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Dicionário de Termos

Teológicos Latinos e Gregos T odas as definições


começam com o
termo em latim ou

Dicionário de Termos
Teológicos Latinos e Gregos
a transliteração do
termo grego. No caso
A habilidade de trabalhar produtivamente no cam- dos termos gregos, as
po da Teologia, como uma disciplina estabelecida há diferenças entre o al-
fabeto latino e grego,
muito tempo, repousa em grande medida no domínio
além da latinização de
do vocabulário. A tarefa é, sem dúvida, difícil para os alguns termos gregos
RICHARD A. MULLER,
estudantes em geral. A linguagem técnica da Teologia (e.g., hypostasis), tor-
é Ph.D. pela Duke Uni- nam a transliteração
ainda aparece com frequência em grego ou latim. Não
versity. Atuou no con- necessária pelo bem
só a precisão das línguas originais perde-se muitas
selho editorial do Six- da alfabetização. A
vezes na tradução para o português, como também
teenth Century Journal forma grega do ter-
muitas das obras-padrão no campo da Teologia con- mo vem logo depois
e da Reformation and
tinuam a usar termos latinos e gregos, presumindo da transliteração. A
Renaissance Review. forma grega é seguida
que os estudantes já dominam esse vocabulário.
É Professor Emérito por uma tradução lite-
O objetivo deste volume é fornecer um vocabulário
de Teologia Histórica ral (em alguns casos,
teológico introdutório que ajudará os estudantes a essa tradução é quali-
e membro sênior do
superar as dificuldades inerentes nas obras atuais ficada com o advérbio

Richard A. MULLER
Instituto Junius, em
em inglês e português que usam termos latinos e “literalmente”). A se-
Grand Rapids, Michigan. guir, sempre que uma
gregos, oferecendo definições claras e concisas dos
explicação adicional
termos para estudantes de vários níveis.
for necessária, uma
explicação expandida
é apresentada, com
referências cruzadas
para termos relacio-
nados.

CAPA Dicionario de Termos Teologicos Latinos e Gregos.indd Todas as páginas 13/04/2023 16:40
Traduzido por Lena Aranha

1ª Edição

Rio de Janeiro
2023
Prefácio à Segunda Edição

M ais de três décadas já se passaram desde a publicação da primeira


edição do Dicionário de Termos Teológicos Latinos e Gregos. A recepção
desta obra ao longo dos anos foi muitíssimo gratificante.
A primeira edição do dicionário mapeou minha própria introdução,
tanto às complexidades quanto, subjacente a essas complexidades, à
incrível clareza do pensamento escolástico protestante. No período entre
a tentativa inicial de entender o vocabulário da ortodoxia mais antiga
e esta nova edição do livro, continuei a estudar os materiais das eras da
Reforma e ortodoxia e descobri (o que não é de surpreender) que a lin-
guagem dessa teologia altamente variada, filosoficamente harmonizada
e algumas vezes altamente técnica era muito mais rica do que imaginei
em princípio. Uma segunda edição permite que se ofereça por meio
desta edição uma expansão das entradas de terminologia da ortodoxia
protestante, incorporando parte do que aprendi ao longo destes anos.
Alguns poucos leitores reclamaram a respeito das omissões, embora
vários colegas e estudantes tenham anotado termos e frases que gostariam
que fossem incluídas e definidas, e vários colegas tenham indicado lugares
em que essas definições poderiam ser melhoradas. Meus agradecimentos
em particular para David Sytsma, que leu cuidadosamente todo o texto,
pediu-me para esclarecer algumas passagens e fez inúmeras sugestões
para os acréscimos e elaborações. Esta nova edição do dicionário permite
que eu agradeça a esses colegas pela adição de mais de cem termos e
frases; pela edição, refinamento e expansão de outras definições; e pela
correção de erros tipográficos (e, assim espero, sem a inserção de outros
novos erros).
Soli Deo gloria
Prefácio à Primeira Edição

A habilidade de trabalhar produtivamente no campo da teologia, como


em qualquer disciplina estabelecida há muito tempo, repousa, em
grande medida, no domínio do vocabulário. A tarefa é, sem dúvida,
difícil para os estudantes em geral. Primeiro, a linguagem técnica da
teologia ainda aparece com frequência em grego ou latim. Não só a
precisão das línguas originais se perde muitas vezes na tradução para o
português, como também muitas das obras-padrão no campo da teologia
continuam a usar termos latinos e gregos, presumindo que os estudantes
já dominam esse vocabulário. Segundo, o problema é complicado pelo
fato de a maioria das ajudas lexicais contemporâneas para estudantes
de teologia aparecer totalmente em português, tanto os termos quanto
as definições dos mesmos. Essas considerações por si só já representam
um estímulo para levar o estudante a escrever um breve dicionário de
termos teológicos latinos e gregos.
Há, no entanto, outra questão que torna a necessidade de tal léxico
ainda mais premente: essa questão diz respeito à herança protestante e
à sua apropriação no e para o momento, visando à educação de futuros
ministros e professores e ao bem da igreja. Os protestantes têm ao seu
dispor uma riqueza de sistemas teológicos finamente elaborados não só
pelos reformadores, como também pelos seus sucessores, os teólogos e
professores do fim do século XVI e século XVII. Esses escritores tardios
pegaram as ideias dos reformadores e, com o objetivo de preservar o
protestantismo de ataques externos e dissolução interna, forjaram um
edifício preciso e tecnicamente detalhado da escola de teologia, deno-
minada agora de ortodoxia protestante ou escolasticismo protestante.
Esses protestantes ortodoxos ou escolásticos não só sustentam o progres-
so histórico da Reforma e transmitem a sua teologia para as gerações
subsequentes, como também esclarecem e desenvolvem as doutrinas
dos reformadores em tópicos como a função tríplice de Cristo, os dois
estados de Cristo e a Ceia do Senhor.
A obra desses teólogos é bem descrita por dois termos: “escolástica”
e “ortodoxia”. O primeiro termo refere-se basicamente ao método, e
o último, à intenção doutrinal ou dogmática. No fim do século XVI
e século XVII, os teólogos reformados e os luteranos adotaram uma
abordagem altamente técnica e lógica para o sistema teológico, de
acordo com o qual cada tópico, ou locus teológico, foi dividido nas suas
partes componentes, e essas partes foram analisadas e definidas em uma
DICIONÁRIO DE TERMOS TEOLÓGICOS LATINOS E GREGOS

cuidadosa forma proposicional. Além disso, essa abordagem altamente


técnica buscava alcançar uma definição precisa por meio do debate com
adversários e pelo uso da tradição cristã como um todo na argumentação
das suas doutrinas. A forma do sistema teológico foi adaptada para um
modelo polêmico e didático que podia mover-se da definição bíblica
para o tradicional desenvolvimento da doutrina, para o debate com os
adversários doutrinais do passado e presente e para a resolução teoló-
gica do problema. Esse método é corretamente chamado de escolástico
tanto em vista das suas raízes no escolasticismo medieval quanto em
vista da sua intenção de prover uma teologia técnica adequada para
as escolas — seminários e universidades. O objetivo desse método, a
intenção doutrinal ou dogmática dessa teologia, era prover a igreja com
o “ensinamento correto” — literalmente, “ortodoxia”.
Não posso ater-me aqui ao debate sobre a teologia do protestante orto-
doxo; alguns a consideram seca, rígida, além de uma distorção da Reforma;
outros, entre eles Karl Barth (1886–1968), declaram que ela é uma fonte
rica e abundante de discernimento teológico, considerando-a uma extensão
legítima do pensamento dos reformadores. O que é inquestionável é a ex-
celência técnica dos escolásticos protestantes, bem como o seu impacto na
teologia protestante moderna, conforme evidenciada nas obras de Charles
Hodge, Francis Piper, Louis Berkhof, Otto Weber e, é claro, Karl Barth. O
problema aqui é que a teologia do protestante ortodoxo está apenas parcial-
mente disponível aos estudantes. Os recursos correntes que apresentam o
protestantismo escolástico ou ortodoxo, como Reformed Dogmatics [Dogmática
Reformada], de Heppe, e Doctrinal Theology of the Evangelical Lutheran Church
[Teologia Doutrinal da Igreja Luterana Evangélica], de Schmid, apresentam,
em geral, termos técnicos sem a sua definição completa e, particularmente no
caso de Heppe, em latim e grego sem a tradução desses termos. O problema
da linguagem estende-se para os excelentes manuais de Pieper e Berkhof.
Espero que este dicionário torne mais acessíveis a teologia protestante e os
termos utilizados por ela, fornecendo aos estudantes não só um incentivo
para estudar essa terminologia essencial, mas também como um ponto
de entrada para Heppe e Schmid e para os magníficos sistemas latinos de
autores como Francis Turretin e Johann Wilhelm Baier.
O uso de fontes reformadas e luteranas na compilação deste vocabulário
levou a uma considerável quantidade de comparações da doutrina nas
definições mais substantivas e mais longas, como communicatio idiomatum.
Minha tentativa em todas essas comparações foi salientar com brevi-
dade os elementos distintivos e o campo comum de duas posições sem
tecer qualquer julgamento sobre qual deles apresenta a melhor solução
para um dado problema. Talvez devesse observar neste ponto que este
glossário não é um vocabulário comparativo completo da ortodoxia
8
PREFÁCIO

protestante e nem um sistema de teologia completo organizado em or-


dem alfabética. O primeiro seria um livro muitíssimo mais extenso que
este; e o segundo seria desnecessário por causa de índices aos sistemas
padrões. O objetivo deste volume é fornecer um vocabulário teológico
introdutório que ajudará os estudantes a superar as dificuldades inerentes
nas obras atuais em inglês e português que usam termos latinos e gregos
e até mesmo para passar de alguma forma além do vocabulário dessas
obras. Os estudantes, assim espero, usarão este dicionário com as obras
de Heppe, Schmid, Pieper e Berkhof.
Os escolásticos protestantes têm um vocabulário teológico extremamente
rico e preciso. Primeiro, eles apoiaram-se na herança da Reforma, parti-
cularmente na leitura dos reformadores da mensagem bíblica da salvação
só pela graça e da justificação só pela fé. Essa primeira fonte forneceu um
vocabulário teológico latino que pegou e modificou termos dos escritores
patrísticos e medievais à luz da Escritura — e, além disso, um vocabulário
teológico grego do Novo Testamento que era praticamente inacessível antes
do grande desenvolvimento de estudos linguísticos na era do Renascimento
e da Reforma. Segundo, os escolásticos protestantes fundamentaram-se,
como também o fizeram os reformadores, naqueles termos da era patrística
e da Idade Média que se tornaram a moeda-padrão da discussão teológica,
como os termos que definem a ortodoxia cristológica e trinitária nos símbolos
nicenos e calcedônios. Nessa categoria, no entanto, o protestante ortodoxo
vai muito além dos reformadores na sua aceitação e uso dos termos. A difícil
obra de reconstrução do sistema teológico e de refutação da polêmica dos
seus oponentes escolásticos católicos-romanos levou a ortodoxia protestante
a fazer uma pesquisa patrística detalhada e a uma cuidadosa leitura da teo-
logia medieval, com o resultado de que um conjunto mais vasto de termos
técnicos dos pais e dos mestres medievais aparece no sistema destes do que
nas obras dos reformadores. Terceiro, o protestante ortodoxo, no processo de
desenvolver sistemas e de chegar a um acordo mais pleno que os reformadores
com a tradição da igreja, fundamentou-se no vocabulário filosófico dos pais
e mestres medievais. Aqui, em especial, o protestante ortodoxo manifesta
uma preocupação em ampliar e desenvolver as capacidades técnicas da sua
teologia, mas não à custa do discernimento dos reformadores. Eles, em razão
disso, não só usaram um vocabulário filosófico tradicional em relação ao sis-
tema teológico, como também desenvolveram um vocabulário concernente
com a limitação do conhecimento teológico e filosófico: veja, por exemplo,
usus philosophiae e theologia ectypa. Essa multiplicação de termos disponíveis
aos teólogos está diretamente relacionada com a precisão de pensamento e
expressão típica dos sistemas protestantes escolásticos.
Ao compilar minha lista básica de termos, trabalhei com duas finalidades
em vista: a primeira, a apresentação precisa do vocabulário da ortodoxia
9
DICIONÁRIO DE TERMOS TEOLÓGICOS LATINOS E GREGOS

protestante; a segunda, as necessidades dos alunos no seu encontro com


obras acessíveis nas quais aparece o vocabulário protestante escolástico
ou ortodoxo. Para alcançar o primeiro objetivo, consultei os sistemas
reformado e luterano do século XVII, principalmente os sistemas de
Johann Wilhelm Baier e Francis Turretin, junto com o compêndio cor-
rente da teologia ortodoxa protestante por Heinrich Schmid e Heinrich
Heppe. Extraí todos os termos técnicos de Schmid e de Heppe, revisando
e modificando quando necessário com base em Baier e Turretin. Para
alcançar o segundo objetivo, também trabalhei com os sistemas de dois
expoentes-padrão da ortodoxia luterana e reformada do século XX,
Francis Pieper e Louis Berkhof. Dessas obras, extraí apenas termos; não
traduzi citações longas em latim ou grego nem nenhuma das citações
bíblicas apresentadas no original; tampouco incluí quaisquer palavras
alemãs ou holandesas que aparecem aqui e ali em Pieper e Berkhof. A
lista resultante, assim espero e acredito, não só será de grande valia para
os alunos nos seus estudos das obras clássicas na teologia protestante,
como também se tornará, para esses mesmos alunos, o caminho de
entrada no reino da expressão teológica precisa e clara.
Este livro não existiria, certamente não na forma atual, se não fosse pelo
encorajamento e ajuda de muitos amigos e colegas. A primeira palavra
de agradecimento tem de ser para Allan Fisher, da Baker Book House,
por sugerir este projeto e pelo seu encorajamento ao longo do processo de
escrita e edição. Devo imensa gratidão ao pastor Luther Poellot, conhe-
cido por muitos como o tradutor de uma importante obra de um teólogo
luterano, Martin Chemnitz, pela leitura minuciosa do texto, pelo seu
cuidadoso trabalho editorial tanto em inglês quanto em latim e, acima de
tudo, pela sua disposição em compartilhar seu conhecimento especializado
em pontos específicos da teologia luterana. Devo gratidão similar ao Dr.
Richard Gamble, do Westminster Theological Seminary, e ao Dr. Douglas
Kelly, do Reformed Theological Seminary, pois os dois leram todo o ma-
nuscrito e fizeram várias sugestões importantes. Agradecimento especial
de outra ordem a Jan Gathright, do Fuller Theological Seminary, cujo
conhecimento especializado com o processador word tornou a tarefa de
organização e compilação deste dicionário não só factível, como também
suave e praticamente livre de dificuldades textuais. Por fim, devo expressar
minha gratidão a minha família — à Gloria, minha esposa, e a Elizabeth
e Karl, nossos filhos — que observou com paciência e encorajamento
enquanto escrevia uma definição após a outra em milhares de cartões de
arquivo. Assumo a responsabilidade, é claro, por quaisquer erros ou infe-
licidades que possam estar presentes e ponho o trabalho de lado sabendo
muito bem que muitas outras definições poderiam ter sido incluídas e que
muitas das discussões dos termos poderiam ser expandidas.
10
Sumário

Prefácio da Segunda Edição 5

Prefácio da Primeira Edição 7

Nota ao Leitor 13

Transliteração do Grego 15

Abreviações 17

Entradas do Dicionário de A – Z 19

Índice em Português para os Termos Latinos e Gregos 440

Bibliografia 445
Nota ao Leitor

T odas as definições começam com o termo em latim ou a translitera-


ção do termo grego. No caso dos termos gregos, as diferenças entre
o alfabeto latino e grego, além da latinização de alguns termos gregos
(e.g., hypostasis), tornam a transliteração necessária pelo bem da alfabe-
tização. A forma grega do termo vem logo depois da transliteração. A
forma grega é seguida por uma tradução literal (em alguns casos, essa
tradução é qualificada com o advérbio “literalmente”). A seguir, sempre
que uma explicação adicional for necessária, uma explicação expandida
é apresentada, com referências cruzadas para termos relacionados. As
referências cruzadas são apresentadas ou por “q.v.”, quando o termo
referenciado é uma tradução exata de uma frase na definição, ou por veja,
seguido por um termo ou termos relacionados ao assunto da definição.
Usei os termos “protestante ortodoxo” e “protestante escolástico” como
sinônimos, distinguindo quando necessário entre a ortodoxia reformada
e a luterana e entre os escolásticos medievais e os protestantes. O uso do
termo “escolástico” sem qualquer modificador, e em um contexto em que
os modificadores “protestante”, “luterano”, “reformado” ou “medieval”
não tenham limitado previamente a discussão, indica um termo ou uma
ideia que é propriedade comum de vários tipos de teologia escolástica.
Além disso, tentei distinguir entre os termos gregos que os escolásticos
retiraram do Novo Testamento e os termos gregos que eles retiraram de
escritos da era patrística pelo expediente simples de suprir uma única
referência da Escritura com os termos retirados do Novo Testamento.
Aqui, meu propósito não é tentar apresentar alguma análise do termo
bíblico, mas apenas indicar quais léxicos devem ser consultados para
uma descrição completa do sentido e uso da palavra: para termos do
Novo Testamento, Greek-English Lexicon, de Bauer; para termos dos Pais,
Patristic Greek Lexicon, de Lampe.
Por fim, o dicionário propriamente dito vem acompanhado por um
breve índice para os termos-chave em latim e grego. Esse índice capaci-
tará os leitores a usar o dicionário por meio de um termo em português
ou de um conceito para localizar o original grego ou latim e, por meio
desse artifício, usar o dicionário como uma obra de referência de teolo-
gia básica. O índice não é, de forma alguma, completo, mas enumera
termos importantes, mesmo quando são cognatos, e, com isso, indica
DICIONÁRIO DE TERMOS TEOLÓGICOS LATINOS E GREGOS

a localização das principais definições em que os termos relacionados


aparecem com referências cruzadas.

14
Transliteração do Grego
α a ξ x
β b ο o
γ g, n* π p
δ d ρ r
ε e σ, ς s
ζ z τ t
η ē υ y, u†
θ th
φ ph
ι i
χ ch
κ k
λ l ψ ps
μ m ω ō
ν n ῾ h

*γ é transliterado por n apenas quando y preceder γ, κ, ξ ou χ.


†υ é transliterado por u apenas quando υ fizer parte de um ditongo: au,
eu, ēu, ou, ui.
Abreviações

Geral e Bibliográfica
adj. adjetivo
adv. advérbio
c. circa, por volta de
cf. confere, compare
conj. conjunção
m. morto em
e.g. exempli gratia, por exemplo
i.e. id est, isto é
masc. masculino
s. substantivo
NB nota bene, observe cuidadosamente
NRSV New Revised Standard Version
PL Patrologia Latina [= Patrologiae Cursus Completus. Series Latina].
Editada por Jacques-Paul Migne. 217 vols. Paris, 1844–55.
pl. plural
q.v. quod vide, veja (também)
sg. singular
viz. videlicet, a saber

Antigo Testamento
Gênesis Gn 1 Reis 1 Rs
Êxodo Êx 2 Reis 2 Rs
Levítico Lv 1 Crônicas 1 Cr
Números Nm 2 Crônicas 2 Cr
Deuteronômio Dt Esdras Ed
Josué Js Neemias Ne
Juízes Jz Ester Et
Rute Rt Jó Jó
1 Samuel 1 Sm Salmos Sl
2 Samuel 2 Sm Provérbios Pv
DICIONÁRIO DE TERMOS TEOLÓGICOS LATINOS E GREGOS

Eclesiastes Ec Obadias Ob
Cantares de Salomão Ct Jonas Jn
Isaías Is Miqueias Mq
Jeremias Jr Naum Na
Lamentações Lm Habacuque Hc
Ezequiel Ez Sofonias Sf
Daniel Dn Ageu Ag
Oseias Os Zacarias Zc
Joel Jl Malaquias Ml
Amós Am

Novo Testamento
Mateus Mt 1 Timóteo 1 Tm
Marcos Mc 2 Timóteo 2 Tm
Lucas Lc Tito Tt
João Jo Filemom Fm
Atos dos Apóstolos At Hebreus Hb
Romanos Rm Tiago Tg
1 Coríntios 1 Co 1 Pedro 1 Pe
2 Coríntios 2 Co 2 Pedro 2 Pe
Gálatas Gl 1 João 1 Jo
Efésios Ef 2 João 2 Jo
Filipenses Fp 3 João 3 Jo
Colossenses Cl Judas Jd
1 Tessalonicenses 1 Ts Apocalipse Ap
2 Tessalonicenses 2 Ts

18
Aa
a fortiori: ainda mais; literalmente, tivo que se move do efeito para a
do mais forte; especificamente, por causa, da instância específica para
causa de um argumento ou racio- o princípio geral; especificamente,
cínio mais robusto. é um termo aplicado às provas da
existência de Deus que começam
a maximis ad minima: do maior com a ordem finita e ascendem à
para o menor; viz., uma ordem de causa primária (prima causa, q.v.),
discurso ou argumento; ou apenas ou primeiro propulsor ou movedor
uma frase inclusiva que indica “tudo” (primum movens, q.v.). Veja causa.
ou “todos”.
a praesenti statu: do estado presente
a nemine: de nada, de ninguém; é ou condição presente.
um termo usado para descrever
Deus Pai, que não foi gerado nem a priori: do primeiro ou de uma instância
animado; o Pai é a nemine, e o Filho ou perspectiva anterior; é uma descrição
e o Espírito Santo são ambos a Patre, do raciocínio dedutivo que se move
do Pai. Veja agennēsia; filioque; opera da causa para o efeito, do geral ou
Dei personalia; Trinitas. princípio para o específico; é um
termo aplicado particularmente à
a parte Dei: da parte de Deus. No prova ontológica da existência de
caso de uma obra ou operação com- Deus, desenvolvida por Anselmo,
preendida como realizada conjunta que se move da ideia de Deus para
ou concomitantemente por Deus e a existência real de Deus. O termo
um ser humano, uma distinção pode também pode ser aplicado, embora
ser feita no que diz respeito a parte de forma menos precisa, à ordem
Dei e o que é feito a parte hominis. de sistemas de teologia que come-
çam com princípios fundamentais
a parte hominis: da parte do homem. (principia theologiae, q.v.), a Escritura e
Veja a parte Dei. Deus, e, a seguir, movem-se adiante
através das obras de Deus de uma
a posse ad esse: do potencial à rea- forma mais ou menos dedutiva
lidade; literalmente, de “ser capaz” a (opera Dei, q.v.) para a doutrina do
“ser”. Veja actus; esse; essentia; potentia. último dia (dies novissimus, q.v.). O
termo não se aplica com absoluta
a posteriori: do último ou de uma precisão a esses sistemas, uma vez
instância ou perspectiva subsequente; é que não são puramente dedutivos
uma descrição do raciocínio indu- em estrutura, mas frequentemente
Aa
se moldam conscientemente no abalietas: tendo sido de outro. Veja
Credo dos Apóstolos. aseitas; aseitas / abalietas.

a quo: do qual; em oposição a ad ablutio: lavagem ou limpeza; é um


quem, para ou em direção ao qual. termo usado como sinônimo para
Veja terminus. baptismus (q.v.).

Ab actu ad posse valet consecu- abrenuntiatio: renúncia absoluta;


tio: a conclusão ou indução da realidade especificamente, é a abrenuntiatio
para o possível é válida; trata-se de uma Satanae, ou renúncia de Satanás e de
regra ou máxima lógica indicando todas as suas obras, o que acontece
que uma pessoa pode legitimamente na tradicional liturgia batismal.
chegar a uma conclusão a partir da Assim, na ortodoxia luterana, um
realidade, a saber, do que é para o dos efeitos do batismo, representado
que é possível no futuro. Veja actus. pelo uso da água, é a libertação do
bebê do poder de Satanás pela graça
ab aeterno: do eterno ou da eternidade. do Espírito Santo, juntamente com
o dom concomitante da liberdade
ab ante: do que é antes; i.e., de antemão. espiritual.

ab extra: desde fora; em oposição absolute (adv.): absolutamente, sim-


a ab intra e distinto de ad extra (q.v.); plesmente, perfeitamente, completamente;
em direção ao exterior. não relativo ou parcial.

ab inconvenienti: da inconveniência; absolutio: absolvição ou libertação,


é um argumento que apela para a perdão; i.e., o pronunciamento de
inconveniência ou consequência perdão dos pecados após a penitência
inconveniente de aceitar uma po- verdadeira (poenitentia, q.v.) e uma
sição ou visão específica. confissão genuína (confessio, q.v.) do
pecado. Em geral, tanto os luteranos
ab initio: do princípio; ab initio quanto os reformados seguem um
mundi: desde o princípio do mundo; padrão de uma confissão coletiva
em um sentido mais amplo, para e absolvição pastoral geral durante
sempre. Veja creatio. o culto de adoração; os luteranos,
no entanto, também mantêm uma
ab intra: desde dentro; em oposição doutrina da absolvição particular
a ab extra. (absolutio privata) após a confissão pes-
soal do pecado para um ministro
ab origine: desde o princípio ou desde do evangelho. Absolutio pertence à
o primeiro. igreja e aos seus ministros segundo
20
Aa
o poder das chaves (potestas clavium), arguitur ad usum: O uso não pode
i.e., o amarrar e o soltar de pecados. ser argumentado a partir do abuso.
Tanto os católicos-romanos quanto
os luteranos afirmam totalmente o acatalepsia (do grego ἀκαταληψία,
poder da igreja (potestas ecclesiae, q.v.) akatalēpsia): dúvida, ausência de certeza, a
de absolvição; os reformados tendem negação de katalēpsis (κατάληψις),
a considerar o absolutio apenas como ou compreensão; é um termo retirado
um anúncio do pronunciamento de da antiga filosofia cética que indica
perdão oferecido por Deus em Cristo. a ausência de certeza e a redução
do conhecimento a probabilidades.
absolutus, -a, -um (adj.): absoluto, No século XVII, a versão baconiana
simples, perfeito, completo, incondicio- de uma dúvida argumentava que o
nal; com referência às coisas, uma conhecimento (scientia, q.v.) deveria
compreensão da coisa segundo a começar com acatalepsia e seguir em
sua essência, como distinta das suas busca da eucatalepsia, a boa compreensão
relações com outras coisas. Nesse ou certeza. Veja akatalēptos.
sentido, absolutus opõe-se a relativus.
Veja in se; simplicitas. acceptatio: aceitação; especificamente,
é um ato de graça e misericórdia se-
abstractum: uma abstração; i.e., gundo o qual Deus aceita livremente
não uma coisa existente como tal, uma satisfação parcial pelo pecado
mas a sua essência ou um dos seus como totalmente meritória. A ideia é
atributos à parte da sua existência; é, particularmente importante para as
também, uma natureza autoexistente teorias da expiação de Hugo Grócio
inerente em outra natureza. Veja e de John Duns Scotus, segundo as
anhypostasis; communicatio idiomatum; quais Deus aceita como pagamento
concretum; in abstracto. total pelo pecado a satisfação finita
oferecida por Cristo. Nessas teorias,
abusus: abuso; a saber, uso e / ou a obra de Cristo não tem valor infi-
prática impróprios (usus, q.v.). As- nito e nem valor comensurável com
sim, temos a máxima Abusus non todo o peso do pecado, mas Deus,
tollit usus: Um abuso não remove o que é Todo-poderoso, pode aceitar,
uso; i.e., o uso errado ou impróprio e aceita, a obra de Cristo como se
não abole o uso correto e apro- fosse o pagamento total. Acceptatio,
priado. Da mesma forma, temos que anula os padrões usuais de dívida
Ab abusu ad usum non valet e pagamento, ocorre sob a potentia
consequentia: As consequências ou absoluta (q.v.), o poder absoluto de
conclusões concernentes ao uso não podem Deus. Na teoria de Hugo Grócio, a
ser extraídas do abuso; ou, inversamente, aceitação divina da obra de Cristo
temos também Ex abusus non repousa basicamente na visão de
21
Aa
Deus como rector (q.v.), ou governa- ria, não essencial para esse algo,
dor, do Universo e sobre o exercício acrescentada a ele e passível de ser
divino da justiça governante (iustitia removido dele. Assim, um acidente
rectoris, q.v.) em vez de uma justiça é uma propriedade unida a algo que
estritamente remunerativa. Veja pode ser retirado desse algo sem
iustitia remuneratoria sive distributiva; qualquer alteração substancial; ou,
meritum Christi. em outras palavras, um acidente é
uma propriedade predicada contin-
acceptilatio: aceitação, aceptilação; gencialmente de algo. Os acidentes
basicamente, é uma variação de — considerando-se, além disso,
acceptatio (q.v.), mas que tem a co- que são propriedades que inerem
notação da lei romana de libertação às substâncias por adição — não
de uma dívida por meio de uma têm existência independente.
declaração formal de um devedor
ou credor de que, embora não tenha accommodatio: acomodação; tam-
bém attemperatio: ajustamento ou
havido pagamento, a dívida agora
acomodação; e condescensio: condes-
é considerada paga. O termo foi
cendência. Os reformadores e os seus
incorretamente usado como uma
seguidores escolásticos reconhecem
caracterização das teorias da expia-
que Deus tem de condescender ou
ção formuladas por Hugo Grócio
se acomodar de alguma forma às
e por John Duns Scotus, apesar
maneiras humanas de conhecer a fim
de ambas as teorias pressuporem de revelar-se. Consequentemente,
um pagamento e de Grócio atacar eles seguiram o pressuposto dos
de maneira explícita a aplicação pais da Igreja, como Crisóstomo, e
teológica do termo. medievais, como Tomás de Aquino,
de que as Escrituras transmitiam as
acceptio personarum: parcialidade verdades divinas em uma linguagem
em relação às pessoas; usada com uma que refletia os usos comuns e senso
referência específica à dispensação da de percepção dos seres humanos
graça e à justa punição do pecado, conforme, notavelmente, na inter-
a frase fundamenta-se no texto de pretação de textos como Gênesis 1.6,
Romanos 2.11 da Vulgata: Non est com referência à “expansão” ou ao
enim personarum acceptio apud Deum, “firmamento” (ARA), e Gênesis 1.16,
“[...] porque, para com Deus, não com referência aos “luminares: o
há acepção de pessoas”. luminar maior [...], e o luminar
menor”. Essa acomodação também
accidens: acidente; viz, uma pro- ocorre no uso das palavras e con-
priedade incidental de algo; espe- ceitos dos homens utilizados para a
cificamente, uma forma secundá- transmissão da lei e do evangelho;
22
Aa
entretanto, isso de forma alguma verdade compreendida como per-
implica a perda da verdade ou a cepções claras e distintas, que foram
diminuição da autoridade escritural. apreendidas por intermédio de um
Assim, a accommodatio ou condescensio processo de dúvida metodológica.
refere-se à maneira ou modo de A resistência reformada em relação
revelação, o dom de sabedoria do à filosofia cartesiana repousava em
Deus infinito em uma forma fini- parte no reconhecimento de que
ta, e não à qualidade da revelação essa identificação de linguagem e
e nem ao assunto revelado. Uma conhecimento comuns como im-
ideia paralela ocorre na distinção precisos e errados era destrutiva
protestante ortodoxa entre theologia em relação à autoridade bíblica.
archetypa (q.v.) e theologia ectypa (q.v.), No fim do século XVII, os cartesia-
em que o primeiro termo refere-se nos reformados, como Christopher
ao conhecimento divino inacessível Wittich, concluíram que o uso da
e infinito, e o último termo refere-se linguagem popular no texto equi-
a várias formas de teologia que re- valia a uma acomodação ao erro
pousam sobre as verdades reveladas humano; e, no século XVIII, com
ou acomodadas. A compreensão da a perda da epistemologia filosófi-
Antiguidade, da Era Medieval e do ca tradicional, o pressuposto de
início da Era Moderna de que tal que a acomodação implica não
acomodação não deixa implícita uma só uma condescendência divina,
perda da verdade, apoiando-se em como também o uso das afirma-
grande parte sobre um pressuposto ções delimitadas pelo tempo e até
da confiabilidade do sentido das mesmo equivocadas como um meio
percepções e da universalidade dos para a revelação torna-se uma visão
conceitos ou noções implantadas, corrente, conforme evidenciado no
inatas ou comuns (notiones communes, pensamento de Johann Semler. Essa
q.v.) concernente às verdades mais última noção de acomodação ao
básicas. costume e erro também foi encon-
Uma mudança na epistemologia trada em meio aos socinianos e foi
ocorreu com o surgimento de várias enfatizada na leitura da Escritura
formas de ceticismo no início da feita por Espinoza. Essa posição,
Era Moderna, levando, também, por conseguinte, é bastante distinta
a uma alteração do conceito da das posições dos reformadores e da
linguagem acomodada. A filosofia maioria dos escolásticos protestantes,
cartesiana, em particular, assumiu a quer luteranos, quer reformados.
não confiabilidade dos sentidos e a Veja sensus accommodatitius.
necessidade de duvidar dos conhe-
cimentos comumente recebidos a acedia: indolência, apatia, desespero.
fim de discernir a verdade, com a Veja septem peccata mortalia.
23
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achōristōs (ἀχωρίστως): sem se- que quer dizer, efetuar ou viabilizar
paração. Veja adiairetōs kai achōristōs. os seus efeitos no agente (e, nesse
caso, o agente também é o sujei-
acroamaticus ou, algumas vezes, to) ou efetuar ou viabilizar o seu
acroaticus: tendo que ver com o dis- efeito em outro. Essa última ação,
curso ou fala pública, como distinta actio transiens, pode ser distinguida
da palavra escrita; de acroama, em quatro tipos, dependendo do
algo que é ouvido geralmente com resultado ou terminus ad quem da
prazer. Os dois termos também ação: primeiro, uma ação pode ser
podem (raramente) implicar algo generativa ou corruptiva de uma
reservado apenas para os ouvidos, substância; segundo, pode indicar
a saber, algo esotérico. Veja theologia uma mudança em quantidade, quer
acroamatica. pelo acréscimo, quer pela diminuição;
terceiro, pode indicar uma alteração
actio, algumas vezes também ac- de qualidade; e quarto, pode indicar
tus: ação, atividade. Ação é a forma uma mudança de lugar (locus, ou ubi).
ou maneira como um agente ou A ação também pode ser unívoca,
causa realiza ou efetua algo, sendo produtiva de um efeito que pertence
distinto de paixão (passio, q.v.), que ao seu próprio tipo ou species (q.v.),
é a forma ou maneira como um ou equívoca, produtora de um efeito
sujeito recebe a ação ou efeito de que pertence a diferentes species —
um agente específico. Em suma, uma no primeiro caso, o calor produz
ação é um fluxo (fluxus) do efeito do inequivocamente calor; no segundo,
agente para o seu término em um a luz produz equivocamente calor.
sujeito. Toda ação tem de ter um A ação pode ainda ser distinguida
agente (agens), um sujeito (subiectum, como um actio perficiens ou um actio
q.v., ou patiens), um terminus a quo corrumpens, uma ação que completa
e um terminus ad quem — a ação, ou realiza um efeito positivo ou,
portanto, tem um ator, algo sobre então, uma ação que é destrutiva
o que se age, e, no sujeito, há tanto ou danificadora. Veja actus; motus;
uma qualidade ou característica operatio; passio; praedicamenta.
que pode ser alterada (o terminus
a quo) quanto uma qualidade ou Actio Dei neminem facit in-
característica que pode ser efetuada juriam: um ato de Deus não faz mal
ou viabilizada (o terminus ad quem). a ninguém; é uma máxima também
A única exceção a essa estrutura de usada na lei.
actio é a criação que não exige um
sujeito no qual o agente divino age. actio Dei praevia: anterior ao ato
Uma ação pode ser imanente de Deus ou o precedendo. Veja causae
(immanens) ou transitiva (transiens), o secundae; concursus.
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actio efficax: ação efetiva ou ato escolástica concernente ao ser, actus,
efetivo; especialmente, o poder da ou realização, ou efetuação, designa
providentia (q.v.) no seu concursus (q.v.), aquilo que existe ou que é realiza-
ou cooperação, com os atos dos do, distinto de potentia (q.v.), que é
seres humanos; i.e., o apoio divino aquilo que pode existir ou que tem
providencial do bem. potencial para a existência. Actus
é usado algumas vezes como um
actio sacramentalis: ação ou ativi- sinônimo de actio (q.v.), indicando
dade sacramental; i.e., o rito (usus, q.v.) atividade ou ação, mas o seu uso
do sacramento conforme realizado teológico e filosófico básico refere-se
por todos os participantes. Assim, na ao fato, à efetuação ou realidade
Ceia do Senhor, o actio sacramentalis de um ser ou coisa. Os escolásticos
consiste na consagração (consecratio, usam o conceito de actus, ou fato,
q.v.), na distribuição (distributio, q.v.), para descrever o que é real, exis-
no comer (manducatio, q.v.) e no be- tente, perfeito, completo, incluindo
ber (bibitio). Nem os luteranos nem uma ação ou operação completa ou
os reformados permitem alguma perfeita; assim, os usos de sinôni-
continuação do sacramento além mos, fato (actualitas), no ato (in actu),
do actio sacramentalis. Veja Nihil habet ter ato ou fato (habere actum) e ser
rationem sacramenti extra usum a Christo real (ens actuale). Potentia (q.v.), por
institutum. contraste, refere-se ao possível, à
essência (como distinto de existên-
actiones theandrikai (θεανδρικαί): cia), ao imperfeito ou incompleto e,
atividades teândricas; viz., ações ou portanto, à faculdade (i.e., intellectus
obras de Cristo que são obras co- ou voluntas, q.v.) que pode realizar
muns de ambas as naturezas ou, uma ação ou operação. Assim, o
mais precisamente, a obra conjunta intellectus, como uma faculdade, é
da pessoa divino-humana. Veja in potentia (q.v.), em uma condição
apotelesma. de potência, capaz de conhecer;
ao passo que intellectus, no seu co-
actualiter: literalmente, realmente; nhecimento de um objeto, está em
especificamente indicando algo que uma condição ou estado de reali-
existe in actu (q.v.) ou, na realidade, zação ou efetuação, de modo que
distinto de algo que existe potentialiter, conhecer ou compreender pode
potencialmente, ou in potentia (q.v.). ser chamado de um actus intellectus,
Veja actus; potentia. uma realização, efetuação ou ope-
ração completa do intelecto. Por
actus: ato, realização, efetuação, fato fim, actus, ou realização, ou fato,
ou realidade. Segundo a ontologia só pode ser definido em relação à
aristotélica na raiz da linguagem potentia, ou potência, com a única
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exceção de Deus, que é totalmente actus apprehendi: apreensão, o
real, ou fato puro (actus purus, q.v.). ato ou fato de apreender; como, e.g., o
Conforme Aristóteles argumenta apprehensio fiducialis (q.v.), ou apreensão
(Metaphysics 9.6.1048a.31-b.8), nem fiel, que completa a fé (fides, q.v.).
todas as coisas existem realmente, Veja actus, actus fidei, actus fiduciae.
ou, de fato, no mesmo sentido; a
realidade delas é definida em con- actus cogitandi. Veja substantia
traste com o potencial, de forma que cogitans.
ver é real em relação à capacidade
passiva de ver. Uma semente é real actus consolatorius: realização,
em relação à matéria da qual ela é efetuação ou fato consolatório. Veja ac-
formada, porém é claramente po- tus fidei.
tencial em relação à árvore. Assim,
actus é sempre logicamente anterior actus decernens: o ato ou fato de-
ao potentia, uma vez que potentia é cretador; viz, a essência divina como
potencial em direção a algo, em- desejando ou decretando o decreto
bora, em alguns casos, o potencial eterno. Veja actus; actus purus; decretum.
preceda a realidade no tempo. Assim,
o processo ou moção (kinēsis; motus, actus depositionis: ato de deposição;
q.v.) do potencial para a realidade contrastado com actus propositionis,
descreve tanto a continuidade quanto um ato de apresentação. Veja reg-
a mudança do mundo fenomenal num Christi.
(natura, q.v.) e explica o relaciona-
mento da forma (forma, q.v.) com a actus dispositivus sive prae-
matéria (materia, q.v.). paratorius: um ato dispositivo, ou
Outra distinção pode ser feita entre preparatório, ou realidade. Veja actus;
actus absolutus (q.v.) e actus respectivus praeparatio ad conversionem.
(q.v.), realização absoluta ou simples
e realização respectiva ou relativa; o actus essendi: o ato, ou fato, ou
primeiro refere-se ao ser totalmente ser, a saber, o dado da coisa exis-
realizado ou completo (ens completum), tente. Veja esse; essentia; substantia;
como um homem, um cavalo ou um suppositum.
anjo; já o segundo refere-se ao ser
incompleto (ens incompletum), como actus fidei: o ato, realidade, operação
uma matéria sem forma. Veja actio; perfeita ou operação real de fé; em acrés-
actualiter; actus decernens; actus fidei; actus cimo ao objetivo deles, as definições
purus; energeia; ens; in actu. doutrinais de fides (q.v.), o ortodoxo
protestante também considera a fé
actus absolutus: realidade ou fato quando ocorre ou se torna realidade
simples ou absoluto. Veja actus. no sujeito que crê. No sujeito, a fé
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Aa
pode ser considerada como uma ção só pela graça (veja iustificatio).
disposição ou capacidade do sujeito Antes, a linguagem de habitus fidei
de ter fé (habitus fidei, q.v.), a qual, (q.v.) e actus fidei, da disposição ou
no caso da fé salvífica (fides salvifica) capacidade para a fé e efetuação ou
é um dom gracioso de Deus, ou realização da operação de fé, precisa
como o actus fidei, o ato ou operação ser compreendida no contexto da
realizadora da fé, em que o intelecto linguagem escolástica de potencial
e a vontade apropriam-se do objeto (potentia, q.v.) e ato, ou realidade
da fé (obiectum fidei, q.v.). O actus fidei, (actus). A disposição, ou habitus (q.v.),
por conseguinte, pode ser descrito representa um potencial para a fé
pelos escolásticos reformados e lu- que pode ser efetuada como fé. O
teranos como um actus intellectus e ato ou actus de fé, embora possa ser
um actus voluntatis, uma operação do definido como uma operação, não
intelecto e da vontade. Tanto notitia é uma atividade no sentido de uma
(q.v.), conhecimento, quanto assensus obra ou ação, mas uma operação
(q.v.), assentimento para o conhe- no sentido de efetuação em que a
cimento, pertencem ao intelecto, fé vem a ser fé ou, em outras pa-
enquanto o apprehensio fiducialis, ou lavras, se move do potencial para
apreensão fiel, desse conhecimento a efetuação ou realização.
é um ato da vontade. A fé salvífica O reformado ortodoxo ainda
em Cristo, portanto, engloba o actus separa o actus fidei em várias par-
credendi in intellectu, a realização ou tes. A primeira distinção é dupla:
efetuação do crer na operação do um actus directus e um actus reflexus.
intelecto, e o actus fiduciae (q.v.), ou O actus directus fidei, ou operação
actus fiducialis voluntatis, a realiza- direta de fé, é a fé recebendo ou,
ção ou efetuação de fidelidade na mais precisamente, tendo o seu
operação da vontade. A alma pode objeto. Pelo actus directus fidei, um
ser considerada como o subiectum indivíduo acredita nas promessas
quo (q.v.), ou “sujeito por meio do do evangelho. O actus reflexus fidei,
qual”, da fé, uma vez que a alma a reflexão ou a operação reflexiva
pode ser distinguida nas faculdades da fé, é a apropriação interna do
do intelecto e da vontade. objeto, segundo a qual é possível
A linguagem escolástica da fé saber que o indivíduo crê. Esses dois
como actus (q.v.) não deve ser cons- atos ainda podem ser distinguidos
truída como uma descrição da fé um do outro, uma vez que, em par-
como uma atividade que efetua ticular, tanto notitia quanto assensus
para a mente e a vontade um co- podem ser considerados como actus
nhecimento salvífico de Cristo e em directus. O actus directus pode ainda
Cristo. Tal visão constituiria uma ser separado em (1) um actus noti-
negação da doutrina da justifica- tiae, ou realização ou efetuação do
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conhecimento, e (2) um duplo actus Christi, uma operação de recepção
assensus, ou realização ou efetuação de Cristo, de adesão a Ele e união
do assentimento (assensus theoreticus com Ele. A operação seguinte da
e assensus practicus), que consiste em fé é o actus reflexus, em que a alma
um actus refugii, ou realização ou reflete sobre si mesma e sabe que
efetuação do refúgio, e um actus crê no que crê e que Cristo morreu
receptionis et unionis, uma realização por ela. Enquanto o actus reflexus é
ou efetuação da recepção e união. basicamente um actus intellectus, o
A título de explicação, cada um actus fidei final pertence à vontade.
desses componentes do actus fidei é O actus consolationis et confidentiae, ou
direto à medida que se refere ao realidade da consolação e confiança,
objeto da fé como apropriação. Isso é uma aquiescência à vontade de
fica claro no caso do actus notitiae, Cristo e ao conhecimento da salvação
segundo o qual o obiectum fidei (q.v.), a em Cristo. A análise escolástica do
Palavra de Deus sobrenaturalmente actus fidei, em suma, é uma tentati-
revelada, pertence ao intelecto, e va de isolar e definir os elementos
também no caso do assentimento da fé, que têm de ser realizados ou
teórico, segundo o qual o intelecto efetuados no crente se a graciosa
concorda com a certeza da verdade do disposição dada em direção à fé,
seu conhecimento. O assensus practicus o habitus fidei, tiver de dar frutos na
et fiducialis, ou consentimento fiel e plena efetuação da fides.
prático, ainda pertence ao intelecto
que aqui reconhece como exato e actus fiduciae: a realização ou
como o obiectum fidei não só a revelação efetuação da confiança; a fé real que
escritural, como também a revelação repousa na apreensão fiel, pela
da graça e salvação suficiente em vontade (apprehensio fiducialis ou
Cristo que Deus promete a todos os apprehensio voluntatis), da verdade
que creem. A realização ou efetuação de Cristo. O actus fiduciae, na visão
do refúgio segue-se imediatamente de muitos reformados ortodoxos, é
à realização ou efetuação de que o a própria essência da fé, uma vez
próprio Cristo e a união com Ele que representa a realização ou efe-
provêm a fé com o meio da salva- tuação plena de todos os outros
ção. Esse actus é basicamente o da elementos da fides (q.v.), ou fé, no
vontade, mas ainda é direto. Por fim, crente individual. Assim, também
com o fundamento de tudo o que pode ser chamado de realização ou
já antecedeu, mas também agora efetivação fiducial da vontade, actus
como o resultado do actus volunta- fiducialis voluntatis, que faz paralelo
tis, ou atualização ou efetuação da com a realização ou efetuação da
vontade em direção a Cristo, há um crença no intelecto e completa-a, o
actus receptionis sive adhaesionis et unionis actus credendi in intellectu. Veja actus fidei.
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actus forensis: ato forense ou judi- e alguns dos reformados (e.g., Ver-
cial, i.e., a realização ou efetuação migli), o decreto da eleição. Veja
de uma condição ou estado legal, decretum; praedestinatio.
como ocorre na justificação do pe-
cador por Deus por conta da fé. O actus praeparatorius: ato prepara-
pecador não se faz justo, mas, pela tório; viz., o cumprimento da condição
vontade de Deus, é declarado justo ou estado preparatório para uma
tanto legal quanto judicialmente condição ou estado subsequente;
e, desse momento em diante, está também actus praecedaneus: ato
em uma condição de ser justificado ou efetuação precedente. Veja praeparatio
ou contado como justo. Veja actus ad conversionem.
iustificatorius; iustificatio.
actus primus: efetuação ou realização
actus iustificatorius: ato ou ope- primária; i.e., a mera existência de
ração justificatória; viz., a apropriação algo distinto das suas operações.
formal do divino actus forensis (q.v.) Veja actus; in actu.
da justificação no indivíduo que
crê; a realização ou reconheci- actus primus / actus secun-
mento de que Deus não considera dus: realização ou efetuação primária
mais o indivíduo como pecador, / realização ou efetuação secundária.
mas como justo em Cristo. Veja Veja in actu.
iustificatio.
actus purus: realidade ou fato puro
actus mixtus: realização ou efe- ou perfeito; algumas vezes actus
tuação incompleta ou mista; é um purissimus: realidade ou fato mais
termo usado com referência a puro; é um termo aplicado a Deus
um ser ou substância que não foi como o ser totalmente real, o único
totalmente efetuado, mas não é ser que não é potencial; Deus, em
um mero potencial. Veja actus; in outras palavras, é absolutamente
actu; in potentia. perfeito e o cumprimento eterna-
mente perfeito de si mesmo. É da
actus praedestinationis: o ato essência de Deus ser o actus purus
da predestinação; i.e., o decreto divi- ou purissimus, uma vez que Deus,
no compreendido como uma ação ser autoexistente, é in actu (q.v.),
ou ato de Deus; é uma referência no estado de realidade, e nunca in
ao decreto compreendido como potentia (q.v.), no estado potencial
consistindo na eleição e reprovação ou realidade incompleta. Essa vi-
ou, considerando-se a definição são de Deus como ser totalmente
alternativa de predestinação usada real está no cerne da exposição
por muitos escolásticos medievais escolástica da doutrina da imuta-
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bilidade divina (immutabilitas Dei, actus secundus: realidade ou fato
q.v.). A imutabilidade não indica secundário; i.e., a existência de uma
inatividade nem ausência de rela- coisa nas suas operações, conforme
ção, mas o cumprimento do ser. contrastada com a existência de uma
Além disso, a plena realidade do coisa em actus primus ou realidade
ser divino relaciona-se estritamente primária. Veja actus; in actu.
com a discussão do ser ou essência
de Deus ad intro e, de forma alguma, actus simplex: realidade ou fato simples
argumenta contra o exercício da ou não composto. Veja actus; simplicitas.
potentia ad extra divina, potência ou
poder em relação ao exterior (veja actus simplicissimus: realidade
opera Dei ad extra). Em outras palavras, ou fato mais simples ou totalmente não
Deus em si mesmo, considerado composto. Veja actus; simplicitas.
essencial e pessoalmente, não é in
potentia porque a essência e as pessoas actus unionis: a realidade ou efetua-
divinas são eternamente perfeitas, ção da união; especificamente, da unio
e a vida interna da Divindade é personalis (q.v.), ou união pessoal, das
eternamente completa e totalmente duas naturezas em Cristo. Preferi-
real. A geração do Filho, e.g., não velmente, o termo actus personalis, ou
implica o movimento ontológico realidade ou efetuação da pessoa, deve
da Segunda Pessoa da Trindade ser empregado, seguindo a maioria
de um estado de realidade incom- dos dogmáticos ortodoxos. O actus
pleta para um estado de realidade personalis refere-se ao actus primus, ou
perfeita. Não obstante, os relacio- realidade primária, da pessoa de
namentos de Deus com a ordem Cristo, que é a realidade das duas
criada, com os indivíduos objetos naturezas em uma pessoa ou, apenas,
da vontade divina ad extra, podem a existência da união pessoal como
ser considerados in potentia, uma vez tal. A nota ortodoxa de que um actus
que todos esses relacionamentos naturalis, ou realidade da natureza
dependem do livre exercício da ou humanidade de Cristo, deve lo-
vontade divina em relação à ordem gicamente (mas não temporalmente)
dos seres contingentes atraídos em preceder o actus personalis. Veja actus;
direção à perfeição. Veja actus; ad anhypostasis; in actu; natura.
intra; opera Dei ad intra.
ad arbitrium: segundo a escolha
actus respectivus: realidade ou ou vontade de alguém, arbitrariamente.
fato relativo ou respectivo. Veja actus.
ad baculum: com a vareta ou clava;
actus reus: um ato no qual se tem é um argumento retórico que tenta
culpa. intimidar os oponentes.
30
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ad eundem: para o mesmo. intenção de convencer o ignorante por
intermédio do engano; alternativamente,
ad extra: externo, exterior, em direção é um argumento que se fundamenta
ao exterior. Veja ad intra; opera Dei na afirmação da ignorância por parte
ad extra. do oponente de alguém.

ad extremum: por fim, finalmente; ad infinitum: para a infinidade, sem


até um extremo. fim; geralmente para falar-se de uma
série de eventos ou fatos.
ad finem: até o fim. Veja causa fi-
nalis; finis. ad interim: nesse ínterim.

ad fontes: para as fontes; é um pres- ad intra: interno, interior, em direção ao


suposto associado com a Renascença interior. A distinção entre ad intra e ad
extra (q.v.) é particularmente útil na
e o início da abordagem humanista
discussão dos atos e operações de
moderna aos textos no original ou
Deus, considerando-se, e.g., o decreto
línguas fontes que enfatizavam o re-
eterno de Deus (decretum Dei) como
curso direto aos textos originais, quer
um ato interno ou em direção ao
bíblicos, quer tradicionais, em vez de
interior de Deus, um dos opera Dei ad
recorrer às traduções, apropriações intra (q.v.), porém executado ad extra,
posteriores, referências ou resumos. o ato ad intra é eterno; e a execução
ad extra, temporal. Veja decretum.
ad hoc: para ou por isso; i.e., para ou
por esse caso apenas, especial. Na ad judicium: para julgamento; é um
retórica e argumentação filosófica, argumento retórico fundamentado
ad hoc pode indicar uma tentativa no senso comum ou no julgamento
arbitrária ou dúbia da comprovação geral presumido da audiência.
de um ponto.
ad libitum: conforme lhe agradar ou
ad hominem: para a pessoa; é uma como desejar.
forma de argumento que se fun-
damenta no preconceito, e não na ad misericordiam: para misericór-
prova, desenvolvido para influenciar dia; é um argumento retórico que
os sentimentos, e não o intelecto. apela para as emoções dos ouvintes.

ad ignorantiam: para a ignorância: ad populum: para o povo ou popu-


é uma forma de argumento funda- lacho; é um argumento retórico que
mentado em premissas falsas, mas apela aos sentimentos ou interesses
não prontamente aparentes, com a da população como um todo.
31
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ad quem: para o qual. Veja causa ao relacionamento das naturezas
finalis; finis; terminus. humana e divina de Cristo e defi-
ne-o na unio personalis (q.v.), ou união
ad rem: para a coisa; i.e., conside- pessoal. Assim, as duas naturezas
rando o assunto em questão; para o de Cristo são unidas em uma pes-
propósito; com frequência, conciso soa sem divisão nem separação.
e objetivo, compreendido como o A fórmula é uma barreira para a
objeto apropriado de um argumento heresia nestoriana, que põe em
ou debate, distinto de argumentos risco doutrinalmente a união por
ad hominem (q.v.), ad hoc (q.v.) ou ad conceber uma grande distinção
baculum (q.v.). entre as naturezas. Veja actus unionis;
atreptōs kai asynchytōs.
ad summam: em suma, em conclu-
são, resumir. adiaphora: (do grego ἀδιάφορα):
coisas indiferentes; é um termo derivado
da filosofia estoica na qual indicava
ad usum fidelium: para uso do fiel.
o escopo das ações moralmente neu-
tras, nem boas nem más. O termo
adaequate: adequadamente, igual-
assinalava a diferença entre as visões
mente; portanto, integral ou total,
de Lutero e Zuínglio no princípio
distinto de inadaequate, desigual. Em
da Reforma. Lutero argumentara
um exemplo corrente da distinção, — contra a ligação excessiva da
um ser humano sendo compreen- teologia medieval à observância re-
dido como adequado é um animal ligiosa formal e externa e também
racional (animal rationale, q.v.), mas, contra os espíritos iconoclastas do
se compreendido como inadaequate, início da Reforma — por uma dis-
é um animal. Veja distinctio. tinção entre as verdades necessárias
e invariáveis do cristianismo e os
adaequatio: adequação, tornando igual assuntos indiferentes. O ensinamento
ou equivalente; assim, a definição tra- paulino de 1 Coríntios 8.1–9.23,
dicional de verdade como adaequatio Gálatas 2.3-5, 5.13-15 e Colossen-
rei ad intellectum, a conformidade ses 2.16-20 provê uma guia àqueles
ou adequação da coisa à mente. assuntos aparentemente indiferentes
Veja veritas; veritas representationis; que podem criar um obstáculo ou
veritas sententiae. representar uma pedra de tropeço
para o evangelho e outros assuntos,
adiairetōs kai achōristōs verdadeiramente indiferentes, que
(ἀδιαιρέτως καὶ ἀχωρίστως): sem poderiam ser permitidos sem evitar o
divisão e sem separação; é uma frase evangelho. Por esse mesmo critério,
do Credo Calcedônio que se refere Lutero estava relutante em alterar
32
Aa
as formas da adoração cristã à parte resultado do debate foi a rejeição
da tradução da liturgia no vernacu- da posição conciliatória de Me-
lar, sustentando que a presença de lâncton fundamentada no fato de
imagens na igreja era indiferente e que nenhuma prática ou jurisdição
opondo-se ao iconoclasmo. Zuínglio, implementada ou exercitada por
ao contrário, instituiu formas mais um inimigo do evangelho poderia
simples e estritamente bíblicas na ser adiaphora.
adoração e considerava as imagens A segunda controvérsia adiaforista
nas igrejas, particularmente as ima- ocorreu na Inglaterra durante o
gens que retratavam Deus, como reinado da rainha Elizabeth I. Esta
algo proibido pelo Decálogo. A vi- insistiu na conformidade estrita às
são de Zuínglio também foi aceita vestes clericais. O grupo contrário
por Calvino. A questão da adiaphora às vestes, ou puritanos, admitiram
aparece em dois debates importantes que, em teoria, as vestes eram adia-
no protestantismo do século XVI. phora, porém argumentaram que a
Na primeira controvérsia adia- associação das vestes com o papa-
forista, os sucessores de Lutero de- do tornava o uso das mesmas um
bateram sobre a reinstituição da obstáculo para a propagação do
jurisdição papal, conciliar e episcopal, evangelho. Os contrários ao uso
da cerimônia da missa, confirmação das vestes clericais fundamenta-
episcopal, confissão, penitência e vam-se profundamente nas fontes
absolvição, cantos e vestes; tudo protestantes do continente, incluindo
isso foi ditado (brevemente) pelo os escritos de Flacius, apesar de a
Ínterim de Leipzig (1548). Após a oposição deles ao uso de adiaphora
morte de Lutero, Melâncton e os na adoração remontar provavel-
seus apoiadores tentaram garantir mente ao aumento do impacto do
a paz do império e a segurança dos pensamento reformado na Reforma
luteranos ao permitir a reinstituição inglesa. No fim, o poder real acabou
da jurisdição e prática romanas com a controvérsia elisabetana ao
como adiaphora, desde que a ver- apoiar o lado dos que defendiam
dadeira doutrina e a pregação do o uso das vestes clericais, pressu-
evangelho não fossem obstruídas. pondo que tudo aquilo que não
A oposição a Melâncton e a ad- fosse estritamente proibido deveria
missão de tais práticas na igreja ser permitido. No entanto, a visão
da Reforma aglutinaram-se em antiadiaforista, conforme enunciada
torno de Matthias Flacius Illyricus em ambas as controvérsias, permite
e a sua alegação de que “nada é apenas que sejam verdadeiramente
indiferente em assuntos referentes indiferentes aquelas práticas ex-
à confissão e ao incentivo ao pe- traescriturais que não obstruem o
cado” (scandali; veja scandalum). O evangelho, mas, antes, buscam a
33
Aa
glória de Deus e o bem da igreja. As administratio sacramenti:
verdadeiras adiaphora representam administração do sacramento; pl. ad-
tudo o que não é ordenado e nem ministratio sacramentorum:
proibido pela Palavra de Deus e que, administração dos sacramentos. Veja
portanto, dizem respeito a assuntos notae ecclesiae; sacramentum.
que podem ser decididos na igreja
por intermédio do acordo mútuo adoptio: adoção; é um corolário da
dos membros. Adiaphora geralmente justificação na doutrina reforma-
pertence ao domínio da prática, da do ordo salutis (q.v.) ou ordem da
e não ao domínio da doutrina ou salvação. O conceito não aparece
consciência. Veja media. como um elemento formal no ordo
salutis do luterano ortodoxo. No ordo
adiastasia (ἀδιαστασία): continui- reformado, a adoção do crente como
dade, ausência de separação; é o termo filho de Deus ocorre como o corolário
usado pelos pais na forma adjetiva e resultado imediatos da declaração
(ἀδιάστατος, adiastatos) para indicar forense da justiça por causa da fé.
a relação inseparável do Pai com Aqueles justificados pela graça de
o Filho e a geração contínua do Cristo também são, com Ele, coerdei-
Filho a partir do Pai. ros do Reino e, por causa da união
deles com Ele, são declarados filhos
adidaktos (ἀδίδακτος): não ensinado, com Cristo. O conceito de adoptio,
não instruído; usado para referir-se ao portanto, também se fundamenta
Logos em um sentido positivo, viz., no ensinamento reformado da unio
aquele que conhece sem ter sido mystica (q.v.), ou união mística com
ensinado e conhece absolutamente. Cristo: os crentes graciosamente
Veja autodidaktos. unidos com Cristo, o Filho de Deus
por natureza, tornam-se filhos de
adikia (ἀδικία): transgressão ou in- Deus pela graça.
justiça; perversidade; e.g., 2 Tessalo-
nicenses 2.12. adventus Christi: o advento ou vinda
de Cristo; é mais frequentemente
adminicula: apoios, assistentes, uma referência à segunda vinda
auxiliares; especificamente, apoios visível de Cristo na consumação
espirituais que levam à iluminação das eras (consummatio saeculi, q.v.).
(illuminatio, q.v.). No último dia (dies novissimus, q.v.),
Cristo retornará em glória e poder
administratio foederis gra- nas nuvens do Céu para redimir
tiae: administração ou dispensação da os seus eleitos e reuni-los, tanto os
aliança da graça. Veja foedus gratiae; vivos quanto os ressuscitados dentre
oeconomia foederis. os mortos, para o julgamento final
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Aa
(iudicium extremum, q.v.). Após o jul- gratia, uma vez que Cristo e a sua
gamento e a separação final entre os graça estão presentes e disponíveis
justos e os injustos, entre os eleitos para a fé na Palavra e sacramento.
e os condenados, Cristo retornará Esse advento é, obviamente, invisí-
todas as coisas para o governo de vel. O adventus in gratia refere-se ao
Deus, será rei para sempre (o mu- estado de exaltação de Cristo (status
nus regnum; veja munus triplex; regnum exaltationis, q.v.); da perspectiva da
Christi), e Deus será tudo em todos. ortodoxia luterana, refere-se ao
Os escolásticos enumeram vários modo da presença sobrenatural e
atributos ou características do adventus sem local determinado (praesentia,
Christi: será pessoal (personalis); visível q.v.) da natureza humana de Cristo
(visibilis); abençoado (beatificus) para na Ceia do Senhor. O adventus Christi
os que creem; terrível ou aterrador in gloria, estritamente falando, é a
(terribilis) para os descrentes e, por terceira vinda de Cristo, ou segunda
fim, glorioso (gloriosus). vinda visível, na consumação das
O protestante ortodoxo tam- eras. O ortodoxo protestante, tanto
bém pode falar de três adventos o reformado quanto o luterano, é
de Cristo: um advento na carne (in inflexível na sua rejeição das crenças
carne), um advento na graça (in gratia) quiliastas em mais que duas vindas
e um advento na glória (in gloria). visíveis de Cristo, embora muitos dos
O adventus Christi in carne refere-se escritores ortodoxos sustentem um
especificamente à encarnação, ao milênio literal, quer passado, quer
ministério e à obra de Cristo (veja futuro. Veja chiliasmus; millennium.
obedientia Christi; officium; satisfactio
vicaria) e à aparência ou aspecto advocatus diaboli: advogado do
de Cristo durante o estado de hu- diabo.
milhação (status humiliationis, q.v.),
quando o seu poder foi revelado adynamia (ἀδυναμία): falta de força,
na fraqueza, e a sua divindade, poder ou habilidade; nessa forma, é
como tal, permaneceu escondida um termo da filosofia grega, e.g.,
do mundo, exceto na realização Aristóteles (Metaphysics [Metafísi-
de milagres e na transfiguração ca] 1019b.15-20) na discussão de
(veja krypsis; ktēsis; occultatio). O potencial: adynamia é a privação da
adventus Christi in gratia refere-se à habilidade ou capacidade (veja dy-
presença contínua de Cristo com namis). Os pais conhecem as formas
a sua Igreja na terra entre a sua ἀδύναμος (adynamos) e ἀδύνατος
primeira e segunda vinda visível, (adynatos), fraco ou sem poder, e
segundo a sua própria promessa negam que sirvam de predicação de
de presença contínua (Mt 18.20; Deus. Os escolásticos protestantes
28.20). Trata-se de um advento in fundamentam-se em ambos os usos.
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Aa
aequipollens: equivalente, de rele- sucessão ou mudança. A eternidade,
vância igual. portanto, deve ser compreendida
como a absoluta permanência do ser,
aequitas: equidade, igualdade, justiça. a saber, como o tipo de duração que
pertence ao ser imutável, simples e
aequivocatio: equivocação. Veja absoluto, duração essa que só Deus
aequivocus. tem. Os escolásticos protestantes,
assim como os escolásticos medie-
aequivocus: equívoco; literalmen- vais, aceitam a definição de Boécio
te, tendo duas voces, ou vozes, que de que a eternidade é a perfeita e
são igualmente corretas; trata-se simultânea posse de vida sem fim
de uma questão particularmen- (aeternitas est interminabilis vitae tota
te importante na predicação dos simul et perfecta possessio). A eternidade,
atributos de Deus, uma vez que o por conseguinte, transcende não só
uso equivocado do termo torna- o tempo limitado, como também a
ria impossível a determinação de sucessão temporal infinita, a saber,
quaisquer dos sentidos. Se, como a o próprio tempo. A eternidade é
perspectiva nominalista da teologia uma duração sem sucessão, o que
do fim do período medieval argu- implica imutabilidade (immutabilitas,
mentava, não há nenhuma analogia q.v.) e a ausência de moção do po-
(q.v.) entre Deus e o mundo, então tencial para o ato (veja actus purus);
a afirmação de que Deus é bom o tempo é uma duração sucessiva
não tem nenhuma relação com a caracterizado e definido pela muta-
afirmação de que a Igreja é boa; a bilidade e pela moção do potencial
palavra “bom” foi usada de forma para o ato. Ainda, a eternidade,
equivocada, e o seu uso fica além considerada como atributo divino
da compreensão da razão. A ênfase de relação a ser compreendida no
dos protestantes — em particular, seu relacionamento ad extra com o
os reformados — na transcendên- tempo, tanto quanto a onipresença
cia divina levanta o problema da divina (omnipraesentia, q.v.) tem de
predicação dos atributos para os ser entendida em relação ao tempo
escolásticos protestantes. Veja attributa e espaço.
divina; praedicatio; univocus. A eternidade, na teologia e fi-
losofia escolásticas, é contrastada
aeternitas: eternidade; especifica- não só com o tempo (tempus), como
mente, a aeternitas Dei, ou eternidade também não permite nenhuma
de Deus. Os escolásticos, por esse mudança substancial ou acidental; a
atributo, compreendem a existência eviternidade tem início, mas não tem
e continuidade (duratio) de Deus sem fim e permite a mudança acidental,
princípio nem fim e à parte de toda mas não substancial; o tempo tem
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Dicionário de Termos
Teológicos Latinos e Gregos T odas as definições
começam com o
termo em latim ou

Dicionário de Termos
Teológicos Latinos e Gregos
a transliteração do
termo grego. No caso
A habilidade de trabalhar produtivamente no cam- dos termos gregos, as
po da Teologia, como uma disciplina estabelecida há diferenças entre o al-
fabeto latino e grego,
muito tempo, repousa em grande medida no domínio
além da latinização de
do vocabulário. A tarefa é, sem dúvida, difícil para os alguns termos gregos
RICHARD A. MULLER,
estudantes em geral. A linguagem técnica da Teologia (e.g., hypostasis), tor-
é Ph.D. pela Duke Uni- nam a transliteração
ainda aparece com frequência em grego ou latim. Não
versity. Atuou no con- necessária pelo bem
só a precisão das línguas originais perde-se muitas
selho editorial do Six- da alfabetização. A
vezes na tradução para o português, como também
teenth Century Journal forma grega do ter-
muitas das obras-padrão no campo da Teologia con- mo vem logo depois
e da Reformation and
tinuam a usar termos latinos e gregos, presumindo da transliteração. A
Renaissance Review. forma grega é seguida
que os estudantes já dominam esse vocabulário.
É Professor Emérito por uma tradução lite-
O objetivo deste volume é fornecer um vocabulário
de Teologia Histórica ral (em alguns casos,
teológico introdutório que ajudará os estudantes a essa tradução é quali-
e membro sênior do
superar as dificuldades inerentes nas obras atuais ficada com o advérbio

Richard A. MULLER
Instituto Junius, em
em inglês e português que usam termos latinos e “literalmente”). A se-
Grand Rapids, Michigan. guir, sempre que uma
gregos, oferecendo definições claras e concisas dos
explicação adicional
termos para estudantes de vários níveis.
for necessária, uma
explicação expandida
é apresentada, com
referências cruzadas
para termos relacio-
nados.

CAPA Dicionario de Termos Teologicos Latinos e Gregos.indd Todas as páginas 13/04/2023 16:40

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