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ISAAC

SOARES DE SOUZA



Raul Santos Seixas

Raul Varella Seixas

Maria Eugênia Seixas

Cazuza

Cássia Eller

Sérgio Sampaio

jackson do Pandeiro

Luiz Gonzaga

João Soares de Souza - Meu pai, de quem não me esqueço um segundo sequer e
ao lado de quem espero estar brevemente, pois, eis que a vida passa célere.

Fátima - Louca e lírica, rainha da liberdade, não morreu no sábado, mas


atrapalhou o trânsito do meu coração congestionado.


Raul Seixas

Composição: Raul Seixas e Kika Seixas

Eu já ultrapassei a barreira do som

Fiz o que pude às vezes fora do tom

Mas a semente que eu ajudei a plantar já nasceu

Eu vou

Eu vou m embora apostando em vocês

Meu testamento deixou minha lucidez

Vocês vão ver um mundo bem melhor que o meu

Quando algum profeta vier lhe contar

Que o nosso sol tá prestes a se apagar

Mesmo que pareça que não há mais lugar

Vocês ainda têm

Vocês ainda têm

A velocidade da luz pra alcançar

Vocês ainda têm


A velocidade da luz pra alcançar

Então vai lá!

Além, depois dos velhos preconceitos morais

Dos calabouços, bruxas e temporais

Onde o passado transcendeu a um reinado de paz

Vocês serão o oposto dessa estupidez

Aventurando tentar outra vez

A geração da luz é a esperança no ar

Quando algum profeta vier lhe contar

Que o nosso sol tá prestes a se apagar

Mesmo que pareça que não há mais lugar

Vocês ainda têm

Vocês ainda têm

A velocidade da luz pra alcançar

Vocês ainda têm

Vocês ainda têm

A velocidade da luz pra alcançar


À Kika Seixas, que continua mantendo viva a memória de Raulzito.

Ao próprio Raul Seixas, que mesmo distante, continua presente e inspirador.

Ao meu irmão Eliezer Soares de Souza, pela força e cumplicidade na


realização deste compêndio "raulseixista".

Ao Eliseu Soares de Souza, meu irmão, "raulseixista" até a medula e


divulgador dos meus escritos e parceiro musical.

Aos meus filhos, Milca, Isac e Eliezer, crias da fuzarca, estrelas que iluminam
o meu opaco céu de maluco beleza.

À Fátima, eterna como Raulzito.

À Afonsina Nobre, demônio, favônio, casuarina...

À Dona Maria Eugênia Seixas (mãe de todos os raulseixistas) in memoriam.

À Vivian Seixas pela belíssima foto autografada.

Aos amigos e parceiros musicais, os geniais Douglas "Dodi" Carneiro e Oscar


Marinero, capitães do ótimo grupo musical Hangar XVIII.

A todos os fã-clubes e "raulseixistas" natos que, sentem na carne a ausência de


Raul Seixas, o nosso eterno Lobo Conselheiro.

Ao amigo, jornalista e escritor de suprema habilidade, mas que não gosta de


mostrar seus escritos, Valdecir Martins, responsável pelo texto de abertura deste
livro.

À minha prima querida, Abigail da Silva Brussolo.


Ao "rocker-punk" e exímio caricaturista, Thiago Ivanildo Lima, o "Elvis
Presley", pelas caricaturas de Raul, especialmente desenhadas para
abrilhantarem as páginas deste livro.

Ao editor e amigo de longa data, Vilson Aparecido Della Coletta, outro avatar
da cultura, que publicou meu primeiro livro Raul Seixas, O Metamorfônico.

Ao amigo e incentivador Alberto Barbosa, impressor do Primeira Página,


jornal em que trabalhei durante 9 anos.

Agradeço de coração lavado e saciado de poesia e obras literárias de extrema


grandeza, aos escritores e poetas, amigos de meu filho Eliezer, Affonso Romano
de Sant'anna, Deonísio da Silva e Ferreira Gullar e ao majestoso poeta Lêdo Ivo.

Ao meu sobrinho, André de Souza Almeida, pela colaboração para que este
livro se tornasse real e pelas noites regadas a muito rock'n'roll e blues e porres
homéricos.

A minha querida amiga e leitora, Adriana Ruiva Linda, Araraquara-SP

Isaac Soares de Souza

`Aqui jaz a história sob o escombros da escória."

Zeca Baleiro

Eu me utilizo de todos os meios da sociedade de consumo, penetro no


sistema, mas como um veneno.

Como somos `verbaloides', o começo foi o verbo. Em `cita', e em outras


composições minhas `Eu sou, eu fui, eu vou...'. Eu sou a afirmação do `eu',
pois o homem precisa aprender a se autoafirmar. O `eu' assumido e
vomitado, arrancará do âmago esse medo que o homem tem de declarar-se
senhor absoluto de seus direitos e do universo.

(Raul Seixas)
(I Coríntios, 13)

Se eu falar em línguas de homens e de anjos, mas não tiver amor, serei como
um pedaço de latão que ressoa ou címbalo que retina. E se eu tiver o dom de
profetizar e estiver familiarizado com todos os mistérios sagrados e com todo o
conhecimento, e se eu tiver toda a fé, de modo a transplantar montanhas, mas
não tiver amor, nada sou. E se eu der todos os meus bens para alimentar os
outros, e se eu entregar meu o corpo, para jactar-me, mas não tiver amor, de nada
me aproveita.

O amor é longânime e benigno. O amor não é ciumento, não se gaba, não se


ufana, não se comporta indecentemente, não procura os seus próprios interesses,
não fica encolerizado. Não leva em conta o dano. Não se alegra com a injustiça,
mas alegra-se com a verdade. Suporta todas as coisas, acredita em todas as
coisas, espera todas as coisas, persevera em todas as coisas.

O amor nunca falha. Mas, quer haja dons de profetizar, serão eliminados; quer
haja línguas, cessarão; quer haja conhecimento, será eliminado. Pois temos
conhecimento parcial e profetizamos parcialmente; mas, quando chegar o que é
completo, será eliminado o que é parcial. Quando eu era pequeno, costumava
falar como pequenino, pensar como pequenino, raciocinar como pequenino; mas
agora que me tornei homem, eliminei as características de pequenino.

Pois, atualmente vemos em contorno indefinido por meio de um espelho de


metal, mas não face a face. Atualmente eu sei em parte, mas saberei exatamente,
assim como também sou conhecido. Agora, porém, permanecem a fé, a
esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o AMOR.

(Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas - 1967, 1986. Watch


BibleAnd Tract Society Of Pennsylvania.)


"EU SOU A LUZ DAS ESTRELAS" ................................15

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, NASCE RAUL SEIXAS E SUA


FILOSOFIA ...................... 19

A LENDA CONTINUA VIVA E ATIVA ........................... 31

ALEISTER CROWLEY ................................................. 47

0 INÍCIO DA CARREIRA ............................................. 57

A ERA DO ROCK ........................................................ 67

BIOGRAFIAS PÓSTUMAS ............................................ 89

0 BAÚ DO RAUL REVIRADO ....................................... 97

0 HOMEM QUE DEIXOU A VIDA PARA ENTRAR NA HISTÓRIA


................................... 101

FILMOGRAFIA ......................................................... 107


O tempo é a medida de cada artista. Quando a obra de qualquer artista
transcende o tempo é porque, de fato, ela possui qualidades para ser chamada de
Arte. Neste contexto, sem nenhuma margem de dúvida, insere-se a obra de Raul
Seixas, principalmente aquela que o consagrou como o verdadeiro precursor do
rock nacional, capaz de superar a barreira do iê-iê-iê da Jovem Guarda. Fato
inconteste: além de dividir o rock em antes e depois da sua obra, Raul contribuiu
decisivamente para a evolução da Música Popular Brasileira.

Curiosamente, aliás, Raul Seixas também participou, como compositor (sob o


nome de Raulzito), da jovem Guarda, embora seu pensamento poético e musical
seguisse caminhos diferentes dos desse gênero.

Felizmente, o Raul Seixas que ficou para a posteridade foi aquele cuja obra
brotou a partir da década de 1970, mais pre cisamente 1973, quando estourou
pelas rádios de todo o país, ainda AM (quando elas tocavam qualquer gênero
musical, sem a influência das gravadoras), o sucesso "Ouro de Tolo", música que
retrata corajosamente a crise existencial de ser humano.

A propósito, com "Ouro de Tolo", Raul Seixas descobriu a sua mina para a
consolidação de uma carreira inquieta e irreverente, como ele sempre foi. Na
mesma linha, podem ser citadas outras composições: "Metamorfose Ambulante",
"Medo da Chuva", "Tente Outra Vez" e até mesmo "Trem das Sete".

Raul Seixas, junto com Paulo Coelho, também teve o desplante de lançar a
ideia de uma "Sociedade Alternativa", um movimento que pretendia ser,
digamos, anarquista (e isto sem qualquer sentido pejorativo que a palavra possa
pressupor) em plenos anos de chumbo da ditadura militar. Lógico que o
movimento seria abortado pelo regime, mas a ideia lançada no coração dos
jovens daquela geração persiste até hoje: "não sendo mais um sonho que se
sonha só...".

Raul Seixas, porém, era multifacetado, metamórfico, sim, muito mais do que
se possa imaginar. Nele também pulsava uma veia romântica de rara
sensibilidade que podemos dimensionar, por exemplo, em "A Maçã" e "Mata
Virgem", duas composições que representam o paroxismo, faces opostas de um
mesmo amor.

Quando mais maduro, antes de firmar parceria com Marcelo Nova, mas já
escaldado pelas lições e contratempos que a vida lhe pregou, Raul ressurgiu em
1987 com outro grande sucesso, "Cowboy Fora da Lei", uma síntese debochada
da sua própria vida e também, por que não dizer, um retrato fiel - e infelizmente
ainda contemporâneo - do Brasil, um país já pós-ditadura militar, mas com todos
os resquícios e preconceitos dos anos de chumbo e de uma sociedade
conservadora, embora em perene transformação.

Das obras de Raul Seixas, uma das que mais me marcou, sem dúvida, foi
"Gita", uma espécie de "antítese" do deus ocidental, ao mesmo tempo, o deus
cósmico, mais presente nas religiões orientais. Não era para menos, "Gita" se
inspira no Bhagavad Gita, poema épico hindu, quando Arjuna pergunta a
Krishna "Quem é você?" e Krishna responde: "Eu sou a luz das estrelas"...

Em suma, daí surgiu o mote para uma canção definitiva por sintetizar em si a
verdadeira essência de Deus - não um deus monocrático, mas monocósmico.
Desde sempre, como podemos perceber agora, se o tempo mede o artista,
também é capaz, numa espécie de simbiose criativa, de imitar a sua própria Arte:
Raul Seixas já era eterno muito antes mesmo de nos deixar...


Ano de 1945 - o mundo começava a esboçar os primeiros passos trôpegos
rumo à recuperação da carnificina de mais de 50 milhões de pessoas dizimadas
na Segunda Guerra Mundial, que teve seu início em 1939, quando a Grã-
Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha de Adolf Hitler, por causa da
invasão da Polônia pelos nazistas. Cinquenta milhões de pessoas foram mortas
de forma brutal na Segunda Guerra Mundial. Milhões de refugiados
perambulavam pela Europa na tentativa de regressar para casa e retomar sua
vida, em pequenas e grandes cidades destruídas por uma avalanche de bombas.
O cheiro acre do imenso e caudaloso rio de sangue derramado e a podridão dos
corpos mutilados, ainda ascendia e pairava no ar, infectado pela estupidez do ser
humano. Muitas mulheres e meninas, especificamente na Rússia e na Alemanha,
tentavam superar o trauma do estupro pelas mãos dos exércitos invasores. Na
maior parte da Europa, havia racionamento de alimentação e vestuário. Milhares
e milhares de soldados desmobilizados procuravam emprego. Viúvas e órfãos
choravam a perda de seus maridos, filhos, irmãos e pais. O mundo parecia ter se
transformado no érebo de Dante e a sensação de total desolação era iminente.

O mais sangrento e hediondo capítulo da história da humanidade parecia


chegar ao fim. A lembrança das atrocidades, a realidade do holocausto dos
judeus, ainda hoje permanece na memória de vítimas marcadas para sempre e na
memória do mundo todo. A serviço de interesses políticos e comerciais de
potências mundiais e de seus governantes, a Segunda Guerra Mundial,
transformou a humanidade num planeta inóspito, habitado por assassinos bestiais
e desde então, o mundo nunca mais foi o mesmo. Depois de 1945, a Terra sofreu
mudanças catastróficas no que se refere à cultura, aos costumes, à vida social e
moral, o homem começou então, a enxergar os conceitos humanitários com
outros olhos, de lince, olhos de hiena... faminta.

Quando o mundo revelou, finalmente, o derrotado III Reich, um monstro foi


abatido e o horror dos campos de concentração nazistas veio a lume
envergonhando a humanidade.

A visão medonha e satânica era um pesadelo monstruoso demais para ser


entendido. Soldados e civis conseguiam apenas mirar, em silencioso horror, os
fragmentos de uma gigantesca máquina de matar.

Somente no campo de extermínio de Auschwitz, cerca de 1,5 milhões foram


mortos, torturados e esquartejados, prova cabal de que o homem é o animal mais
nocivo e cruel sobre a face da Terra, capaz de cometer atrocidades indizíveis. Em
1945, precisamente no dia 28 de junho, na cidade de Salvador-BA, nascia o
rebento Raul Santos Seixas, filho de Dona Maria Eugênia Seixas (dona de casa)
e do engenheiro ferroviário, Raul Varella Seixas. Raul era filho dessa época
caótica, talvez daí tivesse surgido nele a constante revolta contra as injustiças e a
sua luta pela liberdade total e absoluta do ser humano.

Raul, cujo nome não tem fim nem começo, pois é luar aos avessos, é um
nome que significa "Lobo Conselheiro". E foi nessa mesma época de terror, que
se alastrou por toda a humanidade, em que o Enola Gay despejava o terror
atômico sobre Hiroshima e Nagasaki, que veio à luz o "Lobo Conselheiro", Raul
Seixas. Raul nasceu em junho e dois meses depois, precisamente no dia 16 de
agosto, às 8h15min da manhã, hora do Japão, um tremendo lampejo de luz
atravessava o céu de Hiroshima e Litlle Boy, a bomba da morte foi lançada da
superfortaleza voadora B-29, transformando Hiroshima num mar de chamas e de
mortos. Três dias depois foi a vez de Nagasaki. O homem é o lobo do homem.

Hitler sonhava com a purificação da raça ariana e não media esforços, por
mais hediondos que pudessem ser, para chegar à meta traçada. Raul Seixas, o
Lobo Conselheiro, imaginava e acreditava na possibilidade de o homem ser um
super-homem, ser seu próprio Deus e assim conquistar o planeta e implantar o
sistema pregado pela Sociedade Alternativa. Para isso, a única guerra que seria
necessária não era uma guerra armada e nem sanguinária, mas sim uma guerra
íntima, pessoal, moral e consciente.

A Sociedade Alternativa, engendrada por Raul e Paulo Coelho, a meu ver se


assemelha ao Partido do Kaos, idealizado pelo nietzschiano e filósofo Jorge
Mautner. Este considera Raul e Jimi Hendrix semideuses do Kaos (com K) e, em
suas canções-discursos sempre repete as seguintes elocubrações nietzschianas:
"Somente quem tiver o Kaos dentro de si, poderá dar luz à grande estrela
bailarina", já o mago Raul Seixas cantava sem parar o hino da Sociedade
Alternativa, cujas palavras, diferentes das declaradas por Jorge Mautner, mas
carregadas do mesmo sentido, alertam: "Viva a Sociedade Alternativa... Se eu
quero e você quer, tomar banho de chapéu, ou discutir Carlos Gardel, então vá,
faça o que tu queres, pois é tudo da lei... `Todo homem e toda mulher é uma
estrela'..." e essa estrela, com absoluta certeza, é a mesma estrela bailarina
nascida do Kaos. Cada homem disposto a se apresentar e servir como soldado
sem capitão, guerrilheiro sem armas, no Exército da Sociedade Alternativa, teria
de estar disposto a fazer uma longa peregrinação pelo seu próprio interior,
adentraria sorrateiramente o abismo do seu "eu" e minaria com bombas culturais
o campo inconsciente de seu próprio âmago, eriçando, das profundezas de seu
inferno, a grande estrela bailarina.

Desde o surgimento do primeiro homem sobre a face da terra, a população


vive na mais esquálida e diabólica inércia e não encontrou até o presente
momento força necessária para derrubar as muralhas da inconsciência, velhos
preconceitos morais, calabouços, bruxas e temporais. O homem vive sob uma
avassaladora ditadura cultural, sob as garras do colonialismo moderno. O
homem só precisa de uma única lei: A Lei da Vontade, a Lei de Telema. Quando
o homem tiver o domínio total da Lei de Telema, apresentada no Livro da Lei, de
Aleister Crowley, atingirá então, gradativamente, o reinado de paz, da paz
interior, individual e consequentemente, da paz coletiva.
Quando Raul falava: "Não existe Deus, senão o homem", uma frase do Livro
da Lei, de Aleister Crowley, ele jamais insinuou que não acreditava na existência
de Deus, muito pelo contrário, com estas palavras, Raul afirmava,
categoricamente a sua fé: "Não existe Deus senão o homem". Aqui Raul queria
ilustrar que Deus é um ser divino e real, que está em cada um de nós. Não falava
do Deus Todo-Poderoso e vingativo que criou o homem-robô do qual a Santa
Igreja, responsável direta pelos crimes mais horrendos contra a humanidade, nos
fala. Para ser completamente livre, o homem teria de arregimentar forças e
coragem suficientes para descer ao fundo do calabouço de sua alma e acordar da
milenar hibernação do seu "eu". Libertos, homem e alma, feitos um só, de
ousadia e consciência, o homem seria uma fortaleza intransponível e estaria
pronto para o Novo Aeon, preparado para dar luz à grande estrela bailarina.
Derrotaria os fantasmas pré-históricos: Igreja-Estado-Sociedade, implantando o
início de uma Nova Era, um eterno reinado de paz.

Adolf Hitler e seu partido nazista assassinaram milhões de judeus no coração


da cristandade - a Igreja Católica e a Igreja Protestante apoiaram
entusiasticamente o Estado Nazista e seus ideais arianos. As igrejas rogavam o
privilégio de usar e exibir a Suástica em seus templos. Católicos-romanos,
protestantes e ortodoxos orientais, batizados, bispos, padres, pastores, enfim,
parte da liderança religiosa apoiou desavergonhadamente o Estado Nazista e
todas as guerras travadas pelo governo de seus países. A Cruz e a Suástica,
durante o Estado Nazista, podiam ser vistas e veneradas juntas, do alto das torres
das catedrais alemãs. Igreja e Estado são irmãos gêmeos ou consanguineos,
gerados pelo diabo do poder e da ganância, mascarados de cordeiros de
holocausto.

A história é mentirosa e disforme, de acordo com o que registra uma


infinidade de livros, nos quais podemos constatar e conhecer um pouco mais
sobre esses macabros episódios, que minaram o planeta Terra de sangue
inocente.

Uma pequena seita na época, corajosa e intrépida, merece o respeito e


reconhecimento da humanidade e da história, as testemunhas de Jeová. Elas se
recusaram sistematicamente a apoiar o regime nazista. Milhares de seguidores
desta seita foram presos, torturados e mortos covardemente nos campos de
concentração nazistas, mas não temeram a fúria hitlerista, não abdicaram de sua
fé. Pregavam seus ideais de esperança e fé inabalável e desafiaram,
humildemente, alicerçados nos ensinamentos bíblicos, a Gestapo e o Estado
Nazista. As testemunhas de Jeová, cujo ideal é a obediência exemplar à Bíblia e
às palavras de Deus (Jeová), foram os primeiros a enfrentar corajosamente a
fúria do demônio nazista. Elas recusaram sistematicamente a adoração à Hitler e
à suástica, obedecendo fielmente às instruções de seu Deus Jeová. "Forjaram de
suas espadas relhas de arado". De todas as histórias e horrores que ouvi e li em
livros, o que mais me despertou para a realidade foi, sem dúvida, a fé e a
perseverança exemplares das Testemunhas de Jeová. Elas são a prova viva da
força da fé. Quando acreditamos na veracidade de nossos ideais, a perseguição e
o descaso que porventura venhamos a sofrer e todo preconceito, tortura e
obstáculo que nos forem impostos, serão meros detalhes, que mais adiante nos
fortalecerão.

Não tenho religião, não professo nenhuma fé, pois só acredito em mim, e
longe de mim ostentar qualquer credo religioso, mesmo porque,
independentemente de ter fé em um Deus único ou não, todas as manifestações
religiosas, cristãs ou não, conduzem todas as ovelhas ao aprisco do mesmo Deus,
embora por caminhos diferentes. Acredito que cada um de nós é a sua própria
religião, cada um é o seu próprio Deus. Como filosofava Raul: "Não tem certo
nem errado, todo mundo tem razão... O ponto de vista é que é o ponto da
questão...". Toda e qualquer organização religiosa é responsável pela estagnação
da raça humana e deturpa os ensinamentos bíblicos, pois a Bíblia contém
exemplos suficientes para revelar ao homem que o amor e respeito ao próximo
são as únicas armas capazes de nos conduzir à igualdade e à liberdade, ao Kaos,
à Sociedade Alternativa. Mas eu não poderia deixar de citar aqui tamanho
exemplo de coragem, honradez e fé. As "testemunhas de Jeová", ainda hoje
sofrem muito preconceito. Não foi à toa que, Zé Ramalho, o Profeta do Terceiro
Milênio, em parceria com o "crowleyano" Mauro Motta, compôs e gravou a
belíssima canção "Acredite quem quiser", em que ele evoca o respeito e a
liberdade de culto a todas as religiões: "Filhos de Jacob, Testemunhas de Jeová,
Bichos que habitam essa Arca de Noé, Salvem o que puder salvar, Porque o
homem veio pra acabar, E o fim tá difícil de evitar...".

Os dados históricos sobre a Segunda Guerra Mundial e o regime Hitlerista,


que compõem as páginas iniciais deste compêndio "raulseixista", foram retiradas
das revistas Sentinela e Despertai, editadas pelas Testemunhas de Jeová. "Não
diga que a vitória está perdida, tenha fé em Deus, tenha fé na vida, pois é de
batalhas que se vive a vida."

Raul Seixas nos outorgou como testamento a sua lucidez para que
pudéssemos ter a coragem de construir um mundo melhor. E esse mundo melhor
(o reinado de paz) só depende da nossa própria força, fé e vontade. Somos "a
geração da luz e a esperança no ar". Por que deixar que o mundo lhe acorrente os
pés? Fingir que é normal estar insatisfeito? Será direito? Por que você faz isso
com você? Por que, homem?

Os homens fazem leis e mais leis: leis contra os costumes, o


pensamento, o amor e o sexo. E a vida é livre, não segue nenhuma lei.
Por isso é que sofremos. A vida é a frustração, o limite, o que poderia ter
sido e não é... Por que temos de viver sob atos institucionais, sob leis,
leis e mais leis, uma mais estúpida do que a outra? O amor, a poesia, os
direitos humanos, tudo jaz esmagado sob o peso das leis, mais estúpidas
e ilegais do que os próprios estúpidos e sacripantas que as decretaram,
pois são estes os primeiros a violarem as leis criadas por eles. No mundo
atual, Deus e sua Igreja agonizam. A Igreja ainda vive de sua pregação
contra o sexo, a tentação da carne, a sensualidade. Os pecados capitais
continuam os mesmos: a ira, a gula, a luxúria... e os homens já
progrediram tanto nesse setor, inventaram novos pecados, requintados,
diferentes. Aprenderam a assassinar friamente povos inteiros em defesa
da liberdade, a torturar em nome dos direitos humanos, a matar pela
fome milhares de pessoas. O mundo é absurdo e ridículo, como pode
uma minoria munida de metralhadoras e tanques esmagar a maioria,
condenando-a à miséria e privando-a da liberdade? Em toda parte,
tortura-se, mata-se em nome da ordem, da família, dos costumes, do
sistema, de Deus. O massacre de Cristo não bastou, seu sangue foi pouco
para saciar a sede de sangue dos homens. Todo dia comemora-se o
sacrifício de Cristo, crucificando-se um ser humano. A vida, uma viagem
marcada pela morte. Seguimos nosso próprio funeral.

(Maria Lúcia Pinheiro Sampaio).

Todos fazemos parte desse jogo sujo. O ser humano é jogado ao centro da
arena, em luta desigual contra os leões do sistema, para o deleite sadomasoquista
da realeza. Não foi por acaso que José Saramago proferiu palavras duras para
ilustrar a sua concepção quanto à condição humana: "Acho que a vida não passa
de uma grande sacanagem de Deus, se é que Ele existe. As pessoas sofrem,
passam o diabo e tudo para no fim acabar do mesmo jeito? Você nasce sabendo
que vai morrer, nasce e começa a morrer... isso é uma grande sacanagem,
brincadeira de mau gosto. A dignidade do ser humano é todos os dias insultada
pelos poderosos do nosso mundo, a mentira universal tomou o lugar das
verdades plurais; o homem deixou de respeitar-se a si mesmo quando perdeu o
respeito que devia ao seu semelhante. A história é mentirosa e disforme e muito
mal contada. Tudo não passa de um grande engodo e o homem só vai atingir o
ápice de sua supremacia, quando deixar de lado seus medos e receios e exigir
que a verdade venha à tona". Monteiro Lobato já dizia: "O Estado é um enorme
canteiro em que as classes sociais privilegiadas são as flores e a imensa maioria
é apenas o esterco que engorda essas flores. Esterco doloroso e gemebundo".

No Nazismo, só havia uma saída para os perseguidos: a escravidão seguida de


morte. Mesmo que quisesse ser nazista, um judeu não poderia. Ele estava
condenado ao extermínio desde o instante em que era fecundado.

Em setembro de 1939, teve início o mais cruel pesadelo da humanidade. As


forças de Hitler invadiram a Polônia e desencadearam a mais sangrenta guerra da
história e a perseguição às raças inferiores, conforme Hitler as considerava. Para
ele os judeus não eram humanos e por isso, não tinham direitos humanos. O
extermínio da raça judaica passou então, a ser o alvo principal do III Reich. O
que causa maior repugnância é ter conhecimento de que a Igreja de Roma, a
corporação mais rica do mundo (o Vaticano), foi colaboradora do III Reich.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Igreja de Roma permitiu o sacrifício de 6
milhões de judeus e de mais de 1 milhão de sérvios ortodoxos.

A Lei de Telema, a Lei da Vontade, tão cantada e ensinada por Raul Seixas,
não obedece e nem segue regras sociais ou re ligiosas impostas, e é por isso que,
para os fanáticos religiosos, Raul era a encarnação do demônio, pois ele cantava,
clara e objetivamente que: "a Lei é fazer a sua Vontade". Cada um de nós deve e
pode fazer a sua própria lei, sem deixar de respeitar as leis naturais e
contemporâneas. Questionar os valores ensinados não significa transformar tudo
num caos absoluto, mas transformar o caos em Kaos, pois é necessário e
imprescindível que a vontade alheia também seja respeitada e mantida, até que a
verdade seja uma vontade geral, aprendida inconscientemente e buscada por
todos. Fazer a própria vontade implica, obviamente enfrentar vários conflitos
internos e externos, principalmente.

A Lei da Vontade, antes de tudo, é também a Lei da Coragem, A Lei do Eu


Posso, Eu Faço, Eu Vou, Eu Sou... Não podemos e não devemos, jamais,
confundir a Lei da Vontade com a Lei da Anarquia. Raul sempre dizia: "Faze o
que tu queres, há de ser tudo da Lei, a Lei do Forte, essa é a nossa Lei e a
Alegria do mundo...", "Os Escravos servirão". Segundo ele, não devemos nunca
dar lugar à antinomia, pois a Lei da Vontade não é a Lei da anarquia
institucionalizada. A Lei da Vontade de ser forte, guerreiro e consciente, da
vontade de ser homem, de ser mulher e de ser uma estrela que brilha num mundo
de paz, livre de preconceitos tolos, livre dos calabouços da história. Sempre,
desde os primórdios, a história vem sendo escrita por aqueles que venceram,
portanto, não devemos nunca dar crédito a tudo o que nos tentam empurrar boca
adentro. Esta era a grande preocupação de Raul Seixas, ensinar ao homem como
ser livre e dono de seu nariz. Raul via o homem como indivíduo único,
atravessando um processo de aprendizado e libertação lento. Por meio de suas
músicas, poemas e textos, ele conseguiu passar a verdadeira mensagem de que
somos capa zes de realizar coisas novas e construir um mundo melhor. Ele
ensinou ao homem o seu próprio "EU". Mostrou ao homem a importância da
autoafirmação: "eu sou... eu posso... eu vou...".

Raul já nasceu póstumo, a morte física, pela primeira vez, perdeu a guerra
contra a vida, pois a lenda continua viva e ativa. Visto que a morte não mata
quem nasceu imortal, Raul, o Lobo Conselheiro, o Carpinteiro do Universo, não
morreu, atingiu a Grande Consciência Cósmica e passou para a Fase A da
Sociedade Alternativa.

"Um homem não é nada mais do que ele sabe" (Francis Bacon - 1561/1626),
com estas palavras o filósofo alemão deixou verdadeiramente lapidado na cabeça
do ser irracional, que só usa 10% de sua cabeça animal, um retrato 3x4 da
própria espécime: um homem nada mais é do que ele sabe, nada significa, é um
escravo eterno de sua própria ignorância e medo e os escravos servirão. Se tudo
sabe, é um semideus todo-poderoso, gigante e livre, se nada sabe, nada significa.
Raul Seixas lutou ferozmente contra o Monstro Sist e contra todos aqueles que
eram contrários aos direitos que ele pregava corajosamente pertencerem a todos
os seres vivos.


0 rock'n'roll e o pacto com o demônio

Quando a história do rock'n'roll brasileiro for escrita na íntegra parecerá com


uma biografia simples de Raul Seixas, pois nenhum outro artista, dentro desse
segmento musical, atingiu o grau filosófico e mítico que a obra de Raul atingiu.
No Brasil nenhum artista ousou tanto e com tamanho sarcasmo e inteligência.
Nenhum cantor/compositor ousou encarar o Monstro Sist de peito aberto, sem
medo. Foi o mago Raulzito quem levou, como poucos, a bandeira do rock feito
no Brasil nas últimas décadas que antecederam sua morte.

Raul varava as noites em claro, pois não admitia a possibilidade de um


homem dormir confortavelmente, enquanto outro ser humano dormia esfomeado
e passando frio nas calçadas, nos guetos, sob as marquises. Desde a infância
rebelde em Sal vador até seu triste falecimento em 21 de agosto de 1989, Raul
viveu e sofreu na carne tudo o que o verdadeiro espírito do rock exige de quem
almeja representá-lo pelas estradas das almas solitárias. Primeiro filho de um
engenheiro ferroviário e de uma dona de casa, viveu sua infância entre livros de
ficção e filosofia. Seus primeiros contatos com o rock'n'roll aconteceram numa
época em que os jovens brasileiros mal se davam conta daquele ritmo tribal que
começara a invadir e sacudir os Estados Unidos com Chuck Berry, Litlle
Richard, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Em 1945, quando Raul nasceu, o
rock'n'roll já havia mostrado suas garras, dando as primeiras investidas com
Arthur "Big Boy" Crudup, até atingir o cume da reestruturação de valores em
1954, com influências diferentes, como sempre ensinava Dom Raulzito: o rock
de Chicago - Chuck Berry; o do Alabama - Litlle Richard; os gospels (spirituals)
dos negros americanos e foi metamorfoseado até chegar a Elvis Presley. O rock
era um movimento comportamentista.

Desde o início, o diabo foi reconhecido como o pai do rock e os pregadores da


sua nefasta palavra eram considerados seres "possuídos pelo demônio" e
errantes, possuídos pelo mal. Todo jovem ou quem ousasse cantar rock era
imediatamente tachado de elemento nocivo à juventude, portanto, execrado, e
ainda hoje é assim, embora muita coisa tenha mudado. Quem ousasse desafiar
regras estabelecidas, naqueles tempos de moral rígida, era sumariamente elevado
ao patamar da ignomínia e perseguido implacavelmente como divulgador da
nova seita demoníaca: o Rock'n'roll. Além de todas as perseguições que esses
cavaleiros do apocalipse passaram a enfrentar, havia no ar o cheiro de enxofre da
lenda criada em torno do nome de RobertJohnson e o provável pacto que ele
fizera com o diabo numa encruzilhada. Associar o rock e o blues a influências
satânicas é um costume que ainda hoje prevalece.

Certa vez Raul Seixas declarou que preferia dizer que tinha um pacto com o
demônio a dizer que tinha parte com a revolução. E já que o velho e bom
rock'n'roll é mesmo dionisíaco, Raul, implacavelmente, confirmou as suspeitas
acima ditas e foi réu confesso, quando escreveu "Rock do Diabo", em cujos
versos ele vocifera: "O Diabo é o pai do rock...".

"Eu quero é ter tentação no caminho, pois o homem é o exercício que faz...
Minha espada é a guitarra na mão... Quero ver Beethoven fazer aquilo que
Chuck Berry faz... Um pacto com Satã ainda quero tentar". Todas essas
afirmações sarcásticas proferidas pela língua ferina de Raul Seixas, em várias de
suas composições musicais e declarações à imprensa, contribuíram
sobremaneira, para dar vida e fôlego às suspeitas religiosas de que ele,
realmente, era um representante do Diabo na Terra. Sem levar em consideração a
sua tão alardeada cumplicidade com a magia negra e as sociedades esotéricas.
Fatos realmente verdadeiros, mas não da forma como foram ditos e
considerados, pois Raul, ligado mesmo a tais sociedades e à magia de Crowley, a
qual ele chamava de "magik", pois não se tratava de magia negra e sim de magia
condutora à liberdade e à Lei da Vontade, só queria mesmo era conhecimento e
não se tornar membro assíduo e fanático de nenhuma ordem e dos ensinamentos
de Crowley. Raul sugou apenas o que considerava benéfico para a humanidade.

Raul, o esoterismo e a ditadura militar

Raul, nos anos de 1970 a 1976 frequentou a AA (cujas iniciais no passado


foram interpretadas como Argentum Astrum), uma sociedade esotérica que
simpatizou com a música "Sociedade Alternativa" e com o trabalho que Raul e
Paulo Coelho estavam realizando na época. Foi então, que Raul se envolveu com
o ocultismo, com Aleister Crowley. A sociedade AA chegou a fazer a doação de
um terreno enorme para Raul, em Minas Gerais, para a construção da Cidade das
Estrelas, que era um sonho dele naqueles longínquos anos de ditadura militar.
Raul pertencia à AA tanto no Brasil como nos Estados Unidos. Chegou a iniciar
11 pessoas nos Estados Unidos, mas acabou sumariamente expulso da Argentum
Astrum por ter violado uma lei sagrada: Raul simplesmente enrolou um
"baseado" em um pedaço de papiro egípcio, que era considerado sagrado.

Raul, na verdade, era um guerreiro em busca de conhecimentos básicos para


dar continuidade ao seu trabalho em prol da paz e da autoafirmação humana.
Frequentou seitas, sociedades esotéricas e magia por pura e simples curiosidade
e aprendizado, jamais por acreditar na realidade dessas seitas e de suas verdades
absolutas as quais jamais o convenceram. Desde os 11 anos de idade, ele já
desconfiava de toda verdade que aparentava ser absoluta. Tanto que Raul
usurpou, sabiamente, muitos dos ensinamentos esotéricos e muita coisa de
Aleister Crowley e os transformou em obras-primas musicais e poéticas.

Nessa mesma época caótica, o governo militar se viu acuado diante de tais
pregações e se sentiu incomodado com a tal Sociedade Alternativa e decidiu
acabar com aquelas pretensões idealizadas por um artista que acabara de surgir
no cenário musical, e até então, permanecia intocado pelos cães da ditadura
militar, responsáveis por torturas e assassinatos em nome de uma falsa ordem.
Havia um novo líder revolucionário que não obedecia às regras estabelecidas e
era preciso acabar com aquilo, era preciso cortar o mal pela raiz, antes que
aquela ár vore se tornasse frondosa, desse frutos e as pessoas começassem a
procurar sua sombra. A ordem de prisão veio do 1 Exército, que queria os nomes
das pessoas envolvidas com a Sociedade Alternativa. De acordo com os
militares, a Sociedade Alternativa era um movimento revolucionário contra o
governo.

Raul foi detido no Aterro do Flamengo, levado para um local desconhecido,


com uma carapuça negra e completamente nu. Foi espancado, torturado, levou
choque nas partes íntimas e foi enterrado até o pescoço por horas a fio, segundo
ele mesmo me declarou em 1984. Os agentes do governo queriam que ele
entregasse o nome das pessoas envolvidas com o que os militares acreditavam
ser um movimento contra o governo. A Sociedade Alternativa pretendia se
alastrar nacionalmente, sim, mas não como um movimento revolucionário, a
Sociedade Alternativa é um movimento íntimo e pessoal, portanto, um
movimento revolucionário mental, consciente. Você pode não estar dentro da
Sociedade Alternativa, mas a Sociedade Alternativa sempre esteve dentro de
você.

Raul acabou sendo expulso do país em segredo quase absoluto, como ele
mesmo dizia: "fui convidado a sair", em 1974, e despejado em Nova York, sem
dinheiro, sem amigos e sem destino. "A história dos mortos e desaparecidos
políticos durante a ditadura militar no Brasil, incluindo o período imediatamente
após o Golpe Militar de 1964, é o mais abominável período que nosso povo e
país atravessaram. Militantes de organizações de esquerda e muitas pessoas
ligadas aos movimentos contra aquele Estado perderam a vida nas lutas contra a
opressão política e injustiça social existentes no Brasil. Artistas de todos os
gêneros culturais foram torturados e expulsos do país e centenas de pessoas
assassinadas sob tortura nos fétidos porões da ditadura. Em 1979, a conquista da
Anistia representou um marco na luta contra a ditadura, ainda que não tenha sido
ampla, geral e irrestrita como almejava a maior parte da sociedade.

Durante 25 anos, desde meados dos anos 1970, familiares e ex-companheiros


dos mortos e desaparecidos políticos lutaram para obter informações sobre seus
parentes e amigos, organizados em comissões e contando com o apoio de setores
da sociedade civil, especialmente entidades voltadas para a defesa e promoção
dos direitos humanos. O principal fruto desse trabalho, sem dúvida, é o Dossiê
dos Mortos e Desaparecidos Políticos.

A partir de 1964, outra frente de luta foi intensificada no Congresso Nacional


e durou quase cinco anos até a conquista da Lei 9.140/95, de 4 de dezembro de
1995, que estabeleceu condições para a reparação moral das pessoas mortas por
motivos políticos bem como indenização financeira a seus familiares. Ao
realizar esse reconhecimento legal, o Estado brasileiro assumiu a
responsabilidade geral por sequestros, prisões, torturas, desaparecimentos
forçados e assassinatos cometidos no período. Assumiu também, a violação dos
direitos humanos praticada pela ditadura militar, inclusive as ocorridas em
virtude de suas conexões com os aparelhos repressivos de outros regimes
ditatoriais então existentes na América Latina2.

As conquistas da Anistia, em 1979, e da Lei 9.140/95, em 1995, são de fato


um marco importantíssimo na luta contra a ditadura militar. No entanto, muita
coisa ainda falta para que o Estado assuma suas responsabilidades e permita que
a verdade total venha à tona neste mar de lama e sangue.

Raul Seixas teve muita sorte, ele poderia ter morrido nos porões da ditadura.
Em Nova York, era ajudado pela família e pela gravadora, que sempre enviavam
dinheiro para que ele se mantivesse no exílio. A música "Gita" o trouxe de volta
do exílio e o reestruturou como artista. A ideia de fundar uma cidade onde seus
habitantes e novos munícipes seriam o antiadvogado, o antiguarda, o antitudo,
era uma loucura naquela época. Mas vejam o poder de libertação que a música
possui: Raul só voltou ao Brasil, após "ter sido convidado a sair", quando sua
música mais conhecida estourou nas paradas musicais de todo o país. Uma
mutação radical de todos os valores sociais e a edição do Gibi-Manifesto,
financiado pela gravadora Philips, que rapidamente foi recolhido pela polícia do
Exército, "O Manifesto de Krig-Há", foram os responsáveis diretos pela prisão e
expulsão de Raul Seixas do país.

Nos Estados Unidos, Raul foi para Geórgia, comprou um Cadillac do sogro e
junto com Glória Vaquer, sua companheira na época, colocaram as coisas no
veículo 57, cor-de-rosa, do tempo de Elvis Presley e atravessaram os Estados
Unidos inteiro. Acabaram indo para Nova York e passaram a residir em
Greenwich Village. Foi nessa mesma época "braba" que Raul conheceu John
Lennon. Também cantou, acompanhado ao piano por Jerry Lee Lewis (The
Killer), em Memphis, Tennessee.

Desde a infância, Raul era um garoto problemático, assustava as mães que


queriam suas filhas sempre bem afastadas daquela cópia esquizofrênica de James
Jean. Raul morava ao lado do Consulado Americano, em Salvador, e junto com
os amigos estrangeiros acabou injetando nas artérias o veneno do rock'n'roll
trazido por eles e aprendeu ainda a falar inglês fluentemente. Aprendeu a tocar
sozinho um violão que ganhara de presente da mãe, ouvindo discos de rock:
Chuck Berry, Litlle Richard, Jerry Lee Lewis, Elvis Presley, Ed Chrocan e outros
completamente desconhecidos no Brasil. Mas a sua grande paixão foi mesmo
Elvis Presley. Na adolescência, Raul era o próprio Elvis baiano, copiava o ídolo
em tudo e por isso mesmo amedrontava as donas de casa, que acreditavam que
ele tinha constantes ataques de epilepsia no palco. Naquela época o rock'n'roll
era coisa de marginal.

Desde sua infância, Raul já era considerado uma criança problema. Repetiu
cinco vezes o ano letivo, não gostava de estudar, matava as aulas constantemente
para ouvir rock'n'roll, aprontava mil travessuras, levando sua mãe à loucura. Ela
não queria Raul nas ruas para que ele não aprendesse a falar palavrão. Raul
fundou ao lado do amigo Waldir Serrão, o primeiro fã-clube de Elvis Presley, em
Salvador, o "Elvis Rock Club". A aparente e nítida revolta diante dos valores
estabelecidos e regras sociais, religiosas e familiares, contribuiu para que todos
vissem naquela esquálida e insípida figura, a encarnação do demo, porque ele
sempre se opunha às regras e caretices estabelecidas e consolidadas. Queria e
lutaria por um mundo melhor, mais justo, no qual o homem pudesse andar de
cabeça erguida, sem medo e completamente livre.

Raul queria deixar sua impressão digital no mundo. Então ele era mesmo a
encarnação do demônio, o Opositor? Afirmo, sem receio de cometer nenhum
equívoco: Raul, quando gravou o segundo LP de sua carreira, o Sociedade da
Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez, em 1971, pela CBS, criava
naquele ano uma nova ordem mística e esotérica, pois o referido disco reuniu
pessoas com ideias novas e foi gravado de forma alternativa, sem o aval da
gravadora. Raul convidava as pessoas na rua para participarem do disco, que foi
produzido e gravado por ele, Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star. O
disco foi gravado às pressas, durante uma viagem do diretor da gravadora e em
seguida recolhido das lojas por ordem deste diretor, que não aceitou aquele ato
de insubordinação. Mas a lenda que corre de que Raul teria sido expulso da CBS
por causa desse disco não autorizado não é verdadeira. Raul apenas recebeu
advertências, mas não perdeu o emprego, justamente por ser um dos mais
sagazes e capacitados produtores musicais. E foi justamente da junção da
Sociedade da Grã-Ordem Kavernista e Sociedade Secreta da Besta do
Apocalipse, que nasceu o mais conhecido e venerado culto à liberdade, que deu
à luz o "raulseixismo": a Sociedade Alternativa.

A Sociedade Altenativa

A Sociedade Secreta da Besta do Apocalipse era uma entidade secreta da qual


Paulo Coelho fazia parte. Paulo dirigia também a revista alternativa 2001!
Raulzito o procurou para dialogar sobre um artigo que Paulo Coelho havia
escrito para a tal revista que impressionara Raul, pois falava de discos voadores.

Paulo Coelho, Raul Seixas, Adalgisa Halada e Salomé Nadine, fundaram a


Sociedade Alternativa, em setembro de 1973. Baseada nos ensinamentos do
bruxo inglês Aleister Crowley, que se autodenominava a Besta do Apocalipse, a
Sociedade Alternativa foi mundialmente reconhecida no dia 17 de fevereiro de
1974. Essa Sociedade tinha um selo de reconhecimento impresso nas capas de
alguns discos de Raul. Dois círculos, um maior e outro menor, desenhados e
escritos no tipo gótico: Imprimatur/Sociedade Alternativa, escritos em forma
arredondada dentro do círculo maior e completando o círculo menor, uma chave
com dois degraus embaixo, simbolizando os degraus da iniciação, a chave que
abre a porta lá do quarto dos segredos. A Chave da Vida. A Chave da Sociedade
Alternativa. Na verdade, essa chave enigmática, que só foi impressa nas capas
dos primeiros discos de Raul, só tornou a aparecer longos anos depois, quase no
final de sua vida, no disco A Pedra do Gênesis. É uma adaptação da Cruz de
Ansata (ANKH), um dos hieróglifos egípcios. É a chave da vida como dizia
Raulzito, o sopro da vida, daquele que quer evoluir, ousar, crescer. A chave que
abre as portas dos palácios suntuosos da vida. Sabemos que o poder da Igreja era
tão forte nos primórdios que, nenhum tipo de literatura podia ser impresso ou
publicado sem que houvesse autorização expressa do poder eclesiástico, ou o
imprimátur da Igreja (imprimatur, em latim quer dizer imprima-se, pode ser
divulgado).

O Diabo, na obra de Raul Seixas, é talvez o assunto mais importante, um fator


predominante em sua obra musical e poética/filosófica. Toda vez que ouvimos
uma canção de Raul Seixas ou lemos seus escritos, adentramos os portais da
cultura e da história, da literatura, da filosofia, da religião, da tradição milenar,
da cabala e dos velhos preconceitos que empobrecem a alma. Entretanto, trata-se
de um assunto um tanto curioso, causador de acirradas discussões, mas de fácil
entendimento. Sabemos que na simbologia religiosa, Lúcifer quer dizer o Filho
da Luz ou aquele que traz a luz. E Lúcifer era um anjo no qual Deus depositara
toda a confiança, portanto, continua sendo um anjo, bom ou mal, ainda é um
anjo criado por Deus, embora opositor dos desígnios divinos. Diabo quer dizer
"opositor" e quem se opõe a qualquer regra constituída como verdade absoluta,
toma consciência de si, adquire a Lei do Conheci mento do que é certo ou
equivocado. O próprio Raul dizia: "A desobediência é uma virtude necessária à
criatividade".

A Bíblia relata no livro de Gênesis, que a serpente (Diabo) o mais sagaz dos
animais selváticos que o Senhor havia criado, seduzira Eva, induzindo-a a comer
do fruto da árvore do bem e do mal. A serpente (Diabo), a convenceu de que
seus olhos se abririam e que Eva, consequentemente, seria igual a Deus,
sabedora de todas as coisas, conhecedora do bem e do mal, ou seja, tomaria
consciência de si. Para a cultura eclesiástica, este foi o grande pecado, opor-se ao
Criador dos céus e da Terra. Mas, para a cultura esotérica, essa foi a grande
virtude do primeiro homem. Concluímos por meio dessa passagem bíblica,
registrada no Gênesis, que quando Deus criou o homem e o colocou como
guardião do jardim do Éden, Adão certamente conversava com os animais, pois
todos os animais selváticos estavam sob seu domínio, conforme relata a Bíblia, e
Adão fora encarregado por Deus de denominar e dominar a cada espécie de
animal.

A Bíblia não confirma essa possível conversação entre o primeiro homem e


os animais, mas é uma conclusão bastante lógica, pois, se essa possibilidade não
fosse verídica ou pelo menos discutível, como explicar então, a ingênua cilada a
que Eva se expôs? Não fosse comum o diálogo entre homem e animal, quando o
Diabo, em forma de serpente, interpelou Eva, questionando-a, certamente Eva
teria entrado em pânico ao constatar que uma serpente começou a lhe falar e
teria saído correndo e gritando pelo Éden afora, chamando por Adão e jamais
teria caído numa armadilha tão visível e satânica. Para dar asas às superstições e
às lendárias tradições e contos da carochinha, muitas vezes tidas como fatos
acontecidos e reais, contamos ainda com as figuras repugnantes de bodes e
deuses diabólicos, que na verdade, são figuras que simbolicamente representam
o Universo.

O bode foi escolhido como figura representativa de muitas culturas por ser o
animal que melhor representava a primavera, devido à sua voraz capacidade
sexual. As próprias Escrituras Sagradas estão recheadas de figuras horrendas que
representavam as visões dos profetas. Veja, por exemplo, no Velho Testamento,
precisamente no livro de Daniel (8:5-8), numa visão da parte de Deus, Daniel vê
um "bode que tinha entre seus olhos um chifre sobressalente". Uma visão tão
assustadora para os olhos de qualquer mortal, descrita por Daniel como uma
coisa comum entre os profetas: "Eu o vi atingir o carneiro, e golpeou o carneiro e
quebrou-lhe os dois chifres, e o carneiro mostrou não ter alguém que o livrasse.
E o bode assumiu ares de grandeza, mas, assim que se tornou forte, o grande
chifre foi quebrado, e passaram a subir quatro em lugar dele".

O bode peludo representa o rei da Grécia, e o chifre grande que sobressaía


entre os seus olhos representa o primeiro rei. Este mesmo chifre foi quebrado, de
modo que por fim se ergueram quatro em seu lugar. Isso significa que haverá
quatro reinos que se erguerão de sua nação, mas não com o mesmo poder. A
história mostra claramente que, esse "rei da Grécia" foi Alexandre, O Grande.
Depois de sua morte, seu império foi dividido entre quatro de seus generais:
Seleuco, Nicator 1, Ptolomeu 1 e Lisímaco, exatamente como fora previsto na
visão de Daniel: "Por fim se ergueram quatro em seu lugar". Como também
previsto, nenhum deles teve poder igualado ao de Alexandre, O Grande.
Conclui-se, dessa forma, baseando-se em visões fantasmagóricas e
incompreensíveis ao entendimento humano que, desde a mais remota
civilização, o homem e a religião, faziam uso constante de imagens, hieróglifos,
estatuetas, totens e visões, de desenhos com formas estranhas e bizarras para
representar situações vividas, batalhas perdidas ou vencidas, datas e registros
históricos. Em algumas civilizações usava-se até mesmo o pênis, nos portais das
casas e em gigantes estátuas espalhadas pelas cidades, como representação da
virilidade e da colheita farta.

Deuses e fatos, tudo na civilização humana foi representado por figuras


horripilantes, hoje consideradas pelas modernas civilizações como figuras
representativas do demônio. Parece que as pessoas regrediram mentalmente,
apesar do avanço científico e tecnológico. Tudo tinha significado e misticismo,
como ocorre ainda hoje, em pleno Terceiro Milênio. No gnosticismo, por
exemplo, Deus e Satã são a mesma pessoa. Deus é chamado de Abraxas pelos
gnósticos. Deus é um andrógino que se desdobra na sua deusa, sendo ao mesmo
tempo macho e fêmea. Dentro da concepção gnóstica, Abraxas (Deus) surge
como Deus e Satã e Deus e Deusa, símbolo do pleroma, a essência divina que ao
se manifestar o fez por meio dos pares opostos. A gnose nos proporciona este
mergulho interior e esta experiência, que é o vivenciamento de Deus e do
Sagrado. Podemos atingir a Deus pela gnose do coração, do sentimento, da
intuição e não pela razão. O gnosticismo era a parte esotérica do cristianismo e
foi influenciado pelos mistérios da religião egípcia e pelos seus segredos. Na
verdade, o gnosticismo é um movimento de características místicas anterior ao
próprio cristianismo, com raízes na ciência egípcia e na filosofia grega.

As ideias gnósticas se centraram na narração do destino da alma. Habitante do


mundo imaterial, ela sofre uma queda na matéria onde era prisioneira. O
gnosticismo se empenha em descobrir o caminho de volta para o mundo
imaterial e a libertação da matéria. Os gnósticos viveram durante os quatro pri
meiros séculos da era cristã e pertenciam a seitas cristãs consideradas heréticas
pela Igreja Católica. Foram perseguidos, mortos, e seus escritos foram
queimados.

Apregoa a religião, que a perfídia e astúcia do Diabo são suas maiores armas
secretas, pois o encantador sabe insinuar-se nos seres humanos por meio dos
sentidos, da fantasia e da concupiscência. A Bíblia afirma que o Diabo veio para
roubar, matar, subjugar e enganar. Charles Baudelaire afirma nas "Litanias a
Satã": "A maior astúcia do Diabo é convencer-nos de que não existe". Afinal,
quem é o Diabo, esta infame e temida criatura divina? Por que Deus criou o
Diabo? O Diabo é a dor de Deus... conforme criou Satã até o extremo de fazer
dele a mais bela e luminosa de suas criaturas e ao ter-lhe dotado de livre arbítrio,
não pode impedir sua queda. Deus passou a sofrer por seu anjo imediatamente
depois de tê-lo condenado.

Todo e qualquer homem que ousar desafiar e questionar os valores


estabelecidos e resolver por si caminhar do lado oposto ao que o Estado, a Igreja
e a Sociedade perpetuaram como o lado certo, correrá o risco de ser tratado
como louco, demoníaco, caótico e revolucionário.

Com Raul não foi diferente, a Igreja Evangélica encarregou-se de pintar o


nome de Raul Seixas com as cores do Armagedon e deu a ele o número 666,
para retratá-lo como seguidor do demônio. As Assembleias de Deus chegaram a
publicar em seu jornal evangélico Mensageiro da Paz, matéria alertando os
jovens sobre a influência satânica na obra de Raul. Outra denominação religiosa,
mandou imprimir milhares de panfletos e os distribuiu na entrada de um estádio
onde Raul Seixas e Marcelo Nova se apresentavam, denominando-os como
"representantes do Diabo". Mas existiam líderes religiosos mais inte ligentes e
menos fanatizados, que admiravam sobremaneira a lavra poética, musical e
filosófica do mais causticante pensador que a música brasileira já teve e sabiam
que Raul era, isso sim, um verbaloide, como todos nós somos e que toda a sua
complexa obra musical é um canto de louvor ao homem, à liberdade. E, sendo o
homem imagem e semelhança de Deus, que está no próprio homem, sua obra é
também um canto de louvor e glória à Divina Providência. Os evangélicos
fanáticos passaram a persegui-lo depois que tomaram conhecimento de seu
envolvimento com a magia e o esoterismo e suas pregações de textos
crowleyanos, além da criação da canção "Rock do Diabo".

O filósofo e mago inglês Aleister Crowley, a figura mais poderosa, polêmica e


enigmática da história do ocultismo, serviu de referência para a modelação da
Sociedade Alternativa de Paulo Coelho e Raul Seixas, além de ter servido de
ponto de referência em muitas de suas músicas. Atualmente, Paulo Coelho se
desvinculou de todo o envolvimento com essas seitas esotéricas. É considerado
um dos maiores escritores, sua literatura já foi traduzida para dezenas de línguas
e seus livros vendem milhões de exemplares. Paulo Coelho é um mago que faz
chover dinheiro em sua horta.


Aleister Crowley nasceu em 1875, em Leamington e faleceu em 1947, em
Sussex, ambas cidades inglesas. De família riquíssima, desde muito jovem seu
interesse por magia negra e satanismo lhe trouxe inúmeros problemas. Chamado
de "besta 666", com a herança recebida da família, rodou o mundo, ingressando
em várias ordens secretas e seitas. Apesar de frequentemente perseguido e de ter
caminhado entre a genialidade e o charlatanismo, atraiu a atenção de intelectuais
como Ezra Pound, Dylan Thomas, Yeats e tantos outros. Quando morreu, em 2
de dezembro de 1947, a imprensa britânica qualificou-o como "o personagem
mais imundo e perverso de toda a Grã-Bretanha". Crowley foi expulso da França
em 1929 e atuou como espião da Alemanha nos Estados Unidos durante a
Primeira Guerra Mundial. Na Índia, os jornalistas imputaram a ele a autoria do
assassinato de uma mulher para sugar-lhe o sangue.

A maioria dos artistas, especificamente os que fizeram do rock a sua bandeira


da contestação, foi influenciada pela obra mística de Crowley: John Lennon,
Alice Cooper, Ozzy Osborne, Kiss, Black Sabbath, Led Zeppelin, AC/DC,
Rolling Stones, Sepultura, Renato Russo, Raul Seixas e uma infinidade de
nomes. Hitler conheceu seus livros e chegou a praticar seus ensinamentos
mágicos na seita que reunia vários oficiais nazistas, a Ordem de Thule. A
maioria dos envolvidos com a obra de Crowley, coincidência ou não, teve morte
misteriosa e anormal e outra parte teve a carreira destruída. A maldição de
Crowley e do Satanismo parece ter destruído a vida de muitos dos seus
seguidores.

Jimmy Page, o guitarrista do Led Zeppelin, nutria seus ávidos interesses por
ocultismo e magia. Em 1970, ele comprou a Boleskine House, propriedade que
pertencera a Aleister Crowley, cuja sinistra história registra uma decapitação e o
incêndio de uma congregação da igreja. Page colecionava manuscritos de
Crowley, livros e mobílias. A mansão Boleskine House fica à beira do Loch Ness
(lago que, diz a lenda, é habitado por uma serpente pré-histórica), onde Crowley
viveu por longo tempo praticando seus rituais. Isso pontuou a carreira e a vida de
Jimmy Page e sucessivas derrocadas. Foi o fim do Led Zeppelin. Basta dar uma
olhada na capa do disco Sargeant Peppers, dos Beatles, que a perturbadora face
do maior satanista está impressa lá. John Lennon foi assassinado e George
Harrison, outro crowleyano, partiu antes do combinado, como costuma dizer o
sábio contador de "causos", ator e cantor/compositor de extrema grandeza,
Rolando Boldrin.

Renato Russo era um apaixonado pelos escritos de Crowley: morreu aidético,


prematuramente, no auge da carreira. Raul Seixas, o mais crítico pensador
brasileiro do século e um dos mais ferrenhos defensores de Crowley, morreu aos
44 anos, só e dominado pelo alcoolismo, depressivo e quase na miséria. E assim
sucessivamente, muitas vidas e carreiras dos seguidores de Crowley foram
devastadas. Ele chamava a si mesmo de a "besta do Apocalipse".

Em 1904, Aleister Crowley escreveu o chamado Livro da Lei, dividido em


três partes. As duas primeiras partes com 22 páginas (lâminas) cada e a terceira
parte contendo 21 páginas (lâminas). Nuit, Hadit e Ra-hoor-kuit, a mãe, o pai e o
filho (divindades do Panteon Egípcio), apareceram em muitos escritos de Raul
Seixas.

O Livro da Lei teve apenas uma publicação no Brasil, em 1976, e


misteriosamente foi retirado de circulação. Até hoje as pessoas interessadas em
misticismo e magia têm medo da obra de Crowley, que foi considerado, ao longo
desses anos, a encarnação do demônio. Até o dia de sua morte, aos 72 anos,
Crowley sobreviveu de doações e da venda de seus livros. Morreu em relativa
miséria, viciado em heroína. A Lei de Telema não sucumbiu com a morte de seu
criador, que como Raul, não dava a mínima para as leis impostas, fazia as suas
próprias leis e afirmava que uma imensa transformação ocorreria com o Novo
Aeon, a Nova Era, a Era de Aquário, quando as pessoas entrariam em contato
com a sua força interior, que não poderia ser sufocada nem limitada por leis
sociais.

Tanto Crowley como Raul Seixas foram grandes filósofos, grandes


pensadores, que contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento intelectual e
místico do ser humano. Raul granjeou a antipatia de muitos ligados à Igreja
Católica e muito mais latente na Igreja Protestante, mais por suas constantes
citações à obra de Aleister Crowley do que pela sua verborrágica fúria contra o
Monstro Sist. Quando Raul declarava que "Não existe Deus senão o homem",
"Cada um é seu próprio Deus e religião", queria expressar exatamente o
princípio do satanismo que, antes de ser uma religião, trata-se de uma filosofia, e
como tal, contestadora.

Aleister Crowley foi, sem sombra de dúvida, o maior mago do Século XX.
Suas explorações no campo das drogas e do sexo são enfatizadas em demasia
por quase todas as pessoas que se põem a falar sobre ele. Essa faceta poderia ser
explicada (talvez até possa ser justificada) por uma fuga genial da sociedade
superpuritana em que foi criado. O protestantismo vitoriano foi uma das
manifestações mais repressoras de que já se teve notícia, e Crowley juntamente
com alguns artistas de vanguarda de sua época tiveram a ousadia de se colocar
contra todo esse sistema de valores e criar um sistema próprio, que por pior que
fosse era melhor que o sistema imposto a ferro e fogo. A mente de Crowley, um
misto de Nietzsche e Rabelais, com uma estética egípcia e um negro senso de
humor, era de certa forma inescrutável. Crowley escreveu excelentes prosa e
poesia, mas que de forma alguma superaram o interesse do mundo pela história
de sua vida, atribulada, trágica e cheia de aventuras como foi, por si só, uma
obra de arte.

Aleister Crowley era filho de um pastor protestante de uma seita


fundamentalista, que também era dono de uma fábrica de cerveja. Seu pai
morreu cedo deixando boas lembranças no menino, mas sua mãe, segundo ele,
era uma "estúpida criatura", e as brigas na adolescência logo fizeram com que
sua mãe o chamasse de "Besta", apelido que adotou posteriormente e que lhe
trouxe boa parte de sua fama. Na escola se tornou brilhante e obediente, até que,
foi culpado injustamente de um pequeno delito e foi posto de castigo, a pão e
água, o que piorou sua já fraca saúde (tempos depois lhe receitaram heroína para
a asma, substância que usou até os 72 anos de idade, quando morreu de parada
cardíaca).

Crowley nunca esqueceu desse tratamento e desde menino começou a achar


que havia algo de errado com o "senso comum" da época. Decidiu ser um
homem santo e cometer o maior pecado, como em uma lenda dos Plymouth
Brothers (culto de seu pai), que afirmava que o maior santo cometeria o maior
pecado.

Na Universidade, Crowley se encontrou. Com muito dinheiro (da herança de


seu pai) e livre da repressão da família, exerceu todas as atividades pelas quais
ficou conhecido: alpinismo, poesia, enxadrismo, sexo e magia. E, dizem, foi
excepcional em cada uma delas. Crowley travou contato com a Golden Dawn,
uma ordem pseudomaçônica de prática ritualística e iniciatória que esteve no
auge no fim do século passado. Subiu rapidamente pelos degraus da ordem, mas
foi barrado por um grupo de pessoas que chegou a afirmar que: "a ordem não era
um reformatório". Crowley era desconsiderado pelos intelectuais e desprezado
pela burguesia. Embora parecendo extremamente arrogante e narcisista, em seus
escritos Crowley sempre buscou o reconhecimento e a aprovação das pessoas, e
quando notou que isso não era possível, manteve sua crítica atroz aos absurdos
do puritanismo inglês, e resolveu aparecer fazendo escândalos, reais ou
falsificados, ao estilo do "falem mal, mas falem".

Seus trabalhos mágicos e estudos místicos o levaram às mais diversas partes


do mundo, experimentando todas as formas de catarse e intoxicação, que
considerava como bases da religião. Mas, aos poucos se distanciava de
MacGregor Mathers, seu chefe na Golden Dawn, até perceber que ele era uma
farsa. Desiludido com a Golden Dawn, passou meses afastado da magia, mas
voltou pouco a pouco, trabalhando sozinho. Em uma viagem ao Cairo em 1904,
recém-casado, sua esposa começou a falar coisas estranhas das quais ela não
poderia ter conhecimento e o mandou invocar o deus Hórus. Dessa invocação
surgiu um texto pequeno, de três capítulos, intenso e esquisito, ditado por um
dos "ministros" da forma de Hórus conhecida por "Hoor-Paar-Kaat",
Harpócrates, Hórus enquanto criança. Aiwass era o nome dessa entidade, depois
reconhecida como Sagrado Anjo Guardião do próprio Crowley. Quando
finalmente aceitou o Livro da Lei, estava em contato com um grupo germânico
de iniciados que, em outro livro dele (The Book of Lies), encontraram um
segredo de magia sexual que pensavam ter monopólio no ocidente. Crowley
perdeu muito dinheiro publicando seus próprios livros e vendendo-os muitíssimo
barato. Ele sobreviveu de doações e venda de livros até o fim da vida. Morreu
em relativa miséria, ainda viciado em heroína, pouco tempo depois de terminar
seu último trabalho, um livro sobre o Tarô, que Lady Frieda Harris havia pintado
com suas indicações.3

O mais abjeto dos seres humanos que já habitou este mundo, se autointitulou a
"Besta666", exatamente porque tais palavras significam "a Luz do Sol".
Crowley, foi, com certeza, um dos maiores pensadores da história e Raul
percebeu essa sapiência nas inúmeras obras de Crowley, transformando muita
coisa do mago em músicas que se tornaram verdadeiros clássicos. Hoje, a obra
literária, a poesia e o pensamento de Crowley estão sendo traduzidos e
publicados em várias línguas. Além de ter sido um exímio escritor e poeta,
Crowley foi um grande alpinista e pintor.

0 descontentamento de Raul Seixas

Raul Seixas era um pacifista, trabalhou incansavelmente pela paz, pela


liberdade de pensamento, por um mundo mais justo e pela igualdade do homem.
Carpinteiro do Universo, Lobo Conselheiro, um homem-bomba que ousou expor
a força descomunal que brotava de seu próprio peito. Ele foi mais longe ainda,
neste imenso deserto que é a vida, ao declarar que já estava cansado,
escancarando seu interior, jogou em terra árida as sementes da Sociedade
Alternativa e provou que todas as teorias humanas são trapos de imundície e não
passam de conclusões febris.

"Eu sou triste. Não vivo, vegeto. O vegetal é mais feliz. Estou triste
com os homens e com o mundo. Estou triste com Deus. Estou triste
comigo mesmo. Eu realmente não sei nada. O caminho da felicidade? É
vedado a mim provar desse doce cálice. Tentei controlar minha vida,
afinal, eu jamais tive êxito. Tudo mudou para mim. Não faço nada com
vontade, não tenho vontade de escrever, de tocar, só quero dormir, só
sonhando sou mais feliz. Vivo só, muito só. Trabalho contra os caretas
do mundo, contra o torpor, a imprecação, contra a arapuca que nos foi
armada e durante séculos vivemos conformados, presos nela, comendo o
alpiste que nos dão. Trabalho para sair da arapuca com todos os que
estão querendo ser pássaros livres outra vez."

Nenhum artista brasileiro ousou tanto e chegou ao ponto de vociferar seu


descontentamento na cara do regime militar, por meio de sua arte, como o fez
Raul Seixas. Desde o dia 13 de dezembro de 1968, quando foi editado o Ato
Institucional Número 5 (AI-5), os mecanismos ditatoriais foram reforçados e
estabelecidas as bases legais e institucionais para a instauração de um sistema de
repressão policial sem precedentes, que todos os artistas e qualquer cidadão
comum, poderia ser preso, torturado e morto ao se opor ao Estado Militar. A
partir dessa época macabra, começaram a coordenar-se as operações contra a
resistência ao regime militar num organismo especial, o DOI-CODI
(Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa
Interna).

Desde 1968 até 1979, quando foi promulgada a Anistia, toda e qualquer
manifestação popular e artística de resistência ao regime era severamente punida
com prisão, tortura, morte e exílio e um número muito maior de pessoas teria
sido barbaramente assassinada sob tortura se não tivesse saído de forma
clandestina do país. Alguns artistas, de vários segmentos, foram presos,
torturados, espancados, interrogados; outros foram expulsos do país e tiveram
suas obras proibidas; outros, inconformados e sob vigilância do Exército, se
autoexilaram. Raul foi um dos poucos que, apesar de ter sido preso, torturado e
exilado, teve a sorte grande de não ter sido assassinado nos calabouços da
intolerância militar. Extinta a ditadura militar (extinta?), ainda podemos
vislumbrar muitas coisas semelhantes àquele período tétrico, pois
disfarçadamente, a ditadura continua fomentando desgraças. Deixou de torturar
pessoas, de exilá-las e de prendê-las à toa, mas o que fazem para destruir a
cultura e a educação, a saúde do povo, relegando-o à miséria e inércia, confirma
a presença desaper cebida de uma ditadura ainda mais destrutiva dos sonhos e
direitos humanos.

(...) Povo que tem a PM que temos não precisa de inimigo externo. O
que é que o Presidente da República está esperando para extinguir - de
uma penada! - esse inimigo interno do povo brasileiro? Que lhe matem
mais filhos e irmãos? Que lhe ceguem os olhos e amputem as pernas? O
presidente dispõe da medida provisória, que maneja com perícia e
munificência. Pois, use-a, para acabar com esse bando de jagunços
fardados, comandados por um bando de facínoras. Temos dito! Será o
caso de pedir asilo ao estrangeiro depois dessa?

(Mylton Severiano)

Quem é que não se recorda de um fato triste ocorrido em setembro de 1982,


quando a polícia carioca amarrou com corda vários trabalhadores, arrastando-os
morro abaixo como se fossem escravos? O vergonhoso episódio só não ficou
impune porque o fato estarrecedor ganhou as manchetes nacionais e mundiais. O
fotógrafo Luiz Morier e o repórter J. Paulo da Silva, do jornal do Brasil, subiam
o Morro da Coroa, quando depararam com sete trabalhadores sendo presos por
policiais militares. Estavam amarrados pelo pescoço, exatamente como os
escravos eram conduzidos das saídas dos navios para o mercado negreiro. Todos
amarrados com corda ao pescoço. Os policiais justificaram a atitude desumana e
criminosa com "medida de segurança". Terminaram demitidos, mas a
humilhação ficou eternizada. A foto que o fotógrafo fizera daquela situação
constrangedora ganhou o Prêmio Esso de 1983.


Raul sabia, como ninguém, driblar a censura e a ditadura e talvez por causa
dessa artimanha tenha conseguido se safar de um destino macabro. Com o
lançamento do compacto que trazia a obra-prima "Ouro de Tolo", Raul se
tornaria um mito. O compacto foi tão procurado, que precisou ser prensado duas
vezes em apenas uma semana, um fenômeno naqueles tempos.

"Ouro de Tolo", cuja melodia é uma espécie de canto gregoriano com apenas
uma diferença essencial: naquele estilo medieval de compor hinos havia muitas
notas para pouco texto, uma única sílaba podia percorrer uma linha melódica de
mais de dez notas. Em "Ouro de Tolo", Raul colocou numa nota só, mais de dez
palavras. Ao ser convidado a abandonar o país em 1974, antes de embarcar para
os Estados Unidos, ele havia deixado gravado o disco Gita. Neste disco, o mais
conhecido e o mais vendido do maluco beleza, Raul parecia um messias pronto
para curar as dores da humanidade. Um messias indeciso. Gita estourou em todo
o país, um recorde de vendagem. O governo militar, viu-se obrigado a buscá-lo
de volta. Era o fim de um curto exílio. A messiânica Gita trata-se de um trecho,
um conjunto de versos do décimo capítulo da "Bahagavad Gita". "Bahagavad
Gita" é o terceiro capítulo do Mahabhárata, o maior poema épico escrito em toda
a história de todas as culturas. O Mahabhárata é composto de cem mil estrofes,
divididas em cem capítulos e remonta à época védica (cerca de 3.000 a.C.).

`A índia, que nos deu a filologia, a álgebra, a trigonometria, os


algarismos decimais, o Jogo de xadrez e muitas outras coisas, que nem
sequer imaginamos que vieram de lá, como a manga, a jaca, a cana e o
gado vacum (para não dizer também a linguagem dos deuses, através da
cultura greco-romana, deu-nos também a verdade revelada por Krishna
no Bhagavad Gita. A cultura indiana é uma das mais misteriosas do
mundo, com uma população que ultrapassa mais de 1 bilhão de
habitantes, a pobreza é latente e chocante e o povo é dividido em castas e
existem na índia um número incontável de dialetos e expressões
religiosas."

Foi com os Beatles que Raul vislumbrou a possibilidade de falar sobre todas
as coisas que o atormentavam por meio da música. Ele começou então a compor
freneticamente suas próprias letras de música.

Em 1962, estreava à frente de seu primeiro grupo de rock, na TV Itapoá, "Os


Relâmpagos do Rock". No ano seguinte, rebatizou o grupo com o nome de "The
Panters" e se apresentava em bailes, acompanhando astros da Jovem Guarda que
se apresentavam em Salvador. Tudo começou a mudar na vida e na cabeça do
irrequieto adolescente Raulzito. Em 1965, com o estouro da jovem Guarda, o
grupo, já com o nome de "Raulzito e os Panteras", era o mais caro da Bahia e os
astros da Jovem Guarda só queriam ser acompanhados por eles. Foi nessa
mesma época, a convite de Jerry Adriani, que o grupo decidiu tentar a sorte no
Rio de Janeiro.

Os garotos baianos, cheios de sonhos e de vontade de vencer, gravaram então


seu primeiro LP: Raulzito e os Panteras, um disco estranho para ser entendido
naquela época. As letras das músicas falavam de agnosticismo e não agradaram
o público, que não entendia aquela linguagem. O disco foi um grande fracasso.
Algum tempo depois, Raulzito descobriu que o disco não atingira uma
popularidade maior por puro descaso da gravadora, que não o havia divulgado.

A Odeon prensara o disco apenas para preencher o catálogo de gravações


anuais, pois, todo final de ano a gravadora tinha de prestar contas do que
realizara para a sede estrangeira. Ou seja, tão somente havia gravado aquele LP
para preencher os requisitos, a cota de gravações anuais, prática esta que, até
hoje, as gravadoras que mantêm filiais no Brasil, costumam fazer. Decepção,
raiva e sonho desfeito, o grupo se dissolveu e "Raulzito e os Panteras"
regressaram a Salvador.

Desiludido e carcomido pela depressão e tristeza, Raulzito retomou os estudos


e cursou Filosofia por conta própria. Em 1970, novamente a convite de Evandro
Ribeiro, então diretor da CBS, Raulzito regressou ao Rio de janeiro, ago ra
casado com Edith Wisner, para ser produtor de discos. Em sua nova carreira de
executivo, produziu discos bregas e da jovem Guarda: Jerry Adriani, Trio
Ternura, Renato e Seus Blue Caps, Tony e Frankie, Diana, Odair José, Leno e
Lílian e outros mais. Descobriu e produziu o fenomenal Sérgio Sampaio e
muitos outros nomes que se destacaram na década de 1970.

Em 1972, o amigo Sérgio Sampaio inscreveu duas canções de Raul no VII


FIC, sem que Raul soubesse. Ao tomar conhecimento da classificação de suas
músicas no Festival, Raul decidiu participar do evento promovido pela Rede
Globo. Sérgio Sampaio inscrevera de sua autoria apenas uma canção, que acabou
virando seu único sucesso nacional: "Eu quero é botar meu bloco na rua",
música esta, que muita gente tem certeza que foi composta por Raul e dada de
presente a Sérgio Sampaio, pois ela tem tudo a ver com a lavra contestatória de
Raul, embora Sérgio também tenha sido um dos mais geniais compositores deste
país.

As duas canções de Raul que Sérgio inscrevera no VII FIC: "Let me sing" e
"Eu Sou Eu, Nicuri é o Diabo" foram classificadas. A classificação levou Raul a
assinar seu primeiro contrato com a gravadora Philips. É importante dizer e
deixar registrado que, mais uma vez, neste festival, Raul conheceu as garras
afiadas da censura. Suas duas canções tinham tudo para ser ganhadoras do VII
FIC, mas os federais estavam atrás do palco, dando ordens e fazendo ameaças de
que, se ele recebesse os primeiros lugares estaria perdido. Raul ficou apavorado,
nunca tinha presenciado atitude tão absurda e insana. Ele não podia ganhar o
Festival? Tudo porque o júri, de acordo com os federais, era anarquista. Mas,
Sérgio Sampaio foi bem classificado e sua música virou um sucesso nacional.

Raul iniciou sua meteórica carreira impulsionado pelo amigo Sérgio Sampaio,
que constantemente o instigava a gravar suas composições e a cantar. Provando
desde o começo o gosto amargo da perseguição desencadeada pela censura, Raul
prosseguiu até o fim de sua carreira, transpondo obstáculos e velhos preconceitos
morais.

Em 1973, pela Philips, Raul lança o antológico LP Krig, Há-Bandolo, um


disco fenomenal, um dos melhores já gravados em toda a história da música
popular brasileira.

Nesse mesmo ano, foi lançado o LP Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock,


e como o nome diz composto de clássicos do rock. O nome de Raul permanecia
anônimo, sem crédito na capa. No lugar do seu nome aparece o de um grupo
supostamente internacional: Rock Generation, tudo armado pela gravadora para
dar a impressão de que se tratava de um lançamento especial. Em 1975, este
mesmo LP seria reeditado com o título 20Anos deRock, com enxertos de palmas
e uma introdução inédita para dar a impressão de que se tratava de uma gravação
atual e ao vivo. Tudo uma grande enganação, uma jogada de marketing para
enganar a todos nós consumidores. Só que desta feita, Raul teve o
reconhecimento merecido. Ele aparece na capa do disco, bradando que era ele o
próprio rock e deixando clara a farsa que a gravadora tinha arquitetado outrora.
Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock foi relançado em 2002 pela MZA
Music, em sua forma original.

Raul Seixas, desde o início de sua carreira, sofreu acirradas perseguições.


Tenho a nítida impressão de que as pessoas tinham verdadeiro pavor de sua
língua ferina e servida. Raul era um homem destemido, que ousava vomitar seus
conhecimentos e indignações na cara de pau do Monstro Sist. Cutucava a
sociedade com vara curta e não temia suas reações. Ao sistema ele deu o apelido
de Monstro Sist. Um gênio esboçado, um filho da dor, mas dono de seu nariz,
forte e íntegro, jamais se curvou aos modismos baratos, não pertencia à linha
evolutiva da música popular brasileira. Ele era único e exclusivo. Raul aprendeu
latim só para ler Metamorfoses, de Ovídio, no original.

Com dezenas de canções açucaradas e simplórias, gravadas por cantores que


ele próprio produzia, confessou não gostar de nenhuma delas e sempre dizia:
"Para entrar no buraco do rato, de rato você tem que transar". "Eu tenho uma
visão nítida da minha posição e não pretendo arredar pé dela. Nem vou fazer
música de raiz. Aliás, a única raiz que me agrada é a da mandioca."

Raul Seixas, filho da Bomba Atômica e do rock'n'roll, cujo auge do seu


egoísmo era sempre querer ajudar, jamais se rendeu à indústria e hoje são raros
os artistas que não se deitam com o poder. No princípio era o Verbo e o Verbo se
fez carne e habitou entre nós. O Verbo é a palavra e quem não tem palavra
servirá eternamente como escravo de sua própria falta de eloquência e coragem.
Todos nós somos "verbaloides" e talvez por causa dessa desmesurada convicção
verborrágica, Raul tenha sofrido e queria que todos sofressem um verdadeiro
processo de profanação interior, para então, poder se livrar dos valores que não
são nossos.

A única realidade é o verbo ser: "Eu sou e não admito imposições". Todo
homem tem a obrigação de questionar permanentemente todas as instituições:
Família, Igreja, Estado e Deus. Um Verbaloide chora, ri, luta, perde e ganha,
mas, antes de tudo, fraqueja muitas vezes, conquista glórias, mas não desiste
jamais, pois tem de agir como verbaloide convicto que é. Nada somos senão um
átomo de Deus. Sempre estivemos mortos antes de nascer. A estrutura mental
dos seres humanos é o verbo ser: tudo é ou tudo está. "Quem quer que seja que
ponha as mãos sobre mim para me governar é um tirano, um usurpador, e eu o
declaro meu inimigo".

Assim como Proudhon, Raul levava a sério essas palavras e nunca admitiu
que guiassem seus passos firmes rumo ao pedestal da tão almejada liberdade. Ele
não era nenhuma ficção, era um ser humano como qualquer outro, dividido, com
as mesmas angústias e fraquezas, mas extremamente corajoso e inquiridor, tinha
os pés no chão, sabia a hora exata de iniciar o combate e sabia a hora certa para a
trégua, andava de passo leve para não acordar o dia, pois era com o Sol que ele
dividia sua energia. Raul era um cidadão comum como todos nós, tanto que sua
ligação com as mulheres era um de seus assuntos preferidos: "O homem ama e
odeia a mulher, eu amo e odeio as mulheres. Eu me amo muito, certo? Eu acho
que a pessoa que não se ama não pode amar os outros. Quando eu me ligo a uma
mulher, eu tenho que dar parte do meu amor a ela. E isso me irrita
profundamente. A mulher arranca um pedaço do meu amor. Quando isso
acontece, o amor morre. Eu morro. Morro para nascer de novo para uma outra
mulher".

Raul e as mulheres

A primeira esposa de Raul Seixas, Edith Wisner, era filha de pastor


protestante, virgem e, segundo afirmações de dona Maria Eugênia Seixas, foi a
mulher que Raul mais amou. Com Edith, Raul teve sua primeira filha, Simone
Andréa Seixas.

Glória Vaquer, sua segunda esposa e mãe de Scarlet Seixas, é irmã de Gay
Vaquer, guitarrista que acompanhou Raul por algum tempo. Trocou o nome por
motivos óbvios e hoje se chama Jay Vaquer, vive como as duas primeiras
esposas de Raul, nos Estados Unidos.

Jay foi marido da cantora Jane Duboc, com quem tem um filho também
chamado Jay Vaquer, cantor e compositor. Em 1999, Jay gravou um CD
intitulado Relembrando Raulzito e escreveu o polêmico livro Opus
666/Triângulo do Diabo, que gerou uma briga feia entre ele e Kika Seixas, amor
da vida de Raul e sua grande colaboradora.

Com Kika Seixas Raul viveu alguns anos e teve com ela com sua terceira
filha, a beldade e DJ Vivian Costa Seixas. Nos últimos anos de sua vida,
conheceu e passou a viver com Lena Coutinho. Viveram pouco tempo juntos e
mais uma vez aconteceu a separação.

Raul tinha necessidade constante de companhia humana, todas as mulheres


que viveram com ele, participaram esporádica e fielmente de seus discos,
compondo, empresariando, cantando ou fotografando. A mais ativa delas, sem
sombra de dúvidas, foi Kika Seixas, que até hoje, realiza shows e exposições
anuais em homenagem a ele. O projeto O Baú do Raul originou livros póstumos,
discos raros e videografia. Kika é uma verdadeira guardiã dos pergaminhos
"raulseixistas".

Raul era um homem simples, sujeito às mesmas intempéries da vida como


qualquer um, com crises pessoais, existenciais e exposto a dores de amores
frustrados. Um "verbaloide", com apenas uma pequena e vital diferença ausente
na maioria das pessoas: era íntegro, guerreiro, inigualável, pronto para todas as
batalhas, forte, destemido, um verdadeiro "lobo conselheiro", honrado e solidário
como poucos. Aliás, O Verbaloide era também o título de um livro de filosofia
que Raul sonhava publicar, mas que acabou não acontecendo, fato extremamente
triste para seus milhares de seguidores e cujos fragmentos textuais acabaram
saindo em livros posteriores à sua morte.


A Era Rock começou precisamente em 1955, quando "Rock Around The
Clock", com Bill Halley, reinou absoluta durante algumas semanas no primeiro
lugar da Billboard, quando os Estados Unidos e o resto do mundo tomaram
conhecimento do nascimento do varão negro chamado rock'n'roll. Nessa época,
Raul estava completando 10 anos de idade. Ele foi contaminado por esse vírus e
não alcançaria mais a cura, embora tenha incursionado por outros caminhos
musicais e rítmicos, o rock foi sua doença incurável.

"Antes de ser um estilo musical, rock'n'roll é uma história social". O rock


explodiu no cenário americano em meados dos anos 1950, entretanto, sua
ascendência musical pode ser traçada voltando-se alguns séculos, nas tradições
musicais da África e Europa. O rock'n'roll teve início com a evolução do rock
clássico, que extraiu suas raízes dos estilos rhythm and blues, blues, country e
rockabilly.

Antes de Bill Halley chegar com "Rock Around the Clock", o filme No
Balanço das Ondas (película que Raul viu seguidas vezes), a música em si era
uma coisa secundária para Raul, a sua grande preocupação eram os problemas
que afligiam o ser humano, os problemas da vida e da morte, de onde vim, para
onde vou, o que é que eu estou fazendo aqui?

"Por que nascemos para amar se vamos morrer? Por que morrer se
amamos?", "Por que falta sentido de viver, amar, morrer?". Raul vivia afundado
na biblioteca do pai, o que ele queria mesmo era ser escritor, viver da renda de
seus livros, como Jorge Amado. A febre invadiu suas veias e entranhas com Bill
Halley e Seus Cometas, veio na voz urrada de Litlle Richard e atingiu o seu
clímax com os requebros dos quadris de Elvis Presley. E o menino que vivia
trancado no quarto sonhando ser escritor e viver de literatura foi despertado de
seu sonho, pois enxergava na música uma forma mais abrangente de transmitir
seus pensamentos com maior rapidez.

Raul começou, então, a tomar emprestado dos garotos do Consulado


Americano, que ficava a poucas quadras de sua casa, discos de 78 rotações, os
quais ele ouvia até gastar. Fats Domino, Chuck Berry, Bo Diddley, Jerry Lee
Lewis e muitos outros ainda pouco conhecidos entre os brasileiros. Ele não dava
muita atenção para as letras das músicas, mas foi com os discos de rock que
aprendeu a falar inglês, o dos caipiras e dos negros, cheio de sotaques. O que o
fascinava era o ritmo tribal, cru, obsceno. Com uma tábua e um braço de violão
velho, Raul e o amigo Mariano construíram a primeira guitarra do tipo que os
americanos usavam e um rádio antigo do avô de Mariano era usado como
amplificador.

Em 1960, eles já tinham baixo elétrico e o grupo iniciou sua caminhada


viajando pelo interior da Bahia e tocando muito rock'n'roll. Mas foram mesmo os
Beatles que deram o grande estímulo a Raul, que lhe abriram a cabeça muito
mais que o rock. Foi com os quatro cabeludos de Liverpool, que Raulzito
percebeu que o rock poderia ser usado como veículo de massa. "Se os Beatles
podem, eu também posso dizer o que penso com minhas músicas". A partir daí,
ele começou a compor.

Com os Panteras, Raul passou por uma fase áurea, tocavam músicas dos
Beatles, tinham aparelhagem, tinham nome e eram os mais bem pagos. Nessa
época a Bossa Nova dominava os meios musicais em Salvador. De um lado o
Teatro Vila Velha, de outro o Cinema Roma, o templo do rock, dos transviados,
organizado pelo amigo Waldir Serrão. Era uma guerra dos diabos: Rock x Bossa
Nova.

Raul era o líder do rock em Salvador e quando ele entrou na Faculdade de


Direito foi olhado pelo pessoal do Diretório como o idiota do rock. Raul gostava
de provocar, usava roupas estranhas, cores berrantes, parecia um rebelde e fazia
questão de manter viva a imagem de provocador, mesmo porque o rock era um
movimento comportamentista à época e exigia de seus adeptos essa atitude de
desprezo aos sistemas vigentes.

Em 1974, o estrondoso sucesso "Gita" deu a Raul o seu primeiro disco de


ouro pela inesperada vendagem de 600 mil cópias, uma verdadeira panaceia
musical, pois poucos cantores no país atingiam vendagens tão altas. Para compor
a música "Gita", Raul e Paulo Coelho se inspiraram no Bhagavad Cita, o terceiro
livro mais importante da humanidade, depois da Bíblia e do Tao-te-Ching (Lao
Tse) da China. Com "Gita" Raul quase foi transformado em guru pela geração
que curtia o orientalismo. Muitas mães levavam seus filhos enfermos para que
pudessem ao menos tocar em suas vestes durante os shows. Raul Seixas, 0
Messias Indeciso. "As pessoas ficam ali esperando um profeta, um messias. E se
a gente deixa, vira messias mesmo."

Novo Aeon, o LP de 1975, é todo alicerçado no Livro da Lei, que Crowley


recebeu, ditado por um ser do Novo Aeon. Mas, o álbum não é apostólico como
as pessoas acreditavam ter sido o anterior "Gita". Raul dizia naquela época, não
ter levado a sério Aleister Crowley, talvez fosse aquilo mesmo o que Crowley
queria. "Tirei coisas dele para mim, aproveitei". Novo Aeon foi um dos discos
que menos vendeu, mas nem por isso foi um disco sem importância, continha
verdadeiras pérolas como "Tente Outra Vez", uma overdose de coragem para os
idealistas prostrados e cabisbaixos, mas que, caso se libertassem daquele estado
de letargia, seriam capazes de "sacudir o mundo". Além dessa música, "Rock do
Diabo", um rock demoníaco para amparar a tese de que o rock é mesmo filho
legítimo do inferno e pertence a mesma ordem de instintos reprimidos e
flagelados, que os adeptos da libertação teriam que desatrelar da carroça da
história. Mexendo com as culpas dos adultos e cutucando os terrores e temores
da infância, o disco continha a ferida exposta "Para-Noia": "Deus vê sempre
tudo o que 'cê faz... eu sinto medo...". "Fim de Mês" critica a classe média
consumista, agora enquadrando os pobres coitados que se suicidam nos
crediários e têm montanhas de prestações para saldar no fim do mês com seus
salários aviltantes e miseráveis, que são atestados de escravidão moderna.
Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás e outros discos de sucesso

Em 1976, Raul Seixas teve a imensa satisfação de beber do vinho inebriante


do sucesso absoluto com o lançamento do LP Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás,
reconquistando a confiança de sua gravadora e as paradas de sucesso com várias
faixas do disco sendo muito bem executadas nas rádios brasileiras e se
apresentando muito mais nos programas de TV. Eu Nasci Há Dez Mil Anos
Atrás foi acusado de ser um disco insípido, desprovido de ideias novas,
musicalmente fraco em comparação aos discos anteriores, com muita orquestra e
pouco rock, o que não correspondia à verdade dos fatos e comprovava desde
àquela época que a crítica especializada, no que tange à arte musical, é detratora
e de eloquência duvidosa. O disco é uma prova fiel de que Raul era mesmo um
transgressor das obviedades. Quando todos esperavam um disco de rock, ele
encarnava Carlos Gardel, no debochado tango "Canto para a Minha Morte".
Debochado, pouco aprazível, mas sério e verdadeiro, que trata de delicado e
pavoroso tema: a Morte.

Definitivamente, Raul Seixas não engolia a arrogância das companhias


fonográficas e execrava a atitude gananciosa e enganadora dos empresários, por
isso mesmo, em 1977, trocava a Phillips pela recém-fundada WEA, onde
atravessou o período mais obscuro de sua carreira. O primeiro disco pela nova
gravadora foi "O Dia em que a Terra Parou", ao lado de um antigo parceiro e
velho amigo, Cláudio Roberto.

Cabelos cortados e sem o famoso cavanhaque, sua marca registrada, fez um


show de lançamento do LP no Teatro Bandeirantes, em São Paulo. Gilberto Gil
(Jiló) participa do álbum na faixa "Que Luz é essa". Grava para a TV Globo o
videoclipe "Maluco Beleza", que passou a ser o codinome de Raul pelo resto de
sua vida. Nesse mesmo ano o selo Fontana/Phonogram edita o LP Raul Rock
Seixas, contendo sobras de gravações em estúdio. Foi nessa mesma época que
Raul começou sua "via crucis" e seu organismo se ressentia dos frequentes
abusos alcoólicos que lhe ocasionaram uma pancreatite crônica. Novamente, ele
rompeu as barreiras da solidão e em 1978 conheceu Tânia Menna Barreto, que
passou a ser sua nova companheira. Durante meses tratou da pancreatite numa
fazenda da família no interior da Bahia. Retornou ao estúdio de gravação e
gravou o LP Mata Virgem, ainda pela WEA. Pepeu Gomes participou do disco
tocando guitarra na faixa "Pagando Brabo". Arriscou novamente a parceria
musical com Paulo Coelho e juntos compuseram a música "Judas". Em 1979,
com um novo parceiro, Oscar Rasmussem gravou o disco Por Quem os Sinos
Dobram. Sérgio Dias participou de algumas faixas dedilhando sua guitarra única
e sempre renovadora. Mais um disco fracassado. Raul acusou o presidente da
WEA de escolher produtores incapazes para seus discos e de não ter divulgado
convenientemente Por Quem os Sinos Dobram. Estaria selada aí sua reputação
de "artista difícil" entre os executivos das gravadoras.

"André Midani só faz confusão, sonhei com ele e mijei no colchão." Com
esses versos provocativos e sarcásticos de "Conversa pra Boi Dormir", Raul
decretava o seu asco diante das multinacionais do disco. Rescindiu o contrato
com a WEA e separa-se de Tânia Menna Barreto. Conheceu então, Ângela Maria
Affonso Costa (Kika Seixas), com quem passou a conviver.

Novamente internado no Hospital Israelita Albert Einstein, Raul foi


submetido a uma operação para a retirada de metade do pâncreas. Decidiu
transferir-se "de mala e cuia" para São Paulo, onde residiu até o fatídico dia de
sua morte. Assinou contrato com a CBS, sim, a mesma CBS na qual ele já havia
trabalhado anos atrás como produtor. Na nova casa, Raul lançou o polêmico e
belíssimo disco Abre-Te Sésamo.

Revigorado, contundente e assustador, com um disco recheado de obras-


primas, Raul testava os limites da abertura política com uma música ferina, que
era ao mesmo tempo título desse LP, equiparando a dita cuja às balelas das Mil e
Uma Noites, vociferando que: "é tudo mentira, quem vai nessa pira". Com a
música "Aluga-se" ele propunha o aluguel do Brasil para os gringos.

Sempre fiel aos seus valores, Raul hesitava em dirigir o seu trabalho rumo à
mesmice, ao sucesso óbvio em que estava chafurdada a mal fadada linha
evolutiva da música popular brasileira. Atirou-se de cabeça, cada vez mais no
precipício do álcool, que o afogava nos constantes cancelamentos de espetáculos
e crises de hepatite. Apesar do grande sucesso de crítica alcançado pelo disco
Abre-te Sésamo, considerado um dos melhores daquele ano, com direito a clipe
no Fantástico, Raul parecia estagnado e ainda descontente com tudo. Em 1982,
apresentou-se tão acidentalmente na cidade de Caieiras-SP, que terminou por ser
confundido como impostor dele mesmo. É preso e espancado pela polícia e pelo
delegado da cidade. O caso ganhou repercussão na mídia de todo o país,
causando uma grande revolta em Raul.

A diretoria da CBS, logo depois do lançamento do disco Abre-te Sésamo,


propôs a Raul a gravação de um segundo disco em homenagem ao Príncipe
Charles e Lady Diana, cujo casamento, ocorrido naquela década de 1980, foi
chamado de "o casamento do século", que futuramente daria no escândalo de
intrigas e traições que culminaria com a separação do casal real e na morte da
princesa Diana. Abismado diante de tal e tão absurda proposta, indignado e
incrédulo, Raul não encontrou outra alternativa a não ser rescindir o contrato
com a CBS.

Arrasado e sem gravadora, sem amigos leais, pessoas que ele ajudara no
passado produzindo seus discos agora batiam a porta em seu nariz, negando-lhe
ajuda e trabalho. Inativo e sem perspectivas, justamente quando o rock nacional
passava por um novo apogeu comercial, com a proliferação e o sucesso
estrondoso de bandas e cantores, Raul, o pai do rock nacional, fiel defensor nos
anos difíceis que sua cria houvera atravessado, como Daniel, continuava jogado
entre as feras, na cova dos leões.

0 retorno espetacular de Raul

O destino veio revigorar o ânimo do maluco beleza: o Estúdio Eldorado, uma


pequena gravadora pertencente ao grupo econômico do jornal O Estado de São
Paulo, convidou-o para ingressar em seu pequeno elenco. Raul gravou, naquele
sombrio ano de 1983, o disco Raul Seixas, uma coleção de momentos, como ele
mesmo definiu, sem arrojos filosóficos ou implicações metafísicas. Nem por
essa simplicidade íntima musical e poética, o disco deixou de ser carregado de
talento e competência e, ao mesmo tempo, repleto de toques em poemas mais
leves, que revelavam um Raul mais cônscio e mais humano.

O disco Raul Seixas cumpriu sua nobre missão, trouxe de volta um Raul que
há muito o Brasil não via, recuperado, subido das profundezas do abismo e
pronto para começar tudo outra vez. O estrepitante sucesso da faixa "Carimbador
Maluco/ Plunct, Plact-Zum" fez Raul brilhar triunfante, em fevereiro de 1983,
com um grande show de lançamento na Sociedade Esportiva Palmeiras, em cuja
apresentação apoteótica e há muito aguardada por sua legião de seguidores, deu
uma verdadeira aula de rock'n'roll.

Finalmente o monstro sagrado do rock brasileiro voltava ao palco, despertara


de seu estado de inércia musical, descobriu que ainda tinha um imenso e fiel
público, um fã-clube organizado e outros tantos espalhados pelo Brasil com o
propósito único de não deixar sua obra naufragar no mar do esquecimento e
percebeu que não poderia jamais deixar de se apresentar ao vivo. Apesar de seu
medo latente e confesso de ser assassinado como Lennon, o palco era o seu trono
eterno.

Nesse mesmo ano, Raul viu sua fama de arruaceiro e antiprofissional ser
engolida pelo sucesso arrebatador da música "Carimbador Maluco", que acabou
virando tema de um especial infantil na Rede Globo, "Plunct, Plact-Zum" e
levou-o novamente a uma apresentação no último Festival de Águas Claras
(Iacanga-SP). A Eldorado, aproveitando-se dos registros do show na Sociedade
Esportiva Palmeiras, lançou em meados de 1984, numa acirrada disputa
comercial com a Som Livre, o histórico disco Raul Seixas Ao Vivo/ único e
Exclusivo.

Já desligado do Estúdio Eldorado, em 1984, Raul gravou seu disco pela Som
Livre: Metrô Linha 743, um disco em "preto e branco" como ele próprio o
definiu. A faixa título e o restante do disco não traziam o colorido condicionado
dos clichês de violinos, de metais e das guitarras, apenas o violão acústico para
dar asas para cada um projetar a imaginação. Um disco totalmente acústico. A
produção do LP estourou o orçamento, não teve a divulgação esperada e o disco,
apesar de ser belíssimo, não obteve grande sucesso comercial. Raul já estava
brigado com a Som Livre por conta de um clipe da música "Metrô Linha 743",
que não havia sido gravado de acordo com o que ele planejara, desligou-se, mais
uma vez, também da Som Livre. Seu casamento com Kika Seixas, o mais
duradouro e que parecia estruturado e eterno foi se deteriorando gradativamente
até chegar a um triste final. Sua saúde estava debilitada outra vez. Separou-se de
Kika Seixas e passou um curto período na capital baiana para se recompor.

0 apoio dos fã-clubes

De regresso a São Paulo e com uma nova companheira, Lena Coutinho,


retomou a batalha à procura de uma nova gravadora. O meio artístico e a
indústria fonográfica, mais uma vez, fecharam as portas para o mago do rock,
ninguém o queria em seus quadros.

Em 1985, o fã-clube oficial Raul Rock Club, sob o comando de Sylvio


Passos, produziu o álbum Let Me Sing My Rock'N'Roll, o primeiro disco
produzido no Brasil por um fã-clube e que teve uma edição limitada de apenas
mil exemplares, tornando-se rapidamente uma raridade, hoje disputado a peso de
ouro por colecionadores "raulseixistas".

Em 1995, outro fã-clube, o Novo Aeon Fã Club/Raul Rock Seixas, fundado


em 1975, na cidade de Bariri-SP, e que na verdade é o primeiro fã-clube de Raul
a ser inaugurado no país com o aval e o reconhecimento do próprio Raul, mas
que não foi oficializado. Repetiu-se o pioneirismo ao editar a primeira biografia
de Raul Seixas por meio de um fã-clube: Raul Seixas, O Metamorfônico. O livro
teve apenas uma única edição de mil exemplares, só para colecionadores e
também virou uma raridade disputada entre os "raulseixistas".

O vinil Let Me SingMy Rock'N'Roll mereceu a posição de disco oficial, pois


contém músicas gravadas somente em compactos e não incluídas nos discos
oficiais de Raul Seixas. Anos depois, Let Me Sing My Rock'N'Roll foi reeditado
com outra capa e com o título de Caroço de Manga.

Nova parceria: Raul Seixas e Marcelo Nova


Em 1986, Raul assinou contrato com a gravadora Copacabana, mas os
problemas de saúde acabaram interferindo novamente nas sessões de estúdio e o
primeiro disco pela nova gravadora, tão esperado pelos "raulseixistas" para
aquele ano, terminou por ser lançado somente em 1987. Como título o novo
trabalho trazia o grito de guerra do rock'n'roll: Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-
Bum!. O mais puro rock'n'roll estava de volta, para ensinar os espertinhos que se
denominavam expoentes do rock nacional, como é que se fazia rock e com
qualidade ímpar. Um disco revigorador, vomitando pelos sulcos energia, para
não deixar o rock'n'roll morrer.

Do norte ao sul do país o disco foi muito executado mais uma vez. Raul
provara que um verdadeiro rei jamais perde a majestade, mesmo que seu trono
seja usurpado por traidores. A música "Cowboy Fora da Lei" estourou nas
paradas musicais e foi incluída na trilha sonora da novela das sete da Rede
Globo. Um clipe espetacular e cheio de humor foi gravado para o Fantástico.
Marcelo Nova, então vocalista e líder do debochado e ótimo grupo Camisa De
Vênus e discípulo confesso de Raul, convidou-o para participar do álbum duplo
que o grupo preparava. O disco Duplo Sentido, LP duplo, foi o último do Camisa
de Vênus, que viria a se separar logo depois.

Com o Camisa de Vênus, Raul dividiu os vocais com Marcelo Nova na faixa
"Muita Estrela, Pouca Constelação", cuja letra retratava o cenário pop de forma
desdenhosa, apontando a falta de respeito musical e as farsas montadas por
aqueles que se julgavam estrelas, mas não tinham nenhum brilho. Neste mesmo
álbum duplo, o Camisa de Vênus reverenciava o mestre Raulzito regravando a
música "Aluga-se".

Raul dava outra vez sinais de revigoramento, pois já no ano seguinte, 1988,
gravou no mês de setembro, o disco A Pedra do Gênesis, voltando a falar sobre a
Sociedade Alternativa com a música fortíssima "A Lei", em que conclamava
com mais rigidez todos os direitos humanos. Raul incluiu nesse disco algumas
canções que pertenceriam a um antigo projeto musical, a mesma capa do A
Pedra Do Gênesis, seriam crias do projeto musical: Opus 666 e Nuit, que ele não
chegou a gravar.
Apesar de estar musicalmente ativo, Raul não se apresentava ao vivo já há
bastante tempo, foi quando Marcelo Nova convidou-o para viajar a Salvador,
onde iria se apresentar. Raul aceitou o convite e viajou com o amigo e discípulo.
Durante o show, Marcelo chamou Raul ao palco para uma canja, meio a
contragosto ele cantou e encantou a plateia. O sucesso foi tamanho que ele
recebeu uma injeção de ânimo, iniciando na capital baiana uma série de shows
com o nome "Marcelo Nova e Raul Seixas", que culminaria numa turnê de
cinquenta apresentações por todo o Brasil.

Sob a insígnia da águia, Raul ascendia ao trono mais uma derradeira vez,
parecia que o retorno do mestre guerreiro coincidia com a milenar profecia
bíblica alardeada pelo grande profeta Isaías: um rei seria como uma ave de
rapina vindo para devorar o Império Babilônico. Isaías se referia a Ciro, O
Grande e suas tropas imbatíveis, que tinham águias nos estandartes de batalha.
Estes avançaram sobre a cidade de Babilônia como águias que se precipitam
sobre a presa.

Guerreiros como Carlos Magno e Napoleão e países como Estados Unidos e


Alemanha escolheram a águia como símbolo de seu poderio. Mas, a águia, ave
tantas vezes mencionada nas Escrituras Sagradas, é usada para simbolizar
sabedoria, rapidez e proteção divina. A águia, com sua capacidade de enxergar
longe, pode ver o perigo bem distante e tomar precauções antecipadas de defesa.
Sabe o momento exato de recuar e a hora certa de se precipitar sobre a presa. Na
língua portuguesa a palavra águia refere-se, em sentido figurado, à pessoa de
grande perspicácia. E perspicácia, ousadia, altivez e sabedoria, eram adjetivos
que Raul possuía. Raul sabia que estava próximo do fim, mas ele não queria
terminar assim incógnito, precisava alçar voo, causar mais terremotos antes de
despedir-se de nós "raulseixistas" e "verbaloides" e da vida em grande estilo.

Nesta volta triunfal, benditas sejam as mãos de Marcelo Nova que,


intencionalmente ou não, o reergueram do nada, do limbo do esquecimento, das
cinzas. A volta por cima do mestre Raul foi gigantesca, Marcelo Nova, dividiu
todas as apresentações com ele e segurando tudo. Raul estava muito mal
fisicamente, não passava de um mero coadjuvante e carregou o peso do
preconceito e da indiferença, pelos quatro cantos do país com um orgulho e
sobriedade indizíveis. Marcelo era quem tomava as dores de Raul. Quando iam
aos estúdios em algumas rádios e Raul sofria todo tipo de gozação pelo seu
estado de saúde, debilitado fisicamente, era o Marcelo quem reagia ferozmente,
diante de tanto desrespeito e maldade. Ele parecia um zumbi, um morto-vivo se
esforçando para sucumbir, mas foi recebido por uma imensa e fanatizada legião
de seguidores, como um verdadeiro rei, que retornava do exílio musical.

O alarde causado pela sua inesperada volta por cima foi tão
inacreditavelmente dissecada, que toda a mídia queria desvendar o segredo da
ressurreição do maluco beleza, que o meio artístico acreditava acabado e
esquecido para sempre. Não havia nenhum segredo a ser desvendado, Raul
voltara triunfante e belo, com a mesma irreverência e inquietude, para se
despedir de todos e fechar com chave de ouro o seu testamento, sua passagem
por esta Terra. Estava na hora de elevar-se à condição de mito, de lenda viva do
rock'n'roll, mas, desta vez, em outra dimensão: a Fase A da Sociedade
Alternativa.

Precisava partir para revolucionar outras plagas além e se eternizar entre nós
"verbaloides". "Eu vou-me embora apostando em vocês, em meu testamento
deixo minha lucidez, vocês vão ter um mundo bem melhor que o meu, pois a
semente que eu ajudei a plantar já nasceu..."

Raul Seixas e Marcelo Nova registraram então, esta volta triunfal e


apocalíptica em um dos mais belos e proféticos discos já gravados na história da
MPB, o lendário LP A Panela do Diabo, lançado dois dias antes do falecimento
de Raul.

A morte do Lobo Conselheiro

Dia 21 de agosto de 1989, manhã de sol, segunda-feira, 9 horas: O Rei estava


morto! Havia nos abandonado à mercê do Monstro Sist.

Dalva Borges da Silva, a empregada de Raulzito, chegou ao apartamento


número 1003, no Edifício Aliança, zona central de São Paulo e encontrou,
estupefata, na cama com uma Bíblia sobre o peito, o corpo do profeta do
Apocalipse, Raul Seixas. Imediatamente Dalva comunicou-se com o médico e
com a família Seixas. A triste notícia se espalhou como rastilho de pólvora e
logo as emissoras de rádio e TV divulgaram o falecimento do mito mais
corrosivo do século.

Jornalistas e amigos de Raul dirigiram-se ao prédio onde ele morava. Raul


havia falecido duas horas antes da chegada da empregada de parada cardíaca
causada pela pancreatite crônica que sofria há 10 anos. São Paulo parou. O
Brasil parou. O Rock parou.

Uma legião de admiradores, raulseixistas e não raulseixistas, correu ao local


para confirmar a veracidade da notícia, que muitas vezes tivera sido alardeada
inescrupulosamente. Só que desta vez a notícia era verdadeira. Por exigência dos
fãs que chegavam de todo o Brasil, o corpo de Raul foi levado para o Palácio das
Convenções do Anhembi.

O corpo de Raul foi velado por uma multidão inconsolada, que passou toda a
noite chorando lágrimas de dor esmiuçada e cantando as músicas do ídolo. Na
saída do corpo para o Aeroporto de Congonhas, de onde se daria o translado para
Salvador, houve uma confusão generalizada e repressão policial, com muitas
pessoas apanhando e sendo trancafiadas em camburões. Tamanha balbúrdia se
deu porque os fãs queriam acompanhar o corpo e o cortejo fúnebre até
Congonhas, provocando assim, a reação da polícia.

Depois de conseguirem que o Corpo de Bombeiros levasse o corpo de Raul


Seixas em carro aberto até o aeroporto, os ânimos foram serenados e a última
homenagem foi consumada. Exatamente às 13 horas do dia 23 de agosto de
1989, sob forte sol, o jatinho da Líder Táxi Aéreo, fretado pela família Seixas,
pousou no Aeroporto Dois de julho, em Salvador, trazendo o corpo de Raul no
seu retorno definitivo à Bahia de todos-os-santos. Raul foi sepultado às 16 horas,
no Cemitério Jardim da Saudade, no Bairro de Brotas. Entretanto, a morte não
mata quem já nasceu imortal e Raul é poeta que nunca morre, já nasceu
póstumo. Uma lenda viva.

Sua obra musical continua nas bocas, mentes e corações! Toda a sua
discografia oficial foi relançada em vinil e CD, tornou-se um "long-seller", nome
que a indústria fonográfica dá aos artistas que têm vendagem garantida e
contínua mesmo depois de falecidos.

Até disco de ouro Raul recebeu depois de morto e continua vendendo


anualmente mais de 300 mil CDs. Nos dias que precederam sua morte, Marcelo
Nova concedeu um depoimento a Emilse Barbosa, que foi publicado na revista
Amiga, com o título "O caminho de um grande amigo-parceiro", em cujas
emocionantes palavras o grande e genial "transgressor" Marceleza, como Raul
carinhosamente o chamava, quebrou o mito de que Raul era uma pessoa difícil
de lidar, irresponsável e turrão. Raul gostava e fazia questão de dar o troco a
quem não o respeitava como homem e artista:

"Havia uma coincidência entre a minha carreira e a de Raul: Nenhum


de nós dois frequentava clubes sociais. Sempre fomos sós neste aspecto.
Nossa relação era com o público. A gente ia fazer uma turnê até o fim do
ano e depois cada um seguiria o seu caminho. As coisas com a gente
eram tarimbadas. Íamos fazendo à medida que as ideias casavam. Este
disco, Panela do Diabo, foi um trabalho muito emocional. Raul é imortal,
um gênio, absoluto. Aprendi muito com ele. A motivação dele era o
público. Não me recordo de haver no Brasil um líder com o carisma de
Raul Seixas e sou testemunha de que esse reencontro com o público na
sua volta depois de quase cinco anos longe dos palcos foi uma coisa
muito gratificante para ele. Sinto-me gratificado por ter colaborado com
isso. Raul era meu ídolo desde criança. Foi o primeiro cantor com blusão
de couro a fazer minha cabeça a ponto de eu querer imitá-lo. Sou um
privilegiado por ter podido acompanhar toda a sua trajetória. Por outro
lado, não tenho a preocupação de ser o seu sucessor, porque Raul foi um
universo completo, um caso único. Infelizmente foi tão vilipendiado na
vida. As pessoas o drogavam e carregavam para o palco sem condições
de se apresentar, com isso sua imagem foi caindo em descrédito diante
do público. Em mim ele pôde confiar. Durante este ano que trabalhamos
juntos ele se divertiu muito. Não há dinheiro que faça alguém repetir 50
shows sem faltar a nenhum deles. Raul fez todos os shows comigo, sem
problemas e conseguiu desmistificar a imagem de profissional
negligente. O mesmo Raul que agora é mostrado como herói, estava
trabalhando, fazendo shows pelo Brasil, só que não aparecia na mídia.
Eu estava dormindo quando soube de sua morte. Foi um grande choque,
e não há frases para definir essa perda. Acho que ele mesmo já as deixou
para nós: - Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela
velha opinião formada sobre tudo. Hoje sou uma estrela que amanhã já
se apagou. O que falta é cultura para cuspir na estrutura e outras mais."

Não foi acaso que Raul Seixas considerava Marcelo Nova um verdadeiro
homem, rockeiro nato, que não fazia parte dessa panelinha dos contentes, que se
autointitulava a "nova geração do rock'n'roll". Sempre cutucando a onça com
vara curta, correndo o risco de ser devorado, Raul não poupava farpas,
distribuindo-as por todos os lados, atacava em todas as direções e incomodava
muita gente. Talvez por isso mesmo, poucos artistas e cantores compareceram ao
velório de Raul.

No entanto, mais tarde, ditos, tidos e havidos como grandes nomes da MPB,
pessoas que jamais tiveram a mínima ligação artística com Raulzito e outros que
até o execravam, repentinamente alardeavam sua admiração pela obra do mago
baiano e se achavam prontos e no direito de regravar suas músicas, vituperando
assim, o trabalho incomparável do mais corrosivo pensador brasileiro.

De repente, Raul Seixas tinha se transformado em "nova onda", o


"raulseixismo" poderia aferir lucros inimagináveis e até mesmo levar alguns
nomes ao estrelato, içando algumas pessoas do abismo da incompetência
musical e artística, como ocorreu com raros nomes, mas por um curto espaço de
tempo.

Ouro de Tolo, Raul era agora, uma mina de ouro redescoberta depois de
considerada maldita e inativa. E assim ocorreu. As homenagens póstumas
renderam muito dinheiro, recolocaram nomes nas paradas de sucesso, fizeram o
pé de meia de muita gente que antes tinha horror a Raul Seixas.

Acredito cabalmente que todas essas coisas já estavam traçadas pelo destino,
pois, o que realmente importa é que Raul jamais seja esquecido e que a sua obra
musical e filosófica ganhe dimensões futuristas. Discos póstumos, coletâneas
diversas, tributos, regravações e livros biográficos foram editados aos milhares.
Várias homenagens foram e continuarão sendo prestadas pelos séculos dos
séculos.

O transgressor Raul Seixas, que fez de sua vida e arte atribuladas um hino à
liberdade sem obstáculos nem dogmas, o que lhe valeu prisão, tortura e exílio,
desceu ao sétimo círculo mais abjeto do érebo de Dante, perseguido e execrado
como homem e como artista. Mas, foi elevado à condição de mito. Ele era
implacável e inflamado, como todos os homens ternos que amam a justiça, era
uma das almas autenticamen te grandiosa da música popular brasileira. Raul era
o perigo, aquele cujas palavras tinham o poder de abalar estruturas, costumes e
regimes. Sua extensa obra musical foi dedicada ao homem "verbaloide", cujas
personagens de carne e osso remetiam, entre outros, aos humilhados e ofendidos
dostoievskianos, à ralé de Gorki, aos parias de Zola. O homem que não ousa e
não pensa não poderá jamais se livrar dos grilhões que o impedem de ser livre e
feliz. Mas, Raul também reservou, em sua obra contestadora, espaço para o amor
carnal, compondo belíssimas canções do mais elevado lirismo, que parecem
subir do fundo de um lago, como as ninfas de Claude Monet. Um gênio
esboçado. Um filho fiel da dor... "Conhecereis a verdade, e a verdade os
libertará." (Jesus Cristo) - João VIII:32.

Toda a obra musical de Raul Seixas contém um paradoxo enorme com estas
palavras de Jesus Cristo, pois, traz consigo elementos capazes de despertar o
indivíduo para que este busque suas próprias verdades. Ousar é preciso. Segundo
Platão: "O profeta ou gênio é semelhante ao louco". Simplesmente porque
conheceu a verdade e a verdade o tornou livre e livre, fatalmente, não se
adequará às mentiras sociais e religiosas, passará a combatê-las ferrenhamente e
não se irmanará com os hipócritas.

A razão pela qual Raul foi perseguido e barrado é clara: ele ousou questionar
tudo e o pior, tentou por todos os meios possíveis mostrar ao homem que ele é
um indivíduo e como tal pode ser feliz e livre se acreditar em si mesmo. As
pessoas sempre tendem a transferir a responsabilidade do "realizar" para os
outros e principalmente para os condicionamentos sociais. Pois, desde os
primórdios, o homem teme o desconhecido. Não sabe das suas possibilidades e
atravessa a curta existência e a vida tão preciosa acorrentado aos grilhões da
história, mentirosa e disforme. O homem tem de aprender a agir, a pensar. Ousar
é mais do que preciso e a ousadia possibilita o "fazer".

Será que o ser humano percebe o quanto a vida é bela, mas extremamente
passageira? A gente nasce e já começa a morrer.

As pessoas se preocupam demais com as convenções e normas sociais e


religiosas, por isso se esquecem de viver, não conhecem a verdade, que é
libertadora de todos os grilhões e calabouços. Era contra toda esta macabra
acomodação que Raul Seixas se opunha e se manifestava. Ele falava o tempo
todo que é preciso ter coragem, pois o ser humano pode mais.

Raul era o Gregório de Matos moderno. Gregório viveu na Bahia setecentista,


ficou conhecido como "O Boca do Inferno", o primeiro poeta maldito brasileiro,
nascido em 1636 e falecido em 1695, temido e odiado, mas também
reverenciado, é autor de uma poesia ferina e virulenta, sempre pronta para atacar
os poderosos, os moralistas, os dogmas e os "bons costumes". Por isso, até hoje
sua obra permanece como uma das mais malditas e rebeldes da história da
literatura brasileira, afirma Higino Barros, que organizou cuidadosamente a
antologia Gregório de Matos, publicada pela L&PM Editores em 1999.

Gregório de Matos foi preso e deportado para Angola e mesmo no degredo,


em 1694, um ano antes de falecer, em Luanda, envolveu-se com uma sublevação
de militares que protestavam contra a mudança de padrão monetário, imposto
pela Corte à colônia africana. Por sua atuação, ficando ao lado do poder real,
escreve Higino Barros, ele obtém o direito de retornar ao Brasil. É repatriado
para Pernambuco, em 1695, e passa os últimos dias de sua vida, proibido de
versejar, às margens do Capibaribe. Um de seus versos mais conhecidos,
brilhantes e ferinos ao extremo é o que inicia um de seus sonetos: "A cada canto
um grande conselheiro/Que nos quer governar cabana, e vinha;/Não sabem
governar sua cozinha,/E podem governar o mundo inteiro".


O primeiro livro sobre Raul Seixas foi publicado em 1983 pela Shogun Arte,
editora que era propriedade de Christina Oiticica e Paulo Coelho, As Aventuras
de Raul Seixas na Cidade de Thor, escrito pelo próprio Raul Seixas, uma espécie
de documento sobre a formação cultural e musical dele, com 98 páginas
contendo trechos de seu diário, contos, poemas, história em quadrinhos, que
Raul criava e desenhava na infância para vender ao irmão Plínio Seixas, são
apresentados como verdadeiras alucinações "raulseixistas". Este mesmo livro foi
reeditado com uma capa diferente, em 1991 pela mesma Shogun Arte,
desativada tempos depois.

Quando recebi, em 1983, alguns exemplares do livro As Aventuras de Raul


Seixas na Cidade de Thor, enviados pelo próprio Paulo Coelho para que eu o
ajudasse na divulgação por intermédio do Novo Aeon Fã-Clube/Raul Rock
Seixas, tive a iluminação de escrever a primeira biografia de Raul Seixas, que
contasse toda a sua trajetória artística e pessoal até aquela data, já que nenhum
acadêmico ou jornalista tinha, até então, elaborado um livro sobre o mais temido
pensador do rock nacional.

Dei início à difícil tarefa, corria o ano de 1984, quando saí em busca de
material e fotos para incluir no livro que pretendia escrever. Comuniquei a Raul
a minha intenção de perpetuar seu nome e carreira em uma biografia. Ele me
enviou dezenas de fotos, pôsteres, LP's, compactos, vasto material impresso,
uma tonelada de coisas que ainda hoje preservo como peças de um raro tesouro.
E logo estavam prontos e escritos à mão os originais da tão sonhada biografia,
contendo 200 páginas e a qual intitulei: Raul Seixas, o Metamorfônico. Faltava
então o principal para que o projeto literário ganhasse vida e se viabilizasse: uma
editora para publicá-lo.
Dei início a uma acirrada batalha em busca de uma editora interessada em
publicar meu livro, mas perdi. Nenhuma editora recebeu a ideia, editores me
disseram que estavam vacinados contra o "raulseixismo" e quem sabe poderiam
pensar em publicar uma biografia de um louco-intemporal depois de sua morte.
Tomei a drástica decisão de engavetar os originais de Raul Seixas, o
Metamorfônico e somente onze anos depois, algumas destas mesmas editoras
que eu havia procurado, em 1984, mostraram interesse em rever o projeto e
possível edição do mesmo livro recusado outrora, pois agora, com a morte de
Raul e algumas biografias já publicadas com sucesso, o livro poderia ser mais
um filão para os editores.

Resolvi começar tudo novamente, com os originais manuscritos debaixo do


braço fui bater à porta de uma editora pequena, mas de grande qualidade, sob a
direção de um ex-patrão e amigo meu.

Tiro certeiro, Raul Seixas, o Metamorfônico, finalmente seria editado onze


anos depois de escrito e engavetado. O primeiro livro biográfico de Raul Seixas
ganharia vida e forma em 1995. Quando o livro saiu do prelo, eu temia a reação
dos admiradores de Raul, afinal de contas, mais de uma dezena de livros sobre o
mestre do rock já havia sido publicada depois de sua morte.

Com absoluta certeza, as críticas cairiam como avalanche em cima da minha


cabeça, seriam mordazes e destrutivas, mas havia o consolo de que alguns livros
que contam a trajetória de Raul eram de qualidade duvidosa. Obviamente que,
antes de publicar o livro, fui obrigado a reescrevê-lo, mesmo porque, desde
1984, muita coisa aconteceu na vida e na carreira de Raul, até o momento de sua
morte, em 1989. Restava-me aguardar e dar tempo ao tempo para ver e sentir o
resultado daquela louca e ousada empreitada literária.

Para minha surpresa e contentamento, a primeira e única edição de mil


exemplares se esgotou rapidamente e o livro foi bem recebido e aceito pela turba
"raulseixista", que o considerou um dos melhores livros já publicados sobre o
mago baiano. Transbordando de alegria por ter passado no teste torturante, dei
início a um segundo livro, quando ainda o citado Raul Seixas, o Metamorfônico
estava à venda nas livrarias.

Em dezembro de 1995, comecei a escrever este livro, que agora você lê. Em
1990, Sylvio Passos organizou textos e depoimentos e entrevistas de Raul e os
publicou pela Martin Claret, o livro mais conhecido do mito maluco beleza: Raul
Seixas por ele mesmo. Em 1992, novamente Sylvio Passos uniu-se ao talentoso
Toninho Buda e mais uma vez, pela mesma Martin Claret, publicaram o livro
Antologia, reunindo todas as letras das músicas gravadas por Raul Seixas e um
estudo de Toninho Buda sobre Raul e o esoterismo. Corria o ano de 1992,
exatamente no dia 21 de agosto, quando a Polygram lançou o LP Baú do Raul,
contendo gravações inéditas (sobras de estúdio, ensaios, aparições de Raul na
TV Itapoã/Bahia, de 1963 a 1978). Junto com este LP, saiu também o livro O
Baú do Raul, com textos e letras e poemas inéditos, organizados por Kika Seixas
e Tárik de Souza, pela Editora Globo.

Definitivamente, O Baú do Raul trata-se do melhor e mais autêntico livro já


publicado sobre o mago do rock, pois nada mais é que um livro escrito por ele
mesmo, que contém fragmentos do tratado de filosofia "O Verbaloide", cujo
projeto Raul tinha me confidenciado lá nos longínquos finais da década de 1970,
quando o conheci. O Baú do Raul transformou-se em um projeto idealizado por
Kika Seixas, por meio do qual, durante anos vários artistas eram reunidos e
convidados a prestarem reverência a Raul, em diversas apresentações pelo
Brasil. O Baú do Raul reuniu milhares de lãs por onde passou e teve início no
Circo Voador, no Rio de janeiro.

Em setembro de 1993, a Rede Globo exibiu o especial Som Brasileiro, em


homenagem a Raul, com a participação de várias duplas sertanejas e outros
nomes da MPB. Naquele mesmo ano, 1993, a extinta Editora Ateniense, lançou,
ao mesmo tempo, três livros no mercado literário, com poemas sobre Raul
Seixas:

- Viajando com Raul Seixas, de João Benedito de Farias.

- Raul Seixas Forever, de Madiel Figueiredo.


- Há Dez Mil Anos Atrás, de Renato Luiz Maitan.

Em 1993, Luciane Alves publicou pela Martin Claret o livro Raul Seixas, o
sonho da Sociedade Alternativa.

Ainda em 1993, Ayrton Mugnaini Jr. publica pela Nova Sampa Diretriz
Editora Ltda. o livro recheado de informa ções inéditas, "Raul Seixas: eu quero
cantar por cantar - Biblioteca Musical Y.

Em 1994, já no final do ano, Kika Seixas lança o "Rocle Book Raul Seixas",
com letras, fotos inéditas e partituras de vários sucessos de Raul pela Editora
Gryphus. O poeta e repentista Costa Senna publica em 1994, pela Nova Sampa,
o livro O Raulseixismo. Ainda em 1994, pela Nova Sampa, Thaís de Moraes
lança o livro Raul Seixas, musicalmente falando.

Em meados de 1995, a Cúpula do Relâmpago Dourado, que tem como


membros principais Sylvio Passos, Luciane Alves, Zelinda Hypolito, Ayrton
Mugnaini Jr., Costa Senna, Drago, Jairo Ferreira e o genial Toninho Buda, reúne
textos escritos por eles e lança, mais uma vez, pela Nova Sampa, o livro Raul
Seixas, O Trem das Sete. Dezembro de 1995, Thildo Gama, amigo e ex-
integrante do grupo Relâmpagos do Rock, no início da carreira de Raulzito e
primeiro guitarrista da banda Raulzito e Os Panteras, publica pela Pen Comércio
e Comunicações Ltda. o livro Raul Seixas, a trajetória de um ídolo. Ainda em
1995, Kika Seixas, mais uma vez, publica pela Editora Globo, o fabuloso livro
Raul Rock Seixas, com fotos inéditas, letras e poemas de Raul nunca antes
publicados.

No final de dezembro de 1995, finalmente sai pela Gráfica e Editora Coletta


Ltda. o livro Raul Seixas, O Metamorfônico, de Isaac Soares de Souza, com
prefácio e poema inédito em homenagem a Raul, de seu irmão, o poeta e escritor
Eliezer Soares de Souza.

Os livros mais importantes e conhecidos sobre Raul Seixas seguem


relacionados a seguir, por ordem de lançamento:
A paixão segundo Raul Seixas. De Toninho Buda. São Paulo: Editora Maya,
1999.

A trajetória de um ídolo. De Thildo Gama. São Paulo: Pen Editora, 1995.

As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor. De Raul Seixas. Rio de


Janeiro: Shogun Arte, 1983.

Dez anos sem Raul Seixas. De Tiago Sotero de Sá e Mirella Franco Barrella.
São Paulo: Produção Alternativa, 1999.

Eu quero cantar por cantar - Raul Seixas. De Ayrton Mugnaini Jr. São Paulo:
Nova Sampa editora, 1993.

Luar aos avessos. De Ângelo Sastre. São Paulo: Scortecci Editora, 1999.

O Baú do Raul - (Raul Seixas). Seleção de Kika Seixas, organização e


apresentação de Tárik de Souza. São Paulo: Editora Globo, 1992.

Raulseixismo. De Costa Senna. São Paulo: Nova Sampa Editora, 1994.

Raul Rock Seixas - (Raul Seixas). Pesquisa, organização e edição de Kika


Seixas. São Paulo: Editora Globo, 1995.

Raul Seixas, a história que não foi contada. De Elton Frans. São Paulo:
Irmãos Vitale Editores, 2000.

Raul Seixas: a verdade absoluta filosofias políticas e lutas. De Mario Lucena


São Paulo: McBe1 Oficina de Letras, 2002.

Raul Seixas/Biografia. (Coleção Gente do Século). De Regina Echeverria.


São Paulo: Editora Três, 1999.

Raul Seixas dez mil anos à frente. De Marco Aurélio. BA: M2 Mídia, 2003.

Raul Seixas e a modernidade - Uma viagem na contramão. De Sonielson


Juvino Silva. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2004.

Raul Seixas e o sonho da Sociedade Alternativa. De Luciane Alves. São


Paulo: Martin Claret, 1993.

Raul Seixas, entrevistas e depoimentos. De Thildo Gama. São Paulo: Pen


Editora, 1997.

Raul no caldeirão. De David Eduardo Martins. Rio de janeiro: Editora


Catedral das Letras, 2005.

Raul Seixas, O Metamorfônico. De Isaac Soares de Souza. São Paulo: Gráfica


e Editora Coletta, 1995.

Raul Seixas por ele mesmo. De Sylvio Passos. São Paulo: Martin Claret,
1990.

Raul Seixas Rock Book - (Raul Seixas). Pesquisa de Kika Seixas. Rio de
Janeiro: Gryphus Editora, 1994.

Raul Seixas, uma antologia. De Sylvio Passos e Toninho Buda. São Paulo:
Martin Claret Editores, 1992.

Trem das Sete. De Luciane Alves, Toninho Buda, Drago, Jairo Ferreira,
Zelinda Hypolito, Ayrton Mugnainijr. e Sylvio Passos. São Paulo: Nova
Sampa Editora, 1995.

Triângulo do Diabo/Opus 666. De Jay Vaquer. EUA: Girl Press, 1999.

Raul Seixas/Metamorfose Ambulante. Autor e Organizador: Mário Lucena.


Coord.: Sylvio Passos. Coautores: Igor Zinza e Laura Kohan. São Paulo:
B&A, 2009.

Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho do seu tempo. De Vitor Cei Santos.
Rio de janeiro: Luminária Academia/Multifoco, 2010.
Raul Seixas - Uma lenda viva na memória dos seus admiradores - Autor:
Elton Frans - GPC Edições - 2010.

Raul Seixas, O Verbaloide. De Isaac Soares de Souza. Clube de autores


(www.clubedeautores.com.br), 2010.


Raul Seixas morreu vítima do alcoolismo, desafiou a tudo e a todos, pagou
um preço altíssimo pela sua teimosia "braba" de guerreiro, mas de maluco Raul
não tinha nada. Tanto é verdade que ele continua, até hoje, causando polêmica e
vendendo discos como poucos. Biografias e tributos incontáveis são editados
todos os anos. Isto se deve exclusivamente à garra afiada de minha amiga
querida e ex-esposa de Raul, Kika Seixas, que há anos vem mantendo vivo o
projeto "O Baú do Raul".

O trabalho desenvolvido por Kika Seixas merece todo o respeito e


reconhecimento. Somente no ano de 2005, quase no seu final, Kika Seixas
organizou e fez editar dois projetos de extrema grandeza: o primeiro, O Baú do
Raul, CD duplo e DVD do show-tributo que levou milhares de lãs à Fundição
Progresso, Lapa, Rio de janeiro, reduto dos boêmios e das tribos al ternativas,
celebrando a décima edição do evento e que contou com a participação de vários
nomes consagrados da MPB, evidenciou que passados dezesseis anos da morte
de Raul, seu legado continua vivo.

Em novembro de 2005, mais um projeto organizado por Kika em forma de


livro/almanaque/CD chegava às livrarias de todo o Brasil para fomentar a
ansiedade dos fãs de carteirinha. Este segundo projeto, feito com maestria pura
para fechar aquele ano, intitulado O Baú do Raul Revirado, além de imagens
pessoais do acervo da esposa de Raul e manuscritos exclusivos, traz ainda um
CD grátis com gravações inéditas de Raul Seixas.

O baú no qual Raul guardava as pequenas lembranças de sua carreira está


finalmente ao alcance do público. Esse livro reúne fotos e manuscritos inéditos
de um dos maiores ídolos do Brasil. Conhecer a história de Raul e do rock
nacional por meio dos objetos pessoais do cantor, irá agradar até a quem nasceu
"há dez mil anos atrás". O livro é da editora Ediouro.

DISCOS PÓSTUMOS

O mais celebrado deles foi "O Baú do Raul" (Polygram, 1992, produção de
Sylvio Passos, que, sem trocadilhos, foi um passo adiante daquele dado com Let
me Sing. Neste disco, o fundador do Raul Rock Club reuniu raridades do ídolo
do período entre 1963 (as gravações do The Panters na TV Itapoá) e 1978 (a
faixa inédita "Sou o que sou", parceria de Raul com Tânia Menna Barreto). No
pacote, vieram ainda faixas como "Nanny" (de Gino Frey, gravada por Raul em
1964, mas não incluída em nenhum de seus discos), as versões em espanhol de
"Metamorfose Ambulante" e "Ouro de Tolo", encontradas apenas em CD e
gravações cruas de clássicos do rock (das sessões de Raul Rock Seixas), como
"Can't Help Falling Love" e "Kansas City".

Alguns discos ao vivo também saíram do baú após a morte do astro. Caso de
"Eu, Raul Seixas" (Polygram, 1991, com registros de um show feito em 1982,
em Santos, na Praia do Gonzaga). "Raul Vivo" (Eldorado, 1993, uma ampliação
do disco "Raul Seixas Ao Vivo - único e Exclusivo, com gravações de suas
composições de sucesso) e "Se o Rádio não Toca" (Eldorado, 1994, com
recuperação de fitas de um histórico show em Brasília, no ano de 1974).

De fitas guardadas há anos, o produtor Mazzola fez em 1998 o disco


"Documento" (MZA Music), outro destaque na discografia póstuma de Raul
Seixas. Este belo CD traz as versões em inglês de "O Trem das Sete", "Ouro de
Tolo" e "S. O. S.", a inédita "Faça, Fuce, Force", takes alternativos de "How
Could 1 Know" e "Rockixe", além de uma recriação eletrônica de "É Fim de
Mês". Como as fitas apresentavam deteriorações, o produtor separou as vozes e
os violões de Raul e chamou os músicos que gravaram com ele na época para
fazer as bases.

Em 2003, foi a vez de Sylvio Passos voltar à ativa com "Anarkilópolis" (Som
Livre), uma compilação de faixas já manjadas, como "No Fundo do Quintal da
Escola", "Quero Mais" e "Que Luz é Essa". A novidade do disco ficou por conta
da inclusão da faixa-título, uma primeira versão inédita, de "Cowboy Fora da
Lei", registrada em 1984, nas sessões de Metrô Linha 743.

CAIXAS

Raul - Série Grandes Nomes (com 4 CDs e um livro ilustrativo), Polygram,


1995.

Maluco Beleza - com as reedições remasterizadas dos seus primeiros discos


entre 1973 e 1977, Universal Music, 2002.

DISCOS-TRIBUTOS

O início, o fim e o meio - Vários artistas, Epic/Sony Music, 1992.

Tributo a Raul Seixas - O Terço, Movieplay, 1999.

Zé Ramalho canta Raul Seixas - Zé Ramalho, BMG, 2001.

O Baú do Raul - Vários artistas, Som Livre, 2004, também em DVD.

PRINCIPAIS COLETÂNEAS

A Arte de Raul Seixas - (Polygram)

Metamorfose Ambulante - (Polygram)

Raul Rock Seixas 2 - (Polygram)

Maluco Beleza - (WEA)

As Profecias - (WEA)

Música! O Melhor da Música de Raul Seixas - (WEA)


Millenium - (Polygram)

Bis-Raul Seixas - (EMI)

Essential Brazil Raul Seixas - (EMI)


Se a morte sorrateira, vestida de cetim, não o tivesse levado prematuramente,
aos 44 anos, em agosto de 1989, Raul Seixas estaria com mais de 60 anos de
idade, ele nasceu em 28 de junho de 1945. Uma verdadeira legião de
admiradores e quase uma geração inteira de novos fãs preparam por todo o país
várias comemorações em homenagem ao rockeiro baiano nas datas de seu
nascimento e na data de sua morte: junho/agosto. Em todo o Brasil, como
acontece desde a sua partida para a Fase A da Sociedade Alternativa, essas
homenagens ocorrem em shows realizados por toda a parte, em bares de
inúmeras cidades do país, apresentações dos principais covers e exposições de
objetos do cantor organizados pelos inúmeros fãs-clubes. Uma panaceia geral
que expressa a importância da obra musical desse gênio esboçado que a música
popular brasileira teve a sorte e a honra de ter.

É bom lembrar aos desesperados e fiéis seguidores do mago baiano, que não
tinha nenhuma ligação com a linha evolutiva da música brasileira, que todos os
fã-clubes ainda em atividade são responsáveis por essa "guerra" permanente,
pela luta para que o nome de Raul nunca caia no esquecimento.

Raul Seixas era único: nunca um artista brasileiro ousou tanto com sua arte
corrosiva e genial. O que ele cantava era o que ele vivia sem falsidade. Nunca
fez parte de nenhuma cúpula musical, não pertencia à linha evolutiva da MPB:
sua linha e ideologia era o "raulseixismo". Raul morreu triste como Carlos
Drummond de Andrade. Ele imprimia tão catastroficamente seu estilo próprio
em suas composições que dificilmente elas tinham significado ou aura na
interpretação de outros artistas. O Brasil precisou perdê-lo para reencontrá-lo na
eternidade de sua obra filosófica e magistral, um fato tragicômico, pois, como o
próprio Raul sempre dizia: "A sociedade assassina seus poetas para então citá-
los".

Como prova da eternidade do maior pensador que a música brasileira já teve,


a Som Livre lançou uma coletânea do cantor baiano com uma canção country
jamais lançada em disco. Digo pasmem, porque foi a mesma Som Livre que, em
1984, lançou o LP Metrô Linha 743 e foi a gravadora, dirigida por João Araújo,
pai do poeta do absurdo, Cazuza, que jogou este clássico disco no fosso do
anonimato. Não deu ao disco o valor que ele merecia, não o divulgou, por isso
acabou provocando a saída relâmpago de Raul de seu elenco naqueles distantes
anos da década de 1980.

Anarkilópolis, título do disco que a Som Livre lançou e cuja música que dá
nome ao disco, assinada por Raul, Cláudio Roberto e Sylvio Passos. Mais uma
coletânea que, apesar de um pouco diferente de inúmeras outras já editadas,
cheira a caça-níqueis. Não convence a nenhum admirador da obra "raulseixista",
pois não tem nada inédito. A música "Anarkilópolis" é um country que deveria
ter entrado no disco Metrô Linha 743. Como os produtores da gravadora
entenderam na época que a música não tinha ficado bem acabada, decidiram não
incluí-la naquele disco de 1984.

Outra história contada para justificar a não inclusão desta canção no disco, é a
de que Raul, naquela época, estava com problemas cada vez mais frequentes em
sua vida particular. Depois de chegar embriagado ao estúdio por causa de uma
briga com a esposa, acabou comprometendo a gravação, que não pôde mais ser
trabalhada a tempo de entrar no álbum. Até a capa desta coletânea Anarkilópolis
é uma cópia da capa do disco Metrô Linha 743, que foi trabalhada pelo artista
gráfico e "raulseixista" Drago, amigo pessoal de Sylvio Passos para dar a
impressão de uma coisa nova. A faixa Anarkilópolis merece atenção especial,
porque trata-se de uma letra de Sylvio Passos que Raul musicou. O próprio
Sylvio é quem conta como se deu a parceria:
"Raul tinha escrito, em 1973, uma música chamada Cowboy 73, e me mostrou
a letra me convidando (eu acredito que ele estava mesmo é me dando uma
oportunidade única, generoso ao extremo que era) para fazer uma letra em cima
daquela, onde somente aproveitaríamos o refrão, que era assim:

Eu que escrevia uns versinhos e coisas típicas de adolescente, tive ali a


oportunidade de escrever junto a Raul algo mais `sério'. Raul me passou a ideia e
o refrão e falou: Se vira, Sylvícola! Foram inúmeras tentativas, rabiscos, papéis
no lixo até que saiu a letra que foi gravada. Fui com Raul ao Rio, já que eu
estava acompanhando todas as sessões de gravação do Metrô Linha 743 tanto no
Rio (Som Livre) como aqui em Sampa num estúdio da RGE, ele chegou
completamente chapado no estúdio e gravou de qualquer jeito a Cowboy Fora da
Lei, que acabou virando Anarkilópolis em 2003 para não entrar em conflito com
a outra versão lançada em 1987. Resultado: com data de lançamento marcado,
gravações do videoclipe para o Fantástico, a música acabou não entrando no
disco, pois o cronograma e o orçamento já estavam estourados. A gravação
permaneceu perdida no acervo da Som Livre durante quase 20 anos, até que um
belo dia Aramis Barros me liga dizendo que tinha encontrado uma gravação
inédita de Raul das sessões do Metrô Linha 743 e queria saber mais informações
sobre ela. Qual não foi minha surpresa e alegria ao ouvir tal gravação. Raul que
havia adquirido o hábito de não deixar nada nas gravadoras depois que lançaram
o Raul Rock Seixas (1977) com coisas que ele deixou na Philips, havia se
esquecido de apagar a tal gravação não aproveitada no Metrô. Acho que ele nem
se lembrava de tê-la gravado, visto o estado em que se encontrava no dia da
gravação. E nem eu me lembrava, até que pude ouvir e dizer ao Aramis e à Kika
que aquela era a versão que eu e Raul havíamos feito em 1984 e que eu tinha as
fitinhas K7 com a gente compondo tal música."
Raul era um ser humano que, apesar de sua fama de encrenqueiro e meio
maluco, possuía um coração enorme e costumava dar a parceria em algumas de
suas composições para algum amigo e para as esposas que teve. Por que será que
todas as mulheres que passaram por sua vida têm pelo menos uma música em
parceria com ele? Um dos seus parceiros, realmente parceiro e que escrevia
letras e dividia mesmo tudo foi o genial Cláudio Roberto, que hoje vive em um
sítio na cidade fluminense de Miguel Pereira.

Para que o fã menos avisado tenha uma vaga ideia, quando Raul convocou e
convidou Paulo Coelho para assumir uma parceria firme com ele, uma das mais
prolíficas do rock nacional, a primeira música que trazia o nome de Paulo
Coelho como parceiro, "Caroço de Manga", foi escrita e musicada inteiramente
por Raul e ele para incentivar o amigo, cedeu-lhe a parceria e, hoje o próprio
Paulo Coelho afirma tal coisa. Por que é que, depois do rompimento da parceria
de ambos, Paulo Coelho nunca mais compôs nada, a não ser umas três ou quatro
canções insossas? Por que é que depois da separação conjugal, suas ex-esposas -
Kika Seixas, Tânia Menna Barreto e Lena Coutinho e também a americana
Glória Vaquer -jamais retornaram a compor uma canção?

Apesar dos pesares, a tão aclamada e alardeada música inédita,


"Anarkilópolis" é uma gostosa brincadeira, não para o grande público, mas
dirigida ao fã colecionador. Estou de pleno acordo com o crítico Jotabê
Medeiros, quando escreveu: "a única coisa que prestava mesmo em
`Anarkilópolis', a tal canção inédita do novo disco de Raulzito, gravada
originalmente em 1984, era o refrão `eu não sou besta pra tirar uma de herói',
que ele aproveitou três anos depois". O trecho foi utilizado na conhecidíssima
"Cowboy Fora da Lei", do disco Uah, Bap, lah, Bein-Bum!, que lhe deu o
segundo disco de ouro pela Copacabana.Jotabê Medeiros vai ainda mais longe:
"o resto do country que puxa o novo lançamento é um besteirol, algo inferior à
verve do cantor baiano em outros momentos. Só tem um versinho que salva
"cada um manda no seu nariz/por isso que o povo lá é feliz".


1- Ritmo Alucinante/Globo Vídeo - 1975 - RJ.

Filme que traz os melhores momentos e lances do Festival Hollywood Rock,


realizado no Rio de janeiro/1975, com Raul Seixas e outros nomes: Rita Lee,
Celly Campelo, Erasmo Carlos e O Peso.

2-1993 - Lançamento do curta-metragem de Tadeu Knudsen, "Tanta Estrela por


Aí", com Rita Lee vivendo o papel de Raulzito.

3-1993 - Curta-metragem dejairo Ferreira, "Metamorfose Ambulante" e/ou "As


Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor", com participação de Toninho
Buda e Sylvio Passos.

4-1999 - Vídeo, 35 min., "Raul Seixas Também É Documento"/ MZA MUSIC,


produção executiva: Kika Seixas.

No dia 11 de janeiro de 1999, em pleno verão carioca, acontece a estreia da


peça teatral (monólogo), "Raul Fora-da-Lei", no Teatro Plenário. No palco o ator
Roberto Bontempo (conhecido por suas atuações no cinema, na televisão e no
teatro), realiza um antigo sonho, um monólogo com textos originais do próprio
Raul Seixas, escritos durante sua breve vida, que ajudaram a desvendar um
pouco da controvertida personalidade deste que sempre será o mito do rock
brasileiro. A produção da peça "Raul Fora-Da-Lei" é do próprio Roberto
Bontempo em parceria com a competente Analu Tanuri.

A direção é assinada pelo cineasta José Jofilly, em sua primeira incursão


teatral. No filme "Quem Matou Pixote", Jofilly incluiu na trilha sonora duas
músicas de Raul Seixas: "A Hora Do Trem Passar" e "Metamorfose Ambulante".

A peça "Raul Fora-da-Lei" conta ainda com uma banda em cena executando
ao vivo trechos de algumas das mais conhecidas músicas de Raul. É pena que
esta peça não tenha feito muito sucesso e deixou de ser encenada.

Raulzito na telona

Foram 200 horas de filmagens, condensadas em uma hora e meia e com


estreia marcada para o início de 2011. O compositor baiano é o tema do
documentário Raul Seixas, o Começo, o Meio e o Fim, dirigido por Walter
Carvalho. "Será Raul Seixas em overdose, será uma injeção de estriquinina na
veia", promete o diretor. Carvalho queimou os neurônios para transformar as
mais de 200 horas de material filmado ou pesquisado em uma hora e meia de
filme. O diretor fez uma varredura pesquisando imagens em arquivos de
emissoras de TV, relíquias familiares e nos baús dos fãs. Há material em Super 8,
em vídeo, em VHS e em fotos. O filme está enraizado na trajetória de Raul, no
grupo Raulzito e seus Panteras, na parceria com Paulo Coelho, no seu jeito de
compor, de intervir no palco, de se relacionar com os amigos, com o público,
com as cinco companheiras e as três filhas. Carvalho realizou filmagens em
Salvador, São Paulo, Rio de janeiro, na Suíça e nos Estados Unidos.

RAUL SEIXAS - VERSÕES E "PLÁGIOS"

Confira a seguir uma lista das músicas que alguns afirmam que Raul plagiou e
versões magníficas que ele criou para alguns clássicos do rock, blues e baião.
Raul Seixas nunca escondeu de ninguém que ele havia sim "metido a mão" em
algumas músicas e outra coisa que pouca gente conhece é o fato de que Raul
tinha uma afinidade tão grande com o estúdio e com a música, que ele inverteu
muitos clássicos do rock, trocando seus acordes para criar suas bombas musicais.
Isto não significa jamais que Raul Seixas foi um grande plagiador, muito pelo
contrário, significa o quanto ele era mesmo um gênio. Nunca ninguém ousou
contestá-lo por qualquer suposto plágio e acredito que nunca houve tal coisa
devido ao fato de os criadores originais das ditas canções plagiadas não terem
tomado conhecimento de atitude que sempre causou celeuma no meio musical,
ou porque o próprio criador plagiado não teria nenhum argumento diante da
justiça para provar o plágio, ele não saberia dizer se foi plagiado ou se plagiou.

1) 1 WantYou (melodia "Cowboy Fora da Lei") - Bob Dylan;

2) Xote das Meninas (trechos em "É Fim do Mês") - Luiz Gonzaga;

3) Lucy In The Sky With Diamond (versão "Você Ainda Pode Sonhar") - The
Beatles;

4) Cambalache (versão "Cambalache") - Tita Merello;

5) Slippi'n & Slidin'n (versão "Não Fosse o Cabral") - Little Richard;

6) Bop-a-Lena (versão "Babilina") - Ronnie Self;

7) 1 Will (versão "Um Minuto Mais") - Dean Martin;

8) Killer Diller (versão "Rock das "Aranha") -Jim Breedlove;

9) 1 Was Born About Ten Thousand Years Ago (inspirou "Há 10 Mil Anos
Atrás") - Elvis Presley;

10) Got My Feet On The Ground (melodia de "Eu Sou Eu Nicuri É o Diabo") -
The Kinks;

11) Willow Garden (versão "A Beira do Pantanal") - Peter & Gordon;

12) Mr. Spaceman (versão "S.O.S.") - The Byrds;

13) My Baby Left Me (inicio "A Verdade sobre a Nostalgia") - Arthur "Big Boy"
Grudup;

14)No No Song (versão "Não Quero Mais Andar na Contramão") - Ringo Star;

15) Obladi, Oblada (inicio "Peixuxa") - The Beatles;

16) Here Tonight (Versão "Mas 1 Love You") - Gene Clark;


17) Smokestack Lightning (inicio "As Minas do Rei Salomão") - Howlin Wolf;

18) Sweet Home Chicago (semelhante "Canceriano Sem Lar") - Blues Brothers;

19) Back In The USSR (versão "O Dia da Saudade") - The Beatles;

20) How Many More Times (melodia "Loteria da Babilônia") - Led Zeppelin;

21) Beach Boy Blues (versão "Na Rodoviária") - Elvis Presley;

22)Aline (melodia do refrão em "Maluco Beleza") - Christophe;

23)Friends Of Mine (melodia do refrão em "Se Ainda Existe Amor") - The


Zombies;

24) Kansas City (início e fim de "Super Heróis") - The Beatles.

2 Dos Filhos Deste Solo -Mortos eDesaparecidos Políticos Durante a Ditadura


Militar: a responsabilidade do Estado, de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio.
Primeira edição, agosto de 1999. Editora Perseu Abramo e Boitempo Editorial.

'Muitas das informações contidas neste pequeno capítulo sobre Crowley foram
baseadas e retiradas da Biografia de Aleister Crowley, na Internet, de autoria de
Eduardo Pinheiro.

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