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Antonio Carlos Castrogiovanni (Org.)
Helena Copetti Callai 1
Nestor André Kaercher
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Editora Mediação
2il Edição 9
Porto Alegre o
2002 3
Capítulo 2

Estudar o lugar para


compreender o mundo
Helena Copetti CaUai

Muitas vezes sabemos coisas do mundo, admiramos


paisagens maravilhosas, nos deslumbramos por cidades
distantes, ternos informações de acontecimentos exóticos
ou interessantes de vários lugares que nos impressionam,
mas não sabemos o que existe e o que está acontecendo
no lugar em qué vivemos.
Em Geografia urna das questões mais significativas
ao tratar do que estudar diz respeito à escala de análise
que será considerada. Ao estudar o espaço geográfico, a
delimitação do mesmo é um passo necessário, pois que
o espaço é imenso, planetário, mundial. O que dele/nele
estudar? Para dar conta da delimitação deve-se fazer a
referência à escala social de análise, que em seus vários
níveis, encaminha a recortes que elegem determinada
84 Antonio Carlos Castrogiovanni (Org.)

extensão territorial. Estes níveis são o "local, o regional,


o nacional, o global". As regras podem ser gerais, os in-
teresses universais, mas concretamente se materializam
em algum lugar específico. É o nível do local que traz
em si o global, assim como o regional e o nacional.
Na literatura geográfica, o lugar está presente de di-
versas formas. Estudá-lo é fundamental, pois ao mesmo
tempo que o mundo é global, as coisas da vida, as rela-
ções sociais se concretizam nos lugares específicos. E co-
mo tal a compreensão da realidade do mundo atual se
dá a partir dos novos significados que assume a dimensão
do espaço local. A globalização e a localização, fragmen-
tando o espaço, exigem que se pense dialeticamente esta
relação, pois, "cada lugar é, à sua maneira, o mundo ... A
história concreta do nosso tempo repõe a questão do lugar
numa posição central". (Santos, 1996:152) .
. Estudar e compreender o lugar, em Geografia, significa
entender o que acontece no espaço onde se vive para além
das suas condições naturais ou humanas. Muitas vezes
as explicações podem estar fora, sendo necessário buscar
motivos tanto internos quanto externos para se compreen-
der o que acontece em cada lugar.
O espaço construído resulta da história das pessoas,
dos grupos que nele vivem, das formas como trabalham,
como produzem, como se alimentam e como fazem/ usu-
fruem do lazer. Isto resgata a questão da identidade e a
dimensão de pertencimento. É fundamental, neste pro-
cesso, que se busque reconhecer os vínculos afetivos que
ligam as pessoas aos lugares, às paisagens e tomam signi-
ficativo o seu estudo.
Compreender o lugar em que vive, permite ao sujeito
conhecer a sua história e conseguir entender as coisas
que ali acontecem. Nenhum lugar é neutro, pelo contrário,
Ensino de Geoçrdfia: pr.lticas e textualizações no cotidiano 85

é repleto de história e com pessoas historicamente situa-


das num tempo e num espaço, que pode ser o recorte de
um espaço maior, mas por hipótese alguma é isolado,
independente. "Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto
de urna razão global e de urna razão local, convivendo
dialeticamente". (Santos, 1996:273) Do entendimento des-
ta relação, dos movimentos que são contraditórios, inclu-
sive, encaminha-se à compreensão do mundo. Estudar o
lugar, portanto, passa a ser um desafio constante para as
nossas aulas de Geografia.

As várias possibilidades de estudar o lugar

Tanto os livros didáticos, quanto as proposições de


sala de aula exploram de variadas formas o estudo do
lugar. Corno desafio, podemos pensar estas questões a
partir de um texto extraído de "Aventuras de Alice" de
Lewís Carroll (1980:41-46).
A toca do coelho se alongava em linha reta como
um túnel, e de repente abria-se numa fossa, tão de re-
pente que Alice não teve nem um segundo para pensar
em parar, antes de ver-se caindo no que parecia ser um
poço muito profundo.
Ou o poço era profundo demais, ou ela caia muito
devagar, pois tinha tempo de sobra para olhar em torno
de si durante a queda e perguntar-se o que aconteceria
em seguida.
Tentou primeiro olhar para baixo, a fim de ver onde
estava chegando, mas a escuridão era demais para se
ver qualquer coisa. Olhou então para as paredes do
poço e observou que estavam cheias de armários e es-
tantes: aqui e ali viu também quadros e mapas pendu-
rados ...
Caindo, caindo, caindo. Essa queda nunca teria fim?
"- Só queria saber quantos quilômetros já desci esse
86 Antonio Carlos Castrogiovanni (Org.)

tempo todo!"- disse em voz alta."- Devo estar chegan-


do perto do centro da Terra. Deixe ver: Deve ter sido
mais de seis mil quilômetros, por aí... sim deve ser mais
ou menos essa a distância ... mas então, qual seria a La-
titude ou Longitude em que estou? "(Alice não possuía
a menor idéia do que fosse Latitude ou Longitude, mas
achou que eram palavras muito imponentes.)
Logo depois recomeçou a falar. "- Só queria saber se
vou passar direto através da Terra! Seria engraçado
sair bem no meio da gente que anda de cabeça para
baixo! Os antipáticos, eu acho ... mas vou ter de pergun-
tar a eles qual é o nome do país é claro. - Por favor,
minha senhora, isso aqui é a Nova Zelândia? Ou a Aus-
trália?" e tentou fazer uma mesura enquanto falava ...
mas imaginem fazer uma mesura enquanto se está cain-
do! Vocês acham que podem? "-E que menina ignorante
ela vai achar que eu sou! Não, é melhor não perguntar
nada: talvez eu veja o nome escrito em algum lugar".
Caindo, caindo, caindo. Não havia mais nada que fazer...
A queda tinha acabado.
Alice não estava nem um pouco ferida, por isso le-
vantou-se no mesmo instante, com um salto. Olhou para
cima, mas estava tudo escuro. Diante dela estendia-se
outro longo corredor, e o coelho branco ainda estava à
vista, andando apressado. Não havia nem um momento
a perder: lá se foi Alice atrás, veloz como o vento, a
ponto de ouvi-lo exclamar, enquanto dobrava uma es-
quina: "- Ai, minhas orelhas e meus bigodes, como está
ficando tarde!" Ela estava bem atrás dele, ao dobrar a
esquina, mas o coelho sumira.
Achou-se numa sala comprida e baixa, iluminada
por uma fileira de lâmpadas que pendiam do teto.
Havia portas em volta da sala, mas estavam todas
fechadas. Alice percorreu um lado da sala e depois vol-
tou pelo outro, tentando abrir todas as portas. Triste-
mente encaminhou-se para o centro, perguntando-se
como sairia dali.
Ensino de Geogrdfia: práticas e textualizações no cotidiano 87

Sobre esse texto, poderíamos propor as seguintes


questões:

- Qual o lugar principal a que se refere o texto?


- De que outros lugares Alice fala?
- Quais as características que apresentam?
- Quais as relações que Alice estabelece com outros luga-
res?
- Quais os aspectos que identificam a sua localização,
quer dizer, que o situam?
- Como Alice define os seus limites?
- Quais as frases que nos levam a pensar nos conceitos
que a Geografia trabalha?
- Como Alice considera estes conceitos?
- Em que momentos Alice faz analogias, comparações,
correlações?
- Em que momentos ela faz sínteses?
- Ela estabelece hipóteses. Verifique como as formula.
- Em que momentos Alice indica o sentido de direção?
- Como Alice demonstra a extensão do lugar?
- A que espaços absolutos Alice faz referência?
- E a que espaços relativos?
- Quando Alice faz perguntas são para indicar o quê?
- Tente verificar quais as expressões que estão indicando
a observação.
- Dos lugares que Alice fala, quais podemos localizar?
- Qual seria o mundo de Alice?
- Como ela manifesta isto?
A partir destas indagações podemos verificar como
um texto da literatura clássica pode nos servir de instru-
mento para o estudo da Geografia. Ele foi apresentado
para que se possa pensar o "lugar" como uma categoria
88 Antonio Carlos Castrogiovanni (Org.)

de análise geográfica, e como também um conteúdo es-


pecífico da Geografia.
O lugar como categoria de análise pressupõe que se
vislumbre o espaço geográfico - objeto de estudo - consi-
derado em seus aspectos relativos e relacionais ao contex-
to em que se insere. Estudar uma nação (Brasil, por exem-
plo), uma unidade da federação (estado do Rio Grande
do Sul, por exemplo), uma cidade, ou uma região supõe
conhecer o lugar, o que existe nele e a sua localização no
conjunto do espaço.
A "Toca do Coelho" da Alice é um lugar de passagem
para ela e, percorrendo-o, ela chegará num outro lugar.
Quando a queda acabou, ela passou a observar o que
havia ao seu redor, assim como quando estava caindo
pensava onde estaria, percorrendo distâncias, imaginan-
do latitudes e longitudes. Ao chegar ao final da passa-
gem, perguntava-se como sairia dali, se as portas e janelas
estavam fechadas. Ela percebia os limites e as possibilida-
des de ligação daquele lugar, onde fora jogada, com os
outros lugares. Ela se perguntava se estava no centro da
Terra, noutro país, do outro lado do mundo ...
As duas dimensões do estudo do lugar estão postas
por Alice. Tomamos esse texto como referência para estu-
dar Geografia. Assim como ele, muitos outros recursos
poderão ser úteis e adequados para a sala de aula. Fil-
mes, vídeos, clips musicais, músicas, artigos de revistas,
jornais, podem nos levar aos conteúdos da disciplina,
exigindo-se do professor apenas que tenha os referenciais
teóricos e metodológicos da sua ciência.
Buscar, no referido extrato de texto, um caminho me-
todológico para a aprendizagem do lugar pode ser uma
possibilidade e até muito interessante, mas o tomemos
como desafio para verificar o que estão propondo as
Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano 89

questões, e, a partir daí, constatar a importância de carac-


terizar o lugar em sua estrutura interna, contextualizá-
lo, entender os seus limites, e especialmente, buscar as
explicações de por que as coisas acontecem e aparecem
assim como ali estão.
Pode-se desenvolver uma reflexão também a partir
da reescrita do referido texto, e esta pode ser feita de duas
formas pelo menos: escrevendo um texto, e escrevendo
(representando) cartograficamente o que ali está escrito.
O estudo do lugar pode se estender para muito além
do texto. E pode-se utilizar outros recursos como a obser-
vação de uma paisagem ao vivo ou uma figura desta mes-
ma paisagem, fotografias, vídeos, filmes, etc. Esse estudo
pode situar-se no início do desenvolvimento de uma de-
terminada unidade, assim como no seu fechamento, mas
pode também ser a unidade de estudo. É sempre conve-
niente reafirmar que os conteúdos em si são mais do que
simples informações a serem aprendidas, eles devem sig-
rüficar a possibilidade de se aprender a pensar. No caso
da Geografia, aprender a pensar através de conteúdos
que lhe digam respeito, que lhe sejam específicos.
Todas as atividades realizadas serão, então, no sentido
de decodificar o espaço, sua imagem (aparência) e os pro-
cessos que ele encerra no sentido da sua produção - as
relações que se estabelecem entre os vários grupos so-
ciais, entre os homens e destes com e a natureza. Enfim,
tentar desvendar a essência dos processos que geraram
tal aparência.

O mapa como a possibilidade de representar o espaço

Com relação à representação cartográfica do lugar, po-


deríamos nos perguntar: como Alice representaria o que
90 Antonio Carlos Castrogiovanni (Org.)

ela fala? Como poderia ser um mapa do texto de Alice?


Como você o faria?
É importante saber ler o espaço, e uma das formas é
através do mapa, pois "um leitor crítico do espaço é a-
quele capaz de ler o espaço real e a sua representação, o
mapa". (Passiní,1994:17) Os mapas, em geral, represen-
tam uma coisa meio mágica, e até de certa forma incom-
preensível, embora sejam usados por muitas pessoas e
em situações diversas. Cabe-nos, na Geografia, conseguir
trabalhar com o mapa como o resultado da síntese de
um determinado espaço, seja produzindo-o a partir de
observações, de informações e de dados coletados, seja
fazendo sua leitura para conhecer determinado lugar. E-
le sempre será uma fonte de informação.
O mapa, em suas variadas possibilidades de infor-
mar o conteúdo geográfico, o faz de forma gráfica,
possibilitando ao leitor visualizar a organização do es-
paço de forma ampla e integrada às relações de mundo.
A sua linguagem é monossênica, ou seja, não é ambígua.
É uma linguagem de comunicação visual, sintética e
rápida. (Passini,l994: 19)

Sempre se diz que, para conseguir ler o mapa e en-


tendê-lo, é necessário que ocorra a alfabetização carto-
gráfica, quer dizer, que a pessoa seja, antes, um mapeador.
Ser um fazedor de mapas é conseguir dar conta de passar
para o papel a representação de lugares ou de fatos e
fenômenos que ocorrem em determinados lugares. Dese-
nhar trajetos, percursos, desenhar plantas da sala de aula,
da casa, pode ser o início do aprender a fazer mapas.
Uma ressalva, no entanto, é necessária, se quisermos cons-
truir o conhecimento, procurando desenvolver a cidada-
Ensino de Geogrdfid: práticas e textualizações no cotidiano 91

nia: estes mapeamentos devem ser feitos a partir de da-


dos reais, concretos, da realidade vivida, para que pos-
sam desencadear o conhecimento e a reflexão. Neste pro-
cesso, o aluno aprenderá o que é a legenda, o que signi-
fica a escala, poderá entender que a forma de representa-
ção é uma escolha e como tal seletiva. Ele poderá com-
preender o significado do espaço construído. Segundo
Passini (1998:47), os mapas devem ser instrumentos me-
todológicos para se compreender os conteúdos com o
que se está trabalhando,

pois o sujeito é levado a pensar de forma lógica e a


utilizar o raciocínio espacial, seja: - fazendo compara-
ções para diferenciar, classificar, ordenar; - estabele-
cendo relações e correlações: objeto x espaço; - com-
preendendo as extensões, delimitações e repartições
dos fenômenos, particularizando ou generalizando-os;
fazendo a síntese e chegando à essência do conteúdo.

Num mapa desenhado a partir do texto da Alice é


possível dar conta dos aspectos acima referidos? Ao ser
feito este mapa pode-se perceber várias questões que são
importantes para desencadear a aprendizagem. Neste
processo de aprendizagem, além do mapa da Alice, como
exercício, pode-se fazer o mapeamento de algo que seja
importante para cada aluno. De preferência fazer a re-
presentação de um lugar conhecido, do dia-a-dia dos alu-
nos.
Após fazer o desenho destes mapas propostos, veja-
mos o que se pode refletir, tentando responder as indaga-
ções que estão a seguir:
- Como se pode descrever o que foi mapeado?
- Que comparações são possíveis estabelecer?
- Quais as diferenças que existem?
92 Antonio Carlos Castrogiovanni (Org.)

- Como se pode classificar e ordenar o que aparece?


- Quais as relações e as correlações entre a representação
feita e o espaço que está sendo representado:
• qual a extensão?
• quais os limites?
• quais os fenômenos significativos que aparecem e
como é possível contextualizá-los no espaço maior?
Sintetizando, com o que está representado o que se
pode dizer do lugar? Quais os aspectos considerados para
fazer a representação?
Ao fazer um mapa, por mais simples que ele seja, o
estudante estará tendo oportunidade de realizar ativida-
des de observação e de representação. Ao desenhar o tra-
jeto que percorre diariamente, ele verificará até aspectos
que não percebia, poderá levantar questionamentos, pro-
curar explicações, fazer críticas e até tentar achar soluções.
Além do trajeto, podem ser mapeados espaços de exten-
são diversas, como a casa, a sala de aula, o pátio da escola,
as vizinhanças, uma indústria e até áreas maiores. Vários
conceitos passam a ter significado para os alunos, a serem
melhor entendidos, e ao mesmo tempo desenvolvem-se
muitas habilidades. A capacidade de o aluno fazer are-
presentação de um determinado espaço significa muito
mais do que aprender Geografia, sendo um exercício que
favorecerá a construção do conhecimento e o desenvolvi-
mento da criatividade.

Princípios teórico-metodológicos
de uma aula de Geografia

O processo de ensino-a prendizagem supõe um deter-


minado conteúdo e certos métodos. Porém, acima de tu-
do, é fundamental que se considere que a aprendizagem
Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano 93

é um processo do aluno, e as ações que se sucedem devem


necessariamente ser dirigidas à construção do conheci-
mento por esse sujeito ativo.
Tal processo supõe, igualmente, uma relação de diálo-
go entre professor e aluno que se dá a partir de posições
diferenciadas, pois o professor continua sendo professor,
é o responsável pelo planejamento e desenvolvimento
das atividades, criando condições para que se efetive a
aprendizagem por parte do aluno. Sem que exista um
consistente planejamento fica difícil dar conta da tarefa.
O professor precisa ter clareza tanto do processo pedagó-
gico como conhecer bem os conteúdos a serem trabalha-
dos.
O aluno precisa assumir o papel de querer aprender,
ter perguntas a fazer, e não simplesmente esperar que o
professor fique falando, ouvir simplesmente.

Uma consciência espacial

O conteúdo da Geografia, neste contexto, é o material


necessário para que o aluno construa o seu conhecimento,
aprenda a pensar. Aprender a pensar significa elaborar,
a partir do senso comum, do conhecimento produzido
pela humanidade e do confronto com os outros saberes
(do professor, de outros interlocutores), o seu conheci-
mento. Este conhecimento, partindo dos conteúdos da
Geografia, significa "uma consciência espacial" das coi-
sas, dos fenômenos, das relações sociais que se travam
no mundo.
O espaço é construído ao longo do processo de cons-
trução da própria sociedade. As relações sociais que o-
correm se materializam em edificações que podem ser
observadas fisicamente. São as paisagens dos lugares. E
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se existe uma materialização física da vida, concretizada


no espaço, cabe-nos na Geografia fazer o estudo e a in-
terpretação desta realidade, a partir da análise espacial,
sem ficar na aparência apenas. São necessários determina-
dos pressupostos básicos para que se possa compreender
o espaço construído pelos homens, que passaremos a ana-
lisar.

O olhar espacial

O olhar espacial é o modo de fazer Geografia (o méto-


do a usar), é como devemos estudar a realidade. Uma
realidade que tenha a ver com a vida dos alunos.
Não pode ser através de um amontoado de assun-
tos, ou lugares (partes do espaço), de temas soltos, sem-
pre defasados ou de difícil compreensão pelos alunos
(muitas vezes inacessíveis). Não pode apenas através
de descrições de lugares distantes ou de fragmentos
do espaço. (Callai, 1998:58)

O olhar espacial supõe desencadear o estudo de deter-


minada realidade social verificando as marcas inscritas
nesse espaço. O modo como se distribuem os fenômenos
e a disposição espacial que assumem representam muitas
questões, que por não serem visíveis têm que ser des-
cortinadas, analisadas através daquilo que a organiza-
ção espacial está mostrando.

A escala de análise

A escala de análise é um critério importante no estudo


da Geografia. É fundamental que se considere sempre
os vários níveis desta escala social de análise: "o local",
Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano 95

o "regional", o "nacional" e o "mundial". A busca das


explicações do que acontece em determinados níveis des-
ta escala, em outras dimensões, favorece análises mais
conseqüentes. Por exemplo, ao estudar a Geografia do
Brasil, estuda-se uma realidade que é nacional, mas se
deve levar em conta uma grande diversidade regional,
áreas diferentemente desenvolvidas. Há lugares, devido
a suas características específicas, que produzem uma i-
dentidade diversa de outros lugares mesmo pertencendo
ao mesmo país. Em cada um destes níveis poder-se-á
constatar, também, a presença do uníversal, ou seja, de
características gerais, globais, pode-se dizer, que marcam
a forma como os lugares reagem às condições internas e
aos fluxos externos. Há em cada um destes níveis, portan-
to, a presença dos demais. O trânsito nos vários níveis
desta escala é fundamental para uma análise signíficati-
va e conseqüente, "caso contrário, há o risco de explica-
ções simplistas, que não abarcam todas essas dimensões
e que levariam a justificar de forma natural (pela nature-
za), problemas que são essencialmente sociais ou que de-
correm de situações sociais". (Callai,1998:57) No estudo
do lugar, as outras dimensões são presença obrigatória
para que não se incorra em análises simplistas, que não
permitam as explicações adequadas.
Esta escala, a que estamos nos referindo, é uma esca-
la social, que supõe uma dimensão histórica, quer dizer,
da humanidade, de construção social do espaço. Há uma
outra escala que precisamos considerar nos estudos de
Geografia, que é a "escala da natureza", é a escala geoló-
gica, aquela que diz respeito à evolução da natureza, que
em sua formação e transformação intrínseca apresenta
também modificações no espaço, decorrentes de sua e-
volução interna.

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