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Estudos
Contemporâneos
em Jornalismo
Coletânea
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Reitor
Edward Madureira Brasil
Vice-reitora
Sandramara Matias Chaves
[ ORGANIZADORES ]
Estudos Contemporâneos
em Jornalismo
COLETÂNEA 8
CEGRAF UFG
2020
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Título: Estudos Contemporâneos em Jornalismo - Coletânea 8 [Ebook]
Organizadores: Juarez Ferraz de Maia, Rosana Maria Ribeiro Borges,
Salvio Juliano Peixoto Farias
Luca Bussotti
Introdução
< Sumário 31
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Enquadramento teórico
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Os três casos aqui analisados têm a ver com três cidadãos italianos
que foram raptados fora do país (dois em África e um no Oriente Médio,
nomeadamente na Síria) e com a cobertura que de tais casos fizeram
quatro jornais diários, representativos de tendências culturais e políticas
diferentes. Os casos são o de Luca Tacchetto, jovem de cerca de 30 anos
que, juntamente com a sua companheira canadiana, Edith Blais, se
tinha aventurado numa viagem de carro da Itália até o Togo, onde -
na qualidade de arquiteto – devia ajudar um amigo a construir uma
aldeia. Luca é filho do ex-prefeito de uma cidade da província de Pádua
(Vigonza), e foi raptado no Burkina Faso nos primeiros dias de 2019 e
conseguiu se soltar sozinho, fugindo aos sequestradores, mediante um
estratagema sua, em março de 2020. O segundo caso analisado é sobre
o sequestro de Sergio Zanotti, empresário de Brescia (cidade perto
de Milão, na Lombardia) raptado na Síria em 2016 numa misteriosa
missão empresarial, supostamente à procura de um dinheiro que teria
servido para pagar algumas dívidas atrasadas, e liberado em Abril
de 2019. Finalmente, o caso de Silvia Romano, cooperante para uma
ONG italiana num orfanato no Quénia, raptada em 2018 e liberada em
território somali em maio de 2020, depois de um resgate provavelmente
de 4 milhões de dólares. Silvia Romano faz a sua viagem de volta e se faz
fotografar com um burqa verde somali, tornando explícito, ao longo do
seu cativeiro, o fato de ela se ter convertido ao Islão.
Os jornais de que foi analisada a cobertura destes três casos foram: Il
Corriere dela Sera, o diário mais antigo e mais difuso na Itália, publicado
na cidade de Milão, expressão da burguesia iluminada lombarda e com
um posicionamento político sempre equilibrado, embora, nos últimos
tempos, tendente a privilegiar uma área política moderadamente
progressista. Il Fatto quotidiano, um jornal relativamente recente, cujo
diretor é Marco Travaglio, que expressa uma linha editorial democrática,
próxima ao movimento 5 Estrelas (atualmente na coalizão governativa),
com um jornalismo investigativo muito forte e contundente em relação
à vida pública italiana, às várias máfias e à corrupção da elite política.
Avvenire, jornal de inspiração católica publicado em Roma, expressão
das posições da Conferência Episcopal Italiana, e muito atento ao que
acontece fora do país e às instâncias de religiosos e laicos em termos de
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por um lado, uma crítica feroz à ONG África Mielele de que a jovem fazia
parte. Testemunhas diretas (no caso um empresário italiano de sucesso
que vive há muito tempo no Quénia, o sr. Ranieri) indicam o desperdiço
de dinheiro de vários projetos no Quénia por parte da cooperação italiana,
assim como o escasso profissionalismo da África Mielele. Por outro lado,
o fato de Silvia ter supostamente descoberto e querer denunciar casos de
abusos sexuais às crianças do orfanato e da aldeia onde trabalhava, por
parte de um padre ou um pastor (Silvia Romano, Le Iene: “Denuncia
per pedofilia 9 giorni prima del rapimento”. Cosa è accaduto davvero
in Kenya?, edição de 19 de Maio de 2020), teria deixado cair a rede de
segurança de que gozava desde a sua chegada no Quénia, permitindo que
o sequestro acontecesse sem nenhuma forma de proteção.
Esta segunda fase da cobertura do caso de Silvia Romano por parte
do Libero, portanto, está muito mais focada no papel da ONG África
Mielele e da sua diretora e em todo o enredo misterioso a volta do
sequestro da jovem, ao invés da conversão ao Islão da mesma, como
tinha sido na primeira fase. Uma escolha editorial, esta, que visa
construir um teorema baseado em escândalos (financeiros, sexuais,
etc.) relacionados com o sequestro da Romano, de grande impacto na
opinião pública e que permitem ao jornal de “alongar a vida” a um caso
que, se confinado ao debate descrito acima sobre a conversão da jovem
cooperante, já teria esgotado todo o seu potencial comercial.
O jornal católico Avvenire se destaca por ter feito uma cobertura
muito profissional e pormenorizada dos três casos, embora com uma
evidente diferenciação entre eles. Para o caso de Sergio Zanotti, o jornal
resolve não aprofundar os detalhes do rapto e da soltura, limitando-
se a reportar informações das diversas agências de informação. Mais
uma vez não se pode evidenciar como a personalidade da vítima e as
razões da sua viagem tenham desempenhado um papel não muito
favorável para que o comprometimento do Avvenire fosse além da
simples descrição dos fatos. Para o caso de Luca Tacchetto o cenário
já é diferente. O jornal insiste muito – único entre os aqui analisados –
no compromisso humanitário dele, em vários artigos, desde o início do
sequestro. Por exemplo, num dos dois artigos escritos sobre o caso pelo
correspondente do Avvenire em Lomé (Togo), Matteo Fraschini Koffi, a
4 de janeiro de 2019, quando ainda ninguém sabia que o jovem arquiteto
tinha sido raptado, o jornal reporta uma entrevista com o pai do Luca, o
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Conclusões
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Bibliografia
Ludovisi, D. (2020). Dopo Silvia Romano, chi sono gli italiani ancora da
liberare? Disponível em: https://www.wired.it, 14-05-2020.
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