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Gramma Editora
Conselho Editorial: Bethania Assy, Francisco Carlos Teixeira da Silva, Geraldo
Tadeu Monteiro, Gisele Cittadino, Gláucio Marafon, Ivair Reinaldim, João Cézar
de Castro Rocha, Lúcia Helena Salgado e Silva, Maria Cláudia Maia, Maria
Isabel Mendes de Almeida, Mirian Goldenberg e Silene de Moraes Freire.
C314e
Carreira, André
Exercícios de atuação: práticas no aqui e agora / André
Carreira; Ana Zechini. – Rio de Janeiro : Gramma, 2020.
132 p. ; 18 cm.
ISBN 978-65-8605-203-9
CDD : 792.0981
Gramma Editora
Rua da Quitanda, nº 67, sala 301
CEP.: 20.011-030 – Rio de Janeiro (RJ)
Tel./Fax: (21) 2224-1469
E-mail: gramma.editorarj@gmail.com
Site: www.grammaeditora.com
APRESENTAÇÃO 1
INTRODUÇÃO 5
O QUE É ATUAR NO AQUI E AGORA? 17
Sobre a técnica 17
Singularidade e responsabilidade 24
Os princípios dos procedimentos 27
Pensamento em ação e a busca da intensidade 39
PARA QUE SERVEM OS EXERCÍCIOS
E COMO EXECUTÁ-LOS? 47
O teatro é uma terapia? 48
O talento e o exercício 50
Realização dos exercícios 52
Habitar os exercícios 53
A prática 56
EXERCÍCIOS 63
Duas premissas éticas 63
Observação de quem atua 66
Aquecimento 67
Descrição dos exercícios 68
Exercícios do estar 93
Exercícios de estados 98
Exercícios de produção de relações 104
Exercícios de atuação
VI
APRESENTAÇÃO
André Carreira
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INTRODUÇÃO
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Exercícios de atuação
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Exercícios de atuação
sar de essa iniciativa ter tido uma vida curta, Caetano, preo-
cupado com a formação de artistas, também publicou dois
livros sobre a arte de representar: Reflexões dramáticas (1837)
e Lições dramáticas (1862).
Outros exemplos de escolas de teatro são a Real Escue-
la Superior de Arte Dramático de Madrid (Espanha), com um
século e meio de existência, e a London Academy of Music,
que foi fundada em 1861. Muito antes disso, os estatutos da
Universidad de Salamanca (Espanha), em 1538, já regula-
mentavam a obrigatoriedade da realização de representações
teatrais. Na segunda metade do século XVI, a Companhia de
Jesus se apoiou na tradição teatral universitária em realizar
debates e representações teatrais para sua prática missioná-
ria. Podemos considerar isso um rastro interessante do teatro
na universidade, que terminou por criar as carreiras profissio-
nais na academia. Na América Latina, a primeira escola de
teatro oficial foi inaugurada em 1908, por Coelho Neto, no
Rio de Janeiro, e essa continua em atividade na atualidade,
com o nome de Escola Técnica Martins Pena.
A partir da experiência do Teatro de Arte de Moscou,
encabeçada por Constatin Stanislavsky e Vladimir Nemiro-
vitch-Danchenko, foi criada, em 1898, o Instituto Russo das
Artes Teatrais (GITS)4, que se desenvolveu como um dos mais
conceituados centros de formação de atores e atrizes.
Os exemplos são inúmeros e, no Brasil, a primeira meta-
de do século XX viu o aparecimento de instituições com planos
de estudos estruturados para a formação de atores e atrizes.
Isso respondeu principalmente à demanda do processo de mo-
dernização da cena nacional. Esse foi o caso da Escola de Artes
Dramáticas de São Paulo (EAD), que posteriormente foi incor-
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Em setembro de 1922, a GITIS recebeu seu atual nome quando se fundiram o Instituto Estatal de Drama Musical
e a Oficina Teatral Estatal, coordenada pelo diretor Vsevolod Meyerhold.
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Exercícios de atuação
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O QUE É ATUAR NO AQUI E AGORA?
Sobre a técnica
Falamos de técnica apenas para situar a perspectiva que
organiza nosso olhar sobre a prática de exercícios de atuação.
Talvez os(as) leitores(as) considerem esta parte do livro um
pouco monótona, pois tratamos de conceituar o que chama-
mos de técnica, mas sabemos que quem lê um livro pode pular
partes e até capítulos. Essa será uma escolha pessoal. Apenas
queremos que fique claro que a técnica é um fazer e não deve
ser entendida como um saber a ser reproduzido dentro de de-
terminados padrões. Para nós, a técnica é uma invenção.
Tradicionalmente se utiliza a expressão “técnica de
atuação” para se referir a um repertório de procedimentos de
uma determinada forma de atuar em relação a uma poética
específica. Assim, estruturam-se as diferentes escolas de cada
técnica e se formulam os campos de batalha nos quais se dão
Exercícios de atuação
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Singularidade e responsabilidade
Observar a singularidade como elemento central dos
procedimentos de atuação nos leva a dizer que uma atuação
no aqui e agora implica a ampliação da responsabilidade de
atores e atrizes com relação aos processos de criação dos es-
petáculos. Isso se deve ao fato de que efetivar a condição de
jogo que deve sustentar o trabalho da atuação exige que não
se seja absolutamente dependente de quem dirige o processo
criativo ou a prática pedagógica, nem mesmo de uma determi-
nada dramaturgia. Quem atua deve se considerar responsável
por produzir as tensões criativas que farão todos os materiais
vibrarem dentro de uma estrutura poética, isto é, dentro do
acontecimento que será o espetáculo.
A responsabilidade a que nos referimos não está rela-
cionada unicamente com uma ética do trabalho coletivo. Isso
é importante, mas é preciso ter uma responsabilidade que vá
além do respeito às regras funcionais do trabalho. Nosso foco é
reivindicar uma noção de responsabilidade que pede que ato-
res e atrizes radicalizem seu trabalho, buscando os limites de
cada momento do processo criativo.
Uma responsabilidade radical é o que explica a neces-
sidade de se buscar intensidade em cada exercício e em todo
o processo de criação. Somente um trabalho no máximo de
intensidade permite produzir uma experimentação que não
deixe que apenas as buscas formais que estejam a serviço da
encenação ou da interpretação “fiel” do texto funcionem como
opção de criação.
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PARA QUE SERVEM OS EXERCÍCIOS
E COMO EXECUTÁ-LOS?
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Exercícios de atuação
O talento e o exercício
Uma pergunta que sempre aparece nas salas de aula diz
respeito à ideia do talento nato, e se os exercícios de atuação po-
deriam suprir uma eventual carência de talento. Não há dúvida
de que vemos casos em que pessoas podem atuar com uma faci-
lidade quase inexplicável. No site de vídeos YouTube é possível
ver o teste de câmera que o diretor norte-americano Steven Spiel-
berg fez com o ator infantil Henry Thomas para o papel de Elliot
no filme E.T. – O extraterrestre. Esse material surpreende, porque,
depois de umas poucas informações sobre uma situação na qual
o pequeno Elliot enfrentaria um funcionário do governo que vem
buscar o extraterrestre, o jovem responde a Spielberg que enten-
deu a ideia e logo começa a reagir ao diálogo estabelecido com
um produtor que faz o agente governamental. É impactante ver
como, em poucos segundos, esse menino se coloca dentro da
situação, e temos ali uma tocante cena de resistência impotente,
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Exercícios de atuação
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Habitar os exercícios
A experiência em sala de aula permite perceber que os
exercícios passam a produzir algo nos atores e nas atrizes quan-
do eles(as) estão presentes, atentos(as) ao que sentem enquanto
jogam, às suas vontades, às suas ideias, ao espaço e, principal-
mente, aos outros. Isso implica dizer que um elemento-chave no
processo é a autopercepção na realização dos exercícios como
acontecimento que os(as) comprometem.
Consequentemente, uma postura atenta a isso é essen-
cial para que exista a possibilidade de que atores e atrizes se
coloquem em um lugar de risco. Não necessariamente risco
físico, mas que sejam capazes de perceber aquilo que os(as)
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Exercícios de atuação
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Exercícios de atuação
A prática
Durante a prática cênica, é importante mapear os dispo-
sitivos técnicos utilizados. Isso significa que, durante os exer-
cícios, ao mesmo tempo que atores e atrizes exploram o jogo,
criando e experimentando em cena, devem estar atentos aos
procedimentos que foram utilizados. Assim, devem-se identi-
ficar as alterações físicas, a produção de imagens que geram
sensações e as transformações que modificaram a qualidade
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dito, decidir se o que foi sugerido pode ou não ser útil. Qual-
quer interrupção nesse processo fratura a intensidade do jogo,
portanto é preferível que o jogo prossiga mesmo que o ator ou a
atriz apenas tenha a sensação de que não entendeu muito bem
o que lhe foi dito. Nesse caso, a dúvida também pode ser um
material que alimenta a experimentação.
A principal função de quem conduz é auxiliar no pro-
cesso de desenvolvimento técnico, sugerindo ações que per-
mitam experimentar para romper com bloqueios que se iden-
tificam a partir da observação externa. Muitas vezes atores e
atrizes não estão sendo capazes de identificar tais bloqueios ou
possibilidades de exploração quando estão dentro de um exer-
cício ou cena. A condução deve apostar em sua intuição e ex-
plorá-la a partir tanto da leitura atenta dos processos quanto do
conhecimento de cada participante. No entanto, é importante
relativizar a autoridade de quem conduz e considerar que as
intervenções são sugestões que devem jogar com a percepção
de quem atua.
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EXERCÍCIOS
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Aquecimento
Antes de iniciar uma prática de exercícios de atuação,
o grupo deve estabelecer um acordo para definir quais as me-
lhores estratégias para começar o trabalho. Independentemen-
te de como o coletivo decida iniciar a prática, existem duas
formas de fazê-lo: de forma individual, na qual cada integran-
te realiza seu próprio procedimento de aquecimento, fazen-
do aquilo que precisa para dar início ao trabalho; e de forma
coletiva, na qual todo o grupo realiza sequências comuns e
simultâneas de alongamentos ou outros exercícios iniciais.
Costumamos considerar o aquecimento uma prepara-
ção prévia e separada do momento do jogo e do ensaio, que
seriam momentos produtivos. No entanto, é necessário evitar
essa separação taxativa. Dessa forma, aquecer também deve
ser criar, pois esse é um momento no qual também deve-se
colocar a mente dentro do processo de trabalho com os(as)
outros(as) e com o ambiente.
Exercício de corrida
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Exercício de deslocamento
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Exercícios do estar
Esses exercícios estão relacionados com a busca da não
representação como eixo do trabalho. O foco está no contato
com o(a) outro(a) e na percepção de si e do espaço. Deve-se
trabalhar com o objetivo de controlar a ansiedade em resolver
os problemas propostos, buscando soluções através da criação
e representação de cenas narrativas.
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Exercícios de estados
Os exercícios a seguir são exemplos de procedimentos
realizados pelo ÁHQIS na experimentação com os estados.
Eles representam uma hipótese de trabalho que tem foco no
aqui e agora da situação cênica. Quando o foco está em se
produzir um estado, o primeiro impulso pode emergir tanto do
coletivo quanto de um processo individual. No entanto, todos
os acontecimentos que se dão no espaço de trabalho devem ser
parte do processo. O individual e o coletivo se complementam.
Ainda assim, para uma melhor compreensão e descrição do
procedimento, esses dois tipos de impulsos podem ser abor-
dados de forma isolada. Ao se produzir um estado, além de se
estar atento(a) às sensações, deve-se investigar diferentes níveis
de intensidade: isso significa tanto intensificar ou suavizar os
estímulos quanto as reações a tais estímulos.
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Texto 1
A: Você tem água?
B: Tenho.
A: Quero um copo.
B: 5 reais.
A: Tenho sede, mas não tenho dinheiro.
B: Sinto muito, 5 reais. Você quer?
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Texto 2
A: Olha, eu ainda não sei.
B: Tem dúvida? Por quê?
A: Por que é lógico?
B: Lógico? Não acho.
A: É evidente. Super claro.
B: Pra você. Só pra você.
A: Então me explica.
Texto 3
A: Me surpreendeu, lógico que sim.
B: Vem. Tem receio? Não pode? Deveria poder.
A: Eu posso. É incerto, mas é melhor assim.
B: Desculpa. Fiz o que pude, e foi só isso.
Texto 4
A: Bom dia.
B: Bom dia. É tarde.
A: Antes tarde do que nunca.
B: Será?
A: Não?
B: Você acha mesmo?
A: Acho melhor tarde do nunca.
B: Mas tarde pode ser nunca.
Texto 5
A: Não faça isso
B: Não fiz nada.
A: Eu vejo nos teus olhos, noto.
B: Nota o quê?
A: Você sabe, não sabe?
B: Você pensa que eu te entendo.
A: Não entende? Eu gostaria que você me entendesse.
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Texto 6
A: Então eu falei: “Fora daqui agora. Já. Ouviu?”
B: Justo agora?
A: Agora. Agora mesmo.
B: Sim. Não entendeu?
A: Queria saber o porquê.
B: Sim. Lógico. Tem medo?
A: Olha, posso explicar.
B: É importante?
Texto 7
A: Não.
B: Por que não?
A: Simplesmente porque isso não é possível.
B: Como impossível?
A: É inconcebível.
B: Por quê?
A: Não posso aceitar isso.
B: Nem tentaria?
A: Não posso.
B: Nunca?
Texto 8
A: Não faça isso.
B: Não fiz nada.
A: Eu vejo nos teus olhos. Noto.
B: Nota o quê?
A: Você sabe, não sabe?
B: Olha bem pra mim.
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Exercícios de atuação
Texto 9
Texto 10
A: É.
B: Você não entende nada mesmo.
A: Estava cuidando de você.
B: Eu preciso de cuidado?
A: Você não entende.
B: Você me explicaria, não é?
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PALAVRAS FINAIS
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Exercícios de atuação
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SUGESTÕES DE LEITURAS SOBRE ATUAÇÃO
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SOBRE OS AUTORES
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