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Marco Aurélio Factori

Professor da UNOESTE – Presidente Prudente/SP;


Doutor em Zootecnia pela FMVZ/ UNESP/Botucatu/SP

Juliana Aparecida Martins Factori


Técnica em contabilidade - Assistente financeiro – Botucatu/SP

É mais viável cortar mecanicamente o pasto ou permitir o pastejo pelos animais?

A eficiência dos sistemas de conservação de forragens não deve ser avaliada somente pelo valor
nutritivo do produto final, mas também pelos custos por kg de massa seca produzida, não é mesmo? A
elevação dos custos de produção e a queda dos preços dos produtos agrícolas no mercado têm
incentivado os produtores a buscar mecanismos eficientes com baixos custos de produção. Em se
tratando de máquinas, a maximização do uso do trator agrícola e seus implementos, tornam-se
fundamentais na redução dos custos de produção para aumentar a eficiência do combustível de modo
que produza máxima quantidade de trabalho por unidade consumida.
Por outro lado, sem pensarmos agora em máquinas, são inúmeras as vezes que chegamos a
visitar sistemas em que tudo foi feito de forma correta, mas emperra no que denominamos o mais fácil
de tudo e mais barato, que nada mais é que a ingestão da forrageira. Toda forragem, desde que bem
manejada tem todas as características para ser ingerida e ainda atributos nutricionais suficientes para
atrair os animais. Mesmo assim, verificamos que em algumas propriedades o consumo da pastagem é
maior ou menor ou ouvimos a seguinte frase: “o pasto tá ai o bicho num come porque não quer”.
O manejo de pastagem nada mais é que uma arte de utilização do recurso forrageiro na
propriedade, com vistas à produção animal que envolve a sensibilidade do técnico em apreciar a
resposta da pastagem x animal. Portanto, toda e qualquer atividade que envolva esta utilização é
importante para que o consumo ocorra. Senhores, para que haja o consumo, a forragem tem que se
apresentar a frente do animal e para isso, ela deve estar em um cocho ou no pasto. Para isto, teremos
que decidir o que é mais viável. Para isso, todos os fatores inerentes aos custos de produção devem ser
atentados, pois o animal não consegue ir sem nenhum custo até a forrageira e por sinal, a forrageira
não vem sem nenhum custo até o animal.
Pastejo do capim: Foto: Marco Aurélio Factori Corte mecanizado do capim: Imagem: www.google.com.br

Para quantificarmos os custos, de maneira fundamental, precisamos primeiramente definir os


sistemas. Escrevo isso porque a princípio de tudo, não poderemos sugerir para que o pequeno produtor
compre uma máquina para tratar de duas vacas. Com certeza, o custo benefício não seria viável, pois
de forma geral, o benefício de alimentar duas vacas não pagaria o custo da máquina. Neste caso o
pastejo seria fundamental.
Outro aspecto importante, para discutirmos é que quando pensamos em cortar forragem,
pensamos que o fator deslocamento não seria necessário por parte do animal. Por isso, se quisermos
que o animal não ande muito, com certeza seria fundamental o uso de máquinas, dentre outras
palavras, cortar forragem e colocá-la no cocho seria primordial.
Em se tratando de produção de leite em pasto, quando a forragem é diretamente colhida pelo
animal, os custos de produção podem sofrer sensível redução. A oferta de alimento no momento certo
(ponto ótimo de manejo da forragem) e em quantidade adequada, resulta em dieta volumosa adequada
para que as vacas possam produzir até 11 litros de leite por dia (desde que os animais tenham
potencial genético para tanto). Dessa forma, um sistema com pastagem bem estabelecia, e baixo custo
de implantação em comparação aos demais sistemas de produção de leite, confere segurança e
versatilidade frente aos altos preços de insumos e baixo preço do leite. Considerando como base o
pasto (volumoso de verão), é de fundamental importância utilizar sistemas mais produtivos
(lotação/ha) plantando forrageiras de alto potencial de produção. Dentre estes sistemas, uma das
opções é a adoção do pastejo com lotação rotacionada, que nada mais é que uma área subdividida em
piquetes (por meio de cerca eletrificada), tendo como finalidade fornecer ao animal forragem de boa
qualidade.
Falando de gado de corte, a determinação do custo de produção se revela de suma importância
na agropecuária, não somente como um componente para a análise da rentabilidade da unidade de
produção, mas também como parâmetro de tomada de decisão e de capitalização do setor rural.
Com relação a cortar a forragem ou deixá-la ser pastejada, culmina em decidirmos o que
pretendemos fazer com o nosso sistema. Como dito, o pastejo é barato e permite em muitos casos o
sucesso da atividade. Em resumo, temos que em sistemas de produção de leite em pequenas
propriedades, o uso do pastejo rotacionado favorece, em muitos casos, a sobrevivência do sistema.
Pois bem, como escrevemos anteriormente, um sistema com poucas vacas não justifica o uso de
máquina e sim o pastejo seria obrigatório, se este produtor quiser ter lucro.
Para gado de corte, o pastejo é também uma excelente ferramenta quando pensamos em custo.
Se pensarmos ao inverso do leite, um grande produtor rural, com muitos animais, cortar forragem para
todos os animais, todos os dias também se tornaria inviável. Portanto, tenho certeza que a pergunta...
Quando eu utilizo o corte da forrageira então?... deve ser o que surge na mente de você leitor.
Pois bem. Em 99 % dos casos, o pastejo é o mais eficiente. Cortar forrageira e levá-la no
cocho para o animal é incrementar os custos daquilo que é barato. Em outra visão, exemplifico que se
tenho um carro e ele quebra na rodovia e preciso transportá-lo com um guincho, se o preço do guincho
for maior que o carro, devo pensar que ou eu gosto muito do carro e contrato o serviço, ou ainda
abandono o carro, ou ainda conserto no local. Se pensarmos em forrageira, pense que você deve
colocar no cocho aquilo que pague o que ela permite ganhar. Exemplificando, se penso em colocar um
capim que deveria ser pastejado e quero cortar e por no cocho pense que aquilo que irá comer (animal
de leite ou corte) deve pagar este custo.
Para gado de leite, colocar capim picado no cocho não justifica pois a vaca produzirá, como eu
já mencionei aqui, 11 litros de leite. Em ganho de peso, somente com capim, por volta de 600 gramas.
No leite não paga os custos. No corte, se associarmos um confinamento e a relação volumoso
concentrado for pequena, se a dieta for de 70 % de concentrado ou mais, o capim pode ser uma
ferramenta interessante por ser barato. Mas queremos incentivar o pensamento e dizemos que se eu
cortar capim para 100 bois é uma coisa, mas para 20 mil a coisa muda um pouco. Devo salientar que
devemos estudar cada caso e fazermos conta. Será que ainda tenho funcionário e máquina para este
feito? Cortar capim todo dia não é fácil. Fácil seria se pensarmos em um substitutivo para este manejo
em suplementar os animais em pastejo com 2 a 3 quilos de concentrado todo dia. Um pensamento
bem mais fácil e bem menos dependente de mecanização.
Não queremos colocar regras, muito menos cartilhas. Vamos estudar cada caso e cada
situação. O sistema não é engessado. Mas sem querer colocar pulga atrás da orelha de ninguém,
dificilmente teremos sistemas mais viáveis que o pastejo em sistemas adaptados para o pasto. Temos
substitutivos, mas estes devem ser adaptados para o cocho e a forma de pensarmos, mudará. Por fim,
ouvi isso algum dia de um produtor... “mas o pastejo a vaca gasta energia”. Será que a energia gasta
(óleo diesel, funcionário ou outras) não será maior cortando o capim? Ainda: ...”colocando a comida
no cocho o animal produz mais...” Nem sempre pessoal. O capim continua o mesmo. “mas e se
dermos silagem”... Aí não é mais capim e sim silagem. O sistema mudará. Pensemos nisso.

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