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Livro Teorizacao Do Servico Social Docum
Livro Teorizacao Do Servico Social Docum
PRESIDENTE
Helena Iracy Junqueira
COORDENADORES DE GRUPO
Grupo 1 — Balbina Ottoni Vieira
Grupo 2 — Ana Adelina Lins
Grupo 3 — Neide Lobato Soares Santos
Grupo 4 — Marta Teresinha Godinho
COMISSÃO DE REDAÇÂO
Coordenadora Geral: Jocelyne L. Chamuzeau
Maria Amélia da Cruz Leite — Relatora do Grupo 1
Maria da Glória Lisboa de Nin Ferreira — Relatora
do Grupo 2
Maria Lúcia Carvalho da Silva — Relatora do
Grupo 3
Edith Magalhães Motta — Relatora do Grupo 4
Modesta Manoela Lopes — Relatora de Plenário
Ana Adelina Lins — Relatora
Graziela Brenner — Relatora
Ivany Lopes Rodrigues — Relatora
Maria de Lourdes Malta Saliba — Relatora
Neide Lobato Soares Santos — Relatora
SECRETARIA EXECUTIVA
Maria Augusta de Luna Albano — Secretária
Executiva
14 CBCISS
Maria das Dores Machado — Secretária Executiva Teorização do Serv. Social
Adjunta
Martha Teresinha Godinho
HOSPITALIDADE Mary Catherine Jennings
Mirtes Haickel Fonseca
Leda Afonso Borges Modesta Manoela Lopes
Neide Lobato Soares Santos
SECRETARIA ADMINISTRATIVA Nelson José Suzano
Notuburga Rosa Reckziegel
Nelson José Suzano — Coordenador Técnico Rose Maria Kronland
Erothides Menezes Cavalcante — Secretária Yolanda Heloísa de Souza
Vera Arantes Antunes
PARTICIPANTES
Ana Adelina Lins
Atila Barreto
Balbina Ottoni Vieira
Edeltrudes Guimarães
Edith Magalhães Motta
Edy Maciel Monteiro
Francisco de Paula Ferreira
Graziela Brenner
Helena Iracy Junqueira
Idália Tocantins Maués
Inah Rangel Caropreso
Ivany Lopes Rodrigues
Jocelyne L. Chamuzeau
José Lucena Dantas
Leda Afonso Borges
Leila Maria Coelho Velho
Maria Amélia da Cruz Leite
Ir. Maria Aparecida Guimarães
Maria Augusta de Luna Albano
Maria da Conceição Machado
Maria da Glória Lisboa de Nin Ferreira
Maria das Dores Machado
Maria de Lourdes Malta Saliba
Maria Julieta Costa Calazans
Maria Lina de Castro Lima
Maria Lúcia Carvalho da Silva
Marília Bini Pereira
Marta Campos Tauil
SUMARIO
Introdução
Capítulo I — Considerações sobre a natureza do
Serviço Social
Objetivos do Serviço Social
Funções do Serviço Social
Capítulo I I — Metodologia de ação do Serviço Social
Adequação da metodologia às funções
do Serviço Social
Serviço Social de Caso
Serviço Social de Grupo
Desenvolvimento de Comunidade
Integração do Serviço Social
Utilização da administração em Serviço
Social
Capítulo III — Serviço Social e a realidade brasileira
Nota final
Relação dos Documentos preparatórios
INTRODUÇÃO
1. /O Serviço Social, como disciplina de intervenção na
realidade social, constituída por u m conjunto de conheci-
mentos e técnicas, começou a delinear-se em princípios
deste século nos Estados Unidos, pouco mais tarde na
Europa, e na década dos trinta na América Latina e no
Brasil.
2. Na sua evolução, o Serviço Social, como prática insti-
tucionalizada, caracterizou-se pelo desempenho de papéis
relacionados com (disfunções manifestadas n o nível d o
indivíduo sob formas d e desajustamentos sociais e a o
mesmo tempo identificadas ao nível das estruturas sociais.
3. No seu dinamismo intrínseco, desafiado pelas exigên-
cias do processo d e desenvolvimento, /o Serviço Social
vem buscando integrar-se nessa realidade em mudança
como um, entre outros, instrumento eficaz para propiciar
ao homem meios à plena realização de sua condição hu-
mana./" Esta tentativa de integração do Serviço Social se
processa através de revisões contínuas de seus objetivos,
papéis, funções e metodologia de ação.
4. /Um esforço de teorização do Serviço Social /fera impe-
rativo inadiável, nesta fase d a sua evolução no Brasil.
Esse esforço compreenderia a busca de análise e síntese
dos seus componentes universais, dos seus elementos de
especificidade e de sua /adequação ao contexto econômico-
lOCial da realidade brasileira/
6. O Comité Brasileiro da Conferência Internacional de
Serviço Social (CBCISS) deliberou convocar u m grupo
dt assistentes sociais, representativo das várias regiões
do país, vinculados aos diferentes campos e níveis d e
ttuaçlo, portadores das mais variadas experiências pro-
20 CBCISS Teorização do Serv. Social 21
fissionais, para solidariamente tentar responder àquele os elementos constitutivos de cada um. Levan-
imperativo. i, a problemática da maior rentabilidade na utili-
6. O CBCISS recebeu a cooperação da UNICEP, do Go- da sua instrumentalidade metodológica,
verno do Estado de Minas Gerais e de organizações pú- finalmente, o Capítulo III examina a adequação à
blicas e privadas, que autorizaram ou facilitaram a parti- brasileira do Serviço Social, tal como foi con-
cipação dos assistentes sociais no referido Seminário. to e visualizado em sua dinâmica operacional.
7. Realizou-se, assim, na cidade de Araxá, em Minas Ge- Ressaltando como fundamental a integração do Ser-
rais, de 19 a 26 de março de 1967, u m encontro de 38 Social no processo de desenvolvimento, propõe uma
assistentes sociais que, pelo sistema de grupos de estudo sm técnica operacional em função do modelo bá-
e sessões plenárias, chegaram à elaboração do presente do desenvolvimento, abrindo novos horizontes para
documento. presença atuante que venha a constituir-se em plena
8. De início, pensou o CBCISS em proceder aos estudos, •ta ao desafio do momento presente. J -
atribuindo a cinco grupos diferentes temas que seriam, Este documento, resultante de estudos e reflexões,
ao final, discutidos em plenário, solicitando, com esta atender a u m reclamo dos profissionais do Serviço
finalidade, a preparação antecipada de roteiros sobre os De forma alguma, pretende ser definitivo. Pelo
conceitos básicos d e Serviço Social, Serviço Social de irio, o CBCISS e o grupo de assistentes sociais que
Caso, Serviço Social de Grupo, Desenvolvimento de Co- Ibscrevem consideram como seu principal mérito sus-
munidade e Administração de Programas. debates posteriores e estimular a realização de novas
9. Desde a instalação dos trabalhos, sentiu-se maior inte- suisas e estudos.
resse dos participantes em discutirem, todos, o mesmo
roteiro sobre conceitos básicos e/estudar a metodologia
sob u m prisma genérico, ao invés da dinâmica dos pro-
cessos. /
10. Submetidos ao plenário os dois esquemas de traba-
lho, foi o último aprovado por unanimidade, confirmándo-
se o vivo /interesse do grupo por u m estudo da teorização
do Serviço Social/ Adotou-se o roteiro correspondente,
sendo os outros utilizados no momento dos debates sobre
metodologia.
11. Organizaram-se quatro grupos de nove ou onze mem-
bros cada um, cabendo a uma comissão, constituída por
representantes de todos os grupos, a redação final d o
documento que o CBCISS ora apresenta.
12. O Capítulo I analisa os objetivos remotos e opera-
cionais do Serviço Social, sua natureza e funções, com
base em sua evolução histórica, projetando-se, no entanto,
para o futuro, em perspectivas de mudança social.
13. Segue-se o Capítulo II que estuda a metodologia do
Serviço Social, confrontando-se as concepções atuais acer-
ca dos processos básicos, ao mesmo tempo que procura
I
Capitulo I
CONSIDERAÇÕES SOBRE A NATUREZA
DO SERVIÇO SOCIAL
'17. A posição teórica do Serviço Social não alcançou,
•( até* o momento, uma definição satisfatória no quadro dos
! conhecimentos humanos.
18. .fi d Serviço Social u m a ciência autónoma? Uma cor-
tente o define como "Ciência Social Aplicada", por se
Utilizar dos conhecimentos da Sociologia, Antropologia,
Psicologia, Economia, Política e t c , para intervir na reali-
dade social. Outros defendem posições de independência
para o Serviço Social, no quadro das ciências, afirmando
possuir u m sistema de conhecimentos científicos, norma-
tivos e transmissíveis, em torno de u m objetivo comum.
Há, ainda, os que asseveram que o Serviço Social é u m a
déncia quando sintetiza as ciências psicossociais.
19. Quanto ao componente arte, 1 originariamente incluído
nas definições de Serviço Social, verificam-se divergências,
ficando, por este motivo, a questão em aberto.
30. Parece haver, porém, u m certo consenso em carac-
teriaar o Serviço Social no plano do conhecimento espe-
OUlativo-prático, enquanto se coloca ao nível da aplicação
de conhecimentos próprios ou tomados de outras ciências.
V JUStifica-se, também, considerá-lo como uma técnica social,
porquanto influencia o comportamento humano e o meio,
SOS seus inter-relacionamentos.
U . ' A evolução dos conceitos de Serviço Social e sua
Sistematização como disciplina permitem afirmar a exis-
Maola de componentes essenciais e que podem ser siste-
24 CBCJSS Teorização do Sens. Social 25
matizados como instrumento de intervenção na realidade As razões principais dessa diretriz operacional do
social. Nessa intervenção, o Serviço Social atua à base iço Social estão contidas nesse qu^drcjustóriçp, que
das inter-relações do binómio indivíduo-sociedade. Sua ica a ênfase do Serviço Social no passado, porquanto
teorização se processa a partir da "praxis", isto é, o Ser- vivência se apresentou como u m a tentativa de opor
viço Social pesquisa e identifica os princípios inerentes antídoto a u m a linha meramente assistencialista. Do
à sua prática e sistematiza sua teoria. ÍO modo, contribuiu para u m apelo ao Serviço Social
/ 22. Como prática institucionalizada, o Serviço Social se termos de ação preventiva.
caracteriza pela atuação junto a indivíduos com desajus- Reconhece-se, entretanto, que os caracteres corretivo,
tamentos familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas itivo e promocional são u m a peculiaridade do Ser-
vezes decorrem de estruturas sociais inadequadas. Social, não lhe sendo, no entanto, específicos, u m a
23. Observa-se que a absorção dos profissionais do Ser- que comuns a outras ciências teórico-práticas. Apre-
viço Social no plano prático prejudica, p o r vezes, a re- tam-se, praticamente, na linha de simultaneidade e não
flexão sobre as experiências realizadas e retarda as opor- opção, recaindo a ênfase em u m ou outro dos carac-
tunidades de análise e desenvolvimento de u m quadro de conforme sejam a realidade ambiental, o momento
referências que permita a definição de sua natureza, difi- , os objetivos e o enfoque dos programas.
cultando, também, sua colocação no quadro geral das 49. O caráter corretivo se define como intervenção na
ciências técnicas. JBMiidade para fins de remoção de causas que impedem
24. Ressalte-se que a análise e crítica do "modus ope- OU dificultam o desenvolvimento do indivíduo, grupo,
randi" do Serviço Social, nos diversos contextos histórico- íôttunidade e populações.* Nesse sentido, o Serviço Social
culturais, se constitui em elemento fundamental à elabo- fltua aos níveis de micro e macroestrutura, respectiva-
ração da teoria desta disciplina. j s t n t e , quando intervém em causas inseridas em sua esfe-
25. Ao analisar-se a evolução do Serviço Social no Brasil, 4 * operacional, de administração e prestação de serviços
verifica-se que o advento do Estado paternalista, coinci- p r e t o s , e quando participa da correção de causas que
dente com as origens do Serviço Social, foi fator condi- transcendam a sua possibilidade de ação direta ou isolada.
cionante da montagem de u m sistema de instituições so- 80. Ojsaráter preventivo do Serviço Social se define como
ciais que propunham solucionar os problemas através de Um processo de intervenção que procura antepor-se às
programas assistenciais de caráter imediatista, caráter Consequências de u m determinado fenómeno. Esse caráter
j \ esse que também marcou as organizações particulares de ¿evidenciado quando se procura evitar as causas de desa-
assistência. juste, inserindo elementos que possam eliminá-los, forne-
26. Esse passado concorreu para a formação de u m a cendo subsídios para medidas de âmbito geral.
imagem e de u m a expectativa a respeito do Serviço Social 81. A relação entre o desajuste e a prevenção sugere
como atividade de prestação de serviços assistenciais. A possibilidade de se considerar a atuação preventiva como
premência dos problemas sociais e o imediatismo do Ser- UBia decorrência do caráter corretivo do Serviço Social.
viço Social, nesse período, dificultaram a reflexão e a KtaseI, oaso, o Serviço Social apresentaria, fundamental-
oaracteres corretivo e promocional. O assunto é,
análise que poderiam orientar o Serviço Social e m u m a
ação centrada de preferência nas estruturas sociais. O
Serviço Social, nessa conjuntura, assumiu, então, a tarefa * Neite documento, o termo populações significa um conjunto de famí-
de contribuir para a organização técnica daquelas formas lia! e de Individuai localizados numa determinada área, contínua ou não,
de atuação social. apreaentando cartai características comuns de vida, sem constituírem pro-
priamente uma comunidade.
26 CBCISS
27
no entanto, ainda controvertido, estando a merecer inda- Teorização do Sero. Social
gações posteriores. 36. A partir desse novo enfoque, o Serviço Social deverá
romper o condicionamento de sua atuação ao uso exclu-
32. O caráter promocional do Serviço Social acha-se con- sivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, e rever
substanciado na afirmação de que promover é capacitar. seus elementos constitutivos, elaborando e incorporando
Diante dessa colocação, conclui-se que o Serviço Social novos métodos e processos.
promove quando atua para habilitar indivíduos, grupos,
comunidades e populações, fazendo-os atingir-_a_4?lena
realização de suas potencialidades. Sob "este prisma, a OBJETIVOS DO SERVIÇO SOCIAL
ação do Serviço Social insere-se no processo de desenvol-
vimento, tomado este em sentido lato, isto é, aquele que 37. Deve-se fazer, aqui, distinção entre o objetivo remoto
leva à plena utilização dos recursos naturais e humanos, do Serviço Social e seus objetivos operacionais, entendi-
e, consequentemente, a uma realização integral do homem. dos estes como fins imediatos e intermediários.
Destaca-se, quanto à promoção humana, a importância do
processo de conscientização como ponto de partida para 38. O objetivo remoto do Serviço Social pode ser consi-
fundamentação ideológica do desenvolvimento global. derado como o provimento de recursos indispensáveis ao
desenvolvimento, à valorização e à melhoria de condições
33. Nessa ordem de considerações, os caracteres corre- do ser humano, pressupondo o atendimento dos valores
tivo, preventivo e promocional são válidos desde que cons- universais e a harmonia entre estes e os valores culturais e
tituam resposta adequada aos contextos em que o profis- individuais. Esses valores funcionam como u m quadro de
sional do Serviço Social é chamado a atuar. Ao se tornar, referência de bens tangíveis e intangíveis, que informa o
porém, o contexto social como critério de referência para plano operacional do Serviço Social.
se aquilatar da validade de quaisquer dos caracteres refe- 39. Na ausência de u m a teorização suficientemente formu-
ridos, não deve o agente do Serviço Social colocar-se numa lada sobre a universalidade da "condição humana", aceita-
perspectiva puramente estática de aceitação, m a a desem- se, como quadro de valores, a Declaração Universal dos
penhar u m papel que conduza à modificação desse con- Direitos do Homem, das Nações Unidas, que resultou de
texto. u m consenso entre representantes das mais variadas cul-
34. Impõe-se esta reformulação do Serviço Social em turas. Ressalta-se, entretanto, a necessidade de investiga-
novas linhas de teoria e de ação para melhor servir à ções sistemáticas sobre a matéria, cujos resultados venham
pessoa humana e à sociedade. O Serviço Social, agente consolidar o embasamento teórico do Serviço Social, enri-
que intervém na dinâmica social, deve orientar-se no sen- quecendo, assim, seu conteúdo.
tido de levar as populações a tomarem consciência dos 40. São objetivos operacionais: a) identificar e tratar pro-
problemas sociais, contribuindo, também, para o estabe- blemas ou distorções residuais que impedem indivíduos,
lecimento de formas de integração popular no desenvolvi- famílias, grupos, comunidades e populações de alcançarem
mento do País. padrões econômico-socíais compatíveis com a dignidade
humana e estimular a contínua elevação desses padrões;
35. As exigências do processo de desenvolvimento mun- b) colher elementos e elaborar dados referentes a proble-
dial vêm impondo ao Serviço Social, sobretudo em países mas ou disfunções que estejam a exigir reformas das
ou regiões subdesenvolvidos, o desempenho de novos pa- estruturas e sistemas sociais; c) criar condições para tor-
péis. Estes papéis, em sua evolução histórica, constituem nar efetiva a participação consciente de indivíduos, grupos,
formas de inserção da profissão na realidade econômico- OOmunidades e populações,"seja promovendo sua integra-
social dos mesmos países ou regiões. çio nas condições decorrentes de mudanças, seja provo-
cando as mudanças necessárias; d) implantar e dinamizar
28 CBCISS
sistemas e equipamentos que permitam a consecução dos
seus objetivos.
t
seria o tipo de abordagem individual. Duvida-se, porém
da transposição, com êxito, da abordagem do Serviço So- Teorização do Serv. Social 35
cial de Caso para o processo de DC.
Como base de referência para esta participação, con-
a-se que o contexto do grupo representa u m a resposta
SERVIÇO SOCIAL DE GRUPO ecessidades psicossociais da pessoa humana, que a
teia em grupo responde a estas necessidades e que o
65. O conceito de Serviço Social de Grupo se modificou rio grupo é u m instrumento de atuação na comuni-
em consequência da evolução histórica, do processo. Tra- n a qual se acha inserido.
dicionalmente, a ação do assistente social se concentrava Os objetivos operacionais do Serviço Social de Grupo
no grupo e nele circunscrevia seu limite. Hoje, busca-se, condicionados por três variáveis que devem ser con-
também, o engajamento efetivo da clientela no processo adas global e simultaneamente: as necessidades dos
social mais amplo. A natureza do processo é, agora, enten- bros, a finalidade da obra e o objetivo profissional
dida como sócio-educativa, podendo ter caráter terapêutico ~ d o assistente social.
e/ou preventivo. , US. As funções do Serviço Social de Grupo respondem a
66. Para efeito de análise, e pelo conteúdo funcional do «dois principais tipos de necessidades: as dos próprios par-
conceito, apresenta-se a definição de Konopka: "O Serviço ticipantes do grupo, porquanto as experiências de grupo
Social de Grupo é u m processo de Serviço Social que, «tendem à s necessidades individuais de pertencer e de
através de experiências propositadas, visa a capacitar os J9uto-afirmar-se, e às necessidades da sociedade na qual o
indivíduos a melhorarem o seu relacionamento social e a g r u p o se acha inserido, visto que as experiências de grupo
enfrentarem de modo mais efetivo seus problemas pes- desenvolvem o espírito de cooperação mútua.
soais, de grupo e de comunidade."* T8. O Serviço Social de Grupo contribui de modo efetivo
67. Deste conceito infere-se existir uma significativa cor- para o processo de mudança social, quando busca a ade-
relação entre capacidade de relacionamento social e ex- quação da ambivalência humana.
periência de grupo. Conclui-se, ainda, desta definição, que 74. A dinâmica individual decorre dessa ambivalência.
as pessoas necessitam de ajuda, às vezes profissional, para Enquanto ser ambivalente, o homem vive em constante
desenvolverem ou aperfeiçoarem suas potencialidades de procura de formas adequadas de auto-realização e delas
relacionamento. tanto mais se aproxima quanto mais desenvolve, em si,
68. As atuais tendências d o Serviço Social d e Grupo a capacidade de inter-relações (pessoais e de grupo) grati-
implicam o uso consciente do grupo como instrumento flcadoras. Essas inter-relações se constituem em condição
para alcance dos objetivos visados, o alargamento das e recurso para as mudanças sociais, ao tempo em que, por
funções tradicionais do Serviço Social, consequentemente, ai mesmas, representam mudanças.
a inclusão de novas funções, o engajamento dos membros 75. Assim, ao intervir nos processos de grupo, garantindo
em programas sociais mais amplos e u m a preocupação que eles se desencadeiem e se desenvolvam e m suas for-
com o indivíduo, o grupo e as mudanças sócio-culturais. mas positivas, o Serviço Social de Grupo contribui para
69. O objetivo do Serviço Social de Grupo é, em última >iintroduzir as mudanças sociais na medida das necessida-
análise, capacitar os membros do grupo para u m a efetiva des do homem.
participação no processo social. 76. Considera-se que alguns aspectos de interesse para
os assistentes sociais de grupo estão a merecer estudo e
*JC,?NrOPKA' Gis«la. Social Group Work — a Helping* Process ' Pren reflexão. Dentre eles, deve-se citar: o conceito de liderança,
tice Hall, Inc. Englewood Cliffs, New Jersey, 1963 O uso de atividades pelo assistente social de grupo, o s
grupos atendidos pelos assistentes sociais enquanto grupos
de formação social e de atuação social, e os campos de
atuação do Serviço Social de Grupo.
36" Teorização do Serv. Social 37
CBCISS
DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADE através de ação organizada, para atendimento de suas ne-
cessidades e realizações de suas aspirações.
77. Numa visão panorâmica da situação mundial, obser- 85. A caracterização de DC, como processo interprofis-
va-se que o processo de Desenvolvimento de Comunidades sional, decorre do fato de sua realização ser sempre conse-
(DC) apresenta, não apenas na fase de implantação, como 1 guida através de projetos integrados, definidos pelo eco-
também no desenvolvimento de programas, a incorporação nomista Dirceu Pessoa* como "empreendimento que en-
de equipes diversificadas profissionalmente, nem sempre volve diversos setores e, como tal, são objeto de atividades
incluindo assistentes sociais. multiprofissionais, interdependentes, que deverão ser con-
78. Nota-se, porém, que os profissionais integrantes des- duzidas integralmente".
sas equipes recebem o embasamento teórico e o treina- 86. Para esclarecer mais profundamente o conteúdo do
mento comum à formação do assistente social. DC, convém lembrar o documento das Nações Unidas**
79. No Brasil, a origem e a evolução do DC estão inti- que destaca as quatro contribuições de DC aos programas
mamente ligadas ao Serviço Social, cujo pioneirismo se de desenvolvimento nacional: a) "gera o crescimento eco-
justifica desde a constatação de sua introdução no país, nómico e social no plano local; b) constitui u m canal ade-
sendo o DC incorporado, de início, como u m dos processos quado para mútua comunicação entre governo e povo;
do Serviço Social. c) colabora na formação do capital social básico e na ex-
80. Pelo exame da evolução do DC no Brasil, podem-se pansão da infra-estrutura, pelo incentivo às iniciativas lo-
definir quatro etapas. A primeira está ligada às experiên- cais nesses setores, liberando recursos governamentais que
cias de organizações de comunidades, inspiradas em mol- poderão destinar-se a investimentos nacionais importantes;
des norte-americanos, através de tentativas de coordena- d) cria, em muitos países, as condições prévias necessárias
ção de serviços e obras sociais em áreas funcionais. para a evolução dos órgãos do governo local ou para o
81. A segunda caracteriza-se por experiências isoladas, fortalecimento de instituições que ficaram estacionárias
atingindo pequenas áreas e com finalidades específicas de oú que não se adaptaram às mudanças".
melhorias imediatas de condições de vida, sem recursos 87. Contribuindo na formação do capital social básico
político-administrativos e técnicos e nem tampouco a preo- e na expansão da infra-estrutura, amplia-se a perspectiva
cupação com perspectivas voltadas para o setor económico. do DC, ressaltando-se a sua integração no desenvolvimento
82. A terceira fase é definida por u m a transição carac- sócio-econômico, através do estímulo ao capital humano,
terizada pelo reconhecimento da necessidade de atender-se "transformando recursos humanos ociosos em capacidade
a problemáticas estruturais, motivando a necessidade de produtiva, dentro dos objetivos explicitados pelas próprias
estabelecimento de metas para o desenvolvimento. comunidades".* * *
83. A quarta, que se esboça atualmente com esforço defi- 88. Numa dimensão de integração, considerando DC como
nido de elaboração técnica, procura enfatizar a criação u m processo interprofissional, ressalta-se a posição do
de mecanismos de participação popular no processo do
desenvolvimento, baseando-se num melhor conhecimento ^(Serviço Social presente na equipe em todas as fases do
da realidade nacional e regional quanto, principalmente,
ao instrumental disponível e à dinâxnica de comporta- * PFSSOA Dirceu Ação Comunitária como Atividade Programada em
mento das populações. Saliente-se que a maioria destes Proietos I Seminário de Ação Comunitária do Nordeste, Pernambuco,
programas está vinculada a planos governamentais e ope- SUDENE, 1966.
ram-se em algumas regiões do país. ** Comunidad y Desarrollo Nacional, Nações Unidas, 1963.
84. DC é u m processo interprofissional que visa a capa- *** Cadernos do IBRA, Desenvolvimento de Comunidades, Rio de Ja-
citar a comunidade para integrar-se n o desenvolvimento neiro, Série 1, 1967.
38 CBCISS Teorização do Serv. Social 39
trabalho, buscando com os demais membros a perspectiva ça, de nucleação e organização de grupos, de utilização
global dos diversos programas setoriais. trutiva de situações de conflito e tensões sociais.
89. Por outro lado, focalizando o papel do Serviço Social
na integração da comunidade no processo de desenvolvi-
mento, sua presença é requerida em todas a s fases da INTEGRAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL
ação metódica e da dinâmica do processo.
90. A partir dessas considerações, a contribuição espe- . Dentro da nova perspectiva da metodologia operacio-
cífica do Serviço Social nas equipes profissionais de IX! ", coloca-se a questão da integração do Serviço Social,
pode ser assim definida: a) participar em pesquisas ope- discutível o tema. Os elementos conceptuais são escas-
racionais; b) contribuir na elaboração das variáveis para sos; as experiências em curso, ainda incipientes.
o estudo, a análise-diagnóstico e a avaliação dos progra- VI. Essa busca de integração evidencia o desejo de u m .
mas; c) estabelecer canais de comunicação com a comu- fnaior rendimento do Serviço Social, podendo-se já iden-
nidade, suscitando sua participação no estudo, análise- tificar algumas formas de abordagem, como: integração
diagnóstico, planejamento e avaliação; d) contribuir para Aos processos de Serviço Social, de programas e projetos,
adequação das prioridades técnicas às prioridades sentidas d a s técnicas dos processos em programas, e da docência
pela comunidade; e) dinamizar a comunidade para inte- com o exercício profissional e pesquisa.
gração no processo de desenvolvimento; f) suscitar ino- 98. Essas formas de abordagem, na prática, apresentam-
vações que estimulem a comunidade a adotar atitudes e se sob os seguintes aspectos: a) u m mesmo órgão aplica,
comportamentos que a levem a optar e a assumir decisões. simultaneamente, os três processos; b) a ação visa à mes-
91. Usa-se, muito, a mesma terminologia para a denomi- m a clientela, ou seja, indivíduos e grupos integrantes de
nação do processo global e para a faixa de atuação do u m a comunidade e/ou população; c ) a s características
Serviço Social. pessoais da clientela e as condições ambientais da área
92. Entre profissionais, há atualmente tendência para uso de atuação determinam a escolha do processo e a passa
do termo DC. No entanto, a expressão Serviço Social de gem de u m para outro processo; d) identificação da pro-
Comunidade, restritamente, é usada para intervenção espe- blemática e definição das áreas de abordagem através de
cífica do Serviço Social. Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo, Desen-
93. As Escolas de Serviço Social, em razão de disposições volvimento de Comunidade e Trabalho com populações;
legislativas, em sua documentação oficial utilizam a deno- e) atendimento a casos, grupos, comunidades e popula-
minação Desenvolvimento e Organização de Comunidade ções em função de problemáticas específicas e através de
(DOC).
94. Observe-se que as expressões adotadas acompanham programas e/ou projetos que atendam a essas problemá-
a contínua evolução de aplicação do processo, de acordo ticas.
com as características que o mesmo assumiu em fases 99. A integração da docência, do exercício profissional
diversas históricas, em variados contextos sociais. e da pesquisa assume as seguintes características: a ) o s
95. As funções do Serviço Social em DC são principal- programas teórico-práticos de aprendizagem e os progra-
mente orientadas para a deflagração dos processos d e m a s profissionais s e desenvolvem nas perspectivas d e
conscientização, motivação e engajamento de lideranças programas e projetos integrados; b) a experimentação nes-
individuais, de grupos e instituições no sentido do desen- tes dois níveis de programa oferece subsídios à pesquisa,
volvimento. Cabe-lhe, portanto, aplicar técnicas, atualmen- c) os agentes da pesquisa enriquecem a experiência, favo-
te, em diferentes graus de elaboração, tais como a d e recendo esta atualizaçao dos conhecimentos e a síntese
abordagem individual e de grupo, de capacitação de lide- das ciências, humanas.
40 CBCISS
UTILIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
EM SERVIÇO SOCIAL
100. A administração não é um processo específico de
Serviço Social. O assistente social, contudo, no exercício
de sua profissão, desempenha funções administrativas
quando: a) ocupa cargo de chefia e de coordenação de
equipes na administração de programas; b) colabora ao
nível da formulação de decisões administrativas; c) parti-
cipa da formulação de política de ação.
101. A administração constitui, hoje, uma disciplina pro- Capítulo III
fissional definida, dotada de u m corpo próprio de teoria e
técnicas.
102. O fato de que a ação do Serviço Social pressupõe, SERVIÇO SOCIAL E A REALIDADE BRASILEIRA
sempre, a existência de quadros organizacionais e, conse- 105. A necessidade do conhecimento da realidade brasi-
quentemente, o manejo de processos administrativos, co- leira é pressuposto fundamental para que o Serviço Social
mo apoio à execução de suas atividades, está a exigir es- nela possa inserir-se adequadamente, neste seu esforço
tudos e conceituação de u m campo da administração vol- atual de reformulação teórico-prática. Ressalta-se que este
tada para a problemática específica do Serviço Social. conhecimento deve ser consubstanciado em termos de
103. A "Administração do Serviço Social" constituiria diagnóstico da realidade nacional, diagnóstico este indis-
uma especialização, a exemplo do que já existe em termos pensável a u m planejamento para a intervenção na reali-
de Administração Hospitalar e Administração Escolar. dade brasileira, com vistas à implantação das necessárias
104. O preparo adequado, nessa especialização, deve cons- mudanças.
tituir requisito fundamental para o profissional de Serviço 106. O esforço do Serviço Social, nesta perspectiva, tem
Social, chamado a exercer funções administrativas no seu em mira u m a contribuição positiva ao desenvolvimento,
campo de ação técnica. entendido este como u m processo de planejamento inte-
grado de mudança nos aspectos económicos, tecnológicos,
sócio-culturais e político-administrativos.
107. Nesta conotação de desenvolvimento, entende o Ser-
viço Social que o homem deve ser, nele, simultaneamente,
agente e objeto, em busca de sua promoção humana, num
sentido abrangedor, de modo que os benefícios não se
limitem a frações de populações, mas atinjam a todos,
propiciando o pleno desenvolvimento de cada um.
108. É dentro desse quadro de referências que o Serviço
Social deve definir suas faixas próprias de atuação, cons-
truindo modelos específicos de intervenção.
109. Para a instrumentalidadeda intervenção do Serviço
Social no Desenvolvimento, faz-se mister a elaboração de
modelos que sistematizem a programação global e/ou se-
torial.
Teorização do Serv. Social 43
b) a adoção de medidas que garantam a inserção dos pro-
42 CBCISS gramas e atividades de Serviço Social nos vários níveis
110. Evidentemente, a fixação de tais modelos não é, nem do planejamento.
pode ser, de exclusiva responsabilidade do Serviço Social, 117. Na MOBILIZAÇÃO DE FORÇAS ORGANIZADAS, a
mas torna-se imprescindível a participação deste nesta ela- microatuação do Serviço Social seria: a) identificação, mo-
boração. bilização e articulação de indivíduos, grupos e organizações
111. A título de contribuição, apresenta-se este primeiro para a participação no processo de desenvolvimento; b)
esquema de modelo de atuação do Serviço Social, colocado incentivo à formação de novos quadros de liderança, gru-
em perspectiva de Desenvolvimento, reconhecendo-se a pos e organizações; c) valorização e capacitação de qua-
necessidade de análise científica que permita a avaliação dros de liderança, visando habilitá-los a atuar no processo
para posteriores reformulações. de desenvolvimento. A macroatuação do Serviço Social
seria: a) valorização e estímulo às instituições para que
112. Supõe este modelo de atuação o s seguintes ele- se capacitem e estabeleçam sistemática de coordenação e
mentos: usem outros processos dinâmicos que as tornem propul-
IDEOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL; soras de mudança; b) introdução de sistemas de transfor-
PLANEJAMENTO; mação para aquelas instituições que se constituem em
MOBILIZAÇÃO DE FORÇAS ORGANIZADAS; freios e/ou bloqueios à mudança.
CAPITAL (recursos humanos e materiais); 118. No CAPITAL, a microatuação do Serviço Social seria
TÉCNICA. a identificação de recursos materiais disponíveis e o estí-
113. Pace a este modelo de atuação, sugere-se como fun- mulo à criação de novos recursos que se fizerem necessá-
ção e atividade do Serviço Social em uma escala de micro rios, enquanto que a macroatuação do Serviço Social seria:
e macroatuação. a) implementação dos investimentos de infra-estrutura
114. Na IDEOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INTE- social; b) estímulo à participação popular em programas
GRAL, a microatuação do Serviço Social seria o processo que efetivem os chamados investimentos de capital fixo;
direto de conscientização de indivíduos, grupos e organi- c) contribuição para a elevação dps níveis de vida; d )
zações de base, enquanto a macroatuação do Serviço Social estabelecimento de prioridades para programas, projetos
seria o estabelecimento de uma política e/ou de medidas e atividades, a partir de necessidades e aspirações das
que impliquem: a) u m amplo processo de conscientização populações; e) valorização dos recursos humanos, visando
dos centros de poder de decisão da sociedade; b)> a inva- a superar resistências aos programas e projetos a serem
lidação dos processos que, implícita ou explicitamente, se- implantados; f) avaliação do custo de pessoal e equipa-
jam contrários aos instrumentos ou estímulos propulsores mento aplicado nos programas vinculados, direta ou indi-
e aceleradores do desenvolvimento. retamente, ao Serviço Social, tendo em vista a rentabili-
115. Assim entendido, o Serviço Social deve formular dade destes.
diretrizes, criar uma estratégia de ação, de acordo com 119. Na TÉCNICA, a microatuação do Serviço Social se-
seus princípios fundamentais, para atuar de maneira gené- ria a utilização dos processos de Caso, Grupo e Desenvol-
rica e, especialmente, frente a determinadas situações de vimento de Comunidade, bem como de técnicas auxiliares,
bloqueio à mudança. procedendo-se sua seleção em vista da melhor aplicabili-
116. No PLANEJAMENTO, a microatuação do Serviço dade ao desenvolvimento, enquanto que a macroatuação
Social seria a inserção de planejamento nas microrrealiza- do Serviço Social seria: a) utilização de formas operacio-
ções, dentro de diretrizes e/ou política do macroplaneja- nais no sentido de transformação das estruturas; b) esta-
mento, enquanto a macroatuação do Serviço Social seria: belecimento realístico das condições e das etapas do pro-
a) inserção consciente das populações no planejamento cesso da participação popular, para que os programas se
através do conhecimento de suas potencialidades e dos
meios de transformá-los em instrumentos dessa integração;
44 CBCISS Teorização do Serv. Social 45
efetivem, revigorando as decisões e ações humanas, com ções na teoria, na metodologia, no ensino e nos canais de
vistas ao desenvolvimento; c) participar do estabelecimen- comunicação do Serviço Social com o público. Estas res-
to de sistemáticas de coordenação de atividades interpro- ponsabilidades novas, contudo, não os intimidam. Ao con-
fissionais; d) estabelecimento de política de estímulo quan- trário, são tomadas como desafio. Certos de que as propo-
to a empresas e técnicos, objetivando despertar atitudes sições deste documento serão objeto de análise crítica,
inovadoras capazes de levá-los a aderirem ao processo de -<le reflexão por parte das escolas, dos profissionais, dos
mudança; motivação do empresariado para a utilização órgãos de classe e dos estudantes de Serviço Social, con-
dos investimentos que lhes são oferecidos pelas institui- fiam que estas formulações se projetem no futuro do
ções públicas e privadas, visando maior rentabilidade a Serviço Social no Brasil.
suas iniciativas e esforços; incentivo do espírito empre-
sarial, visando ao aperfeiçoamento de iniciativas empíricas
e, consequentemente, maior contribuição ao processo do Assinado por todos os participantes.
desenvolvimento; e) aprofundamento e/ou elaboração da
teorização, das técnicas do planejamento e técnicas opera-
cionais do Serviço Social, tendo em vista as exigências
atuais de abertura de campos e/ou mercado de trabalho
ao nível de macroatuação.
120. Face às colocações explicitadas, reconhece-se reque-
rer a atuação do Serviço Social o estabelecimento de cri-
térios de prioridades e a definição de opções adequadas às
exigências da realidade económico-social.
121. O desenvolvimento harmónico do homem — perma-
nente desafio à atuação do Serviço Social — exige que
sua adequação à realidade seja u m a constante.
122. Para as transformações necessárias ao desenvolvi-
mento, faz-se mister uma ampla e consciente participação
do próprio homem, sujeito e objeto do Serviço Social.
Disto decorre a necessidade de u m trabalho cientificamente
embasado, que fundamente uma sistemática realista e efi-
caz à nova estratégia do Serviço Social, na consecução de
seus objetivos.
NOTA FINAL
123. Os participantes do Seminário de Araxá reconhecem
a importância do momento histórico deste encontro. Acre-
ditam que a iniciativa e os resultados deste Seminário
constituem u m marco no processo de elaboração do con-
teúdo técnico-científico do Serviço Social.
124. Refletindo sobre as consequências das opções suge-
ridas, constatam a necessidade de profundas reformula-
RELAÇÃO DOS DOCUMENTOS PREPARATÓRIOS
DOCUMENTO DE TERESÓPOLIS
Roteiros para Discussão
Doe. I — Componentes •universais do Serviço Social — METODOLOGIA DO SERVIÇO SOCIAL
S. Paulo
Doe. II — Metas do Serviço Social — S. Paulo
II SEMINÁRIO — 10 a 17 de janeiro de
Doe. III — O Serviço Social face ao processo de formu-
lação e implantação da Política Social — S.
Paulo
Doe. IV — Papel do Serviço Social; funções do Assistente
Social — S. Paulo
Doe. V — Serviço Social. Objetivos. Níveis de Atuação.
ótica e Metodologia — Helena I. Junqueira
Todos estes documentos foram publicados no Suple-
mento n.° 4 de 1967, dos Debates Sociais, do CBCISS.
COMÎSSAO ORGANIZADORA DO SEMINARIO
Helena Iracy Junqueira
Edith Motta
Maria Augusta de Luna Albano
Maria das Dores Machado
José Lucena Dantas
COORDENAÇÃO
Edith Motta
HOSPITALIDADE
Conselheiro Luiz Gonzaga Marengo Pereira
e Diretoria do "Holiday Club"
PARTICIPANTES
Angela Anastasia Cardoso
Ana Alves Pereira
Balbina Ottoni Vieira
Edith M. Motta
Edy Maciel Monteiro
Eva Teresinha Silveira Faleiros
Francisco Paula Ferreira
Giselda Bezerra
Helena Iracy Junqueira
Isa Maia
CBCISS
Jocelyne L. Chamuzeau
José Lucena Dantas
Leda Del Caro
Maria Augusta de Luna Albano
Maria da Glória Nin Ferreira
Maria das Dores Machado
Maria Dulce de Moura Beleza
Maria do Carmo C. Falcão
Maria Helena M. Duarte
Maria Lúcia A. Velho SUMARIO
Maria de Nazaré Moraes
Marília Diniz Carneiro
Marina de Bartolo Introdução
Marisa Meira Lopes
Marta "Teresinha Godinho
Mary Catherine Jennings RELATÓRIO DO GRUPO A
Nadir Gouveia Kfouri
Nelson José Suzano * 2. Concepção científica da prática do Serviço Social
Rosa da Silva Gandra
Suely Gomes Costa 2.1.1 Fenómenos e variáveis significativos para a prá-
Suzana Medeiros
Tecla Machado Soeiro tica do Serviço Social
Vicente de Paula Faleiros
Levantamento dos fenómenos e variáveis
Identificação das funções correspondentes
Classificação das funções
(Quadros: nível biológico, nível doméstico e fa-
miliar, nível educacional, nível cívico-
municipal, nível sócio-cultural, nível
de segurança)
3. Aplicação da metodologia do Serviço Social
Investigação-diagnóstico
Intervenção
Observações sobre o Relatório do Grupo A
O Relatório Final
Os assistentes sociais q u e s u b s c r e v e m o D o c u m e n t o de
Teresópolis, conscientes d a r e s p o n s a b i l i d a d e a s s u m i d a , re-
c o n h e c e m q u e o assunto deve ser o b j e t o d e estudos e
reflexões f u t u r a s . A matéria, p o r d e m a i s vasta, não pôde
ser s u f i c i e n t e m e n t e a p r o f u n d a d a n u m e n c o n t r o de sete
d i a s . O Seminário não p r e t e n d e u esgotar assunto de tão
a l t a relevância.
O C B C I S S s u b m e t e à crítica d o s assistentes sociais os
r e s u l t a d o s d o Seminário de Teresópolis e espera haver
contribuído de a l g u m a f o r m a p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o de
u m Serviço S o c i a l q u e r e s p o n d a cada vez m a i s às necessi-
dades d o H o m e m B r a s i l e i r o .
N e s t a a t u a l edição são apresentados s o m e n t e os Rela-
tórios d o s d o i s g r u p o s . Os d o c u m e n t o s preparatórios,
d i s c u t i d o s o u não n o Seminário, f o r a m e d i t a d o s separa-
damente.*
C o n f o r m e decisão d o plenário, os G r u p o s só e s t u d a r a m
os T e m a s 2 e 3, p o r q u e o T e m a 1 f o i d e b a t i d o e m plenário,
baseado n o s três t r a b a l h o s preparatórios ao Seminário.
O Grupo A, e m r e s p o s t a a o T e m a 2 — Concepção Cien-
tífica da Prática do Serviço Social e ao i t e m 2.1 Conheci-
mentos Científicos que Embasam a Prática do Serviço
Social, — i n i c i o u o e s t u d o p e l o s 2.1.1 Fenómenos e Variá-
veis Significativos para a Prática do Serviço Social, desen-
volvendo-o m a i s a m p l a m e n t e , não chegando a a b o r d a r os
i t e n s seguintes d o T e m a 2.
Q u a n t o ao T e m a 3 — Aplicação da Metodologia do Ser-
viço Social, o e s t u d o f o i f e i t o a p a r t i r de u m r o t e i r o orga-
n i z a d o p o r elementos d o próprio G r u p o a o término d a ela-
boração d o e s t u d o a n t e r i o r .
T E M A 2: CONCEPÇÃO C I E N T Í F I C A D A P R A T I C A
DO SERVIÇO SOCIAL
O e s t u d o se desenvolveu e m c i n c o etapas: l e v a n t a m e n t o
de fenómenos s i g n i f i c a t i v o s observados n a prática d o ser-
viço social, c o r r e s p o n d e n t e s aos níveis adotados p e l o g r u -
p o ; l e v a n t a m e n t o das variáveis s i g n i f i c a t i v a s p a r a o serviço
social, n o s fenómenos observados; l e v a n t a m e n t o das f u n -
ções c o r r e s p o n d e n t e s às variáveis levantadas; redução das
funções i d e n t i f i c a d a s e, f i n a l m e n t e , classificação dessas
funções.
60 CBCISS Teorização do Serv. Social 61
Fenómeno (social ou fato social): fatos sociais enquanto objeto de uma volvimento de outro fenómeno. (Verbete preparado pelo cientista social
Raymond V. Bowers para o Dictionary of the Social Sciences, edjção da
8
3.a
Etapa
C L A S S I F I C A Ç Ã O D A S FUNÇÕES
IDENTIFICAÇÃO D A S FUNÇÕES CORRESPONDEN- 5
C L A S S I F I C A Ç Ã O D A S FUNÇÕES.
O u t r a possível classificação, atendendo à satisfação de
I d e n t i f i c a d a s q u a t o r z e diferentes funções, f o i t e n t a d a a necessidade n o t e m p o : função i m e d i a t a e função m e d i a t a .
classificação das m e s m a s . Para f i n s deste e s t u d o , Função
NÍVEL BIOLÓGICO
FENÓMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A FUNÇÕES D O SERVIÇO
OBSERVADOS NA POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO SOCIAL
O SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS SOCIAL
(DETALHADAS)
PRATICA DO OBSERVADOS (REDUZIDAS)
SERVIÇO S O C I A L
PKNOMKN08
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO SOCIAL
OBSERVADOS NA O SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS SOCIAL
(DETALHADAS)
PRATICA DO OBSERVADOS (REDUZIDAS)
SERVIÇO S O C I A L
7. M e n o r e x c e p c i o n a l
NIVEL EDUCACIONAL
FENÓMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L SOCIAL
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS
(DETALHADAS) (REDUZIDAS)
PRATICA DO OBSERVADOS
SERVIÇO S O C I A L
2. H i a t o n o c i v o , 1. D i f i c u l d a d e dos m e n o r e s d a c l a s s e b a i x a ,
trabalho do m e n o r n a f a i x a d e 12 a 14 a n o s , d e p r o s s e g u i -
e alta seletividade r e m os e s t u d o s , s e i n i c i a r e m n o p r e p a r o
profissional e ingressarem no mercado de
trabalho
QUADRO A 4
NÍVEL R E S I D E N C I A L
FENÓMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L SOCIAL
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS
(DETALHADAS) (REDUZIDAS)
PRATICA DO OBSERVADOS
SERVIÇO S O C I A L
1. P r o b l e m a s d e I n f r a - 1. D i f i c u l d a d e d e a c e s s o p r o f i s s i o n a l á c l i e n - 1. Descentralização d o s r e c u r s o s p a r a a t e n - 1. A d m i n i s t r a t i v a e
estrutura urbana: tela e vice-versa dimento à clientela pesquisa (micro)
— pavimentação 2. D i f i c u l d a d e de acesso ao l o c a l d e t r a b a l h o 2. Clarificação sociológica d a comunidade, 2. C l a r i f i c a d o r a
— água e r e c u r s o s , o c a s i o n a n d o desgaste d a c l i e n - c o m relação a o s s e u s d i r e i t o s de i n f r a - (conscientizadora)
— esgoto tela estrutura 3. M o b i l i z a d o r a
— iluminação 3. P r o b l e m a s de saúde, h i g i e n e , a b a s t e c i - 3. I n c e n t i v o à formação d e mutirão e m c a -
— transporte m e n t o e segurança ráter s u p l e t i v o p a r a c o m p l e m e n t a r ações
— comunicação 4. Condições d e habitação s u b u m a n a , p r o - públicas, construções e m e l h o r i a d a c a s a
miscuidade e insalubridade própria
5. F a l t a d e r e c u r s o s r e l a t i v o s à educação,
saúde, l a z e r e b e m - e s t a r
2. P r o b l e m a s de 1. G r a n d e p e r c e n t a g e m d o orçamento 1. P e s q u i s a , p l a n e j a m e n t o e a s s e s s o r i a a o s 1. P e s q u i s a ( m a c r o )
urbanização: aplicado no aluguel da moradia órgãos l o c a i s , e s t a d u a i s , r e g i o n a i s e n a - 2. P l a n e j a m e n t o
— carência d e áreas, 2. Insegurança e m o b i l i d a d e cionais 3. A s s e s s o r i a
locais e
equipamentos
— existência d e
f a v e l a s e cortiços
— deficit habitacional
QUADRO A 5
N I V E L CÍVICO-MUNICIPAL
FENOMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L SOCIAL
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S F E N O M E N O S
(DETALHADAS) (REDUZIDAS)
PRATICA DO OBSERVADOS
SERVIÇO S O C I A L
- i -
QUADRO A 6
NÍVEL SÓCIO-CULTURAL
FENÔMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS SOCIAL
OBSERVADOS (DETALHADAS )
PRATICA DO (REDUZIDAS)
SERVIÇO S O C I A L
4. Distância s o c i a l 1. D i f i c u l d a d e de comunicação ( v a l o r e s , 1. E s t a b e l e c i m e n t o de c a n a i s e f o r m a s a d e -
comportamento e linguagem) q u a d a s de comunicação c o m a s populações
2. Marginalização s o c i a l e c u l t u r a l 2. Integração crítica e exercício d a p a r t i c i -
pação s o c i a l e c u l t u r a l
N l V E L D E SEGURANÇA
FENÓMENOS
SIGNIFICATIVOS VARIÁVEIS S I G N I F I C A T I V A S P A R A O FUNÇÕES D O SERVIÇO
OBSERVADOS NA SERVIÇO S O C I A L N O S FENÓMENOS POSSÍVEIS FUNÇÕES D O SERVIÇO S O C I A L
* SOCIAL
PRATICA DO OBSERVADOS (DETALHADAS)
(REDUZIDAS)
SERVIÇO S O C I A L
BIBLIOTECA CENTRAL
T E M A 3: APLICAÇÃO D A M E T O D O L O G I A
DO SERVIÇO S O C I A L
OBSERVAÇÕES S O B R E O R E L A T Ó R I O D O G R U P O A
Nível de Segurança
Jocelyne Chamuzeau
Nadir G. Kfouri
Maria do Carmo C. Falcão
GRUPO B
C o n f o r m e o que f i c o u d e c i d i d o , os G r u p o s só e s t u d a r a m
os Temas 2 e 3 p o r q u e o Tema 1 f o i d e b a t i d o e m plenário,
baseado nos três t r a b a l h o s preparatórios.
O Grupo B, n o exame d o T e m a 2 — Concepção Científi-
ca da Prática do Serviço Social, abordou-o e m t o d o s os
itens p r e v i s t o s . N o i t e m 2.1 — Conhecimentos Científicos
que Embasam a Prática do Serviço Social, i n i c i o u pelos
2.1.1 Fenómenos e Variáveis Significativos para o Serviço
Social e, e m seguida, a b o r d o u os 2.1.2 Conhecimentos Ela-
borados pelas Ciências Sociais e os 2.1.3 Conhecimentos
Elaborados no Campo da Profissão pelo Profissional ou
Outro Cientista Social. A p r e c i o u também os 2.2 Critérios
e Tendências que Vêm Orientando a Formulação da Meto-
dologia do Serviço Social.
Q u a n t o ao T e m a 3 — Aplicação da Metodologia do Ser-
viço Social, ordenou-o d i f e r e n t e m e n t e d o esquema p r e v i s t o .
T E M A 2: CONCEPÇÃO C I E N T Í T I C A D A P R A T I C A
DO SERVIÇO SOCIAL
F o i d i s c u t i d o , i n i c i a l m e n t e , o p r o b l e m a dos critérios a
serem seguidos n o exame dos fenómenos e variáveis sig-
n i f i c a t i v o s p a r a a prática d o serviço social. Decidiu-se i n i -
s
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Ca
QUADRO B 1
Área geral
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QUADRO B 2
OBJETIVOS PROCEDIMENTO
SISTEMA-CLIENTE OPERACIONAIS VARIÁVEIS D A INSTRUMENTOS LÓGICO F A C E A
SITUAÇÃO H U M A N A NÍVEIS D E A T U A Ç A O
DO MÉTODO DE TRABALHO SITUAÇÃO S O C I A L -
PROBLEM A
I. Tradicional Tradicional
Araxá
1. S . S . C a s o Prestação S . S . C a s o O Homem f„ _
S. S . G r u p o d i r e t a de S . S . G r u p o A base d a 1 S. S. „ J Política S o c i a l Documentos
S. S. Comunidade serviços S. S. C o m u - Entrevista "^Caso Macro ^Planejamento preparatórios
nidade d e Teresópolis
2. S . S . C a s o
ESPECIFICAÇÃO
S. S . G r u p o
S. S . Comunidade 3 O Homem J s. S . (Administração
Pesquisa Social o A base d a / S. S .
e m grupo \Grupo Reunião \ Grupo •\ d e B e m - E s t a r Diagnóstico
Administração d e Previsão d e w
—
'•Social
Bem-Estar Social dados e a u
recursos para g3
II. Araxá a prestação tn$ u
de serviços ça g A base d a 1 p
O Homem em f ^- f Prestação O
S. S . Caso comunidade 1 Comu- Pesquisa
S. S . G r u p o '-nidade Micro -i d i r e t a d e Intervenes*
Des. C o m u n i d a d e
S . S . c/Populações
lí Coordenação | ^,°. ";m
'-serviços W
ft,
M
j) V de esforços e <lade
nl
U%
S. S . c/Organizações recursos [ 01
Curativo '
Preventivo g tn
III Instituto Social Construtivo 5
S i o Paulo <
Nota: O documento admite
S. S. Caso que D C e S S R com popu-
S. S. Grupo lações p o d e s i t u a r - s e t a m -
S. S. Comunidade bém n a macroatuaçio.
S. S. Societário
S. S. Institucional
1
Teorização do Serv. Social 81
2.2 APRECIAÇÃO D O S CRITÉRIOS E DAS ÍJUWDAW-
C I A S Q U E V Ê M O R I E N T A N D O A FORMULAÇÃO
D A M E T O D O L O G I A D O SERVIÇO SOCIAL»
A N A L I S E D O QUADRO
SISTEMA-CLIENTE
1
O Grupo B pretendeu inicialmente fazer uma análise mais completa,
mas, por premência do tempo, somente foram arrolados e analisados o i
critérios mais usuais de especificações da Metodologia do Serviço Social.
I min ll Illlililil
des e aspirações
Identificação de recursos
• H á conhecimento de que no U N R I S D estão em elaboração eitudoi de
C o m p a r a r e distinguir indicadores sociais com vistas ao planejamento para o desenvolvimento
Classificar e conceituar social, por ex. D R E W N O S W S K Y , lean, " L e s facteuri économlquei el
:
a) ao nível de " c a s o " e d e " g r u p o " , o modelo subespe- d) a operação prever as tendéneiat (oorrMpondfQdO
cifica e m demasia as operações a s e r e m realizadas, a prognóstico d a terminologia trididonal) ttrla
tornando extremamente difícil a tarefa de diagnos- mantida;
ticar;
e) no momento de enumerar e descrever Já M tornam
b) a o nível de "comunidade", existe u m a metodologia necessárias hipóteses preliminares de diagnôItlOO.
de pesquisas que v e m sendo utilizada e que não
reflete, necessariamente, o modelo. A adequação do Analisando as operações propostas ao nível de interven-
modelo, s e m o exame dessa metodologia, seria i m - ção, conclui-se que:
profícuo.
a) as operações sugeridas — preparação da ação, eie«
Refletindo sobre as dificuldades encontradas, no esforço cução e avaliação — correspondem às operações
de identificar a estrutura lógica do diagnóstico, segundo conhecidas, tradicionalmente, sob os títulos de: pla-
o modelo proposto, conclui-se que: no de tratamento, execução ou tratamento e ava-
liação;
a) todas as operações previstas supõem u m quadro
b) as dificuldades encontradas n a aplicação do modelo
teórico de explicação dos fenómenos e variáveis e
na fase de diagnóstico repetem-se n a fase d a inter-
que, s e m a definição desse quadro teórico, o modelo
venção de vez que é necessário, também, u m quadro
não permite u m a reflexão a nível concreto, e exem-,
plificativo; teórico explicativo das variáveis ocorrentes n a inter-
venção;
b) não seria correto tomar como quadro de referên-
c) não há, entretanto, necessidade de alterar as cate-
cias u m a ou outra corrente teórica do serviço so-
gorias propostas n o modelo inicial.
cial, aprioristicamente escolhida, a s s i m como nãp
seria correto permanecer a u m nível de abstração
lógica que o próprio modelo representa. E s t e raciocínio conduziu à formulação de u m novo
quadro:
Tentando m i ni m i z a r as dificuldades encontradas n a apli-
cação do modelo n a fase diagnostica, foram analisadas as
diversas operações propostas e conclui-se que: Identificar e descrever
Classificar
Diagnóstico E x p l i c a r e compreender
a) n a operação enumerar e descrever não se prescinde
Prever tendências
de u m a operação de identificar os dados e a subdi-
visão enumerar pode ser reduzida a descrever; a
Preparação d a ação
p r i m e i r a etapa p a s s a a apresentar-se, então, como
Intervenção Execução
identificar e descrever;
Avaliação
b) a s operações comparar e distinguir e classificar e
conceituar podem ser reduzidas a u m a única —
classificar;
Recomenda-se que este quadro seja analisado, e m ou-
c) a s operações relacionar as variáveis e singularizar tras oportunidades, sob os pontos de vista teórico e ope-
podem s e r reduzidas a u m a operação m a i s global, racional, partindo-se, sempre, de u m embasamento teórico
que seria explicar e compreender; suficientemente explicitado.
riUIlG.
94 CBCISS
Balbina O. Vieira — GB
Gisela Bezerra — GB
Helena Iracy Junqueira — SP
José Lucena Dantas — DF
Leda Del Caro — MG
Maria Augusta de Luna Albano — GB
Maria Helena M. Duarte — MG
Marília Diniz Carneiro — GB
Marisa Meira Lopes — GB OBSERVAÇÕES S O B R E O RELATÓRIO D O G R U P O B
Marta Teresinha Godinho — SP
Mary Catherine Jennings— USA Quanto às observações solicitadas pelo C B C I S S sobre
Maria Nazaré Moraes — BA o Relatório do G r u p o B , gostaria de ressaltar que o esque-
Suzana Medeiros — SP m a apresentado p a r a o diagnóstico e a intervenção, por
Tecla Machado Soeiro — GB força da premência do tempo, não pôde ser aprofundado.
Vicente Faleiros DF Decorre daí que parece demasiadamente rígido, formal,
visto que os próprios conceitos nele contidos estão implí-
citos. Destaco os pontos que seguem p a r a melhor inter-
pretação do esquema.
— N a realização do diagnóstico, ao enumerar e descre-
ver, estão e m jogo os seguintes elementos:
— u m sistema referencial teórico, segundo o qual os
dados são colhidos. Trata-se de u m conjunto de elementos
próprios do observador, do feixe de hipóteses que adote,
dos critérios de seleção que aplique. Isto conecta este
nível c o m o seguinte de explicação. O s conceitos não são
próprios e exclusivos de u m a "explicação", m a s elementos
fundamentais n a própria descrição;
— u m sistema instrumental de mensuração, pelo qual
São quantificadas as variáveis e m observação. P a r a isto
torna-se necessária a operacionalização das variáveis da
prática do Serviço Social e m indicadores e índices;
— a s necessidades, e m termos operacionais, hão de
exprimir-se, indutivamente enumeradas e instrumentali-
zadas p o r suas características externas.
— A hipótese de diagnóstico se distingue da hipótese
operacional. A p r i m e i r a compreende a relação "fator-fun-
ção", "causa-efeito" ou "condição-aparecimento". O termo
fator significa a condição necessária, suficiente ou coope-
rante do aparecimento de u m fenómeno. A hipótese ope-
racional significa a relação "meio-fim", "caminho-objetivo".
96 CBCISS
Levantamento da situação atual e tendências do Ser- Diagnóstico e intervenção ao nível de prestação dê ser-
viço Social no Brasil nos seus aspectos conceptual e viços diretos a grupos.
operacional. B U G A L H O , Leila Maria Vieira
R E I S , Dulce Botelho
J U N Q U E I R A , Helena I r a c y — M i m . 5 fls.
S I L V A , I l d a Lopes Rodrigues
Bases para a reformulação da metodologia do Serviço
Social. Diagnóstico e intervenção ao nível de prestação de ser-
viços diretos a grupos.
S O E I R O , T e c l a Machado — Debates Sociais, Suple-
M O T T A , E d i t h — M i m . 8 fls.
mento n.° 4, 1970.
Sugestões de roteiro para estudo do tema: diagnóstico
TEMA II e intervenção a nível de prestação de serviços diretos
a indivíduos, grupos, comunidades e populações.
Diagnóstico e intervenção em nível de planejamento Z I L L I O T O , M a r i a Cecília
incluindo situações globais e problemas específicos CAVA N E T O , Luiz
AUR, B . A m i n — M i m . 2 fls.
Aspectos da aplicação das técnicas de planejamento
na atuação profissional dos assistentes sociais. T R A B A L H O S NAO R E L A C I O N A D O S D I R E T A M E N T E
B A P T I S T A , M y r i a m V e r a s — M i m . 13 fls. COM O T E M A R I O P R E L I M I N A R
Planejamento local integrado no Brasil
C O R N E L Y , Seno — M i m . 52 fls. Verbalização e relacionamento em Serviço Social.
Planejamento económico e social. C O R T E Z , José Pinheiro
F E R R E I R A , F r a n c i s c o de Paulo — M i m . 10 fls. R I B E I R O , Arcelina
Diagnóstico e intervenção a nível de planejamento, in- S U Z A N O , Nelson José
cluindo situações globais e problemas específicos. FALCÃO, M a r i a do C a r m o C .
G O D I N H O , M a r t a T e r e z i n h a — M i m . 3 fls. Subsídios para o I I Seminário: Conclusões das reu-
Urbanização e planejamento niões preparatórias realizadas em São Paulo — novem-
G O D I N H O , M a r t a Terezinha — M i m . 16 fls. bro a dezembro de 1969.
G r u p o de assistentes sociais d a E s c o l a de Serviço So-
TEMA I I I cial de S . Paulo — M i m . 4 fls.
Subsidio para o estudo do processo de supervisão.
Diagnóstico e intervenção em nível de administração
J U N Q U E I R A , Helena I r a c y — M i m . 1 fl.
Diagnóstico e intervenção a nível de administração em Montagem de um programa para estágio de aluno do
Serviço Social. ciclo profissional — 1.° ano.
C H A M U Z E A U , Jocelyne L . — M i m . 8 fls. M E L O , Joceline Guimarães — M i m . 6 fls.
Diagnóstico e intervenção a nível de administração em Sugestões para a realização de uma pesquisa de âmbi-
Serviço Social to nacional sobre a situação do Serviço Social no Brasil.
M E L O , Joceline Guimarães
F E R R E I R A , F r a n c i s c o de Paula — M i m . 12 fls. S A N T O S , Antônio Gonçalves dos
B E R L I N K , M a r i a Helena
TEMA IV S I L V A , M a r i a Lúcia Carvalho
Diagnóstico e intervenção em nível de prestação de C A B R A L , M a r i a Carmelita
serviços diretos a indivíduos, grupos, comunidades, R E Q U I X A , Renato
populações
DOCUMENTO DO SUMARÉ
C I E N T I F I C I D A D E DO SERVIÇO SOCIAL
Participantes
Introdução
1. O' Serviço Social e a cientificidade
1.1 Documento de base: A cientificidade do Serviço
Social
GRUPO DO RIO DE JANEIRO
1.1.1 Considerações em torno dos questionamentos
levantados sobre o Documento 1.1
1.2 Documento de base: Reflexões sobre o processo
histórico-científico de construção do objeto do
Serviço Social
GRUPO DE SAO PAULO
1.2.1 Considerações em torno dos questionamentos
levantados sobre o Documento 1.2
2. O Serviço Social e a fenomenologia
2.1 Conferência: Algumas considerações sobre a feno-
menologia que podem interessar ao Serviço Social
CREUSA CAPALBO
2.2 Documento de base: Reflexões em torno da cons-
trução do Serviço Social a partir de uma aborda-
gem de compreensão, ou seja, interpretação feno-
menologia do estudo científico do Serviço Social.
GRUPO DO RIO DE JANEIRO
2.2.1 Considerações em torno dos questionamentos
levantados sobre o Documento 2.2
2.3 Roteiro de reflexão: Fenomenologia — Proposições
a serem discutidas pelos grupos.
GRUPO DE SAO PAULO
O Serviço Social e a dialética
3.1 Conferência: Considerações sobre o pensamento
dialético em nossos dias.
CREUSA CAPALBO
3.2 Documento de base: Serviço Social e Cultura — INTRODUÇÃO
uma alternativa para discussão das relações assis-
tente social-clientela,
GRUPO DO RIO DE JANEIRO De 20 a 24 de novembro de 1978, vinte e cinco assistentes
sociais, a convite do CBCISS, reuniram-se no Centro de
3.2.1 Considerações em torno dos questionamentos Estudos do Sumaré, no Rio de Janeiro, com o objetivo
levantados sobre o Documento 3.2 principal de continuar os estudos de teorização do Ser-
3.3 Roteiro de Reflexão: Dialética e Serviço Social. viço Social iniciados em 1967 com o Seminário de Araxá,
GRUPO DE SAO PAULO cujo documento final — o Documento de Araxá — foi con-
siderado por muitos como um marco teórico do Serviço
Social no Brasil. Decorridos dez anos, era desejável reto-
mar esse Documento e possibilitar novos questionamentos
na linha da sistematização teórica por ele iniciado.
PREPARAÇÃO DO SEMINÁRIO
Assim, desenvolveu-se um processo preparatório, de me-
didas e estudos, para o Seminário.
Primeiramente, buscou-se conhecer a opinião de diver-
sos assistentes sociais, em outubro de 1976, através de uma
pesquisa lançada no I I Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais, realizado, naquela data, em Recife.
A seguir, em agosto de 1977, ofícios dirigidos a 276
profissionais solicitaram sugestões sobre a retomada do
Documento de Araxá para um estudo e possível reformu-
lação.
Dessas medidas preliminares, das respostas e sugestões
recebidas, resultaram, em primeiro, a opção pela não alte-
ração do Documento de Araxá e, portanto, pela sua preser-
vação histórica, e, em segundo, a compreensão de novas
proposições, que levaram à identificação de questionamen-
tos básicos. Emergiram, pois, as novas propostas, que
indicam o segundo objetivo do Seminário: ensejar refle-
108 CBCISS Teorização do Serv. Social 109
xões sobre novas proposições que, no momento, estão a É preciso ressaltar a participação bastante ativa e dedi-
exigir um esforço de crítica e formulação teórica. cada dos elementos dos grupos no estudo desses temas.
Foram relacionados três questionamentos interdepen- Quanto ao 3.° objetivo do Seminário — provocar ques-
dentes: tionamentos sobre a viabilidade das proposições face à
Realidade Brasileira — foram convidados especialmente
Questionamento I — O Serviço Social numa perspecti- assistentes sociais, um de cada Estado, para prepararem
va do método científico de cons- documentos relativos a programas desenvolvidos em seu
trução e aplicação do Serviço Estada, indicando: a aplicação de métodos ou teorias; da-
Social. dos sobre a intervenção do Serviço Social; campos de
atuação; escolas e número de assistentes sociais.
Questionamento I I — O Serviço Social a partir de uma Assim, chegou-se ao resultado seguinte:
abordagem de compreensão, ou Recebeu a Coordenação seis trabalhos, elaborados nessa
seja, interpretação fenomenold- fase preparatória do Seminário: três do Rio de Janeiro e
gica do estudo científico do Ser- três de São Paulo (entre estes, dois eram roteiros de refle-
viço Social. xão). Os grupos de Porto Alegre não enviaram nenhuma
Questionamento I I I — O Serviço Social a partir de uma contribuição, embora tivessem realizado diversas reuniões
abordagem dialética, ou seja, teo- preparatórias.
ria de interpretação com base no
método dialético, entendido em Tema-questionamento I
sentido metodológico: a relação
entre o objeto construído por 1. A cientificidade do Serviço Social. (Rio de Janeiro)
uma ciência, o método emprega- 2. Reflexões sobre o processo histórico-científico de
do e o objeto real visado por construção do objeto do Serviço Social. (São Paulo)
essa ciência.
Tema-questionamento II
Foi proposto, então, que a elaboração dos documentos
de base do Seminário, abordando esses três temas, tivesse 3. Reflexões sobre a construção do Serviço Social a
a participação, em grupo, de assistentes sociais. O critério partir de uma abordagem de compreensão, ou seja,
adotado para a localização dos grupos foi a existência de interpretação fenomenológica do estudo científico
Cursos de Mestrado em Serviço Social, recaindo daí a esco- do Serviço Social. (Rio de Janeiro)
lha em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. 4. Roteiro de reflexão: Fenomenologia e Serviço Social.
A Coordenação Técnica do Seminário comunicou-se pes- Proposições a serem discutidas pelos grupos. (São
soalmente com as três capitais mencionadas, em fevereiro Paulo)
e março de 1978, ficando constituídos, em cada uma, três
grupos, para a abordagem dos três temas. Convencionou- Tema-questionamento III
se, também, quanto aos grupos: os membros deveriam ser
assistentes sociais brasileiros; o número de membros seria 5. Serviço Social e Cultura — uma alternativa para
irrestrito; haveria a escolha de um coordenador de grupo, discussão das relações assistente social/clientela.
que seria o elemento de ligação com a Coordenação Téc- (Rio de Janeiro)
nica do Seminário; participariam do Seminário, no máxi- 6. Roteiro de reflexão: Dialética e Serviço Social. (São
mo, seis representantes de cada grupo. Paulo)
110 CBCISS Teorização do Serv. Social 111
Recebeu, também, a Coordenação oito trabalhos relati- em sessão plenária, sobre os questionamentos feitos sobre
vos à Realidade Brasileira e o Serviço Social, que deverão ele.
ser considerados em estudos posteriores para dar conti- O Capítulo I I aborda o Serviço Social e a fenomenolo-
nuidade a este Seminário. gia, e inclui: a conferência inicial, pela Prof. Creusa Ca-
a
Apresentação
O presente trabalho, como subsídio para os estudos do
I I I Seminário Nacional de Teoria do Serviço Social, tem
como tema a CIENTIFICIDADE NO SERVIÇO SOCIAL.
O grupo preocupou-se, inicialmente, em conceituar "cien-
tificidade" e para tal partiu do estudo do livro "DINÂMI-
CA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS", nele encon-
trando duas contribuições valiosas:
— conceitos funcionais — são de natureza mais especí- Embora o autor tenha explicado a cientificidade do ser-
fica; provêm da compreensão de fenómenos particula- viço social, esse capítulo é um esboço de uma teoria em
res e, por sua objetividade e lógica, fazem esses fe- serviço social,
nómenos acessíveis à manipulação; incluem-se, por O conceito de aprendizagem social é analisado de modo
exemplo, aspectos da teoria da comunicação e da a eliminar os aspectos semânticos que o ligam a atividades
dinâmica de grupo; escolares e a relacioná-lo com o serviço social. Segundo o
— estratégias — são guias para uma eficiente e efetiva autor:
aplicação de conhecimentos em dadas situações; são
prescrições para ação em circunstâncias especiais; "O ajustamento social e a mudança são produtos de
uma série lógica de experiências de aprendizagem
— ações — são operações táticas; são os procedimen- que não se referem a modos, técnicas ou práticas
tos explícitos empregados em relação a unidades so- escolares." 4
* Idem, p. 154.
— no pólo técnico — o estudo comparativo. 6
Idem, p. 6.
124 CBCISS Teorização do Serv. Social 125
LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
Publicações do CBCISS sobre o Objeto do Serviço Social
I. Apresentação
Admitimos a pluralidade para construir a ciência e por Este questionamento é também colocado pelos próprios
isso mesmo escolhemos um autor que procura o científico autores do livro "Dinâmica da Pesquisa em Ciências So-
no Serviço Social. No entanto, não tivemos a preocupação ciais" na p. 11. No nosso trabalho não houve uma afirma-
de chegar ao objeto do S. S., mas, simplesmente, verificar ção neste sentido, mas a confirmação dos riscos apresen-
como Goldstein o procurou. Goldstein nos dá um referen- tados pelos autores quanto ao método compreensivo.
cial, critérios que auxiliam a chegar a uma teoria.
5. O grupo assume a proposição de que o Serviço Social
2. Qual a contribuição que o estudo do grupo trouxe deva aplicar somente conhecimentos de outras disci-
para o Serviço Social? plinas, conforme colocações do seu estudo na p. 18.
Qual a postura que o grupo adota?
O esquema adotado ajuda a pensar e a elaborar sobre a
Em Teresópolis foram admitidos três níveis de conhe-
científicidade do Serviço Social. Existem vários esquemas
para se avaliar a científicidade. Tínhamos que optar por cimentos ou seja:
um e optamos por este. Foi altamente gratificante para — conhecimentos para o S. S. (de outras ciências);
o grupo verificar a coerência de Goldstein no desenvolver
de sua ideia, enfim, num método que tem como objetivo a — conhecimentos sobre o S. S. (que é, sua evolução, seu
científicidade do Serviço Social. Goldstein nos apresenta histórico, etc.);
uma sistemática, um procedimento científico para o Ser- — conhecimentos do S. S. (a partir de conhecimentos
viço Social, provou que é possível realizar isto. Apresen- prévios e da prática).
tamos um trabalho baseado num estudo já feito. Para
entendê-lo é indispensável ter lido Goldstein. O grupo não concorda que se deva tomar ou adotar
posições de outras disciplinas. É bem possível que nem
mesmo Goldstein tenha sido bem interpretado. Acredita-
3. Se o movimento de reconceituação questiona as co- mos que só se possam produzir conhecimentos de Serviço
locações funcionalistas, por que a escolha do modelo Social a partir da conceituação do objeto formal do Ser-
de Goldstein? viço Social. Para Tecla Machado Soeiro, membro do grupo.,
esta é a sua tese há muito tempo.
Não existe uma só corrente de reconceituação. O movi-
mento de reconceituação não é um privilégio dos latino- 6. Goldstein tem abordagens sistémicas, mas, episte-
americanos. Goldstein se fundamenta na teoria do conhe- mologicamente, é fenomenológico. Por que apresen-
cimento e na teoria da aprendizagem e nisto se aproxima tar então o seu modelo como sistémico (pólo mor
da linha latino-americana, está preocupado com a recon- fológico)?
ceituação. No entanto, não há dúvida que pertence à cor-
rente funcionalista, aliás muito forte nos Estados Unidos. Realmente parece uma contradição. Goldstein analisa o
A ciência pode chegar à verdade por vários caminhos, sem Serviço Social como fenómeno e procura sua intenciona-
necessidade de abandonar o que está para trás quando lidade, mas, quando situa o Serviço Social como um siste-
isto for considerado procedente. ma dentro de outro sistema, usa a linguagem da teoria
132 CBCISS
dos sistemas. E mais aínda quando procura operacionali-
zar. Só um estudo mais profundo de conteúdo poderia
superar o impasse.
Denise M . F. P. Delgado
Helena Iracy Junqueira
Maria do Carmo B. Falcão
Maria José T. Peixoto
Maria Lúcia Carvalho da Silva (Coordenadora)
Suzana A. R. Medeiros
Consultores:
Evaldo Â. Vieira
Geraldo Pinheiro Machado
(São Paulo)
HERMAN C. KRUSE
"Introducción a la teoría científica
del Servicio Social" — 1972
134 CBCISS Teorização do Serv. Social 135
Neste sentido, o grupo enfatiza e defende que o estudo tualizadora da atividade prática como fonte de conhe-
do objeto do Serviço Social não se esgota nas teorias do cimento.
conhecimento ou da epistemologia, como foi geralmente Cada vez mais reconhece-se que o trabalho teórico deve
considerado nos diversos trabalhos até então produzidos, fundamentar-se nos fenõmenos, processos e fatos reais e
mas exige teorias da ação, pois para o Serviço Social a nas ações empreendidas.
ação é a sua própria razão de ser além de colocar-se como Pensa-se que a partir de um marco propiciado tanto
fundamento da teoria ou fonte principal de conhecimento. pelas teorias do conhecimento como pelas teorias da ação,
Segue-se, finalmente, o texto do documento, apresentado numa interação dialética destas, será possível imprimir-se
2
em bloco, que se espera possa amadurecer e precisar-se ao processo de reconceituação do Serviço Social caracte-
com as discussões que se processarão no I I I Seminário, rísticas mais científicas.
pois é ainda um material apenas encaminhado ao tema/ Desse modo, a preocupação central do desenvolvimento
desafio que vem sendo a construção do objeto do Serviço científico do Serviço Social redireciona-se no sentido de
Social. procurar superar a antiga distancia entre teoria e ação,
No final do texto encontram-se: notas, contendo concei- com vistas a uma síntese entre ambas, bu seja, a uma
tos de algumas categorias básicas utilizadas, na exposição, praxis' dinâmica e continuamente renovada.
segundo as entende o grupo, e a bibliografia consultada. Incorporando-se ao momento presente de reconceitua-
ção, o grupo que subscreve o documento em pauta preo-
cupou-se primeiramente, como pano de fundo, em consi-
III. Reflexões sobre a natureza do Serviço Social derar a natureza do Serviço Social, através de suas várias
e controvertidas acepções que intentam defini-lo como
A partir de 1965 vive-se na América Latina e no Brasil ciência, tecnologia, arte e ciência técnica.
um movimento de reconceituação do Serviço Social que O grupo não se perfilou a nenhuma dessas compreen-
se propôs inicialmente a uma ruptura das influências euro- sões, embora julgue necessário que se processe um maior
peias e norte-americana, a um esforço de revisão do apa- questionamento delas, adotando a acepção que visualiza
rato teórico, metodológico e filosófico da disciplina e a o Serviço Social em estreita correlação com as ciências
uma denúncia da ação profissional como realizada em humanas, na condição atual de prática ou disciplina pro-
função dos interesses das classes dominantes. fissional com virtualidades para se tornar uma ciência
Atualmente, passados treze anos, pode-se identificar, praxiológica.
como resultados deste movimento de reconceituação, entre
outros, avanços importantes quanto à reformulação teórica O Serviço Social caracteriza-se como prática ou disci-
de alguns tópicos fundamentais do Serviço Social, como plina profissional em virtude de atuar em realidades sociais
revisão dos métodos tradicionais, busca de uma metodo- concretas, mediante processos intencionais de ação trans-
logia básica, questionamento critico da teoria geral, forma- formadora, podendo produzir conhecimentos e teorias a
ção de uma nova consciência ideológica e científica dos partir e voltado para esta ação e seus resultados.
assistentes sociais. Neste sentido, o Serviço Social se constitui, de fato, isto
Hoje, o movimento de reconceituação adentra nova é, comprovadamente, uma prática ou disciplina profissio-
etapa, qual seja, a de ir além da criação de pré-condições nal, em razão de possuir um corpo de conhecimentos em
ao surgimento ou ressurgimento da epistemologia do 1 relativo grau de sistematização referente a seus compo-
Serviço Social para, numa preocupação de globalidade, nentes básicos, a saber:
encetar também o caminho teórico da abstração concep-
2 Ver nota n.' 2, p. 156.
\ Ver nota n.' 1, p. 155. » Ver nota n. 3, p. 159.
140 CBCISS Teorização do Serv. Social 141
— valores, ideologias, princípios filosóficos e éticos que Isso implica que a fundamentação científica que o Ser-
informam e norteiam a ação; viço Social, como prática ou disciplina profissional, pro-
— objetivos ou finalidades que se propõe alcançar e que, cura desenvolver, alicerça-se, para o grupo, no conceito de
sendo intencionados, postulam posicionamentos; ciência acumulada e renovada do conhecimento, como re-
— conhecimentos sobre os fenómenos objeto da ação; sultado do grau de consciência possível do homem sobre
— método de ação na realidade e processos técnicos o seu meio, isto é, das possibilidades de apropriação e
consentâneos; compreensão progressiva que este faz através de suas re-
— atitudes e habilidades relacionadas ao sentir e agir lações com o mundo circundante.
profissionais. Como consequência, para que a ciência adquira signi-
ficado, é necessário percebê-la em relação:
Na condição de prática ou disciplina profissional o Ser-
viço Social persegue um comportamento progressivamente — ao homem sujeito e objeto da ciência;
científico, visando a que a sistematização de seus conhe- — à unidade dialética teoria/ação/teoria;
cimentos e ação se torne cada vez mais coerente, orgânica, — à historicidade da ciência e de seus métodos.
4
consistente e objetiva.
A este respeito, cabe explicitar que o comportamento Daí, reconhecer-se que, em cada momento histórico, o
científico perseguido pelo Serviço Social é tão-somente um que se entende por "ciência" é a forma mais perfeita que
meio e não um f i m em seu processo de construção. pode assumir a capacidade humana para compreender e
Em decorrência, não é demais, segundo o grupo, tornar discernir a realidade, e que a ação transformadora da rea-
a assinalar que o Serviço Social não alcançou ainda um lidade revela sempre novos aspectos, fenómenos, proprie-
estágio de ciência, embora, na atualidade, se encontre par- dades da existência no e com o mundo, resultando deste
ticularmente interessado e empenhado neste problema, processo o ciclo sem f i m do progresso do saber científico
mediante processo intenso e vivo de reflexão, investigação e da ação transformadora do homem.
e sistematização de conhecimentos, propondo-se a efetivar, Não se entende, por conseguinte, que, em termos de
com prioridade, ação embasada em fundamentos científi- comportamento científico, o Serviço Social se atrele a uma
cos para conhecer, explicar e atuar em dada realidade única abordagem filosófico-científica, pois todas elas se
social. fundamentam numa dada visão e compreensão do homem
Tem-se por convicção que o Serviço Social assim se e do mundo, ou seja, têm por base leis e princípios que,
encajninhando chegará a atingir grau ou graus mais avan- por sua vez, se consubstanciam em modos e sistemas
çados de sistematização, o que lhe permitirá, por seu para conhecer e atuar.
turno, contribuir mais específica e ativamente para inter- Absolutizar ou dogmatizar uma única abordagem seria
câmbio e desenvolvimento das ciências humanas, com as absolutizar um único caminho, ou seja, negar a ciência ou
quais tão intimamente se relaciona, partilhando conheci- o comportamento científico de uma prática ou disciplina
mentos, questões e referenciais teóricos. profissional.
O Serviço Social tem por pressuposto básico que sua Assim, é inadequado enclausurar a ciência e o compor-
teoria se elabora num processo dinâmico teoria/ação/ tamento científico de uma prática ou disciplina profissio-
teoria, o que faz, no âmbito da ciência, ser, pela ação, nal nesta ou naquela corrente filosófica, sociológica, ou
a descoberta de novos fatos e, pelo trabalho teórico, psicológica, em virtude de ser a ciência um movimento
a criação de novas sínteses explicativas de domínios cada anterior a qualquer posicionamento e um projeto histórico
vez mais amplos da realidade, constituindo esta relação em permanente construção.
dialética teoria/ação/teoria um dos processos mais rele-
vantes do desenvolvimento das ciências. * Ver nota n. 4, p. 161.
142 CBCISS Teorização do Sèrv. Social 143
Vale observar, ainda, sob um ângulo de especificidade um ser em situação, sujeito e objeto da história, num
do comportamento científico do Serviço Social, que na continuum vir a ser e, por isso, capaz de transformar-se
passagem da teoria à ação destaca-se com especial impor- e transformar o mundo.
tância a problemática do valor, cuja análise comporta, en- Para o Serviço Social um valor não deixa de o ser pelo
tre outros, os seguintes aspectos: fato de não ser respeitado num dado momento histórico.
O que diverge dentro de sistemas culturais e políticas
— existência dentro da própria ciência de categorias diferentes são as formas e abordagens de ação do Serviço
valorativas identificadas como valor de ciência, como, Social, podendo-se, neste sentido, falar em operacionali-
por exemplo, a objetividade;
zação ou instrumentalização de valores para a ação, a par-
— identificação de valores nos fatos observados que tir de um quadro referencial de valores, voltados para um
constituem objeto de estudo dos cientistas sociais, dado contexto.
como, por exemplo, a escala de valores vivida por Desse modo, o aspecto ideológico faz parte integrante
determinado grupo social em investigação;
do Serviço Social, pois a direção para a qual é orientada
— escalas de valores professadas pelos cientistas, inte- sua ação transformadora pressupõe sempre uma opção
grantes de uma dada realidade social, como, por ideológica. O compromisso filosófico, ideológico, valorativo
exemplo, o apreço à cultura letrada, ao avanço tecno- e científico do Serviço Social com o ser humano implica
lógico, etc; necessariamente um contínuo diálogo despreconceituoso e
— escalas de valores das instituições sociais, como, por aberto que permita chegar a um esquema conceptual que
exemplo, a intercomplementaridade na prestação de sirva de parâmetro para orientar sua ação profissional a
serviços. respostas operacionais válidas face à problemática de uma
determinada realidade social.
No que diz respeito às escalas de valores professadas
pelos cientistas, pode-se dizer que são um dos principais Os valores, dessa forma, são uma questão essencial para
problemas das ciências humanas e das práticas e disci- o Serviço Social e outras disciplinas profissionais que
plinas profissionais. Problema, contudo, a ser equacionado atuam cóm a problemática humana e social, pois é impos-
simplesmente em termos de um problema epistemológico, sível ignorar as contradições agudas da realidade social
de forma a tornar-se não obstáculo à ciência, mas instru- em que se vive.
mento científico. É o caso, por exemplo, do cientista que, A ação profissional deixa de ser pragmática, neutra e
ao vivenciar como um valor a cultura letrada e elaborar conformista e passa a se tornar uma exigência de ação
este tema como problema epistemológico, poderá formu- intencional.
lar um modelo de observação sistemática de grupos em Os valores, decorrentes dos posicionamentos ideológi-
que iletrado não seja valor negativo. cos do Serviço Social, informam e dão sentido e direção
O problema em questão remete-se ainda ao fato de à sua ação, orientando não apenas a formulação de finali-
que não há ciência que não sofra a influência de classe, dades ou objetivos, como a seleção dos meios a aplicar.
pois os valores não são apenas pessoais, mas também Face às diferentes correntes filosóficas que podem fun-
grupais. damentar a concepção e operação do Serviço Social, seria
O Serviço Social, como prática e disciplina profissional, de se desejar que, além de se definirem posições ideoló-
tem ainda toda sua ação impregnada de valores que trans- gicas, fossem adotados valores básicos, bem como valores
cendem dos valores científicos e que decorrem de uma culturais e outros de caráter conjuntural, que viessem a
concepção de homem e de sociedade. se constituir em posicionamentos de uma profissão, cujos
O Serviço Social formula seus valores universais par- agentes professem diferentes filosofias.
tindo do homem e enfocando-o como um ser racional, com Em síntese, o Serviço Social aqui tomado como prática
prerrogativas de liberdade, individualidade e sociabilidade, e disciplina profissional não exclui, pelo contrário, postula
144 CBCISS
Teorização do Serv. Social 145
uma teoria que o embase, formada por conhecimentos
providos pelas ciencias humanas e por aqueles que o pró- O grupo registra uma emergente posição que considera
prio exercício profissional enseja. a reflexão sobre o objeto pertinente apenas às ciências
Compreende ainda uma formulação de juízos de valor que não as disciplinas profissionais, às quais cabe tão-
e de princípios norteadores da ação, pois que esta se dirige somente ocupar-se dos objetivos, posição esta que traduz
ao homem e à sociedade. uma visão reducionista da consistência teórica das disci-
A metodologia básica do Serviço Social, compreendida plinas profissionais, desconsiderando assim a construção
como a investigação diagnóstica e intervenção planejada, do objeto no próprio âmbito da relação teoria/ação.
adquire especificidade quando da sua aplicação ao objeto A medida que o Serviço Social avança do ponto de vista
específico do Serviço Social, em busca de objetivos especí- de uma ação científica, as dificuldades inerentes à deli-
ficos em cada situação concreta. mitação do objeto vão sendo superadas e os contornos do
No que diz respeito a atitudes e habilidades relaciona- objeto do Serviço Social vão se manifestando e se delimi-
das ao sentir e agir profissionais, decorrem do fator sub- tando mais concretamente.
jetivo necessariamente presente na prática do assistente No Serviço Social, como antes se abordou, a ação pos-
social, não devendo tal componente ser minimizado numa tula uma definição de propósitos, um "para quê" atuar,
abordagem globalizante do Serviço Social. como prática ou disciplina profissional que é. Donde, seu
objeto, como o das outras disciplinas profissionais, man-
tém estreita interdependência com as finalidades ou obje-
IV. Reflexões sobre o problema de busca de definição ou tivos que se propõem, bem como inter-relação destes com
construção do objeto do Serviço Social um posicionamento filosófico, ideológico e valorativo, e
com posturas metodológicas adequadas ou pertinentes.
Dentre os componentes que formam a estrutura básica A formulação do objeto do Serviço Social supõe a apli-
do Serviço Social, já aludidos, o objeto merece destaque cação de métodos, entre os quais os mais usuais são:
pela sua condição intrínseca de definir sobre "o quê" recai
a ação, podendo ser entendido, neste sentido, como o con- — empirista — quando se verifica uma supremacia do
junto de situações, fenómenos e variáveis passíveis de uma dado quantificável ou observável, cons-
ação determinada. trução de uma "matriz" e, a partir
Na teoria do conhecimento, o objeto detém uma posição desta, elaboração da teoria;
central de reflexão porque nele se encontram dois elemen- — formalista — quando* se efetiva a construção de
tos-chave: o conhecedor e a realidade, cuja relação levanta "modelos" fundados na logicidade for-
questões de como se vai construindo o conhecimento e de mal do pensamento, sem base no pro-
como o objeto vai sendo conhecido pela experiência, que cesso histórico concreto;
por sua vez é sempre uma atividade do sujeito. — dialética — quando se constrói a partir da con-
Na teoria da ação, o objeto também detém uma posição cepção da realidade enquanto movi-
central, pois que dentre os componentes básicos de estru-
tura das disciplinas profissionais desempenha papel pre- mento no processo histórico; o méto-
ponderante na composição dos referenciais para a ação, do é considerado pelos efeitos con-
dentro de um processo histórico. cretos na produção de conhecimentos
Quanto ao Serviço Social, o papel preponderante do e na própria ação.
objeto pode assumir a condição de especificador na con- O grupo, ao tender para o enfoque dialético na cons-
cretização do processo de intervenção. Embora especifi- trução do objeto, identifica como critérios básicos para
cador, resultará sempre de um processo histórico de cons- sua formulação uma dupla perspectiva: conjuntura teó-
trução por aproximações sucessivas. rica caracterizada pelo desenvolvimento científico da ciên-
146 CBCISS Teorização do Serviço Social 147
cia, dos modos de produção, das formações sociais e das de assistentes sociais norte-americanos, hispano-america-
conjunturas políticas — e inserção da ação social no con- nos e brasileiros.
texto da problemática da realidade social. São elas, resumidamente:
Desse modo, o objeto do Serviço Social se configuraria
a partir da análise das conjunturas de cada sociedade, o 1. SHAUN GOVENLOCK (1966) — Face a um engaja-
que constitui um elemento histórico a ser cruzado com mento racional, considera como proposta para rea-
os elementos teóricos elaborados com base na.ação profis- grupar as várias preocupações teórico-práticas do
sional e em seus resultados. Serviço Social, o funcionamento social, entendido
Constata-se que, após a eclosão do movimento de re- numa perspectiva sistemática de interação recíproca,
conceituação do Serviço Social, seu objeto ou sistemas de a transação bilateral entre pessoa e meio social, em
objeto vêm sendo formulados, via de regra, em nível de relação a uma influência sobre o desenvolvimento do
generalidade e numa pluralidade de enfoques, tanto por potencial especificamente humano.
assistentes sociais norte-americanos, como latino-america- 2. HARRIET BARTLETT (1970) — O foco central do
nos e brasileiros, apesar de todos reconhecerem que este Serviço Social é o funcionamento social, conceito este
componente deva ser enfocado como área central de preo- dirigido ao que acontece entre pessoas e meio social
cupação no processo de sistematização da teoria/ação do através de uma interação entre ambos. Assim, pessoa
Serviço Social. e situação, pessoa e meio são englobados em um único
O problema da especificidade do objeto do Serviço conceito, o que exige que eles sejam visualizados inte-
Social constituiu sempre, e hoje mais do que nunca, uma gradamente e vinculem os aspectos "psico" e "social".
questão polémica que se situa principalmente entre duas Os assistentes sociais analisam a personalidade e
tendências em confronto, isto é, a de caráter tecnocrático, a situação para melhor entenderem seus elementos
que leva a uma fragmentação do objeto, e a de caráter significativos, depois reúnem as partes e vêem as pes-
integrativo das ciências humanas, nas quais o Serviço soas e situações, como um todo, no trabalho com as
Social se informa, que, mesmo ao estudarem um aspecto mesmas.
de particularização do objeto, visualizam-no no contexto O conceito de funcionamento social pode ser ex-
de totalidade ou de articulação de relações. presso para o Serviço Social da seguinte maneira:
No Serviço Social, o objeto não é estabelecido a priori,
mas vai se definindo no próprio processo de ação, e, nota- pessoas « > interação < > meio
damente, na interação daquele processo com três elemen- confronto equilíbrio exigências
tos essenciais, a saber:
3. HERMAN C. KRUSE (1972) — Infere, a respeito do
— referencial teórico, já mencionado; objeto, a existência de duas posições dicotômicas.
— fins ou objetivos a serem alcançados, mediante re- Na l . , o objeto do Serviço Social é a repercussão
a
lação que estes estabelecem com o objeto; nas pessoas dos problemas sociais. Na 2. , o objeto
a
— e método, entendido na perspectiva de relações de do Serviço Social são os problemas sociais derivados
conhecimento e transformação do objeto. da sociopatologia ou da situação de dependência e
subdesenvolvimento.
Tendo em vista levantar para análise proposições sobre Na l . posição, a teoria do Serviço Sócia} deve ser
a
o objeto, elaboradas neste período de reconceituação, apre- fundamentalmente antropofílica, compreendendo co-
senta-se a seguir um elenco de dezoito propostas que se mo disciplinas afins básicas a biologia, a psicologia e
pensa serem representativas das múltiplas contribuições a antropologia filosófica.
148 CBCISS Teorização do Sero. Social 149
económico, social, cultural e político, nos ní- no sentido bem amplo do termo, a considera como o es-
veis micro e macro de atuação. tudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização,
Nestas dimensões, cabe ao Serviço Social de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcio-
especificamente, tanto generalizar e particula- namento e de seus produtos intelectuais.
rizar, como quantificar e qualificar, nos dife- Sendo assim, a função essencial da epistemologia é sub-
rentes níveis, as ocorrências conjunturais e as meter a prática dos cientistas a uma reflexão; e o seu papel,
propostas de políticas sociais, a partir das ins- estudar a génese e a estrutura dos conhecimentos cientí-
tituições sociais, nas quais exerce sua ação ficos. O seu problema central consiste em estabelecer:
profissional, de modo a que os programas re-
futam e respondam cada vez mais às necessi- — se o conhecimento poderá ser reduzido a um puro
dades, interesses, aspirações, insatisfações, registro pelo sujeito, dos dados já anteriormente
conflitos, problemas, etc. das populações. organizados independentemente dele num mundo
exterior (físico ou ideal);
É óbvio que as duas alternativas estão apenas es- — se o sujeito poderá intervir ativamente no conheci-
boçadas, necessitando de melhor formulação. mento dos objetos. Essencialmente, o problema se
Ambas as alternativas, torna-se a dizer, significam encontra na relação sujeito-objeto.
tão-somente o passo a mais que se pode dar neste
resultado breve e intensivo, ou nesta rápida retomada A epistemologia estuda a produção de conhecimentos
do problema de definição do objeto do Serviço Social.
A guisa de conclusão, deseja-se ressaltar que o não só do ponto de vista lógico, como do linguístico, ideo-
atual e futuro momento de desenvolvimento científico lógico, sociológico, etc.
do Serviço Social parece exigir um esforço reflexivo
global e prioritário sobre as experiências concretas JAPIASSU, Nilton F. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio
1
da conversão das mudanças quantitativas em mu- Sofre mudança radical no Renascimento que reivindica
danças qualitativas. a dignidade humana não só pela contemplação como tam-
bém pela ação, alcançando, com a revolução industrial do
Neste trabalho, a compreensão da categoria "dialética" século X V I I I , estágio mais avançado na valorização do
vincula-se à dialética hegeliana e coincide, em boa parte, trabalho humano e da técnica face às exigências da produ-
com as quatro formas da sua lei básica, formuladas pela ção, ou seja, na "consciência da praxis produtiva".
filosofia marxista, ressaltando-se dois pontos, em decor-
rência de uma posição não idealista como em Hegel, e não
T R I C O T , Jean J. Aristote Ethique a Nicomaque. Introduction, notes,
materialista como em Marx:
6
FILOSOFIA
A categoria praxis vem sendo incorporada, nestes últi-
mos tempos, ao discurso dos estudiosos da realidade social BORNHEIM, Gerd Alberto. Dialética: teoria, praxis; ensaio para uma
crítica da fundamentação ontológica da dialética. Porto Alegre, Globo,
bem como aos documentos técnicos dos profissionais da 1977.
intervenção nessa mesma realidade. Entretanto, nem sem- FINK, Eugen. De la phénoménologie. Trad. Didier Franck. Paris, Éditions
de Minuit, 1930-1939.
FOULQUIÉ, Paul. A dialética. Publicações Europa-América, 1974.
7
SANCHEZ, Vázques Adolfo. Filosofia da Praxis. Rio de Janeiro. Paz JAPIASSU, Hilton F. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de
e Terra, 1968, Introdução, p. 3. Janeiro, Francisco Alves, 1975.
8
K O S I K , Karel. Dialética do Concreto. Rio de Janeiro. Paz e Terra,
2.* ed., p. 201.
JAPIASSU, Hilton F. Nascimento e morte das Ciências Humanas.
1 1
9
SANCHEZ, Adolfo Vázques, opus cit., ps. 151/152.
Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1979.
1 0
SANCHEZ, Adolfo Vázques. Ibid., ps. 150/157; ibid., p. 117.
162 CBCISS Teorização do Serv. Social 163
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SERVIÇO SOCIAL
1. Psicologismo
O Psicologismo afirmava que pensar e conhecer eram
eventos psíquicos e que, por isto, a lógica dependia das
leis psicológicas. A lógica nada mais seria do que a técnica
do pensamento correto, conforme explica W. Stegmtlller. 1
Ora, Husserl mostra que a técnica nada mais é do que um
caso particular de uma ciência geral e normativa. Sem
normas que orientem a técnica esta não pode funcionar.
As ciências normativas, por sua vez, se fundamentam em
teorias, que dizem o que são as coisas e não apenas como
elas devem ser, conforme ocorre no caso das ciências nor-
mativas. Uma disciplina teórica estabelece proposições
1 STEGMULLER, Wolfgang. A filosofia contemporânea: introdução cri-
tica, vs. 1-2. Sâo Paulo, EPV, Ed. da Universidade de São Paulo, 1977,
ps. 58-91.
CBCISS Teorização do Serv. Social 175
baseadas em conceitos de verdade, em juízos, etc. Dessas humana e social. Ela o faz por criticar o pressuposto do
proposições é que se derivam os "princípios lógicos norma- modelo positivista que faz dos fenómenos naturais e dos
tivos e, em passos seguintes, são estabelecidas as regras fenómenos humano-sociais fenómenos sem distinções qua-
técnico-práticas".- Vê-se, então, que a lógica não depende litativas. Os fenómenos do vivido humano têm uma estru-
da psicologia, e, ao contrário, o que se precisa é constituir tura significativa construída pelos próprios homens. O vivi-
o que Husserl chama de uma "lógica pura" como teoria do humano e social é constituído de significados e recor-
geral das proposições lógicas a priori. rem a processos de compreensão e de interpretação e não
Refutado o psicologismo, já se pode entender que a rea- de explicação. Assim, para a fenomenologia não é possível
lidade vivida de que Husserl vai tratar não se confunde tratar o mundo humano e social como um mundo obje-
com a vivência psicológica. O vivido que interessa à feno- tivo e divorciado da interpretação dos próprios sujeitos.
menologia é aquele que pode ser descrito do ponto de Por isso é que Husserl dirá que o mundo vivido, humano
vista da sua estrutura essencial e não do ponto de vista e social, objetivo, intelectivo e prático é produto da ativi-
dos fatos psicológicos particulares. Chegar à essência ou dade significativa do próprio sujeito, intimamente ligado
ao núcleo eidético (Eidos = essência) é o projeto da ciên- à intenção e à interpretação, e, por isto, deve ser chamado
cia eidética, conforme Husserl a entende. de mundo subjetivo.
Como proceder para que a fenomenologia seja ciência? Podemos resumir as ideias principais da fenomenologia
Em que sentido ela se distingue da ciência empírica? A como ciência, segundo Husserl: a sua teoria significa que
resposta de Husserl é clara: só há ciência pela construção ela é descritiva da estrutura essencial do vivido, que ela é
de uma teoria. concreta, intencional, compreensiva e interpretativa.
A fenomenologia se volta para o estudo da realidade
2. Teoria social enquanto vivida na sua vida cotidiana. Nesse estudo
o investigador não se pode colocar numa atitude neutra.
A palavra Teoria indica, pelo seu radical grego, a ação É fundamental não se ignorar a participação do investi-
de ver com atenção, com vigilância e com cuidado. É assim gador nesta vida cotidiana. O cientista está inserido no
que esta ação de ver vigilante passou a se denominar mundo vivido, depende dele como um instrumento de seu
observação. A teoria é a visão cuidadosa onde a inteli- trabalho. É da vida cotidiana, da sua estrutura vivida, que
gência e a experiência direta com a realidade são indisso- emerge a fonte de significados sociais que se busca com-
ciáveis. Este sentido originário foi, no entanto, sendo ocul- preender e interpretar.
tado ou transformado. Hoje em dia teoria é definida como
o resultado de uma construção intelectual realizada pelo 3. A evidência das essências
cientista.
Dissemos no início que a fenomenologia é uma ciência Qual o caminho para se chegar à evidência das essên-
eidética descritiva. Ela é concreta e se volta para o vivido. cias? Husserl pensa ter encontrado este caminho ao expor
Pela descrição ela nos aproxima da essência, através de a sua teoria da redução fenomenológica.
um perspectivismo das formas que se mostram ao su- Para Husserl a essência é encontrada a partir das vivên-
jeito na relação figura e fundo. Assim, a fenomenologia cias intencionais fundamentais. Essas vivências intencionais
se distancia das ciências abstraías e dedutivas, confor- ou atos da consciência são de diversos tipos. Os atos inten-
me a matemática. Ela se distancia igualmente do modelo cionais são as vivências, por exemplo, do ato de significar,
da ciência natural como modelo a ser aplicado na ciência do ato de perceber, do ato de querer, do ato de imaginar,
do ato de agir, etc. Por este ato intencional um objeto é
visado sem que seja preciso que ele se encontre na cons-
2 Ibid., p. 59.
176 CBCISS Teorização do Serv. Social 177
ciência. O que está presente à consciência de modo vivido latente mas sendo vivido na vida cotidiana. A diferença
é o próprio ato intencional. Assim, é irrelevante, aos olhos fundamental entre aquele que vive e o que se volta para
de Husserl, saber se um ato de visar algo, que me coloca o estudo daquele vivido está no fato que os que vivem
diante de um objeto visado, me coloca igualmente diante aquela situação têm um interesse prático ao vivê-lo, e o
desse objeto visado como existente ou não. Para Husserl estudioso tem um interesse teórico no estudo do mundo
a existência não é objeto da fenomenologia nem da ciência. vivido dos "outros". 4 No entanto, o pesquisador realiza
Ela é o pensamento da própria vida. Ela é objeto da crença atos que são iguais aos da sua clientela: o perceber, a
ou da opinião. Por isso é que para se alcançar a essência constituição de objetos de seu interesse, o desejar, o que-
podemos partir tanto da percepção concreta e vivida de rer, etc. Em outras palavras, o pesquisador vive a sua
uma coisa quanto da sua representação pela imaginação. vida cotidiana embora esteja voltado para o vivido de seus
Isto leva Husserl a pensar que se deve, então, colocar clientes. Ele se volta para a sua clientela com suas supo-
entre parênteses a existência real das coisas e do mundo sições, com seus pré-conceitos, etc. O que se deve reco-
natural; elas devem ficar em suspenso para que tenhamos nhecer, então, é que há uma base comum na estrutura do
acesso à região das essências obtidas pela técnica da va- vivido que é formada de pré-suposições tanto por parte
riação imaginária. A fenomenologia não recorre à crença do pesquisador, ou do assistente social, quanto da sua
no mundo — esta deve ser colocada fora de circuito. É a clientela e que devem ser destacados para o estudo do
este movimento de suspensão do juízo relativo à existên- assistente social. Este tipo de análise fenomenológica se
cia do mundo que Husserl chama de redução fenomeno- denomina reflexão subjetiva do vivido. Por subjetivo se
lógica. No entanto é preciso igualmente passar do indivi- deve compreender a análise que leva em consideração os
dual para o essencial, como, por exemplo, passamos deste sujeitos da relação assistente social-clientela — enquan-
azul individual para a essência azul, desta criança menor to igualmente interessados em compreender o significado
abandonada individual à essência do menor abandonado, essencial de uma estrutura do vivido que se fez fenómeno.
etc. A evidência nos dá a identidade entre o vivido pen- Tal abordagem exige, no entanto, que se tenham subme-
sado e o objeto do vivido que nos é dado em pessoa, tido, previamente, à análise crítica, as crenças, os pressu-
postos, os preconceitos, as teorias a priori, etc.
4. Pré-reflexivo e reflexão "O mundo não pode ser experimentado ou conhecido
numa forma "bruta", livre de interpretações, pois é um
Assim, o vivido enquanto é simplesmente vivido não é mundo de objetos e relações significativas constituídas de
objeto da reflexão; ele se dá como não observado, como modo intersubjetivo, e que estão no mundo e não na
vivido sem ser refletido. Por isto Husserl diz que o vivido mente do observador... a objetividade é uma construção
é inicialmente pré-reflexivo. Quando ele se torna presen- subjetiva ou intersubjetiva." 5
te à reflexão ele é ainda um momento do vivido, mas
agora como objeto da reflexão.8
A reflexão é um ato da consciência que pensa o vivido, 5. Intencionalidade
que o eleva à categoria de presença para a consciência. A intencionalidade é o tema capital da fenomenologia.
Quando o fenomenólogo adota uma posição reflexiva, Husserl chamou de intencionalidade a propriedade que
uma atitude teórica, que faz um recuo para "olhar", para têm os vividos de serem "consciência de alguma coisa". 8
observar e refletir o mundo vivido em sua cotidianeidade,
ele procura tornar explícita a consciência daquilo que está
4 SMART, Barry. Sociologia, Fenomenologia e análise marxista. Rio de
8 HUSSERL, Edmund, Idées directrices pour une phénoménologie, Pa- Janeiro, Zahar Ed., 1978, p. 105.
ris, p. 77. 5 Ibid., p. 109.
{
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Anna Augusta de Almeida
Ilda Lopes Rodrigues da Silva (Coordenadora)
Maria Adelaide Ferreira Gomes
Maria Augusta de Aguiar Ferraz Temponi
Maria Júlia Nin Ferreira
Maria Madalena do Nascimento
(Rio de Janeiro)
Dentre as preocupações de Serviço Social como disci-
plina de intervenção na realidade social, emergem aquelas
relativas ao fenómeno conhecimento, saber progressivo,
e aquelas que envolvem a adoção de princípios e valores
que devem ser assumidos.
Essa situação configurada como "crise" encontra na
postura compreensiva perspectivas amplas para repensar
os seus fundamentos e sua racionalidade na tentativa de
discernir a nova problemática.
A meditação do conhecimento do Serviço Social a partir
de interrogações e reflexões pode indicar uma abertura.
O Serviço Social, elegendo o social como tema, procura
se interrogar sobre o mesmo visando a um conhecimento
e a um processo de transformação social. Essa interro-
gação básica desdobra-se pela escolha dos vários temas
que se propõem como enfrentamento.
O Serviço Social, ao voltar-se para a pessoa em suas
relações interpessoais e em suas confrontações com o
184 CBCISS Teorização do Serv. Social 185
ambiente, parte de uma visão de homem e mundo. Ao O que é o ser em situação, transforma-se em quem
postular como sua intenção o desenvolvimento da capa- é o ser em suas relações sociais. Interessa apreender o
cidade do ser humano leva em consideração o homem sentido que a pessoa dá à sua própria existência que
como pessoa. se inscreve no tempo e se realiza num processo histórico.
Como ponto de apoio e partida para uma praxis, inda- Se o Serviço Social como profissão pretende atingir esses
ga-se numa perspectiva profissional: níveis de compreensão, só pode chegar ao conhecimento
do "ser" à medida que ele se descobre para o assistente
— o que é o ser em situação? social. É por isso que o conhecimento em Serviço Social
— o que é viver nesta sociedade? não se restringe ao nível de objetivação mas persegue
— como apreender o social através de pessoa? o nível de subjetividade. É a partir de uma situação pro-
— como capacitar pessoas visando o social? blematizada que se levantam questões significativas que
Na reflexão manifesta-se uma tensão para além do pretendam se dirigir às condições de possibilidade de co-
fenómeno social, que provoca o questionamento do modo nhecimento.
fundamental do homem estar no mundo, assim como o Metodologicamente é fundamental apreender-se a di-
modo desse mundo estar para o homem. mensão estrutural da existência que se configura no seu
Para atender a essas exigências de pessoa no mundo modo de ser no mundo que engloba a pessoa, as suas
reconhece-se o homem como um ser encarnado, situado relações com as pessoas e com as coisas. Essa dimensão
no mundo com as demais pessoas. A consciência desta exige uma perspectiva que considera o singular e, par-
condição de "ser-com" só se dá quando ele se abre ao tindo deste, chegar à apreensão das realidades sociais num
outro. contexto maior (o próprio sentido, o sentido do outro e
A situação de "homem no mundo" não significa algo o sentido do nós).
pronto e acabado; ao contrário, significa uma exigência Situação é o mundo no qual o homem está presente,
de participação. mas, se quiser realizar-se plenamente como ser, terá que
A produção do conhecimento em Serviço Social parte assumir esse engajamento livre e conscientemente.
das realidades mais profundamente humanas que emer- O sentido aparece a nível de compromisso como uma
gem da vida do cotidiano nas suas relações com os outros condição de passagem de necessidade a liberdade.
(família, vizinhança, relações de trabalho...). As relações Este processo se dinamiza através do diálogo, enten-
das pessoas com as pessoas articulam-se em interações dido, aqui, como uma forma de ajuda psicossocial. O
singulares. diálogo ocorre numa relação mutuamente significante que
Esse processo de conhecimento supõe um acolhimento se manifesta por um apelo de um lado — a intenção da
do outro no sentido de "ser compreensão de ser". ajuda profissional, e, de outro — o do querer ser ajudado,
O acesso ao ser só se dará pela abertura à intersubje- Nele, realiza-se uma experiência enriquecedora, do qual
tividade ao nível de outras pessoas, através da comunhão. ambos são sujeitos na investigação do tema eleito e na
"Se eu me abro realmente à comunhão intersubjetiva, construção de projetos de existência humana. Esse pro-
se eu recebo o outro e me dou, nós ascendemos juntos cesso exige tanto o conhecimento do sujeito profissional
um pelo outro no plano de ser" (Robert Fays). quanto o conhecimento do sujeito cliente.
Serviço Social, assim, se propõe a um desenvolvimento A exigência deste tipo de conhecimento é ao nível de
da consciência reflexiva de pessoas a partir do movimento compreensão, supondo a descrição do vivido, a descoberta
dialético entre o conhecimento do sujeito como "ser no do sentido do vivido, a caracterização da estrutura do
mundo" e o conhecimento do sujeito como "ser sobre vivido e finalmente o estabelecimento de constâncias da
o mundo". Isso se realiza numa dimensão temporal e estrutura do vivido.
histórica.
186 CBCISS Teorização do Serv. Social 187
As implicações desta opção propõem uma atitude de um objeto científico. Diante da evidência o Serviço Social
saber ouvir, sentir com, perceber. não pretendeu nem pretende mostrar-se incapaz de com-
Nesta perspectiva de interação a pessoa-cliente revela preender aquilo que tenciona explicar. Ao visar seu objeto
para a pessoa-assistente social aquilo que tem para ele de estudo, procura, na razão e não-razão, os fundamentos
um significado, o ser vivido, ele consigo mesmo, com da compreensão em função do material de pesquisa que
outros, e com as coisas. prepara a explicitação.
A pessoa-assistente social aprofunda com a pessoa- Esta pretensão, no tempo, deu possibilidade à criação
cliente, questionando sobre os conteúdos revelados, ten- de modelos entre os quais o "psicossocial", que contribuiu
tando clarear e ampliar os horizontes, emergindo sentidos para dar uma estrutura diagnostica à situação-problema
novos. como objeto de estudo. E, do mesmo modo, pôr em evi-
Na existência dialógica desenvolvem-se formas de apro- dência nela os aspectos do vivido numa "avaliação" que
ximação de realidades considerando a estrutura de vivido envolve a caracterização do ser-em-situação. O que signi-
na sua historicidade e na sua cultura. fica a existência da noção-limite dos procedimentos de
É através da reflexão que se consegue atingir as expe- uma lógica interna de duas filosofias.
riências reais na sua diversidade para conseguir apreender Hoje a dialética da complementaridade nos leva a revi-
e compreender o horizonte ou o universo no qual o ser sar essa postura fenomenológica inicial. Questionar o tema
se revela, permitindo chegar a um conhecimento novo. a partir da reflexão sobre a possibilidade da ciência, orien-
A descoberta de um novo sentido identifica conteúdos tado pelo reconhecimento de que "o horizonte dos logos
que, tomados em conjunto, vão se transformar em pro- científicos é radicalmente diferente do horizonte dos ob-
jetos. jetos percebidos", como afirma Husserl.
O projeto traduz uma praxis humana que contém uma Esta tomada de consciência permitiu, aqui, colocar en-
etapa fundamental da existência humana. tre "parênteses" a estrutura da avaliação-diagnóstico para
Os projetos se manifestam como respostas novas de questioná-la no interior de uma fenomenologia, ou antes,
conhecimento e ação da pessoa frente a si mesma, aos a partir de suas próprias possibilidades.
outros e com as coisas. Neste sentido, fazer aparecer numa "estrutura espa-
Finalmente, a atitude fenomenológica e as ideias cen- cial" as dimensões das situações sociais-problema, a partir
trais que orientam a fenomenologia abrem caminho para e dentro das quais se manifestam, em suas tipicidades
o estudo do comportamento do homem. Sua contribuição ou singularidades, é constituir a "avaliação-diagnóstico"
principal para o Serviço Social está na possibilidade de num discurso fundado na metodologia da compreensão.
oferecer uma reflexão sobre os limites da racionalidade Efetivamente, a avaliação-diagnóstico constitui uma estru-
e da objetividade que permitam o fazer e o refazer dos tura espacial dentro da qual estão situadas todas as pes-
métodos e das técnicas na praxis. soas enquanto reduzidas ao aspecto que é próprio da
Nosso propósito agora, aqui, é pensar o contexto teó- condição humana: ser sujeito do social que constrói e
rico fundado na fenomenologia a partir da abordagem que por ele é construído. Assim, cada "avaliação-diagnós-
de alguns dos aspectos, "somente alguns", que compõem tico" é objetivação de uma situação social enquanto objeto
nossa metodologia. delimitado pelo enfoque da intervenção do Serviço Social.
Delimitação que, em certo sentido, é legitimada pela inten-
cionalidade mas deformada pela visão parcial da expo-
A investigação diagnóstica sição de uma situação social-problema como objeto.
O conceito de diagnóstico social que marca a fundação Isto implica aceitar que o serviço social tem uma ma-
da perspectiva científica do Serviço Social é questionado neira de visar o homem como ser no mundo e como ser
por não configurar o seu objetivo de conhecimento como sobre o mundo.
188 CBCISS Teorização do Serv. Social 189
A apreensão do homem em suas relações interpessoais — ser o desvelamento do modo de ser — na situação
e sociais se faz por uma atitude de abertura que progres- pessoa-assistente social e pessoa-cliente — a objeti-
sivamente capta, pelas descrições da "estrutura do vivido", vidade que cria a correlação su jeito-objeto;
seus significados. — ser a objetividade redutiva o horizonte dentro da
Visa as realidades vividas dentro de uma perspectiva qual a situação social, ou seja, a enunciação, aparece
de temporalidade (aqui e agora). Mas como a história delimitada pelo enfoque.
dos homens tem um sentido que nos faz questionar que
há no tempo mais que o tempo, não se pode supor a • A leitura da descrição da enunciação^ como o momento
realidade da pessoa-cliente sem supor a da comunidade que provoca o questionamento de seus conteúdos^se faz
de que faz parte, porque nela há mais do que ela própria. a partir da "redução". A reflexão leva assistente social
A tentativa de compreensão leva a conhecer a pessoa e cliente, como co-autores, a partir das aparências empí-
e suas manifestações sem perder de vista o contexto social ricas, a provocarem a ruptura, ou seja, desligarem-se das
em que está inserida e todas as implicações advindas certezas, do saber constituído. A ruptura como "redução"
do mesmo. Leva a ver o homem de forma global em suas é a atitude fundamental da metodologia. Provoca uma
inter-relações, a distinguir seus atos de conhecimento em experiência no fenómeno, isto é, leva ao trabalho de ana-
seus níveis diversos de conhecimento, conhecimento preen- lisar e aprofundar o que esse fenómeno é em si, ou seja,
chido de conteúdo social. o que significa intrinsecamente.
A preocupação de compreender a "pessoa em situação" Assim, a situação social-problema se define como o
se aprofunda na medida em que o aproveitamento dos próprio ser do aparecer — e neste mesmo ato redescobri-
dados revelados pelas descrições se articulam de forma la no mundo. Num outro nível, é o modo de aparição
da situação social na consciências A significação dos fatos
a apreender o "invariante", ou seja, o "núcleo central" da como experiência, uma vez que os fenómenos não nos
"situação existencial problematizada". aparecem mas são vividos. Em outras palavras "a signi-
Assim, a estrutura espacial da avaliação-diagnóstico é ficação dos fatos só se revela em situação", A redução
despnhada no primeiro movimento pela descrição de uma leva então a pessoa-cliente a compreender que o seu pro-
situação social enunciada como problema pela pessoa- blema só tem significado dentro da singularidade da sua
cliente. A proposta é captar cada vez mais a realidade situação existencial, ou seja, no modo irredutível de se
mostrada através de uma reflexão onde a situação é ima- mostrar.
nente ao discurso. A reflexão crítica parte das colocações percebidas pe-
A possibilidade de atingir a caracterização da estrutura los sujeitos cliente e assistente social, para intencional-
espacial reside em admitir: mente desenvolver a compreensão dos fenómenos que
estão em análise, visando a uma tomada de consciência
— a enunciação constituída pela exposição de uma geradora dos temas de reflexão/Provoca o questionamento
situação social-problema como o que é dado (fenó- da "estrutura-valor" que oferece solo ao saber do assis-
meno) e que lhe dá a primeira direção; tente social e do cliente» a qual os liga de uma forma ao
mundo. \Isto implica admitir que na avaliação-diagnóstico
— ser o distanciamento, criado pela enunciação, o es- o conhecimento é sempre mediatizado por uma pré-com-
paço entre o assistente social e o cliente, o provo- preensão, ou seja, um consenso que a precede, que está
cador do relacionamento profissional; aí^Daí (do as) a preocupação com referência ao quadro
— ser a intencionalidade o assumir a verdade dessa dis- teórico e ao sistema de valores sócio-culturais (do cl)
tância e os objetivos profissionais no sentido de sua presentes no interior da interpretação. Com efeito, a-inter-
realização; pretação,/ para se concretizar,/tenta desOTíülíar essa "es-
190 CBCISS Teorização do Serv. Social 191
trutura-valor" para conhecê-la. Admite a correlação entre transformação a partir e dentro da qual se constituem
o conceito do pré conceito e o da ideologia numa comple- os projetos de "ação interventiva" visada como capaci-
mentaridade dialética. Assim, as condições de inteligibili- tação social v -A possibilidade de provocar a capacitação
dade são procuradas no próprio objeto da investigação- social reside no fato de o serviço social expressar uma
diagnóstico, isto é, na situação social-problema. Afirma-se, forma de acolhimento de um homem para o outro., jA
então, que a "teoria não deve ser separada da experiên- abertura ao outro e consequente engajamento no ser só
cia", isto é, do vivido. Que a noção de valor põe-nos diante
do problema filosófico. se dá a partir do encontro^ Pode-se dizer que cada en-
A tarefa de compreender numa avaliação diagnostica contro é exclusivo, embora guarde uma característica de
é a de elevar a nível do discurso aquilo que inicialmente habilidade, p encontro é sempre um acontecimento ^desta-
se descreveu como estruturado na situação social-proble- cado, algo novo, um impacto que obriga o homem á sé
ma. O discurso é construído no diálogo assistente social- revelar. ,
cliente, onde a descrição e a explicitação mediatizam o O conhecimento do singular permite a compreensão
compreender. das estruturas do vivido dentro de uma relação de inter-
/ A situação social-problema não é aquilo que o cliente subjetividade. Cada descoberta é uma singularidade que
de uma forma ingénua revela, mas a situação social-pro- admite a compreensão do ser enquanto ser, a participação
blema a partir da qual deve ser apreendida. de cada ser como pessoa.
A provocação intencional para o conhecimento do mun-
Intervenção social do se dá numa unidade dialética entre ação-reflexão ao
desencadear o social .que nela se dá.
Isto implica aceitar o diálogo, não fundamentalmente
A exigência de satisfação de necessidades básicas ex- como instrumento, mas como forma de ação interventiva
pressa pela clientela do serviço social visava diretamente com relação a uma situação concreta.
problemas empíricos e envolvia a problemática de distri- -A estrutura espacial da ação interventiva é a descrição
buição de riqueza (pobreza>.' Neste sentido a prática as- da estrutura da transformação operada sotx a forma de
sistencial apresentava aspectos "marginais" de conheci- capacitação sociaL. é processada como movimento a partir
mento por se basear unicamente em elementos materiais da colocação da pessoa-cliente como co-autor da avaliação-
de uma dada situação. diagnóstico. Nesta perspectiva específica significa capa-
A partir da operacionalização do diagnóstico social, a citar o cliente a realizar a própria "avaliação-diagnóstico"
intervenção do serviço social passou a articular o conhe- e compreender o projeto de transformação que está vi-
cimento da "estrutura do vivido" como auxílio concreto vendo/ Estes dois atos se encontram de tal forma arti-
exigido como resposta às necessidades manifestas. -Nessa culados que não pode haver um ato de consciência sem
perspectiva o "tratamento social", como prática, que carac- transformação provocada pela própria consciência.
terizava a ação interventiva, passou a significar "ajusta- O projeto como fenómeno é possibilidade do que se
mento" e/ou "adaptação" ao tentar eliminar as disfunções quer e se pode fazer. Como realidade concreta tende sem-
internas e externas de uma dada situação condicionada pre a transformar uma situação que contém resistências
e prolongada por um certo equilíbrio. ou desafios e expõe contradições. Dimensiona as catego-
No contexto de uma crítica do tempo presente à inter- rias — vontade, esforço, trabalho, movimento, ação, resis-
venção social,'o serviço social é acusado de estar voltado tência, contra-ação — que manifestam a estrutura mais
para a promoção do indivíduo e as exigências do sistema universal de toda ação humana.
e não no sentido da pessoa-sujeito do social. O projeto como ação humana é atividade de pessoa
Admitida como válida a reflexão, a intervenção social, que produz permanentemente nela um sentido^ porque
hoje, passou a ser questionada como operacionalização da ela pode dar-se conta disso. Projeto ele próprio consti-
Teorização do Serv. Social 193
192 CBCISS
BRUYNE, Paul et alii. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais. Rio de
tutivo do tempo e do espaço vividos. Ato no qual a pessoa Janeiro. Francisco Alves, 1977. e ciências humanas. Rio de janeiro. | .
chega ao mesmo tempo a uma decisão e a um conheci- CAPALBO, Creusa. Fenomenologia
mento. Ozon, 1973. e118
Fenomenologia ps. sociais. Convivium. Rio de janeiro, v. 21, n." 2,
estudos
A concepção criadora do projeto provoca a realização
sucessiva de uma tomada de consciência do que se sabe, mar./abr„ 1978.
se pode e se deve fazer em um dado assunto. DART1GUES, André. O que é fenomenologia0 Rio de janeiro. Eldorado.
Experiência que provoca a consciência crítica ao se 1973.
ampliar no tempo histórico, ou seja, no tempo vivido da GILLES, Gaston Granger. Pensamento formal e ciências do homem, l e
experiência do nós, aqui-agora. 11. Lisboa. Presença, 1975.
A possibilidade de caracterizar a estrutura espacial da GIRARDI, Justino Leopoldo. O ser do valor: perspectiva de Gabriel Mar-
transformação para explicitar por que ação foi concreti- cel. Porto Alegre. Nilton Rocha de Souza, 1978.
zada reside em admitir: HAMILTON, Gordon. Teoria e prática do serviço social de casos. Rio
— assistente social e cliente como "pessoas,'.', sujeitos de janeiro. Agir. 1958. 393 ps.
do processo e fonte do sentido; JASPERS. Karl. Filosofia da existência. Rio de Janeiro. Imago.
— a capacitação do cliente se dá no dialoga, onde a KONOPKA, Gisela. Serviço social de grupo: um processo de ajuda. 2.' ed.
constituição de um projeto é vivida de forma cria- Rio de Janeiro. Zahar, 1972. 310 ps.
dora como possibilidade singular de suas próprias KUPERMAN, Greno. Um tema íenomenológico: o mundo. Revista de Cul-
existências subjetivas; tura Vozes. Petrópolis, v. 66, n." 4, maio, 1972.
— a transformação se amplia no tempo histórico,* ou LANTERl-LAURA, Georges. Psiquiatria fenomenológica. Buenos Aires, Edi-
seja, é vivida na estrutura do nós, no aqui-agora de ciones Troquel, 1965.
uma comunidade que tem seu espaço e seu tempo LUIJPEN, W. Georges. Introdução à fenomenologia existencial. São Paulo.
por essência transcendentes; Universidade de São Paulo, 1973.
— se a realidade se transforma, todo o conjunto do Fenomenologia existencial. Buenos Aires. Carlos Lohlé, 1967.
saber, que se define em relação a esse real, trans- La fenomenologia es un humanismo. Buenos Aires, Carlos Lohlé, 1967.
forma-se igualmente; LYOTARO, ). F. La fenomenologia. 5." ed. Buenos Aires. Editorial Uni-
— transformar é provocar, pelo movimento de um diá- versitária, 1973.
logo que conduz a uma reflexão sobre uma realidade MAY, Rollo. Psicologia existencial. 2." ed. Porto Alegre. Globo, 1976.
concreta (situação social-problema): MILHOLLAN, Frank et alii. Maneiras contrastantes de encarar a educação.
São Paulo. Summers, 1978.
• a descoberta — da "consciência em si" e de sua RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro. Francisco Al-
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BOLLNOW, O. F. Pedagogia e filosofia da existência. Petrópolis. Vozes,
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2.2.1 CONSIDERAÇÕES EM TORNO DOS QUESTIONA-
MENTOS LEVANTADOS NO SEMINÁRIO SOBRE
O DOCUMENTO DE BASE 2.2: Reflexões sobre a
construção do Serviço Social a partir de uma abor-
dagem de compreensão, ou seja, interpretação feno-
menológica do estudo científico do Serviço Social.
1. Apresentação
Antes de responder às questões levantadas pelo plená-
rio, é significativo para o grupo que elaborou o trabalho
informar que ele assumiu a reflexão epistemológica do
Serviço Social a partir da abordagem de compreensão^
Na realização da tarefa, a metodologia de trabalho eleita
caracterizou o conhecimento da própria fenomenologia
como exigência primeira.^
Nesse sentido, numa primeira etapa, houve a preocupa-
ção em pesquisar a bibliografia^ Seguiu-se a seleção de
autores e a eleição dos temas — intencionalidade, singu-
laridade, reflexão eidética, redução, encontro e diálogo
— que delimitaram as reflexões críticas no estudo.^A sín-
tese, elaborada a partir das discussões, gerou no grupo
a consciência da possibilidade de integrar as ideias das
categorias estudadas à abordagem do Serviço Social .çN.uma
segunda etapa,, emergiram os-questionamentos dos funda-
mentos do Serviço Social articulados aos conceitos de
pessoa e de mundo (indicados por filosofias existenciais)
e a análise crítica da metodologia do seu processo de
objetivação, ligada à história de suas. práticas,? Na^etapa
JBsiaLJ^M redigido o dojmmento, dividido em duas partes:
uma introdutória é outra onde se tenta caracterizar, no
"quadro da compreensão", a estrutura da teoria do Ser-
Teorização do Serv. Social 197
196 CBCISS entre sujeitos (assistente social e cliente), onde o diálogo
viço Social configurado pelas categorias da investigação- é motivado pela possibilidade de ser assumida a ideia
diagnóstico e da intervenção social. A leitura das questões de uma postura de "comunhão". Além disso, a ideia de
levantadas no Sumaré resultantes da crítica ao documento consciência como forma de existir do homem como sujeito
provocou novas reflexões e levou o grupo à compreensão permite-nos admitir a problemática da atividade cognitiva
da exigência de recolocar as categorias — pessoa, cons- na dimensão humana, ou seja, vinculada aos pólos afetivo
ciência reflexiva, projeto, praxis, totalidade vs. singulari- e da ação (prática).
dade e invariante — de modo a provocar.um conheci- Em resposta à pergunta — "como caracterizar a cons-
mento que permita percebê-las integradas aos conceitos ciência como reflexiva?", pode-ge dizer que na dinâmica
operativos de Serviço Social. Assim, através da colocação da compreensão há um esforço inicial de reflexão sobre
das ideias principais, as questões levantadas pelo plenário uma situação concreta,, o "vivido'V que é percebido no
vão sendo respondidas. "aqui .e agora''. Existe sempre uma situação não dada,
Será obedecido o seguinte esquema: mas vivida, que é pensada, ou seja, captada por uma
\Em primeiro lugar, serão colocadas as ideias contidas reflexão intuitiva. Nesse sentido, na dinâmica do diálogo
nas categorias de pessoa e consciência reflexiva. Depois, (no processo de serviço social), pensar e refletir (na acep-
as ideias das categorias que foram relacionadas com a ção compreensiva e concreta) de uma ação, não é exclu-
intervenção (ajuda psicossocial): praxis e projeto. E, em sivamente um ato reflexo nem um ato contemplativo, mas
terceiro lugar, as ideias articuladas à verdade (conheci- comunicação entre consciências. / Nela acontece a cons-
mento): totalidade vs. singularidade e invariante. ciência reflexiva como categoria fundamental na medida
em que a pessoa situada e datada pensa e repensa algo
que, captado por intuição, passou a tematizar como pro-
2. As categorias de pessoa e consciência reflexiva cedimento operatório inicial, em busca da compreensão.
/"Qual sentido básico do pensamento existencial está 3. As categorias de praxis e projeto
contido na categoria PESSOA?" Primeiro, a afirmação da
primazia do sujeito, entendido não na visão de "indivíduo" O grupo admite a PRAXLS como atividade humana,. Mas
(dependente das categorias propriamente científicas) mas quer sublinhar que admite não existir nada humano, quer
na de projeto — "ser construindo-se a si mesmo^. .Escla- no indivíduo quer na sociedade, sem retorno sobre "si
rece esta ideia de sujeito a compreensão do homem com mesmo". Daí porque não a concebe, apenas, como uma
a capacidade para enfrentar sua própria situação, homem transformação do objeto, da natureza, mas como uma
agente de sua própria transformação. Além disso, a ideia transformação do próprio sujeito. Esse retorno sobre "si
de pessoa não se limita apenas à dimensão de "ser em mesmo" implica uma reflexão que possibilita ao sujeito
si", sujeito singular, mas "ser situado", sujeito histórico. (assistente social ou cliente) estar presente no que faz
"Nessa perspectiva, pode-se dizer que a pessoa que está e no que ó. O pensamento fenomenológico — mais espe-
conosco numa "situação de trabalho" é o "ser indo"/Insis- cialmente em Husserl — permite encontrar como corre-
timos dizer: sujeito que assume sua historicidade na me- latas ação e reflexão; apesar de distintas, uma é consi-
dida em que pratica sua liberdade. Assim, o ato de cons- derada na outra, onde o homem será visto como pessoa
ciência como o ato próprio do sujeito caracteriza, para que se exprime e se comunica através da cultura por
o grupo, a especificidade da categoria — pessoa., ele criad». A reflexão visa dar significação as próprias
,A ideia de pessoa nas duas categorias profissionais ações. Porque humana, a praxis supõe uma ação de reci-
sujeito-cliente e sujeito-assistente social — introduz-nos procidade, isto é, de diálogo, que é uma forma de enri-
na própria compreensão da exigência da inter sub jetivi- quecimento da própria ação, não apenas participada, mas
dade (o fato de ser-comtf Neste sentido, o trabalho do
Serviço Social supõe-se ser realizado através do encontro
198 CBCISS Teorização do Serv. Social 199
falada por muitos. Quando a praxis expressa por exigência Esta experiência, assim' caracterizada, configura o pro-
uma ação sobre outrem, neste sentido se contrapõe a uma cesso de serviço social, ou seja, a ajuda psicossocial pou-
mera ação de produção. A produção aplica-se a uma natu- sada como a "teoria da intervenção social".
reza material, a um aquilo, a terceira pessoa que implica A compreensão da categoria "intervenção social" na
a ação de transformação sem reciprocidade. Ao discutir dimensão psicossocial é tradicionalmente caracterizada
praxis em Serviço Social, acreditamos que a ideia de reci- pelos seus conteúdos constituídos a partir de um saber
procidade, caracterizando a categoria "diálogo", é a exi- científico: psicanalítico, psicológico e sociológico. Os con-
gência primeira que se coloca diante de.nds, por confi- ceitos do seu quadro de referência sempre estiveram amea-
gurar o pensamento fenomenológico no sentido que opera çados por não se encontrar na sua construção, num nível
o conhecimento em ação (movimento) no ser (por estar de linguagem discursiva, a caracterização dos objetos cien-
na origem de toda experiência possível). tíficos. Na perspectiva de técnica, o serviço social impôs
Numa atitude fenomenológica onde a visão existencial a si u m v dependência de pensar as problemáticas reais
de pessoa integra a ideia de "ser indo", a problemática dentro dos quadros de referência positiva e funcionalista
profissional é formulada a partir de u m "agora", carac- sem a exigência crítica de uma epistemòlogia^Essas colo-
terizado como "tempo para a ciência", ou seja, uma situa- cações indicam a intenção de comunicar a que se refere
ção que se reduz a uma objetivação na busca de uma inte- a reflexão epistemológica assumida pelo grupo, a partir
ligibilidade maior. Esse "agora" funda-se sobre o vivido, da qual foi tentada a estruturação da teoria de "inter-
isto é, refere-se a "algo existente" para uma individuali- venção social" na abordagem de compreensão.
dade, como o "próprio ser do aparecer". Aos questionamentos levantados no plenário, sobre "co-
Na relação profissional assistente social-cliente a ideia mo sair da perspectiva sociológica", a resposta se encontra
de situação caracteriza um "agora" constituído por uma na distinção de perspectiva em relação ao modo de apreen-
situação social particular (uma concreção), objetivada der e descrever o fenómeno que se tenta compreender, e
(colocada frente aos sujeitos), problematizada (sentido não em abandonar o conhecimento sociológico, que dá
e significação), em busca de maior compreensão. conteúdo ao nosso saber.
O termo PBOJETO (ser indo) indica nessa relação o \No documento está clara a eleição do tema "o social"
caminhar junto do assistente social-cliente (como sujei- como "horizonte'4 Sua problematização vinculada às cate-
tos) na experiência da descoberta do "fenómeno". Ë um gorias da prática permitiu o estudo na perspectiva feno-
procedimento que supõe, a partir de um esforço de refle- menológica.\Horizonte compreendido como a totalidade
xão sobre os conteúdos de consciência, uma atividade onde se configura a dimensão humana, ou seja, a história
cognitiva e critica não desvinculada das dimensões de afe- do homem mediatizada pelo mundo/
tividade e da prática (ação). A pretensão é desenvolver Quanto às interrogações colocadas no plenário sobre
o "projeto", ou seja, o "ir-sendo", numa experiência onde — "como é que a comunhão poderá se dar se os compo-
a comunicação caracteriza o movimento da intersubjeti- nentes da dupla assistente social-cliente fazem parte de
vidade como formas de participação ao oferecer possibili- grupos diferentes e o problema é do interesse do cliente"
dade no diálogo da compreensão, renovação e transfor- — a resposta parece estar na compreensão do sentido
mação da "situação visada". Nela a objetividade dialética dado ao "mundo dos homens".
ou fenomenológica envolve a problematização que tem Quanto à pré-compreensão do assistente social a uma
sentido para as consciências (assistente social e cliente), possível atitude de dominação sobre o cliente, cumpre
um significado definido por um valor cujo conhecimento responder que a compreensão no diálogo assistente social-
é direção para o mundo dos homens, ou seja, para um cliente não deriva exclusivamente da pré-compreensão do
produto de trabalho cujas transformações fundam novas assistente social, mas se funda na reflexão de ambos a
significações. partir do "mostrar-se" da situação-problema como feno-
200 CBCISS
meno. A pré-compreensão tanto do assistente social co- Teorização do Serv. Social
mo dó cliente são condições de possibilidade da compreen- ridade — a partir do conceito dialético de complementa-
são que dá abertura ao sentido/ ridade que desvela as aparências da exclusão?" Nesse
Assim, fica clara a resposta à pergunta colocada quanto sentido, na colocação dos termos — totalidade e singula-
à "alternativa para evitar a dominação configurada pelo ridade — há, à primeira vista, uma exclusão recíproca.
saber do assistente social". Ela se constitui no próprio Numa reflexão, mais apjrofunjj&da, afirmam-se um em fun-
diálogo onde as situações objetivadas abrangem aspectos Ção do outro Não podem, na verdade, ser isolados ~úm
parciais da realidade que são apreendidos e compreendi- do outro. Sjío elementos que, integrados, permitem a
dos sob ângulos variados ao integrar o "conhecimento em compreensão da atividade humana, ou seja, o mundo dos
espiral" na qual os elementos não se contradizem um ao homens,
outro mas dialeticamente se completam,. Nesse sentido, para nós, assistentes sociais, na investi-
Respondendo ainda à pergunta sobre a dominação, a gação diagnostica, nossa intenção se dirige para um acon-
partir do trabalho em instituições, diríamos que a questão, tecimento singular, a "situação-problema", apreendida em
como foi colocada, simplifica muito a problemática. Há sua totalidade (no movimento do ser-indo no mundo) e
uma realidade histórica que a configura (um p*assado) que significativa em sua singularidade, que revela a dimensão
precisa ser abordada para questionar o sentido em que do problema das relações entre a pessoa (sujeito cognos-
se pensa hoje uma superação da relação assistente social cente) e o mundo. Mundo considerado não apenas a tota-
e instituição. Se a supressão ou a superação dessa opo- lidade de suas possibilidades de ser (horizonte interno),
sição for entendida como dualidade de ideologias (práticas mas a totalidade "de objetos com o horizonte aberto no
políticas), enquanto conteúdo de programações, não é pos- espaço e tempo. A situação-problema (como singularida-
sível suprimir de todo essa dualidade. Se o pensamento de) só tem significado quando integrada à dinâmica do
moderno é dialético, responderíamos que, na postura feno- projeto "ser-indo" do cliente no mundjt». Esta concretude
menológica, o fenómeno é apreendido, questionado e com- é uma totalidade quando a situação-problema revela sua
preendido sob uma pluralidade de sentidos. Nessa pers- essência, sua verdade, não apenas articulada a um "eu"
pectiva o diálogo exclui os a priori colocados na pré-com- mas a uma comunidade (a um nós), jEm outras palavras,
preensão, que limitam a objetividade datada e situada, ao a totalidade configura as histórias individuais na história
provocar a abertura para o sentido que nos é indicado, humana.
ou seja, que emerge num "agora" através da intersubjeti- Estamos agora diante do conteúdo de uma outra per-
vidade definida pela capacidade dos sujeitos apreenderem gunta — o que se entendeu por invariante? O termo inva-
as instituições como organismos cujas ideologias passam riante, na fenomenologia, define "essência", ou seja, um
a questionar. sentido identificado num "mostrar-se" de um fenómeno.
Elemento sem o qual o próprio fenómeno desaparece.
4. Totalidade vs. singularidade e invariante Como ponto de partida para a compreensão do inva-~
riante, que se fazia necessário, o grupo elegeu o "social",
As categorias totalidade e singularidade aparecem como como já foi dito, que define o espaço da problematização
elementos numa relação de recíproco e biunívoco condi- em Serviço Social. E neste espaço foi colocada a pergunta:
cionamento na estrutura de mediação própria da com- Como a apreensão de sentido em cada diagnóstico social
preensão. fundado sobre uma significação como conteúdo da com-
Essa concepção permite responder à questão colocada: preensão de uma singularidade pode caracterizar a plura-
"Até que ponto a construção da teoria do Serviço So- lidade de sentidos que abrange o "social"? Em outras
cial, a partir do método fenomenológico, permitirá a palavras, refletindo sobre o social em cada singularidade
apreensão da totalidade, desde que se baseia em singula- onde se "mostra" como fenómeno, podemos chegar nessa
pluralidade ao invariante? Sabemos que na intervenção
Teorização do Serv. Social 203
202 CBCISS
social, como uma ação prática, a função do diagnóstico
social limita o "sentido" do social a um enunciado parti-
cular. Mas o "sentido do social" no mundo não se limita que vai ^ J ^ ^ ^ t SoSfonológica
ao que é objetivado num diagnóstico. Mas se a com- S ? 3 ? . £ 3 £ £ . i S T o que nao tem significação
preensão do particular supõe a pré-compreensão do todo, mas o aue não tem sentido.
dentro do qual ele deve ser entendido, e, ainda, se a
compreensão do todo se forma da compreensão dos mo-
mentos particulares que se estruturam na totalidade, na
estrutura da compreensão é questionada não apenas a
constância dos fenómenos mas o invariante, ou seja, a
essência. Na discussão do problema o grupo teria contri-
buído com alguma coisa? .Nossa resposta é de que a
compreensão do termo "invariante" possibilitou ao grupo
a atitude de que a questão do invariante não existia como
preocupação do Serviço Social. Até agora, presos aos
padrões positivistas, procurávamos determinar o "objeto"
e não o invariante. Por exemplo: o fenómeno pobreza até
que ponto foi desvelado pelo Serviço Social? Considera-
mos que o fenómeno ainda não foi estudado intencional-
mente na perspectiva do Serviço Social. Apenas reduzimos
o conceito sociológico.
Pelas perguntas colocadas no plenário, concluiu b grupo
que há uma preocupação com a realidade brasileira, ou
seja, os fenómenos que se mostram em nosso horizonte
precisam ser tematizados. O grupo não^retende ..questio-
nar p objeto de Serviço Social, mas estabelecer uma meto-
dologia que possa desvelar o invariante. Tal metodologia
expressará as ideias dás categorias aqui colocadas. O ques-
tionamento básico terá a intenção de estudar o significado
do social para o Serviço Social, como pré-compreensão
que dá direito ao desenvolvimento do processo de com-
preensão. Ao admitirmos que os significados do social vão
caracterizar o conteúdo de nossa praxis, pensamos ser
possível descobrir categorias da estrutura do vivido que
tenham significado para a clientela, hoje.^Assim, se pela
praxis o mundo ganha uma significação humana, é preciso
que assistente social e cliente comuniquem os significados
e os questionem, no sentido da comunidade pela mediação,
ou seja, o assistente social não pode supor sua própria
realidade sem supor pelo mesmo ato a dos seus clientes
e a do mundo.
.3 Roteiro de reflexão