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O processo educacional é um, dentre variados fenômenos sociais, que passaram por
mudanças ao longo do tempo e que, como tal, foi e continua sendo objeto de análise em
variadas teorias sociais. A sociologia clássica de Durkheim, por exemplo, já analisava a
educação como esse mecanismo utilizado para transmitir as regras e normas sociais, assim
como os hábitos e costumes para as futuras gerações de uma dada sociedade, permitindo
assim a reprodução constante de uma consciência coletiva externa aos indivíduos e coercitiva
às suas ações e às suas consciências individuais. As pessoas teriam pouco ou nenhum poder
para mudar, transformar a realidade. E, diria que, até a contemporaneidade, alguns ainda
enxergam a educação como esse método de apenas “repasse de conteúdos e informações”,
onde alunos teriam pouca ou nenhuma agência no processo de desenvolvimento da
aprendizagem.
Ao analisarmos a partir da visão weberiana ou marxista, perceberíamos uma educação muito
mais fortemente influenciada pelas ações dos estudantes que, por sua vez, teriam uma maior
participação no processo de construção do conhecimento ou até mesmo de transformação da
lógica educacional, respectivamente.
Quando avançamos e observamos as teorias sociológicas contemporâneas a fim de verificar
como se dão os processos educacionais no mundo globalizado, por exemplo, percebemos as
mudanças sofridas não só no fenômeno social em si mas também em como esse fenômeno
seria tratado e analisado. Tomemos como base os estudos em etnometologia do Garfinkel
(2018) e em seguida a relacionalidade entre estrutura, agentes e cultura do continuum de
Margaret Archer.
Garfinkel afirmava que os membros de uma dada sociedade, tinham a capacidade de refletir
sobre suas ações práticas rotineiras através da comunicação estabelecida na sociabilidade,
assim sendo também teriam seus métodos para analisar suas próprias ações. Esses métodos
utilizados pelos membros da sociedade seriam por sua vez o foco de análise dos sociólogos,
através da etnometodologia:
Avançando na discussão trazida pela sociologia clássica acerca dos dualismos entre indivíduo
e sociedade, estrutura e agência, objeto e sujeito, etc., Margaret Archer faz um esforço na
tentativa de compreender os fenômenos sociais como uma via de mão dupla, influenciando-se
reciprocamente, por meio de um continuum entre morfostase e morfogênese, onde agentes,
estrutura e cultura encontram-se em relacionalidade.
Morfogênese refere-se ‘aqueles processos que tendem a elaborar ou modificar a
forma, estrutura ou estado de um dado sistema’ (BUCKLEY, 1967, p. 58 apud
ARCHER, 2011, p. 160), ao passo que a morfostase refere-se a processos no
interior de um sistema complexo que tendem a preservá-lo sem mudanças
(ARCHER, 2011, p. 160).
Esse continuum se realiza, através do que ela chama de reflexividade comunicativa que, nada
mais é do que, a capacidade que as pessoas têm de refletir sobre suas ações por meio da
comunicação estabelecida com outros indivíduos em sociedade. Essa reflexividade é o meio
pelo qual, em determinadas situações e de variadas formas ao longo da história, a
continuidade contextual, característica predominante da morfostase e, portanto, da
reprodução social por meio de hábitos, foi cedendo lugar, diante dos obstáculos vivenciados
pelas descontinuidades e incongruências contextuais advindos do desenvolvimento do mundo
contemporâneo e suas consequentes transformações sociais, à morfogênese, ou seja, à
elaboração de novas estruturas sociais, possibilitada pelas mudanças sociais em curso,
principalmente a partir da globalização.
No campo educacional, tais mudanças se verificam quando observamos que, em
determinados contextos, apesar de alguns esforços no sentido da reprodução de um modelo
educacional baseado no “repasse de conteúdos”, onde alunos não teriam qualquer agência,
percebemos um desgaste dessa metodologia educacional que, por sua vez, dá lugar e uma
maior abertura para uma consciência crítica por parte dos alunos que, além de contribuir com
o processo educacional, buscam a todo momento transformá-lo, por exemplo, questionando o
lugar da ciência frente aos outros saberes que apesar de importantes, há tantos anos a ciência
vinha “sufocando”.
REFERÊNCIAS