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português
Profª. Fernanda Lemos de Lima Profª. Márcia Regina de Faria da Silva
Descrição
Propósito
Compreender a presença do latim e do grego na língua portuguesa para ampliar a competência linguística.
Preparação
Tenha em mãos um dicionário de Linguística para consultar os termos específicos da área. Na Internet, você
pode acessar o Dicionário de Termos Linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa.
Objetivos
Módulo 1
Módulo 2
Introdução
A língua portuguesa que falamos no Brasil veio de Portugal. Entretanto, até se consolidar como
língua de Portugal e de lá ser levada para outros continentes, ela passou por vários estágios
anteriores, tendo se originado do latim, com influência de outras línguas, como o grego. Ou seja, é
uma longa história de encontros e transformações que tem sua origem numa família de línguas
muito antiga, a indo-europeia.
Neste conteúdo, você conhecerá um pouco da história das línguas, dos seus contatos e, sobretudo,
refletirá sobre a presença do grego e do latim no português que você fala no dia a dia.
1 - A influência da língua grega
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os elementos de
origem grega no português.
A influência do grego
Ideia é uma palavra que vem da língua grega antiga (idea) e está ligada ao verbo eidein, que significa “saber”.
Problemática está ligada à palavra “problema”, que temos em português e indica aquilo que projeto, que
está diante de mim e, por consequência, pode ser um obstáculo: pro é uma preposição grega e ballo é o
verbo lançar.
Como você pode perceber, há uma relação entre o grego e o português que vale a pena conhecer!
Esse é um enunciado que poderíamos facilmente ouvir em um noticiário do dia a dia. E nessa fala cotidiana,
temos quatro vocábulos que são originários da língua grega e chegaram ao português por meio do latim.
A palavra economia também é grega e é formada a partir dos vocábulos oikos (casa/lar) e nomos
(ordenação/lei). Ou seja, economia é a ordenação do lar.
Polêmica, por sua vez, também é uma palavra grega e está ligada à ideia de guerra.
Por último, política é igualmente uma palavra grega e está ligada à ideia de pólis, cidade, e se refere a tudo
que diz respeito à gestão da cidade.
As primeiras obras da Literatura Ocidental — A Ilíada e A Odisseia — tiveram a língua grega como idioma de
expressão. Note que, mesmo depois da queda do império Romano do Oriente em 1453 — um império que se
expressava em grego — a língua continuou sendo falada, escrita e cantada.
Ulisses e as sereias, por Herbert James Draper (1909).
A língua grega, no decorrer de sua história, passou por várias fases. A língua grega contemporânea é
também chamada de grego-moderno.
O grego moderno é a língua da Grécia e também do Chipre. Além disso, segue ativa, mesmo em outros
idiomas, como no próprio português, não apenas pela permanência de palavras nessas línguas, mas por ter
suas raízes, prefixos e sufixos utilizados em novas elaborações vocabulares, como você verá ao longo deste
módulo.
Mas o que é o indo-europeu? O indo-europeu é uma família linguística que congrega línguas e dialetos da
Europa, da Índia, da Ásia Central e da Anatólia.
A concepção de uma família linguística começa a ser gestada pelos estudos históricos comparativos que
viriam a ser realizados por viajantes europeus, os quais passam a observar as semelhanças entre as línguas
da Índia, o grego e o latim. Destaca-se a figura do linguista holandês Van Boxhorn (1612-1653), cujos
estudos levaram à proposição da existência de um idioma originário comum para o grego, o latim, o
holandês, o persa e o alemão.
Outros estudiosos seguiram a pista de comparação entre as línguas, mas o termo Indo-europeu foi
empregado apenas no século XIX, pelo cientista e egiptólogo britânico Thomas Young (1773-1829). Mais
tarde, na obra do linguista alemão Franz Bopp (1791-1867), Gramática Comparada da Linguística Indo-
europeia, um marco nos estudos da linguística histórica comparada, o termo indo-europeu foi consagrado.
O indo-europeu, como não possui qualquer registro escrito, é hipotético, mas tem sua existência atestada
pelo método histórico-comparativo.
Todavia, os termos gregos chegaram ao português não apenas pelo latim vulgar. Muitos textos da cultura
grega foram redescobertos durante o Renascimento, e outros vocábulos helênicos se tornaram correntes
nas áreas de Arte, Filosofia e Medicina.
Diante desse pequeno histórico, você pode perceber a complexidade do processo de constituição do
português e a importância do grego como elemento de formação da língua portuguesa.
Romances
Romance ou romanço são termos que designam as várias línguas que se desenvolveram a partir da introdução
do latim na Península Ibérica e em outras regiões que o Império Romano abrangia.
Não confunda romance ou romanço, que precedeu as línguas neolatinas, com o romance, como forma ou
gênero literário.
Vale lembrar que toda língua em uso, ou seja, falada e escrita atualmente, é dinâmica e forma novos
vocábulos o tempo todo. Nesse processo, vamos identificar alguns elementos da língua grega que
continuam formando palavras novas — neologismos — no português.
Você verá que, em algumas áreas mais específicas, como as ciências biológicas, matemáticas e da
natureza, o uso de raízes, prefixos e sufixos de origem grega é muito utilizado para criação de novas
nomenclaturas e conceitos.
Mesmo no seu cotidiano, você poderá se deparar com novas palavras que trazem elementos gregos.
Anti
Depressivo
Para que você possa perceber melhor a presença desses elementos gregos no seu cotidiano de falante do
português, vamos observar como se dá, na língua portuguesa, o processo de formação de palavras com
acréscimos de elementos de origem grega.
Palavras simples, compostas e derivadas
Em português, encontramos palavras simples, compostas e derivadas.
As palavras simples apresentam uma única raiz, ou seja, um único núcleo de significado.
Exemplo: Na forma verbal “bebemos”, o núcleo de significado está em bebe-, enquanto -mos é a desinência
que indica número e pessoa, ou seja, 1ª pessoa do plural.
Palavras Compostas
As palavras compostas são aquelas que apresentam duas ou mais raízes ou núcleos de significado,
por exemplo, “guarda-chuva”, que apresenta a ideia do verbo guardar e o substantivo chuva.
add
Palavras Derivadas
As palavras derivadas, como o nome indica, derivam de outra, ou seja, vêm de outra palavra já existente
pelo acréscimo de prefixos ou de sufixos, ou ainda dos dois elementos. Elas podem apresentar um
prefixo e uma raiz, como o caso do verbo “antever”, em que há o prefixo latino ante (antes) e o verbo
ver, ou seja, ver algo antes. Acrescentou-se, portanto, uma nuança de significado ao verbo ver.
Os sufixos guardam um significado de modificação da palavra original e criam um novo vocábulo que pode
ser da mesma classe ou de outra.
Veja um exemplo: “livraria” é derivada da palavra livro. Nela, você encontra a raiz livr- acrescida do sufixo -ia,
que pode indicar coleção, qualidade. Ou seja, uma livraria seria uma coleção de livros. Vale ressaltar que,
curiosamente, livro é uma palavra que vem do latim e o sufixo -ia é de origem grega, ou seja, houve a
formação de uma palavra em português, a partir do latim e do grego.
Vamos observar mais detalhes para poder perceber melhor a presença da língua grega no vocabulário do
português.
Agora, você estudará alguns dos principais prefixos de origem grega e poderá conferir exemplos para cada
um deles:
antissequestro,
anti- anti- posição contrária
antisséptico
hipertensão,
hiper- hyper- sobre, superior
hipermercado
hipotensão,
hipo- hypo- abaixo, inferior
hipossuficiente
metáfora,
meta- meta- depois, meio
metamorfose
simultâneo,
sin-/sim- syn- síncrono, simpático
companhia
No enunciado anterior, é mencionada uma nova lei que passou a vigorar no Brasil há alguns anos. A lei tem
por nome um neologismo, uma palavra nova formada de um prefixo grego anti- unido ao vocábulo inglês
bullying. Ou seja, você percebe como os elementos gregos continuam ativos no português e, ao mesmo
tempo, como o processo de formação combina elementos de diferentes origens para formar novos
vocábulos no português.
Os sufixos são elementos formadores de vocábulos cuja versatilidade é imensa. Isso porque, como já foi
dito, eles podem criar palavras diferentes e ainda modificar a classe de palavras no processo de derivação.
coleção, acúmulo,
-ia ia perfumaria, livraria
qualidade
alteração patológica,
-ose -osis escoliose, psicose
modificação
O sufixo formador de verbo de origem grega é -izar. Ele indica a realização do processo da palavra ao qual
se liga.
Exemplos:
Em uma linguagem mais chula, temos o neologismo “escrotizar”, agir de maneira errada, em palavra de
baixo calão, “escrota”. Esse sufixo tem enorme utilização na criação vocabular da língua portuguesa.
Atenção!
A partir do conhecimento desses elementos de formação de origem helênica, você pode começar a
perceber com mais facilidade os significados de palavras desconhecidas. Ou seja, se você conhece os
elementos de modo separado, poderá reconhecer com mais facilidade sua combinação em palavras
desconhecidas!
As raízes gregas dos vocábulos da língua portuguesa são bastante numerosas e, uma vez que você passe a
observar como elas aparecem nas palavras, sua compreensão vocabular será bastante ampliada. Mesmo
que você nunca tenha ouvido ou lido a palavra, por conhecer os elementos que a compõem, poderá deduzir
o seu significado primeiro.
Autódromo e automobilística são palavras que trazem raízes gregas. E note: não havia ainda o automóvel na
Grécia antiga, mesmo assim, são as raízes de origem grega que serão tomadas para as elaborar!
Vamos entender:
autos
autos significa ”mesmo”, “próprio”. Automóvel é algo que se move por si mesmo, não precisa ser
puxado para andar. Automobilismo é o esporte realizado com automóveis.
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dromo
E dromo aparece em outras palavras da língua portuguesa? Sim! Em hipódromo, em que hipo (hyppo) é
a palavra cavalo (e não deve ser confundida com o prefixo hypo-) acrescida à dromo, ou seja, o lugar
em que os cavalos correm. Dromo aparece ainda em kartódromo.
Assim, autódromo é uma palavra que traz a ideia de lugar onde se corre (dromo) e a palavra auto já está
ligada à ideia de automóvel, mas com a eliminação da raiz “móvel”, o que é bem curioso.
Em uma reportagem de jornal, você se depara com a notícia sobre estratégias de repressão ao narcotráfico.
Será que o grego também está nessa reportagem?
Veja:
Perceba que há várias raízes gregas na língua portuguesa. “Narco” e “estratégia” são palavras de origem
helênica. Então você já identificou dois elementos gregos em nosso exemplo. Mas ainda há a palavra
“problema”, outro vocábulo de origem grega. Ou seja, você viu novamente que, no cotidiano, continuamos
falando grego. Agora, como usar esse conhecimento para enriquecer nosso vocabulário?
Vamos tomar a palavra “estratégia”, que se refere à logística de combate. Em grego, strategós é o general,
aquele que determina os procedimentos em batalha. Você pode tanto puxar pela sua memória, quanto
buscar em um dicionário on-line, para identificar outras palavras que utilizem essa raiz.
Atenção
Na prática, quanto mais você souber determinar a origem de uma palavra, mais fácil será compreender o
significado de palavras desconhecidas, aumentar sua precisão vocabular e, evidentemente, seu domínio da
língua portuguesa.
Em muitas áreas específicas, há uma larga utilização de raízes, prefixos e sufixos gregos. Entretanto, por
mais que sejam determinadas, como medicina, economia, matemática, geografia, linguagem ou artes, elas
aparecem em leituras cotidianas, como jornais e revistas.
Algumas palavras que estarão em vários domínios de conhecimento são logos (palavras, discurso); o que
estará na ideia de estudo (logia ).
Por exemplo, na palavra metodologia, você encontrará a junção de meta-, que é a preposição que indica
meio, odo (de odós), a raiz, que significa “caminho”, com a palavra logia. Assim, metodologia (meta + odo +
logia) é o caminho que eu uso para estudar algo.
Morfologia também é um termo usado em várias áreas e significa estudo da forma. Logia, você já sabe,
significa estudo. Morfo carrega a ideia de forma. Então, morfologia verbal é o estudo das formas verbais.
Além das áreas específicas de estudo, você também pode ouvir esses termos em veículos de comunicação.
Vejamos algumas raízes gregas em áreas específicas!
Na Geografia expand_more
O próprio nome da área pode ser Geografia ou Geopolítica. Essa última nomenclatura já apresenta
duas raízes gregas: geo- e política. Política você já estudou em nosso módulo. A segunda está ligada
à ideia de terra, em grego gaia/ge, que resulta “geo-”em português. Geografia é a escrita (grafia) da
terra. Geologia é o estudo (logia) da terra. E geometria? É a medida (metria) da terra, do espaço, e
será utilizada nos estudos geográficos e, evidentemente, na Matemática, pois implica cálculos.
Na Biologia expand_more
Quer ver mais alguns termos? Ecossistema. Eco se liga à palavra oikos, a mesma que forma o
vocábulo economia em português. Se economia é a ordem da casa, o que é um ecossistema? É o
sistema da casa? Mais ou menos. Se entendermos que o planeta é a nossa “casa” primeira, sim.
Logo, ecologia será o estudo da “casa” ou do nosso planeta como um todo. O ecossistema é o
sistema de funcionamento do planeta como uma inteireza, em que todos os elementos estão
correlacionados e se afetam mutuamente.
Na Economia expand_more
Esse termo você já conhece! Mas em que outros conceitos de economia o vocabulário de origem
helênica surge? Você já ouviu falar em Criptomoeda? Vamos ver esse verbete a partir do seguinte
texto:
Criptomoeda: Criptomoeda é um tipo de moeda virtual que utiliza a criptografia para garantir mais
segurança em transações financeiras na Internet. Em todo o mundo existem diversos tipos de
criptomoeda, sendo o bitcoin a mais conhecida delas. (TAJRA, 2021, s.p.)
Moeda você sabe o que é... mas cripto? Cripto, em grego, é algo escondido. Daí, uma mensagem
criptografada é uma mensagem escrita de modo a não se dar a ver facilmente, logo, a mensagem
está escondida.
Nas áreas de Engenharia e Física expand_more
O termo “física”, do grego fysis, está relacionado à natureza. E, justamente por isso, é uma área de
estudos que remete a vários termos cunhados na antiguidade helênica, como átomo, algo que é não
(a- negação) divisível (tomos- divisão).
Outra palavra é termodinâmica. Nele, termo- traz a ideia de calor/temperatura, acrescida à ideia de
forca (dynamis). Aerodinâmica é uma palavra que será cunhada a partir da mesma ideia de força,
acrescida da ideia de aer, em aéreo.
Nós poderíamos passar muito tempo procurando exemplos e encontrando neologismos com a utilização de
raízes gregas. Afinal, para além de ter contribuído para a construção do vocabulário do português, elas
continuam a gerar novos vocábulos, de acordo com as demandas da comunidade falante da língua
portuguesa.
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A influência do grego no português
Assista agora a um vídeo que trata da contribuição do grego para a formação de palavras em português.
Mão na massa
Questão 1
A partir do que você estudou sobre a formação da língua portuguesa e os estágios anteriores a ela, é
possível afirmar:
A língua grega, mesmo com sua origem indo-europeia, não tem grande importância para
A
o português.
A língua grega faz parte do indo-europeu e não tem relação com o latim ou com a língua
B
portuguesa.
A língua grega teve grande influência no latim e tem presença importante na língua
C
portuguesa.
A língua grega não faz parte do indo-europeu e não é importante para a formação da
D
língua portuguesa.
A língua grega pertence ao grupo de línguas indo-europeias e não chegou pelo latim à
E
língua portuguesa.
A língua grega foi incorporada ao português por meio do latim. As demais alternativas estão incorretas
porque o grego tem sua importância na língua portuguesa, sendo a língua grega também parte do indo-
europeu e tendo ainda relação com o latim.
Questão 2
Indique a opção em que todas as três palavras apresentam elementos de origem grega.
Na única opção em que os três vocábulos apresentam algum elemento de origem grega, há o sufixo -ia
nas duas primeiras palavras e o prefixo anti- na terceira. As demais alternativas apresentam tanto
palavras com elementos de origem grega quanto de origem latina.
Questão 3
Estudando o processo de derivação, você aprendeu que há um sufixo grego formador de verbos.
Indique a opção que apresenta um verbo com esse sufixo.
A Roubar
B Nadar
C Dramatizar
D Mudar
E Inundar
O sufixo de origem grega que é formador de verbos é -izar. Assim, dramatizar é a única alternativa
correta.
Questão 4
A partir do que você estudou sobre os prefixos gregos, assinale a alternativa que apresenta a dupla de
palavras com prefixos gregos que indicam posição superior:
A Hipocrisia, hipérbato
B Hipoderme, supermercado
C Hipermercado, epiderme
D Metaplasia, episódio
E Epicentro, evangelho
Questão 5
Há um sufixo grego que pode indicar o pertencimento ou o agente de uma ação. Partindo da palavra
“social”, indique a palavra que traz o sufixo grego o qual atribui à palavra a ideia de pertencimento.
A Socialmente
B Socialista
C Socialite
D Sociedade
E Sócio
Apenas a palavra socialista é composta da raiz social acrescida do sufixo -ista, que indica o
pertencimento.
Questão 6
Você estudou o processo de formação de palavras em língua portuguesa, com o acréscimo de sufixos e
prefixos de origem helênica. A partir do que foi estudado, podemos dizer que:
A
O processo de prefixação acrescenta significado à raiz e pode mudar a classe da
palavra original à qual se acrescenta.
O processo de prefixação não acrescenta significado à raiz e não pode mudar a classe
E
da palavra original à qual se acrescenta.
A sufixação, além de acrescentar um novo significado à raiz original, pode modificar a classe da palavra
original, mudando-a, por exemplo, de substantivo em verbo.
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Teoria na prática
Muito bem! Depois de estudar o conteúdo do módulo I, você começou a perceber melhor como a língua
grega está presente em sua fala cotidiana. Entretanto, como se valer desse conhecimento e perceber melhor
esse vocabulário em seu dia a dia?
Tomando o trecho de uma notícia publicada em jornal na Internet, você pode começar a verificar o que há de
grego no texto em português. Quer ver?
Esse título, retirado de uma notícia da Folha de S. Paulo, oferece para nós exemplo precioso da versatilidade
do português e da permanência dos termos gregos no idioma. Você já sabe que temos radicais da língua
grega antiga que permaneceram no latim e chegaram à língua portuguesa. Isso fica evidente quando você lê
o pedido de lojistas para que se construa “rolezódromos”.
O que está sendo chamado de “rolezódromos”? Trata-se de um espaço dedicado aos “rolezinhos”, encontros
com grande aglomeração de jovens. Aqui, você percebe, na prática, como funciona a dinâmica da língua
para formar palavras novas. Ou seja, a palavra de origem grega dromo, originalmente espaço para as
corridas, em que passam carros, no caso da palavra autódromo, passa a ser um espaço de realização de
algo que guarde ainda a ideia de algum movimento. O rolezinho pressupõe o encontro de jovens que ficarão
circulando.
A partir desse neologismo, podemos pensar em outros usos da palavra grega dromo em português?
Questão 1
A Antibacteriano
B Argênteo
C
Felicidade
D Intolerância
E Premonição
O prefixo anti- é de origem grega e significa contra. As outras palavras não apresentam elementos
gregos em sua formação.
Questão 2
A frase acima traz palavras de origem grega que você estudou ao longo do conteúdo. Assinale a
alternativa que apresenta apenas os vocábulos de origem helênica.
A mãe do português
Você já ouviu falar que nossa língua materna veio do latim? Isso mesmo! Poderíamos dizer que o latim é a
mãe do português.
A resposta não é simplesmente porque ainda usamos muito do latim na língua portuguesa e podemos
encontrar inúmeros exemplos de palavras usadas em latim no nosso cotidiano, como habeas corpus (“que
tenhas o teu corpo”); o caput (cabeça) de uma lei; o corpus (conteúdo escolhido para análise) de um
trabalho. Também utilizamos muito do inglês em português nos dias atuais e nem por isso podemos dizer
que o português veio do inglês ou sequer que ambos vieram do latim.
Quando pensamos, em geral, nas influências linguísticas, olhamos apenas para um lado: o léxico. O que isso
quer dizer? Que identificamos apenas a estrutura superficial da língua: suas palavras, onde é fácil ver as
influências. Contudo, quando afirmamos que o português veio do latim é porque a correspondência não se
limita, como processo formador da língua, apenas ao léxico, mas também a estruturas morfológicas
profundas.
A língua latina é muito antiga. Os primeiros escritos são datados do século VIII antes da nossa era. Foi
usada como língua oficial do Império Romano até o século V d.C., quando se costuma estabelecer sua
queda.
Você percebeu que o latim deixou de ser língua oficial de uma comunidade linguística há muito tempo?
Mas como será que ele influencia as línguas ocidentais até os nossos dias?
Para responder, precisaremos descobrir um pouco mais sobre a origem do povo que tinha o latim como sua
língua. As fontes históricas e arqueológicas são poucas e não permitem que tenhamos um relato muito
coerente dos primeiros romanos, mas nos dá muitas pistas.
Na mesma época em que os romanos, vários povos habitavam a Itália: etruscos, oscos, umbros, samnitas,
gregos e muitos outros. Cada povo vivia de forma independente e possuía sua própria língua. À língua do
povo que se fixou na região do Latium chamou-se latim.
Esse povo, depois da fundação de Roma, em 753 a.C., passou por muitas guerras e durante um longo
período foi dominando os povos vizinhos e disseminando sua língua. Em 272 a.C., com a queda de Tarento,
cidade grega no sul da Itália, o latim se torna língua oficial de toda a Península Itálica.
O domínio romano dos povos para além da Itália tem início e a língua latina é levada para praticamente todo
o mundo conhecido da época — Europa, norte da África e parte da Ásia, regiões conquistadas até o século II
d.C.
Antes de entender como o latim gerou o português, precisamos observar de onde veio essa língua. Tudo
tem uma origem. O latim falado pelos romanos do Latium, na região central da Itália, também tem sua
história.
Apesar de o latim ser muito antigo, ele também veio de outra língua. É verdade que não havia documentos
escritos na época. As línguas eram apenas faladas. Também não havia como gravar. Então, como podemos
ter certeza de onde veio o latim? Os linguistas e filólogos levaram muito tempo para descobrir. Eles fizeram
isso por meio de estudos comparativos entre as línguas mais antigas, como o grego, o sânscrito e o hitita,
como vimos no módulo I. O método histórico-comparativo usado por esses estudiosos permitiu descobrir o
indo-europeu e o latim como uma de suas línguas.
Saiba mais
Linguistas e filólogos acreditam que, para a formação das línguas conhecidas, aconteceu um processo
evolutivo intermediário. O indo-europeu teria se dividido em outros troncos linguísticos. Um deles, o ítalo-
céltico, foi levado para a Itália pelas migrações. Este tronco teria originado as línguas célticas posteriores,
como o irlandês, o gaulês e o bretão; e as línguas itálicas, dentre as quais o osco, o umbro e o latim.
O latim, como sabemos, tornou-se língua oficial da Península Itálica no século III a.C., mas o osco e o umbro
ainda foram falados até o século I d.C.
O período considerado o mais significativo da língua latina, no qual encontramos os principais autores
latinos, como Cícero, César, Virgílio, Horácio, Ovídio, se estendeu do século I a.C. até o início do século I da
nossa era.
Porém, mesmo depois desse período, o latim continuou se expandindo pelo mundo por meio das conquistas
romanas.
A romanização
Quando os romanos dominavam uma região, a língua latina tornava-se língua oficial. E o que isso quer dizer?
Que era preciso aprender o latim.
Imagine que alguma coisa sua foi roubada. Você precisa fazer uma queixa, certo? Em que língua?
Exatamente, na língua do lugar em que você está. Se o latim era a língua oficial, então tinha que ser em
latim. Para participar da vida pública, a língua latina se torna necessária. Isso levou a um processo chamado
de romanização.
Muitos dos povos conquistados pelos romanos assimilaram e adotaram a língua latina e a cultura romana,
deixando de lado sua própria língua e cultura. Lógico que os romanos não conseguiram isso em todas as
regiões do Império. Algumas foram romanizadas, como a Gália, atual França, e Hispânia, onde temos
Portugal e Espanha. Em outras regiões do império, como a Grécia, a África ou o Egito, não houve o processo
de romanização. Os povos, apesar de usarem o latim como língua oficial, não abandonaram sua língua e
cultura originais.
A evolução do latim
Sabemos que em 476 d.C. o Império Romano caiu sob as hordas bárbaras. Isso quer dizer que outros povos
dominaram as regiões antes dominadas pelos romanos. Com a invasão de outros povos, houve o
fechamento das escolas e a descentralização do poder político. Mas, em muitos lugares, em vez de os
novos povos imporem suas línguas, eles adotaram o latim. Assim, cada região vai ter um desenvolvimento
diferente da língua latina.
O saque de Roma, por Johannes Lingelbach (1527).
Pense em uma região. O povo que mora ali fala uma língua. Os romanos chegam, dominam essa região e
tornam a língua latina oficial. O povo deixa de falar sua língua e passa a falar o latim. Mas observe que o
latim vai sofrer influência da língua que era falada ali. Chamamos de substrato linguístico aos vestígios da
língua do povo conquistado na língua do povo conquistador que prevaleceu.
Mas não parou por aí. Depois da queda do Império Romano, um outro povo dominou aquele lugar.
Consequentemente, o latim falado ali sofreu também influência da nova língua. Aos vestígios da língua
abandonada pelo povo conquistador na língua latina, denominamos superstrato linguístico.
Você já deve ter concluído que todo esse processo faz com que o latim se transforme, de forma diferente,
em cada região e que, por isso, teremos a formação do português, do espanhol, do italiano, por exemplo.
Você está no caminho certo!
Mas antes de chegar lá, houve um período de transição, no qual as línguas faladas nas regiões já não tinham
mais unidade para serem consideradas latim, mas também não tinham adquirido características suficientes
que as pudessem identificar como novas línguas.
Atenção
A estas línguas que não eram mais o latim, mas também ainda não eram línguas novas, chamamos de
Romances ou Romanços. Havia muitas delas, algumas, por questões geográficas e políticas, conseguiram
se desenvolver e ganhar status de língua. São as chamadas línguas Neolatinas ou Românicas. Ao todo, o
latim gerou nove línguas faladas ainda hoje: o português, o espanhol, o catalão, o francês, o provençal, o
rético ou reto romano, o italiano, o sardo e o romeno, e uma já extinta, o dálmata ou dalmático.
Existiam, paralelamente, um latim literário, o sermo urbanus ou língua da cidade, que era o registro culto
usado pelos autores latinos em suas obras e em situações formais, e o latim vulgar, o sermo uulgaris ou
língua vulgar, de vulgus (povo), ou seja, a língua coloquial, falada pelo povo no dia a dia, que sofria inúmeras
influências linguísticas e se transformava de região para região e de época para época. Foi esse latim que
originou as línguas Neolatinas.
É verdade que o latim foi usado como língua escrita, depois da queda do Império Romano do Ocidente por
inúmeros autores durante muitos séculos. No período Renascentista, muitas obras foram escritas em latim.
Até o século XIX, os textos científicos também eram escritos em latim.
O Vaticano ainda utiliza a língua latina para escrever documentos oficiais. E isso nos mostra como o latim
clássico e o latim vulgar são aspectos diferentes da mesma língua que nos deixou um enorme legado
linguístico e cultural.
Da mesma forma que se chegou ao indo-europeu: pela comparação de palavras usadas nas mais diversas
línguas em busca de chegar à mesma palavra do latim vulgar. Foi assim que os linguistas viram que vaca,
em português, vacca, em italiano, vaca, em romeno, vache, em francês, vaca, em espanhol, bacca, em sardo,
vieram de vacca no latim vulgar.
Esse método permite que se chegue a conclusões bem exatas das formas originais das palavras. Muitas
foram inclusive encontradas em textos que são utilizados como fontes do latim vulgar. Quanto maior é o
número de línguas comparadas que apontam para uma determinada forma, tanto mais confiável ela será.
Do latim ao português
Como vimos, a língua portuguesa é proveniente do latim vulgar levado pelos romanos à região da Lusitânia,
no ocidente da Península Ibérica. O processo de romanização do que atualmente denominamos Portugal
ocorreu entre o século II a.C. e o I de nossa era, com a convivência de vários povos, especialmente celtas e
fenícios.
A Romanização, que a princípio sofreu uma certa resistência, foi facilitada não só pela proximidade
linguística entre o latim e o céltico, mas também pelo prestígio que a língua latina tinha enquanto língua
oficial.
Como em todo o Império, o latim falado pelo povo da Ibéria foi se modificando com o tempo, tendo como
influência o substrato das línguas célticas e o substrato de vândalos, suevos, visigodos.
O romance falado, nessa região, diferia bastante dos falados em outras regiões da Península, por ter sido o
local ocupado pelos celtas e suevos. Desse romance, aparece, no norte de Portugal, o dialeto galeziano ou
galaico-português, que foi ganhando terreno para a parte meridional, indo até o Algarve, em 1250.
No século XIX, em alguns documentos em latim bárbaro, foram encontradas algumas formas vulgares em
português. Contudo, só no século XII é que aparecem os primeiros textos totalmente em português.
Essa língua portuguesa torna-se língua literária e se expande com as conquistas marítimas, inclusive para o
Brasil.
Como já foi dito, a forma mais fácil de reconhecer o latim na língua portuguesa é por meio da observação
das palavras, cuja grande maioria veio do latim.
Muitas vieram sem qualquer alteração, como poeta de poeta(m), animal de animal ou discípulo de
discipulu(m), que encontramos no latim clássico.
Outras nos chegaram com pequenas modificações, como mesa demensa(m); fruto de fructu(m) ou tempo
de tempus.
Algumas vieram de formas do latim vulgar que não existem no latim clássico, como cavalo de caballu(m) ou
porco de porcu(m), que correspondem às formas equu(m) e sui(m) do latim clássico. Isso lembra alguma
coisa? Pois é! Equino e suíno. São os adjetivos referentes a cavalo e porco que foram formados a partir do
radical do latim clássico.
Algumas vezes temos duas palavras formadas da mesma palavra latina. Quer ver? O adjetivo integru(m) deu
por evolução fonética inteiro, mas também, por reconstituição erudita, temos a palavra íntegro, que é
utilizada mais abstratamente como integridade moral.
Atenção!
Você quer saber como acontecem as alterações? Existem algumas tendências evolutivas tanto das vogais
quanto das consoantes que influenciam suas modificações, quedas ou mudança de lugar. O nome dado a
essas transformações, ocorridas na passagem do latim para o português, é metaplasmos.
Os metaplasmos podem ocorrer por subtração, quando há a queda de algum fonema (attonitu(m) > atônito),
por acréscimo (ante > antes) ou por transposição (semper > sempre).
Existem ainda transformações que ocorrem em função das vogais e outras que decorrem de mudanças nas
consoantes. Vamos conhecer ambas as modalidades a seguir:
Vocalismo
No latim clássico, as vogais podiam ser breves ou longas. Uma longa equivalia ao tempo de pronúncia de
duas breves. No latim vulgar, contudo, especialmente a partir do século I, começa a haver uma confusão
do valor quantitativo das vogais, o que vai resultar no desaparecimento da quantidade. Nota-se que as
vogais longas e as tônicas são mais resistentes a mudanças, como segredo de secrētu.
Entre as vogais anteriores à sílaba tônica, pode acontecer a queda, se forem iniciais e estiverem sozinhas
(epigru > prego; episcopu > bispo) ou se não forem iniciais, mas estiverem nas adjacências da sílaba
tônica (bonitate > bondade; laborare > lavrar).
As vogais postônicas não finais, ou seja, localizadas no interior da palavra, com exceção do -a, sofrem
uma síncope (cal(i)du > caldo; man(i)ca > manga).
Como vimos, são possíveis transformações nas vogais devido à influência de fonemas vizinhos, como em
confessione > confissão, em que há a influência da semivogal.
Outra modificação comum nas vogais é a contração. Na passagem para o português, isso acontecerá
para desfazer um hiato (tenere > teer > ter; legere > leer > ler).
Quanto ao ditongo au, ele se torna ou (tauru > touro) ou o (auricula > orelha), transformação esta já atestada
no latim vulgar.
Consonantismo
Consonantismo é o nome dado às transformações das consoantes. Elas podem ser iniciais, mediais e
finais. Normalmente, as consoantes iniciais não sofrem modificação na passagem do latim para o
português. As consoantes mediais estão sujeitas a frequentes modificações ou quedas.
A este propósito pode-se formular o seguinte princípio: as consoantes mediais surdas latinas, quando
intervocálicas, sonorizam-se em português nas suas homorgânicas (lupu(m) > lobo), e as sonoras,
geralmente, caem (legere > leer > ler) (COUTINHO, 1976).
As consoantes são finais, em português, porque tinham posição idêntica no latim, ou porque
posteriormente se deu a queda de algum fonema final.
Os grupos de duas consoantes iguais são chamados de consoantes geminadas. Na passagem para o
português, haverá uma redução dessas duas consoantes a uma consoante simples (attonitu(m) > tonto),
não sofrendo sonorização, quando for surda, nem apócope, quando for sonora.
íncope
Supressão de fonema no interior de uma palavra.
Contração
Redução de duas ou mais vogais contíguas a uma só vogal.
Saiba mais
Sonorização ou vozeamento é um processo fonético no qual uma consoante surda passa a ser consoante
sonora ou vozeada. Podemos exemplificar a sonorização no processo evolutivo do latim para o português
em caecu > cego, e cattu > gato. Em ambos os casos, temos o c surdo evoluindo para g sonoro.
Você deve ter notado que as palavras latinas estão todas em acusativo, caso que corresponde à função
sintática do objeto direto. Isso acontece porque foi a partir desse caso que aconteceu a evolução e, por isso,
dizemos que o acusativo é o caso lexicogênico do português. É também por isso que nosso plural é
marcado pela desinência -s que é também a desinência do acusativo plural latino.
No latim vulgar, houve uma redução tanto dos casos como das declinações. Os seis casos do latim clássico
— nominativo, vocativo, acusativo, genitivo, dativo e ablativo — foram reduzidos a três: nominativo, acusativo
e genitivo-dativo. Tendo o nominativo absorvido o vocativo, o acusativo se confundido com o ablativo, e o
genitivo se unido ao dativo. Isso ocorreu devido à ambiguidade existente entre as desinências casuais que
podiam representar mais de um caso, inclusive em declinações diferentes e, além disso, aconteceu o
aumento do emprego das preposições.
Comentário
Na passagem para as línguas neolatinas, esses três casos foram reduzidos a apenas um. Em português é o
acusativo, que, sofrendo a apócope do -m no singular, gerou um morfema zero (mensam > mesa) e
estabelecendo a permanência do -s no plural, sistematizou a desinência de plural portuguesa (mensas >
mesas).
Apócope
Supressão de um fonema no final da palavra.
O sermo uulgaris já não utilizava também as cinco declinações, mas apenas as três primeiras. Isso
aconteceu em decorrência de uma tendência, já existente no latim clássico, de confundir a quarta com a
segunda declinação, como notamos na palavra domus, -us, originalmente de quarta, mas que também podia
figurar como de segunda, domum, -i.
Havia vocábulo de quinta declinação, como plebes, -ei, que aparecia, esporadicamente, também na terceira
declinação (plebs, -is).
Essa tendência generalizou-se no latim vulgar, causando o desaparecimento da quarta declinação, cujas
palavras migraram para a segunda, e da quinta declinação, que teve os substantivos absorvidos pela
terceira, como no exemplo dado (plebs), ou pela primeira, caso de dies, -ei, que aparece em latim vulgar com
a forma dia, -ae.
Temos, portanto, substantivos de vogal temática -a-, associados, em sua maioria, à primeira
declinação latina, podendo ser femininos, como mesa, de mensa, ou masculinos, como poeta, de
poeta.
Vocábulos de vogal temática -o-, vindos, em grande parte, da segunda declinação, como discípulo, de
discipulo.
Palavras de vogal temática -e- expand_more
As palavras de vogal temática -e- provêm da terceira declinação latina, como nave, de navi. É preciso
lembrar, contudo, que a maioria dos consonânticos da terceira declinação, na passagem para o
português, tornaram-se sonânticos, incluindo-se em um dos temas já existentes. É o caso, por
exemplo, de dente de dentem ou integridade de integritatem, ou corpo de corpus, acusativo neutro
semelhante ao nominativo de segunda declinação. Os substantivos em português terminados no
singular em consoante antecedida de vogal que fazem o plural em -es devem ser consideradas como
temáticos, pois a vogal temática -e-, ausente no singular, aparece no plural. É o caso de mulher, de
muliere, ou de cônsul, de consule. Contudo, esses nomes eram consonânticos, em latim, constituindo
-e uma desinência de caso.
Na formação do léxico português, por influência de outras línguas, como as indígenas, acrescentou-se outro
grupo de atemáticos, alheio ao latim, constituído de palavras oxítonas, como jabuti ou Pará. Com isso,
percebemos que os substantivos em língua portuguesa, excetuando-se as oxítonas, agrupam-se da mesma
forma do latim vulgar, anexando-se aos três grupos de temas -a, -o, -e, inclusive palavras de outras origens,
como alface, proveniente do árabe.
Vimos que os casos desapareceram do latim vulgar para o português. Mas observe as frases a seguir:
1. Eu gosto de estudar.
2. A sabedoria me guia.
3. Traga um bom livro para mim.
Perceberam que eu, me e mim são todos pronomes pessoais de primeira pessoa que mudam de forma de
acordo com a função sintática que exercem na oração (sujeito, objeto direto, objeto indireto)?
É exatamente isso que o caso latino faz. Mas, então, existe caso em português? Há a sobrevivência da
noção de caso nos pronomes pessoais, mas chamamos isso de pronome reto e oblíquo.
Saiba mais
Outra noção que não desapareceu completamente do português, embora só em alguns pronomes e, por
isso, não pode ser considerado como um aspecto morfológico de nossa língua, é a noção de gênero neutro.
Nos pronomes demonstrativos, temos, por exemplo, o emprego de aquele para o masculino, aquela para o
feminino. E aquilo é o quê? Sobrevivência do neutro latino.
Vamos ver como ficaria a divisão de algumas palavras para ficar mais claro?
PREF RAD VT D
demarcavam de marc a -
pedrinhas - pedr - a
abnegação ab neg a -
bondade - bom - -
Já vimos que a grande maioria dos vocábulos em nossa língua veio diretamente da evolução de palavras do
latim vulgar e já compreendemos como aconteceram as transformações dos morfemas lexicais por meio
dos metaplasmos.
Cabe ressaltar também que a estrutura verbal em português é praticamente igual à da língua latina, tendo
havido apenas a união da terceira conjugação com a segunda.
Assim, das quatro conjugações latinas — amare (primeira), vendēre (segunda), dicĕre (terceira), audire
(quarta) —, temos apenas três em português — amar (primeria), vender e dizer (segunda), ouvir (terceira).
Quanto aos prefixos e sufixos que vieram do latim e são usados para formar novas palavras em português
ao serem unidos ao radical, precisaremos falar um pouco mais.
Os prefixos
A maioria dos prefixos usados em português eram preposições latinas. Muitas delas usadas também como
prefixos no próprio latim.
Exemplo: As preposições latinas ab (a, abs), ex e de possuem uma mesma tradução: de. Em latim, possuem
valores semânticos diferentes: ab é usado para indicar o ponto de partida das proximidades de algum lugar
(Venio a portu – venho do porto); ex indica a saída do interior de algum lugar (Venio ex schola – venho da
escola); enquanto de traz a ideia de movimento de cima para baixo (cadere de muro – cair do muro).
Enquanto preposições, as duas primeiras não vieram para o português, apenas a terceira preposição traz a
noção generalizada de lugar.
Perceba que quando são usadas como prefixo, em português, elas mantêm as noções das preposições
latinas. Abster é ter algo afastado, algo que já estava fora; expulsar é tirar algo que estava dentro; enquanto
decair mantém o significado de movimento de cima para baixo.
embarcar, ingerir,
em, en, in, e in para dentro
enterrar
o ob oposição opor
movimento para
re re retrospectiva
trás
Os sufixos
• Verbos, como alegrar, com a união do sufixo -ar, do latim -are, ao adjetivo alegre;
• Advérbios, como antigamente (adjetivo antigo + sufixo -mente);
• Substantivos, como muralha (muro + alha do latim alia), trazendo a ideia de grandeza;
• Adjetivos, como risonho (riso + nho do latim -neu), indicando qualidade.
Resumindo
Podemos concluir que a combinação desses elementos mórficos é que faz a riqueza do nosso léxico.
Mão na massa
Questão 1
C Por meio da comparação das línguas modernas, descobriu que o inglês veio do latim.
Os linguistas e filólogos usaram o método histórico-comparativo para identificar a origem das línguas
antigas. Comparando o grego, o latim, o sânscrito e o hitita, conseguiram chegar a uma língua comum
que as havia gerado, que chamaram de indo-europeu. O mesmo método foi usado para chegar ao latim
vulgar por meio da comparação das línguas neolatinas.
Questão 2
Assinale a única alternativa em que todas as palavras apresentam um prefixo latino.
Os prefixos per-, re- e a- são de origem latina. Nas outras alternativas, podemos destacar, pelo menos,
uma palavra sem prefixo: morar, guiar, gritar, dormir.
Questão 3
Síncope é a queda de um fonema no interior de um vocábulo. Sabemos que, na evolução das palavras
do latim para o português, existiram muitos metaplasmos por subtração, como é o caso da síncope.
Assinale a alternativa em que podemos confirmar esse processo evolutivo.
Na evolução de ovicula para ovelha, aconteceu a síncope ou metaplasmo por subtração ou queda do
fonema -u-. Nas outras palavras das demais alternativas, houve transposição ou alteração dos fonemas,
mas nenhuma queda.
Questão 4
Qual das alternativas a seguir relaciona corretamente o sufixo latino ao seu significado na formação da
palavra?
A casarão - cargo
B fogacho - aumento
C capitão - diminutivo
D barquinho - aumento
E criação - ação
Questão 5
De acordo com o desenvolvimento linguístico evolutivo do latim para o português, podemos afirmar
sobre os Romances que:
Romances ou Romanços é o nome dado ao processo de modificações que o latim sofreu de forma
diferente em cada uma das regiões onde houve evolução, mas que ainda não tinha características
precisas que configurassem uma nova língua, sendo, portanto, a transição entre o latim e as línguas
neolatinas.
Questão 6
Os casos latinos identificavam as funções sintáticas das palavras na oração, por meio de uma
terminação morfológica. Sabemos que, na evolução para o português, as terminações de caso
desapareceram e a posição das palavras passou a ser fundamental para determinar a função sintática.
Contudo, podemos observar reminiscência dos casos latinos no seguinte exemplo:
C Eu me dei um presente.
O pronome de primeira pessoa possui uma forma como sujeito (eu) e uma forma diferente na posição
de objeto (me), a alteração de forma, em função da mudança de função sintática, mostra a
sobrevivência na noção de caso latino em português.
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Teoria na prática
As palavras que vieram do latim sofreram várias evoluções, mas não foram aleatórias. Existe um padrão
para as transformações ocorridas tanto nas vogais como nas consoantes. Observe as alterações no
exemplo a seguir:
Podemos, ainda, oferecer outro exemplo. Veja as etapas evolutivas de aetate para idade:
Por fim, lembramos que uma palavra latina pode não ter vindo direto do latim para o português. Ela pode dar
uma passadinha por outra língua.
Quer ver? Você, certamente, costuma usar muito a palavra deletar, e vai dizer que ela veio do inglês delete.
Mas o que você talvez não saiba é que delete veio do verbo delere (apagar, destruir) em latim. Ela foi para o
inglês e de lá veio para o português, formando um verbo com o sufixo também latino -ar.
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A influência do latim no português
Assista agora a um vídeo em que são comentadas e exemplificadas as contribuições do latim para o
português.
A língua latina deu origem a várias línguas faladas atualmente. Dentre as opções a seguir, assinale
aquela que apresenta apenas línguas que vieram do latim.
A Francês e Alemão.
B Inglês e Romeno.
C Italiano e Português.
D Sardo e Russo.
E Rético e Japonês.
Ao todo, o latim gerou nove línguas faladas ainda hoje, o português, o espanhol, o catalão, o francês, o
provençal, o rético ou reto romano, o italiano, o sardo e o romeno, e uma já extinta, o dálmata ou
dalmático.
Questão 2
Conforme os quadros de prefixos e sufixos, o único que pode ser identificado é o sufixo -ção, do sufixo
latino -tione.
Considerações finais
Você começou a conhecer um pouco mais das origens da língua portuguesa, podendo interpretar melhor os
significados presentes na formação das palavras de origem grega e latina.
Esse é um conhecimento importante, não apenas para você se expressar melhor em português, mas para
analisar e explicar os processos dessa língua.
Os profissionais que lidam, de algum modo, com a expressão verbal, compondo textos ou expressando-se
oralmente diante de um público ou cliente, ao dominarem melhor os processos e significados do português,
terão sua capacidade de expressão e precisão na mensagem a ser transmitida extremamente ampliada.
Aproveite!
headset
Podcast
Ouça agora um podcast que apresenta uma síntese do conteúdo.
Referências
COUTINHO, I. de L. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
TAJRA, A. Glossário: o que você quer saber de economia? In: Estadão, São Paulo, 25 jun. 2021. Consultado
na Internet em: 06 jul. 2021.
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Leia os seguintes artigos:
Um estudo sobre a origem da língua portuguesa: do latim à contemporaneidade, contexto poético e social,
de Cristiane Boas e Elizete Hunhoff, publicado pela UNEMT, para aprofundar suas reflexões sobre o tema.
Helenismos no Léxico da Língua Portuguesa, de Brian Silva, publicado na revista Anagrama, da USP, para
uma breve abordagem da influência do grego no léxico português.
Do grego antigo ao português contemporâneo: o sortilégio da língua e a epifania da cultura, de Luís Cardoso,
publicado na revista Millenium.
O que o grego tem a ver com o português?, da BBC News Brasil, abordando, de forma interessante e
divertida, a influência grega na nossa língua.
Latim! Cadê você?, da TV Cultura, que debate a atualidade do latim com o professor Alexandre Hasegawa e
o escritor Ignácio de Loyola Brandão.