Você está na página 1de 11

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/343152053

Os impactos da IEC 60076-7 2018 na predição de vida útil de transformadores


de potência

Conference Paper · November 2018

CITATIONS READS

0 108

3 authors:

Luiz Fernando de Oliveira Alvaro Portillo


WEG Universidad de la República de Uruguay
16 PUBLICATIONS   4 CITATIONS    17 PUBLICATIONS   56 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Odirlan Iaronka
WEG - Electrical equipment
8 PUBLICATIONS   1 CITATION   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Inrush and sympathetic inrush currents modelling View project

Shunt reactors modelling View project

All content following this page was uploaded by Luiz Fernando de Oliveira on 23 July 2020.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


IX WORKSPOT- International workshop on power
transformers, equipment, substations and materials
FOZ DO IGUAÇU, PR – 25 a 28 DE NOVEMBRO DE 2018

A2 – PS3

Os impactos da IEC 60076-7 2018 na predição de vida útil de


transformadores de potência
L. F. de Oliveira, A. Portillo, O. Iaronka, D. F. Harmel
WEG
Brasil

RESUMO
A publicação NBR 5356-7 e a introdução do Anexo H foram responsáveis por um grande avanço
na normalização e modelagem de sobrecargas em transformadores de potência. Permitindo a modelagem
dos ciclos de sobrecarga utilizando o método das equações exponenciais ou o método das equações
diferenciais. Contudo, a norma publicada em outubro de 2017 baseia-se na norma IEC 60076-7:2005,
que em janeiro de 2018, recebeu uma revisão alterando diretivas relevantes.
Nas palavras da própria norma: “Uma grande mudança em relação à edição anterior é o extenso
trabalho sobre a degradação do papel que foi realizado indicando que o envelhecimento pode ser
modelado pela combinação da oxidação, hidrólise e pirólise. Além disso, proporcionando a
possibilidade de estimar a vida útil do isolamento considerando diferentes fatores de envelhecimento
como presença de umidade e oxigênio, além da temperatura, levando a cenários de serviço mais
realistas”.
Dentre as diretivas alteradas ou enfatizadas, podem ser destacadas:
 Direcionamento da norma exclusivamente para transformadores isolados por óleo mineral;
 Revisão praticamente completa dos anexos orientativos;
 Definição da taxa de envelhecimento e da vida útil da isolação de transformadores, alterando
o foco exclusivo da temperatura de operação para os processos de oxidação, hidrólise e
pirólise; tornando relevantes condições de operação como presença de umidade e oxigênio;
 As limitações de corrente foram revistas com base na classificação dos transformadores;
 O texto sobre posicionamento de fibras óticas nos enrolamentos de transformadores para
medição da temperatura em tempo real foi reformulado;
 As equações do método exponencial foram reformuladas com base nos novos parâmetros
de impacto sobre a vida útil;
 Inclusão do Anexo L sobre o tema das correntes induzidas geomagneticamente (GIC).
Espera-se propiciar com este trabalho um nível de esclarecimento maior em relação ao patamar
atual no que tange as limitações do cálculo de vida útil de transformadores de potência, principalmente
quando submetidos à sobrecargas. Por fim, espera-se fomentar o conhecimento do “estado da arte” em
um momento em que o monitoramento on-line para predição da vida útil torna-se um tópico cada vez
mais relevantes entre os agentes do mercado de transmissão de energia elétrica.
PALAVRAS CHAVE
Transformador de potência, sobrecargas em transformadores, modelagem térmica, vida útil.

Luiz Fernando de Oliveira - luizo@weg.net

1
INTRODUÇÃO
Em agosto de 2017 a norma NBR 5356-7 [1] foi publicada como uma tradução da norma IEC
60706-7:2005, mas com a adição do Anexo H que define o ensaio de sobrecarga aplicável para
transformadores destinados à rede básica do Sistema Interligado Nacional, definindo um marco
importante para a normalização de transformadores no Brasil e atualizando a norma nacional de acordo
com a prática internacional.
Contudo, nos primeiros dias de 2018 a IEC 60076-7:2005 foi atualizada, tornando-se IEC 60076-
7:2018 [2]. Nas próprias palavras da norma, a principal diretriz alterada: “Uma grande mudança em
relação à edição anterior é o extenso trabalho sobre a degradação do papel que foi realizado indicando
que o envelhecimento pode ser modelado pela combinação da oxidação, hidrólise e pirólise. Além disso,
proporcionando a possibilidade de estimar a vida útil do isolamento considerando diferentes fatores de
envelhecimento como presença de umidade e oxigênio, além da temperatura, levando a cenários de
serviço mais realistas”.
Além desta diretriz, muitos trechos foram alterados ou adaptados para a realidade atual do
mercado de transformadores de potência isolados por óleo mineral que agora torna-se o foco exclusivo
da norma, deixando os transformadores que possuem isolamento alternativo (aramida, híbridos, ésteres
naturais e sintéticos) sob encargo da IEC 60076-14 [3].
Ao longo deste trabalho serão abordados os principais tópicos alterados entre as edições de 2005
e 2018 da IEC 60076-7 e os impactos para a especificação de transformadores serão apontados quando
possível.
AVANÇO DAS PESQUISAS
Primeiramente, alguns dados de pesquisa já consolidada levam a conclusão de que a presença de
umidade e oxigênio aceleram o processo de envelhecimento tanto do papel kraft comum quanto do papel
kraft termoestabilizado. Outro dado conhecido é de que a deterioração de ambos os tipos de papel sob
temperaturas elevadas leva a produção de água, que por sua vez acelera ainda mais a degradação, em
outras palavras, o processo é autoacelerado. Já foi provada também a correlação entre o grau de
polimerização e os principais parâmetros que sinalizam o final da vida útil do papel isolante como a
resistência à tração, tensão de ruptura, alongamento e resistência à dobra [4].
A revisão realizada na IEC 60076-7 baseia as considerações em algumas referências chaves que
registram a pesquisa da influência dos conteúdos de umidade e oxigênio no sistema isolante óleo/papel:
A referência [5] afirma que ambos, água e oxigênio, aceleram a geração de subprodutos que levam
à degradação do papel, mas que a sinergia emergente da presença de ambos os elementos
simultaneamente pode levar a um efeito antagônico. Tal efeito foi detectado sob temperaturas de 120°C
quando a concentração de oxigênio aumenta de <400ppm para ~1%, no entanto, níveis elevados de água
(>4%) superam quaisquer efeitos benéficos devido à presença de oxigênio. A referência afirma ainda
que esse antagonismo pode justificar o fato de muitos transformadores terem sido encontrados com a
isolação em bom estado mesmo após muitos anos de serviço. A análise de Furan indica que a água é
mais prejudicial que o oxigênio na formação de produtos que agridem a isolação e que furaldeído é
sempre o subproduto predominante.
Os estudos registrados em [6] indicam que a hidrólise é governada pela catálise ácida. No
trabalho, cinco tipos de ácidos (fórmico [46g/mol], acético [60g/mol], levulínico [116g/mol], esteárico
[240g/mol] e naftênico [285g/mol]) encontrados em transformadores com vários anos de operação são
adicionados ao óleo de experimentos práticos. A pesquisa indicou que os ácidos de baixo peso molecular
são facilmente absorvidos pelo papel, principalmente na presença de umidade, e podem levar a taxas
elevadas de declínio do grau de polimerização. Os ácidos absorvidos foram o fórmico, o acético e o
levulínico e que a presença destes deveria ser incluída nos esquemas de diagnóstico e levada em conta
para estimar o retorno de ações de manutenção.
Resultado da Task Force D1.01.10 do Cigré, a brochura 323 [4] tem como objetivos principais:

2
 Enumerar os mecanismos de envelhecimento;
 Identificar como a temperatura, água e subprodutos dissolvidos agem na isolação;
 Enumerar os indicadores de diagnóstico que podem ser usados para avaliar o
envelhecimento;
 Recomendar meios de redução da taxa de envelhecimento;
 Identificar quais práticas de manutenção podem ser recomendadas para estender a vida útil
de um transformador.
A referência relata como os fenômenos de pirólise, hidrólise e oxidação se complementam como
mecanismos de envelhecimento do papel e como a umidade influencia negativamente o valor da energia
de ativação (𝐸𝐴) da Equação de Arrhenius (1) para o fenômeno da hidrólise. São apresentados capítulos
detalhados sobre as técnicas de produção e os diferentes materiais envolvidos no processo de
envelhecimento da isolação. Questões sobre o balanço de umidade entre o papel e o óleo são levantadas
e a validade das curvas de Oommen [7], [8] são provadas falhas para condições específicas, como
exemplo da presença de ácidos de baixo peso molecular. Por fim, afirma que o DGA (Dissolved gas
analysis) que vem sendo utilizado nos últimos 30 anos é uma prática recomendada, principalmente pela
correlação comprovada entre a quantidade de monóxido e dióxido de carbono e o grau de polimerização
do papel isolante.
𝐸𝐴
𝑘 = 𝐴 𝑒 −𝑅 𝑇 (1)

Onde 𝐸𝐴 representa a energia de ativação de Arrhenius, 𝑅 é a constante dos gases,


8,314 𝐽/(𝐾 𝑚𝑜𝑙), 𝑇 é a tmeperatura absoluta e 𝐴 é o fator pré-exponencial.
Por sua vez, [9] descreve experimentos realizados para avaliar o efeito de aceleração do processo
de envelhecimento promovido pelos ácidos de baixo peso molecular. O trabalho sugere a introdução de
uma nova técnica de medição para o valor de neutralização onde lavagem com água é usada para
identificar o conteúdo de ácidos solúveis em água com baixo peso molecular.
Nesta brochura do Cigré [10] o desempenho térmico de transformadores de potência é descrito a
partir de diferentes pontos de vista, considerando os mecanismos de falha por envelhecimento, as
técnicas de diagnóstico, os ensaios que podem ser realizados em transformadores para garantir o
funcionamento adequado, as técnicas de projeto e modelos matemáticos para o cálculo do ponto mais
quente e as condições de unidades em serviço no campo. Uma das conclusões mais impactantes dentre
as que foram apresentadas é de que o nível de oxigênio influencia negativamente a vida útil da isolação
de forma crítica e que a utilização de transformadores com respiro livre não é recomendada.
As referências [11] e [12] apresentam um novo recipiente para teste de envelhecimento em
sistemas isolantes papel/óleo. Ambos argumentam que o teste convencional em recipientes selados tem
a desvantagem do aumento progressivo do conteúdo de umidade à medida que o papel envelhece, o
novo método promove o controle do conteúdo de umidade e oxigênio. Ambos os trabalhos apresentam
novas curvas de envelhecimento que resultam em valores mais otimistas que as antigas curvas já
consolidadas, além de incluírem a influência da umidade e do oxigênio. Há conclusões interessantes
como, por exemplo, a taxa de envelhecimento do papel kraft termoestabilizado ser maior do que para o
papel kraft comum quando o conteúdo de umidade supera 3%. Recomendam fortemente a utilização de
bolsa de borracha para evitar o ingresso de oxigênio no sistema isolante.
O CONTEÚDO DE UMIDADE E OXÍGÊNIO SEGUNDO A IEC 60076-7:2018
Ainda com caráter informativo, o Anexo A recebe o título “Insulation life expectancy and relative
ageing rate considering oxygen and water effect” e estabelece as considerações necessárias para levar
em conta a presença de umidade e oxigênio no processo de envelhecimento do papel. A primeira
afirmação é de que as equações tradicionalmente utilizadas (2) e (3), apresentadas pela própria norma
desde a versão de 2005 com base em [13] e [14] são simplificações válidas em intervalos limitados de
temperatura. Por outro lado, o “IEEE Loading Guide” [15] afirma que a equação (3) é válida para uma

3
ampla gama de temperaturas. Além do mais, as equações (2) e (3) implicam que a taxa de
envelhecimento depende apenas da temperatura do ponto mais quente e não considera diferentes
condições de isolação, como as referências [4], [5], [6], [9], [10], [11] e [12] sugerem.

𝑉 = 2(𝜃ℎ −98)/6 (2)

15000 15000
( − ) (3)
𝑉=𝑒 110+273 𝜃ℎ +273

onde 𝑉 representa a taxa relativa de envelhecimento e 𝜃ℎ é a temperatura do ponto mais quente,


em °𝐶. O anexo segue, propondo que tomando (1) na forma:
E
− (θ (4)
𝑘=𝐴𝑒 𝑅 h +273)

e considerando que se uma taxa de envelhecimento sob determinada temperatura e condição de


isolação é escolhida como referência, 𝑘𝑟 , então a taxa de envelhecimento, 𝑘, determinada para qualquer
temperatura e condição de isolação pode ser relacionada com 𝑘𝑟 por uma nova taxa relativa de
envelhecimento, 𝑉, dada por (5):
𝑘 𝐴 𝑅1 (𝜃 𝐸+273
𝑟 −
𝐸
𝜃ℎ +273
)
𝑉= = 𝑒 ℎ,𝑟 (5)
𝑘𝑟 𝐴𝑟
onde o subscrito 𝑟 representa a condição de referência. A norma escolhe como condição de
referência para ambos os papéis kraft, comum e termoestabilizado, aquela com as melhores condições
ambientais dentre as apresentadas nas referências [9] à [15]: “free from air and 0,5% moisture”, ou seja,
com baixo teor de oxigênio e conteúdo de umidade igual a 5%. Novamente a taxa de envelhecimento
relativa 𝑉 = 1,0 na condição de referência corresponde à temperatura de 98°C para o papel kraft comum
e 110°C para o papel kraft termoestabilizado. As Tabela 1 e Tabela 2 foram elaboradas utilizando (5)
com os dados apresentados na Tabela 3. Para interpretar tais tabelas, pode-se tomar um exemplo, como
na Tabela 1 o valor de 𝑉 para 86°C com 3,5% de umidade é 2,742, isso significa que a vida útil será
consumida 10,968 vezes mais rápido que com 0,5% de umidade (2,742/0,25=10,968).
Dessa forma, observando os dados da Tabela 1 para o papel kraft comum, é possível afirmar que
a umidade é o fator preponderante, principalmente em temperaturas mais elevadas, contudo, entre 80 e
100°C o oxigênio também contribui para a degradação da celulose aumentando a taxa entre 4 e 6 vezes.
Para o papel kraft termoestabilizado, na Tabela 2, a contribuição do oxigênio é ainda mais
relevante, perfazendo o fator predominante no envelhecimento da isolação celulósica, o que vai de
encontro às conclusões apresentadas em [10].

4
Tabela 1 – Taxa relativa de envelhecimento para o papel kraft comum para diferentes níveis de
temperatura, oxigênio e umidade
Taxa relativa de envelhecimento
Temperatura
Resultados de Livre de ar e Livre de ar e Livre de ar e Com ar e
°C
(2) umidade 0,5% umidade 1,5% umidade 3,5% umidade 0,5%
80 0,125 0,12 0,44 1,323 0,8
86 0,25 0,25 0,91 2,742 1,32
92 0,5 0,5 1,84 5,548 2,16
98 1,0 1,0 3,66 10,976 3,47
104 2,0 1,94 7,08 21,245 5,5
110 4,0 3,67 13,43 40,281 8,58
116 8,0 6,82 24,96 77,88 13,21
122 16,0 12,44 45,53 136,601 20,07
128 32,0 22,3 81,58 244,755 30,1
134 64,0 39,27 143,69 431,061 44,62
140 128,0 68,04 248,93 746,802 65,39
Fonte: [2]

Tabela 2 – Taxa relativa de envelhecimento para o papel kraft termoestabilizado para diferentes níveis
de temperatura, oxigênio e umidade
Taxa relativa de envelhecimento
Temperatura
Resultados de Livre de ar e Livre de ar e Livre de ar e Com ar e
°C
(3) umidade 0,5% umidade 1,5% umidade 3,5% umidade 0,5%
80 0,036 0,1 0,19 0,38 0,79
86 0,073 0,16 0,31 0,63 1,25
92 0,145 0,26 0,5 1,0 1,97
98 0,282 0,42 0,78 1,59 3,05
104 0,536 0,65 1,22 2,48 4,66
110 1,0 1,0 1,88 3,81 7,02
116 1,83 1,52 2,84 5,78 10,45
122 3,29 2,27 4,26 8,66 15,36
128 5,8 3,36 6,3 12,82 22,32
134 10,07 4,91 9,22 18,74 32,07
140 17,2 7,11 13,33 27,12 45,6
Fonte: [2]

Tabela 3 – Energia de ativação (𝐸𝐴) e fator ambiental (𝐴) para oxidação e hidrólise
Livre de ar e Livre de ar e Livre de ar e Com ar e
Tipo de papel / parâmetro de
umidade umidade umidade umidade
envelhecimento
0,5% 1,5% 3,5% 0,5%
( −1 ) 10 11 11
× 105
Papel kraft 𝐴 ℎ 4,1 × 10 1,5 × 10 4,5 × 10 4,6
comum 𝐸𝐴 (𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 ) 128 128 128 89
−1 4 4 4
3,2 × 104
Papel kraft 𝐴 (ℎ ) 1,6 × 10 3,0 × 10 6,1 × 10
termoestabilizado 𝐸𝐴 (𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 ) 86 86 86 82
Fonte: [2]

Pode-se ainda construir gráficos a partir das Tabela 1 e Tabela 2 que expressam claramente alguns
fenômenos registrados nos avanços das pesquisas. Na Figura 1, os valores inferiores indicados em (b)
mostram claramente a durabilidade superior do papel kraft termoestabilizado, principalmente quando
submetido a temperaturas elevadas. Em (a) pode-se verificar o efeito antagônico da presença de oxigênio
no envelhecimento do papel kraft comum, preservando o papel sob baixas temperaturas.

5
Figura 1 – Taxa relativa de envelhecimento para papel kraft (a) comum e (b) termoestabilizado

IMPLICAÇÕES NO CÁLCULO DA VIDA ÚTIL


A IEC 60076-7:2018 manteve os dois métodos de cálculo estabelecidos em 2005, usando
Equações Exponenciais ou Equações Diferenciais definidas nos itens 8.2.2 e 8.2.3 da norma,
respectivamente. Como complemento são utilizados exemplos de cálculo que constam no Anexo H para
as equações exponenciais e no Anexo I para as equações diferenciais. A recomendação segue a mesma,
sendo as equações exponenciais recomendadas para variações de carga alternadas com duração de tempo
superior as constantes de tempo dos enrolamentos e sob temperatura ambiente constante. Por sua vez,
as equações diferenciais são recomendadas para curvas de carga oscilantes quando a temperatura
ambiente também varia. Por se tratarem essencialmente das mesmas equações, quando respeitadas as
limitações, equações exponenciais e diferenciais resultam em valores equivalentes.
Em relação a versão de 2005, as equações diferenciais se mantiveram, porém houve uma alteração
nas equações exponenciais para os termos que modelam a elevação de temperatura do ponto mais quente
após um decréscimo de carga. De fato, as equações apresentadas na versão de 2005 careciam de um
fator exponencial e faziam com que o gradiente entre enrolamentos e óleo se estabelecessem
instantaneamente.
Tendo em vista tais alterações e a possibilidade de realizar o cálculo utilizando as curvas que
levam em conta umidade e oxigênio, o “ciclo de sobrecarga para dimensionamento” definido no Anexo
H da NBR 5356-7:2017 [1] foi aplicado em um transformador com as seguintes características:
 Refrigeração: ONAF;
 Massa do núcleo / enrolamentos / tanque e acessórios / óleo: 19070 / 11250 / 10000 / 9200kg

6
 Razão perdas em cargas / perdas em vazio (𝑅): 1000 (durante ensaio em curto)
 Elevação média do óleo acima do ambiente: 27,3°C
 Elevação do topo do óleo acima do ambiente: 38,3°C
 Perdas em carga: 116kW
 Massa do enrolamento sob análise: 3500kg
 Material condutor do enrolamento sob análise: Cobre
 Fator de hot-spot: 1.4
 Gradiente de temperatura do enrolamento sob análise: 14,5°C
 Perdas em carga do enrolamento sob análise: 51kW
 Sistema de isolação: óleo mineral / papel kraft termoestabilizado
 Intervalo de tempo adotado (dt): 1min
 Ciclo de carga:
o 585min @1.0 p.u.
o 240min @1.2 p.u.
o 30min @1.4p.u.
o 585min @1.0p.u.
O primeiro passo é calcular as constantes de tempo do óleo e dos enrolamentos, o anexo que
sugere um método de cálculo para as constantes de tempo é o Anexo E. As fórmulas foram refinadas
em relação à versão de 2005 e agora consideram separadamente a massa das bobinas e do núcleo ao
calcular a constante de tempo dos enrolamentos. Em (6) é apresentado o cálculo da constante de tempo
do enrolamento sob análise onde 𝑚𝑤 é a massa do enrolamento, 𝑐𝑤 é o calor específico para o cobre,
390W.s/(kg.K), 𝑔 é o gradiente de temperatura do enrolamento em relação ao óleo e 𝑃𝑤 é a perda em
carga daquele enrolamento. Em (7) é calculado o calor específico equivalente para o óleo, onde 𝑐𝑤 é
novamente o calor específico do material dos enrolamentos, 𝑚𝑤 é a massa dos enrolamentos, 𝑐𝐹𝐸 é o
calor específico para o núcleo, 468W.s/(kg.K), 𝑚𝐹𝐸 é a massa do núcleo, 𝑐𝑇 é o calor específico para o
tanque, também 468W.s/(kg.K), 𝑚 𝑇 é a massa do tanque e acessórios em contato com o óleo, 𝑘𝑂 é um
fator de correção expresso pela relação entre a elevação média do óleo e a elevação do topo do óleo, 𝑐𝑂
é o calor específico do óleo, 1800W.s/(kg.K) e 𝑚𝑂 é a massa do óleo. Finalmente, em posse de 𝐶𝑂 é
possível calcular a constante de tempo do óleo utilizando (8), onde ∆𝜃𝑂 é a elevação do topo do óleo e
𝑃 é a perda em carga.
𝑚𝑤 𝑐𝑤 𝑔 3500 × 390 × 14,5
𝝉𝒘 = = = 𝟔, 𝟓𝒎𝒊𝒏 (6)
60 𝑃𝑤 60 × 51000

𝐶 = 𝑐𝑤 × 𝑚𝑤 + 𝑐𝐹𝐸 × 𝑚𝐹𝐸 + 𝑐𝑇 × 𝑚 𝑇 + 𝑘𝑂 × 𝑐𝑂 × 𝑚𝑂
27,3 (7)
𝐶𝑂 = 390 × 11250 + 468 × 19070 + 468 × 10000 + × 1800 × 9200 = 29796124
38,3

𝐶𝑂 ∆𝜃𝑂 29796124 × 38,3


𝝉𝑶 = = = 𝟏𝟔𝟒𝒎𝒊𝒏 (8)
60 𝑃 60 × 116000
Em posse das constantes de tempo e das elevações de temperatura com carga nominal é possível
calcular o transitório de temperaturas da mesma forma que nos exemplos dos anexos H e I de [2]. A
Figura 2-(a) exibe a carga estabelecida no Anexo H da NBR 5356-7 [1] para a qual as temperatura
obtidas são exibidas na Figura 2-(b). O consumo de vida útil obtido é apresentado nas Figura 2-(c) e
Figura 2-(d) para o papel kraft comum e termoestabilizado, respectivamente. Tomando o valor final do
consumo de vida útil e dividindo pelo tempo do ciclo, calcula-se a taxa relativa de envelhecimento para
o transformador submetido àquele ciclo de carga, esse resultado é apresentado na Tabela 4.

7
Figura 2 – Resultados do cálculo para (a) carga do Anexo H com (b) elevações de temperatura e
respectivo consumo de vida útil para papel kraft (c) comum e (d) termoestabilizado

8
Tabela 4 – Taxa relativa de envelhecimento durante o ciclo de carga do Anexo H da NBR 5356-7
Taxa relativa de envelhecimento
Livre de ar e Livre de ar e Livre de ar e Com ar e
Papel kraft IEC
umidade umidade umidade umidade
60076-7:2005
0,5% 1,5% 3,5% 0,5%
comum 0,46 0,45 1,65 4,94 1,84
termoestabilizado 0,13 0,23 0,42 0,86 1,68

Mesmo o transformador estando com valores baixos de elevação de temperatura, as taxas de


envelhecimento dispararam na presença de umidade ou conteúdo excessivo de oxigênio. O efeito
antagônico do oxigênio associado à umidade descrito em [5] pode ser observado.
CONCLUSÕES
O objetivo deste trabalho foi elencar as principais mudanças na IEC 60076-7:2018 na avaliação
da vida útil de transformadores quando submetidos a algum tipo de ciclo de carga. Uma das
preocupações era a NBR 5356-7 que recentemente reproduziu o conteúdo da IEC 60076-7:2005, visto
que esta análise impacta o custo de transformadores destinados à rede básica de transmissão.
Com a revisão que observa as recentes pesquisas em relação a degradação da isolação a base de
celulose, a IEC 60076-7:2018 permite que a presença de agentes contaminantes como a umidade e o
oxigênio possa ser considerada na análise de vida útil, através de parâmetros adaptados para a Equação
de Arrhenius.
Os parâmetros alternativos que contemplam umidade e oxigênio levam a resultados mais
pessimistas quanto à previsão de vida útil de transformadores. O fato que já era conhecido agora pode
ser modelado utilizando tais parâmetros nas equações exponenciais e diferenciais.
Houve um refinamento nas fórmulas utilizadas para o cálculo dos transientes térmicos,
começando pela constante de tempo do óleo. O sistema de equações diferenciais não foi alterado e
permanecem exatamente as mesmas fórmulas, enquanto que as fórmulas para as equações exponenciais
foram alteradas com o objetivo de corrigir uma deficiência que havia na versão de 2005 que fazia com
que o gradiente de temperatura se estabelecesse instantaneamente. Na versão de 2018 as equações
exponenciais e diferenciais levam aos mesmos resultados.
As limitações de corrente e temperatura continuam essencialmente as mesmas, embora a
classificação de transformadores que define se um equipamento é um “pequeno transformador”, um
“transformador de potência médio” ou um “transformador de potência grande” tenha sido revista.
Anexos informativos foram adicionados com o objetivo de permitir aos fabricantes levantar
parâmetros mais adequados para os cálculos do que aqueles fornecidos pela norma como típicos, como
exemplo, o Anexo F – Parâmetros do modelo Térmico e o Anexo G – Expoentes do óleo e enrolamentos.
Nas palavras da brochura do Cigré [4] “...a base para um transformador com longa vida útil é um
bom projeto que utiliza bons materiais que são adequadamente secos no processo de fabricação”. A
inclusão dos novos parâmetros que consideraram a umidade e o oxigênio mostra que a afirmação
permanece precisa e relevante e permite que também outros agentes, no caso os mantenedores de
transformadores, possam avaliar o impacto de suas ações na vida útil dos equipamentos.
BIBLIOGRAFIA

[1] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, “NBR 5356-7 Transformadores


de potência Parte 7: Guia de carregamento para transformadores imersos em líquido
isolante,” 01 Agosto 2017.
[2] IEC - International Electrotechnical Commission, IEC 60076-7: Loading guide for
mineral-oil-immersed power transformers, Geneva, 2018.

9
[3] IEC - International Electrotechnical Commission, “IEC 60076-14 - Liquid-immersed
power transformers using high-temperature insulation materials,” 09 2013.
[4] Cigré Task Force D1.01.10, “Ageing of cellulose in mineral-oil insulated
transformers,” Outubro 2007.
[5] A. M. Emsley, X. Xiao, R. J. Heywook e M. Ali, “Degradation of cellulosic insulation
in power transformers - Part 3 - Effects of oxygen and water on ageing in oil,” IEE Proc.-
Sci. Mcas. Technol., Vol. 147, No. 3, pp. 115-119, Maio 2000.
[6] L. E. Lundgaard, W. Hansen, S. Ingebrigtsen, D. Linhjell e M. Dahlund, “Ageing of
kraft paper by acid catalyzed hydrolysis,” IEEE Trans. Pow.Del., Vol. 19, No. 1, pp. 230-
238, 2004.
[7] T. V. Oomen, “Moisture equilibrium in paper-oil insulation systems,” CH1952-
1/83/0000/0162 IEEE, pp. 162-166, 1983.
[8] Y. Du, M. Zahn, B. C. Lesieutre e A. V. Mamishev, “Moisture equilibrium in
transformer paper-oil systems,” Transactions of Electrical Engineering, vol. 61, pp. 742-
749, Outubro 1942.
[9] L. E. Lundgaard, W. Hansen e S. Ingebrigtsen, “Ageing of mineral oil impregnated
cellulose by acid catalysis,” IEEE Electr. Insul. Mag., vol. 22, no. 1, pp. 28-35, 2006.
[10] Cigré Working Group A2.24, “Thermal performance of transformers,” Outubro
2009.
[11] N. Lelekakis, D. Martin e J. Wijaya, “Ageing rate of paper insulation used in power
transformers - Part 1 - Oil-Paper system with low oxygen concentration,” IEEE
Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, Vol. 19, No. 6, pp. 1999-2008,
Dezembro 2012.
[12] N. Lelekakis, D. Martin e J. Wijaya, “Aging rate of paper insulation used in power
transformers - Part 2 - Oil-Paper system with medium and high oxygen concentration,”
IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, Vol. 19, No. 6, Dezembro 2012.
[13] V. M. Montsinger, “Loading transformers by temperature,” Winter Convention of the
A. I. E. E., New York, N. Y., 27-31 Janeiro 1930.
[14] W. Dakin, “Electrical insulation deterioration treated as a chemical rate
phenomenon,” AIEE Transactions, Volume 67, pp. 113-122, 1948.
[15] IEEE Power & Energy Society, “IEEE Std C57.91-2011: IEEE guide for loading
mineral-oil-immersed transformers and step-voltage regulators,” 7 Dezembro 2011.

1
0
View publication stats

Você também pode gostar