Sol 49

Rede Globo de Televisão
Central Globo de Produção Capítulo 049

SEGUNDO SOL
Entregue em 04/06/2018
Novela de
João Emanuel Carneiro
Escrita por
João Emanuel Carneiro e Márcia Prates
Colaboradores
Fábio Mendes
Eliane Garcia
Lilian Garcia
Direção Geral
Dennis Carvalho
Maria de Médicis
Direção Artística
Dennis Carvalho
Personagens deste capítulo
BETO KAREN
EDGAR REMY
GALDINO ROBERVAL
GROA ROCHELLE
ÍCARO ROSA
KAROLA SEVERO
LAURETA VALENTIM
LUZIA
MANUELA
Bloco 9
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DIVULGAÇÃO CONSTITUI INFRAÇÃO AO CÓDIGO DE ÉTICA E CONDUTA DO GRUPO GLOBO.
SEGUNDO SOL Capítulo 049 Pag.: 01
CENA 1/ RESTAURANTE DE CACAU/ INTERIOR/ NOITE.

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
REMY, DE OLHO EM CACAU E LUZIA, QUE JÁ CONVERSAM, SENTADAS EM
UMA MESA:
LUZIA — A polícia só veio atrás de mim porque alguém me denunciou!
Agora que Beto desistiu de mim pra sempre, espero que
aquela diaba da Karola saia do meu pé também!
CACAU — Se Deus quiser a gente nunca mais vai precisar olhar na cara
dessa mulher! (T) Por falar em Beto, como é que você tá,
agora que rompeu com ele?
LUZIA LIMPA UMA LÁGRIMA QUE CORRE POR SEU ROSTO.
LUZIA — Como eu tô? Tô arrasada! Destruída, sem chão! Não paro de
pensar nele e nas mentiras que tive que inventar pra ele
esquecer de mim...
CACAU — Foi melhor assim, minha irmã! Você é uma mulher jovem,
bonita, tem muita vida pela frente, vai arrumar alguém massa
pra ficar junto, um companheiro...
LUZIA — Cê tá certa... Mas que é difícil, é difícil... Dói... como dói...
A CÂMERA PANORAMIZA E MOSTRA REMY QUE, SEM TIRAR OS OLHOS
DAS DUAS IRMÃS, CHAMA O GARÇOM:
REMY — (FAZ SINAL) A continha, véi...
O GARÇOM TRAZ A CONTA, REMY PAGA EM DINHEIRO E VAI EMBORA.
CENA 2/ COBERTURA DE KAROLA/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
KAROLA ALI NAVEGANDO NO CELULAR, BETO ACABANDO DE MOSTRAR
A VALENTIM E A ROSA A MÚSICA NOVA QUE GRAVOU NUM PENDRIVE.
VALENTIM — Massa, Miguel, show de bola!
BETO — Gostou mesmo?
VALENTIM — Tô falando, adorei, você tá brocando!
ROSA — Eu amei!
VALENTIM — Tem que lançar, Miguel! Uma música linda dessas tem que
ser ouvida por todo mundo, não pode ficar guardada num
pen-drive!
BETO — Tô pensando ainda em como fazer...
VALENTIM — Tem uma DJ que eu conheço, ela é incrível, Ariella... eu
podia mostrar pra ela, ela pode tocar no show dela... Ou
então quem sabe fazer uma letra?
KAROLA — Quem é essa Ariella? Nunca ouvi falar!
ROSA — Ela é brasileira, mas morava na Islândia... ela é meio DJ

também, tem uma pegada super legal.
KAROLA — (DEBOCHA) Uma brasileira que morava na Islândia e faz
rave? Tenha dó! Você acha que Miguel vai se misturar a
artista mambembe, Valentim?
BETO — Se ela é boa assim, não vejo mal nenhum...
KAROLA — Ela é tão boa quanto anônima... e se é anônima, não deve ser
tão boa assim!
ROSA — Ariella faz mais sucesso entre a galera jovem, da night,
Karola. É uma artista performática, descolada, talvez por isso
você não tenha ouvido falar ainda/
KAROLA — Tá me chamando de velha, Rosa?
ROSA — Tava só explicando... Você até que tá bem pra sua idade...
uma gata!
BETO — (RI) Uma gata brava...
KAROLA — Uma onça.
ROSA — Bom, eu acho a ideia de Valentim ótima, aposto em Ariella,
posso até imaginar, ela vai arrasar!
VALENTIM — Dois a um, mãe, perdeu!
KAROLA — Vá esperando...
ROSA — (LEVANTA) Tenho que ir, tá na minha hora... (BEIJA) Boa
noite, Miguel... (DE LONGE) Beijo, sogrinha!
KAROLA — Bom trabalho, querida!
VALENTIM VAI LEVÁ-LA ATÉ A PORTA.
BETO — (BAIXO) Você provoca, Karola...
KAROLA — (IDEM) Eu? Acho é triste ter uma namorada que trabalha à
noite, tenho pena de nosso filho!
CENA 3/ CASA DE LAURETA/ FRENTE/ EXTERIOR/ NOITE.
STOCK-SHOT DE LOCALIZAÇÃO.
CENA 4/ CASA DE LAURETA/ PISCINA/ EXTERIOR/ NOITE.
ÍCARO COM MANU NO TELEFONE.
ÍCARO — (CEL) Claro que eu topo ir no show de Ariella hoje, Manu...
você vai mesmo conseguir me apresentar a ela como
prometeu? Beleza!... E tá tudo bem, né, você tá de boa... Que
bom, maninha, lhe encontro lá, um beijo.
ROSA QUE CHEGOU ALI OUVIU.
ROSA — Vai no show de Ariella hoje?
ÍCARO — (CONFIRMA) Com Manu, tô querendo conhecer essa

Ariella, só vi no palco, e ela é muito amiga de minha irmã...
tipo um anjo da guarda.
ROSA — Legal. Eu já conheci, gente boa.
ÍCARO — E você, tá vindo da lua de mel?
ROSA — Lua de mel?
ÍCARO — Te esperei na festa junina lá do casarão, você não foi...
Soube que você foi pra festa na casa da família do seu
namorado. (INVESTE) Eu tava de noivo na festa, bigode,
paletó xadrez e chapéu de palha, pena que a noiva que eu
queria não apareceu...
ROSA — (RI) Agora é tarde, já casei!
ÍCARO — (SE CHEGA) Nunca é tarde... (T) Eu sinto falta de conversar
com você, Rosa, você não sente?
ROSA — Eu tento não pensar no que me deixa triste, Ícaro/
ÍCARO — Sente saudade de mim, como eu sinto de você?
ROSA — Às vezes eu sinto saudade do que a gente já foi um dia... mas
acabou, eu tô feliz, não quero estragar o que tô vivendo
agora.
ÍCARO — Então você gosta mesmo daquele moleque? Eu não entendo
isso/
ROSA — O que não dá pra entender é você gostar de Laureta...
ÍCARO — (QUASE BEIJANDO) Basta um sinal seu/
ROSA — (IMPEDE) Pare, Ícaro... eu nunca vou sacanear Valentim, ele
não merece. (T) E sua mãe, você teve notícias dela?
ÍCARO — Que papo é esse agora?
ROSA — Tô só perguntando... por curiosidade, teve?
ÍCARO — Não. Nem tô a fim de falar disso.../ Vou nessa, encontrar
minha irmã.
ELE SAI E CAM BUSCA LAURETA, QUE ESTAVA ALI NA VARANDA VENDO
O CASAL.
CENA 5/ FRENTE DO REST. DE CACAU/ EXTERIOR/ NOITE.
LUZIA SAI DO RESTAURANTE DE CACAU, CAMINHANDO PELA RUA. A
CÂMERA BUSCA REMY, QUE ESTAVA ESCONDIDO ALI PERTO, DE TOCAIA.
ELE PERCEBE QUE LUZIA ESTÁ INDO EMBORA E VAI ATRÁS DELA, A
SEGUINDO.
CENA 6/ RUAS DE SALVADOR/ EXTERIOR/ NOITE.

LUZIA CAMINHA PELA RUA, CHEGA EM UMA ESQUINA, DÁ UMA OLHADA
PRA TRÁS. REMY, QUE A SEGUIA, ENTRA EM UMA LOJINHA,
DISFARÇANDO. LUZIA CONTINUA A CAMINHAR, REMY VAI ATRÁS. LUZIA
ENXERGA UM SUPERMERCADO 24 HS, ENTRA. REMY ENTRA ATRÁS,
CUIDADOSO. RESSALTAR COM DECUPAGEM E TEMPO DRAMÁTICO A
SENSAÇÃO DE SUSPENSE.
CENA 7/ SUPERMERCADO/ INTERIOR/ NOITE.
LUZIA ANDA PELOS CORREDORES COM UM CARRINHO, FAZENDO SUAS
COMPRAS. A CÂMERA DESVIA E MOSTRA REMY ACOMPANHANDO CADA
MOVIMENTO DELA, DE LONGE. LUZIA SE DISTRAI, VAI PEGAR ALGUM
PRODUTO NA GELADEIRA E DEIXA SUA BOLSA NO CARRINHO DO
SUPERMERCADO. APROVEITANDO O MOMENTO, SEM HESITAR, REMY SE
APROXIMA E, COM HABILIDADE DE UM GATUNO, SEM QUE NINGUÉM
PERCEBA, PEGA A BOLSA DELA. ELE SE AFASTA RAPIDAMENTE E SE
ESCONDE EM OUTRO CORREDOR. LUZIA RETORNA A SEU CARRINHO COM
O PRODUTO E PERCEBE QUE SUA BOLSA SUMIU.
LUZIA — (SE DESESPERA) Meu Deus, minha bolsa! Meus
documentos, meu dinheiro, a chave de casa, tudo! (ABORDA
FUNCIONÁRIO) Roubaram minha bolsa! Roubaram minha
bolsa aqui no mercado!
FUNCIONÁRIO — Calma, calma! Onde que a senhora lembra de tar com a
bolsa a última vez?
LUZIA — Agora, aqui! Fui um minuto na geladeira e quando eu voltei
ela não tava!
NO MEIO DA CONFUSÃO, REMY APARECE COM A BOLSA DE LUZIA NAS
MÃOS. ELE SORRI, SEDUTOR:
REMY — Essa bolsa é sua? Encontrei ali na seção de produtos de
limpeza. (ENTREGA A BOLSA)
LUZIA — Nossa, você é um anjo! Já achei que tinha sido roubada! (P/
FUNCIONÁRIO.) Me desculpe, fiquei muito nervosa!
FUNCIONÁRIO PARTE.
REMY — A maré não tá pra peixe, mesmo! Não pode dar mole hoje em
dia! Vê se tá tudo aí dentro...
ELA CONFERE DENTRO:
LUZIA — Que alívio! Não sei nem como lhe agradecer!
REMY — Me dando um sorriso já basta...
LUZIA SORRI, LEVEMENTE ENCABULADA. REMY A OLHA NOS OLHOS,
SEDUTOR:
REMY — Prazer, Renan!

EM LUZIA, ENCANTADA COM REMY, O:
1º INTERVALO COMERCIAL
CENA 8/ SUPERMERCADO/ INTERIOR/ NOITE.

CONT. DA CENA ANTERIOR. LUZIA DIANTE DE REMY:
LUZIA — Muito obrigada, visse? O mundo precisa de mais pessoas
honestas como você... Bom, licença, eu já vou, muito
obrigada mesmo, nem sei como lhe agradecer!
REMY — Já que você insiste nessa história de me agradecer, eu tenho
uma ideia... Não vá embora ainda não... Tome um café aqui
comigo...
LUZIA — Melhor não...
REMY — Aqui dentro mesmo! Por que não? Você é comprometida?
Não tô vendo nenhuma aliança em seu dedo! Um café, que
mal tem?
NO CONVITE DE REMY:
CENA 9/ SUPERMERCADO/ PADARIA/ INTERIOR/NOITE.
REMY E LUZIA, JÁ SENTADOS NUMA MESA, NA PADARIA DO MERCADO,
TOMANDO O CAFÉ. REMY FALANDO E LUZIA RINDO, CLIMA DE PAQUERA
NO AR:
REMY — (...) eu achei que você ia bater no funcionário quando sumiu
sua bolsa! Pensei assim: gostei dessa, essa é uma baiana
retada! Você é baiana, né?
LUZIA — Sou baiana, sim. Mas não nasci em Salvador.
REMY — Por isso! Eu conheço todo mundo em Salvador.
LUZIA — Engraçado, você não me é estranho...
REMY — Mas, infelizmente, não tive esse prazer de lhe conhecer antes.
Onde é que você tava que nunca lhe vi?
LUZIA — Pelo jeito você conhece todas as mulheres de Salvador, né?
REMY — Quem me dera! Tenho andando tão solitário...
LUZIA — (SORRINDO) Ah, imagino!
REMY — É verdade! Tô em busca de um amor, mas só tenho pensado
em trabalho ultimamente...
LUZIA — Você faz o que?
REMY —Trabalho com comércio exterior, transações de commodities...
Mas não vamos falar de coisa chata, fale mais de você, nem
sei seu nome ainda!
LUZIA — (SORRI, SEM JEITO) Sílvia...

REMY — Sílvia? Um belo nome!
SUTILMENTE, REMY PEGA NA MÃO DE LUZIA:
REMY — Se eu lhe falar uma coisa, você promete que tenta não achar
que eu sou maluco?
LUZIA — Nossa, posso tentar!
REMY — Poucas vezes eu cruzei com alguém que despertasse esse tipo
de sentimento em mim...
LUZIA TIRA SUA MÃO E FAZ UM SINAL PRO ATENDENTE:
LUZIA — Marque aqui dois cafés, por favor. (P/ REMY) Eu tenho que
ir...
REMY — Desculpe, eu fui rápido demais...
LUZIA — Não, eu que sou uma mulher muito enrolada, você nem
imagina...
REMY — Me conte, eu adoro um rolo! Detesto gente toda certinha, sem
graça!
LUZIA — Melhor, não. Já tá na minha hora mesmo...
RAPIDAMENTE, REMY SACA UMA CANETA E ANOTA SEU TELEFONE EM
UM GUARDANAPO:
REMY — Me ligue! Só pra conversar, eu juro que eu queria lhe
conhecer melhor!
LUZIA PEGA O GUARDANAPO, GUARDA EM SUA BOLSA. ELA SORRI, E
PARTE. NA SATISFAÇÃO DE REMY:
CENA 10/ FRENTE DO SUPERMERCADO/ EXTERIOR/ NOITE.
LUZIA JÁ ENTRANDO NO BANCO DE TRÁS DE UM TÁXI QUANDO REMY
ESTÁ SAINDO DO MERCADO. LUZIA BATE A PORTA E O TÁXI PARTE.
REMY JÁ VAI ENTRANDO EM UM OUTRO TÁXI PARADO ATRÁS, QUANDO
QUASE É DERRUBADO POR UMA OMBRADA DE UMA SENHORA
GORDINHA, COM GUARDA CHUVA NA MÃO:
REMY — Que é isso, minha senhora?
SENHORA — (DANDO GUARDACHUVADA NELE) Me respeite,
disgraça! Eu tava na sua frente, eu vou no táxi!
REMY PERCEBE QUE O TÁXI DE LUZIA JÁ ESTÁ LONGE.
CENA 11 STOCK-SHOT SALVADOR À NOITE/
O MOVIMENTO NOTURNO NA CIDADE.
CENA 12/ FLAT DE LUZIA/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
LUZIA E GROA JANTAM UMA SALADA QUE ELA PREPAROU.
LUZIA — Foi... como que eu posso dizer? Divertido! Me senti num

filme, recebendo cantada enquanto empurrava um carrinho de
supermercado!
GROA — Mas você ficou mexida, tá com os olhos brilhando!
LUZIA — Ah, Groa, depois de tanto tempo sem nem pensar nessas
coisas... fiquei mexida, sim, fez bem pra minha auto-estima!
Nem lembro mais qual foi a última vez que fui paquerada!
GROA — Deve ter muito tempo, ninguém nem mais usa esse termo:
paquera! E ele? Como era?
LUZIA — Bem bonito! Charmoso, interessante, acho que levava nota
máxima no seu ranking!
GROA — Acho então que temos um vencedor nas paradas! Mergulhe
de cabeça e braços abertos, Lu, é uma boa oportunidade pra
lhe ajudar a esquecer o encosto do Miguel!
LUZIA — Não fale assim dele.
GROA — Só mentalize e foque no bonitão do supermercado: namorar,
ficar de chamego, aconchegadinho, beijar na boca, isso faz
bem pra alma e pra pele!
LUZIA — Imagina, Groa, ainda não tô preparada, não consigo tirar
Miguel da cabeça! Lá mesmo, no mercado, fiquei
comparando os dois...
GROA — Por isso mesmo, tem que virar a página com fé, começar logo
o próximo capítulo. Sem expectativas, só deixando a vida
seguir em frente.
LUZIA — É... sem expectativas... pode ser. (MOSTRA O
PAPELZINHO COM O TELEFONE) Ele deixou o telefone
dele. Quem sabe algum dia eu crie coragem e ligue pra ele?
(T) Agora preciso ir correndo pro show que eu tô atrasada!
NELES SE ARRUMANDO PRA PARTIR.
CENA 13/ CASA DE LAURETA/ COZINHA/ INTERIOR/ NOITE.
ROSA ENTRA ALI, VAI SE SERVIR DE UM COPO D´ÁGUA. GALDINO ALI
BEBENDO UMA CERVEJINHA. A PIA CHEIA DE LOUÇA SUJA.
ROSA — Nossa, nunca lhe vejo assim no bem bom, Laureta lhe deu
uma trégua, é?
GALDINO — Não vem me botar em confusão de novo, Rosa...
ROSA — Oxi, quero seu mal não, Galdino, tanto que não entreguei que
foi dica sua perguntar a Remy algum podre de Karola...
GALDINO — Se Laureta sabe disso tô lascado.
ROSA — Relaxe, sou tão vítima dessa peste quanto você. Aliás, você
sim aprontou comigo... mas não guardo rancor, não. (SORRI)
Amigos?
ELE, MESMO DESCONFIADO, BATE A GARRAFA NO COPO DELA.
ROSA — Me conte aí mais alguma coisa sobre a tal Luzia, mãe de
Ícaro/
GALDINO — Lá vem você...
ROSA — Sou curiosa, Galdino... que treta é essa entre ela, Laureta e
Karola?
GALDINO — Essa Luzia aí foi se meter com as duas e se lascou, coitada!
ROSA — Elas incriminaram ela, não foi? Me conte a história, homi, o
que Laureta aprontou?
GALDINO — Você acha que vou lhe dar isso de bandeja? (RI) Esse é um
segredo guardado a sete chaves, Rosa, você tá querendo se
meter em briga de gente grande.
ELE LARGA A CERVEJA, VAI SAIR.
GALDINO — Não vá perder o horário do cliente...
LAURETA ENTRA.
LAURETA — O que é que os dois tão de conluio aí?
GALDINO — Conluio nenhum.
ROSA — A gente tava só jogando conversa fora/
LAURETA — Eu sei a cobra que criei.
ROSA — Cobra só cria cobra...
LAURETA — Não me responda, Rosa!!
ROSA — Então não me provoque, se me acha uma cobra, me deixe ir
embora, é um favor que me faz me livrando de você... além
de cafetina é agiota!
LAURETA DÁ UM TAPA NA CARA DE ROSA.
LAURETA — Você só sai daqui quando pagar toda dívida que tem comigo.
E se comporte, não quero mais fofoquinhas pelos cantos da
casa. Com ninguém. Isso serve pra você também, Galdino.
(T) Agora vá trabalhar que tem cliente marcado! (A
GALDINO) E você, lave essa louça toda, agora. Ande!
CENA 14/ BARZINHO/ INTERIOR/ NOITE.
REMY ALI QUANDO ROSA CHEGA.
REMY — Chegou a flor mais cheirosa da Bahia!
ROSA — (SENTANDO) Me poupe, Remy.
REMY — Quer beber o que?
ROSA — Nada, tenho cliente mais tarde, por aqui perto.

REMY — (AO GARÇOM) Mais dois chopps!
ROSA — (T) E aí, achou a mãe de Ícaro no restaurante da irmã dela?
REMY — Dei a maior sorte... conheci Luzia sim, nossa, um mulherão!
Deixei meu telefone com ela, vamos ver se vai ligar. (T) E
você, descobriu mais alguma coisa?
ROSA — Só consegui arrancar de Galdino que o que aconteceu com
Luzia foi uma grande injustiça, e não abriu mais nada...
REMY — Esse deve saber tudo...
ROSA — Claro que sabe, mas não vai contar, se péla de medo de
Laureta... ou vai ver tem o rabo preso também.
REMY — (DEVANEIA) Quem não tem o rabo preso nessa vida?...
ROSA — Deve ter muito caroço nesse angu. A cobra da Laureta tá
desconfiada de mim. Hoje me deu até um tapa na cara. Que
ódio! Eu preciso ter alguma arma contra ela pra poder me
defender e me ver livre daquela mocréia!
REMY — Vai com calma, garota, Laureta pode lhe engolir com uma
bocada só.
ROSA — Preciso que você me ajude, Remy, como tô lhe ajudando.
REMY — Eu prometo que vou lhe ajudar, sim. Também tenho contas
pra acertar com Laureta.
ELE BATE O COPO NO DELA.
REMY — Tamos juntos.
ROSA SÉRIA, BEBE.
CENA 15/ RUINAS/ PALCO/ EXTERIOR/ NOITE.
A GALERA ANIMADA, DANÇANDO AO SOM DA DJ EDUARDA. MANU ALI
PERTO DO PALCO, PESCOÇANDO A PLATÉIA, LEVA UM SUSTO QUANDO
ÍCARO TAPA OS OLHOS DELA:
ÍCARO — Adivinha?
MANUELA — Ícaro! Tava justamente esperando você!
ÍCARO — Vai rolar, então, o encontro com a famosa Ariella?
MANUELA — Claro. Ela agora tá com Valentim, você demorou.
ÍCARO — Esse cara tá sempre me empatando!
MANUELA — Calma, logo ela libera, é só esperar um pouco.
ÍCARO — Eu vou pegar uma cerveja, quer?
MANUELA — Não. Mas não demora! Tô ansiosa pra apresentar meu
maninho pro meu anjinho da guarda!
ELE VAI, ELA ANSIOSA.

CENA 16/ TRAILER/ CAMARIM/ INTERIOR/ NOITE.
VALENTIM TERMINANDO DE TOCAR A MÚSICA NOVA DE BETO PRA
LUZIA, QUE ESCUTA ENLEVADA.
VALENTIM — E então? O que achou?
LUZIA — Linda! Adorei.
VALENTIM — É de um compositor novo chamado Marçal. Não lhe interessa
pra tocar em seu show?
LUZIA — Gostei bastante. É uma música muito romântica, suave... eu
teria que fazer um arranjo mais eletrônico pra ela...
VALENTIM — Quem sabe uma letra?
LUZIA — Uma letra.... Se rolar inspiração pode até ser que sim. (T)
Posso ficar com essa gravação?
VALENTIM — (ENTREGA O PENDRIVE) Trouxe pra você!
LUZIA — Obrigada, Valentim. Vou estudar e se achar que vai ficar
bom em meu repertório eu entro em contato, pra gente
conversar com esse Marçal e ver como é que fica.
VALENTIM — É só falar comigo, ele é meu chapa, o que você decidir, tá
decidido.
LUZIA — Tá bom, então. Era só isso?
VALENTIM — Era, mas ainda tá cedo pro seu show, posso lhe mostrar umas
idéias que ando tendo pra/
LUZIA — Vamos deixar pra outro dia? Eu preciso me concentrar antes
de entrar no palco, ficar um tempo sozinha.
VALENTIM — Claro, vou lhe deixar em paz! Valeu, Ariella! Muito obrigado
mesmo, o Marçal vai ficar felizão que você gostou da música
dele.
VALENTIM SAI, INSTANTES NELA SOZINHA.
LUZIA — Ai, Meu Deus...
BATEM NA PORTA E ELA SE ASSUSTA.
MANUELA — Sou eu, Manu!
LUZIA — (ABRE) Eduarda já tá no final?
MANUELA — Ainda não, tava só esperando o Valentim sair, é que Ícaro
chegou e quer muito lhe conhecer, posso trazer ele aqui antes
de seu show, né?
LUZIA — Ícaro? Seu irmão?!
MANUELA — Eu contei pra ele que você salvou minha vida duas vezes e é
meu anjo da guarda, acho que ele quer lhe agradecer. Sem
problema, né? Vai ser rapidinho, ele não é de muito papo,
vou catar ele e já volto!
MANU SAI, LUZIA APOPLÉTICA.
LUZIA — E agora, Meu Senhor do Bonfim, faço o quê?!
FICAMOS COM LUZIA, EMPAREDADA, PARA O:
CENA 17/ RUINAS/ PLATEIA/ EXTERIOR/ NOITE.

MANU ANDA NO MEIO DAS PESSOAS ATÉ ENCONTRAR ÍCARO, QUE BEBE
UMA CERVEJA:
MANUELA — Ícaro! Pronto! Bora conhecer Ariella?
ÍCARO — Finalmente!!! Até que enfim vou conhecer essa mulher que
você tanto fala!
ELES PARTEM NA DIREÇÃO DO TRAILER-CAMARIM.
CENA 18/ TRAILER-CAMARIM/ INTERIOR/ NOITE.
AS LUZES DO ESPELHO ACESAS, O CAMARIM VAZIO. MANU ABRE A
PORTA E COLOCA A CABEÇA PRA DENTRO:
MANUELA — Licença! (T) Ariella?
MANU ENTRA SEGUIDA POR ÍCARO.
MANUELA — Ariella? (T) Ué, ela tava aqui agorinha, acabei de falar com
ela!
ÍCARO — Estranho demais. Parece que tá encantado esse meu encontro
com essa Ariella!
MANUELA — Ela deve tá aqui no backstage. Eu vou procurar ela, espere
aqui. E não mexa em nada de Ariella, hein, Ícaro!?
MANUELA PARTE. ÍCARO ABRE UM FRIGOBAR E PEGA UMA CERVEJA. JÁ
BEBENDO, VÊ, COLADAS NO ESPELHO, ALGUMAS FOTOS DE ARIELLA, DE
MÁSCARA OU COM O ROSTO PINTADO. ELE DÁ UM GOLE EM SUA BEBIDA
E FICA OBSERVANDO AS FOTOS, INTRIGADO. PEGA UMA DAS FOTOS
ONDE ARIELLA ESTÁ APENAS COM O ROSTO PINTADO E FICA
MATUTANDO... MANU VOLTA PARA O CAMARIM.
MANUELA — Ícaro? Que cê tá fazendo?
ÍCARO — Nada, olhando essas fotos. (T) E cadê sua patroa?
Encontrou?
MANUELA — Ariella sumiu, evaporou!
NA DESCONFIANÇA DE ÍCARO:
CENA 19/ RUINAS/ EXTERIOR/ NOITE.

MANU E ÍCARO CAMINHAM. MANU CAMINHA ATENTA, À PROCURA DE
ARIELLA. ÍCARO CAMINHA DISTRAÍDO, PENSATIVO.
MANUELA — Vou ver se alguém da equipe viu Ariela por aí... Não sai
daqui, Ícaro!
ÍCARO MANEIA A CABEÇA AFIRMATIVAMENTE. MANU VAI EM DIREÇÃO
AO PALCO. NESSE TEMPO, DJ EDUARDA SOBE AO PALCO E VAI ATÉ O
MICROFONE. ÍCARO OBSERVA DE LONGE.
DJ EDUARDA — (MIC) Galera, aconteceu um probleminha e infelizmente
nossa Ariella não vai poder se apresentar hoje. Mas não
arredem o pé que a DJ Eduarda aqui vai substituir Ariella à
altura!
REGISTRANDO A NOTÍCIA, ÍCARO FICA OBSERVANDO O PALCO,
PENSATIVO. ENTRA FB DA CENA 12 DO CAP. 35:
ÍCARO — Também briguei de novo com minha tia, é, eu sei, sou
estourado mesmo, e por causa disso tô sem ter onde morar,
eu/
LUZIA — (NUM ROMPANTE) Mora aqui!
ÍCARO — Aqui?! Pô, esse apart-hotel é carão, não tenho como pagar/
LUZIA — Tou falando aqui, esse apê é de um amigo meu que mora fora
do país, pode ficar aqui até se ajeitar na vida... se quiser.
ÍCARO — (RI) Não tô lhe entendendo, Silvia. A gente nem se conhece
direito, da primeira vez me deu uma grana alta, agora quer
me arrumar um apartamento massa desses? Ninguém é bom
assim pra ninguém... Quem é você, afinal, hein?
FIM DO FB. ENTRA FB DA CENA 13 DO CAP. 35:
ÍCARO — Tô morando onde eu trabalhava, a dona, Laureta, ela é essa
mulher que lhe falei, que gosta de mim/
LUZIA — (ESCAPA) Mas você não pode morar com ela!
ÍCARO — Como assim? O que você tem com isso?! Conhece Laureta?
LUZIA — (FICA TENSA) Eu... Sim, conheço... pelo site onde lhe
contratei... Essa mulher é uma marginal, uma bandida, você
não deve se envolver com ela, vai acabar se dando muito mal!
FIM DO FB. ENTRA FB DA CENA 18 DESTE CAP:
AS LUZES DO ESPELHO ACESAS, O CAMARIM VAZIO. MANU ABRE A
PORTA E COLOCA A CABEÇA PRA DENTRO:
MANUELA — Licença! (T) Ariella?
MANU ENTRA SEGUIDA POR ÍCARO.
MANUELA — Ariella? (T) Ué, ela tava aqui agorinha, acabei de falar com
ela!
ÍCARO — Estranho demais. Parece que tá encantado esse meu encontro
com Ariella!
ÍCARO ABRE UM FRIGOBAR E PEGA UMA CERVEJA. JÁ BEBENDO, VÊ,
COLADAS NO ESPELHO, ALGUMAS FOTOS DE ARIELLA, DE MÁSCARA OU
COM O ROSTO PINTADO. ELE DÁ UM GOLE EM SUA BEBIDA E FICA
OBSERVANDO AS FOTOS, INTRIGADO
FIM DOS FB’S. VOLTAMOS A ÍCARO, ATARANTADO. CAM VAI BUSCAR
LUZIA, QUE ESTÁ ESCONDIDA NUM FOOD TRUCK, OBSERVANDO ÍCARO
DE LONGE. NO OLHAR DE LUZIA:
LUZIA ALI, NERVOSA, AO LADO DE GROA. A CONVERSA PEGA NO MEIO:
LUZIA — (..) Tive que me esconder! Era isso ou Ícaro me encontrava
aqui! Quer saber? Eu vou ter que dar um tempo de fazer
show!
GROA — Infelizmente acho que não tem outro jeito.
LUZIA — Bom, vou ter que esperar todo mundo ir embora pra poder
sair... Vou ter que dar um tempo aqui.
GROA — E eu vou ficar lá fora pra ver quando Ícaro vai embora!
GROA SAI DALI. NA PREOCUPAÇÃO DE LUZIA:
CENA 21/ RUINAS / EXTERIOR/ NOITE.
CLIMA DE FIM DE SHOW. A GALERA INDO EMBORA, SE DISPERSANDO.
ÍCARO SE DESPEDE DE MANU E AMIGOS:
ÍCARO — Tchau, maninha. Foi um prazer não ver o show de sua chefa
e não encontrar com ela!
MANUELA — Não sei o que aconteceu, mas outro dia vocês se conhecem!
ÍCARO — Tomara! Valeu, galera! Até já!
ÍCARO SAI CAMINHANDO ATÉ O LUGAR ONDE SUA MOTO ESTÁ
ESTACIONADA. ELE SOBE NA MOTO, DÁ PARTIDA E ARRANCA. GROA VÊ
ELE SAINDO DE MOTO E VOLTA NA DIREÇÃO DO TRAILER-CAMARIM.
DEPOIS DE ALGUNS SEGUNDOS, AO LONGE, VEMOS A MOTO DE ÍCARO
VOLTANDO. ÍCARO FICA DE LONGE, DE TOCAIA, OBSERVANDO.
LUZIA ALI, ANSIOSA, COMO BICHO ENJAULADO, ANDANDO EM
CÍRCULOS. GROA ENTRA:
GROA — Ícaro foi embora. Ele se despediu de Manu e dos amigos,

subiu na moto e foi! Essa foi quase, amiga! Você pode ir
embora agora.
LUZIA — Graças a Deus! Cê quer carona, gringo?
CENA 23/ RUINAS/ EXTERIOR/ NOITE.
ÍCARO, MONTADO EM SUA MOTO, DE TOCAIA, OBSERVANDO O TRAILER-
CAMARIM. LUZIA SAI DALI DE DENTRO. ÍCARO SE CHOCA NO INSTANTE
EM QUE VÊ LUZIA:
NOS DETEMOS NO ROSTO DELE, CORTA PARA FB. CENA 32 DO CAP 36:
ÍCARO — Você tá sabendo de tudo, não é? Me fale a verdade, tia
Cacau... aquela mulher era minha mãe, fala!
CACAU — Eu não sei do que você tá falando, você tá doido/
ÍCARO — Pare de tentar me enganar, eu não sou burro, só pode ser ela/
DE REPENTE, LUZIA VEM DE DENTRO DA CASA.
LUZIA — Sou eu sim, Ícaro... não me chamo Silvia... sou Luzia, sua
mãe.
VOLTAMOS AO PRESENTE. LUZIA ENTRA EM SEU CARRO E PARTE.
NERVOSO, ÍCARO LIGA SUA MOTO E SEGUE O CARRO DELA, DE LONGE.
CENA 24/ FLAT DE LUZIA/ INTERIOR/ NOITE.
LUZIA ALI, JÁ PRONTA PRA DORMIR, QUANDO A CAMPAINHA TOCA. ELA
VAI ABRIR.
LUZIA — Mas já, Groa... furou o encontro?
ELA ABRE A PORTA E DÁ DE CARA COM ÍCARO.
ÍCARO — Então é aqui que você se esconde, mamãe?!
NO CHOQUE DE LUZIA...

CONT. DA CENA ANTERIOR. LUZIA E ÍCARO SE ENCARANDO.
LUZIA — Entre, Ícaro.
ELE ENTRA, MEDINDO TUDO, PERIGOSAMENTE CALMO, CORTANTE.
ÍCARO — Até que é um flat bacana pra uma marisqueira do Boiporã,
que virou DJ e cantora na Europa... que upgrade de vida,
hein, Luzia?!
LUZIA — Como foi que você me encontrou?
ÍCARO — Seu disfarce foi pouco pra mim... fui juntando as coisas: a
Silvia que contrata um garoto de programa mas não quer
sexo, me oferecendo um apartamento pra morar de graça,
essa Ariella que só aparece com a cara pintada, que do nada
resolveu ajudar minha irmã... dois e dois são quatro/
LUZIA — Ícaro/
ÍCARO — (MAIS AGRESSIVO) Não fale nada, não, já ouvi todas as
mentiras que você tinha pra me dizer/
LUZIA — O que que você quer então, veio aqui por que?
ÍCARO — Eu quero que você vá embora dessa cidade, volte pro buraco
de onde veio, ou pra qualquer lugar longe de mim e de Manu,
ou eu lhe entrego pra polícia.
LUZIA — Se quiser, me entregue! Você decide.
OS DOIS SE ENCARANDO.
VALENTIM MOSTRANDO UMA GRAVAÇÃO DE ARIELLA.
BETO ESCUTANDO INTERESSADO.
KAROLA CHEGA.
KAROLA — Que som horrível é esse?
VALENTIM — É Ariella, mãe, a DJ sensação do momento, minha amiga...
KAROLA — Desligue isso, vai, até dói em meus ouvidos!
BETO — Eu gostei da pegada musical dessa moça.
VALENTIM — Vou marcar pra vocês se conhecerem, a gente pode ir junto
num show dela lá nas Ruinas, ela segura a platéia dum jeito
especial, você vai curtir. Aposto que a parceria de vocês vai
dar super certo!
KAROLA — Que negócio é esse de parceria?
VALENTIM — Eu conversei com Ariella e ela vai fazer uma letra pra música
nova que/
KAROLA — Alto lá! Quem é essa Ariella na fila de Beto Falcão?! Quem
lhe deu licença pra levar música de Beto Falcão pra quem
quer que seja?
VALENTIM — Ela é minha amiga, mãe, não é uma qualquer!
KAROLA — Meu filho, veja bem, tem uma coisa na música que é que nem
na realeza, nobre com nobre, ralé com ralé! Onde já se viu
uma DJzinha qualquer se apresentando com música de Beto?!
Seu pai é Rei! Já foi gravado até por Daniela Mercury, por
Djalminha, que decadência é essa agora?
VALENTIM — Mas seria com outro/
BETO — Deixe quieto, filho, (PISCA O OLHO) Dona Karola entende
disso como ninguém! (BAIXO) Mais tarde a gente combina.
VALENTIM — Você ainda vai gostar de Ariella, mãe/
BETO — Não tem programa melhor pra fazer hoje que ficar aqui,
discutindo música com pai e mãe?
VALENTIM — Eu fiquei de sair com Rosa, mas ela sumiu. (CHECA
CELULAR) Já deixei recado e ela nem visualizou.
BETO — Ligue pra ela!
VALENTIM — Eu liguei e ela não atendeu... Vou ligar de novo.
ELE SE AFASTA, LIGANDO, KAROLA COCHICHA COM BETO.
KAROLA — Vai ver tá trabalhando, isso que dá namorar uma “moça” da
noite!
CONT. DA CONVERSA DE ÍCARO E LUZIA. O CLIMA AINDA MAIS TENSO.
ÍCARO RINDO, NERVOSO.
ÍCARO — Tô chocado! Luzia Batista, que passou quase vinte anos
sumida pra fugir da polícia, que abandonou filhos, irmã, tudo,
perdeu o medo! Ou tá se achando esperta demais...
LUZIA — Tenho medo sim, só quem passou o que eu passei
injustamente, quem sofreu dentro de uma cadeia, pode
entender que é um medo que não passa nunca. Mas não vou
embora daqui, Ícaro, porque tô tentando consertar o mal que
fiz a vocês/
ÍCARO — Vai começar... Você vai ser presa de novo, agora por
identidade falsa também... não vou cair nessa conversa de
mãe arrependida! Se veio por nossa causa, por que se
escondeu atrás desse personagem, por que não procurou seus
filhos de cara limpa??
LUZIA — E vocês iam me aceitar? Não! Eu sei que não! Eu queria me
aproximar de você e de Manu, ganhar a confiança de vocês
que eu tinha perdido!
ÍCARO — Mentindo e enganando todo mundo como sempre! Alguém
ganha confiança de alguém assim??
LUZIA — Tente me entender, meu filho, tente! Se coloque em meu

lugar!
ÍCARO — Se coloque você no meu! A Manu não merece descobrir que
a amiga dela, que ela curte pra caramba, que ela adora, na
verdade é a mãe assassina que tá enganando ela!
LUZIA — A Manu pode entender, ela me conhece, convive comigo,
sabe quem eu sou/
ÍCARO — (RI) “Sabe quem eu sou”! (T) Vai embora! Some! Aí eu não
vou contar pra ela, é melhor ela nunca saber pra não sofrer
mais essa decepção!!
LUZIA — Ícaro, me escute, pelo amor de Deus... eu tô ajudando Manu,
salvei ela de ser atropelada, de ser presa até... segurei muita
onda de sua irmã... pergunte pra ela!
ÍCARO — Do mesmo jeito que tentou me enredar com aquele papinho
de cliente legal! Sabe por que você tá tendo que segurar tanta
onda de Manu? Porque ela se viciou por sua causa, pra fugir
da realidade! Tudo de ruim que aconteceu com a gente foi
por sua culpa!
LUZIA — Eu admito minha culpa! Me perdoe! Me dê pelo menos a
chance de me conhecer, ouvir tudo que aconteceu quando
você era criança, pra depois me julgar!
ÍCARO — Você já foi julgada e condenada pela justiça... eu cresci
ouvindo de todo mundo que era filho de uma assassina, que
matou meu pai, já imaginou isso??
LUZIA — Eu não matei de propósito, foi um acidente!
ÍCARO — Ah, foi pra defender seu amante! (APLAUDE) Que lindo!
LUZIA — Não faça assim, eu sei que você não é assim... não é esse cara
duro, agressivo... eu conheço você, meu filho, melhor que
ninguém...
ÍCARO — Você não me conhece mais... você conheceu um pirralho que
acreditava em ser feliz, que se amarrava em viver numa praia
isolada, que tinha uma mãe e uma irmã que eram tudo pra
ele... até que tiraram tudo dele, tudo, e eu não perdoo isso.
ELA TENTA SE APROXIMAR, FAZER UM CARINHO, ELE SE ESQUIVA,
SOFRENDO.
LUZIA — Ícaro... no dia que você nasceu, eu descobri o que era amor
incondicional, não existe amor maior que o que eu sinto por
você e Manu, daria minha vida por vocês... tente me aceitar,
me perdoar, deixe eu ficar aqui junto de vocês/
ÍCARO — Não! Você vai embora! Ou conto seu paradeiro pra polícia, e
digo toda a verdade pra Manu. (T) Olha aqui, a Laureta já me
alertou sobre você, eu confio nela, desiste que você não vai
me convencer do contrário/
LUZIA — Laureta sim é uma assassina fria... você vai contar pra ela que
eu sou Ariella?
ÍCARO — Tô lhe dando uma chance de se mandar antes disso/
LUZIA — Ela vai dar um jeito de acabar com minha vida de novo,
Ícaro, pra livrar a própria cara... ela é capaz de me matar...
deixa essa mulher fora disso, eu lhe imploro/
ÍCARO — Você não vai mesmo embora?
LUZIA — Não, eu não posso, e não quero/
ÍCARO — Ok, mais uma vez você tá fazendo a escolha errada.
ÍCARO VAI EMBORA, LUZIA DESESPERADA, SAI ATRÁS.
LUZIA — Ícaro !!!
MAS ELE JÁ SE FOI. NO DESESPERO DE LUZIA:
CENA 28/ RUA/ FRENTE DO FLAT DE LUZIA/ EXTERIOR/ NOITE.
ÍCARO SAI DO FLAT MUITO PERTURBADO. ELE VÊ UM CARRO DA POLÍCIA
POR ALI, OLHA PRA CIMA, HESITA, MAS ACABA INDO EMBORA. EM
CORTES DESCONTÍNUOS, VEMOS ÍCARO PERTURBADO, CAMINHANDO DE
UM LADO PARA O OUTRO. ENTRA FB DA CENA 31 DO CAP. 1:
LUZIA — (ACHANDO GRAÇA NOS FILHOS) Ícaro, Manuela! A
mãe tá trabalhando! Não vão me ajudar mais não?
ÍCARO — Só se mãinha vier me pegar!
MANUELA — É! Vem pegar a gente, mãe!
LUZIA ENTRA NA BRINCADEIRA DOS FILHOS, CORRE ATRÁS DELES,
ENTRA NAS ÁGUAS RAZAS DA PRAIA, DERRUBA OS FILHOS NA AREIA,
FAZ CÓCEGAS NOS FILHOS. FIM DO FB. ÍCARO VOLTA A CAMINHAR,
DESNORTEADO.
KAROLA COLOCANDO TRAVESSA DE MACARRÃO NA MESA JÁ
ARRUMADA. BETO VEM DE DENTRO, BANHO TOMADO, VALENTIM AO
CELULAR, NERVOSO.
KAROLA — Fiz aquele macarrão com alho bem fritinho do jeito que você
gosta. E um ovinho mexido com queijo de coalho pra
acompanhar. Aqui sua pimenta, Beto.
BETO — E a cervejinha super gelada, ô mulher perfeita essa minha!
KAROLA — Vem, Valentim, tão bom a família reunida de volta nas

refeições!
BETO — Valentim? O que foi?
VALENTIM — Rosa. Já deixei mil recados, em tudo quanto é lugar, ligo e
ela não atende, tô começando a achar que aconteceu alguma
coisa grave com ela! (T) Eu vou atrás dela!
KAROLA — Não vai sair assim, nervoso, lembra que já acabou com um
carro e quase morreu por causa dela!
BETO — E vai procurar por ela onde? Essa cidade é imensa!
VALENTIM — Sei de uns lugares que ela costuma ir/ vai, me empreste o
carro, eu prometo tomar cuidado! Não vão passar o resto da
vida me impedindo de dirigir, vão?
BETO E KAROLA SE OLHAM.
BETO — (ENTREGA A CHAVE) Vá, Valentim! Mas vá dando
notícia!
KAROLA — E responda toda mensagem que mãe mandar pra você! Mas
se tiver dirigindo, não olhe o celular! E vá devagar, não
corre! E não beba, filho! (ELE BATE A PORTA) Será que a
gente fez a coisa certa, Beto?! Por mim trancava Valentim
aqui dentro, amarrado ao pé da mesa.
BETO — (SEGURA A MÃO DE KAROLA) Não ia adiantar. Ele ia
fugir.
CENA 30/ RUAS SALVADOR/ CARRO VALENTIM/ EXT./ NOITE.
VALENTIM, DE CARA FECHADA, DIRIGE SEU CARRO LENTAMENTE EM
UMA RUA COM ALGUNS BARES. VALENTIM VÊ UM GRUPO DE JOVENS EM
FRENTE A UM BAR. NESSE GRUPO, UMA MENINA QUE SE PARECE COM
ROSA. VALENTIM SE APROXIMA DE CARRO, ABRE O VIDRO E BUZINA:
VALENTIM — (CHAMA) Rosa! Rosa!
A MENINA SE VIRA E NÃO É ROSA. VALENTIM FAZ UM SINAL PEDINDO
DESCULPAS, E PARTE COM O CARRO. EM VALENTIM, À PROCURA DE
ROSA:
CENA 31/ RUA - FRENTE DO BARZINHO/ EXTERIOR/ NOITE.
REMY E ROSA, SAINDO DO BAR, CONVERSANDO NA CALÇADA:
REMY — (...) me ajude que eu lhe ajudo, garota! Fique de olho lá na
casa. Qualquer coisa que você descobrir dessa Luzia, você
passa pra mim...
ROSA — Perfeito. E você me ajuda com Laureta igualzinho fez com
Karola!
ROSA ESTENDE A MÃO PARA REMY, SE CUMPRIMENTAM, SELANDO O

ACORDO. NESSE EXATO MOMENTO, VALENTIM ESTÁ PASSANDO DE
CARRO E VÊ OS DOIS. ELE JOGA O CARRO EM CIMA DA CALÇADA,
ASSUSTANDO ROSA E REMY. VALENTIM SAI GRITANDO DO CARRO,
MUITO NERVOSO:
VALENTIM — É isso mesmo que eu tô vendo? Você tá com meu tio, Rosa?
NO CHOQUE DE ROSA, O:
CENA 32/ FRENTE DO BARZINHO/ EXTERIOR/ NOITE.

CONTINUAÇÃO DA CENA ANTERIOR. VALENTIM DIANTE DE REMY E
ROSA:
ROSA — Cê tá maluco, Valentim? O que é isso? Vai me matar agora?
VALENTIM — Responda! Você tá saindo com meu tio de novo?
REMY — Olhe o escândalo, Valentim!
VALENTIM — Você, cale a boca!
ROSA — Deixe de ser ridículo, Valentim! Você tá passando de todos
os limites, tá extrapolando! Deu pra me seguir agora,
miséria?!
VALENTIM — A gente combinou que você ia me atender e você desligou o
celular!
REMY — E isso é motivo pra você me caçar na rua?
VALENTIM — Eu tava com uma sensação estranha e agora eu entendi por
que: você tá me traindo com meu tio, cê tá tendo um caso
com ele!
ROSA — Pare de pensar besteira! Que cabecinha fraca! Seu tio é meu
amigo, eu não posso ter amigo agora?
VALENTIM — Justo ele?
ROSA — Eu tô discutindo um assunto aqui, uma coisa séria com ele!
VALENTIM — Vem embora comigo agora!
ROSA — Não vou lhe obedecer assim, você não é meu dono!
VALENTIM — Rosa, venha agora ou eu não sei o que eu posso fazer! Você
tá me enlouquecendo, você tá me tirando do sério, vamo
embora agora! Largue meu tio Remy e vamo!
ROSA — As coisas não são como você quer! Você é uma criança
mimada e isso cansa, sabia?
VALENTIM — Você que é doida, leva uma vida doida!
ROSA — Vida doida? Doida não, difícil! Você não sabe o que é a vida
de quem passa necessidade! Você é um filhinho de papai,
você não entende, não consegue entender!
REMY — Calma os dois! (T) Valentim, eu não tenho nada com Rosa!
VALENTIM — E tavam fazendo o que, então, nessa hora, em barzinho? Que
assunto sério que é esse?
ROSA — Não é de sua conta!
VALENTIM — Responda, tio Remy!
ROSA — É melhor você ir embora, Valentim.
VALENTIM — Fique aí com seu melhor amigo então!
VALENTIM SE VIRA, ENTRA EM SEU CARRO, FURIOSO, E ARRANCA
ACELERADO. ROSA RESPIRA FUNDO.
REMY — Valentim é um bebezão! É melhor você terminar essa história
com ele antes que ele atrapalhe ainda mais a sua vida!
NA PREOCUPAÇÃO DE ROSA:
CENA 33/ CLIPE SANTO ANTONIO/ NOITE.
CENA 34/ STOCK-SHOT CASA FALCÃO/ EXTERIOR/ NOITE.
CENA 35/ CASA FALCÃO/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
NANÁ SERVINDO A MESA. CLÓVIS, GORETE, DODÔ E BADU. GORETE
COME SEM PARAR.
GORETE — Pode servir mais um pedacinho do empadão?
DODÔ — Ô draga! Você praticamente comeu o empadão inteiro
sozinha.
CLÓVIS — Veja lá como fala com minha futura esposa, pai!
NANÁ — Assim que se fala, Clóvis, se imponha diante de seu pai! (T)
E por falar em casório, já marcaram a data?
DODÔ — (INTERROMPE) Não acha melhor o casal de pombinhos se
conhecer um pouco melhor antes de marcar a data?
BADU — Eu quero que mãinha case logo! Quero ver ela vestida de
noiva!
GORETE — Se é desejo do meu filho, então vamos marcar!
DODÔ — Gente, pelamor de Deus, vão agora dar pra seguir as vontades
de uma criança!
GORETE — Mas tem uma coisa importante que eu vou conseguir realizar
antes de casar!
CLÓVIS — Nossa primeira noite de amor!
GORETE — Não, Clóvis! Eu vou reerguer de novo o fã clube de Beto

Falcão!
CLIMA ENTRE OS PRESENTES.
GORETE — (OLHA EM VOLTA) Que foi? Perderam a língua? (T) Hoje
eu passei o dia na internet, entrei em contato com outros fã
clubes, escrevi pra uma porção de fãs que há muito tempo
não tinham nenhuma resposta do fã clube oficial quando
Doralice era presidenta/
DODÔ — (CORTA GORETE) Não, Gorete, não faça isso!
GORETE — Como assim, Seu Dodô? É a memória de seu filho!
DODÔ — Por isso mesmo. Quem deve decidir essas coisas é a família.
E nós resolvemos deixar Beto descansar em paz!
GORETE — Desculpe, Seu Dodô, eu respeito que vocês sejam a família
do grande artista, mas a decisão de manter a memória de Beto
viva na está mais na alçada de vocês!
DODÔ — Como assim, Gorete? Está na alçada de quem, então?
GORETE — O legado de Beto Falcão pertence ao povo brasileiro, não só
a vocês.
DODÔ — (P/ CLOVIS) Vê se faz essa sua mulher criar juízo, Clóvis!
CLÓVIS — Tô tentando, tô tentando...
NANÁ — (INTERVINDO, PANOS QUENTES) Gorete, meu marido
não tá sabendo se explicar. É que essa história da fama
póstuma do nosso filho atraiu muita coisa ruim pra nós, muita
exposição desnecessária, muita gente interesseira nos
rondando...
GORETE — E também rendeu um bom dinheiro pra todos vocês.
DODÔ — Quê que você tá insinuando, Gorete?
GORETE — Nada disso é razão pra desistir de manter vivo o mito de
Beto! E eu não vou deixar barato! Tô organizando caravanas,
vamos fazer muitos shows em homenagem a Beto, muitas
vigílias, tributos. Vou fazer um concurso que vai premiar ao
fã que escreveu a carta mais bonita com uma das medalhinhas
de Beto! Essas são minhas primeiras idéias, virão outras.
DODÔ — Eu lhe imploro, mulher, desista disso!
GORETE — Por que essa má vontade do senhor com a memória do seu
filho? Parece que o senhor quer mesmo que ele seja apagado,
esquecido! Qual a razão disso? O senhor teve algum
problema com ele?
NANÁ — Não é nada disso, minha filha.
GORETE — Cansei de entender vocês, cansei! (SAI)

GORETE SAI. FICAMOS COM NANÁ, DODÔ E CLÓVIS SE ENTREOLHANDO.
CENA 36/ CASA DE SEVERO/ SALA DE JANTAR/ INT./ NOITE.
KAREN CHEGANDO EM CASA, SE DEPARA COM SEVERO, EDGAR, MANU E
ROCHELLE JANTANDO, SERVIDOS POR ZEFA.
KAREN — Nem me esperaram pro jantar?
ROCHELLE — Ué... Achei que você não vinha jantar, Karen! Zefa nem
colocou lugar pra você!
ELA NOTA QUE NÃO HÁ LUGAR POSTO PARA ELA. ZEFA TROCA OLHARES
COM SEVERO, KAREN EMPINA O NARIZ E VAI SE SENTAR.
KAREN — Zefa, traz prato e talher pra mim, por favor?
SEVERO — Eu me recuso a sentar à mesma mesa que essa traidora.
KAREN — Doutor Severo, eu/
SEVERO — Diga à sua senhora que ela não é bem-vinda aqui, Edgar!
EDGAR — Respeite meu pai. A casa é dele, vá comer na cozinha, Karen.
KAREN — Edgar...?!
ROCHELLE — Já deve estar acostumada, ou será que come juntinho do
Roberval, na mesma mesa que ele?
KAREN VAI SE RETIRAR, MANU PASMA, A SEGURA.
MANUELA — Gente, pelo amor de Deus, o que é isso?! Fica, Karen, sente,
eles vão cair em si, que tal todo mundo agir feito gente
grande e civilizada, hein?
KAREN SENTA, SEVERO SE LEVANTA.
EDGAR — Saia da mesa, Karen, enquanto estiver trabalhando pra esse
canalha não será bem vinda aqui nesta casa.
MANUELA — Pai! Vô! Vocês tão exagerando na reação, é apenas um
emprego, pra quê tanta truculência?
EDGAR — A escolha é dela.
KAREN — Eu não vou pedir demissão, é um absurdo isso!
SEVERO — Zefa, sirva meu jantar no escritório.
SEVERO SAI. ZEFA PASSADA, COLOCANDO PRATO, TALHER E COPO DE
SEVERO NUMA BANDEJA PARA IR SERVI-LO.
CENA 37/ CASA DE SEVERO/ QUARTO DE EDGAR/ INT./ NOITE.
KAREN COM UMA MALA, DESCONSOLADA, AS PORTAS DO ARMÁRIO
ABERTAS. MANU DO LADO DELA.
KAREN — Eu nem sei por onde começar. E nem tenho pra onde ir. Só
sei que queria ir embora daqui!
MANUELA — Não vá, Karen, essa é a sua casa, a sua família! Eles tão mal-
acostumados, passaram a vida tendo você aqui, à disposição,
sempre pronta pra fazer tudo que eles queriam... agora
precisam de um tempo pra aceitarem essa nova Karen!
KAREN — Fui acusada de traidora... não tô traindo ninguém, só quero
ganhar meu próprio dinheiro! Que diferença faz quem paga
meu salário? Será que vale a pena, mesmo, tanta confusão?
MANUELA — Você tava tão feliz, tão mais segura e confiante com esse
emprego! Não pode se deixar abater assim...
KAREN — Você também acha que eu não tenho nenhum talento? Que o
Roberval tá me usando, só me contratou pra se vingar?
MANUELA — Isso é tão absurdo, difícil de acreditar! Não caia nas
provocações, Karen, se seu trabalho tá lhe fazendo bem, se tá
bem recompensada e feliz, aproveite esse momento, mais
cedo ou mais tarde eles vão perceber que você não tá traindo
ninguém, vão lhe admirar e lhe valorizar muito por ter ficado
firme em suas convicções!
KAREN — Só você ficou do meu lado! Logo você, que não nasceu do
meu ventre...
MANUELA — Eu sei bem como tá se sentindo justamente por ter passado
por poucas e boas nessa família!
O CELULAR DE MANU AVISA A CHEGADA DE UMA MENSAGEM.
MANUELA — É de Ícaro, diz que precisa me encontrar com urgência. Você
vai ficar bem?
KAREN — Vá encontrar seu irmão, Manu. Obrigada pela força!
KAREN FAZ UM CARINHO EM MANU, QUE A BEIJA E SAI. UM TEMPO EM
KAREN ATÉ QUE ELA SAI E FECHA, DECIDIDA, AS PORTAS DO ARMÁRIO.
CENA 38/ FLAT DE LUZIA/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
LUZIA, AFLITA, JÁ ABRINDO A PORTA PARA CACAU, QUE ENTRA. AS
IRMÃS SE ABRAÇAM:
LUZIA — Ô, minha irmã! Que bom que você chegou!
CACAU — Que aconteceu?
LUZIA — Ícaro! Ele sabe de tudo! Ele sabe que eu sou Ariella!
CACAU — Meu Deus! Como foi que ele descobriu?
LUZIA — Juntou tudo, deduziu! Manu levou ele hoje pra conhecer
“Ariella” e eu achei que tinha conseguido fugir dele e... e vim
embora, e ele me seguiu!
CACAU — Parece que eu tava sentindo! Falei pra você tomar cuidado! É
claro que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer!
LUZIA — Meu medo agora é ele contar a verdade pra Manu!

CACAU — Manu é o menor dos problemas! Meu medo é que Ícaro lhe
entregue pra polícia, ou pra Laureta! Será que ele seria capaz
de fazer isso? Você precisa sair daqui, Luzia!
LUZIA — Não! Não quero mais me esconder, Cacau! Tô cansada disso!
Tô exausta! Não dá mais! Eu preciso é confiar no bom senso
de meu filho! Preciso acreditar que em algum lugar dentro do
coração dele, ele sinta que eu tô falando a verdade!
CACAU — Se eu fosse você, não me fiava nisso! Ícaro é imaturo, mas
cheio de personalidade e tá muito machucado. Ele é capaz
sim de fazer uma besteira e lhe entregar...
NA PREOCUPAÇÃO DE CACAU:
CENA 39/ CASARÃO OCUPADO/ QUARTO/ INTERIOR/ NOITE.
ÍCARO NERVOSO, NUMA MESINHA NA CALÇADA, TOMANDO UMA ÁGUA
MINERAL. MANU CHEGA, GRILADA.
MANUELA — Oi, maninho, vim correndo, o que aconteceu pra você ter
tanta urgência em me ver?
ÍCARO — Sente. Você não sabe o que eu descobri! Tá preparada?
MANUELA — Credo, Ícaro, tá me assustando! O que foi? Fale logo!
ÍCARO — Eu descobri que a nossa mãe é ninguém mais ninguém menos
do que a sua amiga, sua patroa Ariella!
MANUELA — Tá doido? Ícaro! Não brinca com isso!
ÍCARO — Não tô brincando, Manu! Ariella é Luzia, nossa mãe.
CLOSES ALTERNADOS DOS DOIS. NO CLIMA, EM MANU ESTARRECIDA, O:
FIM

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Central Globo de Produção Capítulo 049

Personagens deste capítulo

CENA 1/ RESTAURANTE DE CACAU/ INTERIOR/ NOITE.

ROSA — Ela é brasileira, mas morava na Islândia... ela é meio DJ

ÍCARO — (CONFIRMA) Com Manu, tô querendo conhecer essa

CENA 6/ RUAS DE SALVADOR/ EXTERIOR/ NOITE.

REMY — Prazer, Renan!

CENA 8/ SUPERMERCADO/ INTERIOR/ NOITE.

LUZIA — (SORRI, SEM JEITO) Sílvia...

LUZIA — Foi... como que eu posso dizer? Divertido! Me senti num

ROSA — Nada, tenho cliente mais tarde, por aqui perto.

ELE VAI, ELA ANSIOSA.

CENA 17/ RUINAS/ PLATEIA/ EXTERIOR/ NOITE.

CENA 19/ RUINAS/ EXTERIOR/ NOITE.

GROA — Ícaro foi embora. Ele se despediu de Manu e dos amigos,

CENA 25/ FLAT DE LUZIA/ INTERIOR/ NOITE.

LUZIA — Tente me entender, meu filho, tente! Se coloque em meu

KAROLA — Vem, Valentim, tão bom a família reunida de volta nas

ROSA ESTENDE A MÃO PARA REMY, SE CUMPRIMENTAM, SELANDO O

CENA 32/ FRENTE DO BARZINHO/ EXTERIOR/ NOITE.

GORETE — Não, Clóvis! Eu vou reerguer de novo o fã clube de Beto

GORETE — Cansei de entender vocês, cansei! (SAI)

LUZIA — Meu medo agora é ele contar a verdade pra Manu!

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