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QUILOTÓRAX EM CÃO

- RELATO DE CASO
Simone Gutman Vaz1, Breno Menezes dos Santos2, Paulo Henrique Mariano das Chagas2, José Honorato de França
Neto2, Marcela Fernanda Torres Samico Fernandes2, Lucas Carvalho Pereira2, Camila Elana Santana e Silva2, Maína de
Souza Almeida2, Telga Lucena Alves Craveiro de Almeida3 e Eneida Willcox Rêgo4.

Introdução meta aliviar os sintomas, removendo o fluido pleural com


re-expansão pulmonar, bem como medidas preventivas
Quilotórax (QT) é o acúmulo de linfa na cavidade
contra sua recorrência aliadas às correções de balanço
pleural secundário à ruptura do ducto torácico ou
hidroeletrolítico, nutricional e atenção ao estado
comprometimento do fluxo linfático no tórax. Os
imunológico. Sempre que possível, a doença de base deve
principais mecanismos de formação incluem vazamento
ser identificada e tratada [11].
de linfa do ducto torácico; extravasamento de vasos
O objetivo do trabalho foi relatar a necessidade da
linfáticos pleurais ou ainda por fluxo
avaliação da efusão torácica para melhor diagnóstico e
transdiafragmático de líquido quiloso ascítico [1].
tratamento do animal.
Tal evento não representa ocorrência comum.
Doenças malignas com dano ao ducto torácico e canais
linfáticos do tórax, pescoço e abdômen podem causar Material e métodos
efusão pleural quilosa [2]. Cadela, 08 anos de idade foi atendida no Hospital
Considerando que o líquido quiloso não é irritativo Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco
na cavidade pleural, os pacientes não costumam apresentando intensa dispnéia, anorexia, prostração e
demonstrar dor nem desenvolver pleurite [3]. efusão pleural.
O líquido caracteriza-se por ser rico em Ao exame clínico, apresentava dispnéia com padrão
quilomicrons, de aparência leitosa, com conteúdo de respiratório abdominal e taquipnéia. A ausculta pulmonar
triglicerídeos (TG) maior que 1000 mg/dl, ou contém revelou silêncio auscultatório em ambos hemitórax e a
alto teor de triglicerídeos em relação ao soro, em ausculta cardíaca revelou ruídos reduzidos. Estava em bom
proporção superior a 3:1 [4]. estado corpóreo, com grau de desidratação de 7% e
Uma proporção colesterol/triglicerídeos (C:T) hipotermia (36,4°C).
inferior a 1 geralmente é considerada característica de Foi realizada toracocentese para coletar a efusão e a
efusão quilosa [5]. amostra foi enviada ao Laboratório de Patologia Clínica
À citologia, corada pelo panótico rápido, o Veterinária, cuja análise foi efetuada segundo Coles [12].
esfregaço apresenta hemácias, muitos linfócitos Também foi solicitada dosagem de colesterol e
pequenos predominantes (característica da efusão triglicerídeos, do soro e da efusão pleural.
quilosa) e macrófagos reativos [6].
O diagnóstico é realizado após toracocentese, pela Resultados
presença de um líquido branco, com pouco cheiro e
Os resultados da análise da efusão pleural e das dosagens
aparência leitosa. Quando os níveis de triglicerídeos
de colesterol e triglicerídios constam na Tabela 1.
são maiores que 110 mg/dl, a probabilidade de não ser
O a efusão pleural apresentou coloração leitosa como
QT é menor que 1%. Já níveis menores que 50 mg/dl
citado por Sultan et al. [4]. Apresentou grande celularidade,
não têm mais do que 5% de probabilidade de se tratar
onde a maioria das células encontradas são linfócitos como
de QT, considerando-se níveis normais de colesterol e
citado por Jubb, Kennedy e Palmer [6].
triglicerídeos séricos [7, 8]. Se os níveis de
A efusão apresentou alto teor de colesterol e
triglicerídeos forem inconclusivos, a presença de
triglicerídeos quando comparados com o do soro
quilomícrons no líquido pleural confirma o diagnóstico
sanguíneo. Os triglicerídeos ficaram numa proporção de 2 a
[9, 10].
8 vezes maior que o conteúdo sérico (30:1) conforme
As medidas terapêuticas podem ser categorizadas em
citado por Sultan et al. [4]. Como esses níveis foram
procedimentos conservadores e cirúrgicos, tendo como
suficientes para fechar o diagnóstico não foi necessário

________________
1. Primeiro Autor é Aluna de Graduação do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel
de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife- PE. simone_gutman@hotmail.com
2. Segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oitavo Autores são Alunos de Graduação do Departamento de Medicina Veterinária da
Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife- PE.
3. Nono Autor é Residente de Patologia Clínica do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom
Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife - PE.
4. Décimo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife- PE.
avaliar a presença de quilomicrons como citam [4] SULTAN S, PAUWELS A, POUPON R, LEVY VG. Chylous
ascites in adults: etiological, therapeutic and prognostic aspects.
Madaniah [9] e Light [10].
Apropos of 35 cases. Ann Gastroenterol Hepatol (Paris)
A relação colesterol/triglicerídeo foi inferior a 1 1990;26:187-91.
como citado por Raskin e Mayer [5], caracterizando [5] RASKIN, R. E. e MEYER, D.J. Atlas de Citologia de Cães e
um efusão quilosa. Gatos.São Paulo: Roca, 2003. P. 165.
De acordo com Miller [11] deveria ser realizada a [6] JUBB, KENNEDY & PALMER, Pathology of domestic animals,
5a. ed, vol. 2, p. 102-104, 2006
drenagem do paciente a fim de melhorar a qualidade de [7] ROMERO S. Nontraumatic chylothorax. Curr Opin Pulm Med.
vida e também tratar a causa primaria, porém não foi 2000;6(4):287-91.
possível o tratamento, pois o paciente veio a óbito pela [8] STAATS BA, ELLEFSON RD, BUDAHN LL, DINES DE,
demora do proprietário em levá-lo ao hospital. PRAKASH UB, Offord K. The lipoprotein profile of chylous and
nonchylous pleural effusion. Mayo Clin Proc. 1980;55(11):700-4.
[9] MADANIAH AA. Spontaneous idiopathic chylothorax in adults.
Referências Saudi Med J. 2005;26(1):145-6.
[10] LIGHT RW. Chylothorax and pseudochylothorax. In: Light RW,
[1] STAATS BA, ELLEFSON RD, , DINES DE, PRAKASH UB.
editor. Pleural diseases. 4th ed. Baltimore, Maryland: Williams &
The lipoprotein profile of chylous and nonchylous pleural
Wilkins; 1995. p. 284-98.
effusions. 1980 ;55(11):700- 4.
[11] MILLER JJ JR. Diagnosis and management of chylothorax:
[2] OCALLAGHAN AM. Chylothorax in lymphoma: mechanisms
techniques of mediastinal surgery. Chest Surg Clin N Am. 1996;6:
and management. Ann Oncol. 1995;6(6):603-7.
139-48.
[3] SASSOON CS. Chylothorax and pseudochylothorax. Clin
[12] COLES, H. Patologia Clínica Veterinária, 3ªed. São Paulo: Manole,
Chest Med. 1985;6(1):163-71
1984. p. 91-98

Tabela 1. Resultado da análise da efusão torácica e dosagem de triglicerídeos e colesterol.

Parâmetro Resultado
Cor Leitoso
Aspecto Turvo
Odor Inodoro

Coagulação Negative
pH 5,0
Densidade 1.036
Proteína > 5,0 mg/ml
Células 1000/mm3
99% linfócitos
1% neutrófilos
Triglicerídeos Soro: 175 mg/ml Ref.:
Efusão: 5325 mg/ml
Colesterol (HDL) Soro: 66 mg/ml Ref.:
Efusão: 112 mg/ml
Relação triglicerídeo efusão/soro sanguíneo 30:1

Relação colesterol/triglicerídeo 0,37

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