PÁGINAS DA VIDA - Capítulo 037 TRANSIÇÃO DE FASE

Rede Globo de Televisão Capítulo
Central Globo de Produção

037
Páginas da
Vida
Novela de
MANOEL CARLOS
Escrita por
MANOEL CARLOS e FAUSTO GALVÃO
Colaboração e Pesquisa
MARIA CAROLINA / JULIANA PERES / ANGELA CHAVES
DAISY CHAVES e MARIANA TORRES
Direção
LUCIANO SABINO / TERESA LAMPREIA / FREDERICO MAYRINK
Direção geral
FABRÍCIO MAMBERTI
Personagens deste capítulo
HELENA MARTA OLÍVIA TÔNIA ANNA

SELMA CARMEN MÁRCIA DIANA FRANCISCO
SABRINA ISABEL SANDRA CAMILA CONSTÂNCIA
TIDE SÍLVIO GREG RENATO VERÔNICA
LIDIA LÍVIA MIROEL JORGE VINICIUS
ALEX LEANDRO LUCAS BIRA VANDINHA
IVAN RAFAEL NINA SÉRGIO SALVADORR
FRED OSCAR YOLANDA BELITA DOMINGOS
IRMÃ MÁ ZENAIDE FÁTIMA LILI NATÉRCIA
Páginas da Vida Capítulo 037 Pag.: 01
CLARA TIDINHO GISELLE ELISA MARIA

LAERTE SIMONE JOYCE LAVINIA CAROL
Núcleo
JAYME MONJARDIM
CENA 1/ NOVA YORK / EXTERIOR / DIA
TONIA / RAPAZ
Repetição da cena com o avião batendo na 1ª torre do World Trade
Center, as pessoas perplexas, depois correndo, Tonia e o Rapaz entre
elas.
as cenas de NY entram mescladas com
CORTA PARA:
CENA 2/ ESCOLA DE BALLET/ SALA DE AULA/ INTERIOR/ DIA.
GISELLE / ANNA / ELISA / ALUNAS / PIANISTA / FIGURANTES
A aula de ballet, elegante, em contraste com a brutalidade do ataque
terrorista.
e também com
CORTA PARA:
CENA 3/ MAR/ INTERIOR/ DIA.
FRED / SÉRGIO / LILI / VANDINHA / FIGURANTES
Eles surfando.
Temos assim três imagens mescladas e alternadas: a brutalidade do

ataque terrorista, a elegância da aula de ballet e a beleza do mar
cortado por surfistas.
CORTA PARA:
CENA 4/ CONSULTÓRIO DO DR. JAYME/ INT/ DIA.
HELENA / DR JAYME / ENFERMEIRA
Jayme mede e pesa Clara enquanto Helena fala.
HELENA — Eu sou médica, boto crianças no mundo todos
os dias, mas é sempre aquela história: santo de
casa não faz milagre. Estou tateando ainda com
a Clara, me sentindo insegura, com medo de
errar, nos horários, no banho, na alimentação.
Sinto que ela precisa tanto de mim, tenho medo

de não entender os sinais dela, de deixar faltar
alguma coisa importante/
JAYME — Ah, culpa materna é o que todas as mães

sentem. Vai ser assim agora e daqui a 20 anos.
Era assim com sua mãe também> Vocês são
todas iguais e sofrem à toa.
HELENA — E não é que é verdade mesmo? Tenho as

mesmas neuroses com o Salvador, um homem
feito, de barba! Até hoje mando levar um casaco
quando sai à noite.
Riem. Jayme termina o exame e passa Clara para os braços de
Helena. a Enfermeira fica por ali, circula, arruma as coisas do
consultório.
JAYME — Sua menina está ótima. A possibilidade de
capacitação dela está muito favorecida. Cuide da
Clara com tranqüilidade e paciência, como
qualquer criança exige. O importante agora é
pensarmos numa fono, porque ela não mamou
no peito e precisa de estímulo. E na fisioterapia.
Depois, mais adiante, vamos pensar em outras
providências.
HELENA — E as vacinas? Estou preocupada com isso, tenho

receio de levá-la à rua, tantas viroses por aí,
bactérias/
JAYME — Vamos fazer a imunização e, além das vacinas

básicas e rotineiras, vamos fazer as
complementares também, pode ficar tranqüila
quanto a isso...
Vão falando, mas sem áudio.
FUSÕES SUCESSIVAS
com as diversas etapas do atentado terrorista, que vai desde esse 1º
avião batendo na primeira torre, às 9:46 horas, horário de Brasília,
passando pelo 2º avião batendo na segunda torre. às 10:04 horas.
Depois o desabamento da primeira torre, às 11:02 horas e o

desabamento da segunda torre, às 11:29 horas.
Essas imagens, que no tempo real duraram pouco mais de uma hora
e meia, aparecem alternadas com os movimentos da aula de ballet e
dos lindos planos de muitos jovens surfando no mar
A essas imagens, algumas vezes diretas de Nova Yokr, outra vezes

transmitida pela TV, são alternadas com vitrine cheia de televisores
ligados na mesma imagem, com aglomeração de pessoas assistindo,
perplexas.
Entram, alternados com as imagens diretas de Nova York, os

flashs de:
01 – CASARÃO / UMA SALA / Tide, ao lado de Leandro, Sandra,
Diana, Carmen e Márcia, com Tidinho no colo, vendo as imagens
pela televisão.
02 – SALA DE CONSTÂNCIA / Ela e Domingos assistem, segurando
uma xícara de café.
03 – HOSPITAL / DIRETORIA / As Irmãs e o dr. Ferreira assistem
a transmissão pela TV.
04 – HOSPITAL / SALA DOS MÉDICOS / Selma, Lucas e vários
médicos, assistindo as mesmas imagens.
05 – VILA / SALA ou ESTÚDIO / Isabel está diante da televisão,
uma caneca de café na mão, imóvel, vendo as imagens.
06 – CASA DE LÍVIA / SUÍTE / Ela com amamentando a filha,
olhos fixos na televisão, com Renato ao lado, também perplexo.
07 – UM BAR / Jorge, Miroel, o Chefe de Obras e alguns operários
da obra, diante de um aparelho de TV, entre várias pessoas que
assistem.
08 – BASE AÉREA / Aparelho ligado numa sala ou alojamento, e
vários militares da Aeronáutica assistindo, inclusive Sílvio. Sandra e
Olívia também estão ali.
09 – ESCRITÓRIO DA GÁVEA / Greg, Ivan e Gustavo assistem
pela televisão.
10 – SALÃO DE BELEZA / Verônica e Kelly assistem pela TV. Várias
mulheres e funcionários do salão, imóveis, assistindo.
11 – CASA DE FESTAS INFANTÍS / Marta, Alex e empregados
assistem aos atentados.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CENA 5/ APTO. DE HELENA/ LIVING/ INTERIOR/ DIA.
HELENA / CLARA / SALVADOR / LÍDIA
Helena entra em casa com Clara no colo, acompanhada de Salvador.
Lídia aparece, alarmada:
LÍDIA — Tá acontecendo uma coisa horrível lá nos
Estados Unidos!
HELENA — A gente ouviu os comentários na rua e no rádio

do carro.
SALVADOR — Atentado terrorista!
HELENA — Liga a televisão no meu quarto, Salvador.

Salvador desaparece.
CORTA PARA:
CENA 6/ APTO. DE HELENA/ SUITE E QUARTO ROSA/ INT/ DIA.
HELENA / SALVADOR / CLARA
Salvador já ligou a televisão e as imagens de Nova York aparecem.
Helena atirou os sapatos para um lado e coloca Clara no berço do
quarto rosa. Aí vem para diante da televisão.
Entram as imagens de Tonia Werneck dando uma entrevista para um

repórter que não precia aparecer, só o microfone diante da cara dela.
Não é preciso áudio dela. Ouvimos o locutor narrando o fato
jornalístico.
HELENA — É a minha prima. A Tônia!
SALVADOR — Será, mãe?
HELENA — Tenho certeza! Meu Deus, ela está lá e eu nem

me lembrei!
SALVADOR — Bem, mas pelo menos ela está bem. Dando até
entrevista!
Helena senta-se, admirada.

HELENA — Incrível!
FUSÃO COM:
CENA 7/ RIO DE JANEIRO/ EXTERIOR/ NOITE - DIA.
Alternando com
CENA 8/ NOVA YORK/ EXTERIOR/ NOITE - DIA.
Passagem de tempo, nas duas cidades, mostrando algumas cenas

dos bombeiros, o rescaldo do incêndio, a cidade sem as torres. E no
Rio também a passagem de tempo misturando dia e noite.
Por último, ficamos no Rio de Janeiro.
FUSÃO COM:
CENA 9/ RIO DE JANEIRO/ EXTERIOR/ DIA.
Stock-shot de dia lindo. Ouvimos, vazado, o choro direto de um bebê
que acaba de nascer.
OUTUBRO, 2001
FUSÃO COM:
CENA 10/ MATERNIDADE/ SALA DE PARTO/ INTERIOR/ DIA.
OLÍVIA / SÍLVIO / EQUIPE MÉDICA / BEBÊ
Atenção: não se trata do mesmo hospital onde Helena trabalha.
O bebê nasce de cesariana. Sílvio fotografando. Olívia segurando
depois a mão do marido. Muito carinho entre os dois.
SÍLVIO — Um menino, meu bem, um homem!
Lágrimas de emoção. Música cobrindo. O bebê sendo colocado em
cima de Olívia. Toda aquele ritual que conhecemos.
CORTA PARA:
CENA 11/ LAGOA RODRIGO DE FREITAS/ EXTERIOR/ NOITE.
Stock-shot com a árvore da Lagoa iluminada. O ideal, obviamente, é
ter o registro do momento em que ele acende pela primeira vez, com
as pessoas assitindo, aplaudindo, tal como aconteceu na realidade.
DEZEMBRO, 2001
FUSÃO COM:
CENA 12/ CASARÃO/ EXTERIOR/ NOITE.
Stock-shot com imensa árvore de Natal na frente do casarão. Muitas
luzes.
FUSÃO COM:
CENA 13/ CASARÃO/ SUITE DE OLIVIA/ INTERIOR/ NOITE.
OLÍVIA / SÍLVIO / SANDRA / GUILHERME (o bebê de Olívia)
Olívia amamentando Guilherme. Sílvio ao lado. Aquele quadro tipo
Sagrada Família. Texto já em curso, Olívia chateda.
OLÍVIA — Quis tanto que fosse parto domiciliar, que ele
nascesse aqui mesmo, no casarão onde eu nasci
e cresci... Me preparei para isso a gravidez
inteirinha. E não consegui nem que fosse parto
normal. Tive que fazer uma cesariana.
SÍLVIO — Agora não tem que se preocupar com isso, meu

amor. Não foi possível, seu médico
desaconselhou. O bebê estava sentado. pélvico,
como eles dizem. Era perigoso, a cabeça do
bebê pode ficar presa na hora da passagem.
Acarinham-se.
OLÍVIA — Eu sei. O parto domiciliar vai para os próximos
filhos, tá?
Beijam-se e olham Guilherme mamando. Subitamente, a porta se
abre e Sandra fala alto, espalhafatosa:
SANDRA — Seu pai está chamando, que já vai dar meia-
noite!
Eles até se assustam e o bebê chora. Sílvio põe o dedo na frente dos
lábios, pedindo silêncio.
OLÍVIA — (ENTRE DENTES) Sandra!
SANDRA — Desculpe, não lembrei do bebê.
CORTA PARA:
CENA 14/ APTO. DE HELENA/ LIVING/ INTERIOR/ NOITE.

HELENA / CLARA / SALVADOR / LIDIA / LUCIANA / SELMA / LUCAS /
ANNA / MIROEL / GISELLE / FIGURANTES
Árvore de Natal bonita, com luzes. Embrulhos de presentes. Presépio
com algumas peças mecanizadas, como a vaquinha que mexe a
cabeça, um regatozinho com a água correndo, etc. Salvador grava
em vídeo. A mesa está posta com a ceia. Bebem. Os figurantes são
colegas de hospital, devendo-se repetir, se possível, as pessoas que
estavam no aniversário de 25 anos de formatura de Helena. É aquele
zumzumzum, gente cruzando, rindo, brincando.
SELMA — O primeiro Natal da Clara!
LUCIANA — E a estréia dela em vídeo!
HELENA — Tem que deixar bem registrado, Salvador, que

no Natal do ano passado, você gravou, mas foi
um fiasco, a imagem estava péssima!
SALVADOR — Ah, mas no Natal do ano passado nós não

tínhamos a Clara aqui em casa. Por isso eu não
caprichei!
HELENA — Ah, saiu-se muito bem. Está perdoado!
LUCAS — Também quero segurar ela no colo pra você

gravar!
SELMA — Não tem que ser oferecido, Lucas!
HELENA — Quero que todo mundo que está aqui apareça

no vídeo, Salvador. Vai ser um barato pra ela
ver quando crescer!
Pela porta que está aberta, entram Anna, Miroel e Giselle, carregando
presentes. A porta continua aberta.
ANNA — Chegamos atrasados, mas chegamos!
MIROEL — É porque moramos muito longe!
GISELLE — Ah, tia Helena, deixa eu segurar ela um

pouquinho?
ANNA — Depois, Giselle, e tem que estar sentada, pra

não derrubar a menina!
Ouvem-se sinos.
SELMA — Meia-noite!
Todos se cumprimentam, trocam presentes, como é habitual. Música
cobrindo tudo. Sinos tocando. Sem diálogo.
CORTA PARA:
CENA 15/ APTO. DE MARTA/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
ALEX / MARTA / SÉRGIO / FRANCISCO / VERÕNICA / KELLY / ELISEU
Ceia na mesa. Nada ostensivo, mas também nenhuma pobreza
absoluta e exagerada. Árvore de Natal com algumas luzes
queimadas. Aquela árvore que a gente percebe que vem
acompanhando a família há alguns anos. Um presépio simples. Os
sinos continuam aqui.
MARTA — Feliz Natal para todos.
E eles se cumprimentam. Francisco está no carrinho.
ALEX — O primeiro Natal sem a Nanda.
SÉRGIO — Mas o primeiro com o Francisco, pai.
ALEX — É verdade, filho. (CORTA) Deixa ensinar pra ele,

desde agora que é pequenininho, o que o meu
me ensinou quando eu era criança. Veja se você
se lembra, Sérgio.
Tira Francisco do carrinho. Marta está servindo a ceia, mas pára para
olhar. Alex vai até o presépio com o menino Jesus na mão. Sérgio
aproxima-se.
ALEX — É Natal, Francisco. Meia-noite. É o momento em
que se comemora o nascimento do Menino
Jesus. Então a gente pega a imagem dele, olha
aqui, está vendo? e coloca na manjedoura, que
foi onde o papai e a mamãe colocaram ele.
Lembra, Sérgio?
SÉRGIO — Claro que lembro! Cresci ouvindo essa história

no Natal!
ALEX — Você e a Nanda!

E coloca o Menino Jesus na manjedoura. Enternece-se. Momento
quebrado pelo toque de campainha. Marta estranha. Sérgio vai abrir.
Entram Verônica, Kelly e Eliseu. Trazem embrulhos e uma garrafa de
champagne.
VERÔNICA — Feliz Natal para todos!
ELISEU — Não podíamos deixar de vir. Este foi um ano

muito especial para todos nós.
MARTA — Fico feliz que tenham se lembrado da gente!
VERÔNICA — Como lembrado, Marta? Você é a minha família!
SÉRGIO — (PARA KELLY) Tudo bem?
KELLY — (VAIDOSA) Tô bonita neste roupa?
SÉRGIO — Tá linda!
ELISEU — Trouxe um panetone italiano pra vocês! E uma

garrafa de champagne!
ALEX — Quanta gentileza, Eliseu!
VERÔNICA — Vamos pra casa de alguns amigos, mas

queríamos passar a meia noite perto de vocês!
E ficam todos se abraçando, se cumprimentando, a música subindo.
CORTA PARA:
CENA 16/ CASARÃO/ SALA DE JANTAR / INTERIOR/ NOITE.
TIDE / LEANDRO / DIANA / RAFAEL / CARMEN / BIRA / MARINA /
ELISA / IVAN / FELIPE / CAMILA / JORGE / OLÍVIA / SÍLVIO /
GUILHERME / CONSTÂNCIA / SANDRA / FRED / DR. MORETTI / SRA.
MORETTI / NINA / OSCAR / YOLANDA / MÁRCIA / GUSTAVO /
TIDINHO / MARIA
A mesa linda, a ceia majestosa sendo colocada, e todos se
abraçando, beijando, abrindo presentes, papéis no chão, alegria,
entusiasmo diante do presente que é aberto, surpresas. Cena ad
libitum, com música de Natal. Como em todas as outras ocasiões,
Carmen se afasta e começa a ligar o celular.
CORTA PARA:
CORTA PARA:
CENA 17/ CASARÃO/ SALA DE JOGOS/ INTERIOR/ NOITE.
CARMEN
Carmen entra teclando no celular.
CORTA PARA:
CENA 18/ EDIFICIO DE HELENA/ ELEVADOR/ INT/ NOITE.
GREG / MÁRCIA
Ele está subindo para o apartamento de Helena, segurando um lindo
embrulho de presente. O celular toca, ele olha, vai atender, mas
desiste.
Alternar as imagens.
CARMEN — Onde será que esse homem se meteu na noite

de Natal?
Márcia aparece.
MÁRCIA — Ligando outra vez, Carmen?
CARMEN — Tô atrás do Greg, pô! Ele jurou que ia aparecer!
MÁRCIA — Você sabe muito bem que ele não vem!
CARMEN — Mas vai aonde passar o Natal?

O elevador pára no andar de Helena e Greg desembarca.
CORTA PARA:
CENA 19/ APTO. DE HELENA/ LIVING/ INTERIOR/ NOITE.
Os mesmos da cena 15 e mais GREG
Com fraternização. E Greg aparece à porta, com o seu presente.
Neste momento, Giselle está sentada, com Clara no colo.
SALVADOR — (BAIXO) Olha quem chegou.
Helena olha e bate os olhos em Greg. Cruzam o olhar. E ela vai até
ele.
HELENA — Surpresa de Natal.
GREG — Estou ficando viciando nessas aparições súbitas,

sem ser convidado!
HELENA — Pensei que você passasse o Natal com a sua

noiva, junto com a família dela.
GREG — Pode me gozar, que eu mereço. (ENTREGA O

PRESENTE) Mesmo que você me ponha pra fora
em cinco minutos, não podia deixar de vir e lhe
desejar um Feliz Natal. O primeiro que passamos
separados!
Ela pega o presente.
HELENA — Obrigada.
Aproxima-se do rosto dele.
HELENA — Posso lhe dar um beijo?
GREG — Mas é claro! Quantos quiser!

Ela beija o rosto dele.
GREG — No rosto???
HELENA — No rosto, sim senhor! (CORTA) Vem aqui.

E pega Greg pela mão. Ele vai indo, sorrindo, cumprimentando as
pessoas, tudo informalmente. Lucas brinca com ele, etc. Helena
chega com Greg diante de Giselle que está segurando Clara.
HELENA — Me dá um pouquinho ela aqui, Giselle.
Helena pega Clara e mostra para Greg.
HELENA — Deixa eu te apresentar. Esta é a Clara.
GREG — Muito prazer, Clara.
HELENA — Ela é minha.

Ele não entende.
GREG — Está sob a minha guarda, depois que... (HESITA
E MENTE) ... depois que foi abandonada lá no
hospital onde eu trabalho.
Ele se surpreende.
HELENA — Entrei com um pedido de adoção. Quero que ela
fique comigo para sempre.
Greg se comove.
GREG — Parabéns.
HELENA — Você me ajudou a decidir.
GREG — Eu?
HELENA — Não me falou pra eu seguir o meu coração? Pois

então: foi o que eu fiz.
Olham-se, carinhosos. A música sobe.
FUSÃO COM:
CENA 20/ RIO DE JANEIRO/ EXTERIOR/ DIA-NOITE.
Stock-shot com passagem de tempo de uma semana.
FUSÃO COM:
CENA 21/ COPACABANA/ EXTERIOR/ NOITE.
Cenas da queima de fogos em Copacabana, em 2001. Vemos
formando no céu a mensagem: SALVE 2002
FUSÃO COM:
1º INTERVALO COMERCIAL
CENA 22/ HOSPITAL/ EXTERIOR/ DIA.

Srtock-shot da fachada. Entra legenda:
MARÇO, 2002
Já ouvimos a voz do Dr. Ferreira:

DR FERREIRA — Julgo procedente o pedido e em
conseqüência defiro a adoção de Clara Toledo
Flores por Helena Camargo Varella e determino
a lavratura do competente termo de
nascimento...
FUSÃO COM:
CENA 23/ HOSPITAL/ DIRETORIA/ INTERIOR/ DIA.
DR. FERREIRA / HELENA / SELMA / NATÉRCIA / IRMÃ MÁ
DR FERREIRA — (CONTINUANDO) ... passando a adotada a

chamar-se (LÊ PAUSADAMENTE NOME POR
NOME) Clara Camargo Varella, filha de Helena
Camargo Varella, sendo avós maternos Pedro
Paulo Miranda Varella e Iara Camargo Varella.
Publique-se e intime-se. Arquive-se os autos
após o trânsito em julgado da sentença.
No meio da leitura Helena já estava emocionada, chorando, sem
acreditar. Dr. Ferreira fecha a pasta onde lia o texto, como se desse o
caso por encerrado, e olha bem pra Helena.
DR. FERREIRA — Esta é a sentença do juiz, tão aguardada
por você. Pode festejar, Helena: agora a Clara é
toda sua! E de você ninguém poderá tirar.
Direito irrevogável.
Irmã Natércia e Selma correm a abraçar Helena, enquanto Irmã Má
olha do lugar em que está.
CORTA PARA:
CENA 24/ LIVRARIA ARGUMENTO / EXTERIOR / NOITE
Stock-shot com movimentação na porta. Um grande “banner”
anuncia a noite de autógrafos do livro de fotos de Renato Mendes:
ESTA GENTE – ESTE CHÃO.
Entra legenda:
CORTA PARA:
CENA 25/ LIVRARIA ARGUMENTO/ INTERIOR/ NOITE.
RENATO / LÍVIA / BELITA / ISABEL / ANNA / MIROEL / FIGURANTES /
GARÇONS / FOTÓGRAFOS
Abrimos em Isabel caminhando timidamente pela livraria, em meio a
um mundo de gente. Ela vislumbra, lá longe, a figura de Renato
Mendes, atrás de uma mesa, autografando os exemplares do livro
para uma fila de pessoas. Ao seu lado, com pose de primeira dama
da noite, vemos Lívia. Bem próxima, vemos Belia, posando de rainha-
mãe. Burburinho, música. Vemos, do ponto-de-vista de Isabel, que
Renato diz sempre algumas palavras a quem lhe estende o livro,
sorri, autografa, etc. Lívia conversa com um e outro, dá beijinhos,
etc. Lenita a mesma coisa. É aquele movimento habitual nessas
ocasiões, sem texto formal. Garçons passam com bandejas: água,
vinho, uísque, canapés, salgadinhos diversos. Até que em

determinado momento, Renato bate os olhos em Isabel. Sorri e
levanta-se, indo até ela.
RENATO — Que bom ver você aqui.
ISABEL — Recebi convite. Não era pra aceitar?
RENATO — Claro que era. Vem comigo.
ISABEL — Ah, não, não vou furar fila, Renato.
RENATO — Tudo bem. Eu trago o livro aqui! E vou fazer

uma dedicatória especial!
Ela vai protestar, mas ele já sumiu. Ela fica ansiosa. Pega um copo de
vinho da bandeja.
CORTE DESCONTÍNUO
Renato vem com o livro. Ela vai abrir, mas ele impede.
RENATO — Não lê agora. Deixa pra quando chegar em
casa. Fico tímido perto de você.
ISABEL — (RINDO) Conheço sua timidez. Já tive uma

prova dela! Tudo bem, leio depois. Agora deixa
eu dar um beijo na sua mulher e na sua sogra,
se não elas não vai me perdoar.
A música sobe e o movimento continua na livraria.
FUSÃO COM:
CENA 26/ VILA/ CASA DE ISABEL/ INTERIOR/ NOITE.
ISABEL
Ela caminha pela casa, ao lado do seu cão, lendo a dedicatória do
livro.
VOZ DE RENATO — (GRAVAÇÃO) Isabel: Este é o nosso
chão, esta é a nossa gente. Amo cada uma
destas fotos e sei que você vai compreender,
hoje ou um dia, o significado do meu trabalho.
Temos um encontro marcado. No futuro. Um
beijo. Tudo bem, no rosto por enquanto. Renato.
Ela sorri e passa o livro no rosto,, suavemente. Música marca.
CORTA PARA:
Stock shot com as ruas decoradas para a Copa do Mundo de 2002.
Ouve-se a irradiação do jogo Brasil 2 x 9 Alemanha. Entra legenda:
30 DE JUNHO, 2002
A irradiação chega ao 1º ou ao 2º gol, tanto faz.
CORTA PARA:
CENA 28/ CASARÃO/ EXTERIOR/ DIA.
Strock-shot. Ouvimos a gritaria das ruas. O casarão tem uma
decoração alusiva à Copa.
CORTA PARA:
CENA 29/ CASARÃO/ LIVING/ INTERIOR/ DIA.
TIDE e toda a família reunida. Gente sentada no chão, espalhadas por
todo o living. Um telão exibe o jogo e mostra o gol. Todos pulam,
gritam. Decoração alusiva à Copa. Depois o ruído vai diminuindo,
desaparecendo...
FUSÃO COM:
CENA 30/ CEMITÉRIO/ TÚMULO DE NANDA/ INTERIOR/ DIA.
HELENA / OLÍVIA / ALEX / MARTA / SÉRGIO
Quando abre, Marta, Sérgio e Alex estão diante do túmulo, que está
com flores. Alex e Sérgio de cabeças baixas. Marta olhando para a
frente, sem piscar. Entra a legenda:
JULHO, 2002
Olívia aparece, trazendo um maço de flores. Apenas acenos de

cabeça como cumprimentos. Ela coloca as flores e fica rezando de
cabeça baixa. Mais alguns segundos e aparece Helena, também com
flores, que coloca sobre o túmulo. E fica lá rezando. Também aqui só
cumprimentos de cabeça.
CORTE DESCONTÍNUO
Marta vai embora.
CORTE DESCONTÍNUO
Olívia vai embora.
CORTE DESCONTÍNUO
Helena vai embora.
CORTA RÁPIDO PARA:

Sérgio vai embora.
E Alex fica sozinho diante do túmulo da filha.
FUSÃO COM:
CENA 31/ APTO. DE HELENA / SALA / INTERIOR / DIA
HELENA / CLARA / LIDIA / SALVADOR / LUCIANA
Abre num bolo de aniversário com uma velinha. Helena está com
Clara no colo e aproxima-se do bolo.
HELENA — Feliz aniversário, filha.
E apaga a velinha. Ao lado, as pessoas batem palmas e cantam
parabéns pra você, mas sem áudio. Só os gestos.
FUSÃO COM:
CENA 32/ APTO. DE MARTA/ SALA/ INTERIOR/ DIA.
FRANCISO / ALEX / MARTA / SÉRGIO / MONICA
Temos aqui também um bolo com uma velinha. Alex apaga com
Francisco no colo. Marta olha de uma meia distãncia. Aplausos e
parabéns pra você, mas também sem aúdio, só música.
CORTA PARA:
CENA 33/ CASARÃO/ EXTERIOR / DIA
Stock-shot
Ouvimos a voz do Juiz, vazando:
OUTUBRO, 2002
JUIZ —Gregório Rodrigues Lobo, é de sua livre e

espontânea vontade receber Carmem Martins de
Andrade como sua legítima esposa
CENA 34/ CASARÃO/ LIVING/ INTERIOR/ DIA.

GREG / CARMEN / TIDE / MÁRCIA / OLÍVIA / SÍLVIO / ELISA /
SANDRA / CONSTANCIA / LEANDRO / DIANA / JORGE / JUIZ /
ESCRIVÃO
GREG — Sim.
JUIZ — Carmem Martins de Andrade, é de sua livre e

espontânea vontade receber Gregório Rodrigues
Lobo como seu legítimo esposo?
CARMEN — Sim.
JUIZ — De acordo com a vontade que acabam de

declarar, de receber um ao outro como marido e
mulher e em nome da lei, vos declaro casados.
Greg retira do bolso uma caixinha com alianças. Colocando a

sua no dedo de Carmem e diz:
GREG — Carmem, receba esta minha aliança como prova
do meu amor.
É a vez de Carmem tirar a outra aliança da caixinha e botar no

dedo de Greg dizendo:
CARMEM — Greg, receba esta minha aliança como prova do
meu amor.
Beijam-se.
ESCRIVÃO — Eu, oficial substituto do Cartório da 5ª
Circunscrição de Registro Civil, lavrei hoje (dia
tal) o termo de casamento de Carmem Martins
de Andrade e Gregório Rodrigues Lobo, que se
receberam em matrimônio pelo regime de
comunhão parcial de bens continuando ambos
os cônjuges com os mesmos nomes.
Por fim, o escrivão abre o livro de assinaturas em cima da mesa na
direção do juiz. O juiz é o primeiro a assinar, depois o escrivão pega
o livro para passar aos noivos. Carmem assina, depois Greg e, por
último, vão assinando as pessoas presentes. A música sobe, cobrindo
a ação.
CORTE COM:
CENA 35/ CASARÃO/ SUÍTE DE CARMEN/ INTERIOR/ DIA.

CARMEN / GREG
Carmen e Greg no maior beijo. Com o pé, Carmen fecha a porta, tal
como Greg fez no apartamento de Helena, na cena e que dormiu lá.
Música sobe.
CORTA PARA:
CENA 36/ RUA/ CARRO DE GUSTAVO/ EXTERIOR/ NOITE.
GUSTAVO / MÁRCIA
DEZEMBRO, 2002
Porta de um restaurante. Gustavo na direção do carro, que está

parado, mas com o motor ligado. Ele acelera o carro, continuamente,
com bastante barulho. Está alterado. Márcia vem para o carro,
acompanhada de um homem simpático, de uns 50 anos mais ou
menos. Ela agradece e trocam os beijos formais no rosto, mas não se
ouve o que dizem por causa do ruído da aceleração do carro. Até que
o homem abre a porta, ela entra e o homem vai embora. Gustavo
arranca instantâneamente, cantando os pneus. Discutem com rancor.
MÁRCIA — Hoje você passou da medida!
GUSTAVO — Você já passou da medida há muito tempo!
MÁRCIA — Precisava fazer esse papelão, só porque o Daniel

foi falar comigo na mesa?
GUSTAVO — Mulher séria não dá intimidade para ex-

namorado! É um mau passo!
MÁRCIA — Mulher séria não devia se casar com um homem

cafajeste como você. Esse foi o meu mau passo!
(CORTA) E pára de correr. Bebeu demais, já deu
seu show, agora quer o que? me matar? Ele
Ele dirige perigosamente e em alta velocidade.
GUSTAVO — Dei muita corda pra você. Devia ter cortado o
mal pela raiz! Independência, liberdade,
realização pessoal! Tudo besteira! Tinha mais é
que enfrentar a casa e os filhos. Cuidar do
marido!
MÁRCIA — Você não sabe o que está falando!
GUSTAVO — Tinha mais é que enfrenbtar um bom tanque de

lavar roupa e pilotar um belo fogão!
Ele faz uma curva perigosa e ela grita.
MÁRCIA — Pára, Gustavo, e me deixa descer! Pára!
Mas ele perde o controle do carro e o acidente acontece.
CORTA PARA:
CENA 37/ CASARÃO/ CAPELA/ INTERIOR/ DIA.
MARCIA / TIDE / LEANDRO / DIANA / MÁRCIA / GREG / IVAN /
NINA / JORGE / OLÍVIA / SÍLVIO / CONSTÂNCIA / DOMINGOS / FRED
/ SANDRA / DR. MORETTI / FIGURANTES
Abre em Marta num pretinho básico, uma perna engessada, apoiada
em duas muletas, com Jorge ao lado, amparando-a. Nina ao lado,
chorando. As pessoas vão passando por Márcia, cumprimentando-a,
desejando pêsames.
CORTA PARA:
CENA 38/ COPACABANA / EXTERIOR/ NOITE.
Stock-shot com queima de fogos de artificio, aparecendo no céu a
frase: SALVE 2003
CORTA PARA:
CENA 39/ CASA DE CULTURA AMA/ EXTERIOR/ DIA.

Stock-shot da fachada da casa. Entra legenda.
20 DE JANEIRO DE 2003
DIA DE SÃO SEBASTIÃO
PADROEIRO DA CIDADE
Entra a voz de Tide, vazando:

TIDE — ... para mim e para toda a minha família, esta é
uma data de grande significado, já que estamos
realizando o sonho da nossa grande inspiradora,

Amália Martins de Andrade, a nossa Lalinha...
FUSÃO COM:
CENA 40/ CASA DE CULTURA/ SAGUÃO PRINCIPAL/ INT/ DIA.
TIDE e TODA A FAMÍLIA / MIROEL / ANNA / GISELLE / FIGURANTES
Tide está ao lado do busto de Lalinha, coberto, como de praxe. Os
filhos e netos formam um círculo e alguns convidados espalham-se
por ali, todos atentos às palavras de Tide. Márcia e Nina ainda estão
tristes, pra baixo, por conta da morte de Gustavo.
TIDE — ... Uma casa de cultura, voltada principalmente
para os jovens, pois a juventude era a sua maior
preocupação, como cidadã e como educadora.
Que o espírito de Lalinha inspire e ilumine a
todos nós, para que possamos levar adiante este
trabalho. realizado com todo o amor dos nossos
coraçãoes.
Tide tira o pano e vemos o busto de Lalinha. Aplausos. Música entra.
CORTA PARA:
CENA 41/ EDIFICIO NA LAGOA / EXTERIOR/ DIA.
Stock-shot. Entra a legenda:
OUTUBRO, 2003
FUSÃO COM:
CENA 42/ APTO. DE SILVIO E OLIVIA/ LIVING/ INT/ DIA.
SÍLVIO / OLÍVIA / GUILHERME / BABÁ
Sílvio entrando no living do apartamento novo, carregando Olívia nos
braços. Ela esperneia, faz farra. O living está completamente vazio.
Ele coloca a mulher no chão.
SÍLVIO — Finalmente estamos pondo os pés no nosso
apartamento!
OLÍVIA — Só os pés, porque pra morar aqui dentro, até

comprarmos todos os móveis, deixarmos do
jeito que a gente quer, quem sabe quanto tempo
mais vamos ter que esperar!
SÍLVIO — Ah, não. Mudamos nem que seja para colocar

um colchão aqui no meio da sala! Precisamos
mais do que um colchão?
OLÍVIA — Claro que não!

Abraçam-se e beijam-se. Pela porta aberta entra Guilherme, com dois
anos, seguido por uma babá jovem. Ele anda, dá umas corridinha,
chamando a atenção dos pais, que interrompem o beijo e riem,
felizes. Música marcando.
CORTA PARA:
CENA 43/ AEROPORTO TOM JOBIM / EXTERIOR / NOITE
Stock-shot.
CORTA PARA:
CENA 44/ AEROPORTO TOM JOBIM/ SAGUÃO/INT/ NOITE.
RENATO / LÍVIA / BELITA / CATARINA
Eles indo em direção ao portão de embarque, quase correndo, Renato
puxando Lívia pela mão. Belita com Catarina no colo, quase correndo
também e quase caindo.
BELITA — Calma aí, gente, que vão acabar esquecendo a
menina comigo!
LIVIA — Ah, mãe, você que quis ficar segurando ela!
RENATO — Tudo bem, minha querida sogra, passa a minha

filha aqui para o meu braço, e até a volta!
Pega a menina no braço e trocam beijos e abraços, Belita e Lívia
enxugando algumas lágrimas.
SANDRA — Deixa pelo menos eu me despedir direito da
minha mãe, Renato.
RENATO — Você demorou pra sair de casa, atrasamos,

agora temos que correr! Quer o que, perder o
avião?
E vai puxando a mulher, carregando a filha, Belita atrás, aquela
confusão. Até que eles desaparecem. Belita fica parada, desolada.
CORTA PARA:
CENA 45/ VILA/ CASA DE ISABEL/ INTERIOR/ NOITE.

ISABEL
Ela está sentada, ouvindo a voz de Renato na secretária eletrônica do
seu telefone fixo.
RENATO — (GRAVAÇÃO) Isabel: estamos indo hoje a noite
para a Inglaterra. Não sei se ficamos um ano,
dois, três. Quando chegar lá é que eu vou ver.
Deixo este recado porque não quis mesmo ver
você pessoalmente. Tive medo de desistir da
viagem. Um beijo. Ainda no rosto. Renato.
Ela sorri com tristeza e desliga a secretária eletrônica.
CORTA PARA:
CENA 46/ APTO DE ANNA / SUÍTE DO CASAL / INTERIOR / DIA
ANNA / MIROEL / GISELLE
Miroel fechando uma uma mala grande, que está em cima da cama.
O armário de roupa está aberto. Anna próxima, discutindo com ele.
Giselle vendo a cena pela fresta da porta.
MIROEL — Cansei, Anna. Agora é pra valer! Nem que você
faça uma cena, dê um vexame, salte da janela,
corte os pulsos, eu vou embora desta casa!
ANNA — Não gosta de ouvir a verdade! Quando ouve,

não se defende, não argumenta. Simplesmente
diz que vai dar o fora!
MIROEL — Não me defendo porque não tenho do que me

defender! E olha aqui: acho que mesmo que
tivesse, mesmo que você estivesse me culpando
de alguma coisa verdadeira, nem assim eu teria
mais saco para argumentar, explicar, nada!
Ele fecha a mala e se movimenta para sair.
ANNA — Miro: não vou fazer cena, nem dar vexane, nem
nada! Vou deixar você sair. Pode ir embora. Mas
não pensei que vai voltar. Não. Sai, sai pra
sempre!
MIROEL — Melhor assim. É pra sempre mesmo que eu

quero sair!
E passa por ela, saindo do quarto. Anna fica firme, mas as lágrimas
correm pelo seu rosto.
CORTA PARA:
CENA 47/ APTO. DE ANNA/ CORREDOR/ INTERIOR/ DIA.
MIROEL / GISELLE
Ele saindo da suite e tropeçando em Giselle, quase caindo por cima
dela. Ela saltando fora.
GISELLE — Olha aí. Quase piso em você!
E desaparece. Giselle fica triste e se aproxima da porta da suite.
CORTA PARA:
CENA 48/ APTO. DE ANNA/ SUITE DO CASAL/ INTERIOR/ DIA.
ANNA / GISELLE
Anna jogada na cama, chorando. Giselle entra, aproxima-se e depois
deita junto á mãe, passando a mão pela sua cabeça, num gesto de
consolo. Anna levanta a cabeça, vê que é a filha e abraçam-se com
força.
CORTA PARA:
CENA 49/ COPACABANA/ EXTERIOR/ NOITE.
Stock-shot com a queima de fogo. Até formar a frase: SALVE 2004
CORTA PARA:
CENA 50/ AMSTERDAN / EXTERIOR / DIA

Stocvk-shot com passagem de tempo da noite para o dia]
CORTA PARA:
CENA 51/ AMSTERDAN/ CASA BARCO/ INTERIOR/ DIA.
SABRINA / VINICIUS
Eles recostados por ali. Vemos dois copos de vinho, pela metade, na
mesinha perto deles. Bem carinhosos. Muito amor.
VINICIUS — Se você desconhece o calendário, todas essas
datas perdem o significado.
SABRINA — (GOZANDO) Descobriu a pólvora você!
VINICIUS — Ah, eu falo porque a gente se prende muito a

esses eventos: aniversário, Natal, ano novo.
Apenas convenções.
SABRINA — Eu me orgulho de não ser tão prática. Ainda

tenho um pé no romantismo.
VINICIUS — Um pé? Você tem os dois! Alias, não apenas os

pés, mas as mãos, os braços, a cabeça, o corpo
inteiro!
SABRINA — O coração mais do que tudo. É aqui que eu vivo

(MOSTRA O CORAÇÃO), mais do que aqui
(MOSTRA A CABEÇA) Quebrei a cara muitas
vezes por causa disso, mas não me arrependo.
Acho que a vida, sem essas ilusões todas, esses
sonhos, não vale a pena. Não pretendo mudar!
VINICIUS — Nem quero que você mude. Alguma vez

reclamei?
SABRINA — Não.
VINICIUS — Me sinto feliz com você sendo assim, como é.

Carinho entre eles.
SABRINA — Vou ver mais um trabalho, hoje.
VINICIUS — Eu estou me segurando no que consegui. Não é

muito, mas é mais do que nada!
Riem.
SABRINA — É, mas eu não tive a mesma sorte que você.Só
tenho conseguido trabalhos temporários e sem
interesse para o que eu quero fazer.
VINICIUS — Vai conseguir.
SABRINA — Ainda quero realizar um trabalho aqui, que me

acrescente, me gratifique. Ser guia de um dos
museus, por exemplo. Estar ligada à uma
curadoria. Ter acesso ao conhecimento. (CORTA)

Sabe o que eu penso, às vezes?
VINICIUS — Qual é a surpresa?
SABRINA — De que nunca mais vou voltar para o Brasil.
VINICIUS — Ah, essa não, Sabrina. Eu não apenas quero

voltar, como quero voltar logo. Daqui a um ano,
no máximo dois.
SABRINA — Teria coragem de ir embora e me deixar aqui

sozinha?
VINICIUS — Atacar de Léo? Nunca!
SABRINA — Mesmo eu não estando grávida?
VINICIUS — Ai, ai, ai, ai! Pelo amor de Deus, não me venha
com novidade!
Ela relaxa, brinca, acarinha.
SABRINA — Relaxa. Pelo menos por enquanto, você não tem
com que se preocupar.
E beijam-se. Depois olham-se.
VINICIUS — Feliz 2004!
SABRINA — Feliz 2004! E que a gente continue juntos este e

todos os anos das nossas vidas!
Bebem um gole e depois beijam-se novamente.
CORTA PARA:
Stock-shot. Entra a legenda:
MARÇO, 2004
CORTA PARA:
CENA 53/ LIVING DE ANNA / INTERIOR / DIA
ANNA / MIROEL
Ela abre a porta, já sabendo que é Miroel. Aquela saia justa.
MIROEL — E aí, como é que ela está?
ANNA — Melhorou. Melhorou tanto, que já saiu.
MIROEL — Põ, Anna, por que não me falou? Vim correndo,

quase bato o carro/
ANNA — Eu falei que era uma virose! E depois, que tanta

coisa você tem pra fazer que não pode dar um
pulo na casa da sua filha?
MIROEL — Não tenho vindo aqui, mas tenho saído com ela
quas todo fim de semana!
ANNA — Parce que você está triste por ela estar melhor!
MIROEL — Claro que não, Anna.
ANNA — Não pense que eu telefonei e falei da virose só

pra você aparecer.
MIROEL — Não estou pensando nada. Não inventa!
ANNA — (CORTA) Ia tomar um café agora, quer?
MIROEL — Aceito.
Ela serve um cafezinho para cada um. Examinam-se discretamente.
ANNA — Você está bem disposto.
MIROEL — Faço o possível para manter a forma. Apesar de

todo o trabalho, tenho corrido na praia, andado
de bicicleta, feito um pouco de ginástica/
ANNA — Hum... Pelo visto, foi se separar de mim,

pronto: acordou para a vida saudável.
MIROEL — Não deixa de ser verdade. Morando aqui. não

tinha praticamente tempo pra mim, só pra você
e pra Giselle.
ANNA — Miro, que mentira deslavada! Você saía de

manhã, só voltava a noite!
MIROEL — Tudo bem, é verdade, mas estávamos na fase

de construção da casa de cultura. Depois que ela
inaugurou... fiquei com mais tempo.
Examinam-se.
ANNA — Mas essa sua boa disposição tem qualquer cosia
também também com o coração, não tem?
MIROEL — Não tenho nada no coração, nunca tive!
ANNA — Eu me refiro... por dentro. Simbolicamente.

Aposto que está namorando alguém.
MIROEL — (HESITANTE) Não.
ANNA — Estamos separados há três meses. Vai me dizer

que nesse tempo todo/
MIROEL — Bem, claro que rolou aí alguma coisa, mas nada

de importante, que me prendesse.
ANNA — (MORDIDA) Ah, rolou alguma coisa?
MIROEL — É natural, não é? Sou homem.

Aquele silêncio.
ANNA — Pra mim também... rolou alguma coisa. Como
com você, nada que me prendesse. (CORTA) Foi
com aquela mulher... a irmã do Jorge?
MIROEL — Com ela foi assim... uma coisinha rápida.
ANNA — Então eu tinha razão quando desconfiei.

Ele se levanta.
MIROEL — Já vi que vamos começar uma nova discussão.
Vou embora. Dá um beijo na Giselle.
ANNA — Não precisa ir embora correndo, não. Eu não

falo mais nada.
MIROEL — Não, tenho hora marcada com o Jorge. Uns

projetos novos que apareceram e que a gente
não quer perder.
ANNA — Vem uma noite dessas com mais tempo, pra

gente conversar.
MIROEL — Venho, sim, claro.

Vão indo para a porta. Eles se dão um beijinho de cada lado e Miroel
sai. Ela fecha a porta, encosta-se nela e bate o pé cheia de ódio.
Música comenta.
CORTA PARA:
CENA 54/ RIO DE JANEIRO/ EXTERIOR/ NOITE.
Stock-shot com a queima de fogos. Entra mensagem: SALVE 2005
CORTA PARA:
CENA 55/ BASE AÉREA/ EXTERIOR/ DIA.
OLÍVIA / GUILHERME / BABÁ
Eles olham o vôo do Mirage, supostamente com Sílvio pilotando.
Planos do mirage no ar.
CORTE DESCONTÍNUO
Silvio aparece, andando, e Guilherme vai até ele, andando. Olivia fica
olhando, encantada, ao lado da babá. Sílvio pega filho no colo e
aproxima-se. Beijos.
SÍLVIO — Tenho uma ótima notícia pra lhe dar.
OLÍVIA — Já sei. Entregou o rquerimento e resolveu

finalmente dar baixa da Aeronáutica!
SÍLVIO — Errou redondamente.

Expecatativa.
OLÍVIA — Fala!
SÍLVIO — Fui promovido!

Olívia fecha os olhos, com humor e resignação.
OLÍVIA — O que foi que eu disse há dois anos atrás? Vou
ser mulher de militar a vida inteira! Sua mãe e
seu pai devem estar rindo de mim!
SÍLVIO — Você não falou que tudo que queria era que eu
fosse feliz?
OLÍVIA — Claro!
SÍLVIO — Pois então. Pensei, pensei, pensei e optei pela

felicidade! Vou continuar na aeronáutica!
Ela bate continência pra ele, riem. e se abraçam, mãe e filho no colo.
CORTA PARA:
CENA 56/ RIO DE JANEIRO / EXTERIOR / NOITE
Stock-shot. Queima de fogos. Mensagem: SALVE 2006.
CORTA PARA:
CENA 57/ CASARÃO/ SALA/ INTERIOR/ NOITE.
TIDE / LEANDRO/ DIANA / RAFAEL / CARMEN / BIRA / MARINA /
ELISA / IVAN / FELIPE / CAMILA / MÁRCIA / NINA / TIDINHO / JORGE
/ SANDRA / OLÍVIA / SÍLVIO / CONSTÂNCIA / FRED / GREG /
GUILHERME / MARIA
Todos de pé, à volta da bela mesa de jantar, a ceia servida. Tide
levanta a sua taça de champagne. Tidinho e Guilherme com 5 e 6
anos, respectivamente.
TIDE — Um brinde a todos nós, ao novo ano que se
inicia. Devo confessar a vocês que me
surpreendo ao chegar em 2006. Nunca pensei
viver tanto!
Risos, brincadeiras.
CARMEN — Sempre fazendo charme, né, pai? Sai ano, entra
ano, e você aí, graças a Deus, cheio de saúde!
MÁRCIA — Mas sempre achando que é o último Natal, o

último Carnaval, o último reveillon/
TIDE — Ora, mas um dia vai ser mesmo. E eu acerto!
OLÍVIA — Pai: faça o brinde, mas com otimismo. Se é pra

falar em morte, por favor, deixa para uma outra
ocasião mais apropriada!
JORGE — Vamos, paizão, queremos sentar e queremos

comer!
Risos.
TIDE — Bem, desse jeito vocês me deixam até sem

graça! Devem estar achando que agora, aos 75
anos/
ELISA — Setenta e quatro!
TIDE — Mas faco 75 daqui a menos de um mês!
JORGE — Mas por enquanto são 74, pai!
TIDE — Já vi que não estou agradando. Encerro: um

feliz ano novo para todos vocês!
OLÍVIA — Para todos nós!

Levantam as taças e bebem um gole. Aí sentam-se todos, naquele
alvoroço.
TIDE — Um momento, só mais um minutinho.
Todos voltam a levantar-se, com protestos engraçados.
TIDE — Apenas uma saudação. Uma saudação especial
à Marina, que apesar de ter saído aqui de casa e
ido morar com o pai, está demonstrando, com a
sua presença, que não guarda mágoa e que
sabe que é amada por todos nós.
Todos aplaudem e dão vivas à Marina. Mas ela não está de bem com
a mãe, não, como se pode ver pelo seu olhar.
TIDE — Obrigado a você também, Bira, pela
compreensão dos fatos que ocorrem aqui
durante esses últimos anos.
Ele também não parece perdoar Greg, que sorri amarelo.
TIDE — Podem se acomodar. Agora é pra valer!|
E todos voltam a sentar-se e começam a jantar.
CORTA PARA:

Stock-shot. Clipe com lindas imagens. Entra legenda:
MARÇO, 2006
CORTA PARA:
CENA 59/ HOSPITAL/ CONSULTÓRIO/ INTERIOR/ DIA.
HELENA
Ela abre uma carta de Diogo e lê, com as reações adequadas:
DIOGO — (GRAVAÇÃO)Helena. Estou me preparando para
voltar ao Brasil. Foram cinco anos de um intenso
trabalho, que consumiu cada hora, minuto,
segundo do meu tempo. Mais do que isso: da
minha vida.
ENTRAM IMAGENS DE DIOGO NA ÁFRICA
COBRINDO A LEITURA DA CARTA
DIOGO — Por essa razão, já não saio daqui inteiro. Deixo

boa parte de mim nesta terra, com esta gente,
que conheci e com quem aprendi a amar e a
sofrer. Tenho muito que contar e que mostrar
para você. E certamente terei muito a ouvir.
Esses anos todos, nas mensagens que envio,
não tenho perguntado se você continua com o
Greg, se está com outro amor ou... se está
sozinha. Não perguntei nunca, confesso agora,
com medo da resposta. Neste exilio voluntário
que estou encerrando, pude pensar em nós dois,
nos planos que fizemos, no pouco que
conseguimos realizar, mas também pude sentir
que ainda tenho esperança dentro de mim, o
que me dá a certeza de que ainda vou chegar a
tempo de ser feliz no meu país, na minha
cidade, com a minha gente.
Termina a carta e fica olhando o vazio, um sorriso vago nos lábios. A
música comenta.
FUSÃO COM:
CENA 60/ APTO. DE HELENA/ LIVING / INTERIOR / DIA

HELENA / SELMA / LIDIA
Helena está com uns 10 postais nas mãos, além de uma carta
dedobrada. Lidia serve um café, texto rolando.
HELENA — Ele esteve presente em todas as ocasiões
importantes da minha vida e acho que vai ser
sempre assim por mais muitos e muitos anos.
Vai pegando cada postal e colocando em cima da mesa,
mencionando:
HELENA — Nos meus aniversários, em todos natais e nas
datas que guardam algum significado do nosso
amor, da nossa relação.
SELMA — Mas espero que toda essa atenção e carinho

sejam demonstrados pessoalmente também, né,
Helena? e não apenas através dos postais e das
cartas.
HELENA — (RECOLHENDO OS POSTAIS) Tudo bem, mas

isto é uma prova de que ele nunca me esqueceu.
SELMA — Bem, amor por correspondência é mais fácil de

ser eterno! Não tem aquela dureza do dia-a-dia,
do convívio. É mais romântico. Um idealiza o
outro à sua maneira, sem precisar conferir nada.
HELENA — É, eu sei. (CORTA) O que é que o Lucas tem

falado da vida de casado do Greg?
SELMA — Ah, de vez em quando eles se encontram e

conversam muito. O assunto predileto do Greg
continua sendo você.
HELENA — Mesmo depois de casado?
SELMA — Quem sabe até principalmente depois de

casado?!
Riem.
HELENA — Você não presta, Selma! Falando assim até
parece que está gorando a felicidade dele!
SELMA — Mas é o que o Lucas me fala!

Lidia interrompe.
LÍDIA — Dá licença, dona Helena, mas está na hora de ir
buscar a Clara na creche.
HELENA — (OLHA O RELÓGIO) E você acha que eu vou

esquecer?
SELMA — Como é que ela está se dando na creche?
HELENA — Ela, muito bem, mas já soube que duas ou três

mães torceram o nariz, perguntaram lá, pra
diretora, se não seria mais apropriado que a
menina estivesse numa escola especializada em
crianças com down.
SELMA — Que ignorância!
HELENA — Eu sei que ela vai encontrar muito preconceito,

muita discriminação pela frente.
SELMA — Mas você, com essa sua vocação de guerreira,

há de ganhar todas as paradas.
HELENA — Ah, pode estar certa que vou mesmo! Por bem,
por mal, do jeito que vier, eu enfrento!
Levantam-se.
HELENA — Vamos, eu deixo você num táxi. Só não te levo
até o hospital porque hoje é a minha folga, e se
eu aparecer por lá, vão achar que eu estou
procurando serviço!
SELMA — Deve ter coisa bem melhor pra fazer com o seu
dia, tenho certeza!
HELENA — Vou passear com a Clara. Vê se encontro aqui

pelo Leblon, um pracinha, um parquinho, onde
ela possa correr, brincar com areia, essas coisas
que fazem bem à criança.
Pegam bolsas, etc., e vão indo para a porta, acompanhadas de Lídia,
a música cobrindo e o texto desaparecendo.
CORTA PARA:
CENA 61/ AMA/ EXTERIOR/ DIA.
Stock-shot da fachada
CORTA PARA:
CENA 62/ AMA/ RECEPÇÃO/ INTERIOR/ DIA.
CAROL / JORGE / SANDRA / SIMONE / LAERTE
A recepcionista Carol está atendendo Simone e o irmão Laerte, que
pedem algumas informações, examinam uns catálogos, etc. Jorge
entra acompanhado de Sandra.
JORGE — Já falei com o Leandro, ele vai te colocar aí na
lanchonete, pra ajudar.
SANDRA — Na lanchonete? Esperei esse tempo todo pra

trabalhar no balcão?
JORGE — É o que a gente tem pra você agora, Sandra. O

que é que você sabe fazer?
SANDRA — Bem, eu... eu não sei, não sei nada dessas

coisas aqui da casa, mas posso aprender.
JORGE — Pois então: quando aprender, muda, sai da

lanchonete! É só pra você ter uma atividade,
entende?
Aí o olhar dele é atraído pela moça que está na recepção. Ele tem a
intuição. Fica paralisado, olhando. Sandra percebe.
SANDRA — O que foi?
JORGE — Não tô acreditando!
SANDRA — Fala pra mim, o que é?

Mas ao invés de falar, ele vai para a recepção. Quando ele chega bem
atrás de Simone, ela se volta e dão de cara um com o outro. Laerte
não se dá conta, continua se informando. Um tempo no olhar dos
dois. Um tempo na cara de Sandra, que já identificou Simone, e que
está olhando, também paralisada.
SIMONE — Oi.
JORGE — É você mesmo, não é?

Ela faz que sim.
JORGE — Simone?
SIMONE — (SORRINDO) Acertou. Jorge?
JORGE — (SORRI) Acertou também.

Permanecem um tempo, olhos nos olhos.
CORTA PARA:
CENA 63/ HOSPITAL/ RECEPÇÃO/ INTERIOR/ DIA.
RECEPCIONISTA / IRMÃ LAVINIA / FIGURANTES
Irmã Lavinia também está de costas. A recepcionista desliga o
telefone e fala com ela.
RECEPCIONISTA — A Irmã Maria está esperando pela
senhora. Eu acompanho.
LAVÍNIA — Obrigada.
CORTA PARA:
CENA 64/ HOSPITAL/ CORREDOR/ INTERIOR/ DIA.
LAVINIA / RECEPCIONISTA / FIGURANTES
Lavinia, muito linda em seu hábito, caminha ao lado da recepcionista,
pelo brancos corredores do hospital.
CORTA PARA:
CENA 65/ SALÃO DE BELEZA/ INTERIOR/ DIA.
MARTA/ VERÔNICA / EQUIPE DO SALÃO
Abrimos em Marta sendo penteada, o rosto descontraído, como se
fosse o começo de uma transformação. Ela sorri para o espelho.
Verônica ao lado dela, texto em curso.
VERÔNICA — É uma reunião só com amigos, tenho certeza
que você adorar todo o pessoal.
MARTA — Há quantos anos não me olho direito no

espelho? Nem me lembro!
VERÔNICA — Mas não pode. Já deu a volta por cima, agora é

caminhar pra frente. O tempo tudo apaga. Deixa
marcas, claro, mas são marcas que não dóem

mais.
MARTA — Acha mesmo que estou bem assim?
VERÔNICA — Muito bem. Outra mulher.

E Marta fica se olhando, se admirando, esboçando um sorriso para
ela mesma. A música marca.
CORTA PARA:
CENA 66/ PARQUINHO/ EXTERIOR/ DIA.
HELENA / CLARA / FRANCISCO / ALEX / FIGURANTES
Crianças brincam num parquinho ao ar livre, desses que têm dentro e
algumas praças, com escorrega, balanço, caixa de areia, etc. Clara
está brincando entre elas, que são mais ou menos da mesma idade,
cinco anos. Meninos e meninas. Helena olha a brincadeira, de uma
pequena distância. Brinca, faz sinais para a filha. Muita paz em tudo.
É quando ela escuta a voz de Alex, que vem vindo por trás dela.
ALEX — Vai brincar com o amiguinhos, vai, Francisco.
E o menino corre, passando ao lado de Helena e indo brincar com as
outras crianças. Helena tem a intuição e estremece. Nesse momento,
Alex aparece e fica a poucos passos de onde ela está. Helena fixa o
olhar em Francisco, que agora se aproximou de Clara e brinca com
ela. A música sobe.
Ficamos com as 4 imagens:

1 – Jorge diante de Simone.
2 – Irmã Lavínia diante de Irmã Má.
3 – Marta no salão de beleza.
4 – Helena e Alex com Francisco e Clara.
CORTA PARA:
FIM DO 37º CAPÍTULO

MANOEL CARLOS 2006 LAUS DEO

PÁGINAS DA VIDA - Capítulo 037 TRANSIÇÃO DE FASE

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PÁGINAS DA VIDA - Capítulo 037 TRANSIÇÃO DE FASE

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Rede Globo de Televisão Capítulo

Central Globo de Produção

HELENA MARTA OLÍVIA TÔNIA ANNA

CLARA TIDINHO GISELLE ELISA MARIA

Temos assim três imagens mescladas e alternadas: a brutalidade do

Sinto que ela precisa tanto de mim, tenho medo

JAYME — Ah, culpa materna é o que todas as mães

HELENA — E não é que é verdade mesmo? Tenho as

HELENA — E as vacinas? Estou preocupada com isso, tenho

JAYME — Vamos fazer a imunização e, além das vacinas

Depois o desabamento da primeira torre, às 11:02 horas e o

A essas imagens, algumas vezes diretas de Nova Yokr, outra vezes

Entram, alternados com as imagens diretas de Nova York, os

HELENA — A gente ouviu os comentários na rua e no rádio

SALVADOR — Atentado terrorista!

HELENA — Liga a televisão no meu quarto, Salvador.

Entram as imagens de Tonia Werneck dando uma entrevista para um

SALVADOR — Será, mãe?

HELENA — Tenho certeza! Meu Deus, ela está lá e eu nem

Helena senta-se, admirada.

CENA 8/ NOVA YORK/ EXTERIOR/ NOITE - DIA.

Passagem de tempo, nas duas cidades, mostrando algumas cenas

Por último, ficamos no Rio de Janeiro.

SÍLVIO — Agora não tem que se preocupar com isso, meu

SANDRA — Desculpe, não lembrei do bebê.

CENA 14/ APTO. DE HELENA/ LIVING/ INTERIOR/ NOITE.

LUCIANA — E a estréia dela em vídeo!

HELENA — Tem que deixar bem registrado, Salvador, que

SALVADOR — Ah, mas no Natal do ano passado nós não

HELENA — Ah, saiu-se muito bem. Está perdoado!

LUCAS — Também quero segurar ela no colo pra você

SELMA — Não tem que ser oferecido, Lucas!

HELENA — Quero que todo mundo que está aqui apareça

MIROEL — É porque moramos muito longe!

GISELLE — Ah, tia Helena, deixa eu segurar ela um

ANNA — Depois, Giselle, e tem que estar sentada, pra

SÉRGIO — Mas o primeiro com o Francisco, pai.

ALEX — É verdade, filho. (CORTA) Deixa ensinar pra ele,

SÉRGIO — Claro que lembro! Cresci ouvindo essa história

ALEX — Você e a Nanda!

ELISEU — Não podíamos deixar de vir. Este foi um ano

MARTA — Fico feliz que tenham se lembrado da gente!

VERÔNICA — Como lembrado, Marta? Você é a minha família!

SÉRGIO — (PARA KELLY) Tudo bem?

KELLY — (VAIDOSA) Tô bonita neste roupa?

ELISEU — Trouxe um panetone italiano pra vocês! E uma

ALEX — Quanta gentileza, Eliseu!

VERÔNICA — Vamos pra casa de alguns amigos, mas

CARMEN — Onde será que esse homem se meteu na noite

CARMEN — Tô atrás do Greg, pô! Ele jurou que ia aparecer!

MÁRCIA — Você sabe muito bem que ele não vem!

CARMEN — Mas vai aonde passar o Natal?

GREG — Estou ficando viciando nessas aparições súbitas,

HELENA — Pensei que você passasse o Natal com a sua

GREG — Pode me gozar, que eu mereço. (ENTREGA O

GREG — Mas é claro! Quantos quiser!

HELENA — No rosto, sim senhor! (CORTA) Vem aqui.

GREG — Muito prazer, Clara.

HELENA — Ela é minha.

HELENA — Você me ajudou a decidir.

HELENA — Não me falou pra eu seguir o meu coração? Pois

CENA 22/ HOSPITAL/ EXTERIOR/ DIA.