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APOCALIPSE DE S.

JOÃO
0 próprio Apóstolo S. João dá a este seu livro o nome
de Apocalipse, isto é, revelação, e diz que ele trata de coisas
futuras. O Apocalipse foi sempre considerado pela Igreja
como um livro profético.
Não é pois de admirar que as coisas não sejam anun­
ciadas de um modo claro, mas por meio de visões e símbolos,
como se nota em Ezequiel e noutros profetas. Alguns destes
símbolos são explicados no próprio Apocalipse, outros podem
explicar-se por meio dos restantes livros sagrados, muitos
porém permanecem na mais completa obscuridade.
0 Apocalipse é um dos livros sagrados mais difíceis de
interpretar. Muitos sábios o têm estudado, sem terem ainda
conseguido descobrir a significação exacta das diversas visões
de S. João. Todos concordam porém em que o tema princi­
pal do Apocalipse é a segunda vinda de Jesus Cristo para o
juízo final, no fim dos tempos.

PRÓLOGO

T ítulo, C a p . I — 1 Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe


origem deu para descobrir aos seus servos as coisas que em breve
e valor
d e ste livro. devem acontecer, e que ele manifestou, enviando-as por
meio do seu anjo ao seu servo João, 2 o qual atestou
(ser) a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo
em todas as coisas que viu. 3 Bem-aventurado aquele
que lê, e ouve as palavras desta profecia, e observa as
coisas que nela estão escritas; porque o tempo (da sua
realização) está próximo.
D edicação 4 João às sete Igrejas que há na Ãsia. Graça a vós, e
o resumo. paz da parte daquele, que é, e qpe era, e que há-de vir;
e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono;*14

CAP. I
1. Que Deus lhe deu. E sta revelação fo i fe ita por Deus Pai
a Jesus Cristo, enquanto homem.'— Que em breve devem acontecer.
Deve notar-se que esta proxim idade de tem po é relativa e conside­
rada quanto a Deus, o qual mede o tem po de um modo diferente
do nosso (II Petr. III, 8).
4. Dos sete espíritos. Segundo alguns com entadores, o Após­
tolo refere-se aos sete anjos principais que circundam o trono de
Deus (Tob. X II, 15). E stes sete anjos são figurados no cap. IV, 5
pelas sete lâmpadas, e no cap. V, 6 pelas sete pontas do Cordeiro;
são eles finalm ente que recebem as sete trom betas (V III, 2).
APOCALIPSE DE S. JOÃO, I, 5 — 16 513

5 e da parte de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o


primogênito (o primeiro que ressuscitou) dentre os mor­
tos, e o príncipe dos reis da terra, que nos amou, e nos
lavou dos nossos pecados no seu sangue, 6 e nos fez
sermos reino e sacerdotes para Deus seu Pai; a ele
glória, e império pelos séculos dos séculos. Amen.
7 Eis que ele vem sobre as nuvens, e todos os olhos
o verão, e (mesmo) aqueles que o trespassaram. E bate­
rão no peito ao vê-lo todas as tribos da terra. Assim se
cumprirá. Amen.
8 Eu sou o Alfa e o ómega, o princípio e o fim, diz
o Senhor Deus, que é, e que era, e que há-de vir, o
Todo-poderoso.

PRIMEIRA PARTE

CARTAS ÀS SETE IGREJAS

9 Eu João, vosso irmão e companheiro na tribulação,Jesus


Cristo
e no reino (dos céus), e na paciência em Jesus Cristo, aparece
estive na ilha chamada Patrnos, por causa da palavra de a S. João,
Deus e do testemunho de Jesus. 10 Um dia de domingo
fui arrebatado em espírito, e ouvi por detrás de mim uma
grande voz, como de trombeta, 11 que dizia: O que
vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete Igrejas que há
na Ásia: a Éfeso, e a Smirna, e a Pérgamo, e a Tiatira,
e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodiceia. 12 E voltei-me
para ver a voz que falava comigo; e, voltando, vi sete
candeeiros de ouro; 13 e no meio dos sete candeeiros
de ouro (vi) um homem, semelhante ao Filho do homem,
vestido de hábito talar, e cingido pelo peito com um
cinto de ouro; 14 e a sua cabeça e os seus cabelos
eram brancos como a lã branca e como a neve, e os seus
olhos como uma chama de fogo, 15 e os seus pés eram
semelhantes ao bronze fino, quando está numa fornalha
ardente, e a sua voz como o ruído de muitas águas;
16 e tinha na sua direita sete estrelas; e saía da sua boca

8. O Alfa e o Omega são a primeira e a última letra do alfa­


beto grego. Sentido: Eu sou o princípio e o fim de todas as coisas,
13. Hábito talar era um vestido comprido, que chegava até
aos pés, e que era usado pelos sacerdotes e pelos reis.
16. As sete estrelas são os anjos ou bispos das sete Igrejas.
33
514 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , I, 1 7 — 11, 10

uma espada de dois fios; e o seu rosto resplandecia


como o sol (quando está) na sua força.
17 Logo que o vi, caí diante de seus pés como
morto. Porém ele pôs a sua mão direita sobre^ mim,
dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último,,
18 e o que vive, e fuimorto; e eis que estou vivo
pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte
e do inferno.
e manda- 19 Escreve, pois, as coisas que viste, e não só as-
-lhe escre­ que são, mas também as que hão-de suceder depois des­
ver às sete
Igrejas. tas. 20 Eis o mistério das sete estrelas que viste na
minha mão direita, e dos sete candeeiros de ouro: As
sete estrelas são sete anjos (ou bispos) das sete Igrejas;
e os sete candeeiros são as sete Igrejas.
Carta C ap . I I — 1 Escreve ao anjo da Igreja de Éfeso: Isto
à Igreja diz aquele que tem as sete estrelas na sua direita, e anda
de Éfeiso,
no meio dos sete candeeiros de ouro: 2 Conheço as tuas
obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não
podes suportar os maus, e experimentaste os que dizem
ser apóstolos, e não o são, e os achaste mentirosos;
3 e tens paciência, e sofreste pelo meu nome, e não
desanimaste. 4 Mas tenho contra ti que deixaste a tua
primeira caridade. 5 Lembra-te pois (do estado) donde
caiste, e arrepende-te, e volta às tuas primeiras obras;
de contrário, venho a ti, e removerei o teu candeeiro
do seu lugar, se não fizerdes penitência. 6 Isto, porém,,
tens (de bom) que aborreces as acções dos Nicolaítas,
que eu também aborreço.
7 Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às Igrejas: Ao vencedor darei a comer da árvore
da vida, que está no paraíso do meu Deus.
à Igreja de 8 E ao anjo da Igreja de Smirna escreve: Isto diz o
Smirna, primeiro e o último, que foi morto, e que está vivo.
9 Conheço a tua tribulação e a tua pobreza, mas és rico
(em graça e santidade), e és caluniado por aqueles que
se dizem Judeus, e não o são, antes são uma sinagoga de
Satanás. 10 Não temas nada do que terás que sofrer,
Eis que o demônio fará meter na prisão alguns de vós,
a fim de serdes provados; e tereis tribulação durante
dez dias. Sê fiel até à morte, e eu te darei a coroa
da vida.

CAP. II
5. Removerei o teu carniceiro . . . rejeitarei a tua Igreja, aban­
donando-a ao cisma.
APOCALIPSE DE S. JOÃO, II, 11 — 23 515

11 Àquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito


diz às Igrejas: O que sair vencedor, ficará ileso da
segunda morte.
12 E ao anjo da Igreja de Pérgamo escreve: Isto diz à Igreja de
aquele que tem a espada afiada de dois gumes: 13 Sei Pérgamo,
onde habitas, (é um lugar) onde Satanás tem o trono;
e que conservas (apesar disso) o meu nome, e não
negaste a minha fé, mesmo naqueles dias em que Antipas,
minha fiel testemunha, foi martirizado entre vós, onde
Satanás habita. 14 Mas tenho contra ti alguma coisa,
porque tens aí sequazes da doutrina de Balaão, o qual
ensinava Balac a pôr tropeços diante dos filhos de
Israel, para que comessem e fornicassem; 15 assim
tens tu também sequazes da doutrina dos Nicolaítas.
16 Faze igualmente penitência; de contrário, virei a ti
brevemente, e pelejarei contra eles com a espada da
minha boca.
17 Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às Igrejas: Eu darei ao vencedor o maná escondido,
e dar-lhe-ei uma pedrinha branca, e um nome novo
escrito na pedrinha, o qual ninguém conhece, senão
quem o recebe.
18 E ao anjo da Igreja de Tiatira escreve: Isto diz à Igreja de
o Filho de Deus, que tem os olhos como uma chama Tiatira,
de fogo, e cujos pés são semelhantes ao bronze fino:
19 Conheço as tuas obras, e a tu fé, e a tua caridade, e
serviços, e a tua paciência, e as tuas últimas obras mais
numerosas que as primeiras. 20 Porém, tenho alguma
coisa contra ti, porque permites a Jezabel, que se diz pro­
fetiza, ensinar e seduzir os meus servos, para forniearem
e comerem das coisas sacrificadas aos ídolos. 21 E dei-
-lhe tempo para fazer penitência, e ela não quer arre­
pender-se da sua prostituição. 22 Eis que a reduzirei a
um leito (de dor); e os que adulteram com ela, se verão
numa grandíssima tribulação, se não fizerem penitência
das suas obras. 23 E ferirei de morte os seus filhos, e
todas as Igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda
os rins e os corações; e darei a cada um de vós segundo

11. Da segunda morte. da condenação eterna.


17. O maná escondido, a felicidade do céu, que os homens
não conhecem neste mundo. — Uma pedrinha branca. . . Alusão aos
antigos usos gregos. Os juizes utilizavam uma pedra branca para
pronunciarem a absolvição dos acusados. Nas eleições escrevia-se
numa pedra branca o nome dos candidatos. — Um nome novo.
O nome de Deus, de Cristo, ou do cristão vencedor.
516 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , II, 2 4 — III, 8

as suas obras. A vós, porém, digo, 24 e aos outros fiéis


de Tiatira, que não seguem esta doutrina, e que não
conheceram as profundidades, como eles lhes chamam, de
Satanás: Eu não porei sobre vós outro peso; 25 todavia
guardai bem aquilo que tendes (recebido de Deus), até
que eu venha (pedir-vos contas).
26 E àquele que vencer e que praticar as minhas
obras até ao fim, eu lhe darei poder sobre as nações,
27 e as regerá com vara de ferro, e serão quebradas
como vaso de oleiro, 28 como também eu recebi de
meu Pai; e dar-lhe-ei a estrela da manhã. 29 Aquele
que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas.
à Igreja do C a p . III— 1 E ao anjo da Igreja de Sardes escreve:
Sardes, Isto diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as
sete estrelas: Conheço as tuas obras, e que tens a repu­
tação de que vives, e estás morto. 2 Sê vigilante, e con­
firma (na fé) os restos (do teu rebanho) que estão para
morrer. Porque não acho as tuas obras perfeitas diante
do meu Deus. 3 Lembra-te, pois, do que recebeste e
ouviste, e observa-o, e faz penitência. Porque, se não
vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a que
hora virei a ti. 4 Tens, porém, algumas pessoas em Sar­
des que não contaminaram os seus vestidos; e irão comigo
(ao céu) vestidas de branco, porque são dignas disso.
5 Aquele que vencer será assim revestido de vestidu-
ras brancas, e eu não apagarei o seu nome do livro da
vida, e confessarei o seu nome diante de meu Pai1*78e diante
dos seus anjos. 6 Aquele que tem ouvidos, ouça o que
o Espírito diz às Igrejas.
à Igreja de 7 E ao anjo da Igreja de Filadélfia escreve: Isto diz
Filadélfia, o Santo e o Verdadeiro, que tem a chave (da casa) de
David, que abre, e ninguém fecha, que fecha, e ninguém
abre: 8 Conheço as tuas obras. Eis que pus diante de ti
uma porta aberta, que ninguém pode fechar; porque tens

24. Não porei sobre v ó s . . . não vos mandarei outras tribula-


ções além das que tendes.
28. Estrela da manhã. Nome que Jesus Cristo se dá a si
próprio.
CAP. III
4. Não contaminaram. . . conservaram a santidade recebida no
baptismo.
7. Da casa de David, isto é, da Igreja.
8. Uma porta aberta, por onde podes entrar para converter os
pagãos e Judeus, e introduzi-los na Igreja. E concedo-te esta graça,
porque, ainda que tenhas sido pouco corajoso no cumprimento do«
teu dever, todavia permaneces fiel, e não me negaste no meio das
perseguições.
APOCALIPSE DE S. JOÃO, III, 9 — 21 517

pouca força, e guardaste a minha palavra, è não negaste


o meu nome. 9 Eis que eu (te) darei da sinagoga de
Satanás os que dizem que são Judeus, e não o são, mas
mentem; eis que farei com que eles venham, e se pros­
trem a teus pés; e conhecerão que eu te amei. 10 Por­
que guardaste a palavra da minha paciência, também eu
te guardarei da hora da tentação, que virá a todo o mundo
para provar os habitantes da terra. 11 Eis que venho
brevemente; guarda o (tesouro da fé) que tens, para que
ninguém tome a tua coroa.
12 Ao que vencer, fá-lo-ei uma coluna no templo do
meu Deus, e não sairá jamais fora; e escreverei sobre
ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu
Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, vinda do
meu Deus, e o meu novo nome. 13 Aquele que tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas.
14 E ao anjo da Igreja de Laodieeia escreve: Isto diz à Igreja de
o Amen (isto é, aquele que é a mesma verdade), a teste­ Laodieeia.
munha fiel e verdadeira, o que é princípio das criaturas
de Deus: 15 Conheço as tuas obras, que não és nem
frio nem quente; oxalá foras frio ou quente; 16 mas,
porque és morno, e nem frio nem quente, começar-te-ei
a vomitar da minha boca, 17 porque dizes: Sou rico e
cheio de bens, e de nada tenho falta; e não sabes que és
um infeliz, e miserável, e pobre, e cego, e nu. 18 Acon-
selho-te que me compres ouro provado no fogo, para te
fazeres rico, e te vestires de roupas brancas (da santidade)>
e não se descubra a vergonha da tua nudez, e unge os
teus olhos com um colírio, para que vejas. 19 Eu, aosí
que amo, repreendo o castigo. Tem pois zelo, e faze peni­
tência. 20 Eis que estou à porta (do teu coração), e bato.
Se alguém ouvir a minha voz, e me abrir a porta, entra­
rei nele, e cearei com ele, e ele comigo.
21 Aquele que vencer, eu o farei sentar comigo no

12. Não sairá jamais fora. Uma vez adquirida, a felicidade do


céu jamais se [perderá.
15-16. Não és nem frio nem quente, não estás em pecado mor­
tal, mas também não tens verdadeiro amor de Deus. — Oxalá. . .
Evidentememte que, de um modo absoluto, é preferível ser morno
espiritualmente, isto é, tíbio, do que frio; todavia é quase sempre
mais fácil converter um grande pecador, que afastar um tíbio da
sua tibieza. — Começar-te-ei a vo m ita r. .. tal é o desgosto que a
tibieza causa a Deus.
18. A que me compres, com a oração e boas obras, ou ro. . .
isto é, urna caridade ardente e uma fé perseverante.
20. Cearei com ele. Expressão empregada para indicaT a inti­
midade com que Jesus trata os seus amigos.
518 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , III, 2 2 — IV, 8

meu trono, assim como eu mesmo também venci, e me


sentei com meu Pai no seu trono. 22 Aquele que tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas.

SEGUNDA PARTE

VISÕES SIMBÓLICAS DAS LUTAS DA IGREJA

I — Os sete selos

0 trono C a p . IV— 1 Depois disto olhei, e eis que (vi) uma


de Deus e porta aberta no céu, e a primeira voz que ouvi, era como
a corte
celeste. de trombeta que falava comigo, dizendo: Sobe aqui, e
mostrar-te-ei as coisas que devem acontecer depois destas.
2 E logo fui arrebatado em espírito; e eis que (vi) um
trono que estava colocado no céu, e sobre o trono estava
alguém sentado. 3 E aquele que estava sentado no trono
era no aspecto semelhante a uma pedra de jaspe e de
sardónica; e em volta do trono estava um arco íris que se
assemelhava à cor de esmeralda. 4 E em volta do trono
(estavam outros) vinte e quatro tronos; e sobre estes
tronos estavam sentados vinte e quatro anciãos, vestidos
de roupas brancas, e nas suas cabeças coroas de ouro.
5 E do trono saíam relâmpagos, e vozes, e trovões; e
diante do trono (estavam) sete lâmpadas ardentes, que
são os sete espíritos de Deus. 6 E em frente do trono
(havia) um como mar de vidro semelhante ao cristal;
e no meio do trono, e em volta do trono, quatro animais
cheios de olhos por diante e por detrás. 7 E o primeiro
animal (era) semelhante a um leão, e o segundo animal
semelhante a um novilho, e o terceiro animal tinha o rosto
como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma
águia voando. 8 E os quatro animais tinham cada um
seis asas; e em volta e por dentro estavam cheios de
olhos; e não cessavam dia e noite de dizer: Santo, Santo,

CAP. IV
6. Cheios ãc olhos. Modo metafórico de dizer, para indicar
que estavam sempre atentos a contemplar as perfeições de Deus e
a prestar-lhe as suas homenagens.
.8. E não cessavam dia c noite. E um modo metafórico de
dizer que os santos no céu louvam a Deus incessantemente.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , IV, 9 — V, 9 519

Santo, o Senhor Deus omnipotente, que era, e que é, e


que há-de vir. 9 E, enquanto aqueles animais davam
glória, e honra, e acção de graças ao que estava sen­
tado sobre o trono, e que vive pelos séculos dos séculos,
10 os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que
estava sentado no trono, e adoravam o que vive pelos
séculos dos séculos, e lançavam as suas coroas diante do
trono, dizendo: 11 Tu és digno, ó Senhor nosso Deus,
de receber a glória, e a honra, e o poder, porque
criaste todas as coisas, e pela tua vontade é que elas
subsistem e foram criadas.
C ap . V — 1 E vi na mão direita do que estava sentado O livro dos
sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado sete selos
dado ao
com sete selos. 2 E vi um anjo forte que gritava em alta anjo entre
voz: Quem é digno de abrir o livro, e de desatar os seus as aclama­
selos? 3 E ninguém podia, nem no céu, nem na terra, ções de
toda a
nem debaixo da terra, abrir o livro, nem olhar para ele. criação.
4 E eu chorava muito, porque não se tinha encontrado
ninguém que fosse digno de abrir o livro, hem de olhar
para ele. 5 Então um dos anciãos disse-me: Não chores;
eis que o leão da tribo de Judá, a estirpe de David, ven­
ceu de maneira a poder abrir o livro, e desatar os seus
sete selos. 6 E olhei, e eis que, no meio do trono e dos
quatro animais, e no meio dos anciãos, estava de pé um
Cordeiro, parecendo ter sido imolado, o qual tinha sete
chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus,
mandados por toda a terra. 7 E veio, e recebeu o livro
da mão direita do que estava sentado no trono.
8 E, tendo aberto o livro, os quatro animais e os vinte
e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo
cada um citaras e taças de ouro cheias de perfumes, que
são as orações dos santos; 9 e , cantavam um cântico
novo, dizendo: Digno és, Senhor, de receber o livro, e de
desatar os seus selos; porque foste morto, e nos resga-*16

oap. v
1. U m l iv r o , que era, segundo a significação habitual diesta
palavra entre os antigos, formado de longos pedaços de pergaminho
enrolado em volta de um pequeno pau. Ordinariamente apenas se
escrevia de um lado; todavia S. João diz que estava escrito dos
dois lados ( p o r d e n t r o e p o r f o r a ) , para mostrar a importância das
coisas contidas nele, às quais não 4 possível acrescentar nada.
õ : O le ã o d a t r i b o d e J u d á , isto é, Jesus Cristo, assim cha­
mado, por causa da sua força.
6. S e t e c h i f r e s , símbolo da força de Jesus, que neste versí­
culo é comparado a um cordeiro, por causa da sua mansidão; e
s e t e o l h o s , símbolo da sua omnisciência.
520 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , V, 10 — VI, 5

taste para Deus com o teu sangue, de toda a tribo, e lín­


gua, e povo, e nação; 10 e nos fizeste para o nosso
Deus reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a terra.
11 E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos em volta do
trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles
milhares de milhares, 12 os quais diziam em alta voz:
Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber a virtude,
e a divindade, e a sabedoria, e a fortaleza, e a honra, e
a glória, e a bênção.
13 E a toda a criatura que há no céu, e sobre a terra,
e debaixo da terra, e as que há no mar, e todas as coisas
que nestes (lugares) se encontram, a todas ouvi dizer:
Ao que está sentado sobre o trono e ao Cordeiro, bên­
ção, e honra, e glória, e poder pelos séculos dos séculos.
14 E os quatro animais diziam: Amen. E os vinte e qua­
tro anciãos prostraram-se sobre os seus rostos, e adora­
ram aquele que vive pelos séculos dos séculos.
0 Cordeiro C ap . VI — 1 E vi que o Cordeiro tinha aberto um
abre os dos sete selos, e ouvi que um dos quatro animais dizia,
sei« primei­
ros selos: como em voz de trovão: Vem, e vê. 2 E olhei; e eis
Primeiro. um cavalo branco, e o que estava montado sobre ele
tinha um arco, e lhe foi dada uma coroa, e saiu como
vitorioso para (continuar a) vencer.
Segundo. 3 E, tendo aberto o segundo selo, ouvi o segundo
animal, que dizia: Vem, e vê. 4 E saiu outro cavalo
vermelho; e ao que estava montado sobre ele foi dado
poder de tirar a paz da terra, a fim de que (os homens)
se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande
espada.
Terceiro. 5 E, tendo aberto o terceiro selo, ouvi o terceiro ani­
mal, que dizia: Vem, e vê. E eis um cavalo negro; e o *24

GAP. VI
2. U m c a v a l o b r a n c o , que era usado pelos triunfadores roma­
nos. — O q u e e s t a v a m o n t a d o s o b r e e le . Este cavaleiro representa
provàvelmente Jesus Cristo, que triunfa de todos os seus inimigos.
4. Há aqui talvez uma alusão às terríveis perseguições que a
Igreja sofre..
5-6. U m c a v a l o n e g r o , sinal de luto. O cavaleiro personifica a
fome, tendo poir isso uma balança na mão para pesar coim rigoir, ie
vender o pão por alto preço. — U m a m e d i d a , que valia pouco mais
de um litro. —. U m d i n h e i r o , cerca de um escudo. — M a s n ã o c a u s e s
d a n o ... Estas palavras são dirigidas directamente ao cavaleiro.
Deus quer que sejam em pequena quantidadie as coisas necessárias
à vida, como o trigo e a cevada, mas que haja em abundância as
que não são necessárias, oomo o vinho e o azeite, para que os
homens vejam nesta carestia ao mesmo tempo o castigo e a mise­
ricórdia de Deus.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , VI, 6 — 17 521

que estava montado sobre ele, tinha na sua mão uma


balança. 6 E ouvi como que uma voz no meio dos qua­
tro animais, que dizia: Uma medida de trigo por um
dinheiro, e três medidas de cevada por um dinheiro, mas
não causes dano ao vinho nem ao azeite.
7 E, tendo aberto o quarto selo, ouvi a voz do Quarto.
quarto animal, que dizia: Vem, e vê. 8 E eis um cavalo
amarelo; e o que estava montado sobre ele tinha por
nome Morte, e seguia-o o inferno, e foi-lhe dado poder
sobre as quatro partes da terra, para matar à espada,
à fome, e com a morte natural, e por meio das feras
da terra.
9 E, tendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar
Quinto.
as almas dos que tinham sido mortos por causa da pala­
vra de Deus, e por causa do testemunho que tinham
(dado dele); 10 e clamavam em voz alta, dizendo: Até
quando, Senhor, santo e verdadeiro, dilatas tu o fazer
justiça, e vingar o nosso sangue dos que habitam sobre a
terra? 11 E foram dados a cada um deles vestidos bran­
cos; e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de
tempo, até que se completasse o número dos seus con-
servos e irmãos, que haviam de padecer, como eles, a
morte.
12 E olhei, quando abriu o sexto selo; e eis que Sexto.
sobreveio um grande terremoto, e o sol se tornou negro
como um saco de crina; e a lua tornou-se toda ( verme­
lha) como sangue; 13 e as estrelas caíram do céu sobre
a terra, como a figueira, sendo agitada por um forte
vento, deixa cair os seus figos verdes. 14 E o céu se
recolheu como um livro que se enrola; e todos os mon­
tes e ilhas se moveram dos seus lugares; 15 e os reis
da terra, e os príncipes e os tribunos, e os ricos, e os
poderosos, e todo o servo e livre se esconderam nas
cavernas, e entre os penhascos dos montes; 16 e diziam
aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-
-nos da face daquele que está sentado sobre o trono, e
da ira do Cordeiro; 17 porque chegou o grande dia
da ira de ambos; e quem poderá subsistir?'

8- O inferno, isto é, a habitação dos mortos seguia o cavaleiro


para receber os que ele matasse.
14. E o céu, figurado como um imenso pavilhão, se recolheu,
se dobrou como um livro . ..
17. O grande d ia ... o dia do juízo final.
522 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , VII, 1 — 14

Os servos C a p . VI I — 1 Depois disto vi quatro anjos que esta­


de Deus vam sobre os quatro ângulos da terra, detendo os quatro
serão
marcados ventos da terra, para que não soprassem sobre a terra,
com um nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma. 2 E vi
selo antes outro anjo que subia da parte do oriente tendo o selo
da catás­
trofe. do Deus vivo; e clamou em alta voz aos quatro anjos,
a quem fora dado o poder de fazer mal à terra e ao
mar, 3 dizendo: Não façais mal à terra, nem ao mar,
nem às árvores, até que assinalemos sobre a sua fronte
os servos do nosso Deus. 4 E ouvi o número dos que
foram assinalados, ( que eram) cento e quarenta e qua­
tro mil assinalados, de todas as tribos dos fdlhos de
Israel. 5 Da tribo de Judá, doze mil assinalados; da
tribo de Ruben, doze mil assinalados; da tribo de Gad,
doze mil assinalados; 6 da tribo de Aser, doze mil
assinalados; da tribo de Neftali, doze mil assinalados;
da tribo de Manassés, doze mil assinalados; 7 da tribo
de Simeão, doze mil assinalados; da tribo de Levi, doze
mil assinalados; da tribo de Issacar, doze mil assinala­
dos; 8 da tribo de Zabulon, doze mil assinalados; da
tribo de José, doze mil assinalados; da tribo de Benja­
mim, doze mil assinalados.
Grande 9 Depois disto, vi uma grande multidão, que ninguém
multidão podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e lín­
dos
escolhidos. guas, que estavam em pé diante do trono, e diante do
Cordeiro, revestidos de vestiduras brancas, e com palmas
nas suas mãos; 10 e clamavam em voz alta, dizendo:
A salvação (deve-se) ao nosso Deus, que está sentado
sobre o trono, e ao Cordeiro. 11 E todos os anjos esta­
vam de pé em volta do trono, e dos anciãos, e dos qua­
tro animais; e prostraram-se sobre os seus rostos, ante o
trono, e adoraram a Deus, 12 dizendo: Amen. Bênção,
e claridade, e sabedoria, e acção de graças, e honra, e
virtude, e fortaleza ao nosso Deus, pelos séculos dos
séculos. Amen.
13 Então um dos anciãos, tomando a palavra, disse-me:
Estes, que estão revestidos de vestiduras brancas, quem
são? e donde vieram? 14 E eu disse-lhe: Meu Senhor,*12

CAP. VII
1. Detendo cs quatro vcnics. Os profetas consideram os ven­
tos como um sinal dos castigos de Deus (Dan. VII, 2, etc.).
2. Tendo o selo de Deus vivo. Deus é representado como um
rei que tem o s/eu selo. O anjo deve imprimir este selo sobra todos
os escolhidos, para declarar que são propriedade de Deus.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , VII, 15 — VIII, 10 523

tu o sabes. E ele disse-me: Estes são aqueles que vie­


ram de grande tribulação, e levaram os seus vestidos,
e os embranqueceram no sangue do Cordeiro. 15 Por
isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e
de noite no seu templo; e o que está sentado sobre o
trono, habitará sobre eles; 16 não terão mais fome nem
sede, nem cairá sobre eles o sol, nem calor algum;
17 porque o Cordeiro, que está no meio do trono, os
guardará e os levará às fontes das águas da vida, e
Deus enxugará toda a lágrima dos seus olhos.

II — Abertura do sétimo selo; as sete trombetas

C a p . VIII — 1 E, tendo (o anjo) aberto o sétimo Sétimo


selo, fez-se silêncio no céu, quase por meia hora. selo.
2 E vi os sete anjos, que estavam em pé diante de Sete anjos
Deus; e foram-lhes dadas sete trombetas. 3 E veio outro recebem
sete
anjo, e parou diante do altar, tendo um turíbulo de ouro; trombetas;
e foram-lhe dados muitos perfumes, a fim de que ofere­ um outro
cesse as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, oferece
que está diante do trono de Deus. 4 E o fumo dos per­ perfumes,
e lança
fumes (formados) das orações dos santos subiu da mão fogo do
do anjo até à presença de Deus. 5 E o anjo tomou o altar sobre
turíbulo, e o encheu de fogo do altar, e o lançou sobre a terra.
a terra, e houve trovões, e vozes, e relâmpagos, e u:m
grande terremoto. 6 Então os sete anjos, que tinham as
sete trombetas, prepararam-se para as tocar.
7 E o primeiro anjo tocou- a trombeta, e formou-se As quatro
primeiras
uma chuva de granizo e fogo misturados com sangue, que trombetas
foi atirada sobre a terra, e foi abrasada a terça parte da anunciam
terra, e foi queimada a terça parte das árvores, e toda a flagelos
erva verde. 8 E o segundo anjo tocou a trombeta; e sobre um
terço da
foi lançado no mar como que um grande monte ardendo terra, do
em fogo, e converteu-se em sangue a terça parte do mar, mar, dos
9 e a terça parte das criaturas que viviam no mar morreu, rios e dos
e a terça parte das naus pereceu. 10 E o terceiro anjo astros.
tocou a trombeta; e caiu do céu uma grande estrela, a
arder como um facho, e caiu sobre a terça parte dos rios,

15. Habitará, sobre ebs. Segundo o origina1 • Estenderá sobre


eles a sua tenda.
CAP. VIII
10. Uma grande estrela, um meteoro luminoso.
524 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , VIII, 11 — IX, 9

e sobre as fontes das águas; 11 e o nome da estrela é


Absinto; e a terça parte das águas converteu-se em
absinto; e muitos homens morreram por causa daquelas
águas, porque se tornaram amargosas. 12 E o quarto
anjo tocou a trombeta; e foi ferida a terça parte do sol,
e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas, de
maneira que se obscureceu a sua terça parte, e não res­
plandecia a terça parte do dia, e igualmente da noite.
Depois de 13 E olhei, e ouvi a voz de uma águia, que voava
três ais pelo meio do céu, a qual dizia em alta voz: Ai, ai, ai
de uma
águia, a dos habitantes da terra, por causa das outras vozes dos
quinta três anjos que vão tocar a trombeta.
trombeta C ap . IX — 1 E o quinto anjo tocou a trombeta; e vi
anuncia a
praga uma estrela caída do céu sobre a terra, e foi-lhe dada a
dos gafa­ chave do poço do abismo. 2 E abriu o poço do abismo;
nhotos. e subiu um fumo do poço, como fumo de uma grande for­
nalha; e escureceu-se o sol e o ar com o fumo do poço;
3 e do fumo do poço saíram gafanhotos para a terra, e
foi-lhes dado um poder (de fazer mal aos homens), como
o poder que têm os escorpiões da terra; 4 e foi-lhes
ordenado que não fizessem dano à erva da terra, nem
a verdura alguma, nem a árvore alguma, mas somente
aos homens que não têm o selo de Deus sobre as suas
frontes. 5 E foi-lhes concedido, não que os matassem,
mas que os atormentassem durante cinco meses; e o
tormento que causam (é) como o tormento do escorpião,
quando fere um homem. 6 E naqueles dias os homens
buscarão a morte, e não a encontrarão; e desejarão
morrer, e a morte fugirá deles.
7 E as figuras dos gafanhotos eram parecidas a cava­
los aparelhados para a batalha; e sobre as suas cabeças
(tinham) uma espécie de coroas semelhantes ao ouro; e
os seus rostos eram como rostos de homens. 8 E tinham
os cabelos como os cabelos das mulheres; e os seus den­
tes eram como os dentes dos leões. 9 E tinham couraças
como couraças de ferro, e o estrondo das suas asas era
como o estrondo de carros de muitos cavalos que correm

13. As quatro primeiras trombetas estão separadas das três


últimas pelos gritos da águia, que provavelmente representa um
anjo poderoso.

CAP. IX
1-3. E vi uma estrela, isto é, um anjo das trevas, a quem
Deus permitiu ou ordenou que abrisse o inferiío (e foi-lhe dada a
chave do poço do abismo) donde saíram demônios (gafanhotos).
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , IX, 10 — X, 3 525

ao combate; 10 e tinham caudas semelhantes às dos


escorpiões, e havia aguilhões nas suas caudas; e o seu
poder era o de fazer mal aos homens durante cinco
meses; 11 e tinham sobre si como rei o anjo do abismo,
chamado em hebreu Abadon, e em grego Apolion, e em
latim Exterminador. 12 O primeiro ai já passou, e eis
que vêm ainda dois ais depois destas coisas.
13 O sexto anjo tocou a trombeta; e ouvi uma voz A sexta
(que saía) dos quatro cantos do altar de ouro, que está trombeta
diante dos olhos de Deus, 14 a qual dizia ao sexto anjo, umaanuncia
inva­
que tinha a trombeta: Solta os quatro anjos que estão são de
atados no grande rio Eufrates. 15 E foram desatados os cavalaria.
quatro anjos que estavam preparados para a hora, e dia,
e mês, e ano, para matarem a terça parte dos homens.
16 E o número do exército de cavalaria era de duzentos
milhões. E ouvi dizer o seu número. 17 E assim vi na
visão os cavalos; os que estavam montados neles tinham
couraças de cor de fogo, de jacinto e de enxofre, e as
cabeças dos cavalos eram como cabeças de leões; e da
sua boca saía fogo, e fumo, e enxofre. 18 E por estas
três pragas (isto é), pelo fogo, e pelo fumo, e pelo
enxofre, que saíam da sua boca, foi morta a terça parte
dos homens. 19 Porque o poder dos cavalos está na
sua boca e nas suas caudas; porque as suas caudas
assemelham-se às serpentes, e têm cabeças, e com elas
fazem mal.
20 E os outros homens, que não foram mortos por
estas pragas, não fizeram penitência das obras das suas
mãos, de modo a não adorarem os demônios e os ído­
los de ouro, e de prata, e de cobre, e de pedra, e
de pau, que não podiam ver, nem ouvir, nem andar;
21 e não fizeram penitência dos seus homicídios, nem
dos seus malefícios, nem da sua fornicação, nem dos
seus furtos.
C ap . X — 1 Depois vi um outro anjo forte, que descia Um anjo
do céu, vestido de uma nuvem, e com o arco íris sobre a com um
sua cabeça, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés pequeno
livro.
como colunas de fogo; 2 e tinha na sua mão um livri-
nho aberto; e pôs o pé direito sobre o mar, e o esquerdo
sobre a terra: 3 e gritou em alta voz, como um leão
quando ruge. E, depois que gritou, sete trovões fizeram

19. Com estas várias figuras anuncia-se provavelmente uma


guerra terrível que (precederá o reinado do Anticristo.
526 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , X, 4 — XI, 2

ouvir as suas vozes. 4 E, depois que os sele trovões fize­


ram ouvir as suas vozes, eu dispunha-me a escrevê-las; mas
ouvi uma voz do céu que me dizia: Sela as palavras dos
sete trovões, e não as escrevas. 5 E o anjo, que eu vira
de pé sobre o mar e sobre a terra, levantou a sua mão ao
céu, 6 e jurou por aquele que vive pelos séculos dos
séculos, que criou o céu e tudo o que nele há, e a terra
e tudo- o que há nela, e o mar e tudo o que nele há,
(jurou) que não haveria mais tempo (para fazer penitên­
cia), 7 mas que nos dias da voz do sétimo anjo, quando
começasse a soar a trombeta, se cumpriría o mistério de
Deus, como ele o anunciou pelos profetas seus servos.
8 E ouvi a voz do céu, que novamente me falava, e
que dizia: Vai, e toma o livro aberto da mão do anjo, que
está de pé sobre o mar e sobre a terra. 9 E fui ter com
o anjo, dizendo-lhe que me desse o livro. E ele disse-me:
Toma o livro, e devora-o; e ele fará amargar o teu ven­
tre, mas na tu» boca será doce como mel. 10 E tomei o
livro da mão do anjo, e devorei-o; e na minha boca era
doce como mel; mas, depois que o devorei, o meu ven­
tre ficou amargurado. 11 E disse-me: É necessário que
ainda profetizes a muitas nações, e povos, e (homens de
diversas) línguas, e reis.
O anjo C a p . X I— 1 E foi-me dada uma cana semelhante a
manda ao
profeta uma vara, e foi-me dito: Levanta-te, e mede o templo de
medir o Deus, e o altar, e os que nele adoram. 2 Mas o átrio,
santuário. que está fora do templo, deixa-o de parte, e não o meças,
porque ele foi dado aos gentios, e eles calcarão a cidade
santa durante quarenta e dois meses.
CAP. x
4. S el a , isto é, guarda dentro de ti mesmo.
7< S e c u m p r i r í a o m i s t é r i o d e D eu s, isto é, seriam realizadfc®
os desígnios de Deus relativos ao triunfo da sua Igreja e ao esta­
belecimento do seu reino.
9-11. D e v o r a - o . . . lê-o com atenção, assimila-o bem, para que
possas anunciar os juízos de Deus.
CAP. XI
1-2. M ed e o t e m p l o d e D eu s, ou, segundo o grego, o santuá­
rio. Este templo representa a Igreja de Jesus, cdmo sociedade visí­
vel, composta de bons e maus. Assim como Deus tinha mandado
imprimir o seu selo sobre a fronte dos escolhidos, para os salvar
dos flagelos (VII, 3), assim também manda a João m e d i r , isto é,
contar os que adoram no templo, os fiéis, que pertencem à parte
mais santa da Igreja, e constituem o verdadeiro templo ou santuá­
rio de Deus. Estes, embora tenham de sofrer, triunfarão sempre
das perseguições. — Mas o á t r i o d o s g e n t i o s , isto é, os cristãos de
má vida, que deixaram a fé, abandona-os. — A c i d a d e sa n i a , a
Igreja.
APOCALIPSE DE S. JOÃO, XI, 3 — 15 527

3 E darei às minhas duas testemunhas o poder As de dua»


teste­
profetizar, revestidos de saco, durante mil duzentos e munhas.
sessenta dias. 4 Estes são as duas oliveiras e os dois
candeeiros, postos diante do Senhor da terra. 5 E, se
alguém lhes quiser fazer mal, sairá fogo das suas bocas,
que devorará os seus inimigos; e, se alguém os quiser
ofender, é assim que deve morrer. 6 Eles têm poder de
fechar o céu, para que não chova durante o tempo que
durar a sua profecia; e têm poder sobre as águas, para
as converter em sangue, e de ferir a terra com todo o
gênero de pragas, todas as vezes que quiserem. 7 E, de­
pois que tiverem acabado de dar o seu testemunho, a
fera, que sobe do abismo, fará guerra contra eles, e
vencê-los-á, e matá-los-á. 8 E os seus corpos ficarão
estendidos nas praças da grande cidade, que se chama
espiritualmente Sodoma e Egipto, onde também o Senhor
deles foi crucificado.
9 E os homens das diversas tribos, e povos, e línguas,
e nações, verão os seus corpos durante três dias e meio;
e não permitirão que os seus corpos sejam sepultados.
10 E os habitantes da terra se alegrarão por causa deles,
e farão festas, e mandarão presentes uns aos outros, por­
que estes dois profetas tinham atormentado os (ímpios)
que habitavam sobre a terra. 11 Mas, depois de três
dias e meio, o espírito de vida entrou neles da parte
de Deus. E eles levantaram-se em pé, e apoderou-se
um grande temor dos que os viram. 12 E ouviram uma
grande voz do céu, que lhes dizia: Subi para cá. E subi­
ram ao céu numa nuvem; e viram-nos os seus inimigos.
13 E naquela mesma hora deu-se um grande terremoto,
e caiu a décima parte da cidade; e no terremoto foram
mortos sete mil homens; e os restantes foram atemori­
zados, e deram glória ao Deus do céu.
14 Passou o segundo ai; e eis que o terceiro ai virá
A sétima
trombeta
em breve. 15 E o sétimo anjo tocou a trombeta, e ouvi­ anuncia o*
ram-se no céu grandes vozes, que diziam: O reino deste reino de
Deus e o
juízo final.

3. .4s minha8 duas testemunhas. Segundo m.uitos intérpretes,


estas testemunhas são Enoc e Elias.
4. São as duas oliveiras.. . Alusão a Zac., IV, 2 e seguintes-
As duas testemunhas, na sua pregação, devem, como a oliveira,
levar o azeite da unção do Espírito Santo, e, como candceirosr,
fazer brilhar a luz da verdade divina.
7. A fera, o Anticristo, por permissão de Deus, matá-los-á,
de,pois de terem cumprido a sua missão.
10. Tinham atormentado com a santidade da sua vida e com
a sua pregação.
528 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XI, 1 6 — XII, 6

mundo passou a ser de Nosso Senhor, e do seu Cristo,


e ele reinará pelos séculos dos séculos. Amen.
16 E os vinte e quatro anciãos, que estão sentados
diante de Deus sobre os seus tronos, prostraram-se sobre
os seus rostos, e adoraram a Deus, dizendo: 17 Graças
te damos, Senhor Deus omnipotente, que és, e que eras,
e que hás-de vir, porque assumiste o teu grande poder,
e reinaste. 18 As nações irritaram-se (cohtra ti), mas
chegou a tua ira, e o tempo de julgar os mortos e de dar
a recompensa aos profetas, teus servos, e aos santos e
aos que temem o teu nome, pequenos e grandes, e de
exterminar os que corromperam a terra.
19 Então abriu-se no céu o templo de Deus, e apa­
receu a arca do seu testamento no seu tempo, e sobre­
vieram relâmpagos, e vozes, e um terremoto, e uma
grande chuva de pedra.

III — Os sete sinais


1.®sin al: C a p . XII — 1 Depois apareceu no céu um grande sinal:
A mulher e Uma mulher vestida de sol, e a lua debaixo de seus pés,
o dragão.
e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça;
2 e, estando grávida, clamava com dores de parto," e
sofria tormentos para dar à luz.
3 E foi visto um outro sinal no céu: era um grande
dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez pontas, e
nas suas cabeças sete diademas; 4 e a sua cauda arras­
tava a terça parte das estrelas do céu, e as precipitou na
terra; e o dragão parou diante da mulher, que estava para
dar à luz, a fim de devorar o seu filho, logo que ela o
tivesse dado à luz. 5 E deu à luz um filho varão, que
havia de reger todas as gentes com vara de ferro; e
o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono,
6 e a mulher fugiu para o deserto, onde tinha um retiro
que Deus lhe havia preparado, para aí a sustentarem
durante mil e duzentos e sessenta dias.
CAP. XII
1-2. U ma m u lh e r . Quase todos os Padres e intérpretes católi­
cos reconhecem nesta mulher um símbolo da Igreja. — C l a m a v a c o m
d o r e s . . . A Igreja sofre em todos os tempos, mas, no medo doa
seus sofrimentos, continuará sempre a dar à luz filhos espirituais
para Deus.
4. D as e s t r e l a s do céu, dos anjos.
6. O nde t i n h a u m r e t i r o . . . Estas palavras são uma referência
à protecção especial que Deus conce<Ierá à sua Igreja nos últimos
tempos, durante os m i l d u z e n t o s e s e s s e n t a d ia s que durará o rei­
nado do Anticristo.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XII, 7 — 18 529

7 E houve no céu uma grande batalha: Miguel e os O dragão


seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os é vencido
seus anjos pelejava contra ele; 8 porém estes não preva­ por S. Mi­
guel, e
leceram, e o seu lugar não se achou mais no céu. 9 E foi precipi­
precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, tado sobre
que se chama o demônio e Satanás, que seduz todo o a terra.
mundo; e foi precipitado na terra, e foram precipitados
com ele os seus anjos. 10 E ouvi uma grande voz no
céu, que dizia: Agora foi estabelecida a salvação, e
a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu
Cristo; porque foi precipitado (do céu) o acusador de
nossos irmãos, que os acusava de dia e de noite diante
do nosso Deus. 11 E eles vencerain-no pelo (mérito do)
sangue do Cordeiro, e pela palavra do seu testemunho,
e desprezaram as suas vidas, até morrer (por Cristo).
12 Por isso, ó céus, alegrai-vos, e vós os que habitais
neles. Ai da terra e do mar, porque o demônio desceu
a vós com grande ira, sabendo que lhe resta pouco
tempo (para perder almas).
13 E o dragão, depois que se viu precipitado Onadragão
terra, perseguiu a mulher que tinha dado à lpz o filho persegue
varão; 14 mas foram dadas à mulher duas asas de uma ea os mulher
seus
grande águia, a fim de voàr para o deserto ao lugar do filhos.
seu retiro, onde é sustentada por um tempo, e por tem­
pos, e por metade de um tempo, fora da presença da
serpente. 15 E a serpente lançou da sua boca, atrás
da mulher, água (de perseguições) como um rio, para
fazer que ela fosse arrebatada pela corrente. 16 Porém
a terra ajudou a mulher, e a terra abriu a sua boca
e enguliu o rio que o dragão tinha vomitado da sua
boca. 17 E o dragão irou-se contra a mulher; e foi
fazer guerra aos outros seus filhos que guardam os man­
damentos de Deus, e retêm a confissão de Jesus Cristo.
18 E parou sobre a areia do mar.

14. P o r u m t e m p o . . . por um ano, por dois anos, e por me­


tade de um ano, isto é, por três anos e meio (XI, 2).
16. Deus protegeu a sua Igreja, fazendo com que a terra en-
gulisse o rio, isto é, tornando inúteis todos os esforços do demônio.
17. Não tendo podido destruir a Igreja como sociedade visí­
vel, fundada por Deus, o demônio, cheio de ira, moverá guerra
contra os cristãos, que ainda estão no mundo observando os m a n ­
d a m e n t o s d e D e u s e retendo a c o n f is s ã o d e C r is to , isto é, permane­
cendo firmes no Evangelho.
18. E o dragão p a r o u so br e a a r e ia do m a r à espera da besta
que devia sair das ondas, isto é, do Anticristo.
34
530 APOCALIPSE DE S. JOÃO, XIII, 1 — 12

2.° sinal: Cap. XIII— 1 E vi levantar-se do mar uma besta, que


A besta, tinha seis cabeças e dez chifres, e sobre os chifres dez
instru­
mento do diademas, e sobre as suas cabeças nomes de blasfêmia.
dragão, 2 E a besta que eu vi era semelhante a um leopardo,
faz-se e os seus pés como pés de urso, e a sua boca como boca
aclamar de leão. E o dragão deu-lhe a sua força e um grande
por toda a
terra. poder. 3 E vi uma das suas cabeças como ferida de
morte; mas a sua ferida mortal foi curada. E toda a
terra, cheia de admiração, seguiu a besta. 4 E adora­
ram o dragão que deu poder à besta; e adoraram a
besta, dizendo: Quem há semelhante à besta? E quem
poderá pelejar contra ela?
Inimiga 5 E foi-lhe dada uma boca que proferia coisas arro­
de Deus e gantes e blasfêmias; e foi-lhe dado poder de fazer guerra
dos seus durante quarenta e dois meses. 6 E abriu a sua boca em
santos, do­
mina so­ blasfêmias contra Deus, para blasfemar o seu nome, e
bre todos o seu tabernáculo, e os que, habitam no céu. 7 E foi-lhe
03 povos. permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los. E foi-lhe
dado poder sobre toda a tribo, e povo, e língua, e nação;
8 e adoraram-na todos os habitantes da terra, cujos nomes
não estão escritos no livro da vida do Cordeiro, que foi
imolado, desde o princípio do mundo.
Avisos 9 Se alguém tem ouvidos, ouça. 10 Aquele que levar
para o outros para o cativeiro, irá para o cativeiro; aquele que
tempo do matar à espada, importa que seja morto à espada. Aqui
seu do­
mínio. está a paciência e a fé dos santos.
3.° sinal: 11 E vi outra besta que subia da terra, e que tinha
A besta dois chifres semelhantes aos de um cordeiro, mas que
que sai da
terra. falava como o dragão. 12 E ela exercia todo o poder da
primeira besta na sua presença; e fez que a terra e os
que a habitam adorassem a primeira besta, cuja ferida
mortal tinha sido curada.

CAP. XIII

1. A maior parte dos intérpretes diz que esta besta significa


o Anticristo.
2. E ò dragão, isto é, Satanás.
7. E vencê-los quanto à vida do corpo, dando-lhes a morte
temporal. /
8. Desde o princípio do mundo. Estas palavras, como se vê
por outra passagem semelhante (XVII, 8), devem referir-se, não à.
imolação do Cordeiro, mas à inscrição no livro da vida.
10. Aqui, isto é, em sofrer resignadamemte a escravidãta e a.
morte, é que consiste e se manifesta a paciência e a fé dos santos.
11. Vi outra besta. Por todos os caracteres que se seguem,,
vê-se que esta besta é o símbolo da falsa ciência, dia ciência do
mundo, posta ao serviço da impiedade.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XIII, 13 — XIV, 5 531

13 E operou grandes prodígios, de sorte que até Com


fez pro­
descer fogo do céu sobre a terra à vista dos homens. dígios fa z .
adorar a
14 E seduziu os habitantes da terra com os prodígios que imagem da
se lhe permitiram fazer diante da besta, dizendo aos habi­ primeira
besta, e
tantes da terra que fizessem uma imagem da besta, que perseguir
tinha recebido um golpe de espada e conservou a vida. os que se
15 E foi-lhe concedido dar espírito à 'imagem da besta, de não sujei­
modo que falasse a imagem da besta, e fazer que fossem tam.
mortos todos aqueles que não adorassem a imagem da
besta. 16 E fará que todos, pequenos e grandes, ricos e
pobres, livres e escravos, tenham um sinal na sua mão
direita, ou nas suas fontes; 17 e que ninguém possa
comprar ou vender, excepto aquele que tiver o sinal ou
o nome da besta, ou o número do seu nome.
18 Ê aqui que está a sabedoria. Quem tem inteligên­
O número
cia, calcule o número da besta. Porque é número de da besta.
homem; e o número dela é seiscentos e sessenta e seis.
C a p . XIV— 1 E olhei; e eis que o Cordeiro estava 4.° sinal:
de pé sobre o monte de Sião, e com ele cento e qua­ Oseguido Cordeiro
renta e quatro mil que tinham escrito sobre as suas fron­ dos justos
tes o nome dele e o nome de seu pai. 2 E ouvi uma sobre
voz do céu, como o rumor de muitas águas, e como o odemonte Sião.
estrondo de um grande trovão; e a voz que ouvi, era
como de tocadores de citara que tocavam as suas cita­
ras. 3 E cantavam como que um cântico novo diante do
trono, e diante dos quatro animais, e dos anaiãos; e
ninguém podia cantar este cântico, senão aqueles cento e
quarenta e quatro mil, que foram resgatados da terra.
4 Estes são aqueles que se não contaminaram com mulhe­
res; porque são virgens. Estes seguem o Cordeiro para
onde quer que ele vá. Estes foram resgatados dentre
os homens como primícias para Deus e para o Cordeiro,
5 e na sua boca não se achou mentira, porque estão sem
mácula diante dò trono de Deus.

Í7. E que ninguém possa com prar. . . Os cristãos serão con­


siderados fóra de toda a lei, e ser-lhes-á proibido o uso dos direitos
mais naturais.
18. É número de homem, designando poT consequência um ser
fraco e mortal na realidade, apesar do poder quase sobre-humano,
de que parece revestido. — Este número é 666. É um número sim­
bólico, cuja significação se não conhece.

CAP. XIV
2. Como o rum or. . . A voz era forte, mas ao mesmo temipo
harmoniosa como o som das citaras.
532 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XIV, 6 — 18

5.° sinal: 6 E vi outro anjo voando por meio do céu, que tinha
Os três o Evangelho eterno, para prègar aos habitantes da terra,
aujos
anunciam e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, 7 dizendo
a hora do em alta voz: Temei o Senhor, e dai-lhe glória, porque é
juízo, a chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o
queda de
babilônia céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.
c o castigo 8 E outro anjo o seguiu, dizendo: Caiu, caiu aquela
eterno dos grande Babilônia que fez beber a todas as gentes do vinho
ímpios.
(envenenado) da sua furiosa fornicação.
9 E seguiu-se a estes um terceiro anjo, dizendo em
alta voz: Se alguém adorar a besta e a sua imagem, e
receber o sinal dela na sua testa ou na sua mão, 10 tam­
bém esta beberá do vinho da ira de Deus, lançado puro
no cálice da sua ira, e será atormentado em fogo e enxofre
diante dos santos anjos, e na presença do Cordeiro;
11 e o fumo dos seus tormentos se levantará pelos sécu­
los dos séculos, sem que tenham descanso algum, nem de
dia nem de noite, aqueles que tiverem adorado a besta e
a sua imagem, aquele que tiver recebido a marca do seu
nome. 12 Aqui está a paciência dos santos, que guardam
os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.
13 E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve:
Bem-aventurados os mortos, que morrem no Senhor. De
hoje em diante diz o Espírito que descansem dos seus
trabalhos, porque as suas obras os seguem.
6.° sinal: 14 E olhei, e eis (que vi) uma nuvem branca, e uma
O Filho pessoa sentada sobre a nuvem semelhante ao Filho do
do homem
preside à Homem, a qual tinha na sua cabeça uma coroa de ouro,
colheita e na sua mão uma fouce aguda. 15 E outro anjo saiu do
e à vin­ templo,, gritando em alta voz para o que estava sentado
dima do
mundo. sobre a nuvem: Mete a tua fouce, e sega, porque é che­
gada a hora de segar, pois a seara da terra está seca.
16 Então o que estava sentado sobre a nuvem, meteu a
sua fouce à terra, e a terra foi segada.
17 E outro anjo saiu do templo que há no céu, tendo
também ele mesmo uma aguda fouce. 18 Saiu do altar
outro anjo, que tinha poder sobre o fogo; e gritou em
alta voz para o que tinha a fouce aguda, dizendo: Mete a
tua fouce aguda, e vindima os cachos da vinha da terra,

12. Aqui está a 'paciência. . . A consideração dos castigos re­


servados aos maus é um meio eficaz para animar os justos a
perseverar no bem, e a sofrer tudo por amor de Jesus.
15. A seara da terra está seca, isto é, o número dos escolhi­
dos está completo, e chegou a hora de serem castigados os maus.
18. Vindima os cachos, isto é, os pecadoreis impenitentes.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XIV, 19 — XVI, 5 533

porque as suas uvas estão maduras. 19 E o anjo meteu


a sua fouce aguda à terra, e vindimou a vinha da terra,
e lançou (a vindima) no grande lagar da ira de Deus
(no inferno); 20 e o lagar foi pisado fora da cidade, e
do lagar saiu sangue (que subiu) até aos freios dos
cavalos, num espaço de mil e seiscentos estádios.

IV — Os sete anjos e as taças

C a p . XV — 1 E vi no céu outro sinal grande e admi­ Os


rável: Sete anjos que tinham as sete últimas pragas; por­ sete anjos
das sete
que com elas é consumada a ira de Deus. 2 E vi um pragas.
como mar de vidro misturado de fogo, e os que vence­
ram a besta, e a sua imagem, e o número do seu nome,
estavam sobre o mar de vidro, tendo citaras divinas;
3 e cantavam o cântico do servo de Deus, Moisés, e o
cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são
as tuas obras, ó Senhor Deus omnipotente; justo e
verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos.
4 Quem te não temerá, Senhor, e não> glorificará o teu
nome? Porque só tu és misericordioso; em consequência
do que todas as nações virão, e se prostrarão na tua pre­
sença, porque os teus juízos foram manifestados.
5 E, depois disto, olhei, e eis que se abriu o templo
Os sete
do tabernáculo do testemunho no céu; 6 e os sete anjos, anjos rece­
bem taças
que traziam as sete pragas, saíram do templo, vestidos de cheias
linho puro e branco, e cingidos pelos peitos com cintas da ira de
de ouro. 7 E um dos quatro animais deu aos sete anjos Deus.
sete taças de ouro, cheias de ira de Deus, que vive pelos
séculos dos séculos. 8 E o templo encheu-se de fumo
pela majestade de Deus e pela sua virtude; e ninguém
podia entrar no templo, enquanto se não cumprissem as
sete pragas dos sete anjos.
C a p . XVI— 1 E ouvi uma grande voz (que saía) do A l-a taça
templo, a qual dizia aos sete anjos: Ide e derramai sobre uma produz
úlcera
a terra as sete taças da ira de Deus. 2 E foi o primeiro e nos
derramou a sua taça sobre a terra, e formou-se uma úlcera ímpios.
cruel e maligna nos homens que tinham o sinal da besta,
e naqueles que adoraram a sua imagem.
3 E o segundo anjo derramou a sua taça sobre o mar, 3-a A 2.a e a
produ­
e converteu-se em sangue como de um corpo morto; e zem sangue
morreu no mar todo o ser vivo. no mar e
4 E o terceiro anjo derramou a sua taça sobre os rios nas água s
dos rios.
e sobre as fontes das águas, e converteram-se estas em Aprovação
sangue. 5 E ouvi o anjo das águas, que dizia: justo és, do céu.
534 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XVI, 6 — 18

Senhor, que és e que eras, tu o Santo que isto julgaste;


6 porque eles derramaram o sangue dos santos e dos
profetas, lhes deste também a beber sangue, porque
assim o merecem. 7 E ouvi outro que dizia do altar:
Sim, certamente, Senhor omnjpotente, (são) verdadeiros
e justos os teus juízòs.
A 4.* pro­ • 8 E o quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e
duz um
calor foi-lhe dado (poder de) afligir os homens com ardor e
ardente. fogo; 9 e os homens abrasaram-se com um grande calor,
e blasfemaram do nome de Deus, que tem poder sobre
estas pragas, e não se arrependeram para lhe darem glória.
A 5-a pro­ 10 E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o
duz trevas trono da besta; e o reino dela tornou-se tenebroso, e
no reino
do Anti- (os homens) mordiam-se as línguas com a (veemência
cristo. da sua) dor; 11 e blasfemaram do Deus do céu por
causa das suas dores e das suas úlceras, e não se arre­
penderam das suas obras.
A 6.» pro­ 12 E o sexto anjo derramou a sua taça sobre aquele
duz a seca grande rio Eufrates, e secaram-se as suas águas, a fim
do
Eufrates. de se abrir caminho aos reis do oriente.
Três 13 E vi sair da boca do dragão, e da boca da besta,
demônios e da boca do falso profeta três espíritos imundos seme­
excitam
a guerra. lhantes a rãs. 14 Porque são espíritos de demônios,
Vigilância, que fazem prodígios, e que vão aos reis de toda a terra,
a fim de os juntar para a batalha no grande dia do Deus
omnipotente. 15 Eis que venhò como um ladrão (diz o
Senhor). Bem-aventurado aquele que vigia e guarda os
seus vestidos (da graça e da fé), para que não ândè nu,
e não vejam a sua fealdade. 16 E ele os juntará mim
lugar que, em hebráico, se chama Armagedon.
A 7.» 17 E o sétimo anjo derramou á sua taça pelo ar, e
anuncia saiu unia grande voz do templo (vindo) do trono, que
a queda de
Babilônia dizia: Está feito. 18 E seguiram-se relâmpagos, e vozes,
e o fim e trovões, e houve um grande terramoto, tal que nunca,
do mundo.

CAP. XVI
12-16. Sobre aquele grande rio Eufrates, junto do qiunl estava
a ímpia Babilônia, figura dos inimigos dó Cristo. Assim como Ciro,
diesviandk) o Eufrates, entrou em Babilônia, assim o anjo, secando
este rio, abriu caminho aos reis do oriente, para se irem unir ao
Anticristo, e combater contra Deus. Deus, porém, permitindo que
eles ee juntem num só lugar;'executará os desígnios da sua jus­
tiça de os perder de um só golpe. A este lugar dá S. João o
nome simbólico de Armagedon, isto é, cidade de Mageão, onde foi
completamente destroçado o exército de Jábin, opressor do povo
de Israel.
17. Está feito, está tudo pronto para o juízo final.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XVI, 19 — XVII, 7 535

desde que existiram homens sobre a terra, houve ter­


remoto tão grande. 19 E a grande cidade foi dividida
em três partes, e as cidades das nações caíram; e Babi­
lônia, a grande, veio em lembrança diante de Deus,
para lhe dar a beber o cálice do vinho da indignação
da sua ira. 20 E toda a ilha fugiu, ie os montes não
foram achados. 21 E caiu do céu sobre os homens uma
‘grande chuva de pedra, como do peso de um talento;
e os homens blasfemaram de Deus, por causa da praga
da pedra; porque foi grande em extremo.

V — A grande Babilônia

C a p . XVII— 1 E veio um dos sete anjos, que tinham Babilônia


as sete taças, e falou comigo dizendo: Vem, mostrar-te-ei sentada
sobre a
a condenação da grande meretriz que está sentada sobre - besta.
muitas águas, 2 com a qual fornicaram os reis da terra,
e que embriagou os habitantes da terra com o vinho da
sua prostituição.
3 E transportou-me em espírito ao deserto. E vi uma
mulher sentada sobre uma besta de cor de escarlate,
cheia de nomes de blasfêmia, que tinha sete cabeças
e dez chifres. 4 E a mulher estava vestida de púr-
pura e de escarlate, e adornada de ouro, e de pedras
preciosas, e de pérolas, e tinha na mão uma taça de
ouro cheia de abominação e da imundíoie da sua forni-
cação, 5 e estava escrito na sua fronte este nome:
Mistério; a grande Babilônia, a mãe das fornicações e
das abominaçoes da terra. 6 E vi esta mulher ébria do
sangue dos santos, e do sangue dos mártires de Jesus.
E, quando a vi, fiquei em extremo admirado.
7 E o anjo disse-me: Porque te admiras? Eu te direi Explica­
ção desta
o mistério da mulher e da besta que a leva, a qual tem visão.

19. A grande c id a d e ... isto é, Jerusalém foi completamente


arruinada — E Babilônia, símbolo de toda a sociedade anti-cristã.

CAP. XVII

1. Da grande meretriz, de Babilônia.


4. Abominação. Esta palavra tem sempre na Escritura o sen­
tido de idolatria, com as desordens morais que traz consigo.
536 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XVII, 8 — XVIII, 3

sete cabeças e dez chifres. 8 A besta que viste, foi, e


já não é, e subirá do abismo, e (em seguida) irá à
perdição; e os habitantes da terra (cujos nomes não
estão escritos no livro da vida desde o princípio do
mundo) se encherão de pasmo, quando virem a besta,
que era, e que já não é. 9 É aqui (que é preciso) um
espírito dotado de sabedoria. As sete cabeças são sete
montes, sobre os quais a mulher está sentada; são tam-*
bém sete reis. 10 Cinco caíram, um subsiste, e o outro
ainda não veio; e, quando ele vier, deve durar pouco
tempo. 11 E a besta, que era, e que já não é, ela
mesma é a oitava; é uma das sete, e caminha para a
perdição. 12 E os dez chifres que viste, são dez reis
que ainda não receberam reino, mas receberão poder
como reis durante uma hora depois da besta. 13 Estes
têm um mesmo intento, e darão a sua força e o seu
poder à besta. 14 Estes combaterão contra o Cordeiro,
e o Cordeiro os vencerá; porque ele é o Senhor dos
senhores, e o Rei dos reis, e os que são com ele (são)
os chamados, os escolhidos e os fiéis.
15 E (o anjo) disse-me: As águas que viste, onde
a meretriz está sentada, são os povos, e as nações, e
as línguas. 16 E os dez chifres que viste na besta,
estes aborrecerão a meretriz, e a tornarão desolada e
nua, e comerão as suas carnes, e queimá-la-ão com fogo.
17 Porque Deus lhes pôs nos seus corações o execu­
tarem o que lhe apraz, e darem o seu reino à besta,
até que se cumpram as palavras de Deus. 18 E a
mulher que viste, é a grande cidade que reina sobre os
reis da terra.
Queda de C a p . XVIII — 1 E, depois disto, vi descer do céu outro
Babilônia. anjo, que tinha um grande poder; e a terra foi iluminada
com a sua glória. 2 E exclamou fortemente, dizendo:
Caiu, caiu Babilônia, a grande; e tornou-se habitação de
demônios, e guarida de todo o espírito imundo, e alber­
gue de toda a ave hedionda e abominável; 3 porque
todas as nações beberam do vinho da sua furiosa prosti­
tuição; e os reis da terra fornicaram com ela; e os mer-

8-14. A besta que viste, e que representa o Anticristo, foi


viva nos seus ministros, nos antigos impérios, inimigos de Deus,
(e já não ó), porque esses antigos impérios, figurados nas várias
cabeças, caíram, e a única cabeça que resta (XIII, 3) está ferida
de morte.
11. Ê a oitava, o oitavo rei perseguidor da Igreja.
12. Durante uma hora, isto é, durante um tempo- relativa­
mente curto.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XVIII, 4 — 17 537

cadores da terra tornaram-se ricos com o excesso das


suas delícias.
4 E ouvi outra voz do céu, que dizia: Saí dela, povo Motivo
meu, para não serdes participantes dos seus delitos, e queda; desta
para não serdes compreendidos nas suas pragas. 5 Por­ lamentos
que os seus pecados chegaram até ao céu, e o Senhor dos mun­
lembrou-se das suas iniquidades. 6 Retribuí-lhe como alegria danos, e
dos
ela mesma vos tratou, e dar-lhe o dobro conforme as escolhidos.
suas obras; na taça que ela vos deu a beber, dai-lhe a
beber dobrado. 7 Quanto ela se glorificou e viveu em
delícias, tanto lhe dai de tormento e pranto, porque diz
no seu coração: Estou sentada como rainha, e não sou
viúva, e não verei o pranto. 8 Por isso, num mesmo
dia, virão as suas pragas, a morte, e o pranto, e a
fome, e será abrasada em fogo; porque é forte o Deus
que a há-de julgar.
9 E chorarão e se lamentarão por ela os reis da terra,
que fornicaram com ela e viveram em delícias, quando
virem o fumo do seu incêndio. 10 Estando de longe, com
medo dos tormentos dela, dirão: Ai, ai daquela grande
cidade de Babilônia, daquela cidade forte! num momento
veio o teu juízo. 11 E os negociantes da terra chorarão
e se lamentarão sobre ela; porque ninguém comprará
mais as suas mercadorias ; 12 mercadorias de ouro, e de
prata, e de pedras preciosas, e de pérolas, e de linho fino,
e de púrpura, e de seda, e de escarlate, e toda a madeira
odorífera, e todos os vasos de marfim, e todos os vasos de
pedras preciosas, e de bronze, e de ferro, e de mármore,
13 e o cinamomo, e as essências, e os bálsamos, e o
incenso, e o vinho, e o azeite, e a flor da farinha, e o trigo,
e os animais de carga, e as ovelhas, e os cavalos, e as
carroças, e os escravos, e até almas humanas. 14 E os
frutos .desejados pela tua alma se retiraram de ti, e todas
as coisas pingues e magníficàs se perderam para ti, e não
mais se encontrarão. 15 Os mercadores destas coisas,
que se enriqueceram, estarão longe dela com medo dos
seus tormentos, chorando e lamentando-se, 16 e dirão:
Ai, ai daquela grande cidade, que estava vestida de linho
fino, e de púrpura, e de escarlate, e que se adornava de
ouro, e de pedras preciosas, e de pérolas; 17 como num

CAP. XVIII
13. E até almas humanas, expressão simbólica para indicar
os escravos em geral.
538 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XVIII, 18 — XIX, 5

momento foram reduzidas a nada tantas riquezas! E todos


os pilotos, e todos os que navegam no mar, e os mari­
nheiros, e quantos negoceiam sobre o mar, ficaram ao
longe, 18 e, vendo o lugar do seu incêndio, clamaram*
dizendo: Que cidade houve semelhante a esta grande
cidade? 19 E lançaram pó sobre as suas cabeças, e
fizeram alaridos, chorando, e, lamentando, diziam: Ai, aí
daquela grande cidade, de cujas riquezas se enriquece­
ram todos os que tinham navios no mar. Num momento
foi arruinada.
20 Exulta sobre ela, ó céu, e vós, santos Apóstolos e
profetas; porque Deus, julgando-a, fez-vos justiça.
A queda 21 Então um anjo forte levantou uma pedra como
de Babilô­ uma grande mó de moinho, e lançou-a no mar, dizendo:
nia é de­
finitiva. Com este ímpeto será precipitada aquela grande cidade
de Babilônia, e não será jamais encontrada. 22 E não se
ouvirá mais em ti a voz dos tocadores de citara, dos músi­
cos, dos tocadores de flauta e de trombeta; e não se
encontrará mais em ti artista algum de qualquer arte;
e não se tornará mais a ouvir em ti o ruído da mó;
23 e não luzirá mais em ti a luz de lâmpada; e não se
ouvirá mais em ti a voz do esposo e a da esposa, por­
que os teus mercadores eram uns príncipes da terra,
porque por causa dos teus encantamentos erraram todas
as nações. 24 E nela foi encontrado o sangue dos pro­
fetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos
sobre a terra.
Os habi­ C a p . XI X— 1 Depois disto, ouvi uma como voz de
tantes do muitas multidões no céu, que diziam: Aleluia; a salva­
céu dão
glória ção, e a glória, e o poder (são devidos) ao nosso Deus;
a Deus. 2 porque verdadeiros e justos são os seus juízos, porque
julgou a grande meretriz que corrompeu a terra com a
sua prostituição, e porque vingou o sangue de seus-servos
(derramado) pelas mãos dela. 3 E outra vez disseram:
Aleluia. E o fumo dela sobe pelos séculos dos séculos.
4 E os vinte e quatro anciãos, e os quatro animais pros­
traram-se, e adoraram a Deus, que estava sentado sobre o
trono, e diziam: Amen; Aleluia. 5 E saiu do trono uma
voz, que dizia: Dai louvor ao nosso Deus, vós todos os
seus servos; e vós, que o temeis, pequenos e grandes.

CAP. XIX

3. E o fumo dela, o fumo do incêndio que a abrasa, sobe ao


céu pelos séculos dos séculos, isto é, a siua ruína é irreparável.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XIX, 6 — 16 539

6 E ouvi uma como voz de grande multidão, e como


ruído de muitas águas, e como o estampido de grandes
trovões, que diziam: Aleluia, porque tomou posse do seu
reino o Senhor nosso Deus omnipotente. 7 Alegremo-
-nos, e exultemos, e dêmos-lhe glória, porque chegaram
as bodas do Cordeiro, e (a Igreja) sua esposa está ata­
viada. 8 E foi-lhe dado o vestir-se de finíssimo linho,
resplandecente e branco. E este linho fino são as virtu­
des dos santos.
9 E (o anjo) disse-me: Escreve: Bem-aventurados Conclusão-
os que foram chamados à ceia das bodas do Cordeiro; da segunda*
e disse-me: Estas palavras de Deus são verdadeiras. parte.
10 E prostrei-me a seus pés para o adorar. E ele disse-me:
Vê, não faças tàl; eu sou servo como tu e como teus
irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus;
porque o testemunho de Jesus é q espírito de profecia.

TERCEIRA PARTE

TRIUNFO DE CRISTO E DA IGREJA

11 Depois vi o céu aberto, e eis um cavalo branco, e O vencedor


e o seu
o que estava montado sobre ele, chamava-se o Fiel e o exército.
Verdadeiro, (Jesus Cristo) que julga com justiça, e com­
bate. 12 E os seus olhos eram como uma chama de
fogo, e tinha sobre a cabeça muitos diademas, e um
nome escrito, que ninguém conhece senão ele mesmo.
13 E vestia uma roupa salpicada de sangue; e o seu
nome chama-se VERBO DE DEUS.
14 E seguiam-no os exércitos que estão no céu, em
cavalos brancos, vestidos de fino linho branco e puro.
15 E da sua boca saía uma espada de dois gumes, para
ferir com ela as nações. E ele as governará com cetro de
ferro; e ele mesmo pisa o lagar do vinho do furor da ira
de Deus omnipotente. 16 E no seu vestido, e na sua
coxa, traz escrito: Rei dos reis, e Senhor dos senhores.

10. Pará o adorar. Este termo deve ser aqui tomado, como em
muitos outros lugares da Escritura, no sentido de venerar. O anjo
recusa a veneração do Apóstolo, não porque ela fosse ilícita, mas
para lhe fazer compreender que devia fixar toda a sua atenção em
Deus, diante dio"qual, tanto os anjos como os homens, são servos*
humildes.
540 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XIX, 17 — XX, 6

Derrota 17 E vi um anjo que estava no sol, e clamou em voz


da besta
e dos reis. alta, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do
céu: Vinde, e juntai-vos para a grande ceia de Deus,
18 a fim de comerdes carnes de reis, e carnes de tribu­
nos, e carnes de poderosos, e carnes de cavalos e dos
que neles montam, e carnes de todos, livres e escravos,
pequenos e grandes.
19 E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos
reunidos para fazerem guerra àquele que estava montado
sobre o cavalo, e ao exército. 20 E a besta foi presa,
e com ela o falso profeta, que fez prodígios na sua pre­
sença, com os quais tinha seduzido os que tinham rece­
bido o caracter da besta, e tinham adorado a sua imagem.
Foram ambos lançados vivos no tanque de fogo a arder
com enxofre. 21 E os outros foram mortos pela espada
que saía da boca do que estava montado sobre o cavalo;
e todas as aves se fartaram das suas carnes.
O dragão 6 C a p . XX — 1 E vi descer do céu um anjo que tinha
-defrouvdo, a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão.
preso du­
rante mil 2 E prendeu o dragão, a serpente antiga, que é o demônio
•anos, e de­ e Satanás, e amarrou-o por mil anos; 3 e meteu-o no
pois preci­ abismo, e fechou-o, e pôs selo sobre ele, para que não
pitado no
inferno seduza mais as nações até se completarem os mil anos;
com os e depois disto deve ser solto por um pouco de tempo.
seus par­ 4 E vi tronos, e (vários pessonagens que) se sentaram
tidários.
sobre eles, e lhes foi dado o poder de julgar; vi também
as almas daquele^ que foram degolados por causa do tes­
temunho de Jesus, e por causa da palavra de Deus, e
aqueles que não adoraram a besta nem a sua imagem,
nem receberam o seu carácter sobre a fronte ou sobre as
suas mãos, e viveram e reinaram com Cristo durante mil
anos. 5 Os outros mortos não tornarão à vida, até se
completarem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição.
6 Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na pri-

CAP. xx
2. Por m il• anos. Duração longa, que'provavelmente se refere
ao espaço de tempo que vai da primeira à segunda vinda de Cristo.
4-6. São estes os versículos do Apocalipse mais difíceis dç
interpretar. — Se sentaram. Não se sabe ao certo qual é o sujeito
deste verbo; se os anjos, os Apóstolos, ou os santos. — Durante mil
anos, isto é, durante o tempo que vai até à segunda vinda de
Cristo. — A primeira ressurreição consiste na glorificação da alma
separada do corpo. A esta seguir-se-á a segunda ressurreição, qu.o
consiste na glorificação da alma e do corpo.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XX, 7 — XXI, 2 541

meira ressurreição; a segunda morte (que ê a condenação


eterna) não tem poder sobre estes; mas serão sacerdotes
de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante mil anos,
7 E, quando se completarem os mil anos, Satanás
será solto da sua prisão, e sairá, e seduzirá as nações
que estão nos quatro ângulos da terra, a Gog e a Magot,
e os juntará para a batalha, õ seu número é como a
areia do mar. 8 E estenderam-se pela superfície da
terra, e cercaram os acampamentos dos santos e a cidade
querida. 9 Mas desceu do céu (por mandado) de Deus
um fogo que os devorou; e.o demônio, que os seduzia,
foi metido no tanque de fogo e de enxofre, onde tam­
bém a besta 10 e o fajso profeta serão atormentados
de dia e de noite pelos séculos dos séculos.
11 E vi um grande trono branco, e um que estava Juízo finaL
sentado sobre ele, de cuja vista fugiu a terra e o.céu, e
não foi achado mais lugar para eles. 12 E vi os mortos
grandes e pequenos estar de pé diante do trono; e foram
abertos os livros; e foi aberto outro livro, que é o da
vida; e foram julgados os mortos pelas coisas que estavam
escritas nos livros, segundo as suas obras. 13 E o mar
deu os mortos que estavam nele; e a morte e o inferno
deram os mortos que estavam neles; e fez-se juízo de
cada um deles segundo as suas obras. 14 E o inferno e a
morte (isto é, os ímpios) foram lançados no tanque de fogo.
Esta é a segunda morte. 15 E aquele que se não achou
inscrito no livro da vida, foi lançado no tanqge de fogo.
C a p . XXI — 1 E vi um novo céu e uma nova terra. Visão do
Porque o primeiro céu e a primeira terra desapareceram, mundo
novo,
e o mar já não existe. 2 E eu, João, vi a cidade santa, da nova
a nova Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, Jerusalém.

7. Go(7 o Ma pop são dois nomes simbólicos tirados de Eze-


quiel (XXXVIII, 2 seg.s)> que representam aqui todas as nações
ímpias que nos últimos tempos combaterão contra a Igreja.
11. F um, isto é, Jesus Cristo.
12. Foram abertos os livros em que estão escritas as acções
de todos cs homens (Dan. VII, 10). Esta expressão metafórica
indica que naquele dia Deus fará conhecer a cada um o bem e o
mal que tiver feito. — Livro da vida é o que contém a lista dos
escolhidos.
13. A morto e o inferno, isto é, a profundidade da torra.
14. Esta ó a sopunãa morte. A primeira foi a morte corporal,
e a segunda ó a condenação 'eterna.

CAP. XXI

2. A nova Jerusalém, isto é, a Igreja triunfante.


542 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XXI, 3 — 16

adornada como uma esposa ataviada para o seu esposo.


3 E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis
o tabernáculo de Deus com os homens, e habitará com
eles. E eles serão o seu povo, e o mesmo Deus com eles
será o seu Deus; 4 e Deus lhes enxugará todas as
lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem
luto, nem clamor, nem mais dor, porque as primeiras
coisas passaram. 5 E o que estava sentado no trono
disse: Eis que eu renovo todas as coisas. E disse-me:
Escreve, porque estas palavras são muito dignas de fé e
verdadeiras. 6 E disse-me: Está feito. Eu sou o Alfa e
o Õmega, o princípio e o fim (de tudo). Eu darei gratui­
tamente da fonte da água da vida ao que tiver sede.
7 Aquele que vencer, possuirá estas coisas, e eu serei
seu Deus, e ele será meu filho. 8 Mas, pelo que toca
aos tímidos, e aos incrédulos, e aos execráveis, e aos
homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idó­
latras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no tanque
ardente de fogo e de enxofre: .o que é a segunda morte.
Esplendor 9 E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças
e riqueza cheias das sete últimas pragas, e falou comigo, dizendo:
da cidade
santa. Vem, e eu te mostrarei a noiva, a esposa do Cordeiro.
10 E transportou-me em espírito a um grande e alto
monte, e mostrou-me a cidade santa, Jerusalém, que des­
cia do céu de junto de Deus, 11 a qual tinha a claridade
de Deus; e a sua luz era semelhante a uma pedra pre­
ciosa, a uma pedra de jaspe, transparente como cristal.
12 E tinha um muro grande e alto com doze portas; e
nas portas doze anjos, e uns nomes escritos, que são os
nomes das doze tribos dos filhos de Israel. 13 Três portas
(estavam) ao oriente; e três portas ao setentrião; e três
portas ao meio-dia; e três portas ao ocidente. 14 E o
muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles os doze
nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro.
15 E o que falava comigo tinha uma cana de ouro de
medir, para medir a cidade e as suas portas, e o muro.
16 E a cidade é quadrangular, e tão comprida, como
larga; e mediu a cidade com a cana de ouro até doze

4. As primeiras coisas, isto é, a primeira vida sujeita ao pe­


cado, à morte e a muitos outro^s males, passou, e agora começa o
reino da alegria e da felicidade.
6. Está feito, estão cumpridos os desígnios de Deus. — Água
da vida é aqui o sírnbolo da imortalidade bem-aventurada.
16. E m ed iu . . . As grandes proporções desta cidade signifi­
cam o grande número dos escolhidos.
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XXI, 17 — XXII, 5 543

mil estados; e o seu comprimento, e a sua altura, e a


sua largura, são iguais. 17 Mediu também o seu muro
até cento e quarenta e quatro côvados, medida de
homem, que era (também) a do anjo. 18 E o muro
era construído de pedra de jaspe; e a mesma cidade
(era) de ouro puro, semelhante a vidro límpido. 19 Eos
fundamentos do muro da cidade (eram) ornados de toda
a qualidade de pedras preciosas. O primeiro fundamento
(era) de jaspe; o segundo de safira; o terceiro de cal-
cedónia; o quarto de esmeralda; 20 o quinto de sar-
dónica; o sexto de sárdio; o sétimo de crisólito; o
oitavo de berilo; o nono de topázio; o décimo de cri-
sópraso; o undécimo de jacinto; o duodécimo de ame­
tista. 21 E as doze portas eram doze pérolas; e cada
porta era (feita) de uma pérola; e a praça da cidade
era de ouro puro, como vidro transparente. 22 E não
vi templo nela, porque o Senhor Deus omnipotente e
o Cordeiro é o seu templo. 23 E esta cidade não tem
necessidade de sol, nem de lua que alumiem nela, porque
a claridade de Deus a ilumina, e a sua lâmpada é o Cor­
deiro. 24 E as nações caminharão à sua luz; e os reis da
terra lhe trarão a sua glória e a sua honra. 25 E as suas
portas não se fecharão no fim de cada dia, porque ali
não haverá noite. 26 Trazer-lhe-ão a glória e a honra
das nações. 27 Não entrará nela coisa alguma conta­
minada, ou quem cometa abominação ou mentira, mas
somente aqueles que estão inscritos no livro da vida do
Cordeiro.
C a p . XXII — 1 E mostrou-me um rio de água viva Vida feliz
resplandecente como cristal, que saía do trono de Deus do céu.
e do Cordeiro. 2 No meio da praça da cidade, e de
uma e de outra parte do rio, estava a árvore da vida,
que dá doze frutos, produzindo em cada mês o seu fruto,
e as folhas da árvore (servem) para a saúde das nações.
3 E não haverá ali jamais maldição; mas o trono de
Deus e do Cordeiro estará nela, e os seus servos o
servirão. 4 E verão a sua face; e o seu nome estará
sobre as suas frontes. 5 E não haverá ali mais noite;

17. Medida de homem. Embora tomadas por um anjo,, estas


medidas eram calculadas à maneira humana.

CAP. X X II
2. E as fo lha s. . . Expressão metafórica para indicar que no
«céu não haverá doenças ou outros sofrimentos físicos.
544 A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XXII, 6 — 16

nem eles terão necessidade de luz de lâmpada, nem de


luz de sol, porque o Senhor Deus os alumiará; e rei­
narão pelos séculos dos séculos.

CONCLUSÃO

Confirma­ 6 E disse-me: Estas palavras são muito certas e ver­


ção das dadeiras. E o Senhor Deus dos espíritos dos profetas
promessas. enviou o seu anjo a mostrar aos seus servos as coisas
que devem acontecer dentro de pouco tempo. 7 E eis
que venho (d'z o Senhor) a toda a pressa. Bem-aventu­
rado aquele que guarda as palavras da profecia deste
livro. 8 E eu, João (sou) o que ouvi e o que vi estas
coisas. E, depois de as ter ouvido e visto, prostrei-me
aos pés do anjo, que mas mostrava, para o adorar;
9 porém, ele disse-me: Vê, não #faças tal; porque eu
sou servo (de Deus) como tu, e ‘como teus irmãos os
profetas, e como aqueles que guardam as palavras da
profecia deste livro. Adora a Deus.
10 E disse-me: Não seles as palavras da profecia
deste livro, porque o tempo está próximo. 11 Aquele
que prejudica, prejudique ainda; e aquele que é impuro,
continue na impureza; e aquele que é justo justifique-se
mais; e aquele que é santo, santifique-se mais. ,
12 Eis que venho depressa, e a minha recompensa
está comigo, para retribuir a cada um segundo as suas
obras. 13 Eu sou o Alfa e o Ómega, o primeiro e o
último, o princípio e o fim. 14 Bem-aventurados aque­
les que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro para
terem parte na árvore da vida, e entrarem pelas portas na
cidade (santa). 15 (Ficam) fora os cães, e os feiticeiros,
e os impudicos, e os homicidas, e os idólatras, e todo o
que ama e pratica a mentira. 16 Eu, Jesus, enviei o meu
anjo, para vos atestar estas coisas nas Igrejas. Eu sou a
raiz e a geração de David, a estrela resplandecente da

10. N ã o s e le s a s p a l a v r a s . .. isto é, não. as ocultes, mas co­


munica-as aos fiéis.
11. A q u e l e q u e p r e j u d i c a . . . a q u e l e q u e é i m p u r o . . . O Após­
tolo emprega nestas palavras uma ironia, querendo dizer: Depois
de tantas promessas e ameaças, se alguém quer continuar a pecar,
continue, eu não lho impedirei, mas a seu tempo, receberá de
Deus o que merece.
14. Que l a v a m a s su as v e s t e s . .. que santificam a sua vida.
15. Os cãe s, isto é, os homens impuros-
A P O C A L IP S E DE S. JO Ã O , XXII, 1 7 — 21 545

manhã. 17 E o Espírito (Santo) e a esposa dizem: Vem.


E o que ouve, diga: Vem. E o que tem sede, venha; e
o que quer, receba de graça a água da vida.
18 Porque eu protesto a todos os que ouvem as pala­
A profe­
cia não
vras da profecia deste livro, que, se alguém lhes juntar deve ser
(alguma coisa), Deus o castigará com as pragas escritas alterada.
neste livro. 19 E, se alguém tirar qualquer coisa das
palavras da profecia deste livro, Deus lhe tirará a sua
parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas
que estão escritas neste livro.
20 O que dá testemunho destas coisas, diz: Sim,João
chama o
venho depressa: Amen. Vem, Senhor Jesus. 21 A graça Salvador
de Nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amen. e saúda
os fiéis.

17. E a esposa, que é a Igreja.


20. Sim, venho depressa. Jesus Cristo promete que a sua
vinda não demorará. E o Apóstolo, em seu nome e em nome da
Igreja, responde: Vem, Senhor Jesus.

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