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ISSN: 2519-7207 Vol.

03, Nº 07, Ano II, Janeiro - Março de 2016

QUÍMICA FORENSE:
O Papel e Desafios na Investigação Criminal
Autor: Agostinho Fernando Maluque
Técnico Superior de Laboratório
Mestrando em Psicologia Clínica
Licenciado em Química

Química forense é investigação criminal com base nos conhecimentos, métodos, técnicas, reagentes e instru-
mentos desenvolvidos para a química analítica e toxicológica, com a finalidade de identificar o objecto de
litígio ou de processo-crime. Todas as substâncias de natureza química, encontradas no local do crime, podem
ser separadas e identificadas, com base nos métodos e técnicas de química forense, nomeadamente; testes colo-
rimétricos, cromatográficos, espectroscópicos, de fluorescência de Raios X, provas de ADN e revelação de
impressões digitais. Os crimes mais comuns no universo são; o tráfico de droga, homicídio, suicídio, latrocí-
nio, receptação, estupro unificado ao crime de atentado violento ao pudor, falsificação documental e medica-
mentoso. O grande desafio da química forense reside na separação, identificação e quantificação dos compo-
nentes de misturas complexas de substâncias de natureza tóxicas ou venenosas e desvendar todos os crimes de
natureza química.

1. Introdução ramo da ciência química, ganhou grande

A
dimensão, devido ao aperfeiçoamento
química é uma ciência que se observado na instrumentação e aprimora-
dedica ao estudo das substân- mento do melhor conhecimento dos princí-
cias, que podem ser; átomos, pios físicos e químicos que regem a consti-
moléculas, iões, compostos e tuição da matéria e ainda, ao desenvolvi-
misturas, sua composição, propriedades mento acelerado das outras áreas da quí-
físico-químicas e as leis que regem as trans- mica tais como; a inorgânica, mineral,
formações dessas substâncias (Nglinka, orgânica e a nuclear, que proporcionaram
1984). As principais áreas da química são: grandes contributos.
química física, analítica, mineral, orgânica, A aplicação dos conhecimentos da
inorgânica e nuclear, sendo a química físi- química analítica, associados aos da quí-
ca, o ramo da química que relaciona os mica toxicológica (parte da química que
conhecimentos de duas ciências, da quí- estuda os efeitos das substâncias no orga-
mica e física, para estudar as propriedades nismo), no campo legal ou judicial designa
das substâncias e as leis que regem as -se química forense, onde o perito criminal,
transformações dessas substâncias. também considerado cientista forense,
Entende-se por química analítica, que frequentemente é um químico, servi-
como sendo, o ramo da química que se dor público aos serviços da justiça e res-
dedica na análise das substâncias para ponsável por localizar e analisar os vestí-
identificação, qualificação e quantifica- gios do delito, utiliza os métodos e as técni-
ção dos seus constituintes. Portanto, este cas desenvolvidas para a química analíti-

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ca e toxicológica com vista a resolver os laboratório de Conde. Assim, Conde foi
chamados “problemas dos químicos”. preso justamente por assassinato (Atalaia,
2014).
2. Historial da Química Forense Hoje, a partir dos vestígios deixados no
local do crime, tais como; drogas, vestígios
Há milhares de anos (mais de 2000 de sangue, resíduos de pólvora, fios de
anos a.C.), os egípcios, gregos e romanos cabelo, impressões digitais, marcas de
já utilizavam substâncias químicas tóxicas e sapatos entre outros, o perito criminal tem
venenosas, para ocasionar a morte, tanto a missão de recolher essas evidências cri-
por assassinato, assim como por suicídio, minais, e através dos métodos e técnicas
sendo as principais substâncias daquela forenses, identificar, qualificar, quantificar e
época, maioritariamente os compostos revelar estas substâncias.
arsénicos, dentre tantos o mais popular, o De acordo com Damasceno, et al,
trióxido de arsénio (As2O3), também conhe- (2013), local do crime é o palco principal
cido por arsénio branco. onde, em geral, inicia-se o trabalho da
Naquela época, não estavam estrutu- perícia criminal, representa o berço de
rados os conhecimentos, os métodos e as geração dos vestígios produzidos no facto
técnicas da química analítica, nem mesmo em investigação. A preservação deste
os da toxicologia, para desvendar crimes local é extremamente importante, pois, a
de natureza química, razão pela qual exis- não preservação traz consequências para
tiam limitações para revelação da verda- o trabalho pericial e naturalmente para os
de dos factos. demais profissionais envolvidos no proces-
A utilização dos conhecimentos da samento de uma cena do crime, atenden-
química na investigação de crimes, foi do que estes profissionais não são os pri-
apresentado pela primeira vez em Roma, meiros a chegarem no local.
por volta dos anos 82 a.C., pelo químico, Nas series de investigação criminal
físico e matemático Demócrito de Abdera como Criminal Scence Investigation – CSI,
ao Médico Hipócrates, mas, só no ano transmitidos nos programas televisivos tem
1752 é que foram utilizadas as evidências sido mostrado o quão desenvolvido estão
químicas na investigação criminal (Atalaia, as ciências forenses para identificação do
2014). objecto crime e como é feita a preserva-
Na modernidade a química forense ção e a colheita das evidência criminais.
ocorreu no princípio do século XIX, na Bél- Uma vasta gama de instrumentos, apare-
gica, no famoso caso Gustave Fougnies, lhos, reagentes, métodos e técnicas foram
assassinado pelo seu cunhado Conde Hip- desenvolvidos para desvendar crimes.
polyte Visart de Bocarmé e sua irmã Con-
densa Bocarmé. Estes por sua vez fizeram 3. Crimes Comuns no Universo
com que Gustave, num jantar na sua man-
são, bebesse um veneno de aspecto oleo- Em termos jurídicos, entende-se por
so, constituído basicamente por nicotina, crime, toda conduta típica, antijurídica ou
preparado a partir da planta do tabaco. A ilícita e culpável, praticada por um ser
policia por sua vez, tendo encontrado evi- humano. No sentido formal, crime é uma
dências no laboratório de Conde, pediu violação da lei penal e no conceito mate-
ajuda ao químico francês Jeans Stas, para rial é uma acção ou omissão que se proíbe
verificar se estas teriam alguma ligação e se procura evitar, ameaçando-a com
com o caso. Jeans Stas, desenvolveu um pena, porque constitui ofensa (Velho,
método analítico e detectou a presença 2013).
da nicotina no corpo da vítima, a mesma Os crimes mais comuns no universo são
substância encontrada na amostra do os seguintes: tráfico de droga (nacional e

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internacional), homicídio (simples e qualifi- tivas fases. A fase estacionária é fixa (se a
cado), falsificação de documentos e ou separação for feita em coluna cromato-
de medicamentos, roubo (simples e qualifi- gráfica, a fase estacionária fica fixada a
cado), furto (simples e qualificado), latrocí- coluna), sendo um material poroso, sólido
nio, receptação, estupro unificado ao cri- ou líquido viscoso. Já a fase móvel pode
me de atentado violento ao pudor entre ser líquida ou gasosa, a qual se move atra-
outros. vés da coluna.
Em Moçambique (pais subdesenvolvi- Os diferentes tipos de cromatografia se
do), a realidade criminosa não se difere devem aos diferentes tipos de interações
dos praticados nos países desenvolvidos possíveis entre os solutos e as fases estacio-
(Inglaterra, Estados Unidos da América nárias e móveis, podendo ser realizadas
entre outros), embora estatisticamente, os em uma coluna ou de forma planar. A cro-
cinco crimes mais frequentes, sejam dife- matografia líquida se dá quando a fase
rentes dos crimes mais comuns nos países móvel é líquida, enquanto a fase estacio-
desenvolvidos, sendo os mais frequentes nária é sólida, havendo interacção soluto-
em Moçambique, o roubo, crime de fogo fase estacionária, como na cromatografia
posto, ofensas corporais, violação de de adsorção, onde um soluto tem mais
menores entre outros. facilidade em ser adsorvido por poros na
fase estacionária, levando mais tempo
4. Métodos e Técnicas de Rotina para se deslocar.
Forense A cromatografia gasosa se dá quando
a fase móvel é gasosa, enquanto a fase
São inúmeros os testes realizados pelos estacionária é líquida ou sólida. A fase
químicos forenses na análise de vestígios e móvel é um gás de arraste, o qual leva os
variam de acordo com a necessidade da componentes da mistura analisada (no
análise, utilizando desde substâncias e estado gasoso), e a fase estacionária exer-
vidrarias simples até a utilização de máqui- ce atração sobre um dos componentes,
nas e equipamentos sofisticados. retardando o tempo de deslocamento e
Dentre as análises realizadas na área promovendo assim a separação das espé-
de química forense, os principais são: a cies. Através do cálculo do tempo de
cromatografia, os testes colorimétricos, de retenção de um determinado análito
fluorescência de Raios X, espectroscópi- sobre um determinado tipo de cromato-
cos, de ADN, revelação de impressões digi- grafia, é possível comparar e chegar à
tais e balística. Neste artigo são apresenta- identidade da espécie presente na mistura
dos fundamentos de algumas destas técni- analisada. Existe a possibilidade também
cas a seguir: da junção dos cromatógrafos e de espec-
trómetros, os quais juntos potencializam o
4.1. Cromatografia trabalho, levando a resultados mais rápi-
dos nas análises realizadas.
Os métodos cromatográficos são
A cromatografia é um método físico-
amplamente utilizados na análise dos pro-
químico de separação, fundamentada na
dutos farmacêuticos, sendo a cromatogra-
migração diferencial dos componentes de
fia de alta eficiência considerado padrão
uma mistura, que ocorre devido a diferen-
de ouro na análise de fármacos (BRANCO
tes interações (Degani et al. 1998).
et al, 2013).
De um modo geral, a separação por
cromatografia se deve a uma fase estacio-
nária e uma fase móvel, onde passa a mis- 4.2. Testes Colorimétricos
tura, havendo interações diferentes entre
seus componentes (soluto) com as respec- O uso de teste de cor talvez seja a for-

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ma de análise mais comum e utilizada Os nossos dedos possuem nervuras ou
para se determinar a presença de certas linhas, que desenham arcos redemoinhos
substâncias presentes numa amostra. Trata ou outras figuras abstratas. Estas nervuras
-se de uma técnica que apenas fornece funcionam como antiderrapante. Se as
resultados qualitativos. Devido ao baixo nossas mãos e pés, fossem lisos os objectos
custo de reagentes, fácil reprodução, a escorregavam com facilidade. Quando
qual por uma reacção química simples tocamos nalguma superfície deixamos resí-
revela resultados que podem ser interpre- duos de gordura, suor, aminoácidos e pro-
tadas a olho nu e imediatamente. As técni- teínas. São esses resíduos que permitem
cas colorimétricos são utilizadas largamen- obter as impressões digitais. Alem disso,
te em rotina de laboratórios de química também são obtidas impressões digitais se
analítica e na investigação criminal, sobre- deixarmos a nossa marca num material
tudo em locais de controlo do tráfico de moldável ou tivermos os dedos sujos de
drogas. tinta ou sangue.
Trata-se de uma técnica bastante sim- De acordo com UNICENTRO (2012), na
ples e de fácil manuseio, até mesmo quem análise das impressões digitais, a compara-
não é químico por formação pode utilizar ção é efectuada a partir de 6 - 7 pontos-
os testes de cor sem larga experiência, chave escolhidos dentre os traços mais
como por exemplo, os polícias em procedi- característicos, se todos coincidirem temos
mentos de rotina, na busca de substâncias a chamada correspondência positiva.
ilícitas, sem a necessidade de um laborató-
rio, em aeroportos e outros locais. Figura 1: Sete pontos usados na comparação das impres-
sões digitais e alguns tipos de impressões digitais
Os testes colorimétricos baseiam-se no
desenvolvimento de uma cor, que pode
indicar a presença de uma droga ou de
uma determinada classe de drogas. Uma
vez que mais de um composto pode dar o
mesmo resultado, os testes de cor não são
específicos e não identificam conclusiva-
mente a presença de um composto (LINK,
2008).
Devido a esse facto, o uso do teste
colorimétricos entra como uma técnica
primária, servindo para identificar a presen-
ça do possível grupo alvo na amostra,
para posteriormente passar por uma técni-
ca analítica mais sofisticada, determinan-
do o teor e a composição da amostra pro-
blema.

4.3. Impressões Digitais

Segundo Branco (2013), o princípio


básico da ciência forense formulado por
Edmound Locard, diz que “todo contacto
deixa vestígios” e, naturalmente que a
escolha da ferramenta e do método a ser
empregado depende da natureza dos
vestígios deixados. Fonte: Aline (2012)

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Para melhor compreensão da matéria observa vários aspectos. A Observação
sobre as impressões digitais, algumas con- dos objectos deslocados da sua posição
cepções e princípios são indispensáveis, original pode revelar vestígios papilares nos
tais como: O termo datiloscopia, que é o objectos que apresentam superfície lisa ou
estudo das digitais presentes na ponta dos polida. A estes vestígios denominam-se
dedos, sendo que numa investigação cri- Impressões Papilares Latentes, que podem
minal faz-se a datiloscopia criminal, a qual confirmar ou descartar a dúvida de quem
é usada para a identificação de pessoas estava na cena do crime (ALINE, 2012).
indicadas em inquéritos ou acusadas em As principais técnicas para identifica-
processos. Só para recordar que existe a ção de impressões digitais são:
datiloscopia civil, que tem por objectivo a
identificação de pessoas, como nos bilhe- 4.3.1. Técnica do Pó
tes de identidade.
UNICENTRO (2012), refere que a dati- É a mais utilizada entre os peritos, a
loscopia se baseia em alguns princípios técnica do pó nasceu juntamente com a
fundamentais, os quais estão relacionados observação das impressões e sua utiliza-
com a identificação humana, que são: O ção remota ao século XIX e continua ate
princípio da perenidade, descoberto em hoje. É usada quando as impressões digi-
1883 pelo anatomista holandês Arthur Koll- tais latentes localizam-se em superfícies
man, diz que os desenhos datiloscópicos que possibilitam o decalque da impressão,
em cada ser humano ja estão definitiva- ou seja, superfícies lisas, não rugosas e não
mente formados ainda dentro da barriga adsorventes. A técnica do pó esta basea-
da mãe, a partir do sexto mês de gesta- da nas características físicas e químicas do
ção. pó, do tipo de instrumento aplicador e,
O princípio da imutabilidade, por sua principalmente, no cuidado e habilidade
vez, diz que este desenho formado não se de quem executa as actividades, cha-
altera ao longo dos anos, salvo algumas mando atenção que as sedas do pincel
alterações que podem ocorrer devido a podem danificar a impressões digitais
agentes externos, como queimaduras, cor- latentes. Alem dos pincéis, a técnica tam-
tes ou doenças de pele. Já o princípio da bém pode ser realizada com spray de
variabilidade garante que os desenhos das aerossol ou através de um aparato elec-
digitais são diferentes, tanto entre pessoas troestático (DUARTE, 2009).
como entre os dedos do mesmo indivíduo,
sendo que jamais serão encontrados dois 4.3.2. Método de Vapor de Iodo:
dedos com desenhos idênticos.
Os profissionais em datiloscopia são O iodo tem como característica a
chamados de papiloscopístas, os quais sublimação, ou seja, passagem do estado
tem a responsabilidade de realizar os tra- sólido directamente para o estado de
balhos de pesquisa nos arquivos datiloscó- vapor. Para esta mudança de estado, o
picos e comparar com as impressões digi- iodo precisa absorver calor. Este calor
tais em questão. É uma tarefa que exige pode ser, por exemplo, o do ar que expira-
muita calma e paciência, experiência e, mos ou ate mesmo o calor produzido pela
sobre tudo, que o desenho da impressão chama do bico de bunsen sobre os cristais.
digital seja o melhor possível. Existem diver- Seu vapor tem coloração acastanhada e,
sas técnicas para colheita de fragmentos quando em contacto com a Impressões
papilares no local do crime. E ai que apa- digitais latentes, forma um produto de
rece um pouco mais de química no pro- coloração escura amarelada. O vapor
cesso. interage com a Impressões digitais latentes
O perito criminal, no local do crime, através de uma absorção física, não

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havendo reacção química. nas partículas ou o cianoacrilato e coran-
Esta técnica e utilizada geralmente tes fluorescentes.
quando a Impressões digitais latentes
encontra-se em objectos pequenos. Colo- 3. Superfície de Papel e Papelão;
cando-se o material a ser examinado junto (incluem papel, cartolina, placas de pape-
com os cristais em um saco plástico sela- lão e gesso para paredes divisórias) que
do, após agitação e gerado calor suficien- não tenha sido encerado ou plastificado.
te para a sublimação dos cristais. Uma Trata-se com iodo, ninidrina, DFO, nitrato
vantagem que esta técnica tem em rela- de prata ou revelador físico. Entretanto, os
ção as demais, como a do pó, e que ela pós geralmente não são sensíveis à impres-
pode ser utilizada antes de outras sem sões velhas.
danificar a Impressões digitais latentes
(Duarte, 2009). 4. Materiais de Embalagens Plásticas;
A destruição da Impressões digitais (incluem polietileno, polipropileno, acetato
latentes podem ocorrer após o uso de um de celulose e superfícies de papel lamina-
produto fixador que evita os cristais de do). Utiliza-se iodo, reagente de pequenas
iodo sublimarem novamente da impressão partículas, cianoacrilato ou corantes fluo-
digital. rescentes e pós. O cianoacrilato é particu-
larmente útil sobre isopôr.
4.3.3. Método de Nitrato de Prata:
3. Vinil Flexível (PVC), Borracha e Cou-
Este método implica a reacção entre ro; (abrange superfícies de couro sintético
o sal do suor e um reagente químico, o e películas adesivas). Emprega-se iodo,
nitrato de prata, com a formação de um reagente de pequenas partículas, cianoa-
composto colorido que vai ter precisamen- crilato e pós.
te a forma das impressões digitais.
4. Superfície de Metal não Tratados;
NaCl + AgNO3 AgCl + NaNO3 Incluem superfícies metálicas não tratadas
Suor Nitrato de prata e brutas - não se incluem superfícies metáli-
Composto colorido cas que tenham sido pintadas ou laquea-
das. Empregue reagente de pequenas
De acordo com Velho (2013), o quími- partículas, cianoacrilato ou corantes fluo-
co forense, pretendendo revelar impres- rescentes e pós.
sões digitais deixadas pelo criminoso no
local e no objecto material, deve, aplicar 5. Superfície de Madeira Sem Acaba-
revelador adequado para determinada mento; (compreendem as superfícies de
superfície. madeira sem acabamento ou que não
1. Superfície Lisa Não Porosa; (vidros, foram pintadas ou tratadas. Trata-se com
plástico rígido, superfície tratada com tinta ninidrina. Utiliza-se pós sobre madeira lisa e
ou verniz), podem ser usados sobre essas nitrato de prata ou revelador físico sobre
superfícies; pós, iodo, reagente de peque- madeiras claras.
nas partículas ou o cianoacrilato e coran-
tes fluorescentes. 6. Superfície de Cera e Enceradas; A
esse grupo incluem artigos feitos de cera
2. Superfície Irregular Não Porosa; (como velas) e papel, papelão e superfí-
(superfícies irregulares ou texturadas e mol- cies de madeira.
dagens de plástico granulados); Os pós
normalmente são impróprios para essas 7. Superfícies com Revestimento Adesi-
superfícies. Usa-se o reagente de peque- vo; Fitas e superfícies similares que não se

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dissolvem na água. Faz-se um tratamento deve-se ao facto do cianoacrilato sofrer
especial depois aplica-se pós de lado ade- polimerização muito rápida, reagindo com
sivo. água e outros possíveis componentes das
impressões digitais para formar um depósi-
5. Descrição da Ninidrina e Cia- to duro e esbranquiçado.
noacrilato Em relação a ninidrina, o cianoacrilato
5.1. Ninidrina tem larga aplicabilidade, pode ser usada
em superfícies lisas não porosa, irregular
não porosa, materiais e embalagens plásti-
A ninidrina é um produto químico des-
cas, isopôr, vinil flexível (PVC), borracha,
coberto casualmente em 1913, por Ruhe-
couro, metais não tratados e superfícies
mann. Ostenta fórmula molecular C9H6O4,
enceradas ou vernizadas. É necessário
nomeado pela IUPAC como; 2,2 - dihidroxi-
aplicar pó sobre as impressões digitais
hidrindeno -1,3 - diona. Conquistou tama-
reveladas com cianoacrilato ou então tra-
nha importância na investigação criminal
tá-las com corantes fluorescentes, como o
na década 50, pelo facto de possuir poder
ardrox e o basic yellow (amarelo básico)
revelador de impressões digitais a curto
para realçá-las.
tempo. Ela reage com aminoácidos, poli-
O método de cianoacrilato para alem
peptídeos e proteínas produzidos pelas
de revelar e preservar as impressões digitais
glândulas sudoriparas, sebáceas e apócri-
por muito tempo, também revela vestígios
nas, libertadas sob forma de suor, para
de sangue e suor, sem destruir a prova e
produzir um produto da reacção de cor
sem interferir nos testes de DNA.
púrpura, chamado “Púrpura de Rhue-
mann”.
Pelas suas propriedades e capacidade 6. O Papel e Desafios da Química
de actuação, a ninidrina é excelente para Forense na Investigação Criminal
superfícies porosas, particularmente; papel,
papelão e madeira sem acabamento O papel da química forense é desven-
devendo ser usada depois da aplicação dar crimes com base nos conhecimentos
do iodo e antes do nitrato de prata, e, não da química analítica e toxicológica, mas,
deve ser aplicada em artigos que já tive- esta tarefa não é nada fácil.
rem sido expostos à água. O tempo de O grande desafio da química forense
revelação das impressões digitais nestas sempre foi separar e identificar componen-
superfícies após a aplicação da ninidrina é tes de misturas complexas de substâncias,
de até 10 dias, podendo ser acelerado por vezes de componentes desconheci-
através da aplicação de calor e humida- dos, onde os materiais encontrados e reco-
de (Chemelle, 2006). lhidos em locais de ocorrência criminal
(vestígios), quase sempre se apresentam
5.2. Cianoacrilato impuros e também de composições des-
conhecidas. Outro desafio para esta área
Chemelle, (2006), descreve o cianoa- científica forense reside na criação do
crilato (cianoacrilato de metila), como sen- laboratório de referência de química
do um tipo de adesivo orgânico, também forense e outras áreas forenses afins, com
criado acidentalmente em 1942 por Harry equipamentos sofisticados, instrumentos,
Coover, no Laboratório da Kodak, durante reagentes que possam contribuir para
experiências visando a criação de um polí- investigação de crimes de natureza e apri-
mero transparente. Apresenta fórmula moramento dos conhecimentos resultantes
molecular C5H5NO2, seu papel na investiga- da formação de profissionais qualificados
ção criminal como revelador de impres- na matéria de investigação criminal – peri-
sões digitais data por volta dos anos 1970 e tos criminais.

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6. Metodologia A alcalimetria corresponde a volumetria
de neutralização onde usamos uma base
A pesquisa é caracterizada por ser para titular um ácido, e acidimetria
descritiva exploratória e teve suporte quando usamos um ácido para titular
básico para fundamentação teórica os uma base.
seguintes métodos: Em relação a revelação das impres-
sões digitais, o método realizado foi o de
6.1. Consulta Bibliográfica nitrato de prata.

Com este método recorreu-se aos 7. Resultados


livros, manuais, dissertações, monogra-
fias, revistas e artigos científicos que São apresentados a seguir algumas
abordam sobre a química forense e imagens das experiencias realizadas no
investigação criminal, a fim de colher Multiuso:
conceitos e bases solidas para a funda-
mentação teórica, que constitui a parte
do desenvolvimento deste artigo, que de Imagem 1: Identificação de Ácidos e Bases pelo
Método de Fenolftaleína
certa forma poderão ser utilizadas para
reflexão e análise crítica.

6.2. Método Experimental

Foram realizadas experiencias a nível


do Laboratório Multiuso do ISCTAC, com
a finalidade de identificar substâncias
que nalgum momento são usadas nos
crimes como assassinato e ou suicídio.
Estas experiencias limitaram-se apenas
na identificação das substâncias (ácidos,
Fonte: O autor
bases), na determinação das concentra-
ções dessas substâncias e revelação das
impressões digitais. Imagens 2: Determinação do Teor de Acidez e Basici-
A técnica analítica usada para dade pelo Método de pHmetro
determinação da acidez ou basicidade
foi pelo método de indicador fenolftaleí-
na e o doseamento pelo método de titu-
lação (acidimetria e alcalimetria) e
pHmetro.
A fenolftaleína é um indicador de pH
com a fórmula C20H14O, apresentando-se
normalmente como pó de cor branca.
Em solução é um líquido incolor que
revela o caracter acido (pH até 7) inco-
lor e base com a cor rosa pálida ou
intensa (pH maior ou igual a 8).
Num doseamento, quando é utiliza-
do um ácido ou uma base para titular Fonte: O autor
uma base ou um ácido respectivamente
designa-se volumetria de neutralização.

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Imagens 2: Impressões Digitais obtidas pelo Méto- Blum, Deborah. Nicotine and the Chemistry of Mur-
do de Nitrato de Prata der, 2012
BRANCO, Regina Pestana et al, Química Forense,
sob olhares electrónicos, editora Millennium, 2ª
edição, 2013,
Chemelle, Emílio, Química Forense, 2006
Degani, Ana Luíza G. et al. Cromatografia Um Bre-
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Nova na Escola. nº 7. 1998.
Duarte, Gerson de Lemos, O Papel da Ciência
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2009
Glinka N, Química Geral, editora Mir, Vol I, 1984,
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2011
Considerações Finais UNICENTRO, oficinas forens: Desmistificando a físi-
ca e a química, 2012
Os locais de crimes denunciam, desde Velho, Jesus António, Karina Alves Costa, Clayton
Tadeu Mota Damasceno, Locais de crimes, dos
que sejam preservados e conservados os
vestígios a dinâmica criminosa, Editora Millennium,
vestígios que constituem as provas mate- 2013.
riais. Os testes espectroscópicos, cromato-
gráficos tem larga aplicação e são ampla-
mente usados para identificação e verifi-
cação da qualidade de um determinado
documento ou produto em caso de falsifi-
cação documental ou medicamentoso,
este ultimo, sobre tudo, no que se refere ao
principio activo de um determinado fárma-
co.
Testes colorimétricos e os radiográficos
são amplamente usados para o controle e
combate ao tráfico de drogas. Para a
identificação humana, uma das técnicas
usadas para além do Teste de ADN é a
técnica de revelação das impressões digi-
tais, que requer larga experiencia do perito
criminal.
O aprimoramento, a formação contí-
nua dos químicos forenses e a criação de
um laboratório de referência para esta e
outras áreas forenses iria contribuir para
fazer face os desafios da química forense
na investigação criminal.

Referências Bibliográficas
Aline, Thaís Bruni, Jesus António Velho, Marcelo
Firmino de Oliveira; Química e investigação crimi-
nal, 2012
Atalaia, Cláudio, Química Forense, 2014.

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