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1",

PROPAGANDA LIBERAL

liONITA SECREÍI
(Instrucções secretas dos jesuítas)
OLvii altribitidíi fio padre
011.^^X1 Ü I O ^VQTJAVIVA

4." Cjekai. ioos Jesuítas

COM UM BREVE PEEFACIO

"Não vcncos, núo, despotismo!


a cVòa as roupctas,
chovíjin nas ímpias bavonclas
as bu^nçáos dos Cardcâcs !
V<'>s tendes o Vaticano,
nós 't luz da conscioncin,
que emíina da providencia
scMii biillas poiitilicnes1
PINHEIRO CHAGAS.»

PRKÇO
Portugal 100 réis
Brazii 400 "

o pi'odiicto liquido'da -venda 'd'este opusoulo


reveirte a favor da Eiícola graluita 51 do
JaiTeiro. rua,do Soovonno, 44, 2.", Lisboa.
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PROPAGANDA LIBERAL

MONIÍll SECBETA
(Instrucçôes secretas dos jesuítas)
Ob?\7 altribuida ctO padre

OL-A.XJOIO

4." Gekal dos Jesuítas

COM UM BREVE PREFACIO

«iNão vences, não, despotismo!


Una-se a c'rüa ãs roupctas,
chovam nas ímpias bavonetas
as bênçãos dos Cardeães !
Vós tendes o Vaticano,-
nós a luz da consciência,
que emana da providencia
sem bullas pontificaes !
PINHEIRO CHAGAS. .•

PREÇO
Portugal 100 réis
Brazil 4-00 »

O producto liquido da venda d'este opusculo


2*eve2*te a favor da Escola gratuita 51 do
Janoii^o, rua do Soocorro, 44, 2°, Lishoa.

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Duas palavras
A Monita secreta que hoje vê a
luz da publicidade e em que se acham
eompendiadas as instrucções secretas
dos jesuítas, teve a sua ultima edição
cm Portugal, em 1881, devido á lou-
\'avel iniciativa de Carrilho Videira,
director da Jiibliothrcn rcjjKÒlicaua ão-
•mocmtica, á qual bastantes serviços de
propaganda deveu em tempos o par
tido liberal avançado.
Depois d'essa data, a Monita se
creta não teve,—salvo erro—no nosso
paiz, nem no Brazil, outra vulgarisa-
eão, que não fosse em jornaes e alma-
naehs, mas isso mesmo por uma forma
incompleta e quasi innetieaz pois que
alem de não serem publicados na inte
gra os interessantissimos eapitulos que

Ihíp^
Kl:

agora reunimos n'este volume, a maio


ria d'elles não é boje por certo conhecida
d'outras pessoas, que não sejam as
poucas que, entre o reduzido numero
de estudiosos e curiosos, sabem rebus
car no pó dos archivos as bollas e ins-
tructivas preciosidades que a seguir se
lêem 1
Provado que o meio mais proficuo
e mais leal—como dizia Carrilho Vi-
deira em 1881 —de bater os inimigos
ó vulgarisar-lhe as suas doutrinas, mal
pareceria pois que o documento, por
excellencia, compromottedor da moral
jesuitica, a Monita secreta, não tives
se—por isso que se acha exgotada—
uma larga e nova edição, especialmen
te n'este momento, em que a amaldi
çoada companhia de Jesus tenta vibrar
o golpe de morte nos princípios libe-
raes do nosso paiz, que ou se instrue e
se redime, libertando-se dos sectários
de Loyola, o\i íicará para todo o sem
pre amarrado á grilheta da deshonra o
da infamia !
A Monita secreta,que apenas tem em
vista divulgar os íins vergonhosos e in
fames da seita negra, é por todos os
titulos uma obra valiosa e insuspeita,
pela qual os leitores poderão formar
um juizo critico e seg-uro acerca dos
jesuitas,—e isto muito embora os cle-
ricaes pela voz da sua imprensa decla
rem amanhã apocripha a doutrina hon-
tem exposta e hoje seguida e defen
dida!
*• #

Para prova da authencidade das


Monitas secretas que até hoje teem sido
publicadas, damos em seguida alguns
ligeiros pormenores, sobre os quaes não
c licito a ninguém de boa fé ter duvi
das.
A primeira edição da Monlta Se
creta foi publicada em Paderborn, na
Westphalia, em lílGl, tendo sido por
essa occasião, encontrado em Paris
n'um convento de jesuitas um manus-
cripto de Prothier, bihliothecario dosje
suitas de Paris, e que confere com
pletamente com aquella.
No tribunal de justiça de Bruxel-
las existe também um exemplar da
Moníta secreta, encontrado na casa de
líuremonde, quando os jesuitas foram
perseguidos e expulsos da Bélgica.
Em França publicou Ch. Sauves-
Ire em 1861. uma outra edição da Mo-
nita secreta, que recebeu do publico,
apezar do seu preço elevado, uma enorme
acceitaçào, e a tal ponto que em 1872
contava mais de dez edições!
No Rio de Janeiro foi apenas em
1827 publicada uma Monita secreta,
(I) cujo manuscripto o editor declarou
ter encontrado na livraria de nm sábio
j)ortuguez, mas euja traducção ditfere
d'esta d'hoje (2), que é copia d'uma
Munita impressa em 1820 na oflicina
de Simão Thadeu Ferreira, em Lisboa,
e traduzida por J. S. de A.

(1) O dr. A. J. de Mello Moraes revela


na sua Chorographia histórica do império
do Brasil, de' i85<), que na biobliotheca do
Rio de Janeiro existe um autographo da
Monita, que o padre frei Camillo do Monte
Serrate affirma ter sido encontrado no
collegio dos padres da Companhia d'esta
cidade, em lySp.
Este e outros curiosos esclarecim.entos
encontram-se no prefacio da Monita secre
ta, de 1881, escnpto por Carrilho Meira.
(2) A presente Munita secreta é attri-
buida ao padre Cláudio Aquaviva, 4." geral
dos jesuítas e grande «reformador» da Òom-
panhia. O papa Sixto VI classifica-a porem,
no seu Index dos livros prohibidos, de apo-
cripha e caluinniosa. • .
Em Lisboa uão se publicou antes
cVesta, neubuma outra edição da íflo-
nita secreta, sendo porém, desde 1800
conhecidos alguns exemplares d'uma
edição francezade 1761,periodo em
que, como se sabe, osjesuitas estavam
expulsos de Portugal.
Na Imprensa Nacional foi mais
tarde feita 2.''' edição da Motlita se
creta, attribuindo uns os trabalhos
d'essa impressão a Braamcamp Cas-
tello Branco e outros a Joaquim Antô
nio Aguiar.
Em 18Õ9, finalmoiite, quando—da
mesma fôrma do que hoje—os jesuitas
eram admittidos em Portugal disfarça
dos em. . . cducadoycs, irmãs da cari
dade, lazaristas, etc, publicou-se uma
nova edição da Monita secreta, con
forme com a edição brazileira, a, que
atraz alludimos.

#
# •#

Como já dissemos, a presente pu


blicação visa exclusivamente a vulgari-
sar os principies e a moral dos jesuitas.
Longe de ser um trabalho inspira
do pelo lucro ou pela gananeia, este

1' ÍV) ;
8

opusculo cie projjaganda liberal deve ser


lido por todos quantos odeiam ahypo-
crysia e a preversidade, o erro e a men
tira, — as quatro armas de que os fal
sos apostolos de Christo se servem pa
ra a realisação das suas idéias tene
brosas, nefastas e immoraes!
O povo, a quem especialmente ó
dedicada esta nova edição da Monita
Secreta, tem tamberh aqui a maior e
melhor justiticaeão do seu odio aos re
voltantes abutres da seita negi-a que,
sob o patroeinio do alto clero e da aris
tocracia faz, viütimas como Sarah de
Mattos, em Lisboa; Rosa Calmon, no
Porto e Anna da Costa, em Aldega-
vinha!
O precioso documento que hoje se
apresenta ao publico constitue mesmo
o mais forte elemento de propaganda
contra o jesuitismo, pois que sendo
obra d'elle, —embora Nemo do Pelou
rinho nos affirme o contrario ! •- é tam
bém um aviso eloqüente e insuspeitis-
simo a todos os que ainda se não con
venceram qiie a causa da Liberdade é
a causa do Bem e da Justiça, da Ver
dade e da Honra, daPatria e do Fut uro !
2 de Maio de 1901.
Monita Seereta

PROLOGO

Os superiores devem cuidadosa


mente guardar á mão estas instrucções
secretas e não as devem communicar
senão a parte dos professos, elucidando
apenas alguns dos não professos, quando
a conveniência da Sociedade o exija, / ull
far-se-ha isto sob promessa de segredo,
communicando-as como se fossem o
producto da experiência própria, e
nunca como escriptas por outrem. E i.
visto que muitos professos sabem estes
segredos, a Sociedade, desde a sua ori
gem, deliberou que os que os saibam
não podem passar a outras ordens.


salvo a dos cartuxos, em virtude do
isolamento e silencio em que vivem e
o Papa assim lh'o confirmou
Ha que ter extremo cuidado em que
estas advertências não caiam em mãos
de estranhos, para que lhes não dêem
uma interpretação má por inveja á
nossa instituição. Sc tal succedesse,
do que Deus nos livre, deve negar-se
que os sentimentos da • Sociedaih', se
jam estes, fazendo com que assim o
affirmem os que por sciencia certa se
sabe que tudo ignoram, ou oppondo-
Ihes as nossas instrucções geraes e
regras, "impressas ou manuscriptas.
Oe superiores devem sempre inves
tigar cuidadosamente c com prudência,
se alguns dos nossos revelou a estra
nhos estas instrucções secretas e a
pessoa alguma se lhe permittirá. a co
pia, nem para si, nempara outrem, sem
consentimento do Geral, ou jielo menos
do provincial; e se se duvida que al
guém não c capaz de guardar segredo
despedir-se-ha. '
' ' ^ 5*
. i'.h

CAPITULO I

De que modo deve pr*ooedej' a SO


CIEDADE quando pnincipia algu
ma fundação

1.° Para se tornarem agraciaveis


aos vizinlios cia povoanão, muito im
porta explicar-lhes o objecto da Socie
dade, tal coipo está prescripto nas re
gras, onclò se diz que ei Sociedade de
ve dcdicar-se com tanto empenho á sal
vação do proximo, como á sua proi^ria.
Para este fim elevem nos hospitaes de-
sempenJiar as fimcçoes mais humildes,
visitar os pobres, os aíHictos e os pre
sos. E' preciso ouvir as confissões
com benevolência e ser muito in-
dulgente com os peccadores, para
que as pessoas mais importantes ad
mirem os nossos e os estimem, tanto
l)c]a caridade extraordinária que ma
nifestem para com todos, como pela
novidade da sua doçura.
2." Que todos tenham presente que
devem modesta e religiosamente pedir
os meios de exercer os cargos da So-

. A y. Íkjc —j'- .m[ • .


12

cúdade, e tratar de alcançar a benevo


lência, principalmente dos ecclesiasti
COS e dos seculares que exercem auc-
toridade, de que algum dia poderão
necessitar.
3." Também devem ir aos logares
afastados, onde receberão as esmolas
que lhes quizerem dar, por mais pe
quenas que sejam, depois de haverem
patenteado a necessidade que d'ellas
tem o s nossos. Em seguida dar-se-ha
esmola aos pobres, a fim de que façam
bom conceito da Socútdad.a os que
ainda a não conhecem e de que sejam
para comnosco mui generosos.
4." Que todos pareçam estar inspira
dos do mesmo espirito c que aprendam
a ter as mesmas maneiras, para que
a uniformidade em tão grande numero
de pessoas os torne sympathicos e res
peitados. Aos que assim não procede
rem, despedil-os-hão como prejudiciaes.
5." Ao principio os nossos devem
evitar o comprar propriedades; se po
rém o julgarem necessário, comprem-
n'as em nome de amigos heis, quo
prestem o nome apenas e que guar
dem segredo. Para que a nossa pobre
za se veja melhor, convém que as

• ./ii
I
terras que se possuam junto a qualquer
eollet^io estejam em nome de outros
aftastados, o que impedirá que os prini-
cipes e magistrados saibam a quanto
mcntam as rendas da Sociedade.
tí." Que os nossos não percorram
senão as cidade ricas com intenção
d'abi residir, em forma de collegios;
jjorque o fim da nossa Sociedade é
imitar Nosso Senhor Jesus Christo, o
qual SC demorava mais em Jerusalém
o apenas passava pelos logares menos
importantes.
7." A's velhas viuvas ha que enca
recer-lhes a nossa extrema pobreza,
l)ara lhes extorquir quanto dinheiro se
possa.
8.° Que só o provincial, em cada
l)rovincia, saiba a quanto ascendem os
nossos haveres; mas que a somma do
thesouro da Comjxodiia, em Roma,
seja um mysterio e segredo.
9." Que os nossos nas suas conver
sações preguem e digam que veem a ensi
nar as creanoas, a soccoi'rer os pobres
gratuitamente e sem distineção de pes
soas, de sorte que não são como as
outras ordens; um encargo para os
povos.
14

CAPITULO II

De que maneira os padres da SO


CIEDADE poderão adquirir e con
servar famiiiaridade com os prín
cipes, os grandes e personagens
importantes

1." E preciso consagrar os nossos


esforços e attrahir o animo e sympa-
thia dos prineipes e pessoas mais im
portantes, a lim de que ninguém se
atreva contra nos, antes pelo contrario
todos de nós dependam.
2." Como a experiência nos ensina
que os prineipes e os grandes senhores
são particularmente atfeiçoados aos ec-
clesiasticos, logo que estes lhes occul-
tam as suas acçÕes odiosas e favoral-
mentelh'as interpretam, como se vê nos
casamentos que contrahem com as
suas parentas ou aUiadas, ou em cousas
semelhantes, é preciso incital-os a con-
trahirem essas allianeas, fazendo-lhes
crêr que por intermédio dos nossos ob
terão do Papa as licenças ou perdões
necessários, para logo que se lhe expli
que os motivos, se lhe apresente os ca
sos analogos e se lhe descrevam os sen
timentos que os recommendam, sob

pretexto do bem commxim e da maior


gloria de Deus, pbjeeto principal da
• Sociedarle.
d." O mesmo se deve fazer se o
príncipe emprehende alguma coisa que
não seja ágradavel a todos os grandes
senhores. Deve-sè animal-o, impellil-o
e induzir os demais a concordarem
com elle c a não o contradizerem, mas
não chegando nunca a singularizar-sc
a íim de que não dando bom resulta
do o negocio, o não imixutem á Socic-
(Ifídc; e se o prOposito do príncipe
fosse desapprovado, e a SoclcAade ac-
cusada de instigadora, possa esta em
pregar a auctoridade de alguns padres
que não conheçarri estas instrucçoes, a
tim de que possam aftirmar, sob jura
mento, que caluraniam á Sociedade,
relativamente ao facto de que a accu-
sam.

4." Para se tornarem senhores do


espirito dos príncipes, será util que os
nossos se insinuem habilmente e por
meio de outras pesaoas, para desempe
nharem por elles embaixadas honrosas
junto dos outros príncipes e reis e
sobretudo com o Papa e os grandes
monarchas. Em taes occasiões pode-
IG

rão recommendar-se a si proprios eá


tíüciedadf,, por cujo motivo não deve
rão destinar a este lim senão pessoas .
cheias de zelo e mui .ao facto dos negó
cios do nosso instituto.
5." A experiência ensinou-nos
quantas vantagens tirou a tíocitdndc,
em se envolver nos casamentos idos
príncipes da casa d'Austria, c dos que
su hzeram n'outros reinos, em França,
na Polonia, etc, e em diversos duca-
dos; por isso ha que propor partidos
vantajosos, desejados, acceitaveis e que
sejam familiares aos parentes, a nós e
aos nossos amigos. .
G." E preciso attrahir sobre tudo
os favoritos dos príncipes e os seus
creadüs, com pequenos presentes è
actos de piedade, para que clles fiel
mente informem os nossos das disposi
ções e inclinações dos príncipes e dos
grandes, e d'esta forma a ídocicdndc.
poderá facilmente dirigir-se.
7." Facilmente se captará a sympa-
thie das princszas por meio das suas
alas e criadas; para isso é preciso con
seguir a amizade d'estas, que é meio dc
entrar em todas as partes e vir a saber
os negocios mais secretos das famílias.
17

8.° Na clirecçào da consciência dos


grandes senhores os nossos confessores
seguirão as maximas dos auctores que
deixam mais liberdade á consciência,
contra as dos outros religiosos, para
que os abandonem, preferindo a nossa
direcção,e conselho.
9." E preciso dar a conhecer os
méritos da nossa tíociedade a principes
e prelados e a todos que extraordina
riamente a possam favorecer, depois
de . mostrar-lhes a importância d'cste
grande privilegio.
10." Ha também que insinuar com
habilidade e prudência, o amplissimo
poder que tem a Sociedade, para absol
ver até os casos rezervados, tão supe
rior ao dos outros pastores e religiosos;
e para conceder aos jovens dispensas
das dividas que devem saldar ou pe
dir, dos impedimentos de casamento c
outros casos conhecidos, fazendo com
que muita gente recorra a nós, fican-
do-nos por isso obrigada.
11." E preciso convidal-os aos ser
mões, ás conferências, palestras e de-
clamações, etc, e honral-os com theses
e poesias, e, se fôr útil, dar-lhes ban
quetes e adulal-os. ^
18'

12.° Será necessário promover a


reconciliação dos grandes nas suas
inimizades e dissensÕes, porque assim
pouco a pouco, conheceremos os que
lhes são familiares, saberemos os seus
segredos, e uns e outros nos servirão.
13." Se alguém, que não goste da
nossa SücieJadfí, servir a principe ou
monarcha, convém, por nós ou por es
tranhos, tornal-o nosso amigo e fami
liar da Sociedade, com promessas e fa
vores, fazendo com que o principe ou
monarcha a quem serve lhe melhore o
seu estado.
14." Que todos evitem recommendar
a pessoa alguma ou proporcionar auxi
lio ao que por qualquer motivo tiver
sabido da nossa Sociedade o principal
mente aos que sahiram por sua vonta
de, porque, digam o que quizerem, ali
mentam contra esta um odio irrecon-
ciliavel.
15." Por ultimo, que cada um faca
quanto possa por obter o favor dos
principes, grandes e magistrados, para
que, ao apresentar-se a occasião, obrem
vigorosa e fielmfTde em
•ãmíra que seja contra os seus parentP<;'
amigos e alliatlos. '

m
19

CAPITULO III

Como deve a SOCIEDADE proce


der para com os que exercem
grande auctoridade no Estado, os
quaes embora não sejam ricos
podem prestar outros serviços

1." Além do que nea exposto e que


pode appiicar-se com discernimento, é
preciso tratar de attrahir a proteccão
d'elles contra os nossos inimigos.
2." E' preciso servir-se da sua au
ctoridade, prudência e conselho para
que a communidade adquira bens, e
obtenha empregos que possam ser exer
cidos pelos nossos, servindo-nos secre
tamente dos seus nomes para a acqui-
sição dos bens ternporaes, logo que se
julgue poder confiar n'elles.
3." E' preciso também servir-se
d'esses personagens para abrandar a
gentalha e o populacho, contrario á
nossa Sociedade.
4." Deverá exigir-se o que fôr pos-
sivel dos bispos, prelados e outros su
periores ecclesiasticos, segundo a di
versidade de razões e a inclinação que
sintam por nós.
ò." N'alguns sitios bastará obter
20

que os seus subordinados respeitem a


tiocicdudfí e que não ponham obstácu
los ás nossas funecões nos paizes em
que tem mais influencia, como na Al-
lemanha e na Polonia, etc. Será pre
ciso tributar-lhes grandes respeitos afim
de que por sua auctoridade c pela dos
príncipes, os conventos, as parochias,
os priorados e os patronatos, as capei-
las, os ediíicios consagrados ao culto,
possam cahir em nossas mãos, o que
não será difficil onde os catholicos es
tão misturados com os schismaticos e
herejes. Deve também fazer-se com-
prehender a esses prelados, a utilidade
e mérito que ha em semelhantes mu
danças, o que não podem alcançar do
clero secular ou dos frades. Se o fazem,
como desejamos, deve publicamente
exaltar-se o zelo, inclusivamente, por
escripto, tornando eterna a memória
da sua acção.
6." Para tal fim deve fazer-se com
que esses prelados se sirvam dos nos
sos, tanto para as confissões como pa
íM
ra o conselho; e aspirando a mais al
tas dignidades, na corte romana, auxi-
)(t
liemol-os com todas as nossas forças,
por meio de amigos.
21

7.'^ Que os nossos alcancem dos


bispos e piãncipes, que quando fundem
collegios ou igrejas parochiaes, a Su-
citdacle possa ahi collocar o vigário,
cura d'almas, afim de que o governo
d'essas igrejas nos pertença e que os
freguezes estejam submettidos á Socia-
dade, que obterá d'elles quanto puder.
8." Onde quer que as academias nos
forem contrarias, ou onde os catholi-
cos ou os herejes impedirem as nossas
fundações, é preciso servirmo-nos dos
prelados, e occupar as primeiras ca
deiras, porque assim fará a Sociedade
reconhecer as necessidades.
9." Deverá também influir-se nos
prelados, quando se trate da beatifica
ção ou canonisacão dos nossos, e al-
cançar, por qualquer fôrma possível,
cartas dos grandes senhores e dos prín
cipes, que influam favoravelmente junto
da sé apostólica.
10." Se os prelados ou os grandes
senhores forem como embaixadores,
convirá impedir que se sirvam dnutros
religiosos, dos que estão mal comnos-
co, afim de que não lhes inculquem o
seu odio e os levem ás províncias e ci
dades onde'estamos estabelecidos. E
se estes embaixadores passam pelas
cidades onde a Sociedade tem collegios,
devem receber-se com honras e brin-
dal-os, quanto permitta a modéstia re
ligiosa.

CAPITULO IV

O que deve recommendar-se aos


prégadores e aos confessores dos
grandes

1." Que os nossos dirijam os prin-


cipes e homens illustres, por fôrma que
pareça que só tendem á maior gloria
de Deus, e á austeridade de consciên
cia ; que os príncipes consintam em
ceder, porque a maneira de dirigil-os
não deve tender ao principio, mas in-
sensivelmente ao governo exterior e
politico.
2." Eis por que devem freqüente
mente advertir, que a distribuição das
honras e dignidades na republica, per
tence á justiça, e que os principes' of-
fendem gravemente a Deus quando
procedem apaixonadamente. Que pro
testem com freqüência e seriedade que
não querem envolver-se na administra
ção do Estado e que se faliam é por
23

dever, e contra vontade. Quando os


príncipes tiverem bem comprehendido
isto deve explicar-se-lhes as virtudes
que necessitam ter os preferidos para
as dignidades e cargos públicos, e pro
curar que escolham para estes os ami
gos sinceros da Sociedade. Todavia não
se deve conseguir isto directamente
pelos nossos, mas pelos que são fami
liares ao príncipe, logo que elle não
exija que os nossos o façam.
3." Por isso os confessores e prega
dores nossos devem estar informados
de quem são os competentes para des
empenhar os cargos, e, sobre tudo, li-
beraes eom a Sociedade, a fim de que
insinuem os seus nomes aos príncipes,
por si mesmo ou por intermédio de
outros.
4." Que os confessores e pregado
res se recordem que hão tratar os prín
cipes com doçura, acariciando-os e não
investir eom elles nos sermões, nem
nas eonversações particulares, afastan
do do seu animo todo o temor, e exhor-
tando-os principalmente á fé, á espe ; C)»'i
rança e á justiça política.
õ." Quasi nunca devem .receber
presentes para seu uso particular, mas
24

sim recommenclai' a necessidade publi


ca da provincia ou do collegio; e de
vem contentar-se em casa com um
quarto singelamente mobilado, não ves
tirem com esmero e acudirem promjjta-
mente a auxiliar e consolar os indiví
duos mais desprezíveis do palacio, para
que se não creia q>ie só estão promptos
a servir os grandes.
6." Quando morrer algum empre
gado não se devem descuidar em pro
moverem a substituição por amigos da
Sociedade; evitando porem a suspeita
Wl de que pretendem arrancam o governo
das mãos do príncipe. Por isso não de
vem envolver-se directamente, mas
serviram-se de amigos fieis e poderosos,
capazes de arrostarem com o odio, se
o houver.

CAPITULO V

Como convém proceder para com


V os outros religiosos que desem
penham na igreja funcções se
melhantes áç nossas

1." E' preciso snpportar com valor


esta especie de gente, e a proposito
d'ella fazer crer aos príncipes e aos
25

que exercem auctoridade, e que nos


são dedicados, que a nossa Sociedade
contém a peidéição de todas as outras
ordens, excepto o canto e a austeri
dade exterior, na maneira de viver e
de trajar; e que se os demais religio
sos sobresahem n'alguma cousa, a nos
sa Sociedade brilha eminentemente na
Igreja de Deus.
2." Convém buscar e pôr cm rele
vo os defeitos dos outros religiosos, e
depois de tel-os descoberto e publicado
com prudência e como que deploran-
do-os, aos nossos lieis amigos, cumpre
demonstrar que elles são infelizes no
desempenho das funcçÕes que nos são
communs.

3." Devemos oppôr-nos decidida e


efficazmente aos que queiram estabe
lecer escolas para ensinar a juventude,
onde quer que os nossos ensinem com
honra e proveito. A principes e ma
gistrados deve fazer-se-lhes crer que
essas pessoas causarão perturbações e
insurreições no Estado, caso lhes não
impeçam o estabelecer as suas escolas,
e que as desordens começarão pelas
crianças diversamente educadas ; final
mente que basta a Sociedade para ins-
R'77^
i •\,'í"

26

truir a juventude ; e se oiitros religio


sos obtiverem authorisação do Papa ou
reeommendação dos eardeaes, que os
nossos procedam contra elles, servin-
do-se dos príncipes e dos grandes, os
quaes informarão o Papa dos méritos
da Sociedade o da sufficiencia para ins
truir a juventude em paz, e que pro
curem obter e fazer valer o testemu
nho dos magistrados, no que diz res
peito á sua boa conducta e excellente
instrucção.
4." Apesar d'isso devem os nossos
esforçar-se em dar provas particulares
de virtude e erudição, exercitando os
discipulos, perante os grandes, os
magistrados e povo, afim de que os
admirem.

'!'V, CAPITULO VI

Maneira de conquistar as viuvas


ricas

1." Escolbam-se para este fim pa


dres avançados em idade, dotados de
temperamento vivo e agradavel con
versação. Que visitem estas viuvas e
para logo que descubram n'ellas algu
ma affeição á Sociedade^ oífereçam-lhes

tv-
:'.Ví
4^Síí^(\4.í,
27

os méritos e obras da Sociedade; se


ellas os acceitarem e principiarem a
visitar as nossas egrejas, proporcione-
se-lhes nm confessor que bem as dirija,
com o fim de conserval-as no estado
de viuvez, fallando-Ihes das suas van
tagens e ponderando-llies a felicidade
que terão, promettendo-lhes como certo
a até afiançando-lhes que d'esta forma
ellas terão um mérito eterno e um meio
efficaz de evitar as penas do purgató
rio.
2." Que o confessor proceda de ma
neira que se entretenham em adornar
uma capella ou um oratorio em sua
casa, em que possam entregar-se a me
ditações ou outros exercicios espirituaes,
afim de se afastarem da conversa e das
visitas dos que as podem procurar; e
apesar de terem um capellão, que os
nossos não deixem de ir dizer-lhes
missa, e consolal-as particularmente,
procurando dominar o capellão.
3." E' preciso mudar com prudên
cia e insensivelmente o que diz respeito
á direcção da casa, de modo que se at-
tenda á pessoa, ao sitio, ás suas aftei-
ções e á sua devoção.
4." Ainda que pouco a pouco, ha
28

que afastar os criados que não estejam


em boas relações com a Sociedade^ re-
commendando que os substituam por
individuos que dependam ou queii-am
É'- depender dos nossos, para que nos in
formem do que se passa na familia.
lí-i
õ.° O confessor não deve ter em
vista outro objecto senão induzir a
viuva a seguir-lbe em tudo o seu con-
sellio, e deve demonstrar-lhe, logo que
tenha occasião, que esta obediência é a
condição única da sua perfeição espiri
tual.
6." Deve aconselhar-lhe o uso fre
qüente dos sacramentos, sobretudo o
da penitencia, no qual ella descobrirá
os seus mais secretos pensamentos, as
suas tentações, com muita liberdade.
Deverá commungar freqüentes vezes e
ouvir o seu confessor, para o que de
vem convidal-a, promettendo-lhe ora
ções particulares; far-se-ha com que ella
recite as ladainhas e todos os dias fiica
exame de consciência.
7." Uma coníissão geral amiudada,
embora antes a hzesse a outros, muito
concorrerá para se conhecerem bem as
suas inclinações.
8.° Demonstrar-se-hão todas as van-

â-.
tagens do estado de viuvez e os in-
commodos do matrimônio, os perigos
em que se envolveria o os que princi
palmente lhe dizem respeito.
9.° Pódom também propur-se-lhe,
de quando em quando, com destreza,
uniões pelas quaes se saiba que tem
repugnância, e julgando-se que haja
alguma que lhe agrade, deve-se con-
vemtel-a que é pessoa de maus costu
mes, atim de sentir repugnância pelas
segundas nupcias.
10." Quando se tiver a certeza de
que está disposta a conservar a viu
vez, deve recommcndar-se-lhe a vida vviJr
espiritual, mas não a religiosa, cujos
incommodos ha que demonstrar-lhe. O * .-.'Ai
confessor procederá de modo que faça
prompto voto de castidade, por dous
ou tres annos, a fim de fechar por com
pleto a porta ás segundas nupcias; fei
to isso deve impedir-sc-lhe a conmven-
cia com homens e que não se distraia
nem com os seus parentes, nem com
os seus amigos, sob pretexto de mais .
estreitamente a unir a Deus. Com re
lação aos ecclesiasticos que visitem a
viuva ou que ella visite, se não se pu
derem excluir todos, deve tratar-se de
que receba só os recommendaclos pelos
nossos, ou os que dependem d'estes.
11.° Quando chegue este caso deve
suavemente induzir a viuva a que faça
boas obras, e sobretudo dê esmolas,
sempre debaixo da direcção do seu pa
dre espiritual, pois importa que se
aproveite habilmente a disposição es
piritual; as esmolas mal empregadas
I são muitas vezes a causa de diversos
i 'f,
peccados, ou os alimentam, de sorte
que pouco fructo se tira d'ellas.

'I: CAPITULO VII

Como convém entreter as viuvas e


dispor dos bens que ellas pos
suem

1.° Insista-se constantemente em


ií.
que continuem na sua devoção e boas
I '/ obras, de modo que iião passe sema
na sem que reduzam os seus gastos
supérfluos, em honra de Jesus e da
Virgem, ou do santo da sua devoção,
dando aos pobres, ou para ornamento
da igreja, o fructo das suas economias,
até que inteiramente se despojem das
primicias ou das cebolas do Egypto.
31

2.° Se, além de mostrar affeição


geral, continuam sendo liberaes com a
nossa Socúidaâfí, dê-se-lhes parte em
todos os merecimentos d'esta, com in
dulgências do provincial e até do Ge
ral, se acaso são damas de elevada ca ; V •

tegoria.
Se tiverem feito voto de casti-
dade, deve fazer-se com que o i-eno-
vem duas vezes por anno, concedendo-
. lhes n'esse dia um honesto recreio com
os nossos.
4." E' preciso visital-as freqüentes
vezes, entretendo-as agradavelmente e
distrahindo-as com historias espirituaes
e gracejos, conforme a inclinação de
cada uma.
õ.° Não se devem tratar com mui
to rigor na coníàssão, para não se abor
recerem, logo que se não tema perder
a sua sympathi^, que outros tenham
adquirido. E' necessário ponderar esta
circumstancia com muito discernimen
to, visto a inconstância das mulheres.
6." Eeve evitar-se habilmente que
visitem outras igrejas e que assistam
ás festas religiozas, principalmente ás
dos frades, repetindo-lhes com freqüên
cia, que todas as indulgências conce-

•Tm
;v-»

didas a outras Ordens estão aceumu-


ladas na nossa Sociedade.
7." Se estão obrigadas a vestir de
luto, convém conceder-lhes que trajem
bem, que apresentem agradavel aspe
cto, e que ao mesmo tempo sintam o
quer que é de espiritual e de munda
no, a fim de que não julguem que são
dirigidas por um homem inteiramente
espiritual. Finalmente, logo que não
haja perigo de inconstância por sua
parte, se são sempre fieis e liberaes
para com a Sociedade, que se lhes con
ceda, com moderação e sem escadalo,
o que pecam para satisfazer a sensua
lidade.
8.° Devem levar-se a casa das viu
vas raparigas honradas e filhas de paes
ricos e nobres para que se vão pouco
a pouco acostumando á nossa direccão
e modo de viver, proçurando-lhes uma
ama escolhida pelo confessor da fami
lia, submettendo-as a todas as censuras
e a todos os costumes da Sociedade.
As que não quizerem submetter-se, de-
volver-se-hão aos seus parentes ou ás
pessoas que as apresentaram, entre
gando-as como extravagantes e de mau
caracter.
33

9.° ívão se • deve tratar menos da


sua sánde e- reerèio do que dá salva '^i
ção das suas -alinás ; por • isso sè se
m
queixam de' què soffrera indisposições,'
prohibam-se-lh'es os je^juUs, os tãlicios,
as disciplinas corpO]'aes • e até O irem
á igreja; serão porém governadas em
casa com segredO' e precaução. Ueve-^
se deixaí-as'entrar lio jardim e rio col-
leg-io, sob condição de que ha-de' ser
secretâmente,-jiermittindü-lhe' o recrea
rem-se conr quem mais lhe agrade.• •
'19." Para que uma viuva disponha
das suas rendas-em favor da Socieda
de, 'ericarécer-lhe-hãO a perfeição' do
estado dos santos varões, que havendo
renunciado o mundo, as suas familias
e bèiis, c'ônsagfaram-se ao serviço de
Delis, com gn-ande''resignação e gozo,
exjjlicando-lhes conl tal tiiri o que' diz
a nossa Doristitilição-e ò exame da'>SV
ciedadc. com relação 'á renuncia de to
das asmoúsas humanasb Mostre-se-lhes
o éxempró ''daSi"VÍtivaS, que em pouco,
tempo"' chegafám' -d'esta' fóiàna' a ser - rPi
santas, e façarse'-lhes ' ésporar que'se
rão''cimonisadaiá'se persistirem até áo;
fim;' fazendo-lhes vêr 'que riãò Ihes fal- ,i i

tar.á a nossa influencia para ooni o Papa.


3 :.á
A{^

fV
Ir •

34

11." E' preciso infiiudu* profunda


mente no sôu espirito, que se.querem
gozar do mais perfeito repouso da sua
consciência, devem seguir, sem murmu
rar, sem se aborrecerem,, nem senti
rem repugnância inferior, . tanto : nas
cousas. temporaes, como nas espiri^
tuaes, a direoção do seu, confessor,
destinado particularmente por Deus,pa
ra.dirigil-as.
12.° Cumpre também opportuua-
mente instruil-as de que se, a esmola
que , dão aos ecclesiasticos e'principal
mente ao.s religiosos de vida, exemplar
é conveniente, não a devem,dar sem
a approvaçãó do seu confessor, .
13.° Os confessores terão o maior
cuidado em que esta classe de viuvas,
suas penitentes, sob nenhum pretexto
visitem outros religiosos, nem se, fami-
liarisem com elles. Para o impedir elo
giarão a Socif.dmh', como mais excel-
lente que as outras, mais útil, na.Igre
ja, ,de mais auctoridade junto do Pa
pa, e de todos os príncipes, perfeitís
sima em si mesma, porque, despede os
que são. prejudiciaes,e pouco e.scrupu-
losos e porque n'ella não se admitte nem
espuma, nem fezes, o que tanto abun-
35

da entre os frades, que costumam ser


ignorantes, preguiçosos, glutões e ne
gligentes, no que diz respeito á sua
salvação. , , . , ...
14." Os confessores dèvem propôr-
Ihes e persuadíl-as a que paguem pen
sões ordinárias e tributos todos os.an-
nos para ajudarem a sustentar os col-
legios e casas dé professos, principal
mente a casa de líoma. . . e que não
esqueçam os ornamentos dos templos,
a cêra, o vinho, etc., necessariosi para
dizer missa. : .7.
15." Se uma viuva não dá todos
os seus bens em vida à,-Sociedade^ de
ve procurar-se occasião, principalmente
quando esteja, enferma ou corra perigo
de vida, para lhe lembrar a pobreza,
dos nossos collegios e os muitos que
estão por fundar, induzindo-a com' do
çura, mas com força, a fazer estes gas
tos, sobre os quaes fundará a'sua glo
ria eterna.
16." O mesmo ha que fazer com
os principes e outros bemfeitores. De m
vem persuadil-os a que realisem fun
dações perpétuas n'este mundo, para
, i/T
que Deus lhes conceda a gloria eterna
no outro. Se alguns malévolos allegam

M
3(3

o e-seraplo- de Jesus Christo, que não


teve onde: repousar a cabeça e querem
que a Cohqjatihiu de Jcsitn seja tam
bém muito pobre, cumpre demonstrar
a todos, até fázer-ihes gravar' no espi
IP i.»
rito,; .que: a Igreja de Deus presente
mente', mudou;! chegando a sér aucto-
ridado e .grande poder contra os seus
iuirnigos, ique são poderosos, posto qtie
foi: ella> a pcdnnha partida e é já a
grandissima montanlia anmmciada Jtelo
propheta. •
17." Mostre-se com freqüência aos
que 3eidedicaram :a dar esmôlas e or
nai- igrejas,' que a soberana perfeição
consiste em que, despojando-sc do amor
das oqusas'terrestres, entrem em posse
de Jesus Christo o dos setis compã-
nheirosi •> -
•1 18.(*'Como.ha ménosia Osjíerar das
viuvas •;qno educam.^ selis filhos para o
^l^v• müudo, - trabalhe-se •para que os -dedi
quem á Igreja.
U-xi;! )-,ii <) ' .Of
-•t( 1 •> «."!ji-;iiii-íq
-Ulii ji-f-j-íili:'-1 'iqi 1'. '0-lfbr,ii',-{-i-[ qi •
inr.q .ofmuin . •)/-•»'/( >.iuiJ-.>q-£eq
lunoíO i-.i-toly r. jth-oiio-i íiiiofl Oip ,
uinq-illu >'..ío-/:-Ii-.i(T •>, j ic'",
37

CAPITULO VIII ,'"1


,' * ; - •• '.lí"•

- '• - •, ••• I k- - . • í M-T:!


o cjue deve fazer-se para que os
fühos das viuvas abracem o es
tado religioso ou de devoção '

1.^. Como é -preciso qne as màes


procedam com energia,'os nossos, íi'es-
tes casos,' devem proceder' com bran-
dura. E' preciso induzir as mães a con
trariarem: os filhos desde a mais '.tenra
idade,- com ;censnras e- reprehensÕes,
etc'. ,; 6'principalmente quando as filhas
são já mídherzinhasv negarem-se a dar-
lhes adornos e que freqüentemente de.-
sejem e peçam a.Deus que aspirem a
ser . réligiosas, promettendo-lhes iim
grande dote se qúizerem ser freiras.
Para tal fim devem recordar-lhes os in
convenientes çommuns a todos os ca
samentos e além disso os que soffre-
ram no seu, mostrándo o. seu-pbzar por
não haverem preferido o sen celibato
ao matrimônio.' Convém que procedam
de mod.0 que as filhas, aborrecidas da
vida a qüe s,uas mães as submettem,
pensem em ser religiosas'. '
2." Os nossos conversarão familiar
mente com os filhos, e se lhes parecer
util para a nossa Companhia, acolhel-
os-hão no collegio,^ mostrando-lhes
quanto possa agradar-lhes, de quai^
quer, nlodo, què seja, paraducital-o.s a
ficarem-j^ sohre :tudo íevalros-lião aos
jardins, vinhas e casas do campo e
quintas, onde os nossos forem distrair-
se. Fallar-lhes-hão, das viagens que fa
zemos a diversos reinos, d;is relações
que temos com os príncipes, e de tudo
quanto possa .regosijar a juventude.
Deve chamar-se-lhes a attenção para a
limpeza do refeitório e das habitações,
para:.aa agradaveis conversações que
os nossos tem entre si, para a facili
llH dade da nossa regra, á qual, apesar de
tudo, vae unida a gloria de Deusj e
para à proeminencia da nossa ordem,
superior a todas, e, por ultimo, as con
versações serão tão alegres como pie
dosas. , .
d,:". ExhortaLos-hão como por reve
lação, á religião em geral, insinuando-
Ihes destramente a perfeição e a com-
modidade do nosso instituto, superior a
todos. ,Kas exhortaçÕes publicas e con
versações privadas descrever-se-lhes-ha
quão grande c o peccado dos que se
rebellam contra a vocação divina, e

'ám, 5'
poi* ultimo comprõmettel-os-hão a faze-
i-em cxercicios espirituaes, pára que
se decidam •áoerca' do estado de vida
que querem escolher. - l :
' 4:- Os nossos farão com que os-jo
vens tenham percéptores-lig-ados á >§0-
ci&ladif^ que os vigiem e exhortem.' Se '• r
' ".iWíP
resistirem, porém, ha que prival-òs de
diversas çousas para que a \dda lhes
aborreça ; sua niãe'mostrar-lhesdia os r,.*f
» mT
inconvenientes da familia; por fim-se
' '/yl
não se puder leval-os a entrarem de
bom grado' na nossa Sociedade^ enviar-
sédião aos collegios distantes^-sob pre
texto de estudarem, fazendo com que
as mães os não; aearinhem,-e adulan-
do-os pelo contraHo os nossos, afim de
llios conquistarem a affeição.

CÀPITULÒ rIX '


Do augmeiifo dos rendimentos
dos coileglos
Tv s
1." Sempre que seja possivel não •• 'i
deve âdmittir-se a fazer o ultimo voto
quemise saiba que espera uma grande
herança, logo que não tenha já um ir
mão mais novo do que eile na Socio-
flaãi.', ou por outras razoes graves. So
bre tudo ha que trabalhar no augmeuto
({& >ti()c.i('.daí]c, conforme- com ;os íins
conhecidos pelos, seus superiores, os
quaes devem estar de. aecordo em que,
para maior gloria de Deus, a Egreja
recobre o àeu primitivo brilho, de sorte
que haja comjjlcta unidade de espirito
em todo o clei-o. Para isto é preciso re
petir -e publicar com freqüência, que a
Sucivduãit se compõe em parte de ipro-
fessos tão pobres,, que dja tudo care
'1 <
ceriam ,se . não fossem as liberalidades
quotidianas dos. Heis, e em parte d'ou-
tros padres, pobres também, que pos
suem bens immoveis, para não estai-era
nas dependências do povo,, em quanto
desempenham as suas fnncçÕes, como
os demais mendicantos. Os confessores
de principes, grandqs, .viuvas e outros
personagens, dos quaes a nossa Cum-
panliia^ possa esperar muito,, farãprga-
bcr a ' estes Jseriament.e, que uma vez
que lhes dão as cousas espirituaes e
eternas, devem em troca dar-lhefe as
terrestres; e tempoj-aes ; e quando Ibos
offereoam alguma cousa não-dcsperdi-
ça,rão a.oecasião de a receber•.Se lho.s
Hzerem promessas e tardarem em cum-
41

pril-as, ha que recordal-as com prudên


cia,. dissimulando quanto se possa ,o
desejo de ser rioo. Se algum coníessor
dos grandes ou de outros, não parece
bastante destro para.praticai: tudo isto,
deve tivar^-se-lhe o emprego em tempo
opportiino, collocando-outra nó seu lo-
gar; e se í'ôr necessário para dar àm-
pia satisfação- aos penitentes, enviar-
se-ha para os eollegios 'distantes', di-
zendõ, que a Siiciedridc necessita da,sua
pessoa .e talento nlaquelles sitiosj Fa
zemos ;estas . advertências porque sou
bemos não .b^ muito, que viuvas jo
vens, ao morrer, não haviam legado ás
nossas- egrejas moveis prèciosos^i pela
negligência dos, nossos,'que não os àc-
ceitaram a tempo. Para 'ãcceitar simi-
Ihantes objeetos -todas as occasiões -são
boas, se acnsoínão ó má-a vontade do
penitente. • , n • i:í. j' -i"
2.P Jlevem;empregar-se milhares de
meios para attraJiir os prelados, cone-
gos e pastores-e-outros ecclesiasticos
ricos á pratica- e.rserviços espiritnaes,
e paulatinamente, por.meio-da affeigão
(jue tem ás cousas èspirituaes, con-
<luistal-os. para a./SocoVdw/e- e provocar
depois a sna liberalidade..
-m
.m
V ' V
"''0,21

u I!
42^

E- 3.? Os eonfessores não sé descui


darão de perguntar aos penhentés, Cm
5, j tempio opportuno, seu; uiome, família,
parentes,: amigos ei bens ^de fortuna-;
de seguida informar-se-hão do seü 'es
tado,. sucoessores e propositOs; e se
acaso não houverem tomado uma reso
lução definitiva, convirá influir para
que a que tomarem seja favorável á
Principiando por esperar
algum proveito, visto que se llão deve
pedir logo tudo,-ordcnar-se-lhes-ha quer
para descargo da sua consciência, qiter
a titulo.de exercício de penitencia, que
se confessem todas as semanas'e o con-
léssor agradavelmente os' interrogará
i^E' • , até saber a final o que' ao principio
w não conseguiu. Se isto dá resultado e
se se trata de uma mulher, convém in-
K;- duzil-a por todos os meios a confessar-
se e ir freqüentes vezes á igreja: e
se é homem a freqüentar a. Comjianhia
e a-familiarisar-.se com OS nossos
4." O que sê disse relativamente
ás viuvas deve applicar-se aos nego
ciantes, aos ricos casadoS'e sem filhos,
dos qnaes a, Sociedade fica herdeira,
se- com prudência ' se empregam os
meios indicados; devem sobretudo

i.
43

observar-se para com'os devotos ricos


áos quaes íost, nossos freqüentam, em
bora o;vulgó'miirmiire, por uãó serem
pessoa de.-elevada-jerarchia.^
o.- Os 'reitórei dog; collegios trata
rão dei, eoábeoer -as- casas, jardins,
quintas, rvinhásfaldêas e outros bens
possuídos pela principal nobreza, pelos
negociantes :e-outras pessoas; e sendo
possível: indagarão os; rendimentos e os
compromissos -que pagam. Isto far-se-
lia com astucia, mas com eíHcacia, na
contissão'particularmente, -e conversas
particulares. Quando um confessor. en
contrar um ipenitente-rico, aAusará pri
meiro o reitor e.deverá attraliil-o por
todos os-meios possíveis.-.
G." Todo o negocio consiste.em que
os mossos saibam ganhar a benevolên i; r'
cia dos. seus penitentes e d'aquelles
com--quem conversam,- accommodando-
se com as-inclinações de cadá um. Pa
ra isto os iprovinciaes-enviarão muitos
dos nossos -aos logares habitados pelos
ricos e nobres, a -fim de que os pro-
vinciaes possam fazel-o- com prudência
e facilmente, os reitores tratarão de os
informar da colheita, que podem fazer.
7." Para saber- so. poderão apro-

roímtliÉÉihi
44

priar-se dos titules e haveres que- ás


erianças possuam ao admittil-as nos eol-
legios, informaivserlião habilmente, ;pro-
curando descobrir se- cederão- alguns
dos seus béns ao collegio^ seja por con-
traoto, alugando-os. ou .de outra ma
neira, OU' se ao cabo dé-certo-tempo
pertencerão á Suciedcule. Para-alcan
çar este tim, far-se-ha conhecer, prin
cipalmente aos grandes e aos láeos, as
necessidades, da Sucu-dade e as dividas
que pesam sobre ella. : '
- 8.": Se os ,viuves ou .as;viuvas ri
cas,- adeptos àsi Companhia, tem filhas
e nãò- filhos,.osi-nossos predispôl-as-hão
suavemente - a escolherem: a vida de
vota ou religiosàj para que, deixando-
Ihes algum' dote, o resto dos seus bens
})asse pouco a pouco ,pará a Sociedade..
Se tem filhos convenientes para a C'o?«-
yjrtuÃ/n/ attrahil-os-hão e aos. que, o.não
íbr.em indàzil-oS'-hão a entrarem em ou
tras religiões, promèttendo-lhes alguma
oousa; se não teem porém mais que
um filho, ;attnihir-se-ha por qualquer
formaj livrando-o do -temor -de seus
parentes, inculeando-^lhe a vocação de
Jesus Christo e deraonstrando-lhe que
fará um sacrifieio agradavel'a Deus,

ijfí '• •
45

se colitra a. vontade de sen pae e de


suá- mãe fugir d'elles para entrar na
Svoiitduãe. Sòi is-to se conseguir fânviar-
se^iia a um-ínoviciado distante, de-
])OÍs dé . advertir o (feral. Se teem
lilhas, predispôlfas-lião antecipadamen
te á vida devota, 'fazendo entrar os fi-
Ihos na (Jompctuhia e coTn.elles-as suas
heranças.v".-! t . ' :
. ' üi'? Os superiores,advertirão efficaz-
mêntoj ainda que com suavidade, aos
eonfessores d'essas pessoas,.viuvas"oii-
easadas, afim. dé que sirvam utilmente
il Sariedadc, segundo as suas-instrne-
ooes.'E se,'o não consegúu*em substi-
tuir-se-hão por. outras, enviando-os para
longe, afim; de: :que não tenham mais
relações com ^a familiaque confessaram.
"T 10."i A!s viuvas: e ; outras' pessoas
devotas, que aspiram com-ardor á per
feição,^ émnpre induzil-as: a! ceder todos
os seus bons .á-)SiooíV;cící(fe> 'q.ue'lhes par
gará por ellesMimu renda-.perpetua,
com'0 qíie poderão'servir a lfeus.mais
liv'!remente 'é alcãnçárem- a' perfeição
suprema, sem os cuidados e inquieta
ções • que ;• lhes'! causa a.administração
da''suarfazehdaí •'c: •' .'
'11.® Para' persuadir mais' efficaz-:
46

mente o mundo da pobreza da /Sbcie-


(Indc, os superiores tomarão dinheiro
emprestado, ás pessoas , ricas ' que nos
forem affectas, assignando titulos cújo
pagamento poderá retardar-^se. Em se
guida,,se. ò prestamista fôr accommét-
tido de algiuna enfermidade'gráve, vi-
sitar-se.-ba ' freqüentes vezes,* empre-
gando-se toda a ordem de razões para
o comprometten. a restituir o titulo,
porque d:'ésta forma no testamento não
serão mencionados os nossos, e sem
que nos odeiem, attrahiremos os seus
herdeiros. .•
-12." Será também conveniente to
mar dinheiro emprestado a- juro por
armo e collocal-o n'outra parte a juro
mais elevado, compensando assim'com.
usura o; que se paga-, podendo também
sueceder que -os 'amigos que nos em
prestem dinheiro tenham compaixão de
nós e não aeceitein o juro,-quer decla
rando-o assim em testamento, quer-co
mo dotação entre vivos, vendo que o
empregamos em fundar collegios e edi-
íiear igrejas. -
l.S." A Companhia poderá negociar
com proveito, servindo-se da firma dos
negociantes ricos que lhe sejam ade-
47

ptos ] n'este caso porém assegurará um


luero certo e abundante, ainda que se
ja nas índias, ;que até agora, com o
auxilio de Deus, não só tem produzido
almas para a 'fé, mas até grandes-ri
quezas para a.- JSof.io.dade^ ' . . ..
14." Os nossos devem procurar um
medico fiel , para a Coinjjanhiai onde
qner que residirem, i ao - qual recom-
mendarão os enfermos,,apresentando-o
como muito superior lí todos os outros,
aíim de qtié elle por seu turno recom-
mende os nosSos, collo,cando-os acima
dos religiosos das outras ordens, e pro
cedendo de modo que sejamos os çha-r
mados pelas pessoas-principacs, quan
do estejam, enfermas e sobretudo mo-
bundasv : . •
15." Os confcssores visitarão assi^
duamentc os enfermos,!sobretudo quan
do estejam em perigo ; e para eliminar
os demais ecclesiasticos, os superiores
far<ão com que logo que- um confossor
tenha que separar-se, do enfermo, ou
tro o substitua, afim de o consej-varem
nas suas boas intenções. Ainda que
com prudência, ha que infundir-lhe
medo com o inferno, ou quando menos •
com o purgatório, fazendo-se-lhe pre-
4-8

sente, que, - assim como a a^'ua apaga


o fogop a esmola' apaga o peccado, e
qiie;se nSo .pode empregar melhor es
mola ddo.querem alimentar e vestir as
pessoas que, por sua vocação estão con
sagradas a alcançar a Salvação do pró
ximo., :e- que. d'esta fóiTna-ó'enfermo
terá- parte nos seus meritds e encon
trará satisfação para-os seiis ])roprios
peccados, porque a caridade limpa de
muitos d'estes'.. Tampem- se olhe pôde
pintar a • caridade com hestido nupcial,
sem o -que não poderá- assentar-se á
mesa do: paraiso.''Finalmente tieverá
allegar . as' passagens da' Eseriptura e
dos santos jjadresf os que, tendo em
conta a capacidade e hábitos do enfer
mo, sejam mais efficazes para comino-
vel-o. •• j- -i 1 d"
ib.^ôA^somulheres que se queixem
dos'vicios'dos maridos ;e dos desgostos
quedhes causam, ensinar-lhes-hão a que
secretamente lhes apanhem algum di
nheiro .1 pata • expiar' OS ' peccados dos
seusr.iníiridoS''e'iobtéT- a^salVação d'eb
les.p idnii/. •••.>•,v- - ,
)dl--iiiuujliii uíp i-.d .r.i-ju djn )q
•i'oitorn obcr.iip í"i .ofn-itni <> rnoo
•o'iq ,oiiofKn'tlO( o c

Vv., • '•
49

CAPITULO X

Do rigor particular da disciplinai


na SOCIEDADE

lU Deve Txpulsar-se, sob qualquer


pretexto, :por, inimigo, (,1a Sociedade^
sem ter em, conta condição ou idade,
ao qne aíaste os devotos e devotas das
igrejas, ou do tra,tQ com os nossos, ou
ao que trabalhe ,para ,dirigir as esmo
las, para outras . igrejas e religiosos,
bem como o .que dissuada algum ho
mem, opulento,.bem disposto a.favore
cer'a iSoc/M/cgZf'. O mesmo se deve fa
zer comj o, que^ ao dispor dos, seus
bens, ,maniíbste mais aíFecto aos seus
parentes que á Socd/dadej porque isto.
prova que|,9 ,sci; espirito não está mor-
tiíicado e é preciso ,que os professos o
estejam por completo. Também será
expulso .0. que ,dê aos seus parentes po
bres as (ísmolaçS dos penitentes ,ou dos
amigos da./SíjictVdade. Para. que se não
queixem da ,causa;da sua expulsão não
se despedirão logo; primeiro impedir-
se-hão de confessar, •mortiíical-os-hão,
fatigando-os e fazendo-os desempenhar
os trabalhos mais vis 5. obrigal-os-hão
n -h
Mií
50

além d'isso cada dia a fazerem as cou-


1 i'
•í 'ÍV' sas que mais lhes repiignarem. Afas-
tal-os-hão dos - estudos elevados e dbs
cargos honrosos ,• • reprehendel-os-hão
em capitulo e censuras publicas; ex-
( \ cluil-os-hão das diversões e trato com
'í i : estranhos ; supprimir-se-lhes-ha cm seus
vestidos e no que usam tudo o que não
I '! -: seja absolutamente necessário, até que
)' se aborreçam, murmurem e se impa
:r
cientem; despedir-se-hão então como
pessoa pouco soífredora e que pôde ser
perniciosa aos outros pelo seu mau
exemplo. Se ha que dar conta aos pa
;,Í. rentes e aos prelados da Igreja, dos
que foram expulsos, dir-se-ha que não
D' houve meio de inocular-lhes o espirito
da Sociedade..
2." Dever-se-ha também expulsar
os que tenham escrúpulo de adquirir
bens para a Sociedade e que sejam
completamente dedicados ao seu pró
prio critério. Se estes querem explicar
a sua acção perante os provinciaes,
não se devem - ouvir, mas sim recor
dar-lhes a regra que' obriga todos a
obedecer cegamente. •
i 3." Desde o principio ,ha que con
siderar quem são os que sentem maior

]i ,
í" -.V.V
vi '••'

k•'"ti--..
51

aftccto pela Sociedade; e aos que se


veja que o tem por outras ordens reli-
g^iosas ou pelos pobres ou pelos seus
parentes, considerar-se-hão inúteis e
preparar-se-hão lentamente para ex-
pidsal-os do referido modo.
CAPITULO XI

De que modo procederão os nossos


para com os expulsos da SOCIE
DADE

1." Como os expulsos saberão al


guns dos nossos segredos, poderão pre-
]iidic!íT a, ComjHtnhía e teremos que os
prender da seguinte fôrma: antes de
os expulsarmos obrigal-os-hemos a pro-
metterem por escripto e a jurar que
não dirão nem escreverão nunca cousa
alguma em prejuízo da Companhia. Os
superiores conservarão escriptas pelos
mesmos culpados, as suas más inclina
ções, 03 seus defeitos e vicios confes
sados em de.scargo da sua consciência,
seo-undo o costume àa, Sociedade, e dos
quaes, em caso de necessidade, os su
periores se servirão, revelando-os aos
grandes e aos prelados, para que os não
elevem.
52

2." A todos os collogios. se de%'órá


escrever immediatamente, anniinciaa-
do-lhes, as expulsões, exagerando as
razões que as motivaram, particular
mente a insubmissão do seu espirito,
a desobediência, a leviandade, etc.,
prevenindo a todos que não tenham
relações com elles e fallem d'elles co
mo estranhos, estando todos de accoi*-
do, dizendo eni tòda a parte que a íS'o-
íK
; (
ciciJadc não expiiísa pessoa alguma sem
razões poderosas, bom como o inar
arroja os cadáveres,, segredando, as
causas que os tornam odiosos, para
que a sua expulsão pareça plausivol.
'òdí Nas éxhurtaoões domesticas
tratarão de convencer todos de que os
I, < expulsos são indivíduos irrequietos, que
quizeram voltar a íSlocíWurfe, exage
rando bs infortúnios dps que perece
ram miseravelmente •por sahirem da
Sociedade. >. . ...
•4." Também temos que nos anteci
par ás accusaçÕes que nos hicain os
:íí.' expulsos,-servindü-nos .da. auctoridade
de pessoas graves, q^^^-4ue a
Sociedade expulsa ;pessoa alguma
senão por gravíssimos motiv.osj quê não
destróe os membros sãos, o que pódc
i' >'44

od

pruvar-se pelo zelo com que procura


a salvação das almas dos que não são
membros d'ella, e que pela mesma ra
zão mais se preocupará- da salvação
dos seus. ' • '
Tj." Em Seg-nida a tíociedade deve
prevenir e obrigar por todos os meios,
aos grandes e prelados com quem os
expulsos adquiram auctoridade ou cré
dito, fazendo-lhes comprehender que o
bem de uma ordem, tão celebro como
util á Igreja, deve merecer-lhes mais
consideração que. um simples indi%'i-
duo, seja quem for. Se todavia conser
varem ainda alguma afteiçao ao expul
so, dir lhes-hão as razões que motiva
ram a sua expulsão,, exíigerando-as,
embora não sejam cartas, eomtanto
que alcancem resultados. .
6.° Por todos os modos ha que im
pedir que os que sahem por sua livre
vontade da Sociedade, não adiantem
em cargos ou dignidades na Igreja, lo
go que se não submettam ou dêem
quanto tenham; á Sociedade, e que to
do o mundo saiba que elles proprios
quizeram voltar á mesma.
7." Deve desde logo procurar-se
que não alcancem cargos importantes
54

na Igreja, como são as faculdades de


prégai-, confessar, publicar livros^ etc.,
para evitari que attráiam a sympathia
e o applauso do povo ; para is.ta cum
pre investigar mansamente a sua vida
6 costumes, as companhias, que'fre
qüentam, as suas occupaeÕes/para o
que será conveniente,estabelecer rela
ções com algumas pessoas da familia
com que viverem depois de serem ex
pulsos. Quando , se descobrir algum
facto indigno e censurável na sua con-
ducta, deverá divulgar-se por inter
medie de individuos de baixa catego
ria, para qtie chegue aos ouvidos dos
grandes e ,dos pi"elados, favorecedores
dos expulsos, afim de que estes, os re
pudiem, temendo que a sua infamia re
1 > caia sobre elles. Se nada; fizerem de
I i
censurável e antes procedam .honrada
li mente, ha que áttenuar, com subtile-
zas e palavras ambiguas, as virtudes
I
,IM.
li;
e acções d'elles, dignas de. elogio a
fim de mingoar quanto possivel o afte-
cto e; confiança que inspirem, pois. que
importa muito á fSoaWrujfe que os ex
pulsos e sobretudo os que voluntaria
mente, a abandonam, sejam completa-
mento Kupjtrimidos.
-:

oo

8.° Ha. que divulgar incessante .-•f 1 ''

mente os desasti'es que llies succede- f-


rem sem por isso deixarem de implo
rar para elles as lamúrias dos devotos
para que se não julgue que os nossos
obram apaixonadamente; nâs. nossas
casas porém ha que. exagerar muito as
desgraças dos que nos abandonam para
sustar os outros. : í

CAPITUÍLQ'XII . r
Quaes as pesáoas que devem con-
sefvar-se na SOCIEDADE-

1." Os. bons trabalhadores devem


occupar o melhor posto, e são elles:
os que augmentam tanto o bem temr
poral como o espiritual da. Sueiadada,
e quasi sempre são os confessores de
príncipes, de grandes,.de viuvas e de
votos ricos, pregadores, confessores e
os sabedores d'estes segredos.
2." Aos que por falta ,de forças e
por velhice acabrunhados,. empregaram
o seu talento em favor dos bens tem-
poraes da Soaiedadej ter-se-lhes-ha em
coxisideracao as passadas coUrèitas: e
porque ainda são aptos para demincia-
rem .a,os superiores os defeitos que
:;li. 56

obs^ervem nos nossos, pois que sempre


estão em casa e não se devem expul-
ern quanto fôr possível, para que a
bociedam pelo seu abandono não ad
fv'!.'-. quira má reputação.
3. Além d isso devem favorecer-se
os que sobresahirem pelo talento, iiela
nobreza e riquezas, sobretudo se teem
I-!»!. parentes e amigos adeptos á Sociedade
e poderosos, e se elles mesmos mostram
por ella sincera atfeição. A esses ha
que mandal-os estudar a. Roma e ás
mais- celebres universidades; e.se ti
verem concluido os seus estudos n'al-
guma província, é necessário que os
professores os impulsem com affecto e
favor particulares, em quanto não doa
rem todos os seus bens á Sociedade;
que nada lhes recusem em quanto o
I !' I>
não tiverem feito,, mas que os mortifi-
qiiem de seguida, como aos demais,
tendo todavia em conta e attencão o
seu passado.
A ; r-f
•j scperiores
considerações especiaes terão
com também
os que
i,"
trouxerem para a Sociedade alguns jo
vens escolhidos, visto que assim mani
festam por ella a sua aífeição; e em
quanto estes não professem ha que tra-
57

tal-os com muita benevolência para que


nào os retirem.

QAPiTÜLO XIII

Escolha que se deve fazer dos jo


vens para admittil-os na SOCIE
DADE, e modo de os reter.

1." Cumpre trabalhar com muita


cautela na escolha dos homens de ta
lento, formosos e nobres ou' que so-
bresáiâm
2.° Para mais facilmente os attraír
é preciso que em quanto cursem os es
tudos os reitores e mestres lhes mos
trem particxilar aftecto e fóra das
aulas lhes façam comprehender quão
agradavcl é a Deus que se consagrem
a elle com tudo que possuem e parti
cularmente na C'o?)í2?«??7wa de seu Fi
lho.
3." Quando a occasião fôr propicia
passearão com elles no collegio, no jar
dim e quintasj inisturando-os com os
nossos, para que insensivelmente se
vão familiarisando com elles, tendo cui
dado em que a familiaridade não de
genere em desjjrezo'.
4." Será prohibido aos nossos cas-

•i>»*-4.JI»' 1.
58

tigal-os e obrigal-os á disciplina dos


demais discipulos.
õ." Devem brindal-os com varies
presentinhos e com privilégios, confor
me a sna edade, e animal-os em con
versas-espiritiiaes.' " V " . . oa.?
. Far.-sedbes-lià corrtpreFoiider
que só por gi-aça especial da Providen
cia elles são os escolhidos entre tantos
que freqüentam o collegio.
7.°. Nas restantes occasiões, princD
palmente nas exhortaçoes, devem-se
censurar, ameaçando-és com a eterna
condemnacão, se. não obedecem á .vo
cação divina. • ' .
' 8." Se pedem com instância para
entrarem níí.âoeiedadt, deferir-lhes-lião
a admissão sempre que se considerem
constantes; se ])arecem porém vacil-
lantes, induzil-os-hão a que entrem im-
mediatamente.
9." .Oumprê advertir-lhes eíBeaz
mente que não revelem a sua vocacào
a algum de seus-, amigos, nem seqne'r a
seus paes, antes de serem admittidos
porque se lhes chega a tentaçãq de ?

se
desdizerem, a Sociedad,- e elles
no estado de fazer oque 1K-.
f. ♦ r»Aí-lck ^0'/cn» r\
lhes aprouvi <iO

e conseguindo-se pas.sar por nima^d-'

Ac
Õ9

tentação, haverá sempre oceasião de os


animar, i-ecordando-lhes o que se lhes
disse durante o noviciado ou depois
dos-votos. r '
10.° Sendo a maior difficuidade o
attrahir os iilhos -dos grandes, dos no
bres e dos ^senadores em quaiíto vi
vem com os seiis parentes, educam-se
com o . proposito de que lhes succedé-
rão nos seus empregos, persuadindo
aos parentes, por: intermédio dos ami
gos da Sociedade, que os eíiviera a
outras provincias e'univérsidades dis
tantes, onde os nossos professores en
sinem, depois de enviar a estes instruc-
ções relativas á sua qualidade e con
dição, afim de que conquistem o affe-
cto d'elles para a Sociedade, com mais
facilidade. •
; 11." Quando -tiverem mais edade
devem induzir-se a que façam exerci-
cios ' espirituaes, que alcançam êxito,
sobretudo com allemães e polacos.
12.° Cumpre-nos' consolal-os nas
suas afHicçÕes, conforme a qualidade ,e
condição de cada um, usando de re-
prehensões e exhortaçÕes sobre o mau
uso das riquezas, e aconselhando-os a
que não desperdicem a felicidade de
V
' ; 5

60

uma vocação, sob pena de cahirem no


inferno.
13." Afim de que eondesceudain
^ H. -
mais familiarmente com os desejos de
seus filhos a entrarem na í^nciedric^ih
demonstrar-se-hão aos pacs as excellen-
cias do instituto, comparado com as
demais ordens ; a santidade e sabedo
ria de nossos padres, a sua reputação
no mundo, a honra e applauso univer
sal que obtecm de grandes e pequenos.
Dir-se-lhes-ha quantos príncipes e gran
des, com muita satisfação própria, vi
veram na CiDiiponhia de Je»uít. os que
n'ella morreram e os que ainda vi^'en•lj
e mostrar-se-lhes-ha quanto é agrada
va! a Deus que os jovens se lhes con
sagrem, sobretudo na Companliio de
seu Filho, e quão grato é soffrer um
vem""? "a sua ju-
1 í encontram alguma diííi-
ouiaaae no.s seus verdes annos, mos-
jrar-se-lhes-ha a suavidade do nosso
instituto, que não tem nada do' enfa
donho, excepto os três votos, e, cousa
notável, não ha nenhuma regra que
obrigue sob pena de peccado venial.
61

CAPITULO XIV

Dos casos reservados e das causas


por que se devem esipulsar os
membros da SOCIEDADE.

L.° Além cios casos expostos nas


constituições e dos cjuaes só o superior
ou o confessor ordinário com a sna au-
ctorisação, poderá absolver, ha a so-
domia, a ociosidade, as copulas, o
adultério, os contactos impudicos de
varão com femea e sobre tudo que
pessoa alguma, sob cpialcpier pretexto
por zelo ou de outro modo, pratique
algum acto grave contra a tívcicdade,
a sua honra ou o seu proveito ; estas
são causas justas de expulsãcj..
2." Se alguém em confissão declara
semelhante cousa, não se deverá ab
solver, sem que primeiro prometta re-,
velal-o ao superiorj^ fora da confissão,
por mesmo pu-pelo seu coíifessor..
X-'este caso o superior procederá como
íbr mais conveniente- ao interesse da
S(jc.kdade. Se. ha alguma esperança de
poder •encobrir o crime, ha que impôr
ao culpado a penitencia conveniente,
d'outro modo despedir-se-ha. Em todo
62

o caso nenhum confessei- poderá dizer


ao penitente que está em perigo de ser
expulso. ,-
3.° Se algum dos nossos coufesso-
res ouviu dizer a pessoa estranha que
praticou qualquer acto vergonhoso com
um dos nossos, não deve ser absolvido
sem que primeiro lhe diga, som ser em
confisssão, o nome do outro peccador.
Se o declarar, far-se-ha jurar que o não
revelará sem consentimento especial.
4." Se dons dos nossos peccarem
casualmente, o que primeiro o confes
se será conservado na Soci.edade e <•>,
ís-kYto expulso; ao que porém perma
necer, mortiíical-o-hao e devem mal-
tratal-o, até que aborrecido e impa
ciente dê pretexto a que o expul
sem. , ^
o. Sendo a Couipanluo um corpo
nobre e excellente da Igreja poderá
afastar de si aos (pie não lhe pareçam
próprios para o serviço do seu insti
tuto, embora ao principio estivesse
com elles, e facilmente se encontrará
occasiào para o fazer, maltratando-os
constantemente e contrariando-os, sub-
mettendo-os a superiores severos, que
os afastem dos estudos e cargos mais
V*:.-

honrosos ató que sé desgostem e mur


murem.

tí." Por forma alguma se devem


conservar os • que fállem contra os su
periores ou que d'estes publica ou se
cretamente se queixem aos companhei
ros e principalmente aos estranhos, e
ainda menos aos que entro os nossos e
estranhos condcmnem a conducta da
Sociedade, no que diga respeito á ac-
quisieão, conservação ou administração
dos bens temporaes ou ao seu modo
de obrar; como, por exemplo, depri
mir ou opprimir aos que a detestam
ou aos que ella arroje do seu seio;
ainda menos conservará aos que con-
sintam que na presença d'elles se de
fendam os yenezianos, os francezes ou
os demais que houverem expulsado do
seu pai7. a Companhia, ou lhe hajam
causado prejuízos.
7." Antes de expulsar algiiem deve
maltratar-se, afastando-o das funcções
a que está acostumado e occupando-o
em diversas cousas. Ainda que as faça
bem, cumpre censural-o e sob este pre^
texto, applical-o a outras. Pela mais
pequena falta lhe 'mporào rudes casti
gos, envergonhando-o em publico, até
.., .

que se impaciente;, e expulsal-o-lião


por prejudicial quando menos o espe
ít,i' • rar. . .

I 8." iSe algum dos nossos tem- espe


rança de alcançar um bispado ou outra
dignidade ecclesiastica, além dos votos
ordinários, obrigal-o-hão a que faça
outro, baseado em que tei-á sempre
ri bons sentimentos para com ,a Socieda
V. de, que dirá bom d'ella, que será je-
suita o seu confessor e que nada im
portante fará senão depois de.ouvir a
opinião da Sociedade.
'fl
CAPITULO XV

De que fôrma devem proceder para


com as devotas e religiosas

1." Os confessores e pregadores


evitarão offender as religiosas; tental-as
contra a sua vocação, antes ganharão
o affecto das superioras e farão todo o
possivel para lhes receberem as suas
confissões extraordinárias, prégando-
Ihes sermões, se esperam receber mos
tras do seu reconhecimento, porque as
abbadessas, principalmente - as ricas e
nobres, podem servir de muito á So-

'Ò-'-

ciedade por si mesmo pu, por intermé


dio dos seus parentes é amigos; por
que d'esta idrma, introduzindo-se nos
conventos, Socicd.aãe pode adquirir a
amizade dos habitantes da cidade.
. 2.° Çonvirá todavia, prohibir ás
nossas devotas que freqüentem os con
ventos de mullieres, porque se acaso
aquelle genero de vida Uies agradasse
a Sociedáde vêr-se-ia frustrada na sua
esperança de berdar-lbes os bens. Deve
instar-se com ellag para que façam vo
to de castidade e de obediência, nas
mãos dos seus çonfessores, mostrando-
Ibes que este methoclo cie vida está
mui conforme com os costumes da
Igreja, priinitiva, visto que d'esta fôr
ma brilha em casa, em vez. de estar
escondida no claustro, deixando as al
mas ás escuras; alem de que-segundo
o exemplo das viuvas do Evangélho
farão bem a Jesus fazendo-o a seus
companheiros. Deyerão emlim dizer-
lhes quanto pôde dizei,'-se contra a vida
claustral; dar-lhes-hão estas instrucções
em segredo, para que não cheguem aos
ouvidos das. freiras., •

. .y» .
66

CAPITULO XVI

Da maneira de professar o des


prezo das riquezas

Í.° Para que os padres seculares


não possam attrilmir-nos paixão pelas
riquezas, conviria algumas vezes recu
sar as esmolas de pequena imporíaneia
oíFerecidas como recompensa de servi
ços prestados pela Sociedade^ ainda
que se acceitem outras itienores, para
que nos não aceusem de avaros se re
cebemos só as mais consideráveis.
2° A's pessoas obscuras negar-se-
Ihes-ba sepultura nas nossas igrejas,
embora fossem Íntimos dá Sociedade,
y' " ' para que não creiam que procuramos
as riquezas na multidão dos mortos e
que não vejam os beneficios que alcan-
; çamos.
3.° Com as viuvas e outras pessoas
que tenham dado os seus bens se pro
cederá resolutamente e em igualdade
de circumstancias mais vigorosamente
. do que com os outros, temendo que
não pareça que por consideração dos
bens temporaes, favorecemos a uns
mais do que outros. Com os que estão

ÈkÊÊíÊÊmÊiÊmÊÊÊÊÈÊÊiÉÊtÊtÊÊmÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊmÊmt^
67

dentro da Sociedade deve proeeder-se


do mesmo modo, depois que nos hou
verem entregado os seus bens ; n'este
caso expulsal-os-hão da Sociedade^ com
muita descrição, afim de que deixein
em nossas mãos parte do que tem ou
nol-o deixem em testamento.

CAPITULO XVJI

Dos meios de fazer» prosper»ar>


a SOCIEDADE

1Que todos tratem pinncipal-


jnente, até no que parece insignifican
te, de mostrar os mesmos sentimentos,
ou que pelo menos o apparentem, por
que cVeste modo,, apesar das turbulên
cias que agitam o mundo, a Sociedade
augmentará e consolidar^se-ha.
2." Todos devem esforçar-se em
brilbarem pelo seu saber e pelo seu
boni exemplo, até sobrepujar a outros
religiosos e especialmente aos pasto-
J.0S etc., para que o vulgo prefira que
os nossos façam tudo.' Até no publico
se deve dizer que não se necessita que
os parocbos saibam tanto, com tanto
que cumpram bem os seus deveres.
68

porque podem aproveitar os conselhos


da Sociedade, que, por este motivo,
deve sobresahir nos estudos.
3.° Pia què fazer corri que a reis é
príncipes agrade esta doutrina. Con
vencendo-os de que a fé catholica não
pode subsistir sem politica IrO presente
estado.das cousas. Para isto porém ha
que proceder com descrição. D'esta
fôrma os nossos serão agradaveis aos
grandes e ouvidos -nos mais secretos
conselhos. •
4." Captar-se-lhes-ha a benevolên
cia escrevendo-lhes de tòda a parte no
ticias escolhidas é seguras.
í>.° Não será pequena a vantagem
que SC' alcançará, alimentando secreta
mente e com prudência, as discórdias
dos grandes, embora seja necessário
animar o podér das partes litigantes.
Se se notam probabilidades de recon
ciliação, a Sociedade tratará logo de
ser a primeira em pôl-os de aeeordo,
temendo que outros se' lhe antecipem.
6." lía que persuadir por qualquer
meio aos grandes, e aò vulgo prínci-
palmènte, de que a Oompanltia se es-
taheleeea por uma providencia distin-
cta, particular, conforme com as pro-

1 •, a.V .jar dàtsÉ^',.


69

phecias do abbade Joaquim, afim de


que a Igreja se levante das humilha
ções por que os. herejes a obrigam a
passar. • u
I • 7." Depois de attrahir para o nosso
lado o favor dos grandes e bispos, tra
tarão de apoderar-se das parochias e
conesias, para reformar mais eíficaz-
mente o clero, que vivia n'outros tem
pos debaixo de certa regrá *com os
seus bispos, e tendia á perfeição. Será
emfim preciso aspirar ás abbadias e ás
prelaturaS', quando estiverem vagas, o
que será fácil obter, attendendo á ocio
sidade e estupidez dos frades. AIgreja
ganharia muito com que os bispados
fossem regidos por jesuitas e até a sé
apostólica, sobre tudo se o Papa se fi
zesse principe temporal de todos os
bens, pelo que paulatinamente e com
prudência e recato, cumpre dilatar o
poder temporal da Sociedade, e não
soffre duvida que quando tal succeda,
se alcançará o século de ouro e goza
remos então paz perpetua e universal,
e por conseguinte a benção divina
acompanhará a Igreja.
8." Se não se pode conseguir tan
to, visto que necessariamente occorre-
FtV

í' ' » • í k» - k r

70

rão escândalos, ha que mudar de poli-


tica, segundo os tempos, excitando to
dos os príncipes, amigos nossos, a de
clararem-se mutuamente guerra sem
tregoas, alim de que implorando por
todas as partes o soccorro da Socieda
de, esta possa empregar-se na reconci
liação publica, conducta que não dei
xarão os príncipes de recompensar com
os principaes benefícios e dignidades.
9." A Sociedade, emfím, depois de
alcançar "o fa^m^ e a auctoridade dos
príncipes, fará com que seja temida,
pelo menos dos que a combatem.

.(A.VJ . . .-./lin ]• " ,•

••/•TI'''.' r. • in."•;• -í!"" .


• • • .!;/ '-f';/ n çy-cbic.),,•
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IMPRENSA AFRICANA
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