC)   uma   patologia   historicamente   considerada  
ligeira  e  benigna,  numa  altura  de  contenção  orçamental  generalizada,  existem  países  
que  não  estão  a  oferecer  tratamento  a  todos  os  doentes  diagnosticados1.  
A  doença  venosa  crónica  é  muitas  vezes  desvalorizada,  enquanto  problema  importante  
de   saúde   pública,   apesar   da   evidência   científica   indicar   que   esta   atinge   uma   parte  
significativa  da  população,  provoca  morbilidade  considerável  e  afeta  negativamente  a  
qualidade   de   vida   dos   doentes.   Tanto   as   varizes   como   as   suas   complicações,  
nomeadamente   as   úlceras   venosas   e   tromboflebites,   têm   grande   interferência   na  
qualidade  de  vida  dos  doentes2.  
Pela   literatura   consultada,   verificamos   que   cerca   de   metade   dos   adultos   têm   alguns  
estigmas   de   doença   venosa,   50-­‐55   %   das   mulheres   e   40-­‐50   %   dos   homens,   mas   só  
cerca   de   metade   apresentam   varizes   visíveis   (20-­‐33   %   das   mulheres   e   10-­‐40   %   dos  
homens)3,  4.  
A  DVC  é  uma  patologia  progressiva  onde,  aproximadamente,  30%  dos  doentes  têm  um  
agravamento   de   duas   ou   mais   classes   CEAP   após   cinco   anos   sem   tratamento5.   Mas  
Labropoulos   verificou   que   1/3   dos   doentes   tinham   progressão   do   refluxo,   em   um   ou  
dois  escalões  de  CEAP,  e  em  95  %  começava  ou  evoluía  pelos  seis  meses,  o  que  quer  
dizer   que   doentes   que   esperam   pela   intervenção   cirúrgica   há   sete   meses   ou   mais,  
devem  ser  novamente  estudados6.  
Mota   Capitão   combinou   as   estimativas   de   prevalência   de   IVC   na   população,   obtidas  
num   estudo   prévio   em   45   mil   indivíduos,   com   os   dados   do   recenseamento  

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Epidemiologia e fatores de risco

populacional   de   1991,   para   obter   estimativas   de   prevalência   na   população   ajustadas  


por   idade   e   sexo.   Os   resultados   mostraram   que   a   prevalência   de   IVC,   varizes  
reticulares  e  tronculares  e  de  varizes  tronculares  é  de  20,  12  e  6  %  nos  homens  e  de  
40,  22  e  10  %  nas  mulheres.  A  prevalência  dos  graus  0,  1,  2  e  3  de  IVC  é  de  2,  10,  6  e  
3   %   nos   homens   e   de   4,   22,   12   e   4   %   nas   mulheres.   Os   antecedentes   de   tromboflebite  
e  trombose  venosa  profunda  têm  uma  prevalência  de  4,5  e  1,3  %  nos  homens  e  de  8,9  
e  1,5  %  nas  mulheres7.  
Um   estudo   coordenado   por   Fernandes   e   Fernandes,   em   2017,   mostra   que   em  
Portugal,  cerca  de  8  %  dos  doentes  se  reformam  antecipadamente  devido  à  DVC.  Este  
facto  é  ainda  mais  preocupante,  na  medida  em  que  a  DVC  está  presente  em  cerca  de  
1/3  da  população.  Cerca  de  sete  em  cada  dez  mulheres  com  mais  de  30  anos  sofre  de  
problemas   de   circulação   venosa   e   metade   não   está   tratada.   Os   dados   apontam   para  
dois  milhões  de  portuguesas  daquelas  idades,  que  sofrem  desta  doença4.  
O   estudo   prospetivo   San   Diego   Population   Study,   recolheu   informação   de   uma  
população   com   diversidade   étnica   de   2211   mulheres   e   homens.   Determinou   que   a  
incidência   da   DVC   superficial   era   mais   prevalente   em   doentes   hispânicos   (3,6   %),  
seguida  de  doentes  caucasianos  (2,6  %),  asiáticos  (1,5  %)  e  afro  americanos  (0,9  %) 8.  
A   doença   venosa   crónica   dos   membros   inferiores   é   uma   das   patologias   que   maior  
número  de  indivíduos  afeta  e,  embora  não  se  associe  a  mortalidade  ou  incapacidade  
significativa,  a  sua  repercussão  médico-­‐social  é  relevante.  Em  Portugal,  estima-­‐se  que  
cerca   de   1,5   %   das   consultas   de   clínica   geral   são   devidas   a   doença   venosa   dos  
membros  inferiores,  com  uma  média  anual  de  2,3  consultas  por  doente  e  uma  média  
de  32  tratamentos  por  doente  com  úlcera  venosa  crónica7.  
As  estimativas  dos  custos  anuais  totais  de  doença  venosa  crónica  (DVC),  variam  entre  
600  a  900  milhões  de  euros  nos  países  da  Europa  Ocidental  (representando  cerca  de  1-­‐
2%  do  orçamento  total  de  saúde).  Nos  EUA  calcula-­‐se  que  esse  valor  atinja  os  2,5  mil  
milhões  de  US  dólares2.  
A  prevalência  de  edema  e  alterações  cutâneas,  tais  como  hiperpigmentação  e  eczema,  
devido  a  DVC,  varia  entre  3  %  a  11  %  da  população.    
Quanto   às   úlceras   venosas,   alguns   autores   referem   uma   ocorrência   de   0,3   %   nos  
adultos,   em   países   ocidentais.   A   prevalência   de   úlceras   ativas   e   cicatrizadas  
combinadas  é  de  cerca  de  1%.  A  cicatrização  pode  ser  mais  demorada  nos  doentes  de  

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Epidemiologia e fatores de risco

classe   social   mais   baixa   e   nos   indivíduos   solteiros.   Mais   de   50%   das   úlceras   venosas  
necessitam  de  tratamento  por  um  período  superior  a  um  ano3.  
O   prognóstico   de   um   doente   com   úlcera   venosa   é   desanimador,   sendo   esta   uma  
condição  de  difícil  tratamento  e  sucessivas  recorrências4.  Também  o  seu  impacto  sócio  
económico  é  dramático,  com  estimativas  a  apontar  para  a  perda  de  2  milhões  de  dias  
de   trabalho   por   ano,   só   em   Portugal,   e   reforma   antecipada   em   mais   de   12%   dos  
doentes9.  
Os  medicamentos  venoativos  prescritos  representam,  também,  um  custo  considerável,  
estimando-­‐se   valores   de   63,2   milhões   €   em   Espanha;   25   milhões   €   na   Bélgica   e   457  
milhões  de  €  na  França.  Duas  análises  semelhantes  realizadas  na  Alemanha  e  na  França  
mostraram   que   quase   50   %   da   população   com   idade   superior   aos   15   anos   referiam  
problemas  venosos  e  destes,  90,3  %  compraram  um  medicamento  venoativo2.  
A   dimensão   em   que   a   DVC   afeta   a   qualidade   de   vida   dos   doentes   ganhou   uma   nova  
visibilidade   com   o   recente   trabalho   de   Sritharan   at   al,   que   descreveram   que   os  
doentes   com   varizes   sintomáticas,   têm   risco   de   depressão   muito   aumentado,  
comparado  com  a  população  em  geral10.  
Existe   uma   disparidade   acentuada   em   toda   a   Europa   entre   o   número   previsto   de  
doentes  com  veias  varicosas  que  necessitam  de  tratamento  e  os  cuidados  atualmente  
oferecidos,  com  o  Reino  Unido,  a  Finlândia   e  a  Suécia,  possivelmente,  “sobretratando”  
as  varizes.  No  entanto,  pode  ser  mais  rentável,  a  longo  prazo,  tratar  todos  os  doentes  
com  varizes,  para  prevenir   a  progressão  da  doença1,  opinião   com  a  qual   concordamos,  
em   absoluto.   Segundo   Ratcliffe11   “Para   doentes   com   varizes   não   complicadas   e  
evidência   de   refluxo   safeno-­‐femoral   ou   safeno-­‐popliteo,   o   tratamento   cirúrgico   para  
varizes   oferece   um   benefício   de   saúde   modesto,   para   relativamente   pouco   custo  
adicional  ao  NHS,  em  relação  ao  tratamento  conservador.”  

FATORES  DE  RISCO  


Quanto   aos   fatores   de   risco   para   o   aparecimento   de   varizes,   variam   consoante   os  
países  e  com  os  artigos,  com  exceção  da  idade,  gravidez  e  história  familiar.  

Idade  
Vários   estudos   vieram   demonstrar   que   a   prevalência   da   doença   venosa   crónica  

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Epidemiologia e fatores de risco

aumenta  com  a  idade.  As  varizes  são  muito  raras  em  crianças  até  14  anos.  A  partir  da  
puberdade   existe   um   aumento   progressivo   da   frequência   das   varizes   com   a   idade,  
chegando  a  atingir  mais  de  70%  das  pessoas  acima  de  70  anos.  A  prevalência  de  varizes  
em  homens  com  idades  entre  30  a  40  anos  é  de  cerca  de  3  %,  enquanto  que  na  faixa  
etária  acima  de  70  anos  pode  registar  valores  próximos  de  40  %.  Foram  encontrados  
resultados   semelhantes   em   mulheres,   uma   prevalência   de   20   %   na   idade   de   30   a   40  
anos,  que  aumenta  gradualmente  para  valores  superiores  a  50  %  na  faixa  etária  dos  70  
anos2.  Tanto  a  doença  venosa  severa  como  a  moderada  aumentam  com  a  idade12,  13.  

Sexo  
As  varizes  atingem  consideravelmente  mais  as  mulheres  do  que  os  homens,  chegando  
a   uma   proporção   de   duas   a   quatro   mulheres   para   cada   homem14.   No   entanto,  
Shafiuddin15,  na  série  que  estudou,  a  maioria  dos  doentes  eram  homens,  Carpentier16  
não   encontrou   diferenças   entre   os   sexos,   e   Fowkes17,   no   estudo   de   Edinburgh,   chegou  
à   mesma   conclusão,   mas   nas   mulheres   era   mais   frequente   refluxo   nas   veias  
superficiais  e  nos  homens  nas  veias  profundas.  Tanto  Criqui12  como  Fiebig14  chegaram  
à  conclusão  que  os  homens  têm  taxas  mais  elevadas  de  doença  grave.  

História  familiar  
A   hereditariedade   tem   forte   relação   com   a   presença   de   varizes12,   13.   Cornu18,   em  
trabalho   publicado   em   1994,   verificou   que   o   risco   das   crianças   desenvolverem   varizes,  
foi  de  90%  quando  ambos  os  pais  sofriam  desta  doença,  25%  para  os  homens  e  62%  
para   as   mulheres   quando   um   dos   pais   era   afetado,   e   20%   quando   nenhum   dos   pais  
tinha  varizes.  

Obesidade  
A   obesidade   foi   considerada   um   fator,   independente,   para   o   desenvolvimento   de  
varizes   pela   maior   compressão   abdominal,   dificultando   o   retorno   do   sangue   dos  
membros   para   o   coração,   dilatando   assim   as   veias   daqueles5.   Fowkes17   encontrou  
associação  do  aumento  de  peso  com  aumento  do  refluxo,  nos  homens,  e  Criqui12  entre  
a   medida   do   perímetro   da   cintura   e   a   existência   de   doença   venosa   grave.   Fiebig14  
verificou   que   analisando   dois   fatores   de   variância,   sexo   e   grau   CEAP,   ambos   tiveram  

72
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Epidemiologia e fatores de risco

um  efeito  significativo  sobre  o  IMC.  No  entanto,  vários  autores  chegaram  à  conclusão  
que  a  prevalência  de  varizes  é  semelhante  nos  obesos  e  não  obesos3,  19.  

Gravidez  
As  varizes  surgem  com  grande  frequência  já  no  início  da  gravidez,  devido  aos  fatores  
hormonais  e  posteriormente  devido  a  compressão  pelo  aumento  do  útero.  Num  certo  
número   de   mulheres,   especialmente   na   primeira   gestação,   essas   varizes   tendem   a  
desaparecer   após   o   parto.   Entretanto,   em   outras   mulheres,   possivelmente   devido   a  
uma   predisposição   genética,   as   varizes   não   desaparecem   ou   voltam   após   o   parto,  
aumentando   em   gestações   subsequentes.   Alguns   autores,   nomeadamente   Maffei20,  
encontraram   correlação   positiva   entre   prevalência   de   varizes   e   número   de  
gravidezes13,  21.  Este  tema  é  objeto  de  um  capítulo  deste  livro.  

Anticoncecionais  orais  
O  uso  de  hormonas  parece  aumentar  o  desenvolvimento  das  varizes  e  aumenta  o  risco  
de  trombose  venosa.  Noutros  estudos,  os  autores  encontraram  menor  tendência  para  
DVC17.  

Hábitos  de  vida  


A   falta   de   exercício   físico   é   um   dos   fatores   de   risco,   é   preconizada   a   prática   de  
desporto  adequado,  sendo  a  marcha  a  pé  a  atividade  mais  benéfica,  e  alguns  autores  
valorizam  a  marcha  após  várias  horas  de  trabalho  sentado12.  
A   maior   parte   dos   trabalhos   não   encontrou   relação   entre   o   risco   de   varizes   e   a  
ingestão  de  alimentos  com  fibras12,  17.  

Tabagismo  
Entre   os   homens,   com   DVC   era   mais   provável   que   fumassem   e   tivessem   menor  
atividade   física   que   os   doentes   sem   DVC.   Foi   sugerido   que   o   controlo   dos   fatores   de  
risco  cardiovascular  não  só  preveniam  doença  cardíaca,  como  também  potencialmente  
reduziam  a  incidência  de  DVC,  mas  não  é  opinião  da  maioria  dos  autores17.  Em  outros  
artigos,   verificou-­‐se   relação   direta   entre   o   número   de   cigarros   fumados   por   dia   e   a  
existência  de  doença  venosa  grave12.

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Epidemiologia e fatores de risco

Postura  no  trabalho  e  anos  de  profissão  


O   papel   da   postura   durante   o   trabalho   no   aparecimento   das   varizes   é   ainda   muito  
controverso.  Alguns  estudos  sugerem  uma  maior  predisposição  para  varizes,  naqueles  
que   trabalham   a   maior   parte   do   tempo   em   pé   ou   sentados   do   que   naqueles   que  
trabalham  andando13,  15,  16.  Outros  não  encontram  diferenças  relacionáveis  com  o  tipo  
de   profissão17,   20,   quer   em   mulheres   ou   homens.   Em   profissões   que   habitualmente  
trabalham   em   pé,   o   número   de   anos   de   trabalho   é   fator   de   risco   para   varizes13   e  
Carpentier   encontrou   associação   com   alto   risco   de   varizes   nos   homens   com   trabalho  
não  qualificado16.  

Sentados  com  a  perna  cruzada  


Segundo  Erding13,  as  pessoas  que,  muito  frequentemente,  “descansam”  com  as  pernas  
cruzadas,  têm  risco  acrescido  de  vir  a  ter  varizes.  

A   maior   parte   dos   autores   não   encontrou   relação   significativa   entre   a   ingestão   de  
fibras,   hábitos   intestinais   ou   problemas   gastrointestinais,   exercício   físico   regular   e  
roupa  apertada  e  a  existência  de  varizes12  ou  quanto  ao  tipo  de  profissão,  manual  ou  
não17,  mas  Criqui12  verificou  que  a  doença  moderada,  nos  homens,  se  relacionava  com  
operação  prévia  a  hérnia  inguinal,  pé  chato  e  hipertensão  arterial,  e,  na  mulher,  com  
número   de   horas   em   pé,   lesão   prévia   da   perna   e   história   de   doença   cardiovascular.  
Outros   verificaram   que   o   exercício   físico   e   o   uso   de   meias   elásticas,   bem   como   o  
descanso  com  as  pernas  elevadas,  são  fatores  protetores  de  doença  venosa5,  13.  

72  
74
Epidemiologia e fatores de risco

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74  
A classificação CEAP

A  CLASSIFICAÇÃO  CEAP  
Luís  Filipe  Pinheiro  

A   doença   venosa   crónica   (DVC)   é   uma   entidade   patológica   comum,   relacionada   com  
alterações  anatómicas  e  funcionais  do  sistema  venoso  dos  membros  inferiores,  e  que  
inclui   a   presença   de   varizes,   alterações   cutâneas,   edema,   úlcera   cutânea   e   sintomas  
físicos  relacionados  como  a  fadiga,  cãibra,  prurido  e  dor.  
A  falta  de  uniformização  quanto  à  sua  classificação  e  estadiamento,  no  que  respeita  às  
suas   formas   de   apresentação,   levou   a   que   um   grupo   de   especialistas   há   muito  
interessados   por   esta   doença,   criassem   um   método   inspirado   no   TNM,   usado   para   a  
classificação   dos   tumores   malignos,   que   permitisse   utilizar   uma   linguagem   comum   e  
perceptível,   e   protocolar   o   seu   estudo   e   tratamento.   Esta   metodologia   permite,  
naturalmente,   um   intercâmbio   de   conceitos   e   dados,   utilizando   uma   linguagem  
comum,   o   que   antes   se   encontrava   dificultado   pela   diversidade   de   designações  
diferentes  e  esparsas  utilizadas  para  caracterizar  a  mesma  entidade.  

A  origem  da  classificação  CEAP  


Durante  a  quinta  reunião  do  American  Venous  Forum,  em  1993,  John  Porter  sugeriu  a  
criação   de   um   sistema   de   classificação   de   doenças   venosas.   Na   sexta   reunião,   em  
Fevereiro  de  1994,  foi  então  efectuada  uma  reunião  de  consenso,  na  qual  um  comité  
ad   hoc   internacional,   presidido   por   Andrew   Nicolaides   e   com   representantes   da  
Austrália,   Europa   e   Estados   Unidos,   desenvolveu   o   primeiro   documento   sobre   a  
classificação  CEAP.  Nesta  altura,  esta  integrava  duas  partes:  uma  classificação  de  DVC  e  
um  sistema  de  pontuação  de  gravidade.  A  classificação  baseava-­‐se  em  manifestações  
clínicas   (C),   a   factores   etiológicos   (E),   a   distribuição   anatómica   da   doença   (A)   e   a  
fisiopatologia  subjacente  (P),  ou  CEAP.  O  sistema  de  pontuação  da  gravidade  baseou-­‐
se   em   três   elementos:   número   de   segmentos   anatómicos   afectados,   severidade   dos  
sintomas   e   incapacidade.   Esta   declaração   de   consenso   do   CEAP   foi   publicada   em   26  
revistas   e   livros,   em   nove   línguas,   incluindo   o   português,   tornando-­‐se,  
verdadeiramente,   um   documento   universal   para   a   caracterização   e   classificação   da  

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A classificação CEAP

doença  venosa  crónica.  


Após  esta  primeira  abordagem,  este  método  de  classificação  foi  alvo  de  várias  revisões  
e   actualizações,   sendo   que   a   primeira   teve   lugar   em   Paris,   cinco   anos   mais   tarde  
(1998),   promovida   por   Perrin,   e   a   última   em   2004   onde   se   definiram   mais  
discriminadores   nas   várias   categorias.   Foi   também   acordada   a   necessidade   de  
estabelecer  uma  classificação  CEAP  básica  e  avançada.  
Assim,  definiram-­‐se  os  aspectos  a  considerar  em  C,  procurando  utilizar  a  terminologia  
que  vinha  sendo  usada  nas  manifestações  locais  da    DVC:  
Atrofia   branca   –   Manchas   esbranquiçadas   na   pele   das   extremidades   inferiores,  
rodeadas  por  dilatações  capilares  venosas  por  vezes  hiperpigmentadas;  
Corona  flebectásica  (“ankle  flair”)  –  “Aranhas”  vasculares  venosas  na  face  interna  do  
tornozelo   e   bordo   do   pé,   com   alguma   coloração   azulada   da   pele,   normalmente  
conotadas  como  um  sinal  de  insuficiência  venosa;  
 Eczema   –   Lesões   de   dermatite   na   vizinhança   de   trajectos   venosos,   que   podem  
acompanhar-­‐se  de  bolhas  com  prurido  e  irritação  cutânea,  por  vezes  relacionada  com  
a  utilização  inadequada  de  agentes  terapêuticos  locais;  
Edema  –  Deposição  de  líquido  no  tecido  celular  subcutâneo  por  hipertensão  venosa;  
Lipodermatoesclerose   –   Inflamação   crónica   da   pele   e   do   tecido   celular   subcutâneo,  
associada  a  retracções  cicatriciais  por  episódios  inflamatórios  recorrentes,  conferindo  
ao  membro  afectado  o  aspecto  de  uma  garrafa  de  champanhe  invertida;  
Pigmentação   –   Depósitos   cutâneos   de   óxido   ferroso,   resultantes   do   extravasamento  
de   sangue   por   hipertensão   capilar,   normalmente   localizados   no   terço   inferior   da  
perna;  
Variz  reticular  –  Veia  dilatadas  e  tortuosas  sub-­‐dérmicas,  de  calibre  inferior  a  3  mm;      
Telangiectasia   –   Veias   intradérmicas   confluentes   de   coloração   azulada   ou  
avermelhada,   de   calibre   menor   que   1   mm   e   por   vezes   designadas   popularmente   por  
“derrames”  ou  aranhas”;  
Veia  varicosa  ou  variz  –  Dilatação  de  veia  subcutânea  superior  a  3  mm  quando  medida  
em  ortostatismo,  podendo  ou  não  ser  tortuosa;  
Úlcera   venosa   –   Ferida   crónica   em   toda   a   espessura   cutânea   sem   cicatrização  
espontânea,   normalmente   localizada   à   região   supra-­‐maleolar   interna,   sem   outra  
etiologia  identificada  para  além  da  doença  venosa  crónica.    

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A classificação CEAP

Classificação  clínica  
C0  –  Sem  sinais  visíveis  ou  palpáveis  de  doença  venosa  
C1  –  Telangiectasias  ou  veias  reticulares  
C2  –  Varizes  (superiores  a  3mm)  
C3  –  Edema  
C4  –  Alterações  cutâneas  
C4a  -­‐  Pigmentação  ou  eczema  
C4b  -­‐  Lipodermatoesclerose  ou  atrofia  branca  
C5  –  Úlcera  cicatrizada  
C6  –  Úlcera  activa  
Cada   classe   clínica   é   depois   caracterizada   pela   presença   (S)   ou   ausência   (A)   de  
sintomas.  Por  exemplo  C3A  ou  C5S.  
Nesta   última   revisão   de   2004   foram   também   definidos   os   discriminadores   para   as  
restantes   classificações   (E,   A   e   P),   refinando   assim   a   classificação,   objectivando   os  
aspectos  relevantes  na  apresentação  da  doença:  

Classificação  Etiológica:  
Ec  –  Congénita  
Ep  –  Primária  
Es  –  Secundária  (pós-­‐trombótica)  
En  –  Sem  causa  identificada  

Classificação  Anatómica:  
As  –  Veias  superficiais  
Ap  –  Veias  perfurantes  
Ad  –  Veias  profundas  (deep)  
An  –  Sem  identificação  precisa  

Classificação  Fisiopatológica:  
Pr    –  Refluxo  
Po    –  Obstrução  
Pr,o  –  Refluxo  e  Obstrução  
Pn    –  Fisiopatologia  não  determinada  

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A classificação CEAP

CEAP  avançado  
À   classificação   básica   CEAP   pode   adicionar-­‐se   a   designação   avançada   quando  
pretendemos   caracterizar   ainda   melhor   a   doença   venosa,   referindo   com   precisão   os  
segmentos  venosos  envolvidos,  e  estudados  com  recurso  a  ecoDoppler  a  cores.  
Veias  Superficiais  
1. Telangiectasia/veias  reticulares
2. Grande  veia  safena  supra-­‐genicular
3. Grande  veia  safena  infra-­‐genicular
4. Pequena  veia  safena
5. Outras  veias
Veias  Profundas  
6. Veia  cava  inferior
7. Veia  ilíaca  comum
8. Veia  ilíaca  interna
9. Veia  ilíaca  externa
10. Veias  pélvicas
11. Veia  femoral  comum
12. Veia  femoral  profunda
13. Veia  femoral  superficial
14. Veia  popliteia
15. Crural:  tibial  anterior,  tibial  posterior,  peroneal
16. Veias  musculares:  perfurantes  dos  gémeos,  veias  soleares
Veias  Perfurantes  
17. Coxa
18. Perna

Este   método   de   estadiamento   da   doença   permitiu   também   definir   melhor   os  


requisitos   para   o   seu   diagnóstico   preciso,   e   recomendações   para   a   sua   terapêutica.  
Assim   foram   definidos   três   níveis   de   requisitos   diagnósticos   consoante   a  
complexidade,   passando   a   integrar   a   designação   na   classificação   final,   o   nível   (L)   de  
requisito  diagnóstico  (LI,  LII,LIII):  
.   Nível   I   -­‐   Apenas   consulta   médica   contemplando   história   clínica,   exame   físico   e  

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78  
A classificação CEAP

eventualmente  doppler  contínuo  ou  ecoDoppler  (C0  e  C1)  


.    Nível  II  -­‐    Exames  vasculares  não  invasivos.  Ecodoppler  obrigatório  (C2  e  C3)  
.   Nível   III   -­‐   Exames   mais   complexos,   que   podem   compreender   a   pressão   venosa   em  
ambulatório,  flebografia,  varicografia,  TAC  e  RMN  (C4,  C5,  C6)  

CEAP  -­‐  Um  processo  dinâmico  


Dado   que   a   DVC   é   um   processo   dinâmico,   não   faria   sentido   efectuar   uma   classificação  
inicial   do   doente   na   primeira   observação,   sem   rever   essa   mesma   classificação   nas  
observações   subsequentes,   e   após   instituição   da   terapêutica   julgada   necessária.  
Portanto,   a   doença   deverá   ser   sempre   re-­‐classificada   após   cada   visita   médica,  
referindo  a  data  do  exame  na  classificação.  

CEAP  –  Resumo  
Em  resumo,  e  a  título  de  exemplo,  apresenta-­‐se  um  doente  que  no  dia  25  de  Maio  de  
2017  se  apresenta  para  consulta  com:  
.  Varizes,  dor  e  edema  da  perna,  lipodermatoesclerose,  úlcera  activa;  
.  EcoDoppler  em  25/5/2017-­‐  refluxo  na  GS  acima  e  abaixo  do  joelho,  perfurante  da  
perna  insuficiente,  refluxo  na  femoral  e  popliteia;  
.  Sem  sinais  de  obstrução.  

CEAP  básico:              C6s,Ep,As,p,d,Pr  

CEAP  avançado:    C2,3,4b,6s,Ep,As,p,d,Pr  2,3,18,13,14  (25/5/2017),  LII  

81
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A classificação CEAP

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82
80  
Clínica: sintomas e sinais

CLÍNICA:  SINTOMAS  E  SINAIS  


Beatriz  Mourato,  Nuno  Pratas,  João  Magro  

Introdução  
A  doença  venosa  crónica  dos  membros  inferiores  é  a  patologia  vascular  mais  comum  
na   atualidade,   referindo-­‐se   à   presença   de   alterações   morfológicas   ou   funcionais   de  
longa  duração  dos  sistemas  venosos  dos  membros  inferiores.  As  varizes  dizem  respeito  
à   dilatação,   ingurgitamento   ou   tortuosidade   das   veias   superficiais   dos   membros  
inferiores1.    
Para  o  seu  correto  diagnóstico  é  fundamental  proceder  a  uma  história  clínica  completa  
e   um   exame   objetivo   cuidado,   podendo   ser   auxiliado   por   testes   funcionais   e   pela  
realização  do  ecoDoppler  venoso  dos  membros  inferiores.    
Deste  modo,  existe  todo  um  espectro  de  sinais  e  sintomas  que  podem  estar  associados  
a  esta  patologia  e  que  irão  ser  explanados  neste  capítulo.    

História  clínica  e  exame  objetivo  


A   realização   da   história   clínica   do   doente   com   patologia   venosa   crónica,   deve   ser  
cuidada   e   minuciosa,   devendo   o   médico   apurar   além   dos   sinais   e   sintomas   que  
motivam  a  consulta,  os  antecedentes  médicos  e  cirúrgicos  do  doente,  a  sua  medicação  
habitual,   a   história   familiar,   os   fatores   de   risco   para   existência   de   doença   venosa  
crónica  e  o  impacto  que  a  mesma  tem  na  qualidade  de  vida  do  doente2.    

Antecedentes  pessoais  
Assim,   em   relação   aos   antecedentes   pessoais,   é   importante   apurar   a   existência   de  
complicações   da   doença   venosa,   como   eventos   tromboembólicos,   flebites,   síndrome  
pós-­‐trombótica,   bem   como   a   presença   de   doença   cardiovascular,   doença   arterial  
periférica,   diabetes   mellitus,   artrite,   doença   hepática,   doença   renal,   doenças  
endócrinas,  doenças  autoimunes,  doenças  inflamatórias  sistémicas  ou  neoplasias,  que  
possam   fazer   diagnóstico   diferencial   com   alguns   dos   sinais   e   sintomas   da   doença  
venosa  crónica.1,  3    

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O   doente   deve,   também,   ser   questionado   relativamente   aos   seus   antecedentes  


cirúrgicos,   nomeadamente   intervenções   cirúrgicas   vasculares   e   ortopédicas   sobre   os  
membros  inferiores.    

Medicação  habitual  
A  medicação  habitual  do  doente  deve  ser  registada,  com  particular  interesse  para  os  
fármacos   anticoagulantes,   contracetivos   orais,   medicação,   anti-­‐inflamatórios   não  
esteroides,  antidiabéticos  orais  ou  bloqueadores  dos  canais  de  cálcio.4  

Antecedentes  familiares  
Na  história  familiar,  importa  questionar  o  doente  acerca  de  outros  membros  da  família  
com   doença   venosa   crónica   ou   complicações   desta.   Deve   também   ser   esclarecida   a  
presença  de  trombofílias4.  

Sintomas  frequentes  
As  queixas  mais  frequentes  associadas  à  existência  de  varizes  dos  membros  inferiores  
são   a   dor,   em   resultado   da   distensão   venosa,   e   que   pode   ser   generalizada   ou  
circunscrita   a   uma   área   de   varicosidades,   lipodermatoesclerose   ou   ulceração,   a  
sensação  de  cansaço  ou  peso  agravada  pelo  ortostatismo  prolongado  ou  pela  posição  
de  sentado  com  pernas  pendentes  e  que  alivia  com  a  elevação  dos  membros  inferiores  
e  com  a  marcha.    
O  edema  dos  membros  inferiores  também  é  um  dos  sinais  e  sintomas  mais  frequentes  
desta  patologia,  presente  em  25  a  75  %  dos  doentes.  Agrava  em  ortostatismo  ao  longo  
do  dia  e  diminui  com  a  elevação  do  membro.  O  edema,  geralmente,  inicia-­‐se  ao  nível  
do   tornozelo   e   pé   e   estende-­‐se,   progressivamente,   para   a   perna   à   medida   que   se  
agrava,  devido  à  acumulação  de  fluido  extravascular  nos  membros  inferiores.  Quando  
unilateral,   é   sugestivo   da   etiologia   venosa,   contudo   a   presença   de   edema   bilateral   não  
exclui  esta  patologia.    
Outras   queixas   referidas   são   a   sensação   de   picada,   fadiga   generalizada,   cãibras,  
parestesias,  prurido  ou  varicorragia,  geralmente  controlada  pela  aplicação  de  terapia  
compressiva5.  

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Exame  objetivo  -­‐  Sinais  


O   exame   objetivo   é   essencial   para   o   diagnóstico   e   para   a   abordagem   da   doença  
varicosa   dos   membros   inferiores.   Assim   o   doente   deve   ser   submetido   a   um   exame  
objetivo   completo,   embora   o   maior   enfoque   seja   na   avaliação   do   estado   venoso   dos  
membros  inferiores.    O  doente  deve  ser  avaliado  em  decúbito  e  em  ortostatismo,  onde  
se  pretende  obter  maior  distensão  venosa6.    
Deve   ser   feita   a   inspeção,   palpação   e   percussão   dos   membros   inferiores,   de   forma   a  
identificar6:    
-­‐   Telangiectasias:   correspondem   a   uma   confluência   de   vénulas   intradérmicas  
dilatadas,  mas  com  <1  mm  de  diâmetro  (Fig.  1).  O  matting  corresponde  normalmente  
a  vasos  finos  e  avermelhados  com  <0,2  mm  que  se  podem  desenvolver  após  qualquer  
tratamento  venoso  (p.e.  laser,  escleroterapia,  stripping);  

Fig.  1  –  Telangiectasias.  

-­‐   Veias   reticulares:   são   veias   subdérmicas   dilatadas,   de   1   a   3   mm   de   diâmetro,  


geralmente  tortuosas  (Fig.  2);  

Fig.  2  –  Veias  reticulares.  

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Clínica: sintomas e sinais

-­‐   Veias   varicosas.   São   veias   dilatadas   subcutâneas   com   >3   mm   de   diâmetro.   Podem  
envolver  veias  safenas,  tributárias,  ou  outras  veias  superficiais  (Fig.  3);  

Fig.  3-­‐  Veias  varicosas.  

-­‐  Tromboflebite:  Existência  de  sinais  inflamatórios  num  determinado  território  venoso  
superficial,    doloroso  à  palpação  (Fig.  4);  

Fig.  4  –  Tromboflebite.  

-­‐   Edema:   Deve-­‐se   ao   aumento   no   volume   de   líquido   intersticial   na   pele   e   no   tecido  


celular  subcutâneo;  
-­‐   Corona   phlebectatica:   Corresponde   à   presença   de   inúmeras   veias   intradérmicas   na  
região  medial  ou  lateral  do  pé  ou  do  tornozelo  (Fig.  5)7;  

Fig.  5  –  Corona  phlebectatica.  

-­‐  Hiperpigmentação:  Coloração  acastanhada  ou  acinzentada  que  se  deve  à  deposição  
de   hemossiderina   proveniente   da   degradação   dos   eritrócitos   que   extravasam   para   o  

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espaço  extravascular.  Ocorre  geralmente  na  região  peri-­‐maleolar,  podendo  estender-­‐


se  proximal  ou  distalmente  (Fig.  6);    

Fig.  6  –  Hiperpigmentação.  

-­‐   Lipodermatoesclerose:   Corresponde   a   uma   inflamação   crónica   com   fibrose   e  


“engrossamento”   da   pele   e   tecidos   subcutâneos.   Pode   também   associar-­‐se   à  
contractura   do   tendão   de   Aquiles.   Por   vezes   é   precedido   por   edema   inflamatório  
difuso  da  pele  que  pode  ser  doloroso  (Fig.  7);    

Fig.  7  –  Lipodermatoesclerose.  

-­‐  Atrofia  branca  (Atrophie  blanche):  É  uma  zona  circular  ou  estrelada  de  cor  de  marfim  
localizada  cercada  por  capilares  dilatados  ou  hiperpigmentação.  É  um  sinal  de  doença  
venosa   crónica   grave,   que   surge   espontaneamente   e   não   deve   ser   confundida   com  
uma  cicatriz  de  úlcera  cicatrizada  (Fig.  8);  

Fig.  8  –  Atrofia  branca.  

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Clínica: sintomas e sinais

-­‐   Úlcera   venosa:   As   úlceras   venosas   são   defeitos   de   espessura   total   da   pele,  
localizando-­‐se,  frequentemente,  na  região  maleolar  interna.  Podem  ocorrer,  também,  
ao   nível   do   maléolo   externo   e   proximalmente   ao   tornozelo   ou   tornar-­‐se  
circunferenciais,  mas  não  ocorrem  na  região  plantar  nem  acima  do  joelho.  Podem  ser  
múltiplas  ou  únicas  e  geralmente  são  exsudativas,  planas,  com  bordos  irregulares,  mas  
bem  delimitados  (Fig.  9).  

Fig.  9  –  Úlcera  venosa.  

Testes  funcionais  
A   facilidade   de   acesso   ao   ecoDoppler   venoso   tem   vindo   a   tornar   menos   frequente   a  
realização   de   testes   funcionais   durante   o   estudo   do   doente.   Contudo,   a   realização  
destes  testes  pode  auxiliar  o  diagnóstico  e  determinação  do  segmento  afetado.    
O  teste  clássico  de  Brodie-­‐Trendelenburg  permite  distinguir  entre  refluxo  do  sistema  
superficial   ou   profundo.   Para   o   executar,   o   doente   deve   estar   em   decúbito   dorsal,   é  
feita  a  elevação  do  membro  inferior  e  aplicado  um  garrote  ou  pressão  manual  sobre  as  
veias   do   sistema   superficial,   a   5   cm   da   virilha.   Posteriormente,   o   doente   assume   a  
posição   ortostática   e,   na   presença   de   refluxo   do   sistema   superficial,   as   veias   deste  
sistema   irão   levar   mais   de   20   segundos   para   ficar   ingurgitadas,   progredindo   esta   de  
baixo   para   cima,   caso   a   compressão   esteja   a   ser   feita   proximalmente   ao   ponto   de  
refluxo.   A   libertação   do   garrote   ou   da   compressão   manual   irá   levar   a   um  
preenchimento   venoso   rápido,   mas   o   sentido   é   de   cima   para   baixo.   Na   presença   de  
refluxo  do  sistema  profundo  (ou  combinado)  existirá  um  preenchimento  venoso  rápido  
apesar   da   aplicação   do   garrote   ou   da   compressão   manual8,   no(s)   local(is)   daquele  
refluxo.    
O  teste  de  Perthes  avalia  a  insuficiência  das  veias  perfurantes.  À  semelhança  do  teste  
anterior,   é   aplicado   um   garrote   quando   o   doente   eleva   o   membro   na   posição   de  

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Clínica: sintomas e sinais

decúbito,   mas   posteriormente   o   doente   deve   deambular   durante   cinco   minutos.   O  


ingurgitamento  venoso  abaixo  do  nível  de  aplicação  do  garrote  traduz  a  existência  de  
uma   veia   perfurante   insuficiente8.   Pode   ser   repetido   colocando   o   garrote   a   vários  
níveis.  

Diagnóstico  diferencial  
A   lista   de   diagnósticos   diferenciais   da   doença   venosa   crónica   é   extensa,   pois   como  
vimos  a  sua  forma  de  apresentação  é  bastante  variável.  Contudo,  existem  diagnósticos  
que   pela   sua   gravidade   devem   ser   ressaltados   como   é   o   caso   da   trombose   venosa  
profunda   e   das   causas   sistémicas   de   edema,   como   insuficiência   cardíaca,   síndrome  
nefrótica,   doença   hepática,   doenças   endócrino-­‐metabólicas,   doenças   autoimunes   e  
inflamatórias   sistémicas,   neoplasias   e   metastização.   Devemos   ainda   ter   em  
consideração  os  efeitos  secundários  da  medicação  habitual  do  doente.    
Outros   diagnósticos   diferenciais   incluem   a   rotura   de   quisto   popliteo,   hematomas   ou  
massas   de   tecidos   moles   e   o   linfedema.   A   hiperpigmentação   cutânea   e   a  
dermatoesclerose   poderão   ser   secundarias   a   doenças   como   dermatite,   mixedema,  
necrobiosis   diabeticorum.   A   ulceração   crónica   pode   dever-­‐se   a   doença   arterial  
periférica,   fistulas   artério-­‐venosas,   neuropatia   periférica,   vasculite,   artrite   reumatoide,  
discrasias   hemorrágicas,   infeções,   pioderma   gangrenosoum,   neoplasia,   trauma   ou  
múltiplas  outras  etiologias5.  

Qualidade  de  vida  


A  avaliação  da  qualidade  de  vida  nos  doentes  com  doença  venosa  crónica  é  um  ponto  
fundamental,  pois  a  maioria  dos  estudos  realizados  acerca  deste  tema,  revela  que  os  
doentes  apresentam  uma  diminuição  da  qualidade  de  vida,  que  se  traduz  não  apenas  
em   limitações   na   atividade   diária,   mas   também   na   afeção   psicológica   causada   pela  
patologia   e   pelas   suas   complicações10,   11.   Para   esta   avaliação   existem   instrumentos  
como   a   escala   36-­‐item   Short   Form   Health   Survey   (SF-­‐36),   Aberdeen   Varicose   Vein  
Questionnaire   (AVVQ),   CIVIQ   2   –   Venous   Quality   of   Life   Questionnaire,   Venous  
Insufficiency  Epidemiologic  and  Economic  Study  (VEINES-­‐QoL),  Venous  Clinical  Severity  
Score  (VCSS)  e  o  Venous  Disability  Score  (VDS)12,  13.    

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Clínica: sintomas e sinais

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

 
 
ECODOPPLER  NA  AVALIAÇÃO  DA  DOENÇA  VENOSA  CRÓNICA  
Ana  Lourenço,  Mariana  Lima  e  Ângela  Marques  
 
Considerações  práticas  
A   doença   venosa   crónica   é   uma   patologia   muito   frequente   nos   países   ocidentais,  
inclusivamente   em   Portugal,   condicionando   incapacidade   laboral   e   consequente  
consumo   elevado   dos   recursos   de   saúde.   Apesar   do   avanço   crescente   da   Radiologia,   o  
ecoDoppler  continua  a  ser  um  método  complementar  de  diagnóstico  fundamental  na  
avaliação   da   morfologia   e   padrão   hemodinâmico   das   veias   dos   membros   inferiores,  
sendo,   atualmente,   o   exame   de   eleição   no   diagnóstico   e   seguimento   da   doença  
vascular  crónica.  
   
  Indicações  
O  principal  objetivo  do  estudo  ecoDoppler  dos  membros  inferiores  é  orientar  a  decisão  
terapêutica.  Para  tal,  é  necessária  a  correta  deteção  e  caracterização  da(s)  causa(s)  da  
insuficiência   venosa,   pois   a   sua   incorreta   identificação   associa-­‐se   a   uma   taxa   de  
recorrência   pós-­‐terapêutica   mais   elevada   e   mais   precoce,   quer   nas   abordagens  
cirúrgicas   quer   nas   técnicas   não   cirúrgicas   minimamente   invasivas.   O   exame  
ecoDoppler  venoso  dos  membros  inferiores  deve  ser  efetuado  no  contexto  de  doença  
venosa   crónica   (DVC)   para   localização   dos   pontos   de   refluxo   nas   varizes   primárias,  
estudo   de   recidiva   pós-­‐terapêutica   e   em   doentes   com   complicações   (ex.   úlceras  
cutâneas).  
 
  Equipamento  
É  necessário  um  ecógrafo  com  Modo-­‐B,  Doppler  a  cores  e  pulsado,  sonda  linear  de  alta  
frequência   (7,5-­‐12   MHz),   sonda   convexa   (3,5-­‐5   MHz)   (para   avaliação   do   sistema  
venoso   profundo,   especialmente   em   doentes   com   edema   significativo   dos   membros  
ou  obesos)  e  um  sistema  de  registo  de  imagens.    

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

No   modo-­‐B   o   foco   deverá   ser   direcionado   para   o   vaso   a   estudar   e   os   ganhos  


otimizados   de   forma   a   manter   o   lúmen   anecogénico   (na   ausência   de   trombose   ou  
fluxo  muito  lento).    
No  estudo  Doppler  pulsado  e  colorido,  deve  manter-­‐se  um  ângulo  de  insonação  entre  
45-­‐60°   entre   a   sonda   e   o   lúmen   do   vaso   e   devem-­‐se   usar   velocidades   baixas  
(normalmente  entre  os  5-­‐10  cm/s).  
 
  Exame  objetivo  
Para   que   o   estudo   seja   o   mais   dirigido   possível,   é   fundamental   avaliar   as   queixas   do  
examinado,   o   padrão   de   distribuição   cutânea   das   varizes   e   os   antecedentes   cirúrgicos.  
A   DVC   compreende   um   conjunto   de   sinais   e   sintomas   que   abrange   desde   as  
telangiectasias  às  úlceras  cutâneas.  Em  1994,  foi  apresentado  um  sistema  de  consenso  
internacional   –   CEAP   (Clinical-­‐Etiology-­‐Anatomy-­‐Pathophysiology)   com   o   objetivo   de  
aumentar  a  consistência  na  descrição  e  classificação  da  DVC.  Este  sistema  baseia-­‐se  na  
criação   de   um   score   individual   através   da   avaliação   de   quatro   parâmetros:  
manifestações   clínicas,   fatores   etiológicos,   padrão   de   distribuição   anatómica   e  
patofisiologia.  Em  2004,  este  sistema  sofreu  algumas  modificações  passando  a  incluir,  
nomeadamente,  a  referência  à  realização  de  estudo  ecoDoppler.  
 
  Protocolo  técnico  
Inicialmente  o  procedimento  deve  ser  explicado  ao  doente.    
O   examinado   deverá   posicionar-­‐se   em   ortostatismo,   idealmente   apoiando   o   peso   do  
corpo  no  membro  contralateral,  embora  mantendo  ambos  os  calcanhares  apoiados  no  
chão   (para   assegurar   o   máximo   de   distensão   venosa),   com   a   perna   a   avaliar   em  
rotação   externa   e   joelho   ligeiramente   fletido.   Para   uma   correta   avaliação   da  
competência   venosa   são   essenciais   as   manobras   de   compressão   muscular   distal   que  
aumentam   o   retorno   venoso,   seguidas   de   descompressão   que   acentuam   o   refluxo  
venoso   na   presença   de   válvulas   incompetentes.   Caso   não   seja   possível   realizar   estas  
manobras,  poderá  recorrer-­‐se  à  manobra  de  Valsalva.    
O  exame  é  iniciado  com  o  estudo  em  modo-­‐B,  que  permite  localizar  os  vasos  a  estudar.  
Os   cortes   axiais   (menor   eixo   do   vaso)   facilitam   a   identificação   da   anatomia   e  
morfologia   venosas   e   a   identificação   de   possíveis   trombos   endoluminais,   sendo   os  

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

cortes   longitudinais   (maior   eixo   do   vaso)   essenciais   para   a   avaliação   de   refluxo.   O  


estudo  com  Doppler  colorido  permite  uma  análise  rápida  do  sentido  do  fluxo  venoso,  
sendo  que,  por  convenção  no  estudo  da  DVC,  a  cor  azul  traduz  fluxo  que  se  afasta  da  
sonda  e  o  encarnado  fluxo  que  se  aproxima  da  sonda.  Contudo,  para  quantificação  do  
refluxo   é   essencial   o   recurso   ao   Doppler   pulsado.   O   cursor   da   amostra   de   volume   a  
analisar  pode  ser  posicionado  em  qualquer  ponto  ao  longo  do  eixo  do  vaso  e  a  escala  
de  velocidade/frequência  deve  ser  ajustada  (geralmente  para  5–10  cm/s).    
O   refluxo   venoso   corresponde   a   fluxo   com   sentido   inverso   ao   fisiológico,   geralmente  
considerado  com  duração  superior  a  0,5  segundos,  na  avaliação  do  sistema  superficial  
e   perfurantes,   e   superior   a   um   segundo   na   avaliação   do   sistema   venoso   profundo,  
embora   não   exista   consenso   na   literatura   no   que   respeita   a   um   intervalo   de   tempo  
definitivo  para  todos  os  territórios  venosos.  O  refluxo  pode  ser  superficial  se  confinado  
ao   sistema   venoso   superficial,   profundo   se   afetar   o   sistema   venoso   profundo,   ou  
combinado.   No   território   da   grande   veia   safena   (GVS),   o   refluxo   venoso   patológico  
pode   ser   classificado   como   Refluxo   Axial   (RA),   quando   se   trata   de   refluxo   contínuo  
desde  a  junção  safeno  femoral  (JSF)  ao  longo  da  GVS  até  abaixo  do  joelho,  ou  Refluxo  
Segmentar  (RS),  se  envolve  um  segmento  venoso  sem  continuidade  do  refluxo  desde  
da   virilha   até   à   perna.   O   RS   é   subdividido   em:   tipo   1,   se   envolve   só   uma   colateral;   tipo  
2,   se   envolve   uma   colateral   e   o   segmento   da   GVS   adjacente;   ou   tipo   3,   se   envolve   a  
colateral,   um   segmento   da   GVS   e   a   JSF.   A   avaliação   da   intensidade   do   refluxo   e   a  
medição  do  diâmetro  venoso  são  igualmente  importantes  para  a  decisão  terapêutica.  
O   estudo   da   junção   safeno-­‐femoral   (JSF)   é   iniciado   ao   nível   da   prega   da   virilha,   em  
cortes  transversais,  procurando  a  veia  femoral  comum  (VF)  ladeada  internamente  pela  
GVS   e   externamente   pela   artéria   femoral   (sinal   do   “Mickey   Mouse”).   Em   cortes  
longitudinais,   devem   identificar-­‐se   as   válvulas   terminal   (constante   1-­‐2   mm   distal   à   JSF)  
e  pré-­‐terminal  (cerca  de  2  cm  abaixo,  que  marca  o  limite  distal  da  JSF),  uma  vez  que  as  
tributárias   mais   importantes   se   lançam   na   JSF   entre   as   duas   válvulas.   A   este   nível,  
devem  ser  procuradas  outras  possíveis  causas  de  refluxo  para  além  da  incompetência  
valvular  da  JSF,  nomeadamente,  veias  proximais  incompetentes  (inguino-­‐abdominais)  
que   podem   transmitir   refluxo   retrógrado   para   a   GVS   mesmo   com   a   válvula   terminal  
competente   e   veias   colaterais   incompetentes,   como   a   veia   safena   anterior   acessória  
ou  as  veias  linfo-­‐ganglionares.  

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

A   grande   veia   safena   (GVS)   tem   um   compartimento   intrafascial   próprio,   facilmente  


identificado   em   modo   B,   que   em   corte   transversal   assume   uma   configuração  
conhecida  como  “olho  egípcio”  (o  lúmen  da  safena  é  a  íris,  a  fáscia  safena  é  a  pálpebra  
superior,   e   a   fáscia   aponevrótica   profunda   a   pálpebra   inferior).   Este   sinal   facilita   a  
identificação  da  safena  e  a  sua  distinção  de  colaterais  com  trajeto  supra-­‐aponevrótico.  
Na  presença  de  refluxo  deve  proceder-­‐se  à  medição  do  diâmetro  da  GVS  abaixo  da  JSF,  
pois  esta  medida  pode  condicionar  a  abordagem  terapêutica.  A  GVS  deve  ser  avaliada  
em  todo  o  seu  trajeto  até  ao  tornozelo.  Ao  nível  do  joelho  pode  ser  identificada  pela  
sua  localização,  num  compartimento  triangular  delimitado  pela  tíbia,  músculo  gémeo  
interno   e   aponevrose   (sinal   do   ângulo   tibio-­‐gemelar).   Nos   dois   terços   inferiores   da  
perna,   a   GVS   raramente   é   refluxiva,   pois   o   seu   compartimento   torna-­‐se   muito   estreito  
entre  os  grupos  musculares  da  perna.  Se  não  for  visualizada  veia  no  compartimento  na  
coxa   ou   perna,   isso   significa   que   está   ausente   ou   hipoplásica.   Por   vezes,   a   GVS   pode  
“abandonar”   o   seu   compartimento,   designando-­‐se   por   colateral   todo   o   trajeto   venoso  
extracompartimental,   pois   mesmo   que   seja   evidente   continuidade   com   a   veia   axial  
principal  não  deve  ser  descrita  como  safena  troncular  uma  vez  que  não  se  encontra  no  
respetivo  compartimento  safeniano.  
A   Veia   Safena   Anterior   Acessória   (VSAA)   é   identificada   em   40   %   dos   indivíduos   na   face  
anterior   da   coxa,   num   “segundo   compartimento   safeniano”,   anterior   e   externo  
relativamente   à   GVS,   reconhecido   pelo   alinhamento   com   os   vasos   femorais   (sinal   do  
alinhamento).   A   sua   terminação   é   variável,   podendo   terminar   conjuntamente   com   a  
grande  veia  safena  a  1  cm  da  JSF  ou  de  forma  isolada  na  VF.  
As   veias   linfo-­‐ganglionares   são   identificadas   entre   a   GVS   e   a   VSAA.   Comunicam  
superiormente   com   veias   inguino-­‐abdominais   ou   com   a   VF   e   podem   ser   causa   de  
varizes   primárias   ou   comunicar   inferiormente   com   a   GVS   sendo   a   causa   da   sua  
incompetência.  
As  veias  colaterais,  identificadas  na  coxa  e  perna,  são  obrigatoriamente  superficiais  à  
fáscia,   tendo   de   a   perfurar   para   se   lançarem   na   GVS.   Existem   múltiplas   variantes  
anatómicas  possíveis,  sendo  alguns  vasos  mais  constantes,  nomeadamente  o  sistema  
venoso   lateral   (na   face   externa   da   coxa   e   perna);   a   veia   circunflexa   anterior   da   coxa  
(tributária   da   GVS   ou   da   VSAA   e   ascende   obliquamente   na   face   anterior   da   coxa);   a  
veia   circunflexa   posterior   da   coxa   também   tributária   da   GVS   ou   da   veia   safena  

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

posterior   acessória   (VSPA)   que   ascende   obliquamente   na   face   posterior   da   coxa,  


podendo  originar-­‐se  na  pequena  veia  safena  (PVS),  na  sua  extensão  para  a  coxa  ou  no  
sistema   venoso   lateral;   as   veias   intersafenianas   que   têm   trajeto   oblíquo   na   perna   e  
ligam  a  PVS  e  GVS;  e  na  perna  as  veias  do  arco  anterior  e  posterior  (veia  de  Leonardo).  
Para   efeitos   de   otimização   terapêutica   devem   ser   corretamente   localizadas   e  
referenciadas,  nomeadamente  a  sua  topografia  em  relação  à  prega  cutânea  popliteia  
(para   colaterais   da   coxa)   ou   ao   plano   do   chão   (para   colaterais   da   perna).   É  
fundamental   que   se   faça   o   estudo   do   tronco   safeniano   abaixo   do   colateral   para  
classificação  do  refluxo,  pois  condiciona  a  abordagem  cirúrgica.  
As   veias   perfurantes   são   numerosas   ao   longo   do   membro   inferior,   com   distribuição  
variável.   Estas   veias   estabelecem   a   ligação   entre   o   sistema   venoso   superficial   e  
profundo,   perfurando   a   aponevrose.   Para   serem   consideradas   patológicas   devem   ter  
um   calibre   superior   a   3   mm   e   permitir   fluxo   bidirecional,   com   tempo   de   refluxo  
superior  a  0,5  segundos,  sendo  referenciada  a  sua  topografia  pela  distância  à  prega  do  
escavado  popliteu  ou  ao  plano  do  chão.  
A  pequena  veia  safena  (PVS)  origina-­‐se  atrás  do  maléolo  tibial  externo,  localiza-­‐se  no  
sulco  intergemelar  ao  nível  da  perna,  terminando  frequentemente  na  veia  popliteia  ao  
nível   do   escavado   popliteu.   A   PVS   ocupa   uma   posição   intrafascial   em   todo   o   seu  
trajeto   (entre   a   aponevrose   e   a   fáscia   muscular   profunda),   podendo   por   vezes   ser  
dupla  ou  mesmo  tripla.  Deve  avaliar-­‐se  a  presença  de  refluxo  na  PVS,  após  manobras  
de   compressão   muscular   distal   e   no   caso   da   veia   ser   refluxiva   deve   medir-­‐se   o   seu  
diâmetro   3   cm   abaixo   da   JSP   (se   presente)   ou   ao   nível   do   escavado   popliteu.   O   refluxo  
venoso   pode   ter   origem   primária   no   território   da   GVS   e   estender-­‐se   inferiormente   à  
PVS  (através  da  veia  de  Giacomini  (VG))  com  insuficiência  valvular  secundária  desta,  ou  
ser  primário  da  PVS  com  progressão  superior  pela  face  posterior  da  coxa  e  ser  causa  de  
refluxo  secundário  da  GVS.  
A  junção  safeno-­‐popliteia  (JSP)  corresponde  à  terminação  da  PVS  na  veia  popliteia  (VP)  
e   geralmente   localiza-­‐se   2   a   4   cm   acima   da   prega   cutânea   popliteia,   embora   com  
grande  variabilidade,  podendo  em  alguns  casos  a  terminação  ser  mais  alta  (5  a  10  cm  
acima  da  prega).  A  PVS  possui  também  duas  válvulas:  a  válvula  terminal  proxima  da  VP  
e   a   válvula   pré-­‐terminal   que,   geralmente,   se   encontra   abaixo   da   origem   da   extensão  
para   a   coxa   da   PVS   (EC).   O   padrão   da   junção   safeno-­‐popliteia   é   bastante   variável,  

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

podendo  ser  verdadeira,  parcial  ou  mesmo  inexistente.  Quando  não  existe  uma  junção  
safeno-­‐popliteia  verdadeira  a  PVS  pode  ter  trajeto  curto  e  drenar  numa  perfurante  do  
escavado  popliteu  ou  numa  perfurante  gemelar  ou  então  apresentar  um  trajeto  longo  
comunicando   superiormente   com   a   GVS   através   da   EC,   com   a   VG,   veias   perineais   ou  
perfurantes  da  coxa  (póstero-­‐externas).  
A   EC   cursa   na   goteira   entre   os   músculos   bicípite   femoral   e   semimembranoso,  
delimitada  superficialmente  pela  fáscia  superficial,  tendo  portanto  também  um  trajeto  
intracompartimental,  estando  presente  em  95%  dos  casos.  No  seu  trajeto  ascendente  
pode  ter  várias  terminações:  continuar-­‐se  com  os  vasos  perineais,  comunicar  com  uma  
veia  perfurante  posterior  da  coxa  que  se  une  à  femoral  profunda,  dividir-­‐se  em  ramos  
musculares   e   subcutâneos   para   a   coxa   ou   comunicar   com   a   GVS   através   da   veia  
circunflexa  posterior  da  coxa.  
A   VG   surge   quando   a   EC   da   PVS   comunica   com   a   GVS   através   da   veia   circunflexa  
posterior   da   coxa,   que   pode   transmitir   refluxo   do   território   da   GVS   para   a   PVS   ou  
inversamente,  refluxo  da  PVS  para  a  GVS.  
A  veia  femoral  comum  (VF)  e  a  veia  popliteia  (VP)  integram  o  sistema  venoso  profundo  
do  membro  inferior  e  são  inicialmente  avaliadas  na  posição  de  decúbito  para  deteção  
de   trombose   venosa   profunda   com   avaliação   do   lúmen   em   modo   B   e   da  
compressibilidade   do   vaso   (exercendo   uma   ligeira   pressão   com   a   sonda)   em   cortes  
axiais,   e   posteriormente   é   feita   a   avaliação   do   padrão   de   preenchimento   dos   vasos  
com  o  Doppler  colorido  e  avaliação  espectral  da  VF  em  cortes  longitudinais.  De  seguida  
deverá   ser   realizada   a   avaliação   em   ortostatismo,   com   realização   de   manobras   de  
compressão   muscular   distal   e   pesquisa   de   refluxo,   que   deve   ser   avaliado   acima   e  
abaixo   da   JSF   e   JSP,   respetivamente,   para   distinguir   incompetência   das   crossas   de  
refluxo  do  sistema  venoso  profundo.  
 
  Vantagens  
O  estudo  ecográfico  em  modo-­‐B  complementado  com  o  doppler  colorido  e  pulsado  é  
uma   modalidade   sensível   e   específica   para   o   diagnóstico   de   trombose   venosa  
profunda  e  superficial,  assim  como  para  deteção  de  refluxo  patológico.  Permite  ainda  
a   realização   de   relatórios   pormenorizados   e   rigorosos   com   o   correto   mapeamento   dos  
vasos  refluxivos,  de  forma  a  otimizar  a  intervenção  cirúrgica.  

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

  Tabela  1  –  Protocolo  de  ecoDoppler  utilizado  no  Hospital  dos  Capuchos  -­‐  CHLC  para  avaliação  
  da  insuficiência  venosa  crónica  dos  membros  inferiores  

 
 
  Desvantagens  
A   principal   desvantagem   relaciona-­‐se   com   o   facto   de   não   existirem   valores  
estandardizados   para   o   grau   de   compressão   muscular,   que   muitas   vezes   pode   ser  
insuficiente   para   desencadear   refluxo.   Devido   a   esta   variabilidade   interoperador   não   é  

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

possível   quantificar   a   severidade   de   insuficiência   venosa   apenas   com   base   nas  


características  do  refluxo.    
 
  Conclusão    
O  estudo  dos  doentes  com  patologia  venosa,  classicamente  conseguido  pela  clínica  e  
pela   flebografia,   foi   modificado   desde   de   há   mais   de   duas   décadas   pelo   advento   dos  
métodos   não   invasivos   de   diagnóstico   vascular.   Com   efeito,   estas   técnicas   vieram   a  
mostrar-­‐se   rigorosas   na   avaliação   do   sistema   venoso   e   eliminaram   as   desvantagens   da  
flebografia.   Assim,   para   o   estudo   da   patologia   venosa   dos   membros   inferiores,   o  
exame   que   na   atualidade   constitui   a   primeira   linha   do   diagnóstico   é   o   ecoDoppler  
venoso,  sendo  fundamental  o  conhecimento  da  anatomia  venosa  do  membro  inferior  
e  as  suas  variações  anatómicas.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Medicamentos venoativos

 
 
MEDICAMENTOS  VENOATIVOS  
Carlos  Pereira  Alves  
 
  O  que  são  os  Medicamentos  Venoativos?  
Os   medicamentos   venoativos   (MVA),   também   designados   por   venotrópicos   ou  
flebotónicos,   constituem   um   grupo   heterogéneo   de   medicamentos   usados   no  
tratamento   da   doença   venosa   crónica   (DVC)   e   insuficiência   venosa   crónica   (IVC)   ou  
seja,  em  todas  as  classes  da  classificação  CEAP  (C0s  a  C6).  
A  maioria  dos  MVA  são  derivados  de  plantas  e  poucos  têm  origem  na  síntese  química.  
Os  principais  MVA  derivados  de  plantas  são:  
-­‐  Os  bioflavonoides  incluem:  a  fração  flavonóica  purificada  e  micronizada  (Micronized  
Purified   Flavonoid   Fraction/MPFF   na   designação   internacional),   a   diosmina   e   os  
rutosideos,  incluindo  a  rutina  e  hidroxirutosideos;  
-­‐  As  saponinas:  castanha  da  índia/escina  e  o  extrato  de  ruscus;  
-­‐  Outros  extratos  de  plantas  e  associações:  os  antocianósidos,  as  proantocianidinas.  
Os   principais   MVA   de   origem   sintética   são   o   dobesilato   de   cálcio,   a   benzarona   e   a  
naftazona.  
No  grupo  dos  bioflavonoides,  o  MPFF  é  o  mais  prescrito  e  está  disponível  em  Portugal  
com  o  nome  comercial  de  Daflon  500®.  É  constituído  por  90  %  de  diosmina  e  10  %  de  
outros   bioflavonoides   expressos   em   hesperidina:   a   hesperidina,   a   isoroifolina,   a  
linarina  e  a  diosmetina.  
O   MPFF   parece   ser   mais   potente   que   a   simples   diosmina,   dado   todos   os   seus  
componentes   contribuírem   para   o   seu   efeito   terapêutico.   A   micronização,   ao   reduzir  
as   partículas   do   produto   de   20   para   2   µ,   aumenta   a   absorção   intestinal   e   a  
biodisponibilidade  versus  a  diosmina  não  micronizada1.  
Daflon   500®   é   apresentado   em   comprimidos   de   500   mg,   revestidos   por   película,   de  
forma   oval,   com   uma   posologia   de   1000   mg/dia,   a   prescrever   numa   dose   única   de   2  
comp  id,  ao  pequeno-­‐almoço.  
As   diosminas   disponíveis   incluem:   Venex®,   Venex   Forte®   e   Venex   900®,   que   contêm  
diosmina  nas  doses  de  300  mg,  450  mg  e  900  mg,  respetivamente,  apresentadas  em  

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Medicamentos venoativos

cápsulas   ou   comprimidos,   com   recomendação   de   uma   dose   diária   de   900   mg   em   dose  


fracionada   ou   única;   Veno   V®,   diosmina,   apresentada   em   capsulas   de   300   mg,   com  
posologia  de  3  cáp  id.  
Nos   rutosideos   disponíveis   encontra-­‐se   o   Venoruton®,   saquetas   com   1000   mg   de  
oxirrutinas,  em  pó  granulado  para  solução  oral,  e  com  uma  posologia  recomendada  de  
1  saqueta  (saq)  id.  
No   grupo   das   saponinas,   encontram-­‐se   disponíveis:   o   Venotop®,   que   tem   na   sua  
composição   263,2   mg   de   extrato   seco   de   castanha   da   índia,   apresentado   em  
comprimidos  de  libertação  modificada  com  posologia  de  2  comp  id;    
o Cyclo  3®,  que  é  composto  por  extrato  seco  de  ruscus,  hesperidina  e  ácido  ascórbico,
apresentado  em  cápsulas,  com  posologia  de  3  cáp  id.  
No   grupo   de   outros   extratos   de   plantas   encontra-­‐se   o   Difrarel®,   que   tem   como  
substância  ativa  100  mg  de  antocianósidos,  na  forma  de  comprimidos,  com  posologia  
média  recomendada  de  6  comp  id.  
O   Venosmil®, composto   por   hidrosmina,   apresentado   em cápsulas   de   200   mg,  
com   posologia   de   1   cáp   3   id   às   principais   refeições;   nos produtos sintéticos,
o Doxi-Om®, que   tem   como   substância   ativa   o   dobesilato   de   cálcio,   apresentado
em   cápsulas   de   500  mg  e  com  a  posologia  de  1  a  2  cáp  id.  (Tabela  1)  

Tabela  1  –  Classificação  dos  principais  fármacos  venoativos2  

Poucos  estudos  têm  comparado  os  diferentes  venoativos,  podendo  considerar-­‐se  que  
a  maioria  são  quase  equivalentes  no  alívio  dos  sintomas3.    

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Medicamentos venoativos

Numa   meta-­‐análise   recente,   onde   se   avaliou   o   impacto   dos   principais   venoativos   no  


edema  maleolar  de  origem  venosa,  concluiu-­‐se  que  a  redução  do  perímetro  maleolar  
com  o  MPFF  é  significativamente  superior  à  observada  com  os  restantes  venoactivos4.  
Adicionalmente,   poucos   venoativos,   com   exceção   do   MPFF,   têm   sido   estudados   no  
tratamento  da  IVC  (Classes  C4,  5,  6   da  classificação  CEAP).  Na  úlcera  venosa,  o  MPFF,  
associado  à  compressão  elástica,  revela,  numa  meta  análise  de  cinco  ensaios  clínicos,  
acelerar  a  cicatrização  da  úlcera5.  Outros  venoativos  estudados  levaram  à  redução  do  
edema   e   sintomas   da   IVC,   mas   não   demonstraram   resultados   superiores   aos   obtidos  
com  compressão  elástica  na  evolução  e  recorrência  da  úlcera6,  talvez  por,  ao  contrário  
do   MPFF,   não   terem   efeito   sobre   a   interação   leucócito-­‐endotélio,   que   tem   surgido  
como  mecanismo  importante  de  desenvolvimento  da  IVC  e  da  úlcera.  
A   segurança   dos   MVA   é   em   geral   boa,   com   reações   adversas   pouco   frequentes,  
raramente   severas   e   constituídas   essencialmente   por   distúrbios   gastrointestinais  
minor,   tipo   enfartamento,   flatulência   e   raras   vezes   náuseas   e   vómitos   ou   diarreia.  
Também  as  erupções  cutâneas  são  muito  raras.  
Para   mais   informações   sobre   os   MVA,   consultar   os   respetivos   Resumos   de  
Características  dos  Medicamentos  (RCM).  
O  diagnóstico  da  doença  venosa  crónica  deve  ser  o  mais  precoce  possível  e  a  duração  
do  tratamento  deve  começar  por  ser  de  um  a  três  meses,  com  análise  dos  resultados  
no   fim   deste   período.   Quando   resurgem   sintomas,   deve   pensar-­‐se   em   prevenir   a  
evolução  da  patologia,  apostando  num  tratamento  continuado.  
Deve  ter-­‐se,  também,  presente  que,  apesar  da  doença  venosa  ser  crónica  e  evolutiva,  
os  sintomas  que  a  caracterizam  e  que  levam  às  maiores  queixas  dos  doentes  são  mais  
frequentes  e  severos  no  verão.  
 
  Fisiopatologia  da  DVC/IVC  e  sua  relação  com  a  ação  dos  MVA  
As  varizes  são  dilatações  das  veias,  muitas  vezes  tortuosas.  
Continua  por  estabelecer  a  causa  inicial  das  varizes  e  do  seu  caráter  de  doença  crónica  
progressiva,   sendo   múltiplas   as   causas,   desde   fatores   genéticos,   história   familiar,  
fatores  hormonais,  gravidez,  profissões  com  longos  períodos  de  pé  ou  sentado,  estilo  
de  vida  sedentária,  sexo,  idade,  obesidade,  raça.  

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Medicamentos venoativos

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Medicamentos venoativos

para   o   tecido   subendotelial.   Esta   migração   tem   como   consequência   a   libertação   de  


fatores   inflamatórios   e   o   início   de   uma   cascata   inflamatória,   que   altera   o   normal  
processo  de  remodelação  parieto-­‐valvular,  amplia  a  DVC  e  a  sua  progressão  para  IVC13.  
São   vários   os   estudos   que   têm   demonstrado   a   capacidade   do   MPFF   proteger   as  
válvulas   venosas   da   ação   nociva   da   inflamação14.   Inibindo   a   ativação   leucocitária,   o  
MPFF   limita   a   adesão   e   subsequente   infiltração   dos   leucócitos   para   o   tecido  
subendotelial,  limitando  a  reação  inflamatória.  Esta  sequência  poderá  ser  fator  chave  
na  patogenia  da  IVC,  com  reflexos  no  tratamento  e  prevenção  evolutiva  da  doença.    
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura  1  –  Fisiopatologia  da  DVC  /  IVC  
 
Dilatação,  refluxo,  hipertensão  e  reação  inflamatória  levam,  com  o  tempo,  a  alterações  
de  microcirculação  com  alterações  da  filtração  capilar  e  aumento  da  permeabilidade,  
estando   criadas   as   condições   que   levam   ao   edema,   à   pigmentação,   à  
lipodermatoesclerose  e  à  úlcera  venosa  (sinais  de  IVC).  Esta  dilatação/inflamação  leva  
também   à   ativação   de   recetores   nociceptivos   C,   responsáveis   pelos   sintomas   mais  

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Medicamentos venoativos

frequentes   de   DVC:   sintomas   de   dor,   sensação   de   pernas   pesadas,   desconforto   das  


pernas,  etc.  (Fig.  1).  

Modo  de  ação  dos  MVA  


Os  principais  modos  de  ação  estudados  e  estabelecidos  para  os  MVA  são:  
-­‐  Aumento  da  tonicidade  venosa;  
-­‐  Aumento  da  resistência  capilar,  reduzindo  a  filtração  capilar  da  IVC;  
-­‐  Melhoria  da  drenagem  linfática;  
-­‐  Diminuição  da  agregação  e  da  deformação  dos  eritrócitos,  bem  como  a  viscosidade  
do  sangue;  

Tabela  2  –  Modo  de  ação  dos  principais  fármacos  venoativos15.  

-­‐   Inibição   da   interação   entre   os   leucócitos   e   o   endotélio,   inibindo   a   adesão   e   migração  


dos   leucócitos   circulantes   e,   consequentemente,   inibindo   a   libertação   de   fatores  
inflamatórios   presentes   na   insuficiência   venosa   crónica   e   que   tem   sido,  
particularmente,  estudada  com  o  MPFF  (Tabela  2).  

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Estes  modos  de  ação  explicam  o  efeito  benéfico  dos  MVA,  no  alívio  sintomático,  ação  
antiedema,  e  melhoria  da  qualidade  de  vida,  bem  como  o  efeito  benéfico  do  MPFF  nas  
úlceras  venosas5.  
 
  MVA  e  ensaios  clínicos  
Os   venoativos   não   eliminam   a   doença   venosa   crónica,   mas   beneficiam   o   alívio   dos  
sintomas  (dor,  sensação  de  peso  e  desconforto  das  pernas,  pernas  inchadas,  prurido,  
caibras,  pernas  inquietas  “restless  legs”  e  edema).  
Esta   eficácia   dos   MVA,   apesar   de   avaliada   em   numerosos   ensaios   extensos   e  
randomizados,  continua  a  ser  objeto  de  discussão,  devido  ao  facto  dos  estudos  terem  
diferenças   de   dimensão,   qualidade,   metodologia   e   possibilidade   de   “significativos  
viéses”  “major  bias”,  o  que  explica  a  variação  de  uso  nos  vários  países.  
De   facto,   analisar   a   resposta   de   sintomas   da   DVC   não   é   fácil.   Dado   o   seu   caráter  
subjetivo,   os   sintomas   de   DVC   não   são   específicos   e   são   muito   menos  
patognomónicos,   mesmo   que   se   tente   a   sua   quantificação   com   uso   de   escalas   de  
pontuação.  
Acresce   ainda,   que   os   sintomas   clínicos   das   varizes   e   edema   têm   variações.   Não   só  
variações  individuais  no  decorrer  do  dia,  mas  também  variações  com  a  época  do  ano  
(calor  ou  frio),  variações  com  a  atividade  mais  sedentária  ou  mais  ativa,  além  de  não  
haver   relação   linear   dos   sintomas   com   a   severidade   da   doença   venosa   ou   padrão   de  
refluxo.  
Estas  variações  têm  estado  presentes  no  desenho  dos  novos  ensaios  clínicos,  tentando  
minimizar  a  sua  influência  com  medições  do  edema  efetuadas  na  mesma  altura  do  dia,  
e  o  mais  objetivamente  possível,  com  medição  exata  do  diâmetro  maleolar  ou  o  uso  do  
teste   de   deslocação   de   água.   Adicionalmente,   a   análise   de   qualidade   de   vida   com  
escalas  próprias  tenta  dar  credibilidade  aos  resultados.  

clinico  dos  MVA  resultam  na  sua  bem  estabelecida  eficácia  no  alívio  dos  sintomas,  ação  
antiedema  e  melhoria  da  qualidade  de  vida.  
Já   na   IVC   poucos   venoativos   têm   sido   estudados,   com   exceção   do   MPFF   na   úlcera  
venosa5.  
 

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Medicamentos venoativos

  Indicações  dos  MVA  


As   indicações   dos   venoativos   resultam,   como   já   referido,   do   seu   mecanismo   de   ação  
com   atuação   em   alvos   do   processo   fisiopatológico   (Figura   1   e   Tabela   2),   de   ensaios  
clínicos  e  da  extensa  experiência  de  uso  clínico,  estando  bem  estabelecido  o  seu  efeito  
benéfico  no  alívio  sintomático  e  ação  antiedema.  
Nos   mais   recentes   guidelines,   os   MVA   têm   recebido   diferentes   graus   de  
recomendação.  O  MPFF  recebeu  o  maior  grau  de  recomendação,  o  grau  1A,  pela  sua  
ação   sobre   os   sintomas   venosos,   o   dobesilato   de   cálcio   o   grau   2A   e   a   escina   o   grau  
2B16,  17.  
 
O  American  Venous  Forum  (AVF)  refere  (recomendação  4-­‐4-­‐1  de  2017)  “sugerimos  o  
uso   de   venoativos   em   adição   à   compressão   elástica   nos   doentes   com   dor   e   edema  
devidos   à   doença   venosa   crónica,   em   países   onde   esses   medicamentos   estão  
disponíveis”18.  
 
Já   o   uso   de   venoativos   na   IVC   é   de   prescrição   mais   controversa   sendo   a   compressão  
elástica  considerada  a  1ª  linha  de  tratamento  conservador.  
No   entanto,   na   úlcera   venosa,   o   MPFF   associado   ao   tratamento   local   e   ao   uso   de  
compressão  elástica,  foi  objeto  de  meta  análise  de  cinco  ensaios  clínicos  randomizados  
e  controlados,  envolvendo  723  doentes5.  Em  três  dos  ensaios,  o  tratamento  local  com  
compressão   elástica   foi   comparado   com   o   mesmo   tratamento   local   com   compressão  
elástica   +   MPFF,   e   em   dois   ensaios,   o   tratamento   local   com   compressão   elástica   +  
MPFF   foi   comparado   com   tratamento   local   com   compressão   elástica   +   placebo.   Aos  
seis  meses,  a  possibilidade  de  cicatrização  era  32  %  melhor  nos  doentes  tratados  com  
MPFF.  
As  diferenças  verificaram-­‐se  a  partir  do  segundo  mês  de  tratamento  com  MPFF,  com  
tempo   de   cicatrização   mais   rápido.   Os   melhores   resultados   diziam   respeito   a   úlceras  
com  dimensões  entre  5-­‐10  cm  e  com  duração  de  6-­‐12  meses.  
Com   base   nestes   resultados,   o   AVF   considera   o   uso   do   MPFF   nas   úlceras   venosas  
recomendado  com  grau  1B  (recomendação  4-­‐4-­‐2  de  2017)  “úlceras  de  longa  duração  e  
grandes  dimensões  podem  beneficiar  do  tratamento  com  MPFF,  usado  em  associação  
à  compressão  elástica”18.  

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Medicamentos venoativos

Os   MVA   podem   ser   usados   em   conjunto   com   a   compressão   elástica,   cirurgia,  


tratamento  endovascular  e  escleroterapia.  

Prevenção  das  varizes  e  MVA  

-­‐  Exercício  regular;  


-­‐  Vida  ativa;  
-­‐  Cuidados  com  a  pele;  
-­‐  Controle  de  peso;  
-­‐  Vestuário  não  apertado  e  sapatos  de  salto  não  superior  a  4  cm.    
Nos   doentes   com   IVC   (C3   a   C6)   e   com   refluxo,   deve   recomendar-­‐se   a   utilização   de  
compressão   elástica   com   uso   de   meias   AD   ou   AG,   classe   I-­‐II   (recomendações   do   AVF  
7,4-­‐24-­‐6-­‐5  de  2017).  
Foram,  no  entanto,  publicados  em  201519  e  201720  dois  interessantes  estudos.    
No   primeiro,   Tsukanov   YT   et   al   avaliaram   doentes   com   sintomas,   mas   sem   sinais   de  
DVC  (C0s,  En,  An,  Pn).  A  metodologia  deste  estudo  incluía  a  realização  de  ecoDoppler,  
com   medição   do   diâmetro   da   grande   veia   safena   (GVS),   avaliação   dos   sintomas   e   da  
qualidade   de   vida   dos   doentes.   Os   sintomas   foram   avaliados   usando   a   escala   visual  
análoga  de  10  cm  e  a  qualidade  de  vida  avaliada  com  o  CIVIQ  20.  O  exame  ecoDoppler  
foi   realizado   duas   vezes   por   dia:   de   manhã   (antes   das   10:00)   e   de   tarde   (depois   das  
18:00).  O  exame  ecoDoppler  incluiu:  (1)  a  duração  do  refluxo;  (2)  o  diâmetro  da  GVS  na  
região  inguinal;  (3)  a  diferença  de  diâmetro  entre  as  medições  da  manhã  e  da  tarde.  
Foram   avaliados   41   doentes:   15   não   tinham   refluxo   venoso   transitório   (RVT)   nem   de  
manhã   nem   à   tarde,   os   restantes   26   não   tinham   RVT   de   manhã,   mas   tinham   RVT   ao  
final  do  dia,  sendo  que  em  dois  o  refluxo  era  axial  e  nos  restantes  24  era  segmentar.  O  
diâmetro  da  GVS  encontrava-­‐se  significativamente  aumentado  nos  doentes  com  RVT.  
Os  doentes  que  apresentavam  RVT  ao  final  do  dia,  foram  tratados  com  MPFF  (1000  mg  
de  manhã)  durante  dois  meses,  após  os  quais  a  investigação  ecoDoppler  foi  repetida.  
Nesta  altura,  com  MPFF,  o  RVT  foi  eliminado  em  22  dos  26  doentes  que  inicialmente  o  
apresentavam.  Em  paralelo,  verificou-­‐se  uma  diminuição  significativa  do  diâmetro  da  

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Medicamentos venoativos

GVS   e,   também,   diminuição   significativa   da   intensidade   dos   sintomas   e   melhoria  


significativa  da  qualidade  de  vida  dos  doentes.  
Os   autores   concluíram   que   o   MPFF,   na   dose   de   1000   mg/dia,   durante   dois   meses,  
resultou   na   eliminação   do   RVT   do   fim   do   dia   na   maioria   dos   doentes,   diminuição  
significativa  do  diâmetro  da  GVS,  com  efeito  benéfico  sobre  os  sintomas  e  qualidade  
de  vida.  
O   estudo   publicado   em   2017,   também   por   Tsukanov   YT,   incidiu   sobre   doentes   com  
telangiectasias  ou  varizes  reticulares  sintomáticas  (C1s).  A  metodologia   foi  semelhante  
à   do   primeiro   estudo.   Nenhum   dos   96   doentes   incluídos   apresentava   RVT   matinal   e  
55,2  %  apresentavam  RVT  ao  fim  do  dia,  bem  como  sintomas.  Estes  sintomas  apenas  
se  verificavam  em  16,3  %  dos  doentes  sem  RVT.  Adicionalmente,  o  diâmetro  da  GVS  
mostrou  aumento  significativo  nos  doentes  com  RVT.  
Os   doentes   que   apresentavam   RVT   foram   tratados   com   MPFF   na   dose   de   1000   mg  
uma   vez   por   dia,   durante   três   meses   e   nesta   altura,   com   MPFF,   o   RVT   tinha   sido  
eliminado   em   92,5   %   dos   doentes,   o   diâmetro   da   grande   veia   safena   reduzido   para  
valores   base,   os   sintomas   venosos   resolvidos   na   grande   maioria   dos   doentes   e   a  
qualidade  de  vida  melhorada.  
Em  conclusão,  neste  estudo,  a  medicação  com  MPFF,  na  dose  de  1000  mg/dia,  durante  
três   meses,   eliminou   o   RVT,   com   melhoria   significativa   dos   sintomas   venosos   e  
melhoria   da   qualidade   de   vida   dos   doentes.   Este   efeito   positivo   do   MPFF   poderá  
dever-­‐se   a   uma   melhoria   da   viscoelasticidade   da   parede   venosa   das   veias   e   poderá  
ajudar   a   prevenir   a   evolução   dos   estádios   CEAP   C1   para   C2,   ou   seja,   aponta   para   a  
possibilidade  do  MPFF  poder  retardar  a  progressão  da  doença  venosa  crónica20.  
Tornam-­‐se   necessários   mais   estudos,   bem   como   estabelecer   se   este   efeito   positivo   do  
MPFF   se   mantém   após   a   interrupção   do   tratamento,   ou   se   é   transitório,   sendo  
necessário  efetuar  medicação  a  longo-­‐termo.  
 
  MPFF  em  associação  com  tratamento  cirúrgico,  técnicas  endovasculares  e  
  escleroterapia  
No  pressuposto  que  o  efeito  analgésico  e  antiedema  do  MPFF  possa  reduzir  a  dor,  bem  
como  a  melhoria  da  tonicidade  venosa  possa  diminuir  a  hemorragia,  no  pós-­‐operatório  

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Medicamentos venoativos

de  cirurgia,  técnicas  endovasculares  ou  escleroterapia,  foram  realizados  estudos  com  o  


uso  do  MPFF  associado  a  estas  várias  formas  de  tratamento.  
O  MPFF  em  associação  com  “stripping”  da  safena,  foi  estudado  em  dois  ensaios,  que  
mostraram  alívio  da  dor  na  1ª  semana  pós-­‐operatório  bem  como  redução  da  área  de  
hematoma  e  sua  reabsorção  mais  rápida21,  22.  
O   uso   do   MPFF   em   associações   às   técnicas   endovasculares,   mostrou   redução   dos  
sintomas   pós-­‐operatórios   como   a   dor   nas   pernas   e   o   edema,   avaliados   pela   escala  
VCSS  (Venous  Clinical  Safety  Scores)23.  
Num  outro  estudo,  o  MPFF  foi  avaliado  em  combinação  com  a  escleroterapia,  com  o  
fim   de   investigar   as   alterações   locais   e   sistémicas   de   citoquinas   pró-­‐inflamatórias   e  
fatores   endoteliais.   O   uso   do   MPFF   reduziu   significativamente   a   atividade   pró-­‐
inflamatória  das  citoquinas  e  alguns  fatores  endoteliais24.    
Estes   resultados   reforçam   as   ações   anti-­‐inflamatória,   antiedema   e   analgésica   do   MPFF  
e   são   um   estímulo   a   futuras   investigações   que   possam   justificar   um   alargar   das   suas  
indicações  de  uso.  
 
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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

 
 
TERAPÊUTICA  COMPRESSIVA  NA  DOENÇA  VENOSA  CRÓNICA  
E  INSUFICIÊNCIA  VENOSA  CRÓNICA  
Carlos  Pereira  Alves  
 
A   compressão   elástica   (CE)   é   elemento   essencial   de   tratamento   conservador   da  
doença  venosa,  em  todas  as  classes  da  classificação  CEAP  de  C0s  a  C6,  e  com  benefício  
evidente  no  alívio  dos  sintomas  e  do  edema  venosos.  
Na   úlcera   venosa   (C6),   a   compressão   elástica   é   o   tratamento   mais   eficaz   para   a   sua  
cicatrização,   sendo   a   combinação   da   compressão   elástica   com   a   cirurgia   do   sistema  
superficial  o  melhor  tratamento  de  prevenção  da  úlcera  venosa.1,  2  
 A  CE  a  longo  termo  deve  ser  considerada  na  presença  da  IVC  (C3  a  C6)3,  4,  5.  
A   compressão   elástica   é   ainda   recomendada   no   pós-­‐operatório   de   cirurgia   (Mediven  
struva  23)  e  após  esclerose  de  varizes.  
Apesar  destas  evidências  o  seu  uso  é  subestimado,  a  prescrição  incompleta  e  em  regra  
mal  explicada  ao  doente  a  ação  das  meias  elásticas,  bem  como  necessidade  do  seu  uso  
diário,  já  que  a  sua  eficácia  é  dependente  da  adesão  ao  tratamento.  
A   compressão   elástica   é   uma   compressão   ativa   que   se   exerce   de   maneira   contínua  
durante   o   exercício   e   o   repouso.   Durante   o   exercício   o   aumento   de   volume   do  
membro  acentua  o  efeito  compressivo.  No  repouso  a  pressão  exercida  é  constante.    
Não  confundir  esta  compressão  ativa,  com  a  compressão  passiva  ou  contenção  que  é  
exercida   pelas   ligaduras   não   compressivas   ou   cola   de   zinco,   que   é   apenas   uma  
compressão  de  suporte,  que  se  exerce  de  maneira  fraca  ou  nula  no  repouso  e  provoca  
contenção/suporte  no  exercício,  opondo-­‐se  ao  aumento  de  volume  do  membro,  e  que  
é,   especialmente,   eficaz   na   reabsorção   de   edema   de   causa   venosa   em   doentes  
ambulatórios.  
 
  Mecanismo  da  compressão  elástica    
A   compressão   elástica   ao   aplicar   uma   pressão   exterior   sobre   o   tecido   celular  
subcutâneo   e   sobre   as   veias,   facilita   a   função   de   retorno   venoso   dos   membros  
inferiores  ao  coração.  

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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

Nas   veias   superficiais,   a   compressão   leva   a   uma   redução   do   seu   calibre   levando   a  
coaptação  das  válvulas  venosas  opondo-­‐se  assim  ao  refluxo  venoso  (Fig.  1).  

 
Fig.  1  –  Com  e  sem  meia  de  compressão.  
 
Também   a   compressão   elástica   previne   a   distensão   venosa   e   minimiza   a   tensão  
parietal  responsáveis  pelos  sintomas  de  dor,  sensação  de  peso  e  desconforto  e  prurido  
dos  membros  inferiores.  
O  efeito  compressivo  sobre  as  veias  profundas,  com  redução  do  calibre  das  mesmas,  
só  se  observa  com  pressões  acima  de  40  mmHg  e  na  posição  de  decúbito.  
Durante  a  marcha,  o  uso  de  meias  elásticas  leva  a  uma  passagem  do  sangue  das  veias  
superficiais   para   as   profundas   através   das   veias   perfurantes,   melhorando   o   retorno  
venoso.  
A   compressão   elástica   aumenta   a   pressão   intersticial   do   tecido   celular   subcutâneo,  
prevenindo  ou  reduzindo  o  edema  e  melhorando  a  drenagem  linfática.  
O   uso   a   longo   termo   da   CE   mostrou   melhorar   a   elasticidade   venosa6,   contudo   o   efeito  
benéfico   das   meias   elásticas   só   se   manifesta   durante   o   uso   das   mesmas,  
desaparecendo  um  dia  depois  da  sua  remoção,  daí  a  importância  do  seu  uso  diário7.  
É   consensual   reconhecer,   ser   a   compressão   elástica   um   tratamento   essencial   da  
doença  venosa,  o  que  é  confirmado  pelo  notável  documento  de  consenso,  elaborado  
em   2003,   em   San   Diego,   e   revisto   em   20178.   O   uso   diário   das   meias   elásticas   é  
fundamental,   apesar   disto,   não   é   respeitado   em   20   a   25   %   dos   doentes,   por   razões  
económicas  ou  insuficiente  explicação  do  médico  prescritor.  

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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

Um   estudo   observacional  Mediven,   publicado   em   20169,   demonstrou   que   a   prescrição  


de  meias  de  compressão  elásticas  (MCE)  não  tem  em  suficiente  atenção  as  indicações  
corretas   de   prescrição,   nomeadamente,   não   tendo   em   consideração   a   classe   clínica   da  
classificação   CEAP   de   C1s   a   C6,   e   características   do   doente,   como   idade,   obesidade,  
circunferência  maleolar  e  doenças  concomitantes,  inclusive  osteoarticulares.  
Foram   analisados   531   doentes   em   47   centros   de   estudo   na   Alemanha,   incluindo  
doentes  das  classes  CEAP  de  C1s  a  C6.   O  período  de  observação  foi  de  18  meses  com  
cinco   consultas   e   realizado   entre   2011   e   2015.   O   diagnóstico   e   prescrição   das   MCE  
Mediven,  foram  exclusivamente  dos  médicos  envolvidos  no  estudo  e  incluíram  meias  
de   compressão   leve   (Mediven   elegance,   comfort   e   Mediven   for   men),   compressão  
média   (Mediven   plus)   e   compressão   forte   (Mediven   forte),   bem   como   o   kit   para   úlcera  
Mediven.  
No   seguimento   dos   doentes,   foram   analisadas   a   frequência   de   prescrição   das   MCE,  
tendo   em   conta   a   classe   clínica,   a   obesidade   dos   doentes   e   da   prescrição   de   auxiliar  
para   calçar   as   meias.   Cerca   de   1/3   dos   doentes   não   receberam,   no   início   do   estudo,  
prescrição  para  um  segundo  par  de  meias,  ou  logo  de  início,  uma  nova  prescrição  para  
adquirir   novas   meias   passado   seis   meses.   Os   auxiliares   para   calçar   as   meias   foram  
raramente  prescritos.  
Estes  fatores  tem  influência  na  adesão  dos  doentes  ao  uso  regular  e  a  longo  termo  das  
meias.  A  maioria  das  prescrições  foram  de  meias  de  compressão  leve,  não  tendo  em  
consideração  a  classe  clínica.  
Verificou-­‐se   que   os   doentes   com   edema   (classe   C3),   a   melhoria   ocorreu   em   maior  
número   com   meias   de   compressão   média   ou   forte,   e   que   nos   doentes   obesos   a  
possibilidade  de  as  meias  poderem  provocar  constrição,  era  menos  frequente  com  as  
meias  de  compressão  média  ou  forte.  
O   estudo   conclui,   assim,   que   existe   necessidade   da   melhoria   da   prescrição   das   MCE,  
quer  em  relação  ao  tipo  de  meias,  às  suas  medidas  e  classe  de  compressão,  bem  como  
à   prescrição   das   meias   subsequentes,   e   no   uso   a   longo-­‐termo,   conclusões   que   se  
aplicam  para  qualquer  marca  de  meias  e  não  apenas  às  Mediven  do  estudo.  
Para   maximizar   os   benefícios   das   MCE,   é   importante   uma   prescrição   correta   e  
completa,   bem   como   ter   em   conta   a   classe   clínica,   de   C0s   a   C6,   as   características   do  
doente,  bem  como  prescrições  subsequentes  no  uso  a  longo-­‐termo.  

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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

Doentes  com  IVC  ou  com  síndrome  pós-­‐trombótica  parecem  beneficiar  com  o  uso  de  
meias   elásticas   vitaliciamente.   A   utilização   de   meias   elásticas   a   longo-­‐termo,   após  
cicatrização  de  úlceras,  induziu  drástica  redução  de  custos  ao  sistema  de  saúde10.    
 
  Meias  elásticas,  como  prescrever  
As   meias   elásticas   hoje   disponíveis   nas   farmácias   são   confortáveis,   elegantes,   em  
várias  cores,  bem  toleradas  e  com  baixo  risco  de  alergia,  dado  ter  sido  abandonado  o  
uso  de  borracha  na  sua  composição.  
Estão  disponíveis  em  vários  tipos,  medidas,  comprimentos  e  classes  de  compressão  e  
em  várias  marcas  comerciais  e  cada  uma  destas  com  vários  modelos  de  meias.  
A   receita   das   meias   elásticas   deve   ser   uma   receita   médica   com   obrigação   de  
mencionar   o   tipo   de   meia   (em   função   da   indicação),   as   medidas   (em   função   dos  
perímetros  maleolares,  região  mais  larga  da  perna  e  coxa),  o  comprimento  (em  função  
da   altura   chão/1   cm   abaixo   do   joelho,   ou   chão/região   inguinal),   a   classe   de  
compressão  (em  função  da  indicação)  e  a  respetiva  marca.  
Para   facilitar   esta   prescrição,   as   diferentes   marcas   criaram   modelos   próprios   que   a  
facilitam.  
Os  principais  tipos  de  meia  são  as  meias  até  abaixo  dos  joelhos  (AD),  até  ao  meio  da  
coxa  (AG)  ou  até  a  coxa  (AF)  ou  collants  (masculino,  feminino  ou  de  gravidez).  
As  meias  poderão  ser  com  biqueira  aberta  ou  sem  biqueira.  
As  classes  de  compressão  são  quatro,  de  acordo  com  normas  europeias  a  classe  I  tem  
uma  compressão  a  nível  maleolar  de  15  a  21  mm  Hg,  a  classe  II  uma  compressão  de  23  
a   32   mm   Hg,   a   classe   III   uma   compressão   de   34   a   46   mm   Hg   e   a   classe   IV   uma  
compressão .  
A  larga  seleção  de  meias  disponíveis,  permite  a  escolha  certa  adequada  a  cada  doente.  
Para  tratamento  das  úlceras  venosas  está  disponível,  no  mercado,  um  “kit  ulcer”  que  é  
constituído  por  três  meias,  duas  interiores  iguais  e  uma  meia  exterior.  Cada  meia  tem  
uma   compressão   de   20   mm   Hg.   A   meia   interior   é   para   manter   nas   24   horas   (o   doente  
dorme   com   ela,   dado   a   compressão   de   20   mm   Hg   ser   bem   tolerada   no   decúbito),  
destinando-­‐se   a   segunda   meia   interior,   a   substituir   a   primeira   quando   esta   se  
apresenta   suja   com   o   exsudado   da   úlcera   (em   regra   passado   uma   semana   de   uso)   e  
que   o   doente   leva   para   lavar.   Esta   meia   é   calçada   pelo   médico   quando   da   consulta   e   a  

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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

meia  exterior  é  calçada  pelo  doente  ao  levantar,  por  cima  da  meia  interior  e  retirada  
ao  deitar.  
O  doente  durante  o  dia  deambula,  assim,  com  as  duas  meias,  e  com  uma  compressão  
de  40  mm  Hg,  que  é  considerada  adequada  e  tolerada  para  a  cicatrização  da  úlcera.  
As  meias  do  “kit  ulcer”  têm  uma  duração  de  seis  meses.  O  uso  deste  kit  é  muito  mais  
elegante  que  o  uso  de  ligaduras  elásticas.  
Em  casos  de  anomalias  anatómicas  dos  membros  inferiores  poderá  ter  que  se  recorrer  
a  meias  feitas  por  medida  para  aquele  doente  especifico.  
Uma  receita  correta  deverá,  assim,  mencionar:  
-­‐  Classe  de  compressão  (p.e.  Classe  II)  
-­‐  Tipo  de  meia  (AD,  AG,  Collant)  
-­‐  Medida  de  acordo  com  o  perímetro  maleolar  (existem  medidas  de  I  a  VI)  
-­‐  Comprimento  (existem  dois  tipos  de  comprimento:  curto  e  normal)  
-­‐  Marca  (p.e.  Mediven,  Juzo,  Sigvaris,  Venosan)  
Exemplo  de  uma  prescrição:  
R/    
Meias  elásticas  

 
 
  Contraindicação  de  uso  de  meias  elásticas  
Para   determinar   eventuais   contraindicações   ao   uso   de   meias   elásticas   deve   sempre  
proceder-­‐se  a:  
-­‐   Determinação   de   pulsos   periféricos   (tibial   posterior   e   pedioso)   de   preferência   com  
Doppler  portátil,  com  determinação  do  índice  de  pressão  braço-­‐perna  se  os  pulsos  se  
apresentarem   diminuídos.   Um   índice   de   pressão   inferior   a   0,6   é,   em   regra,  
contraindicação  para  uso  de  meias  elásticas;  
-­‐  Presença  de  infeção,  dermatose;  
-­‐  Neuropatia  periférica;  
-­‐  Estado  geral  do  doente;  
-­‐  Limitação  de  calçar  meias,  poderá  ser  reduzida  com  a  prescrição  de  calçadores,  hoje  
disponíveis  no  mercado.  

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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

Indicações  de  prescrição  


  das  MCE  
As  meias  elásticas  tem  indicação  de  prescrição  nas  seguintes  situações:  
-­‐  Doentes  com  doença  venosa  classes  CEAP  (C0s  a  C1s),  para  alívio  sintomático;  
-­‐  
  Doentes   com   DVC   classe   C2   para   tratamento   dos   sintomas   e   prevenção   de  
complicações  como  varicorragia,  varicoflebite  ou  alterações  tróficas;    
-­‐  No  pós-­‐operatório  de  cirurgia  de  varizes  e  após  esclerose (Mediven Struva 23);
-­‐   Doentes   com   IVC   classe   C3,   para   reduzir   ou   eliminar   o   desenvolvimento   do   edema  
venoso  ortostático;  
-­‐  Doentes  com  IVC  classes  C4,  5  ou  6;  
-­‐  Prevenção  do  tromboembolismo  venoso  (meias  tromboembólicas  com  18  mm  Hg);  
-­‐  Tratamento  da  trombose  venosa  superficial  e  profunda;  
-­‐  Prevenção  e  tratamento  da  síndrome  pós-­‐trombótica;    
-­‐  Na  gravidez  (em  regra  collants  de  gravidez);  
-­‐  Prevenção  de  trombose  venosa  durante  viagens  longas  (avião,  autocarro,  etc.);  
-­‐  Tratamento  do  linfedema.  
De   notar   a   existência   no   mercado   de   meias   denominadas   “meias   de   descanso”   que  
não  tem  regulada  a  sua  classe  de  compressão,  sendo  a  mesma  classificada  em  “deniers  
ou   decitex”,   que   apenas   definem   o   peso   em   gramas   de   9   ou   10   Km   de   fio,  
respetivamente.  As  meias  com  maior  número  de  deniers,  140-­‐280  são  mais  espessas  
que   as   de   40-­‐70,   mas   não   necessariamente   com   maior   compressão.   As   meias   de  
descanso  não  tem,  em  regra,  mais  do  que  uma  compressão  de  6-­‐14  mm  Hg.  
De   recordar   que   as   meias   elásticas   de   compressão   mais   baixa,   destinadas   a   prevenção  
tromboembólica,  têm,  em  média,  uma  compressão  de  18  mm  Hg  no  tornozelo  e  8  mm  
Hg   na   coxa   e   foram   desenhadas   para   este   uso   com   o   objetivo   de   acelerar   o   retorno  
venoso,  apenas  na  situação  de  decúbito,  pelo  que  não  devem  ser  consideradas  como  
alternativa  às  outras  meias  elásticas.  

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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

Normas  de  aplicação  


As   meias   elásticas   devem   ser   colocadas   de   manhã,   após   o   banho,   e   devem   ser  
kit  ulcera.  
Para  facilitar  o  calçar  das  meias  sem  biqueira,  pode  utilizar-­‐se  uma  meia  de  seda,  que  
acompanha   a   embalagem   das   meias   e   facilita   o   seu   deslizamento.   O   uso   de   luvas   de  
borracha  também  facilita  o  calçar  das  meias,  bem  como  evita  a  sua  danificação  pelas  
unhas.  Existem  também,  como  já  referido,  calçadores  próprios  para  as  meias  (calçador  
para  uso  hospitalar  e  domiciliário).  
É   essencial   respeitar   as   recomendações   do   médico,   em   relação   ao   uso   das   meias  
elásticas.  Há  situações  em  que  a  prescrição  de  meias  elásticas  é  para  uso  esporádico  
das  mesmas,  p.  ex.  viagens  longas  (avião,  autocarro,  automóvel),  ou  no  desempenho  
de   profissões   que   obriguem   a   posição   de   sentado   ou   de   pé   por   períodos   longos  
(cabeleireiros,  empregados  de  restauração,  hospedeiras,  cirurgiões,  etc.).  
As   meias   devem   ser   lavadas   diariamente   de   acordo   com   as   indicações   de   utilização  
que  as  acompanhem,  não  devendo  ser  torcidas,  nem  secadas  nos  secadores  ou  ao  sol.  
As   meias   elásticas   tratadas   de   acordo   com   as   recomendações   tem   uma   duração   de  
quatro  a  seis  meses.  

Conclusões    

-­‐  Evidência  robusta  na  prevenção  e  tratamento  das  úlceras  venosas  (kit  ulcer);  
-­‐   Evidência   moderadamente   robusta   para   uso   das   meias   elásticas   em   doentes   com  
sintomas   venosos   e   na   prevenção   e   tratamento   do   edema   venoso   (classes   de  
compressão  I  e  II);  
-­‐  Recomendação  para  uso  de  meia  elástica  depois  do  tratamento  cirúrgico  de  varizes  
durante  a  1ª  semana  (Mediven  struva  23  mm  Hg);  
-­‐  Não  há  ensaios  randomizados  que  documentem  efeito  preventivo  na  progressão  da  
doença  venosa;  
-­‐   Na   trombose   venosa,   as   meias   de   compressão   elástica   são   recomendadas   para  
reduzir  o  edema  e  a  tumefação  iniciais;  

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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

-­‐   Na   prevenção   da   síndrome   pós-­‐trombótica,   apesar   de   resultados   contraditórios,   as  


meias  elásticas  continuam  a  ser  recomendadas;  
-­‐  Na  prevenção  do  tromboembolismo  venoso  as  meias  elásticas  têm  lugar  limitado,  e,  
em  regra,  associado  aos  anticoagulantes.  
 
 
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Cirurgia das varizes dos membros inferiores

 
 
CIRURGIA  DAS  VARIZES  DOS  MEMBROS  INFERIORES  
Carlos  Pereira  Alves  
 
  Razões  da  cirurgia  
Os   doentes   com   doença   venosa   crónica   (DVC),   classe   C2   da   classificação   CEAP,   têm  
como  indicação  para  cirurgia:  
.  Cosmética;  
.  Resolução/  alívio  de  sintomas;  
.  Retirar  as  veias  varicosas;  
.   Prevenir   a   evolução   para   insuficiência   venosa   crónica   (IVC)   classes   C3,   4,   5,   6     da  
classificação  CEAP.  
.   Evitar   complicações   de   varicorragia   (espontânea   ou   traumática)   ou   de   varicoflebite  
(trombose  venosa  em  veia  varicosa).  
Na   ausência   de   contraindicações   e   com   consentimento   informado,   todos   os   doentes  
com  varizes  têm  indicação  para  cirurgia.  
A  insuficiência  venosa  crónica  reforça  a  indicação  para  cirurgia.  
Nas   úlceras   venosas,   o   ensaio   ESCHAR   randomizou   500   doentes   que,   para   além   da  
úlcera,   tinham   refluxo   superficial   isolado   ou   refluxo   superficial   e   profundo,  
comparando   a   compressão   elástica   com   a   cirurgia   de   laqueação   e   stripping   associados  
a  compressão  elástica.  Aos  quatro  meses  a  percentagem  de  cicatrização  era  igual  (65  
%),  mas  aos  12  meses  a  recorrência  era  de  28  %  no  grupo  só  com  compressão  e  12  %  
no  grupo  com  cirurgia  associada,  diferença  que  se  mantinha  aos  quatro  anos1,  2.  
A  cirurgia  das  varizes  mostrou  ser  custo-­‐efetiva3.  
 
  Moderna  abordagem  na  cirurgia  das  varizes  
Na  sequência  de  um  conceito  clássico,  com  mais  de  100  anos,  de  que  as  varizes  eram  
consequência   de   uma   insuficiência   valvular   descendente   progressiva,   iniciada   na  
insuficiência  da  válvula  terminal  das  crossas  das  safenas,  a  cirurgia  das  varizes  tem  sido  
igual   para   todos   os   doentes,   consistindo   na   laqueação   das   crossas   das   safenas,   hoje  
designadas   junção   safenofemoral   (JSF)   e   junção   safenopoplítea   (JSP),   “stripping”   do  

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Cirurgia das varizes dos membros inferiores

tronco   das   safenas   e   excisão/laqueação   das   veias   varicosas   com   incisões   cutâneas  
múltiplas.  
O   “stripping”   da   grande   veia   safena   (GVS),   inicialmente   da   região   inguinal   até   ao  
maléolo  interno,  deu  lugar  a  “stripping”  limitado  ao  joelho,  para  evitar  lesão  do  nervo  
safeno,  dada  a  proximidade  deste  com  a  GVS  no  terço  médio  da  perna.  
Esta   abordagem   estandardizada   e   radical,   mudou   na   sequência   de   observações  
anatómicas  e  funcionais  com  o  exame  ecoDoppler  com  cor.  
De  facto  este  exame,  hoje  essencial  no  estudo  e  tratamento  das  varizes,  ao  permitir  a  
visualização   ecográfica   das   veias,   veio,   no   plano   anatómico,   mostrar   que   as   veias  
safenas  são  veias  interfasciais  e  não  superficiais.  O  tronco  das  safenas  é  revestido  na  
sua   face   anterior,   por   uma   fascia   (a   fascia   safeniana)   e   na   face   posterior   pela  
aponevrose   muscular,   estando   assim   localizado   num   compartimento   próprio   (o  
compartimento  safeniano).  Ao  contrário,  da  anatomia  clássica  que  considerava  apenas  
dois   compartimentos   para   as   veias   dos   membros   inferiores,   o   compartimento   das  
veias   profundas   e   o   das   veias   superficiais,   a   anatomia   ecoDoppler   considera   três  
compartimentos:   o   profundo   com   as   veias   profundas,   inter   e   intramusculares;   o  
interfascial,   com   os   troncos   das   veias   safenas;   e   o   superficial   com   as   colaterais  
superficiais,  safenianas  ou  não  safenianas4,  5  (Fig.  1).  
 
 
 
 
Compartimento  
superficial  

  Compartimento  
safeniano  

Compartimento  
profundo  
 
 
 
Fig.  1  -­‐  Compartimentos  venosos  da  ecoanatomia.  
 

122
  120  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

A  existência  desta  fascia  safeniana  torna  as  veias  safenas  mais  resistentes  à  dilatação  
na   posição   de   pé,   em   relação   às   veias   superficiais   mais   vulneráveis.   No   plano  
hemodinâmico   o   exame   ecoDoppler   veio   mostrar   que   a   válvula   terminal   da   GVS   é  
competente   em   cerca   de   50   %   dos   doentes   com   varizes6,   7   e   que   o   refluxo   pode  
envolver   apenas   colaterais   superficiais,   safenianas   ou   não,   colaterais   superficiais   e  
tronco   das   safenas   ou   apenas   o   tronco   das   safenas.   O   envolvimento   do   tronco   das  
safenas   pode   ser   contínuo   da   junção   safenofemoral   até   ao   maléolo   ou   apenas   de  
segmentos  da  GVS  que  podem  envolver  ou  não  a  JSF.  
Com   base   neste   padrão,   os   refluxos   são   classificados   de   refluxo   axial   (Ra)   quando   o  
refluxo  da  GVS  é  contínuo  da  JSF  até  ao  maléolo  (Fig.  2)  e  refluxo  segmentar  (Rs)  nos  
restantes   casos,   com   as   variantes   de   Rs1   (Fig.   3),   que   apenas   envolve   colaterais,   Rs2  
(Fig.   4),   quando   envolve   colaterais   e   segmentos   da   safena   e   Rs3   (Fig.   5),   quando  
envolve  colaterais  e  a  JSF8,  9,  10,  11,  12,  13,  14.  
 

                                               
Fig.  2  -­‐  Refluxo  axial  da  GVS  (Ra)          Fig.  3  -­‐  Refluxo  segmentar  Rs1  
 

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  121  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

                       
                       Fig.  4  –  Refluxo  segmentar  Rs2                    Fig.  5  –  Refluxo  segmentar  Rs3  
Estes   achados   do   ecoDoppler   vieram   questionar   a   teoria   valvular   clássica,   da  
insuficiência  descendente  progressiva  a  partir  da  válvula  terminal  da  safena  (Fig.  6),  e  
são   a   favor   de   uma   teoria   parietal   em   que   o   processo   inicial   das   varizes   se   pode   iniciar  
em   qualquer   segmento   venoso   (veias   superficiais   ou   tronco   das   safenas),   com  
progressão  ascendente  (Fig.  7),  como  referido  por  Labropoulos  “...  the  parietal  venous  
modifications  may  appear  in  any  venous  segment  whatever  its  localization  and  quality  
of  its  valves.”15  

 
                     Fig.  6  –  A.  Fluxo  normal;  B.  Início  de  reflu-­‐      Fig.  7  –  A.  Fluxo  normal;  B.  Início  do  re-­‐  
                     xo  na  junção;  C.  Progressão  descendente        fluxo  na  colateral  superficial;  C.  Progres-­‐  
                     do  refluxo  ao  longo  da  GVS;  D.  Progres-­‐        são  ascendente  do  refluxo  ao  longo  da    
                     são  envolvendo  colateral  superficial.        GVS;  D.  Progressão  envolvendo  a  junção.  
(amabilidade  de  A.  Caggiati)  

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  122  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

As   veias   varicosas   superficiais,   de   extensão   e   dimensões   variáveis   representam   um  


reservatório   varicoso   superficial   que   tem   vindo   a   ganhar   relevo   de   papel   central   na  
evolução  das  varizes  papel  até  aqui  atribuído  as  safenas  tronculares16,  17.  
A   excisão   destas   veias   superficiais   varicosas   pode   reduzir   ou   suprimir   o   refluxo   nas  
veias  safenas18,  19,  20.  
Estudos   com   o   ecoDoppler   têm   também   mostrado   que   pontos   de   refluxo   entre   as  
veias   profundas   e   as   veias   superficiais   ou   interfasciais   (safenas)   e   considerados   até  
aqui  como  responsáveis  do  início  do  processo  de  dilatação  varicoso  ao  permitir  através  
das  crossas  das  safenas  ou  de  veias  perfurantes  transmissão  da  maior  pressão  venosa  
das   veias   profundas   às   superficiais   podem   ser   corrigidos   pela   ablação   das   veias  
varicosas  superficiais.  
 A  correção  de  refluxos  da  GVS,  com  a  excisão  das  colaterais  varicosas  poderá  ter  como  
explicação   plausível,   a   diminuição   da   sobrecarga   do   volume   de   sangue   venoso  
(overload)  exercido  pelo  reservatório  varicoso  superficial  ou  do  efeito  aspirativo  (efeito  
sifão)  das  próprias  varizes  sobre  a  safena  troncular.  
Também   as   perfurantes   têm   mostrado   recuperar   a   sua   competência   uma   vez   feito   o  
tratamento   das   colaterais   varicosas,   questionando   o   papel   das   perfurantes   e   a  
necessidade  a  sua  laqueação21,  22,  23,  24,  25.  
Nas   técnicas   endovasculares   em   que   a   oclusão   da   GVS   se   inicia   2   cm   abaixo   da   JSF,  
preservando   assim   colaterais   da   crossa,   estas   têm   mostrado   no   estudo   ecoDoppler  
manterem   fluxo   fisiológico   para   a   veia   femoral,   não   se   verificando   como   se   pensava,  
ser  esta  preservação  de  colaterais  da  crossa  um  fator  de  recorrência.  
Esta  não  necessidade  de  laqueação  da  JSF  juxta  femoral  reduz  a  disseção  cirúrgica  da  
região   inguinal,   reduzindo   o   potencial   risco   de   neovascularização,   hemorragia   ou  
linforragia.  
A  sua  não  realização  não  é  fator  de  recorrência26,  27.  

125
  123  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Várias   técnicas 
Várias  técnicas   estão 
estão   hoje 
hoje   disponíveis 
disponíveis   para 
para   atingir 
atingir   este 
este   objetivo 
objetivo   desde 
desde   a 
a   cirurgia 
cirurgia  
clássica   convencional,   a   moderna   cirurgia   adaptada   ao   padrão   de   refluxo,   a   técnica  
clássica convencional, a moderna cirurgia adaptada ao padrão de refluxo, a técnica
CHIVA,  as
CHIVA, as  técnicas
técnicas  endovasculares
endovasculares  de
de  radiofrequência,
radiofrequência,   llaser
aser   o
ouu   vvapor,
apor,  à  escleroterapia
escleroterapia  
com  espuma
com espuma  gguiada
uiada  ppor
or  eecoDoppler,
coDoppler,  ppara
ara  m encionar  aas
mencionar s  m ais  uutilizadas.
mais tilizadas.  
Perante  estas  varias  opções,  não  há  consenso  sobre  qual  o  melhor  tratamento,  o  qual  
Perante estas varias opções, não há consenso sobre qual o melhor tratamento, o qual
deve  ter  em  consideração  a  extensão  e  dimensão  das  varizes  e  os  padrões  de  refluxo,  
deve ter em consideração a extensão e dimensão das varizes e os padrões de refluxo,
axial  oou
axial u  ssegmentar.
egmentar.  
As  “guidelines”  não  são  inclusivas  do  tratamento  integral,  p.  ex.  consideram  
As “guidelines” não são inclusivas do tratamento integral, p. ex. consideram de escolha
de  técnicas
as escolha  aendovasculares
s  técnicas  endovasculares  
no tratamento no  tratamento  
do tronco ddas
o  tronco  
safenas, das  mas
safenas,  
estasmtécnicas 
as  estas  
técnicas  
não  tratam  não  as 
tratam   as   colaterais  
colaterais  varicosas,  varicosas,  
sendo  que,  sendo  
para  que,  
estas  para   estas   o   tratamento  
o  tratamento  de  escolhade  
éescolha  é  a  fleboextração  com  incisões  cutâneas  múltiplas  ou  esclerose.  Dado  que,  a  
a fleboextração com incisões cutâneas múltiplas ou esclerose. Dado que, a grande 
grande   maioria  
maioria  de  doentes de   doentes   com   varizes  
com  varizes  tem   colaterais  
tem  colaterais  varicosas, varicosas,   com   envolvimento  
com  envolvimento  axial
axial   ou   segmentar   do   tronco   das   safenas,   a   cirurgia   é   a   única   técnica   que   trata,   no  
ou segmentar do tronco das safenas, a cirurgia é a única técnica que trata, no
mesmo  ttempo
mesmo empo  ooperatório,
peratório,  aass  ccolaterais
olaterais  ee  oo  ttronco.
ronco.  
Não   havendo 
Não  havendo   consenso 
consenso   sobre 
sobre   o 
o   tratamento 
tratamento   de 
de   escolha, 
escolha,   este 
este   deve 
deve   ser 
ser   baseado 
baseado   na 
na  
interpretação  dos  dados  ecoDoppler,  na  experiência  pessoal  e  resultados  obtidos  com  
interpretação dos dados ecoDoppler, na experiência pessoal e resultados obtidos com
determinada   técnica  
determinada  técnica pelo   cirurgião, a  a par  
pelo cirurgião,   par da  
da possibilidade  
possibilidade  de  
de  escolha  
escolha  informada  
informada  e  
esclarecida  
e  esclarecida do  do
doente.  
doente.
Recente   meta-­‐análise   realizada   pela   SVS   e   AVF,   mostrou   estar   a   cirurgia,   em  
comparação   com   outras   modalidades   de   tratamento,   associada   a   uma   redução   não  
significativa   de   recorrência   de   varizes   e   as   técnicas   menos   invasivas   associadas   a  
menor  morbilidade  pós-­‐operatória  (dor  e  retorno  da  atividade28).  
No  European  Venous  Forum  (EVF;  29  de  junho  -­‐  1  julho  -­‐  2017,  Porto,  Portugal),  Lars  
Rasmusssen  apresentou  um  estudo  comparando  os  resultados  a  cinco  anos  de  quatro  
diferentes   métodos   de   tratamento   das   varizes,   radiofrequência   (closure   fast),   laser,  
laqueação   da   JSF   e   stripping   e   escleroterapia   guiada   por   ultrassonografia.   0s   autores  
concluem,   que   houve   mais   recanalizações   da   GVS   com   a   escleroterapia   e   que   não  
houve  diferenças  na  eficácia  clínica  entre  as  outras  modalidades.  
Devemos   ainda   ter   presente   que   as   técnicas   endovasculares   tem   limitações  
anatómicas   a   saber,   GVS   com   diâmetro   superior   a   10-­‐12   mm,   de   trajeto   superficial,  
tortuoso   ou   com   dilatações   saculares,   verdadeiros   aneurismas   venosos   superficiais,  
nomeadamente  na  JSF  (Fig.  8).  

126
  124  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Fig.  8  -­‐  Aneurisma  venoso  da  JSF   Fig.  8a  -­‐  Imagem  ecográfica  

Fig.  8b  -­‐  Imagem  intra  operatória  

A  percentagem  de  recorrência  com  a  cirurgia,  é  similar  ou  ligeiramente  inferior  à  das  
restantes  técnicas28.  
A percentagem de recorrência com a cirurgia, é similar ou ligeiramente inferior à das
A  nossa  opção  de  escolha  no  tratamento  das  varizes  é,  assim,  de  cirurgia  adaptada  ao  
restantes técnicas
padrão   de  
28
. do   exame   ecoDoppler,   porque   permite   excisão   das   safenas   e  
refluxos  
A nossa opção
colaterais   de escolha
varicosas   com   a  nomesma  
tratamento dase  varizes
técnica   é, assim,
no   mesmo   de operatório,  
tempo   cirurgia adaptada ao
não   tem  
padrão  de anatómicas,  
limitações   refluxos  do  é  
exame feita   ecoDoppler,  porque 
em   ambulatório,   permite 
com   excisão 
retoma   das  safenas 
de   atividade   e 
no   dia  
colaterais
seguinte,  e  varicosas com a mesma
sem  complicações   técnica e no mesmo tempo operatório, não
significativas.  
tem limitações  anatómicas,  é  feita  em  ambulatório,  com  retoma  de  atividade  no 
dia  seguinte, e sem complicações significativas.

127
125  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Como fazemos?
As  considerações  que  se  seguem  são  resultantes  dos  doentes  tratados  no  período  de  
2012  a  2017,  a  saber  1111  doentes,  sendo  as  varizes  bilaterais  em  514,  o  que  perfaz  um  
total   de   1625   membros   inferiores   operados,   dos   quais   270   com   varizes   recorrentes  
(16,6  %).  
-­‐   Cuidada e completa história e observação clínica, que nos permitam estabelecer
a classe de classificação CEAP, C0s a C6, registar os sintomas e sua severidade,
antecedentes de complicações de varicorragia, varicoflebite ou tromboembolismo
venoso bem como comorbilidades.
-­‐   Exame ecoDoppler venoso, que permita completar a classificação CEAP, e estabelecer
o padrão de refluxo axial ou segmentar das safenas, bem como o estudo das veias
perfurantes e profundas femoral e poplítea.
O  estudo  ecoDoppler  venoso  com  cor  permite  proceder  a  um  verdadeiro  mapeamento  
pré-­‐operatório  das  varizes  e  padrões  de  refluxo.  
Na  nossa  experiencia  os  padrões  de  refluxo  mais  frequentes  são:  
-­‐   Refluxo   da   JSF   e   de   todo   o   tronco   da   GVS,   envolvendo   quase   sempre   colaterais  
varicosas  na  coxa  e/ou  perna  (refluxo  axial  da  GVS);  

 -­‐  Refluxo  da  JSF  com  refluxo  da  GVS  só  até  ao  terço  superior  ou  medio  da  coxa,  onde  
se   verifica   zona   de   confluência   com   colateral   varicosa   (frequente   a   colateral   antero-­‐
externa   da   coxa),   com   competência   da   GVS   abaixo   desta   confluência   (refluxo  
segmentar,  Rs3);  
-­‐  Refluxo  na  safena  acessória  anterior  com  JSF  competente  ou  incompetente,  mas  com  
tronco  da  GVS  competente  (refluxo  segmentar,  Rs3);  
-­‐  Refluxo  em  colaterais  e  segmentos  adjacentes  da  GVS  (refluxo  segmentar  Rs2);  
-­‐   Refluxo   só   em   colaterais,   safenianas   ou   não   safenianas,   com   safenas   competentes  
(refluxo  segmentar,  Rs1);  
-­‐  Refluxo  na  JSP  e  PVS  mais  colaterais  varicosas  na  perna  (refluxo  axial  da  PVS);  
-­‐  Refluxo  na  PVS  que  não  se  lança  na  veia  poplítea,  mas  se  prolonga  pela  face  posterior  
da  coxa,  perdendo-­‐se  em  veias  na  direção  abdómino-­‐pélvica,  ou  conectando-­‐se  com  a  
GVS  (veia  Giacomini);  
-­‐   O   ecoDoppler   é   igualmente   útil   na   visualização   de   dilatações   saculares   da   GVS,   por  
vezes  na  região  da  JSF.  

128

126  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Estes  diferentes  padrões  de  refluxo  vão  condicionar  a  estratégia  cirúrgica,  que  deixa  de  
ser  igual  para  todos  os  doentes,  com  a  possibilidade  de  conservação  da  GVS,  quando  
do  seu  envolvimento  segmentar.  
Estudo  dos  pulsos  distais  (tibial  posterior  e  pedioso),  com  Doppler  contínuo  e  pedido  
de  ecoDoppler  arterial  se  os  mesmos  estiverem  diminuídos.  
-­‐   No  final  da  consulta  é  explicado  ao  doente  o  tratamento,  este  assina  consentimento  
informado  e  recebe  um  folheto  informativo  (Anexo1).  
-­‐   A   cirurgia   é   realizada   em   ambulatório   na   quase   totalidade   dos   doentes,   com  
internamento  esporádico  de  um  dia,  por  razões  de  preferência  do  doente  (raríssimo)  
ou  distância  do  domicílio.  
Os  doentes  são  admitidos  de  manhã,  08:00  horas,  e  têm  alta  pelas  20:00  horas.  
No   próprio   dia,   antes   da   ida   para   o   bloco   operatório,   o   cirurgião   procede,   com   o  

doente  de  pé,  a  marcação  com  caneta  dermográfica  de  todas  as  colaterais  varicosas,  
(Fig.   9)   bem   como   uma   marcação   precisa   da   JSF   ou   JSP   (esta   já   referenciada   no   exame  
ecoDoppler),   com   o   Doppler   portátil,   para   facilitar   a   abordagem   cirúrgicas   das  
mesmas.  

Fig.  9  -­‐  Marcação  pré  operatória  

A   anestesia   é   locorregional,   epidural   ou   raquianestesia,   ou   anestesia   geral   com  


máscara  laríngea.  
A   nossa   prática   cirúrgica   tem   mostrado,   com   estas   técnicas   anestésicas,   bons  
resultados,  sem  complicações  e  recuperação  em  2-­‐4  horas.  
-­‐   A  cirurgia  tem  como  passos  principais:  

129
127  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

-­‐  Desinfeção  da  pele  com  Octenidina;  


-­‐  Abordagem  da  GVS  com  uma  incisão  transversal  de  4-­‐6  cm,  paralela  à  prega  inguinal  
e  centrada  na  JSF  de  acordo  com  a  marcação  pré-­‐operatória  do  Doppler  contínuo;  
-­‐  Exposta  na  região  inguinal  a  GVS,  esta  é  seccionada  entre  duas  pinças  hemostáticas,  
laqueado  o  topo  proximal  com  seda  2/0  e  referenciado  o  topo  distal,  com  duas  pinças  
de  Halstead,  através  do  qual  é  introduzido  um  “stripper”  flexível,  de  cima  para  baixo,  
até  abaixo  do  joelho  (em  regra),  onde  é  recuperado  através  de  uma  pequena  incisão  
cutânea   vertical   com   exposição   do   tronco   da   safena,   laqueação   do   topo   distal   e  
exteriorização   do   “stripper”   através   do   topo   proximal.   O   “stripper”   exteriorizado   é  
puxado  de  cima  para  baixo  até  a  sua  extremidade  superior  ficar  envolvida  no  lúmen  da  
GVS,   sendo   depois   laqueado   circularmente   com   seda   2/0,   abaixo   da   extremidade   mais  
larga   do   “stripper”.   Uma   vez   laqueada   a   GVS   em   volta   do   “stripper”   este   é   agora  
retirado  de  cima  para  baixo,  com  gestos  suaves  arrastando  por  invaginação  a  GVS;  
-­‐   As   veias   superficiais   varicosas,   previamente   marcadas,   são   retiradas   com   incisões  
cutâneas  múltiplas,  verticais  na  coxa  e  perna  e  transversais  no  joelho,  respeitando  as  
linhas  de  tração  cutânea  de  Langer;  
-­‐  Na  cirurgia  da  PVS,  a  abordagem  da  JSP  é  feita  com  incisão  transversal  centrada  na  
marcação  pré-­‐operatória  e  laqueação  da  mesma.  Não  procedemos  a  stripping  da  PVS;      
-­‐  Não  procedemos  à  laqueação  das  perfurantes  incompetentes  da  perna,  nos  doentes  
classe  clínica  C2   e  nas  classes  C5  e  C6   só  consideramos  a  sua  laqueação  para  doentes
que,   após   o   tratamento   do   sistema   superficial,   venham   a   ter   recorrência   da   úlcera  
venosa,   com   persistência   de   perfurantes   incompetentes   na   região   da   úlcera   e   que   não  
tenham   insuficiência   associada   das   veias   profundas.   Apesar   de   um   ensaio   clínico   ser  
favorável  ao  tratamento  inicial  das  perfurantes  nos  doentes  com  úlcera  para  prevenir  a  
sua   recorrência29,   esta   posição   não   é   consensual,   dada   a   não   existência   de   ensaios  
randomizados  e  controlados,  que  comparem  a  cirurgia,  só  do  sistema  superficial,  com  
a   cirurgia   do   sistema   superficial   mais   laqueação   das   perfurantes,   e   se   ter   verificado  
perfurantes   incompetentes   tornarem-­‐se   competentes,   depois   do   tratamento   do  
sistema   superficial21,   22,   23,   24,   25.   Uma   revisão   da   cirurgia   das   perfurantes   conclui   não  
haver  evidências  de  benefício  da  sua  laqueação,  pelo  contrário,  as  evidências  apontam  
no  sentido  da  sua  não  necessidade30.  

130
128  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Em   2017   as   guidelines   do   AVF   no   tratamento   da   úlcera   venosa   (recomendação   4-­‐24-­‐4-­‐


5)sugerem  a  laqueação  das  veias  perfurantes  em  adição  ao  tratamento  da  insuficiência
superficial  e  à  terapêutica  compressiva,  sendo  a  sugestão  de  grau  2C,  fraca  e  baseada  
em  evidências  de  qualidade  baixa  ou  muito  baixa31.  
-­‐   Na  cirurgia  de  varizes  recorrentes,  procedemos  apenas  à  excisão  das  novas  colaterais  
varicosas,  sem  reexploração  da  região  da  JSF  (redo-­‐surgery)32.  
As  varizes  recorrentes  refletem  o  caráter  crónico  progressivo  da  doença,  mesmo  com  a  
abordagem  radical  de  excisão  dos  segmentos  venosos  patológicos,  a  recorrência  está  
sempre   presente,   não   havendo   marcadores   que   permitam   prever   essa   possibilidade  
(em  que  casos)  nem  a  sua  rapidez.  

O  doente  tem  alta,  como  já  referido  pelas  20:00  h,  deslocando-­‐se  pelos  seus  próprios  
meios,  retomando  a  sua  atividade  diária  normal  no  dia  seguinte,  com  a  meia  elástica.  
O  regresso  ao  trabalho  é  função  do  tipo  deste  e  do  próprio  doente,  sendo  de  dois  a  dez  
dias  (altura  em  que  retira  os  pontos  e  a  meia  elástica).        
Não   tivemos   qualquer   complicação   peri-­‐operatória   relacionada   com   a   cirurgia   ou  
anestesia.  
 A   cirurgia   dura   de   30   minutos   a   duas   horas,   conforme   a   extensão   e   magnitude   das  
varizes  e  serem  uni  ou  bilaterais.  
Não   fazemos   profilaxia   antibiótica   e   só   fazemos   prevenção   do   TEV   nos   doentes   com  
antecedentes  de  episódios  tromboembólicos.  
 Além   da   analgesia   no   pós-­‐operatório   imediato,   não   prescrevemos   analgésicos   e/ou  
anti-­‐inflamatórios   para   o   pós-­‐operatório,   e   os   doentes   tem   confirmado   a   sua   não  
necessidade,  referindo  apenas,  por  vezes  no  1º  dia,   uma   ou   duas   tomas  de  analgésico,  
tipo  Paracetamol  ou  Aspirina,  mais  por  prevenção  que  por  necessidade.  
A  manutenção  da  meia  elástica  Struva  no  pós-­‐operatório,  poderá  ser  fator  explicativo  
desta  não  necessidade  de  analgesia/anti-­‐inflamatórios  no  pós-­‐operatório,  dado  o  seu  
efeito  compressivo  poder  limitar  a  dor  e  inflamação.  
Na página seguinte exemplos de doentes operados (Fig. 10 a 17).

131
129  
Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Fig. 10 - Varizes exuberantes em doente com Fig. 11 - Varizes retiradas


antecedentes de cirurgia da obesidade

Fig. 12 - Seis meses depois Fig. 13 - Um ano depois

Fig. 14 Fig. 16
Varizes da Varizes da perna
coxa esquerda

Fig. 15 Fig. 17
Três anos depois Três anos depois

132
Cirurgia das varizes dos membros inferiores
As   complicações   pós-­‐operatórias   tem   sido   clinicamente   não   significativas,   traduzidas  
essencialmente,   na   nossa   série   de   1111   doentes   operados   entre   2012-­‐2017,   por  
ligeiras   equimoses   da   coxa,   que   resolvem   em   dias   ou   semanas   (as   equimoses   extensas  
do  passado  passaram  a  ser  pouco  frequentes  com  a  técnica  “stripping”de  invaginação).  
Deiscência  das  incisões  cutâneas  são  muito  raras,  tivemos  três  casos  com  necessidade  
de  ressutura  em  um  caso,  e  um  de  necrose  dos  bordos  de  incisão  de  doente  diabético,  
como  infeção  tivemos  um  caso  de  abcesso  inguinal  necessitando  de  drenagem,  raros  
hematomas   (três   casos),   linfatomas   (um   caso   na   região   inguinal),   linforragia   (dois  
casos:  um  inguinal  e  um  em  incisão  da  perna),  neurite  do  nervo  safeno  (dois  casos  de  
parestesias  temporárias  do  tornozelo),  e  pensamos  que  o  stripping  de  invaginação,  de  
cima   para   baixo   e   limitado   ao   joelho,   reduz   a   possibilidade   da   lesão   do   nervo.   Não  
tivemos  casos  de  TEV.  
Dado  serem  as  varizes  uma  doença  crónica  progressiva,  pretendemos  um  seguimento  
contínuo  numa  base  anual.  

Como conclusão da nossa série de 1625 membros operados entre 2012 e 2017,
a cirurgia das varizes adaptada ao padrão de refluxos teve excelentes resultados
com morbilidade mínima, rápido regresso as atividades diárias (um dia) e ao trabalho
(dois a dez dias), e elevado grau de satisfação dos doentes, manifestado na
consulta pós-operatória.

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Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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135
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136
Tratamento endovascular

TRATAMENTO  ENDOVASCULAR  
Élia  Coimbra  e  Filipe  Veloso  Gomes  

Introdução  às  técnicas  endovasculares  


O  tratamento  do  refluxo  das  veias  safenas  evoluiu  da  abordagem  cirúrgica  clássica  de  
laqueação   alta   da   Veia   Grande   Safena   (VGS)   e   stripping   da   mesma,   para   uma  
abordagem   minimamente   invasiva   através   de   diversas   técnicas   endovasculares,   que  
permitem  o  tratamento  das  varizes  dos  membros  inferiores,  em  regime  ambulatório,  
apenas  com  recurso  a  anestesia  local  e  com  a  possibilidade  de  realizá-­‐lo  em  contexto  
de  consultório,  fora  do  bloco  operatório.  As  primeiras  técnicas  endovasculares  foram  
desenvolvidas   nos   anos   90   e   as   primeiras   publicações   de   estudos   observacionais   e  
experimentais   surgiram   no   início   dos   anos   2000,   demonstrando   a   equivalência   no  
sucesso  técnico  imediato  e  menores  complicações,  em  comparação  com  a  abordagem  
cirúrgica   clássica1,   2,   3,   4.   As   primeiras   técnicas   endovasculares   para   o   tratamento   do  
refluxo   das   veias   safenas   foram   a   termoablação   com   laser   ou   radiofrequência   e   a  
escleroterapia  com  espuma,  todas  elas  requerendo  a  utilização  de  ecografia  para  guiar  
o acesso,  injeção  e  posicionamento  dos  cateteres/fibras,  de  forma  segura.

Evidência  e  recomendações  no  tratamento  das  veias  safenas    


Em  2012  surgiu  a  primeira  revisão  sistemática  e  metanálise  de  estudos  randomizados  e  
controlados,  comparando  o  insucesso  no  tratamento  do  refluxo  da  veia  tratada  entre  a  
ablação   endovenosa   e   o   tratamento   cirúrgico   no   tratamento   de   varizes.   Nesta  
metanálise,   a   termoablação   com   laser   ou   radiofrequência   (RFA),   mas   não   a   ablação  
com   espuma,   teve   eficácia   equivalente   à   cirurgia,   sem   diferenças   estatisticamente  
significativas.   Em   relação   à   comparação   da   ocorrência   de   complicações,   a  
termoablação   (laser   ou   RFA)   teve   uma   taxa   de   infeção   inferior   em   70   %   (NNT   80),  
redução  do  risco  de  hematoma  em  50-­‐60  %  (NNT  4  a  10),  menor  dor  pós-­‐tratamento  e  
permitiu   um   retorno   mais   rápido   às   atividades   normais   em   três   a   cinco   dias,   em  
relação   à   cirurgia5.   Mais   recentemente,   duas   revisões   sistemáticas   publicadas   pela  
Cochrane   Database   of   Systematic   Reviews   analisaram   os   resultados   provenientes   de  

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133  
Tratamento endovascular

estudos  randomizados  e  controlados,  que  compararam  o  tratamento  cirúrgico  com  a  


termoablação  e  a  ablação  com  espuma  de  veias  grandes  e  pequenas  safenas  refluxivas.  
Em   relação   ao   tratamento   do   refluxo   da   VGS,   os   dados   analisados   demonstraram  
eficácia  semelhante  do  tratamento  cirúrgico  em  comparação  com  a  termoablação  ou  
com   a   ablação   com   espuma,   tendo   os   autores   alertado   para   a   falta   de   robustez   da  
evidência   clínica   previamente   publicada   e   que   serviu   de   base   a   este   estudo6.   Em  
relação  ao  tratamento  da  Veia  Pequena  Safena  (VPS),  os  autores  concluem  que  existe  
evidência  que  demonstra  que  a  taxa  de  recanalização  ou  persistência  de  refluxo  às  seis  
semanas,   bem   como   a   recorrência   de   refluxo   após   um   ano,   são   menores   no  
tratamento   com   termoablação   com   laser,   quando   comparado   com   a   cirurgia  
convencional7.   Relativamente   a   outros   indicadores,   não   foram   encontrados   estudos  
suficientes   que   permitissem   tirar   conclusões.   Por   último,   em   relação   à   análise   de  
custo-­‐efetividade,   existe   alguma   evidência   que   favorece   a   termoablação   e   em  
particular   o   tratamento   com   laser,   como   o   tratamento   que   apresenta   a   maior   custo-­‐
eficácia,  quando  comparado  com  a  cirurgia  ou  a  ablação  com  espuma8,   9.  O  aumento  
do   número   de   publicações   e,   em   particular,   os   resultados   das   principais   metanálises  
estão,   pelo   menos   em   parte,   na   base   das   recomendações   atuais   das   principais  
sociedades   científicas   generalistas   e   de   cirurgia   vascular.     De   acordo   com   as   Clinical  
Practice   Guidelines   da   European   Society   for   Vascular   Surgery   (ESVS)   de   2015,   o  
tratamento   do   refluxo   da   VGS   deve   ser   realizado,   preferencialmente,   com  
termoablação   endovenosa,   em   detrimento   da   cirurgia   ou   da   ablação   com   espuma10.  
Em   relação   ao   tratamento   do   refluxo   da   VPS,   a   recomendação   é   apenas   de  
consideração   da   abordagem   endovenosa   no   tratamento   da   mesma.   O   National  
Institute  for  Health  and  Care  Excellence  (NICE)  do  Reino  Unido,  recomendou  a  partir  de  
2013   a   utilização   da   termoablação   endovenosa   do   refluxo   das   veias   safenas   com  
varizes   dos   membros   inferiores,   como   a   abordagem   de   primeira   linha,   seguida   da  
ablação   com   espuma   e   da   cirurgia,   quando   a   primeira   estiver   contraindicada11.   Do  
outro   lado   do   Atlântico,   a   Society   for   Vascular   Surgery   (SVS),   em   conjunto   com   o  
American   Venous   Forum   (AVF),   recomendam   a   termoablação   endovenosa   em  
detrimento   da   cirurgia,   devido   à   redução   da   dor   e   da   morbilidade   associada   e   ao  
menor   período   de   convalescença12.   As   técnicas   endovasculares   são   habitualmente  

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Tratamento endovascular

complementadas   com   a   realização   de   flebectomias   ou   escleroterapia   com   espuma   das  


varizes,  na  mesma  sessão  ou  num  segundo  tempo10.  
 
  Termoablação  das  veias  safenas  
A  termoablação  das  veias  safenas  consiste  na  aplicação  de  energia  térmica  através  de  
cateteres,   EVLT,   RFA   ou   vapor.   Em   todas   as   técnicas   de   termoablação,   está  
recomendada  a  terapêutica  com  meias  de  compressão  durante  cerca  de  uma  semana  
(embora   não   seja   consensual   uma   duração   exata).   Estas   técnicas   podem   ser   realizadas  
em  ambulatório,  sem  recurso  a  anestesia  geral,  permitindo  a  alta,  imediatamente  após  
a  realização  do  tratamento.  O  procedimento  de  termoablação,  consiste  na  canulação  
ecoguiada  da  VGS,  habitualmente  logo  abaixo  do  joelho,  progredindo-­‐se  um  cateter  e  
um   fio   guia   até   à   junção   safenofemoral   (JSF).   De   seguida   retira-­‐se   parcialmente   o  
cateter   e   posiciona-­‐se   entre   2   a   5   cm   da   JSF   e   substitui-­‐se   o   fio   guia   pela   fibra   de   laser  
ou  cateter  de  radiofrequência,  de  acordo  com  as  recomendações  de  cada  fabricante.  
Todas  as  técnicas  de  termoablação  incluem  a  administração  de  elevada  energia  sob  a  
forma  de  calor,  motivo  pelo  qual  o  passo  seguinte  é  a  administração  da  anestesia  de  
tumescência.   A   anestesia   de   tumescência   consiste   na   injeção   no   compartimento   da  
VGS,   entre   a   faixa   muscular   e   a   faixa   hipodérmica,   de   volumes   generosos   de   soro  
fisiológico   contendo   lidocaína   (0,05   %   a   0,1   %)   e   adrenalina   (1:1.000.000),   com   o  
objetivo  de  anestesiar  localmente,  comprimir  a  veia  safena  contra  o  cateter  de  ablação  
e   criar   uma   “manga”   de   isolamento   térmico,   que   evita   a   lesão   de   estruturas  
envolventes  (Fig.  1).  
 

 
Fig.  1  –  Imagem  de  ecografia  no  eixo  longitudinal  da  veia  grande  safena,  onde  se  observa  a  
administração  da  anestesia  de  tumescência.  
 

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Tratamento endovascular

Após  a  administração  do  líquido  de  tumescência  ao  longo  de  toda  a  extensão  da  veia  a  
tratar,  inicia-­‐se  então  a  termoablação,  mantendo-­‐se  um  recuo  segmentar  ou  contínuo  
do   cateter,   ao   ritmo   recomendado   pelo   fabricante   (Fig.   2).   No   tratamento   da   VGS  
abaixo   do   joelho,   existe   o   risco   de   lesão   do   nervo   safeno,   o   qual   tem   um   trajeto  
próximo   da   veia13.   No   tratamento   da   VPS,   abaixo   da   margem   inferior   da   porção  
muscular   do   gastrocnémio,   no   1/3   médio   da   perna,   existe   o   risco   de   lesão   do   nervo  
sural14,   pelo   que   o   acesso   à   veia   não   deve   ser   realizado   inferiormente   a   esse   ponto,  
quando  se  utiliza  termoablação.  
 

 
Fig.  2  –  Imagem  de  ecografia  de  termoablação  da  veia  grande  safena,  onde  se  observa  a  
extremidade  ativa  do  cateter  de  termoablação  emitindo  calor  e  gás  ecogénico,  
no  interior  da  veia.  
 
Existe   uma   outra   técnica   mais   recente,   que   é   o   tratamento   com   vapor   de   água,  
embora  a  sua  utilização  não  esteja  implementada  na  prática  clínica.  
As  principais  complicações  das  técnicas  de  termoablação  incluem  tromboflebite  (7  %),  
queimadura  cutânea  (<1  %),  hematoma  (0-­‐7  %),  hiperpigmentação  (5  %)  e  parestesias  
(1-­‐2  %)10.  
 
  Ablação  não  térmica  das  veias  safenas  
A   ablação   não   térmica   tem   como   principais   vantagens   a   diminuição   do   risco   de  
queimaduras,  bem  como  de  lesão  quer  do  nervo  safeno,  no  tratamento  da  VGS,  quer  
do  nervo  sural,  no  tratamento  da  VPS,  permitindo  o  tratamento  de  ambas  as  veias,  em  
toda   a   sua   extensão.   As   técnicas   não   térmicas   incluem   a   escleroterapia,   a   ablação  
mecânico-­‐química  e  a  ablação  adesiva.  
 

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Tratamento endovascular

Escleroterapia  com  espuma  das  veias  safenas  


A  escleroterapia  com  espuma  consiste  na  canulação  ecoguiada  da  veia  grande  safena,  
seguida   da   injeção   de   um   agente   esclerosante   (tetradecil   sulfato   de   sódio   ou  
polidocanol)  preparado  sob  a  forma  de  espuma,  a  qual  ocupa  o  espaço  do  sangue  no  
lúmen   da   veia,   obliterando-­‐o,   promovendo   inflamação   das   camadas   endotelial   e  
subendotelial   da   veia,   que   resulta   em   oclusão   e   fibrose.   As   taxas   de   sucesso   desta  
técnica   variam   entre   88   %   a   93   %,   com   complicações   próximas   das   observadas   na  
escleroterapia  com  agente  líquido.  Após  o  tratamento  está  recomendada  a  utilização  
de  meias  de  compressão,  com  duração  não  consensual.  
Ablação  mecânico-­‐química  
Este   método   combina   a   lesão   mecânica   endotelial   com   a   infusão   de   agente  
esclerosante  líquido,  através  de  um  dispositivo  (Clarivein ),  tendo  já  demonstrado  uma  
®

eficácia  a  curto  prazo  de  cerca  de  90  %,  avaliada  ecograficamente  pelo  encerramento  
da  VGS  entre  seis  a  12  semanas  após  o  tratamento,  e  taxas  de  complicações  que  lhe  
conferem  um  perfil  seguro15.  Está  recomendada  a  utilização  de  meias  de  compressão  
com  duração  não  consensual.  
Ablação  adesiva  com  cianoacrilato  (cola)  
O   método   de   encerramento   da   VGS   e   da   VPS   tem   sido   alvo   de   grande   atenção,   pelo  
facto  de  não  requerer  a  administração  de  anestesia  de  tumescência,  ao  contrário  das  
técnicas   de   termoablação,   nem   a   utilização   de   meias   de   compressão   após   o  
tratamento,  o  que  é  único  nas  técnicas  endovasculares.  O  acesso  à  VGS  é  feito  com  o  
auxílio   da   ecografia,   seguindo-­‐se   a   colocação   do   cateter   a   5   cm   da   JSF.   A   partir   daí,  
comprime-­‐se   a   VGS   abaixo   da   JSF   para   evitar   a   passagem   de   cola   para   a   circulação  
profunda,  e  inicia-­‐se  a  administração  de  pequenas  quantidades  de  cola,  de  acordo  com  
o protocolo   definido   pelo   fabricante.   No   caso   do   VenaSeal®,   que   foi   utilizado   no
estudo   VeClose16,   o   cianoacrilato   é   administrado   através   de   um   dispositivo   de   entrega  
que  se  liga  ao  hub  do  cateter,  seguindo-­‐se  um  período  de  compressão  de  três  minutos,  
na  primeira  aplicação  junto  à  JSF  e  de  30  segundos  inferiormente,  intercalados  por  um  
recuo  de  3  cm  do  cateter.  Os  resultados  do  estudo  VeClose  aos  12  meses,  um  estudo  
multicêntrico  americano,  randomizado  e  controlado,  comparando  a  ablação  com  cola,  
com   a   termoablação   utilizando   radiofrequência,   demonstrou   uma   eficácia   no  
encerramento   da   VGS   de   96   %   em   ambos   os   grupos,   com   taxas   de   complicações  

141
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Tratamento endovascular

semelhantes   e   melhorias   idênticas   nos   questionários   de   qualidade   de   vida   aplicados16.  


A  complicação   que   a   literatura,   e   também   a   experiência   dos   autores   no   tratamento   de  
15  doentes,  impõe  referir,  é  a  ocorrência  de  flebite  da  veia  tratada,  atingindo  até  20  %  
dos  doentes17,  com  necessidade  de  tratamento  anti-­‐inflamatório,  por  vezes  de  forma  
prolongada.   Adicionalmente,   uma   publicação   recente,   que   relata   uma   experiência  
desta  técnica  em  55  doentes,  refere  que  o  diâmetro  da  veia  safena,  quando  maior  que  
6   mm,   é   preditor   de   recanalização   da   veia,   aspeto   a   ter   em   conta   na   seleção   do  
tratamento  endovenoso  a  utilizar18.  

Conclusão  
O   tratamento   endovascular   do   refluxo   das   veias   safenas,   no   contexto   de   varizes   dos  
membros   inferiores,   é,   atualmente,   a   escolha   de   primeira   linha   e   deve   ser   baseado  
num   estudo   de   ecoDoppler   detalhado,   que   identifique   as   causas   mais   frequentes   e  
exclua  causas  menos  frequentes  de  varizes,  de  acordo  com  as  recomendações  atuais  
das   principais   sociedades   científicas   de   cirurgia   vascular.   O   tratamento   deve   ser  
individualizado  a  cada  doente,  nomeadamente  tendo  em  conta  a  causa  das  varizes  dos  
membros   inferiores,   a   adequação   das   diferentes   técnicas   às   áreas   a   tratar   e   as  
expetativas  de  cada  doente.  

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  140  
Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

TRATAMENTO  DAS  PERFURANTES  INSUFICIENTES  DOS  MEMBROS  INFERIORES  


PORQUÊ,  QUANDO  E  COMO?  
Carlos  Eduardo  Costa  Almeida  

Da  importância  das  perfurantes  ao  porquê  do  seu  tratamento  


Ao  longo  dos  últimos  anos,  muita  discussão  tem  surgido,  sobre  o  tratamento  de  varizes  
dos   membros   inferiores.   Quais   os   melhores   métodos   e   quais   as   varizes   a   tratar,   têm  
sido   perguntas   cujas   respostas   não   parecem   ser   unânimes.   No   entanto   parece   ser  
globalmente   aceite,   e   é   também   a   opinião   do   autor,   que   dado   o   facto   de   a   etiologia  
não  ser  totalmente  compreendida,  todas  as  varizes  devem  ser  tratadas,  uma  vez  que  
se   trata   de   veias   dilatadas,   tortuosas   e   mal   funcionantes,   responsáveis   pela  
hipertensão   venosa   que   caracteriza   a   insuficiência   venosa   dos   membros   inferiores,   e  
cujos   tratamentos   visam   baixar   ou   mesmo   eliminar1,   2.   Relativamente   às   perfurantes  
várias  questões  têm  sido  colocadas  quanto  à  necessidade  de  as  tratar,  pois  para  alguns  
são  de  reentrada,  a  sua  dilatação  não  é  causa  de  doença  mas  consequência,  e  não  têm  
impacto  na  doença  varicosa3.  Ora  isto  não  parece  ser  totalmente  verdade!    
Por   aumentarem   a   hipertensão   venosa   as   perfurantes   insuficientes   estão   implicadas  
na   génese   das   úlceras   varicosas   e   na   recidiva   de   varizes,   sendo   apontado   o   seu   não  
tratamento   (por   erro   táctico   ou   técnico)   responsável   pela   recidiva   precoce1-­‐4.   Segundo  
um  estudo  de  Rutherford  e  Mark  Whiteley  publicado  em  20015,  44  %  dos  doentes  com  
primeiras   varizes   têm   perfurantes   insuficientes,   enquanto   63   %   dos   doentes   com  
varizes  recidivadas  têm  perfurantes  incompetentes.  Da  análise  dos  dados  colhidos  por  
estes  autores,  doentes  com  varizes  recidivadas  têm  maior  prevalência  e  maior  número  
de  perfurantes  insuficientes  por  perna,  comparando  com  os  casos  de  primeiras  varizes.  
Estes  achados  apoiam  a  ligação  das  perfurantes  insuficientes  com  a  recidiva  de  varizes.  
Em   2014,   Kiguchi6   comprovou   a   importância   hemodinâmica   das   perfurantes  
insuficientes   na   génese   da   doença   varicosa,   ao   tratar   por   esclerose   perfurantes   em  
doentes  sem  refluxo  axial,  conseguindo  obter  melhores  resultados  na  cicatrização  de  
úlceras   venosas.   Também   Tenbrook7   em   2004   concluiu   pela   importância   da   laqueação  
subfascial   endoscópica   de   perfurantes   (SEPS)   na   cicatrização   de   úlceras   (e   assim   da  

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141  
Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

importância  destas  veias  na  doença  varicosa),  conseguindo  uma  taxa  de  cicatrização  de  
88  %  quando  juntava  a  SEPS  à  safenectomia  da  grande  veia  safena  (GVS),  contra  65  %  
no  grupo  onde  apenas  realizava  o  stripping  da  GVS.  Em  2015,  Van  Gent8  publica  uma  
análise   da   influência   da   cirurgia   das   perfurantes   em   doentes   com   úlcera   varicosa,  
chegando  à  conclusão  que  a  SEPS  bem  realizada,  diminui  significativamente  a  recidiva  
da   úlcera,   indicando   assim   a   importância   clínica   das   perfurantes   insuficientes   em  
doentes   com   úlcera   venosa   activa.   Refere   ainda   que   o   não   tratamento   de   todas   as  
perfurantes   poderá   não   influenciar   significativamente   a   cicatrização,   mas   tem   um  
impacto  negativo  importante  na  recidiva  (p=0,007).  De  salientar  ainda,  que  Van  Gent  
concluiu   também   que   o   tratamento   da   insuficiência   venosa   superficial   não   teve  
influência  significativa  na  cicatrização  ou  recidiva  da  úlcera  venosa  nos  casos  em  que  a  
SEPS  foi  realizada8.    
O   refluxo   nas   perfurantes   dos   membros   inferiores   na   doença   varicosa,   ocorre  
essencialmente  nas  veias  de  Cockett,  sendo  estas  o  principal  objectivo  do  tratamento1,  
3,  9

imediatamente   abaixo   do   joelho,   o   stripping   da   GVS   não   vai   influenciar   o   fluxo   através  
das   perfurantes   de   Cockett1,   3.   Sendo   assim,   o   tratamento   do   sistema   venoso  
superficial   pouco   irá   influenciar   o   refluxo   nas   perfurantes,   pelo   que   são   necessárias  
técnicas  dirigidas  para  o  seu  tratamento.  
Por   todas   estas   razões   o   tratamento   das   perfurantes   insuficientes   é   essencial,   se  
pretendermos   oferecer   ao   doente   um   tratamento   eficaz   e   duradouro   para   a   sua  
doença  venosa.  
 
  Quando  tratar  as  perfurantes  dos  membros  inferiores?  
Apesar   da   oclusão   de   todas   as   perfurantes   insuficientes   ser   o   único   factor   preditivo   da  
cicatrização   de   uma   úlcera,   existe   alguma   controvérsia   quanto   aos   casos   onde   há  
indicação   para   as   tratar.   De   acordo   com   o   American   Venous   Forum   e   a   Society   for  
Vascular  Surgery  (Orientações  clinicas  de  2011)10,  as  perfurantes  insuficientes  (refluxo  
superior  a  0,5  s  ou  diâmetro  superior  a  3,5  mm)  devem  ser  tratadas  em  doentes  com  
insuficiência   venosa   crónica   (IVC)   avançada   CEAP   classes   C5   e   C6.   Da   leitura   do  
documento  fica  dúvida  quanto  à  indicação  nas  restantes  classes  de  IVC  (C3  e  C4).  Os  
estudos   apresentados   nas   “guidelines”   referem   o   tratamento   nestas   classes,   ficando  

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

assim   em   aberto   a   indicação   do   tratamento   das   perfurantes   nas   classes   C3   e   C4.  


Quanto   à   doença   C2   as   orientações   do   American   Venous   Forum   e   da   Society   for  
Vascular  Surgery10  são  claras,  não  recomendam  o  tratamento  no  caso  de  doença  C2.  
No   entanto,   e   segundo   autores   como   Rhodes   e   O’Donnell,   as   perfurantes  
incompetentes  devem  ser  tratadas  em  doentes  com  doença  C2  no  caso  de  recidiva  de  
varizes1-­‐3,  11.    
Em   2014   a   Society   for   Vascular   Surgery   e   o   American   Venous   Forum   publicaram   as  
“guidelines”   para   o   tratamento   da   úlcera   venosa12.   Neste   documento,   as   indicações  
são  claras  e  semelhantes  no  que  diz  respeito  ao  tratamento  das  perfurantes.  Indicação  
de   tratamento   das   perfurantes   insuficientes   (refluxo   superior   a   0,5   s   ou   diâmetro  
superior  a  3,5  mm)  em  combinação  com  a  insuficiência  venosa  superficial  nas  classes  
CEAP  C4b,  C5  e  C6,  com  os  objectivos  de  evitar  o  aparecimento  de  uma  úlcera,  evitar  a  
recidiva,  e  ajudar  na  cicatrização  da  úlcera.  Acrescentam  ainda  que  em  doentes  C5  e  
C6   com   insuficiência   isolada   das   perfurantes   (sem   refluxo   superficial),   o   tratamento  
das   perfurantes   deve   ser   oferecido.   Importa   referir   que   as   indicações   são   colocadas  
independentemente  da  presença/ausência  de  refluxo  do  sistema  venoso  profundo,  e  
que  são  indicações  com  grau  2C  de  evidência.  
Estas  duas  sociedades  referem  que  não  há  indicação,  ou  pelo  menos  indicação  apoiada  
por  estudos,  para  medidas  interventivas  profiláticas  da  progressão  da  doença  venosa  
crónica   (C1-­‐2)   para   IVC   avançada   na   figura   da   doença   C6.   A   prova   da   progressão   da  
doença   parece   ser   circunstancial,   devendo   os   tratamentos   objectivar   o   alívio  
sintomático   da   doença   venosa12.   Esta   orientação   deixa   em   aberto   a   eventual  
possibilidade  de  usar  medidas  interventivas  para  alívio  sintomático  mesmo  nos  casos  
de  doença  venosa  crónica  precoce.  
Continuando  esta  ideia,  como  as  perfurantes  insuficientes  estão  implicadas  na  génese  
da  úlcera  varicosa,  na  recidiva  de  úlceras  e  de  varizes,  e  têm  um  papel  hemodinâmico  
na   hipertensão   venosa   que   caracteriza   a   doença   venosa   crónica   e   que   causa   sintomas,  
o   autor   tem   incluído   os   casos   C2   nas   indicações   para   tratamento   de   perfurantes  
insuficientes.  Na  análise  dos  primeiros  50  doentes  tratados  pelo  autor1  e  publicada  no  
Journal   of   Vascular   Medicine   &   Surgery   em   2015,   cinco   doentes   tinham   doença   C2  
(http://dx.doi.org/10.4172/2329-­‐6925.1000221).  
 

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

  Como  tratar  as  perfurantes  insuficientes?  


Para   tratar   (ocluir/laquear)   as   perfurantes   insuficientes   dos   membros   inferiores  
existem   diversas   técnicas,   e,   nos   últimos   anos,   alguns   avanços   e   novidades   têm  
surgido.   Entre   1992   e   2008   a   laqueação   subfascial   endoscópica   de   perfurantes   tornou-­‐
se   a   técnica   de   escolha1,   3.   No   entanto   esta   posição   tem   sido   posta   em   causa   pela  
emergência  das  técnicas  ecoguiadas  de  ablação  percutânea  de  perfurantes  (PAP),  seja  
térmica  (laser  ou  radiofrequência)  ou  química  (esclerose).    As  técnicas  de  PAP  têm  sido  
atrativas   para   médicos   e   doentes,   mas   a   pergunta   que   se   coloca   é   se   oferecem   os  
mesmos   ou   melhores   resultados   que   a   SEPS1,   13.   Para   responder   a   tal   pergunta   é  
necessário   proceder   a   uma   revisão   de   resultados,   correlacionando   a   avaliação   da  
eficácia  com  a  taxa  de  cicatrização  de  úlcera,  uma  vez  que  é  nos  casos  C5  e  C6  que  o  
tratamento  das  perfurantes  insuficientes  está  consensualmente  indicado.  
 
  Cirurgia  aberta  
Em  1938,  Linton  sugeriu  pela  primeira  vez  a  interrupção  das  perfurantes  para  tratar  e  
prevenir   úlceras   varicosas.   Para   tal,   era   realizada   uma   incisão   longitudinal   na   face  
medial   da   perna,   e   através   da   mesma   todas   as   perfurantes   eram   laqueadas   e  
seccionadas.   Devido   à   elevada   taxa   de   complicações   da   ferida   operatória   (25   %)2,   e  
após   o   aparecimento   de   técnicas   minimamente   invasivas,   a   operação   de   Linton   tem  
hoje  apenas  valor  histórico.  
Pequenas   incisões   sobre   as   perfurantes   e   sua   laqueação,   é   outra   opção   de   cirurgia  
aberta.   No   entanto,   esta   técnica   depende   da   informação   do   ecoDoppler   venoso,  
podendo  algumas  perfurantes  não  serem  encontradas  e  ficando  por  tratar.  Por  outro  
lado,   em   alguns   casos   há   perfurantes   sob   pele   doente   (lipodermatoesclerose,   úlcera  
cicatrizada   ou   úlcera   activa)   significando   que   uma   incisão  que   for   feita   nesse   local   terá  
risco   elevado   de   complicações,   nomeadamente   uma   nova   úlcera2.   Com   o  
aparecimento  de  técnicas  minimamente  invasivas  este  método  tem  caído  em  desuso.  
 
  Laqueação  subfascial  endoscópica  de  perfurantes  
Em   1985,   Hauer14   descreveu   pela   primeira   vez   a   abordagem   endoscópica  
minimamente  invasiva  para  tratar  as  perfurantes  insuficientes  dos  membros  inferiores.  
Com  a  SEPS,  a  taxa  de  complicações  foi  substancialmente  reduzida,  passando  dos  25  %  

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

de  complicações  da  ferida  operatória  na  operação  de  Linton  (obsoleta),  para  3-­‐5  %2,  3,  
13
.  
Inicialmente,   o   autor   realizava   a   SEPS   por   porta   única   utilizando   um   endoscópio  
específico,  actualmente  descontinuado.  No  entanto,  O’Donnell15,  nos  Estados  Unidos,  
descreveu   a   técnica   de   duas   portas   utilizando   material   cirúrgico   comum   de  
laparoscopia,  sendo  hoje  a  técnica  preferida  pelo  autor.  Um  trocarte  de  10  mm  para  
óptica  de  0º  e  um  outro  de  5  mm  para  trabalho,  é  tudo  o  que  é  necessário  para  em  
cerca   de   15-­‐20   minutos   tratar   todas   as   perfurantes   mediais   (incluindo   as   de   Cockett)   e  
posteriores  da  perna.  Dado  que  as  duas  portas  são  colocadas  no  terço  superior  da  face  
medial   da   perna,   podem   ser   tratadas   perfurantes   sob   pele   doente   (úlcera   activa   ou  
cicatrizada,   lipodermatoesclerose),   mantendo   a   integridade   da   pele   supradjacente,   e  
eliminando  os  riscos  de  uma  incisão  (Fig.  1).    
 

 
Fig.  1  -­‐  Colocação  das  duas  portas  (10  mm  e  5  mm)  no  terço  proximal  da  perna,  
longe  de  pele  doente.  
 
Um   dissector,   um   aplicador   de   clips   e   uma   tesoura   de   laparoscopia   é   tudo   o   que   é  
necessário.   O   autor   prefere   substituir   todos   estes   instrumentos   por   uma   pinça   de  
energia   LigaSure®   Maryland   5   mm   (não   tem   perigo   de   lesão   térmica   pelo   que   é  
adequada   ao   pequeno   espaço   de   trabalho   da   técnica)   evitando   as   constantes  
mudanças   de   instrumento,   encurtando   a   operação,   e   reduzindo   a   possibilidade   de  
hemorragia   (Fig.   2).   Por   vezes   pode   haver   conflito   entre   o   instrumento   e   a   câmara,  
“sword   fighting”,   podendo   dificultar,   mas   não   impedir   o   procedimento.   A   SEPS   é  
realizada   com   raquianestesia   ou   anestesia   geral,   e   em   regime   de   ambulatório.  
Actualmente,  é  a  técnica  mais  utilizada  na  Europa3.  
A  indicação  para  realizar  a  SEPS  é  colocada  pela  presença  de  perfurantes  insuficientes  
no   ecoDoppler   venoso   pré-­‐operatório.   Neste   caso   apenas   é   necessário   saber   se   há  
uma   perfurante   insuficiente,   não   sendo   necessário   saber   quantas   existem   nem   onde  

149
  145  
Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

exatamente   se   localizam   pois   com   a   ajuda   da   óptica   todas   as   perfurantes,   mediais   e  


posteriores,   serão   intraoperatoriamente   encontradas   e   tratadas.   A   dependência   do  
ecoDoppler   venoso   é   por   isso   reduzida   (comparativamente   às   outras   técnicas)   na  
cirurgia  endoscópica  de  perfurantes.    

Os  resultados  da  SEPS  têm  sido  avaliados  em  diversos  estudos.  Tenbrook7  apresentou  
em  2004  uma  taxa  de  cicatrização  de  úlcera  venosa  de  88  %  se  a  SEPS  for  usada  em  
conjunto   com   o   stripping   da   GVS.   Também   Gloviczki16   relata   88   %   de   taxa   de  
cicatrização   aos   12   meses,   com   uma   recidiva   a   um   ano   e   três   anos   de   16   %   e   39   %,  
respectivamente.  Kalira  et  al.(17)  apresentam  dados  semelhantes  ao  aplicar  a  SEPS,  com  
89%   de   taxa   de   cicatrização   e   recidivas   de   4   %   e   20   %   aos   um   ano   e   três   anos   de  
seguimento.   Em   2009   Gloviczki3   compilou   diversos   trabalhos   avaliando   a   taxa   de  
cicatrização   da   úlcera   venosa   após   a   SEPS,   apresentando   uma   taxa   de   cicatrização  
global   de   90   %   e   recidiva   de   11   %.   Os   dados   publicados   pelo   autor   em   2015   vão   ao  
encontro   destes   resultados,   com   uma   taxa   de   cicatrização   da   úlcera   venosa   de   92   %  
aos  seis  meses,  e  recidiva  de  9  %  com  a  aplicação  da  SEPS1.  Vashist  et  al.18  apresentam  
0   %   de   infecção   do   local   cirúrgico   num   estudo   prospectivo   aleatório   publicado   em  
2014.   O   autor   relata   em   2015   uma   taxa   de   infecção   da   ferida   operatória   de   4   %   (2/50)  
após  a  cirurgia  endoscópica  de  perfurantes1.  
Alguns  autores  apontam  um  erro  a  estes  estudos.  Uma  vez  que  a  SEPS  foi  realizada  em  
conjunto   com   o   stripping   da   GVS   na   maioria   dos   casos,   isso   põe   em   causa   a  
importância  das  perfurantes  e  da  SEPS.  Em  1999,  Gloviczki  relata  melhores  resultados  
com   SEPS   combinada   com   o   stripping   da   GVS   comparando   com   SEPS   isoladamente,  
mas  todos  os  doentes  que  apenas  foram  tratados  com  SEPS  tinham  úlcera  persistente  
ou   recidivante   após   stripping19.   Van   Gent,   nos   seus   trabalhos   de   2015,   conclui   pela  

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

importância   da   SEPS   bem   realizada   na   redução   da   recidiva   da   úlcera,   e   da  


insignificância   do   tratamento   do   sistema   venoso   superficial   na   cicatrização   e   recidiva  
da  úlcera,  em  doentes  submetidos  ao  tratamento  endoscópico  de  perfurantes8.  
 

 
Fig.  3.  QRcode  para  vídeo  demonstrativo  da  SEPS  por  duas  portas.  
 
  Ablação  Percutânea  de  Perfurantes  (PAP)  
As   técnicas   de   ablação   percutânea   de   perfurantes   (térmica   ou   química)   trouxeram  
algumas   vantagens,   como   redução   da   infecção   da   ferida   operatória   para   perto   de   0   %,  
menos   dor,   necessidade   apenas   de   sedação   e   anestesia   local,   possibilidade   de  
realização   no   consultório   (a   SEPS   é   realizada   em   ambulatório),   e   uma   recuperação  
mais   rápida,   o   que   torna   a   PAP   atractiva   e   indicada   para   doentes   de   alto   risco  
cirúrgico2,  3,  13,  20.  A  realização  das  técnicas  de  PAP  assenta  da  detecção  pré-­‐operatória  
das   perfurantes   no   ecoDoppler   venoso,   o   que   torna   o   procedimento   altamente  
dependente  do  operador.  Em  média  2-­‐3  perfurantes  a  mais  são  encontradas  durante  a  
SEPS   comparativamente   ao   ecoDoppler   pré-­‐operatório,   o   que   significa   que   as   mesmas  
ficarão   por   tratar   ao   aplicar   as   técnicas   de   PAP,   com   impacto   negativo   no   resultado  
final1-­‐3,  13.    
Todas   estas   técnicas   implicam   a   punção   com   agulha   da   veia   perfurante   sob   controlo  
ecográfico,  posição  de  Trendelenburg  invertida  para  dilatar  a  veia  e  facilitar  a  punção,  
posição  de  Trendelenburg  após  correta  posição  da  agulha  (estilete  de  radiofrequência  
ou   fibra   laser),   a   instilação   de   uma   fonte   de   energia   ablativa   (química   ou   térmica),  
confirmação  imediata  do  sucesso  do  tratamento,  e  seguimento2,  10.  
 
  Técnicas  endovasculares:  Ablação  com  Laser  Endovascular  (EVLA)  
  e  Radiofrequência  (RF)  
Em  posição  de  Trendelenburg  invertida  o  acesso  intravascular  na  perfurante  é  ganho  
com   uma   agulha,   e   a   correta   posição   é   confirmada   pelo   refluxo   de   sangue   e   pelo  

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  147  
Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

controlo   ecográfico.   É   introduzida   uma   sonda   especifica   de   radiofrequência   (estilete  


apropriado  ao  tratamento  das  perfurantes)  ou  uma  fibra  de  laser,  e  a  sua  posição  na  
perfurante   controlada   por   ecografia.   É   administrada   anestesia   tumescente   em   torno  
da   perfurante   e   o   doente   colocado   em   posição   de   Trendelenburg,   que   em   conjunto  
com  compressão  local  irão  exsanguinar  a  veia  e  aumentar  o  contacto  sonda/parede  da  
veia.   Energia   é   administrada   a   esse   segmento.   A   RF   tem   uma   temperatura   alvo   de   85°,  
tratando   cada   quadrante   de   um   segmento   da   veia   em   separado   durante   um   minuto10,  
o  que  torna  o  tratamento  tecnicamente  difícil.  Na  EVLA  têm  sido  usadas  fibras  laser  de  
940   nm,   1320   nm   e   1470   nm,   administrando   250-­‐290   J   de   energia   por   perfurante,  
todos  com  resultados  semelhantes21,  22.  Steve  Elias  usa  técnica  pulsada  entregando  120  
J  a  cada  segmento13.  Após  o  tratamento  do  primeiro  segmento  da  veia  perfurante,  a  
sonda  é  removida  cerca  de  1-­‐2  mm  e  um  novo  segmento  é  tratado.  Um  total  de  2-­‐3  
segmentos   devem   ser   tratados,   e   cada   um   por   duas   vezes.   É   aplicada   pressão   com   a  
sonda   ecográfica   durante   um   minuto,   e   imediatamente   após   o   procedimento   o  
ecoDoppler  deve  mostrar  ausência  de  fluxo  na  perfurante,  e  um  fluxo  na  veia  profunda  
normal13.  
A  confirmação  ecográfica  da  correta  posição  do  estilete  de  RF  ou  da  fibra  laser  dentro  
da   perfurante,   nem   sempre   é   tão   fácil   comparativamente   à   ablação   percutânea   das  
safenas.  Steve  Elias  considera,  por  isso,  a  RF  vantajosa  em  relação  à  EVLA,  uma  vez  que  
é   capaz   de   medir   a   impedância   dos   tecidos.   Desta   forma,   leituras   entre   150   e   350  
ohms  confirmam  a  posição  extraluminal10,  13.  
A   ablação   percutânea   usando   laser   endovascular   (EVLA)   ou   radiofrequência   (RF)  
apresentam  resultados  semelhantes  no  que  diz  respeito  à  taxa  de  oclusão  imediata  das  
perfurantes,  situando-­‐se  nos  90-­‐100  %2-­‐11,  13.  No  entanto,  com  o  aumento  do  tempo  de  
seguimento   essa   percentagem   de   perfurantes   ocluídas   vai   diminuindo2.   Zerweck   et  
al.23  apresentam  uma  descida  dos  100  %  para  95  %  de  perfurantes  ocluídas  com  EVLA  
ao   fim   do   primeiro   mês,   enquanto   Chang   et   al.24   relatam   uma   taxa   de   oclusão   de  
85,7%  ao  fim  de  três  semanas  usando  a  RF.  Após  tratar  100  perfurantes  com  EVLA  e  
100  perfurantes  com  RF,  Murphy25  concluiu  que  os  resultados  são  semelhantes  entre  
as  duas  técnicas,  e  que  as  taxas  de  oclusão  vão  caindo  com  o  aumento  do  tempo  de  
seguimento.   Segundo   as   orientações   do   American   Venous   Forum   e   da   Society   for  
Vascular   Surgery   de   2011,   apesar   das   técnicas   de   ablação   térmica   terem   algumas  

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

vantagens  (menos  dor  e  recuperação  mais  rápida),  os  estudos  a  médio-­‐prazo  mostram  
resultados   clínicos   e   hemodinâmicos   semelhantes   à   cirurgia10.   As   complicações   do  
tratamento   com   EVLA   e   RF   são   mínimas,   mas   incluem   casos   de   TVP,   parestesias,  
queimadura   e   eritema.   Uma   desvantagem   actual   e   importante   destas   técnicas  
endovasculares,   é   o   facto   de   não   existirem   dados   das   taxas   de   cicatrização   e   de  
recidiva  da  úlcera  venosa,  e  a  ausência  de  estudos  a  longo-­‐prazo1,  2.  
 
  Esclerose  ecoguiada  
O   acesso   intraluminal   é   confirmado   por   ecografia   e   pela   aspiração   de   sangue.   Neste  
procedimento  o  uso  de  espuma  é  preferível  ao  líquido,  pois  ajuda  a  exsanguinar  a  veia  
a  tratar,  e  prolonga  o  contacto  entre  o  esclerosante  e  a  parede  da  veia.  Após  a  injeção  
do   produto   esclerosante,   são   aplicadas   meias   de   compressão   elástica   com   pressão  
direta  sobre  a  perfurante  tratada,  usando  uma  pequena  compressa  sob  a  meia.    
As   taxas   de   cicatrização   de   úlcera   publicadas   são   bastante   inferiores   às   demais  
técnicas.   Em   2014   Kiguchi6   relata   uma   taxa   de   cicatrização   de   59   %   aos   30   meses,  
conseguindo  uma  taxa  de  trombose  de  64  %  com  espuma  de  polidocanol.  Este  autor  
apresenta  ainda  complicações  por  trombose  venosa  profunda  (TVP)  da  perna  em  3  %  
das  injeções.  Já  Masuda  et  al. 20  ao  tratarem,  com  morruato  de  sódio  a  5  %,  80  pernas  
com   perfurantes   insuficientes,   sem   refluxo   axial   ou   com   safenectomia   prévia,  
conseguiram  uma  taxa  de  oclusão  imediata  de  98  %.  No  entanto,  dos  37  membros  com  

Um  caso  de  necrose  cutânea  com  úlcera  de  5x4  cm  ocorreu  após  a  esclerose.  
 
  Embolização  com  coils  
Em   2012   Garcarek   et   al.26   descreveram   a   embolização   de   veias   perfurantes  
insuficientes  com  coils  de  Gianturco-­‐Wallace  e  Tornado  (Cook).  Relatam  uma  taxa  de  
cicatrização   de   úlcera   de   85   %.   No   entanto,   mais   estudos   são   necessários   para  
comparar  esta  técnica  com  as  restantes.  
 
  Resumindo  e  comparando  as  várias  técnicas  
A  operação  de  Linton  está  atualmente  obsoleta  devido  à  elevada  taxa  de  complicações  
da   ferida   operatória   (25   %),   longo   período   de   recuperação   e   alta   taxa   de   recidiva   de  

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

úlcera   (55   %)2.   Se   insistirmos   em   realizar   cirurgia   aberta   através   de   mini-­‐incisões   é  


preciso   saber   o   número   exato   de   perfurantes   e   a   sua   localização   precisa,   através   do  
ecoDoppler  venoso  pré-­‐operatório.  Aqui  reside  uma  das  desvantagens  desta  técnica,  é  
altamente   dependente   do   operador.   Por   este   motivo,   nem   todas   as   perfurantes  
potencialmente   insuficientes   são   identificadas,   ficando   assim   por   tratar.   A   segunda  
desvantagem   é   o   facto   de   por   vezes   a   perfurante   se   situar   sob   pele   doente  
(lipodermatoesclerose,   úlcera   cicatrizada   ou   activa),   o   que   implica   uma   incisão   nessa  
mesma  pele  com  risco  elevado  de  complicações.  
As   técnicas   minimamente   invasivas   vieram   ultrapassar   estas   desvantagens,   e   são  
actualmente  as  técnicas  de  escolha  segundo  o  American  Venous  Forum  e  a  Society  for  
Vascular   Surgery10,   não   favorecendo   uma   sobre   a   outra.   A   SEPS   tem   a   vantagem   de  
depender   minimamente   do   ecoDoppler,   pois   apenas   é   preciso   saber   se   há   uma  
perfurante  insuficiente.  Através  do  endoscópio  todas  as  perfurantes  serão  visualizadas,  
encontrando   em   média   mais   2-­‐3   perfurantes   que   o   ecoDoppler   pré-­‐operatório1-­‐3,   13.  
Uma  segunda  vantagem  é  o  poder  tratar  perfurantes  sob  pele  doente.  A  SEPS  executa-­‐
se   em   cerca   de   15   minutos,   e   pode   ser   realizada   em   ambulatório   com   rápida  
recuperação.   Utiliza   material   comum   de   laparoscopia,   e   qualquer   cirurgião   com  
experiencia  em  laparoscopia  será  capaz  de  realizar  esta  técnica.  Entre  1992  e  2008  a  
SEPS   foi   a   técnica   gold   standard1,   2,   10.   Actualmente   esse   papel   é   disputado   com   as  
técnicas  de  ablação  percutânea  de  perfurantes  (PAP),  que  são  atrativas  para  médicos  e  
doentes   pois   podem   ser   facilmente   repetidas   em   ambiente   de   consultório,   seja  
ablação  térmica  ou  química,  com  recuperação  imediata  e  dor  mínima.  Apesar  da  SEPS  
ter  reduzido  a  taxa  de  complicação  da  ferida  operatória  para  até  5  %,  as  técnicas  PAP  
apresentam   0   %   de   complicação   da   ferida2,   13.   No   entanto,   outras   complicações  
importantes   estão   associadas   às   técnicas   percutâneas:   trombose   venosa   profunda  
(TVP),  lesão  nervosa,  queimadura  (EVLA  e  RF),  úlcera2,  3,  13.    
A   decisão   entre   a   SEPS   ou   as   técnicas   PAP   assenta   nos   resultados   publicados   na  
literatura   mundial.   Para   avaliar   a   eficácia   das   técnicas   tem   sido   usada   a   taxa   de  
cicatrização   de   úlcera   após   o   tratamento   de   perfurantes.   Glovicski   compilou   diversos  
trabalhos   sobre   a   eficácia   da   SEPS   e   relata   uma   taxa   de   cicatrização   de   90   %3.   Já   o  
autor  apresenta  uma  taxa  de  cicatrização  de  92  %1.  A  esclerose  ecoguiada  apresenta  
uma  taxa  de  cicatrização  de  59  %  a  67,6  %,  segundo  dados  de  Kiguchi  e  Masuda6,  20.  Em  

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

relação   aos   resultados   após   o   tratamento   com   EVLA   ou   RF,   não   existem   dados  
consistentes  publicados  sobre  a  taxa  de  cicatrização.  
 
  Notas  finais  
As  perfurantes  insuficientes  aumentam  a  hipertensão  venosa  dos  membros  inferiores  
e  estão  implicadas  na  úlcera  de  perna  e  na  recidiva  de  varizes.  Essa  importância  tem  
sido   referida   e   demonstrada   em   diversos   trabalhos,   pelo   que   o   seu   tratamento   deve  
ser   equacionado   em   diversos   casos.   Doentes   com   alterações   cutâneas   com   risco   de  
úlcera  (C4b),  úlcera  cicatrizada  (C5)  e  úlcera  activa  (C6)  são  aqueles  onde  a  indicação  é  
consensual.  Em  relação  às  restantes  classes  as  opiniões  dividem-­‐se.  De  1992  a  2008  a  
SEPS  foi,  indiscutivelmente,  a  técnica  “gold  standard”,  mas,  actualmente,  essa  posição  
é   desafiada   por   técnicas   endovasculares   de   ablação   percutânea,   seja   por   laser   ou  
radiofrequência.  A  esclerose  ecoguiada  demonstrou  piores  resultados  que  a  SEPS.  
As   técnicas   endovasculares   por   EVLA   ou   RF   são   atrativas   pela   possibilidade   de  
realização   apenas   com   anestesia   local,   com   recuperação   imediata,   facilmente  
repetidas  e  óptimas  para  doentes  de  alto  risco  cirúrgico.  No  entanto  não  são  livres  de  
complicações   graves   como   TVP   e   queimaduras.   Além   disso,   resultados   a   longo   prazo  
ainda  estão  por  surgir.  Uma  grande  vantagem  prática  da  SEPS  é  a  possibilidade  de  ser  
realizada   com   duas   portas   utilizando   material   comum   de   laparoscopia,   estando   por  
isso   acessível   em   qualquer   hospital   público   ou   privado   de   Portugal.   Quanto   à   tão  
falada  curva  de  aprendizagem,  nesta  técnica  ela  é  pequena,  sendo  ainda  mais  reduzida  
caso  o  cirurgião  esteja  familiarizado  com  os  procedimentos  laparoscópicos  rotineiros,  
realizados  atualmente  na  prática  clínica  comum.    
Não   havendo   consenso   sobre   qual   técnica   usar,   é   unânime   a   importância   das  
perfurantes  insuficientes  na  IVC,  o  que  implica  que  o  cirurgião  que  trate  esta  patologia,  
tenha   obrigatoriamente   de   conhecer   e   saber   executar   uma   técnica   que   promova   o  
tratamento   das   perfurantes   incompetentes,   quando   indicado.   Só   assim   os   doentes  
terão  acesso  ao  melhor  tratamento  que  culmine  nos  melhores  resultados  funcionais  e  
estéticos.  

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores
“Dia  da  SEPS”  (curso  teórico-­‐prático  de  SEPS)    
“Dia  da  SEPS”  (curso  teórico-­‐prático  de  SEPS)    
Serviço   de   Cirurgia   C   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de   Coimbra   –   Hospital  
Serviço   de   Cirurgia   C   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de   Coimbra   –   Hospital  
Geral  (Covões)
Geral  (Covões)  
Para  divulgação  da  laqueação  subfascial  endoscópica  de  perfurantes  (SEPS)  a  todos  os  
 
Para  divulgação  da  laqueação  subfascial  endoscópica  de  perfurantes  (SEPS)  a  todos  os  
cirurgiões  interessados  no  tratamento  de  varizes,  a  14  de  Outubro  de  2014  no  Serviço  
cirurgiões  interessados  no  tratamento  de  varizes,  a  14  de  Outubro  de  2014  no  Serviço  
de   Cirurgia   C   do   Hospital   Geral   (Covões)   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de  
de   Cirurgia   C   do   Hospital   Geral   (Covões)   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de  
Coimbra  (CHUC-­‐HG),  decorreu  a  primeira  edição  do  “Dia  da  SEPS”,  um  curso  teórico-­‐
Coimbra  (CHUC-­‐HG),  decorreu  a  primeira  edição  do  “Dia  da  SEPS”,  um  curso  teórico-­‐
prático  onde  os  participantes  têm  hipótese  de  participarem  activamente  em  operações  
prático  onde  os  participantes  têm  hipótese  de  participarem  activamente  em  operações  
cirúrgicas.   Outras   quatro   edições   decorreram   em   Coimbra   com   boa   aceitação   e  
cirúrgicas.   Outras   quatro   edições   decorreram   em   Coimbra   com   boa   aceitação   e  
procura  por  parte  dos  cirurgiões.  A  terceira  edição  trouxe  uma  importante  novidade,  a  
procura  por  parte  dos  cirurgiões.  A  terceira  edição  trouxe  uma  importante  novidade,  a  
realização   das   duas   técnicas   e   sua   comparação,   dado   que   nas   duas   primeiras   apenas  
realização   das   duas   técnicas   e   sua   comparação,   dado   que   nas   duas   primeiras   apenas  
foi   abordada   a   porta   única.   Os   participantes   têm   assim   a   oportunidade   de  
foi   abordada   a   porta   única.   Os   participantes   têm   assim   a   oportunidade   de  
experimentarem  ambas  as  técnicas,  tirando  as  suas  próprias  conclusões.  Desde  então  
experimentarem  ambas  as  técnicas,  tirando  as  suas  próprias  conclusões.  Desde  então  
que  outros  serviços  de  cirurgia  iniciaram  o  tratamento  de  perfurantes  insuficientes  dos  
que  outros  serviços  de  cirurgia  iniciaram  o  tratamento  de  perfurantes  insuficientes  dos  
membros  inferiores  por  SEPS,  sendo  o  retorno  muito  positivo.      
membros  inferiores  por  SEPS,  sendo  o  retorno  muito  positivo.      
Próximas   edições   irão   decorrer   no   Serviço   de   Cirurgia   C   do   CHUC-­‐HG,   pelo   que   se  
Próximas   edições   irão   decorrer   no   Serviço   de   Cirurgia   C   do   CHUC-­‐HG,   pelo   que   se  
aconselha   a   consulta   periódica   da   página   do   facebook   do   “Dia   da   SEPS”,   e   do   blog  
aconselha   a   consulta   periódica   da   página    do   facebook   do   “Dia   da   SEPS”,   e   do   blog  
“Surgical  Thoughts  –  A  blog  about  surgery”  d   a  autoria  do  autor.  
“Surgical  Thoughts  –  A  blog  about  surgery”  d   a  autoria  do  autor.  
   
   
 
Referências  bibliográficas  
Referências  bibliográficas  
 
 
1.  CE  Costa  Almeida.  Subfascial  Endoscopic  Perforator  Surgery:  retrospective  analysis  
1.  CE  Costa  Almeida.  Subfascial  Endoscopic  Perforator  Surgery:  retrospective  analysis  
of  the  first  50  patients.  J  Vasc  Med  Surg  2015;  3:  5.  Doi:  10.4172/2329-­‐6925.1000221  
of  the  first  50  patients.  J  Vasc  Med  Surg  2015;  3:  5.  Doi:  10.4172/2329-­‐6925.1000221  
2.  Costa  Almeida  CE.  Treatment  of  perforating  veins  –  Review  of  techniques.  Rev  Port  
2.  Costa  Almeida  CE.  Treatment  of  perforating  veins  –  Review  of  techniques.  Rev  Port  
Cir  2014;  31:  27-­‐33.  
Cir  2014;  31:  27-­‐33.  
3.  Rhodes  JM,  Kalra  M,  Gloviczki  P.  The  management  of  incompetent  perforating  veins  
3.  Rhodes  JM,  Kalra  M,  Gloviczki  P.  The  management  of  incompetent  perforating  veins  
with  open  and  endoscopic  surgery.  In:  Gloviczki  P.  Handbook  of  venous  disorders.  3rd  
with  open  and  endoscopic  surgery.  In:  Gloviczki  P.  Handbook  of  venous  disorders.  3rd  
edition.  London:  Hodder  Arnold;  2009.  523-­‐535.  
edition.  London:  Hodder  Arnold;  2009.  523-­‐535.  
4.  Michel  Perrin.   Recurrent  varicose  veins:  etiology  and   management.  In:  Gloviczki  P.  
4.  Michel  Perrin.   Recurrent  varicose  veins:  etiology  and   management.  In:  Gloviczki  P.  
Handbook  of  venous  disorders.  3rd  edition.  London:  Hodder  Arnold;  2009.  446-­‐456.  
Handbook  of  venous  disorders.  3rd  edition.  London:  Hodder  Arnold;  2009.  446-­‐456.  
5.   Rutherford   EE,   Kianifard   B,   Kook   SJ,   et   al.   Incompetent   perforator   veins   are  
5.   Rutherford   EE,   Kianifard   B,   Kook   SJ,   et   al.   Incompetent   perforator   veins   are  
associated  with  recurrent  varicose  veins.  Eur  J  Vas  Endovasc  Surg  2001;  21:  458-­‐460.  
associated  with  recurrent  varicose  veins.  Eur  J  Vas  Endovasc  Surg  2001;  21:  458-­‐460.  

 
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  152  
Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

6.  Kiguchi  MM,  Hager  ES,  Winger  DG,  Hirsch  SA,  Chaer  RA,  et  al.  Factors  that  influence  
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158
  154  
Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores
 
 
ESCLEROTERAPIA  QUÍMICA  NO  
TRATAMENTO  DAS  VARIZES  DOS  MEMBROS  INFERIORES  
Pratas  Balhau  
 
INTRODUÇÃO  
A   escleroterapia   química   é   uma   das   opções   terapêuticas   válidas   no   tratamento   das  
varizes  dos  membros  inferiores.  
A   escleroterapia,   como   tratamento   para   as   varizes,   foi   introduzida   pela   primeira   vez  
em  França  por  Tournay,  na  década  de  1920.  Este  autor,  e  depois  outros  como  Sigg  e  
Fegan,   defendendo   técnicas   diferentes   de   esclerose,   todas   com   bons   resultados,  
tiveram   o   mérito   de   introduzir   a   estandardização   e   o   rigor   necessários   ao  
reconhecimento  desta  técnica.  
A   curto   prazo,   os   resultados   são   muito   bons;   contudo,   a   médio   e   a   longo   prazo,   os  
resultados  são  ainda  pobres.  Mas,  atualmente,  surgiu  a  escleroterapia  ecoguiada,  isto  
é,  a  escleroterapia  associada  ao  ecoDoppler,  ou  seja,  a  escleroterapia  realizada  sob  a  
visualização  ecográfica.  Acreditamos  que  este  método,  pouco  invasivo,  de  baixo  custo  
e  de  excelente  aceitação  pelo  doente,  possa  vir  a  ser,  no  futuro,  uma  alternativa  válida  
à  cirurgia.  
   
Definição  
Scleros,   do   grego,   quer   dizer   endurecimento.   A   escleroterapia   representa   uma   forma  
de   tratamento   destinado   a   endurecer   tecidos,   fibrosando-­‐os.   A   fibrose   terapêutica  
pode   ser   conseguida   por   meios   térmicos   (que   incluem   o   laser),   mecânicos  
(escarificações),   elétricos   (eletrocoagulação,   eletrofulguração),   químicos   (substâncias  
“esclerosantes”),  por  radiações,  etc.  
São   muitas   as   indicações   para   a   escleroterapia.   Na   área   vascular,   que   nos   interessa  
agora,   o   objetivo   do   tratamento   é   produzir   inflamação   de   canais   circulatórios,  
conduzindo   à   sua   destruição   enquanto   tal.   Pode   ser,   e   já   foi,   usada   para   tratar  
estruturas   arteriais   (aneurismas),   linfáticas   (higromas   quísticos)   e   venosas   (varizes).  
Interessa-­‐nos,  no  momento,  objetivamente,  a  escleroterapia  química  das  varizes.  

  155  
159
Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

  Princípio  da  escleroterapia  


A   finalidade   do   tratamento   é   a   oclusão   do   tronco   varicoso   visado.   A   oclusão   ocorre  
secundariamente   à   destruição   do   endotélio   venoso   com   formação   do   trombo   que  
progride   para   a   organização   fibrótica,   e   posterior   reabsorção.   A   injeção   do   agente  
esclerosante   provoca   uma   lesão   endotelial,   da   qual   resulta   uma   reação   inflamatória,  
um  espasmo  vascular  e  a  formação  dum  trombo  aderente  à  parede  (sem  perigo,  por  
isso,   de   embolização).   A   partir   da   lesão   endotelial,   o   coágulo   formado   serve   de  
infraestrutura  para  a  proliferação  de  fibrócitos.  O  cordão  fibroso  originado  acaba  por  
ser  totalmente  reabsorvido  pelo  organismo.    
O  ideal  seria  obter  o  máximo  de  reação  endotelial  com  trombose  mínima.  Ocorrendo  
coágulos  volumosos,  além  da  inflamação  exagerada,  há  retrações  da  massa  coagulada,  
formando-­‐se   bolsas   de   sangue   retido.   Isto   atrasa   a   cura   fibrótica,   exacerba   a  
recanalização,  requer  procedimentos  suplementares  e  gera  riscos.      
   
  Tipos  de  esclerosantes  químicos  
É  difícil  classificar  todas  as  substâncias  capazes  de  esclerosar  veias.  A  maior  parte  das  
flebites   químicas   é   de   origem   iatrogénica.   A   “flebosclerose”   iatrogénica   acontece,  
frequentemente,   com   injeção   endovenosa   de   soro   glicosado,   salicilatos,   antibióticos,  
quimioterápicos,  tranquilizantes,  anestésicos,  etc.    
Alguns   esclerosantes   clássicos   foram   descobertos   por   acaso.   Muitos   foram   sendo  
experimentados,   muitos   foram   esquecidos,   outros   melhorados.   As   razões   da   carreira  
efémera   de   alguns   esclerosantes   são   várias.   Uns,   como   o   morruato   de   sódio,   davam  
frequentes   choques   anafiláticos,   outros,   como   o   cloreto   de   sódio   hipertónico,   eram  
muito   dolorosos.   O   sublimado   originou   algumas   intoxicações   pelo   mercúrio.   Outros  
esclerosantes  só  provocavam  trombose  sanguínea  sem  lesão  endotelial,  aumentando  
o   risco   real   da   mobilização   do   trombo   não   fixado   à   parede.   Para   provocar   a   lesão  
endotelial   inicial,   partida   para   o   processo   trombofibrótico,   basta   alterar  uma   ou   várias  
das  constantes  físico-­‐químicas  do  sangue  circulante  a  esse  nível:  
  -­‐  inversão  da  polarização  endotelial  (negativa)  após  lesão  grave  do  endotélio;  
  -­‐   o   pH   (ácido)   do   plasma   venoso   (7,27-­‐7,43)   é   modificado   pela   injeção   duma  
solução  alcalina;  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

  -­‐   diminuir   a   tensão   superficial   do   endotélio   (a   37º   é   de   47   dyn/cm),   com  


solução  detergente;  
  -­‐   alterando   a   osmolaridade   circulatória   (301,4   miliosmoles),   com   solução  
hipertónica.  
De   acordo   com   a   densidade   específica   do   esclerosante   injetado,   em   relação   à   do  
sangue   (média   =   1050),   o   esclerosante   estagna   a   nível   das   dilatações   venosas,   a  
montante  ou  a  jusante,  na  razão  inversa  da  sua  densidade.  
Sinapius   e   Dietrich   publicaram   em   1968   um   estudo   experimental   da   ação   dos  
esclerosantes   sobre   o   endotélio.   Colocaram   in   vitro   esclerosantes   em   contacto   com  
preparações   frescas   de   endotélio   de   aorta   de   porcos,   depois   injetaram   in   vivo  
esclerosantes  na  veia  jugular  externa  de  coelhos.  
 
Esclerosantes   Composição  química   Inventor  
ClNa   Linser    1916  
Soluções  
Glicose   Kausch    1917  
Hipertónicas  
Salicilato  de  Na   Sicard    1919  
Ácidos  gordos   Higgins    
Kittel  1930  
Soluções  
Tetradecilsulfato  de  sódio   Reinert  1946  
Detergentes  
Oxipolidoxidodecanol   Henschel  1966    
Eichberg  
Iodeto  de    K   Schiassi  1908  
Iodeto  de  Na   Gerson  1933  
Produtos  
Iodo  +  álcool  benzílico   Imhoff  
Corrosivos  
Sigg  1959  
Glicerina  +  Cr   Jausion  1933  
Quadro    I  -­‐  Esclerosantes  disponíveis.  

As   suas   verificações   histológicas   assentavam   na   superfície   média   dos   núcleos   (valor  


normal  45  µ2),  na  conformação  protoplasmática  e  no  estado  dos  limites  intercelulares.  
Assim,  as  soluções  hipotónicas  (água  destilada)  davam  lesões  no  endotélio  que  eram  
reversíveis.  As  soluções  hipertónicas  (NaCl  a  22  %  e  glicose  a  66  %),  em  três  minutos  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

são   capazes   de   diminuir   a   superfície   nuclear   das   células   endoteliais   e   causar  


desorganização  dos  limites  celulares.  
As  soluções  iodadas,  em  três  segundos  reproduzem,  exacerbadamente,  os  efeitos  das  
soluções  hipertónicas.  
As   soluções   detergentes   (tensiolíticas)   maceram   o   endotélio   em   menos   de   um  
segundo,   dissolvem   o   cimento   intercelular,   causam   a   descamação   em   placas   do  
endotélio  e  os  núcleos  restantes  entram  em  picnose.  
As   soluções   ácidas   são   praticamente   inócuas   para   o   endotélio   e   as   soluções   alcalinas   a  
partir  de  pH  8  agem  como  os  detergentes.  
No   domínio   dos   esclerosantes,   nenhum   novo   produto   foi   lançado   recentemente   no  
mercado,   como   mostra   o   Quadro   I.   Os   esclerosantes   disponíveis   podem   ser  
classificados   em   diferentes   grupos,   tendo   a   mesma   ação   do   ponto   de   vista   histológico,  
mas  tendo  indicações  específicas.  
 
  INDICAÇÕES  
Da   Reunião   de   7   a   10   de   junho   de   2012,   em   Mainz,   Alemanha,   saíram   as   European  
Guidelines   for   Sclerotherapy   in   Chronic   Venous   Disorders,   estabelecendo   o   consenso,  
ainda  atual,  que  a  escleroterapia  pode  ter  várias  indicações:  

.  Safenas  incompetentes  (Hamel-­‐Desnos  2003  e  2007,  Alos  2006,  Ouvry  2008,  Rabe  2008,  
      Rasmussen  2011,  Shadid  2012)  –  Grau  1A;  
.  Varizes  tributárias  (Myers  2007)  –  Grau  1B;  
.  Perfurantes  insuficientes  (Guex  2000,  van  Neer  2006,  Myers  2007)  –  Grau  1B;  
.  Varizes  reticulares  (Kahle  2004,  Norris  1989,  Rabe  2010,  Uncu  2010,  Alos  2006,  
      Peterson  2012)  –  Grau  1A;  
.  Telangiectasias  (Kahle  2004,  Norris  1989,  Rabe  2010,  Uncu  2010,  Alos  2006,  
      Peterson  2012)  –  Grau  1A;  
.  Varizes  residuais  ou  recidiva  pós-­‐cirurgia  (Kakkos  2006,  McDonagh  2003,  Coleridge  
      Smith  2006  e  2009,  Myers  2007,  Bradbury  2010)  –  Grau  1B;  
.  Varizes  de  origem  pélvica  (Sukovatykh  2008,  Kakkos  2006,  Paraskevas  2011)  –  Grau  1C;  
.  Varizes  próximas  de  úlcera  de  perna  (Stücker  2006,  De  Waard  2005,  Hertzman  2007,  
      Pang  2010)  –  Grau  1B;  
.  Malformações  venosas  (Yamaki  2000  e  2008,  Blaise  2011)  –  Grau  1B.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

O  calibre  
O   calibre  e  
e  a  
a  extensão  
extensão  das  
das  varizes  
varizes  condicionam  
condicionam  a  
a  escolha  
escolha  do  
do  tratamento.  
tratamento.  É 
É   uma 
uma  
questão  de  bom  senso.  Assim,  a  cirurgia  é  preferível  a  numerosas  injeções  de  varizes  
questão de bom senso. Assim, a cirurgia é preferível a numerosas injeções de esclerose
emgvarizes
de   rande  cde grande
alibre,   calibre,
com   com volumosos
volumosos   pontos  de  pontos
refluxo  de
e  orefluxo
 risco  dee  orrisco de recanalização
ecanalização   rápida.  
rápida.
Em   Emopinião,  
nossa   nossa opinião, a escleroterapia
a   escleroterapia   pode
pode   ser   ser indicada
indicada   no tratamento
no   tratamento   de varizes
de   varizes   que  
ainda  
que ainda não  não 
necessitam  
necessitam de  de 
cirurgia,  
cirurgia,  nas  
nas  varizes  
varizes residuais  
residuais após  
após cirurgia,  
cirurgia,  ou   nas  
ou  nas 
recidivas, à  medida
recidivas,   medida  que
que  vão
vão  surgindo.
surgindo.  
Indicamos  a  escleroterapia  nas  pequenas  varizes  e  telangiectasias  não  dependentes  de  
insuficiência  osteal,  com  o  propósito  de  aliviar  sintomas  e  corrigir  a  aparência.  Como  
em   varizes   volumosas   do   território   da   safena   externa,   ou   sem   ligação   incompetente  
marcada  ao  sistema  profundo,  ou  a  uma  safena  interna  incompetente.  Na  presença  de  
varizes,  volumosas  ou  não,  secundárias  a  refluxo  por  deterioração  valvular  de  safenas  
e/ou  perfurantes,  impõe-­‐se  a  cirurgia.  
Quando  ocorrem  os  dois  tipos  de  varizes  simultaneamente,  varizes  cirúrgicas  e  varizes  
esclerosáveis,   a   precedência   é   da   cirurgia   e   só   depois,   oportunamente,   a  
escleroterapia.  
As  varizes  residuais  após  cirurgia  são  uma  boa  indicação  para  esclerose  por  vezes  com  
a   ajuda   do   ecoDoppler   quando   não   são   visualizadas.   Nas   recidivas   volumosas  
preferimos,   frequentemente,   resolvê-­‐las   a   nível   de   pequenas   intervenções   cirúrgicas,  
sob   anestesia   local,   com   a   técnica   do   microgancho,   de   indiscutíveis   resultados  
cosméticos  e  esclerose  de  varizes  residuais.  
Fazemos  esclerose  ainda  em  alguns  casos  particulares:    
-­‐   após  a  rotura  de  variz.  A  compressão  bem  executada  é  suficiente  para  parar  a  
hemorragia.  A  esclerose  suplementar  da  variz  responsável  evita  a  recidiva  hemorrágica  
a  curto  prazo;  
-­‐   nas   varizes   peri-­‐úlcera   ou   varizes   “alimentadoras”   da   úlcera   venosa.   A   sua  
esclerose  acelera  a  cura  da  úlcera;  
-­‐   nas   varizes   “alimentadoras”   do   eczema   venoso   e   da   atrofia   branca,   a  
escleroterapia  pode  acelerar  a  sua  cura;  
-­‐  em  malformações  venosas.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Embora   não   seja   a   nossa   opção,   há   quem   estenda   as   indicações   da   escleroterapia  


varicosa   muito   para   além   destas,   pretendendo   mesmo   substituir   o   tratamento  
cirúrgico  ou  complementá-­‐lo  duma  maneira  muito  mais  direta,  até  per-­‐operatória.  

CONTRAINDICAÇÕES  
A  escleroterapia  está  contraindicada  na  presença  de  alergia  ao  esclerosante,  infeções,  
trombose  venosa  profunda,  insuficiência  arterial  periférica,  diabetes  descompensada,  
insuficiência   cardíaca,   foramen   ovale   sintomático,   neoplasias,   caquexia,   acamados   e  
idade  avançada.  
É   preferível   evitar   a   escleroterapia   durante   a   gestação,   principalmente   no   primeiro  
trimestre   e   nas   últimas   seis   semanas.   Não   vemos   problema   em   realizar   a   esclerose  
durante  o  período  menstrual  e  durante  o  uso  de  contracetivos  orais.  
São   contraindicação   relativa   o   edema   da   perna   descompensado,   estados   de  
trombofilia  ou  hipercoagulabilidade  com  ou  sem  história  de  trombose  e  foramen  ovale  
conhecido  assintomático.  
Durante  a  amamentação  a  escleroterapia  tem  contraindicação  absoluta.  

MATERIAL  
Seringas  
Usando-­‐se   pouco   volume   de   solução   esclerosante   em   cada   picada,   dispensam-­‐se   as  
grandes   seringas.   As   melhores   são   as   de   2   cc   ou   de   5   cc,   dependendo   sobretudo   do  
tamanho  da  mão  do  médico  que  faz  a  escleroterapia.  As  seringas  de  vidro  simplificam  
o ato   de   injetar   suavemente,   sem   solavancos   perigosos,   e   tornam-­‐se   mais   fáceis   de
manobrar  na  medida  em  que  o  desgaste  natural  alisa  as  paredes  do  êmbolo.  
O  ideal  seria  usar  seringas  descartáveis,  da  mesma  forma  que  fazemos  com  as  agulhas.  
Nas   seringas   descartáveis,   os   êmbolos   são   mais   duros   e   se   não   deslizarem   com  
suavidade,   mas   sim   aos   solavancos,   são   capazes   de   fazerem   explodir   as   paredes   de  
telangiectasias   a   serem   tratadas.   Com   as   seringas   de   vidro,   reutilizáveis,   torna-­‐se  
obrigatória  a  esterilização  em  estufa,  a  seco,  ou  a  esterilização  a  gás.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Agulhas  descartáveis  
Aconselham-­‐se   três   calibres   de   agulhas.   A   mais   fina,   0,3   x   13   (equivalente   à   americana  
30  GA1/2)  para  as  micro  varizes  mais  delicadas,  a  0,4  x  13  (equivalente  à  27  G1/2)  para  
as  telangiectasias  e  a  0,5  x  16  (equivalente  à  25  G5/8  )  para  as  restantes  varizes.  
 
  A    ESCOLHA    DO    ESCLEROSANTE  
A   escolha   do   esclerosante   a   utilizar   é   um   dos   problemas   para   quem   começa   a   fazer  
esclerose  de  varizes.  Infelizmente  são  muitos  os  fatores  que  entram  na  escolha,  nem  
sempre   relacionados   só   com   o   esclerosante,   mas   também   com   o   tipo   de   variz   e   a  
resposta  do  doente  ao  líquido  usado.  
Para  se  fazer  corretamente  a  escolha,  deve-­‐se  começar  por  estudar  os  esclerosantes,  o  
seu  tipo,  vantagens  e  inconvenientes.  
Os   três   esclerosantes   mais   difundidos   em   França   são   o   iodo,   o   tetradecil   sulfato   de  
sódio   e   o   polidocanol,   que   têm   as   vantagens   e   inconvenientes,   e   que   mostramos   no  
Quadro  II.    
 
  Iodo   TSS   Polidocanol  

Cor   Sombra   Incolor   Incolor  

Ação   Local   Difusa   Difusa  

Dor  injeção  
Forte   Mínima   Débil  
paravenosa  

Alergia   Rara   Rara   Rara  

Necrose   Sim   Sim   Mínima  


Quadro  II  -­‐  Características  de  três  esclerosantes  
 
Aprender  com  os  colegas  que  já  têm  experiência.  Ver  e  executar  o  método,  aprender  
as  regras,  tomar  conhecimento  dos  casos  particulares  e  das  modalidades  de  atuação.  
Depois,   na   prática,   trabalha-­‐se   com   dois   ou   três   produtos   que   mais   gostamos   e   que  
conhecemos  melhor.  
Não   falando   dos   esclerosantes   históricos,   mas   só   dos   mais   utilizados,   podemos   dizer  
que  há  esclerosantes  fortes:  o  salicilato  de  sódio,  o  polidocanol,  o  iodo,  sob  a  forma  de  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Lugol   sódico,   o   tretradecil   sulfato   de   sódio   (TSS),   o   oleato   de   monoetolamina,   e   o  


moruato  de  sódio.  
Há  esclerosantes  suaves  como  a  glicerina  crómica  e  a  glicose  hipertónica.  
Há  quem  faça  associações  de  dois  esclerosantes  na  mesma  seringa  ou  injeções  em  dois  
pontos  diferentes  de  dois  produtos  diferentes.  
Em   Portugal,   atualmente,   só   há   o   Polidocanol,   sob   o   nome   de   Etoxisclerol®  
(Lauromacrogol  400)  a  0,5  %,  1  %,  2  %  e  a  3  %,  em  ampolas  de  2  ml.    É  fabricado  pelo  
Laboratório   Kreussler   (Wiesbaden),   Alemanha,   e   distribuído   em   Portugal   pela  
Rubeaspharma.  
O  polidocanol  é  muito  ativo,  constante  na  sua  ação,  com  bom  efeito  esclerosante,  fácil  
de   manipular,   fácil   de   dividir   em   doses   e   com   um   efeito   espástico   imediato,   o   que  
permite   controlar   o   efeito   provável   da   injeção.   É   incolor,   muito   fluido   e   totalmente  
indolor   à   injeção,   salvo   para   altas   concentrações   (4   %).   A   injeção   do   produto   a   4   %  
provoca   uma   dor   viva,   ao   longo   da   variz,   mas   que   é   muito   efémera.   Sem   efeitos  
secundários,  boa  tolerância  e  com  raros  fenómenos  alérgicos  observados.  
É  importante  conhecer  as  características  específicas  de  cada  substância  esclerosante,  
embora  haja  quem  insista  em  não  ter  em  conta  as  diferenças  entre  elas  e  as  considere  
a  todas  por  igual.  
 
  AS    DOSES  
O   facto   de   se   conhecerem   bem   os   esclerosantes   não   resolve   o   problema   prático   da  
esclerose.  A  determinação  da  dose  é  um  problema  maior.  Saber  qual  a  concentração  a  
utilizar  e  a  quantidade  a  injetar  são  problemas  constantes  que  devem  estar  presentes  
a   cada   sessão   de   esclerose,   e   para   cada   injeção.   A   incerteza   quanto   ao   resultado   da  
nossa   decisão   deve-­‐nos   obrigar   a   ser   sempre,   mas   sempre,   prudentes.   Porque   há  
diferenças  de  um  indivíduo  para  outro,  e  há  diferenças  no  mesmo  indivíduo  de  sessão  
para   sessão.   Não   é   possível   calcular   à   primeira   vista   o   produto   que   dará   o   melhor  
resultado,   e   muito   menos   qual   a   dose   a   utilizar.   Esta   dificuldade   estará   presente  
durante  todo  o  tratamento.  Assim,  é  obrigatório  ser  prudente.    
Deve-­‐se   iniciar   empiricamente   com   uma   dose   fraca,   para   não   ter   uma   reação  
catastrófica.   Se   a   dose   inicial   não   produziu   efeito,   aumenta-­‐se;   se   a   reação   foi  
satisfatória,   repete-­‐se   a   dose;   se   ela   foi   demasiado   forte,   deve-­‐se   diminuir.   É   esta  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

atitude,   baseada   na   observação,   que   nos   dará   os   melhores   resultados.   A   melhor  


progressão   de   sessão   para   sessão   é   poder   aumentar   metade   ou   um   terço   da   dose  
anterior.  
Peso  dos  doentes  
Polidocanol   50  kg          60  kg          70  kg          80  kg          90kg  

0,5%   20  ml   24  ml   28  ml   32  ml   36  ml  

1%   10  ml   12  ml   14  ml   16  ml   18  ml  

2%   5  ml   6  ml   7  ml   8  ml   9  ml  

3%   3,3  ml   4  ml   4,6  ml   5,3  ml   6  ml    

4%   2,5  ml   3  ml   3,5  ml   4  ml   4,5  ml  


Quadro  III  -­‐  Doses  máximas  por  sessão  
 
A  dose  máxima  do  polidocanol  não  deve  ultrapassar  2  mgr/kg/dia.  Por  razões  técnicas  
não   se   deve   injetar   mais   de   2   ml   por   picada.   A   quantidade   máxima   por   sessão   de  
polidocanol  indicada  pelo  fabricante  está  referida  nos  Quadro  III  a  VII.  
Com  o  polidocanol  pode-­‐se  fazer  espuma  e  usá-­‐la  para  esclerosar  varizes  com  eficácia  
superior   à   do   líquido;   como   se   utiliza   uma   quantidade   de   produto   muito   reduzida,   fica  
mais  económico  e  o  risco  de  lesão  por  injeção  extra  vascular  é  mínimo.    
 
POLIDOCANOL  -­‐  líquido  

Indicações   Volume  da   Concentração  


injeção  

Telangiectasias   0,1-­‐0,2  ml   0,25-­‐0,5  %  

Veia  central  de  telangiectasias   0,1-­‐0,2  ml   0,25-­‐1  %  

Varizes  reticulares   0,1-­‐0,3  ml   1  %  

Varizes  pequenas   0,1-­‐0,3  ml   1  %  

Varizes  médias   0,5-­‐2,0  ml   2-­‐3  %  

Varizes  grandes   1,0-­‐2,0  ml   3-­‐4  %  

Quadro  IV  -­‐  Valores  médios  por  concentração  usados  na  escleroterapia  
com  polidocanol  líquido.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

 
  Líquido   0,25%   0,5%   1%   2%   3%  

Safena  interna           +   ++   ++  

Safena  externa         +   ++   +  

Variz  colateral         ++      

Variz  recidivada       (+)   ++   ++   +  

Veia  perfurante       (+)   ++   +   (+)  

Varizes  reticulares   (+)   (+)   ++   +      

Telangiectasias   ++   (+)*   (+)        

Malformações  venosas       +   ++   +    

Quadro  V  -­‐  Indicação  das  concentrações  usadas  na  escleroterapia  com  polidocanol  líquido  que  
pode  ser  transformado  em  espuma.  
Legenda  ++        Indica  que  é  o  mais  usado  por  especialistas  
     +        Indica  que  é  menos  usado  por  especialistas  
                               (+)        Indica  que  é  usado  por  alguns  ou  poucos  especialistas  
                               (+)*  Se  for  utilizada  a  escleroterapia  com  espuma  é  a  concentração  preferida  
 
 
Diâmetro   Líquido   0,25  %   0,5  %   1  %   2  %   3  %   4  %  

<  1  mm   ++*   (+)*            

1-­‐3  mm   (+)   +   ++   (+)        

3-­‐4  mm     (+)   ++   ++        

5-­‐6  mm       +   ++   +      

7-­‐8  mm         +   ++   ++    

9-­‐10  mm         (+)   +   ++    

>10  mm           +   ++   (+)  

Quadro  VI  -­‐  Concentração  de  polidocanol  por  diâmetro  das  veias  
Legenda:  ++        Indica  que  é  o  mais  usado  por  especialistas  
                                 +          Indica  que  é  menos  usado  por  especialistas  
                               (+)      Indica  que  é  usado  por  alguns  ou  poucos  especialistas  
                               ++*  A  esclerotearapia  com  espuma  não  é  recomendada  como  primeira  opção  
                               (+)*    Se  for  utilizada  a  escleroterapia  com  espuma  é  a  concentração  preferida  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

 
  Volume  médio  de   Volume  máximo  de  
espuma  por  injeção   espuma  por  injeção  

Safena  interna   2  -­‐  4  ml   Até  6  ml  

Safena  externa   2  –  4  ml   Até  4  ml  

Variz  colateral   Até  4  ml   Até  6  ml  

Variz  recidivada   Até  4  ml   Até  8  ml  

Veia  perfurante   Até  2  ml   Até  4  ml  

Varizes  reticulares   <  0,5  ml   <  1  ml  

Telangiectasias   <  0,5  ml   <  0,5  ml  

Malformações  venosas   2  até  6  ml   <  8  ml  

Quadro  VII  -­‐  Valores  de  volumes  médios  de  espuma  por  injeção  
 
Com   os   esclerosantes   detergentes   pode   fazer-­‐se   espuma   esclerosante   compacta   que  
não   se   mistura   com   o   sangue.   Tessari,   em   1999,   apresentou   o   seu   método   (Fig.   1)   -­‐  
técnica   do   turbilhão   -­‐   produzindo   espuma   muito   rapidamente,   simples   e   barata,  
mantendo   as   características   dos   esclerosantes:   adesividade,   coesão,   estabilidade   e  
mais  ecovisibilidade.  
 

         

Fig.  1  -­‐  Método  de  Tessari  para  fazer  espuma.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Produziu   espuma   com   duas   seringas   de   plástico   e   uma   torneira   de   três   vias.   Juntou  
esclerosante  e  ar,  numa  proporção  de  1  para  3  ou  de  1  para  4.  A  espuma  obtida  tem  
bolhas   cujo   diâmetro   varia   de   40   a   80   micra.   O   espasmo   venoso   é   súbito   e   mais  
intenso   quando   se   utiliza   a   espuma.   Outra   propriedade   da   espuma   é   a   redução   da  
quantidade  de  droga  utilizada:  0,3-­‐0,5  ml  de  líquido  pode  ser  transformado  em  2-­‐3  ml  
de   espuma.   Podem-­‐se   obter   maiores   quantidades   de   espuma   a   partir   da   mesma  
quantidade  de  líquido  de  acordo  com  a  quantidade  de  ar  utilizado  (Fig.  2  e  3).  

 
Fig.  2  -­‐  Injeção  de  líquido  esclerosante  numa  veia,  diminui  a  sua  concentração.  

 
Fig.  3  -­‐  Injeção  de  espuma  esclerosante  numa  veia,  mantêm  a  concentração.  
 
Muitos   autores   têm   utilizado   a   ecoescleroterapia,   a   escleroterapia   associada   ao  
ecoDoppler,   ou   seja,   a   escleroterapia   realizada   sob   a   visualização   ecográfica,   e  
asseguram   que   é   uma   técnica   segura,   eficaz,   precisa,   sendo   também   reprodutível.  
Aceitamos   que   seja   uma   boa   técnica,   mas   é   por   certo   muito   dependente   de   quem  
opera  o  ecoDoppler  (Fig.  4  e  5).  

 
Fig.  4  -­‐  Escleroterapia  guiada  por  ecoDoppler.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Fig.  5  -­‐  Imagens  ecográficas  longitudinais  de  punção  da  veia  e  depois  de  injeção  de  espuma  
esclerosante  que  ocupa  todo  o  lúmen  da  veia  à  frente  do  bisel  da  agulha.  

O  volume  máximo  de  espuma  recomendado  por  sessão  e  por  membro  é  10  ml,  dada  
numa  única  injeção  ou  em  várias  injeções.  

TÉCNICA  
A  técnica  de  esclerose  começa  por  um  exame  clínico  completo,  com  especial  atenção  
para   a   palpação.   De   todos   os   meios   de   investigação   clínica   é   a   palpação   que   nos   dá  
mais  informações.  A  palpação  de  uma  variz  dá  uma  dupla  sensação  de  cúpula,  linear  
ou   ampular,   e   de   uma   certa   resistência   com   renitência.   Mesmo   com   varizes   bem  
visíveis,  estas  devem  ser  exploradas  pelos  dedos;  quando  invisíveis,  são  os  dedos  que  
as  descobrirão  e  que  as  vão  definir.    

Fig.  6  -­‐  Mapa  para  registo  das  varizes    Fig.  7  -­‐  Mapa  para  registo  das  varizes  
e  escleroses                  e  escleroses  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Após  o  exame  clínico,  deve  fazer-­‐se  um  mapa  das  varizes  a  tratar  pela  esclerose  (Fig.  6  
e   7).   Assim   poder-­‐se-­‐á   definir   melhor   a   estratégia   terapêutica.   Também   se   devem  
registar   no   processo   do   doente   o   produto   utilizado,   as   concentrações,   as   doses,   os  
locais  das  picadas,  bem  como  todas  as  reações  observadas.  
O  exame  clínico  deve  ser  repetido  em  todas  as  sessões.  

Método  
Orbach,  em  1944,  simplificou  a  escleroterapia  das  pequenas  varizes  pela  introdução  da  
sua  técnica  de  bloqueio  de  ar  (air  block  method).  Consiste  em  aspirar  para  a  seringa,  
além  da  solução  esclerosante,  uma  proporção  igual  de  ar  e  outra  de  espuma.  Formam-­‐
se,  então,  três  fases  no  interior  da  seringa.  Para  tal,  após  introduzir  o  esclerosante  na  
seringa,   volta-­‐se   esta,   já   com   a   agulha   instalada,   para   baixo   e   aspira-­‐se   ar.   O   ar,  
passando  da  fina  agulha  para  o  interior  da  seringa  contendo  a  substância  detergente,  
borbulha  em  profusão  e,  após  conseguir-­‐se  espuma  suficiente,  volta-­‐se  a  seringa  para  
cima  e  aspira-­‐se  mais  ar.  Ficam,  pois,  na  seringa,  três  fases.  Respetivamente,  a  partir  
de  baixo:  esclerosante,  espuma  e  ar  (Fig.  8  e  9).  

               Fig.  8  -­‐  Método  de  Orbach.              Fig.  9  -­‐  Método  de  Orbach,  pormenor  com      
adesivo  na  mão  esquerda  e  usar  agulha  25  G.  

No  momento  da  injeção,  esta  é  realizada  com  a  agulha  voltada  para  cima  sem  alterar  a  
posição   das   camadas.   Ao   injetar,   ocorrerão   duas   possibilidades:   a   agulha   está   no  
interior   da   veia   ou   não   está.   No   caso   negativo,   o   ar   penetra   na   pele   formando   uma  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

inócua   bolha   enfisematosa.   Sinal   para   retirar   a   agulha   e   fazer   nova   tentativa.   Se   a  
agulha   estiver   no   interior   da   veia,   injeta-­‐se   lentamente   o   ar   e   este   espalha-­‐se   pelos  
ramos  da  varicosidade  produzindo  como  que  o  seu  desaparecimento  imediato,  já  que  
o esclerosante   incolor   substitui   a   coloração   do   sangue.   Neste   caso,   injeta-­‐se,
lentamente   (enfatiza-­‐se   e   insiste-­‐se   no   advérbio),   uma   quantidade   razoável   de  
espuma,   e   eventualmente,   se   o   vaso   tiver   paredes   algo   mais   espessas   do   que   as  
telangiectasias  vermelhas,  alguns  poucos  decimililitros  de  esclerosante.  
É   aconselhável   não   injetar   solução   esclerosante   para   trajetos   telangiectásicos  
vermelhos.  A  pobre  espessura  das  suas  paredes  altamente  vulneráveis  ao  esclerosante  
poderão   quebrar   o   equilíbrio   de   permeabilidade   parietal   com   passagem   de  
esclerosante   para   os   tecidos   circunjacentes,   produzindo   algum   grau   de   irritação   e  
posterior  mancha  hiperpigmentada  na  pele.  
O  pequeno  volume  de  ar  lentamente  injetado  na  veia  é  praticamente  inócuo.  
A  técnica  de  Tournay  caracteriza-­‐se  pela  punção  e  injeção  de  varizes  quase  vazias  de  
sangue  em  posição  horizontal.  O  efeito  da  esclerose  não  depende  só  da  concentração  
do  esclerosante  na  variz,  mas  também  do  tempo  de  contacto  com  o  endotélio  venoso.  
Numa  perna  na  horizontal,  o  débito  venoso  superficial  é  muito  débil  ou  quase  ausente,  
e  assim  a  ação  do  esclerosante  (=  concentração  x  tempo  de  contacto)  vai  ser  forte.      
Na  técnica  de  Sigg,  o  doente  está  de  pé  em  cima  de  um  banco  para  a  punção  com  uma  
agulha  de  1,2  cm  de  bisel  curto.  O  sangue  sai  para  uma  taça  reniforme  segurada  por  
um  ajudante.  O  doente  deita-­‐se  em  seguida  e  a  perna  puncionada  é  elevada  até  30º.    

Fig.  10  -­‐  Técnica  de  Sigg  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Durante   a   mudança   de   posição   o   sangue   continua   a   sair   para   a   taça.   A   seringa   é   então  
adaptada  à  agulha  e  com  air-­‐block  injeta-­‐se  inicialmente  ar.  A  injeção  paravenosa  não  
originará   senão   um   enfisema   subcutâneo   sem   riscos   de   necrose.   A   injeção  
intravaricosa  é  realizada  com  0,5  ml  de  esclerosante  (Fig.  10).  
As   técnicas   descritas   têm   vantagens   e   inconvenientes.   O   método   francês   parece-­‐nos   o  
mais  simples,  ele  deverá  constituir  a  técnica  base  à  qual  cada  escleroterapeuta  dará  o  
seu  cunho  pessoal.    

Escleroterapia  intravascular  e  extra  vascular  


O   uso   de   esclerosante   suave   permite   injetar   dentro   e   fora   da   veia.   Com   os  
esclerosantes   ditos   fortes,   utilizados   para   escleroterapia   de   grandes   varizes,   injetar  
fora  do  lúmen  da  veia  é  sinónimo  de  necrose  e  posteriormente  escara.  
Usando-­‐se   esclerosantes   em   concentrações   diluídas   ou   sob   a   forma   de   espuma,   se  
houver   extravasamento   a   reação   do   tecido   celular   circunjacente   será   mínima   e   a  
escara   de   ocorrência   remota.   A   fibrose   provocada   em   torno   do   vaso   complementa   a  
inflamação  do  endotélio  vascular,  meta  da  escleroterapia.  

Posição  do  doente  e  do  escleroterapeuta  


A  melhor  posição  para  a  realização  da  escleroterapia  é  aquela  que  permite  otimizar  a  
equação  envolvendo  os  vários  fatores:  eficácia  do  procedimento,  segurança  e  conforto  
do  doente,  conforto  do  escleroterapeuta.  A  posição  ideal  do  doente  seria  reclinada  “à  
romana”   (Fig.   11),   com   um   ligeiro   declive   dos   membros   inferiores,   obtendo-­‐se   um  
discreto   enchimento   venoso,   mas   sem   o   grande   refluxo   da   postura   ortostática.   O  
relevo  das  veias  fica  mais  visível  e  mais  recetivo  à  injeção.  

 Fig.  11  -­‐  De  acordo  com  a  visualização            Fig.  12  -­‐  Se  as  varizes  a  esclerosar  forem  visíveis  
                 das  varizes  

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Fig.  13  -­‐    Se  for  necessário  para  visualizar   Fig.  14  -­‐  Para  esclerose  na  região  
 as  varizes                                posterior  da  perna  

Desaconselhamos  manter  o  doente  em  pé.  Muitos  fazem-­‐no  para  intensificar  o  relevo  
venoso   ou   para   ocupar   menos   espaço   do   que   seria   ocupado   por   uma   marquesa.   O  
resultado   de   trabalhar   com   o   doente   em   pé   costuma   ser   uma   alta   incidência   em  
lipotímias,  onde  o  menos  que  poderá  acontecer,  será  a  perda  de  confiança  do  doente  
e  o  seu  abandono  do  tratamento.  Isto  quando  ele  não  cai  mesmo,  com  risco  para  si  e  
para  o  escleroterapeuta.  As  Fig.  12  a  14  sugerem  outros  posicionamentos.  

Iluminação  
A  iluminação  deve  ser  abundante,  de  preferência  difusa.  Isto  pode  ser  conseguido  por  
um  teto  rebaixado  a  2,5  metros  de  altura  com  quatro  ou  seis  tubos  fluorescentes  de  40  
watts  correndo  sobre  a  cama  e  no  mesmo  sentido  que  esta.    
Eventualmente  pode  ser  utilizado  um  foco  suplementar.    
Acrescente-­‐se   que   a   pele   molhada   pelo   álcool   da   antissepsia   torna-­‐se   mais  
transparente  e  permite  melhorar  a  observação  das  veias.  

A  técnica  do  quinto  dedo  


A   dificuldade   da   esclerose   de   varizes   é   essencialmente   de   ordem   prática.   É   o   que   mais  
tempo  leva  a  adquirir,  não  é  a  teoria.  
A  técnica  do  quinto  dedo  foi  muito  preconizada  pelo  Dr.  Amélio  Pinto  Ribeiro.  Referia  
que   a   maneira   mais   espontânea   de   se   comprimir   um   êmbolo   de   seringa   é   com   o  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

polegar.   O   sistema   de   alavancas   em   que   o   polegar   comprime   o   êmbolo   é  


extremamente  forte,  e  qualquer  atrito  mais  marcado  entre  a  seringa  e  o  seu  êmbolo  
pode   levar   a   inapropriado   aumento   da   ação   do   polegar,   desfazendo   o   obstáculo   e  
injetando   ar,   espuma,   esclerosante   ou   tudo   isso   junto   sob   forte   pressão,   explodindo  
veia  e  invadindo  os  tecidos  circunjacentes.  Comprimindo  o  êmbolo  com  o  quinto  dedo,  
evita-­‐se  o  problema  e  aprimora-­‐se  o  manuseio  da  seringa,  libertando  a  outra  mão  para  
manobras  complementares.  O  treino  é  cansativo  para  o  médico  que,  de  início,  poderá  
até  ter  cãibras  na  musculatura  do  antebraço.      

A  sessão  de  escleroterapia  


Numa   sessão   de   escleroterapia,   habitualmente,   aplicamos   injeções   só   num   membro  
inferior.   Aplicamos   em   ambos   os   membros   se   o   problema   for   de   pouca   monta   e   a  
quantidade  de  esclerosante  a  injetar  não  ultrapassar  a  dose  terapêutica  recomendada.  

Fig.  15  -­‐  Devem-­‐se  tirar  sempre  todos  os  coágulos.  

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Excesso  de  espetadelas  e  de  injeções  pode  representar  dano  para  a  pele.  O  número  de  
injeções   numa   sessão   depende   também,   obviamente,   do   volume   de   esclerosante  
injetado  em  cada  uma,  de  acordo  com  o  calibre  da  veias  a  tratar.  
É   muito   importante   a   excisão   dos   coágulos   produzidos   pela   escleroterapia.   O  
procedimento   é   simples   e   consiste   na   abertura   da   veia   com   agulha   19G   biselada   ou  
lâmina   de   bisturi   nº   11   ou   15,   espremer   o   conteúdo   coagulado   ou   semicoagulado   (Fig.  
15),  e  aplicar  um  penso  com  contenção  elástica.  
 
  Compressão  elástica  
A   ideia   da   escleroterapia   varicosa   consiste   em   introduzir   na   veia   uma   substância  
irritante  que  produza  a  colagem  das  suas  paredes  num  processo  inflamatório.  Quanto  
mais   aproximadas   estiverem   estas   paredes,   maior   será   o   grau   de   fibrose,   e   o   que  
restar  da  veia  perderá  o  caráter  cilíndrico  e  assumirá  a  condição  plana,  não  visível,  sem  
fazer   saliência   na   pele.   Como   se   quiséssemos   transformar   em   fita   um   tubo   de  
borracha.  O  mesmo  que  despejar  cola  no  interior  do  tubo  de  borracha  e  o  comprimir  
em   seguida.   A   fita   fibrosa   acabará   depois,   espera-­‐se,   por   ser   reabsorvida   e  
desaparecer.  
Para   que   a   escleroterapia   tenha   êxito   é   necessário   que   a   compressão   seja   correta   e  
eficaz.   Se   a   compressão   não   for   mantida   enquanto   “a   cola   não   secar”   (a   reação  
inflamatória  parietal  não  conseguir  manter  as  paredes  venosas  juntas),  as  paredes  logo  
voltarão  à  forma  original  e  o  sangue  tornará  a  circular  nos  tubos,  como  antes  e,  como  
antes,   as   varizes   continuarão   intactas.   Mantendo-­‐se   a   compressão   por   tempo  
suficiente   para   a   “cola”   agir,   o   achatamento   venoso   fibrosará   com   um   mínimo   de  
reação.  Para  isso  é  importante  não  ficar  com  sangue  trombosado  no  seu  interior.  
Sem   a   compressão   elástica,   torna-­‐se   quase   ineficaz   o   processo   de   fibrose   e   a  
frustração,   não   raro,   induz   o   terapeuta   ao   uso   de   substâncias   esclerosantes   mais  
ativas.  Com  isto,  um  método  terapêutico  praticamente  inócuo  passa  a  adquirir  riscos  
respeitáveis.   A   compressão   elástica   por   ligaduras   e/ou   meias   elásticas   deve   ser  
aplicada   por   algum   tempo.   Dependendo   do   calibre   das   varizes,   da   extensão   a  
esclerosar   e   da   concentração   do   produto   esclerosante,   o   doente   pode   ter   de   usar   a  
compressão   elástica   desde   oito   dias   até   seis   semanas   após   a   última   sessão   de  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

esclerose.   As   meias   receitadas   deverão   ser   de   classe   de   compressão   II,   tipo   a-­‐g   ou  
collant  se  a/o  doente  preferir,  com  tamanho  adequado  ao  membro  inferior  tratado.    
Alguns   escleroterapeutas   não   comprimem   os   locais   injetados,   ou   fazem-­‐no   com  
ligaduras   por   poucas   horas.   Preferem   cobri-­‐los   com   pensos   rápidos,   ou   com   uma  
pulverização  de  “spray”  adesivo,  a  fim  de  impedir  o  sangramento.  Este  método  não  é  
vantajoso   por   exigir   soluções   esclerosantes   mais   concentradas   e   em   maior   volume.  
Corolariamente,  cresce  o  risco  de  hiperpigmentação  cutânea  e  escarificação.    
 
  Estratégia  terapêutica  
O   princípio   estratégico   de   cada   tratamento   eficaz   das   varizes   consiste,   primeiramente,  
em   eliminar   os   pontos   de   refluxo,   depois   tratar   as   varizes   de   maior   calibre   e,  
finalmente,  as  de  menor  calibre.  
A   escola   francesa   fundada   por   Tournay   preconizava   a   esclerose   dos   refluxos   de   cima  
para   baixo,   ao   inverso   da   escola   suíça   de   Sigg.   Fegan,   irlandês,   só   esclerosava   as  
perfurantes,  e  o  tronco  e  a  junção  safenianos  não  eram  geralmente  tratados.  
No  “tratamento  de  cima  para  baixo”,  da  escola  francesa,  o  ponto  de  refluxo  mais  alto  
será   eliminado   em   primeiro   lugar,   e   as   varizes   subjacentes   involuem   então  
rapidamente,   de   tal   forma   que   doses   mínimas   de   esclerosante   bastarão.   Isto   é  
igualmente   válido   para   as   veias   perfurantes.   Esta   estratégia   apresenta   a   dupla  
vantagem   da   sua   eficácia   e   do   seu   resultado   estético   (Fig.   16).   Mas   a   resistência   à  
esclerose  das  veias  perfurantes  insuficientes  pode  originar  um  desaire.  
 

         

Fig.  16  -­‐  A  escolha  dos  diferentes  locais  de  injeção  depende  da  localização  e  do  calibre  das  
varizes.  É  possível  injetar  uma  colateral  todos  os  oito  a  dez  centímetros.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores
 
No  “tratamento  de  baixo  para  cima”,  da  escola  Suíça,  o  lúmen  varicoso  vai-­‐se  obliterar  
a  partir  da  periferia.  A  esclerose  inicia-­‐se  nas  varizes  de  pequeno  calibre  e  desenvolve-­‐
se  progressivamente  para  cima.  Exige  numerosas  injeções.  Este  procedimento  muitas  
vezes  esquece  a  croça,  o  que  faz  com  que  apareçam  recidivas  rapidamente.  
Como  cada  refluxo  se  produz  a  partir  duma  variz  importante  para  uma  mais  pequena,  
consideramos  que  é  preciso  tratar  sempre  as  grandes  antes  das  pequenas.  Com  esta  
estratégia  “da  maior  para  a  mais  pequena”,  o  número  de  injeções  e  a  concentração  do  
esclerosante  diminuem,  e  com  eles  a  percentagem  de  complicações.    
 
  Frequência  das  sessões  
Somos  a  favor  de  uma  dose  de  prova  inicial  para  pesquisar  a  sensibilidade  do  doente  
ao  esclerosante.  
Normalmente  os  tecidos  reagem  muito  bem,  a  sessões  semanais,  mesmo  para  grandes  
varizes   e   altas   doses   de   esclerosante   e   esclerosantes   fortes.   Recomendamos   aos  
doentes   que   não   se   afastem   por   mais   de   uma   semana   entre   duas   sessões,   para  
podermos   controlar   os   resultados   e   detetar   eventual   efeito   colateral.   Para  
telangiectasias  e  esclerosantes  suaves  espaçamos  as  sessões  de  15  em  15  dias.      
Somos   contra   as   longas   sessões   e   os   tratamentos   “intensivos”   diários,   por   serem  
incómodas  e  pelo  risco  de  irritação  da  pele.  
Por   ser   imprevisível   o   número   de   sessões   necessário   para   erradicar   as   varizes  
aparentes,  o  tratamento  eclerosante  pode  ser  oneroso.  É  impossível  precisar  a  data  da  
alta,   assim   como   nada   se   pode   prever   sobre   o   inexorável   aparecimento   de   novas  
microvarizes.   Com   o   passar   do   tempo,   novas   séries   de   tratamento   poderão   ser  
necessárias,   já   que   não   realizamos   uma   cura   etiológica   da   doença,   mas   apenas   a  
terapêutica  paliativa  duma  das  suas  manifestações.    
 
  Avaliação  dos  resultados  
Os   resultados   não   devem   ser   avaliados   imediatamente.   Como   se   trata   de   um   processo  
complexo  e  lento,  pouco  se  pode  esperar  antes  de  duas  a  três  semanas  após  o  início  
do   tratamento.   Alguns   doentes,   se   não   avisados,   neste   interregno   podem   perder   a  
motivação  para  prosseguir.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

  TRATAMENTO      COMPLEMENTAR  
 
  Medidas  gerais  
Na  primeira  consulta,  o  doente  deve  ser  avaliado  e  orientado  quanto  aos  fatores  que  
possam  ter  alguma  relação  com  a  evolução  da  sua  doença  varicosa:  
  -­‐  Manter  o  peso  equilibrado;  
  -­‐  Corrigir  o  trânsito  intestinal;  
  -­‐  Evitar  sobrecarga  para  os  membros  inferiores;  
  -­‐   Corrigir   e/ou   compensar   defeitos   ortopédicos   que   interajam   com   a   doença  
venosa;  
  -­‐  Usar  calçado  apropriado;  estimular  uso  de  calçado  com  saltos  em  torno  de  4  
cm  de  altura  e  com  boa  base;  
  -­‐   Advertir   contra   o   uso   de   calçado   raso   que   deforma   os   pés   e   prejudica   o  
retorno  venoso;  
  -­‐  Evitar  o  ortostatismo  prolongado;  
  -­‐  Evitar  as  longas  permanências  na  posição  sentada;  
  -­‐   Compensar   o   ortostatismo   e   o   repouso   sentado   prolongado   com   generosas  
caminhadas  e  exercícios  articulares  adequados;  
  -­‐   Evitar   o   abuso   de   exposição   ao   calor   do   sol   ou   a   fontes   de   calor   como   lareiras  
e  braseiras,  botijas  de  água  quente,  soalhos  aquecidos,  saunas  e  fisioterapia  com  calor;  
  -­‐  Procurar  não  tomar  hormonas  anticoncecionais  nem  de  substituição;  
  -­‐   Controlar   o   lipidema   (“celulite”)   indicando   exercícios   e   massagem   manual   e  
mecânica  adequada.  
 
  Medicamentoso  
A   escleroterapia   de   varizes   pode   ser   precedida   e   acompanhada   por   tratamento  
venotrópico   visando   aliviar   os   sintomas   da   doença   venosa.   Ter   em   consideração,   no  
entanto,  que  os  venotrópicos  não  interferem  com  a  evolução  do  tratamento,  mesmo  
aqueles  cuja  eficácia  no  campo  varicoso  foi  demonstrada.  
Tomar  atenção  para  o  facto  de  que  os  anti-­‐inflamatórios,  esteroides  ou  não,  podem,  
pelo  menos  potencialmente,  antagonizar  a  escleroterapia.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Após   a   aplicação   do   esclerosante,   além   do   álcool   usado   para   antissepsia   e   da  


contenção   elástica,   desaconselha-­‐se   o   uso   de   qualquer   outro   fármaco   tópico   ou  
procedimento.   As   pomadas   anti-­‐inflamatórias   podem   retardar   o   tratamento   opondo-­‐
se   á   ação   do   esclerosante,   pelo   menos   nas   camadas   mais   superficiais.   O   mesmo   de  
pode   dizer   para   os   heparinóides,   embora   ajudem   eventualmente   a   reabsorver   as  
equimoses  e  os  trombos  formados  nas  pequenas  varizes  cutâneas.    
 
  COMPLICAÇÕES    
 
Os   resultados   da   escleroterapia   são   muito   bons,   nos   aspetos   funcional   e   estético.   O  
sucesso   do   método   é   dado   pela   satisfação   do   doente,   a   qual   pode   não   coincidir   com   a  
do   médico.   O   tratamento   pode   ter   algumas   desistências   e   os   fatores   variam   da  
intolerância  físicas  às  injeções,  a  limitações  financeiras,  passando  pela  desilusão  com

As   complicações   devem   ser   consideradas   desde   o   início   do   tratamento   e   alertar   o  


doente   para   essa   possibilidade,   informando-­‐o   dos   riscos   e   efeitos   adversos   que,  
eventualmente,   podem   acontecer,   com   a   escleroterapia   com   esclerosante   líquido   e  
com   a   espuma.   Apesar   de   todo   o   cuidado,   do   material   ideal   e   da   técnica   mais  
adequada   as   complicações   estão   sempre   presentes   e   podem   comprometer   o  
tratamento  proposto.  
Acerca   das   complicações   o   Dr.   Amélio   Pinto-­‐Ribeiro   dizia:   “Somente   dois   grupos   de  
profissionais   não   as   têm:   os   que   não   executam   a   terapêutica   e   os   mentirosos.   Os  
problemas   ocorrem   no   seu   consultório   e   os   pacientes   vão   tratá-­‐los   no   consultório   do  
seu  concorrente.  E  você  continua  dizendo  que  nunca  fez  nenhuma.”  
Sabemos   que   a   boa   relação   médico-­‐doente,   com   base   na   sinceridade   e   na  
disponibilidade   permanente,   ainda   é   o   melhor   meio   de   que   o   médico   dispõe   diante  
das  complicações.  
   
  COMPLICAÇÕES  GERAIS  
  Anafilaxia  
Trata-­‐se  de  um  problema  agudo  para  o  qual  se  deve  estar  sempre  atento,  embora  raro  
na  bibliografia  especializada  e  irrelevante  na  nossa  experiência  pessoal  e  institucional.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Assim,   é   preciso   ter   sempre   corticoide   injetável   ao   alcance   da   mão   para   eventuais  
emergências.  

O  “Doente  alérgico”  
O  doente  alérgico  é  sempre  um  risco  insuspeitado.  Mesmo  após  anamnese  cuidadosa  
e   interrogatório   orientado,   pode   haver   reação   alérgica   ao   esclerosante,   à   contenção  
elástica,  ao  creme  local  e  até,  eventualmente,  ao  anti-­‐histamínico  e  mesmo  corticoide.    
É   sempre   mais   seguro   enviar   o   doente   a   especialista   em   Alergologia   para   avaliação.  
Contudo   insiste-­‐se   na   recomendação:   ter   sempre   à   mão   ampolas   de   corticoide,  
adrenalina,   anti-­‐histamínicos,   etc…   Embora   a   probabilidade   de   acidente   seja   menor  
com  a  técnica  e  indicações  que  preconizamos,  a  medida  é  válida.    
Por   outro   lado,   manifestações   pseudo-­‐alérgicas   e   lipotímias   não   são   raras   em   certos  
tipos  de  doentes,  mesmo  quando  nada  se  injeta.  Pessoalmente  temo  esses  doentes.  

Urticária    
A   urticária   é   pouco   frequente,   mas   ocorre   eventualmente.   Manifestação   sistémica  
imediata   ou   tardia,   localizada   ou   difusa.   A   injeção   de   anti-­‐histamínicos   raramente   é  
necessária,   embora   na   forma   oral   tenham   sido   empregados   com   sucesso,   no  
tratamento  e  na  profilaxia  dos  casos  que  referem  histórias  compatíveis  com  a  suspeita.    

Lipotimias  
São   bastante   frequentes   em   doentes   com   instabilidade   emocional.   A   simples  
referência   a   sofrer   de   “tensão   baixa”   ou   uso   de   tranquilizantes   faz-­‐nos   prever   a  
hipótese  de  lipotímia.  Como  atrás  foi  referido,  deve  evitar-­‐se  a  posição  em  pé  (Fig.  17).    

Fig.  17  -­‐  Posição  a  evitar  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Alterações  neurológicas  transitórias  


Menos   frequentes   que   as   lipotímias   estão   os   casos   de   cegueira   fugaz,   escotomas  
cintilantes   e   parestesias   exóticas.   Surgem   mais   em   doentes   com   queixas   de  
enxaquecas  e  portadores  de  disritmias.  Em  uma  ou  duas  horas  os  sintomas  costumam  
desaparecer   deixando,   quase   sempre,   cefaleia   residual   até   24   horas.   Estão   descritas  
crises  convulsivas  após  sessão  de  escleroterapia.  

Embolia  gasosa  
Menos   frequente   do   que   as   lipotímias,   pode   ocorrer   eventualmente   produzindo  
desconforto   precordial   e   mesmo   tosse   ou   escotomas.   O   fenómeno   costuma   ser  
passageiro  e  o  seu  alívio  é  quase  imediato  com  tosse  forçada.  

Trombose  venosa  superficial  


Frequente   quando   se   trabalha   nas   proximidades   de   vaso   volumoso   mesmo   não-­‐
varicoso.   Tal   condição   é   risco   permanente   para   os   médicos   que   se   dedicam   ao  
tratamento  das  grandes  varizes,  onde  a  propagação  para  o  sistema  venoso  profundo  e  
a  migração  embólica  não  estão  fora  de  cogitação.  
Não   raro,   temos   observado   intensas   reações   flebíticas   e   periflebíticas   de   troncos  
venosos   sadios,   acidentalmente   produzidas   por   injeções   regionais.   Nem   sempre   tem  
sido  possível  reverter  tais  flebites  não-­‐intencionais.  A  prática  diminui  a  ocorrência  de  
forma  drástica.  
É  muito  comum  o  aparecimento  de  trombos  dolorosos  e  localizados,  especialmente  no  
dorso  do  pé  e  pregas  de  flexão,  quase  sempre  por  contenção  insuficiente.  Além  da  dor  
causada  pelo  estiramento  das  fibras  nervosas  resultantes  do  processo  inflamatório,  a  
permanência   da   lesão   conduz   ao   aparecimento   de   novas   varizes   e   à   formação   de  
manchas  hipercrómicas  persistentes.  O  tratamento  é  simples  e  consiste  na  excisão  do  
conteúdo  semicoagulado  e  contenção  elástica.  

Trombose  venosa  profunda  


Achamos  ser  a  trombose  venosa  profunda  secundária  à  escleroterapia  de  varizes  mais  
frequente  do  que  relata  a  literatura.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

Quase  sempre  decorre  de  injeção  de  substância  esclerosante  aplicada  no  dorso  do  pé  
por   profissional   pouco   experiente   (e   por   curiosos),   é   dolorosa,   tem   tendência  
ascendente   e   o   doente   só   costuma   procurar   tratamento   especializado,   quando   o  
edema  já  atinge  grande  parte  do  membro.  
Para  o  tratamento  deverá  ser  utilizada  inicialmente  heparina  na  dose  correta,  seguida  
de  hipocoagulação  com  dicumarínicos,  e  fazer  contenção  elástica  adequada.  

Embolia  pulmonar  
Relatada  na  literatura  como  complicação  em  casos  de  tratamento  esclerosante  como  
alternativa   para   varizes   cirúrgicas.   Nunca   presenciámos   ou   tivemos   conhecimento  
desta  ocorrência  no  decorrer  de  escleroterapia  de  pequenas  varizes  e  telangiectasias.  

COMPLICAÇÕES  LOCAIS  
Dor  
A  dor  provocada  pela  escleroterapia  química,  embora  bastante  tolerada  pela  maioria  
das   pessoas,   constitui   importante   fator   negativo   do   tratamento.   É   provocada  
principalmente  por:  
-­‐   Punção   -­‐   às   vezes   quase   impercetível,   a   dor   é   mais   intensa   nas   injeções   muito  
superficiais,   e   nalgumas   zonas,   como   a   face   interna   das   coxas   e   dos   joelhos   e   os  
cavados  poplíteos;    
-­‐   Injeção   -­‐   o   ardor   é   habitualmente   causado   pela   ação   irritante   da   substância  
esclerosante  sobre  o  vaso.  Quando  o  esclerosante  atinge  os  vasos  profundos,  produz  
sensação  de  cãibra;  
-­‐   Extravasamento   -­‐   responsável   por   dor   intensa,   principalmente   quando  
utilizada   a   glicose.   De   fácil   constatação   em   vasos   superficiais,   o   extravasamento   torna-­‐
se  mais  difícil  de  ser  identificado  em  vasos  profundos.  Embora  a  dor  incomode  muito,  
é   rara   a   ocorrência   de   necrose   por   esse   processo.   Caso   aconteça,   é   sempre   de  
pequena  monta  (Fig.  18  e  19).  
O   limiar   doloroso   é   extremamente   variável   e   individual.   Alguns   doentes   toleram  
sessões   prolongadas   com   facilidade,   enquanto   outros   não   suportam   nem   uma   meia  
dúzia  de  picadas.  

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Fig.  18  -­‐  Extravasamento  de  esclerosante  ao  longo  da  agulha  e  quando  
o bisel  da  agulha  fica  dentro  e  fora  da  veia

Fig.  19  -­‐  Extravasamento  de  esclerosante  quando  a  agulha  sai  da  veia,  quando  há  múltiplas  
punções  feitas  pela  agulha  e  quando  há  demasiada  destruição  da  parede  da  veia.  

Na   nossa   experiência,   aconselhamos   os   seguintes   cuidados   para   diminuir   a   dor   às  


punções:  
-­‐  Trocar  frequentemente  a  agulha  (a  cada  4-­‐5  punções,  em  média);  
-­‐  Apoiar  a  mão,  evitando  mobilização  da  agulha;  
-­‐  Interromper  a  injeção  assim  que  identificado  o  extravasamento  e  não  insistir  
em  repuncionar  a  veia;  
-­‐   Associação   de   anestésico   local   ao   esclerosante.   Lidocaína   a   0,5   %   ou   0,25   %  
sem   adrenalina.   Nas   telangiectasias,   em   quantidades   de   0,1   a   0,2   ml   para   2   cc   de  
esclerosante,  provoca  anestesia  instantânea  da  rede  local  permitindo  o  tratamento.  

Prurido  e  irritação  cutânea  


Frequente.  O  prurido  local  é,  quase  sempre,  evitável  pelo  uso  de  compressão  elástica  
adequada   com   ou   sem   coxim   entreposto   para   aumentar   compressão   localizada.   O   uso  
tópico  de  creme  de  corticoide  costuma  resolver  a  crise.    

Hipodermite  química  
Alguns   autores   referem   que   se   trata   de   periflebite   e   induração.   Embora   ocorra   com  
relativa   frequência,   trata-­‐se   com   êxito   com   antiinflamatórios   não   esteroides   e  
compressão.  

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Injeção  intra-­‐arterial  
Uma  artéria  (em  particular  a  pediosa  ou  a  tibial  posterior)  pode  ser  puncionada  por  um  
escleroterapeuta  inexperiente.   O  produto  funciona  com  um  êmbolo,  e  nas  artérias  de  
algum   calibre   não   provoca   espasmo.   Pode   ocluir   ramos   arteriais   levando   a   zonas   de  
necrose   e,   nos   músculos   da   perna,   a   uma   síndrome   de   loca,   a   qual,   se   não  
diagnosticada  a  tempo,  pode  condicionar  lesões  nervosas  irreversíveis,  com  parésia  e  
paralisia.    
É   muito   importante   o   reconhecimento   imediato   da   situação,   interrompendo   logo   a  
injeção.   O   efeito   deletério   depende   obviamente   do   esclerosante   utilizado   e   da   sua  
concentração,   bem   como   da   quantidade   já   administrada.   Deve   aspirar-­‐se   o   máximo  
pela  mesma  seringa,  e,  sem  retirar  a  agulha,  injetar  imediatamente  10  000  unidades  de  
heparina.  A  administração  endovenosa  de  dextrano  a  10%  também  pode  ajudar,  mas  
na  experiência  de  Frank  Cockett  qualquer  tratamento  deve  ser  instituído  na  primeira  
hora  após  a  injeção.  
Nas   arteríolas   superficiais,   muitas   vezes   em   relação   com   telangiectasias,   o   risco   de  
complicações   sérias   é   pequeno,   até   pelas   doses   e   concentrações   usadas.   Mas   ele  
existe,  principalmente  se  houver  vasoconstrição  acentuada  

Escara  
A   escara   como   efeito   colateral   da   escleroterapia   é   quase   sempre   uma   “fatalidade  
estatística”  derivada  da  falta  de  cuidado  do  médico,  se  eliminarmos  as  escarificações  
produzidas  pelos  esclerosantes  fortes  e  concentrados  usados  por  alguns  autores  para  o  
tratamento  alternativo  das  grandes  varizes.    
Em   geral,   a   escara   decorre   de   injeção   excessiva   de   esclerosante,   com   forte   pressão,  
levando  ao  refluxo  da  circulação  para  uma  arteríola  em  conexão  com  os  vasos  venosos  
dilatados,  ou  duma  injeção  extravenosa,  ou  dum  espasmo  reativo  demasiado  intenso.  
Por  vezes,  ocorre  injetar-­‐se  numa  veia  que  faz  evacuar  o  sangue  de  uma  grande  área  
resultando   em   verdadeiro   “espetáculo   pirotécnico”   muito   apreciado   pelo   doente.   A  
continuidade   da   injeção   leva   ao   eritema   intenso,   cujo   centro   logo   empalidece   e  
cianosa,   demonstrando   a   vasoconstrição   definitiva,   e   vai   escarear   48   a   72   horas  
depois.   Para   se   evitarem   lesões,   a   área   de   isquemia   (área   da   pele   em   que   o   sangue   foi  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

substituído  pelo  líquido  injetado)  não  deve  ultrapassar  a  de  uma  moeda  de  2  €,  ou  seja  
2,5  cm.    
A   escara   consiste   numa   lesão   isquémica,   com   necrose   cutânea,   dolorosa   e   de   difícil  
resolução   espontânea.   O   seu   tratamento   é   sempre   sintomático,   devendo   ser  
conduzido   no   sentido   de   deixar   a   mínima   cicatriz   residual.   Nestes   casos   a   cirurgia  
reparadora   é   pouco   feliz,   piorando   na   razão   direta   da   distância   da   lesão.   Os   anti-­‐
inflamatórios  enzimáticos  são  adequados,  e  a  dor  deve  ser  controlada,  de  preferência  
por   via   sistémica   para   impedir   o   uso   de   pomadas   anestésicas   que   atrasarão   a  
cicatrização.  Uma  escara  de  0,5  cm  de  diâmetro  poderá  levar  mais  de  três  meses  para  
curar,  apesar  de  todos  os  cuidados  adequados.  

Manchas  hipercrómicas  
Representam  os  problemas  antiestéticos  mais  frequentes  da  escleroterapia,  mormente  
quando  esta  é  procurada  com  finalidade  cosmética.  Resultam,  via  de  regra,  do  uso  de  
esclerosantes   de   ação   intensa   agindo   sobre   as   finas   paredes   dos   vasos   tratados   e  
causando   processo   perivenoso   com   aumento   da   permeabilidade   capilar   e   diapedese  
de   hemácias   para   o   tecido   celular.   Mesmo   com   esclerosantes   suaves,   quando   é  
demorado   o   ato   de   injetar,   a   dilatação   pós-­‐constrição   da   parede   venular   também  
aumenta  anormalmente  a  sua  permeabilidade,  gerando  manchas  escuras.    
Nos   segmentos   venosos   mal   comprimidos,   em   que   permanecem   pequenos   trombos,   e  
nas   equimoses   em   regiões   de   estase   venosa,   também   vemos   maior   incidência   de  
manchas.  A  hemoglobina  sequestrada  conduz  à  deposição  de  hemosiderina  na  camada  
basal  da  pele  e  oxidação  posterior  com  agravamento  pelo  aporte  de  melanina  ao  local,  
formando   uma   mancha   evidente   e   de   tratamento   rebelde.   Por   isso   a   grande  
importância  da  drenagem  e/ou  aspiração  desses  trombos  pós-­‐escleroterapia.  
Com   o   método   que   utilizamos   para   o   tratamento   esclerosante   de   varicosidades  
associado   a   uma   boa   contenção   elástica   por   tempo   adequado,   o   fenómeno   torna-­‐se  
inexpressivo  quanto  à  ocorrência  e  intensidade.  

RECIDIVAS  
As   micro   varizes   não   recidivam   necessariamente.   Apenas   se   sucedem,   continuada   e  
irregularmente,  em  obediência  à  determinação  da  sua  etiologia  desconhecida,  mas  de  

187
183  
Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

caráter   genético,   a   que   se   somam   predisposições   pessoais   e   fatores   desencadeantes   e  


agravantes.   Há   períodos   em   que   se   esperam   exacerbações,   como   na   gestação   e   em  
alterações  hormonais  como  na  menopausa.  

Há   doentes   que   têm   menos   necessidade   de   injeções   que   outros,   e   com   o   passar   da  
idade  é  costume  diminuir  a  motivação  estética  para  o  tratamento.  Já  verificámos,  no  
entanto,   em   doentes   acompanhados   por   mais   de   vinte   anos,   que,   com   o   passar   do  
tempo,   as   microvarizes   tornam-­‐se   mais   resistentes   e   carecem   de   maior   volume   e/ou  
concentração  de  esclerosante  do  que  anteriormente.  

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Tratamento das complicações das varizes - Trombose venosa superficial

TRATAMENTO  DAS  COMPLICAÇÕES  DAS  VARIZES  


 
TROMBOSE  VENOSA  SUPERFICIAL  
Pedro  Vaz  
 
  Introdução    
A   trombose   venosa   superficial   (TVS)   é   um   processo   inflamatório   que   envolve   a  
formação   de   trombos   nas   veias   superficiais,   predominantemente,   dos   membros  
inferiores.   Considerada   durante   muito   tempo   uma   entidade   de   limitada   relevância  
clínica,   estudos   recentes   reconhecem   a   sua   importância   em   relação   às   possíveis  
complicações:   trombose   venosa   profunda   e   embolia   pulmonar.   O   trombo   forma-­‐se  
pelo   processo   inflamatório   da   parede   venosa,   que   tipicamente   ocorre   nas   veias  
varicosas,   mas   também   pode   ocorrer   nas   veias   não   varicosas   onde   a   trombose   e   a  
inflamação   desempenham   um   importante   papel.   Embora   o   trombo   adira   melhor   à  
parede   das   veias   superficiais   quando   comparado   à   trombose   venosa   profunda,   num  
terço  dos  casos,  a  TVS  pode  complicar-­‐se  de  tromboembolismo  pulmonar.  
Em   regra,   a   TVS   é   um   processo   inflamatório   estéril,   no   entanto,   na   presença   de  
manifestações   sistémicas   de   inflamação,   podemos   estar   perante   uma   flebite   sética,  
situação  relacionada,  habitualmente,  com  o  uso  de  cateteres  periféricos.    
Os   fatores   de   risco   para   TVS   incluem   as   veias   varicosas,   imobilização   prolongada,  
trauma,   gravidez,   doença   maligna,   uso   de   anticoncecionais   orais   e   hormonas   de  
substituição,   idade,   obesidade,   trombofilias,   quimioterapia   e   cateteres   e   injeções  
endovenosas.  
Clinicamente   apresenta-­‐se   como   uma   situação   aguda,   sintomática,   caracterizada   por  
dor,   calor,   eritema   cutâneo   e   cordão   subcutâneo   fibroso   no   segmento   venoso  
envolvido.  
 
  Epidemiologia  
A  incidência  exata  é  desconhecida,  variando  entre  os  125.000  casos/ano  nos  EUA  e  os  
253.000   casos/ano   em   França,   com   maior   incidência   no   sexo   feminino   e   com  
predomínio   dos   membros   inferiores.   É   uma   entidade   pouco   estudada,   com   poucas  
referências  em  Portugal,  sendo  controversa  a  sua  abordagem  terapêutica.  Cerca  de  20-­‐

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Tratamento das complicações das varizes - Trombose venosa superficial

30   %   dos   casos   de   TVS   complicam-­‐se   de   tromboembolismo   pulmonar   assintomático,  


enquanto   2-­‐13   %   estão   associados   a   tromboembolismo   pulmonar   sintomático.   Estes  
dados  demonstram  que  a  TVS  está  longe  de  ser  uma  condição  benigna.    

Diagnóstico  
O  diagnóstico  baseia-­‐se  na  clínica  pelo  eritema,  dor  e  cordão  palpável  no  local  afetado  
da   veia   superficial.   Na   maioria   dos   casos   existe   edema   dos   tecidos   circundantes.  
Quando   não   se   encontra   o   edema   generalizado   do   membro,   o   sistema   venoso  
profundo   não   está   envolvido.   Durante   o   período   de   recuperação,   verifica-­‐se   a  
resolução,   na   maioria   das   vezes,   do   processo   inflamatório   e   trombótico.   A  
recanalização,  normalmente,  ocorre  passado  alguns  meses,  ficando  uma  pigmentação  
residual  e  endurecimento  dos  tecidos.    
O   ecoDoppler   é   o   exame   preconizado,   pois   permite   não   só   visualizar   o   segmento  
inicial,  mas  precisar  a  sua  extensão  e  relação  com  a  junção  safenofemoral  de  modo  a  
delinear  a  terapêutica  adequada.  

Tratamento  
Uma   avaliação   clínica   geral   é   fundamental,   em   doentes   com   veias   não   varicosas.   A  
trombofilia   e   as   neoplasias   malignas,   constatando-­‐se   uma   relação   de   12.9   %   destas  
últimas  com  a  TVS,  devem  ser  excluídas.  Na  fase  aguda  de  TVS,  existem  as  seguintes  
modalidades  terapêuticas:  compressão,  mobilização  e  tratamento  farmacológico.  

Compressão  
A  compressão  alivia  os  sintomas  e  contribui  para  a  resolução  do  processo  trombótico,  
sendo  recomendado  que  a  ligadura  exceda  o  segmento  de  veia  trombosada  em  cerca  
de   10   cm.   A   compressão   deve   ser   aplicada   pelo   menos   durante   duas   semanas,  
optando-­‐se   por   ligadura/meia   elástica   de   grau   II.   Os   doentes   com   veias   varicosas  
devem  ser  aconselhados  a  usar  este  método  de  forma  continuada.    

Mobilização  
Recomenda-­‐se  marcha  regular  e  evitar  longos  períodos  de  imobilização  quer  deitado,  
sentado  ou  simplesmente  em  pé.  

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Tratamento das complicações das varizes - Trombose venosa superficial

  Tratamento  farmacológico  
A   anticoagulação   permanece   o   tratamento   de   escolha   e   depende   da   extensão  
ecográfica  da  trombose.        
Se   TVS   com   extensão   inferior   a   5   cm,   o   tratamento   de   escolha   é   o   uso   de   anti-­‐

sistemicamente;   os   AINEs   não   devem   ser   administrados   conjuntamente   com   os  


anticoagulantes;  o  uso  de  antiagregantes  plaquetários  não  está  indicado.  
Se  TVS  com  extensão  entre  os  5  e  os  10  cm,  a  terapia  anticoagulante  é  recomendada  
(HBPM,  HNF  e  os  antagonistas  da  vitamina  K);  as  HBPM  podem  ser  administradas  quer  
em   doses   profiláticas   ou   terapêuticas;   o   Cochrane   Database   Review   Group   sugere   o  
uso  de  doses  intermédias  durante  pelo  menos  um  mês.  
Se  a  extensão  for  maior  que  10  cm,  especialmente  quando  associado  a  outros  fatores  
de   risco,   é   recomendação,   grau   B   e   evidencia   nível   2,   para   iniciar   fondaparinux,  
segundo  o  estudo  Calisto.  
Os   antibióticos   não   devem   ser   administrados   uma   vez   que   a   infeção   está   raramente  
envolvida.      
Existe  uma  grande  expetativa  nas  novas  classes  de  anticoagulantes,  que  se  encontram  
a  ser  testadas  para  esta  indicação  específica.  
 
  Tratamento  cirúrgico  
Raramente  a  cirurgia  se  encontra  preconizada  para  o  tratamento  da  TVS  na  fase  aguda.  
A   excisão   do   segmento   afetado   e   a   trombectomia   estão   indicadas   quando   os   sintomas  
persistem   após   duas   semanas   de   tratamento   médico   intensivo.   Por   sua   a   vez,   a  
laqueação  justafemoral  está  indicada  quando  existe  progressão  proximal  da  TVS.  
Na  fase  crónica,  a  compressão  e  a  mobilização  mantêm-­‐se  como  opções  terapêuticas  e  
deve  ser  considerado  o  posterior  tratamento  das  varizes.  
 
  Conclusões  
A  TVS  nem  sempre  é  uma  condição  benigna  e  recentes  estudos  associam-­‐na  a  uma  alta  
prevalência  de  tromboembolismo  pulmonar.    
A   TVS   pode   causar   vários   graus   de   insuficiência   venosa,   bem   como   potenciar   estase,  
novos  episódios  de  trombose  e  alterações  cutâneas,  incluindo  as  úlceras  venosas.  

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Tratamento das complicações das varizes - Trombose venosa superficial

A  base  do  tratamento  consiste  na  compressão,  mobilização  e  anticoagulação.  

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190  
Hemorragia varicosa

 
 
HEMORRAGIA  VARICOSA  
Sara  Correia,  Aida  Paulino,  Luís  Silveira  
 
Apesar   de   as   varizes   serem   consideradas   benignas,   podem   levar   a   complicações   major  
como   seja   o   edema,   dermatite,   ulceração   e   a   hemorragia   varicosa   grave1.   A  
hemorragia   varicosa   representa   uma   emergência   e   pode   ser   fatal   se   não   tratada  
atempadamente2.  
As  veias  varicosas  raramente  sofrem  rotura,  e  mesmo  que  tal  aconteça,  habitualmente  
param,   devido   à   sua   natureza   de   hemorragia   venosa3.   Pode   ser   traumática,   mais  
frequente   nos   adultos   jovens,   que   trabalham4,   ou   espontânea,   verificando-­‐se   que   esta  
é   mais   frequente   entre   nós.   Geralmente   são   hemorragias   noturnas   e   autolimitadas,  
recorrendo,  alguns  doentes,  a  hemostase  com  moeda  de  1  €  (Fig.  1)  (antigamente  era  
com   moeda   de   um   escudo),   mas   há   casos   descritos   de   grandes   hemorragias   que  
provocam  choque  e  mesmo  a  morte.  
 

 
Fig.  1  -­‐  Hemóstase  de  varicorragia  com  moeda  de  um  euro.  
 
São  descritos  dois  tipos  de  varicorragia:  

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Hemorragia varicosa

.  o  tipo  agudo1,  2,  em  que  a  lesão  é  menor  que  5  mm,  sem  quase  envolvimento  da  pele,  
mais  frequentes  em  idosos  com  pele  muito  fina  sobre  grandes  varizes  e,  normalmente,  
afeta  uma  tributária  venosa  superficial  em  redor  do  maléolo  medial5.  Jelev5  estudou,  
microscopicamente   alguns   locais   de   úlcera   sangrante   e   concluiu   que   “A   possível  
patogénese   do   processo   pode   ser   resumida   com   base   nas   nossas   observações  
histológicas.   O   primeiro   estágio   é   a   trombose   venosa   local,   predominantemente   no  
lado   da   pele,   seguida   de   espessamento   e   incorporação   do   trombo.   Na   pele   oposta,  
aparece  uma  hiperplasia  epidérmica.  Tanto  a  trombose  venosa  como  a  inflamação  da  
pele   criam   um   "ponto   fraco"   para   posterior   rotura   externa.   Provavelmente,   o   aumento  
da  pressão  intravenosa  nas  veias  superficiais  da  perna  devido  a  disfunção  cardíaca  ou  
trombose  venosa  profunda  tem  um  papel  importante.”  
.   o   tipo   crónico,   com   uma   lesão   com   10-­‐100   mm,   associada   a   hiperpigmentação   da  
pele,  induração  e  erosão  para  uma  veia  superficial  ou  profunda  da  perna2,  geralmente,  
uma  úlcera  venosa  crónica5  e  ocorre  sobretudo  na  6ª  à  9ª  década  de  vida1,  5  e  segundo  
Jelev5  “...  este  tipo  de  hemorragia  abundante  é  precedida  por  ulceração  crónica  da  pele  
seguida   por   erosão   de   uma   veia   maior   subjacente.”   Não   há   diferença   significativa   na  
distribuição  por  sexo  ou  lateralidade  das  lesões.  
A   hemorragia   é   das   complicações   menos   frequentes   das   varizes  e   ainda   são   mais   raras  
as  que  conduzem  à  morte4,  6.  Byard,  em  dez  anos,  encontrou  oito  casos,  de  morte  por  
varicorragia,  em  10686  autópsias1.  Encontrámos  descrições  de  morte  por  hipovolemia,  
por   rotura   de   varizes   no   banho,   podendo   a   temperatura   quente   da   água6,   7,   ter  
contribuído   para   a   persistência   de   vasodilatação   periférica   e   a   manutenção   da  
hemorragia.  
Caracteristicamente,   a   hemorragia   varicosa   fatal   verifica-­‐se   em   indivíduos   de   idade  
avançada,   de   baixo   índice   cultural8,   em   isolamento   social6,   7,   8,   9   com   comorbilidades  
como   demência,   uso   de   anticoagulantes   ou   álcool1,   ou   doenças   que   alterem   a  
coagulação10.  Adicionalmente  outro  fator  predisponente,  são  as  alterações  escleróticas  
das  veias  que  podem  levar  à  hemorragia  espontânea2.    
Byard10   relata   dois   casos   em   que   a   hemorragia   foi   abundante,   em   esguicho,   pois  
salpicou   à   distância,   simulando   uma   hemorragia   arterial,   pois   o   sangue   está   em  
hipertensão  na  variz  e  a  úlcera  é  muito  pequena  (2  a  5  mm).  No  entanto,  na  autópsia  
não   foi   detetada   nenhuma   comunicação   com   artéria.   Também   cita   comentários   de  

196
192  
Hemorragia varicosa

criminologistas,   porque   a   cena   em   que   aqueles   doentes   são   encontrados,   parecem   ser  
de   crimes   violentos,   tal   a   dispersão   do   sangue   pelo   local.   Em   doentes   com   varizes,  
Komai11,   demonstrou   fístulas   artério-­‐venosas   (FAV)   por   arteriografia   e   tratou-­‐as   por  
embolização  seletiva,  antes  do  tratamento  definitivo  da  causa,  e  Gius12,  em  13  de  14  
doentes   estudados   com   arteriografia,   encontrou   FAV   que   eram   a   causa   das   varizes.  
Encontrámos  testemunhos  idênticos  em  artigos  de  Haimovici13  e  Schalin14,  tendo  este  
confirmado   a   sua   existência   com   microscópio   operatório   e   pela   observação   de  
hemorragia   pulsátil,   e   Piulachs15,   em   1953,   afirmou,   depois   de   estudar   de   157   casos,   o  
que  relatámos  no  Capítulo  1  deste  livro,  na  pág.  21.  
Perante   o   que   descrevemos,   podemos   sugerir   que,   se   a   grande   maioria   das  
varicorragias   deixa   de   sangrar   espontaneamente,   talvez   as   fatais   tenham   FAV   a  
alimentá-­‐las  e,  por  isso,  a  hemóstase  é  mais  difícil.  

Tratamento  
A   hemorragia   varicosa   trata-­‐se   de   uma   emergência   médica   e   requer   tratamento  
atempado.  Contudo,  a  falta  de  recursos,  de  comunicação  atempada  (se  o  doente  vive  
só   ou   longe   de   socorro8)   e   de   reconhecimento   da   importância   desta   patologia,   pode  
conduzir  a  uma  falsa  avaliação  da  sua  importância  e  subestimá-­‐la2,  8.  
No   tratamento   da   varicorragia,   a   primeira   etapa   é   deitar   o   doente   e   elevar   a   perna  
afetada,  o  que  ajuda  na  diminuição  da  pressão  intravenosa  e  na  hemorragia5.  A  ajuda  
urgente   inclui   a   compressão   direta   ou   por   torniquete,   que   deve   ser   escolhido  
criteriosamente.   Muitas   vezes,   pode   ser   confundida   com   hemorragia   arterial  
colocando  a  compressão  proximalmente,  com  consequências  nefastas,  pois  aumenta  e  
mantém  a  hemorragia  que  pode  conduzir  à  morte  8,  16.  
Labas17,   na   urgência,   propõe   tratamento   com   esclerose   com   TetraDecyl   sulfato   de  
sódio,   pois   em   estudo   retrospetivo   comparou   este   método   (E   =   72   doentes)   com   a  
sutura,   ponto   em   X   (S   =   52   doentes)   dos   locais   sangrantes,   em   ambos   os   métodos  
seguiu-­‐se  compressão  durante  seis  meses,  e  verificou  que  a  cicatrização  da  ferida  era  
mais   rápida   (média:   E   –   7   dias;   S   –   14   dias)   e   só   no   grupo   os   suturados   houve   recidivas  
hemorrágicas,   12   (23%).   Mas   Cocker7   relata   um   caso   em   que   o   doente   faleceu,   por  
recidiva  hemorrágica,  dez  semanas  após  tratamento  urgente  por  escleroterapia,  com  o  
mesmo  produto.  

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193  
Hemorragia varicosa

Finalmente,  Cocker7  propõe  que  seja  efetuado  ensino,  elevar  o  membro  e  pressionar  
o local   da   hemorragia,   a   todos   os   doentes   portadores   de   úlceras   venosas,
especialmente  os  que  estão  em  risco.  

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Hemorragia varicosa

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195  
200
Varizes na grávida

 
 
VARIZES  NA  GRÁVIDA  
Ana  Formiga  
 
  INTRODUÇÃO  
Ao   estudar   a   fisiopatologia   da   doença   venosa   crónica,   verifica-­‐se   que   a   causa   das  
varizes   primárias   é   multifactorial,   havendo   predisposição   genética   ou   adquirida,   e  
intervindo   como   factores   etiológicos   as   alterações   da   parede   venosa   e   a  
incompetência  valvular,  sob  influência  da  hereditariedade.  
Constatamos   que   a   gravidez   é   considerada   como   factor   de   risco   para   o   início   e  
desenvolvimento  da  insuficiência  venosa  e,  nomeadamente,  das  varizes.  
Na  grávida  os  estudos  escasseiam  e  há  muitos  viés:  poucos  casos  incluídos;  análise  de  
diferentes   parâmetros   e   diferentes   séries;   avaliação   de   parâmetros   em   diferentes  
posições;  início  dos  estudos  só  quando  a  gravidez  foi  diagnosticada  e  por  vezes  já  no  2º  
ou   3º   mês,   com   as   alterações   hormonais   consequentes,   dificultando   a   comparação  
com  os  valores  de  base.  
Também  é  pouco  viável  a  quantificação  da  clínica  e  do  efeito  das  medidas  médicas,  e  
sua  repercussão  nos  parâmetros  avaliados.  
Tudo  isto  torna  difícil  comparar  estudos,  havendo  por  vezes  resultados  controversos.  
 
Podemos  falar  de  varizes  na  gravidez  em  três  sectores  anatómicos  diferentes:  varizes  
dos  membros  inferiores;  varizes  vulvares  e  perineais;  varizes  pélvicas.    
 
  VARIZES  DOS  MEMBROS  INFERIORES  
 
  Epidemiologia  
Cerca  de  15  %  das  grávidas  surgem  com  varizes  de  novo  (as  séries  variam:  5-­‐10-­‐20  %).  
Aparecem  mais  frequentemente  no  início  do  2º  trimestre.    
Há  progressão  durante  a  gravidez,  e  regressão  no  pós-­‐parto.  
A   prevalência   é   semelhante   comparando   os   homens   e   as   mulheres   que   nunca  
engravidaram.    

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Varizes na grávida

O  risco  de  desenvolvimento  de  varizes  na  gravidez  aumenta  com  a  idade  (quatro  vezes  
acima  dos  35  anos),  com  uma  história  familiar  de  doença  venosa  (seis  vezes  se  factores  
hereditários),   e   com   a   multiparidade   (duas   vezes   nas   multíparas   em   relação   às  
nulíparas).  
Nas  mulheres  acima  dos  40  anos  está  relacionada  com  o  número  de  gravidezes:  20  %  
nas  nulíparas;  40  %  se  multíparas  com  1-­‐4  gravidezes;  65  %  se  multíparas  com  cinco  ou  
mais  gravidezes.  
 
  Fisiopatologia  
Durante  a  gravidez  observam-­‐se  múltiplas  adaptações  do  sistema  circulatório.  
As   alterações   desencadeadas   pela   gravidez   a   nível   do   sistema   venoso,   conduzem   a  
modificações   da   pressão   e   do   fluxo   venosos   e   da   distensibilidade   das   veias,  
dependendo,   nomeadamente,   de   dois   factores   (mecânico   e   hormonal),   mas   sendo  
difícil  definir  o  efeito  relativo  de  cada  um:    
Efeito  mecânico    
A   compressão   da   veia   cava   inferior   e   das   veias   ilíacas   pelo   aumento   de   volume   do  
útero  grávido,  leva  ao  aumento  da  pressão  venosa  nos  membros  inferiores.  
Há  uma  elevação  linear  da  pressão  venosa  dos  membros  inferiores  desde  o  início  até  
ao   final   da   gravidez,   altura   em   que   a   pressão   venosa   na   veia   femoral,   em   decúbito  
dorsal,  é  três  vezes  superior  ao  habitual.  
Efeito  hormonal    
As   alterações   hormonais   verificadas   durante   a   gravidez   têm   repercussão   sobre   as  
veias.   Há   um   aumento   da   distensibilidade   das   veias,   por   efeito   dos   mediadores  
hormonais,  desde  os  primeiros  meses  da  gravidez,  nos  membros  inferiores  e,  também,  
nos  superiores.  
A  placenta  segrega  grande  quantidade  de  hormonas  esteroides,  desde  a  6ª  semana.  
O  estradiol  e  a  progesterona  têm  efeito  vasodilatador,  com  perda  do  tónus  da  parede  
venosa.  
Há   um   aumento   do   volume   circulatório   e   da   vascularização,   com   proliferação   e  
dilatação   de   vasos   cutâneos.   A   alta   concentração   de   estrogénios   aumenta   o  
aparecimento  de  telangiectasias.  

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Varizes na grávida

Outras   alterações,   a   nível   do   endotélio   e   das   proteínas   da   coagulação,   são   factores  


contributivos  para  a  elevada  incidência  de  tromboembolismo  na  gravidez.  
 
  Estudos  
Da   análise   de   vários   estudos,   embora   que   como   já   atrás   referido,   sejam   por   vezes  
controversos,  chegamos  a  algumas  conclusões.  
Estudos  da  parede  venosa    
Sabe-­‐se   que   a   dilatação   das   veias   leva   à   libertação   de   factor   activador   do  
plasminogénio   tecidular   para   o   lúmen   venoso.   A   distensão   prolongada   no   tempo,   ao  
espoliar   a   parede   venosa   deste   importante   factor   fibrinolítico,   será,   eventualmente,  
uma  razão  pela  qual  aumenta  o  risco  de  trombose  venosa  na  gravidez.          
Alguns   estudos   mostram   também   que   as   veias   do   sistema   superficial   da   perna,  
varicosas   ou   não,   têm   um   nível   de   factor   activador   do   plasminogénio   tecidular   inferior  
ao   das   veias   profundas.   Isto,   associado   à   dilatação   dessas   veias   na   gravidez,   e  
consequente  diminuição  do  factor  na  parede  venosa,  predispõe  à  maior  incidência  de  
tromboflebite  na  gravidez.  
Estudos  com  ecoDoppler    
Vários  estudos  revelaram  resultados,  por  vezes,  contraditórios:  
1.   Aumento   do   diâmetro   das   veias   entre   o   1º   e   o   3º   trimestre   da   gravidez.   Este  
aumento   de   diâmetro   ocorre   nas   veias   safenas   (tanto   nas   competentes   como   nas   já  
insuficientes),   nas   veias   profundas   e   nas   varizes.   No   entanto,   em   todas   elas   há  
diminuição   do   diâmetro   no   pós-­‐parto,   para   valores   do   1º   trimestre   (embora   neste   já  
haja  o  efeito  hormonal).  
2.   Aumento   de   diâmetro   das   veias   durante   toda   a   gravidez,   sendo   maior   nas   veias  
varicosas.  O  diâmetro  diminui  no  pós-­‐parto,  frequentemente  com  retorno  aos  valores  
de  base.  Isso  nem  sempre  ocorre,  nomeadamente  nas  varizes.    
3.  Maior  dilatação  nas  veias  insuficientes  durante  a  gravidez  e  sem  retorno  completo  
ao  diâmetro  prévio  após  o  parto,  justificando  aparecimento  e  agravamento  das  varizes  
na  gravidez  e  com  as  gravidezes  seguintes.  
4.   Diminuição   da   velocidade   do   fluxo   venoso   nas   veias   femorais   e   popliteias,   no   1º  
trimestre,  diminuindo  mais  à  medida  que  aumenta  o  tempo  de  gestação,  e  voltando  ao  
normal   imediatamente   após   o   parto.   Esta   diminuição   de   velocidade   mantem   as  

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Varizes na grávida

oscilações   normais   com   a   manobra   de   Valsalva,   e   pode   estar   relacionada   com   a  


diminuição  da  velocidade  média  e  sistólica  nas  artérias  femorais,  na  gravidez.  
5.  Aparecimento  de  refluxo,  no  3º  trimestre,  em  veias  inicialmente  competentes,  em  
algumas  grávidas.  Este  refluxo,  por  vezes,  volta  ao  normal  no  pós-­‐parto,  outras  vezes  
não,   o   que   explica   o   desenvolvimento   de   varizes   em   mulheres   com   predisposição   para  
tal.  
6.   Noutro   estudo,   nenhuma   grávida   desenvolveu   refluxo   de   novo   em   veias  
previamente  normais.  Isto  desafia  o  conceito  de  que  a  distensão  venosa  progressiva,  
na  gravidez,  esteja  associada  com  o  desenvolvimento  de  refluxo.  
7.  Nas  veias  previamente  refluxivas  há  aumento  da  velocidade  do  refluxo  à  medida  que  
avança  a  gestação,  até  à  26ª  semana,  diminuindo  depois.  A  duração  do  refluxo  diminui  
durante  a  gravidez  aumentando,  de  novo,  no  pós-­‐parto.    
8.  Quando  há  varizes  previamente,  estas  tendem  a  agravar  com  a  gravidez:  dilatam  e  
por   vezes   há   aumento   do   refluxo,   podendo   não   haver   retorno   aos   valores   prévios  
depois  do  parto.  
Estudos  com  pletismografia  
Revelam   alterações   durante   a   gravidez,   com   retorno   da   hemodinâmica   venosa   ao  
normal  no  pós-­‐parto.    
O  retorno  venoso  das  pernas  está,  significativamente,  diminuído  no  3º  trimestre.    
Sintomas   subjectivos   de   insuficiência   venosa   aumentam   ao   longo   da   gravidez,   mas  
desaparecem   virtualmente   depois   do   parto,   correspondendo   à   normalização   da  
bomba  muscular  no  pós-­‐parto.  
Estudos  clínicos  
Feita  avaliação  com  clínica  (sintomatologia,  registo  de  imagem,  gráficos)  e  ecoDoppler.  
Avaliada   a   evolução   ao   longo   da   gravidez.   Reavaliação   aos   três   meses   pós-­‐parto   ou  
após  parar  aleitamento.  
Constata-­‐se   que,   no   pós-­‐parto,   as   alterações   verificadas   durante   a   gravidez   nas   classes  
C1  e  C2,  diminuem  rapidamente,  embora  por  vezes  não  completamente,  enquanto  nos  
estádios  mais  avançados,  classes  C3-­‐C6,  a  melhoria  é  mais  lenta  e  gradual.  
Conclusões  após  análise  dos  estudos  
1.  O  aparecimento  e  desenvolvimento  de  alterações  venosas  verificadas  na  gravidez  é  
multifactorial.    

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Varizes na grávida

2.   Se   a   gravidez   actua   como   efeito   primário   ou   como   acelerador   do   processo,   em  


mulheres  já  susceptíveis,  não  se  sabe.  
3.   A   diminuição   da   velocidade   do   fluxo   venoso,   o   aumento   da   pressão   venosa,   a  
diminuição  do  tónus  venoso  e  vasodilatação,  a  estase,  o  refluxo,  são,  provavelmente,  
factores   etiológicos   que   explicam   o   aparecimento   e   desenvolvimento   de   doença  
venosa   crónica   durante   a   gravidez   e,   também,   a   eficácia   terapêutica   do   efeito  
compressivo  das  meias  elásticas.  
4.   Mesmo   sem   refluxo,   pode   haver   queixas   a   nível   dos   membros   inferiores   (edema,  
dor,  etc.),  devido  à  hipertensão  venosa  secundária  ao  aumento  do  volume  sanguíneo,  
à  obstrução  ao  fluxo  pelo  útero  grávido,  ou  às  alterações  da  bomba  muscular.  Surgem  
alterações  de  capilaridade  que  resultam  em  edema.  
5.  Muitas  alterações  verificadas  na  gravidez  regridem  no  pós-­‐parto.  
6.  Quando  há  varizes  prévias,  estas  tendem  a  agravar  com  a  gravidez.  
7.   Uma   maior   dilatação   nas   veias   insuficientes   durante   a   gravidez   e   sem   retorno  
completo  ao  diâmetro  prévio  após  o  parto,  justifica  o  agravamento  na  gravidez  e  com  
as  gravidezes  seguintes.  
8.  A  maior  dilatação  das  veias  superficiais  na  gravidez  e  a  consequente  diminuição  do  
factor   activador   do   plasminogénio   tecidular   na   parede   venosa   (factor   fibrinolítico),  
será  eventualmente  uma  das  razões  que  explicam  aumento  do  risco  de  tromboflebite  
ou  varicoflebite  na  gravidez.  
                 
  Avaliação  da  insuficiência  venosa  
A   grávida   recorre   à   consulta   por   motivos   estéticos,   preventivos   ou   terapêuticos   e   é  
necessário,   para   além   da   avaliação   e   seguimento,   dar   informação   sobre   riscos,  
complicações  e  tratamentos.  
A   avaliação   segue   as   regras   habituais,   com   uma   boa   história   clínica   e   exame   objectivo,  
seguida  dos  exames  complementares  adequados.  
História  clínica  e  exame  objectivo  
.   Avaliação   dos   antecedentes   pessoais   e   familiares   e   pesquisa   de   doenças   associadas   e  
factores   (hábitos   e   sócio-­‐profissionais)   que   predisponham   a   maior   risco   de  
aparecimento  de  varizes  e  também  de  tromboembolismo.    
.  Avaliação  e  caracterização  de  sinais  e  sintomas.  

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Varizes na grávida

Os  sintomas  são  variáveis,  desde  assintomáticas  até  dor,  peso  nas  pernas  ou  sensação  
de   edema.   Como   é   clássico   na   insuficiência   venosa,   os   sintomas   são   mais  evidentes   ao  
final   do   dia,   com   tempo   ou   ambiente   quente,   com   actividade   profissional  
predisponente   (posição   de   pé,   sentada   de   perna   pendente,   inactiva).   Aumentam  
também  com  a  progressão  da  gravidez.  
Os  sinais  variam,  de  acordo  com  o  grau  de  insuficiência  venosa  crónica  (consoante  os  
graus   da   classificação   CEAP):   telangiectasias,   ectasia   de   vénulas,   varizes,   edema,  
alterações  tróficas  da  pele,  úlcera  venosa.    
As  telangiectasias  e  vénulas  dilatadas  são  normalmente  mais  exuberantes  na  grávida,  
sendo   frequente   o   aparecimento   da   “corona   phlebectatica”   (telangiectasias  
intradérmicas  aglomeradas  na  zona  do  tornozelo  e  extensão  ao  pé).  
A  corona  phlebectatica  é  composta  por  telangiectasias  vermelhas  e  azuis,  manchas  de  
estase   (capilares   subepiteliais   em   forma   de   moeda   vermelho   ou   púrpura)   e   «taças»  
azuis  (dilatação  da  convergência  com  o  arco  plantar  de  forma  triangular).  Não  tem  o  
mesmo   significado   que   as   telangiectasias   noutras   localizações,   sendo   indicador   de  
estase  venosa  severa,  com  hipertensão  venosa.  Está  correlacionada  com  refluxo  distal  
e  presença  de  perfurantes  incompetentes  e,  nomeadamente  as  telangiectasias  azuis  e  
as   manchas   de   estase,   são   de   alto   valor   predictivo   para   o   aparecimento   de   lesões  
cutâneas.    
As  varizes  variam,  consoante  o  grau  de  insuficiência  e  têm  a  habitual  distribuição  por  
todos  os  sectores,  uni  ou  bilateralmente,  dependendo  do  território  lesado.  
Devemos  averiguar  a  existência  de  sintomas  e  sinais  de  insuficiência  venosa  ou  varizes,  
previamente   à   gravidez,   observar   a   evolução   durante   a   gravidez   (com   eventual   registo  
de   imagem   para   facilitar   comparações)   e   reavaliar   após   o   parto   ou   o   aleitamento,  
verificando  se  houve  regressão,  persistência  ou  agravamento.  
Exames  complementares  
O   exame   de   eleição,   é   o   ecoDoppler   colorido   venoso   dos   membros   inferiores,   que,  
além   de   ser   inócuo,   permite   estudar   a   circulação   venosa   superficial   e   a   profunda,   e   dá  
um  mapa  das  lesões.  
Se  houver  antecedentes  de  doença  venosa  profunda,  pode  ser  necessária  a  avaliação  
das   veias   pélvicas   (ováricas,   uterinas),   ou   abdominais,   também   com   ecoDoppler,   e  
fazer  análises  específicas  para  detecção  de  trombofilias.  

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Varizes na grávida

  Complicações  
As   complicações   são   as   mesmas   que   na   doença   varicosa   habitual:   alterações   tróficas  
da  pele,  ulceração,  varicorragia,  varicoflebite.  
Alterações  cutâneas    
As   alterações   da   pele   ou   tecido   celular   subcutâneo   são   raras,   porque,   para   além   das  
mulheres   serem   jovens,   as   alterações   venosas   existem   durante   um   curto   período,   pois  
há   reversibilidade   após   a   gravidez   e,   frequentemente,   o   tratamento   é   atempado   e  
preventivo.  
Úlcera  venosa  
O   traumatismo   de   uma   perna   edemaciada   e   com   insuficiência   venosa   pode   levar   a  
lesões  inflamatórias  e  mesmo  a  úlcera  crónica.  
Estas  úlceras  são  mais  frequentes  se  há  uma  alteração  percussora  prévia,  (alterações  
cutâneas  e  telangiectasias,  como  a  corona  phlebectatica).  
Trombóticas    
O  risco  de  tromboembolismo  venoso  na  grávida  é  quatro  vezes  maior  que  na  mulher  
não  grávida  com  a  mesma  idade,  com  os  consequentes  riscos  para  a  mãe  e  para  o  feto,  
resultantes   de   uma   trombose   no   sistema   venoso   profundo   (TVP   =   trombose   venosa  
profunda),  ou  eventual  tromboembolismo  pulmonar.  
A  trombose  venosa  superficial  ocorre  em  cerca  de  10  %  das  grávidas,  sob  a  forma  de  
tromboflebite  (em  veia  normal)  ou  varicoflebite  (em  veia  varicosa).  
Este  risco  aumentado,  para  além  ter  como  factor  a  existência  de  estase  provocada  pela  
dilatação   venosa   e   diminuição   da   velocidade   do   fluxo   e   do   retorno   venosos,   resulta  
também  do  estado  de  hipercoagulabilidade  próprio  da  gravidez  e  que  é  devido  a:  
.   Produção   pela   placenta   de   inibidores   da   activação   do   plasminogénio,   levando   a  
diminuição  da  actividade  fibrinolítica;  
.   Aumento   da   agregação   plaquetária.   Os   estrogénios   além   de   diminuírem   o   tónus  
venoso,   e   aumentarem   a   viscosidade   sanguínea,   diminuem   a   antitrombina   III   e  
aumentam   os   factores   VII   e   X,   aumentando   a   resposta   da   agregação   plaquetária   à  
trombina;  
.   A   dilatação   das   veias   superficiais   na   gravidez,   e   consequente   diminuição   do   factor  
activador   do   plasminogénio   tecidular   na   parede   venosa   (factor   fibrinolítico),   pode  

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Varizes na grávida

eventualmente   ser   uma   das   razões   pela   qual   aumenta   o   risco   de   tromboflebite   e   de  
varicoflebite  na  gravidez.  
Deve   ser   avaliado   o   risco   individual   e   feita   prevenção   adaptada   a   cada   situação,  
nomeadamente,  se  há  factores  predisponentes  (tromboembolismo  prévio,  obesidade,  
trombofilias,  etc.).  
A   prevenção,   para   além   das   habituais   medidas   de   posicionamento,   exercício   físico   e  
meias   elásticas,   é   feita   também   com   heparina   de   baixo   peso   molecular   (HBPM)   em  
dose  profiláctica,  se  os  factores  de  risco  o  indicarem.  
No   tratamento   utiliza-­‐se   HBPM   em   doses   terapêuticas,   atendendo   a   que   os  
anticoagulantes  orais  estão  contraindicados  na  gravidez.  
 
  Tratamento  
Há   que   investir   sobretudo   na   prevenção,   para   que   não   se   manifeste   a   insuficiência  
venosa,   e   caso   esta   surja,   iniciar   logo   tratamento   para   prevenir   uma   evolução  
desfavorável.  
Os  fundamentos  do  tratamento  são:  acalmar  a  doente;  aliviar  os  sintomas;  diminuir  ou  
parar  a  progressão  da  doença;  prevenir  as  complicações.  
O   tratamento   é   conservador,   e   as   medidas   utilizadas   actuam   igualmente   como  
prevenção.  
Inclui   medidas   essencialmente   higiénicas   com   alteração   do   estilo   de   vida,   o   uso   de  
compressão  elástica  e  eventualmente  em  alguns  casos  a  prescrição  de  medicamentos  
venoactivos.  
A   cirurgia   e   a   esclerose   das   varizes   e   telangiectasias   devem   ser   proteladas   para   depois  
do  parto.  
Nunca  operar  ou  fazer  escleroterapia  apenas  por  razões  estéticas,  durante  a  gravidez.  
Aconselhamento  sobre  alteração  do  estilo  de  vida  e  medidas  posturais  
Deve  explicar-­‐se  à  grávida  que  muitas  alterações  resultantes  da  insuficiência  venosa  e  
as   varizes   que   surgem   de   novo,   melhoram   ou   desaparecem   após   o   parto,   e   que   as  
complicações   são   raras,   nomeadamente   se   seguir   as   medidas   preventivas   e  
terapêuticas   adequadas,   que   levam   à   diminuição   da   estase   venosa   e   aumento   do  
retorno  venoso.  
Quanto  a  estas  medidas,  é  benéfico:  

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Varizes na grávida

.   Períodos   de   repouso   ao   longo   do   dia   (15   minutos   por   cada   hora   que   passar   em   pé  
durante   o   dia),   com   elevação   das   pernas   acima   do   nível   do   coração.   Esta   posição   pode  
não   ser   tolerada   no   final   da   gravidez,   porque   o   grande   aumento   do   útero   pode  
provocar  dispneia;  
.  Elevação  dos  pés  da  cama  durante  a  noite  (altura  colocada  debaixo  dos  pés  da  cama  e  
não   com   almofadas   debaixo   das   pernas   ou   altura   debaixo   do   colchão)   –   1   cm   por   cada  
hora  que  passar  em  pé  durante  o  dia;    
.  Repouso  em  decúbito  lateral  para  diminuir  a  compressão  da  veia  cava  e  veias  ilíacas  
pelo  útero  grávido  (Fig.  1);  
.  Exercício  físico  –  que  active  a  musculatura  da  perna  e  seja  compatível  com  a  gravidez:  
andar,  nadar,  yoga,  ginástica  adequada;  
.  Evitar  longos  períodos  em  pé,  parada,  ou  sentada  de  perna  pendente,  inactiva.  
.  Não  usar  elásticos  circulares  nas  pernas;  
.  Controlar  o  aumento  de  peso  e  no  caso  de  obesidade  encorajar  a  perda  de  peso.  

A B  
Fig.  1  -­‐  Compressão  da  veia  cava  e  veias  ilíacas:  A  -­‐  decúbito  dorsal  e  B  -­‐  decúbito  lateral  

 
Terapêutica  compressiva  
Há   estudos   que   evidenciam   que   as   meias   elásticas   melhoram   o   fluxo   venoso   nos  
membros  inferiores  e  diminuem  o  diâmetro  das  veias  femorais  durante  a  gravidez  e  no  
pós-­‐parto.  

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Varizes na grávida

As   meias   elásticas   devem   ser   prescritas   como   profilaxia   ou   como   terapêutica.   Neste  
caso,   quando   do   aparecimento   dos   primeiros   sinais   de   insuficiência   venosa,   ou   logo  
desde  o  início  da  gravidez  se  já  houver  insuficiência  venosa  prévia.  
Devem   ser   usadas   durante   toda   a   gravidez   e   no   pós-­‐parto   até   à   6ª   semana,   ou   mais  
tempo,  caso  a  clínica  o  justifique  ou  se  houver  persistência  de  insuficiência  venosa.  
O  grau  de  compressão  deverá  ser  de  acordo  com  o  grau  de  insuficiência  venosa.  Maior  
com  insuficiência  venosa  mais  acentuada  e  para  o  final  da  gravidez.    
Normalmente   usam-­‐se   pressões   entre   os   20   e   os   40   mm   de   Hg,   grau   I   ou   II   de  
compressão  (embora  haja  trabalhos  que  mostram  que  uma  meia  com  pressão  de  40-­‐
45  mmHg  reduz  o  diâmetro  de  uma  veia  varicosa  para  metade  e  que  é  necessário  um  
mínimo  de  90  mmHg  para  que  o  refluxo  desapareça  e  que  o  diâmetro  da  veia  retorne  
ao  normal).    
Em   algumas   situações,   se   houver   necessidade   de   pressões   mais   elevadas,   e   para  
conforto  da  doente  (mais  fácil  de  calçar,  e  permitindo  variar  a  pressão  com  o  tipo  de  
actividade),   poderá   usar-­‐se   sobreposição   de   meias   (por   exemplo   uma   meia   até   ao  
joelho   sobre   uma   meia   até   à   raiz   da   coxa),   sendo   a   pressão   final   igual   ao   somatório   da  
pressão  das  duas  meias.    
O  tipo  de  meia  (meia  até  ao  joelho,  meia  até  à  raiz  da  coxa,  collant)  não  é  importante  e  
dependerá,   essencialmente,   do   gosto/conforto   da   doente,   sendo   o   fundamental   a  
compressão   a   nível   da   perna.   A   excepção   existe   apenas   em   alguns   casos   de  
necessidade   de   compressão   de   varizes   na   raiz   da   coxa,   quando   dependem   das   veias  
pélvicas  e  perineais.  
Agentes  venoactivos    
Está  reconhecida  a  eficácia  das  drogas  venoactivas  na  insuficiência  venosa,  com  forte  
recomendação   nas   guidelines   para   os   bioflavonoides   de   fracção   flavonóica   purificada  
micronizada.  
Não   têm   efeito   teratogénico   e   por   isso   podem   ser   usados   na   gravidez,   quando   há  
sintomatologia  que  o  justifique.  
A  duração  do  tratamento  é  de  um  a  três  meses,  repetível  em  caso  de  recorrência  de  
sintomas  após  a  descontinuação.  
Não  é  recomendado  o  uso  durante  a  amamentação,  por  falta  de  estudos.  
 

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Varizes na grávida

Escleroterapia  
É  possível  na  gravidez?  Embora  não  se  encontre  relação  causal  entre  escleroterapia  e  
efeito   adverso   na   mãe   ou   na   criança,   e   haja   trabalhos   que   referem   inexistência   de  
complicações,   não   há   dados   clínicos   suficientes   sobre   o   uso   da   escleroterapia   na  
gravidez  e  na  lactação.  Assim,  não  deve  ser  usada  durante  estes  períodos.  
As  guidelines  europeias  consideram  a  gravidez  como  uma  contraindicação  relativa  para  
a   escleroterapia.   Tem   que   ser   muito   bem   ponderado   o   risco/benefício,   em   situações  
específicas.  
Cirurgia  
Embora   a   cirurgia   das   varizes   seja   segura   durante   a   gravidez,   não   é   recomendada,  
porque,  além  da  persistência  do  factor  de  agravamento  das  varizes,  a  própria  gravidez,  
há  reversão  e  melhoria  de  algumas  alterações  após  o  parto.  
Devemos  esperar,  e  reavaliar  após  a  máxima  regressão  das  lesões,  que  ocorre  depois  
do  3º  mês  pós-­‐parto,  e  operar  posteriormente.    
Só  em  situações  extremas  deve  ser  colocada  a  hipótese  de  cirurgia  das  varizes  durante  
a   gravidez.   Quando   os   sintomas   (sensação   de   peso   ou   de   edema   ou   dor   severos)   ou  
sinais  de  estase  (dermatite,  hiperpigmentação  ou  úlcera)  forem  muitos  severos  e  não  
respondam  às  medidas  médicas  conservadoras.  
No   caso   de   uma   tromboflebite   ascendente,   poderá   fazer-­‐se   a   laqueação   do   vaso  
afectado   para   prevenir   a   propagação   do   trombo   ao   sistema   profundo.   Isto   em  
combinação  com  HBPM.    
É   possível,   eventualmente,   fazer-­‐se   uma   cirurgia   minor   paliativa,   só   de   laqueação   do  
tronco   incompetente   e   colaterais,   com   anestesia   local,   entre   o   3º   e   6º   meses   de  
gravidez,   na   tentativa   de   diminuir   a   pressão   na   safena   interna   ou   externa.   Isto,  
combinado  com  as  medidas  médicas  pode  melhorar  muito  os  sintomas.  
Tratamento  das  complicações  
Para  além  de  todas  as  medidas  já  descritas,  o  tratamento  das  complicações  deve  ser  
dirigido  especificamente  á  situação:  
.   Na   úlcera   de   perna,   é   importante   o   tratamento   local   habitualmente   usado   na   não  
grávida,  com  períodos  de  repouso  com  elevação  dos  membros  inferiores  (mantendo  a  
deambulação  e  o  exercício),  e  a  compressão  elástica.  

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Varizes na grávida

.  Na  trombose  venosa  profunda  tratar  com  HBPM  em  doses  terapêuticas,  atendendo  a  
que   os   anticoagulantes   orais,   mesmo   os   novos,   são   contraindicados   na   gravidez.   O  
tratamento   deverá   manter-­‐se   ao   longo   de   toda   a   gravidez   e   nos   três   meses   após   o  
parto,  (pela  persistência  do  elevado  risco  de  trombose  nestes  períodos),  para  evitar  a  
progressão  do  trombo,  o  trombo-­‐embolismo  pulmonar,  ou  a  recidiva  da  trombose.  
.   Na   varicoflebite,   a   vigilância   e   anti-­‐inflamatórios,   eventualmente   locais,   podem   ser  
suficientes  quando  em  pequenas  zonas  limitadas,  mais  distais.    
Na  varicoflebite  mais  extensa  ou  na  tromboflebite,  embora  controversa,  há  tendência  
para  fazer  heparina  de  baixo  peso  molecular  em  dose  terapêutica  ou  dose  profiláctica  
alta,  durante  pelo  menos  cinco  dias.  A  HBPM  tem  acção  terapêutica  (diminuição  da  dor  
e   evolução   para   lise   do   trombo)   e   é   também   profiláctica   de   TVP.   Se   estiverem  
presentes  mais  factores  de  risco,  dever-­‐se-­‐á  manter  uma  dose  profiláctica.  
Também   numa   varicoflebite   que   provoque   muitas   dores,   poderá   ser   útil   executar  
pequenas   flebectomias   com   excisão   do   trombo,   quando   ainda   não   aderente.   A  
anestesia   local,   desde   que   pontual   e   com   baixas   doses   de   lidocaína   não   tem  
contraindicação  significativa  durante  a  gravidez.  
.   No   caso   de   uma   tromboflebite   ascendente,   poderá   fazer-­‐se   a   laqueação   do   vaso  
afectado,  para  prevenir  a  propagação  do  trombo  ao  sistema  profundo,  em  simultâneo  
com  HBPM.    
É   fundamental   o   uso   de   meias   elásticas,   mesmo   depois   do   parto,   para   prevenir   as  
lesões   habituais   da   síndrome   pós-­‐trombótica   (edema,   alterações   cutâneas,   úlcera   de  
perna).  
 
 
  VARIZES  VULVARES  E  PERINEAIS  
 
Recordando   a   anatomia,   as   veias   vulvares   ou   vulvovaginais   drenam   pelas   seguintes  
vias:  
.  anteriormente,  para  as  pudendas  externas,  que  se  lançam  na  junção  safeno-­‐femoral  e  
por  esta  via  para  o  sistema  da  veia  ilíaca  externa.  
.  abaixo,  para  as  veias  perineais,  e  destas  para  a  safena  interna.  
.  posteriormente,  para  as  pudendas  internas  e  destas  para  a  veia  ilíaca  interna.  

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Varizes na grávida

.  acima,  há  anastomoses  com  o  plexo  venoso  uterovaginal  e  ovárico.  


.   há   conecções   com   veias   pélvicas   via   veia   obturadora,   a   veia   circunflexa   ilíaca  
superficial  e  com  a  região  inguinal    e  perfurantes  perineais.  
Assim,   as   veias   vulvares   têm   comunicações   com   veias   da   parede   pélvica   e   órgãos  
internos  (vagina,  útero,  ovário),  com  as  veias  ilíacas  internas  e  externas  e  através  das  
veias  perineais,  também  com  a  face  interna  da  coxa.    
As   veias   vulvares   têm   uma   parede   fina,   com   muitas   fibras   elásticas,   receptores  
hormonais,  e  poucas  fibras  musculares.  
As  varizes  vulvares  não  têm  a  ver  com  dilatação  provocada  pelo  aumento  do  volume  
circulatório   observado   na   gravidez,   mas   sim   com   alterações   condicionadas   pelo  
aumento   de   estrogénios   e   progesterona,   dos   quais   são   órgão   alvo   pela   existência   de  
receptores  na  sua  parede.  
Por  passarem  despercebidas,  a  sua  incidência  é  eventualmente  subestimada.  A  grávida  
não   se   queixa,   por   ausência   de   sintomas   ou   por   pudor.   O   médico   também   não   as  
procura.  
Surgem  em  10  %  das  grávidas,  raramente  na  1ª  gravidez,  e  geralmente  só  no  5º  mês  de  
uma  segunda  gravidez.  O  risco  aumenta  com  o  número  de  gravidezes.    
Tendem  a  desaparecer  espontaneamente  ou  diminuir  significativamente  após  o  parto  
(raramente   visíveis   logo   após   um   mês).   O   tempo   de   persistência   é   tanto   maior   quanto  
mais  longo  for  o  período  de  amamentação  (revelando  a  influência  hormonal).  
Para  além  dos  pequenos  e  grandes  lábios  podem  estender-­‐se  à  vagina,  região  inguinal,  
perineal  e  perianal  e  à  face  interna  da  coxa.    
Frequentemente   assintomáticas,   mas   podendo   dar   sintomas   de   flebopatia   hormono-­‐
induzida  (edema,  sensação  de  peso,  fadiga,  queimadura,  prurido,  maceração  cutânea),  
desconforto   com   a   marcha,   dispareunia,   ou   ser   dolorosas   sobretudo   se   muito  
dilatadas.    
Por  vezes  estão  associadas  telangiectasias  e  veias  reticulares.  
A  trombose  e  a  hemorragia  são  raras.  
As  varizes  vulvares  não  são  contraindicação  para  parto  vaginal.  A  hemorragia  é  rara  e  
resolvida   com   compressão   ou   laqueação   do   vaso   sangrante.   As   varizes   vaginais  
poderão  no  entanto  ser  indicação  indirecta  para  cesariana.  

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Varizes na grávida

Se  existem  fora  da  gravidez  há  que  averiguar  outras  causas:  síndroma  (S)  de  congestão  
pélvica;   S.   de   compressão   da   veia   ilíaca;   S.   pós-­‐trombótica   com   obstrução   da   veia  
ilíaca.    
O  estudo  é  feito,  preferencialmente,  com  ecoDoppler,  deixando  para  depois  do  parto  
exames  mais  agressivos  (angioTAC,  RM,  venografia  selectiva).  
O   ecoDoppler   está   indicado   também   quando   as   varizes   vulvares   aparecem  
precocemente   no   início   da   gravidez   ou   na   1ª   gravidez,   quando   são   unilaterais   ou   se   há  
trombose.  
 
  Tratamento  das  varizes  vulvares  
Atendendo  a  que  são  muitas  vezes  assintomáticas  e  melhoraram  ou  desaparecem  após  
o  parto,  o  tratamento  é  considerado  só  se  houver  sintomas  que  o  justifiquem.  Deve  ser  
um   tratamento   sintomático   durante   a   gravidez,   deixando   para   depois   do   parto,  
quando  persistirem  varizes  sintomáticas,  o  tratamento  curativo,  preferencialmente  por  
escleroterapia,  ou  eventual  cirurgia  (flebectomia/laqueação  de  perfurantes).  
O  tratamento  durante  a  gravidez  é  conservador,  sintomático,  recorrendo  a:  
.  Gel  refrescante;  
.  Arrefecimento  -­‐  “compressa”  térmica;  
.  Penso  compressivo;  
.  Dipositivo/Cinto  de  suporte  compressivo;  
.  No  prurido  -­‐  solução  espuma  sem  sabão;  pomada  de  óxido  de  zinco  de  base  aquosa;  
anti-­‐histamínicos;  
.  Na  dor  e  sensação  de  peso  -­‐  agentes  flebotónicos  em  altas  doses  -­‐  bioflavonoides  de  
fracção  flavonóica  purificada  micronizada;  
.  Na  hemorragia  -­‐  terapêutica  compressiva;  laqueação;  
.  Na  trombose  das  varizes  vulvares,  tal  como  na  tromboflebite  superficial  dos  membros  
inferiores,  a  tendência  é  fazer  heparina  de  baixo  peso  molecular,  dose  profiláctica  alta,  
durante  pelo  menos  cinco  dias:  Tem  acção  terapêutica  (diminuição  da  dor  e  evolução  
para  lise  do  trombo)  e  é  também  profiláctica  de  TVP.  
Tratamento   cirúrgico   só   em   casos   especiais   –   por   exemplo,   laqueação   na   crossa   na  
trombose  da  pudenda  externa.  

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Varizes na grávida

A  escleroterapia,  o  tratamento  de  eleição  nas  varizes  vulvares,  embora  seja  possível  na  
gravidez,  é  raramente  efectuada,  pois  os  benefícios  são  incertos  no  contexto  hormonal  
desfavorável  existente.  
   
 
  VARIZES  PÉLVICAS  
 
A  Insuficiência  Venosa  Pélvica  (IVP),  definida  como  incompetência  da  veia  ovárica,  da  
veia  ilíaca  interna  ou  de  ambas,  é  causa  de  Síndroma  de  Congestão  Pélvica,  por  sua  vez  
responsável  por  dor  pélvica  crónica.  
A   veia   ovárica   esquerda   lança-­‐se   na   renal   esquerda   e   a   ovárica   direita   na   cava   infra   ou  
justa  renal,  onde,  frequentemente,  têm  válvulas  (Fig.  2).  
 

 
Fig.  2  -­‐  Circulação  venosa:  Colaterais  na  junção  safeno-­‐femoral  à  direita;  
                                         Varizes  pélvicas  e  vulvares  à  esquerda.  
 
As  veias  ováricas  muitas  vezes  não  são  veias  únicas,  mas  uma  rede  multicanalicular,  e  
têm   conecções   com   as   veias   lombares   ascendentes   e   retroperitoneais,   o   que   pode  
condicionar   a   persistência   de   refluxo   retroperitoneal   e   a   recorrência   de   sintomas   após  

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Varizes na grávida

tratamento.  Há  também  conecções  com  as  veias  uterinas,  vulvares,  rectais  e  da  porção  
superior  da  coxa.  
A   veia   ilíaca   interna   recebe   fluxo   das   veias   útero-­‐ováricas,   hemorroidárias   e   plexo  
venoso   sagrado.   Quando   incompetente,   provoca   hipertensão   venosa,   produz   varizes  
pélvicas,  e  poderá  também  explicar  a  exacerbação  das  hemorróidas  na  gravidez.  
Os   estudos   sobre   a   fisiopatologia   da   insuficiência   venosa   pélvica,   são   ainda  
incompletos  e  com  muitos  viés.  
A   IVP,   tal   como   a   insuficiência   venosa   dos   membros   inferiores,   é   de   etiologia  
multifactorial,   sendo   factores   importantes   a   predisposição   genética,   o   efeito  
hormonal,   e   nomeadamente   a   gravidez.   Nesta,   os   estrogénios   e   a   progesterona   ao  
actuarem  na  parede  venosa  e  aparelho  valvular,  têm  efeito  vasodilatador.    
As  veias  ováricas,  de  parede  fina,  ficam  normalmente  dilatadas  durante  a  gravidez.  O  
estradiol  provoca  dilatação  selectiva  das  veias  ováricas  e  uterinas.    
Além   disso,   na   gravidez,   as   veias   ováricas   e   pélvicas   estão   sujeitas   ao   esforço   do  
habitual   aumento   de   volume   e   de   fluxo   circulatório   existentes   na   gravidez,   e   à  
compressão  pelo  útero  grávido.  Também  a  angulação  da  veia  ovárica  pelo  aumento  de  
peso  e  alterações  posicionais,  pode  condicionar  congestão  venosa.  
Após   a   gravidez,   o   diâmetro   da   veia   ovárica   pode   não   voltar   aos   valores   basais   e   o  
efeito   repetido   de   múltiplas   gravidezes   tornar   a   dilatação   irreversível,   implicando  
afastamento  das  valvas  e  insuficiência  valvular,  condicionando  refluxo  venoso  pélvico  e  
consequentes   varizes   pélvicas,   e   hipertensão   venosa   crónica.   Esta   leva   a   estase   capilar  
com   retensão   de   leucócitos   e   resposta   inflamatória   provocando   a   sensação   de   mal-­‐
estar  (dorido)  ou  mesmo  dor  na  zona  afectada.  
Os   sintomas   melhoram   com   o   decúbito,   por   esvaziamento   das   veias   pélvicas   e  
diminuição  do  seu  diâmetro.  
As   varizes   pélvicas,   podem   surgir   durante   ou   após   a   gravidez,   mas   também   em  
mulheres  que  nunca  engravidaram,  e  por  vezes  são  achados  assintomáticos.  
A  incompetência  é  bilateral  ou  frequentemente  unilateral,  mais  na  ovárica  esquerda  e  
na  ilíaca  interna  direita.    
As   varizes   pélvicas   classificam-­‐se   em   primárias,   por   insuficiência   venosa   valvular  
primária,   ou   secundárias,   por   refluxo   secundário   a   processos   de   obstrução   venosa  
central,  funcional  ou  orgânica,  dos  quais  se  destacam:  

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  212  
Varizes na grávida

.  S.  May  Turner  ou  S.  de  compressão  da  veia  ilíaca  -­‐  compressão  da  veia  ilíaca  comum  
esquerda   pela   artéria   ilíaca   comum   direita,   com   fluxo   retrógrado   para   a   veia   ilíaca  
interna  e  colaterais  pélvicas;  
.  Malformações  vasculares  congénitas:  malformações  venosas  ou  arteriovenosas;  
.  S.  pós  trombóticas  (trombose  venosa  profunda);  
.   Compressão   extrínseca   (por   exemplo   tumores)   ou   angulações   (processos  
aderenciais).  
O   refluxo   venoso   pélvico   é   por   vezes   condicionante   de   insuficiência   venosa   dos  
membros   inferiores,   mesmo   sem   insuficiência   da   junção   safeno-­‐femoral,   ou   quando  
esta   já   foi   laqueada,   e   é   causa   de   recorrência   varicosa,   após   cirurgia   de   varizes   dos  
membros  inferiores.  
A   veia   ilíaca   interna   está   conectada   pelas   colaterais,   à   junção   safeno-­‐femoral,   e   ao  
membro   inferior,   via   pudenda   e   perineais,   transmitindo   deste   modo   a   hipertensão  
existente   a   montante   até   ao   membro   inferior,   com   aparecimento   de   varizes   na   raiz   da  
coxa  e  face  posterior  da  coxa  ou  mesmo  até  à  perna,  via  veia  de  Giacomini.  
Há  vários  trabalhos  que  revelam  existência  de  refluxo  venoso  pélvico  em  recidivas  de  
varizes.  
O   refluxo   venoso   e   as   varizes   pélvicas   nem   sempre   dão   sintomas,   mas   podem   ser   a  
causa  da  síndroma  de  congestão  pélvica.  
Tal   como   acontece   com   a   etiopatogenia,   há   semelhança   entre   os   sintomas   de  
insuficiência   venosa   nos   membros   inferiores   e   os   da   insuficiência   venosa   pélvica   ou  
Síndrome   de   Congestão   Pélvica   (SCP),   só   que   localizados   à   região   pélvica.   Estes  
sintomas   são   típicos   (permitindo   diagnóstico   diferencial   com   outras   causas   de   dor  
pélvica):   sensação   de   peso   ou   dor   pélvica,   crónica,   posicional,   que   agrava   na   posição  
de  pé  ou  sentada,  com  agravamento  ao  longo  do  dia,  e  que  alivia  com  o  decúbito.  Fora  
da  gravidez,  não  são  cíclicos,  nem  relaccionados  com  as  menstruações.  
Esta  síndroma  contribui  como  causa  em  cerca  de  30  %  das  dores  pélvicas  crónicas.    
A  Dor  Pélvica  Crónica,  que  afecta  potencialmente  40  %  das  mulheres,  é  definida  como  
dor  pélvica  ou  abdominal  inferior,  crónica,  que  persiste  intermitente  ou  contínua,  por  
mais   de   seis   meses,   não   associada   ao   ciclo   menstrual,   nem   apenas   no   coito   ou   na  

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Varizes na grávida

gravidez.   Não   é   uma   doença,   mas   sim   um   sintoma   secundário   a   várias   outras  
patologias   (ginecológica,   útero-­‐ovárica,   endometriose,   urinária,   gastrointestinal,  
aderências,  ortopédica  etc.).  
A  SCP  está  associada  a  varizes  pélvicas  ou  vulvares,  e  frequentemente  a  insuficiência  
da  veia  ovárica.  Entre  as  mulheres  estudadas,  a  insuficiência  da  veia  ovárica  existe  em  
10   %   dos   casos,   e   nestes   cerca   de   60   %   desenvolvem   SCP.   Isto   quer   dizer   que   a  
síndrome  é,  provavelmente,  sub-­‐diagnosticada.  
Excluídas   as   várias   patologias   atrás   referidas   como   causa   de   dor   pélvica,   muitas  
mulheres   são   indevidamente   rotuladas   de   patologia   do   foro   psiquiátrico,   e   não   são  
devidamente   estudadas.   As   alterações   psicológicas   (ansiedade,   depressão)   são  
resultado  e  não  causa  do  problema.  
A  avaliação  e  determinação  da  insuficiência  venosa  como  causa  da  dor  pélvica  crónica  
pode  ser  difícil.  São  úteis  a  clínica  e  exames  complementares.  
 
  Clínica  
.  Características  típicas  da  dor.  
.  Multiparidade.  
.  História  ou  presença  de  varizes  glúteas,  vulvares  ou  perineais.  
.  A  exacerbação  pós-­‐coito  pode  persistir  horas.  
.  Tende  a  melhorar  após  a  menopausa.  
.   Existência   de   varizes   proximais,   face   interna   da   coxa   (território   da   veia   pudenda),  
sobretudo   se   a   junção   safeno-­‐femoral   está   competente   ou   em   recidiva   de   varizes   pós-­‐
safenectomia.  
 
  Exames  complementares  
Os   exames   ainda   são   controversos   quanto   aos   resultados,   continuando   em  
investigação   a   definição   de   parâmetros   e   estudos   comparativos,   entre   ecoDoppler  
transvaginal   e   transabdominal,   angioTAC,   angioRM,   venografia   selectiva   ovárica   e  
ilíaca.  
Além   da   ecografia,   todos   os   outros   exames   vão   ser   diferidos   para   depois   do   parto,  
pelos  riscos  durante  a  gravidez.  
 

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Varizes na grávida

  Tratamento  
No  tratamento  da  síndrome  de  congestão  pélvica  têm  sido  feitos  tratamentos  médicos  
com   supressão   ovárica   (medroxiprogesterona,   análogos   de   hormona   libertadora   de  
gonadotrofina,   etc.),   outras   drogas   (di-­‐hidroergotamina,   anti-­‐inflamatórios,  
gabapentina,   amitriptilina,   etc.)   e   cirúrgicos   (laqueação   laparoscópica,   histerectomia,  
ooforectomia).  
Mais   recentemente   são   recomendadas   as   técnicas   endovasculares   oclusivas:  
escleroterapia   por   cateter   ou   embolização   com   “coils”.   A   cirurgia   de   laqueação   ou  
excisão   da   veia   ovárica   fica   reservada   só   para   os   casos   resistentes   aos   métodos   menos  
invasivos.  
Claro  que  todos  estes  tratamentos  terão  que  ser  diferidos  para  depois  do  parto.    
Durante  a  gravidez  utilizam-­‐se  apenas  as  medidas  higiénico-­‐posicionais  e  compressão  
venosa  (já  referidas  anteriormente),  que  darão  alívio  sintomático  e  bioflavonoides  de  
fracção  flavonóica  purificada  micronizada,  se  a  clínica  o  justificar.  
 
  CONCLUSÕES  
 
A  gravidez  é  um  factor  de  desencadeamento  ou  agravamento  da  insuficiência  venosa.  
Muitas   das   alterações   desencadeadas   pela   gravidez   revertem   ou   melhoram   após   o  
parto  ou  quando  termina  o  aleitamento.  
Deve   fazer-­‐se   profilaxia   da   insuficiência   venosa   na   gravidez,   para   contrariar   os   seus  
efeitos  deletérios  sobre  as  veias.  
O   tratamento   das   varizes   na   gravidez   é   conservador,   com   medidas   higiénico-­‐
posicionais   e   meias   elásticas,   tratamentos   locais   e   eventualmente   o   uso   de  
bioflavonoides  de  fracção  flavonóica  purificada  micronizada.  
A   cirurgia   e   a   esclerose   das   varizes   e   telangiectasias   devem   ser   proteladas   para   depois  
do   parto,   após   reavaliação   das   lesões   que   não   regrediram,   só   então   efectuando   as  
terapêuticas  mais  agressivas,  já  sem  risco  para  a  grávida  e  o  feto.    
 
 
 
 

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Varizes na grávida

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  217  
Anexo 1

Anexo  1  –  Folheto  informativo  ao  doente  


 
  Caro  doente:  
Ao   ser   operado   às   varizes   dos   membros   inferiores,   achamos   útil   prestar-­‐lhe   algumas  
informações:  
 
A  sua  doença  
O  sangue  que  chega  do  coração  aos  membros  inferiores  através  das  artérias,  regressa  
depois  de  novo  ao  coração  através  das  veias.  Há  dois  sistemas  principais  de  veias  dos  
membros  inferiores,  as  veias  profundas  e  as  superficiais.  
As  veias  profundas  são  as  mais  importantes  e  as  principais  responsáveis  pelo  regresso  
do   sangue   ao   coração.   As   veias   superficiais   têm   um   papel   acessório   e   quando   com  
varizes  perdem  esse  papel  e  devem  ser  retiradas.  
Há   duas   principais   veias   superficiais   nos   membros   inferiores,   a   grande   safena  
(antigamente   chamada   a   veia   safena   interna)   e   a   pequena   safena   (antigamente  
chamada  veia  safena  externa).  
A  grande  safena  corre  na  face  anterior  interna  do  membro  inferior,  desde  o  tornozelo  
até  a  virilha,  onde  se  lança  em  veia  profunda,  a  veia  femoral.  A  pequena  safena  corre  
na  face  externa  e  posterior  da  perna,  desde  o  tornozelo  até  ao  cavado  do  joelho,  onde  
se   lança   em   veia   profunda,   a   veia   poplítea.   Estas   duas   veias   recebem   vários   ramos  
superficiais  nos  seus  trajetos.  
As   varizes   são   uma   doença   das   veias   superficiais   em   que   estas   ficam   dilatadas   e  
tortuosas.   Não   é   conhecida   a   causa   exata   desta   dilatação.   Conhecem-­‐se   no   entanto  
algumas   situações   de   risco   para   o   seu   aparecimento   tais   como:   familiares   com   varizes,  
gravidez,  obesidade,  vida  sedentária  e  profissões  em  que  se  esta  muito  tempo  de  pé  
ou  sentado.  
As  varizes  são  uma  doença  progressiva  que,  além  de  inestéticas,  podem  causar  queixas  
tais  como:  sensação  de  peso  nas  pernas  ao  fim  do  dia  e,  principalmente  no  verão  ou  
durante   a   menstruação,   dor   surda   nas   próprias   varizes,   sensação   de   picadas   ou  
comichão   e   caibras   frequentes.   Estas   queixas   melhoram   com   o   descanso   e   elevação  
dos   membros   inferiores,   bem   como   o   uso   das   meias   elásticas   e   medicamentos  
venoativos.  

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Anexo 1

As   varizes   podem   ter   complicações   agudas,   tais   como   romperem   e   provocarem  


hemorragia.   Esta   rutura   pode   ser   devida   a   um   traumatismo   ou   ser   espontânea,   ou  
sofrerem  uma  trombose  (varicoflebite),  ficando  as  varizes  transformadas  num  cordão  
duro,  vermelho  e  doloroso.  
Na   ausência   de   tratamento,   as   varizes   podem,   com   o   tempo,   complicar-­‐se   de  
pigmentação   acastanhada   da   pele   no   terço   inferior   da   perna,   ficando   a   pele  
endurecida  e  fibrosada,  com  dermatite  ou  eczema  podendo  mesmo  evoluir  para  uma  
ulcera  venosa.  
 
O  tratamento  das  varizes  dos  membros  inferiores  
Os   objetivos   do   tratamento   são   melhoria   estética,   alívio   das   queixas   e   evitar  
complicações.  
Para  alívio  das  queixas  o  médico  pode  prescrever  medicamentos  venoativos  e  uso  de  
meias  elásticas.  
A  cirurgia  é  um  dos  tratamentos  fundamentais  para  as  varizes.  
A   cirurgia   irá   retirar,   com   pequenas   incisões   cutâneas,   as   varizes   e,   se   indicado,  
interromper  a  ligação  das  veias  superficiais  com  as  profundas  a  nível  da  virilha  ou  do  
cavado  do  joelho.    
Quando   a   veia   grande   safena   está   afetada,   poderá   ser   retirada   com   uma   técnica  
cirúrgica   chamada   de   “stripping”   ou   com   outras   técnicas,   que   o   cirurgião   poderá  
explicar.  
A  retirada  das  veias  superficiais  com  varizes  não  afeta  a  sua  circulação  venosa,  já  que  
estas   já   se   encontravam   com   mau   funcionamento   e   a   circulação   continua   a   fazer-­‐se  
pelas  veias  superficiais  sem  varizes  e,  essencialmente,  pelas  veias  profundas.  
Para   escolher   a   cirurgia   apropriada   o   cirurgião   pediu-­‐lhe   antes   da   operação   um   exame  
de  ecoDoppler.  
A  cirurgia  é  feita  no  bloco  operatório  com  anestesia  geral  ou  epidural/raquianestesia,  
conforme  será  explicado  pelo  anestesista.  
A  cirurgia  é  feita  em  regra  como  cirurgia  ambulatória,  ou  seja,  é  internado  de  manhã  
(08:00  h)  e  terá  alta  para  o  domicílio  pelas  20:00  h.  
 
 

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Anexo 1

Cuidados  a  ter  após  a  cirurgia  


Em  regra  inicia  o  levante  duas  a  quatro  horas  após  a  cirurgia  e  irá  retomar  a  sua  vida  
diária,  progressivamente,  a  partir  do  dia  seguinte.  O  regresso  ao  trabalho  depende  do  
tipo  de  trabalho,  sendo  em  regra  de  dois  a  oito  dias.  
Apos  a  cirurgia  irá  usar  uma  meia  elástica  especial  (Medi  Struva  23mmHg)  que  lhe  foi  
colocada  pelo  cirurgião  e  que  irá  manter  até  à  consulta  a  seguir  a  cirurgia.  
Na  consulta  após  a  operação,  o  cirurgião  retira-­‐lhe  esta  meia  e  decide  da  necessidade  
de   manter   meias   elásticas   adequadas   durante   mais   tempo.   Para   evitar   as   dores   são  
administrados  medicamentos  próprios  nas  primeiras  horas.  

Cuidados  a  ter  quando  voltar  para  casa  


Quando   chegar   a   casa   poderá   retomar   a   sua   alimentação   habitual,   mas   a   primeira  
refeição  deverá  ser  ligeira.  
Se   tiver   dores   poderá   tomar   Paracetamol   ou   Aspirina®.   Se   tomava   medicamentos  
antes   de   ser   operado   deverá   retomar   essa   medicação.   Deve   retomar   a   sua   atividade  
diária  e  evitar  ficar  de  pé  parado  ou  sentado  por  períodos  longos.  Ao  tomar  banho  terá  
que  evitar  molhar  a  meia  elástica.    
Nenhuma  cirurgia  é  isenta  de  riscos  e  a  cirurgia  das  varizes  também  não  é,  no  entanto,  
os  seus  riscos  e  complicações  são  muito  reduzidos  e  poderá  discutí-­‐los  com  o  cirurgião  
quando  da  decisão  de  operar.  Na  sequência  da  cirurgia  podem  surgir  pequenas  nódoas  
negras   nas   coxas   que   resultam   de   extravasamento   de   sangue   por   baixo   da   pele.  
Desaparecem  em  duas  a  três  semanas  e  não  representam  problema  grave.    
Sendo  as  varizes  uma  doença  progressiva,  é  recomendado  ser  observada  pelo  cirurgião  
uma  vez  por  ano,  para  prevenir  ou  tratar  precocemente  o  eventual  aparecimento  de  
novas  varizes.  

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220  
Rua Xavier Cordeiro, 30 . 1000-296 LISBOA . PORTUGAL
spcirurgia@clix.pt

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