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CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS

MEDICINA VETERINÁRIA
CLÍNICA COMPLEMENTAR AO DIAGNÓSTICO 2

HEMOTERAPIA EM MEDICINA VETERINÁRIA


Adaptado de: Moroz, LR; Vieira J. Medicina Interna do cão e do Gato. Jericó, M. ... [et. al.]; Seção
D - Medicina Transfusional pg 1904, 2014
Brown D; Vap, LM. Princípios para Transfusão Sanguínea e Reações Cruzadas. Hematologia e
Bioquímica Clínica Veterinária / Mary Anna Thrall ... [et. al.]; 2015.

Introdução
Transfusão de sangue é o procedimento onde há transferência do sangue total ou dos produtos
sanguíneos de um indivíduo doador para um indivíduo receptor. As transfusões são realizadas para
aumentar a capacidade do sangue em transportar oxigênio. Sangue total é o termo utilizado para se
referir aos produtos sanguíneos que não foram separados. Os produtos sanguíneos podem ser
divididos em derivados do sangue e hemocomponentes. Hemocomponentes são os produtos
sanguíneos separados e processados mecanicamente por métodos biotecnológicos. Os derivados
do sangue são produtos proteicos do sangue preparados por métodos bioquímicos, como as
soluções de albumina, imunoglobulina intravenosa e concentrados de fatores específicos. Esses
derivados são produtos de uso limitado em veterinária, e muitos dos produtos usados são de origem
humana; por outro lado, a utilização dos hemocomponentes vem crescendo nas últimas décadas, a
partir do maior conhecimento dos clínicos veterinários sobre as vantagens de corrigir
especificamente a deficiência de seus pacientes de acordo com o curso da doença. Coleta e
processamento do sangue em hemocomponentes são extensivamente trabalhosos e despendem
grande parte de tempo e investimento financeiro.
Grupos sanguíneos
Grupos ou tipos sanguíneos são classificações feitas com base nos antígenos espécie-específicos na
superfície dos eritrócitos. Antígenos associados a plaquetas, a leucócitos e a proteínas plasmáticas
também podem ter papel importante na indução de reações imunomediadas nos animais
receptores durante a transfusão sanguínea. Aloanticorpos de ocorrência natural contra outros tipos
sanguíneos podem estar presentes no plasma de um animal, apesar de não ter ocorrido exposição
prévia aos antígenos daqueles eritrócitos. De maneira mais comum, a produção de anticorpos
contra os antígenos dos eritrócitos é induzida em resposta à exposição, tanto via transfusão
sanguínea, exposição transplacentária ou, no caso da isoeritrólise neonatal, pelo colostro.
Tipos sanguíneos em Cães
A membrana da hemácia é recoberta de
diversos determinantes antigênicos
(antígenos); a maior parte dos antígenos é
um componente integral da membrana
composto de glicossacarídieos complexos
associados a lipídios ou proteínas. Os cães
têm no mínimo 12 grupos sanguíneos, e
sua nomenclatura sofreu modificações ao
longo dos anos. Atualmente se passou a
designá-los como DEA (dog erythrocyte antigen), seguido do número correspondente. São sete os
grupos caninos padronizados internacionalmente (DEA 1, DEA 3, DEA 4, DEA 5, DEA 6, DEA 7 e DEA
8).
Os antígenos eritrocitários podem variar em imunogenicidade, prevalência e significado clínico. Em
cães, é possível que múltiplos antígenos estejam presentes na membrana eritrocitária, conferindo-
lhes diferentes tipos sanguíneos ao mesmo tempo. Desse modo, o mesmo animal pode ser positivo
para um ou mais grupos sanguíneos, de acordo com presença ou ausência de determinados
antígenos na membrana da hemácia.
A prática de tipagem sanguínea é pouco utilizada pelos médicos-veterinários, em parte pelo
desconhecimento da importância clínica, mas também pela dificuldade de obtenção dos reagentes
necessários. Atualmente não são produzidos no Brasil reagentes comerciais, entretanto há
possibilidade de compra de testes importados para o DEA 1. O grupo DEA 1 é o mais importante em
relação à ocorrência de reações transfusionais. Não há aloanticorpos naturais para o grupo DEA 1
(aloanticorpos naturais são anticorpos produzidos naturalmente contra antígenos estranhos, sem
sensibilização prévia). No entanto, quando um cão sabidamente negativo para DEA 1 é sensibilizado
com hemácias que tenham esses antígenos, ocorre a produção de anticorpos induzidos. Em tais
casos, uma segunda exposição do cão previamente sensibilizado poderá acarretar episódios graves
de hemólise e manifestações de reações tranfusionais. Tais anticorpos podem se desenvolver em 4
a 10 dias após a sensibilização. A sensibilização de um cão negativo para um tipo sanguíneo pode
ser feita por transfusões anteriores, transplantes de órgãos e, em fêmeas, por meio da gestação. A
sensibilização dos cães é determinada por hemácias incompatíveis. Cães DEA 1 negativos
previamente sensibilizados, quando transfundidos com sangue DEA 1.1-positivos, podem ter todas
as hemácias transfundidas destruídas em menos de 12 h, como resultado de reação hemolítica
aguda, com possível repercussão fatal.
Tipos sanguíneos em felinos
Os grupos sanguíneos em gatos são designados por letras como A, B e AB, sendo essa nomenclatura
utilizada pela primeira vez em 1962 (A e B). Essa nomenclatura não tem relação com a classificação
humana, apesar de utilizar as mesmas letras. A importância clínica desses tipos é o fato de gatos
produzirem anticorpos naturais. Desse modo gatos A têm anticorpos anti-B e gatos B têm
anticorpos anti-A (os gatos B possuem muuuito anti A!!!!). O tipo AB não apresenta aloanticorpos
contra A e B, o que sugere a possibilidade de receber sangue de ambos os tipos. Entretanto, devido
ao fato de gatos A e, principalmente, B poderem apresentar altos títulos de aloanticorpos, a
transfusão de sangue A ou B em um gato AB poderia levar à destruição dos eritrócitosdo receptor.
O tipo A é o mais comum em felinos, porém algumas raças apresntam grande prevalência do tipo B.
A apenas em emergências um gato AB receber concentrado de hemácia de gato tipo A. Além dos
tipos A, B ou AB, foi descrito um antígeno eritrocitário independente denominado MIK. Este
antígeno foi isolado de gatos que nunca receberam transfusão e ainda assim com hemólise de
sangue específico transfundido e reagindo com aglutinação em testes de reação cruzada. Ainda são
necessários mais estudos sobre prevalência e real significado clínico, entretanto este evento
corrobora a necessidade de realizar testes de reação cruzada mesmo na primeira transfusão e
mesmo utilizando-se sangue tipo específico.

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Isoeritrólise neonatal: A isoeritrólise neonatal (IN) ocorre em filhotes do tipo sanguíneo A ou AB
quando estes nascem de uma fêmea do tipo B. A placenta felina não favorece a passagem
significativa de anticorpos durante a gestação, mas concentrações elevadas de anticorpos maternos
são adquiridas pelos filhotes por meio do colostro. Os aloanticorpos anti-A são, então, absorvidos
pelos filhotes no primeiro dia de vida, podendo provocar hemólises intra e extravascular dos
eritrócitos tipo A nos filhotes tipo A ou AB. As manifestações clínicas da IN podem variar de agudos
a subclínicos e incluem anemia, hemoglobinemia, hemoglobinúria, icterícia, deficiência no
desenvolvimento, e morte súbita Filhotes de risco não devem mamar na mãe durante as primeiras
24 h, podendo nesse período receber leite de uma fêmea do tipo A.
Equinos e asininos
Os sete grupos sanguíneos reconhecidos internacionalmente no cavalo, A, C, D, K, P, Q e U, incluem
mais de 30 antígenos. Devido a essas várias combinações antigênicas, não existe doador universal.
Para minimizar as chances de reações transfusionais deve-se realizar o teste de reação cruzada antes
da transfusão. Os aloantígenos Aa e Qa são extremamente imunogênicos; ambos são hemolisinas
e, na maioria dos casos de IN, estão associados aos anticorpos anti-Aa e anti-Qa. Um único antígeno
eritrocitário em asnos e mulas (fator asinino), não encontrado em cavalos, coloca todas as mulas
prenhes em risco de IN. Apesar de os antígenos eritrocitários Aa e Qa terem sido associados a
aproximadamente 90% dos casos de IN em equinos, outros antígenos, incluindo o Ab, Dc, Db, De,
Dg, Pa, Qc e Ua, têm sido associados em raras oportunidades à IN em potros.
Bovinos
Os onze grupos sanguíneos reconhecidos em bovinos são A, B, C, F, J, L, M, R, S, T e Z, sendo que os
grupos B e J são os mais relevantes clinicamente. O grupo B apresenta em si mais de 60 antígenos,
tornando, dessa maneira, difícil a realização de uma transfusão sanguínea com compatibilidade. O
antígeno J é um lipídio encontrado no plasma que não é um antígeno eritrocitário verdadeiro.
Bovinos com anticorpos anti-J podem desenvolver reações transfusionais caso recebam sangue J-
positivo. Vacinas de origem sanguínea (algumas vacinas para anaplasmose e babesiose) podem
sensibilizar os bovinos aos antígenos eritrocitários, o que pode resultar em IN nas crias subsequentes.
Ovinos e caprinos
Sete grupos sanguíneos têm sido identificados em ovinos (A, B, C, D, M, R e X). O sistema B tem
mais de 52 fatores. Os grupos sanguíneos dos caprinos (A, B, C, M e J) são muito semelhantes aos
dos ovinos, sendo o sistema B igualmente complexo. Muitos dos reagentes utilizados na tipagem
sanguínea de ovinos também são utilizados para a tipagem em caprinos.
Animais de estimação exóticos
Até o momento, não foram identificados grupos sanguíneos em furões. Transfusões sanguíneas
podem ser realizadas com segurança sem a necessidade de realizar o teste de reação cruzada,
mesmo quando múltiplas transfusões são indicadas, como no caso de anemia aplásica grave
induzida pelo estro. Pouca ou nenhuma informação está disponível sobre o grupo sanguíneo de
coelhos, de aves e de répteis criados como animais de estimação. Sendo assim, sempre é
recomendado realizar o teste de reação cruzada antes da transfusão, sendo recomendada a
transfusão utilizando sangue espécie-específico.

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TESTE DE COMPATIBILIDADE
O teste de compatibilidade, também chamado de
prova ou reação cruzada, é a técnica utilizada para
detecção de anticorpos antieritrocitários pela
observação de presença ou ausência de hemólise e
aglutinação. O teste de compatibilidade é um
incremento, e não um substituto da tipagem
sanguínea. Entretanto, devido às dificuldades para
obtenção dos reagentes para a tipagem, esse teste
pode ser a única maneira de detectar
incompatibilidades entre doadores e receptores.
O teste de compatibilidade pode ser dividido de duas
diferentes maneiras: reação cruzada maior e reação cruzada menor. Utiliza-se a reação cruzada
maior para detecção de anticorpos antieritrocitários, no plasma ou soro do animal receptor, que
reajam contra as hemácias do animal doador. Este teste é realizado quando se pretende transfundir
para o animal receptor sangue total ou concentrado de hemácias. Nessas ocasiões, o teste pode
evitar que sejam transfundidas hemácias do cão doador que possam ser destruídas pelos anticorpos
do animal receptor. Usa-se a reação cruzada menor para detectar anticorpos antieritrocitários, no
plasma do animal doador, que reajam contra as hemácias do animal receptor. O teste de
compatibilidade é justificado cientificamente em qualquer ocasião em que se vá realizar transfusão
de hemácias, mesmo quando os tipos sanguíneos dos cães doadores e receptores forem conhecidos,
já que os grupos sanguíneos caninos não estão totalmente bem estabelecidos.
DOAÇÃO DE SANGUE
A doação de sangue deve ser um procedimento que, primeiramente, não prejudique o doador.
Assim, são necessários alguns procedimentos técnicos com o intuito de padronizar as técnicas de
coleta, facilitando a rotina dos médicos-veterinários, assegurando a manutenção da saúde dos
animais doadores e oferecendo um hemocomponente de máxima qualidade.
DOADORES CANINOS
Escolha dos doadores
Um dos primeiros fatores a ser considerado para a coleta do sangue é a escolha dos doadores. Os
cuidados a serem tomados na escolha dos cães são de crucial importância para a segurança dos
próprios doadores, bem como dos animais que serão transfundidos com o sangue coletado. Por este
motivo, alguns pré-requisitos devem ser seguidos para um cão estar apto à doação sanguínea: peso,
idade, temperamento, estado geral, raça, histórico e manejo.
Histórico
O histórico dos candidatos à doação pode revelar informações significativas que comprometam o
animal para a doação. Animais com qualquer enfermidade não devem doar sangue. Cães com
doenças imunomediadas, neoplasias de qualquer origem e grau, ou outros distúrbios sistêmicos não
devem ser doadores, pelo risco de estresse ao animal e de efeitos negativos na qualidade do sangue
doado. Os animais com histórico de ter recebido transfusão anterior devem ser afastados da doação,

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já que existe o risco de desenvolverem anticorpos que causem incompatibilidades com os receptores.
As fêmeas gestantes, acasaladas e em amamentação também devem ser poupadas da doação.
Peso
Os animais doadores devem ter, no mínimo, 28 kg. Atualmente, as bolsas de coleta de sangue
utilizadas são originalmente de uso humano (450 mL), e o volume mínimo de sangue a ser coletado
é de 300 mℓ, já que valores inferiores desequilibrariam a proporção sangue:anticoagulante.
Idade
O cão pode iniciar a doação de sangue a partir de 1 ano de idade; idades inferiores podem prejudicar
o crescimento do animal, o amadurecimento do sistema imune e da medula óssea. A idade máxima
para doação é de 10 anos. Os animais acima de 10 anos estão mais predispostos a alterações senis,
como queda de imunidade e neoplasias. Entretanto, algumas raças, especialmente cães gigantes,
podem apresentar deterioração de sua saúde antes de completarem 10 anos. Desse modo, o exame
físico pré-coleta com coleta de dados semiológicos é fundamental para garantir a sanidade do
doador.
Temperamento
A tranquilidade e o temperamento dócil são características desejáveis para o doador canino. Cães
agitados devem ser evitados ou treinados para garantir a segurança do veterinário e do próprio
animal, e assegurar a qualidade do procedimento.
Estado geral
A avaliação clínica dos animais doadores deve ser realizada impreterivelmente. Os cães doadores
devem estar bem nutridos, livres de ectoparasitas, e com vermifugação e vacinações atualizadas. A
vacinação utilizada deve seguir o programa local de vacinas múltiplas, conforme normas técnicas, e
antirrábica, conforme legislação. Os doadores devem ser negativos para os testes de doenças
infecciosas transmissíveis pelo sangue. Os cães devem ser testados para ehrlichiose, anaplasmose,
brucelose, leishmaniose, dirofilariose, babesiose e rangeliose. Estudo com cães doadores de sangue
provenientes de canis expositores demonstrou que 11% dos animais testados para essas doenças
eram positivos para alguma delas, sem que apresentassem qualquer sintomatologia clínica. Este
fato corrobora a hipótese de que animais aparentemente sadios podem ser transmissores
assintomáticos de doenças infecciosas, o que incrementa a importância dos exames antes da
doação sanguínea. Grande parte dos exames sorológicos é feita por pela técnica de ELISA ou
imunofluorescência indireta.
Deve-se fazer hemograma com contagem de plaquetas e exmes bioquímicos (avaliação renal e
hepática) dos animais antes de cada doação. Os cães doadores devem ter hematócrito mínimo de
40%; além disso, os demais parâmetros devem estar dentro dos valores de referência para a espécie
canina. Os cães doarão uma bolsa completa (~450mL), podendo ser repepetido o procedimento
cada 90-120 dias.
DOADOR FELINO
A seleção adequada do doador felino é o primeiro passo para a adequação da medicina transfusional
a essa espécie. Primeiramente, história clinica completa e exame físico minucioso de possíveis
candidatos ao programa de doação.

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Os doadores felinos devem ser preferencialmente animais mantidos domiciliados a fim de minimizar
o risco de transmissão de doenças infecciosas. Recomenda-se que estejam com esquema de
vacinação atualizado, e livres de ecto e endoparasitos. Hemograma completo incluindo contagem
de plaquetas, bioquímica sérica com análise de função renal e hepática são exames de triagem
importantes que devem ser realizados em todos os gatos. Estes animais não devem ter acesso à rua!
Como as doenças infecciosas são uma grande preocupação para a escolha de doadores de sangue,
ha alguns anos um consenso foi criado pelo American College of Veterinary Internal Medicine
(ACVIM), em que se definiu que parte obrigatória do processo de seleção para felinos doadores de
sangue são os testes para leucemia viral felina (FeLV), vírus da imunodeficiência felina (FIV) e
Mycoplasma haemofelis.
Os critérios para um gato doador de sangue são peso mínimo de 4 kg, 1 a 8 anos de idade; podem
ser machos ou fêmeas preferencialmente castrados, devem ter boa personalidade e não ter histórico
de doença cardíaca ou de convulsão. Os gatos devem ter acesso jugular adequado e mesmo aqueles
animais com bom temperamento requerem algum modo de sedação ou anestesia durante a coleta,
não só porque qualquer movimento brusco pode prejudicar o processo e o produto, mas para o
próprio bem-estar do animal durante a doação.
Hematócrito (Ht) mínimo de 35% e hemoglobina acima de 11g/dL, já que a maioria das transfusões
em felinos servirá para correção de anemia. Apesar de a frequência de doação ser citada em algumas
literaturas com um intervalo de 3 a 4 semanas, considerando-se o bem-estar do doador felino e
todas as particularidades da coleta na espécie, bem como a necessidade de sedação, recomendam-
se intervalos de 3 a 4 meses entre as coletas. Após a seleção do doador deve-se escolher a bolsa onde
o sangue será colhido e passar aos procedimentos de processamento. Os gatos podem doar cerca
de 15 % do seu volume sanguíneo estimado; assim, o volume máximo doado por um gato é de
aproximadamente 11 a 13 mℓ/kg, não devendo ultrapassar 60 mℓ, excetuando-se os gatos com mais
de 8 kg.
DOADORES EQUINOS
Cavalos adultos podem doar com segurança 6 a 8 ℓ de sangue. Os doadores devem estar saudáveis,
ser negativos para anemia infecciosa equina e apresentar hemograma sem alterações. Cavalos que
tenham recebido sangue devem ser excluídos da lista de potenciais doadores. É improvável que se
consiga transfusão sanguínea totalmente compatível em equinos. É recomendado realizar a prova
de reação cruzada para identificar o doador menos incompatível a fim de minimizar as reações
transfusionais adversas; porém, tal exame não identificará todas as incompatibilidades entre
doadores e receptores. Pelo fato de os antígenos eritrocitários Aa e Qa serem extremamente
imunogênicos, doadores negativos para tais antígenos são a melhor escolha quando não se conhece
o tipo sanguíneo do receptor. Apesar de a transfusão de sangue total poder salvar a vida de potros
com IN, o número e o volume das transfusões devem ser limitados: um estudo demonstrou que cada
administração de um hemocomponente a um potro com IN aumentou em mais de oito vezes a
probabilidade de o animal não sobreviver, enquanto a administração de quatro ou mais litros (de
volume total) de hemocomponentes aumentou significativamente o risco de insuficiência hepática
em potros. Filhotes de mulas com IN podem receber transfusão de cavalo que não tenha sido
sensibilizado previamente pela prenhez contra o fator asinino, pois se sabe que cavalos são livres
dos anticorpos de ocorrência natural contra o fator asinino, que é o antígeno implicado nos casos de
IN em mulas.
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DOADORES BOVINOS E OVINOS
Bovinos podem doar de 8 a 14 mℓ de sangue/kg de peso corpóreo. Nessa espécie é muito difícil
conseguir uma transfusão compatível; a primeira transfusão em geral é de baixo risco.
ESPÉCIES EXÓTICAS
Em furões, a melhor escolha para doador são os machos adultos, grandes e vacinados, que devem
ter o eames de sangue dentro do valor de referência, ser negativos para o vírus da doença aleutiana
do vison (ou plasmocitose) e ser triados quanto à presença de microfilárias. Esses furões podem doar
um total de 6 a 10 mℓ de sangue, dependendo do peso corpóreo. Já em aves e répteis de estimação,
a tipagem sanguínea em geral não está disponível e, portanto, seria indicada a utilização de um
doador saudável da mesma espécie do receptor para minimizar a probabilidade ou a gravidade das
reações transfusionais, resultando, ainda, em períodos mais longos de sobrevivência dos eritrócitos.
Idealmente, a ave doadora deveria ser negativa para clamidiose, doenças de bico e penas de
psitacídeos e polioma vírus.
SISTEMAS DE COLETA
O sangue é um excelente meio de cultura, fornecendo subsídios para o crescimento de inúmeros
microrganismos provenientes do meio externo. Aliado a isso, nas bolsas de sangue há soluções
anticoagulantes e preservativas contendo mais nutrientes, como dextrose, fosfato e adenina.
Portanto, a entrada de bactérias na bolsa pode acarretar a infusão de uma solução contaminada ou
com toxinas bacterianas. Para a manutenção de um ambiente estéril, devem-se utilizar sistemas de
coleta próprios para hemoterapia. As formas de coleta mais estudadas e recomendadas são os
sistemas fechados. Nesses sistemas, já avalizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), por meio de uma única punção venosa é possível colher o sangue e impedir a entrada de ar
e contaminantes externos, desde que sejam respeitados os procedimentos de limpeza e antissepsia
do local de punção.
Nos EUA, a contaminação bacteriana é considerada a segunda causa de mortes humanas
relacionadas com a transfusão de hemocomponentes, especialmente de concentrados de plaquetas.
As reações transfusionais relacionadas com a contaminação de sangue por agentes externos
ganharam maiores estudos em medicina, uma vez que o diagnóstico de doenças transmitidas pela
transfusão sanguínea é cada vez mais efetivo.
O momento de coleta de sangue é o principal ponto crítico para contaminação do sangue colhido.
Bactérias da pele ou mesmo fragmentos cutâneos são citados como fontes de contaminação.
Eventualmente, as bactérias presentes na corrente sanguínea do doador podem ser a fonte de
contaminação do sangue coletado. Bacteriemia assintomática do doador no momento da doação,
ou infecções no período de incubação ou de convalescença, podem também ser a causa de uma
contaminação.
Bolsas

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As bolsas plásticas utilizadas para coleta de sangue, especialmente em caninos, são as mesmas
bolsas usadas em hemoterapia humana e devem seguir as normas definidas pela Anvisa. O volume
de anticoagulante nas bolsas (63 mℓ) é suficiente para a coleta de um volume sanguíneo que varia
de 300 a 550 mℓ. Portanto, ao avaliar o volume final da bolsa deve-se certificar de que foi coletado
o volume de sangue descrito, descontando o volume de anticoagulante. Caso o volume sanguíneo
coletado seja menor que 300 mℓ, haverá grande concentração de citrato de sódio, que poderá ser
nocivo para o receptor. O citrato de sódio é um quelante de cálcio, portanto, seu excesso na
circulação sanguínea poderá causar hipocalcemia (considerada uma reação transfusional aguda não
hemolítica). O citrato é metabolizado pelo fígado e excretado pelo rim, portanto em animais
nefropatatas e/ou hepatopatas sua biotransformação e excreção será retardada. Nestes pacientes,
devem-se evitar bolsas com valores mínimos de coleta.
Para felinos, há restrição de bolsas que podem ser
utilizadas na rotina. A bolsa humana possui um volume
de anticoagulante excessivo para o volume de sangue
que pode ser coletado de felinos. Para felinos, em
território brasileiro, pode-se utilizar um sistema aberto
com coleta em seringa, mas nesse caso o sangue não
poderá ser mantido por mais de 24 h em refrigeração.
A heparina é um anticoagulante que pode ser
empregado, mas o ideal é usar a solução de bolsas
comerciais (1 mℓ de solução de adenina, glicose,
fosfato e citrato [CPDA] para cada 10 mℓ de sangue
colhido).
Anticoagulantes e soluções preservantes
O sangue colhido deve manter a função de seus constituintes. Desse modo, as soluções presentes
na bolsa devem ter ação anticoagulante e preservantes. O anticoagulante de escolha para medicina
transfusional é o citrato de sódio. A heparina não preserva os eritrócitos e causa agregação
plaquetária e não é recomendada para a rotina de hemoterapia. entretanto, em razão de baixa
oferta de produtos para a medicina felina, que necessita de bolsas de coleta de volume muito
reduzido, ela pode ser utilizada. A coleta em seringas com heparina é considerada um sistema
aberto, por isso o sangue deverá ser infundido imediatamente e não poderá ser armazenado por
mais de 24 h, em refrigeração.
Processamento do sangue
Como dito anteriormente, o sangue é um excelente meio de cultura. Portanto, as regras de
manutenção do sistema de forma fechada são essenciais e devem ser seguidas durante o
processamento. Hemocomponentes: O sangue total colhido em bolsa simples (sem nenhuma bolsa-
satélite) permite apenas um produto sanguíneo, o sangue total. Ao utilizar bolsas compostas (duplas,
triplas ou quádruplas) existe a possibilidade de produzir hemocomponentes (discutidos a seguir).

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Coleta em cães e gatos
Os procedimentos de coleta devem seguir etapas padronizadas a fim de assegurar a viabilidade dos
hemocomponentes, manter a esterilidade do produto e evitar quaisquer riscos à saúde do doador.
A preparação para a coleta inicia-se na arrumação da sala a ser utilizada, que deve ser um ambiente
limpo, fechado e que não permita interferências durante o procedimento. Parâmetros como
temperatura, mucosas, pulso e auscultação cardiopulmonar devem ser aferidos em todos os
doadores e em todas as coletas; qualquer um deles fora da normalidade já é motivo suficiente para
que o doador não seja utilizado. Os exames de sangue devem ser avaliados antes do procedimento
e, estando em valores considerados satisfatórios, pode-se dar início à coleta. Tão importante quanto
a manipulação adequada e asséptica de todo o material, independentemente do sistema de coleta
escolhido (aberto ou fechado), é também a preparação do local de punção da veia para a coleta.
Recomenda-se preparação com assepsia cirúrgica do local, com tricotomia e limpeza com iodo e
álcool, não só para segurança do produto, mas para segurança do próprio doador. Para evitar dano
vascular por excesso de punções ou punção traumática e o próprio desconforto ao animal, a coleta
de sangue de doadores felinos é rotineiramente realizada sobre o efeito de sedação ou anestesia. O
protocolo escolhido como meio de contenção
química deve priorizar a segurança do doador;
assim, deve-se evitar o uso de fármacos que
causem hipotensão, buscando aqueles que
tenham ação mínima capaz de conter o felino
apenas durante a coleta e que permitam ainda
uma recuperação rápida e segura. O acesso
preferido é a veia jugular. Deve-se evitar
punções repetidas, pois aumentam o risco de
tromboembolia.
Cuidados pós-doação em qualquer espécie
Terminada a coleta, pressiona-se o local da punção para evitar sangramentos e procede-se à
limpeza; o animal é então devidamente monitorado até a recuperação completa dos efeitos
anestésicos ou sedativos, quando existentes.Uma das complicações mais comuns em doadores pós-
coleta é a hipotensão, devido à brusca perda de volume. As manifestações clínicas características de
hipotensão são mucosas pálidas, taquicardia, diminuição do tempo de perfusão capilar e pulso fraco.
Se não tratada imediatamente, a hipotensão leva a choque e óbito. É desejável, então, que os
doadores (especialmente os felinos) sejam monitorados quanto à pressão arterial, sempre que
possível, antes, durante e após a coleta do sangue, a fim de evitar essa complicação. Todo o
procedimento de doação deve ser monitorado!! Sempre! Qualquer alteração é justificatica para que
o procedimento seja interrompido. Animais anestesiados devem ser monitorados até a recuperação
completa.
CONSIDERAÇÕES GERAIS - DECISÃO
A transfusão de componentes sanguíneos com hemácias é recomendada para melhora do
transporte de oxigênio quando houver diminuição da concentração de hemoglobina ou queda do
volume globular (hematócrito), isto é, em situações em que o paciente apresente anemia. Não existe
um gatilho (trigger) transfusional ou uma fórmula mágica capaz de determinar o momento exato da

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necessidade de hemácias, mas há uma série de exames e considerações a serem observados pelo
clínico a fim de guiar o momento e os hemocomponentes de escolha, impedindo seu uso
desnecessário.
A decisão de realizar ou não transfusão deverá levar em consideração o tempo de anemia do
paciente. Animais com perda aguda de sangue (hemólises, hemorragias), além de não
apresentarem resposta medular mostrarão baixa adaptação à redução brusca de oxigenação
tecidual. O mesmo não ocorrerá em animais com anemias crônicas (aplasia e hipoplasia de medula
óssea, insuficiência renal, doenças inflamatórias). Deste modo, a transfusão de hemocomponentes
eritrocitários será indicada de maneira diferente. Os exames laboratoriais serão guias para a decisão
de realizar ou não hemoterapia, mas a decisão final deverá levar em consideração o exame clínico e
os riscos à vida do paciente.
Ainda, é importante selecionar o produto sanguíneo mais adequado para cada paciente.
Tempo de transfusão
A transfusão sanguínea de concentrado de hemácias ou de sangue total deverá ser calculada para
ser feita entre 3 e 4 h. Mais de 4 h de transfusão provocarão degeneração das hemácias, com alto
risco de hemólise, infusão de metabólitos tóxicos e de crescimento bacteriano na bolsa, que deverá
ser descartada, iniciando-se uma nova bolsa. A transfusão deverá se iniciar lentamente (0,25 a 5
mℓ/kg/h) nos primeiros 30 min. Esta lentidão é importante para a análise de sinais de reações
transfusionais. Caso não haja problemas, a velocidade poderá ser elevada para 5 a 25 mℓ/kg/h. Em
pacientes cardiopatas e/ou nefropatas, a velocidade não deverá exceder 5 mℓ/kg/h. O controle da
pressão arterial durante o procedimento é mandatório, e muitas vezes este será o guia para a
velocidade da transfusão.
Aquecimento
Deve-se evitar toda e qualquer manipulação excessiva dos hemocomponentes eritrocitários. Como
as hemácias estão fora de seu ambiente ideal (corrente sanguínea) elas se tornam frágeis, podendo
sofrer hemólise. Como o tempo de transfusão é muito lento, e qualquer aquecimento dos
hemocomponentes eritrocitários será em vão, da mesma maneira que ela se aquecerá à
temperatura ambiente ao ser retirada da geladeira. O ideal é manter o paciente e o ambiente
aquecidos. Esta é a melhor maneira de evitar hipotermia.
Sangue total
O sangue total (ST) pode ser classificado como fresco ou estocado de acordo com o tempo entre
coleta e transfusão. O sangue total fresco (STF) tem até 24 h de coleta e deve ser mantido sob
temperaturas entre 2 e 8°C. Todos os seus componentes sanguíneos são viáveis, exceto as plaquetas.
As plaquetas estarão viáveis no ST apenas se ele for infundido em até 6 h sem refrigeração. A
principal recomendação para ST são anemias por perda aguda de sangue: quando houver perda de
mais de 50% do volume circulante total, pois tais pacientes necessitam de melhora de oxigenação
tecidual e manutenção de pressão coloidosmótica; e em pacientes que apresentam sangramentos
intensos por coagulopatias. O sangue total é a segunda opção para o tratamento de anemias,
basicamente quando não houver alternativas. A dose é de 10 a 22 mL/kg a cada 24h.

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HEMOCOMPONENTES
Concentrado de hemácias
Concentrado de hemácias (CH) são os eritrócitos que permanecem na bolsa depois que esta é
centrifugada e o plasma é extraído para uma bolsa-satélite. Concentrado de hemácias (CH) é o
principal hemocomponente recomendado para reposição de hemácias. Apresenta volume globular
que gira entre 65 e 80% e, assim, o volume infundido será menor quando comparado com o sangue
total (ST). A dose é de 10 - 15 mℓ/kg.
O plasma fresco que foi retirado da primeira centrifugação do sangue total pode ser fracionado de
acordo com seus componentes. Dele podem-se obter plasma fresco congelado, plasma rico em
plaquetas e crioprecipitado. Essas possibilidades de processamento estão padronizadas para cão,
mas para gatos apenas o processamento em CH e plasma fresco congelado (PFC) está disponível.
Plasma Fresco Congelado (PFC)
O plasma fresco congelado (PFC) consiste na porção acelular do sangue obtida por centrifugação a
partir de uma unidade de sangue. O PFC é uma solução aquosa de proteínas, carboidratos e lipídios.
É completamente congelado até 8 h após a coleta é mantido, no mínimo, a 30°C negativos. O
congelamento permite a preservação dos fatores da coagulação, fator de vW, albumina,
imunoglobulinas, outras proteínas e sais minerais, e mantém constantes suas propriedades. Este
produto deve ser separado por centrifugação em até de 6 a 8 horas após a doação. O plasma deve
ser reaquecido somente antes da transfusão, utilizando um banho-maria entre 30 e 37°C por 20 a 30
minutos. Deve-se proteger o produto para evitar contaminação.
As principais indicações do uso do PFC são: pressão oncótica plasmática reduzida (causando efusão
pleural ou abdominal), hemorragia devido à intoxicação por antagonistas da vitamina K, deficiência
de vitamina K, hemofilia, CID e doença de von Willebrand. Ou seja, a principal utilização do PFC é
para correção de coagulopatias! A dose é de 6 a 10 mL/kg a cada 8-12h.
A duração da transfusão plasmática deverá ser calculada entre 5 e 10 mℓ por minuto, não devendo
ultrapassar 2 h. Por estarem congelados, os hemocomponentes plasmáticos, com exceção do
concentrado de plaquetas que está à temperatura ambiente, deverão ser descongelados.
Imunidade: Em centros hípicos o plasma hiperimune é rotina em potros que não mamaram o
colostro. Eles recebem transfusão de plasma a fim de repor as globulinas. Há trabalhos citando o uso
de PFC, para tratamento de pacientes que estejam imunossuprimidos (parvovirose, por exemplo).
Teoricamente, a reposição de anticorpos prontos auxiliaria tais pacientes, mas ainda são necessários
mais estudos para avaliar cuidadosamente a real resposta clínica dos pacientes.
O plasma pode ser processado para originar crioprecipitado e crisobrenadante.
Crioprecipitado - Este produto pode ser definido como um precipitado do plasma fresco congelado,
e também é conhecido como fator antihemofílico crioprecipitado ou CRYO. Este produto contém
50% de fator VIII, 20% de fibrinogênio e porcentagens variadas dos fatores XIII, von Willebrand. Este
produto deve ser congelado (-30 a -18 oC) e é válido por até um ano após a data da doação. As
principais indicações são: hemofilia A e doença de von Willebrand. Volume a ser transfundido: 1
unidade/ 10kg a cada 4-12h

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Criosobrenadante ou Crioprecipitado pobre - Este produto pode ser definido como o sobrenadante
da preparação do crioprecipitado. Este produto deve ser congelado (-30 a -18 oC) e é válido por até
5 anos após a data da doação. Este produto contém albumina, imunoglobulinas e os demais fatores.
As principais indicações são: intoxicação por antagonistas da vitamina K, hemofilia B e
hipoalbuminemia. Volume a ser transfundido: 6 a 10 mL/kg a cada 8-12h.
Observações importantes: o crioprecipitado e o criosobrenadante devem ser reaquecidos antes da
tranfusão utilizando um banho-maria entre 30 e 37oC por 5 a 10 minutos. Após este procedimento,
estes produtos podem ser deixados a temperatura ambiente (20 a 24oC) e devem ser transfundidos
dentro de 6 horas.
Plasma rico em plaquetas e concentrado de plaquetas
Estes compostos fazem parte dos chamados produtos plaquetários. O seu armazenamento é
diferenciado dos produtos anteriormente descritos, pois deve passar por repouso por 1 hora seguido
de agitação constante a temperatura ambiente (20 a 24°C) por 3 a 5 dias (já existem bolsas e
soluções aditivas que permitem armazenamento por até 7 dias). As principais indicações são:
hemorragia por trombocitopenia e trombocitopatia. São eficazes em trombocitopenias causadas
por redução da produção (leucemias, anemia aplásica). Menos eficazes nas causadas por aumento
do consumo (coagulação intravascular disseminada), sequestro (esplenomegalia) e destruição
(trombocitopenia imunomediada).
O plasma rico em plaquetas (PRP) é um hemocomponente que, além das plaquetas, possui fatores
de coagulação, albumina e imunoglobulinas. Entretanto, estes elementos perdem sua eficácia ao
passar das horas. É uma boa opção para pacientes que necessitem de plaquetas, fatores de
coagulação e albumina, mas deve ser utilizado em até 8 h póscoleta.
O concentrado de plaquetas (CP) é uma suspensão de plaquetas em pouco volume de plasma. Deve
ser mantido em agitação constante, com temperatura controlada variando entre 22 e 24°C; tem
validade de 3 a 5 dias. O CP tem apenas as plaquetas viáveis, sendo indicado somente ao tratamento
de plaquetopenias ou plaquetopatias. A grande vantagem do CP em relação ao PRP e ao sangue
total fresco é o volume. Ambos são administrados na dose de 1 unidade/ 10 kg.
Administração
O sangue é administrado com filtros, disponíveis comercialmente. No caso de ser indicada a terapia
concomitante com cristaloides ou para a reconstituição dos hemoderivados, como a papa de
eritrócitos, utilize apenas líquidos contendo 0,9% de NaCl. Outros tipos de líquidos, como o Ringer
com lactato, a glicose 5% e soluções salinas hipotônicas, são contraindicados pelos seguintes
motivos: o Ringer com lactato causa a quelação do cálcio com o citrato contido nos anticoagulantes
e a subsequente formação de coágulos; a glicose causa o ingurgitamento e a lise dos eritrócitos; e
as soluções hipotônicas também causarão a lise dos eritrócitos.
Inicia-se sempre mais lentamente e gradualmente aumentando o fluxo. Cada paciente deve ser
avaliado individualmente para ser estabelecida uma taxa de infusão adequada.
A transfusão deve ser completada em até 4 h para evitar a contaminação do sangue. A quantidade
a ser transfundida varia de acordo com o peso corpóreo do receptor. São descritos cálculos mais
específicos para bovinos que dependem da indicação da transfusão; para choque hemorrágico, o
volume, em regra geral, é de 7 ℓ de sangue total para um animal de 600 kg.
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