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Resumo
A Netflix é um serviço de streaming de distribuição de conteúdos audiovisuais, que
revolucionou a indústria do entretenimento ao popularizar uma nova forma de propagação de
mídia. Com essa plataforma, as pessoas passaram a ter acesso a um vasto catálogo de conteúdos
e, agora, podem escolher como, quando, onde e ao que desejam assistir, sem a necessidade de
um download prévio e sem interrupções comerciais. Desse modo, o artigo tem o objetivo de
analisar como a Netflix foi responsável por mudanças na forma de consumo de mídia e como a
mesma possibilitou que o usuário tenha uma maior autonomia e acessibilidade aos conteúdos.
Palavras- chave: Netflix; streaming; entretenimento; conteúdos audiovisuais.
1. Introdução
A revolução digital transformou o mercado audiovisual. Os avanços tecnológicos e o
acesso à internet, principalmente, foram os responsáveis por essa mudança. Agora, os
espectadores não dependem mais das grades de programação da TV aberta, uma vez que podem
assistir a conteúdos sob demanda.
Ainda que a TV a cabo continue sendo um recurso de propagação de mídia, o constante
crescimento do streaming vem fazendo com que ela perca adeptos. No Brasil, 97% das pessoas
já utilizam algum serviço de streaming (PIZARRO, 2018), enquanto apenas 40% da população
têm TV digital aberta (VILLELA, 2016).
Um dos serviços que merece destaque nesse aspecto é a Netflix, um serviço pago que
oferece conteúdos audiovisuais via streaming. O streaming é uma tecnologia que envia
informações multimídia, através da transferência de dados, utilizando redes de computadores
de modo contínuo, ou seja, de forma que a transmissão seja feita ao mesmo tempo que o usuário
esteja consumindo o conteúdo. Alguns serviços que merecem destaque nesse aspecto são a
Netflix e o Spotify1.
Em inglês, a palavra stream significa corrente de água e, por isso, o fluxo de dados ou
de conteúdos multimídia remete ao fluxo de um rio, que leva a água de forma constante até os
seus afluentes.
Líder do mercado de streaming, a Netflix permite, por meio de qualquer tela com acesso
à Internet, que o assinante assista, volte e pause filmes e séries a qualquer momento por um
baixo custo. Ademais, a ferramenta destaca-se pela variedade de opções, com um catálogo
extremamente diversificado e que contém bilhões de horas de conteúdos audiovisuais. O
serviço já está presente em grande parte do globo terrestre, além de possuir milhões de
assinantes e seu valor de mercado equivale a, aproximadamente, US$ 152 bilhões,
ultrapassando a Disney, pela primeira vez, em 2018 (GAZETA DO POVO, 2018).
Desse modo, o foco do artigo é explicar os impactos da Netflix na sociedade, além de
como as redes de streaming de vídeo se difundiram e revolucionaram o consumo de conteúdos
audiovisuais.
2. Surgimento da Netflix
A Netflix foi criada em 1997 por Reed Hastings e Mark Randolph, sendo sua sede na
cidade de Los Gatos, na Califórnia, Estados Unidos. Inicialmente, a empresa locava fitas VHS
através da Internet, porém elas eram muito caras e frágeis. Assim, em 1998, o serviço migrou
*
Serviço de streaming de música, podcast e vídeo mais popular do mundo.
XV Encontro Virtual de Documentação em Software Livre e XII Congresso Internacional de Linguagem e
Tecnologia Online.
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para o Digital Versatile Disc (DVD), um formato de mídia considerado o “reprodutor do futuro”
por Reed Hastings, que facilitou o transporte pelos correios, fazendo com que a empresa
continuasse alugando conteúdos por meio de um site (GOMES, 2016).
Por conta do uso de DVD’s, novidade no mercado da época, e da competição com
grandes locadoras, como a Blockbuster2, o crescimento e a popularização da Netflix deram-se
de forma lenta (SILVA e STÜRMER, 2015).
Em 1999, surgiu o modelo de assinatura mensal, implantado apenas nos Estados Unidos,
responsável pelo sucesso da marca. O usuário pagava uma taxa fixa de U$15,95 e podia alugar
quantos DVD’s quisesse, sem um prazo de devolução definido, não tendo que preocupar-se
com outros gastos. Ademais, a Netflix fez parceria com empresas como a Warner Bros, o que
permitiu a ampliação de seu catálogo e atraiu um maior número de assinantes para o serviço.
Como consequência, houve a expansão da empresa. Era fácil firmar acordos com estúdios, pois
a Netflix não era vista como uma ameaça aos mesmos, por tratar-se de uma pequena empresa,
além de que esses contratos eram uma fonte de renda extra para os estúdios e propagavam seus
conteúdos (SILVA e STÜRMER, 2015).
Somente em 2007, a empresa lançou o serviço de streaming de vídeo, quando o interesse
em DVD’s começou a diminuir, declinando 4,5%, após dois anos de vendas estagnadas
(FERNANDES, 2018). O objetivo do streaming era que seus assinantes passassem a assistir a
filmes e a séries online instantaneamente, sem a dependência dos DVD’s, do estoque disponível
e dos correios dos Estados Unidos. Assim, a “falta de limite” era um grande benefício do
conteúdo sob demanda.
De início, a estratégia da Netflix foi manter as duas possibilidades de assinaturas,
criando um negócio paralelo para o aluguel de DVD’s, chamado Qwikster, voltando-se apenas
para o serviço de streaming. Essa medida levou a grande perda de assinantes, visto que, na
época, as pessoas não estavam familiarizadas com a plataforma e, muitas vezes, não possuíam
uma boa conexão de dados, piorando sua experiência, além de ter feito com que o CEO da
empresa se desculpasse publicamente, por tentar acelerar a separação do mercado de streaming
e de aluguel de DVD’s. “As perdas incluíram cerca de 600 mil cancelamentos de assinaturas
naquele quadrimestre e uma baixa de 11 dólares no valor das ações somente em 1 dia”
(MEYER, 2016). Essa falha foi corrigida um mês após o lançamento da plataforma Qwikster,
com o encerramento da mesma e o empréstimo de DVD’s sob o domínio dvd.com, que continua
ativo nos Estados Unidos até os dias atuais, ainda que seja pouco conhecido por conta da
popularização do streaming de vídeo (AIEX, 2018).
De 2008 a 2009, o foco da marca era ampliar a distribuição de seus conteúdos, a partir
de parcerias com empresas de tecnologia. Assim, em 2009, já era possível acessar a Netflix em
dispositivos como Wii, Xbox 360, Blu-ray, PS3, Smart TV’s e em aparelhos da Apple. A
Netflix, então, passou a preocupar-se com a experiência do usuário, representando uma nova
fase para a empresa (CUNTO, 2016).
Assim, o streaming revolucionou a forma com que os conteúdos chegavam aos lares
dos clientes, além de libertar o consumidor das grades de programação e permitir a criação de
séries, de filmes e de documentários originais da Netflix. Esses conteúdos estabeleceram a
empresa como um produtor de mídia audiovisual e geraram uma lealdade entre a plataforma e
os consumidores, evitando a substituição do serviço por outra plataforma de streaming ou
mesmo o cancelamento da assinatura (SILVA e STÜRMER, 2015).
Em 2011, após conquistar um grande mercado-consumidor nos Estados Unidos, a
Netflix iniciou sua expansão internacional, começando pelo Canadá e América Latina.
Atualmente, o serviço opera em 190 países, com exceção da China, Síria, Criméia e Coreia do
Norte e possui cerca de 118 milhões de assinantes (FOLHA DE S. PAULO, 2018).
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Maior rede de locadoras de filmes e vídeo games do mundo, extinta em 2013.
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3. Netflix Brasil
A América Latina foi uma das primeiras áreas de expansão da Netflix, que se
popularizou no continente, assim como em outras partes do mundo. O Brasil, atualmente, é
considerado um dos principais mercados da marca (PENNAFORT, 2018).
Ao estrear seu serviço no país, em 2011, a empresa enfrentou grandes desafios: as
pessoas não estavam familiarizadas com a ferramenta do streaming, além de que a internet
banda larga não era ideal para o consumo de conteúdos, afetando negativamente a experiência
do usuário. Embora houvessem aspectos negativos, com um crescimento lento no país, a Netflix
garantiu uma boa base de consumidores no Brasil e assim continuou sua expansão,
popularizando-se. Os principais motivos para começar a expansão com a América Latina foram
a demanda por conteúdos produzidos em Hollywood e o fato de que só eram necessárias duas
licenças: uma em espanhol e outra em português, ao contrário dos países da Europa, onde era
necessário comprar licenças individuais por filme ou programa de TV (GOMES, 2016).
Em 2013, a Netflix obteve um grande avanço: o número de assinantes atingiu 1,9
milhões, contra 900 mil do ano anterior (GOMES, 2016). Desde então, o serviço vem se
popularizando e crescendo cada vez mais no país, tanto que, atualmente, o país está sendo
cenário de grandes investimentos em conteúdos originais, como as séries 3% e O Mecanismo.
4. A concorrência da Netflix
Não há dúvidas de que o streaming está revolucionando a vida das pessoas. Desde que
esses serviços se popularizaram, os espectadores têm escolhido, cada vez mais, como e quando
assistir ao seu programa favorito. No mundo contemporâneo, os consumidores possuem uma
grande variedade de opções para a exibição de conteúdos e, apesar da liderança da Netflix nesse
aspecto, sua popularização propiciou o surgimento de serviços concorrentes, como o Hulu e o
HBO Go, cada um com seu acervo e com variações de preço.
O Hulu, um forte concorrente da Netflix, é uma plataforma de streaming criada em
2007, a partir da união de grandes marcas do mercado audiovisual: Century Fox, The Walt
Disney Company, Comcast e Time Warner.
Atualmente, esse serviço tem cerca de 20 milhões de assinantes (DEMARTINI, 2018),
sendo considerado um dos maiores serviços de streaming dos Estados Unidos, perdendo apenas
para a Netflix, que possui cerca de 54,75 milhões de assinantes no país (GLOBO, 2018) e para
o Amazon Prime Video, com 26 milhões (ESTADÃO, 2018).
Ao perceber uma mudança no mercado de entretenimento, a HBO, empresa de
propriedade da Warner, que possuía apenas um canal fechado, criou uma plataforma de
streaming, HBO Go, no Brasil, e HBO Now, nos Estados Unidos. Caso o usuário possua o
pacote de canais HBO, terá acesso ao serviço de streaming.
Outro grande concorrente da Netflix é a pirataria3, uma prática extremamente comum
nos dias atuais, por não trazer custos ao usuário e por sua praticidade. Porém, por mais que ela
cause certo prejuízo às redes de streaming, por distribuir seus conteúdos sem nenhuma
remuneração, fazendo com que algumas pessoas prefiram utilizar a pirataria, a Netflix não a
considera como uma ameaça, pelo contrário, a empresa passou a analisar os conteúdos mais
assistidos de sites piratas para usar como base na compra de novas produções, atraindo um
maior número de consumidores por meio de seu catálogo. A afirmação surgiu do vice-
presidente de conteúdo da Netflix, Kelly Merryman, na estreia do serviço na Holanda, em 2013.
“Com a compra de novas séries, nós olhamos o que é mais popular nos sites de conteúdo pirata",
disse. "Na Holanda, por exemplo, vimos que o seriado Prison Break' era muito compartilhado e por
isso o compramos" (G1, 2013). Além disso, a Netflix acaba chamando mais atenção dos
consumidores do que a pirataria, por ter grande qualidade e praticidade a um custo acessível.
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Prática de distribuição de conteúdos sem a autorização dos proprietários.
Em 2018, 81,6% dos consumidores de pirataria disseram ter reduzido tal consumo após
tornarem-se usuários das redes streaming (RUIC, 2018).
6. Considerações Finais
Não há dúvidas de que a Netflix revolucionou a indústria do entretenimento e se tornou a
maior empresa de streaming do mundo. O serviço modificou todo o consumo de mídia, ao criar
uma nova forma de reprodução de conteúdos, que substituiu os DVD’s por facilitar o acesso do
consumidor a esses conteúdos.
Uma das principais estratégias utilizadas pela Netflix é o “foco no consumidor”, ou seja,
coloca o público como sua prioridade, contrariando a TV aberta, cujo foco é a visualização do
programa. Dessa forma, o serviço, por um preço acessível, flexibiliza o acesso aos conteúdos
de mídia. O usuário, agora, pode assistir a qualquer conteúdo do catálogo do país na hora que
quiser, sem intervalos comerciais, além de ter a possibilidade de repetir uma determinada cena,
avançar um trecho do conteúdo que não lhe parece interessante, assistir ao filme ou à série
favorita quantas vezes desejar.
Outro recurso utilizado pela plataforma é a personalização, que, por meio de algoritmos
de recomendações, estuda as preferências de programas de cada perfil da Netflix, ajudando cada
pessoa a encontrar o conteúdo que lhe interessa no meio de milhares de séries e de filmes.
Esses recursos permitiram que o usuário tomasse um perfil relevante para o
funcionamento do serviço: ele pode interferir no serviço em uma série de maneiras, tais como
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Conceito utilizado para descrever imagens, vídeos e GIFs relacionados ao humor que se espalham
via Internet.
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Tecnologia Online.
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7. Referências
AIEX, Tony. 3 milhões de pessoas ainda recebem DVDs da Netflix em casa. R7, [S.L], ago.
2018. Disponível em: <http://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2018/08/27/netflix-dvds-
pessoas/>. Acesso em: 17 set. 2018.
AUTRAN, Felipe. Streaming ajuda a reduzir consumo de pirataria no Brasil, diz pesquisa.
Tecmundo, [S.L], abr. 2018. Disponível em:
<https://www.tecmundo.com.br/internet/129408-streaming-ajuda-reduzir-consumo-pirataria-
brasil-diz-pesquisa.htm>. Acesso em: 04 set. 2018.
CUNTO, Daniela Lauria de. Netflix e cultura audiovisual. 2017. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação em Cinema e Audiovisual) – Universidade Federal Fluminense, Rio de
Janeiro, 2017.
ESTADÃO. Amazon Prime Video tinha 26 milhões de usuários nos EUA em 2017.
Disponível em: <https://link.estadao.com.br/noticias/empresas,amazon-prime-video-tinha-26-
milhoes-de-usuarios-nos-eua-em-2017,70002228772>. Acesso em: 04 set. 2018.
FERNANDES, André Bartholomeu. Como a Netflix se tornou uma empresa de 100 bilhões
de dólares em 20 anos. HACK, [S.L], abr. 2018. Disponível em:
<https://hack.consulting/como-a-netflix-se-tornou-uma-empresa-de-100-bilhoes-de-dolares-
em-20-anos/>.>. Acesso em: 25 jun. 2018.
G1. Netflix olha sites de conteúdo pirata para saber sucesso de filmes e séries. Disponível
em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/09/netflix-olha-sites-de-conteudo-pirata-
para-saber-sucesso-de-filmes-e-series.html>. Acesso em: 31 jul. 2018.
GAZETA DO POVO. Netflix supera a Disney e se torna a empresa de mídia mais valiosa
do mundo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/economia/nova-
economia/netflix-supera-a-disney-e-se-torna-a-empresa-de-midia-mais-valiosa-do-mundo-
0fb4y7tbydelyq1d1jngkfuwv>. Acesso em: 25 jun. 2018.
GLOBO. Netflix alcança pela primeira vez mais assinantes fora do que dentro dos EUA.
Disponível em: <https://gq.globo.com/Prazeres/Tecnologia/noticia/2018/01/netflix-alcanca-
pela-vez-mais-assinantes-fora-do-que-dentro-dos-eua.html>. Acesso em: 04 set. 2018.
GOMES, Mariana de Souza. Aperte o play: você no controle: uma análise da Netflix.
2016. 91 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação - Habilitação em
Publicidade e Propaganda) - Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2016.
PENNAFORT, Roberta. Brasil já está entre os três principais mercados da Netflix. O Estado
de S.Paulo, [S.L], mar. 2018. Disponível em:
<https://cultura.estadao.com.br/noticias/televisao,brasil-ja-esta-entre-os-tres-principais-
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VILLELA, Flávia. IBGE: 40% dos brasileiros têm televisão digital aberta. Agência Brasil,
[S.L], abr./set. 2018. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-
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