A vida é, propriamente dita, uma busca incessante da vontade. Podemos provar
isso, pois ela é uma verdade paradoxal, onde não conseguimos refuta-lá, sem confirmá-la. Assim sendo, sempre iremos ter vontades, seja elas qual forem. Partindo disso, muitos tentaram conceituar essa tal vontade. Pelo contrário do que afirmou Schopenhauer: que a vontade seria algo fora da razão, e logo, seria uma busca instintiva provida de desejos, esses realizados, levam-nos ao tédio, e por conseguinte, à outros desejos; isto, justamente pelo sentimento de esperança - sem contar a parte metafísica da vontade, claro. Todavia, como mostrou Kant, a vontade pode ser racionalizada, onde seres heterônimos (aqueles que agem pelo instinto, não são seus próprios autores), podem tornar-se autônomos (seres que agem pela razão, e tornam-se seus próprios autores). Além disso, Espinosa, um racionalista, já usou o termo "vontade de agir" como uma vontade racional. E este é o ponto essencial da vida. Uma vontade de agir, gera um aumento na produção de uma pessoa. E esta produção, sempre estará ligada à perpetuação da espécie. Logo, uma vontade que está ligada à vida, à perpetuação da sua própria vida. No entanto, como iremos perpetuar nossa vida? Este foi um questionamento feito por Hobbes, onde este estava convicto que: Diante de seres diferentes, e cada um querendo sua própria perpetuação, irá gerar conflito. Assim, proferindo ele: "O homem é o lobo do homem." A partir dessas diferenças, será muito difícil conseguirmos uma vontade que faça com que vivemos. Está vontade, por si só, é algo bom; o sentimento da vontade de agir é como se, naquele momento em que estamos sentido essa vivência, queremos que ele não acabasse mais. Deste modo, cada um terá seu momento, cada um terá seu ofício com que chegue à vontade de agir. E como encontrar esse ofício? Justamente pela sabedoria. A sabedoria é essencialmente, descobrir aquele ofício com que você conheça os melhores meios para chegar à tal fim - como afirma São Tomás de Aquino. Além de descobrir esse ofício, na teoria de Hobbes sobre os corpos e as paixões, ele exemplifica que o bem é aquilo que gostamos, que achamos prazeroso, etc... E o mal seria aquilo com que sentimos aversão, não gostamos, etc... Em vez de buscarmos empiricamente essas tais coisas, iremos buscar no conhecimento, na sabedoria, aquilo com que sentimos bem - e logo, aquilo que gostamos. Este sentimento irá gerar a vontade de agir, que esta irá propiciar a vontade de viver - a própria vida. Portanto, a partir do conhecimento, conseguimos adquirir, além do ofício com que nos sentimos bem, a vontade de viver. Nós iremos, a partir dos ensinamentos do passado, dos erros do passado, e dos acontecimentos, tornar o presente um lugar melhor. E a partir do futuro, iremos propiciar uma vontade de viver o agora, pois iremos imaginar um futuro onde queremos que algo se realize, etc; e para este se realizar, é necessário começar no agora, logo mais vivência no agora. Como afirmou de forma bela Montaigne: "O temor, o desejo, a esperança nos puxam para o futuro e nos furtam o sentimento e a consideração por aquilo que é, para nos divertirmos com o que será, inclusive quando não existirmos mais." Nesse ponto, ele defende um desejo - uma vontade de agir - um temor, e a esperança para darmos valor e nos divertirmos com o que é agora. Além de mencionar o caso da morte: para fazermos algo no agora, pois no futuro iremos morrer - e isso pode ocorrer à qualquer momento. Sendo assim, a sabedoria torna-se essencial, e logo propiciará uma vontade de viver. Por conseguinte, nem sempre a doutrina do agora, defendida muitas vezes por Nietzsche ou Schopenhauer, são boas. Nesse contexto, a vida é essencialmente uma busca, provida de vontades, para um sentimento de vivência; e não somente existência. A partir disso, a sabedoria torna-se primordial. – Cauan Elias – Detalhe da obra: "A Primavera", também conhecido como "Alegoria da Primavera", é um quadro do pintor renascentista Sandro Botticelli.