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(lonhcgu ;i mais completa


C( >LEÇAO DE SERVIÇO SOCIAL
Grupos em Serviço Social — Margaret E. Hartford
História do Serviço Social — Balbina O. Vieira rsi
Metodologia do Serviço Social — Balbina O. Vieira
Um Modelo Genérico para o Serviço Social — Maria da
Glória Nin Ferreira
Modelos de Supervisão em Serviço Social — Balbina O
Vieira.
Noções Básicas do Serviço Social — Elizabeth Nicholds
Organização da Comunidade e Planejamento — Arthur
Hillman
Reformulação do Serviço Social — Alfred Khan CO
Serviço Social Clínico — Transferência e Contratransfe-
rência — Verli Eyer de Araújo
Serviço Social Clínico — Um Modelo de Prática — Helen
Northen
Serviço Social — Precursores e Pioneiros — Balbina O
Vieira
Serviço Social — Processos e Técnicas — Balbina O. Vieira CO
Serviço Social e a Revalorização de Grupos — Ruth Wilkes
Serviço Social — Visão Internacional — Balbina O. Vieira
Teoria e Prática do Serviço Social de Casos — Gordon
Hamilton
Teorias de Serviço Social de Grupo — Robert W. Roberts
e Helen Northen
O Voluntário a Serviço da Sociedade — John Huenefeld

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2.ed.
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06665/99
CO
ISBN 85-220-0169-3
AGIR - CBCISS
Copyright © do Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços
Sociais (CBCISS)
Direitos para edição em língua portuguesa reservados a
ARTES GRÁFICAS INDÚSTRIAS REUNIDAS S.A. (AGIR)
Capa de HELENA GEBARA DE MACEDO

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte. SUMÁRIO


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais APRESENTAÇÃO 7
- CBCISS. DOCUMENTO DE ARAXA 11
C389t Teorização do serviço social / Centro Brasileiro de Cooperação
2. ed. e Intercâmbio de Serviços Sociais. — 2. ed. — Rio de Janeiro: Introdução 19
Agir, 1986.
Conteúdo: Documento de Araxá, 1967: teorização do serviço
Capítulo I 23
social. — Documento de Teresópolis, 1970: metodologia do serviço Capítulo I I 29
social. — Documento do Sumaré, 1978: cientificidade do serviço Capítulo I I I 41
social. Nota Final 44
Bibliografia. Relação dos Documentos Preparatórios 46? <
ISBN 85-220-0169-3
DOCUMENTO DE TERESÓPOLIS 47 £
1. Serviço social — Teoria. I. Título. Introdução 53 £
86-0604 CDD - 361.001 Relatório do Grupo A 57 *c
CDU - 36.01
Relatório do Grupo B 73 tá
Relação dos Documentos Preparatórios 97 5
DOCUMENTO DO SUMARÉ 101 §
Introdução 107- ca
1 — O Serviço Social e a Cientificidade 113
2 — O Serviço Social e a Fenomenologia 171
3 — O Serviço Social e a Dialética 207
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APRESENTAÇÃO
Os Documentos de Araxá, Teresdpolis e Sumaré constituem
"marcos históricos" do Serviço Social. São produto dos
estudos de profissionais competentes reunidos em Semi-
nários promovidos pelo Centro Brasileiro de Cooperação
e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS). /Espelham
a situação do Serviço Social em dado momento de sua
história, e são o resultado de seu desenvolvimento cientí-
fico, embora influenciado por acontecimentos sociais e
políticos. De fato, desde o início, o Serviço Social preo-
cupou-se com determinadas questões que põem em jogo.
sua própria existência ou sobrevivência./
E m vista dos numerosos estudos feitos a partir desses
três documentos, esgotou-se a última das edições de cada
u m deles. O CBCISS, depois de consultar vários profis-
sionais, resolveu reuni-los num só volume, em nova edição,
permitindo, assim, facilidade de manuseio para estudos
e consultas.
/ No Brasil, quando, na década dos anos 30, a Igreja
desejava formar agentes para a Ação Social, surgiu u m
"modelo franco-belga", de tendência assistencialista, e, mais
tarde, o "modelo americano", o "modelo clínico", apoiado
em teorias psicodinâmicas. Esses modelos não respondiam
ao que a Igreja desejava, m a s encontravam aplicação em
numerosas obras sociais então existentes, o que tornou
a prática da caridade menos empírica e mais racional.
Ora, as mudanças que se efetuaram no Brasil nos anos
de pós-guerra — o desenvolvimento económico e político
e o progresso das ciências sociais — criaram novas situa-
ções problemáticas em todos os setores da sociedade.
8 CBCISS Teorização do Serv. Social 9
Apesar de absorvidos por intensa atividade voltada para e dissertações de mestrado analisaram ou interpretaram
o reconhecimento da profissão e do ensino de Serviço as posições e ideias, os estudos e até a história do Serviço
Social, os assistentes sociais não podiam deixar de cons- Social a partir dos referidos Documentos. Todos estes
tatar as dificuldades criadas, para a melhoria da qualidade trabalhos têm o seu valor, pois sabemos que não há ciência
de vida, por práticas sociais que, embora revelassem gran- "constituída", mas toda ciência se elabora aos poucos,
de dedicação, pouco contribuíam para a realização dos acrescentando descobertas ao que já se sabe: é a ciência
objetivos desejados. "constituinte". Ê este o caminho que o Serviço Social per-
/ Contestadores mais entusiastas, inspirados por ideolo- corre: cada trabalho redigido, cada pesquisa realizada, cada
gias diversas, levantaram a bandeira da "reconceituação" experiência, é u m a pedra a construir a estrada percorrida.
no início dos anos 60. Nisso, não faziam outra coisa senão Dentro dessa perspectiva, o presente volume não apre-
levar para o Serviço Social os questionamentos de outras senta a íntegra dos já editados anteriormente. Foram reti-
disciplinas sociais, políticas e económicas, que se locali- rados os anexos que, na época, tinham u m significado
zavam principalmente nas universidades.^ ou uma razão de ser, mas que na reedição atual, segundo
Este fenómeno quase universal manifestou-se, em re- a opinião de profissionais consultados, poderiam ser dis-
lação ao Serviço Social, na Inglaterra e nos Estados Unidos, pensados.
mas sobretudo na América Latina, e, no início, situava-se Agora, ao se defrontarem com os Documentos de Araxá,
no campo da abstração e da teoria. Teresópolis e Sumaré, as novas gerações poderão com-
Foi nessa ocasião que, em 1966, o CBCISS propôs u m preender/o que eles representavam na época para o Ser-
estudo sério, e tão profundo quanto possível, do Serviço viço Social/Constituem o momento em que a profissão, ao
Social, a fim de esclarecer os conceitos aceitos, os valores refletir sobre a sua/prática^ resolveu examinar as bases,
de base e os conhecimentos necessários para u m a prática numa percepção maior da realidade, e ingressar, assim,
eficiente. no caminho da/cientificidade/
Assim sendo, realizaram-se, nos últimos quinze anos,
três Seminários: em 1967, na cidade mineira de Araxá,
sobre "Teorização do Serviço Social"; em 1970, em Tere- CBCISS
sópolis, Estado do Rio de Janeiro, sobre "Metodologia do Centro Brasileiro de Cooperação e
Serviço Social" e, em 1978, no Centro de Estudos da Intercâmbio de Serviços Sociais.
Arquidiocese do Rio de Janeiro, no Sumaré, sobre "Cienti-
ficidade do Serviço Social".
Aos Seminários de Araxá e Teresópolis seguiram-se en-
contros regionais, que envolveram, respectivamente, 741
e 958 assistentes sociais de todos os Estados do Brasil
na discussão e avaliação dos assuntos tratados nos Semi-
nários. Ao Seminário do Sumaré não houve encontros sub-
sequentes.
O Documento de Araxá — o primeiro a ser publicado
— teve grande repercussão, não apenas no Brasil mas
também no estrangeiro, e foi traduzido para o inglês e o
espanhol. O Documento de Teresópolis foi traduzido para
o espanhol.
Os Documentos receberam elogios e sofreram críticas,
o que não deixa de ser positivo. Muitos artigos de revistas
COMISSÃO ORGANIZADORA DO SEMINARIO

PRESIDENTE
Helena Iracy Junqueira
COORDENADORES DE GRUPO
Grupo 1 — Balbina Ottoni Vieira
Grupo 2 — Ana Adelina Lins
Grupo 3 — Neide Lobato Soares Santos
Grupo 4 — Marta Teresinha Godinho
COMISSÃO DE REDAÇÂO
Coordenadora Geral: Jocelyne L. Chamuzeau
Maria Amélia da Cruz Leite — Relatora do Grupo 1
Maria da Glória Lisboa de Nin Ferreira — Relatora
do Grupo 2
Maria Lúcia Carvalho da Silva — Relatora do
Grupo 3
Edith Magalhães Motta — Relatora do Grupo 4
Modesta Manoela Lopes — Relatora de Plenário
Ana Adelina Lins — Relatora
Graziela Brenner — Relatora
Ivany Lopes Rodrigues — Relatora
Maria de Lourdes Malta Saliba — Relatora
Neide Lobato Soares Santos — Relatora
SECRETARIA EXECUTIVA
Maria Augusta de Luna Albano — Secretária
Executiva
14 CBCISS
Maria das Dores Machado — Secretária Executiva Teorização do Serv. Social
Adjunta
Martha Teresinha Godinho
HOSPITALIDADE Mary Catherine Jennings
Mirtes Haickel Fonseca
Leda Afonso Borges Modesta Manoela Lopes
Neide Lobato Soares Santos
SECRETARIA ADMINISTRATIVA Nelson José Suzano
Notuburga Rosa Reckziegel
Nelson José Suzano — Coordenador Técnico Rose Maria Kronland
Erothides Menezes Cavalcante — Secretária Yolanda Heloísa de Souza
Vera Arantes Antunes
PARTICIPANTES
Ana Adelina Lins
Atila Barreto
Balbina Ottoni Vieira
Edeltrudes Guimarães
Edith Magalhães Motta
Edy Maciel Monteiro
Francisco de Paula Ferreira
Graziela Brenner
Helena Iracy Junqueira
Idália Tocantins Maués
Inah Rangel Caropreso
Ivany Lopes Rodrigues
Jocelyne L. Chamuzeau
José Lucena Dantas
Leda Afonso Borges
Leila Maria Coelho Velho
Maria Amélia da Cruz Leite
Ir. Maria Aparecida Guimarães
Maria Augusta de Luna Albano
Maria da Conceição Machado
Maria da Glória Lisboa de Nin Ferreira
Maria das Dores Machado
Maria de Lourdes Malta Saliba
Maria Julieta Costa Calazans
Maria Lina de Castro Lima
Maria Lúcia Carvalho da Silva
Marília Bini Pereira
Marta Campos Tauil
SUMARIO

Introdução
Capítulo I — Considerações sobre a natureza do
Serviço Social
Objetivos do Serviço Social
Funções do Serviço Social
Capítulo I I — Metodologia de ação do Serviço Social
Adequação da metodologia às funções
do Serviço Social
Serviço Social de Caso
Serviço Social de Grupo
Desenvolvimento de Comunidade
Integração do Serviço Social
Utilização da administração em Serviço
Social
Capítulo III — Serviço Social e a realidade brasileira
Nota final
Relação dos Documentos preparatórios
INTRODUÇÃO
1. /O Serviço Social, como disciplina de intervenção na
realidade social, constituída por u m conjunto de conheci-
mentos e técnicas, começou a delinear-se em princípios
deste século nos Estados Unidos, pouco mais tarde na
Europa, e na década dos trinta na América Latina e no
Brasil.
2. Na sua evolução, o Serviço Social, como prática insti-
tucionalizada, caracterizou-se pelo desempenho de papéis
relacionados com (disfunções manifestadas n o nível d o
indivíduo sob formas d e desajustamentos sociais e a o
mesmo tempo identificadas ao nível das estruturas sociais.
3. No seu dinamismo intrínseco, desafiado pelas exigên-
cias do processo d e desenvolvimento, /o Serviço Social
vem buscando integrar-se nessa realidade em mudança
como um, entre outros, instrumento eficaz para propiciar
ao homem meios à plena realização de sua condição hu-
mana./" Esta tentativa de integração do Serviço Social se
processa através de revisões contínuas de seus objetivos,
papéis, funções e metodologia de ação.
4. /Um esforço de teorização do Serviço Social /fera impe-
rativo inadiável, nesta fase d a sua evolução no Brasil.
Esse esforço compreenderia a busca de análise e síntese
dos seus componentes universais, dos seus elementos de
especificidade e de sua /adequação ao contexto econômico-
lOCial da realidade brasileira/
6. O Comité Brasileiro da Conferência Internacional de
Serviço Social (CBCISS) deliberou convocar u m grupo
dt assistentes sociais, representativo das várias regiões
do país, vinculados aos diferentes campos e níveis d e
ttuaçlo, portadores das mais variadas experiências pro-
20 CBCISS Teorização do Serv. Social 21
fissionais, para solidariamente tentar responder àquele os elementos constitutivos de cada um. Levan-
imperativo. i, a problemática da maior rentabilidade na utili-
6. O CBCISS recebeu a cooperação da UNICEP, do Go- da sua instrumentalidade metodológica,
verno do Estado de Minas Gerais e de organizações pú- finalmente, o Capítulo III examina a adequação à
blicas e privadas, que autorizaram ou facilitaram a parti- brasileira do Serviço Social, tal como foi con-
cipação dos assistentes sociais no referido Seminário. to e visualizado em sua dinâmica operacional.
7. Realizou-se, assim, na cidade de Araxá, em Minas Ge- Ressaltando como fundamental a integração do Ser-
rais, de 19 a 26 de março de 1967, u m encontro de 38 Social no processo de desenvolvimento, propõe uma
assistentes sociais que, pelo sistema de grupos de estudo sm técnica operacional em função do modelo bá-
e sessões plenárias, chegaram à elaboração do presente do desenvolvimento, abrindo novos horizontes para
documento. presença atuante que venha a constituir-se em plena
8. De início, pensou o CBCISS em proceder aos estudos, •ta ao desafio do momento presente. J -
atribuindo a cinco grupos diferentes temas que seriam, Este documento, resultante de estudos e reflexões,
ao final, discutidos em plenário, solicitando, com esta atender a u m reclamo dos profissionais do Serviço
finalidade, a preparação antecipada de roteiros sobre os De forma alguma, pretende ser definitivo. Pelo
conceitos básicos d e Serviço Social, Serviço Social de irio, o CBCISS e o grupo de assistentes sociais que
Caso, Serviço Social de Grupo, Desenvolvimento de Co- Ibscrevem consideram como seu principal mérito sus-
munidade e Administração de Programas. debates posteriores e estimular a realização de novas
9. Desde a instalação dos trabalhos, sentiu-se maior inte- suisas e estudos.
resse dos participantes em discutirem, todos, o mesmo
roteiro sobre conceitos básicos e/estudar a metodologia
sob u m prisma genérico, ao invés da dinâmica dos pro-
cessos. /
10. Submetidos ao plenário os dois esquemas de traba-
lho, foi o último aprovado por unanimidade, confirmándo-
se o vivo /interesse do grupo por u m estudo da teorização
do Serviço Social/ Adotou-se o roteiro correspondente,
sendo os outros utilizados no momento dos debates sobre
metodologia.
11. Organizaram-se quatro grupos de nove ou onze mem-
bros cada um, cabendo a uma comissão, constituída por
representantes de todos os grupos, a redação final d o
documento que o CBCISS ora apresenta.
12. O Capítulo I analisa os objetivos remotos e opera-
cionais do Serviço Social, sua natureza e funções, com
base em sua evolução histórica, projetando-se, no entanto,
para o futuro, em perspectivas de mudança social.
13. Segue-se o Capítulo II que estuda a metodologia do
Serviço Social, confrontando-se as concepções atuais acer-
ca dos processos básicos, ao mesmo tempo que procura

I
Capitulo I
CONSIDERAÇÕES SOBRE A NATUREZA
DO SERVIÇO SOCIAL
'17. A posição teórica do Serviço Social não alcançou,
•( até* o momento, uma definição satisfatória no quadro dos
! conhecimentos humanos.
18. .fi d Serviço Social u m a ciência autónoma? Uma cor-
tente o define como "Ciência Social Aplicada", por se
Utilizar dos conhecimentos da Sociologia, Antropologia,
Psicologia, Economia, Política e t c , para intervir na reali-
dade social. Outros defendem posições de independência
para o Serviço Social, no quadro das ciências, afirmando
possuir u m sistema de conhecimentos científicos, norma-
tivos e transmissíveis, em torno de u m objetivo comum.
Há, ainda, os que asseveram que o Serviço Social é u m a
déncia quando sintetiza as ciências psicossociais.
19. Quanto ao componente arte, 1 originariamente incluído
nas definições de Serviço Social, verificam-se divergências,
ficando, por este motivo, a questão em aberto.
30. Parece haver, porém, u m certo consenso em carac-
teriaar o Serviço Social no plano do conhecimento espe-
OUlativo-prático, enquanto se coloca ao nível da aplicação
de conhecimentos próprios ou tomados de outras ciências.
V JUStifica-se, também, considerá-lo como uma técnica social,
porquanto influencia o comportamento humano e o meio,
SOS seus inter-relacionamentos.
U . ' A evolução dos conceitos de Serviço Social e sua
Sistematização como disciplina permitem afirmar a exis-
Maola de componentes essenciais e que podem ser siste-
24 CBCJSS Teorização do Sens. Social 25
matizados como instrumento de intervenção na realidade As razões principais dessa diretriz operacional do
social. Nessa intervenção, o Serviço Social atua à base iço Social estão contidas nesse qu^drcjustóriçp, que
das inter-relações do binómio indivíduo-sociedade. Sua ica a ênfase do Serviço Social no passado, porquanto
teorização se processa a partir da "praxis", isto é, o Ser- vivência se apresentou como u m a tentativa de opor
viço Social pesquisa e identifica os princípios inerentes antídoto a u m a linha meramente assistencialista. Do
à sua prática e sistematiza sua teoria. ÍO modo, contribuiu para u m apelo ao Serviço Social
/ 22. Como prática institucionalizada, o Serviço Social se termos de ação preventiva.
caracteriza pela atuação junto a indivíduos com desajus- Reconhece-se, entretanto, que os caracteres corretivo,
tamentos familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas itivo e promocional são u m a peculiaridade do Ser-
vezes decorrem de estruturas sociais inadequadas. Social, não lhe sendo, no entanto, específicos, u m a
23. Observa-se que a absorção dos profissionais do Ser- que comuns a outras ciências teórico-práticas. Apre-
viço Social no plano prático prejudica, p o r vezes, a re- tam-se, praticamente, na linha de simultaneidade e não
flexão sobre as experiências realizadas e retarda as opor- opção, recaindo a ênfase em u m ou outro dos carac-
tunidades de análise e desenvolvimento de u m quadro de conforme sejam a realidade ambiental, o momento
referências que permita a definição de sua natureza, difi- , os objetivos e o enfoque dos programas.
cultando, também, sua colocação no quadro geral das 49. O caráter corretivo se define como intervenção na
ciências técnicas. JBMiidade para fins de remoção de causas que impedem
24. Ressalte-se que a análise e crítica do "modus ope- OU dificultam o desenvolvimento do indivíduo, grupo,
randi" do Serviço Social, nos diversos contextos histórico- íôttunidade e populações.* Nesse sentido, o Serviço Social
culturais, se constitui em elemento fundamental à elabo- fltua aos níveis de micro e macroestrutura, respectiva-
ração da teoria desta disciplina. j s t n t e , quando intervém em causas inseridas em sua esfe-
25. Ao analisar-se a evolução do Serviço Social no Brasil, 4 * operacional, de administração e prestação de serviços
verifica-se que o advento do Estado paternalista, coinci- p r e t o s , e quando participa da correção de causas que
dente com as origens do Serviço Social, foi fator condi- transcendam a sua possibilidade de ação direta ou isolada.
cionante da montagem de u m sistema de instituições so- 80. Ojsaráter preventivo do Serviço Social se define como
ciais que propunham solucionar os problemas através de Um processo de intervenção que procura antepor-se às
programas assistenciais de caráter imediatista, caráter Consequências de u m determinado fenómeno. Esse caráter
j \ esse que também marcou as organizações particulares de ¿evidenciado quando se procura evitar as causas de desa-
assistência. juste, inserindo elementos que possam eliminá-los, forne-
26. Esse passado concorreu para a formação de u m a cendo subsídios para medidas de âmbito geral.
imagem e de u m a expectativa a respeito do Serviço Social 81. A relação entre o desajuste e a prevenção sugere
como atividade de prestação de serviços assistenciais. A possibilidade de se considerar a atuação preventiva como
premência dos problemas sociais e o imediatismo do Ser- UBia decorrência do caráter corretivo do Serviço Social.
viço Social, nesse período, dificultaram a reflexão e a KtaseI, oaso, o Serviço Social apresentaria, fundamental-
oaracteres corretivo e promocional. O assunto é,
análise que poderiam orientar o Serviço Social e m u m a
ação centrada de preferência nas estruturas sociais. O
Serviço Social, nessa conjuntura, assumiu, então, a tarefa * Neite documento, o termo populações significa um conjunto de famí-
de contribuir para a organização técnica daquelas formas lia! e de Individuai localizados numa determinada área, contínua ou não,
de atuação social. apreaentando cartai características comuns de vida, sem constituírem pro-
priamente uma comunidade.
26 CBCISS
27
no entanto, ainda controvertido, estando a merecer inda- Teorização do Sero. Social
gações posteriores. 36. A partir desse novo enfoque, o Serviço Social deverá
romper o condicionamento de sua atuação ao uso exclu-
32. O caráter promocional do Serviço Social acha-se con- sivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, e rever
substanciado na afirmação de que promover é capacitar. seus elementos constitutivos, elaborando e incorporando
Diante dessa colocação, conclui-se que o Serviço Social novos métodos e processos.
promove quando atua para habilitar indivíduos, grupos,
comunidades e populações, fazendo-os atingir-_a_4?lena
realização de suas potencialidades. Sob "este prisma, a OBJETIVOS DO SERVIÇO SOCIAL
ação do Serviço Social insere-se no processo de desenvol-
vimento, tomado este em sentido lato, isto é, aquele que 37. Deve-se fazer, aqui, distinção entre o objetivo remoto
leva à plena utilização dos recursos naturais e humanos, do Serviço Social e seus objetivos operacionais, entendi-
e, consequentemente, a uma realização integral do homem. dos estes como fins imediatos e intermediários.
Destaca-se, quanto à promoção humana, a importância do
processo de conscientização como ponto de partida para 38. O objetivo remoto do Serviço Social pode ser consi-
fundamentação ideológica do desenvolvimento global. derado como o provimento de recursos indispensáveis ao
desenvolvimento, à valorização e à melhoria de condições
33. Nessa ordem de considerações, os caracteres corre- do ser humano, pressupondo o atendimento dos valores
tivo, preventivo e promocional são válidos desde que cons- universais e a harmonia entre estes e os valores culturais e
tituam resposta adequada aos contextos em que o profis- individuais. Esses valores funcionam como u m quadro de
sional do Serviço Social é chamado a atuar. Ao se tornar, referência de bens tangíveis e intangíveis, que informa o
porém, o contexto social como critério de referência para plano operacional do Serviço Social.
se aquilatar da validade de quaisquer dos caracteres refe- 39. Na ausência de u m a teorização suficientemente formu-
ridos, não deve o agente do Serviço Social colocar-se numa lada sobre a universalidade da "condição humana", aceita-
perspectiva puramente estática de aceitação, m a a desem- se, como quadro de valores, a Declaração Universal dos
penhar u m papel que conduza à modificação desse con- Direitos do Homem, das Nações Unidas, que resultou de
texto. u m consenso entre representantes das mais variadas cul-
34. Impõe-se esta reformulação do Serviço Social em turas. Ressalta-se, entretanto, a necessidade de investiga-
novas linhas de teoria e de ação para melhor servir à ções sistemáticas sobre a matéria, cujos resultados venham
pessoa humana e à sociedade. O Serviço Social, agente consolidar o embasamento teórico do Serviço Social, enri-
que intervém na dinâmica social, deve orientar-se no sen- quecendo, assim, seu conteúdo.
tido de levar as populações a tomarem consciência dos 40. São objetivos operacionais: a) identificar e tratar pro-
problemas sociais, contribuindo, também, para o estabe- blemas ou distorções residuais que impedem indivíduos,
lecimento de formas de integração popular no desenvolvi- famílias, grupos, comunidades e populações de alcançarem
mento do País. padrões econômico-socíais compatíveis com a dignidade
humana e estimular a contínua elevação desses padrões;
35. As exigências do processo de desenvolvimento mun- b) colher elementos e elaborar dados referentes a proble-
dial vêm impondo ao Serviço Social, sobretudo em países mas ou disfunções que estejam a exigir reformas das
ou regiões subdesenvolvidos, o desempenho de novos pa- estruturas e sistemas sociais; c) criar condições para tor-
péis. Estes papéis, em sua evolução histórica, constituem nar efetiva a participação consciente de indivíduos, grupos,
formas de inserção da profissão na realidade econômico- OOmunidades e populações,"seja promovendo sua integra-
social dos mesmos países ou regiões. çio nas condições decorrentes de mudanças, seja provo-
cando as mudanças necessárias; d) implantar e dinamizar
28 CBCISS
sistemas e equipamentos que permitam a consecução dos
seus objetivos.

PUNÇÕES DO SERVIÇO SOCIAL


41. Da natureza e dos objetivos do Serviço Social, decor-
rem as suas funções, nos diferentes níveis de atuação:
a) Política Social: provocar o processo de formulação da
política social, quando ausente, ou de sua dinamização, Capítulo II
quando inoperante, e provocar sua reformulação quando
necessária; oferecer subsídios, dentro de u m a perspectiva
de globalidade, ao embasamento dessa política; criar sis- METODOLOGIA DE AÇAO DO SERVIÇO SOCIAL
temas, canais e outras condições para a participação de
quantos venham a ser atingidos pélas medidas da política; 42. Para melhor situar a metodologia de ação do Serviço
b) Planejamento: contribuir com o conhecimento viven- Social, há que enunciar os princípios e postulados que a
ciado das necessidades, das expectativas, dos valores, ati- fundamentam.
tudes e comportamento das comunidades e das popula- 43. A autodeterminação, a individualização, o não julga-
ções, face à mudança, na formulação dos objetivos e fixa- mento e a aceitação, enunciados que orientam a aplicação
ção das metas; contribuir para a criação de condições que da metodologia de ação do Serviço Social, em seus três
permitam a participação popular no processo de plane- processos, têm sido classificados como princípios básicos
jamento; c) Administração de Serviços Sociais: promover da ação profissional. A análise rigorosa do conteúdo e
e participar de pesquisas operacionais; elaborar o micro- natureza lógica desses princípios leva, contudo, a cons-
planejamento; implantar, administrar e avaliar programas tatar: a) que se acham reunidos na categoria de princípios
de serviços sociais; levar os usuários a participar da pro- tanto proposições de natureza ética e metafísica, como
gramação dos serviços; d) Serviços de atendimento direto, normas para procedimentos técnicos; b) quanto aqueles
corretivo, preventivo e promocional, destinados a indiví- princípios propriamente relacionados com a ação, verifica-
duos, grupos, comunidades, populações e organizações: se u m a forma de enunciação ligada de maneira dominante
trabalhar com indivíduos que apresentam problemas ou às particularidades da atuação do Serviço Social de Caso
dificuldades de integração social, através de mobilização e de Grupo.
de suas potencialidades individuais e de utilização dos 44. Partindo dessas constatações, procurou-se então clas-
recursos do meio; proporcionar o exercício da vida em sificar aqueles princípios, enunciando-se sob forma d e
grupo, principalmente quanto ao desempenho de papéis postulados os que representam os pressupostos éticos e
inerentes à vida social; contribuir para capacitar a comu- metafísicos para a ação do Serviço Social, e como princípios
nidade a integrar-se no processo de desenvolvimento atra- operacionais da metodologia de ação aqueles que enun-
vés de ação organizada, com vistas ao atendimento de ciam pontos básicos norteadores da atuação do agente
suas necessidades e realização de suas aspirações; traba- profissional. Entende-se, assim, como princípios operacio-
lhar com organizações, visando à adequação de seus obje- nais da metodologia aquelas normas de ação de validade
tivos e métodos às exigências da realidade social e sua universal à prática de todos os processos do Serviço Social.
integração numa perspectiva de desenvolvimento.
45. Dentre os postulados, conclui-se que pelo menos três
se acham, explícita ou implicitamente, adotados como pres-
supostos fundamentadores da atuação do Serviço Social:
Teorização do Serv, Social 31
30 CSC1SS sendo que só recentemente se inicia a utilização também
a) postulado da dignidade da pessoa humana: que se en- do processo de trabalho com população de maneira mais
tende como uma concepção do ser humano n u m a posição sistematizada.*
de eminência ontológica na ordem universal e ao qual 49. A intervenção na realidade, através de processos de
todas as coisas devem estar referidas; b) postulado da trabalho com indivíduos, grupos, comunidades e popula-
sociabilidade essencial da pessoa humana: que é o reco- ções, não é característica exclusiva do Serviço Social; o
nhecimento da dimensão social intrínseca à natureza hu- que lhe é peculiar é o enfoque orientado por u m a visão
mana, e, em decorrência do que se. afirma, o direito de a global do homem, integrado em seu sistema social.
pessoa humana encontrar, na sociedade, as condições para 50. De acordo com a classificação das funções de Serviço
a sua auto-realização; c) postulado da perfectibilidade hu- Social adotada neste documento, que inclui funções aos
mana: compreende-se como o reconhecimento de q u e o níveis de política social, planejamento, administração de
homem é, na ordem ontológica, u m ser que se auto-realiza Serviços Sociais e prestação de serviços diretos, verificou-
n o plano da historicidade humana, e m decorrência do que se a necessidade de incorporação de novos processos aos
se admite a capacidade e potencialidades naturais dos in- já existentes.
dividuos, grupos, comunidades e populações para progre- 51. Ao analisar a natureza dos diferentes níveis de atua-
direm e se autopromoverem. ção do Serviço Social, infere-se que estes são de duas
46. Dentre os princípios operacionais da metodologia de categorias: a) nível de microatuação; b) nível de macro-
ação, sem desejar esgotar a enunciação, reconhecendo a atuação.
necessidade de reflexão e análise mais aprofundadas a esse 52. O nível de microatuação é essencialmente operacional,
respeito, chegou-se a identificar os seguintes: a) estímulo compreendendo as funções de Serviço Social aos níveis
ao exercício da livre escolha e da responsabilidade das de administração e prestação de serviços diretos.
decisões; b) respeito aos valores, padrões e pautas cultu- 53. O nível de macroatuação compreende a integração das
rais; c) ensejo à mudança no sentido da autopromoção e funções do Serviço Social ao nível de política e planeja-
do enriquecimento do indivíduo, do grupo, da comunidade, mento para o desenvolvimento. Essa integração supõe a
das populações; d) atuação dentro de u m a perspectiva de participação no planejamento, na implantação e na melhor
globalidade na realidade social. utilização da infra-estrutura social.
47. São elementos operacionais da metodologia, comuns 54. A infra-estrutura social é aqui entendida como "faci-
a todos os processos, a participação do homem em todo lidades básicas, programas para saúde, educação, habili-
o processo de mudança e o relacionamento entre profis- tação e serviços sociais fundamentais" que pressupõem o
sional-indivíduo, profissional-grupo, profissional-comuni- atendimento das seguintes condições: a) disponibilidade de
dade e profissional-populações, estabelecido de maneira u m alto potencial de empregos para pessoas de diferentes
direta ou indireta, dependendo do tipo de ação a ser grupos sócio-econômicos; b) utilização da terra em bene-
exercida. fício de toda a população, não só pelo governo local, senão
também pelo empresário particular; c) existência de u m a
rede adequada de comunicações, no sentido físico (telefo-
ADEQUAÇÃO DA METODOLOGIA ÀS FUNÇÕES
DO SERVIÇO SOCIAL
* Para alguns, o Serviço Social não atingiu ainda todas as fases de úm
48. O Serviço Social, como técnica, dispõe de u m a meto- processo metodológico universalmente aceito. Outros propõem a substituição
dos termos "estudo", "diagnóstico" e "tratamento" por "estudo e análise
dologia de ação que utiliza diversos processos. Os proces- diagnostica", "planejamento" e "execução", por julgar que estes têm uma
sos de Caso, de Grupo e Desenvolvimento de Comunidade conotação mais adequada. Levanta-se dúvida, porém, quanto à adequação
foram considerados, até o momento, o "modus operandi" dos termos "execução" e "planejamento" em Serviço Social de Caso.
do Serviço Social em sua intervenção na realidade social,
32 CBCISS Teorização do Serv. Social 33
ne, rádio etc.), e em termos de canais sociais para a comu- ¡missível, torna-se urgente, no momento, focalizar
nicação dos grupos entre si e destes com o governo; d ) aspectos referentes à sua utilização adequada à
provisão de amplas facilidades sócio-culturais: instituições w»de brasileira, mais do que propriamente u m a aten-
educacionais, culturais, sociais, recreativas etc. particularizada à sua teoria.
55. Convém salientar, ainda, que a infra-estrutura social Assim, partindo da premissa de que se emprega o
foi considerada de importância vital, merecendo prioridade ) Social de Caso junto a pessoas com problemas
idêntica e não inferior à assegurada para a solução dos íldades de relacionamento pessoal e social, ou seja,
problemas de infra-estrutura económica e física.* mer-relacionamento social, reconhece-se a validade de
56. A aplicação dos processos de Serviço Social varia de utilização, em profundidade, em serviços especializa-
acordo com os níveis de atuação. e/ou de sua adequação ao nível de execução de pro-
57. O nível de microatuação compreende a prestação de n a s amplos, de modo a integrar-se no processo d e
serviços diretos, através dos processos de Caso, Grupo e snvolvimento. Nesta perspectiva, sua aplicação deverá
Desenvolvimento de Comunidade e Processos de trabalho acompanhada pela utilização dos processos de grupo
com populações. Este último, também empregado ao nível envolvimento da comunidade.
de macroatuação, é de aplicação recente e está a exigir a 'Tal posição encerra para o Serviço Social de Caso
elaboração de sua metodologia e estratégia de ação. rsguintes implicações: a) o Serviço Social de Caso deve
58. O processo de Desenvolvimento de Comunidade (DC) aplicado de forma a capacitar o cliente a integrar-se
é igualmente empregado em ambos os níveis. No nível de t u a comunidade e no processo de desenvolvimento;
macroatuação, este processo se insere em sistemas nacio- 0 Serviço Social de Caso deve ser utilizado naqueles
nais ou regionais de planejamento como u m instrumento tres e com aqueles indivíduos que, de fato, requeiram
para estabelecer canais de comunicação com a população 1 efetuado o tratamento social à base do relacionamento
e promover a sua participação no processo de planeja- atente social/cliente (isto é, adoção de critérios sele-
mento. ¡M para o seu emprego); c) a aplicação do Serviço Social
59. Ao nível de macroatuação, o "modus operandi" do WB Caso deve ser aliada à de Grupo para a abordagem ou
Serviço Social consiste em: a) participar de todas as fases jfctratamento dos aspectos comuns dos problemas -identi-
de programação para o macroplano; b) formular a meto-
dologia e estratégia de ação para elaborar e implantar a
JMtíftdos nos casos; d ) deve, também, ser vinculada a o
psjsenvolvimento de projetos de comunidade objetivando
política social; c) planejar e implementar a infra-estrutura 5 melhor aparelhamento social e a mobilização dos indi-
social. duos para conjugação de esforços que visem a remover,
60. Esses níveis de atuação formam a pirâmide profis- llbninar ou prevenir as causas sociais dos problemas iden-
sional necessária ao Serviço Social para a consecução de ' tfctloados no tratamento dos casos."*
seu objetivo remoto e objetivos operacionais. H . Considera-se ainda que contribui para a racionalização
'da assistência; para a ação do Serviço Social em outras
fraas, levando a esta ação a s informações colhidas n o
SERVIÇO SOCIAL DE CASO OOnteto direto com os efeitos das carências e disfunções
i; considerasse que concorre, também, para a capa-
61. Considerando-se possuir o Serviço Social de Caso u m profissional. Um dos aspectos dessa capacitação
conjunto de conhecimentos teórico-práticos identificável
* Conceito expresso pelo Grupo de Trabalho da Pré-Conferência reali- • KPOURI Nadir Gouvêa. Serviço Social de Casos, Escola de Serviço
zada em Charlottesville-Virgínia, antecedendo a XIII Conferência Interna- b7PUC, Cur» dé atualizaçáo de conhecimentos para assistentes sociais,
cional de Serviço Social, E.U.A., 1966.
W , d» Trabalhos Práticos.
34 CBCISS

t
seria o tipo de abordagem individual. Duvida-se, porém
da transposição, com êxito, da abordagem do Serviço So- Teorização do Serv. Social 35
cial de Caso para o processo de DC.
Como base de referência para esta participação, con-
a-se que o contexto do grupo representa u m a resposta
SERVIÇO SOCIAL DE GRUPO ecessidades psicossociais da pessoa humana, que a
teia em grupo responde a estas necessidades e que o
65. O conceito de Serviço Social de Grupo se modificou rio grupo é u m instrumento de atuação na comuni-
em consequência da evolução histórica, do processo. Tra- n a qual se acha inserido.
dicionalmente, a ação do assistente social se concentrava Os objetivos operacionais do Serviço Social de Grupo
no grupo e nele circunscrevia seu limite. Hoje, busca-se, condicionados por três variáveis que devem ser con-
também, o engajamento efetivo da clientela no processo adas global e simultaneamente: as necessidades dos
social mais amplo. A natureza do processo é, agora, enten- bros, a finalidade da obra e o objetivo profissional
dida como sócio-educativa, podendo ter caráter terapêutico ~ d o assistente social.
e/ou preventivo. , US. As funções do Serviço Social de Grupo respondem a
66. Para efeito de análise, e pelo conteúdo funcional do «dois principais tipos de necessidades: as dos próprios par-
conceito, apresenta-se a definição de Konopka: "O Serviço ticipantes do grupo, porquanto as experiências de grupo
Social de Grupo é u m processo de Serviço Social que, «tendem à s necessidades individuais de pertencer e de
através de experiências propositadas, visa a capacitar os J9uto-afirmar-se, e às necessidades da sociedade na qual o
indivíduos a melhorarem o seu relacionamento social e a g r u p o se acha inserido, visto que as experiências de grupo
enfrentarem de modo mais efetivo seus problemas pes- desenvolvem o espírito de cooperação mútua.
soais, de grupo e de comunidade."* T8. O Serviço Social de Grupo contribui de modo efetivo
67. Deste conceito infere-se existir uma significativa cor- para o processo de mudança social, quando busca a ade-
relação entre capacidade de relacionamento social e ex- quação da ambivalência humana.
periência de grupo. Conclui-se, ainda, desta definição, que 74. A dinâmica individual decorre dessa ambivalência.
as pessoas necessitam de ajuda, às vezes profissional, para Enquanto ser ambivalente, o homem vive em constante
desenvolverem ou aperfeiçoarem suas potencialidades de procura de formas adequadas de auto-realização e delas
relacionamento. tanto mais se aproxima quanto mais desenvolve, em si,
68. As atuais tendências d o Serviço Social d e Grupo a capacidade de inter-relações (pessoais e de grupo) grati-
implicam o uso consciente do grupo como instrumento flcadoras. Essas inter-relações se constituem em condição
para alcance dos objetivos visados, o alargamento das e recurso para as mudanças sociais, ao tempo em que, por
funções tradicionais do Serviço Social, consequentemente, ai mesmas, representam mudanças.
a inclusão de novas funções, o engajamento dos membros 75. Assim, ao intervir nos processos de grupo, garantindo
em programas sociais mais amplos e u m a preocupação que eles se desencadeiem e se desenvolvam e m suas for-
com o indivíduo, o grupo e as mudanças sócio-culturais. mas positivas, o Serviço Social de Grupo contribui para
69. O objetivo do Serviço Social de Grupo é, em última >iintroduzir as mudanças sociais na medida das necessida-
análise, capacitar os membros do grupo para u m a efetiva des do homem.
participação no processo social. 76. Considera-se que alguns aspectos de interesse para
os assistentes sociais de grupo estão a merecer estudo e
*JC,?NrOPKA' Gis«la. Social Group Work — a Helping* Process ' Pren reflexão. Dentre eles, deve-se citar: o conceito de liderança,
tice Hall, Inc. Englewood Cliffs, New Jersey, 1963 O uso de atividades pelo assistente social de grupo, o s
grupos atendidos pelos assistentes sociais enquanto grupos
de formação social e de atuação social, e os campos de
atuação do Serviço Social de Grupo.
36" Teorização do Serv. Social 37
CBCISS
DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE através de ação organizada, para atendimento de suas ne-
cessidades e realizações de suas aspirações.
77. Numa visão panorâmica da situação mundial, obser- 85. A caracterização de DC, como processo interprofis-
va-se que o processo de Desenvolvimento de Comunidades sional, decorre do fato de sua realização ser sempre conse-
(DC) apresenta, não apenas na fase de implantação, como 1 guida através de projetos integrados, definidos pelo eco-
também no desenvolvimento de programas, a incorporação nomista Dirceu Pessoa* como "empreendimento que en-
de equipes diversificadas profissionalmente, nem sempre volve diversos setores e, como tal, são objeto de atividades
incluindo assistentes sociais. multiprofissionais, interdependentes, que deverão ser con-
78. Nota-se, porém, que os profissionais integrantes des- duzidas integralmente".
sas equipes recebem o embasamento teórico e o treina- 86. Para esclarecer mais profundamente o conteúdo do
mento comum à formação do assistente social. DC, convém lembrar o documento das Nações Unidas**
79. No Brasil, a origem e a evolução do DC estão inti- que destaca as quatro contribuições de DC aos programas
mamente ligadas ao Serviço Social, cujo pioneirismo se de desenvolvimento nacional: a) "gera o crescimento eco-
justifica desde a constatação de sua introdução no país, nómico e social no plano local; b) constitui u m canal ade-
sendo o DC incorporado, de início, como u m dos processos quado para mútua comunicação entre governo e povo;
do Serviço Social. c) colabora na formação do capital social básico e na ex-
80. Pelo exame da evolução do DC no Brasil, podem-se pansão da infra-estrutura, pelo incentivo às iniciativas lo-
definir quatro etapas. A primeira está ligada às experiên- cais nesses setores, liberando recursos governamentais que
cias de organizações de comunidades, inspiradas em mol- poderão destinar-se a investimentos nacionais importantes;
des norte-americanos, através de tentativas de coordena- d) cria, em muitos países, as condições prévias necessárias
ção de serviços e obras sociais em áreas funcionais. para a evolução dos órgãos do governo local ou para o
81. A segunda caracteriza-se por experiências isoladas, fortalecimento de instituições que ficaram estacionárias
atingindo pequenas áreas e com finalidades específicas de oú que não se adaptaram às mudanças".
melhorias imediatas de condições de vida, sem recursos 87. Contribuindo na formação do capital social básico
político-administrativos e técnicos e nem tampouco a preo- e na expansão da infra-estrutura, amplia-se a perspectiva
cupação com perspectivas voltadas para o setor económico. do DC, ressaltando-se a sua integração no desenvolvimento
82. A terceira fase é definida por u m a transição carac- sócio-econômico, através do estímulo ao capital humano,
terizada pelo reconhecimento da necessidade de atender-se "transformando recursos humanos ociosos em capacidade
a problemáticas estruturais, motivando a necessidade de produtiva, dentro dos objetivos explicitados pelas próprias
estabelecimento de metas para o desenvolvimento. comunidades".* * *
83. A quarta, que se esboça atualmente com esforço defi- 88. Numa dimensão de integração, considerando DC como
nido de elaboração técnica, procura enfatizar a criação u m processo interprofissional, ressalta-se a posição do
de mecanismos de participação popular no processo do
desenvolvimento, baseando-se num melhor conhecimento ^(Serviço Social presente na equipe em todas as fases do
da realidade nacional e regional quanto, principalmente,
ao instrumental disponível e à dinâxnica de comporta- * PFSSOA Dirceu Ação Comunitária como Atividade Programada em
mento das populações. Saliente-se que a maioria destes Proietos I Seminário de Ação Comunitária do Nordeste, Pernambuco,
programas está vinculada a planos governamentais e ope- SUDENE, 1966.
ram-se em algumas regiões do país. ** Comunidad y Desarrollo Nacional, Nações Unidas, 1963.
84. DC é u m processo interprofissional que visa a capa- *** Cadernos do IBRA, Desenvolvimento de Comunidades, Rio de Ja-
citar a comunidade para integrar-se n o desenvolvimento neiro, Série 1, 1967.
38 CBCISS Teorização do Serv. Social 39
trabalho, buscando com os demais membros a perspectiva ça, de nucleação e organização de grupos, de utilização
global dos diversos programas setoriais. trutiva de situações de conflito e tensões sociais.
89. Por outro lado, focalizando o papel do Serviço Social
na integração da comunidade no processo de desenvolvi-
mento, sua presença é requerida em todas a s fases da INTEGRAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL
ação metódica e da dinâmica do processo.
90. A partir dessas considerações, a contribuição espe- . Dentro da nova perspectiva da metodologia operacio-
cífica do Serviço Social nas equipes profissionais de IX! ", coloca-se a questão da integração do Serviço Social,
pode ser assim definida: a) participar em pesquisas ope- discutível o tema. Os elementos conceptuais são escas-
racionais; b) contribuir na elaboração das variáveis para sos; as experiências em curso, ainda incipientes.
o estudo, a análise-diagnóstico e a avaliação dos progra- VI. Essa busca de integração evidencia o desejo de u m .
mas; c) estabelecer canais de comunicação com a comu- fnaior rendimento do Serviço Social, podendo-se já iden-
nidade, suscitando sua participação no estudo, análise- tificar algumas formas de abordagem, como: integração
diagnóstico, planejamento e avaliação; d) contribuir para Aos processos de Serviço Social, de programas e projetos,
adequação das prioridades técnicas às prioridades sentidas d a s técnicas dos processos em programas, e da docência
pela comunidade; e) dinamizar a comunidade para inte- com o exercício profissional e pesquisa.
gração no processo de desenvolvimento; f) suscitar ino- 98. Essas formas de abordagem, na prática, apresentam-
vações que estimulem a comunidade a adotar atitudes e se sob os seguintes aspectos: a) u m mesmo órgão aplica,
comportamentos que a levem a optar e a assumir decisões. simultaneamente, os três processos; b) a ação visa à mes-
91. Usa-se, muito, a mesma terminologia para a denomi- m a clientela, ou seja, indivíduos e grupos integrantes de
nação do processo global e para a faixa de atuação do u m a comunidade e/ou população; c ) a s características
Serviço Social. pessoais da clientela e as condições ambientais da área
92. Entre profissionais, há atualmente tendência para uso de atuação determinam a escolha do processo e a passa
do termo DC. No entanto, a expressão Serviço Social de gem de u m para outro processo; d) identificação da pro-
Comunidade, restritamente, é usada para intervenção espe- blemática e definição das áreas de abordagem através de
cífica do Serviço Social. Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo, Desen-
93. As Escolas de Serviço Social, em razão de disposições volvimento de Comunidade e Trabalho com populações;
legislativas, em sua documentação oficial utilizam a deno- e) atendimento a casos, grupos, comunidades e popula-
minação Desenvolvimento e Organização de Comunidade ções em função de problemáticas específicas e através de
(DOC).
94. Observe-se que as expressões adotadas acompanham programas e/ou projetos que atendam a essas problemá-
a contínua evolução de aplicação do processo, de acordo ticas.
com as características que o mesmo assumiu em fases 99. A integração da docência, do exercício profissional
diversas históricas, em variados contextos sociais. e da pesquisa assume as seguintes características: a ) o s
95. As funções do Serviço Social em DC são principal- programas teórico-práticos de aprendizagem e os progra-
mente orientadas para a deflagração dos processos d e m a s profissionais s e desenvolvem nas perspectivas d e
conscientização, motivação e engajamento de lideranças programas e projetos integrados; b) a experimentação nes-
individuais, de grupos e instituições no sentido do desen- tes dois níveis de programa oferece subsídios à pesquisa,
volvimento. Cabe-lhe, portanto, aplicar técnicas, atualmen- c) os agentes da pesquisa enriquecem a experiência, favo-
te, em diferentes graus de elaboração, tais como a d e recendo esta atualizaçao dos conhecimentos e a síntese
abordagem individual e de grupo, de capacitação de lide- das ciências, humanas.
40 CBCISS
UTILIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
EM SERVIÇO SOCIAL
100. A administração não é um processo específico de
Serviço Social. O assistente social, contudo, no exercício
de sua profissão, desempenha funções administrativas
quando: a) ocupa cargo de chefia e de coordenação de
equipes na administração de programas; b) colabora ao
nível da formulação de decisões administrativas; c) parti-
cipa da formulação de política de ação.
101. A administração constitui, hoje, uma disciplina pro- Capítulo III
fissional definida, dotada de u m corpo próprio de teoria e
técnicas.
102. O fato de que a ação do Serviço Social pressupõe, SERVIÇO SOCIAL E A REALIDADE BRASILEIRA
sempre, a existência de quadros organizacionais e, conse- 105. A necessidade do conhecimento da realidade brasi-
quentemente, o manejo de processos administrativos, co- leira é pressuposto fundamental para que o Serviço Social
mo apoio à execução de suas atividades, está a exigir es- nela possa inserir-se adequadamente, neste seu esforço
tudos e conceituação de u m campo da administração vol- atual de reformulação teórico-prática. Ressalta-se que este
tada para a problemática específica do Serviço Social. conhecimento deve ser consubstanciado em termos de
103. A "Administração do Serviço Social" constituiria diagnóstico da realidade nacional, diagnóstico este indis-
uma especialização, a exemplo do que já existe em termos pensável a u m planejamento para a intervenção na reali-
de Administração Hospitalar e Administração Escolar. dade brasileira, com vistas à implantação das necessárias
104. O preparo adequado, nessa especialização, deve cons- mudanças.
tituir requisito fundamental para o profissional de Serviço 106. O esforço do Serviço Social, nesta perspectiva, tem
Social, chamado a exercer funções administrativas no seu em mira u m a contribuição positiva ao desenvolvimento,
campo de ação técnica. entendido este como u m processo de planejamento inte-
grado de mudança nos aspectos económicos, tecnológicos,
sócio-culturais e político-administrativos.
107. Nesta conotação de desenvolvimento, entende o Ser-
viço Social que o homem deve ser, nele, simultaneamente,
agente e objeto, em busca de sua promoção humana, num
sentido abrangedor, de modo que os benefícios não se
limitem a frações de populações, mas atinjam a todos,
propiciando o pleno desenvolvimento de cada um.
108. É dentro desse quadro de referências que o Serviço
Social deve definir suas faixas próprias de atuação, cons-
truindo modelos específicos de intervenção.
109. Para a instrumentalidadeda intervenção do Serviço
Social no Desenvolvimento, faz-se mister a elaboração de
modelos que sistematizem a programação global e/ou se-
torial.
Teorização do Serv. Social 43
b) a adoção de medidas que garantam a inserção dos pro-
42 CBCISS gramas e atividades de Serviço Social nos vários níveis
110. Evidentemente, a fixação de tais modelos não é, nem do planejamento.
pode ser, de exclusiva responsabilidade do Serviço Social, 117. Na MOBILIZAÇÃO DE FORÇAS ORGANIZADAS, a
mas torna-se imprescindível a participação deste nesta ela- microatuação do Serviço Social seria: a) identificação, mo-
boração. bilização e articulação de indivíduos, grupos e organizações
111. A título de contribuição, apresenta-se este primeiro para a participação no processo de desenvolvimento; b)
esquema de modelo de atuação do Serviço Social, colocado incentivo à formação de novos quadros de liderança, gru-
em perspectiva de Desenvolvimento, reconhecendo-se a pos e organizações; c) valorização e capacitação de qua-
necessidade de análise científica que permita a avaliação dros de liderança, visando habilitá-los a atuar no processo
para posteriores reformulações. de desenvolvimento. A macroatuação do Serviço Social
seria: a) valorização e estímulo às instituições para que
112. Supõe este modelo de atuação o s seguintes ele- se capacitem e estabeleçam sistemática de coordenação e
mentos: usem outros processos dinâmicos que as tornem propul-
IDEOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL; soras de mudança; b) introdução de sistemas de transfor-
PLANEJAMENTO; mação para aquelas instituições que se constituem em
MOBILIZAÇÃO DE FORÇAS ORGANIZADAS; freios e/ou bloqueios à mudança.
CAPITAL (recursos humanos e materiais); 118. No CAPITAL, a microatuação do Serviço Social seria
TÉCNICA. a identificação de recursos materiais disponíveis e o estí-
113. Pace a este modelo de atuação, sugere-se como fun- mulo à criação de novos recursos que se fizerem necessá-
ção e atividade do Serviço Social em uma escala de micro rios, enquanto que a macroatuação do Serviço Social seria:
e macroatuação. a) implementação dos investimentos de infra-estrutura
114. Na IDEOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INTE- social; b) estímulo à participação popular em programas
GRAL, a microatuação do Serviço Social seria o processo que efetivem os chamados investimentos de capital fixo;
direto de conscientização de indivíduos, grupos e organi- c) contribuição para a elevação dps níveis de vida; d )
zações de base, enquanto a macroatuação do Serviço Social estabelecimento de prioridades para programas, projetos
seria o estabelecimento de uma política e/ou de medidas e atividades, a partir de necessidades e aspirações das
que impliquem: a) u m amplo processo de conscientização populações; e) valorização dos recursos humanos, visando
dos centros de poder de decisão da sociedade; b)> a inva- a superar resistências aos programas e projetos a serem
lidação dos processos que, implícita ou explicitamente, se- implantados; f) avaliação do custo de pessoal e equipa-
jam contrários aos instrumentos ou estímulos propulsores mento aplicado nos programas vinculados, direta ou indi-
e aceleradores do desenvolvimento. retamente, ao Serviço Social, tendo em vista a rentabili-
115. Assim entendido, o Serviço Social deve formular dade destes.
diretrizes, criar uma estratégia de ação, de acordo com 119. Na TÉCNICA, a microatuação do Serviço Social se-
seus princípios fundamentais, para atuar de maneira gené- ria a utilização dos processos de Caso, Grupo e Desenvol-
rica e, especialmente, frente a determinadas situações de vimento de Comunidade, bem como de técnicas auxiliares,
bloqueio à mudança. procedendo-se sua seleção em vista da melhor aplicabili-
116. No PLANEJAMENTO, a microatuação do Serviço dade ao desenvolvimento, enquanto que a macroatuação
Social seria a inserção de planejamento nas microrrealiza- do Serviço Social seria: a) utilização de formas operacio-
ções, dentro de diretrizes e/ou política do macroplaneja- nais no sentido de transformação das estruturas; b) esta-
mento, enquanto a macroatuação do Serviço Social seria: belecimento realístico das condições e das etapas do pro-
a) inserção consciente das populações no planejamento cesso da participação popular, para que os programas se
através do conhecimento de suas potencialidades e dos
meios de transformá-los em instrumentos dessa integração;
44 CBCISS Teorização do Serv. Social 45
efetivem, revigorando as decisões e ações humanas, com ções na teoria, na metodologia, no ensino e nos canais de
vistas ao desenvolvimento; c) participar do estabelecimen- comunicação do Serviço Social com o público. Estas res-
to de sistemáticas de coordenação de atividades interpro- ponsabilidades novas, contudo, não os intimidam. Ao con-
fissionais; d) estabelecimento de política de estímulo quan- trário, são tomadas como desafio. Certos de que as propo-
to a empresas e técnicos, objetivando despertar atitudes sições deste documento serão objeto de análise crítica,
inovadoras capazes de levá-los a aderirem ao processo de -<le reflexão por parte das escolas, dos profissionais, dos
mudança; motivação do empresariado para a utilização órgãos de classe e dos estudantes de Serviço Social, con-
dos investimentos que lhes são oferecidos pelas institui- fiam que estas formulações se projetem no futuro do
ções públicas e privadas, visando maior rentabilidade a Serviço Social no Brasil.
suas iniciativas e esforços; incentivo do espírito empre-
sarial, visando ao aperfeiçoamento de iniciativas empíricas
e, consequentemente, maior contribuição ao processo do Assinado por todos os participantes.
desenvolvimento; e) aprofundamento e/ou elaboração da
teorização, das técnicas do planejamento e técnicas opera-
cionais do Serviço Social, tendo em vista as exigências
atuais de abertura de campos e/ou mercado de trabalho
ao nível de macroatuação.
120. Face às colocações explicitadas, reconhece-se reque-
rer a atuação do Serviço Social o estabelecimento de cri-
térios de prioridades e a definição de opções adequadas às
exigências da realidade económico-social.
121. O desenvolvimento harmónico do homem — perma-
nente desafio à atuação do Serviço Social — exige que
sua adequação à realidade seja u m a constante.
122. Para as transformações necessárias ao desenvolvi-
mento, faz-se mister uma ampla e consciente participação
do próprio homem, sujeito e objeto do Serviço Social.
Disto decorre a necessidade de u m trabalho cientificamente
embasado, que fundamente uma sistemática realista e efi-
caz à nova estratégia do Serviço Social, na consecução de
seus objetivos.

NOTA FINAL
123. Os participantes do Seminário de Araxá reconhecem
a importância do momento histórico deste encontro. Acre-
ditam que a iniciativa e os resultados deste Seminário
constituem u m marco no processo de elaboração do con-
teúdo técnico-científico do Serviço Social.
124. Refletindo sobre as consequências das opções suge-
ridas, constatam a necessidade de profundas reformula-
RELAÇÃO DOS DOCUMENTOS PREPARATÓRIOS
DOCUMENTO DE TERESÓPOLIS
Roteiros para Discussão
Doe. I — Componentes •universais do Serviço Social — METODOLOGIA DO SERVIÇO SOCIAL
S. Paulo
Doe. II — Metas do Serviço Social — S. Paulo
II SEMINÁRIO — 10 a 17 de janeiro de
Doe. III — O Serviço Social face ao processo de formu-
lação e implantação da Política Social — S.
Paulo
Doe. IV — Papel do Serviço Social; funções do Assistente
Social — S. Paulo
Doe. V — Serviço Social. Objetivos. Níveis de Atuação.
ótica e Metodologia — Helena I. Junqueira
Todos estes documentos foram publicados no Suple-
mento n.° 4 de 1967, dos Debates Sociais, do CBCISS.
COMÎSSAO ORGANIZADORA DO SEMINARIO
Helena Iracy Junqueira
Edith Motta
Maria Augusta de Luna Albano
Maria das Dores Machado
José Lucena Dantas

COORDENAÇÃO
Edith Motta

HOSPITALIDADE
Conselheiro Luiz Gonzaga Marengo Pereira
e Diretoria do "Holiday Club"

PARTICIPANTES
Angela Anastasia Cardoso
Ana Alves Pereira
Balbina Ottoni Vieira
Edith M. Motta
Edy Maciel Monteiro
Eva Teresinha Silveira Faleiros
Francisco Paula Ferreira
Giselda Bezerra
Helena Iracy Junqueira
Isa Maia
CBCISS
Jocelyne L. Chamuzeau
José Lucena Dantas
Leda Del Caro
Maria Augusta de Luna Albano
Maria da Glória Nin Ferreira
Maria das Dores Machado
Maria Dulce de Moura Beleza
Maria do Carmo C. Falcão
Maria Helena M. Duarte
Maria Lúcia A. Velho SUMARIO
Maria de Nazaré Moraes
Marília Diniz Carneiro
Marina de Bartolo Introdução
Marisa Meira Lopes
Marta "Teresinha Godinho
Mary Catherine Jennings RELATÓRIO DO GRUPO A
Nadir Gouveia Kfouri
Nelson José Suzano * 2. Concepção científica da prática do Serviço Social
Rosa da Silva Gandra
Suely Gomes Costa 2.1.1 Fenómenos e variáveis significativos para a prá-
Suzana Medeiros
Tecla Machado Soeiro tica do Serviço Social
Vicente de Paula Faleiros
Levantamento dos fenómenos e variáveis
Identificação das funções correspondentes
Classificação das funções
(Quadros: nível biológico, nível doméstico e fa-
miliar, nível educacional, nível cívico-
municipal, nível sócio-cultural, nível
de segurança)
3. Aplicação da metodologia do Serviço Social
Investigação-diagnóstico
Intervenção
Observações sobre o Relatório do Grupo A

* O item 1 foi suprimido nesta edição. Ver Introdução, p. 54.


52 CBCISS
RELATÓRIO DO GRUPO B
* 2. Concepção científica da prática do Serviço Social
2.1 Conhecimentos científicos que embasam a prática
do Serviço Social
2.1.1 Fenómenos e variáveis significativos para a
prática do Serviço Social INTRODUÇÃO
(Quadro de variáveis segundo o critério
de necessidades e problemas) E m 1967, trinta e oito assistentes sociais brasileiros, a con-
2.1.2 Conhecimentos já elaborados pelas ciências vite do CBCISS, reuniram-se em Araxá com o objetivo de
sociais teorizar sobre Serviço Social face à realidade brasileira.
Nesse encontro foi elaborado u m relatório amplamente di-
2.1.3 Conhecimentos já elaborados ou que o pos- vulgado sob o título: DOCUMENTO DE ARAXA.
sam ser, pelo profissional ou por qualquer Sete encontros regionais foram realizados em 1968 para
cientista social levantar opiniões sobre a validade teórica do Documento
de Araxá e recolher subsídios sobre os aspectos nele omis-
(Quadro de conhecimentos para a prática sos e a s reformulações cabíveis. Setecentos e quarenta e
do Serviço Social) u m assistentes sociais opinaram sobre a matéria nos en-
contros regionais realizados em Goiânia, Fortaleza, Ma-
2.2 Apreciação dos critérios e das tendências que vêm naus, Belo Horizonte, Campinas, Porto Alegre e Rio de
orientando a formulação da metodologia do Ser- Janeiro (GB). Os resultados desses encontros foram divul-
viço Social gados no "Suplemento de Debates Sociais" n.° 3, agosto de
(Quadro: especificação da metodologia do 1969: "Análise do Documento de Araxá — Síntese dos 7
Serviço Social segundo os critérios mais Encontros Regionais". Os depoimentos recebidos revela-
usados) ram, com bastante clareza, a necessidade de u m estudo so-
bre a Metodologia do Serviço Social face à realidade brasi-
leira.
3. Aplicação da metodologia do Serviço Social E m resposta a esta necessidade, o CBCISS programou
novo encontro para estudo do tema proposto. A comissão
3.1 Metodologia aplicável ao nível de planejamento organizadora do segundo seminário elaborou o seguinte
roteiro de trabalho:
3.2 Metodologia aplicável ao nível de administração
3.3 Metodologia aplicável ao nível de prestação de
serviços METODOLOGIA DO SERVIÇO SOCIAL
Observações sobre o Relatório do Grupo B I — 1 Teoria do Diagnóstico e da Intervenção em
Serviço Social — A Intervenção em Serviço
RELAÇÃO DOS DOCUMENTOS PREPARATÓRIOS Social.
* O item 1 foi suprimido nesta edição. Ver Apresentação, p. 7.
54 CBCISS Teorização do Serv. Social 55
2. Teoria do Diagnóstico e da Intervenção em O estudo do primeiro ponto embasaria as reflexões so-
Serviço Social — O Diagnóstico Social. bre os dois últimos e seria feito através da análise dos sub-
sídios recebidos sobre o assunto. O ternário foi então re-
II — Diagnóstico e Intervenção em Nível de Pla- elaborado, como se segue:
nejamento, incluindo situações globais e pro-
blemas específicos. 1. Fundamentos da metodologia do serviço social.
III — Diagnóstico e Intervenção em Nível de Admi- 2. Concepção científica da prática do serviço social.
nistração. 2.1 Conhecimentos científicos que embasam a prá-
tica do serviço social.
IV — Diagnóstico e Intervenção em Nível de Pres- 2.2 Apreciação dos critérios e das tendências que
tação de Serviços Diretos a Indivíduos, Gru- vêm orientando a formulação da metodologia
pos, Comunidades e Populações. do serviço social.
Esse roteiro foi distribuído a 103 assistentes sociais 3. Aplicação da metodologia do serviço social.
possíveis participantes do futuro encontro. Destes, 33 pu- 3.1 Teorias que fundamentam o diagnóstico e téc-
deram comparecer ao Seminário. Os critérios adotados nicas para sua elaboração.
pelo CBCISS na escolha dos profissionais foram: interesse 3.2 Teorias que fundamentam a intervenção e téc-
pelo estudo da Teoria do Serviço Social, realizações ou nicas para sua elaboração.
vivência profissional, especialização, regionalidade, repre-
sentatividade de instituições nacionais, públicas e privadas, Foi também apresentada u m a proposta de Pesquisa so-
diversidade quanto à procedência institucional, tempo de
formatura e procedência regional. bre Serviço Social no Brasil, documento elaborado por u m
Vinte e u m documentos versando sobre os itens sugeri- grupo de S. Paulo.
dos no ternário preliminar foram encaminhados ao CBCISS Aceito o roteiro de trabalho, o Seminário desenvolveu-
e posteriormente mimeografados e distribuídos entre os se nas seguintes etapas:
participantes, como subsídio ao estudo da matéria. A — Apresentação da proposta sobre Pesquisa em Ser-
E m síntese, o CBCISS recebeu e distribuiu 11 documen- viço Social no Brasil. O assunto despertou grande interesse
tos de S. Paulo; 7 da Guanabara; 1 de Brasília; 1 do Estado entre os participantes e u m subgrupo encarregou-se da
do Rio e 1 do Paraná, sendo 6 documentos sobre o Tema elaboração de u m anteprojeto com sugestões de aspectos
I; 5 sobre o Tema II; 2 sobre o Tema III e 3 sobre o a serem estudados, levantados ou pesquisados.
Tema IV. B — Análise e debate, em plenário, de três documentos
Como se desenvolveu o Seminário sobre o Tema 1: Fundamentos da Metodologia do Serviço
Social. 1
A primeira reunião de estudos foi iniciada com o debate 1 Sobre o assunto foram encaminhados ao CBCISS cinco trabalhos. Os
sobre a dificuldade de o ternário ser seguido na íntegra.
Discutido o assunto, ficou acertado que o seminário se dois não debatidos foram os seguintes:
concentraria no estudo de apenas três pontos: — "Teoria do diagnóstico e da intervenção em serviço social", de Helena
Yracy Junqueira, que, presente no Seminário, considerou-o mais como
um roteiro pata futura elaboração.
1. Fundamentos da metodologia do serviço social. — "Introdução ao método. Teoria do Diagnóstico Social. Formas de
2. Concepção científica da prática do serviço social. intervenção na realidade", de Ana Augusta de Almeida, que não pôde
3. Aplicação da metodologia do serviço social. comparecer ao Seminário.
56 CBCISS

— Introdução às Questões de Metodologia — Teoria do


Diagnóstico e da Intervenção em Serviço Social, p o r
Suely G o m e s Costa.
— Teoria Metodológica do Serviço Social, uma Abor-
dagem Sistemática, p o r José L u c e n a D a n t a s .
— Bases para Reformulação da Metodologia do Serviço
Social, p o r T e c l a M a c h a d o S o e i r o .
C — Subdivisão dos p a r t i c i p a n t e s e m d o i s g r u p o s — A
e B — p a r a e s t u d o dos temas subsequentes: T e m a 2 —
Concepção científica d o serviço s o c i a l ; e T e m a 3 — A p l i -
RELATÓRIO DO GRUPO A
cação d a m e t o d o l o g i a d o serviço s o c i a l .
D — Apresentação, e m plenário, dos d o c u m e n t o s ela-
b o r a d o s pelos d o i s g r u p o s . O G r u p o A a p r o f u n d o u - s e m a i s
n o T e m a 2, o G r u p o B seguiu f i e l m e n t e o esquema p r o -
p o s t o . A d i v e r s i d a d e n a s f o r m a s de t r a b a l h o i m p o s s i b i l i -
t o u a fusão d o s d o i s relatórios.

O Relatório Final

Os assistentes sociais q u e s u b s c r e v e m o D o c u m e n t o de
Teresópolis, conscientes d a r e s p o n s a b i l i d a d e a s s u m i d a , re-
c o n h e c e m q u e o assunto deve ser o b j e t o d e estudos e
reflexões f u t u r a s . A matéria, p o r d e m a i s vasta, não pôde
ser s u f i c i e n t e m e n t e a p r o f u n d a d a n u m e n c o n t r o de sete
d i a s . O Seminário não p r e t e n d e u esgotar assunto de tão
a l t a relevância.
O C B C I S S s u b m e t e à crítica d o s assistentes sociais os
r e s u l t a d o s d o Seminário de Teresópolis e espera haver
contribuído de a l g u m a f o r m a p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o de
u m Serviço S o c i a l q u e r e s p o n d a cada vez m a i s às necessi-
dades d o H o m e m B r a s i l e i r o .
N e s t a a t u a l edição são apresentados s o m e n t e os Rela-
tórios d o s d o i s g r u p o s . Os d o c u m e n t o s preparatórios,
d i s c u t i d o s o u não n o Seminário, f o r a m e d i t a d o s separa-
damente.*

* Ver na p. 97 a relação desses documentos, editados pelo CBCISS, na


Coleção Temas Sociais.
GRUPO A

C o n f o r m e decisão d o plenário, os G r u p o s só e s t u d a r a m
os T e m a s 2 e 3, p o r q u e o T e m a 1 f o i d e b a t i d o e m plenário,
baseado n o s três t r a b a l h o s preparatórios ao Seminário.
O Grupo A, e m r e s p o s t a a o T e m a 2 — Concepção Cien-
tífica da Prática do Serviço Social e ao i t e m 2.1 Conheci-
mentos Científicos que Embasam a Prática do Serviço
Social, — i n i c i o u o e s t u d o p e l o s 2.1.1 Fenómenos e Variá-
veis Significativos para a Prática do Serviço Social, desen-
volvendo-o m a i s a m p l a m e n t e , não chegando a a b o r d a r os
i t e n s seguintes d o T e m a 2.
Q u a n t o ao T e m a 3 — Aplicação da Metodologia do Ser-
viço Social, o e s t u d o f o i f e i t o a p a r t i r de u m r o t e i r o orga-
n i z a d o p o r elementos d o próprio G r u p o a o término d a ela-
boração d o e s t u d o a n t e r i o r .

T E M A 2: CONCEPÇÃO C I E N T Í F I C A D A P R A T I C A
DO SERVIÇO SOCIAL

2.1.1 Fenómenos e Variáveis Significativos para a Prática


do Serviço Social

O e s t u d o se desenvolveu e m c i n c o etapas: l e v a n t a m e n t o
de fenómenos s i g n i f i c a t i v o s observados n a prática d o ser-
viço social, c o r r e s p o n d e n t e s aos níveis adotados p e l o g r u -
p o ; l e v a n t a m e n t o das variáveis s i g n i f i c a t i v a s p a r a o serviço
social, n o s fenómenos observados; l e v a n t a m e n t o das f u n -
ções c o r r e s p o n d e n t e s às variáveis levantadas; redução das
funções i d e n t i f i c a d a s e, f i n a l m e n t e , classificação dessas
funções.
60 CBCISS Teorização do Serv. Social 61

A apresentação d e t a l h a d a das cinco etapas exige, antes, Nível Residencial


u m a advertência. A sistemática de t r a b a l h o ( e s t u d o de fe-
nómenos, l e v a n t a m e n t o d e variáveis e identificação de f u n - Nível de E q u i p a m e n t o E s c o l a r
ções) não p r e t e n d e s u g e r i r q u e , de o r a e m d i a n t e , o ser-
viço s o c i a l se r e d u z a à análise i s o l a d a d e cada necessidade. Necessidades sociais
A o contrário, o estudo, p o r s i m e s m o , c o n d u z ao reconhe-
c i m e n t o d a g l o b a l i d a d e e d o i n t e r - r e l a c i o n a m e n t o das ne- Nível S o c i a l
cessidades h u m a n a s . M a i s a i n d a , certos c o n d i c i o n a n t e s Nível F a m i l i a r e de C o m p o r t a m e n t o Sexual
básicos p a r a a prática d o serviço social não d e c o r r e m de Nível de S o c i a b i l i d a d e
cada u m dos níveis encarados i s o l a d a m e n t e m a s das carac- Nível de V i d a M u n i c i p a l
terísticas c e n t r a i s d a sociedade b r a s i l e i r a , país subdesen- Nível de V i d a Cívica
v o l v i d o e e m crise m o t i v a d a p o r u m a fase d e transição e Nível de V i d a Ética e E s p i r i t u a l
de mudanças. É forçoso s a l i e n t a r , a i n d a , q u e o p a p e l d o A esses níveis f o i acrescentado o de "Segurança"
serviço social n a sociedade b r a s i l e i r a — e m seu estágio I n v e n t a r i a d o s os fenómenos, f o i v e r i f i c a d a a frequência
a t u a l de d e s e n v o l v i m e n t o , c o m os choques d e opiniões exis- de fenómenos semelhantes o u idênticos, e m diferentes ní-
tentes — é u m fenómeno s i g n i f i c a t i v o q u e não deve ser es- veis. P o r esta razão, f o i e l a b o r a d a n o v a classificação de
q u e c i d o n a prática p r o f i s s i o n a l . níveis c o m o se segue:
C o m estas ressalvas, são apresentadas, a seguir, as c i n c o Nível Biológico e de E q u i p a m e n t o Sanitário
etapas de t r a b a l h o : Nível Doméstico e F a m i l i a r
Nível E d u c a c i o n a l
l.a
Etapa N í v e l Residencial
Nível Cívico-Municipal
L E V A N T A M E N T O D E FENÓMENOS SIGNIFICATIVOS Nível Sócio-Cultural
OBSERVADOS N A PRATICA DO SERVIÇO SOCIAL. Nível de Segurança
F o i necessário, então, r e a g r u p a r os fenómenos de a c o r d o
P a r t i n d o d o inventário d o s níveis e l a b o r a d o p o r S.
1 c o m a classificação de níveis a d o t a d a pelo g r u p o . ( V e r , n o
L . L e b r e t f o i efetuado o l e v a n t a m e n t o d o s fenómenos
2 8 f i n a l d o T e m a 2, Q u a d r o s A 1, A 2, A 3, A 4, A 5, A 6
s i g n i f i c a t i v o s , observados n a prática d o serviço s o c i a l n o s — c o l u n a 1.)
níveis p r o p o s t o s pelo a u t o r :
2.o Etapa
Necessidades básicas
IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS SIGNIFICATIVAS
4

Nível Biológico P A R A O S E R V I Ç O S O C I A L , N O S F E N Ó M E N O S OB-


Nível Doméstico SERVADOS.

Conhecidos os fenómenos, p r o c u r o u - s e a identificação


1
diferentes planos de realidades da sociedade global nos quais se
Nível:
situam necessidades homogéneas, (Verbete retirado do Dictiotiary of Social das diversas f o r m a s pelas quais eles se a p r e s e n t a m . F o i
Sciences, editado por Julius Gould e William L. Kolb.)
2 Em Dynamique Concrète du Dévéloppement, Paris, Les Editions
Ouvrières, 1961, p. 156. Variável: fator dinâmico cujo desenvolvimento é sincronizado ao desen-
4

Fenómeno (social ou fato social): fatos sociais enquanto objeto de uma volvimento de outro fenómeno. (Verbete preparado pelo cientista social
Raymond V. Bowers para o Dictionary of the Social Sciences, edjção da
8

observação. (Verbete preparado pelo cientista social E. A. Gellner para o


Dictionary of the Social Sciences, edição da UNESCO.) UNESCO.)
Teorização do Sero. Social 63
62 CBCISS
e m serviço s o c i a l f o i d e f i n i d a c o m o : " a resposta d a d a pela
desde logo evidenciado q u e as m e s m a s variáveis, c o m fre- intervenção d o serviço social a u m a d e t e r m i n a d a necessi-
quência, a p a r e c i a m relacionadas a diferentes fenómenos. dade h u m a n a , detectada nas variáveis o b s e r v a d a s " .
( V e r Q u a d r o s A 1, A 2, A 3, A 4, A 5, A 6, A 7 — c o l u n a 2.) P a r t i n d o desse conceito ( p a r a f i n s de e s t u d o ) , f o i p r o -
p o s t a a seguinte classificação das funções: 6

3.a
Etapa
C L A S S I F I C A Ç Ã O D A S FUNÇÕES
IDENTIFICAÇÃO D A S FUNÇÕES CORRESPONDEN- 5

TES ÀS VARIÁVEIS INVENTARIADAS. r f Educativas

Conhecidas as variáveis d o s fenómenos estudados, fo-


Mobilizadora
r a m i d e n t i f i c a d a s as funções a elas c o r r e s p o n d e n t e s . ( V e r
Educação de
Q u a d r o s A 1, A 2, A 3, A 4, A 5, A 6, A 7 — c o l u n a 3.)
base
Substituição de
4.a
Etapa padrões
E m microatuação
Conscientiza-
REDUÇÃO D A S FUNÇÕES. dora
Socializadora
I d e n t i f i c a d a s as possíveis funções d o serviço social, f o i Funções F i n s
t e n t a d a u m a f o r m a sintética d e expressá-las. ( V e r Q u a d r o s Curativas
A 1, A 2, A 3, A 4, A 5, A 6, A 7 — c o l u n a 4.) As funções,
c o m o respostas às variáveis selecionadas, são a seguir Terapêutica
t r a n s c r i t a s e m o r d e m alfabética: a d m i n i s t r a t i v a , de asses- Assistencial
s o r i a técnica, assistencial, c o n s c i e n t i z a d o r a , de criação de
recursos, de educação de base, m o b i l i z a d o r a , d e pesquisa
Criação de
de métodos, d e pesquisa de necessidades, de p l a n e j a m e n t o , Em macroatuação recursos
de política social, socializadora, de substituição de padrões,
Política Social
e terapêutica. V a l e r e s s a l t a r que, e m Teresópolis, f o i f e i t o
u m esforço de q u a l i f i c a r as funções r e d u z i d a s . A comissão
r e l a t o r a , após o u v i r a opinião de vários p a r t i c i p a n t e s , re-
s o l v e u o m i t i r este dado p o r c o n s i d e r a r q u e esta etapa só Assessoria
poderá ser f e i t a depois de estudos m a i s a p r o f u n d a d o s . E m micro Pesquisa
Funções M e i o s e macroatuação Planejamento
Administração
5. a
Etapa Política S o c i a l

C L A S S I F I C A Ç Ã O D A S FUNÇÕES.
O u t r a possível classificação, atendendo à satisfação de
I d e n t i f i c a d a s q u a t o r z e diferentes funções, f o i t e n t a d a a necessidade n o t e m p o : função i m e d i a t a e função m e d i a t a .
classificação das m e s m a s . Para f i n s deste e s t u d o , Função

« Não houve consenso quanto aos níveis de micro e macroatuação e


5
série de atividades organizadas para satisfazer ou executar um
Função: quanto à classificação das funções.
fim e/ou um objetivo.
64 CBCISS Teorização do Serv. Social 65

É i m p o r t a n t e s a l i e n t a r q u e os fenómenos, as variáveis leva a c r e r q u e t a l princípio deva ser c o n s i d e r a d o n o estu-


e as funções p r o p o s t a s neste d o c u m e n t o são apresentados do metodológico d o serviço social. D a d a a interdependên-
a título e x e m p l i f i c a t i v o . P o r este m o t i v o , não p o d e m ser cia e n t r e variáveis e fenómenos, não se p o d e a t u a r sobre
q u a n t i f i c a d o s . O u t r o s fenómenos, o u t r a s variáveis e o u t r a s u m s e m c o n s i d e r a r os demais. Impõe-se, a s s i m , u m a visão
funções p o d e m ser e n c o n t r a d o s . U m q u a d r o d e f i n i t i v o só global.
poderá ser apresentado depois de acurados estudos e pes- I m p o r t a , a i n d a , i n d a g a r se as funções d o serviço social,
quisas que, evidentemente, não p o d e r i a m ser t e n t a d o s d u - levantadas p a r a r e s p o n d e r àqueles fenómenos e variáveis,
r a n t e u m seminário. Considera-se necessário estudo m a i s r e s p o n d e m também aos i n d i c a d o r e s de subdesenvolvimen-
a p r o f u n d a d o p a r a d e f i n i r q u a l a classificação q u e m e l h o r t o apresentados p o r L e b r e t e q u e são:
atende ao serviço social.
A análise das funções do serviço social c o n d u z ao estudo 1 Indicadores básicos
de sua m e t o d o l o g i a q u a n d o se v e r i f i c a :
1.1 B a i x a r e n d a n a c i o n a l per capita
1. q u e as funções i d e n t i f i c a d a s são, todas elas, de i n t e r - 1.2 Subnutrição de i m p o r t a n t e p a r c e l a d a p o p u l a -
venção. M e s m o as classificadas c o m o de " p e s q u i s a " , ção e a m p l i t u d e de doenças de massas
referem-se à pesquisa de necessidades e de métodos 1.3 A g r i c u l t u r a p r i m i t i v a , r o t i n e i r a , não mecani-
de intervenção; zada
2. q u e as variáveis de u m a só necessidade d e t e r m i n a m 1.4 Debilidade da infra-estrutura
a importância de atuação e m dois níveis ( m i c r o e 1.5 B a i x a industrialização
macro); 1.6 Analfabetismo
3. a interdependência e n t r e fenómenos e variáveis. As 1.7 Ausência o u insuficiência de q u a d r o de cien-
variáveis se r e p e t e m e o m e s m o dado aparece o r a tistas e técnicos
c o m o " f e n ó m e n o " o r a c o m o "variável".
2. Outros indicadores menos comprobatórios
O p r o b l e m a d o método não p o d e ser dissociado da ques-
tão d o o b j e t o . 2.1 Predominância do setor agrícola e d a p o p u l a -
O p r o s s e g u i m e n t o d a análise das funções evidencia que lação r u r a l , desemprego e s u b e m p r e g o
as variáveis — o b j e t o de intervenção d o serviço social — 2.2 B a i x a capacidade f i n a n c e i r a , taxas de p o u p a n -
c o n f i g u r a m situações sociais p r o b l e m a d e n t r o de u m qua- ça e i n v e s t i m e n t o p o u c o elevadas, b a i x o nível
d r o de s u b d e s e n v o l v i m e n t o . R e s t a r i a a indagação: a aná- de m e r c a d o de c a p i t a l
lise d o serviço social, a p a r t i r de o u t r o p o n t o de referên- 2.3 A l t a f e c u n d i d a d e o u b a i x a restrição de nasci-
cia, l e v a r i a aos m e s m o s resultados? mentos

3. Indicadores apresentados por Alfred Sauvy, cita-


CONCLUSÃO
dos por Lebret
O q u a d r o de fenómenos e variáveis levantados, segun-
3.1 Submissão d a m u l h e r
do os níveis de necessidades p r o p o s t o s p o r L e b r e t ( m o d e l o
escolhido p a r a e s t u d o ) , evidencia u m a r e a l i d a d e de subde- 3.2 Trabalho infantil
senvolvimento. 3.3 Ausência o u f r a q u e z a das classes médias
Os fenómenos a p o n t a d o s enquadram-se n o princípio de 3.4 R e g i m e autoritário, ausência de instituições
causação c i r c u l a r a c u m u l a t i v a ( G u n n a r d M y r d a l ) , o q u e democráticas
66 CBCISS

O Q u a d r o de Classificação de Punções evidencia coerên-


cia c o m os i n d i c a d o r e s de s u b d e s e n v o l v i m e n t o p r o p o s t o s
p o r L e b r e t . A s s i m , nas Funções F i n s são encontradas
Funções E d u c a t i v a s , q u e p r e p a r a m as populações p a r a
p a r t i c i p a r e m d o esforço d o d e s e n v o l v i m e n t o e c o n c o r r e m
p a r a r o m p e r e s t r u t u r a s m e n t a i s rígidas, valores e , c o m -
p o r t a m e n t o s de resistência à mudança. As Funções Cura-
t i v a s são necessárias p a r a r e s p o n d e r às necessidades bá-
sicas de populações m a r g i n a l i z a d a s o u carentes. As fun-
ções ao nível de macroatuação (criação de r e c u r s o s , p o l i -
t i c a s o c i a l ) p o d e m i n t e r f e r i r d i r e t a m e n t e n o q u a d r o do
s u b d e s e n v o l v i m e n t o . As Funções M e i o s são necessárias, e m
nível de m i c r o e macroatuação, p a r a concretização das
Funções F i n s .
QUADRO A 1

NÍVEL BIOLÓGICO
FENÓMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A FUNÇÕES D O SERVIÇO
OBSERVADOS NA POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO SOCIAL
O SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS SOCIAL
(DETALHADAS)
PRATICA DO OBSERVADOS (REDUZIDAS)
SERVIÇO S O C I A L

1 Subnutrição 1. Tabus alimentares 1. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s no 1. D e substituição de


2. Hábitos a l i m e n t a r e s i n a d e q u a d o s c o m p o r t a m e n t o a l i m e n t a r e higiénico padrões
3. Baixa renda 2. Substituição de hábitos a l i m e n t a r e s 2. A s s i s t e n c i a l
4. B a i x a produtividade 3. Assistência f i n a n c e i r a 3. D e p l a n e j a m e n t o
5. Doenças c a r e n c i a i s e f a l t a de h i g i d e z 4. Planejamento social 4. D e p e s q u i s a de
5. Assistência a l i m e n t a r e m e d i c a m e n t o s a recursos
6. Participação e m p e s q u i s a s médico-sociais

2. Doença de m a s s a e 1. Subnutrição 1. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s no 1. D e planejamento


endemias 2. Habitação i n a d e q u a d a c o m p o r t a m e n t o a l i m e n t a r e higiénico 2. D e educação-base
3. Flutuação de m ã o - d e - o b r a 2. Substituição de hábitos a l i m e n t a r e s 3. Assistencial
4. Baixa renda 3. Assistência f i n a n c e i r a 4. D e substituição de
5. B a i x o nível de educação sanitária 4. P l a n e j a m e n t o padrões
6. F a l t a de e q u i p a m e n t o d a m e d i c i n a 5. Assistência a l i m e n t a r e m e d i c a m e n t o s a 5. D e p e s q u i s a de
preventiva e curativa 6. P l a n e j a m e n t o s o c i a l , educação h a b i t a c i o n a l necessidades
7. M a l a p r o v e i t a m e n t o dos r e c u r s o s 7. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s e 6. M o b i l i z a d o r a
existentes hábitos de saúde e h i g i e n e
8. P e s q u i s a d a s n e c e s s i d a d e s e participação e m
planejamento
9 Divulgação e coordenação dos r e c u r s o s
existentes

3 A l t o índice de m o r b i - 'l. B a i x a renda 1. Assistência f i n a n c e i r a 1. A s s i s t e n c i a l


dade e baixa e x p e c t a - 2. B a i x o nível de educação sanitária 2. Planejamento 2. D e p e s q u i s a de
t i v a de v i d a 3. Absenteísmo no t r a b a l h o 3. P e s q u i s a de n e c e s s i d a d e s recursos
4. E n t r a v e à mobilidade social 4. Assistência m e d i c a m e n t o s a e f a m i l i a r 3. D e p l a n e j a m e n t o
5. F a l t a de e q u i p a m e n t o d a m e d i c i n a 5. Criação de r e c u r s o s 4. D e criação de r e c u i - o s
preventiva e curativa 6. Divulgação e coordenação dos r e c u r s o s 5. M o b i l i z a d o r a
6. Subnutrição existentes 6. D e educação de b a s e
7. Habitação i n a d e q u a d a 7. Introdução e/ou substituição d e v a l o r e s no 7. D e coordenação de
8. Orfandade e viuvez precoce c o m p o r t a m e n t o a l i m e n t a r e higiénico recursos
9. B a i x a de p r o d u t i v i d a d e n o t r a b a l h o 8. Substituição de hábitos a l i m e n t a r e s 8. Terapêutica
10. Doença de m a s s a e e n d e m i a s 9. Assistência a l i m e n t a r 9. D e substituição de
10. P l a n e j a m e n t o s o c i a l e educação h a b i t a c i o n a l padrões
11. Colocação f a m i l i a r
12. Educação sanitária e criação d e r e c u r s o s
13. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s e
hábitos de saúde e h i g i e n e
14. P e s q u i s a de necessiaaães
15 Participação no p l a n e j a m e n t o

4. A l t o índice de m o r t a - 1. Subnutrição 1. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s n o 1. D e p e s q u i s a de


lidade infantil 2. F a l t a de e q u i p a m e n t o da m e d i c i n a comportamento alimentar necessidades
preventiva e curativa 2. Substituição de hábitos a l i m e n t a r e s 2. D e p l a n e j a m e n t o
3. E n d e m i a s 3. Assistência f i n a n c e i r a 3. D e educação de b a s e
4. M a l a p r o v e i t a m e n t o dos r e c u r s o s 4. P l a n e j a m e n t o 4. M o b i l i z a d o r a
existentes 5. Assistência a l i m e n t a r e m e d i c a m e n t o s a 5. A s s i s t e n c i a l
5. B a i x o n i v e l de educação sanitária 6. P e s q u i s a de n e c e s s i d a d e s 6. D e substituição de
6. B a i x o nível d e educação doméstica 7. Participação n o p l a n e j a m e n t o padrões
8. P l a n e j a m e n t o s o c i a l 7. D e p e s q u i s a de
9. Educação h a b i t a c i o n a l recursos
10. Divulgação e coordenação dos r e c u r s o s
existentes
11. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s e
hábitos de saúde e h i g i e n e
12. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s e
hábitos pré-natais e pós-natais

5. A l t o Índice de 1. " F a l t a de educação s e x u a l 1. Participação e m p r o g r a m a s de educação 1. D e educação d e base


natalidade 2. V a l o r e s r e l i g i o s o s sexual 2. D e substituição de
3. Padrões c u l t u r a i s 2. Substituição de v a l o r e s e padrões c u l t u r a i s padrões
4. F a l t a de p l a n e j a m e n t o f a m i l i a r 3. Participação e m p r o g r a m a s de p l a n e j a m e n t o 3. D e criação de r e c u r s o s
5. A b a n d o n o do m e n o r familiar 4. D e p l a n e j a m e n t o
4. Orientação f a m i l i a r e criação d e r e c u r s o s

6. Insuficiência e má 1. Doenças de m a s s a s e e n d e m i a s 1. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s n o 1. De planejamento


distribuição do 2. A l t o índice de m o r b i d a d e comportamento alimentar 2. D e educação d e b a s e
e q u i p a m e n t o sanitário 3. A l t o índice d e m o r t a l i d a d e 2. Substituição d e hábitos a l i m e n t a r e s 3. Assistencial
e raedieo-hogpitalar - 4T- Abo"onteism& -no t r a b a l h e A. De—substituição- -de~ -
5. B a i x o nível de educação sanitária 4. Planejamento social padrões
6. A l t o índice de m o r t a l i d a d e i n f a n t i l 5. Assistência a l i m e n t a r e m e d i c a m e n t o s a 5. D e p e s q u i s a de
7. B a i x a p r o d u t i v i d a d e no t r a b a l h o 6. Participação e m p e s q u i s a s médico-sociais necessidades
8. Migrações i n t e r n a s 7. P e s q u i s a de n e c e s s i d a d e s 6. Mobilizadora
9. B a i x a e x p e c t a t i v a da v i d a 8. Assistência f a m i l i a r 7. D e p e s q u i s a de
9. Criação de r e c u r s o s recursos
10. Divulgação e coordenação dos r e c u r s o s 8. D e coordenação de
existentes recursos
11. Educação sanitária 9. Terapêutica
12. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s e
hábitos d e saúde e h i g i e n e

7. Doença psicotóxicas 1. Desintegração f a m i l i a r 1. Orientação f a m i l i a r 1. D e educação de b a s e


( a l c o o l i s m o , uso de 2. Absenteísmo e b a i x a p r o d u t i v i d a d e 2. Educação sanitária 2. D e p e s q u i s a de
entorpecentes etc.l de m ã o - d e - o b r a 3. Assistência f i n a n c e i r a recursos
3. M o r b i d a d e 4. Planejamento social 3. A s s i s t e n c i a l
4. B a i x o nível econômico-social 5. Pesquisa de necessidades 4. D e p e s q u i s a de
5. D e s e m p r e g o e s u b e m p r e g o . 6. Assistência m e d i c a m e n t o s a necessidades
7. Assistência f a m i l i a r 5. D e criação de r e c u r s o s
8. Criação de r e c u r s o s 6. M o b i l i z a d o r a
9. Divulgação e coordenação dos r e c u r s o s 7. Terapêutica
existentes 8. D e p l a n e j a m e n t o
10. Introdução e/ou substituição de v a l o r e s no
c o m p o r t a m e n t o a l i m e n t a r e higiénico
11. Substituição d e hábitos a l i m e n t a r e s
12. Planejamento
13. Assistência a l i m e n t a r
NÍVEL DOMÉSTICO E F A M I L I A R Q O A D R O * *

PKNOMKN08
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO SOCIAL
OBSERVADOS NA O SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS SOCIAL
(DETALHADAS)
PRATICA DO OBSERVADOS (REDUZIDAS)
SERVIÇO S O C I A L

1. Desagregação e / o u 1. P r o c e s s o d e mudança s o c i a l a c e l e r a d o 1. P r e p a r a c f i o p a r a a mudança 1. Consrientliariora


desintegração 2. Migrações i n t e r n a s 2. Planejamento social 2. D e planejamento
familiar 3. Deserção d o l a r 3. Assistência e s p e c i a l i z a d a 3. D e educação d e base
4. Presença p a t e r n a e / o u m a t e r n a 4. Orientação f a m i l i a r 4. Assistencial
insuficiente 5. Assistência f i n a n c e i r a
5. C o n f l i t o d e gerações 8. Criação d e r e c u r s o s
6. Tensões f a m i l i a r e s 7. Educação doméstica
7. Condições d e v i d a i n a d e q u a d a 8. Educação s e x u a l
(habitação, alimentação e t c . ) 9. Preparação p a r a o casamento
8. Renda familiar insuficiente 10. Orientação f a m i l i a r
9. F a l t a d e educação doméstica, educação 11. Participação n o p l a n e j a m e n t o u r b a n o
s e x u a l , preparação p a r a o c a s a m e n t o
e planejamento familiar
10. G r a n d e s distancias entre o l o c a l do
trabalho e o l a r

2. Ausência d e u m a 1. l e g i s l a ç ã o f a m i l i a r inadequada 1. S u b s i d i o p a r a u m a p o l i t i c a 1. D e p o l i t i c a social


politica familiar 2. F a l t a d e a m p a r o d o s p o d e r e s públicos

3. Distorções n o 1. Delinquência e perversões s e x u a i s 1. Participação e m c a m p a n h a s d e orientação 1. Terapêutica


comportamento ( h o m o s s e x u a l i s m o — prostituição — e criação d e r e c u r s o s 2. D e politica social
sexual crimes sexuais) 2. Orientação f a m i l i a r 3. Criação de r e c u r s o s
2. Iniciação s e x u a l p r e m a t u r a e / o u 3. Substituição d e v a l o r e s e comportamento 4. D e educação d e b a s e
inadequada 5. D e substituição d e
3. Educação s e x u a l i n a d e q u a d a o u padrões
ausente
4. T a b u s s e x u a i s

4. Marginalização d o 1. Delinquência i n f a n t i l e j u v e n i l 1. Participação e m c a m p a n h a s d e orientação 1. Terapêutica


menor x. Exploração e s e v i c i a m e n t o d e m e n o r e s e criação d e r e c u r s o s 2. Assistencial
3. Abandono total e p a r c i a l 2. Subsídios p a r a u m a legislação a d e q u a d a e 3. Criação d e r e c u r s o s
4. U s o indevido do trabalho do m e n o r s u a e f e t i v a aplicação 4. D e politica social
5. Assistência t r a d i c i o n a l não p r o p i c i a n - 3. Colaboração n a P o l i t i c a N a c i o n a l d o B e m -
d o a integração d o m e n o r A s o c i e d a d e E s t a r do M e n o r
8. Desagregação e / o u desintegração 4. Orientação f a m i l i a r

7. M e n o r e x c e p c i o n a l

S. Carência d e 1. B a i x a r e n d a f a m i l i a r 1. Assistência f i n a n c e i r a e promocional 1. D e educação d e b a s e


equipamentos 2. F a l t a d e educação doméstica 2. Orientação f a m i l i a r 2. Assistencial
domésticos 3. P r o g r a m a s d e educação doméstica 3. Criação d e r e c u r s o s 3. D e criação d e r e c u r s o s
insuficientes
QUADRO A 3

NIVEL EDUCACIONAL
FENÓMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L SOCIAL
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS
(DETALHADAS) (REDUZIDAS)
PRATICA DO OBSERVADOS
SERVIÇO S O C I A L

1. A l t o Índice d e 1. D i f i c u l d a d e d e comunicação v e r b a l e e s c r i - 1. D e s e n v o l v i m e n t o d e p r o g r a m a s de e d u c a - 1. D e educação de b a s e


analfabetismo ta condicionada ao pensamento magico ção d e b a s e 2. C l a r i f i c a d o r a
c e n t r a d o , i m p e d i n d o a introjeção d e p a - 2. Motivação e encaminhamento para os (conscientizadora i
drões r e c i o n a i s p r o g r a m a s de educação d e b a s e 3. D e p e s q u i s a de
2. E l e m e n t o l i m i t a t i v o A utilização d e i n s t r u - 3. Conscientização o u clarificação sociológica métodos
m e n t a l técnico q u e d e p e n d a d a a l f a b e t i - 4. P e s q u i s a d e métodos a d e q u a d o s 4. D e capacitação
zação 5. Participação n o s p r o g r a m a s de formação profissional
3. D i f i c u l d a d e d e a c e s s o a s informações profissional 5. A s s i s t e n c i a l
4. I m p e d i m e n t o a o c o n h e c i m e n t o e u s o d o s 6. Assistência u t i l i z a d a c o m o e l e m e n t o m o - 6. M o b i l i z a d o r a
direitos individuais t i v a d o r e s u p l e t i v o à alfabetização, p r o f i s -
5. D i f i c u l d a d e d e utilização dos r e c u r s o s d a sionalização e p r o s s e g u i m e n t o do estudo
comunidade 7. Mobilização d e r e c u r s o s p a r a extensão d a
6. E l e m e n t o l i m i t a d o r á participação rede escolar
ocupacional
7. E l e m e n t o c o n d i c i o n a d o r d a b a i x a r e n d a
8. Crianças q u e não f r e q u e n t a m a e s c o l a
( r e d e e s c o l a r i n s u f i c i e n t e , evasão, r e p e -
tência)

2. H i a t o n o c i v o , 1. D i f i c u l d a d e dos m e n o r e s d a c l a s s e b a i x a ,
trabalho do m e n o r n a f a i x a d e 12 a 14 a n o s , d e p r o s s e g u i -
e alta seletividade r e m os e s t u d o s , s e i n i c i a r e m n o p r e p a r o
profissional e ingressarem no mercado de
trabalho

3. M e n o r e x c e p c i o n a l : 1. F a l t a d e condições psicológicas, e d u c a c i o - 1. Clarificação e educação d a família e da 1. D e substituições d e


físico, m e n t a l e n a i s e / o u m a t e r i a i s , d a s famílias, p a r a a comunidade padrões
psicológico educação d o s m e n o r e s 2. Mobilização de r e c u r s o s 2. M o b i l i z a d o r a
2. P r e c o n c e i t o s c u l t u r a i s 3. A s s i s t e n c i a l supletiva 3. A s s i s t e n c i a l
3. F a l t a d e e q u i p a m e n t o e s p e c i a l i z a d o 4. Terapêutica c o r r e t i v a do m e n o r e da fa- 4. Terapêutica
mília 5. D e p o l i t i c a s o c i a l
6. C l a r i f i c a d o r a

QUADRO A 4

NÍVEL R E S I D E N C I A L
FENÓMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L SOCIAL
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS
(DETALHADAS) (REDUZIDAS)
PRATICA DO OBSERVADOS
SERVIÇO S O C I A L

1. P r o b l e m a s d e I n f r a - 1. D i f i c u l d a d e d e a c e s s o p r o f i s s i o n a l á c l i e n - 1. Descentralização d o s r e c u r s o s p a r a a t e n - 1. A d m i n i s t r a t i v a e
estrutura urbana: tela e vice-versa dimento à clientela pesquisa (micro)
— pavimentação 2. D i f i c u l d a d e de acesso ao l o c a l d e t r a b a l h o 2. Clarificação sociológica d a comunidade, 2. C l a r i f i c a d o r a
— água e r e c u r s o s , o c a s i o n a n d o desgaste d a c l i e n - c o m relação a o s s e u s d i r e i t o s de i n f r a - (conscientizadora)
— esgoto tela estrutura 3. M o b i l i z a d o r a
— iluminação 3. P r o b l e m a s de saúde, h i g i e n e , a b a s t e c i - 3. I n c e n t i v o à formação d e mutirão e m c a -
— transporte m e n t o e segurança ráter s u p l e t i v o p a r a c o m p l e m e n t a r ações
— comunicação 4. Condições d e habitação s u b u m a n a , p r o - públicas, construções e m e l h o r i a d a c a s a
miscuidade e insalubridade própria
5. F a l t a d e r e c u r s o s r e l a t i v o s à educação,
saúde, l a z e r e b e m - e s t a r

2. P r o b l e m a s de 1. G r a n d e p e r c e n t a g e m d o orçamento 1. P e s q u i s a , p l a n e j a m e n t o e a s s e s s o r i a a o s 1. P e s q u i s a ( m a c r o )
urbanização: aplicado no aluguel da moradia órgãos l o c a i s , e s t a d u a i s , r e g i o n a i s e n a - 2. P l a n e j a m e n t o
— carência d e áreas, 2. Insegurança e m o b i l i d a d e cionais 3. A s s e s s o r i a
locais e
equipamentos
— existência d e
f a v e l a s e cortiços
— deficit habitacional
QUADRO A 5

N I V E L CÍVICO-MUNICIPAL

FENOMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L SOCIAL
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S F E N O M E N O S
(DETALHADAS) (REDUZIDAS)
PRATICA DO OBSERVADOS
SERVIÇO S O C I A L

1. Divisfio m u n i c i p a l 1. Deformação do sistema n a t u r a l de 1. Aceleração e intensificação dos s i s t e m a s 1. D e substituição d e


não c o r r e s p o n d e á polarização de relações s o c i a i s padrões
caracterização g e o - 2. Substituição d o s i s t e m a d e influência, 2. S o c i a l i z a d o r a
sócio-econômica através d e estratégia p o l i t i c a l o c a l 3. D e p o l i t i c a s o c i a l

2. D i c o t o m i a e n t r e 1. Ausência d e p l a n o s d i r e t o r e s 1. Elaboração d e p l a n e j a m e n t o d e serviços 1. D e planejamento


n e c e s s i d a d e dos 2. Deficiência n o s p l a n o s e m função d a s sociais: 2. D e politica social
m u n i c i p i o s e ação necessidades municipais — e s t a b e l e c i m e n t o d e e s t r u t u r a s e padrões 3. D e a s s e s s o r i a técnica
político- 3. Distorção n a aplicação d e p l a n o s d i r e t o r e s de equipamentos sociais 4. D e criação d e r e c u r s o s
administrativa de m u n i c i p i o s — diretrizes de programas 5. D e substituição d e
— adequação d e l e i s padrões
— s i s t e m a d e distribuição d e r e c u r s o s S. D e p o l i t i c a s o c i a l
2. Substituição d e padrões p o l i U c o - a d m i n i s -
t r a t i v o s através d e estratégia p o l i t i c a

3. Marginalização d e 1. Representação e participação n a v i d a p o - 1. Introdução e aceleração d o p r o c e s s o d e 1. M o b i l i z a d o r a


f a i x a s d a população lítica m u n i c i p a l c o n d i c i o n a d a p e l o s i s t e - participação d a s populações n o s i s t e m a d e 2. C o n s c i e n t i z a d o r a
e m relação à v i d a m a de poder tradicional (mandonismo, decisão l o c a l
politica m u n i c i p a l coronelismo. cabos eleitorais etc.)

4. Alienação d e f a i x a s 1. Consciência mágica f a c e a o s p r o b l e m a s 1. Inserção e integração n o t e m p o e no 1. C o n s c i e n t i z a d o r a


d a população e m q u e c e r c a m a s populações m u n i c i p a i s espaço
relação ã v i d a 2. Ignorância e m relação às l e i s
municipal 3. P a s s i v i d a d e e m relação aos a b u s o s de
poder
4. Dissensões partidárias e d e c a m a d a s
sociais
5. D e s c o n h e c i m e n t o do m e i o v i v e n c i a l l o c a l ,
regional, nacional e i n t e r n a c i o n a l

- i -

QUADRO A 6

NÍVEL SÓCIO-CULTURAL
FENÔMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS SOCIAL
OBSERVADOS (DETALHADAS )
PRATICA DO (REDUZIDAS)
SERVIÇO S O C I A L

1. P e n s a m e n t o centrado 1. Tabus e crendices 1. R o m p i m e n t o d a s e s t r u t u r a s m e n t a i s 1. D e substituição de


n o mágico 2. Curandeirismo mágicas padrões
3. Fatalismo 2. D e s e n v o l v i m e n t o do p e n s a m e n t o c r i t i c o 2. C o n s c i e n t i z a d o r a
4. Conformismo
5. M e n t a l i d a d e reivindicatória imediatista

2. Marginalização às 1. Acomodação, p a s s i v i d a d e , alto g r a u de 1. M o n t a g e m de c e n t r o s d e aculturação e 1. D e criação de r e c u r s o s


n o v a s f o r m a s de v i d a anomia educação p o p u l a r 2. D e planejamento
nos g r a n d e s centros 2. I n d i v i d u a l i s m o 2. Integração crítica às n o v a s f o r m a s d e v i d a 3. D e administração
urbanos 3. Relações s o c i a i s l i m i t a d a s à família e 3. D e s e n v o l v i m e n t o do p e n s a m e n t o crítico 4. D e substituição de
vizinhança 4. Formação s o c i a l (conscientização d a s d i - padrões
4. Ausência d e participação mensões p e s s o a l e s o c i a l do indivíduo) 5. Conscientizadora
5. D e s e n v o l v i m e n t o do c o m p o r t a m e n t o g r u - 6. D e educação de b a s e
p a i (ao nível d a satisfação de n e c e s s i d a - 7. Socializadora
des o b j e t i v a s ) 8. Mobilizadora
6. D e s e n v o l v i m e n t o d a s relações comunitá-
r i a s e societárias
7. Integração às n o v a s f o r m a s d e relação
8. Capacitação p a r a a utilização d o s c a n a i s
de participação p o p u l a r
9. Exercício d a participação s o c i a l e c u l t u r a l

3. I n d i v i d u a l i s m o 1. Existência de c o m p o r t a m e n t o g r u p a i s o - 1. Dinamização ou implementação de f o r m a s 1. D e assistência técnica


m e n t e p a r a f i n s d e valorização de n e c e s s i - a s s o c i a t i v a s — a nível d e b a i r r o , t r a b a - 2. Mobilizadora
d a d e s s u b j e t i v a s e relações míticas lho. .. ( s o c i e d a d e s a m i g o s do b a i r r o , s i n - 3. Socializadora
2. Ausência d e hábitos de participação dicato. . .) 4. Conscientizadora
3. Ausência de consciência d e c l a s s e e d e 2. D e s e n v o l v i m e n t o do c o m p o r t a m e n t o g r u - 5. D e p e s q u i s a de método
consciência d e c o m u n i d a d e p a i e d a a t i t u d e de cooperação 6. D e educação de b a s e
4. Acomodação, p a s s i v i d a d e 3. Exercício d a participação decisória 7. D e p e s q u i s a de
5. A n o m i a 4. D e s e n v o l v i m e n t o d a convivência d e c l a s - necessidade
se, consciência de nação e t c . 8. D e substituição de
padrões

4. Distância s o c i a l 1. D i f i c u l d a d e de comunicação ( v a l o r e s , 1. E s t a b e l e c i m e n t o de c a n a i s e f o r m a s a d e -
comportamento e linguagem) q u a d a s de comunicação c o m a s populações
2. Marginalização s o c i a l e c u l t u r a l 2. Integração crítica e exercício d a p a r t i c i -
pação s o c i a l e c u l t u r a l

5. Mudanças s o c i a i s 1. Resistência à mudança 1. R o m p i m e n t o das resistências à mudança


aceleradas 2. C r i s e de geração 2. E s t u d o d a s tendências de mudança p a r a
3. Comportamentos delinqiienciais informar as diretrizes e prioridade nos
4. Rompimento cultural planos sociais
(mudanças de c o m p o r t a m e n t o s , v a l o r e s ) 3. Diminuição de tensões g e r a d a s p e l a s m u -
(mudanças de papéis d a m u l h e r ) danças (apoio, clarificação)
(mudança d a família: família n u c l e a r )

6. S o c i e d a d e de massas 1. Massificação 1. "Desmassificação"


2. A p r o p a g a n d a através de comunicação 2. D e s e n v o l v i m e n t o d o p e n s a m e n t o crítico
de m a s s a s c r i a n d o c o m p o r t a m e n t o s
padronizados
QUADRO A 7

N l V E L D E SEGURANÇA
FENÓMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L
* SOCIAL
PRATICA DO OBSERVADOS (DETALHADAS)
(REDUZIDAS)
SERVIÇO S O C I A L

1. P r o b l e m a s q u e 1. Desqualificação p r o f i s s i o n a l 1. Criação e mobilização d e r e c u r s o s 1. D e educação d e b a s e


interferem n a 2. M e n t a l i d a d e q u e e n v o l v e a legislação 2. Educação d e b a s e 2. Assistencial
subsistência: s o c i a l do t r a b a l h o 3. Orientação p r o f i s s i o n a l 3. Conscientizadora
— desemprego 3. D e f a s a g e m e n t r e a o f e r t a e a p r o c u r a n o 4. Assistência judiciária 4. D e criação d e r e c u r s o s
— subemprego mercado de trabalho 5. Conscientização através d e p r o g r a m a s d e 5. Mobilizadora
— nomadismo de 4. Aculturação de c o r r e n t e s migratórias formação e legislação t r a b a l h i s t a , p r e v i - 6. D e planejamento
mão-de-obra 5. F a l t a de orientação e organização do denciária e orientação s i n d i c a l
sindicalismo nacional 6. E s t a b e l e c i m e n t o d e c a n a i s d e comunicação
6. Desvinculação d a Previdência S o c i a l e n t r e os o r g a n i s m o s de proteção s o c i a l e
o público
7. P l a n e j a m e n t o s o c i a l e m relação a
programas de mão-de-obra
8. Criação d e r e c u r s o s p a r a aculturação

2. R i s c o s s o c i a i s : 1. Marginalização sócio-legal 1. P e s q u i s a de n e c e s s i d a d e s dos beneficiários 1. D e p e s q u i s a d e


— doenças 2. D e s c o n h e c i m e n t o do s i s t e m a 2. P r o g r a m a s d e extensão p r o v i d e n c i a r i a p a r a necessidades
— velhice previdenciário integração d a m ã o - d e - o b r a m a r g i n a l i z a d a 2. D e educação d e b a s e
— a c i d e n t e s do 3. F a l t a de m e n t a l i d a d e p r e v i d e n c i a l 3. Assistência f i n a n c e i r a , m e d i c a m e n t o s a e 3. D e capacitação
trabalho 4. Limitação e deficiência do s i s t e m a da a l i m e n t a r , através d e a j u d a s u p l e t i v a profissional
— morte Previdência 4. P r o g r a m a s d e prevenção sanitária 4. A s s i s t e n c i a l
— encargos sociais 5. F o m e n t o s e subsídios p a r a o d e s e n v o l v i - 5. M o b i l i z a d o r a
mento de equipamentos sociais n a - c o m u n i - 6. D e criação e
dade, d e assistência m e d i c a , de r e a b i l i - desenvolvimento de
tação p r o f i s s i o n a l , reeducação d e e x c e p - recursos
cional, etc. 7. C o n s c i e n t i z a d o r a

BIBLIOTECA CENTRAL
T E M A 3: APLICAÇÃO D A M E T O D O L O G I A
DO SERVIÇO S O C I A L

O estudo d a metodologia do serviço social p a r t i u das se-


guintes reflexões:

1. A necessidade gera a função.


2. C a d a necessidade é manifesta e m u m a o u m a i s va-
riáveis significativas, gerando, cada variável, u m a
ou m a i s funções.
3. A s variáveis que geram u m dado fenómeno podem
se situar e m níveis diferentes correspondentes a
várias intervenções profissionais (objeto profissio-
nal).
4. U m a determinada profissão, dentro do mesmo nível
de necessidade, pode ser levada a atuar e m várias
escalas de intervenção.
5. U m a determinada profissão pode, dentro de u m
m e s m o nível de necessidade, ser levada a atuar e m
várias formas de intervenção profissional.
6. A frequência do fenómeno c o m a s m e s m a s variáveis
determina a relevância do fenómeno.
7. A relevância do fenómeno, n u m a dada população,
define a caracterização do fenómeno e m "coletivo"
e "particular".
8. N a intervenção profissional do serviço social pode-
se, portanto, destacar a s seguintes correlações:
8.1 Fenómeno coletivo, e m função de variáveis que
transcendem a capacidade dos indivíduos, exi-
ge intervenção ao nível d a estrutura além d a
intervenção ao nível particular (indivíduos,
grupos, comunidades).
68 CBCISS Teorização do Serv. Social 69

8.2 Fenómeno coletivo, e m função de variáveis de- 1.6.1 das funções


pendentes dos indivíduos, exige intervenção ao 1.6.2 das escalas o u níveis de atuação
nível particular além d a intervenção ao nível 1.6.3 das f o r m a s de atuação
d a estrutura.
8.3 Fenómeno individual, e m função de variáveis 2. Intervenção
que transcendem os indivíduos, exige interven-
ção ao nível particular além d a intervenção aó 2.1 M o n t a g e m do p l a n o de intervenção nas variáveis
nível de estrutura. 2.1.1 Seleção de processo e m função de:
8.4 Fenómeno individual, e m função de variáveis — f e n o m e n o l o g i a d a ( s ) variável (eis) s i g n i f i c a t i -
que dependem dos indivíduos, exige interven- va^)
ção ao nível particular além d a intervenção ao — relevância d o fenómeno (nível de e s t r u t u r a e
nível d a estrutura (se for relevante). indivíduo)
9. N a intervenção profissional do serviço social póde- 2.2 Implantação e execução d o p l a n o ( c o n t r o l e das
se, portanto, destacar que: variáveis)
9.1 O fenómeno, particular o u coletivo, exige u m a 2.3 Avaliação (confirmação o u infirmação das h i -
intervenção simultanea aos níveis de estrutura póteses)
e particular.
9.2 A variável significativa p a r a o serviço social
exige u m a intervenção específica, reduzida a CONCLUSÃO
u m a dada função.
10. A intervenção do Serviço Social, ao nível d a estru- E s t e p r o c e d i m e n t o c o n f i g u r a a própria m e t o d o l o g i a ge-
t u r a e ao nível particular, exige processos defini- nérica d o serviço social e n c o n t r a d a e m q u a l q u e r escala e
nidos de ação coerentes c o m a fenomenologia da f o r m a de atuação.
variável identificada. Ressalta-se q u e o p r o c e d i m e n t o metodológico que não
t e n h a p o r o b j e t i v o a intervenção, m a s que vise à verifica-
O s itens 1 a 7 destas reflexões oferecem subsídios p a r a ção d a v a l i d a d e d o s c o n h e c i m e n t o s do serviço social e/ou
a configuração da "investigação-diagnóstico" e os itens sub- a produção de novos conhecimentos c o m vistas à f o r m a -
sequentes p a r a a d a "intervenção", permitindo a formula- ção de sua t e o r i a , conduz a investigações científicas e m
ção d a Sequência do Procedimento Metodológico de Inter- serviço social.
venção do Serviço Social, como s e segue:
Angela A. Cardoso — MG
1. Investigação-diagnóstico Ir. Angela Beleza — PB
Ana Alves Pereira — GB
1.1 Levantamento de necessidades Edith Motta — GB
1.2 Levantamento de variáveis significativas de ca- Edy Pinto Maciel Monteiro — GB
d a necessidade Eva Faleiros — DF
1.3 Verificação d a relevância do fenómeno Francisco de Paula Ferreira — GB
1.4 Verificação d a interdependência das variáveis Isa Maia — PB
(causação c i r c u l a r acumulativa) Jocelyne Chamuzeau — SP
1.5 Formulação de hipóteses Maria da Glória Nin Ferreira — GB
1.6 ^terminação, c o m base n a s hipóteses formu- Maria das Dores Machado — GB
ladas: Maria do Carmo C. Falcão — SP
CBCISS

Maria Lúcia Alves Velho — GB


Marina de Bartolo — SP
Nadir Gouveia Kfouri — SP
Nelson José Suzano — SP
Rosa da Silva Gandra — MG
Suely Gomes Costa — RJ

OBSERVAÇÕES S O B R E O R E L A T Ó R I O D O G R U P O A

Nível de Segurança

A o inventário dos níveis elaborados pelo Pe. L e b r e t f o i


acrescentado o nível de "segurança", o q u a l corresponde-
r i a à necessidade d o ser h u m a n o sentir-se p r o t e g i d o c o n t r a
o d e s a m p a r o e os riscos d a existência.
N o l e v a n t a m e n t o efetuado e m Teresópolis f o r a m apon-
tados c o m o s i g n i f i c a t i v o s p a r a o Serviço Social e m relação
a esse nível os fenómenos q u e d i z e m respeito à inseguran-
ça face à subsistência (desemprego, s u b e m p r e g o e o u t r o s )
e à proteção c o n t r a os riscos c o b e r t o s pelo Seguro Social.
U m t r a b a l h o de reflexão p o s t e r i o r leva-nos, n o e n t a n t o ,
a f o r m u l a r a l g u m a s observações e m t o r n o desse nível e
dos fenómenos analisados.
A p r i m e i r a observação se refere à própria n a t u r e z a des-
ses fenómenos. O Pe. L e b r e t , ao estabelecer as necessida-
des h u m a n a s básicas e sociais, não m e n c i o n o u os fenóme-
nos r e l a t i v o s à e c o n o m i a , p o r situá-los n u m a o u t r a o r d e m
de fenómenos ligados à i n f r a - e s t r u t u r a . Ao analisar, n o en-
t a n t o , o nível de "segurança" tornou-se evidente a re-
percussão desses fenómenos económicos n o que se refere
à subsistência. Surge a q u i u m a indagação: apesar de fugir-
m o s ao esquema d o Pe. L e b r e t , deveremos deter-nos d i a n t e
desses fenómenos económicos? Parece-nos q u e s i m , t a n t o
m a i s q u e m e n c i o n a m o s apenas repercussões deles face à
"segurança".
Nessa l i n h a de p e n s a m e n t o parece-nos, então, q u e o u t r o
nível de necessidades básicas e sociais, o m i t i d o p r o v a v e l -
m e n t e pelas suas relações c o m os fenómenos de e c o n o m i a ,
deve também ser acrescentado aos d e m a i s : o nível de v i d a
profissional.
72 CBCISS

U m a segunda observação q u a n t o ao nível d e segurança


prende-se à questão de t e r m i n o l o g i a . A designação segu-
rança é vaga e i m p r e c i s a . E m l i n g u a g e m de ciências jurídi-
cas e sociais e x i s t e m t e n t a t i v a s de se estabelecer u m a dis-
tinção e n t r e seguro social, seguridade social e segurança
s o c i a l , d e n t r o d a seguinte conceituação:
O seguro social é a instituição q u e t e m p o r f i n a l i d a d e ga-
r a n t i r os m e i o s de subsistência aos indivíduos a t i n g i d o s
pelos riscos sociais: doença, invalidez, desemprego, aciden-
te, m o r t e , velhice e o u t r o s .
RELATÓRIO DO GRUPO B
A seguridade social c o m p r e e n d e u m c o n j u n t o de m e d i -
das q u e v i s a m especialmente à liberação d o h o m e m face à
necessidade e m geral, i n c l u s i v e face aos riscos sociais. Sua
f i n a l i d a d e é a de assegurar níveis razoáveis d e existência.
Já a "segurança social" v e m sendo d e f i n i d a c o m o o con-
j u n t o de m e d i d a s de o r d e m económica, política e social
destinadas a g a r a n t i r o bem-estar social e m g e r a l .
E s t e último conceito é d e m a s i a d o a m p l o e a b r a n g e r i a
vários dos níveis básicos e sociais.
F o i o que de c e r t o m o d o s e n t i u o g r u p o q u e p o r ocasião
d o I I E n c o n t r o R e g i o n a l de São Paulo d i s c u t i u o nível de
segurança. T e n t a n d o a m p l i a r o que já f o r a p r o p o s t o e m
Teresópolis ( p r o b l e m a s de subsistência e seguro s o c i a l ) ,
o g r u p o percebeu q u e esse c o n c e i t o de segurança levá-lo-ia
a a b r a n g e r fenómenos já estudados e m t o d o s os o u t r o s
níveis.
Parece-nos, p o i s , aconselhável que, m e s m o q u e não se
q u e i r a a d o t a r a t e r m i n o l o g i a " s e g u r i d a d e s o c i a l " , q u e se
l i m i t e o conteúdo d o nível de "segurança" aos fenómenos
ligados à subsistência e à proteção c o n t r a os r i s c o s .

Jocelyne Chamuzeau
Nadir G. Kfouri
Maria do Carmo C. Falcão
GRUPO B

C o n f o r m e o que f i c o u d e c i d i d o , os G r u p o s só e s t u d a r a m
os Temas 2 e 3 p o r q u e o Tema 1 f o i d e b a t i d o e m plenário,
baseado nos três t r a b a l h o s preparatórios.
O Grupo B, n o exame d o T e m a 2 — Concepção Científi-
ca da Prática do Serviço Social, abordou-o e m t o d o s os
itens p r e v i s t o s . N o i t e m 2.1 — Conhecimentos Científicos
que Embasam a Prática do Serviço Social, i n i c i o u pelos
2.1.1 Fenómenos e Variáveis Significativos para o Serviço
Social e, e m seguida, a b o r d o u os 2.1.2 Conhecimentos Ela-
borados pelas Ciências Sociais e os 2.1.3 Conhecimentos
Elaborados no Campo da Profissão pelo Profissional ou
Outro Cientista Social. A p r e c i o u também os 2.2 Critérios
e Tendências que Vêm Orientando a Formulação da Meto-
dologia do Serviço Social.
Q u a n t o ao T e m a 3 — Aplicação da Metodologia do Ser-
viço Social, ordenou-o d i f e r e n t e m e n t e d o esquema p r e v i s t o .

T E M A 2: CONCEPÇÃO C I E N T Í T I C A D A P R A T I C A
DO SERVIÇO SOCIAL

2.1 Conhecimentos Científicos que Embasam a Prática do


Serviço Social

2.1.1 FENÓMENOS E VARIÁVEIS SIGNIFICATIVOS


PARA A P R A T I C A DO SERVIÇO SOCIAL

F o i d i s c u t i d o , i n i c i a l m e n t e , o p r o b l e m a dos critérios a
serem seguidos n o exame dos fenómenos e variáveis sig-
n i f i c a t i v o s p a r a a prática d o serviço social. Decidiu-se i n i -
s
i
Ca

QUADRO B 1

QUADRO D E FENÓMENOS E VARIÁVEIS SEGUNDO


O CRITÉRIO D E NECESSIDADES E PROBLEMAS

ESPECI- NECESSI- PROBLEMAS


ESPECI- NECESSI- PROBLEMAS DADES
FICAÇÃO
FICAÇÃO DADES
B a i x a r e n d a , má distribuição d a r e n d a
B a i x o s níveis sanitários Sistema Renda
Níveis de Saúde Pauperismo
Carência e m á utilização d e r e c u r s o s de
Vida Padrões d e c o n s u m o inadequados
D i f i c u l d a d e de a c e s s o a o s r e c u r s o s e x i s t e n t e s Relações

Alimentação Carência a l i m e n t a r Integração Marginalidade estrutural


A l t a incidência d o gasto a l i m e n t a r n o orça- Social Estratificação s o c i a l
mento familiar Ausência d e participação social
Padrões a l i m e n t a r e s i n a d e q u a d o s G r u p o s minoritários
Migrações d e s o r d e n a d a s

Habitação Deficit habitacional


Más condições h a b i t a c i o n a i s Mudança Paternalismo
Ausência e insuficiência do equipamento Cultural D e f a s a g e m d e v a l o r e s e padrões
urbano culturais
Educação Analfabetismo Massificação
Evasão e s c o l a r e b a i x a e s c o l a r i d a d e C o n f l i t o e indefinições d o
Despreparo profissional valores
D e s p r e p a r o p a r a integração n a s o c i e d a d e e m P e n s a m e n t o mágico
transformação
Inadequação do s i s t e m a e d u c a c i o n a l Desorganização e
Transformação
Segurança Desemprego e subemprego Institucional familiar
Serial C a t e g o r i a s p r o f i s s i o n a i s não a t e n d i d a s p e l a Clientelismo
Previdência S o c i a l Imediatismo e
Atendimento d e f i c i e n t e e i n s u f i c i e n t e dos de tomada
beneficiários d a Previdência S o c i a l Conflitos e
Insuficiência d e s i s t e m a d e a m p a r o l e g a l relações d o
Distorções n o s i s t e m a d e proteção l e g a l
F a l t a de recursos p a r a o lazer Comunicação
Inadequação d a s o p o r t u n i d a d e s e condic&es Social

Substituição d e padrões d e lazer


2.1.2 C O N H E C I M E N T O S JÁ E L A B O R A D O S P E L A S CIÊN-
CIAS SOCIAIS

Feita a listagem inicial dos fenómenos e variáveis da


prática profissional, foram analisadas as áreas de conhe-
cimentos pertinentes a cada fenómeno e variável. Partindo-
se da categorização dos problemas segundo os diversos
setores de necessidades, foi procurada a identificação das
ciências que oferecem conceituações desses problemas.
F o i considerado, entretanto, que, p a r a análise mais com-
pleta das ciências ou áreas de conhecimentos que fornecem
explicações p a r a os fenómenos e variáveis da prática pro-
fissional, torna-se imprescindível distinguir os níveis em
que esses mesmos fenómenos e variáveis podem ser consi-
derados. F o i , por isso, adotado u m esquema de distinção
e m 3 níveis de atuação:
a) Prestação direta de serviços.
b) Administração de serviços sociais.
c ) Planejamento de serviços sociais.
Procedendo à análise da relação entre os problemas e
necessidades e as diversas áreas de conhecimentos já defi-
nidos, chegou-se, finalmente, a u m esquema de classificação
dos conhecimentos básicos pertinentes à prática de serviço
social, conforme a relação que se segue:

a) Prestação direta de Serviços

Área geral

E c o n o m i a , psicologia, psicologia social, dinâmica de


grupo, antropologia cultural, sociologia das institui-
78 CBCISS Teorização do Sero. Social 79

COes, sociologia d a comunicação, sociologia urbana, Setorial


sociologia do desenvolvimento, teoria d a educação de
base, teoria d a comunicação, teoria do planejamento, E c o n o m i a , antropologia cultural, filosofia da •duca*
teoria administrativa, ciência politica, legislação social, ção, demografia, sociologia da educação, sociologia da
estatística, filosofia e ética. previdência, sociologia do lazer, sociologia dai insti-
tuições, sociologia urbana, planejamento dos recursos
humanos, instituições de direito, ciência politica, filo-
Área especializada sofia e ética, teoria administrativa, teoria do planeja-
mento, urbanismo, ecologia, sociologia do desenvolvi-
Higiene e saúde pública, psicopatologia, nutrição, eco- mento, política social, pesquisa, estatística.
n o m i a doméstica, sociologia d a previdência, sociologia
do lazer, pedagogia e didática, legislação social, teoria
d a educação de base, teoria d a recreação, dinâmica 2.1.3 C O N H E C I M E N T O S JÁ E L A B O R A D O S O U Q U E O
de grupo. P O S S A M S E R , N O C A M P O D A PROFISSÃO, P E L O
PROFISSIONAL OU POR QUALQUER C I E N T I S T A
SOCIAL
b) Administração de Serviços Sociais
A enumeração dos conhecimentos deste item teve como
pressuposto metodológico as constatações de fato no cam-
Economia, antropologia cultural, sociologia do desen- po profissional.
volvimento, sociologia das instituições, teoria d a edu- C o m o objetlvo de abrir perspectivas p a r a a investigação
cação de base, instituições de direito, ciência política, no campo profissional, as áreas de conhecimento foram
filosofia e ética, teoria da comunicação, teoria admi- classificadas e m " p a r a " , " e m " , e " s o b r e " o serviço social.
nistrativa, demografia, teoria do planejamento, teoria — O s conhecimentos para o serviço social referem-se
do desenvolvimento, pesquisa, estatística, política àqueles que servem como elemento básico e propedêutico
social. ao estudo do serviço social.
— O s conhecimentos em serviço social relacionam-se
c o m a profissão e m suas atividades teóricas e práticas. São
c) Planejamento de Serviços Sociais
conhecimentos instrumentadores tia prática.
— O s conhecimentos sobre o serviço social têm-no co-
Global m o objeto de investigação específica.
P a r a fins didáticos, foram anotados os níveis teórico
E c o n o m i a , antropologia cultural, sociologia das insti- e prático relativos a cada classe de conhecimentos. E s t a
tuições, sociologia urbana, planejamento dos recursos divisão não desconhece a relação dinâmica entre os dois
humanos, instituições de direito, ciência política, filo- níveis. Não se trata, também, de u m a listagem de disci-
sofia e ética, teoria administrativa, urbanismo, socio- plinas, m a s da enumeração de áreas de conhecimentos que
logia do desenvolvimento, teoria do desenvolvimento, podem configurar u m a ou m a i s disciplinas, podendo ainda
politica social, pesquisa, estatística, demografia, teoria desdobrar-se e m outras.
do planejamento. O assunto pode ser visualizado n o quadro que se segue:
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QUADRO B 2

ESPECIFICAÇÕES DA M E T O D O L O G I A DO SERVIÇO SOCIAL


SEGUNDO OS CRITÉRIOS MAIS USADOS *"

OBJETIVOS PROCEDIMENTO
SISTEMA-CLIENTE OPERACIONAIS VARIÁVEIS D A INSTRUMENTOS LÓGICO F A C E A
SITUAÇÃO H U M A N A NÍVEIS D E A T U A Ç A O
DO MÉTODO DE TRABALHO SITUAÇÃO S O C I A L -
PROBLEM A
I. Tradicional Tradicional
Araxá
1. S . S . C a s o Prestação S . S . C a s o O Homem f„ _
S. S . G r u p o d i r e t a de S . S . G r u p o A base d a 1 S. S. „ J Política S o c i a l Documentos
S. S. Comunidade serviços S. S. C o m u - Entrevista "^Caso Macro ^Planejamento preparatórios
nidade d e Teresópolis
2. S . S . C a s o
ESPECIFICAÇÃO

S. S . G r u p o
S. S . Comunidade 3 O Homem J s. S . (Administração
Pesquisa Social o A base d a / S. S .
e m grupo \Grupo Reunião \ Grupo •\ d e B e m - E s t a r Diagnóstico
Administração d e Previsão d e w

'•Social
Bem-Estar Social dados e a u

recursos para g3
II. Araxá a prestação tn$ u
de serviços ça g A base d a 1 p
O Homem em f ^- f Prestação O
S. S . Caso comunidade 1 Comu- Pesquisa
S. S . G r u p o '-nidade Micro -i d i r e t a d e Intervenes*
Des. C o m u n i d a d e
S . S . c/Populações
lí Coordenação | ^,°. ";m
'-serviços W
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j) V de esforços e <lade
nl
U%
S. S . c/Organizações recursos [ 01
Curativo '
Preventivo g tn
III Instituto Social Construtivo 5
S i o Paulo <
Nota: O documento admite
S. S. Caso que D C e S S R com popu-
S. S. Grupo lações p o d e s i t u a r - s e t a m -
S. S. Comunidade bém n a macroatuaçio.
S. S. Societário
S. S. Institucional
1
Teorização do Serv. Social 81
2.2 APRECIAÇÃO D O S CRITÉRIOS E DAS ÍJUWDAW-
C I A S Q U E V Ê M O R I E N T A N D O A FORMULAÇÃO
D A M E T O D O L O G I A D O SERVIÇO SOCIAL»

O estudo desse item p a r t i u d a análise de u m quadro


sobre a s especificações d a Metodologia do Serviço Social,
segundo os critérios m a i s usuais. (Quadro B 2 )

A N A L I S E D O QUADRO

A análise do quadro suscitou a s seguintes conside-


rações:

SISTEMA-CLIENTE

Discutidos os esquemas de categorização dos métodos


de serviço social oferecidos pela corrente tradicional, que
se i n s p i r a n o modelo americano, a s s i m como os formu-
lados pelo Seminário de Araxá e pelo Instituto de Serviço
Social de São Paulo, conclui-se que a apreciação d a meto-
dologia do Serviço Social não pode s e r feita, exclusiva-
mente, a partir do critério de identificação do " S i s t e m a -
C l i e n t e " o u "Unidade-Cliente".
A apreciação d a metodologia, segundo esse critério —
sistema-cliente — limita a questão quase que exclusiva-
mente ao nível d a prática direta, impedindo que se consi-
derem válidos outros níveis de atuação. A s s i m , concluiu-se
que, embora o enfoque de análise seja válido, ele deve
ser considerado como parte de u m esquema m a i s amplo
e m que se distingam, preliminarmente, os diversos níveis
de atuação do serviço social.

OBJETIVOS OPERACIONAIS D O MÉTODO

N a discussão dessa variável, reconheceu-se que, não


obstante seja necessária a especificação dos métodos, não

1
O Grupo B pretendeu inicialmente fazer uma análise mais completa,
mas, por premência do tempo, somente foram arrolados e analisados o i
critérios mais usuais de especificações da Metodologia do Serviço Social.
I min ll Illlililil

Teorização do Serv. Social iS


CBCISS
Duas questões foram preliminarmente oolOoadM;
« d i t e m elaborações suficientes a este respeito. Conside-
— especificação dos métodos de serviço aoolftl t o t Otda
rou-se, p o r exemplo, que, ao se tratar dos objetivos d a
nível de atuação;
prática, os mesmos são determinados no próprio momen-
to da intervenção. Portanto, tentar determinar objetivos — definição e esclarecimento dos conceitos de " m i o r o "
permanentes, que s i r v a m de critérios p a r a especificar e " m a c r o " n a atuação do serviço social.
métodos, requer que se proceda à categorização dos pró- A s formulações do Documento de Araxá sobre a pri-
prios objetivos. E m face das análises feitas, concluiu-se m e i r a questão, utilizadas e m documentos do C F A S , " são
pela não apreciação da metodologia do serviço social se- merecedoras de reexame a f i m de melhor precisarem os
gundo esse critério. critérios de categorização.
A análise dos conceitos da segunda questão, " m i c r o "
V A R I Á V E I S D A SITUAÇÃO HUMANA e " m a c r o " , partiu do modelo proposto e m u m dos do-
cumentos preparatórios deste Seminário, segundo o qual
3

estes dois níveis de atuação podem ser categorizados a


Também e m relação a esse critério não existe elabo-
partir dos seguintes aspectos:
ração suficiente. A perspectiva do " h o m e m individual-
mente", o " h o m e m e m g r u p o " e o " h o m e m e m comuni-
dade", como quadro de referências p a r a apreciação das Nível macro — noções de:
variáveis, apresenta u m a tónica psicologista e predomi-
nantemente ligada à microatuação. Apesar dessa limita- — magnitude (grande)
ção, o critério foi reconhecido como válido, necessitando — agregação
ser pesquisado e formulado de m a n e i r a a superar essas — ausência de relação direta entre o agente profissio-
limitações. F o i lembrado que a perspectiva adotada ba- nal e o sistema-cliente no processo de prestação de
seou-se fundamentalmente n a variável "agrupamento". serviços
Torna-se imprescindível considerar outras variáveis co-
mo: "equipamento", "necessidades e p r o b l e m a s " e " e s t r u -
Nível micro — noções de:
turas".
— magnitude (pequeno)
INSTRUMENTOS D E TRABALHO — individualização ou alcance social restrito
— presença d a relação direta entre o agente profissio-
Analisando esse critério, concluiu-se não s e r o mesmo nal e o sistema-cliente no processo de prestação de
pertinente à análise da especificação do método de servi- serviços
ço social por referir-se ao aspecto operativo do método,
A discussão do assunto levou à formulação de outro
ou seja, às técnicas que instrumentam s u a aplicação.
modelo que ressalta duas variáveis básicas:
— Nível de decisão — global e setorial;
N Í V E I S D E ATUAÇAO — Volume de intervenção.

Inicialmente, reconheceu-se que a categoria "níveis de


atuação" é u m dos critérios válidos p a r a a especificação 2 Conselho Federal de Assistentes Sociais, CFAS. Resolução n." 3, de
dos métodos de serviço social, e que a distinção dos níveis 25/10/1968.
3 DANTAS, José Lucena, "Teoria metodológica, uma abordagem cientí-
e m " m i c r o " e " m a c r o " , conforme proposto no Documen-
fica".
to de Araxá, é u m a abordagem adequada.
Teorização do Serv. Social 86
84 CBCISS
Discutindo a validade do esquema de oonotltutgfto dai
Nenhum dos dois modelos foi totalmente aceito. R e - fases predominantemente de conhecimento, rtCOnheotU*M
conhece-se, a s s i m , que o s conceitos de " m i c r o " e " m a c r o " que o mesmo é insatisfatório. Verificou-se qut, na pffAtlca,
necessitam estudos e m maior profundidade a p a r t i r d a a autonomização das fases de estudo, diagnóstico • prog-
correlação entre a s variáveis ressaltadas. nóstico tem levado o assistente social a dedioar-it, predo-
minantemente, à coleta e análise de dados s e m , multai
vezes, formular de modo consistente u m diagnóstico OOm
P R O C E D I M E N T O LÓGICO P A C E o respectivo prognóstico. Acresce, também,-que até 0 mo-
A SITUAÇÃO S O C I A L P R O B L E M A mento, os assistentes sociais não receberam o instrumen-
tal necessário p a r a a elaboração do diagnóstico que é feito
Reconheceu-se a dificuldade d a abordagem d a " s i t u a - n u m processo dinâmico de aproximações sucessivas.
ção social problema", como critério d a especificação me-
O s documentos apresentados ao Seminário p r o c u r a r a m
todológica, porquanto essa questão, necessariamente, leva
mostrar as inconsistências do esquema tradicional, tendo
ao debate do objeto do serviço social. Concluiu-se que,
alguns, inclusive, proposto que todas essas fases fossem
apesar do objeto condicionar a determinação dos méto-
conceituadas como de "diagnóstico".
dos, este fato não impede que se trate do problema me-
Apreciando a questão, julgou-se válido que se buscas-
todológico e que o tratamento d a s duas questões pode e
sem, n a estrutura do método científico, contribuições para
deve s e r conduzido, concomitantemente, n u m esclareci-
o esclarecimento do assunto. Assim, n u m a p r i m e i r a apro-
mento mútuo dos diversos problemas. D e qualquer forma, ximação do problema, as operações que constituem esta
deixou-se de entrar n a análise d a s "situações sociais pro- fase poderiam ser compreendidas dentro do seguinte es-
b l e m a s " como critério de especificação, p o r considerar-se quema:
que a questão do objeto ainda não está suficientemente
aclarada n a teoria d a profissão. Ao nível da constatação
A adoção do "procedimento lógico" face a s variáveis
significativas p a r a o serviço social, como critério p a r a es- E n u m e r a r e descrever
pecificação d a metodologia do serviço social, conduz à
discussão do problema d a estrutura lógica e operacional Ao nível da explicação
do método do serviço social. O tratamento do assunto, C o m p a r a r e distinguir
ao nível d a profissão de serviço social, requer esclareci- Classificar e conceituar
mento de aspectos e conceitos que devem s e r buscados Relacionar as variáveis (hipóteses)
n a história e n a filosofia das ciências. Ao nível d a profis- Sistematizar (teoria)
são, reconheceu-se que a s colocações tradicionais subdi-
Singularizar
videm o método e m diversas fases que, e m última instân-
Prever a s tendências
cia, podem ser agrupadas e m duas grandes categorias:
— fases predominantemente de conhecimento:
— fases predominantemente de ação. Fases predominantemente de ação

Nesta categoria incluem-se as fases geralmente concei-


Fases predominantemente de conhecimento
tuadas como: plano de tratamento — tratamento — pla-
nejamento e implementação — formulação dos planos —
Nesta categoria incluem-se a s fases geralmente concei- tratamento o u execução.
tuadas como estudo, diagnóstico e prognóstico.
Teorização do Serv. Social 87
CBCISS
86
Analisando a terminologia do esquema tradicional e c o m E n u m e r a r e descrever
base no pressuposto de que existe u m conjunto de ope- . C o m p a r a r e distinguir
rações predominantemente práticas no método profissio- , Classificar e conceituar
nal, aceitou-se o conceito de intervenção planejada, trazido
4, Relacionar as variáveis
ao Seminário e m alguns documentos preparatórios, p a r a
denominar essa categoria de operação. V 6. Sistematizar
Segundo u m dos documentos preparatórios, a inter- 4 • 8. Singularizar
venção planejada constituiu-se e m u m a série de operações 1
7. I n d i c a r a viabilidade ou prever a s tendências
racionalmente preparadas, e m cujo processo dinâmico
8. P r e p a r a r as ações
poder-se-iam distinguir três momentos:
— preparação das ações è. Executar
— execução efetiva 10. Avaliar
— avaliação
Ainda segundo o mesmo documento, nesse processo en- T E M A 3: APLICAÇÃO D A M E T O D O L O G I A
contram-se implícitos os seguintes raciocínios: integran- D O SERVIÇO S O C I A L
te — pro jetante — experimental.
N a discussão do assunto, concluiu-se sobre a necessi- Na apreciação do T e m a 3 não foi seguido o esquema
dade de afirmar o sentido do termo "intervenção" n u m a reformulado pelo plenário. O G r u p o B preferiu que a
perspectiva científica ( a expressão v e m sendo u s a d a nas matéria fosse ordenada como se segue:
ciências sociais) e a importância de ser aprofundado o
estudo sobre s u a viabilidade intrínseca. 1.1 — Metodologia aplicável ao nível de planejamento
A s proposições existentes foram consideradas insufi-
3.2 — Metodologia aplicável ao nível de administração
cientes. F o i reconhecida, portanto, a necessidade de maio-
res investigações sobre o assunto. e m serviço social.
Discutiu-se, também, a relação entre "intervenção" e 3.3 — Metodologia aplicável ao nível de prestação de
"diagnóstico", considerando-se que, n o plano lógico, o diag- serviços diretos.
nóstico e a intervenção são dois momentos autónomos que
integram o método profissional: o conhecer e o agir. No O planejamento foi considerado como o procedimento
plano operacional, porém, esta questão ainda é discutível que orienta a tomada de decisões politicas racionais, c o m
e deve ser aprofundada. vistas ao desenvolvimento.
Concluiu-se que, e m serviço social, a complexidade das Neste sentido, concebe-se o planejamento como u m pro-
variáveis de nível quantitativo f o r m a m u m a rede que difi- Ofiso integrado e interdisciplinar, no qual se inclui a disci-
culta a correlação entre os dois momentos: conhecimento p l i n a do serviço social.
e ação. O papel do serviço social no referido processo se des-
Como resultado das reflexões, a ser utilizado no estudo d o b r a n a s u a presença efetiva n a s etapas técnicas de: a )
no próximo item — Aplicação da metodologia do serviço •laboração de planos e b ) estabelecimento d a participação
social — foram identificadas a s seguintes operações: d a população no planejamento através de suas organiza-
ções representativas.
O processo de planejamento compõe-se de quatro eta-
* D A N T A S , José L u c e n a — O b r a citada. pas sucessivas, de natureza política, técnica, administrati-
Teorização do Serv. Social 89
88 CBCISS
Quanto à I N T E R V E N Ç Ã O , pode-se formular o seguinte
v a e técnico-administrativa, correspondente aos seguintes quadro hipotético:
passos:
— definição de políticas Categorias de intervenção Categorias de intervenção
— elaboração de planos utilizáveis e m em planejamento, utilizáveis
— implantação dos planos Serviço Social pelo Serviço Social
— controle e avaliação. Estabelecer hipóteses Formulação dos objetivos
operacionais e definição de metas e
F o i estudado, apenas, o papel do serviço social n a etapa F o r m u l a r opções prioridades
técnica de elaboração dos planos, que pode compreender
F o r m u l a r diretrizes e Estabelecimento de padrões
as seguintes fases:
normas e normas de sistemas e
serviços
a) Identificação de necessidades e aspirações;
b) Identificação de recursos; Mediatizar as hipóteses, Detalhamento de programas
c) Diagnóstico; opções, diretrizes e e projetos
d)Formulação de objetivos e definição de^ metas e normas
prioridades;
e) Estabelecimento de padrões e normas de sistemas N o processo de planejamento, a intervenção se situa
e serviços; em dois momentos: decisão e execução. O primeiro corres-
t) Detalhamento de programas e projetos. ponde à etapa de elaboração de planos (de natureza téc-
Destas fases, as primeiras parecem referir-se m a i s dire- n i c a ) e o segundo à etapa de implantação (de natureza
tamente ao diagnóstico profissional, e as três últimas à administrativa).
área d a intervenção. No processo de planejamento, a etapa de controle e
avaliação constitui u m a categoria autónoma, não se in-
Quanto ao DIAGNÓSTICO, sugerem-se, como hipótese cluindo especificamente no momento de intervenção do
de trabalho, considerações sobre o seguinte quadro: serviço social.
A atuação específica do serviço social no diagnóstico
Categorias de diagnóstico Categorias de diagnóstico, e n a intervenção e m planejamento não foi aprofundada,
aplicáveis e m em planejamento, utilizáveis sendo entretanto reconhecida sua importância.
Serviço Social pelo Serviço Social A metodologia e o conteúdo do planejamento social
estão ainda e m elaboração, inclusive p a r a o setor de ser-
E n u m e r a r e descrever Identificação de necessida- viços sociais no planejamento integrado. 8

des e aspirações
Identificação de recursos
• H á conhecimento de que no U N R I S D estão em elaboração eitudoi de
C o m p a r a r e distinguir indicadores sociais com vistas ao planejamento para o desenvolvimento
Classificar e conceituar social, por ex. D R E W N O S W S K Y , lean, " L e s facteuri économlquei el
:

sociaux du dévéloppement", Genève, U N R I S D , 1966,


Relacionar as variáveis es- Diagnóstico Para estudo da matéria foram sugerido» o» seguintes documentos prepa-
tabelecendo as hipóteses ratórios ao Seminário de Metodologia do Serviço Social, publicações do
Sistematizar C B C I S S , 1969:
Singularizar — G O D I N H O , Marta Teresinha — S P . "Diagnóstico e intervenção a
nível de planejamento, incluindo situações globais e problemas específicos".
Prever tendências
90 CBCISS Teorização do Serv. Social 91

3.2 — Metodologia aplicável ao nível de administração em E s t e procedimento resultou n a elaboreçlo do quadro


Serviço Social que s e segue:
O tema foi elaborado a partir da contribuição oferecida
por u m dos documentos preparatórios do Seminário.* 1
PROCESSO ADMIMltVBAtlVe
PROCESSO LÓGICO
P a r a fins de estudo, foram elaboradas as seguintes con-
ceituações: — Levantamento de dadoi slgnlMa*
Coleta de Enumerar
Diagnóstico — Conjunto de operações visando à coleta e dados e descrever
— Análise d e documentação d e f e r v i -
à interpretação de dados, à luz de hipóteses p a r a deter- ço s o c i a l
minação dos objetivos dos programas, metas e projetos. Z c ^ M u l t a s " » técnicos s d m l n l s t r a d o -
r e t e e l e m e n t o s d a população
Intervenção — Conjunto de operações administrativas vi- - A n á l i s e bibliográfica
sando à execução e à avaliação de resultados. — C o n s u l t a s a fontes secundária»

As diversas operações do processo administrativo foram


enquadradas nas várias fases do procedimento lógico. ( V e r Comparar
Diagnóstico s o c i a l p r o p r i a m e n t e dito:
Estabeleci-
p. 91.) mento de e distinguir
hipóteses
_ conhecimento das necesiidades d »
Classificar
3.3 Metodologia aplicável ao nivel da prestação de ser- • conceituar
população, aspirações, « O ^ ^ v a a .
demandas, processos de p a r t i c i p a -
viços dtretos ção s o c i a l
1
— Inventário d o s r e c u r s o s h u m a n o s ,
O procedimento lógico foi adotado como hipótese de Relacionar m a t e r i a i s e f i n a n c e i r o s existente»,
a s variáveis
trabalho p a r a a exploração do diagnóstico e d a intervenção Sstenuts d e a t e n d i m e n t o , fórmulas
Já e m p r e g a d a s
do serviço social ao nível d a prestação de serviços di retos. Singularizar

A seguir, foram analisadas as três modalidades d a prá- . Disposições d o p l a n e j a m e n t o n a c i o -


Prever nal; regional, setorial que se r e l a -
tica, n a concepção tradicional: caso, grupo e comunidade. tendências
cionam com o programa e/ou c o m
T a l posição não significou aceitação de " c a s o " , " g r u p o " e a área d e atuaçao
" c o m u n i d a d e " como métodos de serviço social, n e m a i m -
possibilidade d a identificação de outros métodos. Plano de açío:
Preparação d a a c t o — Programas e Projeto.7
Aplicando o modelo p a r a a identificação d a estrutura Organização
lógica do diagnóstico aos níveis de " c a s o " , " g r u p o " e " c o -
munidade", concluiu-se que:
Direção:
Execução — Implantação
_ Coordenação
— F E R R E I R A , Francisco de Paula —- G B . "Planejamento Económico e — Supervisão
Social. Semelhanças e diferenças". — Motivação
— B A P T I S T A , M y r i a m V e r a s — P R . "Diagnóstico e intervenção a nível — Treinamento
de planejamento incluindo situações globais e problemas específicos".
— FAUSTINT, Gino. "A programação dos Serviços. Reflexões sobre
C o n t r o l e e avaliação:
Metodologia". Avaliação _ Sistema» d » p r o c e s s a m e n t o de i n
— CORNELY, Seno A. — R S . "Planejamento Local Integrado no formações
Brasil". — S i s t e m a s d e avaliação

C H A M U Z E A U , Jocelyne Louise. "Diagnóstico e Intervenção a nível de


8

Administração em Serviço S o c i a l " — S P . C B C I S S , 1969. k M . d o s u t e m . cuente, d . .ituaeío problema, d o . objetivo, d . entidade.


T A
92 CBCISS Teorização do Serv. Social 93

a) ao nível de " c a s o " e d e " g r u p o " , o modelo subespe- d) a operação prever as tendéneiat (oorrMpondfQdO
cifica e m demasia as operações a s e r e m realizadas, a prognóstico d a terminologia trididonal) ttrla
tornando extremamente difícil a tarefa de diagnos- mantida;
ticar;
e) no momento de enumerar e descrever Já M tornam
b) a o nível de "comunidade", existe u m a metodologia necessárias hipóteses preliminares de diagnôItlOO.
de pesquisas que v e m sendo utilizada e que não
reflete, necessariamente, o modelo. A adequação do Analisando as operações propostas ao nível de interven-
modelo, s e m o exame dessa metodologia, seria i m - ção, conclui-se que:
profícuo.
a) as operações sugeridas — preparação da ação, eie«
Refletindo sobre as dificuldades encontradas, no esforço cução e avaliação — correspondem às operações
de identificar a estrutura lógica do diagnóstico, segundo conhecidas, tradicionalmente, sob os títulos de: pla-
o modelo proposto, conclui-se que: no de tratamento, execução ou tratamento e ava-
liação;
a) todas as operações previstas supõem u m quadro
b) as dificuldades encontradas n a aplicação do modelo
teórico de explicação dos fenómenos e variáveis e
na fase de diagnóstico repetem-se n a fase d a inter-
que, s e m a definição desse quadro teórico, o modelo
venção de vez que é necessário, também, u m quadro
não permite u m a reflexão a nível concreto, e exem-,
plificativo; teórico explicativo das variáveis ocorrentes n a inter-
venção;
b) não seria correto tomar como quadro de referên-
c) não há, entretanto, necessidade de alterar as cate-
cias u m a ou outra corrente teórica do serviço so-
gorias propostas n o modelo inicial.
cial, aprioristicamente escolhida, a s s i m como nãp
seria correto permanecer a u m nível de abstração
lógica que o próprio modelo representa. E s t e raciocínio conduziu à formulação de u m novo
quadro:
Tentando m i ni m i z a r as dificuldades encontradas n a apli-
cação do modelo n a fase diagnostica, foram analisadas as
diversas operações propostas e conclui-se que: Identificar e descrever
Classificar
Diagnóstico E x p l i c a r e compreender
a) n a operação enumerar e descrever não se prescinde
Prever tendências
de u m a operação de identificar os dados e a subdi-
visão enumerar pode ser reduzida a descrever; a
Preparação d a ação
p r i m e i r a etapa p a s s a a apresentar-se, então, como
Intervenção Execução
identificar e descrever;
Avaliação
b) a s operações comparar e distinguir e classificar e
conceituar podem ser reduzidas a u m a única —
classificar;
Recomenda-se que este quadro seja analisado, e m ou-
c) a s operações relacionar as variáveis e singularizar tras oportunidades, sob os pontos de vista teórico e ope-
podem s e r reduzidas a u m a operação m a i s global, racional, partindo-se, sempre, de u m embasamento teórico
que seria explicar e compreender; suficientemente explicitado.
riUIlG.

94 CBCISS

Balbina O. Vieira — GB
Gisela Bezerra — GB
Helena Iracy Junqueira — SP
José Lucena Dantas — DF
Leda Del Caro — MG
Maria Augusta de Luna Albano — GB
Maria Helena M. Duarte — MG
Marília Diniz Carneiro — GB
Marisa Meira Lopes — GB OBSERVAÇÕES S O B R E O RELATÓRIO D O G R U P O B
Marta Teresinha Godinho — SP
Mary Catherine Jennings— USA Quanto às observações solicitadas pelo C B C I S S sobre
Maria Nazaré Moraes — BA o Relatório do G r u p o B , gostaria de ressaltar que o esque-
Suzana Medeiros — SP m a apresentado p a r a o diagnóstico e a intervenção, por
Tecla Machado Soeiro — GB força da premência do tempo, não pôde ser aprofundado.
Vicente Faleiros DF Decorre daí que parece demasiadamente rígido, formal,
visto que os próprios conceitos nele contidos estão implí-
citos. Destaco os pontos que seguem p a r a melhor inter-
pretação do esquema.
— N a realização do diagnóstico, ao enumerar e descre-
ver, estão e m jogo os seguintes elementos:
— u m sistema referencial teórico, segundo o qual os
dados são colhidos. Trata-se de u m conjunto de elementos
próprios do observador, do feixe de hipóteses que adote,
dos critérios de seleção que aplique. Isto conecta este
nível c o m o seguinte de explicação. O s conceitos não são
próprios e exclusivos de u m a "explicação", m a s elementos
fundamentais n a própria descrição;
— u m sistema instrumental de mensuração, pelo qual
São quantificadas as variáveis e m observação. P a r a isto
torna-se necessária a operacionalização das variáveis da
prática do Serviço Social e m indicadores e índices;
— a s necessidades, e m termos operacionais, hão de
exprimir-se, indutivamente enumeradas e instrumentali-
zadas p o r suas características externas.
— A hipótese de diagnóstico se distingue da hipótese
operacional. A p r i m e i r a compreende a relação "fator-fun-
ção", "causa-efeito" ou "condição-aparecimento". O termo
fator significa a condição necessária, suficiente ou coope-
rante do aparecimento de u m fenómeno. A hipótese ope-
racional significa a relação "meio-fim", "caminho-objetivo".
96 CBCISS

No entrelaçamento dos dois tipos de hipóteses interligam-


se também diagnóstico e ação.
— A s hipóteses de diagnóstico objetivam, justamente,
estabelecer o nexo de interdependência entre as variáveis,
isto é, entre os indicadores das necessidades, ressaltando
aqueles que intervêm no maior número, destacando as
variáveis de ação.
— Diante dos objetivos a alcançar e do diagnóstico sur-
gem caminhos alternativos, ou sejam, hipóteses opera-
cionais.
— O termo sistematizar (teoria) sugere a inserção de RELAÇÃO D O S D O C U M E N T O S PREPARATÓRIOS
u m a análise n u m conjunto global e estrutural, isto é, n a
própria teoria, por exemplo, a do Desenvolvimento e do
Subdesenvolvimento. Baseados no ternário preliminar foram elaborados os
— O planejamento implica e m singularizar e prever trabalhos preparatórios, cuja relação damos a seguir, reu-
tendências, quando se colocam as metas físicas da ação. nidos de acordo c o m o tema a que se referem.
É preciso então levar e m conta:
— o volume do trabalho TEMA I
— o produto final
1. Teoria do diagnóstico e da intervenção em Serviço
— os benefícios
Social
— os meios
A intervenção em Serviço Social
O volume do trabalho se exprime seja pelas atividades
totais, quantificadas de preferência, sendo o produto final 2. Teoria do diagnóstico e da intervenção em Serviço
apenas o resultado e que e m termos de benefícios signi- Social
fica a realização do atendimento ou satisfação de u m a O diagnóstico em Serviço Social
necessidade.
Quanto aos meios, é preciso estabelecê-los e m termos Introdução ao método. Teoria do diagnóstico social.
de hipóteses operacionais. Formas de intervenção na realidade.
— A execução não constitui u m momento isolado do A L M E I D A , A n a Augusta — M i m . 24 fls.
planejamento, da conceituação. Nela e por ela é que se Introdução à metodologia. Teoria do diagnóstico e da
põem à prova as hipóteses operacionais, os conceitos, as
intervenção em Serviço Social
variáveis de diagnóstico operacionalizadas. A s leis cientí-
C O S T A , Suely Gomes — Debates Sociais, Suplemento
ficas, nomológicas, podem s e r aplicadas n a execução, nela
se verificando as " l e i s da ação", nomopragmáticas. n.° 4, 1970.
A teoria metodológica do Serviço Social. Uma aborda-
T e n h o certeza de que as contribuições deste Seminário
engendrarão a reflexão sistemática, justamente p o r não gem sistemática.
se considerarem definitivas, m a s u m a aproximação provi- D A N T A S , José L u c e n a — Debates Sociais, Suplemento
sória. n.° 4, 1970.
Teoria do diagnóstico e da intervenção em Serviço
Social: a intervenção em Serviço Social; o diagnóstico
Vicente Faleiros em Serviço Social.
J U N Q U E I R A , Helena I r a c y — M i m . 11 fls.
CBCISS Teorização do Serv. Social 99

Levantamento da situação atual e tendências do Ser- Diagnóstico e intervenção ao nível de prestação dê ser-
viço Social no Brasil nos seus aspectos conceptual e viços diretos a grupos.
operacional. B U G A L H O , Leila Maria Vieira
R E I S , Dulce Botelho
J U N Q U E I R A , Helena I r a c y — M i m . 5 fls.
S I L V A , I l d a Lopes Rodrigues
Bases para a reformulação da metodologia do Serviço
Social. Diagnóstico e intervenção ao nível de prestação de ser-
viços diretos a grupos.
S O E I R O , T e c l a Machado — Debates Sociais, Suple-
M O T T A , E d i t h — M i m . 8 fls.
mento n.° 4, 1970.
Sugestões de roteiro para estudo do tema: diagnóstico
TEMA II e intervenção a nível de prestação de serviços diretos
a indivíduos, grupos, comunidades e populações.
Diagnóstico e intervenção em nível de planejamento Z I L L I O T O , M a r i a Cecília
incluindo situações globais e problemas específicos CAVA N E T O , Luiz
AUR, B . A m i n — M i m . 2 fls.
Aspectos da aplicação das técnicas de planejamento
na atuação profissional dos assistentes sociais. T R A B A L H O S NAO R E L A C I O N A D O S D I R E T A M E N T E
B A P T I S T A , M y r i a m V e r a s — M i m . 13 fls. COM O T E M A R I O P R E L I M I N A R
Planejamento local integrado no Brasil
C O R N E L Y , Seno — M i m . 52 fls. Verbalização e relacionamento em Serviço Social.
Planejamento económico e social. C O R T E Z , José Pinheiro
F E R R E I R A , F r a n c i s c o de Paulo — M i m . 10 fls. R I B E I R O , Arcelina
Diagnóstico e intervenção a nível de planejamento, in- S U Z A N O , Nelson José
cluindo situações globais e problemas específicos. FALCÃO, M a r i a do C a r m o C .
G O D I N H O , M a r t a T e r e z i n h a — M i m . 3 fls. Subsídios para o I I Seminário: Conclusões das reu-
Urbanização e planejamento niões preparatórias realizadas em São Paulo — novem-
G O D I N H O , M a r t a Terezinha — M i m . 16 fls. bro a dezembro de 1969.
G r u p o de assistentes sociais d a E s c o l a de Serviço So-
TEMA I I I cial de S . Paulo — M i m . 4 fls.
Subsidio para o estudo do processo de supervisão.
Diagnóstico e intervenção em nível de administração
J U N Q U E I R A , Helena I r a c y — M i m . 1 fl.
Diagnóstico e intervenção a nível de administração em Montagem de um programa para estágio de aluno do
Serviço Social. ciclo profissional — 1.° ano.
C H A M U Z E A U , Jocelyne L . — M i m . 8 fls. M E L O , Joceline Guimarães — M i m . 6 fls.
Diagnóstico e intervenção a nível de administração em Sugestões para a realização de uma pesquisa de âmbi-
Serviço Social to nacional sobre a situação do Serviço Social no Brasil.
M E L O , Joceline Guimarães
F E R R E I R A , F r a n c i s c o de Paula — M i m . 12 fls. S A N T O S , Antônio Gonçalves dos
B E R L I N K , M a r i a Helena
TEMA IV S I L V A , M a r i a Lúcia Carvalho
Diagnóstico e intervenção em nível de prestação de C A B R A L , M a r i a Carmelita
serviços diretos a indivíduos, grupos, comunidades, R E Q U I X A , Renato
populações
DOCUMENTO DO SUMARÉ

C I E N T I F I C I D A D E DO SERVIÇO SOCIAL

III SEMINÁRIO — 20 a 24 de novembro de 1978


COMISSÃO COORDENADORA DO SEMINÁRIO

Coordenação geral: Leila Maria Vieira Bugalho


Consultores: Anna Augusta de Almeida
Creusa Capalbo
Helena Iracy Junqueira

Grupo de apoio: Maria Augusta de Luna Albano


Maria das Dores Machado

Participantes

Anita Aline Albuquerque Costa


Anna Stella de Andrade Furtado
Balbina Ottoni Vieira
Celina Magalhães Ellery
Dulce Malheiros Araújo
Ilda Lopes Rodrigues da Silva
Jocelyne Louise Chamuzeau
Julia Maria Nin Ferreira
Leila Maria Vello de Magalhães
Lusia Sinval Pinto
Maria Amélia da Cruz Leite
Maria Durvalina Fernandes
Maria da Glória Nin Ferreira
Maria Luiza Testa Tambellini
Maria Madalena do Nascimento
Tecla Machado Soeiro
Terezinha Arnaud
Urana Harada Ono
Zilah Timotheo da Costa
SUMARIO

Introdução
1. O' Serviço Social e a cientificidade
1.1 Documento de base: A cientificidade do Serviço
Social
GRUPO DO RIO DE JANEIRO
1.1.1 Considerações em torno dos questionamentos
levantados sobre o Documento 1.1
1.2 Documento de base: Reflexões sobre o processo
histórico-científico de construção do objeto do
Serviço Social
GRUPO DE SAO PAULO
1.2.1 Considerações em torno dos questionamentos
levantados sobre o Documento 1.2
2. O Serviço Social e a fenomenologia
2.1 Conferência: Algumas considerações sobre a feno-
menologia que podem interessar ao Serviço Social
CREUSA CAPALBO
2.2 Documento de base: Reflexões em torno da cons-
trução do Serviço Social a partir de uma aborda-
gem de compreensão, ou seja, interpretação feno-
menologia do estudo científico do Serviço Social.
GRUPO DO RIO DE JANEIRO
2.2.1 Considerações em torno dos questionamentos
levantados sobre o Documento 2.2
2.3 Roteiro de reflexão: Fenomenologia — Proposições
a serem discutidas pelos grupos.
GRUPO DE SAO PAULO
O Serviço Social e a dialética
3.1 Conferência: Considerações sobre o pensamento
dialético em nossos dias.
CREUSA CAPALBO
3.2 Documento de base: Serviço Social e Cultura — INTRODUÇÃO
uma alternativa para discussão das relações assis-
tente social-clientela,
GRUPO DO RIO DE JANEIRO De 20 a 24 de novembro de 1978, vinte e cinco assistentes
sociais, a convite do CBCISS, reuniram-se no Centro de
3.2.1 Considerações em torno dos questionamentos Estudos do Sumaré, no Rio de Janeiro, com o objetivo
levantados sobre o Documento 3.2 principal de continuar os estudos de teorização do Ser-
3.3 Roteiro de Reflexão: Dialética e Serviço Social. viço Social iniciados em 1967 com o Seminário de Araxá,
GRUPO DE SAO PAULO cujo documento final — o Documento de Araxá — foi con-
siderado por muitos como um marco teórico do Serviço
Social no Brasil. Decorridos dez anos, era desejável reto-
mar esse Documento e possibilitar novos questionamentos
na linha da sistematização teórica por ele iniciado.

PREPARAÇÃO DO SEMINÁRIO
Assim, desenvolveu-se um processo preparatório, de me-
didas e estudos, para o Seminário.
Primeiramente, buscou-se conhecer a opinião de diver-
sos assistentes sociais, em outubro de 1976, através de uma
pesquisa lançada no I I Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais, realizado, naquela data, em Recife.
A seguir, em agosto de 1977, ofícios dirigidos a 276
profissionais solicitaram sugestões sobre a retomada do
Documento de Araxá para um estudo e possível reformu-
lação.
Dessas medidas preliminares, das respostas e sugestões
recebidas, resultaram, em primeiro, a opção pela não alte-
ração do Documento de Araxá e, portanto, pela sua preser-
vação histórica, e, em segundo, a compreensão de novas
proposições, que levaram à identificação de questionamen-
tos básicos. Emergiram, pois, as novas propostas, que
indicam o segundo objetivo do Seminário: ensejar refle-
108 CBCISS Teorização do Serv. Social 109
xões sobre novas proposições que, no momento, estão a É preciso ressaltar a participação bastante ativa e dedi-
exigir um esforço de crítica e formulação teórica. cada dos elementos dos grupos no estudo desses temas.
Foram relacionados três questionamentos interdepen- Quanto ao 3.° objetivo do Seminário — provocar ques-
dentes: tionamentos sobre a viabilidade das proposições face à
Realidade Brasileira — foram convidados especialmente
Questionamento I — O Serviço Social numa perspecti- assistentes sociais, um de cada Estado, para prepararem
va do método científico de cons- documentos relativos a programas desenvolvidos em seu
trução e aplicação do Serviço Estada, indicando: a aplicação de métodos ou teorias; da-
Social. dos sobre a intervenção do Serviço Social; campos de
atuação; escolas e número de assistentes sociais.
Questionamento I I — O Serviço Social a partir de uma Assim, chegou-se ao resultado seguinte:
abordagem de compreensão, ou Recebeu a Coordenação seis trabalhos, elaborados nessa
seja, interpretação fenomenold- fase preparatória do Seminário: três do Rio de Janeiro e
gica do estudo científico do Ser- três de São Paulo (entre estes, dois eram roteiros de refle-
viço Social. xão). Os grupos de Porto Alegre não enviaram nenhuma
Questionamento I I I — O Serviço Social a partir de uma contribuição, embora tivessem realizado diversas reuniões
abordagem dialética, ou seja, teo- preparatórias.
ria de interpretação com base no
método dialético, entendido em Tema-questionamento I
sentido metodológico: a relação
entre o objeto construído por 1. A cientificidade do Serviço Social. (Rio de Janeiro)
uma ciência, o método emprega- 2. Reflexões sobre o processo histórico-científico de
do e o objeto real visado por construção do objeto do Serviço Social. (São Paulo)
essa ciência.
Tema-questionamento II
Foi proposto, então, que a elaboração dos documentos
de base do Seminário, abordando esses três temas, tivesse 3. Reflexões sobre a construção do Serviço Social a
a participação, em grupo, de assistentes sociais. O critério partir de uma abordagem de compreensão, ou seja,
adotado para a localização dos grupos foi a existência de interpretação fenomenológica do estudo científico
Cursos de Mestrado em Serviço Social, recaindo daí a esco- do Serviço Social. (Rio de Janeiro)
lha em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. 4. Roteiro de reflexão: Fenomenologia e Serviço Social.
A Coordenação Técnica do Seminário comunicou-se pes- Proposições a serem discutidas pelos grupos. (São
soalmente com as três capitais mencionadas, em fevereiro Paulo)
e março de 1978, ficando constituídos, em cada uma, três
grupos, para a abordagem dos três temas. Convencionou- Tema-questionamento III
se, também, quanto aos grupos: os membros deveriam ser
assistentes sociais brasileiros; o número de membros seria 5. Serviço Social e Cultura — uma alternativa para
irrestrito; haveria a escolha de um coordenador de grupo, discussão das relações assistente social/clientela.
que seria o elemento de ligação com a Coordenação Téc- (Rio de Janeiro)
nica do Seminário; participariam do Seminário, no máxi- 6. Roteiro de reflexão: Dialética e Serviço Social. (São
mo, seis representantes de cada grupo. Paulo)
110 CBCISS Teorização do Serv. Social 111
Recebeu, também, a Coordenação oito trabalhos relati- em sessão plenária, sobre os questionamentos feitos sobre
vos à Realidade Brasileira e o Serviço Social, que deverão ele.
ser considerados em estudos posteriores para dar conti- O Capítulo I I aborda o Serviço Social e a fenomenolo-
nuidade a este Seminário. gia, e inclui: a conferência inicial, pela Prof. Creusa Ca-
a

palbo, que expõe os aspectos da fenomenologia que podem


O SEMINÁRIO interessar o Serviço Social; o documento de base, prepa-
rado pelo grupo do Rio de Janeiro (ver acima item 3), se-
O Seminário desenvolveu-se dentro da seguinte metodo- guindo-se as considerações feitas, em sessão plenária, em
logia de trabalho. torno dos questionamentos levantados sobre esse documen-
O programa constituiu-se dos três temas básicos rela- to. Inclui ainda o roteiro de reflexão, preparado pelo grupo
tivos aos questionamentos acima referidos: de São Paulo, sobre a abordagem fenomenológica no Ser-
viço Social (ver item 4).
1. O SERVIÇO SOCIAL E A CIENTIFICIDADE. O Capítulo I I I apresenta o Serviço Social e a dialética,
e inclui: a conferência inicial, pela Prof. Creusa Capalbo,
a

2. O SERVIÇO SOCIAL E A FENOMENOLOGIA. sobre o pensamento dialético em nossos dias; o documento


3. O SERVIÇO SOCIAL E A DIALÉTICA. de base, preparado pelo grupo do Rio de Janeiro (ver aci-
ma item 5), seguido das considerações, em sessão plenária,
Estudou-se cada tema, através de: sobre os pontos abordados nos questionamentos sobre o
documento. Inclui ainda o roteiro de reflexão preparado
— conferência: subsídios filosóficos para a reflexão so- pelo grupo de São Paulo sobre o mesmo tema (ver acima
bre o Serviço Social; item 6).
— estudo em grupos: leitura e análise crítica de um ou
mais documentos sobre o tema, levantando-se novos
questionamentos sobre eles;
— sessão plenária: apresentação da síntese dos questio-
namentos levantados sobre os documentos, interpre-
tados pelos redatores dos respectivos documentos.
O Seminário evidenciou principalmente um esforço re-
flexivo, como um processo que continua em aberto, e de-
mandará novos estudos, outros encontros, uma constante
perspectiva crítica. Não houve intenção de chegar a con-
clusões, mas de contribuir para a vitalidade desse processo.
Esta publicação apresenta os trabalhos do Seminário
na ordenação seguinte:
O Capítulo I versa sobre o Serviço Social e a cientifici-
dade, e inclui dois documentos de base. O primeiro, pre-
parado pelo grupo do Rio de Janeiro (ver acima item 1),
seguido da apresentação das considerações, feitas em ple-
nário, sobre os questionamentos levantados sobre o do-
cumento. O segundo, preparado pelo grupo de São Paulo
(ver acima item 2), igualmente seguido das considerações,
O SERVIÇO S O C I A L E A C I E N T I F I C I D A D E
1.1 Documento de Base

A CIENTIFICIDADE DO SERVIÇO SOCIAL


Balbina Ottoni Vieira
Maria Cristina Salomão de Almeida
Maria da Glória Nin Ferreira (Coordenadora)
Maria Teresinha Bruzzi de Andrade
Tecla Machado Soeiro
(Rio de Janeiro)

Apresentação
O presente trabalho, como subsídio para os estudos do
I I I Seminário Nacional de Teoria do Serviço Social, tem
como tema a CIENTIFICIDADE NO SERVIÇO SOCIAL.
O grupo preocupou-se, inicialmente, em conceituar "cien-
tificidade" e para tal partiu do estudo do livro "DINÂMI-
CA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS", nele encon-
trando duas contribuições valiosas:

— a possibilidade de se explicar o que se passa, a nível


fenomenológico, nos fenómenos sociais onde o ho-
mem intervém como agente, através do processo da
ação;
— a possibilidade de serem utilizadas quatro diferentes
abordagens metodológicas para a constituição do
objeto nas ciências sociais.

Sem se preocupar com a indagação se o serviço social


é uma arte ou uma ciência, e não pretendendo apresentar
116 CBCISS
Teorização do Serv. Social 117
uma exemplificação inédita de teorização, o grupo decidiu
tomar como referência uma das construções teóricas do tratados pelos métodos que demonstraram seu valor no
serviço social já realizadas, sendo escolhida a tese de Ho- estudo dos sistemas materiais.
ward Goldstein em seu livro "SOCIAL WORK PRACTICE- Isso não significa que seja necessário "reduzir" os fe-
A UNITARY APPROACH". nómenos humanos a seus substratos biológicos e/ou físi-
Evidentemente, outros autores e obras poderiam ter sido cos, mas tentar explicar o que se passa a nível fenomenoló-
utilizados, tanto para a conceituação de cientificidade gico, i.e., ao nível dos "observáveis" a partir do comporta-
quanto para referenciar o estágio atual da teorização do mento dos constituintes elementares do sistema estuda-
serviço social. Poderiam ser lembrados, entre outros, di- do, por meio de hipóteses estatísticas convenientes sobre
versos autores latino-americanos, a excelente contribuição esses constituintes (o subjacente).
de Harriett M . Bartlett em sua obra já traduzida e publi- Tal redução constituiria uma explicação "real" dos fe-
cada, "A BASE DO SERVIÇO SOCIAL", ou, ainda, a tese nómenos humanos, em termos de fenómenos elementares,
de Anna Augusta de Almeida, "POSSIBILIDADES E LI- estabelecendo uma analogia formal entre o funcionamen-
MITES DA TEORIA DO SERVIÇO SOCIAL", recentemente to de uma entidade física complexa e o de uma unidade
publicada. de comportamento e/ou de uma unidade de interação so-
A escolha recaiu em Goldstein, entretanto, porque sua cial.
obra ainda não é bastante conhecida dos brasileiros e me- A outra possibilidade consiste em renunciar completa-
rece ser divulgada e analisada, pela riqueza de informa- mente a todos os recursos sugeridos pelas ciências da na-
ções e elevado grau de sistematização que oferece, dentro tureza e forjar um instrumental original de análise, adap-
de uma linha simples e atualizada. tado à própria natureza do objeto estudado, i.e., do que
pertence propriamente ao contexto da ação.
Ora, ação não é um processo "em terceira pessoa", pas-
Conceito de cientificidade 1 sível de ser analisado em termos de variáveis, de ser ins-
crito num esquema de exterioridade; é um processo que
Uma grande interrogação se ergue a propósito do es- é a aplicação de um sentido e que é constituído de um ex-
tudo dos fenómenos sociais. Pode-se recorrer nesse do- tremo ao outro por tal aplicação.
mínio aos métodos que mostraram seu valor no domínio Se se quer chegar a um verdadeiro conhecimento da
das ciências da natureza? A própria ideia de um conheci- realidade social, é necessário captá-la (a ação) em sua pró-
mento científico é aplicável quando tratamos de uma or- pria produção, i.e., considerar a ação nela mesma, em sua
dem de realidade, na qual o homem intervém a título efetuação e não em seus efeitos.
essencial enquanto agente? Assim, ao esquema da explicação que utiliza a linguagem
Desde o momento em que a ação desempenha um pa- do sistema, opõe-se o esquema da compreensão que utiliza
pel, existe inevitavelmente referência a motivações, obje- a linguagem do sentido. Cada um desses procedimentos
tivos, valores. Será que essa ordem de realidade é possível traz dificuldades. No primeiro, ao tratar os fatos como
de ser objetivada? Duas possibilidades se apresentam: a coisas, rejeitamos o que é de ordem das significações, das
primeira é encontrar um meio de analisar os fenómenos intencionalidades, das finalidades, dos valores, enfim, tudo
sociais em particular, colocando os agentes entre parên- aquilo que constitui a face interna da ação. Na segunda, o
teses e fazendo aparecer os "sistemas", que poderiam ser caminho da compreensão poderá nos levar de maneira ine-
vitável a uma perspectiva subjetiva.
1
BRUYNE, Paul de, HERMAN Jacques e S C H O O T H E E T E Mare. Qual então o melhor método? O essencial é encontrar
Dinâmica da Pesquisa em Ciências Sociais. Rio de Janeiro, Francisco Alves, um método, graças ao qual seja possível, em princípio,
atingir uma concepção concordante. O que está em ques-
118 CBCISS Teorização do Serv. Social 119
tão neste debate é a ideia de um conhecimento cientifico No entanto, não é possível indicar de modo preciso em
dos fatos sociais. que consistem essas determinações gerais, que caracteri-
Parece que a única noção coerente e precisa de cientí- aam a ideia de cientificidade em sua significação mais ge-
ficidade é adotar o caminho da análise sistemática. ral, pois é apenas no "devir" efetivo da ciência que esta
A cientificidade representa uma ideia reguladora, não ideia se mostra a nós. Portanto, não é possível elaborar
um modelo determinado, considerado elaborado uma vez uma metodologia das ciências humanas, tomando como
por todas, ou em vias de elaboração. O empreendimento norma diretora uma ideia de cientificidade já constituída.
(tal como se desenvolveu no quadro das ciências da natu- Mas se esse esforço não pode ser medido por uma nor-
reza) desenvolveu-se simultaneamente em dois planos: o ma preestabelecida, nem por isso é arbitrário. Ele é leva-
dos conteúdos e o dos critérios, o que significa que sempre do por uma intencionalidade de constituinte que se asse-
se duplicou com sua própria metateoria, sem contudo es- gura de si mesma e descobre suas próprias virtualidades
tar consciente disto. A epistemologia moderna, portanto, no próprio procedimento, no qual se realiza. A pesquisa
representa a passagem ao estado explícito dessa metateo- é sempre tateante, mas ao progredir elabora critérios que
ria imanente: lhe permitem orientar-se de modo cada vez mais preciso,
os quais, aliás, ela não pára de aperfeiçoar, confrontando
— no plano dos conteúdos, vemos o empreendimento de modo crítico os métodos utilizados e os resultados. De
elaborar seus métodos, formular seus princípios, es- um ponto de vista lógico, a aquisição efetiva de um sa-
tabelecer seus resultados; ber é comandada por uma metodologia que obedece, ela
— no plano das normas (critérios), vemos o empreen- própria, a uma norma diretora. Na realidade histórica de
dimento procurar um caminho, tateando, retifican- seu devir, o procedimento científico é ao mesmo tempo:
do-se a si mesmo, abandonando certas vias, orientan- aquisição de um saber, aperfeiçoamento de uma metodolo-
do-se, de maneira cada vez mais decidida, para cer- gia e elaboração de uma norma. Estamos, assim, diante
tas direções privilegiadas. Existe aqui como que uma de um processo evolutivo caracterizado pela auto-organi-
teleología imanente da pesquisa, mas uma teleolo- zação: o que é produzido em dado momento não é acres-
gía que se constrói sem um "telos" premeditado, que centado simplesmente ao que já foi produzido anterior-
estabeleceria "a priori" o devir da ciência. mente, mas cria condições novas que tornarão possível
uma produção futura.
Quando a reflexão sobre a ciência se organiza de ma- Para se conseguirem, no interior da ciência, os proces-
neira explícita, nada mais faz do que passar para a expres- sos constituintes, a epistemologia deve dirigir sua atenção
são esse processo interno de autofinalização; é o que ex- para os procedimentos ou momentos genéticos do devir e
plica que as formulações que lhe propõe possam ter um não para os resultados da ciência já constituída.
caráter normativo. A norma de que se trata não vem de A ciência não é simplesmente o prolongamento da visão
nenhum outro lugar, senão do próprio processo, pelo qual espontânea do mundo, ou uma formulação um pouco so-
a ciência se constitui em seu devir histórico. fisticada do que se oferece à percepção. Ela só consegue
O que parece essencial não é o resultado a que se che- fazer com que captemos aspectos inéditos da realidade, na
medida em que começa por substituir o campo perceptivo
gou, mas o processo de interação que levou a esse resul- por um domínio de objetos que ela constrói por seus pró-
tado. prios meios. É, precisamente, partindo da construção do
Se existe um "devir" da ideia de cientificidade, devemos objeto que se poderá captar o aspecto dinâmico do proce-
admitir que existem determinações imanentes que impõem dimento científico. Isto porque essa própria construção
ao processo histórico o seu aspecto, comandado por condi- deve ser compreendida como um processo dinâmico do
ções mais gerais. procedimento científico.
Teorização do Serv. Social 121
120 CBCISS
Espaço Metodológico
Não existe, portanto, um momento no qual se poderia
dizer que a construção do objeto está acabada e que a fase Dialética
da análise começa; na realidade, a construção prossegue. Tipologias
Fenomenologia Quadros Tipo ideal
A construção é, pois, uma operação contínua, nunca acaba- Quantificação Sistemas
da, pois a partir do momento em que se conseguir (a cons- Métodos de
Lógica hipotético- Análise Modelos estru-
trução) não tarda a suscitar novos problemas. dedutiva turais
O objeto científico não está colocado na esfera ideal de
sua existência por uma espécie de iniciativa absoluta do
pensamento. Ele é elaborado num meio preexistente, feito
de esboços operatórios diversos, articulados uns sobre os
outros, de maneira precisa e definindo um espaço de vir- Pólo Epistemológico Pólo Morfológico
tualidade do qual o objeto, uma vez construído, represen-
tará uma das atualizações possíveis. Este campo consti-
tuinte é o da prática metodológica, que poderá ser estru-
turado a partir de quatro pólos: o pólo epistemológico — Pólo Teórico \ Pólo Técnico
o pólo teórico — o pólo morfológico e o pólo técnico.
Esse espaço metodológico quadripolar não configura
momentos separados da pesquisa, mas aspectos particula-
res de uma mesma realidade de produção de discursos e Quadros Positivismo Modos Estudo de caso
de práticas científicas. de Compreensão de Estudo comparativo
Esses quatro pólos (cada um dos quais determina uma Referên- Funcionalismo Inves- Experimentações
articulação específica em categorias organizadoras subor- cia Estruturalismo tigação Simulação
dinadas) induzem, no campo da prática metodológica, a
tensões que tomam precisamente esse campo produtivo.
Em outras palavras, as interações que se criam entre os sição de uma variedade de teorias e conceitos que
pólos levam o campo a um determinado potencial de pro- explicam as várias dimensões da personalidade, a
dutividade e poder-se-ia representar a constituição do obje- dinâmica dos grupos e das famílias e a atividade das
to, como o aparecimento de uma singularidade do campo, organizações e das comunidades prepara o assisten-
em condições que são determinadas pela natureza das inte- te social para selecionar e utilizar, com liberdade e
rações entre as condições de produção do saber. flexibilidade, os que forem aplicáveis às suas tare-
fas."2

A tese de Howard Goldstein A outra questão, a mais importante de acordo com o


autor, e para cujo esclarecimento pretende colaborar em
De acordo com o autor, a afirmativa de que o serviço sua obra, refere-se a como os conhecimentos das ciências
social tem uma base comum de conhecimentos suscita sociais e do comportamento podem ser sistematizados e
duas questões principais. ordenados para oferecerem ao serviço social uma funda-
Uma diz respeito à identificação dos conhecimentos que mentação coerente com a prática.
compõem essa base comum, e Goldstein afirma que:
G O L D S T E I N , Howard, Social Work Practice — A unitary approach.
"A prática do serviço social não é orientada pelos
2

South Caroline, University S.C. Press. 1973. P. 17.


conceitos de uma única teoria. Ao contrário, a aqui-
122 CBCISS Teorização do Serv. Social 123
Partindo desses pressupostos, uma das primeiras preo- Assim, procura demonstrar que o serviço social tem sua
cupações do autor é a de classificar os conhecimentos apli- própria substância e estrutura (propósitos, objetivos e ope-
cáveis na moderna prática do serviço social em quatro rações) que se virtualizam pela interação de três sistemas
grandes níveis, informando que irá desenvolver o seu tra- principais: o sistema-assistente social, o sistema-cliente e o
balho utilizando os dois níveis intermediários. Os quatro sistema-mudança.
grandes níveis são: Cada um desses sistemas é analisado e um grande des-
taque é dado, no 6.° capítulo da obra, aos objetivos da
— conceitos gerais — são a mais alta ofdem de abstra- prática do serviço social. Segundo o autor:
ção; servem para organizar e expandir percepções e
ajudar na aquisição das grandes bases de entendi- "O objetivo do serviço social é a orientação do pro-
mento de certos fenómenos em termos conceptuais
e hipotéticos; teorias e conceitos de personalidade, cesso de aprendizagem social, um processo que se
ordem social e desvio podem ser colocados neste desenvolve dentro do contexto e como consequência
nível de conhecimentos; de um relacionamento humano intencional." 8

— conceitos funcionais — são de natureza mais especí- Embora o autor tenha explicado a cientificidade do ser-
fica; provêm da compreensão de fenómenos particula- viço social, esse capítulo é um esboço de uma teoria em
res e, por sua objetividade e lógica, fazem esses fe- serviço social,
nómenos acessíveis à manipulação; incluem-se, por O conceito de aprendizagem social é analisado de modo
exemplo, aspectos da teoria da comunicação e da a eliminar os aspectos semânticos que o ligam a atividades
dinâmica de grupo; escolares e a relacioná-lo com o serviço social. Segundo o
— estratégias — são guias para uma eficiente e efetiva autor:
aplicação de conhecimentos em dadas situações; são
prescrições para ação em circunstâncias especiais; "O ajustamento social e a mudança são produtos de
uma série lógica de experiências de aprendizagem
— ações — são operações táticas; são os procedimen- que não se referem a modos, técnicas ou práticas
tos explícitos empregados em relação a unidades so- escolares." 4

ciais, problemas ou tarefas específicas, dentro de li-


mites particulares. Tendo colocado a prática do serviço social como um
meio e não como um fim em si mesmo, o autor dirá que o
Após essas considerações, o autor irá desenvolver a pri-
significado da intervenção do serviço social se encontra na:
meira parte de sua obra, sob o título "Base conceptual da
prática". Ele constrói, então, uma teoria sobre a prática " . . . competência profissional do serviço social está
do serviço social, a qual, se for analisada a partir do mo- na habilidade para, responsável e conscientemente,
delo topológico da pesquisa, utiliza: entrar e tornar-se uma parte do complexo sistema
da interação humana para produzir mudanças nos
— no pólo epistemológico — o método fenomenológico; padrões existentes de cognição e comportamento." 6

— no pólo teórico — o quadro de referência estrutural-


funcionalista;
Op. cif., p. 5.
— no pólo morfológico — o quadro de análise sistémico;
8

* Idem, p. 154.
— no pólo técnico — o estudo comparativo. 6
Idem, p. 6.
124 CBCISS Teorização do Serv. Social 125

Especificando mais o propósito central do serviço social, MODELO TOPOLÓGICO DE PESQUISA


diz que o mesmo é:
Pólo Função órbita
" . . . preparar os meios e as oportunidades pelos
quais as pessoas podem alcançar, achar alternativa, Epistemo- •vigilância crítica — processos discursi-
organizar-se a respeito, opor-se, ou, então, caminhar lógico •garantia da objeti- vos ou métodos
livremente, havendo-se com condições que interfe- vação, i.e., da pro- muito gerais
rem em sua vida produtiva." 8
dução do objeto • dialética
científico • fenomenologia
Como a aprendizagem é negociada (troca de informações • explicitar regras de • lógica hipotético-
e de conhecimentos) através dos processos de comunicação, transformação do dedutiva
esses processos são também analisados. Como a busca de objeto científico • quantificação
fins, imediatos ou futuros, é um motivo típico da condição • criticar seus fun- (não se excluem mu-
humana, o autor associa às suas reflexões o estudo do pro- damentos tuamente)
cesso de solução de problemas.
Como conclusão da primeira parte do trabalho, o autor Teórico —guiar a elaboração — quadros de referên-
oferece um modelo, uma configuração da prática do ser- ' das hipóteses e a cia
viço social, que reúne: construção dos con- • positivista
ceitos • compreensivo
— como processos desenvolvidos pelo sistema-cliente — é o lugar da for- • funcionalista
— a solução de problemas e a aprendizagem; mulação sistemáti- • estruturalista
ca dos objetos cien- (inspiram o pólo teó-
— como processo desenvolvido pelo sistema-assistente tíficos rico — fornecem os
social — a intervenção; paradigmas)
— como processo bidirecional — o processo de comu-
nicação. Morfológico -enunciar regras de — quadros de análise
estruturação, de • tipologia
Tais processos ocorrem simultaneamente durante as formação do objeto • tipo ideal
três fases da prática do serviço social: inicial, nuclear, científico • sistema
final. - impõe uma certa fi- • modelos
gura, uma certa or- estruturais
Na segunda parte da obra, intitulada "As estratégias dem em seus ele-
e negociações da prática do serviço social", o autor pro- mentos
cura demonstrar a operacionalidade de seu modelo téc- -modelos/cópia ou
nico, oferecendo as normas gerais para as ações profis- simulacros
sionais e uma farta exemplificação, sem pretender esgotar
todas as possibilidades do modelo. De acordo com sua Técnico —controlar a coleta — modos de
proposição, essas normas gerais (estratégias) podem apli- de dados investigação
car diferentes teorias e aplicar-se a diferentes tipos de — constatar os fatos • estudos de casos
clientes e de ambientes. para confrontá-los • estudos
com a teoria que os comparativos
suscitou • experimentações
8
Idem, p, 7. • simulação
reorteaçõo do Serv. Social 127
126 CBCISS
Os elementos essenciais do service social: o b j * » d o serviço social. De-
Conclusão bâtes Sociais-Suplemento, Rio de Janeiro, (2):26-35, jun., i « w .
TRABAJoTocial dentro del proceso de cambio. Revista de Traba,o Social,
Se o Serviço Social for considerado simplesmente como Rarwlnna (58V91-113, 2 ° trim., 1975.
descrição e transformação de situações existentes estará V I E I R A Balbina Ottoni. Serviço social: processos e téenicas. Rio de
fora da prática científica, a qual supõe ter como objeto o Janeiro, Agir, 1969. 391 ps., ps. 36-7.
conhecimento, a explicação. Em outras palavras, se os
aspectos epistemológicos e teóricos forem negligenciados
em proveito apenas de manipulações técnicas de caráter
pragmático e terapêutico, a discussão sobre a cientifici-
dade do Serviço Social talvez se encontre encerrada antes
mesmo de iniciada.
Mas, se o caráter cientifico do Serviço Social puder ser
interpretado como o da busca de um consenso intersubje-
tivo sobre um campo delimitado de análise sobre o qual
se estruturam conhecimentos e conceitos próprios ou ori-
ginados das ciências humanas de um modo geral, para
uma posterior aplicação, então será possível declarar a sua
existência e acolher as ideias de Goldstein como uma valio-
sa contribuição à construção do Serviço Social científico.

LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
Publicações do CBCISS sobre o Objeto do Serviço Social

ASSOCIAÇÃO B R A S I L E I R A D E ESCOLAS D E SERVIÇO S O C I A L , Rio


de Janeiro. //. Curso de aperfeiçoamento para docentes de serviço so-
cial; reflexões sobre natureza e metodologia de ação social, Rio de
Janeiro, 1967. 243 ps., ps. 42-4.
FONTOURA, Amaral. Introdução ao serviço social. Rio de Janeiro, Mareei
Berens, 1950. 512 ps., ps. 61-85.
JUNQUEIRA, Helena Iracy. O serviço social como profissão. Rio de Ja-
neiro, CBCISS, 1974. 10,14 ps.. ps. 2-8 (CBCISS, 87).
K F O U R Y . Nadyr Gouvêa. Determinação do objeto de serviço social e os
problemas que coloca. Debates Sociais, Rio de Janeiro, 8(14):25-38,
maio, 1972.
S I L V A , Ilda Lopes Rodrigues da. Introdução ao pensamento de Mary
Richmond: construção do diagnóstico social. Rio de Janeiro, PUC,
1976, 97 ps.
S I L V A , Maria Lúcia Carvalho da. Objeto do serviço social: nova propo-
sição. Rio de Janeiro, CBCISS, 1977, 39 ps. (CBCISS, 126).
S O E I R O , Tecla Machado. Bases de uma reformulação do serviço social:
o objeto do serviço social: Debates Sociais-Suplemento, Rio de Janeiro,
(4): 123-68, nov., 1970.
1.1.1 CONSIDERAÇÕES EM TORNO DOS QUESTIONA-
MENTOS LEVANTADOS NO SEMINÁRIO SOBRE
O DOCUMENTO DE BASE 1.1: Cientificidade do
Serviço Social

I. Apresentação

O grupo, diante do tema que lhe cabia desenvolver, "A


cientificidade do Serviço Social", resolveu partir da ideia
contida no livro de DE BREYNE e outros sobre a "Dinâ-
mica da Pesquisa em Ciências Sociais", sem a preocupação
do objeto específico do Serviço Social.
No livro, encontrada a pluralidade dos procedimentos
científicos, o grupo achou que todos ajudavam à constru-
ção do Serviço Social.
Neste momento, achou por bem escolher um exemplo
de construção da teoria científica do Serviço Social e
tomar o livro de HOWARD GOLDSTEIN, que, partindo do
pólo epistemológico, apresenta um corte fenomenológico
do Serviço Social, chegando ao final a um quadro de
análise sistémico. Goldstein, na sua obra, visa a uma
operacionalidade, partindo de conceitos fundamentais e
estratégicos.

II. Questionamentos e respostas

Os vários questionamentos apresentados pelos subgru-


pos em plenário foram agrupados pelo seu conteúdo, sem
a preocupação de identificar de qual dos subgrupos partiu,
assim como a ordem de procedência.
130 CBCISS Teorização do Serv. Social 131

1. Admitida a pluralidade de procedimentos científicos, 4. Questiona-se a afirmação de que a compreensão po-


por que a preocupação do objeto específico do Ser- derá levar inevitavelmente a uma perspectiva sub-
viço Social? jetiva: poderá ou não levar a essa perspectiva?

Admitimos a pluralidade para construir a ciência e por Este questionamento é também colocado pelos próprios
isso mesmo escolhemos um autor que procura o científico autores do livro "Dinâmica da Pesquisa em Ciências So-
no Serviço Social. No entanto, não tivemos a preocupação ciais" na p. 11. No nosso trabalho não houve uma afirma-
de chegar ao objeto do S. S., mas, simplesmente, verificar ção neste sentido, mas a confirmação dos riscos apresen-
como Goldstein o procurou. Goldstein nos dá um referen- tados pelos autores quanto ao método compreensivo.
cial, critérios que auxiliam a chegar a uma teoria.
5. O grupo assume a proposição de que o Serviço Social
2. Qual a contribuição que o estudo do grupo trouxe deva aplicar somente conhecimentos de outras disci-
para o Serviço Social? plinas, conforme colocações do seu estudo na p. 18.
Qual a postura que o grupo adota?
O esquema adotado ajuda a pensar e a elaborar sobre a
Em Teresópolis foram admitidos três níveis de conhe-
científicidade do Serviço Social. Existem vários esquemas
para se avaliar a científicidade. Tínhamos que optar por cimentos ou seja:
um e optamos por este. Foi altamente gratificante para — conhecimentos para o S. S. (de outras ciências);
o grupo verificar a coerência de Goldstein no desenvolver
de sua ideia, enfim, num método que tem como objetivo a — conhecimentos sobre o S. S. (que é, sua evolução, seu
científicidade do Serviço Social. Goldstein nos apresenta histórico, etc.);
uma sistemática, um procedimento científico para o Ser- — conhecimentos do S. S. (a partir de conhecimentos
viço Social, provou que é possível realizar isto. Apresen- prévios e da prática).
tamos um trabalho baseado num estudo já feito. Para
entendê-lo é indispensável ter lido Goldstein. O grupo não concorda que se deva tomar ou adotar
posições de outras disciplinas. É bem possível que nem
mesmo Goldstein tenha sido bem interpretado. Acredita-
3. Se o movimento de reconceituação questiona as co- mos que só se possam produzir conhecimentos de Serviço
locações funcionalistas, por que a escolha do modelo Social a partir da conceituação do objeto formal do Ser-
de Goldstein? viço Social. Para Tecla Machado Soeiro, membro do grupo.,
esta é a sua tese há muito tempo.
Não existe uma só corrente de reconceituação. O movi-
mento de reconceituação não é um privilégio dos latino- 6. Goldstein tem abordagens sistémicas, mas, episte-
americanos. Goldstein se fundamenta na teoria do conhe- mologicamente, é fenomenológico. Por que apresen-
cimento e na teoria da aprendizagem e nisto se aproxima tar então o seu modelo como sistémico (pólo mor
da linha latino-americana, está preocupado com a recon- fológico)?
ceituação. No entanto, não há dúvida que pertence à cor-
rente funcionalista, aliás muito forte nos Estados Unidos. Realmente parece uma contradição. Goldstein analisa o
A ciência pode chegar à verdade por vários caminhos, sem Serviço Social como fenómeno e procura sua intenciona-
necessidade de abandonar o que está para trás quando lidade, mas, quando situa o Serviço Social como um siste-
isto for considerado procedente. ma dentro de outro sistema, usa a linguagem da teoria
132 CBCISS
dos sistemas. E mais aínda quando procura operacionali-
zar. Só um estudo mais profundo de conteúdo poderia
superar o impasse.

7. Se o grupo adota urna postura fenomenológica, como


explicar a questão dos objetivos sistémicos implíci-
tos na visão de Goldstein?

Colocamo-nos numa postura fenomenológica para pro-


curar entender a proposta de Goldstein, fosse qual fosse 1.2 Documento de base
sua posição, no caso, sistémica. O que ele tenta é opera-
cionalizar, e pareceu-nos válido tomar este autor para aná-
lise, mesmo sendo ele sistémico. REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO-
CIENTIFICO DE CONSTRUÇÃO DO OBJETO DO
SERVIÇO SOCIAL

Denise M . F. P. Delgado
Helena Iracy Junqueira
Maria do Carmo B. Falcão
Maria José T. Peixoto
Maria Lúcia Carvalho da Silva (Coordenadora)
Suzana A. R. Medeiros
Consultores:
Evaldo Â. Vieira
Geraldo Pinheiro Machado
(São Paulo)

"A transformação das ideias e ações tem três momentos


decisivos: a opção por uma estratégia e uma tática; a opção
por certas técnicas operativas; e a análise da ação realizada
para recolher juízos que enriqueçam ou modifiquem a
teoria da qual partimos.
Somente assim procedendo, com todos os requisitos da
ciência, o Serviço Social poderá considerarse realmente
uma praxis, na perspectiva de um continuum dialético."

HERMAN C. KRUSE
"Introducción a la teoría científica
del Servicio Social" — 1972
134 CBCISS Teorização do Serv. Social 135

I. Apresentação Quanto às indagações realizadas sobre o objeto do Ser-


viço Social foram ressaltadas as seguintes:
Em Araxá, Estado de Minas Gerais, de 19 a 26 de março
de 1967, o CBCISS promoveu um encontro de trinta e oito — qual o objeto do Serviço Social: o homem com pro-
assistentes sociais, denominado " I Seminário de Teoriza- blemas ou o homem como sujeito do processo de
ção de Serviço Social", do qual resultou o "Documento de transformação, ou seja, como agente de mudança?
Araxá" (D.A.), publicado em número especial da revista — o objeto do Serviço Social se encontra na interação
Debates Sociais, em maio daquele mesmo ano. social; nas situações-problemas; no homem como ser
O D.A. alcançou significativa repercussão não só entre individual; no homem como ser social; no homem
assistentes sociais, instituições de ensino, órgãos de classe como pessoa?
e entidades de Serviço Social do Brasil, como da América
Latina e dos E.U.A., atingindo, assim, seu escopo principal Nos sete encontros regionais não foi possível buscar-se
que era suscitar debates e estimular novos estudos e possíveis respostas às indagações acima, que passaram a
esforços de teorização de Serviço Social, particularmente ser formuladas em termos de algumas propostas genéricas
em nosso País. no " I I Seminário de Teorização de Serviço Social", pro-
O DA., em síntese, considera e expõe alguns componen- movido pelo CBCISS de 10 a 17 de janeiro de 1970, em
tes básicos da natureza do Serviço Social, aspectos de Teresópolis, Estado do Rio de Janeiro, com a participação
sua metodologia de ação, e adequação de sua dinâmica de trinta e três assistentes sociais.
operacional à realidade brasileira. O tema central desse I I Seminário versou sobre a meto-
Em 1968, tendo em vista oportunizar uma análise ampla dologia do Serviço Social face à realidade brasileira, em
e crítica do DA., o CBCISS, em conjunto com organismos razão de esta área de estudo ter sido reconhecida como
de Serviço Social, realizou sete (7) encontros regionais, de grande necessidade nos sete encontros regionais.
respectivamente, nos Estados de Goiás, Ceará, Amazonas, Assegurou-se, assim, uma linha de continuidade de ques-
Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de tionamento e sistematização teórica de Serviço Social, ini-
Janeiro, com a participação de 741 assistentes sociais. ciada em Araxá e imprescindível a um processo de acumu-
A síntese dos resultados dos sete encontros regionais foi lação e renovação científica.
igualmente publicada na revista Debates Sociais, em agosto Desse I I Seminário resultou o "Documento de Teresó-
de 1969, em número especial, e contém considerações e polis" (D.T.), publicado na revista Debates Sociais, Suple-
opiniões sobre a validade teórica, aspectos omissos, for- mento n.° 4, em novembro de 1970, e também muito
mulações, indagações e recomendações relativas ao DA. divulgado.
Entre pontos omissos de maior relevância do DA., no As propostas do objeto do Serviço Social constantes no
que diz respeito aos aspectos gerais sobre a natureza do D.T. expressam que:
Serviço Social, foi largamente apontada a falta de defini-
ção do seu objeto, pois apenas vagamente se afirma que — o objeto do Serviço Social define-se como o estudo
para as transformações necessárias ao desenvolvimento das formas de "defesa e sobrevivência" dos indiví-
faz-se mister uma ampla e consciente participação do duos e das sociedades e das formas de agressão aos
próprio homem como sujeito e objeto. indivíduos e às sociedades, se um dos fins do Serviço
A determinação do objeto foi considerada nos sete en- Social for a transformação dos homens e das socie-
contros regionais tão essencial à elaboração de um conceito dades (como pretende afirmar o D.A.). Trata-se de
de Serviço Social como a definição de sua natureza e obje- limitar apenas este estudo a alguns níveis institucio-
tivos, abordados mais detidamente pelo D.A. nais (Suely Gomes Costa);
Teorização do Serv. Social 137
136 CBCISS
cialistas nas áreas de filosofia das ciências e de sociologia
— o objeto do Serviço Social está na área das "situa- e política, que foram, sem dúvida, de especial valia.
ções sociais-problemas" que definem o modelo de Trata-se de um documento que, em virtude do curto
atuação do Serviço Social. Em relação ao problema período de tempo concedido ao grupo para sua feitura
de "necessidades" e "situações sociais-problemas", (inicialmente, um mês e meio e, depois, cerca de dois
podem ser consideradas como dois aspectos de uma
só questão. Neste sentido pode-se dizer que o preen- meses e meio) e das dificuldades sempre existentes de
chimento de necessidades surgidas com o processo tempo disponível e de conjugação de horários convenientes
de desenvolvimento constitui a "situação social-pro- a todos os participantes para reuniões e encontros neces-
blema do desenvolvimento", sendo o conceito de ne- sários, tem limitações evidentes, entre as quais destaca-se
cessidade também relativizado (José Lucena Dantas); aquela de não se poder ter atingido um grau de profun-
didade desejável.
— o objeto do Serviço Social pode ser definido como o No entanto, a reflexão crítica desenvolvida pelo grupo,
processo de orientação social, ou seja, o processo
desenvolvido pelo homem a f i m de obter soluções entre enfoques heterogéneos e divergentes, propiciou um
normais para dificuldades sociais. Esse processo é diálogo de muita abertura, que parece ter condicionado
um dos que se desenrolam no processo social básico uma contribuição, que se pensa criativa, ao se tentar situar
— a interação social — tal como o processo educa- globalmente e não fragmentariamente uma abordagem à
cional (Tecla Machado Soeiro). problemática do objeto do Serviço Social.
Para tanto, o grupo adotou como procedimentos meto-
Tais propostas ensejaram reflexões que, por sua vez, dológicos, num amplo quadro de pensamento crítico,
motivaram a elaboração de diversas novas proposições expressão livre e espontânea de ideias, relato de experiên-
sobre o objeto e outros componentes da estrutura básica cias vividas de intervenção sócio-profissional, conversas
do Serviço Social e que estão, no momento, exigindo um informais, levantamento, leitura e análise de textos espe-
esforço de crítica e formulação mais abrangentes. cíficos referentes ao estudo do objeto do Serviço Social,
É com esta intenção que o CBCISS organiza atualmente levantamento, leitura e análise de material bibliográfico
o " I I I Seminário de Teorização de Serviço Social", no de apoio, redação por todos os participantes de textos
qual, entre outros temas, propõe para discussão específica preliminares sobre pontos diversos considerados funda-
o problema do objeto do Serviço Social, omisso no D.A., mentais nos debates, segundo roteiro traçado consensual-
esboçado no D.T. e apresentado em outros trabalhos ou mente, síntese geral desses textos e redação final do
obras de autoria de diversos assistentes sociais, tanto do documento.
Brasil, como da América Latina e dos E.U.A. O estudo assim orientado realizou-se num total de oito
reuniões, algumas gerais de todo o grupo, outras, parciais,
com alguns participantes que formaram subgrupos, tendo
II. Introdução em vista facilitar ou acelerar o andamento dos trabalhos.
O grupo assumiu como postura principal a preocupação
O presente documento é fruto de elaboração de um de procurar uma aproximação à definição do objeto do
grupo de sete assistentes sociais de São Paulo, portanto, Serviço Social dentro da compreensão de ciência como
um documento coletivo, em atendimento ao convite feito movimento nascido e consolidado no período histórico
pelo CBCISS para apresentação de subsídios à reflexão moderno, visando ao domínio e apropriação das forças da
do problema do objeto do Serviço Social no I I Seminário natureza e do homem, através de processos específicos
acima referido. de conhecimento, dos quais ressalta-se para o Serviço
Para a elaboração (leste documento o grupo de assis- Social a relação teoria/ação.
tentes sociais contou também com a consultoria de espe-
138 CBCISS Teorização do Serv. Social 139

Neste sentido, o grupo enfatiza e defende que o estudo tualizadora da atividade prática como fonte de conhe-
do objeto do Serviço Social não se esgota nas teorias do cimento.
conhecimento ou da epistemologia, como foi geralmente Cada vez mais reconhece-se que o trabalho teórico deve
considerado nos diversos trabalhos até então produzidos, fundamentar-se nos fenõmenos, processos e fatos reais e
mas exige teorias da ação, pois para o Serviço Social a nas ações empreendidas.
ação é a sua própria razão de ser além de colocar-se como Pensa-se que a partir de um marco propiciado tanto
fundamento da teoria ou fonte principal de conhecimento. pelas teorias do conhecimento como pelas teorias da ação,
Segue-se, finalmente, o texto do documento, apresentado numa interação dialética destas, será possível imprimir-se
2

em bloco, que se espera possa amadurecer e precisar-se ao processo de reconceituação do Serviço Social caracte-
com as discussões que se processarão no I I I Seminário, rísticas mais científicas.
pois é ainda um material apenas encaminhado ao tema/ Desse modo, a preocupação central do desenvolvimento
desafio que vem sendo a construção do objeto do Serviço científico do Serviço Social redireciona-se no sentido de
Social. procurar superar a antiga distancia entre teoria e ação,
No final do texto encontram-se: notas, contendo concei- com vistas a uma síntese entre ambas, bu seja, a uma
tos de algumas categorias básicas utilizadas, na exposição, praxis' dinâmica e continuamente renovada.
segundo as entende o grupo, e a bibliografia consultada. Incorporando-se ao momento presente de reconceitua-
ção, o grupo que subscreve o documento em pauta preo-
cupou-se primeiramente, como pano de fundo, em consi-
III. Reflexões sobre a natureza do Serviço Social derar a natureza do Serviço Social, através de suas várias
e controvertidas acepções que intentam defini-lo como
A partir de 1965 vive-se na América Latina e no Brasil ciência, tecnologia, arte e ciência técnica.
um movimento de reconceituação do Serviço Social que O grupo não se perfilou a nenhuma dessas compreen-
se propôs inicialmente a uma ruptura das influências euro- sões, embora julgue necessário que se processe um maior
peias e norte-americana, a um esforço de revisão do apa- questionamento delas, adotando a acepção que visualiza
rato teórico, metodológico e filosófico da disciplina e a o Serviço Social em estreita correlação com as ciências
uma denúncia da ação profissional como realizada em humanas, na condição atual de prática ou disciplina pro-
função dos interesses das classes dominantes. fissional com virtualidades para se tornar uma ciência
Atualmente, passados treze anos, pode-se identificar, praxiológica.
como resultados deste movimento de reconceituação, entre
outros, avanços importantes quanto à reformulação teórica O Serviço Social caracteriza-se como prática ou disci-
de alguns tópicos fundamentais do Serviço Social, como plina profissional em virtude de atuar em realidades sociais
revisão dos métodos tradicionais, busca de uma metodo- concretas, mediante processos intencionais de ação trans-
logia básica, questionamento critico da teoria geral, forma- formadora, podendo produzir conhecimentos e teorias a
ção de uma nova consciência ideológica e científica dos partir e voltado para esta ação e seus resultados.
assistentes sociais. Neste sentido, o Serviço Social se constitui, de fato, isto
Hoje, o movimento de reconceituação adentra nova é, comprovadamente, uma prática ou disciplina profissio-
etapa, qual seja, a de ir além da criação de pré-condições nal, em razão de possuir um corpo de conhecimentos em
ao surgimento ou ressurgimento da epistemologia do 1 relativo grau de sistematização referente a seus compo-
Serviço Social para, numa preocupação de globalidade, nentes básicos, a saber:
encetar também o caminho teórico da abstração concep-
2 Ver nota n.' 2, p. 156.
\ Ver nota n.' 1, p. 155. » Ver nota n. 3, p. 159.
140 CBCISS Teorização do Serv. Social 141

— valores, ideologias, princípios filosóficos e éticos que Isso implica que a fundamentação científica que o Ser-
informam e norteiam a ação; viço Social, como prática ou disciplina profissional, pro-
— objetivos ou finalidades que se propõe alcançar e que, cura desenvolver, alicerça-se, para o grupo, no conceito de
sendo intencionados, postulam posicionamentos; ciência acumulada e renovada do conhecimento, como re-
— conhecimentos sobre os fenómenos objeto da ação; sultado do grau de consciência possível do homem sobre
— método de ação na realidade e processos técnicos o seu meio, isto é, das possibilidades de apropriação e
consentâneos; compreensão progressiva que este faz através de suas re-
— atitudes e habilidades relacionadas ao sentir e agir lações com o mundo circundante.
profissionais. Como consequência, para que a ciência adquira signi-
ficado, é necessário percebê-la em relação:
Na condição de prática ou disciplina profissional o Ser-
viço Social persegue um comportamento progressivamente — ao homem sujeito e objeto da ciência;
científico, visando a que a sistematização de seus conhe- — à unidade dialética teoria/ação/teoria;
cimentos e ação se torne cada vez mais coerente, orgânica, — à historicidade da ciência e de seus métodos.
4

consistente e objetiva.
A este respeito, cabe explicitar que o comportamento Daí, reconhecer-se que, em cada momento histórico, o
científico perseguido pelo Serviço Social é tão-somente um que se entende por "ciência" é a forma mais perfeita que
meio e não um f i m em seu processo de construção. pode assumir a capacidade humana para compreender e
Em decorrência, não é demais, segundo o grupo, tornar discernir a realidade, e que a ação transformadora da rea-
a assinalar que o Serviço Social não alcançou ainda um lidade revela sempre novos aspectos, fenómenos, proprie-
estágio de ciência, embora, na atualidade, se encontre par- dades da existência no e com o mundo, resultando deste
ticularmente interessado e empenhado neste problema, processo o ciclo sem f i m do progresso do saber científico
mediante processo intenso e vivo de reflexão, investigação e da ação transformadora do homem.
e sistematização de conhecimentos, propondo-se a efetivar, Não se entende, por conseguinte, que, em termos de
com prioridade, ação embasada em fundamentos científi- comportamento científico, o Serviço Social se atrele a uma
cos para conhecer, explicar e atuar em dada realidade única abordagem filosófico-científica, pois todas elas se
social. fundamentam numa dada visão e compreensão do homem
Tem-se por convicção que o Serviço Social assim se e do mundo, ou seja, têm por base leis e princípios que,
encajninhando chegará a atingir grau ou graus mais avan- por sua vez, se consubstanciam em modos e sistemas
çados de sistematização, o que lhe permitirá, por seu para conhecer e atuar.
turno, contribuir mais específica e ativamente para inter- Absolutizar ou dogmatizar uma única abordagem seria
câmbio e desenvolvimento das ciências humanas, com as absolutizar um único caminho, ou seja, negar a ciência ou
quais tão intimamente se relaciona, partilhando conheci- o comportamento científico de uma prática ou disciplina
mentos, questões e referenciais teóricos. profissional.
O Serviço Social tem por pressuposto básico que sua Assim, é inadequado enclausurar a ciência e o compor-
teoria se elabora num processo dinâmico teoria/ação/ tamento científico de uma prática ou disciplina profissio-
teoria, o que faz, no âmbito da ciência, ser, pela ação, nal nesta ou naquela corrente filosófica, sociológica, ou
a descoberta de novos fatos e, pelo trabalho teórico, psicológica, em virtude de ser a ciência um movimento
a criação de novas sínteses explicativas de domínios cada anterior a qualquer posicionamento e um projeto histórico
vez mais amplos da realidade, constituindo esta relação em permanente construção.
dialética teoria/ação/teoria um dos processos mais rele-
vantes do desenvolvimento das ciências. * Ver nota n. 4, p. 161.
142 CBCISS Teorização do Sèrv. Social 143

Vale observar, ainda, sob um ângulo de especificidade um ser em situação, sujeito e objeto da história, num
do comportamento científico do Serviço Social, que na continuum vir a ser e, por isso, capaz de transformar-se
passagem da teoria à ação destaca-se com especial impor- e transformar o mundo.
tância a problemática do valor, cuja análise comporta, en- Para o Serviço Social um valor não deixa de o ser pelo
tre outros, os seguintes aspectos: fato de não ser respeitado num dado momento histórico.
O que diverge dentro de sistemas culturais e políticas
— existência dentro da própria ciência de categorias diferentes são as formas e abordagens de ação do Serviço
valorativas identificadas como valor de ciência, como, Social, podendo-se, neste sentido, falar em operacionali-
por exemplo, a objetividade;
zação ou instrumentalização de valores para a ação, a par-
— identificação de valores nos fatos observados que tir de um quadro referencial de valores, voltados para um
constituem objeto de estudo dos cientistas sociais, dado contexto.
como, por exemplo, a escala de valores vivida por Desse modo, o aspecto ideológico faz parte integrante
determinado grupo social em investigação;
do Serviço Social, pois a direção para a qual é orientada
— escalas de valores professadas pelos cientistas, inte- sua ação transformadora pressupõe sempre uma opção
grantes de uma dada realidade social, como, por ideológica. O compromisso filosófico, ideológico, valorativo
exemplo, o apreço à cultura letrada, ao avanço tecno- e científico do Serviço Social com o ser humano implica
lógico, etc; necessariamente um contínuo diálogo despreconceituoso e
— escalas de valores das instituições sociais, como, por aberto que permita chegar a um esquema conceptual que
exemplo, a intercomplementaridade na prestação de sirva de parâmetro para orientar sua ação profissional a
serviços. respostas operacionais válidas face à problemática de uma
determinada realidade social.
No que diz respeito às escalas de valores professadas
pelos cientistas, pode-se dizer que são um dos principais Os valores, dessa forma, são uma questão essencial para
problemas das ciências humanas e das práticas e disci- o Serviço Social e outras disciplinas profissionais que
plinas profissionais. Problema, contudo, a ser equacionado atuam cóm a problemática humana e social, pois é impos-
simplesmente em termos de um problema epistemológico, sível ignorar as contradições agudas da realidade social
de forma a tornar-se não obstáculo à ciência, mas instru- em que se vive.
mento científico. É o caso, por exemplo, do cientista que, A ação profissional deixa de ser pragmática, neutra e
ao vivenciar como um valor a cultura letrada e elaborar conformista e passa a se tornar uma exigência de ação
este tema como problema epistemológico, poderá formu- intencional.
lar um modelo de observação sistemática de grupos em Os valores, decorrentes dos posicionamentos ideológi-
que iletrado não seja valor negativo. cos do Serviço Social, informam e dão sentido e direção
O problema em questão remete-se ainda ao fato de à sua ação, orientando não apenas a formulação de finali-
que não há ciência que não sofra a influência de classe, dades ou objetivos, como a seleção dos meios a aplicar.
pois os valores não são apenas pessoais, mas também Face às diferentes correntes filosóficas que podem fun-
grupais. damentar a concepção e operação do Serviço Social, seria
O Serviço Social, como prática e disciplina profissional, de se desejar que, além de se definirem posições ideoló-
tem ainda toda sua ação impregnada de valores que trans- gicas, fossem adotados valores básicos, bem como valores
cendem dos valores científicos e que decorrem de uma culturais e outros de caráter conjuntural, que viessem a
concepção de homem e de sociedade. se constituir em posicionamentos de uma profissão, cujos
O Serviço Social formula seus valores universais par- agentes professem diferentes filosofias.
tindo do homem e enfocando-o como um ser racional, com Em síntese, o Serviço Social aqui tomado como prática
prerrogativas de liberdade, individualidade e sociabilidade, e disciplina profissional não exclui, pelo contrário, postula
144 CBCISS
Teorização do Serv. Social 145
uma teoria que o embase, formada por conhecimentos
providos pelas ciencias humanas e por aqueles que o pró- O grupo registra uma emergente posição que considera
prio exercício profissional enseja. a reflexão sobre o objeto pertinente apenas às ciências
Compreende ainda uma formulação de juízos de valor que não as disciplinas profissionais, às quais cabe tão-
e de princípios norteadores da ação, pois que esta se dirige somente ocupar-se dos objetivos, posição esta que traduz
ao homem e à sociedade. uma visão reducionista da consistência teórica das disci-
A metodologia básica do Serviço Social, compreendida plinas profissionais, desconsiderando assim a construção
como a investigação diagnóstica e intervenção planejada, do objeto no próprio âmbito da relação teoria/ação.
adquire especificidade quando da sua aplicação ao objeto A medida que o Serviço Social avança do ponto de vista
específico do Serviço Social, em busca de objetivos especí- de uma ação científica, as dificuldades inerentes à deli-
ficos em cada situação concreta. mitação do objeto vão sendo superadas e os contornos do
No que diz respeito a atitudes e habilidades relaciona- objeto do Serviço Social vão se manifestando e se delimi-
das ao sentir e agir profissionais, decorrem do fator sub- tando mais concretamente.
jetivo necessariamente presente na prática do assistente No Serviço Social, como antes se abordou, a ação pos-
social, não devendo tal componente ser minimizado numa tula uma definição de propósitos, um "para quê" atuar,
abordagem globalizante do Serviço Social. como prática ou disciplina profissional que é. Donde, seu
objeto, como o das outras disciplinas profissionais, man-
tém estreita interdependência com as finalidades ou obje-
IV. Reflexões sobre o problema de busca de definição ou tivos que se propõem, bem como inter-relação destes com
construção do objeto do Serviço Social um posicionamento filosófico, ideológico e valorativo, e
com posturas metodológicas adequadas ou pertinentes.
Dentre os componentes que formam a estrutura básica A formulação do objeto do Serviço Social supõe a apli-
do Serviço Social, já aludidos, o objeto merece destaque cação de métodos, entre os quais os mais usuais são:
pela sua condição intrínseca de definir sobre "o quê" recai
a ação, podendo ser entendido, neste sentido, como o con- — empirista — quando se verifica uma supremacia do
junto de situações, fenómenos e variáveis passíveis de uma dado quantificável ou observável, cons-
ação determinada. trução de uma "matriz" e, a partir
Na teoria do conhecimento, o objeto detém uma posição desta, elaboração da teoria;
central de reflexão porque nele se encontram dois elemen- — formalista — quando* se efetiva a construção de
tos-chave: o conhecedor e a realidade, cuja relação levanta "modelos" fundados na logicidade for-
questões de como se vai construindo o conhecimento e de mal do pensamento, sem base no pro-
como o objeto vai sendo conhecido pela experiência, que cesso histórico concreto;
por sua vez é sempre uma atividade do sujeito. — dialética — quando se constrói a partir da con-
Na teoria da ação, o objeto também detém uma posição cepção da realidade enquanto movi-
central, pois que dentre os componentes básicos de estru-
tura das disciplinas profissionais desempenha papel pre- mento no processo histórico; o méto-
ponderante na composição dos referenciais para a ação, do é considerado pelos efeitos con-
dentro de um processo histórico. cretos na produção de conhecimentos
Quanto ao Serviço Social, o papel preponderante do e na própria ação.
objeto pode assumir a condição de especificador na con- O grupo, ao tender para o enfoque dialético na cons-
cretização do processo de intervenção. Embora especifi- trução do objeto, identifica como critérios básicos para
cador, resultará sempre de um processo histórico de cons- sua formulação uma dupla perspectiva: conjuntura teó-
trução por aproximações sucessivas. rica caracterizada pelo desenvolvimento científico da ciên-
146 CBCISS Teorização do Serviço Social 147
cia, dos modos de produção, das formações sociais e das de assistentes sociais norte-americanos, hispano-america-
conjunturas políticas — e inserção da ação social no con- nos e brasileiros.
texto da problemática da realidade social. São elas, resumidamente:
Desse modo, o objeto do Serviço Social se configuraria
a partir da análise das conjunturas de cada sociedade, o 1. SHAUN GOVENLOCK (1966) — Face a um engaja-
que constitui um elemento histórico a ser cruzado com mento racional, considera como proposta para rea-
os elementos teóricos elaborados com base na.ação profis- grupar as várias preocupações teórico-práticas do
sional e em seus resultados. Serviço Social, o funcionamento social, entendido
Constata-se que, após a eclosão do movimento de re- numa perspectiva sistemática de interação recíproca,
conceituação do Serviço Social, seu objeto ou sistemas de a transação bilateral entre pessoa e meio social, em
objeto vêm sendo formulados, via de regra, em nível de relação a uma influência sobre o desenvolvimento do
generalidade e numa pluralidade de enfoques, tanto por potencial especificamente humano.
assistentes sociais norte-americanos, como latino-america- 2. HARRIET BARTLETT (1970) — O foco central do
nos e brasileiros, apesar de todos reconhecerem que este Serviço Social é o funcionamento social, conceito este
componente deva ser enfocado como área central de preo- dirigido ao que acontece entre pessoas e meio social
cupação no processo de sistematização da teoria/ação do através de uma interação entre ambos. Assim, pessoa
Serviço Social. e situação, pessoa e meio são englobados em um único
O problema da especificidade do objeto do Serviço conceito, o que exige que eles sejam visualizados inte-
Social constituiu sempre, e hoje mais do que nunca, uma gradamente e vinculem os aspectos "psico" e "social".
questão polémica que se situa principalmente entre duas Os assistentes sociais analisam a personalidade e
tendências em confronto, isto é, a de caráter tecnocrático, a situação para melhor entenderem seus elementos
que leva a uma fragmentação do objeto, e a de caráter significativos, depois reúnem as partes e vêem as pes-
integrativo das ciências humanas, nas quais o Serviço soas e situações, como um todo, no trabalho com as
Social se informa, que, mesmo ao estudarem um aspecto mesmas.
de particularização do objeto, visualizam-no no contexto O conceito de funcionamento social pode ser ex-
de totalidade ou de articulação de relações. presso para o Serviço Social da seguinte maneira:
No Serviço Social, o objeto não é estabelecido a priori,
mas vai se definindo no próprio processo de ação, e, nota- pessoas « > interação < > meio
damente, na interação daquele processo com três elemen- confronto equilíbrio exigências
tos essenciais, a saber:
3. HERMAN C. KRUSE (1972) — Infere, a respeito do
— referencial teórico, já mencionado; objeto, a existência de duas posições dicotômicas.
— fins ou objetivos a serem alcançados, mediante re- Na l . , o objeto do Serviço Social é a repercussão
a

lação que estes estabelecem com o objeto; nas pessoas dos problemas sociais. Na 2. , o objeto
a

— e método, entendido na perspectiva de relações de do Serviço Social são os problemas sociais derivados
conhecimento e transformação do objeto. da sociopatologia ou da situação de dependência e
subdesenvolvimento.
Tendo em vista levantar para análise proposições sobre Na l . posição, a teoria do Serviço Sócia} deve ser
a

o objeto, elaboradas neste período de reconceituação, apre- fundamentalmente antropofílica, compreendendo co-
senta-se a seguir um elenco de dezoito propostas que se mo disciplinas afins básicas a biologia, a psicologia e
pensa serem representativas das múltiplas contribuições a antropologia filosófica.
148 CBCISS Teorização do Sero. Social 149

Na 2. posição, a teoria do Serviço Social deve ser


a
gica. A prática social é concebida pelo autor como
sociofílica, compreendendo como disciplinas afins sendo constituída pela produção de bens materiais,
básicas a economia, a sociologia, a psicologia social luta de classes, experimentação científica e atividade
e a política. artística.
Ressalta que a imprecisão do objeto do Serviço É uma prática crítica e revolucionária.
Social é o grande obstáculo para elucidar o problema 8. LEILA LIMA e ROBERTO RODRIGUEZ (1977) — Pa-
da metodologia básica. ra ambos, no processo da ação do Serviço Social,
objeto e objetivos são considerados interdependente-
4. NATALIO KISNERMAN (1972) — Ao partir do con- mente e se definem genericamente como estudo da
ceito de objeto como aquilo que uma disciplina estuda prática social e, nesta, da ação concreta desenvolvida
e transforma por sua ação, propõe que no Serviço através da conscientização, capacitação e organização.
Social reconceituado, isto é, orientado para a com- Consideram preliminarmente que cabe às ciências
preensão e transformação científica da realidade so- sociais estudar a totalidade social e ao Serviço Social
cial, o objeto sejam as situações-problemas geradas clarificar sua vinculação à produção de conhecimen-
por carências e necessidades sociais. to nos aspectos particulares que o caracterizam, não
Esclarece os componentes desta definição do se- sendo, dessa maneira, o objeto do Serviço Social um
guinte modo: campo exclusivo e privativo da disciplina.
— situação — tudo o que constitui a realidade para O objeto e objetivos devem ter como marcos glo-
um homem, um grupo, uma instituição ou co- bais de reflexão os campos de bem-estar social e das
munidade. Realidade é, assim, o conhecido, ain- políticas sociais.
da que não se tenha consciência dela. 9. SUELY GOMES COSTA (1970).
— situação-problema — é- uma situação-limite já 10. JOSÉ LUCENA DANTAS (1970).
que atua como freio, dificultando a realização
dos homens. São dimensões concretas e "histó- 11. TECLA MACHADO SOEIRO (1970).
ricas de uma realidade determinada. As proposições destes três autores estão expostas
na introdução deste trabalho.
5. BÓRIS ALÉXIS LIMA (1976) — Propõe como objeto 12. NADIR G. KFOURI (1972) — A autora considera que
do Serviço Social, a partir do homem limitado em sua nas disciplinas práticas ou profissionais são os obje-
praxis transformadora pela estrutura económica que tivos que determinam sua especificidade, pois, tendo
o cerceia e por uma superestrutura ideológica e polí- que intervir e/ou controlar os fenómenos sobre os
tica que o aliena, a ação social do homem oprimido quais incide sua ação (objeto), tem que definir, defi-
e explorado. nindo-se em relação a que intervém.
6. ANTOLIN LOPEZ MEDINA (1971) — Delimita como Assim, o objeto do Serviço Social é constituído
objeto do Serviço Social pessoas, grupos e comuni- por fenómenos concernentes ao ser humano no pro-
dades em sua problemática vital do cotiãiano enfo- cesso de inter-relações com o seu meio social sob a
cada em um contexto integral de desenvolvimento. perspectiva de mobilização e de desenvolvimento de
potencialidades humanas e sociais.
7. VICENTE DE PAULA FALEIROS (1972) — O objeto
do Serviço Social é o homem considerado sujeito- 13. SUZANA A. DA ROCHA MEDEIROS (1974) — Define
objeto numa relação dialética que se concretiza na ser o objeto do Serviço Social o homem no processo
prática social, como ação transformadora deste ho- de interação com seu meio social, que se configura
mem e sociedade numa perspectiva histórica ideoló- por aspectos da vida cotidiana ou da dinâmica de
150 CBCISS Teorização do Serv. Social 151
uma realidade social concreta, não tratados por ou- c) politicas sociais, compreendidas como processos
tras ciências sociais. dinâmicos e contínuos de formulação, instrumen-
Tais aspectos ou situações-problemas são entendi- tação, implantação e revisão de um conjunto
dos pela autora como algo a ser resolvido. orgânico de diretrizes, que orientam a ação go-
vernamental, no que diz respeito:
14. MARIA DO CARMO B. DE CARVALHO FALCÃO
(1976) — Considera ser o objeto de intervenção do I — ao atendimento das necessidades básicas
Serviço Social determinado fenómeno ' ou situação- do homem,
problema, cuja solução ou modificação exige a ope- I I — à otimização dos níveis de vida da popu-
ração do sistema de relações existentes entre unida- lação,
des de natureza psicossocial (indivíduos, famílias, I I I — à equalização de oportunidades,
grupos, comunidades), social (organismos sociais), IV — à adequação ou reformulação das estru-
política (estruturas, sistemas e subsistemas) e outras turas, instituições e sistemas, com vistas
que possam vir a se configurar. a que venham a responder às exigências
Essas relações se processam nos níveis micro e da efetivação das próprias políticas.
macrossocial de intervenção, os quais são interdepen- 17. MARIA LÚCIA CARVALHO DA SILVA (1977) — Pro-
dentes e intercomplementares. põe como objeto não exclusivo do Serviço Social,
15. ADA PELLEGRINI LEMOS (1974) — Afirma que na porém compartilhado por outras ciências sociais, o
teoria do Serviço Social o binómio pessoa/situação processo histórico-estrutural de marginalização/par-
se delimita como seu objeto. ticipação social, na perspectiva de interação dialética
A 1 . parte do binómio é entendida como sistema-
a
destes componentes. Esta proposição pretende refe-
cliente, isto é, pessoa, família, grupos, comunidades, rir-se ao objeto não só no nível do agente humano,
instituições e populações, e a 2. parte, como meio,
a
como no nível de um processo histórico-estrutural
isto é, a gama de um elenco de fatores sociais, eco- enquanto teoria/ação.
nómicos, culturais e humanos, representados por in- 18. ANNA AUGUSTA DE ALMEIDA (1978) — Apresenta
divíduos, grupos, instituições societárias, fenómenos como ideia de objeto do Serviço Social no contexto da
e realidades que interferem na resposta do sistema/ realidade humana, histórica e concreta, a situação
cliente ao meio, sobre o qual simultaneamente atua, existencial problematizada, ou o fenómeno social que
modificando-o. está dialetizado numa dupla dimensão entre indivíduo
e sociedade (na visão de ser no mundo) e entre
16. HELENA I . JUNQUEIRA (1974) — Entende ser objeto pessoa e comunidade (na visão de ser sobre o mundo).
específico, mas não exclusivo, do Serviço Social:
a) indivíduos, isoladamente ou em grupos, que não Não foi possível realizar neste documento uma
lograram o atendimento de suas necessidades apreciação crítica e particularizada destas dezoito
básicas e de desenvolvimento por si mesmos, proposições de definição do objeto do Serviço Social,
mediante utilização dos recursos disponíveis do as quais sugerem diferentes concepções do homem
seu próprio meio social; e do mundo, diferentes teorias do conhecimento e
b) comunidades, cujas potencialidades de vivência diferentes métodos de investigação, interpretação e
comunitária, de ação conjunta e de participação transformação social.
em outros níveis societários não tenham sido Neste sentido, a título apenas de ilustração, as pro-
devidamente desenvolvidas; posições de objeto como "situação social-problema" e
CBCISS
Teorização do Serv. Social 153
"situações que se dão no nível das relações sociais",
que foram apresentadas com maior frequência, são 2. Objeto específico
entendidas e explicadas pelos respectivos autores, sob a) indivíduos, isoladamente ou em grupos, que
óticas diversas, através de diferentes posições. Esta não lograram o atendimento de suas necessi-
abertura é, sem dúvida, na etapa que se atravessa dades básicas e de desenvolvimento, pela au-
hoje do estudo do objeto do Serviço Social, condição sência dos recursos necessários ou pela inca-
e espaço muito favorável a uma aproximação objetiva pacidade de utilização quando existentes;
e científica daquele elemento básico, pois predispõe b) organizações e grupos comunitários, cujas
à crítica, à verificação prática e à preocupação de potencialidades de ação conjunta e partici-
globalidade da disciplina. pação em níveis mais amplos não tenham sido
Considerando as proposições apresentadas e rela- devidamente desenvolvidas;
cionando-as às reflexões preliminares feitas quanto c) políticas sociais, compreendidas como proces-
ao processo de construção do objeto do Serviço So- sos dinâmicos e contínuos de formulação,
cial, finalmente, foram elaboradas duas outras alter- instrumentação, implantação e revisão de um
nativas de propostas, como tentativas para uma con- conjunto orgânico de diretrizes, que orientam
vergência e síntese do esforço teórico até aqui ence- a ação governamental e que se corporificam
tado no tocante àquele componente. A contribuição em sistemas de direitos e deveres e de pres-
maior destas duas alternativas pretende ser, a partir tação de serviços, no que diz respeito:
do aspecto de generalidade do Serviço Social, aproxi-
mar-se do seu aspecto de especificidade. I — ao atendimento das necessidades bási-
cas do homem,
São elas: I I — à otimização dos níveis de vida da
população,
Alternativa A — de HELENA IRACY JUNQUEIRA I I I — à equalização de oportunidades,
(1978) IV — à adequação ou transformação das
estruturas, instituições e sistemas, com
1. Objeto genérico vistas a que venham responder às exi-
gências da efetivação das próprias po-
O objeto de Serviço Social refere-se a situações líticas.
sociais-problema, entendidas como as que ocor-
rem no âmbito das relações sociais, que se pro- Este objeto específico relaciona-se intimamente
cessam no concreto da vida cotidiana, e que se a objetivos específicos do Serviço Social, que en-
configuram de tal forma a provocar a necessidade volvem a superação das situações configuradas
de uma intervenção para modificá-las, trazendo no objeto, com vistas à realização progressiva do
em seu bojo elementos conflitantes que se podem homem.
transformar em elementos geradores de soluções Alternativa B — de MARIA LÚCIA CARVALHO DA
e crescimento. SILVA (1978)
Este objeto genérico relaciona-se intimamente
ao objetivo genérico do Serviço Social, qual seja, 1. Objeto genérico
realização progressiva do homem e criação de
condições sociais que permitam e favoreçam essa Refere-se ao processo histórico-estrutural de
realização. marginalização/participação social, na perspecti-
va de interação dialética destes componentes.
154 CBCISS Teorização do Serv. Social 155
2. Objeto específico prática direta, como alicerce que é do processo de
construção teoria/ação.
Diz respeito a duas dimensões distintas, mas Pensa-se que assim procedendo, o Serviço Social
inter-relacionadas: poderá voltar-se mais pertinentemente para as dimen-
— às ocorrências conjunturais do processo histó- sões e implicações do processo de ação transforma-
rico-estrutural de marginalização, participação dora a que se propõe fundamentalmente, o que per-
social que dificultam ou facilitam a indivíduos, mitirá avanços sucessivos tanto na construção do seu
grupos, organizações, comunidades e popula- objeto como da disciplina na sua totalidade, ao mes-
ções, uma ação transformadora nos níveis pes- mo tempo que contribuirá para o desenvolvimento
soal e social e em suas interações; de teorias da ação.
— às políticas sociais, como conjunto de orienta-
ções de ação do Estado e da sociedade civil,
direcionadas principalmente à satisfação de NOTAS
demandas sociais básicas, à distribuição de
excedentes, à melhoria da qualidade de vida, 1) Da epistemologia
à busca de equidade de oportunidades, numa
perspectiva de desenvolvimento global, isto é, Para esta categoria, o grupo baseou-se em Japiassu que, 1

económico, social, cultural e político, nos ní- no sentido bem amplo do termo, a considera como o es-
veis micro e macro de atuação. tudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização,
Nestas dimensões, cabe ao Serviço Social de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcio-
especificamente, tanto generalizar e particula- namento e de seus produtos intelectuais.
rizar, como quantificar e qualificar, nos dife- Sendo assim, a função essencial da epistemologia é sub-
rentes níveis, as ocorrências conjunturais e as meter a prática dos cientistas a uma reflexão; e o seu papel,
propostas de políticas sociais, a partir das ins- estudar a génese e a estrutura dos conhecimentos cientí-
tituições sociais, nas quais exerce sua ação ficos. O seu problema central consiste em estabelecer:
profissional, de modo a que os programas re-
futam e respondam cada vez mais às necessi- — se o conhecimento poderá ser reduzido a um puro
dades, interesses, aspirações, insatisfações, registro pelo sujeito, dos dados já anteriormente
conflitos, problemas, etc. das populações. organizados independentemente dele num mundo
exterior (físico ou ideal);
É óbvio que as duas alternativas estão apenas es- — se o sujeito poderá intervir ativamente no conheci-
boçadas, necessitando de melhor formulação. mento dos objetos. Essencialmente, o problema se
Ambas as alternativas, torna-se a dizer, significam encontra na relação sujeito-objeto.
tão-somente o passo a mais que se pode dar neste
resultado breve e intensivo, ou nesta rápida retomada A epistemologia estuda a produção de conhecimentos
do problema de definição do objeto do Serviço Social.
A guisa de conclusão, deseja-se ressaltar que o não só do ponto de vista lógico, como do linguístico, ideo-
atual e futuro momento de desenvolvimento científico lógico, sociológico, etc.
do Serviço Social parece exigir um esforço reflexivo
global e prioritário sobre as experiências concretas JAPIASSU, Nilton F. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio
1

de ação, em seus vários níveis, especialmente no da de Janeiro, Francisco Alves, 1975.


156 CBCISS Teorização do Serv. Social 157
2) Da ãialética termos lembram a identidade dos opostos. A Tese é afir-
mação, nela algo é afirmado. A Antítese é a negação do
Como diz Poulquié, não existe uma dialética mas di-
2
que se afirmara antes. A tensão entre estes dois termos
versas concepções da dialética. encontra sua conciliação na Síntese, ou seja, Negação da
Nas suas origens, ou seja, na antiguidade grega, era Negação.
essencialmente a arte do diálogo, da discussão, do ques- Como cada momento se deduz do anterior, podemos
tionamento, o que prevaleceu ainda na escolástica, e em dizer que a Antítese já está na Tese. Ela já carrega em
filósofos modernos de certa forma incorporada à concep- si sua contradição. A Síntese se transforma numa nova
ção da lógica. Tese de outra tríade, e o movimento continua.
Descartes e Spinosa destacam-se dentre os pensadores O processo dialético não é apenas de explicitação (da-
do período moderno como representantes do raciocínio quilo que está contido no momento anterior) mas também
dialético. de concretização. O momento anterior deve englobar todos
Atualmente, a dialética vincula-se, sobretudo, a duas os momentos posteriores. Deve ser, portanto, mais vasto,
linhas de pensamento, que a definem com maior precisão mais amplo do que todos os momentos que dele se expli-
— Hegel e Marx — e, mais recentemente, vem sendo citam! O mais amplo, em termos de conceito, é o mais
assimilada pela ciência contemporânea, onde, exatamente abstrato. O menos vasto é o mais concreto... Assim é o
por ser contemporânea, se torna mais difícil de precisá-la. movimento da dialética hegeliana: enquanto se procede
Foi Hegel (1770-1831) quem formulou pela primeira vez do implícito para o explícito, se procede do abstrato para
o método dialético, cuja pedra fundamental é a luta dos o concreto.
contrários. "A verdade não é um'conjunto de princípios Marx, discípulo de Hegel, admitiu ser a dialética o único
definitivos. É um processo histórico, a passagem de graus método científico, mas contrapôs sua concepção materia-
inferiores para graus superiores do conhecimento. Seu lista do mundo à concepção idealista de Hegel — o Uni-
movimento é o da própria ciência, que não progride senão verso é um produto da Ideia, ou seja, o Universo precede
sob a condição de ser crítica incessante de seus próprios apenas dos universais que não têm marca de percepção
resultados, a f i m de poder superá-los." 3
sensorial.
Pereira Nóbrega, em estilo didático, expõe a dialética
4
Para Marx, as leis da dialética são as do mundo material,
hegeliana que, em síntese, é assim compreendida: o movimento do pensamento não é senão o reflexo do
A dialética hegeliana refere-se a um movimento pelo movimento real, transportado e transposto para o cérebro
qual realidades novas se explicitam, se deduzem, graças do homem. Daí a dialética materialista ou o materialismo
à contradição, à oposição que existe na realidade anterior. dialético de Marx.
Nenhuma realidade existe, que esteja isenta deste movi- Na sua filosofia assim se enuncia a lei da dialética: 5

mento dialético, desta luta de opostos.


Sem entrar nas minúcias das leis da dialética, é fácil
A dialética hegeliana tem três unidades que ele deno- verificar, mesmo no nível de uma investigação elementar,
mina Tese, Antítese e Síntese, ou, mais frequentemente, que a contradição rege todos os fenómenos.
Afirmação, Negação e Negação da Negação. Os próprios Graças ao emprego dessa lei da dialética, em suas qua-
tro formas, abrem-se perspectivas de um saber sistemá-
2
FOULQUIÉ, Paul. A Dialética, Publicações Europa-América — Origi-
nal, Presses Universitaires de France, 1349. 8
P O L I T Z E R , Georges; BESSE, Guy; C A V E I N G , Maurice, opus cit.
s P O L I T Z E R , Georges; BESSE, Guy; C A V E I N G , Maurice. Princípios C H A T E L E T , François. Logos e Praxis. Rio de Janeiro. Paz e Terra,
Fundamentais de Filosofia. S. Paulo, Homus, 1970. 1972.
* NÓBREGA, Francisco Pereira. Para 1er Hegel. Petrópolis, Vozes, 1973, L E F E B V R E , Henri. Lógica Formal e Lógica Dialética. Rio de Janeiro.
ps. 32/34. Civilização Brasileira, 1975, Cap. I V , item 13.
158 CBCISS Teorização do Serv. Social 159
tico positivo capaz de integrar todos os resultados das — Quanto à segunda forma da lei dialética, embora admi-
ciências e desenhar um quadro de conjunto da realidade tindo plenamente o dinamismo da realidade universal,
e de sua evolução, citando R. Garaudy. ressalva-se a permanência de algo, seja um substrato,
seja um componente de dada realidade que perdura,
As quatro formas da lei da ãialética: e que permite identificá-la mesmo depois de trans-
formada.
1. — Ação recíproca e da conexão universal — a dialética
a
— Quanto à terceira forma, embora admitindo que algu-
considera a natureza não como acúmulo acidental mas mudanças qualitativas possam resultar do acúmu-
de objetos, de fenómenos destacados uns dos outros, lo de mudanças quantitativas, outras, e com maior
isolados e independentes uns dos outros, mas como peso, decorrem de fatores cuja ação, por sua natureza,
um todo unido, coerente, no qual os objetos, os é suficiente para operar mudanças qualitativas, pois
fenómenos estão ligados organicamente entre si, de outro modo seria admitir-se que a qualidade (na-
dependendo uns dos outros e condicionando-se reci- tureza das coisas, dos seres, das relações entre eles)
procamente. resulta de maior ou menor número de fatores quan-
2. — Da mudança universal e do desenvolvimento inces-
a titativos.
sante — a dialética considera a natureza não em um
estado de repouso e de imobilidade, de estagnação 3) Da praxis
e de imutabilidade, mas como um estado de movi-
mento e de mudança permanente, de renovação e Praxis, categoria amplamente utilizada hoje em diferen-
de desenvolvimento incessante, onde cada coisa nas- tes áreas de estudo e de ação, entre as quais a do Serviço
ce e se desenvolve, onde cada coisa se desagrega. Social, requer algumas considerações, no decorrer do pre-
sente trabalho.
3 — Da mudança qualitativa — o desenvolvimento leva
a

Sua origem semântica e conceptual remonta à antigui-


a mudanças qualitativas, não graduais, mas rápidas, dade grega, sendo que não raro a grafia em autores atuais
súbitas e se fazem por saltos, de um estado a outro; se apresenta em caracteres daquele idioma.
são resultado do acúmulo de mudanças quantita-
tivas. Aristóteles a concebe como ciência prática, ou seja, aque-
la que dá normas ao agir humano, no que se refere ao
4 a
— Da luta dos contrários — a dialética parte do ponto bem e ao dever, que não tem outro fim que a ação interior,
de vista de que os objetos e os fenómenos da natu- imanente, que não produz nenhuma obra distinta do agente.
reza implicam contradições internas, pois têm todos Por oposição à "poética" (poésis) que é a ciência da pro-
um aspecto positivo e um aspecto negativo; um dução de obras exteriores ao agente. Não exclui, no entanto,
passado e um f u t u r o . . . A luta desses contrários é o a ação política que regula os atos do homem enquanto cida-
conteúdo interno do processo de desenvolvimento, dãos da polis. G

da conversão das mudanças quantitativas em mu- Sofre mudança radical no Renascimento que reivindica
danças qualitativas. a dignidade humana não só pela contemplação como tam-
bém pela ação, alcançando, com a revolução industrial do
Neste trabalho, a compreensão da categoria "dialética" século X V I I I , estágio mais avançado na valorização do
vincula-se à dialética hegeliana e coincide, em boa parte, trabalho humano e da técnica face às exigências da produ-
com as quatro formas da sua lei básica, formuladas pela ção, ou seja, na "consciência da praxis produtiva".
filosofia marxista, ressaltando-se dois pontos, em decor-
rência de uma posição não idealista como em Hegel, e não
T R I C O T , Jean J. Aristote Ethique a Nicomaque. Introduction, notes,
materialista como em Marx:
6

index. Paris. Librairie Philosophique J. Vrin, 1972. Livro 1, p. 31.


Teorização do Serv. Social 161
160 CBCISS
pre com as conotações decorrentes de sua complexa con-
A praxis humana atinge, no dizer de Sanchez, sua reivin- ceituação pela filosofia marxista.
dicação plena na filosofia marxista que a adota como sua Implica antes um posicionamento com relação à prática,
categoria central, de onde caracterizar o marxismo como compreendendo-a como a atividade humana sobre dada
filosofia da praxis. Entendida esta como "atividade material realidade social, distinguindo-se da produção material e da
do homem que transforma o mundo natural e social par?, técnica, direcionada à consecução de objetivos predetermi-
fazer dele um mundo humano". 7
nados, atuação que permite conhecer essa realidade com
Como categoria central extrapola da prática no seu sen- mais objetividade e testar a teoria que a interpretou e que
tido produtivo, para alcançar a dimensão epistemológica gerou o modelo de intervenção, num processo constante
e ainda a dimensão ontológica, "ela nasce como resposta de realimentação teoria — prática — teoria.
filosófica ao problema filosófico: quem é o homem, o que Esse o sentido em que é compreendida a praxis neste
é a sociedade humano-social e como é criada esta socie- trabalho.
dade". 8

No que se refere ao conhecimento, a praxis proporciona 4) Da historicidade


o objeto do conhecimento — "o objeto do conhecimento é
produto da atividade humana". O conhecimento é o conhe- Para esta categoria, o grupo adotou o conceito de
cimento de um mundo criado pelo homem, isto é, inexis- Dilthey, que a entende, "de um lado, como relatividade dos
tente fora da história, da sociedade e da indústria. É ainda fenómenos ao passado e como conhecimento desse passa-
a praxis que proporciona o critério de sua verdade. A aferi- do; do outro, como "presença" do futuro em toda ação
ção da verdade de um pensamento tem que sair de si humana.
mesmo, plasmar-se, adquirir corpo na própria realidade, A historicidade não é apenas a busca daquilo que já se
sob a forma de atividade prática. realizou, mas o tecido da vida que se perpetua.
A praxis é ainda entendida como a praxis revolucionária Donde a conclusão: todo objeto das ciências humanas
que transforma a sociedade apresentando-se como uma é histórico, pois encontra-se em devir. Mas também essas
categoria sociológica, como um processo que se orienta disciplinas são históricas porque se desenvolvem ao mesmo
conforme determinada concepção do homem e do mundo. 9
tempo que a ação e o espírito humanos. E é neste sentido
que o conhecimento histórico também é humano." 11

Ainda, segundo Sanchez, "a relação entre teoria e praxis


é para Marx teórica e prática; prática na medida em que a
teoria, como guia da ação, molda a atividade do homem,
particularmente a atividade revolucionária; teórica, na me- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
dida em que essa relação é consciente". 10

FILOSOFIA
A categoria praxis vem sendo incorporada, nestes últi-
mos tempos, ao discurso dos estudiosos da realidade social BORNHEIM, Gerd Alberto. Dialética: teoria, praxis; ensaio para uma
crítica da fundamentação ontológica da dialética. Porto Alegre, Globo,
bem como aos documentos técnicos dos profissionais da 1977.
intervenção nessa mesma realidade. Entretanto, nem sem- FINK, Eugen. De la phénoménologie. Trad. Didier Franck. Paris, Éditions
de Minuit, 1930-1939.
FOULQUIÉ, Paul. A dialética. Publicações Europa-América, 1974.
7
SANCHEZ, Vázques Adolfo. Filosofia da Praxis. Rio de Janeiro. Paz JAPIASSU, Hilton F. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de
e Terra, 1968, Introdução, p. 3. Janeiro, Francisco Alves, 1975.
8
K O S I K , Karel. Dialética do Concreto. Rio de Janeiro. Paz e Terra,
2.* ed., p. 201.
JAPIASSU, Hilton F. Nascimento e morte das Ciências Humanas.
1 1
9
SANCHEZ, Adolfo Vázques, opus cit., ps. 151/152.
Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1979.
1 0
SANCHEZ, Adolfo Vázques. Ibid., ps. 150/157; ibid., p. 117.
162 CBCISS Teorização do Serv. Social 163
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1.2.1 CONSIDERAÇÕES EM TORNO DOS QUESTIONA-
MENTOS LEVANTADOS NO SEMINÁRIO SOBRE
O DOCUMENTO DE BASE. 2: Reflexões sobre o
processo histórico-científico de construção do ob-
jeto do Serviço Social.
Após a apresentação pelos grupos 1, 2 e 3 dos questio-
namentos levantados em relação ao documento do grupo
de São Paulo, sua relatora considerou que devido ao tempo
limitado para a elaboração do mesmo e ao fato de ter sido
elaborado por um grupo, com preocupações heterogéneas
a respeito do tema, não obstante a riqueza das discussões
sobre a matéria, o documento apresenta em algumas pas-
sagens insuficiente fundamentação na abordagem de certos
pontos básicos.
Passando aos questionamentos dos grupos a expositora
teceu as seguintes considerações:
1. Quanto à postura do grupo responsável pela elabo-
ração do documento.
O grupo não se colocou, de antemão, nesta ou naquela
posição filosófica ou metodológica, embora no decorrer do
trabalho seja possível identificar tendências que se apro-
ximam de um enfoque fenomenológico. Buscou-se identi-
ficar o essencial em várias posições, ao considerar o objeto
como um dos elementos especificadores do Serviço Social,
em sua teoria e prática.
Destaque especial foi conferido ao aspecto da ação no
Serviço Social. Situando-se na perspectiva moderna da
ciência como "visando à apropriação das forças da natu-
reza e do homem", o grupo admitiu a necessidade de acen-
166 CBCISS Teorização do Serv. Social 167
tuar a importância do desenvolvimento de teorias da ação No entanto, a construção da teoria do Serviço Social
na perspectiva de transformação social participada. Embo- exige uma consistência, uma coerência interna. Essa coe-
ra interligados, o processo de conhecimento da realidade rência não elimina a hipótese de adoção ou integração de
não se identifica com o processo de intervenção, nem se abordagens ou posicionamentos de mais de uma teoria
esgota neste, pois é da inter-relação que advém o processo ou filosofia.
da praxis. Dentro de uma perspectiva de historicidade, face ao
Um processo de teorização do Serviço Spcial encontra desenvolvimento das ciências do conhecimento e da ação,
embasamento não só na filosofia, que oferece as teorias do uma posição dogmática seria um empecilho ao processo
conhecimento, como supõem também, de maneira indis- dinâmico de construção das teorias.
cutível, a contribuição das teorias de intervenção.
Na opinião do grupo, estas teorias de intervenção não 4. Conceito do Serviço Social como disciplina profis-
têm sido devidamente levadas em conta no movimento de sional.
reconceituação do Serviço Social. O grupo admite que o Serviço Social não alcançou o nível
2. Quanto ao objeto, propriamente. de ciência, mas o de uma disciplina profissional que con-
tém um acervo de conhecimentos sistematizados (das ciên-
Pelas condições de trabalho, já antes apontadas, o grupo cias humanas e do próprio Serviço Social) e uma meto-
deixou de adotar um procedimento analítico em relação aos dologia de ação, o que se constitui em conhecimentos
oito conceitos arrolados. transmissíveis.
Reconhece, entretanto, que a especificação do objeto é 5. A construção da teoria da ação ensejaria em si mes-
uma necessidade, pois, de modo geral, os conceitos arro- ma uma sujeição a uma epistemologia ou teoria de
lados consideram o objeto genérico, mas não o específico conhecimento.
do Serviço Social.
Embora o título dado ao documento deixe supor que se O grupo admite uma distinção entre a teoria que se
trata apenas de reflexões sobre o assunto, o grupo consi- constrói sobre a realidade, ou seja, o objeto sobre o qual
derou oportuna a apresentação de sua proposta de objeto incide a ação do Serviço Social, e a teoria que orienta a
do Serviço Social, a título de sugestão para a continuidade ação propriamente dita, ressaltando sempre, porém, a
de discussão do problema, a partir da natureza do Serviço estreita relação entre elas. Igualmente a metodologia da
Social como disciplina profissional. ação ou da intervenção difere da metodologia do conhecer,
embora se inter-relacionem.
3. No desenvolvimento do trabalho, o grupo assumiu
abordagens diferentes, surgindo um posicionamento 6. O grupo fala de teoria/ação/teoria na l. a parte, mas
eclético da metodologia na construção do Serviço arrola autores que não instrumentalizam a posição
Social. antes assumida. Seria de presumir, também, que o
grupo não reapresentasse qualquer proposta de for-
O grupo não aceita a posição de que os fundamentos do mulação de objeto.
Serviço Social devam vincular-se exclusivamente a esta ou É possível que uma preocupação de caráter menos aca-
àquela filosofia (marxista, positivista, fenomenológica), démico e com vistas a dar um passo à frente na busca da
tendo uma posição de caráter pluralista ao procurar co- especificação do Serviço Social o tenha levado a queimar
nhecê-los ou identificá-los. alguma etapa.
168 CBCISS Teorização do Serv. Social 169
7. Atitude relativista do grupo, pois todas as concep- O grupo não desenvolveu como era de desejar-se a aná-
ções do homem e da sociedade seriam válidas para lise dessas categorias, pelo propósito do próprio trabalho
o grupo. e limitações já referidas.
Admitir que haja posições em serviço social fundamen- 11. O grupo constatou que, no desenvolvimento do tra-
tadas em diferentes filosofias ou metodologias científicas balho, o documento adotou abordagens da dialética,
não é ser relativista. O grupo tem uma posição, mas não da fenomenologia, ressentindo-se de maiores dis-
pretende que seja a posição do Serviço Social. Chega a cussões do caráter não dogmático assumido.
propor, noutro ponto do trabalho, que se busque estabe- O grupo reconhece que não desenvolveu como desejaria
lecer um conjunto de valores éticos e valores científicos maiores discussões sobre uma posição pluralista na cons-
que possam, estabelecer uma base comum para atuação trução do Serviço Social, considerando que a questão seria
produtiva por profissionais de diferentes ideologias, num abordada mais detidamente com a apresentação dos de-
contexto democrático de respeito à diversidade de cos- mais trabalhos dos outros grupos de estudo.
movisões.
Não é raro que centros decisórios, acima das esferas
técnicas, sintam-se perplexos face às divergências intrans-
poníveis de profissionais. O próprio desenvolvimento cien-
tífico tem esbarrado em bloqueios em razão de divergências
que ocorrem em fases iniciais de construção de uma teoria
ou de uma metodologia.
8. Diversidade de posturas teóricas quando se refere
a pressuposto básico e a componentes essenciais de
disciplina.
Reconhece que o trabalho reflete um grupo em transição
— coexistem o tradicional e o emergente.
9. Como é possível a visão teoria/ação/teoria se o Ser-
viço Social ainda não tem teoria? O conhecimento
novo não seria uma confirmação de teoria alheia?
Apesar de carecer de maior sistematização, o Serviço
Social, como outras disciplinas, dispõe de elementos e
categorias teóricas sempre em aperfeiçoamento, que em-
basam sua ação.
10. O documento coloca de maneira pouco explícita as
categorias ética — juízos de valor e os fundamen-
tos filosóficos, científicos e valorativos do Serviço
Social.
O SERVIÇO SOCIAL E A FENOMENOLOGIA
2.1 Conferência
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A FENOMENOLO-
GIA QUE PODEM INTERESSAR AO SERVIÇO SOCIAL
Creusa Capalbo
Para Edmund Husserl, a fenomenologia é uma ciência
eidética descritiva da realidade vivida. O método que pro-
põe é o da intuição das essências.
Começaremos a nossa exposição mostrando a luta de
Husserl contra o psicologismo, pois isto é necessário para
compreendermos a estrutura básica do seu método.

1. Psicologismo
O Psicologismo afirmava que pensar e conhecer eram
eventos psíquicos e que, por isto, a lógica dependia das
leis psicológicas. A lógica nada mais seria do que a técnica
do pensamento correto, conforme explica W. Stegmtlller. 1
Ora, Husserl mostra que a técnica nada mais é do que um
caso particular de uma ciência geral e normativa. Sem
normas que orientem a técnica esta não pode funcionar.
As ciências normativas, por sua vez, se fundamentam em
teorias, que dizem o que são as coisas e não apenas como
elas devem ser, conforme ocorre no caso das ciências nor-
mativas. Uma disciplina teórica estabelece proposições
1 STEGMULLER, Wolfgang. A filosofia contemporânea: introdução cri-
tica, vs. 1-2. Sâo Paulo, EPV, Ed. da Universidade de São Paulo, 1977,
ps. 58-91.
CBCISS Teorização do Serv. Social 175
baseadas em conceitos de verdade, em juízos, etc. Dessas humana e social. Ela o faz por criticar o pressuposto do
proposições é que se derivam os "princípios lógicos norma- modelo positivista que faz dos fenómenos naturais e dos
tivos e, em passos seguintes, são estabelecidas as regras fenómenos humano-sociais fenómenos sem distinções qua-
técnico-práticas".- Vê-se, então, que a lógica não depende litativas. Os fenómenos do vivido humano têm uma estru-
da psicologia, e, ao contrário, o que se precisa é constituir tura significativa construída pelos próprios homens. O vivi-
o que Husserl chama de uma "lógica pura" como teoria do humano e social é constituído de significados e recor-
geral das proposições lógicas a priori. rem a processos de compreensão e de interpretação e não
Refutado o psicologismo, já se pode entender que a rea- de explicação. Assim, para a fenomenologia não é possível
lidade vivida de que Husserl vai tratar não se confunde tratar o mundo humano e social como um mundo obje-
com a vivência psicológica. O vivido que interessa à feno- tivo e divorciado da interpretação dos próprios sujeitos.
menologia é aquele que pode ser descrito do ponto de Por isso é que Husserl dirá que o mundo vivido, humano
vista da sua estrutura essencial e não do ponto de vista e social, objetivo, intelectivo e prático é produto da ativi-
dos fatos psicológicos particulares. Chegar à essência ou dade significativa do próprio sujeito, intimamente ligado
ao núcleo eidético (Eidos = essência) é o projeto da ciên- à intenção e à interpretação, e, por isto, deve ser chamado
cia eidética, conforme Husserl a entende. de mundo subjetivo.
Como proceder para que a fenomenologia seja ciência? Podemos resumir as ideias principais da fenomenologia
Em que sentido ela se distingue da ciência empírica? A como ciência, segundo Husserl: a sua teoria significa que
resposta de Husserl é clara: só há ciência pela construção ela é descritiva da estrutura essencial do vivido, que ela é
de uma teoria. concreta, intencional, compreensiva e interpretativa.
A fenomenologia se volta para o estudo da realidade
2. Teoria social enquanto vivida na sua vida cotidiana. Nesse estudo
o investigador não se pode colocar numa atitude neutra.
A palavra Teoria indica, pelo seu radical grego, a ação É fundamental não se ignorar a participação do investi-
de ver com atenção, com vigilância e com cuidado. É assim gador nesta vida cotidiana. O cientista está inserido no
que esta ação de ver vigilante passou a se denominar mundo vivido, depende dele como um instrumento de seu
observação. A teoria é a visão cuidadosa onde a inteli- trabalho. É da vida cotidiana, da sua estrutura vivida, que
gência e a experiência direta com a realidade são indisso- emerge a fonte de significados sociais que se busca com-
ciáveis. Este sentido originário foi, no entanto, sendo ocul- preender e interpretar.
tado ou transformado. Hoje em dia teoria é definida como
o resultado de uma construção intelectual realizada pelo 3. A evidência das essências
cientista.
Dissemos no início que a fenomenologia é uma ciência Qual o caminho para se chegar à evidência das essên-
eidética descritiva. Ela é concreta e se volta para o vivido. cias? Husserl pensa ter encontrado este caminho ao expor
Pela descrição ela nos aproxima da essência, através de a sua teoria da redução fenomenológica.
um perspectivismo das formas que se mostram ao su- Para Husserl a essência é encontrada a partir das vivên-
jeito na relação figura e fundo. Assim, a fenomenologia cias intencionais fundamentais. Essas vivências intencionais
se distancia das ciências abstraías e dedutivas, confor- ou atos da consciência são de diversos tipos. Os atos inten-
me a matemática. Ela se distancia igualmente do modelo cionais são as vivências, por exemplo, do ato de significar,
da ciência natural como modelo a ser aplicado na ciência do ato de perceber, do ato de querer, do ato de imaginar,
do ato de agir, etc. Por este ato intencional um objeto é
visado sem que seja preciso que ele se encontre na cons-
2 Ibid., p. 59.
176 CBCISS Teorização do Serv. Social 177
ciência. O que está presente à consciência de modo vivido latente mas sendo vivido na vida cotidiana. A diferença
é o próprio ato intencional. Assim, é irrelevante, aos olhos fundamental entre aquele que vive e o que se volta para
de Husserl, saber se um ato de visar algo, que me coloca o estudo daquele vivido está no fato que os que vivem
diante de um objeto visado, me coloca igualmente diante aquela situação têm um interesse prático ao vivê-lo, e o
desse objeto visado como existente ou não. Para Husserl estudioso tem um interesse teórico no estudo do mundo
a existência não é objeto da fenomenologia nem da ciência. vivido dos "outros". 4 No entanto, o pesquisador realiza
Ela é o pensamento da própria vida. Ela é objeto da crença atos que são iguais aos da sua clientela: o perceber, a
ou da opinião. Por isso é que para se alcançar a essência constituição de objetos de seu interesse, o desejar, o que-
podemos partir tanto da percepção concreta e vivida de rer, etc. Em outras palavras, o pesquisador vive a sua
uma coisa quanto da sua representação pela imaginação. vida cotidiana embora esteja voltado para o vivido de seus
Isto leva Husserl a pensar que se deve, então, colocar clientes. Ele se volta para a sua clientela com suas supo-
entre parênteses a existência real das coisas e do mundo sições, com seus pré-conceitos, etc. O que se deve reco-
natural; elas devem ficar em suspenso para que tenhamos nhecer, então, é que há uma base comum na estrutura do
acesso à região das essências obtidas pela técnica da va- vivido que é formada de pré-suposições tanto por parte
riação imaginária. A fenomenologia não recorre à crença do pesquisador, ou do assistente social, quanto da sua
no mundo — esta deve ser colocada fora de circuito. É a clientela e que devem ser destacados para o estudo do
este movimento de suspensão do juízo relativo à existên- assistente social. Este tipo de análise fenomenológica se
cia do mundo que Husserl chama de redução fenomeno- denomina reflexão subjetiva do vivido. Por subjetivo se
lógica. No entanto é preciso igualmente passar do indivi- deve compreender a análise que leva em consideração os
dual para o essencial, como, por exemplo, passamos deste sujeitos da relação assistente social-clientela — enquan-
azul individual para a essência azul, desta criança menor to igualmente interessados em compreender o significado
abandonada individual à essência do menor abandonado, essencial de uma estrutura do vivido que se fez fenómeno.
etc. A evidência nos dá a identidade entre o vivido pen- Tal abordagem exige, no entanto, que se tenham subme-
sado e o objeto do vivido que nos é dado em pessoa, tido, previamente, à análise crítica, as crenças, os pressu-
postos, os preconceitos, as teorias a priori, etc.
4. Pré-reflexivo e reflexão "O mundo não pode ser experimentado ou conhecido
numa forma "bruta", livre de interpretações, pois é um
Assim, o vivido enquanto é simplesmente vivido não é mundo de objetos e relações significativas constituídas de
objeto da reflexão; ele se dá como não observado, como modo intersubjetivo, e que estão no mundo e não na
vivido sem ser refletido. Por isto Husserl diz que o vivido mente do observador... a objetividade é uma construção
é inicialmente pré-reflexivo. Quando ele se torna presen- subjetiva ou intersubjetiva." 5
te à reflexão ele é ainda um momento do vivido, mas
agora como objeto da reflexão.8
A reflexão é um ato da consciência que pensa o vivido, 5. Intencionalidade
que o eleva à categoria de presença para a consciência. A intencionalidade é o tema capital da fenomenologia.
Quando o fenomenólogo adota uma posição reflexiva, Husserl chamou de intencionalidade a propriedade que
uma atitude teórica, que faz um recuo para "olhar", para têm os vividos de serem "consciência de alguma coisa". 8
observar e refletir o mundo vivido em sua cotidianeidade,
ele procura tornar explícita a consciência daquilo que está
4 SMART, Barry. Sociologia, Fenomenologia e análise marxista. Rio de
8 HUSSERL, Edmund, Idées directrices pour une phénoménologie, Pa- Janeiro, Zahar Ed., 1978, p. 105.
ris, p. 77. 5 Ibid., p. 109.

« HUSSERL, E. Op. cit., p. 285.


178 CBCISS Teorização do Serv. Social 179
Assim, por exemplo, a percepção é percepção de alguma ciência de ..., que ela é consciência visando alguma coisa.
coisa; um juízo é um juízo de um estado de coisas; uma Assim, a consciência não é inicialmente consciência de si;
valoração é uma avaliação de um estado de valor, etc. ela é irrefletida antes de se tomar reflexão. Isto quer
A intencionalidade engloba os vividos, na sua classificação dizer ainda que a intencionalidade em exercício é mais
geral, em vividos cognitivos ou teóricos, vividos afetivos e ampla do que a intencionalidade exercida, pois aquela está
vividos práticos. Quando a intencionalidade se volta para sempre atuando em latência. Por isto é que P. Ricoeur,
um vivido afetivo, isto não quer dizer que as instâncias M. Ponty, A. De Waelhens, E. Fink, etc. dirão ser impos-
intelectivas e práticas não estejam presentes. Elas estão sível se alcançar uma reflexão total. A finitude da reflexão
presentes em latência embora a dominância esteja sendo está inscrita neste primado de que o sentido em um ato
do vivido afetivo. O mesmo ocorre quando a dominância ou a intencionalidade em latência está sempre em exercí-
é do vivido cognitivo: as instâncias afetiva e prática estão cio e é mais ampla do que a intencionalidade exercida,
presentes sob a modalidade latente. Quando predomina o tematizada e com o seu sentido proferido ou expresso.
vivido da ação, as estruturas do vivido teórico afetivo estão A fenomenologia é compreensiva e não explicativa, como
latentes. já dissemos. A compreensão é um tipo de conhecimento de
ordem intuitiva e sintético. A explicação é de tipo analítico
6. Significação e compreensão e discursivo, ou seja, ela divide o todo em seus elementos
para analisá-los, procurando ao término reconstruí-los
Os vividos intencionais são informados de significação numa ordem de reflexão causal. A compreensão se define
pela consciência. Husserl esclarece que os fenómenos de para a fenomenologia como a apreensão de um sentido,
"significação" e "expressão" são correlativos. Através do isto é, uma apreensão global do modo de aparecer que é
ato de significar passa-se à expressão de uma experiência próprio a um objeto. Não se pode apreender o objeto
intencional, em que de algum modo um objeto foi inten- na sua integralidade de uma só vez e sob todos os seus
cionado. Por causa deste poder de significar que o homem aspectos ou ângulos. No entanto, o que se conhece atual-
possui, é que compreendemos que olhar as coisas não é mente já designa os outros aspectos que poderemos vir a
um mero olhar, mas que se trata de um ver ou de um conhecer.
observar discernindo, de um ver inteligível. Este ato de Os fatos humanos são exemplos de realidades que não
"ver inteligível" do pólo no ético da consciência é o ato podemos apreender em sua totalidade de uma só vez.
dé significar ou de dar sentido a alguma coisa. Assim, por exemplo, um gesto, uma palavra revelam a
Para a fenomenologia é necessário compreender que os personalidade de alguém, mas não a totalidade absoluta
fenómenos sociais são constituídos inter subjetivamente por da sua personalidade.
sujeitos que estão numa interação significativa. Os fenó- A compreensão visa à apreensão da totalidade dada e
menos sociais não são uma abstração em relação aos da significação global de uma forma ou de uma estrutura
sujeitos que vivem estes fenómenos. que nela mesma não pode ser decomposta. Para com-
Nem todas as vivências são vividas conscientemente; preender (cum-penere) preciso discernir, escolher, sele-
podemos experimentá-las irrefletidamente, conforme já cionar, separar, agrupar, apanhar, apreender. Preciso co-
dissemos anteriormente. Trata-se da zona virtual da cons- locar-me numa perspectiva, fixar-me em algo. Por isto
ciência que é vivida mas não reflexivamente. Esta verdade não podemos compreender a totalidade a não ser sob a
da vida pré-reflexiva ou antepredicativa tem sua fonte forma de perspectivas, embora ou talvez porque esteja-
própria de verificação na intuição. A fenomenologia se mos enlaçados nela. Estas perspectivas se dão na expe-
inicia por um deslocamento da consciência imediata para riência da realidade. Por sua vez a experiência da reali-
surgir e se iniciar a reflexão. A consciência, pela sua dade não é a mesma para todo mundo. Assim, a experiên-
intencionalidade, nos mostra que ela é antes de tudo cons- cia da realidade vivida por um esquizofrénico não é a
180 CBCISS Teorização do Serv, Social 181
nossa; ele vive a estrutura do ser real de um modo original e da agressão recíproca. Assim, a estrutura do existir
que nele mesmo é por nós ignorado. Por isto, falar da humano é encontro sob a modalidade do existir com ou
experiência do real significa falar que a experiência se dá do existir contra.
numa história pessoal, numa história vivida singularmente A possibilidade do encontro humano se funda, final-
mas que tem uma estrutura essencial. mente, sobre a presença do homem que por seu corpo e
no seu corpo se comunica expressivamente com alguém.
7. Liberdade e encontro O corpo permite que entendamos o movimento signifi-
cativo dos membros, o conteúdo expressivo do rosto e
A historicidade a que acabamos de nos referir nos faz do comportamento, a fala, etc. Em cada encontro se inau-
passar ao mundo da liberdade situada. gura um diálogo e se funda um mundo comum; ele é
A liberdade é o que nos permite dizer não à natureza. acompanhado de uma emoção. Não há encontro humano
É ela que nos permite ver que somos outro em relação sem relação afetiva. A emoção humana é um modo da
ao universo. Pela liberdade situada percebo que sou pre- existência humana indissociável do encontro.
sença ao mundo, presença aos outros, presença ao meu Para haver encontro é preciso haver presença. Esta se
passado, ã minha história e à minha cultura. dá sob diversas formas. Assim, quando Heidegger escreve
Pela minha presença aos outros se dá a génese e a que "pelo templo, o Deus está presente no templo", esta
significação do encontro enquanto acontecimento humano. presença do Deus da Antiga Grécia não se compreende
Conscientemente ou não, o homem assume em cada en- da mesma forma que a presença de um livro numa es-
contro um papel que ele desempenhará. Este papel é deter- tante, ou a presença de Deus na Eucaristia para os cató-
minado em parte sociologicamente pelas relações sociais, • licos. Aquela presença do Deus Grego leva ao reencontro,
pelas situações de classe, pelos conflitos sociais e de classe, nosso com ele, através do templo descrito como obra de
arte.
pela profissão, etc. A análise das relações com o outro na modalidade do
O encontro se dá entre seres em situação, entre pessoas encontro mostra-nos que este se dá sob a forma de en-
engajadas, numa relação de uma existência com outra contro afetivo, encontro sexual, encontro com o grupo,
existência. O mundo do encontro é um mundo inter-huma- encontro com o anonimato da multidão, encontro com
no. Ele não pode ser demonstrado. Ele só pode ser reve- uma instituição, encontro com um autor, através de sua
lado enquanto relação afetiva, enquanto percepção do obra, etc. São formas de relações do homem com o mundo,
outro, enquanto acolhimento ou recusa do outro, etc. do homem consigo mesmo, dos homens entre si. Dizemos,
O encontro humano é expressão de uma dupla intencio- então, que Deus, o homem, a verdade podem se tornar
nalidade. De um lado eu me dirijo para o outro para presentes para uma consciência. Em nossa experiência
apreendê-lo, conhecê-lo e fazer dom de mim próprio. De vivida dá-se o nosso encontro com Deus, com os homens,
outro lado o outro se dirige para mim para acolher-me com a verdade, etc. Isto quer dizer, ainda, que as exis-
ou recusar-me, para apreender-me e para deixar-se conhe- tências de Deus, dos homens e da verdade estavam dissi-
cer e conhecer. Esta dupla relação indica que a existência muladas ou ocultas, e que agora se tornaram presentes,
é um misto de atividade e passividade. No encontro sem- apresentaram-se, revelaram-se.
pre se dá e se recebe. Trata-se do encontro sob a forma
da coexistência — do existir com. Mas, pode-se dar o
encontro no seu sentido literal, isto é, ir contra alguém, BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ser contrário a... — é a coexistência na contradição.
Nesta o outro se revela obstáculo a ser ultrapassado. CAPALBO, Creusa. Fenomenologia e ciências humanas. Rio de Janeiro. |.
É a forma do encontro sob a modalidade do antagonismo Ozon, 1973. 118 ps.
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Anna Augusta de Almeida
Ilda Lopes Rodrigues da Silva (Coordenadora)
Maria Adelaide Ferreira Gomes
Maria Augusta de Aguiar Ferraz Temponi
Maria Júlia Nin Ferreira
Maria Madalena do Nascimento
(Rio de Janeiro)
Dentre as preocupações de Serviço Social como disci-
plina de intervenção na realidade social, emergem aquelas
relativas ao fenómeno conhecimento, saber progressivo,
e aquelas que envolvem a adoção de princípios e valores
que devem ser assumidos.
Essa situação configurada como "crise" encontra na
postura compreensiva perspectivas amplas para repensar
os seus fundamentos e sua racionalidade na tentativa de
discernir a nova problemática.
A meditação do conhecimento do Serviço Social a partir
de interrogações e reflexões pode indicar uma abertura.
O Serviço Social, elegendo o social como tema, procura
se interrogar sobre o mesmo visando a um conhecimento
e a um processo de transformação social. Essa interro-
gação básica desdobra-se pela escolha dos vários temas
que se propõem como enfrentamento.
O Serviço Social, ao voltar-se para a pessoa em suas
relações interpessoais e em suas confrontações com o
184 CBCISS Teorização do Serv. Social 185
ambiente, parte de uma visão de homem e mundo. Ao O que é o ser em situação, transforma-se em quem
postular como sua intenção o desenvolvimento da capa- é o ser em suas relações sociais. Interessa apreender o
cidade do ser humano leva em consideração o homem sentido que a pessoa dá à sua própria existência que
como pessoa. se inscreve no tempo e se realiza num processo histórico.
Como ponto de apoio e partida para uma praxis, inda- Se o Serviço Social como profissão pretende atingir esses
ga-se numa perspectiva profissional: níveis de compreensão, só pode chegar ao conhecimento
do "ser" à medida que ele se descobre para o assistente
— o que é o ser em situação? social. É por isso que o conhecimento em Serviço Social
— o que é viver nesta sociedade? não se restringe ao nível de objetivação mas persegue
— como apreender o social através de pessoa? o nível de subjetividade. É a partir de uma situação pro-
— como capacitar pessoas visando o social? blematizada que se levantam questões significativas que
Na reflexão manifesta-se uma tensão para além do pretendam se dirigir às condições de possibilidade de co-
fenómeno social, que provoca o questionamento do modo nhecimento.
fundamental do homem estar no mundo, assim como o Metodologicamente é fundamental apreender-se a di-
modo desse mundo estar para o homem. mensão estrutural da existência que se configura no seu
Para atender a essas exigências de pessoa no mundo modo de ser no mundo que engloba a pessoa, as suas
reconhece-se o homem como um ser encarnado, situado relações com as pessoas e com as coisas. Essa dimensão
no mundo com as demais pessoas. A consciência desta exige uma perspectiva que considera o singular e, par-
condição de "ser-com" só se dá quando ele se abre ao tindo deste, chegar à apreensão das realidades sociais num
outro. contexto maior (o próprio sentido, o sentido do outro e
A situação de "homem no mundo" não significa algo o sentido do nós).
pronto e acabado; ao contrário, significa uma exigência Situação é o mundo no qual o homem está presente,
de participação. mas, se quiser realizar-se plenamente como ser, terá que
A produção do conhecimento em Serviço Social parte assumir esse engajamento livre e conscientemente.
das realidades mais profundamente humanas que emer- O sentido aparece a nível de compromisso como uma
gem da vida do cotidiano nas suas relações com os outros condição de passagem de necessidade a liberdade.
(família, vizinhança, relações de trabalho...). As relações Este processo se dinamiza através do diálogo, enten-
das pessoas com as pessoas articulam-se em interações dido, aqui, como uma forma de ajuda psicossocial. O
singulares. diálogo ocorre numa relação mutuamente significante que
Esse processo de conhecimento supõe um acolhimento se manifesta por um apelo de um lado — a intenção da
do outro no sentido de "ser compreensão de ser". ajuda profissional, e, de outro — o do querer ser ajudado,
O acesso ao ser só se dará pela abertura à intersubje- Nele, realiza-se uma experiência enriquecedora, do qual
tividade ao nível de outras pessoas, através da comunhão. ambos são sujeitos na investigação do tema eleito e na
"Se eu me abro realmente à comunhão intersubjetiva, construção de projetos de existência humana. Esse pro-
se eu recebo o outro e me dou, nós ascendemos juntos cesso exige tanto o conhecimento do sujeito profissional
um pelo outro no plano de ser" (Robert Fays). quanto o conhecimento do sujeito cliente.
Serviço Social, assim, se propõe a um desenvolvimento A exigência deste tipo de conhecimento é ao nível de
da consciência reflexiva de pessoas a partir do movimento compreensão, supondo a descrição do vivido, a descoberta
dialético entre o conhecimento do sujeito como "ser no do sentido do vivido, a caracterização da estrutura do
mundo" e o conhecimento do sujeito como "ser sobre vivido e finalmente o estabelecimento de constâncias da
o mundo". Isso se realiza numa dimensão temporal e estrutura do vivido.
histórica.
186 CBCISS Teorização do Serv. Social 187
As implicações desta opção propõem uma atitude de um objeto científico. Diante da evidência o Serviço Social
saber ouvir, sentir com, perceber. não pretendeu nem pretende mostrar-se incapaz de com-
Nesta perspectiva de interação a pessoa-cliente revela preender aquilo que tenciona explicar. Ao visar seu objeto
para a pessoa-assistente social aquilo que tem para ele de estudo, procura, na razão e não-razão, os fundamentos
um significado, o ser vivido, ele consigo mesmo, com da compreensão em função do material de pesquisa que
outros, e com as coisas. prepara a explicitação.
A pessoa-assistente social aprofunda com a pessoa- Esta pretensão, no tempo, deu possibilidade à criação
cliente, questionando sobre os conteúdos revelados, ten- de modelos entre os quais o "psicossocial", que contribuiu
tando clarear e ampliar os horizontes, emergindo sentidos para dar uma estrutura diagnostica à situação-problema
novos. como objeto de estudo. E, do mesmo modo, pôr em evi-
Na existência dialógica desenvolvem-se formas de apro- dência nela os aspectos do vivido numa "avaliação" que
ximação de realidades considerando a estrutura de vivido envolve a caracterização do ser-em-situação. O que signi-
na sua historicidade e na sua cultura. fica a existência da noção-limite dos procedimentos de
É através da reflexão que se consegue atingir as expe- uma lógica interna de duas filosofias.
riências reais na sua diversidade para conseguir apreender Hoje a dialética da complementaridade nos leva a revi-
e compreender o horizonte ou o universo no qual o ser sar essa postura fenomenológica inicial. Questionar o tema
se revela, permitindo chegar a um conhecimento novo. a partir da reflexão sobre a possibilidade da ciência, orien-
A descoberta de um novo sentido identifica conteúdos tado pelo reconhecimento de que "o horizonte dos logos
que, tomados em conjunto, vão se transformar em pro- científicos é radicalmente diferente do horizonte dos ob-
jetos. jetos percebidos", como afirma Husserl.
O projeto traduz uma praxis humana que contém uma Esta tomada de consciência permitiu, aqui, colocar en-
etapa fundamental da existência humana. tre "parênteses" a estrutura da avaliação-diagnóstico para
Os projetos se manifestam como respostas novas de questioná-la no interior de uma fenomenologia, ou antes,
conhecimento e ação da pessoa frente a si mesma, aos a partir de suas próprias possibilidades.
outros e com as coisas. Neste sentido, fazer aparecer numa "estrutura espa-
Finalmente, a atitude fenomenológica e as ideias cen- cial" as dimensões das situações sociais-problema, a partir
trais que orientam a fenomenologia abrem caminho para e dentro das quais se manifestam, em suas tipicidades
o estudo do comportamento do homem. Sua contribuição ou singularidades, é constituir a "avaliação-diagnóstico"
principal para o Serviço Social está na possibilidade de num discurso fundado na metodologia da compreensão.
oferecer uma reflexão sobre os limites da racionalidade Efetivamente, a avaliação-diagnóstico constitui uma estru-
e da objetividade que permitam o fazer e o refazer dos tura espacial dentro da qual estão situadas todas as pes-
métodos e das técnicas na praxis. soas enquanto reduzidas ao aspecto que é próprio da
Nosso propósito agora, aqui, é pensar o contexto teó- condição humana: ser sujeito do social que constrói e
rico fundado na fenomenologia a partir da abordagem que por ele é construído. Assim, cada "avaliação-diagnós-
de alguns dos aspectos, "somente alguns", que compõem tico" é objetivação de uma situação social enquanto objeto
nossa metodologia. delimitado pelo enfoque da intervenção do Serviço Social.
Delimitação que, em certo sentido, é legitimada pela inten-
cionalidade mas deformada pela visão parcial da expo-
A investigação diagnóstica sição de uma situação social-problema como objeto.
O conceito de diagnóstico social que marca a fundação Isto implica aceitar que o serviço social tem uma ma-
da perspectiva científica do Serviço Social é questionado neira de visar o homem como ser no mundo e como ser
por não configurar o seu objetivo de conhecimento como sobre o mundo.
188 CBCISS Teorização do Serv. Social 189
A apreensão do homem em suas relações interpessoais — ser o desvelamento do modo de ser — na situação
e sociais se faz por uma atitude de abertura que progres- pessoa-assistente social e pessoa-cliente — a objeti-
sivamente capta, pelas descrições da "estrutura do vivido", vidade que cria a correlação su jeito-objeto;
seus significados. — ser a objetividade redutiva o horizonte dentro da
Visa as realidades vividas dentro de uma perspectiva qual a situação social, ou seja, a enunciação, aparece
de temporalidade (aqui e agora). Mas como a história delimitada pelo enfoque.
dos homens tem um sentido que nos faz questionar que
há no tempo mais que o tempo, não se pode supor a • A leitura da descrição da enunciação^ como o momento
realidade da pessoa-cliente sem supor a da comunidade que provoca o questionamento de seus conteúdos^se faz
de que faz parte, porque nela há mais do que ela própria. a partir da "redução". A reflexão leva assistente social
A tentativa de compreensão leva a conhecer a pessoa e cliente, como co-autores, a partir das aparências empí-
e suas manifestações sem perder de vista o contexto social ricas, a provocarem a ruptura, ou seja, desligarem-se das
em que está inserida e todas as implicações advindas certezas, do saber constituído. A ruptura como "redução"
do mesmo. Leva a ver o homem de forma global em suas é a atitude fundamental da metodologia. Provoca uma
inter-relações, a distinguir seus atos de conhecimento em experiência no fenómeno, isto é, leva ao trabalho de ana-
seus níveis diversos de conhecimento, conhecimento preen- lisar e aprofundar o que esse fenómeno é em si, ou seja,
chido de conteúdo social. o que significa intrinsecamente.
A preocupação de compreender a "pessoa em situação" Assim, a situação social-problema se define como o
se aprofunda na medida em que o aproveitamento dos próprio ser do aparecer — e neste mesmo ato redescobri-
dados revelados pelas descrições se articulam de forma la no mundo. Num outro nível, é o modo de aparição
da situação social na consciências A significação dos fatos
a apreender o "invariante", ou seja, o "núcleo central" da como experiência, uma vez que os fenómenos não nos
"situação existencial problematizada". aparecem mas são vividos. Em outras palavras "a signi-
Assim, a estrutura espacial da avaliação-diagnóstico é ficação dos fatos só se revela em situação", A redução
despnhada no primeiro movimento pela descrição de uma leva então a pessoa-cliente a compreender que o seu pro-
situação social enunciada como problema pela pessoa- blema só tem significado dentro da singularidade da sua
cliente. A proposta é captar cada vez mais a realidade situação existencial, ou seja, no modo irredutível de se
mostrada através de uma reflexão onde a situação é ima- mostrar.
nente ao discurso. A reflexão crítica parte das colocações percebidas pe-
A possibilidade de atingir a caracterização da estrutura los sujeitos cliente e assistente social, para intencional-
espacial reside em admitir: mente desenvolver a compreensão dos fenómenos que
estão em análise, visando a uma tomada de consciência
— a enunciação constituída pela exposição de uma geradora dos temas de reflexão/Provoca o questionamento
situação social-problema como o que é dado (fenó- da "estrutura-valor" que oferece solo ao saber do assis-
meno) e que lhe dá a primeira direção; tente social e do cliente» a qual os liga de uma forma ao
mundo. \Isto implica admitir que na avaliação-diagnóstico
— ser o distanciamento, criado pela enunciação, o es- o conhecimento é sempre mediatizado por uma pré-com-
paço entre o assistente social e o cliente, o provo- preensão, ou seja, um consenso que a precede, que está
cador do relacionamento profissional; aí^Daí (do as) a preocupação com referência ao quadro
— ser a intencionalidade o assumir a verdade dessa dis- teórico e ao sistema de valores sócio-culturais (do cl)
tância e os objetivos profissionais no sentido de sua presentes no interior da interpretação. Com efeito, a-inter-
realização; pretação,/ para se concretizar,/tenta desOTíülíar essa "es-
190 CBCISS Teorização do Serv. Social 191
trutura-valor" para conhecê-la. Admite a correlação entre transformação a partir e dentro da qual se constituem
o conceito do pré conceito e o da ideologia numa comple- os projetos de "ação interventiva" visada como capaci-
mentaridade dialética. Assim, as condições de inteligibili- tação social v -A possibilidade de provocar a capacitação
dade são procuradas no próprio objeto da investigação- social reside no fato de o serviço social expressar uma
diagnóstico, isto é, na situação social-problema. Afirma-se, forma de acolhimento de um homem para o outro., jA
então, que a "teoria não deve ser separada da experiên- abertura ao outro e consequente engajamento no ser só
cia", isto é, do vivido. Que a noção de valor põe-nos diante
do problema filosófico. se dá a partir do encontro^ Pode-se dizer que cada en-
A tarefa de compreender numa avaliação diagnostica contro é exclusivo, embora guarde uma característica de
é a de elevar a nível do discurso aquilo que inicialmente habilidade, p encontro é sempre um acontecimento ^desta-
se descreveu como estruturado na situação social-proble- cado, algo novo, um impacto que obriga o homem á sé
ma. O discurso é construído no diálogo assistente social- revelar. ,
cliente, onde a descrição e a explicitação mediatizam o O conhecimento do singular permite a compreensão
compreender. das estruturas do vivido dentro de uma relação de inter-
/ A situação social-problema não é aquilo que o cliente subjetividade. Cada descoberta é uma singularidade que
de uma forma ingénua revela, mas a situação social-pro- admite a compreensão do ser enquanto ser, a participação
blema a partir da qual deve ser apreendida. de cada ser como pessoa.
A provocação intencional para o conhecimento do mun-
Intervenção social do se dá numa unidade dialética entre ação-reflexão ao
desencadear o social .que nela se dá.
Isto implica aceitar o diálogo, não fundamentalmente
A exigência de satisfação de necessidades básicas ex- como instrumento, mas como forma de ação interventiva
pressa pela clientela do serviço social visava diretamente com relação a uma situação concreta.
problemas empíricos e envolvia a problemática de distri- -A estrutura espacial da ação interventiva é a descrição
buição de riqueza (pobreza>.' Neste sentido a prática as- da estrutura da transformação operada sotx a forma de
sistencial apresentava aspectos "marginais" de conheci- capacitação sociaL. é processada como movimento a partir
mento por se basear unicamente em elementos materiais da colocação da pessoa-cliente como co-autor da avaliação-
de uma dada situação. diagnóstico. Nesta perspectiva específica significa capa-
A partir da operacionalização do diagnóstico social, a citar o cliente a realizar a própria "avaliação-diagnóstico"
intervenção do serviço social passou a articular o conhe- e compreender o projeto de transformação que está vi-
cimento da "estrutura do vivido" como auxílio concreto vendo/ Estes dois atos se encontram de tal forma arti-
exigido como resposta às necessidades manifestas. -Nessa culados que não pode haver um ato de consciência sem
perspectiva o "tratamento social", como prática, que carac- transformação provocada pela própria consciência.
terizava a ação interventiva, passou a significar "ajusta- O projeto como fenómeno é possibilidade do que se
mento" e/ou "adaptação" ao tentar eliminar as disfunções quer e se pode fazer. Como realidade concreta tende sem-
internas e externas de uma dada situação condicionada pre a transformar uma situação que contém resistências
e prolongada por um certo equilíbrio. ou desafios e expõe contradições. Dimensiona as catego-
No contexto de uma crítica do tempo presente à inter- rias — vontade, esforço, trabalho, movimento, ação, resis-
venção social,'o serviço social é acusado de estar voltado tência, contra-ação — que manifestam a estrutura mais
para a promoção do indivíduo e as exigências do sistema universal de toda ação humana.
e não no sentido da pessoa-sujeito do social. O projeto como ação humana é atividade de pessoa
Admitida como válida a reflexão, a intervenção social, que produz permanentemente nela um sentido^ porque
hoje, passou a ser questionada como operacionalização da ela pode dar-se conta disso. Projeto ele próprio consti-
Teorização do Serv. Social 193
192 CBCISS
BRUYNE, Paul et alii. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais. Rio de
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2.2.1 CONSIDERAÇÕES EM TORNO DOS QUESTIONA-
MENTOS LEVANTADOS NO SEMINÁRIO SOBRE
O DOCUMENTO DE BASE 2.2: Reflexões sobre a
construção do Serviço Social a partir de uma abor-
dagem de compreensão, ou seja, interpretação feno-
menológica do estudo científico do Serviço Social.

1. Apresentação
Antes de responder às questões levantadas pelo plená-
rio, é significativo para o grupo que elaborou o trabalho
informar que ele assumiu a reflexão epistemológica do
Serviço Social a partir da abordagem de compreensão^
Na realização da tarefa, a metodologia de trabalho eleita
caracterizou o conhecimento da própria fenomenologia
como exigência primeira.^
Nesse sentido, numa primeira etapa, houve a preocupa-
ção em pesquisar a bibliografia^ Seguiu-se a seleção de
autores e a eleição dos temas — intencionalidade, singu-
laridade, reflexão eidética, redução, encontro e diálogo
— que delimitaram as reflexões críticas no estudo.^A sín-
tese, elaborada a partir das discussões, gerou no grupo
a consciência da possibilidade de integrar as ideias das
categorias estudadas à abordagem do Serviço Social .çN.uma
segunda etapa,, emergiram os-questionamentos dos funda-
mentos do Serviço Social articulados aos conceitos de
pessoa e de mundo (indicados por filosofias existenciais)
e a análise crítica da metodologia do seu processo de
objetivação, ligada à história de suas. práticas,? Na^etapa
JBsiaLJ^M redigido o dojmmento, dividido em duas partes:
uma introdutória é outra onde se tenta caracterizar, no
"quadro da compreensão", a estrutura da teoria do Ser-
Teorização do Serv. Social 197
196 CBCISS entre sujeitos (assistente social e cliente), onde o diálogo
viço Social configurado pelas categorias da investigação- é motivado pela possibilidade de ser assumida a ideia
diagnóstico e da intervenção social. A leitura das questões de uma postura de "comunhão". Além disso, a ideia de
levantadas no Sumaré resultantes da crítica ao documento consciência como forma de existir do homem como sujeito
provocou novas reflexões e levou o grupo à compreensão permite-nos admitir a problemática da atividade cognitiva
da exigência de recolocar as categorias — pessoa, cons- na dimensão humana, ou seja, vinculada aos pólos afetivo
ciência reflexiva, projeto, praxis, totalidade vs. singulari- e da ação (prática).
dade e invariante — de modo a provocar.um conheci- Em resposta à pergunta — "como caracterizar a cons-
mento que permita percebê-las integradas aos conceitos ciência como reflexiva?", pode-ge dizer que na dinâmica
operativos de Serviço Social. Assim, através da colocação da compreensão há um esforço inicial de reflexão sobre
das ideias principais, as questões levantadas pelo plenário uma situação concreta,, o "vivido'V que é percebido no
vão sendo respondidas. "aqui .e agora''. Existe sempre uma situação não dada,
Será obedecido o seguinte esquema: mas vivida, que é pensada, ou seja, captada por uma
\Em primeiro lugar, serão colocadas as ideias contidas reflexão intuitiva. Nesse sentido, na dinâmica do diálogo
nas categorias de pessoa e consciência reflexiva. Depois, (no processo de serviço social), pensar e refletir (na acep-
as ideias das categorias que foram relacionadas com a ção compreensiva e concreta) de uma ação, não é exclu-
intervenção (ajuda psicossocial): praxis e projeto. E, em sivamente um ato reflexo nem um ato contemplativo, mas
terceiro lugar, as ideias articuladas à verdade (conheci- comunicação entre consciências. / Nela acontece a cons-
mento): totalidade vs. singularidade e invariante. ciência reflexiva como categoria fundamental na medida
em que a pessoa situada e datada pensa e repensa algo
que, captado por intuição, passou a tematizar como pro-
2. As categorias de pessoa e consciência reflexiva cedimento operatório inicial, em busca da compreensão.
/"Qual sentido básico do pensamento existencial está 3. As categorias de praxis e projeto
contido na categoria PESSOA?" Primeiro, a afirmação da
primazia do sujeito, entendido não na visão de "indivíduo" O grupo admite a PRAXLS como atividade humana,. Mas
(dependente das categorias propriamente científicas) mas quer sublinhar que admite não existir nada humano, quer
na de projeto — "ser construindo-se a si mesmo^. .Escla- no indivíduo quer na sociedade, sem retorno sobre "si
rece esta ideia de sujeito a compreensão do homem com mesmo". Daí porque não a concebe, apenas, como uma
a capacidade para enfrentar sua própria situação, homem transformação do objeto, da natureza, mas como uma
agente de sua própria transformação. Além disso, a ideia transformação do próprio sujeito. Esse retorno sobre "si
de pessoa não se limita apenas à dimensão de "ser em mesmo" implica uma reflexão que possibilita ao sujeito
si", sujeito singular, mas "ser situado", sujeito histórico. (assistente social ou cliente) estar presente no que faz
"Nessa perspectiva, pode-se dizer que a pessoa que está e no que ó. O pensamento fenomenológico — mais espe-
conosco numa "situação de trabalho" é o "ser indo"/Insis- cialmente em Husserl — permite encontrar como corre-
timos dizer: sujeito que assume sua historicidade na me- latas ação e reflexão; apesar de distintas, uma é consi-
dida em que pratica sua liberdade. Assim, o ato de cons- derada na outra, onde o homem será visto como pessoa
ciência como o ato próprio do sujeito caracteriza, para que se exprime e se comunica através da cultura por
o grupo, a especificidade da categoria — pessoa., ele criad». A reflexão visa dar significação as próprias
,A ideia de pessoa nas duas categorias profissionais ações. Porque humana, a praxis supõe uma ação de reci-
sujeito-cliente e sujeito-assistente social — introduz-nos procidade, isto é, de diálogo, que é uma forma de enri-
na própria compreensão da exigência da inter sub jetivi- quecimento da própria ação, não apenas participada, mas
dade (o fato de ser-comtf Neste sentido, o trabalho do
Serviço Social supõe-se ser realizado através do encontro
198 CBCISS Teorização do Serv. Social 199
falada por muitos. Quando a praxis expressa por exigência Esta experiência, assim' caracterizada, configura o pro-
uma ação sobre outrem, neste sentido se contrapõe a uma cesso de serviço social, ou seja, a ajuda psicossocial pou-
mera ação de produção. A produção aplica-se a uma natu- sada como a "teoria da intervenção social".
reza material, a um aquilo, a terceira pessoa que implica A compreensão da categoria "intervenção social" na
a ação de transformação sem reciprocidade. Ao discutir dimensão psicossocial é tradicionalmente caracterizada
praxis em Serviço Social, acreditamos que a ideia de reci- pelos seus conteúdos constituídos a partir de um saber
procidade, caracterizando a categoria "diálogo", é a exi- científico: psicanalítico, psicológico e sociológico. Os con-
gência primeira que se coloca diante de.nds, por confi- ceitos do seu quadro de referência sempre estiveram amea-
gurar o pensamento fenomenológico no sentido que opera çados por não se encontrar na sua construção, num nível
o conhecimento em ação (movimento) no ser (por estar de linguagem discursiva, a caracterização dos objetos cien-
na origem de toda experiência possível). tíficos. Na perspectiva de técnica, o serviço social impôs
Numa atitude fenomenológica onde a visão existencial a si u m v dependência de pensar as problemáticas reais
de pessoa integra a ideia de "ser indo", a problemática dentro dos quadros de referência positiva e funcionalista
profissional é formulada a partir de u m "agora", carac- sem a exigência crítica de uma epistemòlogia^Essas colo-
terizado como "tempo para a ciência", ou seja, uma situa- cações indicam a intenção de comunicar a que se refere
ção que se reduz a uma objetivação na busca de uma inte- a reflexão epistemológica assumida pelo grupo, a partir
ligibilidade maior. Esse "agora" funda-se sobre o vivido, da qual foi tentada a estruturação da teoria de "inter-
isto é, refere-se a "algo existente" para uma individuali- venção social" na abordagem de compreensão.
dade, como o "próprio ser do aparecer". Aos questionamentos levantados no plenário, sobre "co-
Na relação profissional assistente social-cliente a ideia mo sair da perspectiva sociológica", a resposta se encontra
de situação caracteriza um "agora" constituído por uma na distinção de perspectiva em relação ao modo de apreen-
situação social particular (uma concreção), objetivada der e descrever o fenómeno que se tenta compreender, e
(colocada frente aos sujeitos), problematizada (sentido não em abandonar o conhecimento sociológico, que dá
e significação), em busca de maior compreensão. conteúdo ao nosso saber.
O termo PBOJETO (ser indo) indica nessa relação o \No documento está clara a eleição do tema "o social"
caminhar junto do assistente social-cliente (como sujei- como "horizonte'4 Sua problematização vinculada às cate-
tos) na experiência da descoberta do "fenómeno". Ë um gorias da prática permitiu o estudo na perspectiva feno-
procedimento que supõe, a partir de um esforço de refle- menológica.\Horizonte compreendido como a totalidade
xão sobre os conteúdos de consciência, uma atividade onde se configura a dimensão humana, ou seja, a história
cognitiva e critica não desvinculada das dimensões de afe- do homem mediatizada pelo mundo/
tividade e da prática (ação). A pretensão é desenvolver Quanto às interrogações colocadas no plenário sobre
o "projeto", ou seja, o "ir-sendo", numa experiência onde — "como é que a comunhão poderá se dar se os compo-
a comunicação caracteriza o movimento da intersubjeti- nentes da dupla assistente social-cliente fazem parte de
vidade como formas de participação ao oferecer possibili- grupos diferentes e o problema é do interesse do cliente"
dade no diálogo da compreensão, renovação e transfor- — a resposta parece estar na compreensão do sentido
mação da "situação visada". Nela a objetividade dialética dado ao "mundo dos homens".
ou fenomenológica envolve a problematização que tem Quanto à pré-compreensão do assistente social a uma
sentido para as consciências (assistente social e cliente), possível atitude de dominação sobre o cliente, cumpre
um significado definido por um valor cujo conhecimento responder que a compreensão no diálogo assistente social-
é direção para o mundo dos homens, ou seja, para um cliente não deriva exclusivamente da pré-compreensão do
produto de trabalho cujas transformações fundam novas assistente social, mas se funda na reflexão de ambos a
significações. partir do "mostrar-se" da situação-problema como feno-
200 CBCISS
meno. A pré-compreensão tanto do assistente social co- Teorização do Serv. Social
mo dó cliente são condições de possibilidade da compreen- ridade — a partir do conceito dialético de complementa-
são que dá abertura ao sentido/ ridade que desvela as aparências da exclusão?" Nesse
Assim, fica clara a resposta à pergunta colocada quanto sentido, na colocação dos termos — totalidade e singula-
à "alternativa para evitar a dominação configurada pelo ridade — há, à primeira vista, uma exclusão recíproca.
saber do assistente social". Ela se constitui no próprio Numa reflexão, mais apjrofunjj&da, afirmam-se um em fun-
diálogo onde as situações objetivadas abrangem aspectos Ção do outro Não podem, na verdade, ser isolados ~úm
parciais da realidade que são apreendidos e compreendi- do outro. Sjío elementos que, integrados, permitem a
dos sob ângulos variados ao integrar o "conhecimento em compreensão da atividade humana, ou seja, o mundo dos
espiral" na qual os elementos não se contradizem um ao homens,
outro mas dialeticamente se completam,. Nesse sentido, para nós, assistentes sociais, na investi-
Respondendo ainda à pergunta sobre a dominação, a gação diagnostica, nossa intenção se dirige para um acon-
partir do trabalho em instituições, diríamos que a questão, tecimento singular, a "situação-problema", apreendida em
como foi colocada, simplifica muito a problemática. Há sua totalidade (no movimento do ser-indo no mundo) e
uma realidade histórica que a configura (um p*assado) que significativa em sua singularidade, que revela a dimensão
precisa ser abordada para questionar o sentido em que do problema das relações entre a pessoa (sujeito cognos-
se pensa hoje uma superação da relação assistente social cente) e o mundo. Mundo considerado não apenas a tota-
e instituição. Se a supressão ou a superação dessa opo- lidade de suas possibilidades de ser (horizonte interno),
sição for entendida como dualidade de ideologias (práticas mas a totalidade "de objetos com o horizonte aberto no
políticas), enquanto conteúdo de programações, não é pos- espaço e tempo. A situação-problema (como singularida-
sível suprimir de todo essa dualidade. Se o pensamento de) só tem significado quando integrada à dinâmica do
moderno é dialético, responderíamos que, na postura feno- projeto "ser-indo" do cliente no mundjt». Esta concretude
menológica, o fenómeno é apreendido, questionado e com- é uma totalidade quando a situação-problema revela sua
preendido sob uma pluralidade de sentidos. Nessa pers- essência, sua verdade, não apenas articulada a um "eu"
pectiva o diálogo exclui os a priori colocados na pré-com- mas a uma comunidade (a um nós), jEm outras palavras,
preensão, que limitam a objetividade datada e situada, ao a totalidade configura as histórias individuais na história
provocar a abertura para o sentido que nos é indicado, humana.
ou seja, que emerge num "agora" através da intersubjeti- Estamos agora diante do conteúdo de uma outra per-
vidade definida pela capacidade dos sujeitos apreenderem gunta — o que se entendeu por invariante? O termo inva-
as instituições como organismos cujas ideologias passam riante, na fenomenologia, define "essência", ou seja, um
a questionar. sentido identificado num "mostrar-se" de um fenómeno.
Elemento sem o qual o próprio fenómeno desaparece.
4. Totalidade vs. singularidade e invariante Como ponto de partida para a compreensão do inva-~
riante, que se fazia necessário, o grupo elegeu o "social",
As categorias totalidade e singularidade aparecem como como já foi dito, que define o espaço da problematização
elementos numa relação de recíproco e biunívoco condi- em Serviço Social. E neste espaço foi colocada a pergunta:
cionamento na estrutura de mediação própria da com- Como a apreensão de sentido em cada diagnóstico social
preensão. fundado sobre uma significação como conteúdo da com-
Essa concepção permite responder à questão colocada: preensão de uma singularidade pode caracterizar a plura-
"Até que ponto a construção da teoria do Serviço So- lidade de sentidos que abrange o "social"? Em outras
cial, a partir do método fenomenológico, permitirá a palavras, refletindo sobre o social em cada singularidade
apreensão da totalidade, desde que se baseia em singula- onde se "mostra" como fenómeno, podemos chegar nessa
pluralidade ao invariante? Sabemos que na intervenção
Teorização do Serv. Social 203
202 CBCISS
social, como uma ação prática, a função do diagnóstico
social limita o "sentido" do social a um enunciado parti-
cular. Mas o "sentido do social" no mundo não se limita que vai ^ J ^ ^ ^ t SoSfonológica
ao que é objetivado num diagnóstico. Mas se a com- S ? 3 ? . £ 3 £ £ . i S T o que nao tem significação
preensão do particular supõe a pré-compreensão do todo, mas o aue não tem sentido.
dentro do qual ele deve ser entendido, e, ainda, se a
compreensão do todo se forma da compreensão dos mo-
mentos particulares que se estruturam na totalidade, na
estrutura da compreensão é questionada não apenas a
constância dos fenómenos mas o invariante, ou seja, a
essência. Na discussão do problema o grupo teria contri-
buído com alguma coisa? .Nossa resposta é de que a
compreensão do termo "invariante" possibilitou ao grupo
a atitude de que a questão do invariante não existia como
preocupação do Serviço Social. Até agora, presos aos
padrões positivistas, procurávamos determinar o "objeto"
e não o invariante. Por exemplo: o fenómeno pobreza até
que ponto foi desvelado pelo Serviço Social? Considera-
mos que o fenómeno ainda não foi estudado intencional-
mente na perspectiva do Serviço Social. Apenas reduzimos
o conceito sociológico.
Pelas perguntas colocadas no plenário, concluiu b grupo
que há uma preocupação com a realidade brasileira, ou
seja, os fenómenos que se mostram em nosso horizonte
precisam ser tematizados. O grupo não^retende ..questio-
nar p objeto de Serviço Social, mas estabelecer uma meto-
dologia que possa desvelar o invariante. Tal metodologia
expressará as ideias dás categorias aqui colocadas. O ques-
tionamento básico terá a intenção de estudar o significado
do social para o Serviço Social, como pré-compreensão
que dá direito ao desenvolvimento do processo de com-
preensão. Ao admitirmos que os significados do social vão
caracterizar o conteúdo de nossa praxis, pensamos ser
possível descobrir categorias da estrutura do vivido que
tenham significado para a clientela, hoje.^Assim, se pela
praxis o mundo ganha uma significação humana, é preciso
que assistente social e cliente comuniquem os significados
e os questionem, no sentido da comunidade pela mediação,
ou seja, o assistente social não pode supor sua própria
realidade sem supor pelo mesmo ato a dos seus clientes
e a do mundo.
.3 Roteiro de reflexão

FENOMENOLOGIA E SERVIÇO SOCIAL


Proposições a serem discutidas peles grupos
Décio da Silva Barros
J. Luiz G. Paixão
Jocelyne Louise Chamuzeau
José Pinheiro Cortez
Mário da Costa Barbosa
Maria Lúcia Martinelli
Vicentina Velasco (Coordenadora)
(São Paulo)
. Considerando a fenomenologia "uma" filosofia e não
"a" filosofia, questiona-se se essa visão filosófica pode
embasar a praxis do Serviço Social.
(desdobramento)
1.1 Aceitas as preliminares
a) multiplicidade das visões filosóficas;
b) as relações de embasamento que a filosofia
tem em relação às ciências do agir entre as
quais se situa o Serviço Social;
c) a possibilidade de que diferentes visões filo-
sóficas podem servir de base ao Serviço So-
cial;
1.2 Quais as implicações da fundamentação fenome-
nológica para o Serviço Social?
206 CBCtSS
2. Compreendendo-se o método fenomenológico como um
método filosófico, pode ele ser convertido a uma ciên-
cia do intervir e portanto utilizado pelo Serviço Social?
(desdobramento)
2.1 O método fenomenológico:
a) não explicando mediante leis, nem deduzindo
a partir de princípios; O SERVIÇO SOCIAL E A DIALÊTICA
b) não sendo nem dedutivo, nem empírico;
c) mas se apresentando como um método des-
critivo que ao descrever constitui a realidade;
Que implicações acarretaria para o Serviço Social?
3.1 Conferência
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PENSAMENTO DIALÉTICO
EM NOSSOS DIAS
Creusa Capalbo
1. Breve histórico
A dialética foi definida inicialmente como a arte do
diálogo e da discussão. Nos diálogos de Platão, no Crótilo
principalmente, a dialética apareceu como a arte de re-
montar dos conceitos aos seus princípios que são as
Ideias.
Em Aristóteles, a dialética se define como o setor dos
raciocínios que se fazem em relação às opiniões prováveis.
Ele opõe dialética à analítica. Esta tem por objeto a
demonstração, isto é, a dedução a partir das premissas
verdadeiras. Aquela tem por objeto os raciocínios que
partem de premissas prováveis.
Na Idade Média, a dialética vai aparecer como disci-
plina do "Trivium", juntamente com a gramática e a
retórica. Ela é, então, compreendida como o ramo de
estudos da lógica formal.
Na crítica da Razão Pura de Kant, a dialética é definida
como a lógica da aparência. Mas, agora, ele a comple-
menta com a crítica, ou seja, não basta mostrar como
funciona a lógica da aparência, mas é preciso fazer o
estudo crítico desta ilusão para reencontrar a verdade.
A dialética é a lógica da aparência do ponto de vista
empírico, do ponto de vista dos raciocínios sofísticos e
do ponto de vista da razão quando esta quer ultrapassar
210 CBCISS Teorização do Serv. Social 211
os seus limites quanto às condições de possibilidade do próprio negativo, ultrapassando-o. Ë a contradição hege-
conhecimento científico, e quer aplicar o tipo de raciocínio liana. Graficamente podemos exemplificar da seguinte ma-
científico a objetos não-científicos como a existência da neira:
alma, a existência do mundo e a existência de Deus.
É com Hegel que se abre, para o pensamento dialético, (a) ( + ) positivo ( — ) negativo
uma nova perspectiva. O movimento dialético consiste em (b) ( + ) + ( — ) = — trata-se de negação
reconhecer os contraditórios e em descobrir o princípio (c) — ( —) = + praticando a negação da nega-
de sua ultrapassagem numa categoria superior. A trilogia ção obtém-se um positivo novo
tese, antítese, síntese, caracteriza este movimento dialé- diferente do momento (a).
tico do Espírito, em suas figuras do Espírito Subjetivo,
Espírito Objetivo e Espírito Absoluto. Em Hegel este movimento dialético é infinito.
Para o materialismo dialético de Marx e Engels, a dia- A noção hegeliana de "negação da negação" como for
lética se apresenta como uma teoria geral do mundo. A ma de contradição operante permite ultrapassar a negação.
matéria em movimento e evolução sucessiva faz com que É este movimento que caracteriza o pensamento dialético
a quantidade vá se transformando sucessivamente, e num como um "trabalho do negativo" que não se realiza pela
dado momento vêem-se emergir qualidades novas. A rea- exclusão do positivo, mas que vai além dele, ultrapassan-
lidade primeira é a matéria, a natureza, o ser material. do-o. Ë este movimento de ultrapassagem que Merleau-
Ela é fonte de sensações e representações. Por isto, para Ponty diz aproximar-se da moderna noção de transcen-
Engels, a consciência é derivada da matéria, ela é reflexa. dência.
Diz ele que o pensamento é produto das condições mate- A dialética como pensamento subjetivo é entendida à
riais do cérebro.1 luz da filosofia existencialista de Kierkegaard e da filo-
Maurice Merleau-Ponty, em seu livro Resumes de Cours, sofia existencial de Heidegger. Diz Merleau-Ponty que ela
mostra que o pensamento dialético pode ser classificado faz "aparecer o ser diante de alguém, como resposta a
em três grandes grupos: como "pensamento das contra- uma indagação". 8 Isto implica que só podemos pensar um
dições", como "pensamento subjetivo" e como "pensa- objeto existente se ele for objeto para alguém, e, ainda,
mento circular". 2 Esclareçamos estas definições. que o "próprio sujeito deve aparecer em seu ser sujeito
Por pensamento das contradições entende-se, em pri- como sujeito para alguém". Torna-se, assim, necessária a
meiro lugar, o pensamento que exclui totalmente o seu revisão das noções de sujeito e objeto, pois ambos devem
oposto. Aqui não há ultrapassagem no sentido hegeliano. aparecer em seu ser para um sujeito consciente.
Só há exclusão de um dos pares. Se eu afirmo, por exem- A dialética como pensamento circular é o que carac-
plo, do ponto de vista lógico, que "tudo é azul" (a 1) e teriza a própria posição da fenomenologia segundo Mer-
que "nada é azui" (a 2), a afirmação (a 1) exclui a afir- leau-Ponty. Ela se reporta à ideia de Heráclito da exis-
mação (a 2), ou, ao contrário, se afirmo (a 2) terei que tência como tensão entre os contrários: só há o frio por-
excluir (a 1). que há o quente, só há o doce porque há o amargo, etc.
As contradições podem ser de outro tipo ou obedecer Ou ainda, diz Heráclito, a lira só toca seus sons afinados
a outro modelo lógico. Assim, a contradição entre o posi- porque as suas cordas estão estendidas entre os dois ex-
tivo e o negativo deve poder se aplicar em relação ao tremos; se um dos extremos for puxado com excesso a
corda se parte e não há melodia. Assim é a vida: esta
1 LALANDE, André. Vocabulaire technique et critique de la philoso- tensão entre os extremos. O pensamento fenomenológico
phie. 9.* ed. Paris. Presses Universitaires de France, 1962. 1.323 ps.
2 MERLEAU-PONTY, M. Resumes de cours. Paris, Gallimard, 1968.
p. 78. 3 Ibid., p. 80.
212 CBCISS Teorização do Serv. Social 213
de Merleau-Ponty é dialético, pois não quer sacrificar o que determina o seu ser, mas o ser social que determina
irrefletido nem a reflexão; ele quer mantê-los em coexis- sua consciência." 6 Assim, o chamado "sujeito consciente"
tência ou em tensão existencial. Esse pensamento circular nada mais é do que resultante das infra-estruturas, depen-
não é repetitivo, ou, como diz o próprio Merleau-Ponty: dendo, em última instância, do modo de produção em que
"o pensamento dialético não é aquele pensamento que faz estiver inserido.
a volta ao círculo e não encontra nada mais de novo para
pensar". 4 Lê-se, ainda, nas "Teses sobre Peuerbach", que "é na
Vimos que foi com Hegel que a dialética passou a ser prática que o homem pode demonstrar a verdade". Essa
entendida como "uma experiência do pensamento pelo prática se refere às forças de produção e às relações
qual este aprende algo, embora isto que ele aprende já sociais daí decorrentes.
esteja aí "em si", antes dele, e que o pensamento seja a Diz Marx que no sistema capitalista a relação entre o
passagem do "ser em si ao ser para si" ou ao ser para capitalista e o assalariado é do tipo mercantil. O assala-
a consciência. 6 Hegel entendia o movimento da dialética riado (o "servo" da dialética hegeliana) pelo contrato de
como um movimento do discurso que alcança progressi- trabalho se põe a serviço e sob a dependência do "senhor".
vamente a verdade. Este progresso não é contínuo. Ele se O trabalhador produz mas não tem a propriedade de seu
dá por meio de crises ou conflitos superados a cada passo. produto. O trabalhador só possui sua força pessoal — a
Essas crises são uma mediação necessária para que se força de trabalho. O senhor possui os instrumentos e a
dê a ultrapassagem. Assim, as duplas antagónicas de ex- matéria para o trabalho — meios de produção. Dá-se a
terior-interior, ser-aparecer, são reconciliadas pois são ter- separação radical entre o trabalhador e os meios de pro-
mos que se implicam e se suportam mutuamente. dução, no sistema capitalista. E para fazer crescer o ca-
Para a fenomenologia o pensamento dialético pode ser pital o capitalista recorre à "mais valia".
entendido como pertencente à estrutura do ser humano, Em suma, Marx mostra que o sistema capitalista se
em sua existência concreta, quer sob a forma de relação divide em duas classes. A classe dominante, que no século
subjetiva, quer sob a forma de tensão existencial dos con- XIX era representada pela burguesia e pelos grandes pro-
trários. prietários de terra; a classe dominada, formada pelos tra-
balhadores assalariados. O movimento da história se faz
2. A dialética no pensamento marxista: algumas obser- pela luta entre as classes e pela revolução do proletariado
que virá instaurar uma sociedade sem classes.
vações gerais O Estado, na tradição marxista, desempenha o papel
Para Marx, as infra-estruturas determinam as superes- de aparelho repressivo: é a força de execução e de inter-
truturas. Por infra-estrutura se entendem as forças produ- venção repressiva em favor das classes dominantes. Daí
tivas e as relações sociais no trabalho, correspondentes a a crítica ao Estado e a promulgação do advento de uma
estas forças produtivas. Por superestrutura se entendem sociedade sem classes e sem Estado.
as formas sociais da consciência — as instituições, as ideo- Gramsci, comentando Marx e Lenine, dirá que o Estado
logias jurídicas, sociais, políticas, religiosas, etc. não é só aparelho de Estado. Ele compreende também
Escreve Marx: "O modo de produção da vida material as instituições da sociedade civil: Igreja, escolas, sindi-
condiciona o processo de existência social, política e espi- catos. 7 E para ele o fator principal da história está nesta
ritual de seu conjunto. Não é a consciência dos homens sociedade de homens, nesta sociedade civil, que é capaz
de formar a vontade social coletiva.
* Ibid., p. 81. 6 MARX, K. Critiques de l'économie politique. Paris. Ed. Sociales, p. 13.
» Ibid., p. 81.
7 GRAMSCI, Antonio. Oeuvres choisies. Paris. Ed. Sociales, ps. 290-5.
214 CBCISS Teorização do Serv. Social 215
Para Gramsci, o intelectual exerce uma função num — AIE politico (sistema político, partidos).
dado sistema. Ele distingue o intelectual no conjunto do
sistema de relações, no qual a atividade intelectual se situa — AIE sindical.
face ao contexto geral das relações sociais. Assim, não
há apenas o intelectual burguês de que falara Marx. Há — AIE de informação (imprensa, rádio e televisão).
os intelectuais orgânicos que são criados por um sistema
para assegurar a coesão do próprio sistema e a ideologia — AIE cultural (literatura, esporte, belas-artes, etc.).
do sistema ou da classe dominante. No processo histórico O Aparelho Repressivo do Estado funciona sob a vio-
que se faz em favor do Marxismo, o que se precisa é de lência repressiva, que pode ser violência física ou simbó-
um novo tipo de intelectual, que seja advindo das cama- lica. O Aparelho Ideológico do Estado funciona pela ideo-
das populares e que seja capaz de realizar uma pedagogia logia e pelos valores; eles traçam as sanções, as seleções
da massa ou pedagogia revolucionária. A organização da as exclusões, etc.
massa é necessária para que se forme a Hegemonia e o Segundo Al^usser, no estado atual do capitalismo, o
Bloco Histórico. Pela Hegemonia se dá o movimento dia- Aparelho Ideológico do Estado dominante é o escolar.
lético da história enquanto vontade social coletiva. Pelo No século XIX eram dominantes a igreja e a família. No
Bloco Histórico se dá o desenvolvimento histórico pelo século XX são a escola e a família.
processo de conscientização, que consiste na passagem Este esquema, aqui apresentado de modo sumário, foi
do económico e da ideologia correspondente para o ético- desenvolvido e aplicado pelos franceses G. Synders, Bau-
político (passagem do reino da necessidade para o reino delot, Establet, Christine Gluskmann, Bourdieu-Passeron.
da liberdade). No Brasil, com algumas variantes, por B. Preitag, M. Trag-
Mais recentemente, Althusser dirá que não basta dis- tenberg, M. Godotti, M. Berger, dentre muitos outros. O
tinguir entre poder político do Estado e aparelho do Es- esquema proposto como roteiro de reflexão sobre "Dialé-
tado. É preciso reconhecer os aparelhos ideológicos do tica e Serviço Social" pelo Grupo de São Paulo aí também
Estado. se inscreve.
Por Aparelho do Estado ele entende o aparelho repres- Althusser escreve que "o Aparelho Ideológico do Estado
sivo do Estado onde reina a violência. São Aparelhos de desempenha um papel determinante, na reprodução das
Estado: o governo, a administração, as forças armadas, relações de produção, de um modo de produção ameaçado
a polícia, os tribunais e as prisões. na sua existência pela luta de classes mundial". 9 Assim,
Ele define Aparelho Ideológico do Estado como "um é possível se utilizar o esquema de análise abaixo, pro-
certo número de realidades que se apresentam ao obser- curando verificar qual a ideologia do papel que se desem-
vador imediato sob a forma de instituições distintas e penha na sociedade:
especializadas". 8 São aparelhos ideológicos do Estado a) papel de explorado (desenvolvimento de certos va-
(AIE) as seguintes instituições: lores tais como ter consciência profissional, moral,
cívica, nacional, apolítica, etc.);
— AIE religioso (sistema das diferentes Igrejas). b) papel de agentes da exploração (saber comandar
— AIE escolar (sistema das diferentes escolas públicas e falar aos trabalhadores, saber ter relações hu-
e privadas). manas);
— AIE familiar. c) papel de agentes da repressão (saber comandar e
— AIE jurídico. se fazer obedecer sem discutir, saber manejar a
retórica dos dirigentes políticos);
8 ALTHUSSER, L. Les appareils idéologiques de l'État. Revue la Pen-
sée, jun. 1970, ps. 2041. » Ibid., ps. 20-1.
216 CBCISS
d) papel de profissionais da ideologia (saber tratar
as consciências com respeito ou com desprezo, por
meio de chantagem ou demagogicamente, fazendo
com que as pessoas se acomodem à moral vigente,
queiram ser virtuosas ou aceitem os ditames da
Nação, da Igreja, etc.). 10
Althusser explica que a ideologia só é possível pelos 3.2 Documento de base
sujeitos — a ideologia interpela os sujeitos e estes res-
pondem a ela. Por sujeito não se deve entender o indi-
víduo concreto, mas sim a sua determinação de classe
social. Diz Althusser que é a categoria de sujeito que nos SERVIÇO SOCIAL E CULTURA
faz pensar que somos sujeitos livres, morais e portadores UMA ALTERNATIVA PARA DISCUSSÃO DAS RELAÇÕES
de significação. Estas qualidades do sujeito são tidas por ASSISTENTE SOCIAL-CLIENTELA
evidências elementares que facilmente se pode reconhecer.
O indivíduo passa a sujeito pela interpelação: e s t e ^ ó Ana Luiza de Lyra Vaz
papel da ideologia.11 Celina Magalhães Ellery
Não pretendemos nesta exposição esgotar o assunto Dulce Malheiros Araujo
pela abordagem de todos os temas e dos principais autores Maria Aparecida Barbosa Marques
marxistas atuais. Quisemos apenas esclarecer alguns pon- Maria Durvalina Fernandes Bastos
tos que aparecem de modo aplicado, na literatura brasi- Maria Elvira Rocha de Sá
leira atual sobre a realidade social brasileira. Julgamos Maria Luiza Testa Tambellini
oportuno, antes de concluir, alertar para questões que Marisa Alves de O. Senna (Coordenadora)
nos parecem relevantes e insuficientes na maneira pela
qual elas são tratadas pelos marxistas. São questões rela- Regina Marconi Franco
tivas à natureza da consciência, à consciência de classe,
ao lugar do socialismo como fase intermediária para a (Rio de Janeiro)
abolição do Estado, ao esquema rígido de classe dominante Apresentação
e classe dominada, etc. Seria útil relembrar, finalmente,
que muitas destas análises podem ser feitas, e com o Nosso estudo prende-se à abordagem de um tema que
mesmo referencial teórico, em relação as sociedades comu- não havia sido proposto formalmente pelo CBCISS. Re-
nistas contemporâneas. Aliás este tipo de crítica já foi feito presenta uma tentativa de lançar à discussão proposições
pelos próprios adeptos do comunismo europeu, conforme que possibilitem a reflexão sobre a teoria e a prática que
se pode 1er no número especial da revista francesa Dialec- o Serviço Social tsm desenvolvido no atual momento bra-
tiques, dedicado inteiramente à crítica de Althusser. 18 sileiro. Buscaremos analisar as vinculações da ação do
assistente social com o contexto social, político, económico
e cultural em que se insere e que se estendem além do
âmbito institucional, detendo-nos especialmente no enfo-
que de cultura, abrangendo dois ângulos de questionamen-
w Ibid., ps. 20-41. to, intimamente relacionados:
« Ibid., ps. 29-31.
12 Revista Dialectiques, ns. 15-16.
218 CBCISS Teorização do Sero. Social 219
* A questão da dominação cultural, visualizada não te, dependendo do seu grupo social, apresenta concepções
só em termos de uma aplicação de conhecimentos e interesses que podem diferir da cultura do assistente
teórico-práticos vindos do exterior para nosso Pais, social. A ocorrência de violência cultural é, então, temida
mas também com referência aos riscos de uma nessa relação, porquanto o assistente social, na perspec-
dominação cultural que venha a ser exercida pelo tiva da função que exerce na sociedade, representa e re-
assistente social em suas relações com a clientela;* força a legitimação de sua cultura, acrescentando sua
* A questão da critica da dominação, no que se refere própria força a um campo de relações de forças.
a uma postura do Serviço Social como crítico da Propomos, por conseguinte, reflexões acerca de como
realidade e face à cultura da clientela. se processam as relações do assistente social com a clien-
tela, supondo-se que as suas concepções de mundo podem
ser diferentes, na medida em que pertencem a grupos
A questão da dominação cultural e a crítica sociais distintos. Considerando que a cultura é produzida
da dominação — Alguns aspectos tanto pelas camadas analfabetas como pelas alfabetizadas
e pelas elites intelectuais, sendo portanto um produto
As relações do Serviço Social com a clientela e a socie- confuso e contraditório, indagamos até que ponto o assis-
dade serão questionadas a partir do enfoque de cultura, tente social tem reconhecido essa realidade e a diferen-
entendida como a totalidade das manifestações vitais que ciação entre suas concepções e as da clientela, avaliando
caracterizam os grupos sociais. A prática do Serviço So- criticamente o nível de interferência destas na sua prática
cial, voltada para o homem em seu projeto histórico, deve profissional. Perguntamos também sobre qual é a con-
partir do reconhecimento e posicionamento frente às ma- cepção de mundo do assistente social: a que é afirmada
nifestações culturais que expressam a realidade histórica como fato intelectual (transmitida como conhecimento,
de um grupo ou sociedade. Consideramos a concepção valores e métodos) ou a que é afirmada na prática real
de homem como ser que está no mundo, como ser eminen- de cada um?
temente interferidor na construção da história. A violência cultural pode se agravar, na medida em que
A cultura não é pensada abstratamente, mas situada, nossa produção teórica é ainda precária, ocorrendo adap-
pois as culturas crescem e se desenvolvem a partir de tação ou aplicação direta de modelos construídos com
um princípio que articula e torna coerente as suas mani- base em e para outras realidades, significando um descom-
festações, ou seja: a existência de uma crença básica, de promisso histórico, político e cultural. Esse fenómeno
uma visão ou sentimento do mundo que, aliada às deter- estende-se a toda intelectualidade brasileira, pois, segundo
minações históricas, penetra a atmosfera cultural de um Carlos Guilherme Mota,1 ao tratar da ideologia da cultura
determinado grupo social, imprimindo-lhe peculiaridades brasileira, na Universidade — que se constitui num centro
que a tornam diferente da cultura de outros grupos sociais. privilegiado de produção cultural — as Ciências Sociais
Consideramos que as relações do assistente social com foram construídas a partir de fundamentos franceses e
a clientela podem ser entendidas como o processo de americanos, arriscando-se a uma orientação positivista e
comunicação das representações e manifestações das cul- funcionalista de caráter asséptico e cientificamente neutro
turas desses dois pólos. O assistente social, portador de (grifo nosso), dado o alheamento a uma prática popular.
esquemas de pensamento da cultura na qual foi formado Sabemos que condicionamentos históricos impedem ou
social e profissionalmente, tende a legitimá-la, reforçado limitam a elaboração livre do intelectual, mas o esforço
pela realidade da instituição à qual está vinculado. O clien- de construção cultural é precisamente um esforço de ten-
1 MOTA. Carlos Guilherme. A Ideologia da Cultura Brasileira. (1933-
* Clientela aqui entendida numa acepção ampla, isto é, abrangendo não 1974). São Paulo, Ed. Ática, 1977.
só a população ora incluída nos programas de Serviço Social.
220 CBCISS
tativa de libertação desses condicionamentos. Senão, como Teorização do Serv. Social 221
compreender o homem em sua dimensão de sujeito da situações que poderiam explicar o distanciamento entre o
história? Serviço Social e a cultura da clientela:
A existência de esforços de construção de um marco I) A vinculação do Serviço Social a um programa de
teórico, pautado numa realidade sócio-político-econômico- ação social desenvolvido pela Igreja favorecia condições
cultural, próxima e concreta (América Latina), já repre- de apoio e aproximação com a clientela? Qual era o ca-
senta uma tentativa de produção mais comprometida com ráter dessa aproximação passível de ser propiciada pela
essa realidade. O Brasil, mesmo integrando .esse bloco Igreja?
de países latino-americanos, apresenta características que II) Em que termos a situação atual da Universidade
lhe são peculiares, devendo procurar, portanto, seus pró- brasileira proporciona condições para a formação de ati-
prios caminhos. Propomos assim a seguinte reflexão: Co- tudes e habilidades que levem a uma sensibilização e ação
mo poderá o assistente social brasileiro intervir a partir efetiva no plano de nossa realidade social?
de um saber que não é fruto de sua realidade, embora se III) Existe, por parte dos assistentes sociais, uma preo-
considere que no processo de produção de conhecimentos cupação natural em definir atribuições, papéis e seu status
não se possa desconhecer a existência de conhecimentos profissional em relação a outras categorias profissionais
acumulados em outros contextos? Como poderá o assis- e à sociedade. É importante estar alerta para a discrimi-
tente social buscar um saber comprometido e inserido na nação de tarefas, sem que isto implique inflexibilidade,
realidade brasileira, com a preocupação de contribuir para radicalização em posições rígidas ou sofisticadas, autocen-
a transformação dessa realidade, à base de uma verdadeira tralizadas até, em detrimento das necessidades da clientela.
compreensão de seu processo? Acreditamos que algumas variáveis, tais como uma op-
Há um consenso, entre os profissionais, de que o currí- ção pessoal e profissional do assistente social ligada a
culo de Serviço Social se encontra defasado a nível da aspectos referentes à sua afirmação no próprio grupo
realidade nacional. Indagamos, então, até que ponto não profissional, às exigências institucionais e da sociedade,
estaria a formação profissional na dependência da inicia- da comunidade científica como um todo, e à excessiva
tiva particular de professores mais preocupados com essa preocupação em moldar o atendimento de acordo com
realidade, que encaminham a leitura e análise crítica da padrões técnicos preestabelecidos, podem conduzir a um
produção teórica, buscando fundamentos na história re- processo seletivo da realidade a ser trabalhada, de tal for-
cente e nas questões sociais do país. ma que faça com que o assistente social se negue a desem-
A tendência já constatada, em Serviço Social, de trata- penhar determinadas funções, por julgá-las não condizen-
mento uniformizado da realidade não só escamoteia as tes com sua posição profissional. Seria este mais um dado
diferenças regionais e enseja discussões sobre eficácia e que dificultaria a aproximação do assistente social com
produtividade técnicas, como pode se constituir na impos- as necessidades e manifestações culturais da clientela?
sibilidade de uma prática que problematize a própria re- IV) A passagem da influência franco-belga para a ame-
lação entre o profissional e sua clientela num nível con- ricana, com a consequente mudança de enfoque de uma
creto de uma dada realidade. Sugerimos que se reflita ação social (unidade social de base: a família) para um
sobre a existência de uma preocupação em pensar o Brasil tratamento individualizado, parece ter imprimido, por um
como uma realidade própria, como projeto, assumindo-a lado, um caráter mais técnico à intervenção, face às in-
como efetivamente é. A cultura da profissão leva em con- fluências das abordagens psicoterapêuticas. Mas, por outro
sideração as características da formação social e regional lado, será que essa passagem não ensejou um caminhar
do país? no sentido inverso do que poderia ser o começo de um
Enfim, se há pertinência nas afirmações e questiona- trabalho dentro de uma perspectiva social mais ampla?
mentos até então levantados, podemos lançar algumas Colocadas as questões, trata-se de refletir para uma
retomada de posição em que o Serviço Social atuaria a
222 CBCISS Teorização do Serv. Social 223
partir de uma perspectiva mais global, voltada para os rante, e acredita que os problemas sociais são monopólio
interesses da clientela em suas necessidades básicas e na dos especialistas e cientistas e, portanto, inacessíveis à
autenticidade de suas manifestações culturais. consciência popular. A atitude marcada por esta tendência
O primeiro passo que poderia ser dado na busca de não percebe por trás do discurso verbalmente limitado
alternativas que aproximassem o assistente social da clien- da cliente toda uma cultura que se exprime de vários
tela seria a adoção de urna postura filosófica diante do modos. Há uma preocupação excessiva com clareza de
processo de mudança e desenvolvimento da sociedade: conceitos, com a lógica dos enunciados, em detrimento da
Dentre as opções, pode-se considerar inicialmente aquela inserção na ação capaz de transformar a realidade. O assis-
em que os fenómenos do mundo são pensados como iso- tente social precisaria transigir com seus esquemas men-
lados e em estado de repouso, residindo as causas das tais, para conseguir escutar e se sensibilizar frente à sua
mudanças fora dos próprios fenómenos, por ação de for- clientela, entendendo, dessa forma, toda a lógica de sua
ças externas. Outra postura coloca a causa fundamental sabedoria, as raízes de sua cultura. Do contrário, recairá
do desenvolvimento dos fenómenos como interna, isto é, mxma manipulação e numa diretivídade do processo, pro-
residindo no contraditório existente no seio de cada fenó- movendo a reprodução da divisão entre os dois pólos, po-
meno. Nesta, as causas externas não estão excluídas mas dendo voltar-se também para o trato de questões que não
constituem-se condições para as modificações das quais (ttsem respeito ã esfera de necessidades básicas da clien-
as internas formam a base, operando então por intermédio tela, difundindo preocupações e interesses de seu grupo
das causas internas. Na sociedade, as mudanças devem-se, social.
principalmente, ao desenvolvimento das contradições que As duas posições, "empirista" e "racionalista", respec-
existem em seu seio. A unidade ou a identidade dos as- tivamente, não compreendem o caráter histórico do co-
pectos contrários de um fenómeno, que existe objetiva- nhecimento, que se expressa num processo que começa
mente, nunca é morta, petrificada, mas sim viva, condicio- a partir da prática e que, uma vez adquirido o conheci-
nada, móvel, passageira, relativa; todo o aspecto contrário mento teórico, a ela retorna. A verificação de uma propo-
converte-se, em condições determinadas, no seu contrário. sição e sua correspondência à verdade objetiva não se
É nesse sentido que podemos entender e reconhecer a esgota no movimento do conhecimento sensível ao conhe-
emergência da cultura dominada. As condições sociais e cimento racional; é necessário, a partir do conhecimento
políticas de sua expressão (da cultura dominada) cons- racional, regressar à prática, aplicar a teoria na prática e
tituem uma questão de outra ordem. O que se pretende, identificar se ela pode conduzir ao objetivo fixado. A teo-
em primeiro lugar, é assentar o seu estatuto no plano ria, nesta perspectiva, nunca é uma verdade acabada. Ela
da realidade, porque só assim se poderá verificar a possi- se faz e se aprofunda associada à prática. Do contrário,
bilidade de mudança e transformação social. ela confirma o mito idealista de que o discurso sobre o
real é suficiente para transformá-lo.
Duas atitudes extremas frente ao reconhecimento da A ação do assistente social não se dá isoladamente mas
cultura da clientela devem ser evitadas pelos assistentes é, em sua grande maioria, exercida através de uma via
sociais. A primeira, que poderíamos caracterizar como institucional. É, portanto, previamente orientada a partir
antiintelectualista, acredita que a clientela por si só é ca- dos objetivos institucionais e respectivas expectativas com
paz de se conscientizar e de achar seu próprio caminho, relação aos resultados da intervenção. Desta forma, a po-
desde que o agente se encontre presente, quer intervindo sição empirista do assistente social que pretende evitar
e, em última instância, controlando. Aliada a essa máscara sua interferência nos caminhos escolhidos pela própria
de profundo respeito à clientela, trabalham improvisada- clientela propicia, na verdade, a abertura de um canal à
mente, sem nenhuma reflexão crítica sobre a realidade. interferência institucional direta, uma vez que a instituição
Num outro extremo, estaria a atitude intelectualista do constitui uma fonte de recursos e de promoção de ativi-
assistente social que julga a clientela como incapaz, igno-
224 CBCISS Teorização do Serv. Social 225
dades nas quais a clientela se insere e participa, premida necessidade de discernimento, pelo assistente social, das
por suas próprias condições de vida. Necessitamos reco- diferenças entre os objetivos institucionais, os profissio-
nhecer que mais do que os discursos (reflexões assistente nais e os da clientela, como também entre os objetivos
social vs. clientela), interferem as condições concretas exis- que a instituição se propõe e os que realiza em termos
tentes para solucionar as questões colocadas pelo coti- efetivos. A partir de então, poderá reconhecer as contra-
diano e que elas são dadas, na maioria das vezes, pelas dições institucionais existentes, o que vai possibilitar o
instituições. Por outro lado, ao escolhermos-uma posição desenvolvimento dos objetivos profissionais em relação
racionalista, ignorando a capacidade da clientela, resta-nos às necessidades da clientela. Um conhecimento conjunto
aprimorar os objetivos da instituição para uma operacio- do assistente social e da clientela quanto às suas mani-
nalização mais eficaz. Podemos perceber que tanto uma festações culturais, condições concretas de vida, interesses,
posição quanto outra, embora tomem como referencial de suas propostas de solução, seus recursos individuais e
sustentação das suas teorias a situação da clientela, dela coletivos, faz-se necessário. Nesse sentido, é preciso reco-
se distanciam para servir às instituições. E a quem servem nhecer a necessidade de se fortalecerem os canais insti-
essas instituições? Que cultura expressam? A popular, da tucionalizados de participação social da clientela, e tam-
clientela, ou a de seus técnicos que pertencem a uma elite bém os órgãos de representação dos assistentes sociais,
intelectual, considerando-se o percentual que representam principalmente pela possibilidade de se tornarem uma via
na população como um todo? de reivindicação e de discussão das questões sociais.
Como o assistente social poderá orientar sua inter- Finalmente, é preciso lembrar que a emergência da
venção sem que estejam claros o seu papel institucional cultura dominada não depende do aval e da discussão
e o seu porquê dentro da sociedade? Para quais interesses teórica por parte de grupos intelectuais e profissionais;
reais a instituição está voltada e a partir de que contra- mas, no que lhes diz respeito, é necessário que atentem para
dições sociais seu trabalho se faz necessário? E qual a os aspectos ou conjunto de sua produção e ação que ve-
relação desses interesses com os interesses da clientela? nham a ter efeitos esterilizantes.
Os assistentes sociais, negando-se a discutir estas questões Reconhecemos que os aspectos abordados neste traba-
básicas por considerarem-nas de menor relevância, estão, lho merecem ser ampliados e representam apenas uma
a nosso ver, permitindo um distanciamento de seus obje- tentativa de se iniciar um aprofundamento dessas ques-
tivos profissionais; deixando de considerar os padrões tões e de outras, que certamente surgirão.
culturais da clientela, intervindo com sua própria cultura
e a do grupo a que pertencem, estão atendendo às neces-
sidades de seu grupo e não às daquela. BIBLIOGRAFIA
Diante da questão da dominação cultural e da necessi- ALAYÖN, N. et alii. Desafio ao servido social: crísis de la reconceptuali-
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dendo às suas necessidades. O primeiro passo seria o re- dernos de Trabajo Social, 9).
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2. A viabilidade de o profissional despojar-se de seus com-
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GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Ja-
neiro. Civilização Brasileira, 1978.
3. Se o despojamento fosse possível, seria isso desejável?
Concepção dialética da história. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1966. Haveria possibilidade de se separar o assistente social
GULLAR, Ferreira. Considerações em torno do conceito de cultura brasilei- como pessoa e como profissional?
ra. In: Escrita. Rio de Janeiro, 1966. 4. Existe uma responsabilidade do ensino na violência •
KISNERMAN, Natalio. Ética em serviço social. In: CONGRESSO BRASI-
LEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS, 1., Rio de Janeiro, 1974. Afiais.
Rio de Janeiro. CRAS, 1972. 243 ps., ps. 4440.
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LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. 2.* ed. Rio de Janeira contribuir para a formação de consciência crítica do
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neiro. Zahar, 1973.
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6. Além de posições empiristas e racionalistas, haveria a
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1978. 7. Quais as possibilidades de a clientela expressar seus
PRESENÇA FILOSOFICA. Rio de Janeiro. Cia. Ed. Americana, v. 3, n.° 1, interesses nas instituições?
abr./jun. 1977. 8. No caso referido na pergunta anterior, como o assis-
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SALVADOR, A. D. Cultura e educação brasileiras. Petrópolis. Vozes, 1971.
tente social deveria encaminhar a sua prática?
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ZABALA, C. Manoel. Método sin metodologia-hombre, transformación, cien-
cia. Buenos Aires. ECRO, 1974 (Cuadernos de Trabajo Social, 8). Considerando que a violência cultural é um problema
Organización teórica de la ciencia humana: trabajo social como unidad.
Buenos Aires. ECRO, 1972 (Cuadernos de Trabajo Social, 7).
que toca as profissões que se ocupam diretamente com o
228 CBCISS Teorização do Serv. Social 229
homem, incluindo aí o Serviço Social, porque "o assistente não possuímos estudos que afirmem em que medida as
social, na perspectiva da função que exerce na sociedade, instituições expressam a vontade da clientela, mesmo por-
representa e reforça a legitimação de sua cultura, acres- que consideramos a clientela pouco conhecida, a partir de
centando sua própria força a um campo de relações de suas próprias referências, de sua própria cultura, e que o
forças" (ps. 99-100). Serviço Social tem contato, na maioria das vezes, apenas,
O despojamento por parte do assistente social de seus com parte da clientela da instituição.
componentes culturais não pode ocorrer na medida em Grosso modo, diríamos que o nosso contexto, hoje, pro-
que a produção cultural está diretamente vinculada aos duz as suas instituições em sentido vertical. Acreditamos,
grupos sociais nos quais as pessoas aprendem valores e por isso, que a cultura expressa pelas instituições pertence
comportamentos. a seus técnicos, a uma elite intelectual.
No que se refere às relações do assistente social com a 2. No que se refere às alternativas de ação, acredita-
clientela, a questão que se coloca é que se o profissional mos que seja necessário reconhecer as situações concretas
não tiver uma consciência crítica das diferenças entre ele existentes, para solucionar as questões colocadas pelo co-
e a clientela tenderá a legitimar a sua própria cultura. tidiano das instituições. Deve-se tentar identificar os inte-
Essa relação profissional se dá num campo de relações de resses reais da instituição e a partir de que situações seu
forças no qual a instituição torna-se mais um elemento trabalho se faz necessário e quais são esses interesses e
fundamental a ser considerado nessa violência cultural. os interesses da clientela, bem como sua relação. Com essa
Isso vem demonstrar que a separação do assistente social análise poder-se-á efetivar uma prática profissional que
como pessoa e como profissional não é possível porque a considere os interesses da clientela.
suposta neutralidade profissional não é um equívoco ape- 3. Nosso trabalho não coloca a discussão da mudança
nas operacional, mas vem desde a própria concepção que de estrutura da instituição. A mudança de uma estrutura
se tenha de ciência. não dependeria apenas de um profissional ou de um grupo
O ensino pode tornar-se responsável pela dominação ou específico de profissionais, e, nesse sentido, é preciso reco-
violência cultural: 1) se reproduzir os elementos que con- nhecer a necessidade de se fortalecerem os canais institu-
figuram um sentido de verticalidade e quanto mais se cionalizados de participação da clientela.
deixar existir como um processo elitizador; 2) se refletir
um tipo de pensamento compreendendo apenas conceitos
desligados da realidade e de suas possíveis transformações;
3) se alimentar-se apenas numa vertente teórica formulada
sem uma ligação direta e estreita com a prática.
Nesse sentido, se os cursos," sejam de graduação ou
pós-graduação, não possibilitarem níveis de criatividade
e formação de consciência crítica em seus currículos, não
conduzirão à superação dos modelos de dominação cultural.
O grupo admite outras posições que compreendam "o
caráter histórico do conhecimento, que se expressa num
processo que começa a partir da prática e que, uma vez
adquirido o conhecimento teórico, a ela retorna" (p. 101).
Quanto às relações clientela-instituição, pode-se dizer
que:
í._ Nosso trabalho não se deteve na discussão das insti-
tuições e da política social que representam ou adotam;
3.3. Roteiro de reflexão*

DIALÉTICA E SERVIÇO SOCIAL


Arcelina Ribeiro de Araujo
Mariangela Belfioso
Maria Carmelita Yazbek
Maria Ignez Bernardes Pinto (Coordenadora)
Maria Cecília Zilioto
Nelson José Suzano
Pedro Malheiros
(São Paulo)
1. Uma possibilidade do Serviço Social em uma visão
dialética emerge com o movimento de reconceituação.
2. A reconceituação, vista enquanto processo que procura
evidenciar as contradições internas do Serviço Social.
3. Quando? A partir do momento em que se identificam
para o Serviço Social dois pólos contrários, dentro de
um processo de explicação do mesmo.
4. Esses pólos estão claros apenas a nível de compreen-
são; a nível das propostas práticas as posturas se
confundem.
5. A reconceituação, aqui entendida como oposição a uma
visão idealista (tradicional) do Serviço Social, se qua-
lifica por:
5.1 Admissão da filosofia materialista como base de co-
nhecimento e explicação da realidade, o que determina:
* O presente roteiro foi desenvolvido a partir de pontos básicos da tese,
em elaboração, de Pedro Malheiros, colocados e discutidos no grupo.
232 CBCISS Teorização do Serv. Social 233
— a ruptura com a teorização de base idealista; — a certeza da superação histórica do S.S. de Casos,
— a revisão da teoria utilizada até hoje pelo Serviço S.S. de Grupo e S.S. de Comunidade;
Social; — a possibilidade da utilização das categorias indiví-
— a revisão metodológica do Serviço Social; duo e grupo como particularização da situação
— a prática como princípio do conhecimento e crité- social de classe;
rio fundamental da verdade. — a determinação dialética das categorias classe social,
5.2 Identificação ideológica com o processo de transfor- consciência social e prática social.
mação social, levando à constatação de que: 5.4 Tentativa de inserir o Serviço Social no quadro da
— o Serviço Social, mais do que uma função social, prática social:
se constitui num dos aparatos ideológicos do siste- — localização da prática do Serviço Social no quadro
ma capitalista; geral da prática social;
— a prática do Serviço Social é ideologicamente com- — demonstrar o aspecto científico da prática do Ser-
prometida; viço Social, relativamente independente dos objeti-
— a prática anterior do Serviço Social tem sido expres- vos institucionais da prática profissional.
são do compromisso com as classes dominantes;
— a prática que se propõe seja expressão do compro-
misso com as classes dominadas;
— o componente ideológico demonstra também o
aspecto subjetivo como elemento da prática, ou
seja, não somente a questão do objeto, mas a rela-
ção sujeito-objeto.
5.3 A admissão do método dialético como referencial para
interpretação e ação:
— constatação da superação do método metafísico;
— constatação de que a realidade é um movimento de
transformação;
— constatação de que esse movimento pode ser cien-
tificamente analisado;
— constatação de que a realidade, como movimento,
está submetida a leis;
— identificação do método dialético como a expres-
são científica das leis gerais do desenvolvimento;
— a possibilidade de o método dialético constituir-se
o método científico para a prática do Serviço Social,
na explicação das relações sociais, da compreensão
do homem e do movimento do conhecimento;
— a necessidade de uma compreensão global da reali-
dade social, como processo contraditório, histori-
camente determinado;
— a impossibilidade do fracionamento idealista da
realidade;

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