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Texto:
Dizemos que um texto é coerente, quando podemos reconstruir sua unidade de sentido e sua intenção comunicativa. A
coerência depende de uma série de fatores, conforme segue:
Fatores de textualidade:
Continuidade temática
Garante-se pela retomada de elementos e ideias no decorrer do texto. Tais repetições conferem unidade ao texto, pois
um dos fatores que fazem com que se perceba um texto como um texto único é a permanência de elementos em seu
desenvolvimento.
Progressão temática
Além da retomada, é preciso que o texto apresente novas informações a respeito dos elementos retomados. São esses
acréscimos que fazem o texto progredir.
Não contradição
É preciso que o texto respeite a lógica por ele mesmo estabelecida: por exemplo, não se pode narrar um fato e
desconsiderar certas informações posteriormente, ou defender um ponto de vista e depois negá-lo, sem justificar a
mudança de posicionamento.
Articulação
Trata-se da maneira como são retomados os elementos e ideias: de que maneira são encadeados e organizados, de
como se relacionam uns com os outros.
Para a articulação textual, é necessário, muitas vezes, utilizar conectivos adequados.
Os articuladores:
A estação estava apinhada de gente. Trens chegavam e partiam de instante a instante. Carregadores com carrinhos
cheios de mala tropeçavam uns nos outros. O silvo dos apitos e o burburinho dos viajantes eram ensurdecedores. Como
eu poderia encontrar ali a moça recém-chegada que eu deveria conduzir à estalagem?
- conexão de motivos
João desceu à adega. Ele foi buscar uma garrafa de vinho.
Já temos toda a documentação necessária. Portanto, podemos encaminhar o projeto imediatamente. (conclusão)
A sessão foi muito demorada. Tanto que a maior parte dos presentes começou a sair antes do término.(comprovação)
Lúcia ainda não sabe que carreira pretende seguir. Aliás, é o que está acontecendo com grande número de jovens na
fase pré-vestibular. (generalização)
Vou entregar hoje os resultados da perícia. Ou melhor, vou fazer o possível. (modalização ou reparação)
Irei à sua festa. Isto é, se eu for convidado. (reparação)
O professor não me pareceu muito compreensivo. Pelo contrário, acho que foi rigoroso demais. (correção)
Muitos de nossos alunos estão desenvolvendo pesquisas no exterior. Por exemplo, Mariana está na França e Marcelo,
na Alemanha. (especificação ou exemplificação)
São produzidos alguns hortifrutigranjeiros de exportação no país, a saber, tomate, laranja, maçã e ovos. (especificação
ou exemplificação)
Lutou arduamente durante toda a vida. Mas não conseguiu realizar o seu projeto. (oposição ou contraste)
Esses encadeamentos, entre outros, podem ocorrer também entre os parágrafos de um texto, organizando-os. O ideal é
que, num texto acadêmico, sempre o parágrafo que inicia explicite qual a relação que é estabelecida entre o que foi dito no
parágrafo imediatamente anterior. Vejamos o exemplo:
[...] A pergunta sobre como definir sociedades virtuosas continua essencial porque, se mesmo aquelas que
os autores definiram como virtuosas não puderem ser consideradas bem sucedidas, a divisão entre ciclos
virtuosos e viciosos fica pelo menos em xeque.
Para esboçar uma possível resposta, é curioso notar o conservadorismo dos autores quando
elogiam a Revolução Gloriosa em comparação à Revolução Francesa:[...]
Exercício 1
Escolha duas das resenhas acadêmicas e verifique como é feita a transição entre os parágrafos. Copie, então, cinco expressões
que iniciam os parágrafos e verifique a) se estas expressões se referem ao parágrafo anterior e/ou b) apresentam um novo
tópico.
Os marcadores de voz
Os textos escritos ou orais são sempre constituídos a partir de outros textos, contendo não só o discurso do próprio
locutor, mas também o discurso de outros. Isso porque o que produzimos, quando falamos e escrevemos, não “inventamos do
nada”, mas é fruto do que aprendemos, ouvindo e lendo, durante o nosso percurso de vida, tanto no estudo formal, na escola
ou na universidade quanto nos ambientes que frequentamos. Por isso, dizemos que essa intertextualidade é implícita e
constitutiva da linguagem.
Contudo, há situações em que citamos explicitamente outros textos e outros autores e, com eles, tecemos uma espécie
de discussão. Este é o caso dos textos acadêmicos, como os artigos científicos, as monografias, teses e resenhas, entre outros,
em que as vozes de vários estudiosos se mesclam às do autor do texto.
Nos textos acadêmicos, esse embate de vozes representa as diversas perspectivas, pontos de vista ou posições dos
autores que são ali convocados (citados, mencionados). E, por isso, é muito importante que se saiba como distinguir as vozes no
texto, para que fique claro quais posições, ideias, conceitos pertencem a quais autores, distinguindo-as das do próprio autor do
texto.
Nos textos acadêmicos, algumas expressões comuns para que se anuncie a voz de outro(s)autor(es) são:
“segundo A,”
“consoante B,”
“de acordo com C”
“conforme D,”
“com base em E,”
“a proposta de F é...”
Em relação a essas vozes, o autor do texto pode concordar, discordar, concordar parcialmente e complementar – o que
também deve ser sinalizado. A seguir algumas marcas recorrentes de:
- Concordância
“com o que concordamos”
“afirmamos, seguindo A”
“em consonância com o que pensa B”
- Discordância
“ao contrário de A”
“no entanto, observamos que”
“porém, neste trabalho consideramos que”
aspas de distanciamento
- Concordância/discordância parcial
“por um lado... por outro lado...”
“ainda que...”
- Complementaridade
“além disso...”
“é preciso acrescentar que”
“observamos ainda que”
Exercício 2
a. A partir da leitura de duas das resenhas, verifique a) como é referido o autor da obra resenhada: liste (copiando da
resenha e indicando o número do parágrafo) cinco trechos em que o autor é referido; b) como o autor da resenha
refere a si mesmo no texto? Copie os trechos em que isso acontece.
Bibliografia
Charolles, M. Introduction aux problèmes de la cohérence des textes. Langue Française 38, 1978.
Koch, I.V. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
Motta-Roth, D. e Hendges, G.R. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola, 2010.
Garcia, O.M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006.