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INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS

NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA – e INSTITUTO CHICO


MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – ICMBio

COMPETÊNCIA DO SERVIDOR DO IBAMA/ICMBIO PARA A


LAVRATURA DE AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL
Março de 2008

AÇÃO: Ação de Rito Ordinário.


SÍNTESE DO PEDIDO: Requer a nulidade de processo administrativo e/ou
penalidade administrativa ambiental sob argumento de incompetência do agente
autuante (servidor público ocupante de cargo de técnico ou de analista) para a lavratura
do auto de infração de multa ou respectivo termo (apreensão, embargo etc.).
SITUAÇÕES ABRANGIDAS: Pedido de nulidade de processos administrativos
de aplicação de penalidade por infração administrativa ambiental pelo IBAMA/
ICMBio em que o autor entende que o agente ambiental, seja técnico ou analista, deve
enquadrar-se na carreira de fiscalização ou ter função expressa em lei para exercer
atividade de fiscalização ou lavrar auto de infração ambiental.
ELEMENTOS DE FATO:
1) Processo administrativo ou informações do setor competente sobre a aplicação de
penalidade administrativa ambiental, a serem obtidos: a) na unidade administrativa do
IBAMA/ ICMBio do local da infração ambiental (art.5º da IN IBAMA Nº 08/2003), se
em fase de defesa administrativa; b) na Presidência do IBAMA/ICMBio, no Ministério
do Meio Ambiente ou no Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, se em
fase recursal (arts.16 e 17 da IN IBAMA Nº 08/2003); c) na unidade administrativa do
IBAMA/ ICMBio do local do domicílio do devedor, se em fase de inscrição em Dívida
Ativa (arts.39 da IN IBAMA Nº 08/2003); d) através de contradita elaborada pelo
agente autuante (art.14 da IN IBAMA Nº 08/2003).
2) Portarias do IBAMA/ ICMBio arquivadas junto aos setores Recursos Humanos e de
Fiscalização sobre designação de servidor para atividade de fiscalização.
PRESCRIÇÃO: Se for o caso, deve-se alegar a prescrição qüinqüenal.
PREQUESTIONAMENTO: Dispositivos Constitucionais: Art. 2.º, 225, caput, e
§3º, 170, VI. Dispositivos Legais: Art. 70, §1º, da Lei n.º 9.605/98.
OBSERVAÇÕES: A argumentação de defesa, embora refute o questionamento
sobre autos de infração lavrados após a edição da Lei Federal nº 10.410, de 11/01/2002,
também pode ser utilizada com adaptações para impugnações de autos lavrados antes
dessa data, uma vez que o fundamento da competência do agente autuante é a norma
específica do §1º do art.70 da Lei Federal nº 9.605/98, que trata da designação para
atividade de fiscalização, independentemente de legislações que regulem a carreira dos
servidores do IBAMA/ICMBio, já que a fiscalização ambiental é disciplinada por lei
anterior e especial. Também devem ser feitas adaptações no caso de designação para
fiscalização por servidores do ICMBio.

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TESE DE DEFESA
PRELIMINAR: Prejudicado.
PRESCRIÇÃO: Prejudicado.
MÉRITO
No tocante à suposta ausência de competência por parte do agente
fiscalizador, tal argumento não deve ser acatado, já que o dispositivo legal mencionado
- regime Jurídico e atribuições de servidor público da carreira de especialista em meio
ambiente, Lei Federal nº 10.410/2002 - não possui o alcance pretendido, na medida
em que se limita a afirmar que uma das atribuições do analista ambiental é a
fiscalização, não outorgando, em momento algum, tal atividade em caráter
exclusivo aos ocupantes do mencionado cargo.
Tal interpretação, contudo, seria absurda, desarrazoada e violaria
frontalmente os arts.23, III, VI e VII, e 225, § 3º, da Constituição Federal, considerados
os fundamentos para o exercício do chamado Poder de Polícia da Administração
Ambiental. Ao mesmo tempo, viola legislação federal que regular Poder de Polícia dos
órgãos de fiscalização do meio ambiente.
A competência para lavrar autos de infração e exercer Poder de
Polícia quanto às infrações ao meio ambiente, ao contrário do que afirma o autor, não
está na referida lei sobre a carreira de servidores do IBAMA, mas na Lei Federal nº
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente,
especificamente no art. 70, §1º, in verbis:
DA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA
Art. 70. (...)
Par. 1º. São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e
instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais
integrantes do SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização,
bem como os agentes das capitanias dos portos, do ministério da marinha.
Por essa redação, depreende-se ser necessária a designação dos
servidores de órgãos integrante do SISNAMA, no qual se insere esta autarquia, a teor da
regra contida no art. 6º, inciso IV, da Lei Federal nº 6.938, de 02 de setembro de 1981.
Confira-se:
DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
Art 6.º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder
Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental,
constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim
estruturado:
(...)
IV – órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, com a finalidade de executar, como órgão federal, a
política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;
Ressalte-se que esse dispositivo legal do § 1º do art. 70 da Lei Federal n.º
9.605/98, que trata da definição e da apuração de infrações administrativo-

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ambientais é norma geral que fundamenta a atuação de todos os agentes de
fiscalização de órgãos ambientais, posto que consigna a necessidade, sim, de
designação de servidores para atividades de fiscalização ambiental em todo o País.
Sendo assim, todos os servidores ou funcionários desta autarquia, são
competentes para a lavratura de autos de infração, desde que estejam designados para a
atividade de fiscalização, a critério da autoridade competente, e isto no IBAMA se dá
atualmente através da edição de Portaria (ato normativo interno de organização da
Administração), vez que o artigo 6º, parágrafo único, da Lei 10.410/02, prevê que o ato
de designação dar-se-á na forma de norma a ser baixada pelo IBAMA, conforme se
vislumbra de maneira inconteste no caso em análise.
Ora, é cediço que o conceito de norma é deveras genérico, não se
podendo olvidar que abarca toda e qualquer regra estabelecida, inclusive em portaria,
desde que dela se consiga extrair um comando, um dever-ser que encontre guarida
dentro da sistemática do ordenamento jurídico pátrio.
Sendo assim, também não se pode crer plausível a ilegalidade
suscitada pela autora quanto à designação para fiscalização por Portaria
(n.º0000000), haja vista que tal norma encontra permissivo legal na citada Lei n.º
10.410/02, além de que, constitui-se norma interna de designação de agentes estatais
para determinadas atividades, subsumindo-se ao dispositivo do §1º do art.70 da Lei
Federal nº 9.605/98!
Pela grandeza e importância do correto exercício do poder de polícia,
que se reflete tanto na prevenção de atividades lesivas ao meio ambiente, como na sua
repressão, quando do cometimento de infrações às normas e princípios de Direito
Ambiental, mister se faz o controle do administrador público na designação dos
servidores com conhecimento e perfis necessários ao adequado desempenho da
atividade de fiscalização.
É de consignar que as atividades administrativas de fiscalização, a cargo
desta autarquia, estão sendo realizadas pelos seus servidores, designados nominalmente
por portarias do Presidente do IBAMA, cujos requisitos para designação, entre outros,
encontra-se o de que o servidor tenha freqüentado Curso Básico de Controle e
Fiscalização, realizado por esta autarquia, com carga horária de 80 horas, além de
outros cursos inerentes à atividade de fiscalização.
Ressalte-se que a Lei nº 10.410/2002, ao regular funções dos
servidores do IBAMA em situação “comum”, em nenhum momento pode negar a
efetividade do § 1º, do art. 70 da Lei 9.605/98, que trata da apuração de infração
administrativa por quaisquer funcionários de órgãos ambientais integrantes do
SISNAMA.
Tais normas jurídicas regulam situações e matérias distintas. A Lei
o
Federal n 9.605/98 disciplina a apuração e fiscalização de ilícitos ambientais na esfera
administrativa por qualquer funcionário de órgão do SISNAMA (no qual também se
incluiu o IBAMA!) desde que seja designado pela autoridade ambiental; já a Lei nº
10.410 de 11 de janeiro de 2002 não regula o Poder de Polícia a ser exercidas por
funcionários do IBAMA, mas regula a carreira dos servidores do IBAMA e do MMA,
atribuindo funções. Ocorre que, disso, não se pode retirar efetividade da norma GERAL
sobre matéria de fiscalização ambiental, disposta na Lei n o 9.605/98, em razão daquela
outra norma federal (direcionada ao Governo Federal), que apenas tem o condão de

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organizar atribuições de servidores do IBAMA, nem mesmo imprimir proibição de que
os mesmo realizem atividades de fiscalização.
A análise desses dispositivos legais jamais pode sugerir qualquer
fenômeno de revogação implícita por lei posterior, pois eles regulam situações
diferentes e não se enquadram nas hipóteses previstas pelo art. 12 da Lei Complementar
nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração
e a consolidação das leis, a saber:
Art. 12. A alteração da lei será feita:
I - mediante reprodução integral em novo texto, quando se tratar de alteração
considerável;
II – mediante revogação parcial;
III - nos demais casos, por meio de substituição, no próprio texto, do
dispositivo alterado, ou acréscimo de dispositivo novo, observadas as seguintes
regras:
a) revogado;
b) é vedada, mesmo quando recomendável, qualquer renumeração de artigos e
de unidades superiores ao artigo, referidas no inciso V do art. 10, devendo ser
utilizado o mesmo número do artigo ou unidade imediatamente anterior,
seguido de letras maiúsculas, em ordem alfabética, tantas quantas forem
suficientes para identificar os acréscimos;
c) é vedado o aproveitamento do número de dispositivo revogado, vetado,
declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal ou de execução
suspensa pelo Senado Federal em face de decisão do Supremo Tribunal
Federal, devendo a lei alterada manter essa indicação, seguida da expressão
‘revogado’, ‘vetado’, ‘declarado inconstitucional, em controle concentrado,
pelo Supremo Tribunal Federal’, ou ‘execução suspensa pelo Senado Federal,
na forma do art. 52, X, da Constituição Federal’;
d) é admissível a reordenação interna das unidades em que se desdobra o artigo,
identificando-se o artigo assim modificado por alteração de redação, supressão
ou acréscimo com as letras ‘NR’ maiúsculas, entre parênteses, uma única vez
ao seu final, obedecidas, quando for o caso, as prescrições da alínea "c".
Parágrafo único. O termo ‘dispositivo’ mencionado nesta Lei refere-se a
artigos, parágrafos, incisos, alíneas ou itens.
Ademais, para maiores esclarecimentos, o agente autuante, SR. XXX,
matrícula nº 000000, é ocupante do cargo de técnico ambiental/analista ambiental,
ao havendo impeditivo legal para que os ocupantes desse cargo exerçam função de
fiscalização, desde que designados pela autoridade ambiental. Senão, confira-se o
disposto na a Lei Federal nº 10.410 de 11 de janeiro de 2002:
Art. 2o São atribuições dos ocupantes do cargo de Gestor Ambiental:
I - formulação das políticas nacionais de meio ambiente e dos recursos hídricos
afetas à:
a) regulação, gestão e ordenamento do uso e acesso aos recursos ambientais;
b) melhoria da qualidade ambiental e uso sustentável dos recursos naturais;
II - estudos e proposição de instrumentos estratégicos para a implementação das
políticas nacionais de meio ambiente, bem como para seu acompanhamento,
avaliação e controle; e
III - desenvolvimento de estratégias e proposição de soluções de integração
entre políticas ambientais e setoriais, com base nos princípios e diretrizes do
desenvolvimento sustentável.

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Art. 3o São atribuições do cargo de Gestor Administrativo o exercício de todas
as atividades administrativas e logísticas relativas ao exercício das
competências constitucionais e legais a cargo do Ministério do Meio Ambiente,
fazendo uso de todos os equipamentos e recursos disponíveis para a consecução
dessas atividades.
Art. 4o São atribuições dos ocupantes do cargo de Analista Ambiental o
planejamento ambiental, organizacional e estratégico afetos à execução das
políticas nacionais de meio ambiente formuladas no âmbito da União, em
especial as que se relacionem com as seguintes atividades:
I – regulação, controle, fiscalização, licenciamento e auditoria ambiental;
II – monitoramento ambiental;
III – gestão, proteção e controle da qualidade ambiental;
IV – ordenamento dos recursos florestais e pesqueiros;
V – conservação dos ecossistemas e das espécies neles inseridas, incluindo seu
manejo e proteção; e
VI – estímulo e difusão de tecnologias, informação e educação ambientais.
Parágrafo único. As atividades mencionadas no caput poderão ser distribuídas
por áreas de especialização, mediante ato do Poder Executivo, ou agrupadas de
modo a caracterizar um conjunto mais abrangente de atribuições, cuja natureza
generalista seja requerida pelo Instituto no exercício de suas funções.
Art. 5o São atribuições do cargo de Analista Administrativo o exercício de
todas as atividades administrativas e logísticas relativas ao exercício das
competências constitucionais e legais a cargo do Ibama, fazendo uso de todos
os equipamentos e recursos disponíveis para a consecução dessas atividades.
Art. 6o São atribuições dos titulares do cargo de Técnico Ambiental:
I – prestação de suporte e apoio técnico especializado às atividades dos
Gestores e Analistas Ambientais;
II – execução de atividades de coleta, seleção e tratamento de dados e
informações especializadas voltadas para as atividades finalísticas; e
III – orientação e controle de processos voltados às áreas de conservação,
pesquisa, proteção e defesa ambiental.
Parágrafo único. O exercício das atividades de fiscalização pelos titulares dos
cargos de Técnico Ambiental deverá ser precedido de ato de designação próprio
da autoridade ambiental à qual estejam vinculados e dar-se-á na forma de
regulamento a ser baixado pelo IBAMA. (Incluído pela Lei nº 11.357, de 2006).
Art. 7o São atribuições do cargo de Técnico Administrativo a atuação em
atividades administrativas e logísticas de apoio relativas ao exercício das
competências constitucionais e legais a cargo do Ibama, fazendo uso de
equipamentos e recursos disponíveis para a consecução dessas atividades.
Art. 8o São atribuições do cargo de Auxiliar Administrativo o desempenho das
atividades administrativas e logísticas de nível básico, relativas ao exercício das
competências constitucionais e legais a cargo do Ibama, fazendo uso de
equipamentos e recursos disponíveis para a consecução dessas atividades.
(Originais sem grifos).
Tal designação ocorreu mediante Portaria nº 0000/00-0, publicada em
Boletim de Serviço do IBAMA, razão pela qual se afirma, mais uma vez, estar o mesmo
legitimamente investido na atividade fiscalizadora na data em que foi lavrado o

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sobredito Auto de Infração, apresentando, desta feita, regular atribuição legal para
exercer atividade de fiscalização em nome do IBAMA, obedecendo ao que determina
o dispositivo aplicável (§1º do art.70 da Lei nº 9.605/98).
Cabe advertir que a Procuradoria-Geral do IBAMA emitiu o Parecer
Normativo n.º 0365/2004-PROGE/COEPA, no âmbito interno da autarquia,
determinando ser necessária a designação de servidores para o desempenho das
atividades de fiscalização, sob pena de nulidade dos autos lavrados.
Para melhor compreensão do tema, roga-se vênia para transcrever o
inteiro teor do referido parecer normativo, ipsis litteris:
(...)
PARECER N° 0365 /2004-PROGE/COEPA
PROCESSO Nº: 02001.003482/2004 –15
INTERESSADO: PROCURADOR GERAL DO IBAMA
ASSUNTO: Interpretação do art. 70, § 1º da Lei nº 9.605, de 12/02/98 em
confronto com o texto do art. 4º, inciso I, da Lei nº 10.410, de 11/01/2002.
Senhora Coordenadora,
O Senhor Procurador-Geral do IBAMA solicita a esta COEPA, através do
Memo nº 483/2004/AGU/PGF/PROGE, a interpretação do disposto no § 1º do
art. 70, da Lei nº 9.605/98, em confronto com o texto do art. 4º, inciso I, da Lei
nº 10.410/2002, com objetivo de uniformizar entendimento jurídico em caráter
normativo, acerca das atribuições dos servidores desta Autarquia para a
lavratura de autos de infração, no exercício de poder de polícia conferido a este
órgão.
A matéria foi objeto de análise em três momentos distintos, tendo sido exarados
os seguintes entendimentos:
No Parecer nº 044/2002, da lavra da Procuradora Federal Dulce Maria de
Figueiredo, a parecerista procede a estudo sobre a delimitação das atribuições
dos ocupantes dos Cargos de Analista Ambiental, Analista Administrativo e
Técnico Ambiental, previstos nos artigos 4º, 5º e 6º da Lei nº 10.410, de 11 de
janeiro de 2002, ex vi da competência expressa no art. 70, § 1º, da Lei nº
9.605/98, a qual conclui que os dispositivos assinalados acima não são
conflitantes, ou seja, a primeira norma citada trata de atribuição e a segunda,
refere-se à competência para o exercício do poder de polícia delegada a
autoridade ambiental.
No Parecer PFE/IBAMA/AL/RSS nº 02/2003, da lavra do Procurador-Chefe
Substituto Roberto da Silva Sobrinho, a cerca da indagação: o Analista
Ambiental não lotado na fiscalização possui competência para instaurar
procedimento administrativo fiscal ambiental, expedindo notificação e/ou
lavrando auto de infração? Conclui o parecerista que somente os Analistas
Ambientais, recém-admitidos ou aqueles que já pertençam ao quadro do
IBAMA, oriundos da transformação do cargo anteriormente ocupado, por força
da Lei 10.410/02, tem competência para a lavratura dos procedimentos fiscais
ambientais, após treinamento necessário.
No Parecer nº 1.109/2003 – PROGE/COAJU, da lavra da Procuradora Federal
Silvia Cândida R. Mesquita, sobre análise de minuta de Decreto que cria os
cargos de Auditor Ambiental, Fiscal Ambiental e Técnico em Fiscalização
Ambiental, a qual, após discorrer sobre o que lhe foi pedido, conclui que a
atividade de fiscalização passou a ser atribuição tão-somente dos analistas
ambientais por força do disposto no art. 4º, inciso I, da Lei 10.410/02.

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Diante de tais conclusões, passemos a interpretar por primeiro o disposto no §
1º do art. 70 da Lei nº 9.605/98, que assim comanda:
§ 1º - São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e
instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais
integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados
para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos
Portos, do Ministério da Marinha.
É cristalino que o dispositivo acima confere a todos os funcionários dos órgãos
ambientais integrantes do SISNAMA, o poder para lavrar autos de infração e
instaurar processos administrativos, desde que designados para as atividades de
fiscalização, bem como aos agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da
Marinha.
Veja que o legislador, no âmbito dos órgãos ambientais integrantes do
SISNAMA impôs apenas dois requisitos para conferir competência para
lavratura do auto de infração e instaurar processos administrativos: um, ser
funcionário de qualquer dos órgãos ambientais integrantes do SISNAMA; dois,
ser designado para as atividades de fiscalização, estando tal dispositivo em
plena vigência.
Resta clarividente pelo dispositivo em análise, que a escolha para designação
dos servidores para atuarem nas atividades de fiscalização está no poder
discricionário da autoridade ambiental competente, que poderá designar
qualquer servidor ocupante de qualquer dos cargos no âmbito dos órgãos
ambientais integrantes do SISNAMA. Cumpridos esses requisitos os servidores
ocupantes de qualquer dos cargos no âmbito do IBAMA gozam da competência
para aplicar as sanções previstas no art. 72 da Lei nº 9.605/98, no exercício do
poder de polícia conferido legalmente a esta Autarquia, lavrando os respectivos
autos de infração e os demais formulários relativos às atividades de fiscalização
e instaurando os processos administrativos para apuração das infrações
ambientais.
Quanto a esse entendimento, há uma unanimidade entre os pareceristas, vez que
nenhum dos pareceres anteriormente citados se contrapõem a essa conclusão.
Passemos então a interpretação do disposto no art. 4º e seu no inciso I da Lei nº
10.410/2002, onde temos o seguinte comando: “São atribuições dos ocupantes
do cargo de Analista Ambiental O PLANEJAMENTO ambiental,
organizacional e estratégico afetos à execução das políticas nacionais de meio
ambiente formuladas no âmbito da União, em especial as que se relacionem
com as seguintes atividades:
I - regulação, controle, fiscalização, licenciamento e auditoria ambiental;
II - monitoramento ambiental;
III - gestão, proteção e controle da qualidade ambiental;
IV - ordenamento dos recursos florestais e pesqueiros;
V - conservação dos ecossistemas e das espécies neles inseridas,
incluindo seu manejo e proteção; e
VI - estímulo e difusão de tecnologias, informação e educação
ambientais.
Parágrafo único. As atividades mencionadas no caput poderão ser
distribuídas por áreas de especialização, mediante ato do Poder
Executivo, ou agrupadas de modo a caracterizar um conjunto mais
abrangente de atribuições, cuja natureza generalista seja requerida
pelo Instituto no exercício de suas funções: ”.

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Pela leitura do dispositivo legal supracitado, extrai-se que no elenco de
atribuições do ocupante do cargo de Analista Ambiental, acima mencionado, o
legislador não lhe delegou a competência ou a atribuição de executar as
atividades de fiscalização – poder de polícia – originária do IBAMA.
Vejamos, particularizando cada uma das atribuições contidas no dispositivo ora
em comento, poderíamos assim dizer: são atribuições dos ocupantes do cargo de
Analista Ambiental o planejamento ambiental; o planejamento organizacional e
o planejamento estratégico, todos estes planejamentos estão afetos à execução
das políticas nacionais de meio ambiente formuladas no âmbito da União, em
especial as políticas relacionadas com as atividades de regulação, controle,
fiscalização, licenciamento e auditoria ambiental. Entendemos ser este o
raciocino para todas as atividades constantes nos incisos de I a VI acima
citados.
No caso da atribuição para execução da fiscalização, resultando na lavratura de
auto de infração - exercício de poder de polícia - entendemos que o legislador
não garantiu aos ocupantes do cargo de Analista Ambiental, tal atribuição, pois
o que está claro pela leitura do dispositivo acima, é o planejamento afeto à
execução das políticas nacionais do meio ambiente no âmbito da União, em
especial o planejamento das políticas relacionadas com as atividades de
fiscalização e não a sua execução como sugerem os dois últimos pareceres
acima mencionados.
Sendo este o nosso entendimento, pedimos venia para discordar das afirmativas,
que após a criação da carreira de Especialista em Meio Ambiente pela Lei nº
10.410/2002, a atividade de fiscalização passou a ser atribuição tão-somente dos
Analistas Ambientais, exaradas nos Pareceres PFE/IBAMA/AL/RSS/ nº
02/2003 e 1.109/03 – PROGE/COAJU.
Entrementes, se a intenção do legislador era deixar expresso no texto legal que a
atividade de fiscalização – poder de polícia - originária do IBAMA por força de
suas finalidades, é uma atribuição do Cargo de Analista Ambiental, para suprir
a necessidade da designação contida no § 1º do art. 70 da Lei nº 9.605/98, não
conseguiu expressar essa vontade.
O disposto no § 1º do art. 70 da Lei nº 9.605/98 se faz mister, tendo em vista
que IBAMA não possui entre seus cargos os inerentes à execução das atividades
de fiscalização – poder de polícia - a exemplo da extinta SUDEPE, que possuía
entre seus cargos a categoria de Agente de Inspeção de Pesca, cujas atribuições,
dentre outras, era lavrar autos de apreensão de material de pesca de uso
proibido, lavrar autos de infração e usar do poder de polícia no exercício da
função, bem como do extinto IBDF que tinha o cargo de Agente de Defesa
Florestal, cujas atribuições era é o poder de polícia relacionado com a
coordenação, orientação e execução da proteção e defesa dos recursos naturais
renováveis do País (Decreto nº 72.950, 17/10/1973).
Neste contexto, a simples investidura no cargo de Analista Ambiental não supre
o requisito da designação para atividade de fiscalização exigido no § 1º do art.
70, da Lei nº 9.605/98, vez que o legislador não contemplou dentre as suas
atribuições prevista no art. 4º da Lei nº 10.410/2002, o poder de polícia que lhe
conferiria a competência para a lavratura do auto de infração decorrente de um
procedimento de fiscalização, nos termos do art. 10 do Decreto nº 70.235, de
06/03/72, que dispõe:
“Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente,
no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente:
I - a qualificação do autuado;
II - o local, a data e a hora da lavratura;

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III - a descrição do fato;
IV - a disposição legal infringida e a penalidade aplicável;
V - a determinação da exigência e a intimação para cumpri-la ou
impugná-la no prazo de trinta dias;
VI - a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e
o número de matrícula”.(grifo nosso).
Ademais, ainda que a lei contemplasse tal requisito, seria prudente que a
autoridade ambiental competente indicasse nominalmente quais os Analistas
Ambientais que atuariam nas atividades de fiscalização, submetendo-os a um
curso de formação antes do exercício das atividades de fiscalização,
considerando, primeiro, as várias formações profissionais dos ocupantes dos
cargos de Analista Ambiental, segundo, as peculiaridades e as responsabilidades
que envolvem esta atividade, e ainda, a necessidade do controle na distribuição
dos formulários de aplicação das sanções previstas na legislação ambiental.
Nesse contexto, não podemos deixar de enfatizar as obrigações impostas aos
Agentes de Fiscalização, previstas no art. 5º da Portaria nº 53-N, de 22/04/98,
do Senhor Presidente do IBAMA, in verbis:
Art. 5º - São obrigações dos Agentes de Fiscalização: conhecer a
estrutura organizacional do IBAMA, seus objetivos e competências como
Órgão executor da Política Nacional do Meio Ambiente;
a) aplicar as técnicas, procedimentos e conhecimentos inerentes a prática
fiscalizatória, adquiridas nos cursos de capacitação ou aperfeiçoamento;
b) participar de cursos, reciclagens, treinamentos e encontros que visem o
aperfeiçoamento das suas funções;
c) apresentar, relatório de suas atividades de fiscalização ao seu chefe
imediato;
d) preencher os formulários de fiscalização com atenção, de forma concisa e
legível, circunstanciando os fatos averiguados com informações objetivas e
enquadramento legal específico, evitando a perda do impresso ou
provocando a nulidade da autuação;
e) obedecer rigorosamente os deveres, proibições e responsabilidades
relativas ao servidor público civil da União;
f) zelar pela manutenção, uso adequado e racional dos veículos, barcos,
equipamentos, armas e demais instrumentos empregados nas ações de
fiscalização em geral e, em especifico, aqueles que lhes forem confiados;
g) identificar-se previamente, sempre que estiver em ação fiscalizatória;
h) abordar as pessoas de forma educada e formal, quando das ações de
fiscalização;
i) submeter-se as necessidades do exercício da fiscalização, atuando em
locais, dias e horários peculiares a determinada prática fiscalizatória;
j) atuar ostensivamente mediante o uso do uniforme e veículo oficial
identificado, salvo em situações devidamente justificadas;
k) conhecer e adestrar-se no manuseio de armas de fogo;
l) guardar o sigilo das ações de fiscalização;
m) manter a discrição e portar-se de forma compatível com a moralidade e
bons costumes;
n) apresentar-se limpo, com o uniforme padrão em bom estado, não sendo
permitido o uso de vestimentas, acessórios e objetos incompatíveis com o
mesmo;

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o) comunicar ao superior imediato os desvios praticados e irregularidades
detectadas no exercício da ação fiscalizatória;
p) abster-se em aceitar favorecimentos que impliquem no recebimento de
benefícios para hospedagem, transporte, alimentação, bem como presentes e
brindes de qualquer espécie, sob qualquer pretexto;
q) abster-se do consumo de bebidas alcoólicas durante o serviço ou
trabalhar alcoolizado”.
É de consignar que as atividades de fiscalização, a cargo desta Autarquia, estão
sendo realizadas pelos seus servidores, designados nominalmente, através da
Portaria nº 1.273/98, alterada pelas Portarias nº 860/01, 11.495/01, 1.496/01 e
515/02, todas do Senhor Presidente do IBAMA, em cumprimento ao disposto
no § 1º do art. 70, da Lei nº 9.605/98, cujo requisito, dentre outros, para tal
designação, é que o servidor freqüente, previamente, Curso Básico de Controle
e Fiscalização realizado pelo IBAMA, com carga horária de 80 horas, além de
outros cursos inerentes à atividade de fiscalização, tendo em vista a
complexidade do exercício do poder de polícia conferido a esta Autarquia.
O poder de polícia ambiental, na doutrina de Paulo Affonso Leme Machado, “é
a atividade da Administração Pública que limita ou disciplina direito, interesse
ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato em razão de
interesse público, concernente à saúde da população, à conservação dos
ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
atividades econômicas ou de outras atividades dependentes de concessão,
autorização/permissão ou licença do poder público, de cujas atividades possam
decorrer poluição ou agressão à natureza”.1
Depreende-se pela definição, a grandeza e importância do correto exercício do
poder de polícia, que se reflete tanto na prevenção de atividades lesivas ao meio
ambiente, como na sua repressão quando do cometimento de infrações as
normas e aos princípios de direito ambiental, razão pela qual, mister se faz, o
controle do administrador público na designação dos servidores com os
conhecimentos e perfis necessários para o adequado desempenho da atividade
concernente à fiscalização.
Diante do exposto, concluímos:
a) que os dispositivos legais analisados não se contrapõem entre si,
portanto, a vigência da Lei nº 10.410/02, que cria a carreira de Especialista em
Meio Ambiente, não torna ineficaz os atos administrativos de designação dos
servidores para atividades de fiscalização, acima citados;
b) que todos os servidores desta Autarquia, ocupantes de cargo efetivo que
tiveram seus cargos transformados nos termos do Decreto nº 4.293, de
02/07/2002, e os Analistas Ambientais recém-admitidos, são competentes para a
lavratura de autos de infração, desde que estejam designados para a atividade
de fiscalização, a critério da autoridade ambiental competente; e,
c) que é necessária a designação dos servidores desta Autarquia para
atividades de fiscalização, nos termos do § 1º do art. 70, da Lei nº 9.605/98, sob
pena de nulidade dos autos de infração lavrados, ante a exigência do contido
no art. 10 do Decreto nº 70.235/72, vez que em nenhum dos cargos
integrantes do quadro de pessoal do IBAMA está prevista a atribuição da
execução da atividade de fiscalização – poder de polícia.” (Original sem
grifos)
É o parecer, que submetemos a consideração de Vossa Senhoria.
1
Machado, Paulo Affonso Leme, Direito Ambiental Brasileiro, 11 ed. São Paulo: Malheiros, 2003. P.
309/310

10
(...) Omissis.
Como se depreende da leitura do referido parecer, os contornos da
problemática ora em discussão estão ali devidamente gizados, sendo certo que suas
conclusões guardam inteira coerência com uma visão sistemática de nosso ordenamento
jurídico.
Finalmente, apenas por apego à argumentação, quanto à alegação de
suposta irregularidade de designação por portarias, destaca-se que estas normas
jurídicas, além de outras utilidades, são empregadas para designar servidores para
funções e cargos secundários, conforme lição do administrativista Hely Lopes
Meirelles:
Portarias – Portarias são atos administrativos internos pelos quais chefes de
órgãos, repartições ou serviços expedem determinações gerais ou especiais a
seus subordinados, ou designam servidores para funções e cargos
secundários. (grifo nosso) (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito
Administrativo Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 1999).
Poder-se-ia pensar que o ideal, como parece ser a visão da parte autora,
seria a criação de uma carreira específica de Fiscal para exercer a fiscalização por parte
do IBAMA – órgão executor da proteção ambiental e da política nacional do meio
ambiente. Entretanto, não foi essa a opção do legislador que expressamente autorizou a
designação de servidores do SISNAMA para o exercício dessa atividade.
É compreensível essa opção expressa nas normas brasileiras, pois o
Brasil é um país com dimensões continentais, sendo mais eficiente e presente o
compartilhamento da atribuição de fiscalização entre os diversos integrantes do
SISNAMA. Por isso, a Lei nº. 9.605/98, imbuída com a intenção de obter a máxima
proteção ambiental, autorizou a designação pontual de servidores dos órgãos
componentes do Sistema para o exercício da fiscalização e repressão às infrações
ambientais.
Cumpre destacar que o ordenamento jurídico pátrio é uno, sendo certo
afirmar que a melhor interpretação conferida a qualquer dispositivo legal é aquela que o
considera dentro do universo normativo que o completa, de modo sistemático.
Por esta razão, para dar efetividade ao Direito Constitucional a um meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida (art. 225, caput, da Constituição), e com base nos dispositivos
normativos indicados, deve-se considerar que qualquer servidor do IBAMA – em razão
deste órgão pertencer ao SISNAMA, desde que expressamente designado, pode lavrar
autos de infração e instaurar processos administrativos.
Nesse diapasão, ao IBAMA cumpre exercer o poder-dever de de
fiscalização ambiental, como já reconhece o Tribunal Regional Federal da 1ª. Região,
ao apreciar causas que analisam a legalidade de autos de infração administrativa
ambiental. Confira-se:
MANDADO DE SEGURANÇA. POSTO REVENDEDOR DE DERIVADOS
DE PETRÓLEO. AUTUAÇÃO E INTERDIÇÃO PELO IBAMA POR
AUSÊNCIA DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL. COMPETÊNCIA
SUPLETIVA DO IBAMA. LEIS 6.938/81 E 9.605/98. IRREGULARIDADES.
PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E
CERTO.

11
1. A Lei nº 6.938/81 confere competência supletiva ao IBAMA para fiscalizar
as atividades consideradas potencial e efetivamente poluidoras e a Lei nº
9.605/98 estabelece sua competência para autuar a instaurar processo
administrativo contra condutas lesivas ao meio ambiente.
(...)
5. Apelação improvida.
(AMS 2003.34.00.000362-8/DF, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria de
Almeida, Quinta Turma, DJ de 10/02/2005, p.34)
Dessa forma, conforme fundamentado, todos servidores de órgãos
ambientais integrantes do SISNAMA, no qual se inclui o IBAMA, têm o poder-dever
para lavrar autos de infração quando designados para as atividades de fiscalização,
como ocorreu no caso em tela.
Por fim, cumpre mencionar que este E. TRF da 1ª Região, ao analisar
decisão proferida no Mandado de Segurança cuja sentença declarou nulo auto de
apreensão por ter sido expedido por Técnico Ambiental, deferiu pedido de suspensão
formulado pelo IBAMA na Suspensão de Segurança nº 2007.01.00.042501-4, nos
seguintes termos:
Trata-se de suspensão de segurança requerida pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, com fundamento no
art. 4º da Lei n. 4.348/64, objetivando sustar os efeitos da decisão proferida
pelo MM. Juiz Federal Guilherme Fabiano Julien de Rezende, da 2ª Vara
Federal da Subseção Judiciária de Juiz de Fora, nos autos do Mandado de
Segurança n. 2006.38.01.005100-5, nos seguintes termos (fls. 16/24):
‘Ante o exposto, concedo a segurança para declarar a nulidade dos autos de
apreensão ns. 313559, 313560 e 313561, expedidos por agente do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA,
bem como determinar à autoridade impetrada a restituição imediata, aos
impetrantes, dos pássaros e gaiolas ali descritos.’
Esclarece a requerente que foi realizada “vistoria no plantel do criador Sr. José
Carlos de Abreu Filho” e verificou-se que, “das 86 (oitenta e seis) aves que
constavam na relação de passeriformes, apenas 06 (seis) encontravam-se no
local”, entre o quais dois apresentavam anilhas irregulares; que esses pássaros
foram apreendidos e foi lavrado o Auto de Infração n. 557231 e o Termo de
Apreensão e Depósito n. 313561; que na mesma vistoria foram encontrados 26
(vinte e seis) pássaros “curió” sem documentação para comprovar sua origem,
além de outras irregularidades; que todas as irregularidades flagradas, assim
como os atos de apreensão decorrem de lei; que a “manutenção em cativeiro de
animais sem a devida autorização do órgão ambiental constitui atividade
lesiva ao meio ambiente configurando crime ambiental” (fls. 2/6).
Assevera que o único fundamento para a decisão concessiva da segurança é “a
suposta impossibilidade de servidor ocupante do cargo de Técnico
Administrativo lavrar autos de infração, ante a ausência de atribuição
específica na Lei n. 10.410/2002” (fls. 6/8).
Alega, em síntese, que a decisão proferida “baseou-se em fundamento jurídico
não aduzido pelo autor”; que a sentença é extra petita, pois apreciou
indevidamente questão jurídica (competência do agente autuante) não suscitada
no processo; que a sentença impugnada está “em total desacordo com a
legislação que rege a matéria” (fls. 8/10); que “é manifesto o interesse público
na suspensão da execução da decisão, haja vista à grave lesão à ordem, à

12
segurança, levando-se em conta a privação ao combate de crimes e infrações
ambientais, e à economia públicas que da mesma certamente advirá”; que,
com a decisão, “inúmeras pessoas, físicas e jurídicas, e que tiveram contra si
lavrados Autos de Infração por ocupantes do cargo de Técnico Administrativo
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
– IBAMA, no Brasil inteiro, recorrerão imediatamente ao Poder Judiciário
postulando liminares para suspensão da exigibilidade dos respectivos débitos”;
que “o efeito em cadeia” da sentença impugnada representa grave risco à
economia pública, pois o IBAMA “poderá ter engessada boa parte da sua
Dívida Ativa” e “inúmeras Ações de Execução Fiscal já ajuizadas e em
curso”; que tal situação representa também “risco à ordem e à segurança
públicas, já que doravante, os infratores da legislação ambiental se recusarão
a receber Autos de Infração e Termos de Embargo e Apreensão lavrados por
ocupantes do cargo de Técnico Administrativo”; que o Presidente do TRF-5ª
Região, em situação idêntica, suspendeu os efeitos de decisão concedida em
ação ordinária (fls. 15).
Submetidos os autos ao Ministério Público Federal, o parecer, da lavra do
eminente Procurador Regional da República Luiz Augusto Santos Lima, foi
pelo deferimento do pedido formulado pelo IBAMA (fls. 83/86).
Adstrita à verificação da existência dos pressupostos estabelecidos no art. 4º da
Lei n. 4.348/64, ou seja, se a decisão impugnada carrega em si potencial
lesividade aos valores sociais protegidos pela medida de contracautela ora
pleiteada, escapam da atribuição da Presidência do Tribunal poderes para
perquirir ou corrigir possível erro no julgamento de fatos e de direito. É viável
analisar de modo superficial o mérito da decisão tão-somente para associá-lo ao
fundamento jurídico do pedido.
Afastada tal possibilidade, a análise do pedido de suspensão de segurança deve
limitar-se, sempre que possível, à probabilidade de a decisão, ao ser executada,
resultar em grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.
Questões processuais e de mérito deverão ser discutidas na via recursal própria,
para que se não transforme a suspensão de segurança em mais um entre tantos
recursos cabíveis.
Nesse diapasão, as discussões sobre se a sentença é extra petita ou se o
ocupante do cargo de Técnico Administrativa tem competência para lavrar as
autuações deverão ser discutidas no recurso ordinário.
Na hipótese, embora não esteja bem delimitada a alegação de grave lesão
aos bens jurídicos tutelados pelo art. 4º da Lei n. 4.348/64, causada pela
proliferação de decisões idênticas, pois, na verdade, até a presente data,
apenas um caso análogo surgiu nesta Presidência (SS n. 2006.01.00.016276-
9/DF), além do precedente no TRF-5ª Região (SS n. 2007.05.00.052423-0),
citada pelo requerente, o fato é que a questão trazida é relevante para o
interesse público, pois é de extrema importância nacional manter o pleno
exercício das atividades institucionais do IBAMA, para que a
concretização das políticas ambientais e a fiscalização do meio ambiente
não sejam mitigadas pela redução de servidores encarregados de zelar e
propiciar melhorias na qualidade do meio ambiente.
Ademais, a administração pública, até que se prove em contrário, goza da
presunção de legitimidade de seus atos, e o documento juntado aos autos à
fls. 69/70 demonstra que o agente que autuou os impetrantes (docs. a fls.
26/28), além de ter participado de cursos de fiscalização/reciclagem (Portaria n.
515/02), realizado em 2001, foi designado para a atividade de fiscalização pela
Ordem de Serviço n. 515/2002.

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Assim sendo, por precaução, enquanto a questão da legitimidade dos autos
de infração lavrados pelos Técnicos Ambientais não esteja suficientemente
dirimida pelas vias ordinárias, a decisão impugnada deverá ter seus efeitos
suspensos para evitar que, de fato, proliferem comandos judiciais de
antecipação no sentido da anulação imediata de autos de infração,
expedidos por aqueles servidores do IBAMA, evitando-se, assim, sérios
prejuízos à ordem e à economia públicas, porquanto poderão ser
contestados todos os autos de infração lavrados por aqueles profissionais.
Cabe consignar, nesse sentido, o parecer do Ministério Público Federal (fls.
83/86).
‘(omissis)
A despeito de não caber na suspensão de segurança perquirir quanto ao mérito
da ação ou no tocante aos fundamentos da decisão impugnada, vez que a
suspensão requerida é restrita à verificação dos pressupostos de grave lesão à
ordem pública, à saúde, à segurança e à economia pública à luz dos
documentos acostados aos autos, cabem as seguintes considerações.
A Segurança foi deferida sob fundamento de “[...] que a Lei 10.410/2 prevê que
a atividade relacionada à fiscalização ambiental é inerente ao cargo de Analista
Ambiental. Relativamente ao cargo de Técnico Ambiental, esta atividade
poderá ser exercida, excepcionalmente, desde que precedida de ato de
designação específico expedido pela autoridade ambiental competente para
tanto, em conformidade com regulamento a ser baixado pelo IBAMA” à fl. 19.
Os autos de infração anulados foram lavrados por funcionários do
IBAMA, no exercício regular de suas atividades de fiscalização, precedidos
de designação em Ordem de Serviço, inclusive com recorrente treinamento
para tanto.
A nosso ver, efetivamente, a Decisão objeto do presente pedido de
suspensão causa grave lesão ao interesse público, pois, ao anular os autos
de infração sob a justificativa de que só poderiam ser lavrados por
Analistas, inova a praxe administrativa, uma vez que os requisitos para a
atuação do servidor do IBAMA são apenas que seja funcionário e tenha
específica designação para a fiscalização. Ademais, o risco de afronta à
autoridade pública é evidente, bem como o significativo aumento de
demandas judiciais para a anulação de autos de infração lavrados por
técnicos ambientais.
De outro tanto, por certo inexistem analistas suficientes a cobrir todo o
território nacional, tornando imprescindível a atuação dos técnicos
ambientais.
Presente o requisito de evidente interesse público, pressupostos do art. 4º da
Lei 4.348/1964, o parecer manifesta-se no sentido do deferimento do
requerimento de suspensão da Decisão colacionada por cópia, às fls. 16/24.’
Pelo exposto, defiro o pedido de suspensão dos efeitos da segurança
concedida nos autos do Mandado de Segurança n. 2006.38.01.005100-5/MG.”
(sem destaques no original)
Assim, irregularidade não há nas nomeações por Portaria de servidores
do IBAMA ocupantes de cargos integrantes de quaisquer de suas carreiras para a função
de fiscalização, uma vez que esse ato normativo está cumprindo o disposto no §1º,
do art. 70, da Lei nº 9.605/98, inexistindo incompatibilidade, muito menos
revogação, diante da edição da Lei nº 10.410/2002.

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PREQUESTIONAMENTO
Dispositivos Constitucionais: Art. 2.º, 225, caput, e §3º, 170, VI. Dispositivos Legais:
Art. 70, §1º, da Lei n.º 9.605/98.
CONCLUSÃO
Por todo o exposto, outra não pode ser a conclusão senão o indeferimento do pedido
autoral, no sentido de que sejam mantidos todos os atos administrativos do IBAMA no
exercício do seu Poder de Polícia Ambiental, notadamente no presente caso em que
demonstrada a competência para expedição do ato de fiscalização e indicação de
penalidade administrativa ambiental.

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