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EBD 04 A PRECEDÊNCIA DA FÉ

TEXTO BÍBLICO: ROMANOS 4 | TEXTO ÁUREO: ROMANOS 4.13


SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGO
ROMANOS ROMANOS ROMANOS ROMANOS ROMANOS ROMANOS ROMANOS
4.1-3 4.4-6 4.7-10 4.11-14 4.15-18 4.19-22 4.3-25
té, este ponto de sua Epístola aos Romanos, Paulo trabalhou no
coração da igreja romana o conceito de que a atitude judaica de
obedecer à lei não tinha valor inerente para levar o homem à salvação.
A premissa para que um homem se relacionasse com Deus, segundo o
apóstolo, era que ele reconhecesse seu estado pecaminoso e aceitasse o
sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário para que seus pecados
fossem apagados e ele fosse justificado perante o Senhor.
Para buscar convencer os judeus da importância vital da fé na vida
espiritual do cristão, Paulo decidiu abordar a vida de uma das figuras
mais influentes na história veterotestamentária: o patriarca Abraão. E o
jeito como abordou o assunto não deixou dúvida sobre a central idade
da fé no relacionamento do homem com Deus.
A IMPORTÂNCIA DADA PELO JUDEU A ABRAÃO
Abraão era uma das figuras mais celebradas pelos judeus. Por meio de
Abraão, Deus decidiu formar uma nova nação, escolhida por ele para
manter um relacionamento duradouro, que se transformaria no povo de
Israel. Foi por meio desse relacionamento que Deus se revelou a seu
povo, libertando-o do cativeiro do Egito e entregando a sua lei a Moisés,
demonstrando quais eram os seus padrões de conduta e como ele
esperava que seu povo conduzisse seus passos. A esse povo Deus se
revelava periodicamente e libertava sempre que invocado.
Por causa disso, Paulo dedicou o capítulo 4 de sua epístola para
solidificar seu argumento de que a salvação tinha sua base única na fé
do indivíduo, e não em qualquer ato religioso que viesse a executar. Se
conseguisse demonstrar aos judeus que Abraão se enquadrava no
padrão salvífico que ele havia apresentado no capítulo anterior, os
judeus não teriam mais como questionar a posição de que a salvação
era para todos, judeus e gentios, por meio da fé.

A ARGUMENTAÇÃO PAULlNA
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Para convencer os judeus de que a obediência à lei não possuía um valor
salvífico inerente, Paulo demonstrou que Abraão, pessoa tida em tão
alta estima pelos judeus, precedia a lei. Com isso, desmontou qualquer
resistência de judeus conversos quanto ao valor dos seus irmãos
gentios, mesmo que esses não tivessem previamente obedecido à Lei do
Senhor e não tivessem se circuncidado.
O texto que Paulo cita no versículo 2 está apresentado em Gênesis 15.6.
Nesse momento, Abraão já havia recebido a promessa divina de que
seria o pai de uma grande nação (Gn 12.2). Contudo, lhe faltava a
certeza de como isso ocorreria. Abraão envelhecera e não tivera filhos
diretos, tendo sido forçado a orientar que seus bens fossem
direcionados a seu servo Eliézer, de Damasco. Deus, porém, afirmou que
seu herdeiro seria alguém gerado pelo próprio Abraão, e que sua
descendência seria tão numerosa quanto as estrelas do céu (Gn 12.4,5).
Foi a fé que demonstrou, ao crer que a geração de filhos na velhice era
possível para Deus, que foi creditada a Abraão como justiça, e não a
decisão de obedecer a ordem do Senhor de circuncidar a si, seu filho
Ismael e seus servos, posterior a sua demonstração de fé (Rm 4.9; Gn
17.11-13).
A partir desse argumento, Paulo faz uma dicotomia entre a fé e a
obediência à lei, mostrando que o homem que acredita em Deus pela fé
tem o mesmo crédito de justiça que Abraão obteve (Rm 4.5). Paulo
também nota que a promessa de Deus para a formação do povo judaico
foi feita pela fé, e não pela lei, tornando Abraão pai de todos os que
creem pela fé em Jesus (Rm 4.16,17). Ou seja, a promessa de Gênesis
17.5, de que Abraão seria pai de muitas nações, já remetia à construção
do povo de Deus por meio da adoção como seus filhos pela fé em Cristo
Jesus, independentemente de sua nação de origem.
AS FALHAS DE ABRAÃO
É preciso ressaltar, porém, que por mais valor que Abraão tenha como
um dos pais da fé listados em Hebreus 11, ele também foi um homem
falho. Apesar de não ter sido ordenado a fazê-lo, Abraão aceitou
inicialmente a oferta de Sarai para gerar um filho de sua serva Agar,
causando um enorme problema familiar. Agar, orgulhosa de sua vitória,
começou a desprezar sua serva (Gn 16.4), levando Sara a reclamar com
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Abraão e à primeira expulsão da egípcia. Depois do nascimento de
Isaque, um comportamento jocoso de Ismael gerou nova reclamação e
nova expulsão, dessa vez definitiva. O racha entre os dois irmãos geraria
a enorme rivalidade entre árabes e israelenses que causa tantas mortes
e miséria humana até hoje.
Após isso, Abraão ainda incorreria em grave falha, quando mentiu para
Abimeleque, que havia se interessado por sua esposa, ao falar que era
sua irmã (Gn 20). O pai do povo hebreu, mesmo tendo recebido a
bênção do Senhor, não confiou na proteção de Deus para sua família,
buscando um artifício humano para preservar sua integridade física e,
com isso, quase gerou uma tragédia.

Ao relembrarmos tais relatos, fica claro que mesmo uma pessoa notável
como Abraão, que creu na promessa de Deus mesmo quando foi
ordenado a sacrificar seu filho Isaque em holocausto, é sujeita a falhas.
Assim como ele, somos assolados diariamente por inúmeros problemas
e preocupações que nos fazem balançar e começar a duvidar da
providência divina. E o perigo jaz à porta: quando nos encontramos em
completo estado de desesperança, crendo estar totalmente
abandonados neste universo, podemos entrarem profunda depressão,
buscando formas humanas de nos livrar de tais problemas.
O DEPÓSITO DE NOSSA FÉ
Hoje, temos visto muitos homens surgirem para causar um verdadeiro
alvoroço no meio cristão. Seja pela excelente oratória, seja pelo trato
amigável ou por sinais e milagres realizados apenas em seus templos,
muitos ditos pastores têm manipulado multidões para realizar o que
eles desejam, ofertando bens ou altas somas de dinheiro para manter a
máquina funcionando. Com isso, vemos um desvio muito sério, com as
pessoas depositando sua fé e esperança em indivíduos falíveis. Assim
viviam os judeus conversos: depositando sua esperança na pessoa de
Abraão e na obediência à lei que seu descendente Moisés havia deixado,
consideravam-se superiores aos que não tinham essa origem.
O fato é que não devemos pautar nossa vida ou crer
indiscriminadamente em quem as apresenta em seus púlpitos. Por mais
que um líder eclesiástico possa parecer mais abençoado por causa de
seus dons espirituais, se sua prédica não estiver firmemente alicerçada
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na Palavra de Deus, podemos com toda certeza entender que estamos
lidando com um falso profeta, uma pessoa infiltrada no arraial apenas
para desviar os santos dos caminhos do Senhor.
Uma vida espiritual saudável possui em Jesus o único depositário da fé.
Ele é a única figura com condições de ser um exemplo pleno e perfeito
para nossa vida, pelo fato dele não possuir erros em seu caráter e não
ter incorrido em falhas ou pecados durante sua jornada nesta terra. É
em Jesus que temos acesso direto a Deus, e é em nome de Jesus que
oramos, clamando ao Senhor que nos atenda. Por isso, todos, judeus e
gentios, tinham condições iguais de alcançar a salvação, sem motivos
para vanglória.
CONCLUSÃO
A utilização da figura abraâmica por parte de Paulo foi a principal
estratégia utilizada por ele para convencer os judeus de que não havia
por que se vangloriarem de sua origem. A circuncisão havia tido seu
valor, mas Abraão havia tido na demonstração de sua fé a principal
contribuição para nossa vida. De igual forma, devemos conduzir nossa
vida espiritual sem qualquer resquício de legalismo, para que possamos
receber bem aqueles que aceitam Cristo.
Não há nada de errado em possuir referenciais de fé na vida. Todos nos
acostumamos a ter algumas pessoas como exemplos de vida abençoada:
pastores, líderes de pequenos grupos multiplicadores, ministros de
jovens, dentre outros. Entretanto, não podemos, por causa disso, ouvir
cegamente suas palavras ou atender a quaisquer de seus caprichos sem
o mínimo senso crítico. Nosso exemplo de vida é Cristo. Ele é nosso
Senhor e são seus ensinamentos que devemos seguir.

O maior exemplo que Abraão nos deixou foi sua demonstração de fé e


certeza de que Deus cumpriria sua promessa e faria dele o pai de um
grande povo que Deus chamaria de seu. Aos olhos humanos, era
impossível que um homem aos 100 anos de idade, com uma mulher aos
90, tivesse um descendente direto. Porém, para Deus não há
impossibilidades, e Abraão foi agraciado com o nascimento de Isaque.
Precisamos de, igual forma, alimentar nossa fé em Cristo para que
possamos seguir nossos passos sem medo da morte, mas, sim, com a
alegria da salvação e certeza da vida eterna.
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