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Trilha 03 Propriedades do Pensamento


Sumário

1 Introdução ao estudo da trilha de aprendizagem p. 4


2 Explorando os conceitos p. 6
3 Propriedades do pensamento p. 8
4 Síntese p. 18
5 Referências p. 20
4
Introdução ao
estudo da trilha de
aprendizagem

Sabemos que o Pensamento e a Linguagem são


independentes, porém exercem influência um sobre o
outro. Diante dessas duas amplas capacidades cognitivas,
começamos pela definição do que é o Pensamento. Vimos
que ele nos permite formar representações (simbólicas e
análogas) e manipular mentalmente nosso conhecimento de
mundo, a fim de compreender o que está a nossa volta, e
também de planejar e atingir estados desejados.

Depois abordamos separadamente cada um dos três campos


de estudo do Pensamento. Definimos o Raciocínio como a
própria capacidade de formar e articular as representações
mentais, que geralmente nos levam a novas inferências e
conhecimentos sobre o mundo. Assim, formamos conceitos
e esquemas e usamos este conhecimento para pensar sobre
aquilo que sabemos e questionar o que queremos saber.
A seguir, determinamos como Resolução de problemas a
capacidade do Pensamento de regatar ideias de soluções
da memória e implementá-las. Aprendemos que problemas
com características diferentes requerem abordagens
diferentes, entretanto, durante a rotina, nosso cérebro recorre
ao funcionamento automático, caso contrário ficaríamos
exaustos. Esta forma intuitiva de responder ao meio, apesar
de eficiente, pode nos levar a erros cognitivos.

Partindo deste ponto, nesta trilha falaremos sobre os atalhos


mentais mais comuns que todos nós cometemos diariamente.
Veremos como a heurística se forma (representatividade e
disponibilidade) e como ela pode enviesar nosso pensamento
(ancoragem, enquadramento, falácia do custo perdido,
perseverança da crença), nos levando a tomar decisões ruins,
partindo de julgamentos errôneos.
5 Descobriremos por que, às vezes. pode ser difícil pensar
diferente (entrincheiramento e rigidez cognitiva) e como
podemos superar esse obstáculo reestruturando o problema
(insight).
6
Explorando os
conceitos

Ao pensar, nós articulamos representações mentalmente


(armazenadas em nosso conhecimento), o que nos possibilita
identificar os eventos do mundo, sejam eles reais ou
hipotéticos. Normalmente o Pensamento ocorre quando
estamos envolvidos com algum objetivo, seja expressar
sua opinião sobre algo ou alguém ou assimilar os conceitos
deste componente curricular. Perceba a importância dessa
habilidade cognitiva e como a capacidade da Linguagem pode
ser crucial para que os pensamentos virem ações.

Sabemos que pensar é essencial para a vida como


conhecemos. Tudo o que os seres humanos foram capazes de
criar, desde obras de arte até as vacinas que curam doenças,
deve-se à evolução de nossas habilidades cognitivas. Mas
também sabemos que são os nossos pensamentos que
nos levaram a erros em proporções históricas. É o nosso
pensamento, seja ele benéfico ou nocivo, envolvido com
o nosso sistema afetivo, nossas memórias, e transmitido
por meio da Linguagem, que define quem somos como
civilização.

... Você consegue pensar em alguma situação em que você foi


duro consigo mesmo, sendo injusto na sua autoavaliação?
Como veremos nesta trilha, os pensamentos intuitivos
influenciam muitas de nossas atitudes, e eles podem cair
em armadilhas que nos levam a cometer erros sem que
tenhamos consciência de que estamos enviesados.

Neste cenário, é inegável que nós, seres humanos,


precisamos entender melhor como nossas próprias
habilidades cognitivas operam. Você sabia que,
independentemente da nossa inteligência ou de nossa
7 expertise sobre um assunto, todos nós estamos sujeitos
a ter nosso pensamento enviesado, sem que tenhamos
consciência de que isso está acontecendo? Nesta trilha,
falaremos sobre este fato e veremos as armadilhas do
pensamento em que caímos diariamente!
8
Propriedades do
pensamento

Questionar constantemente
nosso próprio pensamento
seria impossivelmente tedioso...
muito lento e ineficiente.... O
melhor que podemos fazer é
nos comprometer: aprender a
reconhecer situações em que
os erros são prováveis e se
esforçar mais para evitar erros
significativos quando a aposta é
alta. (KAHNEMAN, 2012)

... Você sabia que a espécie humana foi a única capaz de


povoar, se adaptar e alterar diversas regiões em todo o
mundo, e isso teve um impacto sobre o Planeta em que
vivemos?

Imagine-se vivendo no Período Paleolítico, você precisaria


migrar, ou seja, viajar longas distâncias para encontrar
mais recursos para sobreviver. Você estaria vivendo em um
mundo selvagem, sem o conforto e as comodidades da Idade
Moderna. Como seria o seu cotidiano, quais preocupações
você teria nesse mundo?

Agora você precisa encontrar seu alimento do dia, então


você pega sua ferramenta feita de pedra e sai para caçar ou
coletar. Em meio à natureza, você escuta um som estranho,
seu coração acelera, sua respiração fica ofegante, você
começa a suar. Neste momento, você deve decidir se vai fugir,
ou se ficará para enfrentar o que está emitindo o barulho.

Perceba como neste cenário a sua vida depende de


uma decisão rápida (e como a ansiedade gerada pelo
9
desconhecido é um sinal de alerta biológico que ajuda a
lhe manter vivo). Se você gastar muito tempo calculando
as probabilidades de enfrentamento, ou analisando o som
escutado, talvez seja tarde demais para decidir o que fazer.

Agora lembre-se de que nossos antepassados viveram


milhares de anos sobrevivendo desta forma. Foi durante
o Período Paleolítico, cerca de 200.000 anos atrás, que
surgiram os primeiros Homo sapiens, nossos ancestrais que
mais se assemelham anatomicamente conosco.

Nós sobrevivemos de migração em busca por alimentos,


caçando e coletando durante milênios. Passamos a plantar
e domesticar animais somente há 15.000 anos. Desde então,
passamos por revoluções, colonizações, guerras, em que
alguns povos se estabeleceram em territórios, enquanto
alguns outros até deixaram de existir. O nosso país tornou-
se uma República somente em 1889; veja quanto tempo a
civilização levou até se organizar da forma como conhecemos
hoje em dia.

Figura 1 - Linha do
tempo durante o
Período Paleolítico.
Fonte: Elaborado
pelo autor.
10 Imagine que durante todo esse período nossos ancestrais
tinham que se preocupar com problemas iminentes (ex.:
ter o que comer ou se proteger de predadores). Assim,
aqueles que aprendiam a identificar as experiências e criar
um repertório de respostas automáticas (usando o sistema
1 ou também chamado de via rápida (KAHNEMAN, 2012)),
podiam responder melhor e mais rápido, e dessa forma
garantiam sua sobrevivência por mais tempo, podendo passar
sua herança genética adiante.

+ Você sabia que os registros mais remotos de Linguagem


datam de 50.000 anos atrás?

Agora volte a se imaginar saindo para caçar na Pré-História.


Como seria se, ao identificar aquele som estranho, você
respondesse racionalmente (sistema 2 ou também
conhecido como via lenta controlada (KAHNEMAN,
2012)), colocando toda sua atenção somente sobre um
estímulo por vez? Se, ao detectar a presença de algo, você
utilizasse todo o seu controle consciente para entender o
que está acontecendo, planejasse um curso de ação e depois
executasse uma resposta? Provavelmente isso não seria
favorável para a sua sobrevivência na Idade das Pedras. E, de
fato, dentre muitos comportamentos que foram naturalmente
+ O sistema 1 selecionados, usar atalhos mentais (sistema 1) garantiu
é utilizado em respostas mais eficientes e adaptativas para a nossa espécie.
decisões diárias
ou recorrentes.
Lembre-se de que
De acordo com o que vimos na trilha passada, ao
nós tendemos identificarmos uma situação nova, nós buscamos categorizá-
a recorrer ao la a partir daquilo que conhecemos (conceitos e esquemas).
sistema 2 para Dessa forma, nós somos capazes de armazenar experiências
responder decisões relevantes em forma de conhecimento. Essas informações se
importantes,
tornam relevantes devido a sua Representatividade, ou seja,
complexas e
desafiadoras. o quanto aquele exemplo parece pertencer àquela categoria
(similaridade); e sua Disponibilidade, ou seja, a intensidade
que aquela memória ou situação/informação tem para o
indivíduo.
11 Logo, ao identificarmos uma informação no ambiente,
somos capazes de responder automaticamente (sem
passar pelo controle consciente), usando nosso repertório
de experiências que está armazenado em forma de
conhecimento.

Conforme estamos vendo, as heurísticas mais remotas de


nossa espécie estão relacionadas à nossa sobrevivência.
Isso é o que chamamos de Raciocínio emocional para
riscos, e explica alguns medos básicos que acometem
muitos seres humanos, ou seja, as experiências que a nossa
espécie selecionou como comportamentos de sobrevivência.
Por exemplo, nossa intuição (sistema automático), que
nos prepara para ter medo de cobras, aranhas, altura,
confinamento. Muitos de nós também têm medo daquilo que
não podemos controlar, do perigo imediato e das informações
que estão mais vivas na memória (heurísticas).

! O câncer é uma preocupação distante para o fumante,


entretanto, a decolagem de um avião pode ser motivo
de muito medo para essa mesma pessoa. Isso porque
o perigo está circunscrito no período da decolagem. Se
algo ruim acontecer, será no momento presente. Em
contrapartida, mesmo que todos estejam cientes dos
perigos do tabagismo, o risco está no futuro, assim como
a preocupação, mesmo que racionalmente o número de
mortes geradas pelo tabagismo seja incomparável com a
quantidade de acidentes fatais de avião.

Ao passo que a nossa civilização foi criando formas de se


organizar para sobreviver, nós, que antes nos preocupávamos
12 mais com a sobrevivência diária, passamos a nos organizar na
divisão de tarefas, planejamento e produção de mantimentos.
Além disso, com o avanço da medicina, muitas doenças que
antes eram fatais puderam ser curadas. Passamos a viver em
sociedades estruturadas, nas quais o trabalho é geralmente o
que garante a moeda de troca para aquisição de suprimentos.

Atualmente a maioria de nós não se preocupa em sair para


caçar ou se algum predador irá nos encontrar. Ainda nos
preocupamos com conseguir nosso meio de subsistência,
mas temos outros dilemas mais complexos, que nossos
ancestrais não tinham. Hoje em dia, nos preocupamos com
como, quando, onde e o quê compraremos para comer.
Ou seja, precisamos decidir se pagaremos no débito ou
no crédito; se formos a um restaurante, nos preocupamos
com regras sociais, como se o que estamos vestindo está
adequado. Devo comer algo saudável e cuidar da minha
saúde?

Nós tomamos muitas decisões sobre o que está acontecendo


agora, mas muitas vezes nos baseamos em preocupações
futuras, o que torna a natureza do nosso pensamento cada
vez mais abstrata. Nosso pensamento está mais abstrato
a cada geração, e por este motivo somos capazes de pensar
13 e falar sobre aquilo que é intangível (nossas emoções, ou
+ Procure saber mais via láctea) ou sobre o que nunca existiu (o futuro ou uma
estudando sobre mentira).
Efeito Flynn do
Componente de
Inteligência.
Em nosso cenário pré-histórico hipotético, devemos
considerar as heurísticas uma grande vantagem adaptativa
para a humanidade. Entretanto, conforme vimos na videoaula,
muitas vezes esses atalhos mentais levam a distorções do
nosso próprio pensamento.

Nossas opiniões e escolhas estão sujeitas, por exemplo, a


vieses de Enquadramento (Framing), assim, o modo como
as opções são apresentadas influencia a seleção de uma
opção e nos preocupamos mais com o custo do que com o
benefício = aversão à perda (ao risco) (MYERS & DEWALL,
2019).

+ Leia o exemplo no Dessa forma, diante de um Enquadramento de ganho,


final das páginas tendemos a escolher opções que proporcionam ganho
318-319 disponível
pequeno, mas certo, ao invés de um ganho maior incerto
no livro “Ciência
Psicológica”, de
(arriscado). Podemos fazer uma analogia com estilos de
Gazzaniga (2018) investimentos; nós somos investidores conservadores e
indicado nas preferimos um retorno pequeno e garantido à possibilidade
referências. de ganho maior e o alto risco. Neste tipo de enquadramento,
nós só correríamos riscos grandes se o ganho incerto fosse
consideravelmente maior ou o risco um pouco menor que o
certo.

Entretanto, diante de um Enquadramento de uma perda


considerável, nós tendemos a escolher opções de risco
grande e incerto, mas com uma probabilidade de ganho.
Neste caso, faremos outra analogia: um paciente com uma
doença grave prefere um tratamento invasivo, que colocará
seu sistema imunológico em risco, mas possivelmente
erradicará a doença, a não se arriscar com o tratamento e
provavelmente vir à óbito. Neste tipo de Enquadramento,
nós escolheríamos o risco certo, caso a perda incerta fosse
extraordinariamente maior (por exemplo, um tratamento
experimental com efeitos colaterais severos) ou somente
14 um pouco menor que o certo (o paciente tem uma doença
terminal e o tratamento será apenas paliativo).

! Assim como o enquadramento do problema pode influenciar


nossas decisões, também vimos na videoaula que somos
enviesados quando ancoramos nossa decisão em uma parte
da informação, mais precisamente na primeira parte ou
naquela que vem mais rápido à mente (Disponibilidade).

De acordo com o que vimos na videoaula e neste e-book,


nosso pensamento está sujeito a diversas armadilhas, e isso
muitas vezes nos leva a tomar decisões piores, ou, como o
senso comum coloca, decisões irracionais.

Os vieses cognitivos são possíveis devido à nossa


habilidade de criar atalhos mentais, pois as decisões rápidas
e intuitivas são as mais sujeitas a erros. Além disso, conforme
vimos, nossa Configuração mental (mindset) pode tanto
nos ajudar a identificar uma situação semelhante quanto nos
prender em um ponto de vista; chamamos isso de Rigidez (ou
fixidez) cognitiva (Você se lembra do corvo da videoaula?).

O quê as pessoas pensam,


acreditam e sentem afeta como
se comportam. Os efeitos naturais
e extrínsecos de suas ações, por
sua vez, determinam parcialmente
seus padrões de pensamentos e
reações afetivas. (BANDURA, 1990)

+ Leia sobre Esse entrincheiramento mental é mantido pela Perseverança


Perseverança da da crença, que significa que mantemos nossa opinião
Crença, na p. 300
mesmo que existam evidências contrárias. E pelo Viés
do livro “Psicologia”,
de Myers e Dewall
de Confirmação, ou seja, nossa tendência a prestar mais
(2019) indicado nas atenção às evidências que confirmam a nossa crença, e a
referências. gerar ideias (Falácias, citarei abaixo) que confirmam essas
crenças. Esses erros cognitivos não estão relacionados a
níveis de inteligência, ou seja, todos nós somos suscetíveis.
15 Para intensificar ainda mais o nosso apego às nossas crenças,
ainda há o Excesso de confiança, que é a nossa capacidade
de superestimar a exatidão de nossos conhecimentos
e julgamentos, com uso do pensamento intuitivo (Quem
nunca procrastinou uma tarefa até que estivesse em cima
do prazo?). Não há prevenção eficaz para o Excesso de
confiança, mas a exposição a outras estimativas amplamente
diferentes reduz esse viés.

Uma Falácia relacionada ao nosso Excesso de confiança é


+ Leia sobre Falácias a Falácia do custo perdido. Muitas vezes nós continuamos
nas páginas 430-432 investindo em algo simplesmente porque já começamos! Você
do livro “Psicologia
já se comprometeu com algo, mesmo que isso já não fosse
Cognitiva”, de
Sternberg e tão bom e você só estivesse no prejuízo e insistiu na sua
Sternberg (2015) decisão? Passamos por situações assim a vida toda. Em vez
indicado nas de considerar a decisão como equivocada e o investimento
referências. como perdido, decidimos continuar desperdiçando (dinheiro,
tempo etc.) mesmo que o mais racional fosse parar de
investir.

... Muitos de nós talvez já passamos por essa situação. Você


vai assistir a um filme no cinema: você marca com alguém,
compra ingressos, se arruma, se locomove até o cinema,
compra a pipoca, bebida e afins. Assiste aos trailers, e
16 quando o filme inicia não era nada o que você esperava.
Na verdade, você não está gostando nada do filme. Você
assiste até o fim? Quantos de nós já saímos no meio de uma
sessão de cinema porque o filme era chato? Ao invés disso,
preferimos desperdiçar uma hora e meia, duas horas de
nossas vidas em algo que não queremos mais.

Nós, seres humanos, dentro dos limites de cada um,


conseguimos realizar objetivos, e muito se deve a essa
crença. Vivemos mais satisfeitos assim, acham mais tranquilo
tomar decisões difíceis e parecem aos outros dignos de
crédito. Ou simplesmente preferimos não pensar que
podemos ter escolhido errado, diminuindo nossa Ansiedade
para confirmar crenças e atenuar os nossos erros com
+ Leia sobre alguma justificativa (Dissonância cognitiva).
Dissonância
cognitiva nas
Você pode estar se perguntando se nós formamos atalhos
páginas 321-323
do livro “Ciência
mentais a partir das nossas experiências, com uma decisão
Psicológica”, de foi ruim porque nós não aprendemos com ela e formarmos
Gazzaniga (2018) novas heurísticas. Primeiro, ao perceber a situação pela
indicado nas primeira vez nós já estamos processando-a através do nosso
referências. filtro perceptual (Componente, Sensação e Percepção). Em
seguida, nós devemos assimilar aquela informação e para
isso usamos nosso conhecimento de mundo (conceitos
e esquemas). Depois, precisamos identificar se aquilo é
uma armadilha Caso positivo, devemos frear nossas ideias
intuitivas e recorrer ao sistema 2. Isso por si só é muito
exaustivo no dia a dia. Como se não bastasse toda essa carga
cognitiva que temos que desprender, ainda existem todos
os vieses cognitivos citados anteriormente e na videoaula,
que dificultam enxergar a situação de outra forma além das
nossas próprias crenças.

Mas agora você pode estar pensando: Será que é possível


mudar as nossas crenças? A Psicologia Cognitiva acredita
que sim. Uma das ferramentas que todos nós possuímos, e
podemos desenvolver, é a Reestruturação do problema
(Reenquadramento do problema). Essa habilidade do
Pensamento consiste em representar o problema de outra
17 forma. Para isso devemos ativamente contrariar crenças pré-
existentes e enxergar uma nova visão da situação. Se pudesse
voltar ao passado, sabendo o que você sabe hoje, você
mudaria alguma decisão? Sem entrar no âmbito da Filosofia, a
ideia é que enxergar uma situação sob uma nova perspectiva
indica novas soluções, que antes, presos em nosso ponto
de vista, eram impossíveis de descobrir. Por esse motivo,
entendemos que a forma como enquadramos o problema
pode torná-lo mais ou menos difícil de ser solucionado.
Esse Reenquadramento do problema muitas vezes nos
dá a sensação de que a solução surgiu em nossa mente
subitamente (Insight, abordado no e-book 2).

Sendo assim, considerando o que vimos no começo deste


e-book, nossos ancestrais e nós mesmos precisamos das
decisões intuitivas para a conservação da nossa espécie.
Ainda que os atalhos nem sempre resolvam nossos
problemas, ou nos leve a tomar decisões problemáticas, eles
são fundamentais para aliviar a carga cognitiva.
18
Síntese

O pensamento intuitivo é legal na


maior parte das vezes... Mas, de
vez em quando, esse hábito mental
nos traz problemas. (resposta
de Daniel Khanneman a Jennifer
Robinson, retirada de BREWER &
SANFORD, 2007, p. 85)

Nesta terceira trilha, nós exploramos conteúdos que mudaram


todo o campo do Julgamento e Tomada de Decisão, não
somente dentro da Psicologia, mas na Economia. Lembre-
se do valor adaptativo das nossas decisões intuitivas
(você vivendo na Pré-história). Sabemos que somos seres
racionais, mas também dependemos das decisões intuitivas
para sobreviver e para evitar uma sobrecarga cognitiva. Para
ajudar a fixar estes novos conceitos, é fundamental que você
faça as leituras extras indicadas, assim como o exercício
proposto para essa trilha.

Durante a leitura deste e-book, você conseguiu pensar em


exemplos da sua vida, ou de pessoas que você conhece, em
que a(s) escolha(s) gerou mais prejuízos do que benefícios, e
mesmo assim, diante de várias evidências, você ou a pessoa
não conseguiam enxergar ou fazer diferente.

Agora que você sabe como o Pensamento humano opera,


fique atento às armadilhas, sejam elas propositais (como a
venda de um produto baseadas em Enquadramento e/ou
Ancoragem), ou simplesmente a sua mente percebendo
uma situação (Heurística da Disponibilidade e da
Representatividade).

Caso queira otimizar suas decisões, ou buscar alternativas


para uma situação, lembre-se de que existirão muitos
19 obstáculos no caminho (Viés de Confirmação e
Perseverança da crença). Caso pareça impossível de
solucionar (Rigidez cognitiva), distancie-se do problema,
use seu sistema 2, use sua Criatividade e se force a ocupar
outros pontos de vista, talvez isso lhe mostre um caminho
(Reestruturação do problema). E não desanime caso
perceba que caiu em mais um viés cognitivo. Lembre-se, isso
é ser humano!
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Referências

BANDURA, A. Some reflections on reflections. In:


Psychological inquiry, 1(1), p. 101-105, 1990.

BREWER, G.; SANFORD, B. The Best of the Gallup


Management Journal 2001-2007. Gallup Press, 2007.

GAZZANIGA, M. Ciência Psicológica. 5ª ed. Porto Alegre:


Artmed, 2018.

HOLYOAK, K. J.; MORRISON, R. G. (Eds.). The Cambridge


handbook of thinking and reasoning. Vol. 137. Cambridge:
Cambridge University Press, 2005.

KAHNEMAN, D. Rápido e Devagar: duas formas de pensar.


Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

KAHNEMAN, D. A perspective on judgment and choice:


mapping bounded rationality. In: American psychologist,
58(9), p. 697-720, 2003.

MYERS, D. G.; DEWALL, C. N. Psicologia. 11ª ed. Grupo GEN,


2019.

STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. 5ª ed. São Paulo:


Cengage Learning, 2015.
Universidade Presbiteriana

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