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Projetos Ambientais

Flávia da Silva Bortoloti


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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Bortoloti, Flávia da Silva
B739p Projetos ambientais / Flávia da Silva Bortoloti. –
Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020.
192 p.

ISBN 978-85-522-1658-2

1. Ciclo de vida. 2. Créditos de Carbono. 3. P+L.


I. Título.

CDD 628
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1
Introdução a projetos ambientais���������������������������������������������������������������� 7
Seção 1
Conceitos básicos para elaboração de projetos ambientais���������� 9
Seção 2
Introdução a projetos ambientais – etapas de um projeto����������20
Seção 3
Introdução a projetos ambientais – elementos para a
redação de um projeto���������������������������������������������������������������������33

Unidade 2
Gestão de projetos ambientais�������������������������������������������������������������������50
Seção 1
Planejamento de projetos����������������������������������������������������������������52
Seção 2
Gerenciamento do cronograma������������������������������������������������������64
Seção 3
Outras normas pertinentes para atuação do profissional
farmacêutico��������������������������������������������������������������������������������������78

Unidade 3
Produção mais limpa����������������������������������������������������������������������������������94
Seção 1
Projetos de produção mais limpa���������������������������������������������������95
Seção 2
Implantação da metodologia de Produção Mais Limpa
(P+L)����������������������������������������������������������������������������������������������� 110
Seção 3
Produção mais limpa e o desenvolvimento sustentável����������� 122

Unidade 4
Mecanismo De Desenvolvimento Limpo (MDL)�������������������������������� 140
Seção 1
Mudanças climáticas e as respostas mundiais��������������������������� 141
Seção 2
Mecanismo De Desenvolvimento Limpo (MDL)��������������������� 153
Seção 3
Mercado e precificação de carbono��������������������������������������������� 167
Palavras do autor

E
stimado estudante, seja bem-vindo à disciplina Projetos Ambientais.
A disciplina Projetos Ambientais é de fundamental importância
para sua formação profissional, pois nela você aprenderá como desen-
volver e implementar diferentes tipos de projetos ambientais como projetos
de recuperação de áreas degradadas, implantação de aterros sanitários,
viabilidade ambiental de empreendimentos, estudo de impacto ambiental,
Produção Mais Limpa e mecanismo de desenvolvimento limpo, entre outros.
O objetivo é guiá-lo na compreensão da importância dos projetos
ambientais e abordar os principais conceitos envolvidos para a sua elaboração
bem como as etapas que marcam um projeto ambiental. O planejamento, a
implantação, o gerenciamento e a avaliação de um projeto ambiental também
serão alvos desse trabalho.
Ao final dessa disciplina você será capaz de compreender o conceito, as
etapas e os elementos para elaboração de um projeto ambiental; a metodo-
logia e os processos de gerenciamento de projetos para a área ambiental.
Conhecerá também o conceito, a elaboração e a implantação de projetos de
Produção Mais Limpa e, ainda, compreenderá os instrumentos legais sobre
a redução e eliminação de emissões de gases do efeito estufa para elaboração
de projetos ambientais.
No decorrer das quatro unidades de ensino que compõem a disciplina,
discutiremos os temas por meio de situações-problema que envolvem a reali-
dade da profissão do gestor ambiental. Na primeira unidade serão apresen-
tados conceitos básicos para elaboração de projetos ambientais; etapas de um
projeto e elementos para a redação de um projeto.
Posteriormente, na Unidade 2, abordaremos a metodologia do gerencia-
mento de projetos, aprofundando nossas compreensões principalmente no
que tange ao planejamento, ao cronograma e aos riscos dos projetos ambien-
tais. Na terceira unidade de ensino trabalharemos com projetos de Produção
Mais Limpa, nos atentando, especialmente, ao modo de implantação e às
contribuições que esse modelo de gestão pode trazer. Também abordaremos
o Mercado de Títulos Verdes como processo de financiamento de projetos
ambientais.
Para concluir a construção de seus conhecimentos nessa disciplina, na
Unidade 4, abordaremos os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo, o mercado e a precificação do carbono. Ao final desta disciplina você
será capaz de ter um amplo entendimento sobre projetos na área ambiental,
tanto nos que estão relacionados à recuperação, bem como àqueles que têm
como objetivo promover um processo produtivo mais sustentável.
Portanto, convido você, aluno, futuro gestor ambiental, a construir
e ampliar, com o professor e seus colegas, os conhecimentos sobre
projetos ambientais.
Bons estudos!
Unidade 1
Flávia da Silva Bortoloti

Introdução a projetos ambientais

Convite ao estudo
Você já pensou que estamos sempre diante de algum projeto?
Ao realizar o curso superior, por exemplo, você está realizando um
projeto que teve início com o seu ingresso no curso e terá sua conclusão no
último semestre, e que apresentará, como resultado, sua habilitação na área
escolhida. Perceba que nesse exemplo já podemos constatar algumas carac-
terísticas dos projetos que serão tema de nossa primeira unidade de ensino.
Ao final desta unidade você será capaz de compreender o conceito, as etapas
e os elementos para elaboração de um projeto ambiental. Para que possamos
abordar os conteúdos desta unidade considere a seguinte situação hipotética:
Você, como tecnólogo em gestão ambiental, foi contratado como gestor
ambiental da Prefeitura Municipal de Alto Céu. Seu primeiro desafio será
desenvolver um projeto ambiental, juntamente com a equipe de gestão ambiental
da Pedreira Cacoal, para a recuperação de uma área de exploração de basalto
desativada há cinco anos, que será doada ao Poder Municipal após a recuperação.
A Pedreira Cacoal foi autuada pela Secretaria Municipal do Meio
Ambiente por não apresentar e não realizar um Plano de Recuperação de
Área Degradada juntamente com a licença de desativação. Desse modo, o
processo foi encaminhado ao Ministério Público, que propôs como resolução da
infração um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em que os responsáveis
por esse empreendimento deveriam recuperar a área e doá-la à prefeitura local.
Para tanto, seu papel enquanto gestor ambiental, acompanhado da equipe
de gestão ambiental da Pedreira Cacoal, será realizar todas as atividades
necessárias para elaboração do projeto que se tornará o Plano de Recuperação
do local. Dessa forma, em um primeiro momento, você deverá identificar os
stakeholders do projeto, propor um novo uso para área a ser recuperada e
identificar os profissionais que farão parte da equipe de projetos.
Em um segundo momento, deverá ser realizada a concepção do projeto e
seu ciclo de vida, logo na seção dois de nossa primeira unidade de ensino. Por
fim, na seção três da Unidade 1, será realizada a redação do projeto composto
pelos itens: Introdução, Justificativa, Objetivos, Metas e Avaliação, para a
posterior apresentação ao prefeito.
Para que área a ser recuperada cumpra sua função ambiental, social e
territorial, é necessário que vários elementos sejam levados em conside-
ração. Qual a importância da realização de um projeto ambiental para a
recuperação de uma área degradada? Quais usos seriam interessantes? Como os
diferentes profissionais das ciências ambientais poderiam se integrar na equipe de
projeto? Lembre-se de registrar todas as informações levantadas, pois elas deverão
compor o projeto final que será entregue ao prefeito de Alto Céu.
As três seções desta unidade auxiliarão você na construção de seus
conhecimentos sobre os conceitos básicos de elaboração de projetos ambien-
tais, bem como na aplicação à sua realidade como futuro gestor ambiental.
Seção 1

Conceitos básicos para elaboração de projetos


ambientais

Diálogo aberto
Estimado aluno, nesta seção você será instigado a refletir sobre as carac-
terísticas dos projetos, os estímulos e as partes interessadas para a reali-
zação de projetos e, ainda, os profissionais que podem estar envolvidos em
projetos ambientais.
Relembrando que você, como tecnólogo em gestão ambiental, foi contra-
tado como gestor ambiental da Prefeitura Municipal de Alto Céu. Seu
primeiro trabalho será desenvolver um projeto ambiental juntamente com a
equipe de gestão ambiental da Pedreira Cacoal, para a recuperação de uma
área de exploração de basalto, desativada há cinco anos, que será doada ao
Poder Municipal após a recuperação.
O seu primeiro desafio enquanto gestor ambiental da Prefeitura Municipal
de Alto Céu é elaborar um projeto de recuperação de uma antiga pedreira,
juntamente com a equipe de gestão ambiental da Pedreira Cacoal.
A fim de obter informações relevantes que nortearão a concepção e
execução do projeto, bem como identificar a situação atual da área degra-
dada, você e a equipe de gestão ambiental da Pedreira realizaram uma visita
ao local para fazer o reconhecimento da área e de seu entorno, definir os
parâmetros de recuperação para, posteriormente, definir um modelo de
recuperação, discutir sobre as possíveis técnicas e ações que serão adotadas
no projeto e, ainda, sobre a proposta de monitoramento e avaliação da efeti-
vidade da recuperação.
Considerando as realizações para minimização dos impactos ambientais
durante a exploração da jazida, é necessário estruturar o projeto de recupe-
ração ambiental dessa área, dando a ela um novo uso para cumprir a função
social, ambiental e territorial. Para tanto, vocês iniciarão esta estruturação a
partir dos seguintes questionamentos: Qual uso poderá ser dado a essa área?
Quais seriam as partes interessadas (stakeholders) no desenvolvimento desse
projeto? Quais profissionais seriam necessários para o desenvolvimento dele,
ou seja, qual seria a melhor forma de convocar a equipe multidisciplinar que
será responsável pela sua elaboração?
Vamos iniciar a construção desse projeto?

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Não pode faltar

Olá, aluno! Seja bem-vindo à disciplina Projetos Ambientais. Antes de


adentrar especificamente no âmbito dos projetos ambientais, é importante
responder à seguinte pergunta: Você sabe o que são projetos?
A palavra projeto deriva do latim projectum e significa “algo lançado à
frente”, ou seja, projeto é algo que você “lança” à frente na linha do tempo.
Diante disso, são algumas definições de projeto:

[…] é um empreendimento detalhado e planejado com


clareza, organizado em um conjunto de atividades contí-
nuas e interligadas a ser implantadas, voltadas a um
objetivo de caráter ambiental, educativo, social, cultural,
científico e/ou tecnológico.” (SÃO PAULO, 2005, p. 7)

Existem diversas áreas de conhecimento nas quais se aplicam os conceitos


de projetos, e que são cada dia mais utilizados em diferentes segmentos como:
engenharia e construção civil; desenvolvimento de programas de compu-
tador; meio ambiente; estratégia militar; política; administração de empresas;
marketing e publicidade; pesquisa e desenvolvimento; manutenção de planta
de equipamentos.
Segue exemplo dentro de um contexto para auxiliar a compreensão:
A geração de resíduos sólidos é latente na sociedade de consumo na
qual vivemos, crescendo exponencialmente, em especial nos países mais
desenvolvidos e em desenvolvimento, uma vez que o poder de compra da
população é proporcionalmente maior que em outros locais. No entanto, não
é somente a geração de resíduos sólidos que é inquietante, sendo sua dispo-
sição final e o impacto ambiental causado ainda mais preocupante. Ainda
que no Brasil exista a Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, há inúmeros locais em que os resíduos são dispostos em
lixões sem controle ambiental algum.
Como esse problema poderia ser amenizado ou solucionado? Se você
pensou na construção de aterros sanitários, que atendam as legislações
ambientais vigentes, você está no caminho correto. Mas como seria possível
implantar um aterro? É simples: por meio de um projeto. A implantação de
um aterro sanitário pode ser considerada um projeto, pois apresenta suas
características distintivas.
De acordo com Clements e Gido (2013, p. 3), um projeto “é um esforço
para alcançar um objetivo específico por meio de um conjunto único de

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tarefas inter-relacionadas e da utilização eficaz de recursos.” Portanto,
pode-se afirmar que projetar é estabelecer um objetivo, elaborar o planeja-
mento e executá-lo para conseguir alcançar o resultado.
A definição de projeto aparenta ser simples, entretanto não é tão fácil
separar um projeto das rotinas diárias, logo foque nas expressões tempo-
rário e exclusivo. Um projeto tem início, meio e fim bem definidos (é algo
temporário) e gera resultados únicos (é exclusivo) e, ainda, deve oferecer
parâmetros de custo, tempo e qualidade.
Se voltarmos ao exemplo inicial da implantação de um aterro sanitário,
veremos que o objetivo principal do projeto seria a disposição ambien-
talmente adequada dos resíduos sólidos. Deve apresentar um início (a
concepção do projeto em linhas gerais), meio (a execução da obra do aterro)
e fim (entrega do aterro em condições de atender a demanda de resíduos).
Geraria um resultado único – o aterro sanitário.
De modo geral, uma demanda específica pode ser considerada ou
definida como um projeto a partir da resposta às seguintes perguntas: Tem
início e fim? Tem escopo limitado? Tem recursos definidos? Gera um resul-
tado único? Em uma situação hipotética, caso a resposta seja positiva para
todas as perguntas, então tem-se um projeto.

Vocabulário
De acordo com o Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, escopo seria:
Ponto de mira; alvo. Algo que se pretende conseguir ou atingir; intenção,
objetivo. Espaço que circunda ou envolve; âmbito. (ESCOPO, 2019)

O escopo de um projeto engloba todo o trabalho que será realizado no


projeto com a finalidade de entregar o produto ou serviço final. A definição
do escopo é de fundamental importância para o desenvolvimento do projeto,
pois é a partir dele que se define o que será realizado, portanto, quando bem
definido amplia as chances de sucesso do projeto.
Não podemos esquecer de que o escopo, ainda que defina o centro do
projeto, suas características e expectativas, não define, por si só, as metas
finais dele. Essas são determinadas por um conjunto de elementos que
envolvem os objetivos específicos, as partes interessadas, a qualidade, o
tempo, os custos, dentre outros. Voltaremos a abordar essa temática na seção
três desta unidade de ensino.
Prosseguindo nos conceitos relacionados a projetos, pensando que ele é
temporário, quais seriam os fatores que determinam o seu final? Visto que
é caracterizado como um esforço temporário para alcançar um resultado,

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diferindo das ações rotineiras (ou operações/operacionais), o término de um
projeto pode ser considerado quando:
• Os objetivos tiverem sido alcançados.
• Conclui-se que os objetivos não serão atingidos.
• O projeto não é mais necessário.
Perceba que a temporalidade não se aplica ao produto (serviço ou resul-
tado concreto) do projeto, ou seja, de modo geral, os projetos são realizados
para criar um produto duradouro.
Quando pensamos em projetos ambientais, teremos inúmeros projetos
que podem ser desenvolvidos, como a recuperação de áreas degradadas;
áreas de mineração (concepção ou desativação); aproveitamento de recursos
hídricos; tratamento de efluentes industriais; implantação de um sistema
de gestão em uma empresa; desenvolvimento de projetos de mecanismo
de desenvolvimento limpo (MDL) e elaboração de planos de saneamento
municipais (água, esgoto, resíduos sólidos e drenagem).
Outros exemplos são a recuperação de mata ciliar; educação ambiental;
implantação de tecnologias verdes em indústrias; programas de reflores-
tamento; desenvolvimento de novos materiais de construção e técnicas
construtivas sustentáveis para habitações; programa de coleta seletiva;
reciclagem dos resíduos orgânicos sólidos para produção de adubo e utili-
zação na produção agroecológica; dentre outros.
Nesse momento, você pode estar se perguntando: de onde surgem os
projetos? Os projetos podem surgir de demandas ou necessidades (Figura 1.1)
por meio de fatores que vão estimular sua criação.
Figura 1.1 | Fatores que estimulam projetos nas organizações

Fonte: elaborada pela autora.

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Vamos entender cada um deles? As demandas de mercado são capazes
de direcionar a necessidade de um projeto. Por exemplo, uma loja de artigos
sustentáveis para artesanato inicia um projeto para oferecer aos clientes a
possibilidade de realizar suas compras por meio de redes sociais, dada a
constatação de que a maioria de seus clientes e da população em geral utiliza
mais da metade do tempo na internet em redes sociais.
O avanço tecnológico pode estar relacionado com reformulação dos
serviços e produtos, de organizações que apresentam como objetivo a
ampliação da vantagem competitiva. Como exemplo, podemos citar uma
indústria que implanta um novo modelo de gestão ambiental, com base
em uma nova tecnologia de automação, para que haja o menor desperdício
possível de matérias-primas, água e energia durante o processo produtivo.

Reflita
Os novos modelos econômicos e sistemas de gestão ambiental imple-
mentados em empresas podem contribuir de diversas formas com a
redução na degradação do meio ambiente. Em termos financeiros,
como a indústria poderia agregar valor por meio da preocupação com
o meio ambiente?

Os projetos também podem partir da solicitação de um cliente, pois todas as


empresas têm clientes, sejam eles internos ou externos. Os pedidos, via de regra,
direcionam uma série de novos projetos. Em uma consultoria ambiental, por
exemplo, cada solicitação de um cliente é considerada como um novo projeto.
Há, ainda, os projetos que advêm de requisitos legais, e isso ocorre
porque organizações, tanto de setor privado como governamental, realizam
novos projetos como resultado de novas regulamentações. Novas regulamen-
tações ambientais, por exemplo, interferem no sistema produtivo, de comer-
cialização, ou ainda de operação.
A necessidade organizacional demonstra-se, também, como um fator
de estímulo de realização de projetos. Por exemplo, o projeto de mitigação
dos impactos ambientais da implantação de um novo poço de prospecção de
petróleo advém da necessidade da organização em minimizar os impactos
causados pela extração de matéria-prima para seu processo produtivo.
Alguns projetos podem surgir a partir de questões de cunho social. Durante o
surto de casos confirmados de febre amarela ou dengue, por exemplo, há a neces-
sidade de mobilizar agentes de saúde, agentes de endemias e voluntários para um
projeto com o objetivo de identificar e eliminar potenciais focos da doença.

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Os projetos, em especial os da área ambiental, podem surgir devido a um
problema (ou impacto) ambiental existente. Por exemplo, uma indústria
química de produção de corantes realizou um despejo incorreto de efluentes
em um córrego próximo de suas instalações, e isso causou sua contaminação,
levando à morte inúmeras espécies de peixes. Surge, aí, a necessidade de um
projeto que promova a descontaminação desse córrego.
Note que para cada projeto é necessário que haja um estímulo. Por meio
do estímulo é que são orientados os objetivos, as metas, o planejamento e
todos os demais passos do projeto. Lembre-se que o estímulo deve sempre
estar alinhado com o objetivo e com o resultado final do projeto.
Agora que você já apreendeu sobre o conceito, as características e os estímulos
para realização de projetos, vamos refletir sobre as partes que poderiam estar
envolvidas ou apresentam interesse no desenvolvimento de um projeto.
Quando falamos em partes interessadas em um projeto, podemos utilizar
o termo stakeholders. Essas partes podem variar de acordo com o tipo e área
de conhecimento a que se destina o projeto.

Assimile
Stakeholder é definido como:
[…] pessoas e organizações, como clientes, patrocinadores, organiza-
ções executoras e o público que estejam ativamente envolvidas no
projeto ou cujos interesses possam ser afetados de forma positiva ou
negativa pela execução ou término do projeto. Elas podem também
exercer influência sobre o projeto e suas entregas.” (OLIVEIRA; CHIARI,
2014, p. 19)

As partes interessadas de um projeto não se limitam às pessoas que


estão diretamente envolvidas no projeto, como o cliente, a equipe de geren-
ciamento, a equipe de execução do projeto ou o patrocinador. Os stakehol-
ders envolvem grande parcela de agentes que se envolvem indiretamente
como o projeto.
Os stakeholders estão relacionados em todo ciclo de vida do projeto, uma
vez que suas necessidades são consideradas no planejamento do projeto e
elas podem, também, auxiliar na identificação dos riscos do projeto.

Exemplificando
Suponha que você, gestor ambiental, foi contrato para desenvolver
um projeto de implantação de um sistema de gestão ambiental em

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uma determinada empresa. Quais seriam as partes interessadas nesse
projeto? A princípio, a empresa contratante, a equipe responsável pela
concepção e execução do projeto, e todos que direta ou indiretamente
serão afetados pelo projeto em si.

Perceba que as partes interessadas exercem influência em um projeto,


portanto é fundamental que elas sejam bem identificadas e gerenciadas, e
suas expectativas devem ser compreendidas e priorizadas.
Cada projeto apresenta sua especificidade, que dependerá, principal-
mente, da área de conhecimento a que se destina. Os projetos ambientais,
como nos ensina Khan (2003, p. 21) “[…] são bastante característicos por
envolverem fortes questões políticas, inúmeros benefícios intangíveis e uma
gama de stakeholders”.
No que tange à composição da equipe de projetos na área ambiental
teremos, também, uma característica distintiva: a multidisciplinaridade,
ou seja, todo projeto ambiental deve apresentar uma equipe técnica multi-
disciplinar. Isso ocorre porque a problemática do meio ambiente é ampla
e dinâmica, não cabendo a nenhuma profissão ou área de conhecimento a
exclusividade na análise e busca de soluções.
Os profissionais envolvidos em projetos ambientais, juntamente com a
utilização de metodologias interdisciplinares, têm como objetivo promover
uma visão holística, ou seja, procurando compreender a problemática posta
de modo totalizante e global. Podemos citar como exemplos de profissio-
nais envolvidos em projetos ambientais: engenheiro ambiental, gestor em
meio ambiente; biólogo; geógrafo; topógrafo; agrônomo; engenheiro civil;
dentre outros.
Lembre-se que para compor uma equipe técnica multidisciplinar são
necessários profissionais habilitados e qualificados para cada um dos
fragmentos ambientais (meios físico, biótico e socioeconômico).
Você pôde perceber no decorrer desta seção que os projetos podem ser
desenvolvidos em distintas áreas do conhecimento, sendo de fundamental
importância para a área ambiental, como vimos nos exemplos mencionados.
Devido à complexidade da questão ambiental, têm-se diferentes profissionais
envolvidos na elaboração e execução dos projetos ambientais. Nas demais
seções que compõem esta unidade de ensino apreenderemos sobre o ciclo de
vida e os elementos de redação de um projeto.

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Sem medo de errar

Você, enquanto gestor ambiental da Prefeitura de Alto Céu, teve como


desafio unir-se a equipe de gestão ambiental da Pedreira Cacoal para juntos
proporem um projeto de recuperação da área de exploração mineral.
Como esse foi seu primeiro trabalho como recém-contratado da
Prefeitura, muitas foram as dúvidas sobre quais encaminhamentos realizar,
a princípio por fazer parte de uma equipe de gestão ambiental já existente e,
por realizar conjuntamente um projeto de recuperação como ato regulatório
proposto pelo Ministério Público, ter que decidir qual seria o melhor uso da
área recuperada, quais profissionais estariam envolvidos nesse projeto e quais
seriam os stakeholders dele.
Com base nos apontamentos aqui apresentados, é possível estabelecer
diferentes ações que você poderia tomar, a fim de iniciar o processo de concepção
do projeto de recuperação da Pedreira Cacoal. Pensando que o estímulo desse
projeto foi um requisito legal, ou seja, um Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC) direcionado aos responsáveis pela pedreira, que após a recuperação
deveriam doá-la à Prefeitura, quais poderiam ser os stakeholders?
Podemos definir a princípio a Prefeitura, que terá essa área como doação, os
responsáveis pela pedreira, por ter que recuperar a área para não serem novamente
autuados pela Secretaria do Meio Ambiente por crime ambiental, os agentes
financiadores, a equipe de projeto, que tem como principal função realizá-lo
dentro de parâmetros estabelecidos de tempo, qualidade e custo; os moradores
de Alto Céu, pois, dependendo da nova função da área serão potenciais usuários,
a população do entorno do local recuperado, pois podem ser afetados positiva ou
negativamente pela nova função. Perceba que são inúmeras partes interessadas
nesse projeto, e elas podem variar de acordo com o seu desenvolvimento.
Tendo em mente os possíveis stakeholders do projeto e após o reconhe-
cimento do local a ser recuperado, seria necessário definir a futura função
da antiga pedreira. Então, após reuniões com a equipe de projetos, algumas
ideias do novo uso surgiram, como: a transformação da área em um parque
ecológico, com diferentes usos e espaços, como o Parque das Pedreiras na
Cidade de Curitiba – PR e o Parque Francisco Rizzo, em Embu – SP, que
poderia atrair muitos usuários até mesmo do entorno do município de Alto
Céu, auxiliando no desenvolvimento do comércio e turismo local.
Perceba que há diferentes modos de recuperar essa área para que ela
cumpra sua função social, ambiental e territorial. No entanto, deve-se ter
em mente que qualquer que seja o novo uso do local ele tem que ser capaz
de recuperar, recompor ou restituir o ecossistema antes degradado. Portanto,

16
será necessário compor uma equipe técnica multidisciplinar para a realização
desses projetos, e alguns dos possíveis profissionais envolvidos seriam: você
(gestor ambiental); geólogo, biólogo, engenheiro florestal, engenheiro civil,
arquiteto, geógrafo, dentre outros profissionais que estejam em consonância
com os meios físico, biótico e socioeconômico.
Conclui-se que os exemplos aqui explorados são ilustrativos, como um
possível encaminhamento de como você e sua equipe de projetos podem
desenvolver os questionamentos iniciais que permeiam a concepção de um
projeto ambiental, havendo diferentes possibilidades que dependerão do tipo
do projeto, das solicitações impostas, dos stakeholders, dos estímulos e do
resultado esperado.

Avançando na prática

Projeto de construção de um cinturão verde no


entorno de uma área industrial

Suponha que a empresa de consultoria ambiental que você, tecnólogo


ambiental, trabalha foi contratada para realizar um projeto de construção de
um cinturão verde no entorno de uma área industrial, e você foi convocado
para ser o responsável pela concepção e gerenciamento desse projeto. Sua
primeira solicitação ao contratante foi a formação de uma equipe multidisci-
plinar para o desenvolvimento do projeto.
Desse modo, sua primeira função enquanto gestor do projeto foi, por
solicitação do contratante, realizar a descrição das atividades que serão reali-
zadas por cada membro da equipe multidisciplinar.

Resolução da situação-problema
É sabido que a temática ambiental necessita de uma visão que perpassa
diferentes áreas de conhecimentos, portanto, é necessário que em qualquer
projeto ambiental a equipe de projeto seja composta por profissionais que
atendam aos fragmentos ambientais, ou seja, o meio físico, o meio biótico e
também o socioeconômico.
Tendo isso em mente, você decidiu, a princípio, convocar para sua equipe
de projetos um geógrafo, que teve como função realizar o georreferencia-
mento e o mapeamento da área em que o cinturão verde se localizará. Com
esses dados em mãos, um agrônomo foi chamado para realizar análises do
solo da área e aferir a necessidade de correção da sua composição química.

17
Um biólogo e um engenheiro florestal também compuseram a equipe
com o objetivo de, conjuntamente, decidir quais seriam as melhores espécies
para florestar a área, bem como realizar os levantamentos para saber quantas
mudas seriam necessárias e em qual intervalo essas mudas seriam plantadas.
A fim de obter uma visão globalizante da colocação desse cinturão na
comunidade do entorno, você convocou um cientista social para realizar entre-
vistas com os moradores das áreas próximas, com o objetivo de compreender
quais poderiam ser os possíveis impactos positivos e negativos na vizinhança.
Após realizar toda a concepção e planejamento do projeto, foi necessário
convocar pessoas para realizarem o plantio das árvores de acordo com o que
foi definido no escopo do projeto. Posteriormente ao projeto entregue, foi
preciso realizar uma avaliação dele, portanto, você sugeriu ao solicitante do
projeto que contratasse um auditor externo para que a avaliação fosse o mais
imparcial possível.
Você consegue perceber a gama de áreas de conhecimento que está
presente desde a concepção até a finalização do projeto? Por isso afirmamos
que os projetos são compostos por uma equipe, da qual cada membro atuará
no seu ramo de trabalho, para alcançar um resultado positivo e duradouro.

Faça valer a pena

1. Sobre o tema Projeto, considere a citação a seguir:


“Um projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de
atividades inter-relacionadas e coordenadas, com o fim de alcançar objetivos
específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo
dados.” (ONU, 1984, apud, PROCHNOW; SCHÄFFER, 2001, p. 2).
Sobre o tema Projeto, considere a citação a seguir:
Agora, assinale a alternativa que apresenta as características de um projeto:
a. Tempo determinado, escopo limitado, recursos ilimitados, resultado
único.
b. Tempo indeterminado, escopo abrangente, recursos ilimitados, resul-
tado variável.
c. Tempo indeterminado, escopo ilimitado, recursos limitados, resul-
tado variável.
d. Tempo indeterminado, escopo ilimitado, recursos ilimitados, resul-
tado único.

18
e. Tempo determinado, escopo limitado, recursos limitados, resultado
único.

2. Um projeto é composto por diferentes pessoas, áreas de conhecimento e


habilidades.
Usa-se o conceito de stakeholder para se referir a pessoas ou grupos que
têm interesses ligados ou são afetados positiva ou negativamente por um
empreendimento ou investimento. (DISMORE; SILVEIRA NETO, 2013, p. 34)

Sobre os envolvidos em um projeto, considere:


I. Pessoa ou grupo que fornece os recursos financeiros para o projeto.
II. Pessoas que estejam ativamente envolvidas no gerenciamento ou na
execução do projeto.
III. Pessoas e organizações cujos interesses possam ser afetados de forma
positiva pelo projeto.
IV. Pessoas e organizações cujos interesses possam ser afetados de forma
negativa pelo projeto.

3. O escopo constitui uma descrição documental do projeto, de acordo com


seus objetivos ou resultados, sua abordagem e conteúdo, ou seja, o que se
pretende obter, como fazê-lo e o que envolve (VALERIANO, 2005).
Assinale a opção correta em relação aos aspectos gerais do escopo:
a. Todo projeto deve ser específico, mensurável, atribuível, realista, e o
tempo de sua execução pode ser definido durante o andamento das
entregas.
b. A entrega, por ser um produto do projeto, prescinde de aprovação do
cliente e das definições do gerente de projetos.
c. O fato de um projeto se tornar obsoleto antes de ser concluído indica
a existência de falha na justificativa do projeto.
d. A descrição do escopo do projeto corresponde à definição do seu
centro, do produto ou do serviço e respectivas características, o que,
por si só, não estabelece a meta final do projeto.
e. A definição do projeto inicia-se na fase inicial; na fase de planejamento
todas as atividades devem sem realizadas pela equipe de projetos, o
escopo deve ser revisado durante todo o ciclo de vida do projeto.

19
Seção 2

Introdução a projetos ambientais – etapas de


um projeto

Convite ao estudo
Caro aluno, chegamos a mais uma seção dos nossos estudos introdu-
tórios dentro do âmbito de projetos ambientais. Sabe quando uma área de
mineração é desativada e precisa de um plano de recuperação? Todas as
atividades que serão realizadas devem estar elencadas dentro de um projeto,
sendo que cada etapa dele o seu ciclo de vida. Para darmos prosseguimento
em nossos estudos, após compreender o que são os projetos, vamos refletir e
aprofundar nossos conhecimentos sobre cada fase que compõe o seu ciclo de
vida, permitindo que, ao final desta seção, você seja capaz de compreender
todo esse processo, bem como as etapas envolvidas.
Lembre-se de que você foi contratado como gestor ambiental da Prefeitura
Municipal de Alto Céu, e seu primeiro desafio será desenvolver um projeto
ambiental juntamente com a equipe de gestão ambiental da Pedreira Cacoal,
para a recuperação de uma área de exploração de basalto desativada há cinco
anos, que será doada ao Poder Municipal após a recuperação.
Para tanto, seu papel, enquanto gestor ambiental acompanhado da equipe
da Pedreira Cacoal, será realizar todas as atividades necessárias para elabo-
ração do projeto que se tornará o Plano de Recuperação do local.
Após reuniões prévias entre você e a equipe de gestão ambiental da
Pedreira Cacoal, em que foram levantadas as principais questões estrutu-
rais do projeto de recuperação ambiental da antiga pedreira, é o momento
de realizar a concepção do projeto e seus direcionamentos gerais. Nessas
reuniões foram abordados pontos como: a situação atual da área degrada,
a definição dos objetivos, as estratégias para a recuperação, as atividades
que cada membro da equipe realizará, a definição dos recursos e também o
cronograma do projeto.
Suponha que durante a concepção do projeto houve uma significativa
falta de direcionamento dos responsáveis pelo planejamento preliminar da
recuperação da área, e você conclui que isso poderá afetar negativamente a
qualidade e o prazo de entrega do produto.
Essa inconsistência se deu devido à não consideração de alguns elementos
durante a delimitação do escopo do trabalho; não foram mensurados e

20
mencionados, pela equipe de monitoramento e controle, a necessidade de
contratação de fornecedores para a realização de determinadas atividades
como: provimento de mudas de espécies nativas da região e levantamento
topográfico da área. Além disso, não consideraram na formação da equipe
de execução profissionais da área da construção civil e engenharia florestal.
Assim, você, enquanto gestor ambiental da Prefeitura, principal parte
interessada na conclusão do projeto, deve propor um modo de reverter tal
situação para apresentação do projeto executivo.
Dessa forma, surgem as seguintes questões norteadoras: como serão
realizadas as ações de monitoramento e controle da execução do projeto?
Quais os agentes que estarão envolvidos na execução? Como se dará a finali-
zação do projeto?
Fique tranquilo! O conteúdo desta seção auxiliará você a solucionar essa
problemática proposta. Vamos lá?

Diálogo aberto
Olá, aluno, vamos dar prosseguimento aos nossos estudos sobre projeto?
Todo projeto é composto por cinco etapas, chamadas de ciclo de vida,
a saber: Iniciação; Planejamento; Execução; Controle e Monitoramento e
Finalização. Cabe lembrar que a fase de controle e monitoramento perpassa
o ciclo de vida do projeto desde o planejamento até sua finalização, como se
pode observar na Figura 1.2.
Figura 1.2 | Ciclo de vida de um projeto

Fonte: Oliveira e Chiari (2014, p. 25).

21
Os projetos são ações encadeadas e executadas com objetivo de se obter
um produto único. Portanto, para se iniciar um novo projeto, é necessário
defini-lo. Dessa maneira, deve-se responder ao seguinte questionamento: “O
que queremos fazer?”.
É a partir da(s) resposta(s) dessa indagação que será possível realizar o
planejamento e as demais fases do ciclo de vida de um projeto, pois é essen-
cial para o sucesso dele que haja uma boa elaboração e clareza dos objetivos.
Cumpre destacar a diferença entre fases e o grupo de processo de um
projeto, de acordo com Borges e Rollim (2015, [s.p.]):

Os grupos de processos não são fases do projeto. Grupos


de processos referem-se ao trabalho do gerenciamento
do projeto. As fases referem-se ao trabalho de geração
do produto do projeto. Processos são genéricos, ou seja,
aplicam-se a todo e qualquer projeto e repetem-se ao
longo do ciclo de vida do projeto. Fases são específicas de
cada projeto e ocorrem uma única vez em cada projeto.

Na fase de iniciação ocorre todo o processo de idealização do projeto,


na qual haverá as definições das necessidades de sua realização, objetivos,
justificativa, metas, partes interessadas, equipe de execução, previsão de
custos, tempo, qualidade e avaliação; período em que ocorrem muitas ideias
e discussões entre os membros da equipe para que possam delinear as proje-
ções realizadas. São essas delimitações que podem ser responsáveis pelo
sucesso ou pelo fracasso do projeto.
Também perfaz essa fase a elaboração da justificativa para execução do
projeto, a listagem dos objetos e os resultados esperados com sua realização.
Deve-se ainda, identificar as partes interessadas, ou seja, os stakeholders, bem
como elaborar o esboço (para que seja refinado na fase de planejamento) e as
documentações das principais entregas do projeto.
Durante essa primeira fase, é necessário estruturá-lo com o Termo de
Abertura (Figura 1.3), que é o documento que dará início ao projeto. O
termo de abertura tem como objetivo autorizar formalmente a sua realização,
e é caracterizado como um documento interno da organização executora,
definindo os principais elementos, a razão ou justificativa para sua reali-
zação, os objetivos pretendidos e a contextualização na organização. O termo
apresenta também documentações e informações de requisitos que satis-
fazem as necessidades e as expectativas das partes interessadas.

22
Figura 1.3 | Termo de abertura do projeto

Fonte: Borges e Rollim (2015, [s.p.]).

Como o próprio nome indica, este documento inicia e autoriza profis-


sionais da organização executora a se dedicarem ao projeto que está se
originando. As informações apresentadas não se constituem em uma mera
formalidade. Cada uma tem papel importante no documento de autorização.
O nome do projeto se constitui como um elemento de comunicação e divul-
gação para a organização executora e às partes interessadas.
Os principais stakeholders (partes interessadas) que devem constar no
termo de abertura são: o cliente do projeto (indivíduo ou grupo), que forne-
cerá os principais requisitos (necessidades de realização) e dará o aceite
formal no resultado/produto; o gerente do projeto, que é a pessoa respon-
sável pelo seu gerenciamento; e o sponsor (patrocinador) que proverá os
recursos financeiros. Esse último apresenta papel abrangente, pois deve dar
suporte, bem como ter decisões quanto às prioridades e mudanças do projeto.

23
Posteriormente à etapa inicial, temos o Planejamento do projeto, fase que
consiste no detalhamento de todas as atividades que vão compor o trabalho a
ser desenvolvido e, dessa forma, em que será investido 80% do tempo. Ainda,
é necessário pesquisar e determinar prazos, definir a alocação dos recursos e
custos, resultando, desta maneira, em uma lista de tarefas.
Portanto, nessa fase determina-se o que deve ser feito (escopo e entregas),
como será realizado (atividades e sequências), quem o fará (recursos, respon-
sabilidade), quanto tempo será necessário (duração, programação), quanto
custará (orçamento) e quais são os riscos.
Lembre-se de que essa etapa é dinâmica. Ainda que aparente uma espécie
de ponto de partida, envolve constantes atualizações e revisões. Deve-se
promover uma ampla consulta daqueles que participarão e serão influen-
ciados direta e indiretamente, pois quanto maior for o envolvimento da
equipe e dos stakeholders, melhor será a qualidade do roteiro de planeja-
mento, bem como a facilidade de sua implantação.
No momento do planejamento, além de refinar os objetivos, é necessário
realizar as seguintes definições:
• Estratégias de gerenciamento do projeto.
• Declaração de escopo.
• Estrutura Analítica do Projeto.
• Sequenciamento das atividades e cronograma.
• Orçamento.
• Riscos e limitações.
• Matriz de responsabilidades.
• Plano de gerenciamento de mudanças.
Atente-se para o fato de que qualquer modificação ocorrida ao longo do
ciclo de vida do projeto gera a necessidade de revisar uma ou mais ações do
planejamento e, possivelmente, algumas ações da iniciação.

Exemplificando
O planejamento de um projeto, quando bem feito, permite que as
etapas posteriores do ciclo sejam realizadas com menor risco de contra-
tempos.
Pense em um projeto de licenciamento ambiental de um cemitério, em
que foi necessário realizar o Estudo de Impacto Ambiental. Durante o

24
processo de planejamento desse projeto, a equipe elaborou o crono-
grama dentro do limite de tempo imposto pelo contratante, porém não
se atentou ao tempo que seria necessário para a realização das análises
de solo e levantamentos topográficos que dependiam de fornecedores
externos à equipe.
Dessa forma, acarretou um atraso no cronograma e, portanto, na
entrega do EIA e de todo o processo de licenciamento, o que justifica
a necessidade de ser assertivo no planejamento e de levantar possíveis
cenários que podem impactar o andamento.

Você consegue notar que a fase de planejamento é um dos principais


momentos do projeto? Um planejamento bem elaborado poderá gerar um projeto
bem-sucedido.
De acordo como Borges e Rollim (2015, [s.p.]), ainda que descrito como
uma sequência de encaminhamentos, essa fase demonstra-se dinâmica e
interativa, uma vez que os elementos que a compõem estão inter-relacio-
nados, ou seja, a definição de um elemento pode acarretar a necessidade
de ajuste de outro elemento determinando anteriormente. Um exemplo é o
dos parâmetros de qualidade do produto que necessariamente implicarão
modificações no tempo e no custo do projeto.
Após realizar o planejamento, é o momento de fazer o projeto acontecer,
isto é, fazer com que ele saia do mundo das ideias e ganhe materialidade.
Durante a fase de execução, o foco é a realização do que foi planejado, ou seja,
é quando o que foi pensado, elaborado e planejado até o momento torna-se
realidade. É o período em que se executa os planos que foram desenvolvidos
nas fases anteriores.
Nessa etapa, é necessário coordenar as pessoas e recursos para realizar
e concluir o trabalho planejado, de acordo com os requisitos e especifica-
ções solicitadas. Grande parte do orçamento é consumida nessa fase, e é nela
que o produto do projeto é criado, sendo fundamental haver monitoração
contínua para o que foi planejado seja alcançado.
Deve-se seguir o plano de gerenciamento do projeto; realizar o cumpri-
mento do escopo; entregar os produtos intermediários; gerenciar os recursos;
e/ou implementar ações corretivas; atualizar o plano de gerenciamento
do projeto.
Segundo Dismore e Silveira Neto (2013), os padrões de qualidade devem ser
garantidos tanto para equipe executora, bem como para o cliente e as demais
partes interessadas no produto. Essa garantia é realizada por meio de um
conjunto de ações sistemáticas e planejadas que envolvem formação de uma

25
equipe de projetos apta a cumprir os compromissos com conhecimento técnico;
disponibilização de informações; respostas às solicitações, modificações e riscos.
É essencial realizar a documentação e o acompanhamento das ativi-
dades que estão sendo entregues, para que se possa mensurar os avanços
das conclusões parciais do escopo. Deve-se também ficar atento às possíveis
mudanças que venham a ocorrer pois, se necessário, realizam-se interven-
ções a fim de ajustar o planejamento inicial para que problemas relacionados
aos recursos, orçamento ou riscos não interfiram no resultado final.
O monitoramento e controle ocorre ao mesmo tempo em que o projeto está
sendo executado. É uma fase necessária para assegurar que o projeto está evoluindo
de acordo com o planejado e que o objetivo será concluído. Dessa maneira, deve-se
medir o progresso atual e compará-lo com o que foi anteriormente planejado.
A qualquer momento em que a comparação demonstrar que há um
atraso, orçamento excedido ou especificações não atendidas, ações corretivas
devem ser tomadas para regularizá-lo. No entanto, de acordo com Clements
e Gido (2013), antes da decisão de realizar a implantação de ações corretivas
é necessário avaliar diversas possibilidades para ter certeza de que essas ações
colocarão o projeto em consonância com o escopo, cronograma e custos que
fazem parte do objetivo, pois por vezes a incorporação de recursos para reparar
um equívoco no cronograma e manter as atividades dentro do prazo programado
poderá ter como resultado um aumento na estimativa do custo antes planejado.
Os processos de monitoramento e controle incluem, sistematicamente:
1. Medir o desempenho do projeto.
2. Identificar as variações entre planejado e executado (comparar a linha
de base aprovada com o que foi efetivamente realizado).
3. Recomendar ações corretivas ou preventivas.
4. Analisar impactos de mudanças solicitadas e submetê-las à aprovação.
Durante sua maior parte, essa fase lida com a aferição do desempenho do
projeto e o progresso em relação ao plano de gerenciamento. Ela corresponde
à verificação do escopo e ao controle para verificar e monitorar os avanços.
Para que haja um processo eficaz de monitoramento e controle do
andamento das atividades do projeto é fundamental que se produza relató-
rios de acompanhamento, e neles devem estar inclusos os seguintes itens:
• Status, que demonstra o ponto em que o projeto se encontra.
• Progresso, isto é, o que já foi executado até o momento de elaboração
do relatório.

26
• Desvio, caso haja, que se caracteriza pelo relato do que se tinha
esperado realizar, mas não ocorreu.
• Ações corretivas (se houver desvios), que é a descrição detalhada do
que foi implementado para corrigir os desvios.
• Previsões, que trazem a apresentação dos processos futuros. Dismore
e Silveira Neto (2013).

Assimile
Pensando no sucesso do projeto, podemos adotar o controle integrado.
Implementar o controle integrado de mudanças é fundamental para
possibilitar o sucesso do projeto. Algumas mudanças ocorrem ao longo
de seu ciclo de vida, devido, especialmente, à necessidade de atender
novas exigências dos stakeholders. Ressalta-se que a mudanças podem
causar grandes impactos na execução das atividades, portanto, somente
devem ser introduzidas se forem imprescindíveis para correção de
equívocos ou desvios que possam ocorrer.
O controle integrado de mudanças é composto pelos seguintes
processos: Solicitação de mudança; Revisão do impacto dos custos e
benefícios gerados pela mudança; Aprovação; Replanejamento contem-
plando a mudança; Execução, controle e monitoramento da mudança;
Encerramento da entrega ou resultado contemplando a mudança.

Quando o projeto chega a seu término, é a hora de fazer o encerramento


das atividades e encerramento de qualquer pendência que ainda exista.
Portanto, a fase de fechamento envolve várias ações como:
• Finalizar todas as atividades de todos os grupos de processos para
terminar formalmente o projeto.
• Encerrar as aquisições e os contratos.
• Receber e fazer os pagamentos finais.
• Reconhecer e avaliar a equipe.
• Conduzir uma avaliação pós-projeto.
• Documentar as lições apreendidas.
• Organizar e arquivar os documentos.
• Realizar a reunião de encerramento formal.

27
É nessa fase em que a execução dos trabalhos pode ser avaliada por meio
de uma auditoria interna ou externa (terceiros), os livros e documentos do
projeto são encerrados e todas as falhas ocorridas no processo são discutidas e
analisadas para que erros similares não ocorram em novos projetos (aprendi-
zados) e, assim, as experiências relevantes tendem a contribuir futuramente.
No encerramento do projeto — em especial, na reunião de finalização
— deve-se avaliar os seguintes aspectos: O projeto atingiu seu objetivo?
O cliente está satisfeito? Os parâmetros de custo, prazo e qualidade foram
mantidos? Aconteceram situações de risco? Como foram resolvidas? Houve
problemas com contratos? A equipe superou os problemas?
O objetivo desta avaliação é identificar e documentar as lições aprendidas
e capitalizar o conhecimento e experiências adquiridas no projeto. O gerente
de projetos pode convocar uma reunião final para a apresentação de um
relatório e a exposição de informações gerais sobre a conclusão do projeto.
Nesta seção você teve a oportunidade de compreender cada fase do ciclo
de vida de um projeto, e o quanto são importantes a elaboração e o desen-
volvimento de cada uma delas. O planejamento umas das fases cruciais do
projeto, pois sendo bem-estruturado pode promover o sucesso do projeto,
auxiliando na construção bem-sucedida dos profissionais envolvidos.

Sem medo de errar

Durante a concepção do projeto de recuperação da Pedreira Cacoal, você,


gestor ambiental da Prefeitura Municipal de Alto Céu, juntamente com a
equipe de gestão ambiental da Pedreira, realizaram a divisão do ciclo de vida
do projeto.
Você ficou encarregado de ser o gerente de projetos, já que a prefeitura
é o principal stakeholder, pois terá posse do local da antiga pedreira após
a recuperação; os profissionais da equipe de gestão ambiental da Pedreira
Cacoal ficaram responsáveis pela estruturação dos processos que compõem
as fases do ciclo de vida do projeto. Lembre-se de que, enquanto gerente de
projetos, você deve ser responsável pelo desenvolvimento de todas as fases,
ou seja, deve aprovar ou solicitar reformulações aos encarregados.
Ao analisar o esboço dos procedimentos que seriam realizados em cada
etapa do ciclo de vida do projeto, você percebeu que os profissionais da equipe
que estavam responsáveis por realizar o planejamento preliminar traçaram
ações que não estavam em consonância com o escopo do projeto, uma vez
que não foram considerados alguns fatores externos, como a contratação de
fornecedores para as atividades de levantamento topográfico e provimento

28
de mudas nativas. Também não foi mencionada a necessidade de contra-
tação de profissionais da engenharia civil e florestal para comporem a equipe
executora, logo isso teria um impacto significativo na qualidade e no prazo
de entrega do projeto.
Deste modo, você se questionou: “Como resolver esse problema?”. Então
lembrou-se de que durante sua formação acadêmica você estudou sobre
plano de planejamento e execução de projetos e procedimentos diante de
solicitação de mudanças no escopo. Portanto, você se reuniu com os profis-
sionais da equipe de gestão ambiental da Pedreira Cacoal e propôs a refor-
mulação do escopo do projeto, para que esse incluisse os profissionais de
engenharia civil e florestal na formação da equipe executora, a contratação
de uma empresa especializada em topografia e georreferenciamento e, ainda,
a indicação dos fornecedores de mudas nativas para a realização da recom-
posição vegetacional da área.
Posteriormente a essa reunião os profissionais realizaram as alterações
necessárias para que o escopo do projeto abarcasse as ações relativas aos
profissionais e fornecedores anteriormente desconsiderados no planeja-
mento preliminar. A equipe lhe apresentou as reformulações e, como todas
suas solicitações foram consideradas, você aprovou o escopo, possibilitando
a realização da redação do projeto executivo – plano de recuperação da
Pedreira Cacoal – que será apresentado às partes interessadas.

Avançando na prática

Cidades resilientes

Suponha que você, enquanto tecnólogo em gestão ambiental, foi


contratado por uma incorporação imobiliária para trabalhar na avaliação
de um projeto de implantação de construção sustentável de um hospital
com oito andares.
Durante todo o projeto houve atrasos nas entregas parciais e aumento
dos custos anteriormente planejados. Esses elementos foram previstos
tendo como base experiências de projetos de construção convencionais
já realizados pela incorporadora. Diante dessa constatação, quais foram
os problemas encontrados na execução e quais as lições que puderam ser
obtidas neste projeto?

29
Resolução da situação-problema
Algumas das inovações necessárias para construir de forma sustentável
requerem novos materiais e processos que não são cobertos por regulamen-
tações governamentais, assim esse projeto sofreu um atraso no cronograma
para superar esses obstáculos relacionados com os códigos de construção,
zoneamento urbano e regulamentações. Com o processo acelerado, foi neces-
sário um esforço extra para preparar a documentação sobre como as inova-
ções atenderiam aos códigos atuais de construção e zoneamento urbano.
A nova construção exigiu materiais e processos que afetaram o crono-
grama do projeto no prazo da atividade, com pouco impacto sobre o prazo
de construção total. As atividades exigiram processos e equipamentos inova-
dores, e a prevenção da poluição impactou a duração da atividade, adicio-
nando tempo para estabelecer o controle de sedimentos, de erosão mais
extensiva e proteção da vegetação atual.
Na avaliação do pós-projeto, você pôde constatar que as previsões reali-
zadas com base em projetos anteriores não auxiliaram na implantação dessa
construção, uma vez que os prazos foram ampliados e os custos foram
superiores, dado os tipos de materiais empregados. Portanto, as lições apren-
didas estão relacionadas à programação e aos preços para futuros projetos de
construção sustentável.

Faça valer a pena

1. Todo projeto é composto por um ciclo de vida caracterizado pelas


seguintes fases: iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle
e finalização. Cada uma dessas fases apresenta processos específicos que
auxiliaram no bom andamento do projeto e entrega do produto.
Sobre a fase de iniciação assinale a alternativa correta.
a. Na fase de iniciação ocorre o detalhamento dos objetivos, a definição
do cronograma e a avaliação do projeto.
b. Na fase de iniciação há monitoramento das ações preventivas e
reporte do desempenho das atividades.
c. Na fase de iniciação ocorre a definição dos objetivos, a criação do
escopo e o sequenciamento das atividades.
d. Na fase de iniciação há a solicitação de mudanças, reporte de varia-
ções do planejamento e a determinação das aquisições.

30
e. N
a fase de iniciação ocorre todo o processo de concepção do projeto
que culmina na criação do Termo de Abertura do Projeto.

2. A gerência de projetos é um ramo da Ciência da Administração que


trata do planejamento e controle de projetos. Gerenciamento de projetos é
o processo de planejamento, análise e controle de tarefas, prazos e recursos
de um projeto, e envolve também a comunicação dos progressos e resultados
alcançados para os clientes, staff ou alta administração.
Diante do exposto, avalie as ações a seguir:
I. Desenvolver o Termo de Abertura do Projeto (TAP).
II. Definir o escopo do projeto.
III. Identificar as partes interessadas.
IV. Identificar os riscos.
V. Conduzir as aquisições.
VI. Reportar o desempenho.
VII. Encerramento das aquisições.

3. Observe e analise a imagem a seguir:


Figura | Fases do ciclo de vida de um projeto

Fonte: adaptado de Dismore e Silveira Neto (2013, p. 13).

Sobre as diferentes fases do ciclo de vida de um projeto, avalie as afirmações


a seguir:

31
I. A fase de planejamento é o momento de definição dos objetivos,
escopo, justificativa e demais elementos decisivos para o bom
andamento do projeto.
II. O monitoramento e controle perpassa todas as fases dos projetos
para auxiliar na diminuição dos riscos e aumento da qualidade.
III. Na fase de execução não poderá haver alterações com relação às
expectativas dos clientes.
IV. Na fase de encerramento deve-se documentar todo o processo do
projeto e encerrar as aquisições.
V. Na fase de execução todo o planejamento deve ser revisado a fim
de ser modificado caso haja inconsistência da ideia do produto final
solicitado e da expectativa do cliente.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a. F – V – V – F – F.
b. V – F – V – F – V.
c. V – V – F – V – F.
d. V – F – F – F – V.
e. F – F – V – V – F.

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Seção 3

Introdução a projetos ambientais – elementos


para a redação de um projeto

Convite ao estudo
Estimado aluno, chegamos ao final de nossa primeira unidade de ensino.
Até o momento, tivemos a oportunidade de compreender o que são os
projetos, as áreas de aplicação, os diferentes profissionais que atuam neles e
como se dá cada etapa do ciclo de vida de um projeto.
Nesta seção, você será levado a compreender os principais elementos que
compõem a redação de projetos: introdução, justificativa, desenvolvimento
dos objetivos (geral e específico), as metas, metodologia, coleta de dados
e avaliação.
Lembre-se que você foi contratado como gestor ambiental da Prefeitura
Municipal de Alto Céu, sendo seu primeiro trabalho desenvolver um projeto
ambiental juntamente com a equipe de gestão ambiental da Pedreira Cacoal,
para a recuperação de uma área de exploração de basalto desativada há cinco
anos e que será doada ao Poder Municipal após recuperação.
Posteriormente à realização de levantamento prévio, o planejamento do
projeto de recuperação da Pedreira Cacoal foi concebido e está em conso-
nância com as solicitações das partes interessadas, optando-se por recuperar
a área com a implantação de um Parque Ecológico.
Após realizar a versão prévia da redação do projeto que foi apresentado
para os stakeholders, os agentes financiadores e demais partes interessadas
apresentaram críticas sobre a compreensão do objetivo geral do trabalho,
solicitando o detalhamento na justificativa e nos métodos de avaliação
pós-projeto. Para facilitar o trabalho, foram elencados pontos que notoria-
mente não ficaram adequados no projeto, como a descrição do local a ser
recuperado e, assim, as seguintes questões norteadoras foram levantadas:
Qual o local será recuperado? Qual a justificativa de realizar a recuperação?
Qual o objetivo geral do projeto? E os específicos? As metas foram definidas?
Qual as personas envolvidas no projeto? Como será realizado o monitora-
mento e avaliação?
Ao tomar conhecimento dessas solicitações, você se reuniu com sua
equipe para fazer os ajustes necessários nos elementos pontuados pelos
stakeholders e realizar o processo de revisão geral da versão do projeto
que será apresentado novamente ao prefeito de Alto Céu, aos proprietários

33
da Pedreira Cacoal e aos agentes financiadores do projeto de recuperação
ambiental, a fim de ter autorização do Termo de Abertura para dar início às
demais fases de implantação do Parque Ecológico.
Bons estudos!

Diálogo aberto
Olá, aluno! Vamos dar sequência aos nossos estudos sobre projetos
ambientais? Para isso, é importante que você reflita sobre os seguintes questio-
namentos: Você já teve a oportunidade de redigir um projeto? Conhece os
elementos essenciais para a sua redação? Quais os questionamentos que
norteiam a confecção do texto? É chegada a hora de conhecer os elementos
da redação de um projeto para que possamos compreender essas questões.
A redação de um projeto ambiental é a última etapa de concepção do
projeto e, dessa forma, é necessário entender os elementos que o compõem.
O projeto deve ser claro, coeso e comunicar o leitor em relação aos objetivos,
metas, processos de execução, dentre outras informações relevantes. Para
isso, é possível guiar-se por meio de perguntas-chave, que direcionam a sua
confecção, como “para quem?” (relativo ao público alvo) e “como?” (que
norteará a metodologia a ser utilizada), dentre outros aspectos que compõem
os elementos necessários a sua redação (Figura 1.4).
Figura 1.4 | Elementos da redação do projeto

Fonte: São Paulo (2013, p. 9).

34
Para iniciarmos as discussões sobre os elementos da redação, há a neces-
sidade de ter clareza sobre a demanda ou estímulo que promoveu o desen-
volvimento da sua ideia ou, ainda, a problemática que deve ser solucionada.
Definido o estímulo, problema ou demanda, faz-se a redação da intro-
dução do projeto, etapa que deve ser guiada pelo seguinte questiona-
mento: “Qual é o cenário do problema a ser solucionado?” Como exemplo,
podemos pensar em uma região de uma cidade de médio ou grande porte
que apresenta um corpo hídrico contaminado por rejeitos de uma indústria
química, ou um terreno que é utilizado pela população para o descarte incor-
reto de resíduos sólidos.
A introdução deve apresentar a temática como um todo, sem extensos
detalhamentos, tendo como principal função aproximar o leitor do
cenário real, bem como fornecer a ideia geral do objetivo da realização do
projeto. Para isso, deve ser redigida de forma clara e objetiva, contendo as
informações gerais, problemas socioambientais existentes, desafios que
devem ser superados e, ainda, o cenário do local/região onde se pretende
desenvolver o projeto.
Por meio de um texto curto, mas bem organizado, deve-se explicar quais
os objetivos e argumentos que você usará ao longo do desenvolvimento
de seu projeto.
Outro elemento essencial é a justificativa, que apresenta detalhadamente
as razões pelas quais o projeto precisa ser realizado e como serão promovidos
impactos positivos à população e ao meio ambiente. Deve destacar quais
problemáticas ambientais serão abrangidas na execução, bem como o modo
que as ações previstas influenciarão a transformação da realidade.
Fundamenta-se, especialmente, a partir da análise da área de atuação do
projeto, como a situação socioambiental, utilização dos recursos naturais,
atividades econômicas relevantes, dentre outros.

Reflita
A redação da justificativa de um projeto nada mais é que a defesa da
razão de realizá-lo, é informar ao leitor a razão pela qual o projeto
deve ser desenvolvido. Pensando em um cenário no qual você tenha
que realizar um projeto para a implantação de uma usina de energia
eólica, quais seriam os argumentos que poderiam ser utilizados para a
construção dessa usina?

35
Na concepção do projeto é essencial caracterizar seu público-alvo, isto é, as
pessoas que se configurarão como usuários ou que serão afetadas positiva ou
negativamente pela sua execução e/ou produto. A determinação do público-alvo
deve estar em consonância com as metas e resultados esperados. Para auxiliar nessa
definição podemos levar em consideração alguns questionamentos:
• Quais serão os beneficiários do projeto? Como foram definidos?
• Quais são as características distintivas desse público? Quais singulari-
dades devem ser consideradas?
• Qual a quantidade de indivíduos que estará envolvida direta e indire-
tamente no projeto?
• Como será o envolvimento da comunidade com o projeto? Estará
desde a concepção até sua finalização ou terá participações pontuais
em determinados momentos?
Agora que você já apresentou a problemática a ser solucionada, descreveu
o cenário, defendeu a ideia e definiu a qual público está direcionado o projeto,
é o momento de refinar o objetivo geral e os objetivos específicos, pois a
partir deles derivarão as metas, a metodologia e as demais ações que culmi-
narão na execução e entrega do produto. Lembre-se que no momento de
realização da justificativa os objetivos já devem estar delimitados, portanto, a
delimitação dos objetivos e a redação da justificativa são processos simultâ-
neos. No entanto, há a possibilidade de realizar o refinamento dos objetivos
para que eles fiquem em consonância com o que será realizado no desenvol-
vimento do projeto.
O estabelecimento dos objetivos é a resposta ao que se pretende fazer
no projeto ou o que pretende alcançar como resultado. O objetivo geral
demonstra de forma ampla os benefícios que devem ser alcançados com a
implantação, ou seja, corresponde a uma visão macro do pretendido.
A definição do objetivo do projeto é crucial para compreensão do
problema que se está buscando solucionar/mitigar, como também quais os
resultados esperados e os critérios de realização. A partir dessa definição é
que se pode direcionar as ações para a resolução da problemática posta.
É papel do gerente de projeto, considerando as opiniões dos membros da
equipe, definir o objetivo geral, sendo importante detalhá-lo para que seja
possível ter visão dos seus componentes.

36
Exemplificando
Um projeto no qual a temática seja a recuperação de uma área degra-
dada pela exploração mineral, como o Plano de Recuperação de Áreas
Degradadas desenvolvido pela APF Engenharia Projetos Ambientais, do
estado da Paraíba, que definiu como objetivo geral do projeto:

• Apresentar as diretrizes para a recuperação das áreas degradadas


pela exploração mineral do projeto em estudo, desenvolvendo
ações de controle, adotando medidas de minimização da ação
dos agentes erosivos e recuperação ambiental das áreas afetadas.

A descrição do objetivo deve ser de fácil compreensão, ou seja, clara e realista,


além ser passível de ser alcançado, por meio das metas e atividades propostas
no projeto, mantendo coerência com a justificativa. Lembre-se que o objetivo é
sempre iniciado com um verbo no modo infinitivo – expressando a ideia de ação.
A partir do detalhamento do objetivo geral derivam os objetivos especí-
ficos, que são as indicações do que fazer para se concluir o objetivo maior do
projeto. Devem ser concretos e realizados por meio de atividades que serão
executadas ao longo do projeto.

Exemplificando
Ainda analisando o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas desenvolvido
pela APF Engenharia Projetos Ambientais, do estado da Paraíba, é possível
ver que os objetivos específicos desse trabalho são:

• Implementar ações de controle ambiental a serem desenvolvidas


anteriormente e conjuntamente à supressão vegetal de forma a
enriquecer e acelerar o processo de recuperação proposto.
• Implementar ações de controle e recuperação ambiental, de
forma a mitigar ou corrigir processos erosivos que poderão ser
acentuados, ou originados com a implantação do empreendi-
mento.
• Promover a recuperação de áreas afetadas pelo empreendi-
mento; obtendo a estabilidade da área de modo a possibilitar o
seu uso futuro seguro.
• Criar atrativos para a fauna local nas áreas recuperadas, de forma
a atrair populações de animais, encontradas na área do empreen-
dimento anteriormente a sua implantação.
• Monitorar as áreas recuperadas, avaliando a efetividade das
ações de recuperação executadas, identificar eventuais desvios
no programa de recuperação.
Fonte: Figueiredo, [s.d.].

37
Após a delimitação do que se pretende realizar com o projeto é neces-
sário definir suas metas, ou seja, descrever de forma concreta, quantificável e
dentro de um período de tempo, os objetivos específicos, sendo que de cada
objetivo pode derivar uma ou mais metas. A formulação delas é orientada
pelas questões de o que, com que alcance e em quanto tempo se realizará
uma ou mais ações para alcançar o objetivo geral do projeto.
As metas se diferenciam dos objetivos específicos, pois são definições em
termos quantitativos e com prazos definidos, ou seja, tarefas específicas reali-
zadas para alcançar os objetivos. Já os objetivos específicos são as descrições
daquilo que se pretende alcançar no âmbito do projeto.
Quando se possui metas claras, a visualização dos caminhos escolhidos é
facilitada, sendo que, dessa forma, as informações contribuem para orientar
as atividades que estão sendo desenvolvidas e servem como instrumento
para avaliar o que foi previsto e o que foi realizado.

Assimile
Para melhor definir e controlar metas para diferentes projetos siga os passos
a seguir:

1. Estabeleça o objetivo principal (o que se quer realizar com o


projeto).
2. Desmembre o objetivo maior em ações palpáveis e realizáveis
(descrição das ações para se alcançar o objetivo principal).
3. Defina ações – metas – para alcançar o objetivo principal (ativi-
dades específicas realistas e com prazos definidos).
4. Controle os resultados das atividades propostas.
5. Mensure a evolução, ou seja, observe se as tarefas estão
ocorrendo no prazo antes definido.

A metodologia, ou seja, o “como fazer?”, que deve ser documentada e


apresentada no projeto, tem o objetivo de esclarecer os referenciais teóricos
que norteiam o trabalho, bem como os métodos a serem utilizados para
alcançar os objetivos específicos propostos. Perfaz um conjunto de técnicas,
instrumentos e recursos utilizados para alcançar as metas estabelecidas.
Dessa maneira, as atividades que serão realizadas devem ser descritas
detalhadamente, incluindo as técnicas e instrumentos, recursos necessá-
rios, carga horária, duração prevista para realização, quais pessoas da equipe
estarão envolvidas na execução, a divulgação, o registro, a forma de acompa-
nhamento e de avaliação.

38
A metodologia indica as ideias e conceitos considerados importantes
e que nortearão a prática, justificando os métodos escolhidos, garantindo
maior consistência ao projeto.
Uma parte integrante da metodologia é a coleta de dados, uma vez que
eles são utilizados para alcançar o objetivo proposto. Para obtenção de dados
podem ser utilizadas diferentes técnicas de pesquisa, como a documentação
indireta – busca de informações em fontes variadas –, documentação direta
(obtenção de informações in loco, ou seja, o levamento de dados ocorre no
local de estudo, onde ocorreu ou ocorre o problema), além da observação
direta intensiva, por meio de entrevistas e/ou observação criteriosa do
problema e a observação direta extensiva (elaboração e aplicação de questio-
nários e/ou formulários aos envolvidos com o objeto do projeto).
Um exemplo de levantamento de dados diretos na área ambiental dá-se
com a realização de estudos diagnósticos para identificação de áreas degra-
dadas que devem ser recuperadas, ou obtenção de subsídios in loco para a
proposição de um projeto de reposição de mata ciliar.
Pela documentação indireta é possível obter dados por meio de fonte
primárias, aquelas que são reunidas pelo próprio autor do projeto ou pesquisa
com base em análise de registros públicos, relatos de visitas, laudos técnicos,
dentre outros. Já a documentação direta é aquela consultada com base nos
levantamentos de dados in loco, dados coletados via visita técnica, trabalhos
de campo, coleta sistemática de dados, dentre outros.
Alguns dos questionamentos que podem orientar a confecção da metodo-
logia e dos métodos de trabalho são:
• Quais serão as atividades executadas para se alcançar o objetivo e as
metas estabelecidas?
• Que tipo de técnicas, recursos e instrumentos serão utilizados?
• Quais serão as pessoas responsáveis por cada atividade?
• Como se dará o registro e divulgação das tarefas realizadas?
• Como mensurar o que já foi realizado?
• De que maneira será realizada a avaliação pós-projeto?
Como é possível acompanhar as atividades que devem ser realizadas em
um projeto? Ou seja, como delimitar as tarefas no tempo? Isso é possível por
meio do cronograma do projeto.

39
O cronograma demonstra as atividades que devem ser cumpridas no
projeto, apresentando a data de início e de final. Montar um bom crono-
grama é fundamental para que o projeto seja executado de modo organizado,
diminuindo os riscos de equívocos. Iremos aprofundar essa temática outrora,
quando trabalharemos o gerenciamento do tempo de um projeto ambiental.
O cronograma tem como funções e benefícios: a definição da sequência de
atividades; previsão da duração de cada atividade; controle da realização das ativi-
dades; aumento do foco e da produtividade; auxílio da previsão de gastos; anteci-
pação das falhas; facilitação da gestão de tarefas de cada membro da equipe.
Prosseguindo, como podemos acompanhar a realização das ações e o
cumprimento das metas do projeto, e como verificar as mudanças que estão
acontecendo por meio do projeto?
Em todo projeto, é indispensável a avaliação no decorrer do desenvol-
vimento. Planejada na fase de elaboração, deve ser realizada continuamente no
decorrer da execução, permitindo a verificação da concretização parcial ou total
dos objetivos, as boas práticas, acertos e pontos a melhorar (dificuldades), possibi-
litando o replanejamento das ações, por meio de plano de mudanças.
O processo de avaliação deve acontecer por meio das seguintes verificações:
Avaliação de resultados: verificação do cumprimento de metas e
objetivos nos prazos previstos por meio de visitas, análise de documentos,
fotos, dentre outros.
Avaliação de conteúdo: análise e descrição das tendências verificáveis
em documentos escritos como memórias de reuniões, publicações, relató-
rios, dentre outros.
Avaliação de processo: análise da forma como o projeto é conduzido,
verificando-se a eficiência dos métodos, identificando a coerência, qualidade
e viabilidade das técnicas.
Avaliação de impactos: análise dos impactos (transformações) sociais e
ambientais causados pelo desenvolvimento do projeto.
É possível observar no Quadro 1 os principais aspectos a serem conside-
rados para a avaliação dos projetos.

40
Quadro 1.1 | Aspectos a serem considerados para a avaliação dos projetos

O processo Exemplos
Quem?
Quem são os responsáveis pelo plane-
Equipe, participantes e avaliadores externos.
jamento das ações de monitoramento e
avaliação?

Atendimento às metas e aos objetivos pro-


postos; qualidade das atividades, produtos
das ações, infraestrutura e organização, nº de
O quê?
participantes, envolvimento dos partici-
Que aspectos serão avaliados no projeto?
pantes, projetos implementados e nº de
instituições mobilizadas.

Metodologia utilizada:
Instrumentos utilizados (diagnósticos,
Como? relatórios, de atividades, questionários de
Como serão feitos o acompanhamento e a opiniões, rodas de conversa, relatório foto-
avaliação? gráfico, análise dos projetos implementados,
lista de presença e percepção/observação da
equipe técnica/participantes).

Continuamente durante o desenvolvimento


Quando?
do projeto; no início e no final; diagnóstico
Em que momento as ações serão avaliadas?
inicial/ durante o desenvolvimento/ ao final.

Fonte: São Paulo (2013, p. 30).

Nesta seção você pôde compreender os principais elementos da redação


de um projeto e quais os questionamentos que orientam a confecção de cada
um deles. Lembre-se que é necessário redigir um texto claro, objetivo e coeso
para aproximar o leitor dos objetivos propostos e dos resultados esperados
com a realização do projeto.

Sem medo de errar

Após realizar a versão prévia da redação do projeto que foi apresentado aos
stakeholders, os agentes financiadores e demais partes interessadas apresen-
taram algumas críticas sobre a clareza do objetivo geral do trabalho, solici-
tando detalhamento na justificativa e nos métodos de avaliação pós-projeto.
Ao tomar conhecimento dessas solicitações, você se reuniu com sua
equipe para fazer os ajustes necessários nos elementos pontuados pelos
stakeholders e realizar o processo de revisão geral da versão do projeto que
será apresentado novamente.

41
Para reestruturar os elementos ressaltados principalmente pelos agentes
financiadores, você deverá informar ao leitor qual é o cenário da problemá-
tica que o projeto pretende solucionar, portanto, deve descrever como está
a área degradada pela exploração mineral e como pretende recuperá-la.
Posteriormente, deve-se redigir a justificativa, ou seja, a defesa do porquê do
desenvolvimento do projeto. No caso da Pedreira Cacoal, a justificativa seria
a necessidade de recuperação da área degradada para que ela possa cumprir
sua função social, ambiental e territorial e, ainda, promover um novo uso
para esta área, a fim de integrá-la à vida dos moradores do município de Alto
Céu, auxiliando no desenvolvimento local.
Dessa maneira, podemos afirmar que o objetivo geral do projeto é:
“Promover a recuperação da área degradada pela exploração mineral da
Pedreira Cacoal no município de Alto Céu, por meio da implantação de um
Parque Ecológico”
• Alguns dos objetivos específicos poderiam ser:
• Promover a acomodação dos solos eventualmente retirados.
• Elaborar o plano de recuperação da flora e da fauna nativas.
• Controlar a erosão oriunda do processo de lavra.
• Realizar a construção do Parque Ecológico com diferentes usos.
Para cada objetivo específico é necessário traçar uma ou mais metas, e
podemos citar como exemplo as seguintes metas, como aponta o Roteiro de
Apresentação para Plano de Recuperação de Área Degradada, do Ministério
do Meio Ambiente:
• Realizar a recuperação e proteção do solo por meio de técnicas de
bioengenharia, com vistas ao controle da erosão e acomodação dos
solos eventualmente retirados.
• Recomposição da flora nativa com da técnica de sucessão ecológica
(meta de longo prazo derivada do plano de recuperação da flora
nativa).
• Plantio heterogêneo com mudas, técnicas de nucleação, translocação
de serrapilheira para aporte de banco de sementes.
• Manejo da fauna existente.
• Medidas que estimulem a vinda de dispersores de sementes
e polinizadores.

42
• Reestruturação da biota com a construção e manutenção de corre-
dores ecológicos (meta de longo prazo, derivada do plano de recupe-
ração da fauna).
• Construir o centro de visitantes do Parque Ecológico, que funcionará
como espaço de aprendizagem na realização de curso, palestras e
workshops de temas relacionados ao meio ambiente.
• Construção dos diferentes espaços que comporão o Parque, como
quadra para prática de esportes; praças com quiosques e bancos;
pequenas construções, para serem utilizadas por eventuais feiras no
município.
• Preparação de uma parte do paredão de pedra para prática de rapel;
destinação de uma área para realização de caminhadas.
A metodologia que orientou a criação desse projeto foi a da observação
direta do local a ser recuperado, além de levantamentos de dados em registros
públicos sobre como era a área antes da implantação da extração mineral.
O método de trabalho é baseado na composição de uma equipe multi-
disciplinar para a realização das metas e da execução do projeto. Essa equipe
será composta por gestor ambiental; geólogo, biólogo, engenheiro florestal,
engenheiro civil, arquiteto, geógrafo e profissionais da construção civil,
dentre outros profissionais que estejam em consonância com os meios físico,
biótico e socioeconômico.
O monitoramento e avaliação se dará por meio de relatórios de andamento
do projeto, informando às partes interessadas o nível de desenvolvimento das
etapas de recuperação, além da realização de avaliação dos resultados ao final
do projeto.
Após ter detalhado todas as etapas que serão realizadas, você deve entregar
uma cópia da proposta de projeto de recuperação da Pedreira Cacoal para
cada um dos stakeholders, para o representante do poder público municipal,
o responsável pela pedreira, os agentes financiadores dos projetos e o repre-
sentante da sociedade civil organizada, para que o projeto possa ser aprovado
e, assim, sua execução seja iniciada.

43
Avançando na prática

Resíduos sólidos eletrônicos

O resíduo eletrônico consiste no descarte de aparelhos de televisão, telefones


celulares, computadores e outros equipamentos eletrônicos. Grande parte desses
eletrônicos vão parar em aterros sanitários, terrenos baldios ou ainda são incine-
rados, mesmo que muitos dos componentes constituintes desses resíduos sejam
classificados como recicláveis e/ou passíveis de reaproveitamento.
Entre os recursos desperdiçados é possível encontrar plásticos de alta quali-
dade e metais valiosos, como alumínio, cobre, platina, prata, ouro. Esses resíduos
também são fontes de poluentes tóxicos e nocivos, como policloreto de vinila
(PCV), retardadores de chama bromados, chumbo e mercúrio, os quais podem
contaminar o ar, águas superficiais e subterrâneas e o solo, além de causarem
problemas de saúde aos que trabalham com os resíduos eletrônicos.
Diante da constatação do crescente descarte incorreto de resíduos eletrô-
nicos no município de Monte Alegre, houve a necessidade de destinar tais
resíduos de forma adequada, e para tanto o município percebeu a necessi-
dade de realizar um plano de resíduos sólidos eficiente. Entretanto, o prefeito
verificou que não havia recursos suficientes para esse plano e assim, com a
finalidade de angariar um financiamento, solicitou a você, gestor ambiental
da Prefeitura Municipal, que elaborasse um esboço de projeto para apresentar
a diferentes agentes financiadores.
Como primeira tarefa, o prefeito solicitou que você propusesse um objetivo
geral e ao menos três objetivos específicos para compor o esboço do projeto.

Resolução da situação-problema
Após realizar um levantamento minucioso de dados sobre o descarte
incorreto de resíduos eletrônicos no município de Monte Alegre, que
demonstravam os locais de descarte e a quantidade de cada tipo de resíduo
descartado, você percebeu que o número de televisões e computadores era
extremamente elevado, portanto definiu como objetivo geral do esboço do
projeto: “Construir um centro de reciclagem e reaproveitamento de equipa-
mentos eletrônicos”.
Os objetivos específicos propostos foram:
• Promover ações de coleta de resíduos eletrônicos e direcioná-los ao
centro de reciclagem e reaproveitamento.

44
• Realizar a triagem dos resíduos classificando como recicláveis ou
passíveis de reaproveitamento.
• Fornecer os equipamentos passíveis de reaproveitamento às escolas
municipais, creches e demais instituições que podem utilizar esses
eletrônicos para auxílio à população do município.
Perceba que os exemplos aqui citados são ilustrativos, como um possível
encaminhamento de como você, gestor ambiental da prefeitura de Monte
Alegre, pode iniciar o esboço de um projeto de resolução de uma problemá-
tica ambiental.

Faça valer a pena

1. Leia e analise o trecho a seguir:


“Realizar um reflorestamento e recuperação da mata ciliar em torno da Usina
Presidente Vargas, visando, assim, a uma melhoria no ambiente, implicando
na redução de alguns dos desconfortos causados pelos processos industriais.”
O trecho apresentado faz referência a qual elemento da redação de um
projeto?
a. Justificativa.
b. Introdução.
c. Objetivo.
d. Escopo.
e. Planejamento.

2. Leia e analise os trechos a seguir:


I. “Uma abordagem sustentável do resíduo sólido deve ser primeiro
reduzi-lo, reaproveitá-lo em seguida e, por fim, descartar de forma
segura o que sobrar.” (MILLER; SPOOLMAN, 2015, p. 385).
II. “A reutilização de materiais diminui o consumo de recursos materiais
e energéticos e reduz a poluição e a degradação do capital natural;
a reciclagem faz o mesmo, porém em um grau menor.” (MILLER;
SPOOLMAN, 2015, p. 385).

45
Os argumentos apresentados nos trechos I e II podem ser utilizados em
qual etapa da redação de um projeto ambiental?
a. Objetivo Geral.
b. Justificativa.
c. Metas.
d. Metodologia.
e. Objetivos Específicos.

3. Leia e analise os trechos a seguir:


Na redação de um projeto é necessário estabelecer quais são os objetivos, o tempo
estimado para realização e, em especial, o escopo.

Em relação aos elementos presentes na redação do projeto, analise as afirmações a


seguir:

I. O objetivo geral estabelece a ideia principal ou a mudança que


estimulou a realização do projeto.
II. Os objetivos específicos têm como intuito evidenciar e detalhar
os desdobramentos gerais do projeto e para nortear os passos que
devem ser seguidos para alcançar o que foi proposto.
III. O cronograma apresenta todas as atividades a serem realizadas e o
tempo que cada atividade demanda.
IV. O escopo corresponde à definição dos interesses e à divisão das
tarefas a serem realizadas.
Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:
a. II, III e IV, apenas.
b. I, III e IV, apenas.
c. II e III, apenas.
d. I e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.

46
Referências

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VALERIANO, D. Moderno gerenciamento de projetos. 2. ed. São Paulo: Pearson Education, 2005.
Unidade 2
Flávia da Silva Bortoloti

Gestão de projetos ambientais

Convite ao estudo
Estamos iniciando uma nova unidade de estudos sobre Projetos
Ambientais, você perceberá que ao passo que aprofundamos nossas discus-
sões ocorre a interligação dos conteúdos, promovendo, deste modo, seu
gradual processo de aprendizagem e construção amplificada dos conhe-
cimentos. Nesta unidade vamos discutir sobre metodologia de gestão de
projetos em projetos ambientais. Ao estudá-la você será capaz de aplicar os
processos que compõem a área de conhecimento do gerenciamento do plane-
jamento, do cronograma, do custo e dos riscos em um projeto ambiental.
Para que possamos iniciar as fundamentações dos conteúdos compo-
nentes desta unidade de ensino, suponha a seguinte situação: você foi contra-
tado, devido à sua experiência em gerenciamento de projetos ambientais,
para compor a equipe de gestão ambiental da empresa Geoyde, que produz
embalagens de filmes flexíveis, laminados, encolhíveis e coextrudados em
diferentes estruturas para os mercados de alimentos, bebidas, cosméticos,
farmacêuticos, higiene pessoal, limpeza doméstica e pet food, e atende todo o
continente americano. Essa empresa apresenta uma estrutura organizacional
matricial balanceada, no entanto, a direção executiva da Geoyde deseja
migrar para uma estrutura projetizada e utilizar a metodologia de Gestão
de Projetos para que tenha maior possibilidade de sucesso na sua execução.
O diretor de criações da Geoyde, Hector Marcondes, propôs que você
assumisse o papel de gerente de projetos para que, juntamente da equipe
de gestão ambiental e da equipe de criação, você realize a concepção de um
projeto para o desenvolvimento de embalagens biodegradáveis para pet food.
Por se tratar do primeiro projeto da empresa foram levantados vários
pontos de reflexão: quais processos do gerenciamento de projetos serão utili-
zados? É um projeto viável? Qual será o escopo do projeto? Como produzir o
plano de gerenciamento do projeto? Como será o sequenciamento das ativi-
dades? Qual o tempo de execução? Quanto de recurso financeiro será neces-
sário? Quem são o stakeholders? Quais os riscos desse projeto? Como criar
respostas rápidas aos possíveis riscos?
Esses questionamentos são abordados ao longo das três seções que
compõem a segunda unidade de ensino da disciplina de Projetos Ambientais.
Na seção intitulada “Planejamento de projetos” discutiremos sobre os
processos do planejamento, os elementos utilizados para a definição do escopo
do projeto, bem como a maneira de criar a estrutura analítica do projeto.
A seção “Gerenciamento do tempo” traz as discussões relativas à gestão
do tempo, nela abordaremos temáticas como: o estudo de viabilidade de
projetos; a definição e sequenciamento das atividades e a construção do
cronograma. Na seção “Gerenciamento do custo e de risco” nos aproxima-
remos dos temas relacionados ao gerenciamento do custo e dos riscos dos
projetos, portanto, vamos construir os conhecimentos sobre o planejamento
orçamentário do projeto ambiental, as fontes de recursos e linhas de finan-
ciamento; o plano de gerenciamento de riscos e a construção do mapa de
stakeholders. Preparado para mais este desfio na construção de seus conhe-
cimentos sobre projetos ambientais?
Seção 1

Planejamento de projetos

Diálogo aberto
Olá, aluno! Seja bem-vindo à seção de planejamento de projetos! Até o
momento, abordamos a definição de projetos, fases de seu ciclo de vida (e os
processos que as compõem) e os elementos da redação. Nesta seção, traba-
lharemos os processos da gestão de projetos de acordo com o PMBOK®; os
elementos que constituem o plano de projetos e o escopo e, ainda, aprende-
remos a criar estrutura analítica do projeto (EAP).
Para auxiliar na aplicação dos conteúdos que serão apresentados, imagine
que você foi contratado para compor a equipe de gestão ambiental da empresa
Geoyde, que produz embalagens de filmes flexíveis, laminados, encolhíveis e
coextrusados, para distintos segmentos do mercado, como alimentos para
animais de estimação, e a empresa está modificando sua estrutura organiza-
cional de matricial para a projetizada.
Diante desta nova realidade de estrutura organizacional, o diretor de criações
da empresa propôs a você assumir o cargo de gerente de projetos para que junto
da equipe de gestão ambiental e de criação realizem a concepção de um projeto
para o desenvolvimento de embalagens biodegradáveis para pet food.
A equipe do projeto Biopetfood, gerenciada por você, que terá como desafio
desenvolver a embalagem biodegradável da Geoyde, é composta pela equipe de
gestão ambiental e pela equipe de criação da empresa. Para iniciar o processo de
desenvolvimento deste novo produto, que poderá ser distribuído em todo conti-
nente americano, você se reuniu com sua equipe com a finalidade de criar a EAP.
A EAP é parte integrante do plano de gerenciamento e principal referência
para a equipe do projeto para dar encaminhamento nas atividades das fases
posteriores. Esse plano integra e consolida todos os planos de gerenciamento
auxiliares e linhas de base dos processos de planejamento, deste modo, sua
construção deve responder, especialmente, aos seguintes questionamentos:
qual é o objetivo do projeto Biopetfood? Qual é o seu escopo? A partir destes
questionamentos, o seu desafio junto da sua equipe de projetos é criar uma
versão preliminar da estrutura analítica do projeto, para ser apresentada ao
diretor com a intenção de aprovação do escopo.
Após receber uma prévia da estrutura analítica do projeto Biopetfood você,
enquanto gerente de projetos, solicitou alguns ajustes, já que a descrição do escopo
não estava convergindo com os pacotes de trabalho presentes na EAP apresentada.

52
De que modo você e sua equipe poderiam realizar a descrição do escopo
do projeto para que ela esteja em consonância com a descrição do escopo?
Como ficaria a nova EAP a ser apresentada?
Vamos planejar o Biopetfood?
Bons estudos!

Não pode faltar

Olá, aluno, vamos iniciar nossos estudos sobre os processos de gerenciamento


de projetos? Ao final dessa unidade de ensino, você estará capacitado para implantar
os processos necessários para gestão de projetos, especificamente em projetos
ambientais que possivelmente você encontrará em sua caminhada profissional.
Neste momento, vamos abordar o planejamento partindo do pressu-
posto da aplicação de metodologias com viés no gerenciamento de projetos.
Lembre-se que em cada fase do ciclo de vida (iniciar, planejar, executar,
controlar/monitorar e encerrar) são realizados diversos processos que culmi-
narão na entrega do produto solicitado.
O Project Management Institute (PMI) é uma instituição que atua na gestão
de projetos e auxilia indivíduos que querem aprender mais sobre gerencia-
mento de projetos, tornando-se profissionais certificados do ramo. O PMI foi
fundado em 1969 é formado por mais de 700 mil membros, profissionais certi-
ficados e voluntários em praticamente todos os países do mundo. Este instituto
publica PMBOK® Guide, o qual fornece a estrutura conceitual de processos e
guias para aplicação dos conceitos, práticas e técnicas de gestão de projetos.
Esse guia elenca 49 processos que podem ser distribuídos em dez áreas
de conhecimento
Figura 2.1 | Áreas de conhecimento do gerenciamento de projetos

Fonte: Vargas (2018, [s.p.])

Vejamos o que cada área de conhecimento compreende, de acordo com


Vargas (2018) e Carvalho (2015):

53
• Gerenciamento da integração: abrange os processos necessários para
assegurar que todos os elementos sejam integrados e coordenados,
para que haja o benefício do todo;
• Gerenciamento do escopo: refere-se aos processos necessários para
que no projeto sejam realizadas as atividades requeridas para concluí-lo;
• Gerenciamento do cronograma: compreende os processos que
garantem que o projeto será concluído dentro do prazo previsto;
• Gerenciamento dos custos: aborda os processos que asseguram que o
projeto seja concluído de acordo com o orçamento previsto;
• Gerenciamento dos recursos: está relacionado aos processos que
garantirão com que os recursos (equipamentos, materiais e pessoas)
sejam utilizados de modo efetivo;
• Gerenciamento das aquisições: abrange os processos referentes às
compras de bens e serviços fornecidos por terceiros;
• Gerenciamento da qualidade: consiste em processos que possibi-
litam que os produtos ou serviços estarão em consonância com o que
foi solicitado pelo cliente ou contratante;
• Gerenciamento dos riscos: se dá por meio de planejamento,
identificação, qualificação, quantificação, criação de respostas
e monitoramento;
• Gerenciamento das partes interessadas: é composto pelos processos
que garantem que estas sejam identificadas, avaliadas e estrategica-
mente gerenciadas.

Pesquise mais
Para saber mais sobre os 49 processos e os fluxos que os compõem, por
meio de uma imagem gráfica, acesse o site de Ricardo Vargas, especia-
lista em gerenciamento de projetos.
VARGAS, R. Fluxo de processos do PMBOK ® - Guide 6a edição. Rvdown� -
loads. [S.l], [s.d.].

Saiba Mais
O podcast indicado a seguir é uma das melhores maneiras de compreender
como ler o Guia PMBOK®. Ricardo Vargas explica como realizar essa leitura
de uma forma mais produtiva, para que você possa entender melhor as
áreas de conhecimento de gerenciamento de projetos e seus processos.
VARGAS, R. A melhor maneira de se ler o Guia PMBOK®. [S.l.], 31 jan. 2018.

54
Como trabalhamos na seção “Introdução a projetos ambientais”, a fase do
planejamento é aquela que consome mais energia para sua concepção, já que
nela estarão dispostas as atividades que orientarão o projeto como um todo
é nela que encontraremos grande parte das áreas de conhecimento da gestão
de projetos (Quadro 2.1).
Quadro 2.1 | Processos do planejamento
Área de conhecimento Processos
Integração Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto
Partes interessadas Planejar o gerenciamento das partes interressadas
• Planejar o gerenciamento do escopo
• Coletar os requisitos
Escopo
• Definir o escopo
• Criar a EAP
• Planejar o gerenciamento do cronograma
• Definir as atividades
Tempo • Sequenciar as atividades
• Estimar os recursos das atividades
• Desenvolver o cronograma
• Planejar o gerenciamento de custos
Custo • Estimar os custos
• Determinar o orçamento
Qualidade Planejar o gerenciamento da qualidade
Recursos humanos Planejar o gerenciamento dos recursos humanos
Comunicações Planejar o gerenciamento das comunicações
Aquisições Planejar o gerenciamento das aquisições
• Planejar o gerenciamento dos riscos
• Identificar os riscos
Riscos • Realizar a análise qualitativa dos riscos
• Realizar a análise quantitativa dos riscos
• Planejar as respostas aos riscos
Fonte: Carvalho (2015, p. 42).

Para darmos sequência em nossas discussões sobre a gestão de projetos


ambientais, nos pautaremos na fase de planejamento, mais especificamente
no plano de gerenciamento do projeto, pois a sua construção é o que orien-
tará as ações posteriores.
O plano de gerenciamento ou plano do projeto reúne todos os produtos
de todos os processos de planejamento em um único documento que deverá
ser coerente e consistente, pois servirá de base para implementação do
projeto. Este documento deve conter:
• O termo de abertura do projeto aprovado;
• Estratégia de gerenciamento do projeto;

55
• Declaração do escopo do projeto;
• Estrutura analítica do projeto (EAP);
• Redes de atividades e cronograma;
• Recursos e custos;
• Riscos, limitações e restrições e como lidar com eles;
• Forma de mediação de performance de prazo e custos;
• Matriz de responsabilidades;
• Controle de mudanças;
• Planos auxiliares.

Assimile
Planos auxiliares aos processos de planejamento de um projeto são os
planos que derivam do escopo, da qualidade, do tempo, dos recursos,
das comunicações, das partes interessadas, dos riscos, das aquisi-
ções, das mudanças e da configuração. Cada um desses processos se
desdobra em planos de gerenciamento:
• Plano de gerenciamento do cronograma
• Plano de gerenciamento dos custos
• Plano de gerenciamento da qualidade
• Plano de melhoria dos processos
• Plano de gerenciamento dos recursos humanos
• Plano de gerenciamento das partes interessadas
• Plano de gerenciamento das comunicações
• Plano de gerenciamento dos riscos
• Plano de gerenciamento das aquisições
• Plano de gerenciamento da configuração
• Plano de gerenciamento de mudanças

Ainda que descrevêssemos os processos do plano de gerenciamento do


projeto em uma lista sequenciada, você não deve esquecer que o planeja-
mento é interativo, já que os parâmetros que o compõem são correlacio-
nados, isto é, a definição de um elemento pode levar à adequação de um
outro elemento definido anteriormente.
No contexto ambiental, pensando em um projeto de implantação de um
parque eólico flutuante no estado da Bahia, como o localizado na Noruega,
quais seriam os passos para se realizar o plano de gerenciamento? A princípio,

56
é importante mensurar quais seriam os benefícios trazidos pela criação deste
e a partir disso traçar as estratégias do gerenciamento, bem como a descrição
do escopo (criação de um parque eólico no município de Salvador a fim de
fornecer energia para 20 mil casas, por meio da instalação de 5 turbinas,
cada uma com 253 metros de altura e 78 deles abaixo da água). Tendo o
escopo e sua respectiva descrição é possível dar sequência ao processo
de planejamento.

Reflita
O processo de planejamento de um projeto e consequentemente a
elaboração do plano de gerenciamento suscita diversas reflexões como:
por que planejar? Por que dedicar tanto esforço e tempo no planeja-
mento se poderíamos ir diretamente para execução? Por que elaborar
um plano se a probabilidade de haver mudanças é grande? Qual é o
benefício de se planejar se certamente as atividades não sairão exata-
mente como foi planejado?

As diretrizes fornecidas pelo Guia PMBOK® podem ser utilizadas para


a elaboração do plano de gerenciamento do projeto, como a definição do
escopo, a definição das atividades, sua duração e sequência.
A partir disto é necessário considerar quais são as exigências do cliente ou
solicitante. Estas exigências que definirão as especificações funcionais ou do
desempenho para o produto final e demais entregas parciais do projeto. As
requisições implicarão no tempo, nos custos, na qualidade e em todo desen-
volvimento, portanto, é essencial que elas sejam registradas detalhadamente
para que tenha menor chance de surgir modificações ao longo do projeto.
Outro elemento que orienta a definição do escopo é o caderno de encargos
(CE), o qual define o que a equipe fará e, ainda, as principais tarefas ou os
elementos de trabalho que deverão ser realizados para produzir as entregas
parciais e os demais produtos do projeto. Deste modo, presume-se que não
será realizado ou providenciado o que não estiver incluso no CE.
As entregas, isto é, produtos ou saídas que a equipe irá produzir durante
o projeto e ao seu término, ainda que sejam declaradas no termo de abertura,
devem ser detalhadas na documentação do escopo do projeto. A descrição
detalhada de cada entrega serve como base para o acordo entre a equipe e o
cliente sobre exatamente o que deve ser fornecido.
Do detalhamento das entregas derivam os critérios de aceitação destas,
das quais advêm os padrões ou especificações que ajudarão a assegurar a
qualidade dos produtos/entregas. Uma descrição clara e minuciosa dos

57
critérios de aceitação evita mal-entendidos. “Critérios de aceitação claros e
inequívocos para todas as entregas são importantes, pois a base para verificar
se o escopo do projeto foi contemplado de acordo com as exigências e expec-
tativas do cliente” (CLEMENTS; GIDO, 2013, p. 98).
A estrutura analítica do projeto (EAP) é o último elemento que compõe
a definição do escopo. A EAP ou Work Breakdown Structure (WBS) é uma
ferramenta utilizada para representar o detalhamento do escopo e é composta
pelos principais elementos do projeto. É a forma hierárquica para divisão do
projeto e atividades mensuráveis e controláveis. Lembre-se que para serem
planejados e controlados, os projetos precisam ser divididos em tarefas!
Essas tarefas ou atividades apresentadas na EAP são subdivididas em
níveis para que seja possível sequenciá-las e controlá-las. Deste modo, estru-
tura analítica é a decomposição do projeto nas partes menores que o consti-
tuem, isto é, ela estabelece a estrutura para indicar de qual maneira o trabalho
será realizado a fim de produzir as entregas.
As partes menores do projeto são denominadas itens de trabalho. Os
itens de trabalho de níveis mais baixo de qualquer divisão são chamados
de pacotes de trabalho, os quais incluem todas as atividades específicas que
precisam ser realizadas para produzir a entrega a ele associada. (CLEMENTS;
GIDO, 2013, p. 101).
O número de níveis de decomposição de uma EAP dependerá do
tamanho do projeto, da complexidade e da filosofia operacional. O
primeiro nível (nível 0) da EAP é o nome do projeto; no segundo nível (o
nível 1 da decomposição) deve-se colocar as fases que estabelecem o ciclo
de vida, sendo que este nível deve ser construído da esquerda para direita,
à esquerda devem conter os subprodutos do gerenciamento do projeto e à
direita do encerramento. Nos níveis posteriores estarão as atividades e os
pacotes de trabalho.
Para o sucesso do projeto, você deve identificar os subprodutos necessá-
rios em cada fase e do gerenciamento (subprodutos necessários ao planeja-
mento, monitoramento e controle, execução e ao encerramento).

Exemplificando
Vejamos um exemplo de EAP de um projeto para implantação de um
viveiro de mudas:

58
Figura 2.2 | EAP – Mudas para vida

Fonte: elaborada pelo autor.

Perceba que esta estrutura analítica é composta por três níveis: no nível
zero tem-se o nome do projeto; no nível 1 da decomposição, constam as
fases do ciclo de vida e no nível 3 estão os pacotes de trabalho.

Outro elemento essencial a ser considerado na produção da EAP são


os prazos, especialmente nos projetos ambientais, uma vez que este tipo de
projeto costuma ser mais radical com relação aos seus prazos. Isto porque, via
de regra, esses prazos são estabelecidos dentro de um Termo de Ajustamento
de Conduta e de outros compromissos firmados juntos a órgãos ambientais e
o Ministério Público (KAHN, 2003, p. 41).
Não se esqueça que não há uma única EAP ideal para cada projeto,
diferentes equipes de projeto podem desenvolver estruturas analíticas
distintas para o mesmo projeto, no entanto, tem-se que ressaltar que as ativi-
dades devem ser decompostas até ao nível de ser gerenciadas e controladas.
Nesta seção, você teve a oportunidade de se aproximar das áreas de conhe-
cimentos que compõem o PMBOK®, bem como dos conhecimentos relativos

59
ao processo de planejamento do projeto. Observamos o que a construção do
plano de gerenciamento do projeto é essencial para o desenvolvimento do
escopo e das demais atividades que compõem o projeto
Aprendemos o que é e como construir uma estrutura analítica do projeto
(EAP) que é a ferramenta que auxilia na decomposição do escopo e estrutu-
ração das atividades do projeto. Na próxima seção iremos aprofundar nossos
conhecimentos com relação ao sequenciamento das atividades, como fazer o
cronograma e mensurar a viabilidade do projeto.

Sem medo de errar

Você enquanto tecnólogo em gestão ambiental foi contratado pela


empresa Geoyde para compor a equipe de gestão ambiental. Devido à
migração da estrutura organizacional de matricial para projetizada, você foi
elencado como gerente de projetos para, junto da equipe de gestão ambiental
de criações da empresa, realizar a concepção do projeto de desenvolvimento
de uma embalagem biodegradável para pet food.
Como primeira entrega da etapa de planejamento do projeto, sua equipe
elaborou uma versão preliminar da estrutura analítica do projeto (EAP) para
que, sendo aprovada, pudesse dar início às atividades do Biopetfood. No entanto,
ao lhe apresentar a primeira versão da EAP, você verificou que havia alguns
equívocos entre a descrição do escopo e os pacotes de trabalho que compunham
a EAP apresentada, portanto você teve de auxiliar sua equipe a realizar o processo.
Deste modo, para o desenvolvimento da EAP é necessário ter claro os
seguintes elementos do processo de planejamento:
• Objetivo;
• Descrição do escopo;
• As tarefas que devem ser realizadas para que o produto final seja
entregue dentro dos parâmetros solicitados pelo cliente.
O objetivo do projeto Biopetfood é desenvolver uma embalagem biode-
gradável para alimentos de animais de estimação domésticos (cães e gatos).
Para realizar a descrição do escopo é necessário definir a abrangência do
projeto e delimitar o trabalho que será realizado. No exemplo do Biopetfood
a descrição seria:
• Produzir embalagens biodegradáveis com matérias-primas sustentá-
veis para animais de estimação doméstico;

60
• Pesquisa de materiais sustentáveis que satisfazem os requisitos solici-
tados (biodegradáveis);
• Escolha da matéria-prima adequada;
• Realização de testes controlados para verificação da qualidade da
matéria-prima escolhida;
• Produção da embalagem modelo;
• Apresentação do modelo de embalagem;
• Envio da embalagem aprovada para a produção;
• Venda e distribuição.
A partir da descrição do escopo podemos elaborar uma prévia da EAP
que ficaria como no modelo a seguir:
Figura 2.3 | EAP – Biopetfood

Fonte: elaborada pelo autor.

61
Atente-se que a EAP aqui apresentada é uma estrutura preliminar que
passará pela sua avaliação, a qual pode ser aprovada ou passar por reformu-
lações tanto na definição do escopo como em elementos da EAP para que ela
ilustre realmente a abrangência do projeto e suas atividades.

Faça valer a pena

1. Leia e analise a citação a seguir sobre a definição do escopo do projeto:


“A definição do que deve ser feito num projeto é crucial. Ela está ligada à
definição de seu objetivo e seu desdobramento impacta profundamente a
duração e o orçamento do projeto.” (MENEZES, 2018, [s.p.]).
Uma das ferramentas para tratar o desdobramento do escopo do projeto e as
atividades que deverão ser executadas no desenvolvimento do projeto está
disposta na alternativa:
a. Plano de operação.
b. Sistema de movimentação.
c. Plano de fornecimento.
d. Programa de planejamento.
e. Estrutura analítica do projeto (EAP).

2. Leia e analise o trecho a seguir sobre o escopo de um projeto:


De acordo com Valeriano (2005), o escopo constitui uma descrição
documental do projeto, de acordo com seus objetivos ou resultados, sua
abordagem e conteúdo, ou seja, o que se pretende obter, como fazê-lo e o
que envolve.
Assinale a opção correta em relação aos aspectos gerais do escopo de um
projeto.
a. O escopo do projeto conclui-se na fase de execução já que os objetivos
já foram alcançados e não haverá mais alterações.
b. Do escopo do projeto deriva a definição das partes interessadas e das
atividades de monitoramento, que finalizam na fase e planejamento.
c. Do escopo do projeto deriva a estrutura analítica do projeto (EAP), que
define as atividades que serão realizadas durante a execução do projeto.

62
d. O escopo do projeto pode ser alterado em qualquer momento da
fase de planejamento e de execução do projeto, pois ele é flexível e
passível de revisões.
e. Do escopo do projeto derivam as ações de iniciação, planejamento e
controle do projeto, no entanto, o escopo não influencia na execução
do projeto.

3. O escopo de um projeto se configura como uma das partes mais impor-


tantes no processo de iniciação e planejamento de um projeto. O escopo é o
que será (e não será) feito no projeto, é a descrição detalhada dos produtos e
serviços a serem gerados para atender aos objetivos do projeto.
Sobre o escopo de um projeto avalie as afirmativas a seguir:
I. O escopo pode ser compreendido como a amplitude do projeto, ou
seja, o que o projeto visa abranger.
II. Para a definição do escopo deve-se levar em consideração somente
os objetivos e os resultados esperados.
III. O escopo, juntamente com a estrutura analítica do projeto, compõe
a base para os demais processos do projeto.
IV. A partir da definição do escopo que se poderá definir as atividades
indispensáveis para execução do projeto, assim como definir os
recursos necessários.
V. Um escopo mal definido pode acarretar um projeto de insucesso.
Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas.
a. I e II, apenas.
b. I, III, IV e V.
c. III e V, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. III, apenas.

63
Seção 2

Gerenciamento do cronograma

Diálogo aberto
Estimado aluno, estamos nos aproximando da construção de alguns
elementos que compõem o gerenciamento de projetos ambientais. Nesta seção,
você estudará a viabilidade dos projetos, sobre a relação entre o ciclo PDCA
(plan, do, check, act), a qualidade e o gerenciamento do cronograma, e ainda,
sobre a definição e sequenciamento das atividades que compõem um projeto.
Você é membro da equipe de gestão ambiental da empresa que produz embala-
gens de filmes flexíveis, laminados, encolhíveis e coextrusados em diferentes
estruturas para os mercados de alimentos, bebidas, cosméticos, fármacos, higiene
pessoal, limpeza doméstica e pet food atendendo a todo o continente americano.
Esta empresa tem uma estrutura organizacional projetizada, portanto, todo novo
produto ou sistema passa pela metodologia de gestão de projetos para que tenha
maior possibilidade de sucesso ao final de sua execução.
O diretor de criações, propôs a sua equipe de criação, a concepção de um
projeto para o desenvolvimento de embalagens biodegradáveis para pet food
(alimentos para animais domésticos). Como membro da equipe de gestão
ambiental, você foi convidado para ajudar nesse projeto.
Após a aprovação do plano de gerenciamento, realizado na etapa anterior,
agora é o momento de a equipe desenvolver as ações que foram planejadas.
Para que estas ações estejam em consonância com o que foi planejado pela
equipe e pelo gerente do projeto, é necessário sequenciar as atividades e,
ainda, criar e controlar o cronograma dessas atividades, ou seja, é a hora de
pensar a execução do projeto.
Com o intuito de ter mais esta etapa aprovada com êxito pelo diretor de
criações, você, em conjunto com sua equipe de projetos criou um plano de geren-
ciamento do cronograma para o projeto. No entanto, o diretor não aprovou esse
cronograma, pois a lista de atividades apresentava incoerência com a descrição do
escopo e com a estrutura analítica do projeto (EAP), apresentada anteriormente.
Assim, o diretor de criações solicitou que fosse realizada uma nova lista
de atividades para que o plano fosse aprovado e fosse possível dar sequência
ao projeto. Desse modo, você e a equipe de projetos devem realizar uma nova
lista de atividades para o projeto Biopetfood, a qual deve ser coerente com
seu escopo e com a EAP.
Bons estudos!

64
Não pode faltar

Olá, aluno, chegamos a mais uma seção sobre a gestão de projetos ambientais.
Discutimos, na seção planejamento de projetos, o escopo do projeto, a confecção
da estrutura analítica e o modo de dividir as tarefas que a compõem. No entanto,
há um questionamento imperativo no desenvolvimento de um projeto: como
saber se ele é viável? Isso pode ser realizado por meio do estudo de viabilidade!
Essa etapa irá investigar a exequibilidade do projeto, os modos de alcançar seus
objetivos, as opções de estratégia e a metodologia. Esse estudo prevê ainda os
prováveis resultados, riscos e consequências de cada ação, oferecerá uma estima-
tiva aproximada dos custos, auxiliando na estimativa dos prazos e dos recursos.
A seguir destacam-se alguns fatores, de acordo com Keeling (2006), que
devem ser considerados quando se realiza um estudo dessa natureza, tais como:
• Esboço da definição do projeto e avaliação inicial de sua necessidade;
• Antecedentes do projeto, incluindo a proposta inicial;
• Escopo, propósito e objetivos;
• Composição da equipe e áreas de responsabilidade individual;
• Orçamento;
• Busca e validação das informações;
• Parâmetros ou limitações para o projeto, tais como, tempo, condições
financeiras, clima organizacional da empresa, condições climáticas
(para realização de obras) e mercadológicas;
• Necessidade de avaliação de impacto tecnológico, ambiental, político
e sociológico;
• Formato do relatório.
Um estudo de viabilidade bem conduzido constitui uma base segura para
a tomada de decisões, definições e esclarecimento de objetivos, planejamento
e avaliação de riscos do projeto, adequação para investimentos ou apoio
financeiro, bem como a sua qualidade.

Reflita
Sabendo que todos os projetos apresentam um elemento de risco e que
uma ameaça séria pode fazer com que o projeto seja modificado ou
abandonado, reflita sobre qual seria a importância dos estudos de viabi-
lidade para o sucesso de um projeto.

65
Existe alguma possibilidade de se garantir o sucesso de um projeto, sem
a realização de um estudo de viabilidade? Quais seriam os seus riscos?

Paralelamente à elaboração de um plano de riscos, devemos ainda nos


preocupar com a qualidade do projeto. Sendo assim, como é possível geren-
ciar a qualidade de um projeto? Quais ferramentas utilizar?
Para resolver essas questões, vamos explorar o ciclo PDCA (plan, do, check, act)
ou planejar, fazer, verificar e agir (Figura 2.6). Esta ferramenta foi criada por Walter
A. Shewart, na década de 1920, mas somente passou a ser utilizada a partir de 1950,
com William Edward Deming, estatístico consagrado na gestão da qualidade.
Figura 2.6 | Ciclo PDCA

Fonte: Shutterstock .

A princípio, deve-se planejar, ou seja, identificar e analisar o problema,


estabelecer metas e traçar um plano de ação. Posteriormente é o momento de
se colocar o plano de ação em prática e coletar informações para serem anali-
sadas na próxima fase. Na fase de verificação é analisado se cada processo
cumpre aquilo que foi proposto no planejamento. É nessa fase que poderão
ser encontrados falhas ou equívocos no processo. De acordo com os resul-
tados da fase anterior, são analisados os resultados atingidos e, caso alguns
objetivos não tenham sido alcançados, estes poderão ser melhorados, pois os
ciclos se reiniciam, criando um processo de “melhoria continuada”.
Você consegue visualizar que o ciclo PDCA está totalmente relacionado
com o processo de gerenciamento de projetos? Isto ocorre porque seus ciclos
estão associados aos programas de qualidade total, sendo uma metodologia
muito eficaz para produzir planos de ação em ambiente de Work Breakdown
Structure (WBS) ou estrutura analítica do projeto (EAP), que irão auxiliar no
gerenciamento do cronograma do projeto (KAHN, 2003). Pensando nesse

66
gerenciamento, você imagina como desenvolver e gerenciar o cronograma de
um projeto? Como é possível definir o tempo que cada atividade irá durar?
Como determinar qual atividade será executada primeiro?
O gerenciamento do cronograma do projeto é uma ferramenta que
permite responder todos os questionamentos supracitados, por meio dos
seguintes processos:
• Planejamento do cronograma: objetiva o controle do cronograma
por meio de atividades determinadas;
• Definição da atividades: identificação das ações necessárias para
produção das entregas;
• Sequenciamento das atividades: identifica e documenta a interre-
lação das tarefas que serão executadas;
• Estimativa dos recursos das atividades: afere a quantidade e os tipos
de materiais, pessoas, equipamentos e/ou suprimentos necessários à
execução das tarefas planejadas;
• Estimativa da duração das atividades: estima o tempo e os recursos
necessários para o cumprimento das atividades;
• Desenvolvimento do cronograma: elabora o cronograma com base
na análise da sequência, do tempo de duração, dos recursos e das
restrições das atividades;
• Controle do cronograma: monitoramento do andamento das ativi-
dades, atualizando seu avanço e gerenciando as possíveis mudanças
realizadas no decorrer do projeto.
Saber organizar as atividades e garantir que elas sejam executadas dentro
dos prazos pré-estabelecidos e distribuí-las pelos responsáveis são tarefas
fundamentais no processo de planejamento. E como fazer isso? Por meio de
uma única ferramenta: o cronograma.
O cronograma é um instrumento-chave para impedir que determinados
problemas surjam ao longo do projeto, como modificação do escopo, falhas
na comunicação, atrasos nas entregas, dentre outros. Esta ferramenta orienta a
equipe sobre a sequência de execução das atividades, em quanto tempo elas serão
realizadas e se tudo o que foi planejado está acontecendo dentro do estipulado.
Lembre-se que uma das premissas do gerenciamento do tempo é priorizar
o tempo de acordo com a importância e urgência do assunto com que se está
tratando (HELDMAN, 2005).
Após realizar o planejamento do cronograma é o momento da definição
das atividades. O planejamento e o controle são funções complexas. Deste

67
modo, é necessário desmembrar as atividades em parte gerenciáveis para que
sejam o mais eficiente possível, portanto, recorre-se à estrutura analítica do
projeto (EAP), que apreendemos na seção Planejamento de projetos. Para
que você mais bem compreenda os processos que compõem o gerenciamento
do cronograma, vamos pensar em um projeto hipotético de implantação de
um cinturão verde na área industrial do município de Londrina (PR). Para
que se possa construir a EAP é necessário definir o escopo:
• Descrição do escopo do produto: o produto do projeto será o
cinturão verde da área industrial do município de Londrina (PR),
constituído por 1600 mudas de árvores nativas de 29 espécies em uma
área com 14.616,3m².
• Critérios de aceitação do produto: atender aos objetivos propostos.
• Entregas do projeto: projeto físico, elaborado pelas entidades parti-
cipantes; Cinturão verde.
• Restrições do projeto: o orçamento pré-definido para a execução de
todo o projeto; Data do plantio.
Com base na definição do escopo apresentada é possível criar a seguinte
estrutura analítica do projeto (Figura 2.7):
Figura 2.7 | EAP do Projeto de Implantação do cinturão verde em Londrina

Fonte: adaptado de Dockhorn (2012).

68
Por meio da visualização da EAP e da descrição do escopo é possível
definir as atividades que serão necessárias para alcançar o objetivo do
projeto. As atividades determinam especificamente como o trabalho será
feito. Quando todas as atividades específicas forem definidas para todos os
pacotes de trabalho, elas devem ser consolidadas em uma lista de atividades,
e posteriormente deve-se criar o sequenciamento destas atividades.

Assimile
No início do projeto há a possibilidade de não se definir todas as ativi-
dades específicas. Isto ocorre sobretudo em projetos de longa duração,
sendo mais fácil definir as tarefas de um trabalho de curto prazo.
Contudo, à medida que maior quantidade de informações são conhe-
cidas e tornam-se mais claras, a equipe pode elaborar progressiva-
mente as atividades específicas (GIDO; CLEMENTS, 2013).

Vejamos a lista de atividades do projeto de implantação do cinturão verde


no município de Londrina (Quadro 2.2),
Quadro 2.2 | Lista de atividades do projeto de implantação do cinturão verde no município de
Londrina

Atividade Descrição
Preparo do relevo com o uso de maquinário específico, como moto
Preparação do
niveladora (patrola), escavadeira, carregadeira, trator nivelador e ca-
terreno
minhão caçamba.
Descompactação do solo, reconfirmando as feições dos terrenos e
Recuperação da
construindo as infraestruturas de manejo das águas (terraços e drenos
estrutura física
de superfície).
Realização de ações preventivas como o manejo e cultivo correto dos
solos com cobertura vegetal dos solos e manejo ativo com práticas que
Manejo das águas resultem na construção de terraços com declividade, canais coletores
de excedentes e bacias de dissipação de energia e materiais ou bacias
de acumulação e infiltração.
Canais com declividade e largura adequadas para facilitar as operações
Obras de
com máquina, tendo as laterais inclinadas e revestidas com espécies de
drenagem
gramíneas, implantadas através do plantio de sementes.
Recuperação da
Realização de adubação corretiva baseada em dados médios da região.
fertilidade
Implantação Plantio das espécies de gramíneas para a forração do solo, sendo ba-
das espécies de sicamente gramíneas consorciadas, como espécies que promoverão
gramíneas rápida cobertura dos solos.
O sistema de plantio será em linhas e observando as práticas do cul-
Plantio tivo mínimo, ou seja, com manutenção da gramínea implantada, bem
como a vegetação espontânea.

69
Tutoramento e As mudas plantadas serão protegidas por tutores de madeira na posi-
amarração ção vertical.
Realizado sempre que necessário, combatendo formigas que compro-
Combate às
metem o desenvolvimento das plantas, procurando utilizar produtos
formigas
recomendados pelos órgãos competentes.
Realizadas quando da necessidade de limpeza no local do plantio, prio-
Roçadas e capinas
rizando uma coroa de 50 cm ao redor de cada muda.
Verificação periódica das condições de crescimento e manutenção do
Vistorias
plantio das mudas.
As ações ocorrerão por meio de ensinamentos sobre a conservação,
preservação e recuperação dos recursos naturais presentes, com au-
Educação xílio de voluntários, dos funcionários, membros da comunidade, ór-
ambiental gãos públicos, estudantes da educação básica e superior, moradores
dos bairros próximos, com o objetivo de destacar a importância do
cinturão verde.
Reposição das
Após as vistorias, as plantas que forem identificadas sem condições de
plantas que
sobreviverem serão substituídas por novas mudas.
morreram
Fonte: adaptado de Dockhorn (2012, p. 52).

Com as atividades definidas e descritas é possível realizar o sequencia-


mento das atividades e a interdependência entre elas. Esse processo pode ser
executado por meio do diagrama de rede, uma ferramenta para organizar
as atividades específicas na sequência apropriada e definir suas relações
dependentes. Existem diferentes técnicas de planejamento em rede, duas
delas foram criadas na década de 1950, o Program Evaluation and Review
Technique (PERT) e o método do caminho crítico (MCC). Na atualidade,
outros métodos foram desenvolvidos como o método do diagrama de prece-
dência (MDP), que será utilizado para o sequenciamento das atividades do
projeto exemplificado nesta seção. Todos estes métodos têm como objetivo:
• Identificar as relações entre as atividades;
• Obter a duração do projeto;
• Identificar as atividades que podem ser atrasadas ou que podem ser
realizadas com sobra de tempo sem comprometer a duração e data de
término do projeto. (CARVALHO, 2015).
Vale destacar que algumas dependências entre as atividades são infle-
xíveis, isto é, devem de qualquer forma ser respeitadas. No entanto, outras
dependências são desejáveis, recomendadas pelas boas práticas, mas podem
ser flexibilizadas caso haja necessidade de se comprimir a duração do projeto
(DISMORE; SILVEIRA NETO, 2013).

70
O gráfico de rede que demostra o sequenciamento das atividades do projeto
de implantação do cinturão verde (Figura 2.8) permite observar a depen-
dência de cada atividade, que pode ser obtida por meio de processos lógicos.
Figura 2.8 | Gráfico de rede do projeto de implantação do cinturão verde no município de Lon-
drina

Fonte: adaptada de Dockhorn (2012).

Não há como realizar o plantio das mudas caso não tenha sido realizada
a preparação do solo, a adubação e o plantio de gramíneas. Somente após
o plantio das mudas pode ser realizado o tutoramento e a amarração das
mesmas, a irrigação, as roçadas e capinas e o possível combate às formigas,
sendo esses elementos possíveis de verificação por meio de vistorias.
Posteriormente aos processos apresentados é necessário realizar as
estimativas de recursos do projeto, que será aprofundado na seção três dessa
unidade de ensino, a qual refere-se à quantidade de pessoas, equipamentos e
materiais necessários para elaboração e execução do projeto.

Exemplificando
É possível estimar o tempo de uma atividade por meio da técnica PERT,
que permite utilizar três estimativas de tempo para definir uma faixa
aproximada para a duração da mesma. O tempo otimista (to), atribuído
com base na análise de melhor cenário para a conclusão da atividade,
quando se pode encerrá-la em menos tempo. O tempo mais provável
(tm), atribuição normalmente realizada, com base no entendimento
coletivo de duração da atividade, nas condições normais de realização.
O tempo pessimista (tp) atribuído com base na análise de pior cenário
para a conclusão da atividade, quando pode haver atraso.
A duração final da atividade, o tempo esperado (te), pode ser obtido por
meio da média ponderada, a partir da seguinte fórmula:

71
to  4tm  tp
te 
6
A variância também segue a mesma lógica:

 tp  to 
2

Variância   
 6 

Para desenvolver o cronograma é indispensável a realização de mais um


processo a estimativa de duração das atividades, que é o período de neces-
sário para execução de cada uma das atividades.
Para a confecção do cronograma ou gráfico de Gantt vamos supor a
seguinte duração das atividades do projeto do cinturão verde (Quadro 2.3):
Quadro 2.3 | Duração das atividades do projeto de implantação do cinturão verde no município
de Londrina

Fase Atividade Duração da atividade

1 Recuperação da estrutura física 21 dias

1 Obras de drenagem 21 dias

1 Recuperação da fertilidade (adubação) 14 dias

1 Implantação de espécies de gramíneas 21 dias

1 Coveamento 14 dias

2 Plantio 21 dias

3 Tutoramento e amarração 21 dias

3 Combate às formigas 160 dias

3 Vistorias 30 dias

3 Roçadas e capinas 30 dias

3 Educação ambiental 30 dias

3 Roçadas e capinas 15 dias

3 Reposição das plantas que morreram 30 dias

Fonte: adaptado de Dockhorn (2012).

Com base nessa duração das atividades teríamos o seguinte cronograma


(Quadro 2.4)

72
Quadro 2.4 | Cronograma do projeto de implantação do cinturão verde em Londrina

Fonte: adaptada de Dockhorn (2012).

O cronograma é uma ferramenta essencial para o acompanhamento e


monitoramento do desenvolvimento das atividades. Por meio dele é possível
identificar as datas pré-estabelecidas, apresentar informações sobre prazos
planejados e realizados demonstrando, deste modo, o desempenho do projeto.
O monitoramento do andamento das atividades é fundamental para o
cumprimento dos prazos, portanto é necessário criar estratégias para o
acompanhamento das tarefas e reporte do status do desenvolvimento das
atividades por meio da comunicação entre os membros da equipe. Caso seja
necessária alguma alteração deve-se valer do controle integrado de mudanças
para que o impacto seja o menor possível, para que o projeto seja concluído
no tempo predeterminado com a qualidade requisitada.
Nessa seção você pôde compreender o que é um estudo de viabilidade e
sua importância para o sucesso do projeto. Também teve a oportunidade de
observar a relação entre o ciclo PDCA e a construção da EAP de um projeto
e como esta auxilia na confecção do cronograma e dos demais processos de
gerenciamento do cronograma.

73
A partir desses conhecimentos, você será capaz de produzir projetos
ambientais que apresentem coerência entre os objetivos e os prazos necessá-
rios para sua realização.

Sem medo de errar

Ao apresentar plano de gerenciamento do cronograma do projeto


Biopetfood ao diretor de criações da Geoyde, você e sua equipe de projetos
não obtiveram êxito, pois o cronograma não foi aprovado, já que foram
constatadas incoerências entre a lista das atividades, o escopo e a EAP do
projeto. Deste modo, lhe foi solicitado a confecção de uma nova lista de ativi-
dades contendo as tarefas da fase de iniciação e a descrição de todas as ativi-
dades até a venda e distribuição do produto, para que fosse apreciada pelo
diretor de criações e aprovada para que fosse possível seguir com o projeto.
A fim de resolver as incoerências e criar um sequenciamento lógico para
o projeto retornemos à EAP (Figura 2.3):
Figura 2.3 | EAP – Biopetfood

Fonte: elaborado pelo autor.

74
Para definir as atividades que devem ser realizadas do início ao fim do
projeto retornemos, também, ao seu escopo:
• Propósito: produzir embalagens biodegradáveis com matérias-
-primas sustentáveis para animais de estimação doméstico;
• Resultado final esperado: venda e distribuição da
embalagem biodegradável;
• Critérios de sucesso: aprovação da embalagem e produção com alta
qualidade (matérias-primas biodegradáveis com custos reduzidos);
• Delimitação do escopo: o projeto inicia com a aprovação do termo
de abertura, do plano de gerenciamento, validação do escopo e do
cronograma. Requer pesquisa de materiais sustentáveis que satis-
façam os requisitos solicitados (biodegradáveis), definição da matéria-
-prima adequada, realização de testes controlados para verificação
da qualidade da matéria-prima escolhida, produção da embalagem
modelo, apresentação do modelo de embalagem, envio da embalagem
aprovada para a produção.
Para esta EAP, são propostas as seguintes atividades presentes no Quadro 2.5.
Quadro 2.5 | Lista de atividades do projeto Biopetfood

Atividade Descrição
Redação da justificativa do projeto; levantamento
Definição do termo de abertura dos requisitos, necessidades e expectativas; estima-
tivas de recursos.
Definição da equipe Decidir os membros da equipe Bioetfood.
Definir quem são as partes interessadas além da
Definição das partes interessadas
equipe e do diretor de criação.
Definição dos objetivos Listar os resultados a serem alcançados.
Criação do escopo Definir a abrangência do projeto.
Produzir embalagens biodegradáveis com maté-
Revisão dos objetivos rias-primas sustentáveis para animais de estimação
domésticos.
Realizar pesquisa de matérias-primas biodegradá-
Pesquisa de matérias-primas
veis e sustentáveis para a produção das embalagens.
Escolher a matéria-prima mais adequada no que
Definição dos materiais
tange aos custos e à qualidade.
Após a realização de todo planejamento redigir o
Criação do plano do projeto
plano de gerenciamento do projeto.
Validação do escopo Aprovar o escopo com as partes interessadas.

75
Enviar a matéria-prima e o modelo de embalagem
Produção da embalagem modelo
para a produção.
Apresentação da embalagem Realizar reunião de apresentação da embalagem
modelo modelo para as partes interessadas.
Após a realização das adequações, caso houver,
Aprovação do modelo
submeter à nova apresentação e aprovação.
Envio da embalagem modelo para Enviar a embalagem aprovada para a produção em
produção escala.
Vender e distribuir as embalagens para os parceiros
Venda e distribuição
comerciais e filiais da empresa.

Após a apresentação desta nova lista de atividades que contemplava o que


havia sido solicitado pelo diretor de criações, o plano de gerenciamento do tempo
foi aprovado e o projeto Biopetfood estava ainda mais perto de ter seu início.

Faça valer a pena

1. Tendo como base os estudos demandados em projeto, avalie a seguinte


sentença preenchendo suas lacunas:
O ______________ investiga a exequibilidade, os modos de alcançar
objetivos, as opções de estratégia e metodologia e prevê os prováveis resul-
tados, ___________ e __________ de cada curso de ação. Tal estudo confir-
mará (ou não) a necessidade do projeto, proporá objetivos, intenções, estra-
tégias e apontará os benefícios.
A seguir assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas:
a. Estudo técnico / vantagens / desvantagens.
b. Estudo do ciclo PDCA / riscos / consequências.
c. Estudo da qualidade / impactos / ameaças.
d. Estudo de viabilidade / riscos / consequências.
e. Estudo do ciclo PDCA / vantagens / desvantagens.

2. Trata-se de uma ferramenta para:


Definir os pacotes de trabalho; identificar as atividades envolvidas; designar
os responsáveis pela execução de cada atividade e alocação de recursos; desen-
volver estimativas de tempo para cada pacote e/ou atividade; apropriar custos.

76
O trecho faz referência à/ao:
a. Diagrama de rede.
b. Estrutura analítica do projeto (EAP).
c. Gráfico de Gantt.
d. Cronograma.
e. Escopo.

3. O gerenciamento do cronograma e o gerenciamento dos custos são as


áreas mais visíveis do gerenciamento de projetos, pois são elas que demons-
tram o impacto de problemas apontando que algo não está conforme panejado.
Diante do exposto, avalie as ações a seguir:
I. Desenvolver o termo de abertura do projeto (TAP).
II. Planejar o cronograma.
III. Identificar as partes interessadas.
IV. Sequenciar as atividades.
V. Conduzir as aquisições.
VI. Estimar a duração as atividades.
VII. Encerrar as aquisições.
Assinale a alternativa que apresenta as ações que devem ser realizadas durante
o gerenciamento do cronograma de um projeto.
a. I, II, III e VII.
b. II e VII apenas.
c. II, IV e VI.
d. III, V, VI e VII.
e. II apenas.

77
Seção 3

Outras normas pertinentes para atuação do


profissional farmacêutico

Diálogo aberto
Estimado aluno, chegamos ao final da unidade Gestão de Projetos
Ambientais. Tivemos a oportunidade de compreender os elementos do
gerenciamento de projetos, bem como o planejamento do escopo, definição
e sequenciamento das atividades, elaboração do cronograma e compreensão
das áreas de conhecimentos da gestão de projetos.
Nesta seção, você será levado a compreender acerca dos riscos dos
projetos e criar planos de respostas a eles. Além disso, vai conhecer alguns
agentes financiadores de projetos ambientais.
Lembre-se de que você foi contratado para compor a equipe de gestão
ambiental de uma empresa que produz embalagens de filmes flexíveis,
laminados, encolhíveis e coextrudados em diferentes estruturas para os
mercados de alimentos, bebidas, cosméticos, farmacêuticos, higiene pessoal,
limpeza doméstica e pet food, atendendo todo o continente americano. Essa
empresa tem uma estrutura organizacional projetizada, portanto todo novo
produto ou sistema é concebido e passa pela metodologia de Gestão de Projetos,
para que tenha maior possibilidade de sucesso ao final de sua execução.
O diretor de criações da empresa propôs a sua equipe de gestão ambiental
e à equipe de criação a concepção de um projeto para o desenvolvimento de
embalagens biodegradáveis para pet food, denominado Biopetfood. Ele está
muito satisfeito com seu trabalho e de sua equipe, entretanto, há pontos que
trazem preocupações, como os possíveis riscos envolvidos após o início da
execução do projeto, como o atraso na pesquisa e na obtenção da matéria-
-prima que será utilizada, dentre outros.
Dessa forma, toda equipe foi reunida, sendo solicitada a realização de um
Plano Gerenciamento de Riscos do Projeto, com o objetivo de definir como
conduzir as atividades de gerenciamento que podem impactar o desenvolvi-
mento do produto. Nesse escopo, será definido como tomar as devidas ações
corretivas, identificando as causas, impactos e ações preventivas para que, o
problema ocorrendo, não se repita. Por fim, serão documentadas todas as
decisões tomadas, notificando os responsáveis e garantindo os seus respec-
tivos comprometimentos na resolução.

78
Após a apresentação da prévia do Plano de Gerenciamento de Riscos ao
diretor de criações, este avaliou a proposta e imediatamente reuniu a equipe,
para solicitar modificações quanto aos planos de respostas aos riscos.
Durante a apresentação do plano de gerenciamento ao diretor e
demais lideranças, estes questionam o que seria realizado caso ocorram os
seguintes riscos:
Atraso na pesquisa e desenvolvimento do piloto das embalagens biode-
gradáveis, devido à troca dos pesquisadores envolvidos.
Demora na entrega da matéria-prima por um fornecedor.
Necessidade de troca do fornecedor da matéria-prima.
Portanto, como resolver essa nova solicitação? Quais os planos que devem
ser realizados? Como os riscos devem ser considerados?

Não pode faltar

Olá, aluno! Até o momento, discutimos elementos de extrema impor-


tância para a elaboração e planejamento de projetos ambientais. Gostaria
de instigá-lo a refletir sobre o que seria um risco de projeto, como defini-lo
e identificá-lo. Nessa seção abordaremos temáticas relativas ao gerencia-
mento de riscos, ao planejamento orçamentário e às fontes de financiamento
direcionadas a projetos ambientais.
Vamos nos colocar em uma situação real, pensando em um projeto
ambiental, em que você necessite realizar o monitoramento de emissões
atmosféricas de uma indústria de cerâmica vermelha. Sabendo-se que existem
inúmeros insumos necessários, como sondas, sensores e filtros, dentre outros,
qual seria a probabilidade de ocorrer a falta desses suplementos? Ou ainda,
qual a probabilidade de faltar matéria-prima para a produção de um deter-
minado produto, ou de, até mesmo, a pessoa responsável por uma entrega
do projeto eventualmente adoecer? Questionamentos como esses formam a
base para identificação e previsão de riscos.
Podemos pensar também nos riscos que envolvem o ciclo de vida de um
produto, especialmente o risco ambiental proveniente do seu descarte. Nesse
momento, alguns questionamentos podem surgir como: como será realizado
o descarte desse produto? O que se pode fazer com seus resíduos?
Como uma alternativa, surge a Rede Empresarial Brasileira de Avaliação
do Ciclo de Vida, com o intuito de mobilizar as empresas para compreender a
importância de conhecer todo o ciclo de vida de seus produtos. Dessa forma,

79
as empresas possibilitariam aos consumidores conhecer os impactos ambien-
tais envolvidos em todas as etapas do processo produtivo, da matéria-prima
ao pós-consumo, chegando à destinação final dos resíduos/rejeitos.

Assimile
Com a adesão de empresas na Rede Empresarial Brasileira de Avaliação
do Ciclo de Vida, objetiva-se a construção de uma sociedade consumi-
dora mais atenta, permitindo que acompanhem o percurso do produto
desde a chegada ao comércio até o seu descarte final, possibilitando-
-lhes escolher produtos que promovam menores impactos negativos ao
meio ambiente. Avaliar o ciclo de vida de um produto envolve também
a possibilidade de analisarmos os impactos que ele possa causar na
natureza, nas diferentes fases de sua vida, tais como a emissão de gases
de efeito estufa, o consumo de recursos naturais, a quantidade de água
e energia requeridos para a sua confecção, entre outros.

Posto isso, vamos retomar o conceito que originou esse debate:


Gerenciamento de Riscos. Qual a definição de riscos? Podemos definir riscos
como eventos que podem representar ameaças ou oportunidades a projetos
de qualquer natureza. A palavra risco sempre vem associada a insucesso,
ameaça, perigo, isto é, a questões negativas. A ocorrência de riscos em um
projeto, via de regra, causa impactos negativos, no entanto pode signi-
ficar também chances de oportunidade, como o barateamento de alguns
custos no decorrer da execução do projeto: temos aqui então um risco com
impacto positivo.
De acordo com Vargas (2018), o gerenciamento do risco do projeto é
composto por processos que visam planejar, identificar, criar respostas,
monitorar e controlar. E controlar o quê? Bem, devemos então controlar todo
e qualquer evento que possa impactar a execução das ações planejadas, elimi-
nando-o ou simplesmente diminuindo seus efeitos indesejados.
Esse plano tem, portanto, o objetivo de aumentar a probabilidade de
impactos positivos e minimizar os impactos negativos. Assim, quando os
riscos são adequadamente trabalhados, podemos classificá-los em positivos,
quando eventualmente trazem benefícios, melhorias e até ganhos para o
projeto. Já os riscos negativos, quando adequadamente trabalhados, podem
ser tolerados (dependo do seu impacto), mitigados ou até eliminados.
Portanto os riscos de qualquer natureza não podem ser subestimados, pois
exigem especial atenção e igual dedicação.

80
Podemos citar como exemplo de risco positivo, o término antecipado de
alguma fase ou do projeto como um todo, o que poderia gerar: incentivos
financeiros dos investidores, novos sócios para a organização e experiências
para futuros projetos.
Ainda que ocorram incertezas durante o projeto, existem riscos que são
passíveis de serem previstos, com respostas planejadas para enfrentá-los. A
antecipação dos riscos e a tratativa para contorná-los, condiz com um geren-
ciamento denominado proativo.
Em um cenário ideal, teríamos que todos os riscos poderiam ser previstos
e gerenciados.

Assimile
Gerenciamento proativo dos riscos é o ato de antecipar futuras
mudanças ou necessidades que podem ocorrer ao longo do projeto.
Este tipo de gestão permite tomar decisões antecipadas, minimizando
os possíveis problemas gerados pelas modificações (CARVALHO, 2015).

Seria fácil, não é mesmo? Entretanto, há ocorrências que são mais


complexas e não podem ser geridas de modo proativo, sendo as respostas
a elas dadas por meio do plano de contingência, que apresenta como base
as experiências passadas do gerente de projetos ou estimativas de impactos.
Vargas (2018) aponta que, de acordo com o PMBOK® (PMI, 2017), sete
processos compõem o gerenciamento dos riscos do projeto:
• Planejamento do gerenciamento dos riscos: definição de como as
atividades envolvidas no gerenciamento de risco serão administradas
ao longo do projeto.
• Identificar os riscos: determinação dos riscos que podem afetar o
projeto, documentando suas características.
• Realização da análise quantitativa dos riscos: análise dos efeitos dos
riscos identificados em relação ao objetivo do projeto, por meio de
modelos matemáticos e estatísticos.
• Realização da análise qualitativa dos riscos: combina a probabilidade
subjetiva de ocorrência e o impacto do risco ao projeto, priorizando os
riscos identificados para análise ou ação adicional por meio da avaliação.
• Planejamento das respostas aos riscos: desenvolve alternativas e
ações para maximizar as oportunidades e reduzir as ameaças dos
riscos em relação aos objetivos do projeto.

81
• Implantar respostas aos riscos: realiza o planejamento relativo às
respostas aos riscos.
• Monitoramento e controle dos riscos: implanta os planos de
resposta, acompanha os riscos identificados, monitora os riscos
residuais, identifica novos riscos e avalia a eficácia dos processos de
tratamento em todo o projeto.
Para realizar o Plano de Gerenciamento de Riscos é necessário conhecer
o escopo, os planos de gerenciamento de custos, do cronograma, comuni-
cações, bem como os processos organizacionais da empresa ou solicitante.
Tendo o conhecimento sobre esses elementos, realiza-se reuniões com a
finalidade de desenvolver tal plano, que envolve:
• Definir métodos, abordagens, ferramentas e fonte de dados para o
gerenciamento de riscos.
• Os papéis e as responsabilidades de cada membro da equipe.
• Orçamento e recursos disponíveis.
• Determinar a frequência e os prazos com que o plano deve ser revisado.
• Categorizar os riscos como internos ou externos.
• Definição de probabilidade e impacto.
• Revisão de tolerância aos riscos pelos stakeholders.
• Formatação dos relatórios para a comunicação.
• Modo de acompanhamento e documentação.
A identificação de riscos significa apontar fatores a que os projetos estão
expostos. Os riscos podem ter origem distintas, como em causas não plane-
jadas (acidentes e incêndios, entre outros); causas externas (modificação de
legislação, crises políticas, crise econômica ou ambiental) e até sabotagens
(podendo ser interna ou externa), bem como no próprio projeto, devido
decisões relativas aos métodos, financiamentos, especificações, embargos de
obras, tecnologias, estratégias ou planejamento (KEELING, 2006).
Para cada risco identificado, seus impactos potenciais devem ser
previstos. Esses impactos podem estar relacionados a atrasos no crono-
grama, a despesas adicionais ou ao não cumprimento dos critérios de aceite.
De acordo com Vargas (2018), são os critérios, os requisitos de desempenho
e condições essenciais que devem ser atendidos antes que as entregas do
projeto sejam aceitas. Da mesma forma, o encerramento do contrato antes

82
do previsto, caso haja falhas do projeto, atrasos, mudanças econômicas, pode
gerar riscos até de afastamento de investidores nas organizações.
Em projetos de longo prazo ou que apresentam várias fases, pode não ser
possível identificar todos os riscos, no entanto enquanto o projeto progride
e a equipe obtém maiores informações ou elas tornam-se mais claras, é
possível, progressivamente, identificar novos riscos e estimativas de impactos
de riscos já detectados (CLEMENTS; GIDO, 2013).
O Quadro 2.6 a seguir apresenta uma sugestão para classificação de riscos:
Quadro 2.6 | Matriz Qualitativa de Riscos

Fonte: adaptado de http://bit.ly/33a1HjG. Acesso em: 1 nov. 2019.

Exemplificando
A área de mineração é um exemplo de atividade que apresenta um plano
de gerenciamento de riscos, uma vez que esse plano é uma exigência para
a obtenção das licenças ambientais (prévia, instalação, operação e desati-
vação). Nele devem constar todos os riscos envolvidos no escopo da ativi-
dade, como sistemas de alerta de rompimento de barragens, planos de
evacuação, medidas preventivas e mitigatórias, escopo dos grupos de
brigada, impactos diretos e indiretos ocasionados em caso de acidentes,
bem como o potencial, prazo de recuperação e, principalmente, qual a
probabilidade de ocorrência de qualquer risco descrito no plano.

Um plano de resposta pode evitar, mitigar ou aceitar os riscos. Evitar é eliminar


o risco por meio de uma ação diferente. Evitar um risco seria, por exemplo,
utiliza matérias-primas conhecidas em vez de realizar uma vasta pesquisa por
novas matérias-primas para a fabricação de um novo produto. Se não for possível
evitar o risco pode-se mitigá-lo, isto é, tomar algumas ações que evitarão danos
ou reduzirão o impacto ao projeto. Quando não se pode evitar ou mitigar o risco

83
é possível aceitá-lo, o que significa lidar com ele, se e quando ocorrer, em vez de
tomar medidas para evitar ou reduzir o impacto (CLEMENTS; GIDO, 2013).
O plano de resposta é um conjunto determinado de ações com a finali-
dade de prevenir ou minimizar a probabilidade de ocorrência ou impacto de
um risco, ou para ser implantado, caso o evento ocorra. Envolve o desenvol-
vimento de um plano de ação para reduzir a probabilidade de ocorrência e
o impacto potencial de cada risco. Esse plano pode ser classificado como de
contingência ou de contenção.
O plano de contingência são procedimentos ou ações que têm como
objetivo minimizar os impactos de um ou mais fatores de risco assumirem
proporções que possam prejudicar as chances de sucesso de um projeto. Já
o plano de contenção compreende ações ou procedimentos com o objetivo
de reduzir as chances de um ou mais fatores de risco virem a assumir valores
que possam prejudicar o sucesso do projeto.

Reflita
Tendo em mente o que foi discutido até o momento sobre os planos de
respostas aos possíveis riscos que podem ocorrer nos projetos, quais
seriam as vantagens econômicas da elaboração de um plano de contin-
gência em um projeto? Reflita!

Após a elaboração do plano de resposta aos riscos é necessário realizar o


monitoramento e controle, isto é, revisar regularmente o plano de gerencia-
mento de riscos, e isso deve acontecer durante todo o projeto. É primordial
rever e avaliar todos os riscos para determinar se há mudança na probabi-
lidade de ocorrência ou impacto potencial. Isso auxilia a determinar se um
risco aumentou em prioridade ou se diminuiu em importância. Podem ser
identificados novos riscos que não foram considerados no início do projeto,
mas que agora devem ser colocados no plano de gerenciamento.

Assimile
A modificação do escopo do trabalho pelo cliente ou solicitações de
mudanças no cronograma e no orçamento podem afetar a avaliação
dos riscos previamente elaborados, ou ainda, resultar na identificação
de novos riscos. Por exemplo, em um projeto de implantação de uma
central de coleta e reciclagem de resíduos, o cliente pode resolver
aumentar ou diminuir a área de recolhimento, o que influenciará direta-
mente no tamanho do local onde ocorrerá a reciclagem, na quantidade
de equipamentos e de mão de obra, gerando modificações no crono-
grama e nos custos.

84
Outros pontos cruciais do desenvolvimento do projeto são a definição
dos custos, a captação de recursos (fontes financiadoras) e a determinação do
mapa de stakeholders. Quando falamos da definição de custos de um projeto
estamos nos referindo ao orçamento, que terá como objetivo apresentar os
custos planejados para a realização do projeto.
Esses custos estão relacionados à mão de obra, equipamentos e despesas
fixas que podem e devem ser consideradas no orçamento do projeto, já que
esse se configura como o cronograma financeiro, indicando com o que e
quando serão gastos os recursos, bem como de que fontes eles derivarão.
O planejamento orçamentário é constituído pelos planos de receitas,
custos, gastos com pessoal, despesas operacionais e investimentos (ou aquisi-
ções). Não se deve confundir planejamento orçamentário com uma adivi-
nhação. Ao contrário, ele é baseado em fatos e argumentos para a realização
de previsões mais precisas e exatas possíveis.
A determinação do orçamento do projeto envolve duas etapas: Em um
primeiro momento, elabora-se um orçamento para cada pacote de trabalho,
agregando-se os custos estimados às atividades específicas associadas em
cada pacote. Posteriormente, o orçamento para cada um deles é distribuído
pelo intervalo de tempo esperado em que as atividades sejam realizadas, de
modo que seja possível determinar quanto de seu orçamento deve ser gasto
até determinado momento. O Quadro 2.7 a seguir demonstra o resumo das
funções relacionadas ao gerenciamento de custos de um projeto.
Quadro 2.7 | Fatores do gerenciamento dos custos do projeto

• Recursos humanos (identificação e quantidade).


Planejamento
• Equipamentos (identificação e quantidade).
• Horas de trabalho.
Estimativa • Horas de maquinário.
• Quantidade de materiais para cada atividade.
• Orçamento global.
Orçamento • Custo de cada atividade.
• Custo de cada recurso.
• Acompanhar e controlar as atividades.
Acompanhamento • Acompanhar e controlar as mudanças, sempre que elas impacta-
rem os custos.
Fonte: elaborado pela autora.

Um fator essencial na composição do gerenciamento de custos do projeto


é definir de onde virão os recursos que nele serão utilizados. Os recursos
podem vir dos clientes ou solicitantes do projeto, como em empresas que
estão implantando projetos de gestão ambiental e produção mais limpa, entre

85
outros, ou de agentes financiadores diversos, como da iniciativa pública,
privada ou da parceria público-privada.
Uma das alternativas para captação de recursos financeiros necessários
para o desenvolvimento de projetos é o financiamento por meio de institui-
ções financeiras, empresas investidoras ou outras pessoas físicas ou jurídicas.
A obtenção de um financiamento envolve, via de regra, diversas atividades
adicionais, além de custos e riscos associados. Vamos utilizar um financiamento
bancário como exemplo para observarmos as atividades adicionais envolvidas:
• Cadastro da empresa na instituição financeira.
• Preenchimento da proposta do financiamento incluindo garantias
pela empresa.
• Análise de crédito da proposta pelo banco.
• Aprovação da proposta para o financiamento pelo banco.
• Assinatura do contrato do financiamento.
• Liberação das parcelas pelo banco.
• Pagamento das parcelas pela empresa.
Os custos adicionais de um financiamento bancário envolvem juros
cobrados pelo financiamento, taxas bancárias, multas por atraso, tempo gasto
com as atividades adicionais, e ainda oferece alguns riscos e impactos como:
• Não aprovação da proposta.
• Atraso na liberação do financiamento.
• Atraso no pagamento das parcelas por parte da empresa.
• Juros e multas adicionais.
• Uso das garantias por parte do banco.
• Inviabilização do projeto devido ao aumento dos custos.
• Muitos bancos brasileiros oferecem linhas de crédito para implantação
de projetos ambientais como: Fundo Amazônia; Programa Nacional
de Florestas; Programa Produção Mais Limpa; Gestão Sustentável
de Resíduos Sólidos; Estímulo para Construções Mais Sustentáveis;
Estímulo a Boas Práticas Sociais e Ambientais; Drenagem Urbana
Sustentável, dentre outros.
Os agentes financiadores, sejam eles internos (cliente e/ou solicitante
do projeto) ou externos (público e/ou privado) são partes interessadas no

86
desenvolvimento e execução das tarefas do projeto, portanto devem necessa-
riamente constar no mapa de stakeholders, sendo uma ferramenta essencial
para a comunicação entre as partes. Por meio desse mapa é possível identi-
ficar pessoas-chave, entender os interesses e os fatores críticos de sucesso.
No mapa de stakeholders deve constar aqueles são internos ao projeto,
como o cliente, gerente, equipe e os externos, agentes financiadores, público
alvo e fornecedores, entre outros. Todos apresentam um grau de importância
e influência dentro do projeto.
Nesta seção você teve a oportunidade de se aproximar dos conhecimentos
relativos ao planejamento de risco de um projeto e compreender os elementos
que o compõe. Ainda, apreendeu de onde derivam os recursos que podem finan-
ciar projetos ambientais e como o mapeamento das partes interessadas de um
projeto é importante para a sua comunicação. Aprofunde seus conhecimentos
realizando pesquisa de matérias sobre o gerenciamento de projetos ambientais.
Bons estudos!

Sem medo de errar

Após a apresentação do Plano de Gerenciamento às lideranças, o diretor


de criações solicitou que ele fosse revisado, já que a equipe não havia elabo-
rado o plano de resposta à maioria dos riscos que poderiam ocorrer no
desenvolvimento do projeto; somente considerou os riscos com grande
impacto nos custos e no cronograma do projeto. Dessa maneira, é necessário
que você, juntamente com a equipe de projetos, crie uma nova proposta de
plano de respostas aos possíveis riscos, por meio da elaboração de um plano
de contenção e avaliação dos riscos.
Ao longo desta unidade, você teve a oportunidade de apreender os
elementos que compõem o plano de gerenciamento de riscos. A identificação
dos riscos que podem ocorrer durante o desenvolvimento do projeto é essen-
cial para que se elaborem respostas eficientes que possibilitem evitar, mitigar
ou aceitar os riscos.
O fato de a equipe do projeto Biopetfood não elaborar um plano de
contenção e não propor ações de como aceitar os possíveis riscos e impactos
fez com que o diretor de criações solicitasse uma proposta de respostas aos
seguintes riscos:
• Atraso na pesquisa e desenvolvimento do piloto das embalagens
biodegradáveis, devido à troca dos pesquisadores envolvidos.
• Demora na entrega da matéria-prima por um fornecedor.

87
• Necessidade de troca do fornecedor da matéria-prima.
Algumas respostas possíveis seriam:
O atraso na pesquisa devido à troca dos pesquisadores no decorrer do
processo é um risco que não pôde ser previsto, portanto não poderia ser
evitado, somente mitigado e aceito, para que o impacto fosse o menor
possível. Desse modo, duas respostas são possíveis de serem elaboradas.
Com relação à diminuição do impacto, pode-se contratar terceiros para a
realização da pesquisa. Já se a decisão for aceitar esse risco, é provável que o
cronograma e os custos sejam impactados negativamente.
Em relação à demora na entrega das matérias-primas pelo fornecedor
é possível traçar respostas para evitar e mitigar os impactos e a probabili-
dade de ocorrência. A fim de evitar esse risco, pode-se apresentar mais de
uma opção de fornecedor para as matérias-primas. Para mitigá-lo, pode-se
criar uma cláusula no contrato de fornecimento que prevê multa por atraso
na entrega da matéria-prima, possibilitando um equilíbrio entre os gastos e
custos com a matéria-prima escolhida.
Em um cenário em que se tenha a necessidade de realizar a troca do forne-
cedor, é fundamental que estejam contempladas no plano de gerenciamento de
riscos outras empresas que possuam o material e que possam vir a ser opções de
fornecedores, minimizando o risco de falta de material no processo produtivo.
Os riscos levantados tendem a ocasionar o atraso na produção da
embalagem modelo, que é, então, considerado um risco previsível, e sua
probabilidade de ocorrência está atrelada aos fatores supracitados. Sabendo
que, caso ocorra qualquer um dos problemas citados, existe a possibi-
lidade de contratar funcionários temporários para acelerar a produção,
tal decisão acarretará maiores custos em prol do cumprimento do crono-
grama estabelecido.
Portanto, é essencial que o plano de gerenciamento esteja em conso-
nância com o planejamento orçamentário, para que a ocorrência de eventos
que impactem negativamente o desenvolvimento do projeto não torne os
custos maiores que os previamente planejados.
Os exemplos aqui explorados são ilustrativos, como um possível encami-
nhamento de como você e sua equipe de projetos podem resolver a solici-
tação do diretor de criações para a criação de um plano de resposta a alguns
riscos envolvidos no projeto Biopetfood, havendo diferentes possibilidades
que dependerão das solicitações impostas, dos stakeholders e experiências
advindas da equipe em projetos anteriores.

88
Faça valer a pena

1. O plano de gerenciamento de risco é um procedimento que compõe a fase


de planejamento de um projeto. Para elaboração desse plano, é necessário
levar em consideração alguns elementos do projeto como o escopo, os planos
de gerenciamento de custos, do cronograma, comunicações, bem como os
fatores ambientais da empresa ou solicitante e seus processos organizacio-
nais. Nesse plano é necessário realizar o planejamento das respostas de riscos,
que podem ser classificados em plano de contenção e plano de contingência.
Sobre o plano de contenção, assinale a alternativa correta.
a. O plano de contenção tem como objetivo traçar ações para diminuir
a probabilidade de ocorrência dos riscos.
b. O plano de contenção avalia e promove respostas quantitativas aos
riscos que já aconteceram durante a execução do projeto
c. O plano de contenção são ações de eliminação e mitigação dos fatores
de risco do projeto e ainda monitora as atividades.
d. O plano de contenção são ações e procedimentos que visam reduzir
as chances de os fatores de risco assumirem valores que possam preju-
dicar o sucesso do projeto.
e. O plano de contenção são procedimentos que têm por objetivo
minimizar os impactos de os fatores de risco prejudicarem o desen-
volvimento do projeto.

2. O planejamento orçamentário é constituído pelos planos de receitas,


custos, gastos com pessoal, despesas operacionais e investimentos (ou aquisi-
ções). Não se deve confundir planejamento orçamentário com uma adivi-
nhação. Ao contrário, ele é baseado em fatos e argumentos para a realização
de previsões o mais precisas e exatas possíveis.
Sobre o planejamento orçamentário de um projeto, avalie as afirmativas a
seguir, assinalando (V) para as verdadeiras ou (F) para as Falsas:
( ) Na composição do gerenciamento de custo de um projeto é necessário
definir quais as fontes de recursos que o financiarão.
( ) Os recursos financeiros de um projeto advêm exclusivamente do seu
cliente ou solicitante.
( ) Os agentes financiadores, sejam eles internos ou externos, são partes
interessadas no desenvolvimento e execução das tarefas do projeto.

89
( ) A obtenção de um financiamento envolve, via de regra, diversas atividades
adicionais, além de custos e riscos associados.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a. V – V – F – F.
b. F – F – V – V.
c. V – F – V – V.
d. F – V – F – V.
e. V – V – F – V.

3. Os processos compõem o gerenciamento dos riscos do projeto, e são:


planejamento do gerenciamento dos riscos, identificação dos riscos, reali-
zação da análise quantitativa dos riscos, realização da análise qualitativa dos
riscos, planejamento das respostas aos riscos, implantação de respostas aos
riscos, monitoramento e controle dos riscos.
Sobre esses processos analise as afirmativas a seguir:
I. A realização qualitativa dos riscos combina a probabilidade subjetiva
de ocorrência e o impacto do risco ao projeto.
II. Identificar os riscos significa determinar os riscos que podem afetar
o projeto e documenta as suas características.
III. Planejamento do gerenciamento dos riscos desenvolve alternativas
e ações para maximizar as oportunidades e reduzir as ameaças dos
riscos em relação aos objetivos do projeto.
IV. Monitoramento e controle dos riscos realiza o planejamento relativo
às respostas aos riscos.
Conforme o texto, é correto o que se afirma em:
a. I, apenas.
b. I e III, apenas.
c. II, apenas.
d. II e IV, apenas.
e. I e II, apenas.

90
Referências

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de Janeiro: Brasport, 2015.

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XAVIER, C. M. S. Gerenciamento de projetos: Como definir e controlar o escopo do projeto.


São Paulo: Saraiva, 2006.
Unidade 3
Flávia da Silva Bortoloti

Produção mais limpa

Convite ao estudo
Estamos iniciando uma nova unidade de estudos sobre Projetos
Ambientais, na qual trabalharemos a temática: Produção mais limpa.
Você já parou para pensar em como a tecnologia evoluiu exponencial-
mente a partir da revolução industrial? E ainda, como isso acompanhou
o modelo de produção? Veja: se antes tínhamos todo o despejo industrial
diretamente em corpos hídricos, a conscientização ambiental fez com que
tais condições fossem inadmissíveis, acarretando o surgimento de leis para
controle.
Então, qual seria o próximo passo? Tentar reduzir a geração de impactos
no próprio processo de produção!
Os negócios atualmente apresentam grandes preocupações com o modo
de produzir, distribuir e consumir seus produtos, portanto, é essencial que
você, futuro tecnólogo em gestão ambiental, saiba elaborar e implantar
projetos de modo a resolver problemas com criatividade e raciocínio crítico
no que tange a produção mais limpa.
Para compreender a lógica do modelo de produção mais limpa vamos
discutir primeiramente os Projetos de Produção Mais Limpa (P+L), o conceito
desse sistema de produção, as etapas de implantação do projeto, bem como
o papel da Organização das Nações Unidas no desenvolvimento da P+L e
como o setor financeiro tem auxiliado a promoção da economia susten-
tável no Brasil. Posteriormente, abordaremos a Implantação da metodologia
de Produção Mais Limpa (P+L), na qual serão abordados os contrapontos
dos modelos de Gestão Ambiental e a Produção Mais Limpa; a produção e
consumo sustentável e os exemplos de sucesso de projetos de P+L.
Por fim, compreenderemos a Produção Mais Limpa e o Desenvolvimento
Sustentável, bem como discutiremos sobre as Políticas de mitigação de
impacto ambiental, o Mercado de títulos verdes e a Pegada ecológica.
Preparado para mais este desfio na construção de seus conhecimentos
sobre projetos ambientais? Bons estudos!
Seção 1

Projetos de produção mais limpa

Diálogo aberto
Olá, aluno! Seja bem-vindo à Seção de Projetos de Produção Mais Limpa
(P+L)! É chegada a hora de aprenderemos o conceito desse sistema de
produção, as etapas de implantação do projeto, o papel da Organização das
Nações Unidas no desenvolvimento da P+L e como o setor financeiro tem
auxiliado a promoção da economia sustentável no Brasil.
Para nortear nossas discussões vamos supor a seguinte situação:
A alta diretoria de uma indústria de laticínios, visando a possibilidade de unir
os ganhos ambientais aos econômicos, decidiu implantar o modelo de gestão
ambiental denominado Produção Mais Limpa (P+L). Este modelo tem como
objetivo aplicar estratégias e técnicas, tanto aos processos produtivos quanto aos
produtos, visando, principalmente, minimizar ou reciclar resíduos gerados.
Com o intuito de fomentar a Produção Mais Limpa, o diretor de
responsabilidade socioambiental da indústria solicitou da equipe de gestão
ambiental da empresa, da qual você, gestor ambiental, faz parte, para iniciar
a concepção do projeto de implantação de P+L.
Nesta mesma reunião, o Diretor apresentou à equipe os procedimentos e
etapas que deveriam ser realizadas para concluir a implantação deste modelo de
gestão na empresa. De acordo com o Centro Nacional de Tecnologias Limpas
(CNTL, 2003, p. 15-29) os procedimentos são: pré-avaliação da empresa;
capacitação e sensibilização dos profissionais da empresa; elaboração de um
balanço ambiental, econômico e tecnológico do processo produtivo; avaliação
do balanço elaborado e identificação de oportunidades de P+L; priorização
das oportunidades identificadas na avaliação; elaboração do estudo de viabi-
lidade econômica das prioridades; estabelecimento de um plano de monito-
ramento para a fase de implantação; implantação das oportunidades de P+L
priorizadas; definição dos indicadores do processo produtivo; documentação
dos casos de P+L e elaboração de planos de continuidade.
Foi solicitado à equipe que ao final da implantação fosse realizada uma
apresentação aos investidores da empresa sobre o processo de implantação
do modelo de Produção Mais Limpa, a fim de conseguir debêntures (emprés-
timos dos investidores para as empresas) com o objetivo de financiar futuros
projetos positivos ao meio ambiente e à participação da empresa de laticínios
no mercado de títulos verdes.

95
Posteriormente à reunião de apresentação da proposta de implantação do
modelo de Produção Mais Limpa, você e sua equipe iniciaram os estudos e
levantamentos necessários para a concepção e execução deste novo projeto.
Decidiram, então, em princípio, realizar as seguintes ações: pré-avaliação da
empresa; capacitação e sensibilização dos profissionais da empresa; elabo-
ração de um balanço ambiental, econômico e tecnológico do processo
produtivo; avaliação do balanço elaborado e identificação de oportunidades
de P+L; priorização das oportunidades identificadas na avaliação; elaboração
do estudo de viabilidade econômica.
A fim de realizar estes primeiros procedimentos, você e sua equipe
deveriam responder a alguns questionamentos: Como estabelecer o ecotime?
Qual a abrangência do projeto? Como identificar as barreiras e soluções para
implantação da Produção Mais Limpa? Em qual fase do processo produtivo
haverá aplicações de produção mais limpa? Qual será o benefício econômico
gerado através da aplicação da Produção Mais Limpa?
Além disso, o diretor propôs que a equipe, além de conceber os primeiros
procedimentos de implantação da P+L, apresentasse uma ação a ser reali-
zada com relação à fonte de energia utilizada no processo produtivo dessa
indústria. Portanto, qual fonte de energia poderia ser implantada no processo
produtivo da indústria que esteja em consonância com os propósitos da P+L
e, ainda, confira eficiência energética à indústria?
Posteriormente a essas etapas, você, juntamente com a sua equipe, deve
iniciar o processo de confecção de um relatório sobre a implantação do
projeto de P+L com a finalidade de conseguir empréstimos dos investidores
para a empresa, com o objetivo de financiar futuros projetos e a participação
da empresa de laticínios no mercado de títulos verdes.

Não pode faltar

Olá, aluno! Você já pensou quais são as fases do processo produtivo de um


bem? Como se dá a extração e transformação da matéria-prima, bem como
a comercialização do produto final? Haveria a possibilidade de minimizar os
passivos ambientais durante todo o ciclo de vida de um produto? Como esses
questionamentos se relacionam com a temática que estudaremos nesta seção?
Estamos iniciando uma nova seção da disciplina de Projetos Ambientais,
na qual abordaremos conceitos dentro do âmbito da Produção Mais Limpa
(P+L), abordagem de extrema importância em processos relacionados
à gestão ambiental. Dessa forma, conheceremos suas fases, o papel dos

96
organismos supranacionais em sua implantação e a ação do setor financeiro
na promoção da P+L.
Afinal, o que seria a P+L? Datada do fim da década de 1980, consiste
em um modelo de produção pautado em estratégias produtivas com o
viés atrelado ao desenvolvimento sustentável. Tem como objetivo eliminar
a poluição durante o processo produtivo e não após sua conclusão, como
ocorre no controle “fim de tubo”. Alguns exemplos de tecnologias utilizadas
para o controle da poluição no modelo produtivo “fim de tubo” são: filtros de
emissões atmosféricas; estações de tratamento de efluentes líquidos (ETE) e
tecnologias de tratamento de resíduos sólidos.

Assimile
End-of-pipe (fim-de-tubo) é o controle de resíduos ao final do processo
produtivo, intensamente utilizado entre as décadas de 1970 e 1980,
caracteriza-se por adotar tecnologias de tratamento de poluentes –
emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos – com o
objetivo de reduzir os poluentes antes do descarte no ambiente. Nesse
tipo de técnica a preocupação ambiental está pautada na remediação
dos impactos ambientais decorrentes do processo produtivo.

Portanto, a técnica de fim de tubo somente é válida para tratar os resíduos


que não puderam ser evitados durante o processo, assim configurando-se
como uma atitude reativa em busca da adequação às normas legais. Ademais,
as tecnologias de fim de tubo resultam na elevação dos custos de produção,
pois não agregam valor ao produto.
Diferentemente da End-of-pipe, a Produção Mais Limpa tem como
pressuposto a prevenção da poluição. A empresa que adota a P+L tem a
preocupação de evitar a geração de poluentes, atuando diretamente sobre
os produtos e processos, visando maior eficiência produtiva (diminuindo o
consumo de recursos ambientais e energia). Esse modelo deriva do conceito
de tecnologia limpa ou clean technology, definido na Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972,
pressupondo alcançar três propósitos distintos, porém, complementares,
sendo (BARBIERI, 2007): menor lançamento de materiais ou resíduos que
ocasione poluição ao meio ambiente; menor geração de resíduos e consumo
de recursos naturais (principalmente os não-renováveis).
Desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Industrial (UNIDO), em 1989, o conceito de Produção Mais Limpa (cleaner
production) é caracterizado como uma abordagem para a conservação de

97
recursos e gestão ambiental, por meio da “[...] aplicação contínua de uma
estratégia ambiental que envolve processos, produtos e serviços, de maneira
que se previnam ou reduzam os riscos de curto ou longo prazo para o ser
humano e o meio ambiente”. (Ministério do Meio Ambiente, 2019, n.p.).
Com a finalidade de difundir cada vez mais a P+L, cada país interessado
pode instalar um Centro Nacional de Produção Mais Limpa, vinculado ao
UNIDO e ao PNUMA.
No Brasil, foi criado o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL)
junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) do Rio
Grande do Sul, ao qual estão ligados os demais núcleos do país. Suas ativi-
dades foram iniciadas em onze empresas do setor agroindustrial, polímeros
e metalomecânico. Esses setores foram identificados como adequados para a
implantação da P+L devido às oportunidades que seus passivos ambientais
poderiam proporcionar, do potencial de reaproveitamento de seus resíduos
e da influência na economia do estado, ou seja, atendiam aos princípios
básicos da metodologia (Figura 3.1).
Figura 3.1 | Princípios Básicos da P+L

Não
Geração Redução

Reaprovei-
Reciclagem
tamento

Fonte: elaborada pela autora (2019).

Dentre os princípios destacados, o primeiro objetiva, por meio da racio-


nalização das técnicas empregadas no processo produtivo, a não geração de
resíduos. O segundo, que surge quando o primeiro não pôde ser aplicado de
modo integral, é a diminuição da geração dos resíduos. O terceiro princípio
está relacionado ao reaproveitamento dos resíduos no próprio processo de
produção, já o quarto princípio compreende a reciclagem, com o aproveita-
mento das sobras ou do próprio produto para a geração de novos materiais.

98
Como mencionado a P+L envolve procedimentos relacionados aos produtos,
processos produtivos e serviços, os quais podemos observar no Quadro 3.1.
Quadro 3.1 | Produção Mais Limpa: procedimentos

Procedimentos Ações

- Conservação de matérias-primas e energia;


- Substituição de materiais tóxicos/perigosos por outros menos preju-
Processos de
diciais;
Produção
- Redução da quantidade e da toxicidade de todas as emissões e resídu-
os antes deles deixarem o processo produtivo.

- Redução dos impactos negativos ao longo do ciclo de vida do produto,


Produtos desde a extração da matéria prima até a disposição final do produto,
por meio de um design adequando aos produtos.

Incorporando as preocupações ambientais no projeto e fornecimento


Serviços
dos serviços.

Fonte: Fernandes et al. (2015, p. 54).

Por meio da aplicação desses procedimentos é possível transformar os


resíduos que seriam descartados em matéria-prima para novos produtos; evitar a
geração de passivo e custos ambientais; reduzir os impactos ambientais; melhorar
a qualidade dos produtos; promover a saúde e a segurança dos trabalhadores.
Quer um exemplo de aplicação da metodologia P+L no Brasil? Temos a
3M do Brasil, indústria química que tem como principal produção adesivos,
abrasivos, tapetes de PVC, esponjas de poliuretano e produtos médicos.
Em 2001, a 3M identificou que a produção de tapetes de PVC gerava cerca
de 46.000 m² por mês de um resíduo composto de retalhos desse material,
direcionado a terceiros para reciclagem. A fim de reaproveitar esses retalhos,
implantou uma linha de produção de tapetes personalizados. O investimento
foi de aproximadamente US$ 3.000 para aquisição de diferentes tipos de
facas utilizadas para cortes nos retalhos de PVC, o que permitiu a criação de
diversos modelos de desenhos nos tapetes personalizados. Os ganhos econô-
micos alcançados pela empresa foram de US$ 37.700 por ano, com a fabri-
cação de 14.400 tapetes de PVC personalizados com os resíduos que, antes,
eram vendidos para a reciclagem.

Exemplificando
Vamos analisar os ganhos econômicos e ambientais com duas ações de
implantação da lógica de P+L, realizada por uma consultoria ambiental
em uma empresa de produção de móveis localizada no estado do Rio
Grande do Sul, segundo dados disponibilizados pela mesma:

99
I. Utilização de plástico bolha reciclado para embalagem dos móveis.
• Houve o ganho Trimestral de R$ 63.508,32. Em 1 ano obtiveram
o ganho de R$ 254.033,35. Dos 209.080,96 kg de plástico bolha
utilizados anualmente 45% (94.086,43 kg) é reciclado e 55%
continua como plástico bolha virgem (114.994,52 kg). 
II. Utilização de somente 1 compressor durante o segundo turno.
• Economia de R$ 46.450,80 por ano em energia elétrica corres-
pondente ao uso do compressor GA-75 (deixado fora de uso).
Redução do consumo de 20 litros de óleo lubrificante a cada
6 meses, que corresponde a R$ 130,00. Ganho de um filtro
separador de óleo a cada 4.000 horas a um custo de R$ 1.160,44
que corresponde a 1 ano e 11 meses de horas trabalhadas.
Ganho de 2 filtros de óleo a cada 2.000 horas a um custo de R$
35,53 cada (R$ 71,06), que corresponde a 11 meses de horas
trabalhadas. Obteve ganho ambiental, pois houve redução no
consumo de energia elétrica que deixa de ser fornecida pelas
hidrelétricas, ficando disponível para outros sistemas.
Fonte: P+L Consultoria: cases. 2019.

Quando uma organização decide adotar a P+L, opta por um compromisso


por meio de uma estratégia que visa ganhos financeiros e ambientais. Alguns
dos benefícios ambientais com a implantação da P+L são (SENAI, 2003):
• Eliminação dos desperdícios e Aumento da produtividade;
• Minimização ou eliminação de matérias-primas e outros insumos
impactantes para o meio ambiente; minimização dos passivos
ambientais; produtos ambientalmente adequados;
• Redução dos resíduos e emissões; redução dos custos de gerencia-
mento dos resíduos;
• Incremento na saúde e segurança no trabalho; conscientização
ambiental dos funcionários;
• Melhor imagem da empresa perante a sociedade, fornecedores,
clientes, acionistas, entre outros, promovendo assim o marketing
ambiental; possibilidade de obtenção de certificações ambientais
Perceba que a P+L é uma estratégia integrada a todo o ciclo de vida do
produto, guiada pelas ideias da sustentabilidade, da preservação, da eficiência
ambiental e da contínua melhora entre as atividades produtivas e o meio
ambiente. As práticas de P+L quando implementadas de forma funcional,
geram vantagem competitiva no mercado interno e externo.

100
É notável a relação da Produção Mais Limpa com o Sistema de Gestão
Ambiental (SGA) e com a melhoria contínua, uma vez que buscam usar a
matéria-prima de forma racional, gerando menor quantidade de resíduos e
menos impactos ambientais.
Para que possamos melhor compreender a relação da P+L com a lógica
da melhoria contínua, em especial com o Ciclo PDCA, vamos explorar um
estudo de caso de um cemitério que apresentava como passivo ambiental os
resíduos da exumação (CETESB, 2002).
Os principais problemas eram os impactos ambientais associados ao seu
descarte e os custos elevados para coleta e destinação.
Na fase de planejamento (P) a administração do cemitério definiu que
o objetivo seria reutilizar esses resíduos no processo de compostagem e
produção de adubo orgânico.
A execução (D) ocorreu em cinco etapas:
1. Mapeamento de todo os resíduos gerados pelas unidades de acordo
com a sua classificação;
2. Avaliação da geração, armazenamento, coleta e destinação dos
resíduos por empresas contratadas;
3. Criação de “Ecoponto” para coleta e armazenamento dos resíduos;
4. Compra de um triturador de resíduos orgânicos;
5. Treinamento dos operadores das unidades para operação e controle
do processo
O investimento foi no valor de R$29 mil, sendo destinados R$28 mil
para aquisição de dois trituradores de resíduos orgânicos e o restante
para compra de Equipamento de Proteção Individual e ferramentas para
manutenção do equipamento.
Na checagem dos resultados (C) observou-se que os benefícios ambien-
tais alcançados foram:
• Redução no consumo de adubos químicos/orgânicos adquiridos.
• Produção de adubo orgânico, para uso em nossos viveiros de mudas
e na revitalização das quadras gramadas, contribuindo com a melho-
raria do ambiente natural, demonstrando a responsabilidade assumida
pela administração com o meio ambiente e o desenvolvimento de um
empreendimento sustentável.

101
• Otimização do armazenamento de resíduos de madeira, prove-
nientes de urnas, em caçambas metálicas contratadas para este tipo
de resíduos: de 33 urnas por caçamba para 56 urnas por caçamba.
• Redução do volume anual de resíduos classe II-A (não inertes, podem
ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou
solubilidade em água) destinados em aterro: de 352,5 m³ para 270,0 m³.
Os resultados econômicos não estão relacionados com um menor dispêndio
na contratação de caçambas (economia referente a uma caçamba por mês)
pelas empresas contratadas, de R$ 10.626,00 anual para R$ 6.160,00 anual.
Por fim, na fase da Ação (A), nesse exemplo, compreende as atuações
futuras com vistas à melhoria contínua que seriam a “Formação de parce-
rias para educação ambiental e Manutenção nos viveiros utilizando o adubo
gerado pela trituração de resíduos.”
A implantação dessa estratégia produtiva ocorre por meio de projetos
realizados em cinco etapas (Quadro 3.2) que podem ser subdivididos em
dezoito tarefas (Figura 3.2).
Quadro 3.2 | Etapas/Fases de implantação da P+L

Etapas/Fases Ações

Obter a participação e o compromisso da alta gerência; Informar


à gerência e aos colaboradores dos objetivos da avaliação da P+L;
Planejamento e formação da equipe do projeto; gerar os recursos financeiros e
Organização humanos necessários para a implementação de P+L; identificar e
estabelecer contato com as fontes de informação; estabelecer os
objetivos de P+L; superar as barreiras.

Obter o desenvolvimento do fluxograma do processo; obter o esta-


Diagnóstico e belecimento do foco para a fase de avaliação; suprimento de dados
pré-avaliação para se efetuar a comparação do “antes-e-depois”; identificar
oportunidades de P+L.

Estudo de viabilidade Subsidiar de dados econômicos e analisar a viabilidade das opor-


técnica, econômica e tunidades de P+L; seleção das oportunidades viáveis; documentar
ambiental os resultados esperados para cada opção.

Implementar as oportunidades viáveis de P+L; monitoramento e


Implementação avaliação das oportunidades implementadas; planejamento das
atividades que asseguram a melhoria contínua com P+L.

Fonte: Pereira (2014).

102
Figura 3.2 | 18 tarefas para implantação da P+L
Comprometiment Seleção do foco
Elaboração dos
o da direção da de avaliação e
fluxogramas
empresa priorização

Sensibilização dos Tabelas Balanços de massa


funcionários quantitativas e de energia

Avaliação das Plano de


Formação do Definição de causas de geração monitoramento e
ECOTIME indicadores dos resíduos continuidade

Apresentação da Avaliação dos Geração das Implementação


metodologia dados coletados opções de P+L

Avaliação técnica,
Pré-avaliação Barreiras ambiental e Seleção da opção
econômica

Fonte: adaptada de CEBSD (2005, p. 11).

Dentre as tarefas a serem realizadas para a implantação da P+L em um


processo produtivo está a formação do ECOTIME. Consiste na equipe de
projeto, sendo colaboradores aqueles que atuaram como multiplicadores das
ações da P+L para os outros funcionários. Sua constituição é parte funda-
mental do planejamento e dos demais processos que envolvem um projeto
de implantação da P+L em uma organização.
O ECOTIME deve ser formado por funcionários, ao menos um de cada
setor, que conheçam a empresa mais profundamente e/ou que são respon-
sáveis por áreas importantes, como produção, compras, meio ambiente,
qualidade, saúde e segurança, desenvolvimento de produtos, manutenção e
vendas. Ainda, deve ter um coordenador com a responsabilidade de manter
a direção informada sobre o desenvolvimento das atividades.
Algumas barreiras que podem ser encontradas durante o processo de
planejamento e organização são: a dificuldade do ECOTIME em executar
as medições, isto é, os levantamentos de custos financeiros e ambientais
em relação aos resíduos, toxicidade das matérias-primas ou em assimilar
os conceitos e a metodologia de P+L, dentre outros; dificuldades de

103
envolvimento efetivo da empresa com a proposta de trabalho; entraves em
conseguir os equipamentos de medição (balanças).

Reflita
Existem diversos processos industriais que demandam elevadas quanti-
dades de insumos e/ou energia em sua operação. São exemplos a
produção de alimentos, papel, plástico, metalurgia, dentre outras. Será
que todo processo industrial permite a aplicação da metodologia P + L?
Reflita sobre isso!

Um dos pilares da P+L é a redução e eficiência do uso de energia nos


processos produtivos, passível de ser alcançado por meio da reciclagem de
resíduos e na modificação das técnicas e tecnologias na produção. De acordo
com Oliveira (2006), soluções simples podem ser utilizadas para que haja
economia significativa no gasto com energia elétrica, como: maior aprovei-
tamento da iluminação natural e conscientização dos operários; substituição
dos capacitores para correção do fator de potência das máquinas e circuitos;
substituição dos motores por outros de melhor rendimento e também a
modificação em alguns equipamentos, como a instalação de sistemas de
acionamento de motores (termostatos, temporizadores).

Assimile
A inserção de tecnologias limpas para geração de energia elétrica é uma
das diversas alternativas que podem auxiliar a empresa em reduzir o
consumo de energia elétrica de fontes não renováveis. Um exemplo é
a instalação de painéis fotovoltaicos, os quais utilizam a energia solar
para geração de energia elétrica, por meio de conversão química.
Vale ressaltar que, caso o empreendimento possua energia excedente,
poderá ser comercializado com a companhia fornecedora de energia elétrica.

Para que seja possível alcançar uma economia sustentável são necessários
esforços conjuntos dos consumidores e governos que podem atuar de modo
incisivo contra os infratores via aparatos jurídicos ambientais; as indústrias,
por melhorarem seus métodos produtivos em busca de alternativas tecnoló-
gicas mais limpas que reduzam o risco de geração de passivos ambientais e o
sistema financeiro, agindo no direcionamento de recursos para que todos os
outros processos se tornem viáveis. (BARGUENA, 2009).
Algumas ações do setor financeiro para auxiliar na ampliação de uma
economia sustentável são: presença dos bancos em índices de sustentabilidade,

104
financiamentos socioambientais, fundos socialmente responsáveis, seguros
ambientais, mercado de carbono, financiamentos para empresas que tenham
interesse em implantar a P+L, crédito sustentável (privilegia atividades menos
agressivas ao meio ambiente, mais socialmente inclusivas e que gerem empregos).
O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) apresenta linhas de
créditos voltadas à micro e pequenas empresas para implantação de projetos
relacionados ao uso de energias renováveis e eficiência energética. Essas
ações permitem melhor gestão do risco, socioambiental nas operações de
crédito e amplia as oportunidades de negócios que surgem nessa nova ótica
da economia verde e inclusiva. Algumas ações de incentivo econômico
(Quadro 3.3) foram realizadas no âmbito estadual para estimular as organi-
zações a implantarem a P+L.
Quadro 3.3 | Ações governamentais para incentivo na implantação da P+L

Ações de Incentivo
Objetivos
Econômico

Programa Estadual de
Redução do consumo de energia nos segmentos públicos
Eficiência Energética e
e privados; consumo racional de energia; incentivo a
deIncentivos ao uso de
utilização de energias renováveis e técnicas e produtos
Energias Renováveis –
mais eficientes.
PROENERGIA, Espírito Santo

Política Estadual de Instituir diretrizes e instrumentos para uma melhor


Captação, Armazenamento e utilização dos recursos hídricos;
Aproveitamento da Água da implantação de programas de educação ambiental;
Chuva, Paraíba. implantação de políticas de apoio financeiro.

Incentivar a utilização de materiais reciclados oriundos do


processo da construção civil ou de demolição, no intuito
de estimular a implantação da construção sustentável;
conceder benefícios ou incentivos fiscais para as empresas,
Lei Ordinária n. 3.956/2013,
cooperativas, centros de prestação de serviço ou outros
Amazonas
entes que se enquadrem nas prerrogativas do programa;
promover incentivos capazes de reduzir a produção de
rejeitos no estado, fomentando a criação e manutenção
de empresas que movem a indústria de reciclagem.

Fonte: Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC, 2015).

Nessa seção você teve a oportunidade de se aproximar dos conhecimentos


relativos à implantação da lógica de Produção Mais Limpa, como uma
abordagem de promoção da redução e uso eficiente de recursos no processo
produtivo. A P+L é um dos caminhos a serem percorridos pelas organizações
que desejam produzir visando benefícios econômicos e ambientais.

105
Sem medo de errar

Você faz parte da equipe de gestão ambiental de uma indústria de laticí-


nios e necessita realizar a implantação da Produção Mais Limpa no processo
produtivo com vistas à obtenção de benefícios econômicos e ambientais. Para
cumprir a primeira fase da implantação desse projeto, você, juntamente com sua
equipe de gestão ambiental, deveria responder aos seguintes questionamentos:
Como estabelecer o ecotime? Qual a abrangência do projeto? Como identificar
as barreiras e soluções para implantação da Produção Mais Limpa? Em qual fase
do processo produtivo haverá aplicações de produção mais limpa? Qual será o
benefício econômico gerado através da aplicação da Produção Mais Limpa?
Além de solucionar esses questionamentos você deve apresentar uma
proposta relativa à fonte de energia que esteja em consonância com os propó-
sitos da P+L e que confira eficiência energética à indústria.
Vimos no decorrer da seção que o ecotime é formado por colaboradores
de áreas importantes da empresa que serão responsáveis por repassar a
metodologia da P+L para os demais funcionários e ainda, fazer com que esse
modelo seja implantado de modo integral.
Por se tratar de uma indústria de laticínios, um dos ramos da indústria
alimentícia que mais gera resíduos, tanto efluentes líquidos como emissões
atmosféricas e resíduos sólidos, é essencial que o projeto abranja todo o setor
produtivo, desde a escolha da matéria-prima até a minimização do descarte.
Uma das ações que pode ser empregada é o uso dos subprodutos do leite,
como o soro, para a produção de novos produtos, a exemplo do soro in natura
que pode ser destinado à alimentação animal, fabricação de ricota, fabricação
de bebida láctea, concentração, produção de soro em pó, separação das prote-
ínas e lactose com posterior secagem, dentre outros. Esse reaproveitamento
contribuirá como forma de valorização deste derivado lácteo, ao mesmo tempo
promoverá a melhoria do meio ambiente e proporcionará ganhos na indústria.
Ainda que os benefícios da P+L sejam reais, muitas podem ser as barreiras
encontradas durante sua implantação, como a resistência e não comprome-
timento da gerência, em especial quando forem necessários investimentos
em novas tecnologias e/ou equipamentos. Para superar essas barreiras é
fundamental esclarecer todos os envolvidos, principalmente apresentando
resultados empíricos dos benefícios conseguidos de outras organizações
do mesmo setor após a implantação desse sistema. Demonstrar, também,
que é possível conseguir bons resultados por meio de mudanças simples
no processo produtivo, muitas conseguidas somente com a modificação de

106
algumas atitudes. Pontuar que a partir da alteração da lógica de produção é
possível pleitear investimentos e ter abatimento em determinadas tributações.
Com relação à fonte de energia uma proposta viável seria o investimento em
instalação de painéis fotovoltaicos para a geração de energia solar, que além de
ser utilizada na indústria o excedente, caso aja, pode ser comercializado com a
organização fornecedora de energia elétrica, auxiliando nos ganhos econômicos.
Há, também, a possibilidade de solicitar incentivos econômicos por meio
de programas e políticas estaduais de auxílio ao uso de fontes de energias
renováveis e eficiência energética. O que promove os ganhos econômicos
da indústria e ainda melhora sua imagem junto aos investidores, acionistas,
funcionários e sociedade.
Os apontamentos aqui explorados são ilustrativos, como um possível
encaminhamento sobre como você e sua equipe podem desenvolver os
questionamentos iniciais que permeiam a implantação da P+L.

Faça valer a pena

1. Leia e analise o trecho a seguir:

[...] a aplicação contínua de uma estratégia econômica,


ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos,
a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas,
água e energia, através da não-geração, minimização ou
reciclagem de resíduos gerados em um processo produ-
tivo. Produção Mais Limpa também pode ser chamada de
Prevenção da Poluição, já que as técnicas utilizadas são
basicamente as mesmas. (FERNANDES et. al., 2015, p. 54)

A aplicação da Produção Mais Limpa está associada à melhoria contínua na


qualidade ambiental nos setores de:
a. transporte, comercialização e produção.
b. comercialização, produção e concepção.
c. matéria-prima, logística e serviços.
d. produção, produtos e serviços.
e. produtos, serviços e matéria-prima.

107
2. Leia e analise o trecho a seguir:

Durante décadas o processo de degradação ambiental cresceu


vertiginosamente, acreditando-se que o crescimento econô-
mico, por si só, proporcionaria melhores condições de vida
para a sociedade. Contudo, conforme afirma Lemos (1998),
observou-se que o crescimento econômico descontrolado
estava causando danos irreparáveis aos ecossistemas e que
estes danos, a médio e longo prazos, tornariam o conjunto de
ecossistemas inabitáveis a espécie humana.
Tal contexto foi evitado, pois conforme afirma Figueiredo
(2004), a sociedade passou a exigir da indústria a adoção das
melhores técnicas, não sendo suficiente somente atender a
determinados padrões ambientais, isso porque a sociedade
está, cada vez mais, tomando consciência de que a variável
ambiental é importante e que ela diz respeito a todos, não
somente a um segmento ou uma parcela da população.
A partir de então, buscou-se a integração de práticas social-
mente responsáveis e ambientalmente corretas associadas
às técnicas tradicionais de produção e de gestão do
setor industrial, dado o anseio da sociedade de consumir
produtos livres de desperdícios e ou efeitos danosos ao
meio ambiente. (WENER; BACARJI; HALL, [s.d.], p. 1-2)

Diante do exposto, assinale a alternativa que apresenta um exemplo de modo


de produzir ambientalmente correto, como demonstrado no texto destacado.
a. Desenvolvimento Sustentável.
b. Reduções Certificadas.
c. Produção Mais Limpa.
d. Crédito de Carbono.
e. Ecoeficiência.

3. Leia e analise o trecho a seguir:


Nos últimos 50 anos, a partir do melhor entendimento da cadeia de geração de
resíduos, as políticas de controle da poluição evoluíram dos métodos conhe-
cidos como de “fim-de-tubo” para as tendências mais recentes, baseadas no
princípio de prevenção, que modificou a abordagem convencional de “O que

108
fazer com os resíduos?” para “O que fazer para não gerar resíduos?”. Sobre
este último princípio fundamenta-se a Produção Mais Limpa.
Esta nova abordagem sobre a questão dos resíduos levou a uma mudança de
paradigma. O resíduo, que antes era visto apenas como um problema a ser
resolvido, passou a ser encarado também como uma oportunidade de melhoria.
Sobre a Produção Mais Limpa analise as afirmativas a seguir:
I. A Produção Mais Limpa considera a variável ambiental em todos os
níveis da empresa, como por exemplo, a compra de matérias-primas, a
engenharia de produto, o design, o pós-venda, e relaciona as questões
ambientais com ganhos econômicos para a empresa.
II. Apesar de trazer benefícios ambientais, como a redução e eliminação
de resíduos, produção sem poluição, eficiência energética, dentre
outros, no entanto os benefícios econômicos são pífios.
III. A Produção Mais Limpa caracteriza-se por ações que são implemen-
tadas dentro da empresa com o objetivo de tornar o processo mais
eficiente no emprego de seus insumos, gerando mais produtos e
menos resíduos.
IV. A Produção Mais Limpa ocorre em dois níveis, um que se refere a
reciclagem interna e outro que se restringe a reciclagem externa.
Assinale a alternativa que apresenta a(s) afirmativa(s) correta(s):
a. I, II e IV.
b. II, III e IV.
c. I, II e III.
d. I e III apenas
e. I e IV apenas.

109
Seção 2

Implantação da metodologia de Produção Mais


Limpa (P+L)

Diálogo aberto
Olá, aluno!
Você já percebeu que, ao longo do tempo, os modos de produzir bens
e mercadorias se modificaram? Se antes a lógica produtiva estava relacio-
nada à extração indiscriminada de recursos para satisfazer o afã do consumo,
atualmente nota-se uma maior preocupação com as ações ambientalmente
corretas. Um exemplo notório é a difusão da política dos “3rs”, baseadas nos
princípios de reduzir, reutilizar e reciclar.
Mas, como isso se relaciona com o que iremos estudar? Nesta seção
vamos avançar nas discussões sobre a Produção Mais Limpa, especialmente
sobre os projetos de sucesso no Brasil e as temáticas relativas à produção e
consumo sustentável.
Com o intuito de fomentar a Produção Mais Limpa, o Diretor de
Responsabilidade Socioambiental da empresa solicitou da equipe de gestão
ambiental da qual você, enquanto gestor ambiental, faz parte para iniciarem
a concepção do projeto de implantação de P+L.
Você e sua equipe cumpriram as primeiras tarefas para implantar o
modelo de Produção Mais Limpa na indústria de laticínios. Apresentaram as
projeções e previsões do processo realizado à alta diretoria que se mostrou
muito satisfeita, especialmente com os ganhos econômicos e ambientais que
a empresa conseguiria após a implantação da P+L. Deste modo, autorizaram
que o projeto fosse encaminhado aos demais procedimentos.
Portanto, você e a equipe de gestão ambiental devem realizar os seguintes
procedimentos: estabelecimento de um Plano de Monitoramento para a fase
de implantação; implantação das oportunidades de P+L e Elaboração de
Planos de Continuidade.
Baseado nas experiências vivenciadas em projetos anteriores (porém, em
escopos e metodologias diferentes), a equipe realizou um brainstorm para
alinhamento dos processos, no qual foram elencados, em forma de questio-
namentos, pontos para auxiliar na execução desses procedimentos, sendo:
como preparar o plano de implementação da Produção Mais Limpa? De que

110
maneira será o monitoramento e controle desta implantação? Quais ações
serão necessárias para sustentar as atividades de P+L?
Lembre-se que esses procedimentos comporão o relatório final que
deverá ser entregue ao Diretor da indústria e apresentado aos futuros inves-
tidores com a finalidade de conseguir empréstimos para implementação de
outros projetos ambientais na organização.
Para realizar mais esse desafio, você utilizará os conhecimentos relativos às
etapas de implementação dos projetos P+L, a lógica da produção e consumo susten-
táveis e da relação entre o Sistema de Gestão Ambiental e a Produção Mais Limpa.
Preparado para mais esse desafio?
Bons estudos!

Não pode faltar

Olá, aluno! Você sabe qual a diferença entre Produção Mais Limpa (P+L),
ecoeficiência, ecodesign e ecoinovação?
A P+L é uma abordagem de gestão ambiental que visa melhorar o desem-
penho ambiental de produtos, processos e serviços, concentrando-se nas
causas dos problemas ambientais em vez dos sintomas (UNEP, 2002).
Desta forma, este tipo de produção é um caminho diferenciado ao tradi-
cional controle da poluição (que se dá ao final do processo produtivo), que é
controlada ou os resíduos são tratados após a geração, configurando-se como
uma abordagem reativa. Já a P+L é uma abordagem proativa ou preventiva,
uma vez que promove a minimização de resíduos e matérias-primas, incentiva
a reciclagem, o uso de materiais menos tóxicos, a eficiência energética e hídrica.
A ecoeficiência seria uma forma de produzir e fornecer bens e serviços
que sejam competitivos, utilizando menor quantidade de recursos naturais e
que gerem menos resíduos e poluentes. Este termo foi definido em 1992 pelo
Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, inspi-
rado pela ideia de sustentabilidade do Relatório de Brundtland.

Assimile
O Relatório de Brundtland ou Nosso Futuro Comum, publicado em 1987
é fruto da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento, presidida por Gro Harlem Brundtland, mestra em saúde pública,
ex-primeira Ministra da Noruega. Este relatório traz as bases concei-
tuais do Desenvolvimento Sustentável, colocando o assunto direta-
mente na agenda pública.

111
O paradigma da ecoeficiência pressupõe diversas estratégias (Figura 3.3)
aliando corte de custos, redução do uso de recursos e aumento dos lucros.
Figura 3.3 | Estratégias que compõem o paradigma da ecoeficiência

Aproveitar as fontes Diminuir o


de energia limpa consumo de
disponíveis. energia.

Reduzir o número Gestão Reciclar


de acidentes. ambiental materiais.

Reduzir a Racionar o uso de


matéria-prima e
quantidade de lixo
aumentar a sua
tóxico.
eficiência.

Fonte: Curi (2011, p. 67).

Ainda que a ecoeficiência seja formada por diferentes estratégias, não é


simples para uma empresa fazer parte dessa nova era de gestão, pois é neces-
sário entender o ecossistema em que atua, evitando a extração predatória dos
recursos biológicos, e compreender que a busca por lucros imediatos pode
denotar danos irreversíveis ao meio ambiente.
Mas, o que seriam empresas ecoeficientes? São aquelas que têm práticas
voltadas à minimização da intensidade de materiais e energia nos produtos
e serviços; diminuição da dispersão de qualquer tipo de material tóxico;
maximização da reciclagem e do uso sustentável de recursos renováveis e
aumento da durabilidade dos produtos (BARBIERI, 2007).
Diferente da P+L, na qual a reciclagem é uma opção de segundo e terceiro
nível, na ecoeficiência a reutilização é muito valorizada. Outra diferença
entre esses dois modelos é que, no primeiro, a preocupação com o produto
relaciona-se com a prevenção da poluição durante o processo produtivo. Já
no modelo ecoeficiente, o enfoque é no produto em si e seus impactos, por
isso as recomendações a respeito da sua durabilidade.
Portanto, essas duas abordagens são bastante similares, sendo a ecoefi-
ciência uma opção preferível pela Declaração Internacional sobre Produção
Mais Limpa do Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente
(PNUMA, 2015).
O ecodesign tem como objetivo o desenvolvimento de produtos, sistemas
e serviços que reduzam a utilização de recursos não renováveis ou ainda

112
minimizar o impacto ambiental durante seu ciclo de vida, isto é, reduzir a
geração de resíduos e de custos com a disposição final.
Os resíduos podem sem minimizados por meio da lógica da qualidade
e durabilidade, investindo em produtos com maior durabilidade, eficiência,
resistência e funcionalidade. Preza-se também a modularidade, priorizando
a criação de objetos que apresentem peças intercambiáveis, ou seja, que
possam ser trocadas caso apresentem defeitos, evitando a troca do objeto
todo e, ainda, perfazendo o princípio da reutilização e reaproveitamento,
sendo projetados para sobreviver ao seu ciclo de vida, possibilitando serem
reutilizados ou reaproveitados para outras funções após seu uso.
A ecoinovação está relacionada à modificação tecnológica nos processos
produtivos e nos produtos, mas também pode ser considerada a mudança
de hábito e comportamento individuais ou de organizações. De acordo com
Pnuma (2015, p.46) ecoinovação é:

[...] o desenvolvimento e a aplicação de uma nova estra-


tégia de negócios que pressupõe uma análise integrada do
produto (bem ou serviço), novo ou melhorado, do processo
de produção, da organização e do modelo de negócio, de
forma a incorporar a sustentabilidade não apenas como
uma mudança processual, mas sim cultural.

Os benefícios da ecoinovação (Quadro 3.5) são inúmeros, tanto para a


empresa, melhorando seu desempenho ambiental, aumentando seus lucros,
destacando-a das correntes, bem como ao meio ambiente e sociedade.
Quadro 3.5 | Benefícios da ecoinovação ao longo da cadeia de valor (não exaustiva)
Fabricação
Fim de vida/
Matérias-primas de produto/ Varejo
reutilização
componente
Fontes alternativas de Processos Modelos Soluções
energia; otimizados; alternativos de inovadoras de
soluções alternativas componentes distribuição; consumo.
para extração de alternativos otimização de Por exemplo:
recursos; com maior valor espaço e tempo de sistemas de
design para resíduos agregado; colocação; serviços
zero em aterros; produtos e preço atraente para com foco na
utilização de embalagens mais o consumidor; utilidade e
subprodutos como leves. produtos e funcionalidade do
insumos de matérias- embalagens produto.
primas. menores e mais
leves.
Fonte: adaptado de Sebrae (2017, p. 19).

113
O Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) propõe cinco passos para que
uma empresa introduza a ecoinovação, conforme a Figura 3.4:
Figura 3.4 | Cinco passos para ecoinovação
1- Compreender o ciclo de
vida, principais atividades, 2- Revisar a estratégia 3- Repensar o modelo
seus impactos, ameaças empresarial e propor de negócios e a forma
e oportunidades, mudanças que estejam de atuação da empresa
identificando pontos alinhadas com os pontos para alcançar os
críticos para a inserção identificados. objetivos esperados.
da sustentabilidade.

4- Estabelecer um 5- Avaliar os
plano de ação para resultados para
colocar em prática os tomar novas decisões
projetos de mudanças. a respeito da
empresa.

Fonte: https://www.ecoinovacao.com.br/. Acesso em: 10 out. 2019.

Exemplificando
Pensando na implantação de um Sistema de Gestão de Indicadores de
Sustentabilidade em um hotel, com base nos princípios da ecoeficiência
e da ecoinovação, são exemplos de ações:
• Realizar um monitoramento do consumo mensal de água e
energia, permitindo ações assertivas que podem ser implan-
tadas, como: uso de equipamentos com baixo consumo elétrico,
sistemas de desligamento automático e iluminação natural
nas áreas comuns; práticas para captação e reutilização da
água; adoção de torneiras com temporizadores, chuveiros com
redutores de vazão.
• Utilização de iluminação natural e placas solares para o aqueci-
mento da água.
• Uso de pallets e caixotes na decoração e, ainda, treinamento
da equipe e estímulo ao engajamento dos hóspedes para evitar
desperdícios e disseminar regras de boa convivência.
• Adoção de separação seletiva, destinando materiais como vidros,
plásticos e papéis a cooperativas de catadores.
• Realização de compostagem com os resíduos orgânicos prove-
nientes da alimentação, dentre outras.

É importante frisar que, juntamente com o plano de implementação,


deve ser elaborado o plano de monitoramento, o qual é dividido em quatro

114
estágios: planejamento, preparação, implementação, análise e relatório de
dados, considerando os seguintes itens (SENAI, 2003, p. 34):
• Quando devem acontecer as atividades determinadas.
• Quem é o responsável por estas atividades.
• Esperados os resultados e sua temporalidade.
• Quando e por quanto tempo monitorar as mudanças.
• Quando avaliar o progresso.
• Quando devem ser assegurados os recursos financeiros.
• Quando a gerência deve tomar uma decisão.
• Quando a opção deve ser implantada.
• Quanto tempo deve durar o período de testes.
• Qual é a data de conclusão da implementação.
Retomando os conceitos relacionados à P+L, é importante compreen-
dermos o conceito de Produção Sustentável e Consumido sustentável. De
acordo com Ministério do Meio Ambiente (2011, p. 4):

Produção sustentável é a incorporação, ao longo de todo o


ciclo de vida de bens e serviços, das melhores alternativas
possíveis para minimizar custos ambientais e sociais. Acredi-
ta-se que esta abordagem preventiva melhore a competiti-
vidade das empresas e reduza o risco para saúde humana
e ambiental. [...] Consumo sustentável é o uso de bens e
serviços que atendam às necessidades básicas, proporcio-
nando uma melhor qualidade de vida, enquanto minimizam
o uso dos recursos naturais e materiais tóxicos, a geração
de resíduos e a emissão de poluentes durante todo o ciclo
de vida do produto ou serviço, de modo que não se coloque
em risco as necessidades das futuras gerações.

Temos atualmente um cenário em que existe grande preocupação nos


processos produtivos dentro do escopo de sustentabilidade. Mas, o que
realmente motiva a produção e o consumo sustentável? Quais as vantagens
mercadológicas e ambientais?

115
Os consumidores exigem produtos e serviços que possuem apelo susten-
tável. A minimização de impactos ambientais advinda da exigência regulatória
e os fatores de risco à natureza são pontos cruciais para orientar novas formas
de produzir, consumir e de fazer negócios. Ainda que seja um nicho pequeno
de consumidores, geralmente, de média e alta renda, é um processo cultural
que está em evolução e tende a aumentar nos próximos anos ao passo que os
produtos sustentáveis fiquem mais acessíveis do ponto de vista monetário.
Nesse quesito, cabe às empresas buscarem em seus processos produtos
e/ou serviços, ações que promovam a sustentabilidade, bem como a preser-
vação do meio ambiente. No Quadro 3.6 podemos observar exemplos de
ações sustentáveis que podem ser introduzidas nas empresas.
Quadro 3.6 | Ações sustentáveis em empresas

Dimensão Ações

• Gestão de crise e risco


• Qualidade e custo do produto
Econômica • Mercado
• Estratégias de negócio
• Receita e investimentos

• Prevenção da poluição e melhoria da eficiência de processos


• Mitigação e adaptação às mudanças climáticas
• Utilização eficiente dos recursos naturais, melhoria da eficiência
Ambiental
energética
• Tratamento de efluentes e resíduos
• Produtos com diferenciais nos atributos ambientais

• Atendimento aos Direitos Humanos


• Práticas trabalhistas (saúde e segurança no trabalho, não utilização de
trabalho forçado ou infantil)
Sociais • Boa conduta corporativa (práticas anticorrupção, concorrência leal,
transparência)
• Promoção da responsabilidade social na cadeia de valor
• Envolvimento e desenvolvimento da comunidade

Fonte: FIESP (2015, p. 21).

Para alcançar a produção sustentável, uma das opções é a P+L, gerando


para a indústria ou empresa benefícios ambientais e econômicos, a lógica
de produção mais limpa pode ser implantada em diferentes ramos desde o
processo produtivo até o setor de serviços.
Vejamos agora alguns casos de sucesso no Brasil, publicados pela
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) (Quadro 3.7).

116
Quadro 3.7 | Exemplos de ações de empresas brasileiras na utilização da P+L.

Empresa Ação

Redução do descarte de areia de fundição e do consumo


Indústrias Romi S.A.
de areia nova na indústria de fundição.

Reutilização dos efluentes líquidos tratados na


indústria química;
reciclagem de retalhos de PVC na indústria química;
3M do Brasil Ltda.
eliminação do descarte de embalagens siliconizadas;
recuperação de compostos orgânicos voláteis na
indústria química.

Erimpress Etiquetas Ltda. Substituição de matéria-prima em indústria gráfica.

Implantação de tecnologias limpas na indústria de papel


e celulose;
Votorantim Celulose e Papel
substituição de óleo combustível por gás natural na
indústria de papel e celulose.

Redução do consumo de água na indústria metalúrgica;


BSH Continental Eletrod. Ltda. redução no volume e toxicidade de resíduos sólidos
gerados na indústria metalúrgica.

Redução das emissões gasosas e otimização da produção


Rohm and Haas Química Ltda.
de polímeros acrílicos.

Redução de compostos tóxicos e otimização do uso de


DOW Química S/A.
insumos na indústria química.

Fonte: https://cetesb.sp.gov.br/consumosustentavel/casos-de-sucesso/listagem-geral/setor-produtivo-industria/.
Acesso em: 14 out. 2019.

Reflita
Analisando os conceitos e ações discutidas nessa seção reflita sobre
qual seria o papel do gestor ambiental na promoção da produção
e consumo sustentáveis em uma organização. Quais ações você,
enquanto futuro tecnólogo em gestão ambiental, poderia desenvolver
em uma empresa de consultoria?

Você pode estar se perguntando: após a implementação e com o plano


de monitoramento sendo realizado, o projeto está finalizado? Sim, porém,
após implementação do Programa de P+L, é essencial avaliar os resultados
obtidos, e ainda criar condições para que o Programa tenha sua conti-
nuidade assegurada por meio da utilização da metodologia de trabalho e
da elaboração de ferramentas que possibilitem a manutenção da cultura
implantada, bem como sua evolução em conjunto com as atividades futuras
da empresa (SENAI, 2003).

117
Nesta seção você teve a oportunidade de aprender mais sobre as distintas
ações que podem ser realizadas para alcançar a produção e consumo susten-
táveis, também foi possível compreender as diferenças entre Produção Mais
Limpa, ecoeficiência e ecoinovação. Com esses conceitos em mente, você será
capaz de desenvolver projetos ambientais alinhados à lógica da sustentabilidade.

Sem medo de errar

Você e sua equipe cumpriram as primeiras tarefas para a implantação do


modelo de Produção Mais Limpa na indústria de laticínios. Após apresentarem
as previsões e projeções dos resultados do processo realizado à alta diretoria,
que se demostrou muito satisfeita, especialmente com os ganhos econômicos
e ambientais que a empresa irá conquistar após a implantação da P+L, autori-
zaram que o projeto fosse encaminhado aos demais procedimentos.
Agora, você e a equipe de gestão ambiental devem realizar os seguintes
procedimentos: Estabelecimento de um Plano de Monitoramento para a fase
de implantação; implantação das oportunidades de P+L e Elaboração de
Planos de Continuidade.
Para a realização do plano de implementação é necessário detalhar as
especificações técnicas, ou seja, estabelecer as tecnologias utilizadas pela
indústria em seu processo produtivo. A partir disso, criar um plano para
reduzir tempo de instalação de tecnologia limpa, contendo os seguintes itens
de despesas, para evitar ultrapassar o orçamento previsto:
• Instalação cuidadosa de equipamentos.
• Realização do controle adequado sobre a instalação.
• Preparação da equipe e instalação para o início de operação.
No plano de monitoramento pode ser dividido em quatro estágios: plane-
jamento, preparação, implementação, análise e relatório de dados. Ele deve
ser elaborado em conjunto com o plano de implementação, é preciso consi-
derar como: quando devem acontecer as atividades determinadas; quem é
o responsável por estas atividades; esperados os resultados e sua temporali-
dade; quando e por quanto tempo monitorar as mudanças; quando avaliar o
progresso; quando devem ser assegurados os recursos financeiros; quando
a gerência deve tomar uma decisão; quando a opção deve ser implantada;
quanto tempo deve durar o período de testes; qual é a data de conclusão
da implementação.
No que tange as oportunidades de implantação da P+L na indústria de
laticínios, poderíamos propor como exemplos genéricos a utilização cuidadosa

118
de matérias-primas e materiais auxiliares, operação adequada de equipamentos
e melhor organização interna; substituição de matérias-primas e materiais
auxiliares e modificações tecnológicas. Elaboração de manuais de boas práticas
operacionais; substituição de fornecedores; uso de resíduos como matérias-
-primas de outros processos (reciclagem interna); modificação de embalagens
de matérias-primas; uso de matérias-primas biodegradáveis.
É fundamental que os envolvidos compreendam que, após a implementação
do Programa de P+L, é fundamental avaliar os resultados obtidos. Além disso,
torna-se necessário criar condições para que o Programa tenha sua continui-
dade assegurada por meio da utilização da metodologia de trabalho e elabo-
ração de ferramentas que possibilitem a manutenção da cultura implantada,
bem como sua evolução em conjunto com as atividades futuras da empresa.
Lembre-se que todas essas informações devem constar no relatório
final que você e sua equipe entregará e apresentará à alta diretoria e aos
futuros investidores.

Faça valer a pena

1. Analise as vantagens a seguir:


Potencial para soluções econômicas: reduzir a quantidade de materiais e
energia utilizados; Inovação: com a intensa exploração no processo produ-
tivo, a minimização de resíduos influencia técnicas de inovação na empresa;
Riscos minimizados no campo das obrigações ambientais e da disposição
de resíduos;
Desenvolvimento sustentável: diminuição de resíduos é um passo em direção
do desenvolvimento sustentável.
Estas vantagens estão relacionadas a qual tipo de produção industrial?
Assinale a alternativa correta.
a. Produção alto custo.
b. Produção autossustentável.
c. Produção de baixo custo.
d. Produção tradicional.
e. Produção Mais Limpa.

119
2. Leia e analise o trecho a seguir, sobre a Produção Mais Limpa:
A adoção de processos de Produção mais Limpa e de Tecnologias Limpas é
um instrumento eficiente e eficaz para cumprir as necessidades ambientais
do desenvolvimento sustentado. É a metodologia oferecida pelo Conselho
Nacional de Tecnologia Limpa para que os setores produtivos possam reduzir
o uso de ____________, energia e ____________, otimizar seus processos
para evitar desperdícios, e reduzir a poluição através da minimização de seus
____________. Este processo de racionalização leva a uma economia signi-
ficativa (SENAI, 2003).
Assinale a alternativa que apresenta os termos que completam, correta e
respectivamente, as lacunas apresentadas no trecho.
a. recursos / custos / combustível.
b. resíduos / recursos / matérias-primas.
c. minérios / custos / recursos.
d. produção / produtos / bens.
e. água / resíduos / matérias-primas

3. O aspecto mais importante da Produção Mais Limpa é que a mesma requer


não somente a melhoria tecnológica, mas a aplicação de know-how e a mudança
de atitudes. Esses três fatores reunidos é que fazem o diferencial em relação
às outras técnicas ligadas a processos de produção. A aplicação de know-how
significa melhorar a eficiência, adotando melhores técnicas de gestão, fazendo
alterações por meio de práticas de housekeeping ou soluções caseiras e revisando
políticas e procedimentos quando necessário (VANNI, 2012, p. 3).
Sobre a temática, analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.
I. I. Produção Mais Limpa (PmaisL) significa encontrar uma nova
abordagem para o relacionamento entre a indústria e o ambiente.
PORQUE
II. II. Repensar um processo industrial ou um produto, em termos de
Produção Mais Limpa, pode proporcionar a geração de melhores
resultados, sem requerer novas tecnologias.
Assinale a alternativa que apresenta a relação correta entre as proposições
apresentadas:

120
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi-
ficativa da I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma
justificativa da I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.

121
Seção 3

Produção mais limpa e o desenvolvimento


sustentável

Diálogo aberto
Olá, aluno! Você sabe o que são títulos verdes? Como eles podem contri-
buir para o desenvolvimento sustentável e para os projetos de Produção mais
Limpa (P+L)? Quantos planetas Terra seriam necessários para manter o nível
de produção e consumo de bens que se apresenta atualmente? Esses serão
alguns dos questionamentos que iremos desvendar nessa última seção da
unidade Produção Mais Limpa.
Nesta seção aprofundaremos as discussões sobre a Produção Mais Limpa
(P+L), em especial a sua relação com o desenvolvimento sustentável, o
mercado de títulos verdes, pegada ecológica e capacidade suporte do meio
ambiente. Para nortear nossas reflexões, lembre-se que você faz parte da
equipe de gestão ambiental da indústria de laticínios e participou da implan-
tação do projeto de P+L nessa indústria.
Um ano se passou desde a implantação do modelo de Produção Mais
Limpa na indústria e, durante este período, você e sua equipe coletaram
dados diários para comprovar a eficácia da P+L tanto nas estratégias relativas
à redução de utilização de recursos naturais quanto aos produtos comercia-
lizados pela empresa. Em posse destes dados, a equipe deve apresentar aos
Diretores os benefícios econômicos e ambientais adquiridos neste período, a
fim de tornar a indústria uma empresa emissora de Títulos Verdes.
O fato de alguns investidores estarem relutantes e questionarem as vanta-
gens de investir nesse novo modelo, alguns membros da alta diretoria estavam
inclinados a não dar seguimento, mesmo após o projeto piloto ter sido reali-
zado por determinado período. No entanto, um dos diretores acredita que
este modelo trará muito benefícios à indústria e designa você para defender
a continuidade do projeto de P+L.
Nesse contexto você foi nomeado para ser porta voz da equipe de gestão
ambiental na reunião com a alta diretoria e os investidores, com o intuito de
realizar uma apresentação capaz de conquistar maiores investimentos para
a continuidade do projeto implementado e para projetos futuros, a equipe
realizou alguns questionamentos que norteariam a preparação da demons-
tração dos dados:

122
Como se dá o funcionamento do Mercado de Títulos Verdes? É possível
reduzir a Pegada ecológica da indústria por meio do projeto implan-
tado? Existe alguma contribuição deste projeto para o Desenvolvimento
Sustentável? Como demonstrar que as ações para mitigação dos impactos
ambientais são efetivadas pela indústria?
A partir desses questionamentos, você, juntamente com sua equipe,
deve realizar uma apresentação demonstrando as vantagens alcançadas com
a implantação da P+L e argumentando quais benefícios os futuros investi-
dores poderiam ter ao participar do Mercado de Títulos Verdes emitidos pela
indústria de laticínios.

Não pode faltar

Como viemos discutindo ao longo dessa unidade, a P+L é uma estra-


tégia que visa auxiliar na diminuição dos impactos ambientais negativos
no processo produtivo, contribuindo para o desenvolvimento de modelos
de produção e consumo mais sustentáveis. Isto ocorre devido ao fato de as
organizações perceberem, ao longo dos anos, que ao incorporarem estraté-
gias que equilibram aspectos ambientais, sociais e econômicos (triple botton
line ou tripé da sustentabilidade – Figura 3.5) melhoram sua reputação e
imagem diante dos stakeholders e do consumidor final do produto.
Atualmente, é crescente o número de consumidores que se preocupam
com a origem do produto, bem como do processo produtivo, reuso, descarte
e demais fatores que podem ocasionar algum tipo de degradação ou que
não sejam sustentáveis (no âmbito do consumo de recursos não renováveis).
Ademais, as organizações podem conseguir maiores investimentos e/ou
financiamentos para a introdução de projetos que viabilizem esses aspectos.
Figura 3.5 | Esquema Ilustrativo dos aspectos do Desenvolvimento Sustentável

Ecológico Ecológico

Supor- Supor-
Viável Viável
tável tável
Susten-
Susten-
tável tável

Social Econômico Social Eco


Equita- Equita-
tivo tivo

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7652574. Acesso em: 22 out. 2019.

123
Assimile
O Triple Botton Line é um conceito que surgiu no ano de 1999, em Chapel
Hill, nos Estados Unidos, uma conferência que ampliou o conceito de
desenvolvimento sustentável. A partir dela, esse termo se consolidou
como sendo mais que a racionalização da extração e utilização dos
recursos naturais e passou a envolver, também, as questões sociais e
econômicas. Deste modo, as organizações passam a considerar, além
das atividades produtivas e o uso racional dos recursos naturais, sua
atuação junto à sociedade e o retorno econômico de suas ações.

A América Latina teve uma iniciativa pioneira, em 2005, por meio da


criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), uma ferramenta
comparativa para análise das empresas sob o aspecto da sustentabilidade
corporativa. Segundo B3 (2019), esse índice foi inicialmente financiado
pela International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco
Mundial, sendo sua metodologia desenvolvida pelo Centro de Estudos
em Sustentabilidade (FGVces) da Escola de Administração de Empresas
de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP) e B3 (empresa
de infraestrutura de mercado financeiro, com atuação em ambiente de
bolsa e de balcão).
O ISE tem como objetivo estimular a responsabilidade ética das corpo-
rações, baseando-se na eficiência econômica juntamente com o equilíbrio
ambiental, justiça social e governança corporativa.
De acordo com B3 (2019, n.p.), o índice:

[...] amplia o entendimento sobre empresas e grupos


comprometidos com a sustentabilidade, diferenciando-os
em termos de qualidade, nível de compromisso com o
desenvolvimento sustentável, equidade, transparência e
prestação de contas, natureza do produto, além do desem-
penho empresarial nas dimensões econômico-financeira,
social, ambiental e de mudanças climáticas.

Algumas empresas que participam do ISE, no ano de 2019, são: Tim, Lojas
Americanas, Natura, Santander, Banco do Brasil, Klabin, Cielo, dentre outras.
Essas empresas inscrevem-se voluntariamente para compor a carteira do
índice, e são submetidas a um questionário, construído coletivamente pelo
Conselho Deliberativo do ISE, composto por sete dimensões:

124
• Geral: que considera os critérios de transparência, compromissos,
alinhamento, corrupção.
• Natureza do produto: impactos pessoais, impactos difusos, princípio
da precaução, informação ao consumidor.
• Governança corporativa: prioridade; conselho de administração,
auditoria e fiscalização, conduta e conflito de interesses.
• Social: política, gestão, desempenho, cumprimento legal.
• Mudanças climáticas: política, gestão, desempenho, reporte.
• Ambiental: política, gestão, desempenho, cumprimento legal.
• Econômico-financeira: política, gestão, desempenho, cumpri-
mento legal.
Esse índice, como mencionado, é um modo de demonstrar que uma
organização preocupa-se com o desenvolvimento sustentável. Mas haveria
um modo de uma empresa receber investimentos para que realize projetos
visando alcançar a sustentabilidade? Sim! É o chamado mercado de títulos
verdes. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos - FEBRABAN e
o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável -
CEBDS (2016, p. 7),

Títulos Verdes (Green Bonds para o mercado internacional)


são Títulos de Renda Fixa utilizados para captar recursos
com o objetivo de implantar ou refinanciar projetos ou
ativos que tenham atributos positivos do ponto de vista
ambiental ou climático. Os projetos ou ativos enquadráveis
para emissão destes títulos podem ser novos ou existentes
e são denominados Projetos Verdes. [...]. Esses títulos
representam instrumento importante para estimular o
desenvolvimento sustentável e a destinação de recursos
para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Estes títulos podem, ainda, ser utilizados para o financiamento de projetos


de longo prazo, sendo uma alternativa para viabilizar e estimular inciativas
e tecnologias verdes em diferentes tipos de organizações, bem como atrair
investidores institucionais.
Perceba que uma organização pode participar desse mercado de títulos
verdes para implantar um projeto de P+L, por exemplo, sendo que os benefí-
cios são mútuos (tanto para os emissores quanto para os investidores.)

125
São exemplos de vantagens para os emissores: a diversificação e/ou
ampliação da base de investidores, marketing positivo, maior visibilidade
para os Projetos Verdes, reconhecimento do comprometimento com a
conservação do meio ambiente e com a mitigação e prevenção dos riscos
originados pelas mudanças climáticas. Já os investidores contam com maior
transparência na utilização dos recursos; convergência com compromissos
voluntários e retorno financeiro. (FEBRABAN/CEBDS, 2016).
Mas, quais seriam os tipos de projetos passíveis de serem financiados por
meio de Títulos Verdes? No Quadro 3.8. podemos observar alguns exemplos
de atividades elegíveis.
Quadro 3.8 | Exemplos de atividades elegíveis para projetos de financiamento com Títulos Verdes
Categorias Exemplos
Geração, transmissão; armazenamento ou uso de energia
Energia Renovável solar; eólica, bioenergia, hidráulica; maremotriz (energia
das marés); geotérmica.
Edificações sustentáveis (retrofit e novas construções);
Eficiência Energética
sistemas eficientes de armazenamento; sistemas eficientes
(equipamentos e produtos)
de aquecimento; redes inteligentes (smart grids)
Tratamento de efluentes, controle de emissões (GEE e outros
Prevenção e controle da poluentes); descontaminação de solos; reciclagem e geração
poluição de produtos de alto valor agregado; geração de energia a
partir de resíduos; análises e monitoramentos ambientais.
Agropecuária de baixo carbono; silvicultura e manejo flo-
Gestão sustentável dos restal sustentável; conservação, restauração e recomposi-
recursos naturais ção de vegetação nativa; recuperação de áreas degradadas,
pesca e aquicultura sustentável.
Proteção de habitats terrestres, costeiros, marinhos,
Conservação da
fluviais e lacustres; uso sustentável da biodiversidade;
biodiversidade
implementação de corredores ecológicos.
Produção e uso de veículos elétricos e híbridos; veículos
Transporte limpo não motorizados; ferroviário e metroviário; multimodal;
infraestrutura para veículos limpos.
Tratamento e despoluição da água; infraestrutura para cap-
Gestão sustentável dos tação e armazenamento; infraestrutura para distribuição;
recursos hídricos proteção de bacias hidrográficas; sistemas sustentáveis de
drenagem urbana; sistemas para controle de enchentes.
Monitoramento climático ou de alerta rápido; infraestru-
Adaptação às mudanças tura de resiliência (barragens e/ou outras estruturas); de-
climáticas senvolvimento/uso de variedades resistentes a condições
climáticas extremas.
Produtos, tecnologias Selos ecológicos/certificados de sustentabilidade; desen-
de produção e processos volvimento de tecnologia/produtos biodegradáveis ou de
ecoeficientes origem renovável; produtos/processos ecoeficientes.

Fonte: FEBRABAN/CEBDS (2016, p. 15).

126
Lembre-se que a elaboração de projetos dentro do escopo elencado no
Quadro 3.8 é um nicho de mercado a ser explorado por você, aluno, em sua
futura profissão, já que a metodologia P+L está cada dia mais sendo aplicada
por empresas de diferentes setores da economia.
O mercado de Títulos Verdes tem se demonstrado bastante promissor no
Brasil. Em 2019, havia 19 títulos emitidos e 13 emissores, perfazendo 5,13
bilhões de dólares, sendo o país o maior mercado de títulos da região da
América Latina e Caribe, responsável por 69% dos emissores (CLIMATE
BONDS INITIATIVE, 2019).

Exemplificando
A Klabin, uma das maiores produtoras de papel e celulose do Brasil,
emitiu dois títulos verdes de US$ 500 milhões (em 2017 e 2019). Eles
receberam um SPO da Sustainalytics, confirmando a conformidade com
os Princípios do Green Bond que promovem as melhores práticas em
transparência e divulgação.
A Klabin divulgou o uso de recursos de seu primeiro título verde, sendo
realizados investimentos em vários projetos. O portifólio de projetos
florestais sustentáveis incluem:
• Uma filial de 21 km e aquisição de 306 vagões e sete locomotivas,
evitando emissões de CO2 na escala de 50 tCO2eq (toneladas de
dióxido de carbono equivalente) por tonelada transportada.
• Ampliação e aprimoramento de um parque ecológico.
• Instalação de um novo Centro Tecnológico e investimentos em
pesquisa e inovação, com uma média estimada de incremento
de produtividade de 40-60 m3/ha/ano (CLIMATE BONDS
INITIATIVE, 2019).

Outra ferramenta utilizada para avaliar o desempenho ambiental,


especialmente no que tange à pressão do consumo sobre os recursos naturais,
é a Pegada Ecológica, que se caracteriza por ser um instrumento que afere
os fluxos de matéria e energia que entram e saem de um sistema econô-
mico, convertendo-os em área correspondente de terra ou água existentes na
natureza para sustentar esse sistema (VAN BELLEN, 2006). A esta área dá-se
o nome de biocapacidade.
De acordo com WWF (2016, p. 77), a biocapacidde

[...] é uma medida da área biologicamente produtiva


existente que é capaz de regenerar os recursos naturais

127
na forma de alimentos, fibras e madeira, e de suprir o
sequestro de dióxido de carbono. [...]. é medida em relação
a cinco categorias de uso: terras cultivadas, terras de
pastoreio, áreas de pesca, terras florestadas, e terras com
área construída. Juntas, essas cinco categorias satisfazem
as duas categorias de demanda: produtos florestais e
sequestro de carbono.

Desde a década de 1970, há um excedente da biocapacidade da terra


(Figura 3.6), sendo que seriam necessários 1,6 planetas para suprir os
recursos e serviços que a humanidade consumiu naquele ano.
Estudos da Pegada Ecológica das últimas quatro décadas comprovam
as poucas reduções marcantes na Pegada Ecológica global total e apontam
que tais reduções não correspondem às políticas pretendidas para limitar o
impacto humano sobre a natureza, mas sim a momentos de crises econô-
micas temporárias (WWF, 2016).
Figura 3.6 | Biocapacidade Mundial 1961-2012

20
Bilhões de hectares globais (hag)

Legenda
10
Biocapacidade Mundial
Carbono
Fundos pesqueiros
Terras agrícolas
Áreas edificadas
Produtos florestais
0
1961 1970 1980 1990 2000 2012 Terra de pastagem

Fonte: WWF (2006, p. 75).

Reflita
Sabendo que a produção e o consumo de bens e serviços ultrapassam
a capacidade suporte do planeta em prover recursos ambientais, quais
ações você poderia tomar em sua vida pessoal e profissional para
contribuir com a diminuição da Pegada Ecológica do país?

As médias das Pegadas Ecológicas por habitantes variam entre os diferentes


países devido a níveis variáveis de consumo total e, também, pelas diferentes
demandas relativas para cada componente da Pegada. Considerando a

128
quantidade de bens e serviços consumidos pelos residentes, os recursos naturais
utilizados e o carbono gerado para prover tais bens e serviços (WWF, 2016).
Entre os países que apresentam maiores médias per capita estão Estados
Unidos, Canadá, Austrália, Luxemburgo, Suécia, Qatar, Omã e Barein,
apresentando mais de 7 hectares globais de biocapacidade. No entanto,
quando analisamos a Pegada Ecológica total, temos outro cenário, que
apresenta os três países mais populosos, China, Índia e Estados Unidos
(EUA), possuindo as mais elevadas pegadas ecológicas totais. Destacando
que Brasil, China, Estados Unidos, Rússia e Índia respondem por quase
metade da biocapacidade total do planeta.
O que esses países têm em comum, além da grande quantidade de
habitantes? São países que apresentam elevado número de indústrias de
diferentes setores e, ainda, destacam-se na produção agropecuária intensiva
e na exportação de produtos primários, o que contribui sobremaneira na
pressão dos recursos ambientais, promovendo, desta maneira, intenso déficit
ambiental e a perda de habitats.
O Brasil, devido ao seu pujante desenvolvimento industrial e agrope-
cuário apresentava, em 2012, uma biocapacidade total de 500 milhões de
hectares globais, sendo o país da região da América Latina e Caribe com
maior Pegada Ecológica total (WWF, 2016).
Com o intuito de promover a sensibilização do setor industrial e empre-
sarial brasileiro a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) desen-
volveu, no ano de 2016, o Programa de Rotulagem Ambiental (Rótulo
Ecológico), uma certificação voluntária de produtos e serviços, desenvolvido
de acordo com as normas ABNT NBR ISO 14020 e ABNT NBR ISO 14024.
Este rótulo leva em consideração todo o ciclo de vida dos produtos deste a
extração de recursos, fabricação, distribuição e utilização ao descarte, com
objetivo de minimizar nos impactos negativos causados ao meio ambiente.
Segundo a ABNT (2019, n.p.), o Rótulo Ecológico:

Promove a redução de desperdícios e otimização dos


processos; Demonstra ao mercado que sua empresa
está preocupada com as próximas gerações; Promove a
preservação do meio ambiente, através da diminuição dos
impactos negativos; Permite o enquadramento nas exigên-
cias de Licitações Sustentáveis.

Além de ações voluntárias por parte de diferentes setores da economia


brasileira, existem ações regulamentadas pelo Ministério do Meio Ambiente

129
(MMA) que promovem ações no âmbito da avaliação de impacto ambiental
e salvaguarda dos recursos naturais, por meio do planejamento racional e a
construção de uma política de integração entre o setor produtivo e o meio
ambiente. O MMA promove mecanismos de gestão para subsidiar políticas,
planos, programas e projetos de contabilidade e valoração econômica dos
recursos naturais, remuneração dos serviços ambientais, promoção da
inovação do setor produtivo e estímulo ao consumo sustentável (MMA, 2019).
Mas qual seria o papel do gestor ambiental e dos projetos ambientais na
contribuição da pegada ecológica? São fundamentais no auxílio às organiza-
ções que pretendem implantar ações com vistas à diminuição de sua pegada
ecológica. Ao prestar consultoria às empresas e/ou indústrias, principalmente
sobre implantação da P+L, realizando projetos de viabilidade ambiental
ou implementação de gestão e educação ambiental o tecnólogo em gestão
ambiental já estará trabalhando para reduzir a pegada ecológica da organi-
zação ou empreendimento.
Quais ações poderíamos apontar para que uma indústria possa conseguir
diminuir sua pegada ecológica por meio da implantação do modelo de P+L?
Podemos citar como exemplo:
• A ampliação da eficiência energética devido à troca de tecnologia de
alguns maquinários e instalação de “timers” para otimizar a economia
de energia.
• Promoção a reutilização de subprodutos do leite, como o soro, para a
produção de novos produtos, diversificando a produção
• Uso de embalagens retornáveis, possibilitando a diminuição da
extração de recursos para a produção de novas embalagens.
• Economia e água ao reutilizar a água da chuva em banheiros e
irrigação da área verde da indústria.
• Realização de compostagem com os resíduos orgânicos advindos da
produção e do refeitório. Utilização do adubo da compostagem na
horta que supre parte da alimentação dos funcionários.
Essas ações também podem auxiliar na candidatura da organização para
ser uma emissora de Títulos Verdes e, com relação a isso, o gestor ambiental
pode desenvolver projetos em organizações que visem emitir e negociar esses
papéis investindo em restauração florestal, gestão hídrica, energia renovável,
abastecimento inteligente de água, produtos sustentáveis, dentre outros.
Nessa seção você teve a oportunidade de compreender a relação entre
os projetos de Produção mais Limpa e a promoção do desenvolvimento

130
sustentável. As ações dos diferentes setores da economia buscam contri-
buir na busca da produção e consumo racional, visando a criação de uma
economia verde por meio do Mercado de Títulos Verdes, que tem apresen-
tado amplo crescimento no Brasil e no mercado mundial.
Os critérios para definição da Pegada Ecológica e da biocapacidade dos
diferentes países também foi uma temática discutida. Pudemos apreender
que a humanidade está consumindo mais recursos ambientais que o planeta
pode oferecer, causando, deste modo, elevado déficit ambiental, perda
de habitats e impactos ambientais negativos que, se não forem mitigados,
poderão se tornar irreversíveis.

Sem medo de errar

Após ter passado um ano da implantação da Produção Mais Limpa na


indústria de laticínios, alguns investidores e membros da alta diretoria estão
relutantes em dar continuidade ao modelo P+L, ainda que apresentem a
intenção de que e a empresa se torne emissora de títulos verdes para que
possa atrair mais investidores e aumentar a visibilidade da empresa no
mercado mundial e implementar o ecomarketing. O fato de um dos diretores
acreditar que este modelo trará muitos benefícios à indústria e designa você
para defender a continuidade do projeto.
Portanto, sua tarefa é realizar uma apresentação pontuando quais foram
as vantagens conseguidas por meio da implantação da P+L no processo
produtivo da indústria e argumentar com os investidores quais poderiam ser
alcançados com futuras aplicações nos títulos verdes emitidos pela indústria.
Em princípio, em sua apresentação, você realizou um levantamento sobre
as vantagens obtidas desde a implantação da P+L, listando como principais:
• Ampliação da eficiência energética devido à troca de tecnologia de alguns
maquinários e instalação de “timers” para otimizar a economia de energia.
• Promoção da reutilização de subprodutos do leite, como o soro, para
a produção de novos produtos, diversificando a produção.
• Uso de embalagens retornáveis, possibilitando a diminuição da
extração de recursos para a produção de novas embalagens
• Economia e água ao reutilizar a água da chuva em banheiros e
irrigação da área verde da indústria.
• Realização de compostagem com os resíduos orgânicos advindos da
produção e do refeitório. Utilização do adubo da compostagem na
horta que supre parte da alimentação dos funcionários.

131
Por meio dessas ações, a empresa conseguiu o Rótulo Ecológico da
ABNT e tornou-se emissora de títulos verdes, possibilitando o acesso a
novos investidores com fundos sustentáveis, como o Nikko Asset (fundo
de títulos verdes do Banco Mundial).
A indústria de laticínios conquistou o reconhecimento do comprometi-
mento com a conservação do meio ambiente e com a mitigação e prevenção
dos riscos originados pelas mudanças climáticas, sendo elegível para ingressar
no Índice de Sustentabilidade Empresarial.
Posteriormente à realização da apresentação dessas informações aos
futuros investidores, você argumentou que, ao aplicar seus capitais nos títulos
verdes da indústria, eles poderiam ter maior transparência na utilização de
seus recursos, já que os projetos concebidos com os recursos obtidos pela
emissão de Títulos Verdes, via de regra, são estruturados e enquadrados em
uma estratégia de longo prazo da empresa, devendo ser aderentes à política
de responsabilidade socioambiental e revelar a governança para a sustentabi-
lidade dos negócios. Isso faz com que os Projetos Verdes apresentem menores
riscos associados ao investimento.
A facilitação do cumprimento de compromissos voluntários assumidos
pelas organizações no mercado nacional e internacional que orientam
investimentos em projetos com objetivo de favorecer desenvolvimento
ambiental e social sustentável. Finalmente, o retorno financeiro com
valores definidos pelo mercado.
Por meio do relatório construído com base nas análises dos resultados de
implantação da metodologia P+L e sua apresentação dos resultados ambien-
tais e dos argumentos econômicos e financeiros realizados pela alta diretoria,
a indústria conseguiu aumentar sua base de investidores e pretende construir
uma unidade produtiva com práticas totalmente direcionadas à promoção
da sustentabilidade.
Os exemplos aqui citados são ilustrativos e relacionados ao desenvolvi-
mento do Projeto de Produção Mais Limpa que iniciamos nas discussões na
seção um, Projetos de Produção Mais Limpa, desta unidade de ensino. Portanto,
demonstra-se como um possível encaminhamento, enquanto gestor ambiental,
apresentar os benefícios alcançados por meio de um projeto ambiental.

Faça valer a pena

1. O exacerbado crescimento populacional, aliado à revolução industrial,


ocasionou diversos problemas no que tange aos recursos naturais, uma vez
que se tem a maior exploração dos recursos consorciadamente a elevação da

132
geração de resíduos e rejeitos. Dessa forma, entra em pauta recente preocu-
pação com a degradação do meio ambiente e a concepção do desenvolvimento
sustentável. Com relação ao conceito de desenvolvimento sustentável, conce-
bido no âmbito da Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, em 1987, e
publicado no documento Nosso Futuro Comum, analise o trecho a seguir:
“É um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção
dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança
institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de
atender às necessidades e aspirações futuras” (DIAS, 2006, p.31).
Fonte: DIAS, R.. Gestão Ambiental: responsabilidade social e sustentabili-
dade. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.
Sobre essa proposta de modelo de desenvolvimento, assinale a alternativa correta:
a. O conceito de desenvolvimento sustentável demonstra o privilégio do
desenvolvimento econômico em detrimento das relações ambientais.
b. O conceito de desenvolvimento sustentável advém da ideia de preser-
vação ambiental, ou seja, não retirada dos recursos naturais.
c. O conceito de desenvolvimento sustentável demonstra o privilégio da
exploração ambiental em detrimento do desenvolvimento econômico.
d. O conceito de desenvolvimento sustentável privilegia a extração de
recursos ambientais de maneira predatória, desde que o desenvolvi-
mento econômico seja beneficiado.
e. O conceito de desenvolvimento sustentável advém da ideia de conser-
vação ambiental, isto é, uso racional dos recursos naturais.

2. Em 2005 foi criado o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), uma


ferramenta para análise das empresas sob o aspecto da sustentabilidade
corporativa, seu objetivo é estimular a responsabilidade ética das corpo-
rações, baseando-se na eficiência econômica juntamente com o equilíbrio
ambiental, justiça social e governança corporativa.
Sobre o ISE, avalie as afirmativas a seguir como Verdadeiras (V) ou Falsas (F):
( ) A América Latina foi uma região pioneira no Índice de Sustentabili-
dade Empresarial, sendo a primeira região a adotá-lo.
( ) Esse Índice é obrigatório para todas as empresas de grande porte e
para as que desenvolvem atividades potencialmente poluidoras.

133
( ) Para o ingresso no Índice as empresas passam por um processo de
análise rigoroso que analisa diferentes dimensões da sustentabilidade.
( ) As empresas que compõem a carteira do ISE são melhores vistas no
mercado mundial, já que realizam ações com vistas ao cuidado com o
meio ambiente.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a. F, F, V, V.
b. V, F, V, V.
c. F, V, V, F.
d. V, V, F, V.
e. F, V, F, F.

3. Observe e analise a imagem a seguir:


3.5

3.0

2.5
Número de terras

2.0

1.5

1.0

0.5

0
1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050

Legenda

Biodiversidade Pastagem
Área construída Biocombustíveis
Área de floresta Área cultivada
Pesqueiro Carbono

Fonte : https://bit.ly/35ctyRl. Acesso em: 23 out. 2019.

134
O gráfico demonstra a quantidade de planetas necessários para satisfazer
as necessidades de sobrevivência das populações humanas nos padrões de
consumo e produção nos períodos contínuos 1960 a 2005, posteriormente
dados de 2015 e projeções para 2030 e 2050.
Sobre os dados apresentados no gráfico, assinale a alternativa correta.
a. O gráfico apresenta que, a partir de 1960, a população mundial está
em superávit ambiental, já que a extração de recursos naturais tem se
tornado mais racional.
b. O gráfico aponta que se mantivermos este padrão de consumo no
ano de 2050 serão necessários mais de dois planetas para promover a
sobrevivência humana.
c. Os dados demonstram que as populações humanas, devido ao padrão
de consumo, promovem maior pressão na área cultivada.
d. O gráfico aponta uma constante equidade nos dados relativos à perda
da biodiversidade e à quantidade de emissões de carbono na atmosfera.
e. Os dados demonstram um aumento da biocapacidade terrestre já que
houve uma diminuição das áreas cultivadas ao longo dos anos.

135
Referências

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Janeiro: ABNT, 2004.

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WWF. Planeta Vivo Relatório 2016: Risco e resiliência em uma nova era. Gland, Suiça:
WWF-International, 2016.
Unidade 4
Flávia da Silva Bortoloti

Mecanismo De Desenvolvimento Limpo (MDL)

Convite ao estudo
Estamos iniciando uma nova unidade de estudos sobre Projetos Ambientais,
no qual trabalharemos a temática: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Você já parou para pensar em quantas modificações geológicas, geomorfoló-
gicas, climáticas já ocorrem no planeta Terra desde sua formação? Muitas dessas
modificações deram resultado aos distintos tipos de solos, rochas, relevos e recursos
naturais que temos na atualidade. Em certa medida, as transformações naturais que
ocorreram na história da Terra foram responsáveis pela evolução dos ecossistemas.
Mas, e se pensarmos nas transformações realizadas pelos seres humanos,
todas são benéficas? É certo que a humanidade evoluiu com o desenvolvi-
mento das técnicas e tecnologias, mas, temos presenciado impactos negativos
sobre o sistema terrestre que têm se tornado cada vez mais preocupantes. Um
desses impactos são as mudanças climáticas provenientes das emissões de
gases do efeito estufa pelas atividades humanas.
Muitos acordos, estudos e projetos têm sido realizados nessa área a fim de
mitigar os efeitos dessas mudanças, portanto é essencial que você, futuro tecnó-
logo em gestão ambiental, saiba elaborar e implantar projetos, de modo a resolver
problemas com criatividade e raciocínio crítico no que tange a esta temática.
Para auxiliar na construção de seus conhecimentos sobre as mudanças
climáticas e os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, discu-
tiremos na primeira seção Mudanças Climáticas e as repostas mundiais, as
principais ações que têm sido empreendidas pelas Nações para diminuir as
emissões de gases do efeito estufa. Na segunda seção, Etapas e Aplicações de
Projetos de MDL, serão abordados os tipos de projetos de MDL implantados
no Brasil, as etapas de Implantação de projetos de MDL e os benefícios do
MDL. Na terceira seção, Mercado e Precificação de Carbono, discutiremos o
funcionamento do mercado de créditos de carbono, o conceito de Reduções
Certificadas de Emissões e sua função e, ainda, a precificação do carbono.
Preparado para mais este desfio na construção de seus conhecimentos
sobre projetos ambientais?
Bons estudos!
Seção 1

Mudanças climáticas e as respostas mundiais

Diálogo aberto
Estamos iniciando uma nova unidade de estudos e, durante o desen-
volvimento da disciplina de Projetos Ambientais, você teve a oportuni-
dade de conhecer distintos papéis do gestor ambiental. Com o propósito
de aprofundar seus conhecimentos sobre as diferentes aplicabilidades dos
projetos ambientais, suponha a seguinte situação hipotética.
Um aterro localizado em um município de Minas Gerais necessita de
novos investimentos, devido à baixa captação de recursos públicos e privados.
Dessa forma, a prefeitura, responsável pela administração do mesmo,
objetivando uma gestão sustentável para pleitear uma vaga no concurso de
Cidades Resilientes, propôs a adequação do local para promover o aumento
no recebimento do ICMS Ecológico.
Dessa forma, a consultoria em que você atua como consultor ambiental foi
contratada para verificar as condições atuais e verificou que, atualmente, não há
ganho real em buscar aumentar o ICMS Ecológico, porém levanta que existe
outra medida para arrecadação de recursos: os Mecanismos de Desenvolvimento
Limpo (MDL)! Você será o responsável pelo projeto e deverá planejar e implantar
um projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no local.
O Aterro Sanitário cobre uma área total de sessenta e seis hectares,
sendo quarenta hectares destinados à disposição de resíduos, e atende um
município com 500 mil habitantes, que tem na gestão dos resíduos sólidos
um dos seus maiores desafios, pois este município está concorrendo a uma
vaga no Programa Cidade Resiliente.
Com a intenção de promover uma cidade mais resiliente e sustentável,
e ainda, cumprir o décimo terceiro objetivo do desenvolvimento susten-
tável – Promover ações contra a mudança global do clima – proposto pela
Organização das Nações Unidas (ONU), foi solicitado a você o planejamento
de um projeto que cumprisse os ditames do MDL e, ainda, que o projeto
pudesse participar do mercado de carbono, com a finalidade de utilização
dos recursos financeiros, advindos da venda de Reduções Certificadas de
Emissões (RCE’s), na instalação de infraestrutura verde no município.
Ao aceitar o desafio de desenvolver um projeto de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo no Aterro, sua primeira tarefa é apontar quais
tipos de projetos poderiam ser realizados nesse aterro, com a finalidade de

141
ser classificado como MDL e poder gerar Reduções Certificadas. Portanto,
como primeira entrega ao gestor do Aterro Sanitário você deve realizar um
relatório em que deve constar o tipo de projeto de MDL que poderia ser
desenvolvido neste local.
Para auxiliar nessa tarefa você utilizará os conteúdos apreendidos nesta
seção, como a finalidade dos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo, os exemplos de projetos ambientais que contribuem para a diminuição
ou eliminação de gases do efeito estufa na atmosfera e, ainda, o posiciona-
mento científico diante das mudanças climáticas e do aquecimento global.
Preparado para realizar mais essa tarefa que o encaminhará para
construção e amplificação de seus em projetos ambientais?
Bons estudos!

Não pode faltar

Olá, aluno!
Você acredita que o clima do planeta está mudando? As ações antrópicas
podem influenciar o clima mundial? Suas ações cotidianas interferem no meio
ambiente? Mas o que esses questionamentos têm a ver com o que estudaremos?
Vamos iniciar nossas discussões pensando, em princípio, o que é o
Aquecimento Global. Seria o aumento da temperatura da superfície terrestre
e dos oceanos por causas naturais ou atividades humanas, especialmente,
pela elevação das emissões de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera,
principalmente o dióxido de carbono (CO2).

Reflita
O Efeito Estufa é um fenômeno natural no qual determinados gases
presentes na composição da atmosfera terrestre têm a capacidade
de absorver e refletir radiação solar. Deste modo, você acredita que o
efeito estufa é um fenômeno maléfico para o Planeta ou sem ele não
seria possível a existência de vida?

O clima do Planeta já passou por grandes modificações ao longo de


sua história geológica. O conhecimento dos eventos cíclicos de mudanças
climáticas e os fatores que os impulsionam podem ajudar-nos a perceber
até que ponto as alterações climáticas das últimas décadas são causadas
naturalmente ou influenciadas pela atividade humana. Portanto, conhecer o
clima do passado aumenta as possibilidades de prevermos o clima do futuro,
dando-nos oportunidade de pensarmos alternativas no presente.

142
Isso nos faz pensar: seria possível separar mudanças climáticas naturais
das mudanças climáticas antrópicas?
Quando pensamos em modificações naturais do clima devemos
compreender que elas não ocorrem de maneira isolada, o sistema climático
(formado, principalmente, pela atmosfera, vegetação, superfície terrestre,
oceano e gelo) (Figura 4.1) tem seu funcionamento sustentado e modificado
pelas Forçantes Climáticas.
Figura 4.1 | Forçantes climáticas, componentes do sistema climático e variações no clima

Fonte: Jacobi (2015, p. 24).

Note que as forçantes climáticas apresentam-se como fatores que influen-


ciam as mudanças climáticas, já que promovem a interação entre os compo-
nentes climáticos, modificando seus comportamentos.
Ainda que o Planeta tenha passado por diversas modificações climáticas,
é possível separar as mudanças naturais e antrópicas, pelo conhecimento
dos paleoclimas e levantamentos de dados e relatórios oficiais do IPCC
(Intergovernmental Panel on Climate Change – Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas, em português).
O IPCC foi criado em 1988 para facilitar as avaliações dos conhecimentos
científicos, técnicos e socioeconômicos sobre as mudanças climáticas, suas
causas e possíveis efeitos, bem como estratégias de resposta. Até o momento,
foram publicados cinco relatórios de avaliações, com previsão de publicação

143
da sexta edição em 2022. No entanto, há publicações periódicas para informar
observações científicas importantes dos grupos de trabalho.
A opinião dos cientistas, com relação às causas do aquecimento global
serem derivadas das atividades humanas, é quase unanime. Na publicação
Climate Change 2014, síntese do quinto relatório oficial sobre o aquecimento
global os cientistas afirmam que:

As emissões antrópicas de gases de efeito estufa aumentaram


desde a era pré-industrial, impulsionadas principalmente pelo
crescimento econômico e populacional, e agora estão mais
altos do que nunca. Isso elevou as concentraçõe na atmosfé-
rica de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso sem prece-
dentes em pelo menos nos últimos 800.000 anos. Seus efeitos,
juntamente com os de outros fatores antrópicos, foram detec-
tados em todo o sistema climático e são extremamente prová-
veis de a causa dominante do aquecimento observado desde
meados do século XX. (IPCC, 2015, p. 4)

De acordo com o IPCC (2015) o Planeta já aqueceu 1° C quando compa-


rado com os períodos pré-industriais, e isso já tem implicações irreversíveis
sobre os sistemas naturais. Algumas das consequências são: aumento do
nível do mar devido ao derretimento de calotas polares (que pode ocasionar
o desaparecimento de ilhas e cidades litorâneas); elevação na frequência de
eventos meteorológicos extremos (tempestades, inundações, secas, ondas de
calor, furacões e tornados); aquecimento e acidificação dos oceanos (impac-
tando diretamente na fauna e na flora marinha).
Diante desse cenário (Quadro 4.1), a Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (em inglês, United Nations Framework Convention on
Climate Change ou UNFCCC), criada em 1992 durante a Eco-92, e que entrou
em vigor em 1994, é uma base da cooperação internacional na qual os países
membros procuram estabelecer políticas para reduzir e estabilizar as emissões
de gases do efeito estufa em um nível em que as atividades humanas não inter-
firam no sistema climático. Ao todo, são 165 países signatários da Convenção,
sendo que alguns países não aceitaram ou ratificaram o acordo, no entanto,
podem aderir à Convenção em qualquer momento.
De acordo com a UNFCCC, deve haver um limite de emissões de gases na
atmosfera em um prazo que seja suficiente para os ecossistemas se adaptarem
naturalmente às mudanças do clima, possibilitando que a produção de
alimentos não seja ameaçada e que o desenvolvimento econômico ocorra de
maneira sustentável.

144
Quadro 4.1 | Linha do tempo das medidas envolvendo Mudanças Climáticas

Ano Evento
1992 Rio 92: Criação da convenção da ONU sobre Mudanças do Clima.
Protocolo de Kyoto: metas obrigatórias para países desenvolvidos redu-
1997
zirem em 5% as emissões de GEE.
2002 Adesão voluntária do Brasil ao Protocolo de Kyoto.
Implantação do Plano de Ação de Prevenção e Controle do Desmata-
2004
mento na Amazônia Legal.
2005 Entra em vigor o Protocolo de Kyoto.
Anúncio da meta voluntária brasileira de reduzir entre 36,1% e 38,9%
2009
suas emissões até 2020.
Acordo de Paris: limitar o aumento da temperatura da Terra em até 1,5º
2015
até 2100.
2020 Início da vigência do Acordo de Paris.

Fonte: https://bit.ly/2JK2RdZ. Acesso em: 1 nov. 2019.

Observe que desde 1992 têm sido feitos diferentes acordos e políticas na
tentativa de controlar as emissões de gases na atmosfera, a fim de minimizar
os impactos negativos no clima terrestre.
Para alcançar os objetivos do Protocolo de Kyoto, os países signatá-
rios apresentam metas de redução diferenciadas, nas quais os mais indus-
trializados têm metas mais rigorosas, já que possuem um maior potencial
de emissões.
Dentre os mecanismos de flexibilização do Protocolo, o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo surgiu de uma proposta brasileira de criação de um
Fundo de Desenvolvimento Limpo, em que os países que estivessem descum-
prindo suas metas de redução de emissões deveriam depositar valores, que
seriam utilizados pelos países em desenvolvimento, com objetivo de auxiliá-
-los no desenvolvimento tecnológico.
Esta proposta não foi aceita pelos países da Conferência das Partes (COP)
sendo substituída, na conferência de Kyoto, em 1997, pelo Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo. Somente em 2002 foram definidos os critérios para
elaboração de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e a criação
do Mercado de Carbono.

Assimile
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo possibilita que os países
desenvolvidos, que possuem metas de reduções de emissões, possam

145
adquirir Reduções Certificadas de Emissões (RCE) em projetos imple-
mentados em países em desenvolvimento, como forma de cumprir
parte de suas metas.

O Protocolo estabeleceu, além do MDL, outros mecanismos de flexibi-


lização que têm o objetivo de auxiliar os países industrializados desenvol-
vidos que apresentam obrigações de redução de GEE (países do Anexo I) a
cumprirem suas metas de emissões: são o Comércio Internacional de Emissões
e a Implementação conjunta (ou Atividades Implantadas Conjuntamente),
como apresentados no Quadro 4.2. Tais mecanismos somente podem ser
implantados em países do Anexo I do Protocolo.
Quadro 4.2 | Comparação entre os mecanismos de flexibilização previstos no Protocolo de Kyoto

Comércio Internacional de
Característica Mecanismo de Desenvolvimen-
Emissões e Implantação con-
do Mecanismo to Limpo
junta
Entidades
Públicas Públicas e/ou privadas
envolvidas
Existe porque os projetos conjun-
tos escolhidos serão os melhores. Não existe porque os países não-
 
No caso dos países não-Anexo I -Anexo I não estarão reduzindo
Penalidade
assumirem compromissos de re- suas emissões em relação a ne-
por ações
dução de emissões, as melhores nhum ano base. Na realidade, há
antecipadas
oportunidades de implementação incentivo para a "ação imediata".
já terão sido utilizadas.
Atividades de redução de emis-
Os projetos conjuntos, como a
  sões que podem ser conduzidas
construção de usinas hidrelétricas
Ênfase pelos países não-Anexo I por
ou melhoria da iluminação.
conta própria.
As reduções de emissões são As CERs (ou RCEs) são uma
Caráter bilateral
transferidas de um país a outro commodity a ser negociada livre-
ou multilateral
em uma base projeto a projeto. mente no mercado.
Apenas países do Anexo I ou
Países Países do Anexo I e países não-
países do Anexo I e não-Anexo I
envolvidos -Anexo I.
(relação projeto-projeto).
Não há passivo para os países
Passivo
Créditos e dívidas são trocados. não-Anexo I, apenas reduções de
ambiental
emissões.
Emissões relacionadas a um ano
Paradigma Aumento de temperatura.
base.
Entidades compradoras e vende-
Atores Países "doadores" e "anfitriões".
doras.

Fonte: https://unfccc.int/es/node/407. Acesso em: 1 nov. 2019.

146
Perceba que os países em desenvolvimento podem, voluntariamente,
“emprestar” seus territórios para que os países industrializados, poluidores
potenciais, possam desenvolver projetos que produzam reduções certifi-
cadas de emissões (RCEs) de GEE. Lembrando que as RCEs são vendidas
ou trocadas e não somam na redução dos países em desenvolvimento, pois
geram “passivos ambientais” negativos.

Reflita
Sendo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo um instrumento que
possibilita que países desenvolvidos diminuam suas metas obrigató-
rias de emissões de gases do efeito estufa, reflita sobre as vantagens e
desvantagens de adoção do MDL para os países em desenvolvimento.
Seria vantajoso para o país anfitrião de projetos de MDL auxiliar países
que não conseguem alcançar suas metas de redução?

Mas quais seriam os projetos de MDL que podem ser implantados?


Existem diferentes projetos de MDL que abrangem distintos setores da
economia, o que denota a possibilidade de redução, eliminação ou absorção
de CO2 em praticamente todos os setores (Quadro 4.3).
Quadro 4.3 | Tipos de projetos de MDL

Tipo de projetos GEE


Solar térmica Redução de CO2
Solar fotovoltaica Redução de CO2
Mini hidráulica Redução de CO2
Eólica Redução de CO2
Geração de Biogás a partir de me-
Redução de CO2
Energias tano para eletricidade
renováveis
Geração de Biogás a partir de me-
Redução de CO2
tano para calor
Biomassa para geração de eletrici-
Redução de CO2
dade
Biomassa para geração de calor Redução de CO2
Cogeração Redução de CO2
Residencial (iluminação eficiente,
Redução de CO2
cozinhas melhoradas, etc)
Eficiência
Energética Serviços Redução de CO2
Indústrias Redução de CO2

147
Tipo de projetos GEE
Tratamento Geração de biogás Eliminação de CH4
de resíduos
(aterro, Geração de composto Eliminação de CH4
agrícola, etc)
Geração de biogás a partir dos lo-
Tratamento Eliminação de CH4
dos
de águas
residuais Geração de composto a partir dos
Eliminação de CH4
lodos
Substituição de combustíveis fós-
seis por outros de menores emis- Redução de CO2 e N2O
Transporte sões de CO2
Implantação ou melhoria de rede
Redução de CO2
de transporte público
Processos in- Captura ou eliminação de GEE de
Eliminação HFCs, PFCs, SF6
dustriais processos industriais
Substituição de combustíveis fós-
seis por outros de menores emis- Redução de CO2 e N2O
sões de CO2
Reflorestamento Absorção de CO2
Florestamento Absorção de CO2
Usos da terra Gestão florestal sustentável Absorção de CO2
Agricultura sustentável Redução de N2O
Melhoria de práticas agrícolas Redução de CH4

Fonte: adaptado de Fronda e Lapeña (2012, p. 21).

O Brasil ocupa o 3º lugar com 339 atividades de projetos registradas na


UNFCCC, sendo que em primeiro lugar encontrava-se a China, com 3.764 e,
em segundo, a Índia com 1.598. O Brasil conta com atividades em diferentes
áreas, como Hidrelétrica, Biogás, Usina eólica, Gás de aterro, Biomassa
energética, Substituição de combustível fóssil e Metano evitado (tratamento
de águas, compostagem e incineração de resíduos) (BRASIL, 2016, n.p.).
O MDL representa para algumas organizações a oportunidade de imple-
mentação de tecnologias limpas e de novas qualificações, tornando o cenário
cada vez mais motivador e competitivo.
Os projetos de MDL no Brasil estão em consonância com a Política
Nacional sobre Mudança do Clima, instituída pela Lei Nº 12.187, de 29 de
dezembro de 2009, oficializando o compromisso voluntário do Brasil junto
a UNFCCC de redução dos gases do efeito estufa entre 36,1% e 38,9% das
emissões projetadas até 2020 (BRASIL, 2009).

148
Exemplificando
Para que você possa se aproximar de casos empíricos, vamos analisar o
projeto de MDL em aterro sanitário.
O Aterro Sanitário Nova Gerar, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, foi o primeiro
projeto de MDL em aterro sanitário aprovado no Brasil e no mundo,
anteriormente ao projeto, esse local era um lixão sem controle sobre os
poluentes. Após a recuperação ambiental da área degradada e a trans-
formação desse local em um aterro sanitário que cumpre as exigências
ambientais, foi possível eliminar gás metano, convertendo-o e biogás,
possibilitando o uso para geração energia elétrica de 39.240 MW/ano.
Esse projeto emite Reduções Certificadas fazendo com que empresa
que o administra participe do mercado de carbono. Desta maneira, a
criação desse aterro diminuiu as emissões de GEE para atmosfera e, em
particular, mediante a recuperação do lixão melhorou muito o passivo
ambiental do local.

Para que um projeto de MDL possa emitir Reduções Certificadas, é


necessário que ele passe por sete fases (Figura 4.2), que serão aprofundadas
na próxima seção, Etapas e aplicações de Projetos de MDL, desta unidade
de ensino.
Figura 4.2 | Ciclo do Projeto de MDL

Fonte: adaptada de Frondizi (2009, p. 36).

Nesta seção você teve a oportunidade de se aproximar das ações que têm
sido empreendidas em âmbito mundial e nacional para que as emissões de
gases do efeito estufa sejam reduzidas e estabilizadas, a fim de minimizar os
impactos sobre o sistema climático e os ecossistemas. Desse modo, a propo-
sição de projetos ambientais em diferentes setores da economia é essencial
para cumprir os Acordos e Convenções sobre as mudanças climáticas.

149
Sem medo de errar

Você, consultor ambiental, foi contrato para planejar e implantar um


projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) em um Aterro
Sanitário localizado em um município com 500 mil habitantes que tem na
gestão dos resíduos sólidos um dos seus maiores desafios, pois este município
está concorrendo a uma vaga no Programa Cidade Resiliente.
Foi solicitado a você o planejamento de um projeto que cumprisse os
ditames do MDL e, ainda, que o projeto pudesse participar do mercado de
carbono, com a finalidade de utilização dos recursos financeiros, advindos
da venda de Reduções Certificadas de Emissões (RCE’s), na instalação de
infraestrutura verde no município.
Portanto, em um primeiro momento, você realizou pesquisas para decidir
qual tipo de projeto seria mais viável para este local a fim de cumprir as
exigências do contratante. Ao realizar os levantamentos necessários na área
do aterro sanitário, você pode constatar que o biogás (composto principal-
mente por metano (CH4) e gás carbônico, CO2) gerado pela decomposição
dos resíduos orgânicos dispostos nessa área, é captado e queimado por meio
de drenos. Portanto, você propôs que no aterro fosse realizado um projeto
de instalação de extração e conversão de biogás em fonte de energia para
atender o aterro, e ainda, se houver excedente, vender a energia elétrica.
Além do projeto de produção de energia, você sugeriu que fossem
construídos também viveiros de mudas, um polo de educação ambiental e
micro indústrias de reciclagem para auxiliar a melhoria da elegibilidade do
município no programa Cidades Resilientes. Lembrando que esse projeto
tem como objetivo reduzir as emissões de metano e de dióxido de carbono
por meio da coleta e utilização dos gases gerados no aterro. O projeto envolve
a implementação de um sistema de coleta de gás, sistema de drenagem de
chorume, equipamento de incineração e uma usina de geração de eletrici-
dade modular. E se enquadra, de acordo com o MDL, na categoria da captura
de gás volátil, energia alternativa/renovável e tratamento de resíduos.
O exemplo trazido aqui é uma das possibilidades de uso do biogás, no
entanto existem diferentes alternativas para viabilizar o aproveitamento
desse resíduo em aterros sanitários, como a produção de energia térmica,
uso veicular do Biogás, dentre outras.

150
Faça valer a pena

1. Leia e analise o trecho a seguir:


“As novas observações disponíveis mostram que o ano de 2018 é o ano mais
quente já registrado para o oceano global, como evidenciado pelo seu maior
conteúdo de calor oceânico desde 1950 nos 2000m superiores. Em compa-
ração com o valor médio medido de 1981 a 2010, a anomalia de calor do
oceano em 2018 é de aproximadamente 19,67 x 10 22 Joules, uma medida
unitária para o calor. Este aumento de calor em 2018 em relação a 2017 é
aproximadamente 388 vezes mais do que a geração total de eletricidade pela
China em 2017, e aproximadamente 100 milhões de vezes mais do que a
bomba de calor de Hiroshima. [...]
Sobre o aquecimento global. Analise o trecho a seguir, completando suas
lacunas.
[...] O novo estudo está lançando uma nova luz sobre quanto as tempera-
turas da água oceânica que está mudando ao longo dos anos. A mudança
no conteúdo de calor do oceano é considerada uma das melhores – se
não a melhor – maneira de medir a ____________ causada por gases de
___________ emitidos pelas atividades humanas. Isso ocorre porque o
___________ é impulsionado pelo desequilíbrio de energia da Terra devido
a mais gases de efeito estufa no ar, e a grande maioria (mais de 90%) do calor
do aquecimento global é depositada nos oceanos do mundo”. (TEMPERA-
TURAS..., 2019, [s.p.])
Assinale a alternativa que contém os termos que completam correta e respec-
tivamente as lacunas apresentadas no trecho.
a. temperatura; dióxido de carbono; aumento da atmosfera.
b. água oceânica; monóxido de carbono; aquecimento global.
c. atmosfera terrestre; aquecimento global; efeito estufa.
d. mudança climática; efeito estufa; aquecimento global.
e. ilha de calor; dióxido de carbono; efeito estufa.

2. As Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), são unidades comerciais,


mensuradas em toneladas de carbono equivalente, utilizadas pelos países do
Anexo I do Protocolo de Kyoto como moda de auxílio no cumprimento das
metas estabelecidas por esse Acordo Internacional.
Assinale a alternativa que apresenta o modo de funcionamento de comercia-
lização das RCEs.

151
a. Compra, por países subdesenvolvidos, de RCE’s geradas em projetos
em países industrializados, como forma de cumprir suas reduções de
emissões de gases do efeito estufa.
b. Compra, por países desenvolvidos, de RCE’s geradas em projetos de
MDL em países em desenvolvimento, como forma de cumprir suas
reduções de emissões de gases do efeito estufa.
c. Financiamento, por países em desenvolvimento, de RCE’s geradas em
projetos em países não industrializados, como forma de cumprir suas
reduções de emissões de gás metano.
d. Comercialização de créditos de carbono, por países em desenvolvi-
mento, aos países industrializados subdesenvolvidos.
e. Venda, por países desenvolvidos nas bolsas de valores do continente
europeu de créditos de carbono gerados em projetos em países subde-
senvolvidos.

3. Na tentativa de cumprir as metas impostas pelo Protocolo de Kyoto foram


criados alguns mecanismos de flexibilização, como a Implantação Conjunta
e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Sobre o MDL, avalie as afirmativas:
I. Um projeto, ao ser implantado, deve gerar um benefício ambiental
na forma de um ativo financeiro denominado Reduções Certificadas
de Emissões.
II. Os projetos de MDL devem contabilizar para a redução de emissões
de Gases do Efeito Estufa garantindo benefícios a curto prazo.
III. Os projetos de aterros sanitários são os únicos em vigor no Brasil e
na América Latina.
IV. Os projetos de MDL devem implicar reduções de emissões adicionais
àquelas que ocorreriam na ausência do projeto registrado como MDL.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a. V – F – F – V.
b. V – V – F – F.
c. F – F – V – V.
d. F – V – F – V.
e. V – F – F – F.

152
Seção 2

Mecanismo De Desenvolvimento Limpo (MDL)

Diálogo aberto
Olá, aluno!
Você sabia que o Brasil é o terceiro país com maior número de projetos de
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo? (BRASIL, 2016). Pensando nisso,
será que todos os projetos ambientais implantados nas industrias, no trata-
mento de resíduos, na agropecuária, no uso do solo, no setor de transportes,
dentre outros, podem ser considerados de MDL? Quais seriam os requi-
sitos para que um projeto seja considerado de MDL e possa gerar Reduções
Certificadas de Emissões (RCEs)? Quais seriam os benefícios ambientais
desses projetos? Todas organizações podem participar?
Nessa seção descobriremos as respostas para esses questionamentos e
lhe oportunizaremos a compreensão sobre as etapas de implantação de um
projeto de MDL. Para tanto, continuando em nosso contexto hipotético, a
consultoria em que você atua como consultor ambiental será a responsável
por planejar e implantar um projeto de MDL em um Aterro Sanitário em
Minas Gerais. Esse aterro cobre uma área total de sessenta e seis hectares,
sendo quarenta hectares destinados à disposição de resíduos. Atende
um município com 500 mil habitantes, que tem na gestão dos resíduos
sólidos um dos seus maiores desafios: concorrer a uma vaga no Programa
Cidade Resiliente.
Durante a primeira etapa de sua consultoria, você entregou ao gestor do
aterro sanitário uma proposta de projeto que contemplaria a instalação de
extração e conversão de biogás em fonte de energia para atender o Aterro e,
caso houvesse excedente, vender a energia elétrica.
Levando em consideração que uma das solicitações do contratante é
que o projeto do Aterro seja passível de emitir Reduções Certificadas de
Emissões para serem negociadas no Mercado de Carbono, para que o projeto
seja aprovado e tenha a execução iniciada, você deve produzir e entregar
um relatório contendo as resoluções dos seguintes questionamentos: quais
as etapas esse projeto deve cumprir para ser considerado de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo e possa gerar Reduções Certificadas de Emissões
para participar do Mercado de Carbono? Quais serão os benefícios deste
projeto a médio e longo prazos?

153
Você está prestes a iniciar uma nova etapa para a concretização de seu
primeiro projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, vamos dar a
sequência à construção de seus conhecimentos em projetos ambientais?
Bons estudos!

Não pode faltar

Olá aluno!
Estamos iniciando uma nova seção da disciplina de Projetos Ambientais,
em que abordaremos os tipos de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL), quais etapas eles devem cumprir para poder emitir Reduções
Certificadas de Emissões (RCEs) e os benefícios de implantação de projetos
de MDL em diferentes ramos de atividades.
Você já pensou quais são os gases que podem promover o aquecimento
terrestre, quais as fontes de emissões e como eles podem influenciar nossas
vidas? No Quadro 4.4 foram listados os principais gases do efeito estufa
(GEE), as principais fontes de emissões e a porcentagem de contribuição para
o aquecimento global.
Quadro 4.4 | Principais gases do efeito estufa

Contribuição para
GEE o aquecimento Principais fontes de emissão
global (%)
CO2 (Dióxido de Uso de combustíveis fósseis, desmatamen-
60%
Carbono) to e alteração dos usos do solo
Produção e consumo de energia (incluin-
CH4 (Metano) 20% do biomassa), atividades agrícolas, aterros
sanitários e águas residuais
Halogenados:
HFC, PFC e SF6 Indústria, refrigeração, aerossóis, propul-
14%
(Hexafluorido de sores, espumas expandidas e solventes
Enxofre)
N2O (Óxido Uso de fertilizantes, produção de ácidos e
6%
Nitroso) queima de biomassa e combustíveis fósseis

Fonte: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/gases-do-efeito-estufa/. Acesso em 11 dez. 2019.

Você sabia que cada GEE apresenta um determinado potencial de


aquecimento?
Sendo o dióxido de carbono o principal gás de efeito estufa a partir
dele é realizada a relação da capacidade de aquecimento dos outros GEE

154
(Quadro 4.5). A esta relação dá-se o nome de Potencial de Aquecimento
Global (Glo­bal Warming Potential – GWP), isto é, a influência dos gases
na alteração do balanço energético da Terra. O GWP é adotado pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) na confecção de
seus relatórios.
Quadro 4.5 | GEE e valor correspondente para o GWP
GEE GWP (em toneladas de CO2)
Dióxido de carbono (CO2) 1
Metano (CH4) 21
Óxido nitroso (N2O) 310
Hexafluoreto de enxofre (SF6) 23.900

Fonte: adaptado de Brasil (2017, p. 9).

Como vimos anteriormente, diversas ações em âmbito mundial têm sido


realizadas a fim de reduzir e limitar as emissões de GEE, assim o Protocolo
de Kyoto possibilita que sejam utilizados mecanismo de mercado para que os
países desenvolvidos cumpram suas metas de redução e limitação de gases
do efeito estufa (GEE).
Aos países menos desenvolvidos e em desenvolvimento, chamados de
países anfitriões, (como o Brasil), a participação fica restrita ao Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo, sendo o único meio que admite a participação
voluntária. Ao emitirem Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) por
meio dos projetos de MDL, os países anfitriões podem negociar com os países
desenvolvidos que apresentam metas obrigatórias de redução de emissões de
GEE a comercialização de créditos de carbono.
Atualmente existe um total de 7813 projetos de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo registrados na United Nations Framework
Convention on Climate Change (UNFCCC) ou Convenção Quadro das
Nações Unidas para as Alterações Climáticas (CQNUAC), o Brasil tem 339
projetos registrados.

Assimile
Reduções Certificadas de Emissões (RCEs): é uma unidade emitida
pelo Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
para cada tCO2 (medida utilizada para comparar os diferentes gases do
efeito estufa) reduzida ou removida do meio ambiente.
Para a geração das RCEs, é necessário que se demonstre, no decorrer
do projeto de MDL, o potencial de redução da emissão original de
gases poluentes. Deve-se especificar, em princípio, a quantidade de

155
GEE emitido antes da implementação do projeto. Posteriormente é
necessário realizar a verificação (que ocorre periodicamente durante a
execução dos projetos) da diminuição de emissão dos gases poluentes.
Deste modo, as RCEs são calculadas pela diferença entre emissões antes
da implantação do MDL e emissões verificadas em decorrência das ativi-
dades do projeto, incluindo as fugas.

Existe diferença entre as RCEs e o crédito de carbono?


Apesar de semelhantes, o crédito de carbono é uma unidade comercial
que representa uma tonelada de carbono equivalente. Dessa forma, cada
tonelada de CO2 equivale a um crédito de carbono.
Os créditos de carbono são negociáveis em bolsas de valores específicas,
como a Chicago Climate Exchange (Bolsa do Clima de Chicago – Estados
Unidos), a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&F), o Banco Mundial
(BM), Banco Real e Bolsa de Mercado de Carbono da União Europeia. Esses
créditos também podem ser comercializados diretamente entre as empresas
dos países desenvolvidos e empresas ou governos dos países anfitriões.
De acordo com Brasil (2016, s.p.), CO2 equivalente

é uma medida utilizada para comparar as emissões de


vários gases de efeito estufa, baseada no potencial de
aquecimento global de cada um, de acordo com a Decisão
17/COP-8. O dióxido de carbono equivalente é o resultado
da multiplicação das toneladas emitidas de GEE pelo seu
potencial de aquecimento global (a saber, CO2 = 1, CH4
= 21, N2O = 310, HFC-125 = 2.800, HFC- 134a = 1.300,
HFC-143a = 3.800, HFC-152a = 140, CF4 = 6.500, C2F6 =
9.200, SF6 = 23.900).

Conforme aprendemos na seção anterior, Mudanças Climáticas e as


respostas mundiais, variados setores da economia admitem projetos de
MDL, mas você já parou para pensar de onde provêm essas emissões de GEE
em cada setor? Qual o setor que apresenta maior emissão de gases do efeito
estufa no Brasil? No Quadro 4.6 podemos observar quais são as fontes de
emissões por setor.

156
Quadro 4.6 | Fontes de Emissões de GEE por Setor no Brasil

Setor Fonte de emissões

Emissões devido à queima de combustíveis fósseis e emissões fu-


gitivas da indústria de petróleo, gás e carvão mineral. As emissões
Energético devido ao processo de redução, matérias-primas da indústria quími-
ca e produtos de uso não energético foram consideradas no setor de
Processos Industriais.

Emissões resultantes dos processos produtivos nas indústrias e que


Processos não são resultado da queima de combustíveis. Subsetores: produtos
Industriais minerais, metalurgia e química, além da produção e consumo de
HFCs e SF6.

Emissões devido à fermentação entérica do gado, manejo de deje-


Agropecuária tos animais, solos agrícolas, cultivo de arroz e queima de resíduos
agrícolas.

Emissões e remoções resultantes das variações da quantidade de car-


bono, seja da biomassa vegetal, seja do solo, considerando-se todas as
Mudança de Uso transições possíveis entre diversos usos, além das emissões de CO2
da Terra e Florestas por aplicação de calcário em solos agrícolas e das emissões de CH4
e N2O pela queima de biomassa nos solos. O crescimento da vegeta-
ção, em áreas consideradas manejadas, gera remoções de CO2.

Tratamento de Emissões pela disposição e incineração de resíduos sólidos e pelo tra-


Resíduos tamento de efluentes, tanto doméstico/comercial, quanto industrial.

Fonte: adaptado de Brasil (2017, p. 10).

Reflita
Ao observar as fontes de emissões em cada setor ou atividades antró-
picas você consegue ver a relação entre a produção, o consumo de bens
e mercadorias e as emissões de GEE? Como seria possível se posicionar,
enquanto cidadão, para auxiliar na redução de GEE?

Quando se pensa em emissões antrópicas de GEE, devemos em princípio


dividi-las em dois tipos de emissões: líquidas e brutas. As emissões brutas
(Figura 4.3) referem-se a todas as fontes de emissões de GEE, antrópicas e
naturais. Já as líquidas, são referentes somente às emissões causadas pelas
atividades humanas (Figura 4.4).

157
Figura 4.3 | Emissões líquidas de gases de efeito estufa no Brasil, por setor, de 1990 a 2015 (Tg
= milhões de toneladas)
Emissões líquidas
4000
3500
3000
2500
2000
1500
Tg CO 2 eq

1000
500
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
ENERGIA TRATAMENTO DE RESÍDUOS
PROCESSOS INDUSTRIAIS AGROPECUÁRIA
MUDANÇA DE USO DA TERRA E FLORESTAS

Fonte: Brasil (2017, p. 10).

Figura 4.4 | Emissões brutas de gases de efeito estufa no Brasil, por setor, de 1990 a 2015 (Tg =
milhões de toneladas)
Emissões brutas
4000
3500
3000
2500
2000
1500
Tg CO 2 eq

1000
500
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015

ENERGIA TRATAMENTO DE RESÍDUOS


PROCESSOS INDUSTRIAIS AGROPECUÁRIA
MUDANÇA DE USO DA TERRA E FLORESTAS

Fonte: Brasil (2017, p. 11).

Perceba, ao analisar as Figuras 4.3 e 4.4 que a mudança do uso da terra


e das florestas e a agropecuária acarretam maiores quantidades de emissões.
Mudança do uso da terra significa que determinado local teve sua cobertura
vegetal original retirada para dar lugar a uma atividade econômica (via de
regra, atividades relacionadas às produções agrícola e pecuária), ou ainda, são
as áreas que já não mais apresentavam suas vegetações nativas, mas que tiveram
uma readequação do uso do solo, como, por exemplo, uma área de lavoura que
se tornou área de pastagem ou uma fazenda que se tornou um loteamento.

158
De acordo com a publicação Estimativas Anuais de Emissões de Gases
do Efeito Estufa no Brasil (BRASIL, 2017), a diferença entre os dois totais
(emissões líquidas e brutas) (Figura 4.5) correspondente às remoções pelo
crescimento da vegetação nas florestas e campos naturais manejados.
Figura 4.5 | Comparação entre as emissões totais brutas e líquidas, em CO2eq (Tg = milhões de
toneladas)

Fonte: Brasil (2017, p. 13).

Ao serem propostos projetos de MDL para os diferentes setores tem-se a


diminuição na emissão de gases do efeito estufa, pretendendo que, a longo e
médio prazo, essas emissões sejam zeradas (a fim de cumprir as metas do Acordo
de Paris). Vejamos na Figura 4.6 a linha do tempo para zerar as emissões líquidas.
Figura 4.6 | Linha do tempo para zerar as emissões líquidas de GEE

Fonte: Levin e Davis (2019, [s.p.]).

Note que as próximas décadas são cruciais para empreender ações que visem
limitar as emissões de CO2 e dos demais GEE para que, até o fim do século, haja a

159
possibilidade de zerar tais emissões. Deste modo, os instrumentos de flexibilização
e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, propostos pelo Protocolo de Kyoto,
juntamente com ações da sociedade, de modo geral, podem auxiliar nesse intento.
Mas, quais as características de um projeto para ser considerado de MDL?
Em princípio os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
devem comprovar que reduzem as emissões de gases de efeito estufa para a
atmosfera, bem como promovem o desenvolvimento sustentável.
Para que os projetos possam emitir RCEs necessariamente devem cumprir
sete etapas do Ciclo de Projetos de MDL (CETESB, 2019, n.p.) (Figura 4.7):
1. Elaboração do Documento de Concepção do Projeto (DCP ou PDD,
de Project Design Document).
2. Validação pela Entidade Operacional Designada (EOD).
3. Aprovação pela Autoridade Nacional Designada (AND).
4. Registro no Conselho Executivo do MDL.
5. Monitoramento.
6. Verificação e certificação pela Entidade Operacional Designada.
7. Emissão das RCEs pelo Conselho Executivo do MDL.
Figura 4.7 | Fluxo de um Projeto de MDL

Devem acrescentar novas


reduções de emissões
(excluem-se reduções
realizadas por consequência de
atos anteriores).

Requerimento à ONU
como projeto de MDL.

Os créditos devem ser


medidos e calculados de Requerimento das
acordo com o PDD reduções (créditos) à
aprovado. ONU.

Possibilidade de aplicação para as metas da própria


empresa (até mesmo operações internas);
Possibilidade de vender os créditos para outras
empresas e para governos.

Fonte: adaptado de https://bit.ly/2X3Yyje. Acesso em: 2 dez. 2019.

160
O MDL admite projetos nos seguintes setores (FELIPETTO, 2017):
• Energia renovável.
• Melhoria da eficiência no uso final da energia.
• Melhoria da eficiência na oferta de energia.
• Substituição de combustíveis.
• Agricultura (redução das emissões de CH4 e N2O).
• Processos industriais (CO2 da indústria cimenteira, entre outras,
HFCs, PFCs, SF6).
• Projetos de “sumidouros” ou sequestro de carbono (apenas floresta-
mento e reflorestamento).

Exemplificando
Vejamos o exemplo de duas cerâmicas apresentado no Guia Sobre
“Mecanismos Voluntários De Compensação Individual De Emissões De
Gases De Efeito Estufa” produzido pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento em 2017 que realizaram a compensação de GEE:
Cerâmicas Guaraí, Itabira e Santa Izabel: evitam, em conjunto, a
emissão de 42 mil toneladas de CO2, por ano, gerando cerca de 42 mil
créditos de carbono. Isto é possível, pois substituem o uso de combus-
tíveis fósseis por resíduos industriais. Com a comercialização dos
créditos, puderam realizar contribuições a iniciativas sociais da região e
aprimorar os filtros das suas fábricas.
Cerâmica Irmãos Fredi: Ao utilizar bagaço de cana-de-açúcar e
serragem como combustível para seus fornos, coibiu a extração de 24
mil toneladas de lenha nativa do Cerrado e reduziu a emissão de quase
29 mil toneladas de CO2 por ano, gerando 23 mil créditos de carbono
anualmente (BRASIL, 2017).

Quando uma empresa qualquer deseja elaborar o projeto de redução de


emissões referente a seu empreendimento com a finalidade de comercia-
lizar créditos de carbono, necessita de suporte de empresas de consultoria
especializadas no assunto. Portanto, um projeto de MDL está intrinsicamente
relacionado à sua futura profissão.
Além dos benefícios ambientais, quais seriam os benefícios de implan-
tação de projetos de MDL? De acordo com Filipetto (2017) os benefícios do
Mecanismo Desenvolvimento Limpo seriam:

161
• Entrada de recursos de países estrangeiros.
• Introdução de tecnologias limpas e melhoria da qualidade ambiental.
• Modernização das atividades produtivas.
• Redução de penalidades.
• Diminuição dos impactos à sociedade.
A comercialização de créditos de carbono possibilita a geração de uma
fonte alternativa de receita para a empresa ou para governos, configuran-
do-se como um benefício financeiro dos projetos de MDL.
Ainda como benefícios está a redução das emissões de outros gases
poluentes e do consumo de água, combustíveis e outros recursos; a diminuição
de custos atrelados ao tratamento e disposição de resíduos, efluentes e
emissões; menores riscos tecnológicos e custos de seguros; economia de
recursos, aumento do valor da marca.
Nessa seção você teve oportunidade de se aproximar dos conhecimentos
relativos aos projetos de MDL, sua origem, etapas e benefícios ambientais
e econômicos. Lembre-se que esses conhecimentos o auxiliarão na sua
jornada profissional.

Sem medo de errar

Você é consultor ambiental e foi contrato para planejar e implantar


um projeto de MDL em um Aterro Sanitário. Durante a primeira etapa de
sua consultoria entregou ao gestor do aterro uma proposta de projeto que
contemplaria a instalação de extração e conversão de biogás em fonte de
energia para atender o aterro e, caso houvesse excedente, vender a energia
elétrica.
Levando em consideração que uma das solicitações do contratante é de
que o projeto do Aterro seja passível de emitir Reduções Certificadas de
Emissões para serem negociadas no Mercado de Carbono. Para que o projeto
seja aprovado e tenha a execução iniciada você deve produzir e entregar
um relatório contendo as resoluções dos seguintes questionamentos: quais
etapas esse projeto deve cumprir para ser considerado de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo e possa gerar Reduções Certificadas de Emissões
para participar do Mercado de Carbono? Quais serão os benefícios deste
projeto a médio e longo prazo?
Como vimos anteriormente, Mudanças Climáticas e as respostas
mundiais, o biogás é um subproduto da decomposição anaeróbia de resíduos

162
sólidos pela ação de microorganismos. Seu potencial de aquecimento global
é 21 vezes maior que o gás carbônico, pois o componente mais expressivo no
biogás é o metano. Portanto cada tonelada de metano emitido para a atmos-
fera é equivalente a 21 toneladas de CO2. Desta maneira, ao promover a
conversão do biogás em energia haverá uma diminuição na emissão de GEE.
O que deixou de ser lançado na atmosfera pode ser negociado como créditos
de carbono ou emissões reduzidas de carbono, ou seja, RCEs.
Conforme a UNFCCC (2016) projetos que aplicam metodologia de
captação de gás de aterro e geração de eletricidade nos casos em que a
captação de gás de aterro não é obrigatória por lei, envolvem uma ou mais
combinações das seguintes opções de tratamento de resíduos: processo de
compostagem em condições aeróbicas; gaseificação para produzir syngas
(gás de síntese) e seu uso; digestão anaeróbica com coleta e queima de
biogás e ou seu uso (isso inclui o processamento e a atualização do biogás e a
distribuição do mesmo através de uma rede de distribuição de gás natural);
processo de tratamento mecânico/térmico para produzir combustível
derivado de lixo/biomassa estabilizada e seu uso; incineração de resíduos
frescos para geração de energia, eletricidade e/ou calor; tratamento de águas
residuais em combinação com resíduos sólidos, por compostagem ou em um
digestor anaeróbico.
No quesito ações mitigadoras de emissão dos gases do efeito estufa
teríamos: produção de energia renovável, a partir do momento em que as
emissões de CH4 são evitadas por processos alternativos de tratamento
de resíduos.
Para que esse projeto possa gerar RCEs deve passar pelas sete etapas do
Ciclo do Projeto de MDL, a fim de realizar o cálculo do total de Certificações
de Emissõoes Reduzidas pelo projeto, deve-se realizar a comparação entre a
quantidade de gás metano emitida anteriormente à implantação do projeto e
a quantidade de emissão após a introdução das novas técnicas e tecnologias
advindas do MDL.
Alguns benefícios que poderiam ser gerados a médio e longo pazo são:
• Introdução de tecnologias limpas e melhoria da qualidade ambiental.
• Modernização das atividades produtivas.
• Redução de penalidades ambientais.

• Diminuição dos impactos à sociedade, devido à redução de emissões


de metano e outros gases poluentes e da possibilidade de explosões.
• Geração de uma fonte alternativa de receita com a comercialização
dos créditos de carbono.

163
• Diminuição de custos atrelados ao tratamento de emissões.
• Eficiência energética.
A partir dessas informações você já poderá passar para o próximo passo
que será fazer com que créditos desse projeto sejam comercializados no
Mercado de Carbono.

Faça valer a pena

1. Leia e analise o trecho a seguir:

O Protocolo de Kyoto constitui um tratado complementar


à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima, definindo metas de redução de emissões para
os países desenvolvidos e os que, à época, apresentavam
economia em transição para o capitalismo, considerados os
responsáveis históricos pela mudança atual do clima.
Criado em 1997, o Protocolo entrou em vigor no dia 16 de
fevereiro de 2005, logo após o atendimento às condições
que exigiam a ratificação por, no mínimo, 55% do total de
países-membros da Convenção e que fossem responsá-
veis por, pelo menos, 55% do total das emissões de 1990.
(BRASIL, [s.d.], [s.p.])

O Protocolo de Kyoto propõe instrumentos que possibilitam a redução e


limitação das emissões de gases do efeito estufa. Dentre esses instrumentos
está o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e a Implantação Conjunta,
que apresentam características distintas em relação aos países autorizados a
participar.
Sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, assinale a alternativa que
apresenta os países autorizados a participar desse mecanismo do Protocolo
de Kyoto.
a. Os países desenvolvidos com metas de redução podem implantar
projetos em outros países desenvolvidos sem metas de redução de
GEE.
b. Os países desenvolvidos sem metas de redução de GEE podem desen-
volver projetos em países subdesenvolvidos.

164
c. Os países em desenvolvimento com metas de limitação desenvolvem
projetos em países sem metas de redução de GEE.
d. Os países desenvolvidos com metas de redução de GEE podem
implantar projetos em países em desenvolvimento.
e. Os países em desenvolvimento podem desenvolver projetos em países
também em desenvolvimento sem metas de redução de GEE.

2. A venda de créditos de carbono pode ser considerada por muitas empresas


como uma possibilidade de incremento da receita do negócio, pois o valor
recebido com o crédito de carbono pode proporcionar lucros. Sendo assim,
o mercado de carbono, além de estimular a conscientização ambiental, pode
se transformar em uma atividade rentável.
Sobre o mercado de carbono, assinale a alternativa que corresponda ao modo
como os créditos de carbono são comercializados.
a. São comercializados diretamente entre as empresas ou em bolsas de
valores.
b. São comercializados diretamente entre os países que tenham projetos
de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
c. São comercializados diretamente entre os países desenvolvidos.
d. São comercializados diretamente em bolsas de valores dos países em
desenvolvimento.
e. São comercializados diretamente entre os países do Anexo I e os
países subdesenvolvidos do continente asiático.

3. Os problemas ambientais e suas consequências começaram a ganhar


maior relevância no debate em âmbito mundial com a Conferência de
Estocolmo em 1972. A partir deste momento diversas conferências mundiais
foram realizadas a fim de discutir e propor ações para mitigar os impactos
ambientais negativos realizados por ações antrópicas.
A fim de minimizar as emissões de gases do efeito estufa foi criado durante a
Conferência de Kyoto, em 1997, o Protocolo de Kyoto.
Sobre o Protocolo de Kyoto avalie as afirmações a seguir:
I. O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional que tem por
objetivo promover somente a eliminação de emissões de gases do
efeito estufa em todos os países.

165
II. No tratado internacional de Kyoto há mecanismos dos quais os
países industrializados podem se valer para diminuir as emissões de
gases poluentes, como a Implantação Conjunta.
III. O Protocolo de Kyoto entrou em vigor efetivamente em 1997, já que
os todos países industrializados, considerados maiores poluidores
globais, assinaram o compromisso de redução das emissões de gases
do efeito estufa.
O Comércio de Emissões e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo são
exemplos de mecanismo de flexibilização propostos pelo Protocolo de Kyoto.
Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas.
a. I e III, apenas.
b. I e II, apenas.
c. II e IV, apenas.
d. IV, apenas
e. III, apenas.

166
Seção 3

Mercado e precificação de carbono

Diálogo aberto
Olá, aluno!
Chegamos ao final da unidade Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
de nossa disciplina e, até o momento, já percorremos um longo caminho na
construção de nossos conhecimentos sobre projetos ambientais.
Para que possamos dar sequência à construção de nossos conheci-
mentos, vamos dar continuidade ao nosso contexto hipotético, no qual a
consultoria em que você atua foi contratada para planejar e implantar um
projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) em um Aterro
Sanitário em Minas Gerais, que cobre uma área total de sessenta e seis
hectares, sendo quarenta destinados à disposição de resíduos. Atendendo
um município com 500 mil habitantes, tem na gestão dos resíduos sólidos
um dos seus maiores desafios, objetivando concorrer a uma vaga no
Programa Cidade Resiliente.
Durante o processo de consultoria, foi proposta a instalação de um
processo de extração e conversão de biogás ( CH 4 ) em fonte de energia
para atender o Aterro, bem como uma possível venda, em caso de produção
excedente. Na segunda etapa da consultoria você teve produzir um
relatório explicando as etapas que o projeto deveria cumprir para poder
emitir Reduções Certificadas de Emissões (RCE) e participar do mercado
de carbono.
Um ano se passou desde a implantação do projeto de extração e conversão
de biogás ( CH 4 ) em fonte de energia no Aterro e já é possível concluir que os
benefícios ambientais são reais, além dos ganhos financeiros.
Constatou-se, durante o acompanhamento da operação do projeto, que o
aproveitamento do biogás para geração de energia possibilitou o uso racional
das fontes de energia disponíveis, diminuiu a dependência de fontes externas,
propiciando uma economia significativa dos gastos com energia elétrica, o
que auxiliou na busca pela eficiência energética.
A redução de emissões de gases de efeito estufa, se comparada com a
quantidade de gases emitidos antes da implantação do projeto, também foi
considerável. Isto se dá, principalmente, devido à conversão do metano ( CH 4
) em dióxido de carbono ( CO2 ), já que o metano tem potencial de aqueci-
mento global maior, quando comparado ao CO2 . Deste modo, o Aterro

167
reduziu o potencial tóxico das emissões ao mesmo tempo em que produz
energia elétrica, agregando, desta forma, o ganho ambiental e financeiro.
Os ganhos financeiros puderam ser verificados pelo montante arrecado
com a venda dos créditos de carbono, que ocorreu desde o início do funciona-
mento do projeto, viabilizando os investimentos no planejamento e execução
de projetos de implantação de infraestrutura verde.
O Programa Cidade Resiliente tem como finalidade eleger municípios
que apresentem a capacidade de mitigar impactos ambientais e promover
adaptações para enfrentar os problemas causados pelas alterações climáticas,
para que possam receber financiamentos de iniciativas públicas e privadas
para ampliação de sua resiliência e sustentabilidade.
Para finalizar sua consultoria, na implantação do MDL no Aterro
Sanitário, você deve criar uma apresentação, a partir dos dados levan-
tados durante esse ano de execução do projeto, para o comitê de seleção do
Programa Cidades Resilientes.
Nessa apresentação deve conter:
Qual modalidade de comercialização das Reduções Certificadas de
Emissões do Aterro poderiam ser negociadas.
O modo como esse projeto auxilia o município na mitigação dos
problemas que podem ser causados pelas alterações climáticas.
Qual a contribuição dos recursos advindos das vendas dos créditos de
carbono para a implantação dos projetos a de infraestrutura verde;
Quais projetos poderiam ser planejados e executados para que o
município seja mais resiliente e sustentável.
Para o auxiliar na realização desta apresentação, nessa seção, aprofun-
daremos nossas discussões sobre as mudanças climáticas e as emissões de
gases do efeito estufa, especialmente sobre o funcionamento do Mercado de
Carbono e as ferramentas de precificação do carbono.
Aluno, sua dedicação e motivação até aqui foram essenciais para a
construção de seus conhecimentos sobre projetos ambientais, agora é o
momento de finalizar seu último desafio nesta disciplina, para que você esteja
melhor preparado para atuar como gestor ambiental nas diversas temáticas
que discutimos no decorrer de nossa disciplina.
Bons estudos!

168
Não pode faltar

Olá aluno!
Pensando na temática das mudanças climáticas e as ações que têm sido
empreendidas pelos organismos nacionais e supranacionais, especialmente com
relação aos mecanismos de mercado que possibilitam o cumprimento das metas
de redução de gases do efeito estufa (GEE) dos países desenvolvidos industria-
lizados, você já pensou como seria possível determinar o preço do CO2 ? Como
são comercializadas as Reduções Certificadas de Emissões (RCEs)?
Nesta seção exploraremos o funcionamento do mercado de carbono no
mundo, como se dá a precificação do carbono, suas vantagens e o Projeto
Patnership for Market Readiness (PMR) Brasil. Vamos iniciar mais essa jornada?
Você se recorda que as Reduções Certificadas de Emissões são uma
unidade emitida pelo Conselho do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL) e o crédito de carbono é unidade comercial com objetivos finan-
ceiros? A partir dessa distinção compreenderemos o Mercado de Carbono.

Assimile
Mercado de Carbono é campo de trocas regulado pelo Conselho Execu-
tivo do MDL, que permite aos países que apresentam metas de redução
de GEE que comprem o “excedente” das cotas de países que emitem
menos CO2 ou que tenham projetos de Implantação Conjunta (países
desenvolvidos) e de MDL (países em desenvolvimento).

O Mercado de Carbono surge no âmbito do Protocolo de Kyoto, a partir


dos anos 2000, como um modo de auxiliar os países a diminuírem suas
emissões de GEE, por meio da comercialização de créditos de carbono.
Essa comercialização se dá por dois eixos: o primeiro é chamado Cap and
Trade (limitar e negociar) e a comercialização das reduções de emissões de
projetos de MDL, e o segundo Projetos de reduções de emissões de gases de
efeito estufa (baseado em certificados de carbono com base em reduções).
No primeiro, os valores limites são estabelecidos por licenças governamen-
tais, nas quais os países que reduzem emissões além de suas metas, negociam
o excedente por meio de permissões, seja em esquemas independentes (entre
governos e empresas ou diretamente entre as empresas) ou nos moldes
do Protocolo de Kyoto que são registrados na Bolsa de Valores e envolve o
comércio de permissão de emissões ou emission allowances. Já no segundo, as
transações não necessariamente são registradas na Bolsa de Valores.

169
A primeira iniciativa e principal experiência de comercialização cap
and trade foi o Comércio de Emissões Europeu, iniciado em 2005 como um
projeto piloto (2005 a 2007), objetivando preparar os participantes para o
início do primeiro período de cumprimento das metas estabelecidas pelo
Protocolo de Kyoto. A segunda fase ocorreu de 2008 a 2012 e a terceira
encontra-se em vigor de 2013-2020, tendo os leilões como método padrão de
distribuição das permissões.
No que tange ao comércio de emissões, os mais abrangentes são: União
Europeia, China, Cazaquistão, Suíça, Coréia do Sul e Nova Zelândia, pois são
referentes a países ou conjunto de países. Cada esquema de comércio apresenta
metas e regulamentos específicos. O Quadro 4.7 apresenta alguns exemplos
dos comércios de emissões implementados no mundo até o ano de 2017.
Quadro 4.7 | Exemplos de Comércios de Emissões Implementados no Mundo até 2017
Créditos de
Esquema Criação Metas
Carbono
Até 2020, redução de 20% em
relação aos níveis de 1990; Podem ser utili-
Comércio de Emissões Até 2030, redução de 40% em zados para cum-
1997
Europeu relação aos níveis de 1990; prir até 50% das
Até 2050, redução de 80-95% obrigações.
em relação aos níveis de 1990.
Podem ser utili-
Iniciativa Regional de Até 2020, redução de 50% em
zados para cum-
Gases de Efeito Estufa 2005 relação aos níveis de 2005, para
prir até 3,3% das
(Estados Unidos) a geração de eletricidade.
obrigações.
Até 2020, redução de 5% em re-
lação aos níveis de 1990;
Comércio de Emissões
Até 2030, redução de 11% em
Nova Zelândia 2008 Não inclui
relação aos níveis de 1990;
Até 2050, redução de 50% em
relação aos níveis de 1990.
Sem limites para
Comércio de Emissões Até 2020, redução de 21% em créditos regionais
2011
Saitama – Japão relação aos níveis de 2005. e limite de 8% para
créditos externos.
Até 2020, retornar aos níveis de
Podem ser utili-
Comércio de Emissões 1990; Até 2030, redução de 40%
zados para cum-
Califórnia (Estados 2012 em relação aos níveis de 1990;
prir até 8% das
Unidos) Até 2050, redução de 80% em
obrigações.
relação aos níveis de 1990.
Até 2020, redução de 20% em Podem ser utili-
relação aos níveis de 1990; Até zados para cum-
Comércio de Emissões 2030, redução de 35% em re- prir até 4,5 - 11%
2013
Suíça lação aos níveis de 1990; Até das obrigações,
2050, redução de 50% em rela- a depender das
ção aos níveis de 1990. condições.

170
Créditos de
Esquema Criação Metas
Carbono
Até 2020, redução de 30% em Podem ser utili-
Comércio de Emissões
2015 relação aos níveis de 1990; zados para cum-
Coréia do Sul
Até 2030, redução de 15 a 37% prir até 10% das
em relação aos níveis de 1990. obrigações.
Podem ser utili-
Comércio Piloto Até 2020, redução de 19,5%
zados para cum-
de Emissões Fujian 2016 da intensidade de carbono em
prir até 5% das
(China) comparação a 2015.
obrigações.
Fonte: modificado de Guida (2018, p. 47-48).

Há, também, outra modalidade: os mercados voluntários, que são regimes


de mercado que não se enquadram no Protocolo de Kyoto e funcionam fora do
mecanismo de regulamentação, formado, geralmente, por países que não ratifi-
caram o Protocolo, como os EUA. Os mesmos promovem regras próprias de
redução de emissões e comercialização de créditos de carbono ou elencados por
meio de empresas que estabelecem metas voluntárias de redução de emissões.
Ainda que os mercados voluntários procurem atender às exigências técnicas do
acordo internacional, as metas por eles estabelecidas são menos rigorosas.
As empresas que buscam pelos créditos de carbono em mercados volun-
tários apresentam como principal intuito “[...] melhorar os indicadores
ambientais e demonstrar posicionamento de liderança com vistas à competi-
tividade do mercado. [...] e aquisição das unidades por agentes de mercado,
como forma de antecipação de possíveis regulamentações para controle de
emissões” (GUIDA, 2018, p. 54).
Durante os estágios iniciais dos mercados voluntários de carbono, muitos
desenvolvedores de projetos usaram metodologias internas para calcular as
reduções de emissões de seus projetos.
Atualmente, a maioria dos projetos seguem metodologias estabelecidas
pelos padrões voluntários, as quais exigem que os projetos sejam submetidos
à validação e verificação de terceiros para garantir que tenham atingido as
reduções de emissões declaradas. As mesmas podem diferir pelas atividades,
tipos de projetos, localização e regulamentos. No entanto, todos os padrões
voluntários exigem que as compensações sejam:
• Real: haverá evidências de que o projeto realmente remove ou impede
emissões.
• Adicional: as reduções de emissões não ocorreriam sem essas ativi-
dades do projeto.

171
• Mensurável: o volume de reduções de emissões pode ser medido
com precisão.
• Verificável: um auditor neutro de terceiros verificou as reduções de
emissões. (HAMRICK; GALLANT, 2018).
Uma iniciativa de auxílio às organizações na participação na compen-
sação voluntária de carbono é o Greenhouse Gas Protocol (GHP), criado em
1998 por uma parceria entre o World Resources Institute (WRI) e o Conselho
Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD). O
Protocolo de GEE estabelece estruturas padronizadas internacionalmente
para medir e gerenciar as emissões de gases de efeito estufa de operações do
setor público e privado. Atua junto a governos, associações industriais, ONGs,
empresas e outras organizações oferecendo treinamento sobre as metodologias
e ferramentas que orientam a construção e o serviço de revisão dos relatórios e
inventários corporativos de GEE. “A metodologia do GHG Protocol é compa�-
tível com as normas da International Organization for Standardization (ISO)
e com as metodologias de quantificação do Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática (IPCC)”. (FGVces; WRI, 2017, p.8).
Seguindo essa lógica, em 2008 foi criado no Brasil o Programa Brasileiro
GHG Protocol (PBGHGP, 2008) e apresenta a incumbência de adaptar o
método GHG Protocol ao contexto brasileiro e desenvolver ferramentas de
cálculo para estimativas de GEE. Foi desenvolvido pelo Centro de Estudos
em Sustentabilidade (FGVces) e WRI, em parceria com o Ministério do
Meio Ambiente, Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS), WBSCD e 27 Empresas Fundadoras (Natura
Cosméticos S/A, Suzano Papel e Celulose, Votorantim, AMBEV, COPEL, O
Boticário, Petrobrás, Banco do Brasil, Ford, Furnas, dentre outras).
Entre os principais benefícios disponibilizados pelo programa às organi-
zações participantes, destacam-se:
• Registro histórico de emissões: possibilita o monitoramento das
emissões ao longo do tempo, estabelecimento de metas e indicadores,
auxiliando a implementação de processo de melhoria interna de
redução de emissões e/ou economia de recursos.
• Participação nos mercados de carbono: por meio dos inventários,
os participantes podem identificar oportunidades para redução de
emissões e, consequentemente, investir na realização de projetos
passíveis de obtenção de créditos comercializáveis.
• Vantagem competitiva: auxilia na garantia da sustentabilidade
dos negócios e a melhoria das eficiências econômica, energética e

172
operacional. Auxílio na obtenção de novos investimentos e acesso a
linhas de créditos especiais.
• Melhoria nas relações com os stakeholders: a publicação de um inven-
tário corporativo/institucional de GEE, desenvolvido com base em
critérios e padrões internacionais, possibilita à empresa divulgar
informações fidedignas segundo os critérios do Carbon Disclosure
Project, do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Global
Reporting Initiative (GRI), entre outros de interesse para financia-
dores, consumidores e outros públicos. Promove a reputação e credi-
bilidade da organização em seu meio (FGVces; WRI, 2017).
A Natura Cosméticos S/A faz uso das metodologias GHP Protocol para
a publicação de inventários de emissões de GEE e participação em mercados
de carbono, aliando os aspectos financeiros e socioambiental na condução
do negócio. Dessa forma, possui certificação internacional da União para o
BioComércio Ético (UEBT), a qual atesta a sustentabilidade da cadeia de forne-
cimento de produtos.
Em 2007 criou o Programa Carbono Neutro Natura, contabilizando uma
redução de um terço de suas emissões atmosféricas até 2013. O objetivo é
neutralizar as emissões em toda a sua cadeia produtiva, desde a extração das
matérias-primas ao descarte final das embalagens, para conseguir diminuir
em 33% a emissões até 2020 (NATURA, 2018).
Para alcançar 100% da neutralização do carbono emitido, a empresa
adquire créditos de carbono de organizações que reduziram suas emissões
por meio de projetos que visam a preservação das florestas ou que realizam
ações de reflorestamento, de substituição de combustíveis fósseis e de efici-
ência energética, aliando a redução de impactos ao clima à geração de benefí-
cios socioambientais.
Ainda no escopo das ações de compensação voluntária de emissões
de GEE o Verified Carbon Standard (VCS) é uma iniciativa conjunta do
Grupo do Clima, da Associação Internacional de Comércio de Emissões
e do Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável.
Iniciado em 2005, é um programa voluntário global para redução e remoção
de emissões de GEE mais utilizado no mundo. Atualmente, existem 1544
projetos de VCS certificados, que reduziram ou removeram coletivamente
mais de 200 milhões de toneladas de carbono e outros gases do efeito estufa
da atmosfera (VERRA, 2019, n.p).
Para projetos nos setores de energia, mineração, florestas, agricultura,
descarte de dejetos, o VCS oferece uma série de metodologias pré-aprovadas,
que são utilizadas para auxiliar no processo de registro.

173
Um exemplo de projeto registrado em 2012 no VCS é o Pesqueiro Energia
Small Hydroelectric Project (PESHP), localizado no rio Jaguariaíva, no estado
do Paraná, que consiste em uma Pequena Central Hidrelétrica. Tem por
finalidade a geração de energia por meio de fontes renováveis, reduzindo,
assim, as emissões de gases do efeito estufa.
A metodologia utilizada no desenvolvimento do PESHP foi AMS-I D
(Geração de Energia Renovável Conectada à Rede), na qual estão incluídas
hidroelétricas, eólica, geotérmica, dentre outras fontes de geração de energia
por fontes renováveis, aplicáveis a projetos de pequena escala. O monitora�-
mento desse tipo de projeto é realizado por meio da quantidade de eletri-
cidade líquida fornecida à rede; quantidade de biomassa/combustível fóssil
consumido e o valor calorífico líquido da biomassa, determinado no primeiro
ano do período de obtenção de créditos (UNFCCC, 2018).
Os projetos de VCS (Figura 4.8) seguem um ciclo diferenciado dos de
MDL, pois ainda que precisse utilizar uma metodologia, não é necessário ter
registro em um Conselho Excecutivo ou ser aprovado por uma Autoridade
Nacional Designada.
Figura 4.8 | Ciclo de projeto do VCS

1º PASSO: ESCOLHER UMA


2º PASSO: DESCREVER E LISTAR O
METODOLOGIA
PROJETO
Os criadores de projetos devem escolher
Criadores de projetos têm que abrir uma
uma metodologia pré-aprovada que se
conta em um registro VCS e apresentar um
aplique a seus projetos ou criar uma nova
documento descritivo dos projetos para
metodologia com o uso do processo de
listar no banco de Projetos VCS.
aprovação de metodologia VCS.

4º PASSO: VERIFICAR AS REDUÇÕES DE


3º PASSO: VALIDAR O DOCUMENTO
EMISSÃO
DESCRITIVO DO PROJETO
Os desenvolvedores de projetos devem mon-
Os desenvolvedores de projetos devem
itorar e registrar os dados de reduções de
contratar um órgão de validação/verificação
emissões em um relatório de monitoramen-
(VVB) para validar o documento descritivo
to e contratar um VVB para verificar essas
de seus projetos.
reduções de emissão.

5º PASSO: EMITIR VCUS – UNIDADES


DE CARBONO VERIFICADAS
Os desenvolvedores de projetos devem
solicitara emissão de VCUs. Os créditos
depositados em suas contas podem ser
mantidos, vendidos ou aposentados.

Fonte: https://bit.ly/2D2dHbu. Acesso em: 19 de nov. 2019.

174
Além da VCS, atualmente denominada VERRA, que é responsável por
toda gestão do programa voluntário de redução de emissões, há o Gold
Standard e o American Carbon Registry (ACR).
O Gold Standart foi estabelecido em 2003 por Organizações Não
Governamentais (OGNs) internacionais com a finalidade de que projetos
que reduzissem as emissões de carbono apresentassem altos níveis de integri-
dade ambiental e contribuíssem para o desenvolvimento sustentável. Com a
adoção do Acordo de Paris e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,
a organização lançou um padrão de melhores práticas para intervenções
climáticas e de desenvolvimento sustentável.
Nos projetos registrados no Gold Standart, o desenvolvedor deve compar-
tilhar as informações sobre os objetivos, escala e duração, contribuição para
o desenvolvimento sustentável e cumprimento das garantias de que as partes
interessadas estejam ativamente envolvidas no projeto desde o início, permi-
tindo influenciar a concepção e implementação do projeto.
Já a American Carbon Registry (ACR) é uma empresa sem fins lucrativos,
fundada em 1996, juntamente com o primeiro registro voluntário privado
de gases de efeito estufa no mundo. Visando acelerar ações de redução de
emissões e aproveitar o poder dos mercados para melhorar o meio ambiente,
a ACR estabeleceu o padrão de qualidade de compensação que atualmente é
o padrão do mercado e continua a liderar inovações nesse segmento.
O ACR aponta que a coleta e combustão de biogás é um método eficaz para
diminuir as emissões de GEE de aterros sanitários, evitando sua liberação na
atmosfera. A metodologia utilizada fornece as estruturas de quantificação e
contabilidade, incluindo requisitos de elegibilidade e monitoramento para a
criação de créditos de compensação de carbono pelas reduções nas emissões
de GEE resultantes da destruição ou conversão do gás em energia elétrica.
Agora que você sabe como se dá o funcionamento do mercado de carbono,
como é possivel definir um preço para o CO2 ? Quais são as diretrizes para
essa definição? Afinal, o que é precificação do carbono? Quando adquirimos
determinado bem de consumo não estão incluídos em seu preço os custo
referentes aos impactos que ele causa ao meio ambiente, seja na produção ou
no descarte, conceito denominado externalidade.
Uma alternativa é a precificação do carbono, por meio de duas ações:
Taxação do carbono e Mecanismo de Cap and Trade.
No primeiro, é definido um preço a ser cobrado por cada unidade de
emissão gerada. Essa taxa é paga aos governos, funcionando como um
imposto, e seu valor é calculado de forma a atingir o nível social ótimo de

175
emissões. Este nível ótimo representa o ponto em que o aquecimento global
seja contido ao limite de 2°C.
O segundo, consiste na definição um “teto” de emissões permitidas. As
empresas podem comprar créditos de carbono de empresas que deixaram de
emitir, o que, na prática, já ocorre. Desta maneira, cada empresa pode decidir
como gerir suas emissões e, a partir do momento em que essa taxação é
implementada, as empresas têm duas opções: continuar emitindo e pagando
o preço estabelecido ou abater as emissões e pagar menos imposto.
Esses dois caminhos teriam como finalidade incentivar as organizações a
desenvolverem medidas para a redução das emissões e, consequentemente, dos
custos. É exatamente por haver dois vieses distintos que a discussão no Brasil
ocorre desde 2011, e até o presente momento não se chegou a um consenso.
No entanto, há locais, como na Austrália e no Canadá, em que ocorrem
sistemas híbridos de regulamentação. No Canadá, por exemplo, setores mais
estruturados têm acesso ao mercado de certificados, já os setores que apresentam
instituições menos consolidadas devem pagar uma taxa sobre suas emissões.
De acordo com o Coselho Empresarial Brasileito para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS) e o Disclosure Insight Action (CDP), mais de 437 corpo-
rações globais utilizam a precificação de carbono no processo de decisão de
investimento e mais 1000 empresas e investidores apoiam a adoção de um
preço global para o carbono.

Reflita
Diante do que discutimos até o momento sobre o mercado de carbono
e as alternativas para precificar as emissões, quais seriam as vantagens
para as empresas em termos econômicos e ambientais, com relação à
comercialização e de créditos de carbono? Reflita!

O CEBDS e o CDP apontam que os benefícios de precificação do carbono


estão relacionados com a eficiência desse mecanismo para atingir a meta de
zerar as emissões líquidas até o fim do século; estimular a criação de soluções
tecnológicas para a produção de baixo carbono, incentivando processos mais
eficientes e a opção por projetos com menores emissões, elevando a compe-
titividade das tecnologias limpas e renováveis.

Exemplificando
Precificação do carbono por governo
Em fevereiro de 2014, o Ministério de Energia do México anunciou o poten-
cial desenvolvimento de um Emissions Trading System (ETS) no setor de

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energia. O país se comprometeu com uma redução não-condicional de 25%
das suas emissões de GEE e gases poluentes de vida curta para o ano de 2030.
O México também tem um objetivo condicional de cortar suas emissões
em mais de 4% em 2030, sujeita a um acordo internacional de preci-
ficação de carbono, acesso a financiamento de baixo custo e transfe-
rência de tecnologia. Isso é parte de uma política de mudanças climá-
ticas mais ampla, que inclui taxação para combustíveis fósseis.
Precificação do carbono por empresas
A Vale, companhia de mineração, em 2014, desenvolveu a própria curva
MAC (Curva de Custos Marginais de Abatimento) para identificar as
opções de mitigação mais efetivas e, no futuro, selecionar e priorizar
projetos abaixo de um preço limite, a Vale escolheu um preço limite
plano de US$ 50,00 por tonelada de CO2 ( tCO2 ) e, ao longo do tempo,
como um proxy para precificar o carbono e alcançar seu objetivo.

Durante a Conferência das Partes (COP 21), houve o lançamento


da Coalizão de Lideranças em Precificação de Carbono (Carbon Pricing
Leadership Coalition - CPLC), uma plataforma de ação para a concepção
e implementação de instrumentos de precificação que contribuam para o
alcance das metas de redução das emissões. A CPLC reúne, voluntariamente,
mais de vinte governos, mais de noventa empresas, organizações da socie-
dade civil e investidores institucionais.
Essa Coalizão tem por objetivo identificar e promover adoção de instru-
mentos de precificação que sejam transparentes, eficazes, justos mantendo a
competitividade e o incentivo à criação de empregos e à inovação tecnoló-
gica. Assim, a implementação de políticas eficazes de precificação como parte
dos planos climáticos nacionais poderá aumentar a capacidade produtiva,
acelerando o ritmo de transição para uma economia sustentável. (CEBDS,
2016).
No Brasil o marco regulatório da questão climática é a Política Nacional
sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída em 2009. Em 2011 o Ministério
da Fazenda instituiu o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) sobre
Mercado de Carbono, cujo objetivo era analisar a viabilidade e os requisitos
para a implantação do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE),
esse GTI teve sua conclusão em 2012. Posteriormente, os estudos ficaram
direcionados à criação da capacidade de coleta de dados sobre emissões e
a análise de impacto de possíveis instrumentos de precificação de carbono,
conduzidos pela Secretaria Econômica do Ministério da Fazenda.
Os levantamentos e estudos seguem até a atualidade tendo como principal
instrumento o Projeto Partnership for Market Readiness (PMR) que é uma

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iniciativa do Banco Mundial que, no Brasil, é liderada pela Coordenação
Geral de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Ministério da Fazenda.
O PMR Brasil tem como objetivo subsidiar o processo de tomada de
decisão acerca do papel de instrumentos de precificação de carbono nas
políticas de mitigação de emissões de GEE, por meio de estudo e avaliação
detalhada dos impactos de mecanismos de precificação de carbono sobre a
economia, a sociedade e o meio ambiente.
Somente haverá a adoção de instrumento(s) de precificação se:

(i) houver evidências suficientes da sua contribuição para


a redução do custo de cumprimento das metas assumidas;
(ii) tais instrumentos são compatíveis com os objetivos
mais gerais de desenvolvimento do país; e (iii) podem ser
implementados de forma harmoniosa e coerente com as
políticas públicas que influenciam as emissões de carbono.
Dessa forma, a avaliação da possibilidade de adoção de
instrumento(s) de precificação de emissões deverá contri-
buir para a preparação da estratégia de implementação da
[Nationally Determined Contribution] NDC brasileira e a
revisão da PNMC. (GVCES/FGV-EAESP, 2018, s.p.)

Essa discussão ainda tem um longo caminho a trilhar, já que o objetivo


do Brasil é, possivelmente, ter um instrumento de precificação após 2020.
Portanto, estamos em uma janela de oportunidade no que tange ao campo
de atuação do gestor ambiental, pois as empresas que apresentam interesse
em adotar uma ferramenta de precificação interna ou de criar cenários
vantajosos do ponto de vista econômico, comercial e social, necessariamente
deverão contar com esse profissional.
Nessa seção você teve acesso às discussões relativas ao mercado de carbono,
seu funcionamento, regulamentação e funções. Também se aproximou dos
conhecimentos relativos aos instrumentos de precificação de carbono que
estão em vigor e que estão sendo discutidos no Brasil e no Mundo, na tentativa
de alcançar a meta de redução de GEE proposta pelo Acordo de Paris.

Sem medo de errar

A consultoria em que você atua foi contratada para planejar e implantar


um projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) em um Aterro
Sanitário em Minas Gerais. Após a primeira etapa da consultoria você propôs

178
a instalação do processo de extração e conversão de biogás ( CH 4 ) em fonte
de energia para atender o Aterro e possível venda, em caso de produção
excedente.

Depois de um ano da implantação desse projeto foi constatado, durante


seus levantamentos, que o aproveitamento do biogás para geração de energia
possibilitou o uso racional das fontes de energia disponíveis, diminuiu a
dependência de fontes externas, propiciou economia significativa dos gastos
com energia elétrica, o que facilitou a busca pela eficiência energética. Os
ganhos financeiros puderam ser verificados pelo montante arrecado com
a comercialização dos créditos de carbono, que ocorreu desde o início do
funcionamento do projeto, viabilizando os investimentos no planejamento e
execução de projetos de implantação de infraestrutura verde.
Para finalizar sua consultoria, você deveria criar uma apresentação, a
partir dos dados levantados durante o ano de execução desse projeto, para o
comitê de seleção do Programa Cidades Resilientes. Na apresentação deveria
constar os seguintes itens:
• Qual modalidade de comercialização que as Reduções Certificadas de
Emissões do Aterro poderiam ser negociadas.
• O modo como esse projeto auxilia o município na mitigação dos
problemas que podem ser causados pelas alterações climáticas.
• Qual a contribuição dos recursos advindos das vendas dos créditos
de carbono para a implantação dos projetos de infraestrutura verde.
Conforme apreendemos no decorrer da unidade Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) e desta seção, após realizar todos os
trâmites de registro e aprovação do projeto no Conselho Executivo do MDL,
para que o projeto gere RCEs, é necessário comprovar que os benefícios são
reais, mensuráveis e de longo prazo. Atendidos esses requisitos, o Conselho
Executivo pode emitir as RCEs.
Portanto, você pode afirmar para os membros do comitê de seleção que
os créditos de carbono gerados pela compensação de emissões de GEE do
projeto poderiam ser comercializados em mercados voluntários, já que
partiu de uma iniciativa do próprio gestor do Aterro e também em mercados
regulados pelas metas do Protocolo de Kyoto.
O projeto auxilia na mitigação dos possíveis problemas ocasionados
pelas mudanças climáticas ao passo que promove a redução de emissões de
gases de efeito estufa, se comparado à quantidade de gases emitidos antes da
implantação do projeto. Isso se dá, principalmente, devido à conversão do
metano ( CH 4 ) em dióxido de carbono ( CO2 ), já que o metano tem potencial

179
de aquecimento global maior, quando comparado ao CO2 . Deste modo, o
Aterro reduziu o potencial tóxico das emissões ao mesmo tempo em que
produz energia elétrica, agregando, assim, o ganho ambiental e financeiro.
Os recursos advindos da comercialização dos créditos de carbono
auxiliaram na execução e planejamento de projetos como:
• Construção de calçadas verdes que promovem maior infiltração
(em processo de execução); aumento da arborização urbana (em
andamento) que auxilia na redução da quantidade de águas pluviais
que entram nas redes de esgotos aumentando a capacidade natural de
retenção e absorção; construção de ciclovias (em andamento) para
estimular o uso de transportes alternativos não poluentes; melhoria
do transporte público de massa.
• Fomento à agricultura urbana em pequena escala; instalação de
iluminação pública de baixo consumo energético (em andamento);
construção de corredores verdes e captação e reuso de água pluvial.
Essas ações contribuiriam, também, para o sequestro de carbono, a
melhoria da qualidade do ar, a atenuação das ilhas de calor e a criação de
mais espaço para acolher habitats de flora e fauna nativas e atividades de
lazer, enriquecendo a paisagem cultural e histórica, conferindo identidade
aos lugares e cenários do município onde as pessoas vivem e trabalham.
Os dados coletados durante a execução do projeto e a utilização dos
recursos advindos dele demonstram que, sendo selecionado para o Programa
Cidade Resiliente, o município recebendo financiamentos de fontes públicas
e/ou privadas poderia investir em projetos assertivos para ampliação de sua
resiliência e sustentabilidade.

Faça valer a pena

1. A expressão mercado de carbono refere-se às iniciativas de comerciali-


zação de créditos de redução de emissão dos gases de efeito estufa, conhecidos
como créditos de carbono. Essas iniciativas podem estar em conformidade
com os mecanismos de flexibilização do Protocolo de Kyoto – Comércio de
Emissões, Implementação Conjunta, Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo – ou podem ter um caráter independente, o chamado mercado volun-
tário.
Assinale a alternativa que apresenta corretamente o objetivo da comerciali-
zação dos créditos de carbono.

180
a. Ampliação dos ganhos das empresas e minimização dos custos com
projetos de reflorestamento.
b. Diminuição das emissões de gases do efeito estufa e ampliação das
modificações de uso do solo.
c. Mitigação das mudanças climáticas e cumprimento da meta de
redução de emissões estabelecida pelo Protocolo de Kyoto.
d. Melhoria da qualidade do ar e diminuição da poluição atmosférica
devido ao aumento dos projetos de reflorestamento.
e. Ampliação da utilização de matérias-primas via reflorestamento e
melhoria da qualidade da poluição atmosférica.

2. Analise a reportagem a seguir:

A Baesa, do grupo CPFL, fará o maior leilão privado de


créditos de carbono no Brasil e, se o resultado for insatis-
fatório, poderá ser o último que a empresa promove [...].
Créditos são obtidos quando um empreendimento faz
com que se emita menos carbono – no caso, uma hidrelé-
trica no Rio Grande do Sul. [...]. Não há lei que obrigue as
empresas a neutralizarem suas emissões. Os compradores
querem zerar a poluição para dar satisfação aos ‘stakehol-
ders’ (interessados na companhia), [...]. ‘O Brasil não tem
meta de redução, o mercado aqui não responde a um
comando’[...]. (FRIAS, [s.d.], [s.p.])

O trecho destacado aponta que o Brasil não apresenta metas de redução de


Gases do Efeito Estufa (GEE), pois
a. Apresenta um acordo internacional com Rússia e Estados Unidos,
maiores poluidores do mundo, de venda de crédito de carbono.
b. De acordo com o Protocolo de Kyoto somente os países desenvol-
vidos, do Anexo I deste Protocolo, teriam que reduzir obrigatoria-
mente as emissões.
c. Foi o propositor do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, portanto
já diminuiu pela metade suas emissões de GEE.
d. Juntamente com a Índia e a China, são os maiores produtores de
créditos de carbono, devido aos projetos de Produção Mais Limpa.

181
e. Ao mercado de carbono somente é obrigatório a países subdesen-
volvidos que oferecem projetos de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo a países em desenvolvimento via Protocolo de Kyoto.

3. A precificação de carbono vem sendo adotada de forma acelerada no


mundo. Em meados de 2016, já eram 64 as jurisdições internacionais que
tributavam o carbono ou operavam sistemas de comércio de emissões - o
correspondente a 13% das emissões de GEE globais. No Brasil, o assunto
vem sendo considerado como instrumento de política climática pelo menos
desde 2011 e as discussões em torno de seu desenho e implementação alcan-
çarão um novo patamar em 2017 (CONSELHO..., [s.d.]).
Sobre a precificação do carbono, analise as afirmações a seguir:
I. A precificação de carbono confere flexibilidade aos esforços setoriais
de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), permitindo
que metas de mitigação sejam atingidas de forma mais custo-efetiva.
II. A precificação de carbono está relacionada aos projetos de
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e à Produção Mais Limpa
que ocorrem em países do Anexo I.
III. A precificação cria um incentivo de longo prazo mais forte para
a inovação tecnológica ambiental que políticas de restrição de
emissões.
IV. Instrumentos de precificação de carbono podem ser de dois tipos:
tributos ou sistemas de comercialização de permissões de emissão.
Nos tributos há a isenção de impostos e outros tributos quando o
empreendimento emite menos carbono.
Assinale a alternativa que apresenta a(s) afirmativa(s) correta(s) sobre o
processo de precificação do carbono.
a. Apenas I.
b. I, II e IV, apenas.
c. II e III, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I e III, apenas.

182
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