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AULA 4- GEOGRAFIA POLÍTICA E

GEOPOLÍTICA: AS RELAÇÕES ENTRE


ESPAÇO E PODER

PROFESSOR JOÃO FELIPE


O que é Geopolítica?

“ciência da vinculação geográfica dos acontecimentos


políticos e tem por objetivo principal o aproveitamento
racional de todos os ramos da Geografia no planejamento
das atividades do Estado” (Rudolf Kjellen, 1916)

“É a política estabelecida em virtude das condições


geográficas” (Everardo Backeuser)
Ratzel
“E que venham a supor que, num povo em vias de
crescimento, a importância do solo não seja tão evidente, que
observe esse povo no momento da decadência e da
dissolução! Não se pode entender nada a respeito do que
ocorre se não for considerado o solo. Um povo regride quando
perde território. Ele pode contar com menos cidadãos e
conservar ainda muito solidamente o território onde se
encontram as fontes de sua vida. Mas se seu território se reduz,
é, de uma maneira geral, o começo do fim”
(Ratzel: As leis do crescimento espacial do Estado)
Mahan e o poder marítimo
Teoria do Poder Marítimo (1890) - almirante
Alfred Mahan (EUA)
“A terra é quase sempre um obstáculo, o mar quase todo
uma planície aberta; uma nação capaz de controlar essa
planície, por meio: do poderio naval, e que ao mesmo tempo
consiga manter uma grande marinha mercante, pode
explorar as riquezas do mundo.”
A expansão dos EUA a partir de 1867
O Poder Marítimo
Mackinder e o Heartland

Quem governa a Europa Oriental dominará o Coração


Continental; quem governa o Coração Continental dominará a
Ilha Mundial; quem governa a Ilha Mundial dominará o mundo
(Mackinder,Halford- 1919,O Pivô geográfico da história- p.106)
Mais que um conceito geográfico, com limites físicos claramente
demarcados no mapa da Eurásia, o Heartland é uma ideia
estratégica, concebida teoricamente no começo do século e
testada empiricamente ao longo de duas guerras mundiais.
Formulada originalmente como Pivot Area, em 1904, e
reelaborada sob a denominação de Heartland, em 1919, essa
ideia estratégica assume seu conteúdo definitivo no último artigo
de 1943. Tal conceito foi cunhado por Mackinder para designar o
núcleo basilar da grande massa eurasiática que coincidia
geopoliticamente com as fronteiras russas do início do século.
Itaussu, Leonel- Quem tem medo de geopolítica?
Na descrição de Mackinder, o gigantesco núcleo eurasiático
possuía três características físicas essenciais. O Heartland era
incomparavelmente a mais extensa região de planícies de todo o
globo terrestre. Essa região era quase totalmente isolada do
mundo exterior, já que seus grandes rios desembocavam nos
mares do interior da Eurásia ou nas costas geladas do Oceano
Ártico: o Ob, o Ienessei e o Lena desaguam no litoral norte da
Sibéria; o Amudária e o Sirdária, no mar de Aral; o Volga e o
Ural, no Mar Cáspio. Finalmente, a topografia plana de suas
estepes meridionais oferecia condições ideais à mobilidade dos
povos nômades-pastoris da Ásia Central.
Esses aspectos físicos faziam daquela região mediterrânea e
enclausurada um baluarte natural. O Heartland era uma fortaleza
inacessível ao assédio do poder marítimo das potências
insulares ou marginais da Eurásia, favorecendo ao mesmo
tempo o desenvolvimento do poder terrestre da potência
continental que possuísse ou viesse a conquistar aquela região
basilar.

Itaussu, Leonel- Quem tem medo de geopolítica?


As quatro Pan-Regiões de Karl Haushofer
O haushoferismo advogava uma aliança da Alemanha com a Rússia
e o Japão, que deveriam ajustar suas respectivas esferas de
influência e formar uma nova constelação de poder na Eurásia. Na
visão de Haushofer, essa partilha levaria à constituição de três
grandes áreas supercontinentais denominadas pan-regiões: a
Euráfrica (englobando Europa, África e Oriente Médio)- submetida à
suserania alemã; a Pan-Ásia (abarcando a China, Coreia, Sudeste
asiático e Oceania)- sob domínio japonês e, entre ambas, a Pan-
Rússia (gigantesca zona tampão formada pela Rússia, Irã e Índia)-
tutelada pela União Soviética.
Finalmente, o general geógrafo alemão concebia ainda uma quarta
pan-região- a Pan-América- que englobava todo o continente
americano sob domínio dos EUA. Em síntese, a Geopolitik de
Haushofer defendia a constituição de um bloco transcontinental
eurasiático, formado por uma aliança russo-germânico-japonesa que
teria a sua disposição um excedente de poder não compensado,
em termos militares, econômicos e demográficos, capaz de colocar
em xeque o poderio naval do Império Britânico.
Itaussu, Leonel- Quem tem medo de geopolítica?
Haushofer e Hitler
“Sob o ponto de vista puramente militar, as consequências, no
caso de uma guerra da Alemanha e da Rússia contra o ocidente da
Europa e, provavelmente, também, contra o resto do mundo, seriam
verdadeiramente catastróficas. A luta desenrolar-se-ia, não em
terreno russo, mas em território alemão, sem que a Alemanha
pudesse receber da Rússia o menor auxílio eficiente (...). Assim,
pois, o simples fato de uma aliança com a Rússia é uma indicação
da próxima guerra. O seu desenlace seria o fim da Alemanha (...).
Admito que, durante a guerra teria sido melhor para a Alemanha que
ela tivesse renunciado à sua louca política colonial e à sua política
naval, que se tivesse unido à Inglaterra em uma aliança de defesa
contra a invasão da Rússia.”
(Hitler, Adolf- Minha luta- São Paulo-1962- pág.409-412)
Spykman e o Rimland
“ O Rimland da massa terrestre eurasiática deve ser visto
como uma região intermediária entre o Heartland e os mares
marginais. Ele funciona como uma vasta zona amortizadora no
conflito entre o poder marítimo e o poder terrestre. Com vistas
para ambas as direções, ele tem uma função anfíbia e deve
defender-se em terra e no mar. No passado, ele teve de lutar
contra o poder terrestre do Heartland e contra o poder marítimo
das ilhas costeiras da Grã- Bretanha e do Japão. É na sua
natureza anfíbia que está a base de seus problemas de
segurança.”
Spykman, N.J- The Geography of the Peace. 1944
“Em outras palavras nunca houve na realidade uma esquemática
oposição poder terrestre versus poder marítimo. O alinhamento
histórico sempre foi de alguns membros do Rimland com a Grã-
Bretanha contra outros membros do Rimland com a Rússia, ou
então Grã-Bretanha e Rússia juntas contra um poder dominante
do Rimland. O ditado de Mackinder ‘Quem controla a Europa
Oriental domina o Heartland; quem controla o Heartland domina a
World Island; quem controla a World Island domina o mundo’ é
falso. Se é para ter um slogan para a política de poder no Velho
Mundo, este deve ser ‘ Quem controla o Rimland domina a
Eurásia; quem domina a Eurásia controla os destinos do mundo.”
Spykman, N.J- The Geography of the Peace. 1944
IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS
O conflito de dois Estados pela posse de uma região não
é apenas um conflito pela aquisição de um pedaço de
território, mas também pelo que ele contém de
população e/ou recursos. Freqüentemente o objetivo
declarado mascara os verdadeiros trunfos.
(RAFFESTIN,Por uma geografia do poder, 1993, p. 58).
MATÉRIA-PRIMA E RECURSOS
“A província do Quebec decidiu nacionalizar a exploração do
amianto, matéria cuja utilidade é indispensável e indiscutível. Até
aí, nenhum problema se nenhuma indústria química chegar a
aperfeiçoar um processo que crie um bem de substituição que
não seja mais caro que o amianto e que possua todas as
propriedades dele, colocando em risco o amianto da província,
que poderá deixar de ser um recurso para voltar a ser um mineral
de pouca utilidade. A coisa, no entanto, é mais provável do que se
possa pensar” (RAFFESTIN, 1993, p.251 e 252).
Exemplo de questão
(1ª FASE DE 2014) Se necessário for definir um paradigma para a
geopolítica desde que se constituiu como disciplina, certamente
este seria o do realismo, no campo das relações internacionais. A
obra de Friedrich Ratzel, teorizando geograficamente o Estado
(1897), constitui uma fonte crucial para a análise das relações
entre o Estado e o poder. B. Becker. A geopolítica na virada do
milênio. In: Geografia: conceitos e temas,Castro et al. (Orgs.). Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 273 e 277 (com adaptações).
Acerca do paradigma mencionado no fragmento de texto acima e
de suas relações com a obra político-geográfica de Friedrich
Ratzel, julgue (C ou E) os itens a seguir.
1. As leis do crescimento espacial dos Estados enunciadas por
Ratzel retificam os princípios básicos do realismo político.
2. A relação do Estado com o solo reforça a concepção ratzeliana
do espaço vital como o espaço fundamental à expansão de um
complexo povo.
3. Por reconhecer a exclusividade dos Estados como atores
internacionais, o realismo político coaduna-se com os parâmetros
da geopolítica clássica.
4. Por considerar o Estado como organismo vivo, a geografia
política ratzeliana contradiz o paradigma do realismo político.
1ª FASE DE 2014) Karl Haushofer era militar de carreira, mas sua
saúde frágil tornou-lhe difícil o exercício de comando na guerra. Ele
se orientou, então, para as funções do Estado-Maior. E serve, por
isso, de 1908 a 1910, como adido militar em Tóquio. Ele é, assim,
iniciado à geopolítica dos militares e à dos diplomatas. P. Claval.
Géopolitique et géoestratégie. Paris: Nathan, 1994, p. 25 (com
adaptações).
Em relação à hipótese geoestratégica do poder mundial elaborada
por Karl Haushofer, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
1. A panregião da Euráfrica, sob liderança alemã, englobava a
Rússia, subordinada aos imperativos geopolíticos das potências
europeias.
2. A idealização de panregiões comandadas por potências
específicas da Europa, Ásia e América estava associada à
neutralização do Império britânico, concebido como panregião
fragmentada.
3. A formação das panregiões impedia a consolidação de espaços
autárquicos, devido às diversas faixas latitudinais dessas áreas de
influência estratégicas.
4. Segundo essa hipótese, o objetivo estratégico baseava-se na
consolidação do poder marítimo e naval mundial sob o comando
da Alemanha.
Novas teorias geopolíticas

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