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REDE GLOBO

apresenta:

AS FILHAS DA MÃE

novela de
SILVIO DE ABREU

núcleo e direção de
JORGE FERNANDO

gênero:
COMÉDIA

horário:
SETE HORAS

estréia prevista:
SETEMBRO/2001
AS FILHAS DA MÃE,
ou
A INCRÍVEL BATALHA DAS FILHAS DA MÃE NO JARDIM DO
ÉDEN

Como sugere o título, é uma comédia rasgada ao estilo de novelas escritas por
Silvio de Abreu e dirigidas por Jorge Fernando para o horário das dezenove horas,
como GUERRA DOS SEXOS, VEREDA TROPICAL, CAMBALACHO e DEUS
NOS ACUDA onde, em uma mistura propositada, Blake Edwards se encontra com
Billy Wilder, juntam-se a Mel Brooks, a David & Jerry Zucker e fazem uma festa
sem esquecer de convidar Steno, Vittório de Sica e até Douglas Sirk. É com esse
espírito que mistura farsa e chanchada, onde nem tudo deve ser levado muito a
sério, a uma narrativa folhetinesca onde a representação sincera do drama e do
romance dão credibilidade ao humor pretendido, que a sinopse deve ser lida,
porque assim será realizado este trabalho como já foram os outros acima citados.

E mais:

como o sub-título sugere, e fica claro em alguns episódios da sinopse, a intenção


é de contar a história de uma maneira próxima ao que seria um cordel-sulista-
paulistano, se é que um cordel-sulista-paulistano existe. Para que esta intenção
fique mais clara na realização da novela um rap, composto especialmente de
acordo com a história dos capítulos, unirá e explicará muitas ações e
acontecimentos.
ATENÇÃO I

Diferente de outras novelas, AS FILHAS DA MÃE, foi escrita para um elenco pré-
escalado e já aprovado pela direção da emissora. Todos os personagens foram
criados levando-se em conta as características particulares de cada intérprete, as
facilidades na composição dos tipos e o tipo físico de cada um deles. Por isso,
acompanha a sinopse, para facilitar a leitura, não uma lista de personagens, mas
a escalação do elenco.

ATENÇÃO II

Alguns atores e atrizes foram convidados mas ainda não estão confirmados, seus
nomes estão grifados para que se tenha idéia do tipo pretendido. Outros que ainda
não foram escalados - (em sua maioria crianças e adolescentes) - serão
escolhidos por testes e existe uma explicação mais detalhada sobre cada um
deles dentro do corpo da sinopse.

ATENÇÃO III

Para facilitar a leitura os personagens/atores estão listados pela ordem de entrada


na história e não pela sua importância na trama.
PERSONAGENS/ATORES PELA ORDEM DE ENTRADA NA SINOPSE

Lulu De Luxemburgo - FERNANDA MONTENEGRO


Arthur Brandão - RAUL CORTEZ
Fausto Cavalcanti - FRANCISCO CUOCO
Milagros Quintana - PATRÍCIA TRAVASSOS
Manolo Gutierrez -TONY RAMOS
Adriano Araújo - TIAGO LACERDA
Tatiana Cavalcanti - ANDRÉA BELTRÃO
Alessandra Cavalcanti -BETH COELHO
Ramona Cavalcanti - CLÁUDIA RAIA
Valentine Ventura - LAVÍNIA VLASAK
Leonardo Brandão - ALEXANDRE BORGES
Ricardo Brandão - REINALDO GIANECHINI
Dona Deusa - CRISTINA PEREIRA
Gorgo Gutierrez - CLEYDE YÁCONIS
Aurora da Silva - CLÁUDIA OHANA
Barnabé - FLÁVIO MIGLIACCIO
Diego Gutierrez - MÁRIO FRIAS
Dagmar Cerqueira - CLÁUDIA GIMENEZ
Nicolau Pedreira - TUCA ANDRADE
Rosalva Rocha - REGINA CASÉ
Amada Rocha -teste
Seu Dedé - ELIAS GLEISER
Joana Rocha -PRISCILA FANTIN
Pedro Rocha - PEDRO GARCIA
José Rocha -BRUNO GAGLIASSO
Valdeck Ventura - LUIZ FERNANDO GUIMARÃES
Faísca - GUSTAVO FALCÃO
Violante Ventura - RENATA FRONZI
Maria Leopoldina Pereira - VIRGÍNIA CAVENDISH
Webster Pereira - DIOGO VILELA
Maria Elizabeth Pereira- Teste
Geraldo Valério Pereira- Teste
AS FILHAS DA MÃE
ou
A INCRÍVEL BATALHA DAS FILHAS DA MÃE NO JARDIM DO
ÉDEN
- SINOPSE -

I
A INACREDITÁVEL HISTÓRIA DA MÃE

Naquele fim de tarde quente e ensolarado de Los Angeles o Shrine


Auditorium ostentava, mais uma vez, orgulhosamente, o seu tapete vermelho.
Celebridades do mundo do cinema passavam por lá em meio aos gritos histéricos
da multidão que se acotovelava para ver e fotografar seus astros favoritos. Todo
ano era assim e há mais de dez anos, desde que veio de Paris, LULU DE
LUXEMBOURG, que no Brasil se diz LUXEMBURGO, a prestigiadíssima
decoradora dos melhores endereços da Costa Leste nos Estados Unidos e,
também, talentosa Diretora de Arte de grandes produções hollywoodianas
comparecia e, quase invariavelmente, saía com o seu Oscar debaixo do braço.
LULU, que americanos e franceses escrevem LOULOU, chegou a
Hollywood envolta em uma grande aura de mistério que aumentava a cada
entrevista que ela, sistematicamente, se recusava a dar. Calculavam que era
francesa porque tinha vindo de Paris e, é claro, por causa do nome. Na terra do
cinema todos se referiam a ela com um elegante “madame” precedendo o nome e
aumentando o mito e foi chamando MADAME LOULOU DE LUXEMBOURG que o
apresentador daquela noite lhe entregou mais uma estatueta. Além de um número
incrível de Oscars, só comparável ao de Edith Head, seu talento, aliado a seu
impecável bom gosto e profissionalismo, faziam com que LULU DE
LUXEMBURGO desfrutasse de um status invejável em todos os Estados Unidos,
principalmente na Califórnia, onde só atendia ao círculo fechadíssimo dos multi-
milionários. Misteriosa e reclusa, excetuando a festa anual do Oscar, era raríssimo
que fosse a qualquer recepção; nem ao jantar subseqüente à premiação
comparecia.
No Brasil, onde nasceu e se criou até ir para a França, o nome e a carreira
de LULU era do conhecimento apenas de um grupo mínimo de elegantes
aficcionados de cinema e decoração que também juravam que ela era francesa.
Na verdade, LULU DE LUXEMBURGO nasceu Lucinda Maria Barbosa, na Tijuca,
Rio de Janeiro. Aos vinte e poucos anos conheceu dois empresários paulistas em
férias: ARTHUR BRANDÃO E FAUSTO CAVALCANTE, apaixonou-se
perdidamente por ARTHUR, mas pela galinhagem excessiva dele e por outras
circunstâncias que não vêm ao caso agora, acabou se casando com FAUSTO. Foi
um casamento sem graça desde o início. Mudou-se para a terra da garoa, sem
praia, sem choppinho com os amigos, sem reuniões noturnas da turma que
cantava bossa-nova na pedra do Arpoador, sem matinê de domingo em
Copacabana, sem nem, de vez em quando, dançar na Estudantina. Não tinha uma
amiga, uma confidente, ninguém para ficar a seu lado e jogar conversa fora; vivia
ao lado de um marido a quem não amava e que, além de tudo, só trabalhava e
detestava se divertir. A vida social do casal se resumia a jantares chatos de
negócios, na companhia de pessoas preocupadas em ganhar mais e mais
dinheiro. Pior do que isto era ver todos os dias ARTHUR, sempre próximo por ser
sócio do seu marido nas empresas, elegante, bonito, se divertindo rodeado de
mulheres. Por mais que ela fizesse não conseguia deixar de gostar de ARTHUR;
adorava seu charme, sua descontração, seu ar sedutor, mesmo entendendo que
era tudo isto que o transformava em um conquistador desenfreado, o que ela
detestava. O marido, sempre muito preocupado em ganhar dinheiro, foi deixando-
a meio de lado; mesmo assim, tiveram três filhos, duas meninas e um menino.
Embora adorando os filhos, continuava a se sentir uma prisioneira naquela imensa
casa e então, contra a vontade de FAUSTO que ganhava muito mais do que o
suficiente para sustentar toda a família, Lucinda acabou se empregando em um
antiqüário no Morumbi. O marido não se conformava com a decisão dela, não
queria a mulher trabalhando, não achava bom para sua imagem de empresário em
ascensão constante, não queria ter que conciliar seus horários aos horários dela,
não queria que ela ficasse fora de casa e, principalmente, não queria ser
desobedecido. Dentre os muitos defeitos de FAUSTO este era o pior, um terrível
complexo de ditador que quando se via contrariado perdia completamente a razão.
Lucinda porém, afrontou o marido intransigente e foi fazer o que achava melhor
para si, sem descuidar do carinho e atenção para com os filhos.
O trabalho a obrigava a visitar clientes, sugerir objetos para decoração,
comprar e vender peças, coisas que ela amava fazer. Sua vida foi ficando mais e
mais agradável até que o destino resolveu pregar-lhe uma peça: René Lanvin, o
dono do antiqüário, se apaixonou por ela e, deixando de lado a casca de homem
fino e elegante, atacou-a em sua cobertura duplex, durante um jantar que deveria
ser para vários clientes mas para o qual, sem saber, só ela fora convidada.
Discutiram no topo da escada e René, já meio bêbado, despencou de lá morrendo
instantaneamente ao bater a cabeça em uma antiga peça etrusca. Desesperada,
ao lado de um cadáver ensangüentado naquele imenso apartamento, Lucinda
ligou para FAUSTO. O marido veio e, ao invés de ficar do seu lado, culpou-a pelo
acidente ao qual se referia como crime. Jurou que se ela chamasse a polícia ele
testemunharia que ela e René eram amantes e que ele vira Lucinda empurrar o
patrão escada abaixo. Juras, promessas e súplicas não adiantaram, FAUSTO
colocou como condição de não entregá-la à polícia que ela desaparecesse e
deixasse as crianças só para ele. Apesar de ser inocente e de, principalmente, não
querer de maneira alguma abandonar os filhos, não teve outra saída. Ou aceitava
sumir para sempre, ou iria para a cadeia. O que seria melhor: que as crianças
acreditassem que ela estava morta ou que crescessem com a vergonha de ter
uma mãe adúltera e assassina, vivendo em uma penitenciária ? Lucinda despediu-
se de cada um dos três, ainda muito pequenos, com um beijo, enquanto dormiam
e FAUSTO, depois de arrumar tudo para que a polícia não ligasse o nome da
esposa a morte de René, induziu os rebentos, a família e todos a pensar que ela
havia morrido em um acidente de carro, despencando em uma das curvas da Via
Anchieta, quando voltava da casa deles no Guarujá. A partir daquela data, depois
que FAUSTO reconheceu o corpo carbonizado entre o que restou do carro em
chamas, Lucinda Maria Barbosa não mais existia e, enquanto ela desembarcava
em Paris, ele chorava no cemitério ao lado dos filhos, recebendo condolências
dos empresários paulistas. Estava livre da esposa que insistia em ter uma vida
própria, que ao separar-se dele, certamente, levaria as crianças além de metade
da sua fortuna e que, pior, continuava a amar seu sócio ARTHUR. Quando o
caixão, abrigando um incógnito corpo, desceu para a sepultura FAUSTO,
finalmente, se sentiu vingado da mulher que ele não tinha conseguido conquistar,
que o afrontava desobedecendo às suas ordens e que ainda insistia em dar a
seus rebentos uma educação moderna que ele abominava.
Era o início da década de 70 e Lucinda, chegando a Paris, foi morar em um
pequeno apartamento, tendo que amargar muita solidão até conseguir um
emprego. Primeiro trabalhou como secretária de um decorador e antiqüário
prestigiado e depois, talentosa, passou a ser sua assistente. Como não gostava
de dizer o nome verdadeiro, desde sua chegada, passou a ser chamada primeiro
de Lou, depois de Loulou e, finalmente, por morar perto da estação do metrô
Luxembourg, LOULOU DE LUXEMBOURG; com o tempo, o que era um apelido
carinhoso dos colegas de trabalho passou a ser um pseudônimo. Já trazia uma
boa bagagem de conhecimentos da profissão no Brasil, mas com o novo patrão
aprendeu todos os segredos de uma impecável decoração, deslanchando para
uma carreira que acabou na meca do cinema, respeitada, premiada e com
dinheiro suficiente para morar na magnífica casa de Bel Air. LULU, voltando do
Shrine Auditorium, entregou mais aquele Oscar a MILAGROS, sua secretária faz-
tudo, uma mexicana que está com ela há muitos e muitos anos, que o colocou
junto aos outros, sete ou oito, num dos cantos da imensa sala ensolarada. Pediu
um drinque, jogou-se em uma poltrona, ligou a televisão no canal brasileiro onde,
religiosamente, assistia ao Jornal Nacional e tomou conhecimento do fato que iria
tirá-la do conforto e glamour da Califórnia: FAUSTO CAVALCANTE, empresário
brasileiro, um dos proprietários do magnífico resort JARDIM DO ÉDEN, fugiu do
país dando um enorme golpe na Previdência Social, no Imposto de Renda e nos
seus dois sócios: ARTHUR BRANDÃO e MANOLO GUTIERREZ. Estava sendo
procurado pela polícia brasileira, pela Interpol e pelo FBI; havia desaparecido no
mundo feito fumaça.

II
O GRANDE GOLPE DO DÉSPOTA E SAFADO PAI

Se levarmos em conta apenas entrevistas e reportagens publicadas antes


de seu desaparecimento, FAUSTO CAVALCANTE será sempre um dos baluartes
da sociedade brasileira. Sério, discreto em sua elegância e sempre simpático com
a imprensa, FAUSTO aparecia nas matérias em sua bela casa que mais parecia
um condado na Inglaterra, em seu bangalô na praia, dirigindo o seu Rolls-Royce
ou recebendo honrarias como presidente e co-proprietário de um enorme
conglomerado de empresas que incluía um setor de multimídia, dividido em
produtora de vídeo e comerciais; departamento de computação gráfica, animação
e 3D; produtora de programas educativos e profissionalizantes; departamento de
eventos para promoções e lançamentos; um setor para Internet com publicidade e,
também, venda direta de produtos de beleza, higiene pessoal e dietéticos para
ambos os sexos com suas marcas exclusivas: ADÃO & EVA. Atualmente todas
estas sub-empresas são comandadas por ARTHUR BRANDÃO e um de seus
filhos, atreladas a um elegantíssimo resort de primeiro mundo, onde funciona um
spa que, a propaganda garante, faz milagres em qualquer silhueta. Homens e
mulheres têm corrido para o JARDIM DO ÉDEN, animados pelos anúncios na
televisão e rádio, páginas e páginas das melhores revistas de moda e
comportamento, além dos out-doors espalhados por todas as principais cidades
do Brasil. Tudo o que se sonha para turismo, relaxamento e, principalmente,
beleza e estética pode ser encontrado ali: tratamento desintoxicante com as
exclusivíssimas ervas da Finlândia, diminuição milagrosa de peso em um fim-de-
semana graças à miraculosa e secreta dieta islandesa dos esquimós, uma pele de
seda em cinco aplicações do incrível creme esfoliante de Madagascar, um
equilíbrio emocional perfeito com o incenso relaxante do Himalaia, pés
eternamente delicados com as algas miraculosas do Haiti, um desempenho sexual
perfeito graças às velas afrodisíacas do Nepal, além da incrível loção de babosa
africana de Skukuza que, dizem, faz nascer cabelos até em bola de bilhar.
O JARDIM DO ÉDEN é a mais vitoriosa realização de FAUSTO
CAVALCANTE e de seu antigo sócio, ARTHUR BRANDÃO, responsáveis por
muitos dos melhores empreendimentos no Brasil. Neste caso específico os dois
resolveram se juntar a MANOLO GUTIERREZ, proprietário do imenso terreno
onde foi construído o resort. MANOLO também possuía casas de shows e uma
lucrativa cadeia de restaurantes populares, empreendimentos dos quais resolveu
se desfazer para apostar todas as fichas com os novos sócios. Dos antigos
negócios MANOLO conservou, apenas, o seu xodó: uma enorme cadeia de casas
de bingos. Agora, depois do sumiço de FAUSTO, ARTHUR e MANOLO,
apatetados, tentam entender o que deu na cabeça do sócio majoritário, para
roubar tudo e desaparecer no éter. Apesar do muito dinheiro e poder que possuía,
FAUSTO CAVALCANTE jamais havia apresentado uma mácula em seu currículo o
que, nos tempos que correm, não deixa de ser surpreendente num país como o
Brasil onde um escândalo financeiro acontece a cada quarto de hora. Infelizmente
a imprensa, que antes o enaltecia, acabou revelando que FAUSTO CAVALCANTE
também era um enorme, um imenso, um incomensurável vigarista. Pior é que,
depois de seu desaparecimento, também não se sabe direito como, suas
falcatruas foram sendo reveladas uma a uma para total supresa de ARTHUR e
MANOLO, mais atônitos do que ninguém diante daquela situação. Como uma
enxurrada, essas informações passaram a pipocar nos jornais, nas revistas, nas
rádios, nas televisões de uma maneira tão intensa e absoluta que não havia o que
estancasse a hemorragia escandalosa. Em pouco tempo se sabia que mais um
grande baluarte da moral brasileira estava metido em tudo quanto era negociata,
ganhando dinheiro da maneira mais escusa, entalado até o pescoço com
gangsters internacionais, inclusive com a Camorra na Sicília. Além de terem que
provar inocência nesses envolvimentos, ARTHUR e MANOLO ainda viam a
repercussão negativa de todos estes fatos deixar o JARDIM DO ÉDEN mais
abandonado que a caatinga no Nordeste.
ARTUR BRANDÃO E MANOLO GUTIERREZ tentaram o impossível para
segurar ou, pelo menos, amenizar o escândalo mas foi em vão. Como é que esses
malditos jornalistas tinham acesso, de uma hora para outra, a toda a vida de
FAUSTO: às suas contas no exterior, aos seus códigos secretos, às suas ligações
com pessoas da pior espécie para divulgarem tudo isto diariamente? É claro que
eles, cada um do seu jeito e no seu ambiente, já haviam subornado muita gente e
sabiam como manter segredos bem guardados, mas agora tudo parecia inútil, era
como se uma praga tivesse caído sobre o JARDIM DO ÉDEN. Investigaram todos
os seus assessores, despediram até as pessoas mais íntimas, subornaram quem
puderam, ameaçaram os donos dos jornais, das rádios, das televisões, mas nada
adiantou, cada vez mais o rio de escândalos iniciado com o desaparecimento de
FAUSTO se tornava mais caudaloso e ameaçava arrastá-los na correnteza. O pior
foi que a situação evoluiu para uma insuportável desconfiança entre ARTHUR e
MANOLO porque, sendo duas cobras criadas, começaram a duvidar um do outro
a tal ponto que MANOLO jurava que ARTHUR estava comprometido até o
pescoço no sumiço de FAUSTO e vice-versa.
Ao lado deles permaneceu apenas ADRIANO, filho de uma empregada que
morreu na casa de FAUSTO quando ele tinha mais ou menos dez anos e de pai
desconhecido. ADRIANO ocupa hoje nas empresas e no coração de FAUSTO o
lugar que, por direito, deveria pertencer ao filho e às duas filhas, frutos do
casamento de FAUSTO e Lucinda, agora, LULU DE LUXEMBURGO, mas isto
tudo fica para depois. Jovem, bonito, talentoso e, principalmente, muito macho,
era afilhado de FAUSTO e o filho que desejaria ter tido no lugar daquele outro que
era uma inominável vergonha para qualquer pai. ADRIANO, que sabe como
ninguém fazer amigos e influenciar pessoas, sempre gozou também da confiança
e admiração de ARTHUR e não foi nada difícil conquistar MANOLO com sua
simpatia e eficiência mas, infelizmente, desta vez, nem a presteza e o empenho
que lhe eram peculiares conseguiram ajudar ARTHUR e MANOLO. Alguma
providência definitiva deveria ser tomada com urgência, antes que a Justiça
batesse à porta deles, mesmo porque se descobriu que FAUSTO, encarregado de
toda a parte financeira, enganou os dois falsificando documentos e deixando as
empresas devendo milhões aos cofres do governo. Muitos jornais apostavam, por
causa das dívidas públicas, que isto havia sido um golpe dos três sócios. ARTHUR
E MANOLO, enganados e indignados, brigados entre si, desconfiados um do
outro, negavam cheios de brios mas, como esta história se passa no Brasil, nunca
se sabe.
Parecia que nem ADRIANO sabia do paradeiro de FAUSTO, se bem que
em ADRIANO, quando o assunto é o seu padrinho, não se deve confiar. Sócios,
polícia, governo e imprensa vasculharam todos os lugares possíveis, checaram os
aeroportos, os navios, houve quem jurasse que com o dinheiro que levou poderia
ter ido até para outro planeta, mas a verdade é que não acharam nem sinal de
FAUSTO. Como ARTHUR e MANOLO não mais se falavam e tinham outras
empresas e outros afazeres, ADRIANO acabou tendo que comandar o JARDIM
DO ÉDEN, praticamente sozinho. Era uma responsabilidade grande demais para a
sua pouca idade, mas ele não se intimidou: julgava-se absolutamente capaz de
administrar tudo aquilo, principalmente porque tinha tido um excelente professor.
Só não calculou que a confusão pudesse ficar ainda muito maior.

III
A ESTREPITOSA VOLTA DAS FILHAS DA MÃE
O que mais irritou FAUSTO na herança que Lucinda deixou ao sumir em
Paris foi que os filhos acabaram por sair iguais à mãe. As duas filhas,
voluntariosas e rebeldes, eram o oposto absoluto do que ele sonhara e o filho,
realmente, “um caso à parte”. Justiça seja feita, TATIANA E ALESSANDRA seriam
duas tremendas dores de cabeça para qualquer pai. Durante a infância, assim que
Lucinda, aparentemente, morreu, as filhas passaram a botar para correr qualquer
babá e nem Mary Poppins teria suportado aquelas duas pestes. Na adolescência
foi pior. TÁTI e ALÉ, pronunciado com o É aberto por causa de uma bá nordestina,
competiam por tudo; de um alfinete ao melhor vestido, de um patinete ao carro do
ano; disputaram todos os meninos da vizinhança e adjacências, além de serem
expulsas, por mau comportamento, de todas as escolas de São Paulo. FAUSTO,
com um temperamento capaz de por Hitler e Mussoline no chinelo, jamais tentava
compreender ou dialogar; ao contrário, queria domar os filhos com castigos e
restrições, o que só piorava a situação. Brigas e discussões eram constantes e, à
medida que foram atingindo os dezesete ou dezoito anos, os três foram querendo
tomar seu rumo. Sem conseguir controlá-los e muito mais interessado em seus
negócios do que naqueles estrupícios, que em nada se pareciam com o que ele
queria ter para chamar de filhos, acabou tomando uma decisão surpreendente.
Como em uma linda história infantil, que havia lido há muitos e muitos anos,
quando um rei muito sábio quis conhecer melhor o caráter dos filhos e os
presenteou com algumas patacas em ouro para ver o que fariam delas, concordou
em lhes adiantar uma parte da herança para que cada um fosse cuidar da própria
vida; o resto só receberiam quando ele morresse; se ele algum dia morresse.
TATIANA, a filha mais velha, sonhava ser diretora de cinema e foi neste
sonho que colocou o dinheiro que o pai lhe havia adiantado. Morou com uns
amigos no Rio de Janeiro, perdeu parte da grana em produções de curta-
metragems e, como não deu em nada, resolveu que um país chinfrim como o
nosso jamais iria reconhecer o seu incomensurável talento; partiu então para a
conquista do mundo. Intelectualmente superior, como se considerava, tinha
certeza que conquistaria Hollywood, mas só iria para a meca do cinema com o
nome já feito na Europa. Começou pela Holanda, onde estagiou com o pessoal do
Dogma, apesar daquela gente não ser em nada a sua praia. Foi a quinta
assistente de produção num filme de Lars Von Trier que ela achou uma chatice;
fez parte da equipe de outros filmes cujo nome ninguém lembra; mudou-se para a
Espanha e passou a perseguir Pedro Almodóvar que nunca lhe deu a menor bola,
encheu tanto o saco do Bigas Luna que ele teve que chamar a polícia em uma
noite que ela resolveu montar acampamento debaixo da janela do coitado e em
Barcelona quase levou um tiro de Ventura Pons, porque aquele catalão não é de
brincadeira. O problema é que, mesmo rejeitada, se achava melhor do que
qualquer um deles e suas pretensões não eram poucas; queria ser uma diretora
diferente: culta e popular; profunda e comunicativa; simples e sofisticada, pobre e
riquíssima, despojada e glamourosa; premiadíssima, respeitadérrima mas com
uma imensidão de gente na bilheteria de seus filmes; discreta, mas coberta de
peles e jóias. Impossível ?... Não para TÁTI CAVALCANTE que sabia o seu lugar
no universo. Infelizmente toda esta bazófia acabou com o seu dinheiro e ela teve
de se empregar como vendedora de pipocas em um cinema em Londres na
Leicester Square. TATIANA já estava disposta a engolir o orgulho, pedindo penico
para o pai, se a humilhação viesse acompanhada de alguma comida melhorzinha,
um bom par de sapatos e até, quem sabe, um vestidinho de grife, quando soube
do escândalo e do desaparecimento dele. Parecia um milagre; imediatamente se
lembrou daquela médium que era a cara da Whoopi Goldberg em Ghost: a mulher
disse para ela, com todas as letras, que a oportunidade bate apenas uma vez na
sua porta e que a dela já estava chegando. A notícia dizia que o pai tinha sumido e
ela raciocinou que, mesmo levando muito dinheiro, o JARDIM DO ÉDEN
continuava no Brasil e, melhor, se aquele velho insuportável desapareceu alguém
deveria tomar conta do que ficou. Conclusão lógica na sua cabeça louca: este
alguém só poderia ser ela que é uma herdeira legítima ! Enquanto arrumava as
malas viu que não podia desembarcar no Brasil com aqueles trapinhos que usava
ultimamente. Vestida como uma mendiga jamais teria condições de impor respeito.
Nem pensou duas vezes, com seu único cartão de crédito que, por milagre, ainda
não estava cancelado, armou seu guarda-roupa de estrela de cinema no auge da
fama. Jamais voltaria ao Brasil como uma hiponga morta de fome, sabia que sua
irmã, ALESSANDRA, embora jurasse estar muito bem em Roma, gananciosa e
atrevida do jeito que era, não iria deixar de entrar nesta guerra e TATIANA não
estava disposta a perder nenhuma batalha praquela insuportável que sempre
disputou tudo com ela. Desembarcou no Brasil com oito malas, sem remorso do
calote que tinha dado nas melhores lojas de Londres e tal qual Scarlet O´Hara
deixou para pensar nas conseqüências no dia seguinte.
TATIANA estava certíssima em suas preocupações; conhecia ALESSANDRA
o suficiente para saber a rival que teria de enfrentar. A verdade é que, além de
parecidas fisicamente, raciocinam em tudo e por tudo da mesma maneira, o que
faz com que suas ações atinjam resultados idênticos. Por exemplo: certa vez, na
disputa por um namorado, TATIANA resolveu ficar completamente diferente de
ALESSANDRA e foi procurar um cabeleireiro para tornar-se loira; ao mesmo
tempo e no mesmo momento ALESSANDRA teve a mesma idéia e quando se
encontraram na hora do jantar, iguaizinhas na cor e no penteado, se
engalfinharam até quase ficarem carecas. Isto tem se repetido inúmeras vezes por
toda a vida delas; não nasceram gêmeas mas, sabe-se lá porque, são como duas
irmãs Corsos. Têm carregado esta cruz pela vida afora; já foram a psiquiatras,
hipnotizadores, macumbeiros, exorcistas; tentaram até um especialista
respeitadíssimo em neurolingüística, mas nada resolveu. Sempre que uma tem
uma idéia, a outra tem a mesma idéia no mesmo momento, sempre que uma quer
um homem a outra quer o mesmo, sempre que uma resolve usar uma roupa,
digamos, de bolas azuis, a outra, mesmo optando por listas, acaba com um
vestido de corte e cor muito parecidos com o da irmã. O que ocorre entre elas é
inexplicável mas absolutamente verdadeiro e faz com que elas resultem, embora a
contra gosto, em uma dupla de mulheres completamente diferentes mas
absolutamente iguais e elas sempre se odiaram por isso.
Curiosamente pretendem carreiras diversas, apesar de ambas serem
igualmente soberbas e absolutamente destituídas de talento para aquilo que
escolheram. Da mesma forma que TATIANA quer ser a maior diretora de cinema
do mundo, ALESSANDRA quer ser a maior escritora. Da mesma forma que
TATIANA acha o Brasil muito pequeno para o seu talento, ALESSANDRA também
resolveu sair pelo mundo. Imaginava que os grandes escritores americanos, antes
de morarem em magníficas pent-houses na Park Avenue, em Nova Yorque, tinham
que ter vivência para escrever sobre o mundo sofisticado que retratavam. Como já
tinha decidido que seria melhor do que qualquer outro escritor vivo, escolheu
adquirir experiência de vida em Roma e resolveu se fixar por uns tempos na Itália.
Evidentemente os planos de ALESSANDRA CAVALCANTE são muitíssimo mais
ambiciosos do que se tornar uma escritora brasileira de qualidade e respeitada
como, por exemplo, Zelia Gatai, Nélida Piñon, Raquel de Queiroz ou, até, Clarisse
Lispector; suas pretensões vão muito além. Claro que, na verdade, nunca leu
nenhuma delas, mas se acha melhor do que as quatro juntas. O objetivo de
ALESSANDRA é, apenas, conquistar todo o mundo conhecido e, futuramente,
todas as galáxias com seus best-sellers. Não consegue entender como em um
país onde a telenovela encanta multidões não exista uma Jaqueline Susann, uma
Jackie Collins, uma Danielle Steel, uma Patricia Cornwell, nem mesmo uma Anne
Perry ou uma Candace Bushell; escritoras de grandes romances, ricas e famosas.
Desde a adolescência ALESSANDRA CAVALCANTE tinha certeza absoluta de
que seria a Sidney Sheldon de saias do Brasil. Tanto seus professores quanto
suas governantas, seu pai e seus irmãos sempre acharam sua fixação na
literatura trash um absurdo, mas ela sabia muito bem o que queria da vida. O
problema é que em sua grande empáfia esqueceu que ter um livro publicado não
é uma coisa tão simples assim e, infelizmente, para que o livro seja publicado e
faça muito sucesso, elevando o nome de sua autora às nuvens, primeiro e antes
de tudo, tem que ser escrito.
ALESSANDRA tinha absoluta certeza de que das ruas de Roma, das festas,
das noitadas e, principalmente, dos amores que ela iria viver na cidade eterna,
alguma idéia haveria de aparecer. Começou muitos rascunhos, gastou muitas e
muitas horas, elegantíssima em seu deslumbrante chápeu de abas larguíssimas,
digitando em seu lep-top de última geração nas escadarias da Piazza di Spagna,
no Coliseu, no Foro Romano, no Campidoglio, até lascou duas ou três vezes as
imensas unhas vermelhas no Tre Scalini da Piazza Navona, mas, livro que é bom,
nada. Arrumou muitos namorados, teve muitos amantes, bebeu muito, comeu
bastante, se divertiu à larga, mas nada de romance, novela; nem até, quem sabe,
um conto, uma crônica, um pensamento... absolutamente nada ! Ganhou alguns
pretendentes, chegou até a viver com um conde que acabou se revelando um
vigarista e fugiu com boa parte de suas jóias, mas página escrita que é bom,
nenhuma. Com o tempo o dinheiro foi minguando e ela já estava como a irmã,
disposta a pedir penico, quando soube da notícia do golpe e desaparecimento do
pai. Entregou o apartamento em Roma, arrumou o seu melhor guarda-roupa, que
não era nada desprezível, e veio tomar posse do lugar que lhe pertencia no
JARDIM DO ÉDEN.
Sua entrada foi tão, ou até mais, retumbante do que a da irmã, porém nada
comparável ao impacto das duas juntas brigarem pela cadeira da presidência. É
claro que as duas enfrentaram muitas dificuldades legais para tomarem posse,
mas nada que um esperto advogado não conseguisse resolver. - (PESQUISA)

IV
SURPRESA !
ADRIANO já não sabia mais o que fazer para conter aquelas doidas que
resolveram tocar o JARDIM DO ÉDEN para frente e que fatalmente iriam acabar
falindo com aquele paraíso. Imaginou, então, que a única maneira de neutralizá-
las era ter o primogênito de FAUSTO e Lucinda a seu lado. RAMÓN e ADRIANO
haviam sido amigos de infância e durante grande parte da adolescência; é
verdade que ADRIANO desconfiava que RAMÓN nutria um certo ciúme da
atenção que FAUSTO dedicava a ele, mas tinha certeza de que, apesar de serem
muito diferentes em tudo e por tudo, dois homens se entenderiam melhor do que
aquelas duas malucas.
Assim que recebeu a mesma quantia em dinheiro do pai que as irmãs,
RAMÓN resolveu viver em Paris, perseguindo o seu sonho de infância de ser um
estilista. Desde criança adorava brincar com as bonequinhas das irmãs e
detestava aquele monte de caminhões, tratores e metralhadoras com que
FAUSTO, em desespero, enchia o seu quarto. RAMÓN certamente foi a pior coisa
que poderia ter acontecido a FAUSTO que, machão convicto, preconceituoso e
intransigente jamais entendeu o filho. Assim que RAMÓN nasceu, FAUSTO
procurou o nome mais masculino possível para seu primogênito; escolheu
RAMÓN pelo som ríspido e seco: com um nome desses, espanhol e forte, seu
menino seria uma rocha. Ledo engano ! Ao atingir a adolescência, depois de uma
infância, digamos, cor-de-rosa, RAMÓN matriculou-se, em segredo, em um curso
de figurinista e passou a usar o punching-ball que o pai mandou instalar em seu
quarto para montar modelitos exóticos. FAUSTO fez o que pode para “consertar” o
jeito afeminado do garoto, mas foi inútil. Castigos, discussões, surras, nada
adiantou e aquele machão ditador se viu pai de uma figura que ele, simplesmente,
abominava. Na verdade, a idéia de dar uma espécie de dote para que cada um
dos filhos cuidasse de sua vida vinha atrelada ao desejo de ver aquele filho
transviado bem longe. Chegando em Paris, RAMÓN só não se encontrou com a
mãe, que julgava morta, porque LULU já havia se mudado para Hollywood. Mais
sério e menos arrogante do que as irmãs, resolveu aprender de verdade a
profissão que perseguia e, como a concorrência em Paris é muito grande, durante
alguns anos, trabalhou pela Europa, onde houvesse interesse pelo seu talento.
Correspondia-se com uma certa regularidade com ADRIANO de quem se julgava
amigo e que, desde que fora morar na casa dos Cavalcante, acompanhando a
mãe cozinheira tornara-se seu companheiro e conselheiro, apesar dos dois não
terem absolutamente nada em comum. Ultimamente as cartas deixaram de chegar
e ADRIANO já não tinha a menor idéia de onde RAMÓN poderia estar no mundo.
FAUSTO, no entanto, nunca se preocupou com esta ausência; quanto mais longe
aquela figura afetada do filho ficasse, melhor, ainda mais que seu sócio e rival,
ARTHUR, que era pai de dois absolutos machões, adorava jogar as inclinações
femininas do filho na sua cara.
A eficiência de ADRIANO mais uma vez foi provada quando ele conseguiu
localizar RAMÓN na Suiça. Alguns e-mails e remessas de dinheiro depois,
ALESSANDRA e TATIANA souberam que o irmão iria chegar e que elas teriam
que dividir o poder de comandar o JARDIM DO ÉDEN com ele. Evidentemente as
duas já andavam cheias de planos para neutralizar o irmão quando a porta se
abriu e elas tomaram o maior susto de suas vidas:
- Ramón ?
- Ramona, maninhas/... Mudei de sexo!

Inacreditável ! Na frente delas uma linda mulher, altíssima, elegante, sofisticada,


metida em um enorme casaco de zibelina branca que se abria, delicamente,
deixando antever as pernas mais bonitas das quais elas já tiveram notícia. Aquela
era o seu irmão ? O pilulão tímido e amedrontado ? Aquele que elas amarravam
na árvore do pomar e colocavam fósforos acesos entre seus artelhos ? Aquele que
elas trancavam no quarto escuro só para vê-lo se borrar todo de medo ? Aquele
que só tinha tamanho, mas desmaiava quando via uma barata ? Impossível !... No
entanto os documentos que RAMONA mostrou pareciam autênticos, a declaração
de mudança de sexo através de uma operação na clínica da Suiça, assinada por
uma penca de médicos, também. Passado o primeiro susto vieram as perguntas e
RAMÓN, desculpem, RAMONA, respondia a tudo com a maior tranqüilidade.
Sempre se sentiu aprisionada em um corpo masculino, cansou de ser um homem
falando fino, com alma, jeito, feições e sonhos de mulher. A vida toda preferiu
vestidos esvoaçantes, peles e jóias em vez de bola de capotão e chuteira, desde
muito criancinha achava todos os meninos muito mais bonitos do que as meninas,
até que um dia chegou à conclusão óbvia: adorava os homens, mas não queria
ser um deles. Enquanto trabalhou em Paris pensou constantemente em fazer a
operação salvadora, mas tinha medo. Um dia o desejo foi mais forte e, depois de
um tratamento psicológico intenso, foi para a Suiça e, em segredo, realizou o
grande sonho. Hoje em seu corpo não existe nada que possa lembrar que ele
nasceu um homem, é uma mulher linda, elegante, sofisticada que ainda não pode
ter filhos, mas na Europa já se fala muito em resolver este problema para os
transexuais.
As irmãs estavam de queixo caído, aquilo não podia ser verdade e como
raciocinam rapidamente e ao mesmo tempo, chegaram em segundos à mesma
conclusão: só poderia ser uma farsa. Aquela mulher na frente delas poderia ser
belíssima, elegante, ter pernas deslumbrantes mas, sem dúvida, era uma
impostora. Aqueles documentos deviam ser todos falsos e uma investigação tinha
que começar imediatamente para que elas não fossem obrigadas a dividir nada
com aquela desconhecida. RAMONA, evidentemente, negava as acusações com
veemência, mas diante do patrimônio em jogo era bem possível que esta
RAMONA, ou seja lá quem ela fosse, estivesse aplicando um belo golpe. Outra
hipótese que levantaram é que esta desconhecida poderia ser uma espiã
mancomunada com o pai desaparecido que estava lá para não deixar que elas
tomassem posse do que ele não pode carregar do Brasil. Ou talvez, quem sabe,
essa RAMONA fosse apenas uma espertinha que teria de alguma maneira
enganado o irmão, ou até desaparecido com ele, para pegar uma parte daquela
fortuna toda ?... Muitas e muitas hipóteses foram levantadas e uma dúvida não
parava de martelar as cabeças de TATIANA e ALESSANDRA: se aquela não era
RAMÓN, o que teria acontecido com o irmão delas ?... É claro que, hoje em dia,
um simples exame de DNA resolve um problema destes, mas também é claro que
o exame só poderá ser feito com o consentimento da pessoa e RAMONA,
digníssima, se recusava terminantemente a passar por uma humilhação dessas.
Por outro lado, dada a gravidade da situação que envolve milhões, a Justiça
talvez, até possa, determinar o exame à revelia, mas como a Justiça por aqui é
lentíssima, até sair a sentença, a novela já deve ter acabado.
ADRIANO, muito mais chocado que as duas, além de não saber o que dizer
não tinha a menor idéia de como tratar aquele seu amigo de infância.
Compartilhava da teoria delas de que aquele monumento de mulher só poderia ser
uma impostora; não era possível que RAMÓN tivesse se transformado naquele
peixão. Jogou seu charme sobre ela, tentando assim envolvê-la e desvendar este
terrível mistério. RAMONA, porém, brecou-o na primeira tentativa, não estava ali
para este tipo de coisa, era uma mulher que exigia respeito. ALESSANDRA e
TATIANA, porém, logo perceberam que para vencer aquela guerra não poderiam
dispensar um aliado poderoso como ADRIANO e ambas, uma traindo a outra,
seduziram ADRIANO, que se viu envolvido pelas duas, sabendo muito bem que
proveito tirar daquela situação, embora já vivesse um romance meio secreto com
outra garota.
O que ninguém esperava é que o homem por quem RAMONA acabou se
interessando era o único com quem ela não poderia se envolver.

V
A SOCIEDADE QUE O ANTIGO SÓCIO NÃO QUERIA DE JEITO ALGUM

FAUSTO e ARTHUR BRANDÃO eram sócios, praticamente, desde crianças.


Cresceram no mesmo bairro e juntos, durante quase toda a vida, tiveram idéias
que resultaram em empreendimentos inovadores e de sucesso que em muito
contribuiram para o crescimento de São Paulo. Era quase impossível que qualquer
negócio encabeçado por estes dois não vingasse. Na vida particular também se
davam bem e eram amigos, apesar de serem completamente diferentes. Desde
muito criança, FAUSTO, tímido e retraído com relação às mulheres, sempre sentiu
uma grande inveja de ARTHUR que era o garanhão por excelência cercado de
fêmeas a seus pés desde que nasceu. Não havia uma garota por quem FAUSTO
se mostrasse interessado, ou mesmo apaixonado, que não acabasse nos braços
do amigo. Mesmo que ARTHUR não desse em cima delas, era inevitável, quase
uma maldição. A única que preferiu ficar com FAUSTO foi Lucinda e ele tinha um
imenso orgulho disso até descobrir que ela só se casara com ele por não tolerar a
galinhagem excessiva de ARTHUR mas, de verdade, era o sócio que ela amava.
Justiça seja feita, ARTHUR não nasceu mesmo para ser homem de uma
única mulher. Ultimamente, porém, depois que atingiu a chamada idade da razão,
tem feito sistemáticos retrospectos de sua vida e acha que Lucinda poderia ter
sido uma maravilhosa companheira se ele tivesse tido disposição de renunciar a
todas as outras mas, como todos nesta história, também acredita que ela tenha
morrido no tal desastre na Via Anchieta. Curioso é que na noite anterior ao sumiço
de FAUSTO, durante uma bebedeira, num arroubo de sinceridade ARTHUR
confessou que se arrependia profundamente de não ter se casado com Lucinda,
não ter construído uma vida a seu lado; chegou a dizer, entre lágrimas, que
Lucinda havia sido a única mulher que ele realmente amara. FAUSTO se manteve
em um silêncio de pedra, ouvindo a confissão do sócio e mais do que nunca se
sentindo vingado e recompensado de ter separado, para sempre, os dois
apaixonados.
Na sua vida de farras e muitos amores, ARTHUR casou-se três ou quatro
vezes, separou-se, sustenta as ex-esposas e hoje, noivo de VALENTINE, muitos
anos mais nova do que ele e por quem se sente realmente apaixonado, pensa em
uma vida mais calma e sossegada. Habita uma magnífica cobertura triplex
envidraçada, na companhia de seus dois filhos: LEONARDO e RICARDO, que são
seu orgulho e sua maior paixão. LEO e RICK saíram exatamente como ele sonhou
que fossem seus herdeiros: são bonitos, elegantes, cultos, inteligentes, charmosos
e, principalmente, como ele, adoram mulheres. Loiras, morenas, ruivas, eslavas,
africanas, orientais, não importa o tipo, entram e saem daquela cobertura num
desfile constante de beleza e charme. A única regra é que sejam sofisticadas,
elegantes e, principalmente, lindas, fazendo com que quase todos ali vivam em
uma completa harmonia emocional e sexual. Em meio a tanto prazer e liberdade,
não raro é o dia em que peças íntimas femininas são encontradas nos lugares
mais inusitados do apartamento para o desespero de Dona DEUSA, a governanta,
que está com eles há muitos anos e que, sendo absolutamente moralista, acha
aquela licensiosidade toda uma pouca vergonha. Dona DEUSA, porém, não larga
o emprego por duas razões: ordenado igual ao que ela ganha não se acha em
lugar algum hoje em dia e é secretamente apaixonada pelos três patrões. Não
suporta a idéia de ter nenhuma outra mulher fixa dentro daquele apartamento que
não seja ela e de tudo fará para que isto não aconteça. Por uma questão de
liberdade, para todas as partes, Dona DEUSA não dorme no emprego e nunca
nenhum dos três perguntou o que ela faz nas suas noites. Só sabem que todas as
manhãs ela chega com uma tremenda ressaca e já é um ritual entre eles que o
último a sair deixe preparado o suco de tomate que ela, invariavelmente, engole
todas as manhãs, enquanto equilibra uma bolsa de gelo na cabeça ao iniciar o
serviço. O problema de Dona DEUSA é evidente: apesar de nunca ter,
presenciado nenhuma cena, digamos, forte entre os patrões e aquelas mulheres,
o fato de viver constantemente em um ambiente onde se respira sexo faz com que
a sua imaginação crie as cenas mais excitantes entre ela e os patrões. Não raro,
ao bater um bolo ou rechear um frango se deixa levar por um delírio erótico que,
fatalmente, acaba em algum constrangimento quando é surpreendida por um dos
três e daí, para de noite se sentir fustrada e encher a cara, é apenas um passo.
Infelizmente suas preocupações com aquela família parece que vão aumentar
muito. Além do iminente casamento de ARTHUR com VALENTINE, que ela
obviamente detesta, LEONARDO está prestes a se apaixonar perdidamente e
RICARDO vive insatisfeito pelos cantos. É evidente que o caçula está passando
por um período de uma certa busca existencial.
Os atributos físicos e a simpatia de RICARDO fizeram dele um dos mais
solicitados modelos do país; além de desfilar para as principais marcas do
mercado ainda tem sua bela figura estampada em quase todas as revistas, out-
doors e comerciais de televisão, garantindo o interesse de qualquer mulher de
quem se aproxime. Apesar disto, mesmo sendo um grande namorador,
surpreendentemente, também é um romântico incurável. Sonha encontrar um
amor perfeito que não precisa, necessariamente, ter a aparência das mulheres
que o rodeiam diariamente. Se sente um pouco cansado de toda essa sofisticação
e superficialidade do mundo da moda e da propaganda; procura alguma coisa
mais simples, mais verdadeira. Uma relação de amizade e companheirismo de
onde possa surgir um grande amor mas, enquanto nada disso acontece, continua
a passar suas noites com as mulheres mais deslumbrantes do planeta, apesar de
nunca ter conseguido entabolar uma conversa interessante ou mais profunda com
nenhuma delas. Na verdade nem o próprio RICARDO sabe o que procura, mas
tem certeza de que, quando encontrar, saberá.
LEONARDO, ao contrário, adora o tipo de vida que leva. Trabalha com o pai
nos escritórios e deixa as mulheres malucas com seu jeito de crianção meio
desligado. Tem o imenso orgulho de nunca ter sido rejeitado por nenhuma delas.
Algumas foram mais fáceis, outras mais difíceis mas sempre levou todas as que
quis para sua cama usando o método infalível de se mostrar desprotegido à
procura de alguém que realmente o entenda e queira ficar com ele para sempre.
Invariavelmente o “para sempre” nunca passa de uma noite.
Estes dois filhos tão machos, bonitos e perfeitos eram a causa da maior
inveja que FAUSTO nutria por ARTHUR. RAMÓN, o primogênito varão que
FAUSTO exibiu como um troféu na maternidade, acabou resultando no que a
gente já sabe e as filhas, na cabeça dele, machão inveterado, não contam muito.
O pior é que ARTHUR nunca deixou de humilhar o sócio comparando a macheza
de LEONARDO e RICARDO com a delicadeza de RAMÓN mas como algum
antigo sábio já deve ter dito:

- É melhor não cuspir pra cima porque pode cair na própria cara.

Sabe-se lá porque, o destino, caprichoso como ele só, está prestes a armar
uma cilada; aliás se FAUSTO soubesse que esta seria uma das consequências
diretas do seu sumiço, já teria dado o golpe há muito mais tempo. Tudo
aconteceu da maneira mais simples e corriqueira possível. RAMONA tinha
deixado o carro na oficina e como estava com pressa de chegar ao cabeleireiro
resolveu enfrentar uma garoinha e atravessar a rua. LEONARDO vinha no seu
patinete, cortando a frente dos carros. Distraiu-se com uma mulher bonita na
direção de um conversível vermelho e quando percebeu, já tinha atropelado
RAMONA, empurrando-a para uma poça de lama. O elegante vestido branco dela
ficou imprestável e ele se prontificou a mandar lavá-lo, comprar um novo, ou o que
fosse preciso fazer para compensar o incidente. Falava tudo, meio aos borbotões,
sem conseguir tirar os olhos daquelas pernas: que pernas eram aquelas ?
RAMONA, embora absolutamente enlameada, sem conseguir se levantar, no meio
da chuva que agora caía mais forte, pouco escutava do que ele dizia. Estava
encantada com o seu jeito de menino, com as suas desculpas, com a sua
atenção. Foi quando LEONARDO conseguiu levantar os olhos e se deparou com o
riso charmoso, divertido e envergonhado de RAMONA, iluminando seu rosto em
meio aos pingos de chuva. Foi aí que se sentiu fisgado, numa atração mútua e
absolutamente irresistível. Mesmo para aquele bando de motoristas impacientes
que reclamavam do casal sentado no meio da rua, rindo e atravancando o trânsito,
ficou patente que, naquele instante estava nascendo um grande amor.
O mesmo antiqüíssimo sábio deve ter dito também: aqui se faz, aqui se
paga e o castigo vem à cavalo. Se ARTHUR passou a vida toda gozando FAUSTO
por causa do filho afeminado, agora iria ter que conviver com as consequências
deste romance inusitado e, pior, com toda a gozação de MANOLO GUTIERREZ, o
outro sócio do JARDIM DO ÉDEN, que não tinha a menor delicadeza, sofisticação
e, muito menos, disposição para entender essa situação.

VI
A FAMÍLIA DESMEMBRADA E DESTRAMBELHADA DO SÓCIO EMERGENTE.

MANOLO GUTIERREZ, como já sabemos, entrou para a sociedade com


FAUSTO CAVALCANTE e ARTHUR BRANDÃO recentemente. Cubano de
nascimento e brasileiro de coração, diferente dos outros dois, que tinham tido um
relativo bom berço, MANOLO vem de uma família muito humilde, simples e
bastante ignorante. Diferente da maioria dos cubanos que, por causa do novo
regime, resolveram pedir asilo em Miami, os Gutierrez vieram para o Brasil em
1959. Ainda criança quando chegou, MANOLO se adaptou rapidamente ao
espírito e ao modo de ser do brasileiro e foi aqui que realizou seus sonhos. Para
sua frustação, porém, apesar de seu grande empenho e imensa paixão pelo boxe,
fez carreira medíocre como lutador nunca chegando a ser um Primo Carneira e
nem, muito menos, um Éder Jofre, como sonhou. Por outro lado, se faltava talento
para desportista, curiosamente, sobrava para ganhar dinheiro. Desde muito
criança, aos oito ou nove anos, MANOLO já negociava com a molecada da
vizinhança e monopolizava o comércio de bolinhas de gude e de figurinhas
carimbadas das balas Futebol na zona leste.
Como GORGO, sua avó meio bruxa, profetizou quando ele nasceu na
“vieja” Havana, MANOLO tinha o toque de Midas: onde encostasse a mão virava
ouro. Fato é que a profecia se fez verdade e ele, realmente, fazia dinheiro do
nada, embora não conseguisse desenvolver uma carreira de boxeador por mais
que se esforçasse. Aos vinte e poucos anos, resolveu abrir um bar no clube do
Tatuapé onde treinava, daí abriu outro num clube do Tucuruví, outro na Parada
Inglesa e até no Jardim Jaçanã. Então teve uma idéia que o deixou “com a mala
pega” como ele gostava de dizer batendo nos bolsos: iniciou a venda de comida
por quilo em São Paulo. O sucesso foi tanto que cada bairro popular tinha um
MANOLITO e o lucro até permitiu que ele abrisse uma academia de boxe na zona
leste e começasse a investir também em casas de show. Teve várias na Major
Sertório e imediações da Praça Roosevelt e quase amargava um prejuízo
tremendo com elas quando sua estrela brilhou novamente. Assim que foi aprovada
a lei que permitia a associações desportivas abrir bingos, aproveitou-se da
academia de boxe e entrou de sola no mercado dos jogos. Hoje, milionário,
MANOLO GUTIERREZ é um dos empresários mais bem sucedidos da zona leste
de São Paulo; embora haja um MONOLO’S BINGO em cada bairro para melhor
servir você, ele não abandona suas raízes. Casou-se, teve um filho, enviuvou e
continua morando na mesma casa desde que chegou de Cuba mas que, se antes
era modesta, agora, ampliada e reformada, é o orgulho da vizinhança.
O primeiro contato que teve com FAUSTO e ARTHUR foi para discutir a
venda do imenso terreno de sua propriedade, onde funciona o JARDIM DO ÉDEN.
Apesar de, a princípio, não ter ido com a cara dos dois e contrariando os
conselhos de sua avó GORGO pela primeira vez na vida, acabou preferindo se
associar ao empreendimento ao invés de lhes vender o terreno. Entusiasmado
pela idéia de estar ao lado de empresários importantes e começar a aparecer em
revistas e jornais da classe A, se deixou levar pela vaidade e pelos sonhos
emergentes de AURORA sua, digamos, companheira. Assim, conservou apenas a
cadeia de bingos, se desfazendo de todos os outros negócios, para ser um dos
sócios proprietários do JARDIM DO ÉDEN. Tudo estava indo maravilhosamente
bem, com grandes lucros, até que FAUSTO resolveu dar o golpe. É claro que
MANOLO já havia se metido com vigaristas antes, mas acabava sempre se saindo
bem. Desta vez, o problema é que GORGO, do alto de sua sabedoria milenar,
garante que o neto não vai ver o dinheiro que enfiou no JARDIM DO ÉDEN nunca
mais, nem por um binóculo. AURORA tem certeza que GORGO insiste nisso
porque a idéia de se associar aos outros dois foi dela e a velha, teimosa e
rabugenta, odiando AURORA do jeito que odeia, é bem capaz de, desta vez, estar
blefando. AURORA também aposta que a velha tem alguma coisa a ver com o
desaparecimento de FAUSTO porque, um dia antes do sumiço, ele foi consultar a
bruxa para tirar a sorte. Verdade ou mentira, quem sabe ?... O fato é que ninguém
consegue arrancar nada da velha.
Natural de Santiago de Compostela, na Espanha, GORGO, tirou muita sorte
em Cuba onde viveu grande parte de sua vida, até que a mamata acabou e a
familia veio dar com os costados em São Paulo. Hoje, nos seus noventa e tantos
anos, além de profeta, cartomante e mandingueira juramentada é teimosa feito
uma mula. Detesta quando não é obedecida e, pior, quando é confrontada. Além
de cuidar da cozinha, limpa, encera e lustra a imensa casa com dedicação e
disposição de fazer inveja a qualquer garota de dezoito anos. Vaidosa, também
não se descuida da aparência, tendo cadeira cativa no salão de beleza da
japonesa do bairro, todo sábado de manhã. MANOLO vive insistindo para que a
avó coloque uma empregada para ajudá-la, mas ela não quer nem ouvir falar do
assunto, detesta que alguém se meta em qualquer coisa referente à casa. Dizem
que toda essa sua energia vem de um elixir meio mágico que ele toma todas as
manhãs antes do café mas, até hoje, ninguém provou nada. A verdade é que
GORGO comandava aquela família, bastante desmembrada e muito
destrambelhada, com um pulso de ferro até que, sob o mesmo teto, veio morar o
seu principal problema.
Desde que conheceu MANOLO em uma das boates da Major Sertório onde
fazia strip-tease, AURORA o deixou arreado dos quatro pneus. É claro que nem
precisa pensar muito para se descobrir onde AURORA esconde sua força.
Pequenininha, macia, redondinha, gostosíssima, muito bem feita de corpo, leva
MANOLO à loucura todas as noites quando imita, com perfeição, o sotaque
quente de Sonia Braga em Gabriela. Sabe-se lá porque MANOLO desenvolveu
uma fixação nesta personagem quando assistiu a novela e fica completamente
maluco quando realiza a fantasia de ser chamado de “Seu Nacib” por AURORA
com voz de travesseiro e sotaque forjado ao gosto de acarajé. Além dos seus
atributos, digamos, performáticos noturnos e apesar da sua exuberância natural,
ao contrário das coisas horríveis que GORGO espalha pela vizinhança sobre a
“amásia” do neto, AURORA tem um coração de ouro e, muitas vezes, é de uma
ingenuidade comovente. MANOLO, que pode ser muito manipulado por ela à noite
mas, de dia, continua sendo um azougue para os negócios, tem abusado de sua
ingenuidade em tramóias financeiras. Colocou algumas propriedades e firmas
fictícias em seu nome, sem que ela desconfie que está sendo usada como
“laranja” em vários negócios. Feliz da vida, AURORA assina qualquer papel com o
maior orgulho acreditando ser sócia dele; isto porque ter um nome respeitado, ser
tratada de senhora nos bancos, ter talão de cheques, cartão de crédito e,
principalmente, passaporte, sempre foi dos mais caros sonhos acalentados por
ela. Outro, mais caro ainda, que ela também está quase realizando é entrar para o
que ela ainda chama de “alta sociedade” e freqüentar um ambiente mais refinado,
rodeado de gente bonita e famosa que sai nas revistas. Adoraria ir praquela ilha
onde essa gente toda vai, ficar perto dos artistas, conhecer o castelo e tudo,
porém, existe um problema. Apesar de ser um espetáculo quando se arruma com
suas coloridas roupas de grife, seus estilosos óculos escuros, sempre se
equilibrando em saltos altíssimos, quando abre a boca é um absoluto desastre.
Até hoje não aprendeu a falar o próprio nome direito, sempre fala Orora ao invés
de AURORA, para constrangimento geral. A criançada da rua até já a apelidou de
“Orora Anarfabeta”, por causa de um antigo samba do Jorge Veiga, que o
BARNABÉ ensinou para a garotada. O fato é que AURORA odeia este apelido e já
está fazendo de tudo para aprender a falar, ler e escrever corretamente e é aí que
a porca vai torcer o rabo, mas isto também fica para depois.
Outro membro, já mencionado, desta curiosa família é o BARNABÉ, que foi
o primeiro e único treinador de boxe de MANOLO. Por afinidade, amizade e,
principalmente, reconhecimento a serviços prestados, BARNABÉ, hoje, é diretor
da academia de boxe da qual, orgulhosamente, detém 5% do capital. O seu
“status” de sócio lhe dá certas regalias como, por exemplo, habitar um
apartamento exclusivo, no quintal, com entrada independente. Mas também lhe dá
algumas obrigações como transformar DIEGO, o único filho de MANOLO, no
boxeador que o pai não conseguiu ser e isto já está parecendo uma missão
impossível. Adolescente e sem a menor inclinação para o que o pai espera dele,
DIEGO tem sido um constante desgosto para MANOLO. Apesar de não ter nada
de afeminado e de se interessar muito por garotas e diversões próprias da sua
idade, a inclinação de DIEGO é artística. Primeiro quis fazer cursos de artes
plásticas, depois se interessou por escultura, pintura e finalmente, para desgosto
absoluto de MANOLO, figurino. MANOLO sabe, pelo número de meninas que
entram e saem da casa, que DIEGO não é, digamos, “diferente” dos outros
meninos da rua, mas jamais vai admitir que o menino siga a sua inclinação
profissional natural. O problema é que, se BARNABÉ não conseguir transformar
DIEGO numa fera do ringue, pode ir fazendo as malas e abrindo mão dos seus
5% na sociedade. DIEGO, de boa índole, prefere enganar o pai a prejudicar o
BARNABÉ, que ele sabe que não tem para onde ir porém, fatalmente, mais cedo
ou mais tarde a farsa será descoberta.
Completam essa família destrambelhada DAGMAR e NICOLAU, mas estes,
realmente, são dois casos à parte.

VII
DE COMO UMA NORDESTINA ARRETADA VEIO PARAR NA ZONA LESTE
ROSALVA e seus quatro filhos moram na zona leste, na mesma rua de
MANOLO e sua família destrambelhada, há pouco tempo. A vida de ROSALVA,
dos três filhos adolescentes e de AMADA, a caçulinha temporã de oito anos, virou
de ponta cabeça logo que eles se mudaram para lá. É verdade que ROSALVA vem
estranhando os acontecimentos, há muitos anos, desde que se mudou de
Canhotinho, pequena cidade de Pernambuco, para a capital do Recife. Naquela
época já achou muito estranho que o marido tivesse ganho uma bolada na loteria
esportiva. Edimilson nunca jogava, nem gostava de futebol: mas o dinheiro estava
ali, em cima da mesa da cozinha e ele insistia na mudança. Dizia que ia ser
melhor para o estudo dos filhos, que ele ia poder trabalhar em uma boa firma de
frete com o seu caminhão, ganhar muito mais, e eles acabaram indo. Não
moraram nem um ano na capital pernambucana e justo quando as crianças, já
adaptadas à nova cidade, conseguiram vaga e estavam cursando um bom colégio,
Edimilson veio com outra novidade: NICOLAU, filho de um primo distante que
morava no sul desde criança, tinha arrumado uma colocação para ele numa
transportadora paulista. ROSALVA demorou mais para decidir desta vez, gostava
do Recife, tinha medo de enfrentar uma cidade como São Paulo mas, como o
emprego era em uma cidade menor, São Bernando do Campo e o dinheiro muito
bom, novamente, para o bem das crianças, vieram. A adaptação também foi fácil:
a vizinhança era amiga, muitos conterrâneos, gente boa e animada além de seu
DEDÉ, pai de Edimilson, de quem ela gostou de cara. Seu DEDÉ, que já estava
no sul há mais de trinta anos, morava de favor com NICOLAU na zona leste e
passou a morar com eles em São Bernardo. Na nova cidade ROSALVA começou
a trabalhar de vendedora, além de cuidar dos filhos e ficar grávida de AMADA.
Quando a paulistinha nasceu foi só festa, o nome significativo foi ideia de Seu
DEDÉ e aprovado pela família e, até então, a menina não o tem desmerecido.
Novamente, quando tudo parecia em seus lugares, com os meninos, PEDRO e
JOSÉ, entrando na faculdade e JOANA, a mais velha, trabalhando numa fábrica,
outra mudança. Edimilson veio com a novidade de que ia trabalhar transportando
com exclusividade para um lugar maravilhoso chamado JARDIM DO ÉDEN e que
tinha comprado uma casinha na zona leste. Com relação ao emprego, como o
dinheiro era bem maior, ROSALVA entendeu mas, por mais que o marido tentasse
explicar não engolia que tivesse de sair de São Bernando para morar num lugar
que nem tinha idéia direito de onde ficava. Conversaram, discutiram, até brigaram
feio mas de noite ele a convenceu e mudaram-se para o Tucuruví. A verdade é
que ROSALVA, arretada e decidida, resistia a tudo, menos a Edimilson pedindo
qualquer coisa baixinho ao seu ouvido, enquanto ralava a barba por fazer no seu
cangote.
Na zona leste uma nova adaptação e um problema: NICOLAU. O filho do
primo distante veio morar com eles e logo deixou Edimilson louco de ciúmes. Não
que ROSALVA tenha dado algum motivo mas o jeito meio despachado de
NICOLAU, sempre de camisa aberta e fazendo exercícios físicos, foi deixando o
caminhoneiro, que vivia viajando, com a pulga atrás da orelha. Para evitar
problemas, NICOLAU acabou indo morar na casa do vizinho, MANOLO, a pedido
de BARNABÉ, que tinha certeza que iria conseguir transformar NICOLAU num
campeão de boxe de botar o Popó no chinelo, mas esta é outra história que
também fica para depois.
ROSALVA, que sempre foi honestíssima e nunca deu a menor bola para
NICOLAU, tinha outro problema grave naquela vizinhança: MANOLO e GORGO.
Achava que a velha tinha “olho gordo” e desconfiava da atenção excessiva que
Edimilson dava a MANOLO. O pior era que, volta e meia, encontrava MANOLO na
sala conversando com Edimilson e percebia que, quando ela entrava, mudavam
de assunto. Detestava o ar de segredo que ficava pairando entre os dois. Várias
vezes tentou fazer o marido esclarecer o mistério, mas Edimilson garantia que era
só cisma dela. E depois como é que ele não iria querer conversar com um dos
sócios do lugar que trabalhava ? ROSALVA achava tudo muito estranho e jurava
que alguma coisa cabeluda existia entre aqueles dois. Como explicar os ganhos
extras de Edimilson ? O marido jurava que eram comissões que ganhava no
JARDIM DO ÉDEN, mas ROSALVA teve a pachorra de ir verificar e o contador de
lá garantiu que nenhum caminhoneiro jamais havia ganho nenhuma comissão. A
desconfiança só aumentava cada vez que Edimilson aparecia com um presente
mais caro, ou trocava a geladeira, comprava televisão grandona, video, aparelho
de som, roupas de grife para ela e os meninos e até um carro de passeio. Como
que um caminhoneiro ganhava dinheiro desse jeito ? Edimilson se defendia
dizendo que ela chorava de barriga cheia, que ele só pensava no conforto da
família etc e tal, mas ROSALVA não engolia aquela lenga-lenga e tinha certeza
que o marido estava enfiado em algum negócio perigoso com o vizinho:

- Frei Damião que me ajude... Esse MANOLO metido no negócio de bingo,


morando nessa casona, cheio da nota que só ele/... Só pode ser bandido!

Tinha pavor de ver o marido metido com a polícia e quando aconteceu a


tragédia teve certeza de que o culpado era o vizinho. A polícia garantia que tinha
sido assalto, os jornais confirmavam a versão da polícia, mas ROSALVA estava
segura de que o marido transportava alguma coisa proibida quando foi morto na
Via Dutra. Não havia nenhuma prova, nada que confimasse o seu raciocínio mas
nem Frei Damião, materializado na sua frente de sandalia e tudo, iria conseguir
tirar aquela idéia da sua cabeça: o marido tinha sido morto por causa da ligação
que tinha com o MANOLO. Passado o enterro tentou várias vezes esclarecer a
história, armando um escândalo atrás do outro na casa dos vizinhos, mas nada
adiantou. O pior é que MANOLO sempre a tratava com a maior deferência,
procurando nunca se exaltar, mantendo uma educação de inglês que não usava
com mais ninguém e isto, para ela, era uma prova a mais de que o bandido tinha
culpa no cartório. Com o passar dos dias a situação entre eles foi ficando
insuportável e ROSALVA percebeu que, se saísse daquela casa que já era deles,
além de não ter para onde ir com a família, jamais iria conseguir saber o que
realmente resultou na morte do marido. Por outro lado, por causa dos bate-bocas
na vizinhança, os filhos já estavam ficando com vergonha dela e isto ROSALVA
não queria de jeito nenhum. Então, aparentemente, serenou, mas no seu íntimo
sabe que vai desvendar esse mistério custe o que custar.
A vida, porém, continua e uma viúva com quatro filhos para criar, sozinha,
em São Paulo, tem que se virar. ROSALVA decidiu que iria empregar muito bem o
que o marido deixou no banco, que não era muito mas ajudava bastante. Tinha
certeza de que, até as coisas se estabilizarem, fome não iriam passar. Depois
poderia voltar a trabalhar de vendedora, se fosse preciso. Trabalho nunca a
assustou e, de maneira nenhuma, iria deixar que os filhos parassem de estudar.
Aqueles dois iam se formar na faculdade nem que ela tivesse que se virar do
avesso. Isto estava acertado na cabeça dela, porém, a filha mais velha, JOANA,
era um problema que Edimilson não deu jeito em vida e ela também não sabia
como resolver. JOANA não queria saber de estudar, resolveu ir trabalhar muito
cedo e desde que se mudaram para o Tucuruví se tomou de paixão pelo boxe.
Vivia grudada em NICOLAU, para cima e para baixo e sonhava ser a primeira
campeã feminina de boxe do Brasil. O pai, quando ouviu isso pela primeira vez,
quase matou a menina, mas JOANA enfiou a idéia na cabeça e sendo filha de
quem é, dificilmente vai desistir.
Além deste, um problema pior começou a atormentar ROSALVA: com tanto
garoto no mundo a filha foi se interessar logo por DIEGO, o filho único de
MANOLO. Infelizmente, o que ROSALVA menos quer na vida, é qualquer ligação
com aquela maldita família do bingo que além de ter matado o seu marido ainda
está levando seu sogro à perdição. Quando morou por ali com NICOLAU, Seu
DEDÉ, já tinha ficado muito amigo de MANOLO e BARNABÉ. Agora que voltou
pro bairro, para desgosto maior de ROSALVA, além de continuar com as
amizades, ainda se viciou no jogo do bingo. Porém, mesmo com estes senões, a
empatia entre sogro e nora permanece, embora Seu DEDÉ não concorde, de jeito
nenhum, com a teoria sobre a morte de Edimilson. Concorda menos ainda com a
cisma que tomou conta dela desde a passagem do marido. ROSALVA estava
determinada a transformar a filha caçula, AMADA em uma estrelinha do vídeo,
custasse o que custasse.
A idéia não era nova, tudo começou com um comentário de Edimilson,
alguns meses antes de morrer, quando assistia televisão com a garotinha no colo.
Achava que a filha era tão bonita, tão engraçadinha, tão encantadora que iria dar
de dez a zero em qualquer dessas crianças sem graça, que se vê nos programas.
Com o tempo isto passou a ser quase uma obsessão para ele. Cada dia vinha
com uma novidade: dizia que fulano estava arranjando um teste para a menina,
que no JARDIM DO ÉDEN trabalhava com um cara que ia levar a menina para
fazer comerciais de uma linha infantil que iam lançar por lá. Vivia com um
envelope nas mãos com fotos de AMADA e até mandou fazer um vídeo da menina
em uma produtora meio capenga, que ele descobriu na Avenida Celso Garcia.
ROSALVA não se conformava que o marido tivesse morrido sem realizar o grande
sonho, principalmente porque a menina, que morria de saudades do pai,
perguntava diariamente quando é que iria trabalhar na televisão. Meio sem saber
por onde começar ROSALVA andava com a filha pra cima e pra baixo em busca
de uma oportunidade na vida artística; foi barrada em muitas emissoras e
produtoras de comerciais até que descobriu na papelada do marido um cartão de
um tal VALDECK VENTURA. Atrás do cartão, estava anotado:

Tudo certo, teste para AMADA. Papel principal garantido. Parabéns !

Papel principal garantido era o que não parava de martelar na cabeça de


ROSALVA. A data para o tal teste, que vinha anotada logo a seguir, era de três
dias após a morte de Edimilson o que fez ROSALVA concluir, obviamente, que ele
morrera antes de conseguir levar a garota e, possivelmente, não teria dito nada a
ela para fazer surpresa. Munida desta certeza foi procurar o tal VALDECK
VENTURA que trabalhava também no JARDIM DO ÉDEN e foi aí que acabou
perdendo todas as suas economias e, mais uma vez, a sua vida acabou dando
outra cambalhota.

VIII
VALDECK VENTURA OU DE COMO SOBREVIVER NAS SELVAS DA CIDADE

Nascido em uma família da Zona Norte do Rio de Janeiro, que foi obrigada
a se mudar para a perifería de São Paulo quando seu pai, funcionário da Receita
Federal, foi transferido de cidade, Valdecir Ventura sempre se virou como pode.
Acreditando que um nome mais sonoro abre melhores portas, adotou o
pseudônimo e tem sido VALDECK VENTURA desde então. Foi assim também
com sua irmã, Valentina, que desde que se batizou profissionalmente como
VALENTINE tem feito uma bela carreira de modelo e está prestes a se casar com
o milionário que é um dos donos do JARDIM DO ÉDEN, onde VALDECK é o
personal trainer de todas as dondocas que sonham em ter um corpo perfeito.
Gordas, magras, altas, baixas, feias, bonitas, não importa; VALDECK enche de
esperança todas elas, garantindo assim uma freqüência entusiasmada e
permanente no seu departamento. Simpaticíssimo, sempre usa algum truque para
aquelas que, digamos, sejam um caso perdido. Se diz apaixonado, aceita convites
para jantar, ministra exercícios particulares, faz massagens exclusivas, deita e rola
sobre elas, mas sempre deixa uma cliente satisfeita.
Sua simpatia natural e seu jeito, digamos, “descolado” faz com que tenha
portas abertas onde quiser. Foi assim que conseguiu o teste para AMADA a
pedido de Edimilson, seu chapa no resort. Na época VALDECK estava saindo com
a mulher de um diretor de televisão que garantiu colocar AMADA no papel
principal da novela que estava sendo escalada, se ela passasse nos testes.
Acontece que com a súbita e inesperada morte de Edimilson, AMADA não se
apresentou para os testes e o assunto acabou esquecido até que VALDECK foi
procurado por ROSALVA. No entanto, por causa desta sua intensa vida de alta
rotatividade, a tal mulher do diretor de televisão já tinha rodado e ele nem
imaginava como poderia conseguir o tal teste para a menina. Mas como é um cara
de bom coração e não resiste ver uma mulher chorar, muito menos se for viúva
recente de um grande amigo, resolveu ajudar ROSALVA. Cavou outra
oportunidade para AMADA mas, infelizmente, o tiro saiu pela culatra. Sem nenhum
conhecimento no ramo artístico, VALDECK, acabou se metendo com um vigarista
de porta de cadeia que prometeu arrumar o teste para a menina mas deu no pé
levando todo o dinheiro de ROSALVA.
Embora não tivesse sido, voluntariamente sua culpa, o fato é que o dinheiro
sumiu e o vigarista se evaporou. Conseqüência direta, ROSALVA ficou sem suas
economias e VALDECK tem que arrumar este dinheiro para não fazer uma falseta
dessas com a viúva do amigo. Além disso, influenciado por ROSALVA, também
começou a achar muito estranho o acidente que resultou na morte de Edimilson e
se prontificou, como é o seu jeito, a ajudá-la a desvendar este mistério. O
problema é que com o sumiço de suas economias ROSALVA não quer mais ver
VALDECK nem pintado de ouro, mas ele enfiou na cabeça que vai provar por A
mais B que o acidente envolvendo Edimilson foi criminoso e quando VALDECK
VENTURA enfia uma coisa na cabeça, ainda mais se tiver contando com a ajuda
de FAÍSCA, seu fiel escudeiro, sai de baixo!
FAÍSCA é amigo desde que VALDECK chegou do Rio e os dois juntos
funcionam como uma “dupla dinâmica”. Embora não usem máscaras e nem se
fantasiem, como seus heróis de gibi preferidos, quando enfiam na cabeça alguma
missão, é fogo. Além de quererem ajudar todo mundo, ainda gostam de levar
vantagem em tudo e, principalmente, adoram se meter onde não são chamados.
Têm teorias e soluções para tudo e se entendem perfeitamente, apesar de
FAÍSCA ser mudo e só se comunicar através de sinais e de VALDECK ser meio
míope. Hoje em dia miopia nem seria um problema para a maioria das pessoas,
mas para VALDECK, é. Se recusa a usar óculos por pura vaidade, tem rejeição
alérgica a qualquer tipo de lentes de contato e morre de medo de fazer a operação
que poderia solucionar o seu problema. Assim sendo, mais que uma amizade, o
que os une é a necessidade absoluta de ficarem juntos porque FAISCA vê tudo
para VALDECK que fala pelo amigo. Por mais estranho que possa parecer, juntos,
os dois funcionam muito bem e até já cogitaram abrir uma agência de
investigações; a idéia só não foi pra frente porque VALDECK não quer ficar longe
das mulheres que encontra diariamente no seu atual emprego e que fazem de sua
vida um gozo constante. Mesmo como detetives amadores, no caso específico da
morte de Edimilson, fuçaram tanto que acabaram descobrindo que o JARDIM DO
ÉDEN não é, de maneira nenhuma, o paraíso que parece ser. Quanto mais se
aprofundavam nas investigações, mais iam descobrindo podres que, para o bem
de quase todos, era muito melhor que continuassem enterrados.
Nas investigações dentro da presidência do resort, VALDECK acabou se
aproximando bastante das novas diretoras: ALESSANDRA e TATIANA e, esperto,
percebeu que seu magnetismo pessoal não passava desapercebido por elas.
Resultado imediato: elaborou um plano que iria solucionar seus problemas
financeiros para sempre. Se sua irmã, VALENTINE, já estava se arranjando e ia
se casar com ARTHUR BRANDÃO, ele que se arrumasse com ALESSANDRA ou
TATIANA e a família tirava o pé da lama de uma vez. ALÉ e TÁTI, no entanto,
tinham todas as idéias possíveis para se relacionarem, em segredo, cada uma do
seu jeito com VALDECK, mas casamento estava completamente fora dos seus
planos. VALDECK porém, confiava no seu taco e tinha certeza que arrastaria uma
das duas para o altar e elas, que de tontas não tinham nada, iam deixando que ele
acreditasse no que quisesse enquanto se divertiam neste jogo de muito espertas
contra o quase sabido.
A grande esperança de VALDECK com este casamento é matar dois
coelhos numa só cajadada. Primeiro, obviamente, é se dar bem na vida, depois,
realizar o maior sonho de sua mãe. Pode-se falar o que quiser de VALDECK,
menos que ele não tenha sido um bom filho para Dona VIOLANTE. Desde muito
criança tem adoração por aquela senhora que se sacrificou como uma mártir de
catecismo para criar os dois filhos, como ela sempre faz questão de frisar. Viúva
do único funcionário honesto da receita federal, como ela também não para de
repetir, joga a honestidade de Polidoro, o falecido marido, na cara dos filhos como
se aquele tivesse sido o maior defeito do coitado. Frisa sempre que enquanto os
colegas dele estão morando em mansões e os filhos dirigem carros de último tipo,
a família, que ele deixou sem um tostão no banco, tem que se arranjar naquele
sobradinho alugado. Depois da morte de Polidoro, Dona VIOLANTE teve que se
sacrificar na máquina de costura para que não faltasse nada na casa, mas agora,
ambiciosa, quer que os filhos lhe dêem o troco em conforto e posição social.
Desconfia que VALDECK, com seu temperamento natural, mais cedo ou mais
tarde, vai acabar se dando bem na vida, mas tem certeza que VALENTINE precisa
ser muito estimulada por ela para deixar de ser uma romântica e aproveitar muito
bem todos os atributos físicos que a natureza lhe deu. Seguindo esta teoria,
VIOLANTE, usando de todo tipo de chantagem emocional possível, acabou
convencendo VALENTINE de que ela teria apenas duas opções na vida: ou
aceitava se casar com ARTHUR BRANDÃO, ou ao chegar em casa ia ver o
cadáver da mãe estendido em cima da mesa da sala entre quatro velas.
VALENTINE que, infelizmente, é muito influenciada pela mãe, já está
fazendo tudo direitinho como VIOLANTE planejou. Aceitou o pedido de ARTHUR
e, apesar de ser apaixonada por outro, está deixando que VIOLANTE e uma
enorme equipe organize um elegantíssimo casamento na cobertura triplex dele,
já convencido pela futura sogra a pagar uma fortuna por um exclusivíssimo
vestido de noiva da Maison Dior de Paris. VALENTINE, apesar de fraca e
influenciada pela mãe, é uma boa moça. Depois, é tão linda, elegante e
perfumada, além de se mostrar sempre carinhosa e solícita, que ninguém pode
culpar ARTHUR de estar caindo na armadilha engendrada por VIOLANTE. Na
verdade nem ele sabe explicar porque, uma vez que uma mulher não lembra em
nada a outra, mas tem certeza que desde Lucinda, há muitos e muitos anos, esta
é a primeira vez que ele se sente realmente apaixonado e está adorando isto;
pena que VALENTINE não possa corresponder a este sentimento porque seu
coração já tem outro dono.
No dia do casamento, depois de muitas peripécias e um pouco antes do sim
definitivo, aconteceu o inesperado. LULU DE LUXEMBORG descobriu toda a farsa
e, ajudada por MILAGROS e Dona DEUSA, impediu ARTHUR de cair na
armadilha. O problema foi que com isto também acabou ganhando um inimigo de
peso porque VALDECK VENTURA perdoa tudo no mundo, menos que se faça
alguma maldade com aquela santa senhora que ele chama de mamãe.

IX
DE COMO LOULOU VEIO PROTEGER SUAS FILHAS DA MÃE

Assim que soube do acontecido com FAUSTO pela televisão, LULU mandou
acionar, de Los Angeles, a melhor agência de detetives de São Paulo e em menos
de dois dias tinha um relatório completo e absolutamente confiável da situação.
Evidentemente, a grande responsável por toda essa presteza foi, como sempre,
MILAGROS QUINTANA, que como já sabemos é a secretária faz-tudo de LULU.
MILAGROS mora na América, há muitos e muitos anos, desde que veio com os
pais tentar uma carreira de atriz adolescente em Hollywood. Como atriz infantil
MILAGROS participou de muitas produções, nos estertores da Pel-Mex, e ostenta
o orgulho de ter sido filha de Maria Félix, Letícia Palma, Ninón Sevilha e até de
Maria Antonieta Pons, que mesmo em final de carreira ainda eram grandes divas.
Infelizmente MILAGROS cresceu sem nada do charme que tinha ao ser uma atriz
infantil, os trabalhos rarearam e o cinema mexicano perdeu seus dias de glória.
Sem querer sucumbir à televisão, a família resolveu tentar a sorte em Hollywood.
Melhor que tivessem se ajeitado fazendo novelas no México porque na meca do
cinema MILAGROS não conseguiu passar de figurante. Atingiu a maturidade de
decepção em decepção até que, orfã de pai e mãe e cansada de tanto teste do
sofá, resolveu criar juízo e arrumar um emprego estável. Conheceu LULU, que
chegava de Paris e tinha uma certa dificuldade com a lingua inglesa, respondendo
a um anúncio do Los Angeles Times. Foi a sopa no mel e, desde então, nunca
mais largou o emprego. MILAGROS tem verdadeira adoração por LULU que a
trata como uma pessoa da família, apesar de detestar a mania da patroa de só se
comunicar em português em casa e de viver corrigindo o seu carregado sotaque
que fica entre Cantinflas e Bienvenido Granda.
Com o dossiê nas mãos, LULU teve a certeza de que precisaria fazer algo
urgente. Dava para ver que a situação era bem mais preta do que parecia porque
as filhas já estavam no Brasil e tinham assumido a direção do JARDIM DO ÉDEN.
Tinha pleno conhecimento da nula capacidade profissional das filhas, através de
detetives que sempre as seguiram pelo mundo desde que sairam da casa do pai,
e sabia que as duas, sem dúvida, iriam exterminar sumariamente o único
empreendimento que sobrara além de, possivelmente, matarem uma a outra.
Então resolveu que sua hora de voltar para casa também já tinha chegado. Da
decisão para a ação foi um pulo e em menos de vinte e quatro horas LULU DE
LUXEMBURGO estava pronta para o retorno e foi aí que dúvidas e mais dúvidas
começaram a martelar em sua cabeça. É claro que com o seu marido-algoz
desaparecido e todos tendo certeza da morte de Lucinda, dificilmente alguma
conexão com ela seria feita. O perigo dela ser presa ou molestada pelo que
aconteceu, há trinta anos atrás, estava afastado depois de tanto tempo. Mesmo
com a possibilidade tentadora de circular incógnita entre pessoas tão importantes
em sua vida, havia um perigo imimente que a apavorava: ARTHUR BRANDÃO.
Será que ele poderia reconhecê-la ? Olhando-se no espelho viu que o
tempo não tinha parado para ela; de maneira alguma queria se deparar com ele e,
nem mesmo incógnita, receber um olhar de crítica ou, muito pior ainda, de
decepção. É verdade que, logicamente, o tempo também havia passado para ele
porém, e isto constava do relatório dos detetives, ARTHUR estava se casando
pela quarta vez e com uma moça muitos e muitos anos mais nova. Não havia
nenhuma foto recente dele e a dúvida bateu forte: será que ARTHUR tinha feito
plástica e estava mocíssimo ? Ainda diante do espelho LULU começou a corrigir
seu rosto: puxou com esparadrapos aqui e ali e se arrependeu, instantâneamente,
de não ter puxado tudo de verdade uns dez anos antes. Considerou até uma
operação de emergência, mas a recuperação levaria mais de um mês. Um mês ?
Daqui a um mês, quando estivesse apresentável, como o médico garantiu, era
possível que as filhas já tivessem acabado uma com a outra e do patrimônio não
restasse nem sombra ou, pior, que FAUSTO já tivesse sido preso, ou
simplesmente voltado. Ela jamais teria condições tão favoráveis para voltar ao
Brasil. Desistiu da plástica e resolveu enfrentar tudo de peito aberto. O que LULU
nem podia imaginar era que, ao mesmo tempo que ela se puxava aqui ou ali em
frente ao espelho, imaginando o seu encontro com ARTHUR, ele, no Brasil,
preocupado com a noiva mais nova, fazia o mesmo em frente do espelho em seu
quarto.
Outro problema: como enfrentar os filhos ? LULU decidiu que voltaria e se
mostraria imediatamente para as filhas mas MILAGROS, muito mais previdente,
achou que um choque dessa natureza poderia colocar tudo a perder. Afinal há
trinta anos LULU não via as filhas; como já foi dito, se mantinha sempre informada
das ações das meninas através de detetives pelo mundo mas, de verdade mesmo,
não sabia como elas tinham ficado depois de sua partida. O que será que elas
pensavam da mãe ? Imaginava o retrato horrível que FAUSTO poderia ter pintado
para as filhas e se apavorava com a reação delas ao descobrirem que a mãe não
tinha morrido, tinha abandonado a família e, levianamente, nunca mais dera
notícias. Teria que revirar seu passado, a morte de René, como explicar tudo
depois de tantos e tantos anos ? Concordou com MILAGROS, que era
escoladíssima num bom melodrama mexicano: o melhor era primeiro se instalar,
sondar o ambiente e depois tomar decisões mais sérias.
Quando receberam uma reserva para a suíte presidencial do JARDIM DO
ÉDEN para LOULOU DE LUXEMBOURG, TATIANA e ALESSANDRA não deram
muita importância até descobrirem, através de MARIA LEOPOLDINA a
eficientíssima gerente do resort e braço direito das duas, de quem se tratava e aí
se apressaram para aproveitar a promoção. Realmente LULU não conhecia nada
das filhas que tinha parido; se conhecesse não teria arriscado tanto. Ao chegar no
aeroporto foi surpreendida com uma recepção monstruosa. Fotógrafos e
repórteres a esperavam e ela, assustada, com o auxílio sempre eficiente de
MILAGROS, acabou conseguindo despistar a todos saindo pela esteira de malas.
É verdade que os passageiros que esperavam suas malas estranharam muito
aquela senhora elegantíssima, envolta em peles e jóias, sentada na esteira rolante
ao lado das malas mas, passado o primeiro susto, veio a primeira grande emoção.
Finalmente LULU pode abraçar as filhas que não via há tantos anos e que fora
obrigada a abandonar. ALÉ e TÁTI se olhavam perplexas sem entender porque
aquela mulher tão esquisita, tão famosa, tão excêntrica, que até fugiu da imprensa
pela esteira de malas, as abraçava com tanto amor e não conseguia conter um
pranto emocionado. MILAGROS deu alguma explicação convincente e quando se
viu a sós com LULU repreendeu o seu comportamento. Se ela queria permanecer
incógnita deveria controlar suas emoções e aí é que estava o maior problema.
A estada de LULU no JARDIM DO ÉDEN, porém, vai ficando cada vez mais
confusa e complicada. Mesmo procurando se distrair jogando golfe, cavalgando
pelos prados, participando das sessões de ginástica, cuidando da beleza fazendo
massagens e bronzeamento, não conseguia se manter afastada das filhas e muito
menos conter as suas emoções. Além de dar palpite na administração caótica das
filhas, querendo, desesperadamente, que todos os clientes voltassem ao JARDIM
DO ÉDEN para a recuperação total do lugar e maior lucro para as meninas, não
conseguia deixar de se meter, também, na vida particular das duas. Durante
tantos e tantos anos o seu amor de mãe ficou estrangulado, sonhando em mimar,
abraçar, proteger aquelas meninas e agora ninguém conseguiria abafá-lo. Isto foi
criando uma situação bastante embaraçosa porque ALÉ e TÁTI passaram a
desconfiar que aquela senhora estava querendo alguma coisa muito estranha com
elas ou então, por que se comportava daquela maneira ? Vigiava a entrada e
saida delas, queria saber com quem andavam, a que horas voltariam, o que
tinham feito na noite passada, dava palpite em roupas mais decotadas, em corres
mais berrantes, aconselhava que usassem os cabelos assim ou assado, sem
esquecer o controle sobre o que comiam, se estavam bem agasalhadas; enfim,
um inferno que só uma mãe extremada pode proporcionar. É claro que LULU
sempre agia de maneira delicada mas, chegou ao cúmulo, de passar um sabão
em ADRIANO e outro em VALDECK, quando descobriu que ambos estavam
envolvidos com as duas, possivelmente enganando as coitadinhas. O
comportamento daquela nobre senhora era muito estranho para todos no resort
porque, afinal, por mais importante que fosse, era apenas mais uma hóspede. O
que ia a seu favor era que o resort, como já sabemos, estava atravessando
momentos difíceis e uma hóspede pagando em dia e a peso de ouro, por mais
estranha e invasiva que fosse, não poderia ser desprezada. Depois era uma
pessoa famosa e a imprensa já tinha divulgado sua presença no lugar, fazendo
com que algumas madames aparecessem por lá. LULU, para ajudar as filhas, até
aceitou fazer uma matéria para uma revista semanal posando com todos os seus
Oscars que vieram especialmente de Los Angeles para as fotos. O que é que a
força da explosão de um amor de mãe sufocado por trinta anos dentro do peito
não faz por suas filhas ?
Afinal, depois de alguns calmantes e muitos conselhos de MILAGROS,
LULU serenou um pouco, o que foi muito útil para ter coração suficientemente
forte e não morrer na próxima surpresa. Completamente estatelada, diante
daquela bela mulher de um metro e oitenta, LULU procurava aceitar o fato de ter
três filhas e não duas como sempre pensou. A princípio, mesmo chocada,
procurou entender e ser a mais compreensiva possível com relação a RAMONA.
Era por isso que os detetives tinham perdido a pista de RAMÓN fazendo com que,
há quase um ano ela não tivesse nenhuma notícia do primogênito. Depois,
embora a nova filha nem desconfiasse de quem ela pudesse ser, algumas dúvidas
começaram a bater em seu coraçãozinho de mãe. Está certo que ela não via o
menino há trinta anos, mas se o filho tivesse aquelas pernas, será que ela não
teria reparado ? O jeitinho feminino, justiça seja feita, ele sempre teve mas, e
aquela boca ? Trabalhando em Paris e Hollywood, tinha convivido com muitos
transexuais, mas nunca vira um tão perfeito. É verdade que havia uma certa
afetação nos gestos, na maneira de sentar, no jeito de andar, mas ela já tinha visto
mulheres bastante afetadas também. Sempre ajudada por MILAGROS e
preservando a sua identidade, preparou várias armadilhas e RAMONA nunca caíu
em nenhuma delas. Será possível que aquele era mesmo o seu filho ? Dizem
sempre que coração de mãe não se engana mas, desta vez, quem sabe ?
Descobriu a desconfiança de ALÉ e TÁTI com relação à falsa identidade de
RAMONA e comecou a compartilhar da idéia que estavam sendo vítimas de uma
impostora. Ainda mais que RAMONA se ofendia terrivelmente toda vez que se
tocava em teste de DNA, dizia que preferia morrer a passar por uma humilhação
dessas. Justiça seja feita, para a situação que se armou depois, era muito melhor
que RAMONA fosse uma vigarista, uma impostora que tinha se chegado a eles
para dar um golpe, porque LULU, com tudo o que já vivera, não conseguia ter a
mínima idéia de como poderia ser resolvida aquele romance absurdo do seu filho,
desculpem, filha, apaixonada e correspondida por LEONARDO, filho de ARTHUR
BRANDÃO, seu antigo amor.
Na iminência deste perigo real e imediato, de queixo caído com essa
armadilha do destino, LULU concordou com MILAGROS que, se RAMONA não
fosse uma impostora, desde Romeu e Julieta não havia existido uma história de
amor tão original.

X
WEBSTER PEREIRA CONTRA O GIGANTE DOS BINGOS

Toda a confusão causada pela estada de LULU DE LUXEMBURGO no


JARDIM DO ÉDEN teve conseqüências dramáticas na vida de MARIA
LEOPOLDINA, a eficientíssima braço-direto de ALESSANDRA e TATIANA. Antes
do sumiço de FAUSTO, MARIA LEOPOLDINA já trabalhava no resort e, como
secretária de ADRIANO, contribuiu muito para o sucesso do empreendimento.
Filha de uma família tradicional do nordeste, que há muitos anos mora em São
Paulo, MARIA LEOPOLDINA é o que se pode chamar de uma executiva do novo
milênio. Casada, mãe de um casal de crianças lindas e sempre bem tratadas; é
uma mãe, esposa e dona-de-casa exemplar, além de ser impecável e
eficientíssima no escritório. Profissionalmente ambiciosa, trabalha com afinco,
sempre muito elegante em tailleurs e terninhos bem cortados, pele cuidada,
cabelo arrumado e, principalmente, muito bom humor. Nunca ninguém a viu
preocupada com uma doença de filho, nem com as lições das crianças, com a
hora de pegá-las na escola, com as compras do super-mercado, com o que fazer
para o jantar, com a lavanderia, com os problemas das empregadas, com as
chatices de todo esse serviço feminino que é imprescindível em qualquer casa e
jamais reconhecido por ninguém. Além do mais MARIA LEOPOLDINA tem marido
e marido brasileiro, dentro de casa, como todas esposas estão cansadas de saber
e vivem apregoando aos quatro ventos, só reclama e não mexe uma palha. As
conjecturas das outras mulheres eram muitas: ela devia ter uma governanta
maravilhosa, não tinha; então morava com a mãe que era uma santa, não morava;
colocava os filhos na creche, não colocava. Qual seria o segredo ?
Todas essas mulheres ficariam muito mais revoltadas ainda se soubessem
que o segredo de MARIA LEOPOLDINA é exatamente seu marido. WEBSTER
PEREIRA, como garante o sobrenome é bem brasileiro. Filho de uma professora
de inglês, que imaginou para ele um futuro maravilhoso, mas infelizmente, acabou
morrendo sem ver seu sonho realizado. Talvez por ter sido embalado em seu
berço por sonetos e textos de Shakespeare, assim que cresceu, WEBSTER
decidiu que seria ator. Fez tudo direitinho: entrou na ECA, formou-se com
distinção, tem um talento reconhecido pela maioria dos colegas, mas a carreira
não vai para frente. Não consegue engrenar na profissão que escolheu e para a
qual se sente cheio de talento e vocação e este é seu desespero. Ao terminar a
faculdade de artes cênicas, decidiu que sua vida seria o teatro, não aceitaria
jamais fazer televisão e, muito menos, comerciais. Hoje, se aparecesse uma ponta
em qualquer programa humorístico de quinta categoria, iria correndo e até
agradeceria de joelhos. Já se disse muitas vezes que talento só não basta, que
sem uma boa dose de sorte nada acontece em uma carreira e WEBSTER
PEREIRA é a prova viva dessa verdade. Ele nunca está na hora certa e no lugar
certo; sempre chega um pouco antes ou um pouco depois. Às vezes é o tipo que
não serve, outras vezes é o peso, às vezes a voz é muito forte, outras vezes fraca
demais, às vezes ele é alto, às vezes é baixo, às vezes é feio, às vezes é bonito,
enfim, falta ou sobra sempre alguma coisa que faça com que ele ganhe um
personagem. O que mais o revolta é que ele sabe que tem talento e está
preparado para quando a oportunidade chegar. Já montou peças excelentes em
espetáculos alternativos, mas ninguém foi ver. Recebeu críticas maravilhosas
quando encenou Hamlet na ECA e ficou por aí. O que seria um novo Sérgio
Cardoso, hoje é, apenas, um exemplar dono de casa.
WEBSTER e MARIA LEOPOLDINA se conheceram e se casaram em pouco
tempo. Logo vieram os dois filhos e ao mesmo tempo que via a mulher crescer
profissionalmente, sua inexistente carreira murchava. Foi murchando, murchando
tanto e a mulher crescendo e crescendo tanto que os papéis acabaram se
invertendo. Ela é quem traz o dinheiro e ele fica com as obrigações do lar. Em
contraste com sua falta de sorte para a profissão que escolheu, WEBSTER é
extremamente talentoso em qualquer coisa que queira fazer. Seria um excelente
bancário, gerente de vendas, escritor, professor e poderia fazer sucesso em
qualquer outra profissão, mas só de pensar em largar para sempre o sonho de ser
um ator reconhecido e consagrado faz com que não tenha nem vontade de
continuar vivendo. Prefere continuar cuidando da casa, temporariamente, até sua
grande oportunidade aparecer. Como se empenha em tudo o que faz, aprendeu a
fazer uma massa folheada melhor do que ninguém, um souflê dos deuses e dá
conta dos serviços domésticos com mais eficiência do que três empregadas.
Ninguém cuida melhor das roupas na lavanderia, pechincha melhor na feira ou
serze mais perfeitamente qualquer roupa sem deixar nenhum vestígio do
remendo. Numa limpeza diária então, é imbatível: esfrega as paredes da cozinha
diariamente, não deixa uma poeira em cima de móvel algum e as vizinhas até
comentam: chão que seu WEBSTER limpou pode até servir de mesa de jantar.
Cuida dos filhos com tal amor e dedicação que MARIA ELIZABETH e GERALDO
VALÉRIO, nos seus sete ou oito anos, já são os mais elegantes, mais aplicados e
mais educados da classe na escola que freqüentam. WEBSTER, apesar de adorar
os filhos e fazer tudo com muita boa vontade, nunca esconde um sinal de
frustação e até uma certa revolta com a condição que a vida lhe impôs. Se ele
conseguisse algum dinheiro para montar uma peça, se viesse uma resposta
daquele teste para a televisão que acabou de fazer, se a sua foto fosse aprovada
para aquele anúncio de papel higiênico, se o telefone tocasse com uma boa
notícia... mas nada acontece e sua vida continua igual.
Em contraste com toda a falta de sorte do marido, MARIA LEOPOLDINA,
parece que nasceu virada para a lua. Além de um maravilhoso dono de casa,
WEBSTER ainda é um amante exemplar que cumpre todas as obrigações
conjugais com louvor, e nunca reclamou de uma dor de cabeça que fosse. Porém,
sem ela sequer desconfiar, a gangorra do destino está prestes a inverter estes
papéis: os deuses do teatro já estão olhando por WEBSTER e tanta dedicação e
sacrifício não ficarão sem uma boa recompensa. A virada começa com o sumiço
de FAUSTO e, como já sabemos, o escândalo nos jornais vai deixando o JARDIM
DO ÉDEN cada vez mais deserto. Com a chegada de ALÉ e TÁTI a esperança de
uma recuperação cresce, mas MARIA LEOPOLDINA logo percebe que daquele
mato não vai sair coelho. Previdente, começa a enviar currículos para muitas
outras empresas mas, infelizmente, não tem recebido respostas. O pavor de uma
descapitalização imimente vai fazendo com que mais e mais WEBSTER tenha que
arrumar algum dinheiro. É claro que ele poderia ir trabalhar até de cozinheiro em
um bom restaurante, mas morre só de pensar que poderia dar certo em qualquer
outra profissão e teria que abandonar o palco de vez, ou, pior ainda, que algum
colega da classe teatral o surpreenda atrás de um balcão. Na sua procura nos
jornais, um anúncio chama a sua atenção:

Professor Particular Para Todos Os Assuntos:


Procura-se para moça de sociedade.

Temporariamente, professor particular, por que não ? Já ensinava os filhos


em casa e parecia um bico interessante enquanto a grande oportunidade não
aparecesse. O que ele nem desconfiava é que esta já era a grande oportunidade
de mudança em sua vida. O anúncio havia sido colocado por MANOLO
GUTIERREZ, depois da insistência de AURORA. Os constantes convites para
jantares e estréias que recebiam depois que ele comprou algumas páginas em
revistas para se mostrarem ao lado de caras chiques e famosas estavam, cada
vez mais, criando grandes constrangimentos. AURORA, definitivamente, não sabia
como se comportar, não falava direito, não tinha nenhum assunto que
interessasse a ninguém e estava virando uma piada. Com medo de que o apelido
de Orora Anarfabeta fosse, maldosamente, publicado em algum lugar, decidiram
contratar alguém que a ensinasse. E se isto foi uma revolução na vida de
WEBSTER e uma hecatombe na vida de MANOLO, foi também uma bela solução
para os problemas de GORGO.
AURORA e WEBSTER, ao se conhecerem, já se entenderam e se
simpatizaram e GORGO, com seus olhos de lince, observou tudo desde o início. A
avó de MANOLO, louca para se ver livre de AURORA dentro da casa, incentivou,
armou, criou condições, fez macumbas e rezas e, em pouco tempo, a amásia de
seu neto e o novo professor se entendiam muito melhor do que até ela esperava.
Com o tempo aquilo que era, a princípio, uma respeitosa relação aluna e
professor, adubada e regada por GORGO, passou a ser um grande amor. Com as
aulas e o amor de WEBSTER, AURORA, aos poucos, vai se transformando em
uma outra mulher: continua linda e insinuante mas já não fala asneiras, consegue
até conversar sobre assuntos mais relevantes e, muito mais perigoso, começa a
raciocinar por conta própria. Melhor para AURORA e pior para MANOLO porque
WEBSTER não só a ensina como falar, como se comportar, como se vestir com
mais discrição, como comer mas, principalmente, o que e como ler. E AURORA
começa a contestar MANOLO, não mais aceita assinar os papéis que ele estende
em sua frente e, pior, não quer mais ser usada como “laranja” nos negócios dele.
Mesmo mantendo o romance com WEBSTER em segredo com medo do gênio
violento do amante, AURORA insiste em ser respeitada como mulher e isto é um
transtorno absoluto na vida de todos. Vítima de seus próprios feitiços, quando
GORGO resolveu acabar com aquele romance e colocar a amásia do neto porta
afora, de uma vez por todas, já era tarde demais. AURORA e WEBSTER, mesmo
sem planejar, tinham toda aquela família em suas mãos.
Quando MANOLO abriu a porta da sua casa para os fiscais do imposto de
renda, concordou com BARNABÉ que era bem melhor ter deixado AURORA,
simplemente, como Orora Anarfabeta e que a única maneira de fazê-la calar a
boca de vez era dar um jeito de sumir com ela e com aquele professorzinho de
meia tijela. E é bom não esquecer que BARNABÉ, para não perder os seus 5% na
academia de boxe, é capaz de qualquer loucura.

XI
A IMPROVÁVEL HISTÓRIA DE AMOR DA NORDESTINA COM O REI DO
BINGO

ROSALVA estava absolutamente certa nos seus temores com relação a uma
ligação excusa entre Edimilson, seu falecido marido, e MANOLO GUTIERREZ. Na
verdade esta ligação vinha de longe, desde que eles se mudaram para São Paulo,
mas não era nada do que ela tivesse imaginado e envolvia muitos outros
personagens que a rodeavam e faziam parte do mesmo complô, sem que ela nem
desconfiasse. Um dos principais envolvidos era Seu DEDÉ, o sogro que ela
adorava. Não que ele quisesse fazer algum mal a ela e, justiça seja feita, nenhum
envolvido tinha esta intenção, mas que estavam todos mais ou menos
mancomunados, estavam.
A história é um pouco mais complicada do que parece e deve ir se
revelando, aos poucos, à medida que ROSALVA vá juntando as peças deste
quebra-cabeças. A primeira coisa que ela descobre, através de NICOLAU é que
seu DEDÉ havia mandado uma grande quantia em dinheiro para o Edimilson lá
em Canhotinho; conclusão direta: a história do prêmio ganho na loteria esportiva
era uma farsa, como ela sempre havia desconfiado. Mas... por que esse segredo
todo ? Outra descoberta foi que a mudança para a zona leste sempre esteve
ligada diretamente a MANOLO, que ele havia pedido, pessoalmente, a NICOLAU
que convencesse Edimilson. Daí resultou o emprego do falecido no JARDIM DO
ÉDEN e a compra da casa. MANOLO, por mais que fosse interpelado por
ROSALVA, negava sempre e ROSALVA não tinha como obter as provas de que
necessitava. Estava com NICOLAU a seu lado porque, depois da morte do marido,
uma amizade muito grande se desenvolveu entre os dois e conversa vai, conversa
vem, acabou se transformando em uma grande atração física.
Nenhum dos dois sabia explicar como aquilo acontecera, mas era como se
uma mola os empurrasse, um para o outro, quando se olhavam. Sabe-se lá
porque a sensação era de que o chão sumia sob seus pés e eles acabavam um
nos braços do outro, nos lugares mais inusitados possíveis. Isto criava uma
grande culpa em ROSALVA que, séria do jeito que sempre foi, não entendia que
diabo tinha tomado conta dela. Em suas orações ao Frei Damião pedia alguma
explicação para aquele desejo todo que tomava conta dela, para aquele fogaréu
que não acalmava, ao mesmo tempo que agradecia compungida o fato dele só ter
se manifestado depois da morte de Edimilson. É verdade que, mesmo quando o
marido ainda era vivo, ela tinha arriscado um olhar mais demorado ao físico
tentador de NICOLAU, mas jamais teria coragem de pular a cerca e ir se encontrar
com aquele touro. Agora que o falecido já não era mais deste mundo, pelo menos
deste pecado ela não poderia ser acusada:

E as crianças, meu Frei Damião ?...

Este na verdade era seu maior problema: JOANA, PEDRO e JOSÉ já eram
adolescentes bem crescidinhos e iam morrer de vergonha se o bairro começasse
a comentar sobre a mãe que, ainda viúva recente, não conseguia conter seus
instintos mais pecaminosos. Por outro lado não queria, de maneira alguma, que os
filhos soubessem o que fez com que ela não respeitasse o luto pela morte do pai
deles. Tem guardado para si o segredo até hoje e apenas NICOLAU é seu
confessor: três dias depois da morte de Edimilson descobriu que o canalha tinha
mais duas mulheres, uma na Vila Mazzei e uma na Parada Inglesa. Quase morreu
de tristeza e quando voltava da casa de uma delas se encontou com NICOLAU
que a consolou como amigo a princípio e, daí para a cama, numa mistura de
desejo e vingança contra o defunto infiel, foi um pinote.
O problema é que apesar da intensidade do desejo que os une, ROSALVA e
NICOLAU, por causa das crianças e das línguas do bairro, se comportam como se
nada houvesse entre eles. Na frente dos outros é Dona ROSALVA pra cá e Seu
NICOLAU pra lá, mas quando se encontram a sós é tudo como o diabo gosta. Isto
cria um problema sério para ambos porque NICOLAU sai com outras mulheres e
ROSALVA é obrigada a engolir o que vê da sua porta sem dar um pio. Pior ainda
foi quando ROSALVA percebeu o interesse crescente de sua filha JOANA por
NICOLAU; é claro que ele tratava a adolescente como uma criança, mas mãe que
é mãe percebe logo o perigo. O mesmo não acontecia com NICOLAU, porque
ROSALVA nunca teve nenhum outro admirador, até que ADRIANO parou o seu
belo conversível na porta dela. A princípio ADRIANO dizia, como um dos
responsáveis pelo JARDIM DO ÉDEN, que queria acertar os benefícios a que ela,
como viúva, tinha direito pela morte de Edimilson. Depois os encontros se
estenderam para idas ao cinema, teatros e jantares e ROSALVA não conseguia
entender o que estava acontecendo.
Desde que havia entrado na conversa de VALDECK VENTURA e perdido
todas as suas economias, tinha se virado como pode para sustentar aquela
família. Primeiro sendo sacoleira e durante este período a sorte não tinha estado
muito a seu lado porque, várias vezes, teve que jogar as mercadorias no rio,
enquanto tentava passar pela Ponte da Amizade entre Brasil e Paraguai e isto
acabou resultando em um grande prejuízo. Agora, usando a perua van deixada
pelo falecido, leva velhinhos e velhinhas ao teatro, ao cinema ou a passeios
variados. Assim vem mantendo a família unida, não permitindo que os filhos
interrompam os estudos; até colocou AMADA em um curso de arte dramática,
aconselhada por DAGMAR. De tanto se virar do avesso para arrumar dinheiro,
não tem tido tempo para cuidar de si, ir a uma manicure, a uma cabeleireira, fazer
um bom tratamento de pele e agora ADRIANO, este homem bonito como um deus
aparece interesado nela. Mais uma vez, algo de muito estranho e sem uma
explicação lógica está acontecendo em sua vida. Por mais que ROSALVA
pensasse não conseguia atinar com o que fazia aquele homem tão fino, tão
educado, tão mais moço do que ela, cercá-la com flores e mimos.
A explicação é até muito simples e tem a ver com tudo o que aconteceu
anteriormente na vida de ROSALVA, só que ela vai demorar um pouco a descobrir.
Como já sabemos Edimilson veio para São Paulo com um dinheiro enviado por
seu pai, DEDÉ; o que ainda não sabemos é como o sogro de ROSALVA arrumou
este dinheiro. Na verdade ele foi procurado por um detetive particular que há
muitos anos vinha tentando descobrir o paradeiro de uma filha que FAUSTO
CAVALCANTE tinha gerado em uma empregada nordestina, alguns anos antes de
se casar com Lucinda, ou LULU DE LUXEMBURGO. FAUSTO parece que tinha
sido muito apaixonado pela tal empregada e morria de culpa de não ter assumido
a filha e agora, de alguma maneira, tentava proteger a menina. Essa menina,
segundo o tal detetive apurou, agora crescida, casada e cheia de filhos, era
ROSALVA e, desde então, FAUSTO resolveu protegê-la, mantendo incógnita sua
identidade. Primeiro fez com que a vida dela e da família melhorasse com a
mudança para Recife, seu DEDÉ recebeu o dinheiro do tal detetive sabendo que
se tratava de um presente do pai de ROSALVA, sem que o nome de FAUSTO
fosse revelado. É claro que seu DEDÉ poderia ter se informado melhor sobre a
procedência daquela grana toda, mas não é de seu temperamento mexer o
traseiro da cadeira a não ser para ir ao bar conversar com os amigos ou jogar no
bingo.
O que levou FAUSTO a ter esta atitude e este interesse pela filha
desaparecida, só ele vai poder explicar quando voltar, mas a verdade é que tudo o
tem acontecido de estranho na vida de ROSALVA tem a ver com a proteção
anônima de FAUSTO; inclusive e principalmente, a mudança para a zona leste,
em uma casa em frente à de MANOLO, que foi a única pessoa a quem FAUSTO
confiou seu segredo e que o guarda a sete chaves. MANOLO sabe que ROSALVA
é uma das herdeiras de FAUSTO e vai sempre protegê-la por isto.
ADRIANO, por outro lado, que não é tão bonzinho e nem tão bem
intencionado o quanto parece, também sabe quem é ROSALVA e como viu que
ALESSANDRA e TATIANA de bobas não têm nada e não estava disposto a
arriscar um romance com seu amigo, desculpem amiga, de infância, resolveu que
a melhor maneira de completar seu plano e ficar com tudo o que pertence a
FAUSTO CAVALCANTE era conseguir ROSALVA. A consequëncia direta de toda
esta confusão é que ROSALVA se vê assediada de uma hora para outra por
ADRIANO, causando muito ciúme em NICOLAU e dando uma idéia maluca na
cabeça de MANOLO.
Por mais estourado, confuso, atrapalhado, trambiqueiro e grosso que
MANOLO GUTIERREZ seja, é um homem de palavra. Principalmente com os
amigos: o que ele prometeu, cumpre, custe o que custar. Quando FAUSTO se
tomou de amizade por ele, logo no início da sociedade, e os dois formaram uma
dupla contra ARTHUR BRANDÃO, MANOLO achou que tinha encontrado um novo
pai. Com o tempo acabou sabendo de toda a história de FAUSTO e,
principalmente, da existência de ROSALVA, só não sabia o que ADRIANO, muito
mais esperto, descobriu depois. Quando concordou com FAUSTO em colocar
ROSALVA morando com a família em frente à sua casa era para poder mantê-lo
sempre informado sobre o que acontecia com ela. Pelo que FAUSTO confessou a
MANOLO, omitindo toda a terrível maldade que havia feito com Lucinda ou LULU
DE LUXEMBURGO, foi que ele havia descoberto que a tal empregada, mãe de
ROSALVA, tinha sido a única mulher que verdadeiramente o havia amado em toda
a sua vida. Verdade ou não, mais uma vez, só ele vai poder explicar quando voltar,
o fato é que MANOLO acreditou piamente na história, se comoveu com as
intenções do amigo e passou a proteger ROSALVA. Todas as vezes em que
ROSALVA pegou o marido e MANOLO conversando e eles mudaram de assunto
tinha a ver com as traições de Edimilson que eram recriminadas por MANOLO que
sem ROSALVA saber, tem sido o seu anjo da guarda.
Com o tempo e depois de tanto se preocupar e seguir a vida de ROSALVA,
MANOLO, meio inadvertidamente, vai se apaixonando por ela e o que parecia
uma antipatia mútua acaba se transformando, a principio apenas da parte dele,
numa intensa admiração. A admiração se torna mútua quando ROSALVA se
percebe enganada tanto por NICOLAU quanto por ADRIANO e começa a ver
MANOLO com outros olhos. E como também disse aquele antigo sábio que já foi
citado: para se ir da admiração ao amor, basta apenas pegar um atalho.

XII
BONITO COMO UM DEUS E MAIS FALSO QUE UMA NOTA DE TRÊS REAIS

Ninguém que olhasse para ADRIANO poderia imaginar o que realmente se


passava dentro dele. Desde muito cedo havia aprendido que a melhor maneira de
um garoto pobre conseguir as coisas era sendo solícito, educado, adorável e,
principalmente, muito bonzinho. Embora nenhuma dessas qualidades faça parte
integrante do seu caráter, foi fingindo que as possuía que ADRIANO conseguiu
tudo o que sempre quis da vida. Ao perceber, ainda na mais tenra idade, que
FAUSTO tinha problemas com os filhos fez o possivel para ser o herdeiro sonhado
por ele e para ficar no lugar dos três, como ficou. Não foi ele quem deu a FAUSTO
a idéia de colocar os filhos para fora de casa mas, sem dúvida alguma,
influenciou. O único objetivo de ADRIANO é tomar conta de tudo o que pertence a
FAUSTO e assim se sentir recompensado por todos os sapos que teve que engolir
nos anos de humilhação em que agüentou o gênio terrível daquele velho
desgraçado.
Como vivemos em uma sociedade de aparências e como ADRIANO tem
uma aparência maravilhosa e tentadora, aliada a uma simpatia natural e
envolvente, ninguém nunca detecta as suas verdadeiras intenções e o tem sempre
na conta de um rapaz bom, sincero, amigo e confiável. Ao contrário, ADRIANO é
calculista, maldoso, absolutamente determinado e foi também por armação dele
que todos os escândalos de FAUSTO CAVALCANTE acabaram nas páginas dos
jornais. Anonimamente remetia relatórios diários à imprensa, que investigava e
comprovava a veracidade das acusações.
ADRIANO pode ter feito essas denúncias apenas no intúito de justificar o
sumiço de FAUSTO como uma fuga propositada porque, o que mais tarde virá à
baila, é que FAUSTO pode não ter simplesmente desaparecido. É bem capaz que,
em um crime muito bem elaborado, ADRIANO tenha acabado com a vida de seu
protetor e só esteja precisando de um bom álibi para mostrar a sua fortuna.
ADRIANO, inteligente como é, sabe que se alguém desconfiar que ele possui
muito dinheiro, imediatamente, ligará o fato ao desaparecimento de FAUSTO e aí
ele estará sob suspeita. É claro que ele poderia desaparecer e gastar o dinheiro
em qualquer lugar do mundo, mas sempre seria um risco e ADRIANO ARAÚJO
não corre riscos. Talvez tenha pensado que seria melhor justificar esta fortuna
antes de mostrá-la, ou talvez tudo isto não passe de uma hipótese e FAUSTO
tenha realmente desaparecido com o dinheiro, mas a verdade só o tempo dirá.
O certo é que ADRIANO joga com a vida e o destino das pessoas sem o
menor pudor e é, sem a menor sombra de dúvida, o maior mau caráter desta
história. O maior problema de ADRIANO é que ultimamente não tem conseguido
dominar os acontecimentos como gostaria. O desaparecimento de FAUSTO foi
perfeito, a intriga que plantou entre ARTHUR e MANOLO também, mas não
contou com a volta daquelas filhas da mãe. Jamais imaginou que elas viessem
querer tomar conta do JARDIM DO ÉDEN e isto fez com que grande parte do seu
plano tivesse que ser reestruturada. Evidentemente a sua aparência faz com que
as mulheres caiam de quatro em sua presença e ele usou este fascínio muito bem
envolvendo ALESSANDRA e TATIANA por um período e foi suficientemente
inteligente para perceber que delas não iria ganhar mais do que algumas
deliciosas noites de amor. Com a chegada de RAMONA a coisa piorou, apesar de
uma investida inicial, não estava nos seus planos namorar o seu melhor amigo de
infância e foi aí que descobriu, depois de uma viagem que fez ao Caribe, que a
beneficiária de uma imensa quantia em dinheiro depositada por FAUSTO em um
banco nas ilhas Cayman, era ROSALVA ROCHA.
O seu plano é absolutamente simples e corriqueiro: conquista a viúva sem
que ela saiba que é uma rica herdeira, depois de casados simula que descobriu o
direito de ROSALVA sobre o dinheiro de FAUSTO, eles recebem a herança, saem
para uma linda viagem de lua-de-mel e ele volta sozinho e milionário. É claro que
ela tem quatro filhos e eles poderiam ir à Justiça e reivindicar seus direitos, mas se
só ele e ROSALVA soubessem do dinheiro o problema estava resolvido. Tudo
depende de como armar o quebra-cabeças, mas sabe que isto não será nenhum
problema para ele. Por outro lado, se ADRIANO já se livrou de FAUSTO de vez e
está apenas procurando uma justificativa para poder exibir e usufluir do dinheiro
que já tem, a herança da viúva é o álibi de que ele precisa.
De uma maneira ou de outra, já tinha tudo planejado nos mínimos detalhes e
a única coisa que pode prejudicar seu plano é se ROSALVA, antes do casamento,
descobrir que tem uma imensa fortuna depositada em seu nome, em um banco
num paraíso fiscal. Porque aí, tudo pode ir por água abaixo.
De uma certa forma ADRIANO está tranqüilo em seu plano porque a conta e
o beneficiário da mesma, nesses paraísos fiscais, são secretos. Se ninguém
reclamar do dinheiro, toda a quantia ficará rendendo juros até que alguém de
direito se interesse em retirá-la. Se for constatada a morte de FAUSTO, que é o
depositante principal, o beneficiário, no caso ROSALVA, será procurada pelo
banco. Como FAUSTO, para todos os efeitos e pelo que se sabe até agora está
apenas foragido, nenhuma medida será tomada por enquanto. É verdade que
quanto mais cedo ADRIANO conseguir se casar oficialmente com ROSALVA,
melhor; nunca se sabe o que o governo pode fazer num caso destes porque
FAUSTO também deu um golpe na previdência, mas seja como for, essas coisas
levam um certo tempo para serem esclarecidas.
O que ADRIANO pode comprometer seu plano é que FAUSTO, como já
sabemos, tinha confiado o segredo ao novo sócio. Portanto MANOLO, apesar de
não saber ainda que existe uma grande fortuna depositada em nome de
ROSALVA, sabe que ela é filha de FAUSTO. MANOLO no entanto, como todos
nesta história, acha ADRIANO uma boa pessoa e só não consegue entender o
interesse dele por ROSALVA. Primeiro porque, sinceramente, um nada tem a ver
com o outro e ele conhece muito bem o tipo de mulher que encanta ADRIANO.
Como não nasceu ontem, MANOLO começa primeiro a desconfiar e depois a
investigar as verdadeiras intenções de ADRIANO e é aí que a a vida de ROSALVA
vai dar outra cambalhota.
Nestas investigações MANOLO tem uma grande aliada, DAGMAR, que é
capaz até de servir de tapete para que ele pise em cima dela. É Deus no céu e
MANOLO na terra porque DAGMAR, bom caráter e de coração mole como ela só,
é daquelas que, quando é ajudada de verdade por uma pessoa, jamais esquece.

XIII
O INCRÍVEL, FANTÁSTICO, EXTRAORDINÁRIO DESTINO DE DAGMAR

DAGMAR CERQUEIRA poderia até ter sido colega de WEBSTER se tivesse


tido uma formação acadêmica como a dele mas, apesar também de tentar uma
carreira de atriz, a sua escola é a da vida. Filha de artistas mambembes, com a
poeira do palco correndo em seu sangue desde que nasceu, como Bibi Ferreira e
Marília Pera, entrou pela primeira vez num palco ainda no colo de seus pais. Dali
para frente, nunca mais quis sair daqueles metros de tablado; o problema é que,
como WEBSTER já sabe muito bem, é muito difícil permanecer lá em cima.
Diferente de seu colega de profissão, nunca foi elitista e sempre aceitou qualquer
tipo de trabalho; parecido com ele, também nunca serve para o papel que tenta
conseguir, seja em teatro, cinema, televisão ou comerciais. Por isso, quando
WEBSTER foi ensinar AURORA na casa de MANOLO, os dois acabaram se
entendendo como se fossem amigos de longa data. Nenhum romance pintou entre
eles, mesmo porque romance na vida de DAGMAR sempre foi manga de colete e
WEBSTER se apaixonou loucamente por AURORA, mas como disse Claude
Rains a Humphrey Bogart no final de Casablanca, foi o começo de uma grande
amizade.
DAGMAR mora na casa de MANOLO, fazendo parte assim da sua
destrambelhada família postiça. Na verdade, com exceção de MANOLO, DIEGO e
GORGO, nenhum parentesco une aquela gente, estão juntos por necessidade e
pelo imenso coração de MANOLO, que apesar de trambiqueiro juramentado,
nunca deixa de ajudar quem precisa. O que fez para DAGMAR é um exemplo
disso: na luta por um emprego como atriz, ela se ofereceu para contar alguns
casos e piadas e fazer algum número num palquinho improvisado do Manolo’s
Bingo. A princípio MANOLO foi contra, tinha medo que um show distraísse os
fregueses e eles parassem de jogar mas, depois de uma viagem a Las Vegas,
acabou achando que seria uma boa idéia. O problema é que, apesar do seu
talento natural para contar histórias, o público, que vai ao bingo para jogar, não se
liga muito na apresentação de DAGMAR e ela fica falando para as moscas. Já fez
de tudo para chamar a atenção: contou histórias engraçadas, gags curtas, piadas,
dançou, cantou, sapateou, plantou bananeira, até chegou a simular um enfarte em
cena, mas nada acontece. Talvez seja porque o seu estilo de “stand-up comedy”,
que é muito popular nos Estados Unidos, tenha poucos seguidores no Brasil ou
então porque DAGMAR, não sendo famosa, não consegue competir com o
anúncio intermitente dos números sortedos. Seja lá porque for, a verdade é que o
sucesso está, mais uma vez, passando longe dela. Vem daí a grande gratidão que
sente por MANOLO. Mesmo sem atrair muitos clientes e sendo, de alguma forma,
um peso dentro do bingo, MANOLO fez questão de conservá-la. Ficou com pena
do seu jeitinho simpático, da sua natural cordialidade e até, com o tempo, permitiu
que ela morasse lá com eles para economizar na condução. DAGMAR, que desde
que perdeu os pais sempre rezou para ter uma família, adora viver com eles onde
é tratada por MANOLO como uma filha, mas detesta ter que agüentar as
gracinhas de BARNABÉ. O dono dos 5% da academia de boxe não sabe chegar
perto dela sem entoar, cheio de segundas e terceiras intenções, um trecho do
antigo Pistom de Gafieira do Billy Blanco:

Fiquei tarado quando vi a Dagmar/


Toda soltinha dentro de um vestido saco...

BARNABÉ não é exatamente o tipo de homem com quem ela sonha ter um
romance. Entre seus devaneios mais constantes está aquele em que seu quarto é
invadido por RICARDO BRANDÃO, o modelo lindo que ela mantém em um poster
na parede ao lado de sua cama. Poderia ter se apaixonado pelo Fábio Assunção,
pelo Marcelo Anthony, pelo Marcos Palmeira, mas não acha graça em nenhum
deles, adora o RICARDO BRANDÃO desde que o viu fazer um comercial de
toalhas. Sonha também, algum dia, fazer algo importante como atriz: uma novela,
um filme, uma peça, quem sabe até um comercial ao lado de RICARDO
BRANDÃO; mas sonhos são apenas sonhos e DAGMAR sabe muito bem disso. O
que ela não sabe é que, de uma maneira muito torta, que aliás é como dizem que
Deus gosta de escrever, todos os seus sonhos estão para serem realizados.
Quem trouxe a notícia foi o WEBSTER que soube através de alguns amigos
que o JARDIM DO ÉDEN iria começar a produzir uma comédia de situações,
conhecida também como sitcom, nos moldes americanos, de meia hora semanal
para ser exibida em algum canal de televisão que ainda estava sendo escolhido. O
projeto parecia muito interessante: era sobre dois amigos que compartilhavam o
mesmo apartamento, suas aventuras e complicações diárias. Um era bonito,
elegante, tinha todas as mulheres que quisesse, sem ser muito inteligente e nada
prático e o outro era o boa praça, sem os atributos físicos do parceiro, mas com
uma graça natural, muita simpatia e inteligência, com soluções para todos os
problemas que pintassem na vida diaria dos dois. Uma fórmula simples e, parecia,
de sucesso; o problema é que seria escrita por ALESSANDRA CAVALCANTE e
dirigida por TÁTI CAVALCANTE e aí morava o perigo.
Para se entender melhor tudo isto, temos que voltar um pouco atrás. Com
todos os esforços de LULU DE LUXEMBURGO, o JARDIM DO ÉDEN recuperou
seus dias de glória. Com isso, ARTHUR e MANOLO, que tinham se afastado,
voltaram e reclamaram sua parte nos lucros. O clima entre eles foi ficando cada
vez mais acirrado com LULU, sempre por detrás, defendendo com unhas e dentes
o direito das filhas e entrando em choque com os outros dois sócios. É claro que o
relacionamento dela com ARTHUR é um caso aparte, mas isto fica para depois. A
verdade é que quando o JARDIM DO ÉDEN voltou a ser o paraíso que sempre
tinha sido, LULU achou que as filhas poderiam e deveriam colocar em prática
seus verdadeiros talentos. Sua formação artística e seus conhecimentos na
industria cinematográfica fizeram com que ela se animasse e com isso animasse
as filhas a produzirem uma sitcom brasileira. É claro que ela sabia que várias
tentativas haviam sido feitas no Brasil neste sentido e nunca deram muito certo
mas, segundo LULU, nenhuma delas havia sido feita da maneira correta.
Convencidas por LULU, ainda sem saber que se tratava de sua mãe,
TATIANA e ALESSANDRA tentaram, inutilmente, convencer os sócios do pai a
produzir o empreendimemto, mas nenhum dos dois quis nem ouvir falar do
projeto; então LULU resolveu bancar com seu próprio dinheiro, entrando de
produtora e sócia. A possibilidade de estarem ligadas a uma mulher tão importante
e Oscarizada inchou o ego e aguçou a vaidade das duas. LULU, porém, fazia
algumas exigências: ela seria a diretora de arte e RAMONA, que cada vez mais
mostrava talento, a figurinista. TATIANA e ALESSANDRA não suportavam a nova
irmã, porque além de não terem nada em comum com ela, ainda continuavam
desconfiando que fosse uma impostora e, pior, viam com a maior inveja que
RAMONA tinha muito talento e estava se firmando como uma magnífica e
sofisticada figurinista. Sem saída, com LULU mantendo o pé firme em sua
decisão, foram obrigadas a engolir RAMONA goela abaixo mas, é claro, já tinham
um plano para acabar com ela. Na parte técnica, com o direito que lhes dava
serem sócias, usariam os equipamentos e o pequeno estúdio que existia no
JARDIM DO ÉDEN onde se gravava vídeos institucionais, pequenos comerciais e
aulas de aeróbica para serem distribuídas e comercializadas entre os clientes.
As duas irmãs já sonhavam com a glória que haveria de chegar sob a
proteção de LULU. Sem dúvida TATIANA logo estaria em Hollywood dirigindo um
filme estrelado por Julia Roberts e Mel Gibson e ALESSANDRA tinha certeza de
que, em menos de um ano, principalmente se conseguisse mais atenção de LULU
do que a irmã e provasse que era a mais talentosa, estaria publicando sua
primeira grande novela e morando, finalmente, em sua pent-house da Park
Avenue. Como raciocinam iguais e competem em tudo, cada uma decidiu por si
que um pequeno boicote ao trabalho da outra iria fazer com que LULU
percebesse, realmente quem era a mais talentosa. Na verdade, sem que fosse
preciso assinar nenhum decreto, estava declarada uma guerra entre elas que só
concordavam em um ponto: RAMONA tinha que ser afastada do projeto a
qualquer custo !...
Com tudo mais ou menos acertado, os esforços se concentraram na
escolha do elenco. Foi quase unânime a escolha de RICARDO BRANDÃO para o
papel do galã. Apesar de ARTHUR achar que o filho iria entrar em uma fria se
metendo com aquelas malucas, LEONARDO, convencido por RAMONA, fez a
cabeça do irmão. O problema então passou a ser selecionar o amigo simpático e
boa praça. Todos gostariam que fosse um ator desconhecido, um lançamento
inédito, uma cara nova, alguém que não fosse necessariamente bonito, mas que
passase uma imagem de amizade, confiança, solidariedade. Um amigo que o
público tivesse vontade de levar para casa e confessar seus problemas a ele.
Vários testes já estavam sendo feitos e WEBSTER foi um dos últimos a
serem testados; como é sua sina foi recusado por algum motivo. Contando a
amarga experiência de mais um fracasso a DAGMAR, mencionou que o outro ator
do elenco seria o modelo RICARDO BRANDÃO. A partir daquele momento
DAGMAR não conseguiu pensar em outra coisa. Primeiro tentou entrar no estúdio
só para ver RICARDO e foi barrada; então, teve uma idéia que mudou a sua vida
para sempre: resolveu que iria se fantasiar de homem, se apresentar para o teste,
só para chegar perto de seu ídolo.
Não foi difícil se vestir de homem e muito menos representar um, tinha feito
isso em inúmeras peças mambembes quando os pais ainda eram vivos. Morando
em uma casa cheia de homens, também não foi difícil arrumar o figurino e lá foi
ela. No ônibus foi testando o resultado e viu que convencia; deu lugar para uma
senhora grávida que agradecendo frisou que hoje em dia não se encontram mais
cavalheiros tão educados e até recebeu uma piscadinha discreta de uma
moreninha miúda. Tudo isto lhe deu muita confiança e na hora do teste ficou tão
apavorada de ser descoberta e colocada fora dali a ponta-pés que deu o melhor
da atriz que tinha dentro de si; resultado absolutamente inesperado, foi a
escolhida, desculpem, o escolhido. É claro que depois de aprovada DAGMAR não
podia revelar que era uma mulher travestida porque, sem dúvida, perderia o papel.
Por outro lado, se continuasse a farsa, além de receber um excelente salário ainda
estaria, diariamente, ao lado de RICARDO BRANDÃO e isto ela não queria perder
de jeito nenhum... Mas será que uma loucura dessas daria certo?..
Quem ajudou DAGMAR a topar a parada e passou a ser o seu cúmplice
nessa farsa toda foi WEBSTER:

- Se deu certo para o Dustin Hoffman em Tootsie e para a Julie Andrews em


Victor/Victória, por que não vai dar certo pra você ?

Na hora de assinar o contrato com TÁTI e ALÉ, DAGMAR deveria ter


chamado um advogado, mas isto nem lhe passou pela cabeça. Daquela papelada
toda, cheia de letrinhas miúdas, ela só prestou atenção na multa que teria de
pagar por quebra de contrato, se saísse do programa ou se, de alguma maneira,
prejudicasse o projeto: cinco milhões de dólares. Onde é que uma coitada, sem
eira nem beira, iria arrumar cinco milhões de dólares para cobrir uma multa dessas
? WEBSTER, no entanto, convenceu-a a assinar, qualquer coisa era melhor do
que perder uma oportunidade daquelas; combinaram também que, a princípio,
durante as gravações e até o programa entrar no ar, ficaria tudo em segredo,
depois eles dariam um jeito se alguém a reconhecesse no papel... e assim, sem
saber, DAGMAR CERQUEIRA, assinou a sua sentença de morte.

XIV
A INEXORÁVEL QUEDA DE UM DELICIOSO TEMPLO MACHISTA

Dona DEUSA, embora não tivesse coragem de confessar, já andava


morrendo de saudades das peças íntimas femininas que encontrava pela casa e
que estimulavam sua imaginação erótica. De uns tempos para cá aquela cobertura
envidraçada, que tinha sido um elegante templo de prazeres, estava mais para um
dramalhão mexicano bem ao gosto de MILAGROS.
Tudo começou a desmoronar quando o casamento de ARTHUR e
VALENTINE acabou indo para o ralo em meio a um tremendo escândalo. No exato
momento em que a noiva adentrou a sala em seu deslumbrante vestido da Maison
Dior, num telão, por onde a cerimônia deveria ser acompanhada pelos que não
conseguissem chegar perto do altar improvisado, foram projetadas imagens de
VALENTINE em tórridas cenas de amor com... ADRIANO. Como aquelas imagens
tinham sido conseguidas e quem as havia colocado no aparelho de vídeo
permaneceu um mistério para todos menos para LULU que, de olho na testa, pela
primeira vez, acabou entendendo o que MILAGROS havia preparado. Dona
DEUSA, cúmplice, fazia questão de frisar que a data impressa na gravação do
tape comprovava que tudo havia ocorrido na véspera e, pior, o diálogo apaixonado
entre ela e ADRIANO não deixava a menor dúvida de que VALENTINE, embora
influenciada pela mãe, pretendia apenas um bom e velho golpe do baú.
Na verdade LULU não queria ter se metido nisso mas, fazendo massagens
com VALDECK no JARDIM DO ÉDEN, descobriu o golpe que a mãe de
VALENTINE estava urdindo usando a filha como isca. Descobriu também que a
noiva de ARTHUR era verdadeiramente apaixonada e mantinha um romance
secreto, há algum tempo, com ADRIANO. A princípio pensou que o melhor seria
mesmo que aquele pavão do ARTHUR, mulherengo incorrigível, se casasse mais
uma vez e com isso entrasse em outra fria. Era realmente o que ele merecia; mas,
curiosamente, foi o próprio ARTHUR que fez com que ela mudasse de idéia.
Assim que chegou para se hospedar no JARDIM DO ÉDEN, LULU foi
procurada por VALENTINE que, sempre insuflada pela mãe, insistia em que ela
fizesse seu vestido de noiva. LULU argumentava que, além de estar de férias, não
era figurinista, que era uma diretora de arte, que poderia indicar alguns
profissionais e acabou aconselhando e recomendando VALENTINE à Maison Dior
de Paris. Agradecida e instruída por VIOLANTE, VALENTINE resolveu fazer uma
visita levando um presentinho e também uma surpresa: seu noivo a tiracolo. Foi
assim, meio de supetão, que LULU e ARTHUR se reencontraram depois de tantos
e tantos anos. Aquilo era tudo o que LULU não queria que acontecesse, tinha
fantasiado demais sobre aquele encontro, imaginou plásticas e penteados e agora
seu grande amor estava ali, na sua frente, e ela usando um ridículo turbante anos
quarenta. Mas também quem mandou que ela trouxesse aquele turbante ?...
Educadíssimo, ARTHUR sentiu algo de familiar em sua voz e ela fez o possivel
para disfarçá-la; depois comentou que seus gestos lembravam alguém que ele já
havia conhecido e ela mudou os gestos; a mesma coisa falou da boca e do nariz
mas ela apenas sorriu da coincidência. É claro que ARTHUR, que há mais de
trinta anos tinha certeza da morte de Lucinda, tudo o que poderia achar é que
LULU lembrava a falecida, nunca que seria a própria. LULU se encantou por
ARTHUR ainda se lembrar de Lucinda e, em um novo encontro, desta vez na
elegantíssima recepção que o JARDIM DO ÉDEN oferecia a LOULOU DE
LUXEMBURGO, quase acabou com o mistério. O que a impediu foi que, tocado
pelo champagne e inspirado pela luz da lua, ARTHUR se confessou
absolutamente apaixonado por VALENTINE e, diante de todo aquele amor
declarado com tanta sinceridade, LULU preferiu não ser uma sombra do passado
a atravancar a felicidade do ser amado. Quando descobriu que, da parte da
família da noiva, tudo não passava de uma armação, tocada pela sinceridade dos
sentimentos expostos por ARTHUR ao luar, LULU resolveu acabar com a farsa. É
claro que poderia ter feito tudo sozinha, mas cheia de problemas do jeito que
estava confiou em MILAGROS, sem se lembrar que os filmes de Alberto Gout com
Ninón Sevilha eram os seus preferidos, e deu no escândalo que deu.
VALENTINE, coitadinha, acabou ficando sem noivo rico e sem sua grande
paixão porque, depois do escândalo, ADRIANO se afastou dela, detestando estar
envolvido naquela confusão de cinema mexicano, muito mais interessado em
conquistar ROSALVA e dar o seu próprio golpe do baú. VALENTINE, romântica e
decepcionada, entendeu que ele não era exatamente o homem que ela pensava
que fosse e sofreu muito com isso. Porém, com aquela mãe buzinando idéias
diariamente em sua cabeça logo acabou se apaixonando por LEONARDO.
VIOLANTE estava convencida que o ex-futuro-genro, mesmo muito abalado com
tudo o que acontecera não iria fazer nada para impedir o romance do filho com a
ex-noiva; na verdade tinha certeza de que ARTHUR preferiria ver seus filhos
casados até com Jezebel em pessoa do que envolvidos com quem estavam.
A primeira vez que ARTHUR viu RAMONA também a achou uma mulher
extremamente bonita e interessante. Como nem LEONARDO sabia direito quem
ela era e RAMONA fez o que pode para manter a sua condição e identidade em
segredo, tudo ia muito bem. ARTHUR, porém, acabou descobrindo que RAMONA
era uma das filhas de FAUSTO CAVALCANTE e, sem saber da missa a metade,
não deu muita importância ao fato. É claro que ele sabia que o sócio fujão tinha
duas filhas, mas nem se lembrava direito do nome delas e conhecia o
temperamento de LEONARDO muito bem para saber que em uma ou duas
semanas, no máximo, a filha de FAUSTO já teria saido da cama do filho e voltaria
direitinho para o JARDIM DO ÉDEN; aí era só mandar lavar os lençóis e esperar a
próxima vítima.
Porém, o tempo foi passando e parecia que desta vez a coisa era mais
séria. Pela primeira vez LEONARDO estava apaixonado de verdade e era
plenamente correspondido por RAMONA, o amor entre os dois parecia ser desses
que não cabe no peito. Adoram estar juntos, não fazem nada separados,
combinam em tudo, curtem os mesmos filmes, as mesmas peças, as mesmas
músicas, os mesmos livros; conversam sobre todo e qualquer assunto numa
harmonia infinita. LEONARDO confessava ao irmão que nunca havia encontrado
uma mulher que entendesse tanto as suas necessidades masculinas; por isso,
quando descobriu metade da verdadeira identidade de RAMONA, não deu a
menor importância. Até se divertiu com a preocupação dela e com a história, meio
Romeu e Julieta, que o destino armara para eles, achando ridículo e inaceitável
que o fato de RAMONA ser filha de FAUSTO, agora, mesmo ainda desaparecido,
um inimigo figadal de seu pai, fosse algum impedimento para a felicidade deles:
era só o que faltava. Argumentava não estarmos mais no século dezoito, quando a
rivalidade entre famílas impedia amores e casamentos. Estamos no primeiro ano
do século 21, reiterava, quem é que vai aceitar uma história dessas ?... Nada vai
poder impedir o nosso amor... será ?
RAMONA ficou esperando o melhor momento para contar o resto da missa
para LEONARDO. Porém, como sempre acontece, levou tempo demais e, até que
tomasse coragem, ele acabou descobrindo tudo da pior maneira possível. Mesmo
sendo RAMONA uma mulher completa e não carregando nenhum vestígio físico
ou psicológico da sua vida pregressa em outro sexo, neste caso, realmente, vale
dizer que, sem dúvida, seu passado a condenava. O mundo de LEONARDO, a
princípio, desmoronou; não era fácil aceitar a situação. Afinal de contas, bem ou
mal, os dois tinham até jogado no mesmo time de futebol na infância e ele não se
sentia nada bem em estar apaixonado por um goleiro. Mas agora RAMONA era
uma mulher completa, por inteiro, o que poderia impedir esse amor ?... Realmente
nada, a não ser preconceito; mas preconceito é um sentimento, uma idéia e um
valor muito mais fortes do que se imagina.
ARTHUR, quando descobriu, ficou pior do que um pai feudal do século
dezesete. Iria fazer de tudo, o possível e o impossível, para que aquele romance
não fosse para a frente. Fosse o que fosse: enganar, fraudar, mentir, qualquer
coisa, mas ver seu filho mais velho, unido ao filho mais velho, tivesse hoje a forma
que tivesse, de FAUSTO, nem morto !... Este, evidentemente, passa a ser o
principal pomo da discórdia entre ele e LULU, mas os problemas machistas de
ARTHUR estavam longe de acabar por aqui: outra bomba estourou naquela
cobertura quando descobriu que seu outro filho, RICARDO, estava ficando
apaixonado pelo seu colega de elenco, aquele gordinho divertido: DAGMAR.
RICARDO e DAGMAR ficaram amigos quase que instantaneamente. Na
primeira passagem de texto já improvisavam, um ajudava o outro e tudo estava
correndo às mil maravilhas. Toda vez que existiam problemas entre a direção,
texto e figurinista os dois davam um jeito e as cenas sempre resultavam
interessantes e engraçadas. Como DAGMAR tinha mais experiência, logo
percebeu que ALESSANDRA, como autora, não era nenhuma Nora Ephron e
então sugeriu que contratassem WEBSTER, que passou a escrever textos
excelentes, embora continuassem assinados por ALESSANDRA. DAGMAR e
WEBSTER concluiram também que TATIANA estava muito longe de ser uma
Blake Edwards e que RICARDO, com pouca prática como ator, precisava de
ajuda. Prontificaram-se a ensaiá-lo fora do estúdio e isto aproximou RICARDO e
DAGMAR ainda mais. Entusiasmado com o novo trabalho, RICARDO tinha
deixado de lado os desfiles e as fotos e só estava interessado em aprender a
atuar e, pelas dicas simples e espontâneas de DAGMAR, aliadas à teoria de
WEBSTER, estava conseguindo. Do trabalho para papos mais íntimos foi um pulo
e DAGMAR ficou sabendo que seu ídolo procurava alguém por quem se
apaixonar. É claro que nem cogitou assumir essa posição, mesmo porque, para
ele e para todos os envolvidos na gravação, DAGMAR CERQUEIRA era um ator e
não uma atriz. Mas conversa vai e conversa vem, para completo espanto de
RICARDO, ele começou a se sentir atraído pelo seu colega de cena que ele nem
desconfiava que fosse uma garota. Evidentemente isto criou muita confusão até
que, para seu alívio, RICARDO descobriu que DAGMAR era, realmente, uma
mulher. Tudo serenado em seu coração e na sua cabeça e mais um grande
problema pela frente. Todo o país estava encantado com aqueles dois amigos que
representavam a amizade e a solidariedade masculina e, se a farsa fosse
revelada, se sentindo enganado, o público poderia abandonar o programa e
WEBSTER não iria deixar que isto acontecesse de jeito nenhum. Mesmo porque,
se acontecesse, DAGMAR seria responsável pelo possível fracasso e iria ser
processada por TATIANA e ALESSANDRA em cinco milhões de dólares, além de
perder o único sucesso que eles haviam conseguido na vida. Por outro lado,
DAGMAR não queria perder o amor de RICARDO e ele, mesmo sabendo que ela
é uma mulher, não consegue aceitar o fato de todos, menos WEBSTER, virem a
imaginar que ele esteja apaixonado por um colega de cena. Resolveram manter o
amor em segredo e continuar com a farsa para o bem de todos. Porém, tudo corria
mais ou menos bem, quando saiu publicado em uma revista de televisão a foto
dos dois amigos da sitcom se beijando em um barzinho da periferia e a situação
ficou insustentável.
E o ARTHUR BRANDÃO, coitado!... Como é que um pai, que criou os filhos
com tanto trabalho e fez de tudo para servir de exemplo nas suas convicções
masculinas suporta uma situação dessas ?... Como pai, estava convencido que
qualquer coisa era melhor para LEONARDO e RICARDO do que levarem adiante
aqueles romances e foi aí que ARTHUR engoliu seu orgulho ferido e voltou a se
associar a VALENTINE, envolvendo também TATIANA e ALESSANDRA e criando
uma situação absolutamente insustentável com LULU DE LUXEMBURGO.

XV
AS PERIPÉCIAS E ARMADILHAS DE CUPIDO, ESSE MOLEQUE TEIMOSO

Nas suas investigações ao lado de FAÍSCA, VALDECK, como já sabemos,


acaba descobrindo muitos podres do JARDIM DO ÉDEN mas, principalmente,
acaba revelando que LULU DE LUXEMBURGO é na verdade Lucinda Maria
Barbosa, a verdadeira mãe daquelas filhas da mãe. Para isso ele usou muito bem
todo o fascínio que percebeu despertar em MILAGROS, que acabou caindo em
uma trama muito mais bem armada do aquela em que caiu Maria Antonieta Pons
em Casa de Perdición e agora não sabe como encarar LULU.
O primeiro impacto da descoberta é enorme, porém, para sua surpresa, ao
invés da rejeição tão temida, LULU só recebe adulação de TATIANA e
ALESSANDRA. A princípio isto é um alívio mas depois serve para LULU entender
o verdadeiro caráter das duas e a começar a considerar, seriamente, que
RAMONA seja mesmo o seu filho transformado. Parecia que RAMONA,
realmente, tinha sentido falta da mãe todos esses anos, mas também poderia ser
uma maneira ardilosa de RAMONA para conquistar a simpatia de LULU, uma vez
que percebeu a atitude das irmãs. Falsa ou verdadeira, ainda não se sabe. O que
se pode dizer de RAMONA é que, diferente das irmãs é muito talentosa; desde
que chegou no resort, se instalou em um pequeno atelier e tem criado roupas,
chapéus e adereços muito originais e de extremo bom gosto. Na sua vida
amorosa, porém, arrumou uma rival de peso e parece que LEONARDO está muito
mais inclinado a se casar com VALENTINE do que a assumir seu amor por ela.
A revelação da verdadeira identidade de LULU DE LUXEMBURGO, é claro,
chega em péssima hora. Como RAMONA, ela também esperou um pouco demais
para esclarecer tudo com ARTHUR e, quando os dois começavam a se entender,
muito melhor do que se entenderam há mais de trinta anos, vem a bomba.
ARTHUR, cismado com o sumiço de FAUSTO que não se resolve e encafifado
com todo o mistério com o qual LULU cercou sua volta, acaba achando que LULU
esteve mancomunada com o sócio durante todos estes anos e que a sua volta ao
Brasil está ligada, diretamente, ao sumiço do fujão. Por mais que LULU argumente
que esta hipótese é absolutamente infundada, VALDECK VENTURA, insuflado por
VIOLANTE, fornece a ARTHUR provas irrefutáveis de que aquela ligação é
absolutamente possível. A situação de LULU se complica porque além de estar
prester a perder seu amor, está prestes a perder também seu emprego e seu
prestígio de boa profissional nos estúdios de Hollywood. É verdade que, desde
que resolveu voltar ao Brasil, periodicamente ia à capital do cinema sempre que
era solicitada. Mas agora que a sua identidade foi revelada, descobre-se que o
caso do assassinato de René ainda pode ser reaberto. Se isto acontecer LULU
fica impedida de sair do país e não vai poder cumprir seus contratos na capital do
cinema e, pior, se tudo sair como ARTHUR está imaginando, LULU vai ter que se
acostumar a assistir a um filminho de vez em quando, saboreando uma quentinha
no Carandiru, ao invés de conviver com todo o glamour da Califórnia.
Problemas jurídicos também não faltam para DAGMAR que tentando
preservar a carreira e a vida amorosa inventou para a imprensa que aquele beijo,
publicado na revista, não era entre os dois amigos e sim entre RICARDO
BRANDÃO e sua irmã gêmea. Assim, entra em cena mais uma personagem
imaginada por DAGMAR e WEBSTER, DAGMARA, uma sofisticadíssima dondoca
que acompanha RICARDO a todo canto. Tudo ia indo mais ou menos bem quando
DAGMAR decide que não agüenta mais ficar se disfarçando de homem e de
mulher, para despistar a imprensa, e de dondoca e de DAGMAR para continuar
morando na casa de MANOLO, porque ela não quer abandonar a única família
que teve até hoje e muito menos confessar para eles que os enganou todo o
tempo, jurando que o cara que aparecia na televisão não era ela. Acaba achando
que ficar com o homem que ama é muito mais importante do que fazer carreira,
mas não pode largar o programa porque não tem como pagar a multa do contrato.
Então, junto com RICARDO planejam simular a morte de DAGMAR, o gordinho
simpático da sitcom, sob protestos de WEBSTER que defende seu trabalho com
unhas e dentes. Com o ator DAGMAR morto estaria finalmente livre do maldito
contrato e da maldita multa de cinco milhões de dólares e então forja o suicídio do
ator que é ela mesma. Infelizmente o tiro sai pela culatra e ela é vista e
fotografada quando jogava as roupas dele no Rio Pinheiros e acaba tendo de se
explicar na delegacia. O problema é que se DAGMAR confessar que tudo foi uma
farsa, vai ter que pagar os cinco milhões de dólares da multa do contrato para
aquelas filhas da mãe e, se não confessar, pode até acabar fazendo companhia a
LULU na penitenciária. É claro que pode também ser internada em um manicômio,
mas isso ainda não foi cogitado. RICARDO poderia e deveria estar a seu lado num
momento como este, mas DAGMAR, com seu coração de manteiga, num
sacrifício sublime de amor, rompe com ele para não vê-lo comprometido no
escândalo e com isso arruinar a carreira da qual ela é a maior fã. Então, sozinha,
espera que algum milagre aconteça, porque só mesmo um milagre, e daqueles,
pode tirá-la da confusão em que se meteu.
WEBSTER não consegue elaborar nenhum plano para salvar a amiga e não
pode se revelar cúmplide de DAGMAR porque também tem uma multa gigantesca
no contrato que assinou com aquelas filhas da mãe. Depois, se ele achava sua
vida meio sem graça antes de responder aquele anúncio do jornal, agora não sabe
onde enfiar tanta emoção. Completamente apaixonado por AURORA, morre de
medo do que MANOLO possa fazer com ele. Por outro lado, MARIA
LEOPOLDINA, sem o suporte que o marido dava na casa, está com sua carreira
de executiva no JARDIM DO ÉDEN prestes a ser encerrada. É voz corrente no
resort que nunca se viu uma funcionária mais atrapalhada, relapsa e que não tem
outro assunto a não ser seus problemas domésticos. A verdade é que MARIA
LEOPOLDINA, sem o mínimo talento para cuidar da casa e das crianças, tem que
fazer alguma coisa urgente para não ir para o olho da rua e tem certeza que
marido igual ao WEBSTER não existe dois, por isso não vai perdê-lo para
AURORA de maneira alguma.
RICARDO, que levou um fora tremendo de DAGMAR depois de ter se
apaixonado perdidamente por ela, influenciado pelo pai, acaba se consolando ora
com ALESSANDRA, ora com TATIANA mas as duas, que não valem um tostão
furado, estão também se consolando com NICOLAU que, graças aos esforços de
BARNABÉ está caminhando, a passos largos, para ser o mais novo campeão
brasileiro de boxe. BARNABÉ, porém, tem ainda um desafio maior do que este:
transformar JOANA na primeira campeã feminina de boxe e, justiça seja feita,
parece que desta vez nada impede que isso aconteça, nem mesmo as discussões
constantes entre ela e DIEGO que, como auxiliar de RAMONA, está prestes a se
revelar como um grande talento da alta-costura.
Evidentemente não foi nada fácil para MANOLO aceitar a escolha do filho e
o mesmo pode se dizer de ROSALVA. Se um amarga o fato do filho ser figurinista
a outra tem que se conformar de ver a filha lutando num ringue. Os problemas de
ROSALVA e MANOLO, porém, vão muito mais além disso. Completamente
encantada e enfeitiçada por ADRIANO, ROSALVA acaba se casando com ele e se
não fosse MANOLO salvá-la em alto mar, possivelmente a esta altura já estaria
fazendo companhia ao Edimilson lá no purgatório. MANOLO consegue desarmar a
cilada de ADRIANO, mas não consegue provar sua culpa e então, ele e ROSALVA
passam a ser o alvo predileto do mau caráter. Felizmente, assim que MANOLO
consegue salvar ROSALVA da lua de mel fatídica, consegue também que ela
assuma o lugar que é seu de direito no JARDIM DO ÉDEN, para desespero total
de TATIANA e ALESSANDRA que agora, além de RAMONA, têm que aturar
também ROSALVA que, nordestina e arretada, não tem a mínima paciência com
nenhuma daquelas filhas da mãe.
E a história continua até que se respondam as perguntas:
Será que ROSALVA e MANOLO têm alguma possibilidade de se entenderem
e começarem uma vida nova juntos ou,
MANOLO começa a sentir muita falta do sotaque baiano forjado de
AURORA e vai querê-la de volta a seus lençóis de qualquer maneira ou,
AURORA vai reclamar tudo o que tem em seu nome e mandar MANOLO
de volta para o clube do Tatuapé onde ele começou e empregar o dinheiro para
um curso em Oxford e uma grande produção Shakesperiana para WEBSTER ou,
WEBSTER, sem agüentar de saudades dos filhos, volta para MARIA
LEOPOLDINA que continua no resort ou,
Depois de tudo o que descobriu de podre e muito bem monitorado por
VIOLANTE, VALDECK acaba dono de tudo aquilo ou,
VALENTINE se casa com LEONARDO que não tem coragem de assumir
RAMONA como sua mulher e bota o irmão, a mãe e até FAÍSCA para correr ou,
Se descobre, finalmente, que RAMONA é uma impostora e está no meio
dessa história como espiã de FAUSTO ou,
O espião de FAUSTO é mesmo ADRIANO que desde o começo montou
essa farsa toda com o padrinho ou,
LULU e ARTHUR, livres de todas as intrigas e do passado que os separa,
acabam se entendendo, acabam com as rivalidades e vivem felizes para sempre,
ou...
Finalmente FAUSTO reaparece e revira toda essa comédia de cabeça
para baixo outra vez porque, sinceramente, depois de todas as loucuras que
aconteceram até aqui tudo é possível !...
.................................................................
Silvio de Abreu
janeiro/2001
CENÁRIOS

CIDADE CENOGRÁFICA

&
LOCAÇÕES
A INCRÍVEL BATALHA DAS FILHAS DA MÃE NO JARDIM DO ÉDEN

PRINCIPAIS CENÁRIOS, CONSTRUÇÕES E LOCAÇÕES :

Atenção: Desta relação só constam os cenários principais; outros menores e


acidentais serão acrescentados no decorrer da novela.

CASAS E APARTAMENTOS:

A) - CASA DOS CAVALCANTE

OBS: Os cenários do item: CASA DOS CAVALCANTE terão duas fases: I,


pesados e tradicionais e, II, depois de LULU, redecorados e moderníssimos.

1 - HALL COM ESCADARIA E SALAS DE VISITA E JANTAR

Atenção: A imensa escadaria deve fazer parte do HALL. Não deve ser incorporada
nem à SALA DE JANTAR e nem à SALA DE VISITAS

Fase I - Salas imensas com escadaria, vitrais, armaduras, porcelanas, prataria,


gobelains, papel de parede florido, cortinas de tecidos pesados e bordados etc.
Gosto europeu de pesados vermelhos, verdes escuros, ocre. Tudo muito bem
conservado, barroco-rococó. Papel de parede, móveis pesados e tradicionais.

Fase II - Absolutamente moderno, claro, com móveis moderníssimos de estilo


italiano e alemão em linhas arrojadas etc e tal. Espaços abertos, vidros, sem
cortinas pesadas. Plantas, flores e vida, depois que Lulu e as filhas se instalarem
definitivamente naquele mausoléu.

2 - BIBLIOTECA

Fase I - Pesadíssimas estantes de jacarandá ou equivalente. Tudo muito escuro,


tradicional, marrom e ocre. Antigos sofás botonê, poltronas de espaldar alto,
tecidos adamascados etc. Muitos livros de coleção, todos encadernados em couro
com capas vermelhas, marrons, ocres e verdes escuros. Objetos de ouro velho ou
cobre entre os livros. Porta-retratos só com fotos de FAUSTO CAVALCANTE com
gente importante: politicos, empresários autoridades eclesiásticas etc e tal.
Nenhuma foto exposta dele com ninguém da família.

Fase II - Transforma-se em maravilhoso home-theater com computadores,


poltronas confortáveis, cores claras, imensa tela de cinema, muitos DVDs nas
estantes que devem ser outras, muito claras etc e tal. O computador deve ser
ligado a telona de cinema como está sendo usado agora. Tudo absolutamente
moderno e claro.
3 - CORREDOR SUPERIOR

Fase I - Um grande corredor tradicional na parte superior da casa. Vitrais,


armaduras, cortinas pesadas. Este corredor deve conduzir para todos os quartos.

Fase II - O mesmo transformado, claro e iluminado.

4 - SUITE DE FAUSTO

Fase I - Grande quarto com imensa cama tradicional, super-king-size. Cama de


rei. Lareira, uma poltrona, tapetes persas etc. O grande banheiro acoplado ao
quarto segue a mesma decoração e deve ter banheira.

Fase II - A imensa cama continua intacta. Os quadros são substituídos, os tecidos


pesados também, fica tudo claro e moderno. Na decoração, aproveitando o
espaço, um outro ambiente dentro do quarto com uma grande mesa para café da
manhã, sofá, poltronas, uma escrivaninha etc. O grande banheiro fica todo mais
claro e aumenta a banheira que vira mini-piscina de hidro.

OBS: Quando TATIANA e ALEXANDRA vêm morar na casa, passam a usar o


quarto. Brigam tanto para ficar com o melhor que acabam tendo que dividi-lo.

5 - SUITE DE RAMONA

Fase I - Também um quarto grande, mas menor e menos pretencioso do que o de


FAUSTO. Deve ser bastante masculino com punching-ball, caminhõezinhos,
brinquedos de macho, bola de futebol etc. Deve ser o quarto mais masculino
possível com cama de solteiro, poster da Playboy na parede etc. Banheiro anexo.

Fase II - O espaço decorado por Ramona. Suave, cor-de-rosa, flores discretas,


elegante, cortinas esvoaçantes etc e tal. Uma larga e romântica cama de casal,
com dossel, cortinado, muitas almofadas e travesseiros, rendas etc. No banheiro,
imensa banheira nova com hidro-massagem e muitos vidros de sais e espuma.

6 - SUITE DE ADRIANO

Fase única: Menor que as outras suites. Bonita e bem decorada, entre o antigo e o
moderno com a personalidade dele mas com toques de FAUSTO. Há muitos anos
ADRIANO mora ali, deve ter vivência e objetos da infancia dele que sobraram no
tempo. Fica fora do corpo da casa, na ala dos empregados e dependendo da
locação se localiza em cima ou ao lado da garagem. Tem entrada independente.
Não deve ter luxo, mas deve ser bem cuidada, masculina, com uma escrivaninha,
mesa para café da manhã e cama de casal. Banheiro amplo, sem banheira mas
com chuveiro e porta de vidro no box.

7 - COZINHA DA CASA

Fase única: Grande cozinha moderna, bem decorada - (Entra depois da mudança)
...................................................................................................................................
B) - COBERTURA DOS BRANDÃO
OBS: Todos estes cenários fazem parte de uma enorme e translúcida cobertura
triplex nos Jardins, em São Paulo. Ambientes com janelas e vistas da cidade.

8 - SALAS DA COBERTURA

Enorme sala aberta como se fosse um imenso loft. Pé direito muito alto com
clarabóias. Vários ambientes no mesmo espaço: sala de lareira, sala de jogos,
sala de jantar, sala de visitas. Muitas plantas, muito vidro. Nas paredes pintores
brasileiros modernos tipo: Newton Mesquita; Eduardo Sued; Gregório Gruber;
Tomie Ohtake, Antonio Dias etc... Escadas que conduzem à parte superior - (onde
deve ficar o escritório de Arthur, a piscina e um terraço) - e outra escada que leve
aos quartos que ficam na parte inferior.

9 - COZINHA DA COBERTURA

Grande e espaçosa, é o cenário de Dona Deusa. Todas as facilidades de uma


cozinha moderna, muitos aparelhos, tudo branco ou de aço com uma grande
mesa no centro ou em volta do fogão. Fica no mesmo andar das salas. Tudo muito
moderno e funcional..

10 - SUÍTE DE ARTHUR

As suítes ficam no andar abaixo das salas e da cozinha. A de Arthur é grande,


ultra moderna e bem decorada com um bar acoplado a uma ante-sala do quarto.
Banheiro grande com banheira e chuveiro. Muitos espelhos e um enorme armário
walk-in com uma impressionante coleção de ternos, camisas, sapatos etc e tal...

11 - SUITE DE LEONARDO

Também grande, bonita espaçosa. Grande cama de casal. Pode ter uma ante-
sala, tipo escritório, com computador, home-theatre, DVDs, muito som e CDs.
Banheiro acoplado, não muito grande, com box e chuveiro.

12 - SUITE DE RICARDO

Também grande e um pouco mais arrumada do que a de Leonardo. Mais clean e


mais funcional. Várias fotos de Ricardo com modelos famosas e uma boa
aparelhagem de video, DVDs, câmeras fotográficas. Banheiro com box e chuveiro.
13 - ESCRITÓRIO DE ARTHUR NA COBERTURA

Fica no terceiro andar da casa e deve ter em anexo um terraço com uma bela
vista da cidade, uma pequena piscina, cadeiras de sol, mesinhas com guarda sol
etc. No escritório propriamente dito, um computador, muitos livros, bons quadros,
muitas fotos, televisão pequena etc e tal. - (OBS: Apesar de nunca aparecer no
cenário, logo acima existe um heliporto) -
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C) - CASA DE MANOLO

OBS: Estes cenários formam uma casa enorme, de mau gosto, tudo muito
exagerado. Muito ouro, tapete persa, quadro de natureza morta, muita estátua etc
e tal. É a típica casa do novo rico que não tem menor cultura mas adora ostentar.

14 - SALA DE MANOLO

Grandes salas de uma casa de dois andares com muitos níveis com degraus. Sala
de jantar e sala de visitas acopladas e separadas por porta de correr. Cortinas
berrantes, muito ouro e muito tapete persa. Escadaria que leva ao andar de cima e
sai na sala de visitas. Muitos vitrais coloridos. Tudo meio estranho como
arquitetura porque a casa foi reformada para ser uma autêntica imitação de algum
riquíssimo palácio da “vieja” Havana, em Cuba.

15 - COZINHA DE GORGO

Uma grande e confortável cozinha com muito azulejos, muitos aparelhos, mas um
fogão antigo e bem grande. Muitas panelas pendurradas, colheres de pau etc e
tal. Gorgo tem tudo mas não usa aparelho nenhum, prefere fazer do jeito dela.

16 - QUARTO DE MANOLO

Quarto enorme, espaçoso. Também meio quarto de rei como o de FAUSTO, só


que muito mais dourado. Quadros com pesadas molduras etc. Tudo muito
colorido, estilo “imitação legítima” de algum palácio cubano. Muitas peças e muito
brilho. Grande cama de casal para folguedos de MANOLO e AURORA.

17 - QUARTO DE DAGMAR

Modesto e pequeno. Muitos recortes de propaganda e fotos de revista de DIEGO


BRANDÃO. Cama de solteiro, guarda-roupa etc. Banheiro no corredor.

18 - SUITE EXTERNA DE BARNABÉ

É na verdade um quartinho nos fundos da casa com uma entrada independente


pelo quintal. Duas camas de solteiro, porque o Nicolau vai morar com ele no
mesmo quarto. Guarda roupa etc e tal. O banheiro fica fora, mas é pertinho.

19 - QUARTO DE DIEGO

Não muito grande. Quarto de rapaz solteiro com um punching-ball que será usado
para montar modelos como fez RAMÓN. Muitas revistas, livros, estantes etc e tal.
Entulhado; quarto de adolescente típico. Computador, televisão, som etc e tal.

20 - QUARTO DE GORGO

Pequeno e estranhíssimo. Muitas plantinhas, vidrinhos e bonecas nas estantes.


Fica na parte debaixo da casa porque ela não quer ficar subindo e descendo
escada. É confortavel, não é grande. Meio escuro, velas acesas etc.
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D) - CASA DE ROSALVA

OBS: Tudo nessa casa é novo. Pintura, móveis etc e tal. Rosalva e família se
mudam no início da novela e trazem apenas alguns objetos pessoais.

21 - SALAS DE ROSALVA

Sala de jantar e visitas acopladas com a cozinha. Espaçoso, sem nenhum luxo.

22 - QUARTO DE ROSALVA

Quarto simples, cama de casal, cama pequena ao lado para Amada, que ainda
dorme com os pais no quarto. Guarda-roupa, mesinhas de cabeceira etc.

23 - QUARTO DE DEDÉ

SEU DEDÉ dorme no mesmo quarto que PEDRO e JOSÉ. Uma cama baixa e
mais um beliche para os dois. Muitos objetos, certa bagunça generalizada.

24 - QUARTO DE JOANA

Pequeno, mirradinho, só uma cama de solteira. Parece adaptado embaixo de


alguma escada - (se optarem por um sobradinho) - muitas fotos de lutadores de
box, um travesseiro amarrado na lâmpada do teto onde ela treina, mesinha com
livros sobre boxe etc e tal.
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E) - APARTAMENTO DOS PEREIRA

OBS: Cenários de um apartamento classe média típico em São Paulo.

25 - SALA DOS PEREIRA

Sala de visitas, jantar, cozinha e área de serviço. Tudo muito bonitinho mas não
muito grande. Cozinha bem arrumada com alguns aparelhos, um bom fogão, pia,
armarios etc. Área de serviço com máquina de lavar roupa, de secar, varais etc.
(OBS: É melhor para a ação de Webster se for tudo acoplado e não desmembrado
em vários cenariozinhos pequenos)
26 - QUARTO DOS PEREIRA

Bonito quarto, não muito grande mas bem arrumado. Tudo o necessário.

27 - QUARTO DOS PEREIRINHAS

Irmão e irmã podem dormir no mesmo quarto. Duas camas de solteiro.


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F) - CASA OU APARTAMENTO DOS VENTURA

28 - SALA DOS VENTURA

Sala de apartamento ou casa de vila. Mais pobre que a de WEBSTER e que a de


ROSALVA. Na sala sofá e poltronas; atrás de uma cortina ou de um biombo a
cama de armar de FAÍSCA. Máquina de costura num canto. Corredor levando para
os quartos, um banheiro só. Sem sala de jantar, eles comem na cozinha.

29 - COZINHA DOS VENTURA

Cozinha espaçosa com uma grande mesa de fórmica, cadeiras coloridas de


curvin. Armários, fogão, geladeira etc e tal...

30 - QUARTO DE VALENTINE

Quarto não muito pobre, bonito e bem arrumado. É o lugar mais bonito da casa.
Fotos dela em vários lugares etc e tal.

31 - QUARTO DE VALDECK

Cheio de pesos para ginástica, muitos espelhos etc e tal. Tudo muito bagunçado
com muita roupa, caixas, um quadro de cortiça na parede onde ele fixa recortes de
jornal etc e tal.
ESCRITÓRIOS E LOCAIS DE TRABALHO

G) DEPENDÊNCIAS DO RESORT

OBS: A estrutura e decoração destes cenários dependem da locação do Resort.

32 - ESCRITÓRIOS DA PRESIDÊNCIA DO JARDIM DO ÉDEN

Grande e imponente escritório, grande mesa, poltronas, etc e tal. Nos primeiros
capítulos será usado por FAUSTO e depois por TATIANA e ALESSANDRA. No
início terá uma cadeira de espaldar alto para o presidente, depois, duas
absolutamente iguais.

33 - ESCRITÓRIO DE ADRIANO NO JARDIM DO ÉDEN


Pequeno escritório de assistente. Muito inferior ao da presidência. Mesa, armario,
cadeira etc.

34 - SALA DE REUNIÕES DOS ACIONISTAS DO JARDIM DO ÉDEN

Grande mesa no centro, cadeiras em volta etc e tal.

35 - CORREDOR E ANTE-SALA DOS ESCRITÓRIOS DA PRESIDÊNCIA

Corredor e outras salas que não serão detalhadas. Ante-sala para secretária.

36 - ATELIER DE RAMONA NO JARDIM DO ÉDEN

Um atelier adaptado em algum lugar ou sala. Muita luz, prancheta, estantes, tintas,
materias de artesanato, tecidos etc.

37 - SUITE DO JARDIM DO ÉDEN

Uma suite tipo que será eventualmente usada no decorrer da novela.

38 - SUITE PRESIDENCIAL DO JARDIM DO ÉDEN.

Enorme e ensolarada suite presidencial de hotéis cinco estrelas de Las Vegas.


Sala, quarto, banheiros, bar etc e tal. É o local onde LULU ficará hospedada nas
duas ou três primeiras semanas da novela. Pode também ser feito em locação.

39 - ESTÚDIO DO JARDIM DO ÉDEN

Pequeno estúdio onde será construído o cenário da sitcom de DAGMAR e


RICARDO. Antes será usado para fotos, gravação de comerciais, testes etc.
H) ESCRITÓRIOS DE ARTHUR BRANDÃO

OBS: Os escritórios de Arthur Brandão cuidam das empresas atreladas ao


JARDIM DO ÉDEN como as marcas ADÃO e EVA para produtos de beleza,
dietéticos etc. Outros segmentos e marcas para estética e beleza serão acoplados
a estes escritórios no decorrer da novela.

40 - ESCRITÓRIO DE ARTHUR E LEONARDO

Ante-sala com secretária e grande escritório da presidência das empresas. Pode


ter duas mesas porque é melhor que Leonardo e o pai fiquem no mesmo lugar
para dar melhores cenas. Pode também ser um escritório com uma divisóra
ficando ARTHUR de um lado e LEONARDO do outro. A estudar. (Atenção: Aqui
também deve ter uma sala de reuniões mas, pode-se usar a mesma do Jardim do
Éden com algumas modificações na decoração. São empresas interligadas.)
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I) - MANOLO’S BINGO

41 - MANOLO’S BINGO

Um grande, luxuoso e pretensioso Bingo. Todos os exageros da imitação de um


cassino de Las Vegas ou melhor, Atlantic City. Neon, tapetes coloridos, bar,
toiletes etc. Um palquinho onde DAGMAR fará suas apresentações nos capítulos
iniciais. - (Atenção: Pode ser locação dependendo do interesse da produção)

42 - ESCRITÓRIO DE MANOLO NO BINGO

Escritório que deve seguir a decoração do Bingo. Pretencioso e muito colorido. O


ideal é que tenha uma parede de vidro ou persianas de madeira ou acrílico
colorido, por onde se possa observar o movimento dos jogos como fazem os
gangsters nos cassinos de Las Vegas. - (Atenção: Pode ser feito em locação mas
é imprescindível que tenha uma ligação visual direta com a sala de jogos)

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CIDADE CENOGRÁFICA

1 - VILA HAVANA NUM BAIRRO DA ZONA LESTE

Em uma rua qualquer da Zona Leste de São Paulo, a Vila Havana, de gosto
duvidoso e tentando reproduzir o esplendor de Cuba antes da revolução. Várias
casinhas para classe média baixa, com alpendres e, em destaque, uma enorme
casa que imite um maravilhoso e exageradíssimo palácio de Havana “vieja”. É
evidente que esta é a casa de Manolo, que ele se orgulha de ser uma imitação
legítima. Na frente da casa, um pouco mais abaixo, a Casa de Rosalva que deve
ter um pequeno jardim e, se possivel, um quintalzinho nos fundos. Esta vila pode
estar em uma rua com quitanda, padaria, algum super-mercado etc. Na rua de
baixo pode passar ônibus, ter mais movimento e é lá que está erguido o
MANOLO’S BINGO, que deve ser exagerado como a casa de MANOLO, mas de
uma inspiração americana cafona bem ao estilo Las Vegas com fontes artificiais
na frente e tudo. (OBS: SE A PRODUÇÃO PREFERIR GRAVAR O BINGO EM
LOCAÇÃO, NA CIDADE CENOGRÁFICA SE CONSTROI APENAS A VILA
HAVANA E UM TRECHO DE RUA)

2 - SALÃO DE FESTAS DO JARDIM DO ÉDEN

Um enorme salão de festas que deve fazer parte do complexo JARDIM DO ÉDEN,
com muito espaço, fontes luminosas etc. Será usado para todos os eventos da
novela: festas, casamentos, aniversários etc e tal...

3 - ACADEMIA DE BOXE DO MANOLO

Será usada durante toda a novela. Uma academia de boxe tipo que se vê em
filmes americanos. Grande espaço, máquina com refrigente na entrada, bebedor
de água e dois ou três ringues pequenos. Vestiário com chuveiro, banheiros e
mesa de massagens. Um pequeno e modesto escritório para Barnabé, que pode
ser reproduzido no estúdio junto com o vestiário se a produção preferir.

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LOCAÇÕES:

1 - O RESORT JARDIM DO ÉDEN

É a principal locação da novela. Deve ser lindo, amplo, muitos locações em uma.
Campo de golf, quadras de tênis, várias piscinas, hotéis, restaurantes etc.
Devemos ter uma locação básica e depois acrescentarmos locações ao complexo,
mesmo que não façam parte do escolhido. Por exemplo: podemos ter cachoeiras,
montanhas, praias, qualquer coisa que a nossa imaginação pedir para se ter um
visual deslumbrante na novela.

2 - SALAS DE GINÁSTICA E MASSAGENS NO JARDIM DO ÉDEN

Salas grandes, espaçosas, muitos aparelhos de ginástica, muitas mesas de


massagem, banheiras de hidro, piscina, chuveiros, bar, armários etc e tal. Deve
ser feito em alguma academia grande com alguns elementos cenográficos que
possam ligar visualmente ao JARDIM DO ÉDEN escolhido.

3 - CASA DOS CAVALCANTE

Enorme casa, estilo mansão, com jardins, piscina, sauna etc. Circundada por
árvores com entrada imponente como um condado na Inglaterra. Pretensiosa,
enorme, exagerada, mas bonita dentro de um estilo antigo e classudo.

4 - CASA DE LULU EM BEL-AIR

Esta locação entra nos primeiros capítulos e volta mais tarde. Talvez se deva fazer
em locação no início e depois, dependendo do orçamento, se construir um
pequeno trecho no estúdio. Cenas no interior e exterior da casa. Gravar stock-
shots do exterior na ida a Hollywood no início.

5 - OUTROS MANOLO’S BINGO

Outros bingos que não precisam ser iguais ao grande da Cidade Cenográfica, mas
que fazem parte da mesma cadeia. Entram no início, eventualmente, dependendo
da trama.

6 - PRÉDIO DE ESCRITÓRIO DE ARTHUR BRANDÃO

Prédio bonito, moderno envidraçado. Deve ficar na avenida Luiz Carlos Berrine ou
na nova avenida Faria Lima em São Paulo. É necessário que tenha heliporto.

7 - PRÉDIO DA COBERTURA DE ARTHUR BRANDÃO


Prédio moderno, nos Jardins ou Ibirapuera, em São Paulo. É necessário que
tenha heliporto.

8 - RUA E PRÉDIO DE WEBSTER E MARIA LEOPOLDINA

Prédio novo e modesto de classe média em São Paulo. Na rua deve ter
lavanderia, padaria, farmácia etc e tal para que Webster possa fazer todos os seus
serviços sem muita dificuldade.

9 - RUA E CASA DOS VENTURA

Pode ser uma vila de casas modestas ou uma típica rua de classe média baixa em
São Paulo. A casa deles é comum, meio pobre, mas não é miseravel. Classe
média bem baixa.

E MAIS:

RUAS, AVENIDAS, PRAÇAS, VIADUTOS, ESCADARIAS, JARDINS, ESTÁDIOS,


SHOPPING-CENTERS, MERCADO MUNICIPAL, IGREJAS, BARES E TODA A
CIDADE DE SÃO PAULO.

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Silvio de Abreu
janeiro/2001

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