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Imunologia - tipagem sanguínea

APRESENTAÇÃO

O estudo e a classificação dos grupos sanguíneos por meio de reações imunológicas entre
aglutinogênio e aglutinina têm um nome: imuno-hematologia. A partir desse princípio, se realiza
a tipagem sanguínea: teste que estabelece o tipo sanguíneo do sistema ABO (A, B, AB ou O) e
fator Rh (positivo ou negativo) de uma pessoa

Você sabe qual a importância dessa informação? Em uma transfusão de sangue, por exemplo,
pode ocorrer a incompatibilidade entre o doador e o receptor, considerando que, na maioria das
vezes, essas transfusões são de emergência. Se você sabe o seu tipo de sanguíneo, isso não
acontece. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar as metodologias necessárias para a
realização da tipagem sanguínea, as quais são fundamentais para a acurácia do teste, tais como
Coombs direto, indireto, prova direta e reversa. Também vai aprender o que é eritroblastose
fetal.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Diferenciar os grupos sanguíneos quanto ao sistema ABO e ao sistema Rh, considerando


aglutininas e aglutinogênios.
• Identificar os testes utilizados durante uma tipagem sanguínea.
• Justificar a importância da realização da tipagem sanguínea em caso de transfusão e/ou em
caso de eritroblastose fetal.

DESAFIO

Considere o cenário atual: aproximadamente 85% das pessoas, em geral, são Rh positivas, pois
elas possuem fator Rh em suas hemácias. Em geral, 15% das pessoas não possuem o fator Rh
em suas hemácias e são, por isso, classificadas de Rh negativas, produzindo anticorpos no
plasma somente quando são sensibilizadas.
Essa sensibilização pode ocorrer em pessoas que realizam transfusões e/ou em mulheres durante
a gravidez. A eritroblastose fetal é uma doença que deve ser investigada principalmente em uma
segunda gravidez de um filho(a) com o mesmo sistema Rh do filho(a) da primeira vez.

A atenção também deve ser direcionada para essa doença em mulheres que receberam
transfusões prévias a essa gravidez. Sobre a eritroblastose, que é caracterizada pela destruição
das hemácias do feto ou do recém-nascido, e fatores imuno-hematológicos envolvidos, explique:

1) Quais são os grupos sanguíneos da mãe e do feto, quanto ao sistema Rh, que poderiam
desenvolver a eritroblastose fetal? Explique a importância de investigar a eritroblastose fetal em
uma segunda gravidez e/ou em mulheres que realizaram transplante antes da primeira gravidez.

2) Por que a ocorrência da eritroblastose fetal é menor quando há incompatibilidade sanguínea


do sistema ABO entre mãe e feto?

3) Após uma gravidez de uma mãe Rh negativa e um filho Rh positivo, qual procedimento deve
ser realizado a fim de que a mãe não seja sensibilizada?

4) Cite um procedimento que deve ser executado em um recém-nascido com eritroblastose.

INFOGRÁFICO

Veja no infográfico os reagentes para a tipagem sanguínea e entenda como se forma o sistema
ABO (tipagem direta e tipagem reversa) e o sistema Rh (tipagem Rh).
CONTEÚDO DO LIVRO

Você sabe o que aconteceu para que hoje uma transfusão sanguínea seja considerada segura? Os
estudos na área de imuno-hematologia eritrocitária propiciaram essa segurança e melhoraram o
diagnóstico laboratorial de quadros potencialmente graves e fatais, como a doença hemolítica do
feto e do recém-nascido e a anemia hemolítica autoimune. Entre os avanços científicos
observados desde o início do século passado, podem ser destacadas as descobertas do grupo
sanguíneo ABO, em 1900, do antígeno RhD, em 1939, e do teste de Coombs, em 1945.

O livro Técnicas básicas de laboratório clínico é a base teórica desta Unidade de Aprendizagem,
e, nos trechos selecionados para seu estudo, você vai conhecer mais detalhes sobre essas
descobertas e sua importância atualmente. Inicie sua leitura na Introdução da Lição 4-3 e vá até
o final da página 406. Mais adiante, na Lição 4-4, a partir da página 420, inicie sua leitura na
Introdução e termine na página 424.

Boa leitura.
BARBARA H. ESTRIDGE
ANNA P. REYNOLDS
Tradução:
Ana Lucia Peixoto de Freitas
Professora Adjunta do Departamento de Análises da Faculdade de Farmácia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Mestre em Microbiologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
Doutora em Ciências Médicas pela UFRGS
Beatriz A. Rosário
Graduada em Farmácia Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Ex-professora Substituta de Controle de Qualidade da Faculdade de Farmácia da UFRJ
Joiza Lins Camargo
Chefe da Unidade de Bioquímica e Imunoensaios do Serviço de Patologia Clínica do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
Mestre em Bioquímica Clínica pela Universidade de Londres
Doutora em Ciências Médicas: Endocrinologia pela UFRGS
Simone Martins de Castro
Professora Adjunta do Departamento de Análises da Faculdade de Farmácia da UFRGS
Farmacêutica-Bioquímica Responsável Técnica do Laboratório de Referência em
Triagem Neonatal do RS – HMIPV – PMPA 
Mestre em Farmacologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Doutora em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela UFRGS

E82t Estridge, Barbara H.


Técnicas básicas de laboratório clínico [recurso eletrônico] /
Barbara H. Estridge, Anna P. Reynolds ; tradução: Ana Lucia
Peixoto de Freitas ... [et al.] ; revisão técnica: Afonso Luis
Barth, Suzane Silbert. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto
Alegre : Artmed, 2011.

Editado também como livro impresso em 2011.


ISBN 978-85-363-2536-1

1. Farmacologia. 2. Laboratório farmacêutico. I. Reynolds,


Anna P. II. Título.

CDU 615.12

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB-10/Prov-009/10


LIÇÃO 4-3 Imunoematologia: Determinação do Grupo ABO 401

determinação direta – uso de antissoros conhecidos (anticorpos) para identificar antígenos desconheci-
dos nas células de um paciente, tipagem direta, grupamento direto.
determinação reversa – uso de células conhecidas (antígenos) para identificar anticorpos desconhecidos
no sangue ou no plasma do paciente.
genes – segmentos de DNA que codificam proteínas específicas ou enzimas, unidades estruturais da here-
ditariedade.
teste de histocompatibilidade – realização de ensaios para determinar se o tecido do doador e o do recep-
tor são compatíveis.

INTRODUÇÃO lulas vermelhas do sangue, assim como em plaquetas e leucócitos.


Os antígenos do grupo sanguíneo são produto de genes alélicos
O principal sistema de grupo sanguíneo é o sistema ABO, que herdados. Cada pessoa herda um alelo de grupo sanguíneo do
agrupa os indivíduos em um dos quatro principais tipos sanguí- pai e outro da mãe – o alelo A, B ou O. A e B são codominantes
neos: A, B, AB ou O. Os testes de determinação do grupo ABO em relação um ao outro. Portanto, as pessoas que herdam os ale-
são baseados no princípio da aglutinação, realizados pelos méto- los A e B expressarão ambos os antígenos. Uma pessoa que herda
dos de lâmina, tubo ou gel. O método por lâmina é rápido e fácil e um alelo O e um alelo A (ou B) vai expressar apenas o antígeno
não precisa de equipamento especial. Entretanto, os métodos de A (ou B). As pessoas que herdam dois alelos O não possuem os
tubo e gel são mais sensíveis do que o teste de lâmina e são usados antígenos A e B expressos.
em laboratórios clínicos. As pessoas são agrupadas de acordo com os antígenos pre-
O grupo ABO do paciente e do doador deve ser determi- sentes nas células do sangue: um indivíduo que é do grupo A
nado antes de fazer a transfusão de sangue. A determinação do possui antígeno A; alguém que é do grupo B possui antígeno B;
grupo sanguíneo também deve ser feita antes do transplante de uma pessoa que é do grupo AB possui os antígenos A e B, e quem
órgãos e em questões de paternidade, investigações forenses e es- é do grupo O não apresenta o antígeno A e nem o antígeno B
tudos genéticos. Esta lição apresenta informações sobre o sistema (Tab. 4-11). Os procedimentos de determinação do grupo ABO
de grupo sanguíneo ABO e os métodos em lâmina, tubo e gel uti- são os testes de aglutinação. Os antígenos A e B nas células ver-
lizados para a determinação do grupo ABO. melhas do sangue do paciente ou do doador são detectadas ao
reagir com anticorpos conhecidos (comerciais) em um procedi-
O SISTEMA ABO mento chamado determinação direta, ou agrupamento direto.
O sistema de grupo sanguíneo ABO foi descoberto por Karl Lan- Anticorpos de grupo sanguíneo
dsteiner em 1900. Todas as pessoas podem ser alocadas em um
dos quatro principais grupos: A, B, AB ou O. Nos Estados Uni- A descoberta dos antígenos A e B foi acompanhada pela des-
dos, aproximadamente 45% da população é do grupo O e 40% coberta dos correspondentes anticorpos de grupo sanguíneo
é do grupo A. Apenas 11% da população é do grupo B e 4% é ABO no sangue humano.
do grupo AB (Tab. 4-10). A distribuição difere muito de acordo Os anticorpos do grupo sanguíneo são nomeados de acor-
com os grupos raciais e étnicos. Em torno de 63% da população do com o antígeno a que eles reagem: um anticorpo que reage
mundial é do grupo O. com antígeno A (células vermelhas A do sangue) é chamado de
anti-A; um anticorpo que reage com antígeno B (células verme-
lhas B do sangue) é chamado de anti-B. O grupo sanguíneo O é
Antígenos do grupo sanguíneo chamado assim porque as células vermelhas do sangue não pos-
A determinação do grupo ABO é baseada na presença ou ausên- suem antígeno A nem antígeno B; portanto, não existe anticorpo
cia de dois antígenos de grupo sanguíneo, chamados de A e B. anti-O. Os anticorpos do grupo sanguíneo ABO ocorrem natu-
Esses antígenos são encontrados nas membranas celulares de cé- ralmente no soro e são da classe da imunoglobulina M (IgM).
Se um antígeno estiver faltando nas células de uma pessoa, o

TABELA 4-10 Frequências de grupos sanguíneos nos


Estados Unidos* TABELA 4-11 Antígenos e anticorpos do sistema ABO
GRUPO PORCENTAGEM DA POPULAÇÃO GRUPO ANTÍGENO NAS CÉLULAS ANTICORPO
ABO VERMELHAS DO SANGUE NO SORO
A 40%
A A Anti-B
B 11%
B B Anti-A
O 45%
AB AeB Nem anti-A nem anti-B
AB 4%
O Nem A nem B Anti-A e anti-B
*Website da American Association of Blood Banks (AABB), 2007.
402 UNIDADE 4 Imunologia Básica e Imunoematologia

anticorpo específico para o antígeno ausente estará presente. Por ses estabelecimentos. O departamento de banco de sangue tam-
exemplo, indivíduos do grupo A possuem anticorpo anti-B no bém segue as diretrizes da FDA e está sujeito a suas inspeções.
soro. Alguém que seja do grupo O possui os anticorpos anti-A e As diretrizes obrigatórias de avaliação de qualidade incluem:
anti-B, pois as células O não possuem o antígeno A nem o antíge- ■ documentar a adequada condição de trabalho de refrigera-
no B (Tab. 4-11). Testar o sangue do paciente quanto à presença
dores, freezers, banhos-maria, centrífugas e qualquer outro
de anticorpos do grupo sanguíneo é chamado de determinação
equipamento usado no preparo, na testagem e no armazena-
reversa, determinação confirmatória ou determinação indireta.
mento de componentes do sangue e reagentes;
Esse teste é feito ao testar o soro ou o plasma do paciente com
■ monitorar as temperaturas em todos os momentos para ga-
células vermelhas do sangue (comercial) que contenham antíge-
nos A e B conhecidos. rantir que os componentes sejam armazenados dentro de
Ainda que os antígenos do grupo sanguíneo estejam presen- faixas de temperatura aceitáveis;
tes nas células vermelhas do sangue de recém-nascidos, os anti- ■ inspecionar visualmente e testar os reagentes em intervalos
corpos do grupo sanguíneo ainda não estão bem desenvolvidos regulares; registrar os resultados;
ao nascimento. Os anticorpos do grupo ABO podem ser difíceis ■ observar as datas de vencimento do reagente;
de detectar até os primeiros seis meses de idade. Por esse moti- ■ executar controles adequados e verificar o desempenho do
vo, apenas a determinação direta é confiável em recém-nascidos reagente.
e bebês.
Deve-se ter atenção especial na identificação do paciente e
Importância do sistema ABO da amostra. Os pacientes com testes realizados pelo departamen-
to de banco de sangue possuem braçadeiras especiais, que são
O grupo ABO deve ser determinado antes de fazer certos pro- codificadas com a amostra de sangue do paciente, evitando erros
cedimentos, como transfusão de sangue. Uma pessoa deve ser de identificação.
transfundida com sangue que seja do mesmo grupo sanguíneo As observações de reações devem ser interpretadas com cui-
ABO. Por causa da presença de anticorpos que ocorrem natural- dado e registradas. As instruções do fabricante devem ser segui-
mente para os antígenos A e B, graves reações podem resultar das das para os reagentes usados.
transfusões se o sangue não for adequadamente avaliado. Na imunoematologia, a qualidade do teste laboratorial pode
A regra para seguir a transfusão de sangue é evitar dar ao ter impacto direto e imediato no paciente. A transfusão de san-
paciente o antígeno que ele ainda não tenha. Em uma emergência, gue é um ato que salva vidas. Erros ou enganos ao identificar as
o sangue O pode ser usado porque ele não contém o antígeno A amostras, executar testes de grupo ou interpretar os resultados de
nem o antígeno B. Por esse motivo, o indivíduo com grupo san- grupo causam consequências graves. É essencial que os tecnolo-
guíneo O é chamado de doador universal. gistas que trabalham no banco de sangue sejam bem treinados,
conscientes e vigilantes.
PRECAUÇÕES DE SEGURANÇA
As precauções-padrão devem ser seguidas PRINCÍPIO DA DETERMINAÇÃO DO
quando os procedimentos do banco de san- GRUPO ABO POR LÂMINA
gue forem realizados. Luvas e equipamentos
de proteção individual (EPI) adequados são indispensáveis O teste em lâmina detecta os antígenos A ou B nas células verme-
para proteger contra a exposição ao sangue ou a seus produtos. lhas ao combinar o sangue do paciente com um antissoro conhe-
Métodos de controle de exposição também devem ser usados cido em uma lâmina e observar a aglutinação. Se o antígeno pre-
para proteger da exposição acidental ao sangue e aos reagentes sente nas células corresponde ao anticorpo presente no antissoro,
de tipagem sanguínea. Como a maioria dos reagentes de gru- o anticorpo se ligará ao antígeno, provocando agrupamento das
po sanguíneo é oriunda de sangue humano, todos os reagen- células ou a aglutinação. Se o antígeno não estiver presente, não
tes devem ser manuseados como potencialmente infectantes. será observada nenhuma aglutinação.
O material de laboratório usado deve ser descartável e, após o
uso, colocado em recipientes adequados para risco biológico Determinação do grupo ABO por lâmina
ou material perfurocortante. As superfícies dos contadores de- A determinação do grupo ABO por lâmina é feita usando lâminas
vem ser desinfetadas frequentemente com desinfetante de su- de tipagem comerciais ou lâminas para microscópio. Uma gota de
perfície. Devem ser observadas as normas de segurança para soro anti-A comercial é adicionada a uma lâmina marcada e uma
proteger contra riscos físicos e elétricos quando equipamentos gota de soro anti-B é adicionada a outra lâmina marcada separa-
elétricos e instrumentos com partes móveis, como centrífugas, damente. Uma gota de sangue capilar ou venoso bem misturado é
forem usados. colocada ao lado de cada gota do antissoro (Fig. 4-14). O anti-A
é misturado com a gota de sangue usando um bastão descartável,
um agitador ou uma espátula. O procedimento é repetido com o
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE anti-B e outra gota de sangue usando um bastão limpo.
Os procedimentos de avaliação da qualidade As lâminas são suavemente balançadas por dois minutos.
são destacados no manual de procedimento Com uma boa iluminação observa-se se ocorre a aglutinação. A
operacional-padrão (POP) do banco de san- aglutinação, uma reação positiva, surge como um agrupamento
gue. Esse manual incorpora os padrões necessários para a boa de células vermelhas (Fig. 4-15). A ausência de aglutinação é uma
prática de bancos de sangue, desenvolvidos pela American Asso- reação negativa. As reações com cada antissoro devem ser regis-
ciation of Blood Bank (AABB), agência que também acredita es- tradas como positivas (+) ou negativas (0).
LIÇÃO 4-3 Imunoematologia: Determinação do Grupo ABO 403

TÓPICOS ATUAIS

GRUPO ABO E TRANSPLANTES DE tecido. O complexo principal de histocompatibilidade


ÓRGÃOS E TECIDOS (CPH) é um complexo de genes associados, muito pró-
ximos, que codificam antígenos variáveis expressos na
Tecidos ou órgãos que são transplantados incluem rins, maioria das células do corpo. Os antígenos do CPH são
fígado, córneas, pele, pâncreas, medula óssea, coração, diferentes de um indivíduo para outro, sendo a barrei-
pulmão, intestino e ossos. Os transplantes que ocorrem ra principal para a capacidade de transplantar tecidos
de um local do corpo para outro na mesma pessoa são e órgãos de uma pessoa para outra. Vários antígenos
chamados de transplantes autólogos, alogênicos ou auto- produzidos pelos genes do CPH são necessários para a
enxertos. Um exemplo são os enxertos de pele que são resposta imunológica. Alguns dos mais importantes são
retirados de uma parte do corpo e transferidos para a área chamados de antígenos leucocitários humano (HLA) e
queimada. Como os autoenxertos são do próprio indiví- possuem esse nome por terem sido descobertos primei-
duo, o problema de possível rejeição é eliminado. ramente nos leucócitos. Entretanto, esses antígenos estão
Os transplantes de um doador de mesma espécie são em muitas células do corpo e em muitas formas diferen-
chamados de transplantes homólogos, homoenxertos ou tes, com base na herança, podendo ser expressos pelo
aloenxertos. Os exemplos incluem uma irmã doando um CPH. Assim, é mais provável que membros da família
rim para seu irmão, ou alguém que recebe um transplan- possuam alguns antígenos iguais e, por isso, sejam doa-
te de coração. De acordo com o Departamento de Saúde dores compatíveis. Em geral, é impossível encontrar um
e Serviços Humanos dos Estados Unidos, aproximada- HLA compatível perfeito, pois apenas gêmeos idênticos
mente 27 mil pessoas receberam transplantes de órgãos possuem antígenos HLA idênticos. Entretanto, quanto
em 2004, uma média de 74 pessoas por dia. Cerca de 90 maior for o número de antígenos HLA compartilhados
mil estão esperando para receber doação de órgãos. pelo doador e pelo receptor, menores serão as chances de
Antes que um transplante possa ser feito, o tecido ou rejeição ao transplante.
órgão do doador deve ser compatível com o do receptor Rejeição ao transplante – a resposta normal do cor-
(ver Fig. 4-16). No caso de transfusões de sangue, que são po à introdução de material estranho é criar uma resposta
transplantes de tecido, o grupo ABO e o tipo Rh do re- imunológica e rejeitar o corpo estranho. Essa reação ocor-
ceptor são compatíveis com o grupo ABO e o tipo Rh do re quando transplantes homólogos são feitos. Combinar
sangue do doador. O grupo ABO também deve ser con- os antígenos de histocompatibilidade do doador com
siderado em outros transplantes de tecidos e órgãos, pois os do receptor reduz as chances de rejeição. Entretanto,
os antígenos A e B não estão presentes apenas nas células também é necessário usar fármacos imunossupressores
vermelhas do sangue, nas plaquetas e nos leucócitos, mas para reduzir as chances de rejeição. A rejeição pode ser
também em muitas outras células do corpo, principal- um fenômeno agudo, crônico ou graduado, que muitas
mente nas células endoteliais e epiteliais. vezes é tratada com sucesso, com o aumento da terapia
O segundo nível de compatibilidade de tecido en- medicamentosa. Os indivíduos que recebem transplantes
volve o teste de histocompatibilidade, para determinar homólogos em geral precisam receber fármacos imunos-
se o doador e o receptor possuem alguns antígenos de supressores pelo resto de suas vidas.

FIGURA 4-15 Ilustração de aglutinação de células do sangue pelo anti-A na


FIGURA 4-14 Procedimento para determinação do grupo ABO por lâmi- determinação do grupo ABO por lâmina. Aglutinação de células com anti-A
na: a lâmina superior contém sangue mais anti-A; a lâmina inferior contém na lâmina superior e ausência de aglutinação com anti-B na lâmina inferior
sangue mais anti-B. indicam que o paciente pertence ao grupo A.
404 UNIDADE 4 Imunologia Básica e Imunoematologia

Grupo ABO do
O A B AB
doador do órgão

Receptor
compatível O A B AB A AB B AB AB

FIGURA 4-16 Diagrama de compatibilidade do grupo ABO para transplante de tecidos e órgãos.

Interpretação dos resultados da determinação


do grupo ABO por lâmina
Se apenas o antígeno A estiver presente nas células vermelhas do
sangue, elas irão aglutinar com o soro anti-A, mas não com o soro
anti-B. Se apenas o antígeno B estiver presente, as células agluti-
nam com o soro anti-B, mas não com o anti-A. Células do sangue
do grupo O não aglutinam nem com o soro anti-A, nem com o
soro anti-B. O sangue do grupo AB aglutina com o soro anti-A e
com o soro anti-B (Tab. 4-12).

PRINCÍPIO DA DETERMINAÇÃO DO
GRUPO ABO POR TUBO
O teste do tubo é um método mais sensível e confiável do que o
teste da lâmina para determinar o grupo sanguíneo do paciente. É
usado em bancos de sangue e laboratórios clínicos, ao passo que
o da lâmina é mais usado em salas de aula. A determinação por
tubo requer a diluição do sangue com solução salina, para fazer
uma suspensão de células de 2 a 5%.
A determinação do grupo ABO por tubo consiste de (1) de-
terminação direta, que identifica os antígenos das células e (2) de- FIGURA 4-17 Centrífuga sorológica.
terminação reversa ou confirmatória, que identifica os anticorpos
do grupo sanguíneo presentes no soro. Uma centrífuga sorológi-
melhas para reagir com soros comerciais anti-A e anti-B. Depois,
ca pode ser usada para acelerar a reação (Fig. 4-17). A centrífuga
observa-se a aglutinação que deve acontecer após a centrifugação.
sorológica é um equipamento especializado, que gira pequenos
Se uma centrífuga não estiver disponível, as reações podem ser
tubos para testes.
observadas deixando os tubos em repouso, em temperatura am-
biente, por um período de 15 a 30 minutos.
Determinação direta Uma suspensão de células vermelhas do sangue de 2 a 5%
A identificação direta identifica os antígenos presentes nas célu- é feita adicionando 18 ou 19 gotas de solução salina a uma gota
las vermelhas do sangue colocando a suspensão de células ver- de sangue do paciente. Dois tubos marcados, A e B, são orga-
nizados: uma gota do soro anti-A é colocada no tubo A e uma
gota do soro anti-B no tubo B. Uma gota da suspensão de células
TABELA 4-12 Reações de grupos ABO com soros anti-A do paciente de 2 a 5% é adicionada a cada tubo, e o conteúdo
e anti-B é misturado. Os tubos são centrifugados por 30 segundos para
potencializar a reação.
REAÇÕES DE CÉLULAS COM

GRUPO SANGUÍNEO ANTI-A ANTI-B Interpretação da determinação direta


Os tubos são suavemente sacudidos para soltar as células do
A + 0
fundo, sendo observadas para a aglutinação. O agrupamento das
B 0 + células é uma reação positiva, indicando que o antígeno presen-
AB + + te corresponde ao anticorpo colocado no tubo para teste (Tabs.
4-12 e 4-13). As reações devem ser classificadas usando um siste-
O 0 0
ma extra: neg (sem aglutinação); w+ (reação fraca) e 1+, 2+, 3+ e
+ = aglutinação 4+ (aglutinação mais forte). A Figura 4-18 mostra uma ilustração
0 = sem aglutinação e a descrição de cada nível da reação.
LIÇÃO 4-3 Imunoematologia: Determinação do Grupo ABO 405

TABELA 4-13 Resultados das determinações direta e reversa do grupo ABO

GRUPO SANGUÍNEO DETERMINAÇÃO DIRETA DETERMINAÇÃO REVERSA

Reações de células com: Reações do plasma com:

Anti-A Anti-B Células A Células B Células O

O 0 0 + + 0
A + 0 0 + 0
B 0 + + 0 0
AB + + 0 0 0

+ = aglutinação
0 = sem aglutinação

Determinação reversa
Graduação da aglutinação
A determinação reversa (indireta ou confirmatória) identifica os O grau de aglutinação de células vermelhas observado em qualquer
anticorpos presentes no soro ou no plasma do paciente, reagindo procedimento de teste em banco de sangue é importante e deve
o plasma com uma suspensão comercial de 2 a 5% de células san- ser registrado. Um sistema de graduação está ilustrado a seguir.
guíneas A e com uma suspensão comercial de 2 a 5% de células B. Descrição Reação Grau
Depois, observa-se a aglutinação.
Duas gotas de plasma do paciente são adicionadas a cada um Gomo com uma ou duas 4 ()
dos três tubos, marcados como a, b e controle. Uma gota da sus- aglomerações grandes após
pensão de células do grupo A é adicionada ao tubo a, uma gota ser deslocado. Fundo claro.
da suspensão de células do grupo B é adicionada ao tubo b, e uma
gota da suspensão de 2 a 5% de células do paciente é colocada no
tubo-controle. O conteúdo dos tubos é misturado, e os tubos são Gomo quebrado em poucas 3 ()
centrifugados por 30 segundos. aglomerações grandes.
Fundo claro.

Interpretação da determinação reversa


Os tubos são levemente agitados, observam-se as células para ve-
rificar se aglutinam e classificam-se as reações (Fig. 4-18).Um tes- Gomo quebrado em muitas 2 ()
te positivo, aglutinado, indica que o anticorpo presente no plasma aglomerações de tamanho
médio. Fundo claro.
do paciente corresponde ao antígeno das células adicionadas ao
tubo. O tubo-controle deve sempre ser negativo para aglutinação,
pois contém apenas o plasma e as células do paciente. Os resul-
tados da determinação reversa devem confirmar os resultados da Gomo quebrado em várias 1 ()
determinação direta (Tab. 4-13). aglomerações pequenas.
Fundo turvo.

PRINCÍPIOS DA TIPAGEM EM GEL


São feitas melhorias constantes na tecnologia de teste de banco Poucas aglomerações finas são w
de sangue. Estão disponíveis sistemas automatizados e semiau- observadas a olho nu.
tomatizados para a determinação do grupo sanguíneo e da com-
patibilidade cruzada (crossmatching). Os métodos de tipagem em
fase sólida, gel ou coluna podem ser totalmente automatizados.
Isso é particularmente útil quando a equipe é pequena e os tec- Sem aglomerações visíveis 0 (Neg)
nologistas devem trabalhar em mais de um departamento durante ou aglutinação.
o mesmo turno.
A tipagem em gel é sensível e específica e o procedimento é
padronizado, verificado e validado. O teste é feito em um cartu-
cho preenchido com géis misturados com o reagente específico FIGURA 4-18 Ilustração da graduação das reações de aglutinação para ti-
(Fig. 4-19). Uma diluição de células do paciente é pipetada na pagem do grupo ABO por tubo.
coluna do gel e o cartucho é incubado. Após a incubação, o car-
tucho é centrifugado e os resultados são lidos. As células agluti-
nadas não atravessam o gel, permanecendo no topo da coluna.
Nesse caso, a reação positiva é observada. As células não agluti-
406 UNIDADE 4 Imunologia Básica e Imunoematologia

nadas atravessam o gel para o fundo da coluna e, assim, a reação estáveis e bem-definidos facilitam a interpretação objetiva e re-
negativa é observada (Figs. 4-19 e 4-20). Como algumas reações produtível do resultado do teste, assim como reduzem a neces-
de tipagem no gel são estáveis por muitas horas, os testes podem sidade de repeti-lo. Ainda que a economia de gastos seja uma
ser guardados e lidos novamente, se necessário. questão importante no cuidado com a saúde, o banco de sangue
O manuseio mínimo de reagentes e amostras aumenta a deve continuar mantendo padrões rígidos e o uso dos melho-
biossegurança. O uso de testes em gel elimina variáveis rela- res métodos disponíveis, mesmo que isso aumente o custo dos
cionadas à técnica de cada profissional. Os resultados claros, serviços.

Lembretes de SEGURANÇA

■ Revise a seção de avaliação da qualidade


antes de executar os procedimentos.
■ Observe as precauções-padrão quando
realizar procedimentos de determinação
de grupo sanguíneo.
■ Use jaleco de laboratório abotoado, resis-
tente a fluidos, e outros EPIs adequados.
■ Coloque toda a vidraria usada no recipiente para
descarte de material perfurocortante.
■ Observe as regras de segurança do equipamento
FIGURA 4-19 Cartucho de tipagem em gel com colunas (a partir da es-
querda) para determinação direta do grupo ABO, tipagem de Rh e controle
quando operar uma serofuge.
e determinação reversa do grupo ABO. A amostra apresentada é do tipo
“A positivo”.

Controle Célula
Identificação do Célula
A B D Rh
paciente A1 B
Grupo
Lembretes de PROCEDIMENTO
AZ 101 4  4  M 3 A Positivo

■ Revise a seção de avaliação da qualidade


antes de executar os procedimentos.
■ Siga as instruções do fabricante sobre o
AZ 212 4  4  M 4 A Positivo armazenamento e o uso de todos os rea-
gentes comerciais.
■ Não use reagentes vencidos.
■ Faça os procedimentos de controle de qualidade
regularmente e registre os resultados.
AZ 345 4  4   2 A Positivo ■ Observe o tempo com cuidado quando executar os
testes em lâmina.
■ Use uma suspensão de célula de 2 a 5% para a de-
terminação em tubo.
■ Use boa iluminação para observar as reações.
AZ 433   4  4 3 O Positivo ■ Não agite muito os tubos; reações de aglutinação
fracas podem ser desfeitas e mal-interpretadas.
■ Registre os resultados tão logo sejam observados.

FIGURA 4-20 Formulário de relatório da tipagem em gel. Apresentação


de relatórios da tipagem do grupo ABO e do Rh em quatro amostras de
pacientes usando o sistema de teste de imunoematologia automático Ortho
ProVue. Os testes a partir da esquerda são determinação direta (células do
paciente e anti-A e anti-B), Rh D e controle e determinação reversa (células
A e B e plasma do paciente). As células no fundo da coluna indicam ausência
de aglutinação, uma reação negativa. As células aglutinadas formam uma
camada no topo da coluna e indicam uma reação positiva.
420 UNIDADE 4 Imunologia Básica e Imunoematologia

INTRODUÇÃO TABELA 4-14 Frequência de sangue Rh D-positivo e


O grupo sanguíneo Rh, descoberto nos anos 1940, é o segundo D-negativo em diferentes populações
mais importante sistema de grupo sanguíneo humano. Tem esse GRUPO ÉTNICO D-POSITIVO (%) D-NEGATIVO (%)
nome por causa dos macacos rhesus, que foram usados em expe-
rimentos quando o sistema foi descoberto. Branco 84 16
A tipagem do Rh pode ser feita pelos métodos em lâmina, Afro-americano 93 7
tubo ou gel. Os métodos em tubo ou gel são usados em bancos
Africano 99 1
de sangue. A tipagem do Rh deve ser feita no sangue do doador e
no do paciente antes de uma transfusão de sangue. Esse procedi- Asiático 99 1
mento também é parte da rotina dos exames pré-natais. Europeu ocidental 65 35
(Basco)

O SISTEMA DE GRUPO SANGUÍNEO Rh Nativo norte-americano 99 1

O sistema de grupo sanguíneo Rh é composto por vários antíge-


nos. O primeiro antígeno do sistema Rh reconhecido foi o tipo
D. Este é o mais importante, pois é o mais antigênico e o único
para o qual o sangue é testado de forma rotineira. Assim como das para o teste de D fraco. As células vermelhas do sangue são
os do sistema ABO, os antígenos do Rh são produtos de genes lavadas várias vezes para remover qualquer anti-D não ligado e,
herdados e estão presentes na superfície das células vermelhas do então, incubadas com anti-IgG humana. Esse anti-IgG reage com
sangue. Diferente do sistema ABO, outras células sanguíneas e qualquer IgG anti-D que esteja ligado às células, durante o teste
de tecidos não expressam os antígenos do Rh. Também de modo inicial de tipagem. As células são centrifugadas e observadas para
diverso do sistema ABO, os anticorpos para os antígenos do Rh aglutinação macroscopicamente. Se não for observada aglutina-
não ocorrem naturalmente no soro. ção, elas são observadas microscopicamente para aglutinados.
Apenas o sangue negativo macroscópica e microscopicamente no
Antígeno Rh D teste de D fraco é rotulado como D-negativo.
O principal antígeno no sistema Rh é o antígeno D. As células
vermelhas que possuem o antígeno D são chamadas de Rh D-po- Antígenos Rh diferentes de D
sitivas; as que não o possuem são chamadas de Rh D-negativas. Mais de três dúzias de antígenos foram identificadas no sistema
Tornou-se comum se referir ao antígeno Rh D como apenas an- Rh. Muitos desses antígenos são raros. Entretanto, quatro an-
tígeno D e ao sangue Rh D-positivo como sangue D-positivo ou tígenos Rh estão logo atrás do D em questão de relevância. Os
sangue Rh-positivo. nomes mais comuns para esses antígenos são C, c, E e e. Em
O antígeno D ocorre na maioria da população, mas a inci- alguns casos, o sangue é testado para esses antígenos Rh e para
dência difere de acordo com o grupo étnico (Tab. 4-14). O san- o antígeno D. Raras vezes uma pessoa negativa para esses antíge-
gue do doador, além de ser rotulado pelo grupo ABO, também nos (C, c, E, e), se exposta a sangue contendo o antígeno, produ-
deve sê-lo como Rh-positivo ou Rh-negativo (Fig. 4-21), referin- zirá anticorpos contra ele. As três formas de nomear os antígenos
do-se, assim, à presença ou à ausência do antígeno Rh D. Rh estão listadas na Tabela 4-15 e explicadas na seção Tópicos
Atuais (página 407).
Antígeno D fraco
Alguns indivíduos têm uma forma de antígeno D que reage pou-
co no procedimento de tipagem. O sangue que apresenta reação
fraca com anti-D é chamado D fraco ou DU, o que é considerado
D-positivo.
As células do sangue que expressam o antígeno D fraco tam-
bém podem apresentar reação negativa na tipagem Rh D de ro-
tina. Nesses casos, o teste D fraco deve ser feito antes de relatar
o tipo de Rh D. O sangue do doador só pode ser rotulado como
D-negativo após o teste D fraco confirmar que o antígeno D não
foi detectado. Os laboratórios permitem que apenas profissionais
especialmente qualificados executem o teste de D fraco.
O teste para detecção do D fraco usa os princípios do tes-
te de antiglobulina humana, um método sensível para detectar
os anticorpos ligados a células vermelhas do sangue, usando um
reagente comercial de anti-imunoglobulina (anti-IgG) humana
(AHG). As células vermelhas incubadas com anti-D comercial
da classe IgG e que inicialmente não mostram reação são testa- FIGURA 4-21 Bolsa de doador contendo sangue A positivo.
LIÇÃO 4-4 Imunoematologia: Tipagem do Rh 421

TABELA 4-15 Comparação de métodos de Fisher-Race, Importância da tipagem do Rh


Weiner e Rosenfield na nomenclatura de antígenos Rh É importante testar o antígeno D em todos os pacientes que devem
receber transfusões, para que o tipo correto de sangue seja admi-
SISTEMA
nistrado. Pacientes Rh D-negativos devem receber transfusão ape-
MÉTODO MÉTODO ROSENFIELD
FISHER-RACE WEINER (ET AL.) nas com sangue Rh D-negativo. O teste para o antígeno D também
é usado para identificar mulheres com risco de dar à luz um bebê
D Rho Rh 1 com doença hemolítica do recém-nascido (HDN), em estudos de
C rh' Rh 2 genética familiar e em casos legais para estabelecer paternidade.
E rh" Rh 3
d* Hro — PROCEDIMENTOS PARA TIPAGEM DE Rh
c hr' Rh 4 O antígeno Rh D é identificado usando técnicas de aglutinação.
O sangue venoso anticoagulado é a amostra preferencial, mas o
e hr" Rh 5
sangue capilar também pode ser usado.
*Não foi encontrado nenhum antígeno d. O d significa ausência do antígeno D.
Precauções de segurança
As precauções de segurança devem ser segui-
das quando forem coletadas amostras de san-
Anticorpos Rh gue e quando for realizada a tipagem. Luvas e
Ainda que os anticorpos para os antígenos Rh não ocorram na- outros equipamentos de proteção individual (EPIs) devem ser
turalmente no sangue, o anticorpo para o antígeno D (anti-D) usados ao serem executados os procedimentos. As lâminas ou os
pode ser produzido por uma pessoa D-negativo que se torne tubos usados devem ser colocados em recipiente de descarte de
sensibilizada ou imunizada para o antígeno D. Isso pode ocorrer material biológico e perfurocortantes. Todos os reagentes devem
durante a gravidez (ver informações sobre a doença hemolítica ser vistos como potencialmente infectantes, pois muitos deles são
do recém-nascido) ou após transfusão de sangue com sangue derivados do sangue humano. As regras de segurança da centrí-
D-positivo. O anti-D, quando produzido, é da classe de imuno- fuga devem ser seguidas, incluindo sempre equilibrar os tubos no
globulina G (IgG). rotor e deixar que ela pare antes de abrir a tampa.

TÓPICOS ATUAIS

NOMENCLATURA E HERANÇA DO Isso significa que, se uma pessoa herdar um alelo


SISTEMA Rh para C e um alelo para c, ambos os antígenos (Cc) seriam
expressos. Os genes que codificam os antígenos E e e são
Foram sugeridas três nomenclaturas (sistemas de nome) alelos de outro gene, também codominantes e localizados
para o sistema Rh. Essas nomenclaturas foram sugeridas perto dos alelos C/c. Os alelos D e d estão localizados no
por diferentes pesquisadores para correlacionar os no- terceiro local ligado mais próximo. O alelo D codifica o
mes dos antígenos com o método de herança proposto. antígeno D, mas ainda não foi econtrado nenhum antíge-
Os três sistemas de nome são: Fisher-Race, Weiner e Ro- no para ser expresso pelo alelo d. Acredita-se que o alelo
senfield et al. Os fabricantes de reagentes para banco de D seja dominante sobre o alelo d.
sangue usam um ou mais sistemas de nomenclatura em Cada indivíduo herda três alelos do pai e três da mãe.
seus produtos (Tab. 4-15). Por exemplo, se alguém herda os alelos CDe de um pai/
A nomenclatura de Fisher-Race é empregada com mãe e cDe do outro, o seu genótipo para esses genes seria
mais frequência, devido a sua simplicidade. Entretanto, CDe/cDe. Seu fenótipo da célula vermelha, a expressão
foi demonstrado que o método de herança dos genes Rh detectável dos genes herdados, seria C+, c+, D+ e e+. A
sugerido por Fisher e Race está errado. combinação alélica mais comum encontrada em pessoas
Três conjuntos de genes codificam os antígenos do com Rh D-negativo é cde/cde, significando que apenas os
Rh, D, C, E, c e e. Os genes estão posicionados muito per- antígenos detectáveis nas células vermelhas seriam c e e
to uns dos outros em um cromossomo, fazendo com que (um fenótipo de c+ e e+). Uma pessoa de genótipo CDe/
os três genes em cada cromossomo sejam herdados como cde expressaria os antígenos C, c, D e e (lembre-se de que
um grupo. Os genes que codificam os antígenos C e c são não existe antígeno d).
alelos do mesmo gene e codominantes.
422 UNIDADE 4 Imunologia Básica e Imunoematologia

TÓPICOS ATUAIS

DOENÇA HEMOLÍTICA DO Por esse motivo, é muito importante que mães sob
RECÉM-NASCIDO CAUSADA POR Rh risco façam o exame pré-natal no primeiro trimestre
da gestação, para determinar seu tipo de Rh D e testar
A doença hemolítica do recém-nascido (HDN) é uma se já existem anticorpos anti-D. É comum essas mães
condição na qual o anticorpo da mãe entra na circulação também terem frequente monitoramento do feto; assim,
fetal e destrói as células vermelhas fetais. No passado, qualquer sinal de estresse fetal será detectado preco-
a HDN era causada, principalmente, pela reação anti-D cemente. O pai também pode ser testado – não existe
materna com o antígeno D das células vermelhas do feto. risco de HDN por Rh D quando ambos os pais são
Entretanto, por meio de teste pré-natal e do uso agressi- D-negativo.
vo de métodos para evitar a HDN causada pelo antígeno A HDN pode variar de leve a grave; o grau de gravi-
D, os antígenos Rh não D (como C, c, E ou e) agora são dade costuma estar relacionado à quantidade de anticor-
responsáveis pela maior proporção dessa condição. pos produzidos pela mãe e ao tempo durante a gestação
A HDN pode ocorrer quando uma mãe D-negativo que ela produziu anticorpos. Em casos leves, os sinais de
engravida de um feto D-positivo. Durante a gravidez ou HDN não podem ser detectados até o nascimento e in-
no parto, um pouco das células vermelhas D-positivo do cluem anemia, icterícia ou problemas respiratórios. Em
feto pode alcançar o sistema circulatório da mãe, estimu- casos mais graves, insuficiência cardíaca, dano cerebral
lando suas defesas imunológicas a produzir anticorpos ou até parto de natimorto ou aborto espontâneo podem
– basicamente, ela se torna imune contra células D. Esse ocorrer.
anticorpo (anti-D) é da classe IgG e, portanto, pode atra-
vessar a placenta e alcançar a circulação fetal. O sangra- Prevenção da HDN pelo Rh D
mento do sangue fetal na mãe é chamado de hemorragia Desde 1968, é possível evitar quase todos os casos de
feto-maternal (HFM). As situações que provocam a expo- HDN causados pelo antígeno D administrando imuno-
sição da mãe às células do feto incluem: globulina (RhIG) Rh injetável (D) na mãe D-negativa.
■ amniocentese ou outro procedimento invasivo; O desenvolvimento desse tratamento foi um avanço
■ aborto espontâneo ou induzido; significativo na obstetrícia, estimando-se que tenha
salvado a vida de aproximadamente 10 mil bebês por
■ gravidez ectópica; ano. RhIG é uma solução concentrada de anti-D pu-
■ intenso sangramento durante a gravidez; rificado a partir do plasma humano. Quando RhIG é
■ o processo do nascimento. administrada no momento correto, ela evitará que a mãe
produza seus próprios anticorpos para as células D. O
Na maioria dos casos, as mulheres não são expos- anti-D injetado se ligará a todas as células vermelhas do
tas ao sangue fetal até o momento do nascimento, o que sangue do feto que entrarem no sangue da mãe, fazendo
significa que o primeiro bebê não terá HDN. Entretanto, com que sejam eliminadas da circulação e evitando que
grande quantidade de sangue do recém-nascido em geral seu sistema imunológico seja estimulado. O regime de
alcança a circulação sanguínea da mãe durante o parto. Se tratamento atual é administrar imunoglobulina Rh na
uma mulher D-negativo é exposta ao sangue D-positivo vigésima oitava semana da gravidez e dentro de 72 ho-
e produz anticorpos anti-D, eles podem atravessar a pla- ras após o nascimento de um bebê D-positivo. A RhIG
centa em uma gravidez subsequente. Se o próximo feto também é administrada após eventos como aborto,
também tiver células vermelhas D-positivas, o anti-D des- aborto espontâneo ou amniocentese. Ao receber a in-
truirá as células vermelhas do feto – por isso o nome de jeção na vigésima oitava semana e após o nascimento, a
doença hemolítica do recém-nascido. sensibilização é evitada e a incompatibilidade Rh D não
será um problema durante a próxima gravidez. Esse tra-
Sintomas e consequências da HDN tamento deve ser repetido em todas as gestações, exceto
A mãe de um feto com a doença geralmente não apresen- quando se tem certeza que o feto/bebê é D-negativo. O
ta sintomas durante a gravidez, exceto se a condição for tratamento só tem sucesso com incompatibilidades de
muito grave. antígeno D.
LIÇÃO 4-4 Imunoematologia: Tipagem do Rh 423

Avaliação da qualidade solução de controle de proteína sem anticorpo com o sangue


A exatidão na tipagem do Rh e no relato de do paciente.
resultados é essencial para o bem-estar dos
pacientes. Para evitar erros, as políticas de ava- Tipagem de Rh em tubo
liação da qualidade devem ser seguidas. Elas estão descritas no A tipagem de Rh em tubo é mais sensível do que em lâmina. A ti-
manual de procedimento operacional-padrão da instituição e in- pagem em tubo é feita como a determinação do grupo ABO. Uma
cluem práticas como: suspensão de 2 a 5% é preparada a partir das células do paciente.
■ identificar o paciente, a amostra, os reagentes e os frascos de Uma gota da suspensão é misturada com uma gota de anti-D e o
teste com exatidão; tubo é centrifugado. O pellet de célula é suavemente deslocado
e observado quanto à aglutinação. Em seguida, a reação é clas-
■ inspecionar visualmente os antissoros de tipagem para evitar sificada. Como o soro do paciente não contém anticorpo anti-D
a contaminação; natural, a determinação reversa ou confirmatória não é realizada.
■ testar com os controles as células e os antissoros comerciais Anti-D comercial está disponível como antissoros monoclo-
em intervalos determinados; nais, antissoros policlonais, antissoros de IgG purificada, antis-
■ usar e armazenar os reagentes de acordo com as instruções soros de IgM purificada, combinações de IgG e IgM e antissoros
do fabricante e observar a data de validade; quimicamente modificados. Muitos laboratórios testam rotinei-

ramente cada amostra com dois tipos diferentes de anti-D para
observar os rígidos limites de tempo para os testes de tipa-
aumentar as chances de detectar o antígeno D fraco. É importante
gem em lâmina, de modo que a secagem das células não seja
seguir com cuidado as instruções do fabricante para cada tipo de
confundida com a aglutinação;
antissoro.
■ interpretar e registrar os resultados com cuidado. Os laboratórios devem ter um procedimento claro por escri-
to sobre tipagem e identificação do antígeno D. É particularmente
Tipagem de Rh em lâmina vital que o sangue do doador D fraco positivo não seja confun-
dido com o sangue D-negativo. Se isso acontecer, uma pessoa
Para executar a tipagem de Rh D em lâmina, uma gota de an-
D-negativa pode receber sangue contendo o antígeno D. Alguns
tissoro comercial anti-D é adicionada à lâmina de microscópio
laboratórios estabelecem a política de transfundir um paciente D
identificada. Em seguida, uma grande gota de sangue completo é
fraco com sangue D-negativo. Entretanto, o sangue dos doadores
adicionada à lâmina. O sangue e o antissoro são misturados com
D fraco é rotulado como D-positivo e deve ser transfundido ape-
um agitador e espalhados em pelo menos metade da lâmina. Esta
nas em pacientes D-positivo.
é colocada em uma caixa iluminada, aquecida a 37°C. A caixa é
balançada para a frente e para trás por dois minutos, enquanto se
observa se a mistura aglutina (Fig. 4-22). A presença ou a ausên- Interpretação dos resultados da tipagem de Rh
cia de aglutinação é registrada. Se um paciente for Rh D-positivo, suas células aglutinarão quando
Vários tipos de anti-D comerciais estão disponíveis para reagirem com anti-D. Se o paciente for Rh D-negativo, não ocor-
tipagem do Rh, incluindo anti-D de elevado teor de proteína, rerá aglutinação (Tab. 4-16). Dependendo da política do laborató-
anti-D quimicamente modificado, anti-D monoclonal e anti-D rio, os resultados da tipagem de Rh D-negativo devem ser confir-
em solução salina. Os procedimentos do controle de qualidade e mados com um teste de D fraco (DU) antes de serem registrados.
instruções para uso diferirem para cada tipo de antissoro. As re- A lâmina ou o tubo do controle devem, sempre, ser negativos
comendações na(s) bula(s) dos reagentes a serem usados devem para aglutinação. Se o controle for positivo, o teste é inválido e
ser seguidas. deve ser repetido usando-se um outro método ou reagentes dife-
O controle negativo costuma ser preparado e testado junto rentes. Os resultados de controle positivos ocorrem por causa de
com a amostra do paciente quando for usado o anti-D de eleva- contaminação no soro de controle ou anormalidades na amostra
do teor de proteína. Esse controle é preparado misturando uma de sangue do paciente.

TABELA 4-16 Interpretação dos resultados de tipagem


do Rh D
REAÇÕES DE
CÉLULAS COM:

Soro de
Anti-D controle Interpretação

+ 0 Rh (D) positivo
0 0 Possível Rh D-negativo; confirmar com teste
de D fraco (DU) antes de registrar
+ + Incapaz de interpretar; repetir o teste usando
outro método

FIGURA 4-22 Caixa de visualização aquecida e iluminada, usada para tipa- + = aglutinação
gem de Rh em lâmina. A amostra à direita é D-positiva. 0 = sem aglutinação
424 UNIDADE 4 Imunologia Básica e Imunoematologia

Tipagem em gel para Rh D Lembretes de PROCEDIMENTO


Os cartuchos de gel usados para tipagem ABO também contêm
colunas para tipagem D (ver Lição 4-3). Os testes são feitos e
interpretados como as determinações direta e reversa do gru- ■ Revise a seção de avaliação da qualidade
po ABO. As suspensões diluídas de células vermelhas são adi- antes de executar o procedimento.
cionadas às colunas que contêm uma matriz em gel, antissoro e ■ Sempre siga as instruções do fabricante
reagentes de controles. Sob centrifugação controlada, as células para o uso de reagentes.
são forçadas para a matriz de gel, onde entram em contato com ■ Identifique o paciente e suas amostras cor-
o reagente do anti-D ou do controle. Se o antígeno D não estiver retamente.
presente nas células vermelhas, elas irão para o fundo da colu- ■ Marque as lâminas e os tubos com exatidão.
na sem reagir com o antissoro. Anti-D no gel se ligará a células ■ Realize uma lâmina para tipagem de Rh D a 37°C
D-positivas, provocando aglutinação e impedindo que as células usando uma caixa para visualização iluminada e
atravessem o gel. Uma camada de célula remanescente no topo da aquecida.
coluna é um resultado positivo. ■ Observe as reações de tipagem de Rh em lâmina
dentro de dois minutos.
■ Confirme a tipagem negativa de Rh em lâmina com
U
Lembretes de SEGURANÇA um teste em tubo ou um teste para D fraco (D ).

■ Revise a seção de precauções de segurança


antes de iniciar o procedimento. RESUMO
■ Observe as precauções-padrão quando rea-
lizar os testes de tipagem. O sistema de grupo sanguíneo Rh é composto de antígenos de
■ Use jaleco de laboratório abotoado, resis- células vermelhas que são produtos dos genes herdados. O D
tente a fluidos, e outros EPIs adequados. é o principal antígeno do sistema, mas outros antígenos menos
■ Descarte adequadamente todo material usado. importantes, C, c, E e e também são significativos no banco de
■ Limpe a área de trabalho com desinfetante de su- sangue. As unidades de sangue do doador e de potenciais recep-
perfície. tores de transfusão são rotineiramente testadas para antígeno D.
A tipagem do Rh pode ser feita pelos métodos em lâmina, tubo

ESTUDO DE CASO 1

Sr. Morris foi ao centro de doação para doar sangue. Quando o centro de processamento fez a tipagem inicial
do grupo ABO e Rh D do seu sangue, os resultados indicaram que ele era A negativo. A determinação do grupo
ABO foi feita pela tipagem em tubo, e a tipagem do Rh D foi feita pelo método em lâmina.

A próxima etapa para o centro de processamento deve ser:


a. Rotular o sangue como A negativo.
b. Repetir a determinação do grupo ABO pelo teste em lâmina, que é mais confiável.
c. Fazer outra tipagem para teste de D fraco antes de rotular a bolsa.

ESTUDO DE CASO 2

Sra. Rodriguez, que foi identificada como B negativo, precisava de uma transfusão. Os únicos sangues disponí-
veis eram B positivo e O negativo. Qual ela deve receber? Explique sua resposta.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
DICA DO PROFESSOR

Na Dica do professor, você vai conhecer as diferenças no que se refere à produção de


aglutininas no sistema ABO e no sistema Rh.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

EXERCÍCIOS

1) Clara foi submetida a uma cirurgia de emergência e necessitou de transfusão de


sangue no momento da cirurgia. Antes da transfusão das bolsas de sangue, foi
realizada a tipagem sanguínea de Clara, bem como outros testes para confirmar o seu
grupo sanguíneo do sistema ABO e fator RH, a fim de evitar reações de
incompatibilidade entre o doador e o receptor. Sabendo que Clara é do grupo
sanguíneo O positivo, assinale a alternativa correta sobre os tipos sanguíneos que
Clara poderá receber.

A) Clara somente poderá receber sangue O positivo.

B) Clara poderá receber sangue AB positivo, AB negativo, A positivo, A negativo, B


positivo, B negativo, O positivo, O negativo.

C) Clara poderá somente receber sangue A positivo, A negativo, O positivo, O negativo.

D) Clara poderá receber somente sangue O positivo e O negativo.

E) Clara poderá receber sangue B positivo, B negativo, O positivo, O negativo.

2) No sistema ABO, há dois tipos de proteínas presentes nas hemácias que atuam como
antígenos e são chamados de aglutinogênios. Além desses, há no plasma proteínas
específicas denominadas aglutininas, que atuam como anticorpos e já se encontram
sintetizadas no plasma. Sobre o sistema ABO, assinale a alternativa incorreta.

A) A reação antígeno-anticorpo é extremamente específica e, no caso dos grupos sanguíneos,


essa reação é denominada hemaglutinação.

B) Há dois tipos de aglutininas que podem ocorrer no sistema ABO: anti-A e anti-B.

C) Quando o indivíduo apresenta o aglutinogênio B em suas hemácias, ele não apresenta a


aglutinina anti-B em seu plasma.

D) Os indivíduos do grupo sanguíneo A, B, AB e O apresentam em suas hemácias,


respectivamente, aglutinogênio A, aglutinogênio B, aglutinogênio A e B e, finalmente, o
indivíduo que é o do grupo sanguíneo O não possui aglutinogênio.

E) Os indivíduos do grupo sanguíneo A possuem em seu plasma a aglutinina anti-A, enquanto


os indivíduos do grupo B possuem a aglutinina anti-B. Já os indivíduos do grupo AB
apresentam aglutininas anti-A e anti-B. Por fim, indivíduos do grupo O não possuem
aglutininas em seu plasma.

3) Carine é analista no setor de hematologia de um grande laboratório. Todos os dias,


ela realiza a tipagem sanguínea de um considerável número de pacientes. Para a
liberação do resultado do grupo do sistema ABO e do sistema Rh, é preciso que ela
realize algumas metodologias a fim de garantir maior acurácia no resultado emitido
no laudo. Assinale a opção incorreta sobre as metodologias utilizadas por Carine.

A) Para a determinação do sistema Rhesus de um indivíduo, é preciso identificar a presença


de antígenos D nas hemácias do paciente. Nesse teste não é necessário o uso de um
controle Rh.

B) Se no tubo que contém anti-D e na suspensão de hemácias houver a presença de


aglutinação, pode-se interpretar que o resultado é fator Rh positivo.
C) No mesmo momento em que se realiza o teste do fator Rh e sistema ABO por meio de
provas diretas, também se realiza a prova reversa, que funciona como uma contraprova
fundamental para a conclusão do exame e tem a finalidade de pesquisar anticorpo no soro
do paciente.

D) Quando o tubo da prova direta que contém anti-B aglutina, a interpretação do resultado
grupo sanguíneo B e a prova direta para a confirmação do resultado será com presença de
aglutinação no tubo A.

E) Teste em tubo de prova direta: suspender uma gota dos soros anti-A, anti-B, anti-AB, anti-
D e controle Rh nos respectivos tubos. Após isso, acrescentar uma parte da suspensão de
hemácias.

4) O teste de Coombs indireto, também chamado de pesquisa de anticorpos irregulares,


tem como objetivo pesquisar no soro do paciente a presença de aloanticorpos
irregulares voltados contra antígenos clinicamente significativos de importância
transfusional e/ou gestacional. Assinale a alternativa incorreta sobre o teste de
Coombs indireto.

A) Este teste é utilizado na pesquisa de anticorpos bloqueadores (incompletos), os quais se


fixam às hemácias in vitro, mas não as aglutinam. Para que a reação seja observada, é
necessária a adição do soro anti-IgG (soro de Coombs). Os anticorpos clinicamente
significativos são os anticorpos contra antígenos eritrocitários.

B) A interpretação de um teste de Coombs positivo pode ser descrita pela ausência de


aglutinação devido à ausência de anticorpos livres no soro do paciente, os quais
correspondem a um ou mais antígenos presentes nas hemácias usadas no teste.

C) O teste de Coombs indireto também pode ser usado para detectar anticorpos contra
fármacos que se ligam aos eritrócitos e causam a anemia hemolítica.

D) O soro de Coombs (soro anti-IgG) também é utilizado na pesquisa de formas fracas do


antígeno D (Du). O antígeno Du é uma variante do antígeno D e, embora se comporte de
maneira diferente nas técnicas rotineiras de determinação do antígeno D, é tão antigênico
quanto este.

E) O teste de Coombs indireto permite que se detectem incompatibilidades de Rh que causam


doença hemolítica do recém-nascido, possibilitando, assim, a prevenção da doença.

5) O teste de Coombs direto é também chamado de teste da antiglobulina direto ou


pesquisa de anticorpo intravascular. Esse teste é usado, principalmente, para
determinar se a presença de uma anemia hemolítica está relacionada aos anticorpos
ligados às hemácias. Sobre o teste de Coombs direto, assinale a opção incorreta.

A) O teste de Coombs poderá identificar anticorpos ligados à membrana das hemácias, os


quais são produzidos em processos patológicos autoimunes, tais como o lúpus eritematoso
sistêmico.

B) O teste laboratorial tem como princípio o uso da hemácia do paciente com o soro de
Coombs ou o soro da antiglobulina humana (AGH), que se liga aos anticorpos fixados nas
hemácias.

C) O teste de Coombs direto e o teste de Coombs indireto adicionam o anticorpo anti-


imunoglobulina humana no soro materno na eritroblastose fetal.

D) A dificuldade de detectar os anticorpos IgG anti-Rh era uma realidade devido à reação
antígeno-anticorpo não desencadear uma aglutinação tal como ocorre no sistema ABO. A
detecção foi possível a partir do desenvolvimento do anticorpo anti-imunoglobulina
humana (soro de Coombs).

E) O teste de Coombs indireto e o teste de Coombs adicionam o anticorpo anti-


imunoglobulina humana no soro materno na eritroblastose fetal.

NA PRÁTICA
Observe os passos para as testagens ABO e Rh, incluindo a pesquisa do antígeno D fraco.
SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Imunobiologia de Janeway

MURPHY, Kenneth, Porto Alegre: Artmed, 2014. [Apêndice A7 ao A12]

Hematologia laboratorial

ILVA, Paulo Henrique; ALVES, Hemerson Bertassoni; COMAR, Samuel Ricardo;


HENNEBERG Railson; MERLIN, Júlio Cezar; STINGHEN, Sérvio Túlio. Porto Alegre:
Artmed, 2015. [Capítulo 14]

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