Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O FENÔMENO RELIGIOSO
A Religião como fenômeno universal
1. Um fenômeno humano
1 "Encaro a religião como uma atitude do espírito humano, atitude que de acordo com o emprego
originário do termo: "religio", poderíamos qualificar a modo de uma consideração e observação
cuidadosas de certos fatores dinâmicos concebidos como "potências": espíritos, demônios, deuses,
leis, idéias, ideais, ou qualquer outra denominação dada pelo homem a tais fatores; dentro de seu
mundo próprio a experiência ter-lhe-ia mostrado suficientemente poderosos, perigosos ou mesmo
úteis, para merecerem respeitosa consideração, ou suficientemente grandes, belos e racionais,
para serem piedosamente adorados e amados" (JUNG, Obras completas, 1995, p. 10).
2 Eliade entende que toda crise existencial é, em suma, uma crise religiosa: “na medida em que o
inconsciente é o resultado das inúmeras experiências existenciais, ele não pode deixar de
assemelhar-se aos diversos Universos religiosos. Porque a religião é a solução exemplar de toda a
crise existencial. Solução exemplar, não somente porque indefinidamente repetível, mas também
porque é considerada de origem transcendental e, por conseqüência, valorizada como revelação
recebida de um outro mundo, trans-humano. A solução religiosa não somente resolve a crise, mas
ao mesmo tempo torna a existência “aberta” a valores que já não são contingentes nem
particulares, permitindo assim ao homem ultrapassar as situações pessoais e, no fim de contas, o
5
2. Um fenômeno cultural
sociedade que o ser humano produz cultura. E é no interior da cultura que o ser
humano produz religião.
As manifestações religiosas foram se estruturando, no decorrer da história
da humanidade, no interior das diferentes culturas. Desta forma, a religião como
fenômeno universal é também um fenômeno cultural, ou seja, todos os elementos
materiais que a compõem estão profundamente enraizadas na totalidade da
experiência humana, mediada pelas diferentes culturas. Só aí podemos
compreendê-los.
Há muitos conceitos de cultura, cada um respondendo a realidades e
interesses específicos. Para Peter Berger a cultura:
4 Esta concepção está muito presente na antropologia cultural americana. Outra perspectiva, a dos
sociólogos, utiliza um sentido mais estrito, vincula o conceito de cultura à esfera mais simbólica
(BERGER, 1991, p. 19, nota 8).
5 Sobre a definição de cultura ver também LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito
antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
8
influencia também a cultura; e, além disso, cada uma dessas instâncias conserva
um grau de autonomia em relação à outra.
Todavia, o sujeito da cultura é o mesmo da religião. É o mesmo ser humano
que atravessa todas as culturas, levantando as mesmas perguntas sobre o sentido
da vida, da dor, do sofrimento, da morte. É de fundamental importância considerar
que a expressão concreta do religioso passa pela diferença das culturas. Tal
consciência permite que se evite uma aproximação superficial e abstrata e se
perceba os limites inerentes a cada expressão religiosa cultural, bem como a
contribuição específica que se pode esperar dela.
3. Um fenômeno social
A religião, especialmente depois de Émile Durkheim (francês, 1858-1917),
por sua obra As formas elementares da vida religiosa, de 1912, tem sido
reconhecida como um fenômeno social, uma forma fundamental de coesão social
(BURKERT, 1996, p. 17). Depois de Durkheim, a sociologia da religião, como um
todo, parte do pressuposto de que os fenômenos religiosos falam da realidade
social. Durkheim substituiu o conceito de idéias religiosas pelo de “representações
colectivas”. No dizer de Croatto: “o fenômeno religioso é essencialmente
comunitário e, portanto, repercute na sociedade como tal” (CROATTO, 2001, p.
18-19).
As crenças religiosas, como um fenômeno social, cristalizam-se em grupos,
comunidades, igrejas, irmandades etc., com um impacto social inevitável
(CROATTO, 2001, p. 19); interferem no ordenamento social, nas estruturas de
poder, nos processos de produção e consumo de bens e em toda a dinâmica da
vida social, legitimando ou criticando.
A experiência religiosa, como experiência humana propriamente dita, é uma
vivência relacional que se dá no encontro do indivíduo com a natureza, com outro
indivíduo e com o grupo humano em seus diferentes níveis (família, clã, bairro,
município, estado, nação, clube, associação, fraternidade, Igreja, partido político
etc.) (CROATTO, 2001, p. 42).
Para Libanio, compreender que o fenômeno religioso é contextual é aceitar
também que os fatores sociais o provocam, o alimentam, lhe dão inteligibilidade.
Neste contexto, é preciso explicitar alguns elementos fundamentais que
caracterizam a relação entre religião e sociedade. Como ponto de partida, vale
para esta relação o que foi dito acima da relação entre cultura e religião, ou seja,
que é dinâmica e mútuo implicativa (Libanio, 2002, p. 46-47).
A religião, historicamente, teve e tem uma participação significativa no
processo de construção da sociedade, influenciando seus rumos, por vezes
seguindo por caminhos nem sempre produtivos para o desenvolvimento da
humanidade. É do conhecimento de todos, as mazelas históricas feitas em nome
da religião. Todavia, é fato que a religião tem apresentado-se também,
institucionalmente ou não, como uma referência crítica para a organização social,
influenciando, com sua perspectiva humanitária, a consolidação de valores,
oferecendo, de forma particular, os fundamentos últimos para a determinação de
princípios éticos importantes para a convivência humana.
Por muito tempo, os estudos, principalmente sociológicos, que se
ocupavam da tarefa de observar a relação sociedade-religião, evidenciavam
10
Bibliografia
ATIVIDADES:
1. Propor aos alunos que assistam o filme “Quem somos nós?”, dirigido por
William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente. Depois fazer um debate sobre
a religião como fenômeno humano, cultural e social. Cada aluno deverá, ao
final do debate, redigir em dupla, um texto sobre o tema.
2. Organizar um seminário sobre o “Itinerário religioso da humanidade”.
Pesquisar, em grupos temáticos, 10 tradições religiosas, relacionando a
história e identidade da religião com a cultura e a sociedade local.
Apresentar em 30 minutos e fazer debate com a turma.
SUGESTÕES DE LEITURA:
1. 1º e 2º capítulos de Dossel Sagrado – Peter Berger – Editora Paulus
2. O Sagrado – Nilton Bonder – Editora Rocco
josimarazevedo@yahoo.com.br