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CAPÍTULO 2

Transtorno obsessivo compulsivo


Definiçõ es
De acordo com o DSM V, o TOC é caracterizado pela presença de obsessõ es e/ou
compulsõ es.
Obsessõ es sã o definidas por:
1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que,
em algum momento durante a perturbaçã o, sã o experimentados como
intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam
acentuada ansiedade ou sofrimento.
2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou
imagens ou neutralizá -los com algum outro pensamento ou açã o.
Compulsõ es sã o definidas por:
1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mã os, organizar, verificar)
ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que
o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessã o ou
de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas.
2. Os comportamentos ou os atos mentais visam a prevenir ou reduzir a
ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situaçã o temida;
entretanto, esses comportamentos ou atos mentais nã o têm uma conexã o
realista com o que visam a neutralizar ou evitar ou sã o claramente
excessivos.
Embora o conteú do específico das obsessõ es e compulsõ es varie entre os indivíduos,
certas dimensõ es dos sintomas sã o comuns no TOC:
»» limpeza (obsessõ es por contaminaçã o e compulsõ es por limpeza);
»» simetria (obsessõ es por simetria e compulsõ es de repetiçã o, organizaçã o
e contagem);
»» pensamentos proibidos ou tabus (p. ex., obsessõ es agressivas, sexuais e
religiosas e compulsõ es relacionadas);
»» ferimentos (p. ex., medo de ferir a si mesmo ou aos outros e compulsõ es
de verificaçã o relacionadas).

As obsessõ es ou compulsõ es tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia)ou causam sofrimento
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social,profissional ou em outras á reas importantes
da vida do indivíduo.Os sintomas obsessivo-compulsivos nã o se devem aos efeitos fisioló gicos de
umasubstâ ncia (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condiçã o médica.A perturbaçã o nã o é mais
bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental(p. ex., preocupaçõ es excessivas, como no
transtorno de ansiedade generalizada;preocupaçã o com a aparência, como no transtorno dismó rfico
corporal; dificuldade dedescartar ou se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulaçã o;
arrancaros cabelos, como na tricotilomania (transtorno de arrancar o cabelo); beliscar a pele,como no
transtorno de escoriaçã o (skin-picking); estereotipias, como no transtornode movimento estereotipado;
comportamento alimentar ritualizado, como nos transtornos alimentares; preocupaçã o com substâ ncias ou
jogo, como nos transtornos relacionados a substâ ncias e transtornos aditivos; preocupaçã o com ter uma
doença,como no transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, comonos transtornos
parafílicos; impulsos, como nos transtornos disruptivos, do controlede impulsos e da conduta; ruminaçõ es
de culpa, como no transtorno depressivomaior; inserçã o de pensamento ou preocupaçõ es delirantes, como
nos transtornos doespectro da esquizofrenia e outros transtornos psicó ticos; ou padrõ es repetitivos
decomportamento, como no transtorno do espectro autista).Com insight bom ou razoá vel, o indivíduo
reconhece que as crenças do transtornoobsessivo-compulsivo sã o definitiva ou provavelmente nã o
verdadeiras ou que podemou nã o ser verdadeiras. Com insight pobre, o indivíduo acredita que as crenças
dotranstorno obsessivo-compulsivo sã o provavelmente verdadeiras. Com insight ausente/crenças
delirantes, o indivíduo está completamente convencido de que as crenças do transtorno obsessivo-
compulsivo sã o verdadeiras.
De acordo com o CID 10, o transtorno é caracterizado essencialmente por idéias obsessivas ou por
comportamentos compulsivos recorrentes.
As ideias obsessivas sã o pensamentos, representaçõ es ou impulsos, que se intrometemna consciência do
sujeito de modo repetitivo e estereotipado. Em regra geral, elasperturbam muito o sujeito, o qual tenta,
frequentemente, resistir-lhes, mas semsucesso. O sujeito reconhece, entretanto, que se trata de seus
pró prios pensamentos,mas estranhos à sua vontade e em geral desprazerosos.Os comportamentos e os
rituais compulsivos sã o atividades estereotipadas repetitivas.O sujeito nã o tira prazer direto algum da
realizaçã o desses atos, os quais, por outro lado,nã o levam à realizaçã o de tarefas ú teis por si mesmas. O
comportamento compulsivotem por finalidade prevenir algum evento objetivamente imprová vel,
frequentementeimplicando dano ao sujeito ou causado por ele, que ele(a) teme que possa ocorrer. Osujeito
reconhece habitualmente o absurdo e a inutilidade de seu comportamento efaz esforços repetidos para
resistir-lhes. O transtorno se acompanha quase sempre de ansiedade. Essa ansiedade se agrava quando o
sujeito tenta resistir à sua atividadecompulsiva.É considerado um transtorno mental grave, iniciado muitas
vezes na infâ ncia. É raroseu início depois dos 40 anos. O transtorno costuma ser crô nico e seus sintomas
variamem intensidade e, se nã o for tratado, pode se manter por toda a vida.De acordo com o modelo
cognitivo comportamental, as obsessõ es e compulsõ essurgem de intensas crenças disfuncionais. De acordo
Rangé et al. (2011), acredita-seque pensamentos, imagens e impulsos desagradá veis que invadem a
consciência sã oexperimentadas por todas as pessoas e se transformam em obsessõ es quando sã oavaliadas e
interpretadas como inaceitá veis. De acordo com a teoria cognitiva sobre a origem das obsessõ es de
Rachman, essespensamentos intrusivos sã o acompanhados de pensamentos automá ticos de que algograve
pode acontecer, despertando medo e ansiedade. A evitaçã o e os rituais buscam neutralizar esses
pensamentos e, sendo bem-sucedidos, reforçam o transtorno

Figura 1.
Genética
Neurobiologia
Ambiente
Indivíduo vulnerá vel ao TOC
Pensamentos intrusivos normais
(dú vidas, ideias, impulsos)
Interpretaçã o errada, como sendo importante ou ameaçador
Ansiedade obsessiva
Esforço para afastar o medo obsessivo (evitaçõ es, rituais,
tentativa de afastar o pensamento)
Alívio
Crença central mal adaptativa

O tratamento, segundo Rangé et al. (2011), inicia-se confirmando o diagnó stico de TOC, as comorbidades, a
motivaçã o para o tratamento. Também deve-se conhecer o paciente, a histó ria da doença, os sintomas e seu
funcionamento cognitivo (tipos de obsessõ es e compulsõ es, rituais mentais, comportamentos associados,
pensamentosautomá ticos e crenças disfuncionais). O grau de insight deve ser avaliado, pois estudos clínicos
indicam que pacientes com insight pobre nã o respondem bem à terapia.
O tratamento consiste em:
»» Psicoeducaçã o aos pacientes e seus familiares.
»» Elaboraçã o da lista de sintomas: ela é fundamental para o sucesso da terapia. É elaborada pelo paciente
com a ajuda do terapeuta a partir de um check list. Ela facilita o planejamento do tratamento e tem o
objetivo de automonitorar a gravidade dos sintomas ao longo da terapia.
»» Diá rio dos sintomas: o objetivo é o paciente identificar horá rios, situaçõ es e locais onde ocorrem as
obsessõ es e compulsõ es. Isso facilita o planejamento de estratégias para enfrentá -los e desenvolve há bitos
de monitoramento. Os rituais do TOC muitas vezes se tornam há bitos executados de forma automatizada e,
sem vigiar os sintomas, torna-se difícil modificá -los.
»» Exposiçã o e prevençã o de resposta (EPR): consiste em os pacientes enfrentarem as situaçõ es evitadas
(exposiçã o) e nã o realizar os rituais (prevençã o de respostas). Assim, comprova-se que as expectativas
catastró ficas nã o se concretizavam.
»» Modelaçã o: o terapeuta demonstra exercícios de EPR. Observar outras pessoas executando tarefas
consideradas de risco é uma forma de reduzir ou desaprender medos, bem como a afliçã o é menor quando a
exposiçã o é realizada na presença de alguém.
»» Técnicas cognitivas de correçã o de pensamentos e crenças disfuncionais (questionamento socrá tico,
teorias alternativas, experimentos comportamentais, seta descendente, vantagens e desvantagens,
lembretes, entre outras).

As estratégias para prevençã o de recaída foram elaboradas especificamente para o TOC e sã o eficazes para
ocorrer a manutençã o dos ganhos adquiridos durante o tratamento. De acordo com Cordioli, podem ser
utilizadas as seguintes estratégias:

1. Identificar, juntamente com o paciente, as situaçõ es internas (psicoló gicas) ou externas (ambiente,
objetos) de risco (gatilhos) para a realizaçã o de rituais ou para a ocorrência de obsessõ es ou
comportamentos evitativos.
2. Preparar, com antecedência, estratégias de enfrentamento para lidar adequadamente com as situaçõ es de
risco (gatilho) e evitar as recaídas:
›› Vigilâ ncia: estar atento para o autocontrole e nã o executar de forma automá tica os rituais a que estava
habituado nas situaçõ es de risco.
›› Planejar com antecedência como vai se comportar no enfrentamento das situaçõ es de risco, tendo em
vista o que deve fazer em termos de exposiçã o e prevençã o da resposta: por quanto tempo, onde, de que
forma (“vou sentar na cama com a roupa da rua quando chegar em casa, durante 15 minutos”).
›› Distraçã o: procurar se entreter, durante situaçõ es de risco, com outros pensamentos ou com atividades
prá ticas, como forma de reduzir a afliçã o e o impulso a realizar rituais.
›› Conversar consigo mesmo, dar ordens para si mesmo: “Você tem condiçõ es de se controlar!”, “Nã o vá
verificar se a torneira ficou bem fechada!” etc.
›› Uso de lembretes: “A afliçã o nã o dura para sempre!”, “Isso é o TOC!”, ou “Cuidado com o TOC!”.

Sugestã o de filmes:
»» O aviador (direçã o: Martin Scorsese, 2005). O filme é baseado na vida de um cineastra e magnata da
aviaçã o e mostra sua vida com o transtorno. Howard Hughes (Leonardo DiCaprio) ficou milioná rio já aos 18
anos, devido à herança que seu pai, um inventor texano, deixou para ele. Pouco depois se mudou para Los
Angeles, onde passou a investir na indú stria do cinema. Hughes ajudou a carreira de vá rios astros, como
Jean Harlow (Gwen Stefani) e ainda trabalhou em filmes de grande sucesso, como “Hell’s Angels”, que
dirigiu. Paralelamente se dedicou a uma de suas maiores paixõ es, a aviaçã o, e se envolveu com as atrizes
Katharine Hepburn (Cate Blanchett) e Ava Gardner (Kate Beckinsale).
»» Os vigaristas (direçã o: Ridley Scott,2003). O filme é baseado na vida de um golpista com TOC.
Roy(Nicolas Cage) é um vigarista que sofre de diversas fobias, que o deixam extremamente obsessivo. Ao
lado de Frank (Sam Rockwell) ele está planejando um novo golpe, que, caso dê certo, será bastante lucrativo
para ambos. Porém, para desespero de Roy, inesperadamente surge em sua vida sua filha adolescente
(Alison Lohman), que ele desconhecia que existia.
»» Melhor é impossível (direçã o: James L Brooks, 1998). O protagonista apresenta muitas compulsõ es de
limpeza e intenso medo de contaminaçã o. Em Nova York, um escritor grosseiro e sarcá stico (Jack
Nicholson) tem como alvos principais um artista gay (Greg Kinnear), seu vizinho e uma garçonete (Helen
Hunt) que o atende diariamente e se desdobra para cuidar do filho que tem asma crô nica. O destino vai
fazer com que eles fiquem muito mais pró ximos do que poderiam imaginar.
CAPÍTULO 3
Transtornos alimentares
Segundo o DSM V, os transtornos alimentares sã o caracterizados por uma perturbaçã o persistente na
alimentaçã o ou no comportamento relacionado à alimentaçã o que resulta no consumo ou na absorçã o
alterada de alimentos e que compromete significativamente a saú de física ou o funcionamento psicossocial.
A obesidade nã o está inclusa no DSM-5 como um transtorno mental. A obesidade (excesso de gordura
corporal) resulta do excesso prolongado de ingestã o energética em relaçã o ao gasto energético. Uma gama
de fatores genéticos, fisioló gicos, comportamentais e ambientais que variam entre os indivíduos contribui
para o desenvolvimento da obesidade; dessa forma, ela nã o é considerada um transtorno mental.
Entretanto,existem associaçõ es robustas entre obesidade e uma série de transtornos mentais (p. ex.
transtorno de compulsã o alimentar, transtornos depressivo e bipolar, esquizofrenia).Os efeitos colaterais
de alguns medicamentos psicotró picos contribuem de maneira importante para o desenvolvimento da
obesidade e este pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de alguns transtornos mentais (p. ex.,
transtornos depressivos).
Pica
Critérios diagnó sticos:
a. Ingestã o persistente de substâ ncias nã o nutritivas, nã o alimentares, durante um período mínimo de um
mês.
b. A ingestã o de substâ ncias nã o nutritivas, nã o alimentares, é inapropriada ao está gio de desenvolvimento
do indivíduo.
c. O comportamento alimentar nã o faz parte de uma prá tica culturalmente aceita.
d. Se o comportamento alimentar ocorrer no contexto de outro transtorno mental (p. ex., deficiência
intelectual – transtorno do desenvolvimento intelectual –, transtorno do espectro autista, esquizofrenia) ou
condiçã o médica (incluindo gestaçã o), é suficientemente grave a ponto de necessitar de atençã o clínica
adicional.
As substâ ncias típicas ingeridas tendem a variar com a idade e a disponibilidade e podem incluir papel,
sabã o, tecido, cabelo, fios, terra, giz, talco, tinta, cola, metal, pedras, carvã o vegetal ou mineral, cinzas,
detergente ou gelo. Em algumas populaçõ es, acredita-se que a ingestã o de terra ou outras substâ ncias
aparentemente nã o nutritivas tenha valor espiritual, medicinal ou outro valor social. Pode, ainda, ser uma
prá tica culturalmente aceita ou socialmente normal. Tal comportamento nã o justifica um diagnó stico de
pica.
Transtorno de ruminaçã o
Critérios diagnó sticos (F98.21):
a. Regurgitaçã o repetida de alimento durante um período mínimo de um mês. O alimento regurgitado pode
ser remastigado, novamente deglutido ou cuspido.
b. A regurgitaçã o repetida nã o é atribuível a uma condiçã o gastrintestinal ou a outra condiçã o médica (p.
ex., refluxo gastroesofá gico, estenose do piloro).
c. A perturbaçã o alimentar nã o ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa, bulimia
nervosa, transtorno de compulsã o alimentar ou transtorno alimentar restritivo/evitativo.
d. Se os sintomas ocorrerem no contexto de outro transtorno mental (p. ex., deficiência intelectual –
transtorno do desenvolvimento intelectual – ou outro transtorno do neurodesenvolvimento), eles sã o
suficientemente graves para justificar atençã o clínica adicional.
Transtorno alimentar restritivo/evitativo
Critérios diagnó sticos (F50.8):
a. Uma perturbaçã o alimentar (p. ex. falta aparente de interesse na alimentaçã o ou em alimentos; esquiva
baseada nas características sensoriais do alimento; preocupaçã o acerca de consequências aversivas
alimentares) manifestada por fracasso persistente em satisfazer as necessidades nutricionais e/ou
energéticas apropriadas associada a um (ou mais) dos seguintes aspectos:

1. Perda de peso significativa (ou insucesso em obter o ganho de peso esperado ou atraso de crescimento
em crianças).
2. Deficiência nutricional significativa.
3. Dependência de alimentaçã o enteral ou suplementos nutricionais orais.
4. Interferência marcante no funcionamento psicossocial.
b. A perturbaçã o nã o é mais bem explicada por indisponibilidade de alimento ou por uma prá tica
culturalmente aceita.
c. A perturbaçã o alimentar nã o ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa ou bulimia
nervosa, e nã o há evidência de perturbaçã o na maneira como o peso ou a forma corporal é vivenciada.
d. A perturbaçã o alimentar nã o é atribuível a uma condiçã o médica concomitante ou mais bem explicada
por outro transtorno mental. Quando a perturbaçã o alimentar ocorre no contexto de outra condiçã o ou
transtorno, sua gravidade excede a habitualmente associada à condiçã o ou ao transtorno e justifica atençã o
clínica adicional.
Anorexia nervosa Critérios diagnó sticos:
a. Restriçã o da ingestã o caló rica em relaçã o à s necessidades, levando a um peso corporal significativamente
baixo no contexto de idade, gênero, trajetó ria do desenvolvimento e saú de física. Peso significativamente
baixo é definido como um peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes,
menor do que o minimamente esperado.
b. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de
peso, mesmo estando com peso significativamente baixo.
c. Perturbaçã o no modo como o pró prio peso ou a forma corporal sã o vivenciados, influência indevida do
peso ou da forma corporal na autoavaliaçã o ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade do
baixo peso corporal atual.
Subtipo:
»» Tipo restritivo: durante os ú ltimos três meses, o indivíduo nã o se envolveu em episó dios recorrentes de
compulsã o alimentar ou comportamento purgativo (i.e., vô mitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes,
diuréticos ou enemas). Esse subtipo descreve apresentaçõ es nas quais a perda de peso seja conseguida
essencialmente por meio de dieta, jejum e/ou exercício excessivo.
»» Tipo compulsã o alimentar purgativa: nos ú ltimos três meses, o indivíduo se envolveu em episó dios
recorrentes de compulsã o alimentar purgativa (i.e., vô mitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes,
diuréticos ou enemas).
O nível mínimo de gravidade baseia-se, em adultos, no Índice de Massa Corporal (IMC) atual ou, para
crianças e adolescentes, no percentil do IMC. Os intervalos abaixo sã o derivados das categorias da
Organizaçã o Mundial da Saú de (OMS) para baixo peso em adultos; para crianças e adolescentes, os
percentis do IMC correspondentes devem ser usados. O nível de gravidade pode ser aumentado de maneira
a refletir sintomas
clínicos, o grau de incapacidade funcional e a necessidade de supervisã o.
›› Leve: IMC £ 17 kg/m2.
›› Moderada: IMC 16-16,99 kg/m2.
›› Grave: IMC 15-15,99 kg/m2.
›› Extrema: IMC <15 kg/m2.
Bulimia nervosa
Critérios diagnó sticos:
a. Episó dios recorrentes de compulsã o alimentar. Um episó dio de compulsã o alimentar é caracterizado
pelos seguintes aspectos:
1. Ingestã o, em um período de tempo determinado (p. ex., dentro de cada período de duas horas), de uma
quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo
período sob circunstâ ncias semelhantes.
2. Sensaçã o de falta de controle sobre a ingestã o durante o episó dio (p. ex., sentimento de nã o conseguir
parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo).
c. Comportamentos compensató rios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como
vô mitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum ou exercício
em excesso.
d. A compulsã o alimentar e os comportamentos compensató rios inapropriados ocorrem, em média, no
mínimo uma vez por semana durante três meses.
e. A autoavaliaçã o é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais.
f. A perturbaçã o nã o ocorre exclusivamente durante episó dios de anorexia nervosa.
Transtorno de compulsã o alimentar
Critérios diagnó sticos:
a. Episó dios recorrentes de compulsã o alimentar. Um episó dio de compulsã o alimentar é caracterizado
pelos seguintes aspectos:
1. Ingestã o, em um período determinado (p. ex., dentro de cada período de duas horas), de uma quantidade
de alimento definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período sob
circunstâ ncias semelhantes.
2. Sensaçã o de falta de controle sobre a ingestã o durante o episó dio (p. ex., sentimento de nã o conseguir
parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo).
b. Os episó dios de compulsã o alimentar estã o associados a três (ou mais) dos seguintes aspectos:
1. Comer mais rapidamente do que o normal.
2. Comer até se sentir desconfortavelmente cheio.
3. Comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensaçã o física de fome.
4. Comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo.
5. Sentir-se desgostoso de si mesmo, deprimido ou muito culpado em seguida.
c. Sofrimento marcante em virtude da compulsã o alimentar.
d. Os episó dios de compulsã o alimentar ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana durante três
meses.
e. A compulsã o alimentar nã o está associada ao uso recorrente de comportamento compensató rio
inapropriado como na bulimia nervosa e nã o ocorre exclusivamente durante o curso de bulimia nervosa ou
anorexia nervosa.
Outro transtorno alimentar especificado
Esta categoria aplica-se a apresentaçõ es em que sintomas característicos de um transtorno alimentar que
causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em
outras á reas importantes da vida do indivíduo predominam, mas nã o satisfazem todos os critérios para
qualquer transtorno na classe
diagnó stica de transtornos alimentares.
A categoria outro transtorno alimentar especificado é usada nas situaçõ es em que o clínico opta por
comunicar a razã o específica pela qual a apresentaçã o nã o satisfaz os critérios para qualquer transtorno
alimentar específico. Isso é feito por meio do registro de “outro transtorno alimentar especificado”, seguido
da razã o específica (p. ex., bulimia nervosa de baixa frequência). Exemplos de apresentaçõ es que podem ser
especificadas usando a designaçã o “outro transtorno alimentar especificado” incluem os seguintes:
1. Anorexia nervosa atípica: todos os critérios para anorexia nervosa sã o preenchidos, exceto que, apesar da
perda de peso significativa, o peso do indivíduo está dentro ou acima da faixa normal.
2. Bulimia nervosa (de baixa frequência e/ou duraçã o limitada): todos os critérios para bulimia nervosa sã o
atendidos, exceto que a compulsã o alimentar e os comportamentos compensató rios indevidos ocorrem, em
média, menos de uma vez por semana e/ou por menos de três meses.
3. Transtorno de compulsã o alimentar (de baixa frequência e/ou duraçã o limitada): Todos os critérios para
transtorno de compulsã o alimentar sã o preenchidos, exceto que a hiperfagia ocorre, em média, menos de
umavez por semana e/ou por menos de três meses.
4. Transtorno de purgaçã o: comportamento de purgaçã o recorrente para influenciar o peso ou a forma do
corpo (p. ex., vô mitos autoinduzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos) na
ausência de compulsã o alimentar.
5. Síndrome do comer noturno: episó dios recorrentes de ingestã o noturna, manifestados pela ingestã o ao
despertar do sono noturno ou pelo consumo excessivo de alimentos depois de uma refeiçã o noturna. Há
consciência e recordaçã o da ingesta. A ingestã o noturna nã o é mais bem explicada por influências externas,
como mudanças no ciclo de sonovigília do indivíduo, ou por normas sociais locais. A ingestã o noturna causa
sofrimento significativo e/ou prejuízo no funcionamento. O padrã o desordenado de ingestã o nã o é mais
bem explicado por transtorno de compulsã o alimentar ou outro transtorno mental, incluindo uso
desubstâ ncias, e nã o é atribuível a outro distú rbio. Transtorno alimentar nã o especificado Esta categoria
aplica-se a apresentaçõ es em que sintomas característicos de um transtorno alimentar que causam
sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras á reas
importantes da vida do indivíduo predominam, mas nã o satisfazem todos os critérios para qualquer
transtorno na classe diagnó stica de transtornos alimentares. A categoria transtorno alimentar nã o
especificado é usada nas situaçõ es em que o clínico opta por nã o especificar a razã o pela qual os critérios
para um transtorno alimentar específico nã o sã o satisfeitos e inclui apresentaçõ es para as quais nã o há
informaçõ es suficientes para que seja feito um diagnó stico mais específico (p. ex., em salas de emergência).
CID 10
F50 Transtornos da alimentaçã o
F50.0 Anorexia nervosa
Anorexia nervosa é um transtorno caracterizado por perda de peso intencional, induzida e mantida pelo
paciente. O transtorno ocorre comumente em mulher adolescente ou jovem, mas pode igualmente ocorrer
tanto em homem adolescente ou jovem como em criança pró xima à puberdade ou em mulher de mais idade
até na menopausa. A doença está associada a uma psicopatologia específica, compreendendo medo de
engordar e de ter uma silhueta arredondada, intrusã o persistente de uma ideia supervalorizada. Os
pacientes se impõ em a si mesmos um baixo peso. Existe comumente desnutriçã o de grau variá vel que se
acompanha de modificaçõ es endó crinas e metabó licas secundá riase de perturbaçõ es das funçõ es
fisioló gicas. Os sintomas compreendem uma restriçã o das escolhas alimentares, a prá tica excessiva de
exercícios físicos, vô mitos provocados e a utilizaçã o de laxantes, anorexígeros e de diuréticos.
F50.1 Anorexia nervosa atípica Transtornos que apresentam algumas das características da anorexia
nervosa, mas cujo quadro clínico global nã o justifica tal diagnó stico. Por exemplo, um dos sintomaschave,
tal como um temor acentuado de ser gordo ou a amenorreia, pode estar ausente na presença de uma
acentuada perda de peso e de um comportamento para emagrecer.
Esse diagnó stico nã o deve ser feito na presença de transtornos físicos conhecidos
associados à perda de peso.
F50.2 Bulimia nervosa
A bulimia é uma síndrome caracterizada por acessos repetidos de hiperfagia e uma preocupaçã o excessiva
com relaçã o ao controle do peso corporal conduzindo a uma alternâ ncia de hiperfagia e vô mitos ou uso de
purgativos. Esse transtorno partilha diversas características psicoló gicas com a anorexia nervosa, dentre as
quais uma preocupaçã o exagerada com forma e peso corporais. Os vô mitos repetidos podem provocar
perturbaçõ es eletrolíticas e complicaçõ es somá ticas. Nos antecedentes, encontra-se, frequentemente, mas
nem sempre, um episó dio de anorexia nervosa ocorrido de alguns meses a vá rios anos antes.
F50.3 Bulimia nervosa atípica
Transtornos que apresentam algumas características da bulimia nervosa, mas cujo quadro clínico global
nã o justifica tal diagnó stico. Por exemplo, pode haver acessos repetidos de hiperfagia e uso exagerado de
laxativos sem uma alteraçã o significativa de peso, ou entã o a preocupaçã o típica e exagerada com forma e
peso corporais pode estar ausente.
F50.4 Hiperfagia associada a outros distú rbios
psicoló gicos
Hiperfagia que ocorre devido a eventos estressantes, tais como lutos, acidentes, partos
etc.
F50.5 Vô mitos associados a outros distú rbios psicoló gicos Vô mitos repetidos que podem ocorrer nos
transtornos dissociativos (F44) e hipocondríacos (F45.2). Pode-se também empregar este có digo em
suplemento a O21.- (hiperemese na gravidez) quando fatores emocionais predominam entre as causas das
ná useas e vô mitos recorrentes no curso da gravidez.
F50.8 Outros transtornos da alimentaçã o
Perda do apetite psicogênica.
Pica do adulto
F50.9 Transtorno de alimentaçã o nã o especificado. Revista Galileu. Entrevista completa com Joyce Peu.
Disponível em: <http:// revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT706126-1718,00.html>.
Figura 3.
Fonte: <http://www.infoescola.com/saude/disfuncoes-alimentares/>. Acesso em: 6/10/2018. De acordo
com Barlow e Cols (2009), os indivíduos acometidos por um transtorno de alimentaçã o normalmente
julgam seu valor como pessoa pela sua forma, seu peso e sua capacidade de controlá -los. A maioria das
apresentaçõ es desses transtornos é secundá ria a essa patologia. Ela é a psicopatologia central e a meta
fundamental do tratamento. A pessoa busca perder peso e adquire imenso medo de ganhar peso e ficar
gordo. Eles têm um esquema disfuncional de autodesvalorizaçã o. Esses pacientes tem uma forma peculiar
de restringir o que comem, aderindo a vá rias regras alimentares extremas e específicas. Sua alimentaçã o
costuma ser inflexível e restrita. Tendem a reagir de forma negativa quando rompem as regras, o que é
quase inevitá vel, e pequenos deslizes sã o interpretados como evidência de falta de autocontrole. Os deslizes
alimentares ocorrem em resposta à s dificuldades em suas vidas e à s mudanças de humor associadas. Essa
explicaçã o cognitivo-comportamental para os transtornos de alimentaçã o sugere que, para que o
tratamento tenha um impacto duradouro, devem ser abordados os estados negativos de humor, as dietas
extremas, a superestimaçã o da forma e do peso, e a consciência de que comem em resposta a eventos
adversos. Podemos perceber que, na anorexia nervosa, o paciente fica abaixo do peso recomendado. Ele
acredita que está sendo bem-sucedido e tem pouco desejo em mudar. Normalmente, outras pessoas o levam
a iniciar o tratamento. Já na bulimia, o comer compulsivamente é aflitivo e leva o paciente a buscar ajuda e a
se envolver no tratamento. O aspecto multidimensional dos transtornos alimentares faz com que sejam
integradas vá rias estratégias de tratamento; orientaçã o nutricional, psicofá rmacos, terapia individual e
familiar.
De acordo com Rangé e Cols (2011. p, 396), para avaliar os transtornos alimentares, existem alguns
instrumentos autoaplicá veis. Os mais utilizados sã o:
»» eating attitudes test: utilizado para rastrear indivíduos susceptíveis ao desenvolvimento de anorexia
nervosa ou bulimia nervosa;
»» eating disorder examination: avalia os comportamentos em quarto subescalas (restriçã o alimentar,
preocupaçã o alimentar, preocupaçã o com a forma corporal e preocupaçã o com o peso corporal);
»» binge eating scale: escala de compulsã o alimentar perió dica;
»» bulimic investigatory test: avalia aspectos cognitivos e comportamentais relacionados à bulimia;
»» tree factor eating questionnaire, abrange três domínios do comportamento alimentar (restriçã o cognitiva,
desinibiçã o e fome percebida). Ainda, segundo esses autores, os objetivos do tratamento incluem:
»» a estabilizaçã o do estado clínico e nutricional;
»» o restabelecimento dos padrõ es saudá veis de peso e alimentaçã o;
»» a identificaçã o dos fatores psicossociais mantenedores;
»» a melhora das condiçõ es psiquiá tricas associadas;
»» a correçã o dos pensamentos disfuncionais; e
»» a prevençã o de recaídas.
A indicaçã o de internaçã o inclui:
»» menos de 75% do peso mínimo esperado para a idade e altura;
»» perda rá pida e contínua do peso;
»» alteraçõ es metabó licas e hidroeletrolíticas graves;
»» funçã o cardíaca, renal e hepá tica alteradas;
»» sintomas de desnutriçã o e desidrataçã o graves;
»» presença de sintomas psiquiá tricos que merecem hospitalizaçã o (risco de suicídio, comportamentos
autoagressivos, abuso ou dependência grave de á lcool ou drogas);
»» alto grau de resistência a participar de seus pró prios cuidados;
»» rede de apoio social e familiar insuficientes.
De acordo com Barlow e Cols (2009. p, 590), os transtornos alimentares estã o relacionados e é comum a
migraçã o de um diagnó stico para outro. Assim, os tratamentos transdiagnó sticos, isto é, que abordam os
mecanismos de manutençã o, devem ser eficazes com todas as formas de transtorno de alimentaçã o. O
tratamento transdiagnó stico é dividido em quatro está gios. No está gio 1:
a. o paciente deve se engajar no processo de mudança;
b. deve ser feita a conceitualizaçã o de seu caso;
c. o peso deve ser avaliado semanalmente, pois diminui a ansiedade em relaçã o as mudanças de peso à
medida que os há bitos alimentares se alteram com o tratamento;
d. automonitoramento, isto é, registro em tempo real de comportamentos, pensamentos, sentimentos e
eventos;
e. psicoeducaçã o, informando os pacientes sobre o tratamento, a natureza do transtorno e o estilo de
enfrentamento.
No está gio 2, sã o avaliados os progressos obtidos no está gio 1, sã o identificados os obstá culos à mudança e
sã o feitas modificaçõ es na conceitualizaçã o, se for necessá rio. No está gio 3, sã o abordados os mecanismos
centrais que sustentam o transtorno e podem ser classificados em quatro categorias:
a. superestimaçã o da forma e do peso e suas expressõ es (psicopatologia central). Aspectos que devem ser
abordados:
›› identificar a superestimaçã o e suas consequência;
›› desenvolver a autoavaliaçã o;
›› abordar a verificaçã o e evitaçã o do corpo;
›› abordar o “sentir -se gordo”;
›› explorar as origens da superestimaçã o.
b. abordar as restriçõ es alimentares. Um objetivo importante do tratamento é reduzir a tendência de fazer
dieta, pois a restriçã o alimentar contribui para os episó dios de compulsã o.
O mecanismo cognitivo desses pacientes é o pensamento dicotô mico (tudo ou nada). Assim, qualquer
escorregã o na dieta, por menor que seja, é considerado um fracasso completo no seu controle dietético.
Assim, abandonam temporariamente as tentativas de controle da dieta, apresentando compulsã o alimentar,
para retomar a restriçã o alimentar depois. Esse é o padrã o de alimentaçã o desses pacientes.
a. Episó dios residuais de compulsã o alimentar.
b. Comer menos que o necessá rio e estar abaixo do peso. No está gio 4, o foco está dirigido ao futuro,
garantindo a manutençã o das mudanças e prevenindo recaídas.

Instruções: Quando você notar seu humor ficando pior, pergunte-se: O que está passando no meu pensamento? E anote, logo que possível, o pensamento
(ou imagem mental) na coluna Pensamento Automático. Identifique, então, qual a emoção, sentimento ou estado de humor que você sentiu quando teve
este pensamento. A seguir, verifique quão realistas ou verdadeiros são estes pensamentos e construa uma resposta mais racional, com pensamentos
alternativos mais adequados para a situação.
Avalie quanto mudou seu pensamento e sua emoção original.
Situação Pensamento Emoção Resposta Resultado
Especifique a situação, automático Que sentimentos ou adaptativa Avalie quanto você
o que aconteceu. Que pensamentos e/ ou emoções (tristeza, Use essas perguntas acredita agora em seus
imagens passaram por ansiedade, raiva etc.) para compor as pensamentos
Onde você estava,
sua cabeça naquela você sentiu naquela respostas aos automáticos (0-100%) e
fazendo o quê.
situação? Sublinhe o situação. Se possível, pensamentos na intensidade de suas
Quem estava envolvido. pensamento mais avalie a intensidade de automáticos. emoções (0-100%).
importante ou aquele cada emoção (0-100%).
Se possível, avalie
que mais lhe
quanto você acredita em
incomodou.
cada resposta
Se possível, avalie alternativa.
quanto você acredita em
Quais as possíveis
cada um dos
distorções cognitivas
pensamentos (0-100%).
(veja Lista de
Distorções Cognitivas)
que você fez?

Para construir a resposta alternativa, faça as perguntas:


1. Quais são as evidências de que o pensamento automático é verdadeiro? Quais as evidências de que ele não é verdadeiro?
2. Há explicações alternativas para o evento, ou formas alternativas de enxergar a situação?
3. Quais são as implicações, no caso dos pensamentos serem verdadeiros? Qual é o pior da situação? O que é o mais realista?
O que é possível fazer a respeito?

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