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net/publication/343152053
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A2 – PS3
RESUMO
A publicação NBR 5356-7 e a introdução do Anexo H foram responsáveis por um grande avanço
na normalização e modelagem de sobrecargas em transformadores de potência. Permitindo a modelagem
dos ciclos de sobrecarga utilizando o método das equações exponenciais ou o método das equações
diferenciais. Contudo, a norma publicada em outubro de 2017 baseia-se na norma IEC 60076-7:2005,
que em janeiro de 2018, recebeu uma revisão alterando diretivas relevantes.
Nas palavras da própria norma: “Uma grande mudança em relação à edição anterior é o extenso
trabalho sobre a degradação do papel que foi realizado indicando que o envelhecimento pode ser
modelado pela combinação da oxidação, hidrólise e pirólise. Além disso, proporcionando a
possibilidade de estimar a vida útil do isolamento considerando diferentes fatores de envelhecimento
como presença de umidade e oxigênio, além da temperatura, levando a cenários de serviço mais
realistas”.
Dentre as diretivas alteradas ou enfatizadas, podem ser destacadas:
Direcionamento da norma exclusivamente para transformadores isolados por óleo mineral;
Revisão praticamente completa dos anexos orientativos;
Definição da taxa de envelhecimento e da vida útil da isolação de transformadores, alterando
o foco exclusivo da temperatura de operação para os processos de oxidação, hidrólise e
pirólise; tornando relevantes condições de operação como presença de umidade e oxigênio;
As limitações de corrente foram revistas com base na classificação dos transformadores;
O texto sobre posicionamento de fibras óticas nos enrolamentos de transformadores para
medição da temperatura em tempo real foi reformulado;
As equações do método exponencial foram reformuladas com base nos novos parâmetros
de impacto sobre a vida útil;
Inclusão do Anexo L sobre o tema das correntes induzidas geomagneticamente (GIC).
Espera-se propiciar com este trabalho um nível de esclarecimento maior em relação ao patamar
atual no que tange as limitações do cálculo de vida útil de transformadores de potência, principalmente
quando submetidos à sobrecargas. Por fim, espera-se fomentar o conhecimento do “estado da arte” em
um momento em que o monitoramento on-line para predição da vida útil torna-se um tópico cada vez
mais relevantes entre os agentes do mercado de transmissão de energia elétrica.
PALAVRAS CHAVE
Transformador de potência, sobrecargas em transformadores, modelagem térmica, vida útil.
1
INTRODUÇÃO
Em agosto de 2017 a norma NBR 5356-7 [1] foi publicada como uma tradução da norma IEC
60706-7:2005, mas com a adição do Anexo H que define o ensaio de sobrecarga aplicável para
transformadores destinados à rede básica do Sistema Interligado Nacional, definindo um marco
importante para a normalização de transformadores no Brasil e atualizando a norma nacional de acordo
com a prática internacional.
Contudo, nos primeiros dias de 2018 a IEC 60076-7:2005 foi atualizada, tornando-se IEC 60076-
7:2018 [2]. Nas próprias palavras da norma, a principal diretriz alterada: “Uma grande mudança em
relação à edição anterior é o extenso trabalho sobre a degradação do papel que foi realizado indicando
que o envelhecimento pode ser modelado pela combinação da oxidação, hidrólise e pirólise. Além disso,
proporcionando a possibilidade de estimar a vida útil do isolamento considerando diferentes fatores de
envelhecimento como presença de umidade e oxigênio, além da temperatura, levando a cenários de
serviço mais realistas”.
Além desta diretriz, muitos trechos foram alterados ou adaptados para a realidade atual do
mercado de transformadores de potência isolados por óleo mineral que agora torna-se o foco exclusivo
da norma, deixando os transformadores que possuem isolamento alternativo (aramida, híbridos, ésteres
naturais e sintéticos) sob encargo da IEC 60076-14 [3].
Ao longo deste trabalho serão abordados os principais tópicos alterados entre as edições de 2005
e 2018 da IEC 60076-7 e os impactos para a especificação de transformadores serão apontados quando
possível.
AVANÇO DAS PESQUISAS
Primeiramente, alguns dados de pesquisa já consolidada levam a conclusão de que a presença de
umidade e oxigênio aceleram o processo de envelhecimento tanto do papel kraft comum quanto do papel
kraft termoestabilizado. Outro dado conhecido é de que a deterioração de ambos os tipos de papel sob
temperaturas elevadas leva a produção de água, que por sua vez acelera ainda mais a degradação, em
outras palavras, o processo é autoacelerado. Já foi provada também a correlação entre o grau de
polimerização e os principais parâmetros que sinalizam o final da vida útil do papel isolante como a
resistência à tração, tensão de ruptura, alongamento e resistência à dobra [4].
A revisão realizada na IEC 60076-7 baseia as considerações em algumas referências chaves que
registram a pesquisa da influência dos conteúdos de umidade e oxigênio no sistema isolante óleo/papel:
A referência [5] afirma que ambos, água e oxigênio, aceleram a geração de subprodutos que levam
à degradação do papel, mas que a sinergia emergente da presença de ambos os elementos
simultaneamente pode levar a um efeito antagônico. Tal efeito foi detectado sob temperaturas de 120°C
quando a concentração de oxigênio aumenta de <400ppm para ~1%, no entanto, níveis elevados de água
(>4%) superam quaisquer efeitos benéficos devido à presença de oxigênio. A referência afirma ainda
que esse antagonismo pode justificar o fato de muitos transformadores terem sido encontrados com a
isolação em bom estado mesmo após muitos anos de serviço. A análise de Furan indica que a água é
mais prejudicial que o oxigênio na formação de produtos que agridem a isolação e que furaldeído é
sempre o subproduto predominante.
Os estudos registrados em [6] indicam que a hidrólise é governada pela catálise ácida. No
trabalho, cinco tipos de ácidos (fórmico [46g/mol], acético [60g/mol], levulínico [116g/mol], esteárico
[240g/mol] e naftênico [285g/mol]) encontrados em transformadores com vários anos de operação são
adicionados ao óleo de experimentos práticos. A pesquisa indicou que os ácidos de baixo peso molecular
são facilmente absorvidos pelo papel, principalmente na presença de umidade, e podem levar a taxas
elevadas de declínio do grau de polimerização. Os ácidos absorvidos foram o fórmico, o acético e o
levulínico e que a presença destes deveria ser incluída nos esquemas de diagnóstico e levada em conta
para estimar o retorno de ações de manutenção.
Resultado da Task Force D1.01.10 do Cigré, a brochura 323 [4] tem como objetivos principais:
2
Enumerar os mecanismos de envelhecimento;
Identificar como a temperatura, água e subprodutos dissolvidos agem na isolação;
Enumerar os indicadores de diagnóstico que podem ser usados para avaliar o
envelhecimento;
Recomendar meios de redução da taxa de envelhecimento;
Identificar quais práticas de manutenção podem ser recomendadas para estender a vida útil
de um transformador.
A referência relata como os fenômenos de pirólise, hidrólise e oxidação se complementam como
mecanismos de envelhecimento do papel e como a umidade influencia negativamente o valor da energia
de ativação (𝐸𝐴) da Equação de Arrhenius (1) para o fenômeno da hidrólise. São apresentados capítulos
detalhados sobre as técnicas de produção e os diferentes materiais envolvidos no processo de
envelhecimento da isolação. Questões sobre o balanço de umidade entre o papel e o óleo são levantadas
e a validade das curvas de Oommen [7], [8] são provadas falhas para condições específicas, como
exemplo da presença de ácidos de baixo peso molecular. Por fim, afirma que o DGA (Dissolved gas
analysis) que vem sendo utilizado nos últimos 30 anos é uma prática recomendada, principalmente pela
correlação comprovada entre a quantidade de monóxido e dióxido de carbono e o grau de polimerização
do papel isolante.
𝐸𝐴
𝑘 = 𝐴 𝑒 −𝑅 𝑇 (1)
3
ampla gama de temperaturas. Além do mais, as equações (2) e (3) implicam que a taxa de
envelhecimento depende apenas da temperatura do ponto mais quente e não considera diferentes
condições de isolação, como as referências [4], [5], [6], [9], [10], [11] e [12] sugerem.
15000 15000
( − ) (3)
𝑉=𝑒 110+273 𝜃ℎ +273
4
Tabela 1 – Taxa relativa de envelhecimento para o papel kraft comum para diferentes níveis de
temperatura, oxigênio e umidade
Taxa relativa de envelhecimento
Temperatura
Resultados de Livre de ar e Livre de ar e Livre de ar e Com ar e
°C
(2) umidade 0,5% umidade 1,5% umidade 3,5% umidade 0,5%
80 0,125 0,12 0,44 1,323 0,8
86 0,25 0,25 0,91 2,742 1,32
92 0,5 0,5 1,84 5,548 2,16
98 1,0 1,0 3,66 10,976 3,47
104 2,0 1,94 7,08 21,245 5,5
110 4,0 3,67 13,43 40,281 8,58
116 8,0 6,82 24,96 77,88 13,21
122 16,0 12,44 45,53 136,601 20,07
128 32,0 22,3 81,58 244,755 30,1
134 64,0 39,27 143,69 431,061 44,62
140 128,0 68,04 248,93 746,802 65,39
Fonte: [2]
Tabela 2 – Taxa relativa de envelhecimento para o papel kraft termoestabilizado para diferentes níveis
de temperatura, oxigênio e umidade
Taxa relativa de envelhecimento
Temperatura
Resultados de Livre de ar e Livre de ar e Livre de ar e Com ar e
°C
(3) umidade 0,5% umidade 1,5% umidade 3,5% umidade 0,5%
80 0,036 0,1 0,19 0,38 0,79
86 0,073 0,16 0,31 0,63 1,25
92 0,145 0,26 0,5 1,0 1,97
98 0,282 0,42 0,78 1,59 3,05
104 0,536 0,65 1,22 2,48 4,66
110 1,0 1,0 1,88 3,81 7,02
116 1,83 1,52 2,84 5,78 10,45
122 3,29 2,27 4,26 8,66 15,36
128 5,8 3,36 6,3 12,82 22,32
134 10,07 4,91 9,22 18,74 32,07
140 17,2 7,11 13,33 27,12 45,6
Fonte: [2]
Tabela 3 – Energia de ativação (𝐸𝐴) e fator ambiental (𝐴) para oxidação e hidrólise
Livre de ar e Livre de ar e Livre de ar e Com ar e
Tipo de papel / parâmetro de
umidade umidade umidade umidade
envelhecimento
0,5% 1,5% 3,5% 0,5%
( −1 ) 10 11 11
× 105
Papel kraft 𝐴 ℎ 4,1 × 10 1,5 × 10 4,5 × 10 4,6
comum 𝐸𝐴 (𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 ) 128 128 128 89
−1 4 4 4
3,2 × 104
Papel kraft 𝐴 (ℎ ) 1,6 × 10 3,0 × 10 6,1 × 10
termoestabilizado 𝐸𝐴 (𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 ) 86 86 86 82
Fonte: [2]
Pode-se ainda construir gráficos a partir das Tabela 1 e Tabela 2 que expressam claramente alguns
fenômenos registrados nos avanços das pesquisas. Na Figura 1, os valores inferiores indicados em (b)
mostram claramente a durabilidade superior do papel kraft termoestabilizado, principalmente quando
submetido a temperaturas elevadas. Em (a) pode-se verificar o efeito antagônico da presença de oxigênio
no envelhecimento do papel kraft comum, preservando o papel sob baixas temperaturas.
5
Figura 1 – Taxa relativa de envelhecimento para papel kraft (a) comum e (b) termoestabilizado
6
Razão perdas em cargas / perdas em vazio (𝑅): 1000 (durante ensaio em curto)
Elevação média do óleo acima do ambiente: 27,3°C
Elevação do topo do óleo acima do ambiente: 38,3°C
Perdas em carga: 116kW
Massa do enrolamento sob análise: 3500kg
Material condutor do enrolamento sob análise: Cobre
Fator de hot-spot: 1.4
Gradiente de temperatura do enrolamento sob análise: 14,5°C
Perdas em carga do enrolamento sob análise: 51kW
Sistema de isolação: óleo mineral / papel kraft termoestabilizado
Intervalo de tempo adotado (dt): 1min
Ciclo de carga:
o 585min @1.0 p.u.
o 240min @1.2 p.u.
o 30min @1.4p.u.
o 585min @1.0p.u.
O primeiro passo é calcular as constantes de tempo do óleo e dos enrolamentos, o anexo que
sugere um método de cálculo para as constantes de tempo é o Anexo E. As fórmulas foram refinadas
em relação à versão de 2005 e agora consideram separadamente a massa das bobinas e do núcleo ao
calcular a constante de tempo dos enrolamentos. Em (6) é apresentado o cálculo da constante de tempo
do enrolamento sob análise onde 𝑚𝑤 é a massa do enrolamento, 𝑐𝑤 é o calor específico para o cobre,
390W.s/(kg.K), 𝑔 é o gradiente de temperatura do enrolamento em relação ao óleo e 𝑃𝑤 é a perda em
carga daquele enrolamento. Em (7) é calculado o calor específico equivalente para o óleo, onde 𝑐𝑤 é
novamente o calor específico do material dos enrolamentos, 𝑚𝑤 é a massa dos enrolamentos, 𝑐𝐹𝐸 é o
calor específico para o núcleo, 468W.s/(kg.K), 𝑚𝐹𝐸 é a massa do núcleo, 𝑐𝑇 é o calor específico para o
tanque, também 468W.s/(kg.K), 𝑚 𝑇 é a massa do tanque e acessórios em contato com o óleo, 𝑘𝑂 é um
fator de correção expresso pela relação entre a elevação média do óleo e a elevação do topo do óleo, 𝑐𝑂
é o calor específico do óleo, 1800W.s/(kg.K) e 𝑚𝑂 é a massa do óleo. Finalmente, em posse de 𝐶𝑂 é
possível calcular a constante de tempo do óleo utilizando (8), onde ∆𝜃𝑂 é a elevação do topo do óleo e
𝑃 é a perda em carga.
𝑚𝑤 𝑐𝑤 𝑔 3500 × 390 × 14,5
𝝉𝒘 = = = 𝟔, 𝟓𝒎𝒊𝒏 (6)
60 𝑃𝑤 60 × 51000
𝐶 = 𝑐𝑤 × 𝑚𝑤 + 𝑐𝐹𝐸 × 𝑚𝐹𝐸 + 𝑐𝑇 × 𝑚 𝑇 + 𝑘𝑂 × 𝑐𝑂 × 𝑚𝑂
27,3 (7)
𝐶𝑂 = 390 × 11250 + 468 × 19070 + 468 × 10000 + × 1800 × 9200 = 29796124
38,3
7
Figura 2 – Resultados do cálculo para (a) carga do Anexo H com (b) elevações de temperatura e
respectivo consumo de vida útil para papel kraft (c) comum e (d) termoestabilizado
8
Tabela 4 – Taxa relativa de envelhecimento durante o ciclo de carga do Anexo H da NBR 5356-7
Taxa relativa de envelhecimento
Livre de ar e Livre de ar e Livre de ar e Com ar e
Papel kraft IEC
umidade umidade umidade umidade
60076-7:2005
0,5% 1,5% 3,5% 0,5%
comum 0,46 0,45 1,65 4,94 1,84
termoestabilizado 0,13 0,23 0,42 0,86 1,68
9
[3] IEC - International Electrotechnical Commission, “IEC 60076-14 - Liquid-immersed
power transformers using high-temperature insulation materials,” 09 2013.
[4] Cigré Task Force D1.01.10, “Ageing of cellulose in mineral-oil insulated
transformers,” Outubro 2007.
[5] A. M. Emsley, X. Xiao, R. J. Heywook e M. Ali, “Degradation of cellulosic insulation
in power transformers - Part 3 - Effects of oxygen and water on ageing in oil,” IEE Proc.-
Sci. Mcas. Technol., Vol. 147, No. 3, pp. 115-119, Maio 2000.
[6] L. E. Lundgaard, W. Hansen, S. Ingebrigtsen, D. Linhjell e M. Dahlund, “Ageing of
kraft paper by acid catalyzed hydrolysis,” IEEE Trans. Pow.Del., Vol. 19, No. 1, pp. 230-
238, 2004.
[7] T. V. Oomen, “Moisture equilibrium in paper-oil insulation systems,” CH1952-
1/83/0000/0162 IEEE, pp. 162-166, 1983.
[8] Y. Du, M. Zahn, B. C. Lesieutre e A. V. Mamishev, “Moisture equilibrium in
transformer paper-oil systems,” Transactions of Electrical Engineering, vol. 61, pp. 742-
749, Outubro 1942.
[9] L. E. Lundgaard, W. Hansen e S. Ingebrigtsen, “Ageing of mineral oil impregnated
cellulose by acid catalysis,” IEEE Electr. Insul. Mag., vol. 22, no. 1, pp. 28-35, 2006.
[10] Cigré Working Group A2.24, “Thermal performance of transformers,” Outubro
2009.
[11] N. Lelekakis, D. Martin e J. Wijaya, “Ageing rate of paper insulation used in power
transformers - Part 1 - Oil-Paper system with low oxygen concentration,” IEEE
Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, Vol. 19, No. 6, pp. 1999-2008,
Dezembro 2012.
[12] N. Lelekakis, D. Martin e J. Wijaya, “Aging rate of paper insulation used in power
transformers - Part 2 - Oil-Paper system with medium and high oxygen concentration,”
IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, Vol. 19, No. 6, Dezembro 2012.
[13] V. M. Montsinger, “Loading transformers by temperature,” Winter Convention of the
A. I. E. E., New York, N. Y., 27-31 Janeiro 1930.
[14] W. Dakin, “Electrical insulation deterioration treated as a chemical rate
phenomenon,” AIEE Transactions, Volume 67, pp. 113-122, 1948.
[15] IEEE Power & Energy Society, “IEEE Std C57.91-2011: IEEE guide for loading
mineral-oil-immersed transformers and step-voltage regulators,” 7 Dezembro 2011.
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