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EDIMAR TENUTTI
LARANJEIRAS DO SUL
2015
EDIMAR TENUTTI
LARANJEIRAS DO SUL
2015
Dedico este trabalho aos meliponicultores
comprometidos com a criação e conservação
de espécies de abelhas nativas sem ferrão,
muitas das quais estão ameaçadas de extinção,
esperando que o trabalho contribua no quesito
embasamento técnico.
Dedico também aos pesquisadores da área
esperando que o trabalho possa ser útil
academicamente.
AGRADECIMENTOS
Bertolt Brecht
RESUMO
Tabela 1 - Sistema de classificação didática das abelhas sem ferrão empregadas atualmente. 15
Tabela 2 – Nome popular e cientifico de plantas forrageadas por guaraipo. .......................... 39
Tabela 3 - Porcentagem da sacarose invertida (açúcar redutor – AR) e pH das soluções de
açúcar cristal submetidas a hidrólise com diferentes quantidades de sucos de limões Galego,
Tahiti ou Cravo. ................................................................................................................... 50
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
2 A IMPORTANCIA DO ESTUDO DA MELIPONICULTURA ............................. 18
3 OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 26
3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 26
4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 27
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................. 30
5.1 RELATOS DE OCORRÊNCIA DA GUARAIPO ...................................................................... 30
5.2 POTENCIAL PRODUTIVO DA ESPÉCIE............................................................................. 31
5.3 MORFOLOGIA E DIVERSIDADE DA GUARAIPO ................................................................ 33
5.4 ESTRUTURA DO NINHO ................................................................................................. 34
5.5 COMPORTAMENTO DA ESPÉCIE ..................................................................................... 36
5.6 HÁBITOS DE NIDIFICAÇÃO ............................................................................................ 36
5.7 CAPTURA PASSIVA....................................................................................................... 37
5.8 FORRAGEAMENTO E ESPÉCIES NECTARÍFERAS VISITADAS .............................................. 38
5.9 MODELOS DE CAIXA PARA MANEJO............................................................................... 39
5.10 MÉTODOS DE DIVISÃO DE FAMÍLIA ............................................................................... 43
5.11 INIMIGOS NATURAIS ..................................................................................................... 48
5.12 FATORES LIMITANTES E ESTIMULADORES DE PRODUÇÃO ............................................... 49
5.13 PRODUTOS APÍCOLAS OBTIDOS DA GUARAIPO ............................................................... 51
5.14 TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO DO MEL ........................................................................... 52
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 54
REFERÊNCIAS........................................................................................................ 55
11
1 INTRODUÇÃO
meliponicultura era praticada por cerca de 400 meliponicultores com um total de 4500
colmeias. (ACERETO, 2012, p. 39)
Apesar de possuírem bom nível de conhecimento sobre estas abelhas, os povos mais
ao Sul se utilizavam da exploração de forma extrativista, remontando a praticas primitivas dos
ancestrais humanos, abrindo os troncos e aproveitando o mel, pólen e cera. (ACERETO,
2012, p. 34). Independentemente da ocupação geográfica das populações indígenas do
território americano, o mel sempre foi utilizado como adoçante natural e fonte de energia,
para que os indivíduos pudessem suportar longas missões de caça e coleta na floresta. O
convívio estreito com estas espécies fez com que eles se tornassem grandes conhecedores das
abelhas sem ferrão, posteriormente repassando seus conhecimentos para os povos
tradicionais, especialmente no que diz respeito ao nome dado as abelhas. (VILLAS-BÔAS,
2012, p. 11). Fica evidente a herança indígena nos nomes populares dos meliponíneos, pois
dificilmente uma espécie, foge desse padrão nomenclatural. Por essa razão o uso de
denominações como jataí, uruçu, tiúba, monbuca, irapuá, tataíra, jandaíra, guarupu, vorá, iraí,
mandaguari, manduri, mandaçaia torna-se bastante comum para a distinção das espécies.
Caracteristicamente os meliponíneos se adaptam melhor a regiões do planeta com
clima mais quente, próxima da região equatorial e tropical (PRONÍ, 2000; WITTER;
BLOCHTEIN, 2009; NOGUEIRA-NETO, 1997). Contudo, existem registros da distribuição
de algumas espécies em região de clima temperado, na zona de transição com o clima
subtropical mesotérmico, como por exemplo, o extremo norte da Patagônia (NOGUEIRA-
NETO, 1997, p. 37). Assim, essas abelhas são encontradas na maior parte da América
Neotropical, ou seja, na maioria do território Latino-Americano. Nos pontos mais ao Sul do
continente podemos destacar o limite austral no Rio Grande do Sul, nas proximidades com o
Uruguai, e na área central da Argentina (Arizona, Província de San Luis). Nos pontos mais ao
norte são comumente encontradas no estado mexicano de Sonora, próximos dos USA, nos
arquipélagos que forma o Caribe, como Cuba, Jamaica, Guadalupe, Montserrat, Dominica,
Trinidad.
Em outras regiões do mundo, observa-se a ocorrência de meliponídeos na África,
Oceania e Ásia. Na África se distribuem dos países do Sul do Sahara, até o Transvaal, na
África do Sul, no Planalto de Nairóbi, de clima ameno, e no Kenya. No continente
Australiano habitam a metade Norte, se estendendo no litoral até a região Sul. Na Índia vão
do Sul até o estado de Uttar Pradesh, no sopé do Himalaia, no Norte da Federação Indiana.
Ocupam também o Sudeste da Ásia, e não seria surpresa se estiverem no Sul da China, pelo
13
fato de também serem registrados na ilha de Taiwan. Outros dados podem ser também
encontrados nos trabalhos de Herbert F. Schwarz, nos do Prof. Pe. Jesus S. Moure, nos do
Prof. C. D. Michener, nos do Prof. J. M. F. Camargo e nos do Prof. S. F. Sakagam.
(NOGUEIRA-NETO, 1997, p. 37).
As abelhas sem ferrão são encontradas nas regiões tropicais (PONÍ, 2000; WITTER;
BLOCHTEIN, 2009) e em algumas regiões de clima temperado subtropical, (PRONÍ, 2000;
NOGUEIRA-NETO, 1997) atingindo o máximo de 30 graus de latitude, sendo encontradas na
maior parte do continente latino americano, (América neotropical) do Rio Grande do Sul ao
México. Elas também podem ser encontradas na África, Austrália, Malásia, Indonésia e Índia,
sendo uma tribo de ampla dispersão no planeta. (PRONÍ, 2000, p. 146).
14
Tabela 1 - Sistema de classificação didática das abelhas sem ferrão empregadas atualmente.
Classificação usual Classificação didática
Classe Insecta Insecta
Ordem Hymenoptera Hymenoptera
Superfamília Apoidea Apoidea
Família Apidae Apidae
Subfamília Apinae Meliponinae
Tribo Meliponini Meliponini
Trigonini
Fonte: Villas-Bôas, 2012.
Nota: Adaptado.
status. Assim o disco de cria apresenta uma célula realeira de oito a dez vezes o tamanho das
células normais onde nascem machos e operárias.
As meliponini possuem em geral um corpo mais robusto, as asas dificilmente
ultrapassam o limite do abdômen. Na entrada da colmeia é depositado uma mistura de barro e
resinas denominado de geoprópolis, estas abelhas não fazem células realeiras nos discos de
cria, sendo a gênese de uma nova rainha determinada pela questão genética, ou seja, apenas
algumas abelhas tem potencial genético para tal, e a alimentação não tem influencia sobre
essa determinação.
A Melipona bicolor popularmente conhecida como guaraipo, tanto na classificação
funcional como na didática é enquadrada como membro da tribo Meliponini, e atualmente são
descritas duas subespécies, a M. bicolor bicolor, Lepeletir, 1836 e a M. bicolor schencki
Gribodo, 1893. A seguir são descritos os nomes válidos para as duas espécies de acordo com
a atual nomenclatura proposta por Moure (2008):
Quase que a totalidade das abelhas sem ferrão possuem uma dieta baseada em néctar e
pólen, ambos coletados das plantas e convertidos na colmeia em mel e samóra. Durante a
coleta as abelhas realizam a polinização, processo de transferência do pólen presente no
aparelho reprodutor masculino das plantas, para o aparelho reprodutor feminino, podendo
ocorrer das mais variadas formas. (WITTER; BLOCHTEIN, 2009, p. 58; VILLAS-BÔAS,
2012, p. 12). A verdade é que 90% das arvores brasileiras dependem diretamente da
polinização por abelhas especialmente as nativas, as quais coevoluiram com a floresta
(BALLIVIÁN, 2011, p. 8) e aproximadamente 30% das plantas que alimentam a humanidade
necessitam da polinização por abelhas. (WITTER; BLOCHTEIN, 2009, p. 58). Abelhas
sociais são bem aceitas na polinização de culturas agrícolas, pois possuem alta densidade
populacional, e ainda permitem ser alocadas em pequenos espaços. (CRUZ; CAMPOS, 2009,
p. 6).
Os meliponíneos desempenham papel essencial na produtividade das plantas nativas
assim como algumas espécies agrícolas. A M. bicolor deflagrada no presente trabalho é um
polinizador natural do bioma mata atlântica e floresta Ombrofila mista e, portanto,
indispensável para manutenção do equilíbrio destes. A conservação dos habitats propícios a
manutenção e reprodução destas abelhas devem ser preservadas, garantindo lugares de
nidificação, ocos de arvores de médio e grande porte. Para isso é necessário a conscientização
dos agricultores os quais estão mais próximos das áreas de remanescentes florestais. As
mudanças climáticas e a introdução de espécies exóticas alteram os níveis populacionais dos
meliponíneos, também causando impactos negativos. (WITTER; BLOCHTEIN, 2009, p. 60).
É necessário ter em conta que os serviços ecológicos prestados pelas abelhas sem
ferrão e demais grupos de abelhas desempenham papel essencial na manutenção da
diversidade vegetal da flora nativa, beneficiando indiretamente a fauna, visto que frutos,
sementes e o próprio habitat são consequências da polinização. (SILVA; PAZ, 2012, p. 150).
Devido à seletividade da abelha doméstica, problemas com parasitas, doenças e
limitação para alguns climas, além de algumas culturas possuírem especificidades na
polinização, outras abelhas podem ser utilizadas. (WITTER; BLOCHTEIN, 2009, p. 59).
Contrariamente as abelhas do gênero Apis muitas espécies de meliponíneos são adaptados e
exitosos em viverem em climas de regiões baixas, úmidas e neblinosas dos trópicos,
(NOGUEIRA-NETO, 1997, p. 250), representando potencial a ser exploradas como, por
exemplo, nas regiões da mata atlântica.
19
Mesmo com poucos dados para avaliar a utilização da ASFs na polinização agrícola se
sabe que as culturas do morango, pêssego, ameixa, pêra, maça, cebola, melancia, abobora,
pepino, girassol, goiabeira, jabuticabeira, laranja, funcho, pimentão, abacate, acerola, canola,
soja e diversos outros podem se beneficiadas com o trabalho prestado. (WITTER;
BLOCHTEIN, 2009, p. 59). Estudos têm apontado potencial de utilização de abelhas sem
ferrão na polinização comercial de culturas em casas de vegetação. Estas abelhas são aptas
para a atividade por apresentarem boa sociabilidade, forragearem em distancias relativamente
pequenas, possuir pouca defencibilidade e formarem colônias perenes. Por este motivos são
melhores que as abelhas do gênero Apis. (CRUZ; CAMPOS, 2009, p. 5).
Sobre a polinização em ambientes fechados Cruz e Campos, (2009) analisam as
bibliografias inerentes ao tema, mostrando que as abelhas sem ferrão Melipona beecheii
(Abelha real, Jicote gato), Melipona quadrifasciata (Mandaçaia), Scaptotrigona bipunctata
(Tubuna), Tetragonisca angustula (Jataí) e Nanotrigona testaceicornis (Iraí) importadas das
Américas, principalmente do Brasil já são usadas na polinização de culturas no Japão. Em São
Paulo e Minas Gerais a M. quadrifasciata anthidioides (Mandaçaia) está sendo utilizada nas
culturas de tomate e pimentão. Para o pimentão também existem estudos que demonstram a
eficiência da Melipona subnitida (Jandaira). De nodo geral nos estudos se constatou um
aumento no número de frutos, aumento de massa além de melhora de sabor dos mesmos.
Apesar de poucos trabalhos sobre o potencial polinizador da M. bicolor schencki,
acredita-se que a espécie possa apresentar potencial na polinização de culturas comerciais
como pimentão, tomate, berinjela, jiló assim como outras solanáceas, visto os registros visuais
da guaraipo forrageando plantas selvagens deste gênero (Solanum fastigiatum e Solanum spp.)
assim como polinizadora de espécies nativas que garantem o equilíbrio ambiental. Witter e
Blochtein (2009, p. 51), apontam que a guaraipo apresenta potencial para a produção de mel e
como consequência da coleta de pólen a polinização.
A criação de abelhas sem ferrão é uma pratica bastante distinta da apicultura
convencional que trabalha com abelhas com ferrão, do gênero Apis. Em função das
peculiaridades biológicas das espécies de meliponíneos, no que se refere a arquitetura do
ninho e dos reservatórios de mel, o termo meliponicultura foi então criado por Paulo
Nogueira-Neto em 1953, para realizar essa distinção. (NOGUEIRA-NETO, 1997, p. 35). A
meliponicultura pode ser definida como a arte de criação de abelhas sem ferrão considerando
aspectos biológicos que determinam um padrão diferenciado para o tratamento dessas
espécies. Nogueira-Neto (1997, p. 257) aponta como aspecto positivo das abelhas sem ferrão,
20
Durante grande parte da [...] “existência da humanidade, o mel foi praticamente a sua
única fonte concentrada de substâncias açucaradas, mais precisamente de açúcares em
solução.” (NOGUEIRA-NETO, 1997, p. 250). Mesmo que o mel de abelhas sem ferrão seja
um produto apreciado por aqueles que o conhecem, a demanda ainda é pequena, não
conseguindo impulsionar a produção para um mercado de escala, porque muitas vezes o
mercado local não existe. O mel é visto apenas como um produto medicinal e, por esse
motivo, outras aplicações são negligenciadas, como por exemplo, o uso alimentar. Em
mercados de consumo maior, é visto com desconfiança pela falta de conhecimento do
consumidor, sendo comum a aplicação de rotulagem de mel de abelha Apis. (DRUMOND,
2013, p. 5).
A inexistência de uma norma que estabeleça parâmetros físico-químicos na forma de
normativa para os méis dos meliponíneos no Brasil limita bastante o desenvolvimento da
22
atividade. Basicamente o mel dos meliponíneos para ser reconhecido como um produto
comercial necessita estar em conformidade com os parâmetros estabelecidos pela normativa
que regulamenta padrões de qualidade para o mel de Apis. O mel dos meliponíneos (Quadro
2) possui maior concentração de água e usualmente são mais ácidos, o que não influencia na
qualidade, mas reflete na sua reprovação legal por não se enquadrar na legislação vigente para
esse tipo de produto. Borsato et al., (2010) concluem em seus estudos que as amostras de mel
investigadas apresentam características físico-químicas fora dos padrões recomendados pela
legislação brasileira, entre eles a umidade, teor de açúcares redutores, porcentagem de cinzas
e o índice de acidez. “Dessa forma, os estudos realizados reforçam a necessidade do
desenvolvimento de um padrão próprio para os méis de abelhas sem ferrão, incluindo critérios
microbiológicos.” (BORSATO et al., 2010, p. 4).
1
Informação verbal: LOCATELLI, J.C., Balneário Rincão (SC), 2015.
25
2
Postura por mais de uma rainha fisiogástrica poedeira.
3
Postura realizada por uma única rainha fisiogástrica poedeira.
26
3 OBJETIVO GERAL
4 METODOLOGIA
daqueles que entendem que o labor intelectual não produz sequer reformas, ainda mais
revoluções.”
Nessa perspectiva os entrevistados e o entrevistador, são [..] “sujeitos ativos, munidos
do propósito de produzir um resultado que demanda conivência.” (MEIHY; RIBEIRO, 2011,
p. 23), de modo que as “lacunas documentais” foram preenchidas com documentos feitos para
suprir ausências de dados ou informações.” (MEIHY; RIBEIRO, 2011, p. 29). Durante as
entrevistas procurou-se privilegiar as informações do entrevistado, mesmo em situações
divergentes submetidas a breve discussão para entendimento de sua posição. As discussões
afirmativas ou contraditórias foram importantes durante as entrevistas para elucidar os fatos
sobre os histórico da M. bicolor, sempre preservando as opiniões e experiências do
colaborador.
Um roteiro de questionário semi-estruturado foi preparado previamente junto a um
termo de consentimento para preservação das informações obtidas em comunicação verbal.
As entrevistas foram gravadas em áudio digital, com posterior transcrição. As perguntas
foram formuladas levando em consideração dados históricos e aspectos relacionados a
biologia, criação e manejo da espécie. Embora sujeito a um escopo de perguntas, abriu-se a
possibilidade de complementação do questionário quando surgiam situações ou elementos
dúbios. As entrevistas foram conduzidas com o máximo de naturalidade possível, como uma
conversa, mas com tema delimitado. As informações obtidas nas entrevistas passaram pela
transcrição e textualização para posteriormente se transformar em material de obtenção de
dados. Como a amostragem é pequena, mas rica em informações as técnicas e procedimentos,
os dados obtidos foram reorganizados de modo a dar cronologia, as etapas adotadas nas
técnicas de manejo possibilitando ao leitor a reprodução das mesmas.
Uma colmeia didática foi construída para se observar e demonstrar aspectos
comportamentais e biológicos da M. bicolor schencki, seguindo diferentes parâmetros
propostos para adequar a arquitetura as necessidades de criação e reprodução da espécie. A
caixa foi confeccionada a partir de madeira de canela (Ocotea pulchella) de 4 cm de espessura
, vidro liso 4 mm de espessura, e lamina de acetato fina. A colmeia didática é uma caixa tipo
cubo, possuindo as seguintes peças. Fundo, três paredes fixas pregadas ao fundo e duas
tampas, uma frontal e outra superior. As tampas foram fixadas por dobradiças, não sendo
necessário destacar as tampas ao expor o interior da colmeia aos observadores. Abaixo sobre
estas tampas de madeira com função de dar conforto térmico e luminoso as abelhas, existem
canaletas de 4,1 mm, onde a lamina de acetato sobreposta pelo vidro estão dispostas. O
29
acetato evita que as abelhas sujem o vidro, assim antes de uma exposição ele é retirado
deixando a colmeia totalmente exposta aos observadores. O tamanho externo da colmeia é 24
cm x 24 cm x 24.
Figura 2 - Visão frontal da caixa didática fechada (A); visão superior da caixa didática aberta
(B).
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
sempre dizia que a guaraipo não vivia em caixinhas. Isto era dito por falta de conhecimento da
abelha”(informação verbal)5.
O primeiro contato com a espécie foi por volta de 1968, sendo a extração do mel
realizada com uso de machado, e por falta de conhecimento as famílias de abelhas eram
abandonadas, não se fazendo o devido aproveitamento racional. Este fato ocorreu no
município de Meleiro, próximo a Forquilhinha na encosta da Serra Geral, onde predominava a
mata atlântica. Neste local existiam muitos enxames e ainda hoje são possíveis de ser
encontrados. (informação verbal)6.
Gowacki recorda das conversas com seu pai, ocorridas por volta da década de 1970,
nas quais a guaraipo era muito comentada, mas já não era mais encontrada na natureza. Suas
falas faziam referencia aos enxames ao qual encontrou, e a predileção de seu pai em relação a
abelha. Por influencia do pai Gowacki também passou a admirar a espécie. (Informação
Verbal)7.
Dos seis entrevistados apenas três visualizaram colmeias naturais, mesmo que alguns
tivessem realizado expedições em matas fechadas em busca da abelha os relatos apontam para
a raridade da espécie nos dias atuais, (Informação Verbal)8, além da capacidade de nidificar
em lugares discretos e difíceis de encontrar. (Informação Verbal)9.
Apesar da dificuldade de encontrar os ninhos desta espécie e alguns lugares ainda é
possível encontrar na natureza, inclusive mapeados. Infelizmente em algumas ocasiões essas
colmeias são pilhadas. (Informação Verbal)10
5
Informação verbal: VENSON, J., Balneário Rincão (SC), 2015.
6
Informação verbal: VENSON, J., Balneário Rincão (SC), 2015.
7
Informação verbal: GOWACKI, F. J., Laranjeiras do Sul (PR), 2015
8
Informação verbal: GOWACKI, F. J., Laranjeiras do Sul (PR), 2015
9
Informação verbal: LOCATELLI, J. C., Balneário Rincão (SC), 2015.
10
Informação verbal: LOCATELLI, J. C., Balneário Rincão (SC), 2015.
11
Informação verbal: VENSON, J., Balneário Rincão (SC), 2015.
32
Relatos de Gowacki, sobre a família nas décadas 1960 e 1970, no quesito extração de
mel de guaraipo indicam que se conseguia até mesmo quantidade suficiente para preencher
latas. Considerando que a medida utilizada para latas neste período possuía 18 litros, pode se
afirmar que a quantidade de mel acumulado nas colmeias naturais chegava a volume superior
a 18 litros. Outro detalhe importante é que o espaço colonizado por essas abelhas equivaleria
a hoje ao mesmo ocupado por abelhas maiores, como as que se observam nos ninhos do
gênero Apis, de abelhas com ferrão. Em relação a espessura das paredes das colmeias naturais
podem chegar a 50 cm de isolamento, fator positivo para a expressão produtiva da espécie.
(Informação Verbal)12.
O meliponicultor que atualmente deseja trabalhar com a espécie não deve possuir a
pretensão de atingir produções anuais tais como a dos relatos, visto que essas colmeias
provavelmente estavam instaladas há algumas décadas no mesmo local. Desse modo, todas as
condições necessárias para o bom desenvolvimento e expressão do potencial produtivo
estavam exarcebadas. As abelhas sem ferrão não desfrutam mais das mesmas condições
naturais de décadas atrás. Nos dias atuais existe escassez de recursos florais, pois a maioria
das espécies vegetais arbóreas preferenciais da espécie desapareceu, comprometendo o
suporte as colmeias. A guaraipo é mais produtiva no seu habitat natural, onde se destacam as
floradas de arvores nativas de regiões frias, como as espécies vegetais guamirim (Eugenia
sp.), guaviroveira (Campomanesia xanthocarpa), carne vaca (Clethra scabra), vassourão
branco (Piptocarpha angustifolia), bracatinga (Mimosa scabrella). As guaraipo tem um
estreitamento ecológico no que diz respeito a exploração do nicho fornecido por essas espécie
de arvores, pois são visualizadas em flores exóticas somente quando não existe outra fonte de
alimento, sendo estas o último recurso. (Informação Verbal)13.
Wegrzinoski possui três colmeias não manejadas, dedicadas a observação do potencial
produtivo. Isto é importante já que as colmeias estão juntamente com um grande numero de
colmeias de diversas espécies de meliponíneos, assim se pode estimar a produção real da
espécie em condições de alta densidade. As colmeias utilizadas para avaliar o potencial
produtivo não são alimentadas como acontece com as demais, pois o objetivo é avaliar o
potencial produtivo na natureza. Somando os dois meliponários que estão separados por 2 km
de distancia na propriedade de 5 alqueires, existem mais de 300 colmeias de variadas
espécies. Nestas condições o meliponicultor acredita ser possível uma colheita media 3
12
Informação verbal: LOCATELLI, J. C., Balneário Rincão (SC), 2015.
13
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
33
litros/colmeia/ano, podendo chegar a mais em enxames fortes com varias rainhas poedeiras.
(Informação Verbal)14.
14
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
15
Informação verbal: MILACK, S., Criciúma (SC), 2015; WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
34
O ninho da abelha guaraipo como a maioria das abelhas sem ferrão é construído em
sua maior parte de cerúmen, mistura de cera e própolis. O ninho é característico por
apresentar discos de postura dispostos na horizontal, ficando um disco sobreposto ao outro ou
de forma helicoidal. Entre as células do disco superior e do disco inferior existe espaço
delimitado por pilares de cerúmen (espaço abelha) suficiente para a passagem de abelhas,
responsáveis pela higiene. Os discos de cria são formados pela união de inúmeras células de
35
crias, as quais são a base do desenvolvimento de uma abelha. Os discos estão presentes em
numero de 5 a 9 nas colmeias de guaraipo manejadas. Eles estão envoltos por uma estrutura
de finas malhas construídas com cerúmen denominadas de invólucro. Os potes de alimento
encontram-se distribuídos ao redor do ninho, sendo o pólen é disposto próximo aos discos
cria, pois é utilizado em maior quantidade que o mel para aprovisionar as novas células de
postura. Os potes de mel são geralmente de mesmo tamanho que os de pólen, e ficam
alocados depois dos potes de mel. Os potes de alimento de forma oval variam de tamanho, de
acordo com espaço da colmeia e época do ano, no fim do verão consequentemente da florada
os potes são menores 3 cm, mas em plena florada na saída do inverno os potes são maiores, 5
cm de altura, alguns chegando a 6 cm. O tamanho dos potes não é relativo ao tamanho do
enxame. Em ninhos naturais é comum o as extremidades do ninho ser delimitada pelo batume,
estrutura construída de geoprópolis, mistura de terra e resinas de madeiras as quais adquirem
grande densidade e dureza.
As guaraipos são abelhas tímidas e mansas as quais se escondem nos ninhos quando se
aproximam pessoas. (WITTER; BLOCHTEIN, 2009, p. 51). “cessam as atividades de voo
quando são perturbadas”. (BLOCHTEIN, et al., 2008, p. 13).
A espécie é característica por apresentar em seus ninhos até cinco rainhas, Nogueira-
Neto (1997, p. 82) atribui o fato as colônias fortes. As rainhas emergem de células iguais as
das operarias e zangões, ou seja, sem a presença da realeira. (BLOCHTEIN, et al., 2008, p.
13; NOGUEIRA-NETO, 1997, p. 210). Cada espécie de abelha possui seus atributos
ecológicos, assim obter sucesso na atividade o meliponicultor deve respeitar as
especificidades das espécies, criando somente espécies adaptadas a região. (WITTER;
BLOCHTEIN, 2009, p. 16). Ao menos devem ser de áreas geográficas vizinhas ou que
possuam ecologia compatível. (NOGUEIRA-NETO, 1997, p. 96).
16
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
37
Caixas simples, porém bem vedadas são utilizadas na captura de abelhas que venham a
enxamear, no caso da abelha guaraipo nunca chegou a capturar uma nova família nestas
caixas iscas, enquanto a mandaçaia já capturou em iscas pets, caixas iscas e até mesmo em
caixas próprias para abelhas do gênero Apis. Nas inspeções na mata nunca chegou a encontrar
uma nova família de guaraipo em arvores, contrariamente do que acontece com a mandaçaia.
Apesar se atribuir a dificuldade da captura da guaraipo ao constante manejo das divisões de
colmeias, o meliponicultor lembra que possui enxames os quais não maneja, as quais se
prestam unicamente a observação do comportamento, e portanto poderiam chegar a
maturidade para a enxameação. (informação verbal) 19 . De todos os entrevistados nenhum
meliponicultor relatou ou tampouco ouviu falar de alguém que conseguiu a façanha da
captura. A técnica de aplicar verniz proveniente da mistura de geoprópolis da M.bicolor
schenchi e álcool combustível em caixas iscas com posterior ateamento de fogo pode gerar
ambiente propicio para captura da espécie, visto que o fogo elimina o cheiro forte do álcool e
libera odor característico das colmeias de guaraipo. A técnica descrita produz bom resultados
com M. quadrifasciata. (Informação verbal)20.
17
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015; LOCATELLI, J. C., Balneário Rincão (SC),
2015 e VENSON, J., Balneário Rincão (SC), 2015.
18
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015; LOCATELLI, J. C., Balneário Rincão (SC),
2015 e VENSON, J., Balneário Rincão (SC), 2015.
19
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
20
Informação verbal: SCRIMIN, R., Urussanga (SC), 2015.
38
Witter e Blochtein (2009, p. 62) recomendam o uso de um diário de campo, para que
sejam registrados as espécies nectaríferas visitadas pelas abelhas dentro da área de pastagem
apícola. Nele devem ser anotadas espécies de plantas visitadas, hora em que a coleta
realizada, data, qual recurso foi coletado e de qual parte da planta foi coletado. Estas
informações permitem ao meliponicultor elaborar um plano de ação de espécies a serem
plantadas em sua propriedade, potencializando a produtividade da espécie a qual deseja criar.
A guaraipo inicia a forragear com temperaturas a partir de 9,2 oC, sendo a faixa de
horário ideal de trabalho das 09:00 as 16:00. (FERREIRA JUNIOR, 2008, p. 20) A partir dos
dados levantados nas entrevistas foi possível elaborar a tabela 2, apontando as espécies em
que foram visualizadas abelhas da espécie M. bicolor schencki forrageando.
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fabricar colmeias com o mesmo padrão externo, podendo manter a estética das caixas quando
adicionam um modulo ou melgueira. (informação verbal)21.
A padronização das colmeias apresenta a vantagem da manutenção da beleza exterior,
mas em contrapartida as colmeias podem flutuar muito em volume, já que algumas são feitas
com madeiras de 2 cm e outras com até 10 cm de espessura. Considerando que o volume
idealizado para a abelha guaraipo possui entre 9 a 10 litros/colmeia, assim a diferença de 8 cm
em cada lateral da caixa pode representar uma diferença gritante.
Blochtein el al., (2008, p. 30) esboçaram um modelo de colmeia racional para a
criação da guaraipo e da manduri a qual foi idealizada por Portugal-Araújo, modificada por
Venturieri. A colmeia apresenta uma subdivisão entre o ninho e o sobreninho a qual os
meliponicultores conhecedores da biologia da guaraipo, na grande maioria optam por retirar
visto que esta barreira atrapalha o desenvolvimento da postura, ou ainda pode impedir o
rebaixamento do ninho como um todo. Aqui não se apresentará o modelo, sendo apresentados
dois outros modelos com maior respaldo dos meliponicultores.
A figura 5 apresenta uma caixa simples e eficiente para a abelha Guaraipo é o modelo
adaptado da colmeia INPA e de sua variante ACRIAPA, assim chegando a um terceiro tipo de
colmeia. A colmeia deve ter 20 cm x 20 cm de espaço interno, com dois módulos para o
ninho, cada modulo com 8 cm, com um pequeno modulo de 2 cm denominado porão ou
lixeira, fixado ao fundo da colmeia. Em alguns casos este modulo é abolido para simplificar a
fabricação da caixa, mas este possui a função de lixeira, onde são depositados excrementos ou
materiais que não foi possível retirar da colmeia, servir de espaço para refugio de abelhas nos
momentos das divisões, e principalmente ser o espaço onde as abelhas constroem o tubo de
acesso ao ninho. Nele são fixadas varetas de madeira com espessura de 1 cm x 1 cm, dispostas
a cada 2 cm, criando o espaço de refugio, lixeira e entrada. Nos casos de abolir essa peça a
entrada para a colmeia é feita diretamente no ninho.
Em cima do ninho se acrescentada uma melgueira com o mesmo tamanho e altura dos
módulos, se diferenciando apenas por possuir uma base perfurada, para circulação das abelhas
do ninho para a melgueira. Quando a primeira melgueira está quase preenchida pode se
adicionar outra.
21
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015; GOWACKI, F. J., Laranjeiras do Sul (PR),
2015.
41
Com a colmeia acima apresentada é possível iniciar divisões somente com o fundo
(porão), ninho e melgueira de divisão. Quando as abelhas não conseguem encher as
melgueiras de divisão pode optar por retirar 2 a 3 potes de mel desde que intactos colocando-
os na alça ninho. Conforme o desenvolvimento da colmeia se acrescenta, o sobreninho e mais
tarde a(s) melgueira(s). Essa colmeia possui alguns aspectos positivos; pode ser adequada a
divisão de famílias, quando utilizado melgueira repartida ao meio, ou melgueira inteira
quando utilizada na produção de mel, além de permitir o aumento da colmeia em casos de
super produção, assim a colmeia com uma melgueira apresenta 10,40 L, acrescentado mais
uma melgueira passa a ter 13,60 L. Acima da melgueira é colocada uma membrana plástica
preta que impede que a tampa fique fortemente aderida a melgueira, facilitando as vistorias da
mesma.
Na figura 6 é apresentado o modelo de caixa horizontal. Esta colmeia é característica
pela facilidade na construção, pois apresenta poucas peças e detalhes consistindo em um
retângulo de tabuas formado pelas dimensões de 40 cm de comprimento, 17 cm de largura e
15 cm de altura. O fundo é fixado por pregos ao retângulo, e a tampa pode ser fixada por
dobradiça ou simplesmente pode ser colocada sobre a caixa sem fixadores. Os
meliponicultores estão recorrem as dobradiças e esquemas de fechos, pois estes dispositivos
dão segurança as colmeias, impedindo os ninhos sofram danos em acidentes como quedas, ou
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mesmo impedido a predação por animais. E comum que ventos fortes ou mesmo animais
derrubem as caixas dos cavaletes ou de seus lugares no meliponário.
Conforme no exemplo da caixa vertical, onde na base se fixam madeirinhas que
servem de abrigo durante as divisões, neste modelo de colmeia pode optar por pregá-las
diretamente no fundo ou construir um estrado, formando canais de circulação importantes
principalmente nos momentos de divisões, visto que impedem o contato dos discos de cria
com o fundo da caixa. Ele permite a circulação das abelhas que fazem a manutenção e
higienização garantindo maior sucesso nas multiplicações.
O manejo da caixa horizontal simples é relativamente fácil, pois as medidas permitem
o desenvolvimento da postura, invólucro e potes de alimento segundo o padrão da abelha.
Como a caixa possui pouca altura, os discos de cria que variam em numero de 5 a 8 nas
colmeias racionais são alocados de forma que em seu ápice chegam próximo a tampa. É
importante destacar a diferença de manejo quando se utiliza a caixa horizontal, visto que para
obter discos nascentes é necessário desmontar com cuidado o invólucro que encobre a
postura, posteriormente utilizando espátulas de ponta torta se alça (suspende) todo o conjunto
de discos de cria para encontrar os nascentes na parte de baixo. Durante este processo pode
ocorrer acidentes que machuque ou até mesmo leve a morte da rainha, assim quando possível
deve primeiramente capturar a rainha e colocá-la numa gaiola até o termino da operação. Para
pessoas com pouca experiência de manejo nestes modelos de colmeias, realizar as atividades
de divisão pode ser um pouco difícil, enquanto na colmeia vertical o manejo é executado na
parte de baixo abrindo a caixa entre o porão e o ninho, sendo encontrados os discos nascentes
nesta parte.
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Apesar de não haver um período comprovado como correto para realização de divisões
de famílias, ocorrendo preferência de meliponicultor para meliponicultor, os indicativos
apontam que o período indicado para realização do procedimento se inicia no mês julho e vai
até final de outubro, apesar de ser alcançado bons resultados até o mês de janeiro, a partir do
qual não se indica mais as divisões. Nas regiões muito frias o mês de julho pode não ser muito
bom devido a diminuição das atividades de postura e por consequência o menor número de
discos de cria e, portanto de abelhas nascentes. Mesmo em período considerado inverno pode
ser realizado divisões, desde que se escolha um dia com temperaturas mais elevadas e de bom
sol. Cabe a observação de que muitas vezes a na época considerada ideal para as divisões, as
colmeias não estão com material suficiente, principalmente discos de cria maduros tornando
necessário retardar o processo.
Blochtein et al., (2008, p. 27) indicam que as divisões de colônias podem ser
realizadas quando na colmeia estão presentes seis ou mais discos de cria, os quais devem
conter no mínimo 200 células em cada um, não é necessária a verificação de realeira visto que
a guaraipo é uma Melipona, onde a realeira é inexistente.
Nas divisões sempre se deve ter clareza de qual disco de crias são nascentes (postura
antiga) e quais são os discos não nascentes (postura recente) visto que destas informações
depende o método de divisão a ser adotado. “A cor e o aspecto dos favos de cria variam de
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acordo com a idade dos imaturos. Os favos mais claros e com paredes de cerume fino (às
vezes translúcido) são de cria nascente. Em contrapartida, os favos mais escuros são de cria
mais nova”, (BLOCHTEIN et al., 2008, p. 27), conforme observado na figura 7. O Aspecto
não comentado por Blochtein e Teixeira (2008) é o habito peculiar de a rainha de M. bicolor
schencki, realizar a postura sempre na parte superior do ninho, fincando os discos maduros na
parte inferior.
Figura 7 - Diferença na coloração dos discos de cria novos e maduros da abelha guaraipo.
23
Informação verbal: LOCATELLI, J. C., Balneário Rincão (SC), 2015 e VENSON, J., Balneário Rincão (SC),
2015.
46
24
Informação verbal: GOWACKI, F. J., Laranjeiras do Sul (PR), 2015; SCREMIN, R., Urussanga (SC), 2015.
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características da guaraipo vão prevalecendo visto que as mandaçaias entram na faze final da
vida. Também é indicado ter colmeias fortes de guaraipo no meliponário, que possuem a
função de suprir a demanda de zangões para fecundar a nova rainha.
O sucesso do método depende da linhagem de mandaçaia utilizada, sendo
recomendadas as espécies M. quadrifaciata quadrifasciata ou a hibrida. Não se recomenda a
espécie M. quadrifaciata anthidioides, por ser uma espécie temperamental, agressiva, e
portanto, divisões utilizando esta espécie tendem ao fracasso. (Informação verbal)25. Neste
método é importante retirar todo material necessário para a divisão de apenas uma colmeia de
mandaçaia, desde o mini disco de cria, campeiras e cerúmen, pois isso evita a rejeição do
ninho. Material alheio a colmeia de mandaçaia deve ser somente os discos nascentes de
guaraipo.
Outro aspecto indicado por Wegrzinoski para obtenção de sucesso com o método JCW
é a utilização do mini disco de mandaçaia com poucas células, recém formado. O disco recém
formado tem por objetivo incentivar as operarias a cobrir com invólucro os discos utilizados
na divisão. Além do mais, isso permite que todas as guaraipos nasçam antes que as
mandaçaias, principalmente uma nova rainha proveniente da casta guaraipo, a qual será
fecundada antes do nascimento das poucas mandaçaias.
A técnica vem sendo utilizada desde 2005 não ocorrendo cruzamento entre as
espécies, e segundo o precursor da técnica, o objetivo é conseguir formar mais colônias de
guaraipo utilizando menos recursos, assim contribuindo na recuperação do numero de
colmeias da espécie. (WEGRZINOSKI, 2013, p. 44).
O êxito em qualquer método de divisão de colmeia pode ser alcançado desde que
tomados os devidos cuidados: Danificar o mínimo possível os discos de cria, em especial os
novos que possuem alimento larval que ao ser exposto ao ambiente exala um odor
caracterísco atraindo a mosquinha de nome popular forídeo (Pseudohypocera kerteszi)
principal inimigo das abelhas sem ferrão; utilizar somente potes de alimento lacrados, potes
perfurados não devem ser adicionados a nova colmeia, havendo a necessidade de alimentação
melhor realizar no dia posterior a divisão, aprovisionando a colmeia com xarope artificial;
jamais colocar discos de cria em contato direto uns com os outros ou com fundo e lateral das
caixas.
Informações sobre o controle do forídeo estão na seção inimigos naturais, apresentada
a seguir.
25
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
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Witter e Blochtein (2009, p. 15) apontam como fatores para a diminuição das ASFs, e
entre ela a guaraipo, fatores como: A ação de meleiros que destroem os ninhos; a constante
supressão da cobertura vegetal no estado; e a competição com abelhas do gênero Apis, por
recurso floristicos e abrigos onde possam nidificar. Os problemas ora mencionados são
comuns no estado do Paraná, assim como aos demais estados do Brasil.
As formigas são especialmente perigosas nos casos de guaraipos criadas em colmeias
subterrâneas, Nogueira-Neto (1997, p. 379) relata ter perdido diversas colmeias para formigas
do gênero Solenopsis, conhecidas como lavapés, observando ainda que as guaraipos não
conseguem se defender bem quando instaladas em abrigos subterrâneos. As formigas lavapés
são de pequeno porte, geralmente avermelhadas, tendo uma ferroada dolorosa, se alimentam
de doces, frutas, insetos e até mesmo carne.
Os inimigos naturais mais comuns da guaraipo são o pica-pau (Melanerpes candidus)
a abelha limão (Lestrimelitta limão), (informação verbal)26, a irara (Eira barbara), lagartixa
(Hemidactylus mabouia), mosca soldado (Hermetia illucens), e principalmente o forídeo
(Pseudohypocera kerteszi) o qual merece maior atenção.( informação verbal)27.
A instalação da isca anti forídeo no interior de colmeia é de aspecto duvidoso, e os
meliponicultores divergem neste aspecto. Alguns preferem instalar a isca no momento da
divisão, outros apontam a isca como um atrativo para a praga, visto que as armadilhas
utilizam vinagre em seu interior, exalando forte cheiro acido que atrai a mosquinha. As iscas
utilizadas internamente nas colmeias consistem em pequenos fracos com 1/3 de seu volume
preenchido por vinagre de maça ou de vinho tinto, contendo em suas laterais ou tampas furos
de 1,5 a 2 mm de diâmetro, que permitem a entrada da mosquinha, mas dificultam sua saída.
Os meliponicultores que defendem que as isca interna atrai o inimigo, recomendam instalar
iscas maiores feitas a partir de garrafas pet de 250 ml, com diversos buracos de 1,5 a 2 mm
distribuídos ao redor do colo da mesma e localizados aproximadamente a 2,5 da tampa. Nela
segue o padrão de adicionar 1/3 do volume de vinagre. A instalação deve ser feita a 50 metros
26
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
27
Informação verbal: MILACK, S., Criciúma (SC), 2015; LOCATELLI, J. C., Balneário Rincão (SC), 2015;
SCREMIN, R., Urussanga (SC), 2015 e VENSON, J., Balneário Rincão (SC), 2015;
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abelhas. Esta dieta energética é utilizada pelo meliponicultor a mais de 20 anos. (Informação
verbal)28.
Sobre a utilização de suco de limão no preparo de xarope para alimentação de abelhas
do gênero Apis, Brighenti et al. (2011, p. 301) constatou que ao adicionar 3,6 mL de suco de
limão Tahiti (Citrus latifólia), em uma solução (1:1) de água e açúcar cristal no inicio do
preparo do xarope, consegue-se a inversão de 21,0 % do açúcar, não sendo necessário a
correção do pH na solução final. Esta é uma recomendação para abelhas do gênero Apis, que
pode ser empregada a guaraipo, já que o pH médio do mel de Apis com 3,30 é praticamente
igual o valor encontrado no estudo de Borsato (2010, p. 3) onde o valor médio pH das três
amostras do mel de guaraipo foi de 3,39.
Seria importante verificar a aceitação do xarope em diferentes concentrações de suco
e espécies de limão de acordo com a disponibilidade dos produtores, sabendo-se que no o
meliponicultor deve ficar atento ao aumentar a quantidade de suco de limão no xarope, pois a
utilização de uma dieta mais ácida pode causar distúrbios fisiológicos como, “mudança
comportamental, rejeição de alimento, aumento do volume do abdômen, redução da
longevidade, morte prematura dos imagos, interferência na capacidade de voo e
forrageamento.” (BRIGHENTI et al. 2011, p. 301). A seguir a tabela 3 serve de parâmetro no
do aumento da dosagem de suco de limão com o respectivo aumento na inversão de açúcar.
28
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
51
O mel e o pólen das abelhas sem ferrão possuem características diferentes das
observadas na Apis mellifera. O mel de meliponíneos possui teor de água de 28 a 30%,o que o
torna sujeito a fermentação, já o pólen normalmente é uma massa fermentada. A fermentação
do pólen em algumas espécies o deixa em desvantagem ou mesmo impossibilita o uso
comercial, contrariamente ao que acontece com o pólen de Apis. (DRUMOND, 2013, p. 3).
Chagas e Carvalho (2005, p. 35) contrariando Drumond, afirmam que o pólen da uruçu
nordestina (Melipona scutellaris) produto que normalmente se apresenta como massa
fermentada, pode ser consumido na forma desidratada, ou misturado ao mel, orientando a
jamais consumir pólen mofado. Em outras espécies o pólen de abelhas sem ferrão possui
excelente sabor, como no caso de algumas Scaptotrigonas. Quando o pólen não foi coletado
não é necessária suplementação proteica das colmeias. (Informação verbal)29. A colheita e
29
Informação verbal: WEGRZINOSKI, J. C., Mafra (SC), 2015.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7 REFERÊNCIAS
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v. 35, n. 2, p.297-304, 2011.
CHAGAS, F.; CARVALHO, S. Iniciação à criação de uruçu. 2. ed. Igarassu, PE: São
Saruê, 2005.
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Mata de Araucárias do Rio Grande do Sul. Mensagem Doce, maio 2006.
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1893.
PARANÁ. Instituto Ambiental. Plano de Conservação para Abelhas Sociais Nativas sem
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SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo, SP: Cortez, 2013.
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<http://www.naturezaonline.com.br/natureza/conteudo/pdf/09_Silva_Paz_146152.pdf>.
Acesso em: 19 abr. 2015.
57
VILLAS-BÔAS, J. Manual tecnologico: Mel de abelhas sem ferrão. Brasilia, DF: ISPN,
2012.