Fina Estampa Cap007

Rede Globo de Televisão
Central Globo de Produção Capítulo 007

FINA ESTAMPA
Novela de
AGUINALDO SILVA
Escrita por
Maria Elisa Berredo, Nelson Nadotti, Patrícia Moretzsohn
colaboração
Bruno Pires, Maurício Gyboski, Meg Santos, Rodrigo Ribeiro
pesquisa
Carla Siqueira, Eduardo Nassife, Mônica Mattos
Direção
Direção geral
WOLF MAYA
Personagens deste capítulo
ALVÁRO ESTHER PATRÍCIA

AMÁLIA FERDINAND PAULO
ANTENOR GIGANTE PEZÃO
CAROLINA GRISELDA RAFAEL
CELESTE GUARACY RENÉ
CRODOALDO LEANDRO RENÉ JR
DAGMAR LETÍCIA SOLANGE
DANIEL LUANA T. CRISTINA
DANIELLE MANDRAKE VILMA
DONA ZILÁ MARILDA ZAMBEZE
ELLEN MIRNA ZULEIKA
FINA ESTAMPA Capítulo 007 Pag.: 01
CENA 01/ APÊ DE MIRNA/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.
Antenor analisa MIRNA que se pavoneia diante dele.
MIRNA — E então? Fala o que você achou!
ANTENOR — Não dá pra negar, foi uma transformação e tanto.

Você parece outra pessoa!
MIRNA — (orgulhosa) A mãe que o bebê queria, não é?... Eu

sabia que você ia amar! Usei todos os meus recursos
de atriz e, diga-se de passagem, não são poucos.
ANTENOR — Aparências enganam Mirna. Não basta parecer fina,

você tem que se comportar como uma mulher fina.
MIRNA — (ri) Querido, no tempo em que fazia novela vivi

muita personagem rica, de berço.
ANTENOR — E isso quer dizer o quê?
MIRNA — Regra de etiqueta é comigo mesma! Eu sei usar

talheres, taças, lavanda, e guardanapo! Tinha uma
diretora de arte boazinha e bem nascida, que me
ensinou tudo: até como sentar. Repara.
Mirna senta como uma lady, pra rainha da Inglaterra nenhuma pôr defeito.
MIRNA — Dá pro gasto, ou quer mais?
ANTENOR — Se decorar tudo certinho pra história não ter erro...

Vai dar pro gasto sim.
MIRNA — Sou uma atriz de múltiplos talentos e inúmeros

recursos, já te falei! É só me dizer o texto, e antes de
você terminar já tenho tudo de cor.
ANTENOR — Então, vamos ao trabalho!
MIRNA — Primeiro me dá metade do cachê. Pra compor a

personagem eu usei meus recursos financeiros, e eles
sim, são parcos!
ANTENOR — (resmunga) Tudo bem...

Ele pega o dinheiro no bolso, separa uma parte, e ela o arrebata.
MIRNA — Deixa que eu mesma conto!
ANTENOR — Fica à vontade...

CORTA PARA:
CENA 2/ CASA DE CELESTE/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

Celeste a arrumar a sala.
Atenção Sonoplastia: batidas fortes à porta.
Ela abre a porta e, ao ver Griselda, seu rosto se ilumina.
CELESTE — Ganhei meu dia, minha comadre veio me ver!
GRISELDA — O cachorro do teu marido ainda tá em casa?
CELESTE — Não, o Baltazar saiu faz tempo...
GRISELDA — Ainda bem! (entra) Mas eu não vim aqui por causa
dele, só queria conversar um pouco. Tenho uma hora
de folga... Queria saber como você está.
CELESTE — Como sempre, né? (tom) Mais pra lá do que pra cá.
(tom) Vamos pra varanda? Lá é mais fresco. Vou
mandar a Solange passar um café e a gente toma lá.
Griselda se dirige à varanda, Celeste vai pra cozinha.
CORTA PARA:
CENA 3/ MANSÃO VELMONT/ JARDINS/ EXTERIOR/ DIA.

Tereza Cristina dá um beijo em René, se despedindo.
TEREZA CRISTINA — Você vai direto pro restaurante?
RENÉ — Não, encomendei uns temperos em Vargem Grande,

vou lá buscar. Quer alguma coisa?
TEREZA CRISTINA — Não esquece de falar com teu filho sobre

o tal site de encontros. “EstáSozinhoPorqueQuer”:
pelo nome já dá pra ver do que se trata. Não quero
René Júnior misturado com esses loucos da internet!
RENÉ — Vou cuidar disso, meu amor, pode deixar. Até mais.
René entra no carro e sai acenando pra Tereza Cristina.
CORTA PARA:
CENA 04/ CASTELO/ ATERRO/ EXTERIOR/ DIA.

CAM mostra a confusão que se forma no Aterro. Carros param, as pessoas
descem curiosas. Ônibus também parando, os passageiros com as cabeças
para fora das janelas tentando ver o que aconteceu. Um bando de curiosos
em torno de Vilma, que, desesperada, fala e gesticula fora de áudio.
Atenção Sonoplastia: a sirene se aproximando.
Todos se voltam para a viatura de polícia que vem na contramão e freia
espetacularmente. Dois policiais descem carro. Vilma tenta furar o “bolo”
de curiosos e seguir em direção aos policiais.
VILMA — (grita) Polícia!! Socorro, vocês tem que me ajudar!
Vilma segue aos brados até se colocar diante dos policiais.
VILMA — Dois homens!... Cara de executivo, de maleta e
tudo! Pegaram o táxi como se fossem passageiros,
tudo normal. Pediram a corrida pro aeroporto, e foi
só chegar aqui no Aterro/... Um deles sacou a arma,
encostou no meu nariz... Pensei que ia me matar!
CORTA RÁPIDO:
CENA 05/ UNIVERSIDADE/ SALA DE AULA/ INTERIOR/ DIA.

Atenção Edição: ligar no áudio com a cena anterior.
Letícia já reagindo, pasma, ao celular. Os alunos na maior expectativa.
LETÍCIA — (cel.) Dois executivos, mãe?!... Tem certeza?
CORTA RÁPIDO:

Vilma ao celular, os policiais próximos da viatura. Os curiosos em torno.
VILMA — (cel.) E você acha que eu ia inventar uma coisa
dessas?... Eles roubaram o meu Modem Express! Me
deixaram a pé em pleno Aterro do Flamengo! Tá a
maior confusão aqui! Tem curioso aos borbotões
curtindo com a minha cara... E a polícia já chegou!
Um dos policiais se aproxima de Vilma, falando.
POLICIAL — A senhora vai ter que nos acompanhar.
VILMA — (cel. no ouvido) Pra onde?

CORTA RÁPIDO:

Letícia, que ouviu pelo celular, reage.
LETÍCIA — (aflita) Quarta delegacia?!
CORTA RÁPIDO:

Atenção Edição: ligar no áudio com a cena anterior
Vilma emenda, falando ao celular.
VILMA — (cel.) Isso mesmo, os policiais vão me levar pra lá.

Tenho que dar queixa, prestar depoimento...
CORTA RAPÍDO:

Letícia tenta manter a calma, sempre falando ao celular.
LETÍCIA — (cel.) Mãe, vê se te acalma! Vai com os policiais, e
faz o que eles mandarem. Eu chego lá daqui a pouco.
Letícia desliga e se volta falando pros alunos que acompanhavam tudo.

LETÍCIA — Vocês vão me dar licença. A violência que assola
essa cidade acaba de fazer mais uma vítima, e dessa
vez foi a minha mãe! (ela sai correndo)
CORTA PARA:

Mirna acaba de contar o dinheiro, se volta para Antenor e proclama.
MIRNA — Está certíssimo!
ANTENOR — Depois de contar dez vezes tinha alguma dúvida?

Mirna ignora o que ele disse e guarda o dinheiro no decote enquanto fala.
MIRNA — Me conta, querido: onde é que eu moro?
ANTENOR — Numa fazenda no Mato Grosso.
MIRNA — Cruzes! E o que eu faço lá? Morro de tédio e de

saudades do meu filhinho?
ANTENOR — Você cria gado, adora a vida na fazenda, e tem um

dos maiores rebanhos bovino da região.
MIRNA — Huumm... Interessante! Você é filho único ou eu

tive outros bonitões assim feito você?
ANTENOR — Sou seu único filho.
MIRNA — Entendi, você não suporta competição. É o xodó da

mamãe. O predileto.
ANTENOR — Mais ou menos por aí.
MIRNA — Maridos: eu tive quantos?
ANTENOR — Só um. Você é viúva, mulher de um único amor.
MIRNA — Sei. (faz drama) O meu marido morreu num rodeio

pisoteado por um touro. Eu estava presente, e quase
enlouqueci de dor.
ANTENOR — Não, vamos pensar uma morte mais tranquila.
MIRNA — (dá de ombros) Tudo bem, a história é sua, e você

escolhe o fim. O seu pai...
ANTENOR — Teve um infarte fulminante, morreu dormindo.
MIRNA — E eu fui obrigada a assumir os negócios.
ANTENOR — Exatamente.
MIRNA — Quer dizer que eu fico na fazenda, cuido de tudo, e

você estuda medicina no Rio?
ANTENOR — Isso aí.

Mirna segue conversando com Antenor, mas fora de áudio.
CORTA PARA:
CENA 11/ UNIVERSIDADE/ PÁTIO/ EXTERIOR/ DIA.

Patrícia chega com Vanessa e Ellen, e vê Daniel mais adiante estudando.
PATRÍCIA — Vou falar com o Daniel e já encontro vocês.
As duas seguem adiante, Patrícia vai até Daniel que está concentradíssimo.
PATRÍCIA — Peguei em flagrante!
DANIEL — (no susto) Patrícia?!
PATRÍCIA — (estranha) Você e Antenor não iam fazer pesquisas,

preparar um seminário/
DANIEL — (corta, se atrapalha) Íamos, quer dizer, fomos.
PATRÍCIA — E se já voltaram, onde está o Antenor, posso saber?
DANIEL — Ele... Nós discordamos numa questão, ele cismou

de tirar a dúvida... Com um cirurgião vascular!
PATRÍCIA — Aqui mesmo, na universidade?
DANIEL — Ta achando que seu noivo fugiu?

PATRÍCIA — Só estou curiosa.
DANIEL — Não esquenta, daqui a pouco ele ta aí..
PATRÍCIA — Então eu falo com ele depois. Tchau!

Patrícia sai, dá alguns passos, pára e retorna cismada.
PATRÍCIA — Você e ele são amigos, acho que não tem mal se eu
perguntar: tá tudo bem mesmo com o Antenor?
DANIEL — Claro que sim! Por quê?
PATRÍCIA — Tou achado ele tenso, preocupado. Não é por causa

da faculdade. Tá acontecendo alguma coisa?
DANIEL — Até onde eu sei, e acho que sei bastante sobre o teu
noivinho, tá tudo bem, sim!
CORTA PARA:

Mirna, diante de Antenor, termina sua interpretação de mãe amantíssima,
como se falasse com Tereza Cristina.
MIRNA — ...Morro de saudades, Tereza Cristina. Mas nós
criamos os filhos pra vida, não é? E o Antenor desde
pequeno queria ser médico de gente (ri), era assim
que ele falava. Não é, filho? (afaga Antenor)
ANTENOR — É... Isso não estava no texto, mas é verdade.
MIRNA — (sai do tipo) Eu sou fiel ao texto, mas também

improviso. Gostou da atuação?
ANTENOR — Muito convincente.
MIRNA — Pode ser ainda mais, se me explicar uma coisa que

ta me deixando grilada.
ANTENOR — O quê?
MIRNA — Engrupir os pais é uma coisa. Você casa com a filha

e eles que se danem. Mas e a moça? Um dia ela vai
descobrir que tudo que você falou é mentira!
ANTENOR — (enfático) Tudo não! Meu amor é verdadeiro.
MIRNA — Eu não vou desistir, não precisa mentir pra mim...

Você ta fazendo isso por interesse, né?
ANTENOR — É sério! Eu amo a Patrícia de verdade!...
MIRNA — E mente pra coitadinha?...
ANTENOR — Pra ficar com ela tudo vale a pena.

CORTA PARA:
1º INTERVALO COMERCIAL
CENA 13/ BARRA/ SALVAMAR/ EXTERIOR/ DIA.

Victor, do alto do posto, a olhar o movimento da praia pelo binóculo. Do
PV dele vemos Nanda no mar com seu equipamento de kite surfe.
CORTA PARA:
CENA 14/ BARRA/ PRAIA/ EXTERIOR/ DIA.

Leandro, Pezão e Gigante ajudam Nanda tirar do mar seu equipamento.
NANDA — Obrigada, galera.
PEZÃO — Não precisa agradecer, tamos as ordens.
GIGANTE — É só chamar que a gente corre pra dar um help.

Nanda ri, eles vão saindo. Leandro no vai-não-vai, até que decide.
LEANDRO — (aproxima) ‘Bora tomar um suco na Olegário?
NANDA — Não dá, tenho que ir pra faculdade.
LEANDRO — Você treinou à beça, falta só um dia.
NANDA — Não posso...

LEANDRO — Então chega atrasada! Maior calor, um suco vai cair

bem. Vai dizer que não?
NANDA — (ri) Não dá mesmo. Eu não posso perder aula.
LEANDRO — Você estuda o quê?
NANDA — Educação Física.
LEANDRO — (ri) Claro! Tudo a ver contigo, gata.
NANDA — Vou nessa. (saindo) Tchau...
LEANDRO — O convite pro suco ta valendo pra outro dia!

Nanda apenas sorri. Leandro vendo ela se afastar, Ferdinand chega nele.
FERDINAND — Sai fora, cara. A Nanda não é pro teu bico! Muita
areia pra tua patinete.
LEANDRO — Qualé Ferdinand?!
FERDINAND — Filha de rico não dá mole pra pé inchado, sacou?!
LEANDRO — (sacaneia) É mermo, sargento da reserva?...
FERDINAND — Não folga comigo moleque, vai se arrepender!
LEANDRO — (sai pro mar) Vai se enroscar na rede de voley!...

CORTA PARA:
CENA 15/ PRAIA/QUIOSQUE/ EXTERIOR/ DIA.

Do PV de Álvaro e Zambeze, Luana estirada por ali, começando a acordar.
ZAMBEZE — Ta acordando, vou lá falar com ela.
ÁLVARO — Vê se não arma confusão Zambeze. Deixa a garota,

ela sabe se virar. (pra si) To sentindo minha paz sob
forte ameaça.
Zambeze chega em Luana, que reage ao vê-la.
LUANA — (defendida) Dormi de novo embaixo da sua barraca,
mas não precisa nem reclamar: já to de saída.
ZAMBEZE — Não vim te cobrar nada. Só quero conversar contigo

sobre o teu problema.
LUANA — (grilada) Que problema?
ZAMBEZE — De moradia! Você está sem casa, não é?
LUANA — Tou, mas vou resolver isso. Eu só preciso/
ZAMBEZE — (corta) De ajuda. Eu conversei com o Álvaro e... nós

achamos que você podia ficar com a gente.
LUANA — (sonda) Ficar com a gente?... Quer dizer: você, ele e

eu... Tipo assim os três juntos, na mesma/
ZAMBEZE — (corta) Não! Claro que não! Eu estou dizendo que

você pode se abrigar na nossa pousada.
LUANA — Ah, bom... Entendi. O Recanto da Zambeze... Legal.
ZAMBEZE — Isso é um sim?
LUANA — (desconfiada) Não. Talvez. Depende... Vou ter que

largar o meu trabalho?
ZAMBEZE — Seria melhor procurar outra ocupação, né?
LUANA — Não vou deixar meu trabalho pra fazer retiro. Muito
obrigada, mas fico na areia mesmo.
Luana vai embora pisando duro.
Corta para Zambeze já reagindo diante de Álvaro.
ZAMBEZE — Me deu o maior fora!
ÁLVARO — (irônico) Bem feito! Eu avisei pra não se meter, mas

você é teimosa.
CORTA PARA:
CENA 16/ CENTRO/ 4ª DELEGACIA/ EXTERIOR/ DIA.

Um táxi pára. Letícia desce apressada e nervosa, e paga o motorista pela
janela. Ela caminha em direção à delegacia... E já ouvimos em off a voz de
Vilma vinda da cena seguinte.
VILMA — (off) Roubaram uma parte da minha vida!
CORTA PARA:
CENA 17/ DELEGACIA/ SALA DE ESPERA/ INTERIOR/ DIA.

Atenção Edição: ligar pelo áudio com a cena anterior.
Vilma, arrasada, emenda diante de Letícia que tenta consolar a mãe.
VILMA — (aos prantos) Um pedaço do meu coração! Que dor!
LETÍCIA — Mãe, dê graças a Deus que eles só levaram o carro.
VILMA — Modem não é um carro! É parte da minha história.

Uma lembrança viva que seu pai me deixou.
LETÍCIA — Não exagera, lembrança viva do meu pai sou eu.
VILMA — Você também é viúva, filha. Sabe do que eu tou

falando. Não sacrifica, assim me deixa mais nervosa.
LETÍCIA — Não quero te deixar nervosa, eu quero é que você se

acalme! Mãe, você já fez tudo que podia: prestou
depoimento, ajudou a fazer o retrato falado dos/
VILMA — (corta) Não vai adiantar, os policiais não me deram

a menor esperança.
LETÍCIA —Você não diz que a esperança é a última que morre?
VILMA — Não digo mais! Se meu carro aparecer vai estar todo
depenado... Arruinado! (chora) Que vai ser de mim?
LETÍCIA — Você vai dar a volta por cima. Sempre deu...
VILMA — Não sem o Modem Express, sem ele não sou nada.
Perdi meu trabalho, a minha conexão com o mundo.
Letícia abraça Vilma que está aos prantos.

CORTA PARA:
CENA 18/ CASA DE CELESTE/ VARANDA/ EXTERIOR/ DIA.

Solange serve café para Celeste e Griselda. As duas no meio da conversa.
CELESTE — Você acha que precisa ser tão dura com o Antenor?
GRISELDA — Não acho, eu tenho certeza. (indignada) Celeste, ele

me disse barbaridades! Ingratidão dói. Inda mais de
filho. (dura) Mas a culpada sou eu!
CELESTE — Não fala uma coisa dessas, Griselda!
GRISELDA — É verdade, fiz mais por ele que pelos outros. Mas
pra ele tudo é pouco, pobre, pequeno, não presta...
Até eu sou pequena pros sonhos dele.
CELESTE — Você está é de cabeça cheia... Depois vai chorar por

aí, com remorso porque falou demais.
SOLANGE — (intervém) Eu não acho que o Antenor seja ruim.
GRISELDA — Há quanto tempo você não dá de cara com ele?
SOLANGE — Só me lembro de quando a gente era vizinho.
GRISELDA — Vocês eram dois meninos! Ele cresceu, mudou!
SOLANGE — (sonhadora) Do lado de casa tinha um terreno cheio

de bananeiras... Eu e Antenor brincávamos por lá.
GRISELDA — Fala isso pra ele. Antenor vai negar, vai fingir que
nem te conhece.
SOLANGE — (suspira) Ele era bonito... Ainda é?
GRISELDA — Lindo! Metido! E arrogante! Quem sabe, se nossas

famílias não tivessem se afastado...
CELESTE — Eu não queria me afastar...

GRISELDA — Mas o Baltazar sempre achou que eu sou péssima

influência pra você... E criou distância.
SOLANGE — Só Amália que nunca deixou de vir aqui.

GRISELDA — Aquela sim, é carinhosa... E gosta de mim.
CORTA PARA:
CENA 19/ POUSADA/ JARDINS/ EXTERIOR/ DIA.

Amália caminha em direção à pousada. Mandrake, que está na varanda
cuidando de uma planta, vai até ela.
AMÁLIA — E aí Mandrake: dona Zilá tá em casa?
MANDRAKE — Não, foi pro mato. Disse que já está na época aí

de uns cogumelos...
AMÁLIA — É o que ela usa pra fazer o creme cremoso. Vou já

atrás dela. (entra no matagal)
CORTA PARA:
CENA 20/ RECANTO/ MATAGAL/ EXTERIOR/ DIA.

Dona Zilá, com uma cesta pousada ao seu lado, cavouca a terra com uma
pequena espátula e vai tirando os cogumelos pela raiz. Ouve-se o chilrear
aflito de um pássaro numa árvore. Ela olha naquela direção.
DONA ZILÁ— Calma, que aflição é essa, já sei que a primavera ta
chegando... Mas não precisa exagerar!
Zilá assovia imitando o pássaro, que silencia. Ela olha em torno. Amália
surge por trás dela sem fazer ruído
DONA ZILÁ— Já tou há muito tempo nesse mundo, mas nunca me
canso de dizer isso: como ele é bonito!
AMÁLIA — (ri) Falando sozinha, dona Zilá?...
DONA ZILÁ— (se volta) Não querida. Tou conversando com você.
AMÁLIA — Adivinhou que eu estava aqui, foi? Não fiz nenhum

barulho...
DONA ZILÁ— Eu não adivinho Amália: eu sinto.

Ela tenta se levantar, Amália vai ajudá-la a fazer isso.
AMÁLIA — Achou os cogumelos?
DONA ZILÁ— Muitos. Estão na cesta com as outras ervas.
AMÁLIA — (pega a cesta) Deixa que eu levo.
DONA ZILÁ— Mas antes... Sente você também. A natureza toda se

enche de orgulho! Tudo por causa desse dia perfeito!
Pena que não vou ver muitos outros.
AMÁLIA — Lá vem ela com essa história de que vai morrer

daqui a pouco.
DONA ZILÁ— E vou. Todo mundo morre!... Mas não se preocupe.

Até lá ainda vai vender muito dos meus produtos.
Amália da o braço a Zilá. As duas se afastam.
CORTA PARA:
CENA 21/ CASA DE ZILÁ/ FRENTE/ EXTERIOR/ DIA.

Zilá e Amália entram na casa, quase uma choupana no meio do mato.
CORTA PARA:
CENA 22/ CASA DE ZILÁ/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

Sobre uma mesa grande e retangular os apetrechos usados por Zilá na
confecção dos seus cremes: potes de cerâmica, alguidares, vidros, pilões de
vários tamanhos... Mas nada que lembre um laboratório de química.
Amália põe a cesta sobre a mesa. Zilá procura nela, tira alguns cogumelos,
coloca num dos pilões, mistura com um líquido esbranquiçado que está
dentro de um vidro, começa a macerar. Amália olha fascinada. Instantes.
Zilá estende o pilão em direção a Amália.
DONA ZILÁ— Sente só o cheiro.
AMÁLIA — Dá vontade de comer.
DONA ZILÁ— E não te faria mal nenhum. Mas é pra usar na pele.
AMÁLIA — O que já tenho de novas encomendas... As mulheres

adoram! E todas dizem que faz o maior efeito.
DONA ZILÁ— E faz mesmo. Ou então eu não vendia.
AMÁLIA — Por falar nisso. (tira envelope da bolsa) Está aqui o

seu dinheiro.
DONA ZILÁ— Tirou sua parte?
AMÁLIA — Já gastei quase tudo.
DONA ZILÁ— Se quiser, te adianto por conta das próximas vendas.
AMÁLIA — Não precisa. (cheira o conteúdo de um pote) Cada

creme é diferente do outro... E tem sempre o mesmo
cheiro, a mesma cor. Como a senhora consegue?
DONA ZILÁ— Consigo porque aprendi. Com minha bisavó, que

aprendeu com a avó dela... Até o começo do mundo.
(tom) Esse ainda não tá no ponto. (pega um pote) Já
esse aqui...
Zilá pega uma espátula e, com ela, tira o creme do pote e coloca em outros
menores de plástico. À medida que ela os enche Amália vai fechando um a
um e colocando na bolsa.
DONA ZILÁ— Mexer com ervas não é feitiçaria não Amália, é uma
ciência. E você bem que podia aprender.
AMÁLIA — Qualquer dia desses. (guarda o último pote na

bolsa) Mas agora tenho compromisso.
DONA ZILÁ— Com um namorado?
AMÁLIA — O que a senhora acha?
DONA ZILÁ— Só pode ser. A primavera está chegando aí!

Zilá manda beijo pra Amália, que sai.
CORTA PARA:
CENA 23/ CASA DE CELESTE/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

Solange já na porta, com material na mão, se despedindo.
SOLANGE — Tchau, mãe, madrinha: já tá na hora da escola.
Griselda espera Solange sair, baixa o tom de voz.
GRISELDA — Agora que estamos só nós duas, seja sincera. Como
é que o traste do Baltazar tem te tratado?
CELESTE — Daquele jeito dele, sempre mal humorado. Mas pelo

menos parou de engrossar. Me deixou em paz!
GRISELDA — Vai se fiando... Aquele ordinário não tem jeito. Bem

fiz eu: depois que o Pereirinha sumiu, não quis mais
saber de homem.
CELESTE — Mas devia. Nem todos são como o Baltazar ou o

Pereirinha. Você sabe disso.
GRISELDA — E você também sabe. Devia mandar Baltazar pastar,

e arrumar outro melhor.
CELESTE — O assunto agora é você! Sua vida amorosa.
GRISELDA — (ri) A gente vai falar de um assunto que não existe!?
CELESTE — E o Guaracy? Você contou que ele vive insistindo.
GRISELDA — Ah, mas não é pra levar a sério. Imagina... Onde já

se viu português com nome de índio?
CELESTE — Vai dizer que não gosta dele nem um pouquinho?
GRISELDA — Gosto, mas só como amigo.
CELESTE — Fica de olho aberto. Quem sabe não aparece um que

você enxergue de outro jeito?
GRISELDA — Se aparecer, aí eu pego. Mas quem disse que tenho

tempo pra prestar atenção nessas coisas? (levanta)
Por enquanto eu só pego mesmo é no batente!
Celeste ri, Griselda vai saindo.

CORTA PARA:
CENA 24/ CASA DE CELESTE/ FRENTE/ EXTERIOR/ DIA.

Celeste já se despedindo de Griselda, que está de saída.
CELESTE — É tão bom quando você vem aqui...
GRISELDA — E nunca vou deixar de vir.
CELESTE — Brigada, Griselda... Brigada mesmo, quem tem uma

amiga como você tem tudo.
As duas se abraçam, se despedindo.
CORTA PARA:
CENA 25/ COMUNIDADE DO RECANTO/ ENTRADA/ EXT/ DIA.

Griselda vê o ônibus passando por ali e corre, fazendo sinal.
GRISELDA — (grita) Ei! Pára aí! Espera!
Mas o ônibus não pára. Griselda bufa e raiva.
GRISELDA — Custava parar? Eu tava quase chegando no ponto!
CORTA para René que vem passando de carro. Do PV de René vemos
Griselda parada à beira do meio-fio, gesticulando pro ônibus.
CAM vai buscar Griselda falando para as pessoas que estão no ponto.
GRISELDA — (resmunga) Se fosse uma piriguete de shortinho o
cachorro parava, dava até marcha ré fosse preciso.
O pessoal acha graça. René pára o carro ao lado de Griselda, ela olha e vê.
RENÉ — Algum problema?
GRISELDA — Não, tá tudo bem. E com o senhor?
RENÉ — Também. Vai pro Jardim Oceânico?
GRISELDA — Por que, precisa que eu conserte alguma coisa?
RENÉ — (sorri) Não, só estou lhe oferecendo uma carona.

Fecha em Griselda na dúvida.
CORTA PARA:
CENA 26/ COMUNIDADE DO RECANTO/ ENTRADA/ EXT/ DIA.

Continuação imediata da cena anterior.
Griselda indecisa, René insiste.
RENÉ — Entra.
GRISELDA — Tou tão atrasada... (p/ele) Vou aceitar sim.

Griselda entra no carro e se acomoda no banco.
RENÉ — A senhora vai ficar onde?
GRISELDA — Conhece o Tupinambar, lá na Olegário?
RENÉ — Tem a melhor empada que eu já comi na vida!
GRISELDA — Eu gosto... Mas o senhor é que é especialista.

René sorri e sai com o carro. Griselda, olha para trás e vê o cesto cheio de
ervas e temperos. René nota o olhar dela e explica.
RENÉ — Fui fazer compras lá em Vargem Grande, tenho um
fornecedor ótimo.
Griselda sorri.
CORTA PARA:
CENA 27/ MANSÃO VELMONT/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

Tereza Cristina, celular na mão, desce a escada. Marilda se finge de morta.
TEREZA CRISTINA — Para de bancar a estátua, e me diz por
onde anda o Crôdoaldo Valério.
MARILDA — Ele ta lá fora no jardim, com os/

E Marilda se corta porque Tereza Cristina já está longe.
CORTA PARA:

Crodoaldo com cara de nojo, já reclamando com Cabana que fez sujeira.
Tereza Cristina vai chegar sem que ele a veja.
CRO — Quantas vezes já te falei que tem hora e lugar pra
isso, hem? Sua porca!
TEREZA CRISTINA — Isso é jeito de tratar uma lady?

Cro estremece de susto e se volta já falando.
CRO — Não ataca pelas costas que morro de susto!
TEREZA CRISTINA — Não morre sem antes limpar isso aí!
CRODOALDO VALÉRIO — Num instante, Rainha do Nilo.

Tereza Cristina se afasta, teclando o celular.
CRODOALDO VALÉRIO — (resmunga) Deixa estar! Cleópatra
também era Rainha do Nilo e se deu mal...
Ele sai. CAM volta a Tereza Cristina já falando ao celular.
TEREZA CRISTINA — (ao cel.) René?
CORTA RÁPIDO:
CENA 29/ BARRA/ AUTOMÓVEL/ EXTERIOR/ DIA.

René já falando no viva voz enquanto dirige. Griselda ao lado.
RENÉ — (alto) Fica tranquila, meu amor. Já combinei com o
René Jr, ele vai me encontrar no restaurante.
TEREZA CRISTINA — (off, no viva voz) Vai com calma, sabe

como é o seu filho...
CORTA RÁPIDO:

Tereza Cristina emenda, falando ao celular.
TEREZA CRISTINA — (ao cel.) Se apertar muito ele se fecha. E

nós temos que tirar a limpo essa história dele ficar à
procura de encontros na internet.
CORTA RÁPIDO:
CENA 31/ BARRA/ AUTOMÓVEL/ EXTERIOR/ DIA.

René emenda, falando ao viva voz. Griselda na dela.
RENÉ — (alto) Pode deixar que eu me entendo com ele Até
mais tarde, beijo.
Ele desliga, e se volta simpático para Griselda.
GRISELDA — Problemas com seu filho?
RENÉ — Nada grave, coisas da adolescência...
GRISELDA — Sei bem como é.
RENÉ — Você tem filhos?
GRISELDA — (orgulhosa) Três, já adultos. E um neto.
RENÉ — E seu marido trabalha com o quê?
GRISELDA — Sou viúva, criei meus filhos sozinha. Trabalhei

muito/ (corrige) trabalho muito até hoje! Mas gosto!
E os meus filhos... Eles são o orgulho da minha vida.
CORTA PARA:

Antenor já se despedindo de Mirna.
ANTENOR — Mais uma sessão dessas, e até eu vou acreditar que
você é minha mãe.
MIRNA — Por mim, íamos direto pra estréia.
ANTENOR — Você quer dizer o jantar.

Mirna abre a porta para Antenor. Ele vai sair, mas pára e se volta.
ANTENOR — O que você vai fazer com o dinheiro que eu lhe dei?
MIRNA — Me deu coisa nenhuma! Trabalhei pra ganhar. E o

que eu vou fazer é problema meu!
ANTENOR — Desde que não comprometa o trabalho...
MIRNA — Fazendo o quê, por exemplo?
ANTENOR — Encher a cara e sair do sério.
MIRNA — (fula) Já vi que o porteiro encheu a tua cabeça com

um monte de histórias!
ANTENOR — Ele só disse que você gosta de tomar umas e outras

com as amigas.
MIRNA — E gosto mesmo!... Mas relaxa. Eu não perco o tino

quando trabalho.
CORTA PARA:
CENA 33/TUPINAMBAR/FRENTE/EXTERIOR/DIA.
Renê pára o carro. Guaracy, na porta, olha com cara de poucos amigos.
GRISELDA — Obrigada pela carona.
RENÊ — Foi um prazer.
GRISELDA — Fico lhe devendo essa...

Renê sorri e sai com o carro. Griselda vai em direção ao bar.
GUARACY — Quem é o gajo? Pareciam tão íntimos...
GRISELDA — Deu pra ficar tomando conta da vida dos outros?
GUARACY — Estava só a tomar uma fresca quando a vi chegar.
GRISELDA — Sei...
Griselda vai em direção a Quinze, que a observa à distância.
GRISELDA — Filho, pega minha caixa de ferramentas, que tenho

um serviço marcado.
QUINZÉ — Quem era aquele sujeito?
GRISELDA — (zangada) Mas o que é isso? Agora vou ter que dar
satisfação da minha vida pra todo mundo?
QUINZÉ — Não precisa se zangar. Eu só fiquei curioso.
GRISELDA — Passa lá a caixa. Ainda tenho que fazer meu jogo.

Griselda pega a caixa e sai. Guaracy e Quinzé se entreolham à distância.
CORTA PARA

Patrícia assiste à aula com Ellen sentada ao seu lado. Antenor surge atrás
da porta. Ellen o vê e logo cutuca Patrícia.
ELLEN — Olha quem está te namorando pelo vidro.
PATRÍCIA — (olha) Antenor! (p/Ellen) Ele é um fofo!
ELLEN — Vai lá. Eu anoto tudo da aula pra você.

CORTA PARA
CENA 35/ UNIVERSIDADE/ CORREDOR/ INTERIOR/ DIA.

Patrícia mal fecha a porta e Antenor a toma nos braços. Ergue o corpo dela
e dá um beijo cinematográfico. Duas colegas de Patrícia passam e zoam.
COLEGA 1 — Caraca, isso que é beijo!
COLEGA 2 — Esse desentope até pia!
PATRÍCIA — (afasta Antenor, recupera o fôlego) Tudo isso é

saudade ou esse entusiasmo todo tem outro motivo?
ANTENOR — Minha mãe ligou: dona Gisela vem conhecer sua

família. Marcou data e tudo.
CORTA RÁPIDO:

Tereza Cristina ao telefone, enquanto Crodoaldo massageia seus pés.
TEREZA CRISTINA — (ao tel.) Que ótima notícia, querida! E
quando será isso?
CORTA RÁPIDO:
CENA 37/ UNIVERSIDADE/ CORREDOR/ INTERIOR/ DIA.

Patrícia falando ao celular, com Antenor todo sorridente ao seu lado.
PATRÍCIA — (cel.) Esse fim de semana. Vamos fazer um jantar
maravilhoso. É pra minha futura sogra!
CORTA RÁPIDO:

Tereza Cristina emenda ao telefone, com Crodoaldo a girar dedo por dedo
dos seus pés a fim de estalá-los.
TEREZA CRISTINA — (tel.) Sua possível futura sogra. Mas fica
tranquila, vou ligar pro seu pai e decidir o menu.
Será uma noite inesquecível. Beijos. (desliga)
CRODOALDO — Soberana de Luxor...
T. CRISTINA — O que é, escravo?
CRODOALDO — Se eu ouvi bem, vai ter noivado mesmo?
T. CRISTINA — É apenas um jantar de apresentação...

Tereza Cristina puxa seus pés das mãos de Crodoaldo, desequilibrando-o.
T. CRISTINA — E se depender de mim não passará disso.
CORTA PARA:
CENA 39/CLÍNICA/SALA RESERVADA/INTERIOR/DIA.

Uma mulher e o marido aguardando ansiosos. Michele com eles.
MICHELE — Fica tranqüila, a senhora está nas mãos de uma das
maiores especialistas do país.
MULHER — Mas estou um pouco nervosa. Ela vai demorar?

Danielle Fraser entra já falando.
DANIELLE — Nem mais um segundo minha querida. Como vão?
Danielle cumprimenta os dois, eles se sentam. Michele sai.
DANIELLE — (simpática) Vocês formam um belo casal.
MULHER — Obrigada... Só nós falta um filho.
DANIELLE FRASER — Nós vamos resolver essa questão.
MARIDO — É o que a gente espera...
DANIELLE — Devem estar ansiosos pelas explicações sobre a

fertilização in vitro... Então vamos a elas. (sorri) Não
se preocupem. Eu vou pedir que façam uns exames
para uma avaliação inicial. Se os resultados forem
normais, você vai tomar dez injeções de hormônio,
uma por dia. Em seguida vamos retirar os óvulos.
MULHER — (ansiosa) A fertilização é feita no mesmo dia?
DANIELLE — Isso mesmo. (ri) Os espermatozóides são criaturas

ansiosa!. Correndo tudo bem, em três a cinco dias
transferimos os embriões para o seu útero.
MARIDO — E isso é feito como?
DANIELLE — É um procedimento muito simples, é feito aqui na

clínica mesmo. Usamos um cateter, que deposita os
embriões no seu útero.
MULHER — Qual o tempo de espera pra saber se deu certo?
DANIELLE — Após quinze dias fazemos um exame de sangue, o

mesmo que qualquer mulher faz pra saber se está
grávida. Se der positivo, quinze dias depois fazemos
um ultrassom para ver o feto.
MARIDO — Qual a nossa chance de sucesso?
DANIELLE — Pelas informações na ficha, eu diria que é grande.

A casal se olha animado. Danielle os observa sorrindo.
CORTA PARA
CENA 40/ FINA ESTAMPA/ ESTACIONAMENTO/ EXTERIOR/ DIA.

Take de localização.
O carro pára no pátio, Paulo e Esther descem.
CORTA PARA:
CENA 41/ FINA ESTAMPA/ LINHA DE MONTAGEM/ INT/ DIA.

Paulo e Esther vêm caminhando pelo cenário. CAM vai explorando o
ambiente enquanto os dois passam a conversar.
PAULO — É um pedido enorme Esther. Mas temos capacidade
técnica, e vamos dar conta.
ESTHER — Só se a gente pagar horas extras.
PAULO — O investimento vale a pena, meu amor.
ESTHER — Ah, isso é verdade. É a brecha que a gente precisava

para entrar de vez no mercado asiático.
PAULO — Todos mundo aqui têm que entender a importância

deste momento para a Fina Estampa.
ESTHER — Você chegou a marcar alguma reunião?
PAULO — Não, mas vou convocar o pessoal agora mesmo.

CORTA PARA:
CENA 42/ FINA ESTAMPA/ ESCRITÓRIO/ INTERIOR/ DIA.

Paulo e Esther entram, ele ainda falando. Ela vai pra sua mesa.
PAULO — Quero explicar os detalhes da operação pra equipe
inteira.
ESTHER — Boa ideia, assim a gente fala tudo de uma vez só.
PAULO — Tenho que pensar na logística... Pra começar, vou

dar uma olhada nos novos tecidos.
ESTHER — Preciso checar minha agenda, já te encontro.

Paulo sai. Esther tira a agenda da bolsa, e alguns papéis caem de dentro da
bolsa, entre elas o cartão da Clínica Dr. Gabriel Fraser. CAM detalha o
cartão. Esther fica um tempo olhando-o, pensativa, até que o guarda por ali.
Atenção Sonoplastia: interfone toca, ela reage.
ESTHER — (ao interf.) Alô.
PAULO — (off, animado) Esther, vem correndo!

CORTA DIRETO PARA:
CENA 43/ FINA ESTAMPA/ LINHA DE MONTAGEM/ INT/ DIA.

Esther e Paulo já diante dos novos tecidos. Ela um tanto distraída.
PAULO — Finalmente os tecidos chegaram! Não me canso de
olhar: essas texturas que você escolheu são incríveis!
Nada como investir em tecnologia.
ESTHER — Pois é... Que maravilha, não?

Paulo nota um certo alheamento na mulher.
PAULO — Pensei que você fosse ficar tão feliz quanto eu!
ESTHER — (disfarça) Mas é claro que tô feliz, meu amor...

(pega um tecido, mostra) Olha só quanto esse brilho!
Ninguém pode ficar triste no meio de tanto brilho.
PAULO — Eu te conheço. (encara) Me diz o que está havendo.
ESTHER — Paulo... Que cisma! Já falei, não ta havendo nada!
PAULO — (irônico) Agora você realmente me convenceu.

Paulo se afasta, já emburrado. Esther hesita um tempinho, e sai atrás dele.
CORTA PARA:
CENA 44/ FINA ESTAMPA/ ESCRITÓRIO/ INTERIOR/ DIA.

Paulo entra ali, se detém, fica um instante pensativo. Esther entra.
PAULO — (encara) Foi por causa dela que você ficou assim!
ESTHER — Por causa de quem?...
PAULO — Você sabe muito bem. Estou falando da nossa

inesperada companheira de viagem, Danielle Fraser.
ESTHER — Ah, vamos cuidar do nosso trabalho/
PAULO — (sem ouvir) Se eu soubesse, tinha empurrado aquela

cientista maluca pra fora do helicóptero.
ESTHER — (em cima) Não vamos começar com esse assunto/
PAULO — (emenda) Ela e aquela bolsinha térmica com o tal

"produto altamente perecível".
ESTHER — Não faz isso... não precisa falar assim... Eu tô bem!
PAULO — Que tá bem, Esther, olha pra você! Desde que a

gente cruzou com a doutora você mudou...
ESTHER — Tá bom, eu confesso, fiquei mexida, e agora tou um

pouquinho pra baixo. Mas vai passar. Eu juro!
PAULO — Assim espero.

Paulo seco. Fecha em Esther, tensa.
CORTA PARA:
CENA 45/BARRA/LOTÉRICA/INTERIOR/DIA.
Griselda está na fila aguardando, até que chega a sua vez.

GRISELDA — (entrega o jogo) Essa semana a bolada ta boa.
A atendente termina, Griselda pega o jogo e sai.
CORTA PARA
CENA 46/OFICINA MODELO/SALÃO/INTERIOR/DIA.

Movimento. Rafael atende um cliente fora de áudio, Zuleika se aproxima
ZULEIKA — Tem alguém querendo falar contigo... E não é pra
comprar moto.
RAFAEL — (entredentes) Zuleika eu tou atendendo cliente. Quer

fazer o favor? Manda voltar outra hora.
ZULEIKA — Capaz dela me bater. Já viu a cara braba da figura?

Rafael olha e leva o maior susto. Do PV dele vemos Griselda na porta.
CORTA PARA:
CENA 47/OFICINA MODELO/ FRENTE/EXTERIOR/DIA

Rafael, irritado, já falando diante de Griselda.
RAFAEL — Se veio pra me perturbar por causa da Amália/
GRISELDA — (corta) Calma, rapaz! Ainda não falei nada...
RAFAEL — Nem precisa: pelo que falou da última vez já dá pra

imaginar!
GRISELDA — Pois imaginou errado! Só vim lhe fazer um convite.
RAFAEL — (desconfiado) Convite? Que convite?
GRISELDA — Uma chance pra se apresentar da forma correta à

minha família.
RAFAEL — (intrigado) E como seria isso?

GRISELDA — Num jantar na minha casa. Amanhã, oito da noite.

Griselda sai batida, deixando Rafael pasmo. E já se ouve aqui em off a voz
de Amália vinda da cena seguinte.
AMÁLIA — (off, surpresa) Minha mãe?!...
CENA 48/CASA DE GRISELDA/FRENTE/EXTERIOR/DIA.

Amália emenda, falando ao celular.
AMÁLIA — (cel) Ela foi aí, na oficina?
RAFAEL — (off, cel.) Pra você ver. Pensei que fosse engrossar
comigo de novo.
AMÁLIA — (cel.) O que ela queria contigo?
RAFAEL — (off, cel.) Me convidar pra jantar aí amanhã.
AMÁLIA — (ao cel.) Na nossa casa?!
RAFAEL — (off, cel.) Eu também custei a acreditar. Mas foi isso

mesmo, ela veio aqui me convidar.
Amália olha em direção a casa indignada)
AMÁLIA — (cel.) Faz um convite desses, e não me fala nada?
CORTA PARA:
CENA 49/CASA DE GRISELDA/SALA/INTERIOR/DIA
Griselda já respondendo diante de Amália.
GRISELDA — E desde quando devo te consultar antes de fazer
alguma coisa?
AMÁLIA — Nesse caso devia, sim. Se convidou o Rafa pra vir

jantar aqui em casa, tem a ver comigo. Não tem?
GRISELDA — Se não gostou eu desconvido agora mesmo!
AMÁLIA — Não mãe! Só queria que você tivesse me falado.

GRISELDA — Eu ia te falar sim, mas o boquirroto correu na frente

e adiantou o serviço... Agora você já sabe.
AMÁLIA — (encara) A senhora ta armando alguma coisa, né?
GRISELDA — E eu sou mulher de fazer pelas costas? Pode deixar

que eu mesma preparo a comida, e vou tratar o rapaz
muito bem. Só quero que ele diga na frente de todo
mundo quais são as intenções dele.
AMÁLIA — Tem certeza que é só isso?
GRISELDA — Isso... E vou deixar bem claro: ai dele se um dia

magoar a minha filha querida.
Griselda faz um carinho na filha, puxa-a pra si.
CORTA PARA
CENA 50/ BARRA/ PRAIA/ EXTERIOR/ DIA.

Entardecer. Ferdinand, Enzo, Gigante e Pezão desmontam a rede de vôlei.
Dagmar passa com sua cestinha de empadas. Os rapazes logo se animam.
PEZÃO — Olha as empadas gostosas!
ENZO — Não seria a gostosa das empadas?
FERDINAND — Deixa a gente provar um pouquinho, Dagmar!
DAGMAR — Já vendi as todas.
GIGANTE — Não tamo falando das empadas não!
DAGMAR — Sai pra lá, ô bando de boas vidas.

Dagmar segue seu caminho.
CORTA PARA:
CENA 51/ QUIOSQUE/ PRAIA/ EXTERIOR/ DIA.

Dagmar chega ao quiosque. Álvaro e Zambeze ainda ali. Joel à parte.
ALVÁRO — Oba Dagmar. Só um minuto... (procura) Zambeze,
onde eu botei o pagamento das empadas/
ZAMBEZE — (corta, pega) Ta aqui, bem na sua frente. Já reparou

Dagmar, homem não acha nada, nem vê! (entrega)
DAGMAR — (pega) Vê sim: besteira! Isso eles não perdem uma!

Zambeze se distrai, Alvaro rápido pega a empada que Dagmar lhe dá.
DAGMAR — (baixo) Cuidado pra não engasgar de novo.
ZAMBEZE — (se vira, disfarçando) Olha o teu filho ali.

Álvaro esconde rápido a empada, Zambeze não vê.
DAGMAR — Esse tem faro pra dinheiro. Recebo, ele vem pedir!
Leandro ali com sua prancha de surf.
DAGMAR — (chega) Vida boa hem, seu Leandro?
LEANDRO — Ô mãe. (mente) Tava treinando, vai ter competição.

Hoje só deu ondão!
DAGMAR — Sei...
LEANDRO — Sério. O prêmio é em dinheiro, uma grana legal.

Falando nisso me dá vinte reais?...
DAGMAR — Nem meio. Não quer estudar, vai trabalhar!
LEANDRO — Dez reais: o que é que te custa?
DAGMAR — Quatro empadas e a quentura do forno.

Leandro faz bico e sai.
DAGMAR — Com esse não da pra facilitar. Tchau. (sai)
Álvaro se volta para Zambeze que está encostada sobre o balcão, pensativa.
ALVARO — Viu bem, né?! E é filho, imagina quando não é.
ZAMBEZE — Se é da Luana que você ta falando/
ALVÁRO — (corta) Que é que tu vê naquela garota, me diz?
ZAMBEZE — Sei lá. Vejo alguma coisa... Uma espécie de aura.

ALVÁRO — Não força, Zambeze. Vamos pra casa descansar.

Joel assume o quiosque. Álvaro gentil pega Zambeze e vai saindo.
CORTA PARA:
CENA 52/ BARRA/ PRAIA/ EXTERIOR/ NOITE.

Anoitecer na praia.
CORTA PARA:
CENA 53/ MANSÃO VELMONT/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.

Patrícia e Antenor, sentados no sofá, já se beijando. Instantes. Ele levanta.
PATRÍCIA — (brinca) Essa pesquisa sempre nos separando. Já
estou ficando com ciúmes dela!
ANTENOR — É? Então me dá mais um beijinho aqui.

Patrícia levanta, dá um selinho em Antenor.
ANTENOR — Em meia hora tou de volta.
Antenor sai, deixando Patrícia intrigada. Tereza Cristina entra e alfineta.
TEREZA CRISTINA — Impressão minha ou seu semi-noivo
anda meio fujão ultimamente?
PATRÍCIA —(doce) Mãe, deixa que o Antenor é problema meu.

Patrícia dá um beijo em Tereza Cristina e sai.
CORTA PARA
CENA 54/ APÊ DE LETÍCIA/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.

Letícia fala ao telefone, acompanhada de perto por Vilma e Carolina.
LETÍCIA — Muito obrigada por tudo delegado. Boa noite e bom
trabalho para o senhor.
Letícia desliga o telefone e se volta para Vilma.
LETÍCIA — O delegado prometeu telefonar assim que tiver uma
novidade sobre o carro.
VILMA — Mas até agora nada! (aos prantos) O que vai ser de
mim sem meu táxi? Sem ele não sou ninguém!
CAROLINA — Você não devia ter deixado o seguro vencer.
VILMA — Como é que eu ia adivinhar que os bandidos iam me

roubar logo agora? Vou ter que ficar em casa feito as
outras viúvas que vivem de pensão!...
LETÍCIA — Não exagera, mãe...
CAROLINA — Cadê a minha avó internauta que sabe de tudo?
VILMA — Foi embora junto com o táxi.
LETÍCIA — Vamos esperar um pouco.
VILMA — Quanto mais tempo passar, mais difícil fica! A essa

hora o carro já foi todo esquartejado.
Vilma se entrega ao choro. Letícia e Carolina a abraçam com carinho.
CAM desvia e vai mostrar a varanda do outro lado que está às escuras.
CORTA PARA:
CENA 55/ LE VELMONT/ FRENTE/ EXTERIOR/ NOITE.

O carro pára diante do Lê Velmont. Juan Guilherme desce com uma loura,
entrega as chaves ao manobreiro e sai com ela em direção ao restaurante.
CORTA PARA:
CENA 56/ LE VELMONT/ SALÃO/ INTERIOR/ NOITE.

Rene acomoda Juan Guilherme e a loura numa mesa. O restaurante cheio.
René Jr. de pé perto do bar.
JUAN GUILHERME — Senta um pouco com a gente René.
RENÉ — Hoje não dá Juan. Tenho uma conversa pendurada

com o René Jr.
JUAN GUILHERME — Ele andou aprontando?
RENÉ — Ainda não sei...
JUAN GUILHERME — Se o Fábio tiver nessa me dá um toque.

RENÉ — Pode deixar. Com licença... (vai até René Jr.)
RENÉ JR — (ressabiado) Que é que tá rolando, pai?
RENÉ — Você é quem vai dizer. (encara) Que história é essa

de frequentar sites de encontro na internet?
RENÉ JR — Ãn?... (disfarça) Tem nada disso não! (nervoso) Se

era só isso, fui. Amanhã tenho prova/
RENÉ — (duro) Senta, que a conversa ainda nem começou.

Não pensa que me leva no papo.
RENÉ JR — (senta, acuado) Calma, pai.
RENÉ — Vamos começar tudo de novo: que história é essa?

CORTA PARA:
CENA 57/ APÊ DE MIRNA/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.

O dinheiro espalhado sobre o sofá.
Mirna acaba de se arrumar no maior capricho, não como dona Gisela, mas
como a periguete que ainda pensa que é. Ela pega a bolsa, pesca a grana
sobre a cama, joga dentro dela...
MIRNA — O que eu vou fazer com a grana? É minha, ganhei
honestamente... E vou gastar! Num belo jantar
regado a muita birita, jogando conversa fora com
minhas amigas jogando conversa fora... E o Antenor
que se dane!
Ela sai e fecha a porta atrás de si.
CORTA PARA:
CENA 58/ PRÉDIO DE MIRNA/ PORTARIA/ INTERIOR/ NOITE.

Mirna sai do elevador produzidíssima, passa pelo porteiro e fala sem olhar.
MIRNA — (entre dentes) Fofoqueiro.
PORTEIRO — Falou comigo, dona Mirna?
MIRNA — (rosna) Não. Só tou rezando! (sai)

PORTEIRO — É hoje! Ela ainda nem bebeu e já tá que tá!

CORTA PARA:
CENA 59/ PRÉDIO DE MIRNA/ FRENTE/ EXTERIOR/ NOITE.

Mirna faz sinal para um táxi, que vai passando e para. Quando ela vai
entrar Antenor surge do nada e impede.
ANTENOR — (segura no braço) Onde você pensa que vai?
MIRNA — Penso não! Eu vou, e já estou atrasada.

Ela se solta, vai entrar no táxi. Mas Antenor seguro forte.
ANTENOR — Esquece! Minha mãe não vai a lugar nenhum.
MIRNA — É o que você pensa. Sou dona do meu nariz.
ANTENOR — (p/taxista) Pode ir, amigo! A minha avó anda meia

atrapalhada das idéias.
O táxi arranca e vai embora.
MIRNA — (furiosa) Avó?! Qual é o problema contigo, me diz?
ANTENOR — É o seguinte: se vai pra farra, não tem mais trato. E

eu quero minha grana de volta!
MIRNA — (pasma) O quê?...
ANTENOR — É isso aí! Devolve o meu dinheiro. Agora!

CORTA PARA:
FIM

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Rede Globo de Televisão

Central Globo de Produção Capítulo 007

Personagens deste capítulo

ALVÁRO ESTHER PATRÍCIA

CENA 01/ APÊ DE MIRNA/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

ANTENOR — Não dá pra negar, foi uma transformação e tanto.

MIRNA — (orgulhosa) A mãe que o bebê queria, não é?... Eu

ANTENOR — Aparências enganam Mirna. Não basta parecer fina,

MIRNA — (ri) Querido, no tempo em que fazia novela vivi

ANTENOR — E isso quer dizer o quê?

MIRNA — Regra de etiqueta é comigo mesma! Eu sei usar

ANTENOR — Se decorar tudo certinho pra história não ter erro...

MIRNA — Sou uma atriz de múltiplos talentos e inúmeros

ANTENOR — Então, vamos ao trabalho!

MIRNA — Primeiro me dá metade do cachê. Pra compor a

ANTENOR — (resmunga) Tudo bem...

ANTENOR — Fica à vontade...

CENA 2/ CASA DE CELESTE/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

Ela abre a porta e, ao ver Griselda, seu rosto se ilumina.

CELESTE — Ganhei meu dia, minha comadre veio me ver!

GRISELDA — O cachorro do teu marido ainda tá em casa?

CELESTE — Não, o Baltazar saiu faz tempo...

CENA 3/ MANSÃO VELMONT/ JARDINS/ EXTERIOR/ DIA.

RENÉ — Não, encomendei uns temperos em Vargem Grande,

TEREZA CRISTINA — Não esquece de falar com teu filho sobre

CENA 04/ CASTELO/ ATERRO/ EXTERIOR/ DIA.

CENA 05/ UNIVERSIDADE/ SALA DE AULA/ INTERIOR/ DIA.

CENA 06/ CASTELO/ ATERRO/ EXTERIOR/ DIA.

VILMA — (cel. no ouvido) Pra onde?

CENA 07/ UNIVERSIDADE/ SALA DE AULA/ INTERIOR/ DIA.

CENA 08/ CASTELO/ ATERRO/ EXTERIOR/ DIA.

Vilma emenda, falando ao celular.

VILMA — (cel.) Isso mesmo, os policiais vão me levar pra lá.

CENA 09/ UNIVERSIDADE/ SALA DE AULA/ INTERIOR/ DIA.

Letícia desliga e se volta falando pros alunos que acompanhavam tudo.

CENA 10/ APÊ DE MIRNA/ SALA/ INTERIOR/ DIA.

ANTENOR — Depois de contar dez vezes tinha alguma dúvida?

ANTENOR — Numa fazenda no Mato Grosso.

MIRNA — Cruzes! E o que eu faço lá? Morro de tédio e de

ANTENOR — Você cria gado, adora a vida na fazenda, e tem um

MIRNA — Huumm... Interessante! Você é filho único ou eu

ANTENOR — Sou seu único filho.

MIRNA — Entendi, você não suporta competição. É o xodó da

ANTENOR — Mais ou menos por aí.

MIRNA — Maridos: eu tive quantos?

ANTENOR — Só um. Você é viúva, mulher de um único amor.

MIRNA — Sei. (faz drama) O meu marido morreu num rodeio

ANTENOR — Não, vamos pensar uma morte mais tranquila.

MIRNA — (dá de ombros) Tudo bem, a história é sua, e você

ANTENOR — Teve um infarte fulminante, morreu dormindo.

MIRNA — E eu fui obrigada a assumir os negócios.

MIRNA — Quer dizer que eu fico na fazenda, cuido de tudo, e

ANTENOR — Isso aí.

CENA 11/ UNIVERSIDADE/ PÁTIO/ EXTERIOR/ DIA.

DANIEL — (no susto) Patrícia?!

PATRÍCIA — (estranha) Você e Antenor não iam fazer pesquisas,

DANIEL — (corta, se atrapalha) Íamos, quer dizer, fomos.

PATRÍCIA — E se já voltaram, onde está o Antenor, posso saber?

DANIEL — Ele... Nós discordamos numa questão, ele cismou

PATRÍCIA — Aqui mesmo, na universidade?

DANIEL — Ta achando que seu noivo fugiu?

PATRÍCIA — Só estou curiosa.

DANIEL — Não esquenta, daqui a pouco ele ta aí..