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TERMOS INICIAIS

Entraremos agora no estudo de como se dará a contagem dos prazos


prescricionais, em especial os marcos iniciais. Vejamos o que traz a redação
dos arts. 111, 112 e 113 do Código Penal:

Termo inicial da prescrição antes de transitar em


julgado a sentença final
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado
a sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a
atividade criminosa;
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou
a permanência;
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou
alteração de assentamento do registro civil, da data
em que o fato se tornou conhecido.
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças
e adolescentes, previstos neste Código ou em
legislação especial, da data em que a vítima
completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo
já houver sido proposta a ação penal.
Termo inicial da prescrição após a sentença
condenatória irrecorrível
Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a
prescrição começa a correr:
I - do dia em que transita em julgado a sentença
condenatória, para a acusação, ou a que revoga a
suspensão condicional da pena ou o livramento
condicional;
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo
quando o tempo da interrupção deva computar-se na
pena.
A) art. 111, inciso I.

Vemos que a regra para delinear os prazos é a data em que se consumou o


crime. Vejamos o que diz Fernando Capez1:

Observe que o Código Penal adotou a teoria do


resultado, para o começo do prazo prescricional,
embora, em seu art. 4º, considere que o crime é
praticado no momento da ação ou da omissão.
Ainda que outro seja o do resultado (teoria da
atividade). Assim, o crime ocorre no momento em
que se dá a ação ou omissão (teoria da atividade),
mas, paradoxalmente, a prescrição só começa a
correr a partir da sua consumação (teoria do
resultado).

B) art. 111, inciso II.

O segundo inciso diz respeito à prática de crimes tentados onde se traz como
marco inicial o dia em que cessou a atividade criminosa, ou seja, no dia em que
foi praticado o último ato de execução.

C) art. 111, inciso III.

Importante destacar o conceito de crimes permanentes. Para isso, trago as


palavras de Cleber Masson2:

Crimes permanentes são aqueles que a


consumação se prolonga no tempo, por vontade do
agente. É o caso do crime de extorsão mediante
sequestro (CP, art. 159), no qual a situação ilícita se
arrasta enquanto a vítima é mantida privada da sua
liberdade. Nesses Delitos, enquanto não encerrada
a permanência, é dizer, enquanto não cessada a
consumação, não se inicia o trâmite do prazo
prescricional.
1
Capez, Fernando. Curso de direito penal, volume 1, parte geral: (arts. 1º a 120)/ Fernando Capez – 16
ed. - São Paulo: Saraiva, 2012. p. 625.
2
Masson, Cleber. Direito Penal esquematizado – Parte Geral – vol. 1/ Cleber Masson.- 8ª ed. rev.,
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. p. 947
Nesse sentido, vemos que a contagem do prazo prescricional relativo aos
delitos permanentes se dará com a cessação da permanência.

D) art. 111, inciso IV.

Nesses crimes, a contagem do prazo se dá a partir do fato em que o fato se


torna conhecido. Tal conhecimento refere-se à quem tem competência para
apurar o crime. Vejamos o que diz Cleber Masson 3:

O conhecimento do fato, exigido pela lei, refere-se à


autoridade pública que tenha poderes para apurar,
processar ou punir o responsável pelo delito, aí se
incluindo o Delegado de Polícia, o membro do
Ministério Público e o órgão do Poder Judiciário.

E) art. 111, inciso V.

O inciso V traz a hipótese de quando se tratar de crimes sexuais contra a


dignidade de crianças e adolescentes. Nesses crimes, a prescrição começará a
correr da data em que a vítima alcançar 18 (dezoito) anos. Porém, se a ação
penal já estiver regularmente instaurada, contar-se-á da data do recebimento
da denúncia.

Resta salientar que tal inciso foi incluído pela “Lei Joanna Maranhão 4”
(12.650/12). Vejamos o que diz Fernando de Almeida Pedroso 5:

“Como se sabe, abusos sexuais em crianças e


adolescentes são tristes memórias que jamais se
apagam. Os traumas psicológicos nunca são
superados. Independentemente do decurso do
tempo, as vidas das vítimas ficam eternamente
marcadas por frestas instaladas no porão das
lembranças horríveis de um drama cujo algoz, em
geral, estava dentro da própria casa. Em razão
disso, o termo inicial da prescrição da pretensão
3
Masson, Cleber. Direito Penal esquematizado – Parte Geral – vol. 1/ Cleber Masson.- 8ª ed. rev.,
atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. p. 948
4
Joanna Maranhão é uma nadadora brasileira que foi molestada sexualmente em sua
infância, quando contava com nove anos de idade, pelo seu treinador.
5
Pedroso, Fernando de Almeida. Direito Penal: Parte Geral: doutrina e jurisprudência/ Fernando de
Almeida Pedroso. - 5ª ed. Leme: J. H Mizuno, 2017. p. 737.
punitiva iniciar-se-á na data em que a vítima
completar 18 anos, salvo se esse tempo já houver
sido proposta a ação penal. Ao atingir a maioridade,
a vítima terá plenas condições para manter-se por
conta própria, encerrando a relação de dependência
perante seu agressor ou qualquer outra pessoa que
pretenda blindá-lo com a impunidade. De outro lado,
se ação penal já tiver sido proposta, a prescrição
começará a fluir da data da propositura da denúncia
ou queixa”.

Passamos agora para análise do art. 112 do Código Penal, que traz as
hipóteses do início da contagem do prazo prescricional a partir da sentença
condenatória. Ora, vemos que em sua redação que após o trânsito em julgado
da sentença condenatória, é concretizada uma pena ao réu. Para fins de
contagem do prazo prescricional, considerar-se-á essa pena aplicada.

Por conseguinte, a sentença transitada em julgado é marco interruptivo da


prescrição, ou seja, todo o prazo superado do recebimento da denuncia até a
publicação da sentença ficará para traz, e ali, começará a correr o prazo do
zero.

Outras duas hipóteses de início é a revogação do benefício da Suspensão


Condicional da Pena ou do Livramento Condicional. Uma vez o réu faz jus a
algum dos benefícios e por algum motivo os perde, interrompe-se o prazo
prescricional e o mesmo volta a correr do zero.

Por fim, temos o inciso II, que traz como marco inicial o dia em que se
interrompe a execução da pena, ou seja, se por algum motivo a pena que o reu
está cumprindo for interrompida, teremos a hipótese do art. 112, inc. II do CP,
que, nos seus termos, interrompe-se o prazo prescricional.

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