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Registro: 2020.

0000143259

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus Cível


nº 2003457-11.2020.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é
impetrante D. P. DO E. P. e Paciente W. F. A. F..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da Câmara Especial


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
Denegaram a ordem. V. U., de conformidade com o voto do relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIS


SOARES DE MELLO (VICE PRESIDENTE) (Presidente sem voto),
MAGALHÃES COELHO(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO) E
DIMAS RUBENS FONSECA (PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO).

São Paulo, 28 de fevereiro de 2020.

GUILHERME G. STRENGER (PRES. SEÇÃO DE DIREITO CRIMINAL)


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 45.176
HABEAS CORPUS Nº 2003457-11.2020.8.26.0000
Comarca: São Paulo (Execução de Medidas Socioeducativas nº
0008847-82.2019.8.26.0015)
Juízo de Origem: DEIJ Departamento de Execuções da Vara Especial da Infância e
Juventude
Impetrante: Defensoria Pública
Paciente: W. F. A. F.

HABEAS CORPUS Infância e Juventude Ato


infracional equiparado ao crime de roubo
majorado Medida socioeducativa de Internação
Pedido de unificação com medida de liberdade
assistida, prevalecendo a medida em meio aberto
ou reavaliação da medida de internação ou,
ainda, a designação de audiência para oitiva do
jovem, de sua genitora e dos técnicos Pedidos
indeferidos pelo MM. Juízo a quo, que unificou as
medidas, mas considerou a liberdade assistida
absorvida pela internação Postula-se a
reavaliação da medida de internação, reinserindo
o jovem em meio aberto Descabimento Ato
infracional grave Circunstâncias do fato e
condições pessoais do adolescente que evidenciam
a necessidade da medida de internação Decisão
satisfatoriamente fundamentada Ordem
denegada.

VISTOS.

A Defensoria Pública impetra ordem de


habeas corpus em favor de W. F. A. F., que se
encontra cumprindo medida socioeducativa de

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internação, em virtude da prática de ato infracional


equiparado ao crime de roubo majorado (Execução
de Medidas Socioeducativas nº
0008847-82.2019.8.26.0015, do Departamento de
Execuções da Vara Especial da Infância e Juventude
DEIJ).

Sustenta, em síntese, que o paciente


está sofrendo constrangimento ilegal, pois, muito
embora tenha praticado ato infracional durante o
cumprimento de medida de liberdade assistida
aplicada em substituição à internação imposta pela
prática de ato infracional idêntico, “no intervalo de
quatro meses entre a prática infracional e a
sentença, o adolescente protagonizou significativo
desenvolvimento socioeducativo” (fls. 02),
apresentando “postura adequada nos atendimentos
agendados e desenvolvimento positivo na medida
socioeducativa” (fls. 02) e manifestando “o desejo
de retomar os estudos e está fazendo um curso de
área da construção civil (...). Ademais, ele segue
trabalhando em um lava-rápido tem cuidado dos
irmãos mais novos. No mais, o educando conta com
efetivo respaldo familiar, não apresenta demandas

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de saúde e não teve novo envolvimento infracional


desde a conduta que originou a presente execução”
(fls. 02/03). Afirma ainda, que “as intervenções
técnicas em meio aberto têm surtido efeito no
processo de desenvolvimento de Wilians, bem como
que o educando e sua família estão vinculados ao
SMSE/MA. Daí a importância de dar
prosseguimento às intervenções em proximidade
com a família e a comunidade do educando, sendo
a internação uma ruptura que poderá ensejar
prejuízos ao desenvolvimento socioeducativo em
curso” (fls. 03).

Pleiteia o deferimento de liminar, e, ao


final, a concessão da ordem, “para o fim de cassar
a r. decisão combatida e reavaliar a medida de
internação, de modo a reinserir o jovem em meio
aberto, considerando o caráter dinâmico do
percurso socioeducativo, bem como os princípios da
mínima intervenção e da excepcionalidade da
privação de liberdade” (fls. 13).

Indeferida a liminar (fls. 50/54), foram


dispensadas as informações, tendo a douta

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Procuradoria Geral de Justiça opinado pela


denegação da ordem (fls. 64/69).

É o relatório.

Ab initio, cumpre salientar mostrar-se


desnecessária a adoção da providência alvitrada pelo
douto Procurador de Justiça a saber, “requisição
de informações antes do julgamento do mérito do
presente pedido de ordem de habeas corpus” (fls.
65) , porque os autos do feito originário são digitais
e, desta forma, seus dados essenciais podem ser
acessados pelo Sistema de Automação da Justiça
SAJ.
Feita tal consideração, passo ao exame
meritório.
Extrai-se dos autos que o paciente se
encontra cumprindo medida socioeducativa de
internação, em virtude da prática de ato infracional
equiparado ao crime de roubo majorado (Execução
de Medidas Socioeducativas nº
0008847-82.2019.8.26.0015, do Departamento de
Execuções da Vara Especial da Infância e Juventude

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DEIJ).
Sustenta-se que o paciente está
sofrendo constrangimento ilegal, pois, pese embora
tenha praticado ato infracional durante o
cumprimento de medida de liberdade assistida
aplicada em substituição à internação imposta pela
prática de ato infracional idêntico, “no intervalo de
quatro meses entre a prática infracional e a
sentença, o adolescente protagonizou significativo
desenvolvimento socioeducativo” (fls. 02),
apresentando “postura adequada nos atendimentos
agendados e desenvolvimento positivo na medida
socioeducativa” (fls. 02) e manifestando “o desejo
de retomar os estudos e está fazendo um curso de
área da construção civil (...). Ademais, ele segue
trabalhando em um lava-rápido tem cuidado dos
irmãos mais novos. No mais, o educando conta com
efetivo respaldo familiar, não apresenta demandas
de saúde e não teve novo envolvimento infracional
desde a conduta que originou a presente execução”
(fls. 02/03). Afirma que “as intervenções técnicas
em meio aberto têm surtido efeito no processo de
desenvolvimento de Wilians, bem como que o
educando e sua família estão vinculados ao

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SMSE/MA. Daí a importância de dar


prosseguimento às intervenções em proximidade
com a família e a comunidade do educando, sendo
a internação uma ruptura que poderá ensejar
prejuízos ao desenvolvimento socioeducativo em
curso” (fls. 03).
Por isso, requer-se a cassação do
decisum guerreado e a reavaliação da “medida de
internação, de modo a reinserir o jovem em meio
aberto, considerando o caráter dinâmico do
percurso socioeducativo, bem como os princípios da
mínima intervenção e da excepcionalidade da
privação de liberdade” (fls. 13)..
Contudo, é o caso de se denegar a
ordem.
Com efeito, há que se conservar, na
espécie, a imposição da medida socioeducativa de
internação a W. F. A. F., eis que bem fundamentada,
pelo MM. Juízo a quo, sua aplicação, haja vista a
necessidade e excepcionalidade delineadas no caso
concreto (fls. 31/32).
A propósito, observa-se ter o d.
Magistrado singular anotado que, verbis:

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“Anteriormente o educando cumpriu medida de


internação por outro ato infracional equiparado
ao crime de roubo. Em 22/04/2019 ele foi
progredido para medida em meio aberto. O ato
infracional que lastreia a presente guia é datado
de 11/08/2019. Trata-se de um roubo com
concurso de agentes e com emprego de arma de
fogo. Verifico que, como bem fundamentado na
sentença, a vítima reconheceu o educando com
absoluta certeza em solo policial, ratificando a
lisura do procedimento de reconhecimento em sua
oitiva em juízo (por carta precatória). Lendo os
relatórios do SMSE/MA do processo em apenso,
verifico que Willians sustenta ser vítima de injusta
perseguição por parte de policiais da região. O
relatório mais veemente no sentido da existência
de abusos por parte dos milicianos da região é o
relatório protocolado em 29/07/2019 (fls.
307/311), ou seja, 13 dias antes do novo ato
infracional. Considerando o novo título
condenatório, mais do que razoável supor que no
momento em que o estudo foi confeccionado, o
educando ainda não tinha abdicado de seus
planos delitivos, o que, de certo modo, afasta a
credibilidade de sua versão de que era vítima de
abusos por parte dos policiais da região. Entre a
desinternação e o novo ato infracional, temos um
intervalo inferior a quatro meses, indicando que o
educando não estava totalmente ressocializado no
momento em que foi agraciado com a progressão
para medida mais branda. O novo ato infracional
é grave e ocorreu em data relativamente recente.

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Em que pese a justificativa do temor pela atuação


dos policiais da região, é fato que o educando
atualmente não estuda e não trabalha.
Considerando tais aspectos, indefiro o pedido de
reavaliação da medida. É caso de se aguardar o
cumprimento do mandado de busca e apreensão de
fls. 15” (fls. 31/32).

Imperioso anotar que o ato infracional


praticado pelo representado encontra-se inserido no
rol do artigo 122, inciso I, da Lei nº 8.069/90,
segundo o qual será cabível a medida socioeducativa
de internação quando se tratar “de ato infracional
cometido mediante grave ameaça ou violência a
pessoa”.
Outrossim, verifica-se que o infrator
respondeu por outros dois atos infracionais, um
deles equiparado a tráfico de entorpecentes
(Processo nº 00011497-10.2016.8.26.0015 da 2ª
Vara da Infância e Juventude da Comarca da
Capital) e, o outro, análogo ao delito de roubo (Ação
nº 0001620-75.2018.8.26.0015 da 4ª Vara da
Infância e Juventude da Comarca da Capital), neste
tendo sido imposta a medida socioeducativa de
internação, posteriormente substituída por
liberdade assistida, o que autoriza a aplicação da
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medida socioeducativa de internação, com fulcro no


artigo 122, inciso II, do ECA.
Dessarte, verifica-se que o paciente
necessita de direcionamento e suporte com vistas
ao fortalecimento do processo de valorização
pessoal, compreensão de seu papel e efetivação de
um projeto de vida, sendo imprescindível o
acompanhamento por equipe multiprofissional,
inserção em núcleo escolar e curso
profissionalizante, o que, associado à gravidade da
conduta, permite inferir que a adoção de medida
mais branda seria inócua.
E não há nos autos elementos a
demonstrar que o jovem, sozinho, reúna condições
de se recuperar se adotada medida socioeducativa
em meio aberto, como postulado pela impetrante.
Caso colocado em meio aberto,
possivelmente não receberia o auxílio e a orientação
eficazes para compreender a inadequação e a
gravidade de seus atos, a ponto de se afastar do
meio criminoso em que se encontra inserido.
Em suma, diante das peculiaridades do
ato infracional e das condições pessoais do paciente,
a medida de internação, além de necessária, é a

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mais adequada a viabilizar o seu processo de


reeducação e ressocialização, ao menos por ora.

Diante do exposto, denego a ordem.

GUILHERME G. STRENGER
Presidente da Seção de Direito Criminal
Relator

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