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Trabalho de Direito Processual

Penal

ANA PAULA MARTINS

BÁRBARA PORTO

JAIRO DINIZ

KARINE CABRAL

MARIA DAS GRAÇAS FIALHO

Belo Horizonte

2015
Crimes contra a dignidade sexual

Segundo Nucci (2008, p.45) os crimes relacionados a agressão


sexual são o estupro e o estupro de vulnerável (arts. 213 e 217-A do CP),
ou de conotação sexual, como a violação sexual mediante fraude (art. 215
do CP) e o assédio sexual (art. 216-A do CP), dentre outros. Em relação a
tais crimes, o art. 225 do Código Penal prevê que a ação será pública
condicionada, salvo se a vítima for pessoa vulnerável (menor de 14 anos,
doente mental ou pessoa que não possa por outra causa oferecer
resistência), ou se for menor de 18 anos, hipótese em que a ação é
incondicionada. A última ressalva, relacionada à pessoa menor de 18 anos,
tem aplicação aos crimes de estupro qualificado — por ser a vítima maior de
14 e menor de 18 anos (art. 213, § 1º, do CP) — e aos crimes de violação
sexual mediante fraude e assédio sexual na mesma hipótese.
É possível estabelecer que houve uma discussão pelo fato de o art.
225 do Código Penal, que afirma que a redação dada pela Lei n.
12.015/2009, não ter feito exceção aos crimes de estupro qualificados pela
morte e pela provocação de lesão grave. Assim, uma primeira forma de
interpretar é simplesmente entender que houve grave equívoco do
legislador que deve ser ignorado, na medida em que não é aceitável que a
lei deixe nas mãos de terceiros (cônjuge, companheiro, ascendente,
descendente ou irmão) decidir, em caso de morte da vítima, se o agente
será ou não punido. Ademais, se o art. 225, § 1º, do CP prevê que a ação é
incondicionada no caso de estupro qualificado por ser a vítima menor de 18
anos, é razoável interpretar que houve mera omissão involuntária do
legislador em não mencionar a mesma regra em
relação às demais formas de estupro qualificado, falha que pode ser suprida
pelo uso da analogia.
Uma segunda solução foi alvitrada pela Procuradoria-Geral da
República que, em setembro de 2009, ingressou com Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADIN n. 4.301), a fim de que o Supremo Tribunal
Federal declare que a previsão legal da necessidade de representação no
estupro qualificado pela lesão grave ou morte fere os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade, devendo o art. 225, caput, do Código
Penal ser declarado inconstitucional quanto a este aspecto, mantido seu
alcance em relação aos demais crimes sexuais, inclusive o estupro simples.
Nesta ação, a Procuradoria sustenta que, como o art. 225 é especial e
posterior ao art. 101 do Código Penal (que trata da ação penal nos crimes
complexos), não se pode simplesmente fazer uso deste último dispositivo
para afastar a nova regra. Daí por que pleiteiam a declaração da
inconstitucionalidade (parcial) do art. 225.
Existe, por fim, quem defenda que a solução deva ser baseada
justamente no art. 101 do Código Penal, segundo o qual, por ser o estupro
qualificado um crime complexo do qual um delito de ação pública é parte
integrante (a morte), então, sem a necessidade de declaração de
inconstitucionalidade, pode-se concluir que a ação é pública incondicionada.
Essa orientação confere à regra do art. 101 do Código Penal força similar à
das normas constitucionais, pois não se abalaria diante de leis novas e
especiais que tragam dispositivos em sentido contrário. Então, nota-se
haver consenso em torno da impossibilidade de ser condicionada à
representação o desencadeamento de ação penal no crime de estupro
qualificado, divergindo a doutrina somente quanto aos argumentos.
REFERÊNCIAS

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5.


ed – São Paulo:  Editora Revista dos Tribunais, 2008.

Ação penal nos crimes contra honra (calúnia, difamação e


injúria)

O art. 145 do Código Penal estabelece as modalidades de ação penal


para a apuração dos crimes contra honra:
Art. 145 — Nos crimes previstos nesse Capítulo somente se
procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, §
2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único — Procede-se mediante requisição do Ministro
da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste
Código, e mediante representação do ofendido, no caso do
inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art.
140 deste Código.
Para Nucci (2008, p.53), a regra é a de que a ação penal é privada,
devendo ser proposta por meio de queixa-crime, nos crimes de calúnia,
difamação e injúria. A queixa deve ser proposta dentro do prazo
decadencial de 6 meses, contados da data em que o ofendido descobre a
autoria do delito, sendo certo que, na procuração outorgada para a
propositura da ação penal, deve constar expressamente o nome do
querelado, bem como menção específica ao fato criminoso, nos termos do
art. 44 do Código de Processo Penal. As exceções, por sua vez, são as
seguintes:
a) Se a ofensa for contra o Presidente da República ou chefe de governo
estrangeiro, a ação é pública condicionada à requisição do Ministro da
Justiça (art. 145, parágrafo único, do CP).
b) Se a ofensa for contra funcionário público em razão de suas funções, a
ação é pública condicionada à representação. Contudo, que essa hipótese,
expressamente prevista no art. 145, parágrafo único do Código Penal,
sofreu interpretação diferenciada por parte do Supremo Tribunal Federal., o
Supremo aprovou a Súmula n. 714, segundo a qual “é concorrente a
legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções”.
Verifica-se que o fundamento da súmula é que o Código Penal
estabeleceu a ação pública condicionada apenas para o servidor não ter
que arcar com as despesas de contratação de advogado para promovê-la
(já que a ofensa é relacionada ao desempenho de suas funções), porém
pode ele abrir mão da prerrogativa e ingressar com a ação privada. É de se
ressaltar, todavia, que uma opção exclui a outra. Se o funcionário oferecer
representação ao Ministério Público, mas o representante desta instituição
requerer o arquivamento do inquérito e o pedido for deferido judicialmente,
não mais poderá o servidor intentar queixa-crime. Por sua vez, optando o
funcionário pela ação penal privada, passam a ser possíveis institutos como
a perempção em caso de desídia, que inexiste quando a ação é pública.
c) Em caso de crime de injúria racial ou preconceituosa, a ação penal é
pública condicionada à representação. O crime em tela ocorre quando o
ofensor faz uso de elementos referentes à raça, cor, religião, etnia ou
origem da vítima, ou à sua condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência.
d) No crime de injúria real do qual resulta lesão corporal como consequência
da violência empregada, a ação é pública incondicionada. A finalidade da lei
é estabelecer a mesma espécie de ação penal para os dois delitos: injúria
real e lesões corporais. Por isso, após a entrada em vigor da Lei n.
9.099/95, que passou a exigir representação em caso de lesão leve, deve
ser feita a seguinte distinção: se a injúria real provocar lesão leve, ambos os
delitos dependem de representação do ofendido; se causar lesão grave ou
gravíssima, a ação penal é incondicionada.
REFERÊNCIAS

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5.


ed – São Paulo:  Editora Revista dos Tribunais, 2008.

Agentes Públicos e crimes contra a eles realizados

Segundo Pietro (2009; p.23) agentes públicos são todas as pessoas


físicas incumbidas de exercer alguma função estatal, definitiva ou
transitoriamente. Os agentes, desde então, desempenham as funções dos
órgãos a que estão vinculados. • os cargos e as funções são independentes
dos agentes. Os agentes públicos podem ser: políticos, administrativos,
honoríficos e delegados.

Logo, o crime de desacato está presente no artigo 331 do Código Penal


que diz:  Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em
razão dela:  Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

Portanto, para que o delito se configure, há a necessidade de o agente


"desacatar" funcionário público e, além do mais, que ele esteja no exercício de
sua função ou haja o desacato em razão dela. Como o tipo exige, no artigo 331
do CP, que o desacatado seja a funcionário público, há que se o definir.
Observa-se pelo conceito que vem do Vocabulário Jurídico, de Plácido e Silva,
Ed. Forense, 3º ed., pág. 331:    "Já assim se diz, no sentido da lei brasileira,
para a pessoa que está legalmente investida em cargo público. E, desse modo,
toda pessoa que exerce cargo criado por lei, em número certo e denominação
própria, remunerado pelos cofres públicos".

É possível pensar que, aludido a esse conceito, que quanto a ordem de


funções ou de atribuições que possam distinguir o cargo. Importará,
simplesmente, que seja cargo criado por lei, com especificação definida nesta,
e cuja remuneração provenha dos cofres do Estado. A qualidade do funcionário
público não assenta, pois, como já se fazia princípio doutrinário, no
desempenho de função pública, mas no caráter de ocupar cargo permanente,
definido em lei e remunerado pelo Estado. Os funcionários públicos estão sob
regime especial, que se define e se estrutura pelos Estatutos dos Funcionários
Públicos. Logo, a ação penal nos crimes contra a honra de funcionário público
É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do MP,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal nos crimes
contra a honra do servidor público em razão do exercício de suas funções.

REFERÊNCIAS

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 22. ed. São Paulo:
Saraiva. 2009

Injúria qualificada racial.

O crime de injúria racial é apresentado no art. 140, §3º do Código Penal


Brasileiro. Podemos encontrar no Dicionário Michaelis de língua portuguesa a seguinte
definição quanto ao termo “injuriar”:

injuriar
in.ju.ri.ar
(lat injuriare) vtd 1 Fazer injúria a; insultar, ofender. Vtd 2
Desacreditar, desonrar, vexar: Injuriou a memória dos
antepassados. Injuriou-a com alusões boçais. Vpr 3
Dedignar-se, ter como desdouro: O funcionário injuriava-se
de usar aquela farda. Vtd 4 Causar dano ou estrago: O
temporal injuriou tapumes e barracões.
A injúria racial, consiste em atingir a dignidade ou decoro de alguém
usando de elementos referentes a sua raça, cor, etnia, religião ou origem.
Atualmente, há que se notar uma confusão recorrente em relação ao emprego
correto dos termos injúria racial e racismo na tipificação da conduta.

No entanto, Guilherme de Souza Nucci (Código Penal


Comentado. São Paulo: RT, 2008, p. 669) não vislumbra
qualquer diferença substancial entre os dois crimes, pois
considera que a Lei nº7.716/89 não exaure todos os tipos de
crime resultantes de preconceitos raciais, o que enseja o
enquadramento da injúria racial, com o advento da Lei nº
9.459/97, no cenário jurídico do crime de racismo, sendo, por
conseguinte, segundo o referido jurista, também imprescritível,
inafiançável e sujeita à pena de reclusão, embora para outros
intérpretes e aplicadores do direito, diante dos postulados
principiológicos que devem ser corolários do Direito Penal
Constitucional, difícil admitir tal interpretação analógica.
(CAMARGO, Daniel Marques. 2014)
Percebe-se que a injúria é pouco ou quase nada popularmente utilizada
perante uma situação que a caracteriza. Um caso clássico ocorreu no episódio
no qual torcedores do Grêmio chamaram o goleiro do time adversário, homem
negro, de termos como “macaco”, durante a partida. O Ministério Público
denunciou ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul tipificando a
conduta como injúria racial e à época aplicou algumas sanções como
impedimento dos acusados de frequentar o estádio.

Demonstra-se que para injuriar alguém, é necessário o ânimo do ofensor


em achar erro na raça, cor, etnia, religião ou origem do ofendido a ponto de
ofender-lhe a honra subjetiva, vexar, atingir-lhe a dignidade ou decoro
utilizando de distorções mal intencionadas de tais características. Isso se
diferencia, por fim, a acusação de injúria racial é permite que se extingua com o
pagamento de fiança e a pena não ultrapassará 8 anos. Injúria racial permite
fiança e tem pena de no máximo oito anos, embora geralmente não passe dos
três anos.

Quanto ao racismo, assim como na maioria dos crimes, deve-se fazer as


ressalvas pertinentes. Assim, o advento da Lei 7.716/89 que dispões sobre os
crimes referentes ao preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional, em nenhum artigo é possível se encontrar o termo “racismo”, logo, é
possível notar que o termo citado é resultado de uma construção e traduz o
que se explica a seguir:

O racismo traduz a aversão a raça, cor, etnia, religião ou procedência


nacional através de determinadas atitudes como por exemplo: Art. 3º Impedir
ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da
Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços
públicos. Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial,
negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. No fim,
demonstra que condutas racistas são geralmente crimes mais amplos, dirigidos
a grupos ou coletividades, são crimes inafiançáveis e imprescritíveis.

REFERÊNCIAS

Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4187/Injuria-racial.


Acesso em 28 set. 2015

Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/79571-conheca-a-diferenca-


entre-racismo-e-injuria-racial. Acesso em 27 set. 2015

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7716.htm Acesso em


27 set. 2015

Disponível em: http://racismo-no-brasil.info/lei-e-penalidade.html Acesso em 27


set. 2015.

Lesões corporais leves e culposas na Lei Maria da Penha.

A Lei conhecida como Maria da Penha (n. 11.340/2006) alterou a


pena do crime de lesão corporal de natureza leve qualificada pela violência
doméstica. Atualmente a redação do dispositivo é a seguinte:
Art. 129, § 9º — Se a lesão for praticada contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade: Pena — Detenção, de 3 meses a 3 anos.
Note-se que este crime, cuja vítima pode ser homem ou mulher,
passou a ter pena máxima de 3 anos, deixando, assim, de se enquadrar no
conceito de infração de menor potencial ofensivo e passando à competência
do Juízo Comum ou dos Juizados de Violência Doméstica (se a vítima for
mulher). De qualquer forma, em razão da pena máxima atualmente prevista,
não mais se aplicam a tal crime os institutos despenalizadores da Lei n.
9.099/95 (transação penal, composição civil), nem o rito sumaríssimo e
tampouco a possibilidade de julgamento dos recursos por Turmas
Recursais. Por conta disso, surgiu dúvida em torno na natureza da ação
penal para apurar esse tipo de lesão leve — qualificada pela violência
doméstica —, posto que o dispositivo que estabelece a ação pública
condicionada encontra-se justamente na Lei n. 9.099/95 (art. 88). Ocorre,
por outro lado, que o art. 16 da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) diz
que, “nas ações públicas condicionadas à representação da ofendida de
que trata esta Lei, só se admitirá a renúncia à representação perante o juiz,
em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do
recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público”, estabelecendo,
portanto, que a ação continua condicionada.
Acerca da problematização causada pela falta de entendimento
consolidado dos Tribunais Superiores em relação à condição da representação
nas lesões corporais leves e culposas, passa-se a dissertar agora sobre alguns
pontos relevantes. A primeira se diz sobre a conduta da representação, que é
questionada se comparados os artigos 16 e 41 da referida Lei, pelo que
dispões de forma distinta, sendo:

“Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à


representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público”.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista,
não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Assim, surgiu-se o questionamento: deve-se aceitar a retratação da


vítima perante o Juiz e assim seguir o rito da Lei 9.099/05 e assim aceitar a
ação pública CONDICIONADA ou deve-se ler apenas o art. 41 e tratar como
ação pública INCONDICIONADA afastando o disposto na Lei 9.099/05. É
importante deixar claro o dispositivo da Lei 9.099/95, artigo 88 que é trabalhado
na discussão:

Art. 88: “Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial,


dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões
corporais leves e lesões culposas”. A partir daí, duas correntes doutrinárias
são formadas para responder tal questão:

Artigo 16. Ação Penal Pública CONDICIONADA.

“Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à


representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.”
Primeiramente, é valido o questionamento sobre o termo “renúncia”,
empregado no artigo, sendo por alguns autores tratado como retratação.
Assim, Marcelo Lessa Bastos diz: “Onde se lê, no art. 16, “renúncia”, leia-se
“retratação” (BASTOS, 2006, p. 08).

Para Amico (2007, p.19) explica que a Lei em renúncia à representação


quando, na realidade, deveria constar retratação à representação, uma vez que
renúncia somente poderia ocorrer antes do exercício do direito de
representação”. Logo, o fundamento sobre o questionamento dos termos vem
do conceito dado a renúncia, como diz Luis Flávio Gomes e Alice Bianchini:
“Trata-se de ato unilateral que ocorre antes do oferecimento da representação”
(GOMES; BIANCHINI, 2006, p. web), não há que se falar em “renúncia”, mas
sim “retratação”. Logo, não há que se falar em renúncia, uma vez que o ato foi
exercido de acordo com o art. 12 da referida Lei e sim, em retratação.

“Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar


contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a
autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de
Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de
ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada”.

Feita tal observação, passa-se a analisar os efeitos penais e sociais da


representação condicionada de crimes de lesoes corporais leves na Lei Maria
da Penha. O artigo 16 e a sua companhia ideologia a lei dos juizados especiais
se contradizem ao art 41 e causam grande confusão quanto a vertente ideal a
ser seguida. Para consolidar o assunto, os defensores da corrente da qual se
trata nesses parágrafos, dizem que basta a literalidade do artigo para que a
discussão seja encerrada. A vontade de retratação da vítima arquivaria o
processo que, obviamente, chegaria ao seu final. Nesse sentido, Maria
Berenice Dias, escreve:

“Não foi outra a intenção do legislador. A Lei Maria da Penha


faz referência à representação e admite a renúncia à
representação. Tanto persiste a necessidade de a vítima
representar contra o agressor que sua manifestação de
vontade é tomada a termo quando do registro da ocorrência. A
autoridade policial, ao proceder o registro da ocorrência, ouve a
ofendida, lavra o boletim de ocorrência e toma a representação
a termo (art. 12, I). Ou seja, a ação depende mesmo de
representação. De outro lado, é admitida, antes do recebimento
da denúncia, a “renúncia à representação”, que só pode ser
manifestada perante o juiz em audiência e com a participação
do Ministério Público. Não teria sentido o art. 16 da Lei Maria
da Penha falar em renúncia à representação, se a ação penal
fosse pública incondicionada”. (DIAS, 2007, p. 120).

Pensar em condicionamento em relação a representação nos casos de


lesões leves, é humanizar o judiciário a ponto de se respeitar a vontade da
vítima e o seu discernimento. Essa discussão tem se perdurados nos Tribunais
Superiores a ponto de se criar um projeto de Lei dotado de numero 4.559/04
que de forma cristalina encerra tal discussão. Diz o referido Projeto de Lei, em
seu artigo 30: “Nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, a
ação penal será pública condicionada à representação”. Porém, no Senado a
taxatividade foi afastada no Senado, ou seja, excluiu-se a expressão “ação
pública condicionada à representação”

Artigo 41. Ação Penal Pública INCONDICIONADA.


A principal característica desse artigo é o afastamento da competência
dos Juizados Especiais nos casos de representação de lesões corporais leves.
Assim, diz o art.41 “Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995”. O principal argumento da doutrina é de
que não há potencialidade na Lei Maria da Pena, ou seja, não podemos tratar
tais condutas que lesionam de forma dele, com institutos penalizadores.

Explica explica Maria Berenice Dias:

“Assim, a tendência de boa parte da doutrina é reconhecer que,


em sede de violência doméstica, não cabe falar em delito de
menor potencial ofensivo. A lesão corporal desencadearia ação
penal pública incondicionada, não havendo espaço para
acordo, renúncia à representação, transação, composição de
danos ou suspensão do processo”. (DIAS, 2007, p. 71).
Outro argumento que reforça a ideia de que as leves corporais leves no
âmbito familiar devem ser tratadas como ação penal pública incondicionada, é
o de que a condicionante para a representação já existe para alguns casos,
como exemplo o crime de ameaça previsto no art. 147 do Código Penal e
portanto não poderíamos de forma arbitral, abarcar demais casos.

Cita-se o entendimento da Promotora de Justiça da Comarca de


Guaíba/RS, Dra. Andréa de Almeira Machado:

“No momento em que o fato da violência doméstica envolve


toda a sociedade, a ação é pública. Se o casal quiser ser amigo
depois, tudo bem. Mas aquele fato praticado é público. O custo
com a violência doméstica é responsável por 14,2% do PIB
brasileiro. A mulher não vai trabalhar no outro dia porque fica
com o rosto todo inchado, utiliza o SUS, tratamento psicológico,
provocando um custo muito maior do que se imagina. Esse
percentual, que é dado do Banco Mundial, é muito maior do
que todo o orçamento do Estado do Rio Grande do Sul. No
meu entendimento, sabendo do propósito da Lei, me parece
impossível que a Lei seja pública condicionada à
representação, além de ser contra a própria a Lei, porque na
Lei está dizendo que a Lei é pública incondicionada. No
entanto, nós vemos construções doutrinárias e jurisprudencial
absurdas, dizendo que a ação deve ser pública condicionada à
representação, porque entendem que esses crimes de
violência doméstica não são tão importantes. A Lei Maria da
Penha é clara em afastar a Lei 9.099/95. Com a Lei Maria da
Penha o crime de lesões corporais leves, por exemplo, deixa
de ser considerado de menor potencial ofensivo e passa a ser
crime de natureza grave”.
O fato de já ser expressa os casos possíveis de retratação da vítima se
torna o mais forte argumento de quem defende tal corrente. Assim, podemos
concluir que prezam por uma coerência sistematizada/imposta e a
maleabilidade dos casos e sua humanização, não são levados em conta. A
mulher que sofre qualquer tipo de lesão no âmbito doméstico, caso fosse
simples a trajetória, já teria se livrado dos males que sofre. O sistema que
estaria para “”defendê-la” a contraria também, forçando-a a continuar algo que
provavelmente, será dolorido.

REFERÊNCIAS

Disponível em: http://ambito-juridico.com.br/site/?


artigo_id=9554&n_link=revista_artigos_leitura Acesso em 27 set. 2015

AÇÃO POPULAR PENAL

Segundo Batista (2009; p.12), A ação penal popular é um instituto


existente no ordenamento jurídico espanhol e anglo-americano e,
historicamente, entende-se como o direito de qualquer pessoa do povo
denunciar crime visando punição do autor do delito. Então, parte da doutrina
pátria compreende a existência de uma terceira espécie de ação penal, fruto da
Lei 1.079/50 (que define os crimes de responsabilidade), art. 14: ”Art. 14. É
permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República ou Ministro
de Estado, por crime de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados”.

Assim, pode-se verificar que o nascimento da ação penal popular se deu


no direito espanhol e anglo-americano, dificilmente visto no ordenamento
nacional. É vista, na maior parte dos doutrinadores, como um direito que
qualquer do povo pode exercer denunciando crime visando punição do autor do
delito. Logo, verifica-se que o exercício deste direito pode ser perpetrado
por Habeas Corpus . Ocorre que, majoritariamente, essa posição é rechaçada,
já que o remédio de Habeas Corpus tem cunho libertário e não penal
(condenatório) e a faculdade referida tem por natureza ser notitia criminis.

Ao estudar a doutrina de direito penal, pode-se analisar a existência de


uma terceira espécie de ação penal, a ação penal popular. É o que preleciona
Nucci (2008, p.27)
(...) existem três tipos de ação penal em nosso sistema
processual: a ação penal pública; a ação penal privada e a
ação penal popular. A primeira, indicada no art. 129, I da
Constituição Federal, é regulada pelo art. 100, parágrafo 1º. do
CP e art. 24 e seguintes do Código de Processo Penal. A
segunda é referida no art. 100, parágrafos 2º a 4º do CP e 30 e
seguintes do CPP. E a terceira, é prevista na Lei 1.079 de
10.4.1950, que define os crimes de responsabilidade e cuida
do respectivo processo e julgamento. O art. 14 desse diploma
estabelece que é permitido a qualquer cidadão denunciar o
Presidente da República ou ministros de Estado, por crimes de
responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados. Este tipo
de ação foi recepcionado pela Constituição de 1988, que
dispõe sobre os crimes de responsabilidade do Presidente da
República (arts. 85 e 86). A corrente doutrinária que admite a
ação penal popular no direito brasileiro baseia-se na Lei
1.079/50, cujo artigo 14, trata da denúncia levada a efeito por
qualquer cidadão. (NUCCI, 2008; p.13).

Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços


da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o
Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado
Federal, nos crimes de responsabilidade”. Do que foi dito, conclui-se não ser
possível em nosso direito a ação penal popular, mormente no seu sentido
histórico, além de não ter sido recepcionado pela nova ordem constitucional o
artigo 14 da Lei 1.079/50, entendido em seus termos como forma de denúncia
propriamente dita e sim, espécie de notitia criminis.

  A legislação nacional contempla a ação penal pública, seja ela


condicionada e incondicionada, além da ação penal privada. Uma parcela
considerável da doutrina defende a existência de uma outra espécie de ação
penal: a popular. Para os estudiosos do Direito, existem três tipos de ação
penal no sistema processual: a ação penal pública, a ação penal privada e a
ação penal popular. A primeira, indicada no artigo 129, I da Constituição
Federal, é regulada pelo artigo 100, parágrafo 1º. do Código Penal e artigo 24 e
seguintes do Código de Processo Penal. A segunda é descrita no artigo 100,
parágrafos 2º a 4º do Código Penal e do 30 em diante Código de Processo
Penal. A última está prevista na Lei 1.079 de 10.4.1950. Ela define os crimes
de responsabilidade e cuida do respectivo processo e julgamento.  Os crimes
de responsabilidade são atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra: a existência da União, o livre
exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos
Poderes constitucionais das unidades da Federação, o exercício dos direitos
políticos, individuais e sociais, a segurança interna do País, a probidade na
administração, a lei orçamentária e o cumprimento das leis e das decisões
judiciais.

A autoridade atribuída pela Lei 1.079/50, a qualquer cidadão dar início a


ação penal nos crimes de responsabilidade do Presidente da República, o
termo “denúncia” deve ser interpretado como tendo natureza jurídica de direito
a delatio criminis, mesmo porque, não é condição de procedibilidade da ação
penal a ser movida pela Câmara do Deputados, conforme se depreende da
leitura do artigo 51 da Carta Magna: Compete privativamente à Câmara dos
Deputados: autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de
processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros
de Estado. A palavra em questão necessita ser entendida como letra morta no
sentido da edição da lei, já que foi aplicada em situações no passado, não mais
encontrando espaço a se adequar às regras e princípios constitucionais, de
onde se depreende que a titularidade da ação penal pertence ao Ministério
Público e ao ofendido, nos casos expressamente previstos em lei. De tudo o
que foi escrito, conclui-se quenão é possível no direito penal a ação penal
popular porque não foi recepcionado pela nova ordem constitucional o artigo 14
da Lei 1079/50, onde está escrito e deve ser entendido em seus termos como
forma de denúncia propriamente dita e sim, devendo ser entendido como
espécie de notitia criminis. Ainda que parte considerável da doutrina entenda
tratar-se de ação penal popular, existe mais um motivo para negar esta
natureza jurídica,

REFERÊNCIAS

BATISTA, Liduina Araujo. A ação penal popular no ordenamento jurídico


brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 2123, 24 abr. 2009. Disponível
em: Acesso em: 27 set. 2015.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil – Subchefia para Assuntos


Jurídicos. Lei 1.079 de 10 de abril de 1950. Define os crimes de
responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento.
DONIZETTI, Elpídio. Para passar em concursos públicos. 4ª. ed – Rio de
Janeiro : Editora Lumens, 2008.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5.


ed – São Paulo:  Editora Revista dos Tribunais, 2008.

VADE MECUM – 6. Ed – São Paulo: Saraiva, 2009.

AÇÃO PENAL EX OFFICIO

Segundo Távora (2015, p:51), a Ação penal ex-officio era o processo


judicial uniforme, ação iniciada sem provocação da parte. O único exemplo é o
"habeas corpus" de ofício, art. 654, §2º, CPP.  Ação penal se dirime em:

Ação privada: não mais existe, a não ser que ocorra inércia do MP, quando
então terá cabimento a ação privada subsidiária da pública.

Ação pública condicionada à representação: é a regra geral, mesmo


quando ocasionem lesão corporal grave e morte, art. 225, CP.

Ação pública incondicionada: quando a vítima é menor de 18 anos ou


pessoa vulnerável. Atenção! pessoa vulnerável: i) menor de 14 anos; ii)
portadores de enfermidade ou doença mental; iii) aqueles que não podem
oferecer resistência.

Ação penal nos crimes contra a honra de funcionário público: É


concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do MP,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal nos crimes
contra a honra do servidor público em razão do exercício de suas funções. 
Entende-se que de acordo com o disposto no art. 26 do CPP, a ação penal
poderá ser iniciada, nas contravenções penais, com o auto de prisão em
flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.
Trata-se do chamado procedimento judicialiforme (ou ação penal ex officio),
hipótese em que o juiz ou o delegado estariam autorizados a instaurar, DE
OFÍCIO, a ação penal, independentemente de provocação do MP.

Portanto, obviamente, tal dispositivo é absolutamente incompatível com


nova ordem constitucional, em que há clara separação entre as funções de
acusar, defender e julgar (adoção do sistema acusatório), competindo
PRIVATIVAMENTE, ao MP promover ação penal pública pública (P. da
oficialidade, art. 129). Desse modo, é evidente que o art. 26 do CPP NÃO FOI
RECEPCIONADO pela CF/88, não havendo, portanto, que se falar, na
sistemática processual penal atual, em procedimento judicial e uniforme.

REFERÊNCIAS
TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 8. Ed. Salvador: Jus
Podivm, 2014.
Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7428/Da-confissao-
no-direito-processual-penal. Acesso em 28 set. 2015
Disponível em: http://jus.com.br/artigos/5224/o-processo-penal-como-
instrumento-de-democracia#ixzz3mcNRHoQH. Acesso em 28 set. 2015

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