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UNIFRA

Centro Universitário Franciscano

[Bioquímica Clínica
e Uroanálise]

Curso de Farmácia
2012

Professora: Minéia Weber


Manual de aulas práticas Blattes
2

[Parte 1:
Uroanálise]

Bioquímica Clínica e Uroanálise – Manual de aulas práticas – Professora: Minéia Weber Blattes 1º/2012
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CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO


LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNCIAS
SETOR DE UROANÁLISE

NOME:_______________________________________________________________
MÉDICO:_____________________________________ DATA:_________________
DADOS CLÍNICOS:______________________________________________________

EXAME QUALITATIVO DE URINA

Exame Físico-Químico
Cor:________________________ Aspecto:_____________________
Densidade:__________________ pH:_________________________
Proteínas:___________________ Hemoglobina:_________________
Glicose:_____________________ Corpos Cetônicos:______________
Bilirrubina:__________________ Urobilinogênio:________________
Leucócitos:__________________ Nitritos:______________________

Microscopia do Sedimento Urinário


Células:_______________________________________________ (100 X)
Leucócitos:__________________________________________p/c (400 X)
Hemácias:___________________________________________p/c (400 X)
Cilindros: ____________________________________________________
Cristais:______________________________________________________
OBS: ________________________________________________________
_____________________________________________________________

Farmacêutico:______________________________
CRF-RS:___________________________________

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BIOQUÍMICA CLÍNICA
URINÁLISE ou UROANÁLISE

EXAME COMUM DE URINA (EQU):

1 - Exame Físico:
 Cor
 Aspecto
 Odor

2 - Exame Químico:
 pH
 Proteínas
 Glicose
 Corpos cetônicos
 Bilirrubina
 Urobilinogênio
 Nitritos
 Sangue (hemoglobina)
 Leucócitos
 Densidade

3 – Exame Microscópico:
 Leucócitos
 Cilindros
 Hemácias
 Células
 Bactérias
 Cristais
 Outros: filamentos de muco, parasitas, espermatozoides, etc.

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 Composição da Urina
Em geral, a urina é constituída por uréia e outros produtos químicos orgânicos e
inorgânicos dissolvidos na água. A urina é, normalmente, 95% de água e 5% de solutos,
apesar de que consideráveis variações nas concentrações destes solutos possam
ocorrer em razão da influência de fatores como ingestão alimentar, atividade física,
metabolismo corporal funções endócrinas e, até mesmo, a posição corporal.
A uréia, um produto residual do metabolismo do fígado a partir da degradação de
proteínas e aminoácidos, é responsável por quase metade do total de sólidos
dissolvidos na urina. Outras substâncias orgânicas incluem, principalmente, creatinina
e ácido úrico. O principal sólido inorgânico dissolvido na urina é o cloreto, seguido pelo
sódio e pelo potássio. Pequena quantidade ou vestígios de muitos outros produtos
químicos inorgânicos também está presente na urina. A ingestão dietética influencia,
significativamente nas concentrações desses compostos inorgânicos, o que torna difícil
estabelecer níveis normais. Outras substâncias encontradas na urina incluem
hormônios, vitaminas e medicamentos.
Embora não seja parte do plasma filtrado original, a urina também pode conter
elementos formados, como células, cilindros, cristais, muco e bactérias. O aumento da
quantidade desses elementos formados é, muitas vezes, indicativo de doença.
Caso seja necessário definir se determinado fluido é urina, a amostra pode ser
testada quanto ao teor de uréia e creatinina, uma vez que essas duas substâncias
estão presentes em concentrações muito superiores na urina em relação a outros
fluidos corporais, um alto teor de uréia e creatinina podem identificar um fluido como
urina.

 Volume Urinário
O volume urinário depende da quantidade de água que os rins excretam. A água é
um importante constituinte corporal e, portanto, o volume excretado é, geralmente,
determinado pelo estado de hidratação do organismo. Os fatores que influenciam o
volume urinário incluem a ingestão hídrica, a perda não renal de fluido, as variações na
secreção do hormônio antidiurético e a necessidade de excretar quantidades
aumentadas de sólidos dissolvidos, como a glicose ou os sais. Tomando esses fatores
em consideração, embora a produção diária normal da urina seja, em geral, de 1.200 a
1.500 mL, um intervalo de 600 a 2.000 mL é considerado normal.
A oligúria, uma diminuição do débito urinário inferior a 1mL/kg/h em bebes,
menos de 0,5 mL/kg/h em crianças e menos de 400 mL/dia em adultos, geralmente é
vista quando o corpo entra em estado de desidratação, como resultado da excessiva
perda de água por vômitos, diarréia, suor ou queimaduras graves. A oligúria leva a
anúria, que é a cessação do fluxo de urina, pode resultar de qualquer dano grave aos
rins ou de diminuição no fluxo de sangue para os rins. Os rins excretam duas a três
vezes mais urina durante o dia do que durante a noite.
O aumento na excreção de urina noturna é denominado nictúria. A poliúria,
aumento no volume de urina diário (superior a 2,5L/dia em adultos e 2,5 a 3mL/kg/dia
em crianças) é, frequentemente, associada com diabetes mellitus e diabetes insipidus;
contudo, pode ser artificialmente induzida por diuréticos, cafeína ou álcool, os quais
suprimem a secreção do hormônio antidiurético.

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 Preservação da amostra
O método de conservação mais rotineiramente utilizado é a refrigeração de 2º a
8ºC, o que diminui o crescimento bacteriano e o metabolismo. Se a urina é para ser
cultiva, deve ser refrigerada durante o transporte e ser mantida refrigerada até o
cultivo, por até 24hs.
É geralmente aceito que, após duas horas à temperatura ambiente, comecem a
ocorrer modificações na composição química e deterioração dos elementos figurados.
Bilirrubina, cetonas e urobilinogênio podem estar diminuídos. O crescimento
bacteriano reduz a glicose, aumenta o nitrito e promove mudanças no pH.
Entretanto, a refrigeração não é adequada para preservar todos os constituintes
como bilirrubina e urobilinogênio e pode induzir a precipitação de fosfatos e uratos
amorfos. Não é recomendável adicionar preservativos na amostra.

Alterações na urina não conservada:


- Aumento de pH: a partir da degradação da uréia em amônia pelas bactérias
produtoras de urease.
- Diminuição da glicose: devida a glicólise e utilização pelas bactérias.
- Diminuição das cetonas: devido à volatilização.
- Diminuição da bilirrubina: decorrente da exposição à luz.
- Diminuição do urobilinogênio: por oxidação à urobilina.
- Aumento do nitrito: devido à redução do nitrato pelas bactérias.
- Aumento do número de bactérias
- Aumento da turvação: causado pela proliferação bacteriana e possível
precipitação de material amorfo.
- Desintegração das hemácias e dos cilindros: particularmente na urina alcalina
e diluída.
- Alterações na coloração: devidas à oxidação ou à redução de metabólitos.

 Primeira amostra da manhã


Embora isso possa exigir que o paciente faça uma visita adicional ao
laboratório, esta é a amostra ideal para a triagem. É também essencial para evitar
resultados falso-negativos para o teste de gravidez e de avaliação de proteinúria
ortostática. A primeira amostra da manhã, ou amostra de 8hs, é uma amostra
concentrada, garantindo, assim, a detecção de substâncias químicas e elementos
formados que podem não ser observados em uma amostra aleatória diluída. O
paciente deve ser instruído a coletar a amostra imediatamente após se levantar e
entregá-la no laboratório no prazo de duas horas.

 Amostra de jejum (2ª amostra da manhã)


Uma amostra de jejum difere da primeira amostra da manhã por ser a segunda
amostra coletada após um período de jejum. Esta amostra não conterá nenhum
metabólito de alimentos ingeridos antes do inicio do jejum. É recomendada para
monitoramento da glicose.

 Amostra do teste de tolerância a glicose


As amostras de tolerância a glicose são, por vez, coletadas concomitantemente
com as amostras de sangue durante o teste de tolerância a glicose (TTG). O número de

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amostras varia com a duração do teste. Os TTG’s podem incluir amostras de jejum, de
meia hora, uma hora, duas horas e três horas e, possivelmente de quatro horas, cinco
horas e seis horas. A urina é testada para glicose e as cetonas, e os resultados são
apresentados juntamente com os resultados do exame de sangue como auxilio na
interpretação da capacidade do paciente para metabolizar uma quantidade medida de
glicose e estão correlacionados com o limiar renal para a glicose.

 Amostra de 24hs
Medir a quantidade de um produto químico na urina é muitas vezes necessário,
em vez de apenas relatar a sua presença ou ausência. Uma amostra cuidadosamente
cronometrada deve ser utilizada para produzir resultados quantitativos preciosos.

 Amostra de jato médio, com assepsia


A coleta da amostra de jato médio é o método mais seguro e menos traumático
para a obtenção de urina para cultura de bactéria e exame de urina de rotina. Fornece
uma amostra que é menos contaminada por bactérias e células epiteliais e, portanto, é
mais representativa do real do que a amostra de urina que contem o primeiro jato.
Os pacientes devem ser munidos com o material de higiene adequado, com
recipiente estéril e instruções para limpeza e micção. Agentes bactericidas fortes,
como povidina-iodo não devem ser utilizados como agentes de higiene. Sabonetes
neutros são recomendados. Os pacientes são orientados a lavar as mãos antes de
iniciar a coleta. Os pacientes do sexo masculino devem limpar a glande, começando
pela uretra e retrair o prepúcio se necessário. Pacientes do sexo feminino devem
separar os grandes lábios e limpar o meato urinário e a região ao redor da uretra.
Quando a limpeza estiver completada, os pacientes devem urinar no vaso sanitário e,
em seguida, recolher volume suficiente de urina em recipientes estéril e desprezar a
urina restante no vaso sanitário. Cuidados devem ser tomados para não contaminar o
recipiente de amostra. Se um exame de urina de rotina e um exame de cultura forem
solicitados, devemos realizar a cultura primeiramente para evitar a contaminação.

EXAME FÍSICO DE URINA (ASPECTO, COR, ODOR)

O exame físico da urina inclui a determinação da cor, o aspecto e o odor. A


observação dessas características fornece informações preliminares relativas a
distúrbios como hemorragia glomerular, hepatopatia, erros inatos do metabolismo e
infecção do trato urinário. Os resultados da parte física da urina também podem ser
utilizados para confirmar ou explicar achados nas áreas de química e microscópica da
uroanálise.

 Cor
A cor da urina varia de quase incolor a preta. Essas variações podem decorrer
de funções metabólicas normais e atividade física, substâncias ingeridas ou condições
patológicas. Uma notável mudança na cor da urina é, muitas vezes, a razão pela qual
um paciente procura o aconselhamento médico tornando-se, então, responsabilidade
do laboratório determinar essa mudança na cor é normal ou patológica.

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 Cor normal da urina


A terminologia utilizada para descrever a cor normal da urina pode variar
ligeiramente entre os laboratórios, mas deve ser consistente dentre de cada
laboratório. Descrições comuns incluem amarelo-claro, amarela, amarelo-escura e
âmbar. Cuidados devem se tomados para analisar a amostra com boa fonte de luz,
olhando para baixo, através do recipiente contra um fundo branco. A cor amarela da
urina é causada por um pigmento chamado urocromo. O urocromo é um produto de
metabolismo endógeno e, em condições normais, o corpo o produz em uma taxa
constante. A quantidade efetiva de urocromo produzida depende do estado
metabólico do corpo, com quantidades aumentadas nos problemas da tireóide e no
estado de jejum, o urocromo também aumenta na urina mantida em temperatura
ambiente. Como o urocromo é excretado a uma taxa constante, a intensidade da cor
amarela em uma amostra fresca de urina pode dar uma estimativa aproximada da
concentração da urina. Uma urina diluída será amarela pálida e uma amostra
concentrada será amarela-escura. Lembre-se que, por causa das variações no estado
de hidratação do organismo, essas diferenças na cor amarela da urina podem ser
normais. Dois outros pigmentos – uroeritrina e urobilina – também estão presentes da
urina em quantidades menores e contribuem pouco para a cor da urina normal, fresca.
A presença de uroeritrina, um pigmento rosa, é mais evidente nas amostras que foram
refrigeradas, resultando na precipitação de urato amorfo. A uroeritrina se liga ao
urato, produzindo uma cor rosa no sedimento. A urobilina, um produto de oxidação do
urobilinogênio, um constituinte normal da urina, confere cor castanho-alaranjado a
urina após um tempo de coleta.

 Cor anormal da urina


Como se pode ver na tabela 1 (Strasinger, 2009) as cores anormais são tão
numerosas quanto as causas. Algumas cores, no entanto, são vistas com mais
frequência e tem maior significado clínico que outras.

Tabela 1 – Correlação Laboratorial da Cor da Urina (Strasinger, 2009).


Tabela 1 Correlação Laboratorial da Cor da Urina
Cor Causa Correlação clínico/laboratorial
Incolor Ingestão recente de Comumente observada com amostras
fluidos aleatórias
Amarela pálida Poliúria ou diabetes Volume de 24 horas elevado
insipidus
Diabetes mellitus Elevada gravidade especifica e
resultado positivo para glicose
Amostra aleatória diluída Consumo recente de fluidos
Amarela escura Amostra concentrada Pode ser normal após o exercício
extenuante ou na primeira amostra da
manhã
Âmbar Desidratação pela febre ou queimadura
Laranja Bilirrubina Espuma amarela, quando agitada, e
resultado positivo nos testes químicos
para bilirrubina
Fenazopiridina Droga comumente utilizada para

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(Pyridium) infecções do trato urinário

Nitrofurantoína Pode ter espuma laranja e pigmento


laranja denso que podem obscurecer
ou interferir com as leituras das tiras
reagentes
Nitrofurantoína Antibiótico administrado para infecções
do trato urinário

Amarela-verde Bilirrubina oxidada em Espuma colorida na urina ácida e


biliverdina resultados falso-negativos nos testes
químicos para bilirrubina
Verde Infecções por Urocultura positiva
Pseudomonas
Azul-verde Amitriptilina Antidepressivo
Metocarbamol Relaxante muscular, pode ser verde-
castanha
Rosa Eritrócitos Urina turva com resultados positivos da
análise química de hemoglobina e
eritrócitos visíveis microscopicamente
Vermelha Hemoglobina Urina límpida com resultados positivos
da análise química de hemoglobina,
hemólise intravascular
Mioglobina Urina límpida com resultados positivos
da análise química de hemoglobina;
lesão muscular
Beterraba Urina alcalina de pessoas
geneticamente suscetíveis
Rifampicina Medicação para tuberculose
Contaminação menstrual Amostra turva com eritrócitos, muco e
coágulos
Marrom Hemoglobina oxidada a Visto em urinas ácidas um tempo após
metemoglobina a coleta; resultado positivo da analise
química para hemoglobina
Preta Melanina ou A urina escurece um tempo após a
melanogênio coleta e reage com nitroprussiato e
cloreto férrico
Argirol (antisséptico) A cor desaparece com cloreto férrico
Metildopa ou levodopa Anti-hipertensivos
Metronidazol Escurece um tempo após a coleta

 Aspecto
O aspecto é um termo geral que se refere à transparência – turvação de uma
amostra de urina. No exame de rotina de urina, o aspecto é determinado pela mesma
forma que a utilizada pelos antigos médicos: através do exame visual da amostra
homogeneizada, mantendo-a em frente de uma fonte luminosa. A amostra deve,
evidentemente, estar em um recipiente transparente.

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Procedimento para análise de Cor e Aspecto (Strasinger, 2009).


PROCEDIMENTO
Procedimento para Cor e Aspecto
 Utilizar uma amostra bem homogeneizada.
 Ver através de um recipiente transparente.
 Ver contra um fundo branco.
 Manter iluminação adequada do ambiente.
 Avaliar um volume consistente de amostra.
 Determinar a cor e o aspecto.

A cor e a qualidade são rotineiramente determinadas ao mesmo tempo. A


terminologia comum utilizada para a descrição do aspecto inclui límpido, opalescente,
ligeiramente turvo, turvo e leitoso. Uma descrição do aspecto da urina é apresentada
na tabela 2 (Strasinger, 2009).

Tabela 2 – Aspecto da Urina (Strasinger, 2009).


Tabela 2 Aspecto da Urina
Aspecto Descrição
 Límpido  Partículas não visíveis
transparentes.
 Opalescente  Poucas partículas, texto
impresso facilmente
visualizado através da
urina.
 Ligeiramente turvo  Muitas partículas, texto
impresso borrado através
da urina.
 Turvo  Texto impresso não pode
ser visto através da urina.
 Leitoso  Podem precipitar ou ter
coágulos

Tabela 3 – Causas Não Patológicas de Turvação da Urina (Strasinger, 2009).


Tabela 3 Causas Não Patológicas de Turvação
da Urina
 Células epiteliais escamosas
 Muco
 Fosfatos, carbonatos e uratos amorfos
 Sêmen, espermatozóides
 Contaminação fecal
 Meio de contraste radiográfico
 Talco
 Cremes vaginais

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Tabela 4 – Causas Patológicas de Turvação da Urina (Strasinger, 2009).


Tabela 4 Causas Patológicas de Turvação da
Urina
 Eritrócitos
 Leucócitos
 Bactérias
 Fungos
 Células epiteliais não escamosas
 Cristais anormais
 Linfa
 Lipídeos

 Odor
Embora raramente seja de significado clínico e não seja parte do exame de urina de
rotina, o odor da urina é uma propriedade física que pode ser reportada. A urina
recentemente expelida tem odor ligeiramente aromático. A medida que o tempo
passa, o cheiro de amônia torna-se mais proeminente. A degradação da uréia é
responsável pelo odor característico de amoníaco. Causas incomuns de odores incluem
infecções bacterianas, que causam um forte e desagradável odor, cetose diabética que
produz um cheiro doce e frutado. A ingestão de determinados alimentos, incluindo
cebolas, alhos e aspargos, pode ocasionar urina com odor incomum ou pungente. As
causas comuns de odores da urina são resumidas na tabela 5 (Strasinger, 2009).

Tabela 5 – Causas Comuns de Odores da Urina (Strasinger, 2009).


Tabela 5 Causas Comuns de Odores da
Urina
Odor Causa
 Aromático  Normal
 Fétido, semelhante  Decomposição bacteriana,
ao amoníaco infecção do trato urinário
 Frutado, doce  Cetonas (diabetes mellitus,
inanição, vômitos)
 Xarope de bordo  Doença do xarope de bordo
 Ninho de ratos  Fenilcetonúria
 Rançoso  Tirosinemia
 Pés suados  Acidemia isovalérica
 Repolho  Má-absorção de metionina
 Desinfetante  Contaminação

ANÁLISE QUÍMICA DA URINA

 Tiras reagentes
O exame químico de urina mudou dramaticamente desde os primórdios testes da
urina, em razão do desenvolvimento dos métodos de tiras reagentes para a análise
química. Tiras reagentes permitem atualmente um meio simples e rápido para a
realização de análises químicas da urina, de parâmetros significativos que incluem: pH,

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proteínas, glicose, cetonas, sangue, bilirrubina, urobilinogênio, nitrito, leucócitos e


gravidade específica. As tiras reagentes consistem em almofadas absorventes
impregnadas com substâncias químicas aderidas a uma tira de plástico. Uma reação
química ocorre quando a almofada absorvente entra em contato com a urina, as
reações são interpretadas pela comparação da cor produzida na almofada com uma
tabela fornecida pelo fabricante. Diversas cores ou intensidades de uma cor para cada
substância a ser testada aparecerem na tabela. Através da comparação cuidadosa das
cores da tabela e da almofada, um valor semi-quantitativo de traços, 1+, 2+, 3+ ou 4+
pode ser relatado. Uma estimativa em miligramas por decilitro presentes está
disponível para algumas áreas de análise.

Os princípios das reações envolvidas são mostrados a seguir:


Bilirrubina: reação de acoplamento em meio ácido com sal diazônio estabilizado e
formação de cromógeno vermelho.
Cetonas: reação do nitroprussiato de sódio com ácido acetoacético e acetona em meio
alcalino formando um complexo violeta.
Densidade ou gravidade específica: mudança de cor azul-esverdeado para verde-
amarelo ou marrom claro em função da concentração de íons na amostra.
Glicose: reação específica glicose oxidase/peroxidase com o indicador cloridrato de
tolidina, com formação de cor variando de verde claro à verde escuro.
Leucócitos: hidrólise do carboxilato heterocíclico pelas esterases dos neutrófilos
liberando uma fração capaz de reagir com um sal diazônio formando um pigmento
violeta.
Nitrito: reação específica de Griess que identifica a presença de nitritos formados por
redução de nitratos por ação de redutases produzidas por bactérias gram negativas.
pH: combinação de dois indicadores de pH que produzem cores laranja, amarela,
verde e turquesa no intervalo de pH de 5 a 9.
Proteína: princípio do erro proteínico de um indicador de pH.
Sangue: atividade pseudoperoxidase da porção heme da hemoglobina que catalisa a
oxidação de um indicador na presença de peróxido orgânico.
Urobilinogênio: reação de acoplamento com sal diazônio, formando pigmento de cor
rosa.

Procedimento para uso das tiras reagentes (Strasinger, 2009).


PROCEDIMENTO
Técnica das Tiras Reagentes
 Mergulhe a tira reagente brevemente em
uma amostra de urina bem
homogeneizada, não centrifugada e em
temperatura ambiente (aproximadamente
2 segundos)
 Retire o excesso da urina, raspando a borda
da tira no recipiente.
 Toque a borda da tira sob um material
absorvente descartável.
 Manter a tira na posição horizontal para
prevenir mistura de produtos químicos de

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áreas adjacentes.
 Realizar a leitura das reações em 60
segundos e entre 60 e 120 segundos para
leucócitos, comparando as cores
desenvolvidas nas áreas reagentes com a
escala de cores do rótulo.
 Não realizar a leitura após 120 segundos (2
minutos).

 pH
Juntamente com os pulmões, os rins são os principais reguladores do conteúdo
ácido-básico no organismo. Eles fazem isso pela secreção de hidrogênio sobre a forma
de íons amônio, fosfato de hidrogênio e de ácido orgânicos fracos e pela reabsorção de
bicarbonato do filtrado nos túbulos contornados. Um individuo saudável costuma
produzir a primeira urina da manhã com pH ligeiramente ácido de 5,0 a 6,0; pH
alcalino é encontrado após as refeições. O pH das amostras aleatórias normais pode
variar de 4,5 a 8,0. Por conseguinte, não são atribuídos valores normais do pH urinário,
e ele deve ser considerado em conjunto com outras informações do paciente, como o
equilíbrio ácido-básico no sangue, a função renal, a presença de infecções urinárias, a
ingestão alimentar e o tempo de coleta da amostra (tabela 6, Strasinger, 2009).

Tabela 6 – Causas das Urinas Ácidas e Alcalina (Strasinger, 2009)


Tabela 6 Causas das Urinas Ácidas e
Alcalina
Urina Ácida Urina Alcalina
 Enfisema  Hiperventilação
 Diabetes mellitus  Vômitos
 Jejum  Acidose tubular renal
 Desidratação  Presença de bactérias
produtoras de urease
 Diarréia  Dieta vegetariana
 Presença de  Amostras velhas
bactérias produtoras
de ácido (Escherichia
coli)
 Dieta
hiperproteica
 Medicamentos
(mandelato de
metenamina)

Resumo do significado clínico do pH urinário (Strasinger, 2009).


Resumo do Significado Clínico do pH urinário
 Respiratório ou metabólico acidose/Cetose
 Respiratório ou metabólico alcalose
 Defeitos na secreção tubular renal e reabsorção
de ácidos e bases – acidose tubular renal

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 Formação de cálculos renais


 Tratamento de infecções do trato urinário
 Precipitação/identificação de cristais
 Determinação de amostras insatisfatórias

 Proteínas
Dos exames químicos de rotina da urina, o mais indicativo de doença renal é a
determinação de proteínas. A presença de proteinúria é frequentemente associada
com doença renal precoce, fazendo com que o exame de proteínas na urina seja parte
importante de qualquer exame físico. A urina normal contém muito pouca proteína:
normalmente menos de 10mg/dL ou 100mg/24hs são excretadas. Essa proteinúria é
constituída, principalmente, de proteínas séricas de baixo peso molecular que tenham
sido filtradas pelo glomérulo e proteínas produzidas no trato geniturinário. Em razão
do baixo peso molecular, a albumina sérica é a principal proteína encontrada na urina
normal. Mesmo que ela esteja presente em altas concentrações no plasma, o
conteúdo normal de albumina urinária é baixo, porque a maioria da albumina que
passa pelo glomérulo não é filtrada. E muito da albumina filtrada é reabsorvida pelos
túbulos.

 Significado clínico
A demonstração de proteinúria no exame de rotina nem sempre significa
doença renal, no entanto, sua presença requer testes adicionais para determinar se a
proteína representa uma condição normal ou patológica. Proteinúria clínica é indicada
por quantidade maior ou igual a 30mg/dL (300mg/L). As causas de proteinúria são
variadas e podem ser agrupadas em 3 grandes categorias: pré-renal, renal e pós-renal,
com base na origem das proteínas.

Resumo do significado clínico da proteína urinária (Strasinger, 2009).


Resumo do significado clínico da proteína urinária
Pré-Renal Doença tubular
 Hemólise  Síndrome de Fanconi
intravascular
 Lesão muscular  Agente tóxicos/metais
pesados
 Proteínas reativas de  Infecções virais graves
fase aguda
 Mielona múltiplo
Renal Pós-Renal
 Doenças glomerulares  Infecções/inflamações do
trato urinário inferior
 Doenças de complexo  Lesões/traumas
imune
 Amiloidose  Contaminação menstrual
 Agentes tóxicos  Fluido prostático/
espermatozóides
 Nefropatia diabética  Secreções vaginais
 Exercício extenuante

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 Desidratação
 Hipertensão
 Pré-eclampsia

Caso as fitas reativas apresentem positividade para proteínas na urina, deverá


ser efetuado um teste confirmatório como se segue:

Precipitação das proteínas pelo ácido sulfossalicílico 20%


Em um tubo de ensaio colocar 2mL de urina centrifugada e adicionar 2mL de
ácido sulfossalicílico 20%. Deixar em repouso por 5 minutos e realizar a interpretação.
Interpretação: - líquido límpido: negativo
- líquido com leve opalescência: traços
- líquido muito turvo com precipitado: 4+

 Glicose
Em virtude de seu valor na detecção e no acompanhamento de diabetes mellitus o
exame de glicose é a análise química mais frequentemente realizada na urina.
Considerando-se os sintomas inespecíficos associados como o aparecimento do
diabetes estima-se que mais da metade dos casos no mundo não são diagnosticados.
Por isso, exames de glicose no sangue e na urina estão incluídos em todos os exames
físicos e, muitas vezes, são o foco de programas de triagem populacional. O
diagnóstico precoce de diabetes mellitus pelo exame de glicose no sangue fornece um
prognóstico bem melhor. Utilizando-se os métodos atualmente disponíveis de tiras
reagentes para a glicose, no sangue e na urina, os pacientes podem monitorar a si
próprios em casa e podem detectar problemas de controle antes do desenvolvimento
de complicações graves.

Resumo do significado clínico da glicose na urina (Strasinger, 2009).


Resumo do Significado Clínico da Glicose na Urina
Associados à Associados aos Rins
Hiperglicemia
Diabetes mellitus Sídrome de Fanconi
Pancreatite Doença renal avançada
Câncer pancreático Osteomalacia
Acromegalia Gravidez
Síndrome de Cushing
Hipertireoidismo
Feocromocitoma
Lesão do sistema nervoso
central
Estresse
Diabetes gestacional

Caso as fitas reativas apresentem positividade para glicose na urina, deverá ser
efetuado um teste confirmatório como se segue:

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Glicose ou substâncias redutoras – Reação de Benedict


Em um tubo de ensaio, colocar 5 gotas de urina e adicionar 2,5 mL do reativo
de Benedict. Aquecer até ebulição. Se a urina contiver glicose ou substâncias
redutoras, aparecerá coloração que varia desde o verde até o vermelho–tijolo.

 Cetonas
O termo cetonas representa três produtos intermediários do metabolismo da
gordura, ou seja, a cetona, ácido acetoacético e o ácido beta-hidroxibutírico.
Normalmente, quantidades mensuráveis de cetona não aparecem na urina, porque
toda a gordura metabolizada é completamente decomposta em dióxido de carbono e
água. No entanto quando a utilização de carboidratos disponíveis como a principal
fonte de energia se torna comprometida, estoque de gordura corporal devem ser
metabolizados para fornecer e energia. Cetonas são então detectadas na urina.

Resumo do significado clínico de cetonas na urina (Strasinger, 2009).


Resumo do Significado Clínico de Cetonas na Urina
 Acidose diabética
 Acompanhamento da dosagem de insulina
 Jejum
 Má-absorção/doenças pancreáticas
 Exercício extenuante
 Vômito

 Sangue
O sangue pode estar presente na urina sob a forma de glóbulos vermelhos intactos
(hematúria) ou como o produto da destruição de glóbulos vermelhos do sangue,
hemoglobina (hemoglobinúria). O sangue presente em grande quantidade pode ser
detectado visualmente; a hematúria produz uma turvação vermelha na urina, e a
hemoglobinúria aparece como uma amostra vermelha límpida. Como qualquer
quantidade de sangue superior a cinco células por microlitro de urina é considerada
clinicamente significativa, o exame visual não pode ser utilizado para detectar a
presença de sangue. O exame microscópico do sedimento urinário mostra hemácias
intactas, mas a hemoglobina livre, produzida por doenças hemolíticas ou por lise dos
glóbulos vermelhos, não é detectada.
Portanto, testes químicos para hemoglobina fornecem os meios mais exatos para
determinar a presença de sangue. Quando o sangue é detectado, o exame
microscópico pode ser utilizado para diferenciar a hematúria da hemoglobinúria.

Resumo do significado clínico da reação positiva para sangue (Strasinger, 2009).


Resumo do significado clínico da reação positiva para sangue
Hematúria 5. Exercício intenso/trauma de
glóbulos vermelhos
1. Cálculo Renal 6. Picada de aranha eremita
marrom
2. Glomerulonefrite Mioglobinúria
3. Pielonefrite 1. Trauma muscular/síndrome
do esmagamento

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4. Tumores 2. Coma prolongado


5. Trauma 3. Convulsões
6. Exposição a agentes 4. Doenças musculares
químicos tóxicos consumptivas
7. Anticoagulantes 5. Alcoolismo/embriaguez
8. Exercício intenso 6. Abuso de drogas
Hemoglobinúria 7. Exercício intenso
1. Reações tansfusionais
8. 8. Medicação redutora de
colesterol, estatina
2. Anemias hemolíticas
3. Queimaduras graves
4. Infecção/malária

 Bilirrubina
O aparecimento de bilirrubina na urina pode fornecer indicação precoce de doença
hepática. Muitas vezes é detectada muito antes do desenvolvimento de icterícia.
Bilirrubina, um pigmento amarelo altamente complexo, é o produto de degradação
da hemoglobina. Em condições normais o tempo de vida das hemácias é de,
aproximadamente, 120 dias, momento em que elas são destruídas no baço e no
fígado pelas células fagocitárias do sistema reticuloendotelial. A hemoglobina liberada
é decomposta em seus componentes: ferro, proteínas e protoporfirina. O corpo
reutiliza o ferro e as proteínas, e as células do sistema reticuloendotelial convertem o
resíduo protoporfirina em bilirrubina. A bilirrubina é então, liberada na circulação,
onde se liga com a albumina e é transportada para o fígado. Nesse ponto, os rins não
podem excretar a bilirrubina circulante porque não só esta vinculada a albumina, mas
também porque é insolúvel em água. No fígado, a bilirrubina é conjugada com o ácido
glucurônico pela ação da glucuronil transferase, a forma hidrossolúvel da bilirrubina
diglucuronide (bilirrubina conjugada). Normalmente, essa bilirrubina conjugada não
aparece na urina, pois é liberada diretamente do fígado para o ducto biliar e para o
intestino
A bilirrubina conjugada aparece na urina quando o ciclo de degradação normal é
perturbado por obstrução do ducto biliar (por exemplo, cálculos biliares ou câncer), ou
quando a integridade do fígado está danificada, o que permite refluxo de bilirrubina
conjugada para a circulação. Hepatite e cirrose são exemplos comuns de condições
que produzem dano hepático, resultando em bilirrubinúria. A detecção de bilirrubina
urinária fornece, além da indicação precoce de doença hepática, também sua
presença ou ausência, que pode ser utilizada na determinação da causa da icterícia
clínica. Conforme mostrado na tabela 7, essa determinação pode ser ainda mais
significativa quando os resultados de bilirrubina são combinados com o urobilinogênio
urinário. A icterícia, causada pelo aumento da destruição dos glóbulos vermelhos, não
produz bilirrubinúria. Isso porque a bilirrubina sérica esta presente na forma não
conjugada e os rins não podem excretá-la.

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Tabela 7 – Bilirrubina Urinária e Urobilinogênio na Icterícia (Strasinger, 2009).


Tabela 7 Bilirrubina Urinária e Urobilinogênio da
Icterícia
Bilirrubina Urinária Urobilinogênio
Urinário
Obstrução de
+++ Normal
ducto biliar
Dano hepático + ou - ++
Doença Negativa +++
hemolítica

Resumo do significado clínico da bilirrubina urinária (Strasinger, 2009).


Resumo do Significado Clínico de Bilirrubina Urinária
 Hepatite
 Cirrose
 Outros distúrbios hepáticos
 Obstrução biliar (carcinoma)

 Urobilinogênio
Quando a bilirrubina conjugada é excretada através do ducto biliar para o
intestino, as bactérias intestinais convertem a bilirrubina em uma combinação de
urobilinogênio e estercobilinogênio. Algum urobilinogênio é reabsorvido do intestino
para o sangue, recircula no fígado, e é excretado de volta para o intestino através do
ducto biliar. O restante do urobilinogênio é transportado pelo sangue para os rins,
onde é convertido na urobilina amarela e excretado, dando a urina a sua cor
característica. Urobilinogênio aparece na urina, porque, quando o sangue que circula
no fígado passa através dos rins e é filtrado pelo glomérulo.

Resumo do significado clínico do urobilinogênio urinário (Strasinger, 2009).


Resumo do Significado Clínico de Urobilinogênio
Urinário
 Detecção precoce de doenças hepática
 Disfunção hepática, hepatite, cirrose, carcinoma
 Distúrbios hemolíticos

 Nitritos
O teste da tiras reagentes para nitrito oferece um método rápido de triagem
para a presença de infecção do trato urinário (ITU). O ensaio é concebido para
detectar casos em que a necessidade de uma cultura pode não ser aparente, mas não
se destina a substituir a urocultura como principal teste para diagnóstico e o
acompanhamento de infecção bacteriana, acredita-se que muitas ITU iniciam-se na
bexiga, como resultado de contaminação externa e, se não tratadas, evoluem
ascendentemente através dos ureteres aos túbulos, à pelve penal e aos rins. O teste
de nitrito é valioso para detectar infecção inicial da bexiga (cistite), porque, muitas
vezes, os pacientes são assintomáticos ou têm sintomas vagos que não levariam o
médico a solicitar urocultura. A detecção de bacteriúria pela utilização do teste de
triagem de nitrito e subsequente terapia antibiótica podem evitar essas complicações

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graves. O teste de nitrito também pode ser utilizado para avaliar o êxito da terapia
antibiótica e para exame periódico de pessoas com infecções recorrentes, pacientes
com diabetes, mulheres grávidas, os quais são considerados de alto risco para ITU.

Resumo do significado clínico dos nitritos urinários (Strasinger, 2009).


Resumo do Significado Clínico de Nitritos Urinários
 Cistite
 Pielonefrite
 Avaliação da terapia antibiótica
 Acompanhamento de pacientes com alto risco
de infecção do trato urinário
 Triagem de amostras para urocultura

 Esterase Leucocitária
Antes do desenvolvimento do teste de tira reagente para esterase leucocitária (EL),
a detecção do aumento de leucócitos urinários exigia o exame microscópico do
sedimento urinário. Isso pode estar sujeito a variações, dependendo do método
utilizado para preparar o sedimento e do pessoal técnico que examina o sedimento.
Portanto, a análise química de leucócitos oferece um meio mais padronizado para a
detecção de leucócitos. O ensaio não é concebido para medir a concentração de
leucócitos e os fabricantes recomendam que a quantificação seja feita por exame
microscópico. Uma vantagem adicional do teste químico para EL é que ele detecta a
presença de leucócitos que foram lisados, particularmente em urina alcalina e diluída,
os quais não aparecem no exame microscópico.

Resumo do significado clínico dos Leucócitos da Urina (Strasinger, 2009).


Resumo do Significado Clínico dos Leucócitos na Urina
 Infecção do trato urinário bacteriana e não
bacteriana
 Inflamação do trato urinário
 Triagem de amostras de urina para cultura

 Gravidade Específica
A capacidade dos rins para reabsorver seletivamente as substâncias químicas
essenciais e água do filtrado glomerular é uma das mais importantes funções do corpo.
O intrincado processo de reabsorção é, muitas vezes, a primeira função renal a tornar-
se comprometida, portanto, a avaliação da capacidade de reabsorver do rim é um
componente necessário do exame de urina de rotina. Essa avaliação pode ser realizada
através da medição da gravidade específica da amostra. A medida da gravidade
especifica também detecta possível desidratação ou anormalidades no hormônio
antidiurético e pode ser utilizada para determinar se a concentração da amostra é
suficiente para garantir a precisão dos testes químicos.
A gravidade específica é definida como a densidade de uma solução, em
comparação com a densidade de um volume similar de água destilada, na mesma
temperatura. Como a urina é, na realidade, água com substâncias químicas dissolvidas,
a gravidade específica da urina é uma medida da densidade das substâncias químicas
dissolvidas na amostra. Como medida da densidade da amostra, a gravidade específica

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é influenciada não só pelo número de partículas presentes, mas também pelo seu
tamanho. Grandes moléculas de uréia contribuem mais para a leitura que pequenas
moléculas de cloro e sódio.

Resumo do significado clínico da gravidade específica urinária (Strasinger, 2009).


Resumo do Significado Clínico da Gravidade Específica
Urinária
 Acompanhamento do estado de hidratação e
desidratação
 Perda de capacidade de concentração tubular
renal
 Diabetes insipidus
 Determinação de amostras insatisfatórias em
virtude de baixa concentração

Influências pré-analíticas para o teste das tiras reagentes


Diminuição/Ausência Aumento/Presença
Bilirrubina Luz solar direta na amostra
Cetonas Evaporação das cetonas Jejum prolongado, gravidez, exercício
físico
Densidade Ingestão acentuada de líquidos,
uso de diuréticos
Glicose Bacteriúria Pós vaginais, intoxicação com chumbo,
gravidez
Leucócitos Contaminação com secreção vaginal
Nitrito Baixa ingesta de vegetais, Crescimento bacteriano em urinas
incubação insuficiente na bexiga, armazenadas à temperatura ambiente
bactérias não produtoras de por mais de duas horas.
nitrato redutase, conversão de
nitrito a nitrogênio
pH Produção de amônia por bactérias
produtoras de urease
Proteína Gravidez
Sangue Contaminação com menstruação
Urobilinogênio Luz solar direta, amônia, Acetona, bilirrubina, maior excreção à
anestesia peridural tarde

EXAME MICROSCÓPICO DA URINA

A terceira parte do exame de urina de rotina é o exame microscópico do


sedimento urinário. Seu objetivo é detectar e identificar os materiais insolúveis
presentes na urina. O sangue, os rins, o trato geniturinário inferior e a contaminação
externa, todos contribuem para a presença de elementos formados na urina. Estes
incluem GVs, GBs, células epiteliais, cilindros, bactérias, leveduras, parasitas, muco,
espermatozoides, cristais e artefatos. Como alguns desses componentes não têm
nenhum significado clínico e outros são considerados normais, exceto se estiverem
presentes em quantidade aumentada, o exame do sedimento urinário deve incluir

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tanto identificação quanto quantificação dos elementos presentes. O exame


microscópico do sedimento urinário é o menos padronizado e o que mais tempo
consome no exame de urina de rotina.

 Exame do Sedimento
O modo pelo qual é realizado o exame microscópico deve ser consistente e deve
incluir um mínimo de observações de 10 campos de pequeno aumento (10x) e grande
aumento (40x). Primeiramente, a lâmina é examinada com pequeno aumento para
detectar cilindros e verificar a composição geral do sedimento. Quando são
encontrados elementos que requerem identificação, como cilindros, por exemplo, a
observação é alterada para grande aumento.
Se o método convencional de lâmina de vidro esta sendo utilizado, os cilindros tem
tendência de se localizar junto as bordas da lamínula e, portanto, é recomendada uma
varredura, em pequeno aumento, no perímetro da lamínula.
Quando os sedimentos são examinados sem coloração, muitos constituintes do
sedimento têm índice de refração semelhante ao da urina. Portanto, é essencial que os
sedimentos sejam examinados com iluminação reduzida, quando se utiliza microscopia
de campo claro.
A focalização inicial pode ser difícil com uma amostra fluida e alguns cuidados
devem ser tomados para garantir que o exame esta sendo realizado no plano correto.
Algumas vezes, uma célula epitelial estará presente para fornecer um ponto de
referência. A focalização de artefatos deve ser evitada, porque, muitas vezes, são
maiores que os elementos do sedimento e fazem com que o microscopista examine os
objetos em um plano errado. A focalização contínua com o ajuste fino auxilia na
obtenção de uma representação completa dos constituintes do sedimento.

 Relatório do Exame Microscópico


A terminologia e os métodos de informação podem diferir ligeiramente entre os
laboratórios, mas devem ser coerente dentro de determinado sistema de laboratório.
Rotineiramente, os cilindros são referidos pelo número médio por campo de pequeno
aumento (LPF - Low-Power Field), após a análise de dez campos, e GVs e GBs como o
número médio por dez campos de grande aumento (HPF - High-Power Field). As
células epiteliais, os cristais e outros elementos são, frequentemente, relatados em
termos semiquantitativos como raros, poucos, moderados e muitos; ou como 1+, 2+,
3+ e 4 +, seguindo o formato do laboratório quanto ao uso de HPF ou LPF.

 Constituintes do Sedimento
O sedimento da urina normal pode conter uma variedade de elementos formados.
Até o aparecimento de pequeno número de GVs, GBs e cilindros, habitualmente de
significado patológico, pode ser normal. Do mesmo modo, muitas urinas de rotina não
contêm nada além de raras células epiteliais ou filamentos de muco. Os alunos, muitas
vezes, têm dificuldades para se adaptar a isso porque, na sala de aula, sedimentos com
anomalias e múltiplos elementos são, geralmente, salientados. Eles devem aprender a
confiar nas suas observações após observar o número recomendado de campos.
Elementos celulares também são facilmente distorcidos pela grande variação da
concentração, do pH e pela presença de metabólitos na urina, tornando a identificação
mais difícil.

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Valores normais numéricos não são, atualmente, definidos de maneira clara.


Valores habitualmente relacionados incluem de zero a dois ou três GVs por HPF, de
zero a cinco ou oito GBs por HPF e de zero a dois cilindros hialinos por LPF. Mesmo
esses números devem ser tomados no contexto de outros fatores, como estresse
recente e exercício, contaminação menstrual e a presença de outros constituintes do
sedimento.

 Eritrócitos
Na urina, os GVs aparecem como discos bicôncavos, lisos, não nucleados, que
medem cerca de 7mm de diâmetro (Figura 1). Eles devem ser identificados através da
objetiva (40x) de grande aumento (x400 ampliação). Os GVs, rotineiramente, são
referidos pelo número médio observado em 10 HPFs.

Figura 1 – Glóbulos vermelhos normais (x400), (Strasinger, 2009).

De todos os constituintes do sedimento, os GVs são os mais difíceis para os


estudantes reconhecerem. As razões para esse fato incluem a falta de estruturas
características as variações no tamanho e estreita semelhança com outros sedimentos
constituintes. Os GVs são, com frequência, confundidos com células de levedura,
gotículas de óleo e bolhas de ar. Células de leveduras em geral exibem brotamento
(Figura 2).

Figura 2 – Leveduras. A presença de formas com brotamento ajuda na distinção entre


Gvs (x400), (Strasinger, 2009).

Gotículas de óleo e bolhas de ar são altamente refringentes quando o ajuste fino é


focalizado para cima e para baixo (Figura 3), e também podem aparecer em um plano
focal diferente que os outros constituintes do sedimento (Figura 4). O aspecto rugoso
dos GVs crenados pode se assemelhar aos grânulos vistos nos GBs, contudo, eles são
muito menores que os GBs. Se a identificação continuar duvidosa, a adição de ácido

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acético a uma porção do sedimento lisará os GVs, deixando as leveduras, as gotículas


de óleo e os GBs permanecem intactos.

Figura 3 – Células epiteliais escamosas e gotícula de óleo coradas por KOVA (x400),
(Strasinger, 2009).

Figura 4 – Bolha de ar (x100), (Strasinger, 2009).

 Significado Clínico
A presença de GVs na urina está associada a danos à membrana glomerular ou
lesão vascular dentro do trato geniturinário. O número de células presentes é
indicativo da extensão do dano da lesão. A história do paciente, muitas vezes,
menciona a presença de hematúria microscópica versus macroscópica.

 Leucócitos
Os GBs são maiores que os GVs, medindo, em média, cerca de 12mm de diâmetro
(Figura 5). O GB predominantemente encontrado nos sedimentos urinários é o
neutrófilo. Os neutrófilos são muito mais fáceis de identificar que o GVs porque
contém grânulos e núcleos multilobados (Figuras 6 e 7). No entanto, eles ainda são
identificados por intermédio de microscopia de grande aumento e também são
relatados como o número médio observado em 10 HPFs.

Figura 5 – GVs e um GB (x400), (Strasinger, 2009).

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Figura 6 – GBs. Observe os mucléolos multilobados (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 7 – GBs agrupados (x400), (Strasinger, 2009).

 Células Epiteliais
Não é incomum encontrar células epiteliais na urina, pois são derivadas do
revestimento do aparelho geniturinário. A menos que elas estejam presentes em
grande número ou em formas anormais, representam descamação normal das células
antigas. Três tipos de células epiteliais são observados na urina: escamosas, de
transição e tubulares renais (Figura 8). Elas são classificadas de acordo com o local de
origem dentro do aparelho geniturinário.

Figura 8 – Sedimento que contém células escamosas, transicionais e ETR (x400),


(Strasinger, 2009).

 Células Epiteliais Escamosas


Células escamosas são as maiores células encontradas no sedimento urinário.
Contém citoplasma abundante e irregular e um núcleo proeminente com tamanho
semelhante ao do GV (Figura 9).

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Figura 9 – Células epiteliais escamosas coradas por KOVA (x400), (Strasinger, 2009).

Elas são, muitas vezes, as primeiras estruturas observadas quando o sedimento é


examinado em pequeno aumento. Normalmente, pelo menos, algumas células
epiteliais escamosas estão presentes no sedimento podem servir como boa referência
para a focalização do microscópio (Figura 10).

Figura 10 – Células epiteliais escamosas identificadas em pequeno aumento (x100),


(Strasinger, 2009).

Em sedimentos com grande quantidade de células escamosas, pode ser mais difícil
quantificar pequenos elementos patológicos, como GVs e GBs, e devem ser
cuidadosamente examinados (Figura 11 e 12).

Figura 11 – Aglomerado de células epiteliais escamosas (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 12 – Aglomerado de células epiteliais escamosas com dobras (x400), (Strasinger,


2009).

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Após exame do número adequado de campos, as células epiteliais escamosas são


comumente relatadas em termos de raras, poucas, algumas ou muitas. Elas são
identificadas em pequeno ou grande aumento, dependendo do protocolo laboratorial.
As células epiteliais escamosas são provenientes do revestimento da vagina e da
uretra feminina e da porção inferior da uretra masculina. Representam a descamação
celular normal e não tem nenhum significado patológico. O aumento da quantidade é,
mais frequentemente, observado na urina de pacientes do sexo feminino. Amostra
coletada de jato médio, com assepsia, contém menos contaminação por células
escamosas.

 Células Epiteliais Transicionais (ou Uroteliais)


As células epiteliais transicionais são menores que as células epiteliais escamosas e
aparecem em várias formas, inclusive esféricas, poliédricas e caudadas (Figuras 13 e
14).

Figura 13 – Células epiteliais transicionais esféricas coradas por KOVA (x400),


(Strasinger, 2009).

Figura 14 – Células epiteliais transicionais caudadas (x400), (Strasinger, 2009).

Essas diferenças são causadas pela capacidade das células epiteliais de transição
para absorver grande quantidade de água. As células em contato direto com a urina
absorvem água, assumindo forma esférica é muito maior que a das células poliédricas
e caudadas. Todas as formas têm núcleos distintos, centralmente localizados. As
células transicionais são identificadas e quantificadas utilizando o grande aumento.
Como as células escamosas, elas são, normalmente, relatadas como raras, poucas,
algumas ou muitas, seguindo o protocolo laboratorial.
As células transicionais epiteliais são provenientes do revestimento da pelve renal,
do cálice, dos ureteres e da bexiga, e da porção superior da uretra masculina.

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 Células Epiteliais Tubulares Renais


Células epiteliais tubulares renais (ETR) variam em tamanho e forma, dependendo
da área dos túbulos renais da qual são originárias. As células do túbulo contornado
proximal (TCP) são maiores que outras células ETR. Elas tendem ter um formato
retangular e são referidas como colunares ou células convolutas. O citoplasma é
grosseiramente granuloso; e as células ETR, às vezes se assemelham a cilindros. Elas
devem ser cuidadosamente examinadas para a presença de um núcleo, uma vez que o
núcleo não está presente em um cilindro. Observe o núcleo e os grânulos na Figura 15.
Essa é uma célula ETR que absorveu glóbulos de gordura e poderia ser facilmente
confundida com um cilindro granular.

Figura 15 – Célula ETR. Célula do túbulo contornado proximal com grânulos e com
glóbulos de gordura aderidos (x400), (Strasinger, 2009).

 Significado Clínico
As células ETR são clinicamente as mais significativas das células epiteliais. A
presença de número aumentado é indicativa de necrose dos túbulos renais, com a
possibilidade de afetar a função renal global.

 Bactérias
Em regra, as bactérias não estão presentes na urina. No entanto, a menos que as
amostras sejam coletadas em condições estéreis (cateterismo), algumas bactérias
estão, geralmente, presentes como resultado de contaminação vaginal, uretral, da
genitália externa ou do frasco de coleta. Essas bactérias contaminantes se multiplicam
rapidamente em amostras que permanecem em temperatura ambiente por longos
períodos, mas não tem nenhum significado clínico. Elas podem produzir resultado
positivo de nitrito e, também com frequência resultam em pH superior a 8.
As bactérias podem estar presentes na forma de cocos (esféricas) ou bacilos
(barras). Em virtude de sua pequena dimensão, devem ser observadas e relatadas sob
grande aumento. Elas são relatadas como raras, poucas, algumas ou muitas, por
campo de grande aumento. Para serem consideradas significativas para a ITU, as
bactérias devem ser acompanhadas por GBs. Alguns laboratórios apenas referem
bactérias quando observadas em amostras frescas e em conjunto com GBs (Figura 16).

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Figura 16 – Bactérias e GBs corados por KOVA (x400), (Strasinger, 2009).

A presença de bactérias pode ser indicativa de ITU tanto em trato urinário alto
quanto baixo. Amostras que contêm número aumentado de bactérias e leucócitos são,
rotineiramente, acompanhadas com uma amostra para cultura quantitativa. As
bactérias mais frequentemente associadas a ITU são as Enterobacteriaceae (referidas
como bacilos gram-negativos); no entanto, os cocos em forma de Staphylococcus e
Enterococcus também são capazes de causar ITU. O exame microscópico não identifica
a bactéria que realmente está produzindo a ITU.

 Espermatozoides
Os espermatozoides são facilmente identificados no sedimento urinário pela sua
forma oval, cabeça ligeiramente cônica e cauda longa, semelhante ao flagelo (Figura
17). A urina é tóxica para os espermatozoides e, portanto, raramente, apresentam a
mobilidade observada durante o exame de uma amostra de sêmen.

Figura 17 – Espermatozoides (x400), (Strasinger, 2009).

Os espermatozoides são, ocasionalmente, encontrados na urina de homens e


mulheres após relação sexual, masturbação, ou ejaculação noturna. Eles raramente
são de relevância clínica, exceto nos casos de infertilidade masculina ou ejaculação
retrógrada na qual o esperma é expulso para a bexiga em vez de ser para a uretra. Um
teste na tira reagente positivo para proteína pode ser visto quando a quantidade
aumentada de sêmen está presente.
Os protocolos laboratoriais variam no que diz respeito à referência ou não da
presença de espermatozoides na amostra da urina. Os laboratórios que não relatam
sua presença citam a falta de significado clínico e as possíveis consequências legais. Os
laboratórios que apóiam a comunicação dos espermatozoides citam o possível
significado clínico e a mínima possibilidade de consequências jurídicas.

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 Muco
Muco é um material proteico produzido por glândulas e células epiteliais do trato
geniturinário inferior e pelas células ETR.
O muco aparece, microscopicamente, como estrutura filamentosa, com baixo
índice refratométrico (Figura 18). É necessária luz difusa quando se utiliza microscopia
de campo claro. Deve-se tomar cuidado para não confundir grumos de muco com
cilindros hialinos. A diferenciação pode ser feita através da observação do aspecto
irregular de filamentos mucosos. Os filamentos de muco são referidos como raros,
poucos, moderados ou muitos, por LPF.
O muco está presente com maior frequência na amostra de urina de pessoas do
sexo feminino. Não tem nenhum significado clínico quando presente na urina seja de
homens seja de mulheres.

Figura 18 – Filamentos de muco (x400), (Strasinger, 2009).

 Cilindros
Cilindros são os únicos elementos encontrados no sedimento urinário que são
exclusivos do rim. Eles são formados dentro da luz dos túbulos contornados distais e
dos ductos coletores, fornecendo uma visão microscópica das condições dentro do
néfron. A sua forma e representante da luz tubular, com lados paralelos e pontas
ligeiramente arredondadas, e podem conter outros elementos presentes no filtrado.
O exame do sedimento para a detecção de cilindros é realizado por meio do menor
aumento. Quando o método da lamínula é utilizado, uma varredura em pequeno
aumento deve ser realizada ao longo das bordas da lamínula. A observação sob luz
difusa é essencial porque a matriz do cilindro tem baixo índice refratométrico. De
modo semelhante a muitos outros constituintes do sedimento, a matriz do cilindro se
dissolve rapidamente em urinas alcalinas e diluídas. Uma vez detectados, os cilindros
devem ser identificados para a sua composição com o exame em grande aumento. Eles
são relatados para o número médio de 10 LPFs.

 Cilindros Hialinos
O tipo mais frequente de cilindro é o hialino, o qual é composto, quase
inteiramente, de proteína de Tamm-Horsfall. A presença de zero a dois cilindros
hialinos por LPF é considerada normal, como é a constatação do aumento do número
após exercício extenuante, desidratação, exposição ao calor e estresse emocional. Os
cilindros hialinos são aumentados patologicamente em glomerulonefrite aguda,
pielonefrite, doença renal crônica e insuficiência cardíaca congestiva.
Os cilindros hialinos aparecem incolores em sedimentos não corados e tem índice
de refração semelhante ao da urina, portanto, eles podem ser facilmente ignorados se
amostra não for examinada sob luz difusa (Figuras 19, 20 e 21).

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Figura 19 – Cilindro hialino sob pequeno aumento com grânulos amorfos e muco
(x100), (Strasinger, 2009).

Figura 20 – Cilindro hialino e urato amorfo ligados ao pseudocilindro de muco (x100),


(Strasinger, 2009).

Figura 21 – Cilindro hialino (x400), (Strasinger, 2009).

A morfologia do cilindro hialino é variada, consistindo de lados paralelos e


extremidades arredondadas, formas cilindróides e enrugadas ou convolutas, que
indicam envelhecimento da matriz do cilindro (Figura 22). A presença ocasional de
uma célula ou grânulos aderidos também pode ser observada (Figura 23), mas não
altera a classificação do cilindro.

Figura 22 – Cilindro hialino contorcido (x400), (Strasinger, 2009).

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31

Figura 23 – Cilindro hialino que contém grânulos (x400), (Strasinger, 2009).

 Cilindros Hemáticos
Considerando que o achado de GVs na urina indica sangramento de uma área
dentro do trato geniturinário, a presença de cilindros hemáticos é muito mais
específica, mostrando hemorragia dentro do néfron. Cilindros hemáticos estão,
principalmente, relacionados a danos causados ao glomérulo (glomerulonefrite), que
permitem a passagem das células através da membrana glomerular, no entanto,
qualquer dano a estrutura capilar do néfron pode causar a sua formação. Cilindros
hemáticos combinados com danos glomerulares estão, normalmente, associados com
proteinúria e eritrócitos dismórficos. Esses cilindros também são observados em
indivíduos saudáveis após a prática de esporte de contato extenuante.
Cilindros hemáticos são facilmente detectados no pequeno aumento por sua cor
laranja-avermelhada. Eles são mais frágeis que os outros cilindros e podem existir
como fragmentos ou ter forma mais irregular como o resultado de células agrupadas
que aderem à matriz protéica (Figuras 24 e 25).

Figura 24 – Cilindros hemáticos. Observe a presença de GVs hipocrômicos e


dismórficos livres (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 25 – Cilindros hemáticos corados por KOVA sob microscopia de fase (x400),
(Strasinger, 2009).

O exame sob grande aumento deve concentrar-se na determinação de que a


matriz do cilindro esteja presente, diferenciando, assim, a estrutura de um grumo de
GVs. Por causa das graves implicações diagnósticas do cilindro hemático, a presença

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efetiva de GVs também deve ser verificada para evitar o relato impreciso de cilindro
hemático inexistente. É altamente improvável que cilindros hemáticos estejam
presentes na ausência de GVs livres e de uma reação na tira reagente positiva para
sangue (Figura 26).

Figura 26 – Cilindros hemáticos em desintegração. Observe a presença de GVs livres


para confirmar a identificação (x400), (Strasinger, 2009).

 Cilindros leucocitários
O aparecimento de cilindros leucocitários na urina significa infecção ou inflamação
no néfron. Com frequência associados à pielonefrite, são o principal marcador para
distinguir pielonefrite (ITU superior) de ITU baixo. No entanto, eles também estão
presentes em inflamações agudas não bacterianas, como nefrite intersticial e podem
acompanhar cilindros hemáticos na glomerulonefrite.
Os cilindros leucocitários são visíveis sob pequeno aumento, mas devem ser
positivamente identificados sob grande aumento. Geralmente, cilindros leucocitários
são compostos de neutrófilos; portanto, eles podem aparecer granulares e, a menos
que tenha ocorrido desintegração, núcleos multilobulados estarão presentes (Figura
27). Coloração supravital pode ser necessária para demonstrar as características dos
núcleos (Figura 28). Ela é particularmente útil para diferenciar cilindros leucocitários
de cilindros de células com ETR.

Figura 27 – Desintegração de cilindro leucocitário (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 28 – Cilindro leucocitário corado por KOVA (x400), (Strasinger, 2009).

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33

A observação de GBs livres no sedimento também é essencial. Bactérias estão


presentes nos casos de pielonefrite, mas não estão presentes na nefrite intersticial
aguda; no entanto, cilindros eosinofílicos podem estar presentes em amostras
apropriadamente coradas.
Cilindros leucocitários podem ter bordas irregulares. Essas estruturas devem ser
cuidadosamente examinadas para determinar se a matriz do cilindro está presente.
GBs frequentemente formam grumos e estes não tem o mesmo significado do cilindro
(Figura 29).

Figura 29 – Grumo de leucócitos. Observe a ausência de matriz de cilindro (x400),


(Strasinger, 2009).

 Cilindros de Células Epiteliais


Cilindros que contém células ETR representam a presença de avançada destruição
tubular, que produz estase urinária, juntamente com a ruptura do revestimento
tubular. De maneira semelhante às células ETR, eles são associados com metais
pesados, substâncias químicas ou toxicidade induzida por drogas, infecções virais e
rejeição de aloenxerto. Eles também acompanham cilindros leucocitários nos casos
pielonefrite. Graças à formação de cilindros no túbulo contornado distal, as células
visíveis na matriz dos cilindros são menores, redondas e ovais (Figura 30 e 31).

Figura 30 – Cilindro de células ETR (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 31 – Cilindro de células ETR coradas por KOVA (x400), (Strasinger, 2009).

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 Cilindros Lipoídicos
Cilindros lipoídicos são analisados em conjunto com corpúsculos ovais de gordura e
gotículas de gordura livre, em transtornos que causam lipidúria. Com grande
frequência eles são associados à síndrome nefrótica, mas também são observados em
necrose tubular tóxica, diabetes mellitus e em lesões por esmagamento.
Os cilindros lipoídicos são altamente refringentes na microscopia de campo claro. A
matriz do cilindro pode conter poucas ou muitas gotículas de gordura e corpúsculos
ovais de gordura podem estar aderidos a matriz (Figura 32).

Figura 32 – Cilindro lipoídico (x400), (Strasinger, 2009).

 Cilindros Granulosos
Com frequência, cilindros grosseira e finamente granulosos são observados no
sedimento urinário e podem ter significado patológico ou não. Não se considera
necessário distinguir os cilindros grosseiramente granulosos dos finamente granulosos.
A origem dos grânulos em condições não patológicas parece ser os lisossomos
excretados pelas células ETR durante o metabolismo normal. Não é incomum observar
cilindros hialinos que contém um ou dois desses grânulos. O aumento do metabolismo
celular que ocorre durante períodos de exercício extenuante provoca o aumento
transitório de cilindros granulosos que é acompanhado do aumento de cilindros
hialinos (Figuras 33 e 34).

Figura 33 – Cilindro finamente granuloso e cristais de ácido úrico (x400), (Strasinger,


2009).

Figura 34 – Cilindro granuloso formado em uma curva tubular (x400), (Strasinger,


2009).

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Em estados patológicos, os grânulos podem representar desintegração do


cilindro celular e de células tubulares ou agregados de proteínas filtradas pelo
glomérulo (Figuras 35 e 36).

Figura 35 – Cilindro granuloso-celular em desintegração (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 36 – Cilindro grosseiramente granuloso, células epiteliais escamosas (x400),


(Strasinger, 2009).

 Cilindros Céreos
Os cilindros céreos são representativos da estase urinaria extrema, que indica
insuficiência renal crônica. Eles são, em geral, vistos em conjunto com outros tipos de
cilindros relacionados à condição que tenha causado a falência renal.
A matriz brilhante, altamente refrátil, da qual deriva o nome deste cilindro,
acredita-se seja causada por degeneração da matriz do cilindro hialino e de quaisquer
elementos celulares ou grânulos contidos na matriz.
Os cilindros céreos são mais facilmente visualizados que os cilindros hialinos por
causa do seu maior índice refratométrico. Como resultado da baixa consistência da
matriz do cilindro, ele, muitas vezes, aparece fragmentado, com extremidades
irregulares e com entalhes em suas faces (Figuras 37 e 38).

Figura 37 – Cilindro céreo corado por KOVA (x100), (Strasinger, 2009).

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Figura 38 – Cilindro céreo corado por KOVA (x400), (Strasinger, 2009).

 Cristais Urinários
Os cristais, muito encontrados na urina, raramente tem significado clínico. Eles
podem aparecer como estruturas de verdadeiras formas geométricas ou como
material amorfo. A principal razão para a identificação de cristais na urina é detectar a
presença dos relativamente poucos tipos anormais que podem representar distúrbios
como doença hepática, erros inatos do metabolismo, insuficiência renal ou danos
causados pela cristalização nos túbulos de compostos iatrogênicos. Cristais são,
normalmente, relatados como raros, poucos, alguns ou muitos, por HPF. Cristais
anormais podem ser quantificados e referidos por LPF.

 Cristais Normais Observados em Urina Ácida


Os cristais mais observados em urinas ácidas são os uratos constituídos por uratos
amorfos, ácido úrico, uratos ácidos e uratos de sódio. Microscopicamente, a maioria
dos cristais de urato aparece com a cor amarela ou castanho-avermelhada e são os
únicos cristais normais encontrados em urina ácida que aparecem coloridos.
Uratos amorfos aparecem, microscopicamente, como grânulos castanho-
amarelados (Figura 39). Eles podem ocorrer em grumos assemelhando-se a cilindros
granulosos. Uratos amorfos são encontrados com frequência em amostras que tenham
sido refrigeradas e produzem um sedimento róseo muito característico. O acúmulo de
um pigmento, uroeritrina, na superfície dos grânulos é a causa da cor rosa. Uratos
amorfos são encontrados na urina ácida com pH superior a 5.

Figura 39 – Urato Amorfo (x400), (Strasinger, 2009).

Os cristais de acido úrico são vistos em uma variedade de formas, incluindo


rômbica, placas de quatro faces planas (pedra de amolar), cunhas e rosetas.
Geralmente, eles aparecem na cor amarelo-castanha, mas podem ser incolores e ter
forma semelhante a dos cristais de cistina com seis lados (Figuras 40 e 41).

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Figura 40 – Cristais de ácido úrico (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 41 – Grumos de cristais de ácido úrico (x400), (Strasinger, 2009).

Os uratos ácidos e o urato de sódio são encontrados com menor frequência e,


como os uratos amorfos, são vistos em urinas menos ácidas. Eles são, usualmente,
vistos em conjunto com o urato amorfo e tem pouco significado clinico. Uratos ácidos
aparecem como grânulos maiores e podem ter espículas semelhantes às observadas
nos cristais de biurato de amônio na urina alcalina. Os cristais de urato de sódio
possuem a forma de agulha e são observados em liquido sinovial, durante episódios de
gota, mas também aparecem na urina.
Os cristais de oxalato de cálcio são, com frequência, vistos em urina ácida, mas eles
podem ser encontrados na urina neutra e, mais raramente, na urina alcalina. A forma
mais comum de cristais de oxalato de cálcio di-hidratado é aquela facilmente
reconhecida como um envelope octaédrico, incolor, ou como duas pirâmides aderidas
pelas suas bases (Figuras 42 e 43).

Figura 42 – Cristais de oxalato de cálcio di-hidratado (x400), (Strasinger, 2009).

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Figura 43 – Cristais de oxalato de cálcio di-hidratado (x400), (Strasinger, 2009).

 Cristais Normais Vistos em Urina Alcalina


Os fosfatos representam a maioria dos cristais observados em urina alcalina e
incluem fosfato amorfo, fosfato triplo e fosfato de cálcio. Outros cristais normais
associados à urina alcalina são o carbonato de cálcio e o biurato de amônio. Fosfatos
amorfos possuem aparência granulosa, semelhante aos uratos amorfos (Figura 44).
Quando presentes em grande quantidade; após a refrigeração da amostra, provocam
um precipitado branco que não se dissolve com o aquecimento. Eles podem ser
diferenciados de urato amorfo pela cor do sedimento e pelo pH urinário.

Figura 44 – Fosfato amorfo (x400), (Strasinger, 2009).

Os cristais de fosfato triplo são comumente observados na urina alcalina. Em sua


forma habitual, eles são facilmente identificados pelo formato de prisma, que muitas
vezes lembra uma "tampa de caixão" (Figuras 45 e 46). Eles não têm nenhum
significado clínico, no entanto, muitas vezes são vistos em urina alcalina altamente
associada com presença de bactérias que metabolizam uréia.

Figura 45 – Cristais de fosfato triplo (x400), (Strasinger, 2009).

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Figura 46 – “Tampa de caixão” e outras formas de cristais de fosfato triplo (x400),


(Strasinger, 2009).

Cristais de fosfato de cálcio não são encontrados com frequência. Eles podem
aparecer como placas planas retangulares, incolores ou prismas finos, geralmente, em
formação de rosetas. Eles não têm nenhum significado clínico, apesar de o fosfato de
cálcio ser um constituinte comum de cálculos renais.
Cristais de carbonato de cálcio são pequenos e incolores, em forma de halteres ou
esféricos (Figura 47). Eles podem ocorrer em aglomerações que lembram material
amorfo, mas podem ser distinguidos pela formação de gás após a adição de ácido
acético. Os cristais de carbonato de cálcio não têm nenhum significado clinico.

Figura 47 – Cristais de carbonato de cálcio (x400), (Strasinger, 2009).

Cristais de biurato de amônio apresentam a cor amarelo-castanha característica


dos cristais de urato vistos na urina acida. Eles são, frequentemente, descritos como
“maças espinhosas" por causa de sua aparência de esferas cobertas de espículas
(Figura 48). Exceto para a sua ocorrência em urina alcalina, os cristais de biurato de
amônio assemelham-se aos outros uratos, os quais se dissolvem a 60°C e se convertem
em cristais de ácido úrico quando o ácido acético glacial é adicionado. Cristais de
biurato de amônio, quase sempre, são encontrados em amostras não recentes e
podem ser associados com a presença da amônia produzida pelas bactérias que
metabolizam a uréia.

Figura 48 – Cristais de biurato de amônio (x400), (Strasinger, 2009).

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 Cristais Urinários Anormais


Cristais urinários anormais são encontrados na urina ácida ou, raramente, na urina
neutra. A maioria dos cristais anormais tem formas muito características. No entanto,
a sua identidade deve ser confirmada por testes químicos ou por informações
fornecidas pelo paciente (medicamentos).

 Cristais de Cistina
Os cristais de cistina são encontrados na urina de pessoas que herdam um
distúrbio metabólico que impede a reabsorção de cistina pelos túbulos renais
(cistinúria). Pessoas com cistinúria têm tendência a formar cálculos renais,
especialmente em idade precoce. Cristais de cistina parecem cristais incolores,
hexagonais e chapas que podem ser finas ou grossas (Figuras 49 e 50).

Figura 49 – Cristais de cistina (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 50 – Aglomerado de cristais de cistina (x400), (Strasinger, 2009).

 Cristais de Colesterol
Os cristais de colesterol raramente são vistos, salvo se as amostras forem
refrigeradas, porque os lipídeos permanecem em forma de gotas. No entanto, quando
observados, eles têm aparência muito característica, semelhante a uma placa
retangular com um entalhe em um ou mais cantos (Figura 51). Eles estão associados a
distúrbios produtores de lipidúria, como a síndrome nefrótica, e são vistos em
conjunto com cilindros graxos e corpúsculos ovais gordurosos.

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Figura 51 – Cristais de colesterol. Observe os cantos entalhados (x400), (Strasinger,


2009).

 Cristais Associados Com Doença Hepática


Na presença de disfunção hepática grave, três cristais raramente vistos, podem ser
encontrados no sedimento urinário. Eles são cristais de tirosina, leucina e bilirrubina.
Os cristais de tirosina aparecem como finas agulhas de incolores a amarelas que
frequentemente, formam grumos ou rosetas (Figuras 52). Em geral, eles são vistos em
conjunto com cristais de leucina, em amostras com resultados positivos para os testes
químicos para a bilirrubina.

Figura 52 – Cristais de tirosina em grumos de agulhas finas (x400), (Strasinger, 2009).

Os cristais de leucina são esferas de cor amarelo-castanha, que apresentam


círculos concêntricos e estrias radiais (Figura 53). Eles são vistos com menor frequência
que os cristais de tirosina e, quando presentes, devem ser acompanhados de cristais
de tirosina.

Figura 53 – Cristais de leucina (x400), (Strasinger, 2009).

Os cristais de bilirrubina estão presentes nas doenças hepáticas que produzem


grande quantidade de bilirrubina na urina. Eles aparecem como agulhas agregadas ou
granulares, com a característica cor amarela da bilirrubina (Figura 54). Seria esperado
um resultado positivo para o teste de reação química para bilirrubina. Nos distúrbios

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que produzem dano tubular renal, como a hepatite viral, os cristais de bilirrubina
podem ser encontrados incorporados a matriz dos cilindros.

Figura 54 – Cristais de bilirrubina. Observe a cor amarelo-brilhante típica (x400),


(Strasinger, 2009).

 Cristais de Sulfonamida
Antes do desenvolvimento de sulfonamidas mais solúveis, o achado desses cristais
na urina de pacientes em tratamento para ITUs era comum. A inadequada hidratação
do paciente foi, e ainda é, a principal causa de cristalização de sulfonamida. O
aparecimento dos cristais de sulfonamida na urina recente pode sugerir a possibilidade
de dano tubular se os cristais estiverem se formando nos néfrons. As formas mais
comuns incluem agulhas, pedra de amolar, feixes de trigo e rosetas, com cores que
variam de incolor a amarelo-castanho (Figura 55). A verificação do histórico de
medicação do paciente auxilia na confirmação da identificação.

Figura 55 – Cristais de sulfa, glóbulos brancos e bactérias vistos em ITU (x400),


(Strasinger, 2009).

 Cristais de Ampicilina
A precipitação de antibióticos não é habitualmente encontrada, exceto a rara
observação de cristais de ampicilina após doses maciças desse composto de penicilina,
sem a hidratação adequada. Os cristais de ampicilina aparecem como agulhas
incolores que tendem a formar feixes após a refrigeração (Figuras 56 e 57). O
conhecimento da historia do paciente pode auxiliar na identificação.

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Figura 56 – Cristais de ampicilina não refrigerada (x400), (Strasinger, 2009).

Figura 57 – Cristais de ampicilina após refrigeração (x400), (Strasinger, 2009).

 Artefatos do Sedimento Urinário


Contaminantes de todos os tipos podem ser encontrados na urina,
particularmente, em amostras coletadas sob condições impróprias ou em recipientes
sujos. Os artefatos encontrados com maior frequência incluem o amido, as gotículas
de gordura, as bolhas de ar, o pólen, as fibras e a contaminação fecal. Como se
assemelham a elementos patológicos como GVs e cilindros, os artefatos em geral
podem apresentar um grande problema para os estudantes. Eles são, muitas vezes,
altamente refringentes ou ocorrem em um plano focal diferente daquele dos demais
constituintes do sedimento. O relato de artefatos não é necessário.
A contaminação por grânulos de amido pode ocorrer quando o amido em pó é
utilizado nas luvas. Os grânulos são esferas altamente refringentes, em geral, com o
centro côncavo (Figura 58). Os grânulos de amido podem também, ocasionalmente,
ser confundidos com os GVs. A diferenciação entre amido e elementos patológicos
pode ser feita por considerar outros resultados do exame de urina, incluindo testes
químicos para sangue ou proteínas e a presença de corpos ovais de gordura ou
cilindros graxos.

Figura 58 – Grânulos de amido. Observe o centro côncavo (x400), (Strasinger, 2009).

Gotículas de óleo e bolhas de ar também são altamente refringentes e podem se


assemelhar aos GVs para o pessoal de laboratório inexperiente. As gotículas de
gordura podem resultar de contaminação por óleo de imersão ou loções e cremes
(Figura 59). As bolhas de ar ocorrem quando a amostra é colocada sob uma lamínula. A

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presença desses artefatos deve ser considerada no contexto dos outros resultados do
exame de urina.

Figura 59 - Material fecal e óleo, como artefatos (x400), (Strasinger, 2009).

Grãos de pólen são contaminantes sazonais que aparecem como esferas com uma
parede celular e ocasionais círculos concêntricos (Figura 60). Como muitos artefatos,
seu grande tamanho pode fazer com que fiquem fora de foco em relação aos demais
constituintes do sedimento.

Figura 60 – Fibra (x400), (Strasinger, 2009).

Cabelos e fibras de roupas e fraldas podem, inicialmente, ser confundidos com


cilindros (Figuras 61), porém, eles geralmente são muito mais longos e mais
refringentes. As fibras, habitualmente, polarizam, enquanto os cilindros, exceto os
graxos, não.
As amostras indevidamente coletadas ou a rara presença de uma fistula entre o
intestino e o trato urinário pode produzir contaminação fecal da amostra. Artefatos
fecais podem aparecer como fibras vegetais e de carne, como material amorfo marrom
em uma variedade de tamanhos e formas.

Figura 61 – Fibra de fralda semelhante a um cilindro. Observe a refratabilidade (x400),


(Strasinger, 2009).

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[Parte 2:
Bioquímica Clínica]

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URÉIA CE
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação da uréia em amostras de sangue e urina é útil na avaliação da função
renal.
PRINCÍPIO
A uréia é hidrolisada pela urease a íons amônia e CO2. Os íons amônia reagem em pH
alcalino com salicilato e hipoclorito de sódio, sob a ação catalisadora do nitroprussiato
de sódio, para formar azul de indofenol. A formação de cor é proporcional à
quantidade de uréia na amostra.
AMOSTRA
Recomenda-se jejum mínimo de 8 horas.
PROCEDIMENTO
Procedimento manual
Para a dosagem de uréia na urina, diluir a amostra 1:50 (0,1 mL de urina + 4,9 mL de
água destilada ou deionizada). Multiplicar o resultado obtido por 50.
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Branco Teste Padrão
Amostra ----- 0,01 mL -----
Padrão (nº 2) ----- ----- 0,01 mL
Urease tamponada 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL
2. Misturar e incubar a 37 ºC durante 5 minutos.
Oxidante de uso 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL
3. Misturar e incubar a 37 ºC durante 5 minutos.
4. Determinar as absorbâncias do teste e padrão em 600 nm (580 a 610 nm),
acertando o zero com o branco. A cor é estável por 2 horas.
CÁLCULOS
Absorbância do teste
Uréia (mg/dL) = x 70g/dl
Absorbância do padrão
Valores de referência
Soro ou Plasma: 15 a 40 mg/dL.
Urina: 26 a 43 g/24 horas.
Valores críticos
> 100 mg/dL
SIGNIFICADO CLÍNICO
Fisiologicamente a uréia se eleva devido a dieta hiperprotéica ou com a idade,
particularmente após 40 anos. Sua diminuição ocorre na gravidez normal e nos
indivíduos em dietas com baixo valor protéico e alto conteúdo glucídico.
Elevações da uréia por defeitos de excreção se devem a causas pré-renais
(insuficiência cardíaca congestiva), causas renais (nefrites, pielonefrites, e insuficiência
renal aguda ou crônica) e pós-renais (obstruções do trato urinário por cálculos,
carcinomas ou pólipos). Elevações da uréia ocorrem também por catabolismo elevado
(febre, septicemia, uso de corticosteroides) e hemorragia interna, principalmente do
trato grastointestinal.
A diminuição da uréia, que não tem expressão clínica, pode ocorrer em consequência à
infusão endovenosa de soluções com carbohidratos, redução do catabolismo protéico
e aumento da diurese.

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A dosagem sérica de creatinina é considerada mais específica para a avaliação da


função glomerular, mas pode ser menos sensível em algumas doenças renais precoces.
A disfunção renal é melhor avaliada através das dosagens de uréia e creatinina
associadas.

CREATININA
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação da creatinina em amostras de sangue e urina são testes de avaliação
da função renal. A determinação da concentração de creatinina no líquido amniótico é
um dos parâmetros laboratoriais para a avaliação da maturidade fetal.
PRINCÍPIO
A creatinina e outros componentes do soro reagem com a solução de picrato em meio
alcalino, formando um complexo de cor vermelha que é medico fotometricamente.A
adição de um acidificante abaixa o pH para 5,0, promovendo a decomposição do
picrato de creatinina, permanecendo inalterada a cor derivada dos cromogênios, que
também é medida fotometricamente. A diferença entre as duas leituras fornece o
valor da creatinina.
AMOSTRA
Preparo do paciente
Para creatinina sérica recomenda-se jejum mínimo de 8 horas. Para a realização da
depuração da creatinina recomenda-se, se possível, a interrupção do uso de
medicamentos, particularmente as cefalosporinas. O paciente deve estar com bom
estado de hidratação e dieta isenta de carne.
PROCEDIMENTO DE ENSAIO DIRETO
Para a dosagem na urina, diluir a amostra 1:25 (0,2 mL de urina + 4,8 mL de água
destilada ou deionizada). Multiplicar o resultado obtido por 25.
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Branco Teste Padrão
Tampão (nº 2) 2,0 mL 2,0 mL 2,0 mL
Amostra ----- 0,25 ml -----
Água destilada ou deionizada 0,25 mL ----- -----
Padrão (nº 3) ----- ----- 0,25 mL
Ácido pícrico (nº 1) 0,5 mL 0,5 mL 0,5 mL
2. Misturar e colocar em banho-maria a 37 ºC durante 10 minutos. O nível da água no
banho deve ser superior ao nível dos reagentes nos tubos de ensaio.
3. Determinar as absorbâncias do teste e padrão em 510 nm ou filtro verde (500 a
540 nm), acertando o zero com o branco. A absorbância do teste será a A1.
Acidificante (nº 4) 0,1 mL 0,1 mL -----
4. Misturar e deixar na temperatura ambiente durante 5 minutos.
5. Determinar a absorbância do teste em 510 nm ou filtro verde (500 a 540 nm),
acertando o zero com o branco. A absorbância do teste será a A2.
CÁLCULOS
A1-A2
Creatinina (não corrigida) =  x 4,00 mg/dL
Absorbância do Padrão
Aplicação do índice de correção

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A interferência das proteínas plasmáticas que ocorre na reação de Jaffé introduz um


erro constante na medição, que é minimizado pela utilização do índice de correção
(0,25 mg/dL).
Creatinina = Creatinina - índice de correção
(corrigida) (não corrigida) (0,25 mg/dL)

Valores de referência
Soro/Plasma (mg/dL)
Adulto (mulheres)*: 0,53 - 0,995
Adulto (homens)*: 0,70 - 1,20
* 18 a 70 anos; valores corrigidos com o índice de correção.
SIGNIFICADO CLÍNICO
A constância na formação e excreção faz da creatinina um marcador muito útil de
função renal, principalmente da filtração glomerular, em virtude da sua relativa
independência de fatores como dieta, grau de hidratação e metabolismo protéico.
Assim, a determinação da creatinina plasmática é um marcador de função renal mais
seguro do que a uréia. A creatinina não deve ser usada isoladamente para avaliar o
ritmo de filtração glomerular ou detectar a presença de doença renal crônica porque
ela é afetada pela taxa de filtração glomerular e por fatores independentes como
idade, sexo, raça, dieta, massa muscular, drogas e métodos analíticos laboratoriais.

ÁCIDO ÚRICO LIQUIFORM


INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação do ácido úrico em amostras de sangue, urina e outros líquidos
biológicos é útil na avaliação do metabolismo da purina, adenosina e guanosina e
encontra-se alterada em diversas condições clinico-patológicas além da gota.
PRINCÍPIO
O ácido úrico é determinado de acordo com as seguintes reações:
Uricase
Ácido úrico + O2 + H2O Alantoína + CO2 + H2O2

Peroxidase
2H2O2 + DHBS + 4-aminoantipirina Antipirilquinomina + 4H2O

A intensidade da cor vermelha formada é diretamente proporcional à concentração do


ácido úrico na amostra.
AMOSTRA
Preparo do paciente
Recomenda-se jejum mínimo de 8 horas e coleta pela manhã, pois variações
circadianas são observadas.
PROCEDIMENTO
Procedimento manual
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:

Branco Teste Padrão


Amostra ----- 0,02 mL -----

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Padrão (nº 3) ----- ----- 0,02 mL


Reagente de Trabalho 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL

2. Misturar e colocar em banho-maria 37 ºC durante 10 minutos. O nível de água no


banho deve ser superior ao nível de reagentes nos tubos de ensaio.
3. Determinar as absorbâncias do teste e padrão em 520 nm ou filtro verde (490 a
540 nm), acertando o zero com o branco. A cor é estável por 15 minutos.
4. Indicar a necessidade de mudanças no volume de reagente em função do
instrumento utilizado.

CÁLCULOS
Absorbância do teste
Ácido úrico (mg/dL) = x6
Absorbância do padrão
Conversão de mg/dL para Unidade SI: mol/L = mg/dL x 59,5

Valores de referência
Soro: Homens 2,5 a 7,0 mg/dL
Mulheres 1,5 a 6,0 mg/dL
SIGNIFICADO CLÍNICO
Numerosas doenças, condições fisiológicas, alterações bioquímicas, fatores sociais e
ambientais estão associados a elevações na concentração plasmática de ácido úrico.
Entre as etiologias da hiperuricemia estão a insuficiência renal, a cetoacidose, excesso
de lactato e o uso de duiréticos. O aumento de urato está positivamente relacionado à
hiperlipidemia, obesidade, aterosclerose, diabetes mellitus e hipertensão, embora os
mecanismos destas alterações ainda não sejam bem compreendidos.
A gota, manifestação clínica da hiperuricemia, é classificada como primária, secundária
e idiopática. É importante lembrar que a gota secundária é uma complicação pouco
comum quando relacionada à frequência da hiperuricemia. Raramente a gota ocorre
sem hiperuricemia.
São pouco frequentes as causas de hipouricemia, ocorrendo na síndrome de Fanconi,
doença de Wilson e doenças malignas como linfoma de Hodgkin e carcinoma
broncogênico.
A concentração de ácido úrico no líquido sinovial é semelhante à concentração no soro
e não tem valor no diagnóstico da gota. Em relação ao líquido amniótico, observa-se
elevação da concentração deste analito no decorrer da gestação.

CLORETOS
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação dos cloretos em amostras de sangue e urina faz parte da avaliação dos
distúrbios hidro-eletrolíticos e ácido-básico. A dosagem do cloreto no suor é útil no
diagnóstico da fibrose cística.
PRINCÍPIO
Os íons cloreto reagem com tiocianato de mercúrio formando cloreto mercúrico e íons
tiocianato, que reagem com os íons férrico formando tiocianato férrico, de cor
amarela, proporcional à concentração de cloretos na amostra.
PROCEDIMENTO

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Procedimento manual
Soro, plasma e líquor.
Urina: diluir a amostra 1:2 com água deionizada. Multiplicar o resultado obtido por 2.
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:

Branco Teste Padrão


Reagente de Cor (nº 1) 3,5 mL 3,5 mL 3,5 mL
Ativador (nº 2) 0,1 mL 0,1 mL 0,1 mL
Amostra ----- 0,01 mL -----
Padrão (nº 3) ----- ----- 0,01 mL

2. Misturar e esperar 2 minutos.


3. Determinar as absorbâncias do teste e padrão em 470 nm, acertando o zero com o
branco. A cor é estável por 2 horas.
CÁLCULOS
Absorbância do teste
Cloretos (mEq/L) = x 100
Absorbância do padrão

Valores de referência
Soro ou plasma: 97 a 106 mEq/L
SIGNIFICADO CLÍNICO
O cloreto, como grande ânion do líquido extra-celular é essencial para a vida humana.
Ele desenvolve o principal papel na manutenção da neutralidade eletroquímica do
líquido extra-celular, incluindo o plasma.
A hipocloremia é observada nos vômitos, com perda de HCI, nos estados acidóticos
nos quais existe um acúmulo de ânions orgânicos (ânion gap positivo). A verdadeira
hipocloremia é um componente frequente das alcaloses metabólicas persistentes,
associadas à depressão de volume. A síndrome de Bartten, que acredita-se ser devida
a um defeito de reabsorção de cloretos no túbulo distal, inclui hipocloremia.
Caracteristicamente, pacientes em crise Addissoniana tem níveis de cloreto sérico
diminuídos. Uma síndrome recentemente descrita, a diarréia congênita cloretada, que
envolve uma perturbação no transporte ativo do cloreto no íleo distal e grosso
intestino, produz diarréia osmótica e alcalose hipoclorêmica.
A hipercloremia, ocorre em várias formas de acidose metabólica, incluindo aquelas
secundárias à perda de grande quantidade de bicarbonato, como nas diarréias
prolongadas e nas ureteroenterostomias. Também as gamopatias mono e policlonais
estão associadas com hipercloremia. Tem-se demonstrado a presença de
concentrações elevadas do cloreto sérico em pacientes com hiperparatireoidismo.
Também na síndrome nefrótica encontramos hipercloremia. Finalmente a acidose
tubular renal é uma condição hiperclorêmica. A determinação de cloretos no suor é
útil para o diagnóstico da fibrose cística (mucoviscidose). Nesta doença o cloreto do
suor está aumentando.
A excreção urinária de cloreto encontra-se aumentada diante de diureses massiças por
várias causas, como observado na depleção de potássio e insuficiência adrenocortical.
Ao contrário, a excreção urinária de cloreto diminui quando há perda aumentada por

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outras vias, bem como na hiperfunção adrenocortical e na reação de stress pós-


operatório.

FÓSFORO
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação do fósforo inorgânico em amostras de sangue e urina é útil na
avaliação do metabolismo do fósforo.
PRINCÍPIO
Os íons fosfato reagem com o molibdênio em meio ácido, formando um complexo
amarelo, que por ação de um tampão alcalino é reduzido a azul-molibdênio, que é
medido colorimetricamente
PROCEDIMENTO
Para a dosagem na urina, homogeneizar bem a amostra, separar 10 mL, e acertar pH
entre 1 e 3 com HCI concentrado para dissolver os cristais de fosfato. Diluir a urina
1:10 (0,1 mL de urina + 0,9 mL de água destilada ou deionizada). Multiplicar o
resultado obtido por 10.
Procedimento manual
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Branco Teste Padrão
Água destilada ou 2,5 mL 2,5 mL 2,5 mL
deionizada
Amostra ----- 0,1 mL -----
Padrão (nº 4) ----- ----- 0,1 mL
Catalisador (nº 1) 1 gota 1 gota 1 gota
2. Misturar.
Reagente Molibdato (nº 2) 1 gota 1 gota 1 gota
3. Agitar fortemente (nesta fase ocorre turvação) e colocar em banho de água fria (20
– 25 ºC) durante 2 minutos. O nível da água no banho deve ser superior ao nível
dos reagentes nos tubos de ensaio.
Tampão (nº 3) 2 gotas 2 gotas 2 gotas
4. Agitar fortemente e colocar em banho de água fria (20 – 25 ºC) durante 5 minutos.
5. Determinar as absorbâncias do teste e do padrão em 650 nm ou filtro vermelho
(640 a 700 nm), acertando o zero com o branco. A cor é estável por 15 minutos.
O branco é incolor. A presença de cor azulada visível no branco, ocorre quando se
usa água de qualidade inadequada.
CÁLCULOS
Absorbância do teste
Fósforo (mg/dL) = x5
Absorbância do padrão
Valores de referência
Soro: Crianças 3,0 a 7,0 mg/dL
Adultos 2,5 a 4,8 mg/dL

SIGNIFICADO CLÍNICO

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Embora a insuficiência renal crônica e o hipoparatireoidismo sejam as duas causas


mais comuns de hiperfosfatemia, várias condições podem causar hiperfosfatemia
transitória e assintomática.
Como o músculo representa um grande reservatório de fosfato é evidente que a
rabdomiólise produz severa hiperfosfatemia. Outras condições que promovem a
liberação do fosfato intracelular e levam à hiperfosfatemia incluem a hipertermia
maligna e a quimioterapia antiblástica.
A hiperfosfatemia pode ocorrer após administração de laxativos e enemas de retenção
contendo fosfato.
Níveis diminuídos de fósforo são encontrados no hiperparatireoidismo, na intoxicação
pelo chumbo e na alimentação parenteral. Observa-se discreta redução do fósforo
sérico no último trimestre de gravidez.

GLICOSE
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação da glicose em amostras de sangue é útil na avaliação do metabolismo
de carboidratos. Sua determinação em líquidos biológicos auxilia na distinção entre
processos inflamatórios e infecciosos.
PRINCÍPIO
A glicose oxidase catalisa a oxidação da Glicose de acordo com a seguinte reação:

Glicose + O2 + H2O Ácido Glucônico + H2O2

O peróxido de hidrogênio formado reage com 4-aminoantipirina e fenol, sob ação


catalisadora da peroxidase, através de uma reação oxidativa de acoplamento,
formando uma antipirilquinonimina vermelha cuja intensidade de cor é proporcional à
concentração da glicose na amostra.

2H2O2 + 4-Aminoantipirina + fenol Antipirilquinonimina + 4H2O


AMOSTRA
Preparo do paciente
Glicemia de jejum: recomenda-se jejum mínimo de 8 horas.
PROCEDIMENTO
Procedimento manual
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Branco Teste Padrão
Amostra ----- 0,01 mL -----
Padrão (nº 2) ----- ----- 0,01 mL
Reagente 1 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL

2. Misturar vigorosamente e colocar em banho-maria a 37 ºC durante 15 minutos. O


nível da água no banho deve ser superior ao nível dos reagentes nos tubos de
ensaio.
3. Determinar as absorbâncias do teste e padrão em 505 nm ou filtro verde (490 a
540 nm), acertando o zero com o branco. A cor é estável por 60 minutos.
CÁLCULOS
Absorbância do teste

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Glicose (mg/dL) = x 100


Absorbância do padrão

Valores de referência
Plasma: (jejum de 8 horas):
70 a 99 mg/dL – Glicemia de jejum normal
100 a 125 mg/dL – Glicemia de jejum alterada maior ou igual a 126 mg/dL – Provável
Diabetes Mellitus
SIGNIFICADO CLÍNICO
Valores elevados de glicose ocorrem nos vários tipos de diabetes primárias, nos
estados de intolerância à glicose e nas diabetes secundárias a várias doenças.
Valores diminuídos de glicose ocorrem nas hipoglicemias devido a várias causas.
Quando a ocorrência de sintomas de hipoglicemia é relacionada à alimentação, duas
formas de hipoglicemia podem ser definidas: hipoglicemia do jejum e pós-prandial. As
causas mais comuns de hipoglicemia do jejum são: (1) hiperinsulinismo endógeno
(insulinoma e sulfonilurea), (2) hiperinsulinismo exógeno (factício), (3) tumores
extrapancreáticos, (4) síndrome auto-imune (formação espontânea de anticorpos para
receptores da insulina), (5) insuficiência supra-renal e ou hipofisária, (6) doença
hepática grave e (7) alcoolismo. A hipoglicemia pós-prandial, dependendo da história
clínica e da resposta ao teste oral de tolerância à glicose, é classificada em (1)
hipoglicemia alimentar, (2) hipoglicemia ao diabético tipo II e do paciente com
intolerância à glicose e (3) hipoglicemia funcional ou reativa.

FRUTOSAMINA
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação da frutosamina (proteína glicada) em amostras de sangue é útil no
controle do diabetes.
PRINCÍPIO
A glicose se liga aos grupamentos amina das proteínas formando uma base de Schiff
(aldimina), que após um rearranjo molecular, transforma-se em uma cetoamina
estável denominada genericamente frutosamina.
Em pH alcalino a frutosamina é convertida à forma enólica, que reduz o azul de
nitrotetrazólio a um "formazan púrpura”. A medida da diferença de absorbância, após
incubação aos 10 e 15 minutos, é proporcional à concentração de frutosamina na
amostra. A calibração do sistema é realizada com calibrador de matriz bovina,
calibrado com polilisina glicada. Os resultados são expressos em micromoles/litro
(µmol/L).
AMOSTRA
Recomenda-se jejum mínimo de 8 horas.
PROCEDIMENTO
Rotular 2 cubetas do fotômetro como “Teste” e “Calibrador” e proceder como a seguir:
TESTE CALIBRADOR
Reagente de Trabalho 1,0 mL 1,0 mL
Incubar a 37 ºC durante 2 minutos.
Amostra 0,050 mL
Calibrador 0,050 mL
Misturar bem e incubar a 37 ºC. Após exatamente 10 minutos (cronometrados)
determinar as absorbâncias (A1) do teste e do calibrador em 530 nm (510 – 550),

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acertando o zero com água destilada ou deionizada. Continuar a incubação a 37 ºC por


mais exatamente 5 minutos (cronometrados) e determinar as absorbâncias (A 2) do
teste e do calibrador em 530 nm (510 – 550), acertando o zero com água destilada.
CÁLCULOS
Calcular as diferenças de absorbâncias para o teste e o calibrador: A = A2 - A1
A do teste
Frutosamina (µmol/L) = x Concentração do calibrador
A do Calibradorg/dl
Valores de referência
Para indivíduos não diabéticos: 205 a 285mol/L.
SIGNIFICADO CLÍNICO
A frutosamina é o nome genérico dado a todas as proteínas glicadas, das quais a maior
parcela é devida à albumina, que se constitui na maior massa protéica plasmática
depois da hemoglobina.
Assim como a formação da hemoglobina glicada é decorrente de uma modificação não
enzimática, dependente dos valores de glicemia, o mesmo ocorre com a glicosilação de
outras proteínas plasmáticas.
A meia vida das proteínas varia entre 1 a 3 semanas, ao contrário da hemoglobina cuja
meia vida é de 120 dias. Portanto, é de se esperar que, enquanto o valor da
hemoglobina glicada reflete o controle de glicemia nos 2 meses anteriores ao teste, a
proteína glicada espelha as concentrações de glicose plasmática nos 20 dias anteriores.
Assim, a frutosamina está elevada em todos os casos de diabetes sob controle
metabólico inadequado.
Quando se observa perda do controle glicêmico, a resposta da frutosamina, com
elevação de valores, ocorre praticamente concomitante a hiperglicemia, retornando
entretanto aos valores de referência, 3 semanas após a resposta ao tratamento.
O teste não sofre interferências de medicamentos, alimentação, glicemia do momento
e não se observa diferença significativa entre homens e mulheres.
Valores diminuídos têm sido observados em pacientes com perdas elevadas de
albumina ou em doenças que aumentam o catabolismo protéico.

TRIGLICÉRIDES LIQUIFORM
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação dos Triglicérides em amostras de sangue é empregada na abordagem
laboratorial das hiperlipidemias.
PRINCÍPIO
Os Triglicérides são determinados de acordo com as seguintes reações:
Lipase da
lipoproteína
Triglicérides Glicerol + Ácidos Graxos
Glicerolquinase
Glicerol + ATP Glicerol-3-Fosfato + ADP
+2
Mg

Glicerol-3-fosfato
Glicerol-3-Fosfato + O2 Dihidroxiacetona + H2O2
Oxidase

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Peroxidase
2 H2O2 + 4 Aminoantipirina + 4-Clorofenol Quinoneimina + 4 H2O

A intensidade da cor vermelha formada é diretamente proporcional à concentração dos


Triglicérides na amostra.
Preparo do paciente
O paciente deve estar com peso e dieta estáveis por três semanas e em jejum de 12 a
14 horas (O jejum não é imprescindível para a dosagem de Colesterol total, mas o é
para a determinação dos Triglicérides e frações do Colesterol). A abstinência alcoólica
é desejável nas 72 horas que antecedem o teste. Obter a amostra com o paciente
assentado. O torniquete não deve ser mantido por tempo maior que um minuto e
deve-se obter a amostra de sangue após liberar o torniquete.
Tipos de amostra
Usar soro ou plasma com EDTA. O analito é estável por dois dias entre 2 - 8 ºC.
Armazenamento prolongado da amostra não é recomendado, porque várias
substâncias podem ser hidrolizadas liberando glicerol, levando à obtenção de
resultados falsamente elevados.
PROCEDIMENTO
Procedimento manual
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Branco Teste Padrão
Amostra ----- 0,01 mL -----
Padrão (nº 2) ----- ----- 0,01 mL
Reagente 1 (nº 1) 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL
2. Misturar e colocar no banho-maria 37 ºC por 10 minutos. O nível da água no banho
deve ser superior ao nível do reagente nos tubos de ensaio.
3. Determinar as absorbâncias do teste e padrão em 505 nm ou filtro verde (490 a
520 nm) acertando o zero com o branco. A cor é estável por 60 minutos.
CÁLCULOS
Absorbância do teste
Triglicérides (mg/dL) = x 200
Absorbância do padrãog/dl = g/
Valores desejáveis ou recomendados
Triglicérides (mg/dL)
Desejável < 150
Limiar Alto 150 - 199
Elevado 200 - 499
Muito Elevado > 500
SIGNIFICADO CLÍNICO
As causas de elevação dos triglicérides são as várias doenças de lípides chamadas
hiperlipidemias ou hiperlipoproteínemias. Nestas, sejam de causa primária ou
secundária, ocorre elevação dos triglicérides nos tipos I, IIb, III, IV e V.
As hiperlipidemias podem estar associadas a doença cardiovascular e ocorrem
comumente no diabetes, alcoolismo, pancreatite, doença do armazenamento do
glicogênio, síndrome nefrótica, hipotireoidismo, gravidez, uso de anticoncepcionais e
mieloma múltiplo entre outras doenças.

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Várias mulheres em uso de estrógenos ou contraceptivos orais apresentam aumento


nos níveis de triglicérides. Hipertrigliceremia também encontra-se associada ao uso de
diuréticos tiazídicos e bloqueadores beta-adrenérgicos.

COLESTEROL LIQUIFORM
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação do colesterol em amostras de sangue é útil na investigação das
dislipidemias e faz parte da avaliação do risco de doença coronariana isquêmica.
PRINCÍPIO
O colesterol total é determinado de acordo com as seguintes reações:
Colesterol
Ésteres de colesterol Colesterol + Ácidos graxos
Esterase

Colesterol
Colesterol + O2 Colest-4-en-ona + H2O2
Oxidase
Peroxidase
2H2O2 + Fenol + 4-Aminoantipirina Antipirilquinonimina + 4H2O

A intensidade da cor vermelha formada é diretamente proporcional à concentração de


colesterol na amostra.
PROCEDIMENTO
Procedimento manual
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Branco Teste Padrão
Amostra ----- 0,01 mL -----
Padrão (nº 2) ----- ----- 0,01 mL
Reagente 1 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL

2. Misturar e colocar em banho-maria 37 ºC 10 minutos. O nível de água no banho


deve ser superior ao nível de reagentes nos tubos de ensaio.
3. Determinar as absorbâncias do teste e padrão em 500 nm ou filtro verde (490 a
510 nm), acertando o zero com o branco. A cor é estável por 60 minutos.
CÁLCULOS
Absorbância do teste
Colesterol mg/dL = x 200
Absorbância do padrão
L= g/dL
Valores desejáveis ou recomendados

Colesterol (mg/dL)
Desejável  200
Risco moderado 200 - 239
Alto risco  240
SIGNIFICADO CLÍNICO

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O grande dilema da aterosclerose é que ela é um processo silente. Está ativa em todos
os indivíduos e permanece sem qualquer manifestação por décadas e, subitamente se
manifesta através de dor torácica, infarto agudo do miocárdio ou morte súbita.
Valores aumentados de colesterol são encontrados na nefrose, hipotireoidismo,
doenças colestáticas do fígado e nas hiperlipoproteinemias dos tipos IIa, IIb e III.
Níveis diminuídos são encontrados no hipertireoidismo, doenças consuptivas,
desnutrição crônica, anemia sideroblástica e talassemia. Doenças hepáticas graves
podem reduzir drasticamente os níveis de colesterol.

COLESTEROL HDL
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação do colesterol ligado às lipoproteínas é útil na investigação das
dislipidemias e faz parte da avaliação do risco de doença coronariana isquêmica.
PRINCÍPIO
As lipoproteínas de muita baixa densidade (VLDL) e as lipoproteínas de baixa
densidade (LDL) são quantitativamente precipitadas e, após centrifugação, o colesterol
ligado às lipoproteínas de alta densidade (Colesterol HDL) é determinado no
sobrenadante.
PROCEDIMENTO
Procedimento manual - Precipitação das VLDL e LDL
1. Em um tubo 12 x 75 colocar:
Soro 0,25 mL
Precipitante 0,25 mL
2. Agitar vigorosamente durante 30 segundos. A agitação sugerida é fundamental
para obtenção de resultados consistentes.
3. Centrifugar a 3.500 rpm por pelo menos 15 minutos para obter um sobrenadante
límpido.
4. Pipetar o sobrenadante límpido imediatamente após a centrifugação, tomando o
cuidado para não ressuspender o precipitado, a fim de evitar resultados
falsamente elevados.
Procedimento manual - Dosagem do colesterol HDL
Utilizar com o Reagente 1 - Colesterol Liquiform Labtest Cat. 76.
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Branco Teste Padrão
Sobrenadante ----- 0,1 mL -----
Padrão (nº 2) ----- ----- 0,1 mL
Reagente 1 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL
2. Misturar e colocar no banho-maria a 37 ºC durante 10 minutos. O nível da água no
banho deve ser superior ao nível do reagente nos tubos de ensaio.
3. Determinar as absorbâncias do teste e padrão em 500 nm ou filtro verde (490 a
540 nm) acertando o zero com o branco. A cor é estável por 60 minutos.
CÁLCULOS
Devido a diluição 1:2 aplicada às amostras durante o procedimento de precipitação
das VLDL e LDL, o valor do Padrão para cálculo dos resultados deve ser corrigido para
40 mg/dL.
Absorbância do teste
HDL mg/dL = x 40

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Absorbância do padrão

Cálculo da concentração do Colesterol VLDL e LDL


A concentração do Colesterol VLDL e LDL pode ser calculada utilizando a equação de
Friedewald, que é exata para amostras cujas concentrações de triglicérides não
ultrapassem 400 mg/dL e não pertençam a pacientes portadores de lipoproteinemia
do Tipo III.
Equação de Friedewald:
Colesterol VLDL = Triglicérides / 5
Colesterol LDL = Colesterol Total - (HDL + VLDL)
Valores desejáveis ou recomendados
mg/dL Desejável Risco moderado Alto risco
Colesterol LDL  130 130 – 159  160
Colesterol total  200 200 – 239  240
Colesterol HDL (m)  55 35 - 55  35
Colesterol HDL (f)  65 45 - 65 < 45
SIGNIFICADO CLÍNICO
O colesterol circulante nos seres humanos encontra-se distribuído entre as três
maiores classes de lipoproteínas: as Lipoproteínas de Baixa Densidade (LDL) as
Lipoproteínas de Densidade Muito Baixa (VLDL), e as Lipoproteínas de Alta Densidade
(HDL). Quantidades menores de colesterol estão presentes nas Lipoproteínas de
Densidade Intermediária (IDL) e na Lipoproteína-a (Lp-a).
A determinação da concentração sérica do Colesterol da Lipoproteína de Alta
Densidade (HDL-C) constitui parte integrante da avaliação laboratorial do metabolismo
lipídico e tem sido utilizada para estimar o risco de desenvolvimento de Doença
Arterial Coronariana (DAC).
As concentrações do Colesterol Total e do Colesterol HDL dependem de metabolismos
distintos e não se deve fazer qualquer tentativa de buscar correlação entre seus níveis
de concentração.

PROTEÍNAS TOTAIS
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação das proteínas totais em amostras de sangue e outros líquidos
biológicos é útil para avaliar o estado nutricional e as alterações protéicas nas doenças.
PRINCÍPIO
Os íons cobre (Cu+2) em meio alcalino (Reagente de Biureto) reagem com as ligações
peptídicas das proteínas séricas formando cor púrpura, que tem absorbância máxima
em 545 nm, proporcional à concentração das proteínas na amostra.
PROCEDIMENTO
Procedimento manual
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:

Branco Teste Padrão


Amostra ----- 0,02 mL -----
Padrão (nº 2) ----- ----- 0,02 mL
Água destilada ou deionizada 0,02 mL ----- -----
Biureto de Uso 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL

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2. Misturar e incubar a 37 °C durante 10 minutos.


3. Determinar as absorbâncias do teste e do padrão em 545 nm (530 a 550 nm),
acertando o zero com o branco. A cor é estável durante 1 hora.
CÁLCULOS
Absorbância do teste
Proteínas (g/dL) = x4
Absorbância do padrãog/dl = g/dl
Valores de referência
Soro: 6,0 a 8,0 g/dL.
SIGNIFICADO CLÍNICO
A dosagem isolada da proteína total tem pouco valor, porque a alteração em uma das
frações pode ser compensada por alteração oposta de outra fração, como ocorre nas
doenças crônicas em que há diminuição de albumina com aumento de gamaglobulina.
Ocorrência similar pode ser observada em respostas de fase aguda, tais como
infecções ou traumas, ocasião em que muitas proteínas plasmáticas produzidas no
fígado aumentam sua concentração, enquanto a albumina se reduz, mantendo a
concentração protéica total praticamente inalterada.
As proteínas estão aumentadas em algumas neoplasias, especialmente em mieloma
múltiplo; na macroglobulinemia; doenças autoimunes, como artrite reumatóide e
lupus eritematoso sistêmico; doenças granulomatosas como a sarcoidose,
leishmaniose visceral; endocardite bacteriana sub-aguda e linfogranuloma; em alguns
casos de doença hepática crônica, como hepatite autoimune e na desidratação.
As proteínas estão diminuídas na gravidez; hiperhidratação, desnutrição grave, cirrose
e outras doenças hepáticas, incluindo alcoolismo crônico; imobilização prolongada;
insuficiência cardíaca; nefrose e insuficiência renal; hipertireoidismo; deficiência de
cálcio e vitamina D e na síndrome de má absorção.
A dosagem de proteína no líquido sinovial tem sensibilidade de 52% e especificidade
de 56% nas doenças inflamatórias. A determinação da concentração de proteínas no
líquido pleural é de pouco valor, exceto quando combinada com outros parâmetros
que permitam fazer a diferença entre exsudato e transudato. Em 15 a 20% dos
indivíduos com hepatopatias acompanhadas de ascite, a concentração de proteína no
líquido ascítico é superior a 2,5 g/dL. Nos pacientes com ascite de etiologia neoplásica,
as concentrações de proteínas são menores que 2,5 g/dL.

ALBUMINA
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação da albumina em amostras de sangue é útil na avaliação do estado
nutricional, das funções hepática e renal e na avaliação de doenças crônicas.
PRINCÍPIO
A albumina interage com o verde de bromocresol tamponado e, devido ao erro
protéico dos indicadores, ocorre formação de cor verde, proporcional à concentração
da albumina na amostra. O verde de bromocresol possui especificidade para albumina
e não sofre interferência de valores elevados de bilirrubina e hemoglobina, permitindo
também que as interferências de valores elevados de triglicérides possa ser corrigida
utilizando o branco de amostra.
AMOSTRA
Preparo do paciente

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Recomenda-se jejum mínimo de 8 horas.


PROCEDIMENTO
Procedimento manual
1. Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:

Branco Teste Padrão


Reagente de Cor (nº 1) 1,0 mL 1,0 mL 1,0 mL
Soro ----- 0,01 mL -----
Padrão (nº 2) ----- ----- 0,01 mL

2. Misturar e após 2 minutos, no máximo 10 minutos, determinar as absorbâncias do


teste e padrão em 630 nm ou filtro vermelho (600 a 640 nm), acertando o zero
com o branco.
CÁLCULO
Absorbância do teste
Albumina (g/dL) = x 3,8 g/dl
Absorbância do padrão
SIGNIFICADO CLÍNICO
A albumina é a proteína mais importante do plasma humano, representando 40 a 60%
do total de proteína. Os níveis plasmáticos de albumina, devido à sua relação com o
aporte de proteína e à produção no fígado, são frequentemente usados como
parâmetro para avaliação do estado nutricional e função hepática.
Diminuições da albumina ocorrem na cirrose e outras doenças hepáticas, incluindo o
alcoolismo crônico; na gravidez e associado ao uso de contraceptivos orais; em muitas
doenças crônicas, incluindo as neoplasias, síndrome nefrótica, enteropatias com perda
protéica (doença de Crohn, colite ulcerativa), doenças inflamatórias, como as doenças
autoimunes, imobilização prolongada, falência cardíaca e outros estados catabólicos
crônicos.
Elevação da albumina sérica é encontrada somente na desidratação.

FOSFATASE ALCALINA
INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação da fosfatase alcalina em amostras de sangue é útil na avaliação de
doenças hepáticas e ósseas.
PRINCÍPIO
A fosfatase alcalina do soro hidrolisa a timolftaleína monofosfato liberando
timolftaleína, que tem cor azul em meio alcalino. A cor formada, diretamente
proporcional a atividade enzimática, é medida em 590 nm. O produto final da reação
se constitui de uma mistura de cor azul e a cor própria do substrato.
PROCEDIMENTO
Procedimento manual
Tomar 3 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Branco Teste Padrão
Substrato (nº 1) 0,05 mL 0,05 mL 0,05 mL
Tampão (nº 2) 0,5 mL 0,5 mL 0,5 mL

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Padrão (nº4) ----- ----- 0,05 mL


1. Colocar em banho-maria a 37 ºC 2 minutos. O nível da água no banho deve ser
superior ao nível dos reagentes nos tubos de ensaio.
Amostra ----- 0,05 mL ----
2. Misturar e incubar em banho-maria a 37 ºC por EXATAMENTE 10 minutos.
Reagente de Cor (nº 3) 2,0 mL 2,0 mL 2,0 mL
3. Misturar e determinar as absorbâncias do teste e padrão em 590 nm ou filtro
laranja (580 a 590 nm), acertando o zero com o branco. A cor é estável 120
minutos.
CÁLCULOS
Absorbância do teste
Fosfatase Alcalina (U/L) = x 45
Absorbância do padrão
Valores de referência
Adultos: 13 a 43 U/L.
Crianças até 12 anos: 56 a 156 U/L.
SIGNIFICADO CLÍNICO
A fosfatase alcalina é produzida por muitos tecidos, principalmente pelos ossos, fígado,
intestinos e placenta e é excretada pela bile. A dosagem sérica desta enzima é
particularmente útil na investigação das doenças hepatobiliares e ósseas.
Níveis elevados de fosfatase alcalina ocorrem em pacientes com doenças ósseas
caracterizadas por aumento da atividade osteoblástica como a osteite deformante,
raquitismo, osteomalácia, hiperparatireoidismo, metástase óssea, sarcoma
osteogênico e doença de Paget.
Níveis elevados de fosfatase alcalina ocorrem também em pacientes com doenças
obstrutivas das vias biliares, metástases hepáticas, doenças granulomatosas e na
cirrose hepática. Nas doenças hepatocelulares como a hepatite aguda viral, em geral
ocorre um ligeiro aumento da enzima.
Níveis diminuídos da fosfatase alcalina são encontrados na desnutrição crônica, na
hipofosfatasemia e, ocasionalmente, no hipotireopidismo e anemia perniciosa.

TRANSAMINASE PIRÚVICA
A determinação da alanina aminotransferase ou transaminase glutâmico pirúvica
(ALT/GPT) em amostras de sangue é útil na avaliação da função hepática, sendo mais
sensível na detecção de lesão hepatocelular que de obstrução biliar.
PRINCÍPIO
A transaminase pirúvica promove a transferência de grupamentos amina de alfa
aminoácidos para alfacetoácidos.
GPT
L- Alanina + Alfacetoglutarato Glutamato + Piruvato
O piruvato formado é medido através da formação de hidrazona que tem intensa cor
em meio alcalino.

NaOH de Uso:Transferir quantitativamente o conteúdo do frasco nº 3 (20 mL) para um


balão volumétrico de 500 mL, completar até a marca com água destilada ou deionizada
livre de CO2 e homogeneizar. Estável 12 meses em recipiente de plástico, entre 15 – 25
ºC.

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***CURVA DE CALIBRAÇÃO
Como o sistema de medida (Reitman-Frankel-U/mL) não é proporcional à atividade
enzimática, é impossível utilizar o método do fator para cálculo, sendo necessário a
preparação de Curva de Calibração.
Tomar 5 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Tubo nº 1 2 3 4 5
mL mL mL mL mL
Padrão (nº 4) ----- 0,1 0,2 0,3 0,4
TGP substrato (nº 1) 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6
Água destilada ou 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
deionizada
Reagente de cor (nº 2) 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
Misturar e deixar na temperatura ambiente 20 minutos.
NaOH de Uso 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0
Misturar e deixar na temperatura ambiente 5 minutos. Determinar as absorbâncias ou
T% em 505 nm ou filtro verde (490 a 540), acertando o zero com água destilada. A cor
é estável 60 minutos.
***TRAÇADO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO
Traçar a Curva de Calibração correlacionando as leituras obtidas com os valores em
Unidades/mL, expressos na tabela abaixo, utilizando papel linear (para absorbâncias)
ou monolog (para T%).
Tubo nº 1 2 3 4 5
TGP (Unidades/mL) zero 28 57 97 150
PROCEDIMENTO
Procedimento manual
Tomar 1 tubo de ensaio e proceder como a seguir:
Teste
TGP substrato (nº 1) 0,25 mL
4. Colocar em banho-maria a 37 ºC 2 minutos. O nível da água no banho deve ser
superior ao nível dos reagentes nos tubos de ensaio.
Amostra 0,05 mL
5. Misturar e incubar em banho-maria a 37 ºC exatamente 30 minutos.
Reagente de cor (nº 2) 0,25 mL
6. Misturar e deixar na temperatura ambiente 20 minutos.
NaOH de Uso 2,5 mL
7. Misturar e esperar 5 minutos. Determinar as absorbâncias ou T% em 505 nm ou
filtro verde (490 a 540), acertando o zero com água destilada. A cor é estável 60
minutos. Obter o valor de TGP usando a Curva de Calibração.
Valores de referência
4 a 32 Unidades/mL
Os níveis na infância são discretamente superiores àqueles encontrados em adultos.
SIGNIFICADO CLÍNICO
Elevações das transaminases ocorrem nas hepatites (viral e tóxica), na mononucleose,
cirrose, colestase, carcinoma hepático primário ou metastático, pancreatite,
traumatismo extenso e no choque prolongado. Valores de ALT são iguais ou superiores

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aos de AST na maioria dos pacientes com hepatite viral, icterícia pós-hepática ou
colestase intra-hepática. Nos casos de cirrose hepática, hepatite alcóolica ou
carcinoma metastático, os valores de ALT são inferiores aos de AST.
No infarto agudo do miocárdio, os valores de ALT encontram-se dentro da faixa de
referência ou ligeiramente aumentados. Elevações da ALT também são relatadas na
polimiosite, dermatomiosite e rabdomiólise.

TRANSAMINASE OXALACÉTICA (AST/GOT)


INDICAÇÃO MÉDICA DO EXAME
A determinação da aspartato aminotransferase ou transaminase glutâmico oxalacética
(AST/GOT) em amostras de sangue é útil na avaliação da função hepática.
PRINCÍPIO
A transaminase oxalacética promove a transferência de grupamentos amina de alfa
aminoácidos para alfacetoácidos.
TGO
L-Aspartato + Alfacetoglutarato - Glutamato + Oxalacetato

O oxalacetato formado é medido através da formação de hidrazona, que tem


intensa cor em meio alcalino.
NaOH de Uso:
Transferir quantitativamente o conteúdo do frasco nº 3 (20 mL) para um balão
volumétrico de 500 mL, completar até a marca com água destilada ou deionizada livre
de CO2 e homogeneizar. Estável 12 meses em recipiente de plástico, entre 15 – 25 ºC.
***CURVA DE CALIBRAÇÃO
Como o sistema de medida (Reitman-Frankel-U/mL) não é proporcional à atividade
enzimática, é impossível utilizar o método do fator para cálculo, sendo necessário a
preparação de Curva de Calibração.
Tomar 5 tubos de ensaio e proceder como a seguir:
Tubo nº 1 2 3 4 5
mL mL mL mL mL
Padrão (nº 4) ----- 0,1 0,2 0,3 0,4
TGO substrato (nº 1) 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6
Água destilada ou 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
deionizada
Reagente de Cor (nº 2) 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
Misturar e deixar na temperatura ambiente 20 minutos.
NaOH de uso 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0
Misturar e deixar na temperatura ambiente 5 minutos. Determinar as absorbâncias ou
T% em 505 nm ou filtro verde (490 a 540), acertando o zero com água destilada. A cor
é estável 60 minutos.
***TRAÇADO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO
Traçar a Curva de Calibração correlacionando as leituras obtidas com os valores em
Unidades/mL, expressos na tabela abaixo, utilizando papel linear (para absorbâncias)
ou monolog (para T%).
Tubo nº 1 2 3 4 5
TGO (Unidades/mL) zero 24 61 114 190

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PROCEDIMENTO
Procedimento manual
8. Tomar 1 tubo de ensaio e proceder como a seguir:
Teste
TGO Substrato (nº 1) 0,25 mL
9. Colocar em banho-maria a 37 ºC 2 minutos. O nível da água no banho deve ser
superior ao nível dos reagentes nos tubos de ensaio.
Amostra 0,05 mL
10. Misturar e incubar em banho-maria a 37 ºC exatamente 60 minutos.
Reagente de Cor (nº 2) 0,25 mL
11. Misturar e deixar na temperatura ambiente 20 minutos.
NaOH de Uso 2,5 mL
12. Misturar e esperar 5 minutos. Determinar as absorbâncias ou T% em 505 nm ou
filtro verde (490 a 540), acertando o zero com água destilada. A cor é estável 60
minutos. Obter o valor de TGO usando a curva de calibração.
Valores de referência
Soro: 4 a 36 Unidades/mL
Os níveis na infância são duas a três vezes superiores àqueles encontrados nos adultos.
SIGNIFICADO CLÍNICO
Elevações das transaminases ocorrem nas hepatites (viral e tóxica), na mononucleose,
cirrose, colestase, carcinoma hepático primário ou metastático, pancreatite,
traumatismo extenso e no choque prolongado. Nas hepatopatias agudas geralmente o
valor da transaminase pirúvica (ALT) excede o da oxalacética (AST).
A AST está quase sempre elevada após o infarto agudo do miocárdio. Esta começa a se
elevar 6 a 12 horas após a dor precordial, alcançando o pico máximo entre 24 a 48
horas, retornando aos valores de referência após o 5º ou 6º dia. Deve-se ressaltar que
a sensibilidade e especificidade da dosagem de AST no diagnóstico do infarto agudo do
miocárdio são baixas, tornando a determinação desta enzima a menos indicada para
este diagnóstico.
A uremia encontra-se associada à queda da AST.
Elevações significativas da atividade da AST no líquor têm sido observadas em
pacientes com acidentes cerebrovasculares. Se o nível sérico da enzima encontra-se
também elevado, trata-se, provavelmente, de dano maciço ao parênquima cerebral.
Neoplasias envolvendo o cérebro e a medula espinhal são acompanhadas de vários
graus de elevação na atividade da AST no líquor. Nos indivíduos com meningite
bacteriana têm-se, usualmente, valores dentro da faixa de referência.
Várias drogas comumente usadas encontram-se relacionadas ao aumento da AST:
izaniazida, fenotiazinas, eritromicina, progesterona, esteróides, opiácidos,
indometacina, halotano, metildopa, aspirina em crianças, dentre outras.

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REFERÊNCIAS:
STRASINGER, S.K. 2009. Urinálise e Fluidos Corporais. 5ªed. São Paulo: Editoria Livraria
Média Paulista.
MOTTA, V.T. 2003. Bioquímica Clínica – Princípios e Interpretação. 4ªed. Porto Alegre:
Editora Médica Miassau.
HENRY, J. B. 1999. Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos laboratoriais. São
Paulo, SP: Editora Manole
LABTEST – Bulas – www.labtest.com.br

Bioquímica Clínica e Uroanálise – Manual de aulas práticas – Professora: Minéia Weber Blattes 1º/2012

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