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BOULLÓN, Roberto C. Planejamento do espaço turístico. Bauru, SP: EDUSC, 2002.

3
A teoria do espaço turístico

1. Introdução

Ao revisar o funcionamento do sistema turístico e definir o conceito de


patrimônio turístico, mencionou-se e descreveu-se seus quatro componentes,
destacando-se suas características básicas, mas sem esgotar o tema, pois faltava analisar
seus aspectos físicos.
Tanto os atrativos turísticos como o empreendimento e a infra-estrutura têm
presença física e uma localização precisa no território, qualidade que a superestrutura
não alcança porque as organizações que a integram são importantes por sua consistente
modalidade operativa e não pelo aspecto e localização de seus escritórios, motivo pelo
qual não nos ocuparemos dela neste capítulo, a não ser tangencialmente.

2. O conceito de região

Ao observarmos como se manifestam fisicamente outros setores, vemos que em


nenhum caso a especialização em algum tipo de atividade produtiva tem como resultado
a ocupação absoluta de um território por essa atividade. Nem as áreas agrícolas, que
abrangem grandes extensões de terra aptas para esse fim, são absolutamente
homogêneas, porque entre as partes férteis intercalam-se pequenas indústrias, algumas
manchas de terra árida e outras partes destinadas à pecuária ou a granjas.
Se passamos para outro exemplo, como o do petróleo, veremos que as áreas
petrolíferas são muito menos homogêneas que as anteriores. Isso porque, embora as
jazidas estendam-se por muitos quilômetros quadrados sob a terra, sua exploração
abrange as pequenas superfícies ocupadas pelas torres de extração.
Descontando o fato de que os atrativos turísticos não têm prolongamento
debaixo da terra (com exceção de grutas e cavernas), sua expressão espacial é bastante
comparável à dos poços de petróleo. Ambos são pontuais, com a única diferença de que
os atrativos turísticos abrangem áreas maiores, às vezes bastante extensas, como nos
parques nacionais, reservas naturais e bosques. Mas, mesmo nesses últimos exemplos,
aquilo que tem interesse fica concentrado em alguns atrativos que abrangem uma
pequena parte desse território, de modo que tanto em um caso como no outro, para além
da área de influência de um atrativo produz-se um corte espacial até que se encontre o
próximo atrativo.1 Nessas partes intermediárias é frequente encontrar todo tipo de
atividades não-turísticas, como fábricas, terras de cultivo, bosques sem qualidade
turística, cidades ou explorações de minérios.
A geografia econômica, ao observar as formas de produção do solo, abstrai as
descontinuidades menores assinaladas e, depois de analisar detidamente a superfície da
Terra, estabelece sua estrutura com base nos elementos de interesse econômico
predominantes (cereais, vinhedos, minerais, bosques etc.), chamando de regionais cada
uma das partes que identifica.
Voltadas para outros aspectos, a geografia física e a geografia política estudam a
configuração do solo, dos mares e da superfície dos países, encontrando outras regiões
que podem coincidir ou não com as anteriores. A característica comum a todos esses
sistemas analíticos é que as divisões que adotam abrangem toda a superfície da Terra.
Quando um sistema de planejamento nacional começa a operar, a primeira coisa
que se deve fazer é definir seu âmbito de ação em função da regionalização do país.
Essa tarefa consiste em dividi-lo em partes, de acordo com uma série de critérios
técnicos. Depois, por um lado, serão elaborados os planos para cada região e, por outro,
os planos setoriais, mas não separadamente, e sim integrando-os. O objetivo é que, ao
menos teoricamente, cada plano setorial seja dividido por regiões, para que os planos
regionais compatibilizem interesses e problemas diversos.
Uma das condições que o planejamento regional deve cumprir é que as partes
das quais se ocupa abranjam todo o território do país. A segunda exigência é que cada
região abranja uma superfície que tenha propriedades iguais. Como é impossível dividir,
fisicamente, um país em áreas nas quais cada metro seja idêntico ao resto, a idéia de
região que os economistas utilizam refere-se às porções do território cujos indicadores

1
Ver capítulos 4 e 5
econômicos (a produção, o transporte, o comercio, etc.) e de desenvolvimento social (a
alfabetização, a moradia, a saúde, os salários etc.) são similares.
Sendo os indicadores similares, as regiões adquirem uma determinada
identidade, que leva a qualificar seu espaço como homogêneo e contínuo. Essas
qualidades, válidas para a análise econômica, não podem ser transpostas para o espaço
físico porque, como vimos, na realidade, em maior ou menor grau, muitos elementos
materiais de natureza diversa compartilham uma mesma unidade espacial. A diferença
entre uma e outra concepção está em que, para a teoria do desenvolvimento regional, a
homogeneidade refere-se a semelhança de indicadores econômicos, embora a expressão
física dos elementos medidos careça de continuidade espacial.2
Ao considerar a tendência dos bens e serviços de ficarem concentrados em
alguns conglomerados urbanos e em sua capacidade de estender sua influência para
alem dos limites urbanos, alcançando uma parte do espaço rural que os rodeia, surge
outra qualidade das regiões, que é sua polarização. Essa forma de conceber o
funcionamento de uma região em torno de centros gravitacionais e de seus raios de
influência será retomada adiante, quando se detalhar a teoria do espaço turístico.
Resta mencionar um último tipo de região, surgida no momento em que os
sistemas de planejamento optam por atuar em certos espaços geográficos que
consideram estratégicos. Essas partes do território, que encontram seu tamanho e limites
em decisões político-econômicas, denominam-se região-plano ou região-programa.

3. Características do planejamento físico

O planejamento físico é uma técnica que pertence às categorias experimentais do


conhecimento científico. Sua finalidade é o ordenamento das ações do homem sobre o
território, e ocupa-se em resolver harmonicamente a construção de todo tipo de coisas,
bem como em antecipar o efeito da exploração dos recursos naturais.
Originou-se como uma tentativa de dar uma resposta racional à necessidade de
resolver os problemas criados pelo uso anárquico do solo, a partir do momento em que a

2
O espaço econômico não pode ser medido fisicamente porque tem N dimensões; por conseguinte, suas
magnitudes devem ser estudadas pela topologia – que é um ramo das matemáticas, especializada no
conhecimento das propriedades do espaço – unicamente sob seu aspecto qualitativo, descartando toda
idéia de medida. Estritamente, o espaço econômico é abstrato, já que existe a partir de uma série de
relações entre fatos e situações que não têm realidade física.
expansão da humanidade, em termos quantitativos, trouxe como consequência a
competição pelo espaço nas áreas de terra em exploração e o avanço rumo à conquista
de outras partes incultas.
Seu campo de ação é toda a superfície da terra, seu objetivo é a organização do
espaço e sua função é a de aperfeiçoar o uso atual, procurando fazer com que não entre
em crise pelo esgotamento prematuro dos recursos não-renováveis e pela exploração
irracional dos renováveis. Em outro plano de ação, deve determinar a potencialidade de
adaptação do solo, mediante a medição de sua capacidade de absorver a expansão dos
sistemas produtivos atuais, provocada pela multiplicação de necessidades criadas pelo
mundo moderno.
Reduzindo as possibilidades de aplicação do planejamento físico às mais gerais,
podemos dizer que são duas:

1) Planejamento do espaço natural.


2) Planejamento do espaço urbano.

Ambas as formas de atuar pedem a participação de uma ampla gama de


profissionais que inclui arquitetos, topógrafos, geógrafos, geólogos, meteorologistas,
oceanógrafos, especialistas em estudos de solo, engenheiros industriais, engenheiros
agrônomos, sanitaristas,urbanistas, planejadores urbanos, paisagistas, ecologistas e
sociólogos, entre outros.
Finalmente, devemos dizer que o planejamento físico, longe de ser uma
disciplina autônoma, está a serviço do planejamento integral, objetivando resolver as
questões específicas que lhe toca enfrentar, com a ajuda de outras especialidades às
quais também recorre quando a natureza do problema assim o requer.

4. Características do espaço físico e de outros tipos de espaço

Dependendo da escala que se quer abranger, o espaço físico pode estender-se do


universo a uma pequena parte da terra. De todas essas variantes, a única planificável
para o turismo é a que se refere à crosta terrestre, e é dela que nos ocuparemos.
Se o espaço terrestre encontra seu limite dentro do tamanho que tem nosso
planeta, uma de suas características é a continuidade. Portanto, para que nós, homens,
possamos compreendê-lo e representá-lo, precisamos ter uma ideia das dimensões do
todo, bem como das partes sobre as quais queremos intervir. E por meio das medidas
que tornamos tangível a realidade física da Terra, cujo tamanho é muito grande em
relação ao tamanho de nosso corpo, mas muito pequeno em relação ao universo.
De outra forma, a noção de espaço seria quase abstrata e muito difícil de
entender. De tal modo que, na antiguidade, definia-se o espaço como um fluido, o que
era uma forma de reconhecer sua intangibilidade. Essa ideia, embora imprecisa
conceitualmente, continua
vigente porque, para os arquitetos, o espaço é o vazio entre a posição dos corpos sólidos
que se define por sua própria massa.
Dentro dos limites da capacidade perceptiva do homem, sem corpos de
referência, o espaço não existe: é o nada. Portanto, há dois modos de apreciar-se o
espaço! primeiro, mediante o tamanho dos objetos materiais, e, segundo, pelas
distâncias que os separam, pois tanto os objetos materiais como os vazios que deixam
têm uma forma.
A dos objetos é dada por sua massa, e a dos espaços, pela forma dos objetos que
os limitam. Assim, há os seguintes tipos de espaço:3

a) Espaço plano: tem duas dimensões (comprimento e largura) e serve para conhecer o
tamanho de coisas como a capa de um livro ou o piso do corredor de um hotel.
b) Espaço volumétrico: tem três dimensões (comprimento, largura e altura) e refere-se à
forma dos corpos com massa, como um livro ou a forma de um vazio, como o corredor
de um hotel.
c) Espaço tempo: reúne as três dimensões anteriores a uma nova, representada pelo
tempo que um observador demora para percorrer um espaço, como o corredor de um
hotel, ou para apreciar um volume, como as pirâmides de Chichén Itzá, no México.

Depois de analisar esses três tipos de espaço, vemos que o espaço físico tem três
dimensões, e só adquire a quarta dimensão no momento que o homem intervém como
observador, o que equivale a dizer que a quarta dimensão é subjetiva.
A existência da quarta dimensão é um dado muito importante se considerar no
planejamento do uso dos atrativos turísticos, porque um estudo minucioso da qualidade

3
Vale a pena lembrar o conceito de espaço dos chineses, que diziam que a forma de um copo está em seu
vazio.
espacial de cada lugar deve servir para traçar os percursos ideais e para calcular os
tempos ótimos e mínimos de cada visita. Esses dados técnicos deverão ilustrar os
folhetos de promoção e servir de base para a programação das excursões e o
treinamento de guias.
Além do espaço econômico (que estudamos no ponto anterior) e do espaço físico
que acabamos de analisar, em planejamento utilizam-se os conceitos de espaço social e
espaço político, que também definiremos para apresentar uma análise completa de todas
as acepções técnicas do termo.
Tanto o espaço social como o político não passam de partes de um território
limitado por entornes que implicam situações teóricas similares; por exemplo, a análise
social representa em mapas as áreas que correspondem a famílias com um grau similar
de alfabetização, de mortalidade infantil ou de qualidade de moradia. Quanto ao espaço
político, nada pode explicá-lo melhor que a divisão do mundo em norte e sul, para
assinalar as duas áreas que abrangem os países que pertencem ao mundo desenvolvido e
ao Terceiro Mundo.
De algum modo, o espaço social e o político compartilham as mesmas
características que o espaço econômico. Ao fazer referência a um tema similar, diz
Mário Bunge:

“Não percebemos os campos elétricos ou as classes sociais; inferimos sua existência a partir de fatos
experimentais, e tais conceitos são significativos apenas em certos contextos teóricos.”4

Definitivamente, a principal diferença entre o espaço físico e todos os demais, é


que estes não são tangíveis.

5. Tipos de espaço

A linguagem do planejamento maneja sete tipos diferentes de espaço físico (real,


potencial, cultural, natural, virgem, artificial e vital). Alguns destes correspondem a
diferentes expressões materiais do espaço físico (cultural, natural, virgem, artificial),
outros são qualificações conceituais próprias do planejamento (real e potencial) e um
deles pertence ao campo da ecologia (vital).

4
BUNGE, Mario. La ciência, su método y su filosofia. Buenos Aires: Siglo XXI, 1972. p.23.
Todos os elementos da fotografia 9 foram dispostos pelo homem, das árvores por ele plantadas às
lavouras, das residências aos artefatos utilizados para arar a terra. Já na foto seguinte, que mostra a
selva equatoriana ainda intocada pelo homem, tudo o que se vê se deve à energia da natureza. Nas
cidades dos países superindustrializados encontram-se os exemplos mais eloquentes do que pode ser um
espaço absolutamente artificial no qual a ecologia e o habitat são humanos. Ambos, como no espaço
vital, são completamente diferentes das condições naturais que determinam a existência de algumas
famílias de macacos e de outros animais selvagens, que em muitas partes da América Latina o
'"progresso" reduz a cada dia.

A seguir, definiremos o mais exatamente possível cada uma das sete tipologias,
para que nos asseguremos de que a compreensão desses conceitos básicos não deixe
lugar a dúvidas.
Espaço real. Refere-se a toda a superfície de nosso planeta e à camada da
biosfera que o envolve, que podem ser percebidas pelo homem por meio dos sentidos. E
real porque é possível comprovarmos sua existência e deslocarmo-nos por ele, e mesmo,
em muitos casos,
modificá-lo.
Espaço potencial. E a possibilidade de destinar o espaço real a algum uso
diferente do atual; portanto, o espaço potencial não existe no presente, sua realidade
pertence à imaginação dos planejadores, quando, depois do diagnóstico, ao passar para a
parte propositiva do plano, estudam-se as possibilidades de uso de um território.
Espaço cultural. E aquela parte da crosta terrestre que, devido à ação do
homem, teve modificada sua fisionomia original. Para destacar que o espaço cultural é
consequência do trabalho do homem, voltado ao acondicionamento do solo a suas
necessidades, também é chamado de espaço adaptado. Conforme o tipo de tarefa que o
homem realiza sobre o espaço cultural ou adaptado, originam-se o espaço natural
adaptado e o espaço artificial.
Espaço natural adaptado. São as partes da crosta terrestre em que predominam
as espécies do reino vegetal, animal e mineral, sob as condições que o homem lhes
estabeleceu. Também é chamado de espaço rural, para assinalar as tarefas produtivas
que ali se realizam:
arar e semear a terra fértil, construir canais de irrigação, cortar os bosques originais,
plantar novas árvores, criar gado ou explorar jazidas minerais. No espaço natural
adaptado (ou rural) as árvores ou os cereais crescem de acordo com as forças da
natureza, mas é o homem quem decide onde devem nascer e quanto tempo vão viver.
Ele determina, ainda, como devem crescer, ao plantá-los segundo um arranjo
geométrico e ao acelerar seu ritmo natural de crescimento mediante fertilizantes ou
mudando, até mesmo, sua forma natural, como no caso das árvores frutíferas que são
podadas para aumentar sua produção.
Espaço artificial. Inclui àquela parte da crostra terrestre em que predomina todo
tipo de artefatos construídos pelo homem. Sendo sua expressão máxima a cidade,
também leva o nome de espaço urbano. Nele, tudo o que existe foi feito pelo homem.
Todas as formas são inventadas por ele, e quando aparece algum elemento natural
(flores, plantas e árvores) sua função é decorar o ambiente artificial em que lhes caberá
crescer fechadas em vasos ou canteiros. Às vezes, o conceito de espaço artificial
confunde-se com o de espaço natural adaptado. Essa confusão origina-se na ignorância
do fato de que mesmo quando em uma plantação a mão do homem intervém, seu
produto - a colheita - é um resultado natural, ou seja, acredita-se que como a plantação é
um fato artificial, as plantas que nascem dela também o são. Para que a colheita fosse
artificial alguém deveria ter fabricado cada planta e cada grão, vamos supor, em matéria
plástica.
Espaço natural virgem. São aquelas áreas, cada vez mais escassas, do espaço
natural sem vestígios da ação do homem.
Espaço vital. Essa forma espacial não se refere ao solo, mas ao homem ou a
qualquer outra espécie do reino Monera, Protista, Vegetal e Animal, e a seu entorno ou
meio favorável que requerem para poder existir.
Para sintetizar o que dissemos, na figura 3.1 são apresentadas as tipologias
espaciais e suas relações.

6. Espaço turístico

O espaço turístico é consequência da presença e distribuição território dos


atrativos turísticos que, não devemos esquecer, são a matéria-prima do turismo. Este
elemento do patrimônio turístico, mais o empreendimento e a infra-estrutura turísticas,
são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país.
Quando os técnicos trabalham na determinação do espaço turístico, o que fazem
é delimitar, em um mapa, uma superfície de dimensões planas, que é a melhor forma de
representar o espaço que interessa aos planejadores físicos.
Como já assinalamos, uma das características físicas dos atrativos turísticos é
que, mesmo quando próximos, só excepcionalmente se tocam; a outra, que
acrescentamos agora, é que até nos países que contam com uma maior densidade de
atrativos nota-se grandes áreas do território que carecem delas, o que acentua sua
descontinuidade.
Visto que o espaço turístico é entrecortado, não se pode recorrer À técnicas de
regionalização para proceder a sua delimitação porque, de acordo com elas, seria
preciso abranger toda a superfície do país ou da região em estudo, e caso isso fosse
feito, grandes superfícies que não são turísticas figurariam como turísticas, cometendo-
se um erro. Isso significa que regiões turísticas não existem. É precisamente para
substituir a idéia de região turística que desenvolvemos a idéia de espaço turístico.

A melhor forma de determinarmos um espaço turístico é recorrermos ao método


empírico, por meio do qual podemos observar a distribuição territorial dos atrativos
turísticos e do empreendimento, a fim de detectarmos os agrupamentos e as
concentrações que saltam à vista. Desse modo, por meio de um procedimento
sistemático e da aplicação das metodologias específicas que indicaremos ao descrever
cada elemento, podemos encontrar todos os componentes do espaço turístico que
assinalamos a seguir, e que foram anotados em escala descendente em relação ao
tamanho de sua superfície:

• Zona • Núcleo
• Área • Conjunto
• Complexo • Corredor
• Centro • Corredor de translado
• Unidade • Corredor de estada.

7. Zona turística

É a maior unidade de análise e estruturação do universo espacial turístico de um


país. Sua superfície é variável, já que depende da extensão total de cada território
nacional e da forma de distribuição dos atrativos turísticos, que são os elementos
básicos a levar-se em conta em sua delimitação. Sua dimensão mínima é imediatamente
maior que a máxima alcançada por um complexo turístico.
Para que exista, uma zona turística deve contar com um número mínimo de dez
atrativos turísticos suficientemente próximos, sem importar a que tipo e a que categoria
pertençam. Depois de ter representado em um mapa a localização exata de cada atrativo,
o grau de proximidade é determinado visualmente, aplicando-se, em sua leitura, a lei da
contigüidade. Tal lei consiste em utilizar a capacidade de síntese do mecanismo da visão
como veículo para reconhecer, em cada caso, as formas naturais de agrupamento que os
símbolos assinalados podem adotar.
Como indicado na figura 3.2, as formas de associação dependem do tamanho do
contexto. No caso A, supõe-se que o quadrado da esquerda representa um país cujos
atrativos turísticos originam as três zonas desenhadas no quadrado da direita. No mesmo
exemplo, pode-se notar que no ângulo superior direito ficaram dois atrativos sem
delimitação. Na realidade, isso ocorre continuamente, motivo pelo qual, sem maiores
preocupações, o que se deve fazer é não levá-los em conta nessa primeira escala
analítica, anotando-os como atrativos isolados.
Para demonstrar que as formas de agrupamento, quanto a seu tamanho,
quantidade de elementos que contêm e o módulo de distância empregado para
estabelecer-se a contiguidade, dependem do contexto, desenhou-se o caso B. Na figura,
nota-se: a) que o "país" representado é quatro vezes maior que o do caso A; b) que as
distâncias que separam os atrativos compreendidos nas zonas l e 4 são maiores que as
do caso A; e c) que a configuração dos atrativos da zona 5 é idêntica às das zonas 2 e 3
do caso A, mas com a diferença de que, nessa ocasião, com o aumento do tamanho do
contexto, vêem-se associadas em um único grupo. O equivalente desse exemplo, para o
caso A, poderia ser Honduras, que tem 112.088 km2, e para o B, o Brasil, cuja
superfície é de 8. 513. 444 km2.
Além dos atrativos turísticos, para funcionar adequadamente uma zona turística
deve contar, em seu território, com equipamentos, serviços turísticos e dois ou mais
centros turísticos, e estar provida de uma infra-estrutura de transportes e comunicações,
que relacione entre si os dois principais elementos que a integram e com outras zonas e
elementos do espaço turístico. Se carece parcial ou totalmente desses últimos requisitos,
ela deve ser qualificada como zona potencial.
A figura 3.3 mostra uma ampliação da zona 5 do caso B da figura anterior, sob a
hipótese de que o empreendimento turístico se distribui em dois centros turísticos (C.T.l
e C.T.2) e que todos os atrativos estão unidos por uma rede de estradas. Se, ao contrário,
alguns deles tivessem ficado incomunicados, e depois de realizado o balanço ficasse
comprovado que o empreendimento turístico é insuficiente, o diagnóstico deveria
qualificar essa zona como parcialmente potencial, indicando que partes precisam
desenvolver-se para que o conjunto funcione harmoniosamente.

Uma vez delimitadas as zonas turísticas, deve-se analisar que papel desempenha
cada uma delas em relação ao total do espaço turístico, o que se faz hierarquizando-as
de acordo com o número, a qualidade e a diversidade de seus atrativos.
8. Área turística

São as partes em que se pode dividir uma zona e, portanto, sua superfície é
menor que a do todo que as contém; no entanto, como as zonas podem chegar a ter
tamanhos diferentes, é possível que uma área da zona maior resulte maior que outra
zona menor.
As áreas turísticas devem estar dotadas de atrativos turísticos contíguos, em
número também menor que os da zona, e necessitam, da mesma forma, de uma infra-
estrutura de transporte e comunicação que relacione entre si todos os elementos
turísticos que a integram. Para que possam funcionar como um subsistema, requerem a
presença mínima de um centro turístico, e se sua infra-estrutura e recursos de
equipamentos e serviços são insuficientes, devem ser registradas como potenciais.
Ao proceder à análise das zonas para comprovar a possibilidade de subdividi-las
em áreas, é preciso começar pela análise da forma total, procurando estrangulamentos
que possam marcar uma separação natural. Encontrando-os, os atrativos que ficaram em
cada parte devem ser contados, porque uma área tampouco pode conter menos de dez
atrativos.
Ao subdividir uma zona em áreas, passa-se a um segundo nível analítico que
permite um ajuste em seus limites, Na figura 3.4, pode-se ver os resultados desses
ajustes que mantêm a unidade da zona 5, depois de tê-la dividido em duas áreas que
ficaram conectadas por meio de um corredor interno.
Como toda área deve conter um mínimo de dez atrativos, esse requisito
demanda, para que uma zona possa ser subdividida em áreas, a existência de vinte ou
mais atrativos.

9. Centro turístico

E todo conglomerado urbano que conta em seu próprio território ou dentro de


seu raio de influência com atrativos turísticos de tipo e hierarquia suficientes para
motivar uma viagem turística. A fim de permitir uma viagem de ida e volta no mesmo
dia, o raio de influência foi calculado em duas horas de distância-tempo. Essa relação é
uma medida que estabelece a extensão do caminho que, nessa unidade de tempo, um
ônibus de transporte turístico pode percorrer. Portanto, tal distância é variável, já que o
número de quilômetro que pode ser percorrido depende da topografia do terreno, do tipo
de caminho (auto-estrada, asfalto, macadame ou terra) e de seu estado.

O limite de duas horas é aproximado e serve de ajuda prática para se calcular a


magnitude do território turístico que se pode abranger a partir de um centro
determinado. É necessário flexibilidade em sua aplicação, pois o caso é de estabelecer-
se um critério e não uma medida exata; portanto, é muito razoável incluir atrativos de
certa importância que estejam localizados a poucos minutos mais além dos limites
estabelecidos.
Se consideramos que a velocidade média de um ônibus que se desloca por uma
auto-estrada é de 60km/h, o raio máximo abrange aproximadamente 120km, e o mínimo
em torno de 60km (calculados para uma velocidade de 30km/h em um caminho de terra,
em mau estado e que atravessa um terreno montanhoso). Ao escolher como meio de
transporte o ônibus ou peruas Kombi, trabalha-se para um tipo de turista médio que é
aquele que contrata os serviços de excursão nas agências turísticas. Isso não impede que
o turista que viaja pela estrada, de automóvel próprio ou alugado no local, possa fazer
esses percursos por conta própria. Nesses casos, a distância tempo máxima pode chegar
a 200km e a mínima subir a 100km. Isso não quer dizer que, para fixar a distância
máxima em 200km, tenha-se partido de uma velocidade média exagerada, e sim que se
levou em conta que, quando não se viaja em um "tour organizado", os horários são mais
flexíveis e ganha-se o tempo que nesse tipo de excursões é utilizado na mobilização de
passageiros e em escalas, obrigatórias. Essa circunstância faz com que, nos casos em
que um atrativo turístico valha a pena, chegue-se a percorrer em um único dia até
400km (ida e volta) para visitá-lo, sempre que se circule por uma auto-estrada.
A figura 3.5 mostra graficamente um caso imaginário, concebido para sintetizar
em um só exemplo a maior parte das situações possíveis. Os dois círculos traçados com
linhas pontilhadas indicam a dimensão máxima que poderiam alcançar idealmente os
deslocamentos em ônibus ou automóvel. Esses limites são ideais, porque supõem que
todos os caminhos da rede viária, independentemente do relevo topográfico e do
montante de investimento que isso implica, irão corrigir seu traçado para se transformar
em autopistas retas, similares à desenhada na parte inferior da figura comentada, o que,
na realidade, é impossível.
No entanto, começar a analisar uma situação real traçando-se tais raios ideais é
útil, em primeiro lugar, para obter-se uma primeira visualização do espaço teórico que
pode abranger todos os centros que integram um sistema. E, em segundo lugar, para que
se confira se esse campo teórico abrange áreas (como a que corresponde à parte inferior
do desenho) que contenham atrativos não explorados por carecer de meios de acesso,
mas que eventualmente poderiam ser integrados, se fossem construídos caminhos; ou se
fossem melhoradas algumas das estradas atuais, seja pavimentando-as, ou corrigindo
algumas curvas, seja estendendo os trechos de alta velocidade às pavimentadas.
Tendo-se estabelecido previamente as distâncias máximas dentro das quais se
encontram os locais que possuem interesse turístico, passa-se a contar com um dado
técnico que permite enquadrar as ações da superestrutura turística local, encarregada de
regular as operações de cada centro turístico.
As superfícies incluídas no raio de influência real dos ônibus e dos automóveis
assinalam a situação vigente no momento de realizar o estudo. Naturalmente, supõe-se
que, dentro dos limites fixados pelos raios de influência teóricos, qualquer estrada pode
estender seu alcance se, como foi dito, seu estado for melhorado ou seu traçado
modernizado. Com base nisso, pode-se acrescentar que outra das particularidades dos
centros turísticos é que, dentro/dos limites máximos estabelecidos, seu raio de
influência é flexível.
Se compararmos a teoria do funcionamento dos centros turísticos, exposta até o
momento, com a teoria do desenvolvimento regional, veremos que os centros se
assemelham aos pólos do desenvolvimento, mas com a particularidade de que o raio de
influência de um centro turístico envolve uma situação diferente, porque esse setor só
é capaz de gerar desenvolvimento dentro do espaço abrangido pelos atrativos dispersos
em seu entorno, com a condição de que seu empreendimento turístico conte com os
seguintes serviços!5

5
Na análise econômica especializada, um pólo regional indica a concentração, em certos pontos do
território, da população e da produção de bens e sérvios, concentração que se vê favorecida pela
influência das comunicações e dos transportes. Todos esses pontos formam um sistema mediante o qual
fluem as relações econômicas, mas não de maneira uniforme. Alguns pólos impõem sua importância a
uma maior parte do espaço e subordinam, de fato, o funcionamento dos secundários, que, por sua vez,
dominam partes menores do território.
• Hospedagem.
• Alimentação
• Entretenimento
• Agências de viagens de ação local
• Informação turística sobre as instalações e atrativos locais
• Comércios turísticos
• Postos telefônicos, correios, telégrafos e telex
• Sistema de transporte interno organizado, que conecte o centro aos atrativos turísticos
compreendidos em sua área de influência
• Conexões com os sistemas de transporte externo em âmbito internacional, nacional,
regional ou local, de acordo com a hierarquia do centro.

Pode ser que o conglomerado urbano onde se assenta um centro turístico viva
exclusivamente dessa atividade, como ocorre nas aldeias de montanha que funcionam
com base nos esportes de inverno; ou que em tal conglomerado urbano o turismo seja
uma atividade a mais. Neste último caso (que estudaremos mais detalhadamente no
capítulo 8, que trata do espaço urbano) só uma parte do conglomerado urbano é
turística, como ocorre nas grandes capitais do mundo.
Com base em observações e dados estatísticos levantados em centros onde a
única atividade é o turismo, comprovou-se que existe uma relação entre a população
turística simultânea média e a população permanente, e que essa relação varia de seis
habitantes permanentes por turista (6 a 1) a um habitante permanente para cada sete
turistas (l a 7).6

Apesar da grande diferença que separa um extremo do outro, em ambos os tipos


de centros o ambiente urbano (sem considerar sua qualidade) é puramente turístico. Em
Cancún há seis habitantes permanentes por turista, porque os sistemas de hospedagem,
em sua maioria, são hotéis de cinco estrelas que geram cerca de um emprego direto por
quarto. Se aos empregados diretos se acrescentam os indiretos e suas famílias, a
população permanente chega à relação mencionada. Em compensação, em San

6
As observações a que se faz menção baseiam-se em dados estatísticos recolhidos pelo FONATUR
(Fondo Nacional de Fomento al Turismo) em Cancun, México, e pela Subsecretaria de Turismo de
Argentina, em San Bernado. A população turística foi calculada em 80% da capacidade do
empreendimento instalado.
Bernardo, quase a totalidade do alojamento são apartamentos e casas cujo rendimento
em empregos diretos é baixíssimo, o que determina que haja pouca população
permanente e; conseqüentemente, que a relação seja de l para 7.7
Quando um centro turístico, como Acapulco ou Mar del Plata, cumpre, além
disso, o papel de pólo de desenvolvimento regional, a relação entre sua população
permanente e a turística supera amplamente a relação mais alta medida em Cancún (6
por 1). Isso indica que, apesar de ser a atividade motriz, o turismo deve coexistir com
outras; isso se traduz fisicamente na existência de dois tipos de cidades e, portanto, de
duas formas diferentes de vida em um mesmo âmbito urbano. Quando essa duplicidade
não se resolve mediante a aplicação de planos urbanos racionais, as atividades se
superpõem e interferem uma na outra, resultando em grave prejuízo para o turismo,
porque o ambiente urbano corre o perigo de perder o caráter que deve ter todo centro
turístico, caso se queira que funcione adequadamente.

10. Tipologia dos centros turísticos

De acordo com a função que desempenham como praças receptoras de turistas,


os centros turísticos podem ser de quatro tipos:

• Centros turísticos de distribuição.


• Centros turísticos de estada.
• Centros turísticos de escala.
• Centros turísticos de excursão.

Os centros turísticos de distribuição são os que já detalhamos. Têm esse nome


porque, do conglomerado urbano que lhes serve de base, os turistas visitam os atrativos
incluídos em seu raio de influência e retornam para dormir. Nesse caso, a totalidade do
equipamento de hospedagem deve se localizar na cidade, mas parte dos equipamentos
de alimentação, comércios turísticos, serviço de guias, bem como certas instalações

7
Um apart-hotel funciona com 0.12 empregados por quarto ou com 0.17, caso sejam considerados os
serviços de cafeteria, vigilância de praias e loja self-service. Uma urbanização de casas individuais
produz 0.033 empregados por quarto, e um albergue, de 0.2 a 0.4 trabalhadores para cada par de camas.
BOULLÓN, Roberto C. Características de los sevicios de alojamento turístico em México y su
contribuición a la generación de empleos. [S.I.]: Politur, 1982. p 22, 24 e 26.
específicas, como estacionamentos, trilhas, mirantes e serviços sanitários, devem estar
situados nos atrativos turísticos.
Mais comuns que os centros de distribuição são os centros de estada. Em centros
dessa natureza o turismo começou a se desenvolver por meio da exploração de um único
atrativo, como ocorre com as praias ou com as estações de inverno especializadas na
prática de esqui na neve. A característica fundamental que os distingue dos centros
turísticos de distribuição é o tempo de estada. Nos centros turísticos de distribuição, os
turistas permanecem de um a três dias no máximo, porque a finalidade da viagem é
conhecer a maior parte dos atrativos que são gerenciados desde aqueles centros. Esses
atrativos podem ser de qualquer uma das cinco categorias em que foram classificados;
mas, independentemente disso, mesmo nas mais importantes, o tempo de visita é curto,
e só em casos excepcionais se prolonga por mais alguns dias. Já nos centros de estada,
os turistas voltam todos os dias ao mesmo atrativo para praticar seu esporte ou suas
atividades preferidas.
A diferença assinalada deve ser considerada para ajustar-se o desenho do
empreendimento turístico às necessidades do consumidor, necessidades que são
diferentes em um e outro caso. Assim, os centros de estada necessitam de um
equipamento de entretenimento muito mais diversificado, para oferecer alternativas
diferentes durante todo o tempo da permanência, principalmente durante as tardes e as
noites.
Dado ser comum que uma porcentagem da demanda correspondam as pessoas
que voltam todos os anos, tanto o equipamento comercial como o de alimentação e de
entretenimento devem ser desenhados e programados de modo flexível, considerando
que, depois de certo tempo, para conservar sua clientela tradicional, deverão redecorar
suas instalações, atualizar a mercadoria que vendem, mudar o programa de espetáculos
e revisar, em geral, o serviço que prestam. Outros serviços, como as agências de viagens
de ação local, serão maiores nos centros de distribuição que nos de estada, porque nestes
últimos são quase desnecessários, a não ser que em seu raio de influência conte-se com
atrativos que valham a pena implementar como uma atração a mais.
Para completar as quatro tipologias em que dividimos os centros turísticos,
devemos mencionar os centros de escala, que não perdem a importância, apesar de não
serem tão comuns como os anteriores. Os centros de escala coincidem com as conexões
das redes de transporte e com as etapas intermediárias dos percursos de longa distância
entre uma praça de mercado emissor e outra de mercado receptor, do próprio país ou do
exterior.
As conexões de transporte podem ser locais de mudança do sistema de
transporte terrestre aéreo e vice-versa, bem como de uma linha aérea a outra. Esse é o
caso de cidades como Atlanta ou Dallas, nos Estados Unidos.
O último tipo corresponde aos centros de excursão, que são os que recebem, por
menos de 24 horas, turistas procedentes de outros centros.
Dificilmente a estada em um centro de escala se prolonga por mais de uma noite,
sobretudo nos centros de escala situados nas estradas. Também é comum que nesses
lugares o turista pare para comer, abastecer o tanque ou fazer algum conserto rápido em
seu automóvel
sem chegar a pernoitar.
Na lista de condições técnicas que um centro turístico deve satisfazer, os
atrativos ocupam um posto muito importante, tanto que podemos dizer que constituem a
razão de ser dos centros; no entanto essa condição só é imprescindível para os centros
de estada, de excursão e de distribuição. De fato, a maior parte dos centros de escala
carecem de atrativos, porque sua função é servir os passageiros em uma etapa
intermediária da viagem. Quanto ao equipamento, este se reduz aos tipos
correspondentes a hotéis, motéis e trailer-parks da categoria hospedagem, a todos os
tipos da categoria alimentação e a alguns da categoria entretenimento, especialmente
bares, comércios de miudezas e souvenirs.
Nem todos os centros turísticos de um mesmo tipo têm a mesma hierarquia. Em
geral, no início o conglomerado urbano adquire a hierarquia do atrativo de base, mas
adiante, quando chega à maturidade, a qualidade do equipamento pode colaborar para o
aumento do prestígio do conglomerado; por exemplo, quando forem mencionadas praias
como as de Barra de Navidad, no México, o que vale é a praia e a paisagem da lagoa
que se encontra atrás da faixa de areia,
mas em Mar dei Plata ou Viria dei Mar, cujas águas são muito frias, a maior parte de
sua fama atual se deve ao equipamento (basicamente da categoria entretenimento) com
que foram supridos.
11. Complexo turístico

Depois de observar a distribuição espacial dos atrativos, vemos que em alguns


países aparecem agrupamentos maiores (ou iguais, mas de maior hierarquia) que os dos
centros e menores que os de uma zona. São conformações pouco frequentes, pois
dependem da existência de um ou mais atrativos da mais alta hierarquia, cuja visitação,
associada à de outros que os complementam, supõe uma permanência igual ou superior
a três dias.
O tipo de atrativo referido não deve ser do mesmo tipo que os que servem de
base aos centros de estada (nos quais a permanência média dos turistas é superior a três
dias), mas deve pertencer a tipologia própria dos centros de distribuição (lagos,
montanhas, sítios históricos, ruínas, sítios arqueológicos etc.). Um complexo turístico
chega a ser uma derivação dos centros turísticos de distribuirão quando alcançam uma
ordem superior.
Para que um complexo turístico funcione adequadamente requer-se a presença
mínima de um centro turístico de distribuição, que deve cumprir com todos os requisitos
assinalados em sua definição. Indica-se um centro como a quantidade mínima
necessária, porque, na realidade, ocorrem casos (como o do complexo internacional das
Cataratas do Iguaçu) que contêm até três centros turísticos muito próximos entre si,
funcionando coordenadamente. Tal coordenação se manifesta por meio das excursões
ou visitas que incluem o pernoite em um ou dois deles e pelo menos uma visita ao
restante, quando não pernoites em cada um deles.
Em relação ao raio de influência de um complexo, quando este depende de um
único centro turístico, é preciso traçá-lo com as mesmas técnicas já explicadas. Por
outro lado, se é estruturado com base em dois ou mais centros, o raio de influência
calcula-se traçando-se separadamente o de cada centro e somando-se as áreas
resultantes. Como se pode ver na figura 3.6 - em que, para simplificar a leitura, mostra-
se apenas o raio de influência real e o teórico para os deslocamentos em ônibus - há
partes comuns a ambos os centros. Quando essa situação se apresenta, sua consequência
sobre o funcionamento do complexo não constitui problema; ao contrário, seu efeito é
favorável porque os atrativos contidos na área comum podem funcionar de qualquer um
dos dois centros.
Outra situação que pode ocorrer é quando a distância que separa ambos os
centros for inferior a 120 km; nesse caso, cada centro ficaria compreendido no raio de
influência do outro e funcionaria, além disso, como centro de excursão. A operação de
situações como essa é favorecida pela fluidez interna que adquirem as comunicações do
sistema. Sua contrapartida é o problema de competição originado pela proximidade de
dois assentamentos humanos especializados nas mesmas atividades, caso se abandone
seu desenvolvimento a suas próprias energias. A solução está em planejar ambos como
uma unidade que deve basear seu progresso na complementaridade dos serviços
mediante o assessoramento e controle da iniciativa privada, desestimulando, assim,
investimentos que provoquem o super dimensionamento de alguns aspectos do
equipamento, enquanto, ao mesmo tempo, o sistema talvez sofra a falta de outros.
12. Unidade turística

Na realidade, existo uma forma muito especial de assentamento turístico que


denominamos unidade turística. Com isso se dá nome próprio às concentrações
menores de equipamentos que se produzem para explorar intensivamente um ou vários
atrativos situados um junto do outro, ou, o que é mais exato, um dentro do outro, como
é o caso de uma fonte de águas termais rodeada por uma floresta tropical
habitada por aves de aspecto chamativo.
As atividades desenvolvidas para explorar turisticamente as águas termais são
escassas, bem como as correspondentes às áreas de pesca. Em ambos os exemplos, e em
alguns outros similares, a afluência de visitantes pertence à categoria de turismo
seletivo, isso, unido à pouca capacidade de sustentação dos atrativos turísticos, faz com
que a afluência simultânea seja relativamente reduzida.
Se um número não muito alto de turistas associa-se ao fato de que sua
permanência centra-se em uma única atividade (tomar banhos de água termal, pescar,
caçar, observar a natureza etc.), o resultado são recursos que não reúnem as condições
que se exigem dos centros, mas que, como estes (especialmente os de estada), abrigam
turistas durante permanências mais ou menos prolongadas (de uma a duas semanas).
Não são centros, tampouco hotéis isolados, nem resorts.8 Menos que nos
primeiros e mais que nos segundos, o equipamento das unidades turísticas, em geral,
consta de hospedagem e alimentação, complementando por alguns serviços de
entretenimento situados dentro dos próprios hotéis, e por algumas poucas instalações
que não passam de piscinas e de alguns campos de tênis com muito pouco uso, mais
comércios e cassinos, elemento complementar que ativa, por exemplo, a vida das
unidades de águas termais naqueles países em que esse tipo de jogo é permitido. Outras
vezes (por exemplo, nas unidades situadas em parques nacionais), o equipamento se
reduz a hospedagem, cafés, supermercados para o abastecimento dos excursionistas e
centrais de informação.
Em geral, as unidades turísticas têm o aspecto de pequenas aldeias, o que ao lado
do fato de que os serviços são explorados por diferentes proprietários, dá a elas uma
aparência bastante diferente daquela dos resorts, cujo desenho costuma ostentar o
8
Um resort é um hotel que às vezes se combina com residências unifamiliares ou apartamentos, como La
Romana, em Santo Domingo, e que pertence a um só dono ou empresa. Sempre são implementados em
terrenos muito amplos, os quais se constroem instalações para maior quantidade possível de esportes.
Poder-se-ia interpretar que um resort é um clube com hospedagem.
equipamento entre o espaço verde das áreas esportivas. Outra característica é que quase
não contam com população permanente, porque a maior parte dos que aí trabalham
moram em povoações próximas.
É preciso acrescentar um novo tipo de unidade a todas essas possibilidades
mencionadas. Esse novo tipo começou a ser explorado na década de 1970, no Arizona,
sob a denominação local de parques aquáticos. Seu princípio é inventar um atrativo
onde antes só existia o deserto, e para isso se constroem piscinas com ondas artificiais,
tobogãs de deslizamento para cair nas piscinas, brincadeiras infantis com bicos de
mangueiras e as tradicionais piscinas, que se complementam com cafés, lojas para a
venda de artigos esportivos, espaços para trailer partas e motéis que cercam as
instalações mencionadas.

13. Núcleos turísticos

Referem-se a todos os agrupamentos com menos de dez atrativos turísticos de


qualquer hierarquia e categoria, que estão isolados no território e, portanto, têm um
funcionamento turístico rudimentar ou carecem completamente dele, devido,
precisamente, a seu grau de incomunicação. A quantidade de atrativos pode oscilar entre
dois e nove, porque os agrupamentos isolados maiores do que esse número devem ser
classificados como zonas potenciais.

14. Conjunto turístico

A situação de todo núcleo é transitória, porque desde o momento em que, devido


à construção de um novo caminho, conecta-se à rede de estradas, muda sua situação
espacial e transforma-se em um novo elemento do espaço turístico, a que chamaremos
conjunto.
Depois de relacionar-se com o resto do sistema, os antigos núcleos devem
consolidar seu funcionamento como conjuntos mediante a construção de um
empreendimento turístico que esteja de acordo com a natureza e a hierarquia de seus
atrativos. Habitualmente o empreendimento turístico situa-se em cada um deles, e deve
começar resolvendo os serviços básicos, tais como estacionamento, informação, guias,
saneamento, alimentação, venda de artesanato, curiosidades e miudezas, e, se a
importância de algum atrativo o justificar, hospedagem. E assim que, ao evoluir, podem
transformar-se em unidades ou centros.

15. Corredores turísticos

São as vias de conexão entre as zonas, as áreas, os complexos, os centros, os


conjuntos, os atrativos turísticos, os portos de entrada do turismo receptivo e as praças
emissoras do turismo interno, que funcionam como elemento estruturador do espaço
turístico. Conforme sua função, podem ser:

• Corredores turísticos de translado.


• Corredores turísticos de estada.

16. Corredores turísticos de translado

Constituem a rede de estradas e caminhos de um país por meio dos quais se


deslocam os fluxos turísticos para completar seus itinerários. Não é qualquer estrada
que pode desempenhar-se satisfatoriamente como corredor turístico, ainda que na
América Latina sejam raras as possibilidades de escolha, porque não é frequente que
exista mais de uma estrada para ir de um lugar a outro. Quando isso é viável, deve-se
selecionar as estradas que passam pelas melhores paisagens e, se possível, que contam
com maior distribuição linear de atrativos ao longo do percurso. Não importa que o
caminho a ser percorrido através de um corredor turístico seja mais longo do que se
fosse utilizada, por exemplo, uma auto-estrada carente de qualidades paisagísticas,
porque supõe-se que o maior tempo de viagem é amplamente compensado pela
possibilidade de desfrutar do trajeto conhecendo novas paisagens.
Como nos centros e complexos, os corredores turísticos estendem seu campo de
ação para além de sua própria superfície, e como a dimensão física de um corredor é
longitudinal, o cálculo de seu raio de ação realiza-se mediante um procedimento
diverso, que consta de duas partes:

• Cálculo da faixa de proteção visual.


• Cálculo do desvio para os atrativos.
A finalidade da faixa de proteção visual é defender, dentro das possibilidades, os
primeiros planos da cena paisagística que acompanha o caminho.
Dependendo da topografia e do tipo de paisagem que se atravessa, a largura
dessa faixa adquire três dimensões:

• De 5 a 10 m.
• De 50 a 100 m.
• Até 500 m.

O raio de influência para a faixa de 5 a 10 m é definido pela situação


morfológica que se apresenta quando um caminho passa por uma zona montanhosa,
abrindo caminho em canal por paredes rochosas que ficam muito perto da via de
rodagem. Nesse caso, a proteção visual deve proibir todo tipo de escrita ou fixação de
cartazes que afetem o aspecto natural das paredes.
A faixa de 50 a 100 m deve-se aplicar nas paragens arborizadas exploradas
comercialmente, a fim de manter a aparência da paisagem original em toda a extensão
dos corredores turísticos que por elo passam. Se o lugar é uma mata tropical ou
subtropical, 50 m são suficientes, porque a densidade do sub-bosque é tal, que forma
uma barreira espessa o bastante para não deixar passar a linha visual além desse limite.
Em outro tipo de plantações, como nos bosques de pinheiros, a faixa de proteção visual
tem de ser ampliada até 100 m, aproximadamente, já que esse tipo de vegetação é
menos densa.
Se o terreno é plano e a paisagem não tem árvores, ou se tem, mas estas crescem
isoladamente, da estrada os campos visuais praticamente prolongam-se até o horizonte,
sendo impraticável a criação de barreiras visuais. Nesses casos, a faixa de 500m tenta
dispor que o tipo das construções ou dos artefatos situados dentro dela preservem um
mínimo de equilíbrio estético com a paisagem. Essas medidas de defesa contra a
poluição visual devem começar evitando que se fixem cartazes de propaganda,
chegando mesmo a impedir que se instalem fábricas, cemitérios de automóveis ou
explorações agropecuárias (como a criação de porcos) dentro dos primeiros 500 m, a
não ser que sejam cercadas de arbustos e árvores que da estrada ocultem seu aspecto.
Os ordenamentos anteriores são os instrumentos técnicos ao alcance do setor
para defender a qualidade de seu espaço, mas nenhuma dessas medidas tem
possibilidade de prosperar se a superestrutura não consegue reformar as normas sobre o
uso do solo mediante uma regulamentação especial, que atue restringindo o domínio da
propriedade privada sobre a terra compreendida no raio de influência dos corredores
turísticos.
Para completar a faixa de proteção visual dos corredores de translado, deve-se
analisar seu percurso, com o objetivo de ampliar seu raio de influência, de tal modo que
abranja os atrativos turísticos
Minados em uma distância-tempo igual a aproximadamente dez minutos, o que
equivale a cerca de 14 km se o caminho for reto, plano e pavimentado, e a não mais que
2 ,ou 3 km se for montanhoso e de terra.
A figura 3.7 mostra dois exemplos de um corredor turístico que une os pontos A
e B. Em ambos os casos, adotou-se a convenção de que o terreno é plano e, portanto,
cabe aplicar p raio de influência de 500 m. O primeiro exemplo refere-se ao caso mais
comum, o de um atrativo cuja visita requer que a ida e a volta se façam pelo mesmo
caminho, o que implica uma demora não superior a 45 minutos, e que desse tempo, 20
minutos sejam gastos na viagem e o restante em visitação ao lugar. O segundo exemplo
indica uma situação muito mais favorável, mas infelizmente menos frequente, que
ocorre quando dois atrativos incluídos no raio de influência estão relativamente perto
um do outro e conectados por um caminho. A vantagem com relação à outra alternativa
é que o desvio pode ser tomado de qualquer um dos sentidos do transito, porque é
possível voltar à estrada principal sem que se tenha de refazer o caminho.
Uma parte muito importante do equipamento turístico, por sua função estratégica
para o desenvolvimento do turismo por estrada, deve situar-se nos corredores de
translado. Esse equipamento consiste fundamentalmente em postos de gasolina,
borracharias, serviços de mecânica rápida para os automóveis, sanitários limpos e em
bom estado para os turistas, bem como hotéis e locais para refeições e compras de
artesanato ou produtos regionais. Nos lugares escolhidos para as paradas intermediárias
dos ônibus, os restaurantes destinados a esse fim devem possuir estacionamentos bem
dimensionados e serviços capazes de atender rapidamente os grupos de pessoas que os
ocupam simultaneamente.
Todos os edifícios em que os equipamentos de estrada se encontrem instalados e
localizados em seu espaço turístico devem, necessariamente, estar situados a pouca
distância da estrada, para facilitar o acesso dos automóveis e ônibus que circulam por
ela. Daí que sua presença seja muito importante, não só pela facilidade com que podem
ser vistos, mas também porque o viajante pára nesses locais, consumindo os serviços
oferecidos. Na América Latina, no entanto, as autoridades de turismo (por não levá-los
em conta), as viárias (porque lhes interessa) e as municipais (porque está fora de sua
alçada), se ocupam em fiscalizar o que será construído, muito menos em o que se fará e
qual será a qualidade dos serviços que irão ser prestados. Salvo raras exceções, o
proprietário da terra que limita com caminhos, estradas e auto-estradas pode fazer o que
bem entender dentro de seu terreno, sem que autoridade alguma intervenha.
O problema do abandono do espaço que circunda as estradas é mais uma das
expressões do subdesenvolvimento e da pobreza que predominam em nossos países. Tal
problema não encontrará uma solução integral até que, algum dia, a presente situação
socioeconômica melhore. Mas esse problema, que pode passar despercebido para outros
setores que devem atuar em busca, às vezes sem esperança, da solução de outros
maiores, não pode ser desconhecido nem esquecido pelas autoridades responsáveis pelo
turismo. Elas, e não outras, são as responsáveis pela evolução ou pela deterioração do
espaço turístico em todas as suas expressões. Elas devem assumir que seu campo de
ação não se esgota nos grandes centros turísticos, e devem compreender que não se
pode falar em turismo por estradas sem dotar as mesmas de um equipamento que
cumpra com os mesmos padrões de higiene e comodidade que requer um viajante
comum, seja rico ou pobre.
A ideia do corredor turístico pode ser compreendida agora em seu significado
estratégico para o desenvolvimento do turismo, porque implica a seleção de algumas
estradas, entre as que formam a rede de todo o país, para submetê-las a regulamentos
especiais. Mas sua viabilidade requer que a superestrutura turística assuma a liderança
desses programas e obtenha recursos orçamentários para que os órgãos especializados,
necessários para pôr em prática medidas dessa natureza, possam funcionar.

17. Corredores turísticos de estada

Este elemento, com que se finaliza a lista dos componentes da teoria do espaço
turístico, desempenha uma função combinada de centro com corredor turístico. Com
efeito, os corredores turísticos de estada são superfícies alongadas, em geral paralelas às
costas de mares, rios ou lagos, que têm uma largura que não supera, em suas partes mais
extensas, os 5km. A largura é indeterminada porque depende da longitude das praias,
das costas, dos lagos ou da margem dos rios que têm interesse turístico.
O que distingue um corredor de estada de um de translado é: primeiro, a forma
de disposição dos atrativos; segundo, a forma do assentamento do empreendimento
turístico e, terceiro (decorrente das anteriores), sua função.
E, também neste caso, o atrativo determina a estrutura física do corredor de
estada. Em vez de situar-se em um ponto equidistante de um conjunto de atrativos
(como se explicou ao descrever as características dos centros turísticos de distribuição)
ou de concentrar o equipamento em uma única praia ou um bosque (como ocorre com
os centros turisticos.de estada), a localização do empreendimento turístico nos
corredores de estada pode adotar três formas diversas, a saber:

• Cidade linear.
• Distribuição linear de hospedagem.
• Concentrações escalonadas.

A cidade linear é o modo mais acertado de urbanizar uma atrativo longitudinal,


porque assim se consegue um acesso frontal às áreas de interesse turístico a partir de
muitos pontos, e uma distribuição mais racional dos usuários. Sua profundidade pode
variar de um mínimo de 200 m, que é a ideal, pois equivale a não mais que duas ruas,
até um máximo de 500 m. Atrás podem situar-se as áreas para a população permanente.
A distribuição linear dos alojamentos é uma forma de exploração primária dos
corredores de estada, que consiste em uma faixa de não mais de 100 m entre o caminho
e a costa, onde diferentes proprietários constróem hotéis, motéis, pousadas, campings
etc. Em geral,
são prolongamentos de localizações maiores que atuam como centros turísticos, como
ocorre na região de Araucania, no Chile, entre os centros turísticos de Villarrica e
Pucón, situados sobre o lago Villarrica.
As concentrações escalonadas respondem a atrativos que ficam a curta distância
entre si. Essa particular disposição acontece com maior frequência nas costas, quando
uma série de praias se sucedem formando arcos separados por paredes de pedras que
culminam seus extremos e interrompem sua continuidade. Outra situação ocorre nas
zonas de montanha de interesse paisagístico, nos lagos e nos rios ricos em pesca
esportiva, que contam com pequenos centros turísticos, que desembocam nos lugares
onde a paisagem alcança seu maior valor e os rios sua máxima atividade de pesca.
Em outra grande quantidade de casos, que respondem às formas espontâneas de
desenvolvimento turístico, embora o atrativo se estenda de forma contínua ao longo de
muitos quilômetros, os assentamentos turísticos se escalonam para aproveitar antigas
vilas de pescadores que lentamente se transformaram em lugares de atração turística e
adiante, viram-se complementadas por outros assentamentos menores, que se
originaram no mesmo processo ou nos loteamentos destinados ao mercado turístico de
investidores e famílias que preferiam construir suas casas de férias em locais menos
saturados.
Tanto a distribuição linear do alojamento como as concentrações isoladas são
formas de desenvolvimento que podem evoluir até se transformar em uma cidade linear
que, como já dissemos, é o modo mais aconselhável de planejar um corredor de estada.
No entanto, no caso das concentrações isoladas, antes de fomentar sua fusão, é preciso
conferir se efetivamente irá melhorar o funcionamento urbano, sem que implique a
perda de identidade de seus lugares típicos. Tampouco é bom que as cidades lineares se
estendam demais. É melhor que haja várias, cada uma em escala humana, separada da
seguinte por uma área verde não humanizada, que atue como uma espécie de cinturão
ecológico.
18. Relações entre os elementos do espaço turístico

Ao comparar entre si os elementos que integram a teoria do espaço turístico e


em virtude de suas características físicas, quanto ao tipo de superfície que abrangem e
às formas gerais que adotam, pode-se agrupá-los nas três seguintes categorias:

• Que abrangem superfícies relativamente grandes

• Zonas
• Áreas
• Complexos
• Núcleos
• Conjuntos
• Centros de distribuição

• Pontuais, que abrangem superfícies relativamente pequenas

• Centros de escala
• Centros de estada
• Unidades

• Longitudinais Corredores de translado

• Corredores de translado
• Corredores de estada
Outras características do sistema é flexibilidade de alguns elementos que o
compõem, que podem evoluir pelo incremento do empreendimento turístico até alcançar
as categorias superiores. A figura 3.9 mostra a cadeia evolutiva, cujo primeiro elo é o
núcleo e o mais elevado, o complexo. Já sabemos que quando se conecta um núcleo à
rede de estradas, ele se transforma automaticamente em um conjunto. Por sua vez, o
conjunto - na dependência da natureza e hierarquia de seus atrativos - pode, mediante o
desenvolvimento adequado do empreendimento turístico, chegar a funcionar como
unidade, como centro de escala, estada ou distribuição, ficando unicamente para este
último a possibilidade de chegar a funcionar como um complexo. Por sua vez, uma
unidade é capaz de transformar-se em um centro de estada.
As funções dos centros de escala, de estada, de excursão e de distribuição não
são excludentes; ao contrário, às vezes um mesmo centro pode chegar a desempenhar as
quatro funções, e, muito mais frequentemente, duas delas. Taos, no Novo México, é um
centro que reúne as quatro funções porque serve de escala para aqueles que, ao
percorrer as rodovias 3 e 38, querem conhecer o Carson National Forest e a Cimarron
Canyon Wildlife Área; de estada para os aficionados à prática de esqui na neve em Taos
Ski Área ou em Sipakú Ski Área; e de distribuição para os turistas interessados em
visitar esses lugares, mais Red River, a ponte sobre a garganta do rio Questa, El Pueblo
e os ranchos Taos, a casa de Kit Carson, o Kit Carson National State Park ou o Fort
Burgwin Research Center, além da própria cidade. Além disso, Taos Ski, Taos e Sipapú
Ski Área são três centros que funcionam reciprocamente como centros de excursão (ver
figura 3.10)
Os outros elementos (zona, área e corredor de estada e de translado) não mudam
sua função; o que pode acontecer é que, ao organizar o espaço turístico, sejam
classificados como potenciais por terem um insuficiente ou nenhum empreendimento
turístico.
Quanto à relação espacial, uma zona pode conter, além dos quatro corredores
internos, as áreas e seus centros correspondentes, outros centros complementares de
escala, ou de estada e de distribuição, unidades, conjuntos e, possivelmente, algum
complexo. A outra variante é que, como mostra a figura 3.11, conectados a um corredor
de translado se encontrem os complexos, conjuntos, unidades ou centros de escala,
estada e distribuição e os corredores de estada. Fora da estrutura espacial que resulta da
vinculação de todos os elementos ao longo dos corredores, mas integrando o sistema,
ficam os núcleos e os atrativos isolados.
Da relação que pode existir entre cada elemento do espaço turístico e do
funcionamento comercial do setor, em primeiro lugar, destacam-se os centros e os
corredores turísticos de estada como os mais rentáveis, já que por serem os que
funcionam com maior permanência, com o mesmo número de turistas que outro lugar,
podem conseguir mais ingressos. Depois vêm os complexos e, em seguida, os centros
de distribuição e de escala. Quanto aos corredores de estada, seu funcionamento não
deveria ser idêntico ao dos centros de mesmo nome. E dizemos não deveria porque, por
desconhecimento ou por inoperância da superestrutura, cada um dos lugares que o
integram se comercializa e se promove separadamente, competindo por um mesmo
mercado, como ocorre na costa do Pacífico no México com o corredor turístico
Manzanillo-Playa Azul-Salagua-Las Brisas-Las Hadas-Playa Santiago-Maeva-Vida dei
Mar-Barra de Navidad-Melaque Cuastecomates-La Manzanilla-Boca de Iguanas, que
reúne todas essas localidades turísticas em menos de 50 km. O correto seria identificar
tal corredor, bem como muitos outros da América Latina, como um subsistema que
funciona unitariamente, e comercializá-lo no mercado como um produto que apresenta
múltiplas opções.
Se um corredor de estada é colocado no mercado destacando-se suas
singularidades, é muito fácil captar dois tipos de turista: um, o aficcionado do turismo
itinerante, que pode passar suas férias alojando-se por curtos períodos em qualquer uma
das alternativas oferecidas
e, outro, aquele que ano após ano pode voltar para alojar-se por períodos mais
prolongados em apenas um dos lugares oferecidos e passar nele todo seu tempo de
férias, fazendo excursões ao restante.
Atualmente, as superestruturas de comercialização e promoção funcionam
desconectadas de uma visão integral do espaço que pretendem vender, porque, na
realidade, desconhecem o conceito de espaço, limitando-se a enfocar suas ações para
atrativos e centros que são vistos como peças isoladas. Daí as grandes contradições em
que incorre a superestrutura oficial, quando, ao pretender desenvolver o setor em seu
conjunto, apoia promoções de locais que lutam entre si, todos projetando a mesma
imagem e recorrendo à já esgotada técnica da fraseologia utilizada para vender artigos
domésticos.
A teoria do espaço turístico é a base para organizar todas as ações do setor, já
que permite a elaboração de políticas promocionais que, partindo da realidade do
patrimônio, trabalhem com base em produtos claramente definidos. De todos os
produtos, a zona será o maior e mais importante para projetar-se no exterior, porque
permite apresentar tantas imagens do país quanto as zonas que tenham sido detectadas.
Essas mesmas zonas e os subsistemas que as integram, bem como os demais elementos
do espaço turístico, devem ser analisados em suas potencialidades e apresentados à
iniciativa privada para que esta utilize, com fins comerciais, a informação técnica
elaborada pelas repartições dos órgãos oficiais e possam preparar-se os pacotes
turísticos de circuito e de estada por corredores, complexos e centros de distribuição.
Quanto ao campo específico do planejamento físico, a teoria do espaço é um
instrumento útil para orientar a análise e o diagnóstico do setor, mediante um
procedimento que simplifique o trabalho intelectual ao conduzi-lo de forma organizada.
Posteriormente, e de acordo com a potencialidade de cada elemento e as projeções da
demanda, será preciso estabelecer, em primeiro lugar, os limites de crescimento de
todos os elementos do espaço turístico analisado e, depois, calcular com um nível
satisfatório de aproximação, as categorias e tipos de empreendimento turístico a ser
construído em cada etapa de sua evolução. Na parte resolutiva de um plano, depois de
saber como são e como funcionam os elementos que integram o espaço turístico, é
necessário identificar projetos, pensados não em si mesmos, mas como meio para
melhorar o rendimento individual de cada elemento de forma coordenada, para que cada
êxito parcial redunde em benefício do conjunto.

Bibliografia

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