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Olímpio Mourão Filho nasceu em Diamantina (MG) no dia 9 de maio de 1900, filho de
Olímpio Júlio de Oliveira Mourão e de Mariana Correia Rabelo Mourão. Seu pai, advogado, foi
deputado e senador estadual em Minas Gerais durante a República Velha. Sua mãe era professora
catedrática da Escola Normal de Diamantina.
Foi encaminhado pelo pai ao Colégio Diocesano de sua cidade natal, mas acabou sendo
expulso desse estabelecimento de ensino. Iniciou um curso de engenharia em Belo Horizonte,
interrompendo-o para se matricular, em abril de 1918, na Escola Militar do Realengo, no Rio de
Janeiro, então Distrito Federal. Concluiu o curso em abril de 1921, quando foi declarado aspirante-
a-oficial da arma de infantaria e designado para o 12º Regimento de Infantaria (12º RI), em Belo
Horizonte. Promovido a segundo-tenente no mês seguinte, em 1922 passou a servir no 14º
Batalhão de Caçadores, (14º BC), em Florianópolis, retornando depois ao 12º RI. Em outubro do
mesmo ano passou a primeiro-tenente e, de 1923 a 1925, serviu novamente no 14º BC. Nesse
período, participou em São Paulo da repressão à Revolta de 5 de Julho de 1924, movimento
tenentista deflagrado também em Sergipe e no Amazonas, mas rapidamente debelado nesses dois
estados. Em São Paulo, os rebeldes, sob o comando do general Isidoro Dias Lopes, ocuparam a
capital paulista por três semanas após o que se deslocaram para o interior.
Paralelamente à atuação política que desenvolvia na AIB, Mourão Filho, em sua carreira
militar, foi subcomandante do 14º BC, em Florianópolis, de 1936 a abril de 1937. Em julho desse
ano passou a integrar a Câmara dos Quatrocentos, órgão consultivo da chefia nacional da AIB, que
procurava incorporar personalidades das diversas “províncias” integralistas.
O Plano Cohen
No final de agosto o texto foi submetido a Plínio Salgado, que o desaprovou, julgando-o
demasiadamente fantasioso. Mourão Filho guardou uma cópia e, posteriormente, mostrou-a ao
general Álvaro Guilherme Mariante, seu padrinho de casamento, então ministro do Superior (na
época Supremo) Tribunal Militar (STM). Recebendo de Mariante a sugestão de mostrar o texto ao
general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército (EME), recusou-se a
fazê-lo, ponderando que este não tinha qualquer ligação com os integralistas, para quem o
documento fora produzido. Mas deixou a cópia com o general Mariante e só a recobrou dias
depois, após ter solicitado a devolução.
O documento, cuja autoria foi atribuída pelo governo ao Komintern — a III Internacional
Comunista, organismo dirigido pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS) com o propósito
de promover a revolução em escala mundial — foi lido durante vários dias na emissão radiofônica
oficial Hora do Brasil. Embora tivesse reconhecido o texto, Plínio Salgado não desmentiu a notícia
referente ao plano divulgada pelo EME, alegando não poder desmoralizar a única força organizada
capaz de combater o comunismo. No dia 1º de outubro, o presidente Getúlio Vargas pediu ao
Congresso a decretação do estado de guerra com base em exposição de motivos feita pelo ministro
da Justiça, José Carlos de Macedo Soares. Este, por sua vez, baseara-se em informações fornecidas
pelos ministros da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, e da Marinha, almirante Aristides Guilhem.
Apesar do protesto dos oposicionistas, o Congresso acatou o pedido de decretação do estado de
guerra, sem exigir do Executivo as provas que dizia possuir da iminente ameaça comunista.
Nesse mesmo mês Mourão Filho foi promovido a major, sendo designado adjunto-
comissário da rede militar nº 1 da Estrada de Ferro Central do Brasil, cargo que ocuparia até 1938.
Apesar das ligações que tivera com a AIB, não participou do levante deflagrado em maio de 1938
sob a liderança dos integralistas, com apoio dos oposicionistas liberais. Sentindo-se traídos por
Vargas, os integralistas visavam com o levante à deposição do presidente. O principal episódio da
revolta foi o assalto ao palácio Guanabara, residência do presidente da República, no qual, apesar
da precária resistência legalista, os rebeldes foram contidos em poucas horas.
De 1938 a 1961
Ao longo de 1955, o Plano Cohen voltou à cena. O general Góis Monteiro, no livro O
general Góis depõe, acusava Mourão Filho formalmente, e pela primeira vez, de ser o autor do
documento que provocara a instauração do Estado Novo. Sentindo-se envolvido tendenciosamente
pelo general, Mourão Filho requereu ao Exército a formação de um Conselho de Justificação, para
se defender da acusação, tendo sido absolvido. Ainda em 1955 serviu na Diretoria Geral do Serviço
Militar, no Rio de Janeiro, ali permanecendo até o ano seguinte. Em março de 1956 recebeu a
patente de general-de-brigada e comandou a Infantaria Divisionária da 4ª Divisão de Infantaria, em
Belo Horizonte, até 1957. Diretor da Assistência Social do Exército desse ano a 1961, acumulou
esse cargo com o de presidente da Comissão Técnica de Rádio do Ministério da Viação e Obras
Públicas. Nessa função, que exerceu durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi o responsável
pela execução da proibição de acesso ao rádio e à televisão do deputado Carlos Lacerda, líder da
facção oposicionista mais aguerrida. Ainda ocupando esse cargo, presidiu a delegação brasileira à
reunião da Comissão de Rádio-Comunicações, realizada em Genebra, na Suíça. Foi exonerado do
ministério em fevereiro de 1961, logo após a posse de Jânio Quadros na presidência da República.
Em fins de janeiro de 1962, Mourão participou de uma reunião em São Paulo com
importante grupo de empresários, organizada por dois líderes do IPÊS, Edmundo Monteiro e Oton
Barcelos Correia — este último presidente da Fábrica Nacional de Vagões — à qual compareceu o
líder do IPÊS, João Batista Leopoldo Figueiredo. Em seguida viajou ao Rio de Janeiro, onde
conversou com o ministro da Guerra João Segadas Viana. Entrou também em contato com o
almirante Sílvio Heck, com o marechal Odílio Denis, ex-ministro de Jânio, e com o general Osvaldo
Cordeiro de Farias, colocando-os a par de seus planos. De volta a Porto Alegre após esses contatos,
procurou fortalecer a rede de oficiais favoráveis ao golpe. Enquanto esteve no Rio Grande do Sul,
seu estado-maior revolucionário era composto, entre outros, pelo coronel Romão Mena Barreto —
chefe de gabinete — do tenente-coronel Atos Teixeira e o tenente-coronel Paulo Braga, irmão do
então governador do Paraná, Nei Braga.
De acordo com as informações fornecidas pela Central Intelligence Agency (CIA), serviço de
espionagem norte-americano, ao Departamento de Estado dos EUA, publicadas anos mais tarde no
Jornal do Brasil, em abril de 1963 o general Mourão Filho teria afirmado que o golpe contra Goulart
ocorreria dentro de 30 dias. A ação apoiada pelo general Nélson de Melo, pelos marechais Eurico
Gaspar Dutra e Odílio Denis, pelo almirante Sílvio Heck, e ainda pelos governadores da Guanabara,
Carlos Lacerda, e de São Paulo, Ademar de Barros consistiria inicialmente no deslocamento de
tropas do II e III exércitos em direção ao Rio de Janeiro, sede do I Exército. A adesão do I Exército
ao movimento era duvidosa, o que preocupava os conspiradores na medida em que 56 tanques
estavam sob seu controle. Havia suprimento para no máximo 15 dias de combate, após o que seria
necessária a ajuda externa. Mourão acreditava que o governo norte-americano forneceria parte do
equipamento necessário à rebelião.
Ainda segundo o mesmo relatório da CIA, Mourão contava então com o apoio das
seguintes unidades militares: um grupo de artilharia antiaérea em São Paulo, a 3ª Divisão de
Infantaria, com sede em Santa Maria, a 5ª Divisão de Infantaria, sediada em Curitiba, a 6ª Divisão
de Infantaria, em Porto Alegre, além de duas das três divisões de cavalaria do país. O mesmo
relatório informava que o movimento armado teria, na concepção de Mourão, uma série de
objetivos. Em primeiro plano estava a derrubada do presidente João Goulart e a posse de um
presidente interino, da confiança dos rebeldes. Em seguida, deveriam ser tomadas medidas para
afastar do Congresso os extremistas de esquerda e os comunistas. Outro passo importante seria
reconduzir a política externa do Brasil à orientação pró-Ocidente. Pretendia ainda a supressão de
algumas organizações sindicais e a estrita aplicação da legislação referente às greves; o reforço das
cláusulas da Declaração dos Direitos da Constituição de garantia à liberdade do homem; a
substituição do regime presidencial por outro que estabelecesse certos limites aos poderes do
presidente; o afastamento dos políticos profissionais; a restrição do ingresso de militares na
política; a realização de cuidadoso exame das origens dos recursos financeiros usados por certos
políticos e, não sendo sua proveniência esclarecida, o imediato confisco de tais fundos. Era
também sua idéia promover a justiça social através de uma reforma agrária sensata, regida pela
Constituição. Ainda segundo o relatório, no dia 28 de abril Mourão Filho teve um encontro com os
almirantes Sílvio Heck e Mário Cavalcanti, que concordaram em cancelar o seu próprio movimento
e juntar-se ao dele, aceitando também suspender os ataques terroristas que haviam planejado.
Entretanto, por não se encontrarem as articulações amadurecidas e solidificadas, o golpe contra
Goulart acabou não ocorrendo dentro do prazo previsto por Mourão.
No final de agosto de 1963, Mourão Filho foi inesperadamente transferido para o comando
da 4ª Região Militar e da 4ª Divisão de Infantaria do I Exército, ambas sediadas em Juiz de Fora
(MG). Essa transferência, segundo Dreifuss, foi um golpe para os conspiradores ligados ao
complexo IPÊS-IBAD, que temiam que a ida de Mourão para Minas Gerais acarretasse uma perda
de controle de suas articulações naquele estado por dois motivos básicos: primeiro, porque
Mourão se instalaria num Exército aquartelado a uma distância do Rio de Janeiro que era a metade
da que se encontrava na sua base anterior, São Paulo, e com mais tropas sob seu comando,
portanto, com mais facilidade de articular autonomamente “seu movimento”; segundo, porque,
em Juiz de Fora, Mourão ficaria na esfera de influência do governador José de Magalhães Pinto
que, como candidato em potencial à presidência da República em 1965, poderia nele encontrar um
aliado fortuito, mas também próximo aos oficiais favoráveis ao general Artur da Costa e Silva, chefe
do Departamento Geral de Pessoal do Exército, que não compartilhava inteiramente as posições do
grupo IPÊS-ESG.
Segundo Thomas Skidmore, a conspiração militar tomou vulto no dia 20 de março, quando
o general Humberto de Alencar Castelo Branco, chefe do Estado-Maior do Exército, que desde
outubro de 1963 organizava uma conspiração a que atribuía caráter “defensivo”, expediu um
memorando aos seus subordinados denunciando a possibilidade de fechamento do Congresso por
Goulart e da implantação de um regime de esquerda radical. No dia 28, no aeroporto de Juiz de
Fora, Mourão participou de uma reunião com vários militares e civis, entre eles o governador
Magalhães Pinto, o marechal Odílio Denis, o coronel José Geraldo de Oliveira e Osvaldo Pieruccetti,
com a finalidade de marcar o dia da revolução. Discutiu-se também o conteúdo do manifesto de
respaldo do movimento civil-militar, que deveria conter uma frase decisiva para o afastamento do
presidente e sua sucessão de acordo com a Constituição de 1946. Fez-se também uma avaliação
estratégica do estado de Minas Gerais e de suas forças militares. Ficou resolvido que a data para o
início da revolução seria o dia 31 de março e que ficaria a cargo de Magalhães mandar uma cópia
do manifesto a Mourão, com menção taxativa à deposição de Goulart.
Na manhã de 1º de abril Goulart voou para Brasília, onde esperava oferecer resistência,
mas a situação na capital também não lhe foi favorável. Os efetivos enviados pelo I Exército para
barrar o avanço das forças mineiras haviam aderido aos rebeldes. À noite Goulart partiu para Porto
Alegre, e, em Brasília, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a
presidência da República e empossou no cargo Pascoal Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos
Deputados. O poder de fato, todavia, passou a ser exercido pelo autodenominado Comando
Supremo da Revolução, constituído pelo general Artur da Costa e Silva, o almirante Augusto
Rademaker e o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo.
Segundo Mourão, Castelo Branco deixou, como traço principal de seu governo, uma
Constituição mal redigida promulgada em janeiro de 1967 — , que reforçou os poderes do
presidente e anulou quase por completo o Legislativo, não somente retirando-lhe atribuições que
foram transferidas ao chefe do Executivo, como também submetendo-o à vontade deste. Fez
críticas também ao sucessor de Castelo Branco, marechal Artur da Costa e Silva (1967-1969),
desaprovando a assinatura, por esse presidente, do Ato Institucional nº 5 (AI-5), datado de
dezembro de 1968, bem como algumas cassações que se sucederam à edição do ato. A seu ver, os
males da política brasileira, antes ou depois de 1964, não se deveram somente à sucessão de
militares no poder ou às suas deficiências pessoais enquanto governantes, mas ao próprio sistema
presidencialista que, enfeixando nas mãos do presidente uma grande soma de poderes,
“transforma o Executivo em poder maior e anula a independência dos outros dois, perturbando a
harmonia”.
Era casado com Almira Linhares Mourão, com quem teve duas filhas. Em segundas núpcias
casou-se com Maria Tavares Bastos, com quem teve três filhos.
Quase seis anos depois de sua morte, em abril de 1978, Hélio Silva anunciou a próxima
publicação do manuscrito que Mourão Filho lhe confiara, sob o título Memórias: a verdade de um
revolucionário. Alguns jornais, como O Globo e o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, e o Coojornal,
de Porto Alegre, publicaram trechos das memórias, o que deu origem a grande polêmica. O general
Augusto César Muniz de Aragão, em artigo publicado em O Globo (23/4/1978) pôs em dúvida a
autoria dos textos divulgados e observou que, se realmente os tinha escrito, o general “deveria
encontrar-se privado de serenidade e de senso-comum, ou frustrado nos seus interesses com o
desfecho que tomou o movimento de março 1964”. Num dos trechos publicados pelo Coojornal,
Mourão acusava o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier — na época chefe de gabinete do
ministro da Aeronáutica, brigadeiro Márcio de Sousa e Melo — de tentar usar tropas do Para-Sar,
da Aeronáutica, em ações de violência contra o povo. No capítulo intitulado “A conspiração em São
Paulo”, narrou o seqüestro de seu sobrinho-neto e mencionou também a prática de torturas por
parte dos militares envolvidos no combate à subversão.
Em agosto de 1978, sua filha, Laurita Lourdes Linhares Mourão Irazabal, residente no
exterior, retornou ao Brasil e requereu medida cautelar de busca e apreensão do livro de seu pai,
que já estava editado. Pretendia obter a nulidade da doação e da cessão de direitos autorais ao
historiador Hélio Silva, com base na incapacidade física do general Mourão para a efetivação
daquele ato. Em fevereiro de 1979, após intensa luta na Justiça, amplamente divulgada pela
imprensa, o livro teve por fim liberada sua circulação.
Em vida, Mourão Filho publicou Um ano de instrução num corpo de tropa de infantaria e
Elementos de teoria de tráfego urbano e sua aplicação na cidade do Rio de Janeiro.
FONTES: ARQ. GETÚLIO VARGAS; CACHAPUZ, P. Cronologia; CARONE, E. República nova; CONSULT.
MAGALHÃES, B.; CORRESP. SUP. TRIB. MILITAR; DREIFUSS, R. Conquista; FIECHTER, G. Regime;
Globo (23/4/78 e 9/11/80); Grande encic. Delta; Jornal do Brasil (12/1/66, 19/7/75, 6/11/77, 14 e
21/4, 14, 24 e 27/8/78, 2/2/79 e 4/1/81); MELO, O. Marcha; MOURÃO, L. Genealogia; Rev. Inst.
Geog. Hist. Militar do Brasil (1977); SILVA, H. General; SILVA, H. 1935; SILVA, H. 1937; SILVA, H.
1964; SKIDMORE, T. Brasil; TAVARES, J. Radicalização; TRINDADE, H. Integralismo; VÍTOR, M. Cinco.