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Confissão

A Natureza dos Sacramentos


ANTÔNIO DONATO

Aula 1

[versão provisória]
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A primeira coisa que devemos saber: quando nos confessamos, estamos recebendo um
sacramento. Portanto, antes de entendermos o que é propriamente a Confissão, temos de
entender o que é um sacramento e, por sua, vez, como eles se inserem na vida cristã.
A finalidade da vida cristã não é confessar-se. Essa finalidade é algo pelo qual todos anseiam,
mas poucos sabem que existe. O ser humano, quando foi criado por Deus, não era como se vê
atualmente – decaído, pecador, afastado de Deus e descrente da Sua existência; assim são
muitos. O ser humano gozava do estado de graça no paraíso terrestre e estava muito próximo
de Deus, quando foi criado. Deus conversava com ele intimamente. O homem era muito
inocente. Deus não precisou sequer dar-lhe mandamentos. Na sua inocência, ele evitava o mal
e buscava o bem. Ele era íntimo de Deus. Deus unicamente pediu que ele não comesse os frutos
de uma árvore que havia por ali. Fora isso, Deus não se preocupou em orientar o ser humano,
pois ele era tão inocente e puro que não precisava disso, bastava que ele soubesse de um detalhe,
do que não era para fazer. Infelizmente, ele transgrediu justamente esse detalhe.
Por causa dessa queda, perdemos a intimidade com Deus. Muitas pessoas duvidam que Deus
existe. Os que acreditam que Ele existe, pensam que Ele é um ser muito distante, com Quem
eles não têm intimidade nenhuma. Essas pessoas não procuram a santidade, a vida de comunhão
com Deus. Ao contrário, elas se metem numa vida desregrada, cheia de coisas que chamamos
de “pecado”. A maioria sequer reconhece que essas coisas são de natureza pecaminosa, que as
afasta de Deus mais ainda. Essa situação piora com o tempo. À medida que se comete essas
coisas, que se aprofunda nelas, os vícios se desenvolvem e a distância de Deus aumenta mais
ainda.
Deus, então, resolveu explicitamente “chamar o homem de volta”. Ele mandou vários profetas
– Moisés, Elias, Eliseu, Isaías, os profetas do Velho Testamento – que tentaram ensinar o ser
humano. Contudo, a verdade é que esses profetas, esses ensinamentos, prepararam a vinda do
maior de todos: Jesus Cristo, que veio para nos chamar para uma vida de comunhão com Deus,
de intimidade divina, onde se vive num nível muito mais alto; uma vida onde somos, sobretudo
visivelmente, filhos de Deus. Está escrito no Evangelho de São João: “Aqueles que receberam
a Cristo e que creram nele, nasceram não do sangue e não da carne, mas nasceram de Deus.
E Deus deu-lhes o poder se tornarem filhos de Deus”1. Então, a filiação divina é um dos nomes
que se pode dar àquilo que a tradição cristã chama de santidade, que o Velho Testamento chama
de “homens justos” ou “amigos de Deus”. O Cristianismo quer nos chamar, primeiro, a uma
comunhão com Deus. Essa comunhão implica necessariamente a uma comunhão num nível
mais alto com todas as pessoas que também estão em comunhão com Deus. Ela implica não só
no amor a Deus, mas também ao próximo, que também vai participar dessa comunhão. Então,

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Jo 1:12,13.
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uma vida de conhecimento profundo Dele, de intimidade, união e amor para com Deus e o
próximo, sob a perspectiva de Deus, é a finalidade do Evangelho, é o que o Cristianismo quer.
Algumas das coisas instituídas por Cristo para nos aproximar dessa comunhão são os
sacramentos. Na Igreja, nós temos sete sacramentos: o Batismo, a Crisma, a Penitência (ou
Confissão), a Eucaristia (o maior de todos), a Extrema-Unção (ou Unção dos Enfermos), o
Matrimônio e a Ordem. O Batismo é o primeiro dos sacramentos. Quando aceitamos o convite
de Cristo para, através Dele, da Sua graça e dos Seus méritos, reaproximarmo-nos da intimidade
divina, a primeira coisa a se fazer é sermos batizados: essa é a porta de entrada, isto é, sem o
sacramento do Batismo, os outros sacramentos não são válidos. Hoje em dia, no Brasil, a
maioria das pessoas que se convertem já foram batizadas na infância – elas não precisam se
batizar novamente [ao voltar para a Igreja]. A Crisma é um sacramento que é recebido uma só
vez na vida. O Matrimônio e a Ordem também são recebidos uma só vez – há uma exceção no
Matrimônio, que pode ser recebido novamente se a pessoa ficar viúva e quiser se casar
novamente. A Unção dos Enfermos pode ser recebida mais de uma vez, mas só em caso de
doenças graves. Geralmente as pessoas recebem a Unção dos Enfermos poucas vezes na vida e
próximos do fim. Os sacramentos que normalmente são recebidos muitas vezes são a Eucaristia
e a Penitência.
Os sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo. A Igreja não tem autoridade [0:10] de criar
novos sacramentos e nem de abolir um dos que existe – essa é uma doutrina comum e aceita
por ela. Os sacramentos foram criados por Deus e, apesar de todo o poder que Cristo deu à
Igreja – quando Ele disse no Evangelho que “todo poder lhe foi dado, tudo és Pedro, e sobre
essa pedra construirei a minha Igreja, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu e o que
desligares na terra será desligado no céu”2 –, ela possui seus limites. Ou seja, a Igreja não
pode, por exemplo, criar um novo livro da Bíblia. Ela não tem autoridade, por exemplo, de
arrancar um livro da Bíblia e nem de escrever um novo livro da Bíblia. Não tem o poder, por
exemplo, de abolir um elemento da lei natural. E, dentre outras coisas que ela não pode fazer,
a Igreja não pode abolir um dos sete sacramentos e nem criar um oitavo. Portanto, os
sacramentos são sete e apenas sete e continuarão sendo sete até o fim dos tempos.
Mas o que são os sacramentos? Na Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino explica muito
bem que os sacramentos são símbolos, isto é, eles simbolizam alguma coisa – outros explicavam
isso antes dele, não foi Santo Tomás de Aquino quem inventou essa explicação. Diferente dos
símbolos comuns e hodiernos, os sacramentos não apenas simbolizam o que significam: eles
produzem o que significam. É o contrário dos símbolos humanos, que apenas significam algo,
não o produzem.
Um exemplo claro disso: quando a pessoa se forma numa faculdade e recebe um diploma.
Aquela cerimônia de formatura é um símbolo. A cerimônia está simbolizando o médico, por
exemplo, que a pessoa se tornou, mas ela não a faz um médico. Se um sujeito que não estudou
medicina durante seis anos receber um diploma, ele não se tornará médico por causa disso.
Digamos que esse sujeito [imagina] ter descoberto o jeito fácil de virar médico sem ser preciso
estudar: “Eu entro de esperto na cerimônia de formatura, recebo o diploma e aí eu já viro
médico” – assim que ele fizer a primeira cirurgia, ele vai matar o paciente. Portanto, a cerimônia
de formatura da medicina não o produz o médico; ela apenas simboliza, diante da sociedade, o
médico que a pessoa já é. E assim por diante. Todos os símbolos são isso. Por exemplo, quando
você beija uma pessoa: isso é um símbolo do carinho que você tem por ela. Se você não ama
essa pessoa, não é o beijo que irá produzir o amor – isso é evidente.
Os sacramentos, ao contrário de todos esses exemplos, são símbolos que produzem realmente
o que significam. E por que eles fazem isso? Tomemos um exemplo. O Batismo é um símbolo

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Mt 16:18,19
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manifesto. Há várias maneiras de se batizar uma pessoa. Hoje em dia a maneira mais comum é
derramando água na cabeça da pessoa. Uma pessoa pega a criancinha, ou mesmo um adulto,
joga água na cabeça dela e diz as palavras do Batismo: “Eu te batizo, em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo”. Batizar significa “lavar” em grego. Então, quando alguém batiza uma
pessoa, ela está dizendo: “Eu estou te lavando, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
A cerimônia do Batismo, portanto, é um ato de lavar, por isso usamos a água. Antigamente as
pessoas eram batizadas mergulhando-as dentro da água mesmo, como se elas tivessem tomando
um banho – ainda se pode fazer isso nos dias de hoje, mas não se costuma fazer mais. Sendo
assim, o Batismo produz aquilo que ele significa: a pessoa que é batizada é, na verdade, lavada
dos seus pecados.
A Confissão, por exemplo, simboliza um tribunal. O acusador, isto é, o promotor, que no caso
é o próprio réu, vai e se acusa dos próprios pecados. Há também o juiz, que está julgando, e que
dará uma sentença. E, se a pessoa provar que é culpada, a sentença, no sacramento da Confissão,
é a absolvição – ao contrário da sentença dos tribunais, que geralmente é uma condenação. Ou
seja, o réu que se acusa, que prova que é culpado, que reconhece a sua culpa, ele em vez de
receber uma condenação, ele recebe uma absolvição. Isso é o símbolo de um julgamento, só
que ele produz o que ele significa, ou seja, ele realmente apaga o pecado e introduz dignamente
a graça santificante naquele que se confessa.
Na Eucaristia, a mesma coisa. Ela representa um banquete, uma refeição. Temos ali a parte
sólida da refeição, que é o pão, a parte líquida, que é o vinho, e a mesa, que é o altar – a mesa
ao mesmo tempo é um altar, porque a Eucaristia é um sacrifício, e uma mesa, porque [o
sacrifício] é uma refeição. A Eucaristia significa uma refeição que você está recebendo e essa
refeição é o símbolo de uma refeição espiritual que ocorre realmente na alma humana. Santo
Tomás de Aquino diz que a refeição serve para duas coisas: (i) para produzir o crescimento e
(ii) para restaurar as forças perdidas. Ao simbolizar uma refeição, a Eucaristia produz realmente
o que significa: uma restauração das forças espirituais perdidas e um crescimento na vida da
graça, que se dá através do amor. E assim por diante. Todos os sacramentos são símbolos que
produzem espiritualmente as realidades que eles significam. Eles não são ritos meramente
simbólicos. Eles são ritos que produzem de fato o que eles significam. E o que eles significam
realmente?
Todos os sacramentos produzem um aumento de graça em quem as recebe ou produzem a
própria graça quando a pessoa não a tem na alma humana. A graça, na tradição cristã, é uma
qualidade sobrenatural. É uma luz divina que é recebida. Ela é infundida [0:20] por Deus, é criada
por Deus na pessoa que a recebe para que ela possa participar da vida divina. Para que ela não
seja apenas biologicamente humana. Para que não seja apenas da espécie humana, apenas um
animal racional. Para que ela seja também filho de Deus. Então, a graça é uma qualidade
infundida no ser humano, pelo qual ele participa realmente da vida divina. A graça tem a
seguinte característica: ela cresce, ela desenvolve-se. Ela é um organismo sobrenatural que é
infundido junto com ela. A graça não é uma coisa amorfa. Na verdade, ela constitui todo um
organismo sobrenatural que é infundido sob esse nome de graça, com o qual nos referimos.
É justamente o crescimento da graça que produz a santidade que vemos nos santos da história
da Igreja e nos santos do Velho Testamento. A gente vê que os santos eram capazes de atos de
virtude que são praticamente supra-humanos. Qualquer pessoa que tentasse imitá-los não
conseguiria e, se o tentasse verdadeiramente, ficaria exaurido, porque [essa disposição] está
acima das forças humanas – o que para os santos era algo natural. Essas coisas se dão não
porque a conversão é simplesmente uma mudança de opinião – como quando entramos para um
partido e passamos a adotar ideias diferentes, a adotar uma concepção de mundo diferente. A
conversão ao Cristianismo realmente insere sobrenaturalmente no indivíduo uma graça
sobrenatural que, se permitirmos que se desenvolva, desabrochará na filiação divina.
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E o modo de crescer na graça é múltiplo. Os sacramentos são um desses meios, um desses


recursos. Quando recebidos corretamente e convenientemente, os sacramentos aumentam
verdadeiramente (ou infundem, quando não existe) a graça sobrenatural. Então, os sacramentos
são símbolos eficazes da graça que eles simbolizam e realmente produzem, são instrumentos
que Deus usa.
Num certo sentido, podemos comparar os sacramentos [às ferramentas de] uma oficina. Quando
você vai a uma oficina de carpinteiro, ele pode fazer certas coisas com as próprias mãos – como
colocar alguma coisa para cima, abaixar, separar pedaços de coisas, juntar umas coisas com as
outras etc. – e outras coisas com os instrumentos – um serrote, um martelo etc. Nesse caso, o
carpinteiro usa a serra a maior parte do tempo porque, como ele é um ser humano, ele é muito
limitado para carpintaria, ele só tem cabeça, ele precisa praticamente dos instrumentos para
tudo. A oficina do carpinteiro – nesse caso em que estamos fazendo a comparação – é a oficina
do próprio Deus. Deus não tem a limitação do ser humano, Ele pode fazer tudo do jeito que Ele
bem entende e diretamente. No entanto, Ele resolveu usar certos instrumentos para poder
veicular a sua graça, que não limitam a veiculação apenas a isso. Ele pode infundir a graça de
muitas outras maneiras.
Uma das maneiras de crescermos na graça é através da oração. O maior instrumento para
canalização da graça que já houve, de todos os tempos, é a própria pessoa de Cristo. Em Cristo,
Deus se encarnou e se fez homem para usar da humanidade do Cristo Ressuscitado como
instrumento da graça; e os sete sacramentos são instrumentos da natureza humana do Cristo.
Ou seja, o próprio Cristo, em Sua humanidade, é instrumento da graça divina e os sete
sacramentos são alguns instrumentos a mais que o Cristo tem para infundir a graça. Na verdade,
quando os sacramentos infundem a graça, não são eles que estão infundindo a graça, eles são
instrumentos nas mãos de Jesus Ressuscitado para infundir a graça em nós.
E verdadeiramente – eu posso dizer isso não só pela tradição cristã, mas por experiência pessoal,
a qual vocês provavelmente logo terão; isso não é uma coisa nada teórica – você percebe isso
experimentalmente, principalmente no caso da Confissão e da Eucaristia. É muito visível que
os sacramentos são instrumentos de uma graça que realmente é conferida. Isso não é nada
imaginário. É uma coisa bem palpável, caso nos aproximemos devidamente desses
sacramentos.
Pois bem. Os sacramentos são realmente instrumentos usados não só por Deus, quer dizer, eles
são instrumentos usados pela humanidade do Cristo Ressuscitado, na verdade. Jesus ressuscitou
e subiu ao Céu, porém Ele não dissolveu a natureza humana com que tinha se unido. Ou seja,
Ele continua vivo em sua natureza humana. Existe algum lugar físico, algum lugar no universo,
onde Ele, de uma forma gloriosa, está realmente ressuscitado até hoje com carne, ossos, olhos,
etc. E de onde Ele está, Ele nos vê a todos e, estando unido a todos aqueles que pertencem ao
Seu corpo místico, Ele nos canaliza essa graça pela qual podemos crescer na santidade.
Dentre as muitas maneiras que Ele pode usar para transmitir a graça, existem sete
“aparelhinhos”, sete “instrumentos” criados por Ele, que são os sete sacramentos. A Igreja foi
criada por Nosso Senhor Jesus Cristo, dentre outras coisas mais, para poder dispensar esses
sacramentos. Se não houvesse a Igreja, não haveria oficina onde pudéssemos acedê-la. Se não
houvesse Igreja, teríamos de buscar a graça que vem do Cristo apenas através da oração ou de
outras maneiras. Com a Igreja, conhecendo bem como funciona os sacramentos, isso torna-se
uma ajuda absolutamente tremenda e normalmente vital.
E aqui nos vem uma pergunta. Se a graça vem através do Cristo, se a graça pode vir através da
oração, se a graça pode vir espontaneamente – como vem frequentemente, pois Deus usa da sua
benevolência para conosco, Ele infunde a graça em nós, inclusive sem que façamos uma oração,
e nos transforma –, por que não bastaria um sacramento? Por que há sete?
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Umas das coisas importantes que temos de perceber é que, além da graça em geral, isto é, da
graça santificante [0:30] que os sacramentos produzem, os sacramentos também produzem graças
especiais, eles têm maneiras diferentes, maneiras específicas de agir no ser humano.
Vemos, por exemplo, que o sacramento da Confissão, além de infundir a graça (ou de aumenta-
la), também fortalece o penitente de um modo especial contra a fraqueza do pecado – isso é
muito nítido. Quando nos confessamos regularmente, percebemos nitidamente que vamos
ficando mais fortes contra o pecado.
No caso da Eucaristia, ela é um sacramento de amor. Ela existe para nos ensinar a amar o Cristo.
Quando recebemos a Eucaristia, naquele pãozinho e naquele vinho estão realmente presentes o
Corpo, a Alma, o Sangue e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aquilo, inclusive, é pão
só na aparência, isto é, tem a aparência de pão e o gosto de pão, mas na verdade não é pão, é o
Corpo de Cristo. E o vinho tem aparência de vinho, mas é o Sangue de Cristo.
Quando comungamos, recebemos a presença real de Cristo na Eucaristia. Porém, essa presença
não dura muito tempo. Quando comungamos, a presença eucarística de Cristo dura apenas o
tempo em que demora a aparência de pão ser dissolvida pelo estômago. Ou seja, quando a
aparência de pão desaparece e ele se transforma em outra coisa, a presença do Cristo desaparece,
porque ela está contida no símbolo – enquanto o símbolo permanece, a realidade permanece;
quando o símbolo se desfaz, a realidade se desfaz. Quando comungamos, o Cristo permanece
eucaristicamente junto de nós apenas durante um tempo curto, uns cinco a dez minutos apenas.
Nesse ínterim, o efeito próprio da Eucaristia, além de infundir-nos a graça, é o de, no caso de
nos recolhermos para crer e amar o Cristo que está lá presente, Ele de fato nos ajuda a amar de
uma maneira muito mais profunda do que conseguiríamos se nós estivéssemos tentando amá-
Lo de outra maneira. Existe uma força que vem da Eucaristia para nos levar ao amor e que
depende – isso não é automático – do grau de fé e de amor com que a pessoa se aproxima. Aqui
inclusive poderíamos dizer: “Ora, se a pessoa já se aproxima com fé e amor, então não é a
Eucaristia que a produziu. É ela mesma, por causa da sua fé e do seu amor, que acabou amando
o Cristo naqueles dez minutos”. Entretanto, o fato é que com o tempo a gente percebe que o
amor que a gente recebe [na Eucaristia], que a experiência de comunhão que a gente obtém na
Eucaristia está além da preparação que podíamos ter. [Interrupção]
O efeito próprio da Eucaristia é levar o amor ao ato; é produzir um ato de amor mais profundo
do que aquele que conseguiríamos fazê-lo, mesmo com a ajuda da graça, porém sem Eucaristia.
E isso obviamente faz com que a Eucaristia acabe sendo o maior de todos os sacramentos,
porque o maior de todos os mandamentos é amar a Deus de todo coração, de toda a alma, com
todas as forças e com todo o entendimento – a Eucaristia produz exatamente isso. Ela não é
apenas uma chance de amar o Cristo. Quando comungamos com verdadeira devoção e com
verdadeira fé, a Eucaristia não só multiplica a nossa capacidade de amar, mas ela permite que
amemos de uma maneira totalmente distinta, de uma maneira muito suave, mas totalmente
sobrenatural.
Perceba que se você fizesse um retiro, rezasse o terço, lesse a Bíblia, peregrinasse para
Jerusalém ou para o Vaticano, se você pudesse fazer qualquer uma dessas coisas, você não
conseguiria reproduzir a experiência que, sem necessidade de uma santidade eminente, você
consegue na Eucaristia realmente. Tem alguma coisa de sobrenatural na Eucaristia que age
sobre nós e que nos permite uma experiência de amor e comunhão com o Cristo, que não é
obtenível em nenhum outro lugar. Isso é o que o próprio sacramento deveria estar produzindo,
isto é, não é mera teoria, mas uma coisa bem concreta.
Os sacramentos são símbolos de uma realidade que eles mesmos produzem. No caso da
Eucaristia, ela produz uma refeição espiritual, que vem por um amor levado ao ato. Todos os
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sacramentos são assim, mas isso aí é particularmente mais nítido na Confissão e na Eucaristia,
que são os sacramentos que costumam ser recebidos mais frequentemente.
Um efeito próprio do sacramento da Confissão é que, além de perdoar os pecados por infusão
da graça [...] A Confissão perdoa os pecados não de um ponto de vista contábil: não é que você
vai se confessar e tem um anjinho ouvindo, que manda um telegrama para o céu e manda abrir
o livro da contabilidade e apagar o [registro do] pecado cometido. Na verdade, a Confissão não
apaga diretamente o pecado, ele infunde a graça e, ao infundir a graça, ele apaga o pecado,
[pois] as duas coisas são incompatíveis.
A Confissão também infunde a graça de uma maneira que, nitidamente, nos fortalece contra o
pecado. Você percebe isso porque, quando você vai se confessar, você tem de se arrepender
dos pecados e tem de se propor a não pecar mais. Se você não se preparar dessa maneira, a
confissão não é válida. Então, a pessoa já tem de ir determinada a não pecar. Só pelo fato de
fazer isso, ela já deveria ter se tornado mais forte contra o pecado. Entretanto, o fato é que
normalmente, depois de recebermos a absolvição sacramental, percebemos que ficamos mais
fortes contra aqueles pecados que nos propusemos [ficar], em relação ao que era de se esperar
apenas pelo propósito feito. Ou seja, uma força a mais veio com o sacramento que nos fortalece
contra o pecado. E isso não é subjetivo, isto é uma experiência concreta de quem recebe os
sacramentos habitualmente dignamente.
E na Eucaristia é a mesma coisa. A pessoa já tem de se aproximar da Eucaristia como quem vai
amar o Cristo. Para a pessoa receber a Comunhão, já se pressupõe que ela ame o Cristo ou que
esteja disposto a amá-Lo. Mas normalmente saímos de lá com alguma coisa a mais que
percebemos que não é o que pusemos, uma força saiu de lá. [0:40] E a mesma coisa acontece nos
demais sacramentos. Só que nos demais sacramentos as coisas funcionam de uma maneira
diferente. Como normalmente somos batizados na primeira infância, acabamos por perder a
referência do que foi que o batismo produziu em nós. Ou outras pessoas que se batizam de
adulto, elas se batizam quando a vida espiritual delas está mal começando, então o efeito dos
sacramentos normalmente no início da vida espiritual é bem suave. Como a pessoa se batiza de
adulto, se batiza uma vez só, e a vida espiritual está muito no início, geralmente ela não
perceberá muita coisa. Mas para quem está acostumado a receber a Eucaristia e ir à Confissão,
e tem um pouquinho só de vida espiritual séria, é muito visível que os sacramentos funcionam
exatamente desse jeito. Então, eles são como que instrumentos de uma carpintaria, onde O
Carpinteiro – que no caso não é diretamente o próprio Deus, é o Deus encarnado, é Jesus – faz
algumas coisas por Ele mesmo e outras Ele usa certas ferramentas, certos instrumentos –
“martelo”, “bigorna”, “serra” etc. –, que são os sete sacramentos, com os quais Ele vai
trabalhando a nossa alma para produzir e incrementar a graça.
Tudo isso foi prefigurado de uma maneira muito clara nos Evangelhos. Principalmente e mais
claramente no episódio da mulher que padecia de fluxo de sangue, uma mulher que tinha
hemorragia constante. Observem, os Evangelhos dizem que Jesus só podia fazer milagres se as
pessoas que os recebiam tivessem fé. O Evangelho diz que Ele foi a certos lugares e não podia
fazer milagre nenhum porque as pessoas não tinham fé. Normalmente, quando lemos isso, as
pessoas ficam meio confusas e pensam que então não era Cristo quem fazia os milagres, era a
fé das pessoas; elas entendem que Cristo não poderia fazer os milagres, nem Ele mesmo
querendo, se as pessoas não tivessem fé. Mas essa interpretação não é correta!
Nós vemos exemplos, na História da Igreja, de santos que fizeram milagres mesmo as pessoas
não tendo fé. O caso mais emblemático desses aconteceu, na Idade Média, com São Bernardo
– um santo que viveu um século antes de São Francisco e foi amigo de Hugo de São Vítor, os
dois trocavam correspondências. Hugo de São Vítor, que era um bom teólogo, foi consultado
por São Bernardo a respeito de uma questão de doutrina; se não me engano, uma questão sobre
o Batismo. Nessa época, São Bernardo era um grande pregador e aconteceu este fato, que
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elucida muito o Evangelho. Um bispo o chamou para pregar na cidade dele, porque as pessoas
tinham caído em heresia. Como o bispo não sabia mais o que fazer, pediu a São Bernardo que
fosse lá pregar, porque esse era um pregador famoso e ele esperava que esse convertesse todo
mundo. Porém, a situação era muito ruim. São Bernardo foi apresentar-se na catedral e o povo
todo foi ouvi-lo, porque ele era famosíssimo – mais famoso do que o Padre Marcelo Rossi, a
fama do Padre Marcelo é grande, mas perto da fama que São Bernardo tinha, esse é um zero à
esquerda. A fama que São Bernardo tinha era uma coisa absolutamente descomunal. Então, foi
todo mundo ouvir São Bernardo na catedral, querendo ou não querendo, não iam perder essa
oportunidade por nada nesse mundo.
O que é impressionante é que depois de São Bernardo ter falado tudo, não se converteu
ninguém. Então, São Bernardo falou para o bispo: “Realmente, a coisa aqui está muito ruim. É
preciso um remédio mais forte”. Então, ele mandou vir um monte de pãezinhos, abençoou-os
antes de ir embora e disse: “Para provar que o que estou falando é verdade, eu declaro a vocês,
em nome de Jesus Cristo, que todos os que estiverem doentes de qualquer coisa que comerem
esse pãozinho, ficarão imediatamente curados”. Todo mundo ficou espantado. Até o bispo ficou
espantado. O bispo pediu a palavra e disse: “Gente, eu estou com um pouco de receio dessas
palavras do irmão Bernardo. Ele disse que todo mundo que comer desse pão ficará curado
imediatamente de qualquer doença que tenha, mas vocês têm de entender que, claro, é somente
as pessoas que tenham fé, porque senão não vai acontecer nada”. Nisso, São Bernardo pediu a
palavra e disse: “Excelência, o senhor me desculpe, mas eu acho que talvez o senhor mesmo
não me tenha entendido, o que foi muito bom, porque agora eu posso explicar melhor. Eu não
estou exigindo fé para as pessoas comerem desse pão, eu estou prometendo que qualquer pessoa
que coma desse pão, que tenha qualquer doença, acreditando ou não acreditando, inclusive se
fizer por desprezo, só para provar que não vai acontecer nada, essa pessoa também vai ficar
curada” . Na hora em que ele falou isso, houve uma corrida pela disputa dos pães. E eles levaram
para as pessoas mais descrentes e doentes que comeram o pão só para desprezar o pão. E o
curioso é que ficaram todos curados. Quando o pessoal viu isso, a conversão foi total, acabou a
heresia.
É uma das coisas mais espantosas que nós vemos na história da Igreja, esse milagre de São
Bernardo. Ele conseguiu obter de Deus um milagre, cuja a regra era: “Basta que coma do pão,
não precisa acreditar em nada”. E que inclusive podia comer por desprezo, desde que comesse.
Coma, despreze para provar que não é verdade, e você ficará curado, não importa a doença que
você tenha – seja cego ou paralítico. Ele só não garantiu ressuscitar um morto, mesmo porque
um morto não ia comer o pão; mas o resto, era garantido. E aconteceu do jeito que ele disse.
Pois bem. Isso mostra que o poder de Deus para fazer milagres não exige a fé das pessoas. Se
Deus quiser, Ele pode fazer um milagre mesmo a pessoa não querendo, mesmo ela pessoa
desprezando o próprio Deus. Ele pode ressuscitar um morto, pode curar um doente, pode fazer
o milagre que Ele quiser.
Portanto, quando o Evangelho diz que Ele não podia fazer milagres porque as pessoas não
acreditavam, esse “não podia” não significa que ele não pudesse fazê-lo absolutamente, mas
que Ele não tinha a permissão do Pai de fazer um milagre se a pessoa não tivesse fé. Quer dizer,
Jesus poderia fazer, mas ele estava proibido de fazê-lo; ele estava impedido de fazê-lo, por
algum motivo. [0:50] Ora, Jesus era muito maior do que São Bernardo, se São Bernardo
conseguiu fazer um milagre sem exigir a fé das pessoas, inclusive pressupondo o escárnio, Jesus
com certeza poderia fazê-lo com maior facilidade. Portanto, se Ele não o podia, é porque Ele
não tinha licença.
E Ele não tinha licença porque seus milagres eram simbólicos. Eles eram reais, mas eles
simbolizavam uma outra coisa, simbolizavam materialmente a regeneração espiritual. Tanto é
assim que, quando Jesus fazia um milagre, quando Ele curava uma pessoa, Ele não dizia “A tua
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fé te curou”, Ele dizia “Filho, vá em paz, a tua fé te salvou”. Mas salvou do quê? Se ele tinha
pedido para ser curado da cegueira, da paralisia? Ele tinha pedido uma cura e, em vez disso,
Jesus disse: “A tua fé te salvou”. Aqueles milagres simbolizavam a cura interior que viria depois
da Ressurreição dele, pela fé, que é algo que Deus não pode fazer, se a pessoa não crer. Deus
não pode regenerar espiritualmente a alma de alguém, se este alguém não crer. Ele pode obrigar
o fulano a crer, mesmo contra a vontade dele, isto é, se ele não quer crer, então Deus pode fazer
um milagre, infundindo a fé na alma do indivíduo, porém Ele não pode infundir a graça sem
que o fulano creia – é contraditório. Portanto, Ele pode fazer fulano crer e daí, junto com a fé,
vir a graça. Mas Ele não pode infundir a graça e ao mesmo tempo esse fulano teimar de ficar
no erro e na descrença – não existe isso, pois a graça produz por si mesma uma luz pela qual a
pessoa vê.
Como Jesus verdadeiramente veio para produzir milagres espirituais, Ele veio infundir a
santidade, veio infundir a graça. Aqueles milagres que Ele fazia enquanto estava vivo eram uma
espécie de sacramento – não no mesmo sentido dos sacramentos que estamos falando agora,
mas era um sinal. Ele curava a paralisia, mas estava tentando mostrar para as pessoas como
funcionava o milagre espiritual que viria depois da Ressurreição. Então, Ele exigia a fé, porque
sem a fé não existe regeneração espiritual, nem com o poder de Deus. Deus pode regenerar um
fulano que não quer crer, mas no momento em que ele se regenerar, ele tem de estar crendo. Se
não isso daí é a mesma coisa que curar um cego sem que ele veja, ele continua cego. Se você
curou o cego, ele está vendo; se ele não está vendo, é porque não o curaram. O ponto de partida,
a primeira de todas as coisas que a verdadeira regeneração espiritual produz é o crer, o resto
vem tudo em seguida. A fé é o ponto de partida da vida espiritual.
Jesus estava proibido de fazer milagres por causa disso, por conta daquelas pessoas que não
tinham fé. Ele ia a um lugar, se as pessoas não tinham fé, Ele estava proibido de curá-las. Pois,
depois de todos aqueles milagres, como Ele ia dizer depois “Filho, a tua fé te salvou”? Ele não
poderia dizer isso para o fulano que foi curado sem fé. Mas se Ele quisesse, Ele poderia curá-
las.
E aconteceu uma coisa muito curiosa, que mostra a natureza dos sacramentos. No meio de todos
os milagres que Ele fez, tem um particularmente impressionante: o milagre da mulher que
padecia de fluxo de sangue. Havia uma mulher que tinha hemorragia constante, que tinha
gastado todo o seu dinheiro com os médicos – assim fala o Evangelho – e não tinha adiantado
nada. E ela soube que Jesus estava passando – quando Ele estava passando, e Ele estava no
meio de uma multidão, apertado por todo mundo, ela pensou: “Se eu colocar a mão nele, eu
ficarei curada. Pelo menos na roupa dele”. E aí ela foi e conseguiu, sem que ninguém
percebesse, colocar a mão em Jesus. Na mesma hora, ela disse que sentiu uma força que saiu
do Cristo e a curou; e o Cristo também percebeu essa força, não foi somente ela. Percebendo, o
Cristo, que uma força tinha saído dele, perguntou: “Quem foi que me tocou?”. Todo mundo
começou a rir. Ora, perguntar, no meio daquela multidão que o estava espremendo, quem foi
que lhe havia tocado, é a mesma coisa que chegar na Floresta Amazônica e perguntar onde tem
uma árvore. “Mestre, o Senhor não está vendo que todo mundo está te apertando, e você está
perguntando quem O tocou? Que pergunta é essa?”. E Ele disse: “Uma força saiu daqui de
dentro”. Aí, a mulher que estava lá num cantinho, que O tinha tocado e já tinha sido jogada para
fora pela multidão, entendeu que Ele estava se referindo a ela, porque ela tinha percebido essa
força. E aí ela disse: “Fui eu”. Aparentemente é ridículo, porque tinha sido todo mundo. Mas
aí Jesus disse: “Filha, a tua fé te salvou”.
Na verdade, isso é um símbolo do que viria depois com os sacramentos. Durante a vida terrena
de Jesus, Deus lhe deu ampla permissão para curar doenças, a fazer milagres corporais, com
uma única condição: a pessoa tem de ter fé. O Pai deve ter dito ao Filho: “Não Me vá fazer
milagres se fulano não acreditar, ainda que o possa. Daí Tu dirás ‘Filho, a tua fé te salvou’. Que
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é para ele entender que Tu estás se referindo a outra realidade”. Nesse caso em especial, um
monte de gente estava tocando o Cristo, mas a força não saiu Dele para ninguém. Só a pessoa
que cria, que recebeu essa força. A mesma coisa ocorre com os sacramentos.
Ademais, essa força não era subjetiva, porque não foi só a pessoa que a sentiu; o próprio Cristo,
que teoricamente não devia ter percebido nada, que não devia estar consciente disso, apesar de
sabermos que Ele sabia, disse que sentiu a força sair Dele. Então, essa força não era produto de
auto-sugestão da pessoa, porque senão o Cristo não a tinha percebido. Você pode auto-
sugestionar-se que se você colocar a mão em um poste determinado da Avenida Paulista, você
ficará curado: você se sugestiona tanto que você vai lá no poste e fica curado. Mas na hora em
que você vai examinar a estrutura do poste, você não verifica que nenhuma força tenha passado
pelo poste e modificado a estrutura do poste, é apenas da sua auto-sugestão. Nesse caso, o Cristo
percebeu a força. Então, é uma força que agia através da fé, pré-condicionada pela fé, mas que
era objetiva e que não agiu simplesmente porque as pessoas O tocaram, isto é, a pessoa tinha
de ter uma reparação. Nos sacramentos acontece uma coisa assim.
Depois da Ressurreição, Jesus não está tão interessado em curar a doença das pessoas, porque
elas morrerão de qualquer maneira, mais cedo ou mais tarde. Ele está interessado em curar
espiritualmente as pessoas. E os sacramentos foram feitos para fazer esse tipo de milagre, só
que espiritual. E percebemos que isso funciona, que existe essa força. E em particular, no caso
da Confissão, percebemos essa força. Além de crermos que os pecados foram perdoados – pois
isso não dá para ver, não dá para sentir –, dá para perceber que a Confissão lhe introduz uma
força para que você seja mais forte contra o pecado. Essa força não é algo natural, é uma força
diferente daquelas que você consegue pelo propósito, pelo arrependimento, pela meditação,
pelo próprio esforço pessoal. Na Eucaristia, percebemos, [1:00] ainda que de maneira bem suave
inicialmente, que existe uma força sobrenatural que nos está ajudando a aprender a amar e a
cumprir o Primeiro Mandamento de uma maneira mais profunda e que isso é proporcional à fé
e o amor com que nos aproximamos dos sacramentos. E, apesar de ser proporcional, o efeito
está além do que esperaríamos apenas do que vem através dessa preparação que possamos ter
feito.
Então, os sacramentos são basicamente para isso. E nesse sentido inclusive os sacramentos
servem para desencadear e iniciar uma vida espiritual mais profunda. Na medida em que a
pessoa vai adquirindo essa intimidade com o sagrado através dos sacramentos, uma das coisas
que devemos fazer, por exemplo, é tentar procurar a mesma intimidade e reproduzir o mesmo
amor que aprendemos com a Eucaristia na vida de oração. Se a gente, através da Eucaristia
recebida devotamente, credulamente e dignamente, percebe a força que emana daquilo,
basicamente tentamos imitar na oração o que aprendemos com a Eucaristia, para assim
podermos começar uma vida de oração. Então, além deles servirem de canal da graça, eles são
com um farol para a vida espiritual, um farol experimental, um farol concreto. Então, a vida
espiritual obviamente não se limita aos sacramentos e o canal da graça não é apenas os
sacramentos, apesar de eles serem instrumentos importantíssimos. É como numa oficina de
carpinteiro, onde o martelo não é tudo, mas é muito difícil trabalhar sem ele na carpintaria: a
pessoa até pode se virar, mas sem o martelo, que é o instrumento oficial, torna-se complicado
gerir a carpintaria; apesar de não ser impossível, principalmente se o carpinteiro for divino. O
que vemos, portanto, é que o próprio carpinteiro divino não quer dispensar o “martelo”, pois o
“martelo” é parte integrante do serviço da oficina.
Expomos aqui a natureza do sacramento em geral. A confissão é um dos sete sacramentos. Da
próxima vez, eu lhes explicarei mais exatamente como funciona o sacramento da Confissão.
Depois disso, eu explicarei os pontos básicos da moral cristã, que são necessários para
realizarmos uma boa Confissão. No finalzinho, mostramos como isso se ordena à Eucaristia e
como essa se ordena à oração. Obviamente, isso não é toda a doutrina cristã, isso é só a
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preparação para a Confissão. Portanto, isso não nos dispensa de estudar e aprofundar o resto,
que é um mar enorme. Isso aqui é apenas um instrumento de uma oficina, a oficina onde tem
as coisas mais maravilhosas que existem e em número enorme. [1:04:44]

Transcrição: Jussara Reis


Revisão: Rahul Gusmão

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