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Auxiliar de veterinária

Origem do cão João Melo


A origem do cachorro

• A origem do cachorro doméstico é um assunto polêmico há séculos,


cheio de incógnitas e falsos mitos. Embora atualmente ainda existam
dúvidas a serem resolvidas, a ciência oferece respostas muito
valiosas que ajudam a entender melhor por que os cachorros são os
animais de estimação por excelência ou por que, diferentemente dos
lobos ou gatos, essa espécie é a mais domesticada.
• Você já se perguntou qual é a origem dos cães? Tudo começa com
Canis lupus familiaris, começando pelos primeiros carnívoros e
terminando com o grande número de raças de cachorro que existem
hoje.
Quais foram os primeiros animais carnívoros?

• O primeiro registro ósseo de um animal carnívoro data de 50 milhões


de anos atrás, no Eoceno. Este primeiro animal era arborícola, se
alimentava perseguindo e caçando outros animais menores que ele.
Era semelhante a uma marta, mas com um focinho curto. Logo, esses
animais carnívoros se dividiram em dois grupos:

• Os caniformes: canídeos, focas, morsas, cangambás, ursos...


• Os feliformes: felinos, mangustos, ginetas...
A separação em feliformes e caniformes
• Esses dois grupos diferem fundamentalmente na estrutura interna do
ouvido e pela dentição. A separação desses dois grupos foi causada
pela diversificação de habitats. Com o resfriamento do planeta, a
massa de florestas foi sendo perdida e os prados ganharam espaço. Foi
então que os feliformes permaneceram nas árvores e os caniformes
começaram a se especializar na caça de presas nos prados, uma vez
que os caniformes, com poucas exceções, carecem de unhas retráteis.
Qual é o ancestral do cachorro?

• Para conhecer a origem do cachorro, é preciso voltar aos primeiros


canídeos que apareceram na América do Norte, uma vez que o primeiro
canídeo conhecido é o Prohesperocyon, que habitava a atual área do
Texas há 40 milhões de anos. Este canídeo era do tamanho de um
guaxinim, mas mais esbelto e também tinha pernas mais longas que seus
ancestrais arborícolas.

• O maior canídeo reconhecido foi o Epicyon. Com uma cabeça muito


robusta, era mais parecido com um leão ou uma hiena do que com um
lobo. Não se sabe se ele seria um carniceiro ou se ele caçaria em
grupos, como o lobo atual. Esses animais estavam confinados à atual
América do Norte e datam de entre 20 e 5 milhões de anos atrás.
Chegavam a atingir um metro e meio e 150 quilos.
Origem do cachorro e de outros canídeos

• Há 25 milhões de anos, na América do Norte, o grupo foi se


dividindo, o que causou o aparecimento dos parentes mais antigos
dos lobos, guaxinins e chacais. E com o resfriamento contínuo do
planeta, 8 milhões de anos atrás, apareceu a Ponte do Estreito de
Bering, que permitiu que esses grupos chegassem à Eurásia, onde
alcançariam seu mais alto grau de diversificação. Na Eurásia, o
primeiro Canis lupus apareceu há apenas meio milhão de anos e,
há 250 mil anos atrás, retornou à América do Norte através do
Estreito de Bering.
Cachorro vem do lobo?

• Em 1871, Charles Darwin iniciou a teoria do ancestral múltiplo,


que propunha que o cachorro descendia de coiotes, lobos e
chacais. No entanto, em 1954, Konrad Lorenz descartou o coiote
como a origem dos cachorros e propôs que as raças nórdicas
descendiam do lobo e que as demais descendiam do chacal.
Evolução dos cachorros

• Então, o cachorro vem do lobo? Atualmente, graças ao


sequenciamento de DNA, verificou-se que o cachorro, o lobo, o
coiote e o chacal compartilham sequências de DNA e que os mais
semelhantes entre si são os DNAs do cachorro e do lobo. Um
estudo publicado em 2014[1] garante que o cachorro e o lobo
pertencem à mesma espécie, mas que são subespécies diferentes.
Estima-se que cachorros e lobos podem ter um ancestral comum,
mas não há estudos conclusivos.
Humanos e cachorros: primeiros encontros

• Quando há 200 mil anos os primeiros humanos deixaram a África e


chegaram à Europa, os canídeos já estavam lá. Eles viveram juntos
como competidores durante um longo período até que começaram
sua associação há aproximadamente 30 mil anos.

• Os estudos genéticos datam os primeiros cachorros há 15 mil anos,


na área asiática que corresponde à atual China, coincidindo com o
início da agricultura. Pesquisas recentes de 2013 da Universidade
Sueca de Uppsala [2] afirmam que a domesticação do cachorro
esteve ligada a diferenças genéticas entre o lobo e o cachorro,
associadas ao desenvolvimento do sistema nervoso e ao metabolismo
do amido.
• Quando os primeiros agricultores se estabeleceram, produzindo alimentos
de alta energia ricos em amido, grupos oportunistas de canídeos se
aproximaram dos povoados humanos, consumindo os resíduos vegetais
ricos em amido. Esses primeiros cachorros também eram menos agressivos
que os lobos, o que facilitou a domesticação.

• A dieta rica em amido foi essencial para a espécie prosperar, uma vez que
as variações genéticas sofridas por esses cachorros tornaram inviável sua
sobrevivência com a dieta exclusivamente carnívora de seus ancestrais.
• As matilhas de cachorros obtinham comida da aldeia e, por isso,
defendiam o território de outros animais, fato que beneficiava os
seres humanos. Poderíamos falar então que essa simbiose permitiu
uma aproximação entre ambas as espécies, o que culminou na
domesticação do cachorro.
Domesticação do cachorro

• A teoria de Coppinger afirma que há 15.000 anos, os canídeos se


aproximaram dos povoados em busca de comida fácil. Pode ter
ocorrido, então, que os espécimes mais dóceis e confiantes tinham
maior probabilidade de acessar os alimentos do que aqueles que
desconfiavam dos seres humanos. Assim, os cachorros selvagens
mais sociáveis e dóceis tinham mais acesso aos recursos, o que
levou a uma maior sobrevivência e implicou em novas gerações de
cães dóceis. Essa teoria descarta a ideia de que foi o homem que
abordou o cachorro pela primeira vez com a intenção de domesticá-
lo.
Origem das raças de cachorros

• Atualmente, conhecemos mais de 300 raças de cachorros, algumas


delas padronizadas. Isso se deve ao fato de que, no final do século
XIX, a Inglaterra Vitoriana começou a desenvolver a eugenia,
ciência que estuda a genética e tem como objetivo o
melhoramento das espécies. A definição da RAE [3] é a seguinte:
• Cada raça tem certas características morfológicas que a tornam única
e foram os criadores que, ao longo da história, combinaram
características comportamentais e de temperamento para desenvolver
novas raças que poderiam fornecer aos seres humanos uma ou outra
utilidade. Um estudo genético com mais de 161 raças aponta para
Basenji como o cachorro mais antigo do mundo, partir do qual se
desenvolveram todas as raças caninas que conhecemos atualmente.

• A eugenia, as modas e as mudanças nos padrões das diferentes raças


fizeram com que a beleza se tornasse um fator determinante nas
atuais raças caninas, deixando de lado as consequências de bem-estar,
de saúde, de caráter ou de morfologia que elas podem causar.
Outras tentativas falhadas

• Restos de outros canídeos diferentes dos lobos foram encontrados


na Europa Central, pertencentes a tentativas fracassadas de
domesticar lobos durante o último período glacial, entre 30 e 20
mil anos atrás. Mas não foi até o início da agricultura que a
domesticação do primeiro grupo de cachorros se tornou algo de
fato palpável. Esperamos que este artigo tenha fornecido fatos
interessantes sobre as origens mais antigas dos canídeos e dos
primeiros carnívoros.
As raças de cachorros - Antes e Depois
• Para saber como eram as raças de cachorros temos que remontar a
1873, momento em que aparece o Kennel Club, o clube de criadores
do Reino Unido que estandardizou a morfologia das raças de
cachorros pela primeira vez. No entanto, também podemos encontrar
antigas obras de arte em que se mostram os cachorros da época.

• Vamos ver as raças de cachorros de antigamente e de agora, um


passeio no tempo muito impactante e fundamental para entender
porque as raças atuais sofrem tantos problemas de saúde ou com é
possível que os cães sejam a única espécie com morfologia tão
variada.
Carlino ou Pug
• Na imagem da esquerda podemos observar Trump, um Pug de William
Hogarth em 1745. Nessa época a raça não estava estandardizada mas
já era conhecida e popular. Claro que não observamos o focinho tão
achatado como o atual e as patas são muito mais compridas.
Inclusivamente podemos estimar que é maior que o pug atual.

• Atualmente os pugs sofrem diversos problemas de saúde relacionados


com a morfologia como palato mole, entrópio e luxação patelar, assim
como epilepsia e a doença de Legg-Calve Pethers, que pode originar a
perda de músculo na parte superior da coxa e dores que limitam o
movimento do cachorro. É susceptível a sofrer golpes de calor e
asfixia-se com regularidade.
Scottish terrier

• O Schottish terrier sem dúvida que sofreu um das mudanças mais


drásticas no que diz respeito à morfologia. Podemos observar a forma
da cabeça muito mais alongada e um encurtamento drástico das patas.
A fotografia mais antiga data de 1859.

• Costuma padecer de vários tipos de câncer (bexiga, intestinal, de


estômago, de pele e de mamas) assim como são susceptíveis à doença
de Von Willebrand, que provoca hemorragias e sangramentos anormais.
Também podem sofrer problemas de coluna.
Boiadeiro de Berna

• Na imagem podemos observar um Boiadeiro de Berna de 1862


pintado por Benno Rafael Adam, um importante pintor de animais
do século XIX. Nesta pintura realista observamos um boiadeiro
com a região cranial muito menos marcada e mais redonda.

• Costuma sofrer doenças como a displasia (de cotovelo e quadril),


histiocitose, osteocondrite dissecante e também é susceptível a
sofrer torção gástrica.
Velho pastor inglês ou Bobtail

• Os atributos do Bobtail ou velho pastor inglês mudaram muitíssimo


desde a fotografia de 1915 até ao standard atual. Podemos
observar principalmente que se potenciou o pelo longo, a forma
das orelhas e a região cranial.

• O pelo foi sem dúvida um dos fatores que mais influenciou a sua
saúde, visto que é susceptível a otites e a sofrer alergia. Também
pode ser afetado pela displasia de quadril e outras doenças
relacionadas com as articulações e mobilidade.
Bedlington terrier

• A morfologia do bedlington terrier é sem dúvida uma das mais


impactantes. Procurou-se algo semelhante a uma ovelha, que
acabou em uma forma anômala do crânio. A fotografia mostra um
exemplar de 1881 (esquerda) que nada tem a ver com o atual.

• É susceptível a várias doenças, como pode exemplos o sopro de


coração, a epífora, a displasia de retina, as cataratas e uma alta
incidência em problemas de rins e fígado.
Pesquisa para casa
• Bloodhound Bull terrier inglês
• Caniche ou Poodle Doberman pinscher
• Bóxer Fox terrier pelo de arame
• Pastor Alemão Pequinês
• Bulldog inglês Cavalier king Charles spaniel
• São Bernardo Shar pei
• Schnauzer West Highland white terrier
• Setter inglês
• Porque todas estas raças sofrem tantos problemas de saúde?

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