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Domínio  Oralidade · Compreensão do oral Fichas de trabalho 159

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Problemas ambientais 03 min 00 s

Recursos
Existem três razões pelas quais nos preocupamos com o ambiente: o bem-estar do ser hu-
mano, as gerações futuras e a natureza como detentora de valor intrínseco. A mais comum é
sem dúvida a primeira, quer por causa das repercussões ao nível da saúde e dos recursos, que
nos limitam a qualidade da vida em geral, quer por causa dos impactes que atingem os sistemas
5 produtivos e afetam a economia. É uma razão antropocêntrica e utilitarista, pelo que faz mais
sentido para as nossas sociedades atuais do que as outras duas razões que entram numa dimen-
são ética mais distante da nossa realidade quotidiana. Se a questão das gerações futuras ainda
consegue ser percetível, e consequentemente usada como uma razão sólida, já a invocação do
valor intrínseco da natureza ainda está reservada apenas a uma parte muito ínfima da nossa so-
10 ciedade, entrando numa lógica não antropocêntrica que parece só fazer sentido para pessoas
envolvidas em reflexões éticas sobre a natureza. Mas não deixam de ser, todas elas, razões que
justificam alguma inquietação sobre a maneira como nos relacionamos com o mundo natural.
De qualquer forma, os problemas ambientais são reais e afetam-nos, e é importante estar-
mos conscientes de que quando lidamos com eles se justifica ter uma atitude crítica quanto à
15 maneira como são contextualizados e enquadrados [...].
Os problemas podem ser de ordem científica ou tecnológica, e resolvidos nesse âmbito,
podem ser essencialmente políticos, ou podem ainda ser enquadrados em questões de justiça ou
de ética. Muitas vezes, quando se define um problema seguindo uma determinada narrativa é
muito difícil ver ou aceitar outras perspetivas de análise, o que reduz a amplitude de possíveis
20 respostas, e dá uma responsabilidade acrescida a essa fase de formulação do que, afinal, está
em causa.
Nas últimas décadas têm-se modificado as perspetivas sobre como se olham e resolvem
problemas ambientais. No início dos anos sessenta, os principais problemas ambientais eram a
poluição, o uso intensivo de recursos não renováveis e os seus impactes na natureza e na nossa
25 saúde. As soluções começaram por ser essencialmente de carácter tecnológico e de cariz reativo
[...]. Depois passou-se para a proatividade e prevenção, reconhecendo o ditado popular de que
“mais vale prevenir do que remediar”. Começava assim uma era de tecnologias mais limpas e
estudos de impacte ambiental. [...]. Só numa terceira fase é que se começou a perceber que era
necessária uma análise mais integrada e holística dos problemas ambientais, compreendendo as
30 interações existentes, situando-as no complexo sistema social e económico e estudando as suas
variadas características [...].
OEXP12 DP © Porto Editora

A evolução mais significativa ao longo de todo este processo foi aceitar que um desenvolvi-
mento da ciência ambiental que não reconheça a influência de fatores políticos e sociais desper-
diça a possibilidade de um entendimento integrado das causas dos problemas. E em ambiente é
35 tão importante trabalhar com os problemas como com as suas causas.

VAZ, Sofia Guedes, 2016. Ambiente em Portugal. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos (pp. 21-24)
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