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Operações de Choque

e s t u d o s s o b re a t ro p a d e
re s t a u r a ç ã o d a p a z e m
contextos democráticos
Vo l u m e 1

Operações de Choque
e s t u d o s s o b re a t ro p a d e
re s t a u r a ç ã o d a p a z e m
contextos democráticos

[Org.] Steevan Oliveira

Coleção Operações de Choque estudos


s o b re a t ro p a d e re s t a u r a ç ã o d a p a z
em contextos democráticos
Sumário

Seção 1
Abordagem Geral e Histórica
1. Doutrina de Operações de Choque
no Brasil: um Panorama  13
Steevan Tadeu Soares de Oliveira

2. Tropa de Choque em Minas Gerais:


na linha da História e da Vivência  25
Klinger Sobreira de Almeida

Seção 2
Manifestações e Protestos
3. Defesa da Ordem, Conflito Social e Confronto  49
Rudá Ricci

4. Há um direito fundamental à
desobediência civil?  59
Fernando Armando Ribeiro

5. Considerações Filosóficas sobre O Anonimato


em atos de desobediência civil  75
Mirlir Cunha
6. A Atuação Policial Militar em Manifestações
de rua: Como garantir Direitos Humanos em
um contexto de conflito de direitos?  107
Débora Patrícia Mafra
Eduardo Tadeu Silva Costa
Renan Jesus da Silva

7. Estratégias de negociação e persuasão


na atividade policial  127
Flávio Jackson Ferreira Santiago

Seção 3
Eventos
8. A Atuação do Corpo de Bombeiros
Militar de Minas Gerais em eventos:
O paradigma da Prevenção  145
Pedro Henrique de Paula Melgaço

9. Escoltas da Copa das Confederações/2013


e Copa do Mundo/2014: Fatos,
Estratégias e Experiências  157
Alan Thiago da Silva

10. Planejamento Operacional de forças de segurança


para megaeventos: Aspectos gerais a partir da
experiência da Polícia Militar de Minas Gerais  171
Antônio Hot Pereira de Faria

Seção 4
Reintegrações de Posse
11. A Intervenção policial nas questões afetas ao
esbulho possessório e reintegração de posse  183
Carlos Eduardo Lopes
12. Mesa de Diálogo: Os conflitos fundiários
sob a ótica da solução compartilhada  197
Lígia Maria Alves Pereira

Seção 5
Estabelecimentos Prisionais
13. A Crise Penitenciária de Alcaçuz em 2017  207
Gustavo Henrique Lins Barreto

Seção 6
Perspectivas Internacionais
14. Las Manifestaciones Públicas en la Argentina:
Analisis sobre el uso progresivo de la fuerza  235
Hugo Abel Romero

15. O Caso do Encontro do G8/2001 em Genova:


Um estudo das sentenças do precedente
Giuliani e Gaggio vs. Itália  257
Amina Welten Guerra

16. A globalização da ordem pública e o


processo de tomada de decisão  273
Jorge Manuel Lobato Barradas

17. Lições aprendidas da polícia inglesa


na gestão de distúrbios civis  285
Bruno Langeani

18. A Batalha de Seattle: Uma análise do relatório


policial sobre os protestos contrários ao encontro
Organização Mundial do Comércio/1999  303
Tiago Augusto da Silva
Seção 7
Aspectos Técnicos e Táticos
19. A Célula Tática nas operações de controle de
distúribios: A atuação conjunta do Batalhão de
Polícia de Eventos (BPE) e Grupamento de
Ações Táticas Especiais (GATE)  325
Alex Antonio da Silva Prosdocimi

20. Operações de choque e uso da força


no estado democrático de direito  343
Marsuel Botelho Riani

21. Primeiro interventor em Operações de


Controle de Multidões – Operações
de CHOQUE com apoio motorizado  353
Gledson Bruno Píramo da Silva

22. Operações de controle de


distúrbios tático com cães  395
Ramon de Carvalho Albuquerque
Fernado de Abreu Lima
Charles da Cunha Santos
Luciano Ribeiro de Paula
Luis Felipe dos Santos
Luiz Gustavo Viterbo Laia 

23. A história e peculiariedades das


máscaras contra gases  403
Felipe Oppenheimer Torres

24. Aspectos genotóxicos dos agentes


químicos lacrimogêneos  413
Felipe Oppenheimer Torres
Seção 8
Inteligência em Operações de Choque
25. Inteligência policial militar
e os movimentos sociais  433
Ricardo Mari de Novais

26. Informação ninja:uma fonte de dados


relevante para a inteligência da PMMG
nas manifestações populares  449
Tiago Vinícius Sales Gomes

27. Inteligência e Polícia Ostensiva: um olhar


sobre o policiamento de manifestações
à partir de dados acerca dos grandes
protestos de 2013  469
Edigar de Andrade Duarte Júnior

Autores  485
Seção 1
A b o rd a g e m G e r a l e H i s t ó r i c a
1
Doutrina de Operações
de Choque no Brasil:
um Panorama

S t e e v a n Ta d e u S o a r e s d e O l i v e i r a 1

Amat victoria curam - A vitória ama os que se preparam

Falar em polícia no Brasil é extremamente delicado, ainda mais quando


o assunto se volta à polícia ostensiva. Na terra do “jeitinho” para cumprir a
lei, os desafios dos agentes encarregados de aplicá-la constituem uma equação
que só se realiza adequadamente quando se molda à conveniência de todos os
interessados – o que quase nunca é possível.
A combinação entre o arranjo constitucional vigente e a história recente
do país torna o assunto ainda mais melindroso. Por um lado, a inadequação no
cognome da força pública, que pela Constituição Federal de 1988 é nominada
Polícia Militar. Essa impropriedade técnica faz com que as pessoas confundam
uma polícia de natureza militar, a Polícia Militar, com uma atividade própria
das Forças Armadas, que é a polícia militar. Por outro lado, um passado ainda
não superado faz com que as pessoas confundam militar com ditadura, e au-
toridade com autoritário.
Quando a discussão é sobre tropa de choque, a situação é ainda pior, pois
o tema vira tabu mesmo nas discussões acadêmicas. Embora de conceituação
fugidia, há uma noção estabelecida em âmbito nacional de quais atividades se
relacionam com a tropa de choque (OLIVEIRA, 2013, p. 139).Todavia, quando
se tenta estudar mais detalhadamente sobre esse tipo de operação, percebe-se

1
Mestre e bacharel em Direito pela UFMG. Bacharel em Ciências Militares. Pós-graduado
em Direito Militar e em Psicanálise e Ciências Criminais. Oficial da PMMG. Professor na
Academia de Polícia Militar/MG. Palestrante, autor de livros e artigos sobre polícia e cri-
minalidade. Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Academia de Letras
João Guimarães Rosa. Recentemente publicou A tropa de choque e as manifestações de rua, pela
editora D’Plácido.

13
que ele ainda é tratado com extrema leviandade. Para parte da sociedade e
considerável parcela do mundo acadêmico, tropa de choque é a corporifica-
ção do arbitrário e do abusivo. Para outros, aí incluído um número relevante
de militares, a mitificação do tema negligencia um olhar mais criterioso para
pontos nevrálgicos. Nem uma nem outra abordagem são satisfatórias, pecam
pelos excessos, para um lado ou para outro. Apesar disso tudo, cada vez mais são
criados batalhões de choque nos estados. Assim, aspectos técnicos de atividades
como reintegrações de posse, manifestações públicas e eventos com grande
aglomeração de pessoas são desconhecidos até mesmo dos próprios policiais e
somente muito recentemente têm sido objeto de estudos no Brasil.2
É esta lacuna que a coleção que ora se inicia pretende explorar. E pretende
fazê-lo de forma arrojada. A perspectiva que se adota é plural, ver o tema por
diversos prismas. Militares, civis, acadêmicos, profissionais, professores, policiais,
magistrados, novas e velhas gerações, autores brasileiros e estrangeiros. A ideia
é agregar, buscar no mundo acadêmico debates relevantes para as operações de
choque, em especial considerando a figura do tomador de decisão neste tipo
de operação policial. Ao mesmo tempo, tem-se como objetivo estimular os
próprios policiais a escreverem sobre suas realidades e experiências. Alguns já
possuem mais hábito com o universo das letras. Outros enfrentaram o desafio
e colocaram suas percepções no papel, mesmo em um formato que pode não
lhes ser muito familiar. Esse encontro, entre acadêmicos e policiais, não é ao
acaso nem sem riscos. Perpassam cada uma das escolhas feitas para compor o
livro a vontade de contrapor ideias e a busca de compreensão entre os que se
interessam sobre o tema.
Atualmente, é muito forte certa tradição oral na passagem do conheci-
mento nas tropas de choque. Embora via de regra os iniciados participem de
um curso de formação específico, muito do conhecimento não tem assento no
universo científico. Os militares mais antigos recepcionam e ensinam os mais
novos no cotidiano, a partir do que lhes foi repassado pelos antecessores, assim
como das próprias experiências. Dessa forma, esta obra vem contribuir com a
incipiente mudança cultural de registrar pela escrita as experiências, desenvolver
conceitos, técnicas e táticas, e propor um debate respeitoso e enriquecedor a
partir de textos predecessores.
Para melhor utilização da obra, os textos foram divididos em eixos te-
máticos. Todavia a segmentação não é estanque, nem perfeita. Há textos que
facilmente caberiam em mais de uma categoria, mas a classificação mostrou-se
necessária tendo em vista uma melhor disposição do considerável volume de

2
Entre outros trabalhos que discutem o tema, ver: Oliveira (2012; 2013; 2016; 2017); Comparato
(2015); Ferreira Júnior, Moreira, Coertjens e Kruel (2015); Antunes Netto (2017a; 2017b);
Cotta (2017); Costa e Junqueira (2018).

14
textos. No início, a proposta era ser um livro único. Por ser uma área ainda pouco
explorada academicamente, os receios eram muitos. Porém os trabalhos iniciais
da organização do livro ganharam notoriedade e reverberaram por todo o país.
Assim, o projeto que ora se inicia constitui-se de uma coletânea de trabalhos
com a intenção de múltiplos volumes.
Mas a ousadia não para por aí, pois a coleção ganhou dimensão inter-
nacional ainda em seu primeiro volume. Embora o nome “tropa de choque”
tenha origens linguísticas na Alemanha (TORRES, 2017, p. 40), essa designação
utilizada no Brasil, com a delimitação semântica comumente aqui empregada,
é algo tipicamente nacional. Nos estudos de polícia comparada, não é fácil
encontrar designativo equivalente em outros países, a não ser aquele que
poderíamos traduzir como “unidade de ordem pública”. Ainda assim, autores
estrangeiros participam da obra. Dentro do recorte temático proposto, foram
identificados e selecionados especialistas sobre o tema na Argentina e em
Portugal. Além dos dois autores estrangeiros, casos internacionais, considerados
marcos para as atuações em protestos e que não possuem literatura suficiente
no Brasil, foram objeto de estudo.
O texto que abre o presente livro é de autoria de uma lenda viva das
polícias brasileiras: Coronel Klinger Sobreira de Almeida. O autor está in-
discutivelmente no panteão dos grandes comandantes da PMMG. Criador e
primeiro comandante do Batalhão de Choque em Minas Gerais, no Capítulo
II, ele descreve os bastidores da criação da Unidade. Mais que uma pesquisa
documental, o texto é o relato de quem viveu um turbulento período da his-
tória do Brasil. Coronel Klinger narra fatos e diálogos que têm por personagens
figuras públicas como Aureliano Chaves, Milton Campos, Francelino Pereira,
Lula e Tancredo Neves. Certamente, o leitor se deparará com um texto histórico.
Nessa reconstrução, não falta a Klinger a coragem de um grande comandante
para enfrentar temas delicados e até mesmo reconhecer erros do passado. Se a
simples menção a seu mítico nome já é capaz de inspirar os mais novos, agora
seu texto vem fornecer subsídios para aqueles que pretendem estudar o tema.
Assim, se antes os mineiros podiam reclamar da inexistência de um referencial
bibliográfico sobre as origens do Batalhão de Choque das Minas Gerais, agora
não o podem mais. No referido capítulo, os leitores perceberão as marcas de
um grande comandante, homem de ação, mas também com pensamento de
vanguarda. Coronel Klinger demonstra em seu texto que, ainda nas décadas
de 1960 e 1970, já se vislumbrava que o policiamento de manifestações não
poderia ser balizado pela lógica do enfrentamento ao inimigo.
O Capítulo III é de um expoente no cenário nacional. O professor e
cientista político Rudá Ricci é um dos nomes mais requisitados para entre-
vistas, textos e debates quando o assunto é política. Na presente obra o autor,
por meio da noção de ordem pública, discute o papel das forças de segurança.

15
Assim, envereda por temas como conflito, confronto e estabilidade social. Para
Ricci, a vida social não implica a eliminação do conflito, mas o contrário. No
campo democrático, a intransigência e a eliminação do diferente devem dar
lugar ao conflito não violento. Nesse sentido, a discussão conceitual apresentada
pelo professor se mostra como um norte para a prática policial e em muito vai
contribuir para o aprimoramento do debate sobre o papel das tropas de choque.
O Capítulo IV é de autoria de um dos principais intelectuais brasileiros
na temática da desobediência civil. Fernando Armando Ribeiro é magistrado,
doutor em direito pela UFMG e pós-doutor pela Universidade da Califór-
nia-Berkeley (USA). Em sua participação na obra, o autor discute a ideia da
resistência à ordem no encontro entre filosofia do direito e direito constitucio-
nal. Em um texto de fácil leitura e compreensão, Ribeiro entra em um tema
extremamente complexo e profundo. E nos brinda com a discussão em torno
de um tema extremamente relevante às tropas de choque, embora ainda pouco
estudado nas academias de polícia ou nos cursos de operações de choque. Se
o papel da polícia é fazer cumprir a lei, como lidar com ações coletivas ilegais,
mas embasadas na Constituição?
O Capítulo V tem como autora Mirlir Cunha, detentora de rara habili-
dade para conciliar sua atividade como oficial da polícia e uma consolidada e
profícua carreira acadêmica. Em seu texto, a autora discute, a partir da teoria
democrática, a questão do anonimato em manifestações públicas. Assim, de
forma bastante compreensível, mas sem perder a fundamentação teórica exigida
pelo tema, percorre noções como democracia e estado de direito para enfrentar
esse tema, que surgiu com toda força no Brasil durante os protestos de 2013.
O capítulo seguinte tem como autores três jovens oficiais da Polícia Militar.
Débora Patrícia Mafra, Eduardo Tadeu Silva Costa e Renan Jesus da Silva são
coautores de um trabalho ímpar. Diante da ausência de doutrina institucional
acerca do policiamento de manifestações, eles realizaram pesquisa teórica e uma
série de entrevistas com militares que trabalham com mediação de conflitos
em protestos. Sob as luzes de referenciais teóricos previamente selecionados,
e a partir da experiência dos entrevistados, conseguiram compilar um consi-
derável acervo de boas práticas. Assim, elencaram diversas ações com vistas à
mediação por parte da polícia no sentido da garantia de direitos fundamentais
e do respeito à diversidade de pensamento em manifestações públicas. Portanto,
os autores elaboraram um importante texto com balizas para o policiamento
de manifestações e para a consolidação de uma doutrina policial sobre o tema.
Flávio Jackson Ferreira Santiago é o autor do Capítulo VII. Os holofotes
de sua presença constante nas televisões e jornais, bem como a naturalidade
com que esse grande comunicador cumpre seu papel de porta-voz oficial da
PMMG acabam por colocar em segundo plano todo o cabedal teórico desse
brilhante oficial de polícia. Na presente obra, os leitores aprenderão conceitos

16
técnicos para a persuasão e negociação na atividade policial. Assim, os profissio-
nais que realizam trabalhos de mediação junto a movimentos sociais e torcidas
organizadas, que muitas das vezes são desenvolvidos por militares dos batalhões
de choque sem uma adequada preparação teórica, agora poderão contar com
este texto como referencial para estudos.
O Capítulo VIII abre a terceira seção do livro. Pedro Henrique de Paula
Melgaço enfrenta outra temática ainda pouco estudada nas polícias.Tradicio-
nalmente, a atuação em eventos é um dos eixos temáticos que ficam a cargo
dos batalhões de choque de grande parte das PPMM brasileiras.Todavia, muito
pouco se tem de doutrina policial sobre o assunto. Ademais, em eventos, as
polícias agem muitas das vezes em conjunto com os Corpos de Bombeiros
Militares, mas sem compreender o papel dos irmãos de farda. Visando forne-
cer material para esse tipo de atuação, Pedro Melgaço, oficial do Corpo de
Bombeiro Militar, discute a classificação de riscos, as medidas de segurança e
a legislação aplicável. Assim, o texto pode subsidiar uma atuação policial mais
técnica em eventos diversos.
Também na temática dos eventos é o Capítulo IX, de autoria de Alan
Thiago. O autor é uma das grandes referências em escoltas policiais e traz um
texto dessa área na qual há grande carência de literatura. Toda sua experiência
e conhecimento como professor da disciplina e de comandante de escoltas
policiais são apresentados no texto. Alan Thiago compartilha com os leitores
valiosas lições sobre o planejamento e a realização das escoltas interagências
nos grandes eventos de 2013 e 2014 no Brasil. Muito provavelmente, este é o
único texto sobre o assunto no país, demonstrando que as instituições policiais
brasileiras ainda exploram muito pouco as lições aprendidas em suas práticas.
Em um contexto de quase inexistência de relatórios e registros das experiências
policiais com Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas, o tra-
balho de Alan Thiago vem em sentido contrário, para cumprir um importante
papel no desenvolvimento da doutrina policial brasileira.
Algo semelhante se pode dizer do Capítulo X, que foca na experiência
do planejamento operacional nos eventos internacionais que aconteceram no
Brasil. Antônio Hot de Faria é oficial de escol e alia suas atribuições militares
com estudos teóricos sobre polícia. O autor é oficial da Polícia Militar e doutor
em Geografia.Tendo participado do planejamento dos grandes eventos de 2013
a 2016 no Brasil, Faria compartilha seu conhecimento acerca da elaboração
dos planos de emprego para a realização de megaeventos. Assim, discute noções
como alocação de recursos, perímetros de segurança e coordenação e controle.
A quarta seção do livro, que trata das operações policiais em reintegrações
de posse, é inaugurada pelo texto de Carlos Eduardo Lopes. O autor é bacharel
em direito e em ciências militares, pós-graduado tanto na área do direito penal
quanto em segurança pública. Além da formação acadêmica, Lopes é especialista

17
em operações de choque e referência sobre o planejamento de tais operações.
No Capítulo XI, o autor expõe seu vasto conhecimento na confecção de plane-
jamentos de reintegração de posse, aliando seus conhecimentos jurídicos com a
prática policial.Assim, acaba por demonstrar distinções técnicas que são de extre-
ma relevância para o policial militar, mas que muitas das vezes são confundidas.
O Capítulo XII trata de uma inovação surgida em Minas Gerais no campo
dos conflitos de terra. Lígia Maria Alves Pereira é graduada em história com
especialização em democracia participativa. Em seu texto, trata da Mesa de
Diálogo e Negociação Permanente com Ocupações Urbanas e Rurais (Mesa
de Diálogo) sob a ótica da solução compartilhada. Tendo integrado a Mesa de
Diálogo, a autora discorre, com propriedade, sobre o funcionamento e conquistas
alcançadas por meio da Mesa, surgida da necessidade de novos arranjos institu-
cionais para enfrentar a expressiva quantidade de conflitos fundiários ocorridos
em Minas Gerais nos últimos anos. Pereira leva, agora, sua experiência na Mesa
de Diálogo, espaço de diálogo entre todas as partes envolvidas nas reintegrações
de posse, além das fronteiras de Minas.
O Capítulo XIII é o único da quinta seção que cuida das atuações em
estabelecimentos prisionais. Gustavo Henrique Lins Barreto é um proeminente
oficial da Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Atuando no Batalhão de
Choque da PM daquele estado, teve oportunidade de participar diretamente
das ações de um dos casos de maior repercussão na história recente do país: a
crise do sistema prisional de 2017. O autor realiza uma cronologia dos fatos
e nos demonstra como foram desenvolvidas as ações policiais militares que
conseguiram conter a crise dentro da penitenciária de Alcaçuz.
A sexta seção do livro investiga as experiências internacionais por meio
de cinco textos. O primeiro trabalho é do Coronel Hugo Romero, integrante
do quadro dos oficiais da Gendarmería Nacional Argentina. No Capítulo XIV,
o autor perpassa vários casos internacionais acerca de manifestações públicas.
Todavia especial ênfase é dedicada à realidade do país de Romero. Além de
suscitar alguns pontos jurídicos, o autor evidencia e explica os protocolos uti-
lizados na Argentina pela força policial de natureza militar quando do uso da
força em protestos populares.
O Capítulo XV aborda um dos casos mais importantes da história das
operações de choque no que diz respeito à atuação em protestos. Amina Guerra
é graduada e mestre em direito pela Università di Bologna (Itália) e estuda o
emblemático caso do encontro do G8 em Gênova, em 2001. Na oportunidade,
a cidade foi tomada por manifestações que se espalharam pela cidade. Em um
dos eventos, o uso de arma de fogo pela polícia levou à morte um dos mani-
festantes, Carlo Giuliani. Embora o caso tenha adquirido grande repercussão
na mídia, a Corte Europeia de Direitos Humanos concluiu que a atuação da
polícia não feriu os parâmetros internacionais de direitos humanos. Assim, a

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autora traz à baila um caso extremamente relevante para os batalhões de choque,
mas que, até então, era pouco analisado em virtude da ausência de textos em
língua portuguesa sobre o assunto.
O capítulo seguinte é de autoria de um dos principais nomes das operações
de controle de distúrbios em Portugal, o Tenente-Coronel Jorge Manuel Lobato
Barradas. O autor é oficial da Guarda Nacional Republicana, polícia de natureza
militar de Portugal, e comandante da unidade de intervenção da ordem pública
naquele país. Em instigante texto, Barradas discorre sobre a atividade de coman-
damento e a globalização da ordem pública, discutindo conceitos tradicionais
nas forças de natureza militar, como cadeia de comando e hierarquia. Todavia,
o faz de forma singular ao refletir sobre a relação dessas noções tipicamente
militares em um mundo cada vez mais dinâmico, marcado pelas redes sociais e
pela velocidade da informação. Assim, o autor revela impactos que podem não
se ajustar aos modelos tradicionalmente utilizados.
O Capítulo XVII, de autoria de Bruno Langeani, trata da experiência
inglesa. Especialista em justiça criminal e segurança pública, o autor atualmente
trabalha no Instituto Sou da Paz e realiza estudos sobre policia e criminalidade
no Brasil e no exterior. Em seu texto, Langeani descreve o funcionamento da
polícia de Londres no pertinente ao policiamento de manifestações. Além de
desenvolver estudos teóricos sobre a Metropolitan Police (Met), o autor teve a
oportunidade de realizar visita técnica nessa renomada polícia e detalha, com
riqueza de informações, a noção de polícia por consentimento na atuação da
Scotland Yard em manifestações públicas na capital inglesa.
O último capítulo da seção trata também de um caso paradigmático. O
autor é Tiago Augusto, oficial da Polícia Militar. Tendo atuado diretamente na
Copa das Confederações de 2013 e na Copa do Mundo de 2014, interessou-se
pelo tema das manifestações. Neste trabalho, o notável oficial se dedica a estu-
dar um dos eventos mais importantes na história das operações de choque: as
manifestações contra o encontro da OMC em Seattle, em 1999. Alguns autores
chegam a dividir a história desse tipo de operações em dois períodos, antes e
após Seatle.Todavia quase não há no Brasil textos e pesquisas sobre esse evento.
Naquela cidade dos Estados Unidos, a estratégia black bloc ganhou notoriedade
de forma, provavelmente, sem precedentes. Assim, diante da ausência de refe-
rências no Brasil sobre o assunto,Tiago Augusto apresenta um texto de grande
relevância para operadores, estudiosos e comandantes de operações de choque,
assim como para o público em geral.
A sexta seção do livro reúne textos que aprofundam mais nos aspectos técnicos
e táticos da doutrina policial. O Capítulo XIX abre a seção com uma importante
evolução para as operações de choque no Brasil: a utilização das células táticas. Em
razão das cenas de violência nos protestos de 2013, percebeu-se a necessidade de
se desenvolverem novas técnicas, tendo em vista que as formações e disposições das

19
tropas previstas nos manuais já não atendiam mais a realidade. Dessa forma, Alex
Silva, Major da Polícia Militar de Minas Gerais, parte de sua ampla experiência como
comandante de tropa de choque e escreve um texto sobre um assunto fundamental
na evolução da doutrina policial do país, explicando a utilização de uma técnica
que precisa ser absorvida pelos manuais das polícias brasileiras.
O Capítulo XX é de um oficial e autor reconhecido nacionalmente.
Marsuel Riani tem pujante carreira acadêmica, é Major da Polícia Militar do
Espírito Santo, professor universitário e autor de livros sobre segurança pública
e privada. Em sua contribuição, analisa o uso da força nas operações de cho-
que no paradigma do Estado Democrático de Direito, correlacionando o uso
proporcional da força e a prioridade do emprego dos meios. Certamente, um
dos temas mais árduos e delicados, mas que, na presente obra, é enfrentado de
forma corajosa e bastante técnica pelo ilustre militar.
O texto seguinte é também de um Major da Polícia Militar. Gledson
Bruno Píramo da Silva é especialista em operações de choque e em patru-
lhamento tático-móvel. Em seu texto, o autor debate acerca de um tema
bastante atual nas operações de choque: a atuação do primeiro interventor.
A ausência de textos sobre esse conteúdo demonstra a premência da questão,
revelando a necessidade de seu trabalho para a evolução dos manuais brasi-
leiros de controle de distúrbios. Píramo da Silva faz um profundo estudo em
mais de uma dezena de manuais de choque publicados no Brasil e discorre
sobre o emprego das unidades de radiopatrulhamento tático motorizado nas
operações de controle de distúrbios.
Um grupo de militares que trabalham no canil central da PMMG con-
tribuiu para a obra relatando sua experiência com o emprego de cães em
operações de controle de distúrbios. São os militares: Ramon de Carvalho
Albuquerque, Fernando de Abreu Lima, Charles da Cunha Santos, Luciano
Ribeiro de Paula, Luis Felipe dos Santos e Luiz Gustavo Viterbo Laia. Designada
como operações de controle de distúrbios tático com cães, essa disposição
tática começou a ser utilizada em 2014, quando este autor ainda se encon-
trava atuando na tropa de choque com cães. As primeiras discussões e análises
sobre o tema permitiram utilizar o dispositivo ainda na Copa do Mundo de
2014. Agora, os autores acima trazem ao conhecimento dos interessados em
operações de choque o que tem sido aplicado em Minas Gerais, iniciando
um importante debate sobre o tema.
Felipe Oppenheimer Torres é oficial da Polícia Militar de Santa Catari-
na e especialista, entre outras áreas, em operações de controle de distúrbios e
operações químicas. Na presente obra, temos o privilégio de contar com dois
capítulos escritos pelo autor. Em seu primeiro texto, Oppenheimer Torres
demonstra a evolução histórica das máscaras de gás e explica conceitos como
vida útil e validade desses equipamentos. Assim, trata de um tema extremamente

20
relevante para a prática das operações de choque, acerca do qual também há
poucas publicações em língua portuguesa. Sua segunda contribuição é ainda
mais especial, pois, provavelmente, é o único texto sobre o tema publicado no
Brasil. No Capítulo XXIV do livro, o autor estuda os efeitos genotóxicos dos
agentes químicos lacrimogêneos.
Ricardo Mari de Novais faz parte de um recente florescer da doutrina
policial em Minas Gerais. Professor e reconhecido especialista na atividade de
inteligência, empresta todo seu arcabouço teórico e prático para demonstrar a
importância da atividade de inteligência no trato com os movimentos sociais,
não no sentido de criminalizá-los, mas na perspectiva democrática de uma po-
lícia que atua com base em informações e não de forma amadora e aleatória.
Assim, esse distinto oficial e reconhecido palestrante nacional abre a seção que
propõe debater o uso da atividade de inteligência nas operações de choque.
O Capítulo XXVI é de autoria de Tiago Vinícius Sales Gomes. Policial
militar, graduado em filosofia pela UFMG e pós-graduado em inteligência
de segurança pública, o autor é mais um exemplo de que capacidade in-
telectual e atuação policial não são atividades contrapostas, como sugerem
alguns. Em seu texto, o autor demonstra como o acompanhamento das redes
sociais pela polícia é um importante fator para a segurança dos policiais e
para a economia de recursos públicos no policiamento de manifestações.
Conforme demonstra Tiago Sales, as informações colhidas em fontes abertas
são de grande valia para o tomador de decisão.
Por último, mas não menos importante que os outros textos e fechando
toda a obra, está o trabalho de Edigar de Andrade Duarte Júnior. O autor é
bacharel em filosofia pela UFMG e pós-graduado em inteligência de segurança
pública. Assim como o autor do capítulo anterior, Duarte Júnior estabelece
essa rica combinação entre filosofia, prática policial e atividade de inteligência.
Em seu texto, busca compreender o que foram os protestos de 2013 no Brasil,
fazendo-o a partir não de elucubrações teórico-especulativas, mas dos registros
criminais no recorte espacial da cidade de Belo Horizonte, uma abordagem
extremamente rara entre os pesquisadores sobre o assunto. Assim, o autor expõe
instigantes dados, tais como os crimes registrados e a idade dos autores.Tal aná-
lise se mostra extremamente profícua para se compreender os registros oficiais
realizados pela polícia no referido período, bem como a reação do sistema de
justiça criminal aos eventos que marcaram a história do país.
Assim, esses são os trabalhos selecionados nesta pioneira frente de registro
escrito da doutrina das operações de choque. Conforme mote em latim que
abre o texto, amat victoria curam (a vitória ama os que se preparam), se antes a
ausência de bibliografia de qualidade era um dificultador para a evolução e o
aprendizado acerca dessa atividade policial, talvez, a partir de agora, o possa ser
um pouco menos. CHOQUE!!!

21
R e f e rê n c ia s
AMADOR, Claudinei. Implicações da Lei no 10671/2003 (Estatuto de Defesa do
Torcedor) no policiamento de eventos futebolísticos realizados no estádio Governador Ma-
galhães Pinto – Mineirão. 2006. Monografia (Graduação) - Centro de Ensino de
Graduação da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.
ANTUNES NETTO, Fernando. A intervenção policial em manifestações pú-
blicas reivindicatórias. O Alferes, Belo Horizonte, n. 70, p. 13-31, jul./dez. 2017a.
______. Capacitação em operações de controle de distúrbios: restauração da or-
dem e garantia da paz. O Alferes, Belo Horizonte, n. 71, p. 51-78, jan./jun. 2017b.
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A u t o re s

Alan Thiago da Silva Jorge Manuel Lobato Barradas


Alex Antônio da Silva Prosdocimi Klinger Sobreira de Almeida
Amina Welten Guerra Luciano Ribeiro de Paula
Antônio Hot Pereira de Faria Luis Felipe dos Santos
Bruno Langeani Luiz Gustavo Viterbo Laia 
Carlos Eduardo Lopes Lígia Maria Alves Pereira
Charles da Cunha Santos Marsuel Botelho Riani
Débora Patrícia Mafra Mirlir Cunha
Edigar de Andrade Duarte Júnior Pedro Henrique de Paula Melgaço
Eduardo Tadeu Silva Costa Ramon de Carvalho Albuquerque
Felipe Oppenheimer Torres Renan Jesus da Silva
Fernado de Abreu Lima Ricardo Mari de Novais
Fernando Armando Ribeiro Rudá Ricci
Flávio Jackson Ferreira Santiago Steevan Tadeu Soares de Oliveira
Gledson Bruno Píramo da Silva Tiago Augusto da Silva
Gustavo Henrique Lins Barreto Tiago Vinícius Sales Gomes
Hugo Abel Romero

485
Este livro foi impresso em papel Off-Set 75g,
com tipografia Bembo Std 11/13.

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