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Marco Aurélio Factori

Prof. Substituto de Nutrição de Ruminantes


Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal/UNESP-Botucatu/SP

Ganho de Peso Animal em Pastagem

“...Seu Zé, meu pasto é o mió de todos.. os bicho ganha peso por demais... não só nas
águas mas na seca também....”
Com certeza o que mais ouvimos por aí é a competitividade entre os produtores no
ganho de peso dos animais. Comparar os sistemas é muito saudável, pois induz a busca por
melhores índices e por fim melhorar o sistema. Pois bem, como faço diariamente, contanto os
fatos e comparando os contos, presenciei certa vez, duas pessoas comparando veículos. A
primeira dizia que o seu fusquinha era o melhor veículo e a segunda dizia que bom mesmo era
o seu carro esportivo. Curioso como sempre, parei e observei os fatos. O do fusca, dizia que ele
entrava em qualquer lugar com o carro, subia descia morro e ainda rodava muito bem para
buscar mantimentos na cidade. O segundo, do carro esportivo, falava que seu possante andava
a 200 km/h, com seus diversos cavalos de potência, deixando poeira quando passava pelo
fusquinha. Pois bem, quem estava certo?
Ganho de peso em pastagem é com certeza o alvo a ser buscado por todos que
trabalham com pastagem. Quanto mais peso o animal ganha, mais rápido ele irá para o abate
ou ainda, maior rendimento ao dono no momento de abate (nem sempre o mais pesado tem
maior rendimento de carcaça... mas é assunto para outro dia...). Um pasto bem manejado é
aquele que oferece uma forrageira no seu ponto ótimo de manejo. Este ponto refere-se a alguns
fatores como ouso de adubação, disponibilidade de luz e temperatura (verão e inverno) e ainda
umidade (chuva). Atrelado a estes fatores tem-se ainda o ajuste de lotação animal na área, que
é fundamental juntamente com o sistema de pastejo adotado (contínuo ou rotacionado) do qual
permitirá a forrageira crescer e ainda ocupar com eficiência a área perpetuando-se nesta para
enfim caracterizar um sistema chamado de perene, ou seja, quando não se necessita plantar
todo ano a pastagem.
Nos sistemas produtivos, o ganho de peso animal em pastagem (sem suplementação)
está ao redor de 600 gramas por dia no verão e por volta de 0 a 150 gramas no inverno, em
sistemas bem manejados. Isto ocorre porque no verão, a planta apresenta níveis consideráveis
de qualidade (alta proteína, média energia e baixa fibra) que proporcionam maiores ganhos de
peso em função do favorecimento das condições de clima além dos nutrientes colocados no
solo. No inverno, como a planta não têm condições favoráveis de sobrevivência (principalmente
o clima) ela utiliza grande parte da proteína e energia que armazenou para se manter viva.
Assim, sua qualidade decresce consideravelmente (menos proteína e considerável energia)
aumentando as concentrações de fibra, proporcionando menores ganhos de peso nos animais.
Voltando a história em compararmos sistemas, pode-se dizer que em sistema de lotação
contínua (que chamamos de pastejo extensivo), o animal, por estar em área diríamos abertas e
que ele pode escolher o que come, tem ganhos de peso ao redor de um kg, segundos alguns
trabalhos. Pois bem, até aqui podemos concluir que pastejo extensivo é melhor. Infelizmente
não. O manejo de sistemas em lotação rotacionada (divisão de piquetes) por ajustarem mais a
lotação animal permitem que tenhamos a conclusão de ganhos de peso de até 650 g, no verão,
sendo este dado inferior ao mencionado anteriormente de até um kg no pastejo de lotação
contínua, no verão. Nestes sistemas, se colocamos lotação de por volta 2 a 3 unidades animal
(UA) por hectare com animais ganhando 1kg cada, então teremos um ganho diário de 3 kg. Em
lotação rotacionada, tem-se aproximadamente 8 UA por hectare (em alguns casos teremos até
12 UA). Multiplicando 8 x 650 g temos aproximadamente 5 kg de ganho diário, bem mais que os
3 kg do outro sistema. Neste momento eu pergunto, qual é o certo que deveremos utilizar?
Outro fator interessante é aquele produtor que pensa que a adubação deve ser máxima,
pois desta forma terá a maior produtividade e ainda o maior número de animais abatidos e
assim por diante. Ainda, pensa em suplementar estes animais com a maior quantidade de
suplemento e o mais caro possível da empresa mais famosa. Senhores, eficiência não é isto.
Suplementação em pastagem é como sempre digo, usando aqui um termo utilizado na
Zootecnia – DEPENDE. O produtor que fala que o animal dele é mais pesado, ganha mais peso
e será abatido mais cedo tem que pensar friamente na questão de como se chegou a isso e,
sobretudo quanto custou e com que eficiência isto foi obtido.
Em uma palestra em um curso ministrado fui questionado sobre suplementar ou não
animais em pastagem. Antes de responder, a pessoa disse que o suplemento sempre é viável
e deveria suplementar sempre. Senhores, não adianta nada suplementarmos algo que não
existe. Perguntei a ele sobre o manejo do pasto? E seus animais que raça é? Quanto eles
pesam? Minha surpresa foi quando ele disse que não sabia ao menos quantos animais ele
tinha...
Existe a base de uma construção que chamamos de alicerce. Este fornece sustentação
à construção que ficará sobre ele. Saber a raça dos animais, exigência dos mesmos, e acima
de tudo o peso destes animais, dentre outros, é de grande importância, pois somente assim
podem-se tomar decisões. Vamos então a uma pequena comparação. Um produtor que não
tem pasto suficiente para os animais e o que tem não é de boa qualidade procura uma empresa
de suplementação. Por final, ele compra um suplemento e gasta por animal diariamente ao
redor de R$ 2,00 com ganho de peso estimado em 600 g por dia. Outro produtor não fornece
suplemento e ainda, com manejo correto da pastagem consegue 700 g. Evidente que neste
meio campo, temos que medir alguns parâmetros, mas ao grosso modo observamos que
aquele com suplementação não tem eficiência ou ainda com certeza, está perdendo de ganhar
mais. Sim, não ter eficiência, neste caso, significa que o sistema é tão ruim que a
suplementação ao invés de ajudar atrapalha, pois encarece todo o sistema. Por outro lado, se o
sistema estivesse perfeito tudo seria melhor e com certeza custaria menos e ainda produziria
muito mais. Suplementação é viável desde que aplicada no momento certo com a medida certa.
Absolutamente devemos pensar que nossos sistemas devem ser ajustados e não
comparados, apenas. Dizer que o meu é melhor, ou o seu é pior ou vice versa, é perder tempo
discutirmos por mérito ou posição. Buscar informações sobre o que já existe é louvável, mas
deve ser aplicado com cautela. Tudo merece estudo e com certeza acompanhamento técnico.
Nas academias ou institutos de pesquisa as técnicas são testadas a fim de melhorar, não
somente nestes lugares e sim para atender onde está o produtor. Certificar-se de que estamos
caminhando certo é sim obrigação e dever. Para isso a comparação também pode ser feita, no
entanto, não de forma depreciativa.
Voltando a história do fusca e do carro esportivo, a minha resposta clara e objetiva para
os dois seria: OS DOIS ESTÃO CERTOS. O que sempre falo nas palestras é que os dois são
bons onde estão. Experimente trocá-los de lugar... O carro esportivo na estrada de terra
patinaria em qualquer lugar em função da sua grande potência e atolaria em qualquer poça de
água. O fusca então, nas autoestradas, feitas para correr nos limites de velocidade
especificados para cada uma, ficariam para trás e quando não pudessem ser ultrapassados
atrapalhariam todo o trânsito atrasando a vida de muita gente.
Senhores, hoje já fizeram carros de duplos propósitos que atendem alguns requisitos e
deixam a desejar também em outros, mas que são melhores que os antigos, mas que precisam
ser avaliados. Não é porque o carro é bom na propaganda e o vizinho gostou e recomenda que
servirá para mim. Para adquirir o “veículo”, pesquise, pergunte. Caso precise adaptar alguma
coisa só faça se tiver 100 % de certeza. Assim e somente assim terá eficiência.

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