Você está na página 1de 5

19/04/2021 Siseno Sarmento – Wikipédia, a enciclopédia livre

Siseno Sarmento
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Siseno Ramos Sarmento[nota 1] (Manaus, 3 de


junho de 1907 — São Paulo, 16 de novembro de 1983) Siseno Sarmento
foi um militar do Exército Brasileiro, que serviu
na Força Expedicionária Brasileira, atuou como
interventor federal no Amazonas, comandou o II e o I
Exército e encerrou a carreira como Ministro
do Superior Tribunal Militar.[3]

Sarmento teve intensa participação na política do país


e, durante a ditadura militar, foi o responsável pela
criação do DOI-CODI, organismo interno das Forças
Armadas responsável pelo combate aos militantes de
esquerda e pela prática de tortura e assassinatos na
fase mais dura do regime; na sucessão da Junta
Militar em 1969 seu nome chegou a ser cogitado para
a Presidência da República.[3][1]

Índice Sarmento, quando Ministro do STM. (Arquivo


Nacional)
Biografia Nome completo Siseno Ramos Sarmento
Golpe militar de 1964 Nascimento 3 de junho de 1907
Manaus
DOI-CODI
Morte 16 de
Notas novembro de 1983 (76 anos)
São Paulo
Referências
Nacionalidade brasileiro
Progenitores Mãe: Carmen Ramos

Biografia Sarmento
Pai: Otávio Sarmento

Cônjuge Sirlei Vilas Boas Camargo


Filho e neto de militares, seu pai Otávio Sarmento Sarmento
lutou como voluntário na Guerra de Canudos e o avô
Ocupação Militar
se voluntariara para a Guerra do Paraguai; sua mãe
era Carmen Ramos Sarmento.[3] Cargo Interventor do
Amazonas (1946-1947)
Ministro do STM(1971-1977)
Após ter cursado o primário e feito o curso normal no
Colégio Boa Esperança da cidade natal, ali ingressa na Serviço militar
carreira militar no 27º Batalhão de Caçadores, em Serviço Exército Brasileiro
agosto de 1923; no ano seguinte muda-se para a então Anos de serviço 1923-1977
capital do país, Rio de Janeiro, onde cursa a Escola
Militar do Realengo da qual sai em 1928 como Patente General-de-Exército
aspirante a oficial da infantaria, sendo nomeado Comando II e I Exército
segundo-tenente em agosto do mesmo ano.[3] UNEF (1965-1966)
Conflitos Campanha da Itália(II Guerra)
Em 1930, já como primeiro-tenente, participa Guerra do Suez(comando da
do movimento revolucionário que levou ao UNEF)

poder Getúlio Dorneles Vargas; ao lado do novo


governo combateu a Revolução Constitucionalista de 1932 que eclodira em São Paulo[3]

https://pt.wikipedia.org/wiki/Siseno_Sarmento 1/5
19/04/2021 Siseno Sarmento – Wikipédia, a enciclopédia livre

Prossegue na carreira sendo promovido a capitão em fevereiro de 1933 e a major em outubro de 1942,
quando comanda o 21º Batalhão de Caçadores, sediado em Garanhuns.[3]

Durante a II Guerra Mundial Sarmento comanda o 2º Batalhão do 1º Regimento de Infantaria


(chamado "Regimento Sampaio") na Campanha da Itália.[3] Sobre sua participação na FEB o ex-
militante do PCB e ex-combatente Jacob Gorender, jornalista e historiador, declarou em depoimento
se lembrar de: “dois oficiais nazistas vestidos a capricho, uniformizados, se rendendo naquela fase
final da guerra, para o major Sizeno Sarmento, que era comandante de uma unidade da Força
Expedicionária. Eu me lembro desses dois oficiais nazistas claramente o que eles disseram: "Nicht
mehr krieg", Não queremos mais guerra.”[4]

Em junho de 1946 Sarmento foi promovido e se tornou tenente-coronel e em setembro do mesmo ano
o presidente Eurico Gaspar Dutra o nomeou como interventor no Amazonas, em substituição a João
Nogueira da Mata, permanecendo no comando daquele estado até fevereiro de 1947, quando Mata
reassume o governo.[3]

Em maio de 1950 participou da eleição para a diretoria do Clube Militar em chapa que trazia nomes
como Humberto Castelo Branco e José Bina Machado e presidida por Osvaldo Cordeiro de Farias,
cuja principal bandeira era a defesa da participação de capital estrangeiro na exploração do petróleo
brasileiro; foram derrotados pela chapa nacionalista do general Newton Estillac Leal e essa disputa
ilustrava a enorme divisão existente nas Forças Armadas face à questão do monopólio da Petrobras e
ainda sobre o futuro governo de Vargas, mais tarde.[3]

Sarmento era coronel (janeiro de 1952) e lotado na 1ª Divisão de Infantaria no Rio, quando João
Goulart (Jango) foi nomeado em junho do ano seguinte Ministro do Trabalho por Vargas e este toma
medidas em favor dos sindicatos, que haviam sido fechados na ditadura do próprio Vargas; Jango
propusera, então, o aumento de 100% do salário mínimo, então bastante defasado em face da inflação
— o que provocou uma forte reação contrária dos comandantes militares no que ficou conhecido
como Manifesto dos Coronéis, que subscreveu; nele expunham a precariedade das instalações
militares, e argumentavam que a medida - além de elevar o custo de vida - dificultaria o recrutamento
diante do baixo soldo oferecido pelas Armas.[3]

Cursara a Escola Superior de Guerra onde integrou o chamado Grupo Sorbonne, que se opunha às
medidas de Jango; entregue ao então Ministro da Guerra general Ciro do Espírito Santo Cardoso,
uma semana depois o manifesto foi entregue a Getúlio que, assim pressionado, demitiu Goulart; a
despeito disso, o Presidente aprovou o aumento salarial no 1º de maio de 1954, agravando assim a
crise que culminou no seu suicídio, em agosto.[3]

Seu grupo continuou a tramar politicamente e, quando ocorre o impedimento da assunção do vice-
presidente de Vargas, Carlos Luz, tentou impedir a posse do novo presidente eleito, Juscelino
Kubitschek e do vice, João Goulart; contra isto atuou na defesa da legalidade o general Henrique Lott,
do qual Sarmento tornou-se desde então ferrenho inimigo.[1][3]

No biênio 1955-1956 chefiou a 4ª Seção da Zona Militar Leste e dali comandou a 30ª Circunscrição de
Recrutamento em Campo Grande (à época ainda no estado de Mato Grosso) onde permaneceu até
1958; no ano seguinte e até 1961 integrou a assessoria militar da Comissão Mista Brasil-Estados
Unidos, chefiada pelo general Cordeiro de Farias; entre fevereiro e outubro daquele último ano foi
Secretário de Segurança no governo de Carlos Lacerda, no então estado da Guanabara.[3] Sua
nomeação fora feita no contexto da criação do novo estado, onde antes havia o Distrito Federal, e se
deu no contexto das disputas de Lacerda com o governo federal, primeiro de Jânio Quadros e depois
de João Goulart; a fim de diminuir as forças sob comando de Lacerda, Jango adotou medidas como
dar aos policiais militares a opção de continuarem como funcionários federais; foi para agradar Jango
que Lacerda demitiu Sarmento, figura de notórias posições de extrema direita, e nomeou para seu
lugar Segadas Viana.[5]

https://pt.wikipedia.org/wiki/Siseno_Sarmento 2/5
19/04/2021 Siseno Sarmento – Wikipédia, a enciclopédia livre

Em 1960 já havia se tornado General de brigada e, em 1962, comandou a 2ª Brigada Mista e


Guarnição de Corumbá, cargo do qual se afastou em 1964.[3]

Casou-se com Sirlei Vilas Boas Camargo Sarmento, de quem recebeu dois enteados; como não
tiveram filhos naturais, adotaram duas filhas.[3]

Vitimado por câncer, Sarmento morreu em 1983 no Hospital Geral do Exército, em São Paulo; após
ter sido velado na capela daquele nosocômio, seu corpo foi transportado para o Rio de Janeiro, onde
foi sepultado no Cemitério São João Batista.[6]

Golpe militar de 1964


Com a renúncia de Jânio Quadros o seu vice João Goulart assume a presidência; Sarmento foi um dos
militares que mais ativamente planejaram e executaram o Golpe Militar de 1964, levado a cabo a 1º
de abril daquele ano; em julho foi elevado à patente de General de divisão e nomeado para a chefia de
gabinete do general Artur da Costa e Silva, então Ministro da Guerra.[3]

Em janeiro de 1965 se afasta do gabinete ministerial e assume, até maio do ano seguinte, o comando
da Força de Emergência das Nações Unidas destinada a implementar a trégua
entre Israel e Egito na Faixa de Gaza durante a Guerra do Suez, que contava com um contingente
brasileiro.[3]

Foi a seguir diretor-geral do Material Bélico do Exército entre maio de 1966 e abril de 1967; no mês
seguinte tornou-se General de exército e em abril passou a comandar o II Exército em São
Paulo,[7]onde ficou até maio de 1968, quando assume o I Exército no Rio.[3][8]

Neste posto passa a participar ativamente das decisões de governo; tentara conversar com o general
Costa e Silva no sentido de propor a adoção de medidas mais duras face à grande oposição que o
regime vinha sofrendo no meio parlamentar e estudantil, quando já se preparava o AI-5; com a
doença do ditador em agosto de 1969, houve a formação de uma junta de governo com elementos das
três armas e impedimento de o vice Pedro Aleixo assumir o poder — medidas adotadas sem que fosse
consultado, gerando-lhe descontentamento; isto só foi contornado após o chefe do Estado-Maior do
Exército, general Antônio Carlos da Silva Murici comprometer-se a falar-lhe, antes de qualquer
decisão importante de governo.[3] A despeito disso, quando da crise gerada pelo sequestro do
embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick por jovens de grupo de esquerda, sua proposta de
não cumprir as exigências foram ignoradas e foi feita a leitura de um manifesto bem como libertados
vários presos políticos, sendo o embaixador libertado.[3]

Em reuniões da alta cúpula do Exército seu nome foi cogitado para a sucessão da presidência interina
de Augusto Rademaker; em manifesto publicado nos jornais sob a assinatura do general Mário dos
Reis Pereira esta "candidatura" foi defendida; no começo de outubro de 1969 seus partidários
pediram-lhe para declarar vaga a presidência e então assumir o poder, mas Sarmento recusou-se a
fazê-lo; ao fim daquele mês os militares indicaram como novo ditador a Emílio Médici.[3]

Acirradas as condições políticas com a formação de grupos de resistência à ditadura por forças de
esquerda, Sarmento criou o Centro de Operação para a Defesa Interna (CODI), depois denominado
Departamento de Operações Internas (DOI), que ficaram conhecidos como DOI-CODI, e que
marcaram a biografia do general como o mentor dos maus-tratos aos presos políticos; sob seu
comando ocorreu em novembro de 1970 uma das maiores operações militares contra aqueles que
resistiam à ditadura; no ano seguinte, em abril, foi substituído no comando do I Exército pelo
general João Bina Machado.[3]

Foi então nomeado, a 7 de maio de 1971, ministro do STM, onde ficou até sua aposentadoria
compulsória em 1977, havendo proferido diversas decisões sobre cidadãos que haviam sido incursos
na Lei de Segurança Nacional; fora da caserna, Sarmento se filiou à Aliança Renovadora

https://pt.wikipedia.org/wiki/Siseno_Sarmento 3/5
19/04/2021 Siseno Sarmento – Wikipédia, a enciclopédia livre

Nacional(Arena), partido que dava sustentação ao regime, no sistema bipartidário vigente; almejava
tornar-se governador do Rio de Janeiro, chegando a registrar uma chapa para a eleição indireta no
ano seguinte; em agosto de 1978, contudo, desistiu da candidatura e culpou o governador Faria
Lima por seu fracasso; no mesmo ano deu a entender ser favorável à manutenção do AI-5, cuja
eficácia se encerraria em breve.[3]

DOI-CODI
Tendo o comando das forças de repressão do regime militar,
Sarmento foi citado em diversos casos sobre presos políticos,
torturas, mortes e desaparecimentos sob as dependências do
Exército.

Dentre esses casos está o de Joel Vasconcelos dos Santos, nascido


em Nazaré e desaparecido no Rio de Janeiro aos vinte e dois
anos, em 15 de março de 1971; ligado ao PCdoB e diretor
da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas Joel fora Sarmento abre desfile de 7 de
detido junto a suposto traficante e sua mãe, Elza Joana dos setembro em 1970, no Rio. Na foto
Santos, peregrinou por várias instâncias até escrever ao de O Cruzeiro aparece ao fundo
presidente Médici: com isto agentes a levaram até Sarmento que cartaz de Os Girassóis da Rússia.
prometera esclarecer os fatos - embora nada fosse feito
efetivamente; relatos dão conta de que antes de morrer sofrera por mais de um mês intensas torturas,
e seu corpo nunca foi localizado.[2]

Também lapidar foi o caso da prisão de Nelson Luiz Lott, neto de seu adversário Marechal Henrique
Lott; a mãe do jovem, a deputada cassada Edna Lott, passou a constantemente frequentar seu
gabinete e, por já incomodar o governo desde a campanha presidencial, passou a ser seguida por
agentes do regime, vindo finalmente a falecer em 1971 em suposto crime passional; a despeito disso
seu filho recebera um melhor tratamento que os demais, e foi libertado em 1974.[1]

O ex-militar José Mendes de Sá Roriz, que lutara na FEB, ligara-se ao Partido Comunista e, quando
do golpe militar, fora para o exílio mas retornara de modo clandestino em razão de um filho ter sido
vitimado por meningite[nota 2]; a fim de detê-lo, os agentes do regime invadiram sua casa e levaram
preso seu filho Eduardo, cuja libertação dependia de sua rendição; Sá Roriz então se entregou ao seu
antigo comandante na II Guerra, general Cordeiro de Farias, que pessoalmente o apresentou no
gabinete do General Sarmento a 30 de janeiro de 1973; Roriz foi morto nas dependências do DOI-
CODI a 17 de fevereiro; só após pressão da família seu corpo foi liberado para sepultamento e o
atestado de óbito, feito apenas cinco meses depois, não apontava a causa mortis.[2]

O músico e memorialista Sérgio Cabral revelou um outro lado do general, neste período; Cabral fora
preso no final de 1970, junto a outros artistas que faziam parte de O Pasquim como Ziraldo e, três
dias após sua libertação já em 1971, estava a beber num night club carioca junto ao escritor Carlinhos
de Oliveira quando, já pela madrugada, Sarmento entrara no bar; reconhecendo-o como o seu
"carcereiro" Cabral narra que o general sentou-se com eles: "Ele entrou. Foi até o fundo do bar.
Voltou e sentou na nossa mesa sem saber quem nós éramos. Já tínhamos bebido razoavelmente e ele
estava de pilequinho. Em dez minutos estávamos íntimos do general. E mais, sacaneando o general
cantando: 'General, general, é melhor e não faz mal' "[10][nota 3]

Notas
1.
2. A epidemia dessa doença durante a ditadura foi outro episódio em que a população foi mantida
desinformada: graças à censura da imprensa, os jornais não falavam da epidemia.[9]

https://pt.wikipedia.org/wiki/Siseno_Sarmento 4/5
19/04/2021 Siseno Sarmento – Wikipédia, a enciclopédia livre

3. Sérgio Cabral faz referência a famoso "jingle", bastante conhecido à época, do remédio popular
"Melhoral": "Melhoral, Melhoral, é o melhor e não faz mal".[11]

Referências
1. COSTA, Felipe Varzea Lott de Moraes (2016). «Entre dois amores: Ethos familiar e política na
experiência de Edna Lott» (PDF). Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências
Humanas e Filosofia, Departamento de Ciências Sociais. Consultado em 2 de junho de
2018. Cópia arquivada (PDF)em 2 de junho de 2018
2. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (2007). Direito à verdade e à
memória. [S.l.]: Governo Federal. ISBN 978-85-60877-00-3
3. «Verbete biográfico - Siseno Sarmento». CPDOC FGV. Consultado em 3 de junho de
2018. Cópia arquivada em 3 de junho de 2018
4. Edison Veiga; Marcelo Godoy (26 de agosto de 2012). « 'Um companheiro me disse: 'Não vou
morrer mais'. Tínhamos sobrevivido' ». Estadão. Consultado em 5 de junho de 2018. Cópia
arquivada em 10 de abril de 2015
5. Marly Silva da Motta. «Saudades da Guanabara: o campo político da cidade do Rio de Janeiro
(1960-75) - capítulo 2» (PDF). Editora FGV. Consultado em 3 de junho de 2018. Cópia
arquivada (PDF) em 3 de junho de 2018
6. «Gen. Sizendo Sarmento é sepultado no Rio» (PDF). Cópia da notícia em UFSCAR. 17 de
novembro de 1983. Consultado em 5 de junho de 2018. Cópia arquivada (PDF) em 5 de junho de
2018
7. «Galeria dos antigos Comandantes do CMSE». Consultado em 13 de fevereiro de 2021
8. «Galeria dos Comandantes do CML». Consultado em 13 de fevereiro de 2021
9. Institucional. «Uma epidemia sob censura» (PDF). Bio-Manguinhos (Ministério da Saúde).
Consultado em 3 de junho de 2018. Cópia arquivada (PDF) em 4 de junho de 2018
10. Luiz Antônio Ryff (16 de janeiro de 1997). «Antonio's encerra ciclo de 30 anos». Ilustrada (revista
do jornal Folha de S.Paulo). Consultado em 5 de junho de 2018. Cópia arquivada em 5 de junho
de 2018
11. Braz Melo. «Jingles que fizeram história». Dourados Agora. Consultado em 6 de junho de
2018. Cópia arquivada em 6 de junho de 2018

Sucedido por
Precedido por
Manoel Rodrigues de Carvalho
Jurandir Bizarria Mamede 19º Comandante do II Exército Lisboa
1967 - 1968

Precedido por Sucedido por


Adalberto Pereira dos Santos 7º Comandante do I Exército João Bina Machado
1968 — 1971

Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Siseno_Sarmento&oldid=60885441"

Esta página foi editada pela última vez às 09h27min de 11 de abril de 2021.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Siseno_Sarmento 5/5

Você também pode gostar